Filipa Araújo BrevesRecurso negado a portuguesa que queria dinheiro para pagar viagem [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ão se pode “pretender que fundos públicos” sejam “mobilizados para satisfazer meros gostos ou conveniências pessoais”. É esta a argumentação apresentada pelo Tribunal de Última Instância (TUI), face à negação de um recurso interposto por uma funcionária pública que pedia o reembolso do dinheiro de um voo de ida do filho para Portugal, para este frequentar um curso de Turismo. O caso é de um aluno que não quis frequentar o curso em Macau, por este não ser leccionado em Língua Portuguesa. O tribunal considerou que a questão da língua em que o aluno se expressa ou que domina é irrelevante, na interpretação à letra da lei, já que existe em Macau um curso semelhante e que o interessado só tem direito a receber o custo da viagem para o exterior desde que não exista curso semelhante em Macau, leccionado na sua língua materna ou em qualquer língua que o aluno domine suficientemente, como pode ler-se no acórdão. Posto isto, o TUI diz que Administração não tinha que subsidiar aluno para estudar no exterior, só porque este queria aprender sua língua materna, recusando-se a frequentar curso em Macau e negou o recurso.
Manuel Nunes EventosCabo-verdiano Sérgio F. Monteiro na Livraria Portuguesa [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Livraria Portuguesa anuncia a presença hoje do escritor cabo-verdiano Sérgio F. Monteiro, naquele espaço. Num comunicado à imprensa divulgado em Inglês, a livraria explica que o autor vai apresentar o seu primeiro livro, intitulado “Other American Dreams”, uma história sobre traição como último recurso espoletada pela descoberta de 12 corpos torturados num barco de pesca senegalês. São migrantes africanos, vem-se a descobrir, facto que motiva uma investigação policial levando-nos a um mundo de corrupção e de gangues ligados ao tráfico de narcóticos. O cenário é Cabo Verde e a cultura emergente de gangues chegados ao arquipélago, constituídos por deportados cabo-verdianos dos Estados Unidos. Um trabalho de investigação sobre a desintegração da unidade familiar, um dos principais factores por detrás da crescente taxa de criminalidade naquele país. “Queria explorar as motivações que fazem as pessoas saírem das suas casas deixando tudo o que lhes é familiar e amado para trás, para arriscarem as vidas em barcos rudimentares e mal comandados para demandarem a terras estranhas onde têm de começar tudo do zero”, diz o autor. Sérgio, que foi criado em Washington e posteriormente em Hong Kong, diz ter-se sentido muitas vezes como observador externo, olhando de fora para dentro para as comunidades entre as quais viveu incluindo a sua própria. Crescer no mundo do protocolo internacional e diplomacia conferiu-lhe “uma perspectiva única da geopolítica, política externa e de relações raciais, e a consciência de que o instinto humano procura sempre uma vida melhor”, garante. Uma história onde o autor pretende contar “as histórias de muitos migrantes que, de outra forma, nunca seriam ouvidas”, explica ainda. Um assunto actual que pode ser debatido ao vivo e em directo com o próprio autor, hoje, na Livraria Portuguesa a partir das 18h30. A entrada é livre.
Manuel Nunes EventosAgnes Lam lança livro sobre passado da imprensa de Macau Agnes Lam arregaçou as mangas e pôs-se a investigar a história da imprensa em Macau. O resultado vai obrigar a mudar os livros de história: revelações como o território ter sido berço para o primeiro jornal chinês de sempre e de que o primeiro jornal de Macau afinal não foi “A Abelha da China” são feitas no novo livro, lançado ontem [dropcap style=’circle’]“[/dropcap]Esta descobertas obrigam a que vários pontos da História contemporânea chinesa tenham de ser modificados”. É assim que Agnes Lam apresenta a sua mais recente obra, o livro “The Begining of The Modern Chinese Press History/Macau Press History 1557-1840”, ontem lançado. O estudo da professora de Comunicação da Universidade de Macau reporta-se a um período de 300 anos entre 1557 a 1840. Esta época marca o princípio da história conhecida de Macau, o da chegada e estabelecimento dos portugueses e a declaração de guerra da Grã-Bretanha à China, o chamado período Pré-Guerra do Ópio. Neste trabalho, ontem apresentado em Pequim, a autora revela que o primeiro jornal moderno não foi, como se julgava até agora, o semanário português “Abelha da China” mas sim um diário, também português, chamado “Iníco do Diário Noticioso” lançado em 1807. De qualquer forma, garante Agnes Lam, o “Abelha da China continua a manter o crédito de ter sido a primeira publicação a ir para a estampa na História de Macau por razões políticas.” “Antes disso”, explica ao HM, “todas as publicações de Macau eram apenas resultado do trabalho missionário das ordens religiosas cristãs ou fruto da necessidade de intercâmbio cultural”. Primeiro jornal chinês Já se sabia que, para os historiadores, Macau foi o local de nascimento da moderna imprensa chinesa. O que não se sabia era que o primeiro periódico também tinha sido lançado em Macau. Chamava-se “Tsŭ-wăn-pien” e foi fundado por Robert Morrison. Este missionário protestante inglês esteve mesmo, segundo a autora, na origem da história tipográfica moderna do território, tendo produzido várias publicações em tipos móveis ocidentais para além de várias outras na impressão tradicional chinesa com blocos de madeira. Por estes factos agora revelados, a autora alega mesmo que a história da impressão em Macau no período compreendido entre 1822 e 1807 tem de ser revista. De acordo com Agnes Lam, “as imensas publicações de Morrison tiveram uma grande influência na História das publicações em Macau e da China e tal facto não tinha sido registado pelos investigadores até agora”, frisa ao HM. A imprimir desde 1588 As primeiras publicações, todavia, já vêm de longe. Segundo a autora, o início da História das publicações em Macau está directamente ligado ao trabalho dos missionários jesuítas. As primeiras registadas ainda foram produzidas segundo o método tradicional chinês de impressão com blocos de madeira e efectuadas pelo padre jesuíta Michele Ruggieri. O legado inclui panfletos chineses e vocabulários romanizados. Contudo, explica a académica, “os jesuítas trouxeram para Macau a primeira impressora de tipos móveis alguma vez presente em solo chinês e com ela imprimiram o primeiro livro no ano de 1588”. Neste livro agora publicado por Agnes Lam, para além de acertar os registos históricos, a autora também faz análises de conteúdo tendo descoberto, entre outros factos, que “o formato das notícias publicadas em Macau no século XIX foi mais tarde herdado pela maioria dos jornais chineses no continente”. Além disso, a autora revela ter descoberto “alguns factos interessantes sobre como as pessoas se apaixonavam por drama e algumas histórias políticas brutais passadas na China continental”.
Sérgio Fonseca DesportoAndré Couto soma (mais) pontos [dropcap style=’circle]A[/dropcap]ndré Couto continua a amealhar pontos no campeonato nipónico Super GT. O piloto português residente no território terminou no 5º lugar da categoria GT300 na prova disputada esta Semana Dourada no circuito de Fuji. Depois dos problemas sentidos com a traseira do Nissan GT-R Nismo GT3 nos treinos-livres, Couto e o Ryuichiro Tomita qualificaram-se na nona posição da classe. Tal como na prova de abertura em Okayama, a dupla luso-nipónica fez uma corrida de recuperação. Antes de passar o volante a Tomita, Couto ocupava a terceira posição da categoria onde foi campeão em 2015. O Nissan do Team Gainer desceu depois até ao quinto posto com a entrada do “Safety-Car”, que estragou a estratégia da equipa. A corrida foi ganha por outro Nissan, aquele inscrito pela formação semi-oficial e conduzido pela dupla Jann Mardenborough/Kazuki Hoshino. Couto e Tomita são agora oitavos no campeonato. A Autopolis deveria receber a próxima corrida do Super GT nos dias 21 e 22 de Maio, mas devido aos últimos tremores de terra no Japão o circuito ficou danificado. A organização do campeonato anunciou que irá decidir nos próximos dias sobre a eventual a realização de uma jornada dupla num dos eventos já agendados até ao final do ano. A próxima prova do Super GT está marcada apenas para Julho, em Sugo. S.T.
Sérgio Fonseca DesportoGP | Lotti realça importância de Macau e GIC Challenge chega ao fim com macaenses [dropcap style=’circle]M[/dropcap]arcello Lotti, o ex-patrão do Campeonato do Mundo FIA de Carros de Turismo (WTCC) e pai do novo conceito de carros de turismo TCR, disse em entrevista ao jornal português Autosport que o Circuito da Guia é o palco certo para promover a sua mais nova criação a nível global. Questionado sobre o relevo do evento da RAEM, Lotti explicou que Macau “é uma das corridas mais importantes na Ásia, não só em termos de carros de turismo, mas também na Fórmula 3 e GT”. “A Corrida da Guia existe há mais de 50 anos. Por isso temos que considerar uma plataforma perfeita para o conceito”, frisou ainda. Apesar disso, Lotti, no seu discurso, opta por não exacerbar na relevância da prova: “Mas não quero dizer que é o evento mais importante, porque adoro todas as nossas corridas”. No entanto, para o empresário italiano que também organiza provas do campeonato em concomitância com Grande Prémios de Fórmula 1 um pouco por todo o mundo: “Macau é sempre Macau, é fantástico”. O programa da 63ª edição do Grande Prémio de Macau ainda não foi dado a conhecer ao público, sendo no entanto através do calendário internacional da FIA possível saber que a exemplo do ano passado farão parte corridas pontuáveis para o TCR International e TCR Asia Series. Em 2015, os concorrentes de ambos os campeonatos juntaram-se na Corrida da Guia, corrida que assim não ficou órfã após o fim da ligação decana com o WTCC. GIC Challenge chega ao fim Entretanto, chegou ao fim o “GIC Touring Car Challenge” de 2016; o mini-campeonato organizado pela Associação Geral Automóvel de Macau-China (AAMC) no Circuito Internacional de Guangdong e que serve de para os pilotos de carros de turismo locais prepararem baterias para as provas de apuramento para o Grande Prémio de Macau. Curiosamente, a última jornada dupla, que contou com a presença de apenas 16 concorrentes divididos por três classes, teve como único vencedor à geral o veterano piloto de Hong Kong Paul Poon. Os macaenses Filipe Clemente Souza e Jerónimo Badaraco, ambos em Chevrolet Cruze, visitaram o pódio na primeira corrida, mas ambos desistiram no segundo embate. Patrick Chan, que guia um Peugeot RCZ, sagrou-se campeão na categoria mais relevante. Num fim-de-semana em que o circuito da cidade de Zhaoqing esteve particularmente animado, uma última nota ainda para o pódio à classe alcançado na corrida pontuável para o “Hong Kong Automobile Association Autosport Challenge” pela dupla luso-chinesa Rui Valente/To Lap Pang, em Honda DC5, o que permite ao veterano português liderar a Classe 2 para pilotos de Macau da competição de cinco corridas de uma hora de duração, quando faltam ainda duas corridas por disputar. A dupla Álvaro Mourato/Luciano Lameiras lidera a Classe 1.
Andreia Sofia Silva BrevesWong Wang Lap, fotógrafo [dropcap style=’circle]O[/dropcap] olhar enigmático deixa antever uma visão muito própria do mundo, a qual retrata em imagens. São imagens de animais a preto e branco, traços que não se compreendem à primeira vista. Ainda que haja cor são fotografias abstractas, com um sentido particular. Wong Wang Lap é fotógrafo, nascido em Macau, e há cinco anos que estuda Fotografia em Londres. Actualmente frequenta o mestrado em Fotografia Documental e, a pouco e pouco, tenta traçar o seu caminho. Já expôs no Reino Unido e por cá, tendo actualmente alguns trabalhos no Armazém do Boi e nas paredes do café Terra. É neste último espaço que Wong Wang Lap fala sobre si com o HM. Como fotógrafo, Wong Wang Lap é Rusty Fox, para que não seja associado a nenhum estilo de fotografia. “Se eu disser às pessoas o meu verdadeiro nome, elas vão pensar: és asiático, então deverias ter um estilo mais asiático de fotografia. As minhas fotografias não têm um estilo específico, tento evitar que as pessoas façam esse tipo de ligação, a um país ou a um estilo.” E Rusty Fox pode não ter um estilo, mas tem preferências. “O meu trabalho foca-se muito nos animais e acho que o preto e branco expressa melhor as suas formas do que a cor. Se uma fotografia tiver cor, distraímo-nos com ela. Já trabalho neste projecto com animais há cerca de cinco anos e este tornou-se o meu grande tema de trabalho”, contou. Em Londres, Wong Wang Lap encontrou toda a liberdade criativa de que necessitava. Assume que em Macau as pessoas ainda têm uma mente fechada para novas expressões artísticas e que chegar a locais como o Museu de Arte de Macau ainda é muito difícil. “Não há muitos países onde se possa fazer este tipo de fotografia, nem sequer Hong Kong. O Reino Unido é um bom sítio para se fazer este tipo de fotografia mais artística. É diferente ou especial, se quisermos chamar assim, daquilo que vemos em Macau. Já fiz algumas exposições em Macau e muitas pessoas acham que as minhas fotografias são bonitas, mas a maioria acha que são muito pesadas.” O lado estranho da imagem Wong Wang Lap sabe que as pessoas poderão sentir-se chocadas ao olharem para suas imagens. Elas são cruas mas também abstractas, com uma realidade muito própria. “É difícil pedir às pessoas para aceitarem algo novo, algo que nunca viram antes. Sobretudo se for algo que não é bonito. É um desafio levar as pessoas a ler as fotografias em vez de apenas as verem e dizerem ‘oh, isto não é bonito’.” O fotógrafo não sabe explicar quando é que as imagens começaram a fazer parte da sua vida, mas regressa à sua infância para encontrar razões para a sua escolha. “Esta é a minha forma de mostrar algo às pessoas, a minha visão e a minha forma de pensar. Os meus avós explicaram-me o significado das coisas desde pequeno e estas coisas continuam na minha memória, então tento transpor muitas dessas lembranças para as minhas fotografias. Prefiro que os animais sejam o meu objecto de trabalho. O meu objectivo é tirar fotografias aos animais como se fossem objectos. Faço muitas fotografias mais gráficas, mais abstractas. Procuro dar um novo significado, estou mais focado em mostrar o meu trabalho num espaço aberto, uma galeria, em vez de publicar um livro”, referiu. Regressar a Macau até seria uma possibilidade, mas os constrangimentos diários fazem com que se mantenha no estrangeiro sem que o regresso esteja definido. “Macau não é um sítio para os artistas a tempo inteiro, sobretudo para os mais jovens. Têm de ter um trabalho e trabalhar como artista a tempo parcial. Fiz todas as minhas fotografias em analógica, em Macau teria de arrendar um estúdio. Seria muito difícil trabalhar aqui como trabalho no Reino Unido. É difícil montar um estúdio de fotografia.” Os pais só agora começam a habituar-se ao facto do filho seguir um percurso diferente, que não passa por um emprego na Função Pública ou por uma formação que dê emprego garantido. “Os meus pais preocuparam-se bastante quando comecei a minha licenciatura, mas quando comecei o meu mestrado e comecei a fazer exposições parece que começaram a compreender melhor aquilo que faço. Compreendem que é difícil trabalhar como artista em Macau.”
Hoje Macau BrevesDetido português acusado de pedofilia [dropcap style=’circle]U[/dropcap]m homem de 41 anos foi detido pela Polícia Judiciária (PJ), na manhã de quarta-feira, estando acusado de prática de pedofilia aos seus próprios filhos, uma menina de sete anos e um menino de nove. Foi a mãe das crianças, que conseguiu no mês passado a guarda dos menores depois de um divórcio, que começou por estranhar o comportamento dos filhos sempre que estavam na presença do pai. Num psicólogo, as crianças desvendaram os abusos por parte do progenitor. O suspeito tocava nos órgãos genitais dos filhos e intimidava-os com castigos físicos para que não contassem nada a ninguém, avança a TDM, que diz que o homem é português, vive na zona do Parque Central da Taipa, e tinha a guarda das crianças desde 2011, altura que começou o processo de divórcio, tendo na altura a menina três anos e o menino cinco. No momento da detenção, o suspeito, acusado dos crimes de abuso sexual de crianças e maus tratos, agravados pela idade das crianças e pela relação familiar, negou tudo.
Flora Fong SociedadeEPM | Subempreiteiro diz que Governo é culpado da falta de pagamento [dropcap style=’circle’]H[/dropcap]o Choi, subempreiteiro ligado à construção do novo Estabelecimento Prisional de Macau (EPM), acusa a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) de ser a culpada pelo atraso nos pagamentos que não foram feitos pela empresa concessionária, exigindo por isso 60 milhões de patacas de indemnização. Ho Choi, que é director da Sociedade de Construção Welbond, referiu que os erros no projecto levaram a um aumento dos preços dos materiais em 30%. Ho Choi manifestou-se esta terça-feira junto às instalações da DSSOPT, mas ontem fez um novo protesto em frente à Assembleia Legislativa (AL) pedindo apoio aos deputados para reaver o dinheiro. Ao HM, Ho Choi referiu que não tem grandes problemas com a empresa concessionária, mas suspeita que a entidade responsável pela concepção e consultadoria transferiu as suas responsabilidades para os construtores e deu vários exemplos de alterações feitas e de despesas que acabaram por ser assumidas pela empresa concessionária. Quando a primeira fase da nova prisão ficou pronta, a empresa de Ho Choi pediu uma inspecção à DSSOPT, mas Ho Choi explicou que o organismo apontou a existência de vários defeitos e que podia corrigi-los todos de uma só vez. Ho Choi critica a DSSOPT por adiar a aprovação da obra e por ter atrasado os pagamentos à empresa concessionária. Ao jornal Ou Mun, a DSSOPT garantiu que a primeira fase da prisão custou 130 milhões de patacas, tendo feito o pagamento ao concessionário conforme a situação da conclusão da obra, tendo já sido pagos 128 milhões. A DSSOPT confirmou que vai pedir ao concessionário para entregar todos os documentos com as contas para que seja pago o restante montante. Ho Choi explicou que o pagamento dos dois milhões de patacas tem vindo a ser adiado há dois anos. As contas foram aprovadas pela DSSOPT em 2014, mas, há um mês, o organismo voltou com a palavra atrás e disse que as contas precisavam ser calculadas novamente. Segundo as informações da DSSOPT, a empresa responsável do design da obra é G.L. Project Design & Consultant, a qual não quis comentar o caso com o HM.
Sofia Margarida Mota Entrevista EventosAntónio Caetano Faria, realizador de “Caminhar no Escuro”, e Ka Chon Leong, protagonista “Eric – Caminhar no escuro” é uma homenagem ao que um filme transformou em conhecimento e amizade. É uma forma de descobrir receios, como o de ficar cego, sem tocar na parte mais dramática da tragédia. É um documentário que estreia a 10 de Maio às 19h30 no Centro Cultural, fazendo parte da edição deste ano do Festival de Cinema e Vídeo de Macau e que traz um protagonista com ideias bem fixas [dropcap]A[/dropcap] sua carreira enquanto realizador tem sido fortemente dedicada ao documentário. Porquê? ACF – Posso dizer que foi um acaso. Acho que comecei a fazer realização de documentários por gostar muito de filmagem. Talvez por ter criado uma relação com a câmara de filmar, porque acabamos por construir essa relação. Não é só um objecto. E essa relação fez com que explorasse mais alguma ideias além da imagem, de modo a tirar dela mais do que ela própria. Por isso, e também pela necessidade, por Macau ter poucos técnicos na área. Ajudou com que espoletasse o interesse na forma de contar histórias e de dizer o que sinto e procurar alguns tópicos em que o documentário me ajudou a exprimir. Como é que aparece Macau na sua vida profissional? ACF – Sou nascido e criado em Lisboa. Vim com uma relação que tinha na altura e apaixonei-me pela cidade. Começaram a sair ideias que estavam na gaveta e a partir daí comecei a explorar Macau a partir da imagem e também da mensagem… Macau como fonte de inspiração? ACF – Claramente. É uma cidade que me cativa imenso. Em que posso explorar tanto a minha relação com a câmara, como histórias diferentes que não tenho em Portugal, pelo menos, tão diferentes. Acho que aqui também existe um clima mais relaxado porque a economia é mais pujante e a vida acaba por ser mais fácil. Naturalmente, tendo a vida mais facilitada, consegue-se pensar em coisas mais pessoais. Como é viver do cinema em Macau? ACF – Não vivo do cinema em Macau. As pessoas estão todas enganadas. Vivo porque sou operador de câmara e editor. Realizo projectos também e acima de tudo tenho ideias e vou à procura de financiamento. Mas acaba-se por não se viver do cinema. Não dá o salário fixo nem há projectos fixos. Não temos muita coisa a ser filmada em Macau. Como vê então a “indústria” do cinema em Macau? ACF – Nos últimos oito anos há efectivamente um crescimento acentuado. Derivado das políticas do Governo, acima de tudo por causa do jogo. Querem dar a faceta do entretenimento e “lavar uma bocado a cara”. E isso faz com que em todas as áreas artísticas estejam a crescer. Mas não se pode dizer que seja possível viver disso. Que sugestões daria para que isso fosse possível? ACF – São vários factores. Precisa acima de tudo de haver um instituto de cinema e audiovisual em Macau, uma entidade do Governo que se dedique só a essa área. São projectos longos e que por vezes exigem muito financiamento e ao mesmo tempo envolvem muitas outras artes. Para um documentário, temos que arranjar compositores, cenários, direcção de actores. Por isso agora quando tenho uma ideia, normalmente uma que me toque a mim, parto depois à procura de financiamento. Este documentário que vai apresentar, “Eric – Caminhar no escuro”, também foi uma dessas ideias que, de alguma forma, o tocam pessoalmente? ACF – Claro que sim. Este documentário vem de algumas perguntas que tinha para comigo. Perguntas, receios e medos e essa ideia da possibilidade de ficar cego. Como é viver sem luz? Sem imagens? Dependo dessas imagens e por isso foi um documentário que fez sentido para mim, até para combater esse receio, essa forma de ver a cegueira. Foi a forma de tentar explorar o tópico. E como é que apareceu o Eric? Como é que se encontraram? ACF – Encontrei o Eric depois de alguma investigação acerca do tema e acerca de invisuais aqui. Queria especificar a vida de uma pessoa, queria pegar nessa pessoa e tentar explorar ao máximo como é que observa e sente as coisas. Os invisuais observam, podem não ver, mas observam. A visão é um complemento da nossa linguagem. O Eric foi uma forma de me descobrir a mim próprio e enfrentar os meus receios. Se o estou ou não a usar para isso, é uma questão que me coloco, mas acho que também que estou a ajudar a dar voz a estas pessoas. Que voz têm estas pessoas, agora, depois de fazer o filme? ACF – Não queria fazer o documentário do cego, o coitadinho da bengala. Não era isso que queria fazer. Espero que as pessoas quando saírem do filme não fiquem com esse sentimento. Mas é óbvio que tive que passar por partes trágicas da vida dele. Não nasceu cego, ficou cego. Por isso nesse sentido é óbvio que é uma história que mexe com todos nós. Mexeu imenso comigo e só posso agradecer pelo facto de o ter conhecido. Foi um privilégio fazer este documentário com ele. Houve abertura da parte do Eric desde o início para colaborar no documentário? ACF – Completamente. Encontramo-nos num café e a abertura foi automática. Começámos a falar imediatamente a mesma língua. Claro que, com o tempo, fui aprendendo outras formas de comunicação, visto ser uma pessoa que fala muito com gestos. Tive que aprender a comunicar com um invisual. Depois foi fazer um filme sem guião e as coisas foram-se proporcionando. Infelizmente, o tempo que tínhamos não era o necessário para fazer este documentário, acho que deveria ser mais explorado. No total tivemos apenas cerca de cinco, seis meses, o que não é muito tempo para se conhecer uma pessoa. Queria também ter uma relação de amizade para além de trabalho porque só assim é que se consegue chegar aos significados e às coisas mais profundas. Tenho agora com o Eric a construção de uma amizade. Como é que estabeleceu os limites face ao “coitadinho”, numa história que tem, efectivamente, muito de drama? ACF – Por um lado para fazer um documentário uma pessoa tem que ser nua e crua. Tentei ir buscar coisas minhas e gostos meus e fazer perguntas que eu achasse que até se relacionassem mais comigo do que com ele. A partir daí quis perceber as nossas semelhanças e não as nossas diferenças. Ele gosta de futebol e eu adoro futebol. As diferenças acabaram por não ser assim tantas. São perspectivas diferentes, só isso. Porque a realidade acaba por ser uma imaginação de todos nós. O Eric trabalha com invisuais e está a acabar o mestrado em Psicologia. Que motivações? KCL – Sou trabalhador estudante. Trabalho numa associação de invisuais de Macau em que organizo actividades lúdicas e de reabilitação. Para mim, a Psicologia é uma [forma de compreender] o que também sentem os invisuais. Por exemplo aqueles que tarde na vida perdem a visão, o que é isso para eles? Para mim será mais fácil entender essas pessoas. Mas principalmente quero usar o meu conhecimento para trabalhar. Quero ajudar também os jovens na vida normal. Dar-lhes alguma orientação, até porque normalmente não falam muito com outras pessoas. Alguns jovens são incríveis. Eles não gostam de falar com os pais ou os seus amigos que têm visão e preferem falar comigo. Por outro lado, eu também não sigo as regras standard da sociedade. Gosto de as quebrar. Como assim? KCL – Se seguisse as regras, e sendo invisual, teria que aprender por exemplo a fazer massagens ou tocar música clássica, mas escolhi estudar em escolas normais, aprender música mas não clássica. Toco guitarra, baixo e bateria e gosto de rock. Gosto também de ensinar as pessoas a usar a tecnologia porque é um meio que me é muito útil para comunicar. Não nasceu invisual. Recorda o que já viu? KCL – Quando era pequeno não via imagens claras, mas lembro-me de ver algumas cores e algumas sombras. Gostava muito de ver o pôr-do-sol da janela. Era uma altura do dia muito bonita, com todos aqueles laranjas que me traziam sentimentos especiais. Da minha infância e do tempo em que via, guardo essencialmente o pôr-do-sol. Também era um momento familiar em que a família se juntava. Lembro-me também de estar muito perto da televisão para tentar perceber as caras das pessoas. Como é que constrói a sua imaginação e concepção do mundo? KCL – A imaginação é uma coisa muito visual. Normalmente é baseada no que se viu antes. Aquilo em que toco, por exemplo, nas últimas duas décadas, posso pensar que cor teriam. Para mim o cor-de-rosa é o sentimento das pessoas a irem para casa, o vermelho é o tempo à tarde, azul depende, se for escuro é um pouco deprimente e próximo do preto, se for claro é o céu. ACF – Quando apresentei este projecto o título era precisamente “A imaginação de um invisual”, foi assim que apresentei a proposta. Como é ser agora um actor? KCL – Foi muito fácil porque me estava a representar a mim. Não tinha experiência mas como era para me divertir também, e usufruir, não foi nada difícil. Mas não penso que no futuro possa ser um bom actor. Como sente Macau? KCL – Macau é como um quarto muito pequeno onde se põe tudo dentro. Não sei se um dia não irá explodir. As pessoas que aqui vivem têm ideias muito diferentes. Precisamos de ser uma cidade internacional, mas internamente isso não acontece. Por outro lado, e para nó invisuais, como não assinamos não podemos usar uma série de coisas que nos ajudariam a viver. Por exemplo, não podemos usar paypal, nem levantar dinheiro porque não consideram que possamos ter cartão multibanco. Falta ainda a Macau tomar mais iniciativas nomeadamente na área tecnológica de forma a que possamos ter uma vida quotidiana mais independente. Não se promove a independência dos invisuais, muito pelo contrário. Por outro lado até nós poderíamos ser mais úteis, com o avanço tecnológico, e ajudar as outras pessoas a lidar com as novas tecnologias nomeadamente as aplicadas aos invisuais. Como é para si não ver o seu filme? KCL – Acho que preciso de me basear no que aconteceu a fazer o filme. Mas noutros filmes, existe este dispositivo, chamado áudio-descrição. Já é utilizado nos Estados Unidos e outros lugares e deveria existir aqui também. É uma tecnologia que acompanha o filme com descrições para os invisuais. Nós também gostaríamos de o ter aqui. O cinema é para todos.
Joana Freitas Manchete SociedadeColoane | Plano de Manuel Vicente mantinha verde, fauna e flora. Arquitectos alertam para actual destruição Existia um plano para Coloane tão detalhado que pensava na construção, na natureza, na fauna e na flora. Mas, apesar de ter sido pedido pelo Governo, nunca saiu da gaveta. Agora, o desenvolvimento em forma de cimento alastra-se pelo único pulmão da cidade, “comendo aqui e ali”. E o futuro? [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]antes, o caminho fazia-se por mar. Em Coloane, as estradas não existiam e os moradores carregavam produtos para trocas comerciais em caminhos íngremes como o de Seac Min Pun, que atravessava a ilha de leste a oeste. O caminho mantém-se, com o título de “antigo”, e é descrito como um local a visitar pela sua “nostalgia” e “história”. Mas, o que resta desse Coloane antigo? Nostalgia parece ser a palavra de ordem quando se olha agora para o único pulmão verde de Macau, mas de uma coisa não há dúvidas para arquitectos e urbanistas contactados pelo HM: a ilha tem de manter-se verde, até pela nossa sanidade. E até já houve um plano – pedido pelo Governo e entregue às Obras Públicas – que nunca saiu da gaveta. “Coloane deveria ser sempre considerado com uma alternativa à elevada concentração urbana do resto do território”, começa por frisar Diogo Teixeira, arquitecto e docente na Universidade de São José, que deixa até uma ideia para aquele lugar. “Deveria considerar-se Coloane como uma espécie de alternativa e lançar um concurso internacional para planear aquele território. Hong Kong tem o mesmo problema de Macau – a ocupação de espaços, apesar de ter mais espaços verdes – mas está a apostar, por exemplo, no espaço de West Kowloon Cultural District que, em vez de ser mais uma zona massificada de construção ‘a Lagardère’, tem um objectivo específico e para o qual foi lançado um concurso internacional onde participaram os melhores ateliers de urbanismo e arquitectura do mundo.” O plano de Manuel Vicente “O concurso foi ganho e depois o plano foi desenvolvido ao pormenor, com desenvolvimento das zonas naturais. A natureza era preservada, estudada. Existia essa intenção. O plano já acabado foi entregue em 1995. Mas a partir daí embargou. Foi aprovado, não havia razões para que não fosse, mas nunca foi homologado”, explica João Palla. O projecto, garante, teve uma equipa multidisciplinar a desenvolvê-lo com pessoas da áreas da Geografia, como era o caso de Jorge Gaspar, arquitectos paisagistas, sociólogos. Nada terá ficado de fora: o projecto contava até com botânicos e biólogos. O motivo? “Coloane encerra uma grande diversidade de fauna e flora. Algumas das espécies vegetais lá existentes são mesmo raras”, explica o arquitecto. Até a China A combinação da construção com a natureza é uma das maiores tendências na China continental. É que, como explica Ana P. Santos, arquitecta urbanista sénior da ‘BLVD International’, uma das maiores empresas de design da China, “o desenvolvimento tem obrigatoriamente de seguir esse caminho. O património edificado é importante”, indica, “mas com calma”. “Do que me parece de Macau, o desenvolvimento está a ser caótico e sem qualquer tipo de intenção e isso leva-me a pensar que não será a melhor opção, porque olhando para a cidade como está, já existem muitos ‘landmarks’. Como visitante e urbanista, o facto de ser uma colina verde é um valor acrescentado da área e como já existem muitas referências arquitectónicas o que podia ser explorado é o de ter [Coloane] a funcionar como um pulmão verde porque o ar em Macau é irrespirável e qualquer dia não existem locais de relaxe”, explica ao HM, acrescentando que a questão ecológica é “fundamental”. Olhar para as regiões vizinhas é uma das políticas do Executivo. Também aqui poderia sê-lo, até porque Hong Kong surge novamente como exemplo. “As áreas verdes são perfeitamente intocáveis. Mas existem outras referências como Berlim. Um caso típico de estudo em urbanismo, por ter uma estrutura verde, intocável, à volta do centro da cidade. Não há político que possa mudar isso porque o plano foi desenvolvido considerando diferentes fases de crescimento urbano. E funciona”, assegura-nos Ana, que diz que também Chengdu, na China, está a avançar com “planos gigantes neste sentido”. Chengdu que, adianta, “se aproxima mais das diferentes problemáticas de Macau.” Ao HM, a arquitecta urbanista admite que o conceito mais falado hoje em dia é o de “sponge city” – defende-se que a cidade, para ser sustentável, terá de reter, armazenar, drenar e purificar água de acordo com as necessidades. Algo que, mais uma vez, se poderia adaptar perfeitamente a Coloane. “Podia ser uma forma mais informada de defender a manutenção dessa zona verde, visto que a água que Macau consome vem toda de Zhuhai. Em todo o mundo, incluindo na China, o modelo a atingir é [esse]. Macau está a passar ao lado disto tudo e continua a querer apostar em métodos retrógrados, que não contribuem em nada para a vida das comunidades. Temos mesmo de questionar o tipo de cidade que Macau quer ser.” Valor patrimonial? Na península, o valor patrimonial de certos prédios – como o Farol da Guia – tem levado à suspensão de obras, como prédios que, se nascerem, vão tapar a vista. A pressão veio dos residentes, mas também da UNESCO. E tudo por causa do património mundial da humanidade. Em Coloane, a classificação “patrimonial” dependeu apenas do próprio Governo e resume-se à Capela de São Francisco Xavier e, no futuro, aos estaleiros de Coloane, onde eram construídas embarcações. O mar está, e sempre esteve, ligado ao único pulmão verde do território e é isso que faz com que a ilha tenha, de facto, valor patrimonial. Nem que seja pela sua história, que fala de coisas que se descritas em qualquer conto infantil encantavam. “Tem um valor de património natural, paisagístico e cultural. Há muita coisa ali. A gruta dos piratas, os estaleiros, a vila das palafitas… Há um valor cultural ameaçado por tudo isto”, diz João Palla ao HM. Na memória de quem sabe um pouco sobre Coloane ficam as histórias dos primeiros colonos, pescadores vindos da China, e de como este era um esconderijo perfeito para os piratas que saqueavam os navios carregados de tesouros. A ilha não é só para turistas. E também não é só para o imobiliário que nasce sem respeito – como se depara mal se entra em Coloane. “Aquilo não é uma entrada, é uma parede. Uma pessoa chega e não recebe a natureza que é a característica de Coloane. A zona destinada para construir habitação e outras edificações era a da Concórdia, um aterro, por isso propícia para conter este crescimento em altura e não competir com a montanha que é o que está a acontecer”, explica João Palla ao HM, recordando o projecto de Manuel Vicente. Primeiro veio Seac Pai Van, “um exemplo claro de uma grande destruição”, depois veio o The XIII e “até o hospital já vai montanha acima”. Agora, Macau depara-se com a possibilidade de nascer um empreendimento de luxo colina acima, na Estrada do Campo, e cujo terreno “está já entaipado”, como se pode ver quando chegamos a Coloane. A construção era inevitável já nos anos 1990 mas, como recorda João Palla, “os limites estavam estabelecidos e toda a gente sabia com o que contar”. Não seria muito cómodo para quem tivesse aspirações para crescer mais, diz o arquitecto, “mas tinha consolidado estes perigos iminentes que agora ameaçam comer aqui um bocadinho e depois outro ali”. Também Ana P. Santos assume que é “altamente provável que comprometa o futuro, se não existir uma estratégia” para o pulmão de Macau. Até porque, assegura, “o modelo de desenvolvimento que o processo de urbanização em Coloane representa está ultrapassado”. Que futuro? A equipa que trabalhava ao lado de Manuel Vicente na concepção do plano desenvolveu “um trabalho profundo” para perceber o que significava Coloane. “Havia lugar para a natureza e para o desenvolvimento”, garante João Palla, que acrescenta que “incluía também um projecto de consolidação da vila de Coloane e da aldeia de Ká Ho, para tentar reabilitá-las e consolidar o seu pequeno crescimento.” Mas nunca saiu da gaveta. “Não sei porquê. Politiquices locais, por certo. A própria Administração tem culpas no cartório porque nunca foi capaz de homologar o plano. Provavelmente terá havido pressões. Não foi homologado, nunca seguiu, nunca chegou ao público”, frisa João Palla. Para o arquitecto é “uma tristeza” não existir um plano a partir do qual as pessoas se possam guiar e saber com o que contam daqui a dez ou 20 anos, de forma a que, pelo menos, pudéssemos “evitar andar todos os dias com o coração nas mãos sem saber o que vai acontecer a seguir”. Com o plano do arquitecto Manuel Vicente a ideia era estabelecer Coloane como pulmão da cidade, “pois já na altura sofria pressões urbanísticas muito fortes e essas tiveram de ser reflectidas no plano”. A forma que se encontrou de fazer face ao advento do betão foi concentrar tudo num lugar, deixando a restante ilha salva. Casinos e hotéis ao lado da praia de Hac Sá, por exemplo, à imagem de lugares como Monte Carlo”. Para preservar o verde, o acesso seria feito por um túnel que partia do istmo directo para a praia, num percurso de cinco minutos. Em Hong Kong as regras são mais rígidas, há planos e as pessoas têm mais consciência, desabafa João Palla, que não tem dúvidas: Coloane muda a cada dia. “Esta é uma história triste e as repercussões, os danos, estão aí à vista. Ká Ho está transformado numa zona industrial estaleiro. Há mais um túnel para zona da CEM que não se percebe para quê, [para] uma prisão gigantesca? Não há paciência”, atira. Ainda se lembra de Coloane? Pela sanidade mental [dropcap style=circle’]A[/dropcap]importância da preservação de Coloane não se fica apenas pela necessidade de manter a história. A saúde física e mental é outros dos aspectos a ter em conta e que são apontados por psicólogos ao HM. “A falta de espaços verdes é um dos factores que afecta as pessoas, com pressão. Pelo ângulo da Psicologia, o desporto é a melhor forma de aliviar a pressão, mas em Macau existe pouca natureza e os jardins não são suficientes para a alta densidade populacional da cidade. Quanto maior a densidade, menos qualidade de vida, incluindo o estado mental das pessoas”, começa por dizer Andy Chan, director da Sociedade de Pesquisa de Psicologia de Macau. Questionado sobre se considera importante preservar a actual situação de Coloane, Andy Chan considera necessário primeiro analisar a taxa de utilização de espaços na ilha, para saber se os residentes de Macau procuram actividades em Coloane. Mas não descarta a importância do local. “Ter um ambiente verde maior como Coloane, é bom para desporto e aliviar a pressão. Se o Governo promover mais actividades nos espaços ecológicos, pode ensinar preservação às crianças.” Também Kay Chang, professora do Departamento de Psicologia da Faculdade de Ciências Sociais da UM, investigadora do bem estar psicológico da população, é peremptória. “Tal como o planeta precisa de selvas para se purificar, as pessoas necessitam de espaços recreativos ao ar livre para limparem a mente e manterem níveis de bem estar geral”, frisa ao HM. “A destruição das zonas mais acessíveis e familiares de Coloane terão um impacto maior. As pessoas de Macau não apreciam o suficiente o ar livre e as zonas verdes de Coloane, algo que o Governo poderia encorajar.” Seria “excelente” se o Governo e/ou ONGs explorassem o conceito de desenvolvimento que, “em vez de urbanização como é normalmente entendido”, diz Kay Chang, manifestando como essencial “a criação de espaços para caminhar e andar de bicicleta à volta de Coloane para as pessoas poderem ter períodos de limpeza mental.”
Andreia Sofia Silva PolíticaPlano Quinquenal | Deputados criticam ausência de dados O Plano de Desenvolvimento Quinquenal da RAEM foi ontem apresentado aos deputados. Todos eles, incluindo os nomeados e eleitos pela via indirecta, se queixam dos poucos dados estatísticos e falta de políticas concretas [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s deputados da Assembleia Legislativa (AL) puderam ontem apresentar as suas opiniões sobre o Plano de Desenvolvimento Quinquenal da RAEM para os próximos cinco anos, que está actualmente em consulta pública. Mas as críticas foram superiores aos elogios – slogans a mais, dados e políticas a menos foram as acusações feitas a Lau Pun Lap, director do Gabinete de Estudos de Políticas, e Lei Ngan Leng, assessora do gabinete do Chefe do Executivo, Chui Sai On. “O conteúdo do Plano é muito familiar, muito idêntico ao relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG)”, começou por dizer o deputado directo Au Kam San. “Só estou a ver objectivos abstractos e vagos, não vejo um conteúdo concreto. Enquanto Plano Quinquenal deve definir os projectos que de facto vão ser concretizados num determinado prazo. O seu teor é como se fosse um slogan. Tenho a certeza que daqui a cinco anos não vamos ter o metro ligeiro concluído”, afirmou. A deputada Ella Lei alertou para a falta de políticas de protecção ambiental. “Não sei porque é que o Governo não reforçou o conteúdo na área da protecção ambiental. Não há dados concretos, sobretudo em relação aos diplomas que o Governo pretende legislar no futuro”, alertou. “Estamos preocupados se o Governo vai conseguir concretizar o Plano Quinquenal, porque nunca deixou de elaborar planos e muitos deles para serem concluídos até 2020, mas vemos que a taxa de execução é baixa. O metro é um exemplo”, indicou Ella Lei. O deputado Ho Ion Sang lembrou que a própria população levanta dúvidas sobre a implementação deste Plano na totalidade. “Trata-se de um progresso do Governo mas temos de fazer uma corrida contra o tempo, porque já estamos em meados de 2016. Como é que conseguimos uma taxa de execução de 70%? Muitos residentes estão preocupados que este plano consiga ser executado e concretizado. Há uma falta de equilíbrio porque alguns capítulos e há apenas alguns slogans.” Não se compara Chui Sai Peng, deputado indirecto e primo do Chefe do Executivo, falou da necessidade de ligar as obras ainda em andamento com o projecto. “Muitas das obras ainda não estão concluídas e não podemos comparar este Plano ao Plano Quinquenal do nosso país. Neste Plano não vemos um sistema estatístico e espero que o Governo possa fazer esse trabalho, porque os indicadores são importantes para a nossa sociedade”, referiu. Já o deputado indirecto Chan Iek Lap falou da ausência de medidas concretas na área da saúde. “Não vejo em concreto quais as medidas que vão ser adoptadas. Vai apostar na formação dos médicos do sector privado para que a qualidade seja elevada? Vejo que o Governo pretende aperfeiçoar o regime de licenciamento e promover o regime de acreditação profissional, mas não vejo medidas concretas, como a autorização dos que trabalham no privado possam ter a oportunidade de aceder ao sistema público”, referiu. Já Ng Kuok Cheong frisou que o Plano de Desenvolvimento Quinquenal nada fala da implementação do sufrágio universal para a eleição do Chefe do Executivo. “Não vejo qualquer referência ao processo de desenvolvimento político, só fala da criação de órgãos municipais sem poder político, mas não diz como é que os seus membros vão ser seleccionados.” Lau Pun Lap admitiu que “há insuficiências”, as quais “não vão de encontro às expectativas dos deputados e dos residentes”. “Mas entendo que este projecto e o seu modelo top design são importantes. Queremos recolher mais opiniões”, disse apenas. Angela Leong pediu fim do limite de 3% de crescimento de mesas A deputada Angela Leong, também administradora da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), deixou ontem uma mensagem clara ao Executivo na sessão de opiniões sobre o Plano de Desenvolvimento Quinquenal da RAEM. Para Angela Leong, o Governo deve deixar cair o limite de 3% de crescimento das mesas de jogo por forma a aumentar a competitividade das concessionárias. “Quanto ao número de mesas, o Governo sublinhou que vai garantir um aumento nunca superior a 3% por ano, mas estamos a enfrentar cada vez maiores pressões e ninguém consegue garantir que o sector do Jogo terá sempre um desenvolvimento satisfatório. Na revisão intercalar dos contratos será que o Governo pode introduzir um mecanismo flexível para o aumento das mesas de Jogo?”, questionou. “Os objectivos definidos são razoáveis mas tem de considerar a questão da competitividade”, lembrou a deputada eleita pela via directa. A deputada aproveitou ainda para falar do seu projecto de construção do parque temático da Hello Kitty, o qual deverá ser construído num dos 16 terrenos que o Governo decidiu não recuperar. “O Governo vai tentar até 2020 elevar as receitas do sector não jogo em 9%. A minha empresa tem desenvolvido muitos estudos e trabalhos e promovido vários planos em cooperação com a Associação Comercial de Macau, porque a SJM adquire os seus produtos em Macau. A construção de um parque temático torna-se uma tarefa muito importante”, apontou. No Plano de Desenvolvimento Quinquenal da RAEM o Executivo propõe uma diminuição de 4% do número de residentes a trabalhar nos casinos sem formação superior, dados com os quais Angela Leong concorda. “Vamos tentar reforçar a taxa de trabalhadores com formação universitária e concordo que no futuro deve haver mais trabalhadores locais”, disse. Chui Sai Cheong quer legislar ensino técnico-profissional O deputado Chui Sai Cheong alertou para a necessidade de se legislar já este ano sobre o ensino técnico-profissional, por forma a melhorar a formação de quadros qualificados. “Não vejo (medidas) para que os quadros, após a formação, possam integrar-se no futuro desenvolvimento da RAEM. Não concordo que o diploma seja concluído em 2018 porque o ensino técnico-profissional é muito importante. Seria melhor ter esse trabalho concluído este ano.” Vong Hin Fai defende construção do campus da Justiça O deputado nomeado Vong Hin Fai disse que “não há muitos indicadores” no Plano de Desenvolvimento Quinquenal e alertou para o facto deste documento não ter qualquer informação sobre o futuro campus da justiça, anunciado no tempo em que Florinda Chan era Secretária para a tutela. “Em relação ao edifício dos tribunais, sabemos que organismos como o Ministério Público, o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) ou o Comissariado de Auditoria (CA) estão instalados em edifícios comerciais. Tendo em conta o estatuto desses serviços públicos e a sua dignidade, onde vão ser instalados no futuro?”, questionou. Questionadas medidas sobre aterros e habitação A habitação e o planeamento dos novos aterros foram as áreas que levantaram mais dúvidas junto dos deputados, que mais uma vez pediram dados sobre o aproveitamento dos terrenos e sobre as futuras habitações públicas. “Como é que o Governo vai reaver os terrenos que estão ligados à corrupção? Para isso é necessário um plano bem definido. Como é que vai ser implementada a política de terrenos? Como vamos proteger as colinas em Coloane?”, questionou Ng Kuok Cheong. Ho Ion Sang perguntou quantas casas públicas é que vão ser disponibilizadas à população nos próximos três anos. “Dispomos de muitas fracções no mercado privado e vão haver mais de dez mil fracções privadas, porque é que não podemos através do Plano Quinquenal permitir à população conhecer com mais clareza a situação do mercado?”, apontou. Já Zheng Anting abordou o planeamento dos novos aterros. “O Governo poderia avançar mais dados sobre a habitação pública. As obras estão a decorrer nos novos aterros e sabemos que o Governo conseguiu reaver alguns terrenos desaproveitados, mas ainda há uma grande área de terrenos por desenvolver. Não há dados sobre isso”, rematou.
Tomás Chio PolíticaLei de Defesa dos Consumidores vai sair em breve, garante CC [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]han Hong Sang, vogal do Conselho de Consumidores (CC), assegurou ontem que a proposta de Lei de Protecção dos Direitos dos Consumidores está já na última fase e vai entrar em processo legislativo em “breve”. Depois de Wong Kit Cheng ter questionado o atraso da lei, que há dois anos está a ser elaborada, e de ter frisado que a lei teria de ser inutilizada caso não fosse entregue nesta sessão legislativa, o responsável do CC veio a público assegurar que tal não vai acontecer. Chan Hong Sang frisou que o novo diploma vai dar mais força ao CC, que neste momento é apenas um órgão para receber queixas. “Neste momento, o CC ainda não tem competências para investigação e esta lei vai dar esta competência, garantindo um trabalho de avaliação do Governo sobre o mercado”, sublinhou o vogal ao canal chinês da Rádio Macau. Chan Hon Sang considera este diploma como uma ferramenta para combater o comércio desleal e de maior punição contra ilegalidades, que actualmente não existem em Macau, sendo que “a lei também garante os direitos do público à transparência, especialmente no processo de contrato, preço e aquisição”. A deputada Wong Kit Cheng já tinha apontado que o facto desta lei não conter o combate ao monopólio iria contra a intenção de defender os consumidores, mas o Executivo – que já se tinha comprometido com a entrega da lei no primeiro trimestre – considera que devem ser dois diplomas separados a conter esses direitos.
Flora Fong Manchete SociedadeTerminal marítimo do Pac On poderá ser inaugurado em 2017 Depois de anos de acrescentos e alterações, o terminal marítimo do Pac On poderá entrar em funcionamento no início do próximo ano. A garantia foi dada pelo Conselho Consultivo dos Serviços Comunitários das Ilhas [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]in Chi Ieong, subcoordenador do Conselho Consultivo dos Serviços Comunitários das Ilhas, garantiu, após uma reunião do organismo realizada na terça-feira passada, que o Terminal Marítimo do Pac On deverá entrar em funcionamento no início do próximo ano. Segundo o jornal Ou Mun, a reunião serviu para a Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA), a Direcção dos Serviços para Assuntos de Tráfego (DSAT) e o Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT) explicarem o planeamento do projecto. Sin Chi Ieong referiu que os membros do Conselho lembraram o Governo que o projecto se encontra em construção há quase dez anos, esperando que os departamentos públicos mantenham o funcionamento correcto do terminal e melhorem o serviço de transportes públicos nas imediações. Alguns dos membros terão defendido que o terminal do Pac On pode ajudar à diminuição do número de turistas que diariamente passam no terminal do Porto Exterior e nas Portas do Cerco. O projecto do novo terminal foi confirmado em 2009. Inicialmente seria apenas um terminal de apoio ao que já existe na península, mas depois ficou decidido que passaria a ser o empreendimento principal. A sua conclusão estava apontada para 2013, mas desde então que tem sido alvo de vários atrasos e adiantamentos. Conforme informações da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas, o projecto tem despesas totais de cerca de 3,8 mil milhões de patacas. O Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI) garantiu recentemente que as novas instalações deverão ser entregues aos departamentos do Governo “de forma faseada” no primeiro semestre deste ano. Isto porque “o Novo Terminal Marítimo da Taipa tem uma dimensão considerável e envolve vários serviços utentes”, confirmou o GDI ao Jornal Tribuna de Macau. Ao HM, a DSAMA tinha referido que, depois de receber a obra das mãos do GDI, a DSAMA vai precisar de “seis meses para ser feita a coordenação com os departamentos governamentais, operadores de ferry e outras entidades relacionadas no processo de preparação para a operação” do terminal.
Hoje Macau Manchete PolíticaFundador da Viva Macau usou dupla nacionalidade para criar off-shore A China continental não aceita a dupla nacionalidade, mas o fundador da falida Viva Macau utilizou-a para criar duas empresas off-shore, revelam novos documentos do Panamá [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]empresário de Macau Ngan In Leng escondeu ter nacionalidade de Singapura, mesmo sendo membro do Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC). A China continental não reconhece a dupla nacionalidade. A notícia é avançada pelo jornal South China Morning Post com base nos Panama Papers. Ngan In Leng é foi o fundador da falida companhia aérea Viva Macau e usou o cartão de identidade de Singapura, que obteve no final do ano 2000, para proceder ao registo de duas off-shore, que criou com membros da sua família. Ngan In leng é o segundo membro do CCPPC que se descobre que detém nacionalidade estrangeira. Antes, soube-se também por via dos chamados Papéis do Panamá que o magnata do imobiliário Lee Ka-kit, vice-presidente da Henderson Land Development, havia declarado nacionalidade britânica na hora de constituir firmas off-shore. Ngan In Leng não revelou a sua identidade de Singapura ao Registo de Empresas de Hong Kong que, ao contrário das plataformas offshore secretas, torna detalhes públicos online. Em vez de utilizar o seu bilhete de identidade de Macau, facultou aos funcionários da Mossack Fonseca fotocópias do seu documento de Singapura, cuja data de emissão é de Dezembro de 2000, apenas um ano depois da transferência do exercício de soberania de Macau de Portugal para a China. Ngan, que foi promovido de membro da CCPPC para o seu núcleo duro em 2013, é visto como um unificador da comunidade de Fujian em Macau, tendo-se tornado mais discreto depois da falência, em 2010, da Viva Macau, que fundou e presidiu. A Viva Macau, uma companhia de baixo custo, começou a operar em 2006 ao abrigo de um acordo de subconcessão com a Air Macau. Em 2010, contudo, o Governo revogou a sua licença na sequência de cancelamentos de voos devido a problemas financeiros, sendo que a empresa ainda detém muitas dívidas.
Hoje Macau EventosFestival de Artes de Macau com ópera, patins, fadas e patuá O FAM continua em mais uma semana que não esquece a tradição das óperas chinesas, às quais junta o patuá e uma pitada de histórias de (des)encantar com toques de patinagem artística [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]fim-de-semana começa com um dos destaques temáticos da edição deste ano do Festival de Artes de Macau (FAM). O evento começa com a “Lenda do Gancho de Cabelo Púrpura”, a ser apresentada por Chu Chan Wa e Artistas de Macau da Ópera Cantonesa, no próximo sábado e domingo pelas 19h30 no Cinema Alegria. Seguem-se os tradicionais Dóci Papiaçam e uma surpresa em patins do Canadá. A “Lenda do Gancho de Cabelo Púrpura” é uma história de amor com contornos trágicos e apoiada num gancho de cabelo enquanto amuleto. A peça foi escrita durante a dinastia Ming, por Tang Xianzu, tendo sido posteriormente adaptada para a ópera cantonesa por Tong Dik Sang. A 12 de Maio no Centro Cultural de Macau, a Trupe de Ópera Yue Zhejiang Xiaobaihua traz a palco “Lu You e Tang Wan”, um clássico de 1989, considerado pela organização como a peça imperdível do estilo Yue. Este é uma abordagem nascida na cidade de Shengzhou, Zhejiang, e conta com mais de um século de existência. É ainda reconhecido como o segundo principal género na China, sendo ainda caracterizado pelas vozes femininas nos papéis principais. Sete e 8 de Maio são dias de patuá com a peça “Unga Chá di Sonho” (Um chá de sonho) pelo Grupo de Teatro Dóci Papiaçám di Macau, no Centro Cultural de Macau pelas 19h30. O teatro em Patuá, dialecto integrante da Lista de Património Local Imaterial da RAEM desde 2012, é anualmente convidado a encenar uma peça para este festival, de modo a manter vivas as suas características de humor e sarcasmo. Aqui, são abordadas as questões sociais e humanas actuais que reflectem a vida em Macau e este é um dos preferidos do FAM. Na dança, é altura de “deslizar” com a companhia canadiana Le Patin Libre. O espectáculo terá lugar no Ringue de Patinagem Future Bright às 13h00 e 20h00 de sábado e domingo. Le Patin Libre é a única companhia de patinagem artística contemporânea do mundo, sendo o espectáculo agora apresentado uma produção feita especialmente para esta sua primeira apresentação na Ásia. Dentro das apresentações interdisciplinares, o Teatro D. Pedro V é palco de “Contos de Fadas do Mundo do Caos” pela Associação Breakthrough, sexta e sábado às 20h00. São contos que juntam talentos do meio literário, teatral e musical num misto de tristeza e humor negro em que as questões mais sérias da sociedade humana são abordadas num contexto de “encantar”, numa produção a cargo de artistas locais. Os bilhetes para o FAM têm preços diferentes, havendo ainda espectáculos com entrada livre.
Rui Flores VozesEstou além [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]u li o mais recente livro de Henrique Raposo, “Alentejo prometido”. Começo por escrever esta frase por que a polémica que ele gerou, algumas semanas antes do seu lançamento, quando a obra não estava ainda disponível quer nas tradicionais livrarias quer nos supermercados – que crime de lesa-majestade esse, o de colocar livros à venda ao lado das couves e dos enlatados – foi desenvolvida sobretudo por aqueles que não leram aquilo que o autor considerou ser o seu primeiro “road book”. No entanto, essa é, agora, a norma. Comentar sem ler. Criticar sem ver. São os tempos de hoje. Não há volta a dar. O mundo é assim. É o mundo em que se coloca um texto no Facebook que demora no mínimo 20 minutos a ler, mas que, ao fim de dois ou três, tem já dezenas de “likes” e comentários. É o tempo do “posto, logo existo”. Cada vez mais pronunciado. Em média, só para dar dois exemplos antes de voltar ao livro do Raposo, as pessoas passam quatro horas por dia na internet. Um estudante de Hong Kong, para terminar estes parênteses, passa (não escrevo “perde”) duas horas por dia nas redes sociais. Pois, dizia eu, li essa obra proscrita por uma certa intelectualidade presumida – ai se João Soares fosse também alentejano, o que ele não teria escrito nas redes sociais! Teria seguramente contribuído para que o livro se tornasse mais procurado do que morangos em dia de desconto. Li e gostei do que li. Primeiro uma declaração de interesses é devida. Comecei a ler o autor há mais de 13 anos. Conheço a sua obra, pois, desde quando ele ainda não era uma figura reconhecida nem escrevia diariamente no Expresso. Quando ele ainda não irritava esses opinadores “online”, em busca de todas as oportunidades para afirmar a sua superioridade. Uma questão de brilhantismo. Gostei do livro, porque “Alentejo prometido” pretende responder a uma pergunta básica que, creio, muitos dos que têm tido terras distintas como porto de abrigo, se perguntam amiúde, quando a multiculturalidade aperta: onde estão as nossas raízes? Um enorme amigo, há anos a deambular pelo mundo, três anos aqui, quatro anos além, faz aliás essa pergunta sobre a origem das raízes sempre que conhece alguém. As raízes são fundamentais. De onde vimos? Por onde andaram os nossos familiares? Essas raízes fazem aquilo que somos hoje e ajudam a determinar onde nos vamos encontrar amanhã. E também o que lemos e o que escrevemos. Aquilo que transmitimos aos que nos rodeiam e até o que passamos aos nossos filhos. Às vezes nem notamos que o fazemos. É como se a nossa cultura – o que somos, de onde viemos, para onde vamos – falasse por nós. Como se nos transformássemos numa espécie de instrumento. Numa caixa-de-ressonância. Tendo a esperança de ainda encontrar no Alentejo esse tronco comum, Raposo foi até ao sul de Portugal, às terras dos seus pais, tios e avós, à procura dos valores, das crenças, em suma, da cultura que marca os alentejanos. Assumiu um risco, coisa que qualquer analista social assume, o de através da sua amostra fazer generalizações e traçar o retrato do Alentejo que conhece. E por isso tenha dedicado alguma atenção à condição feminina e a encontrar explicações para elevada taxa de suicídio entre os alentejanos. “Alentejo prometido” é antes de mais um livro corajoso. Só alguém com coragem é que se expõe da maneira que Raposo o fez, levando os leitores às origens da sua família, aos problemas e dramas sociais que a marcaram, a ela e às comunidades onde ela esteve e está inserida. A recolha pessoal que fez para o livro, as dezenas de entrevistas que refere e os dados estatísticos que consultou, as obras sociológicas e antropológicas que cita, dão ao livro uma profundidade que as reportagens de fim-de-semana dos jornais não têm. Como em tudo na vida, não temos que concordar com todas as passagens nem gostar de toda as opções, quer estéticas quer de conteúdo, desta obra profundamente descritiva. Nem concordamos. Mas a conclusão a que chega, de que não se revê naquele Alentejo com que se deparou, é uma constatação até pouco ou nada polémica. Afinal, acontece um pouco a todos – agora a generalização é minha – que acabam por passar grande parte da sua vida fora dos locais onde têm as suas raízes. Embora continuemos a falar delas, elas não voltam a ter a forma nem o significado do tempo em que as experienciámos inicialmente. Porque fazem parte de algo que já não é palpável. As férias grandes – quando havia férias grandes e o tempo avançava sem qualquer vertigem – tinham um sabor que nunca mais saborearemos porque os tempos, esses tempos e as suas circunstâncias, não se repetem. Os primeiros namoros. Os primeiros aromas. Os primeiros sabores. Uma certa inocência que se vai perdendo inexoravelmente. Não há possibilidade física de que volte. E isso, para quem cresceu na grande cidade e só volta amiúde às origens, é uma espécie de corte absoluto. O mesmo acontece a essa espécie urbana de emigrante que dá pelo nome de expatriado que quando regressa a Portugal já não parece sentir-se em casa da mesma forma que se sentia há dez anos. E não é apenas a questão de já não encontrar as casas da aldeia que foram sendo destruídas, ou os amigos que se foram afastando e desaparecendo. É – como sempre – uma questão cultural. E a cultura é tudo. Engloba tudo. Inclusive ter primeiros-ministros detidos e não acusados, ou advogados de primeiríssima dimensão que dizem ignorar o que são off-shores. Um pouco como cantava António Variações, esse não-alentejano, “Porque eu só estou bem aonde eu não estou”.
Flora Fong PolíticaRecusada entrada a residente de HK por “pôr a RAEM em risco” [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]ais um visitante viu-lhe ser recusada a entrada em Macau, por “poder pôr em risco a RAEM”. O caso aconteceu no Dia do Trabalhador, feriado, e o residente de Hong Kong acredita que a razão para a recusa se deve ao facto de pertencer a uma associação activista na região vizinha. Lau Hoi Lung publicou na terça-feira na sua página do Facebook uma notificação de recusa de entrada em Macau, explicando o que aconteceu. O dia 1 de Maio é sempre considerado uma data sensível, reconhece Lau, que apanhou barco de Hong Kong para Macau e chegou ao Terminal Marítimo do Porto Exterior, tendo sido parado quando estava a passar o serviço automático da fronteira. No e-channel, um agente dos Serviços de Alfândega levou-o para um quarto querendo “saber o que vinha Lau fazer a Macau”. O residente explicou que planeava fazer parte de um ensaio do espectáculo de casamento de um amigo no território. Mas o homem esperou duas horas no terminal e a Polícia de Segurança Pública (PSP) decidiu entregar-lhe uma notificação de recusa de entrada, por “existirem fortes referências em como pretendia entrar na RAEM para a prática de actos que, pela sua natureza, podiam pôr em risco a segurança ou ordem públicas da RAEM”. A autoridade exigiu-lhe que regressasse de volta a Hong Kong “imediatamente”. Lau Hoi Lung declarou na sua página do Facebook que é membro do grupo Land Justice League e do Liber Research Community da região vizinha e acredita que a recusa de entrada tem a ver com o seu papel nestas associações, onde faz estudos e textos para movimentos sociais em Hong Kong. “Parece-me que o âmbito da lista negra [de recusa de entrada] é abrangente. Só descobri depois que uma das manifestações do Primeiro de Maio foi contra a hegemonia do sector imobiliário e a justiça sobre os terrenos. E digo que apoio totalmente e penso que qualquer cidade deve lutar por isso”. O residente de Hong Kong conseguiu entrar em Macau no dia seguinte, pelo Terminal Marítimo da Taipa, pelo mesmo serviço automático. A história tem vindo a repetir-se: em feriados ou dias mais sensíveis, deputados, jornalistas e activistas de Hong Kong são constantemente proibidos de entrar no território, ainda que muitas vezes se prove que venham a Macau com outros propósitos. Recentemente, uma dançarina de Taiwan teve de voltar para a Formosa, porque tinha na parte detrás do seu passaporte um autocolante onde estava escrito “Taiwan is my country”. A mulher perdeu o trabalho que tinha no território, mesmo depois de assegurar que poderia arrancar o autocolante. A PSP já defendeu ao HM que a decisão da recusa de entrada de qualquer pessoa acontece segundo as leis e processos em vigor. Apesar de Wong Sio Chak, Secretário para a Segurança, já ter assegurado que Macau “não tem uma lista negra”, as autoridades falam nesse documento.
Manuel Afonso Costa Fichas de Leitura h | Artes, Letras e IdeiasRuptura revolucionária e cosmopolitismo Cardoso Pires, José, Alexandra Alpha, Dom Quixote, Lisboa, 1992 Descritores: Literatura, Romance, Portugal, Anos sessenta, Revolução, 447 p.:21 cm, ISBN: 972-20-0086-1 [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]2 de Outubro de 1925, nasceu José Cardoso Pires em São João do Peso, no concelho de Vila de Rei, na parte beirã do Pinhal. Frequentou o Liceu Camões e a Faculdade de Ciências onde, porém, nunca se viria a formar em Matemáticas. Em 1945 alistou-se na Marinha Mercante, mas também não foi muito bem sucedido nesta actividade tendo acabado por se tornar jornalista. A dada altura tornou-se director das Edições Artísticas Fólio onde promoveu alguns escritores nacionais e estrangeiros que marcaram a literatura do século XX. O Delfim, é geralmente considerado a sua obra-prima. Faleceu em 1998 e repousa no Cemitério dos Prazeres em Lisboa. Do conjunto da sua obra destaco a novela O Anjo Ancorado de 1958, o ensaio de 1960 intitulado A Cartilha do Marialva, O romance O Hóspede de Job de 1963, em homenagem ao irmão falecido em acidente de aviação militar, o livro de crónicas na antecâmara da morte De Profundis, Valsa Lenta e finalmente o aclamado romance A Balada da Praia dos Cães de1982. Modernidade e Cosmopolitismo. Anatomia de uma Revolução Cultural Conjuntamente com o Delfim e a Balada da Praia dos Cães, este romance Alexandra Alpha faz parte da trilogia das obras primas de José Cardoso Pires. O Delfim simboliza a figura do cacique ou marialva do país rural, arcaico e paternalista, vagamente heroico, mas serôdio, no seu desajustamento com a realidade. O romance é contudo mais premonitório que realista e sobretudo através das suas micronarrativas ideológicas onde se confrontam dois mundos, aquele que é mostrado através do olhar irónico, do escritor urbano, culto e progressista, e o mundo da Gafeira baseado só em preconceitos. Muitos intelectuais progressistas e urbanos entretinham este tipo de relações com o mundo rural, através de laços familiares ou de relações de amizade e podiam portanto exercitar sentimentos críticos, contudo não radicais e almofadados sempre por um desencanto suave. Cardoso Pires mostra bem com ironia quanto baste o espectáculo de um mundo em declínio que procura agarrar-se a pedaços de retórica ideológica e axiológica, sobretudo moral, e que estrebucha para explorar ainda, mas já em desespero, as contradições inerentes ao progresso. Ora isso sendo da ordem da modernidade e das suas contradições, é também e já um dado da nossa cultura pós-moderna. Nesse sentido o Delfim é o romance de um mundo que terminou, e cujo anacronismo levou à desintegração do próprio discurso do narrador, o que é uma característica do pós-modernismo (Seleste Michels da Rosa). A Balada da Praia dos Cães será provavelmente o retrato do regime enquanto sombra, sombra fria que só pode desocultar-se com a mesma frieza. Tudo aquilo se passou em tempos que foram tão sórdidos e tão inqualificáveis do ponto de vista moral que só podem ser investigados com a mesma objectividade e frieza com que um anatomopatologista disseca um cadáver putrefacto. A primeira página do romance, o relatório da descoberta do cadáver, é a este título exemplar e o facto de o cadáver ter sido descoberto por cães amplifica este sentimento de desprezo. Que a isto se tenha chamado uma balada, apresenta-se como o clímax do requinte em termos de sarcasmo. Um sarcasmo corrosivo, contudo frio. Um sarcasmo à Cardoso Pires. Finalmente Alexandra Alpha mostra o país dos paradoxos, o eclectismo de um tempo em que o novo e o diverso coabitam com as sobrevivências grotescas do passado. É um tempo de transição que integra já os ideais e os sonhos utópicos dos anos sessenta asfixiados porém num universo de valores que lhe era hostil mas também a utopia social e política que alimentará a revolução. A desmontagem dos mitos continua mas agora, muito curiosamente, os mitos do regime aparecem lado a lado com os mitos libertários, eles também diluídos no seu tempo e tratados igualmente sem contemplações. Entretanto o 25 de Abril vem pôr isto tudo em cacos através da súbita emergência do pathos. A personalidade que faz a ponte entre estes dois mundos é uma das melhores personagens da galeria de José Cardoso Pires, a publicitária de sucesso, Alexandra, a publicitária da Alpha Linn. Alexandra não é apenas a personagem que faz a ligação entre dois mundos, ela é verdadeiramente o lugar geométrico que tal como numa estrutura de articulação confere coerência à gravitação das personagens, assim como às oscilações que simbolizam. Em Portugal os anos sessenta e os anos setenta aparecem mediatizados pela transformação política. Como seria se essa mutação não tivesse ocorrido, isso nós não sabemos. Mas ela aconteceu e tornou-se motriz de todas as outras tendências ou erupções súbitas. Quem viveu esse tempo em plena maturidade e juventude sabe dar o valor às personagens deste romance, pois de facto todas elas significavam um segmento da sociedade portuguesa no, doloroso para uns, exaltante para outros, processo de rotura. O autor poderia ser mais agressivo na composição dos personagens e poderia ter implementado outras figuras emblemáticas, mas isso provavelmente exigiria uma distância que ele ainda não teria na época em que escreveu o romance. Muito provavelmente o romance da rotura, em Portugal, estará ainda por escrever. Estou a referir-me ao grande romance. Alexandra Alpha será provavelmente um dos melhores que se escreveu a par seguramente do Cavaleiro Andante de Almeida Faria e do Auto dos Danados de Lobo Antunes. Estes são mais localizados, enquanto Alexandra Alpha será talvez mais cosmopolita. No caso do Cavaleiro Andante há ainda a considerar que ele estava agarrado à visão de conjunto da Tetralogia e no caso de Lobo Antunes ressalve-se o facto de que ele não escreveu sobre esta época apenas um romance, mas vários, como é o caso do Fado Alexandrino, por exemplo. No romance de José Cardoso Pires, são personagens notáveis por exemplo, o marialva do Alentejo (o tio Berlengas) e o marialva de Trás-os-Montes (Sebastião Opus Night), dois remakes do Palma Bravo de O Delfim, mas que metem o Palma Bravo num chinelo. A verdade é que a realidade era agora muito mais quente e havia muito mais a perder ou a ganhar, além de que o autor já possuía agora uma tarimba que os romances e os ensaios anteriores lhe haviam fornecido. E que dizer dos outros: A bonecreira Sophia Bonifrates, a Maria, professora revolucionária, Bernardo Bernardes, na pele do intelectual típico da época… Cada personagem capta a realidade nos seus desígnios óbvios ou secretos, o melhor e o pior de um certo tempo, enriquecido pelo facto de que o autor não cai no maniqueísmo, pois todos os sonhos e ideais assim como os desesperos e cegueiras radicais são atravessados por um olhar irónico, distanciado e sereno. Em boa verdade só Alexandra se salva. Ela é a heroína por excelência de um tempo que prometia muitos heróis mas que com o tempo se eclipsaram. Talvez por isso a sua heroicidade não seja social e política, mas antes da ordem da mutação mental e dos costumes; pois essas é que são as grandes revoluções, as que ficam, as que sendo lentas, são contudo eficazes e perduram no tempo.
Leocardo VozesAquela máquina [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]fa, que nos livrámos de boa, caro leitor, upa upa, olarilas. Nem quero imaginar o que seria tivesse estado eu naquele dia no Posto Fronteiriço das Portas do Cerco, quando se deu a avaria do sistema informático de verificação do BIR, que deixou apeados e à chuva, COITADINHOS (entra música de violino), milhares de residentes que…que o quê? Ah, iam à China, ou voltavam de lá, sei lá, raramente o fazem por uma questão de vida ou de morte, ou para servir uma causa nobre, mas tenho a certeza que se fosse comigo, despejava ali o meu reportório completo de obscenidades em versão trilingue. Confesso que adoro aquele novo sistema que permite aos residentes de Macau passarem na migração através de não uma mas sim duas portinholas – uma que lê o “chip” do BIR e outra que lê a impressão digital – dispensando assim ter que ir fazer fila e dar de caras com um simpático sr. agente, que lá vai fazer o frete de verificar se estamos autorizados a bazar daqui p’ra fora, ou se o nosso bebé de meses de idade não calha ter o mesmo nome de algum professor universitário honconguense, e assim deixar-nos à porta a chuchar no dedo. E adoro esse sistema porque é isso mesmo: a única coisa boa de todo esse enfado que é viajar, especialmente se for de avião, onde se chega a perder mais tempo a passar nos “checkpoints” e à espera do que no voo propriamente dito. Precisavam de me ver aqui há umas semanas, voltava eu do Laos via Kuala Lumpur, a passar nas tais portinhas, com o mesmo entusiasmo de uma criança de três anos que racionaliza o funcionamento dos elevadores. Se me tirassem isso pá, tinham que me aturar , ai tinham pois. Entendo, entendo muito bem, sim senhor, que apesar de estar aqui a tratar do incidente com ligeireza, este sucedeu-se logo na véspera do feriado do 1 de Maio, um dos dias mais movimentados do ano no posto fronteiriço. Achei estranho, contudo, foi – e mais uma vez, diga-se de passagem – a forma trapalhona com que as autoridades lidaram com o caso, necessitando de mobilizar um contingente de simpáticos agentes para verificar os cartões. Onde é que já se viu?!?! Imagino até a conversa entre um “xô” comandante e um desses agentes, subitamente convocado para reconhecer centenas de carantonhas: – “Epá Fong, anda daí que tens que vir aqui para as Portas do Cerco verificar os BIRs. Toca a andar”. – “Mei-ah, tai lou…ma fan. Mande os ursos irem lá meter o cartão naquelas portinhas, que já era altura de aprenderem a mexer naquilo”. [de facto aqui a ignorância ainda é muita]. – “Não dá, pá, é que o sistema informático avariou e as máquinas não funcionam”. – “Sistema avariado? Máquinas não funcionam??? Impossível!”. Sim, e nesse chuvoso dia as Forças de Segurança aprenderam uma valorosa lição: as máquinas avariam-se. Quem diria, e quem sabe se da próxima vez não antecipam essa possibilidade e lembram-se assim de, sei lá, convocar um contingente a entrar em acção na eventualidade de se dar o mesmo problema? Ou não, o que digo? Afinal os secretários, procurados et all eram (e são, e são!) pessoas de bem, acima de qualquer suspeita, e até parece um insulto considerar-se a possibilidade de serem julgados numa instância judicial sem a possibilidade de recurso para outra superior. O quê, julgados? Ai, ai, cala-te boca.
Hoje Macau PolíticaSusana Chou aparece nos “Papéis do Panamá” [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]antiga presidente da Assembleia Legislativa (AL), Susana Chou, figura como directora de uma empresa constituída há 30 anos, mencionada no caso dos chamados “Papéis do Panamá”, que expôs um sistema de evasão fiscal. Segundo uma base de dados do jornal Sunday Times, que compilou uma lista de empresas no Panamá montadas pela Mossack Fonseca e os seus associados a partir dos “Papéis do Panamá” e de acordo com o registo de empresas naquele país, Susana Chou aparece como directora da “Katanic Investment S.A.”, uma sociedade anónima, com sede no país e criada em Dezembro de 1985. Contactada pela agência Lusa, a antiga presidente da AL de Macau afirmou, citada pela sua porta-voz, que a Katanic Investment S.A. é “uma subsidiária como outras que a Novel Secretaries Limited tem em várias partes do mundo. É uma empresa legal”, frisou. A Katanic Investment S.A. tem na sua estrutura o director e o secretário da Novel Secretaries Limited, empresa criada em 1979 e com sede em Hong Kong, Ma Mang Yin como director e tesoureiro, e Ronald Chao Kee Young também como diretor. A Novel Secretaries Limited é uma subsidiária do grupo Novel, dedicado ao sector têxtil, da família de Susana Chou. Natural de Xangai, Susana Chou foi a primeira presidente da AL. Radicada em Macau há mais de 40 anos, é ainda representante dos membros de Macau no Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês.
Flora Fong SociedadeIACM poderá voltar a cobrar rendas a bancas dos mercados [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) afirmou que está a rever as posturas municipais e que pode voltar a exigir o pagamento de rendas às bancas nos mercados municipais. O objectivo é aumentar a concorrência e incluir um concurso público para a adjudicação destes espaços. Ung Sai Hong, membro do Conselho de Administração do IACM, relembrou ontem no programa “Fórum Macau”, do canal chinês da Rádio, que desde 2005 que as bancas dos mercados de Macau estão isentas de pagar rendas, uma forma que o Governo arranjou para ajudar o sector. Com a mudança na estrutura sócio-económica, contudo, o responsável admitiu a necessidade de fazer uma revisão a este regime. O IACM vai, então, considerar voltar a pedir o pagamento de rendas a estas bancas, bem como usar o modelo de concurso público para que sejam atribuídas, deixando de lado o actual regime de sorteio. No programa, um ouvinte apontou ontem a existência de muitas bancas que não funcionam há um longo período de tempo nos mercados, simplesmente porque, como não precisam de pagar renda, os proprietários não aparecem. O ouvinte, residente de Macau, criticou a falta de fiscalização pelo organismo. Ao mesmo canal, o director da Associação de Auxílio Mútuo de Vendilhões de Macau, O Cheng Wong, disse concordar com a ideia do concurso público para as bancas dos mercados, no entanto, diz que o novo modelo só deveria funcionar nas bancas que forem agora adjudicadas mantendo-se a forma actual de funcionamento das bancas antigas. O Cheng Wong alertou ainda para o facto de, se os vendilhões precisarem de começar a pagar renda, os custos vão ser adicionados aos produtos vendidos aos consumidores. O IACM diz que nada está ainda definido e que vai auscultar opiniões da sociedade e fazer estudos para que as posturas municipais sejam alteradas de forma “apropriada”.
Flora Fong SociedadeTNR queixam-se de falta de pagamentos na obra do Windsor Arch [dropcap style=’circle’]V[/dropcap]inte trabalhadores não-residentes (TNR) queixaram-se ontem à Direcção dos Serviços dos Assuntos Laborais (DSAL) de terem salários cortados e em atraso, sendo que ao todo haverá mais de 40 trabalhadores envolvidos. Metade dos pintores, que trabalhavam nas obras do Windsor Arch na Taipa, acabou por não querer fazer queixa porque viu o seu blue card cancelado. A notícia é avançada pelo Jornal Ou Mun, que diz que os vinte empregados responsáveis por pintar parte da obra do edifício na Estrada Governador Albano de Oliveira denunciaram o caso à DSAL na última terça-feira, em conjunto com responsáveis da Associação Geral dos Operários de Construção Civil (AGOCC) e da Federação da Associações dos Operários de Macau (FAOM). Hong Hin Man, responsável da AGOCC, indicou que, além dos salários em atraso, os direitos dos trabalhadores não foram respeitados – “foram explorados e os seus contratos de trabalho revelaram que, apesar da promessa ter sido de 15 mil patacas por mês, recebem 230 yuan por dia”, diz Hong Hin Man. Os trabalhadores já terão reunido com o empregador duas vezes para discutir como resolver o problema, mas os blue cards dos trabalhadores foram cancelados “repentinamente”. Os vinte trabalhadores que fizeram queixa à DSAL pediram um visa temporário só para poderem apresentar a reclamação. O responsável da AGOCC diz que cada pintor terá mais de nove mil patacas em atraso desde Janeiro até Abril, que deveriam ter sido transferidos para as contas bancárias dos funcionários. William Kwan, responsável pela obra do Windsor Arch, referiu ao HM desconhecer o caso, admitindo apenas que já pediu aos empreiteiros para resolver o caso e que o trabalho vai continuar. Mais ainda, Kwan diz que “parte destes conflitos foram resolvidos na manhã de ontem (terça-feira)”. O responsável da obra, que pertence à Empresa de Desenvolvimento Predial Vitória, da qual é administrador ao lado de Jorge Neto Valente, indica que o problema se deve a subempreiteiros contratados no interior da China. O caso já levou a FAOM a alertar o Governo novamente: se vai rever a Lei da Contratação de TNR, então deverá ter em atenção estes casos, que se têm repetido sucessivamente. Ainda esta semana, trabalhadores das obras da primeira fase do Estabelecimento Prisional de Macau se queixaram do mesmo.
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasQue estamos nós aqui a fazer, tão longe de casa? – 11 – A viúva * José Drummond [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]u sabia que ele não se ia conter. Mas deixemos o vídeo para depois. Estava eu a contar-te sobre aquele meu trabalho. Dizia-te que estava no lobby do hotel e que tinha esta estranha sensação de que tudo poderia correr mal. Apesar disso ali fiquei parada e antes que pudesse abandonar tudo e virar as costas o meu alvo estava a olhar para mim, à minha frente, como se tivesse sido hipnotizado. Havia algo de sinistro naquela cara. Uma cara com uma presença persistente de morte. Uma cara que transmitia uma morte lenta, inescapável e tortuosa. Eu percebi naquele momento que não podia simplesmente fugir. Foram uns longos dez minutos como se, repentinamente, o tempo se recusasse a seguir em frente. Fiquei suspensa no tempo, a tentar controlar a minha respiração. O fantasma de falhar a missão ocupou a minha cabeça e naquele lobby todos os sons jorraram com reverberações ocas. Os passos de pessoas sobre o tapete grosso soaram como almas perdidas, tacteando em direcção para os seus lugares de descanso eterno. O único ruído real a chegar aos meus ouvidos foi o tilintar de um conjunto de chá na bandeja de uma empregada que passou no café ao longe. Mas mesmo esse som continha um som secundário dentro dele. Se eu já estava tensa, naquele preciso momento achei que não iria ser capaz de cumprir a missão quando chegasse a hora. Fechei os olhos e quase por reflexo entoei uma oração inventada no momento. Qualquer coisa que eu pudesse achar que me tinham ensinado a recitar antes de cada refeição. Qualquer coisa que eu pudesse imaginar de um tempo atrás. Tentei iludir-me que toda gente morre mas ninguém está realmente morto. Ali estava o líder de um subgrupo das tríades que tinha que desaparecer naquela noite e eu tinha sido selecionada para o fazer. Ele soltou umas palavras breves ao ouvido de um dos acólitos virando-se para mim disse-me “convido-a a ficar numa das minhas suítes”. Antes que desse por mim, e sem que pudesse dizer nada, estava a ser dirigida até à porta do elevador, que abriu sem fazer ruído. Com rabo de cavalo o acólito manteve-se a pressionar o botão deixando-me entrar primeiro. Aquele homem não nos seguiu. No elevador tive um ‘blackout’ pois é como se não me lembrasse de nada até que o elevador abriu as portas e o acólito de rabo de cavalo voltou a pressionar no botão para que eu saísse. Logo após ter saído do elevador adiantou-se e passou a liderar o caminho. O corredor amplo e totalmente deserto. Perfeitamente silencioso. Completamente limpo. Existia um cuidado especial em cada detalhe, de uma diferença total com os restantes hotéis na altura. Ao fundo do corredor imensos vasos com flores. Deixei-me inebriar pela sua fragrância. No caminho não vi nenhuma escada e nenhum outro corredor para poder escapar. De repente este homem de rabo de cavalo parou à frente de uma porta e sem esperar abriu-a. Entrou, olhou em volta para se certificar de que não havia nada de errado, e com um breve aceno de cabeça deu-me direcções para entrar. “Estou sozinha”, pensei. “Não me vou conseguir escapar desta”. Entrei e ele fechou a porta logo de seguida, trancando-a com a corrente. Não havia forma de escapar sem que envolvesse uma série de acções suspeitas. A suíte tinha uma vista deslumbrante de Macau. Alguém bateu à porta. Ele levantou-se, do sofá, onde se tinha sentado de imediato, dirigiu-se para a porta, abriu a corrente, deu a volta à maçaneta, e, sem qualquer outro som, mais dois subalternos entraram. Todos eles eram homens bem constituídos e iria ser muito difícil eu conseguir escapar sem passar por eles. Ele voltou a trancar a porta com a corrente. Dirigiu-se para o quarto e depois de confirmar que tudo estava bem o homem de rabo de cavalo disse-me para me sentar na cama e esperar. Os outros dois homens sentaram-se no sofá e ligaram a televisão. Perguntei se podia ir à casa de banho do quarto para me preparar com roupas mais confortáveis. Ele disse que sim e permaneceu à porta do quarto a controlar os meus movimentos. Fui até à casa de banho e insinuei um andar sexy e descontraído. Mal entrei, e depois de fechar a porta, comecei a inspecionar tudo. Senti que ele talvez se tivesse aproximado da porta da casa de banho. Quase poderia apostar que o fez. Comecei a cantarolar uma canção da Faye Wong enquanto escondia o fio de aço dentro do autoclismo. Enquanto me vestia escondi a pequena pistola por entre as toalhas. Abri a torneira, simulando que lavava as mãos e a cara e espalhei vários itens de maquilhagem no mármore frio. Enquanto continuava os versos do “fragile woman” escondi o pente com a agulha fina por detrás do espelho. Restava-me o batom de defesa e não sabia o que fazer com ele. Tinha a certeza que eles me iriam revistar antes que eu pudesse chegar perto do seu líder. A pistola estava no lugar mais perigoso e visível mas, no caso de tudo correr mal, também poderia ser a minha única defesa. Fechei a torneira e escondi o batom de segurança, que continha uma lâmina suficiente para cortar a carótida de alguém, fechado, num penso higiénico que introduzi na minha vagina. Abri a porta sorridente. Dirigi-me até à porta do quarto e lancei um olhar sedutor ao homem de rabo de cavalo. Perguntei-lhe se ainda tinha que esperar muito dizendo-lhe que queria descer até ao casino para jogar. Não tive qualquer resposta. Apenas um olhar que dizia “cala-te puta”. De seguida puxou-me para a sala da suíte e apalpou-me toda enquanto entregava a minha mala aos outros dois para revistarem. Um só calafrio poderia deitar tudo a perder. O ‘timing’ não poderia ter sido mais perfeito. Não só havia conseguido esconder a pistola, o fio e o pente na casa de banho como a porta da suíte se voltava a abrir com o líder a entrar.
Sérgio Fonseca DesportoFord GT estará disponível em Macau [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Ford GT, o novo supercarro da marca da oval azul, vai estar disponível no mercado a partir do dia 12 de Maio nos Estados Unidos da América e em alguns países europeus (Portugal não incluído), sendo que o construtor norte-americano confirmou que vai aceitar pedidos de Macau, China e Filipinas a partir do dia 24 de Maio. O construtor norte-americano optou por colocar à venda o seu carro de luxo em Macau, um território onde actualmente estão registadas mais de mil viaturas consideradas “de luxo”, deixando de fora o sempre apetecível mercado de Hong Kong. A nova versão Ford GT foi apresentada no Salão de Detroit o ano passado, mas só agora é que a produção das 500 unidades terá o seu início. “O processo de aquisição para o Ford GT é tão único quanto o nosso novo supercarro,” explicou Henry Ford III, director de marketing global da Ford Performance, quando apresentou as linhas gerais de aquisição da viatura. Com um custo estimado superior a três milhões de patacas, a compra da viatura tem um processo de selecção bastante sui-generis. Os interessados devem registar-se no site da Ford e preencher um detalhado questionário para que a Ford perceba se é ou não o cliente certo. O candidato a cliente tem de provar que está presente em redes sociais como o Facebook, Instagram ou Twitter, especificando os dados demográficos do seus seguidores. Para além da obrigatoriedade de presença nas redes sociais, o candidato também terá de publicar um vídeo de um minuto online, num site como Youtube ou o Youku, a explicar por que razão seria um bom proprietário do carro. A aquisição da viatura apenas se conclui com a assinatura de contrato onde o proprietário fica impedido de vender a viatura durante um certo período de tempo. O Ford GT é o herdeiro do famoso Ford GT40, carro que brilhou nas pistas dos anos 60, tendo inclusive vencido as 24 horas de Le Mans, e chega ao mercado munido de um motor V6 de 3,5 litros capaz de debitar mais de 600 cv de potência. A Ford Motor Company é representada em Macau pela Winson Motors (Macau) Limited, uma subsidiária da Vang lek Group.