Vinhos para comemorações

Durante a dinastia Xia (2070-1600 a.n.E.), a princesa Yi Di usando arroz glutinoso fez vinho amarelo com cinco diferentes sabores e Du Kang desenvolveu a técnica de produção pela fermentação de sorgo e daí ficarem considerados na China os deuses Patronos da Criação do Vinho, apesar de este existir já há mais de cinco mil anos.

Com grande teor alcoólico bastava um copo de vinho para embriagar quem o bebesse e daí a necessidade de várias regras tanto para o consumir como para o fazer.

Com o exemplo da queda das duas anteriores dinastias, a Xia e a Shang, na dinastia Zhou do Oeste, o Rei Wu (1046-1043 a.n.E.) criou uma autoridade para regular e manter sob estreita vigilância a produção e consumo de vinho. Este era feito com milho, arroz e o denominado chang, produzido com painço preto e preparado especialmente para o ritual das cerimónias de sacrifícios, sendo apenas levemente fermentado e logo de seguida consumido.

Nessa dinastia ocorreu o uso de fermento no vinho para lhe dar maior vigor alcoólico, começando a ser fabricado sob licença e eram precisas seis etapas para a sua confecção, segundo o registado no Livro dos Ritos (Li Ji). Constavam: ter o milho completamente amadurecido, água pura, tempo suficiente para fermentar, instrumentos limpos para manusear, apropriado calor, assim como boas e limpas vasilhas para armazenar. O vinho feito com estas precauções era excelente e gostoso.

Do Período dos Reinos Combatentes (475-221 a.n.E.), nos túmulos descobertos nos anos 70 do século XX no concelho de Pingshan, província de Hebei, foram encontrados inúmeros potes e dois deles ainda continham vinho feito de trigo de há 2280 anos.

Na dinastia Han (206 a.n.E.-220), devido ao grande progresso na agricultura houve um incremento da produção de grão e daí aparecer o sake, o licor chinês, o vinho tinto, o vinho da primavera, o vinho rehmannia resinoso e o vinho de mel. No reinado do Imperador Wu (Wu Di, 140-87 a.n.E.) o vinho foi taxado e o seu preço aumentou. No segundo século da nossa Era surgiu o monopólio do vinho e na Dinastia Tang (618-907) começou o monopólio da sua venda, sendo criadas as lojas imperiais de vinho fino. O poeta Bai Juyi (772-846) refere-se à destilação, que apareceu durante esse período, sendo o vinho bebido em copos mais pequenos, não existentes anteriormente. Li Bai (701-762) falava já do vinho de Lanling e Du Fu (712-770) do vinho Chongbi. Ainda durante a dinastia Tang, o cultivo de uvas e a produção de vinho dava um imenso lucro.

Na dinastia Ming (1368-1644), o licor destilado era bebido no Norte, onde em quase todas as povoações havia uma destilaria, enquanto no Sul era o vinho de arroz o mais popular. Usa-se vinho para as cerimónias de sacrifício, para beber em convívio, assim como para cozinhar e na medicina.

FESTIVIDADE DO ANO NOVO

Yuan Dan (元旦, Un-Tán) é o nome actualmente dado pelos chineses ao primeiro dia do ano solar, mas até à dinastia Qing era empregue para designar o primeiro dia do calendário lunar. Na dinastia Han, para celebrar a Festa do Ano Novo Chinês as pessoas bebiam um vinho feito com grãos de pimenta, pois o tempo era frio e este servia assim para aquecer o corpo. Na primeira hora do ano, entre as 23 h e a 1 da manhã, quando os panchões rebentavam, a família reunida brindava com este vinho para desejar um bom ano e muita saúde, sendo oferecido primeiro aos mais novos por ficarem com mais um ano de idade, devido à entrada do novo ano. Os mais idosos eram os últimos a beber, pois significava terem menos um ano de vida.

Na dinastia Tang começou-se a beber vinho feito de uma fórmula dada por os especialistas de medicina tradicional dias antes de terminar o ano, sendo a receita vendida às pessoas com os ingredientes colocados dentro de um saco de tecido, que em casa era mergulhado no recipiente com vinho. No primeiro dia do ano daí se retirava este vinho chamado TuSuJiu (屠苏酒), sendo bebido para dar às pessoas saúde e protegê-las das doenças.

Já na dinastia Song (960-1279) este tipo de vinho feito por receita da tradicional medicina caiu em desuso e no último dia do ano, o costume era fazer visitas de cortesia aos vizinhos, para não deixar assuntos pendentes, provando-se o vinho preparado por cada família e retirando-se cada um para suas casas, continuavam noite dentro a beber e comer, sem dormir. Acção denominada Shou Sui (守岁), significava proteger a idade e servia para desejar longa vida aos mais velhos da família.

Na dinastia Yuan (1271-1368) voltou-se a usar a prática da dinastia Han e Tang, bebendo-se o vinho feito com grãos de pimenta e a partir da receita medicinal. No período Ming, Qing e até hoje, seguiu-se o Shou Sui, mas apenas com a família reunida dentro de casa, acção denominada então Tuan NianJiu (团年酒), sendo escolhido o melhor vinho para acompanhar o repasto dessa longa noite sem dormir.

FESTA DAS LANTERNAS

A encerrar as cerimónias do Ano Novo Chinês, tem lugar a Festa das Lanternas (元宵节, Deng jie em mandarim, Tâng-Tchit em cantonense), também chamada Festividade da Primeira Lua Cheia. Desde a dinastia Han, no dia quinze do primeiro mês lunar, como à noite as lojas não fechavam, as pessoas saiam de casa e iam passear para as decoradas ruas principais do comércio, levando diferentes tipos de lanternas vermelhas, símbolo das almas dos antepassados, que estando de visita eram depois reconduzidas de novo para o outro mundo. Em convívio se passava toda a noite a falar, beber e comer e a assistir na rua a peças de ópera e teatro.

O imperador Han Wu Di (140-87 a.n.E.) neste dia prestava homenagem à Divindade da Primeira Causa, mas o religioso significado da festa, ligada ao culto dos Antepassados e ao fogo, perdeu-se. No reinado de Ming Di (57-75), imperador Han de Leste, apareceram as lanternas e por sua ordem, na primeira Lua Cheia do Ano as famílias colocavam-nas acesas nas portas das casas, conjuntamente com ramos de abeto, a atrair Prosperidade e Longevidade. No reinado do Imperador Yang (604-617) da dinastia Sui a Festa das Lanternas foi oficializada para ser celebrada na capital, em Da Xing (Xian) e popularizada na dinastia Tang, realizava-se durante três dias. O Imperador Rui Zong (710-712) na noite de 15 da primeira Lua abria as portas do recinto do Palácio Imperial em Dong Du (Luoyang) para a população admirar a gigantesca árvore iluminada com cinquenta mil lampiões.

Nessa noite o Imperador saía do palácio e convivia com os súbditos, havendo uma alegria generalizada. Eram as únicas noites do ano sem toque para recolher a casa e por isso as ruas enchiam-se de pessoas até à alvorada. Na dinastia Song, a festividade passou a ser realizada durante cinco dias e no período Ming, do oitavo ao décimo sétimo dia do primeiro mês lunar, estendendo-se a celebração da capital ao resto do país. As ruas e praças estavam decoradas com lanternas e as pessoas com elas andavam, tornando-se costume nelas escrever advinhas, charadas e enigmas. Encerrados os quinze dias de festa, regressava-se à quotidiana abstinência de vinho.

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