Lionel Leong não se recandidata como delegado de Macau à APN

As eleições para os delegados de Macau à Assembleia Popular Nacional acontecem no próximo dia 17 de Dezembro. Lionel Leong, secretário para a Economia e Finanças, decidiu não se recandidatar, à semelhança de Leong Iok Wa, dos Operários, e Io Hong Meng, dos Kaifong

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]s rostos que vão representar a RAEM na Assembleia Popular Nacional (APN), o mais importante órgão legislativo da China, serão escolhidos numa eleição a decorrer no próximo dia 17 de Dezembro. A data foi escolhida na última sexta-feira na primeira sessão plenária dos membros que elegem os representantes de Macau para a APN, e que decorreu na Nave Desportiva dos Jogos da Ásia Oriental.

Lionel Leong, secretário para a Economia e Finanças, disse aos jornalistas que não volta a candidatar-se, esperando que exista um bom nível de representatividade do território na APN. O secretário acrescentou ainda que os novos delegados devem representar as vozes da população e concretizar bem os seus trabalhos no sentido de integração no desenvolvimento da China e no espírito do 19º congresso do Partido Comunista Chinês.

Foto: GCS

Segundo a TDM, a vice-presidente da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), Leong Iok Wa, e o supervisor geral dos Kaifong (União Geral das Associações dos Moradores de Macau), Io Hong Meng, também não serão candidatos.

Si Ka Lon, deputado à Assembleia Legislativa (AL) e Wong Ian Man, membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) da província de Guangdong em Macau, optaram por ser novamente candidatos, tal como José Chui Sai Peng, também deputado à AL.

Também segundo a TDM, José Chui Sai Peng disse estar confiante na sua continuação como delegado à APN, esperando continuar a ter apoio graças ao seu trabalho como delegado nos últimos dez anos. Lao Ngai Leong também volta a candidatar-se.

A data das eleições foi escolhida pelo presidium, composto por onze membros e presidido por Chui Sai On, Chefe do Executivo. Estes membros foram eleitos na primeira sessão plenária, numa eleição que contou com a participação de 430 membros e que teve 426 votos a favor e apenas quatro abstenções, sem votos contra.

Este grupo será responsável pelas eleições de 17 de Dezembro e é composto por Ma Iao Lai, Lau Cheok Va (ex-presidente da AL), Lei Pui Lam, Yeung Tsun Man Eric, Edmund Ho (ex-Chefe do Executivo), Ho Iat Seng (actual presidente da AL), Vong Hin Fai (deputado à AL), Susana Chou (ex-presidente da AL), Fernando Chui Sai On (Chefe do Executivo e presidente do presidium), Leong Heng Teng (porta-voz do Conselho Executivo) e Liu Chak Wan (membro do Conselho Executivo).

Wang Chen foi o vice-presidente da sessão plenária, sendo também secretário-geral do Comité Permanente da 12ª APN. Este referiu, no seu discurso, que é necessário manter a prosperidade de Hong Kong e Macau, sendo esta uma condição necessária para a concretização do grande renascimento do povo chinês.

O vice-presidente apelou aos membros para que estes tenham uma visão ampla, para que se possa impulsionar o sucesso do princípio “Um País, Dois Sistemas”.

Os dias da nomeação

Após a divulgação dos onze membros eleitos que irão eleger os delegados de Macau à APN, Leong Heng Teng, porta-voz do presidium, deu uma conferência de imprensa onde explicou que a nomeação dos candidatos a delegados se faz até ao dia 6 de Dezembro.

Leong Heng Teng elogiou o trabalho desenvolvido pelos actuais delegados, por terem dado o seu contributo no passado e por terem assumido as suas responsabilidades, ao participar de forma activa nas reuniões da APN.

“Sei que alguns delegados, apesar de terem coisas importantes a fazer, deixaram-nas para trás e dedicaram-se aos trabalhos [da APN]”, disse, tendo lembrado que alguns problemas sentidos pela população local, como o abastecimento de água no período de salinidade da água potável, foram revelados à APN através dos delegados de Macau. Para esses problemas houve respostas satisfatórias, disse Leong Heng Teng.

Até 6 de Dezembro os candidatos interessados devem apresentar o seu boletim de inscrição e dez cartas de nomeação recolhidas junto dos membros ao gabinete para os trabalhos eleitorais situado no Centro de Ciência de Macau. posteriormente o presidium vai realizar uma segunda sessão plenária com vista a compilar os dados e divulgar a lista de candidatos.

Depois da eleição dos delegados, os resultados serão divulgados junto do comité permanente da APN para a apreciação das suas qualificações. Este órgão irá divulgar posteriormente a lista final de delegados.

27 Nov 2017

Jogo | Governo receia que concorrentes imitem o novo modelo de Macau

O Executivo vai aproveitar a atribuição das novas licenças do jogo para definir os novos moldes da indústria do jogo, mas recusa revelar, por agora, os critérios. Em causa está o medo que os concorrentes sigam o mesmo modelo

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo está preocupado com a concorrência regional e por essa razão não vai revelar as exigências para o novo concurso de atribuição das licenças do jogo às operadoras. Segundo Lionel Leong, há mesmo uma preocupação: que o modelo desenhado por Macau para implementar no futuro seja imitado pelas jurisdições vizinhas. A confissão foi feita, ontem, no primeiro dia dedicado à discussão das Linhas de Acções Governativa para as áreas das Finanças e Economia.

“Muitas pessoas estão preocupadas com o fim das licenças de jogo e a necessidade das operadoras de jogo terem de assumir uma maior responsabilidade social. Mas, neste momento, ainda estamos a ouvir as opiniões da sociedade. É um sector muito importante e fundamental para a economia”, começou por dizer Lionel Leong.

“Temos de manter as nossas competências no sector e a nossa competitividade face à concorrência internacional. Enquanto pensamos os critérios para o concurso, também temos de pensar na concorrência. Se lançarmos as regras do concurso demasiado cedo para as licenças, as outras jurisdições vão copiar Macau e vamos criar uma concorrências mais severa”, apontou.

O secretário prometeu depois que as regras vão ser conhecidas em tempo oportuno, para “garantir o desenvolvimento saudável e sustentável do jogo”. Lionel Leong recordou também que apesar das concessões começarem a expirar em 2020, que podem ser prorrogadas, por decisão do Chefe do Executivo, durante um prazo que pode ir até aos cinco anos.

Um parágrafo

Apesar do jogo ser o principal sector da actividade económica de Macau, e das várias questões colocadas por deputados como Ng Kuok Cheong, José Pereira Coutinho, Davis Fong ou Leong Sun Iok, o secretário não mostrou muita vontade de aprofundar o tema. Uma postura que esteve de acordo com o conteúdo do discurso que leu na abertura da sessão.

Ao longo de 12 páginas de discurso, na versão portuguesa, Lionel Leong apenas referiu o sector do jogo num parágrafo que não chegou a ocupar uma página. Nessa secção, o secretário reafirmou o objectivo de manter “uma taxa anual não superior a 3 por cento em relação ao crescimento do número total das mesas de jogo nos dez anos contados a partir de 2013” e um reforço da fiscalização e revisão dos diplomas legais para o sector.

Em resposta a uma pergunta de José Pereira Coutinho, o secretário garantiu que as concessionárias do jogo vão continuar isentas do pagamento do Imposto Complementar de Rendimentos. Lionel Leong explicou que a taxa de impostos pagos pelas operadoras já é bastante elevado.

“Como sabem as operadoras têm de pagar taxas de imposto sobre o jogo muito altas. Os impostos que elas pagam são calculados com base nas receitas brutas, que são muito elevadas. Para manter que se garante a competitividade temos de garantir que se diminui o peso dos impsotos”, justificou.

“É razoável que seja assim. Se cobrarmos o imposto sobre as receitas brutas e o Imposto Complementar de Rendimentos, pode dar-se o caso de haver dupla tributação”, frisou.

24 Nov 2017

Duarte Trigueiros, investigador e docente, sobre caso Sulu Sou: “É um erro para Macau, é mais um tiro no pé”

Duarte Trigueiros, investigador do ISCTE e docente convidado na Universidade de São José e Instituto de Estudos Europeus, considera que a possibilidade do deputado Sulu Sou poder perder o mandato poderá afastar investidores. Duarte Trigueiros alerta também para a maior dimensão do branqueamento de capitais na área do imobiliário em relação aos casinos

 

Falávamos há pouco sobre a questão do património de Macau e da integração regional. Disse temer que venha a acontecer o mesmo com a regulação bancária.

Macau tem condições para ser uma região como a Suíça, mas não me refiro a questões como fuga de impostos. Pode ser um lugar onde os investidores gostam de ter contas bancárias. Mas é preciso que o sistema judicial de Macau continue a ser independente do poder político, porque se não os investidores não vêm. A última coisa que eles querem é tribunais que não sejam independentes. Nós temos esperança de que as características mais importantes da Lei Básica, aquelas que mais distinguem Macau da China, sejam preservadas. Porque advirá muita riqueza e oportunidades para Macau. A China tem um sistema de partido único, isso é intocável, e é um sistema onde não pode existir uma completa imparcialidade dos tribunais, uma vez que existe um partido que está acima disso. Se aqui em Macau a independência do poder judicial não fosse manchada por suspeitas de parcialidade e interferência do poder Executivo… Nem imagina o mal que pode vir e que já veio, infelizmente, da concepção que os tribunais possam estar demasiado dependentes do poder Executivo.

Que sinais destaca?

Toda a gente em Macau estranhou a forma como o julgamento do ex-procurador do Ministério Público (Ho Chio Meng) foi levado a cabo. Foi um pouco exagerado, tanto que era considerada uma pessoa de primeira linha e esteve muito exposto ao escrutínio internacional. Agora estamos outra vez por um fio, porque existe este caso do deputado que pode perder o mandato [Sulu Sou]. Parece-me que estão todos a querer que ele perca o mandato. Eles não percebem que isso é um erro para Macau, é mais um tiro no pé.

Inclusivamente para a economia, os investidores vão perceber?

Claro. A China não ganha nada com isso e estou até convencido que não gosta destes exageros, não são favoráveis à sua política.

Aconteceu um caso semelhante em Hong Kong.

Mas Hong Kong já está liquidado. É o exemplo a não seguir. Hong Kong está liquidado não tanto pela culpa dos governos, nem talvez por culpa da polícia, mas sim porque nunca leram autores como Lenine, que explica as técnicas de provocação. Foram usadas em Hong Kong técnicas muito reprováveis de provocação e a pior maneira de reagir à provocação é reagir e reagir fortemente. É pena ver chineses a porem em causa a nacionalidade chinesa e ver habitantes de Hong Kong a ocuparem edifícios à força. Mas se a reacção for demasiado visível e violenta, então como Lenine e muitos outros teóricos explicaram, quem ganha são os agitadores. Infelizmente foi isso que aconteceu.

Sofia Margarida Mota

Houve alguns receios do impacto financeiro que o movimento Occupy Central teria na economia, mas a verdade é que Hong Kong manteve a robustez do seu mercado financeiro.

Hong Kong tem dois aspectos: um que interessa à China por si só, que é a existência de serviços financeiros muito experientes e fiáveis. Mas também tem o lado de ser um íman de dinheiro internacional de quem quer adquirir raízes em Hong Kong antes de lançar-se para a China. Os que vêm de fora, sobretudo ocidentais, estão agora a olhar para Hong Kong de uma maneira como antes não olhavam. E aí perdeu-se alguma coisa.

Macau tem essa oportunidade e capacidade para ser uma alternativa?

Macau ainda não tem o know-how que vem do lidar directamente com mercados de capitais e produtos financeiros mais sofisticados, mas isso vai-se adquirindo à medida que as oportunidades vão surgindo. Macau não precisa de estar sentado em cima de um mercado de capitais, mas o que precisa é de fomentar ligações com bancos que estejam em contacto com mercados de capitais e precisa de adquirir o know-how suficiente para se tornar atractivo na captação de serviços financeiros.

Relativamente à questão do branqueamento de capitais. Estava a desenvolver um estudo sobre Macau, em que fase está?

Infelizmente ainda não temos o acordo de alguns bancos no sentido de podermos construir um sistema baseado em cenários. É, digamos assim, uma resposta ao branqueamento de capitais, ao problema de detecção de casos de branqueamento de capitais. Mas já avançámos na preparação teórica e nos contactos. Respeitando inteiramente o sigilo de todas as transacções, queremos ter a oportunidade de conversar com pessoas dentro dos bancos que tenham sido expostas a casos de branqueamento de capitais. Isto para que possamos transpor o conhecimento deles para regras, que podem ser seguidas por computadores. Prevê-se que esse sistema aprenda os cenários e consiga criar novos.

Foi aprovada o ano passado uma nova lei de combate ao branqueamento de capitais. A lei trouxe avanços em matéria de prevenção?

A lei tinha de ser feita. Os Estados Unidos juntaram ao branqueamento de capitais ao financiamento do terrorismo, mas já quando se trata de fuga aos impostos, o país nunca quis juntar esse problema. Foi dado um cariz ao financiamento ao terrorismo com o qual os europeus nem sempre podem concordar. Os Estados Unidos fazem listas de países que financiam o terrorismo da maneira que lhes apetece. Mas não é porque esses países financiem o terrorismo, às vezes financiam regimes de que os Estados Unidos não gostam. Há o caso da Coreia do Norte, da Síria, do Irão e o Iémen, embora este último seja mais claro. Às vezes é discutível, e assim as coisas não vão para a frente. Isso porque há países que não querem aderir a esse pacote de medidas porque estas estão todas misturadas. Aqui em Macau as leis têm ido sempre ao encontro daquilo que os reguladores internacionais pedem. As leis em Macau estão perfeitas. Mas, no caso do branqueamento de capitais, as leis não são o mais importante, mas sim conseguir que se transformem em regras vivas dentro de cada banco, casino ou loja de venda de ouro.

E isso está a ser feito?

Vai sendo feito dependendo da vontade do poder Executivo em Macau. Às vezes não haverá muita vontade se existirem situações viradas para prejudicar a Coreia do Norte, a Síria ou a Rússia. Mas um sólido edifício de regulação no que diz respeito ao branqueamento de capitais faz imenso bem aos bancos. Em Macau era comum, até há poucos anos, e ainda talvez seja, encontrar contas bancárias anónimas em que os bancos faziam ligações negociais com entidades que não eram propriamente bancos, com uma rédea completamente solta. Só apresentavam as garantias que os bancos fossem exigindo. E podiam ser falsas, porque esses bancos estão na China e outros sítios. Falo também de casas de câmbio. Mas isso acontece também nos Estados Unidos, um lugar onde as transacções não são examinadas à lupa.

Associa-se muito o branqueamento de capitais ao jogo. Há casos de lavagem de dinheiro noutras áreas?

Macau e Portugal estão a fazer grandes acções de branqueamento de capitais através do sector imobiliário. Tenho essa percepção e a única maneira de lutar contra isso, e manter um controlo sobre os preços elevados, problema de que está a sofrer a população em Macau e de Lisboa, é observando à lupa essas transacções, de onde está a vir esse dinheiro. Muita gente diz: “Branqueamento de capitais? Casinos”, mas o que é feito através dos casinos é relativamente diminuto quando comparado com o branqueamento de capitais feito através do imobiliário. As lojas de ouro? São peanuts, embora também haja lavagem de dinheiro. O Governo pode fazer as casas sociais que quiser. O que está por detrás disto é o dinheiro que está a ser branqueado e que vem de fora, muito dele da China, também no contexto da fuga de capitais do país.

A política anti-corrupção de Xi Jinping também veio acelerar as medidas preventivas nesta área?

Veio dar uma aparência. Não pode existir luta contra o crime sem tribunais absolutamente independentes do poder político. Na China não podem existir tribunais independentes. O que Xi Jinping fez foi aquilo que os imperadores antes dele fizeram: uma campanha contra a corrupção. Tentou pôr a casa em ordem, mas as salas VIP dos casinos já estão novamente cheias. Bastou ele levantar um pouco a mão. Os problemas de corrupção não se resolvem com campanhas mas sim com tribunais, polícia e magistrados independentes. Só assim temos uma sociedade em que a corrupção é mantida a um nível baixo. Mas deixe-me dizer-lhe que admiro muito a China e quando era miúdo até era maoista (risos). A China unificou-se e hoje tem o território que lhe compete, é um país que se põe de pé nas suas pernas. Agora se me pedem falar do Estado de Direito…esse deveria ser um objectivo para onde as autoridades chinesas deveriam caminhar.

O poder judicial tem formação suficiente para lidar com crimes financeiros?

Em Macau ainda não existe um corpo especializado, dentro do poder judicial, para lidar com este tipo de situações. Mas temos o Gabinete de Informação Financeira, que pode ajudar muito, e a Autoridade Monetária e Cambial de Macau. O problema que refere foi comum a países como Portugal.

Recentemente foram divulgados os documentos dos Paradise Papers. Deveria debater-se mais a necessidade de uma maior regulação das offshores?

Quem manda? E se os que mandam não querem, o que se pode fazer? As offshores só continuam a operar porque não existe vontade de uma série de potências, desde a Rússia aos Estados Unidos, em resolver o problema.

E a China quer?

Estou convencido que sim. A China tem-se oposto ao desenvolvimento de Macau como um centro offshore. Tem diminuído o seu papel de Macau Quando estava por aqui, em 2001, era muito diferente do que agora.

Havia as tais contas anónimas.

E não só isso. Havia actividades offshore, e agora temos acordos de troca de informações fiscais com outros países e é isso que é preciso continuar a fazer. Que direito têm as pessoas de movimentarem o dinheiro para fora da vista das suas autoridades fiscais? Só porque são ricas? Estou convencido que dentro de poucos anos não será possível esconder o dinheiro dessa maneira, pelo menos em bancos. Macau caminha para isso.

A China não quer que Macau seja um centro offshore, mas quer que o território seja um centro financeiro, tendo em conta a integração regional que se avizinha.

A China tem um problema que espero que seja temporário, que é a fuga de capitais. E vou-lhe contar uma história verídica que foi descoberta no Canadá. Chineses ricos vêm a Macau, frequentam as salas VIP e dão-se com pessoas que têm ligações a casinos e bancos subterrâneos no Canadá. E aí eles são convidados a ir ao Canadá, recebem uma mala cheia de dinheiro que vem do tráfico de droga dos Estados Unidos, imagine-se um milhão de dólares, e vão a um casino lá e lavam parte desse dinheiro. Ao mesmo tempo, esses chineses ricos transferem um milhão de dólares para uma conta que a pessoa do Canadá lhes indica. A única coisa que se consegue é que o chinês fica com um milhão de dólares no Canadá e o traficante de droga tem um milhão de dólares limpos na China. Isso foi descoberto pelas autoridades canadianas, funcionava há vários anos. Macau não tinha nenhum papel activo, mas tinha um ingrediente fundamental: juntava as pessoas. O único remédio é investigar todas as suspeitas.

24 Nov 2017

Pearl Horizon | Compradores insistem na intervenção do Executivo

A União dos Proprietários do Pearl Horizon entregou ontem duas cartas na Assembleia Legislativa. O grupo de compradores de casa lesados não desiste e exige ao Governo que actue. Sónia Chan agurada a decisão do TUI e até lá, apesar dos estudos e planos que, diz, estão a ser feitos, não avança com qualquer afirmação adicional

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]eve ontem lugar mais uma manifestação por parte dos proprietários lesados na compra de casa no Pearl Horizon. O protesto decorreu junto à Assembleia Legislativa (AL) em dia de apresentação das Linhas de Acção Governativa da secretaria da administração e justiça.

De acordo com a União dos Proprietários do Pearl Horizon, o objectivo foi reforçar o pedido de intervenção do Governo. Para o efeito, o presidente da União, Kou Meng Pok, apresentou duas cartas, uma dirigida à secretária para a administração e justiça, Sónia Chan, e outra ao presidente da AL, Ho Iat Seng.

Os queixosos pedem uma reunião com o Executivo com a presença de representantes do Grupo Polytec de modo a que sejam analisadas propostas capazes de entregar as casas aos compradores.

Ao HM, o presidente da União manifestou-se muito desiludido com a forma de tratamento do caso que tem sido dada pelo Governo. A situação já conta com mais de dois anos e até agora, não tem tido qualquer evolução.

De acordo com Kou Meng Pok,  o Grupo Polytec já mostrou estar disponível para reunir com o Executivo, falta agora ao Governo concretizar o encontro.

Planos secretos

Dentro da AL, o caso não passou despercebido. Para o deputado Zheng Anting, “os proprietários do Pearl Horizon continuam a sofrer”. Entretanto, aponta, “o Governo abriga-se sempre nos acórdãos dos tribunais”.

No caso em questão, Zheng Anting considera que está na altura do Executivo apresentar outro tipo de soluções capazes de resolver os problemas dos lesados. “Estamos sempre a aguardar pela decisão dos tribunais. Que opiniões é que o Governo recebeu? Quais as soluções que o Governo vai lançar para os proprietários do Pearl Horizon?”, questionou.

Entretanto, “os anos passam e como no caso Sin Fong Garden, as pessoas continuam a aguardar os casos em tribunal”.

Em resposta a Zheng Anting, Sónia Chan garante que o Executivo “compreende as dificuldades dos compradores”. No entanto, resultados ainda não existem, mas existe “uma equipa para estudar as medidas de protecção dos interesses dos lesados e que conta com a participação de diferentes secretarias”. Por outro lado, “como ainda não há uma sentença do Tribunal de Última Instância, há que respeitar os procedimentos e não é possível divulgar neste momento um plano”, sendo que, adianta, “estamos a fazer planos diferentes”.

23 Nov 2017

Tufão Hato | Deputados não estão satisfeitos com relatório independente

Os deputados querem mais do que processos disciplinares aos responsáveis dos serviços meteorológicos. É preciso, além da responsabilização e punição dos presumíveis culpados, um plano futuro que previna que a tragédia se repita. Algo que ainda não existe

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m reacção à abertura de um novo processo disciplinar que visa, além do ex-director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), a ex-subdiretora Florence Leong, a deputada Song Pek Kei considera que, mais do que responsabilização pelos estragos causados, é altura de ter planos concretos. No entender de Song Pek Kei, os problemas ligados à antiga direcção dos serviços já são do conhecimento público.

De acordo com o jornal Ou Mun, “a sociedade já conhece os problemas ligados à antiga direcção dos serviços e, apesar de querer a responsabilização pelo sucedido, está mais atenta à criação do futuro mecanismo de prevenção de catástrofes”, diz a deputada.

Já Ella Lei queixa-se doutros aspectos. Para ela, o relatório dado a conhecer na segunda-feira tem conteúdos insuficientes. A deputada da ala política da FAOM refere que a prioridade são os trabalhos de seguimento que estão a ser feitos, nomeadamente no que respeita aos melhoramentos das instalações básicas e de mecanismos de apoio.

O objectivo, afirma Ella Lei, é poder evitar a gravidade dos estragos em acontecimentos idênticos que venham a acontecer. No entanto, salvaguarda, os processos disciplinares devem avançar o mais rapidamente possível. Em causa está “a necessidade da população perceber o que se passou”.

Detalhes de fora

O deputado pró-democrata Sulu Sou, que se estreia nesta legislatura no hemiciclo, lamenta que não sejam dados a conhecer pormenores importantes que constam do relatório. “Penso que o Chefe do Executivo não mostrou os detalhes à Assembleia Legislativa (AL) o que não é aceitável”, referiu ao HM.

Para o pró-democrata trata-se de um assunto público e, como tal, deveria haver mais informações acessíveis aos cidadãos. “Podem-se omitir as informações pessoais e dar a conhecer as de interesse público”, explicou.

Por outro lado, e na sequência da opinião já manifestada pela Associação Novo Macau à qual Sulu Sou está ligado, “a responsabilidade não é de um ou dois elementos do Governo”. “Não posso aceitar este relatório que só imputa responsabilidades  a dois dirigentes dos SMG. Não consigo conceber que a quantidade de estragos e de coisas que não funcionaram com a passagem do tufão Hato possa ser apenas da responsabilidade de apenas dois funcionários públicos”, reitera Sulu Sou.

O relatório relativo ao apuramento de responsabilidades pelos estragos causado com a passagem do tufão Hato por Macau foi dado a conhecer na segunda-feira pela Comissão de Inquérito sobre a Catástrofe “23.08” ao Chefe do Executivo. No mesmo dia, Chui Sai On ordenou a abertura de um novo processo disciplinar agora dirigido aos dois ex-responsáveis pelos SMG. Além do ex-director, Fong Soi Kun, a ex-subdirectora, Florence Leong é também alvo de um processo disciplinar pelas falhas cometidas pelos serviços.

 

Mais de três mil pedidos de compensação às seguradoras

Até ao dia 15 de Novembro, as seguradoras de Macau receberam um total de mais de 3031 pedidos de compensação por danos registados durante a passagem do tufão Hato. De acordo com o canal de rádio da TDM, os casos envolvem um montante global de cerca de 3,8 mil milhões de patacas, mas apenas cerca de 200 milhões foram já pagos pelas seguradoras.

De acordo com Maria Luísa Man, directora executiva da Autoridade Monetária de Macau, “a maioria dos pedidos está relacionada com danos em propriedades, resultantes de danos provocados pela água ou acidentes”. “Trata-se de 1497 pedidos que envolvem perdas estimadas de 3,6 mil milhões de patacas. No que diz respeito aos pedidos de compensação por parte de trabalhadores, receberam cerca de 80 casos com uma perda estimada de cerca de 3 milhões. Portanto, até agora, o sector dos seguros já resolveu cerca de 1500 casos. O valor total envolvido é de cerca de 200 milhões”, explicou Maria Luísa Man em declarações à TDM – Rádio Macau.

A directora executiva da Autoridade Monetária de Macau justifica a demora no tratamento de todos os casos com a complexidade da situação. Em causa estão dificuldades em obter orçamentos e danos avultados na indústria do turismo.

23 Nov 2017

LAG 2018 | Secretária invocou economia para não proceder a reformas no sistema político

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] secretária para a Administração e Justiça de Macau disse ontem que lançar novo processo de reforma política “não é favorável ao desenvolvimento” económico, mas deputados pró-democracia discordaram que as alterações introduzidas desde 2001 tenham afectado a economia. “Em 2012, procedemos à reforma, demos um passo para a reforma do sistema político”, disse Sónia Chan, indicando que, desde então, passou “muito pouco tempo” e que é “preciso consolidar os resultados”.

“Se houver alterações frequentes ao sistema político, isto não é favorável ao desenvolvimento da economia, da sociedade. Por isso, temos de consolidar os frutos sobre o actual sistema político (…). Só depois é que podemos pensar no próximo passo”, acrescentou a governante, que falava no segundo dia da apresentação das Linhas de Acção Governativa da sua tutela na Assembleia Legislativa.

O campo pró-democracia, actualmente com três deputados no hemiciclo, tem ao longo dos anos reiterado o pedido ao governo para cumprir a promessa de “promover paulatinamente o desenvolvimento da política democrática”. Eleito pela população, Sulu Sou, o mais jovem deputado de Macau, com 26 anos, foi um dos eleitos pela população a discordar da posição hoje reiterada pela secretária.

“Que a reforma administrativa não é favorável ao desenvolvimento social, eu não concordo, porque em 2007 e 2008 o nosso sistema político mudou. A comissão para [a eleição] do chefe do Executivo passou de 200 para 300 membros. Porque é que essas mudanças vão contribuir com factores desfavoráveis ao desenvolvimento?”, replicou Sulu Sou.

Também eleito pelo sufrágio directo, o deputado veterano Au Kam San, por sua vez, acusou Sónia Chan de ter “sempre a mesma retórica, a falar que a oscilação na política pode afectar a economia”. De facto, de 2001 até 2009 houve alterações na composição da Assembleia e a economia não foi afectada. Temos de fazer esta alteração passo a passo e isto não vai afectar a nossa economia. Acho que o seu discurso é sempre o mesmo e não tem fundamento”, concluiu.

23 Nov 2017

Função Pública | Chui Sai Cheong sugere novo regime de reformas antecipadas

O vice-presidente da Assembleia Legislativa, Chui Sai Cheong, defendeu a criação de um novo regime de reformas antecipadas para os funcionários que estão dependentes do Fundo de Pensões, para que os funcionários mais novos possam subir na carreira. Sónia Chan, secretária para a Administração e Justiça, prometeu debruçar-se sobre a matéria

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ns podem reformar-se mais cedo, outros tem de cumprir a jornada até ao fim. O vice-presidente da Assembleia Legislativa (AL), Chui Sai Cheong, defendeu, no segundo dia de debate das Linhas de Acçao Governativa (LAG) para a área da Administração e Justiça, que se crie um regime especial de reformas antecipadas para os trabalhadores públicos que estão anexados ao Fundo de Pensões.

“Há uns anos não era possível criar um regime que permitisse a saída dos funcionários públicos, tendo em conta a situação económica adversa. Mas agora estamos numa boa situação económica. Passaram-se 18 anos e alguns funcionários públicos trabalham no Governo desde o período anterior a 1999. Alguns deles tem dúvidas, não sabem se podem continuar na Função Pública ou se querem trabalhar lá fora. Não sei se é possível pensar em condições mais aceitáveis para os funcionários. Não deve ser um regime coercivo, mas voluntário”, defendeu.

Na óptica de Chui Sai Cheong, este novo regime seria aplicado apenas a “funcionários que cumpram determinadas funções”, para que os trabalhadores afectivos “possam ter oportunidades de promoção”.

Sónia Chan, secretária para a Administração e Justiça, deixou claro que se trata de uma matéria de difícil implementação, mas referiu que a sua tutela vai estudar a matéria: “Isso diz respeito ao fundo de previdência e teremos de ver as diferentes vertentes. Há vários factores que temos de estudar.”

De lembrar que os funcionários públicos que estão indexados ao Fundo de Previdência Central tem o direito a pedir reforma antecipada ao fim de dez ou quinze anos de serviço.

O receio da razia

À margem do debate, o deputado José Pereira Coutinho, presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau, disse concordar com a sugestão apresentada por Chui Sai Cheong.

“Há muitos trabalhadores que estão no Governo há 30 anos e que não podem pedir a aposentação voluntária porque tem cerca de uma dezena de anos de trabalho eventual. Estão fartos de trabalhar na Função Pública, trabalham há 25, 30 anos e não conseguem reformar-se”, apontou.

O deputado criticou aquilo que considerou ser uma ausência de resposta por parte de Sónia Chan. “Não respondeu à pergunta porque ela tem medo que muitos dos trabalhadores saiam da Função Pública e por isso não quer permitir a reforma antecipada. Mas o discurso dela é contraditório porque neste momento ela está a incentivar o Governo electrónico.”

José Pereira Coutinho lembrou que há muitas vozes a apontar para o excesso de funcionários públicos.

“A sociedade está a queixar-se de que há muitos trabalhadores na função pública. Nós estamos a caminho dos 40 mil, já estamos nos 36 mil, e cada vez se gasta mais com os recursos humanos, porque há muita gente a entrar na função pública. Se um contrato de casamento pode ter divórcio ao fim de três ou cinco anos, porque é que um contrato na Função Pública tem de continuar?”, questionou.

 

Arbitragem e Conciliação: É preciso “alargar os horizontes”

Chui Sai Cheong fez ainda uma sugestão quanto aos novos regimes de arbitragem e conciliação, matérias sobre as quais o Governo já está a consultar opiniões junto das entidades ligadas ao Direito. “Não sei se é possível fazer leis que alarguem os horizontes. Pretendemos que os regimes de conciliação e arbitragem em matéria comercial possam ter uma visão mais alargada, porque Macau é uma plataforma e assume um papel importante na política ‘Uma Faixa, Uma Rota’. Deve ser feita uma lei para satisfazer as necessidades do futuro e criar um bom instrumento”, apontou. A secretária lembrou que, actualmente, há poucas pessoas a recorrer ao sistema de arbitragem. “Os casos são poucos e ainda temos de trabalhar muito na área de sensibilização e divulgação, pois tudo depende dos interessados. Ainda temos de exibir os resultados deste regime e fazer algumas acçoes de divulgação”, rematou. De frisar que a necessidade de criação de sistemas de mediação e arbitragem faz parte dos objectivos das LAG para 2018 e foi um dos temas abordados pelas autoridades judiciais na abertura do Ano Judiciário 2017/2018.

23 Nov 2017

Grande Prémio | Morte de Hegarty relança debate sobre prova de motociclismo

A oitava morte na principal categoria do Grande Prémio de Macau em Motos colocou o debate sobre a segurança do circuito na ordem do dia. Apesar da tragédia, as pessoas ouvidas pelo HM defendem que o futuro da prova não deve ser colocado em causa, mas que é necessário fazer algo para evitar este tipo de tragédias

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] morte do piloto Daniel Hegarty, de 31 anos, durante a corrida do Grande Prémio de Motas voltou a colocar na agenda do dia a segurança no Circuito da Guia. Cinco anos depois da morte de Luís Carreira, piloto português que em 2012 também perdeu vida na Curva dos Pescadores, a segurança no local volta a ser questionada. Isto apesar dos esforços organizativos para reforçar a protecção na zona.

Se por um lado, há quem ache impensável que a corrida de motos se deixe de realizar, até pelo seu valor histórico, por outro, há pessoas que simplesmente defendem que a pista não tem as condições de segurança necessária para um evento deste género.

Para Paulo Godinho, residente de Macau a viver em Portugal, o circuito da Guia já não tem condições para receber provas de motos, devido à ausência de espaço para instalar escapatórias: “Hoje, como se vê nas provas principais de motociclismo em todo o mundo, os circuitos destinados à modalidade têm de ter enormes escapatórias, o que é impossível de construir em Macau”, começou por explicar, em declarações ao HM, o sociólogo.

“Não é aceitável que os praticantes tenham, hoje em dia, protecções cervicais para evitar danos na coluna, em caso de acidente, e depois considerar como normal que possam ser atirados, a 200 km/hora de encontro a um muro de betão”, acrescentou.

Produto de Macau

André Ritchie tem uma opinião oposta. Para o arquitecto e ex-coordenador do Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes é necessário continuar a adoptar medidas de segurança, mas não se deve aceitar de todo o final da corrida de motas.

“Sou completamente contra acabar-se com a corridas de motociclos. É um produto genuíno de Macau. Estamos sempre a dizer que Macau tem falta de elementos próprios, por isso mesmo faz ainda mais sentido preservar o Grande Prémio, que é um produto só nosso. Isto é a nossa identidade”, afirmou André Ritchie, ao HM.

“Eu defendo que é sempre possível melhorar as condições de segurança. É o facto das pessoas não conhecerem as últimas inovações ao nível da segurança e falarem contra a corrida que me incomoda”, explicou.

Opinião que levou a um acesso debate nas redes sociais, foi a de Pedro Coimbra, autor do blog “Devaneios a Oriente”. Contudo, o jurista explica que tem sido mal-interpretado e que nunca quis que as corridas de motos chegassem ao fim.

“Eu não defendo o fim das corridas de motos no Grande Prémio, nem tenho conhecimentos técnicos para fazer uma afirmação dessas. O que me mete um bocado de impressão, como espectador, é a sensação de falta de segurança”, vincou Pedro Coimbra, ontem, ao HM.

“Acredito pouco em coincidências. No prazo de cinco anos morreram duas pessoas no mesmo sítio. Morreram de uma forma horrorosa. Um pequeno erro, um azar, uma avaria mecânica – que até poderá ter acontecido neste caso – é suficiente para uma pessoa embater imediatamente no muro ou na protecção metálica e haver uma tragédia”, sublinhou.

Pedro Coimbra fez questão de sublinhar que não tem conhecidos profundos sobre o tema e que fala na perspectiva de um leigo. Contudo, explica que a impressão que tem das corridas de motas é que “é uma sorte não haver outras tragédias como estas”.

Alterações ao circuito

A reboque do debate sobre a segurança, há quem defenda que podem ser implementadas alterações ao circuito para fazer com que seja mais seguro para as motos. Também este tópico não gera unanimidade.

André Couto, piloto que venceu a prova de Fórmula 3 em 2000, aceita esta solução, caso os pilotos das motos concordem que pode resultar num circuito menos perigoso.

“Não sou contra a introdução de chicanes para fazer com que os pilotos abrandem em certos sítios do circuito. Mas uma decisão dessas tem de ser tomada depois de ouvir os próprios pilotos. São eles que estão na pista e sabem o que é melhor”, disse André Couto ao HM.

“Há eventos no exterior em que quando corre uma categoria metem uma chicane amovível na pista. A chicane é depois retirada quando são realizadas corridas de outras categorias. Acho que se podem encontrar outras soluções de segurança, como as chicanes, mas também é preciso estudar bem se essa é a melhor solução e saber se os pilotos estão de acordo”, acrescentou.

Por sua vez, André Ritchie é contra a introdução de alterações ao traçado do circuito, que defende ser património de Macau e que precisa de ser protegido. Para o antigo director do GIT é mesmo necessário classificar o circuito da Guia.

“O Grande Prémio é património de Macau, tal como o circuito da Guia, e deve ser protegido. Há pessoas que dizem que se colocava antes da Curva dos Pescadores uma chicane. Mas não se pode fazer isto, estamos a falar de património. O Circuito da Guia manteve-se inalterado ao longo destes anos todos e devia manter-se assim”, defende André Ritchie.

“Também não vou às Ruínas de São Paulo pedir para colocarem uns ventiladores por causa da circulação do ar. Não podemos fazer isso. Qualquer mudança no circuito deve ser feita com pinças. Mas há alternativas e podemos sempre melhorar, mantendo a corrida”, frisou.

Ritchie colocou também a hipótese, que admite precisar de ser estudada, de recuar as barreiras na zona da Curva dos Pescadores. O objectivo passa por ganhar espaço para colocar mais materiais absorventes de eventuais impactos, como barreiras de pneus.

Desporto perigoso

No que as pessoas ouvidas pelo HM parecem unânimes é no facto das corridas envolverem sempre um risco. “É preciso compreender a modalidade. Os riscos que a modalidade implica. O desporto motorizado, de forma geral, é perigoso. Não é por acaso que até os espectadores são avisados no verso do bilhete sobre os perigos de assistir às corridas. Este desporto é perigoso e há que ter consciência disso”, diz Ritchie.

Por sua vez, André Couto recorda que no caso em concreto das motas que o piloto faz sempre parte do primeiro impacto, em caso de acidente: “Mesmo com muita segurança, quando se bate a 200 e tal km/h, no caso das motos, e ao contrário dos carros, o piloto que faz parte do primeiro impacto. Mesmo que se evolua na segurança das pistas, acredito que este tipo de acidentes vai continuar a acontecer”, apontou. “O circuito da Guia não é propício para as quedas a grandes velocidades” acrescenta.

São estas características que fazem com que Paulo Godinho acredite que as mortes nunca serão uma excepção: “Com as características do circuito da Guia, [as mortes] não serão nunca a excepção mas sim uma triste regra, se não se acabar, definitivamente, com as provas de motociclismo”, apontou.

 

Mortes no Grande Prémio de Motociclos
Ano Piloto Local de Nascimento

1973 Shea Lun Tsang Hong Kong

1977 Lam Sai-Kwan Hong Kong

1983 Chan Wai Chi China

1993 Tung Sai-Wing Hong Kong

1994 Katsuhiro Tottori Japão

2005 Bruno Bonhuil França

2012 Luís Carreira Portugal

2017 Daniel Hegarty Reino Unido

 

Alexis Tam comprometido com a segurança

Após a morte de Daniel Hegarty, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, prometeu que a organização vai continuar a fazer os seus melhores esforços para aumentar os níveis de segurança no circuito. O também presidente do Comité de Organização do Grande Prémio de Macau garantiu ainda que não existe a intenção de acabar com a prova de motos. Por outro lado, Alexis Tam recordou a história e importância do evento de motociclos para o Grande Prémio, que se realiza há 51 edições. O japonês Hiroshi Hasegawa, em 1967, foi o primeiro vencedor da prova de motos.

André Couto admite admiração pelas motos

André Couto é o único piloto de Macau a ter vencido o Grande Prémio de Fórmula 3, no ano de 2000. Porém, e apesar de ter igualmente competido nos GT e carros de turismo, Couto reconhece que sempre sentiu uma grande admiração pela prova de motociclos. “Não estou muito por dentro do mundo das motas, mas uma das partes do meu gosto pelas corridas do Grande Prémio de Macau deve-se muito às motas. Era uma das categorias que mais gostava de ver, em criança. Lembro de ver o Ron Haslam ou o Kevin Schantwz e algo passou para mim, também um pouco pelas motos”, reconhece o piloto de 40 anos. “O circuito da Guia ficou conhecido por ser muito rápido, perigoso e que não perdoa qualquer erro. O Grande Prémio de Motos veio contribuir para essa fama”, frisou.

Ilha de Man : 255 pilotos mortos

No topo dos circuitos mais mortais está o Snaefell Moutain, localizado na Ilha de Man, no Reino Unido, com um total de 255 fatalidades só entre pilotos. Este número tem em conta as diferentes provas que se realizam no traçado rural, que tem uma extensão de 60,72 quilómetros. A prova mais conhecida disputada no circuito é a International Isle of Man Tourist Trouphy Race, e tem no palmarés vencedores como John McGuinness, Michael Rutter, ou Ian Hutchinson, corredores que também já triunfaram em Macau.

23 Nov 2017

Wong Sio Chak | Polícia não persegue nenhuma associação específica

O secretário para a Segurança esclarece que as autoridades policiais de Macau cumprem a lei e não perseguem ninguém em especial. Wong Sio Chak referia-se ao crime de desobediência agravada em resposta às vozes que sustentam que a acusação a Sulu Sou é mais política do que um caso de polícia

[dropcap style≠’circle’]“M[/dropcap]acau é um Estado de Direito e uma sociedade muito livre”. As palavras são de Wong Sio Chak, o secretário para a Segurança, referindo-se à frequência com que se realizam protestos no território. O responsável do Governo pela tutela das forças de segurança discorreu sobre os raros casos de acusações por desobediência agravada para refutar a ideia de que as autoridades policiais usam esta tipologia criminal com fins políticos.

Sem mencionar directamente o nome de Sulu Sou, o secretário para a Segurança referiu estar “sempre a cumprir a lei”, sem “atacar ninguém de uma associação específica”. Wong Sio Chak, acrescentou ainda que só o desconhecimento da lei pode justificar as críticas que as autoridades receberam na sequência da possibilidade da suspensão do mandato do deputado pró-democrata.

Scott Chiang, também acusado de desobediência agravada em conjunto com Sulu Sou, considera que “se virmos a forma como actuam com outras pessoas que fizeram o mesmo que nós observamos claras diferenças, nem há discussão”. “As autoridades tomam uma atenção extra quando estamos por perto”, comenta o ex-presidente da Associação Novo Macau.

Porém, Wong Sio Chak realçou que a grande parte das manifestações que se realizam em Macau obedecem à lei, com o devido pedido feito junto do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), e que respeitam as instruções das autoridades policiais.

Povo na rua

O secretário para a Segurança reiterou que são raros os casos em que não se respeita o pedido de manifestação junto do IACM, assim como aqueles em que se viola “a lei, a decisão do Tribunal de Última Instância e as orientações da polícia”.

Neste aspecto, Scott Chiang entende que “deve ser o tribunal a decidir se as acusações têm fundamento e que é muito perigosa a ideia de que as autoridades de segurança são a personificação da justiça”.

Wong Sio Chak referiu, em conferência de imprensa onde apresentou as estatísticas da criminalidade, que em Macau é comum as pessoas se manifestarem, algo que acontece “quase todos os feriados”.

“Na Coreia do Norte também há protestos contra Donald Trump, mas é claro que as pessoas não podem exercer os seus direitos políticos”, comenta Scott Chiang. O pró-democrata entende que, obviamente, Macau está melhor que outros sítios no mundo. Porém, “as autoridades não respeitam totalmente os direitos conferidos às pessoas pela lei”. O antigo líder da Nova Macau não faz a conexão directa entre o grau de liberdade e o número de protestos organizados, entendendo que se erguem “barreiras desnecessárias e limitações ao exercício ao direito de protesto”.

Wong Sio Chak revelou ainda que desde 2014 houve 12 casos de acusações pelo crime de desobediência qualificada na sequência de manifestações no território. Nestes casos estiveram envolvidas um total de 47 pessoas.

22 Nov 2017

SMG | Deputados voltam a questionar regime de responsabilização

Os deputados fizeram referência ao processo disciplinar instaurado pelo Chefe do Executivo a Fung Soi Kun e quiseram saber detalhes sobre o novo regime de responsabilização do Governo. Sónia Chan, secretária para a Administração e Justiça, prometeu criar “diferentes regimes de responsabilização para diferentes tipos de funcionários”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] gabinete do Chefe do Executivo anunciou ontem que vai instaurar um processo disciplinar a Fung Soi Kun, ex-director dos Serviços Metereológicos e Geofísicos (SMG)  e à actual subdirectora, Florence Leong. O assunto foi abordado por vários deputados no primeiro dia de debate das Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2018, na área da Administração e Justiça. Estes voltaram a questionar Sónia Chan, secretária da tutela, sobre o novo regime de responsabilização dos funcionários públicos e altos dirigentes. Sónia Chan avançou com alguns dados.

“Queremos formar diferentes regimes de responsabilização para diferentes tipos de funcionários. Podemos obter alguns resultados objectivos para podermos apurar eventuais responsabilidades. Vamos submeter a consulta os regimes de avaliação de desempenho que incluem responsabilidades de ordem política, civil e penal”, apontou.

Sónia Chan acrescentou ainda que o Executivo pretende “clarificar a regra das cinco experiências de trabalho”, para que se possa ir além do “funcionalismo”. Ou seja, “alterar no sentido de permitir uma introdução de talentos no Governo”.

A deputada Agnes Lam foi a primeira a intervir sobre esta matéria. “Esta foi a primeira vez que o Governo responsabilizou os dirigentes. O Chefe do Executivo disse que este ano irá rever o regime de responsabilização, mas há mais de dez anos que ouvimos isto sem nunca sabermos bem como funciona este regime. O relatório mencionou vários problemas ocorridos na catástrofe de 23 de Agosto, houve indícios claros de prevaricação, muitos equipamentos não funcionaram durante as inundações. Se houver problemas esses dirigentes não devem ser reconduzidos”, defendeu.

Outras trovoadas

José Pereira Coutinho lembrou que já no ano passado tinha referido os problemas existentes no seio dos SMG com a subdirectora da entidade, problemas esses que foram, aliás, referidos no relatório de investigação.

“Disse há pouco que é preciso rever o regime de responsabilização e que isso inclui diferentes fases. Já tinha alertado que havia problemas nos SMG com a antiga subdirectora, mas na altura disseram-me que eu é que tinha de encontrar provas. Se em 2016 tivessem trabalhado neste caso, talvez tivesse ocorrido uma diminuição do impacto do Hato”, adiantou o deputado.

José Pereira Coutinho acrescentou que a culpa não é exclusiva de Fung Soi Kun. “Encontraram explicações através do antigo director, mas há diferentes graus de responsabilidade. Se fosse eu pedia a demissão. Já disse nesta casa que acontecem episódios estranhos no Governo e nunca vemos resultados”, disse.

A deputada Ella Lei fez ainda referência ao caso da permuta de terrenos na antiga Fábrica de Panchões, na Taipa, processo que gerou um relatório do Comissariado contra a Corrupção (CCAC).

“Tivemos um relatório esta tarde mas o ano passado houve uma troca de terrenos. Não sei se aquele caso tem algumas irregularidades e quem é que vai assumir responsabilidades. Ninguém diz nada, só há silêncio. Este tipo de casos causa impacto na sociedade”, frisou.

22 Nov 2017

Órgãos municipais | Ng Kuok Cheong lembrou nomeação de Chui Sai Cheong 

Os membros do futuro órgão municipal sem poder político serão nomeados e o deputado Ng Kuok Cheong voltou a criticar essa opção do Governo, lembrando que podem repetir-se casos como “a indigitação de um familiar para trabalhar num órgão judicial”. A referência é para o deputado Chui Sai Cheong, que foi nomeado membro do Conselho de Magistrados do Ministério Público

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á muito que os deputados do campo pró-democrata exigiam que os membros do futuro órgão municipal sem poder político fossem eleitos pela via do sufrágio directo, mas a proposta em consulta pública prevê a nomeação de todos os membros pelo Chefe do Executivo.

Ontem, no primeiro dia de debate sobre as Linhas de Acçao Governativa (LAG) para 2018, na área da Administração e Justiça, o deputado Ng Kuok Cheong disse que esse sistema pode levar a situações de nepotismo e nomeação de familiares, tendo feito referência à recente nomeação do deputado Chui Sai Cheong, pelo Chefe do Executivo, para o Conselho de Magistrados do Ministério Público.

“Podem acontecer situações como a indigitação de um familiar para trabalhar num órgão judicial. Com este regime de nepotismo e tráfico de interesses não se podem gerar bons efeitos. O Chefe do Executivo disse que estava receptivo a qualquer opinião dos deputados. Será que não podemos repensar as coisas?”, questionou.

O deputado do campo pró-democrata recordou o exemplo de Hong Kong, onde existem conselhos municipais por distrito eleitos pela população. Contudo, a secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, referiu que a Lei Básica de Hong Kong é diferente face a Macau.

“Consultámos a opinião do Governo Central, e quando propusemos a nomeação dos membros ponderámos sobre as regras da Lei Básica. A intenção é fazer uma separação clara dos órgãos do período antes e depois da transferência de soberania. Trata-se de um órgão incumbido pelo Governo, responde perante o Governo e entendemos que não deve ter membros eleitos”, explicou.

Nomeados também trabalham

A secretária deu o exemplo dos membros dos actuais conselhos consultivos comunitários, cujo trabalho se destina aos vários bairros do territórios e que tem membros nomeados pelo Governo.

“Será que, se forem nomeados, os membros não conseguem reflectir a opinião da população? Nao posso estar de acordo. Os conselhos consultivos comunitários trabalharam muito e apresentaram vários pareceres ao Governo.”

No total, foram entregues 370 pareceres, sendo que o Executivo teve uma taxa de resposta na ordem dos 83 por cento. Houve o registo de 234 casos, com uma resposta, por parte destes conselhos, de 176 casos, com uma taxa de resposta de 55 por cento. “No caso da renovação do mercado vermelho, os membros destes conselhos tiveram um diálogo com lojistas e vendilhões para se chegar a um consenso. Estes membros nomeados trabalharam muito em prol da população”, referiu a secretária.

Sónia Chan voltou a garantir que os funcionários do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais não serão prejudicados com a criação do órgão municipal sem poder político, uma vez que os seus direitos serão respeitados.

22 Nov 2017

Comissões | Sulu Sou fez relato pormenorizado de reunião à porta fechada e deixou colegas incomodados

José Pereira Coutinho defende que deputado da Novo Macau está a ser perseguido pela forma como fala dos assuntos e diz que há membros da AL “mais papistas do que o Papa”. Contudo, os ex-deputados Miguel de Senna Fernandes e Jorge Fão criticam conduta do mais jovem por não respeitar a vontade da maioria

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a segunda-feira, os deputados Kou Hoi In e Vong Hin Fai atacaram, durante uma intervenção no Plenário, o colega Sulu Sou por ter feito um relato pormenorizado, numa rede social, sobre uma reunião à porta fechada da Comissão de Regimento de Mandatos. Horas antes, Sou tinha sido chamado à atenção pelos dois membros da Assembleia Legislativa pela mesma razão.

Kou e Vong defendem que Sou pode comentar as reuniões à porta fechada de uma forma geral, mas que não deve identificar os autores das ideias expressas, contra a vontade dos mesmos.

Adepto de uma maior abertura da AL à população, Sulu Sou tem feito questão de marcar a diferença com um maior à vontade para comentar com mais profundidade os temas debatidos no hemiciclo. No entanto, a postura não é unânime e dois ex-deputados ouvidos pelos HM, Miguel de Senna Fernandes e Jorge Fão, reprovam a conduta do pró-democrata.

“Se houve um consenso ou uma maioria na comissão para que a reunião não fosse à porta aberta e certos assuntos não viessem a público, é deselegante furar esse acordo”, disse Miguel de Senna Fernandes, advogado e ex-deputado.

“Se a comissão entende que a matéria não deve ser debatida, para já, na praça pública, mesmo que esteja contra, ele tem de aceitar essa decisão. Fazer o contrário é uma atitude reprovável”, considerou o advogado, que admitiu ser admirador de Sulu Sou.

Esta é uma opinião partilhada por Jorge Fão, que sublinhou que a democracia implica aceitar e respeitar decisões com que não se concorda.

“Na posição dele poderia ter falado por alto da reunião, mas nunca associaria os nomes das pessoas às ideias expressas. Se o assunto é de carácter reservado, deve manter-se dessa forma”, começou por dizer o activista.

“Os deputados sabem decidir se as discussões são à porta fechada ou aberta. Claro que é muito raro que as decisões sejam unânimes porque basta haver duas cabeças para haver duas sentenças. Mas se a maioria decide desse forma, temos de respeitar a regra”, sustentou Jorge Fão.

A perseguição

Opinião diferente face a esta questão tem o deputado José Pereira Coutinho, que admitiu estranhar a forma como os membros da AL Kou Hoi In e Vong Hin Fai reagiram à conduta de Sulu Sou.

“Estranho que procedam desta maneira. Aquilo que o deputado [Sulu Sou] fez, já eu faço há muito tempo. Sempre relatei o que se passou nas comissões e nunca tive problemas”, afirmou Coutinho. “Estão atrás do rapaz”, atirou.

“Considero que estão a exagerar e a ser mais papistas do que o Papa, em muitas situações. Não há dúvidas que o rapaz está a incomodar, pela maneira como se exprime e como fala sobre os assuntos”, acrescentou.

José Pereira Coutinho esteve presente na reunião de 16 deste mês, que posteriormente foi detalhada nas redes sociais. Sobre o encontro, o deputado apoiado pela Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) elogiou a conduta do pró-democrata.

“Ele é uma pessoa muito bem-educada. Fico de alguma forma satisfeito com a maneira como respeita as pessoas. Talvez em algumas situações, até eu me tenha excedido mais do que ele. Ainda ontem, quando critiquei o meu colega Vong Hin Fai, porque o Governo tem de ter mais preocupações com a situação de leilões, para evitar fugas aos impostos e branqueamentos de capitais”, admitiu.

Sanções fora de hipótese

No final da reunião de segunda-feira de manhã, em que Kou Hoi In e Vong Hin Fai trouxeram a público as queixas contra a conduta de Sulu Sou, os deputados não admitiram o cenário de serem aplicadas sanções ao jovem deputado. Kou e Vong explicaram que não há sanções previstas para estes casos.

Contudo, à tarde, em Plenário, ambos defenderam que “o acto em causa deve ser censurado”. Porém, não propuseram qualquer tipo de censura, além do discurso na intervenção antes da ordem do dia.

Tanto para Miguel de Senna Fernandes como para Jorge Fão antevê-se complicada a aplicação de uma sanção a Sulu Sou por revelar o conteúdo das reuniões à porta fechada. Em causa está o facto de não haver sanções no regimento.

“Que tipo de sanção é que lhe vão aplicar, suspensão do mandato? É isso?”, questionou Miguel de Senna Fernandes, em tom divertido. “É uma situação inócua e bizarra, também porque parece não existir normas no regimento para estas situações”, apontou.

Uma opinião semelhante tem Jorge Fão: “Se o regimento não prevê uma sanção, eu nunca iria propor essa sanção porque não se prevê quem vai aplicá-la. É uma proposta que não faz sentido”, defendeu o activista.

“Censurado? Mas como? Ele pode fazê-lo de forma pessoal, mas no regimento não está determinada a censura. Se o regimento não prevê penalização ou sanção não faz sentido propor uma penalização. Até a proposta em si é descabida”, frisou.

Porta aberta ou fechada?

A questão das fugas de informação sobre o que se passa nas comissões realizadas à porta fechada, volta a colocar na agenda a eventual abertura das comissões aos meios de comunicação social e ao público.

Para José Pereira Coutinho esta é uma medida que devia ser aplicada tão depressa quanto possível, como defendeu no programa político da sua candidatura.

“São as comissões à porta fechada que originam as grandes broncas, como foi o caso da Lei de Terras, em que os deputados vieram dizer que foram enganados. As pessoas têm é de se questionar sobre o que andaram a fazer nas comissões à porta fechada… o resultado deu nisto”, frisou Coutinho.

“Os deputados não querem que os meios de comunicação social saibam o que se passa. São coniventes com estas situações, todos, porque nas comissões à porta fechada dizem umas coisas, depois vêm cá para fora dizer outras”, opinou.

Miguel de Senna Fernandes e Jorge Fão aceitam que as reuniões possam decorrer à porta aberta, mas compreendem as posições contrárias.

“Sou contra que as reuniões tenha de ser obrigatoriamente abertas ao público, como alguns deputados querem. Isso não faz sentido porque não sabemos que tipo de sensibilidade estas matérias representam e como podem afectar a opinião pública antes de chegarem ao Plenário”, apontou o advogado.

Sobre o facto das portas fechadas poderem levantar a suspeita sobre a actuação dos deputados, que em público dizem uma coisa e em privado fazem outra, Miguel de Senna Fernandes admite isso como um “mal menor”.

“Há coisas que não podemos evitar, como os males menores. Claro que há sempre uma suspeição. Mas os deputados também precisam de reflexão, de serenidade de estar em privado para debaterem com os colegas matérias sensíveis”, considerou.

Já Jorge Fão sustenta ser normal que as comissões decorram com as portas fechadas, e que nesse aspecto, Macau não é o único exemplo.

“Eu não tenho a coragem de afirmar que as reuniões deviam ser à porta aberta. Estas reuniões das comissões realizadas à porta fechada não são exclusivas de Macau”, frisou.

“Nem todas as matérias discutidas nas comissões podem ser do conhecimento público. Se as pessoas sentirem que o conteúdo deve ser confidencial, então é preciso fechar as portas”, complementou.

No início da presente Legislatura, o presidente da Assembleia Legislativa, Ho Iat Seng, delegou a decisão sobre a abertura das portas para as próprias comissões. Todas decidiram manter as portas fechadas.

22 Nov 2017

Comissões | Kou Hoi In e Vong Hin Fai contra fugas de informação

Presidente e secretário da Comissão de Regimento e Mandatos querem impedir que deputados sejam associados a ideias expressas em reuniões à porta fechada. Em causa está o relato do deputado Sulu Sou sobre a primeira reunião em que foi discutida a suspensão do seu mandato

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente e secretário da Comissão de Regimento e Mandatos, Kou Hoi In e Vong Hin Fai, querem impedir que as opiniões expressas em reuniões à porta fechada sejam associadas aos deputados. A situação surgiu após Sulu Sou ter feito um relato, numa rede social, sobre o conteúdo da primeira reunião da comissão para discutir o seu caso. No relato eram identificados as opiniões expressas pelos deputados.

Perante os jornalistas, ontem de manhã, os deputados Kou e Vong não mencionaram a necessidade de implementar penalizações: “Não vamos falar de qualquer sanção porque todos estão a actuar de boa-fé. Foi a primeira vez que aconteceu”, disse Kou Hoi In, presidente da Comissão de Regimento e Mandatos.

No entanto, à tarde, durante o Plenário, os dois deputados defenderam a aplicação de uma sanção: “Um deputado divulgou, nas redes sociais, o conteúdo dessas reuniões [à porta fechada] e da discussão, e revelou, com a indicação de nomes e detalhadamente, as posições de cada membro, o que é lamentável”, começou por dizer Kou Hoi In, que leu a intervenção em nome dos dois legisladores.

“Consideramos que o acto em causa ignorou por completo, as exigências previstas no Estatuto dos Deputados e no Regimento, perturbou gravemente a ordem das comissões, afectou os trabalhos destas, e violou a ética política dos deputados. Manifestamos a nossa forte insatisfação e defendemos que o acto em causa deve ser censurado”, frisaram.

Todos incomodados

Segundo a explicação, na reunião da manhã, todos os deputados que constituem a comissão ficaram incomodados com o relato que tinha sido feito pelo jovem democrata. Foi por essa razão que decidiram confrontá-lo com o sucedido.

“Os deputados podem falar de forma geral, podem comentar [as reuniões] mas não podem divulgar as posições dos outros deputados. Ele [Sulu Sou] divulgou a posição integral dos deputados. Há deputados que consideram que as suas posições não foram bem explicadas. Há uma violação do regimento. Todos os membros da comissão estão contra esta prática”, explicou o presidente.

Por outro lado, Kou Hoi In negou que os deputados tenham medo que as pessoas saibam o que pensam: “creio que os deputados quando tomam uma posição… eles responsabilizam-se pelas palavras”, sublinhou.

Os responsáveis da comissão evocaram ainda a epígrafe do artigo 93 do Estatuto dos Deputados que menciona o “carácter reservado das reuniões das comissões”.

Direito a saber

Apesar de não ser membro da comissão em causa, Sulu Sou voltou a assistir à reunião.

“A comissão discorda que eu tenha identificado as pessoas e as opiniões, pelo facto de ser uma reunião à porta fechada. Mas eu não tenho que cumprir nenhum dever de sigilo em termos legais”, disse Sulu Sou, no final da reunião de ontem.

“Dizem que é um desrespeito. Eu respeito as opiniões dos membros da comissão. Mas por outro lado também espero que respeitem o direito de informação do público”, acrescentou.

 

Sulu Sou quer defender-se

O deputado pró-democrata quer que a entrega do parecer da Comissão de Regimento e Mandatos seja adiada. Numa carta entregue na AL, Sulu Sou explica que se quer defender antes do caso seguir para o Plenário e define como data limite 30 de Novembro, com base no Código de Procedimento Administrativo.

O deputado diz que a sua situação deveria ter sido discutida de forma detalhada na comissão, com as opiniões dos deputados anexadas ao parecer, e que nos moldes actuais se limita a ser uma “colectânea que explica os processos jurídicos”. Por sua vez, Kou Hoi In, presidente da comissão, disse que os procedimentos iam seguir de acordo com o planeado, e que não tinha recebido instruções do presidente da AL sobre a carta.

21 Nov 2017

AL | Votação da Lei do Orçamento 2018 aprovada por unanimidade

Foi ontem aprovada na generalidade a Lei do Orçamento do próximo ano. Os deputados têm, no entanto, alguma reservas no que respeita aos gastos com pessoal e com a função pública. Para Lionel Leong é um gasto necessário

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Assembleia Legislativa de Macau aprovou ontem, na generalidade, a Lei do Orçamento de 2018. O diploma passa à análise na especialidade com a aprovação unânime por parte dos 31 deputados presentes no hemiciclo.

No centro do debate de ontem estiveram as despesas com a função pública e os seus funcionários. O deputado Mak Soi Kun considera que os dinheiros destinados a despesas com o pessoal previstos para 2017 já eram “astronómicos” e não entende como é que para o próximo ano esta é uma das despesas com um aumento significativo.

O orçamento de despesa ordinária é avaliado em mais de 101 mil milhões de patacas dentro do qual a despesa afecta ao pessoal é de 22.2 mil milhões de patacas, o que representa 22 por cento da totalidade. Por outro lado, a partir do próximo ano, e com os aumentos dos ordenados na função pública, a despesa referente representa um aumento de 11,8 por cento em comparação com 2017. No caso de não ser incluído o respectivo aumento, regista-se uma subida de 9,5 por cento.

Para Mak Soi Kun, os aumentos dos ordenados na função pública têm sido consecutivos e podem ir contra o princípio de racionalização do orçamento. “Houve sempre aumento de despesas com o pessoal. Será que isto não vai contra ideia de racionalização dos dinheiros públicos?”, questionou o tribuno.

A mesma preocupação com os valores destinados aos aumentos na função pública foi sublinhada também por Ella Lei e Au Kam San.

Aumentos inevitáveis

Para o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, os números são inevitáveis e os aumentos servem para colmatar várias falhas existentes no que respeita a pessoal.

O aumento de 9,5 por cento tem que ver com três factores, avançou Lionel Leong: “houve aumento salarial; alguns serviços vão ter pessoal promovido e há um aumento de pessoal”, disse.

O secretário recordou ainda que, em 2015, foram lançadas medidas de austeridade dada a recessão económica, situação que não se vive actualmente.

Entretanto, referiu Lionel Leong, “para o próximo ano temos em conta o pessoal existente e se for necessário aumentamos o número de pessoal onde for preciso. Temos de ser pragmáticos. Quando a sociedade precisa de alguns serviços públicos e esta necessidade se torna crescente, temos também de investir para que possamos satisfazer as necessidades”.

Ainda no âmbito das despesas o secretário esclareceu a necessidade em investir nas infraestruturas, principalmente depois dos estragos causados pela passagem do tufão Hato, a 23 de Agosto.

“No âmbito da construção e infraestruturas também temos de investir mais”, referiu. “Temos de avaliar para ver se somos capazes de investir mais para que numa próxima fase de desenvolvimento consigamos dar as respectivas respostas”, salientou Lionel Leong.

Por outro lado, e confrontado com a dependência do território quase exclusiva das receitas provenientes dos casinos, o secretário salientou que está em estudo mais investimento futuro em PME que garantam uma maior diversidade da economia local. “Temos de ter em conta as indústrias locais e injectar mais investimento para que sejam mais fortes e mais competitivas”, apontou.

Saldo positivo

De acordo com a proposta de Orçamento para 2018, o Executivo de Macau prevê que as receitas globais ascendam a 119,16 mil milhões de patacas – mais 15,76 por cento do que o previsto para este ano.

Dentro das receitas globais esperadas para o próximo ano, 91,4 mil milhões de patacas, correspondem a impostos directos, com a grande fatia a resultar dos 35 por cento cobrados sobre as receitas brutas dos casinos.

A Administração espera arrecadar, com o imposto directo sobre o jogo, 80,5 mil milhões de patacas – contra 71,8 mil milhões de patacas que previu para o corrente ano.

Já a despesa global vai aumentar 14,5 por cento, para 109,61 mil milhões de patacas, com o PIDDA (Plano de Investimentos e Despesas da Administração) a representar quase um quinto desta rubrica: 21,14 mil milhões de patacas contra 15,25 mil milhões de patacas do Orçamento de 2017.

Segundo a proposta de Orçamento para o próximo ano, o Governo estima terminar o próximo ano com um superavit de 9,55 mil milhões de patacas, ou seja, mais 32,39 por cento do que o previsto no Orçamento de 2017.

 

Depositantes desprotegidos

Foi ontem aprovada por unanimidade a proposta de alteração ao Regime de Garantia de Depósitos, que visa simplificar o cálculo da compensação a pagar aos depositantes. O diploma introduz alterações nos critérios a observar na determinação do valor da compensação a pagar, deixando cair a dedução das eventuais dívidas do depositante à respectiva instituição aquando do accionar da garantia pelo Fundo de Garantia de Depósitos (FGD). Assim, são apenas levados em conta os saldos dos depósitos garantidos do depositante na entidade participante em causa, acrescidos dos respectivos juros contados até àquela data. O actual regime prevê um limite máximo de reembolso de 500 mil patacas  a cada depositante e por banco. Todos os bancos autorizados a exercer actividade em Macau (com a excepção dos ‘offshore’) e a Caixa Económica Postal são obrigados a participar no Regime de Garantia de Depósitos. A garantia é accionada oficiosamente pelo FGD quando o Chefe do Executivo aprovar uma deliberação do Conselho de Administração da AMCM que considere que a entidade participante não tem ou revela não ter a possibilidade de reembolsar os respectivos depositantes, ou quando for declarada a falência por sentença judicial.

21 Nov 2017

AL | Deputados preocupados com a falta de habitação no território

A habitação dominou ontem o debate da Assembleia Legislativa. Ella Lei está preocupada com o novo método de cálculo dos rendimentos para os candidatos à habitação social, Zheng Anting quer saber quais são as políticas dedicadas a jovens e à classe média e Leong Sun Iok pede medidas para um mercado imobiliário saudável, sem especulação

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] cálculo de rendimentos feito através do somatório do valor recebido nos dez meses que antecedem a candidatura à habitação social não é justo e deixa pessoas com baixos rendimentos de fora. A ideia foi deixada ontem pela deputada Ella Lei na Assembleia Legislativa (AL).

Para a deputada com ligações à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), os resultados negativos da medida já se fizeram sentir na fase de candidaturas que abriu no passado dia oito e que conta com mais de 18 mil inscrições.

Em causa está a situação de exclusão de candidaturas de trabalhadores da área da segurança. São funcionários que auferem mensalmente o salário mínimo de 6240 patacas, e que “devido ao custo de vida e à pressão das rendas, têm de trabalhar quatro horas extraordinárias por dia para manter os meios de subsistência”, apontou a deputada.

No entanto, o valor dos rendimentos mensais continua a não ultrapassar as dez mil patacas o que não vai além do limite máximo para a candidatura à habitação social que está nas 11470 patacas.

Mas, porque é feito o somatório dos últimos dez meses e incluídos nestes rendimentos “compensações pecuniárias dos feriados obrigatórios e alguns subsídios eventuais, os seus rendimentos ultrapassam o limite máximo e deixam de poder candidatar-se”.

Ella Lei pede assim ao Executivo que reveja este mecanismo de contabilização de rendimentos que está a prejudicar faixas da população que mais precisam de apoio para ter casa, de modo a “evitar a exclusão dos residentes que necessitam verdadeiramente de habitação, e salvaguardar a razoabilidade e justiça da sua distribuição”.

Os eternos esquecidos

Já Zheng Anting está preocupado com a nova geração e a classe média local. No que respeita aos jovens, ainda em situações de emprego pouco definidas e sem possibilidade de sair de casa dos pais devido aos altos preços das rendas de casa, a habitação representa neste momento a sua maior preocupação. Por outro lado, a chamada classe sanduiche, com rendimentos a mais para se candidatar a habitação social, e a menos para poder ter acesso à compra de uma casa em Macau, continua a não ser considerada nas políticas do Executivo.

Para o deputado urge a necessidade de pensar em políticas efectivas para diminuir a “pressão da população”. No entanto “nas Linhas de Acção Governativa divulgadas na semana passada, foi zero a tinta usada com as novas tipologias de habitação da classe sanduiche”, disse Zheng Anting.

Especulação a mais, casas a menos

O problema da especulação no mercado imobiliário local foi levantado pelo deputado Leong Sun Iok, número dois de Ella Lei, que pede ao Executivo para tomar as rédeas da situação e proceder a medidas capazes de promover um mercado de “habitação saudável”.

De acordo com Leong Sun Iok, no 19º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês “Xi Jinping sublinhou que as casas são para habitar e não para especular, demonstrando que as habitações são bens essenciais e não comerciais”. Para o deputado, o Presidente chinês insinuou mesmo que “os governantes locais têm de criar mecanismos eficazes de longo prazo para o problema da habitação, de reprimir a especulação e promover o desenvolvimento estável do mercado”

Neste sentido, e com o objectivo de concretizar o que foi anunciado na apresentação das Linhas de Acção Governativa de 2018 em que é referida a política “habitação e bem-estar para todos”, Leong Sun Iok pede ao Governo que crie, efectivamente, medidas para promover um mercado imobiliário “saudável”. O objectivo afirmou, é diminuir o descontentamento da população face à actual situação de dificuldade em adquirir casa por parte dos residentes que pertencem tanto à classe base como à classe média do território devido aos preços demasiado elevados que estão a atingir os valores “inalcançáveis” de 2014.

21 Nov 2017

Timor-Leste | Executivo de Alkatiri em risco depois da apresentação de moção de censura

O Governo minoritário liderada por Mari Alkatiri pode ter uma curta esperança de vida no poder, depois da indigitação pelo Presidente da República, Lu Olo. A oposição parlamentar apresentou ontem uma moção de censura como forma de protesto por o Governo da Fretilin ainda não ter apresentado um programa de governação. Do lado do Executivo fala-se em “assalto ao poder”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] eventual aprovação da moção de censura ao Governo apresentada ontem pela oposição maioritária no Parlamento timorense implica necessariamente a queda do Executivo, segundo a Constituição e o regimento em vigor. A Constituição timorense define que o Parlamento Nacional “pode votar moções de censura ao Governo sobre a execução do seu programa ou assunto de relevante interesse nacional, por iniciativa de um quarto dos deputados em efectividade de funções”.

Caso não seja aprovada, nota o texto, “os seus signatários não podem apresentar outra durante a mesma sessão legislativa”.

A oposição, que controla 35 dos 65 lugares no Parlamento Nacional, apresentou ontem de manhã uma moção de censura ao Governo em contestação ao facto do Executivo não ter ainda apresentado, pela segunda vez, o programa do Executivo, que foi chumbado já no passado dia 19 de Outubro.

“O Governo não apresentou programa do Governo pela segunda vez e os deputados da Aliança de Maioria Parlamentar (AMP), com base no artigo 111 da constituição da República Democrática de Timor-Leste e artigo 140 do regimento do Parlamento Nacional, apresenta uma moção de censura ao VII Governo constitucional”, disse Patrocínio dos Reis, deputado do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), segundo partido timorense, que leu uma declaração política da oposição.

Corda ao pescoço

A Constituição timorense determina que a aprovação de uma moção de censura “por uma maioria absoluta dos deputados” em efectividade de funções é um dos actos que implica a demissão do Governo pelo chefe de Estado.

O regimento explica as circunstâncias em que a moção de censura é debatida e votada, com o debate a ser “aberto e encerrado por um dos signatários da moção”, com o primeiro-ministro a ter “o direito de intervir imediatamente após e antes das intervenções previstas no número anterior”.

Segundo o regimento, o debate não pode exceder três dias e começa com uma intervenção do Governo por um período máximo de 30 minutos, terminando com a votação da moção.

Numa declaração política em nome dos três partidos da oposição – CNRT, Partido Libertação Popular (PLP) e Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) – a Aliança de Maioria Parlamentar contesta o facto do Executivo ter apresentado ao parlamento uma proposta de Orçamento Rectificativo sem antes ter apresentado pela segunda vez o programa do Governo. Recorde-se que no dia 19 do mês passado, os 35 deputados da oposição (no parlamento de 65 lugares) aprovaram uma moção de rejeição ao programa do Governo insistindo que pela “interpretação paralela” e análoga da lei em vigor, o executivo tinha 30 dias para voltar a apresentar o programa.

Esse prazo, refere a declaração, foi ultrapassado no domingo e o Governo não cumpriu trazendo novamente ao parlamento o seu programa. A aprovação de uma segunda moção de rejeição implica a queda do Governo.

Assalto ao poder

O chefe da bancada da Fretilin, que lidera o Governo minoritário timorense, Francisco Branco, criticou a “política de má fé” e a tentativa de “assalto ao poder” por parte da oposição. Intervindo no plenário, Francisco Branco disse que a oposição está a ignorar a “mensagem clara” da população nas urnas, no passado dia 22 de Julho que quis “uma mudança do status quo”.

“O povo votou pela mudança e a oposição actua com má fé. Esta é uma política de assalto ao poder, uma cultura que não respeita o povo timorense”, afirmou o responsável da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente.

Branco questionou ainda a legalidade da AMP, bloco acordado pelas três bancadas da oposição, e afirmou que a sua existência não foi ainda claramente formalizada nos congressos partidários.

Nurima Alkatiri, deputada da Fretilin, também contestou a acção da oposição afirmando que “respeitando ou não a constituição e a lei” a moção representa um golpe ao Governo liderado pela Fretilin. “Não é a primeira vez. Quem tem ambição pelo poder faz isto. O povo sabe e compreende. Isto é um golpe, um golpe de Estado”, afirmou.

Em reacção, Arão Noé Amaral, chefe da bancada do segundo partido mais votado, o CNRT, rejeitou que a oposição esteja a fazer qualquer assalto ao poder. “Isto não é um assalto ao poder porque o poder, e a competência, é do Presidente da República que tem de decidir o que fazer depois disso”, afirmou.

“Timor-Leste é um Estado de Direito e submetemo-nos à decisão do Presidente da República, mas queremos que sejam respeitadas as regras constitucionais”, afirmou. Arão Amaral reiterou que a oposição “não está a fazer qualquer assalto do poder”, considerando que este “é um processo normal, legal e constitucional”. O deputado pediu ainda desculpas “se a declaração ofendeu alguma parte”, mas reiterou que a força partidária que representa respeita “as regras do normal funcionamento de um Estado democrático”.

Alta tensão

A apresentação da moção de censura, numa sessão do plenário, que já se esperava difícil por causa do debate do orçamento rectificativo, elevou ainda mais a tensão, com deputados das bancadas do Governo e da oposição a trocarem críticas e gritos.

Pancadas nas mesas e troca de insultos levaram a apelos à calma tanto no plenário, como nas galerias.

A oposição timorense quer ver debatida e votada ainda “esta semana” a moção de censura que apresentou ontem de manhã, cabendo a decisão final de agendamento a uma reunião de líderes das bancadas, indicou um deputado das forças políticas proponentes da moção que incendiou uma situação política já bem quente.

“A oposição considera que este assunto deve ser debatido com cariz de urgência, em resposta ao facto do Governo não ter ainda apresentado o seu programa. A decisão depende da conferência das bancadas, mas a nossa expectativa é que o debate seja ainda esta semana”, disse à Lusa Adérito Hugo da Costa, ex-presidente do Parlamento Nacional e deputado do CNRT. Adérito Hugo da Costa disse que o seu partido e a oposição estavam preparados para aceitar qualquer decisão do chefe de Estado que tem que optar entre uma solução no actual cenário parlamentar ou convocar eleições antecipadas. “O CNRT está preparado para qualquer cenário e respeitaremos a decisão que o senhor Presidente da República venha a tomar. Começamos com contactos nas bancadas, conferências dos três partidos e agora vão falar os líderes”, disse.

O Presidente timorense recordou ontem a união que levou à vitória da resistência à ocupação indonésia para criticar, num discurso perante as forças de defesa, os que “derrubam irmãos” para ocupar cadeiras de poder.

“Nós não procurávamos cadeiras, não derrubávamos irmãos para ocupar cadeiras. Naquele tempo, nós que servíamos o país e o povo, sabíamos que a recompensa podia ser a prisão, ou perder a vida”, disse Francisco Guterres Lu-Olo. “Resistimos e ganhámos porque demos as mãos, entre irmãos, para servir o país. Os combatentes e o povo protegeram-se mutuamente. Foi assim que vencemos e foi assim que as Falintil (Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste) e o povo elevaram bem alto a nossa identidade timorense”, afirmou.

Lu-Olo falava na abertura de um seminário sobre direitos humanos e a missão das Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), organizado em conjunto com a Provedoria dos Direitos Humanos e Justiça, o comando das F-FDTL, o Ministério da Defesa e Segurança e a Casa Militar da Presidência da República.

O discurso, numa altura de grande tensão política, foi feito enquanto no Parlamento Nacional a oposição maioritária apresentava a moção de censura ao Governo cuja aprovação implica a demissão do Governo. “Acredito que os timorenses podem voltar a dar as mãos uns aos outros, para vencermos juntos o desafio do desenvolvimento e da eliminação da pobreza. Esta tem der ser a prioridade número um do nosso país”, disse Lu-Olo. “Acredito que, depois de restaurarmos a independência, somos capazes de reforçar o espírito nacionalista e a unidade para vencermos os combates da paz, como fomos capazes de vencer as batalhas da libertação”, considerou.

21 Nov 2017

UM | Yonghua Song, engenheiro electrotécnico, é o novo reitor

Sai Wei Zhao, antes de completar o seu mandato, entra Yonghua Song. Está escolhido o novo reitor da Universidade de Macau depois de um processo de selecção que durou meses e que contou com vários candidatos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] próximo reitor da Universidade de Macau (UM) vai ser Yonghua Song, académico da área de engenharia electrotécnica e inicia funções no próximo dia 9 de Janeiro, anunciou ontem a instituição de ensino superior pública.

A UM destaca que o professor Yonghua Song trabalhou, durante um longo período, na área da investigação e ocupou cargos de direcção em instituições de ensino superior britânicas e da China, com experiência na gestão de alto nível do ensino superior.

Yonghua Song, que se tornará no nono reitor da Universidade de Macau, sucede a Wei Zhao.

“Tendo em conta a sua profunda experiência na gestão institucional, largo horizonte internacional, amplas redes de contacto (…), bem como o seu grande entusiasmo e empenho no desenvolvimento do ensino superior, o Conselho da Universidade entende que o professor doutor Song é a melhor escolha para liderar a UM no seu futuro desenvolvimento”, refere a instituição em comunicado.

O Conselho da Universidade recomendou, por unanimidade, Yonghua Song como o único candidato para o cargo de reitor, uma proposta aceite pelo chefe do Executivo de Macau, Fernando Chui Sai On.

Passagem pela Tsinghua

Yonghua Song é doutorado pelo China Electric Power Research Institute. Em 2002, obteve o doutoramento em Ciência, na Universidade Brunel, pelos seus contributos na área electrotécnica. Em 2014, foi-lhe atribuído o doutoramento honorário em engenharia, pela Universidade Bath, de acordo com a mesma nota da UM.

Em 1991, foi trabalhar como docente e investigador no Reino Unido e seis anos mais tarde contratado como professor catedrático no Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores da Universidade Brunel, tornando-se, em 2004, no primeiro académico chinês a integrar a equipa de gestão de alto nível duma universidade britânica, segundo salienta a UM.

Nesse mesmo ano, Yonghua Song foi eleito ‘fellow’ da Academia Real de Engenharia. Posteriormente, em 2007, passou a ser professor catedrático de engenharia electrotécnica na Universidade de Liverpool, acumulando as funções de reitor executivo da Xi’an Jiaotong – Universidade de Liverpool em Suzhou, na China.

Em 2009, regressou à China na sequência de um convite da Universidade de Tsinghua, assumindo as funções de professor catedrático de engenharia electrotécnica e reitor assistente daquela universidade. Desde Novembro de 2012, é vice-reitor executivo da Universidade de Zhejiang, sendo ainda director do ‘campus’ internacional e professor catedrático de engenharia electrotécnica da mesma universidade.

Dedicado à investigação de sistemas eléctricos, Yonghua Song “contribuiu para o desenvolvimento da indústria da energia eléctrica através dos seus trabalhos nas áreas da energia, engenharia informática e engenharia de controlo”, sublinha a UM.

Yonghua Song foi nomeado, em 2002, consultor do Conselho de Ciência e Tecnologia do Governo de Macau, cargo que ainda desempenha.

O processo de recrutamento internacional para o cargo de reitor da UM foi lançado depois de, em Março, Wei Zhao, ter comunicado que pretendia deixar o lugar no termo do seu mandato, em Novembro de 2018. Contudo, a sua saída foi antecipada, dado que o seu sucessor assume funções já em Janeiro.

Wei Zhao iniciou em 2008 um mandato de cinco anos como reitor da Universidade de Macau, o qual foi renovado, por igual período de tempo, em 2013.

20 Nov 2017

Salário mínimo | Patrões continuam a negar generalização

Os representantes do patronato continuam a estar contra a generalização do salário mínimo a todas as profissões, apesar dos números mostrarem que não houve um aumento significativo de despedimentos nos sectores da limpeza e da segurança

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]e tudo se ouviu na primeira sessão de consulta pública sobre a implementação do salário mínimo para todas as profissões. Representantes do patronato defenderam, por exemplo, que o salário mínimo não deve ir além dos sectores da limpeza e da segurança porque há empregados mais preguiçosos do que outros ou porque há diferentes formas de cálculo consoante os sectores.

José Tang, empresário do sector têxtil, dos poucos que ainda possuem fábricas no activo em Macau, lembrou que a generalização do salário mínimo pode levar a despedimentos no seio das cerca de mil pessoas que trabalham como seguranças em edifícios residenciais.

“Vemos que muitos desses trabalhadores foram substituídos pelos trabalhadores não residentes (TNR), pois a maior parte dos trabalhadores são TNR e as empresas ainda têm lucro. Os locais não beneficiaram desta medida”, frisou.

O empresário lembrou que “uma vez que se implemente plenamente o salário mínimo esses trabalhadores com mais de 60 anos podem ser despedidos”. “Num cenário de diversificação económica não é necessário implementar, na totalidade, o salário mínimo. Basta reverem a lei”, acrescentou José Tang.

Contudo, os dados apresentados pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) na sessão contrariam esta tendência negativa.

Referindo-se aos seguranças dos edifícios, So Wing Young, técnico da DSAL, explicou que, antes da implementação do salário mínimo apenas para duas profissões, a média de idades era de 51 anos. A partir de 2016, ano em que a lei entrou em vigor, a média passou a ser de 52 anos.

“Não existe qualquer alteração ao nível da idade. Há uma tendência para contratar trabalhadores mais jovens, mas não recebemos quaisquer queixas em relação ao despedimento por causa da idade”, explicou.

A subdirectora da DSAL, Ng Wai Han, lembrou que a implementação da lei, em 2016, trouxe uma “situação normal e não se tem verificado grandes falências”. “Não temos recebido muitos casos de despedimentos e não verificamos que foi por essa razão que os locais foram despedidos”, disse ainda.

“Gostaríamos de encontrar uma solução aceite pela sociedade e não observar apenas o lado negativo do salário mínimo”, adiantou.

José Tang defendeu ainda que os trabalhadores da indústria têxtil deveriam ficar de fora desta proposta de lei, à semelhança do que já acontece com as empregadas domésticas e portadores de deficiência.

“Os trabalhadores da indústria manufactureira também tem de estar isentos. Esta sociedade de mercado livre permite-nos ajustar o salário do trabalhador.”

Medo das PME

Na sessão de consulta pública ouviram-se também muitos receios de futuras falências por parte das Pequenas e Médias Empresas (PME), por não conseguirem suportar os ajustes de ordenado.

“Se implementarmos esse actual regime, significa que os patrões vão despedir os empregados da terceira idade e das PME, além de que poderão haver falências. Sugiro ao Governo dar um subsídio aos trabalhadores com baixos rendimentos”, apontou Lei, representante da federação de fornecedores.

Lei, outro representante das PME, acusou o Governo de estar a impor uma medida ao sector empresarial.

“Ao legislar está a impor-nos algo, a limitar-nos, não haverá qualquer flexibilidade. Temos de fazer uma análise mais profunda e ouvir também as opiniões dos trabalhadores”, lembrou.

A subdirectora da DSAL não negou que poderão existir impactos económicos com a generalização do salário mínimo, mas explicou que é por essa razão que a sua implementação está a ser feita de forma faseada.

“Não podemos dizer aqui que não vai afectar a inflação ou a economia, há mesmo uma diferença. Mas qual é a sua envergadura? Temos, primeiro, de tratar do salário mínimo e ponderar sobre vários factores, como a protecção dos direitos e deveres das pessoas”, rematou Ng Wai Han.

20 Nov 2017

Caso Sulu Sou | Tribunal cancela data para julgamento

O Tribunal Judicial de Base decidiu adiar o início do julgamento do deputado Sulu Sou e do activista Scott Chiang marcado para o dia 28 deste mês. A nova data será decidida depois da Assembleia Legislativa se pronunciar sobre uma eventual suspensão de mandato

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Sulu Sou e o activista Scott Chiang, ex-presidente da Associação Novo Macau, já não vão comparecer perante os juízes no próximo dia 28, como estava marcado.

Segundo um comunicado, o Tribunal Judicial de Base (TJB) decidiu anular a data do início do julgamento depois da Comissão de Regimento e Mandatos da Assembleia Legislativa (AL) ter decidido sobre uma eventual suspensão do mandato de Sulu Sou como deputado.

“Atendendo à agenda da AL, que já tinha sido marcada para estes dias e, ao mesmo tempo, considerando que não será gravemente afectado o primeiro arguido do mesmo processo devido à espera da decisão da AL, [o TJB] decide cancelar a data inicialmente marcada para a audiência de julgamento”, pode ler-se.

A nova data só será decidida num “momento posterior”, depois “da AL decidir sobre a mencionada questão”. De frisar que a Comissão de Regimento e Mandatos finaliza hoje o parecer sobre esta matéria, não estando, para já, agendado o plenário em que será votada a continuação ou a saída de Sulu Sou do hemiciclo.

Sulu Sou está acusado do crime de desobediência qualificada no âmbito de um protesto organizado contra o donativo concedido pela Fundação Macau à Universidade Jinan, no continente.

Numa carta assinada pelo deputado, este recorda que, à data da ocorrência dos acontecimentos de que é acusado, “ainda não tinha prestado juramento nem tomado posse”.

“O crime de que sou acusado não é um crime que tenha grave impacto para o interesse público. Não é, por exemplo, um crime de corrupção, prevaricação ou criminalidade organizada”, lembrou.

O deputado pede mesmo clemência dos seus colegas. “Com vista a defender a independência e a dignidade desta Assembleia, e assegurar que os deputados exerçam as suas funções de forma livre e pública, espero que todos os deputados tomem a decisão de não suspender o meu mandato.”

Au Kam San pronuncia-se

Na sua página de Facebook, o deputado Au Kam San, também ligado ao campo pró-democrata, explicou que o parecer que será hoje assinado “não contem opiniões tendenciosas sobre a suspensão do mandato de Sulu Sou”.

O deputado, que pertence à Comissão de Regimento e Mandatos, escreveu ainda que “tendo em conta a estrutura da comissão, seria óbvio que qualquer resultado teria uma visão tendenciosa”.

Para Au Kam San, este caso revela a ocorrência de uma “pressão política no exercício dos direitos civis”, tendo lembrando que, com o actual Executivo, o Ministério Público (MP) “passou a acusar frequentemente os manifestantes, quer no caso dos Filhos Maiores, quer nos lesados do Pearl Horizon”.

O deputado, que está também a ser alvo de uma investigação após queixa por difamação apresentada pelo secretário Raimundo do Rosário, recordou que, num incidente de 2013, “nenhum manifestante foi acusado pelo MP, apesar de terem ocorrido confrontos físicos com a polícia após uma manifestação, quando os participantes estavam a caminho da sede do Governo”.

Na visão de Au Kam San, é “inaceitável o exercício do Governo no combate aos direitos dos cidadãos”, revelando estar contra uma possível perda de mandato. Algo que, a acontecer, se deverá a uma “pressão política” por parte das autoridades.

20 Nov 2017

Declarações de rendimentos | Deputado de Jiangmen soma participações em associações

Desde que foi eleito deputado, nos finais de 2013, Zheng Anting juntou-se 71 associações locais, uma média de uma por mês. O deputado tem ainda 11 estacionamentos em seu nome para uso próprio

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]esde que se tornou deputado, a 16 de Outubro 2013, Zheng Anting juntou-se a 71 associações locais, o que dá uma média superior a uma associação por mês. A revelação é feita na declaração de rendimentos do deputado, que foi assinada a 20 de Outubro, deste ano.

Em Janeiro de 2014, quando entregou a primeira declaração de rendimentosZheng era vice-presidente na Associação dos Conterrâneos de Kong Mung e vice-presidente da “Associação Inspirador Juventude de Macau”. Eram as únicas associações de que fazia parte.

No entanto, com a sua eleição tudo mudou e, em vários casos, Zheng Anting chegou mesmo à posição de presidente. É o que acontece desde Outubro de 2013, altura em que tomou posse como deputado. Só nesse mês, o membro da Assembleia Legislativa passou a ser presidente da Associação de Debates de Macau e da Associação Ou Mun In Gong U Hao Choi (tradução fonética).

Mais três meses passados, e Zheng assumiu a presidência de outros dois movimentos associativos, neste caso da Associação dos Jovens de Macau Oriundos de Jiangmen e da Comissão Responsável pelos assuntos do Grupo 34 da Associação dos Escoteiros de Macau. Também a partir de Agosto de 2016, o deputado de Jiangmen passou a ser o vice-presidente da Associação dos Veteranos de Futebol de Macau e vogal da Comissão de Apreciação Relativa ao Plano de Apoio a Jovens Empreendedor.

Além das posições referidas, o deputado assumiu cargos de consultor, presidente, membro, alguns dos quais na condição de honorário, de mais outras 65 associações.

Menos casas

Se por um lado, o número dois de Mak Soi Kun acumulou vários postos em associações, por outro, ficou sem duas fracções habitacionais. Actualmente Zheng tem cinco casas em seu nome, das quais três são para uso próprio e duas para arrendar. Quatro ficam em Macau e uma no Interior da China.

Em 2014, Zheng tinha declarado a posse de sete fracções habitacionais, todas para utilização própria, das quais cinco eram em Macau e duas no Interior da China.

Em termos das lojas, o deputado de Jiangmen tem dez em seu nome, o mesmo número do que no passado. Contudo, actualmente tem sete desses espaços arrendados, quando em 2014 só tinha seis. Seis das lojas são em Macau e quatro ficam no Interior da China. Finalmente Zheng Anting tem 11 lugares de estacionamento, todos na RAEM e para uso próprio.

No que diz respeito à participação em empresas, Zheng é proprietário, a 100 por cento, da Agência Comercial Chon Fong. O deputado detém ainda 40 por cento da Companhia de Investimento Internacional Seong Kam, sendo membro da administração. Os nomes das duas empresas estão traduzidos de forma fonética para português.

Au Kam San sem património

Outro deputado que também apresentou a declaração de rendimentos foi Au Kam San, pró-democrata. No que diz respeito ao património e participação em empresas, Au não tem qualquer alteração, continuando sem nada a declarar, como aconteceu em 2013.

Em relação à participação em associações, o pró-democrata está agora menos participativo ocupando os cargos de presidente da União para o Desenvolvimento da Democracia e de vice-presidente da Assembleia Geral da Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário de Macau. Antes, Au Kam Sam participava em mais duas associações do que as referidas.

20 Nov 2017

Análise | Internet cara e má complica criação de território inteligente e inovador

Durante a apresentação das Linhas de Acção Governativa para 2018, Chui Sai On reiterou dois dos objectivos mais mencionados nos últimos anos: a construção da cidade inteligente e a diversificação económica, sem muitas medidas concretas de real impacto no tecido socio-económico. Entretanto, o preço e a fraca qualidade do acesso à internet estrangulam a competitividade das empresas locais, forçando-as a procurar serviços no exterior

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uem em Macau nunca se exaltou e ficou a berrar com o telemóvel por uma chamada de WhatsApp cair devido a má ligação? É uma constante, assim como a velocidade de upload e download que por vezes atingem limites exasperantes. Quando o cliente é uma empresa, especialmente do ramo das altas tecnologias, a questão pode representar não só perda de competitividade como a perda do lugar num mercado de concorrência implacável.

Aquando da apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG), Chui Sai On prometeu empenho “na promoção das participação das pequenas e médias empresas e dos residentes, especialmente dos jovens, do pessoal técnico e de gestão e dos profissionais no aperfeiçoamento da construção de software e hardware”. O compromisso prestado perante os deputados não é novo e tem como objectivo “estimular uma cultura inovadora e aumentar a capacidade empreendedora e de emprego dos residentes” no processo de construção da cidade inteligente.

A ideia é boa. Apostar na inovação para contornar a notória dependência do tecido económico local da indústria do jogo e turismo.

Outro chavão muito ouvido é a busca de talentos nas mais variadas áreas. Sendo que o sector da alta tecnologia é uma das apostas mais óbvias para prosseguir as metas pretendidas. Nesse domínio, Jorge Valente, candidato a deputado pela lista de Melinda Chan e empresário do sector das altas tecnologias, reconhece a boa vontade do Executivo, porém admite que “não se passa disso”. O macaense entende que a formação há muito que não é suficiente, assim como os incentivos nos primeiros instantes de vida de uma empresa, especialmente do ramo das tecnologias da informação.

A diversificação económica acaba por ficar pelo caminho quando um jovem se forma nestas áreas, por mais talentoso que seja, tendo em conta a segurança dada por um emprego no ramo da hotelaria, ou numa concessionária de jogo. A remuneração é boa, com francas oportunidades de crescimento numa carreira que não enfrenta os riscos de um negócio começado de raiz.

“Criar uma start-up em Macau, onde os custos são altos e a probabilidade de sucesso é mais baixa do que nos países e zonas vizinhas, é muito arriscado. Claro que os jovens vão trabalhar num hotel ou casino, em vez de arriscarem criar uma empresa num ramo onde as probabilidades de sucesso são menores”, explica Jorge Valente. O empresário entende que o talento que fica por Macau é residual, apesar da educação subsidiada pelo Governo, quando é natural que “uma pessoa que tenha uma boa ideia na área das altas tecnologias decida ir para Silicon Valley, Inglaterra, ou Lisboa, que está com um bom ambiente para startups”.

Neste domínio existem medidas pouco concretas em termos de objectivos claros nas LAG como, por exemplo, “apoiar as organizações de jovens empreendedores de Zhuhai, Macau e Portugal no estabelecimento de ligações e no reforço da parceria para as startups das três partes”.

À espera de rede

Tendo em conta as idiossincrasias da economia de Macau, torna-se mais fácil abrir uma empresa do sector tecnológico nos ramos económicos tradicionais, como a restauração, as agências de viagem, ou outros domínios turísticos.

Mas para quem tem o seu negócio na internet, a fraca qualidade prestada pode fazer a diferença num mundo altamente competitivo. Ignacio Valls, o fundador da Honect, uma empresa de marketing digital que também cria websites, confessa que já teve o seu negócio mais afectado pela velocidade da internet. Hoje em dia é suficiente para o tipo de trabalho que desenvolve. Porém, não tem papas na língua ao afirmar que “em Macau não há escolhas em termos de fornecedor, ou seja, a CTM é como o Governo”. O empresário revela que mesmo que uma empresa queira fazer o seu próprio servidor, isso não é permitido.

O dono da Honect explica ainda que apesar de Macau ter um regime fiscal atractivo para o empreendedorismo, esse requisito também existe em Hong Kong, onde o serviço é muito melhor. Daí não ter dúvida de que “a fraca qualidade da internet não permite que Macau seja atractivo para negócios”.

Outro empresário do ramo da alta tecnologia, que não se quis identificar, confessa que costuma dizer que “um dos problemas mais graves que a sua empresa tem chama-se CTM”.

Também neste domínio, as promessas do Chefe do Executivo foram reiteradas durante a apresentação das LAG para 2018. “Iremos reforçar a supervisão dos serviços de telecomunicações, garantir a qualidade das redes e ampliar a área coberta pelas redes sem fio”, afirmou Chui Sai On perante os deputados. O dirigente máximo da RAEM reiterou que pretende “acelerar a elaboração do plano de desenvolvimento a longo prazo para o sector das telecomunicações, actualizando os respectivos diplomas legais e regulamentando a emissão e renovação de licenças”.

Preços altos

Outra das promessas anunciadas por Chui Sai On nas linhas mestras para os dois anos que restam da sua governação é a intensificação do desenvolvimento científico e tecnológico e o “incentivo à exploração de aplicações para dispositivos móveis inteligentes”.

Rui Pereira é um empresário que desenvolve aplicações, essencialmente “web based”. A fraca qualidade de internet afecta o negócio dos seus clientes devido à perda de performance, o que “é absolutamente dramático”. Ainda assim, o gerente admite que na maior parte das vezes os clientes têm consciência de que o problema está mesmo na internet.

Actualmente, Rui Pereira não se queixa do serviço, por conseguir desenvolver a sua actividade e por poder contar com a compreensão dos clientes. No entanto, há serviços que não consegue ter no território, nomeadamente ao nível de hosting. “Tenho de recorrer ao exterior porque não os consigo obter aqui, já para não falar que quando tento obter esses serviços em Macau os preços disparam de forma inacreditável”.

Rui Pereira não é, nem por sombras, o único empresário a passar por esta situação. Aliás, mesmo no domínio privado quem compra um pacote de internet de fibra, com a garantia de 300 Mb/segundo está longe de obter a performance de internet que comprou. No entanto, o consumidor não pode simplesmente anular o serviço e procurar outro fornecedor de internet… porque não há.

Para as empresas a qualidade não é o único problema. “As pessoas individuais não notam, porque os preços são ligeiramente mais caros mas aceitáveis. Mas para empresas é, para aí, 500 ou 1000 por cento mais caro do que em Hong Kong e na China”, revela Jorge Valente.

Esta é a principal razão pela qual a JV-Tech, tem todos os seus servidores fora de Macau. “Pelo preço que se paga nem vale a pena considerar”.

Sempre que o empresário tem um projecto novo, ou um trabalho em que o cliente tenha requisitos especiais, Jorge Valente pondera “se é mais viável pôr na China, Hong Kong, Singapura ou Tóquio”.

Oportunidade desperdiçada

Jorge Valente vai mais longe ao considerar que todo o esforço para diversificar a economia acaba por esbarrar nas coisas mais básicas. “A electricidade é mais cara, telecomunicações mais caras, velocidade e qualidade menor, quando estamos no mundo competitivo de empresas isto é incomportável e Macau acaba sempre por ficar atrás”, conta.

Aos poucos, são dados passos tímidos em direcção à tal cidade inteligente. “Vão-se fazendo umas coisinhas, mas muito pouco”, comenta Rui Pereira. O empresário acrescenta ainda que “Macau tem todas as condições para fazer um brilharete a todos os níveis, nomeadamente neste, porque há dinheiro, não faltam investidores para projectos, mas acaba-se sempre por fazer mais tarde que os outros”. A acção começa tarde e sempre para correr atrás do prejuízo e apanhar um comboio que já passou.

De acordo com dados do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, no ano passado Macau era o terceiro território do mundo com maior produto interno bruto per capita, tendo em conta a paridade com o poder de compra. Trocado por miúdos, um dos territórios mais ricos do planeta, apenas superado pelo Qatar e Luxemburgo. A oportunidade económica trazida pela liberalização do jogo e o superávit dos cofres do Executivo deveriam permitir contornar os obstáculos mais básicos com que os empresários locais se defrontam no dia-a-dia. Talvez a busca de talentos se deva fazer ao mais alto nível.

20 Nov 2017

GP | Daniel Hegarty morreu hoje depois de acidente na Curva dos Pescadores

Daniel Hegarty sofreu um acidente na Curva dos Pescadores, uma das zonas mais rápidas do Circuito da Guia.

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] piloto britânico Daniel Hegarty (Honda), que hoje sofreu um acidente a meio da prova no Grande Prémio de Motos de Macau, morreu na ambulância, quando seguia para o hospital, anunciou a comissão organizadora do evento.

“É com grande pesar que a Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau informa que o corredor britânico sucumbiu aos ferimentos quando seguia na ambulância a caminho do Hospital Conde S. Januário”, informou o coordenador da Comissão Organizadora, Pun Weng Kun.

Hegarty, de 31 anos, foi retirado de ambulância depois de, às 16:04, a meio da prova, ter batido na barreira na Curva dos Pescadores, de acordo com o relatório de incidentes da organização.

Segundo Pun, o piloto “sofreu ferimentos graves” e foi de imediato transportado para o hospital.

“A comissão já contactou com a família e membros da equipa de Daniel garantindo que lhes será prestada toda a assistência. A Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau manifesta as mais sinceras condolências à família e amigos de Daniel”, disse o responsável, numa comunicação à imprensa sem perguntas.

Esta era a segunda participação de Hegarty no Grande Prémio de Macau.

Acidentes do passado

Desde 2012 que não se registavam fatalidades no Grande Prémio de Macau.

Nesse ano, o português Luís Carreira, de 35 anos, morreu após um despiste durante a qualificação, também na Curva dos Pescadores, a zona mais rápida do Circuito da Guia.

Um dia depois, o piloto de Hong Kong Phillip Yau, de 40 anos, morreu aos comandos de um Chevrolet Cruze, na Taça CTM, ao embater contra uma parede, na curva do Hotel Mandarim, quando seguia a mais de 200 quilómetros por hora.

Foi nesse local que em 2005 morreu o francês Bruno Bonhuil, aos 45 anos, durante o aquecimento para a corrida de motos.

Em 1994, também no Grande Prémio de Motos, o japonês Katsuhiro Tottiori morreu na segunda manga da prova.
O japonês seguia sozinho na recta entre a curva dos Pescadores e a curva R quando uma paragem violenta da moto, devido a um problema mecânico, o projectou para fora da pista, tendo embatido nas rochas junto ao mar e falecido no local.

Em 1967, Dodje Laurel, o piloto filipino que maior projecção internacional conquistou, perdeu a vida na curva do Clube Marítimo, hoje curva do Hotel Mandarim, depois de ter embatido num poste de iluminação pública, capotando o carro que se incendiou de imediato.

18 Nov 2017

Victor Aguilar, padre e historiador: “Em casa têm fotos do Mao, na carteira têm o Papa”

Victor Aguilar é um costa-riquenho, padre e missionário de uma ordem italiana. Está a escrever uma tese sobre os nestorianos que apresentaram Cristo aos chineses e está atento à situação política actual. O padre revela que aquando da transição, o Bispo de Macau não garantiu que as entidades eclesiásticas estrangeiras tivessem um lugar seguro no território e não afasta a hipótese de no futuro o catolicismo se tornar clandestino.

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omo começou a sua aproximação à Igreja?
Foi na Costa Rica, quando era miúdo, através de um missionário da Ordem Comboni que foi à minha cidade falar do Apartheid. Ele tinha estado preso na África do Sul por conduzir com um negro no lugar do pendura. A polícia parou-os e recordou-lhe que na África do Sul um branco não pode conduzir um negro. O padre recusou obedecer e foi preso durante três meses e expulso do país. Pensei que não era possível este tipo de situações e ele disse: “vives num país tranquilo e pequeno, onde se pode deixar a porta de casa aberta, mas não conheces o mundo”. Isto abriu-me a visão e despertou-me um interesse pessoal, nunca tinha tido vontade de ser um padre, apesar de ter estudado num colégio jesuíta.

E como foi a sua primeira abordagem à cultura chinesa?
Cresci com um vizinho chinês, que tinha deixado a China há muitos anos, era médico de medicina tradicional chinesa e casou com uma local. Cresci com as filhas dele, que era minhas colegas de escola. Ele tentou ensinar-lhes chinês e budismo. Despertou-me interesse e ouvia-o muitas vezes, a primeira vez que ouvi falar na China foi através deste homem. Sempre tive curiosidade por essa parte do mundo.

Quando cá chegou o que achou da forma como se vive a religião?
A primeira impressão que tive foi muito simples. Alguns chineses disseram-se “o cristianismo é para os ocidentais, não é para nós”. Ouvi este comentário no Interior da China, em Taiwan e no Japão. Isto ignifica que não conseguimos tocar o espírito oriental com o cristianismo.

Há alguma característica na cultura chinesa que a torna impermeável à espiritualidade estrangeira?
Na “forma mentis” oriental é muito difícil encarar monoteísmo. A segunda questão é porque se há-de ter apenas uma religião. Mas isto também funciona ao contrário. Muitas vezes, os ocidentais pegam nas religiões orientais pelos aspectos externos, o superficial e decorativo. A religião não é só usar roupas, rapar o cabelo ou fazer tatuagens. Para os orientais, a religião é algo muito profundo, está no coração das pessoas. Mas o verdadeiro diálogo é feito na prática. Quando foi o terramoto de Sichuan a primeira ajuda às vítimas foram os monges budistas ajudados por cristãos. Esse é o verdadeiro diálogo inter-religioso.

Como vê a actual postura de Pequim face à religião?
Ontem li um artigo que tinha como título “se quer sair da pobreza substitua Jesus por Xi Jinping”. Conheço comunidades católicas clandestinas onde o cristianismo está vivo, apesar da pobreza. O Governo controla todas as religiões na China através da Associação Patriótica, que influencia todas as decisões da igreja oficial da China. Há seis meses estava em Itália para falar sobre a Igreja Chinesa e falava da distinção entre a igreja oficial e a clandestina. Um padre chinês levantou-se e reagiu com agressividade dizendo: “A divisão é culpa dos estrangeiros, os missionários é que a criaram. Na China só há uma igreja, a que é reconhecida pelo Estado e nós reconhecemos e amamos o Papa”. Cada vez mais vejo padres e freiras chinesas enviadas para a Europa para estudar. Há interesse do Vaticano para estabelecer ligações diplomáticas com Pequim. A Igreja deveria firmar condições claras nestas relação, mas prevejo que muitas das comunidades clandestinas vão sofrer e desaparecer. As pessoas na China sentem-se, por vezes, traídas, depois de terem fé durante décadas. Ainda existem padres e bispos na prisão, conheço um padre em Fukien, que era missionário, a quem partiram a espinha e deixaram-no para morrer. Foi acolhido por cristãos nas suas casas que têm tomado conta dele ao longo de anos. Claro que agora está a morrer.

Como é que estes sacerdotes se mantêm na clandestinidade?
Um velho padre disse-me que estava farto de se esconder. Quando saem da clandestinidade recebem os benefícios do Governo chinês. O bispo recebe um bom carro, dinheiro para a paróquia, propriedades que haviam sido confiscadas durante a revolução cultural. É uma tentação para os padres chineses. Para nós, os missionários, o verdadeiro propósito de estarmos na China são os programas sociais, porque não podemos desenvolver actividades religiosas. Movem-nos os projectos educativos, trabalhar com crianças deficientes, crianças com famílias afectadas pela SIDA em zonas rurais da China. Algumas destas pessoas são cristãs, chegamos mesmo a celebrar homilias. Mas ouço muitas vezes que na igreja clandestina os padres estão cansados e querem desistir. Quando fui à China a primeira vez, em 2005, encontrei-me com algumas pessoas muito especiais, vinham ter comigo, abriam a carteira e mostravam-me a foto do Papa. É um sinal de que eram da igreja clandestina, uma forma de dizerem que são fiéis a Roma. Em casa têm fotografias do Mao, mas na carteira têm o Papa. Acontece-me muito com pessoas idosas.

A igreja clandestina está a morrer?
Depende das zonas. Por exemplo, em Fukien, no sul do país, a igreja clandestina é muito forte e tem gente nova, passa de geração em geração. Mas também trabalhamos noutras províncias em que são principalmente pessoas mais velhas a seguir a fé. Além disso, as novas gerações chinesas têm apenas o dinheiro em mente e há um vazio no coração destas pessoas. Os valores ancestrais chineses, mesmo os confucionistas, estão a perder-se, já nem sequer há respeito pelos pais. Isto é claro. Acho que o Governo chinês percebeu que tem de fazer algo, nem que seja para contrariar a corrupção. A religião pode ajudar, mas eles querem que seja controlada pelo Governo.

Acha que a Igreja em Macau pode ter de recorrer à clandestinidade à medida que a influência de Pequim aumenta?
Aquando da transição de Macau para a China, o Bispo Domingos Lam chamou todas ordens e padres estrangeiros e disse: “Queridos irmãos e irmãs, desde o retorno à China não posso garantir aqui a vossa presença”, arranjem uma forma de se registarem. O Governo chinês mandar-nos a todos embora era uma possibilidade. Claro que isto não aconteceu. Em Hong Kong sei que algo do género foi discutido entre os padres, isto foi mais claro lá. Por outro lado, há por cá alguns padres vindos da China, chegam aos poucos. Acho que há hipóteses de no futuro o Governo chinês querer ter apenas padres do Interior da China nas igrejas de Macau e Hong Kong, é a forma como operam. Em Zhuhai há uma igreja católica oficial, que não é relacionada com as igrejas daqui, não tem nada a ver com o Bispo de Macau. O padre foi enviado pelo Governo chinês do norte da China. Em Shenzhen há três padres do norte da China. Mesmo em Zhuhai as pessoas reclamam porque são forçadas a falar em mandarim, porque este padre não sabe cantonês. Conheço um católico de Zhuhai que vem todos os domingos para ir à missa em Macau, e diz que não vai na sua cidade porque o padre que tem não é um padre.

Além da linguagem, quais as diferenças desses padres enviados pelo Governo chinês?
Agora aumentaram um pouco o nível de qualidade de formação destes padres, mas anteriormente eram muito maus. Faziam o mínimo possível, abriam a Igreja, davam a missa e já estava. Não têm qualquer actividade pastoral, não falam com as pessoas, não visitam doentes no hospital, aquilo que devemos fazer enquanto padres. Sentem que não é o trabalho deles.

Que perspectiva então para o futuro da igreja em Macau?
Não digo ir para a clandestinidade. Em Hong Kong estão mesmo a preparar-se para 2047. Estão a formar padres, há 300 pessoas de Hong Kong a estudar teologia, porque querem ter catequistas no futuro. Em Macau só há meia dúzia de paróquias mais focadas nas missas e sacramentos, não há muitos cristãos. Não estamos neste momento a considerar que esta situação possa acontecer. Mas imaginemos que a igreja oficial da China decide meter um bispo em Zhuhai com autoridade sobre Macau. Será um desafio em termos de status quo, talvez não o façam agora por saberem que haveria reacção. Lembro-me que no início se dizia que durante 50 anos não se tocaria em nada, mesmo na Lei Básica. Em Hong Kong as mudanças motivaram protestos, mas aqui ninguém se apercebeu. Em Macau pode acontecer a Igreja e algumas pessoas decidirem tornar a sua fé clandestina, estamos a falar de hipóteses. Mas estou certo de que o Governo chinês tem um plano, basta ouvir os discursos de Xi Jinping neste último congresso quando falou da sinonização do cristianismo na China. Não falou de aculturação, de tornar a igreja mais chinesa, mas do controlo do Governo em matérias religiosas. Usou estas palavras de forma aberta. Por isso acho que há um plano, ainda para mais numa altura em que centralizou todo o poder em seu redor.

17 Nov 2017

Sulu Sou | Comissão sem recomendação sobre suspensão de mandato

A Comissão de Regimento e Mandatos não quis tomar uma posição face à suspensão do mandato de Sulu Sou, porque entende não serem essas as suas competências. O facto do pró-democrata não ser deputado na altura do alegado crime não foi discutido

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Comissão de Regimento e Mandatos decidiu não tomar qualquer posição sobre a votação para a suspensão do mandado de Sulu Sou. Ontem, após o encontro, que contou com a presença do deputado em causa, o presidente da comissão, Kou Hoi In, afirmou que a tomada de uma posição não faz parte das suas competências.

“Não vamos apresentar uma análise do caso. Não nos cabe fazer isto. Não vamos emitir opiniões tendenciais, cabe ao plenário decidir”, disse Kou Hoi In. “A maioria dos deputados concordou com a elaboração de um parecer que não seja opinativo”, sublinhou.

Por outro lado, o presidente da comissão defendeu que o presidente da Assembleia Legislativa, Ho Iat Seng, não tinha outra opção que não fosse seguir o artigo 27.º do estatuto dos deputados, que obriga o plenário a votar a suspensão do mandato de Sulu Sou.

Por contraste, Kou Hoi In clarificou que o artigo 30.º, que remete a decisão sobre a participação no julgamento para a mesa da AL, sem haver perda do mandato, não poderia ser tomada porque já há uma acusação. O presidente da comissão revelou ainda que não foi discutido o facto do alegado crime ter sido cometido quando Sulu Sou não era deputado.

A comissão tem até 20 de Novembro para finalizar o parecer.

Sem preocupações

Por sua vez, Sulu Sou, no final da reunião, não se mostrou preocupado com o facto do parecer não tomar uma posição sobre o assunto: “Não estou preocupado pelo parecer não ser opinativo”, disse.

“Foi uma decisão justificada com o facto dos deputados terem uma maior de liberdade na altura de votarem no plenário”, acrescentou.

O pró-democrata não faz parte da comissão, mas como é o seu mandato que está em causa teve direito a ser ouvido.

Já sobre a manifestação da intenção de todos os outros colegas que constituem o plenário, o pró-democrata disse que apenas quatro deputados falaram com ele sobre o assunto: Agnes Lam, José Pereira Coutinho, Au Kam San e Ng Kuok Cheong.

Os quatro prometeram votar contra a suspensão do mandato. Entre as opiniões, duas foram mesmo ouvidas ontem, através de Au Kam San, que é membro da comissão, e Coutinho, que decidiu participar, embora sem direito de voto.

“Muitas pessoas são mais conservadoras e não querem pronunciar-se [sobre o assunto]. Todos os deputados que quiseram manifestar-me as suas opiniões, disseram que me iam defender”, apontou Sulu Sou.

O deputado pró-democrata enfrenta uma acusação de desobediência qualificada relacionada com a participação na manifestação do ano passado contra o donativo de 100 milhões de yuans da Fundação Macau à Universidade de Jinan. Contudo, para poder ser julgado antes do fim do mandato, tem de ser suspenso, o que exige uma votação no plenário da Assembleia Legislativa.

Sugerida ausência de Sulu Sou

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente da Assembleia Legislativa, Ho Iat Seng, sugeriu a Sulu Sou que não marcasse presença na reunião da Comissão de Regimento e Mandatos. O objectivo passava para evitar perguntas dos jornalistas sobre o alegado crime.

“Segundo o presidente [da AL] talvez não fosse adequado eu estar na comissão porque os jornalistas podiam fazer perguntas sobre a acusação”, revelou Sulu Sou. “Foi uma sugestão, não foi uma questão de me impedir”, acrescentou.

“Comissão demitiu-se das responsabilidades”

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]osé Pereira Coutinho acusou a comissão de não ter cumprido o seu papel, ao não recomendar uma posição a ser adoptada durante a votação no plenário. O deputado participou como observador. “A comissão demitiu-se das suas responsabilidades, passando a bola para o plenário. Achei errado que os membros da comissão se tenham demitido da sua responsabilidade”, apontou Coutinho. O deputado mostrou-se também contra a suspensão do mandato de Sulu Sou, devido ao crime de desobediência qualificada: “O presidente devia ter mandado a decisão para a mesa. Abre-se um precedente muito mau”, frisou.

17 Nov 2017