Segunda bienal de arte feminina com “mais participação da sociedade civil”

[dropcap]A[/dropcap] bienal internacional de mulheres artistas de Macau é hoje inaugurada, “na véspera da celebração da Lua”, uma segunda edição com mais participação da sociedade civil, disse ontem à Lusa um dos organizadores.

Em 2018, a primeira edição da bienal foi inaugurada no Dia Internacional da Mulher, em 8 de Março, mas este ano a epidemia de covid-19 levou ao adiamento da abertura da segunda edição para 30 de Setembro, para coincidir com a festividade chinesa do bolo lunar.

Uma coincidência feliz, disse à Lusa o presidente da comissão organizadora, Carlos Marreiros, recordando que o “solstício da lua [é] também um elemento feminino, na véspera da celebração da Lua”. A mostra inclui pintura, escultura, cerâmica, instalações, desenho, serigrafia em diversos suportes, vídeo e fotografia.

Esta edição, sublinhou, tem “muito mais [participação] da sociedade civil”, já que quatro instituições privadas vão albergar a bienal internacional: Albergue da Santa Casa da Misericórdia, Antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino, Galeria Lisboa e Fundação Oriente.

O tema escolhido é “Natura”, para dar valor “à contribuição das mulheres na defesa dos valores fundamentais”, na conservação da natureza e também “na natureza mais íntima de todos nós”, explicou.

Cinco curadores asseguram a bienal deste ano: além de Carlos Marreiros, também Leonor Veiga, em Lisboa, Alice Kok e James Chu, de Macau, e Angela Li, da China continental. A pandemia da covid-19 dificultou o trabalho, mas “hoje, com as tecnologias, é possível fazer à distância” a organização das curadorias, explicou, acrescentando que neste momento os cinco curadores já se encontram em Macau e apenas Leonor Veiga se encontra em quarentena obrigatória de 14 dias.

Estética caseira

Esta segunda edição vai contar com 143 obras criadas por 98 mulheres artistas de 22 países. Há muitos “artistas de Macau”, segundo Carlos Marreiros. Macau (31), China continental (13) e Portugal (16) são os mais representados, seguindo-se Hong Kong (7), Coreia do Sul (2), Japão, (1), Indonésia (3), França (3), Espanha (1), Itália (3), Países Baixos (1), Reino Unido (1), Alemanha (3), Suécia (1), Bélgica (1), Brasil (3), Estados Unidos (2), Canadá ( 1), Índia (2), Timor-Leste (1), Irão (1) e Austrália (1).

Até dia 13 de Dezembro, último dia da bienal, estão programados vários seminários e ‘workshops’ com transmissões via Facebook.

29 Set 2020

Pintura Arte Lusófona no Clube Militar a partir de amanhã 

A exposição de Pintura Lusófona regressa amanhã ao Clube Militar, onde poderá ser vista até 2 de Novembro. Ao todo, são nove os artistas oriundos dos países de língua portuguesa que vão expor 27 obras originais. A mostra, que não tem tema, obrigou a curadoria a partir em busca de “alguma harmonia”

 

[dropcap]“É[/dropcap] uma mostra diversificada que nos obrigou a um esforço complementar para tentar que, no conjunto, pareça uma salada bem composta e não um ajuntamento de obras”. É desta forma que José Duarte, curador da exposição de Pintura Lusófona que arranca amanhã no Clube Militar de Macau, descreve o facto de não existir um tema subjacente ao evento.

Como em anos anteriores, o objectivo passa celebrar as relações com os países Lusófonos através da mostra do trabalho de artistas plásticos contemporâneos de cada um dos países de língua portuguesa, ou seja, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor e ainda de Macau. No total, vão estar expostos entre 30 de Setembro a 2 de Novembro, 27 trabalhos originais, três de cada um dos nove artistas convidados.

“A exposição não tem um tema comum para além da Lusofonia e, por isso, procurámos que fosse uma exposição diversificada, que mostre diferentes abordagens, sensibilidade e técnicas. É uma mostra da diversidade das artes plásticas no mundo Lusófono, em que os curadores procuraram, como é natural, que nessa diversidade haja, apesar de tudo, alguma harmonia”, explicou José Duarte ao HM.

Apesar dos constrangimentos provocados pela pandemia terem levado a organização a “repetir artistas” de anos anteriores “dadas as dificuldades de comunicação”, o curador sublinha que existem vários pontos de interesse na edição deste ano, tendo destacado o artista angolano Cristiano Mangovo, que nunca expôs em Macau, e o artista local Vitor Marreiros. “O Cristiano Mangovo, de Angola é provavelmente a maior novidade. É um artista em ascensão que nunca expôs em Macau e cuja obra é para acompanhar. O Vitor Marreiros, é um conhecido artista e designer local que tem um estilo muito característico e algumas das suas obras têm características mais impressionistas na forma de pintar, ou até abstractas”, partilhou o curador.

Para além dos dois artistas, a exposição de Pintura Lusófona vai ainda acolher os trabalhos originais de Jayr Peny (Brasil), Tutu Sousa (Cabo Verde), Sidney Cerqueira (Guiné-Bissau), Suzy Bila (Moçambique), Fernando Direito (Portugal), Eva Tomé (São Tomé e Príncipe) e Dulce Martins (Timor-Leste).

Desafios e incertezas

Depois da exposição prevista para Junho, também ela integrada no ciclo “Pontes de Encontro” do Clube Militar e dedicada à pintura portuguesa, ter sido cancelada, a organização da Pintura Lusófona “confrontou-se com muitas dificuldades” e custos adicionais resultantes das restrições de comunicação e transportes, impostas pela covid-19.

“Uma exposição deste tipo envolve, da nossa parte, contactos com os artistas e os seus atelier. Tudo isso foi limitado e executado por teletrabalho. Os custos de transportes foram elevadíssimos para garantir que as obras estavam cá em tempo útil”, partilhou José Duarte.

Quanto ao número de visitantes esperados, o curador assume estar preparado para a ideia de haver “alguma perda em relação ao que é normal”, embora o impacto da Semana Dourara continue a ser “uma grande incógnita”.

“Existe muita incerteza quanto aos fluxos turísticos da cidade, cujas visitas são uma componente importante do público das exposições do Clube Militar”, acrescentou.

A exposição estará patente no Clube Militar de Macau entre 30 de Setembro e 2 de Novembro, entre as 12h00 e as 19h00.

29 Set 2020

Instituto Cultural de Macau cancela Desfile Internacional em Dezembro

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural de Macau anunciou ter cancelado o Desfile Internacional, previsto para Dezembro próximo, por ser um evento inadequado “para as actuais medidas de prevenção de epidemias”.

“Após uma avaliação cuidadosa e consideração global”, o Instituto Cultural (IC) decidiu cancelar a edição anual do desfile internacional, no qual participam grupos locais e internacionais, num total de 1.800 participantes”, indicou na segunda-feira à noite, em comunicado.

“Devido ao impacto da pandemia” da covid-19, “não foi possível a parte dos artistas deslocarem-se a Macau para participar no evento”, e por outro lado, “tendo em conta o grande número de pessoas, a alta densidade das multidões, de muitos residentes e turistas que acompanham o evento ao longo do percurso e a estreita interação envolvida nas actuações, o formato do desfile não é adequado para as medidas atuais de prevenção de epidemias”, explicou.

Assim, em celebração do 21.º aniversário da transferência da administração de Macau de Portugal para a China, em 20 de dezembro, a Orquestra Chinesa de Macau vai realizar o concerto “Ouve a Voz dos Chineses”, em frente das Ruínas de S. Paulo e várias atuações culturais e artísticas serão realizadas em diferentes locais, acrescentou o IC.

29 Set 2020

Festival de Luz arranca com promessa de colorir quatro roteiros de Macau

[dropcap]A[/dropcap] sexta edição do Festival de Luz de Macau arrancou oficialmente no sábado com um espectáculo pioneiro na Praça do Tap Seac e promete emprestar cor e claridade às noites de Macau até ao próximo dia 31 de Outubro, através de quatro roteiros temáticos e espectáculos de videomapping.

Com o tema “Carnaval de Luz” como pano de fundo, o evento deste ano está divido em quatro roteiros que, através de instalações luminosas, espectáculos, workshops e jogos interactivos, pretendem ligar 12 locais da cidade. Sob as temáticas “Circo”, “Túnel do Tempo”, “Reino dos Doces” e “Caixa de Música Luminosa” será possível apreciar o ambiente iluminado nas Freguesias da Sé, de Nossa Senhora Fátima e de São Francisco Xavier (Coloane).

Além disso, a edição deste ano conta com espectáculos de vídeo mapping em cinco zonas, tendo sido acrescentadas novas exibições em pontos como a Praça do Tap Seac, as fachadas da Companhia de Produtos da China, no Largo do Pagode do Bazar, na Biblioteca Infantil de Wong Ieng Kuan e no Jardim da Areia Preta. Além destas, mantêm-se as exibições nos pontos jé existentes no ano passado, ou seja, nas fachadas do Canídromo e da Cozinha Pinocchio, estabelecimento situado em frente ao Largo dos Bombeiros na Vila da Taipa.

Sobre o espectáculo do Tac Seac, a Direcção dos Serviços de Turismo (DST) dá nota para o facto de os quatro edifícios patrimoniais da praça, o Edifício do Instituto Cultural, o Centro de Saúde do Tap Seac, a Biblioteca Central de Macau e o Arquivo de Macau, serem “transformados num enorme pano de fundo para projecção, usando a luz como pincel para mostrar a utilização e interpretação das cores em obras de diferentes estilos artísticos”.

Rampa de lançamento

Na cerimónia de arranque do Festival da Luz, o director substituto da DST, Ricky Hoi vincou a importância do evento para o “novo começo” de Macau após os desafios que o sector do turismo tem vindo a enfrentar ao longo do ano, devido à pandemia.

“O Festival de Luz de Macau 2020 enquanto primeiro acto da série de eventos que se segue, em sintonia com as actividades promocionais de grande evergadura da Semana de Macau em Pequim, que acabaram de arrancar na capital, assinalam que Macau está preparada para voltar a acolher visitantes”, referiu o responsável, segundo um comunicado divulgado ontem pela DST.

O Festival de Luz de Macau, acontece entre 26 de Setembro e 31 de Outubro, das 19h00 às 22h00, sendo que o último espectáculo de vídeo mapping tem início às 21h50.

27 Set 2020

Nostalgia Macau | Brinquedos e jogos tradicionais em exposição do IAM

Deixar os telemóveis de lado e aprender com os passatempos e brinquedos dos mais velhos. É este o objectivo do evento que reúne jogos e uma exposição organizada pelo IAM que pode ser vista entre 9 de Outubro e 22 de Novembro

 

[dropcap]C[/dropcap]hama-se Nostalgia Macau e é a aposta do Instituto Municipal de Macau (IAM) para mostrar aos mais novos que houve uma altura em que os brinquedos e os passatempos nem sempre passavam pelos telemóveis. Constituído por uma exposição de brinquedos e ainda tendas com jogos antigos, o evento vai decorrer entre 9 de Outubro e 22 de Novembro e foi apresentado na passada sexta-feira.

“Com o avanço tecnológico estamos cada vez mais presos aos telemóveis e é raro haver tempo sem estarmos a olhar para ecrãs, por isso queremos que as crianças façam outras actividades. Queremos que os mais novos também saibam como eram os passatempos dos seus avós”, afirmou o chefe de Divisão de Assuntos Culturais, Recreativos e Associativos do IAM, Au Chan Wang, na apresentação da actividade.

“Através da exposição e de jogos, em que as crianças podem participar, queremos que a população aprenda outras partes da história, e vejam como as gerações mais velhas ocupavam os tempos livres. Queremos que haja uma grande participação da população”, acrescentou.

O Nostalgia Macau vai dividir-se em duas iniciativas. A primeira é uma exposição com brinquedos antigos situada nas instalações do IAM, organizada em colaboração com a Associação dos Coleccionadores de Antiguidades de Macau. A cerimónia de abertura está agendada para as 18h de 9 de Outubro e vai estar disponível para ser vista até 22 de Novembro entre as 9h e as 21h.

“Vamos mostrar brinquedos que foram construídos entre o início do século passado e a década de oitenta. Algumas das peças já têm quase mais de 100 anos e estamos a falar daquela que é capaz de ser a maior exposição de brinquedos antigos em Macau”, apontou Au sobre a mostra que tem mais de 300 brinquedos, como aviões, bonecas, armas, conjuntos de xadrez, entre outros.

Jogos tradicionais

Quanto às tendas com jogos tradicionais, vão funcionar no formato de feira em vários locais da cidade. A primeira paragem é na Praça do Tap Seac, a 10 e 11 de Outubro, e a segunda no Fai Chi Kei, na zona de Lazer do Edifico Lok Yeong Fa Yuen, no fim-de-semana de 17 e 18 de Outubro. De seguida, os jogos mudam-se para as ilhas, e vão ficar entre 24 e 25 de Outubro no Jardim da Cidade das Flores e no fim-de-semana de 31 de Outubro e 1 de Novembro no Edifício Ip Heng, em Seac Pai Van. A feira chega ao fim nos dias 7 e 8 de Novembro, no Jardim do Mercado do Iao Hon.

A feira de jogos tradicionais é organizada em conjunto com a Associação de Actividades Lúdicas de Macau e inclui jogos como saltar à corda, o lançamento de aviões de papel, corridas de sacos, entre outros. “Vamos ter tendas com mais de 20 modalidades na iniciativa com tendas, que vai passar por cinco pontos de Macau”, indicou o membro do IAM, sobre esta vertente da iniciativa. A feira com as tendas funciona entre as 15h e as 17h30. O IAM vai gastar cerca de 1 milhão de patacas para organizar o evento Nostalgia Macau.

27 Set 2020

Fotografia | Quarta edição da revista Zine Photo dedicada aos lugares de Macau 

A última edição da revista Zine Photo, um projecto fotográfico de João Miguel Barros, foca-se totalmente em Macau. Sempre a preto e branco, é uma revista “mais focada nos lugares, ainda que não esquecendo as pessoas”. O território poderá voltar a ser objecto de uma nova edição a sair no próximo ano, diz o criador do projecto

 

[dropcap]O[/dropcap] quarto número da revista de fotografia Zine Photo, projecto de João Miguel Barros, sai no mês que vem e é inteiramente dedicada a uma Macau a preto e branco e aos seus lugares peculiares. Este é o número que se chama apenas “Macao” e que se aponta menos para as pessoas.

“Independentemente do lado estético da fotografia, há o seu conteúdo. E é aí que esta Zine Photo pode ser diferente das anteriores, que eram mais emocionais, que tinham a possibilidade de suscitar uma adesão mais rápida devido ao lado essencialmente humano que transmitem. A Zine Photo #04 é mais agreste, mais focado em lugares, ainda que não esquecendo as pessoas. As pessoas comuns, e não as glamorosas das páginas cor de rosa, que são aquelas que têm um potencial de riqueza nas histórias que podem contar”, contou João Miguel Barros ao HM.

A nova edição da Zine Photo é sobre uma Macau “que não é o mundo da perfeição, porque a realidade não se ajusta apenas com leis, regulamentos e disciplina”. Há, também, “um lado diferente, que é exótico para quem aqui chega pela primeira vez mas para quem, como eu, já aqui vive há algumas décadas, fere por vezes o olhar. E, para o bem ou para o mal, a minha ‘elaboração mental’ força-me a tentar conseguir imagens fortes daquilo que tenho perante mim”, conta o fotógrafo e curador.

João Miguel Barros reconhece que a utilização do preto e branco “dramatiza”, mas essa constitui “uma forma de arte e de estar na fotografia”. “Foi uma estética que adoptei. Mas para ser coerente e rigoroso tenho de me esforçar por olhar com os meus olhos e não com os olhos dos outros. E nem sempre é fácil esse exercício tal a força dos media, das redes sociais e da globalização, que teimam em impor o ‘belo’, o bonitinho”, frisou.

A quarta edição da Zine Photo é “uma aproximação a um trabalho maior sobre Macau que, neste momento, já tem umas dezenas de imagens seleccionadas”. João Miguel Barros teme que este “não seja um trabalho consensual”, citando Ansel Adams: “There are always two people in every picture: the photographer and the viewer.” Isto porque “não há unanimidades na avaliação de uma imagem, por muito impactante que seja”.

Para realizar esta edição, João Miguel Barros inspirou-se em dois projectos recentes nos quais esteve envolvido, um deles como curador, como é o caso da exposição YiiMa, com trabalhos de Guilherme Ung Vai Meng e Chan Hin Io, e que esteve patente no Museu Berardo, em Lisboa, com trabalhos “que mostram Macau de uma forma única e inigualável”. A exposição do fotógrafo austríaco Andreas Bitesnich, “Deeper Shades”, que incide sobre cidades, foi outro dos impulsos que ajudou a dar corpo ao projecto.

Outra a caminho

O lançamento do projecto Zine Photo previa quatro edições este ano, mas a iniciativa não se fica por aqui. “O trabalho mais fácil sobre Macau está quase feito, apenas precisa de ir sendo actualizado. O trabalho mais difícil é aquele que me motiva a continuar e a não dar por terminado este projecto sobre Macau, que deverá merecer a publicação de uma outra Zine sobre a cidade e as suas gentes daqui a um ano, ou talvez na altura da edição do Festival Literário de Macau de 2022”, confessou João Miguel Barros.

O fotógrafo, que é também advogado, assume que “o trabalho mais difícil é entrar na intimidade das pessoas, daquelas que vivem na penumbra, que sofrem e que não são tocadas pelas luzes do deslumbramento que a cidade provoca e promove, com os seus casinos e luxos vários”.

A Zine Photo é, também, um reflexo desse outro lado. “A vida em Macau rola muito para além dessa máquina de vender ilusões. E é a esse ‘outro lado’ que me seduz e atrai, ao qual eu quero tentar chegar. Só então poderei dar como terminado o meu projecto sobre esta cidade que me acolheu há mais de trinta anos”, rematou.

Esta edição chega “em tempos de pandemia e muitas incertezas”, sempre “com trabalhos próprios, como se fossem fascículos de um trabalho maior”. João Miguel Barros confessa que sempre tem resistido a fotografar Macau “numa perspectiva mais sistemática e tendo como objectivo a publicação”.

Uma posição que mudou nos últimos anos. “Decidi avançar com essa ideia, quebrando o bloqueio que sempre tive de não conseguir olhar de forma descomprometida, curiosa, mas também crítica, para o que me rodeia.”

Para o fotógrafo, “as rotinas castram a imaginação”, pois “passar todos os dias pelos mesmos lugares banaliza o olhar”. É daí, defende, que surge a influência das “imagens bonitas que servem para promover o turismo que nos enchem a imaginação e os sonhos”. “A pergunta que surge é de imediato: mas Macau é isto?”, questiona. A nova edição da Zine Photo diz-nos que não.

24 Set 2020

Rota das Letras | Festival em formato concentrado aposta em autores locais

Numa versão altamente marcada pela pandemia, o festival literário vira-se para dentro e aposta nos autores de Macau. Além da homenagem a Henrique de Senna Fernandes, será celebrado o centenário da publicação de “Clepsydra” de Camilo Pessanha e discutido o impacto do confinamento nos autores locais

[dropcap]A[/dropcap] homenagem ao escritor macaense Henrique de Senna Fernandes vai ser um dos pontos altos da edição deste ano do Festival Literário Rota das Letras, que decorre entre 2 e 4 de Outubro. O programa, que inclui também a celebração dos 100 anos da publicação de “Clepsydra”, de Camilo Pessanha, foi apresentado ontem e vai ter uma sessão dedicada à pandemia da covid-19 e aos efeitos do confinamento na criação literária.

A cerimónia que vai celebrar o escritor macaense está agendada para 4 de Outubro, o mesmo dia em que morreu em 2010. Para assinalar a memória de Henrique de Senna Fernandes serão apresentadas as primeiras traduções em chinês e inglês do livro de estreia do autor macaense, “Nam Van – Contos de Macau”. A obra foi publicada pela primeira vez em 1978, em português.

“Uma das principais razões de ser do Festival Literário é a aproximação, através da literatura, das diferentes comunidades de Macau”, justificou Ricardo Pinto, director-geral do Rota das Letras, sobre a escolha.

“Fazemo-lo desta vez dando pela primeira vez a conhecer aos públicos de língua chinesa e inglesa, a obra que revelou Henrique de Senna Fernandes como um exímio contador de histórias”, realçou.

A sessão agendada para as 17h nas Oficinas Navais conta com a participação do filho do escritor, Miguel de Senna Fernandes, que vai publicar o seu primeiro livro de contos.

Ao contrário das edições anteriores do festival, que se prolongavam por mais de uma semana, a pandemia levou a que a organização optasse por uma edição em moldes diferentes. Também o facto de as fronteiras de Macau estarem encerradas a pessoas com nacionalidade estrangeira levou a organização a focar mais a atenção nos autores locais.

“A crise devastadora que se abateu sobre o mundo obrigou-nos a repensar a edição deste ano do Festival, numa perspectiva realista de contenção de custos e de aposta nos talentos locais”, explicou Ricardo Pinto.

“Esta mesma crise, enquanto tema de reflexão para todos nós, não podia obviamente estar ausente da programação do Festival”, acrescentou.

Reflexões sobre a pandemia

Com a aposta a passar pela “prata da casa”, Eric Chau, Wang Feng, Jenny Lao-Phillips e Konstantin Bessmertny são os autores presentes na sessão de abertura, marcada para as 14h30 de 2 de Outubro, na Oficinas Navais. Os autores vão reflectir sobre os efeitos da pandemia para a sociedade, para o futuro e o impacto para as suas futuras obras. “Numa época de crise em que o mundo está dividido em diferentes zonas de bloqueio, a ideologia de ‘Think Global Act Local’ parece ser especialmente relevante”, comentou Alice Kok, directora executiva do Rota das Letras. “Agora é tempo de reforçar a nossa energia criativa e trazê-la para a boca de cena”, considerou.

Depois da sessão de abertura do festival, serão anunciados os vencedores do Concurso de Contos, além do lançamento do livro de poemas “Sétimo Céu”, que conta com a participação de escritores como Jidi Majia, José Luís Peixoto, Gisela Casimiro e Hirondina Joshua.

Na manhã do primeiro dia do evento decorre também a abertura da Exposição de Fotografia ‘Macau, 2020: Tempo de Introspecção’ e o lançamento da revista Zine Photo, da autoria de João Miguel Barros.

A agenda de um primeiro dia muito preenchido termina com uma peça de teatro intitulada “O Momento”, a cargo da Associação de Teatro de Macau Comuna de Pedra, inspirada no romance 1984, de George Orwell.

Sábado foi o dia escolhido para celebrar os 100 anos da publicação de “Clepsydra”, livro que agrega os poemas dispersos do autor que passou a maior parte da sua vida em Macau, onde está sepultado. Os poemas de Pessanha vão ser ditos e cantados num recital dirigido pelo maestro Simão Barreto, numa sessão agendada para as 18h30 nas Oficinas Navais.

22 Set 2020

IC acrescenta mais lugares para concerto de abertura do FIMM

[dropcap]A[/dropcap] edição deste ano do Festival Internacional de Música de Macau (FIMM) arranca dia 4 de Outubro com o concerto “Um Século de Música Chinesa” interpretado pela Orquestra Chinesa de Macau (OCM). Segundo um comunicado do Instituto Cultural (IC), a procura pelos bilhetes tem sido grande. Por isso, o IC decidiu acrescentar mais lugares na zona do balcão do Grande Auditório do Centro Cultural de Macau (CCM). O tema deste ano do FIMM é “Para um Ano Especial” e visa “inspirar o público através da música durante a epidemia”. O concerto, além de servir de arranque de uma nova edição do FIMM, abre também a nova temporada da OCM.

Além da orquestra, o público será presenteado pela performance de Zhang Hongyan e a “notável executante contemporânea de guzheng”, Luo Jing. Ambas irão apresentar “a música chinesa majestosa na comemoração do centenário do estabelecimento da Sociedade de Música Datong em Xangai, que constituiu o prelúdio do desenvolvimento da música chinesa moderna”.

Este sábado terá um evento digno de nota na agenda dos melómanos de Macau: o “Dia Musical em Família” no Parque Municipal Dr. Sun Yat-Sen, entre as 15h30 e as 18h30. A iniciativa inclui várias tendas de jogos e actuações de vários grupos musicais tal como a OCM, a Associação de Percussão de Macau, Water Singers Vocal Ensemble, Casa de Portugal em Macau e Associação Orquestra Sinfónica Jovem de Macau.
O espectáculo inclui a apresentação de clássicos populares como “Pedro e o Lobo”.

Mais música clássica

No dia 10 de Outubro, pelas 20h, é apresentado, também no Grande Auditório do CCM, o concerto “Mahler Sinfonia N.º 1”, protagonizado pelas Orquestra de Macau e Orquestra Sinfónica de Shenzhen.

Além disso, a Orquestra de Macau irá interpretar também o primeiro andamento de Ecos da Velha Macau, obra encomendada pela Orquestra de Macau à compositora local Lam Bun-Ching, um tema genuíno que faz recordar os bons velhos tempos do território. Este concerto conta ainda com a participação da jovem violinista Huali Dang, que irá interpretar o Concerto para Violino n.º 5 em Lá Maior, K. 219 “Turco” de W. A. Mozart.

No dia 31 de Outubro, o percussionista Andrew Chan e o saxofonista Lee Chi Pok sobem ao palco do Teatro Dom Pedro V, conduzindo o público ao mundo da música através da plataforma de actuação “Bravo Macau!”.

O cartaz do FIMM inclui ainda a “Masterclass de Pipa com Zhang Hongyan”, que se realiza a 3 de Outubro pelas 19h. No dia 10 de Outubro decorre a Conversa Pré-Espectáculo “Mahler Sinfonia n.o 1”, pelas 19h. As inscrições online para estas duas actividades estão disponíveis no sistema de inscrição de actividades do IC.

21 Set 2020

Cinemateca Paixão | Conversa com realizadores marcada para sábado

É já este sábado que a Cinemateca Paixão acolhe a palestra “Cineastas de Macau: A sua jornada para o cinema”, que conta com a presença da realizadora Tracy Choi e de Stanley Kwan, de Hong Kong. Jenny Ip, gestora do espaço, acredita que este tipo de iniciativas aproxima mais o público da renovada cinemateca

 

[dropcap]A[/dropcap] Cinemateca Paixão promove, este sábado, uma conversa online entre realizadores de Macau e de Hong Kong. “Cineastas de Macau: A sua jornada para o cinema” acontece entre as 15h e as 16h e conta com a participação de Tracy Choi e de Oliver Fa, realizadores de Macau, que vão trocar experiências como cineastas com Stanley Kwan, realizador de Hong Kong.

Ao HM, Jenny Ip, gestora de operações da In Limitada, a nova concessionária da Cinemateca Paixão, declarou ser “uma honra” poder contar com a presença de Stanley Kwan.

“Vai ser uma sessão de partilha sobre a sua forma de fazer cinema. Esperamos que possam ser partilhadas muitas ideias nesta sessão.”

Para Jenny Ip, a palestra online vai proporcionar maior aproximação [da Cinemateca Paixão] com o público. “Um dos nossos objectivos é, nos próximos dois anos, trazer a Macau mais produtores e realizadores do estrangeiro, para que possam partilhar as suas ideias com os nossos realizadores. Acreditamos que este tipo de experiência pode ajudar ambos os lados, para que possam aprender novas coisas, algo que ajude no processo criativo”, frisou.

Depois das críticas iniciais por parte de alguns realizadores, a nova gestora da Cinemateca Paixão quer aproximar-se mais daqueles que fazem cinema em Macau. “É necessário tempo, mas o mais importante é mantermos o constante contacto com os realizadores. Temos uma comunicação muito estreita com alguns realizadores e produtores”, disse Jenny Ip.

A responsável pela gestão da Cinemateca Paixão adiantou ainda que acompanha de perto muitos dos filmes que estão a ser rodados neste momento, para que possam vir a integrar o programa.

“Sabemos que muitos dos realizadores e produtores estão a meio da fase de produção de filmes e vamos acompanhando o progresso do trabalho. Depois de terminarem as produções, gostaríamos de agendar a exibição dos filmes na Cinemateca.”

Bilhetes vendidos

Neste momento, a Cinemateca Paixão tem apresentado alguns clássicos do cinema, sessões inseridas no festival “A Love Letter to the Cinema”. Jenny Ip conta que a adesão do público tem sido muito boa, com grande parte dos bilhetes já vendidos.

“Estamos muito felizes. Temos tido bom feedback e até adicionámos novas sessões. Até agora temos tido um bom acolhimento por parte do público e sentimos que é uma boa experiência rever os clássicos.”
Para Jenny Ip, o mais importante é fazer com que os amantes do cinema possam rever obras incontornáveis da sétima arte em tempo de pandemia. “Nos próximos meses, esperamos que o público aprecie o nosso programa e faremos o nosso melhor para trazer bons filmes para Macau”, rematou.

21 Set 2020

Exposição | Creative Macau exibe pinturas baseadas em Gabriel García Márquez

“Do Amor e Outros Demónios” é o nome da obra de Gabriel García Márquez que serviu de ponto de partida para a exposição que estará patente na Creative Macau a partir de quinta-feira. O livro do escritor colombiano ganha agora uma nova interpretação com a mostra “Of Love & Other Demons – Painting Series by Kay Zhang”

 

[dropcap]K[/dropcap]ay Zhang, um dos novos nomes do mundo das artes de Macau, está de regresso às exposições com uma interpretação muito própria do livro do escritor colombiano Gabriel García Márquez, vencedor de um prémio Nobel da Literatura. “Do Amor e Outros Demónios” dá nome à exposição de Kay Zhang, que estará patente no espaço da Creative Macau a partir da próxima quinta-feira.

Segundo um comunicado da Creative Macau, a exposição “mostra os seus trabalhos baseados na história de García Márquez com o seu estilo icónico inspirado nos manuscritos medievais, e que são dispostos como um todo no formato de retábulo”.

“Do Amor e Outros Demónios” foi publicado em 1994 e adaptado para cinema. O romance conta a história de Sierva Maria, uma menina de 13 anos criada em Cartagena das Índias, na Colômbia, durante o período colonial. Apesar de ser filha de marqueses, a menina foi criada por escravos negros.

A personagem movida por um intenso sentido poético vivia atormentada pela dúvida de qual seria o verdadeiro sabor de um beijo. Porém, Sierva Maria acaba por ser mordida por um cão com raiva o que ditou a entrada num convento, uma vez que, à época, a raiva ainda não era diagnosticada como doença e era entendida como uma possessão demoníaca. Sierva Maria deu entrada no convento para ser, portanto, exorcizada, mas acabou por morrer.

A história foi descoberta por Gabriel García Márquez quando era jornalista, que acabou por ver de perto a operação de exumação das criptas funerárias do antigo Convento de Santa Clara, em busca de notícias. A descoberta deu-se a 26 de Outubro de 1949, muito antes do autor considerar a hipótese de viver da escrita literária. No entanto, anos antes, já o autor de “Cem anos de solidão” ouvira a mesma história contada pela sua mãe.

Uma “esplêndida cabeleira”

Sierva Maria nunca cortou o cabelo e era fluente em várias línguas africanas. “No terceiro nicho do altar-mor, do lado do Evangelho, estava a notícia. A lápide saltou em pedaços à primeira pancada do alvião e uma cabeleira viva, de uma intensa cor de cobre, espalhou-se pela cripta. O mestre-de-obras quis retirá-la completa com o auxílio dos seus operários, mas quanto mais puxavam mais comprida e abundante ia surgindo, até saírem as últimas madeixas, ainda presas a um crânio de criança. No nicho não ficaram senão uns ossitos pequenos e dispersos e na lápide de cantaria carcomida pelo salitre apenas era legível um nome sem apelidos: Sierva Maria de Todos los Angeles. Estendida no chão, a esplêndida cabeleira media vinte e dois metros e onze centímetros”, lê-se no livro.

Kay Zhang, nascida em 1991, está assim de regresso às exposições com um dos seus autores favoritos. A primeira vez que expôs em Macau foi em Agosto de 2016, com “Innocencepedia”, no Macau Art Garden. Formada na Experimental School of Arts da China Central Academy of Fine Art, a artista volta a diluir as fronteiras entre a expressão literária e a pintura. Kay Zhang é uma das mais jovens artistas de Macau nomeada para o Sovereign Asian Art Prize e produziu trabalhos como “Psalm of Love and Ardor”, “A Room With A View”, “The Book of Dinamene” e “The Modern Decameron”.

20 Set 2020

UNESCO | Elsie Ao Ieong U promoveu Macau em Pequim durante evento

[dropcap]M[/dropcap]acau realizou ontem a estreia como Cidade Criativa de Gastronomia na Cimeira de Pequim das Cidades Criativas da UNESCO, que este ano tem como tema “Criatividade Capacita as Cidades; Tecnologia Cria o Futuro”.

O evento começou ontem e acaba hoje, é organizado pelo Governo Central numa parceria com a UNESCO, e a secretaria para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, foi uma das pessoas que discursou através de uma mensagem de vídeo.

Na mensagem, a secretária afirmou que desde 2017 foi traçado um plano para Macau e foram logo colocadas “mãos à obra”. Neste trajecto, a “criatividade foi um elemento estratégico para um desenvolvimento sustentável da cidade”, referiu a responsável. Consequentemente, Elsie vincou que Macau avança de acordo com os objectivos de desenvolvimento sustentável que constam na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas [ONU].

A secretária afirmou ainda que, a situação epidémica está praticamente estável tanto no Interior, como em Macau e a retoma da emissão de documentos de viagem turísticos a residentes do Interior da China para deslocação a Macau significa o regresso gradual à normalidade da movimentação de pessoas.

Na mesma ocasião a governante considerou ainda que a pandemia da covid-19 constitui um grande desafio global, e que os Governos devem contar com recursos inovadores e a aplicação da tecnologia como elementos essenciais para ajudar a superar os desafios.

17 Set 2020

DST | Praça do Tap Seac vai ser o local principal de Festival da Luz

Entre 26 de Setembro e 31 de Outubro, Macau será uma cidade iluminada. A Praça do Tap Seac será o palco para o principal espectáculo do Festival de Luz, mas a festa chegará a 12 outros locais dispersos pelo território. O Governo espera metade dos participantes do ano passado

 

[dropcap]O[/dropcap] maior espectáculo de vídeo mapping da sexta edição do Festival de Luz vai acontecer, pela primeira vez, na Praça do Tap Seac, com quatro edifícios patrimoniais a servir de pano de fundo. A directora dos Serviços de Turismo (DST) reconheceu que este ano não espera atingir o volume de participantes do ano passado, quando houve 400 mil espectadores. “Estimamos que teremos [talvez] metade dos participantes no Festival de Luz deste ano”, disse ontem Helena de Senna Fernandes.

O festival decorre entre 26 de Setembro e 31 de Outubro, com actividades entre as 19h e as 22h. Vão ser apresentados outros espetáculos de “vídeo mapping”, nas fachadas do Canídromo, da Companhia de Produtos da China, da Biblioteca Infantil de Wong Ieng Kuan e em frente ao Largo dos Bombeiros na Vila da Taipa.

O tema do festival é “Carnaval de Luz” e está dividido em quatro roteiros: “Circo”, “Túnel do Tempo”, “Reino dos Doces” e “Caixa de Música Luminosa”. As instalações luminosas e jogos interactivos vão estar dispersos por 12 locais, com várias actividades planeadas. No roteiro do “circo”, por exemplo, vai ser erguida uma tenda de 27 metros de comprimento na zona de lazer da Rua do General Ivens Ferraz, equipada com jogos interactivos de realidade aumentada e instalações luminosas com formas de animais.

Receber os turistas

A iniciativa, que vai custar cerca de 21 milhões de patacas, foi antecipada como “um primeiro passo” para receber turistas. Helena de Senna Fernandes indicou também que se seguem no calendário de ofertas turísticas outros eventos, tais como o dia mundial do turismo ainda em Setembro e o fogo de artifício de Macau e Zhuhai no Dia Nacional. A ideia é promover Macau como uma cidade “segura” e “vibrante”.

No fogo de artifício de dia 1 de Outubro, Hengqin vai contribuir em termos de música, mas a companhia que vai fazer o lançamento é de Macau e foi escolhida através de concurso público. O orçamento da actividade ronda 1,7 milhões de patacas.

Recorde-se que os vistos individuais voltam a ser emitidos para toda a China a partir de dia 23 de Setembro. “As pessoas do Interior da China têm de fazer o seu pedido e normalmente uma semana depois é que vão receber o visto. Em princípio, vai ser a tempo para a semana dourada, porque este ano vai ser entre 1 e 8 de Outubro. Mas claro que não é só por causa da reemissão dos vistos que as pessoas vêm para Macau”, comentou a directora da DST. Em causa está o receio de viajar causado pela pandemia.

17 Set 2020

ARTFEM | Bienal dedicada à arte feita no feminino inaugura dia 30 

A ARTFEM – Bienal Internacional de Mulheres Artistas de Macau está de regresso para uma nova edição, desta vez sob o tema “Natura”. O público poderá ver trabalhos de 98 artistas, oriundas de 22 países e regiões, numa mostra que inclui trabalhos na área da pintura, cerâmica ou escultura, entre outras

 

[dropcap]E[/dropcap]stá de regresso a edição da ARTFEM – Bienal Internacional de Mulheres Artistas de Macau. Entre os dias 30 de Setembro e 13 de Dezembro poderão ser vistas obras feitas no feminino, todas elas ligadas ao tema “Natura”. O programa completo será anunciado esta sexta-feira.

A edição deste ano conta com 143 trabalhos realizados por 98 mulheres de 22 países e regiões, como é o caso de Macau, Hong Kong, China, Coreia do Sul e Japão, entre outros. Todos os trabalhos que começaram a ser produzidos a partir de 2018 podem ser visitados em quatro locais diferentes: Albergue da Santa Casa da Misericórdia, antigo Estádio Municipal do Gado Bovino, Galeria Lisboa e Casa Garden, da Fundação Oriente.

Segundo um comunicado da organização, “a mostra inclui pintura, escultura, cerâmica, instalações, desenho, serigrafia em diversos suportes, vídeo e fotografia”. “A exposição pretende trazer à tona discursos urgentes sobre o meio ambiente, incluindo a sua protecção ou devastação, a relação da humanidade com a natureza, ao mesmo tempo que integra um ‘olhar’ sobre os aspectos sociais decorrentes da sua localização na RAEM e da crise pandémica covid-19, que afecta o mundo desde Dezembro de 2019”, explicam os curadores.

A escolha de quatro locais diferentes para a exposição prende-se com o desejo da organização de “proporcionar ao público um ‘sentimento de bienal’, não se circunscrevendo apenas a um local”. Neste sentido, “a intenção curatorial pensava inicialmente intervir no espaço público, mas a crise da covid-19 fez com que as exposições acontecessem exclusivamente em ambientes fechados”.

Continuação do sucesso

A primeira edição da ARTFEM aconteceu a 8 de Março de 2018 e decorreu apenas no Museu de Arte de Macau. Com uma nova edição, os curadores pretendem “dar continuidade a esta exposição internacional recrutando artistas de todo o mundo, elevando a visibilidade das mulheres contemporâneas e do seu papel social decisivo na arte e na cultura”.

Por ser a única bienal do mundo inteiramente dedicada à arte feita no feminino, a ARTEFM visa “contribuir para uma maior visibilidade das mulheres no mundo contemporâneo e para uma (re) descoberta da arte no feminino, orientando as artes locais para um padrão internacional e trazendo experiências artísticas mais dinâmicas para o público e para os turistas”.

Com a ARTFEM, o Albergue SCM “pretende trazer novas experiências artísticas ao público, aumentando a visibilidade de Macau no panorama artístico internacional”.

Os curadores da ARTFEM são o arquitecto Carlos Marreiros, que preside à bienal e que, nesta edição, assume o papel principal na curadoria. Angela Li, artista, é outra das curadoras que traz “um enfoque chinês” à iniciativa. Alice Kok e James Chu foram os responsáveis pela selecção dos artistas de Macau e de Hong Kong, enquanto que Leonor Veiga fez a escolha dos artistas internacionais juntamente com Carlos Marreiros.

Se na primeira edição a ARTFEM contou com a pintora Paula Rego como madrinha, desta vez foram escolhidas as artistas Xiang Jing, da China, e Un Chi Iam, de Macau.

17 Set 2020

FRC | Identidade macaense em debate na próxima quarta-feira 

[dropcap]A[/dropcap] identidade macaense é o mote de conversa para o debate que vai ter lugar na próxima quarta-feira, dia 23, na Fundação Rui Cunha (FRC) por volta das 18h30. A palestra “Como definir um macaense” é organizada pela FRC e pela Associação dos Antigos Alunos da Escola Comercial “Pedro Nolasco” (AAAEC), contando com a presença do historiador Jorge Forjaz.

A definição de um macaense é um dos temas mais comuns no seio da comunidade, conforme denota Jorge Forjaz. “Todos têm alguma razão e todos acham que os outros não têm totalmente razão. Eu serei mais um deles, mas 20 anos a estudar as famílias macaenses dão-me direito a ter uma opinião que não será, certamente, consensual, nem definitiva”, referiu, citado por um comunicado da FRC. Esta palestra insere-se na série “Serões com História”, promovida pela FRC, e conta com moderação de José Basto da Silva, presidente da AAAEC.

Jorge Forjaz é licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, possuindo também o curso de bibliotecário-arquivista. Foi director do Museu e Conservador da Biblioteca Pública de Angra do Heroísmo e director regional dos Assuntos Culturais da Região Autónoma dos Açores. Entre 1989 e 1992, Jorge Forjaz foi secretário-geral do Festival Internacional de Música de Macau. Durante esse tempo pesquisou as genealogias dos macaenses. O resultado desse exaustivo trabalho deu origem à obra “Famílias Macaenses”, publicada pela primeira vez em 1996 e com uma segunda edição revista e actualizada, com mais 80 capítulos, levada à estampa em 2017.

16 Set 2020

Teatro físico | Jenny Mok regressa a solo para reflectir sobre uma sociedade em mudança 

A Comuna de Pedra regressa aos palcos com o espectáculo “Nothing and Everything”, que acontece este fim-de-semana no Black Box Theatre do edifício do antigo tribunal. Jenny Mok é a protagonista de um espectáculo de teatro físico contemporâneo onde as mudanças na sociedade são o mote. As metáforas utilizadas revelam como essas mudanças e restrições afectam o corpo e a mente humana

 

[dropcap]“N[/dropcap]othing and Everything” [Nada e Tudo] é o novo espectáculo da companhia Comuna de Pedra e sobe ao palco este fim-de-semana, sábado e domingo, no espaço Black Box Theatre do edifício do antigo tribunal. Jenny Mok, directora da companhia, assume também o papel de protagonista neste espectáculo a solo de teatro físico contemporâneo, além de ser coreógrafa do projecto.

Ao HM, a responsável adiantou que “Nothing and Everything” não é mais do que uma série de metáforas sobre as mudanças profundas que as sociedades dos tempos modernos enfrentam, sobretudo em Macau e Hong Kong. Jenny Mok não constrói metáforas apenas sobre a pandemia e o confinamento, mas também sobre os acontecimentos políticos em Hong Kong. Nada é literal, mas a ideia é reflectir sobre os efeitos de tudo isto no corpo e na mente humana.

“Este é um espectáculo sobre a vida e a morte e a forma como se altera a idade natural dos nossos corpos. Há uma metáfora sobre a morte e o nosso espírito e todas as mudanças que ocorrem. Hoje em dia a sociedade enfrenta muitas mudanças e isso tem um grande impacto na existência”, contou.
Jenny Mok assume reflectir, sobretudo, na liberdade “que ainda nos resta”. “[Penso] na nossa liberdade de expressão e de pensamento e até quando a teremos. Estamos a viver com cada vez mais restrições. Como seres humanos, como nos vamos enquadrar em tudo isto? O tempo passa e como vamos viver com todas estas restrições? Como é que isso vai afectar os nossos corpos?”, questiona.

Os medos

Jenny Mok está satisfeita por poder voltar aos palcos depois do período de confinamento, esperando que, com “Nothing and Everything”, o público “possa fazer uma reflexão sobre aquilo que vai ver”.

“O que podemos fazer enquanto artistas é provocar. Não sei que reacções o público terá, mas pelo menos terá a capacidade de pensar sobre estas coisas. Há muitos medos na sociedade de Macau e as pessoas têm receio de falar. Têm medo de expressar as suas ideias sobre determinadas coisas, e penso que isso se deve também devido a essas restrições. Mas será que nos vamos calar? Como vamos viver desta forma?”, frisou.

Para Jenny Mok, acabamos por assistir quase a uma mudança de mentalidade, o que faz com que a população se adapte às novas restrições, algo que “é triste”.

“Este será um espectáculo muito poético. Vou ficar no palco sozinha e vou dançar. É a história de uma rapariga que está restrita num quarto. Penso que se não olharmos para essa conotação [política e social], podemos continuar a ver o lado poético do espectáculo”, rematou. “Nothing and Everything” acontece às 20h e os bilhetes têm o custo de 180 patacas.

16 Set 2020

Cinema | Present Future Film Festival arranca este fim-de-semana

Entre este sábado e 11 de Outubro, decorre o Present Future Film Festival, uma mostra que vai exibir curtas-metragens de Macau, Taiwan e Japão. O evento, organizado pela Federação das Associações dos Operários de Macau, decorre nos próximos quatro fins-de-semana em cafés da cidade

 

[dropcap]E[/dropcap]ste fim-de-semana começa o Present Future Film Festival, a mostra de curtas-metragens que vai tirar o cinema das salas escuras onde costuma ser exibido para o levar até alguns cafés seleccionados da cidade.

Organizado pela Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) e financiado pela Fundação Macau, o evento apresenta curtas realizadas por autores de Macau, Taiwan e Japão, numa variedade alargada de géneros.

A primeira dose de sessões está marcada para o Amateur Continuing Study Centre iCentre, na Praça Kin Heng Long, na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, no sábado às 14h30 e 18h15 e no domingo às 14h e 18h15, e são as únicas exibições que precisam de reserva (até quinta-feira).

No dia inaugural, o festival arranca com 10 obras no cartaz. A primeira curta a passar na tela é a animação “The Valley of Ginsengs”, da autoria de dois cineastas de Macau, Lou Ka Choi e Leong Kin. A narrativa assenta no tradicional pêndulo dramático “rapariga conhece rapaz”, quando ela passeia por um vale. A ingenuidade do encontra adensa-se com uma tensão crescente entre os dois personagens resultante da conjugação entre felicidade pura e desejo carnal.

O filme seguinte é “The Three Stories of Macau”, o documentário de quase 9 minutos de Au Lok Hei e Lei Ka In, que apresenta a cidade contada por três residentes e as suas experiências.

Na mesma sessão no espaço iCentre é exibido “Chase”, da autoria do local Bowen, que conta a história de dois adolescentes, ambos nascidos depois da transferência de Macau para a China, e dos desentendimentos que têm com os pais. Na óptica do realizador, a palavra “sonho” não é usada com muita frequência em Macau. Os jovens protagonistas lutam pela realização dos seus sonhos num campo de batalha dividido com a dura realidade.

Uma bica curta

A encerrar o primeiro dia do Present Future Film Festival é exibido “Step Out”, de Vincent, Sin Weng Seng, uma história de perda, superação e choques geracionais que são suavizados pelo amor. Depois de perder o namorado, Hailey, que vive com os pais, perde o gosto pela vida e isola-se numa redoma de dor, sem sair de casa. Paralisada e a morar num prédio sem elevador, circunstância muito normal em Macau, Hailey dá a volta, ganhando ânimo em imprevistos e lembranças do passado.

O festival prossegue com sessões que intercalam curtas-metragens de autores locais, do Japão e Taiwan, atravessando géneros entre o documental, a animação e o drama.

Depois do primeiro fim-de-semana, as exibições avançam para o Quarter Square, um acolhedor café com rooftop no Largo Maia de Magalhães na Taipa Velha. No terceiro fim-de-semana, entre os dias 3 e 4 de Outubro, o Cafe Seong Chi, na Areia Preta, transforma-se numa informal sala de cinema.

No último fim-de-semana do Present Future Filme Festival, 10 e 11 de Outubro, os amantes das doses concentradas de cinema podem assistir à última sessão na Padaria e Café Faro, no Anim’Arte Nam Van.

15 Set 2020

Mais antigo diário de Goa volta a publicar crónicas em português para celebrar 120 anos

[dropcap]O[/dropcap] mais antigo diário de Goa, na Índia, fundado em 1900, vai voltar a publicar uma crónica semanal em português, no ano em que o jornal celebra o 120.º aniversário, disse à Lusa o editor.

“Quando celebrámos o 120.º aniversário, em janeiro, pensei que devíamos publicar um suplemento em português, mas não aconteceu nessa altura”, contou à Lusa Alexandre Moniz Barbosa, responsável do diário Herald, publicado em inglês há 37 anos.

O jornal tinha além disso “muitos leitores” a pedir uma página em português, explicou. “Achámos que uma página inteira era capaz de ser muito ambicioso, e decidimos começar com uma crónica semanal, para ver com corria”.

O diário chamava-se originalmente “O Heraldo”, e apesar de hoje ser mais conhecido por Herald, “os dois ‘o’ foram mantidos no logo”, em cor mais clara, recordou o editor, sublinhando que “as raízes” da publicação foram “em língua portuguesa” e que o jornal tem orgulho na sua história.

A primeira crónica, intitulada “A relevância da língua portuguesa em Goa”, foi publicada no domingo passado, com muitas reações elogiosas e sem “qualquer controvérsia”, num estado em que a língua franca é o concani e se fala também marata, inglês e hindi.

“Até agora correu maravilhosamente bem”, referiu Alexandre Moniz Barbosa. “Tivemos muitas reações em inglês e até cartas em português de pessoas em Goa, todas elogiosas. Agradeceram-nos e disseram-nos que ia ser uma grande ajuda, sobretudo para os jovens que estão a aprender a língua, porque não temos nenhuns jornais ou revistas em português em Goa”, acrescentou.

A conversa com o editor do Herald – que lhe chama sempre “O Heraldo”, o nome dado pelos fundadores – começa em inglês, mas passa rapidamente para português, apesar de Alexandre Moniz Barbosa, com 51 anos, nunca ter estudado a língua.

“Eu nasci depois de 1961, quando foi a libertação de Goa, mas em casa, com os meus pais, falava um pouco português. Nunca estudei português, nem na escola, nem na universidade”, recordou, apontando que o conhecimento do idioma agora lhe vai ser útil profissionalmente. “Se eu não conseguisse ler, não ia saber o que vai sair no jornal [ao domingo]”, brincou.

O responsável do Heraldo, que se orgulha de ter sido “o primeiro” a entrevistar o atual primeiro-ministro António Costa, de origem goesa, “quando ele ainda era presidente da Câmara Municipal de Lisboa, para o [jornal] Times of India”, assinou um editorial em que defendeu a importância do português, “não só como língua do passado”, mas também “do futuro”.

Para Alexandre Barbosa, aprender português “como terceira língua” pode ser uma vantagem “no mercado de trabalho internacional”.

“Nós estamos a começar com a crónica em português também porque há alguns jovens que estão a aprender português na Universidade de Goa, não só de Goa, mas de várias partes da Índia, que vêm todos os anos para fazerem mestrado” no idioma, explicou.

A iniciativa conta com a colaboração de Cristo Prazeres da Costa, filho de um antigo responsável do jornal nos anos 1960, década em que Goa viria a integrar a União Indiana.

O jornal foi o primeiro diário fundado em Goa, no então Estado Português da Índia, em 1900, e continuou a ser publicado em português até 1983, mais de duas décadas depois de tropas indianas expulsarem os portugueses, em 19 de dezembro de 1961, após uma presença de quase 500 anos.

A redação da crónica, que vai ser publicada todos os domingos na edição impressa e também no site, na secção ‘review’, vai ser assegurada por “goeses em Goa e goeses em Portugal”.

Na primeira, divulgada no dia 06 de setembro, aponta-se “que há muito vocabulário da língua portuguesa” usado “corriqueiramente” em concani, “a língua de Goa”, como “xarop” (xarope) ou “shushegad” (sossegado), sublinhando que até o ministro chefe daquele estado usa o termo “doens” (doença) para se referir à covid-19.

Várias gerações de goeses leram o jornal centenário, que continua a ser o mais vendido em Goa em língua inglesa, e a crónica em português também atraiu muitos leitores em Portugal, no domingo passado.

“Houve muitas pessoas que leram. Aquilo foi uma novidade, agora se vão continuar a ler, não sei”, disse o responsável do “Heraldo”.

14 Set 2020

FIMM | Festival de música com uma estreia mundial

“Um Século de Música Chinesa”, “Mahler Sinfonia N.º 1” e “Bravo Macau!” são os novos concertos anunciados no âmbito do Festival Internacional de Música de Macau. Entre as peças que sobem ao palco no próximo mês, a composição “Echoes from the Old Macao” é apresentada pela primeira vez ao público

 

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) revelou mais três concertos que integram o programa do Festival Internacional de Música de Macau (FIMM) a realizar em Outubro. Entre eles, encontra-se o espetáculo de abertura da temporada de concertos da Orquestra Chinesa de Macau, intitulado “Um Século de Música Chinesa”. A apresentação acontece dia 4 de Outubro e conta com a participação da mestre de pipa Zhang Hongyan e o intérprete contemporâneo de guzheng, Luo Jing. Os músicos de cordas dedilhadas vão tocar as peças Flores no Rio ao Luar da Primavera, e Canção dos Pescadores ao Crepúsculo.

Além deste concerto, Zhang Hongyan vai dar uma “masterclass” de pipa dia 3 de Outubro pelas 19h00. Directora do departamento de instrumentos tradicionais do Conservatório Central de Música e professora na Faculdade de Artes da Universidade de Pequim, vai partilhar orientações técnicas sobre o instrumento numa sessão gratuita, mas limitada a três participantes e 22 observadores. Os interessados devem registar-se entre 14 e 23 de Setembro.

No dia 10 de Outubro é a vez do concerto “Mahler Sinfonia N.º 1”, apresentado pela Orquestra de Macau e a Orquestra Sinfónica de Shenzhen, subir ao palco. O objectivo passa por “promover o intercâmbio artístico na área da Grande Baía”, descreveu o IC. É de destacar este concerto conta com a estreia mundial do primeiro movimento da composição “Echoes from the Old Macao”, de Lam Bun-Ching, bem como da interpretação do Concerto para Violino n.º 5 de Mozart pela jovem Huali Dang.

O maestro principal da Orquestra de Macau, Lu Jia, vai conduzir uma conversa pré-espectáculo, para desconstruir as três obras que são levadas a concerto, para os participantes perceberem melhor o espírito das peças.

Tanto “Um Século de Música Chinesa” como “Mahler Sinfonia N.º 1” decorrem no grande auditório do Centro Cultural de Macau, pelas 20h00.

Talento local

Por último, com vista a promover o desenvolvimento musical de Macau, tem lugar no Teatro Dom Pedro V o concerto “Bravo Macau!”, no dia 31 do próximo mês. Oferece uma plataforma para apresentar jovens músicos locais, contando com a participação do percussionista Andrew Chan e do saxofonista Lee Chi Pok. Vão dar vida a peças como a Sonata for Alto Saxophone and Piano, op. 19, de Creston, e um arranjo da “Nightclub 1960”, de Astor Piazzolla.

Andrew Chan ganhou o concurso a solo de marimba do Australian Percussion Eisteddfod e foi convidado a actuar na China Central Television. Por sua vez, Lee Chi Pok foi o vencedor do nível avançado de saxofone do 34º Concurso para Jovens Músicos de Macau e é estudante no Conservatoire Royal de Liège.

Os bilhetes para os concertos já estão à venda, e abrem hoje de manhã as inscrições online para as restantes actividades.

14 Set 2020

Armazém do Boi | Festival de Vídeo Experimental a partir de 17 de Setembro

A ansiedade e estranheza dos tempos que atravessamos é o ponto de partida para o próximo Festival de Vídeo Experimental de Macau, que começa no dia 17 de Setembro no Armazém do Boi. Durante um mês, na galeria da Rua do Volong vão estar expostos trabalhos de oito artistas

 

[dropcap]N[/dropcap]a próxima quinta-feira, 17 de Setembro, arranca o Festival de Vídeo Experimental de Macau (EXiM 2020), no Armazém do Boi. O desafio às normas e a procura de algo novo começa logo na forma do cartaz do evento, que se estende até 18 de Outubro.
Com o título “2+1+2 Program”, o cartaz deste ano conta com a participação de oito artistas.
O dia da inauguração, quarta-feira, será marcado pela palestra de Chen Qiang, um dos curadores do evento. O artista, oriundo de Chengdu, traz a Macau uma selecção de trabalhos intitulado “Straightforward” – Works by Chen Qiang, “frontal” em português. As obras representam de uma forma directa e frontal a luta e a diversão do indivíduo na maré social.
Chen começou em 2002 a fazer experiências artísticas com imagens e vídeo, depois de se formar na Academia de Belas Artes de Sichuan. Já com uma carreira vasta, foi convidado a participar em múltiplas exposições e fez residências artísticas na Alemanha, Nova Zelândia e França.
Uma das suas obras mais marcantes, a trilogia “Cut”, foi produzida e publicada enquanto tese de doutoramento na Universidade da Califórnia, enquanto as suas visões sobre cinema experimental, vertidas em “Pick the Lights and Look at the Sword”, foram outro momento significativo da carreira do artista.
As colecções de artes audiovisuais de Chen Qiang foram apresentadas na Biblioteca da Universidade da Carolina do Norte, na Livraria da Universidade de Columbia, no Departamento de Cultura da cidade Dusseldorf, no Centro de Artes de Hong Kong, entre outros.

Play e Pause

A curadoria da exposição refere que “2020 começou de uma forma estranha, com as criaturas mais inteligentes do planeta a começarem a temer o vírus e a emergir absurdamente de lado nenhum”.
Com tal, o Armazém do Boi acrescenta que, face às circunstâncias, seria impossível exibir trabalhos que não reflectissem a ansiedade do momento. “Quando escolhi trabalhos que já tinha feito, descobri que os meus pensamentos estavam enterrados no trajecto evolutivo da minha arte. Com a passagem do tempo, fui constantemente aprimorando o foco do meu trabalho”, escreve Chen Qiang, na apresentação do festival.
A organização explica que deixou de exibir como filme os trabalhos e passou a expor, numa abordagem mais galerista em forma de instalação. Dessa forma, a diversidade e o experimentalismo das criações sobressai.
O EXiM 2020 conta ainda com obras de Lu Chang Bu, Pu Yue Mei, Wenhua Shi, Tan Tan, Tao Tao, Zhou Zhang e Zhou Gang.

11 Set 2020

Fotografia | Gonçalo Lobo Pinheiro e João Miguel Barros distinguidos nos Paris Photo Awards

Os trabalhos fotográficos de Gonçalo Lobo Pinheiro e João Miguel Barros foram distinguidos na edição deste ano dos Paris Photo Awards. O projecto “Jamestown”, feito no Gana, deu a João Miguel Barros o primeiro prémio de ouro na categoria “Press/Other”. A covid-19 em Macau e os protestos em Hong Kong deram a Gonçalo Lobo Pinheiro duas menções honrosas

 

[dropcap]O[/dropcap]s fotógrafos portugueses Gonçalo Lobo Pinheiro e João Miguel Barros, radicados em Macau, viram o seu trabalho distinguido nos Paris Photo Awards (PX3). Os resultados da edição deste ano dos prémios foram ontem publicados.

No caso de João Miguel Barros, o projecto “Jamestwon”, fotografado em Acra, capital do Gana, venceu o primeiro prémio de ouro na categoria de “Press/Other (non-professional)”. Trata-se de um projecto fotográfico feito em Jamestwon, nome de um bairro de Acra onde a pesca é ainda um modo de vida e de sobrevivência para muitas famílias.

Numa nota publicada no website dos prémios PX3, lê-se que “o lugar, construído sob um aglomerado de centenas de moradas que formam um informal bairro de lata, é um microcosmos de vida onde apenas se entra com as pessoas certas”. “As imagens seleccionadas focam-se na actividade destes pescadores durante a época baixa, uma pausa importante para eles tomarem conta das ferramentas necessárias para o seu trabalho”, acrescenta a mesma nota.

O trabalho de João Miguel Barros foi ainda distinguido com quatro menções honrosas, uma delas atribuída ao projecto “Akuapem”, também feito no Gana. Todos os anos, no mês de Setembro, acontece o tradicional festival Odwira em Akuapem, no Gana. No website do PX3 lê-se que é um festival que abarca “múltiplas actividades culturais, religiosas e tradicionais”, onde o boxe também se destaca.

“Este projecto inclui dois grupos de imagens de várias lutas ocorridas junto a uma praça cheia de pessoas. O primeiro consiste em imagens que foram recicladas e transformadas numa narrativa abstracta que revela os movimentos e dinâmicas da luta. O segundo grupo ilustra de forma perceptível alguns detalhes das pessoas que viram e que vibraram com as diversas lutas”, lê-se.

Os PX3 distinguiram também o projecto “Buddhism faith” (categoria Press/Travel/Tourism), sobre templos em Macau, “Net” (categoria Press/Sports) e “Monk” (categoria Press / Travel /Tourism).

Numa nota enviada às redacções, João Miguel Barros destaca o facto de esta ser a primeira vez que recebe o primeiro prémio de ouro. “Não é a primeira vez que o meu trabalho foi reconhecido no PX3. Em 2018 foi atribuído o segundo lugar de bronze na categoria “Press/Sport” (Non-Profissional) ao projecto “Blood, Sweat & Tears”, relacionado com o projecto do boxe centrado na figura do Emmanuel Danso. Em 2019 foi atribuído outro segundo lugar de bronze, na categoria Portrait /Children Non-profissional, à fotografia que faz a capa da Zine.Photo #03. Chama-se “Child’s Dream”. Este ano, enfim, um ‘Gold’, com ‘Jamestown’”.

Covid-19 e Hong Kong

Gonçalo Lobo Pinheiro, fotojornalista radicado em Macau, viu o seu projecto ligado aos cuidados prestados à terceira idade em tempos de covid-19 obter uma menção honrosa na categoria Press/Feature Story. As imagens foram capturadas no lar da Santa Casa da Misericórdia de Macau.

A reportagem fotográfica dos protestos de Hong Kong de 2019 também foi distinguida na categoria Press / General News. “Esta história foi feita no dia 1 de Outubro, Dia Nacional da República Popular da China. Em Hong Kong este dia tornou-se num dos mais violentos e os protestos começaram a espalhar-se por todo o território. Há uma Hong Kong antes e depois deste dia. Este foi o dia em que “os manifestantes confundiram a polícia, entraram em centros comerciais e barricaram-se em universidades”. “O problema de Hong Kong não tem fim à vista”, acrescenta a nota publicada no website do PX3.

Ao HM, Gonçalo Lobo Pinheiro declarou que “as menções honrosas no PX3 são muito importantes, pois trata-se de um concurso com alguma notoriedade, tanto na vertente amadora como na profissional, que é naquela que concorro”.

“O facto de os prémios terem incidido em duas reportagens de dois principais eventos mundiais dos últimos dois anos – uma sobre os protestos de Hong Kong e outra sobre a Covid-19 -, deixa-me ainda mais satisfeito. É a terceira vez que sou agraciado nestes prémios (2017, 2018 e agora)”, acrescentou o fotojornalista, que trabalhou no HM, onde foi jornalista e editor.

“O caminho faz-se caminhando e continuo a percorrer o meu caminho sem prejudicar ninguém. Desejo as maiores felicidades a todos os vencedores, em especial ao Rui Caria, Luís Godinho, Alexandre Manuel Viegas e João Miguel Barros, pela amizade. Obrigado ao júri do PX3 por ver qualidade no meu trabalho”, rematou.

10 Set 2020

Indústrias culturais | FIC já está a aceitar candidaturas para prémios de excelência 

Desde ontem que o Fundo das Indústrias Culturais está a aceitar candidaturas para a primeira edição dos “Prémios na área das indústrias culturais”. Serão atribuídos dez prémios com montantes pecuniários que variam entre as 100 mil e 500 mil patacas

 

[dropcap]O[/dropcap] Fundo das Indústrias Culturais (FIC) começou ontem a aceitar as candidaturas para a primeira edição dos “Prémios na área das indústrias culturais”, destinados a empresas e projectos específicos que se tenham destacado neste segmento. Segundo um comunicado, as candidaturas podem ser apresentadas até ao dia 9 de Novembro, estando prevista a atribuição de dez prémios com montantes que variam entre as 100 mil e 500 mil patacas.

Esta iniciativa inclui os “Prémios de excelência de empresas na área das indústrias culturais” para a área de design criativo e os “Prémios de excelência de projectos na área das indústrias culturais” para a área de exposições e espectáculos culturais.

As recompensas destinadas às empresas “visam premiar [as que] tenham melhor capacidade nas operações financeiras e industrialização”. Já os prémios destinados a destacar o que de melhor se faz na área das exposições e espectáculos culturais “visam premiar os projectos desta área com maior potencialidade de desenvolvimento no mercado, conseguindo promover a marca de Macau”.

Caberá à Comissão de Avaliação das Candidaturas a Prémios a análise de todas as propostas apresentadas, uma entidade é composta maioritariamente por deputados e académicos. A escolha da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, recaiu sobre nomes como Ip Sio Kai, Wang Sang Man e Dominic Sio Chi Wai, entre outros.

Os critérios usados para a avaliação das candidaturas passam pelo crescimento das empresas, a inovação e o seu impacto na sociedade. Quanto aos prémios que distinguem projectos, os critérios seguidos são “a originalidade e conteúdo cultural, o benefício económico, os efeitos no impulso da indústria e benefícios sociais, bem como os efeitos na construção da imagem da marca”.

Presença de mercado

Para se candidatarem a estes prémios, as empresas devem pertencer à área de design criativo e ser constituídas antes ou até 31 de Dezembro de 2016, com uma operação contínua entre os anos de 2017 e 2019.

Os candidatos-alvo dos “Prémios de excelência de projectos” da área de exposições e espectáculos culturais incluem empresas, personalidades ou associações, cujos projectos devem ser os mesmos espectáculos, realizados pelo menos cinco vezes entre os anos de 2017 e 2019, com a venda de bilhetes ao público.

O FIC irá atribuir até dez prémios, incluindo uma medalha de ouro, prata e bronze do Prémio da Flor de Lótus, com valores que variam entre as 200 mil e 500 mil patacas. Serão atribuídos sete prémios de distinção com o prémio pecuniário individual de 100 mil patacas.

Os “Prémios de excelência de projectos” dividem-se em grupos de empresas, personalidades e associações, sendo atribuída uma medalha de ouro, prata e bronze do Prémio da Flor de Nenúfar a cada grupo, com os valores pecuniários a variar também entre as 200 mil e 500 mil patacas.

Haverá ainda sete prémios de distinção em que será atribuído a cada um o valor de 100 mil patacas. O número máximo de prémios por cada grupo é de 10.

9 Set 2020

Pintura | Exposição de Zheng Wenxin questiona limites da internet

A partir de sábado, a galeria At Light acolhe a exposição “Surfing”, onde pintora Zheng Wenxin procura desconstruir e explorar o modo como a utilização da internet interfere com o quotidiano de cada um. Até porque, no advento da era digital, a realidade também são dados capazes de navegar na rede

 

[dropcap]Q[/dropcap]uando em 1992, o norte-americano Mark McCahill usou a expressão “surfing the internet”, poucos imaginariam que a utilização mais comum que a maioria dos seus utilizadores faz 28 anos depois, tem como principal objectivo, passar o tempo, percorrendo páginas avulso de redes sociais e outras plataformas, pejadas dos mais variados conteúdos, de todos os tamanhos e feitios.

Num mundo onde a informação chega aos nossos olhos em avalanches de vídeos, texto e imagens que se confundem e interagem simultaneamente com a realidade, a pintora chinesa Zheng Wenxin pretende, através da sua obra, constatar que é cada vez mais difícil traçar uma linha entre a realidade e aquilo que é a internet que, noutros tempos, se assumiu como ferramenta de busca de informação útil.

Através das pinturas a óleo expostas na Galeria At Light, junto à Sede do Governo, a partir do próximo sábado e até 31 de Outubro, Wenxin explora o conceito de surfar a internet nos dias que correm, utilizando “técnicas distintivas e cores vibrantes”, mas fazendo também uso de metáforas relacionadas com elementos ligados ao mar, como redes de pesca e bóias salva-vidas.

“Quando os visitantes entrarem na galeria, vão sentir-se deslocados com a visão idílica de uma praia, que é precisamente o que acontece no nosso dia a dia. É tal e qual como as notícias online que brotam dos nossos telemóveis, sobre a morte de alguém ou alguma catástrofe natural, no mesmo instante em que estamos a desfrutar do sol numa praia”, pode ler-se numa nota do curador da exposição, Joey Ho.

Olhar para dentro

Outro dos objectivos de reflexão propostos pela obra de Zheng Wenxin, passa por fazer o público questionar a sua capacidade de “pôr um travão” ao consumo descontrolado de informação, apesar da consciência de que a vida quotidiana está cada vez mais ao sabor dos ventos digitais. “Olhem para dentro e para os que estão à nossa volta. Quantos de nós somos ’surfistas de informação’?”, questiona, Joey Ho.

Contudo, os traços da pintora pretendem ir mais fundo neste ensaio sobre telas digitais, partindo do princípio de que, aos poucos, todas as componentes da vida, mais ou menos abstractas, como os valores, emoções, preferências políticas, o mercado imobiliário ou um par de sapatos, farão parte da massa de dados virtual que é a internet, com o condão cada vez maior de ser capaz de moldar pontos de vista.

“A obra de Wenxin levanta uma questão binária: devemos surfar ou deixar-nos ir? No entanto, vivemos num tempo em que, apesar de os dados não serem tudo, tudo será transformado em dados. Por isso, será que temos escolha?”, conclui o curador.

8 Set 2020

Dança | Stella & Artists promove espectáculos de talentos locais

No próximo fim-de-semana, o Teatro da Caixa Preta no Edifício do Antigo Tribunal recebe três espectáculos de dança contemporânea promovidos pela companhia Stella & Artists. Segundo a mentora do projecto, Stella Ho, o objectivo passa por apostar na criatividade de novos dançarinos e coreógrafos locais, acostumados “apenas” a dançar

 

[dropcap]A[/dropcap] companhia de dança local Stella & Artists vai levar ao palco do Teatro da Caixa Preta, no Edifício do Antigo Tribunal, três espectáculos de dança contemporânea. As mostras, acontecem nos dias 12 e 13 de Setembro e são da responsabilidade de dançarinos e coreógrafos locais, assumindo-se como uma oportunidade para os novos talentos da área apresentarem criações inéditas e experimentais, desamarradas de estilos concretos.

Apelidada de “Macau CDE Springboard”, a iniciativa em que se enquadra a mostra local do próximo fim-de semana é, segundo a mentora e directora artística do projecto, Stella Ho, uma oportunidade “para os jovens dançarinos e coreógrafos locais poderem criar”.

“Penso que estas iniciativas são importantes porque há falta deste tipo de oportunidades. O objectivo principal passa por deixar os dançarinos criar, porque eles normalmente estão ‘apenas’ dedicados a dançar e têm muito para dizer. Por isso, esta é uma boa plataforma para os deixar criar algo por si próprios, em vez de apenas dançarem”, disse ao HM.

Para a edição deste ano da mostra local, a Stella & Artists convidou dois consultores criativos, Chan Yi En (Taiwan) e Daniel Yeung (Hong Kong), a quem foi atribuída a responsabilidade de orientar as criações dos dançarinos e coreógrafos participantes.

Ao todo, o público poderá assistir a oito criações de dança contemporânea com temas e estilos distintos, incluindo reflexões sobre o dia a dia, a sociedade e o contexto actual, numa mistura “onde a dança procura explorar os limites da música, de objectos ou dos próprios corpos”.

“Normalmente, as companhias de dança adoptam um estilo particular mas, neste caso, as criações vão debruçar-se sobre o que os artistas pensam sobre a sociedade de um ponto de vista muito experimental mas também, diria, mais ‘dançante’ do que é habitual na dança contemporânea”, sublinha Stella Ho.

As criações podem ser vistas ao longo das duas sessões previstas para sábado, às 15h30 e 20h00 e da sessão prevista para as 15h30 de domingo. Os bilhetes têm o custo de 120 patacas.

Contornar a pandemia

Devido à crise provocada pela covid-19, os dois consultores criativos envolvidos na iniciativa apenas puderam orientar os dançarinos e coreógrafos de Macau, através de vídeo-conferência e a partir de Taiwan e Hong Kong.

Além disso, dado que um dos coreógrafos participantes não conseguiu voltar para Macau, uma das criações será transmitida, em directo, para Taiwan, permitindo estabelecer comunicação directa com a audiência.

Recorde-se que em Janeiro, a Stella & Artists promoveu uma mostra internacional de dança contemporânea em Macau, integrada na iniciativa “Macau CDE Springboard”, que acontece anualmente em Macau desde 2013. Devido à pandemia, para já, apenas estão previstas no futuro mais duas mostras locais.

Sobre a iniciativa, Stella Ho, ressalva que é “um importante meio de mostrar o trabalho dos jovens dançarinos de Macau”, pois, nos últimos 10 anos, “este tipo de eventos de intercâmbio têm sido raros”.

7 Set 2020

Morreu o editor Francisco Espadinha, nascido em Macau, com 86 anos

[dropcap]O[/dropcap] Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou o editor Francisco Espadinha, que morreu na segunda-feira, aos 86 anos, como “uma figura histórica da edição em Portugal”. Numa nota de condolências, Marcelo Rebelo de Sousa refere “a longevidade da Presença”, editora que Espadinha fundou em 1960, e “a diversidade do seu catálogo” com autores como Eduardo Lourenço, J. K. Rowling, George Steiner, Alçada Baptista, David Mourão-Ferreira ou Umberto Eco, além de “importantes coleções de poesia e teatro, de ensaio e de livros policiais”.

“Em época de reconfiguração, por vezes muito dura, do panorama editorial português, em tempos de pandemia, e no mês em que o regresso das Feiras do Livro de Lisboa e Porto nos convoca à memória e à militância cultural, recordo uma vida dedicada ao livro e à edição, em dois regimes e em situações muito diversas nos seus desafios”, escreve Rebelo de Sousa que apresenta à família de Espadinha “sentidas condolências”.

“Um projecto emblemático”

A ministra da Cultura em Portugal considerou que o editor Francisco Espadinha liderou “um dos projectos mais emblemáticos e ecléticos da história da edição em Portugal”.

Numa nota de pesar pela morte do fundador da editorial Presença, Graça Fonseca recorda que Francisco Espadinha presidiu por duas vezes à Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), de 1987 a 1992, e foi durante a sua direção que a Feira do Livro de Lisboa se mudou da Avenida da Liberdade para o Parque Eduardo VII.

Foi “uma decisão corajosa e que o sucesso das consecutivas edições deste evento literário veio confirmar como acertada”, afirma a ministra. Para Graça Fonseca, o editor transformou “o seu gosto pelos livros e pela leitura num trajeto exemplar” e é um dos nomes que mais marcaram o setor do livro nos últimos 60 anos em Portugal. Francisco Espadinha “será sempre uma figura marcante no mundo editorial”, acrescenta Graça Fonseca.

“Um dos mais prestigiados editores portugueses”

A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), por sua vez, lamentou também a morte de Francisco Espadinha, que definiu como “um dos mais prestigiados editores portugueses”.

A APEL recorda que Espadinha “se afirmava ‘essencialmente um leitor'”, e ficará ligado à carreira de muitos “dos mais importantes escritores portugueses do século XX”, como Irene Lisboa, António Alçada Baptista, David Mourão-Ferreira, Vergílio Ferreira e Vitorino Magalhães Godinho, entre outros.

Entre as iniciativas de Francisco Espadinha, a APEL realça “a divulgação de muitos autores estrangeiros, incluindo traduções próprias de muitos clássicos, e uma coleção como a extraordinária ‘Biblioteca de Babel’, com ‘direção editorial’ de Jorge Luís Borges”.

Recordou igualmente a sensibilidade de Francisco Espadinha para a área infantojuvenil, na Editorial Presença, dando “atenção ao que se faz pelo mundo, como aconteceu, por exemplo, com a série Harry Potter”.

Em Maio de 2011, no decorrer da 81.ª Feira do Livro de Lisboa, “foi feita uma justa e devida homenagem a esta figura ímpar do nosso sector”, recorda a APEL.

Francisco Espadinha presidiu a associação de 1981 a 1987 e de 1998 a 1999, tendo sido durante seu mandato que se procedeu à transferência da Feira do Livro de Lisboa da Avenida da Liberdade, em Lisboa, para a sua actual localização, no Parque Eduardo VII, “dando ao livro e à Feira a notável visibilidade que hoje todos lhe reconhecem”.

Francisco José da Conceição Espadinha nasceu em Macau, em 30 de Junho de 1934, era licenciado em Direito, pela Universidade de Lisboa, e fundou a Editorial Presença em 1960. O editor foi membro da Comissão Consultiva do Instituto Português do Livro e da Leitura (1986-87), e dirigiu a revista “Livros de Portugal”, editada pela APEL, durante os seus dois mandatos.

Fez ainda parte da Comissão Nacional da Língua Portuguesa (1988-1990), foi delegado português na Federação de Editores Europeus e membro do Conselho Superior das Bibliotecas Portuguesas (1991). Em 2015, o então Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, condecorou-o com a Comenda da Ordem de Mérito.

4 Set 2020