Livro | “Cultura chinesa: Uma perspectiva ocidental” apresentado em Lisboa

Da autoria de Ana Cristina Alves e coordenação de Carmen Amado Mendes, “Cultura chinesa: Uma perspectiva ocidental” reúne os artigos de opinião de Ana Cristina Alves publicados no HM e no Ponto Final a partir de 2006. Em seis capítulos, explica-se ao público português diversas facetas da cultura, filosofia, política e economia chinesas

 

Um grupo de personalidades ligadas a Macau reuniu-se na última sexta-feira na livraria Almedina, em Lisboa, para assistir ao lançamento do mais recente livro de Ana Cristina Alves, doutora em filosofia, com especialidade em filosofia e cultura chinesas, e actual directora do centro educativo do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM).

“Cultura chinesa: Uma perspectiva ocidental” reúne, em seis capítulos, artigos de opinião de Ana Cristina Alves publicados na imprensa de Macau, nomeadamente nos jornais HM e Ponto Final, a partir de 2006.

Carmen Amado Mendes, presidente do CCCM e coordenadora da obra, lembrou o processo de edição e revisão dos textos, iniciado em Fevereiro de 2020. “Quando assumi a presidência do CCCM ela disse-me que queria publicar [os textos], mas eu disse que o que ela tinha não era um livro, mas sim um conjunto de artigos escritos de uma forma ligeira para um público de Macau, sem contextualização. Há coisas que são óbvias para quem vive em Macau, mas não tão óbvias para quem vive em Portugal. Fizemos inúmeras revisões, acrescentamos muitas notas justificativas e referências, contextualização histórica e cultural.”

Na opinião da coordenadora do livro, “faltava em Portugal uma obra dedicada à cultura chinesa que explicasse, de uma forma tão simples e objectiva, curiosidades que, muitas vezes, o leitor tem e não teria outra forma de as ver esclarecidas”. “Partimos de um período contemporâneo até às raízes históricas e mitológicas desta civilização milenar e cativante”, frisou.

Sem preconceitos

O livro é composto por seis capítulos e abrange áreas tão diversas do universo chinês como a economia, filosofia, política ou cultura. Ana Cristina Alves confessou que procurou sempre, no processo de escrita dos artigos, traçar “um olhar despreconceituoso sobre a China”.

“Não ia honrar e louvar a cultura, mas tentei passar o olhar de uma perspectiva ocidental sem preconceitos. Aqui encontramo-nos na neutralidade. Fui aprendendo esta perspectiva de neutralidade ao longo dos anos com os próprios chineses. Tentei ver o melhor de cada civilização, mas sem nunca largar a minha perspectiva ocidental.”

A obra começa pela área da filosofia, estabelecendo “comparações entre a filosofia oriental e ocidental, mas partindo da filosofia contemporânea para as raízes”.

A ideia é que os leitores “ao lerem, sintam que não estão numa biblioteca, mas pensando que, quem escreveu, esteve no terreno e que, a partir das suas vivências, construiu as suas teorias filosóficas com o que viveu”. Desta forma, Ana Cristina Alves deixa claro que “o livro não pode ser considerado um livro de biblioteca, uma vez que foi um caminho existencial que foi sendo percorrido”.

Constam nomes da filosofia ocidental, “mais ligados a uma tradição liberal”, como [John] Locke, Kant, Habermas e o japonês Francis Fukuyama. Neste sentido, e segundo a autora, “o pensamento ocidental contemporâneo é fundamental para fazer o balanço entre o socialismo, o nacionalismo e o espaço liberal, que é um espaço de equilíbrio, uma via do meio que o Ocidente encontra”.

“O pensamento liberal permite pensar sem medo das consequências, e foi este o fio condutor que segui quando pensei na filosofia chinesa. Apresentei o melhor que pude. Na parte da filosofia política e económica também se mostrou que há um termo entre o socialismo e o nacionalismo, um espaço possível sempre de uma perspectiva ocidental”, frisou Ana Cristina Alves.

O livro passa depois para a área da cultura chinesa. “Quando entramos nesse campo o fio condutor começa a ser a filosofia em geral, mas também a filosofia da linguagem, os caracteres chineses, a etimologia, e pensar no que isso nos pode trazer para compreender a cultura chinesa. Depois termina-se com filosofia e com um diálogo à maneira platónica nas considerações finais”, adiantou a autora.

A apresentação esteve a cargo do jornalista António Caeiro, ex-delegado da agência Lusa em Pequim, tendo dado lugar a um debate sobre a falta de disseminação da cultura chinesa, sobretudo na área da música e cinema, em Portugal, por oposição às culturas japonesa e coreana.

Para Carmen Amado Mendes, “muitos estudos têm sido feitos sobre isso e uma das grandes conclusões prende-se com a dificuldade de aprender a língua e também em termos de a língua ser considerada interessante nas músicas”. Para a presidente do CCCM, “é difícil a língua chinesa ultrapassar certas fronteiras”.

Ana Cristina Alves apontou que o caminho é a aposta na educação. “[O mandarim] é uma língua radicalmente diferente [em relação ao coreano e japonês], o que resulta num grande espaço de incompreensão em relação à China. O Japão não é radicalmente neutro porque estão mais próximos do que nós, tal como os coreanos.”

A autora da obra lamenta que “nunca venha ao de cima o que é a neutralidade chinesa”. “Se não partimos de um ponto neutral não conseguimos desenvolver um olhar que nos leva a compreender o outro como ele é”, frisou. No final, e perante o repto lançado por uma interveniente, ficou a promessa do CCCM vir a organizar um ciclo de cinema chinês.

19 Set 2022

O legado de Jean-Luc Godard visto por três cineastas locais

Peeko Wong, Maxim Bessmertny e Vincent Hoi comentam o legado que Jean-Luc Godard deixou no cinema francês e mundial. Falecido na última terça-feira, aquele que é considerado o pai da chamada “Nova Vaga” foi uma inspiração para muitos os que abraçaram a realização de filmes como carreira

 

A morte de Jean-Luc Godard na passada terça-feira, depois de este ter recorrido à morte medicamente assistida, deixou o mundo do cinema abalado face ao legado deixado por aquele que é considerado o pai da “Nova Vaga”. Autor de filmes com um forte teor político, ou com histórias de amor passadas na bela cidade de Paris, como é o caso de “O Acossado”, Jean-Luc Godard incutiu no cinema francês uma onda de experimentalismo nunca antes vista.

Foi a “Nova Vaga” que inspirou a cineasta local Peeko Wong desde o primeiro momento em que decidiu fazer cinema. “Grande parte da minha juventude e período de estudo foram influenciados pela ‘Nova Vaga Francesa’, especialmente quando estudava em França”, começou por dizer ao HM. “A Cinemateca Francesa, [a revista] Cahiers du Cinema [Cadernos do Cinema] e o clube de cinéfilos nutriam a minha criação e deram-me uma motivação prática para o meu trabalho em Macau, e também na curadoria de cinema”, acrescentou.

Peeko Wong destaca “as ambições políticas e sociais de Godard”, bem como a sua “desobediência” que a “inspiraram bastante”. “Houve uma luta pelos valores nos quais acreditavam: a protecção da Cinemateca, o apoio ao movimento do Maio de 1968, o envolvimento pessoal no Comunismo ou no movimento feminista”, disse.

A realizadora de Macau afirma que sempre foi influenciada pela temática do existencialismo, muito presente na obra de Godard, sobretudo quando era jovem. “Numa pequena cidade com poucas actividades culturais, sempre senti um vazio e pensava sobre a existência e o futuro, pelo que, quando via a vivacidade do protagonista de ‘Pierre Le Fou’ [filme de Godard lançado em 1965] ou ‘The Breathless’, tal tinha um grande impacto em mim”, destacou.

Peeko Wong não esquece as últimas obras do realizador francês, “mais filosóficas, que desafiaram a linguagem fílmica, e que muitas vezes me lembraram que os filmes têm em si imensas possibilidades”.

“Estou grata pelo facto de ter tido na minha vida a obra de Godard e a ‘Nova Vaga Francesa’. Espero que os realizadores de Macau possam manter a sua rebelião e abrir as suas mentes para as futuras criações”, rematou.

O “jump cut” repetido por muitos

Também Vincent Hoi destaca os filmes “Breathless” e “Pierrot Le Fou” como alguns dos seus favoritos de Godard, a par de “Goodbye to Language”. “Apesar do estilo de cinema de Godard não ter uma influência directa em mim, a sua atitude de fazer algo novo e o facto de ter enfatizado a teoria de autor fez-me acreditar que, como realizador independente, eu poderia ser o autor do meu filme”, disse ao HM.

O cineasta local destaca ainda a inspiração que o trabalho de Godard teve, sobretudo a técnica famosa de “jump cut” na obra do realizador de Hong Kong Wong Kar-Wai, no filme “Chungking Express”.

“Jean-Luc Godard insistiu em fazer algo novo, quebrando as regras da linguagem cinematográfica, ou criando mesmo uma nova. Ele mostrou a todo o mundo, ou pelo menos ao cinema europeu, que não havia regras na realização de filmes. A maior força criativa de um filme vem do realizador e não do investidor ou do produtor, e este importante conceito reforça a existência do cinema independente”, frisou Vincent Hoi.

Maxim Bessmertny também destaca a obra “Breathless” que começou a ver ainda jovem, entre outras películas de Godard, embora assuma que ainda lhe falta descobrir mais sobre o trabalho do cineasta francês.

“É uma enorme perda para o mundo do cinema. Godard teve várias facetas, daí a sua importância. Conheci os filmes dele quando era mais novo, com cerca de 19 e 20 anos. Continuo a redescobrir mais filmes dele. Outra coisa importante no modo de filmar e na filosofia de Godard foi o facto de ele ser antes um crítico de cinema, quando escrevia para a revista ‘Cahiers du Cinema’, onde dissertava sobre o cinema dos anos 50. A partir daí começou a ser cineasta, e achei isso muito interessante. Ler essa publicação fez-me despertar para o cinema independente, cujo percursor foi Orson Welles, que influenciou muitos dos filmes feitos depois do Citizen Kane.”

O realizador de ascendência russa recorda alguma influência que o trabalho cinematográfico de Orson Welles teve em Jean-Luc Godard, ao nível da forma de filmar e da composição da narrativa do filme. “Godard viveu uma longa vida e vai ser sempre recordado pelas suas obras e escrita”, disse Maxim Bessmertny.

19 Set 2022

Ciclo de actividades para assinalar centenário do nascimento de José Saramago

O centenário do nascimento de José Saramago, escritor português e prémio Nobel da Literatura, celebra-se em Macau a partir do dia 29 deste mês com a inauguração de uma exposição e a exibição de vários filmes. A mostra biobibliográfica “Voltar aos passos que foram dados 1922-2022” será inaugurada no Instituto Português do Oriente (IPOR) no dia 29, às 18h30, seguindo-se uma mesa redonda, no auditório Stanley Ho, com Carlos Reis, professor catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que irá falar sobre a vida e obra de José Saramago.

A mesma mostra será exibida, a partir do dia 17 de Outubro, na sala Kent Wong da Universidade de São José. Entre os dias 3 e 16 de Novembro a exposição passará a estar presente na Escola Portuguesa de Macau.

Também no dia 17 de Outubro, e na sala Kent Wong, serão exibidos três documentários da série “Herdeiros de Saramago”. O auditório Stanley Ho volta a encher-se, mas desta vez com cinema, nos dias 30 de Setembro, 7 e 14 de Outubro. Serão exibidos três filmes: “José e Pilar”, documentário de Miguel Gonçalves Mendes, “Embargo” e “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, respectivamente. As sessões acontecem pelas 19h e têm entrada livre. No dia 26 de Outubro, terá lugar a mesa redonda subordinada ao mesmo tema “Herdeiros de Saramago”.

A Escola Portuguesa de Macau (EPM) tem ainda actividades programadas com alunos sobre a vida e obra do Nobel português, e que incluem oficinas de leitura e exibição de filmes, cujo programa será posteriormente divulgado.

No dia 16 de Novembro celebra-se o centenário do nascimento do escritor, pelo que a EPM irá atribuir o Prémio José Saramago.

Estas actividades contam com a organização do Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, o Instituto Português do Oriente, a Universidade de São José e a Escola Portuguesa de Macau, tendo ainda o apoio da Fundação Saramago e do Instituto Camões.

16 Set 2022

Chá Gordo | ADM promove quatro sessões até ao final do ano 

Realiza-se já amanhã, na sede da Associação dos Macaenses, uma sessão de Chá Gordo, uma refeição volante típica da gastronomia macaense, e que será a primeira de três que a associação irá promover até final do ano. Miguel de Senna Fernandes, presidente, diz que é uma forma de revitalizar o leque de actividades

 

Experimentar as iguarias do Chá Gordo, uma tradicional refeição da gastronomia macaense, será possível amanhã, na sede da Associação dos Macaenses (ADM), entre as 17h30 e as 20h30, sendo esta a primeira de três sessões do género que a associação pretende organizar até final do ano. O menu está a cargo de Marina de Senna Fernandes e a actividade é subsidiada pela Fundação Macau.

Ao HM, Miguel de Senna Fernandes, presidente da ADM, disse que já ultrapassaram as 40 inscrições. “Esta é uma primeira amostra e vamos ter mais três até ao final do ano. Temos um número limitado de pessoas e parece-me que as inscrições estão no bom caminho, já temos mais de 40. Se não fizermos absolutamente nada estamos a colaborar com a estagnação [que Macau vive em termos de actividades], e esse não é o meu estilo. Vamos fazer o que for dentro do possível”, adiantou.

O Chá Gordo, por tradição, “era um evento com uma refeição muito rica, feita pelas velhas famílias macaenses que tinham condições para o fazer”. “Era motivo de orgulho mostrar aos amigos e convidados em geral. O Chá Gordo era um momento pouco chique, não se esperava que os homens vestissem fraque. Mas havia uma certa indumentária, lembro-me bem das pessoas que apareciam no Chá Gordo, que se vestiam bem, porque o evento assim o justificava.”

Desta forma, acrescentou Miguel de Senna Fernandes, o evento da ADM exige “dress code”, sem necessidade de vestidos de cerimónia. “Queremos que as pessoas evitem ir de calças de ganga e ténis, para que entendam o espírito do Chá Gordo.”

Molhos e companhia

Marina de Senna Fernandes levantou a ponta do véu sobre os pratos que poderão ser provados numa refeição cheia de diversidade e onde os convidados ficam de pé a servir os pratos. “Vou usar um prato muito antigo, o Missó Cristão, que é um molho com origem japonesa, do tempo dos missionários japoneses e jesuítas que estavam em Macau. Esse prato foi praticamente esquecido e hoje em dia já ninguém faz, mas o molho é muito versátil e pode ser usado com peixe, camarões ou entrecosto. Já o fiz várias vezes e vou fazer com bacalhau e camarões. É um molho muito especial.”

Haverá ainda o “Arroz Gordo”, tido como a “dama da festa”, pois “Chá Gordo sem o Arroz Gordo não é Chá Gordo”, disse Marina de Senna Fernandes. É um arroz feito à base de guisado de várias carnes com ovos de codorniz, frutos secos e polpa de tomate.

“Esta é uma mostra da arte de bem receber e de hospitalidade. Todas as carnes do Chá Gordo têm de ser cortadas para serem comidas na hora, para não deixar que as pessoas usem as mãos ou talheres”, concluiu.

Marina de Senna Fernandes disse ainda que o próximo Chá Gordo na sede da ADM terá lugar no dia 15 de Outubro, onde serão desvendados os segredos do Chá Gordo para casamentos, “onde a comida é um bocadinho diferente”.

16 Set 2022

Semana dourada | Medidas de entrada serão analisadas “de forma dinâmica”

As autoridades de saúde não planeiam alterar as medidas de entrada em Macau tendo em conta a chegada da Semana Dourada, mantendo-se os prazos de validade dos testes. Sobre a posição da OMS, que indicou que a pandemia poderá estar perto do fim, o Governo não dá sinais de mudar de estratégia

 

Aproxima-se o período de feriados da Semana Dourada, em finais deste mês e princípios de Outubro, e mesmo com as expectativas de ligeira recuperação no sector do turismo, o Governo não dá mostras de relaxar as medidas de entrada no território. “Vamos manter as medidas inalteradas. Falta algum tempo para a Semana Dourada e vamos continuar a avaliar a situação de forma dinâmica”, disse Leong Iek Hou, coordenadora do centro de coordenação de contingência do novo tipo de coronavírus. Desta forma, mantém-se os prazos de validade dos testes necessários para entradas e saídas entre Macau e a China.

O que também se mantém inalterada é a postura das autoridades em relação à pandemia, mesmo que Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), tenha dito que o fim da pandemia poderá estar próximo.

“Os Serviços de Saúde (SSM) e o Governo observam de forma estreita a avaliação da OMS em relação à pandemia. Acompanhamos de perto as orientações e medidas aplicadas no Interior da China. O que está a ser feito em Macau tem a ver com a nossa realidade”, adiantou a mesma responsável.

Na quarta-feira o director-geral da OMS declarou que “na semana passada, o número de mortes semanais por covid-19 foi o mais baixo desde Março de 2020”. “Nunca estivemos em melhor posição para acabar com a pandemia. Não estamos lá ainda, mas o fim está próximo”, acrescentou.

Sobre o caso de contacto próximo detectado num hotel em Zhuhai, e que levou ao fecho do edifício, os SSM dizem estar em contacto permanente com as autoridades da cidade vizinha e que se houver residentes de Macau envolvidos irão informar a população.

O que é ser positivo

Na conferência de imprensa de ontem as autoridades admitiram ainda ter alterado, na última sexta-feira, os valores CT, associados à carga viral, que definem se uma pessoa está infectada com covid-19 ou se está “negativa”. Se antes o valor de CT abaixo de 38 significava que a pessoa estava com covid-19, agora, para ser considerado positivo o valor de CT tem de ser inferior a 35.

“Em todos os casos, locais ou importados, é usado este critério. Quem tiver um valor de CT inferior a 35 está positivo terá quarentena estendida. Com mais de 35 significa que a infecção não foi recente e a quarentena não tem de ser prolongada [fica mais dois dias para fazer testes]. Na altura, definimos o valor 38 para decidir se a pessoa infectada ia para o hotel ou isolamento médico. Mas ao longo do tempo percebemos que muitas pessoas apresentavam o valor CT de 35, que se mantinha aquando da realização dos dois testes, o que significa um caso sem grande risco de transmissão na comunidade. Na sexta-feira passada decidimos que, quando o valor CT se mantém, não é necessário prolongar a quarentena”, revelou ontem a representante dos Serviços de Saúde, Wong Weng Man.

16 Set 2022

ADM | Associação “paralisada” com novos critérios da Fundação Macau 

A cantina da Associação dos Macaenses deveria reabrir este mês, mas tal não será possível. Eventos como a festa de Natal vão obrigar a uma ginástica orçamental e a planos de gestão alternativos. Miguel de Senna Fernandes, presidente, diz que os novos critérios de subsídios definidos pela Fundação Macau vieram baralhar os planos da direcção

 

Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses (ADM), diz que a entidade está “paralisada” devido, em parte, aos novos critérios de atribuição de subsídios a associações definidos pela Fundação Macau (FM).

O facto de terem sido feitos cortes financeiros e de o montante ser definido consoante o número de actividades realizadas está a limitar o alcance que a ADM pode ter.

A reabertura da cantina, um dos espaços mais frequentados pela comunidade macaense, mas não só, não tem data para voltar a abrir portas, desde que os funcionários rescindiram contrato em Abril deste ano e deixaram Macau.

Entretanto, contratar tornou-se quase impossível devido à falta de dinheiro e de recursos humanos.
“A ADM está parada por causa das restrições e há muitas limitações que se impuseram. A cantina ficou completamente estagnada e vamos procurar reabri-la. Neste momento ainda não há condições porque não tem sido fácil a contratação de pessoas porque não há dinheiro. Logo que haja condições financeiras para a contratação, obviamente que a cantina não vai parar. Talvez no início do próximo ano [possa reabrir], mas nem quero apostar numa data.”

Sim às actividades

A ADM está, assim, apostada na realização de diversas actividades, nomeadamente vários eventos de Chá Gordo até ao final do ano, entre outras. “Até ao fim deste ano a ADM vai apostar em várias actividades, dentro das condições mínimas que tem, para merecer este atendimento da FM. Ficamos praticamente paralisados em vários eventos do exterior, como a Festa de Natal ou de S. João, sem pessoal não vamos conseguir realizá-los. Estamos limitados em tudo o que envolva confecção de comida.”

A realização da festa de Natal, algo habitual para muitas associações locais, está também em risco. “Vamos ver se conseguimos fazer a festa de Natal, porque precisamos de pessoal e mais apoio. Já não temos dinheiro para essa festa e vamos ter de arranjar uma solução minimamente comportável para os sócios e que cubra as despesas mínimas, como a própria refeição e a banda”, disse Miguel de Senna Fernandes.

15 Set 2022

“Simple Pay” | Isenções para PME prolongadas até Fevereiro de 2023

A Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) decidiu prolongar, até “finais de Fevereiro de 2023” o prazo dos benefícios atribuídos às pequenas e médias empresas (PME) no que diz respeito à redução, isenção ou ofertas em matéria de emolumentos cobrados em transacções feitas através da plataforma “Simple Pay”.

Esta é uma das oito medidas de apoio às PME, no âmbito da crise económica causada pela pandemia, anunciadas pelo Governo. O prazo para as isenções ou reduções iria terminar no final deste mês.

Dados da AMCM mostram que, entre Outubro do ano passado e Julho deste ano, o valor das transacções das PME respeitantes ao serviço de “Simple Pay” totalizou mais de 9,5 mil milhões de patacas, além de que “as taxas de transacções envolvidas foram integralmente reduzidas, isentas ou oferecidas por parte das instituições financeiras, tendo beneficiado um total de cerca de 20.000 estabelecimentos comerciais de PME”.

A AMCM adianta também que mais de 90 por cento dos estabelecimentos comerciais do território “efectuaram a actualização dos aparelhos existentes”, tendo a cobertura de pagamentos móveis “vindo a alargar-se de forma gradual”.

No primeiro semestre de 2022, o número total de transacções de pagamentos móveis atingiu 130 milhões de patacas, com o valor total de transacções a ascender a 12,29 mil milhões de patacas, constituindo, respectivamente, duas vezes os totais verificados no período homólogo de 2021.

15 Set 2022

FAOM alerta para dificuldades no acesso ao trabalho 

No balanço da última sessão legislativa, os deputados ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau alertaram que continua a ser difícil encontrar trabalho na RAEM, sendo esta uma das grandes preocupações registadas no gabinete de atendimento. Foi ainda exigida celeridade na apresentação da segunda ronda de medidas de apoio

 

O Governo diz que ajuda, mas a verdade é que continua a ser “crítica” a situação do mercado laboral em Macau. Quem o diz são os deputados ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) que ontem, no balanço da última sessão legislativa, apontaram que continua a ser muito difícil encontrar trabalho em Macau. Este foi, aliás, um dos principais motivos das queixas recebidas no gabinete de atendimento dos deputados nos últimos meses.

“Sabemos de casos de vagas em que são propostas condições inferiores às que se praticam no mercado, como salários mais baixos, mas ao mesmo tempo exigem critérios mais rigorosos aos candidatos. Alguns ainda não tiveram a oportunidade de irem a uma entrevista de emprego, mesmo que já tenham enviado imensos currículos”, apontou Ella Lei.

A deputada deixou ainda o alerta sobre a falta de vontade dos empregadores em contratar residentes. “Nos últimos dias temos recebido queixas de candidatos que, apesar de serem recrutados, poucos dias depois são despedidos, com o empregador a justificar que afinal não tem trabalho para eles. O empregador admitiu não ter vontade de recrutar e contratou [as pessoas] apenas em coordenação com a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais,” adiantou.

As disputas laborais dominaram também os pedidos de ajuda feitos pela população aos deputados da FAOM na última sessão legislativa. “Aconteceram despedimentos ou situações de salários em atraso. Alguns casos já se prolongam há dois anos no tribunal e continuamos a acompanhá-los”, explicou Ella Lei.

Desta forma, é necessário resolver lacunas da actual lei laboral. “Queremos que o Governo reveja a lei laboral, sobretudo no que diz respeito aos salários em atraso, situação que afecta a sobrevivência dos trabalhadores”, referiu.

Zonas sem pagamento

O deputado Leong Sun Iok fez ainda um apelo para que as autoridades melhorem as condições laborais dos trabalhadores que vivem nas zonas amarelas ou vermelhas e que, por esse motivo, são sujeitos a licenças sem vencimento, sem terem direito a apoios apenas atribuídos a quem testa positivo à covid-19. Quem tiver de cumprir isolamento em casa não tem direito a qualquer pagamento ou compensação, sublinhou o deputado.

Relativamente à segunda ronda de apoios financeiros à população, no valor de dez mil milhões de patacas, os deputados voltaram a apelar à celeridade do Executivo, para que os desempregados possam sobreviver “neste período duro”.

Ao longo da última sessão legislativa o gabinete de atendimento dos deputados recebeu ainda pedidos de ajuda sobre candidaturas à habitação económica. Leong Sun Iok adiantou que as fracções de tipologia T1 são sempre insuficientes para as famílias monoparentais, tendo em conta que têm de competir com famílias que aceitam estes apartamentos. Desta forma, Leong Sun Iok pede o aumento da oferta de fracções económicas T2 e T3.

As disputas devido à compra de imóveis em Hengqin pelos residentes de Macau foi outro dos assuntos abordados pelos deputados. Leong Sun Iok pediu supervisão às vendas de edifícios em construção, para que os residentes não corram o risco de comprar um imóvel sem saberem a data da conclusão.

15 Set 2022

FAOM | Cerca de 80% forçados a não trabalhar durante surto

Um inquérito realizado pela Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) conclui que cerca de 80 por cento dos inquiridos foi obrigado a não trabalhar durante o último surto de covid-19, que teve início a meio de Junho.

Segundo o canal chinês da Rádio Macau, 78 por cento dos entrevistados disseram que o empregador suspendeu o funcionamento, enquanto 40 por cento diz ter recebido metade do salário habitual. Por sua vez, 37 por cento dos trabalhadores entrevistados ficou em licença sem vencimento no mesmo período.

Destaque ainda para o facto de 57 por cento dos entrevistados entender que o único factor que pode melhorar a situação de emprego é normalizar a passagem transfronteiriça entre Macau e o Interior da China. O inquérito foi realizado em Agosto e contou com 3.462 respostas válidas. Os responsáveis pelo inquérito sugerem que o Governo atribua a cada residente mais oito mil patacas em cartão de consumo, além de criar um sistema de apoio a residentes obrigados a não trabalhar, bem como a melhoria da sua formação profissional.

14 Set 2022

Rui Leão, arquitecto e presidente da Docomomo Macau: “A arquitectura moderna está a desaparecer”

A Docomomo Macau lança amanhã um guia sobre os principais edifícios de arquitectura moderna em Macau, intitulado “Macau Modern Architecture – Walking Guide”, que propõe oito roteiros pela cidade. O lançamento será acompanhado por uma discussão sobre arquitectura e identidade. O arquitecto Rui Leão, presidente da Docomomo Macau, defende que a população devia ser sensibilizada para a importância do património arquitectónico da cidade

 

Este guia é o levantamento que faltava sobre os principais exemplos de arquitectura moderna em Macau?

Sim. Isto era importante para a Docomomo, porque, no fundo, o nosso trabalho principal consiste em documentar o património do movimento moderno. O guia é uma peça importante que nos permite comunicar este conjunto de obras, todas notáveis, e que devem ser objecto de atenção e conhecimento da parte de todos. Tenho-me apercebido de que há um desconhecimento muito grande em relação à arquitectura moderna que existe na cidade. O guia é o instrumento que tem mais potencial para comunicar este conjunto de obras a um público alargado. Muitas obras estão maltratadas, os proprietários não têm interesse ou capacidade de reinvestir e renovar. A maior parte dos edifícios estão em risco de desaparecer, de serem demolidos ou objecto de uma intervenção que os possa desconfigurar mais, uma vez que não estão salvaguardados ou classificados.

Quais os principais edifícios incluídos no guia?

É uma lista de 40 edifícios, organizados em oito conjuntos que correspondem a oito áreas. O livro sugere oito passeios, que estão em grande parte distribuídos pela península de Macau, incluindo alguma selecção de edifícios em Coloane. Temos quatro passeios na zona sul da península e três passeios na zona norte.

Para si, qual é o edifício mais icónico?

Há uma grande diversidade, tanto em termos de autores como do tipo de edifícios. Mas é isso que também torna o património moderno de Macau muito rico. A minha selecção passa, por um lado, pelos autores que elegemos. Há um período mais remoto, em que a arquitectura era muito traçada por engenheiros ou desenhadores, macaenses e chineses, principalmente. Desse período [destaco] a obra de Canavarro Nolasco da Silva, na maioria em torno do Hotel Central. O Aureliano Guterres Jorge é outro belíssimo arquitecto. Ele era engenheiro, mas o trabalho dele como arquitecto e engenheiro é bastante notável. A obra do Aureliano foi, na sua maioria, já demolida, mas como referência temos o edifício muito bonito no princípio da Rua dos Ervanários, que tem uma varanda em cima. Destaco também o José Lei, chinês de Macau, autor do bloco de habitação Rainha D. Leonor.

Porque é que estes autores são tão importantes?

Eles marcam muito uma era e têm um conjunto de obras bastante internacional, apesar de serem pessoas sempre baseadas em Macau, tanto em termos de prática como de formação. Mas o facto de ser uma obra tão internacional também nos diz qualquer coisa sobre a cidade, que foi, ao longo do século XX, muito aberta, cosmopolita e multicultural, onde as coisas chegavam através de Xangai, Hong Kong e Portugal. Há ainda um segundo conjunto de obras que são da segunda metade do século XX, onde se inclui a obra de José Maneiras, do Manuel Vicente e algumas coisas do Oseo Acconci. Este é um período em que os programas são mais complexos e incluem-se edifícios mais complexos, maiores e com elementos mais sofisticados. Passaram a haver ateliers de arquitectura, o que fez uma grande diferença. Se calhar, do primeiro conjunto, o José Lei era mesmo arquitecto e teve um atelier muito importante em Hong Kong onde chegou a ser director das Obras Públicas.

Como foi o processo de escolha dos edifícios?

Foi um trabalho desenvolvido por um conjunto de pessoas da Docomomo e que foi objecto de vários ciclos de discussão ao longo dos anos. Num segundo momento, foi objecto de revisão de pares da parte de colegas nossos especialistas em património ou arquitectos que tenham conhecimento sobre o património modernista em Macau.

O livro faz então propostas de percursos que poderiam ser turísticos. Considera que deveriam ser tidas em conta pelo Governo, como uma alternativa diferenciadora?

Sem dúvida, mas não apenas o Governo, mas também os operadores de turismo e todas as pessoas envolvidas nesse tipo de projectos, porque isso tem a ver com o conhecimento da cidade. Este livro permite concluir que há mais produtos que podem ser promovidos como parte da cultura de Macau e que têm grande interesse e qualidade. Havendo conhecimento e esse tipo de oferta, consegue-se gerar um novo tipo de mercado e de movimento de pessoas que se interessam por arquitectura e modernismo.

Além do lançamento do livro vão também ter duas mesas redondas onde será discutida a arquitectura moderna que resta em Macau.

Esses eventos vão recair na comunicação do conteúdo do livro a outros sectores da sociedade. Não entendemos que o livro tenha de ter um lançamento e ponto final, mas queremos que seja um objecto de trabalho a partir do qual possamos ter um certo tipo de discussão com diferentes sectores da sociedade. Queremos também promover um debate sobre até que ponto o património é um elemento na construção da nossa identidade. Essa identidade tem vários pontos de vista, porque a comunidade chinesa, com uma cultura completamente diferente da portuguesa, dará outro lugar ao património, pelo que a discussão e os pontos de vista não serão os mesmos. A discussão em torno do património deveria existir de forma mais alargada e sistemática num lugar como Macau. Digo isto em tom de crítica em relação à sociedade civil. É uma discussão que está a ser atrasada, o que prejudica muito a cidade. Enquanto as pessoas não se relacionarem com o património de forma consciente, com entendimento sobre o que significa, é difícil haver políticas sérias de património.

Estes debates pretendem, então, fomentar a consciencialização da população sobre este tipo de arquitectura?

A nossa intenção é essa com estes primeiros debates que são ainda num campo mais alargado com pessoas que têm relação próxima com questões do património e identidade. As outras conversas que incluímos neste ciclo contarão com operadores de turismo e a esfera académica, além de que teremos uma terceira com entidades ligadas ao património. A ideia é que, com este ciclo, possamos criar uma rede de conversas e um movimento a partir do livro.

Temos finalmente um plano director. Assegura a protecção deste tipo de património?

Faz algumas referências muito genéricas à questão da salvaguarda do património e remete para planos de pormenor. Mas o instrumento que deveria instruir rigor nas políticas de salvaguarda do património é o plano de salvaguarda, que aparentemente existe, mas nunca foi publicado.

A pandemia e a situação que se vive em Macau afectou a percepção da população em relação à importância da salvaguarda deste tipo de património?

Não lhe sei responder. Acho que as pessoas ficaram mais sensíveis porque foram obrigadas a olhar mais para a cidade, mas não sei se isso terá sido suficiente para se questionarem ou terem mais apreço [pelo património]. As pessoas são muito diferentes e vejo diferenças entre mim, que sou português e tenho uma formação diferente, e para mim o lugar da arquitectura é muito claro. Para mim a arquitectura e os espaços públicos são essenciais no meu imaginário, na minha ideia de estar em Macau e na relação que existe com o passado português. Privilegio a arquitectura como algo central. Depois há pessoas na comunidade chinesa que têm pouco à vontade com o património no sentido em que ele pode ter conotações coloniais. Há diferenças que fazem desta discussão muito interessante, e que é preciso fomentar. Por isso, achamos que este ciclo de conversas era oportuno.

 

Conversas e debates

O lançamento do guia faz-se acompanhar por um debate que será o primeiro de muitos em torno da temática da arquitectura modernista. A livraria Pin-to acolhe uma mesa redonda que conta com a presença de Agnes Lam, ex-deputada e docente na Universidade de Macau, Christine Choi, presidente da Associação dos Arquitectos de Macau, e Chan Shui Wing, historiador de Macau.

O tema do debate será em torno do património modernista de Macau e as questões de identidade. Um segundo debate, também centrado na arquitectura moderna que resta em Macau, acontece dia 6 de Outubro na Livraria Portuguesa. Os dois eventos inserem-se na iniciativa “Conversas sobre a Arquitectura Moderna de Macau [Talks on Macau Modern Architecture], que regressa em Dezembro e Abril do próximo ano.

14 Set 2022

Fórum Macau | Think Tanks discutem desenvolvimento, segurança global e vias de cooperação

Realizou-se ontem o “Fórum dos Think Tanks entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, no Fórum Macau. Sob os temas do desenvolvimento e segurança global, 18 palestrantes apontaram caminhos para a convergência entre a China e mundo lusófono, com Macau a desempenhar o papel de elo de ligação. Num contexto de convulsões geopolíticas, um naipe alargado de académicos discorreu sobre possíveis pontes, além do comércio

 

“As portas da China não vão fechar, muito pelo contrário. Vão estar cada vez mais abertas”, indicou o comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China na RAEM, Liu Xianfa, no discurso de abertura do “Fórum dos Thinks Tanks entre a China e os Países de Língua Portuguesa”.

O evento, que decorreu ontem no Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, juntou académicos chineses e dos países de língua portuguesa (PLP) sob o tema: “Com base na plataforma de Macau, impulsiona-se uma cooperação mais estreita entre a China e os Países Lusófonos nesta Era Nova”.

O responsável do Comissariado dos Negócios Estrangeiros (MNE) da China em Macau afirmou que o desenvolvimento e a segurança devem ser as duas prioridades para uma nova agenda da cooperação sino-lusófona na era pós-pandemia.

O comissário lembrou que as prioridades foram definidas pelo Presidente chinês, Xi Jinping, como iniciativas globais, argumentando que é necessário “aprofundar a cooperação” com os países lusófonos nestas vertentes, de forma a “aumentar a confiança mútua, política”.

Liu Xianfa começou por destacar “a via acelerada de cooperação com os países de língua portuguesa” desde o início do século, para concluir: “Temos diferentes culturas e tradições, mas o desejo comum de seguir um caminho pacífico”.

O comissário lembrou o percurso “de sucesso” chinês, baseado no “socialismo com características chinesas”, mas também os mais de 67 mil milhões de euros que os países lusófonos garantiram em exportações para a China no primeiro semestre deste ano, dados que, defendeu, justificam um esforço futuro em dar novo fôlego à cooperação entre as duas partes.

Uma das ideias partilhadas foi a criação de “massa cinzenta” conjunta composta por think tanks dos países envolvidos, que funcionem como um sub-fórum que proporcione apoio intelectual ao Fórum Macau na concretização dos seus planos de acção.

“Acreditamos que o fórum vai criar novas ideias e aprofundar o intercâmbio e aprendizagem mútua, contribuindo para o pleno desempenho do papel de Macau como plataforma e para a elevação do nível de cooperação entre a China e PALOP sobre o desenvolvimento”, referiu Liu Xianfa.

Seguir seguro

Depois do mote dado pelo comissário do MNE em Macau ter sublinhado alguns dos sucessos e “milagres” alcançados pela República Popular da China nas últimas décadas, Xu Yingming, da Academia Chinesa de Comércio Internacional e Cooperação, do Ministério do Comércio, afirmou que o desenvolvimento da China pode servir de guião para países em via de desenvolvimento para reduzir a pobreza, aumentar a vitalidade económica.

“Por razões históricas os países de língua portuguesa partilham a mesma língua e relações especiais entre si. Ao mesmo tempo, tanto a China como estes países estão em vias de desenvolvimento e enfrentam oportunidades e desafios. A China e estes países complementam-se e, nos últimos anos, o comércio entre estes países bateu recordes histórias, com diversificação das áreas de investimento”, adiantou. O académico acrescentou que a “segurança é uma garantia para a cooperação entre a China e os PLP e um pré-requisito para o desenvolvimento, prosperidade e estabilidade”.

A ideia foi partilhada por Osvaldo Mboco, decano da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da UTANG – Universidade Técnica de Angola, que como a maioria dos palestrantes participou na discussão através de videoconferência. O docente sustentou que a “problemática da segurança” nos países de língua portuguesa em África mina as relações entre os Estados, sobretudo a nível económico.

Osvaldo Fernando Mboco ressalvou, por um lado, que “sem segurança dificilmente se pode alcançar o desenvolvimento”, mas recordou, por outro, que é necessário antes de mais definir o tipo de segurança que está em causa, assinalando, contudo, que, actualmente, “a grande preocupação é política ou de estabilidade política dos próprios Estados”.

O académico destacou casos como o da Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde e Angola, que vivem casos distintos de insegurança. Se Cabo Verde é politicamente estável, “mas sem uma economia pujante”, se na Guiné-Bissau existe “instabilidade política”, Moçambique vive “a ameaça terrorista em Cabo Delgado”, já Angola carece de segurança alimentar, fruto da recessão económica que data já de 2014, assinalou.

Um cenário que o leva a concluir que “a segurança é estruturante para qualquer tipo de desenvolvimento” e que esta “problemática (…) no continente africano põe em causa” a cooperação sino-lusófona.

Osvaldo Mboco sustentou igualmente que China e Angola têm de mudar o modelo de relações económicas, afirmando que “é preciso alterar a configuração das relações entre a China e o Estado angolano”, de forma a permitir a criação de unidades de fabrico, mais emprego e um maior volume de negócios, bem como a transferência de know-how. Contudo, avisou que, para que isso aconteça, “o Estado angolano tem de mudar o ambiente de negócios”, mais propício ao investimento estrangeiro.

Mensagem para dentro

Numa tarde em que também Elsie Ao Ieong U, secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, discursou perante uma plateia de notáveis, o secretário-geral adjunto do secretariado permanente do Fórum Macau, Paulo Rodrigues Espírito Santo não deixou de colocar o dedo na ferida das políticas restritivas de combate à pandemia.

O responsável e antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Comunidades de São Tomé e Príncipe lamentou que actualmente os cidadãos da África lusófona tenham sido excluídos da lista de países a cujos nacionais é permitida a entrada no território desde o início do mês.

Paulo Espírito Santo afirmou que “a não inclusão na lista” dos países africanos lusófonos “não beneficia a cooperação”, até porque, alegou, estes Estados “têm a pandemia sob controlo”.

Recorde-se que desde 1 Setembro é permitida a entrada de cidadãos de 41 países em Macau, incluindo o Brasil, ainda que obrigados a cumprir uma quarentena. O secretário-geral Adjunto do Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Comunidades de São Tomé e Príncipe pediu ainda às autoridades de Macau para reverem a decisão “para se ir ao encontro da mais elementar justiça”.

“Assim, rogamos bons ofícios por parte do Governo da RAEM, no sentido do alto da sua sabedoria e elevado critério, reveja tal decisão… A plataforma não pode estar fechada em si mesma, sob pena de se tornar redutora, devendo ter a agilidade e perícia de interagir de forma mais dinâmica com os demais países e regiões vizinhos”, afirmou o responsável

O tom do discurso, contudo, foi marcado pelo sublinhar das oportunidades que têm sido abertas à comunidade lusófona, pelo menos desde o início do século, com a criação do Fórum Macau, e pela necessidade de se continuar a reforçar a cooperação e a potenciar o papel de Macau enquanto plataforma entre a China e os países de língua portuguesa. É preciso continuar “a atrair novos negócios diferenciados de base lusófona e “atrair investidores lusófonos”, salientou.

Ideias para o futuro

Seguindo a linha de raciocínio do dirigente do Fórum Macau, que afirmou não ser “perceptível o cabal aproveitamento pelos empresários locais da China e dos PLP” do “enorme esforço para conceber e materializar estas estruturas” feito pelo Governo da RAEM, José Luís Sales Marques e Rui Gama sugeriram alguns caminhos.

O sub-director da Academia Sino-Lusófona da Universidade de Coimbra, destacou elementos de fomento de cooperação que vão além da balança de comércio externos e dos aspectos económicos. “Diria que a importância é maior do que a simples leitura dos dados, porque está associada à diversidade e complementaridade das economias, o potencial de especialização e vantagens competitivas que decorrem da inserção regional dos países, e do capital de conhecimento existente que está associado a este longo passado comum”, apontou o académico.

O docente destacou as parcerias nos domínios científico, tecnológico e empresarial, mobilizando actores de diferentes esferas nos sectores estratégicos que têm sido associados ao papel de Macau enquanto ela de ligação.

Podem ser criados projectos de investigação aplicada nas áreas de ciência de fronteira. “Se pensarmos na transversalidade do sector da saúde do ponto de vista das áreas científicas e o que são projectos em curso na universidade (Universidade de Coimbra) temos uma oportunidade única no que pode ser o avanço para outras áreas de futuro.

Outra da valência a explorar seria a “formação e capacitação das pessoas para responder a estas mudanças societais em curso”, no sentido de “antecipar o futuro em áreas ainda desconhecidas”.

José Sales Marques começou por apontar a recessão em que Macau está desde 2019 e o “impacto negativo para Macau”, que é extremamente elevado e para o qual contribuiu o peso do sector do jogo e a dependência quase exclusiva do turismo e do mercado chinês.

Face à evidência de que a diversificação da economia de Macau não tem sido alcançada, o presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau sublinhou a importância do investimento na investigação, desenvolvimento e fabrico de produtos de medicina tradicional chinesa, sobretudo através de investimentos realizados na zona de cooperação aprofundada de Hengqin. Área em que o académico entende que Macau tem condições para ser referência. Outras áreas dignas de aposta é o sector das finanças modernas e as indústrias culturais e do desporto.

13 Set 2022

CCCM | Bicentenário do jornal “Abelha da China” celebrado em Lisboa 

Os 200 anos da criação do primeiro jornal de língua portuguesa em Macau serão celebrados na próxima segunda-feira no Centro Científico e Cultural de Macau com uma conferência que contará com uma série de investigadores e historiadores ligados à RAEM, como é o caso de Tereza Sena, Jorge Arrimar ou Cátia Miriam Costa, entre outros. Será ainda lançado o livro “A Abelha da China nos seus 200 Anos: Casos, Personagens e Confrontos na Experiência Liberal de Macau”

 

O primeiro jornal em língua portuguesa de Macau foi criado há 200 anos e chamava-se “A Abelha da China”. Para celebrar a efeméride, que marca o início da presença da imprensa em português no território, algo que perdura até aos dias de hoje, o Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) acolhe, na próxima segunda-feira, uma palestra que conta com vários investigadores e historiadores ligados ao território que vão apresentar as diversas perspectivas históricas e políticas de um jornal ligado aos ideais liberais de 1820.

Ao HM, o académico Duarte Drumond Braga, um dos coordenadores do projecto, explicou a importância de celebrar esta data. “É o primeiro jornal de Macau e o primeiro de uma longa linhagem que continua até hoje. Ele está ligado ao movimento Liberal e a alguns partidários desse movimento em Macau, além de que era um jornal com uma orientação política bastante marcada nesse sentido. Penso que vale a pena ser celebrado.”

O painel de oradores conta com intervenções de Tereza Sena, historiadora e ex-residente de Macau, que apresenta o painel “Ascensão social e política de um natural de Macau durante o Liberalismo: António dos Remédios (ca.1770.-1841) – o primeiro passo”. Destaque ainda para a presença de Jorge Arrimar, poeta ligado a Macau que vai falar sobre a ligação do Ouvidor Arriaga, importante figura política do território à época e “um dos grandes inimigos” d’A Abelha da China, recordou Duarte Drumond Braga. “Ele era a figura mais poderosa de Macau nessa altura e partidário de um grupo rival às pessoas que estavam ligadas ao jornal.”

O programa inclui também a participação de Jin Guoping, do Instituto de Macauologia da Universidade de Jinan, em Cantão, e também ligado ao Centro de Estudos de Macau da Universidade de Macau, que abordará o tema “A Abelha da China estudada na Macauologia”.

Duarte Drumond Braga entende ser muito provável que o jornal fosse lido “por uma elite” da sociedade. A Abelha da China tinha artigos de opinião mas funcionava também como uma espécie de Boletim Oficial, que só seria criado muito depois. “Eram publicados resumos das sessões do Leal Senado, mas era um jornal que também tinha uma parte literária. Tinha uma posição política forte, porque o grupo liberal [ligado ao jornal] conseguiu chegar ao poder, embora sejam expulsos depois. O jornal também deu depois muitas informações sobre esse processo.”

O coordenador desta iniciativa entende que faltam ainda estudos académicos sobre o jornal. “Há um trabalho muito bom, feito pelo Daniel Pires, que é o ‘Dicionário Cronológico da Imprensa de Macau no Século XIX’, mas que não esgota estes materiais. Não só a Abelha da China como os jornais que começam a aparecer na altura estão ainda por estudar. Agnes Lam [docente na Universidade de Macau], por exemplo, deu um bom contributo, mas faltam ainda alguns estudos.”

Livro lançado

Acima de tudo o programa destaca a criação do primeiro jornal de língua não chinesa “no contexto da Revolução Liberal de 1820 e da primeira formulação do constitucionalismo português”, aponta o texto de apresentação do evento. Marcado, portanto, pelas doutrinas liberais da época, a Abelha da China “foi uma breve mas intensa publicação periódica (1822-23) que veio dar corpo à ideia de que não há verdadeira liberdade sem imprensa e sem a liberdade desta”.

“Plenamente alinhada com os debates do seu tempo, o seu projecto seria tomado por outros agentes políticos. Todavia, o seu legado de insubmissão acabaria por vingar”, aponta a mesma apresentação, que destaca ainda o facto de o periódico defender “uma ideia de autonomia sempre ligada à oligarquia local”.

“Nesse sentido, o jornal mostra também as alianças e os contactos múltiplos que o atravessam: com a China, onde sempre se enraizou, a Metrópole [Lisboa], o Brasil e Goa”.

“Por entre as suas páginas circulam figuras e influências de todas as proveniências, mostrando como Macau se integrava plenamente nos movimentos políticos e culturais do seu tempo, e onde a comunidade chinesa se encontrava ativa face a eles. E daí os casos, as figuras e os confrontos que gravitam em seu torno, e que os ensaios de historiadores e críticos da cultura e do jornalismo dissecam nesta obra”, lê-se ainda.

A sessão de segunda-feira, 12, conta ainda com a apresentação do livro “A Abelha da China nos seus 200 Anos: Casos, Personagens e Confrontos na Experiência Liberal de Macau”, que reúne artigos da autoria dos investigadores Cátia Miriam Costa, Jin Guoping, Jorge de Abreu Arrimar, Pablo Magalhães e Tereza Sena. A obra “tem por foco o primeiro jornal de Macau em língua portuguesa analisado a partir de diversas áreas das humanidades” e inaugura “a nova coleção de livros de História com chancela do CCCM, sendo feita em parceria com a Universidade de Macau”.

Acima de tudo, o livro pretende mostrar “um renovado interesse na história de Macau, na história do jornalismo na China e em língua portuguesa, e também na história sóciopolítica e cultural do território”.

9 Set 2022

MAM | Percursores da arte moderna em exposição a partir de hoje

Obras de pintores como Ennio Belsito, Kwok Se e Armando Vivanco, entre outros, podem ser vistas a partir de hoje no Museu de Arte de Macau na exposição “Prelúdio do Estilo Moderno de Macau”, que revela, em cada quadro, os primórdios da arte moderna no território

 

O Museu de Arte de Macau (MAM) apresenta, a partir de hoje, a exposição “Prelúdio do Estilo Moderno de Macau”, que pode ser vista até ao dia 7 de Maio do próximo ano. A mostra revela algumas das obras mais marcantes do arranque do modernismo em Macau, e inclui quadros como “Mulher carregando uma criança” de Ennio Belsito, datado de finais do século XIX.

De destacar que Ennio Belsito, pintor italiano, é autor de um dos quadros mais conhecidos de Manuel da Silva Mendes, que viveu em Macau entre 1901 e 1931 e é tido como um dos intelectuais mais importantes da primeira metade do século XX no território.

Os amantes da arte podem ainda ver trabalhos de pintores como Armando Vivanco, nascido em 1936 e falecido em 2012, cujo quadro “O Passeio Nocturno”, datado de 1984, estará exposto no MAM. Destaque ainda para a presença da obra “Cena pitoresca de porto pesqueiro”, de 1964 e da autoria de Kwok Se, pintor que viveu entre os anos de 1919 e 1999. “Estúdio Nello”, de Chen Shou Soo, pintor nascido em 1915 e falecido em 1984, será outro dos nomes presentes na mostra.

A exposição tem como objectivo traçar, “através de mais de 150 obras com um estilo distinto, da autoria de 60 artistas”, os percursos pela pintura moderna de artistas de Macau ou de artistas com importantes ligações a Macau, desde o início do século XX até 1986.

Aposta na casa

Grande parte da exposição foi construída com peças pertencentes às colecções do MAM, enquanto que outras obras de arte “foram emprestadas por pintores e coleccionadores”, existindo uma “predominância das pinturas a óleo, complementadas por aguarelas, esboços e esculturas”.

Uma nota do Instituto Cultural aponta que a ideia por detrás da colecção exposta se centra “em figuras e eventos na área artística de Macau, entrelaçando experiências de associações artísticas importantes, grandes mestres e seus discípulos em diferentes períodos”. O objectivo é que o público possa “rever este processo de desenvolvimento das belas-artes modernas de Macau cheio de sentimentos românticos”.

A mesma nota dá conta que o século XX “marca a formação do estilo artístico de Macau bem como seu grande desenvolvimento e florescência”, pelo que as obras deste período “nos permitem olhar, em retrospectiva, os percursos dos artistas daquela geração, numa época de recursos escassos e com o espírito de ‘combinação ecléctica da China e do Ocidente, do passado e do presente’, abrindo um novo capítulo para a localização da pintura ocidental e definiram o tom para a pintura ocidental de Macau”.

9 Set 2022

Calçada do Gaio | Grupo de salvaguarda exige investigação do CCAC

O Grupo para a Salvaguarda do Farol da Guia enviou ontem uma carta ao Chefe do Executivo a exigir uma investigação do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) sobre a inacção dos anteriores Chefes do Executivo, Edmund Ho e Chui Sai On, sobre o edifício embargado na Calçada do Gaio e o facto de a sua altura afectar a vista do Farol da Guia, património mundial da UNESCO.

Na carta, divulgada ontem pelo grupo nas redes sociais, o grupo pede que o CCAC “conduza uma investigação e explique publicamente as razões [para o atraso na resolução do caso], a fim de assegurar uma maior eficiência da Administração pública”. Os autores da missiva dizem “lamentar que os anteriores Chefes do Executivo não tenham cumprido promessas e resolvido os problemas [relativos a esta questão] nos seus mandatos”.

As esperanças para que o edifício venha a ter altura inferior a 82 metros são depositadas em Ho Iat Seng. “Esperamos que o actual Chefe do Executivo cumpra, a curto prazo, a promessa feita à sociedade e à comunidade internacional há 14 anos e reduza a altura do edifício inacabado para 52,2 metros. Pede-se ainda que o referido projecto seja concluído de forma a não afectar a paisagem do património mundial de Macau”, lê-se ainda.

Quanto ao pagamento de indemnizações ao responsável pela obra, o grupo entende que o Governo “deve ser imparcial e entregar o caso aos tribunais, de modo a que a sociedade de Macau e a comunidade internacional possam compreender os pormenores do projecto”. Na visão do grupo, “um processo à porta fechada suscitará dúvidas quanto aos benefícios atribuídos”.

9 Set 2022

Cinema | Documentário sobre Anthony Bourdain abre festival

O Festival Internacional de Documentários de Macau começa no dia 16 de Setembro com a apresentação de “Roadrunner: A Film About Anthony Bourdain”. O documentário que estreou no ano passado centra-se na vida e carreira do conhecido chefe de cozinha, crítico gastronómico e apresentador de televisão que correu o mundo, incluindo Macau, a mostrar iguarias

 

Um documentário sobre a vida e carreira de Anthony Bourdain, o famoso chef, crítico gastronómico e apresentador de televisão é a aposta para a abertura da sexta edição do Festival Internacional de Documentários de Macau (MOIDF, na sigla inglesa), que arranca no dia 16 de Setembro, sexta-feira. O evento, organizado pela Associação de Arte e Cultura – Comuna de Han-Ian conta com documentários de vários países e decorre até ao dia 10 de Outubro, sempre com exibições nos cinemas CVG do NOVA Mall, na Taipa.

O filme realizado por Morgan Neville, intitulado “Roadrunner: A Film About Anthony Bourdain” revela um lado íntimo do autor, já falecido, fora dos ecrãs.

O chefe de cozinha, que chegou a filmar um episódio do programa “No Reservations” em Macau, revelando os segredos da cozinha cantonense e macaense, teve uma vida cheia de altos e baixos, marcada pelo sucesso, mas também por alguma instabilidade emocional e consumo de drogas. A vida de pessoal de Bourdain, que cometeu suicídio, é aqui revelada através de testemunhos da ex-mulher, amigos e colegas, num documentário que convida à reflexão sobre o contraste entre o lado pessoal e público na vida de uma celebridade.

No dia seguinte, dia 17, “Roadrunner: A Film About Anthony Bourdain” volta a ser exibido, fazendo-se acompanhar pelas películas “Boiling Point”, de Philip Barantini, que relata a vida de um outro chefe de cozinha, Andy Jones, que trabalha num dos melhores restaurantes de Londres, mas que se debate com problemas de dívidas e uma vida pessoal caótica, um pouco à semelhança das vivências de Bourdain.

No mesmo dia é também exibido “Flee”, um documentário de animação com a assinatura de Jonas Pooher Rasmussen que retrata a vida de Amin Nawabi, um académico de 36 anos que vive há 20 anos com um segredo, o facto de ter sido uma criança refugiada do Afeganistão.

Aposta local

Com o tema “Outsider”, o Festival Internacional de Documentários de Macau propõe na sexta edição mostrar vivências de pessoas que estão à margem da sociedade. O cartaz aposta também na língua portuguesa com a secção “Sabor de Português” que inclui o filme experimental “Super Natural”, de Jorge Jácome, exibido dia 23 deste mês.

No dia 26 de Setembro será apresentado “O Território”, um documentário de Alex Pritz focado na luta entre os últimos membros da tribo indígena Uru-eu-wau-wau e os agricultores que, apoiados pelo presidente brasileiro Jair Bolsonaro, pretendem explorar as suas terras, destruindo aos poucos o habitat natural da tribo.

O cartaz do MOIDF inclui ainda uma secção destinada a apresentar o que de melhor se faz na área do documentário em Macau. Desta forma, os filmes da primeira edição da Competição e Exibição do Documentário de Macau serão exibidos nos dias 21 e 28, tal como as películas “The Lily Yet to Bloom (Director’s Cut)” e “21 Hours”.

O primeiro, da autoria de Lei Cheok Mei, conta a relação da realizadora com a sua mãe, croupier num casino, uma profissão que, devido às constantes mudanças de horário, alterou por completo as rotinas e, sobretudo, as relações familiares. Lei Cheok Mei é de Macau e formou-se em cinema e realização na Universidade de Taipei.

Por sua vez, “21 Horas” conta a vida diária dos estudantes transfronteiriços que todos os dias têm de passar a fronteira entre Macau e Zhuhai, o que lhes retira cerca de três horas ao dia, restando apenas 21 horas para as restantes actividades. O facto de viverem entre um lado e outro traz aos alunos uma diferença social e cultural e problemas de identidade, que são espelhados no filme. “21 Horas” conta com a assinatura de Kyla Liang, nascida em Zhuhai em 2001 e estudante de comunicação na Universidade de Macau.

O “MOIDF”, além de mostrar alguns filmes oriundos da Coreia do Sul, traz também a secção “Realizador em Foco”, com a aposta no trabalho de Zhou Hao, realizador chinês conhecido por mostrar nos seus filmes diferentes perspectivas da sociedade do país. Serão exibidos alguns filmes do realizador, como “O Presidente da Câmara Chinesa” e “Algodão e Uso”. Para culminar o ciclo dedicado ao cineasta, o próprio Zhou Hao irá protagonizar uma masterclass que visa a interacção com o público local.

8 Set 2022

Pequim emite títulos de dívida no valor de três mil milhões de RMB

O Governo Central emitiu ontem em Macau títulos de dívida em renminbi no valor de três mil milhões de renminbis. A operação foi um sucesso, segundo declarou Wang Kebing, director do departamento financeiro do Ministério das Finanças chinês.

O governante assegurou que a procura foi superior à oferta e que a emissão foi “muito bem-recebida pelos investidores”, com o montante solicitado a “exceder em muito o montante da emissão”

Os investidores que adquiriram títulos de dívida foram, sobretudo, bancos comerciais e entidades institucionais, como seguradoras e empresas de fundos. O representante do Banco da China em Macau explicou que a procura destes títulos de dívida foi na ordem dos cinco mil milhões de renminbis, montante bem superior ao colocado no mercado.

É a segunda vez que a China emite títulos de dívida na RAEM. A primeira ocorreu em 2019, no valor de três mil milhões de renminbis, destinada aos investidores profissionais.

Wang Kebing disse ontem, na cerimónia de lançamento dos títulos de dívida, que “o Governo Central apoia a transformação do desenvolvimento da diversificação adequada da economia de Macau, sendo a construção do mercado de obrigações e o desenvolvimento das finanças modernas fundamentais”.

O responsável disse também que o sucesso desta acção financeira, “além de aumentar a profundidade e a amplitude do mercado de títulos de dívida de Macau, também aumenta a confiança dos mercados”.

Títulos para todos os gostos

O secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, referiu na mesma cerimónia que Pequim tem apoiado bastante o desenvolvimento do sector financeiro na RAEM e que “o mercado de obrigações de Macau tem vindo a expandir-se de forma estável”. Desta forma, “o leque dos tipos de dívida tem vindo a enriquecer-se gradualmente”.

O governante frisou que o Governo “está a aperfeiçoar as bases do desenvolvimento do mercado de obrigações através das infra-estruturas financeiras, do regime jurídico, dos incentivos fiscais e do apoio aos talentos”. Lei Wai Nong disse esperar que o Governo Central emita títulos de dívida em Macau de forma regular, “de modo a criar um bom ambiente de mercado e atrair mais participantes”.

Esta foi a primeira vez que a Central de Depósito de Valores Mobiliários de Macau forneceu serviços de registo, liquidação e custódia aos títulos de dívida soberana. O secretário entende que esta operação revela que “o mercado de obrigações de Macau atingiu um novo patamar”.

8 Set 2022

Exposição | Taipa acolhe obras de Ernest Wong Weng Cheong

A Associação Cultural Vila da Taipa apresenta, a partir de 14 de Setembro, a exposição do artista local Ernest Wong Weng Cheong, intitulada “Catch It Outside 2.0”. A mostra reúne gravuras apresentadas pela primeira vez em Macau. João Ó, presidente da associação, levanta a ponta do véu sobre as exposições futuras, que incluem artistas como Nino Bartolo e André Carrilho

 

“Catch It Outside 2.0” é o nome da exposição que poderá ser vista na galeria da Associação Cultural Vila da Taipa a partir de 14 de Setembro. Da autoria do artista local Ernest Wong Weng Cheong, a mostra apresenta, pela primeira vez em Macau, uma colecção de gravuras em que o autor explora novas técnicas de gravura a três dimensões, misturando-as com técnicas mais tradicionais.

João Ó, presidente executivo da associação, falou ao HM sobre os processos criativos que resultaram em “Catch It Outside 2.0”. “Ele combina uma técnica muito tradicional de gravura e depois faz uma simulação tridimensional de imagens. Reproduz e simula imagens em três dimensões, mas transforma-as em obras artísticas através dos métodos tradicionais. Por norma, vemos na gravura os trabalhos feitos na chapa e impressos sobre o papel, mas no caso dele é ele que produz as imagens, reconverte-as para a chapa e depois para o papel.”

Para João Ó, esse aspecto “é muito interessante”, porque permite observar imagens fotográficas em técnicas de gravura, “uma combinação curiosa e nova para nós [como galeria] e para o mercado de Macau”.

Os temas de Ernest Wong Weng Cheong vagueiam em torno da “natureza morta, como o tijolo, o vaso ou o frasco”, sendo que o artista faz depois uma “composição especial com elementos especiais, quase fictícios, criando espaços interiores com um rasgo de luz, e com elementos naturais bastante interessantes”.

“No fundo, ele cria uma nova dimensão que obriga o observador a respirar um novo mundo. Quando olho para as suas gravuras sinto que posso passar para um outro lado e respirar um novo ar. Corporalmente, obriga-me a entrar na imagem, não há uma separação. Obriga-me a submergir e a entrar na obra de arte”, adiantou João Ó.

Do Japão para Macau

Foi com a mostra “Somewhere Still Wild”, com curadoria de James Wong, e que esteve patente na Casa Garden no ano passado, que João Ó teve o primeiro contacto com o trabalho de Ernest Wong Weng Cheong, formado em Belas Artes na Universidade de Londres.

“Foi uma exposição muito interessante, das melhores que já vi em Macau, e cujo curador foi James Wong, que é conhecido como o mestre da gravura em Macau. Ernest Wong é discípulo dele, vi que se tinha formado numa das melhores escolas do mundo e que regressou a Macau, de onde é natural. Tendo percebido que ele não tinha tido, até então, muitas exposições individuais, entendi que era um artista aos quais era preciso dar valor e que ia de encontro ao mote da nossa galeria, que é o de apresentar novos artistas numa vertente mais experimental.”

De frisar que “Catch It Outside 2.0” teve apenas uma primeira exposição no Japão, numa galeria de arte em Quioto. “Foi ele que nos fez esta proposta para apresentar, pela primeira vez, o seu trabalho em Macau. [Os trabalhos da mostra] têm uma qualidade de execução bastante acima da média para o que vemos em Macau”, adiantou o presidente executivo da associação e arquitecto.

Para João Ó, as peças de Ernest Wong Weng Cheong fazem lembrar as peças de Giorgio Morandi, grande pintor italiano conhecido sobretudo pelos seus trabalhos de natureza morta, como vasos e frascos, entre outras “composições minimalistas de elementos domésticos”.

“A composição e a tensão entre os objectos que estão juntos numa posição cria alguma harmonia. O Ernest vai muito para essa composição espacial, e quando cria uma nuvem quase surrealista por cima de um vaso leva-nos a crer que teve alguma inspiração nesse género de pintura.”

João Ó acredita que os trabalhos do artista local conduzem à “reflexão sobre uma realidade que tenta limpar todos os problemas que temos e levar-nos a apreciar esteticamente um novo conteúdo”.

O artista “traz uma visão muito peculiar do que ele entende ser uma obra de arte”, saindo “um pouco da linguagem e do espectro a que estamos habituados a ver em Macau, por ter estudado lá fora, sempre com uma grande qualidade”.

As novas exposições

“Catch It Outside 2.0” estará patente nas novas instalações da Associação Cultural Vila da Taipa, na Rua Correia da Silva, na Taipa Velha. “Continuamos a ter um espaço pequeno, mas é a partir daí que as experiências são mais interessantes”, assegura João Ó, que levanta a ponta do véu sobre o que poderá ser visto até Fevereiro no novo espaço.

Uma das exposições é do estilista de cabeleireiro macaense Nino Bartolo, que usa uma técnica mista de fotografia como veículo de expressão artística. “Ele trabalhou muitos anos na Vidal Sassoon e continua a trabalhar nessa área, mas tem uma grande paixão por fotografia. Vamos ter uma exposição de fotografias de cabelos e perucas criados por ele, num encontro bastante inusitado.”

Destaque também para a exposição do conhecido ilustrador português André Carrilho, ex-residente de Macau, que apresenta fotografias dos trabalhos que fez sobre viagens. “Esta é uma óptima oportunidade para voltar a apresentar o trabalho do André Carrilho em Macau, com a viagem como tema, numa altura em que é difícil viajar.”

João Ó conta que a exposição terá como base os cadernos de ilustrações de viagens de André Carrilho, em locais como Macau, Goa, Nova Iorque ou Paris. “Será uma lufada de ar fresco”, assegura.

7 Set 2022

Vogal do IAM exige investigação a entulho no terreno do Pearl Horizon

Chan Pou Sam, vogal do conselho consultivo do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), exige que o Governo investigue a origem do entulho encontrado no lote P, terreno situado na zona da Areia Preta que outrora se destinou ao empreendimento residencial Pearl Horizon.

Ao Jornal do Cidadão, o responsável disse ter recebido muitas queixas de moradores sobre a situação, “cada vez mais grave”, suspeitando de descargas ilegais de entulho e materiais de obras por parte de um estaleiro da construção civil próximo do terreno.

Após uma visita ao lote, Chan Pou Sam foi informado de que na sequência de inspecções, foram feitas limpezas. Os responsáveis pela obra próxima do lote P dizem nada ter a ver com o entulho e sujidade no local e apontaram responsabilidades ao “lixo acumulado nos últimos anos”.

“Se esta situação já existia no passado, porque as autoridades não trataram do assunto, deixando a situação arrastar-se até agora? Se tudo aconteceu agora, as autoridades devem investigar as razões”, indicou Chan Pou Sam.

Lixo a céu aberto

O vogal do IAM destacou ainda que o assoreamento do rio expôs lixo e entulho à superfície. A acumulação de resíduos ao longo da costa pode não apenas poluir o Delta do Rio das Pérolas como aumentar o risco de inundações e prejudicar o funcionamento das estações elevatórias, adiantou.

Desta forma, o responsável exige que entidades como o IAM, Direcção dos Serviços de Solos e Construção Urbana, Direcção dos Serviços de Obras Públicas e Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental reforcem as inspecções periódicos.

Uma das alterações defendidas por Chan Pou Sam passa pelo aumento das multas pelas descargas ilegais, actualmente de apenas 600 patacas, podendo atingir 1.000 ou 2.000 patacas caso se tratem de descargas tóxicas para o ambiente.

“São valores muito insignificantes, e para as empresas de construção que precisam cumprir prazos de obras, não são nada, sobretudo se tivermos em conta as grandes empresas”, disse. No Interior da China, lembrou o vogal, os montantes variam entre 100 mil e um milhão de renminbis para este tipo de descarga.

7 Set 2022

CEM | Consumidores queixam-se de custos da luz acima do normal

Diversos consumidores residenciais queixaram-se de ter recebido facturas de electricidade com contas exorbitantes, algumas acima de 3.000 ou 4.000 patacas, apesar de incluírem mais de um mês de consumo. A CEM afirma ter feito os cálculos de acordo com a lei e explica as facturas com o calor que se tem feito sentir e o tempo anormalmente excessivo que as pessoas passaram em casa

 

Uma conta que habitualmente não vai além de 700 patacas, numa casa habitada por quatro pessoas, foi de 2.190 patacas em Julho e 1.160 patacas em Agosto. Estas foram as facturas de electricidade recebidas por Jassy Santos, trabalhadora não-residente (TNR) e presidente da União Progressista dos Trabalhadores Domésticos de Macau. Jassy Santos é uma das consumidoras que se queixa dos elevados valores das facturas de electricidade nos últimos meses. Várias pessoas têm revelado nas redes sociais facturas que, muitas vezes, têm montantes acima das 3.000 e 4.000 patacas, mesmo que digam respeito a mais de um mês de consumo.

“As nossas contas duplicaram no mês passado. É de loucos, porque somos quatro em casa e usamos apenas o ar condicionado à noite, e uma ventoinha durante o dia”, contou ao HM Jassy Santos, que considera que a Companhia de Electricidade de Macau (CEM) tem “exagerado” nas contas que apresenta aos clientes.
Jassy Santos assegura que muitos TNR terão dificuldades acrescidas no pagamento das contas. “As nossas contas da água estão ok [estáveis], bem como a renda. Os trabalhadores migrantes vão procurar formas de pagar as contas, pois não é possível viver numa casa às escuras”, disse.

Contas que custam

Outra residente, que não quis ser identificada, pagou mais de 900 patacas em Agosto depois de ter pago contas mais baixas relativas aos meses de Junho e Julho. “A CEM fala em ajustes, mas não percebo porque paguei mais de 900 patacas. Somos dois adultos e um bebé e penso que não se justifica. Normalmente, a minha conta não excede 350 patacas. Conheço pessoas que pagaram mais de 2.000 patacas, são contas muito altas”, disse.

A residente não tem dúvidas de que muitas famílias, em contexto de crise económica e com a subida da taxa de desemprego, vão ter dificuldades em pagar estas contas, que, em muitos casos, são equivalentes ao montante de uma renda de casa.

“Neste momento, as pessoas estão a sofrer cortes salariais e outras estão desempregadas. Pessoas como eu, com um bebé, ainda gastam mais. São fraldas, leite, toalhitas… e temos de ter em conta que o nível de vida em Macau é super caro para os salários médios. Os valores [das facturas] vão fazer falta para bens de grande necessidade”, adiantou.

Ao HM, a CEM explica que a leitura dos contadores de electricidade foi suspensa entre 20 de Junho e 1 de Agosto devido ao surto epidémico. “Estas facturas estimadas basearam-se no artigo 19.º do Decreto-Lei n.º 43/91/M [relativo ao contrato-tipo para o fornecimento de energia eléctrica em baixa e média tensão], que determina que, quando o contador não puder ser lido por motivos imputáveis ao cliente ou de força maior, os cálculos sejam efectuados de acordo com o valor médio do consumo real de electricidade do cliente nos últimos 12 meses.”

Sobre as facturas dos meses de Junho e Julho, “a CEM disponibilizou o diferimento do pagamento para clientes residenciais e não residenciais, pelo que o valor da factura de electricidade foi resultado da estimativa de consumo de dois meses”.

Além disso, “com o levantamento das restrições, a CEM retomou de imediato o serviço de leitura de contadores no local, tendo a factura seguinte sido ajustada de acordo com a leitura real. Uma vez que os cidadãos ficaram em casa a maior parte do tempo e o clima estava quente, o valor da factura poderá ter aumentado. Os clientes podem consultar o histórico do consumo de electricidade de dois anos na factura para comparação”, aponta ainda a resposta da empresa.

A CEM pretende ainda alargar, até 2025, a cobertura dos contadores inteligentes por todo o território. “Até lá, as facturas estimadas por falta de leitura dos contadores no local serão eliminadas”, conclui a empresa.

7 Set 2022

Feira do Livro de Lisboa | Arnaldo Gonçalves apresenta obras de ciência política

“Norberto Bobbio – A Tradição Europeia da Liberdade” e “Macau, Depois do Adeus” foram os livros apresentados no domingo por Arnaldo Gonçalves na Feira do Livro de Lisboa. O académico, especialista em ciência política e relações internacionais e ex-residente de Macau, está a preparar um novo livro sobre a China

 

Arnaldo Gonçalves, ex-residente de Macau, onde viveu 26 anos, e especialista em ciência política e relações internacionais, esteve no domingo na Feira do Livro de Lisboa a apresentar duas obras antigas de sua autoria. Uma delas, lançada pela COD em 2014, intitula-se “Norberto Bobbio – A Tradição Europeia da Liberdade”, um livro que mais condiz com a sua essência política, e “Macau, Depois do Adeus”, uma edição IpsisVerbis, onde é traçado um olhar sobre o período da RAEM pós-transição.

A residir em Portugal há três anos, Arnaldo Gonçalves começou por contar ao HM que a presença informal na Feira do Livro, onde deu autógrafos e conversou com leitores, aconteceu devido ao contacto com a Essência do Livro, tendo em conta o fecho da representação do Turismo de Macau em Lisboa.

Com o fim da entidade terminou a presença habitual da livraria na Feira do Livro, onde se revelavam algumas obras sobre Macau e a China. “Continuei a publicar depois disso. Há um problema de ligação entre os editores de Macau e de Portugal, não existindo distribuição das obras editadas. Descobri a Essência do Livro, localizada no Porto, e enviei-lhe um email a propor a apresentação”, disse.

Os dois livros “marcam perspectivas complementares da minha identidade”, ligadas à vivência de 26 anos em Macau e o trabalho desenvolvido na Administração portuguesa e chinesa. Sobre o encerramento da livraria e o fim da representação do Turismo de Macau em Lisboa, o autor considerou natural.

“O Governo de Macau tem uma vocação chinesa muito grande e há um alinhamento com a República Popular da China. Não privilegiam uma relação com a Europa e Portugal, e esse é um capitulo que está encerrado. Para eles é algo que faz parte da história. Agora olham para a fronteira, para a Grande Baía e para o que acontece na China. Talvez, no lugar deles, fizéssemos a mesma coisa.”

Arnaldo Gonçalves estabelece mesmo um paralelismo entre o desligamento de Macau em relação a Portugal e à Europa com o que aconteceu após a descolonização portuguesa. “Dei por mim a pensar que o processo de Macau, na última década, não é assim tão diferente do das colónias portuguesas em África, em que houve um desligamento da elite local em relação ao passado português.”

O livro sobre a China

Apesar de aposentado, Arnaldo Gonçalves não deixa de reflectir e escrever. O último livro lançado intitula-se “Por quem os sinos não dobram: A Maçonaria e a Igreja Católica”, um tema recorrente para o autor. Mas a China está também sempre presente, e será tema central da sua próxima obra, já em preparação.

“Estou a escrever um livro sobre a China, porque estou a chegar ao fim de mais uma década de vida que, ao mesmo tempo, são três décadas de Macau e China, e é tempo de eu escrever um livro sobre o país. Vou analisar a ligação da China com o mundo, a política externa chinesa, a análise do período de Deng [Xiaoping] e Hu Jintao”, contou.

A obra não deixa de lado um olhar sobre o perfil político de Xi Jinping, Presidente chinês, que Arnaldo Gonçalves considera ser alguém “muito contraditório”. Pedindo uma “relação adulta” entre a China e os EUA em prol da paz mundial, o analista entende que a China se está a aproximar da Rússia, embora haja diferenças entre os seus líderes. “Se acertarem [a China e EUA] uma relação adulta, isso é fundamental para a paz e segurança no mundo. Essa relação é necessária para a paz no mundo e para a paz regional”, rematou.

6 Set 2022

Inquérito | Pedidos cheque e cartão de consumo na próxima ronda de apoios

Um inquérito realizado pelo Centro de Política de Sabedoria Colectiva concluiu que a grande maioria dos residentes quer um cheque pecuniário e um novo cartão de consumo na próxima ronda de apoios concedidos pelo Governo. Mais de 80 por cento dos inquiridos dizem estar em pior situação económica face ao ano passado

 

Quase metade (48,9 por cento) dos residentes inquiridos pelo Centro de Política de Sabedoria Colectiva desejam receber um cheque pecuniário e um cartão de consumo na próxima ronda de apoios decretada pelo Governo, no valor de dez mil milhões de patacas. O inquérito, realizado entre 20 e 27 de Agosto, recolheu 1.331 respostas válidas de residentes com idade igual ou superior a 18 anos.

Ainda sobre a atribuição de subsídios, 42 por cento deseja que o apoio seja atribuído através de cheque, enquanto que 63 por cento dos entrevistados quer que o montante no cartão de consumo aumente. Por sua vez, cerca de 40 por cento dos inquiridos pede que sejam atribuídos mais subsídios para os cuidadores informais e para despesas domésticas como a água, electricidade e internet.

O estudo elaborado pela associação ligada aos Kaifong indicou ainda que 64 por cento dos entrevistados concorda que seja dado um apoio financeiro aos profissionais liberais, operadores dos estabelecimentos comerciais e restantes trabalhadores, incluindo freelancers. No entanto, apenas 22 por cento entende que a primeira ronda das medidas de apoio ajudou a aliviar o impacto da crise sentido por muitas famílias e empresas. Questionados sobre a eficácia das medidas anunciadas pelo Governo, 53 por cento dos residentes revelou uma postura neutra.

A coisa está preta

As questões aos residentes incidiram também sobre a situação económica das famílias, tendo 81 por cento dos inquiridos dito que se encontra numa pior situação financeira em relação ao ano passado, com mais tensão originada pelos cuidados a pais e filhos, pagamento de prestações ao banco ou aumento do desemprego. Grande parte dessas pessoas trabalha no sector do jogo, da restauração ou são profissionais liberais em escritórios.

O deputado Ngan Iek Hang falou das sugestões apontadas pelo centro, como a atribuição de mais um cheque e cartão de consumo na próxima ronda de apoios, com a inclusão de mais trabalhadores e comerciantes. “Recebemos muitas queixas de comerciantes que não foram beneficiados na primeira ronda devido à existência de limitações. Por isso, esperamos que a segunda ronda de apoios possa dar resposta a toda a sociedade e os critérios possam ser mais flexíveis, para beneficiar todos.”

Ngan Iek Hang pede ainda que as autoridades supervisionem os preços para travar a escalada da inflação. Foi também referida na apresentação dos resultados do inquérito feito pelos Moradores a necessidade de explorar mais fontes de turistas e acelerar a integração do território em Hengqin.

6 Set 2022

PIB | Economistas antecipam tendência de quebra até ao final do ano

Uma contracção do Produto Interno Bruto de 39,3 por cento no segundo trimestre deste ano revela um cenário económico negro que deverá continuar, pelo menos, até ao fim do ano. Três economistas ouvidos pelo HM dizem que a possibilidade de recuperação vai depender das medidas que o Governo lançar no próximo ano para lidar com a pandemia

 

Os dados não enganam: a economia está em recessão e os números são “alarmantes”. Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelaram uma quebra do Produto Interno Bruto (PIB), em termos anuais, na ordem dos 39,3 por cento no segundo trimestre deste ano. Esta redução é a segunda consecutiva em termos reais. A DSEC indicou ainda que na comparação entre o segundo trimestre de 2020 e o mesmo período do ano passado, a queda tinha sido de 66,3 por cento, ou seja, quase dois terços da economia.

Com este histórico recente, três economistas ouvidos pelo HM indicam que as perspectivas até ao final do ano vão continuar a não ser animadoras.

“Esses números são alarmantes e é uma quebra brutal, considerando que estamos a sofrer os efeitos das medidas de combate à pandemia há algum tempo. Mas não surpreendem”, começou por dizer José Sales Marques. “Poderemos contar com alguma recuperação [nos feriados de Outubro], mas será difícil dizer até que ponto isso poderá fazer com que o PIB tenha melhores resultados. Temos meio ano perdido, e vamos ver se conseguimos que, pelo menos, o PIB não caia mais. Partimos do pressuposto que as políticas se vão manter até ao final do ano. No próximo ano teremos uma nova situação com a entrada em vigor da nova lei do jogo”, frisou.

Também o economista Albano Martins traça um cenário desolador para uma economia que outrora foi fulgurante. “São dados alarmantes, mas era natural que o PIB caísse substancialmente, porque a economia está parada. A política da covid zero tem-na impedido de crescer. As pessoas não consomem e os agentes económicos, incluindo o sector do jogo, não têm as componentes necessárias para poder crescer.”

“A quebra do PIB mantém-se em 2022, e em 2023 vai depender das políticas do Governo”, acrescentou.
Albano Martins realça a importância de entender a situação económica de Macau realisticamente, sem alimentar “ilusões”, pois, caso cresça, dificilmente a economia local voltará a breve trecho aos valores pré-pandemia. “A situação de Macau deve-se à política de zero casos covid-19 e depois temos também uma cruzada contra o jogo. Não há hipótese de a economia voltar aos níveis anteriores, e isso significa que vamos continuar a ter mais desemprego e os problemas actuais. Dificilmente vamos crescer para atingir os níveis anteriores.”

Para José Félix Pontes, a política governamental tem tido um impacto catastrófico na saúde económica da RAEM. “A economia local está doente como resultado directo da implementação da política de tolerância zero à covid-19, a qual tem sido muito mais eficiente a provocar efeitos económicos devastadores”, adiantou.

Os dados não enganam. “O PIB desceu de 116,8 mil milhões de patacas, no final de 2019, para 62,7 mil milhões de patacas, em Dezembro de 2021, ou seja, a ‘riqueza perdida’ da RAEM ascendia a 54,1 mil milhões de patacas”, acrescenta Félix Pontes.

A tal variável

Albano Martins deixa ainda o alerta para o facto de as exportações de bens, uma das oito grandes variáveis do PIB, ter crescido além do habitual, e logo nos anos da pandemia em que Macau registou números muito baixos de visitantes. “A exportação de bens foi sempre a sétima variável [de um total de oito], e hoje em dia é a quarta maior. Salvo melhor, apenas um ano na história de Macau o valor das exportações foi acima dos 17 mil milhões de patacas, mas em plena época de covid em 2021 exportaram-se cerca de 65 mil milhões.

Em 2020, em pleno ano da pandemia, exportaram-se por volta de 34 mil milhões de bens. E isto significa que nesses dois últimos anos se venderam a não residentes que por cá ‘passaram’ muito mais do que as exportações que saíram pelas alfândegas”, declarou.

Como se explicam, então, estes valores? O economista alerta para uma alteração da metodologia por parte da DSEC. “Como as lojas importaram produtos para vender a não residentes, a DSEC ‘presumiu’ que venderam [esses bens] aos não residentes, os visitantes. Antes, os não residentes iam a Macau e compravam, porque na China paga-se IVA, mas no território não. Tecnicamente é uma exportação, pois é uma venda a não residentes que levam esses bens para o outro lado da fronteira. Esses valores não eram declarados para efeitos do PIB, mas agora são, o que contrabalança parcialmente a queda na exportação de serviços. Se se estava em período de pandemia, com uma queda do número de não residentes e das suas despesas, como se pode presumir que tenham vendido, ou exportado, mais?”

“No passado, por trimestre, praticamente nunca se exportavam bens acima dos 4,6 mil milhões de patacas. No terceiro trimestre de 2020 passou-se para 11,3 mil milhões, uma subida brutal face aos 4,4 e 3 mil milhões dos dois trimestres anteriores. No segundo trimestre de 2021 registaram-se 21,5 mil milhões, um crescimento nominal de mais de 612 por cento. Isto quando a quebra de não residentes em Macau foi tão acentuada nesses anos de covid. Houve presunções da estatística, mas no caso do PIB temos de ir aos valores efectivamente reais”, disse.

O economista adianta que a mudança na metodologia no cálculo das exportações de bens que permitiu a “economia crescer mais, mas vai ter de agora em diante um efeito contrário”, contribuindo “para que a queda do PIB seja bem maior, como já é visível no segundo trimestre de 2022, onde a quebra nominal foi já de cerca de 35 por cento”. “Em 2020 e 2021 ‘ajudou’ a fazer decrescer menos a economia”, frisou.

Os números da crise

José Félix Pontes recorda ainda o recorrente recurso à Reserva Financeira da RAEM, de onde já saíram cerca de 168 mil milhões de patacas, registando-se uma redução de 25 por cento dos seus activos, para cobrir despesas com rondas de apoio financeiro.

Além disso, “o número de empresas encerradas cresce dia-a-dia, pelo que a taxa de desemprego geral tem vindo a crescer, tendo já atingido 4,1 por cento, relativamente a Junho, enquanto que esse mesmo indicador para os residentes já vai nos 5,4 por cento. Ora, em Dezembro de 2019, a taxa de desemprego geral quedava-se nos 1,7 por cento”.

Félix Pontes destaca ainda a perda de horas de trabalho, num só mês de confinamento, na ordem das 56 milhões, contabilizando 350 mil trabalhadores a multiplicar por 40 horas semanais de trabalho, por um período de quatro semanas. Por sua vez, “a ‘facturação perdida’, numa visão optimista, deve atingir vários mil milhões de patacas”.

“O número de turistas, a taxa de ocupação dos hotéis (descontado o efeito da sua ocupação devido a quarentenas), as receitas dos casinos e o correspondente imposto para o governo são insignificantes! Daí ser recorrente em Macau dizer-se ‘Não morremos da doença, mas da sua cura’”, lamentou.

6 Set 2022

SAFP | Governo promete melhorar aplicação do código de saúde

Kou Peng Kuan, director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) adiantou, em resposta a uma interpelação do deputado Ngan Iek Hang, que a aplicação do Código de Saúde de Macau será melhorada.

“A disponibilização de uma grande variedade de informações e funções pela aplicação vai aumentar de forma considerável o uso mais fácil por parte dos cidadãos. No futuro vamos continuar a estudar a viabilidade do reforço de outras funções relacionadas com a prevenção da epidemia.”

Os SAFP lembram que, actualmente, “podem ser exibidos, na mesma aplicação, o resultado do teste rápido de antimónio, do teste de ácido nucleico (que não pode ser usado para a passagem da fronteira) e o código convertido nas cores vermelha ou amarela”. Além disso, “foram acrescentados os links respeitantes ao teste de ácido nucleico gratuito, à declaração do resultado dos testes e à página electrónica especial contra epidemias”.

Kou Peng Kuan adiantou também ao deputado que já foi lançada a nova versão da Conta Única de Macau, que alberga mais de 140 serviços públicos de forma electrónica. O Governo admite que “as cidades do interior da China já estão a utilizar o serviço inteligente de atendimento ao cliente na prestação de vários serviços”, prometendo fazer melhorias nesta área. “O Governo vai continuar a proceder a revisões, análises e estudos, focando-se na consolidação dos meios electrónicos a fim de optimizar o modelo de serviços administrativos”, rematou.

5 Set 2022

Hengqin | Deputados da FAOM exigem mais garantias a direitos de proprietários 

Os deputados Ella Lei e Leong Sun Iok defendem que as autoridades devem assegurar os direitos de quem adquiriu imóveis na Zona de Cooperação Aprofundada, em Hengqin, tendo em conta as inúmeras queixas recebidas. O gabinete de Hengqin diz que os casos estão a ser acompanhados

 

A aquisição de imóveis na Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin tem gerado várias queixas por parte dos residentes, o que leva os deputados Ella Lei e Leong Sun Iok, ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), a exigir que as autoridades de Macau e Hengqin assegurem a protecção dos direitos dos residentes que investem nesta área.

As queixas recebidas levaram uma delegação da FAOM a visitar recentemente o gabinete de gestão dos imóveis comerciais na Zona de Cooperação Aprofundada, em Hengqin. Em comunicado, Ella Lei e Leong Sun Iok explicam que a maior parte das queixas diz respeito ao facto de os imóveis não corresponderem às promessas feitas pelos promotores imobiliários no início do processo de venda. Os deputados recordam que, apesar do gabinete incentivar alguns promotores imobiliários a contactar os proprietários e a terem a iniciativa do pagamento de reembolso, compensação ou outras formas de reconciliação, a verdade é que há processos de compra e venda complicados, com falta de consenso na maior parte dos casos. Neste sentido, os dois deputados alertam para vários casos que estão ainda sem solução.

Zhao Zhenwu, responsável pelo gabinete de gestão dos imóveis comerciais na Zona de Cooperação Aprofundada, respondeu à FAOM que estão a ser acompanhados 35 projectos de edifícios comerciais, tendo negociado e discutido directamente com os promotores. Zhao Zhenwu adiantou à FAOM que tudo será feito para que sejam encontradas soluções, a fim de garantir a conclusão das obras.

“Depois de realizadas as negociações, alguns promotores imobiliários já combinaram soluções com os proprietários, e muitas decorreram com sucesso. Para os projectos que ainda estão pendentes o gabinete vai estudar as soluções possíveis e acompanhar os processos. Em relação às procurações dos proprietários sobre a situação de liquidez dos promotores, o gabinete já criou uma conta bancária de gestão do capital, a fim de reforçar a protecção dos direitos dos proprietários”, adiantou Zhao Zhenwu.

Os alertas aos residentes

Lin Zheng, que acompanhou a delegação da FAOM nesta visita, fez um apelo aos residentes de Macau para que estes conheçam bem a legislação e confirmem todas as licenças antes de adquirirem imóveis no interior da China. O também chefe da estação dos serviços voluntários de Hong Kong e Macau no distrito de Xiangzhou apontou que os residentes de Macau devem também estar atentos aos contratos de compra e venda de imóveis e não estabelecer acordos verbais que não têm o mesmo poder legal.

Em jeito de sugestão, Lin Zheng pede que os residentes consultem as informações sobre compra de imóveis no interior da China disponibilizadas pelo Conselho dos Consumidores, além de estarem atentos aos 15 alertas do gabinete sobre os riscos existentes no processo de compra.

Alguns alertas fazem referência à necessidade de protecção das informações das contas bancárias, aos casos em que os promotores e agentes imobiliários pedem dinheiro extra para despesas diversas ou as situações em que é prometido que o imóvel, adquirido para fins comerciais, possa depois ser usado para fins habitacionais.

5 Set 2022