Fotografia | IFT acolhe exposição de retratos antigos da cidade

O IFT apresentou ontem, no restaurante da escola, uma exposição de fotografias que mostram a cidade antiga, nomeadamente zonas que hoje em dia estão irreconhecíveis. O trabalho é de cinco fotógrafos locais e pretende reforçar a memória colectiva

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Instituto de Formação Turística (IFT) inaugurou ontem uma exposição de fotografias da cidade e da população, datadas entre as décadas de 60 e 90. A mostra, dividida por duas zonas da escola, mostra uma série de fotografias que congelaram a arquitectura, vivências, objectos, quotidiano e pessoas de um tempo ao qual já não é possível assistir. O mérito concede-se a Tong Ka, Kong Iu Lam, Ao Peng, Tam Kai Hon e Carlos Dias, cinco fotógrafos locais, todos eles com ligações próximas a associações de fomento à arte de fotografar.
Através da memória, o IFT pretende dar a conhecer aos seus alunos e aos visitantes da mostra que Macau nem sempre foi feita somente de luz e caos, jogo e turismo. Uma grande parte desta mostra zonas da cidade actualmente inexistentes, como são as orlas costeiras e bairros mais antigos, como o da Barra.
De entre os artistas consta Tong Ka, fundador da Associação de Fotografia Digital de Macau. Aos média, Tong confessa ainda deambular pela cidade, decifrando-a visualmente com a sua máquina, que ontem carregava orgulhosamente ao pescoço. “Muitos dos prédios ou cenários [que retratei] nas fotografias já não existem, mas estas permitem que a população conheça a cidade de antigamente”, começou o fotógrafo por explicar.
Questionado sobre o sentimento que tem ao olhar para as imagens sem movimento, Tong esclarece: “a vida e as pessoas daqueles tempos eram mais humildes e simples e as suas vidas eram mais duras do que hoje em dia”. fotos ift
Se por um lado, se discerne perfeitamente as duas realidades transformadas da cidade, por outro, compreende-se a beleza destes dois mundos, que coexistem sem grande parte estar já viva. “A maior parte do que captei simboliza o movimento da cidade e das pessoas, não tanto de lugares específicos”, acrescentou.

O congelar do movimento

Uma das paredes, na sala dos fundos, tem pendurada uma série de películas da Rua da Praia do Manduco e da Almirante Sérgio. Chuvadas tropicais que provocam inundações, autocarros como ninguém imaginaria passarem pelas ruas da região, pescadores, mães e filhos e manobras de ginasta em paredões são apenas alguns dos momentos congelados, agora na memória de quem por ali passar os olhos. IFT fotos
Durante a inauguração, a directora da Escola de Hotelaria e Turismo, Diamantina Coimbra referiu que espera uma grande afluência de visitantes, uma vez que a abertura contou com a presença “de mais de cem pessoas”.
Muitos certamente não se recordarão de como era desenhada a cidade nos anos 60, quando Salazar ainda governava Portugal e Macau era vista aos olhos do estrangeiro como uma mera colónia, mas tinha, precisamente por se situar na ponta oposta do mundo, uma natureza e vivências particulares. Entre os vendilhões, as quinquilharias e os tin-tins, havia crianças a brincar na rua, irmãos a beber água de fontes e as mães à coca, sem esquecer paisagens quietas e apaziguadas da região. Vistas do rio e da terra.
A mostra está patente até 30 de Novembro, no Restaurante Educacional, servindo para comemorar o 20º aniversário da fundação do IFT, sem esquecer a celebração do decénio da inscrição do Centro Histórico na UNESCO e da inauguração do curso de Gestão do Património, que também teve início em 2005. Tem entrada livre.

6 Ago 2015

CCP | Delegação de Macau encontra-se com Maria de Belém

Rita Santos e Armando Jesus estão em Portugal como representantes da lista para o Conselho das Comunidades Portuguesas, encabeçada por Pereira Coutinho. Na lista de encontros que a delegação pretende ter está o desta semana, com a deputada socialista Maria de Belém Roseira

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]lguns membros da lista encabeçada por José Pereira Coutinho para as eleições dos Conselheiros da Comunidade Portuguesa (CCP) estão em Portugal para ter encontros com representantes governamentais.
Na passada terça-feira, Rita Santos e Armando Jesus, dois dos cinco membros da delegação presente em Portugal, encontraram-se com a deputada socialista Maria de Belém Roseira, para trocar impressões sobre o estado de cooperação entre Portugal-China-Macau e abordar diversos assuntos relacionados com os legítimos interesses da comunidade portuguesa residente na RAEM, RAEHK e interior da China, como se pode ler num comunicado enviado às redacções. maria de belém rita santos
“Estes encontros acontecem no âmbito das relações amistosas que o Gabinete de Conselheiros tem com os responsáveis do Governo e as outras instituições com as quais o gabinete trocou impressões durante o ano de trabalho”, começa por explicar José Pereira Coutinho, cabeça de lista que se irá juntar à delegação em meados do presente mês.
Sobre o encontro com a deputada socialista, Pereira Coutinho avança que foram debatidos vários temas. “A delegação conversou sobre vários assuntos, nomeadamente o ponto de situação entra as comunidades, o problema da língua, da cultura portuguesa, do trabalho e das relações empresariais e comerciais entre as empresas de Portugal e a China”, explica.

Com potencial

O aproveitamento dos recursos humanos existentes em Macau, com o domínio das duas línguas, foi ainda outros dos assuntos em cima da mesa para discussão dos intervenientes. “Todos estes assuntos estiveram em discussão entre a delegação e a deputada (…) tendo sempre em mente as potencialidades de Macau”, frisou.
Apesar de ainda não existir mais nenhum encontro agendado, Pereira Coutinho explicou ao HM que mais estão previstos. A delegação irá manter-se em Portugal para “encetar diversos encontros e estreitamento de laços de amizade com responsáveis governamentais, políticos e instituições relacionadas com os interesses da comunidade portuguesas residente em Macau”.
O HM tentou chegar à fala com Rita Santos, mas não foi possível.

6 Ago 2015

Studio City abre a 27 de Outubro. Melco Crown espera 400 mesas

O projecto Macau Studio City abre portas no Cotai a 27 de Outubro com a estreia do filme “The Audiction”, filmado no resort. Lawrence Ho continua a querer mais do que 150 mesas de Jogo e considera o pedido de 400 mesas “realista”, face à concorrência

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Melco Crown Entertainment anunciou ontem oficialmente a data de abertura do seu empreendimento no Cotai. O Studio City abre portas a 27 de Outubro e a festa de inauguração contará com a estreia mundial do filme de Hollywood “The Audiction”, dirigido por Martin Scorsese e com a presença dos actores Leonardo DiCaprio, Robert de Niro e Brad Pitt.
Os jornalistas foram ontem convidados a visitar as obras do futuro resort da operadora detida pelo filho de Stanley Ho. Haverá nove salas de fumo dentro do casino, cerca de 600 quartos e ainda uma espécie de teleférico giratório no centro do edifício, intitulado “Golden Reel”, que vai permitir uma vista privilegiada do Cotai, a 130 metros de altura. Os visitantes poderão ainda experienciar a simulação do voo do Batman ou visitar a “Warner Bros. Fun Zone”, com personagens de desenhos animados.
Em conferência de imprensa, Lawrence Ho, director-executivo da Melco Crown, garantiu que o Studio City se trata de um projecto diferenciador. “De um modo geral queremos, com este resort, fazer a diferença. No Studio City esperamos que as componentes não Jogo possam ser rentáveis e precisamos de depender dos elementos de Jogo, que funcionarão como elementos de apoio financeiro.”
O responsável da Melco Crown continua à espera que o Executivo tome uma decisão quanto ao pedido de 400 mesas de Jogo. Recorde-se que o Deutsche Bank, citado pelo website GGRAsia, revelou que a operadora teria apenas direito a 150 mesas, mas Lawrence Ho continua a desejar mais.
“Sempre falámos em 400 mesas de Jogo e esperamos que o Governo de Macau retribua os nossos esforços feitos nos últimos anos. Não fizemos pedidos ridículos como as outras operadoras, de 600 ou mil mesas. Neste momento a questão está nas mãos do Governo. Estamos bastante preocupados com a questão da alocação das mesas e esperamos ter mais do que 150 mesas de jogo e 400 é um número realista.”

Um projecto diferente

Revelando uma postura optimista face ao futuro do sector, apesar da quebra das receitas, Lawrence Ho não deixou de comparar a actual fase de ajustamento da economia de Macau com o período de construção do City of Dreams (COD), inaugurado em 2009, após a crise do subprime dos Estados Unidos.
“Penso que há algumas semelhanças entre a abertura do COD, durante a crise financeira e a abertura do Studio City na fase em que a economia de Macau se encontra. Ultrapassámos esse processo e continuámos a crescer”, apontou.
O empresário do Jogo considera que o Studio City tem uma “localização privilegiada”, a qual será “capitalizada” com a inauguração da nova ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau e do metro ligeiro.
“A nova ponte ficará concluída no futuro e não será necessário mais do que alguns minutos até chegar ao Studio City. Esta é uma das vantagens da nossa localização. A capacidade de Macau para os turistas vai ser muito maior. Em termos à nossa posição e diferenciação no mercado, estamos muito confiantes, porque isto vai ser um resort integrado diferente e único.”
Para Lawrence Ho Macau vai continuar a ter dificuldades em atrair turistas de países ocidentais. “A penetração do mercado do continente em Macau ainda é muito baixa, porque o grande tráfego de turistas tem vindo da província de Guangdong. Em termos geográficos isso não é muito distante. Haverá a capacidade para atrair mais visitantes da China que possam ficar mais noites e Macau será sempre um mercado chinês, mas vamos ver mais países asiáticos a visitar.”
Prevendo “uma fase difícil” nos próximos meses, devido ao ajustamento do mercado, Lawrence Ho não deixou de reagir ao cenário de uma possível crise económica vinda da China.
“O Produto Interno Bruto (PIB) da China está fortemente ligado a Macau e vemos que a queda das receitas está relacionada com a China. Como concessionária só podemos apoiar o Governo e temos estado a preparar-nos para a mudança”, disse, garantindo que o futuro do mercado passa pelo crescimento do jogo de massas e não do sector VIP. Para responder a isso, a operadora “espera que Macau tenha mais infra-estruturas”.

6 Ago 2015

Fundação Macau | Universidade Cidade de Macau com metade de apoios

A universidade ligada ao deputado Chan Meng Kam recebeu quase metade dos apoios fornecidos no segundo trimestre pela Fundação Macau, com mais de 200 milhões a servirem para despesas de ensino e outros 90 para obras de renovação do campus

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Universidade Cidade de Macau, instituição ligada ao deputado Chan Meng Kam, recebeu 46,2% dos quase 272 milhões de patacas distribuídos pela Fundação Macau em apoios no segundo trimestre do ano, foi ontem anunciado.
De acordo com a lista de apoios da Fundação Macau publicada no Boletim Oficial, a Fundação da Universidade Cidade de Macau recebeu dois apoios financeiros. Um primeiro de seis milhões de patacas para “despesas com o apoio ao ensino e aprendizagem, actividades académicas, estudos e investigação científica, subsídios de propinas e bolsas de estudo aos alunos” e, depois, 89,68 milhões de patacas para “obras de renovação do novo campus e a aquisição dos equipamentos pedagógicos”.
Apesar das obras no novo campus, a Universidade Cidade de Macau recebeu este ano, recorde-se, parte das instalações antigas da Universidade de Macau. Esta foi a única instituição privada a conseguir um espaço no local e ficou com uma parte considerável, com mais de 37.600 metros quadrados – o edifício administrativo e outros sete blocos, entre eles o centro cultural.  
Tudo somado, os apoios concedidos à Fundação perfazem 125,68 milhões de patacas, 46,2% dos quase 272 milhões de patacas distribuídos pela Fundação Macau entre Abril e Junho do corrente ano.

Outros premiados

Além da Universidade Cidade de Macau, dezenas de outras instituições foram contempladas com apoios financeiros, entre as quais a Universidade de Ciência e Tecnologia, que recebeu 50 milhões de patacas para actividades do seu plano anual, incluindo o “hospital Universitário, da Escola Internacional de Macau, e o Centro de Formação Médica para o Desenvolvimento Profissional, da Faculdade das Ciências de Saúde da Universidade”.
A Associação dos Conterrâneos de Chon Kong de Macau recebeu 5,4 milhões de patacas para organizar o grande encontro mundial dos conterrâneos de Chon Kong e as actividades das comemorações dos 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. Estes mais de cinco milhões são apenas a primeira prestação, indica ainda a rádio.
Entre as entidades beneficiadas estão também a Associação de Jovens Macaenses, a Santa Casa da Misericórdia de Macau, Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas ou a Associação dos Trabalhadores da Função Pública.

6 Ago 2015

São Lázaro | Filipinos detidos por pinturas em edifício classificado

A Polícia Judiciária (PJ) deteve cinco cidadãos de nacionalidade filipina por alegada pintura de grafittis em edifícios no bairro de São Lázaro. “A nossa investigação concluiu que o caso envolvia sete pessoas e cinco filipinos foram detidos no passado dia 3 [de Agosto]”, informou a PJ. “Quatro dos detidos admitiram ter cometido o crime e foram acusados de ‘dano qualificado’ e a polícia acredita que o quinto também está envolvido”, acrescentou a autoridade.
O caso remonta há cerca de duas semanas, quando o Instituto Cultural (IC) disse ter havido uma violação da Lei de Salvaguarda do Património Cultural com a pintura de grafittis nas fachadas de um edifício na Rua de Sanches de Miranda e outros prédios próximos do bairro de São Lázaro.
De acordo com a PJ, alguns dos acusados defenderam-se, justificando o acto com o facto de estarem alcoolizados, concluindo que se tratava de uma brincadeira. “Alegaram que foi uma brincadeira. O seu comportamento provocou danos no património cultural. Apelamos aos cidadãos que tenham cuidado com o comportamento e não adoptem atitudes que possam violar a lei”, afirmou o porta-voz da PJ, Chan Cho Man, segundo notícia da Rádio Macau.
O caso seguiu já para o Ministério Público. O IC disse criticar “fortemente os comportamentos desadequados”, frisando que a execução de pinturas ou inscrições em paredes exteriores de edifícios protegidos constitui uma violação a um dos artigos da legislação em vigor. A eventual danificação permanente dos edifícios pintados pode mesmo constituir ilícito criminal. De acordo com o canal chinês da rádio, o IC despendeu cerca de 21 mil patacas para recuperar os locais danificados.

5 Ago 2015

GIF | Transacções ilegais aumentaram 14%

O Gabinete de Informação Financeira confirma: as transacções ilegais aumentaram 14% no ano passado e a maioria é proveniente do sector do Jogo

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]número de queixas de transacções suspeitas, durante o ano passado, aumentou 14% comparativamente ao ano de 2013. Os números surgem no relatório anual de 2014 do Gabinete de Informação Financeira (GIF), tornado público no final do mês passado.
O Gabinete indica que este aumento no número de relatórios das transacções suspeitas (STRs, na sigla inglesa) “é demonstrativo de uma tendência de melhoria dos sectores, designadamente do sector da indústria do Jogo, traduzido, neste caso, por uma preocupação crescente relativamente ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo”.
Segundo os dados publicados no relatório, 1375 queixas referem-se ao sector do Jogo, perfazendo um total de 75% do número total das queixas recebidas. O GIF indica ainda que 441 dizem respeito ao sector financeiro, menos 3,5% do que no ano de 2013, “o que demonstra que o aumento do número de relatórios tem origem maioritariamente no sector do Jogo”.
Comparando com o ano de 2013, este sector manifestou um aumento de 20,4%, subida que está relacionada, defende o GIF, pela adopção, por parte das concessionárias de Jogo de “novas políticas directamente relacionadas com a implementação de medidas de diligência relativas à identificação dos seus clientes e ao controlo das transferências de capitais”.
Relativamente às queixas de transacções ilegais em que não é possível a identificação do cliente, o GIF indica que existe um decréscimo que se tem registado de forma contínua.

Fichas em cima da mesa

Quanto à tipologia dos casos, o GIF indica que é a “conversão de fichas sem actividade de jogo significativa” que mais recolheu queixas (766), seguindo-se as “transferências electrónicas suspeitas”, com 346 queixas e “uso de cheques/notas promissórias/transferências bancárias para a transferência de fundos”, com 274.
Superando as 150 cada, estão as queixas sobre “actividades de obtenção dos elementos de identificação”, os “levantamentos de quantias excepcionalmente elevadas” e os “depósitos em numerário de quantias elevadas impossível de verificação da origem dos fundos”.
Ao Ministério Público (MP) foram entregues 163 relatórios, correspondendo a um aumento de 10,9%, comparativamente aos 147 remetidos em 2013. O aumento, justifica o GIF, está “relacionado com o aumento de casos instruídos em que a informação suplementar foi facultada ao MP”. Relativamente ao número de novos casos de participação “efectivamente remetidos” ao MP, este registou, indica o relatório, um “ligeiro decréscimo”.

5 Ago 2015

Terrenos | Negada audição proposta por pró-democratas

[dropcap style=’circle’]”[/dropcap]Não”. É esta a resposta que Ho Iat Seng, presidente da Assembleia Legislativa (AL), dá ao pedido de audição colocado pelos deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San, relativamente aos terrenos não recuperados pelo Governo. A reacção dos pró-democratas é clara: os deputados vão recorrer.
“Sim, claro que vamos recorrer”, disse Ng Kuok Cheong ao HM, adiantando que caso este segundo recurso seja novamente negado, voltarão a recorrer mas desta vez através da Assembleia Geral da AL.
Questionado sobre os motivos que levaram Ho Iat Seng a negar a audição – que não era apenas um “debate mas também uma entrega de informações [por parte do Governo” – Ng Kuok Cheong acredita que existe uma “diferente interpretação da Lei Básica” entre os deputados e o presidente. O responsável da AL chumbou o pedido fundamentando que o mesmo não está a respeitar a Lei Básica. Ho Iat Seng entende ainda que a AL não reúne as competências necessárias para a realização da audição proposta, não dando sequer hipótese de que o pedido de audição seja analisado pelos deputados.
“Sei que existem alguns deputados que sentem que a lei deve ser mais restrita para o pedido de audição, mas de acordo com a legislação vigente temos direito de debater a proposta”, acrescentou ainda Ng Kuok Cheong.
Questionado sobre a possibilidade da rejeição estar relacionada com a investigação do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), o deputado esclareceu que a ala pró-democrata não quer apenas ouvir os dirigentes do Governo sobre os 16 terrenos que agora estão em investigação, mas sim sobre “todo o processo” – os 113 terrenos iniciais, depois os 48 que iriam ser recuperados pelo Governo e por fim os 16. Posto isto, Ng Kuok Cheong nega que o presidente da AL tenha rejeitado a audição por causa da investigação em curso.

5 Ago 2015

Hotel Estoril | Souto de Moura também defende demolição do edifício

O arquitecto Eduardo Souto de Moura diz preferir um “projecto novo” para o espaço onde se encontra o Hotel Estoril. Detentor de um prémio Pritzker, tal como Álvaro Siza Vieira, Souto de Moura diz que “a fachada não tem grande interesse”, por comparação à modernidade que se pode vir a obter com a nova concepção

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]debate de ideias sobre o destino a dar ao novo edifício do velho Hotel Estoril tem sido intenso, sobretudo desde que o arquitecto Álvaro Siza Vieira, detentor de um prémio Pritzker e futuro autor do novo projecto para a zona do Tap Seac, defendeu a total demolição da fachada e edifício que alberga o hotel.
O HM contactou o arquitecto Eduardo Souto de Moura, também galardoado com o Pritzker em 2011, por forma a saber a sua opinião sobre o projecto. E também ele concorda com as ideias avançadas por Siza Vieira.
“Entre um projecto dos anos 60, cuja fachada considero que não tem grande interesse, do que me lembro e pelas fotos que enviou, e um projecto do arquitecto Álvaro Siza, do século XXI, prefiro um projecto novo”, disse Souto de Moura numa resposta enviada por email.
O desenho da fachada data de 1964 e foi elaborado pelo arquitecto italiano Osco Acconci, também autor de outros projectos em Macau.
Foi no mês passado que o Governo anunciou, através de um comunicado oficial, ter reunido com Álvaro Siza Vieira, por ocasião de um encontro entre o arquitecto português e o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, no Porto.
Nesse encontro Siza Vieira terá feito as suas sugestões, sendo que só em Setembro é que a tutela de Alexis Tam tomará a decisão final. Segundo o comunicado, “Alexis Tam disse que o arquitecto propôs o desenvolvimento de um novo projecto, ou seja, não manter a fachada, porque considera que esta não integra o importante património cultural de Macau”. Isto porque “caso a fachada seja preservada, será necessário uma obra maior com um período de construção mais longo, para que o espaço se transforme num centro de actividades recreativas e culturais para os jovens, onde haverá áreas preparadas para acolher várias actividades juvenis e um parque de estacionamento subterrâneo”.
O HM tentou contactar o arquitecto Álvaro Siza Vieira para maiores esclarecimentos sobre a sua posição, mas até ao fecho desta edição – e quase uma semana depois do contacto – não foi obtida qualquer resposta.

[quote_box_left]“Entre um projecto dos anos 60, cuja fachada considero que não tem grande interesse (…) e um projecto do arquitecto Álvaro Siza, do século XXI, prefiro um projecto novo” – Eduardo Souto de Moura, arquitecto[/quote_box_left]

Opiniões opostas

Em Macau, arquitectos e especialistas têm mostrado posições divergentes quanto ao futuro de um edifício icónico para a zona do Tap Seac. O primeiro sinal de que a demolição total estava em cima da mesa chegou no mês passado, no âmbito de uma reunião do Conselho do Património Cultural (CPC). Três membros defenderam a demolição do prédio e fachada, incluindo o deputado nomeado e empresário Lau Veng Seng.
“Se pudéssemos coordenar com outras instalações à volta seria muito bom, uma vez que a área utilizada não é muito grande. Como uma área tão pequena acho que vai ser difícil [recuperar], era bom conseguir aproveitar os recursos do solo. Se o mural deve ser conservado? Temos de ouvir as opiniões, mas a minha é que é melhor demolir e depois reconstruir.”
Carlos Marreiros, em declarações ao HM, defendeu a demolição do edifício, mas não quis avançar a sua opinião sobre o destino a dar à fachada do antigo hotel.
“Preservar o edifício? Nunca fui apologista disso, seria um esforço com preços elevados e os espaços poderiam não ser adequados para as novas funções do edifício”, concluiu o arquitecto.
Em artigos de opinião publicados no HM, vários arquitectos locais têm mostrado a sua indignação perante a posição de Siza Vieira. “Esta declaração pública, da ausência de qualidade arquitectónica do velho Hotel e da sua insignificância destrutível, é agressiva, cruel e ofensiva”, escreveu Eduardo Flores no artigo “Olhem de novo”. Também Maria José de Freitas escreveu uma carta aberta ao “mestre” da arquitectura. “A notícia caiu como uma bomba sobre todos nós, colegas e cidadãos aqui em Macau. Somos agora postos perante a circunstância de o ter a projectar para Macau, o que é sem dúvida uma honra, mas que traz consigo uma novidade: para haver construção terá de ocorrer a destruição do antigo Hotel Estoril! Ora, esse hotel que vai ser destruído tem um rosto, representa uma história e essa história tem relevo no panorama da arquitectura modernista na cidade”, defendeu a arquitecta.

5 Ago 2015

Regime de Máquinas de Jogo não vai ser revisto , “apesar de ineficaz”

A DICJ tinha admitido que o actual Regime de Fornecimento de Máquinas de Jogo não era eficaz para acabar com as slot-machines perto das zonas residenciais, mas nem por isso vai rever o diploma, apesar de ter falado nessa eventualidade. Deputados queixam-se que, apesar de algumas salas terem fechado, outras já abriram

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo não está a pensar para já rever o Regime de Fornecimento e Requisitos das Máquinas, Equipamentos e Sistemas de Jogo, apesar de o ter dito ao deputado Ho Ion Sang. Isso mesmo confirmou a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) ao HM, depois do director do organismo ter admitido que o actual regime não é eficaz no que ao afastamento das salas de Jogo perto dos prédios habitacionais diz respeito.
Em Janeiro deste ano, numa resposta ao deputado dos Kai Fong, Manuel Joaquim das Neves admitiu que a implementação do Regime de Fornecimento e Requisitos das Máquinas, Equipamentos e Sistemas de Jogo, em 2012, “não se traduzia numa solução definitiva” para acabar com as máquinas de Jogo existentes nos bairros. Na mesma resposta, a que o HM teve acesso através do site da Assembleia Legislativa, o director da DICJ dizia que a solução não era definitiva porque “o objectivo final definido pelo Governo da RAEM no âmbito das políticas para o sector do Jogo visa proibir cabalmente a instalação de salas de máquinas de jogos fora dos casinos”.
Para isso, continuava o responsável, o Executivo iria não só continuar a tentar perceber as influências destas salas nas zonas residenciais, bem como adoptar medidas sempre que fosse necessário. Medidas que passavam, por exemplo, “pelo aperfeiçoamento ou revisão do diploma para assegurar o interesse público”.
Contudo, a revisão não parece estar nos planos da Administração para já. Questionada sobre o assunto, a DICJ responde: “Não foram feitas nenhumas alterações desde que o Regime está em vigor. Se houver mudanças na tecnologia e nos requisitos das slot machines, ou se houver vozes no público que procurem alterações ao Regime, o Governo estará sempre aberto a considerar rever o diploma, no futuro, para se adaptar às necessidades.”

Carentes de revisão

Desde 2012 que o Regime está em vigor, tendo sido aprovado precisamente depois da promessa do Executivo feita em 2007, nas Linhas de Acção Governativa (LAG), de remover gradualmente todas as salas de Jogo com slot machines das zonas residenciais.
Na resposta ao HM é dado conta que apenas cinco estabelecimentos de Jogo foram retirados de perto de zonas de habitações – “três foram encerrados e dois movidos para outros locais” – mas como relembra Ho Ion Sang na interpelação feita à DICJ, enquanto, desde 2012 até agora, estas cinco foram removidas, outras nasceram.
“Imediatamente foram abertas outras salas de slot machines nas zonas residenciais do Porto Interior, havendo até uma estabelecida muito perto de um centro de idosos, um centro de saúde e uma escola”, começa por apontar o deputado, salientando que, na sua perspectiva, há motivos para o regulamento ser revisto. “As autoridades afirmaram que essas novas salas se encontram instaladas em prémios independentes sem moradores e a menos de 500 metros de um hotel-casino, ou seja, de acordo com os requisitos do Regime. Mas, evidentemente, o Governo não ponderou de forma global o ambiente geográfico real de Macau, como também não ponderou a forma de funcionamento das salas, motivando a existência de uma grande lacuna no Regime, fazendo com que essas salas não possam ficar verdadeiramente fora dos bairros comunitários.”
Uma das preocupações de Ho Ion Sang incidia precisamente na salas de jogos situadas perto de escolas. O Porto Interior não é o único local onde podem ser vistas estas salas, já que estas existem, por exemplo, na Taipa perto dos Nam San dos prédios em volta, na parte traseira da Avenida Almeida Ribeiro, onde existem prédios residenciais, e no Hotel Sintra, por exemplo.

Louis sim ou não?

O HM quis saber de que medidas dispõe o Governo para não permitir mais salas de Jogo junto das zonas residenciais, mas não foi possível obter resposta. Também sobre o facto do novo empreendimento Louis XIII, no Cotai, ter anunciado que iria ter mesas de Jogo, a DICJ não respondeu claramente.
O deputado Au Kam San tem vindo a criticar a hipótese deste novo espaço – bem em frente às habitações públicas de Seac Pai Van – poder vir a receber mesas de jogo e slot-machines. O HM perguntou à DICJ se iria autorizar o Louis XIII a ter licença de Jogo, se este realmente a pedir, uma vez que está em frente ao empreendimento de habitação pública, mas a DICJ não foi clara na resposta, tendo apenas dito que “neste momento não é certo se vai haver mais alguma concessão [de licenças] adicional depois dos actuais contratos expirarem”.

5 Ago 2015

Governo rejeita alargar prazo para adaptação de contratos

Os deputados pediram ao Governo para disponibilizar mais tempo para a adaptação dos contratos de trabalho ao novo Regime do Contrato de Trabalho nos Serviços Públicos, mas o Executivo não aceitou o pedido. Caso a lei seja aprovada, as novas regras entram em vigor já em Novembro

[dropcap style=’circle’]É[/dropcap]já esta quinta-feira que os deputados vão votar na especialidade o novo Regime do Contrato de Trabalho nos Serviços Públicos. Durante a discussão, os deputados da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) propuseram ao Governo alargar o prazo entre a aprovação da lei e a sua entrada em vigor (vacatio legis, na linguagem jurídica), para uma melhor adaptação de todos os contratos de trabalho da Função Pública. Contudo, o Governo não aceitou a proposta.
“A entrada em vigor da proposta de lei envolve a conversão dos contratos de muitos trabalhadores”, revela o parecer jurídico sobre a análise do diploma. “Com vista a disponibilizar tempo suficiente para os serviços públicos procederem aos necessários trabalhos preparatórios, a comissão sugeriu uma vacatio legis mais ampla. No entanto, o Governo expressou o seu desejo de ver a proposta de lei entrar em vigor o mais rapidamente possível”, pode ler-se.
Perante isto, as alterações contratuais a implementar com a nova lei deverão entrar em vigor em Novembro. “[O Governo] entendeu ainda que uma vacatio legis de dois ou três meses após a entrada em vigor da lei seria suficiente para concluir os necessários trabalhos preparatórios, portanto, definiu-se que a lei entraria em vigor no dia 1 de Novembro de 2015.” Segundo o deputado Chan Chak Mo, que preside à Comissão, os deputados chegaram a propor ao Executivo que a lei só entrasse em vigor em Janeiro de 2016.
O novo Regime do Contrato de Trabalho nos Serviços Públicos prevê a introdução do Contrato Administrativo de Provimento (CAP) de longa duração, após o qual o trabalhador poderá passar a CAP sem termo, caso a sua avaliação seja satisfatória.

Com outros olhos

No parecer jurídico os deputados pedem ainda mudanças na forma como o Governo encara o contrato individual de trabalho, exigindo maior uniformização. “De acordo com dados facultados pelo Governo, existem actualmente 889 trabalhadores que estão providos em regime de contrato individual de trabalho. No entanto, dado que não existem normas uniformes, existem diferenças entre os diversos serviços públicos quanto às modalidades de contratação, ao tipo de funções desempenhadas, à sua descrição funcional, e aos direitos e deveres dos trabalhadores, entre outros aspectos. Assim sendo, a proposta de lei consagra preceitos para se proceder à uniformização dos procedimentos e das condições de trabalho dos contratos individuais de trabalho”, refere o parecer.
Para o Executivo, “o contrato individual de trabalho é uma situação excepcional”, pelo que se torna “difícil enumerar as condições concretas de contratação e as características deste tipo de contrato”.
O Governo garantiu aos deputados que “vão ser empregues normas procedimentais de controlo para garantir a razoabilidade do uso desta modalidade de contrato, por exemplo, a autorização do Chefe do Executivo e o parecer dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), entre outros instrumentos”.
A Comissão entende, assim, que há “necessidade da utilização do contrato individual de trabalho” e adiantou que isto permite que os serviços públicos “adoptem formas de provimento mais flexíveis para determinado pessoal, para o cumprimento das suas atribuições e para a satisfação de necessidades especiais”.

5 Ago 2015

Conteúdo de um livro. O sossego a que todo o movimento conduz

* por Rui Cascais Parada

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]e regresso à cidade de Ulisses, Lorde Gin viajou só com um punhado de livros: traduções inglesas de Georges Bataille, a Obra Poética de Pessoa, Opus Posthumous de Stevens, um diário de Tanizaki, escritos de Hal Foster, uma novela de Lagerkvist e uma colecção de poemas de A.R. Ammons intitulada Glare. Em Bangkok ficaram duas toneladas de livros. Dois mil quilos de papel e tinta que hipoteticamente terão um dia qualquer de flutuar pelo Oceano Índico, subir o Mar Vermelho, esgueirar-se pelo Suez, velejar pelo Mediterrâneo, passar Gibraltar e saborear uma breve espuma atlântica antes de se juntarem a seu amo.
O exemplar de Glare, publicado pela Norton em 1997, foi oferecido a Lorde Gin em 2009. Encontrou-o uma musa que visitava Nova Iorque e vasculhava as prateleiras inchadas e colossais da Strand Bookstore, ali à esquina da 12th Street & Broadway, perto da sempre garrida Union Square. Trata-se, claro, de um exemplar em segunda mão. Nas páginas 3 e 5, alguns versos sublinhados a fina caneta vermelha, respectivamente: “our deepest concerns\such as death or love or child-pain\ arousing a belly laugh or a witty dismissal” e “the stillness all the motions add up to”. As linhas vermelhas são trémulas, denunciando que o (ou a) sublinhante as desenhou sentado num qualquer meio de transporte em movimento. Ou então tremiam-lhe as mãos devido a uma possível aflição do corpo ou do espírito, enquanto buscava com que preencher, justificar, explicar a existência. Para isso servirão os sublinhados de poemas, pois acredita-se ainda, e de um modo algo piedoso, que neles se poderão descobrir destilações úteis, conclusões lapidares. Porém, as restantes páginas, quase trezentas, não apresentam mais nenhuma mutilação, o que talvez indique enfado com o material poético, ou uma infecção neurótica de impaciência e desinteresse.
O exemplar encontra-se em muito boas condições, confirmando o pouco uso que lhe foi dado. Prosseguindo a autópsia, Lorde Gin deparou-se com os seguintes detritos que para lá foi lançando:

1) A páginas 77, um cartão do Warung Pasir Putih, uma cabana de praia no sul do Bali onde se podia ingerir uma beberagem de cogumelos psicotrópicos e observar os diversos anzóis azuis do mar. Lá se lê: “how wonderful to be able to write:\it’s something you can’t do, like\ playing the piano, without thinking”.
2) A páginas 127, dois bilhetes de entrada no Botanic Garden de Ubud, onde Lorde avistou, numa tarde chuvosa e deserta, uma curta serpente brilhante que se balançava de um talo vegetal apenas segura pela cauda, esticada como uma pequena lança verde. E, aqui, o poema número 45 diz: “will I will the will to go on – what? –\from here where does going go, except\ to gone?”
3) A páginas 181, um marcador de livros do “Reading Room” do antigo hotel Oriental (hoje desgovernado pela cadeia Mandarin), na margem nascente do rio Chao Praya, mostra, impressa a prata, uma citação banal do magistral Graham Greene: “The world is not black and white. More like black and grey”. E, aí, o poema número 66 de Archibald R. Ammons retorque: “well, it’s true, clarity is in the extremes,\ whereas truth muddles in the middle”.
4) Por fim, a páginas 231, num anónimo pedaço de papel cor-de-rosa rasgado sem compunção, um dos sobrinhos de Gin gatafunhou uma primeira observação de infância ao sol de um estio espanhol ultravioleta: “O hotel de Conil. A piscina era muito garde [leia-se, “grande”]”. E, a isto, o poema 87, intitulado “Old Age”, rasga uma dentadura podre e sábia: “Whatever is wrong\won’t be wrong long”.

5 Ago 2015

“Dona Gula”, negócio de take-away | Inês Madeira, gerente

O projecto do “Dona Gula” começou em família e acabou espalhado a todos aqueles que gostam de comida portuguesa como se fosse feita pelas mães ou avós. Inês Madeira gere o projecto com duas familiares e fala do sucesso das suas receitas, procuradas sobretudo por mães ocupadas

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]iz o dicionário da Língua Portuguesa que “gula” é o “excesso no gosto de comer e beber”, um dos sete pecados mortais. E foi a pensar no gosto pela comida, mas sobretudo pelos pratos feitos com cuidado e qualidade, que nasceu o “Dona Gula”. Com apenas uma página na rede social Facebook e quase 300 gostos, o projecto visa a entrega de refeições, salgados e pastelaria em casa.
Inês Madeira é designer e gere o negócio, não tendo qualquer experiência com tachos e panelas. Ao seu lado tem as “donas gulas”, como a própria lhes chama, Margarida Pereira, responsável pela parte dos salgados, e Marília Coutinho, a pasteleira responsável por fazer os bolos de aniversário.
“Eu sou o maestro do que se está a passar”, conta Inês Madeira ao HM. “Tento criar algum dinamismo na página do Facebook e não apenas publicar fotos de comida. Tudo isto começou porque elas são pessoas da minha família e pensámos que, se os produtos que faziam já eram bons, poderíamos mostrar ao público em geral.”
O que começou por ser uma brincadeira já se transformou num negócio muito procurado, sobretudo entre a comunidade portuguesa. dona gula
“A Dona Gula aconteceu de forma muito espontânea e é resultado de um trabalho que já existia. Eu já consumia os produtos e pensei: ‘porque não fazer uma divulgação?’. Isto numa conversa de mesa, numa brincadeira. Foi uma brincadeira não muito na perspectiva de negócio, mas mais na divulgação dos produtos para as pessoas experimentarem, e acabou por se transformar na Dona Gula, que neste momento tem uma grande adesão por parte do público.”
Inês Madeira conta que o projecto “Dona Gula” tem servido de apoio a festas de aniversário de crianças e adolescentes, mas também serve muitas mães que nem sempre têm tempo para cozinhar.
“Curiosamente achava que as pessoas iam procurar a Dona Gula mais para festas, mas tem havido muita adesão mais para os salgados para refeições. As pessoas pedem muito esses produtos ainda congelados para depois fazerem nas suas casas, como consumo diário. É uma questão de comodismo também, porque as pessoas não têm tanto tempo e disponibilidade para cozinhar, então acabam por encomendar à Dona Gula.”

O lado caseiro à mesa

Com uma oferta variada de salgados, tartes salgadas e bolos de aniversário, o projecto “Dona Gula” apresenta-se como sendo algo mais do que um negócio familiar de entrega de comida em casa. Cada encomenda tem a garantia de ser uma refeição caseira.
“As pessoas procuram muito os produtos portugueses, de referência. As receitas dos nossos avós são uma referência para nós, não é a mesma coisa que comer um rissol caseiro ou outro. É como o pastel de nata, estes são parecidos mas não têm o mesmo sabor, porque não há essa referência cultural do que é o pastel de nata. Os chineses aceitam, mas nós sentimos falta do sabor português. E a Dona Gula tem cativado as pessoas por essa referência, por ter produtos de qualidade e comida caseira. A ideia é ter a comida portuguesa na mesa, como se fosse a mãe ou a avó a fazer, mas nós é que entregamos. A comida chega à casa das pessoas como se fossem elas a fazer”, frisa Inês Madeira.
Para já a página do Facebook está apenas em Português, sendo que a gestora do projecto considera que é necessário fazer com que o “Dona Gula” chegue a cada vez mais pessoas.
“Queremos também tentar chegar a outro público. O grande número de clientes é português, curiosamente as mães. Sentimos que há uma preocupação em ter as refeições prontas em casa ou uma ajuda numa festa para não terem de encomendar em vários sítios. Depois também têm a referência dos ingredientes, da comida que é nossa, são mesmo receitas que vêm dos avós e as pessoas sentem-se familiarizadas com os produtos”, remata.
Os preços dos produtos são variados: um bolo de aniversário personalizado pode custar quase 400 patacas, enquanto que uma tarde salgada pode atingir as 200 patacas. Também há a possibilidade de encomendar uma boa sopa de legumes ou salgados congelados, prontos a fritar. Tudo depende da gula de cada um.

5 Ago 2015

Água | Edifícios inspeccionados sem níveis de chumbo acima da média

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo assegurou ontem que os testes feitos à água de mais de 50 edifícios de habitação pública do território descartam a possibilidade do líquido conter níveis de chumbo acima da média permitida pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O valor mais elevado de chumbo na água foi registada no prédio Mong Sin, no complexo de habitação social de Mong Há. Aqui, a água apresentava níveis médios, de 3,2 miligramas por litro, quando a OMS fixa os dez miligramas por litro como valor máximo permitido.
De acordo com um comunicado co-publicado ontem por várias entidades, “o resultado da análise mostra que a quantidade de chumbo contida nas amostras de água recolhidas enquadra os padrões de segurança da OMS”. Os resultado do segundo grupo de análises estão “quase concluídos”, de acordo com o mesmo documento.
O Governo deu início à ronda de análises depois de um recente caso mediático ter tido lugar em Hong Kong. Em Junho passado, foi detectado um alto nível de chumbo na água de um complexo de habitação pública da região vizinha, em Kowloon. As três amostras recolhidas revelaram níveis bastante acima daqueles estabelecidos pela OMS e que oscilavam entre os 10,8 e os 35,1 miligramas por litro. Ontem, também um prédio de luxo em Hong Kong registou o mesmo problema.

5 Ago 2015

Caso colectivo de gastroenterite devido a sandes

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) detectaram esta segunda-feira um caso colectivo de gastroenterite, com residentes de Macau a sentirem os sintomas após terem consumido sanduíches oriundas de Taiwan, da marca “Horng Ryen Jen”. Segundo o comunicado, “foram adquiridas duas caixas, cada uma possuindo oito sandes. As caixas foram adquiridas por amigos dos doentes directamente de Taiwan e levados para Hong Kong”, sendo que uma das caixas foi trazida para Macau.
“Duas famílias com cinco pessoas consumiram separadamente as respectivas sandes durante a manhã dos dias 28 e 29 de Julho. Entre sete a vinte horas após o consumo, duas pessoas manifestaram indisposição sendo que um deles, no dia 31 de Julho, teve choque séptico, necessitando de ser submetido a um tratamento de monitorização, devido à sua situação caso grave, no Hospital Kiang Wu”. Actualmente, o homem está em estado considerado clinicamente estável mas ainda necessita de internamento. O outro doente encontra-se em estado normal, explicam os SS. Os três amigos que consumiram o produto em Hong Kong também mostraram sinais de gastroenterite, com “indisposição como febre, dores abdominais, vómitos e diarreia”, tendo recorrido a tratamento médico.
Os SS já analisaram o caso, com amostras laboratoriais, e confirmam que “existe uma enorme probabilidade de este incidente ser considerado uma infecção colectiva de gastroenterite” por salmonela. O Governo da RAEHK já baniu as sandes, depois de outras 46 pessoas terem também sido afectadas. Em Macau, segundo a Rádio não há destas sandes à venda.

5 Ago 2015

Animais | Mais de três mil abatidos. Vinte lojas “licenciadas”

São pouco mais de duas dezenas as lojas licenciadas para o comércio de animais e 25 cães e gatos importados para venda. Números que não aparentam reflectir a realidade local. Mais de três mil foram abatidos em cinco anos, quase o triplo dos animais adoptados

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau conta com “21 estabelecimentos licenciados de venda de animais de estimação”, mas os números deixam confuso quem trabalha com animais. Os dados foram fornecidos ao HM pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), o mesmo organismo que contabiliza mais de três mil animais abatidos desde 2010.
O IACM garante que a exploração de estabelecimentos dedicados à venda a retalho de animais tem de ser alvo de “licença de venda a retalho” junto do IACM. Contudo, quem trabalha com os bichos diz não perceber exactamente as informações do HM.
“Não sei o que é que eles entendem por lojas licenciadas”, começa por dizer o presidente da ANIMA – Sociedade Protectora dos Animais. “Tanto quanto sei, é um mercado livre. Isso é um pouco estranho, porque eles à [ANIMA] até dizem que não sabem quantos animais são comprados.”
Ao que o HM conseguiu apurar, segundo o site do IACM, os estabelecimentos de venda de animais de estimação estão sujeitos a autorização prévia, mas a licença – válida por um ano – é semelhante à da venda de aves de capoeira ou até a de restaurantes, ou seja, uma licença administrativa. Não foi possível ao HM descobrir qualquer lei que indique a obrigatoriedade de se obter esta licença, tanto que o mesmo acontece com os veterinários: não há obrigação de ser licenciado para exercer a actividade em Macau, como também foi já publicado pelo HM.
O boletim de requerimento de licença pode até ser obtido gratuitamente nos Serviços de Inspecção e Sanidade do IACM ou através da internet. A maioria das lojas que o IACM tem como licenciadas no site fica em Macau, havendo apenas alguns destes espaços na Taipa.

Poucos demais

O mesmo acontece com a importação. Segundo o IACM, em 2014 foram importados para venda 14 cães e 11 gatos “para estabelecimentos licenciados”. Albano Martins, que já pediu através de cartas ao presidente do IACM o número de animais para venda nas lojas, explica que nunca foi dado à ANIMA qualquer dado sobre o assunto. Uma carta de Abril foi precisamente a base para o pedido de informações do HM ao IACM. Carta que pedia que fosse restringido o número de animais importados para Macau, de forma a evitar abandonos.
“Eles recusaram dar essa informação, disseram que não controlavam o número de animais comprados para venda. Se calhar, agora, estão já a disponibilizar os dados. Mas isso são poucos animais e poucas lojas. Estamos a falar de estabelecimentos licenciados, mas acho pouco possível. Não posso duvidar, nem dizer nada em contrário, porque não andei a investigar”, aponta o presidente da ANIMA, ressalvando que, no entanto, “parecem poucas lojas”. O mesmo diz Fátima Galvão, uma das fundadoras da Associação de Cães de Rua e do Bem-Estar Animal (MASDAW, na sigla inglesa).
O IACM chega a dizer na resposta ao HM que apela aos cidadãos que nunca comprem animais de estimação de origem desconhecida e que devem “efectuar a sua aquisição junto dos estabelecimentos licenciados de venda a retalho de animais de estimação”. Mas, um número tão pequeno de animais importados levanta outra questão: de onde vêm os cães e gatos à venda nas lojas?
“Acreditamos que muitos deles venham do contrabando e outros vão acumulando ao longo dos anos, mas esse número de animais (25) é tão pequeno que é quase ridículo, porque o número de animais nas lojas de estimação é enorme”, aponta Martins. “Além disso, não entendo por que é que não têm microchip e são licenciados antes da venda, como em qualquer parte do mundo. Se eles dizem que têm capacidade para licenciar lojas, apesar de não saber que lei que diz isso, como é que não têm capacidade de dizer que os animais à venda têm de estar todos licenciados?”

Números que enganam

Uma visita ao site oficial do IACM permite perceber que, em cinco anos, foram abatidos 3223 cães e gatos nos canis municipais. Só nos últimos dois anos e até ao mês passado foram mortos 1334. A maioria, cães. Este ano, 250 caninos foram abatidos.
Contudo, os números podem enganar, como explica Fátima Galvão ao HM. “As estatísticas oficiais não creio que reflictam os animais que são apanhados e que morrem no IACM sem ser por eutanásia”, explica, ressalvando que não pode comprovar este facto. “As estatísticas dizem respeito a animais abatidos, não aos que morrem lá.” O mesmo diz Albano Martins: “Teoricamente, [esses números] são face aos animais postos a dormir por eutanásia”, diz, acrescentando que não duvida destes dados.
Há, contudo, cães que morrem no canil, muitas vezes por doenças contraídas no local ou até “por estarem misturados cães doentes e saudáveis”, como diz a responsável da MASDAW.
Os dados do IACM diferem também entre “abandonados” – 1547 desde 2010 – e “resgatados” (885). Segundo o que foi explicado ao HM pelo presidente da ANIMA, os abandonados são geralmente os apanhados pelo IACM que têm chip, mas cujo dono não os quer de volta ou não vai sequer buscá-los. Quanto aos resgatados, são os que são apanhados na rua sem identificação possível.
Só este ano, 151 cães e gatos já foram abandonados. Dados do IACM mostram que foram passadas cinco multas o ano passado e duas este ano a pessoas que abandonaram animais em espaços públicos, algo não permitido pelo Regime Geral destes locais.
Apenas 1048 cães e gatos foram adoptados em cinco anos nos canis e o apelo da ANIMA em restringir o número de animais importados para lojas ou abertura de mais estabelecimentos é precisamente para acabar com a moda da “enorme procura irresponsável de alguns membros da comunidade, que os atiram para a rua quando cansados e vão comprar outros, repetindo-se o cenário sempre que o animal cresce”.

5 Ago 2015

Da passividade e outras fábulas

Quando me vieram buscar não havia ninguém para me defender.
Paráfrase de Bertold Brecht

[dropcap style=’circle’]F[/dropcap]ez bem o novo responsável pela secção do PS em Macau em emitir um comunicado por ocasião da notícia de uma eventual candidatura de José Pereira Coutinho à Assembleia da República. Perante a real possibilidade do deputado e conselheiro alavancar alguns milhares de votos, Tiago Pereira veio à liça denunciar alguns aspectos deste processo político, cujo desenlace está longe de ser claro.
Trata-se, sublinhe-se, de um processo, ou seja, algo que vem de trás, de um passado com mais de uma década, que tem produzido efeitos contínuos e que tende agora para uma maximização de algum modo inesperada.
A verdade é que, pelo menos desde 2003, Pereira Coutinho tem vindo a contar com cada vez mais votos de pessoas com nacionalidade portuguesa, mas cujas língua, cultura e realidade social lhes dificultam o acesso aos temas da política lusitana, sejam estes do âmbito da comunidade local ou, ainda menos, nacional.
Este distanciamento ficou bem patente na qualidade da mensagem (SMS), de origem misteriosa, que insinuava uma eventual perda de nacionalidade, no caso de não se proceder ao recenseamento, e que forçou o cônsul Vítor Sereno a emitir um incontornável esclarecimento.
Só uma população totalmente ignorante dos seus direitos de cidadania nacional, da sua portugalidade, poderia engolir este tipo de esparrela e deslocar-se bovinamente ao Consulado para se recensear, como provavelmente se deslocará para votar nas eleições para o Conselho das Comunidades e para a Assembleia da República.
A comunidade portuguesa da RAEM tem sido, do ponto de vista político-eleitoral, pouco a pouco, feita refém da “bondade” expressa no passado, com a excelência da atribuição generalizada da nacionalidade portuguesa à população de Macau, perante a complacência das forças vivas presentes no terreno. O mérito de Coutinho foi ter sabido detectar uma mina de ouro eleitoral, puríssimo, sem ideologias nem interesses reais, pronta a ser rentabilizada e avançar decididamente, de picareta na mão, na sua exploração. Os resultados têm sido excelentes.
Curiosamente, enquanto Coutinho utilizou o seu método a nível local, no âmbito das eleições para o Conselho das Comunidades Portuguesas, tornando fútil o aparecimento de outros candidatos e o debate político, para o PS não veio mal ao mundo. Mas agora, que aposta mais alta se levanta, entendeu emitir um comunicado a denunciar esta bizarra situação.
Porquê só agora? Porque Pereira Coutinho poderá realmente ser eleito e isso é “um problema” (para quem)? Porque o seu método não preenche os mínimos requisitos éticos, quando em causa está a Assembleia da República, mas não faz mal quando se trata do Conselho das Comunidades?
Tiago Pereira resolveu emitir um comunicado. Muito bem. Em muitas das suas passagens, digamos que me tira palavras da boca ou ideias dos meus textos. É, portanto, fácil de perceber que concordo com o seu conteúdo. Há uns meses, José Rocha Dinis, também com responsabilidades no PS local, publicara um artigo em que se interrogava sobre o assunto. Muito bem.
Mais vale tarde do que nunca. Não sei é se vêm a tempo de alguma coisa, que a coisa tem as suas raízes na era das fábulas. É que, como o mesmo Rocha Dinis prognosticou em 2003, antes das eleições para o CCP, estes jogos estão há muito viciados. E, desde então, perante a complacência e a passividade geral ou quase.

4 Ago 2015

Eleições Portuguesas | Partidos negam convite a Pereira Coutinho

Pereira Coutinho diz que sim, mas alguns partidos dizem que não. O deputado afirma que recebeu um convite de um partido – sem divulgar qual – para ingressar na lista para as Eleições Legislativas Portuguesas no próximo mês de Outubro. PSD e PS dizem que daqui “não houve nenhum convite”

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma simples análise às listas públicas dos partidos políticos portugueses para as Eleições Legislativas Portuguesas de 4 de Outubro de 2015 – listas essas fechadas na passada quinta-feira –, permite perceber que em nenhuma delas, no Círculo Fora da Europa, se encontra o nome do deputado José Pereira Coutinho. Contudo, para tirar as dúvidas que podiam restar, o HM falou com os possíveis partidos que podiam ter convidado o deputado – segundo o mesmo – para ingressar nas listas. E estas negam esse convite.
“As listas foram aprovadas na passada quinta-feira. Desconheço completamente o facto [de existir algum convite para Pereira Coutinho]”, começou por esclarecer José Cesário, Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. O representante afirmou ainda que o deputado não faz parte da lista que encabeça. “Da lista [da coligação PSD/CDS] faço parte eu, o Carlos Páscoa Gonçalves (como número dois), a Maria João Ávila (como primeira suplente) e António Simões, (do CDS, como segundo suplente)”, referiu. O PSD e o CDS candidatam-se na coligação “Portugal à Frente” pela primeira vez em mais de 30 anos.
Do Partido Social Democrata (PSD) de Macau não existiu nenhum convite. Isso mesmo garante Miguel Bailote, presidente da secção de Macau do partido. “Não houve convite nenhum”, diz, adiantando que a única coisa que leu “foi que o deputado Pereira Coutinho terá manifestado alguma ambição de se candidatar, mas não houve convite nenhum. Da parte do PSD de Macau não partiu nenhum convite”.

Socialistas insistem

Do lado do Partido Socialista (PS), Tiago Pereira, Secretário-Coordenador do partido na RAEM, reforça a ideia: não existiu qualquer convite. “Eu não sei se o deputado recebeu algum convite de outros partidos, mas do nosso não recebeu”, garante. Num artigo publicado ontem pelo HM, Tiago Pereira afirmava que o suposto convite ao deputado é uma tentativa de manipular as eleições. O PS classifica a candidatura do deputado como de uma “ímpar omnipresença”, relembrando o facto de José Pereira Coutinho ser candidato da única lista ao Conselho das Comunidades Portuguesas, presidente da Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), deputado e, agora, eventual candidato à Assembleia da República de Portugal. O PS defendeu mesmo que as críticas constantes de Pereira Coutinho ao trabalho do cônsul Vítor Sereno foram um “preparar do caminho para esta eventual candidatura” e que é necessário esclarecer a situação.
O PS chegou a dizer num comunicado que Pereira Coutinho teria de “esclarecer, antes das eleições, por qual lugar optará: pelo lugar de deputado da Assembleia Legislativa de Macau ou de deputado à Assembleia da República de Portugal” caso seja candidato. “Se o não fizer claramente, estamos perante mais um embuste. Em qualquer caso, tanto ele, como o partido pelo qual venha a ser eventualmente candidato, estarão, à partida, descredibilizados”, podia ler-se numa carta enviada aos meios de comunicação.

Sem comentários

“Não posso revelar nada”. Assim reagiu Pereira Coutinho quando questionado sobre a existência do convite. “Eu nunca contactei nenhum partido”, disse, deixando no ar a ideia de que terá sido o suposto partido a entrar em contacto com o próprio deputado. “Neste momento estamos envolvidos no programa eleitoral para o Conselho das Comunidades Portuguesas e é isto o que mais me preocupa, são as eleições no próximo dia 6 de Setembro. Só isso”, referiu.
Questionado sobre a resposta negativa dos partidos, o deputado foi claro: “não vou falar mais sobre este assunto. Só depois das eleições para o Conselho é que vamos poder falar sobre o resto. Agora não vou falar mais nada”.
Também Rita Santos, ex-secretária-geral adjunta do Fórum Macau e também membro da lista candidata ao Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), foi um dos nomes apresentados para candidata às eleições legislativas portuguesas. O jornal O Clarim avançava a candidatura da comendadora pelo Governo da RAEM, algo que a própria desmentiu. “Não pretendo e nunca pensei em participar em nenhumas eleições em Portugal. Estou mais interessada em trabalhar em Macau ajudando José Pereira Coutinho e Leong Veng Chai no atendimento aos cidadãos de Macau diariamente. Também estou a dar apoio à lista liderada por Pereira Coutinho nas eleições para o CCP”, afirmou ao HM no mês passado.
As listas, que não têm, então, o nome de Pereira Coutinho são passíveis de alteração em caso de necessidade até dia 28 de Agosto, dia em que serão entregues a tribunal.

4 Ago 2015

Festa dos Tabuleiros em Tomar

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s Festas do Espírito Santo em Tomar são conhecidas por Festas dos Tabuleiros e realizam-se de quatro em quatro anos, tendo em 2015 ocorrido entre os dias 4 e 12 de Julho.
Estas festividades foram criadas pela Rainha S. Isabel e o seu marido o Rei D. Dinis, que ao colocarem a “coroa fechada e encimada por uma pomba branca no homem de baixa condição, no pobre, ou na criança, os tornou Imperadores do Espírito Santo.” Era a preparação para a Terceira Idade do Mundo, como António Quadros refere no seu livro Portugal, Razão e Mistério.
“O ritual e as festas tal como se realizavam, a correlação das crenças e das ideias, das classes e das forças, nesse éon de fidelidade, não à palavra dos bispos, mas ao Evangelho Eterno.” “Profetizado por S. João no Apocalipse: vi, depois, outro anjo a voar no mais alto do Céu, o qual tinha um evangelho eterno para anunciar aos habitantes da Terra, a toda a nação, tribo, língua e povo”. E continuando com António Quadros: “Ao criar as Festas do Espírito Santo (D. Dinis) legou a Portugal um sentir solidário ao qual está ligado o Quinto Império. Deu alma a essa força fazendo coroar de rei, um dia por ano, uma criança ou uma pessoa do povo. Trovando em cantigas de amigo, vai dotar Portugal dos meios que permitiram a fantástica aventura que foi navegar em conquistas de espaço e avançar até ao Homem Moderno.”
Conhecida no início pelas Festas do Império, Tomar, a cidade dos Templários aos quais a Ordem de Cristo sucedeu, celebrou-as logo desde o século XIV, mas com o passar dos tempos a tradição foi-se perdendo e transformada “só resta já o folclore dos coloridos Tabuleiros” como Amorim Rosa na sua História de Tomar de 1965 escreve. E com ele prosseguindo: “Iniciada pelo baptismo dos catecúmenos em Sábado Santo, no Domingo de Páscoa reuniam em cada lugar ou sesmo os recém-baptizados e os velhos cristãos sob a égide do Chefe da Festa, eleito no ano anterior. Porque o Imperador, os Reis, Mordomos ou Vereadores, e o alferes (porta-bandeira do Espírito Santo) parece que eram eleitos no Pentecostes transacto.
Durante os cinquenta dias que medeiam entre a Páscoa e o Pentecostes, as Coroas e o Pendão do Divino Paráclito saíam a dar uma volta pela área, sesmo ou vila, cada domingo, e depois o Pendão do Espírito Santo e as Coroas eram guardadas durante a semana em casa de cada mordomo, saindo em festa de Saída das Coroas e recepção em casa do feliz mordomo da semana seguinte, a quem tão alta distinção era dada. Em dia, ou véspera da Pentecostes, em procissão, cada grupo levava as suas oferendas de pão em seus tabuleiros, envergando as moçoilas as suas túnicas brancas vestidas no Sábado Santo e despidas no Domingo – Pascoela. Junto com a carne e o vinho, fornecidos pelo Imperador, Mordomos ou vizinhos mais abastados, e géneros adquiridos com as esmolas recolhidas durante os domingos da Saída das Coroas, o pão era levado à Igreja Paroquial, para ser solenemente bento pelo pároco. De início, normalmente, cada freguesia tinha mais de um grupo. Depois nesse domingo da Quinquagésima, realizava-se um ágape de todos os cristãos do Grupo, onde comiam e bebiam o pão, a carne e o vinho benzidos, e elegiam um pobre ou um menino como Imperador da Festa e os dois Reis Mordomos para o ano seguinte, que coroavam com as coroas encimadas pela alva pomba, símbolo do Espírito Santo, cujo dia era, num gesto de humildade, igualdade, caridade e amor cristãos.
Com os tempos os grupos aumentaram, acabaram por reunir-se por freguesias (e já nos nossos dias no Concelho) e, na impossibilidade prática de realizar a refeição comunitária, voltou-se à fórmula inicial do BODO, onde a cada um se dava a pesa, ou seja, uma ração de pão, carne e vinho bentos, que cada família comia respeitosamente em sua casa”.

Os cortejos

A Festa dos Tabuleiros, uma das componentes da antiga procissão do Império, acontece no fim do Pentecostes, cinquenta dias após a Páscoa. São setenta dias de festa que culmina no domingo da Sétima Semana com a Sopa do Espírito Santo.
O Cortejo dos Tabuleiros realizou-se na tarde do Domingo, dia 12 de Julho de 2015, mas já durante a manhã ocorrera a Procissão da Coroa e Pendões do Espírito Santo, tendo-se realizado uma missa na Igreja de S. João Baptista, situada na Praça da República. Às quatro da tarde, foi então a vez do Cortejo dos Tabuleiros sair da mata dos Sete Montes, onde estiveram em exposição.
Os tabuleiros, com a altura das mulheres que os transportam sobre a cabeça, pesam entre dezoito e vinte e cinco quilos e actualmente a sua estrutura é constituída por quatro varas na vertical onde estão enfiados de cinco a sete pães, cada um com quatrocentos gramas e enfeitados com flores, verdadeiras ou de papel. Todos os tabuleiros têm uma coroa a encimá-lo e no topo desta apresenta-se a pomba branca do Espírito Santo, ou a Cruz de Cristo. Nesses tabuleiros eram originariamente levadas as oferendas ao Espírito Santo, mas, desde meados do século XX ficaram transformados num produto folclórico essencialmente ligado à promoção turística. E o resultado é a avalanche de turistas que encheram Tomar, apercebendo-se haver entre eles muitos estrangeiros.
Durante quase quatro horas o Cortejo dos Tabuleiros percorreu as ruas ornamentadas da cidade, capital dos Templários portugueses. A meio caminho do percurso entrou este na Praça da República e aí os tabuleiros foram retirados da cabeça das mulheres com a ajuda do par masculino, que a acompanha, para descansar daquele enorme peso. Reposta a energia e escutadas as palavras do prelado, com o tabuleiro de novo na cabeça, seguiu-se a bênção deles, que voltaram a circular pelas ruas cheias de pessoas, que durante horas esperaram ao Sol escaldante para ver passar o cortejo.
No final do cortejo seguiam três carroças puxadas cada por uma parelha de bois e onde se encontravam sentadas em cada uma três crianças. Como nos prospectos distribuídos no Turismo nada referem sobre a História destas festas, vemo-nos obrigados a recorrer ao que diz Maria Micaela Soares sobre o Imperador: “No primeiro ano é coroado; no segundo, imperador; e no terceiro vai entregar a bandeira.” Assim “a mesma criança figura portanto em três festas, a não ser que por qualquer motivo o não possa fazer”. No entanto, nenhuma destas crianças vinha coroada.
Já sobre a tourada, que no final servia para com a morte do touro, a carne ser consumida no Bodo, nada aparece no cartaz das festas.

O joaquimita

Joaquim de Flore, nascido em Celino, na Calábria em 1132, como pajem de Rogério de Sicília foi à Terra Santa e quando regressou entrou para a Abadia Cisterciense de Sambuccino, onde mais tarde foi Prior e Abade. Período em que a Ordem de Cister relaxava as suas regras feitas por S. Bernardo no século VI, Joaquim recusou voltar ao rigor das regras anterior e por isso, em 1192 esteve na origem da congregação “de Flore”, em San Giovanni que quatro anos mais tarde foi aprovada pelo papa Celestino III. Movimento espiritual que lhe deu o título de Bem-Aventurado, mas pelo qual mais tarde Roma o condena como ortodoxo herético. A obra de Joaquim de Flore compreende: “Concordia dos dois testamentos”, “Comentários do Apocalipse” e “Dez cordas do Saltério”.
Um século depois, nos finais do XIII, o monge Liberatus publicou “Vaticina Joachimi”, as profecias de Joaquim que eram escutadas com sucesso até ao século XVI. Em 1595, o beneditino Arnold de Wion publicou “Lignum Vitae” “A Árvore da Vida” que anunciava a destruição de Roma e o Juízo Final no fim de 111 Pontificados.
D. Dinis, em conjunto com D. Isabel trouxeram para Portugal a trindade joaquimita dos franciscanos espirituais e numa consciente acção de planeamento, povoou, plantou, cantou o encanto do Ser Humano em quem investiu, em vez das catedrais góticas.
“Para os Franciscanos espirituais dos séculos XIII, XIV, o Abade Joaquim tinha sido o novo S. João Baptista, anunciando o novo Cristo de uma Idade onde já não haveria lugar para a Igreja clerical.”
“…compreender-se-á por que julgamos ser a Festa do Império, no seu protocolo, uma manifestação ritual concebida como anúncio e preparação para a Idade do Espírito Santo, Terceira Idade do Mundo. Dest’ arte a Festa do Império constitui o paradigma simbólico e ritual do projecto áureo português, projecto religioso universal através da iniciativa dionisíaca, que irá guiar e iluminar singularmente a história nacional no seu período mais fecundo e criacionista, que será ferozmente combatido pelos ventos da Contra-Reforma, chegados até nós no tempo de D. João III e dos Filipes, mas que perdurará no destino lusíada até aos dias de hoje, nos nossos mitos do Encoberto e do Quinto Império, nas festas do Espírito Santo e nas comunidades espalhadas pelo mundo, pela nossa memória inconsciente e no saudosismo poético e literário, persistente no nosso pensamento.” Palavras retiradas do livro “Portugal, Razão e Mistério” de António Quadros em cortadas citações, para atingir a ideia que gostaríamos de transmitir.

4 Ago 2015

Privacidade ou transparência?

[dropcap sttyle=’circle’]P[/dropcap]arece-me uma questão essencial nos dias que correm e um absurdo advogar as duas. A sensação que tenho é que a transparência vai acabar por ganhar. Transparência absoluta, isto é. De governos, de corporações e de indivíduos. Não me parecem conceitos compatíveis. Não me parece sequer que a privacidade seja viável no mundo que se vive e, especialmente, no que se avizinha. Provavelmente ainda podemos passar por um temível buraco negro onde nada é transparente antes de conseguirmos ver alguma luz, mas não me parece que o futuro seja esse.
O grande paradoxo disto tudo é que são precisamente as mentes mais liberais que mais advogam… as duas. Para um conservador a questão pura e simplesmente não existe – privacidade e pronto, pública e privada. Mas para um pensador liberal a transparência de corporações e governos é um dado absolutamente fundamental tal como a preservação da nossa privacidade individual. A primeira por querermos governos e empresas mais justas e, acima de tudo, mais responsáveis. A preservação da privacidade de cada um precisamente para prevenir comportamentos abusivos de corporações e governos. Mas também para impedir perseguições políticas, religiosas ou outras, para prevenir a invasão da nossa esfera individual por “marketeiros” e, inclusivamente, por questões tão prosaicas como o acesso ao emprego numa altura em que é cada vez mais frequente um candidato, ou funcionário, ser sujeito a uma análise criteriosa do seu comportamento nas redes sociais e alvo de discriminação, ou despedimento, se elas não se ajustarem aos princípios do empregador. A privacidade do indivíduo é, portanto, um direito fundamental de uma sociedade que se pretenda moderna e tolerante. Parece-me claro. Ou não. A questão não é a do direito, perfeitamente compreensível, a questão é onde a privacidade individual leva e até que ponto ela é vantajosa para o bem comum e, consequentemente, para o bem de cada um de nós. Haverá com certeza muitos que concordarão que a possibilidade de termos uma persona para a família, outra para os colegas, mais uma para os amantes e ainda outra para os amigos de café faz parte das nossas liberdades inalienáveis e, naturalmente, essa possibilidade deve ser preservada a todo o custo. Mas faz mesmo sentido esta multiplicidade de comportamentos? Todos nós, ou a grande maioria, o pratica mas faz mesmo falta? Que temos nós a ganhar como indivíduos e, principalmente, que temos nós a ganhar como sociedade com esta multiplicidade de personas? Se para o indivíduo pode gerar a incapacidade de alguma vez fruir completamente a persona que realmente é, para os seus interlocutores cria realidades alternativas as quais duvido nos façam falta. No limite, temos aquele testemunho típico do vizinho: “Não, nunca dei por nada, era uma pessoa extremamente calma, muito cordata…” mas acabou de assassinar a família ou de colocar uma bomba no metropolitano. Eu sei, isto é o limite. Mas podemos ir para a versão leve do marido que se casou para fazer figura perante família e sociedade mas na realidade é gay e vive amarfanhado naquela realidade alternativa que até obriga a mulher a servir para fora. Um dia é apanhado com a boca na botija e… pronto, vida desgraçada. A dele, a da mulher e até da avó de Trás-os-Montes que já tinha desconfiado da coisa e até dava de barato mas não vai conseguir aguentar a vergonha lá na aldeia, agora que toda a gente sabe. Foi ele, podia ter sido ela. (Estes meus artigos seguem rigorosamente critérios de igualdade de oportunidades mas não necessariamente de quotas…)
Voltando à vaca fria, se é que ela alguma vez aqueceu, nós próprios somos os primeiros a violar a nossa privacidade ao postarmos nos facebooks e twitters a nossa vida e mais um par de botas. No fundo, e aparentemente, a necessidade de não ser privado parece maior do que a do ser privado. Dirá agora o leitor que isso é uma necessidade de afirmação, de combate à solidão, até de exibicionismo não fazendo parte das características gerais da populaça. Pode até ser, mas é cada vez mais frequente e penso que terá de concordar comigo neste ponto, senão atente nisto: Em 2010, o homem-cadeira da Google, Eric Schmidt, dizia que desde o dealbar da civilização até 2003 tinham sido recolhidos 5 exabytes (Eb) de informação (sendo 1 Eb igual a 1 quintilião de bytes) e que naquela altura já eram recolhidos os mesmos 5 Eb mas a cada dois dias… Há quem diga que ele exagerou um pouco mas não por muito pois hoje, segundo dados da IBM publicados no ano passado, em 2012 o Google recebeu mais de 2 milhões de pesquisas por minuto valor que dobrou em 2014… Hoje, o Google recebe mais de 4 milhões de pesquisas por minuto provindas da população internáutica mundial estimada em cerca de 2.4 biliões de utilizadores. Mas estes números, naturalmente, tendem a aumentar com mais países cobertos pela internet e com a proliferação de acessos móveis, porque hoje apenas 40% da população mundial tem acesso à Internet… E a partilha de informação, porque é essa razão que me levou para estes meandros da “Byto-contabilidade”, num futuro não muito distante vai conhecer contornos completamente diferentes ao ponto do mesmo homem-cadeira dizer este ano na conferência de Davos que a Internet como a conhecemos vai desaparecer em breve, e justifica: “Há tantos IP’s, tantos dispositivos, sensores, coisas que nós vestimos, coisas com que interagimos que nem sentimos. Vai ser parte da nossa existência a todo o momento. Imagine que entra numa sala e a sala é dinâmica. E que com a sua permissão, e por aí fora, está a interagir com as coisas que se passam na sala.” Isto já nem sequer cheira a ficção cientifica. É uma questão de meses, nem de meia dúzia de anos.
Em resumo, todos nós sabemos que esta dinâmica de partilha e troca de informação deixa pegadas digitais. Algures, alguém com o devido algoritmo conseguirá compilar sem grande esforço toda a nossa vida internáutica que é, cada vez mais, a vida toda. Sem grande esforço, o nosso retrato virtual pode ser pintado por um curioso na Índia ou por um policia em Chicago. Há umas semanas, um grupo de hackers afirmava que em breve vão conseguir publicar as preferências porno de cada um de nós, ou daqueles que o consomem, e que não me parece serem tão poucos assim a julgar pelos dados que o Pornhub vai frequentemente divulgando – Ui! A fronteira da sexualidade, esse grande tabu. Já nem esse escapa.
A perda de privacidade é um processo em curso e, parece-me, inevitável. Por mais que possamos argumentar em favor dela nós somos os primeiros a dinamitá-la. Por isso as minhas questões: a privacidade é compatível com a transparência? Será que precisamos realmente de privacidade? Nesta fase sim, porque a informação pode ser usada contra nós, porque os governos não são suficientemente transparentes, nem de confiança, porque muitos empregadores são uns cretinos. Mas existe alguma razão de facto para as reuniões de um conselho ministros não serem públicas, por exemplo? Só as vigentes, ou seja, não pode ser apenas um governo a tornar-se transparente têm de ser vários. Todavia, caminhamos a passos largos para um mundo onde a transparência será cada vez maior e a privacidade vai provavelmente acabar no caixote das recordações. Estamos no limiar de uma nova era da história da humanidade. Em boa verdade, quando ninguém tiver nada a esconder que mais resta para esconder? Que chantagem será possível quando todos soubermos tudo de todos? O conhecimento dos hábitos sexuais do vizinho, ou o ordenado do colega passa a ser informação tão corriqueira que mais ninguém ligará. Talvez seja o caminho para uma vida mais plena, mais verdadeira, mais próxima do que somos de realmente e não consigo imaginar nada melhor do que isso. O único travão que nos atira para a necessidade da privacidade é o medo. Mas medo do quê? Por mim, concordo com o Astérix, só tenho medo que o céu me caia em cima da cabeça.

MUSICA DA SEMANA

Androcell – “Process of Unfolding”

“We experience the feeling that this body right
Here and now, is only a cross- section of a
Process that has been going on for
Four billion years on this section of space

It’s not a story about processes out of control
It’s a story, which gives honor
To every part of the unfolding experience” (…)

4 Ago 2015

Tráfego | Número de veículos nas estradas volta a aumentar

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]té Junho passado, estavam matriculados no território mais de 244 mil veículos, dos quais 51,9% eram motociclos e 41,4% automóveis ligeiros. Os números dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) apontam para um crescimento do número de carros e motas na cidade de mais de 5% quando comparando com o mesmo período do ano passado.
Assim, a DSEC afirma que existiam nas estradas da RAEM mais de dez mil veículos com matrículas novas, o que aponta para um aumento de 2,3% comparando com 2014. Os números do último semestre demonstram que também os acidentes de viação aumentaram 1,3% face ao mesmo período do ano anterior, o que perfaz mais de 7600 acidentes, que resultaram em 2675 vítimas, nove delas mortais.
A DSEC aponta ainda para a passagem transfronteiriça de mais de 418 mil veículos só durante o mês de Junho. Já no primeiro semestre do ano, foram mais de 2,5 milhões os carros que se deslocaram entre Macau e o continente, o que revela um aumento de 5% face a 2014.
No que diz respeito ao sector das telecomunicações, a DSEC aponta para a diminuição do número do utentes de linhas fixas, mas um aumento de 10,5% daqueles que utilizam telemóvel.

Autocarros | Metade das queixas visam a Nova Era

Segundo dados enviados à Rádio Macau pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), a Nova Era liderou no número de queixas recebidas pelos utilizadores de autocarros públicos. De um total de 2218 queixas recebidas em 2014, 1043, ou seja, 47%, dizem respeito à Nova Era. Já a Transmac registou 30% das reclamações, 663, enquanto que a TCM foi alvo de 512 queixas, 23%. A DSAT explicou que as queixas se devem à existência de “carreiras atrasadas, recusa de transporte, desrespeito pelas paragens e a atitude dos motoristas”. A DSAT garante que não só analisa cada queixa recebida como exige às operadoras “esclarecimentos” e o devido “tratamento” dos casos. O Governo explicou ainda à Rádio Macau que as três empresas são sempre alvo de um processo de “melhoria” com base nas queixas registadas, sendo que a “frequência das carreiras”, a “instalação de paragens” e o “ajustamento dos itinerários” são os itens avaliados pelo Governo.

4 Ago 2015

Economia | Lionel Leong descarta medidas de austeridade para já

As receitas de Julho ultrapassaram os 18 mil milhões de patacas, valor-limite estabelecido para a implementação de medidas de austeridade. Para já, o Governo não precisa de efectuar cortes profundos, ainda que o movimento das salas VIP vá ser analisado e as medidas de contenção não estejam completamente fora de questão

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s números do mês passado face às receitas do Jogo apontam para um total de 18,6 mil milhões de patacas em receitas brutas, pelo que o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, assegura que não será preciso empregar medidas de austeridade. Pelo menos para já.
“Neste momento, é ainda e provisoriamente desnecessária a aplicação de medidas de austeridade em relação às finanças públicas”, refere o Gabinete de Leong em comunicado. No entanto, o Secretário afirmou que caso as receitas sofram mais quedas, pode ser necessário proceder a alguns cortes, ainda que assegure que estes não irão “afectar as despesas anunciadas em prol do bem-estar” da população.
“Devido à persistência de grandes incertezas relativamente ao desenvolvimento do sector do Jogo durante o segundo semestre do corrente ano, o Governo continuará a manter-se firme em adoptar uma postura prudente na administração das finanças públicas, cumprindo à letra os princípios de economizar nos gastos”, salienta.

[quote_box_left]“Neste momento, é ainda e provisoriamente desnecessária a aplicação de medidas de austeridade em relação às finanças públicas” – Gabinete do Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong[/quote_box_left]

Da prevenção

No comunicado publicado ontem é referido que “o Governo irá proceder a uma fiscalização rigorosa às operadoras de Jogo” e em especial às actividades das salas VIP, de forma a que sejam “adoptadas atempadamente medidas de contingência para fazer face a qualquer incidente imprevisto” que possa ter lugar.
Tal só não acontece se as receitas do Jogo se mantiverem no patamar dos 20 mil milhões de patacas, como previsto pela Lei da Revisão do Orçamento de 2015. “[O Governo] continuará também a prestar elevada atenção à evolução das receitas brutas do Jogo, lançando, de imediato, medidas de austeridade logo que se verifique [uma queda abaixo dos 18 mil milhões]”, frisa a entidade no comunicado.
Os valores foram apresentados pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos, que aponta para um valor acumulado de 140,3 milhões de patacas durante os primeiros seis meses deste ano. Este mês, a queda foi de 34,5% face ao mesmo mês do ano passado.
No final do mês passado, Lionel Leong já havia referido a eventual necessidade de medidas de austeridade, caso as receitas ficassem abaixo dos 18,35 mil milhões. O responsável disse que seria agendada uma reunião com o Chefe do Executivo no início deste mês para discutir a implementação de medidas de contenção.
No comunicado, o Secretário salienta ainda “com regozijo”, que se tem assistido ao um aumento dos valores relacionados com a economia não-Jogo, como são os sectores do turismo, das convenções e exposições e do comércio regional.

4 Ago 2015

Fiscalização | Leong Veng Chai quer cerco apertado a vistoria de obras

Leong Veng Chai quer que as normas dos cadernos de encargos das obras públicas passam a ser obrigatórias, permitindo que os responsáveis por derrapagens e erros possam ser investigados. Em causa estão os problemas do Parque Central da Taipa

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]deputado Leong Veng Chai pediu ontem ao Governo que fossem definidas e melhor reforçadas as orientações para as vistorias às obras no território. “O Governo deve definir orientações, com carácter obrigatório, para a vistoria das obras”, escreve Leong Veng Chai numa interpelação escrita, ilustrando com o caso do Parque Central da Taipa.
O Comissariado de Auditoria (CA) publicou, em Maio passado, um relatório onde denuncia uma série de anomalias, atrasos e derrapagens orçamentais nas obras daquele parque. No documento, o CA deu exemplos de falhas na obra, como um curto-circuito ocorrido em Abril deste ano na bomba de drenagem de uma piscina. Esta falha fez com que o sistema de escoamento deixasse de funcionar e a água da piscina invadisse o esgoto do auto-silo.

Descuidos e desleixo

É no sentido de colmatar este tipo de falhas técnicas e de manutenção que o deputado pede que as normas dos cadernos de encargos das obras públicas sejam consideradas obrigatórias e os seus responsáveis alvo de penalizações, caso não sejam cumpridos os requisitos. Além disso, Leong Veng Chai argumenta que os serviços públicos mantêm uma “postura de desleixo” perante a segurança dos cidadãos.
“A vistoria e fiscalização às obras, efectuadas pelos serviços respectivos, não respeitaram os procedimentos legalmente previstos. A vistoria foi efectuada de forma apressada e descuidada, porque só se pretendia concluir as obras antes do termo do prazo fixado, tendo-se assim ignorado a segurança do público”, acusa Leong Veng Chai.
O deputado argumentou que as obras da piscina do Parque da Taipa foram defeituosas e que tal se deveu a uma fraca fiscalização por parte do Executivo. Ao mesmo tempo, o deputado questionou o Governo sobre se as disposições constantes dos cadernos de encargos – documentos obrigatórios que descrevem várias acções, materiais e outros elementos de uma obra – são de natureza obrigatória ou simplesmente facultativa.
“O caderno de encargos prevê disposições concretas para a realização das obras e, mesmo que estas não sejam cumpridas, não se coloca qualquer problema de responsabilidades, nem para os serviços, nem para as pessoas. Afinal, aquelas disposições têm carácter obrigatório e efeitos de responsabilização?”, perguntou o deputado ao Executivo no mesmo documento.

Tempo e dinheiro

O relatório do CA admitia mesmo que se “verificaram deficiências na fiscalização da execução dos contratos e no procedimento de recepção provisória da obra, os quais provocaram desperdícios de tempo e de recursos e, em determinadas circunstâncias, colocaram em risco a segurança dos utentes”. A responsabilização foi, na sua grande maioria, atribuída à Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), que alegadamente “não actuou de forma adequada no que respeita à consulta aos utentes”, sendo necessário proceder a “trabalhos a mais”. O projecto inicial excedeu em vários dias e milhares de patacas as previsões iniciais, tendo sido adjudicada por 441 milhões de patacas e por um prazo de execução de cerca de dois anos e meio. De acordo com o CA, houve um acréscimo no orçamento da obra de 48,8 milhões de patacas e algumas zonas – como as piscinas – só ficaram concluídas dois anos depois do prazo inicial de finalização da obra.

4 Ago 2015

Saúde | Trabalhador de Macau recebe transplante inovador em HK

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Hospital Queen Mary de Hong Kong conseguiu fazer um transplante inovador a um homem que trabalha em Macau. O órgão é formado com partes fígado de duas filhas, um procedimento realizado de forma simultânea pela primeira vez em todo o mundo, informava ontem a imprensa da região vizinha.
Segundo o jornal South China Morning Post, o receptor foi Cheng Chi-ming, um residente de Hong Kong que trabalhava como segurança em Macau que sofria de Hepatite B, que se encontrava em coma e que, segundo os médicos, apenas podia sobreviver uma semana caso não recebesse um fígado saudável.
As três filhas de Cheng Chi-ming foram submetidas a exames para comprovar se podiam ser dadoras do pai, atestando-se depois que duas (Lam Lam, de 23 anos, e Kei Kei, de 22) cumpriam os requisitos.
Contudo, também se verificou que os seus órgãos eram demasiado pequenos, pelo que se decidiu usar dois terços do fígado de Kei Kei e um terço do de Lam Lam e, com os excertos, reconstruiu-se um novo órgão para transplantar no pai.
A operação de extracção das partes dos fígados, ligação entre ambos e o transplante demorou apenas 55 minutos, indicou Lo Chung-mau, um dos membros da equipa médica que conduziu a intervenção cirúrgica.
Noutros hospitais, este tipo de transplantes duplos tem vindo a ser realizado de forma não simultânea, isto é, em duas operações distintas, em que o receptor recebe o transplante de uma parte de cada vez. Contudo, no caso em particular, os médicos escolheram esta opção, atendendo à gravidade do paciente, que assim reduz para metade os riscos e o tempo de recuperação.
“O transplante duplo do fígado coloca questões éticas no mundo da medicina e não tomámos a decisão de ânimo leve, já que estava em causa a vida de três pessoas”, assegurou o mesmo médico, apontando que a prioridade passa sempre por utilizar o fígado de um único dador e, caso possível, que já tenha falecido.

4 Ago 2015

Feira Guangdong-Macau | Mais de 128 mil pessoas e 800 bolsas de contacto

[dropcap style=’circle’]T[/dropcap]erminou no passado domingo mais uma edição da Feira de Produtos de Marca Guangdong-Macau, que contou com mais de 128 mil visitantes, tendo sido assinadas 815 bolsas de contacto com várias empresas da província de Guangdong, de Portugal e de Macau.
Segundo um comunicado, “tanto o fluxo de pessoas como a situação de vendas dos expositores de Guangdong e Macau foram satisfatórios, tendo sido também frutíferas as negociações e os contactos comerciais realizados no recinto”.
Durante quatro dias, a feira realizou-se no recinto da Doca dos Pescadores, tendo sido resultado da organização conjunta do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) e dos Serviços do Comércio da Província de Guangdong.
Na área de exposição dos produtos de Macau também estiveram disponíveis produtos portugueses, incluindo um espaço apenas destinado à Associação dos Jovens Empresários Portugal-China e às empresas participantes. Um representante de uma empresa portuguesa de produtos alimentares, citado no comunicado, referiu que “as vendas nos quatro dias foram acima das expectativas, sendo cinco vezes superior ao que costuma vender em dias normais, tendo todos os dias praticamente esgotado o seu stock, sendo até necessário restabelecê-los durante a noite”.
Uma outra empresa, também de Portugal, referiu que o evento “não só lhe permitiu contactar directamente os consumidores como ajustar as suas estratégias na comercialização e embalagem de produtos”, tendo-lhe proporcionado ainda o contacto directo “com distribuidores e outros comerciantes”.

4 Ago 2015