Wong Wang Lap, fotógrafo

[dropcap style=’circle]O[/dropcap] olhar enigmático deixa antever uma visão muito própria do mundo, a qual retrata em imagens. São imagens de animais a preto e branco, traços que não se compreendem à primeira vista. Ainda que haja cor são fotografias abstractas, com um sentido particular.
Wong Wang Lap é fotógrafo, nascido em Macau, e há cinco anos que estuda Fotografia em Londres. Actualmente frequenta o mestrado em Fotografia Documental e, a pouco e pouco, tenta traçar o seu caminho. Já expôs no Reino Unido e por cá, tendo actualmente alguns trabalhos no Armazém do Boi e nas paredes do café Terra. É neste último espaço que Wong Wang Lap fala sobre si com o HM.
Como fotógrafo, Wong Wang Lap é Rusty Fox, para que não seja associado a nenhum estilo de fotografia. “Se eu disser às pessoas o meu verdadeiro nome, elas vão pensar: és asiático, então deverias ter um estilo mais asiático de fotografia. As minhas fotografias não têm um estilo específico, tento evitar que as pessoas façam esse tipo de ligação, a um país ou a um estilo.”perfil 2
E Rusty Fox pode não ter um estilo, mas tem preferências. “O meu trabalho foca-se muito nos animais e acho que o preto e branco expressa melhor as suas formas do que a cor. Se uma fotografia tiver cor, distraímo-nos com ela. Já trabalho neste projecto com animais há cerca de cinco anos e este tornou-se o meu grande tema de trabalho”, contou.
Em Londres, Wong Wang Lap encontrou toda a liberdade criativa de que necessitava. Assume que em Macau as pessoas ainda têm uma mente fechada para novas expressões artísticas e que chegar a locais como o Museu de Arte de Macau ainda é muito difícil.
“Não há muitos países onde se possa fazer este tipo de fotografia, nem sequer Hong Kong. O Reino Unido é um bom sítio para se fazer este tipo de fotografia mais artística. É diferente ou especial, se quisermos chamar assim, daquilo que vemos em Macau. Já fiz algumas exposições em Macau e muitas pessoas acham que as minhas fotografias são bonitas, mas a maioria acha que são muito pesadas.”

O lado estranho da imagem
Wong Wang Lap sabe que as pessoas poderão sentir-se chocadas ao olharem para suas imagens. Elas são cruas mas também abstractas, com uma realidade muito própria. “É difícil pedir às pessoas para aceitarem algo novo, algo que nunca viram antes. Sobretudo se for algo que não é bonito. É um desafio levar as pessoas a ler as fotografias em vez de apenas as verem e dizerem ‘oh, isto não é bonito’.”
O fotógrafo não sabe explicar quando é que as imagens começaram a fazer parte da sua vida, mas regressa à sua infância para encontrar razões para a sua escolha. “Esta é a minha forma de mostrar algo às pessoas, a minha visão e a minha forma de pensar. Os meus avós explicaram-me o significado das coisas desde pequeno e estas coisas continuam na minha memória, então tento transpor muitas dessas lembranças para as minhas fotografias. Prefiro que os animais sejam o meu objecto de trabalho. O meu objectivo é tirar fotografias aos animais como se fossem objectos. Faço muitas fotografias mais gráficas, mais abstractas. Procuro dar um novo significado, estou mais focado em mostrar o meu trabalho num espaço aberto, uma galeria, em vez de publicar um livro”, referiu.
Regressar a Macau até seria uma possibilidade, mas os constrangimentos diários fazem com que se mantenha no estrangeiro sem que o regresso esteja definido. “Macau não é um sítio para os artistas a tempo inteiro, sobretudo para os mais jovens. Têm de ter um trabalho e trabalhar como artista a tempo parcial. Fiz todas as minhas fotografias em analógica, em Macau teria de arrendar um estúdio. Seria muito difícil trabalhar aqui como trabalho no Reino Unido. É difícil montar um estúdio de fotografia.”
Os pais só agora começam a habituar-se ao facto do filho seguir um percurso diferente, que não passa por um emprego na Função Pública ou por uma formação que dê emprego garantido. “Os meus pais preocuparam-se bastante quando comecei a minha licenciatura, mas quando comecei o meu mestrado e comecei a fazer exposições parece que começaram a compreender melhor aquilo que faço. Compreendem que é difícil trabalhar como artista em Macau.”

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