Lionel Leong defende consenso para interdição de entrada a locais

Foi ontem aprovada na generalidade o regime de condicionamento da entrada, do trabalho e do jogo nos casinos, que prevê a proibição dos trabalhadores do jogo de apostarem nos casinos. O deputado Sulu Sou propôs a interdição ou mais limitações de acesso aos locais de Macau, mas o secretário Lionel Leong disse que é preciso consenso

 

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Governo quer evitar o aumento do número de jogadores patológicos entre aqueles que trabalham nos casinos e, por isso, levou ontem à Assembleia Legislativa (AL) o diploma que revê a lei de condicionamento de entrada, trabalho e do jogo nos casinos, depois da alteração feita em 2012.

A proposta de lei foi aprovada na generalidade e vai agora ser analisada pelos deputados, mas vários membros do hemiciclo duvidaram da eficiência da proibição de entrada. Sulu Sou lembrou que, em regiões vizinhas com jogo, como é o caso de Singapura ou Coreia, os locais só podem estar nos casinos um número limitado de horas, existindo também um pagamento à entrada e limites nas apostas que são feitas.

Desta forma, Sulu Sou pediu ao Governo se existe a possibilidade de implementar “a medida de interdição para os locais”. “É uma medida radical mas é a maneira mais fácil para regulamentar. Muitos dos visados nesta proposta de interdição são os trabalhadores dos casinos, mas foi afastada a população desempregada. Talvez o Governo possa considerar a experiência de outras regiões e adoptar uma medida de interdição para os locais, limitar os montantes de aposta e as modalidades.”

Contudo, o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, respondeu a este apelo com bastantes reservas. “Quanto a esta medida radical, de proibir a entrada de uma assentada, pode ser discutida de várias perspectivas. Queremos ter um desenvolvimento sustentável para Macau, mas também queremos ter um menor número de jogadores patológicos. Quanto a proibir a entrada aos locais, temos de reunir o consenso da sociedade.”

Aquando da entrada em vigor da lei, não são apenas os croupiers que não podem apostar noutros locais, mas também funcionários “das máquinas de jogo, caixas de tesouraria, área das relações públicas, restauração, limpeza e segurança, bem como os trabalhadores responsáveis pela fiscalização”. Estão, contudo, previstas excepções, uma vez que a entrada nos casinos é permitida nos primeiros três dias do Ano Novo Chinês ou quando existam “causas justificativas de entrada nos casinos”. Lionel Leong admitiu que trabalhadores da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais podem estar incluídos nestas excepções de entrada.

 

DICJ cria linha aberta

Depois da realização da consulta pública o Executivo decidiu incluir os trabalhadores da limpeza e restauração, entre outros, na interdição de entrada nos casinos de operadoras diferentes daquela em que trabalham. Contudo, os deputados mostraram muitas reservas quanto à implementação prática desta medida, lembrando que muitos funcionários públicos conseguem escapar aos olhos dos seguranças.

“Há funcionários públicos que conseguiram entrar nos casinos e não foram detectados, inclusivamente alunos. Podemos definir uma lei rigorosa, mas depois ao nível da fiscalização não se conseguem resolver as questões”, lembrou Song Pek Kei.

Paulo Martins Chan, director da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), garantiu que será realizado um estudo dos tipos de emprego existentes nos casinos, uma lista que depois será divulgada online.

Quanto à implementação prática da interdição, Paulo Martins Chan adiantou que estão a ser pensadas várias medidas, tal como “o patrulhamento ou a participação das concessionárias”. “Vamos criar uma linha aberta para efeitos de participação. Sabemos que estas medidas estão adaptadas ao sistema social de Macau e através desta linha aberta conseguimos aplicar esta medida de interdição.”

Angela Leong, que além de deputada é também directora-executiva da Sociedade de Jogos de Macau, lembrou que vão existir dificuldades. “Como é que os casinos identificam se a pessoa é ou não trabalhadora, e como é que os casinos podem garantir que os dados pessoais dos seus trabalhadores não vão ser relevados? As operadoras vão ter de assumir muitas responsabilidades. Como é que o pessoal de segurança vai executar a lei?”, questionou.

13 Jul 2018

Ma Chi Seng pede reforço da segurança após explosão

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] recente explosão ocorrida no restaurante no edifício Pak Lei, na Areia Preta, levou ontem o deputado nomeado Ma Chi Seng a interpelar o Governo quanto à necessidade de reforçar a fiscalização destes locais. “Ocorrida no início deste mês, a explosão no Edifício Pak Lei, com um morto e feridos, entristeceu-nos. Está em curso a averiguação da causa do incidente, mas, seja o que for, acidente ou falha humana, o alarme já soou na sociedade”, defendeu no período antes da ordem do dia.

Ma Chi Seng acredita que o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) deve “reforçar, no futuro, a divulgação sobre a segurança da utilização (de equipamentos de gás) em casa”. Ma Chi Seng espera que o Governo “reforce as acções de sensibilização e divulgação em todos os aspectos, prestando ainda atenção a que as mesmas sejam simples e compreensíveis”.

O deputado pede ainda que haja uma avaliação da “cientificidade do número e das formas das inspecções”, além de que “há que efectuar ainda inspecções com uma frequência racional e acções de divulgação e sensibilização eficazes, para os cidadãos deixarem de estar dependentes da sorte e ficar na mente a consciencialização para a segurança”.

13 Jul 2018

Sulu Sou diz que Macau caminha para a sociedade orwelliana do livro “1984”

Na primeira sessão plenária em que participou desde que regressou ao hemiciclo, Sulu Sou pediu alterações à Lei de Reunião e de Manifestação em prol de “melhorias ao nível da protecção de direitos”. O deputado argumentou que se não houver mudanças, a Macau ficará semelhante ao modelo social retratado no clássico “1984”, de George Orwell, onde “tudo é controlado”

 

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] deputado Sulu Sou utilizou ontem o período de interpelações antes da ordem do dia, naquele que foi o seu primeiro debate desde que regressou à Assembleia Legislativa (AL), para pedir alterações à lei de reunião e manifestação.

“Sugiro que se avance com melhorias ao nível da protecção do direito de reunião e de manifestação. Por exemplo, deve-se ajustar o prazo de aviso e notificação, por parte do Governo, e do recurso, com vista a aumentar a viabilidade da apreciação judicial”, defendeu.

Além disso, Sulu Sou, que escapou a uma pena de prisão pelo crime de desobediência qualificada, apesar de ter sido condenado a pagar apenas uma multa, pede que se altere o aviso prévio sempre que os manifestantes desejem organizar um protesto, “passando os ‘dias úteis’ para ‘dias de calendário’”. O deputado pede ainda que seja respeitada uma regra que consta na sentença do Tribunal de Última Instância (TUI), para que “o número de promotores se altere de três para um, de forma a garantir que qualquer indivíduo possa gozar, em qualquer dia e de forma igual e acessível, os seus direitos fundamentais”.

Sulu Sou recordou ainda que as acusações do crime de desobediência qualificada aumentaram nos últimos anos, sobretudo desde que Chui Sai On tomou posse no segundo mandato como Chefe do Executivo.

“Alguns cidadãos têm recorrido a acções sociais para exprimir as suas opiniões ao Governo, acções essas que sempre foram pacíficas e racionais. Desde a tomada de posse do novo Governo registou-se um aumento das acusações por realização de reuniões e manifestações, e só entre 2014 e 2017, foram acusadas pelo crime de desobediência qualificada 58 pessoas.”

Ao apresentar estes dados, Sulu Sou foi mais longe e chegou mesmo a afirmar que a sociedade local corre o risco de ficar semelhante à que foi retratada pelo escritor inglês George Orwell no livro 1984.

“Não cumprir a lei é omissão, e não se deve abusar do poder. Nestes últimos anos, o Governo habituou-se a usar como razão a segurança pública para alargar o poder de controlo das autoridades policiais. Os estrangeiros, que não conhecem a situação até podem pensar que Macau é uma cidade muito perigosa. O essencial da questão é que esse poder público não é efectivamente sujeito à fiscalização do público, situação que suscitou várias opiniões na sociedade, e se a situação se mantiver, Macau vai transformar-se numa sociedade governada como na ficção política inglesa ‘1984’, em que tudo é controlado.”

 

Confrontos “desnecessários”

Implementada em 1993, a lei de reunião e manifestação está actualmente em processo de revisão na AL, estando a ser analisada na 1ª comissão permanente da AL. Sulu Sou faz parte da 3ª comissão permanente.

O deputado considera que há muitas situações em que a definição do conceito de manifestação, à luz da lei em vigor, é feita de forma leviana. “Aquando do exercício de quaisquer direitos, as pessoas têm a responsabilidade de minimizar o impacto para os direitos e interesses dos outros. O público tem de estar atento à tendência das autoridades de segurança, isto é, usarem isto como pretexto para restringir arbitrariamente os direitos, como por exemplo, definir à toa o conceito de reunião e manifestação para depois acusar alguém do crime de desobediência qualificada.”

Perante esta situação, Sulu Sou considera que, “se a acção social dos cidadãos para apresentar opiniões passar de ‘uma liberdade e um direito que devem ser protegidos’ para ‘um incidente que ameaça a segurança e que deve sujeitar-se a controlo e supervisão’, haverá lugar a mais conflitos e confrontos desnecessários”.

O deputado falou ainda dos exemplos levados a cabo em outros países, onde ocorrem manifestações espontâneas e não existe uma criminalização dos actos ocorridos.

“Em alguns países, o ‘regime de aprovação’ passou a ‘aviso prévio’, que é o adoptado em Macau, ou até a ‘aviso facultativo’. A reunião e manifestação podem não estar sujeitas a aviso prévio quando são espontâneas, urgentes, ou os manifestantes são em número inferior a determinada quantia. Noutros países, os actos ilegais, ocorridos durante a expulsão de manifestantes pela autoridade policial, deixaram de ser criminalizados e passaram a infracções administrativas.”

13 Jul 2018

Discursos de Song Pek Kei e Chan Iek Lap considerados pouco rigorosos

Song Pek Kei referiu que os advogados portugueses têm vida facilitada, mas os profissionais do sector vindos de Portugal precisam de estar inscritos na ordem portuguesa há três anos e completar cerca de 12 exames em Macau. Além disso, o número de vagas anual é limitado. Uma realidade que contraria o discurso da deputada

 

[dropcap style≠‘circle’]F[/dropcap]alta de rigor e um discurso feito a pensar no jogo político, nos eleitorados e nos grupos de interesses protegidos. É desta forma que os discursos dos deputados Song Pek Kei e Chan Iek Lap foi encarado por várias das pessoas ouvidas pelo HM. As declarações dos legisladores foram proferidas na sessão do Plenário da passada quarta-feira. Também o secretário-geral da direcção da Associação dos Advogados de Macau (AAM), Paulino Comandante, nega que haja facilidades maiores para os advogados vindos de Portugal face aos causídicos formados no território.

Numa sessão de debate sobre a autorização de residência em Macau através de investimentos considerados relevantes e para quadros qualificados vindo do exterior, Song Pek Kei fez questão de dizer que é necessário proteger as oportunidades para os residentes. Em seguida, a deputada passou ao ataque e afirmou que os advogados de Portugal têm a vida facilitada em relação ao estudantes da Universidade de Macau, que precisam passar “cada vez mais exames” para acederem à profissão.

No entanto, a ideia é recusada pelo secretário-geral da Associação dos Advogados de Macau, Paulino Comandante, que explicou, ao HM, as etapas que os advogados portugueses têm de cumprir parar exercer em Macau. À partida, existem logo duas exigências: os candidatos têm de estar inscritos na Ordem dos Advogados de Portugal há três anos e ter experiência efectiva da profissão. Confirmados os critérios, podem fazer o curso de adaptação ao Direito local.

“É um curso intensivo com uma duração de três meses, mas que devido às pausas normais do calendário se acabam prolongar por quatro ou cinco. Tem vários módulos e por cada módulo os candidatos são avaliados na componente escrita e oral. Se a nota da componente escrita for elevada, ficam dispensados da oral”, afirmou.

 

Cerca de 12 exames

Após completarem os módulos, os candidatos ainda têm de fazer o exame final. No total, precisam passar em 12 provas de avaliação. Concluído o curso com aproveitamento, os advogados vindos de Portugal têm ainda de cumprir um período de três meses, em que o seu estatuto é quase equiparado ao de um advogado estagiário. Durante estes três meses não podem exercer em nome individual e precisam de fazer parte de um escritório local.

“O acesso não é fácil, nem há vida facilitada. Temos casos de advogados com alguma experiência em Portugal que vieram cá, fizeram o exame e, por vários motivos, não conseguiram passar no exame”, apontou Paulino Comandante. “Não é nada fácil o acesso e as pessoas que vêm de Portugal não tem menos exames do que as pessoas formadas em Macau”, acrescentou.

Também o director da Faculdade de Direito da Universidade de Macau, Gabriel Tong, considera que o acesso para os advogados vindos de Portugal não é facilitado.

“Não estou em Macau e não ouvi as declarações [de Song Pek Kei]. Mas não me parece que haja fundamento para dizer que os alunos formados na Universidade de Macau enfrentam cada vez mais exames. As oportunidades de acesso à profissão são iguais”, disse Gabriel Tong, ao HM.

“Mesmo as pessoas que vêm de Portugal têm de fazer exames. Toda a gente que quer entrar na profissão está sujeita a exames. É necessário avaliar a qualidade dos profissionais que querem trabalhar em Macau”, acrescentou.

 

Numerus clausus

Uma das grandes preocupações demonstradas por Song Pek Kei foi o alegado excesso de advogados portugueses a tirar oportunidades aos locais. Contudo, existem quotas fechadas de acesso para advogados vindos do exterior.

“Há numerus clausus. A quota anual de advogados vindos de fora não pode ser superior a 10 por cento do número total de advogados inscritos na associação. Mas também não pode ser superior a 50 por cento do número de advogados locais que foram inscritos na associação nesse ano, após de terem obtido aprovação no exame final”, explica o secretário-geral da direcção da AAM.

Assim se houver 400 advogados inscritos, o número de causídicos vindos do exterior e inscritos nesse ano não pode ser superior a 40. Porém, se apenas 30 advogados locais conseguirem aprovação para entrarem na ordem, nesse ano, o número de advogados vindos de fora não pode ser superior a 15.

 

Falta de rigor

Por sua vez, o advogado Miguel de Senna Fernandes criticou a falta de rigor de Song Pek Kei e advertiu que mensagens deste género podem transmitir uma imagem para a comunidade local, que não corresponde à realidade, sobre benefícios para os portugueses.

“Não é uma questão que se levante apenas por serem os advogados portugueses. Toda a situação é infeliz. Ela devia informar-se bem antes de fazer este tipo de declarações”, começou por frisar o causídico. “Estas declarações são transmitidas em chinês e passam uma imagem errada de que os advogados portugueses são beneficiados. Isto não é verdade e é um erro”, apontou.

Miguel de Senna Fernandes frisou que é a favor da protecção das oportunidades para os advogados formados em Macau e para as gerações mais novas e que o ponto de partida da deputada é compreensível. Porém, uma intenção boa não justifica a falta de rigor.

“O ponto de partida dela é positivo. Mas é fundamental que ela, como deputada com responsabilidades públicas e estando numa posição com impacto na formação da opinião pública, se informasse bem antes de comentar”, rematou. “O resultado que se vê é esta intervenção desajustada da realidade, que foi uma infelicidade. Absolutamente inoportuna” apontou.

Miguel de Senna Fernandes coloca ainda a hipótese de a mensagem de ontem ter sido transmitida a pensar no eleitorado: “Se calhar adoptou o discurso que o eleitorado dela quer ouvir. Acredito que não tenha pessoalmente nada contra os portugueses. Mas com este tipo de discursos corre o risco de formar e passar ideias erradas face aos profissionais portugueses”, justificou.

 

Realidade que se repete

José Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus, recorda que este tipo de discurso não é uma novidade. Porém, diz que não faz sentido numa altura em que Macau se prepara para integrar o projecto da Grande Baía, um objectivo que também passa pela internacionalização.

“Este discurso não é novo. Agora falamos dos advogados, mas também está presente em outras latitudes políticas. Este discurso de que em Macau é preciso proteger o emprego dos residentes, o que também é verdade e é uma das competências do Governo, tem exageros”, considerou José Sales Marques, em declarações ao HM.

“Não nos podemos esquecer que em Macau faltam recursos qualificados para tirar o partido dos desafios e oportunidades que são apresentados no âmbito da Grande Baía ou do desenvolvimento do sector financeiro, só para dar exemplos. Isto é que é a realidade”, complementou.

 

Falsos problemas

Na mesma sessão plenária da Assembleia Legislativa, o médico e deputado Chan Iek Lap apontou que a contratação de profissionais portugueses para o sector da medicina acaba por resultar facilmente no desperdício de recursos.

“Eles [médicos portugueses] podem usar o inglês para comunicar, mas 95 por cento da população só domina o cantonense, não domina o inglês nem o português. No tempo antes da transição, as enfermeiras entendiam o português e conseguiam fazer a tradução entre os médicos e os pacientes. Mas se estão a fazer as traduções como é que podem fazer o seu trabalho?”, questionou o médico.

Chan Iek Lap formou-se na Universidade de Jinan e é o presidente da Direcção da Associação Chinesa dos Profissionais de Medicina de Macau.

Porém, Miguel de Senna Fernandes considera esta questão falsa: “Em Macau, sempre houve médicos que não falam a língua local e as coisas sempre se resolveram bem. No passado, a população era menor mas houve sempre mecanismos para fazer a comunicação entre médicos e pacientes, apesar da língua”, constatou. “Esta questão nunca foi um problema e o discurso cria um falso problemas”, apontou.

 

Atractividade questionada

Sales Marques realça que a língua não deve ser o principal critério, até porque é difícil para Macau conseguir trazer os médicos mais competentes do Interior da China. “Às vezes as pessoas discursam apenas a pensar no eleitorado. Mas falam sem ter um verdadeiro conhecimento dos assuntos. Trazer bons médicos da China custa muito dinheiro. Será que um médico de um grande Hospital de Pequim ou Xangai quer mesmo vir para Macau trabalhar? Se calhar lá terá outros aspectos mais atractivos, como tecnologias mais desenvolvidas, do que aquelas que há em Macau”, apontou.

“Às vezes as pessoas falam só da boca para fora e nem pensam no que estão a dizer. As declarações podem fazer parte do jogo político, mas na realidade temos de olhar para os factos de uma forma rigorosa. Não parece ter sido este o caso”, concluiu.

 

 

Pereira Coutinho crítica colegas

Para o deputado José Pereira Coutinho a forma como a Song Pek Kei abordou a questão dos advogados vindos de Portugal foi “discriminatória” e “política barata”. “Song Pek Kei foi discriminatória ao criticar os advogados portugueses. Fiquei triste com a intervenção dela. Foi política barata e as declarações não têm base legal. Foi lamentável a intervenção”, apontou. “Também o deputado Chan Iek Lap criticou a vinda de médicos portugueses para Macau, alegando que a maioria da população é chinesa e que como os médicos precisam de tradução, que é uma despesa desnecessária. São duas intervenções que me deixam muito triste”, acrescentou.

13 Jul 2018

Funcionários da Venetian queixam-se de confusão em férias e turnos

[dropcap style≠‘circle’]C[/dropcap]erca de 500 trabalhadores da Venetian queixam-se de má organização dos dias de férias e turnos por parte da empresa de jogo. Depois de terem comunicado, numa primeira fase, com a direcção da Venetian, resolveram dirigir-se à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) para solicitar mais apoio.

Ontem realizou-se uma reunião que contou com o apoio da Associação de Empregados das Empresas de Jogo, ligada ao universo da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM). Choi Kam Fu, secretário-geral da associação, explicou aos jornalistas que a Venetian avisou recentemente os trabalhadores de que terão mais quatro turnos de trabalho por dia, o que faz com que os trabalhadores possam ter de enfrentar horários de trabalho diferentes todos os dias e tenham dificuldade de adaptação a esses horários.

Outro problema está relacionado com os dias de férias anuais. De acordo com Choi Kam Fu, os funcionários, especialmente os das camadas de base, não podem tirar férias entre as sextas-feiras e domingos durante o ano, o que é um forte condicionalismo no gozo do tempo livre, uma vez que apenas podem tirar férias por um máximo de quatro dias.

Na visão de Choi Kam Fu, a Venetian, apesar de ser uma subconcessionária de jogo, não consegue pôr em prática as políticas favoráveis às famílias. A FAOM chegou a comunicar com a empresa, mas a verdade é que nada se alterou. Como tal, o secretário-geral da associação optou por reunir com a DSAL.

Alguns funcionários estão insatisfeitos por terem de trabalhar por períodos prolongados durante a noite, enquanto que outros se queixam de terem de fazer turnos diurnos depois de terem feito um turno nocturno. Por isso, o secretário-geral exige que a operadora de jogo melhore no âmbito de organização de turnos de trabalho.

13 Jul 2018

A inteligência artificial (II)

“Artificial intelligence will reach human levels by around 2029. Follow that out further to, say, 2045, we will have multiplied the intelligence, the human biological machine intelligence of our civilization a billion-fold.”

 

The Age of Spiritual Machines: When Computers Exceed Human Intelligence

Ray Kurzweil

Se considerarmos o caso de uma grande empresa agrícola que queria implantar a tecnologia da IA ​​para ajudar os agricultores e uma enorme quantidade de dados estava disponível sobre as propriedades do solo, padrões climáticos, colheitas históricas, e o plano inicial era criar um aplicativo de IA que pudesse prever com mais precisão o rendimento futuro das colheitas, mas nas discussões com os agricultores, a empresa aprendeu sobre uma necessidade mais premente. O que os agricultores realmente queriam era um sistema que pudesse fornecer recomendações, em tempo real, sobre como aumentar a produtividade, quais os terrenos e onde cultivar e quanto nitrogénio a usar no solo.

A empresa desenvolveu um sistema de IA para fornecer tais conselhos, e os resultados iniciais foram promissores; os agricultores ficaram felizes com o rendimento das colheitas obtido com a orientação da IA. Os resultados desse teste inicial foram então enviados de volta ao sistema para refinar os algoritmos usados. Assim, como na etapa de descoberta, novas técnicas analíticas e de IA podem auxiliar na co-criação, sugerindo novas abordagens para melhorar os processos. O terceiro passo para as empresas é escalonar e depois sustentar a solução proposta. O SEB, por exemplo, implantou originalmente uma versão da “Aida”, internamente, para ajudar os quinze mil trabalhadores do banco, mas depois, implementou o “chatbot” em um milhão de clientes.

O último estudo realizado nos Estados Unidos com uma sondagem a centenas de empresas, foram identificadas cinco características dos processos de negócios, que as empresas normalmente desejam melhorar que são a flexibilidade, velocidade, escala, tomada de decisões e personalização. Ao reinventar um processo de negócios, é necessário determinar qual dessas características é central para a transformação desejada, como a colaboração inteligente poderia ser aproveitada para resolvê-lo, e quais os ajustamentos e compensações com outras características do processo seriam essenciais.

Os braços “cobot” na Mercedes-Benz, tornam-se uma extensão do corpo do trabalhador e para os executivos da empresa, os processos inflexíveis apresentaram um desafio crescente. Os clientes que maior lucro dava à empresa, vinham a exigir cada vez mais, carroçarias individualizadas da classe S, mas os sistemas de montagem não conseguiam oferecer a personalização que as pessoas queriam. A fabricação de automóveis, tradicionalmente, tem sido um processo rígido com etapas automatizadas, executadas por robôs “pouco inteligentes”. A fim de melhorar a flexibilidade, a Mercedes substituiu alguns desses robôs por “cobots” com IA, e redesenhou os seus processos em torno de colaborações entre seres humanos e máquinas. Os braços robotizados, na fábrica da empresa, perto de Estugarda, guiados por trabalhadores pegam e colocam peças pesadas, tornando-se uma extensão do corpo do trabalhador.

O sistema coloca o trabalhador no controlo da construção de cada carro, fazendo menos trabalho manual e mais um trabalho de pilotagem com o robô. As equipas de máquinas humanas da empresa podem adaptar-se rapidamente. Os “cobots” na fábrica, podem ser reprogramados facilmente com um “tablet”, permitindo que trabalhem em tarefas diferentes, dependendo das alterações no fluxo de trabalho. Tal agilidade, permitiu que o fabricante atingisse níveis sem precedentes de personalização. A Mercedes pode individualizar a produção de veículos de acordo com as escolhas em tempo real que os consumidores fazem nas concessionárias, alterando tudo, desde os componentes do painel do veículo até à pele do assento ou às tampas das válvulas dos pneus, e como resultado, não existem dois carros iguais a sair da linha de montagem da fábrica na Alemanha. Algumas empresas estão a usar a IA para descobrir incógnitas desconhecidas nos seus negócios.

A “GNS Healthcare (GNS)” é uma empresa privada de análise de dados, sediada em Cambridge, nos Estados Unidos, que aplica “software” de aprendizagem de máquinas para encontrar relações negligenciadas, entre os dados nos registos de saúde dos pacientes e em outros locais. O “software” depois de identificar um relacionamento, elabora várias hipóteses para explicá-lo e, em seguida, sugere quais delas são mais prováveis. Tal abordagem, permitiu que o GNS descobrisse uma nova interacção medicamentosa escondida em anotações de pacientes não estruturados, não se tratando de uma peneira de dados para encontrar associações, pois a plataforma de aprendizagem de máquinas não vê apenas padrões e correlações nos dados. É de considerar que para algumas actividades de negócios, o prémio está na velocidade e uma dessas operações é a detecção de fraudes com cartões de crédito. As empresas têm apenas alguns segundos para determinar se devem aprovar uma determinada transacção. Se for fraudulenta, provavelmente terão que repor essa perda, mas se negarem uma transacção legítima, perdem a taxa da compra e irritam o cliente.

O “The Hongkong and Shanghai Banking Corporation (HSBC)”, como a maioria dos grandes bancos, desenvolveu uma solução baseada em IA que melhora a velocidade e a precisão da detecção de fraudes. A IA monitora e marca milhões de transacções diariamente, usando dados sobre o local de compra e o comportamento do cliente, endereços IP e outras informações para identificar padrões subtis que sinalizam possíveis fraudes. O HSBC implementou pela primeira vez o sistema nos Estados Unidos, reduzindo significativamente a taxa de fraudes e falsos positivos não detectados e, em seguida, implementou-o no Reino Unido e na Ásia. Um sistema de IA diferente usado pelo Danske Bank melhorou a sua taxa de detecção de fraudes em 50 por cento e diminuiu os falsos positivos em 60 por cento. A redução no número de falsos positivos, liberta os investigadores para concentrar os seus esforços em transacções equívocas, que a IA sinalizou, onde o julgamento humano é necessário.

A luta contra a fraude financeira é como uma corrida armamentista, pois uma melhor detecção conduz a criminosos mais perigosos, levando por conseguinte a uma melhor detecção, que continua o ciclo. Assim, os algoritmos e modelos de pontuação para combater fraudes têm uma vida útil muito curta e exigem actualização contínua. Além disso, diferentes países e regiões usam modelos diferentes e por essas razões, legiões de analistas de dados, profissionais de “Tecnologia de Informação (TI)” e especialistas em fraudes financeiras são necessárias no sistema de meios de ligação entre os seres humanos e as máquinas, para manter o “software” na dianteira dos criminosos. A baixa escalabilidade, para muitos processos de negócios, é o principal obstáculo para a melhoria e é particularmente verdadeiro em processos que dependem de trabalho humano intensivo com assistência mínima da máquina.

É de considerar, por exemplo, o processo de recrutamento de trabalhadores da “Unilever” que é uma multinacional britânica-neerlandesa de bens de consumo, que estava à procura de uma forma de diversificar a sua força de trabalho de cento e setenta mil pessoas. Os recursos humanos da empresa, determinaram que precisavam de se concentrar em contratações de nível básico e, de seguida, contratar o melhor para a gestão, mas os processos existentes na empresa não foram capazes de avaliar potenciais candidatos em número suficiente, ao mesmo tempo que davam atenção individual a cada aspirante para garantir uma população diversificada de talentos excepcionais. A “Unilever” combinou recursos humanos e de IA para dimensionar a contratação individualizada, e na primeira fase do processo de inscrição, os candidatos são convidados a brincar com jogos “on-line” que ajudam a avaliar características como a aversão ao risco.

Os jogos não têm respostas certas ou erradas, mas ajudam a IA da “Unilever”, a descobrir quais os indivíduos que podem ser mais adequados para uma determinada posição. Os candidatos, na fase seguinte, são convidados a enviar um vídeo em que respondem a perguntas específicas, para a posição em que estão interessados. As suas respostas são analisadas por um sistema de IA, que considera não apenas o que dizem, mas também a sua linguagem corporal e tom de voz. Os melhores candidatos dessa fase, conforme o decidido pela IA, são então convidados à “Unilever” para realizarem entrevistas pessoais, após as quais os seres humanos tomam as decisões finais de contratação.

É muito cedo para dizer se o novo processo de recrutamento resultou na contratação dos melhores trabalhadores. A empresa tem acompanhado de perto o sucesso dessas contratações, mas ainda são necessários mais dados. É claro, no entanto, que o novo sistema ampliou enormemente a escala do recrutamento da “Unilever”, em parte, porque os candidatos a emprego podem ter acesso facilmente ao sistema por “smartphone”. O número de candidatos duplicou para trinta mil em um ano, o de universidades representadas subiu de oitocentas e quarenta para duas mil e seiscentas, e a diversidade socioeconómica das novas contratações aumentou. Além disso, o tempo médio entre a aplicação e a decisão de contratação, baixou de quatro meses para apenas quatro semanas, enquanto o tempo que o pessoal que recruta a fazer a revisão dos aplicativos baixou 75 por cento. O facto de fornecer aos trabalhadores informações e orientações personalizadas, a IA pode ajudá-los a tomar melhores decisões, que pode ser especialmente valioso para os trabalhadores, pois onde fazer a escolha certa tem um enorme impacto.

É de considerar a forma pela qual a manutenção de equipamentos está a ser aprimorada com o uso de “gémeos digitais”, que são modelos virtuais de equipamentos físicos, ou cópias elaboradas das linhas de produção. A “General Electric (GE)” constrói esses modelos de “software” das suas turbinas e outros produtos industriais e actualiza-os continuamente, com a transmissão de dados operacionais do equipamento. Ao recolher leituras de um grande número de máquinas, a GE acumulou uma grande quantidade de informações sobre o desempenho normal e aberrante. O seu aplicativo “Predix”, que usa algoritmos de aprendizagem da máquina, pode prever quando uma peça específica em uma máquina pode falhar.

A tecnologia mudou fundamentalmente o processo decisivo de manutenção de equipamentos industriais. A “Predix” pode, por exemplo, identificar algum desgaste inesperado do rotor, em uma turbina, verificar o histórico operacional da turbina, informar que o dano quadruplicou nos últimos meses e avisar que, se nada for feito, o rotor perderá cerca de 70 por cento da sua vida útil. O sistema pode, então, sugerir acções apropriadas, tendo em consideração a condição actual da máquina, o ambiente operacional e os dados agregados sobre os danos e reparações semelhantes em outras máquinas. A “Predix” conjuntamente, com as suas recomendações, pode gerar informações sobre os custos e benefícios financeiros e fornecer um nível de confiança (por exemplo, de 95 por cento) para as hipóteses usadas na sua análise.

Os trabalhadores sem o “Predix” teriam sorte de descobrir o dano do rotor em uma verificação de manutenção de rotina. É possível que não seja detectado até que o rotor falhe, resultando em uma interrupção custosa. Os funcionários de manutenção, com a “Predix” são alertados sobre possíveis problemas antes de se tornarem sérios, e têm as informações necessárias na ponta dos dedos para tomar boas decisões, que por vezes podem economizar milhões de dólares à GE. A questão da personalização é importante, pois fornecer aos clientes experiências de marcas personalizadas individualmente é o santo graal do marketing e com a IA, essa personalização pode ser alcançada com precisão inimaginável e em larga escala.

É de pensar como o serviço de “streaming” de música “Pandora” usa algoritmos de IA para criar listas de reprodução personalizadas para cada um dos seus milhões de utilizadores de acordo com suas preferências em músicas, artistas e géneros, ou se considerarmos a “Starbucks”, que, com a permissão dos clientes, usa a IA para reconhecer os seus dispositivos móveis, e ter acesso ao seu histórico de pedidos para ajudar a fazer recomendações de serviços. A tecnologia da IA ​​faz melhor, analisando e processando grandes quantidades de dados para recomendar certas ofertas ou acções, que não é possível ao ser humano, A “Carnival Corporation”, é a maior empresa de viagens de lazer do mundo, que oferece aos viajantes férias extraordinárias com um valor excepcional, com uma frota de cento e dois navios que visitam mais de setecentos portos em todo o mundo, e está a aplicar a IA para personalizar a experiência de cruzeiro para milhões de turistas, através de um dispositivo “wearable” chamado “Ocean Medallion” e uma rede que permite que dispositivos inteligentes se conectem.

A máquina processa dinamicamente os dados que fluem do medalhão e dos sensores e sistemas em todo o navio, para ajudar os hóspedes a tirar o máximo proveito das suas férias. O medalhão agiliza os processos de embarque e desembarque, rastreia as actividades dos hóspedes, simplifica a compra conectando os seus cartões de crédito ao dispositivo, e actua como uma chave, como também se conecta a um sistema que antecipa as preferências dos hóspedes, ajudando os membros da equipa a oferecer um serviço personalizado a cada hóspede, sugerindo roteiros personalizados de actividades e experiências gastronómicas.

A questão da necessidade de novas tarefas e talentos, passa por re-imaginar um processo de negócios que envolve mais do que a implementação da tecnologia da IA; também requer um compromisso significativo para desenvolver trabalhadores com habilidades de fusão, ou seja os que permitem que se trabalhe efectivamente no sistema de comunicação homem-máquina. As pessoas, para começar, devem aprender a delegar tarefas à nova tecnologia, como os médicos confiam nos computadores para ajudar na leitura de raios X e ressonância magnética. Os trabalhadores também devem saber combinar as suas habilidades humanas distintas, com as de uma máquina inteligente para obter um resultado melhor do que qualquer um poderia alcançar só, como na cirurgia assistida por robô.

Os trabalhadores devem ser capazes de ensinar novas habilidades aos agentes inteligentes e passar por formação para trabalhar bem nos processos aprimorados por IA. Assim, por exemplo, devem saber a melhor forma de formular perguntas a um agente de IA para obter as informações de que precisam. É de esperar que, no futuro, as funções da empresa sejam redesenhadas ao redor dos resultados desejados dos processos reinventados, e as empresas sejam cada vez mais organizadas ao redor de diferentes tipos de habilidades, e não à volta de dísticos de trabalho rígidos. A “AT&T” iniciou essa transição ao mudar de serviços de rede telefónica fixa para redes móveis e começa a treinar cem mil trabalhadores para novas colocações.

A empresa, como parte desse esforço, reformulou completamente seu organograma, e aproximadamente, dois mil empregos foram simplificados em um número muito menor de categorias abrangentes, englobando habilidades similares. Algumas dessas habilidades são o que se pode esperar (por exemplo, proficiência em ciência e disputas de dados), enquanto outras são menos óbvias (por exemplo, a capacidade de usar ferramentas simples de aprendizagem da máquina para serviços de venda cruzada). A maioria das actividades no sistema de comunicação homem-máquina, exige que as pessoas façam coisas novas e diferentes (como treinar um “chatbot”) e façam de forma diferente (usar esse “chatbot” para fornecer um melhor atendimento ao cliente).

Actualmente, apenas um pequeno número de empresas começou a re-imaginar os seus processos de negócios para optimizar a inteligência colaborativa. Mas a lição é clara, pois as organizações que usam máquinas, apenas para deslocar trabalhadores através da automação perderão todo o potencial da IA. Tal estratégia é mal orientada desde o início. Os líderes de amanhã serão aqueles que abracem a inteligência colaborativa, transformando as suas operações, mercados, indústrias e a força de trabalho.

13 Jul 2018

Objectivos comuns

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Secretário Geral do Comité Central do Partido Comunista da China (PCC), Xi Jinping, tinha anunciado durante o 18º Congresso Nacional do Partido, que teve lugar em 2012, os dois objectivos estratégicos para a China, que deveriam coincidir com dois importantes centenários. O primeiro seria a concretização de uma “sociedade moderadamente próspera” no ano do 100º aniversário da fundação do Partido (2021), com o PIB e o rendimento per capita a duplicarem em relação aos valores de 2010. O segundo, e o mais desafiante dos dois, seria a transformação da China num país socialista forte, moderno, democrático, civilizado e harmonioso até 2049, ano que que se celebrará o 100º aniversário da fundação da República Popular da China.

A maioria de nós não irá chegar a 2049 e, como tal, nunca saberemos se este objectivo se irá ou não cumprir. Mas, quanto às metas estabelecidas para 2021, espero que todos os meus leitores as possam vir a testemunhar.

O conceito de “sociedade moderadamente próspera” vem do Confucionismo e da antiga China que sonhava com a criação de “uma sociedade altamente unificada”. Esta sociedade ideal, partilhada por todos, é em muitos aspectos semelhante ao “estado utópico” de que nos fala Platão, à “sociedade comunista” proposta por Karl Max no “Manifesto do Partido Comunista” e à “Nova Jerusalém” mencionada na Bíblia.

A procura de uma co-existência verdadeiramente pacífica deveria ser o objectivo comum de toda a Humanidade, independentemente das crenças religiosas, filosóficas ou políticas. No entanto, durante milhares de anos, a ganância dos homens foi-se multiplicando ao ritmo do progresso de uma civilização materialista. As guerras e as mortandades foram-se sucedendo, tornando a utópica “sociedade altamente unificada” um sonho cada vez mais distante. Parece portanto muito difícil concretizar esse tipo de sociedade num espaço de apenas três anos!

Existem três grandes discrepâncias que a China terá de ultrapassar para atingir a tal “sociedade unificada”, a saber: o fosso económico entre as regiões do sudeste e do noroeste, o fosso económico entre as zonas urbanas e as zonas rurais e o fosso económico entre os pobres e os ricos das cidades. Se estas discrepâncias não forem ultrapassadas, toda esta retórica não passará de um conjunto de palavras ocas. Se olharmos para o aumento constante da disparidade entre os pobres e os ricos, proveniente do actual crescimento económico da China, compreenderemos que o Governo vai ter de se esforçar bastante se, nós próximos três anos, quiser ver construída” uma “sociedade altamente unificada”. O sonho de Xi Jinping não deverá ser uma utopia pessoal, mas sim o sonho comum de 1,390 milhões de pessoas.

A pessoas devem ter sonhos. Esses sonhos devem transformar-se em ideais, trabalhados com afinco para um dia virem a ser realidade. O mundo está em constante mudança e a China precisa de renovar para se adaptar âs novas situações e não ficar para trás. Liu Xia, viúva de Liu Xiaobo, laureado com um Nobel, deslocou-se ao estrangeiro para receber cuidados médicos. Este incidente demonstra que existem várias maneiras de resolver um problema, mesmo numa sociedade autoritária. Na era que vivemos, a comunicação racional é a melhor forma de garantir a sobrevivência.

Após mais de 200 dias de suspensão, o deputado da Assembleia Legislativa, Sulu Sou, retomou finalmente as suas funções. Como mandatário da Lista de candidatos da Associação de Novo Macau às eleições legislativas de 2017, considero a minha missão cumprida. Considero que para mim chegou a hora de participar na construção de uma sociedade mais equalitária e mais justa com uma nova abordagem.

Martin Luther King tinha um sonho que ainda não foi realizado. A Nova Jeusalém mencionada na Bíblia representa também um sonho que, para se tornar realidade, precisa do esforço permante de todos os cristãos. Decidi deixar a Associação de Novo Macau depois de uma participação de 25 anos, uma decisão tomada para melhor poder realizar o sonho da criação de uma nova era.

“O Homem é o caminho da Igreja”, uma directiva mencionada no “CENTESIMUS ANNUS” emitido pelo Papa João Paulo II em 1991. Quer o sonho de Martin Luther King, a obtenção da igualdade racial, quer o de Xi Jinping, o renascimento da nação chinesa, necessitam da participação das pessoas e é necessário que um número cada vez maior trilhe a mesma senda. Vivemos todos sob o mesmo céu, independentemente da raça e das opções políticas. Só caminhando em conjunto podemos ver realizado o sonho de todos nós.

13 Jul 2018

Amor de mãe

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]mei algumas mulheres. Muitas mais, na imaginação. Agora, vejo-te andar e abrando o passo. Não faço a mínima ideia das tuas dores. E andas. Levo-te para todo o lado, porque não quero deixar-me só. Não é por ti. É por mim. Seguimos a vida a dois. Tu aturas-me o álcool, a filosofia, o Muay Thai. Foste sempre assim. Olhavas para mim com olhos espantados como se eu estivesse para morrer. Conheces-me melhor do que eu. Eu queria ser bom. Queria ser melhor. Mas, sabes, herdei a melancolia da tua mãe. E que posso eu fazer. Eu não tenho muitas certezas. Tenho, sobretudo, dúvidas. Mas, lembras-te? Foste ter comigo à Alemanha. Pensava eu que já era adulto. Nem agora, depois de 24 anos. Falávamos castelhano. Íamos ver São Patrício e comer aquele bolo: schwarzwälder kirschtorte. Depois, havia a namorada, os amigos alemães. Compravas tudo na bela turca que não falava a tua língua nem tua a dela e havia três: turco, alemão e português. Seguimos sempre. O mano e eu a pensar que éramos filhos únicos, porque o teu amor é assim. Um filho único, mas duas vezes. Agora, o tempo é diferente. O pai partiu, mas está-nos sempre na conversa. Os dias passam e eu vivo contigo como um filho decadente, porque não constituiu família. Não: porque queria ser sacerdote ou militar e foi professor.

Amei algumas mulheres na minha vida. Muito mais na imaginação do que na realidade. E sei por quê. Sou tudo menos marido ou pai. Sou o que as paredes no silêncio da casa me dizem. Saxa loquuntur, dizem os antigos: as pedras falam. Era o silêncio, depois de terem partido. É o silêncio que não deixas que aconteça, quando, de manhã, me vens falar dos teus sonhos. São sempre sonhos com a C. São os filmes que vês. Vês cinco filmes e misturas tudo. E és adorável por isso. Porque a vida é a trama que vamos tecendo e tu tens dois filhos completamente doidos, doidos varridos. Mas levamos-te nos anos de limusina.

Amei muitas mulheres na minha vida: na imaginação mais do que na realidade. A casa não é a mesma sem o pai nem o mano. Mas esta casa era a do avô. Morreu há 20 anos. Estava na Alemanha. O pai disse-me ao telefone para não ir a Portugal e que o seu pai tinha encontrado o seu Deus. Lia tanto para não se perder. Disse-me um dia que agora é que ela me deu. “Agora é que ela me deu”. Era a velhice. E a morte a seguir. Mas o pai nunca morre. Nunca. Ele prometeu-me e eu acredito. Ainda não fala comigo nos sonhos. Mas o Zorba Anjos disse-me que ele ia falar um dia comigo. Também o Zorba Anjos ficou um dia sem o pai.

 

Amei muitas mulheres na vida, na realidade e na imaginação.

 

Mas como tu, mãe…

13 Jul 2018

Tamão, porto de veniaga

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Ilha de Hong Kong, quando os portugueses chegaram à China estava na zona das ilhas de abrigo para as embaixadas dos países tributários aguardarem permissão de avançar até Cantão. No estuário do Rio das Pérolas (Zhujiang), associada às ilhas de veniaga, Tamão era nome usual registado pelos portugueses, onde ao feitor Jorge Álvares calhou ir e assim, por três vezes esteve em Lin Tin, onde morreu a 8 de Julho de 1521. Já a Ilha do Pinhal, na opinião do padre jesuíta Benjamim Videira Pires, é a ilha de Lantao e o porto era chamado Hu Cham, actualmente T’ung-Chung na parte norte de Lantao, ilha hoje assoreada, ligada ao continente e distante 28 léguas a sudoeste de Macau. Porto arrendado pelos mercadores do Sião para comerciar com a China, por ele passou S. Francisco Xavier (a caminho do Japão) e muitas naus portuguesas. Os padres Manuel Teixeira e Baltasar Costa aí visitaram em princípios de 1564 um grande pagode budista em Tai-Ou. Conclui Videira Pires, “Tamão, segundo a documentação chinesa, é a Ilha de Dayushan, actual Lantau”.
Sobre os locais a servir de porto aos barcos das embaixadas estrangeiras à China socorremo-nos do livro Revisitar os Primórdios de Macau…, de Jin Guo Ping e Wu Zhiliang, “A ilha de Dayushan fica a Oeste da Ilha de Hong Kong e é a maior ilha no território de Hong Kong. Na Dinastia Song chamava-se Daxishan (Grande Ilha dos Escravos), na Ming é Dahaoshan (Ilha da Ostra Grande), nome da ilha e de uma povoação. Este nome continuou em uso durante a Dinastia Qing, sendo o nome actual, Ilha Dayushan (Ilha Grande, Lantao). No entanto, naquela altura Lantao não era somente a ilha que conhecemos hoje, mas sim esta ilha e mais um conjunto de 36 ilhotas à sua volta.”
Outro local, “Tunmen, também conhecido como Tuanmen, Duanmen e Chuanmen, fica na parte ocidental do Novo Território de Hong Kong. Na cartografia inglesa, chama-se Castle Peak. Dayushan fica a Sul. Tunmen Wan, defendida por três lados de terra, era um excelente abrigo contra os ventos. Segundo Zhou Qufei, em Lingwai Daida (Colóquio sobre Terras fora de Cantão) afirma: . Ocupando Tunmen uma posição estratégica fora da foz do Rio das Pérolas desde a Dinastia Nanchao (420-589), já se tornara no porto exterior da cidade de Cantão. Os Persas, Árabes, Indianos e Malaios que vinham à China, fosse em negócios ou em missões diplomáticas e religiosas, não podiam entrar directamente na cidade de Cantão e tinham que esperar aqui para serem vistoriados e anunciados às autoridades competentes.”
No início do século XVIII, os compartimentos estanques começaram a ser usados nos barcos ingleses e com os canhões e a pólvora, invenções chinesas, tornaram-se os britânicos a maior potência naval e comercial do mundo, de uma força bélica insuperável.

Ocupação inglesa de HK

Os ingleses a 26 de Janeiro de 1841 proclamaram a soberania de Xianggang, nome chinês para Hong Kong, estava-se nos finais da 1.ª Guerra do Ópio.
“Os macaenses, principalmente os jovens sem emprego, e que eram obrigados a prestar serviço no Batalhão Provisório, ou os que não encontravam, em Macau, empregos no funcionalismo público, uma vez que o comércio marítimo perdera toda a sua importância, começaram a deixar o território. Verificou-se, então, um considerável surto emigratório para Hong Kong, Xangai e outros portos do Oriente, onde as companhias estrangeiras começavam a estabelecer grandes empórios comerciais. [Em 1864 o Hong Kong and Shanghai Banking Corporation é fundado em Hong Kong pelos mercadores ingleses e no ano seguinte, a HongKong, Canton and Macao Steamboat Company para fazer as ligações entre Macau, Hong Kong e Cantão.] Possuindo esmerada educação, dotes de inteligência e perspicácia, dominando, tanto o inglês como o cantonense, os filhos da terra encontraram, assim, empregos por vezes muito lucrativos, reconstituindo, em muitos casos, antigas fortunas que pareciam definitivamente perdidas”, segundo Ana Maria Amaro, que dá o exemplo “do Comendador Albino Pedro Pereira da Silveira, filho de Francisco António Pereira da Silveira. Foi funcionário da Casa Robinnet, em Cantão (que negociava em sedas); daí passou para a Casa Jardine Matheson & C.a, e, em seguida, foi trabalhar para Xangai, na Firma Dent & C.a. [Em 1849, o Governador Ferreira do Amaral nomeara o negociante estabelecido em Cantão, John Dent, cônsul de Portugal em Cantão, e o negociante britânico, Thomas C. Beale, para o mesmo cargo, em Xangai, até que em 1862 ocorreu a falência da Firma Dent, Beale & Co. que representava os interesses portugueses em Xangai.] Finalmente, foi guarda-livros da Union Insurance Society of Canton, em Hong Kong. Muito rico, faleceu em Macau, em 1902, sem descendência, pois a única filha (Ana Joaquina) que sobreviveu, professou em França”. Informação de Francisco A. P. da Silveira, do espólio de J. F. Marques Pereira.

O Club Lusitano de HK

Em 1896, “espalhados um pouco por todo o extremo oriente encontram-se ainda 2371 portugueses, com relevo para os radicados em Hong Kong (1309) e em Xangai (738)”, segundo António Aresta e José Maria Braga refere, “Em 1900 havia uma forte comunidade portuguesa em Hong Kong com 2000 portugueses e 1200 em Shanghai.”
Segundo D. P. J. Lopes, a primeira instituição portuguesa estabelecida em Hong Kong foi a Biblioteca Portuguesa, fundada em 1857, e o primeiro clube de portugueses a aparecer nessa cidade inglesa foi o Club Portuguez, como local de reunião. Pouco depois, “os dirigentes da comunidade entenderam que alguma coisa de mais ambicioso se podia empreender, pois a velha geração notara estar-se a desenvolver entre os novos a tendência de negligenciar a língua, os velhos costumes e o modo de ver português e, assim, em 1865, foi resolvido fundar-se o Club Lusitano, cuja sede foi inaugurada, um ano mais tarde”. Era o principal local de reunião para a comunidade portuguesa de Hong Kong e com o aumento do número de residentes nesta cidade apareceram outros clubes mais pequenos constituídos por pequenos círculos de amigos entre os quais o Club Venatório, em Chancery, e o Club Vasco da Gama na Peel Street, refere J. M. Braga.
O Governador de Macau José Maria da Ponte e Horta inaugurou o Club Lusitano de Hong Kong a 17 de Dezembro de 1866, segundo António Feliciano Marques, que diz ter sido ideado e erecto em breve tempo, pois ainda no ano anterior, a 26 de Dezembro fora a primeira pedra do edifício colocada em Dulley Street pelo Governador Coelho do Amaral. Era então em Hong Kong o mais completo e elegante estabelecimento do seu género. [Em 1920 começará a construção do Clube em Dudell Street.]
O Independente de 13 de Maio de 1893 refere a eleição da Direcção do Club Lusitano no ano actual e dá o nome do presidente, o conselheiro Agostinho Guilherme Romano, do secretário Francisco J. V. Jorge, do tesoureiro Alexandre de Brito e dos vogais: Albino da Silveira, Demétrio A. da Silva, Miguel A. A. de Souza e João Joaquim Leiria.

13 Jul 2018

Dois poemas de Georg Trakl traduzidos

Dämmerung1

 

[dropcap style≠’circle’]I[/dropcap]m Hof, verhext von milchigem Dämmerschein,

Durch Herbstgebräuntes weiche Kranke gleiten.

Ihr wächsern-runder Blick sinnt goldner Zeiten,

Erfüllt von Träumerei und Ruh und Wein.

 

Ihr Siechentum schließt geisterhaft sich ein.

Die Sterne weiße Traurigkeit verbreiten.

Im Grau, erfüllt von Täuschung und Geläuten,

Sieh, wie die Schrecklichen sich wirr zerstreun.

 

Formlose Spottgestalten huschen, kauern

Und flattern sie auf schwarz-gekreuzten Pfaden.

O! trauervolle Schatten an den Mauern.

Die andern fliehn durch dunkelnde Arkaden;

Und nächtens stürzen sie aus roten Schauern

Des Sternenwinds, gleich rasenden Mänaden.

 

Crepúsculo

No pátio, enfeitiçado pela luz láctea do crepúsculo,

Ternos doentes deslizam através do outono acastanhado.

Os seus olhos redondos em cera pensam nos seus tempos dourados,

Cheios de sonhos e paz e vinho.

A enfermidade fecha-os fantasmagoricamente nela.

As estrelas espalham uma tristeza alva

No cinzento, cheios de ilusão e repiques,

Vê como, horríveis, se dissipam confusamente.

As figuras sem forma do escárnio esgueiram-se, de cócoras

E esvoaçam sobre sendas negras negros de cruzamentos.

Oh! Tão tristes as sombras nos muros.

As outras fogem pelas arcadas sombrias.

E à noite precipitam-se com as rajadas rubras

Do vento estrelar, quais Ménades em fúria.

 

De profundis

Es ist ein Stoppelfeld, in das ein schwarzer Regen fällt.

Es ist ein brauner Baum, der einsam dasteht.

Es ist ein Zischelwind, der leere Hütten umkreist.

Wie traurig dieser Abend.

 

Am Weiler vorbei
Sammelt die sanfte Waise noch spärliche Ähren ein.

Ihre Augen weiden rund und goldig in der Dämmerung
Und ihr Schoß harrt des himmlischen Bräutigams.

Bei ihrer Heimkehr
Fanden die Hirten den süßen Leib
Verwest im Dornenbusch.

Ein Schatten bin ich ferne finsteren Dörfern.
Gottes Schweigen
Trank ich aus dem Brunnen des Hains.

Auf meine Stirne tritt kaltes Metall.
Spinnen suchen mein Herz.

Es ist ein Licht, das meinen Mund erlöscht.

Nachts fand ich mich auf einer Heide,
Starrend von Unrat und Staub der Sterne.
Im Haselgebüsch
Klangen wieder kristallne Engel.

 

De profundis

Há um campo de restolho sobre o qual uma chuva negra cai.
Há uma árvore castanha, que aí está de pé, sozinha.

Há um vento sibilante à volta das cabanas vazias.
Como é triste esta noite.

Ao longo da aldeia,

A doce órfã colhe ainda escassas espigas.
Os seus olhos, redondos e dourados, pastam ao entardecer,

E o seu peito anseia pelo noivo celestial.

No regresso,

Os pastores encontram o seu doce corpo

A apodrecer nos arbustos de espinhos.

Uma sombra eu sou, longe das lúgubres vilas.

De Deus o silêncio

Eu bebi na fonte do bosque.

Na minha fronte, aparece metal frio.

Aranhas procuram o meu coração.
Há uma luz que a minha boca extingue. 

À noite, dei por mim numa charneca,

petrificado pela sujidade e pó de estrelas.

No bosque das avelaneiras,

Ressoam, de novo, anjos de cristal.

12 Jul 2018

Drake bate recorde dos Beatles com sete músicas no Top 10 da tabela da Billboard

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] cantor e compositor canadiano Drake tem sete temas no Top 10 da Billboard em simultâneo, batendo os Beatles que chegaram a ter cinco em 1964.

O tema “Nice For What” volta agora ao topo da tabela depois de ter ficado em sexto na semana passada. Em segundo lugar estreia-se “Nonstop” e seguem-se, por ordem, “God’s Plan”, “In My Feelings”, “I’m Upset”, “Emotionless” e “Don’t Matter to Me”, que conta com arranjos vocais de Michael Jackson previamente gravados.

Os outros três lugares do Top 10 estão guardados para Cardi B, em terceiro, Maroon 5, em quinto, e para o ‘rapper’ XXXTentacion, morto a tiro em junho, que ocupa o décimo lugar com “Sad!”.

A lista da Billboard reúne as canções mais ouvidas da semana nos Estados Unidos, por popularidade, compilando dados de vendas e transmissões.

O cantor conta agora com 31 êxitos no Top 10, ficando empatado com Rihanna, no terceiro lugar, sendo que à sua frente se encontram os Beatles com 34 êxitos e Madonna com 38.

Drake lançou, no final de junho, o álbum “Scorpion” e, até ao momento, todas as 25 músicas do álbum estão na tabela `Hot 100´ da Billboard.

Desde 2009, Drake, conta com 186 músicas na tabela do Top 100 da Billboard, ficando assim em segundo, atrás do elenco da série americana “Glee”, que teve 207 das suas músicas na tabela.

O cantor e compositor estreou-se com 17 anos na série televisiva “Degrassi: A próxima geração”, tendo participado em 138 episódios. Em 2006, Drake, lançou a sua primeira `mixtape´, “Room for Improvement”, sendo que o seu primeiro álbum de estúdio “Thank me Later” foi lançado em 2010.

12 Jul 2018

Prisão preventiva para os oito suspeitos de envolvimento nos incidentes na Academia do Sporting

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] juiz de Instrução Criminal do Tribunal do Barreiro decretou ontem a prisão preventiva dos oito detidos na segunda-feira por alegado envolvimento nos incidentes de 15 de maio na Academia do Sporting, em Alcochete, Portugal.

Durante o interrogatório judicial apenas um arguido prestou declarações, o que não impediu o Ministério Público de pedir a aplicação da medida de coação de prisão preventiva para todos os detidos, pedido esse que foi acompanhado no despacho final do juiz Carlos Delca.

Os oito detidos são suspeitos da prática de crimes de terrorismo, ofensa à integridade física qualificada, ameaça agravada, sequestro, dano com violência, tráfico de estupefacientes e detenção de arma proibida, entre outros.

Além dos indícios da prática destes crimes que justificam a medida de coação mais grave, prisão preventiva, o juiz de Instrução Criminal considerou ainda existir perigo de fuga, de perturbação do decurso do inquérito e de grave perturbação da ordem e tranquilidade públicas.

Estes oito detidos que hoje foram presentes a primeiro interrogatório judicial, juntam-se a um nono elemento detido na segunda-feira, que não foi ouvido no prazo legal de 48 horas após a detenção por motivos de saúde, a quem já tinha sido decretada a prisão preventiva.

Com a decisão hoje anunciada, são já 36 pessoas detidas por alegado envolvimento nos incidentes de Alcochete, entre eles o antigo líder de uma claque do Sporting, Fernando Mendes, a que se juntam mais três arguidos suspeitos de crimes menos graves e que, por isso, ficaram apenas com a medida de coação de Termo de Identidade e Residência.

Segundo o juiz Jorge Delca, há “mais dois ou três” suspeitos que não se encontram em Portugal e que ainda não foram constituídos arguidos.

No dia 15 de maio passado, a equipa de futebol do Sporting foi atacada na Academia do clube por um grupo de cerca de 40 alegados adeptos encapuzados, que agrediram técnicos, jogadores e ‘staff’.

Na altura, a GNR deteve 23 dos atacantes, que permanecem em prisão preventiva.

No dia 05 de junho, foram detidas pelas autoridades mais quatro pessoas, entre elas antigo líder da Juventude Leonina Fernando Mendes, que também ficaram em prisão preventiva.

Os arguidos estão indiciados por vários crimes, nomeadamente sequestro, ofensa à integridade física qualificada, introdução em lugar vedado ao público, dano com violência, terrorismo, resistência e coação sobre funcionário.

12 Jul 2018

Mundial 2018 | Croácia bate Inglaterra no prolongamento e assegura a sua primeira final

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m golo de Mandzukic, na segunda parte do prolongamento, permitiu ontem à Croácia vencer a Inglaterra por 2-1 e apurar-se pela primeira vez para a final de um Mundial de futebol.

Em Moscovo, a equipa inglesa até começou melhor e adiantou-se npo marcador logo aos cinco minutos, através de um exemplar livre direto de Kieran Trippier, mas os croatas reagiram e empataram já no decorrer da segunda parte, por intermédio de Ivan Perisic, aos 68.

O golo que ditou a primeira final de um campeonato do mundo aos croatas surgiu já em tempo de prolongamento, aos 109 minutos, através do ponta de lança da Juventus Mario Mandzukic.

Na final do Mundial2018, os croatas vão defrontar a França, que na terça-feira venceu a Bélgica por 1-0, em jogo agendado para as 16:00 de domingo (horas portuguesas), em Moscovo.

12 Jul 2018

Juíza brasileira nega 143 pedidos de liberdade de Lula da Silva

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), corte de terceira instância da Justiça do Brasil, Laurita Vaz, negou ontem 143 pedidos de ‘habeas corpus’ apresentados em favor do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em comunicado, a presidente do STJ informou que os recursos foram indeferidos porque “o Poder Judiciário não pode ser utilizado como balcão de reivindicações ou manifestações de natureza política ou ideológico-partidárias”, pois “não é essa sua missão constitucional”.

O STJ destacou que todas as petições negadas eram padronizadas e com o subtítulo “Ato Popular 09 de julho de 2018 – Em defesa das garantias constitucionais”.

Os recursos foram assinados por pessoas que não integram a defesa do ex-Presidente Lula da Silva e contestavam a execução provisória da pena a que foi condenado e pediam sua liberdade.

Na decisão, a juíza Laurita Vaz frisou que o direito de petição aos poderes públicos é garantia fundamental de qualquer cidadão, mas ressalvou que o ‘habeas corpus’ não é a via própria para a prática de “atos populares”.

A mesma magistrada sublinhou que o ex-Presidente brasileiro tem advogados, que “se estão a valer de todas as garantias e prerrogativas do ofício para exercer, com plenitude, a defesa e o contraditório, com a observância do devido processo legal”.

“Assim, não merece seguimento o insubsistente pedido de ‘habeas corpus’, valendo mencionar que a questão envolvendo a determinação de cumprimento provisório da pena em tela já foi oportunamente decidida por este Superior Tribunal de Justiça e pelo Supremo Tribunal Federal”, concluiu a presidente do CNJ ao indeferir as petições.

12 Jul 2018

Corpo Mutante

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] que é que faz um corpo sexy? Não é consensual entre as massas, e muito menos  através dos tempos. Aliás – e este não é um argumento original – parece que os corpos (especialmente os femininos) ganham partes dependendo se estamos na Primavera/Verão 2018 ou no Inverno 2011.

É como a moda, vai mudando de temporada em temporada. A novidade deste Verão 2018 é o anteriormente desconhecido, e pouco explorado, ‘decote das ancas’, i.e., o que no mundo de língua inglesa andam a chamar de hip cleavage. Talvez até haja uma tradução ‘oficial’ mas não encontrei, o ‘decote de ancas’ terá que funcionar. E que parte do corpo vem a ser esta? Os decotes de anca que andam a ser orgulhosamente exibidos pelas redes sociais dos mais famosos, não são tão novas quando isso. Já nos anos 80 era orgulhosamente exibida uma linha de anca bastante decotada  nas idas à praia. Uma cuequinha, só era uma boa cuequinha, se apresentasse uma abertura generosa e acima do osso da anca, a expôr ainda mais umas coxas bem firmes e torneadas. Certamente que se lembrarão de uma Pamela Anderson com um fato-de-banho encarnado nas Marés Vivas.  Pois que a moda voltou, e fez com que reaparecesse na esfera pública uma nova, mas velha, parte do corpo feminino.

O fenómeno não é novo. Sempre houve uma constante proliferação de zonas/partes de intensa sexualidade ao longo dos séculos. O que não deixa de ser divertido, não é? De seis em seis meses posso  – as às vezes sinto-me obrigada – olhar para o meu corpo de maneira diferente, corpo esse que só pode ser mutante, já que lhe pressupõem tanta diversidade e transformação. Olhem a revista Vogue – a aclamada voz da moda anda a dizer que o peito já não é o que era, os decotes já não se usam. O que é uma porcaria, porque era daqueles truques fáceis e simples de uma saída nocturna mais sexualmente sucedida, vá. ‘Vou pôr aquele vestido de decote generoso e estou pronta para sair!’ Mas dizem os ‘especialistas’ que já não é bem assim. Os super-famosos ‘wonderbras’, os tais super potentes capazes de levantar até as mamas mais descaídas para uma linha de peito eriçado e redondinho está fora de moda (!). As mais conhecidas marcas de lingerie até já andam a vender  soutiens sem armação. Diz, quem se acha de direito, que é porque o look ‘natural’ é a tendência de momento. Por acaso ‘wonderbras’ nunca me interessaram por aí além, e sempre fui apologista do tal look natural, mas não consigo deixar de pensar que o que a ‘indústria’ julga natural pode ser discutível. Porque já houve o fascínio da mama até à ultima consequência – também proliferaram partes de mama antigamente desconhecidas, ou pelo menos pouco pensadas- pela prega da mama de baixo, de lado (leia-se underboob, sideboob). Quem é que se recorda do desafio de 2016 de segurar uma caneta com a prega mamária inferior? – a internet está cheiinha disso. Decote de anca, linha de mama lateral e frontal anterior, decote dos pés que mostram mais linha de dedos ou menos linhas de dedos, espaço entre as coxas, as covinhas das costas ou de ‘Vénus’ (que é genético), o refego do rabo, o rabo de ‘lado’ (sidebutt) são só meros exemplos do que se tornou moda. E como devem calcular esta atenção particular aos rabos, às pernas, e às mamas têm catapultado a importância da cirurgia plástica. Acho que o rabo de ‘lado’ tem sido um grande hit, mas para vos ser muito honesta nem sem bem o que é, é simplesmente um rabo que tem uma saliência de lado, nada de anormalmente mutante, só mais redondo e cheio

Eu não sei muito bem quem culpar este culto do corpo. Se não são as mamas, são rabos, são ancas, são sobrancelhas, sei lá, é preciso estarmos a reinventar-nos constantemente. Porque o que importa é comercializar e transformar os nossos corpos sazonalmente. Mas para quem? É como se existisse uma vontade omnipresente de ditar as tendências do físico mas que ninguém sabe muito bem para qual finalidade. Eu duvido que os homens estejam tão obcecados em criar novas formas de  objectificação feminina – que não digo que não exista – a cada 6 meses. Parece que andamos todos na busca incessante para promover as formas desejáveis, resolver os defeitos, reinventar os feitios… A consequência disto tudo não é necessariamente patológica – como anorexia e bulimia nervosas – é só particularmente irritante. Estas são vozes e vozinhas que inundam os nossos pensamentos porque não temos pernas afastadas o suficiente, ou rabos de jeito o suficiente, ou as mamas assim ou assado. E o pior é que é suposto mudarmos de ano a ano, dependendo… nem sei muito bem de quê.

Porque afinal… quem é que tem a clarividência de que o corpo não é mutante, mas é simplesmente o que é? Quem são os corajosos que não se deixam melindrar, nem por um momento, que o corpo, e a nossa sexualidade, tem uma perfeição imperfeita?

12 Jul 2018

Madonna em Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] título pode parecer um pouco enganador, pois para quem tem interesse neste tipo de curiosidades, Madonna, a rainha da pop, já esteve em Macau. Foi em meados dos anos 80, durante as filmagens de “Shanghai Surprise”, ao lado do seu primeiro marido, Sean Penn. Este último protagonizou na altura um episódio caricato, quando pendurou pelo tornozelo um “paparazzi” (um jornalista local, muito conhecido na altura) do nono andar do antigo Hotel Central. Mas isto era outra Madonna.

A cantora tem sido notícia em Portugal desde que no ano passado decidiu ir viver para a Lisboa. Depois de uma série de não-notícias que serviram sobretudo para encher as páginas da imprensa cor-de-rosa e animar as redes sociais, eis que Madonna decide dar com um pano encharcado na visage dos alfacinhas, e adquire 15 parques de estacionamento na capital ao preço da uva mijona. Isto é um ultraje, para as pessoas que vivem na cidade, e pagam impostos, etc, etc, o costume. O edil lisboeta Fernando Medina, ele igualmente o alvo da ira dos seus munícipes, vem defender a decisão, recordando mais uma vez o contributo que a artista tem dado para a divulgação do nome de Portugal no mundo – ouviram bem? No mundo! Eu acho que sim mas penso que não, ou seja, nem a Madonna descobriu Portugal, nem quinze estacionamentos iam resolver o problema do parque automóvel em Lisboa. E como alguém escreveu a este respeito, e bem, “vocês pensam que são a Madonna”?

No entanto, esta notícia deixou-me a pensar: e se a Madonna fosse viver para Macau? Sim, imaginem que lhe apetecia ter voltado cá, mais de 30 anos depois do “Shanghai Surprise”, e que se apaixonava pelas Ruínas de S. Paulo. Ou sei lá, bebia a água do Lilau, a seguir caía das escadas do Quebra-Costas e ficava zuca, pronto. Usem a vossa imaginação. A questão dos estacionamentos ficava resolvida num ápice. “Ai a sra. Dona Madonna quer 15 parques? São 30 milhões de patacas – ou menos de 4 milhõezinhos de dólares, nós sabemos que a sra. tem. Passe bem and Macau welcomes you”. Até era um investimento bem jeitoso, este; quando a Madonna se fartasse de conduzir em Macau – e ia fartar-se depressa – podia revender os parques com lucro, a pobrezinha.

O resto da vida da Madonna em Macau não seria exactamente aquilo a que deve estar habituada. Os seus meninos podiam jogar à bola na mesma, mas o Benfica aqui é outro, e o Seixal chama-se “quintal desportivo do Estádio de Macau”, na Taipa. Ia ser bom também para a carreira da artista, que certamente encheria a Arena do Venetian as vezes que lhe apetecesse, trazendo imensa gente ao território. Só tem que rivalizar com outras divas do seu tempo, casos de Celine Dion ou Mariah Carey. Quanto à acomodação da Madonna, pensei na zona da Penha, mas depois os meninos dela lembram-se de andar por lá a atirar aviõezinhos de papel, e ainda se metem em algum sarilho. Se calhar o melhor mesmo é conceder o terreno da casamate, em Coloane, à Madonna, onde ela podia ser a própria, estão a ver, montada num cavalo branco de cabelos ao vento na praia de Hac-Sá? Fia-te no like a virgin e não corras, Madonna.

12 Jul 2018

Os contos do trânsfuga

[dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]uben Dario (1867-1916), praticamente, nasceu trânsfuga, numa Nicarágua natal que só lhe conheceu a infância, o começo da juventude e o ocaso.

Pelo meio, foi educado pelos tios, por extravio do núcleo familiar, e novo saiu da aldeia natal para visitar El Salvador; no trespasse da adolescência passa a residir no Chile – um pé em Valparaíso e outro em Santiago -, após o que assentou arraiais na Costa Rica e no Guatemala, aportou várias vezes ao Panamá, viajou até Espanha – dando então o primeiro salto a Paris; a errância fá-lo instalar-se ainda na Argentina, em Buenos Aires, (como cônsul da Colômbia), sem dispensar uma transumância permanente entre a América e a Europa, aonde igualmente visitará a Itália e Maiorca. Em 1910 desloca-se ao México, que está no umbral da grande revolução; seguir-se-á Nova Iorque, antes de regressar à Nicarágua, à sua aldeia natal, Chocoyos (hoje Ciudad Darío), morrendo aí em 1916 com apenas 49 anos, embora muito calcinados pelo vinho e o uísque que vazou a rodos.

Todo este cosmopolitismo fê-lo um partidário ferrenho da unidade centro-americano, utopia política de alguns e nunca cumprida, e a enjeitar os nacionalismos, declarando com humor: porque «ao homem, como aos cogumelos, não exige Deus a escolha de uma pátria» (frase colhida no conto Arte e Gelo, incluída na antologia que é pretexto desta prosa).

É desta criatura plectórica e vital no dealbar de um século para outro e que rompeu com o provincianismo colonial para se revelar um dos aríetes da literatura em qualquer coordenada em que tenha tomado assento, que agora se edita uma genicosa coletânea de contos, o volume Curiosidades Literárias e outros contos, com selecção, versões e notas de Rui Manuel Amaral, na colecção por si dirigida, a Colecção Avesso, para a editora Exclamação!, do Porto.

Curiosamente, muitos contos estão identificados com os locais que visitou, literalmente ou através de leituras, e temos o conto parisiense, o conto hebraico, o conto russo, o conto grego, o conto passado em Londres, a lenda mexicana, etc. Embora não haja nestes contos apenas um impulso mimético em relação aos lugares e aos diferentes estilos que evocam, antes se certifica neles, muito para lá da feição simbolista que de comum se lhe associa, o profundo ecletismo do autor. E temos narrativas de cunho simbolista, de cunho fantástico, de recorte realista, fábulas e até anedotas de amplexo mitológico. É isso que o torna uma fonte de surpresas e profusamente actual – isso e um humor subterrâneo que de vez em quando aflora:

«O asno (embora nunca tenha conhecido Kant) era especialista em filosofia, como se costuma dizer» (pág., 48);

«Orfeu saiu triste do bosque do sátiro surdo, disposto a enforcar-se no primeiro loureiro do caminho.

Não se enforcou, mas casou com Eurídice.» (pág. 52)

«Que doutor Z seja ilustre, eloquente, conquistador; que a sua voz seja ao mesmo tempo profunda e vibrante, e o seu gesto avassalador e misterioso, sobretudo depois da publicação da sua obra A arte do sonho, talvez se possa discordar ou aceitar com reservas; mas que a sua calva é única, insigne, bela, sone, lírica se preferirem, oh!, isso é indiscutível, estou certo!» (pág.93)

Darío é tão fascinantemente eclético que até antecipa Lovecraft, em O pesadelo de Honório, que, coitado, num sonho revisita todos mas todos os rostos, perfis, caretas, esgares, e máscaras que tiveram lugar numa sucessão formigante desde o princípio do mundo e que se guardarão no provável armazém que configurará o inconsciente de Deus – multidão que devém a interminável soma de singulares que aterrorizaria qualquer mortal -, ou antecipa os artifícios dos experimentalistas do OuLiPo, no conto que fecha esta antologia, Curiosidades Literárias, e que transcreve uma narrativa – deliciosamente intitulada Para Fracassar Basta Amar – que dá um bigode a Georges Perec, pois constrói-se a partir da interdição do uso não de uma vogal mas de quatro, só sendo autorizado o recurso ao a.

Para se perceber a riqueza do conjunto e como em Darío até as anedotas têm duplo sentido, citemos esta:

«No paraíso terrestre, no luminoso dia em que as flores foram criadas, antes que Eva fosse tentada pela serpente, o maligno espírito aproximou-se da mais bela rosa, no momento em que esta estendia, à carícia do celeste sol, a encarnada virgindade dos seus lábios.

– És bela.

– Sou – disse a rosa.

– Bela e feliz – prosseguiu o diabo – Tens a cor, a graça e o aroma. Mas…

– Mas?

– Não és útil. Não vês estas vastas árvores carregadas de bolotas? Além de frondosas, dão alimento a multidões de seres animados, que se detém sob os seus ramos. Rosa, ser bela é pouco…

A rosa – tentada como seria depois a mulher – desejou então a utilidade, de tal modo que houve palidez na sua púrpura.

Passou o bom Deus, depois do romper da aurora.

– Pai, disse aquela princesa floral, agitando-se na sua perfumada beleza – quereis fazer-me útil.

– Seja minha filha – respondeu o Senhor, sorrindo.

E o mundo viu então a primeira couve.»

É extraordinário esta anedota. Não somente pela sugestão de que não há funcionalidade desejável para além daquela que concerne a cada forma, mas também pela ideia herética de que cada ser, criatura, entidade, planta ou nuvem pode ter sido tentada no paraíso. O que pessoalmente, perdoe-me o leitor, acho uma ideia retumbante.

Para além dos contos referidos outros realçam, como a curta fábula Febea, na qual a pantera “domesticada” não mente a Nero sobre os seus dotes artísticos, até ao auto-irónico O último Prólogo, corrosiva diatribe contra a condescendência literária com um desfecho surpreendente, ou não, se o associarmos às contradições dalguns escritores do actual friso dos escribas portugueses que se querem “malditos”.

Reconheça-se por fim que a fluidez e eficácia destes contos devem muito à imperiosa qualidade da tradução de Rui Manuel Amaral, sem a qual esta diversidade e tensão frásica manquejariam.

12 Jul 2018

China | Cadeia Luckin Coffee avaliada em mais de mil milhões de dólares

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] chinesa Luckin Coffee tornou-se a primeira ‘startup’ do país no ramo do café a ser avaliada em mais de mil milhões de dólares, ilustrando o ‘boom’ do consumo de café no antigo “império do chá”.

A cadeia de cafés conseguiu angariar 200 milhões de dólares numa rodada de financiamento, numa altura em que tenta desafiar a posição dominante da multinacional norte-americana Starbucks no país asiático. Fundada em 2017, a Luckin diz ter aberto mais de 500 lojas na China, nos últimos cinco meses, com preços 30 por cento inferiores aos praticados pela cadeia norte-americana e entregas em escritórios.

Segundo contas do sector, as cadeias de café geraram 22 mil milhões de yuan em receitas, no ano passado, na China. Até 2020, aquele valor deve aumentar para 28 milhões de yuan. O Starbucks tem 3.300 estabelecimentos na China e os britânicos do Costa Coffee 420. O grupo português Delta Cafés, presente há alguns anos em Macau, também já está estabelecido em Xangai, desde o final de 2013, através de uma parceria com um distribuidor local de produtos alimentares.

12 Jul 2018

Comércio | Pequim considera taxas de Washington inaceitáveis e vai retaliar

A China considerou ontem “totalmente inaceitável” a decisão dos Estados Unidos de imporem novas taxas alfandegárias sobre produtos chineses e anunciou que adoptará as “contramedidas necessárias”, confirmando uma guerra comercial entre os dois países

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s relações entre as duas maiores potências económicas mundiais continuam a ferra-e-fogo. Depois do anúncio de imposição de novas taxas sobre produtos chineses, Pequim respondeu na mesma moeda. “A atitude dos Estados Unidos prejudica a China, o mundo e a eles próprios. Esta conduta irracional não pode ter apoio”, afirmou um porta-voz do Ministério do Comércio chinês, em comunicado.

Pequim está “chocado” com a decisão do Presidente norte-americano, Donald Trump, de impor novas taxas, de 10 por cento, sobre um total de 200 mil milhões de dólares (170 mil milhões de euros) de bens importados da China.

A China vai denunciar a “conduta unilateral” dos EUA na Organização Mundial do Comércio, indicou o mesmo comunicado, acrescentando, sem avançar pormenores, que o Governo chinês, em defesa dos interesses essenciais do país, “terá que tomar as contramedidas necessárias”.

Milhões e milhões

O anúncio de Washington surgiu poucos dias depois da entrada em vigor nos Estados Unidos de taxas alfandegárias, de 25 por cento, sobre um total de 34 mil milhões de dólares (30 mil milhões de euros) de bens importados da China.

Esta foi a primeira de uma série de medidas retaliatórias de Washington contra alegadas “tácticas predatórias” de Pequim, que visam o desenvolvimento do sector tecnológico chinês.

A administração norte-americana acusou a China de roubo de tecnologia e de exigir às empresas estrangeiras que transfiram ‘know how’ em troca de acesso ao mercado. Trump quer ainda uma balança comercial mais equilibrada com o país asiático. Pequim retaliou ao adoptar taxas alfandegárias sobre o mesmo valor de importações oriundas dos EUA, sobretudo produtos agrícolas.

12 Jul 2018

Filipinas | Denúncias de envolvimento da polícia em casos de abusos sexuais

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma organização filipina denunciou ontem o envolvimento de pelo menos 33 agentes da polícia em 13 casos de abusos sexuais de mulheres desde Janeiro de 2017. Neste período, o Centro de Recursos para a Mulher (CWR) documentou até 13 casos de abusos: oito violações, em que estão implicados 16 agentes, três casos de actos lascivos, um caso de assédio e outro de abuso sexual com violência.

De acordo com o CWR, metade destes casos ocorreram no contexto da guerra antidrogas do Presidente filipino, Rodrigo Duterte. Desde Julho de 2016, mais de 4200 suspeitos foram abatidos pela polícia do arquipélago.

“A violência perpetrada pelo Estado contra as mulheres é alarmante. Reflecte quão abusivas se tornaram as autoridades sob um regime que envia sinais de impunidade às suas forças armadas e ignora descaradamente os direitos humanos da mulher”, segundo um comunicado da directora do CWR, Jojo Guan. Para Guan, esta campanha antidroga transformou-se “numa desculpa para abusos sexuais”, perpetrados durante as operações anti-tráfico.

Dos sete casos registados no âmbito da guerra contra as drogas, contam-se quatro violações e três casos de actos lascivos.

Duterte e o ex-director da polícia nacional filipina Ronald Dela Rosa, no cargo até Maio passado, defenderam que toxicodependentes foram responsáveis pelas violações e justificaram o papel da guerra anti-droga para atacar este problema.

12 Jul 2018

Japão | Governo anuncia 199 mortes, primeiro-ministro visita zonas mais afectadas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo nipónico elevou ontem para 179 o número de mortos relacionados com as chuvas torrenciais no oeste do Japão, para onde o primeiro-ministro, Shinzo Abe, viajou esta manhã para visitar as zonas mais afectadas.

De acordo com o porta-voz do Governo, Yoshihide Suga, Shinzo Abe encontra-se em Kurashiki, na província de Okayama, uma das mais devastadas pelas inundações, a par de Hiroshima. O governante cancelou as viagens à Europa e Médio Oriente, agendadas para esta semana.

Além das 179 mortes confirmadas, as autoridades dão conta de pelo menos nove desaparecidos. A imprensa japonesa fala em mais de 50. “Este é o pior desastre relacionado com as chuvas torrenciais no arquipélago desde 1982”, recordou Suga, na terça-feira.

As chuvas intensas registadas desde sexta-feira provocaram grandes inundações, deslizamentos de terra e outros danos, deixando isoladas muitas pessoas, que não puderam ou não quiseram abandonar as suas casas.

De acordo com Suga, o Governo mobilizou 75 mil militares e equipas de emergência e quase 80 helicópteros para os esforços de busca e resgate.

“Estamos sem água, comida, nada chega aqui”, disse ao jornal Mainich o japonês Ichiro Tanabe, que mora na cidade portuária de Kure. “Vamos ficar todos secos se continuarmos isolados”, advertiu.

Empresas e serviços de entregas disseram que os envios de e para as áreas inundadas foram suspensos ou muito reduzidos, enquanto os supermercados fecharam lojas ou abreviaram horas devido a atrasos na entrega e escassez de mercadorias. Ao início da manhã de ontem, milhares de casas não tinham ainda água potável ou electricidade.

12 Jul 2018

Tailândia | Jovens perderam peso, mas “estão bem de saúde”, diz especialista

As autoridades sanitárias tailandesas indicaram ontem que, embora tenham perdido peso, os jovens resgatados de uma gruta no norte da Tailândia “estão bem de saúde”

Por João Carreira, jornalista da agência Lusa 

 

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ara o inspector de saúde pública Thongchai Lertwilairatanapong, as 12 crianças e o treinador “cuidaram bem de si mesmos”, durante os 18 dias em que estiveram presos na gruta. O responsável indicou que o treinador e um dos últimos jovens a serem resgatados contraíram uma “leve infeção pulmonar”. Do primeiro grupo a ser resgatado, no domingo, dois apresentaram os mesmos sintomas, acrescentou.

Na terça-feira à noite, no terceiro dia das operações de resgate na gruta, o salvamento das 12 crianças e do treinador de futebol suscitou imediatas reacções à escala mundial, com vários líderes internacionais a celebrarem o feito. O grupo ficou preso numa gruta durante 18 dias, metade dos quais sem acesso a água potável e a comida.

Entretanto, a vida quotidiana aguarda impaciente o retorno dos jovens à normalidade. Arthittaya Kunadoi, umas das amigas de escola de seis das crianças resgatadas da gruta na Tailândia, disse à Lusa que está ansiosa por lhes “dar um abraço” e “conforto” quando regressarem, recuperados e de boa saúde. Com a ajuda de uma colega que fala inglês, a rapariga de 15 anos explicou que o desfecho feliz de terça-feira a deixou “muito contente e agradecida”, depois de dias de incerteza quanto à sobrevivência dos amigos. Arthittaya Kunadoi é uma das estudantes na Maesaiprasitsart School, que tem 2.827 alunos, e falou como ‘porta-voz’ do grupo de amigos.

Dois deles, “tomaram notas durante as aulas, só para serem entregues a eles quando voltarem”, frisou, corroborando as palavras de um responsável da escola que disse à Lusa estar em preparação um plano de estudos especial para os alunos. “Temos em elaboração um programa especial de recuperação das actividades escolares que ajude esses alunos nos estudos” e “estamos a preparar uma recepção de boas-vindas com a ajuda dos estudantes, dos professores e dos funcionários”, disse Mongkorchai Khochom.

“Estou muito feliz pelo desfecho”, mas foi “difícil gerir o interesse e a ansiedade dos alunos” durante os 18 dias que passaram, desde que os colegas ficaram presos numa gruta em Mae Sai, acrescentou o assistente do director.

Festa de boas-vindas

Os estudantes estão a criar cartões com todo o tipo de mensagens de encorajamento para serem entregues aos amigos que deixaram de aparecer na escola desde 23 de junho e que podem ainda necessitar de tratamento médico mais prolongado, em resultado das extremas condições que viveram no interior do complexo subterrâneo, a quatro quilómetros da entrada da gruta.

“É claro que cheguei a pensar que podia não os ver mais, mas tentei concentrar-me apenas em pensamentos positivos”, sublinhou a estudante, Arthittaya Kunadoi.

Já o assistente do director, Mongkorchai Khochom, afirmou que “sempre acreditou num final feliz”, confiante no facto de serem atletas, “corajosos, pacientes e obedientes” à liderança do treinador da equipa de futebol (Wild Boars).

12 Jul 2018

Burla Telefónica | Residente perde mais de 3,5 milhões de patacas

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma residente em Macau perdeu cerca de 3,73 milhões de patacas numa alegada burla telefónica, disse fonte policial, citada ontem pelo jornal Macau Post Daily. De acordo com informações recolhidas junto da Polícia Judiciária (PJ), a vítima é uma mulher de quarenta anos que trabalha como ‘croupier’ num casino.

O porta-voz da PJ, Choi Ian Fai, afirmou que no dia 18 de Maio a vítima recebeu um telefonema de uma pessoa que afirmava ser um membro da empresa de entregas SF Express que lhe disse que uma encomenda que ela tinha enviado continha um item proibido e que, por essa razão, tinha sido confiscado pelo Departamento de Segurança Pública da China. O telefonema foi depois transferido para uma outra pessoa que alegava ser da polícia. A vítima disse ao “polícia” que não tinha enviado nenhuma encomenda. Segundo o porta-voz, o alegado polícia disse à mulher de 40 anos que alguém poderia ter usado a sua identidade, pedindo depois à vítima para transferir uma certa quantia de dinheiro para uma conta específica para “verificação”, caso contrário ela poderia ser processada e até presa, na China.

A vítima foi então instruída a ir a três lojas de telecomunicações em Macau, que estão sob investigação por estarem envolvidas em várias fraudes telefónicas, onde transferiu cerca de três milhões de patacas. A mulher teve ainda de se deslocar uma vez à China a uma outra loja de telecomunicações para pagar o remanescente.

12 Jul 2018

Japão | Enfermeira afirma ter envenenado 20 pacientes

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma antiga enfermeira de um hospital num subúrbio de Tóquio, detida sob suspeita de ter matado um paciente, disse aos investigadores que envenenou cerca de 20 pessoas, segundo os meios de comunicação japoneses.

Ayumi Kuboki, 31 anos, foi detida neste sábado no âmbito de uma investigação sobre a morte de um homem de 88 anos num hospital perto de Tóquio, afirmou ontem a polícia japonesa, sem disponibilizar mais detalhes sobre a investigação.

Suspeita de ter injectado desinfectante nas bolsas de administração intravenosa de um paciente em 2016, Kuboki admitiu à polícia que fez o mesmo a mais 20 pacientes, segundo reportaram os meios de comunicação japoneses. De acordo com a comunicação social, a polícia japonesa detectou a presença de desinfectante nos corpos de mais quatro pacientes, com idades compreendidas entre os 70 e 80, que morreram no hospital num curto espaço de tempo.

Um líquido semelhante foi também detectado no equipamento de infusão intravenosa.

Kuboki explicou que pretendia que as mortes dos pacientes não ocorressem durante os seus turnos. “Explicar aos familiares a morte de um parente durante as minhas horas de serviço era muito difícil”, disse Kuboki aos investigadores, citada pela agência de notícias japonesa Jiji. Foram registados, nos últimos anos, vários casos de assassínios de pacientes em centros de cuidados de saúde

12 Jul 2018