Tribunais | Advogados criticam fim de recurso para co-arguidos no TUI

A negação do direito a recurso de co-arguidos em processos onde o Chefe do Executivo seja também arguido, pelo facto dos casos serem julgados no Tribunal de Última Instância, gera críticas entre alguns membros da comunidade jurídica. A medida é categorizada como uma “bizarria” e vista como “aumento político do controlo do Governo”

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]lguns advogados contactados pelo HM afirmam não compreender a razão porque se está a colocar em cima da mesa a possibilidade de retirar o direito ao recurso dos co-arguidos que se vejam envolvidos em processos onde o Chefe do Executivo seja também arguido. Consideram tratar-se de uma “bizarria”, de um “retrocesso” face à intenção inicial da revisão da lei e até consideram ser um “aumento político do controlo do Governo”.

“O simples facto de se admitir essa hipótese já é uma bizarria”, começa por referir Sérgio de Almeida Correia. “Não sei de que cabeça é que saiu essa ideia peregrina, mas um dos objectivos que estava por detrás da revisão desta lei era exactamente a extensão do direito de recurso no sentido de corrigir uma deficiência do sistema.

Essa era uma contradição e algo que necessitava de ser corrigido”, acrescenta o causídico.

Uma vez que o direito de recorrer das decisões do juiz “está consagrado no sistema jurídico de Macau e está previsto na Lei Básica”, esta nova possibilidade, que ainda está a ser analisada pelos deputados e pelo Governo, significa a existência de “um número ainda mais alargado de pessoas em relação às quais fica vedado o direito de recurso”, o que é “um disparate”.

“Isso não está na natureza do sistema jurídico de Macau e aquilo que deveria ser feito era alargar o âmbito do recurso e não restringi-lo ainda mais”, frisa Sérgio de Almeida Correia.

Aquando dos processos que levaram o ex-procurador do Ministério Público, Ho Chio Meng, e o ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Long, litigar na barra dos tribunais, houve processos conexos julgados em instâncias inferiores e não se registaram problemas de ordem processual, em termos de competência dos tribunais, que levassem a esta necessidade legislativa.

“Quando é feita a separação de processos não advém qualquer problema”, adiantou o advogado. “O que faria sentido é que também o Chefe do Executivo tivesse direito ao recurso e não que todos os que sejam apanhados na corrente deixem de ter direito ao recurso. Imaginemos um caso piramidal de corrupção, que vai desde a base ao Chefe do Executivo, e imaginemos que estão envolvidas 200 pessoas. Faz sentido que centenas de pessoas sejam julgadas na última instância sem direito a recurso?”, questiona.

Passo atrás

O HM tentou chegar à fala com o presidente da Associação dos Advogados de Macau (AAM), Jorge Neto Valente, que não quis fazer comentários por não estar no território. No entanto, aquando da elaboração do parecer com opiniões sobre a revisão da lei de bases da organização judiciária, a AAM não se pronunciou sobre esta matéria, uma vez que não estava, sequer, prevista.

Jorge Menezes, também advogado, considera que a medida pode implicar “um aumento político do controlo do Governo”.

“É mais um passo atrás e representa um aumento político do controlo do Governo. O Chefe do Executivo controla o Governo, a falta de recurso retira-lhe um direito fundamental em violação da Lei Básica, e implica, por esta via, um maior controlo sobre o Chefe do Executivo.”

Para o advogado, “não só há controlo na sua designação, como há controlo sobre o modo de governação, pois a falta de recurso – como a história da RAEM e de outros (poucos) países revela – diminui a qualidade da justiça e os direitos do arguido. Saber que as suas decisões não vão ser reavaliadas por outro tribunal aumenta a possibilidade de violação de direitos”.

Jorge Menezes considera que “arrastarem pessoas comuns, retirando-lhes direitos que todos os cidadão deverão ter, pela circunstância de estarem envolvidos no mesmo processo que o Chefe do Executivo, é injustificável”.

Sulu Sou, deputado que pertence à 3ª comissão permanente da Assembleia Legislativa, que actualmente analisa este diploma na especialidade, também se revela contra esta possibilidade. “Penso que todos devem ter direito ao recurso e acesso a julgamentos justos, incluindo o Chefe do Executivo”, frisou.

3 Ago 2018

Efeméride | Há 50 anos Salazar caía da cadeira. Macau soube um mês depois

Faz hoje 50 anos que António de Oliveira Salazar caiu de uma cadeira na sua casa de férias no Estoril. Um momento que marcou o início do fim do Estado Novo. Em Macau só soube do ocorrido em Setembro e chegou a celebrar-se uma missa onde os crentes pediram as rápidas melhoras do presidente do Conselho. O incidente não aligeirou a força do regime no território, onde censura persistiu até depois de 1974

 

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]omem de hábitos e regras escrupulosamente seguidas, António de Oliveira Salazar passava habitualmente férias no Forte de Santo António do Estoril. Há 50 anos, no dia 3 de Agosto, aconteceu o que ninguém esperava: o presidente do Conselho de Ministros, que havia instaurado o Estado Novo em 1933, caía de uma cadeira de lona. O episódio marcou o início do fim não só da sua carreira política e revestiu-se de simbolismo. O regime fascista entrava no derradeiro declínio.

Em Macau, as notícias chegavam a conta-gotas e estavam dependentes da vontade da censura. Por isso, só em Setembro o jornal Gazeta Macaense, dirigido por Damião Rodrigues, deu a notícia da queda de Salazar publicando o seu boletim clínico na primeira página. Aquando da publicação do terceiro boletim, Salazar tinha uma “função renal normal” e mostrava “sinais de franca recuperação motora e sensorial”.

Como era um diário “visado pela censura”, o Gazeta Macaense publicava, três edições depois, o sexto boletim clínico de António de Oliveira Salazar na íntegra, acompanhado de um telegrama que havia sido enviado pelo governador Nobre de Carvalho ao Ministério do Ultramar. Neste lia-se que na sessão da Câmara Municipal das Ilhas se tinha falado do nome de Salazar, tendo sido apresentados “desejos ardentes dum completo e rápido estabelecimento”. Nessa mesma reunião decidiu-se pela realização de uma missa no dia seguinte, “pelas nove horas” e “pela evolução favorável do convalescente”.

HM

As imagens da missa voltaram a fazer manchete do Gazeta Macaense na sua edição de 20 de Setembro de 1968 com o título “Macau reza por Salazar”.

“Promovido pelo Leal Senado da Câmara de Macau, realizou-se ontem na Igreja de São Domingos uma missa pelo pronto restabelecimento do presidente do conselho, o professor doutor António Oliveira Salazar. Uma grande multidão, gentes de todas as camadas sociais, desde as mais altas individualidades até aos mais humildes funcionários, bem como o numeroso público, português, chinês e de outras nacionalidades, encheu o vasto templo assistindo à missa celebrada pelo reverendo padre José Barcelos Mendes”, pode ler-se.

Cidadão de Macau

Dois anos antes, no dia 24 de Maio de 1966, Salazar foi proclamado, por unanimidade, “cidadão honorário da cidade de Macau”, e “quatro dias depois o seu retrato tinha sido descerrado nos Paços do Conselho”, escreveu o jornal.

Além de umas breves notícias do matutino, que incluíam a reprodução de telegramas, sem assinatura de qualquer jornalista, pouco se escreveu sobre o incidente que levaria ao fim do regime e à substituição de Salazar por Marcello Caetano na presidência do Conselho de Ministros.

De acordo com António Cambeta, que à época tinha deixado a Marinha e trabalhava numa empresa chinesa, pouco se falava do assunto no seio das comunidades portuguesa e macaense. “Poucas notícias foram dadas sobre o assunto”, garantiu ao HM. “Não houve diferenças nenhumas, mesmo depois do 25 de Abril de 1974. A censura continuou até depois dessa data, continuou a existir a polícia secreta e a polícia judiciária. E se perguntar a outros portugueses que na altura já residiam cá, vão dizer-lhe exactamente a mesma coisa.” No que diz respeito à comunidade chinesa, esta “não fazia ideia do que se passava”, uma vez que “os chineses nunca ligaram à política portuguesa”, adiantou António Cambeta.

João Guedes, jornalista e autor de vários livros sobre a história de Macau, garantiu que “o impacto desse acontecimento foi nulo” e só existiu “no coração dos defensores do salazarismo, que estavam todos no poder aqui”. “De resto não houve alterações visíveis nenhumas. As coisas sabiam-se mais tarde e a censura só deixava sair as coisas na altura que o Governo entendia que deveriam sair, nem que fosse um ano depois. Não se notou nenhuma diferença, a censura perdurou até ao 25 de Abril, sem alterações.”

A última notícia do estado de saúde de Salazar, vinda da “Lusitânia”, dava conta de que “o presidente do Conselho estava gravemente doente”. Novamente com grande destaque na primeira página, lia-se que “o professor Salazar foi esta manhã observado pelo neurologista americano, doutor Huston Merritt, especialista do Instituto Neurológico de Nova Iorque, que se deslocou propositadamente a Lisboa a fim de tratar o presidente do Conselho, após o oferecimento do Governo dos Estados Unidos para enviar a Portugal o especialista que os neuro-cirurgiões portugueses julgassem mais indicado para observar o ilustre enfermo”. 

Marcello, o “aluno excepcional”

A 27 de Setembro de 1968 tornou-se inevitável o afastamento de Salazar do poder, uma vez que o acidente provocou-lhe graves danos cerebrais que viriam a culminar na sua morte, em 1970. Marcello Caetano tomou posse nesse dia, mas, segundo declarações ao Diário de Notícias do historiador Filipe Ribeiro de Meneses, autor de “Salazar – Biografia Política”, “Salazar não tinha a mais pequena intenção de largar o poder”.

A Gazeta Macaense publicou a notícia da substituição e uma breve biografia de Marcello Caetano cheia de elogios. Num texto sem assinatura, o último presidente do Conselho de Ministros foi descrito como um “aluno excepcional que sempre se impôs à admiração dos mestres e condiscípulos pela lucidez da sua inteligência e apego ao trabalho, que lhe valeram elevadas classificações”.

Licenciado em Direito “com raro brilho”, em 1931, Marcello Caetano publicou o Manual de Direito Administrativo em 1937. Tal como o seu antecessor, era um nome bastante considerado na classe jurídica portuguesa.

Jorge Fão, hoje dirigente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau, recorda-se que, em Macau, aceitou-se bem a chegada de Marcello Caetano como o novo dirigente do Executivo da metrópole. “As comunidades portuguesa e macaense reagiram bem à entrada do Marcello Caetano no Governo, porque o Salazar tinha a fama de ser um ditador. O Marcello Caetano, para nós, tinha uma outra imagem, não era tão ditador como o outro. A comunidade aceitou-o de bom grado, mas passados uns anos as pessoas fartaram-se dele, porque em Portugal continuou a existir um partido único.”

Depois do invernoso acidente de mobiliário que alerou a história de Portugal, seguiu-se a “Primavera Marcelista”, que trouxe uma muito ligeira aragem à Assembleia Nacional, hoje Assembleia da República. O parlamento passou a ter, depois de 1969, deputados da ala liberal, que lutavam por uma abertura do regime à democracia.

Contudo, em Macau, nenhuma mudança se fez notar com essa abertura. “Havia uma maior liberdade em Portugal mas em Macau sentiu-se muito pouco essa liberdade. Mesmo depois do 25 de Abril a liberdade era relativa. No caso da chegada de Marcello Caetano, para nós significou exactamente a mesma coisa. Continuava a existir o partido único e o governador era o homem máximo, ditava todas as regras e ninguém ia contra o governador”, recorda Jorge Fão.

O presidente da APOMAC destaca, no entanto, a influência que o novo presidente do Conselho tinha na área do Direito, mesmo a quilómetros de distância. “O Marcello Caetano tinha uma certa vantagem, era muito bom em Direito. Nós [na Função Pública] tínhamos de estudar certos manuais de Direito e ele era um homem de cabeça. Ainda hoje se cita o manual de Direito Administrativo de Marcello Caetano”, frisou.

Na mesma entrevista que concedeu ao Diário de Notícias, o autor da biografia de Salazar lembrou que o tratamento depois da queda da cadeira demorou a chegar, pois poucos tiveram noção das consequências. O ex-dirigente do Estado Novo nunca havia perdido a consciência. “Houve naturalmente alguma consternação depois da queda, mas só alguns dias mais tarde foi Salazar visto pelo seu médico, e isso em função de uma consulta previamente marcada – e o Dr. Eduardo Coelho nada notou de anormal.”

Filipe Ribeiro de Meneses adiantou ainda que, a 3 de Setembro, o ditador ainda presidiu à reunião do Conselho de Ministros. “Segundo Franco Nogueira, Salazar estava claramente afectado nessa reunião, durante a qual pouco falou. Esta deterioração é aliás bem visível no diário de Salazar – a escrita deteriorou-se muito nestes dias de Setembro. Mas ninguém ousou sugerir que o ditador precisava de cuidados médicos”, referiu o historiador.

3 Ago 2018

Acidente | Dona do restaurante na Areia Preta suspeita de crime de explosão

A Polícia Judiciária terminou a investigação à explosão que aconteceu no início do mês num restaurante na Areia Preta e suspeita que a dona do espaço cometeu o crime de “incêndios, explosões e outras condutas especialmente perigosas”. O caso foi entregue ao MP e a proprietária foi detida

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] dona do restaurante na Areia Preta onde ocorreu uma explosão na noite de 3 de Julho está detida e é suspeita da prática de crime de “incêndios, explosões e outras condutas especialmente perigosas” por negligência. O caso foi entregue ontem ao Ministério Público pela Polícia Judiciária, que já terminou a investigação à explosão que, alegadamente, teve origem num fogão que não foi desligado correctamente.

Segundo a informação fornecida pela PJ ao HM, além da acusação pelo crime, que é punido com uma pena que vai de 1 ano a 8 anos de prisão, pode haver um agravamento da pena em um terço, devido à morte de uma das vítimas do acidente e ferimentos graves em outras três, como previsto no Código Penal.

O Ministério Público vai agora fazer uma investigação e apresentar os resultados ao juiz de instrução criminal, que depois decide se a dona do restaurante no Edifício Pak Lei tem de responder em tribunal pelos crimes em questão.

Ainda de acordo com as informação disponibilizadas pela PJ ao HM, a mulher é residente de Macau e tem 44 anos.

Morte à porta de casa

O acidente no Edifício Pak Lei aconteceu na noite de 3 de Julho por volta das 21h45. Na altura do acidente, uma residente que circulava no corredor do edifício do outro lado da parede do restaurante, acabou por morrer devido ao impacto da explosão. Além disso, mais seis pessoas ficaram feridas, quatro das quais precisaram de ser internadas.

O impacto do acidente foi sentido por vários residentes da zona, muitos dos quais partilharam a experiência nas redes sociais, revelando que sentiram a estrutura do edifício a tremer.

Contudo, as autoridades garantiram, depois de inspecções feitas ao local, que a estrutura não tinha sido afectada. Nas operações de salvamento estiveram envolvidos pelo menos 40 operacionais, assim como várias viaturas, e a Avenida do Hipódromo teve mesmo de ser foi cortada ao trânsito.

Um dia depois da explosão foram vários os governantes da RAEM que se deslocaram ao local, entre os quais o Chefe do Executivo, Chui Sai On, que seguiu o exemplo de secretários como Wong Sio Chak e Lionel Leong.

2 Ago 2018

PSP | Proposta separação de agentes condenados de outros reclusos

O Conselho Executivo deu luz verde a uma proposta de lei que prevê que os agentes da PSP condenados passem a cumprir pena em regime de separação dos restantes reclusos, à semelhança do que sucede com os agentes da Polícia Judiciária ou com os magistrados

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s agentes do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) que sejam condenados a penas de prisão podem vir a cumprir pena em regime de separação dos restantes reclusos. Esta é uma das novidades constantes da proposta de lei sobre o CPSP, que vai ser submetida hoje à Assembleia Legislativa (AL).

A medida foi justificada com razões de segurança. “Por ser um agente policial tem de combater o crime e, se calhar, já houve conflitos com criminosos”, pelo que, “no futuro, se este agente for condenado e precisa de cumprir pena de prisão, então gostaríamos de dar-lhes maior protecção”, afirmou o comandante do CPSP, Leong Man Cheong. O regime que o diploma vem introduzir para os agentes do CPSP existe já para magistrados e agentes da Polícia Judiciária.

A proposta de lei, cujos principais contornos foram apresentados ontem em conferência de imprensa do Conselho Executivo, visa “reorganizar os conteúdos relacionados com as competências do CPSP”, patentes em diplomas distintos, compilando-os “numa só lei”. Segundo o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, as atribuições do CPSP “mantêm-se praticamente inalteradas”. Já as competências são as “actuais”, embora sejam mais bem esclarecidas. É o que sucede no domínio da repressão de actos ilícitos que possam atentar contra a segurança aeroportuária e da aviação civil, da migração e de controlo fronteiriço e também no âmbito do licenciamento da actividade de segurança privada.

Acesso a ficheiros

À luz do diploma, o CPSP também vai ter “acesso a informação de interesse criminal contida nos ficheiros da Administração, das entidades públicas autónomas e dos concessionários [como de abastecimento de água, fornecimento de energia eléctrica ou do serviço de transporte de passageiros]”, explicou o porta-voz do Conselho Executivo. Um acesso que obedece, contudo, a regras, segundo ressalvou o comandante do CPSP: “Este tipo de consulta é [feito] quando já [se] iniciou a investigação criminal. Temos de ter despacho autorizado por um órgão judicial”.

O diploma propõe também que o chefe do Departamento de Trânsito do CPSP seja considerado como autoridade de polícia criminal, o que lhe permite emitir mandados de detenção, nomeadamente nos casos de condução sob o efeito de álcool ou de drogas, exemplificou Leong Man Cheong. Actualmente, no seio da PSP, incluem-se entre as autoridades de polícia criminal o comandante, o segundo-comandante ou o chefe do Serviço de Migração.

A própria definição do CPSP também vai sofrer mudanças, com a designação de “força de segurança militarizada” a ser substituída por “força de segurança, integrada no sistema da segurança interna da RAEM”, que exerce “competências próprias de um órgão de polícia criminal, dotado de um quadro de agentes policiais com estatuto profissional próprio”.

2 Ago 2018

Profissionais do sector público e privado da saúde com novos requisitos para exercício de actividade

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]édicos, incluindo de medicina tradicional chinesa, dentistas, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas e psicólogos ou técnicos de análises clínicas e de radiologia figuram entre as 15 categorias de profissionais de saúde que vão ter de observar novas regras para exercer actividade, incluindo um estágio. É o que dita a proposta de lei que cria um regime aplicável aos profissionais do sector público e privado, uniformizando os critérios de ingresso e requisitos de inscrição, que vai seguir hoje para a Assembleia Legislativa.

À luz do diploma, cujos principais conteúdos foram apresentados ontem pelo porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, para exercerem actividade os profissionais de saúde têm que solicitar a acreditação e candidatar-se ao exame de admissão ao estágio, sendo concedido o registo provisório de acreditação aos aprovados na prova de conhecimentos. Uma vez findo o estágio, com a duração mínima de seis meses, e atribuída a classificação final, será emitida a cédula de acreditação e efectuada a inscrição após os candidatos terem procedido ao registo definitivo.

O licenciamento é efectuado após a inscrição nos Serviços de Saúde e para o efeito estão definidos três tipos de licenças: integral, limitada e de estágio. A integral, com uma validade de três anos, pode apenas ser requerida por residentes de Macau, titulares da cédula de acreditação e que possuam instalações próprias para o exercício da actividade, enquanto a limitada é a que vai permitir o exercício da actividade por profissionais de saúde do exterior da RAEM. Esta licença, a solicitar pelas instituições ao director dos Serviços de Saúde, é válida por um ano, renovável por igual período, até um limite de três, findos os quais tem de ser formulado novo pedido.

Segundo esclareceu o director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, também presente na conferência de imprensa, a renovação das licenças não será feita de forma automática, havendo requisitos a satisfazer, nomeadamente no plano da formação contínua.

Os profissionais de saúde que estejam no activo vão ficar automaticamente dispensados da realização do exame de acreditação e do estágio, cuja licença para o exercício de actividade manter-se-á válida pelo período de um ano, a contar a partir da entrada em vigor da proposta de lei.

Novo órgão

O diploma estipula ainda que a acreditação e o registo dos profissionais fica na competência de uma nova entidade: o Conselho dos Profissionais de Saúde. A esse órgão colegial da Administração Pública também vai caber elaborar o código deontológico dos profissionais de saúde, normas e instruções técnicas para o exercício da profissão e o regulamento do exame de admissão ao estágio, bem como verificar as habilitações dos candidatos, organizar os exames de admissão ao estágio e emitir a cédula de acreditação.

Este conselho será formado por representantes do sector público e por profissionais de saúde do sector privado de cada uma das áreas, a definir por regulamento administrativo.

O futuro Conselho dos Profissionais de Saúde terá também poder para instaurar procedimentos disciplinares e nomear o respectivo instrutor, cabendo ao director dos Serviços de Saúde proferir a decisão sancionatória. Estão previstas quatro tipos de sanções por infracções disciplinares: advertência escrita, multa, suspensão do exercício de actividade até três anos e inactividade.

Segundo dados oficiais, mais uma vez divulgados na versão portuguesa à beira do fecho da edição, a 31 de Dezembro existiam 6.330 profissionais de saúde das 15 categorias regulamentadas pela proposta de lei, dos quais 2326 no sector público.

2 Ago 2018

Jornalismo | Crime de alarme social encarado como ameaça à liberdade de imprensa

A Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau está preocupada com eventuais condicionalismos ao livre exercício da profissão de jornalista, que poderão resultar da aplicação da nova Lei da Protecção Civil. Como tal, endereçou uma carta a Wong Sio Chak a mostrar as preocupações do sector

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) está preocupada com a proposta de Lei da Protecção Civil de Wong Sio Chak e as consequências que o diploma poderá ter para a liberdade de imprensa. A apreensão consta numa carta divulgada, ontem, pela associação presidida por José Carlos Matias e que foi enviada ao Governo, no âmbito da consulta pública sobre o futuro diploma.

Segundo o texto da consulta pública, está previsto a criação do crime de falso alarme social durante situações de catástrofes. O delito será punido com pena até 3 anos de prisão. De acordo com o documento de consulta, o crime compreende as acções daqueles “que, após a declaração do estado de prevenção imediata, emitam, propaguem ou façam propagar, boatos ou rumores falsos”.

A AIPIM declara-se preocupada com o alcance desta proposta: “Consideramos que estamos perante algo de bastante sensível que, se não for adequadamente limitado e aplicado com bom senso, poderá colocar em risco preceitos e provisões chave consagrados na Lei Básica, nomeadamente no que diz respeito ao artigo 27.º, sobre liberdade de expressão e liberdade de imprensa”, indica a associação.

A AIPIM não se mostra contra a criação deste tipo de crime, mas pede que seja definido “muito claramente, sem ambiguidade, o escopo da previsão, os factos que integram tais condutas e o seu âmbito de aplicação”.

Direito de cooperação

Segundo o documento, a lei vai igualmente criminalizar a conduta dos funcionário públicos que recusem participar nos trabalhos de protecção civil. Esta é uma disposição que se pode aplicar aos trabalhadores da TDM, concessionária de difusão audiovisual.

Assim, caso as autoridades considerem que os jornalistas e responsáveis editoriais não foram cooperantes, estes poderão ser acusados do crime de desobediência qualificada, que é punido com uma pena que vai até aos 2 anos e multa de 240 dias, e ainda serem acusados de infracção disciplinar grave.

Em relação a este aspecto, a AIPIM coloca reservas em relação às ameaças ao estatuto de independência dos jornalistas. “Preocupa-nos a forma como os responsáveis das entidades concessionárias pela difusão audiovisual irão ser responsabilizados e em que termos poderão incorrer no crime de desobediência qualificada”, é frisado. “Apelamos a Vossa Excelência [Wong Sio Chak] que evite qualquer resultado que diminua o papel dos jornalistas e responsáveis editoriais da concessionária pela difusão audiovisual na sua missão de garantir informação com qualidade e independência”, é acrescentado.

2 Ago 2018

Melco Crown | Protesto pelo 14º mês de salário juntou deputados e mais de mil pessoas

Cerca de 1300 pessoas protestaram ontem no Cotai pelo pagamento do bónus salarial por parte da concessionária Melco Crown. Os trabalhadores alegam que a empresa, apesar e ter verbas para investir nos casinos do Japão, não aceita conceder-lhes mais regalias. Os deputados Au Kam San e José Pereira Coutinho marcaram presença no protesto

 

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] público que Lawrence Ho, CEO da Melco Crown Entertainment, está interessado numa licença de jogo no Japão, algo que poderá ser uma realidade já no próximo ano. Também os empregados da operadora de jogo o sabem, mas desejam ter as contrapartidas: se o patronato investe milhões lá fora, eles querem ter as regalias salariais cá dentro.

Ontem realizou-se, no Cotai, mais um protesto dos trabalhadores de jogo, organizado por Cloee Chao, presidente da Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores do Jogo, e que, de acordo com as contas do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), terá juntado cerca de 1300 funcionários. À operadora exigiam o pagamento do 14º mês de salário e prometeram não arredar pé do Cotai até Lawrence Ho aparecer, em pessoa, para receber a carta com as exigências. A missiva acabou por ser recebida por um director-geral da empresa, responsável pela operação de projectos.

“Muito provavelmente vamos realizar outra actividade, mas só amanhã vamos reunir com os trabalhadores”, disse Cloee Chao aos jornalistas, quando o protesto já estava perto do fim. “Talvez façamos uma reunião ainda hoje à noite (de ontem), porque entretanto dois manifestantes desmaiaram”, adiantou.

HM

Cloee Chao revelou que os investimentos que a operadora pretende fazer no Japão há muito que são abordados no seio da empresa. “Os trabalhadores disseram-nos que a empresa tem falado do assunto e de quanto dinheiro tem ganho. Se quer investir no Japão, isso está relacionado com o desenvolvimento da própria operadora e nós não temos o direito de interferir nisso. Mas em primeiro lugar devem estar garantidos os contributos para a sociedade, os trabalhadores devem ser bem tratados e só depois se devem utilizar os ganhos para esses investimentos. E não podem ser reduzidas as regalias dos trabalhadores em prol desses mesmos desenvolvimentos”, adiantou.

Além de exigirem o 14º salário, que já estará a ser pago pelas restantes operadoras de jogo, como já foi noticiado, os funcionários da Melco Crown pedem ainda que não se calcule apenas o salário base para os descontos que a concessionária faz para o fundo de previdência. Os manifestantes pediram ainda que a concessionária dê cumprimento às normas anti-fumo. “A empresa pode instalar salas de fumo e sugerir aos clientes para fumar nessas salas não é assim tão mau”, adiantou Cloee Chao.

As queixas incidiram também sobre a falta de actualização salarial numa categoria de trabalhadores. “Há um cargo de trabalho que se intitula HD. Os trabalhadores desta categoria estão na fase de estágio há mais de três anos e continuam a receber o salário equivalente ao de um croupier, mas também precisam de desempenhar funções de chefes fiscais. Isto não tem qualquer racionalidade.”

Nesse sentido, a dirigente associativa voltou a lançar uma fisgada reivindicativa a Lawrence Ho: “Se o responsável da Melco Crown diz que vai investir no exterior, porque é que reduz as regalias dos funcionários?”

Deputados apoiaram

O protesto teve como fio condutor apenas com a organização da associação liderada por Cloee Chao. Mas, a meio da tarde, o deputado José Pereira Coutinho resolveu fazer uma aparição e dar o seu apoio à iniciativa. O também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau voltou a chamar a atenção para a necessidade de se legislar sobre a lei sindical. “Estava a trabalhar no meu gabinete e de repente recebi muitos telefonemas do casino e tive de sair para vir cá e saber o que se estava a passar. O que os trabalhadores estão aqui a fazer é reclamar pois não estão a receber o que deviam receber tendo em conta os lucros que os casinos têm. Como todos nós sabemos os casinos ganham muito e eles pedem o 14º mês, e nem isso eles estão dispostos a pagar.”

Para Coutinho, “esta concentração de pessoas é o resultado da falta de uma lei sindical e de negociação colectiva, sobretudo este último. Este assunto deveria ser discutido com os representantes dos trabalhadores, o Governo e as concessionárias”. “Espero que o Governo saiba que é importante haver legislação sobre esta matéria para resolver estes assuntos”, acrescentou o deputado.

Outro membro da Assembleia Legislativa (AL) que esteve presente no protesto foi Au Kam San, que chegou já no final. “Estou triste e contente por testemunhar esta manifestação”, declarou aos jornalistas. Dirigindo-se aos trabalhadores, deixou algumas sugestões. “A vossa opinião já foi ouvida e, como todos sabem, a maioria dos deputados da AL são empresários e são poucos os que provêm de classes sociais mais baixas. Por isso, contamos com o esforço de todos para expressarem as suas opiniões. Vou expressar a minha voz na AL e espero que possa continuar a realizar actividades para que as empresas garantam os vossos direitos.”

Au Kam San não deixou de lembrar que, actualmente, o mercado do jogo está numa fase de mudança, por se aproximar o período da renovação das licenças das seis concessionárias. “Com o concurso público para a atribuição das licenças a aproximar-se, as operadoras estão sob stress. Espero que consigam obter resultados favoráveis com as vossas lutas neste período.”

O membro da AL também teceu algumas críticas relativamente à implementação da nova lei do tabagismo, que entrou em vigor em Janeiro depois de uma revisão. “No âmbito do controlo do tabagismo a situação é muito má e vou continuar a trabalhar sobre este assunto. A lei foi elaborada por nós mas se existirem problemas na sua execução temos essa responsabilidade enquanto deputados.”

Ai os lucros de 2017

Além dos investimentos que a Melco Crown quer realizar no Japão, Cloee Chao lembrou que as receitas do jogo têm vindo a registar valores muito positivos. “As receitas têm aumentado, o que significa que as operadoras estão a ganhar dinheiro, enquanto as nossas regalias continuam a diminuir. A Melco obteve, em 2017, lucros de milhares de milhões de patacas, mas ainda assim a empresa pediu aos trabalhadores para, em conjunto, ultrapassarem as dificuldades. A verdade é que mais um bónus pago pela Melco vale apenas 100 milhões de dólares para a empresa.”

Cloee Chao revelou ainda a existência de represálias ou críticas caso os funcionários demorem demasiado tempo na casa-de-banho e que estes são obrigados a distribuir quatro fichas de jogo em três segundos. “Isto pode prejudicar muito a saúde dos trabalhadores, sobretudo os croupiers. A maioria está com problemas físicos. Os trabalhadores não são robots e isso é um abuso”, acusou. Para Cloee Chao, se a Melco Crown tratasse bem os seus funcionários, “eles não teriam participado neste protesto num dia de tanto sol e calor”.

“Temos recebidos informações de que a empresa dá garrafas de água para serem usadas como cinzeiros e diz aos clientes que podem fumar na sala. Antes de cada acção de fiscalização, os chefes avisam-nos para retirarmos as garrafas de água”, revelou a activista.

2 Ago 2018

Seac Pai Van | Recolhidas mais de 7000 assinaturas contra armazém de substâncias perigosas

[dropcap style=’circle’] M [/dropcap] oradores da zona de Seac Pai Van rejeitam viver junto ao depósito e armazém provisório de substâncias perigosas. O plano, recentemente anunciado, motivou uma petição mas não estão descartadas outras acções.
Mais de 7000 pessoas assinaram uma petição contra a intenção do Governo de construir um depósito e armazém de substâncias perigosas junto à área residencial do Cotai. Um grupo de moradores de diferentes edifícios da zona, incluindo do complexo de habitação pública de Seac Pai Van, entregou ontem a carta na sede do Governo, numa iniciativa que contou com o apoio dos deputados Sulu Sou, Ng Kuok Cheong, Au Kam San e Pereira Coutinho.
“Opomo-nos fortemente à proposta do Governo de construir um armazém de substâncias perigosas tão perto da zona onde moramos”, afirmou a porta-voz do grupo, Edith Mak, aos jornalistas, relativizando as garantias de segurança dadas pelo Executivo.
O Governo seleccionou dois terrenos para a construção de um depósito e armazém de substâncias perigosas – um na Avenida Marginal Flor de Lótus e outro na Estrada do Dique Oeste –, cuja Planta de Condições Urbanísticas (PCU) foi aprovada, no dia 18, pelo Conselho de Planeamento Urbanístico (CPU). Segundo a petição, a casa mais próxima ficaria a menos de 200 metros das controversas instalações a erigir na zona do Parque Industrial da Concórdia.
“É totalmente inaceitável ter este tipo de instalação perto de áreas residenciais. Deixamos de ser uma zona remota”, afirmou a mesma responsável, refutando os argumentos das autoridades para a escolha do local. “Temos mais de 10 mil apartamentos e uma população que quase excede 38 mil habitantes [na área de Seac Pai Van]. Também há hotéis e é, inclusive, a zona onde vivem os pandas”, sustentou Edith Mak, recordando que estão projectadas mais instalações públicas para a zona, como escolas ou mesmo o hospital. “Como é que o Governo pode dizer que é o local certo?”, questionou.
“O Governo está a pôr as nossas vidas [e] as nossas propriedades em risco”, sustentou Edith Mak, que reside no complexo “One Oasis”, após a entrega da petição, posta a circular no dia 19. “Recolhemos 7426 assinaturas até às 10h [de ontem], mas continuamos com a petição ‘online’ aberta a todos os residentes que queiram manifestar-se contra o plano”, indicou.
“Estamos absolutamente confiantes de que é a localização errada para este tipo de instalação. Claro que, após a entrega da petição, gostaríamos de obter uma resposta satisfatória do Governo”, sublinhou, adiantando que ponderam avançar com “acções de outro nível” caso tal não aconteça.
“Vamos esperar pela resposta primeiro”, afirmou a porta-voz dos moradores, que se envolveu pela primeira vez numa iniciativa do género. A prioridade dos subscritores é que o depósito e armazém provisório de substâncias perigosas fiquem longe das zonas residenciais – seja no Cotai ou na Ilha Verde, enfatizou.
Edith Mak não tem uma alternativa concreta, mas o “consenso” é o do que o Governo deve utilizar os terrenos por desenvolver – que tem recuperado por falta de aproveitamento ou os dos novos aterros – para o efeito. “O Governo tem tantos sem planeamento [e] sem construção que pode usar”, realçou.
“É realmente um mau exemplo de planeamento urbanístico, de falta de visão prospectiva e de razoabilidade”, apontou Edith Mak, expressando “profunda desilusão” com o planeamento urbanístico de Macau.
Sulu Sou também marcou presença na entrega da petição. “Penso que o meu papel neste caso é ajudar a transmitir as opiniões [dos moradores] ao Governo”, afirmou o deputado, um dia depois do tema ter sido levantado pelos seus pares em intervenções antes da ordem do dia.
“Compreendo perfeitamente os sentimentos deles”, afirmou Sulu Sou, que considera que seria “muito importante” o Executivo ter ouvido os residentes da zona. “Penso que o Governo não deve olhar para este caso como único, [mas] planear a localização deste tipo de instalações para evitar o mesmo tipo de oposição ou conflito”, defendeu o deputado.

E que tal na Penha?
Pereira Coutinho, com familiares e amigos a morar na zona, também patrocinou a iniciativa. “Achei por bem dar apoio porque, em primeiro lugar, eles nunca foram consultados e, em segundo, [porque] o Governo foi pouco transparente na escolha do local”, explicou.
Questionado sobre um potencial lugar ideal para acolher o depósito e armazém de substâncias perigosas, Pereira Coutinho sugeriu a Penha, zona onde fica Santa Sancha e as residências dos titulares dos principais cargos. “Vive pouca gente, é erme. Seria um local para pensar. Vive pouca gente lá, tem muito espaço e é aberto”, ironizou.
Pereira Coutinho prometeu continuar a acompanhar o caso, garantindo que o tema “vai ser objecto de maiores atenções” por parte do seu gabinete. De momento, vai aguardar por um resposta do Governo à contestação dos moradores, não descartando a possibilidade de apresentar uma proposta de debate ou uma interpelação oral para que o assunto seja explicado pelos membros do Governo na Assembleia Legislativa. Outras acções, como um protesto, também não são cartas fora do baralho.
Wong Sio Chak referiu em comunicado que “cabe aos serviços de obras públicas explicar à população a opção do local”, mas adiantou que a construção de um armazém onde as substâncias perigosas se concentrem, “sob supervisão e gestão rigorosa, contribuirá para eliminar riscos de segurança”, ao contrário da situação actual, com este tipo de matérias “espalhadas pelo território”. O secretário para a Segurança disponibilizou-se ainda para esclarecer os “critérios de construção, equipamentos, formação de pessoal, procedimentos de supervisão e mecanismos de gestão” deste tipo de substâncias.

Chui Sai On diz aos serviços para explicarem melhor o projecto
O Chefe do Executivo, Chui Sai On, reagiu ontem à polémica, admitindo ser necessário reforçar a transparência e dissipar as dúvidas, incluindo explicar a razão pela qual foi escolhido aquele local, os tipos de substâncias perigosas que ali serão colocadas, armazenamento e operação de substâncias perigosas, bem como os procedimentos a seguir em caso de incidente, prometendo um tratamento apropriado. Chui Sai On, que falava à margem da inauguração do Centro de Saúde da Ilha Verde, afirmou ainda que o Governo está disponível para auscultar as opiniões face à preocupação social, de acordo com um comunicado oficial.

1 Ago 2018

Canídromo | Finalidade do terreno obriga Yat Yuen a hospedar cães em vivendas

O Governo ainda não autorizou a mudança de finalidade do terreno do Pac On onde será construído o centro internacional de realojamento dos galgos, o que obriga a Yat Yuen a colocar os animais em vivendas. Entretanto, a empresa ganhou mais dois meses para manter os galgos no terreno do Canídromo

 

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hegou ontem ao fim o prazo oficial de sete dias para a reclamação dos galgos do Canídromo após o seu abandono nas instalações do Fai Chi Kei. Tal obrigou a Companhia de Corridas de Galgos Yat Yuen a apresentar um novo plano e a pedir, ao abrigo da lei da protecção dos animais, o prolongamento do prazo de reclamação dos cães, uma vez que ainda não está concluído o processo de alteração da finalidade do terreno no Pac On, onde será construído o centro internacional de realojamento dos galgos, fruto de um acordo com a ANIMA.
O Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) autorizou a Yat Yuen a ter os galgos no espaço onde funcionou o Canídromo por mais 60 dias, até 29 de Setembro. Como o terreno no Pac On ainda não está disponível para acolher os animais, estes ficarão alojados em moradias.
“A Yat Yuen já tem disponíveis habitações suficientes, das quais a maior parte são vivendas ou moradias autónomas, que vão oferecer aos galgos um espaço de actividades. [A empresa] mandará tratadores para cuidarem dos galgos todos os dias, com organização de turnos durante 24 horas. A ANIMA também organizará voluntários a tratar dos galgos e a passear os mesmos todos os dias”, lê-se num comunicado ontem emitido pela empresa.
Nestes 60 dias, a Yat Yuen “vai submeter todos os galgos ao processo de vacinação e esterilização, sendo de seguida alojados nas habitações preparadas”. A empresa afirma que este plano visa “manifestar sinceridade e determinação em assumir a responsabilidade” para com os galgos. De frisar que, sem um novo plano, a Yat Yuen era obrigada a pagar multas por abandono de animais.

Plano é “viável”

O IACM garantiu ontem que o “plano de habitação residencial” apresentado pela empresa é “viável”. A alternativa provisória é um conjunto de 11 moradias privadas bem como “um estabelecimento para o alojamento dos galgos e a disponibilização dos funcionários e associações de protecção dos animais na prestação dos cuidados aos cães”.
No que diz respeito ao terreno do Pac On, onde se pretende colocar todos os galgos para posterior adopção, a Yat Yuen referiu que “encontra-se actualmente pendente a apreciação e aprovação por parte da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes”. Até ontem esta entidade ainda não tinha recebido qualquer pedido nesse sentido.
Ontem, à margem de uma cerimónia de inauguração, o Chefe do Executivo comentou, pela primeira vez, este assunto, tendo explicado que “quando o referido pedido chegar será tratado de acordo com os procedimentos estabelecidos”. Além disso, Chui Sai On deixou claro que o Governo tem acompanhado “de perto e com interesse toda a situação, esperando que se possa tratar da melhor maneira”. Um comunicado oficial acrescenta que o Executivo “tal como cuida dos seus cidadãos, também tem em consideração os animais”.

1 Ago 2018

AL | Sulu Sou acusa Ho Iat Seng de parcialidade e ataque político

Deputado pró-democrata acusa presidente da AL de ter alinhado com o discurso do campo tradicional e mostra-se desiludido com a actuação

 

[dropcap]S[/dropcap]ulu Sou acredita que Ho Iat Seng alinhou nos ataques contra a sua actuação na Assembleia Legislativa e que foi parcial na forma como conduziu a sessão do Plenário, na segunda-feira. O deputado pró-democrata admite que Ho conduziu a sessão de forma legal, mas refere que foram trazidos para a discussão assuntos que não estavam a ser debatidos.

Em causa estão os comentários do presidente da AL que deu uma lição a Sulu Sou sobre o respeito pelo trabalho dos colegas do hemiciclo e ainda quando referiu que o deputado continuou a receber o salário, apesar de estar suspenso.

Ontem, quando questionado se tinha sido alvo de um ataque político por parte do presidente da AL, o pró-democrata não teve dúvidas: “Sim, acho que foi isso que aconteceu. Eu tenho respeito pelo presidente Ho pelo que tem feito, mas ontem senti que não foi justo”, acusou.

“Ele trouxe para o debate muitas coisas que não estavam relacionadas com a discussão. Por exemplo, disse que me continuaram [AL] a pagar o salário, apesar de eu estar suspenso. Mas não era esse o assunto que estava a ser discutido”, acrescentou.

Por outro lado, o também membro da Associação Novo Macau negou ter faltado ao respeito do trabalho dos outros deputados, quando pediu para que o projecto de lei de reunião e manifestação regressasse à comissão para uma nova análise na especialidade.

“Estávamos a falar das regras da AL e da possibilidade de apresentar um requerimento oral. Só que ele quis falar sobre o respeito, que é uma coisa diferente. Ele devia ter controlado melhor as emoções, principalmente quando está perante situações que nunca teve de enfrentar”, acusou.

Jogadas de bastidores

A discussão da proposta de alteração à lei da reunião e manifestação foi aprovada na segunda-feira. Com as alterações aprovadas pelos votos dos deputados tradicionais, ao invés de apresentarem os pré-avisos de greve ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), os cidadãos passam a comunicar directamente com o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP).

Sulu Sou pretendia que os pedidos fossem feitos directamente a Chui Sai On. Como tal, fez um requerimento por escrito na manhã de segunda-feira. Só que à luz do artigo 126.º das regras do funcionamento da AL, esse requerimento devia ter sido apresentado com cinco dias de antecedência. Além do mais, a proposta carecia de autorização do Chefe do Executivo, que não foi pedida pelo deputado. Por esse motivo, por volta da hora do almoço, o deputado foi informado de que o requerimento não tinha sido aceite.

Porém, já na sessão da tarde, Sulu Sou adoptou uma estratégia diferente. Evocando o artigo 62.º do regimento da AL, que permite fazer requerimentos orais, pediu para que o texto fosse devolvido à comissão.
O requerimento foi muito contestado pelos deputados tradicionais, com vários legisladores, como Angela Leong, Ho Ion Sang, Leong Sun Iok ou Chan Wa Keong a dizerem que o pedido era uma falta de respeito.

Ho desiludiu Sulu

Após o coro de críticas das forças tradicionais, o presidente da AL recordou o pedido de manhã, disse ao deputado para definir claramente o que pretendia e apontou a Sulu Sou que lesse todos os artigos do regimento para saber as regras.

Apesar da conduta, Ho Iat Seng levou o requerimento oral de enviar o documento novamente para a comissão de análise a votação, com a maioria dos deputados a chumbarem a proposta de Sulu Sou.

“Ele tomou a decisão correcta [com a votação] mas devia ter mantido a discussão limitada ao que estava em causa. Só que sentiu que tinha de apoiar os seus colegas [tradicionais] e acabou por dizer coisas que não devia ter dito”, considerou o pró-democrata. “O presidente Ho Iat Seng tem sido justo no desempenho das funções, mas ontem cometeu um erro. Fiquei desiludido”, vincou.

1 Ago 2018

Diplomacia | China pede alterações aos nomes dos consulados de Macau e Hong Kong

[dropcap style=’circle’] C [/dropcap] onsulado-Geral de Portugal em Macau. Pode ser esta a denominação no futuro lugar de trabalho de Paulo Cunha Alves, caso o Governo de Lisboa aceite um pedido do congénere chinês. O pedido é extensível a todos os países representados em Macau e Hong Kong.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês pediu a todos os países com Consulados-Gerais em Macau e Hong Kong que procedam a alterações nos respectivos nomes. Segundo o pedido do Governo Central, no caso em dos consulados situados em Hong Kong, foi feito o pedido para que a menção a Macau seja removida. Nos casos dos consulados estão situados em Macau, é a denominação de Hong Kong que deve cair da nomenclatura.
O pedido do Governo Chinês foi confirmado, ao HM, pelo Gabinete da União Europeia para Hong Kong e Macau. “Confirmamos que houve este pedido. É uma alteração do nome para os consulados, que passam a assumir o nome do país a que pertencem e depois o nome da região onde estão localizados”, afirmou ao HM uma representante do Gabinete da União Europeia para Hong Kong e Macau.
“É um pedido processual, não quer dizer que os consulados percam as competências para lidar com os assuntos em Macau, no caso de estarem em Hong Kong e vice-versa. Este pedido é só isto”, acrescentou, admitindo que a mesma solicitação foi feita a vários países.
Contudo, as mudanças não vão afectar o Gabinete da União Europeia que, apesar de estar situado no Edifício St. John, em Hong Kong, vai manter a denominação.
“O nosso Gabinete não está incluindo na lista de países que receberam este tipo de pedido, por isso, não somos abrangidos”, clarificou a representante do gabinete.
Também não houve uma tomada de posição da União Europeia sobre se os países-membros devem aceitar o pedido.

O caso português
Em relação ao Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, as autoridades portuguesas também receberam um pedido, apurou o HM. A resposta está agora a ser equacionada pelo Governo, que tem como ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva. Segundo o HM apurou, a questão poderá ser ainda resolvida antes da chegada do novo cônsul, Paulo Cunha Alves, que deverá ocorrer nos finais de Setembro ou princípio de Outubro.
Caso a mudança seja aceite, o nome da unidade consular passará a ser Consulado-Geral de Portugal em Macau, uma mudança que é a primeira alteração do nome, desde 1999, após a transição.
O HM tentou contactar o Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong para obter uma reacção ao pedido, mas não recebeu qualquer resposta até à hora do fecho da edição.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês é a entidade responsável pela acreditação dos consulados estrangeiros nas regiões administrativas especiais.

1 Ago 2018

Lai Chi Vun | Governo toma posição e avança com classificação dos estaleiros

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] Instituto Cultural decidiu ir contra a opinião da maioria dos membros do Conselho do Património Cultural e vai mesmo avançar para a classificação e preservação dos estaleiros de Lai Chi Vun. O plano preliminar divide-se em cinco zonas, quatro de
preservação e uma de protecção, cuja área foi alargada face ao que já estava definido.

O lugar onde outrora se construíram juncos de madeira e que é um retrato vivo da indústria naval de Macau vai mesmo ser revitalizado e preservado. Depois de muita tinta corrida, mudanças de opinião, consultas públicas feitas, chega agora a evidência de que os estaleiros de Lai Chi Vun vão mesmo ser protegidos. O Instituto Cultural (IC) apresentou ontem um plano preliminar aos membros do Conselho do Património Cultural sobre o assunto.
A tomada de posição do IC vai contra as conclusões retiradas da última reunião deste Conselho, uma vez que mais de 80 por cento dos seus membros votaram contra a classificação dos estaleiros que materializam as recordações da industrial naval do território. Isto depois do Governo ter mostrado intenções de preservar o local e de se ter realizado uma consulta pública que também pediu o mesmo fim.
Até 15 de Dezembro, ou mesmo antes, o IC irá classificar quatro zonas dos estaleiros como “sítios”, termo que, de acordo com a lei de salvaguarda do património em vigor, é um lugar com “obras do homem ou obras conjugadas do homem e da natureza, notáveis pelo seu interesse cultural relevante, incluindo os locais de interesse arqueológico”.
A quinta zona será protegida, com uma área de protecção que agora é superior à proposta inicial e não pode ter edifícios com mais de 8,9 metros de altura, de acordo com uma circular interna que foi implementada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) em 2009.
Além dessa zona de protecção, o IC definiu mais quatro zonas classificadas como “sítio” que prevêem a preservação de estruturas, incluindo o ambiente marítimo envolvente. De acordo com o plano prévio ontem mostrado aos jornalistas, nestas quatro áreas serão preservadas a estrutura da antiga fábrica de calafete (que compreende três lotes de terreno), a “reestruturação e revitalização de acordo com as características dos estaleiros” e a “manutenção das características dos espaços abertos”. Quanto ao espaço marítimo envolvente, também deve ser preservado, sendo que quaisquer infra-estruturas que venham a ser erguidas devem respeitar este factor.
“As águas circundantes foram mencionadas na nossa consulta pública e exigimos que têm de ser mantidas as suas características. No futuro, se as instalações não prejudicarem as águas, vamos deixar que continuem”, explicou a vice-presidente do IC, Leong Wai Man.
Mantém-se também as intenções do Governo de transformar os antigos estaleiros numa zona cultural e turística. Porém, a construção de hotéis não é, para já, uma possibilidade.
“A instalação de hotéis não é um ponto que vamos propor, e focamo-nos na criação de museus para mostrar o fabrico de barcos de madeira e salas de exposições, ligado às indústrias criativas. Será um local mais orientado para o lazer”, frisou a vice-presidente do IC.
“Teremos de ver como vai ser feito, no futuro, o plano de revitalização, mas esse será um passo dado mais à frente. Estamos neste momento a seguir apenas o procedimento de classificação”, adiantou Leong Wai Man.
Mok Ian Ian, presidente do IC, explicou ainda que muitos dos membros do conselho do património cultural concordaram com esta preservação feita por zonas. “Em relação à restauração dividida por várias zonas, muitos dos membros concordaram com estas opiniões. No futuro, a conservação e revitalização desta zona vai ter em conta toda a zona dos estaleiros.”

Demolições sem certezas
Em Março do ano passado as autoridades realizaram a demolição de dois estaleiros, um processo que foi travado posteriormente. Com este novo plano preliminar, o IC não revela ainda uma posição oficial quanto à possibilidade de serem demolidas mais estruturas.
“O que temos proposto até agora é como podemos manter a parte dos estaleiros e a revitalização de outros estaleiros. De acordo com as condições que propomos, a concepção vai incluir arquitectos e engenheiros e depois de uma avaliação talvez possamos saber melhor como vai ser feita a revitalização. Vamos pensar melhor se, no futuro, há necessidade de demolição. Este é um projecto futuro e preliminar e não temos ainda qualquer certeza, só temos aqui os padrões que devem ser cumpridos”, explicou a vice-presidente do IC.
Ainda assim, a responsável frisou que “o ideal é que seja feita uma revitalização”. “Não temos ainda definido quais os estaleiros que vão ser demolidos, porque as atribuições do IC são apenas para o procedimento de classificação”, frisou Leong Wai Man.

Marreiros queria mais
Outro ponto que também mereceu a concordância dos membros do conselho foi o alargamento da zona de protecção. O arquitecto Carlos Marreiros, que pertence a este conselho, disse ao HM que, por ele, esta zona seria mais alargada.
“Penso que a área de protecção poderia ser ainda maior, poderíamos ser um pouco mais ambiciosos, embora o passo que foi dado já seja positivo e é um bom exemplo de respeito pela opinião pública.”
Para o arquitecto, que foi um dos quatro membros do conselho que defenderam a classificação dos estaleiros, esta decisão do IC “é a mais correcta”, tendo em conta tudo o que se fez até aqui.
“Além de terem sido contactados vários especialistas, fez-se uma consulta pública e esta revelou que 80 por cento votou pela classificação dos estaleiros e zona envolvente. Só me resta aplaudir esta tomada de posição do IC, porque claramente a classificação do sítio é importante para um novo desenvolvimento com reabilitação, integração paisagística e a musealização parcial.”
Carlos Marreiros lembrou que os estaleiros contam inclusivamente a história da ligação que Macau sempre teve, por mar, às restantes regiões do sul da China e até do sudeste asiático.
Pode, assim, ser feita a “introdução de elementos que aglutinem memórias colectivas, quer do sítio quer das actividades de construção naval que existiam naquela zona e as ligações ao sul da China e alguns países do sudeste asiático”, além de se “revisitar a memória desta cultura dos juncos, que foram importantes na história da orla marítima de Macau”.
O arquitecto acredita que a preservação dos estaleiros dá a Coloane o espaço museológico que as ilhas necessitam. “Será um atractivo para as ilhas e é também importante para que a população de Macau compreenda as suas raízes e para uma maior fixação identitária da população das ilhas. Há o museu das ilhas, mas a Taipa e Coloane precisam de mais estudos e museus, equipamentos culturais desta natureza”, rematou.

IC e a Rainha D. Leonor

Na reunião do Conselho do Património Cultural de ontem foi também discutido o assunto do edifício Rainha D. Leonor. Apesar de já ter sido emitida uma planta de condições urbanísticas para o projecto avançar, e de não ser certa, para já, a demolição do edifício de arquitectura modernista, o IC ainda está a analisar um relatório entregue pela Docomomo. Leong Wai Man acrescentou que ainda não há detalhes que possam ser revelados sobre esse processo.

Conselho do Património Cultural | Assuntos “privados” e portas fechadas

As primeiras reuniões do sempre foram abertas à imprensa, algo que deixou de acontecer nos últimos encontros. Confrontada ontem com esta questão, Leong Wai Man referiu que estão em causa “assuntos privados” que não podem ser discutidos publicamente.
“Nas reuniões temos de tratar de assuntos mais privados, pelo que não podemos deixar que a reunião seja aberta aos jornalistas. Depois fazemos sempre uma conferência de imprensa. Nestas reuniões, os assuntos privados talvez incluam proprietários a título individual e não podemos deixar que estas informações sejam divulgadas publicamente.”
Leong Wai Man nada disse, contudo, quanto à possibilidade de existirem conflitos de interesse, uma vez que alguns membros do Conselho que se mostraram contra a classificação poderiam ter interesses em construir na zona de Lai Chi Vun. “Até agora ainda não recebemos qualquer declaração de interesses. De cada vez que iniciamos reunião o nosso secretário fala da agenda desse dia e os membros têm o tempo suficiente para fazer a declaração de interesses”, adiantou a vice-presidente do IC.
Carlos Marreiros lembrou que apenas algumas reuniões foram abertas aos jornalistas e frisou que, até ao momento, não notou qualquer conflito de interesses. “Não tenho conhecimento de qualquer intromissão de interesses privados em questões do património, em particular no caso de Lai Chi Vun. Essa resposta só pode ser dada pelo Governo, mas que eu saiba nem todos os plenários foram públicos”, disse ao HM.

1 Ago 2018

Melco Crown | Associação do jogo em protesto pelos direitos dos trabalhadores

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]loee Chao, presidente da Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores do Jogo, anunciou ontem que vai realizar uma manifestação esta quarta-feira em protesto por mais regalias e melhores condições de trabalho dos funcionários da operadora de jogo Melco Crown.

A activista, que também trabalha como croupier, referiu que Lawrence Ho, presidente da concessionária, disse, num evento realizado no passado dia 24 de Julho, para os funcionários da Melco Crown ultrapassarem as dificuldades ao lado da empresa, não tendo sido anunciada qualquer atribuição de bónus salarial no Verão.

Na visão de Cloee Chao, a Melco teve lucros líquidos na ordem das 3,8 mil milhões de patacas o ano passado, além de ter registado receitas de 12 milhões de dólares no segundo trimestre deste ano. Neste sentido, a dirigente associativa considera inaceitável que a empresa ainda não tenha atribuído o bónus salarial quando as restantes cinco operadoras já anunciaram esse pagamento.

Além disso, os funcionários queixam-se de reduções nas regalias e condições de trabalho, motivos que os levaram a pedir a realização de uma manifestação para esta quarta-feira. O protesto começa no Cotai, perto do City of Dreams, às 16h, estando prevista a entrega de uma petição aos responsáveis pela operadora de jogo. Cloee Chao espera a participação de cerca de 600 pessoas, tendo em conta o número de encomendas que já foi feito para os materiais do protesto.

31 Jul 2018

Canídromo | IACM recebeu carta de compromisso da Yat Yuen

Chega hoje ao fim o prazo de sete dias para a reclamação dos mais de 500 galgos que continuam nas instalações anteriormente ocupadas pelo Canídromo. O Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais recebeu a carta de compromisso da Yat Yuen e diz que ainda está a analisar os planos submetidos

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]pesar da Sociedade Protectora dos Animais de Macau – ANIMA e a Companhia de Corridas de Galgos Yat Yuen terem chegado a acordo quanto à forma de prestar cuidados aos mais de 500 galgos que permanecem por adoptar, a verdade é que, em termos legais, o processo ainda não está concluído.

Hoje chega ao fim o prazo de sete dias de que a empresa dispõe para reclamar os animais depois do seu abandono no Canídromo. Numa resposta enviada pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) ao HM, é referido que há ainda detalhes que precisam de ser acertados.

“O IACM ainda está avaliar uma proposta que foi submetida pela Yat Yuen, não existindo, até ao momento, uma decisão final”, pode ler-se. Ontem, à margem do debate na Assembleia Legislativa, José Tavares, presidente do IACM, explicou aos jornalistas que a Yat Yuen enviou ontem uma carta de compromisso sobre o futuro dos animais. A entidade pública vai ainda ponderar o alargamento do prazo de reclamação dos galgos por dois meses.

O responsável disse que a viabilidade do plano da Yat Yuen ainda está a ser avaliada de acordo com a lei da protecção dos animais, tendo acrescentado que a equipa da empresa tem uma compreensão diferente das leis. José Tavares frisou que essa mesma equipa deve dialogar também com a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), tendo em conta o terreno no Pac On onde os animais deverão ser realojados.

O presidente do IACM considerou também “lamentável” o facto da empresa ter apresentado os seus planos no último dia do prazo concedido pelo Governo, tendo dito que são necessários todos os esforços para que se encontre uma solução em conjunto. Para Tavares, é melhor resolver o caso agora ao invés de se recorrer aos tribunais.

IACM não sabia

Para que o acordo entre a ANIMA e a Yat Yuen surta efeitos práticos, é preciso que a finalidade do terreno do Pac On seja alterada junto da DSSOPT, uma vez que o terreno foi concessionado para fins industriais. Até ontem a DSSOPT ainda não tinha recebido qualquer pedido para esta alteração.

José Tavares adiantou que o IACM desconhecia esta questão e frisou que, caso o novo centro internacional dos galgos não possa ser construído no Pac On, a Yat Yuen não poderá ganhar os 60 dias, além dos sete que a lei prevê, para reclamar os animais.

Caso este prolongamento do prazo seja aprovado e, ainda assim, os cães não tenham uma nova casa, a Yat Yuen terá de apresentar um novo plano ao IACM. Se não o fizer a empresa terá de pagar multas por abandono dos galgos, algo que está previsto na lei da protecção dos animais.

31 Jul 2018

Autocarros | Contratos das operadoras renovados por 15 meses

O Governo vai renovar por 15 meses os contratos com as companhias de autocarros. A partir de amanhã, Macau fica a contar apenas com duas em vez de três operadoras, a Transmac e a TCM, após a fusão desta com a Nova Era

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s contratos com as operadoras de autocarros vão ser renovados por 15 meses. O anúncio foi feito ontem pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) que justifica a renovação de curto prazo com o facto de precisar mais tempo para análise. “Tendo em conta a necessidade de uma maior e aprofundada discussão dos pormenores dos novos contratos com as companhias de autocarros públicos, os contratos relativos ao Serviço Público de Transportes Colectivos Rodoviários de Passageiros, celebrados entre o Governo da RAEM e as três companhias de autocarros”, que terminam hoje, “serão renovados a curto prazo, por 15 meses, tempo que permite ao Governo uma maior e mais detalhada discussão”, indicou a DSAT em comunicado.

A nota da DSAT foi divulgada após a publicação de uma ordem executiva que delega poderes no secretário para os Transportes e Obras Públicas para representar a RAEM, na qualidade de outorgante, na revisão das escrituras públicas dos contratos relativos ao Serviço Público de Transportes Colectivos Rodoviários de Passageiros. A revisão das escrituras públicas dos referidos contratos será publicada em breve no Boletim Oficial, referiu o organismo.

Dois em três

Devido à fusão, aprovada pelo Governo, entre a Sociedade de Transportes Colectivos de Macau (TCM) e a Macau Nova Era de Autocarros Públicos, a renovação, com entrada em vigor amanhã, envolve apenas a Transmac – Transportes Urbanos de Macau e a TCM.

Com a fusão, a TCM e a Nova Era, que têm como sócia maioritária o grupo estatal Nam Kwong, preparam-se para concentrar mais de 60 por cento das carreiras. A directora-geral da TCM, Leong Mei Leng, indicou recentemente que, após a fusão, o nome e a cor da TCM vão ser utilizados, progressivamente, nos autocarros da Nova Era. Leong Mei Leong garantiu ainda que a fusão não vai ter consequências para os trabalhadores nem nas rotas dos autocarros.

31 Jul 2018

AL | Instituto para os Assuntos Municipais aprovado com críticas de democratas

Os órgãos municipais foram aprovados na Assembleia Legislativa, mas a sessão acabou em ambiente de tensão. Sulu Sou abandonou o hemiciclo, depois de ter gritado por eleições durante a declaração de voto e Ng Kuok Cheong acusou o Governo de ter medo da população

 

[dropcap style≠’circle’]“M[/dropcap]embros do Órgão Municipal eleitos pelos cidadãos!”. O grito foi do deputado Sulu Sou, momentos antes de abandonar a Assembleia Legislativa, após a lei que cria o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM). A lei que estabelece o novo organismo público foi ontem a votos na AL e foi aprovada com 27 a votos a favor. José Pereira Coutinho, Sulu Sou, Ng Kuok Cheong e Au Kam San votaram contra. No artigo sobre a constituição dos órgãos consultivos, também Agnes Lam se opôs, por considerar que o mecanismo para que as pessoas se pudessem propor para serem nomeados pelo Chefe do Executivo devia ser igualmente constar no diploma.

A lei aprovada adopta a visão do Governo Central que considera que se houver eleições para o IAM, a lealdade dos membros deixa de estar com o Governo e a incumbência das tarefas delegadas pelo Executivo fica comprometida. Assim sendo, nem para a constituição dos órgãos consultivos, que não têm poderes vinculativos e apenas emitem pareceres, foi criada a possibilidade de haver eleições por sufrágio directo.

“A realização de eleições para os serviços municipais altera a relação entre o Governo e o IAM. Isso viola a Lei Básica. Esta não são palavras nossas, são do vice-director do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau”, justificou Sónia Chan. “Estamos a trabalhar para melhorar a eficiência e os serviços e poder resolver os problemas da população. As eleições não são a única via para ouvir a população. Há outros mecanismos”, acrescentou.

Sem convencer

Contudo, tanto a secretária como a sua equipa não convenceram os pró-democratas. José Tavares, presidente do IACM, ainda garantiu que os actuais Conselhos Consultivos, cujos membros são nomeados pelo Chefe do Executivo, fazem um trabalho árduo, mas os deputados começaram a apontar exemplos em que as vozes dos residentes não foram ouvidas. O crematório e o depósito de substâncias perigosas, na Taipa, foram alguns dos exemplos dados.

“Com o artigo da constituição do Conselho Consultivo, como é que garantem que as diferentes camadas sociais são representadas? E quem é que vai ser representado? Com o crematório já perguntaram qual foi a razão de tanto descontentamento? E com o depósito de substâncias perigosas?”, perguntou José Pereira Coutinho, a Sónia Chan. O deputado ligado à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau deu ainda o exemplo de Sulu Sou, que considerou ser voz de uma parte da população que não tem representação junto do Executivo.

“Deixando de lado a questão da democracia, é muito lamentável que a lei não resolva os problemas de representação. E só estou a falar por uma questão justiça e de representação das diferentes vozes”, atirou.

Por sua vez também Agnes Lam mostrou-se contra o artigo do Conselho Consultivo. A deputada queria que o mecanismo para proposta de nomeação de residentes pelo Chefe do Executivo estivesse na legislação.

“Se o mecanismo não está na lei, eu tenho reservas. Não estou contra a secretaria nem contra o Governo, mas no passado houve situações em que o Governo não cumpriu as promessas”, indicou.

Declaração aos gritos

No final, a lei acabou aprovada sem alterações. Sulu Sou fez uma declaração de voto aos gritos, que também era em nome de José Pereira Coutinho, pediu desculpa aos defensores da democracia e criticou os colegas eleitos por sufrágio directo de impedirem mais eleições. O mais jovem deputado acabou mesmo por abandonar a sessão antes do fim.

Por sua vez, Ng Kuok Cheong recusou a justificação do Governo Central e da RAEM que rotulou como “burocracia”. “Têm medo de responder perante os residentes e a sociedade. Mas o Governo deve assumir as suas responsabilidades perante a população”, vincou. “Sabemos muito bem que o Executivo não quer ser fiscalizado pela população”, frisou.

Com esta lei, o Instituto para os Assuntos Municipais substitui o actual Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais no início do próximo ano.

 

Ip Sio Kai furioso

Durante a discussão dos órgãos municipais, Sulu Sou falou dos 400 anos de Administração Portuguesa e afirmou que houve momentos de maior democracia na eleição dos órgãos municipais do que com a nova lei. As afirmações perturbaram Ip Sio Kai, que pediu prontamente para intervir: “Estou mesmo furioso com as palavras de Sulu Sou. Começou por falar da história de 400 anos e de democracia. Falou da história de Macau e da ocupação pelos portugueses. Mas não consigo aceitar que se fale de democracia”, afirmou o legislador. “Não consigo aceitar que se fale de democracia, pode envidar todos os esforços para alcançar os seus objectivos, mas não deve ser desta maneira”, completou. Também o Vong Hin Fai acusou Sulu Sou de desconhecimento do período da Administração portuguesa.

31 Jul 2018

Manifestação | Deputados aprovam aumento de poderes do CPSP

Os deputados aprovaram as alterações à lei de Reunião e Manifestação que dita que os avisos passem a ser enviados directamente ao Corpo de Polícia de Segurança Pública. A proposta foi contestada pelo campo pró-democrata e acabou com uma “bronca” de Ho Iat Seng a Sulu Sou

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s pré-avisos de manifestação passam a ser enviados para o comandante do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), ao invés do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), após a Assembleia Legislativa ter aprovado as alterações à lei com quatro votos contra, de José Pereira Coutinho, Sulu Sou, Ng Kuok Cheong e Au Kam San.

No entanto, a votação da lei ficou marcada por um requerimento de Sulu Sou, apresentado na manhã de ontem, que levou o presidente Ho Iat Seng a considerar que o pró-democrata queria adiar a votação da lei. No entanto, já durante a sessão, foi explicado que Sulu Sou pretendia apenas alterar o artigo e que as competências deveriam passar antes para o Chefe do Executivo, em vez do CPSP.

Perante o coro de críticas de todo o campo tradicional, Ho Iat Seng interveio e pediu a Sulu Sou para ler todos os artigos do Regimento da Assembleia Legislativa, ou seja, o documento que define as regras do hemiciclo.

“Apresentou uma transferência de poderes do IACM para o Chefe do Executivo. Mas para fazer esta proposta tem de ter o consentimento do Chefe do Executivo. Peço-lhe que leia todo o regimento e não apenas um artigo”, acusou Ho Iat Seng.

“À hora do almoço tinha apresentado outro despacho diferente, mas sem conteúdo. O que pretende afinal? Não há conteúdo, por isso pensei que queria adiar a votação e foi isso que foi apresentado porque respeito os seus direitos, tal como respeito os direitos de todos os deputados”, acrescentou.

Na mesma intervenção e num tom e raramente utilizado, Ho Iat Seng sublinhou mesmo que os direitos de Sulu Sou foram respeitados integralmente, ao ponto de lhe ter sido pago o salário, mesmo quando estava suspenso.

A proposta do deputado de adiamento da votação para uma data posterior acabaria chumbada, com várias críticas dos outros deputados. Apenas Coutinho, Ng e Au apoiaram o projecto de Sulu Sou.

Interpretações diferentes

Em relação à passagem de transferência de competências do IACM para o CPSP no que diz respeito ao pré-aviso de greves, os deputados que votaram contra as alterações admitiram ter receio que a força de segurança sob a tutela de Wong Sio Chak tenha uma interpretação mais restrita da lei.

“Não concordo com as alterações porque, à primeira vista, pode parecer que é uma simples transferência do destinatário do pré-aviso. Mas com o CPSP a tratar do pedidos de manifestações, em vez do IACM, há um ponto de partida diferente e a lei pode ser interpretada de uma forma diferente”, defendeu Au Kam San.

O deputado contestou ainda a versão de Sónia Chan, secretária para a Administração e Justiça, que explicou que se as manifestações forem rejeitadas, as pessoas podem recorrer ao Tribunal de Última Instância.

“Se sempre que for agendada uma manifestação for necessário ir para o TUI, vai haver uma grande sobrecarga, vai haver muito trabalho e isso não me parece razoável”, vincou Au Kam San.

Mesmo assim, Sónia Chan descansou os deputados: “Não sei porque estão com esta preocupação toda. Há decisões do TUI e um leque de aplicações da lei em situações do passado. Tudo vai ser mantido e não há alterações substanciais”, considerou a secretária.

31 Jul 2018

Justiça | Co-arguidos com Chefe do Executivo podem perder direito a recurso

A revisão da proposta de lei de bases da organização judiciária coloca a possibilidade dos co-arguidos dos processos em que o Chefe do Executivo seja também arguido percam o direito a recurso, uma vez que todos os casos serão encaminhados para o Tribunal de Última Instância. Tal proposta viola a Lei Básica, acusam deputados

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s deputados da 3ª comissão permanente da Assembleia Legislativa (AL) querem questionar o Governo sobre uma proposta que está em cima da mesa relativa à revisão da lei de bases da organização judiciária. Em causa está a possibilidade dos co-arguidos de casos em que o Chefe do Executivo também seja arguido percam a possibilidade de recorrer da sentença proferida, uma vez que todos os processos serão directamente encaminhados para o Tribunal de Última Instância (TUI).

De acordo com a lei de bases da organização judiciária em vigor, os co-arguidos deste tipo de casos podem recorrer porque são julgados no Tribunal Judicial de Base (TJB) ou Tribunal de Segunda Instância (TSI), tal como aconteceu nos casos conexos dos processos do ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Long, e o ex-procurador do Ministério Público, Ho Chio Meng, sendo que estes foram julgados no TUI. De frisar que a actual proposta de lei prevê que os titulares dos principais cargos, tal como os secretários, sejam julgados no TSI, ganhando direito ao recurso até então negado com a actual lei.

A ideia foi avançada ontem pelo deputado Vong Hin Fai, que preside à 3ª comissão permanente. “De acordo com a proposta de lei, todos os arguidos do mesmo caso em que um titular de cargo principal ou o Chefe do Executivo sejam arguidos, serão julgados também no mesmo tribunal. Alguns membros da comissão manifestaram-se preocupados com o facto dos arguidos, que não o Chefe do Executivo, serem julgados pelo TUI sem qualquer possibilidade de recurso. Contudo, outros membros da comissão concordaram com essa alteração”, explicou.

Esta questão está dependente da revisão de um artigo do Código do Processo Penal, algo que ainda será analisado numa posterior reunião com os membros do Executivo. Vong Hin Fai não conseguiu, por isso, responder quanto à possibilidade de existirem casos excepcionais. “Vamos dar conhecimento das opiniões da comissão ao Governo”, referiu apenas.

Pareceres desaparecidos

Um dos deputados da 3ª comissão permanente que está contra esta intenção do Governo é José Pereira Coutinho. “A situação é mais grave porque, no caso abstracto de haver cúmplices ou crime organizado todos os arguidos deixam de poder recorrer, o que viola várias normas da Lei Básica”, frisou ao HM.

Coutinho vai mais longe e alerta para o facto do Governo ainda não ter mostrado à comissão os pareceres do Conselho de Magistrados do Ministério Público (MP) e do Conselho dos Magistrados Judiciais. “A comissão continua a analisar, artigo a artigo, sem esquecer o atraso do Governo no envio dos pareceres. Urge saber, com prioridade, o que pensam os magistrados sobre estas alterações que mexem com o estatuto dos magistrados (delegados coordenadores) e demais legislação conexa, nomeadamente os regulamentos administrativos”, frisou.

Outro dos pontos discutidos na reunião de ontem foi a criação de uma figura nova dentro do Ministério Público (MP): o delegado coordenador. Os deputados mostraram dúvidas sobre a hierarquia desta nova posição. “Quisemos saber se esse delegado é uma categoria acima do delegado do procurador ou procurador-adjunto. Na proposta de lei não vemos a posição hierárquica, só vemos que cabe ao delegado coordenador coordenar os trabalhos do procurador do MP.

31 Jul 2018

AL | Deputados questionam relações privilegiadas no âmbito do caso Viva Macau

O empréstimo, aparentemente irrecuperável, concedido à Viva Macau levou ontem os deputados Sulu Sou e Pereira Coutinho a questionarem as relações privilegiadas do caso. O primeiro falou de um “caos” deixado pelo ex-Chefe do Executivo, Edmund Ho, enquanto o segundo acusou o Governo de encobrir o escândalo

 

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] “um caos deixado pelo Governo de Edmund Ho”. Foi assim que Sulu Sou descreveu ontem o caso da Viva Macau durante uma intervenção antes da ordem do dia na Assembleia Legislativa (AL). Para o deputado, “tudo demonstra” que os empréstimos concedidos à companhia aérea, que totalizaram 212 milhões de patacas, foram “feitos à medida pelo então Governo”, sendo “inevitável” que a relação de parentesco entre o então Chefe do Executivo e o administrador executivo da empresa [Kevin Ho, sobrinho de Edmund Ho) seja questionada”. Não só a entidade tutelar do Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização (FDIC) é o Chefe do Executivo, que “tem o poder de autorizar a conta gerência e os planos de gestão financeira”, como o FDIC “só pode autorizar quantias inferiores a 500 mil” patacas, pelo que o empréstimo de 212 milhões, concedido em cinco tranches entre 2008 e 2009, “teve de ser autorizado pelo então Chefe do Executivo”, salientou o deputado pró-democrata.

Sulu Sou também não compreende os motivos que levaram o Governo a conceder esses empréstimos à companhia aérea. Isto porque, como argumentou, foram “projectos e acções de investimento” em sectores com capacidade para contribuírem “para a promoção do desenvolvimento económico da RAEM” que serviram de fundamento à decisão. “Como é que a Viva, que na altura estava com dificuldades financeiras, conseguiu satisfazer tal requisito?”, questionou, qualificando-o de “muito vago”.

“A Viva foi a única empresa a quem o FDIC concedeu empréstimos de avultado montante e que os obteve com apenas alguns títulos de reconhecimento de dívidas sem provisão”, frisou o jovem deputado, recordando que a avalista da Viva Macau, a Eagle Airways, é uma empresa de Hong Kong, e que mais de metade dos seus sócios são empresas ‘offshore’ sediadas em paraísos fiscais. Algo que torna “extremamente difícil a recuperação do dinheiro” em caso de problemas.

Os argumentos do Executivo de que o objectivo foi ajudar o sector da aviação civil em dificuldades devido à crise financeira internacional, em linha com o que fizeram a China e a Suíça, também não convenceram o deputado: “Os outros países podiam atribuir apoios de centenas de milhões sem avaliar a capacidade financeira das empresas e sem quaisquer hipotecas ou garantias concretas de reembolso? Isto é incrível!”

Apesar de ter sido legada pelo Governo anterior, “os novos dirigentes não podem ignorar esta dívida antiga”, sustentou Sulu Sou, para quem avançar com melhorias no regime do FDIC é “importante”, mas “não pode ser uma desculpa para fugir ao apuramento da verdade e à imputação de responsabilidades”.

Para o deputado, “as autoridades devem, pelo menos, satisfazer o direito de informação do público e colocar, o quanto antes, em cima da mesa, todos os relatórios e documentos relacionados com o processo”, de modo a apurar-se “quem deve assumir responsabilidades administrativas, legais e políticas”.

Encobrir o escândalo

Pereira Coutinho também voltou a debruçar-se sobre o caso, pedindo que sejam apuradas responsabilidades. “Em que sociedade estamos a viver em que quem tem poderes públicos pode governar com impunidade porque é intocável?”, questionou o deputado, na sua intervenção antes da ordem do dia.

A pergunta seguiu-se a outra: “Por que [razão] há em Macau “uns que têm tratamento especial e podem usar do erário público os 212 milhões de patacas por terem relações privilegiadas com altos membros do Governo e podem continuar a fingir que nada têm que ver com o assunto? O elevado valor envolvido do erário público obrigaria um Governo responsável e prudente a apurar os fortes indícios e responsabilidades criminais e disciplinares”, defendeu. Contudo, “como de costume, o Governo optou por encobrir o escândalo, tentando enganar a sociedade, defendendo que um dia os 212 milhões seriam recuperados”, contrapôs.

Assinalando que “os principais responsáveis envolvidos na autorização do empréstimo já se aposentaram ou não se encontram em funções”, o deputado apontou que este “truque” de “protelar o apuramento de responsabilidades tem sido muitas vezes utilizado”. “Ou seja, o mais importante é abafar ou pôr debaixo do tapete os escândalos enquanto têm poder executivo nas suas mãos”, realçou.

“Será minimamente razoável que um escândalo de tamanha dimensão tenha demorado mais de dez anos para virem agora dizer à sociedade que não há mais nada a fazer na recuperação dos 212 milhões?”, indagou ainda Pereira Coutinho para quem o caso da Viva Macau “é um dos muitos e muitos outros escândalos relacionados com o uso indevido do erário público sem controlo externo e independente”.

“Registo escandaloso”

A Viva Macau também foi o ponto de partida para a intervenção de Ho Ion Sang que pegou na “falta de rigor” do empréstimo para criticar o “registo escandaloso” do Governo no que toca ao bom uso dos dinheiros públicos. “O caso Viva Macau despertou outra vez a elevada atenção da sociedade sobre o bom uso do erário público. De facto, neste aspecto, o Governo tem um registo escandaloso e tem sido criticado pelo despesismo”, afirmou o deputado dos Kaifong (União Geral das Associações dos Moradores de Macau), para quem o facto de o caso ter sido remetido para o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) vai “contribuir para dissipar muitas dúvidas”.

“A população acusa o Governo, podre de dinheiro, de ser gastador, de desperdiçar o dinheiro público em troca de serviços desnecessários e para resolver questões controversas”, apontou o deputado, elencando casos que, a seu ver, sustentam essa percepção. Os exemplos vão desde as despesas da organização dos Jogos da Ásia Oriental, em 2005, que ascenderam a 1.300 milhões, excedendo em 80 por cento o orçamento inicial de 700 milhões; ao Terminal Marítimo do Pac On, cujo orçamento aumento 6,5 vezes de 580 milhões para 3.800 milhões. Incluem ainda o ‘campus’ da Universidade de Macau na Ilha da Montanha, que custou 10.200 milhões, ou seja, mais 4.400 milhões do que o previsto.

O litígio entre a TV Cabo e os ‘anteneiros’, em 2013, em que o Governo pagou à empresa 3,8 milhões de patacas de uma vez e 980 mil, mensalmente, a título de manutenção até ao fim do contrato, em Abril de 2014, também entrou nas contas de Ho Ion Sang que enfatizou que na altura “a sociedade acusou o Governo de deitar fora 12 milhões do erário público para resolver a controvérsia”.

Sempre a somar

A fechar, o deputado dos Kaifong apontou os holofotes ao Metro Ligeiro, recordando que devido ao conflito entre o Governo e o antigo empreiteiro do parque de materiais, as obras estiveram suspensas durante muito tempo, até que as partes acabaram por rescindir o contrato. Isto para enfatizar que tal fez não só com que o parque de materiais não ficasse concluído em 2016 – como previsto – como obrigou o Governo a pagar 85 milhões ao empreiteiro como indemnização. Uma verba a somar às despesas de 700 milhões de patacas com o armazenamento, manutenção e seguros das carruagens. “Assim, o orçamento da primeira fase do Metro Ligeiro vai disparar, de 4.200 milhões de 2007, para 16.400 milhões, podendo mesmo continuar a subir, pois ainda não estão incluídos os custos da linha de Macau. Nem me atrevo a imaginar o montante final que o Governo vai gastar”, observou.

Afinal, como lembrou, o Governo perdeu recentemente um recurso no Tribunal de Última Instância (TUI) que determinou que tinha de proceder a um novo cálculo da pontuação final das empresas concorrentes no concurso público para a superestrutura do parque de materiais, o que “contribui para a incerteza da inauguração da linha da Taipa, projectada para o próximo ano”.

“A sociedade receia que surjam avultadas despesas devido ao atraso das obras do parque, e que o Governo volte a resolver a perda do concurso com o dinheiro público”, advertiu.

“O Governo não pode ter uma atitude de que ‘tudo o que dinheiro pode resolver já não é problema’ e permitir que se repita continuamente o fenómeno de ser ‘o erário público a pagar a conta’”, criticou Ho Ion Sang. O deputado instou ainda o Executivo a melhorar a gestão e fiscalização das finanças públicas, a utilizar adequadamente o erário público e a deixar de desperdiçá-lo.

31 Jul 2018

Lionel Leong remeteu caso Viva Macau para o CCAC

Uma reunião de deputados sobre os empréstimos alegadamente irrecuperáveis da Viva Macau, ocorrida a semana passada, levou o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, a enviar o caso para o Comissariado contra a Corrupção para mais investigações. Sulu Sou pede acesso a documentos oficiais

 

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Comissariado contra a Corrupção (CCAC) vai investigar a concessão de empréstimos pelo Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização (FDIC) à transportadora aérea Viva Macau, que faliu em 2010.

O comissário contra a corrupção, André Cheong, determinou “a instrução de um processo de investigação relativo ao caso da concessão de empréstimos à Viva Macau por parte do FDIC”, de acordo com um comunicado oficial divulgado na sexta-feira.

O caso remonta a 2010, quando em Março desse ano a transportadora deixou de operar depois de as autoridades terem anulado a licença por dívidas e cancelamento de voos. Em Novembro desse ano, o Executivo de Macau avançou com uma acção judicial contra a companhia aérea para recuperar um empréstimo de 212 milhões de patacas. O empréstimo à Viva Macau, uma ‘low cost’ de longo curso que operava desde 2006, foi concedido pelo FDIC devido às dificuldades financeiras alegadas pela companhia.

A decisão de reencaminhar o caso da Viva Macau para o CCAC foi tomada pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, depois de ouvida, esta semana, a Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas da Assembleia Legislativa, que “sugeriu ao Executivo uma revisão dos procedimentos” de concessão de créditos, indicou um outro comunicado.

“Segundo o secretário, depois de auscultadas as opiniões dos deputados da Comissão, o Conselho de Administração do FDIC decidiu remeter os respectivos processos para investigação pelo CCAC, no sentido de se apurar se houve transferência de bens ou se a declaração de falência envolveu má-fé”, acrescentou.

Lionel Leong reiterou que o Governo “insiste na recuperação da verba da dívida da Viva Macau por via do processo civil”. Também o conselho de administração do FDIC emitiu um comunicado sobre este assunto, onde se refere que, tendo em conta as opiniões da comissão de acompanhamento da Assembleia Legislativa e a “preocupação da sociedade”, ficou decidido “rever novamente este caso, incluindo o processo de apreciação e aprovação e o subsequente processo de recuperação, também tendo em consideração a imparcialidade e a justiça”.

 

Mais interpelações

Na semana passada, o Tribunal Judicial de Base (TJB) divulgou, em comunicado, o arquivamento do processo de falência por os bens da Viva Macau serem insuficientes para pagar as dívidas e decidiu não “haver necessidade de continuar a venda de acções detidas pela sua avalista”, a Eagle Airways Holdings Limited de Hong Kong.

Apesar do arquivamento só ter sido tornado público a semana passada, há muito que alguns deputados do hemiciclo têm vindo a chamar atenção para o caso. Em 2013 o deputado José Pereira Coutinho enviou duas interpelações escritas ao Governo, onde chamava a atenção para o “negligente empréstimo”.

Ontem o deputado disse ao HM considerar “estranho” que o caso seja agora remetido para o CCAC. “Acho estranho que só agora, dez anos depois da concessão do empréstimo, o FDIC se tenha lembrado de enviar o caso para o CCAC. Estou curioso em saber se o FIDC encontrou provas de crime ou fortes indícios depois da reunião de comissão”, defendeu.

Os deputados ligados à Associação Novo Macau sempre deram atenção a este assunto, e ontem Ng Kuok Cheong voltou a interpelar o Governo por escrito, questionando porque é que o anterior secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, garantiu sempre que a Viva Macau tinha hipotecas suficientes para o empréstimo que tinha sido atribuído. Além disso, o deputado quer saber se o Governo considera ou não fundamental que haja uma responsabilização.

Já Sulu Sou quer saber se serão divulgados os documentos sobre o empréstimo de 212 milhões de patacas, para que se apurem responsabilidades sobre o caso, questionando também as antigas declarações de Francis Tam.

 

30 Jul 2018

Acordo entre ANIMA e Yat Yuen cria centro pioneiro para realojamento de cães

[dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]ão apresentou nenhum plano viável para os animais dentro dos prazos estabelecidos e deixou 533 galgos no Canídromo, ao cuidado do Governo. No entanto, a Companhia de Corridas de Galgos Yat Yuen vai agora construir um centro de realojamento de galgos e criar uma associação para o efeito. A gestão vai ficar a cargo da ANIMA, pelo menos nos próximos dois anos, de modo a garantir a conclusão dos processos de adopção. O IACM mostrou-se favorável ao projecto

“Não há centro nenhum no mundo igual a este” afirmou o presidente da Sociedade Protectora dos Animais de Macau – ANIMA, Albano Martins, após a apresentação, na passada sexta-feira, do acordo com a Companhia de Corridas de Galgos Macau (Yat Yuen), de que Angela Leong é directora-executiva.

Na calha está a criação de uma associação responsável por um projecto pioneiro: o Centro Internacional de Realojamento de Galgos, que vai ficar na zona do Pac On, num “prédio que nunca foi utilizado”. “Está novinho em folha, e é uma maravilha. Acho que faria quatro ou cinco ANIMAS lá dentro, é um monstro”, apontou Albano Martins.

A gestão ficará a cargo da associação, pelo menos nos próximos dois anos, de modo a garantir o processo de adopção dos 533 animais que vão para já ficar ali alojados. Depois, diz Albano Martins, será altura para dar lugar aos jovens.

Angela Leong admitiu a responsabilidade da Yat Yuen pelos galgos, uma semana depois de referir que os cães deveriam ser responsabilidade e propriedade do Governo. “Nós somos responsáveis pelos cuidados dos galgos até ao fim da vida deles”, disse a directora executiva da empresa, pelo que “todas as despesas serão da nossa responsabilidade”, prometeu a também deputada. Estas despesas vão incluir também os custos com as esterilizações e cuidados de saúde dos animais.

 

Instalações de luxo

O novo centro vai custar mensalmente entre 13 e 15 milhões de patacas, sem incluir despesas com o arrendamento e gestão. O novo centro dos galgos é um edifício privado e vai ter uma renda mensal “que custa uma nota preta”, cerca de 800 mil dólares de Hong Kong por mês, adiantou Albano Martins.

O centro compreende duas áreas, uma coberta e outra ao ar livre. Vai ainda ter uma zona que permite o convívio com os visitantes. Foram pensados os sistemas de ventilação “e vai ter ar condicionado” avançou.

Nada é deixado ao acaso. As boxes são individuais, com um tamanho que está de acordo com as normas internacionais e que permitem que os cães não estejam sempre sozinhos, uma vez que um dos lados serão amovíveis, “para permitir o convívio entre um máximo de três cães”. “São animais que se dão bem entre eles e isto é muito bom”, disse Albano Martins com satisfação. As boxes individuais foram desenhadas pela filha de Angela Leong, Sabrina Ho, e “são muito bonitas e muito animal friendly”, acrescentou.

 

Fumo branco

Os desentendimentos entre as duas entidades, Yat Yuen e ANIMA, são públicos e antigos. No entanto, estando em causa o futuro de tantos animais, e dada a abertura a um compromisso de ambas as partes, “o futuro apresenta-se muito positivo e esta é uma oportunidade de Macau mostrar que é uma cidade exemplar neste sentido a nível mundial”, apontou o responsável pela ANIMA.

“Ao longo destes anos, estivemos de costas voltadas, mas o passado é passado e agora vamos para o futuro”, acrescentou Albano Martins.

“O passado já passou, agora temos de pensar no futuro destes 533 galgos”, acrescentou Angela Leong, sublinhando a importância de demonstrar “amor pelos animais”.

As demoras na apresentação de um plano para os cães são “simples de explicar”: “precisávamos de mais tempo para podermos ter um bom plano e foi isso que fizemos e estamos a fazer agora”, disse Leong.

 

Vida nova

De acordo com Albano Martins, o Centro Internacional de Realojamento de Galgos pode entrar em funcionamento partir do próximo dia 1 de Agosto, sendo que os serviços vão, para já, ser assegurados pelos funcionários da Yat Yuen no espaço do Canídromo, enquanto não forem concluídas as obras de adaptação das instalações na Taipa, o que poderá levar um máximo de dois meses.

Também aqui a supervisão fica a cargo da ANIMA, que tem liberdade de reclamar junto da Yat Yuen caso não concorde com a forma de tratamento dos animais. “Pediram-nos [a Yat Yuen] se era possível a ANIMA, que vai ficar responsável pela gestão do pessoal, considerar a absorção daquele pessoal, e nós dissemos que sim. E o que foi combinado é que o pessoal vai começar a trabalhar e nós vamos verificar quem é bom, ou quem não é bom”, refere Albano Martins. A partir daí a decisão final caberá ao grupo, mas “a ANIMA tem carta branca para encontrar os melhores trabalhadores”, acrescentou ainda.

Entretanto, o funcionamento e manutenção do Canídromo, bem como o tratamento dos animais, têm sido assegurados por trabalhadores do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) e pelas centenas de voluntários que aderiram ao plano de emergência, oriundos de dez associações de protecção animal.

 

Adopções em curso

A ANIMA vai também coordenar os processos de adopção de forma voluntária e gratuita. Para que os interessados que não residam em Macau possam suportar as despesas de quarentena, o novo centro pode acolher os cães durante um período, sendo que o custo será de 1500 patacas mensais por cada adoptante.

A necessidade de pagamento das estadias está relacionada com a necessidade de obrigar os interessados a terem responsabilidades desde o primeiro momento. “Esta é uma forma de responsabilizar aqueles que querem adoptar um cão”, apontou Albano Martins.

Também a cargo dos adoptantes ficam as viagens internacionais, sendo que a ANIMA está a negociar com várias companhias aéreas de modo a garantir um preço mais acessível, sendo que já existem duas companhias disponíveis para transportar os animais gratuitamente.

O IACM já se mostrou favorável ao novo plano e apela ao cumprimento rigoroso das regras do Governo. No capítulo da adopção internacional os pedidos têm chegado da Austrália, França, Taiwan, Hong Kong e Reino Unido.

Em 2016 o Governo deu dois anos à empresa que ocupava o terreno do Canídromo para mudar de localização e melhorar as condições dos cães usados nas corridas ou encerrar a pista, cujas receitas se encontram em queda há vários anos.

A 12 de Julho, o IACM já tinha exigido à Yat Yuen a entrega imediata de um plano concreto para realojamento dos galgos, depois de a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos ter recusado prolongar o contrato de exploração do Canídromo, que há 50 anos operava em Macau.

30 Jul 2018

População une-se em solidariedade no tratamento dos galgos

A passagem do Hato já tinha mostrado algo que a crise dos galgos voltou a realçar. Quando é necessário, a população de Macau une-se e actua. A prova viva é a onda de solidariedade que juntou centenas de voluntários aos funcionários do IACM no tratamento dos galgos que no passado recente correram na pista do Canídromo

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] dia começa às nove da manhã. Funcionários do Instituto para os Assunto Cívicos e Municipais (IACM) e voluntários entram nas instalações que há pouco tempo eram o palco das corridas de galgos, para tratar dos 533 animais que ainda ali se encontram.
Uns dirigem-se às vassouras, baldes e mangueiras. Os voluntários, que recebem o cartão de identificação, reúnem-se para serem divididos em grupos. À espera estão mais de 500 galgos. Entre as missões por cumprir conta-se a limpeza das jaulas, passear os cães, dar-lhes refeições mas, acima de tudo distribuir carinhos. “Hoje foi o meu primeiro dia e fui seguindo os passos dos outros”, começou por contar Rita Machado, na semana passada, ao HM.
Cumpridas as formalidades matinais e uma vez inserida num dos grupos, Rita Machado e os colegas de boa vontade foram para o canil nº8.
Existem, neste momento, oito canis naquele espaço, cada um com capacidade para 80 animais.
É aqui que começa verdadeiramente o trabalho. Para que seja dado espaço ao pessoal da limpeza de cada compartimento individual, com cerca de um metro quadrado e onde têm vivido os campeões das pistas de corridas, os voluntários pegam nos animais e levam-nos a passear à volta dos canis. “Vamos recebendo os animais em cada canil e damos uma volta, seja com um, dois ou três ao mesmo tempo”. Enquanto isso os restantes animais aguardam pela sua vez, tentando escapar ao calor. Uns mais encostados à parede de trás da sua jaula onde ainda há alguma sombra, outros, de língua de fora a tentar poupar o corpo a qualquer movimento que nem a temperatura, nem a falta de ventilação ajudam.
Depois de passeados, é hora de beber e de comer e, acima de tudo, de dar afecto. “Creio que hoje passeei dez cães. Depois muda-se a água em cada uma das boxes e a seguir alimentam-se”, explica Rita Machado. “E ainda sobra tempo, no final, para conviver e a dar mimos aos animais”, acrescenta.

Uma questão de prioridades

Para ajudar na causa a também arquitecta teve que fazer uma mudança de agenda e de rotina. Se antes começava às nove da manhã no atelier, agora começa ao meio dia e termina mais tarde, pela noite dentro. Não há problema, garante, até porque “se vivemos em comunidade temos que nos preocupar com o próximo e por isso faz todo o sentido partilhar o nosso tempo e reajustar as nossas agendas para responder ao apelo das associações e do Governo”.
Para Rita Machado, ser voluntária neste projecto foi a forma que encontrou para manifestar o seu “apoio e solidariedade”.
Já Yoko não precisou de ajustar agendas. Reformada, de naturalidade japonesa, optou por encher o seu tempo, enquanto necessário, com a dedicação total a esta causa. Passa agora os dias no Canídromo por ser uma questão “que diz respeito a todos”.
A rotina é idêntica à de Rita Machado, mas repete-se ao longo do dia, no período da manhã e da tarde. Além das actividades que marcam o dia destas pessoas, Yoko destaca também a oportunidade de estar não só com os animais, mas com os colegas. “O ambiente é muito bom, estamos todos pela mesma razão e contentes por poder contribuir, enquanto for necessário, para o bem-estar destes animais.”

Domingo fora do sofá

Apenas com os fins-de semana livres, não é por passar os dias rodeada de animais que a veterinária Paula Reais deixa de prestar a sua colaboração voluntária àqueles que ainda estão no Canídromo. O convite veio de Fátima Galvão, responsável pela associação de protecção dos animais Masdaw e Paula Reais não conseguiu recusar. Por isso, “alterei um pouco a monotonia dos meus rotineiros domingos. Desta vez, experimentei um pouco de exercício fugindo da expectável preguiça domingueira, mas em nada comparado com o exercício que estes verdadeiros corredores fizeram durante anos”.
Afinal estas acções podem, apesar de pontuais e simples, ajudar na vida destes animais, considera.
No domingo, dia 22 lá estava na porta do Canídromo, às três da tarde, à chuva. “Perdi a conta ao número de animais que nessa tarde passeei”, refere sem esconder contentamento.
Apesar de estar inserida numa acção de emergência para garantir os cuidados de tantos animais, a veterinária ressalva a boa organização e dinâmica. “Devo ressaltar que nesta dança de galgos e pessoas, me pareceu que estava tudo relativamente organizado, quer pelo pessoal de limpeza que se ocupava de limpar a urina e as fezes, quer pelos trabalhadores que preparavam os animais para o passeio e os disponham nas respectivas jaulas logo”.
Paula Reais ficou no canil número 1 onde alimentou os animais e teve contacto directo com as “condições em que vivem”. De uma forma muito espontânea surgiram os gestos de carinho, “que em todo o momento foram mútuos, porque são animais muito dóceis”, aponta.
Para a veterinária este é uma acto civil e cabe a todos dar contributo. “Sinto que é um singelo contributo enquanto cidadã deste território que se vê abraços com esta questão. Na minha opinião, não será exclusivamente política, mas antes uma obrigação conjunta das autoridades responsáveis assim como da sociedade civil”.

Afectos protegidos

A calma e necessidade de afecto destes cães contrasta com os esforços excessivos das corridas e das más condições em que têm habitado, que resultaram em feridas e problemas de pele visíveis em muitos deles.
Agora, em processo de cura das feridas denunciadas pelo corpo de muitos, e depois de lançados vários apelos no início da semana passada, foram em média 65 por dia, aqueles que se disponibilizaram a ir tratar dos galgos do Canídromo. A estes juntam-se os voluntários que responderam a pedidos da ANIMA e de outras associações de protecção animal do território. “São números impressionantes e comoventes”, aponta Fátima Galvão, responsável pela Masdaw.
Mais uma vez, ajudar não separa, e as nacionalidades e residências podem deixar de fazer sentido tratando-se de uma causa maior. “Há voluntários que vêm de Hong Kong especificamente para ajudar no Canídromo. Há malaios, húngaros, tailandeses, filipinos e mesmo japoneses. Todas as comunidades em uníssono emprestando força e acima muita ternura à causa de proteger os galgos e assegurar o seu bem-estar. Deveria ser sempre assim”, remata.
No passado dia 21, o IACM activou um plano de emergência para cuidar dos 533 galgos que ficaram no Canídromo, depois da Companhia de Corridas de Galgos – Yat Yuen não ter apresentado um plano viável para os animais que estavam na sua posse. A Yat Yuen, entretanto, reclamou os cães e apresentou, com a Sociedade Protectora dos Animais¬- – ANIMA – um plano que envolve a criação de um centro internacional de ajuda a estes animais. Tudo indica que a partir de 1 de Agosto, a ANIMA assume a responsabilidade de gestão deste centro. Quanto aos funcionários, para já serão os antigos trabalhadores do Canídromo, supervisionados pelos responsáveis da ANIMA. A Yat Yuen pediu mais 60 dias ao Governo, para que os galgos fiquem naquelas instalações. O tempo necessário para concluir a adaptação do edifício do Pac On, de modo a que possa receber este mais de meio milhar de cães.

30 Jul 2018

Três vistas sobre uma rua

[dropcap style≠‘circle’]U[/dropcap]ma rua absorve o espaço todo de uma cidade. Implode-o em si. A rua vai dar a outras ruas e outras ruas vão dar a ela. Pode fazer-se a pé o caminho que leva a ela ou a partir dela se vai a outras ruas, mesmo contra o sentido da marcha dos automóveis. A rua, onde vivemos, é um cenário que acaba nos seus extremos, nas ruas à esquerda e à direita de que só adivinhamos a existência, mas não temos em percepção. Há prédios de gente que o habita. Há jovens casais e velhos. Há o sapateiro, a mercearia, casas de pasto. Há paragens de autocarro, casas de habitação e agências de viagem, agências bancárias, casas de moda. Carros passam e pessoas caminham pelos passeios: avós e netos, pais e filhos, irmãos e irmãs. Uma rua é um ecossistema complexo. Demora tempo a habitar uma rua. Pode ser a “personalidade” orgânica, onde uma criança brinca com outras crianças desde sempre: joga à bola, corridas de carros nas bermas do passeio. Pode ser a rua, calcorreada a passo lento de quem é decrépito e tem a vida toda vivida e espera pacientemente pelo último suspiro. Todas as ruas são este ecossistema para quem vive nelas. Mas há também as ruas, onde ficam os sítios em que trabalhamos ou o liceu ou o ginásio. Há as ruas onde vivem os nossos amigos que são também por direito próprio as ruas dos outros. Cada rua, excepto a nossa, é a rua dos outros. Podemos até vir a viver nas ruas dos outros, próximos dos outros e das suas ruas. A rua onde vivemos vai ficando esbatida. O seu sentido permanece. O seu significado fica sempre algures a fazer-se sentir. O que se esfuma são os rostos de quem por lá passou. Nem nos apercebemos de que são agora adultos, quando há quarenta anos eram crianças. O parque automóvel mudou. As fachadas dos prédios foram pintadas com cores diferentes. Os velhos morreram. O sapateiro fechou. Não há mercearias, nem agências de viagem, nem agências bancárias. Há prédios novos no lugar de prédios velhos. É uma outra rua.

Mas há tantas ruas, também, quantas as pessoas que as habitam. Num prédio de quatro andares, por exemplo, e quatro apartamentos habitados, há uma multidão de gente. A rua das pessoas do segundo andar esquerdo é diferente da rua das pessoas do segundo andar direito. O que se passa nas suas casas é inacessível, mesmo quando ouvimos falar do que acontece a cada família: um filho que adoece e um pai que morre. Mas, mesmo no habitual habitável, quando tudo é normal, as ruas são influenciadas pelas casas, porque as pessoas habitam uma rua, vivem numa rua, existem nela! Não estão lá postas nem para lá são atiradas, para serem referenciadas por coordenadas. É outra a maneira de ser numa rua. A rua toda entra por olhos adentro. Há os sons omnipresentes dos elétricos que passam, sem nós os vermos. Há o ruído dos carros a passarem na Ponte Sobre o Tejo. Há cães que ladram à noite. Há o som que se silencia ao entardecer, quando as pessoas chegam a casa e preparam o jantar. Há os sons das crianças que gritam de chegar a casa e estarem no serão à espera do sono dos anjos.

E a mesma rua pode ser completamente diferente. Uma rua que é a nossa referência na cidade tem épocas. É uma rua onde podem viver pessoas que nunca se conheceram e um dia percebem que a viveram em dias diferentes da semana. A rua pode ser habitada ao fim de semana sem poder conhecer ninguém que lá viva aos dias de semana. A rua é a da infância, da juventude estridente, dos primeiros anos do envelhecimento dos avós. A rua é diferente, quando nos chega uma notícia boa e quando nos chega uma notícia má. A rua é diferente na solidão do solitário e quando é partilhada na geografia e na biografia de duas pessoas que se encontram. A rua é diferente, quando é habitada e quando é só preenchida pela vida azul da melancolia solitária. A rua congelada no tempo, em que nada acontece, é diferente da rua que se funde e derrete, num dia solarengo de Verão, quando se espera a chegada de alguém, apenas por servir de chegada a alguém por quem faz sentido esperar.

27 Jul 2018

Galgos | Yat Yuen apresenta plano de transferência de cães para o Pac On

A Yat Yuen apresentou um pedido de reclamação dos 533 galgos que deixou no Canídromo, mas desta vez acompanhado de um plano concreto para os animais. A empresa propõe a instalação dos cães num edifício no Pac On e a colaboração com as associações de protecção animal nos processos de adopção. Entretanto, ANIMA e Yat Yuen chegaram a um acordo de cooperação que vai ser apresentado hoje

 

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Companhia de Corridas de Galgos de Macau apresentou ontem um pedido de reclamação dos 533 cães que se encontram no espaço do Canídromo juntamente com uma proposta concreta de deslocação dos animais para o Pac On, revelou ontem o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM).

De acordo com o comunicado do IACM, os galgos serão realojados num edifício desocupado de um terreno privado. A Yat Yuen, que apresenta pela primeira vez um plano concreto para o futuro dos mais de 500 cães, assegura ainda que “irá cooperar com as associações de protecção dos animais nos cuidados aos galgos e na coordenação dos trabalhos posteriores de adoptação”, aponta o IACM.

De modo a ter tempo para realizar obras no edifício que irá receber os galgos do Canídromo e para “o tornar um local apropriado para alojamento” dos animais, a Yat Yuen solicitou ao IACM a prorrogação do prazo de reclamação dos cães por mais 60 dias e comprometeu-se a ir buscar todos os animais até à conclusão das obras no novo alojamento do Pac On. A viabilidade da proposta será avaliada pelo IACM, de acordo com comunicado emitido pela entidade municipal.

Além disso, a Yat Yuen assume a totalidade das despesas resultantes dos cuidados temporários dos cães. “Todas as despesas resultantes de cuidados temporários estão a cargo da Yat Yuen”, aponta o referido comunicado.

A iniciativa tem o parecer positivo do Governo apesar de estar ainda em avaliação. “O IACM vê com agrado que a Yat Yuen está disposta a assumir a devida responsabilidade de dona, nos termos da “Lei de Protecção dos Animais”, refere.

Recorde-se que, de acordo com a Lei de Protecção dos Animais, em caso de não reclamação dos galgos, a Yat Yuen seria acusada de abandono de 533 cães e incorreria no pagamento de uma multa superior a 50 milhões de patacas.

Acordo feliz

Entretanto, esta tarde vai decorrer uma conferência de imprensa em que a Sociedade Protectora dos Animais, ANIMA, e a Yat Yuen vão fornecer detalhes que integram o acordo a que chegaram as duas entidades. ANIMA e Yat Yuen, entidades que têm andado de costas voltadas, firmaram uma cooperação para garantir o futuro dos animais.

Dada a disponibilidade já mostrada por parte do presidente da ANIMA para avançar com a coordenação do processo de adopção dos animais de forma voluntária, este acordo poderá compreender o mesmo compromisso agora negociado com a Yat Yuen. No entanto, contactado pelo HM, o presidente da ANIMA, Albano Martins não avança com qualquer confirmação e adianta apenas que “será tudo explicado na conferência de imprensa e que é um bom acordo para os animais”.

O IACM activou um plano de emergência desde o passado dia 21 com a duração de 10 dias. Entre funcionários da entidade pública e voluntários angariados através das diversas associações de protecção de animais, conseguiu-se juntar as 40 pessoas necessárias para manter diariamente o espaço e cuidar dos animais.

27 Jul 2018