Liberalismo e Darwinismo Social

[dropcap style=’circle’]R[/dropcap]obert Nozick nascido em Brooklyn, filho de um empresário judeu oriundo da Rússia, casado com a poetisa, Gjertrud Schnackenberg, Nozick morreu muito precocemente em 2002, após uma prolongada luta contra o cancro, e com menos de 40 anos. Os seus restos mortais estão enterrados no Cemitério Mount Auburn em Cambridge, Massachusetts. Robert Nozick pode ser considerado um filósofo, embora tenha confessado não ter encontrado grande prazer quando cursou filosofia no Columbia College. Contudo esta formação de base em filosofia permitiu-lhe continuar os estudos na Universidade de Princeton onde viria a doutorar-se com uma tese sobre a “Teoria Normativa da Escolha Individual”. E tudo isto lhe permitiu vir um dia a ser Professor na Universidade de Harvard. Se durante a época de Columbia se tinha tornado militante socialista, já em Princeton, na Pós-Graduação, teve contacto com as ideias neoliberais, o que modificou a sua posição política definitivamente: de socialista passou a ardoroso defensor do neoliberalismo. Veio a filiar-se, ideologicamente falando, no neoliberalismo libertário ou anarquista (corrente central do neoliberalismo), cujas raízes remontam a John Locke, Adam Smith, John Stuart Mill, David Ricardo, Paul A. Samuelson, Milton Friedman e Friedrich Hayek. No título do seu doutoramento estão delineadas as suas grandes paixões intelectuais assim como as suas preferências sociais e políticas. Nozick é hoje considerado um dos autores mais importantes do liberalismo contemporâneo para a defesa do qual procurou encontrar as fundamentações não apenas sociais e políticas mas também éticas e sobretudo morais. Robert Nozick desempenhou um papel fundamental na confrontação ideológica que colocou frente a frente, em particular na cultura anglo-americana, liberais e comunitaristas (comunitarians). Os liberais também são identificados nesta polémica como libertários (libertarians), no sentido de libertados da tutela asfixiante do estado, estou a referir-me a estes liberais, ultra individualistas, quase anarquistas (na linha de Murray Rothbard), uma vez que persiste outro tipo de liberais, os liberais igualitaristas (igualitarians) de tipo social-democrata.

Na aproximação à sua obra devem ter-se em conta, desde logo as suas convicções liberais, depois o radicalismo da sua oposição ao comunitarismo e finalmente na sua obra nuclear, Anarquia, Estado e Utopia, o facto de ela representar uma reacção ao não menos importante livro de John Rawls, Uma Teoria da Justiça.
O Respeito de Nozick por Rawls está acima de toda a suspeita. Ele leu com paixão o livro de Rawls e apesar da profunda admiração pela obra, não se sente identificado com os seus objectivos. Ele exprime-se nestes termos: “Uma Teoria da Justiça é uma obra de filosofia política e moral poderosa, profunda, subtil, de grande fôlego, sistemática, à qual nada se pode comparar desde os escritos de Stuart Mill, quando muito. É uma fonte de ideias luminosas, integradas num todo cativante. Os filósofos da política hoje têm ou de trabalhar no seio da teoria de Rawls ou de explicar por que não o fazem (NOZICK, Robert. 1991). A publicação de Anarquia, Estado e Utopia é justamente para Nozick explicar porque não pode nem quer trabalhar no seio da teoria distributiva de Rawls.
A publicação é dividida em três partes. A primeira – intitulada “Anarquia” – busca justificar o porquê da necessidade de um Estado Mínimo; a segunda – “Estado” – apresenta a alegação de que nenhum Estado mais amplo pode ser justificado; e a terceira – “Utopia” – defende o facto de que a teoria apresentada pelo autor não busca impor uma maneira de comportamento que deva ser acatada por todos, mas antes que a sua teoria permita com que todos vivam as suas vidas da forma como bem desejarem, sem terem os seus direitos fundamentais violados.
Neste livro, Nozick defende uma forma de liberalismo radical, na qual se promove, naturalmente, uma posição neutra do Estado, perante as escolhas voluntárias de adultos conscientes. O individualismo consequente e radical faz corpo com a concepção de um estado mínimo, como veremos. Para a coerência da sua posição liberal e individualista, Nozick parte, em primeiro lugar, de uma definição clara dos contornos do Estado, o que significa, das suas áreas de acção, definindo, portanto o papel (restrito) que deve ser desempenhado pelo Estado. Qualquer acção do estado, diversa daquela que está contida dentro dos seus contornos, pré determinados na sua definição, passará a ser considerada uma violação drástica dos direitos individuais dos cidadãos. E assim, esse estado mínimo terá como funções apenas: a protecção da liberdade contratual, a protecção do direito de propriedade e a segurança dos indivíduos. 291015P13T1
O direito de propriedade (O individualismo possessivo de que falava C. B. Macpherson, na linha de autores como Locke, Hobbes e Harrington, por exemplo), é inalienável e perante ele devem parar outras pretensões, mesmo a pretensão à felicidade, se for caso disso. Para opor o seu liberalismo ao utilitarismo, Nozick não hesita em argumentar à maneira kantiana, considerando que a protecção dos direitos individuais é da ordem do imperativo categórico, pois devem ser respeitados independentemente de todas as circunstâncias, ou seja, tal como em Kant, apelando à sua incondicionalidade transcendental. Ora o utilitarismo é um consequencialismo, eu diria mesmo um finalismo instrumental o que choca com o argumento de Nozick, que aponta para uma ideia de liberdade sem instrumentalização. Acima de tudo está a liberdade individual que não cede perante nada.
Voltemos à natureza da génese deste livro. Porque é que Nozick enfrenta o neo contratualismo explícito na obra de Rawls, assim como as teorias distributivas e o estado social nelas contidas pelo menos implicitamente. A resposta está no livro, mas a base de toda a argumentação reside na ideologia libertária liberal que Nozick partilha com a grande tradição do pensamento liberal e individualista.

Nota: Ter em conta o estado de Natureza de Locke, onde esse Estado de Natureza gerava extrema insegurança. E isso acontecia por que quando alguns direitos eram violados, os indivíduos não tinham nenhuma entidade à qual recorrer. A única maneira de fazer justiça seria pelas próprias mãos ou eles mesmos executando a lei que protegeria a propriedade individual.

29 Out 2015

Sands Eco Trailhiker | Edição conta com dois mil participantes e 200 voluntários

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]próxima edição da iniciativa Sands Eco Trailhiker, que tem lugar este sábado, vai contar com a participação de duas mil pessoas e 200 voluntários. No Venetian, o evento pretende sensibilizar a população para um estilo de vida saudável, defendendo o trabalho de equipa e a conclusão de desafios. Entre eles está a finalização de duas maratonas de 30 e de 10 quilómetros. A primeira destina-se a grupos formados por pessoal de empresas e o segundo percurso será feito por famílias. A Eco Trailhiker tem sido organizada anualmente desde 2010 e é apoiada pelos Serviços de Turismo e pelos Instituto de Desporto. sands
A ideia é não só promover um estilo de vida saudável, mas também dar a conhecer vistas de uma natureza que passa muitas vezes ao lado no quotidiano e potenciar as actividades partilhadas por amigos e família. Os percursos acontecem na ilha de Coloane e o dinheiro angariado na edição deste ano irá parar a duas associações solidárias: a Macau Special Olympics e a Associação de Pessoas com Deficiência Mental de Macau. “[Ambas as associações] vão organizar equipas para participar no evento e encorajar o bem-estar e a inclusão social e a promoção do conceito de ‘amigo do ambiente’ na sociedade”, explica a organização em comunicado.
Esta é já a sexta edição da actividade e tem vindo a juntar cada vez mais adeptos de todas as idades. Em 2010 juntaram-se 150 equipas e este ano bateu-se o recorde de 2000 participantes espalhados por 500 equipas. As cinco edições passadas valeram a instituições solidárias um total de 1,4 milhões de patacas em donativos, pelo que neste momento reúne participantes de todo o mundo, incluindo Portugal, Austrália, Hong Kong, Malásia, China e Reino Unido. O mote de partida para este ano é “exploração de um lado mais verde de Macau”, tendo o objectivo de espalhar a mensagem de que é preciso criar um ambiente de vida mais amigo do ambiente. Este ano, a organização vai criar uma “avenida do bem-estar”, que pretende promover um estilo de corrida saudável para quem participa na corrida.

29 Out 2015

Cinema | Alliance Française com festival francês na MUST

A Alliance Française volta a trazer o melhor do cinema francês ao território, organizando o Festival de Cinema Europeu já amanhã, ao final da tarde. É na MUST que os amantes do cinema francófono podem assistir a três filmes estreados em 2014

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Alliance Française de Macau vai dedicar o dia de amanhã à exibição de três filmes francófonos. Dois deles foram realizados em França e um terceiro conta com a participação de membros da Argélia. O programa tem início às 18h30 e acontece na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), com entrada livre.
A Alliance Française escolheu três películas lançadas no ano passado. “Vincent” é o primeiro a ser exibido. Do realizador Thomas Salvador, retrata a história da personagem que dá nome ao filme. “Vincent tem um poder extraordinário: as suas forças e reflexos são vastamente aumentados quando entra em contacto com água”, explica o website da Alliance Française na sinopse do Festival. Vincent muda-se para uma zona de França com muitos lagos onde consegue aproveitar as suas qualidades, repentinamente conhecendo Lucie. “Foi amor à primeira vista”, lê-se no resumo.

Amor e violência

O segundo filme chama-se “Hunk” e é de Emma Benestan. Passa-se no Sul de França a história de amor entre Sarah, uma jovem de 16 anos que vende donuts na praia com o pai, e conhece Baptiste. Em cenários de praia e calor em terras francesas, esta curta-metragem tem Oulaya Amamra, Samir Guesmi e Ilian Bergala nos papéis principais.
“Hunk” já participou em vários festivais e concursos de cinema internacional, tanto de curtas como de experimental. O último filme, “The Days Before”, chega pelas mãos do realizador argelino Karim Moussaoui. Passado no país-natal do seu autor, a obra é passado nos anos 90 e conta a história dos vizinhos desconhecidos Djaber e Yamina.
No entanto, incidentes explosivos vão deixar marcas inesquecíveis nas suas vidas num local onde “reina o aborrecimento”, de acordo com a sinopse. Moussaoui é já versado na arte das curtas, tendo realizado Breakfast e What We Must Do. É também membro-fundador da associação cultural Crisálida e em 2011 tornou-se o director de programação de cinema do Instituto Cultural Argelino. Todos os filmes têm legendas em Inglês.

29 Out 2015

FIMM | “Fausto” e Ólafur Arnaulds encerram festival

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Festival Internacional de Música de Macau (FIMM) termina esta semana com serões dedicados à música clássica, moderna e folclórica. Com artistas que sobem ao palco tanto do Centro Cultural de Macau (CCM), como de outros locais, o espectáculo encerra com a famosa ópera “Fausto” e conta com o artista Ólafur Arnaulds.
Marcado já para hoje, os Profetti della Quinta, um mistura de jovens músicos de Israel e Suíça, sobem ao palco da Igreja de São Domingos pelas 20h00 para apresentar “Lamenti e Canções de Amor”. O agrupamento, conhecido por ter um papel activo na interpretação de reportórios até agora negligenciados, dos anos 1600, interpreta madrigais, um género de música secular que nasce na era do Renascimento e do Barroco.
“’Lamenti e Canções de Amor’ acompanha a evolução do madrigal, desde as tão expressivas polifonias de Luzzascho Luzzaschi e Carlo Gesualdo às obras revolucionárias e visionárias de Cláudio Monteverdi, que marcaram decisivamente a época barroca”, indica a organização. A entrada no espectáculo é livre.

As voltas do som

O pequeno auditório do CCM recebe, também hoje pela mesma hora, o músico islandês Ólafur Arnalds. Combinando influências de música clássica, com pop e música ambiente/electrónica, Arnalds traz um som único ao público. Com o piano como base, o artista – que venceu o Prémio BAFTA para a Melhor Música de TV o ano passado – junta piano e sintetizadores.
“A minha música é construída sobre repetições e frases musicais, em vez de algo que se desenvolve continuamente, dá voltas, revela uma estrutura de verso/coro mesmo sem as letras”, diz o islandês.
Especialmente dedicado a composição para cinema, Ólafur Arnalds lançou o seu primeiro álbum “Eulogy for Evolution” em 2007. Os bilhetes custam entre as 250 e as 300 patacas.
No sábado, “Baladas Loess” são apresentadas ao público, no CCM. Canções folclóricas do noroeste da China, com A Bao e Wang Erni a revisitarem músicas que relatam a vida do povo. Acontece às 20h00 e os bilhetes custam entre as 150 e as 200 patacas.
O FIMM encerra com “Fausto”, a peça de Charles Gounod. A ópera em cinco actos mostra uma fusão de melodia com desafio vocal e poder dramático, como indica a organização. O drama centra-se num académico que vende a alma ao diabo em troca da juventude e do amor de uma jovem mulher.
É à Orquestra de Macau que cabe trazer ao público de Macau “o melhor da ópera francesa”, em conjunto com o Coro Siciliano Lírico e a Lyric Opera of Chicago. Os bilhetes para o espectáculo que acontece no CCM custam entre 200 a 600 patacas.

29 Out 2015

Paulo Bento, treinador de futebol: “A organização dos campeonatos terá de ser mais selectiva”

[dropcap style=’circle’]J[/dropcap]ogou futebol desde os oito até aos 35 anos em campeonatos nacionais. Depois seguiu a carreira de treinador. Treinou com Fernando Peres e Vítor Damas. Teve uma passagem de nove anos pelo Sporting Clube de Portugal e pelo futebol juvenil, onde colaborou directamente com Aurélio Pereira. Paulo Bento tem o curso de treinador de futebol com a Licença Profissional UEFA ADVANCED. Treinou em Portugal muitos clubes dos mais variadíssimos campeonatos como treinador principal e como treinador adjunto esteve na 1ª Liga, no Vitória de Setúbal, e na 2ª Liga no Portimonense, onde recentemente trabalhou. Um dia aceitou o desafio do Monte Carlo e chegou a Macau, já lá vão alguns anos. Depois de duas épocas no Monte Carlo regressou a Portugal. Mais tarde, volta a cruzar-se com Macau e aceitou convite, desta feita do Benfica de Macau, mas saiu ainda antes do campeonato começar. Regressou a Portugal. Foi depois treinar para a China. Xangai e o projecto de Luís Figo eram suficientemente credíveis para ele aceitar. Por Macau mantém afectos, boas recordações e outras nem tanto, mas tem uma paixão muito grande por esta região e por poder contribuir para o desenvolvimento do futebol em Macau de uma forma geral, continuando aberto a propostas de projectos credíveis seja a nível de clubes ou das selecções.

Como vê a situação actual do futebol em Macau em termos de organização, formação e infra-estruturas físicas (estádios e campos de treino)?
O desporto tem que ser visto como uma forma de organização social. Como tal existirá sempre aquele que visa o lucro e escolhe os melhores, os mais competentes, aqueles que melhor rendimento dão no momento para atingir determinados objectivos desportivos, tal como ser campeão de uma competição qualquer. Depois existe o desporto assente no lúdico, onde todos têm o seu espaço, onde praticam aquela modalidade de que mais gostam que lhes dá mais prazer, onde entendem ser melhores. Olhando para tudo aquilo que disse anteriormente e pela experiência que passei ao longo do tempo que permaneci em Macau em dois clubes da liga Elite, Macau sofre deste mesmo problema: uma confusão de ideias quanto à sua organização, não sabe ainda dividir o “desporto para todos” do “desporto de alto rendimento”. Vidé a organização do campeonato de futebol da Liga Elite onde podemos observar equipas de muito pouca qualidade, com atletas que interpretam o futebol não de uma maneira profissional mas assente em ideias do futebol amador, porque na realidade o futebol em Macau é ainda considerado como uma competição amadora, apesar de alguns clubes investirem em treinadores e atletas profissionais vindos de outros países. Considero que a organização dos campeonatos terá de ser bem pensada de forma a não acontecerem situações de falta de estratégia e de planificação.

Como valia a questão dos campeonatos?
A organização dos campeonatos terá de ser mais selectiva no que diz respeito à inscrição de equipas. As equipas que entrarem no campeonato da Liga Elite terão de cumprir determinados parâmetros que a identifiquem como uma verdadeira equipa de futebol de 11, onde os seus activos, por exemplo, são só jogadores de futebol de 11 e não acumulem também espaço em equipas de futsal ou ainda na Bolinha. Terão que dividir essas competições, pois apesar de estarmos a falar de futebol, é muito diferente o futebol de 11 do futsal e da Bolinha…existem muitos exemplos de excelentes jogadores de futsal que têm um nível médio/baixo como jogadores de futebol de 11, o mesmo se coloca ao inverso. paulo bento

E como vê as infra-estruturas físicas actuais?
Terão de ser adequados à prática da modalidade. As equipas treinam em espaços que não são adequados para a prática da modalidade de futebol de 11, no que diz respeito ao espaço disponibilizado para desenvolver o seu trabalho – trabalha-se muito em meio campo e em campos de futebol de cinco e de sete – e ao piso, como por exemplo o Estádio de Hóquei em Campo, que tem (não sei como está actualmente) um piso muito antigo e extremamente duro que leva os atletas a sofrerem lesões graves ao nível das articulações e outras. Este equipamento desportivo deveria ser reformulado com colocação de novo piso e pensar na mudança do Hóquei em campo para um outro espaço unicamente destinado à modalidade. A mudança constante de piso é também prejudicial para o atleta levando-o por vezes a criar lesões. Nos atletas profissionais além destes serem os principais lesados, também a sua entidade patronal, ou seja os clubes, sofrem com a situação, pois ficam impedidos de os seus jogadores poderem rentabilizar o investimento feito neles e desta forma inviabilizar os objectivos preconizados em determinado momento, quando pensaram em investir em atletas profissionais, perde também o futebol e o campeonato. O mesmo se passa em terrenos relvados que não estão devidamente tratados para a prática do futebol de 11, neste caso tomo como exemplo o estádio da Universidade que no meu tempo, na maioria das vezes, não estava devidamente tratado e com alguma perigosidade para os atletas contraírem lesões. Desta forma, talvez este Estádio pudesse ser transformado num excelente campo sintético de última geração, proporcionando assim muitas horas de utilização. Pode-se rentabilizar alguns espaços que poderão trazer mais disponibilidade para os clubes treinarem, como por exemplo o espaço relvado por detrás do Hóquei em Campo, este, caso não haja inconveniente, poderá ser um bom espaço para um campo sintético de última geração, já que é utilizado por equipas para desenvolverem o seu trabalho.

O futebol em Macau tem uma história que se pode localizar nos anos 1920, com picos nas décadas seguintes, nomeadamente nos interports com Hong Kong nas décadas de 1930, 1940 e 1950, em que as selecções locais ganhavam a Hong Kong. Nessa altura havia uma divisão de futebol de 11, enquanto vamos encontrar agora três divisões a ocupar todos os campos disponíveis. Simultaneamente a mesma Associação de Futebol de Macau acumula a organização do futebol de onze com o futebol de sete. Que lhe parece isto tudo?
Num futuro próximo, deverá diminuir-se o número de divisões para duas e fazer uma Liga Elite mais forte. No entanto terá que se trabalhar no sentido de cada vez mais atrair praticantes de qualidade para a modalidade e mais tarde, quando houver uma maior competitividade, poderá voltar-se a mais uma divisão. Com mais equipas na Liga Elite poderá igualmente trazer maior competitividade, jogadores e treinadores de valia a este campeonato, até porque se poderá prolongar por mais tempo, oferecendo assim a possibilidade da população poder ter mais tempo o futebol de 11 bem presente. A segunda divisão irá com certeza ficar também mais forte. De igual modo, poderá também pensar-se num campeonato amador, onde com certeza estará mais adequado à maioria dos atletas que jogam pelo gosto do futebol, mas que não estão disponíveis ou não querem estar disponíveis para abraçar um projecto profissional ou mesmo semi-profissional, já que possivelmente desenvolvem outras actividades profissionais e assim querem continuar. Também o futebol de sete aqui poderá ter a sua importância, já que com diminuição para duas divisões poderá abrir-se a possibilidade de um campeonato de futebol de sete mais longo e competitivo. Quem está por dentro do futebol juvenil sabe da importância de uma boa transição do futebol juvenil para o futebol sénior, daí que não será despropositado pensar em campeonato intermédio (Campeonato de esperanças) para uma boa integração dos jovens jogadores em campeonatos mais exigentes. Decididamente, o futebol de 11 terá de estar num plano completamente diferente para melhor até porque na realidade é a modalidade com maior visibilidade mundial. A indústria do futebol de 11 é muito forte e como tal poderá também alavancar algumas actividades que podem tirar dividendos com uma Liga forte e organizada de forma profissional. Tudo depende da vontade dos órgãos competentes analisarem a situação do futebol em Macau e terem ou não vontade de mudar para outra direcção.

Considerando que há uma limitação de terrenos, e por consequência de campos, como é que se podem gerir os espaços para treinos? Algumas coisas deveriam ser alteradas? Quais?
Como referi na resposta à primeira pergunta, é urgente que se possa definir que as equipas que jogam na Liga Elite devem ter maior número de vezes os campos disponíveis para treinar em espaços de acordo com a modalidade que praticam. Impõe-se ultrapassar a ideia de que um grupo de amigos pode ter o campo alugado por vezes com poucos jogadores para fazerem uma brincadeira e uma equipa que está em competição oficial vê-se privada de treinar por falta de campo. Pensar também na construção de campos sintéticos de última geração, pois conseguem aguentar maior número de horas de utilização e transformar alguns espaços até agora utilizados de forma deficiente em campos com qualidade para a prática do futebol. Enquanto não existirem campos suficientes para o futebol de onze, poderá tentar-se chegar a acordo com alguns colégios e escolas que disponham de espaços, para o futebol de cinco e de sete para assim poderem dispor de mais opções e continuar a dar a possibilidade a quem pratica o futebol apenas por lazer continuar a ter a possibilidade de jogar com amigos sempre que quiser, fomentando assim o desporto lúdico. Desta forma, pode-se arranjar maior disponibilidade de campos de futebol de onze.

Nisto tudo há dois vectores que sofrem: a organização do futebol e os campeonatos e, por outro lado, a formação. Que é que lhe sugerem estes dois temas?
Macau ainda vê o futebol de uma forma lúdica, onde todos pensam que podem jogar ao mais alto nível. Há que distinguir uma actividade lúdica como os jogos entre amigos e uma prova profissional ou mesmo semi-profissional. Os factores que influenciam o rendimento desportivo, técnico-táctico, físico e psicológico, bem como outros que fogem aos treinadores e suas organizações apresentam diferenças muito grandes entre competições profissionais e amadoras. Deste modo, entendo que falar de Macau e do seu futebol será uma longa discussão. A organização de uma Liga Profissional terá que ser levada em linha de conta pela AFM, mas também terão de se efectuar muitas alterações na sua organização, não só de logística, mas também fundamentalmente dos seus colaboradores, principalmente mudança de mentalidade e não ter receio de trazer para dentro da sua casa, técnicos, dirigentes e colaboradores com maior qualificação no sentido de poderem acrescentar algo. Os árbitros terão também de demonstrar mais competência, mas autónomos da AFM. Para que isto seja realidade, a AFM tem que apostar num plano estratégico de formação de todos os seus colaboradores, não deve continuar a permitir que treinadores estejam a treinar sem a devida licença profissional de treinador passada por organização mundial como a UEFA ou outra certificada e que ateste a validade da Licença Profissional do treinador. Deverá ter a certeza de que o Clube cumprirá na íntegra com todas as suas responsabilidade que tem para com os seus funcionários, para assim poder inscrever-se numa prova oficial. Isto é o que penso que pode contribuir para um desenvolvimento sadio e com qualidade. Gostava de ver um diálogo claro e objectivo sobre esta temática por parte de outras pessoas, principalmente daquelas que estão envolvidas neste fenómeno desportivo em Macau e que são influentes nas decisões a tomar no futuro para que o futebol possa desenvolver-se cada vez mais. Tenho paixão por Macau, estou e estarei sempre disponível dentro das minhas competências para colaborar e contribuir na melhoria do futebol da RAEM. E muito mais haveria para dizer deste prelúdio para uma conversa.

29 Out 2015

A Lei? O gato comeu…

[dropcap style=’circle’]1[/dropcap])Decorreu no último fim-de-semana mais um Festival da Lusofonia, o Woodstock da comunidade portuguesa em Macau, que em termos do contexto do território onde está inserida, anda mais ou menos pela tabela do “Portuguese settlement” de Malaca – mas mais “chic”, com “c” na ponta. Assim tivemos as caipirinhas, que alguns “forasteiros” do universo da Lusofonia julgam ser a principal razão de ser do festival, uma amostra muito, mas mesmo muito simplista do que são os países onde se fala português, o palco com os concertos, o fumo do grelhador das febras a bater-nos nas ventas, o costume. Uma das atracções que vai ganhando mais destaque que os matraquilhos é o “muro das lamentações”. Sim, todos os anos crescem de tom as queixas por parte dos aficionados lusófonos que vão ali montar o estaminé, ora porque está tudo mais caro, o subsídio não chega para comprar os sacos do gelo, falta isto e aquilo, em suma, o primeiro directo para o Largo do Carmo na Taipa é uma autêntica purga que se faz dos obstáculos que a Lusofonia vai encontrando cada ano que passa . Mas também não consigo imaginar o que mais se podia dizer num directo destes, ou o que esperar para lá destes desabafos. Quem cantem uma morna ou dancem o samba? Assim por assim, fica-se pelo fado. E este ano a novidade do rol de pecadilhos até tem o seu ar de “perfídia” (fica assim, para se manter o nível semi-erudito): o Festival realizou-se pela primeira vez desde que entrou em vigor a lei do ruído, o que obrigou os luso-expositores a enxotar as luso-moscas e a fechar a luso-barraca às luso-onze horas. “Dura lex sed lex”, e o melhor mesmo é lusofonar baixinho, não vão incomodar os pintarroxos mandarins que estão acasalar no pântano anexo ao espaço onde se realiza o Festival. Ninguém ligou muito a este detalhe, e durante a maior parte do tempo todos comeram, beberam e divertiram-se à brava, e outra coisa não seria de esperar, mas ficou registado o facto, que causou algum desconforto inicial. Excesso de rigor? Talvez. Embirração? Possivelmente. Sacanice? Garantidamente. Um dia vamos aprender a ignorar a fobia, e antes aproveitar ao máximo a fonia.

[quote_box_left]O Festival realizou-se pela primeira vez desde que entrou em vigor a lei do ruído, o que obrigou os luso-expositores a enxotar as luso-moscas e a fechar a luso-barraca às luso-onze horas. “Dura lex sed lex”, e o melhor mesmo é lusofonar baixinho, não vão incomodar os pintarroxos mandarins que estão acasalar no pântano”[/quote_box_left]

2) E já que estamos na onda do escrupuloso e rigoroso cumprimento da lei, queria falar de José Pereira Coutinho, e da sua candidatura às eleições legislativas portuguesas do último dia 4 de Outubro, concorrendo a um dos dois mandatos pelo círculo de Fora da Europa. Como é do conhecimento geral (e se não for também não tem importância), o candidato Coutinho não conseguiu ser eleito, ficando apenas ligeiramente aquém dos votos necessários, mas conseguiu causar um furor maior do que se tivesse garantido o lugar na Assembleia da República. Tudo porque o presidente da ATFPM é também deputado pela AL local, e especulava-se sobre uma eventual incompatibilidade de funções, pois no caso de ser eleito, Coutinho estaria a acumular as funções de legislador em duas jurisdições diferentes: Macau e Portugal. Mas alto lá, pois TECNICAMENTE a R.P. China é também uma jurisdição diferente de Macau, certo? Ai não, desculpem que estou aqui a falar “do que não sei”, portanto ignorem o disparate. O que sei é que devido improbabilidade de uma situação destas ocorrer, e ao carácter quase único de Macau, que neste particular só encontra paralelo com a outra RAE da China, que é Hong Kong, não existe nada que inviabilize as pretensões do dr. Pereira Coutinho. Não se colocou essa possibilidade, portanto existe um vazio legal, e é por isso que nem a justiça é infalível, filosofando um pouco para relativizar esta grande desgraça. O que se tem observado ultimamente, e com mais incidência depois de se saber que o candidato não foi eleito, e portanto não ia existir nenhuma incompatibilidade, é um arraial de “mocada no Coutinho” que só fica mal a quem o perpetra – e olhem lá que se trata de alguém com elevadas responsabilidades, e que convinha ser ponderado nas afirmações que profere. Se não está a fazer nada de ilegal, o que justifica o conteúdo acusatório que tem sido propalado, inclusivamente nos média, a não ser uma antipatia pelo candidato, e sobretudo por aquilo que é a sua linha de acção política? São perguntas retóricas, estas, pois sei muito bem a resposta: nenhuma, tal como a incompatibilidade que chegou a estar em cima da mesa. O problema é que fico na dúvida se estamos a levar a sério e a cumprir o que ficou estabelecido nos inúmeros compromissos disto e daquilo, e que só parecem servir na hora de aplicar o conteúdo do capítulo V da Lei Básica, o tal que garante um sistema económico livre, capitalista, ou sem mais floreados desses, onde não seja preciso prestar contas a mais ninguém. E aparentemente esse é também o princípio e o fim de todas as coisas, o sol à volta do qual giram todas as restantes valências do segundo sistema. Quanto aos “lusófonos” críticos da candidatura de Coutinho, alegadamente por motivos que têm a ver com a ética, a moral, os princípios da democracia e tudo mais, foi apenas disso que falaram, ou melhor dizendo, cacarejaram. Não conseguiram foi evitar espumar da boca e fumegar das orelhas, de tão ressabiados que estavam, com ar de pindéricos pidescos. Mas esses contam? Se for depois das 11 horas, é ruído, apenas.

29 Out 2015

Que Europa se pretende?

“The European Union (EU) is going through hard times. Some would even go so far as to claim that it is in the midst of a serious survival crisis. There has also been growing apprehension regarding whether the euro itself, and the EMU of which it is the jewel in the crown, can survive. Moreover, many people and governments, especially in Germany, the Netherlands and the UK, are unhappy with the increasing number of immigrant workers coming to them from the new Member States.”
The European Union Illuminated: Its Nature, Importance and Future
Ali El-Agraa

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Itália, ao contrário de outros países europeus estava dividida em inúmeros Estados independentes. A marcha da História foi no sentido da unificação. Qual teria sido o poder de negociação da República de Veneza contra as potências que representavam nessa altura a França e a Grã-Bretanha? O mundo, presentemente, reduziu-se ainda mais, e põe directamente em relação económica, e concorrência social, grandes países, livres na sua política, e Estados médios, condicionados na sua.
O combate é desigual, a não ser que se criem regras de jogo tão claras que o intercâmbio comercial se torne leal. Mas essas regras implicavam uma única moeda ou um sistema de câmbios fixos, em que muitas vezes, com efeito, os desvios permanentes que se observavam nas paridades das moedas vinham confundir os valores relativos do trabalho dos homens. A experiência das décadas de 1980 e 1990 foi a de sobrevalorizações e subvalorizações sistemáticas das moedas nacionais.
A mesma exigência que levava à unificação dos países divididos em territórios independentes levou a pretender unir num conjunto homogéneo pequenos e médios Estados, para constituírem um espaço suficientemente poderoso para dispor de todos os atributos de soberania. A dinâmica era clara e foi no sentido da História. Mas o processo tem sido complexo, pois põe em jogo, simultaneamente, o político, o económico e o social.
A sua relativa rapidez fez com que a redistribuição dos poderes que implica surgisse à luz do dia. Como é possível imaginar que aqueles que detêm poderes, ou pensam detê-los, fiquem sem reacção? E pouco importa se trate de trocar um poder formal por um poder real. O simbólico é importante, e os atributos do poder contam mais, por vezes, do que o seu exercício real. Certas resistências à Europa explicam-se deste modo. Um segundo elemento, essencial, deve ser tomado em conta. Refere-se à filosofia que preside à unificação europeia. Que esta seja inevitável não significa que as suas modalidades sejam as únicas.
A unificação dos Estados foi um processo político, voluntarista, dirigista. A união económica e monetária, pelo contrário, provém de uma outra concepção. A revolução conservadora que se apoderou da Europa, na viragem da década de 1970 e 1980, levou à afirmação do primado do mercado sobre a vontade política, do liberalismo sobre a democracia.
A Europa seria um grande mercado como é; a teoria económica afirmava que dele adviriam grandes vantagens, em termos de eficiência, de factores de progresso e, consequentemente, de produtividade e competitividade. Era preciso organizar esse mercado segundo os cânones da concorrência e deixar à flexibilidade espontânea dos preços e dos salários o cuidado de regular os desequilíbrios. A opção era, pois, a de políticas virtuosas, não intervencionistas, financeiramente equilibradas. No frontispício de Maastricht encontravam-se abstracções como o mercado, a concorrência, a moeda, e proibições como a inflação e os défices públicos. Tratava-se sem dúvida, de uma magistral falha de comunicação.
Os povos esperavam ser aliviados das dificuldades da sua vida quotidiana, da ausência de futuro provocado pelo desemprego maciço. Em vez de lhes falar de melhoria do seu nível de vida, erradicação do desemprego, realização pelo trabalho, anunciava-se-lhes, como solução para os seus males, a moeda única, dizendo-lhes que a porta seria estreita e que haveria muitos candidatos mas poucos eleitos.
A moeda, por essencial que seja, é, como dizia Hegel a “abstracção de uma abstracção”, visto que é um equivalente geral, a abstracção concretizada de todas as necessidades humanas. Evidentemente que estas duas posições não são mutuamente exclusivas mas são complementares. Mas a moeda foi anunciada como algo prévio ao crescimento, a virtude como condição necessária, mas não suficiente, da solução para o problema do emprego.
Os mercados financeiros e cambiais, ao mesmo tempo, em busca de lucros fáceis, entregavam-se à especulação, retendo uma parte cada vez maior do esforço dos países. Faziam-se dançar as moedas, desfazendo, num instante, o resultado dos esforços de anos de rigor. Ao mesmo tempo também, cada um confessava a injustiça que constituía o nível historicamente elevado das taxas de juros: a miséria, o medo do desemprego, a estagnação do nível de vida, o marasmo dos negócios, tudo isso servia para distribuir rendimentos consideráveis aos detentores do capital financeiro.
É claro, a Europa era uma moda, uma meta que podia voltar a dar esperança às pessoas; a unificação é portadora de novas solidariedades. Mas poderia e deveria ter-lhe sido dado um rosto mais atraente. A palavra Europa está hoje, mais do que ontem, carregada de múltiplas conotações. Algumas são negativas, pois o período mais recente apresentou a Europa mais como uma imposição do que como um futuro. Outras são positivas, como a pacificação de uma região turbulenta do mundo, mas pertencem ao passado. Outras continuam a ser interrogativas; a Europa, potência económica, irá deixar que continue a desenvolver-se no seu seio o mais grave dos males e também o mais pernicioso que uma democracia pode conhecer em tempo de paz que é o desemprego maciço?
A Europa dos vinte e oito, encerrada nos seus egoísmos mas aspirando ao poder político, irá assistir passivamente à pauperização da Europa do Sul e Oriental, postergar a adesão dos países dos Balcãs, da Turquia e deixar morrer a Ucrânia dividida, à escalada dos nacionalismos, dos conflitos extremistas e étnicos e das divisões entres os seus Estados-membros, que tanto a fizeram sofrer no passado? Hoje, todas estas e outras conotações retiram ao conceito de Europa a sua modernidade.
A construção europeia foi fértil nas três décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial; permitiu aos Estados-membros enfrentar melhor o seu destino, porque era, simultaneamente, um projecto político, económico e social. Em pouco tempo, transformou-se numa das regiões mais ricas do mundo, mas também numa das regiões onde a protecção social estava melhor garantida. Daí em diante, tem vindo a perder fôlego, a cooperação necessária entre os países da Europa diminuiu nos momentos em que a sua necessidade mais se fazia sentir. Perante a adversidade, isto é, face aos choques múltiplos que caracterizaram as últimas décadas, a frente comum esboroou-se.
O facto de os países europeus serem concorrentes na competição internacional fez muitas vezes esquecer que eram solidários, pela comunhão dos seus interesses a longo prazo e, .com ou sem razão, a Europa foi vista mais como um projecto financeiro virtuoso do que como um destino mobilizador dos povos. Isso é grave. Mais do que nunca, a Europa é um imperativo essencial. Se nos desviarmos dele, mesmo que, no imediato daí retiremos alguns benefícios, o futuro tornar-se-á mais sombrio, politicamente, mas também economicamente. Porque o mundo em que entrámos é um mundo em que as políticas nacionais têm cada vez menos efeito nos desequilíbrios nacionais. Quando o têm, é, quase sempre, em detrimento de outros países.
O remédio é então ilusório, pois cedo ou tarde, os outros países retirarão as suas lições, e as suas reacções restabelecerão a situação, anterior na melhor hipótese e, na pior hipótese, agravá-la-ão. Uma casa só pode permanecer aberta se o ambiente exterior não lhe for hostil. O mesmo sucede com um país. O projecto comunitário convida os Estados-membros a dominarem conjuntamente o seu mundo exterior, dentro e fora da Europa, a controlá-lo melhor para, em conjunto, tirar dele melhor partido. As tendências do presente que se fazem sentir vão num sentido oposto. Como chegámos aqui?
Seria ridículo afirmar que os governos europeus são os únicos do planeta que não são sensíveis ao agravamento do desemprego. Pelo contrário, tudo indica que se trata para eles de uma preocupação constante. Também não se tornaram repentina e dogmaticamente monetaristas. A hipótese a formular é que o cimento da construção europeia, na década de 1980, foi exclusivamente monetário; que a coordenação entre países europeus foi feita apenas em torno da manutenção das paridades fixas; que isso, evidentemente, era desejável mas que, por falta de coordenação dos outros elementos de política económica, só podia ser feita em detrimento do desemprego.
É de ter consciência do carácter parcial, e por isso injusto, quiçá desta hipótese, na medida em que nada diz sobre as dificuldades reais das políticas nesse período, nomeadamente em função das estratégias de não cooperação conduzidas nas outras regiões do mundo, sobretudo nos Estados Unidos. Mas ela contém uma parte de verdade, pois no essencial, os países europeus só se puseram de acordo explicitamente e institucionalmente num único objectivo, a desinflação, e a partir daí, a construção europeia foi julgada apenas em função da satisfação desse objectivo.
A Europa foi construída a partir do início da década de 1980 sob o signo do dinheiro caro. Há qualquer coisa de estranho, de surrealista mesmo, em pensar que os destinos dos seus povos ficava frequentemente suspenso do anúncio de decisões respeitantes à taxa de juro de uma instituição nacional cuja missão exclusiva era a de zelar pelos interesses nacionais pelos quais era responsável.
A lição é dura e só se pode compreender o presente e preparar o futuro relembrando os erros do passado, que infelizmente muitos repetem-se, apesar de circunstancialismos distintos, mas a lição faz lembrar a fábula das abelhas de Mandeville em que a procura sistemática da virtude financeira tem-se revelado contraproducente. O que provocou a explosão do SME foi a obstinação em mantê-lo intacto por razões de credibilidade, muitas vezes contra o bom senso. Querer verdadeiramente a Europa implica que não nos enganemos de objectivo. Caso contrário, os acontecimentos se encarregarão de desfazer os dogmas, de fazer vergar as instituições que abanam, por muito inteligentes que sejam.
A única, a verdadeira justificação económica da construção europeia, é que ela tem por desiderato aumentar o bem-estar dos povos, isto é, o seu nível de vida e as suas oportunidades de emprego. Não é procurar a virtude financeira em detrimento da coesão social.

28 Out 2015

EL Dorado

Por Aurelio Porfiri

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]facto de estar actualmente longe de Macau dá-me uma certa vantagem, na medida em que me permite ter um distanciamento que acaba por ser saudável. Será que algum dia terei visto Macau como o El Dorado da eterna juventude? Certamente que não, mas um artigo de Kate Springer fez-me pensar sobre o assunto. O artigo publicado a 22 de Outubro, na secção de viagens em bbc.com, intitulava-se “Segredo chinês da longevidade” e, adivinhem só; Macau era o local onde procurar esta misteriosa “poção”. Segundo as mais recentes estatísticas, nas últimas décadas, Macau tem vivido um período de prosperidade sem precedentes, acompanhado por um aumento da esperança de vida, pelo que nos sentimos muito gratos. Mas as estatísticas apenas revelam parte da realidade.
O artigo desenvolve-se em torno do Sr. Chan, de 90 anos de idade, habitante de Coloane. Este senhor está, basicamente, muito agradecido à indústria do jogo por lhe permitir manter o seu estilo de vida. Senão, vejamos: “Passei a maior parte da minha vida fora,” afirmou Chan, que tem oito filhos e dez netos. “Sento-me com a minha mulher no paredão e ficamos a admirar a paisagem. Passamos os nossos dias felizes.” Chan atribui a sua longevidade, a uma vida feliz e rotinas simples (e ainda a uma dieta rigorosa à base de arroz e alho) – e parece que este nonagenário está longe de ser um caso raro”. Assim, a tese da jornalista da BBC é a seguinte: o resultado do desenvolvimento, devido às verbas da indústria do jogo, é … poder viver uma vida bucólica. Mesmo que implique a degradação total da cidade. Mas, a imagem do velho Sr. Chan e da sua mulher a admirarem a paisagem, faz-nos esquecer as pessoas que se arruinaram por causa do jogo, uma cidade que para além do jogo não tem outros recursos de valor e, ainda, os jovens que só encontram significado no dinheiro e na ambição material.
Claro que a longevidade é um factor positivo e, pessoalmente, desejo que o Sr. Chan e a sua esposa ultrapassem os 100 anos de idade. Mas detecto uma contradição na mensagem que passa no artigo; se uma maior riqueza serve para que tenhamos uma vida bucólica com estilo, não é necessário esforçarmo-nos para fazer evoluir a economia, podemos pura e simplesmente voltar ao campo. Será que o Sr. Chan (e a jornalista) sabe o preço que é preciso pagar para que, ele e a sua mulher, possam ter todos os dias arroz e alho? “Embora esteja actualmente numa curva descendente, o jogo manteve durante anos a economia à tona d’água. Só no ano passado as receitas do jogo representaram 80% do PIB e, os impostos pagos pela indústria, constituíram a grande fatia do bolo fiscal. “Todos os turistas que visitam Macau vão aos Casinos. O que é óptimo,” continua Chan. “É assim que o governo consegue tomar conta de nós”. Parece pois que as vantagens pessoais se sobrepõem às desvantagens colectivas.
No artigo são ainda mencionados os netos e os sobrinhos-netos do Sr. Chan. A maior parte deles, se tiverem possibilidade, hão-de querer ir estudar para o estrangeiro e fugir a influências vindas do mesmo meio que permite ao Sr. Chan e à sua esposa continuarem a desfrutar de uma vida singela. Em termos de vida a quantidade é importante, mas a qualidade, não será também?

28 Out 2015

Macau ItClinic, clínica de tecnologia | Pascoal Júnior, fundador e sócio

É uma clínica para dispositivos tecnológicos. A Macau ItClinic nasceu por necessidade. Quatro sócios, a mesma ideia: trazer ao território aquilo que faltava com qualidade a preços altamente competitivos

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hama-se Pascoal Júnior e é um dos quatro sócios fundadores da Macau ItClinic. “Foi a 15 de Outubro de 2014 que a Macau ItClinic nasceu”, começou por explicar o sócio ao HM, que nos recebeu nas instalações do escritório de advogados C&C, local que acolhe a Macau ItClinic.
“A ideia começou porque eu e um dos sócios – somos quatro no total – que trabalhava comigo numa empresa de tecnologia sentimos imensa falta de alguém que nos pudesse ajudar na manutenção e, dessa forma, achamos que fazia muita falta a Macau ter alguém que não só fosse bom naquilo que faz, mas que acima de tudo tivesse algum cuidado com o cliente”, explica.
Nasce assim, com pouco dinheiro, a empresa que agora tem mais de quatro mil ‘likes’ na única plataforma online que possui, a sua página no Facebook.
“Como é óbvio não havia dinheiro e uma das formas que achamos que seria possível fazer, porque Macau felizmente é um território pequeno e funciona como uma aldeia, era criar uma página no Facebook”, indicou.
É por essa página que a equipa faz a sua gestão de clientes, garantindo que 90% dos contactos surgem através desta plataforma e o resto passa de boca-em-boca. “Não existe outra forma de contabilizar os nossos clientes. Felizmente o Facebook funciona muito bem em Macau, mesmo muito bem, o que foi bom para a empresa”, conta.
O local, o escritório, foi também uma aposta de muito sucesso. “É importante agradecer a todas as pessoas que aqui trabalham e que nos receberam. Naturalmente aos poucos foram percebendo o nosso trabalho e a sua qualidade e isso também nos ajuda a crescer. Quer se queira, quer não, estarmos neste edifício credibiliza-nos imenso e só podemos estar agradecidos por isso”, anotou, apesar de assumir que devido ao crescimento o dia de mudar para um espaço maior poderá chegar.

Passo a passo

Evitando riscos de maior, os sócios decidiram começar o seu trabalho com aparelhos mais comummente utilizados: os telemóveis. “Começámos pelos telemóveis porque, sem dúvida nenhuma, era a forma mais fácil de chegar às pessoas e foi assim que começamos a crescer, passando depois para os computadores de todos os tipos”, adianta.
Apesar da empresa prestar algum apoio técnico a empresas, não é este o seu objectivo. “Somos só quatro, para assumir a responsabilidade de um bom serviço às empresas é necessário termos alguém sempre disponível para isso e para já não temos. Mas também não é importante, não é o nosso objectivo. Queremos trabalhar neste registo, cliente final que vem até nós, entrega o que tem para reparação – um computador para formatar, um router que deixou de funcionar – e nós resolvermos no menor tempo que nos é possível”, esclarece.

Apoio até ao fim

A garantia é dada pelo próprio Pascoal Júnior: a Macau ItClinic presta um serviço que é difícil de encontrar em Macau por parte da comunidade estrangeira. Afinal de contas, este grupo é a esmagadora percentagem dos seus clientes.
“A nossa lógica é, se vamos cobrar por um serviço, então esse serviço tem de estar resolvido. Nem que o cliente tenha de vir ter connosco mais do que uma vez e nós passarmos a assumir esse custo e prejuízo, mas o resultado será sempre o problema resolvido”, garante, assumindo que só assim se conquista o mercado – com qualidade.
Com o slogan “o cliente só paga se conseguirmos resolver o problema a 100%”, a Macau ItClinic promete-lhe qualidade e rapidez.
“Não sei se somos os mais baratos do mercado, mas sabemos que somos dos melhores em termos de qualidade daquilo que fazemos relativamente ao preço que cobramos. Se somos os mais baratos só o cliente é que poderá dizer”, remata.
Crescer é sempre o caminho, mas esta equipa de quatro sócios quer que essa caminhada se faça com calma e segurança. Começam a receber agora os primeiros clientes de nacionalidade chinesa, o que poderá ser sinal a um novo mercado.
“Mas o nosso público alvo será sempre a comunidade estrangeira”, garantiu Pascoal Júnior.

28 Out 2015

Arte | Leiloeira de Angela Leong abre sucursal em Macau

Abriu uma leiloeira em Macau e Angela Leong está à frente do negócio. A directora da SJM e deputada faz parte da direcção e prometeu ontem que esta vertente pretende ajudar à diversificação da economia e à transformação da região na “capital oriental da arte”

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Poly Auction Hong Kong abriu uma sucursal em Macau e a deputada e empresária Angela Leong faz parte da direcção. De acordo com a responsável, a abertura da nova leiloeira na região vem criar “mais uma plataforma de intercâmbio de arte”, enquadrando-se “perfeitamente na missão do Governo em diversificar a economia” local.
O primeiro leilão vai ter lugar no dia 10 de Janeiro do próximo ano e compreende a exposição de cem peças de arte exclusivas que vão desde joalharia, arte contemporânea, relógios e objectos de luxo a pinturas de Arte Chinesa Moderna, cerâmica e outros tipos de arte.
“Estas foram todas seleccionadas pela equipa da Poly Auction através de um processo rigoroso que assegura que todas as peças são genuínas, originais e exclusivas”, refere a organização.
Para Angela Leong, há uma série de premissas que permitem que a política de aposta em novos negócios tenha sucesso. O facto da indústria do Jogo estar a passar por “uma fase de ajustamento”, aliada a maior oferta turística do território, e as várias parcerias para o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas são, para a também deputada, elementos que permitem uma evolução “saudável” do mercado.
“Esta série de actividades culturais é apenas o prelúdio, uma vez que estão já pensadas a oferta de elementos culturais e artísticas para a cidade, transformando-a numa plataforma de arte internacional. Este objectivo de desenvolvimento alinha-se precisamente com a política do Governo e, além disso, permite a evolução do mercado além-Jogo”, disse Angela Leong.

Irmã da vizinha

A Poly Auction de Hong Kong é, por sua vez, detida pelas empresas Poly Culture Group Corporation Limited e Chiu Yeng Cultural Limited.
“Estamos empenhados em ser a leiloeira e o centro de comunicação de arte e cultura mais reconhecidos de Macau.” A leiloeira do território vizinho facturou, nos leilões da Primavera e Outono passados, um total de dois mil milhões de patacas. A par com a inauguração do leilão, será feita uma exposição, entre os dias 7 e 10 de Janeiro. Nesta participarão 60 artistas de Macau, Taiwan, China e Hong Kong nascidos até à década de 80. Estes vão ainda ter que decorar o quarto do hotel Regency que lhes for dado, imprimindo no espaço a sua própria filosofia de trabalho. Trinta dos quartos vão ser decorados com uma ambiência da China, 15 deles serão decorados de acordo com a arte de Taiwan e da RAEHK e 15 outros de Macau.

28 Out 2015

Destrutivo, menos destrutivo e os diabos portugueses segundo barrica

[dropcap style=’circle’]F[/dropcap]ui alertado nestes dias, sem dúvida com a melhor das intenções, por alguém dos que têm paciência para ler estes “textículos” que vou publicando nestas páginas, para o tom com que os escrevo. Ou seja, revelam-me como um tipo problemático, destrutivo, pelo que devia moderar, quiçá ser mais positivo, quiçá não falar das coisas que me desagradam mas sim das que me agradam, pois nesta terra a crítica é mal vinda e só me pode trazer problemas. Não devia chamar nomes feios às cadeiras (como fiz na passada semana) e fui mesmo confrontado com o princípio/interrogação “se não gostas, que estás aqui a fazer?” A minha reacção a este tipo de discurso é a seguinte: entre abrir uma ourivesaria para dourar pílulas e continuar a escrever como faço, prefiro a última e apenas faço esta referência por acreditar existirem outros que julgarão que nutro algum ódio de estimação por Macau, pelo governo de Macau ou por quaisquer outras pessoas ou entidades que foram, ou venham a ser, alvos da minha suposta raiva, ou ainda que imaginem que me alimento exclusivamente a sais de fruta, tamanha a acidez que por aqui vai. Pois bem, em relação ao nome chamado às cadeiras reconheço a minha indelicadeza, pois a culpa não foi delas, inanimadas que são não escolhem nem destino nem os rabos que acolhem, ao contrário dos da nossa espécie. Nesse sentido, peço desde já desculpa a todas as cadeiras que estiveram presentes na Fortaleza do Monte, respectivas famílias e móveis amigos. Em relação ao resto, não mudo nem uma vírgula, nem uma nota. Posso ser sarcástico mas não destrutivo ou, pelo menos, não é essa a minha intenção. Critico mas explico porquê. Sou assim, não sou de outra forma nem vou travestir-me de ourives para conseguir abrir putativas portas que, de outra forma, se manterão fechadas. A única coisa que deixamos nesta vida é memória e a escrita é um dos melhores repositórios dela, pelo que há-de fazer-me jus tal como sou, bom ou mau, com mais ou menos chá, sem favores nem salamaleques, sem vénias nem requebros, com pontos de exclamação e muitas interrogações, doa a quem doer. Mesmo que me doa a mim. Entendo também que só critica quem gosta, ou se preocupa, e a ideia do “se não gostas vai-te embora” é a negação de tudo em que eu acredito. É a própria negação de Macau que precisa dos que cá ficam e não dos que a usam como barriga de aluguer. Só criticamos quando nos preocupamos pois não há nada pior do que a indiferença. Macau não me é indiferente, muito pelo contrário. É a minha casa, é onde tento fazer a vida desde há 14 anos, é onde me alimento e durmo, tão bem quanto possível. Macau e a suas gentes, merecem-me o maior respeito e carinho. Para ambos desejo a melhor vida possível, mas rejeito subterfúgios; este mundo já está impregnado que chegue dessa forma execrável de expressão. Acredito também no princípio de “Um País, Dois Sistemas”, que nestas páginas já tive oportunidade de classificar como uma das ideias políticas mais brilhantes de sempre. Deng Xiao Ping quando a imaginou, com certeza não quereria a lei da rolha para Macau, não pretenderia que olhássemos para o lado quando o rei vai nu, não pretenderia que deixássemos de ser críticos pois a crítica abre as portas à criação, e no dia em que tivermos que deixar de ser nós próprios, no dia em que nos tivermos de calar por receio de eventuais poderes invisíveis que nos aferrolham portas, seja em Macau, ou noutro qualquer lugar, nada mais faz sentido. Pronto. Está dito.
Voltando ao Festival de Artes de Macau, ou antes ao que o Festival poderia ser e não é, cabe-me reconhecer, por oposição, a Festa da Lusofonia organizada pelo IACM (entidade que já aqui critiquei fortemente em mais do que uma ocasião) como um dos melhores eventos que por cá vamos tendo. Ao passo que o Festival de Artes carece especialmente dos nomes que escolhe para actuarem, na Festa da Lusofonia é indiferente o elenco porque as pessoas encarregam-se de a fazer, em liberdade e à vontade como deve de ser. Foi um belo fim de semana! Obrigado IACM pela festa mas um pouco mais de tolerância com a hora de fecho não seria mau, pelo menos no sábado. Afinal de contas, andamos a vender a capital mundial do entretenimento ou a do recolhimento?

Os diabos portugueses de barrica

Como ser uma potencial persona non grata em Macau não me chega, para dar vazão à minha hiper-dimensionada bílis vou ter de ser mais ambicioso, chegar mais longe, para lá do mar, ainda para além da Taprobana e pegar nas palavras do Embaixador da República (Im)Popular de Angola em Lisboa, José Marcos Barrica, que disse, e cito: “O problema do cidadão Luaty é apenas um pretexto para fazer ressurgir aquilo que em Portugal sempre se pretendeu: diabolizar Angola”. Caro embaixador Barrica, em primeiro lugar devo dizer-lhe que esqueça o crocodilo Tic Tac porque é pura ficção e pense melhor na imagem que o mundo tem do seu patrão Gancho. Depois, caso não perceba, ou não queira perceber, e pegando no meu discurso anterior, só critica quem gosta ou se preocupa. Não conheço ninguém, ou nenhuma organização em Portugal, que tenha qualquer tipo de animosidade contra Angola, mas conheço muitos que detestam o governo que V.Exa. representa. O governo de um ditador que se pretende eternizar, o governo de um país que poderia ser grande mas é apenas um pastiche de democracia e um paradigma da desigualdade, um governo que prende músicos (esses grandes terroristas!), um governo que faz do nepotismo uma forma de estado, um governo que não suporta a crítica venha ela de onde vier e nos tons em que se apresentar, um governo que prende sem julgamento e chama diabo aos outros, esse ser mítico que afinal a revolução cultural angolana não apagou das mentes progressistas como a do caro embaixador Barrica. E olhe, caro embaixador, se acredita no diabo então acredite também que ele está em toda a parte e não apenas em Portugal. Está em Angola na pessoa de José Eduardo Agualusa, que afirmou, e bem, “que a tradição do governo português tem sido sempre de colaboração estreita com a repressão em Angola”, o diabo está também no Brasil na pessoa de Chico Buarque que esta semana assinou a petição que pede a intervenção do governo português na libertação de Luaty, o diabo está no mundo inteiro bem presente na agenda da Amnistia Internacional que já exigiu a libertação imediata de Luaty Beirão e em muitos outros lados, se calhar até na sua própria embaixada. É o diabo, senhor Barrica, é o diabo um regime que prefere fincar o pé a respeitar a vida humana. É o diabo, senhor Embaixador, ter um presidente que entende a crítica como a ameaça de um golpe de estado. Quiçá, terá ele alguma razão nos seus medos, pois só em países onde não se é livre se imaginam golpes de estado. Porque em Portugal, mesmo com diabos à solta, um presidente com tiques fascistas e governos incompetentes ainda podemos fazer música, ainda podemos criticar e não somos perseguidos pelas nossas ideias nem pensamos em golpes de estado. “Tic Tac!…”

MÚSICA DA SEMANA
Palavras serão Palavras (com Supremo G) – Ikonoklasta a.k.a. Luaty Beirão
Deixem-me falar da minha revolução
A minha revolução faz-se com amor
Quem não consegue o meu empenho
Partilhar com quem não tenho
Um pouco daquilo que tenho
Revolução não são apenas palavras
Por isso a minha são sorrisos, gestos e abraços
Esta é a minha crença
Isso ninguém me tira
Desacredito na política, a ciência da mentira
Demasiadas acusações, poucas soluções
(…)
A vossas revoluções como em tudo são negócio.
Por isso a minha revolução é o amor ao próximo.

28 Out 2015

Dados bancários nas mãos de rede criminosa

Entre Março e Maio, cinco bancos alertaram a Polícia Judiciária para a existência de microcâmaras e leitores de cartões em caixas ATM. No total, foram roubados dados bancários de mais de mil clientes, avança a Rádio Macau. No decorrer da investigação, a PJ deteve dois homens da Bulgária suspeitos de pertencerem a uma rede criminosa do Leste da Europa. Por cada cartão clonado, ambos recebiam entre dois mil a oito mil dólares norte-americanos. A PJ detectou tentativas de levantamento de dinheiro na Malásia e no Vietname. No entanto, não recebeu qualquer queixa de clientes dos bancos, diz ainda a emissora.

28 Out 2015

Associações pedem reforma dos Códigos a Sónia Chan

A Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, reuniu com associações de jovens e do sector jurídico, no âmbito da preparação das próximas Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2016. Segundo um comunicado, os representantes das associações jurídicas “esperam que a Secretária possa levar a sua equipa a acelerar os trabalhos de revisão dos Códigos importantes, incentivando a recensão e adaptação da legislação previamente vigente bem como a formação de juristas bilingues para melhorar os trabalhos jurídicos”. Já as associações que representam os jovens “esperam que haja uma maior participação juvenil nos assuntos sociais com sugestões para o desenvolvimento de Macau, a fim de preparar os futuros talentos políticos”. Os seus representantes pediram ainda a Sónia Chan que para haja uma “optimização das funções e operacionalidade dos órgãos consultivos por parte do Governo”.

28 Out 2015

Conselho de Ciência e Tecnologia reestruturado

O Governo decidiu criar mais um cargo de vice-presidente no Conselho de Ciência e Tecnologia, remunerado, mas este ano o organismo só reuniu uma vez e sem a presença do seu presidente, Chui Sai On. Pereira Coutinho promete levar o assunto ao hemiciclo

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]sta semana o Conselho de Ciência e Tecnologia, organismo com carácter consultivo, sofreu a segunda alteração do ano. Depois de ter decidido pela extinção do secretariado, o Governo criou um segundo cargo de vice-presidente, que será ocupado por uma personalidade nomeada por Chui Sai On e remunerado com base em senhas de presença. O primeiro vice-presidente é o Secretário para as Obras Públicas e Transportes e o presidente é o próprio Chefe do Executivo.
Ao HM, o Gabinete do Secretário da tutela, Raimundo do Rosário, garantiu que o Conselho só reuniu uma vez este ano e sem a presença do Chefe do Executivo. Confrontado com o assunto, o deputado José Pereira Coutinho prometeu apresentar uma interpelação oral sobre o assunto na Assembleia Legislativa (AL).
“Parece esquisito criar mais um cargo elevado com mais um salário, numa altura em que há restrições orçamentais para a contratação de mais trabalhadores”, apontou. E dá o exemplo do Fórum Macau como uma entidade que precisa de mudanças. “Onde era necessário mais um coordenador-adjunto é no Fórum Macau, porque a senhora [Echo Chan], pediu a demissão após sete meses e agora está outra senhora [Cristina Morais]. O Fórum não tem pessoal, as coisas não estão a funcionar bem por dentro”, apontou.

Sem resposta

Arnaldo Santos, coordenador do Gabinete para o Desenvolvimento do Sector Energético (GDSE), é um dos membros do Conselho e confirmou ao HM que “habitualmente o Conselho reúne uma vez por ano”, mas que “as comissões específicas têm reuniões mais frequentemente”.
Questionado sobre se é necessário tornar o Conselho mais activo, Arnaldo Santos prefere não responder. “Não sei responder a essa pergunta, porque só sou conselheiro para assuntos técnicos. Isso depende das necessidades, se calhar é necessário criar mais um cargo de vice-presidente. Isso é o Governo que entende que é necessário criar mais postos.”
Já Eilo Yu, docente de Ciência Política na Universidade de Macau (UM), defende que tem de ser analisado “se o Conselho pode ter mais reuniões no futuro”, algo que “pode de certa forma provar o valor atribuído a esse Conselho”.
“Segundo a estrutura do Governo, quando o Chefe do Executivo é o presidente do Conselho, é porque o Governo está muito preocupado com as opiniões obtidas nessa área. Significa também que o Conselho tem o seu poder de intervenção em termos de políticas. O problema é que [Chui Sai On] tem uma agenda apertada e não é fácil ir a todas as reuniões. E essa é uma questão fundamental no Governo, de como podemos lidar com essas questões”, rematou o académico.

28 Out 2015

Mestres da Medicina Tradicional Chinesa em Macau

Macau recebe, em Novembro, três grandes mestres da Medicina Tradicional Chinesa para uma partilha de experiência entre profissionais de saúde e residentes. Os SS consideram a visita uma mais valia para todos aqueles que auferem interesse na área. Atingir o grau é “muito difícil” e de Macau ainda não existem grandes mestres

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau, através dos Serviços de Saúde, vai receber a visita de três grandes mestres da Medicina Tradicional Chinesa já no próximo mês. A presença dos grandes mestres pretende trazer uma partilha de experiência ao médicos de Macau e a todos os residentes interessados.
Cheang Seng Ip, subdirector dos Serviços de Saúde (SS), indicou que, segundo as estatísticas do ano passado, mais de quatro milhões de utentes usufruíram de cuidados de saúde, dos quais mais de um milhão e meio recorreram a terapias no âmbito da Medicina Tradicional Chinesa.
“Isto dá um total de 28% de utentes, uma média de dois tratamentos de Medicina Tradicional por cada utente”, explica.

Só para alguns

Assim, com o intuito de reforçar a educação e aprendizagem do ramo será organizada a “Palestra de transmissão de experiências clínicas por grandes mestres”, já no próximo dia 8 de Novembro, com vagas até às 300 pessoas. Na semana seguinte, nos dias 14 e 15, decorrerá um workshop de formação, subordinada ao tema “Estudo clínico de medicina tradicional e ortopedia em medicina tradicional chinesa”, com um limite de inscrições até 30 participantes.
Atingir-se o grau de grande mestre é, explica o subdirector, “algo muito difícil”.
Com organização conjunta com o Governo Central, Macau receberá o grande mestre Shi Xuemin, da Academia Chinesa de Engenharia e médico no Hospital Filiado da Universidade de Tianjin de Medicina Tradicional Chinesa, Chao Enxiang, médico especialista em Medicina Interna e especialista consultor para o Comité Central de Cuidados de Saúde, e Xu Jingshi, médico chefe de serviço da Universidade de Medicina Tradicional Chinesa de Anhui.
“É uma honra receber os grandes mestres”, indicou Cheang Seng Ip, reforçando a mais valia na participação de profissionais de saúde e residentes de Macau. Questionado sobre o orçamento para a actividade, o subdirector não indicou qualquer número, alegando que é da responsabilidade do Governo Central, mas, rematou, “não foi muito”. Ao todo são menos de 50 os grandes mestres, nomeados apenas duas vezes por ano, em toda a China. Macau não conta com nenhum nome na lista.

28 Out 2015

LMA | Projecto de Boi Akih apresenta jazz no domingo

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Live Music Association (LMA) vai acolher um projecto musical inovador às 20h00 do próximo domingo. A iniciativa é do duo Boi Akih, composto pelo guitarrista Niels Brouwer e a cantora Monica Akihary.
O concerto de domingo integra-se na digressão do colectivo pela China e conta com a participação dos músicos locais Ryoma Ochiai – que junta música tecno com tribe –, o duo de portugueses Carlos & Beto e Martijn Grootendorst, Yedo Gibson e Vasco Trilla. Os bilhetes custam 150 patacas e podem ser adquiridos no Centro de Design de Macau e na Livraria Portuguesa.
O grupo, formado em 1996, desenvolveu um “repertório distinto” através da fusão de várias culturas musicais incluindo jazz das Moluccas, Sunda, Bali e Holanda e música clássica da Índia com um toque de tradicional africana. No website oficial dos Boi Akih, é possível ter acesso a um sem número de vídeos dos seus concertos. Neles impera o improviso e uma mistura de jazz com músicas tradicionais étnicas e texto falada. “Exploração do som, formas de composição, improvisação e performance têm sido facetas essenciais desde o início”, refere a banda no website. boi akhi
A manutenção das tradições surge incorporada em sonoridades contemporâneas, ressuscitando até línguas que hoje em dia são pouco usadas. É o caso da língua materna do pai de Akihary, Moluccan. Dois anos depois da criação, o colectivo tem vindo a desenvolver trabalho com linguistas alemães e australianos. O intuito, dizem, é o de não deixar morrer a língua.
Os Boi Akih têm participado numa série de festivais internacionais de jazz, como é o caso do BerlinJazz Fest, do Jazz Sous Les Pommier, European Jazz Nights Oslo, Awesome Africa Music Fest ou o Kilkenny Arts Fest. Em 2007, foi-lhes atribuído o prémio de Melhor Disco de Jazz do Mundo ao CD Yalelol. O duo é fiel à discográfica alemã ENJA.

28 Out 2015

Dança | Projecto Unitygate espalha actividades por Macau até fim de Novembro

O projecto Unitygate volta a Macau, desta vez acontecendo também em Taiwan, Hong Kong e Guangdong. Pelas mãos das coreógrafas Sandra Battaglia e Stella Ho, o projecto desdobra-se numa série de actividades como espectáculos, workshops e palestras sobre arte contemporânea

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]projecto Unitygate, que junta as académicas de dança portuguesa Amálgama e a local Stella & Friends, chega novamente ao território. Macau foi, juntamente com Guangdong, Hong Kong e Taiwan, o local escolhido para a realização da segunda fase deste projecto, dedicado a reforçar a ponte entre o Oriente e o Ocidente e que promove o intercâmbio cultural entre artistas e amantes da arte contemporânea. Como? Através da realização de palestras, cursos e workshops, actividades e espectáculos.
O Unitygate é maioritariamente dedicado à dança, uma vez que a organização é especialista no tema, mas foca também outras áreas culturais. A primeira fase do projecto teve lugar em Portugal, até 10 deste mês, e a próxima etapa começa a 6 de Novembro e encerra a 29 do mesmo mês. Algumas das actividades são pagas e os interessados deverão inscrever-se em programas que tenham lugares limitado. É o caso de palestras e workshops.

A dança que nos une

A Unitygate pretende promover trabalho “baseado na convergência das culturas através de um programa anual de intercâmbio artístico e cultural entre o Oriente e o Ocidente”, tendo como lema a unidade na diversidade.
“Os objectivos gerais são promover a criatividade, a troca de conhecimentos e competências no desenvolvimento artístico e pessoal, numa aprendizagem continua com e através da Arte”, aponta a organização no seu website oficial.
À conversa com a fundadora da companhia de dança Stella & Artists, de nome homónimo, é possível perceber que há uma troca de ganhos com este projecto.
“Enquanto colectivo, somos muito pequenos e, sinceramente, não com um nível tão avançado com outras companhias internacionais. Com esta parceria, o nosso objectivo é melhorar as nossas competências enquanto profissionais e elevar o grau do nosso trabalho”, conta Stella Ho.
Para Sandra Battaglia, a coreógrafa e fundadora da companhia Amálgama e deste projecto, a ideia passa muito por relembrar o mundo da ligação centenária que junta Portugal e Macau nos livros de História dos mais novos. Em comunicado, a organização prevê que o projecto chegue até aos EUA, à Suécia e à Índia já em 2016.

Programa pela Ásia

A edição deste ano conta com uma vinda a Macau para um ciclo de conferências, seguido de uma performance do espectáculo “Revival” num dos festivais de danças mais conhecidos do mundo, o Guangdong Dance Festival, mesmo aqui ao lado, a 10 de Novembro. Dia 13 o projecto volta ao território, com uma sessão de artes aberta de música, poesia e dança, das 19h00 às 21h00 na Fundação Rui Cunha. Tal como o HM já havia noticiado, às 16h00 e às 17h00 de dia 14, a Unitygate apresenta os espectáculos OUTSI(T)E nas Ruínas de S. Paulo, englobado no festival Fringe. No dia seguinte, o mesmo projecto estará no Leal Senado.
Os debates sobre arte, da Unitygate, acontecem no dia 17, das 19h às 21h00 no Albergue SCM. As conferências discussões sobre Teatro Físico, um show de vídeo dança e a inauguração da mostra Sinergia.
O resto do calendário reserva-se a Hong Kong e a Taiwan. O território vizinho vai acolher espectáculos de improviso de dança das 10h00 às 11h30 e das 13h00 às 15h00 de dia 19, no i-Dance HK, teatro Y-Space, em Kwai Chung. O teatro Kwai Tsing acolhe, às 20h00 dos dias 20 e 21, dois espectáculos distintos de improviso. O primeiro é o Land 60 e o segundo chama-se New Dance Platform. No dia 22, o Unitygate apresenta Dancing All Around, em Kam Tin, e Dance Under The Sky, dos Land 61. Ambas as performances acontecem no espaço i-Dance HK.
Esta iniciativa conta com o apoio de uma série de empresas e instituições, como são a Fundação Oriente, a Casa de Portugal, a Fundação Rui Cunha, entre várias outras.

28 Out 2015

LAG | Chui Sai On reuniu com sete associações

O Governo já começou a ronda de reuniões com associações para preparar as Linhas de Acção Governativa para 2016. Mais habitação, aumentos salariais na Função Pública e legislação na área do jogo VIP foram algumas das solicitações

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]ete associações representativas de vários sectores da sociedade, desde a Função Pública ao meio empresarial, reuniram ontem com o Chefe do Executivo, Chui Sai On, no âmbito da preparação das Linhas de Acção Governativa (LAG) para o próximo ano, que acontece já em Novembro.
O pedido de mais habitação pública foi feito pela maioria das associações. A Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) pediu ao Chefe do Executivo que construa 80 mil casas de habitação pública e eleve o limite máximo do rendimento familiar para a candidatura.
A lista de sugestões, feita com base em opiniões de 30 mil sócios, chama a atenção para o facto do problema da habitação ter “piorado sem que o Governo consiga encontrar uma solução para esta importante questão, que tem contribuído para a diminuição gradual da qualidade de vida dos residentes e a desmoralização da maioria dos trabalhadores da Função Pública. Aos poucos a classe média vai desaparecendo por perca do poder de compra”, pode ler-se.
A União Geral das Associações de Moradores de Macau (UGAMM, ou Kaifong) defendeu, através do presidente Ng Siu Lai, que o Governo execute “a medida de ‘terra de Macau destinada a residentes de Macau’, salvaguardando a habitação”.
Também a Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), através de Jorge Fão, membro da direcção, falou da “necessidade de se reservarem terrenos para a construção de habitação destinada aos funcionários públicos”.
Chui Sai On disse, após o encontro com a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), que “o Governo irá empenhar-se no sentido de reforçar a construção de mais habitação pública e da renovação urbana”. “No futuro, se conseguir a recuperação dos terrenos não utilizados, [o Governo] irá fazer os possíveis para dar prioridade à construção de habitação pública”, apontou o Chefe do Executivo, citado num comunicado oficial.

Salários e Dore

A ATFPM voltou a pedir aumentos salariais de 6% na Função Pública, para além de exigir que o cheque pecuniário para residentes permanentes passe de nove para 12 mil patacas.
Lembrando o caso Dore, a ATFPM, liderada pelo deputado José Pereira Coutinho, pediu ao Executivo para “alterar leis e regulamentos para considerar infracções criminais os casos que haja de não devolução de empréstimos, a fim de evitar dívidas incobráveis em sala VIP”. A ATFPM exige ainda que seja regulada “a situação de depósitos nas salas VIP e proteger os capitais através dos canais legais”.
Ao HM, Pereira Coutinho confirmou que as reuniões com o Chefe do Executivo deverão prolongar-se para o período pós-LAG. “[Chui Sai On] teve uma atitude muito positiva, demonstrou abertura para alterar essas questões, que são muito complexas e demoram o seu tempo. Achou importante ter novas reuniões com ele depois da apresentação das LAG, vamos aproveitar essa oportunidade para continuar a falar das políticas e questões sociais”, rematou.

Sugestões apresentadas

– Aumento do valor de vales de saúde de 600 para 1000 patacas (ATFPM)
– Revogar lei que impede deficientes de receber pensão de invalidez após aquisição de trabalho (ATFPM)
– Aperfeiçoar o regime jurídico-laboral com o objectivo de permitir criar um mecanismo de negociações entre as três partes (FAOM)
– Estudar a revisão da Lei de Bases de Política Familiar (Associação Geral das Mulheres)
– Acelerar a elaboração da legislação contra os crimes sexuais (AGM)
– Cumprir a política de simplificação do aparelho administrativo (AGM)
– Acelerar as obras do Metro Ligeiro, resolvendo o problema do trânsito (UGAMM)
– Fim do Metro Ligeiro em Macau (ATFPM)
– Eliminar limites à importação de motoristas (Associação Comercial de Macau)
– Futura reestruturação do IACM deve garantir e manter os direitos e interesses dos trabalhadores (Associação dos Técnicos de Administração Pública)
– Construir com a maior brevidade o novo hospital (ATFPM)

Subsídio de residência volta à baila

A reunião de ontem entre a ATFPM e o Governo serviu ainda para a entrega de uma carta ao Chefe do Executivo, onde se exige novamente o pagamento do subsídio de residência a reformados que, em 1999, decidiram ir para Portugal. “Se formos ver a génese da questão, milhares de pessoas vinham recebendo este subsídio de residência, só que a questão complicou-se pelo facto de uma pequena minoria de cem pessoas, que não o recebiam, terem entendido por bem recorrer da decisão do Governo. Entendemos que em termos jurídicos existe uma solução e é aquela que apresentamos, para que seja revista essa situação. Há soluções administrativas, porque no passado conseguimos foi através de uma medida administrativa com o ministro Sousa Franco que foi permitida a isenção do IRS em Macau”, exemplificou Coutinho.

28 Out 2015

Rádio-Táxis | Governo já recebeu 19 propostas e pede “cuidado com a Uber”

A DSAT já recebeu 19 propostas para a atribuição de cem licenças de táxis amarelos. Quanto à Uber, o serviço continua a ser analisado pelo Governo, que alerta para eventuais violações de privacidade

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Quase duas dezenas de pessoas ou empresas já apresentaram a sua proposta de candidatura a uma licença para conduzir um táxi amarelo. O concurso público para o regresso do serviço de táxis por chamada abriu no passado dia 15 e parece estar a gerar interesse, apesar das críticas já apresentadas por associações do sector.
A informação foi confirmada ontem por Cheang Ngoc Vai, subdirector dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), que não fez qualquer previsão de quantas candidaturas poderão receber até ao final do prazo do concurso.
No âmbito de uma conferência de imprensa sobre a edição deste ano da campanha de “Sensibilização da Segurança Rodoviária” (ver caixa)”, o responsável da DSAT falou ainda do serviço da Uber, que começou a operar no território há cerca de uma semana e que tem gerado polémica. O Governo afirma continuar a estudar o caso da empresa.

Debaixo de olho

“Na nota de imprensa conjunta que o Governo enviou foi referido que o Executivo está atento a este assunto. Estamos a acompanhar o assunto e a polícia está a recolher dados, quando houver mais informações concretas serão disponibilizadas”, apontou Cheang Ngoc Vai.
Sem grandes comentários quanto à entrada deste serviço no mercado ou em relação a uma possível legalização, o subdirector da DSAT preferiu apenas realçar as questões de privacidade ligadas à aplicação da Uber, uma vez que o serviço de transporte é pago com cartão de crédito.
“Não convém à população acreditar nesses websites onde podem registar dados privados e que podem invadir a sua privacidade, porque não há nada que garanta a sua segurança”, disse Cheang Ngoc Vai.
Questionado sobre se a Uber pode vir a preencher uma lacuna criada com a falta de táxis, o responsável da DSAT apenas afirmou que o Governo reconhece esta dificuldade e por isso iniciou este concurso para os rádio-táxis. “Estamos empenhados em acelerar o processo e reforçar a fiscalização dos taxistas que circulam nas ruas”.

Nova lei para o ano

O subdirector da DSAT garantiu que a revisão do Regulamento dos Táxis poderá ser lançada em 2016. “Estamos na fase final da revisão da lei e em princípio para o ano vai iniciar-se o processo legislativo”, referiu, lembrando que as multas para os taxistas deverão aumentar. “Temos sempre um mecanismo de contacto com o sector e acreditamos que os taxistas que violam a lei são apenas alguns e não é uma situação geral. A actual multa para a condução sem taxímetro é de mil patacas e vamos aumentar.”

Mortes na estrada aumentaram 0,09%

É já no próximo dia 1 de Novembro que decorre mais uma edição do Carnaval de Segurança Rodoviária na Tap Seac, actividade inserida em mais uma edição da campanha “Sensibilização da Segurança Rodoviária”. Dados apresentados pela PSP mostram que este ano já ocorreram 11.747 acidentes de viação, os quais resultaram na morte de dez pessoas. Segundo o comissário Lao, da PSP, os números representam ainda uma “situação grave”, já que não houve redução das ocorrências.

28 Out 2015

Studio City | Novo complexo é “Gotham City” para nova classe de turistas

O Studio City inaugurou ontem e com ele uma série de novos espaços de entretenimento, restaurantes renomados, salas de espectáculos e conferências. A “Gotham City” dos anos 20, de Ho e Packer, é Nova Iorque pelos corredores e pretende atrair um público a que os empresários chamam “extremamente sofisticado”

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]novo complexo do grupo Melco Crown, o Studio City, foi ontem inaugurado e o co-presidente da empresa, Lawrence Ho, descreveu-o como sendo uma “Gotham City” com características do universo cinematográfico das décadas 20 e 30, “como se vê no [filme] Great Gatsby”. Para Ho, o público-alvo será, como tem sido, a população chinesa e asiática.
O responsável diz ser preciso “estar sempre a inovar” porque, explica, “os chineses estão a subir a escala de consumo muito rapidamente e são um público extremamente sofisticado”.
Os corredores, que deixam espaço para as vitrines de sumptuosas marcas, estão decorados com adereços de filmes de Hollywood. Enfim, podia quase ser Nova Iorque deste lado do mundo. Além do seu casino – dedicado às apostas de massas – estar aberto 24 horas, o resto do complexo emana uma aura escura, mas simultaneamente divertida. Ao lado de uma loja de doces, encontra-se um pátio de restauração num espaço decorado como se de uma nave espacial se tratasse. O “Cosmos” oferece variedade internacional nas comidas que vai de coreana a chinesa, norte-americana a argentina. Nos corredores do Studio City foram instaladas entradas do metro nova-iorquino para dar a sensação de que os visitantes estão a passear por estúdios de cinema ou pela própria cidade. Nem das tampas de esgoto se esqueceram.

Vendem-se emoções

“Alteramos a forma como as pessoas pensam, porque o mundo do Jogo e a indústria dos casinos não vende produtos, como a maioria das empresas: vende emoções”, afirmou James Packer, co-presidente da empresa. O projecto mental do Studio City começou há cinco anos e nasceu da imaginação dos dois parceiros, que viram em Gotham – cidade fictícia da série de banda desenhada do Batman – muito potencial.
“Acho que há aqui muita coisa que vale a pena, incluindo a Roda Gigante, a House of Magic, as estátuas [no exterior], o espectáculo do Batman, a zona da Warner Bros.”, começou Lawrence Ho por dizer, quando questionado sobre aquilo que mais chamava a atenção dentro do espaço.
Já James Packer preferiu mostrar-se seguro de que as escolhas da administração tiveram em conta a vontade de “oferecer o melhor”, como é, exemplificou, o espectáculo do City Of Dreams, House Of The Dancing Water. “Tentámos, com muito esforço, cumprir o que o Governo queria e acho que conseguimos”, acrescentou Packer. corredor

Nata da nata

Em termos de oferta de entretenimento e restauração, os progenitores do Studio City não fizeram por menos. O espaço – cuja decoração é inteiramente dedicado ao cinema e à art-deco – tem mais de 30 locais de comidas e bebidas espalhados e quatro restaurantes de luxo. O Trattoria Il Mulino voa directamente de Nova Iorque para oferecer a melhor comida italiana da cidade que nunca dorme. A par disso existe o japonês Hide Yamamoto, o Pearl Dragon, do chef Tam Kwok Fung, e o Shanghai Magic.
Além de aquecer o estômago, a clientela pode ficar num dos 1600 quartos disponíveis, passear pelas zonas hollywoodescas e aproveitar os diferentes espaços de entretenimento, quer no exterior como no interior. Em dia de sol, a Roda Gigante pode ser uma boa opção – por 80 ou cem patacas – para ver a cidade de cima e em andamento, enquanto o Simulador do Batman – custa entre 120 e 150 patacas – pode ficar para um dia de chuva ou frio, seguindo de umas horas na Zona da Warner Bros, inteiramente dedicada aos desenhos animados da marca. The House Of Magic oferece shows de magia para crianças e adultos, com preços que vão das 320 às 600 patacas e tem quatro mágicos da casa.
Para encerrar a noite, o Studio City criou uma parceria com a gigante de entretenimento nocturno, a discoteca Pacha. Está aberto das 22h00 às 5h00 e será inaugurado este sábado.
O Studio City inaugurou oficialmente ao público depois das 20h00, mas às 14h00 já dezenas de pessoas se reuniam frente ao complexo para conhecer o mais recente espaço de entretenimento e casino de massas da região.

Scorcese realiza filme sobre novo complexo

O realizador norte-americano Martin Scorcese juntou-se aos gigantes do cinema Robert De Niro, Leonardo DiCaprio e Brad Pitt para realizar “The Audition”, uma curta-metragem de 16 minutos inteiramente gravada no novo complexo hoteleiro do território. A ideia surgiu devido à ligação de James Packer ao mundo da sétima arte: o co-presidente da Melco Crown tem também uma produtora, a Rat Pac. Foi a partir daí que entrou em contacto com os actores e produtores para construir um enredo em volta da luta por um papel principal. Todos os actores fazem de si mesmos num filme que se quer animadamente sério e de promoção do novo espaço da Melco. Tanto Scorcese como os actores DiCaprio e DeNiro estiveram no território para apresentar a curta. Para o famoso Jack de Titanic, tratou-se de “uma experiência sem precedentes”. Não só por contracenar com o próprio realizador, mas também por trabalhar com DeNiro e Pitt. theAudition

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]co-presidente do grupo Melco Crown Entertainment disse ontem que “o Governo chinês é o melhor” dos governos, justificando a sua escolha com o facto da China estar “atenta aos padrões de vida da população”. A afirmação, proferida ontem durante a inauguração do novo empreendimento da cadeia, o Studio City, vem de certa forma contrariar aquilo que o seu parceiro Lawrence Ho havia dito no dia anterior.
“O que tem estado a acontecer com a economia chinesa, especialmente a campanha anti-corrupção, tornou o ambiente no segmento VIP mais desafiante a curto prazo, à medida que o medo tem sido introduzido nos corações de muitos da classe média-alta”, disse o filho do magnata Stanley Ho, numa entrevista à Fairfax media.
O magnata frisou a mesma ideia, quando lhe foi pedida uma previsão para o sector do Jogo nos próximos anos: “Penso que a queda se deve à crise na China, são factores macro (…) e não podemos fazer previsões, apenas esperar que o Studio City ultrapasse tudo isso”.
Sobre a alteração do estatutos do hotel de cinco para quatro estrelas, Lawrence Ho afirmou que a opção foi feita para não colocar “o Governo numa posição difícil”, embora tenha reconhecido que o novo empreendimento está “acima de muitos outros considerados de luxo” no território. Ho não se adiantou em pormenores sobre esta posição difícil.

Duo bem-comportado

Os dois presidentes da Melco estiveram ontem presentes nas conferências de apresentação do complexo, em que responderam às perguntas dos jornalistas. Questionado sobre a abertura de um novo espaço numa altura em que as receitas estão a sofrer um decréscimo, Lawrence Ho e James Packer uniram-se para explicar que estão a “cumprir aquilo que o Executivo pediu”, não fosse essa a razão pela qual investiram cerca de 27,1 mil milhões de patacas na construção de um complexo dedicado à sétima arte.
“Penso que somos quem mais apostou no sector não-Jogo (…) percebemos o que o Governo queria”, acrescentou Ho. Packer disse ainda ver o seu sócio como um visionário por ter sido o único, além de Sheldon Adelson, “a acreditar no Cotai” e no potencial daquela zona da cidade.

Expansão em acção

Os dois responsáveis do Studio City anunciaram que um terço do terreno do empreendimento ainda está por desenvolver, mas Lawrence Ho e James Packer já têm planos para aquela porção. Contudo, a ideia é ir mais longe: “há um projecto de expansão no City Of Dreams, onde está a ser construído um centro comercial do mesmo tamanho do Landmark de Hong Kong”, anunciou Ho ontem. Durante a conferência de inauguração do novo espaço, ambos referiram que há ainda muito para fazer nos próximos cinco anos. “Se em 12 meses ainda não está tudo concluído, em cinco vão-se fazer coisas incríveis”, acrescentou Packer.

Uma decisão empresarial

A queda das receitas desta indústria parece não preocupar os presidentes da Melco Crown, Lawrence Ho e James Packer, que afirmam terem-se “afastado de uma aposta no sector VIP há já muito tempo” para se dedicaram ao entretenimento e às áreas de jogo de massas. “Foi uma decisão empresarial”, frisou mesmo Lawrence Ho. “Acreditamos veemente que o futuro da China reside na classe média”, justificou o líder. Esta faixa social de que Ho falava investe, na grande maioria, no sector de jogo de massas, pelo que a aposta no VIP foi posta de lado para a inauguração do novo complexo da empresa, no Cotai. O Studio City inaugurou ontem ao público e vai continuar com uma série de eventos pela semana fora. cosmos

Jogo | Deputada pede medidas concretas ao Governo

A directora-executiva da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) defendeu ontem que o Governo tem de adoptar mais “medidas concretas” para apoiar a economia da região após 16 meses consecutivos de quebras nas receitas do jogo. “Macau é um sítio muito pequeno e o Governo quer diversificar a economia, mas só falam e não dizem como é que apoiariam”, disse Angela Leong, em declarações à Bloomberg. A SJM, fundada por Stanley Ho, é a operadora com mais licenças de mesas de jogo em Macau. Angela Leong, sempre citada pela Bloomberg, considerou que após anos de forte crescimento em Macau, “ninguém esperava que a economia caísse tão depressa” e deixou críticas ao planeamento. “Macau não tem feito bem o seu planeamento. Quando a economia cai, é preciso fazer melhor nas infra-estruturas, nos transportes”, afirmou, dando como exemplo os atrasos na conclusão da ponte que vai ligar o território a Hong Kong e à cidade de Zhuhai, na China continental.

Lawrence Ho | Macau tem capacidade para receber 31 milhões

O magnata da Melco Crown Lawrence Ho, garante que o território consegue acolher o número de turistas que o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, havia anunciado. “Macau tem capacidade para receber 31 milhões”, garantiu o co-presidente do grupo, durante a conferência de inauguração do Studio City. Ho acrescentou que a gestão do número de turistas na cidade em dias de feriados é da responsabilidade do Governo, que, diz, deve saber canalizar as pessoas. “Há um estrangulamento nas semanas douradas e no ano novo chinês, mas se o Executivo conseguir resolver isto, Macau tem capacidade para receber milhões”, argumentou. Lawrence Ho diz que esta gestão deve coadunar-se com a finalização de uma série de projectos. Segundo as previsões oficiais, a ponte entre Macau, Zhuhai e Hong Kong e o terminal marítimo do Pac On deverão estar concluídos até 2019. Packer e Ho falavam de planos a médio-prazo.

De Niro considera “fascinante” presença portuguesa em Macau

O actor norte-americano Robert De Niro considerou ontem “fascinante” a presença histórica dos portugueses em Macau, numa conferência de imprensa com outras estrelas de cinema que participam num filme promocional do novo casino do território. “É fascinante. Os portugueses vieram para cá há 500 anos”, afirmou o actor norte-americano quando questionado sobre o que pensa de Macau. Robert De Niro, que até hoje “só tinha estado um dia em Macau, no empreendimento ‘City Of Dreams’”, também da Melco Crown Crown.
Também Martin Scorcese destacou “a arquitectura do Macau antigo” e o papel da cidade como “ponte entre o Oriente e o Ocidente”. “Percebi a dimensão da presença de Portugal e Espanha”, disse Scorcese.
O realizador falou também das filmagens para o novo filme “Silence”, que segundo o Internet Movie Database (IMDB) aborda a missão jesuíta enviada para o Japão no século XVII e é inspirado no romance de ficção histórica do autor japonês Shusaku Endo. A história do filme também está ligada à presença dos jesuítas em Macau: “Começámos a filmar em Taipé em Fevereiro e recreámos o Macau de 1640”, disse Scorcese.
Já Leonardo DiCaprio destacou a possibilidade que esta curta-metragem de 16 minutos lhe deu de trabalhar com dois grandes nomes de Hollywood: De Niro e Scorsese. “Estes dois homens são os meus pais no mundo do cinema(…). Contracenar com Bob [De Niro] e ser dirigido por Scorsese foi um pedaço do céu para mim como actor”, afirmou.

28 Out 2015

Angola | Luaty Beirão anuncia fim da greve de fome

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]activista e rapper Luaty Beirão anunciou ontem o fim da greve de fome a que se sujeitava há mais de 30 dias. Depois de uma sentida carta da mulher, que apelava ao fim da forma de manifestação que estava a deixar o activista debilitado, Beirão – ou Ikonoklausta, como é conhecido pelo seu nome de rapper – escreveu uma carta à sociedade e aos companheiros também detidos.
“Não vou desistir de lutar, nem abandonar os meus companheiros e todas as pessoas que manifestaram tanto amor e que me encheram o coração”, escreve na carta a que o HM teve acesso, enviada à Rede Angola. “Estou inocente do que nos acusam e assumo o fim da minha greve de fome. Sem resposta quanto ao meu pedido de aguardarmos o julgamento em liberdade, só posso esperar que os responsáveis do nosso país também parem a sua greve humanitária e de justiça. De todos os modos, a máscara caiu. E a vitória já aconteceu.”
Luaty Beirão escreve que o regime angolano agiu sem conseguir conter os seus instintos repressivos e foi “obviando a vã promessa de democracia, liberdade de expressão e respeito pelos direitos humanos”.
A greve de fome começou como forma de manifestação pelo excesso de prisão preventiva, sendo que os activistas – Beirão e outros 14 – foram detidos em Junho e o julgamento está marcado apenas para 16 de Novembro. De acordo com a Rede Angola, a quem foi entregue a carta pela família do activista, há que contabilizar ainda as activistas Laurinda Alves e Rosa Conde, constituídas arguidas do mesmo processo a 31 de Agosto e a aguardar julgamento em liberdade, e ainda Domingos Magno, detido no dia 15 de Outubro por “falsa qualidade”, ao ter na sua posse indevidamente um passe de imprensa que lhe daria acesso à Assembleia, onde pretendia assistir ao discurso sobre o Estado da Nação. É também considerado preso político Marcos Mavungo, detido há seis meses e condenado, no dia 14 de Setembro, a seis anos de prisão, acusado do crime de rebelião contra o Estado. E Arão Bula Tempo, acusado formalmente de crime de rebelião e instigação à guerra civil. É sobre todos eles que Luaty fala na carta.

Juntos por uma causa

Detidos em diferentes estabelecimentos prisionais por cerca de três meses e todos acusados de “actos preparatórios para prática de rebelião e atentado contra o Presidente da República”, todos os activistas detidos se encontram, actualmente, no Hospital-Prisão de São Paulo, para onde o activista queria ir. O caso tem dado muito que falar e Luaty Beirão não esquece isso.
“Conseguimos muita atenção em volta da nossa causa. Muita dela recai agora sobre mim. Por isso, pedi para me juntar a vocês em São Paulo e, assim, podermos falar a uma só voz. Espero que a sociedade civil nacional e internacional e todo este apoio dos média não pare.”
Luaty Beirão descreve dias “presos em celas solitárias”, mas também fala em solidariedade de “prisioneiros e funcionários” e explica aos colegas por que decidiu parar a greve de fome, depois do que conseguiu ter acesso enquanto no hospital. “Muita coisa mudou”, diz enquanto descreve os apoios em sua defesa e de acontecimentos que continuam a chocar Angola. “Cada decisão contra [nós], acabou por resultar a favor de mais e maior atenção. Ainda assim, a força parece desproporcional. Não vejo sabedoria do outro lado. Digo-vos o que disse noutras situações semelhantes: vamos dar as costas. E voltar amanhã de novo. Vou parar a greve.”
O activista assina, em luta pacífica, por “uma verdadeira transformação social” em Angola. “Já não somos ‘arruaceiros’, já não somos os ‘jovens revús’. Já não estamos sós. Em Angola, somos todos necessários. Somos todos revolucionários. Foi assim que o nosso país nasceu mas, desta vez, lutamos por uma verdadeira transformação social em Angola. Em paz.”

28 Out 2015

As folhas do Outono acumular-se-ão nas mesmas portas

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s astronómicos lucros do Jogo criaram em Macau uma espiral estranha. Não se pode dizer que tenha existido um sentido, uma direcção efectiva e racional para o crescimento. Ao invés assistimos ao desenrolar de algo que anda às voltas, num estranho e lento movimento ascendente, satisfazendo aqui, melhorando acolá, descuidando muito, piorando amiúde. Esta espiral, impulsionada pela avalanche de patacas, levou-nos de onde estávamos em 2003 até este ponto onde estamos em 2015.
De algum modo, trata-se de uma espiral algo suicidária, no seu aparente distanciamento da mais óbvia racionalidade — o que deixa para trás, o que deixa cair, o que não acontece, mais do que qualquer outra coisa, revelam-se, ano após ano, fardos mais difíceis de carregar, de explicar, por quem detém o poder.
Poder-se-ia julgar que a formal espiralada derivaria da “falta de experiência”, da “complexidade da região”, do “carácter único de Macau”, do “crescimento desenfreado”, etc.. Contudo, provavelmente, o percurso escolhido foi o único encontrado, num constante tactear da melhor solução, para uma divisão pacífica da riqueza.
Deste ponto de vista, Macau parece ser um sucesso. Ao contrário de Hong Kong, a população permanece pacífica e sem agenda. A grande maioria das pessoas tem-se contentado com o cheque anual e outros benefícios efémeros que o Governo tem concebido. Isto enquanto se assistiu à degradação da Saúde, dos Transportes, da Habitação, entre outros sérios problemas que afectam o quotidiano dos residentes, independentemente da sua etnia.
Macau tornou-se uma cidade repleta de gente, que se desloca em torvelinhos, remoinhos de turistas. A falta de intervenção estatal, o laissez faire, transformou o centro da cidade, património da UNESCO, num mercado de segunda linha, ao invés de espelhar a identidade e a cultura da cidade. Também do ponto de vista ambiental, tudo se transformou sem obedecer a um plano racional, numa espiral galopante de construção/especulação.
O que Macau é hoje, ninguém previu, há 10 anos ninguém o sabia, como não sabemos o que daqui a 10 anos irá ser. É estranha esta espiral. Impossível de prever, impenetrável à adivinhação. As coisas giram e voltam a girar. À volta de um centro, é certo, mas imperscrutáveis. O vento poderá soprar por ora mais fraco. Por enquanto, as folhas do Outono acumular-se-ão nas mesmas portas.

27 Out 2015

Quartel S. Francisco | Vizeu Pinheiro exige alerta à UNESCO

[dropcap style=’circle’]J[/dropcap]á é visível um edifício de tonalidades branca e cinzenta à volta do Quartel de São Francisco, que vai servir para a nova sede dos Serviços de Segurança. O projecto foi criticado há dez meses por Francisco Vizeu Pinheiro, numa altura em que estava apenas no papel, mas agora as críticas adensaram-se.
“É muito grave e eventualmente a UNESCO devia ser alertada. Não houve nenhuma consulta num edifício mais importante que o Hotel Estoril, que não está classificado”, apontou o arquitecto ao HM. “As críticas confirmam-se, porque uma coisa é a imagem no papel, outra é a dura e crua realidade de uma construção maciça. Adultera completamente a tipologia original. Mais tarde, depois do Grande Prémio de Macau, vai ser construído na zona do pátio um prédio muito maior e só aí se vai ver que o impacto e a destruição vão ser maiores”, acrescentou Vizeu Pinheiro.
Para o arquitecto e docente, a “linguagem contemporânea” do projecto, da autoria de Carlos Marreiros, “adultera completamente o existente”. “Estamos a falar de um monumento, não é apenas um edifício de interesse histórico. É como a Igreja de São Domingos ou o templo de A-Má, onde ninguém construiria novos edifícios”, defendeu.
Para Vizeu Pinheiro, o edifício de cariz moderno não só destrói o que é histórico como não serve o seu propósito.
“Tenho imensa pena da polícia, que vai estar encarcerada em gaiolas e podia estar muito melhor num edifício moderno e com mais espaço, segurança e conforto e com uma dimensão que permite acompanhar o crescimento de Macau, que está a caminho dos 800 mil habitantes e em que vai ter de se contratar recursos humanos. A solução actual é errónea em todos os sentidos, em termos culturais, de turismo e da polícia.”
Francisco Vizeu Pinheiro defende ainda que o quartel “deveria ser aberto à população e turistas”, por se tratar de uma “zona importante para a diversificação que falta”. O arquitecto considera que poderia servir de ponto de ligação entre os casinos aí existentes com o centro histórico.

Opiniões diversas

O HM tentou chegar à fala com vários arquitectos, mas a maioria não quis comentar por não ter conhecimento do andamento do projecto. Afirmando desconhecer detalhes do edifício, o arquitecto André Ritchie mostrou-se a favor da intervenção assinada por Marreiros.
“Nós, arquitectos, chamamos a isso construir no construído, ou seja, intervenções em edifícios classificados ou de valor histórico, o que é o caso em concreto. As pessoas idealizam sempre a intervenção nova como tendo de ser uma cópia do existente. E quando se copia o existente, aí estamos a integrar. Essa é uma noção primária e altamente superficial, que como arquitecto abomino”, defendeu.
“O que toda a gente está a espera que seja uma integração no Quartel de São Francisco há-de ser uma coisa cor-de-rosa com arcos. E acho isso um disparate total. É bem possível jogar com o contraste. O que é preciso é que o projecto seja coerente. E arquitectura contemporânea boa faz-se sem copiar o antigo”, apontou o arquitecto, que já integrou o Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT).
André Ritchie salientou ainda o facto da intervenção ser feita por Marreiros, “um dos melhores arquitectos que temos em Macau” e diz que “não conhecendo o projecto, tem confiança no seu profissionalismo”.
Já Nuno Roque Jorge mostrou-se a favor de uma maior protecção do quartel. “Os monumentos, em princípio, devem ser preservados intactos, mas não vi essa intervenção, que poderá ter o seu mérito. Mas em princípio não se deve tocar, há muito espaço para arquitectura contemporânea, não há razão para alterar o que de antigo temos, que já não é muito. Como questão de princípio acho que não se devia tocar”, rematou. O HM tentou chegar à fala com o arquitecto Carlos Marreiros, mas até ao fecho desta edição não foi possível estabelecer o contacto.

27 Out 2015

Proposta de Actividade Comercial agradou a todos

[dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oram duas as únicas questões apresentadas pelos deputados ao Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, relativamente à proposta de Lei da Actividade Comercial de Administração de Condomínios. O deputado Lam Heong Sang quis saber, depois da entrada em vigor da lei, o que acontece à empresas da área que não estão aptas e Ho Ion Sang quis apenas saber se o Secretário estará disponível a apresentar esclarecimentos pormenorizados durante os trabalhos de discussão na especialidade relativamente aos contratos a realizar e ao capital social das empresas. “Se as empresas não estiverem em condições será atribuída uma licença provisória para que o edifício não fique sem administração”, esclareceu Raimundo do Rosário, sublinhando que estará sempre disponível para apresentar qualquer informação em discussão na especialidade. A proposta foi aprovada na generalidade com o apoio de todos os deputados.

27 Out 2015