Pearl Horizon | Grupo Polytec critica protesto dos proprietários

Os manifestantes entraram dentro do escritório da empresa, destruíram vasos de flores e ameaçaram ferir-se, atirando-se do terceiro andar. Para além disso, sujaram a piscina

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Grupo Polytec, construtor do edifício Pearl Horizon, criticou a “forma violenta” de manifestação dos proprietários de fracções no edifício. Depois de um protesto, no sábado passado, houve vários danos financeiros e muita desordem, diz ainda o grupo.
Mais de uma centena de proprietários do Pearl Horizon organizaram uma manifestação junto aos escritórios do Grupo Polytec, convocando o presidente, Or Wai Sheum, para conversar com os manifestantes. A ideia era clara: os protestantes queriam que o presidente resolvesse a questão do fim da concessão do terreno, que acontece este mês.
O Governo, recorde-se, tem direito a ficar novamente com os lotes, já que passou o prazo de aproveitamento da terra. Mas algumas pessoas compraram já apartamentos em regime de pré-venda.
De acordo com o canal chinês da Rádio Macau, os manifestantes entraram dentro do escritório da empresa, destruindo vasos de flores e ameaçando ainda ferir-se, atirando-se do terceiro andar.
Numa declaração publicada no Jornal do Cidadão, o Grupo Polytec reage aos acontecimentos e indica que esta manifestação não respeitou os direitos e deveres civis sendo um “desafio à lei”.
O grupo considera que os protestos devem ser feitos de forma pacífica e racional, sem invadir propriedades privadas sem autorização e sem causar qualquer desordem ou incómodos a outros moradores.
“Entre os manifestantes, existiam moradores do edifício Ville de Mer que abriram a porta da entrada para que os protestantes entrassem. O nosso grupo verificou que a água da piscina ficou suja por causa do protesto. Perdemos pelo menos 30 mil patacas”, pode ler-se no comunicado.
O Grupo Polytec não exclui a possibilidade de avançar com uma acusação em tribunal, mas garante que irá tentar procurar uma resolução que também proteja os direitos dos próprios proprietários. “Acreditamos que existem meios suficientes para os compradores expressarem a sua opinião, não sendo a manifestação a única forma para o fazer. Nós devemos resolver o problema juntos, não ficar em posições opostas e causar este tipo de conflitos”, indica o grupo.
O Governo já prometeu que irá publicar, no dia 10 deste mês, a decisão sobre o anúncio de caducidade da concessão de arrendamento do terreno, passados 25 anos. Segundo a Lei de Terras, o Governo deveria recuperar o terreno apesar de o projecto não estar concluído.

3 Dez 2015

Pequim amanhece com céu limpo

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]equim amanheceu ontem com céu limpo e azul graças a uma corrente de ar frio que, na noite passada, afastou a espessa nuvem de poluição que envolvia a capital há três dias, os piores em termos de qualidade do ar em todo o ano.
Segundo a embaixada dos Estados Unidos, que faz medições da qualidade do ar, pelas 10:00 de ontem verificava-se uma concentração de partículas PM 2,5 (as mais perigosas para a saúde) de 25 microgramas por metro cúbico, a contrastar com os 634 microgramas registados na terça-feira, ou os 666 de segunda-feira.
O valor de hoje corresponde ao máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde para as PM 2,5.
Depois dos piores três dias de poluição atmosférica do ano, uma corrente de intenso ar frio limpou a cidade durante a noite, sentindo-se ainda hoje o vento forte.
Os níveis de poluição registados nos últimos três dias colocaram Pequim em alerta laranja, o segundo mais elevado, forçando as autoridades a impor restrições às actividades contaminantes como a indústria, transportes e construção.
Se a poluição tivesse durado mais de três dias tinha sido declarado o alerta vermelho, o mais elevado, obrigando a fechar escolas e permitindo que os automóveis circulem apenas em dias alternados.

3 Dez 2015

Banco Asiático vai emprestar até 15 mil milhões de dólares por ano

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas (BAII), a nova instituição financeira internacional proposta por Pequim, vai emprestar entre 10 mil milhões e 15 mil milhões de dólares anualmente nos primeiros cinco a seis anos. Os empréstimos serão destinados ao desenvolvimento de infra-estruturas e melhores ligações entre os países asiáticos, disse o presidente da instituição, o ex-vice-ministro das Finanças chinês Jin Liqun, citado pelo jornal oficial China Daily.
O BAII, cujo acordo constitutivo foi assinado em Junho, será estabelecido este mês com um capital de 100 mil milhões de dólares, cerca de 30% dos quais assegurados pela China, e terá sede em Pequim. Com uma participação de cerca de 13 milhões de dólares, Portugal é um dos cinquenta e sete membros fundadores, enquanto o Brasil é o nono maior accionista, com uma participação de 3.181 milhões.
O BAII “não é nem um banco chinês, nem um banco detido pelo Governo chinês, mas antes um banco que pertence a todos os países participantes”, realçou Jin Liqun.
Proposto pelo Presidente da China, Xi Jinping, a instituição é vista pelos Estados Unidos da América como uma reacção de Pequim ao que considera o domínio norte-americano e europeu na ordem financeira internacional. Entre as grandes economias do planeta, apenas EUA, Canadá e Japão não fazem parte do BAII, mas Jin Liqun lembrou que “as portas estão abertas”.
No ‘top 10’ dos principais investidores estão Alemanha, França e Reino Unido, todos países membros da União Europeia. “O BAAI não se deve limitar aos países asiáticos, e poderá apenas ser bem-sucedido se os países da Europa e de outros continentes participarem”, frisou Jin.

3 Dez 2015

Presidente da China reúne-se com líderes africanos

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Presidente da China, Xi Jinping, reúne-se a partir de sexta-feira com vários líderes de África, em Joanesburgo, numa altura em que o continente procura assegurar o investimento chinês, apesar do abrandamento na segunda maior economia mundial. Embora o investimento chinês em África tenha registado uma queda acentuada este ano, durante a cimeira de dois dias é esperado o anúncio de acordos para a construção de centrais eléctricas, infra-estruturas e projectos de desenvolvimento agrícola.
Entre Janeiro e Junho, o investimento directo estrangeiro em África, proveniente de Pequim, recuou 43%, para 1,2 mil milhões de dólares (cerca de 1,1 mil milhões de euros), segundo dados do Ministério do Comércio da China. A China tornou-se em 2009 o principal parceiro comercial do continente africano, evidenciando o enorme “apetite” chinês por matérias-primas. O “gigante” asiático é, por exemplo, o maior cliente do petróleo angolano.
O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês Zhang Ming disse ontem que a transição económica na China, para um modelo de crescimento menos intensivo, poderá ser aproveitada pelos países africanos. “A cooperação China-África atingiu um ponto onde precisa de ser renovada e transformada”, disse, lembrando que a industrialização do continente se encontra num “estágio inicial”.
Antes de aterrar na África do Sul, Xi Jinping realizou uma breve visita de Estado ao Zimbabué, onde os projectos desenvolvidos por empresas chinesas ajudaram a dinamizar uma economia paralisada pela crise. Xi, que foi o primeiro líder chinês a visitar o país governado por Robert Mugabe, desde 1996, assinou vários acordos nas áreas infra-estruturas, finanças, cultura, e conservação da vida selvagem, destacou hoje a imprensa estatal chinesa.

Água | Empresas chinesas abastecem Angola

Entretanto, duas empresas chinesas foram escolhidas pelo Governo angolano para obras de abastecimento de água nas províncias do Cuanza Sul e Huambo no valor de 211 milhões de euros, segundo despachos presidenciais a que a Lusa teve acesso.
O primeiro destes despachos, de 25 de Novembro, refere-se à obra de reforça do sistema de abastecimento de água de Porto Amboim, na província do Cuanza Sul, no valor de 60 milhões de dólares (56,6 milhões de euros) a realizar pela filial angolana da CGC Overseas Construction. Outra filial de uma empresa chinesa, a Sinohydro Construction, vai realizar, de acordo com outros dois despachos presidências da mesma data, obras idênticas na província do Huambo.
Uma refere-se ao primeiro lote da segunda fase do projecto de abastecimento à cidade do Huambo, no valor de 72,4 milhões de dólares. A outra diz respeito ao segundo lote do mesmo projecto, a contratar igualmente pelo Ministério da Energia e Águas por 91,1 milhões de dólares.
O Governo angolano tem vindo a contratar nas últimas semanas várias empresas chinesas para obras em Angola com “enquadramento financeiro” nas Linhas de Crédito da China.
O novo empréstimo concedido pelo Governo da China a Angola, que se segue a linhas de apoio anteriores, prevê mais 6.000 milhões de dólares de financiamento a obras cuja execução estão programadas para 2016 e 2017, segundo informação anterior do Governo angolano.
Aludindo ao novo entendimento com a China, José Eduardo dos Santos disse em Julho tratar-se de um “novo capítulo” nas relações bilaterais, perspectivando alterações no modelo de negócio entre empresas chinesas e angolanas, dos sectores público e privado. Na altura, referiu que seria produzida em Angola “parte dos materiais que serão usados nas empreitadas de obras públicas levadas a cabo no quadro dos contratos celebrados com empresas chinesas”.

3 Dez 2015

Advogado João Miguel Barros lança livro sobre Sistema Judiciário português

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] advogado João Miguel Barros lançou o livro “Sistema Judiciário Anotado” e a obra está já a ser distribuída. O conteúdo versa sobretudo sobre revoluções que Barros diz serem necessárias na Justiça portuguesa.
“É um livro técnico, generalista, quase de divulgação jurídica, mas que inclui também um texto introdutório sobre política de justiça, onde pretendo reflectir sobre a reforma a fazer no sistema judiciário e onde apresento seis propostas concretas (seis mini-revoluções) para a sua profunda alteração”, explica o autor, num comunicado enviado ao HM.
Durante a elaboração do livro, João Miguel Barros – advogado de Macau e ex-chefe de Gabinete do Ministério da Justiça em Portugal – fez um “cruzamento” entre a nova Lei de Organização do Sistema Judiciário (LOSJ) com as disposições mais importantes da Constituição Judiciária, dos Estatutos Profissionais, dos Códigos Processuais, “de alguma legislação substantiva e da jurisprudência mais recente”.
A experiência foi, admite, algo que ajudou na compilação da obra, um trabalho que o autor diz ter sido “árduo”, mas que considera valer a pena “por ter permitido alguns resultados interessantes” e por ser, acha, inédito.
“Aproveitando a experiência adquirida na fase de desenvolvimento da matriz conceptual da lei, em que estive profundamente envolvido, incluí no livro um conjunto vasto de comentários a diversos artigos da LOSJ, tentando contribuir assim para uma interpretação ‘autêntica’ de certas disposições mais controversas.

 Cometeram-se alguns erros no passado recente por falta de visão estratégica (não, não estou a falar da implementação da LOSJ porque isso são contas de outro rosário), mas agora é preciso ajustar o caminho e olhar em frente”, atira.
O livro, que começou a ser distribuído esta semana, foi editado pela Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa e o autor garante que lhe ocupou “uma boa parte do final deste ano”. Está à venda na livraria online da Associação, mas não está prevista a sua venda em Macau.

3 Dez 2015

Livraria Portuguesa acolhe debate político com figuras locais

Um debate apartidário sobre a Esquerda no contexto político acontece amanhã na Livraria Portuguesa. Para onde caminha a Esquerda depois do trilho percorrido nas últimas décadas será o ponto de partida para a tertúlia

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Livraria Portuguesa abre amanhã as portas para um debate político. Subordinado ao tema “A Esquerda no Contexto Político Actual”, e de organização apartidária, o evento surgiu de uma ideia de Rui Simões, advogado, e Tiago Pereira, secretário-geral do Partido Socialista de Macau.
“É um debate apartidário, foi organizado por mim e pelo Rui Simões. Não queríamos que isto estivesse associado a nenhum partido em particular, porque não se deseja que esteja associado a nenhuma visão política particular”, explicou o político ao HM.
São cinco os temas em cima da mesa: a Esquerda na pós-Guerra Fria e a Terceira Via, Desafios da Globalização – Um novo Socialismo Democrático, Identificação Esquerda – Direita versus Identificação Partidária – Crise de Representatividade?, Polarização Política na Europa e, por fim, o Cenário Político em Portugal.
Carlos Morais José, antropólogo, Frederico Rato e Sérgio Almeida Correia, advogados, constituirão a mesa de intervenções, que vai ser moderada pelo jornalista Rogério Beltrão Coelho. Os intervenientes “são pessoas de posições políticas conhecidas e que ocupam diferentes lugares no espectro político da esquerda”, indica Tiago Pereira.
O debate tem como objectivo principal perceber o que se chama de Esquerda, actualmente. “O mundo mudou muito nas últimas décadas. A globalização desenvolveu-se, a par com avanços tecnológicos, destacando-se aqui a internet. O Bloco Soviético desapareceu e a crise no Médio Oriente transformou-se com a ameaça terrorista. Conflitos propagaram-se em África e a catástrofe Síria alarga-se. O Iraque foi invadido e o regime anterior aniquilado. Os chamados mercados emergentes desenvolveram-se, destacando-se a China e a Índia”, argumentou o organizador.
O contexto histórico produziu “repercussões enormes” a nível económico, geopolítico, e “até mesmo das próprias sociedades”.
“Os padrões mudaram. Os desafios são outros. E a Europa vive actualmente uma crise que resulta desses factores e de uma deficiente arquitectura da União Europeia”.
O debate irá permitir assim, “explorar em que posição isto deixa a Esquerda, enquanto alternativa às políticas falhadas que têm sido levadas a cabo”.
A tertúlia política é aberta à sociedade e começará às 18h15, nas instalações da Livraria Portuguesa.

3 Dez 2015

Susana e os velhos

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] passagem mais emblemática que nos fala da concupiscente idade tardia talvez seja esta: Uma bela e jovem esposa é apanhada nas armadilhas de dois patriarcas que conspiram um plano de aniquilamento quando os seus desejos são gorados. Juízes do povo, anciãos respeitados, visitas da casa de Joaquim, seu marido, estes homens que há muito tinham passado a idade de se fazerem amar pelo corpo, encetam um plano, que dir-se-ia de vingança contra o tempo que passa, vingança contra uma mulher que era a imagem da sua impotência e do seu rancor, de entes a quem a vida abandonara para o grande festim dos belos encontros.
Talvez que, de tempos a tempos, seja bom não esquecermos toda este conhecimento herdado, que tenhamos em conta que o mais velho livro contém as mais intemporais questões. Efectivamente, dois velhos são uma imagem carregada de maus presságios… dois homens velhos subitamente despertos pela recordação de um Eros esmagado por carnes que definham e vontades que não se erguem… por uma raiva surda de um desejo esquecido. Nesta passagem, eles culpam um jovem a quem imputam culpas, um jovem imaginário, projectam a culpa numa virilidade normal e boa dos amantes. Para eles, o amor e a libido não são contemplações saudosas, mas raivas surdas, recalcadas. Impotentes, lançam blasfémias, sacrificam o objecto de desejo, incriminam uma inocente. Estes anciãos eram, no entanto, os sábios de uma tribo.
Pois bem, a sábia e respeitada velhice nem sempre é tão isenta de trama e perfídia quanto a julgamos e, num mundo envelhecido como o que nos foi dado viver, as sociedades requintaram a sua perversa dose de ignaras abominações. Tudo parece mais calmo, mais ordeiro e racional. Parece, porque, efectivamente, por debaixo deste glaciar, há uma antiga máquina de seres em desgaste que atemorizam e condenam a vida, pelo escape rasgado da esperança. Um velho, mesmo que seja Papa, lá no fundo, já nem acredita em Deus. Há um enorme despeito agreste que o tempo dá, como se enferruja o pouco de grande que uma alma contém. Porém, nós fomos apanhados na razão inversa da imagem do sábio.
Toda a trama ardilosa da matéria de facto, toda a clandestina tendência para o vício, a ocultação, o dolo e a má-fé se encontram neste tempo que passa, como uma vitória de que afinal o Homem não é passível de redenção. Conquistados os direitos fundamentais é com eles que devemos agir e é com eles que estamos seguros, jamais com a sabedoria dos outros que envelhecem e nos dizem que são a confiança melhorada.
A astúcia dos sobreviventes pode ser algo com que a soberana natureza dos fortes não contava, um dado demasiado agreste para os seus sentidos… uma erosão na incapacidade de lidar com o ambíguo. Nem sempre se deve deixar os mais velhos por aí, entregues a quaisquer uns ou a si mesmos, podem provocar reacções instintivas estranhas e o Homem não difere muito dos leões em matéria de macho dominante. As vítimas nem todas são biblícas… nem Deus se revela sempre para escorraçar os capciosos e o julgamento destes dois não deixa de ser uma nobre lição.
Nas nossas sociedades tão arrastadas no tempo, convém não esquecer componentes e factos. A geriatria é sem dúvida a mais honorável profissão do mundo, é uma missão quase superior. Vamos precisar de muitos e de uma competência sempre e mais actualizada. A fragilidade com que se revestem aqueles a quem o tempo esqueceu, a usura da sua mórbida sensibilidade, a reserva com que olham a vida, é já de si, e em muitos casos nos parece, um maligno olhar. Uma sociedade, que sexualizou as pessoas até à caricatura, pede para que se entre de novo nos sonhos de Daniel. Os anciãos de Susana existem. O tráfico e abuso sobre aqueles que são a denúncia a algo que morreu continua a ser o mais forte objecto de punição. Se consentirmos, eles não terão piedade, e a mentira das bocas desdentadas terá uma abjecta e tocante má fé que convém estar atento, para não nos abeirar-mos de uma monstruosidade.
Os velhos precisam de protecção, mas os novos também. Dir-se-ia que precisamos de estar salvaguardados da punição do ódio torpe, de um desvio da libido, de tramas subreptícias e da manipulação psíquica de que sempre deram provas. Pode ser duro o que se diz… mas mais duro é o que eles não dizem, inventam e conspiram nas costas das Susanas, dos mundos e das sociedades.
Vivemos em ciclos que não se preparam para questionar e abordar os ângulos das situações, vivemos quase que vinculados a estereótipos que nos impedem de ser defensivos e atentos, remetendo para um corpo colectivo, algo que o nosso não sabe explicar: o corpo, aliás, é um bem que permanece pouco falante… alguns apenas lhe vêem a nudez, a carnação, a gula onanista…. para nós, ele está parado a banhar-se no Jardim.
Mas o corpo pensa e informa-nos. O corpo pensa muito antes da nossa consciência. É um sinal de alerta máximo e não gostamos que nos espreitem sem a devida noção da medida. O corpo não gosta que os velhos olhares sabotem nele o novo, o improvável, o que inspira.
Uma advertência a todos nós que por avançados estados de desenvolvimento nos vamos tornando cada vez mais velhos: transformemo-nos! Nada mais velho, de facto, que uma juventude que se prolonga. Pensemos no bem que é estar perto de outra coisa, do quão difícil é ser jovem, do bem que deixámos de fazer-lhes e quanto isso é mais temível que a morte. Um pouco de afinidade com os que vão na mesma caminhada – um pouco mais de além – mesmo que já não sejam brasa, nem nunca tivéssem sido sóis.
Aquém disto é perigoso ficar. A alma dos anciãos é matéria esquecida pelas formas nascentes que amam os ciclos transformados.

3 Dez 2015

Raymond Aron: Um clássico contemporâneo

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s Etapas do Pensamento Sociológico é um verdadeiro clássico da Sociologia contemporânea. Constituído por sete estudos sobre os fundadores da Sociologia – Montesquieu, Comte, Marx e Tocqueville – e sobre a geração da viragem do século XX, Durkheim, Pareto e Weber, procura investigar as origens da Sociologia moderna através da elaboração de uma galeria de retratos intelectuais. «Estes retratos são de sociólogos ou de filósofos? Não o discutirei», explica o autor: «Digamos que se trata de uma Filosofia social de um tipo relativamente novo, de um modo de pensar sociológico, caracterizado pela intenção de ciência e pelo visar do social, modo de pensar que desabrocha neste último terço do século XX. O homo sociologicus está em vias de substituir o homo oeconomicus. (…) Os sociólogos reclamam-se de métodos empíricos, praticam inquéritos por meio de sondagens, empregam um sistema conceptual que lhes é próprio, interrogam a realidade social de um certo ângulo, têm uma óptica específica. Este modo de pensar alimenta-se de uma tradição cujas origens esta galeria de retratos procura descobrir».
Na impossibilidade de dar um resumo do pensamento de Raymon Aron sobre tantos autores incluídos nesta obra volumosa, destaco o que aqui se considera sobre um dos mais relevantes sociólogos contemporâneos, Max Weber.

As grandes linhas compreensivas do pensamento de Max Weber, por Raymond Aron
A citação (epígrafe) de entrada é desde logo muito compreensiva do sentimento de crítica da modernidade do autor:

“A racionalização da actividade social não tem como consequência, de modo nenhum, uma universalização do conhecimento relativamente às condições a às relações desta actividade e conduz pelo contrário, muitas vezes ao efeito oposto. O selvagem (primitivo) conhece infinitamente mais e melhor, na maior parte dos casos, as condições económicas e sociais da sua própria existência, que o civilizado”. [Weber, Ensaios sobre a Teoria da Ciência, página 397 (A Sociologia Compreensiva), em Aron 1967 : 497].

Passo a referir-me aos Ensaios Sobre a Teoria da Ciência ( Gesammelte Aufsatze zur Wissensschaftlehre).
Em Teoria da Ciência Weber distingue quatro tipos de acções:
A acção racional relativamente a um fim (zweckrational);
A acção racional relativamente a um valor (wertrational);
A acção afectiva ou emotiva;
e
A acção tradicional.
Evidenciam-se os radicais, Zweck que quer dizer finalidade, propósito e Wert que significa valor. Ora um dos problemas do nosso tempo resulta do facto de que praticamente todas as acções estão subordinadas a uma lógica Zweckrational. A racionalização deixa pouca margem de manobra para acções de outro tipo. A organização zweckrational criou um problema que é de tipo existencial, e que consiste em delimitar o sector da sociedade em que subsiste e deve subsistir uma acção de um outro tipo (Raymond Aron, As Etapas do Pensamento Sociológico, 1967: 501).
Para Weber a pesquisa científica é ao mesmo tempo zwertrational e wertrational, na medida em que a acção é racional relativamente ao seu fim ou objectivo, mas sendo esse o objectivo, a verdade também é racional relativamente a um valor, o valor da verdade.
Ora, pelo exposto, pode concluir-se que a ciência é assim um dos aspectos da racionalização característica das sociedades ocidentais modernas. As ciências históricas e as ciências sociológicas representam antes de mais um elevado esforço de racionalização, quer dizer de compreensão racionalizada do funcionamento e do devir das sociedades. E isto é uma preocupação genuinamente ocidental.
Para Weber, e esse é um traço da sua modernidade, a ciência será sempre uma actividade inacabada, assim como o conhecimento que resulta dessa actividade. Inacabamento e objectividade são os dois traços por excelência da ciência ocidental. E caracterizam também o processo de racionalização.
A ciência antiga visava os princípios das coisas e do Ser. Nesse sentido ela podia conceber-se como acabada ou visar esse objectivo. A ciência moderna ignora as proposições relativas ao sentido último das coisas. Ela está sempre em devir e sempre incompleta e inacabada. O reconhecimento desta condição precária do conhecimento é homóloga da descoberta da finitude do ser e da incompletude e precariedade ontológica e existencial. É, parece-me, uma atitude intelectual mais lúcida, mais conforme à realidade da natureza das coisas.
Muito importante é ter em conta que nas ciências (humanas) sociais (históricas, culturais ou outras) o conhecimento depende ainda das questões que se podem colocar à realidade. Ora o progresso implica uma mutação constante e permanente dessa mesma realidade, logo a possibilidade de que novas questões possam ser colocadas e assim até ao infinito. O autor explora o carácter aberto do conhecimento, mas também a sua progressiva relativazação.
Quais as grandes características (distintivas) das ciências (ditas) sociais (históricas e sociológicas)?
São três: São compreensivas (Verstehen = Compreensão); são históricas e são conduzidas (ao mesmo tempo que incidem sobre) à cultura.
O facto de os comportamentos humanos apresentarem uma inteligibilidade intrínseca (intrínseca mas não imediata), devido ao facto de os seres humanos serem dotados de consciência (e razão, diria eu), não legitima a crença ingénua numa compreensão imediata. O facto de os comportamentos sociais comportarem uma textura inteligível que as ciências da realidade humana são capazes de captar não desobriga o investigador social de todo o trabalho de investigação e estudo. Esta compreensão não é intuitiva mas elaborada. É sempre uma reconstrução. Quer dizer, o sentido subjectivo é sempre captável mas ao mesmo tempo equívoco.
Weber deve muito a Karl Jaspers, o conhecido filósofo do existencialismo alemão, à sua psicopatologia, a ideia de compreensão. Jaspers considera que há uma clara diferença entre explicação e compreensão. De resto tal como Dilthey. Há um momento em que a inteligibilidade desaparece por exemplo dos fenómenos patológicos. Aí deve entrar a explicação.

Importante: “Desse facto, o facto de que somos capazes de compreender, resulta que podemos ter consciencia dos fenómenos singulares (particulares) sem necessariamente termos de recorrer às proposições gerais (universais), (Raymond Aron, As Etapas do Pensamento Sociológico, 1967: 505). 
Há uma relação entre a inteligibilidade intrínseca dos fenómenos humanos e a orientação histórica destas ciências sociais (baseadas nos comportamentos humanos).
As considerações de Weber sobre a historicidade e sobre a dimensão sociológica está errada como a escola dos Annales muito bem veio a demonstrar. Mas é importante reflectir sobre este tipo de erros. (Aron 1967: 506)

“As ciências que incidem sobre a realidade humana são enfim ciências da cultura (Raymond Aron, As Etapas do Pensamento Sociológico, 1967: 506), se entendermos por cultura, não apenas a arte ou a literatura, mas também as leis, as instituições, os regimes políticos, as experiências religiosas, as teorias científicas. Portanto a ciência weberiana significa o esforço para compreender e explicar os valores aos quais os homens aderiram assim como as obras que foram por eles edificadas”.

Ora as obras humanas são criadoras de valores ou são definidas, elas mesmas, através da referência a valores. Como é que pode haver uma ciência objectiva, isto é não falseada por juízos de valor (es), quando as obras sobre as quais a ciência incide, estão elas próprias carregadas de valor(es)? Se as obras são criadoras de valores, elas são assim criadoras de algo que as inviabiliza como possibilidade de que sobre elas possa incidir a elaboração de juízos de facto universalmente válidos.
Ciências da cultura é assim uma contradição nos termos. Não pode haver ciência onde reina justamente a falta de universalidade… objectividade onde reina a subjectividade, etc. Os juízos de valor falseiam. Uma coisa é a relação aos valores (Wertbeziehung) que é constitutiva das ciências sociais e o juízo de valor (Wertuteil) que é antinómico do juízo científico, uma vez que é sempre pessoal e subjectivo.

Raymond Aron

nasceu em 1905 em Paris oriundo de uma família judia e burguesa da Lorena. Foi normalien, o que é um título de nobreza intelectual em França. Na École Normal Supériur de Paris, conviveu com Sartre, Marrou, Nizan, Canguillem, entre muitos outros espíritos brilhantes. Colaborou com Braudel na Escola de Altos Estudos e realizou cursos no Colégio de França. No domínio da política foi próximo de Malraux e De Gaulle. Faleceu em Paris em 1983. Além das Etapas do Pensamento Sociológico, Montesquieu, Comte, Marx, Tocqueville, Durkheim, Pareto, Weberm eu destacaria O Ópio dos Intelectuais de 1955 – Livro dedicado ao Marxismo e as 18 Lições Sobre a Sociedade Industrial de 1964.

3 Dez 2015

Grande Prémio Internacional de Kart regressa a Coloane

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Grande Prémio Internacional de Kart de Macau de 2015, evento que decorre de 10 a 13 de Dezembro, foi apresentado esta semana. O evento que marca o regresso do Kartódromo de Coloane à ribalta internacional deverá contar com a presença de 140 pilotos provenientes da Austrália, Itália, França, Holanda, EUA, Japão, Malásia, Singapura, Filipinas, Indonésia, Tailândia, China continental, Hong Kong e Macau.
Estes irão competir em sete provas divididas em onze categorias: Campeonato Open de Karting Asiático, Formula 125 Open Sénior, Júnior e Veteranos; Rotax Max Júnior e Sénior; Mini Rok; Rok Sénior; Fórmula Cadetes; Taça AAMC (X30 Sénior e Veteranos), Taça Macau KZ; e a prova cabeça de cartaz, o Campeonato CIK FIA Asia-Pacifico KF.
O evento perdeu duas categorias internacionais por falta de quórum. “Sem o número suficiente de pilotos, o Campeonato CIK FIA Asia-Pacifico Júnior KF e o Campeonato CIK FIA Asia-Pacifico KF, inicialmente planeados para Macau de 10 a 13 de Dezembro de 2015, foram cancelados”, anunciou a Comissão Internacional de Kart da Federação Internacional de Automobilismo (CIK-FIA) na sua página electrónica em meados de Novembro.
Devido ao cancelamento da prova de Macau, o japonês Haruyuki Takahashi sagrou-se campeão CIK FIA Asia-Pacifico KF, cuja única prova se realizou em Abril no kartódromo de Sugo, no Japão. A prova do Campeonato CIK FIA Asia-Pacifico KZ em Macau contará com vinte e dois participantes, entre eles um representante da RAEM.

Aperitivo local

O experiente João Afonso, o piloto com mais títulos de Karting em Macau, irá tripular um kart, chassis Gillard e motor TM Racing, da equipa CKS Racing Team. A entrada para os espectadores é gratuita. O evento, que inicialmente estava marcado para Outubro mas, a pedido das entidades locais, foi adiado para Dezembro, é organizado pela Associação Geral Automóvel de Macau – China, Instituto do Desporto de Macau e pela Direcção dos Serviços de Turismo.
Como aperitivo, este fim-de-semana o Kartódromo de Coloane recebe a última jornada de provas dos campeonatos locais de karting e motociclismo.

3 Dez 2015

Aturdimento e vazio

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]assado o tempo de choque causado pelos ataques a Paris, eis que a cidade das luzes é palco da Cimeira do Clima, neste mês de Dezembro.
Por aqui também faria jeito uma cimeira sobre cidades e cidadania, sobretudo quando Charles Landry está prestes a chegar a Macau. Não se deveria deixar passar a oportunidade da visita deste especialista em cidades criativas.
Este último mês do ano surge agora também ameaçador para quem tinha passes mensais de parques de estacionamento, agora descobertos como ilegais pelas entidades competentes. O efeito foi de total aturdimento. Os ouvidos a zunir e, em redor, o caos junto à incredulidade.
Cidadãos foram despejados de um parque de estacionamento que emitiu passes mensais posteriormente a 2009, o que para mim constitui uma estupefacção, porquanto não entendo nem consegui encontrar a razão da discriminação de datas e parques de estacionamento, a razão de o terem feito, porque só agora foram descobertos. Há um ditado que diz “ou há moralidade…”.
Há nisto tudo uma impreparação clamorosa, um improviso total, porquanto em 2009 já devia ter soado o alarme quanto ao número de veículos em Macau.
Foram precisos mais oito anos para que se tomasse a iniciativa de desalojar os portadores dos ditos passes sem que se conheçam quaisquer medidas para estancar o dilúvio de automóveis que continua a inundar a R.A.E.M., além da extrema poluição, consequência mais do que natural.
Parece que a tudo isto preside uma lógica que, ou é a da batata ou a do inhame, conforme gostos e paladares, porquanto, para além de retirar benefícios aos cidadãos em nome de uma eventual “moralidade” que apenas existe na cabeça de algumas sumidades científicas propensas a sorteios e afins, redundou no aumento do custo do estacionamento para MOP6.00 por hora, o que significa que o trabalhador normal pagará dez horas por dia, aproximadamente, qualquer coisa como MOP60.00 diárias. Como resultado, pude constatar que em plenas 15:00 horas, um dos parques apresentava 115 vagas para automóveis e 130 para motociclos. O panorama é radicalmente diferente, com enormes espaços desocupados por quem não pode, ou não aceita, pagar somas tão avultadas.
Perguntar-se-á a quem, verdadeiramente, beneficia esta medida. Seguramente não é aos cidadãos, únicas vítimas de tais luminosas ideias. Ora, não beneficiando o cidadão, alguém tirará lucro, se os automobilistas estiverem pelos ajustes ou forem obrigados a pagar por hora MOP6.00. Afinal, estamos num mercado libérrimo, onde até a asneira é livre.
Entretanto, e porque depois de Kyoto, a cimeira de Paris ainda não decidiu sobre o futuro dos combustíveis fósseis, o nosso mercado livre vai deixando engrossar a fileira de automóveis e motociclos, e o nível do caos que é o trânsito, e o veneno que é a poluição do dióxido de carbono, que mata que se farta, mas andam todos distraídos com outros malefícios.
Tudo isto me traz à mente o conceito budista do Vazio. “Uma taça só tem utilidade quando está vazia”. Transpondo para a realidade que este escrito aborda, creio que o princípio, ainda que não budista, é o mesmo: esvaziar para encher.
Seguramente estamos no plano do aturdimento e do vazio.

3 Dez 2015

Carta a Lili (Não tenhas medo)

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]ara Lili,

Pode ser que esta minha missiva te apanhe de surpresa, mas não é nem nunca foi minha intenção invadir a tua zona de conforto, e espero também não te apanhar de mau humor, como dizes ser do teu timbre. Em primeiro lugar gostava de esclarecer que aquilo que tenho para te dizer não é necessariamente dirigido a ti, mas a quem queira tirar das minhas humildes palavras as ilações que considere oportunas, e mesmo que daqui se possa aproveitar alguma ideia, lembra-te que tens um bem precioso com que todos nascemos mas infelizmente nem todos se podem orgulhar de fazer dele o uso: o livre-arbítrio. Este nosso dom de poder escolher o nosso caminho, depois de termos sido inicialmente levados pela mão dos nossos pais, e dotados do saber transmitido pelos nossos mestres, provém de um outro igualmente inato, mas de mais difícil gestão: a liberdade. Este valor da liberdade assenta numa base menos sólida, mas onde ao mesmo tempo cabem as liberdades de toda a gente – “a nossa liberdade termina onde começa a liberdade dos outros”, não é apenas uma frase feita. O mais difícil mesmo é aceitar o que cada um entende por liberdade, e a medida da mesma que considera a melhor para si.
Se mais nada sabes de mim, Lili, sabes pelo menos que as distâncias nos separam; tu aí, no coração de Portugal, e eu aqui na Ásia Oriental, em Macau. O que nos une, quer queiramos quer não, é aquele grande abraço que um dia esse lugar que agora chegou a vez de ser teu deu ao mundo, e da ponta de uma das mãos abertas estás tu, e na outra estou eu, e em comum temos aquele sentimento que por vezes nos faz ficar mais próximos, que é a “Portugalidade”, aquele sentimento do ser lusitano que os nossos emigrantes tão bem exteriorizam e que nos faz encher o peito de orgulho. Pode ser que a forma como entendes este conceito seja diferente da minha, mas nenhum de nós está errado, e muito menos estará completamente certo. Ultimamente gostava de poder dizer que estou errado, e que não é esta a noção do ser Português que se recomenda, pois está muito longe da ideal e que passa em primeiro lugar por amar Portugal, o nosso país herdado dos nossos ancestrais. Mas se por um lado uma herança é parte do património individual ou dos bens de uma dada família, Portugal é a herança de todos, inalienável, indivisa, e tal como a própria liberdade, frágil e sujeita a que a diminuamos, deixando-nos com mais do que uma perda irreparável: um grande vazio no tal peito, outrora inflado de orgulho.
Mas vê se consegues perceber onde eu quero chegar, Lili. Somos aquilo que fomos, que fizemos, que ousamos um dia ser, e que em tempos foi muito mais do que somos hoje. Fomos uma das nações que de mundos ao mundo, e se daí se podem tirar coisas más e coisas boas, uma das boas foi o mundo ter ficado a conhecer-nos, e posso-te garantir daqui, do outro lado desse mundo, que nos olham mais como uma das suas partse integrantes, do que como um “invasor”, e quer gostemos ou não da palavra, é aquilo que um dia fomos. Curiosamente aqui os chineses referem-se a nós como “os piratas”, mas se para eles isso pode ser entendido de outra forma, para nós um “pirata” é um aventureiro, um destemido navegante dos sete mares, enfrentando desafios, vencendo batalhas, perdendo outras, e no ponto da História em que nos encontramos e ajudamos a escrever, deixa-nos onde estamos agora, eu aqui, tu aí, separados pela distância, e na soma de tudo o que somos, unidos pela Portugalidade.
Não sei nada de ti, Lili, nem tu de mim, mas és capaz de reconhecer em algumas das valências que nos aproximam aquele que foi o relato por excelência desse nosso passado que ainda faz eco no presente, e a que o poeta que ainda hoje todos comemoramos deu o nome de “Os Lusíadas” – que somos nós, e se temos consciência desse facto, talvez nem sempre o tenhamos presente em todos os momentos. Se alguma coisa retemos da epopeia narrada por Camões nessa obra que tantos de nós tratou injustamente por nos ser imposta enquanto jovens, tempo em que nos queriamos impor, foi a persistência e a coragem das nossas gentes. Se te pedir para me dizeres três personagens d’”Os Lusíadas” se calhar respondias o mesmo que eu: Baco, o velho do Restelo e o Adamastor. É engraçado quando o personagem principal somos nós mesmos, e as referências que nos vêm à memória são as das nossas adversidades. Mas isso não tem que ser necessariamente mau, ou uma expressão do nosso incontornável fatalismo, a que tão irremediavelmente entregues ficámos, que fizemos dele a nossa canção, e lhe demos o nome de fado.
E por falar em fado, também esse começou por ser invariavelmente triste, mas mais uma vez demos a volta por cima, e ora gingando ora cantando ao desafio, fizemos orelhas moucas das palavras do velho do Restelo, e fomos enfrentar o Adamastor, e imunes às ciladas de Baco fechamos os braços à volta do mundo, com a ilha dos Amores de portas escancaradas para nos receber, e onde somos sempre bem vindos. É por isso que me entristece que não nos encontremos num destes imensos pontos que temos em comum, e mais uma vez gostava de estar rotundamente errado. É nos momentos mais extremos que nos damos a conhecer, e da ponta da mão que abraça o mundo, olho para essa mão e vejo-a recusar segurar a mão de quem dela mais precisa, e por motivos que, seja eles qual forem, nada têm a ver com o impulso que nos fez meter nas Caravelas e enfrentar o Adamastor, que é o medo. Todos temos medo, uma vez ou outra, mas nunca devemos ficar unidos pelo medo, pois mesmo que nunca cheguemos a enfrentá-lo, o Adamastor ganha sempre.
Tanto eu como tu Lili, temos filhos, e os teus ainda mais pequenos que o meu rapaz, que é o único herdeiro que tenho, e queremos para eles o melhor, naturalmente. E queremos ainda que possam usufruír do melhor em plena liberdade, e dotados de um espírito crítico, advertendo-os dos perigos que são os Bacos e os Adamastores desta vida. É por isso e só por isso, Lili, que portas fechadas, ou neste caso as fronteiras que um dia estendemos até este ponto longínquo onde me encontro, e acreditar numa mentira por ser parte de um todo que achamos o mais válido, não se coadunam com essa liberdade, e serão com toda a certeza o ferro que fere de morte o espírito crítico que os impedirá de não comer do que não gostam. Um abraço do tamanho do mundo, Lili. Até à próxima, e sem medo.

3 Dez 2015

Orçamento | Relatório de 2014 com falhas e baixa execução do PIDDA

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Assembleia Legislativa encontrou problemas no relatório de execução orçamental do ano passado. “A nossa equipa de assessoria encontrou problemas no relatório de execução do orçamento de 2014, tais como aqueles apontados na apreciação da propostas de orçamentos, em 2013”, indicou ontem Cheang Chi Keong, presidente da 3.ª Comissão Permanente da AL, que analisa o diploma na especialidade.
Depois de justificar que a 2.ª Comissão Permanente – grupo que avaliou as propostas de lei sobre o orçamento – está com muito trabalho em mãos e, por isso, este relatório foi passado para a Comissão que preside, o também deputado indicou que a baixa taxa de execução do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA) continua a ser um dos problemas mais comuns.
Depois de uma reunião interna, Cheang Chi Keong assegura que o orçamento de 2014 foi executado de acordo com a lei e avaliado positivamente pelo Comissariado da Auditoria, mas adiantou que, no próximo encontro, os membros da Comissão irão colocar questões aos representantes do Governo. Isto porque a pouca execução do orçamento é a maior preocupação dos deputados, sinal claro, diz Cheang Chi Keong, de alguma “falta de rigor” por parte do Governo. “Tivemos aumento das despesas, mas a taxa de execução [do PIDDA] foi baixa”, apontou.
“O Governo quer ter margem”, indicou, mas “é preciso ter uma orçamento mais apertado, mais certo e, claro, mais perto da realidade”. Com isto, o presidente indicou que a Comissão irá apresentar alguns pedidos de esclarecimento ao Executivo. Há desvios nas contas, conforme explicou o presidente, e os excedentes, indicou ainda Cheang Chi Keong, serão, depois de concluída a análise, canalizados para a reserva financeira já no início de 2016.

2 Dez 2015

Clima | ONU junta países para encontrar soluções

Arrancou ontem a 21ª Conferência das Organizações das Nações Unidas em Paris, dias depois dos atentados terroristas que abalaram o mundo. 150 líderes, de 195 países, já estão na cidade francesa onde tentam chegar a um acordo para manter o aquecimento global abaixo dos 2 graus

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]futuro do planeta e dos seus recursos está em discussão em Paris, França, e todos esperam que da 21ª Conferência das Organizações das Nações Unidas (ONU) saia finalmente um documento com regras bem definidas sobre os travões a colocar ao aquecimento global e à utilização de energias não renováveis.
Até ao dia 12 de Dezembro, o mundo espera ter um novo acordo que saiba vencer no meio das diferenças económicas dos países, numa altura em que 2015 já é considerado como o ano mais quente de sempre, segundo a Organização Mundial de Meteorologia.
O grande objectivo é encontrar soluções para que o aquecimento global não vá além dos 2º, número que colocaria o planeta numa situação dramática ao nível da subida das águas. Para manter esse número, os países terão de cortar as emissões de dióxido de carbono e adoptar a utilização de energias renováveis a 100% até 2050.
Na agenda está também a criação de um fundo de 100 mil milhões de euros para ajudar os países em desenvolvimento a lidar com as consequências das alterações climáticas.

É agora ou nunca

No primeiro dia de reuniões, os líderes dos países esperam que se possam encontrar soluções para a redução da dependência das economias mundiais em relação ao petróleo. Para François Hollande, presidente da França, o mundo já atingiu um “ponto de ruptura”.
Entretanto, o Papa Francisco também fez declarações sobre a cimeira e as conclusões que dela poderão surgir, afirmando que o mundo “está à beira do suicídio”. “Não estou seguro, mas posso dizer que é agora ou nunca. A primeira cimeira creio que foi em Tóquio e fez-se pouco. A cada ano que passa os problemas agravam-se”, disse o Papa durante o voo que o levou de volta a Roma, depois de uma viagem até à República Centro-Africana. O líder da Igreja Católica disse ainda ter “confiança nestas pessoas para que façam algo”.
A COP21 surge como uma forma de resolver e implementar aquilo que nunca foi concretizado, especialmente depois do fracasso do Acordo de Copenhaga há seis anos atrás. Pede-se sobretudo que se chegue a um acordo sem claras fissuras entre países ricos e pobres e que haja uma responsabilização dos maiores países emissores, a China e os Estados Unidos.
Em Paris, aguarda-se a concretização numa cimeira que reúne algumas das maiores potências mundiais que estiveram ausentes no Acordo de Copenhaga. Os Estados Unidos e a China, que têm evitado assumir compromissos em relação à protecção ambiental, revelaram logo no primeiro dia vontade de cumprir metas.
Para combater o aquecimento mundial, espera-se uma duplicação do investimento feito e à investigação na área das energias limpas para os próximos cinco anos.
Mas nem só de países é feita esta cimeira. Líderes de instituições como Bill Gates (Fundação Bill e Melinda Gates), Mark Zuckerberg (Facebook), Jeff Bezos (Amazon), Jack Ma (Alibaba) e Richard Branson (Virgin) prometem dar uma ajuda ao nível do sector privado.
Quatro países europeus – Alemanha, Noruega, Suécia e Suíça – irão disponibilizar 500 milhões de euros para ajudar países pobres a reduzirem emissões de CO2. E a Índia lançou uma aliança com 120 países, com a qual pretende juntar 400 milhões de dólares para acelerar o uso da energia solar.

O medo dos mais fracos

Entretanto, 43 países considerados mais vulneráveis já assinaram um acordo onde dizem não quererem ser “sacrificados” por aquilo que venha a ser decidido na COP21. No fundo, pedem um objectivo “mais ambicioso”.
“Nós nos recusamos a sermos sacrificados pela comunidade internacional em Paris”, disse Anwar Hossain Manju, Ministro do Meio-Ambiente do Bangladesh. Para o dirigente, a COP21 “tem a obrigação de agir. Não fazer isso é um crime”, acrescentou.
Esta declaração foi adoptada em Manila há semanas no Fórum do Clima Vulnerável e exige o limite de aquecimento global a 1,5 graus. O fórum pediu ainda uma “descarbonização completa até 2050″ com um pico de emissões globais de gases com efeito de estufa “no mais tardar até 2020”.
Manter o aquecimento abaixo de 1,5 graus “não vai simplesmente garantir a segurança e a prosperidade, também vai garantir a justiça”, afirmou o ministro das Relações Exteriores da Costa Rica, Manuel Gonzalez, ressaltando que o desequilíbrio climático “fere os direitos humanos”.
“Individualmente, nós já somos sobreviventes. Colectivamente, somos uma força” permitindo ir rumo a um mundo “mais justo e activo sobre o clima”, declarou o presidente filipino Benigno Aquino.

Xi Jinping diz que países desenvolvidos devem investir mais

A COP21 promete fazer história sobretudo porque o principal emissor de gases poluentes do mundo, a China, prometeu agir, tal como os Estados Unidos. Ban Ki-moon fala de um grande momento político

Poderá Paris trazer um novo rumo para a protecção do ambiente a nível mundial? A COP21 arrancou com os grandes poluidores a traçarem promessas. Xi Jinping, o presidente chinês, defendeu que os países mais ricos devem investir mais na protecção do meio ambiente.
“Os países desenvolvidos devem honrar o seu compromisso de mobilizar 100 biliões de dólares todos os anos antes de 2020 e fornecer um apoio mais forte aos países em desenvolvimento depois disso”, disse o presidente chinês no primeiro dia de discursos.
Xi Jinping sugeriu que cada país procure uma solução que se adapte às suas necessidades, mas assine um modelo de cooperação em que todas as partes saiam a ganhar.
O líder chinês defendeu um acordo que se foque no fortalecimento das acções globais contra as mudanças climáticas, nas quais os países desenvolvidos respeitem seus compromissos de financiamento e os países em desenvolvimento acelerem sua transição energética.
“Além dos governos, deveria haver a mobilização do sector empresarial, das ONGs e de todos os actores da sociedade”, declarou Xi, que disse ser importante a transfência das tecnologias necessárias aos países pobres, mas que sejam respeitadas as diferenças entre cada nação.
Para combater a mudança climática, o líder chinês ressaltou que “não se deve privar os países em desenvolvimento da necessidade legítima de fazer diminuir a pobreza e melhorar as condições de vida de sua população”. 21215P2T2
A 21ª Conferência das Partes (COP21) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) não é a meta, segundo Xi, mas sim um ponto de partida que sirva para fomentar a recolha de recursos, controlar o aumento das emissões e iniciar o mecanismo que trace o caminho para um desenvolvimento verde.
“É preciso que em Paris rejeitemos as visões estreitas e chamemos todos os países, principalmente os que estão em desenvolvimento, para que assumam sua responsabilidade para conseguir uma solução que nos beneficie a todos”.
O líder chinês destacou que o seu país está “a trabalhar no duro” e que a ecologia terá um papel essencial no seu terceiro plano de cinco anos, no qual procura conseguir um desenvolvimento “sustentável e aberto”, partindo da base da inovação.
“O nosso objectivo é atingir um pico de emissões daqui até 2030, e queremos completar isso o mais depressa possível”, indicou Xi, demonstrando a intenção de reduzir as emissões de CO2 por unidade de PIB entre 60% e 65% para essa mesma data em relação aos níveis de 2005.
O presidente da China alegou que o país está actualmente “na liderança dos países em relação à conservação energética e ao uso de energias novas ou renováveis”, e comprometeu-se em manter seus esforços, especialmente em termos de cooperação com os países do sul.
Recorde-se que os países desenvolvidos já se comprometeram antes a investir esse montante todos os anos, na forma de financiamento público e privado, até 2020, ano em que os acordos já feitos sobre o clima vencem. Contudo, os países menos poluidores, e mais pobres, querem que os mais ricos paguem mais.
Os Estados Unidos, enquanto segundo maior país poluidor do mundo, assumiram as suas responsabilidades. “Aqui estou como Presidente da maior economia mundial, e o segundo maior emissor [de CO2], para dizer que não só os Estados Unidos reconhecem o seu papel na criação deste problema, como não enjeitamos a nossa responsabilidade em fazer algo a respeito”, afirmou o presidente Barack Obama.
Obama falou ainda da necessidade de um acordo que fixe “uma estratégia de longo prazo” e que tenha um “forte sistema de transparência”, com mecanismos de verificação de tudo o que está agora a ser prometido. Numa frase, sintetizou a lógica adoptada, e que está a transformar a diplomacia climática: disse que as metas já não são definidas “para nós”, mas “por nós”.

Índia | Escolhas difíceis

A Índia, outro dos países onde a industrialização teve o seu boom, e com ela maiores emissões de gases poluentes, o compromisso também se fez notar.
“Os mais prósperos ainda têm uma forte pegada de carbono e os milhares de milhões de pessoas que estão no fundo da ladeira do desenvolvimento precisam de espaço para crescer. Portanto as escolhas não são fáceis”, disse o primeiro-ministro Narendra Modi.
Seis anos depois, pode ser que Paris faça história. “Um momento político como este pode não voltar a existir. Nunca tivemos uma oportunidade tão grande”, disse Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, no discurso da cerimónia de abertura.
Mais de duas mil fábricas encerradas na China
Enquanto Xi Jinping fala sobre um mundo mais amigo do ambiente em Paris, o seu país continua a registar níveis de poluição que constituem um perigo para a saúde pública. A China ordenou o encerramento de 2.100 fábricas devido ao agravamento da poluição, que ontem registou em Pequim valores 24 vezes acima do que é considerado seguro. Uma densa névoa cinzenta envolveu Pequim, com a concentração de PM 2,5, partículas microscópicas que penetram os pulmões, a disparar até aos 598 microgramas por metro cúbico. A leitura, disponibilizada pela embaixada dos Estados Unidos, ultrapassa largamente o máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de 25 microgramas por metro cúbico. Em Jinan, a centenas de quilómetros da capital, os valores chegaram aos 400. As companhias áreas cancelaram mais de 30 voos de Pequim e Xangai, muitos para a província de Shaanxi, muito poluída e grande produtora de carvão.

Joe Chan: Cortar emissões “não é uma coisa fácil”

O presidente da Associação de Ecologia de Macau olha para a COP21 e lamenta que a sociedade local não esteja a prestar tanta atenção sobre o assunto. “Acho que este é um tema de máxima importância e acho, sinceramente, que este é uma problemática que deveria receber mais atenção por parte da sociedade de Macau. Considero que devíamos estar mais preocupados com o clima, o ambiente”, disse ao HM.
Em relação às palavras de Xi Jinping, Joe Chan acredita que vai ser difícil cortar as emissões daquele que é o país mais poluente, a China. “A China é o maior emissor de gases poluentes, por isso, deveria ser também a primeira a cortar essa mesma emissão. Mas confesso que não é uma coisa fácil, ainda assim acho que é tempo da China pensar nisto. Sei que não é fácil que todas as nações, especialmente a China, definam um plano para atingir o fim, ou seja, diminuir os gases. Não é fácil, porque está altamente relacionado com questões económicas.”
Para o ambientalista, “o dinheiro não é a solução”, diz, referindo-se à possível criação de um fundo financeiro que cubra a protecção do meio ambiente. “Criar um fundo em que os países mais ricos pagam mais não é a solução. Devíamos estar mais preocupados com o desenvolvimento ambiental de cada país. É uma decisão difícil de tomar. Se todas as pessoas não assumirem esta preocupação nada se pode fazer. Não é o fundo que resolverá”, rematou.

2 Dez 2015

Paulo Chan | Novo director da Inspecção de Jogos defende mais legislação

Paulo Martins Chan já é o novo director da Inspecção e Coordenação de Jogos e assegura que há trabalho a fazer: ao nível da revisão legislativa, da contratação de mais pessoal e da renovação do funcionamento dos próprios serviços

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]a magistratura no Ministério Público (MP) para a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ). Paulo Martins Chan tomou ontem posse no novo cargo, em substituição de Manuel Joaquim das Neves, e deixou um aviso claro quanto à necessidade de implementar mais legislação no sector dos casinos.
“O sector do Jogo, que se encontra numa fase de adaptação depois de muitos anos de desenvolvimento célere, carece muito de um quadro legal aperfeiçoado. Irei, certamente, acompanhar e executar as políticas do Secretário [para a Economia e Finanças]”, disse Paulo Martins Chan no seu discurso de tomada de posse.
Aos jornalistas, o novo director da DICJ não quis, contudo, dar mais detalhes sobre as necessidades nessa área. “Penso que hão-de existir muitas lacunas, mas só entrei nas instalações da Inspecção de Jogos há duas horas. Não posso avançar muitas informações porque isso seria irresponsável. Mas penso que serão leis sobre áreas como o controlo dos casinos”, apontou.
Paulo Chan disse ainda que, “a nível interno”, vai “estudar todas as viabilidades para aperfeiçoar o funcionamento interno”, existindo a ideia de contratação de mais pessoal.
“Temos de perceber quais são os problemas existentes na Direcção, bem como a nível legislativo e de recursos humanos. Esses são os trabalhos prioritários. Já tenho algumas escolhas [na área da contratação de pessoal], mas não tenho um número concreto”, apontou.

O caso Dore

Paulo Martins Chan fez ainda alguns comentários sobre o caso Dore. “Eu tenho a lógica do magistrado, que é: perante um caso concreto, temos que ter os factos assentes primeiro. Quem é que emprestou primeiro dinheiro a quem, o valor, se a pessoa tem algum recibo emitido… Os pormenores são muito importantes. Antes de termos os factos concretos não podemos tomar nenhuma decisão e sabemos que isso já foi entregue aos órgãos de investigação. Podemos aguardar os resultados”, referiu.
O novo director da DICJ deixou ainda um apelo aos investidores das salas VIP. “Em termos gerais penso que a Direcção de Inspecção tem tomado algumas medidas, relativamente à necessidade de ter uma conta própria ajustada aos mediadores. Outras medidas vão ser tomadas. Isso vai ser importante, mas aproveito para fazer um apelo aos cidadãos: qualquer investimento com altos lucros é naturalmente muito arriscado”, defendeu.
Presente na tomada de posse, o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, disse que Paulo Martins Chan é a pessoa indicada para lidar com a nova fase do sector do Jogo.
“Tendo em conta a entrada do sector do Jogo numa nova fase de desenvolvimento, as necessidades de reforço do controlo do referido sector de acordo com as leis e com vista à promoção do desenvolvimento saudável, a DICJ irá desempenhar um papel cada vez mais importante. Por isso o Governo coloca novas exigências à liderança respeitante, de acordo com o evoluir do tempo”, apontou.
Lionel Leong acredita que a DICJ, com Paulo Chan, “irá cumprir as suas atribuições e dar contribuições para o reforço da fiscalização e da supervisão no desenvolvimento do sector do Jogo nos termos da lei”, bem como “a realização dos trabalhos conforme os resultado do estudo” sobre a renovação das licenças de Jogo.

Yuan no FMI | Governo diz que é cedo para avaliar impacto

Questionado sobre as consequências que poderão surgir em Macau pelo facto do renminbi ser uma moeda mais forte por ter entrado para o cabaz de moedas do Fundo Monetário Internacional (FMI), Lionel Leong disse que “é cedo” para avaliar. “Devo dizer que a entrada do renmimbi, em termos de sistema monetário, é muito positivo. O Governo da RAEM vai continuar a estar atento, porque haverá divulgação de novas informações. Todos sabem que o renminbi tem uma grande influência ao nível da exportação dos serviços e grande parte dos nossos visitantes vem do interior da China. Quanto a eventuais alterações do renminbi ao nível da inflação, vamos estar atentos”, concluiu.

Governo desdramatiza maior quebra desde 2010

O Secretário para a Economia e Finanças disse ontem que a quebra das receitas do Jogo em 32,3% em Novembro, por comparação a 2014, está dentro das previsões, apesar de este ser o valor mais baixo desde Julho de 2010. A quebra representa menos 16,4 mil milhões de patacas. “Normalmente em Novembro há sempre uma diferença face a Outubro, todos os anos. Normalmente é o mês com menos receitas e isso está de acordo com as nossas previsões. Vamos estar atentos e reforçar a comunicação com as operadoras de Jogo”, referiu Lionel Leong à margem da cerimónia de tomada de posse de Paulo Martins Chan.

2 Dez 2015

Macau, esse filme…

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]endo os filmes uma representação da realidade, porque não então comparar o seu processo de produção com coisas prosaicas como a gestão de uma cidade? Podia ser uma cidade ao calhas mas compare-se com Macau. Parece-me até especialmente apropriado neste momento solene em que se discutem as Linhas de Adormecimento Geral ou LAG, ou lá como se chamam. Tomemo-las como o guião do nosso filme.

Fazer um filme parece um processo relativamente fácil: escrevem-se uns diálogos, arranjam-se uns actores, um realizador, uns tipos para filmar mais umas roupitas, luzes e já está! Gerir uma cidade também. Arranjam-se uns secretários, um chefe, escrevem-se umas leis, uns polícias para as fazer cumprir, uma tropa para arranjar as ruas… enfim, vocês sabem. A diferença é que a grande maioria dos filmes é lixo e só algumas cidades dão mesmo vontade de lá viver, ou de lá voltar.

Todos os filmes começam por um guião. Quanto melhor for, quanto mais inteligentes e marcantes os diálogos, quanto mais elaborada e pensada a história, maiores as possibilidades de termos um filme de sucesso. Um mau guião dificilmente dará um bom filme a menos que a equipa de produção se exceda e consiga improvisar uma história melhor ou então estamos a filmar um porno. Mas, mesmo neste caso, ajuda que os grandes planos tenham algum contexto erótico subjacente. Um filme precisa, portanto, de uma ideia sólida, de um final entusiasmante, de um enredo que nos compila a viver naquele hiato de ficção, a vê-lo mais do que uma vez e até a recomendá-lo aos amigos. Neste contexto, os diálogos assumem um papel crucial ao revelarem personagens maiores do que a vida, ao desvelarem inconscientes, ao catapultarem a acção e a imprimirem na nossa memória lições de vida, formas de estar ou apenas grandes tiradas que marcam tempos gerações, modas, eternidades. Um bom filme não tem personagens que soam todas ao mesmo, nem as palavras são ditas apenas porque sim. Por exemplo, não podemos ter os personagens todos do filme a gritarem repetidamente “diversificação económica” ou “indústrias criativas” sem saberem muito bem o que isso quer dizer, a menos que estejamos a escrever uma comédia onde a repetição e o nonsense podem ser utilizados como ferramentas dramáticas. Mas gerir uma cidade não pode ser uma comédia. Um bom filme não se coaduna com uma personagem que é, por exemplo, médico e não sabe o que é uma amigdalite, como não podemos ter um dirigente de uma cidade ignorante do valor pago pelo governo dessa cidade em rendas. Especialmente quando a dita sofre horrores a esse nível. A menos, de novo, que estejamos a produzir uma comédia. Às vezes acontece não conseguirmos puxar mais por uma personagem. Foi mal desenhada, está desajustada da história, qualquer coisa. Quando assim é, é melhor riscá-la do guião. Mas lá está, quanto mais sólida for a ideia da história mais fácil se torna criar os personagens certos para a interpretarem. Naturalmente, um guião começa com uma ideia forte, uma premissa, uma questão que pretendemos ver satisfeita, uma sensação que pretendemos criar, seja lá o que for. Mas não basta uma boa ideia. Não basta dizer que vamos fazer um filme sobre dois gajos perdidos na lua, temos de construí-la, de criar drama, conteúdo, tensão, envolvimento de elaborá-la de tal forma que ela quase se materializa por si própria, ou o filme tem apenas uma cena de 10 minutos e acaba. Tal como não chega dizermos que pretendemos que uma cidade seja um Destino Mundial de Lazer – precisamos de saber o que isso quer dizer, o que isso implica, de tudo o que está à volta dessa ideia e traçar planos concretos que se coadunem com a visão do que isso realmente é. Por muito que se pense, o guião de um filme não é escrito de impulso, durante uma semana, ou duas, a fio. É um trabalho de sapa, de planeamento, de investigação, de reflexão, e depois um processo contínuo de decisões pois quando mergulhamos num assunto abrem-se mil e uma hipóteses, e isso implica sangue frio para separar o importante do prescindível, discernimento, qualidade. Temos de saber escolher: o personagem morre? A acção acontece onde? Qual o tempo? Enfim, chega uma altura em que é preciso decidir um caminho, cortar o supérfluo, avançar e ter coragem para eliminar cenas que achávamos fantásticas mas que em nada contribuíam para o enredo, por muito gozo que nos desse vê-las filmadas, caso contrário nunca teremos guião e, por consequência, nunca teremos filme. Comparando com a nossa cidade a tal cena que adorávamos mas que tivemos de cortar: será, por exemplo, que vale mais a pena construir uma passagem aérea faiscante numa rotunda, ou aplicar a mesma verba no apoio ao pequeno comércio local que, esse sim, caracteriza mais uma cidade do que 10 rotundas iguais à aquela? É apenas uma reflexão como muitas outras que vão sucedendo no processo de criação.

Chega de guião. Partamos do princípio que está lá tudo, que até é uma boa peça literária, com o necessário para dar um bom filme e passemos para a equipa. Se um mau guião dificilmente dará um bom filme, nada nos garante que um bom guião o consiga fazer. Uma escolha criteriosa do elenco para dar vida às personagens, do realizador para consubstanciar a visão, da equipa de filmagem, de iluminação, de guarda-roupa e por aí fora, é um processo absolutamente crucial para que o tal do guião consiga brilhar no ecrã. No caso da cidade, a equipa somos todos nós, governantes e governados, empregados e patrões, desempregados e poetas, artistas e cirurgiões. Naturalmente, como nos filmes, uns mandam mais que outros, mas todos são necessários para que a coisa corra bem. Ao produtor cabe-lhe a responsabilidade de se assegurar que reúne as condições financeiras e logísticas necessárias para conseguir fazer o guião brilhar, o realizador é responsável por ter e comunicar uma visão à equipa, explorar o seu potencial e assegurar-se que os diálogos são executados de forma convincente. Ambos são ainda, ou devem ser, responsáveis por que a equipa se sinta motivada e perfeitamente elucidada da visão subjacente, desde o mais simples assistente de produção ao director de fotografia todos devem estar no mesmo filme e com vontade de dar o seu melhor. Nestas circunstâncias, até um guião menor pode vir a tornar-se num grande filme pois todos contribuem para o fazer melhor – o realizador produz situações incríveis, os actores proporcionam desempenhos memoráveis, o guarda roupa sai-se com indumentárias inesquecíveis, o director de fotografia com imagens de rara beleza, e por aí fora. Mas é preciso uma visão clara, comum a todos para que isso aconteça. E, acredite-se ou não, nem tudo é dinheiro e muito tem a ver com a capacidade de se entusiasmar uma equipa, pois apenas assim obras foras de série são possíveis. Uma produção onde a equipa anda de trombas e desnorteada dificilmente fará um filme decente. No caso da nossa cidade, sabemos bem que o guião é defeituoso, ou inexistente mas, pior do que isso, é sentirmos também que a equipa está desmotivada e tem óbvia incapacidade para consubstanciar essa visão débil, quasi desconhecida. Vivemos de improviso em improviso e esperamos ter sucesso na bilheteira, ou no caso da nossa cidade, dar corpo ao tal Destino Mundial de Lazer.

Não basta colocar o ónus do desenvolvimento nos operadores turísticos que se regem por regras de concorrência e não de desenvolvimento urbano e civilizacional. Mesmo eles acabam por sofrer quando as suas equipas não estão suficientemente motivadas. Caso os produtores deste filme macaíno tenham dúvidas, perguntem à maioria dos estrangeiros que por cá trabalham o que os mantém cá. É preciso dizer “salário”? Mas a vida não é só trabalho e quando se está numa cidade entupida pelo trânsito, com proibições para isto e para aquilo, com uma assistência médica defeituosa alguém pensa em por cá ficar muito tempo? Mesmo aqueles que por cá nasceram ou que por cá andam há muito tempo, quantos não sonham em encher o pé-de-meia e porem-se a andar daqui para fora? Há estatísticas disso, ou não vale a pena fazer a pergunta? Que prazer dá viver numa cidade onde nem sequer existem esplanadas para se cavaquear com os amigos e esquecer as agruras do dia de trabalho? Que prazer dá visitar uma cidade que cada vez mais é uma colecção de lojas de marca e menos uma revelação dos sentimentos locais? Que gozo dá viver numa cidade onde as festividades são contínuos exercícios de boçalidade como os concertos de Ano Novo ou as decorações de Natal do Leal Senado para citar um exemplo recente? Que prazer dá viver numa cidade que tanto fala de criatividade mas não a estimula? Que prazer dá viver, ou visitar, uma cidade onde respirar começa a ser uma actividade de risco? Que prazer dá viver numa cidade onde os pequenos negócios não arranjam pessoal para trabalhar, nem argumentos para pagar os custos de localização? Qual viajante menos sensível às mesas de jogo terá vontade de cá voltar enquanto não esquecer os problemas que teve em deslocar-se, as contas surdas que pagou ou a cidade centenária que não descobriu?

Se um produtor quiser mesmo assegurar-se que tem hipóteses de fazer um bom filme deve pensar primeiro em ter um guião com o mínimo de qualidade, uma visão clara do caminho que pretende seguir, coragem para decidir e capacidade para o maximizar com equipas motivadas, capazes e felizes. Sim, felizes, fazer um filme é duro mas pode ser um processo feliz. Não basta depois ao realizador dizer “acção” e esperar que tudo se encaixe como por magia, como não basta ao governo falar de “linhas de acção” se os discursos forem apenas composições de frases sem conteúdo, se as ideias surgirem dispersas, e até desconexas, se os secretários não souberem que gastam 600 milhões por ano em rendas e não forem capazes, sequer, de imaginar, o que poderiam fazer com esses 600 milhões para consubstanciarem a visão. Porque não têm um guião, porque não conseguem perceber o filme em que estão e nem sequer demonstram capacidade para o realizar. Quando se gere assim um filme, o resultado é normalmente um fracasso de bilheteira, equipas alienadas, investidores tramados e mais umas bobines para a poeira do esquecimento. Quando se gere assim uma cidade, o resultado só pode ser exactamente o mesmo, ou então estamos a ensaiar um remake da “Fuga de Alcatraz”.

MÚSICA DA SEMANA
“The Final Cut” – Pink Floyd
Through the fish eyed lens of tear stained eyes
I can barely define the shape of this moment in time
and far from flying high in clear blue skies
I’m spiraling down to the hole in the ground where I hide (…)

2 Dez 2015

Auxiliares de polícia | Angela Leong sugere contratação de reformados

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]deputada Angela Leong sugeriu ontem que fosse ponderada a contratação de polícias reformados para a posição de auxiliares policiais, um cargo abaixo do agente policial, mas que o Governo considera necessário. Na sua resposta, Wong Sio Chak concordou com a sugestão; contudo, confessou não existirem recursos financeiros para pagar a estes profissionais, adiantando que poucas pessoas quereriam cumprir estas funções em regime de voluntariado.
“Podemos contratar polícias reformados, pois têm mais experiência para elevar a moral do auxiliar de polícia”, disse a também líder da Sociedade de Jogos de Macau. “Não estou muito optimista quanto a isto”, respondeu o Secretário, acrescentando não acreditar que muitos reformados quisessem ocupar este lugar. “É uma boa ideia, mas será que estão interessados em trabalhar gratuitamente nesta tarefa tão dura?, questionou.
“Temos que contar não só com as autoridades locais, mas também do interior da China, contando com a colaboração de outros serviços competentes. A figura de auxiliar de polícia já em Abril foi colocada, mas tendo em conta as suas competências, que são diferentes das dos polícias, é muito difícil contratar polícias, quanto mais auxiliares”, começou Wong por explicar.
“Não basta criar esta figura, tem que se proceder a formações e neste processo estão envolvidas questões jurídicas complexas. Se calhar preferem funções a tempo parcial nos casinos. (…) A ideia é muito boa, mas há limitações em termos de viabilidade”, concluiu.
Em resposta, Angela Leong retorquiu que o trabalho teria necessariamente que ser remunerado. “Claro que temos que ter um prémio para estas pessoas. Se fosse voluntário, nem eu ia”, disse. Ao explicar a natureza destes profissionais, Wong Sio Chak sublinhou que a questão é complexa, argumentando que o ordenado não é aliciante e que é necessário investigar todo o passado dos candidatos.

Informáticos duvidosos

Em resposta ao deputado Kou Hoi In, que o questionou sobre crimes informáticos, o Secretário explicou que a contratação de pessoal para combater crimes cibernéticos é complexa. “É difícil [contratar pessoal], há que primeiro verificar o seu background, como por exemplo se é membro de uma família que pertence a uma seita”, ilustrou o responsável. Isto, disse, serve para explicar que “o recrutamento de pessoal não é nada fácil”.
Ko Hoi In sugeriu que se contratassem pessoas no exterior, mas Wong Sio Chak afastou essa ideia, já que, defende, a ideia é ter somente residentes na Administração. “Não aplicamos esta medida porque pretendemos que sejam os locais a desempenhar funções na Função Pública”, respondeu.

MP | Encaminhados 90 casos de uso ilegal de cartões de débito

Até Outubro deste ano, as autoridades já encaminharam para o Ministério Público (MP) 90 casos de uso ilegal de cartões de débito do interior da China em Macau. Em resposta à deputada Angela Leong, o Secretário para a Segurança explicou que este se trata de um crime “transfronteiriço recente” que só começou a ter algum impacto desde há um ano. “Milhares [de chineses em Macau] usam cartões dos seus familiares e amigos para fazer compras aqui e pode ter que ver com o branqueamento de capitais, mas temos que fazer investigações”, revelou Wong Sio Chak. No entanto, explicou que tal “implica recursos humanos da polícia” e que por isso será difícil patrulhar a situação a tempo inteiro. Após encontros com as autoridades chinesas, o Secretário assegura ter confirmado que “estes cartões de débito têm que ver com bancos ilegais da china”, sendo necessário “mais tempo” para publicar informações.

Droga | Revisão da lei dará mais poder à PJ

A Polícia Judiciária (PJ) vai passar a poder exigir, quando confirmadas suspeitas, exames de urina in loco para efeitos de detecção de drogas no sistema. Essa foi a ideia revelada ontem pelo Secretário para a Segurança, Wong Sio Chak. “A revisão vai ter uma cláusula para permitir aos agentes que façam testes à urina dos suspeitos sem necessidade de pedir uma autorização ao tribunal”, disse. A revisão da Lei de Proibição das Drogas deveria ter entrado em processo legislativo já este ano, como disse ontem Hong Wai, chefe do Departamento de Prevenção e Tratamento da Toxicodependência do Instituto de Acção Social (IAS), que adiantou que o relatório de avaliação já foi entregue à Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça (DSAJ), responsável pelo estudo da adição de um crime de “obtenção de droga”. A Comissão que analisa os trâmites da proposta concluiu que seria benéfico aumentar o período de detenção para quem consome e trafica droga. Há, no entanto, quem defenda que o regime legislativo de Macau segue uma norma humanista e por isso mesmo deve dar mais atenção à inserção e correcção do que ao encarceramento e censura. O deputado José Pereira Coutinho defende isso mesmo: “somos um Estado humanista por natureza e devíamos focar-nos, no que diz respeito aos consumidores, a ajudá-los a melhorar e a inseri-los na sociedade. Já nos chegaram à ATFPM vários jovens que estiveram detidos por consumo de droga quando eram muito jovens e actualmente têm o resto da sua vida manchada por causa disso”, lamentou.

Obras de novos edifícios da PSP e Bombeiros começam em breve

A construção dos novos edifícios da Polícia de Segurança Pública e do Corpo de Bombeiros vai ser iniciada em breve, de acordo com anúncio do Secretário para a Segurança. “As obras da PSP e do Corpo de Bombeiros já estão todas definidas, será junto do Macau Dome e as obras vão iniciar-se, uma vez que os obstáculos já foram ultrapassados”, referiu o responsável. Também o Estabelecimento Prisional de Macau continua por inaugurar, mas estão já a ser feitos os trabalhos da primeira fase de construção. O Secretário para a Segurança está confiante de que as segunda e terceira fases seja feitas em simultâneo. “A segunda fase está na avaliação das propostas. O concurso da terceira também vai decorrer nesta altura. A última, que tem que ver com sistema de segurança e vigilância, cabe ao próprio Estabelecimento Prisional de Macau. Portanto, os trabalhos estão a decorrer”, indicou Wong Sio Chak.

2 Dez 2015

Caso Dore | “Culpados já não estão em Macau”, diz Wong Sio Chak

Os responsáveis pelo caso Dore encontram-se no exterior, de acordo com o Secretário para a Segurança. No entanto, isso não chega para cessar as investigações, que vão continuar até que sejam descobertos mais dados

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s culpados pelo alegado roubo de milhões das salas Dore no casino da Wynn já não se encontram em Macau. Esta foi a “revelação” de ontem do Secretário para a Segurança. Durante a apresentação das Linhas de Acção Governativa da sua pasta, Wong Sio Chak afirmou que o caso não está dado como concluído, uma vez que a investigação ainda está a decorrer. No entanto, o responsável do Governo justifica que se trata de “um caso complexo” e por isso de difícil resolução.
“Há muitas vítimas envolvidas no caso”, diz o Secretário enquanto confirma que a investigação ainda não acabou. A resposta foi dada na sequência da intervenção do deputado José Pereira Coutinho, que pediu mais esclarecimento sobre esta matéria. Wong Sio Chak prometeu, no entanto, “divulgar em tempo útil” todas as informações sobre os avanços no caso.
Até ao início de Outubro, a PJ recebeu 45 queixas que envolviam um total de 500 milhões de dólares de Hong Kong. O caso estalou quando vários residentes se queixaram de terem investido em salas de junkets da Dore, localizados em casinos de várias operadoras. Contudo, só foram detectadas irregularidades nas salas do casino Wynn.
A culpa foi atribuída a uma ex-funcionária da empresa, que terá ocupado a posição de contabilista e aproveitado tal para desviar depósitos feitos por estes investidores. De acordo com a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos, este esquema de investimentos através de depósitos em salas de junkets é ilegal.
Relacionado com este caso está também uma outra intervenção, onde se questionou a criação de um mecanismo de recolha de dívidas no exterior, nomeadamente na China. É que são já centenas os casos de jogadores do continente que voltam para a sua terra natal sem pagarem aos junkets aquilo que pediram emprestado.
Neste momento, Macau não tem qualquer regime deste género com a China. Questionado sobre a sua eventual viabilidade, Wong Sio Chak limitou-se a afirmar que “está em causa a protecção de dados pessoais”, pelo que a questão terá que “ser estudada”. Na mesa, em perigo, poderão estar as identidades dos jogadores. E talvez por isso o Secretário tenha sublinhado: “Não podemos deixar de pensar nos dados pessoais”.

Bombeiros | Revisão de regulamento vai a meio

O Regulamento de Segurança contra Incêndios vai ser revisto e a primeira fase já está concluída. “Já entrou em vigor há mais de 20 anos e é necessário aditar novas regras e matérias para fazer face às necessidades decorrentes do desenvolvimento (…) vamos tentar acabar o projecto que é composto por 3 partes – administrativa, técnica e jurídica – a primeira parte já foi concluída”, assegurou Wong Sio Chak ontem. O Corpo de Bombeiros vai aumentar a sua frota de veículos, com vista a ter, em 2018, mais de dez novos carros para “substituir os velhos”, de acordo com o Secretário para a Segurança.

Fronteiras | Canais de passagem automática são já 152

Actualmente, existem no território 152 canais de passagem automática nas fronteiras. O número foi fornecido pelo Secretário para a Segurança em resposta a Angela Leong, que se questionou sobre o número de passagens existentes. A deputada criticou o aglomerar de pessoas em horas críticas do dia naquelas zonas. “Vamos melhorar a situação de grandes concentrações”, assegurou o Secretário. A também líder da Sociedade de Jogos de Macau mostrou-se preocupada com estas concentrações e pediu à Secretaria que fossem abertos todos os canais automáticos em simultâneo nas horas de ponta. Wong Sio Chak afirmou estar aberto a esta ideia.

Terrorismo | Legislação será reforçada

O Secretário para a Segurança assegurou que as medidas contra o terrorismo terão que ser reforçadas, mas garantiu que o Governo está atento aos desenvolvimentos recentes. “Os níveis de segurança não estão estabelecidos por lei e temos que reforçar o sistema porque as tendências são gravosas”, declarou o líder governamental, durante a apresentação das Linhas de Acção Governativa para a sua tutela. A resposta surgiu depois de vários deputados terem trazido a questão a lume, devido aos recentes acontecimento em Paris. “Como uma cidade altamente aberta, estamos alertados quanto ao risco de médio e alto nível para combater o terrorismo (…) também temos acções de intercâmbio com a China e outros países. Temos andado a coordenar com a SPU e os Serviços de Alfândega para reforçar o combate ao terrorismo”, assegurou o Secretário. O deputado Ma Chi Seng mostrou-se preocupado com a eventualidade de acções terroristas no território. “O risco de terrorismo é muito baixo, mas não podemos ignorar que pode acontecer”, defendeu.

Cibercrime | Wong Sio Chak vai rever lei

A legislação contra o cibercrime vai ser revista, de acordo com declarações de Wong Sio Chak, durante a apresentação das LAG para a Segurança. Para a deputada Chan Hong, este é um dos pontos fulcrais a tratar por aquela pasta: “A dependência da internet está a aumentar e alguns websites do Governo apresentam irregularidades e foram mesmo atacados por hackers”, lamentou. O Secretário explicou que a lei actual apresenta lacunas e “tem partes insatisfatórias”, exemplicando com o sistema de envio de mensagens SPAM. “Este fenómeno ainda persiste (…) só se verificava nos postos fronteiriços, mas agora também acontece no centro da cidade e isto mostra que as medidas não são suficientes, pelo que vai ser uma das matérias a ser revista (…) em 2016 vamos proceder à revisão da lei”, anunciou o responsável.

2 Dez 2015

TV Cabo | TSI nega recurso e empresa tem de pagar sete milhões em impostos

A TV Cabo perdeu um recurso na Segunda Instância contra o Governo, sendo que a decisão vai fazer a empresa pagar mais de sete milhões em taxas

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Tribunal de Segunda Instância (TSI) manteve a decisão do Governo em exigir à empresa que pagasse impostos sobre taxas radioeléctricas. De acordo com um acórdão ontem tornado público, o tribunal considera que a empresa não pode evocar a falta de cumprimento de contrato, como aconteceu anteriormente, neste caso.
O caso está relacionado com o contrato exclusivo de concessão de emissão de canais televisivos, que acabou por não ser cumprido devido à existência dos anteneiros. De acordo com o contrato, a TV Cabo poderia beneficiar de isenções de impostos, taxas e emolumentos ou usufruir de outros benefícios fiscais, algo que a empresa requereu ao então Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Long, em 2003 e nos anos seguintes.
“Foi pedida [ao Secretário essa isenção] com a empresa a invocar para tal que, devido ao súbito incremento de concorrência desleal e desenfreada na distribuição ilícita de canais televisivos, os seus prejuízos se foram acumulando ao longo dos anos”, começa por explica o acórdão. “Todavia, [a empresa] não obteve resposta ao seu pedido. Nos vários anos seguintes, a TV Cabo formulou repetidamente o mesmo pedido, mas não recebeu nenhuma resposta. Ao mesmo tempo, foi emitida, todos os anos, pelo Governo à TV Cabo Macau notificação da liquidação das taxas radioeléctricas, em relação à qual a TV Cabo Macau nunca respondeu também.”
Em 2013, após um pedido semelhante ao então Secretário Lau Si Io, a empresa foi notificada de que foram indeferidos todos os pedidos de isenção de taxas radioeléctricas por ela deduzidos ao longo dos anos.
“Logo a seguir, em Junho de 2013, a Direcção dos Serviços de Regulação de Telecomunicações expediu 26 ofícios à TV Cabo Macau, notificando a mesma para liquidar as taxas radioeléctricas referentes aos anos de 2001 a 2013, no montante total de [7,3 milhões] de patacas.”
A TV Cabo decidiu, então, interpor recurso para anulação do despacho do Secretário para os Transportes e Obras Públicas, considerando que houve erros na decisão e violação de direitos, como o da “protecção da confiança e da boa-fé, a falta de audiência prévia dos interessados e a inexigibilidade do pagamento das taxas em face do incumprimento contratual” por parte da RAEM.

Argumentos fora, nada

Contudo, a empresa não teve sorte. O TSI admite que é verdade que no contrato celebrado entre a empresa e a RAEM estava consagrado que a concessionária poderia beneficiar de isenções de impostos, taxas e emolumentos, mas essas mesmas disposições limitavam-se a prever a possibilidade de a Administração isentar o pagamento dessas taxas, mediante autorização. Algo que não poderia, diz o TSI, acontecer neste caso.
“O regime das taxas radioeléctricas faz parte integrante do regime tributário cuja regulamentação é da matéria da reserva de lei. No regime legal da utilização do espectro radioeléctrico não foi delegado na Administração o poder de isentar o pagamento das taxas de utilização. Neste contexto, a Administração, sem a respectiva previsão legal, nunca pode deferir os pedidos de isenção em causa, sob pena de usurpação do poder legislativo. Os factos de que a entidade recorrida não indeferiu de forma expressa os pedidos da recorrente ao longo dos anos e não cobrou coercivamente na falta de pagamento voluntário nunca podem criar legítima expectativa da recorrente no sentido de que os seus pedidos de isenção foram deferidos”, explica o tribunal.
O tribunal não aceitou também que a empresa diga não ter sido ouvida, até porque, diz, “o que se pretende com a audiência prévia dos interessados é assegurar-lhes o exercício do direito do contraditório, evitando a chamada decisão surpresa por parte da Administração, e, neste caso, o procedimento administrativo iniciou-se com o pedido de isenção de pagamento de taxas radioeléctricas, no qual a recorrente já teve oportunidade de expor todas as razões de facto e de direito para o efeito”.
O TSI conclui ainda que, não obstante a RAEM não ter assegurado à recorrente o direito de exploração exclusiva do serviço de televisão, devido aos anteneiros, o pagamento das taxas radioelétricas não é uma obrigação resultante do contrato de concessão, antes da utilização do espectro radioeléctrico.
Recorde-se que a TV Cabo conseguiu receber 200 milhões de patacas por indemnização pelo incumprimento do contrato de concessão por parte da RAEM. Agora, o TSI diz que a empresa não pode invocar o não cumprimento contratual para justificar o não pagamento destas taxas.

2 Dez 2015

São Januário | Alargamento de horários é bom, “se não prejudicar trabalhadores”

A medida de alargar os horários do hospital público, idealizada por Alexis Tam, agrada a alguns profissionais da área da Saúde. Mas o alerta é dado: é preciso garantir que os recursos humanos não serão sobrecarregados

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]ideia apresentada por Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de “usar um hospital como dois”, ou seja, alargar os horários do Centro Hospitalar Conde de São Januário até que esteja concluída a construção do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas, prevista para 2020, parece agradar aos profissionais da área. Em termos claros, a ideia é que os residentes possam ir a consultas de especialidade também à noite.
“Tendo em conta que a ideia é oferecer aos utentes novos horários, permitindo que os mesmos não tenham que muitas vezes faltar ao trabalho, ou ter de ir a uma consulta de manhã, [concordo]. Assim, é melhor ter uma consulta às 19h00. Concordo, só podia concordar”, indicou Estela Loureiro, médica, actualmente do serviço privado.
No entanto, este novo cenário idealizado pelo Secretário “não pode prejudicar os recursos humanos do próprio hospital”, apontou, frisando “que os profissionais não poderão trabalhar mais horas”.
Um médico de Cirurgia, que preferiu manter o anonimato, indicou ao HM que “está é uma ideia muito vaga”. A concretizar poderá funcionar mas “é necessário apostar nos recursos humanos”.
“Não sei quantos serão precisos. 200 [profissionais]? Talvez mais? E este pessoal precisará também de formação”, indicou ao HM, argumentando que também os profissionais que irão fazer parte dos quadros do novo hospital, quando construído, precisam “de formação” que só o actual hospital público poderá dar. “Não sei como será. Não sei”, apontou.
Alexis Tam falava em adicionar mais dois mil profissionais de saúde ao hospital devido à nova ideia.

A outra face
Para Winnie Wai (nome fictício), enfermeira do hospital, a ideia de Alexis Tam não é viável, sendo até “completamente absurda”.
“Em Macau existem 1800 enfermeiros. Conforme o critério internacional, cada mil residentes deve ter quatro enfermeiros, agora a população de Macau é de cerca de 600 mil, estão em falha mais de 700 enfermeiros, ou seja, não correspondemos ao critério”, defendeu.
Actualmente, diz, o cenário é de um excesso de horas de trabalho constante. “Estamos muitos saturados”, apontou. “O limite de horas para ser excesso de trabalho é de 300 horas, no meu caso, ultrapasso quase sempre as 260 horas e agora o Governo ainda diz que podemos trabalhar além do limite para recuperar rendimentos”, argumentou.

Mãos amigas

Se não conseguir recrutar, o Governo vai aumentar a carga horária e a pressão dos enfermeiros e de todo o restante pessoal, sendo que, aponta a enfermeira, os trabalhos por turnos são sempre muito mais cansativos.
“É verdade que o número de mão-de-obra está a aumentar, mas é preciso perceber que os novos profissionais não conseguem ajudar nos primeiro meses de trabalho, são precisos pelo menos três a seis meses de trabalho”, indicou. “Ninguém está preocupado com a saúde dos enfermeiros, também nós podemos ficar doentes e cansados. Percebo que o Governo queira ajudar os residentes, mas nós também somos residentes, também precisamos de boas condições”, rematou.
Questionada sobre a conclusão do novo hospital, a enfermeira considera que será sempre necessária a aquisição de novos equipamentos e de aumentar as equipas de profissionais numa maior escala, visto que a actualmente a oferta não corresponde à procura.

2 Dez 2015

Má sorte ser jornalista

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]diário i e o semanário Sol vão fechar em Portugal. Alegadamente darão lugar a um novo projecto mediático.
Isto é uma péssima notícia. É dramático, naturalmente, para os 120 profissionais que vão ser despedidos. E para as suas famílias. Entre aqueles que vão agora para o desemprego estão sobretudo jornalistas. Desde o início da crise financeira de 2008, já terão sido despedidos em Portugal 1200 profissionais do sector da comunicação social. Um olhar mais distanciado destas duas redacções e menos próximo dos 120 dramas por que estas pessoas estão por estes dias a passar, o que esta notícia revela é que a liberdade de expressão fica mais pobre, o pluralismo mitigado e a capacidade de todos nós conseguirmos interpretar o mundo diminuída.
É evidente que este não é um problema específico do sector da comunicação social. Infelizmente. É transversal ao sector empresarial português. A crise – convém sempre recordar – começou por ter natureza financeira. Mas depois de ter afectado profundamente a economia portuguesa, continua ainda hoje, acima de tudo, a ser marcadamente social. Isto explica, por exemplo, que, nos quatro últimos anos, tenham saído de Portugal, para procurar trabalho no estrangeiro, temporária ou permanentemente, mais de 485 mil pessoas. O que os dados do Prodata nos dizem também é que, desde 2008, encerraram sempre mais empresas do que aquelas que abriram, com a excepção do ano de 2013 (os números do ano passado ainda não estão disponíveis).
Sem dados tão sistematizados acessíveis online, no sector da comunicação social podemos apenas pintar o quadro das últimas décadas. Nos anos da pujança económica e da inundação de Portugal com fundos comunitários, centenas de jornalistas foram formados. Foi um fenómeno, que coincidiu com a explosão das rádios piratas e a subsequente legalização do sector. Não foram apenas os cursos universitários, quais cogumelos, que se reproduziram um pouco por todo o país. Também os cursos técnico-profissionais levaram a que fossem chegando ao mercado profissionais qualificados, que foram entrando nas redacções, rejuvenescendo-as, e trazendo um pouco mais de conhecimentos teóricos aos seus profissionais. Os jornalistas da “velha guarda” – da tarimba –, formados no dia-a-dia das redacções, foram paulatinamente cedendo os seus lugares aos jovens vindos das universidades.
Com a crise económica, as receitas da publicidade caíram e as empresas de comunicação social foram ao longo dos anos procedendo a reestruturações que conduziram inevitavelmente a despedimentos. Em parte, isto tem muito que ver com os avanços tecnológicos e com as diversas tarefas – outras – que os jornalistas passaram a desempenhar.
Os tempos são completamente diferentes hoje nas redacções do que eram há apenas duas décadas. O advento da internet, primeiro, e do social media, depois, modificou totalmente o papel desempenhado pelo jornalista. Não foi assim há tanto tempo que as equipas de reportagem eram constituídas por quatro pessoas: o motorista, o repórter de imagem, o jornalista e o paquete que carregava o material. Eram tempos extraordinários. Quando se saía da redacção para se fazer a cobertura de um incêndio e o motorista não estava imediatamente disponível, corria-se o risco de que quando lá chegados, o incêndio já tinha sido controlado ou mesmo debelado. Isto era um drama para as televisões (ou melhor, televisão, que só havia uma), pois não haveria imagens para mostrar das labaredas. Agora, passe a imagem, o jornalista vai sozinho em reportagem, mais o seu bloco de notas, câmara de filmar e gravador.
A primeira grande alteração foi a introdução dos telemóveis. Subitamente, os jornalistas deixavam de estar obrigados, quando estavam em reportagem no interior do país, a descobrir um estabelecimento comercial que os deixasse usar o telefone para ditar a notícia para a redacção ou a gravar pela linha telefónica. Era ainda preciso parar o carro – é um facto –, levantar a antena do “tijolo” do telefone móvel, escolher uma localização em que o sinal da operadora fosse suficientemente forte para a voz ser escutada e gravar a peça.
Com a internet, o jornalista deixou de escrever apenas uma estória, para o dia seguinte. Passou a ter de actualizar regularmente o website de publicação. Se numa primeira fase os jornais ainda estabeleceram secções para o online, recorrendo às centenas de licenciados que estavam a sair dos cursos universitários, há muito que o jornalista é agora uma espécie de três-em-um. Faz a peça para o online, para a TV e para o jornal do dia seguinte. Põe som e imagem no website e ainda escreve uns parágrafos, as mais das vezes, do sítio onde está em reportagem. São tempos totalmente diferentes. Com a digitalização da rádio, o técnico de som saiu de cena – é agora o jornalista que produz e grava a peça sozinho.
Com estas inovações tecnológicas, a par com os cortes salariais, as reduções de quadros e a crise no sector, o jornalista médio deve hoje produzir três vezes mais do que acontecia há 20 anos e aufere, em média, consideravelmente menos do que se ganhava então.
O resultado de tudo isto, para o consumidor final, é o triunfo do jornalismo mainstream, suportado financeiramente por meia dúzia de empresas transnacionais, com interesses em áreas de negócio estratégicas. E leva a que o jornalista sobrevivente, aquele que ganha menos agora do que quando chegou a chefe há 15 anos, se interrogue sempre, e cada vez mais, se tem “tempo” para escrever sobre esta ou aquela estória. Talvez não haja. Sistematicamente.
Uma das grandes consequências disto tudo é o desinvestimento no jornalismo de investigação. Com algumas honrosas excepções, como a RTP – viva o serviço público! – e o seu programa de investigação emitido às sextas-feiras, pouco se investiga em Portugal. E o aumento de popularidade de blogues independentes, que fazem um esforço para tentar enquadrar a actualidade. De resto, de uma maneira geral, estamos todos a deixar de nos interrogar como é que tão rapidamente nos foi dito que havia um passaporte sírio ao lado de um dos alegados terroristas que se fizeram explodir em Paris, ou como havia uma câmara de televisão a filmar o avião de combate russo a ser abatido pela Força Aérea Turca, em terra de ninguém, um dia depois de uma cimeira Rússia-Irão.

(Em memória do Francisco, que, há 23 anos, me desafiou a ser jornalista.)

2 Dez 2015

São Januário | Alargamento de horários é bom, se não prejudicar trabalhadores

A medida de alargar os horários do hospital público, idealizada por Alexis Tam, agrada a alguns profissionais da área da Saúde. Mas o alerta é dado: é preciso garantir que os recursos humanos não serão sobrecarregados

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]ideia apresentada por Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de “usar um hospital como dois”, ou seja, alargar os horários do Centro Hospitalar Conde de São Januário até que esteja concluída a construção do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas, prevista para 2020, parece agradar aos profissionais da área. Em termos claros, a ideia é que os residentes possam ir a consultas de especialidade também à noite.
“Tendo em conta que a ideia é oferecer aos utentes novos horários, permitindo que os mesmos não tenham que muitas vezes faltar ao trabalho, ou ter de ir a uma consulta de manhã, [concordo]. Assim, é melhor ter uma consulta às 19h00. Concordo, só podia concordar”, indicou Estela Loureiro, médica, actualmente do serviço privado.
No entanto, este novo cenário idealizado pelo Secretário “não pode prejudicar os recursos humanos do próprio hospital”, apontou, frisando “que os profissionais não poderão trabalhar mais horas”.
Um médico de Cirurgia, que preferiu manter o anonimato, indicou ao HM que “está é uma ideia muito vaga”. A concretizar poderá funcionar mas “é necessário apostar nos recursos humanos”.
“Não sei quantos serão precisos. 200 [profissionais]? Talvez mais? E este pessoal precisará também de formação”, indicou ao HM, argumentando que também os profissionais que irão fazer parte dos quadros do novo hospital, quando construído, precisam “de formação” que só o actual hospital público poderá dar. “Não sei como será. Não sei”, apontou. alexis tam
Alexis Tam falava em adicionar mais dois mil profissionais de saúde ao hospital devido à nova ideia.

A outra face

Para Winnie Wai (nome fictício), enfermeira do hospital, a ideia de Alexis Tam não é viável, sendo até “completamente absurda”.
“Em Macau existem 1800 enfermeiros. Conforme o critério internacional, cada mil residentes deve ter quatro enfermeiros, agora a população de Macau é de cerca de 600 mil, estão em falha mais de 700 enfermeiros, ou seja, não correspondemos ao critério”, defendeu.
Actualmente, diz, o cenário é de um excesso de horas de trabalho constante. “Estamos muitos saturados”, apontou. “O limite de horas para ser excesso de trabalho é de 300 horas, no meu caso, ultrapasso quase sempre as 260 horas e agora o Governo ainda diz que podemos trabalhar além do limite para recuperar rendimentos”, argumentou.

Mãos amigas

Se não conseguir recrutar, o Governo vai aumentar a carga horária e a pressão dos enfermeiros e de todo o restante pessoal, sendo que, aponta a enfermeira, os trabalhos por turnos são sempre muito mais cansativos.
“É verdade que o número de mão-de-obra está a aumentar, mas é preciso perceber que os novos profissionais não conseguem ajudar nos primeiro meses de trabalho, são precisos pelo menos três a seis meses de trabalho”, indicou. “Ninguém está preocupado com a saúde dos enfermeiros, também nós podemos ficar doentes e cansados. Percebo que o Governo queira ajudar os residentes, mas nós também somos residentes, também precisamos de boas condições”, rematou.
Questionada sobre a conclusão do novo hospital, a enfermeira considera que será sempre necessária a aquisição de novos equipamentos e de aumentar as equipas de profissionais numa maior escala, visto que a actualmente a oferta não corresponde à procura.

2 Dez 2015

Jogo | Casinos das regiões vizinhas não são concorrência, diz estudo

Os casinos que existem ou que vão nascer nas regiões próximas a Macau não representam concorrência para o território pelo menos até 2019. A conclusão é de um estudo da UBS, que indica contudo que a RAEM já está a perder alguns apostadores

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s casinos terão pouca concorrência a nível do mercado de massas até 2019 nas regiões vizinhas, mas já começaram a perder os grandes apostadores chineses para outros territórios, indica um estudo da UBS Securities Asia. O documento, divulgado na segunda-feira e citado ontem pelo portal especializado em jogo GGRASIA, tem por base um inquérito a 510 apostadores do mercado de massas oriundos do interior da China – os resultados indicam que os jogadores manifestaram pouco interesse em visitar os casinos noutras partes da Ásia-Pacífico.
“Pensamos que é improvável que outros casinos da Ásia consigam competir com Macau pelo mercado de massas [do interior da China] até 2019, quando surgirem produtos de qualidade e com massa crítica em mercados como a Coreia [do Sul]”, escreveu a UBS.
A empresa acrescenta que, apesar da reduzida intenção de os apostadores do mercado de massas se deslocarem a outros casinos da Ásia-Pacífico, “o interesse nos casinos de Las Vegas parece elevado”.
O inquérito foi conduzido em Outubro. Os inquiridos gastaram em média 12 mil yuan a jogar por cada viagem a Macau. O montante foi medido pelo volume de dinheiro gasto na aquisição de fichas de jogo.
Em média, os inquiridos visitaram a cidade 2,3 vezes por ano e foram a 1,8 casinos em cada visita. Excluindo os espaços de jogo em Macau, metade dos inquiridos conseguiu enumerar um país com casino (30%) ou um casino específico na Ásia (20%).
Apenas 10% disseram que tinham ido a um casino noutra região da Ásia-Pacífico, com a Malásia, Coreia do Sul e Singapura a surgirem como os destinos mais populares.
“Contudo, acreditamos que a competição [regional] para [aceder aos jogadores chineses] do mercado VIP já começou e vai continuar”, refere a UBS em relação aos grandes apostadores, que têm um peso importante nas receitas dos casinos de Macau. “Estimamos que a quota regional de Macau do mercado VIP baixou de 84% em 2011 para 76% em 2015. Esperamos que a quota desça ainda mais para 66% em 2019”, acrescentou.
Segundo a UBS, “isto é parcialmente motivado por maiores incentivos dados aos junkets para procurarem comissões noutros destinos de jogo além de Macau”, devido aos impostos mais elevados sobre as receitas praticados em Macau, comparativamente a outros destinos com casinos.

Tabaco malfeitor

O estudo da UBS indica ainda que o aumento das restrições ao fumo nos casinos de Macau, nomeadamente a proibição de áreas para fumadores nas zonas destinadas ao mercado de massas, poderia resultar na diminuição do número de visitas a Macau por parte dos apostadores chineses.
Questionados sobre se a proibição total de fumar iria afectar a sua decisão de visitar Macau, 3% dos inquiridos disse que iria deixar de visitar a região e 6% afirmou que diminuiria o número de visitas ao território.
Um total de 21% disse que a proibição total de fumar iria ter um pequeno impacto no tempo gasto a jogar em Macau, enquanto outros 6% disseram que iriam passar a visitar a região com mais frequência.
Um estudo da consultora KPMG divulgado no mês passado indica que a proibição total de fumar nos casinos de Macau poderia conduzir à queda de 16% no PIB da cidade. Este estudo foi encomendado pelas seis concessionárias de jogo de Macau. Lusa/HM

2 Dez 2015

“The Royal”, restaurante de take-away | Tong Wu, sócio

Para quem trabalha a horas tardias ou tem apenas um ‘ratinho’ no estômago a altas horas da noite é possível, agora, encontrar refeições e sobremesas a preços razoáveis. É que os Nam San, na Taipa, contam com mais um restaurante “The Royal”, especializado precisamente nisso

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hama-se “The Royal” e é bem fácil de encontrar no meio dos Nam San, com as suas cores de madeira clara e um balcão com jovens sorridentes a atender. Este não é o primeiro restaurante “The Royal”, mas é o mais recente e tem um elemento especial: a falta de espaço para cadeiras e mesas faz com que os clientes tenham de saborear em casa as sobremesas e pratos principais. E começámos pelas sobremesas porque é, aparentemente, o que agrada aos clientes do espaço.
São Parfaits, Waffles, Crepes, Pastéis Mil Folhas, Panna Cotta e gelados do que mais gostam os clientes deste restaurante. Apesar do novo espaço – que abriu há menos de um mês –, o “The Royal” é, na verdade, uma cadeia de restaurantes que não tem apenas negócios em Macau, mas também em Hong Kong e no interior da China. Logo The Royal
“O primeiro restaurante já foi criado em Hong Kong há vários anos, mas percebemos que o mercado de sobremesas já estava saturado, então o nosso director-geral tentou investigar em Macau e descobriu que aqui há mais espaço de desenvolvimento. O primeiro restaurante foi aberto, então, nos Três Candeeiros”, conta ao HM Tong Wu.
Em dois anos, a empresa conseguiu abrir o segundo restaurante, no Fai Chi Kei, e os seguintes na Taipa e em Cantão. Agora, o “The Royal” chega aos edifícios Nam San, em frente ao Jockey Club, bem ao lado da torre 4. Uma localização que parece ir de encontro à ideia dos investidores, que é oferecer comida e sobremesas à noite e de madrugada, para quem trabalha até tarde ou para quem tiver aqueles ataques de gula depois do jantar.
“Operamos consoante o estilo de vida dos cidadãos e oferecemos sobremesas especiais”, explicou Tong ao HM. “As sobremesas têm o tema de ‘fusão internacional’ e os ingredientes são provenientes do Japão e de Taiwan, via aérea”, explica o sócio, acrescentando que a qualidade é importante e, por isso, “os gelados do restaurante são da marca Movepick, da Suíça”.
Tong Wu explicou que as bebidas como chás de ervas, batidos de leite e cafés são também muito procurados por clientes.
Este restaurante na Taipa é apenas para “take away” e está aberto das 22h00 às 2h00 da manhã. Nesta ilha existem poucos restaurantes que se especializam em sobremesas, diz Tong, ao mesmo tempo que oferecem pratos rápidos, como massas e arroz, ao mesmo tempo. Surgiu, assim, a ideia de tentar expandir negócios na Taipa.
Tong Wu explica que a decisão de criar um local onde as pessoas podem apenas ir levantar as refeições, sem terem hipótese de se sentar, tem a ver com o pedido de licença ao Governo, que é mais fácil para take aways do que para abrir um restaurante comum.
Além dos quatro restaurantes, o “The Royal” tem uma fábrica de produção de ingredientes básicos na Avenida do Almirante Lacerda, de forma a conseguir diminuir o tempo de processamento das refeições feitas nos restaurantes, bem como para “manter a qualidade da comida”. O objectivo é conseguir servir o cliente rapidamente, a preços cómodos, que começam nas 24 patacas. 21215P23T1
A cozinha molecular é também um dos novos focos do “The Royal”.
“A reacção dos clientes é melhor do que imaginávamos, mesmo que a loja se localize numa rua interior. Acho que é porque os tipos de sobremesas são diversos e muitas pessoas escolhem o nosso restaurante”.
“The Royal” promove ainda um buffet de sobremesas às horas de lanche, jantar e ceia. Na loja dos Nam San, por exemplo, os clientes conseguem, nestas horas, comprar as sobremesas com 20% de desconto. Há ainda sobremesas de época, que não existem sempre.
O modelo de negócio foi também pensado pelos donos do restaurante, já que este tem ainda uma agência para os ajudar a procurar parceiros para abrir mais lojas de “take away”. O futuro pode ser por aí, até porque Tong Wu explica que este modelo pode ajudar a diminuir despesas de operação e o tempo necessário para abrir um restaurante.

2 Dez 2015

CTM baixa tarifas para dados móveis

A Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) baixou a tarifa a ser paga pelos residentes quando passam o limite do uso de dados móveis em 60%. De acordo com um anúncio da empresa, a tarifa fica, agora, a 0,24 patacas, quando era de 0,64 por MB utilizado. A nova lista das tarifas estará em efeito a partir do início de Dezembro. Esta é a segunda vez que a CTM baixa a tarifa, depois de Maio ter acontecido o mesmo, sendo que a descida total anual é superior a 97%. Mais ainda, a CTM assegura que vai impor um limite também no uso adicional de dados, que passa a estar restrito a gastos máximos de 500 patacas.

2 Dez 2015