Victor Ng SociedadeGarantidas medidas para minimizar impacto da transferência de galgos O Centro Internacional de Realojamento de Galgos de Macau garante que tem adoptado medidas para minimizar o impacto da transferência dos galgos para Coloane [dropcap style≠‘circle’]E[/dropcap]m resposta às preocupações manifestadas por idosos do Asilo Vila Madalena com a transferência dos cães do Canídromo para Coloane, o Centro Internacional de Realojamento de Galgos de Macau garante que tem adoptado medidas para minimizar o impacto da mudança, designadamente nos domínios da limpeza, ventilação e ruído. Em comunicado, enviado ontem às redacções, o centro refere que recebeu opiniões do Instituto de Acção Social e da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) relativamente a potenciais impactos negativos decorrentes do realojamento dos galgos no terreno da Cordoaria, em Coloane, estando a executar os trabalhos com base nessas sugestões. Nesse sentido, indica que foram tomadas medidas para garantir a higiene do local planeado para o realojamento temporário dos cães, bem como a ventilação e zonas arborizadas e de modo a reduzir o ruído. O centro cita como exemplo a consolidação dos muros e a instalação de equipamentos isoladores de som, assegurando ainda disponibilidade para instalar aparelhos de ar condicionado e de purificação do ar no asilo caso seja necessário. O centro refere que, para já, 477 galgos serão entregues a adoptantes locais e do estrangeiro, sendo que os 53 que ainda não reúnem condições para ser adoptados vão ficar a cargo do Centro Internacional de Realojamento de Galgos. Com efeito, uma vez concluído o processo de adopção, os equipamentos vão ser removidos do terreno da Cordoaria, diz a mesma nota. Alexis em contacto Em declarações aos jornalistas, este sábado, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, afirmou que o Instituto de Acção Social mantém-se em contacto estreito com o Asilo Vila Madalena em relação às instalações provisórias para galgos planeadas para junto do terreno onde fica localizado. Segundo um comunicado oficial, Alexis Tam indicou que vai inteirar-se melhor do assunto para estar em comunicação com os serviços competentes, esperando que os idosos não sejam afectados. Dado que os serviços médicos de proximidade aos idosos, lançado este ano pelo Governo, não abrangem o Asilo Vila Madalena, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura deu conta de que espera visitar o lar, com a sua equipa de trabalho, de modo a acelerar a organização dos respectivos serviços àquele asilo.
Diana do Mar SociedadeEconomia | Inflação em Macau fixou-se em 2,48 por cento em Agosto [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] taxa de inflação nos 12 meses terminados em Agosto fixou-se em 2,48 por cento em relação aos 12 meses imediatamente anteriores, indicam dados dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) divulgados na sexta-feira. O Índice de Preços no Consumidor (IPC) subiu sobretudo face ao aumento dos preços das secções de vestuário e calçado (+5,15 por cento), da saúde (+4,79 por cento), dos transportes (+4,50 por cento) e da educação (+4,20 por cento). Só em Agosto, o IPC cresceu 3,32 por cento, em termos anuais. Já nos primeiros oito meses do ano, o IPC aumentou 2,89 por cento face ao mesmo período do ano transacto. O IPC Geral permite conhecer a influência da variação de preços na generalidade das famílias de Macau. Em 2017, a taxa de inflação fixou-se em 1,23 por cento, a mais baixa desde 2009, ano em que foi de 1,17 por cento.
João Santos Filipe Manchete SociedadeCriptomoeda | Filho de Rita Santos detido por suspeita de fraude [dropcap style≠‘circle’]F[/dropcap]rederico dos Santos Rosário foi detido pela Polícia Judiciária. O filho de Rita Santos enfrenta uma acusação de fraude devido ao caso do alegado investimento em moedas digitais, que fez 71 vítimas. A detenção foi anunciada pela PJ, esta tarde, e o caso já seguiu para o Ministério Público. De acordo com as informações disponíveis, as primeiras queixas entraram na PJ no dia 1 de Agosto, depois de algumas da vítimas terem deixado de receber os retornos que lhes tinham sido prometidos. Frederico Rosário sempre afirmouser uma vítima de todo o caso, apontando o dedo para o empresário de Hong Kong, Dennis Lau. Por sua vez, Lau sempre responsabilizou Frederico Rosário pelo caso. Alguns dos seminários para captar investimento para o esquema da moeda digital decorreram na sede da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau, presidida pelo deputado José Pereira Coutinho. No entanto, fonte da ATFPM disse ao HM que não vai tomar uma posição, por agora, sobre esta detenção.
Diana do Mar SociedadeComércio entre a China e os PLP subiu 21,5% até Julho [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]s trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa atingiram 82,15 mil milhões de dólares nos primeiros sete meses do ano, traduzindo um aumento de 21,50 por cento face ao período homólogo do ano passado. Dados dos Serviços de Alfândega da China, publicados ontem no portal do Fórum Macau, indicam que a China comprou aos países de língua portuguesa bens avaliados em 57,53 mil milhões de dólares – mais 20,38 por cento – e vendeu produtos no valor de 24,61 mil milhões de dólares – mais 24,19 por cento em termos anuais homólogos. O Brasil manteve-se como o principal parceiro económico da China, com o volume das trocas comerciais bilaterais a cifrar-se em 61,31 mil milhões de patacas, mais 22,86 por cento do que nos primeiros sete meses do ano passado. As exportações da China para o Brasil atingiram 20,06 mil milhões de dólares, reflectindo um aumento de 28,14 por cento; enquanto as importações totalizaram 41,24 mil milhões de dólares, mais 20,45 por cento em termos anuais homólogos. Com Angola, o segundo parceiro lusófono da China, as trocas comerciais cresceram 18,28 por cento, atingindo 15,82 mil milhões de dólares. Pequim vendeu a Luanda produtos avaliados em 1,24 mil milhões de dólares – menos 0,60 por cento – e comprou mercadorias avaliadas em 14,58 mil milhões de dólares, reflectindo uma subida de 20,23 por cento. Com Portugal, terceiro parceiro da China no universo dos países de língua portuguesa, o comércio bilateral entre Janeiro e Julho cifrou-se em 3,39 mil milhões de dólares – mais 6,81 por cento – numa balança comercial favorável a Pequim. A China vendeu a Lisboa bens na ordem de 2,09 mil milhões de dólares – mais 1,43 por cento – e comprou produtos avaliados em 1,29 mil milhões de dólares, mais 16,87 por cento face aos primeiros sete meses do ano passado.
João Santos Filipe Manchete SociedadeTrânsito | Governo prepara obras na Coronel Mesquita e na Rua Bacia Norte do Patane A DSAT quer criar uma terceira via na Avenida do Coronel Mesquita e existe a possibilidade de haver um corredor só para autocarros. Também a Rua Bacia Norte do Patane deve sofrer alterações profundas, com ambas as artérias a perderem lugares de estacionamento para motociclos [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) está a elaborar um plano para criar três vias de trânsito na Avenida do Coronel Mesquita, que actualmente só tem duas. O plano preliminar foi revelado, ontem, pelo director da DSAT, Lam Hin San, à saída de uma reunião do Conselho Consultivo do Trânsito. “Na Avenida do Coronel Mesquita, ouvimos as opiniões de autoridades e pessoas ligadas ao sector da construção, e queremos alargar a faixa de rodagem de duas vias para três. Isto implica remover alguns dos lugares de estacionamento para motociclos”, disse Lam Hin San, em declarações aos jornalistas. “Naquela zona há cerca de 10 lugares para estacionamento de veículos mas num raio de 300 a 500 metros, temos três a quatro parques de estacionamento como alternativa. Mas antes de tomarmos qualquer decisão queremos ouvir as pessoas”, acrescentou. No passado, os planos para eliminar lugares de estacionamento das ruas causaram grande polémica, chegando a acontecer inclusive uma manifestação por parte dos residentes, que contou com uma participação de 2.500 a 3.500 pessoas, em Junho deste ano. De acordo com Lam Hin San, actualmente circulam por dia na Avenida do Coronel Mesquita 14 autocarros diferentes e cerca de 130 mil pessoas. Por esta razão, a DSAT está ainda a equacionar criar um corredor de autocarros na avenida, à semelhança do que já acontece na Zona do Porto Interior. Ganhar espaço O director da DSAT defendeu ainda que é necessário aproveitar melhor os terrenos e ruas e que os estacionamentos para motos, no que diz respeito aos parques públicos, “têm uma baixa taxa de utilização”. Lam Hin San deu o exemplo do Parque Central da Taipa, em que a utilização dos estacionamentos para motas é apenas de seis por cento. Outra zona que poderá sofrer alterações significativas é a Rua Bacia Norte do Patane, que é vista como um dos problemas mais complicados para o trânsito de Macau. “Já temos um plano preliminar, se for para a frente poderá melhorar a situação”, afirmou Lam Hin San. “Vai aumentar a segurança para os peões e a circulação nas estradas”, defendeu. Ainda em relação à Rua Bacia Norte do Patane, o director da DSAT defende que existem auto-silos públicos num raio de 500 metros, com vagas frequentes, que podem substituir os estacionamentos nas ruas que irão ser eliminados. Acidentes | Seis mortos até 9 de Setembro Entre o início do ano e o dia 9 de Setembro foram registados seis mortos devido a acidentes de trânsito o que, comparando com os números da PSP do ano passado, representa um aumento de uma morte. Entre o início do ano passado e Setembro, tinham sido registadas cinco mortes. “Durante três anos consecutivos conseguimos manter esse registo num único dígito. Apelamos para que as pessoas prestem mais atenção à segurança rodoviária”, comentou Lam Hin San Portas do Cerco |Terminal ainda este ano Até ao final do ano, o Terminal das Portas do Cerco vai reabrir com alguns autocarros, entre eles o 3X. “Esperamos que até ao final deste ano já haja condições para incluir certas carreiras neste terminal. E até ao Ano Novo Chinês esperamos que tenham melhores condições para levar para lá mais carreiras”, informou, ontem, o director da DSAT. Contudo, além do 3X, não foi explicado que outros autocarros vão passar pelo terminal. Autocarros | Espera média de 6,6 minutos Segundo a DSAT, a espera média por um autocarro está actualmente nos 6,6 minutos. Este é um registo que bate o registo em cerca de 20 cidades no Interior da China e nas regiões vizinhas. “Entre Janeiro e Junho, nas horas de pico, o tempo de espera pelos autocarros foi de 6,6 minutos em média. Há três ou quatro anos, a espera, em média, era superior a 7 minutos, e, em alguns casos, até de 11 minutos. Agora temos uma grande redução, em média 6,6 minutos”, apontou o director da DSAT.
Diana do Mar Manchete SociedadeEnsino | Escolas internacionais já integram hino nacional chinês nos planos de estudo A proposta de lei, actualmente em análise na Assembleia Legislativa, prevê que o hino da República Popular China seja integrado no ensino primário e secundário, algo que já acontece nas escolas internacionais [dropcap style≠‘circle’]E[/dropcap]xistem escolas internacionais em Macau que, por iniciativa própria, incluíram o hino da República Popular da China nos respectivos planos de estudo. É o caso da Escola Portuguesa de Macau e da Escola das Nações. A proposta de lei relativa à utilização e protecção da bandeira, emblema e hino nacionais, actualmente em análise na especialidade na Assembleia Legislativa, prevê a integração da “Marcha dos Voluntários” no ensino primário e secundário da educação regular, aplicável a todas as escolas, incluindo às internacionais. À luz do diploma, as instituições de ensino devem organizar os alunos “para aprenderem a cantar o hino e ensinar-lhes a compreender o seu espírito, bem como a respeitar o cerimonial relativo à sua execução instrumental e vocal”. Aquando da apresentação do diploma, o Governo garantiu que a autonomia das escolas vai ser respeitada e que nem sequer estão previstas sanções para o incumprimento. Na Escola Portuguesa de Macau (EPM) o ensino do hino nacional chinês é uma realidade há bastante tempo. “No contexto do estudo da História de Macau e da China são estudados, logo no 1.º ciclo, os símbolos nacionais chineses. A História de Macau e da China é estudada no âmbito do Estudo do Meio, no 1.º ciclo, e da História nos 2.º e 3.º ciclos”, indicou o presidente da EPM, Manuel Machado ao HM. O manual do Estudo do Meio do 1.º ciclo tem um capítulo dedicado à República Chinesa, no qual se descrevem os símbolos nacionais. “A Marcha dos Voluntários, com letra da autoria de Tian Han e música de Nier Er, foi adoptada como hino nacional da República Popular da China, no ano de 1949, quando o Partido Comunista subiu ao poder”, diz a breve explicação relativa ao hino, acompanhada por uma imagem da partitura. Sem instruções Na Escola das Nações, o hino nacional da chinês também faz parte do currículo. “Como temos um extenso programa de mandarim, incluímos a aprendizagem e o canto do hino nacional nas nossas actividades curriculares chinesas. Encaixa-se bem nos estudos da língua e da história chinesas”, afirmou o director da Escola das Nações, Vivek Nair, ao HM. Até ao final da semana passada, nem a Escola Portuguesa nem a Escola das Nações tinham recebido qualquer tipo de instruções da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) na sequência do novo diploma. Com efeito, o organismo garantiu recentemente que será criado um manual para que as escolas possam disponibilizar mais informações aos estudantes sobre os símbolos nacionais da China. A proporção de alunos chineses na EPM é de aproximadamente 15 por cento, enquanto na Escola das Nações oscila entre 70 a 75 por cento. O HM contactou outras instituições, como a Escola Internacional de Macau, mas até ao fecho da edição não obteve resposta.
João Luz Internacional Manchete SociedadeMyanmar | Relatório da ONU revela detalhes do genocídio dos rohingya Relatos de genocídio, violações, tortura e bombardeamentos indiscriminados são algumas das atrocidades denunciadas numa investigação das Nações Unidas aos crimes cometidos pelas autoridades birmanesas contra a minoria rohingya. O relatório apresentado pelo Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU releva provas detalhadas dos “mais graves crimes à luz do direito internacional” [dropcap style≠‘circle’]Q[/dropcap]uando o exército do Myanmar entrou na aldeia Min Gyi, no Estado de Rakhine na parte oeste do país, colocou em acção um plano genocida contra a minoria rohingya que ficará para a história como uma das mais chocantes atrocidades cometidas neste início de século. Metodicamente, os soldados separam todos os homens da povoação para os colocarem em frente do pelotão de fuzilamento. Depois de dispararem, cortaram friamente as gargantas daqueles que ainda se mexiam. Depois da matança meticulosa dos homens, a atenção dos militares virou-se para mulheres e crianças. Desta vez, o método e o calculismo foi substituído pelo caos. Famílias foram trancadas em casas regadas com gasolina e queimadas vivas. Crianças que tentaram escapar foram baleadas, algumas jogadas ao rio e outras atiradas para o fogo, incineradas perante a dor incalculável das mães. Mulheres e raparigas foram violadas até à exaustão, mutiladas e mortas. Estes são alguns dos horrendos detalhes revelados pelo relatório das Nações Unidas sobre as atrocidade cometidas contra a minoria muçulmana rohingya na Birmânia, consideradas “os crimes mais graves à luz da lei internacional”. As 444 páginas apresentadas esta semana em Genebra pelo Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU são uma compilação dos episódios de barbárie que levaram mais de 750 mil muçulmanos rohingya a fugir para o Bangladesh. O documento serve de base a acusações de genocídio. Em resposta ao relatório, o Governo do Myanmar negou categoricamente que as forças armadas tenham cometido as atrocidades descritas pelos observadores internacionais. Aliás, as autoridades birmaneses defenderem que as suas tropas se limitaram a reagir aos ataques de militantes rohingya contra a polícia fronteiriça e algumas povoações. Por seu lado, o painel de observadores da ONU respondeu às autoridades birmanesas referindo que “as explicações apresentadas não fazem sentido”, e que “as matanças foram generalizadas, sistemáticas e brutais”. Aliás, Marzuki Darusman, que liderou a investigação, disse ao Altor Comissariado para os Direitos Humanos que “no centro de todas as violações de direitos humanos analisadas esteve sempre a extrema brutalidade usada pelas forças militares birmanesas”. “A matança de civis de todas as idades, incluindo bebés, não pode servir de justificação para acções de contra-terrorismo. Não há como justificar a violação de mulheres e raparigas, ou queimar pessoas vivas. Estas acções são um ataque deliberado contra um povo específico”, acrescenta Darusman. Processo penal O painel de observadores requereu ao Conselho de Segurança da ONU que os responsáveis por estes crimes sejam julgados no Tribunal Penal Internacional. Um dos acusados deverá ser o líder máximo das forças armadas do Myanmar, identificado como um dos responsáveis pela barbárie. Foi também sugerido ao Conselho de Segurança a imposição de um embargo à venda de armas ao Myanmar, aplicação de sanções a indivíduos específicos, incluindo o congelamento de activos e proibição de viajar. “Qualquer relação com as forças armadas birmanesas, os seus líderes e parceiros de negócios é indefensável”, foi apontado pelo painel de observadores. Não é usual que uma investigação a violações de direitos humanos proponha o desmantelamento de hierarquias militares, ou alterações constitucionais para acabar com o domínio político de generais. Ainda assim, o painel de observadores apelou à substituição dos líderes do Tatmadaw (exército birmanês), e aconselhou a supervisão dos poderes políticos e civis das forças armadas e ao fim do controlo apertado do parlamento pelos generais. A transição de um Governo liderado por militares para um dirigido por civis, que permitiu a ascensão ao poder de Aung San Suu Kyi como Chefe de Estado, foi travada e, de certa maneira, até regrediu desde que a laureada pelo Prémio Nobel da Paz tomou posse. A opinião foi expressa por Christopher Sidoti, um dos observadores responsáveis pelo relatório da ONU. Sidoti acrescentou ainda que “a democracia não pode ser construída com base em alicerces de genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade”. O caso de Min Gyi O relatório tornado público esta semana está repleto de descrições de mulheres atadas a árvores pelas mãos, ou cabelos, e subsequentes violações, crianças que correm de casas a arder e que são forçadas a voltar a entrar nas habitações em chamas, uso generalizado de tortura com paus de bambu, pontas de cigarros e cera quente. Existem também relatos de colocação de minas em caminhos usados pela minoria muçulmana na fuga às atrocidades cometidas pelo exército birmanês. De acordo com o relatório, pelo menos 750 habitantes de Min Gyi morreram na sequência do ataque dos militares. Desde que começaram as “operações”, que duram há mais de dois meses, estima-se que pelo menos 10 mil pessoas tenham sido assassinadas. Esta foi a realidade resultante de mais de 875 entrevistas a vítimas e testemunhas dos mais variados grupos étnicos e religiosos. Imagens de satélite mostram que 40 por cento das povoações no norte do Estado de Rakhine foram totalmente ou parcialmente destruídas. De acordo com o líder do painel de observadores da ONU, todas as circunstâncias que rodeiam as “operações de liberação” evidenciam intenções genocidas e flagrante desproporcionalidade face a qualquer possível ameaça de militantes radicais. Aliás, o relatório refere que não houve sequer tentativas para identificar possíveis terroristas ou alvos militares, ou mesmo distinções entre militantes e civis. O sistemático incremento de tropas na região, antes de acontecerem ataques de militantes, revela o envolvimento das mais altas esferas de comando militar e “um plano organizado de destruição com intenções genocidas”. Aliás, os métodos bárbaros utilizados na campanha contra os muçulmanos rohingya não são novos. Por exemplo, a instrumentalização das violações como táctica de guerra aplicada em Rakhine, tem sido usada pelas autoridades birmanesas há décadas em conflitos com outras minorias no Myanmar. As tropas violam mulheres e raparigas sistematicamente e matam específica e deliberadamente crianças. De acordo com o relatório, oitenta por cento dos casos de violação relatados acontecem em grupo, acompanhados frequentemente pelo assassinato dos filhos da vítima enquanto esta é violada. O resultado da investigação da ONU mostra também que muitas vezes as mulheres são mordidas na cara, peito ou coxas e mutiladas nos órgãos reprodutivos como forma de serem “marcadas”. Uma mulher, que foi violada em conjunto com a irmã, contou ao painel de observadores que os soldados lhe disseram que a iriam violar até à morte. “Vamos matar todos os rohingya, este não é o vosso país”, terá sido uma das frases ouvidas pela vítima. Morte em crescendo A missão da ONU conclui que o que aconteceu no Estado de Rakhine foi um desastre que se via a milhas. Depois de décadas de discriminação oficial que limitou o acesso da minoria rohingya à cidadania e à educação, e da disseminação de discursos políticos inflamados por ódio, o desastre humanitário era uma inevitabilidade à espera de acontecer. Ultranacionalistas e extremistas religiosos têm acentuado o antagonismo racial diabolizando os rohingya como imigrantes “bengalis” que representam um ameaça existencial à identidade budista do Myanmar. Um dos líderes militares que alinha nesta violenta doutrina é o General Min Aung Hlaing, que durante as campanhas de matança referiu que “o problema bengali é um trabalho por terminar”, acrescentando que o Governo estava a “tratar do assunto”. Tanto as forças armadas como o Governo civil, liderado por Aung San Suu Kyi, têm descrito as acções militares como respostas apropriadas para combater o terrorismo. Como tal, não de estranhar que, além das acusações ao exército birmanês, o relatório da ONU critique o papel passivo de Aung San Suu Kyi no último ano. “Ela não usou a posição de Chefe de Estado, nem a sua autoridade moral, para atenuar ou prevenir o desenrolar dos acontecimentos no Estado de Rakhine”.
João Santos Filipe Manchete SociedadeImobiliário | PJ confirma investigação a empresa ligada a irmã de Agnes Lam Oito residentes apresentaram queixa contra a empresa TH Group e Onida Lam devido a investimentos num projecto de imobiliário na Indonésia. Em causa estão 5,36 milhões de patacas [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Polícia Judiciária (PJ) está investigar a empresa TH Group, que tem como CEO Onida Lam, irmã da deputada Agnes Lam, devido à venda de vivendas num projecto imobiliário na Indonésia. Oito residentes apresentaram queixa junto das autoridades, devido ao facto de não terem recebido as vivendas que alegadamente compraram na Ilha de Bintão, cuja data de conclusão seria 2015, nem terem visto o seu dinheiro devolvido. “Há um conjunto de oito residentes de Macau que apresentaram queixa, alegando que foram vítimas de uma burla e que as suas perdas totalizam 5,36 milhões de patacas. O caso ainda está a ser investigado”, afirmou a PJ, ontem, numa resposta ao HM. O assunto foi primeiramente relatado pela MASTV, no início deste mês, com base nos depoimentos de alegadas vítimas. Apesar de apenas oito residentes terem apresentado queixa, haverá cerca de 56 locais envolvidos, que terão feitos investimentos na ordem dos 600 mil e 800 mil dólares de Hong Kong, cada, o que poderá fazer com que o esquema envolva entre 33,6 milhões e 44,8 milhões. Segundo as condições propostas, os investidores comprariam vivendas, em construção, no projecto “Indonesia Street City”, na ilha de Bintão, a troco de uma quantia entre 600 mil e 800 mil dólares de Hong Kong. Além disso, havia a possibilidade de arrendar a propriedade à empresa após a conclusão das obras, prevista para 2015, pelo que a TH Group Limited prometia um retorno que poderia chegar a 200 por cento do valor investido. No entanto, desde 2015 que os investidores esperam pelas vivendas e agora o Consulado da Indonésia em Hong Kong, que alegadamente verificou os contratos na altura do investimento, considerou os documentos ilegais. Num primeiro momento, devido à dificuldade em entrar em contacto com Onida Lam, os residentes chegaram mesmo a reunir-se com a deputada Agnes Lam, que os colocou em contacto com o advogado da empresa. Burla negada Por sua vez, após a divulgação das notícias sobre o caso, a empresa TH Group e Onida Lam divulgaram um comunicado a negar a existência de uma burla e a ameaçaram processar as pessoas que denunciaram o caso. “Os entrevistados e a MASTV devem fornecer a carta oficial do Consulado Geral da Indonésia em Hong Kong com as alegações dos contratos mencionados, assim como prova de que os contratos são ilegais”, foi referido, na altura. “Caso contrário, a empresa reserva o direito de agir legalmente contra as pessoas e o órgão de comunicação social”, foi acrescentado. Também no mesmo documento, a empresa TH Group e Onida Lam negaram qualquer envolvimento no projecto da deputada Agnes Lam, e prometeram agir, face a eventuais danos causados para a família da deputada e da CEO da empresa, Onida.
Diana do Mar SociedadeDados pessoais | CTM expande centro para Hong Kong [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais (GPDP) informou ontem que a CTM planeia expandir as actividades do centro de dados para Hong Kong, o que envolve a eventual transferência de dados pessoais de entidades de Macau. O GPDP espera poder “tomar medidas eficazes para regulamentar a transferência” de informações, “sob premissa de proteger os interesses dos titulares dos dados”. Em comunicado, o GPDP indica que emitiu um parecer sobre a transferência de dados pessoais de entidades de Macau para Hong Kong causada pela expansão de actividades do centro de dados da CTM para Hong Kong. Contudo, o documento encontra-se disponível apenas em língua chinesa. Segundo o organismo, o parecer explica “detalhadamente a transferência transfronteiriça de dados pessoais e a garantia para os titulares dos dados a partir do ponto de vista de protecção de dados pessoais”, bem como os “requisitos explícitos sobre as cláusulas do contrato relacionado e processos de conveniência recém-definidos”. Isto – complementa – “a fim de tratar os pedidos apresentados pelas entidades de Macau de forma mais rápida e eficaz sem afectar os direitos e liberdades fundamentais dos titulares dos dados”. “Existem necessidades reais de utilização do centro de dados a estabelecer em Hong Kong pela CTM”, defende o GPDP, ao argumentar que a pequenez da cidade ou a elevada densidade populacional, por exemplo, constituem “factores que limitam a capacidade de estabelecimento de ficheiros de dados de recuperação em desastres”.
Diana do Mar SociedadeTerrenos | Revista concessão da Associação Comercial para ampliar escola [dropcap style≠‘circle’]F[/dropcap]oi revista a concessão, por arrendamento, de um terreno com 3.238 metros quadrados de área, perto do Canídromo. A Associação Comercial de Macau, que é a titular do direito, pretende ampliar as instalações da escola de ensino gratuito, de seis andares, erigindo um edifício adicional, que compreende 17 pisos, dois dos quais em cave, destinado às finalidades de escola e estacionamento. Segundo o despacho do secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, publicado ontem em Boletim Oficial, 220 metros quadrados ficarão sujeitos a servidão administrativa do sistema de drenagem de águas pluviais. O terreno em causa situa-se na Avenida do Conselheiro Borja n.os 480 e 496, na Rua Leste da Ilha Verde n.os 11, 63 e 69 e na Travessa dos Lótus n.º 30. À luz das novas cláusulas, o arrendamento é renovado até 1 de Maio de 2030. A renda anual corresponde actualmente a 3.238 patacas, ou seja, uma pataca por metro quadrado. Um valor que pode ser actualizado de cinco em cinco anos na sequência da revisão da concessão. O reaproveitamento do terreno deve operar-se em 54 meses, ou seja, quatro anos e meio. Um prazo que inclui a apresentação e apreciação do projecto de obra e para a emissão das respectivas licenças. Em caso de incumprimento do prazo, a concessionária fica sujeita a uma multa de 5.000 patacas por cada dia de atraso, no máximo de 150 dias. Imobiliário | Preço médio do metro quadrado acima das 99 mil patacas em Agosto O preço médio do metro quadrado das casas atingiu 99.254 patacas em Agosto, traduzindo um aumento de 4.432 patacas face ao mesmo mês do ano passado. Segundo dados publicados pela Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) – respeitantes às fracções autónomas destinadas à habitação que foram declaradas para liquidação do imposto do selo por transmissões de bens –, Coloane apresentava o valor mais elevado (123.075), seguindo-se a península (98.580) e a Taipa (97.614). Também as transacções aumentaram: Em Agosto foram vendidas 759 casas, contra 594 em igual mês de 2017.
Diana do Mar SociedadePonte do Delta | 40 quotas para empresas de transporte transfronteiriço de passageiros Quatro dezenas de empresas de transporte transfronteiriço de passageiros vão ter autorização para circular na Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Não foi fixado um limite de viagens, mas a entrada na China encontra-se vedada [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]briu ontem o prazo de candidatura às 40 quotas para circulação na Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau que vão ser atribuídas por Macau a empresas exploradoras titulares de licença para transportes terrestres transfronteiriços de passageiros. O anúncio dos felizardos será feito no próximo dia 5. As 40 quotas dividem-se em três grupos: 12 destinam-se “a empresas de transportes terrestres fronteiriços de passageiros” e outras tantas “a empresas exploradoras da indústria de aluguer de veículos motorizados de passageiros sem condutor”, ou seja, companhias de “rent-a-car”. As restantes 16 quotas estão reservadas a empresas que detenham licença de agência de viagem. Segundo o anúncio da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), publicado ontem em Boletim Oficial, as 40 quotas visam permitir que as referidas empresas forneçam “um serviço agendado de transportes de passageiros, de ponto a ponto, em viagens” entre Macau e Hong Kong, “não sendo permitida a tomada e largada de passageiros ao longo do percurso da viagem”. “Cada quota corresponde a um automóvel ligeiro de passageiros que preencha os requisitos. Não foi definido um número limite de viagens por veículos, no entanto, não é permitida a entrada no Interior da China”, diz o mesmo anúncio. Toto-quota Os pedidos para atribuição das quotas concedidas em Macau podem ser entregues até ao próximo dia 28. A selecção vai ser feita por sorteio electrónico. O mesmo sistema foi utilizado para atribuir as 600 quotas (300 para particulares e 300 para empresas), com a validade de um ano, a automóveis ligeiros que pretendam circular na Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Não há ainda, no entanto, data oficial de abertura da Ponte do Delta. De acordo com estimativas oficiais, o volume diário de tráfego na Ponte do Delta deve atingir os 29.100 veículos em 2030 e 42.000 em 2037, enquanto o volume diário de passageiros pode vir a rondar os 126.000 e os 175.000, respectivamente.
Sofia Margarida Mota Manchete SociedadeEntrevista | Gaspar Zhang, coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do IPM Nasceu numa pequena cidade nos arredores de Xangai. Aprender português não foi uma escolha pessoal, mas um “acidente” do seu percurso académico. No entanto, a língua de Camões acabou por mudar a vida de Gaspar Zhang, o actual Coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do IPM [dropcap style≠‘circle’]Q[/dropcap]uais as razões que o levaram a estudar português? Nasci em Nantong, uma cidade pequena perto de Xangai. Comecei a estudar português no início deste século e, na realidade, não foi uma escolha pessoal, mas da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim, que selecionou um grupos de alunos com uma boa proficiência em língua chinesa e inglesa para aprender uma terceira língua. No meu caso, a indicação que recebi foi que teria de estudar português. Penso que esta selecção também esteve relacionada com a necessidade do país de ter pessoas com conhecimento nesta língua, principalmente naquela altura. Uma necessidade que continua a existir, mas que penso que nos anos 2000 era maior. Não me arrependi. Acabei por gostar muito da língua e da cultura portuguesa. E esta opção mudou o rumo da minha vida. Assim que terminei a licenciatura fui convidado para leccionar português na mesma universidade, o que também era um hábito da instituição: convidar os melhores alunos para ensinar. Comecei a ensinar em 2007, o ano em que iniciei o mestrado em tradução chinês/português, o primeiro curso de mestrado nessa área na China continental. Terminado o mestrado, uns anos depois, fui fazer o doutoramento em linguística portuguesa, em Coimbra. Terminei este ano. Também ensinei português na Universidade de Pequim, a melhor de toda a China. Referiu que o português lhe mudou a vida. Porquê? Penso que me abriu para um mundo completamente diferente, que nunca teria oportunidade de conhecer se não fosse a língua. Apesar de estar mais ligado à linguística, gosta de literatura portuguesa? Sim. A minha área é a linguística, não sou especialista em literatura. Quando me fez essa questão, o primeiro nome que me passou pela cabeça foi o de Maria Ondina Braga, que viveu muitos anos em Pequim. Gostei muito de “A China fica ao lado”. A autora foi leitora da universidade onde estudei e também viveu alguns anos em Macau. Para mim, trata-se de uma autora muito observadora e que escreve o que se passa à sua volta. O seu currículo implica um domínio muito grande da língua portuguesa, em pouco tempo. Como é que o conseguiu? Passei o terceiro ano da licenciatura aqui em Macau, o que me ajudou a ter um contacto mais próximo com a cultura. Depois, no mestrado, frequentei um ano em Lisboa um curso de língua na Faculdade de Letras. Durante o doutoramento, vivi mais um ano em Coimbra. No total, passei dois anos em Portugal. Durante a parte curricular do doutoramento passei tempos difíceis, porque era o único aluno chinês a fazer Linguística Portuguesa. Por outro lado, escolhi um tema complexo para abordar no doutoramento, mas que também me fez ter que ter um domínio muito forte. Além disso, contei com um grande apoio da minha orientadora. O que mais gosta em Portugal? Fiquei impressionado com a hospitalidade do povo português. Os portugueses que conheço, não só em Portugal mas também aqui em Macau, são muito simpáticos. Quando fui a Portugal pela primeira vez, em 2008, fui muito bem recebido, quer por funcionários da escola, quer pela senhoria e os colegas. Recordo um encontro com um presidente de uma junta de freguesia que me disse uma coisa com a qual concordo em pleno: “o povo português é um povo tolerante”. Também não posso deixar de referir a gastronomia portuguesa, uma grande parte da cultura. Sou uma pessoa que não passa sem arroz. Portugal, felizmente, tem muitos pratos com arroz. Aliás, a este respeito até me disseram que os portugueses são os chineses da Europa por comerem muito arroz de várias formas. Mas, o meu prato preferido é bacalhau assado no forno com azeite. Tem em exercido funções de professor de português. Quais as maiores dificuldades no ensino desta língua a estrangeiros, nomeadamente a alunos chineses? O chinês e o português são duas línguas tipologicamente muito diferentes, tanto a nível da sintaxe como da fonética/fonologia. De acordo com a minha experiência, penso que a maioria dos alunos chineses têm dificuldades em distinguir, por exemplo, o imperfeito e o pretérito perfeito simples. Uma outra dificuldade é o conjuntivo. Isto porque em chinês não há tempos nem modos verbais. Nós, em chinês, utilizamos alguns elementos ou partículas para indicar se é uma acção concluída ou se é no futuro e também não conjugamos os verbos. Um outro problema que observei na China foi a falta de contacto directo com a língua e cultura portuguesa. O contacto é muito importante. Macau, por exemplo, tem muitas vantagens a este nível. Como são línguas muito diferentes e não há este contacto directo, a aprendizagem do português torna-se mais difícil. Na sua opinião, qual o papel da língua portuguesa, e mesmo da lusofonia, na China contemporânea? Podemos falar nessa importância segundo diferentes pontos de vista. Do ponto de vista económico e comercial, a China e os Países de Língua Portuguesa (PLP) são parceiros estratégicos muito importantes a nível global. Do ponto de vista político, a China está a apostar no desenvolvimento das relações com os PLP. Os meus colegas de faculdade estão espalhados por todo o mundo a trabalhar nesta área. É de frisar que, de um ponto de vista político, a China está a apostar na relação com os PLP e, por essa razão, existe uma grande procura de falantes bilingues, não apenas em Macau, mas também no Interior da China e nos próprios PLP. E como vê a importância do português em Macau? Macau está a desempenhar um papel especialmente importante na medida em que serve de plataforma e ponte de ligação entre a China e os PLP. Penso que, actualmente, estamos numa nova era, em que a língua portuguesa desempenha um papel fundamental na iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”. O próprio embaixador chinês em Portugal salientou que Portugal é um parceiro muito importante nesta iniciativa. Também não nos podemos esquecer de que estamos num contexto geográfico muito particular: a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Como sabe, a província de Guandong é a província chinesa com maior cooperação económica e comercial com os PLP. É o sucessor do professor Carlos Ascenso André no CPCLP. Que desafios tem pela frente? Iniciei as minhas funções há cerca de duas semanas no CPCLP. A adaptação ao cargo não foi difícil e consegui numa semana perceber o seu funcionamento, isto porque já estava muito bem organizado quer pelo próprio professor Carlos André, quer pelos colegas que o integram. Aliás, gostava de agradecer publicamente ao professor Carlos André pela sua dedicação na divulgação da língua portuguesa em Macau, no Interior da China e mesmo na região Ásia-Pacífico. Por outro lado, expresso o meu agradecimento a todos os colegas do CPCLP pela forma calorosa com que me receberam e pelo apoio que me têm prestado desde a minha tomada de posse. É uma equipa dinâmica e altamente qualificada, quer a nível académico quer científico, na qual reina o bom ambiente de trabalho. Que planos tem para este centro? Para melhor responder a essa questão gostava de dividir os trabalhos que temos planeados pelas regiões diferentes a que se destinam. Em primeiro lugar, começava por referir o que temos planeado ainda dentro do Instituto Politécnico de Macau, onde pretendemos continuar o apoio dado aos trabalhos desenvolvidos no Laboratório de Tradução Automática do IPM. Trata-se de uma área em que este estabelecimento de ensino está a investir muito. Vamos ainda tentar contribuir para a criação e a leccionação de certas disciplinas do Curso de Mestrado em Tradução/Interpretação Chinês-Português/Português-Chinês e do Curso de Doutoramento em Português. Este não é um trabalho directo do CPCLP, mas sim uma cooperação com a Escola Superior de Línguas e Tradução. Vamos também continuar envolvidos na leccionação de disciplinas nas três licenciaturas relacionadas com a língua portuguesa do IPM. Já em Macau, o CPCLP está, neste momento, a colaborar com a Direcção de Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) na formação de professores de língua portuguesa no ensino não superior, projecto que será alargado, a partir do próximo ano, a todos os professores desta língua do ensino não superior de Macau. Daremos continuidade à promoção de eventos académicos e em Novembro vamos ter o colóquio “Produção de Materiais Didácticos para o Ensino de Português como Língua Estrangeira no Contexto da China e Ásia-Pacífico”, para o qual foram convidados professores de renome internacional. Um dos nomes que se pode já revelar é Rod Ellis. A nossa missão também passa pela publicação científica, de manuais e de materiais de português língua estrangeira. Uma novidade muito importante é que estes manuais serão disponibilizados online, em versão PDF, permitindo o acesso mais alargado, mais fácil, a mais pessoas. Pretendemos que este projecto esteja disponível no final do ano ou no início do próximo. O centro também vai continuar a organizar concursos relacionados com língua portuguesa, nomeadamente o Concurso de Debate, que se costuma realizar em Novembro e que este ano está marcado para os dias 27 e 28, e o Concurso de Declamação em Poesia, que ocorre normalmente em Março ou Abril. E além-fronteiras? Na China continental temos uma missão muito importante e damos apoio ao ensino de português. Colaboramos com universidades chinesas na organização de eventos académico. Exemplo disso, é o que vai acontecer no próximo Verão, em que o IPM-CPCLP e a Universidade de Estudos Estrangeiros de Cantão vão co-organizar o 5º Fórum Internacional do Ensino de Língua Portuguesa na China. É uma iniciativa que se realiza de dois em dois anos. No ano passado, foi em Pequim e para o ano é em Cantão. A nossa actividade também inclui o Curso de Formação Contínua de Professores de PLE na China/Ásia-Pacífico, uma formação destinada aos professores de língua portuguesa no ensino superior da China. Trata-se de um curso que já é certificado pelo Instituto Camões desde Abril deste ano. Nos últimos cinco anos, o CPCLP conseguiu estabelecer contactos com todas as universidades que oferecem língua portuguesa na China. O contacto com esta rede de ensino de português foi uma herança muito importante do professor Carlos André para este centro. Avançamos também com contactos importantes com várias universidades portuguesas em Coimbra, Lisboa e Porto.
Hoje Macau SociedadeMangkhut | Património sofre apenas danos ligeiros [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] s edifícios e instalações culturais do património de Macau ficaram praticamente intactos após a passagem do tufão Mangkhut. A garantia foi dada ontem pelo Instituto Cultural (IC) que, após uma análise preliminar a 22 edifícios, 45 templos e 15 igrejas no Centro Histórico, concluiu que não houve danos graves, apesar de, em alguns casos, terem sido registados incidentes como janelas partidas ou infiltrações ligeiras de água. O poste do sinal de tufão da Fortaleza da Guia ficou aparentemente inclinado, uma situação que o IC espera resolver em breve. Já nas zonas baixas da cidade, houve cinco templos que sofreram inundações, tendo sido registados danos ligeiros em nove espaços religiosos. De acordo com o IC, à excepção das afectadas por inundações nas zonas baixas da cidade, as instalações culturais, bem como as árvores antigas no seu interior, encontram-se em bom estado. As instalações culturais que foram afectadas por inundações incluem a Biblioteca do Patane, a Biblioteca do Mercado Vermelho, a Biblioteca de Coloane, o Espaço Patrimonial uma Casa de Penhores Tradicional e as Oficinas Navais – Centro de Arte Contemporânea. No entanto, dado que as obras expostas e os materiais de relevo foram retirados previamente, os seus bens não foram danificados. A maioria das instalações culturais sob a alçada do IC reabre hoje ao público.
Hoje Macau SociedadeMangkhut | BNU e ICBC lançam empréstimos especiais [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Banco Nacional Ultramarino (BNU) e o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC) lançaram programas de empréstimos com o objectivo de ajudar as pessoas e as empresas afectadas pela passagem do tufão Mangkhut. No caso da instituição de matriz portuguesa, estão disponíveis vários tipos de empréstimos para fins como “fluxos de caixa, compra de equipamentos e despesas em decoração”, com um prazo de carência de 30 meses. Segundo o comunicado do BNU, este tipo de empréstimos tem como objectivo “reduzir a pressão operacional das empresa afectadas e ajudá-las a retomar uma gestão sustentável”. Em relação a privados, os empréstimos visam a reconstrução das causas ou substituição de carros danificados. No que diz respeito ao ICBC Macau, o montante disponível para empréstimos chega aos 6 mil milhões de patacas, de acordo com a informação do Jornal do Cidadão. Também no caso da instituição chinesa, o objectivo passa por auxiliar as empresas e os cidadãos, quer com as despesas operacionais das PMEs, quer na reconstrução de casas e compra de novos automóveis. Ainda no que diz respeito ao ICBC, o objectivo passa por contribuir para que a vida da população regresse à normalidade tão depressa quanto possível, podendo os empréstimos ser realizados através do cartão de crédito.
Hoje Macau SociedadeSaúde | Detectado tifo epidémico em adolescente [dropcap style≠‘circle’]U[/dropcap]ma estudante local de 15 anos foi diagnosticada com Tsutsugamushi, vulgarmente conhecido como tifo epidémico, informaram ontem os Serviços de Saúde. Em comunicado, o organismo indica que os primeiros sintomas, como dor cervical, dor de cabeça severa e febre, foram reportados no passado dia 2. Pouco mais de uma semana depois, a adolescente apresentou uma erupção cutânea em todo o corpo e uma escara no extremo da vértebra esquerda, motivo que a levou a recorrer ao Hospital Kiang Wu, com o resultado da análise laboratorial a testar positivo a Tsutsugamushi. Actualmente, a jovem encontra-se a recuperar.
Sofia Margarida Mota Manchete SociedadeAmbiente | Lixo invade as praias de Coloane [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]s praias de Hac Sa e de Cheok Van foram invadidas por uma onda de lixo, essencialmente plásticos, depois da passagem do tufão Mangkhut. “Este é um problema global que em situações de tempestade se torna mais visível. O facto de Macau estar no delta de um dos dez rios do mundo que mais lixo transporta faz com que o território seja mais sensível a este tipo de situações”, afirma David Gonçalves. Com a passagem do tufão Mangkhut, a zona costeira de Coloane foi assolada por lixo trazido pelas águas do mar. O facto não é novo nem se cinge geograficamente a esta zona, no entanto Macau situa-se no delta de um dos dez rios que arrasta mais poluição, principalmente plástico, para os oceanos, afirmou o director do Instituto de Ciências e Ambiente, da Universidade de São José, David Gonçalves, ao HM. “Há dez grandes rios no mundo que são responsáveis por cerca de 95 por cento do transporte do plástico por via fluvial, que é uma das principais vias do transporte dos plásticos para os oceanos, e o Rio das pérolas é um deles”, começou por dizer. Ora Macau situa-se precisamente numa zona sensível a este respeito. “Estamos aqui localizados e daí que não seja de estranhar que quando há uma tempestade ou um tufão, este problema que é mais ou menos invisível, se torne bem palpável”, apontou. Da análise feita dos lixos que deram à costa no passado domingo, a maioria são itens de esferovite e de plástico, referiu o responsável. O problema, apontou, não é de fácil resolução até porque as pessoas estão muito dependentes dos derivados de plástico. Soluções urgentes A solução passa pela alteração dos hábitos de consumo deste tipo de materiais e pelo evoluir para uma economia circular, ou seja, em que os produtos descartados no final do seu uso, são reciclados e acabam por voltar a integrar a corrente de produção e de circulação. “Apenas desta forma é possível que o desperdício seja praticamente zero e que não seja necessário continuar nesta cadeia linear de produtos descartáveis”, referiu. Em Macau o problema agrava-se. A produção e lixo per capita, ao invés de diminuir, “tem vindo a aumentar nos últimos anos o que quer dizer que o problema não está na questão de haver mais pessoas, mas de cada uma das pessoas estar a produzir mais lixo todos os anos”, disse. Esta situação mostra que não está a ser feito o que devia ser feito para tentarmos reduzir, quer o consumo, quer a entrada dos produtos de novo na linha de produção”, lamentou. De acordo com a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), num relatório referente a 2016, a quantidade de resíduos sólidos urbanos descartados ‘per capita’ neste ano superou, “quase no dobro, a de diversas cidades nas regiões vizinhas”. A quantidade de lixo produzido por pessoa em Macau correspondeu a 2,11 quilogramas por dia, “um nível muito alto”, ultrapassando Pequim (um quilograma/dia), Xangai (0,70 quilogramas/dia), Cantão (0,93 quilogramas/dia), Hong Kong (1,39 quilogramas/dia) ou Singapura (1,49 quilograma/dia), indicava um relatório. Deste lixo, 21 por cento era referente a plásticos. O HM tentou contactar a DSPA e a Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA) para averiguar se há medidas específicas para inverter o consumo de plástico e da poluição marítima e fluvial, respectivamente, mas não teve qualquer resposta até ao final desta edição. Fim da linha Para David Gonçalves, “estes números são o fim de linha e reflectem o que vai parar à incineradora no que respeita a materiais que foram utilizados e descartados”. Recorde-se que no final de Agosto, foi entregue uma petição ao Governo que reunia com 4.700 assinaturas a exigir medidas para banir o uso de plástico descartável. Os promotores da iniciativa solicitavam também uma resposta pública até ao dia 13 deste mês, o que não aconteceu. O problema não é novo mas agrava-se , considera David Gonçalves, e as estimativas para o futuro não são animadoras. “Estima-se que a produção de plástico vai triplicar até 2050 e aumentou já de uma forma muito exponencial desde os anos 70 até agora”, referiu.
Hoje Macau SociedadeSaúde | Kiang Wu planeia mestrado de enfermagem até ao final do ano [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]directora do Instituto de Enfermagem Kiang Wu de Macau, Van Iat Kio, afirmou ontem que estão concluídos os trabalhos relativos ao curso de mestrado em enfermagem. Como tal, a responsável espera que o curso comece a funcionar até ao final deste ano. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, Van Iat Kio admite a necessidade deste grau de ensino para aumentar a capacidade profissional dos estudantes. Questionada sobre o número inscritos no grau de licenciatura este ano, Van Iat Kio considera-o surpreendente: “entre cerca de 100 novos alunos, 90 por cento são locais”, afirmou.
Hoje Macau SociedadeHotelaria | Landmark Macau passa a ser designado por New Orient Landmark Hotel [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]hotel The Landmark Macau passou a ter a nova designação de New Orient Landmark Hotel após se ter juntado ao Grupo The Orient. Segundo o comunicado publicado no Jornal Ou Mun, o Grupo The Orient considera que a aquisição deste hotel pode contribuir para uma nova dinâmica. De acordo com a mesma fonte, o Banco da China em Macau estabeleceu uma cooperação estratégica com o grupo, auxiliando a integração do The Landmark Macau.
Hoje Macau SociedadeEducação | Actualizados subsídios do ensino recorrente [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]s apoios para o ensino recorrente vão ser revistos em alta. Segundo um despacho do Chefe do Executivo, publicado ontem em Boletim Oficial, que entra hoje em vigor, o montante do subsídio a conceder será de 817.500 para cada turma do ensino primário recorrente. Já cada turma do ensino secundário geral recorrente vai receber 989.000 patacas, enquanto o montante destinado a cada turma do ensino secundário complementar recorrente ascende a 1,11 milhões de patacas. Dados oficiais facultados recentemente indicam que o universo de estudantes que frequenta o ensino recorrente tem vindo a encolher. No último ano lectivo, não chegaram a 1.500, distribuídos por um total de seis escolas. A frequentar o ensino primário eram apenas nove; no ensino secundário geral eram 257, enquanto no ensino secundário complementar totalizavam 1.090. Nas escolas públicas contavam-se menos de 100 no cômputo dos três níveis de escolaridade.
João Santos Filipe Manchete SociedadeCultura | Residentes vão menos a museus e a monumentos [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]lém dos museus e dos monumentos, também o cinema registou quebras de afluência de público no segundo trimestre do ano. As salas locais perderam quase oito mil espectadores. O número de residentes que visitaram museus ou locais considerados património mundial ou local registou uma quebra de 12,8 por cento, durante o segundo trimestre deste ano. Entre Abril e Junho deste ano, cerca de 100,6 mil residentes visitaram este tipo de locais culturais, enquanto há um ano o número tinha sido de 115,4 mil, de acordo com dados publicados, ontem, pela Direcção de Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Segundo os dados revelados, cada residente terá feito, em média, 3,1 visitas a museus ou monumentos. Assim, 69,7 mil residentes visitaram museus e 66,6 mil foram aos locais de património mundial, o que corresponde a uma quebra de 10,2 por cento e 24,2 por cento face ao período homólogo. A tendência de quebra foi igualmente registada ao nível do cinema. A sétima arte continua a ser a actividade cultural mais popular do território. No entanto, no espaço de uma ano, as salas de cinema perderam 7,9 mil espectadores. No segundo trimestre tinham ido ao cinema 173,4 mil residentes, o número caiu para 165,5 mil este ano. Uma das principais causas para esta quebra é o cinema local. Este ano foram 30 mil os residentes que assistiram a filmes produzidos em Macau. Uma quebra de 17,2 por cento face a 2017, altura em que 36,2 mil residentes tinham assistido a cinema local. Esta tendência também pode estar relacionada com o filme Sisterhood, da realizadora Tracy Choi, que foi estreou no ano passado e atraiu muitas pessoas às salas. Biblioteca com tendência positiva No que diz respeito às bibliotecas, houve um aumento da participação dos residentes em cerca de 1,6 por cento. Entre Abril e Junho deste ano , 131,6 mil pessoas frequentaram os espaços de leitura, enquanto no ano passado o número fixou-se nas 129,5 mil. Mais uma vez, tal como nos anos anteriores, destaque para uma maior participação da população estudante, que representou a proporção de 76,8 por cento dos residentes que foram à biblioteca. Já os não-estudantes constituíram 25,1 por cento. Este número poderá voltar a sofrer um novo aumento na próxima contagem, uma vez que a Biblioteca Central, a mais popular do território, alargou o horário de funcionamento até à meia noite. Finalmente, as exposições também tiveram um crescimento, de 3,2 por cento face ao período homólogo, com um total de 36 mil residentes. Cada participante assistiu em média a duas exposições.
João Luz SociedadeHistória | Viagem ao passado dos piores tufões que assolaram Macau Em altura de rescaldo da passagem do tufão Mangkhut, olhamos para trás e regressamos mais de um século às tempestades que devastaram Macau e a região. Um dos mais fatais tufões de que há memória ocorreu há quase 144 anos e provocou cerca de 5000 mortos no território [dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]o dia 22 de Setembro de 1874, Macau acordou para uma manhã radiosa banhada a sol, a convidar a um passeio. Ao largo da baía da Praia Grande, as lorchas de pesca dedicavam-se afincadamente à labuta do mar, enquanto que em terra a vida prosseguia no seu ritmo normal. Ao começo da tarde, os pescadores regressaram a terra firme com o terror espantado nos rostos gritando “tai-fong!”, que pode ser traduzido como “grande vento” e que foneticamente se assemelha à palavra que usamos em português. O que se seguiria ficou marcado na história de Macau como um dos mais negros episódios nascidos de uma catástrofe natural. Em 2014, do Arquivo Histórico saiu o material para a mostra “Em Tempo de Tufões – Exposição de Documentos Históricos de Macau”. No catálogo da exposição, pode-se ler que durante a tempestade de 1874 “os ventos violentos, as ondas enormes e os incêndios danificaram um número incalculável de prédios e de infra-estruturas, duas mil embarcações de pesca e mercantis naufragaram. Cerca de 5000 pessoas morreram: 3600 na península, 1000 na Taipa e 400 em Coloane. Perderam-se bens, cujo valor atingiu dois milhões de moedas de prata”. Um dos registos mais fidedignos e elegantes em termos linguísticos foi redigido por um secretário do Governador, que passou para escrito o terror que havia testemunhado. Um artigo dos anos 90 da Revista Macau, transcreveu o relato de Pedro Gastão Mesnier, publicado no Boletim Oficial da Província de Macau e Timor que passamos a transcrever: “Durante toda a semana anterior, não tinha havido tão formosa madrugada. Centenas de lorchas de pesca, aproveitando o bom tempo, velejavam à vista da Praia Grande, na larga bacia de mar, que se estende até à ilha de Lantau, e todos estavam entregues à mais tranquila confiança, enganados pelo aspecto risonho da atmosfera. Eram três horas da tarde, e os marinheiros chineses, assustados pela transformação súbita da atmosfera, corriam a abrigar as embarcações em lugar seguro. Impelidas pela brisa cada vez mais fresca, debaixo do firmamento, que de momento a momento se tornava mais medonho, e fazendo espumar sob as rápidas quilhas as águas esverdeadas do nosso porto, milhares de juncos se precipitavam, em confuso tropel, fugindo perante as ameaças que todos aqui sabem compreender. Ao pôr do Sol, os seus raios quase horizontais, refractos pelo raro véu de vapores que cobria o ocidente, derramaram subitamente pelo firmamento uma cor vermelha intensa, que envolvia tudo nos seus ardentes reflexos. Parecia que se abria subitamente a boca de enorme fornalha. Durou poucos instantes o fenómeno luminoso.” A chegada do tufão O relato de Pedro Gastão Mesnier prossegue com a descrição do ponto mais feroz da tempestade. “À meia noite, eram já violentíssimas as rajadas. No Porto Interior, desabrigado do lado Norte, as águas estavam mais desinquietas. Sacudidas pelo ímpeto do temporal, algumas lorchas principiaram a perder a amarração, e apenas se desligavam das âncoras, eram arrastadas em vertiginosa carreira, sobre as vagas espumantes, pelo esforço combinado do mar e do vento. Os nossos navios de guerra, a escuna Príncipe D. Carlos, navio de vela de 150 toneladas, a canhoneira Tejo a vapor de 300 toneladas, e a canhoneira Camões de 80 toneladas, ancoradas entre a Alfândega e a Fortaleza da Barra, viam estas moles passando desordenadamente em todas as direcções, acrescentando mais os perigos com que já se encontravam a braços. A escuna Príncipe D. Carlos, abalroada pela massa de juncos, que se despegara como as neves nos mares árticos durante um debacle foi envolvida, arrancada da sua posição, e seguiu a mesma desesperada carreira, indo-se perder por fim, no interior das terras da ilha da Lapa; a Tejo, depois de receber terríveis choques, escapou milagrosamente de perder os seus ferros; a Camões foi parar pelo rio acima, numa várzea de arroz. Estes acontecimentos haviam principiado quando ainda a parte da cidade exposta a Leste pouco sofrera. Eram duas da manhã, e o barómetro descia com maior rapidez do que antes, quando de repente o vento mudou de Norte para Leste. Essa mudança foi súbita, quase instantânea; houve um segundo de calma, e logo, com indescritível violência, uma rajada ululante varreu toda a extensão do Mar de Lantau. Foi o sinal. Encapelando-se em montes sobrepostos, o mar levantou-se numa vaga medonha, e sopesando-se um instante, precipitou-se de chofre sobre toda a parte oriental da cidade, desde o forte de S. Francisco até à Barra. As portas das casas da Praia Grande foram arrancadas, e a água inundou os andares inferiores, as árvores arrancadas, as cantarias dos parapeitos desmoronadas vinham ferir as casas de envolta com as vagas. Entrava o temporal numa fase, em que mal se pode descrever o excesso de furor, com que o vento e o mar se precipitavam sobre esta cidade como se a quisessem eliminar da superfície da terra. Um estrondo constante, furioso, e rugidor, composto das vozes mais temerosas que a natureza pode soltar na sua ira, estrugiam pelos ares: mal se podiam ouvir duas pessoas vizinhas, e de vez em quando, as vibrações mais fortes da tempestade, acompanhando o esforço aumentado dos elementos, infundiam espanto e terror nos infelizes que viam os seus abrigos ameaçando sepultá-los sob as ruínas. Com o ímpeto das rajadas, dos escarcéus e os choques do mar, o solo estremecia como se estivesse sofrendo um terramoto.” Na altura, ainda não havia o actual sistema de aviso por código de sinais numerado, que viria a ser adoptado pela Capitania dos Portos de Macau apenas em 1912, de acordo com os sistemas usados nas zonas costeiras da China e Hong Kong. O nome das coisas A tempestade que marcou o final do século XIX não é a primeira registada pelas autoridades de Macau. Para encontrarmos o primeiro registo temos de regressar a 5 de Setembro de 1738. À altura, o tufão foi considerado como o pior no território e que mais estragos causou até à data. Obviamente, esta medição não tem qualquer suporte científico, sem registos de velocidade. Estávamos ainda longe de dar nome às tempestades. O baptismo das tempestades viria a acontecer depois da 2ª Guerra Mundial, pelo contingente norte-americano do Centro de Alerta Contra Tufões de Guam. Neste aspecto, importa salientar que até 1979 todas as tempestades tiveram nomes femininos. Já no século XX, Macau foi fustigado por um conjunto de tufões que ainda estão bem presentes na memória dos mais velhos. De acordo com os relatórios anuais dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) sobre tempestades tropicais, entre 1953 e 1983 morreram quatro pessoas na sequência de três tufões. Em 1957, o tufão Gloria ceifou duas vidas. Em 1964, morreu uma pessoa depois da passagem do Ruby, igualando o registo do tufão Lynn de 1981. Antes do Hato, Macau não registou perda de vida desde o tufão Hellen, que em 1983 provocou “mais de uma dezena de mortos, especialmente devido ao afundamento de juncos”, de acordo com o relatório anual dos SMG. O número de fatalidades provocado pelo Hellen não chegou a ter uma contagem oficial. Porém, a imprensa local noticiou, à altura, o falecimento de 18 pessoas, a maioria na sequência de naufrágios no Porto Interior. Desde então, só o Hato teve um balanço mortal em Macau. A braços com as consequências das alterações climáticas e da subida da temperatura dos oceanos, os registos dos SMG mostram uma tendência alarmante para o futuro. De 1956, ano em que começa a recolha de dados pelos serviços, até antes do Hato, apenas cinco tufões levaram ao hastear do sinal máximo de tufão. Em pouco mais de um ano, Macau já passou por duas tempestades passíveis de levar ao alerta de maior severidade. Um rumo que coloca as vidas dos residentes de Macau à mercê do mortal capricho dos ventos.
Andreia Sofia Silva SociedadeAAM | Sérgio de Almeida Correia visto como capaz e independente por colegas [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]esmo sem ser oficialmente candidato à presidência da Associação dos Advogados de Macau (AAM), por lhe faltar ainda uma lista e um programa eleitoral, Sérgio de Almeida Correia parece agradar a alguns colegas de profissão, que também querem renovação, como é o caso de Jorge Menezes. “É uma excelente escolha para substituir o actual presidente, que no passado anunciou que não se recandidataria se surgisse uma candidatura alternativa e que defendeu a renovação da AAM. Um dia teria necessariamente de se virar a página e ele é uma pessoa apropriada para o fazer”, disse ao HM. Sérgio de Almeida Correia “está em Macau desde a década de 90. É uma pessoa inteligente e corajosa, um advogado de integridade e mérito inquestionáveis, que compreende a importância que uma advocacia profissionalizada e de qualidade tem para a segurança do comércio e atracção do investimento estrangeiro”, acrescentou Jorge Menezes. “Tem-se destacado na defesa dos valores constantes na Lei Básica que fazem de Macau um caso singular, como o Estado de Direito e os direitos fundamentais. É a pessoa certa para representar a totalidade dos advogados de Macau de língua chinesa e portuguesa, de Direito penal, civil, tribunal e negócios. Estou certo de que reunirá uma equipa boa e diversificada que contribuirá para o aprofundamento do trabalho feito pela direcção da AAM ao longo destes anos.” João Miguel Barros também apoia Sérgio de Almeida Correia e defende que a direcção da AAM não se pode transformar numa “monarquia”. “Entendo que é importante haver renovação nos órgãos da AAM, independentemente do mérito de quem lá tem estado. O Dr. Neto Valente tem feito um bom trabalho no sentido de garantir estabilidade da AAM, mas está-se a eternizar no poder, é quase um regime monárquico.” Novos estatutos João Miguel Barros defende também a reforma dos estatutos da associação, pois “é saudável que todos os mandatos tenham um limite e, portanto, está na altura e é oportuno haver mais uma pessoa”. “Só o princípio da renovação dos órgãos sociais é saudável, e não consigo compreender como é que na AAM não há um limite para o exercício de funções. Esse é um dos problemas que temos. Acho que a candidatura é uma lufada de ar fresco.” Assumindo desde já apoiar a futura candidatura, João Miguel Barros também destaca a passividade da AAM. A associação “tem obrigações de intervir no espaço público e na sociedade quando estão em causa direitos fundamentais”. “Temos tido muitos problemas de violação de princípios do Estado de Direito na sociedade de Macau e a AAM, de um modo geral, não diz nada. Não se sabe o que é feito por detrás, mas em termos de opinião pública não vejo muito da AAM, ainda que o doutor Neto Valente fale várias vezes de alguns assuntos, mas eu acho que é insuficiente.” Além disso, João Miguel Barros denota conflitos de interesses, uma vez que o actual presidente, Jorge Neto Valente, está também ligado a empresas do sector do jogo e do imobiliário. “O Dr. Neto Valente é suficientemente inteligente para conseguir ter um discurso público e de prática que separa as coisas. Mas há uma imagem de conflito de interesses que, para mim, já está registada há muito tempo. Temos de ter outro presidente que não tenha um interesse tão marcado nos negócios.” Dos advogados ouvidos pelo HM, Pedro Leal foi o único que mostrou apoio à continuação de Neto Valente na presidência da AAM, apesar da “boa impressão” que tem de Sérgio de Almeida Correia. Contudo, só apoia a candidatura se Neto Valente não avançar. “O Dr. Neto Valente tem prestígio pelo trabalho desenvolvido e é a pessoa ideal para continuar na associação. Não ouvi dizer que tenha desistido. Neste momento, é prematuro falar da candidatura do Sérgio Correia de Almeida, embora tenha boa opinião dele. É uma pessoa idónea, competente. Se o Dr. Neto Valente decidir não avançar, é uma candidatura possível.” Para Pedro Leal, “podem haver mudanças na direcção mantendo-se o presidente”. “O Dr. Sérgio de Almeida Correia é bem-vindo para a direcção, não sei se a renovação a que o Dr. Neto Valente se referia era na direcção ou na presidência. Seria uma pessoa bem-vinda para a AAM desde que o Dr. Neto Valente não continue”, rematou. Nota: As declarações de Jorge Menezes originalmente publicadas foram prestadas antes de Neto Valente ter declarado que poderia voltar recandidatar-se à presidência da AAM. Ainda antes do artigo ser publicado, Jorge Menezes alterou o conteúdo das mesmas, face aos desenvolvimentos, mas devido a um problema técnico a actualização só foi feita a 18 de Setembro.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeAAM | Sérgio de Almeida Correia chega-se à frente por uma associação mais activa Defende mais pró-actividade na emissão de pareceres sobre propostas de lei, maior participação da classe e medidas para solucionar a morosidade dos tribunais. Sérgio de Almeida Correia quer ser candidato à presidência da Associação de Advogados de Macau, mas falta-lhe uma lista e programa eleitoral [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] a primeira candidatura alternativa a Jorge Neto Valente à presidência da Associação dos Advogados de Macau (AAM) desde meados dos anos 90. Os outros dois presidentes foram Amélia António, advogada que ajudou a fundar a AAM, e António Dias Azedo. Anos depois, Sérgio de Almeida Correia anuncia a intenção de ser candidato à associação de que é membro, pleno de vontade de mudar o rumo das coisas. “É mister que a AAM saia da posição passiva em que tem estado de cada vez que a arbitrariedade sai à rua. Impõe-se que sem tibiezas e com independência defenda a Lei Básica e o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ e que o faça respeitando sempre as instituições e os poderes legítimos da RAEM e da República Popular da China para engrandecimento de ambas, num diálogo regular e construtivo.” Sem falar de casos concretos de passividade, Sérgio de Almeida Correia revelou que decidiu avançar depois de ouvir Jorge Neto Valente dizer, em entrevista à TDM, que desejava a renovação dos dirigentes da AAM. Mas não foi esse o único motivo. “Uma das razões tem a ver com a própria AAM e as dificuldades que se têm vivido nos últimos anos, sobretudo no último biénio. Houve algumas assembleias gerais relativamente participadas, em que as pessoas manifestaram muitas preocupações e entendi que seria necessário avançar.” Afirmando que “a maioria dos advogados de Macau está cansada de listas únicas”, o causídico enumerou algumas questões que devem ser resolvidas. “Estamos a falar do exercício da advocacia no dia-a-dia nos tribunais. Estamos a falar do papel dos advogados na sua contribuição para uma sociedade mais equilibrada e com menos conflitos sociais. Falamos de uma advocacia que seja capaz perante algumas manifestações de arbitrariedade a que temos assistido nos últimos tempos, que seja capaz de se pronunciar imediatamente. Não vou apontar casos concretos, só pretendo reunir a classe de advogados em torno de um projecto.” Para o futuro candidato, “o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ deve ser aplicado diariamente na vida da RAEM”. “Sendo um princípio de aplicação diária exige que os advogados e a sua associação sejam capazes de o defender. Quero que a associação tenha uma posição mais activa em relação a algumas matérias que dizem directamente respeito aos advogados”, adiantou. Há também o problema da “passividade” quanto à emissão de pareceres sobre propostas ou projectos de lei que chegam à Assembleia Legislativa. “Entendo que a AAM deve ser mais activa e reagir prontamente em determinadas situações, que muitas vezes se prendem com a apresentação de propostas ou projectos de lei em relação aos quais não tem havido uma tomada de posição imediata por parte da associação. Esta tem apresentado a sua posição quando lhe são remetidos os textos legislativos, o que leva meses. Quando a AAM se pronuncia sobre esses assuntos, estes já estão quase esquecidos na opinião pública e fica a imagem de que a associação não se pronunciou”, explicou Sérgio de Almeida Correia. AAM não deve ser o TUI Sérgio de Almeida Correia assume que quer quebrar o ciclo repetitivo dominado por Neto Valente. “Quero renovar o que precisa de ser renovado, injectar sangue novo e dar massa crítica à AAM, fortalecê-la. Quero que a advocacia de Macau contribua para a prosperidade económica da RAEM e que dê mais segurança aos negócios dos seus cidadãos.” O advogado quer também participar no acto eleitoral, que se realiza entre 1 e 15 de Dezembro, “para que ninguém diga da advocacia de Macau o que se tem dito do TUI”, numa clara referências às críticas que a classe tem proferido face à manutenção de Sam Hou Fai, presidente do TUI, nos últimos anos. No que diz respeito aos tribunais, Sérgio de Almeida Correia alerta para o permanente atraso no andamento dos processos. “A morosidade dos tribunais é outro dos problemas que tem de ser resolvido e que se fala todos os anos.” “O número de processos continua a crescer, e as cerimónias de abertura do ano judiciário não passam de um desfilar de estatísticas. Importa intervir em relação à situação concreta. As medidas que serão apresentadas constarão do programa eleitoral. São os meus colegas que vão dizer as prioridades que devem ser assumidas”, acrescentou. Na passada sexta-feira, Sérgio de Almeida Correia garantiu não ter ainda nomes para compor uma lista nem sequer programa eleitoral, que vai ser feito com base na consulta à classe. O advogado disse ter contactado Jorge Neto Valente antes do anúncio oficial de candidatura, tendo este congratulado a iniciativa. Este afirma ser desprovido de interesses pessoais ou económicos e assume não ter qualquer tipo de avença financeira com o Governo ou outra instituição pública. “Este projecto não tem na sua génese qualquer desejo de promoção pessoal ou económica. Quero que seja uma candidatura participada e não feita dentro de um gabinete, com meia dúzia de acólitos. Quero ter uma associação aberta e transparente e em que as opiniões das pessoas sejam escutadas.” A corrida terminará oficialmente no próximo dia 31 de Outubro, data em que devem ser apresentadas as últimas listas. Homem e o currículo Há anos que Sérgio de Almeida Correia exerce advocacia em Macau, primeiro no escritório do falecido Rui Afonso, agora com escritório em nome próprio. Não é a primeira vez que Sérgio de Almeida Correia participa em actos eleitorais da AAM, pois fez parte da direcção no ano de 1994/1995, tendo-se demitido antes de terminar o mandato de dois anos. Ultimamente, tem sido uma voz crítica de várias questões sociais e políticas, tanto através de artigos publicados em jornais como na televisão, onde é um dos participantes do programa “Contraponto” da TDM. Licenciado em Direito e mestre em ciência política, o advogado terminou o ano passado o doutoramento na mesma área. Nos anos 80, Sérgio de Almeida Correia trabalhou na Administração portuguesa, primeiro como jurista nos Serviços de Marinha e depois no Gabinete dos Assuntos de Justiça, entre 1987 e 1989. No mesmo período, foi também colaborador do Gabinete de Tradução Jurídica. Em contrapartida [dropcap]E[/dropcap]m declarações à TDM – Rádio Macau, Jorge Neto Valente não revelou a recandidatura à AAM, ou se apoia Sérgio de Almeida Correia. O presidente da AAM argumenta que é a primeira vez que aparece “uma candidatura com tanta antecedência” em relação ao prazo para formalizar as candidaturas (31 de Outubro) para as eleições que decorrem habitualmente na primeira quinzena de Dezembro. “Não faço hipóteses nenhumas. Estou à espera de mais candidaturas. Como é que posso comprometer-me com quem quer que seja, sem saber quantas candidaturas vai haver? É compreensível. Eu não disse que não me candidato nem deixo de me recandidatar. Até ao dia 31 de Outubro eu direi se me vou candidatar, ou se apoio ou não. Não vou dizer agora. Não é a altura”. afirmou. Jorge Neto Valente encara como “natural que haja movimentações de colegas interessados em assumir os cargos da direcção da associação”. Está convencido que vai haver “mais candidaturas e não necessariamente de advogados portugueses”. “Ninguém pode ficar nem admirado, nem aborrecido por haver listas. É bom que as haja, é sinal de vitalidade. Acho que isso tudo é bom, é saudável”, afirmou. Na conferência de imprensa onde se apresentou como candidato, o advogado Sérgio de Almeida Correia defendeu que a AAM deve sair da “posição passiva em que tem estado de cada vez que a arbitrariedade sai à rua”. Neto Valente contesta: “Penso que há aí alguma confusão entre o papel que a associação – na minha opinião e dos colegas com quem tenho trabalhado – deve ter e as considerações políticas que eu acho que não cabem na associação, porque a política dentro da associação só serve para dividir”. “A associação não é nenhum partido, nem defende nenhumas ideias que não sejam os interesses e as posições da classe dos advogados, do sector da advocacia. É uma visão que é minha. Pelos vistos ele terá outra e é para isso que há candidaturas diferentes”, acrescentou à TDM – Rádio Macau.
João Santos Filipe Manchete SociedadeJogo | Impacto do encerramento dos casinos pode atingir 1,5 mil milhões Pela primeira vez desde que foi criada a RAEM, os casinos fecharam, devido à passagem de um tufão. A presidente da Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores do Jogo elogiou a medida que coloca em primeiro lugar a segurança dos trabalhadores [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] encerramento das áreas de jogo dos casinos devido à passagem do Tufão Mangkhut, entre as 23h de sábado e as 8h de segunda-feira, poderá ter causados perdas às operadoras na ordem dos 1,5 mil milhões de patacas. As previsões foram feitas pelo banco de investimento Union Gaming. “Uma vez que o encerramento dos casinos aconteceu durante os importantes dias do fim-de-semana, em que, normalmente, as receitas brutas são superiores às receitas do dias úteis, antevemos que o encerramento tenha um impacto entre 1,1 mil milhões e 1,5 mil milhões nas receitas brutas do jogo”, pode ler-se num nota de imprensa, divulgada no domingo. Em relação às receitas brutas para todo o mês de Setembro, ou seja o montante que entra nas caixas dos casinos, antes do pagamento de impostos e outras despesas, a Union Gaming espera agora um crescimento em ritmo mais lento. “A nossa previsão inicial apontava para um montante de 24,5 mil milhões de patacas, o que implicava um crescimento de 14,7 por cento face ao período homólogo. Mas o montante deverá agora ficar entre 23 mil milhões e 23,3 mil milhões de patacas em Setembro, ou seja entre um crescimento de 7,7 por cento e 9,3 por cento”. Esta foi a primeira vez, após a criação da RAEM, que as zonas de jogo dos casinos encerraram devido à passagem de um tufão. Nem durante o Hato, que vitimou 10 pessoas em Macau, os casinos tinham sido encerrados. A decisão partiu da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), com a aprovação do Chefe do Executivo, e foi justificada com a necessidade de garantir a segurança dos trabalhadores. Medida aplaudida Por sua vez, Cloee Chao, presidente da Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores do Jogo, deixou elogios à decisão por considerar que coloca em primeiro lugar a segurança dos trabalhadores do sector. “É uma medida muito boa e é eficaz para garantir que os funcionário dos casinos não ficam feridos quando se estão a deslocar, em altura de tufões. É a primeira vez que foi tomada desde a liberalização”, disse Cloee Chao, em declarações ao HM. “Durante muito tempo houve a discussão sobre se as perdas dos casinos iriam ser muito grandes, caso fossem encerrados nas alturas de tufão. Desta vez, ficou provado que não se podem falar em grandes prejuízos”, defendeu. A presidente da Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores do Jogo revelou ainda que vai tentar agendar uma reunião com a DICJ para que “esta grande melhoria” continue a ser aplicada no futuro.