Angela Merkel volta a Pequim para assinar acordos

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] chanceler alemã, Angela Merkel, chegou ontem à China para uma visita e dois dias com uma forte componente económica, após o escândalo da Volkswagen e numa altura em que a segunda economia mundial está em abrandamento.
Merkel, que foi recebida em Pequim pelo primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, segundo a televisão estatal CCTV, iniciou ontem a visita oficial – a oitava que realiza ao país asiático – durante a qual se prevê a assinatura de uma série de acordos de cariz económico.
A chanceler alemã, que viaja acompanhada por uma comitiva de empresários, incluindo o novo presidente da Volkswagen, Matthias Müller, reuniu-se ontem com o Presidente chinês, Xi Jinping.
Em cima da mesa vão estar assuntos bilaterais, bem como a questão dos direitos humanos na China ou temas de âmbito internacional como a tensão desencadeada pelo conflito territorial nos mares da Ásia-Pacífico ou a Ucrânia, de acordo com o governo alemão.
Mas, acima de tudo, Berlim vai tentar aproveitar a viagem para aprofundar a já forte relação económica entre os dois países, numa altura em que o abrandamento da segunda economia mundial tem afectado as exportações alemãs para a China.
Merkel vai tentar fortalecer os interesses das empresas alemãs depois da crise provocada pelo escândalo da Volkswagen e após os múltiplos acordos firmados por Xi Jinping na sua recente visita ao Reino Unido.

Airbus encomendados

A chanceler alemã e o primeiro-ministro chinês assistiram em Pequim, à assinatura de um acordo para a compra de 130 aviões Airbus pelo valor de 17.000 milhões de dólares, uma das maiores encomendas da China ao fabricante europeu.
O acordo, de 15.500 milhões de euros, segundo a paridade monetária actual, assinado no Grande Palácio do Povo de Pequim durante o primeiro de dois dias de visita de Angela Merkel à China, prevê a aquisição de 100 aviões Airbus A320 e outros 30 A330.
A transacção ocorreu numa altura em que as companhias aéreas chinesas estão a alargar as suas frotas e à espera de que o número de passageiros de voos nacionais e internacionais triplique nos próximos 20 anos.
Além disso, o fabricante aeronáutico europeu acordou, em Julho último, construir um centro para acabamentos do A330 em Tianjin, cidade industrial portuária no nordeste da China, onde existe uma linha de montagem de A320, vendidos sobretudo às transportadoras chinesas.
Merkel e o chefe do Governo de Pequim, Li Keqiang, presidiram ainda à assinatura de outros 12 acordos, incluindo o da Nokia com a operadora China Mobile para o fornecimento de tecnologia móvel, software e serviços, e entre a Volkswagen AG e um dos quatro principais bancos da segunda economia mundial, o ICBC.

30 Out 2015

Bodies in Urban Spaces | Projecto de Willi Dorner encaixa artistas pela cidade

Bodies in Urban Spaces, do coreógrafo austríaco Willi Dorner, chega a Macau amanhã. A população vai ver, de manhã e ao final da tarde, pessoas encaixadas, dobradas, empoleiradas e empilhadas, a escalar e a esconderem-se pelos prédios, passeios e degraus da cidade

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]e cabeça erguida ou baixa, a paisagem será sempre a mesma: uma hora de almoço mal chega para saborear a refeição, quando mais apreciar a cidade em que vivemos. É a pensar na percepção visual que as pessoas têm das suas cidades que Willi Dorner, coreógrafo e artista austríaco, desenhou e deu vida ao projecto Bodies in Urban Spaces. A ideia é que o comum transeunte vá acompanhando um roteiro preparado pela equipa e que vá captando as mais estranhas formas de caber por cima de uma porta, na fresta de um corrimão e uma parede ou entre dois prédios.
A assistente de Dorner, Esther Steinkogler, está no território para apresentar e coordenar os dois espectáculos da companhia. Estes têm lugar já amanhã: o primeiro acontece às 10h00 e o segundo, às 19h00. Steinkogler estudou Dança em Salzburgo e a sua participação no projecto começou depois de ter sido escolhida pelo coreógrafo para fazer parte da equipa. A ideia destes espectáculos é não só criar arte em espaços exteriores, mas também alterar a percepção das pessoas do ambiente que normalmente as circunda. Outro dos objectivos é “mostrar aos habitantes as restrições” das cidades.
Na hora de escolher os melhores locais para se empilharem, escalarem, equilibrarem ou trancarem, Steinkogler menciona que tudo é bem-vindo, desde zonas industriais aos bairros mais antigos, passando pelas áreas modernas. As áreas negligenciadas da cidade também entram nesta equação, porque há vontade de “conduzir a percepção das pessoas para zonas [da cidade] que geralmente não seriam visitadas”.
Mas de que forma é isto feito? Steinkogler explica: “medimos o espaço com o corpo humano”, ou seja, ao invés do produto ser criado em função dos seus consumidores, este projecto explora a forma como o ser humano pode fundir-se com os objectos já existentes. A ideia, continua, é despertar mentalidades e olhares de quem por cá vive há algum tempo e deixa de vislumbrar os pormenores da sua cidade para a ver apenas como um labirinto de roteiros. “Como trabalhamos muito em função do ambiente que nos circunda, o que fazemos é sempre diferente”, disse. JWP-02601-720x480

É de proporção humana

A adaptação do projecto a Macau caracteriza-se como desafiante. “Aqui, tudo é megalómano, tirando determinadas zonas da cidade. Para preencher a porta de um casino, por exemplo, precisaria de umas 50 pessoas e isso é impossível”, justifica a coreógrafa.
Bodies in Urban Spaces partiu da genialidade de Dorner, quando decidiu passar a trabalhar com a cidade e não dentro de um estúdio. Interessado por Arquitectura e Estética, tem um hábito pouco comum: altera, várias vezes, a disposição dos móveis em casa para “se manter alerta”. Partindo desta estratégia, foi fácil desenvolver o resto. Primeiro, entre estantes e sofás, depois, na rua.
O projecto conta com uma equipa de um ou dois coreógrafos – que levam a ideia de Dorner ao local da performance – e artistas locais.
“Uma das características é trabalhar com pessoal local, para que haja um intercâmbio”, explica a jovem. Steinkogler tem estado presente em todos os espectáculos. Até agora, foram executados espectáculos na Áustria, França, Alemanha, Austrália, Japão e vários outros países.

Interesse acima da obediência

A jovem conta alguns episódios peculiares que espelham as características de cada sociedade. É que a reacção da população na Alemanha, Áustria, Reino Unido ou EUA é bastante diferente daquela captada por estes lados.
“Não há um senso de obediência tão forte como na Alemanha, por exemplo”, explica. Segundo a co-fundadora da BABEL, Margarida Saraiva, o feedback “tem sido positivo” e tem despertado a atenção de quem passa ou mesmo de quem está em casa e de repente se depara com uma pessoa pendurada na sua janela. No final do primeiro ensaio do grupo, as performances já tinham sido difundidas em mais de mil partilhas no WeChat.
“As pessoas estavam curiosas para saber o que era e houve mesmo quem pensasse que uma das performances – um dos dançarinos com a cabeça dentro de uma caixa da CTM – fosse um manifesto contra a lentidão da internet”, conta Margarida, entre risos. O interesse da BABEL em ter o projecto no território é a necessidade de cor nesta cidade.
“Macau é uma cidade cinzenta e dourada. Precisamos de cor”, disse.

Preocupação inocente

Steinkogler explica a diferença: “em alguns países europeus, somos várias vezes abordados com raspanetes e advertências de possível ilegalidade, mas aqui as pessoas mostraram-se curiosas e algumas até preocupadas com o nosso bem-estar”.
O único telefonema que um cidadão quis fazer para a polícia foi a pensar na segurança dos artistas. “Queria ligar porque pensou que alguém estava magoado”, confessou a coreógrafa.
Estas reacções são, decerto, curiosas e surpreendentes, pensando-se em Macau como uma cidade cinzenta, caótica e cujos passeios estão constantemente lotados. O ponto de encontro para os interessados está disponível na página do evento, que pode ser acedida através da BABEL.
As sessões são, naturalmente, gratuitas e exigem algum fôlego para seguir os artistas Macau adentro. Para os mais preguiçosos, aqui fica o ponto de encontro: zona coberta frente aos Lagos Nam Van.

30 Out 2015

Marta Cristina Carvalho, ceramista

Das artes do fogo, a cerâmica, o vidro, a joalharia e a cutelaria, a primeira transporta uma carga eivada a ocidente de uma ancestralidade que remonta ao Livro do Génesis e ao sopro divino. Marta Cristina Carvalho nasceu em Coimbra, em 1964. Entre 1986 e 87 obtém um diploma de moldes para a indústria da cerâmica. No ano seguinte trabalhou na indústria cerâmica portuguesa. Entre 1988 e 1990 frequentou o curso de escultura da Escola Superior de Belas Artes do Porto. Em 1990 lançou-se à aventura e veio para a Ásia por onde deambulou até poisar em Macau e aqui trabalhar como designer gráfica. Em 1993 levanta âncora e viaja para o Japão onde trabalha com ceramistas nipónicos. Em 1994-94 torna-se ceramista residente no Parque Cultural de Cerâmica de Shigaraki. Em 1995-96, em part-time, torna-se professora convidada assistente do Departamento de Cerâmica da Universidade de Arte e Design de Kyoto. Em 1996, apenas três anos depois de chegar a Kyoto, na região de Kansai, torna-se ceramista independente, viajando frequentemente para Macau para expor e ensinar

Da leitura da sua resumida biografia e curriculum nota-se uma grande irrequietude até chegar ao Japão, onde já reside há 22 anos. O que é que a prendeu à prática da cerâmica no Japão?
A prática da cerâmica no Japão quase foi como uma consequência natural de me encontrar na Ásia precisamente na altura em que, como artista, procurava o meu próprio caminho e expressão estética. A cerâmica sempre foi uma constante presença na minha vida, por ter nascido numa família com ligações a essa indústria. O meu pai, como geólogo, encontrou muitos dos existentes jazigos de matéria prima para a indústria cerâmica portuguesa e muitas vezes levava-me a trabalho de campo, onde sempre havia descobertas de muitos minerais, muitas vezes quartzos raros e outros de origem muito específica daquela zona atlântica. Desde adolescente que passava os tempos livres a trabalhar com esse lado da minha família, que possuía ateliers de cerâmica artística também. Quando abandonei um curso de Geologia para Escultura, iniciei a cerâmica paralelamente com um curso técnico, mas sem qualquer intenção profissional. Era-me natural poder trabalhar em algum ramo da cerâmica para poder financiar por alguns anos a universidade onde estudava, no Porto. Acontece que, quando na Ásia, tocou-me novamente a curiosidade de conhecer novas técnicas , materiais e outras maneiras de ver a cerâmica. E [isso] levou-me ao Japão, [país] pelo qual tinha um especial interesse.

Sendo portuguesa, e com curso de moldes de cerâmica, frequência em cerâmica industrial e curso de escultura na ESBAP, existe algum vestígio ocidental na cerâmica que faz desde que chegou ao Japão?
Começo por dizer que nunca acabei o curso da ESBAP, pois na altura algo do ambiente académico não me satisfez como artista e senti naquela altura particular que tudo o que tinha para ”estudar”, ou procurar , como artista não precisava de ser numa coisa chamada escola. Quanto a influências culturais acho que é impossível nos livrarmos da nossa cultura e das influências estéticas e emocionais do sítio que nos fez crescer. Como tal, e mesmo já vivendo no Japão quase há tantos anos como os que vivi em Portugal, em grande parte do meu trabalho tenho que admitir que possuo uma visão bastante ocidental, apesar de tudo. Quero dizer que, mesmo nas minhas peças de uso utilitário, a componente artesanal e tecnologia de materiais, bem como a visão filosófica que os japoneses têm relativamente aos materiais usados na cerâmica, apesar de ser importante, não toma no meu caso um papel relevante ou fundamental. De uma maneira simplista diria que os japoneses vêem qualquer que sejam as ‘arts and crafts’ no sentido “matéria-forma-estética” e o ocidente no sentido “estética-forma-matéria”. O shintoísmo – religião primordial no Japão – tem muito a ver com este fenómeno.

É importante a técnica na feitura de cerâmicas?
Sendo a cerâmica tão vasta e complexa em termos de técnicas, materiais e possibilidades desses minerais serem transformados em algo pela mão do homem, artista ou artesão, acabei por perceber que não seria nunca um potter ou oleiro. Isso no sentido em que a busca de técnicas para conseguir milhares de efeitos derivados de diferentes barros, cores ou certos resultados nas queimas consome por assim dizer toda a energia e tempo disponível na vida inteira de um ceramista. Aperfeiçoar técnicas exaustivamente a todos esses níveis nunca foi no meu trabalho o mais importante. Na realidade, a busca na cerâmica, para mim, é mais centrada em encontrar uma verdade, uma expressão própria e inerente quase que universal em qualquer material, como também a madeira terá ou o metal e, por assim dizer, todos os materiais. Então consegui ultrapassar finalmente o factor ”os materiais”. Ou seja, o que acontece no meu trabalho – muitas vezes até no mais ”utilitário” – é quase um paradoxo. Na realidade os materiais são tão essenciais quanto pouca relevância têm. Pode ser um qualquer, mesmo plástico… apenas emergem, este ou aquele, pela necessidade de encontrar uma mais perfeita composição, cor, equilíbrio ou expressão.

A cerâmica japonesa é altamente apreciada pelos japoneses e, por ser utilitária, não deixa de ser menos artística. Esta atitude e visão contradiz de certo modo aquele paradigma ocidental que diz que a arte, para o ser, não pode ter uma utilidade?
Esta questão é complexa e só pode ser vista à luz de um conceito de beleza muito próprio e inato aos japoneses. Na realidade até na cerimónia do chá, que é onde se atinge o auge deste conceito, por estranho que pareça, ia buscar tigelas com várias outras funções e objectos que não eram feitos por japoneses. Muitas tigelas e escolas de chá usaram e apreciaram tigelas e utensílios até de diferentes eras na história, encontrados na China e Coreia. Isto apenas prova que não são as técnicas ou tradições de um artesanato japonês, e o seu aperfeiçoamento ate à exaustão que podem levar a que um objecto seja tido como de grande valor artístico para satisfazer o conceito de beleza nos Japoneses. A existência do conceito wabi sabi, ou os três iis, imperfeito, impermanente, incompleto, derivado de ensinamentos budistas e associado a outras influências shintoístas como a assimetria, simplicidade, austeridade e sentido de economia de meios na concepção dos objectos e uso de imagem, cria uma sensação de intimidade profunda com a natureza. E é assim que esses objectos, de uma ingenuidade íntegra, criam um muito particular conceito de estética, pelo que objectos de uso diário, podem também ser elevados por tal, ao mais alto sentido artístico.

Além do barro, que outros materiais utiliza para as suas peças? Considera-se pioneira na utilização dos diversos materiais e na sua combinação?
Há muitos artistas que combinam materiais, mas sim cada um encontra o seu caminho e expressão e nesse sentido todo o artista é pioneiro em algo. Uso muito o gesso, que é considerado um material menos nobre na cerâmica e escultura, pelas suas características de pouca durabilidade, mas que para mim é um material rico e infinito de possibilidades técnicas e expressivas. Também uso metal e madeira e vidro fundido, não uso vidro soprado, esse só muito esporadicamente. Combino, para além disso, técnicas de gravura e serigrafia em todos esses materiais, sejam essas impressões feitas depois cozidas a alta temperatura ou não.

Como é a vida cultural no Japão e como se consegue expor em galerias no Japão?
Acho como um pouco em todo lado, ou se entra num círculo de galerias comerciais, depois de se apresentar ou ser apresentado, que fazem contratos com os artistas e os representam, ou se apresenta o trabalho a galerias para exposições esporádicas e as que gostam convidam para expor. No entanto, no Japão há uma grande quantidade de galerias que são alugadas e artistas que querem estar independentes de horários e restrições de vária índole por parte das galerias de convite, acabam por uma ou duas vezes por ano alugar e pagar as suas próprias galerias. No entanto, todas as vendas são na mesma divididas pelo artista e galerista, independentemente de serem ou não alugadas pelos artistas. No caso de trabalho mais artesanal e funcional há uma grande variedade de lojas/galerias que vendem à comissão fazendo exposição individual por uma semana ou duas e que depois têm sempre algum stock em exposição permanente na loja de trabalhos dos artistas que vão expondo ao longo do ano. Mas estas embora sejam em maior número são no fundo lojas mais dedicadas a peças de artesanato e uso mais comum, pois faz parte da vida quotidiana dos japoneses usarem louça feita à mão, por razões de tradição, noção de conforto, noções de estética, etc . Há depois galerias , no mundo da cultura à volta da cerimónia do chá, que são bastante estanques do resto das galerias de arte e mesmo artesanato. Todos os instrumentos usados na cerimónia do chá são tidos como peças fundamentais de todo um ritual e filosofia onde a tigela de chá, por exemplo, é mais um item, a par de chaleira em metal, colheres em bambu, instrumentos de queimar incenso ou preparar cinzas para ferver a água etc. etc. A tigela de chá em cerâmica na cerimónia do chá não é tida como artesanato, terá de ser sem dúvida um objecto de contemplação já elevado a um outro nível a que o artesanato por si só não satisfaz, mais perto de um objecto de arte, que tem tanto valor artístico por si só como a capacidade de criar um ambiente ou um espaço emocional, mais perto de um conceito existente na escultura e mesmo em muita da pintura.

Continua ligada a Macau. Por quê?
Em Macau continuam amigos queridos e, às vezes sinto, que existe também um pouco de Portugal aqui à mão de semear. Para além disso encontrei Macau numa fase importante de mudança da minha vida e, como tal, voltar, ver as diferenças e, se puder, fazer algo por Macau com alguma exposição ou algum workshop em que possa ajudar com novos conhecimentos e ideias estará sempre nos meus planos e será sempre um prazer.

Mostras individuais

Casa de Portugal, MACAU
Galeria ESPRIT NOVEAU, OKAYAMA
Galeria MARONIE, KYOTO
Galeria AKANE, KYOTO
TAKASHIMAYA DEP. STORE, KYOTO
Galeria NISHIKAWA, KYOTO
Galeria HAKU, OSAKA
Museu de Arte de Macau, MACAU
INAX Gallery, TOKYO
Galeria KITANOZAKA,KOBE
Galeria RERUN, TAKARAZUKA
Galeria JIKU22, KAWANISHI
Galeria BONTON, KOBE,
Galeria YUYUBON,KYOTO
Albergue SCM, MACAU

Exposições Colectivas

OPEN AIR CLAY WORK IN KYOTO ’94
1a. BIENAL DE MACAU, MACAU, YAMAGAZAKI
WAVE*WAVE SHIGARAKI
TACHIBANA gallery,TOKYO
2 ARTITS SHOW, SpaceTRY, TOKYO
SELECTED ITEMS, SpaceTRY, TOKYO
2 ARTISTS SHOW, Embaixada de Portugal , TOKYO
OSAKA DAIMARU Dep. Store, OSAKA
Galeria SUKI, NAGOYA
INAX gallery, TOKONAME
galeria UTSUWAKAN, KYOTO
NIKKI galeria SATSU , TOKYO
galeria BERTIN POIRE, PARIS
galeria KITANOZAKA, KOBE
galeria CLAUDIA BOLLAG, SUIÇA
Espaço GYRE, Omotesando, TOKYO

Prémios e concursos

1a. Exposição de artistas do Porto. Prémio de têxteis..
Bienal Internacional de Arte de Cerveira, Portugal
Prémio na Exposição de Artesanato da Asahi ’94, Japão
Prémio SHINCHIYUMEIKAI,MIHO MUSEUM, SHIGARAKI,1999
3/4 PORCELAINE IZUSHI TRIENAL, IZUSHI
52 FAENZA CONTEMPORARY CERAMIC ART COMPETITION, ITALIA
2000/2, 5/6MINO INTERNATIONAL CERAMIC COMPETITION,JAPAN
Medalha de Bronze2004, 7MINO INTERNATIONAL CERAMIC COMPETITION
2008, ANDENNE INT.CERAMIC BIENNAL, BELGIQUE

Exposição e Workshop em Novembro

Kristina Mar, nome artístico de Marta Cristina Carvalho, apresenta a 3 de Novembro, na Fundação Rui Cunha, uma exposição do seu trabalho, pelas 18h30. “Ceramic for Life” é o nome da exposição, que estará patente até 10 de Novembro. Além disso, Kristina Mar dá ainda um workshop de técnica ”Kintsugi”, a arte japonesa de emendar e restaurar objectos com laca natural e ouro ou prata. O workshop terá lugar no Centro de Design de Macau nos dias 7 e 8 de Novembro, das 16h às 20h e das 16h às 19h, respectivamente. Todos os materiais estão incluídos, devendo os participantes levar uma peça quebrada, ou apenas para retocar ou alterar visualmente, em cerâmica, vidro ou madeira. Há ainda tempo para uma apresentação sobre a técnica e aplicações desta por novos designers e artistas contemporâneos, no sábado, pelo que o workshop será direccionado no sentido de incentivar novas aplicações desta técnica de mais de 400 anos, personalizando assim, cada objecto restaurado. As inscrições podem ser feitas através de www.facebook.com/macaudesigncentre ou por email para kristinamar8@mac.com, ou telefone 28520335 / 66534838. O curso tem um número limitado de participantes pelo que será dada prioridade pela ordem de inscrição.

30 Out 2015

O Fim da dinastia Song do Sul

[dropcap style =’circle’]N[/dropcap]a Batalha Naval de Yamen, na embocadura de um dos ramos do Rio Oeste, próximo de Macau, foi onde a dinastia Song do Sul teve o seu fim, corria o dia 19 de Março de 1279. Os duzentos e cinquenta sobreviventes partindo por terra, foram-se refugiando nas aldeias próximas e o que restou desse grupo chegou a Haojing, onde se estabeleceu.

Em 1206, surgiu Tai Zu no trono da tribo dos mongóis, que deu o nome ao povo. Tai Zu subordinou todas as outras tribos e através duma assembleia do povo, tornou-se Gengis-Khan. Começou em 1211 a invasão da China, conseguindo atravessar a muralha em 1213, conquistando Beijing dois anos mais tarde. Os mongóis usavam uma táctica de guerra revolucionária (estudada mais tarde por Napoleão) e que consistia em ataques aos flancos, centralização e fuga fingida, o que originava massacres. Após terminarem com a dinastia Jin em 1234, passam no ano seguinte a atacar os Song do Sul, que era uma dinastia virada para as artes e letras e que dava reduzida atenção e importância à parte militar.

A dinastia Song do Sul durou até à conquista dos mongóis em 1279, apesar da sua capital Lin’an ter caído em 1276. Lin’an, a actual cidade de Hangzhou, capital da província de Zhejiang foi durante 149 anos a capital da dinastia Song do Sul (1127-1279).

A fuga da corte Song do Sul

Em 1274, uma força mongol de duzentos mil homens, comandada por Bayan, entrou por terra e pelas águas do Grande Canal no território Song do Sul. No ano seguinte, após a Batalha de Wuhu, as forças Song do Sul comandadas por Jia Sidao foram vencidas. Em 1276, os mongóis marchavam sobre Lin’an, a capital dos Song do Sul e ocuparam-na. Zhao Xian, que em 1274 se tornara com cinco anos o Imperador Gong, foi em 1276 levado como prisioneiro para Norte, onde entrando num mosteiro se tornou monge.

O que restava da realeza Song do Sul, Duan Zong e o seu irmão mais novo Zhao Bing acompanhados pela Imperatriz Yang conseguiram escapar e acompanhados por pessoas da corte, militares, oficiais e civis fugiram para Sul, em direcção a Fujian, tendo como destino final a Ilha de Hainan. O inicial grupo ao longo do caminho foi engrossando com os familiares dos mandarins e com muitos dos que trabalhavam ao serviço dos Song do Sul, cujo território se estendia pelo Sudeste, pelas actuais províncias de Fujiam, Guangdong e Hainan. Também receando as represálias dos mongóis, na passagem por Fujian, muitos oficiais naturais desta província e suas famílias, se juntaram à corte fugitiva. Assim o grupo atingiu o meio milhão de pessoas.

Em Fuzhou, Duan Zong com sete anos tornou-se o Imperador Zhao Shi (1276-1278). Por aí devem ter passado mais de um ano já que as datas só nos falam desta corte fugitiva no ano de 1278.

Chegados a Quanzhou, tentaram alugar barcos para continuarem viagem, agora por mar até Leizhou, junto à Ilha de Hainan e onde se preparavam para estabelecer a corte. No entanto, o muçulmano árabe mercador Pu Shougeng, muito provavelmente nativo da China, que era também o oficial que administrava os barcos naquele porto, percebendo que cairia em desgraça perante os mongóis, que já se preparavam para ocupar os destinos da China, ou porque aqueles barcos lhe faziam falta para as suas marítimas viagens comerciais, não os cedeu. Por isso, os navios foram tomados pela força.

No mar, já em frente da província de Guangdong, foram apanhados por um tufão e apesar de muitos naufragarem, outros conseguiram chegar a porto seguro. O imperador que tinha sobrevivido, foi em terra acometido de uma doença súbita e morreu no Delta do Rio das Pérolas, em Lantou (hoje território da Região Administrativa Especial de Hong Kong e onde foi construído o novo aeroporto). Assim, com cinco anos Zhao Bing em 1278 subiu ao trono da dinastia nómada dos Song do Sul, tornando-se o nono e último imperador da dinastia Song do Sul, como Bing Di (1278-1279).

Com os barcos que sobraram, o novo imperador acompanhado pelos seus tutores e oficiais zarparam para um local mais seguro. De novo navegando pelo mar, chegavam ao Sul do actual concelho de Xinhui, no distrito de Jiangmen (porta do rio) província de Guangdong, quando viram a enorme armada mongol que vinha no seu encalço. Para se esconderem, entraram por um dos ramos do Rio Xi (Oeste) e encontravam-se na foz do afluente Rio Tan, em frente ao Forte de Yamen, quando foram alcançados pela armada mongol.

O Forte de Yamen está situado a Leste do Monte Ya e com o Monte Tangping a Oeste formam como que uma entrada e por isso o nome de Yamen (Entrada dos Penhascos). Foi o forte construído ao nível da água, entre os anos de 1131 e 1162, durante a dinastia Song e reconstruído em 1809, tendo na I Guerra do Ópio albergado as tropas de Lin Zexu.

Os barcos que transportavam o restante da corte nómada foram apanhados pela armada mongol na baía em frente ao Forte Yamen e aí se desenrolou a batalha naval, que durou vinte e dois dias e envolveu mil barcos.

A Batalha de Yamen

Após quase três anos passados e mais de metade dos que tinham fugido de Lin’an terem morrido, as forças navais mongóis partem em perseguição da nómada corte Song do Sul. O General Zhang Hongfan, um antigo oficial Song que se tinha colocado ao serviço dos mongóis, comandava um exército de vinte mil homens, enquanto o oficial Song Zhang Shijie se encontrava à frente de duzentas mil pessoas, sem alguma disciplina, nem treino militar ou marítimo.

Por não possuir grande experiência em combates navais, Zhang Shijie, o comandante da dinastia Song do Sul, saindo do mar entrou pelo Rio Tan e foi alcançado em frente à povoação de Yamen. Sem espaço de manobra, colocou a sua frota de maneira a que os barcos dos mongóis os cercaram e sem possibilidade de desembarcarem para terra, nem fugirem, estavam a ser rapidamente derrotados.

Zhang Shijie retirou-se com dez barcos, para os conseguir posicionar e manter o poder de combate, mas já era tarde. Vendo a derrota iminente, o oficial superior Lu Xiufu pegou no Imperador Zhao Bing e saltou para a água, fugindo assim de serem capturados pelos mongóis, preferindo a morte por afogamento, tal como fez a Imperatriz Yang.

Em 19 de Março de 1279 as forças dos Song do Sul estavam aniquiladas.

Zhang Shijie, ao regressar ao grupo dos seus barcos, já derrotados, encontrou o corpo da mãe do imperador a boiar na água, já sem vida. Mais tarde, Zhang foi apanhado por uma tempestade e morreu também afogado.

A área desta batalha situa-se entre a aldeia Guanchong e o Norte do Lago Yinzhou, a Sul do Monte Yamen. Aí, se encontra o túmulo da mãe do Imperador Bing e uma pedra, cuja lenda diz marcar o local onde Lu Xiufu e o imperador saltaram para a água. Visitámos o templo em 2005 e nessa altura encontrava-se em profundo restauro. O altar, com a estátua da imperatriz-mãe e o túmulo, estava coberto por um plástico para a tinta com que se decorava os tectos nele não pingasse. O recinto do templo, que até aí tinha sido de pequenas dimensões, estava a ser ampliado e arranjado para receber grande quantidade de turistas.

Visitado o templo, vamos à procura de um rochedo cuja lenda diz marcar o local onde Lu Xiufu e o imperador saltaram para a água e onde o comandante da armada mongol, o general Zhang Hongfan mandou gravar algumas palavras sobre a vitória das forças de Kublai-Khan.

Perguntando o local dessa pedra, que assinala o fim da dinastia Song do Sul, indicam-nos a uma distância de cinco quilómetros do forte e a dois do templo, mas como as estradas se bifurcam é difícil encontrar o local. Estamos perto, quando a estrada dá para um portão. Guardado por soldados, não nos deixaram entrar no recinto onde a rocha se encontra, por ser uma base naval da marinha chinesa, logo vedada ao público. Assim seguimos para a visita do Museu comemorativo desta batalha, situado na outra margem do rio.

Depois da Batalha de Yamen, que marcou o fim da dinastia Song do Sul, o que sobrou desse grupo, cerca de duzentas e cinquenta pessoas, daí fugiu e foi-se escondendo, criando aldeias, sendo uma delas Haojing, nome talvez proveniente de haver muitas vieiras (hao, 蠔) nas límpidas águas que refletiam como espelho (jin, 鏡), era como na altura se chamava Macau.

Assim, em 1279 esse grupo estabeleceu-se na parte Norte da península de Haojing e dedicou-se à agricultura, construindo as suas casas na encosta Sul da colina de Mong-Há (que significa olhar para baixo).

Conta-nos Ana Maria Amaro, que os fundadores de Mong-há-tchún deram ao lugar o nome de Monte Dourado, devido ao local ser de rochas graníticas. Os primeiros habitantes da zona foram indivíduos de apelido Kái, Lou, Pou, Tin, Hó e Sam, seguidos pelos Hói, Tcheong, Lam e Tchan, o que corresponde a serem provenientes de diferentes famílias e algumas da província de Fuquiam, o que poderá confirmar a história anterior.

A península era seguramente ponto de passagem e de encontro para pescadores e mareantes e aí existia, não se sabe desde quando, uma pequena povoação de pescadores e mareantes na parte Sul junto ao Templo da Barra e dedicado à deusa Mãe A-Má. Podia ser a família Kái, que vivia afastada do Monte Mong Há e se dedicava à pesca. As suas casas, situadas na parte Oeste da Colina da Penha, ficavam assim abrigadas das intempéries.

Assim, quando os portugueses chegaram à península de Haojing e colocaram as suas mercadorias a secar, encontraram na zona de Mong Há, um dos dois povoados existentes. Eram os descendentes da dinastia Song do Sul, que aproximadamente há 250 anos aqui viviam.

30 Out 2015

Litânia. Oásis de monotonia

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma palavra bonita, litania. Como ladainha. Gosto de ladainhas e nem seria preciso dizer. Já lengalenga, da vox populi, lembra-me coisas de uma dolência entediada, de cadências lenganhosas. Lesmas e outras imagens empasteladas. Encadeados de palavras entorpecentes, músicas repetitivas, mesmo as do minimalismo. Isso sim. Outras como chicote. Também. E os ritmos cardíacos. Os da respiração. Os mais secretos das células que reorganizam o seu destino e que pode ser pavoroso, prefiro ignorar. Isso ou a eternidade. Há que escolher. Ilusões.
Conduzia de janela aberta. Uma pena leve poisou-me no casaco. Muito pequena. Pensei, Lá está ele. A brincar. É que às vezes tenho a sensação de que o meu anjo anda por aí. Eu deitava-a pela janela, por nada, que não me fazia mal, e ela voltava leve e teimosa. Lembro sempre a expressão de desagrado da minha avó: “Penas”… Ela pensava, pesares. Mas era mais uma pequena penugem, daquelas por debaixo das outras penas, e que servem para manter a temperatura. Faz sentido porque já sopra aquela aragem fresca que arrasta as folhas e anuncia dias piores. Se fosse uma pena não distinguiria se era da asa ou do coração. O anjo mais sorumbático, ensimesmado, macambúzio. Sempre cabisbaixo e embezerrado. Acabrunhado. Mas ao seu modo, com o gosto de brincar. Não há nada mais irresistível do que um ser cuja alma brinca por detrás de um fácies soturno. Supondo que os anjos tenham alma. Isto dos anjos precisava de ser mais bem explicado. Mas é uma coisa de mais de trinta anos, também não o vai ser por agora. Lá atrás, professores de pintura entenderam a questão plástica, o vôo, a elevação das ogivas em flecha, os movimentos, os ritmos e pesos da questão. Plástica. Depois caíram. Os meus anjos. Vieram como tinha que ser. Já um filósofo, amigo do meu amor à época, heideggeriano daqueles sempre de mão na cabeça a suster reflexões demasiado pesadas, dizia reflectirem a minha necessidade de salvação, personificada nele – o meu amor à época – Que parvoíce medonha, foi o que pensei. Do amor uma pessoa não quer ser salva, quer a possibilidade de se perder e não menos de se encontrar. Ou é a mesma coisa. Mas isso ficou para pensar mais tarde e ainda não chegou a altura. Suponho.
Tenho vários anjos. O que ficou para sempre naquela idade logo a seguir à infância em que nunca o conheci, o que ficou para sempre naquela idade de idoso, que foi a idade de sempre, em que sempre o conheci. Curiosamente talvez a idade que tenho hoje ou menos ainda. E por isso me sinto estranha. Com o que em mim cresceu e com o que em mim não cresceu. Dois escuros e um luminoso. Nos olhos, quero dizer. Dois, escuridão e um, claridade, de um verde transparente e sonhador. O mais sóbrio deles, afinal. Estão ali quando consigo invoca-los. Ou o permitem. Mais nada. Aqueles cujo olhar gosto de imaginar que me acompanha. Por aí. De longe, acho. Vindo em continuidade do passado e passando por mim a mostrar não o caminho, mas que há caminho.
Construção minha. Que existam como tal e mesmo assim. Que quero deles, nada. Minto. Que me embalem. Porque das pessoas quereria sempre se calhar demais. Mas é um work in progress. E não quero deles nada para não os comparar com elas.

Gostar de litanias. Orações no culto cristão. Formas de rezar em que se responde com uma invocação breve e repetida, às preces que desfia quem dirige a oração. A repetição, a insistência, a súplica veemente. Na Liturgia das Horas, salmos e cânticos com esta forma na sua estrutura. Embaladora. A todas as horas do dia. Das Laudes às Completas. Para não desfocar. Ladainhas, com um poder hipnótico que induz ou agudiza a fé. Com palavras que não falam comigo. Mas o rogo e a súplica, assumidas em abstrato sem se as dirigir a ninguém, a nenhuma entidade, são talvez um desabafo de tonalidade possível. Como dizer Meu Deus, sem necessariamente invocar o possivelmente inexistente.
Ou sinónimos daquilo que é repetitivo e enfadonho. De ramerrame. Da vontade de cair em letargia. Do que embala em forma de música, do que embala e repetidamente se ouve em segredo por tão excessivo. Do embalo das palavras. De conduzir sempre pelos mesmos caminhos mesmo que mais longos. Só pelo hábito e pelo conforto. De resistir à mudança. Alvin Toffler refere-o na Terceira vaga. Demasiada aceleração. Demasiados dados em confronto. Demasiadas mudanças, demasiada necessidade de adaptação. A alma reage como pode. Aquele hábito estranho de pessoas que se embalam, balançando o tronco para a frente e para trás. Observado em alguns portadores de autismo. Li um dia o relato de alguém com uma dessas síndromas, que explicava lucidamente a razão de ser. Demasiada sobrecarga de informação, de dados sensoriais a processar. Demasiados dados criam uma perturbação inconsciente e a necessidade de produzir uma reacção. Uma espécie de drenagem do excesso.
E os outros que secretamente se embalam sentados em banquinhos baixos lendo pelas horas adiante como eu, à janela do quarto que tinha janela, porque o outro não tinha. Pelos anos fora. Quando liam, e a vida em si não era demasiada só por si, para lhe incorporar a vida de ficção. Personagens, lugares, sentimentos. Prisões alheias. Que depois deixaram de ter lugar. À janela. No banquinho azul da infância. Sem diagnóstico formado.
Ou patinar de costas. Talvez por não se sentir tanto a resistência do ar. Descrever elipses vezes sem conta, em torno do rectângulo de um ringue semi-vazio, ganhar velocidade – o mais perto de voar que experimentei – até ao momento em que um grão de areia se imiscuía nos rolamentos das rodas e a queda era brutal. Mas era tão bom. Lá atrás.
Melopeias, litanias, cantigas de embalar. Porque a vida me fez divergir e às vezes é demais. Gostar de ladainhas, de coisas que embalam porque existe por vezes a nostalgia do anterior à luz. Diria do útero materno se não fosse excessivo. Eventualmente a casa a que não se pode querer conscientemente voltar. O embalo da música que inconfessadamente repetimos até à intoxicação. Intoxicações várias, que podem ser de várias ordens sensitivas. Abanarmo-nos na infância como muitos continuam a fazer vida fora. Diagnosticados de autismos, síndromas várias que dificilmente entendemos porque em fuga dos padrões. Que padrões entendemos? E continuar a embalarmo-nos na juventude. Sentados em bancos pequenos que deixam o torso livre para tal, em horas de mergulho suicida na leitura. Alheamento completo do mundo. Pequena agenda, irrelevante como distúrbio. Outra espécie de retorno ao útero. Ou de mergulho para morrer temporariamente. E custar medonhamente o acordar. Coisas secretas.
Porque é que algumas pessoas custam a levantar-se da cama. Porque querem hibernar. Independentemente de amores e desamores. De objetivos a cumprir com paixão ou desafios a encarar com fervor. Dificuldades a ultrapassar ou o alívio final de chegar a algum lugar. Há pessoas que sentem tudo como demasiado difícil naquele momento de acordar, em que se pode reagir de imediato ou adiar até ao limite do possível a decisão de assumir o dia.

E rotinas. A única que tenho sagrada, é uma caneca de café com leite ao acordar e quatro cigarros. Cinco, seis. Ou ser milongueira. Sempre que a vida dá. Para sempre desde que se começou e por ser a sério. As rotinas são boas ou talvez sinal de afogamento à vista. Ou de que se começa a ter uma certa idade.
Dantes eu lia a tempo inteiro. Quase. O resto acontecia nos intervalos. Hoje não leio. Mas parece que escrevo a tempo inteiro. Quase. O resto arrasta-me contrafeita. Depois esqueço a contrariedade porque outros apelos se sobrepõem. E muitas vezes só por dentro. E por isso as frases dissolvem-se totalmente. Ou só uma parte. Ou misturam-se contorcidas umas nas outras no espaço limitado e labiríntico em que se movem. Umas por cima das outras. Às vezes transparentes deixando vislumbrar fragmentos das que ficaram por baixo. Para trás. E por vezes escrevo-as. Num semáforo. No caminho para apagar o fogão quando um cheiro a queimado me avisa de que me perdi por uns tempos. Sempre sabendo que não pode ser até me apetecer. Até me fartar. Eu gostava de me sentar a escrever para sempre. Nunca seria. Mas como se fosse.
Portanto, dantes eu lia. Depois foram as palavras, já não vindas de baixo, do papel dos livros com cheiro a açúcar mascavado, mas de cima a escorregar à procura de um papel com o mesmo aroma. Que já não há. A tomar esse lugar no banquinho que poisado por ali, e um tanto esquecido e abandonado, ou por estar há um tempo longe da janela, e do quarto dos pais onde abria essa janela, de cortinas branco leitoso com muitos furinhos por onde entrava quase tudo o que avançava do lado de fora. Pouco espaço para palavras alheias. Mais perturbação ainda a somar às que se desprendem ininterruptamente, maçadoras insistentes, esquecidas, recuperadas, coladas provisoriamente em papelinhos. Tantas palavras. E agora a terem que sair de novo. Não porque sejam especiais ou úteis as palavras, mas porque a vida em si é mais difícil. Dispersa, desarrumada. E elas precisam de escorrer por algum lado. Ocupam pouco espaço. Não necessitam de nada, não pedem nada. Só sair. Libertas. Finalmente silenciadas, a dar lugar a outras. Escrevê-las. Num lugar sossegado, sem horários e sem interrupções. Como se para sempre. Ou cristalizar. Se ao alcance de humanos, seria bom. E luminoso.

Ou desenhar, como naquele papel de cartucho cinza claro com risquinhas vermelhas ou não, em que desenhava ou, outras vezes, recortava roupas de boneca. Acho que só tive outro tipo de papel quando entrei para a escola. Aqueles cartuchos a cheirar, eles sim verdadeiramente a açúcar amarelo. E uns lápis pequeninos de bico grosso que ele me emprestava e que usava para traçar firmes e rigorosos traços na madeira. Saídos dos seus olhos transparentes e pensativos. O cheiro das raspas encaracoladas da madeira aplainada. Ofereceu-me a primeira plaina e um martelo pequeno, esguio, feitos por ele quando entrei em Belas Artes. O meu Kit de sobrevivência tomou rumos ecléticos.
Escrever. Um outro culto. O das coisas. Das coisas em si e das coisas pelo sentido. Das palavras pelo sabor e das palavras pelo sentido. Do lugar, espaço e tempo. Saber e não saber. Invasão de significados e a perturbação do excesso. Das ramificações divergentes. Exponenciais. Das demasiadas coisas em si. Dos excessivos sentidos nelas. Dos múltiplos lugares. Seres. Espaços e tempos passados e futuros. A perda de um e a perda do outro. Cada vez mais saber não saber. E querer fugir à invasão, à consternação perturbada da multiplicidade. Da complexidade revirada sobre si mesma numa confusão de interior e exterior, contínuos. Interior e logo já exterior sem transição. Interior, exterior. Uma coisa e uma outra coisa nela ou para além dela. Alternados só pelos pontos de vista dependentes do tempo que não os pode fazer coincidir. Como Escher.
A vontade de escrever as coisas todas. As pequeninas sobretudo. Contadinhas e esmiuçadas à medida que se sucedem. Na inteireza do tempo. Em tempo real.
Litanias. Melopeias monótonas. Às horas. Minutos. Segundos. Agora. Aqui. O abismo do infinitamente pequeno fragmento de instante, partido e repartido a tender para o nada. O inalcançável presente. Que passou. Porque saltamos do passado- futuro, para o futuro-passado. E não estamos num nem noutro mas de passagem. Fugaz.

30 Out 2015

Um presunto e um galo

[dropcap style=’circle’]1.[/dropcap] Como se já não bastasse o ar que respiramos todos os dias. A Organização Mundial de Saúde veio esta semana dizer que as salsichas, o bacon e os enchidos são cancerígenos. A carne vermelha, às tantas, também faz muito mal. Mas certo, certo é que o presunto está no mesmo grupo de substâncias cancerígenas que o tabaco, o amianto e os gases de escape emitidos pelos motores a gasóleo. Quem diria.
Em Hong Kong, onde se fazem as contas às pessoas que morrem por ano vítimas da poluição, também há estudos sobre os hábitos alimentares: os residentes comem três salsichas e meia e quase duas fatias de fiambre por semana. Estão condenados, os pobres coitados. Como se já não bastasse o ar que respiram todos os dias.
Vivemos na era em que tudo faz mal. Comer vegetais faz mal, porque não sabemos de que é que são realmente feitos. Beber leite faz mal, porque não sei o quê. Comer carne faz mal. Comer peixe faz mal. Comer pão faz mal. E depois há ainda o glúten, a descoberta das mil e uma intolerâncias alimentares. E agora as alheiras e o salpicão e o presunto, bens essenciais que não me apetece dispensar – fazem parte do meu código genético. Fumar também faz mal, mas isso faz mesmo. Beber álcool também, embora hoje em dia o mundo científico nutra uma grande simpatia pelo vinho tinto. Em suma: viver faz mal.
Quem vive em Macau – assim como aqueles que vivem em Hong Kong – sabe desde o primeiro dia que corre sérios riscos, sendo que o problema não é o presunto importado, a rara alheira de Mirandela ou o enlatado manhoso. Mesmo que seja vegan, faça 30 minutos de exercício físico por dia e a hora de meditação ao entardecer o tenha tornado completamente impávido e muito sereno, incapaz de se chatear com o trânsito, com a inflação e o mutismo selectivo de parte da população, está condenado o triste residente das regiões administrativas especiais. O problema é mesmo a inevitável respiração – sair à rua é uma coisa complicada, sobretudo por estes insalubres dias. Crianças e velhos trancados em casa, os que têm problemas respiratórios também. Os outros que tenham paciência e respirem o ar insuportável a que temos direito.
Um dia destes o Governo faz um ano e começo a perder a esperança de que alguém se preocupe – a sério – com a poluição. Já sei que esta nuvem que nos cobre a cabeça e não é chuva vem de fora, que a culpa não é nossa, que estamos do Delta do Rio das Pérolas e por aí fora. Mas quem percorre o território diariamente não acredita na culpa externa: basta abrir os olhos e ver os autocarros velhos, as carrinhas e os camiões a desfazerem-se que andam por aí. São os tais gases de escape emitidos pelos motores a gasóleo – e frequentes vezes são gases que nem escape têm, que a viatura já deu o que tinha a dar. São salpicões sobre rodas, portanto.
As autoridades não parecem estar particularmente preocupadas com a situação. Nunca vi nenhuma fumarenta carrinha ser multada. Talvez porque a polícia se preocupa mais com os veículos parados, aqueles que têm donos que se esqueceram da moedinha no bolso, aqueles que têm donos que se esqueceram de acordar às 8 da manhã de domingo para não falharem o parquímetro que, à porta de casa, não lhes dá um dominical minuto de descanso, guardado que está por um zeloso agente das força de segurança.
Quanto ao Governo, falta alguém com vontade de tornar Macau numa cidade habitável, onde se possa respirar fundo e menos fundo, que imponha técnicas de conservação energética e essas invenções modernas que, dizem os especialistas dos outros países, fazem poupar na conta da electricidade, com as devidas consequências para uma vida um bocadinho melhor.

2. A semana começou mal: mais de uma centena de pessoas feridas num acidente com um jetfoil que viajava de Macau para Hong Kong. O barco embateu num misterioso objecto, embateu com força, e aquilo foi sangue por todos os lados. As imagens que nos chegaram são feias – e mais feias são porque podíamos ser nós. Quando a desgraça nos é próxima, torna-se mais forte.
Não foi o primeiro acidente com um jetfoil. Aqui há uns anos falou-se muito na necessidade de melhorar as condições de segurança dos barcos, mas o assunto caiu no esquecimento. Há jetfoils sem cintos de segurança. A maioria tem apoios para os braços feitos de metal. Há várias embarcações com bancos velhos, desconfortáveis, com as marcas de muitos corpos transportados. Não há cintos de segurança, nem sistemas pensados para o transporte de crianças – que pagam como gente grande assim que completam um ano de idade. Em caso de acidente, tudo isto conta. É diferente bater com a cabeça num bocado de ferro ou num pedaço de espuma.
Sabemos bem que o empresariado da região não se distingue por ser generoso nas actividades que desempenha profissionalmente, apesar de haver algum gosto por uma certa filantropia com fins meramente mediáticos. Mas falta a generosidade para com aqueles que sustentam os negócios: de um modo geral, o carpinteiro poupa na espessura da madeira dos armários e nas camadas de verniz, o empreiteiro economiza nos metros de fio eléctrico e de tubos, a companhia aérea da terra resolve o problema do catering com umas bolachinhas oferecidas em troca de publicidade.
A Shun Tak – a proprietária do acidentado jetfoil, com fortes interesses também no imobiliário – triplicou os lucros no ano passado, em relação a 2013. Não é propriamente uma pequena e média empresa com problemas financeiros. Mas é poupadinha nas condições que oferece aos seus clientes, depois de anos de monopólio, sem concorrência no transporte entre Macau e Hong Kong.
Porque o empresariado de Macau não é generoso, o Governo tem de o obrigar a ser, pelo menos, cuidadoso: talvez tenha chegado a hora de termos barcos com melhores condições, para que, da próxima vez, em vez de sangue sejam só galos na testa.

30 Out 2015

Um país, muitos sistemas

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]stávamos na segunda metade dos anos 90 e não era, naqueles tempos, vulgar questionar-se o conceito do espaço Schengen, da moeda única e, enfim, todo o projecto europeu. Era tudo cor-de-rosa, fazia tudo sentido – qual crise económica, imigrantes do Leste ou refugiados Sírios.

É nesse contexto que um sábio amigo meu, numa conversa sobre o futuro de Macau, diz-me assim: “numa altura em que na Europa abolimos as fronteiras e usufruímos da livre circulação, com Macau e Hong Kong a China vai criar fronteiras dentro do seu próprio país”.

Essa observação, aparentemente simplista, tinha na verdade um significado bastante profundo. Possivelmente por essa razão tenha ficado bem guardada e fechada nas gavetas do meu pensamento para que, passados quase 20 anos, pudesse ser revisitada para uma nova reflexão num cenário completamente diferente e, então, inimaginável.

O que vou contar passou-se recentemente. A história em si de piada tem pouco, mas merece ser contada pela extrema absurdidade da coisa e como testemunho das bizarras situações que podem ser criadas dentro de um país que decidiu ter dois sistemas.

Éramos ao todo quatro colegas de serviço, a caminho de Zhuhai para uma reunião de trabalho. Foi tudo meticulosamente planeado e discutido com antecedência, nomeadamente a agenda da reunião e a língua a utilizar, que tivemos o cuidado de solicitar desde logo que fosse o cantonense, evitando assim qualquer tipo de desvantagem que o eventual uso do mandarim nos poderia trazer.

Logisticamente, a minha assistente teve o cuidado de organizar o transporte para as Portas do Cerco, definindo rigorosamente as horas de partida, de regresso e os respectivos pontos de encontro, uma vez tratando-se da fronteira com o maior movimento em toda a China.

Tínhamos acabado de chegar às Portas do Cerco e, para qualquer pessoa de fora que olhasse para nós, não havia nada de invulgar no nosso grupo que se resumia a quatro sujeitos locais, todos falantes de cantonense, fisicamente orientais, com feições bastante semelhantes até, e que, por algum motivo, vão juntos à China saindo de Macau – tal como os milhares à nossa volta que, todos os dias, atravessam a fronteira de forma afogosa.

Só que afinal éramos todos diferentes.

Quando nos aproximamos dos balcões da migração, subitamente apercebemo-nos de algo que fomos incapazes de antecipar: cada um de nós ia, afinal, utilizar uma combinação distinta de documentos de viagem para sair de Macau e entrar na China.

O John (*), chinês natural de Macau, ia registar a sua saída com o BIR da RAEM e entrar na China com o wui heong cheng. (**)

O Brian, chinês de Hong Kong (aliás Hong Kong Citizen, conforme gostam de se denominar) ia com o BIR da RAEHK e o wui heong cheng, respectivamente.

Eu, maquista, tinha já na mão o BIR de Macau e o passaporte português com visto para a China de entradas múltiplas e prazo de dois anos.

E agora o over the top: o Albert que, apesar de ser chinês originário de Hong Kong, e tão local como qualquer um de nós, é na verdade natural de Londres, Inglaterra. Para todos os efeitos, é cidadão das terras de Sua Majestade e, como tal, para ambos os territórios ia utilizar o único documento de viagem que possui para o efeito: o passaporte da Grã-Bretanha. Com a particularidade de que, para entrar na China, ia até estrear um visto novo com direito a… duas entradas apenas!

Foi assim que no meio da típica confusão do primeiro andar do posto fronteiriço das Portas do Cerco, em que por alguma razão toda a gente atravessa a fronteira a correr – porventura com receio de uma eventual aparição do Coronel Mesquita liderando as tropas rumo à tomada do Passaleão – combinámos à pressa como ponto de encontro a zona logo à saída de Gongbei.

E separámo-nos.

Ora, o caríssimo leitor sabe muito bem o resultado dessas combinações feitas à pressa, pois certamente leu a edição anterior desta coluna em que me debrucei sobre a nossa abusiva dependência dos telemóveis para marcar encontros banais do dia-a-dia.

Quando cheguei a Gongbei e ao nosso suposto ponto de encontro, estava lá apenas o John. Foi o primeiro a despachar-se por ser portador dos documentos mais vantajosos para essa viagem em particular. Se o destino fosse a Europa, eu seria certamente o primeiro a chegar.

Ficámos então à espera dos outros dois que por alguma razão nunca mais apareciam. A dada altura veio um polícia que nos mandou embora, pois não podíamos permanecer ali parados à porta do posto fronteiriço de Gongbei. Pelo que descemos as escadas rolantes que dão acesso ao célebre centro comercial subterrâneo.

O que aconteceu nos 20 minutos seguintes podia facilmente figurar num filme do Woody Allen. A simplicíssima tarefa de comunicar a mudança do ponto de encontro aos nossos colegas Brian e Albert acabou por se tornar num verdadeiro bicho-de-sete-cabeças.

Excerto de diálogo entre o Brian e o John:

John: “Olha, estamos no centro comercial à vossa espera. Onde andam vocês? Sabes do Albert?”
Brian: “Eu já me despachei. O Albert, a última vez que o vi estava ainda na fila para foreigners… Centro comercial? Passei pelo centro comercial e não vos vi!”
John: “Passaste pelo centro comercial e não nos viste? Desceste as escadas rolantes?”
Brian: “Escadas rolantes? Não vi nenhuma escada rolante, estás na zona do tabaco duty free?”
John: “Não! Isso não é o centro comercial! Mas onde estás tu afinal? Já atravessaste a fronteira?”
Brian: “Estou numa praça e não vejo nenhuma escada rolante! Devo voltar para trás ou não? Passo pela migração outra vez?”
John: “Fica aí onde estás! Manda-me uma foto e já te dou indicações!”
Três minutos depois liga o Brian ao John:
Brian: “Não consigo enviar a foto! Estou com problemas de rede! Há pouco o Albert ligou-me, teve problemas porque preencheu mal a ficha! Mas fiquei sem perceber onde estava porque a chamada caiu!”
John: “Vai ao settings do telemóvel e liga o data roaming! Já deves estar com a rede da China! É por isso que não consegues enviar a foto!”
Brian: “Roaming? Mas aqui já conta como roaming?”

Depois de muitos telefonemas e finalmente reunidos, conseguimos ainda assim chegar ao local da reunião antes da hora. Pelo que decidimos ir tomar um café ao Starbucks para refrescar a cabeça e esquecer toda aquela desnecessária aventura transfronteiriça.

Do nosso pedido de macchiatos, lattes e frapuccinos em que identificámos as bebidas em inglês, a funcionária ao balcão pediu-nos que repetíssemos tudo, apontando para uma lista inteiramente escrita em chinês. Pois isto de se misturar cantonense com inglês é comum em Macau e em Hong Kong, mas na China nem tanto. E ela não percebeu nada do nosso pedido. “OK… Alguém sabe como se diz frapuccino em chinês?”

Naturalmente, viemos a ter a mesma dificuldade na nossa reunião. Felizmente, valeram-me os 12 anos em que trabalhei no Governo e aprendi a falar cantonense decentemente, comme il faut. Já os meus colegas não tiveram a mesma facilidade: habituados a misturar termos técnicos em inglês no meio do cantonense, em diversas ocasiões ficaram encravados. É de facto irónico, mas facilmente compreensível para quem conhece bem o nosso meio.

Apesar de tudo, a reunião correu bem e entendemo-nos perfeitamente. E a chave da questão está aqui: entendemo-nos porque nos quisemos entender; e ambas as partes fizeram um esforço para se entenderem.

Caríssimo leitor, raramente falo de política na minha coluna, mas hoje apetece-me afirmar com alguma firmeza que acredito verdadeiramente na fórmula “um país, dois sistemas”. Não me arrepia nem um pouco que dentro do mesmo país haja dois ou mais sistemas e uma grande heterogeneidade cultural entre as suas gentes.

Não vejo de facto problema nenhum e certamente não é isso que me faz sair à rua com a bandeira do antigo Leal Senado na mão a reclamar de forma bacoca o que quer que seja.

Estamos muito bem assim. E que venham outros 50 anos.

Sorrindo Sempre

Tanto build-up a antecipar a tão esperada conferência de imprensa da NASA, e afinal limitaram-se a anunciar – pela enésima vez – que existe água em Marte.

Só que desta feita, dizem eles, apresentam provas irrefutáveis: imagens espectaculares que mostram muita coisa. Excepto o essencial, que se calhar todos queríamos ver: a água propriamente dita.

Entre outros, a NASA demonstrou dominar a técnica do filme erótico-não-pornográfico, que mostra e não mostra.

A comunidade científica ficou excitada.

Eu também não.

Sorrindo sempre.

(*) Todos os nomes deste artigo são fictícios.
(**) Salvo-conduto emitido pelas autoridades chinesas.

30 Out 2015

Brook Yang: “Macau precisa de promover mais o espírito académico”

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]onhou cuidar de doentes e ajudar a curar as maleitas dos outros, mas acabou a escrever em Inglês sobre a realidade de um pequeno território no sul da China. Foi uma volta de 180º aquilo que aconteceu à jovem Brook Yang.
Natural da cidade de Nanyang, província de Henan, Brook Yang estudou Jornalismo em Xangai e depois acabou por escolher a RAEM para fazer os seus estudos de pós-graduação. Mas antes não foi fácil o processo de entrada no ensino superior.
“Queria tirar Medicina, mas a competição no exame nacional é muita, especialmente numa província com muita população mas com poucos recursos como é a minha. Candidatei-me a um programa de Jornalismo em Xangai, que só aceitou três candidatos em toda a província, mas não sei como fui escolhida. Não tínhamos hipótese de escolher outras opções ou de sequer deixar cair uma lágrima quando víssemos os resultados das candidaturas. Mas assim que o semestre começou, descobri que o jornalismo encaixava perfeitamente e que queria ter uma voz”, disse Brook Yang ao HM.
Na hora de entrar na universidade, o Inglês acabou por representar o seu calcanhar de Aquiles, mas hoje Brook Yang olha para isso com ironia.
“Ainda me lembro de como o meu pai ficou desapontado por eu ter tirado 46 pontos em 100 no meu exame de Inglês. E quando soube que na Universidade de Macau (UM) se privilegiava o ensino do Inglês, então achei atractivo. Hoje acho engraçado o facto de me ter tornado uma jornalista de língua inglesa e isso é algo que me faz sentir bem nesta pequena cidade: sem quaisquer ligações podemos ter boas oportunidades.”
A escolha de Macau acabou por surgir por intermédio de um amigo dos pais. “Foi uma escolha rápida para fazer os meus estudos de pós-graduação. Nessa altura falhei nos exames para entrar em Jornalismo em Pequim, especialmente no exame de Inglês. Nunca me candidatei a estudar no estrangeiro porque seria muito caro. Um amigo dos meus pais viu um anúncio da Universidade de Macau, que dizia que o período de candidaturas terminava dentro de três dias. Candidatei-me ao único programa da minha área – Comunicação e Novos Media. Foi assim que vim para Macau”, contou ao HM.
Com os estudos terminados e à procura de novos desafios profissionais, Brook Yang quer continuar a viver a vida intensamente e a procurar coisas novas noutros lugares. A viver no território há algum tempo, a jovem chinesa já começa a olhar para o lado menos bom de uma sociedade de pequena dimensão.
“A sociedade de Macau não parece integrada, apesar de ser multicultural e de ter muitos grupos de emigrantes, de diferentes lugares. A cidade é muito familiar para os rostos estrangeiros, mas há diferentes comunidades que vivem em mundos diferentes e muitos residentes não parecem ter uma atitude de respeito. Mas esta falta de atenção não se vê só nas pessoas mas também ao nível do ambiente e natureza. Vemos preocupação no consumo, grande desperdício de recursos e falta de reciclagem.”
A jovem não deixa de apontar o dedo àqueles que fazem as leis e as políticas da RAEM. “Vemos muitos locais e deputados a construir lobbies para restringir o número de trabalhadores migrantes em espaços públicos e ao nível dos recursos e vemos trabalhadores da construção civil, da hotelaria, empregadas de limpeza que vivem em condições difíceis.”

Um bom lugar

A jovem jornalista considera que o ensino superior local ainda tem muito espaço para crescer e aponta várias sugestões. “As universidades de Macau não estão suficientemente desenvolvidas para corresponder aos recursos do território e das suas ambições, mas estão a fazer esforços para melhorar. Contudo, construir mais infra-estruturas e atrair estudantes de fora não é suficiente para fazer uma universidade crescer. Macau precisa que as suas instituições promovam mais o espírito académico e as responsabilidades sociais.”
Contudo, Brook Yang continua a achar que este é um bom lugar para os jovens do continente que buscam por novas experiências. “Para os estudantes da China, Macau representa um caminho para atingirem objectivos a nível académico. Quer estejam a estudar ou a trabalhar, é definitivamente uma experiência fora do comum do outro lado da fronteira. Comparando com Hong Kong e os países ocidentais, Macau é um sítio não muito caro e menos competitivo. Quem quer viver e trabalhar aqui, Macau pode ser um pouco mais confortável com boas paisagens, melhores salários e com fáceis acessos a outros países, com mais actividades de entretenimento”, concluiu.

30 Out 2015

Centro Mundial de Lazer | Chui Sai On lidera nova Comissão

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo já definiu o grupo que assume agora funções na nova Comissão para a Construção do Centro Mundial de Turismo e Lazer, segundo publicação em Boletim Oficial, assinado pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On.
O presidente é o próprio Chefe do Executivo, seguindo-se os Secretários para a Economia e Finanças, Lionel Leong, para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, e para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, como membros. Faz ainda parte da Comissão o Chefe do Gabinete do Chefe do Executivo e porta-voz do Governo, Victor Chan.
A Comissão, recentemente anunciada, terá como objectivo realizar estudos e traçar planos globais para a construção do Centro Mundial de Turismo e Lazer em Macau, assim como coordenar a elaboração do plano nos próximo cinco anos, implementar o regime de verificação periódica do plano a médio prazo e emitir instruções em relação aos demais assuntos relacionados com o turismo.
Foram ainda nomeados Wu Lok Kan e Lei Ngan Leng, também representantes do Gabinete do Chefe do Executivo, e Lao Pun Lap e Ung Hoi Ian representantes do Gabinete de Estudo das Políticas do Governo, sendo que as nomeações têm a duração de um ano.
A publicação oficial indica ainda que Chui Sai On pode “convidar para participar nos trabalhos ou nas reuniões da Comissão representantes de outras entidades públicas ou privadas, bem como especialistas, sempre que julgue necessário”. O apoio administrativo, técnico e logístico necessário ao funcionamento da Comissão e encargos com o funcionamento é assegurado pela Gabinete do Chefe do Executivo.

29 Out 2015

Assédio Sexual | Deputados apresentaram projecto de lei à AL

Au Kam San e Ng Kuok Cheong cansaram-se de esperar pelo Governo e decidiram avançar com a entrega do seu projecto de alteração ao Código Penal para os casos de crime assédio sexual à Assembleia Legislativa

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San apresentaram um projecto de Lei Contra o Assédio Sexual à Assembleia Legislativa (AL) para impulsionar a legislação do crime, depois dos dois democratas terem apresentado o diploma à Direcção dos Serviços da Reforma Jurídica e do Direito Internacional (DSRJDI) em Julho.
Actualmente, o crime de assédio sexual está incluído no âmbito do Código Penal, mas não é punido especificamente como assédio sexual, sendo antes interpretado como insulto ou difamação. Ng Kuok Cheong e Au Kam San apontaram que, de acordo com a actual disposição, as vítimas de assédio sexual precisam de apresentar uma acusação particular quando denunciam o acto, uma vez que o crime não é público, algo que, dizem, não protege as vítimas. Os dois actuam, asseguram, à falta de uma actuação do Governo.
“Vários deputados e o procurador do Ministério Público (MP) já mostraram que é necessário rever as leis penais sobre o acto de assédio sexual. O Governo prometeu também que ia fazer consultas públicas em 2015 sobre a legislação mas, no entanto, até ao momento ainda nada foi feito.”
Ng Kuok Cheong e Au Kam San afirmam ainda que o mesmo projecto já foi entregue pelos deputados à DSRJDI em Julho deste ano, sendo que outro projecto da mesma lei – este elaborado pela Associação Novo Macau – também foi entregue ao Governo. No entanto, os deputados criticaram o facto do organismo competente “ainda não ter respondido ao pedido, não ter apresentado nenhum embargo [aos projectos dos deputados] e também não ter apresentado qualquer proposta à AL”. 

Em cima da mesa

Ng e Au acham, por isso, que cabe aos deputados a responsabilidade de impulsionar a criação desta lei, tendo entregue directamente o seu projecto ao hemiciclo, que agora tem de o admitir para que passe a análise dos deputados.
O projecto apresentado pelos dois não sugere exactamente uma lei avulsa, tal como o da Novo Macau, mas pede que sejam adicionadas cláusulas sobre “assédio e acto obsceno” ao Código Penal, dando azo a uma pena máxima de prisão de dois anos caso os agressores beijem, abracem ou toquem nas nádegas, nos seios e partes privadas de outra pessoa sem o consentimento desta. Caso o autor do crime seja um familiar ou colega de trabalho, então os democratas sugerem que a pena máxima se agrave em um terço.

29 Out 2015

Auto-Silos | Governo vai manter passes mensais, mas admite que lei pode ser alterada

O Secretário para as Obras Públicas e Transportes confirmou ontem na Assembleia Legislativa que vai mesmo manter em funcionamento os passes mensais emitidos até 2009, garantindo que “a curto prazo” não vai mudar a lei, mas que poderá ponderar alterações no futuro

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ão bastou o deputado Si Ka Lon ter levado ontem para a Assembleia Legislativa (AL) cartazes com fotografias de lugares de parques de estacionamento vazios que pertencem a detentores de passes mensais. O Governo vai mesmo manter os passes mensais emitidos até 2009, em 16 auto-silos, e não vai alterar a lei. Vinte e dois parques de estacionamento não possuem quaisquer passes mensais.
“Todas as leis são alteráveis e nenhuma é intocável. Mas, segundo a agenda de trabalho, para, a curto prazo, fazer alterações entendemos que podemos adoptar outras soluções, porque as pessoas estão protegidas pelo regulamento administrativo e antes de fazer alterações temos de reforçar a nossa fiscalização. A curto prazo não pensamos alterar [o regulamento administrativo]”, frisou Raimundo do Rosário no debate de ontem, proposto pelos deputados Si Ka Lon e Song Pek Kei.
Em mais de uma hora de debate, foram muitos os deputados que pediram regras mais apertadas de fiscalização para os passes mensais.
“Grande parte do dia os lugares estão vazios e trata-se de um desperdício de recursos, o que é uma injustiça. O passe mensal já não se coaduna com as reais necessidades. Neste momento há várias pessoas com vários passes mensais para vários automóveis”, acusou Si Ka Lon.
Pelo contrário, o deputado Tsui Wai Kwan disse que acabar com os passes mensais seria violar um direito dos residentes consagrado na Lei Básica. “De acordo com a Lei Básica os residentes gozam da liberdade de direitos conferidos por lei. Se os utilizadores [dos parques de estacionamento] obtém um passe mensal e, se a lei for revista, estamos a retirar-lhes esse direito”, disse o deputado indirecto.

Outras soluções

Raimundo do Rosário prometeu apertar a fiscalização e aumentar as tarifas dos passes mensais. “Vamos resolver o problema gradualmente em quatro fases. Teremos dois preços diferentes, para o dia e noite, e vamos tentar encontrar mais soluções para as pessoas utilizarem os parques. No final deste ano vamos ter um novo auto-silo no Fai Chi Kei e depois vamos ter mais um”, confirmou o Secretário.
O deputado Au Kam San questionou Rosário sobre o número de lugares de estacionamento ocupados por carros do Governo. Raimundo do Rosário confirmou que actualmente 330 lugares são ocupados pelo Executivo, sendo que a tutela das Obras Públicas e Transportes possuía quase 60. “Já pedi aos senhores directores para deixarem [esses lugares]. Neste momento temos à volta de 30”, confirmou.
Dos 38 parques de estacionamento existentes, apenas 16 possuem lugares destinados a passes mensais, os quais deixaram de ser emitidos em 2009. Há cerca de 4500 passes emitidos, sendo que 423 já foram recuperados pelo Governo.

O problema dos terrenos

Apesar de ter anunciado a construção de mais dois parques de estacionamento a curto prazo, o Secretário frisou que a origem do problema está na falta de terrenos.
“Temos pequenos lotes de terrenos mas temos de ponderar a mudança de finalidade para a construção de parques de estacionamento. Este problema acaba sempre no problema da falta de terrenos e o que a população mais reclama agora é a falta de habitações públicas. Há falta de habitações públicas e de parques, falta tudo”, frisou.
Raimundo do Rosário fez mesmo uma referência aos quatro terrenos revertidos para a Administração, os quais estão em processo judicial (ver texto página 8).
“Os terrenos parecem desocupados mas não são do Governo, foram concedidos. Esses terrenos estão em acções judiciais e até agora nenhum foi revertido. Temos de pensar quais são os destinados à habitação pública e quais os que serão destinados para parques de estacionamento. A prioridade é sempre a habitação pública”, rematou.

29 Out 2015

Violência doméstica | Crime público é “decisão difícil, mas Macau está preparada”

Uma médica portuguesa caracteriza definição de crime público como muito controversa, mas membros da Coligação Anti-Violência Doméstica acreditam que chegou a hora de Macau decidir até porque “está pronto”

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]“Este é um assunto muito delicado, muita coisa está em causa, é preciso garantir segurança às vítimas. Tudo tem de funcionar bem.” É assim que Teresa Magalhães, médica legista doutorada pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, fala sobre a decisão do Governo em definir a violência doméstica como crime público ou semi-público. A especialista encontra-se em Macau para dois dias de conferências sobre violência doméstica e Cecilia Ho, membro da Coligação Anti-Violência Doméstica, diz que Macau já está preparado para que o crime seja público.
Teresa Magalhães veio a Macau falar da violência doméstica enquanto crime público na Fundação Rui Cunha e sobre a criminalização de alguns comportamentos sexuais, na Universidade de Macau (UM). Ontem, a partilhar a mesa de debate na Fundação, estiveram Teng Pio Iau, docente da Faculdade de Direito da UM, Cecília Ho, docente do Instituto Politécnico de Macau (IPM) e Melody Chia-Wen Lu, docente do departamento de Sociologia da UM.
“Existe muita controvérsia nesta questão do crime público, se deve ser considerado ou não. Tudo está relacionado com questões de direito, que não é a minha área, mas claro defendo que, do ponto de vista científico – e claro que o direito tem de olhar para as questões da ciência, designadamente neste caso ligadas mais até à saúde – pode ter alguns aspectos que tornem defensável a natureza especial do crime”, argumentou a médica.
As dúvidas, sejam elas da sociedade e das suas entidades representativas, são, para a médica legista, naturais e reflexo da complexidade da questão.
“Há pessoas que acham que, em relação às crianças e aos idosos, possa ser aceitável ser crime público, ainda que mesmo assim haja controvérsia. Mas a grande questão é em relação aos adultos, porque se entende que estes têm capacidade para se auto-determinar, de acordo com a sua vontade. E nessa medida se querem ser vítimas, que sejam. Mas isto não é bem assim e é preciso ponderar isto à luz do conhecimento científico actual para que depois seja possível uma decisão”, explicou.

Tudo a postos

Debatendo o assunto de definição de crime público é preciso ter em atenção um ponto “muito importante” que não pode deixar de ser analisado, diz. “A questão do dever de denúncia e comunicação das situações”.
A lidar com pessoas, com um tema tão delicado numa cultura que agora se começa a abrir é preciso ainda ter cuidado com o facto de vítimas e agressores muitas vezes “não quererem falar sobre as situações”. Para a médica, quando se denuncia, as vítimas acabam por desistir e, sem poder retirar a queixa por ser um crime público, “desistem”, ou seja “não colaboram com a justiça, não colaboram com o Ministério Público, não prestam testemunho e muitas vezes podem até negá-lo, isto leva a que muitos casos sejam arquivados”.
A resposta à pergunta “crime público ou semi-público” não é, para Teresa Magalhães, fácil. “Não se pode responder a essa pergunta, não pode porque há muitas questões a resolver. Vários cenários para as crianças, idosos, doentes, adultos. O crime nunca envolve só uma pessoa, quase nunca, envolve a família”, diz.
Num estudo elaborado pela médica, mais de 50% das mulheres vítimas de violência doméstica têm menores em casa no momento em que são agredidas, levando a que as crianças sofram também com a situação.
“Sendo crime público, toda a comunidade está obrigada a comunicar os casos relativamente a crianças e é importante que se faça”, assinala.
A definição de crime público deve ser feita desde que, argumenta, o Governo de Macau garanta a segurança das vítimas. “Concordo, se houver garantia de um sistema que apoie efectivamente as pessoas e as proteja a partir do momento em que a situação se torne pública”, frisa, acrescentando que “há riscos associados [à definição de crime público], devido ao agressor poder vir a saber” da queixa.
“Portanto, se não conseguirmos garantir uma estratégia de intervenção que proteja efectivamente a vítima, se não se conseguir trazer a vítima para a equipa que a vai acompanhar, fazendo-a participar no seu caso, aí é preferível que não seja público. Pode ser muito mais arriscado. É preciso fazer bem as coisas, com muita segurança”, rematou.

Macau pronto

Cecilia Ho e Melody Chia-Wen Lu, ambos membros da Coligação Anti-Violência Doméstica de Macau, consideram que está na hora de tomar uma decisão, ainda que defendam que a população precise de perceber que mesmo que seja crime público o agressor não é preso obrigatoriamente.
“Tudo depende de caso para caso, é preciso perceber o que acontece, que tipo de agressão. As pessoas têm de deixar de pensar que com crime público vão logo presos”, argumentou Melody Chia-Wen Lu.
Defendendo há muito o crime público – que tem levantado polémica em Macau – Cecilia Ho considera que “a sociedade está pronta para assumir a violência doméstica como crime público”, apesar, diz, de haver um ou outro ponto ainda para aperfeiçoar. Ainda que, no caso da Associação, diz, já tudo foi esclarecido e o que falta é a lei.
“Temos muitos casos que actualmente as assistentes sociais estão com dificuldades em tratar, só porque a lei ainda não está definida como crime público”, argumenta.
Questionadas sobre a tese defendida por Teresa Magalhães quando à segurança da vítimas, Melody Chia-Wen Lu considera errado comparar Portugal e Macau.
“A sociedade está preparada para receber a lei como crime público, não acredito que os homicídios disparem. Claro que há homicídios, existem, mas não creio que aumentem por ser crime público”, argumentou. “É preciso dar protecção às vítimas, sim, mas é altura de dizermos já chega e queremos a lei”, rematou Cecilia Ho.
No ano passado, 419 pessoas foram alvo de violência doméstica, o que representa um aumento de 47% em relação a 2013, de acordo com dados da Polícia Judiciária. A maioria das vítimas identificadas pelas autoridades foram mulheres: 277, ou seja, 66%. Os homens surgem em segundo lugar, com 132 casos, 31% do total, seguidos dos abusos contra menores, que envolveram dez crianças.
Macau está actualmente a legislar contra a violência doméstica, mas nada se sabe sobre a lei. “Foi em Janeiro a última vez que falámos com o Governo, até agora não sabemos de mais nada”, remata Melody Chia-Wen Lu .

29 Out 2015

Educação | Menos alunos nas escolas. Milhões investidos

Em dez anos, as escolas do território ensinam menos 20 mil alunos, mas empregam mais professores. Houve uma maior aposta nas actividades culturais e formação de funcionários públicos. Os alunos do ensino superior receberam menos ajudas

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]número de alunos nas escolas do território diminuiu significativamente nos últimos dez anos, passando de 89,1 mil em 2005 para 69,5 mil no ano lectivo passado. Em Setembro de 2014, a maior percentagem de alunos tinha entre 12 e 17 anos de idade, totalizando 26,2 mil alunos dos quase 70 mil registados. As estatísticas, publicadas recentemente pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), podem querer dizer que menos jovens da RAEM frequentam o ensino. Isto porque, de acordo com as estimativas da população do ano passado, publicadas pelos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC), cerca de 182 mil habitantes de Macau tinham entre cinco e 29 anos, do total dos 636,2 mil registados.
Embora a população tenha aumentado brutalmente desde 2005, esta não foi a faixa etária mais afectada. A justificação é simples: a taxa de natalidade não aumentou e foi contratada muita mão-de-obra não residente (TNR) com idade superior a 25 anos.
No entanto, o número de professores contratados não se alterou muito em função da queda no volume de estudantes. Em 2005, estavam empregados 4363 professores e o ano passado eram 5731. Houve mesmo um aumento – ainda que não muito visível – do número de pessoal recrutado. Em 2005 estavam a trabalhar nas escolas de Macau mais de 4300 professores e pessoal relacionado com o ensino, ao passo que no ano lectivo de 2014/2015 estavam empregados 5700 profissionais. A esmagadora maioria do pessoal docente tem entre 31 e 40 anos e é do sexo feminino, ocupando as mulheres 1372 do total de lugares, comparando com os 550 dos homens.
A estratégia de contratar mais funcionários, mesmo com uma diminuição do número de alunos, não tem em conta o acréscimo de turmas: há dez anos, havia 2414 turmas no ensino formal da RAEM. No ano passado, a DSEJ fala de 2493, uma diferença de 79 turmas.

Alto investimento

O relatório “Inquérito Geral à Educação” da DSEJ mostra estatísticas de 2015, mas outras vão apenas até 2013. Assim, os únicos valores financeiros disponíveis sobre as despesas do Governo no sector educativo são de há dois anos.
Em 2013, o Governo despendeu 46,4 milhões de patacas para o ensino obrigatório e superior, o que totaliza apenas 17,3% dos gastos totais. Na educação não superior foram despendidas 4,8 milhões de patacas, de acordo com o mesmo relatório. Comparando com 2011, o valor investido neste sector aumentou em 1,5 milhões. Entre 2011 e 2013, foi 2012 que contou com mais apoio nesta área, tendo a despesa do Executivo na educação ultrapassado os 22%.

A idade traz dinheiro
A DSEJ aponta para um ligeiro aumento no número de bolsas de estudo atribuídas ao ensino superior. No ano lectivo de 2011/2012 foram dadas bolsas a 7100 alunos, ao passo que em 2013 e 2014, foram distribuídas a 7200. É a área de Economia e Gestão que mais pessoas reúne desde 2011 até ao ano passado. A maioria dos beneficiários está inscrita em universidades da RAEM e Taiwan. Seguem-se aqueles que estudam no continente, em Portugal e Hong Kong.
O mesmo não se verifica nas ajudas atribuídas ao ensino não superior. A DSEJ divide os subsídios do Governo em três: ajuda financeira, ajuda para material escolar e subsídio de alimentação. De 2011 a 2014 houve um decréscimo no número de ajudas atribuídas. Ora veja-se: no ano lectivo de 2011/2012, o Executivo forneceu ajuda a 7367 alunos dos ensinos infantil, primário e secundário nas três vertentes. Já em 2013/2014, apenas 6765 jovens foram beneficiados.

Capacidades que se querem

Os números revelam o cumprimento da promessa do Governo em aumentar as capacidades dos seus funcionários, bem como de promover a actividades desportiva entre os jovens. Quanto à formação de Língua Portuguesa, foram o Instituto Português do Oriente (IPOR) e a DSEJ que mais participantes tiveram nos seus cursos. No ano lectivo de 2013/2014, foram 6000 as pessoas que frequentaram estas formações, com 2400 nos da DSEJ e 2100 no IPOR.
Os cursos de Inglês organizados em 2013 e 2014 tiveram menos adesão do que em anos anteriores, mas mesmo assim contaram com a participação de quase 5000 pessoas. Foi o Instituto de Formação Turística que angariou mais alunos, um total de 3100.
O relatório revela ainda uma maior aposta no desporto escolar. O número de participantes nestas actividades quase duplicou, passando dos 190 alunos em 2012, para os 387 no passado. Também se registou um acréscimo no volume de estudantes que entraram em competições internacionais. No entanto, o total de participantes é significativamente menor no ano lectivo passado do que em 2011/2012, muito devido à diminuição da participação em “outras actividades de lazer”.

29 Out 2015

IAS | Novo lar acolhe deficientes mentais. Subsídio passa a permanente

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]novo lar para portadores de deficiência que vai abrir este ano em Macau vai ter vagas para todas as pessoas que se encontram em lista de espera actualmente, garantiu ontem o presidente do Instituto de Acção Social (IAS). Iong Kong Io, que falava à margem da sua participação no programa Fórum Macau, assegura que a situação dos deficientes e familiares “vai melhorar” com a abertura deste novo espaço.
“Na lista de espera estão entre 60 a 70 pessoas. Portanto, com o número de vagas que prevemos – 118 – estas pessoas podem satisfazer essa necessidade”, afirmou, depois de receber telefonemas de encarregados de educação de portadores de deficiência que dizem não ter o apoio suficiente do Governo.
O responsável do IAS assegurou ainda que o subsídio provisório de invalidez vai passar a permanente. Em Julho, deste ano, o subsídio provisório de invalidez foi alvo de uma actualização e aumentou 170 patacas, fixando-se assim nas 3350 patacas mensais.
Com o aumento, este subsídio fica com o mesmo valor que a pensão de invalidez do Fundo da Segurança Social (FSS). Este subsídio foi criado em Julho de 2014 como forma de ajudar os que não estão abrangidos pelo Regime de Invalidez, sendo actualmente 400 os beneficiários deste apoio, que agora passam a recebê-lo de vez.
Até 2018, o Instituto de Acção Social vai ainda abrir mais três lares para deficientes mentais.

Governo estuda isenção da renovação de registo

O presidente do Instituto de Acção Social (IAS), Iong Kuong Io, afirmou que vai estudar a hipótese de isentar os deficientes avaliados como sendo portadores de deficiência mental grave ou profunda de renovar os cartões de avaliação. O anúncio foi feito durante o programa Macau Talk, do canal chinês da Rádio Macau, depois de uma ouvinte ter afirmado esperar que o organismo avance com o fim da renovação dos cartões de registo para estes deficientes, “visto não fazerem sentido”, pois os utentes não vão melhorar. Iong Kuong Io respondeu que a situação de deficiência pode ser alterada conforme a idade e a mudança de grau, mas adiantou que o organismo vai estudar se é viável avançar com esta isenção.

29 Out 2015

LAG | Funcionários chineses querem revisão das carreiras

A Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Origem Chinesa (ATFPOC) quer que o Governo actualize as remunerações dos trabalhadores da Função Pública, reveja o regime de carreiras e actualize o índice mínimo do vencimento, entre outras medidas.
Num encontro com o Chefe do Executivo por ocasião da recolha de opiniões das Linhas de Acção Governativa (LAG), representantes da Associação pediram ainda que o Executivo conte “para efeitos de aposentação o tempo de serviço prestado em situação de contrato e assalariamento eventual aos funcionários com mais de 36 anos de serviço” e que sejam aumentados os subsídios de residência e de ajuda aos funcionários públicos.
Chui Sai On assegurou que vai ser revisto o Regime Jurídico da Função Pública, incluindo o regime de carreiras, vencimentos, subsídios e regalias.
Numa outra reunião, com o mesmo propósito, esteve Paul Pun, presidente da Cáritas, que pediu mais assistência aos idosos, apoio à reabilitação e cuidados de saúde e referiu ainda o problema da escassez de recursos humanos.

29 Out 2015

Indústrias Culturais | Pedidas licenças para artistas e novos espaços

Os membros do Conselho para as Indústrias Culturais consideram que o Governo deve apostar de “forma concreta” no rumo para as indústrias criativas e da transformação de Macau num Centro de Turismo e Lazer. Durante uma reunião com o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, onde apresentaram ideias para as Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2016, os membros afirmaram ainda ser necessário tomar medidas e atribuir prémios para “estimular o desenvolvimento do sector das indústrias culturais e criativas”. Criar um regime de licença para artistas de rua e recrutar recursos humanos do exterior foram algumas das propostas avançadas. É preciso, alegaram os membros, promover o mercado, dando formação e educação nas artes e aumentando os espaços para representação.
Da reunião fizeram parte membros do Instituto Cultural, do Fundo das Indústrias Culturais e outros. O Fundo das Indústrias Culturais indicou ainda que irá lançar medidas adequadas para formar quadros qualificados no planeamento e na produção de filmes de animação locais, elevando as suas capacidades profissionais e obter mais experiências, promovendo este tipo de indústria.
Serão ainda, como indicou o coordenador do Grupo de Estatísticas e Indicadores da Avaliação das Indústrias e Director dos Serviços de Estatísticas e Censos, Ieong Meng Chao, apresentados dados estatísticos sobre as indústrias culturais recolhidos pelo grupo de trabalho, no próximo ano.

29 Out 2015

Conselho de Ciência e Tecnologia | Chui Sai Peng nomeado vice-presidente

José Chui Sai Peng foi nomeado como o vice-presidente do Conselho de Ciência e Tecnologia. De acordo com um despacho ontem publicado em Boletim Oficial, e assinado por Chui Sai On, o também deputado integra o cargo já a partir de hoje, juntando-se, assim, a Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, na vice-presidência. O cargo é remunerado e o Conselho tem Chui Sai On como presidente. Como o HM avançou ontem, o grupo, que tem um carácter consultivo, reuniu apenas uma vez este ano e sem a presença de Chui Sai On.

29 Out 2015

Crime | Jovens menores cometem mais crimes. PJ prepara prevenção

Os números de jovens que cometem crimes estão a aumentar e alguns deles acontecem por mera brincadeira. A polícia decidiu, por isso, aumentar a prevenção e até criar uma página no Facebook para atingir os mais novos

[dropcap style=’circle’]É[/dropcap]preciso reforçar a prevenção face ao crime cometido por jovens, avançou ontem a Polícia Judiciária, depois dos números de crimes cometidos pelos mais novos estarem a subir.
Dados ontem apresentados pelas autoridades mostram que os crimes que envolvem jovens com idade inferior a 18 anos chegaram aos cerca de 60 de Janeiro a Setembro. Números semelhantes aos do ano passado, que aumentaram para 57, depois de em 2013 terem sido registados menos dois. Em 2014 e 2015, de Janeiro a Setembro, o número de pessoas que não atingiam a idade de imputabilidade criminal, envolvidas em crimes, foi de 43, números superiores ao mesmo período dos anos anteriores, que se ficaram pelas duas dezenas.
Os crimes mais comuns que envolvem jovens são o roubo, furto, fogo posto, dano, abuso sexual e droga e a PJ diz que é preciso fazer mais, até porque não é só por necessidade que os crimes acontecem.
“É nossa opinião que os jovens cometem crimes devido à falta de dinheiro, por ganância ou brincadeira, ou por influência dos amigos”, indica a PJ.

Educar pela net

Em comunicado, as autoridades explicam que é preciso mais colaboração com o sector educativo e anuncia que vai tentar chegar aos jovens através de uma nova página do Núcleo de Acompanhamento de Menores no Facebook, devido à sua popularidade.
“Pretende-se melhorar o conhecimento jurídico que os estudantes têm bem como explicar-lhes a responsabilidade criminal em que podem incorrer se violarem a lei. Para se chegar à camada de estudantes do ensino superior a comunicação e a apresentação das campanhas de prevenção criminal serão feitas através dos meios mais apreciados pelos jovens. Neste momento, oito instituições do ensino superior aderiram ao projecto. Estamos na era da internet, as pessoas estão em comunicação umas com as outras de forma constante. As redes sociais são a via mais usada pelos jovens para partilharem a sua vida ou os seus sentimentos com os amigos. Um dos meios mais populares para os jovens é o Facebook, pelo que a PJ criou uma página no Facebook do Núcleo de Acompanhamento de Menores”, remata a PJ.

29 Out 2015

Terrenos | Governo declara caducada concessão de mais quatro lotes

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo declarou caducidade das concessões de mais quatro terrenos – três deles na Taipa e um em Macau. De acordo com publicações em Boletim Oficial (BO), dois dos lotes pertencem à Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM).
Em causa estão terrenos que variam dos mil metros quadrados aos 20 mil metros quadrados, projectados para residências e espaços culturais. No caso da STDM, um terreno com cerca de mil metros quadrados, localizado em Macau entre a Estrada de Santa Sancha e Calçada das Chácaras seria aproveitado para a construção de uma moradia unifamiliar, com três pisos. Outro dos lotes que pertencia à operadora ficava na Taipa e tinha sido concedido para a construção de um edifício com duas torres, uma com 22 e outra com oito pisos, destinado a habitação, comércio e estacionamento, tendo 3911 metros quadrados.
O maior dos terrenos – com 19.245 metros quadrados – fica na Baía de Nossa Senhora da Esperança e pertencia à Companhia de Investimentos Chee Lee, Limitada, que iria construir um “complexo constituído por três moradias unifamiliares, um centro comercial, um teatro ao ar livre e equipamento lúdico e de apoio, um silo automóvel e uma zona ajardinada”, como indica o Boletim Oficial.
Um outro, da Chap Mei, tem 2637 metros quadrados e seria aproveitado para a construção de um fábrica, estando localizado no Pac On.
O Governo considerou que as concessionárias não cumpriram a “obrigação de realizar o aproveitamento do terreno”. O Governo declarou a caducidade, pois as razões justificativas expostas pelas concessionárias, nas respostas às audiências escritas, “não lograram alterar o sentido da decisão de declara a caducidade da concessão por falta de realização do aproveitamento do terreno nas condições contratualmente definidas”. Publicado ontem em BO, as concessionárias usufruem, agora, de 15 dias para recurso das decisões do Governo.

29 Out 2015

Jogo | Funcionários do Venetian temem segurança no trabalho

A Venetian determinou que os funcionários das slot-machines devam ter sempre consigo 250 mil patacas em dinheiro vivo para facilitar o pagamento aos apostadores, mas estes temem pela sua segurança. A DSAL está a analisar o caso

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]ais de dez funcionários da área de slot-machines do Venetian queixaram-se ao Governo de que vão ter de ter consigo 250 mil patacas em dinheiro para facilitar a distribuição de dinheiro aos jogadores que vençam, uma ordem decretada pela operadora de jogo. Segundo o Jornal do Cidadão, os trabalhadores fizeram uma queixa ao Governo porque estes trabalhadores temem pela sua segurança e pela elevada pressão no local de trabalho por terem de lidar com avultadas quantias de dinheiro.
O presidente da Associação de Empregadores das Empresas de Jogo de Macau, Choi Kam Fu, reuniu-se com a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) na semana passada, onde foi dito que o novo modelo de trabalho deveria ter o apoio de outros trabalhadores.
No casino do Venetian já aconteceram muitos problemas de segurança, tais como roubo dos guardas ou de fichas de jogo. Há que resolver os problemas advindos dessa nova medida”, apontou Choi Kam Fu.
O presidente da Associação apresentou ainda várias opiniões de funcionários que disseram que é fácil errar na contagem das notas e moedas e que temem perder dinheiro vivo, tendo já apresentado uma queixa à Venetian para que esta assuma as responsabilidades em caso de perda de dinheiro.
Depois da reunião, Choi Kam Fu disse que a DSAL vai apurar se existem problemas do ponto de vista jurídico, tendo prometido contactar a operadora para confirmar essa questão. O HM tentou chegar à fala com a Venetian, mas até ao fecho desta edição não foi possível obter uma resposta.

29 Out 2015

Segurança | Mais casos de excesso de permanência apesar de aumento da multa

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Gabinete do Secretário para a Segurança afirmou que os casos de excesso de permanência não diminuíram, mesmo com a implementação de uma multa mais elevada para quem cometida este tipo de crime.
“De acordo com a lei, a multa é de 500 patacas por um dia de excesso de permanência além do permitido. Mesmo com o montante de multa a aumentar exponencialmente, os turistas preferem permanecer em vez de pagar a multa”, explica o chefe do Gabinete, Cheong Iok Leng.
A razão para o sucedido, explica o Gabinete numa resposta à deputada Ella Lei, é que a maioria dos infractores prefere ser expulso do território a ter que pagar a coima. Numa interpelação escrita, Ella Lei questionava o Governo sobre quais as razões que levam à existência de vários casos de excesso de permanência de turistas em Macau. Na resposta, o chefe do Gabinete, Cheong Iok Leng, afirmou que o Governo aumentou, por duas vezes, o montante de multa por excesso de permanência – em 2009 e 2014. No entanto, o número de casos aumentou. O responsável afirmou também que a consolidação da inspecção das autoridades policiais fez com que o número de pessoas que ultrapassa o prazo de permanência aumente.
Além disso, o responsável apontou que depois do cancelamento do visto à chegada para seis países do sul da Ásia e do oeste africano em 2010, o número de casos de excesso de permanência diminuiu de 1,27% para 0,34% em 2014. Cheong considera que esta medida foi mais eficaz no combate ao excesso de permanência no território.

29 Out 2015

Festival | Associação local traz arte latino-americana à cidade

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]edição deste ano do Festival de Cultural Latino-Americana espalha-se por Macau e oferece várias actividades deste sábado a 27 de Novembro. É a Associação de Macau para a Promoção do Intercâmbio entre a Ásia-Pacífico e a América Latina (MAPEAL na sigla inglesa) que está responsável pela organização destas iniciativas, que acontecem um pouco por toda a cidade, desde a Torre de Macau à Fundação Rui Cunha.
Através da colaboração com uma série de associações, fundações e instituições universitárias, a MAPEAL conseguiu trazer ao território obras do pintor Armando Revéron. Por ocasião do 125º aniversário do seu nascimento, a Associação pretende mostrar “a luz da Venezuela”, nos dias 10, 11 e 12 do próximo mês, no 3º andar da Torre.
Nascido em Caracas, Revéron ficou conhecido pelas “bonecas” que pintava e por ter democratizado o estilo impressionista na Venezuela. A obra e vida do autor já foi apresentada no MoMa, museu de arte contemporânea em Nova Iorque.
A par disso, será inaugurada, ao final do dia deste sábado, uma exposição de fotografia sobre a América Latina, que fica aberta ao público até 8 de Novembro. É também no próximo mês que abre a sessão de exibição colectiva de filmes sobre a cultura latina, maioritariamente focada na América do Sul.
Entre os dias 4 e 27, a Universidade de Macau, a Universidade de Ciência e Tecnologia, a Universidade de São José e a Fundação Rui Cunha acolhem mostras de cinema. No grande ecrã vão ser apresentados “Viejos Amigos”, “White Elephant”, “La Reconstrucción”, “Guantanamera” e “El viaje del Acordeón”.

29 Out 2015

Uber | Associação propõe que se estude vantagens para população

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação dos Consumidores das Companhias de Utilidade Pública considera que o serviço de transportes privado Uber traz vantagens para a população a curto prazo, ainda que admita que tem de haver uma supervisão. A Associação quer que o Governo estude as vantagens do sistema, depois deste ter dito exactamente o oposto.
Para Cheang Chong Fai, director da Associação, a forma de operação da Uber é uma tendência global, que opera em diversos países e regiões, e que é visto “pelos cidadãos como algo “muito conveniente”, como referiu ao Jornal do Cidadão.
No entanto, Cheang aponta que a lei de Macau não está preparada para a entrada da Uber no mercado, muito por não haver supervisão, sobretudo na cobrança de tarifas. O responsável diz que, se se legalizasse o serviço de transporte privado, evitava-se conflitos com os taxistas. Quanto à sugestão do Governo em levar a Uber a candidatar-se às licenças especiais de táxis, Cheang Chong Fai responde que o objectivo das licenças é diferente do da empresa norte-americana, pelo que não é possível, diz, isso acontecer.
“Qualquer automóvel entra na empresa Uber e corresponde aos requisitos, os condutores podem transportar clientes para ganhar lucro e o Uber é uma plataforma de chamada de automóveis. As restrições de licenças especiais são elaboradas pelo Governo e a Uber pode não ter vontade de se candidatar.”
Cheang Chong Fai referiu ainda que “não se consegue proibir totalmente o serviço da Uber porque já várias agências de viagem fornecem serviços de transportes através da empresa”, algo que a Direcção dos Serviços de Turismo (DST) disse estar ainda a investigar. Além de se preocupar com a legalidade do serviço, diz CHeang, o Governo deveria ter em conta as vantagens que o serviço pode realmente trazer.

29 Out 2015

Manuel Neves deixa Inspecção e Coordenação de Jogos

[dropcap]O[/dropcap] director da Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), Manuel Neves, vai deixar o cargo no final de Novembro, segundo avançou ontem a TDM, a quem o próprio confirmou a notícia. “A minha comissão de serviço termina no próximo dia 25 de Novembro”, esclareceu. Com 56 anos e depois de mais de três décadas ao serviço da Administração Pública, Manuel Neves entende estar na hora de fazer uma paragem para se “dedicar mais à família e ao lazer do que ao trabalho”. Natural de Macau, Manuel Neves é licenciado em Administração Pública e Gestão de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa. A entrada na Administração Pública aconteceu em 1984, como professor na então Escola Comercial, explica a TDM. No ano seguinte, fez a transição para a DICJ onde exerceu várias cargos. Desempenhou funções de chefe de divisão e de departamento, sendo depois promovido a  subdirector e, em 1997, a director.

29 Out 2015