Ano Novo Chinês | Parada, dança e música marcam chegada do Tigre 

A chegada do ano do Tigre em Macau é celebrada com diversas actividades organizadas pela Direcção dos Serviços de Turismo, com dança e música em vários pontos da cidade. Destaque para o desfile do dragão dourado, amanhã e quarta-feira, com início nas Ruínas de São Paulo e que fará um percurso pelo centro histórico

Começam amanhã as festividades que marcam a chegada de um novo ano lunar organizadas pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST). A cerimónia de arranque das actividades acontece esta terça-feira junto às Ruínas de São Paulo, sendo que às 10h30 serão distribuídas pelos participantes inscrições auspiciosas e gotas de ouro pelo Deus de Fortuna.
Às 11h, acontece a cerimónia de vivificação do dragão gigante dourado e de leões e após a queima de panchões, terá início o desfile do dragão gigante dourado de 238 metros e 18 leões. O percurso começa nas Ruínas de São Paulo e continua no Largo do Senado, Calçada do Tronco Velho, Largo de S. Agostinho, Rua Central, Travessa da Paiva, Porta principal da Sede da RAEM, Travessa do Padre Narciso, Igreja de S. Lourenço, Bairro do Lilau, Rua da Barra, Templo A-Má, Avenida Panorâmica do Lago Sai Van, Rotunda da Baía da Praia Grande e Praça do Lago Sai Van.
Este desfile simboliza “a transmissão de votos de felicidade a todos os residentes e visitantes de Macau”, aponta a DST. Além disso, a mascote “Mak Mak” estará presente em vários locais da cidade.

Dança para todos

Além do desfile, estão também programados vários espectáculos de dança em locais como o Largo do Pagode da Barra, Ruínas de S. Paulo, Largo do Pagode do Bazar e Casas da Taipa. Inclui-se neste programa a apresentação por parte da Trupe de Arte Étnica do Congjiang da Província de Guizhou.
O Deus da Fortuna, os três Deuses da Felicidade, Longevidade e Prosperidade, Par de Meninos, Tigre do Zodíaco Chinês e a mascote “Mak Mak” estarão também, em horários diferentes, em locais como o espaço Anim’Arte NAM VAN, Largo do Pagode do Bazar, na Zona de Lazer dos Três Candeeiros (Rotunda de Carlos da Maia), na Feira do Carmo, no Largo do Senado, no Templo de A-Má, nas Casas da Taipa, nas Portas do Cerco, no Posto Fronteiriço de Qingmao e na Zona de Lazer da Rua do General Ivens Ferraz.
Na quinta-feira, o terceiro dia do ano novo chinês, acontece a parada de celebração do ano do Tigre, que se repete dia 12, o 12.º dia do ano novo. A cerimónia de abertura está agendada para as 20h e contará com alguns artistas convidados, como é o caso de Germano Guilherme e Lei Sum Yi, de Macau, e Mak Cheong Ching, de Hong Kong.
O espectáculo vai ter ainda a presença dos músicos Ft. Rapper JRD & J. HO, bem como Vivian Chan e Rico Long. Irão ainda decorrer espectáculos antes do início da parada, a fim de criar “um ambiente animado” no local, com entrada a partir das 17h30.
As bancadas para o público estão localizadas na Praça do Lago Sai Van, Avenida Dr. Sun Yat-Sen, Praça do Centro Ecuménico Kun Iam e na Rotunda do Centro de Ciência de Macau. Dado o número de lugares ser limitado, estes serão atribuídos por ordem de chegada.
A DST organizou ainda espectáculos de fogo-de-artifício que terão lugar nas noites do terceiro, sétimo e décimo quinto dia do Ano Novo Lunar (3, 7 e 15 de Fevereiro).

3 Fev 2022

Bienal de Pequim | Fátima Sardinha, a professora que representa Portugal 

Desde cedo que revelou um talento natural para a pintura e o abstraccionismo foi um amor imediato. Medos e inseguranças afastaram-na de uma carreira artística e empurraram-na para o ensino, mas um burnout levou-a a apostar na pintura e a encará-la como uma carreira. Com o quadro “Love Song”, é a única artista portuguesa presente na 9.ª Bienal Internacional de Pequim

O percurso artístico de Fátima Sardinha, a única artista portuguesa a representar Portugal na 9.ª Bienal Internacional de Pequim, é tudo menos banal. Estudou artes no ensino secundário e os professores elogiavam-lhe o talento e a capacidade de rasgar tudo e encher de novo uma tela. Mas, mais tarde, nem sequer se inscreveu na Escola de Belas Artes do Porto, por medo de não conseguir sustentar-se com os seus quadros e também pela insegurança tão própria da idade.

Com um mestrado e doutoramento em matemática, Fátima Sardinha tornou-se professora primária, mas um burnout levou-a de novo para o mundo das artes, embora a pintura sempre tenha estado presente na sua vida.

“Comecei a pintar novamente, abri uma conta no Instagram e, para surpresa minha, tive uma resposta muito positiva ao meu trabalho”, contou ao HM. Fátima Sardinha confessa que o trabalho tem funcionado como “uma terapia, nos bons e nos maus momentos”.

“Fui conhecendo gente no mundo das artes e criei um grupo de artistas de todos os continentes, com um curador mexicano, o Sérgio Gomez.”

Rapidamente, Fátima Sardinha começou a vender alguns dos seus trabalhos online, além de ter exposto também por esta via no período da pandemia. “Tive portas abertas que, se calhar, de outra forma não se iriam abrir. Concorri depois à Bienal de Arte de Vila Nova de Gaia [2021] e fui seleccionada com um trabalho sobre o confinamento, baseado em imagens que tínhamos da situação em Itália.”

Participar na Bienal em Pequim, surgiu depois de a Direcção Geral das Artes, entidade ligada ao Governo português, ter aberto um concurso para artistas portugueses. Fátima Sardinha foi a única seleccionada.

“Fiquei surpreendida quando descobri que era a única portuguesa presente na Bienal, uma oportunidade única. Tive a oportunidade de participar num evento que, de outra forma, não me seria possível, pois o quadro tem 1,60 por 1,80 metros, não iria ficar barato para mim [o envio]. Mas o Governo chinês comparticipou tudo”, disse ainda.

Sentimentos na tela

Esta é a primeira vez que Fátima Sardinha expõe na Ásia. “Love Song” representa a esperança e foi pintado em Junho de 2020, quando o mundo vivia os primeiros confinamentos devido à pandemia. “Essa peça tem uma cor e energia que quase consome tudo o que está à sua volta, e também pela textura. Estava bem, pensei que a pandemia estava a passar e que as coisas iam melhorar. E essa é a ideia da Bienal, a luz da vida. [O quadro representa] o amor à vida, uma canção de amor. Pode ter várias leituras.”

Esta e todas as obras de Fátima estão ligadas ao abstraccionismo, que a acompanha desde sempre.

“Tenho alguns trabalhos figurativos, muito poucos, mas dentro do figurativo abstracto. Cada quadro que pinto é um pouco de mim… é uma situação. Não pinto apenas por pintar.”

A artista confessa que gostava de reunir as diferentes reacções e emoções que os seus quadros geram nas pessoas. “É engraçado, porque quem vê as minhas obras diz sempre que são melhores ao vivo. Há pessoas que encontram caras nos quadros, vêem várias coisas. Para mim, a pintura tem de oferecer algo a quem está a ver, é como oferecer os espaços em branco, porque o autor nunca nos diz tudo. Há sempre um espaço dedicado à imaginação e é assim que eu vejo a pintura abstracta.”

Para Fátima Sardinha, “uma obra de arte nunca está acabada”. Há sempre margem para mais um improviso, daí a aposta na pintura a óleo e não em acrílico, que a artista experimentou durante uns tempos.

Sentimentos e pensamentos são os grandes protagonistas das obras desta artista, que reside no Porto. “Toda a minha obra é um pedaço de mim. Cada quadro, para mim, representa algo. Tenho dois quadros que não estão à venda, nem nunca vão estar, são sobre o falecimento dos meus gatos”, exemplifica.

Além da participação na Bienal de Vila Nova de Gaia, Fátima Sardinha expôs o seu trabalho, no ano passado, na exposição online “Opening”, em Chicago, EUA, e na mostra “Collective Energy – A Screaming Art Group Exhibition”, entre outras.

28 Jan 2022

José Drummond com dois projectos expostos nas cidades de Foshan e Changsha

Com uma laboriosa produção criativa, mesmo durante a clausura pandémica, os trabalhos de José Drummond saíram do estúdio numa escala maior do que a habitual, mas mantendo as tensões e dicotomias que caracterizam o seu trabalho. O HM falou com o artista português radicado em Xangai, que tem trabalhos expostos em Foshan e Changsha, conquistando cada vez mais um espaço único no mundo artístico da imensa China

 

Actualmente, tem dois projectos expostos em duas cidades, Foshan, na província de Guangdong e Changsha, na província de Hunan. Pode fazer-nos uma breve apresentação destes trabalhos?

As duas instalações têm características formais relativamente diferentes. Uma está inserida num espaço interior, outra num espaço público exterior. Uma é uma caixa preta de um espaço museológico, e que funciona um pouco de uma forma transgressiva porque propõe a existência de um espaço dentro de um outro espaço.

Vamos por partes. Como caracteriza a obra exposta no Xie Zilong Museum, em Changsha, “The Dream Of The Red Chamber”?

Tenho trabalhado bastante com luz e com néons e para este espaço a minha proposta andou à volta de um sentido algo híbrido. O néon principal, que é uma espécie de um labirinto fechado tem uma imagem que faz lembrar motivos chineses e microchips de computador. A peça tem uma série de ambivalências ligadas entre si, em reflexo ao néon central na parede principal. Existe também um LED preto e vermelho, muito característico de restaurantes e lojas chinesas. Em geral, servem para vender um produto qualquer e aquilo que eu fiz é algo de disruptivo. O produto que estou a vender ali é uma citação do livro que dá o título à peça: “The Dream of the Red Chamber”, um dos quatro clássicos chineses. A citação, que aparece em chinês, traduzida seria algo como “a verdade torna-se ficção, quando a ficção é verdade e o real torna-se irreal quando o irreal se torna real”.

Uma dicotomia quase existencialista.

São coisas que trabalho há bastante tempo, estas bipolaridades, estes binómios de opostos. Para completar a instalação existe uma frequência sonora, que inunda o espaço e acaba por envolver os visitantes. Essa frequência sonora é a chamada Ressonância Schumann, que corresponde à frequência do planeta Terra, à frequência mais intensa e interior, uma frequência de 7,83 Hz. Curiosamente corresponde também à frequência que o nosso cérebro emite quando sonhamos.

Porquê introduzir um elemento sonoro?

Foi importante inserir este elemento, porque acredito que está tudo ligado, o mundo não é composto por partes diferentes. Nesse sentido, esta correspondência entre o cérebro humano e o coração da Terra fez todo o sentido. Também permite ao visitante, dentro da instalação, entrar num sentido mais hipnótico de labirinto fechado, neste binómio entre a verdade e a ficção, entre o real e o irreal. Tudo isso acaba por compor, no final, uma espécie de espaço que não é só de contemplação, mas também uma mediação entre o presente e uma realidade alternativa, que surge quando temos a possibilidade de parar e sentir coisas. Tenho usado muito a expressão “templo pós-humano” para caracterizar este caminho que os meus trabalhos têm seguido mais recentemente.

Esse conceito especulativo é algo curioso. Podia alargar esse conceito?

Os meus trabalhos sempre foram um pouco existencialistas num sentido beckettiano, com algum absurdismo. Mas recentemente tenho-me interessado mais por um certo lado do budismo, é algo que tem tomado mais forma. Existe aqui qualquer coisa, qualquer sugestão. O meu trabalho não se livra de referências ao mundo da arte, especialmente em instalação, aí é ainda mais óbvio. Estas referências existem para criar algum desafio, alguma disrupção, até porque acredito que os trabalhos devem ser autossuficientes. Ou resultam ou não, não precisam necessariamente de trazer muitas coisas atrás. Mas voltando a esse ponto do templo pós-humano. Penso que estamos a atingir um momento muito interessante na nossa civilização, em que começamos cada vez mais a funcionar por meios digitais. Temos inteligência artificial a simular muitas coisas. Apesar de o meu trabalho ser contemporâneo, e ter estas referências todas do passado da arte contemporânea ligada ao conceptualismo e ao minimalismo, inclui elementos que o levam para um lado retro-futurista, ciberpunk, porque é especulativo, tem uma ambição que já ultrapassa a própria vivência neste tempo presente.

O nosso tempo de vida, enquanto espécie.

Fala-se muito das alterações climáticas e do ambiente. Obviamente que é preocupante, todos deveríamos tentar fazer mais neste capítulo, mas se olharmos para a história do planeta Terra, para o que aconteceu nos últimos 50 anos, isto na história do planeta são duas horas na nossa vida. Não significa muito. Encontro aqui paradigmas que são interessantes para mim. É uma existência irrelevante quando encaramos no big picture. Possivelmente, aquilo que as alterações climáticas vão potenciar cada vez mais é exactamente a não existência de humanos, porque o planeta vai continuar a existir. Sabemos que tudo isto é cíclico.

Até quando estará patente este trabalho em Changsha?

Esta instalação está aberta ao público até 19 de Fevereiro.

Passando para a instalação patente num parque público no distrito de Nan Hai, em Foshan. Até quando pode ser visitada? E como surgiu este projecto?

A instalação vai estar no parque até 16 de Abril. Em termos de referências, há quem mencione o Dan Graham e no “2001, Odisseia no Espaço”. Mas a ideia para o projecto nasceu de uma coisa mínima, uma moeda antiga chinesa. Estas moedas têm em si duas formas infinitas, o quadrado e o círculo. Foi a partir daí que, entretanto, surgiu esse trabalho. Do meio do círculo sai o monólito. O círculo poderá ter mais a ver com land art, com o Richard Long, por exemplo. Na realidade, a ideia de criar o monólito em espelho vive comigo desde meio dos anos 90, mas nunca tive oportunidade de o fazer, e agora, por alguma razão, voltou quando me lançaram o desafio de participar nesta exposição de arte pública. Obviamente, o “2001” contém a ideia de pós-humano, de um espaço de mediação entre a ilusão e a realidade, é uma referência que tem a ver, claro. Não foi, no entanto, o ponto de partida. O começo partiu do espaço entre culturas e as antigas moedas chinesas.

Como foi a produção deste projecto?

Este trabalho deu-me bastante gozo a preparar, levou seis meses até ser concluído. Combina o conceito de monólito, uma estrutura muito rígida, enquanto que o círculo que está na sua base tem uma estrutura mais orgânica e flexível. Só combinar esse monólito com a ideia do jardim budista com pedras, onde as pessoas podem passear, interessou-me também como uma metáfora entre sistemas organizados e com sistemas flexíveis, apesar de o trabalho não ser sobre isso. Nomeadamente, o sistema político, que é extremamente organizado e funciona, na maior parte das vezes, como um monólito, e o círculo, as pedras onde podemos passear, que podem ser as pessoas. Mas, essencialmente, a intenção foi criar um espaço de contemplação, de meditação, um espaço para parar e esquecer, momentaneamente, o presente.

Apesar da rigidez geométrica, o monólito reflecte pessoas no espaço público.

No fundo, interessava-me que esta instalação fosse um objecto que dentro do seu minimalismo pudesse criar a ilusão entre invisível e visível. A questão de se olhar para uma paisagem, mas depois ter um elemento que interfere e reflecte a sua parte. Assim como, tornar visível aquilo que é invisível ao olhar, ao mesmo tempo omitir aquilo que está por trás dessa linha visual que existe.

Podemos afirmar que sai da pandemia, colocando a constante emergência sanitária no passado, em pleno de vigor criativo. O período da pandemia foi de acumulação de trabalhos?

Durante a pandemia não parei de trabalhar no estúdio. Mas há aqui um factor interessante, porque me perguntou sobre vigor, que tem a ver com a escala. Estes dois trabalhos, especialmente o último com cinco metros de altura, têm uma escala considerável. A escala no meu trabalho mudou com estas duas instalações, era algo que já tinha a tentação de experimentar, e que finalmente tive a oportunidade de fazer. Uma escala maior permite criar este tipo de narrativa sobre espaços, sobre os templos pós-humanos, estes espaços de mediação entre o tempo e o humano, entre o tempo presente e o tempo do sonho. Tudo isso não existe quando estamos a falar de uma fotografia, ou de uma coisa bidimensional.

O aumento de dimensões é algo que já entrou no seu processo criativo?

Tenho inúmeros projectos diferentes e todos eles são instalações com uma escala considerável. Apesar de a maior parte estar ainda em fase de projecto, se tiver oportunidade para continuar a fazer coisas, esta será provavelmente a área que me interessa mais prosseguir neste momento.

27 Jan 2022

Lisboeta | Inaugurado hotel “Casa de Amigo” 

O empreendimento Lisboeta, situado no Cotai e propriedade da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), conta com um novo hotel, projecto do estúdio Line Friends, fundado pelo designer sul-coreano Kang Byeong. “Casa de Amigo” apresenta 82 quartos com três distintos, intitulados “Brown’s Room”, “Cony’s Room” e “Line Friend’s Room”.

O conceito por detrás deste novo empreendimento hoteleiro é, como o próprio nome indica, ter uma casa que recebe os amigos, num espaço cheio de criatividade. É dado um grande destaque aos elementos culturais específicos de Macau, tal como a arquitectura portuguesa e “cores esplêndidas, perfeitamente misturadas” com a imagem do estúdio Line Friends. Os preços dos quartos, por noite, variam entre 1,5888 e 3,388 patacas.

26 Jan 2022

Arte | Escultura de bambu de Wong Ka Long exposta na Taipa

“Reverie” é o nome da escultura de bambu com inspiração em elementos da cultura japonesa da autoria do artista local Wong Ka Long que estará patente em dois locais da vila da Taipa a partir desta quarta-feira. A iniciativa é da galeria Taipa Village Art Space, que, entretanto, se prepara para mudar de instalações

 

São capacetes transformados em sinos, com as cores características da vila da Taipa, uma mescla de amarelos, verdes e azuis. Tudo isto se relaciona com uma escultura em bambu com cerca de três metros, que revela símbolos da cultura japonesa, como o santuário ou a casa de chá.

É assim “Reverie”, com as temáticas “Bless” e “Tea Room”, o mais recente projecto do escultor Wong Ka Long que estará exposto nos largos Maia de Magalhães e Tamagnini Barbosa, na vila da Taipa, a partir de hoje e até ao dia 15 de Abril. Esta iniciativa, da galeria Taipa Village Art Space, gerida por João Ó, vem dar voz a uma criação artística antiga de Wong Ka Long, acrescentando-lhe uma nova roupagem.

“Este foi um dos projectos mais interessantes, em termos colaborativos, que tive com um artista”, confessou João Ó ao HM. “Ele chegou com uma ideia e eu dei-lhe soluções, pois não havia nada pré-estabelecido. Eu apresentei o bambu e ele os capacetes. Inicialmente queríamos mostrar as esculturas que o artista já tinha feito, mas muitas foram sendo mostradas ao longo dos anos e não era muito positivo estar a repeti-lo.”

Desta forma, “Reverie” traz novamente a público um projecto anterior, com capacetes militares, que representam “uma dicotomia entre a guerra e a paz, o Oriente e o Ocidente”. Estes capacetes já foram expostos como se fossem cerâmica tradicional chinesa, com uma referência aos cravos vermelhos da revolução portuguesa do 25 de Abril de 1974.

João Ó descreve Wong Ka Long como “um escultor bastante versátil” que tanto trabalha com materiais mais tradicionais, como o barro, como depois aposta nas estátuas de bronze exibidas em espaços exteriores.

O responsável pela galeria Taipa Village Art Space adiantou também que optou pelo Largo Maia de Magalhães, por ser um sítio mais pacato, mas acolhedor, em contraste com o Largo Tamagnini Barbosa, onde passam muitas pessoas.

Com “Reverie” pretendeu-se, desde o início, estabelecer uma comunicação com quem vê a peça, para que esta possa ser tocada e sentida. “As pessoas em Macau têm imensa afinidade com o bambu, existe um afecto intrínseco da população chinesa com o bambu. E a peça do artista é bastante apelativa e íntima face à população e acho que, nesse sentido, haverá imensa receptividade. Além disso, é um trabalho interactivo, pois as pessoas podem mexer nos capacetes transformados em sinos e fazer as suas preces.”

Novo espaço

Trazer “Reverie” para a rua foi a solução encontrada por João Ó tendo em conta a mudança de instalações da galeria de arte, que só deverá materializar-se daqui a uns meses.

“Deixámos de ter a galeria de arte este ano por questões imobiliárias, o espaço foi demolido e vai ser revertido para exploração de restauração. Já temos outra galeria em vista, noutro espaço na vila da Taipa, mas não vai estar pronta tão cedo. Sabendo isso desde final do ano passado, projectamos esta primeira exposição para o exterior, para aproveitarmos o tempo e continuarmos a lançar projectos no espaço público.”

O arquitecto afirma que cada vez mais deseja experimentar novas formas de exibir arte. “Há falta de espaços para desenvolver iniciativas, sobretudo interiores. Deve haver uma flexibilidade na forma de mostrar os artistas, mudar o conceito de que todas as exposições devem ser interiores. O espaço interior é, para mim, muito mais o de coleccionador e de museu.”

Nascido em Macau em 1977, filho de um pintor de aguarelas, Wong Ka Long estudou escultura na Academia de Belas Artes de Guangzhou em 1996, tendo feito o mestrado na mesma área em 2003. Desde 2004, que o autor tem participado em inúmeros projectos e exposições. É muito conhecido no território pelo trabalho que explora a ligação entre peças militares antigas, o bronze e a cultura.

26 Jan 2022

Albergue SCM | Semana do Design de Macau destaca sector da restauração 

Termina esta quinta-feira mais uma edição da Semana do Design de Macau, que este ano se foca nas Pequenas e Médias Empresas locais, ligadas ao sector da restauração, que tentam mudar a sua imagem. Hong Ka Lok, dirigente da Associação de Design de Macau, revela que o objectivo deste evento é mostrar que o talento e “poder” dos designers locais está vivo e recomenda-se

 

A edição deste ano da Semana do Design de Macau pretende mostrar os negócios locais na área da restauração que buscam por uma nova imagem, em resposta a novos tempos, mercados ou consumidores. Até quinta-feira, a exposição com alguns trabalhos desenvolvidos por designers para marcas locais pode ser vista no Albergue SCM, num evento que conta com o apoio de várias entidades, incluindo o Instituto Cultural, sendo organizado pela Associação de Design de Macau.

A mostra pretende “mostrar como os designers podem contribuir para as pequenas e médias empresas (PME) locais e as suas marcas, e como podem, através disso, atrair mais turistas e jovens, para que estes conheçam melhor a história de restaurantes antigos do território”, exemplificou Hong Ka Lok, dirigente da Associação de Design de Macau.

Este evento “apresenta casos de colaborações entre dezenas de empresas locais e de Singapura, além de promover visitas guiadas a estas marcas”, a fim de demonstrar “o poder do design de uma forma mais directa, no sentido de revelar como é que os designers convertem a filosofia e as histórias de um negócio numa linguagem visual”.

A Semana do Design de Macau do ano passado focou-se “na ideia de coleccionar os trabalhos de designers e mostrar que há novos profissionais em Macau, e que todos eles estão activos e a mostrar o seu trabalho em plataformas internacionais”, adiantou Hong Ka Lok.

Na edição deste ano, o foco é nas PME e nas suas marcas. “Através da associação percebemos que hoje em dia há muitas PME que estão a tentar fazer uma renovação da sua marca, e que também têm uma nova imagem para o seu mercado”, acrescentou o responsável.

Pontes e plataformas

Citado por um comunicado, Chao Sio Leong, presidente da Associação de Design de Macau, lembrou que esta é a 17.ª edição de um evento inteiramente dedicado a esta área e que a entidade permanece com os esforços de promover “os negócios criativos de Macau”.

O objectivo com esta mostra é “estabelecer uma ponte de comunicação entre o design e o público em geral”, bem como uma plataforma de troca de ideias através de fóruns, exposições e exibições de filmes, entre outros eventos.

Neste sentido, a edição deste ano da Semana do Design de Macau organizou uma “Noite do Design”, numa tentativa de integrar esta área com a música ou as artes visuais, entre outras expressões criativas. A ideia foi sempre levar o público “a explorar mais possibilidades de design local e compreender o seu valor na sociedade”.

25 Jan 2022

Cinema | CUT apresenta “Abe, de Fernando Grostein Andrade, no próximo sábado 

No próximo sábado, dia 29, será exibido “Abe”, o filme que encerra a sexta edição de um cartaz de filmes pensados virados para a família. A iniciativa, promovida pela Associação Audiovisual CUT, inclui ainda um workshop com Helen Ko sobre pratos tradicionais do Ano Novo Chinês. Rita Wong, directora da CUT, adiantou que um novo cartaz de filmes já está a ser pensado

 

“Abe”, um drama com toque de comédia, de Fernando Grostein Andrade, é a escolha da Associação Audiovisual CUT para encerrar um programa de cinema dedicado a miúdos e graúdos. A exibição acontece no próximo sábado, dia 29, na Casa Garden, sendo antecedida por um workshop sobre pratos tradicionais chineses com a artista Helen Ko. Os dois eventos têm lugar entre as 15h e as 17h.

Ao HM, Rita Wong, directora da CUT, contou que a escolha do filme visou, precisamente, reunir toda a família. “Este filme é mais ajustado para crianças um pouco mais velhas, entre oito a dez anos de idade, porque tem mais diálogos.

Também fazemos a curadoria de actividades e desta vez convidamos uma artista, Helen Ko, que nos vai falar sobre os pratos tradicionais do Ano Novo Chinês. Queremos, desta vez, aproximar-nos desta festividade, apresentar às crianças as comidas que tradicionalmente se preparam nesta altura do ano e dar-lhes a conhecer o seu significado e como estão ligadas à família. Queremos criar também uma maior consciência da criatividade.”

Este ciclo de cinema para as famílias teve início no ano passado, estando neste momento a CUT a preparar a edição de 2022. No entanto, como está dependente do apoio financeiro do Instituto Cultural, Rita Wong não quis adiantar grandes detalhes sobre o cartaz, que já está em preparação.

“Ao longo deste ano observámos que podemos ter mais filmes e eventos associados à natureza e aos modos de vida. Penso que há ainda mais espaço para criar novos programas com artistas locais.”

Acima de tudo, a CUT pretende “ter mais recursos para continuar com esta actividade, porque tem um grande significado e as famílias gostam bastante de assistir aos filmes em conjunto, bem como de participar nas actividades complementares que criamos”, frisou a responsável.

Outras fitas

Tendo em conta o cenário de pandemia, Rita Wong confessou que continua a haver bastante espaço para a exibição de filmes além das salas de cinema habituais e da Cinemateca Paixão, anteriormente gerida pela CUT.

“Nesta altura de pandemia as pessoas não conseguem sair e procuram por mais bons programas para fazerem sozinhos ou em família. Já são exibidos muitos filmes comerciais e penso que há de facto espaço para mostrar outro tipo de cinema diferente do que é produzido em Hollywood.”

“Abe” conta a história de um menino de 12 anos que mora na zona de Brooklyn, em Nova Iorque, com a mãe judia e o pai palestiniano. Com tantas diferenças no seio familiar, Abe decide começar um curso de gastronomia, tornando-se amigo e aprendiz de Chico, personagem interpretado pelo músico brasileiro Seu Jorge.

24 Jan 2022

Dança | “O Ano Formidável” chega ao CCM em Março

O pequeno auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) irá receber, entre os dias 11 e 12 de Março, o espectáculo de dança intitulado “O Ano Formidável”, com a dupla de bailarinos Tracy Wong e Mao Wei. Este é um espectáculo criado no âmbito do plano de comissões do CCM, sendo que os bilhetes estão à venda desde ontem.

Este duo criativo de bailarinos promete subir ao palco e interpretar uma coreografia contemporânea “honesta, quase brutal, que explora visualmente a complexa aventura da maturação humana”, e que se mistura com uma “série de efeitos sonoros e visuais mesclados com música rock original”.

Este espectáculo “é apresentado com um cenário simples através de uma arguta combinação de adereços e iluminação que, de modo efectivo, cria a atmosfera”, descreve ainda o Instituto Cultural (IC).
Tracy Wong e Mao Wei já criaram “inúmeros trabalhos de vanguarda”, tal como “Prazo de Validade” ou “As Franjas Curiosas – Explosão da Caverna”, em colaboração com artistas de França e Bélgica. “O Ano Formidável” é uma produção totalmente criada em Macau e surge “como antecâmara de lançamento para os novos horizontes coreográficos desta dupla criativa”.

23 Jan 2022

Cinema | “Eu e o meu pai motorista”, de Niko Ho, seleccionado para apoio do IC

O Instituto Cultural (IC) escolheu o projecto cinematográfico “Eu e o meu pai motorista”, de Niko Ho, natural de Macau, para o prémio de melhor argumento. Niko Ho recebe agora 60 mil patacas no âmbito do “Programa avançado de argumentos cinematográficos”, uma iniciativa conjunta do IC com a Administração de Cinema da província de Guangdong e Create Hong Kong.

“Eu e o meu pai motorista” conta o dia-a-dia de uma família de três pessoas sustentada pela actividade comercial de uma frutaria depois de esta ter passado pelo tufão Hato. Este projecto de Niko Ho foi também seleccionado pela China Film Director’s Guild para integrar a lista de 20 melhores filmes do programa “Young Shoots”.

Outro projecto escolhido foi “Silent Few”, do realizador Li Jing, natural de Guangdong. Esta produção baseia-se numa história verídica e contém uma narrativa sobre o esforço e o contributo de um advogado especializado em assistência jurídica na promoção do estabelecimento do sistema jurídico em regiões de etnias minoritárias da China.

Estes dois projectos foram escolhidos de um total de seis candidatos, que receberam ainda um curso de formação nesta área, realizado entre os meses de Junho e Setembro do ano passado. De Macau concorreram quatro realizadores.

O objectivo do “programa avançado de argumentos cinematográficos” é “facultar orientações sobre argumentos, com o objectivo de fomentar o talento no âmbito da criação cinematográfica e de gerar um maior número de filmes criativos, a fim de estimular o desenvolvimento da indústria cinematográfica”. O júri foi composto pelo ex-director assistente da Create Hong Kong, Wellington Fung, pelo produtor experiente de Hong Kong, John Chong, e pela guionista do Interior da China, Yuan Yuan.

23 Jan 2022

Artes | Festival Fringe despede-se da cidade este fim-de-semana

A 21.ª edição do Festival Fringe chega ao fim no domingo, mas até lá, a festa das artes performativas, com Teatro, exposições interactivas e experiências sensoriais vai continuar na rua

 

A 21.ª edição do Festival Fringe está a chegar ao fim, com os derradeiros eventos marcados para domingo, restando três dias de performances e actividades espalhados pelos bairros comunitários.

Dentro do cartaz do Fringe deste ano, existe como que um outro festival paralelo, o Todos Fest, com uma profusão de actividades que rompem preconceitos e barreiras.

Uma delas é a exposição “Arte para Todos”, que vai estar no coração do Fai Chi Kei, zona de lazer da Praça das Orquídeas, até domingo, das 12h às 20h, e que funde artista e público num único corpo comunitário. A ideia por trás da iniciativa, é a apresentação de trabalhos para exposição no local onde a exposição itinerante está.

“Sem prestar atenção a preconceitos de bom, mau, belo ou feio, a mostra visa permitir que a criação em si volte a ser a essência da arte. Um recorte em papel sem pretensões, ou duas linhas de poesia na inspiração do momento… Tudo merece ser apreciado”, descreve o Instituto Cultural (IC).

Bem no centro de um dos bairros mais populosos da península, a exposição “Arte para Todos” abre um espaço onde não existem limitações de forma ou tema e onde a criatividade é a única coisa que importa. “Envie a sua obra de arte e nós lhe daremos o devido destaque! Será providenciada uma área de improvisação para poder dar asas à sua criatividade”, sugere o IC.

Amanhã e domingo, às 15h, o jardim da Fundação Oriente será o palco de “Corpo Específico”, que junta um grupo de artistas com “características físicas únicas”, que irão realizar sequências de danças sob a direcção de Yuenjie Maru, um artista de Hong Kong. A performance dá o poder a artistas portadores de deficiência, que se exprimem através do método “danceability”, juntando elementos de dança simbiótica. Os participantes pertencem ao Centro Lustroso da Caritas de Macau.

Coronavírus e imersão

“A Loucura Pós-pandémica” é um espectáculo multidisciplinar, que junta elementos de teatro físico, multimédia, exposição e instalação, interpretado em cantonense por Heidi Ng, Somen Sou e Kathy Ng. Como o nome indica, a peça convida à reflexão dos espectadores “sobre o meio ambiente, a sociedade, a vida quotidiana e a relação entre o homem e a natureza na era pós-pandemia”.

O Edifício Industrial Yau Seng é um dos palcos pouco convencionais que caracteriza o Fringe, onde será apresentado “Transeunte”, uma peça que mistura teatro com marionetas. O espectáculo decorre no prédio, sito na Rua Número 1 do Bairro Iao Hon, amanhã e domingo, em quatro sessões (14h30, 15h, 15h30 e 16h).

Interpretado por Vong Meng Chong e Lai Chi Ieng, a peça lança uma reflexão sobre o passado e o futuro do bairro do Iao Hon. “Qual poderia ser o futuro do Iao Hon? O Iao Hon passou por transformações graduais, desde os aterros, às terras agrícolas e finalmente uma zona residencial, com um fluxo constante de moradores. À medida que a pressão para o desenvolvimento se torna mais forte, tudo no bairro se torna uma memória e gradualmente desaparece”, descreve o IC.

Até ao final da 21.ª edição do Festival Fringe, haverá ainda tempo para teatro de fantasia, hoje a amanhã (em duas sessões às 19h30 e 21h30), no Centro de Arte Contemporânea de Macau – Oficinas Navais N.º 2, com a peça “Fragmento” de Cheng Ka Man, uma instalação que retrata “O Vendedor de Bonecos de Arroz”, no Largo da Sé”, entre outros eventos.

21 Jan 2022

Performances ao vivo e vídeo em destaque na nova edição do MIPAF 

É já amanhã que decorre a nova edição do Festival Internacional de Artes Performativas de Macau (MIPAF, na sigla inglesa), uma iniciativa organizada pelo Armazém do Boi. Ao HM, o curador do evento, Ng Fong Chao, presidente do Armazém do Boi, garantiu que o principal objectivo é “explorar a relação entre a “arte corporal” e a “imagem”. O programa dá ênfase à arte performativa ao vivo, onde o corpo assume um papel primordial. Além do MIPAF decorre em simultâneo o Festival de Vídeo Experimental de Macau (EXiM, na sigla inglesa).

“Vamos mostrar performances ao mesmo tempo que são exibidos vídeos, sendo que os artistas vão poder gerar outro tipo de arte através do seu trabalho”, referiu o responsável.

Entre as 18h e as 20h de amanhã, os espectáculos podem ser vistos no espaço Macau Art Garden, na avenida Dr. Rodrigo Rodrigues, com entrada livre.

Para o cartaz deste ano, foram convidados artistas da China, como é o caso de He Libin e Tang Weichen, de Kunming, Tan Tan, de Wuhan e Long Miaoyuan, de Shenzhen. Todos eles vão apresentar as suas performances elaboradas com base no tema “Image in Body Art”.

“Os artistas terão a liberdade de integrar vídeos nas suas performances. Desta forma, tentámos encontrar artistas com experiência nestas áreas, como é o caso de Tan Tan e Long Miaoyuan.”

O curador acrescentou ainda que “os artistas têm necessidade de trabalhar com a ideia de ‘o que mostrar’ com duas formas artísticas diferentes”. Desta forma, “o público poderá olhar para os trabalhos do MIPAF e os vídeos do EXiM, ter diferentes experiências e interpretá-las de diferentes formas”.

A culpa é da covid

Ng Fong Chao declarou também que o MIPAF sempre quis ter uma vertente internacional e ser uma plataforma para os artistas de todo o mundo revelarem o seu trabalho. Esta é a reacção a uma crítica apresentada pelo ex-deputado Au Kam San, que na página de Facebook do evento disse que não havia quaisquer artistas de fora da China no cartaz.

“Temos tido muita pressão devido à pandemia ao longo destes dois anos. Temos procurado uma melhor altura para nos ligarmos a diferentes países desde o início deste ano, mas os custos em termos de saúde, tempo e recursos são muito altos.”

O curador adiantou que a ocorrência de surtos de covid-19 na China obrigou a organização do festival a dividir o programa em duas partes. Depois da primeira parte do evento, que teve apenas artistas locais, ter acontecido em Dezembro, surge agora a segunda parte.

21 Jan 2022

Armazém do Boi | Nova edição do MIPAF a partir de sábado 

Arranca este sábado a nova edição do Festival Internacional de Artes Performativas de Macau (MIPAF, na sigla inglesa), promovido pelo Armazém do Boi e que conta com a curadoria de Ng Fong Chao, presidente desta associação de cariz cultural.

Além disso, acontece também o Festival de Vídeo Experimental de Macau. Ambos os eventos decorrem no Macau Art Garden, na avenida Dr. Rodrigo Rodrigues. A entrada é livre. As performances do MIPAF acontecem este sábado entre as 18h e 20h e contam com a presença de artistas da China, como He Libin e Tang Weichen, de Kunming, Tan Tan, de Wuhan e Long Miaoyuan, de Shenzhen.

O tema desta iniciativa é “Image in Body Art”. He Libin é arista e curador, trabalhando com artes multidisciplinares. Desde 1997 que tem participado em mais de 100 exposições realizadas em mais de 40 cidades, num total de 14 países.

20 Jan 2022


Edifício Ritz | Exposição de “Fai Chun” e pintura chinesa

É inaugurada, na próxima segunda-feira, a exposição de “Fai Chun” e pintura chinesa no edifício Ritz, situado no Largo do Senado. Este é um evento promovido pela Associação para a Promoção e Desenvolvimento do Circuito da Guia de Macau, presidida por José Luís Estorninho, que termina quarta-feira, dia 26.

A mostra inclui 12 artistas e calígrafos da Associação das Artes de Pintura e Caligrafia de Macau, estando também programada a oferta de “Fai Chun” durante a realização do evento. Serão ainda expostas 15 obras de pintura chinesa alusivas ao novo ano lunar, do Tigre.

A abertura do evento acontece segunda-feira, às 13h30, com uma sessão de escrita de “Fai Chun”, que se repete no dia seguinte às 10h. Nessa terça-feira decorre, às 17h30, a cerimónia de abertura da exposição. Na quarta-feira, acontece uma nova sessão de “Fai Chun”, encerrando-se as actividades. A entrada é livre.

20 Jan 2022

Eugénio de Andrade | Colóquio internacional e exposição agendados para 2023

Um colóquio internacional sobre Eugénio de Andrade e uma grande exposição bio-bibliográfica são dois dos principais eventos programados para celebrar o centenário do poeta, que se assinala a 19 de Janeiro do próximo ano, anunciou a organização.

“Se fosse vivo, Eugénio de Andrade faria 99 anos no próximo dia 19 de janeiro. Nesta oportunidade, foi constituída uma Comissão que se encarregará de promover diversas iniciativas que celebrem dignamente o centenário do nascimento do poeta”, anunciou em comunicado a Comissão Organizadora do Centenário do Nascimento de Eugénio de Andrade.

Estes dois eventos, os mais importantes já previstos, vão ter lugar no Porto e no Fundão, em datas e lugares ainda indicar.

A Comissão Organizadora do Centenário do Nascimento de Eugénio de Andrade é constituída por Federico Bertolazzi (Universidade “Tor Vergata”, de Roma), Joana Matos Frias (Universidade de Lisboa), José Tolentino Mendonça (Universidade Católica Portuguesa), Arnaldo Saraiva (Universidade do Porto) e Carlos Mendes de Sousa (Universidade do Minho).

Bilhete de identidade

Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, nasceu em 1923, no Fundão, e morreu no Porto em 2005, aos 82 anos. Aos dez anos mudou-se para Lisboa, devido à separação dos pais, e três anos depois escreveu os seus primeiros poemas.

Em 1938, aos 15 anos, enviou alguns desses poemas a António Botto que, gostando do que leu, o quis conhecer, encorajando-lhe a veia literária. Em 1943 mudou-se para Coimbra, cidade onde conviveu com Miguel Torga e Eduardo Lourenço.

Tornou-se funcionário público em 1947, actividade que exerceu durante 35 anos, tendo sido transferido em 1950 para o Porto, onde fixou residência durante mais de quatro décadas, até se mudar para o edifício da extinta Fundação Eugénio de Andrade, na Foz do Douro.

Apesar do seu prestígio nacional e internacional, Eugénio de Andrade sempre viveu distanciado da vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com “essa debilidade do coração que é a amizade”.

Obras e prémios

A sua extensa produção literária granjeou-lhe vários prémios e distinções, entre os quais o Premio Camões, em 2001, mas também o Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários (1986), o Prémio D. Dinis da Fundação Casa de Mateus (1988) e o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1989).

Além de vasta obra poética, Eugénio de Andrade publicou alguns livros em prosa, designadamente “Os afluentes do silêncio”, “História de égua branca”, com ilustrações de Manuela Bacelar, “Rosto precário” e “À sombra da memória”.
Eugénio de Andrade encontra-se sepultado no Cemitério do Prado do Repouso, no Porto, tendo a sua campa sido desenhada pelo arquiteto e seu amigo Siza Vieira, incluindo a inscrição dos versos do seu livro “As Mãos e os Frutos”.

20 Jan 2022

Música | Projecto “The Rooms” apresenta novo single, intitulado “The Strangest One”

“The Strangest One” é o novo single do projecto “The Rooms” desde o lançamento do álbum “O Fim da Escuridão” em Dezembro. João Gonçalves confessa que esta música nasceu para um projecto de João Oliveira, tendo trabalhado com os músicos Iat U Hong e Ao Chon Fai

 

“The Strangest One” é o novo single do projecto musical “The Rooms”, de João Gonçalves, e que já pode ser ouvido em diversas plataformas digitais de música. Ao HM, João Gonçalves explica que esta nova música nasceu para um projecto de instalação sonora de João Oliveira, integrado no Festival Internacional de Música de Macau deste ano.

“O João pediu-me para arranjar músicos e criar umas músicas para tocar com a instalação sonora, e esta instalação era composta por um quadro com vários instrumentos pintados sensíveis ao toque, que ao serem tocados transmitiam o som de um instrumento.”

“The Strangest One” acabou por surgir neste rol de criações, que conta com colaborações do violinista Iat U Hong e do multi-instrumentalista Ao Chon Fai.

“Já tinha trabalhado com Iat U Hong numa das faixas do álbum [O Fim da Escuridão]. É o tipo de músico que não precisa de grande direcção. Ao Chon Fai está ligado ao Jazz em Macau, sobretudo no desenvolvimento de novos talentos.”

João Gonçalves tinha trabalhado com Ao Choi Fai na música “Slavin”, gravada no ano passado. “Sempre ouvi um clarinete baixo enquanto estava a criar esta música, talvez por influência de Charles Mingus e Eric Dolphy, que trabalhou muitas vezes com ele. Digamos que fiquei apaixonado pelo som do clarinete baixo e decidi repetir.”

O novo single dos “The Rooms” surge depois do lançamento, em 2021, do álbum “O Fim da Escuridão”, lançado a 14 de Dezembro. Este projecto reúne as faixas musicais que os “The Rooms” foram gravando em estúdio ao longo do ano passado, à excepção da faixa “A Little Stronger”, gravada em finais de 2020.

Paisagem de Cormac McCarthy

Além dos músicos acima descritos, João Gonçalves decidiu juntar-se a Dave Wan, que integra os Náv. “Sou um pouco purista do analógico e na fase de gravação procurei alguém para tocar as tablas que já tinham sido inseridas pelo João Oliveira na instalação sonora. O Dave Wan completou o ensemble.”

João Gonçalves destaca a mistura “improvável e pouco ortodoxa” do uso de guitarra eléctrica, violino e clarinete baixo na elaboração de “The Strangest One”. “No processo de criação e produção é ainda mais estranha a adição de um instrumento chinês, o Guqin, e um instrumento indiano, as Tablas, mas acabou por resultar bastante bem”, frisou.

No final, a sonoridade de “The Strangest One” remete “para a paisagem de um livro do escritor norte-americano Cormac McCarthy, Western e apocalíptica, com a adição dos instrumentos asiáticos mas também com alguns contornos orientais”.

O mentor dos “The Rooms” adiantou ainda que, no processo criativo, a música surge a partir da experimentação com instrumentos. “À medida que o processo avança vão-se limando as arestas. O mesmo acontece com as letras. A coisa apenas flui, sai e vai-se esculpindo”, concluiu.

20 Jan 2022

Macau com 15 restaurantes com estrelas Michelin em 2022

Macau perdeu três restaurantes com estrelas Michelin, totalizando 15 estabelecimentos na edição deste ano do Guia para Macau e Hong Kong.

Três restaurantes de Macau, “Robuchon au Dôme” e “The Eight Restaurant”, ambos no hotel-casino Grand Lisboa, e o “Jade Dragon”, no City of Dreams, mantiveram as classificações de 2021, com três estrelas (‘uma cozinha única, justifica a viagem’) cada um, escreveu a organização do guia gastronómico no ‘site’.

Macau conta ainda com cinco restaurantes com duas estrelas (‘cozinha excelente, vale a pena o desvio’) e sete com uma estrela Michelin (‘cozinha de grande nível, compensa parar’).

Numa entrada direta para o grupo dos restaurantes com duas estrelas, o “Sichuan Moon”, criado pelo ‘chef’ de Taiwan André Chiang e liderado pelo ‘chef’ executivo da Malásia Zor Tan no ‘resort’ Wynn Palace, destacou-se “com uma ementa que desafia preconceitos sobre a comida de Sichuan [província chinesa no centro do país], e pratos que podem ser definidos como obras de arte”, indicou a organização.

Com uma estrela, obtida no ano passado, o restaurante de comida cantonense “Wing Lei”, no ‘resort’ Wynn Macau, conquistou agora a segunda, “sob a liderança estável” do ‘chef’ Chan Tak Kwong, acrescentou.

Na distinção “Bib Gourmand”, conferida aos restaurantes que oferecem menus de três pratos por menos de 400 patacas, mantêm-se sete estabelecimentos em Macau, entre eles o português “O Castiço”.

Além destes, destaque em Macau para oito estabelecimentos de ‘street food’, 20 restaurantes selecionados e uma estrela verde (que distingue uma cozinha sustentável), conquistada no ano passado pelo Restaurante Educacional do Instituto de Formação Turística.

“Nesta edição de 2022, aplaudimos os cozinheiros e restauradores de ambos os territórios por mostrarem coragem, resiliência e criatividade em tempos de incertezas. Estamos orgulhosos de celebrar os mais brilhantes talentos de Hong Kong e Macau enquanto preparam o caminho para dois dos mais excitantes e diversificados destinos culinários do mundo”, sublinhou o diretor internacional do Guia Michelin, Gwendal Poullennec.

19 Jan 2022

Cinemateca Paixão | Exibidos três documentários do fotógrafo Fabrizio Maltese 

Começa hoje a ser exibido, na Cinemateca Paixão, o primeiro de três documentários da autoria do fotógrafo de celebridades e documentarista “California Dreaming” Fabrizio Maltese. “50 Days in the Desert” integra o painel de exibições composto ainda pelos projectos “California Dreaming” e “Lost Flowers”

 

A Cinemateca Paixão começa hoje a exibir o primeiro de três documentários da autoria de Fabrizio Maltese, num ciclo especialmente dedicado a este fotógrafo e documentarista, que divide o seu trabalho entre Paris e o Luxemburgo.

Hoje e sexta-feira será, assim, exibido, “50 Days in the Desert”, com sessões às 13h e 14h28. O documentário conta os bastidores do filme “The White Knights”, filmado em 2015 e da autoria do realizador belga Joachim Lafosse. Os vários desafios que este teve de enfrentar quando decidiu fazer as filmagens em Marrocos são o tema central do documentário, que explora ainda a semana de trabalho da equipa no deserto do Sahara, bem como os métodos pouco usuais de Lafosse durante o processo criativo.

Esta película integrou os programas do Festival Internacional de Cinema de Palm Spring, em 2016, e do Festival de Cinema da Cidade de Luxemburgo, em 2015.

Já “California Dreaming”, será exibido amanhã e sábado, com sessões às 11h30 e 13h14, respectivamente.  Com este trabalho, Fabrizio Maltese quis explorar as especificidades da cidade da Califórnia, onde vivem cerca de 14 mil pessoas e que é a terceira maior do Estado norte-americano com o mesmo nome. Concebida em 1950, a cidade da Califórnia tornou-se rival da também importante cidade de Los Angeles, mas desde então foi perdendo muita da sua importância inicial. O documentário explora o facto de a cidade da Califórnia ter hoje uma dimensão muito menor, retratando vivências e visões dos seus habitantes, estabelecendo um contraste com o chamado “sonho americano” dos anos 50.

Em 2019, esta película integrou também os programas “Selecção Oficial” do Festival Internacional de Cinema de Palm Springs e do Festival de Cinema da Cidade do Luxemburgo.

Retrato na pandemia

Sexta-feira e domingo são os dias escolhidos para a exibição de “Lost Flowers”, seleccionado para uma nomeação, no ano passado, no Festival de Cinema Documental de Thessaloniki. Com uma forte componente autobiográfica, o filme espelha o regresso de Fabrizio, em Março de 2020, a Itália, depois de o seu pai ter sofrido um ataque cardíaco. Foi nesta altura que a pandemia da covid-19 espoletou, e o país entrou em período de confinamento.

Assim este é “um diário íntimo e uma ode ao amor incondicional nas circunstâncias mais desafiantes que um filho pode enfrentar”. “Lost Flowers” não é mais do que um “conto sobre a alma e as dificuldades pessoais num contexto de uma tragédia colectiva”.

As sessões decorrem, na sexta-feira, às 11h30, enquanto que no domingo o documentário será exibido às 12h40.
Sendo um fotógrafo de celebridades, com trabalho publicado em revistas como a GQ, Rolling Stone ou Hollywood Reporter, Fabrizio Maltese é também conhecido pelo seu trabalho como documentarista. Nascido em Itália, mas com uma vida pessoal e profissional dividida entre Paris e o Luxemburgo, Fabrizio Maltese é um nome que já esteve presente em festivais de cinema de todo o mundo.

19 Jan 2022

Arqueologia | Mostra “Rota Marítima da Seda e Macau” abre ao público sexta-feira

É já esta sexta-feira que é inaugurada a exposição permanente “Rota Marítima da Seda e Macau” na área de conservação e exposição dos vestígios arqueológicos do fosso do Colégio de S. Paulo, situada na Rua D. Belchior Carneiro, atrás das Ruínas de São Paulo.

Esta exposição, coordenada pelo Instituto Cultural (IC), tem como objectivo “dar a conhecer ao público a importância de Macau como um dos patos de trânsito da Rota Marítima da Seda”, bem como “divulgar e promover o valor patrimonial da própria Rota Marítima da Seda entre a sociedade local”.

Através de textos e imagens, o público poderá saber mais sobre os locais históricos de Macau que integraram esta rota. No passado, o território era um dos importantes portos de trânsito para o comércio entre a China e o estrangeiro, tendo assumido durante o auge da Rota Marítima da Seda um papel relevante na exportação de vários produtos Chineses, tais como a seda e a porcelana, que chegavam à Europa, Japão ou América, entre outros destinos, a partir dos portos de Macau.

Foi neste contexto que a região deu um contributo histórico fundamental, viabilizando não só a maximização do alcance do comércio mundial no contexto da Rota Marítima da Seda, mas também a promoção do diálogo e do intercâmbio entre diferentes civilizações. Nos itinerários de Ocidente para Oriente, a Rota Marítima da Seda contribuiu também para o desenvolvimento das características urbanas da cidade e para a consolidação da identidade multicultural de Macau. Ainda hoje, é possível reconhecer claros indícios do contexto da Rota Marítima da Seda no próprio tecido urbano, nos vestígios arquitectónicos e na dimensão cultural e espiritual da cidade, descreve o IC.

18 Jan 2022

Obituário | Morreu Pedro Barreiros, grande divulgador da cultura macaense

Filho do macaense Leopoldo Danilo Barreiros, divulgador de Camilo Pessanha e de Wenceslau de Moraes e presidente da Associação Wenceslau de Moraes, Pedro Barreiros faleceu este domingo vítima de doença prolongada. Quem com ele privou, descreve-o como um médico humanista e um importante divulgador da cultura macaense. Deixa por publicar uma autobiografia

 

Morreu este domingo, vítima de doença prolongada, Pedro Barreiros, médico e um grande divulgador da cultura macaense, com uma enorme dedicação à divulgação dos escritos de poetas e escritores como Camilo Pessanha e Wenceslau de Moraes, bem como da memória do seu avô, José Vicente Jorge. Pedro Barreiros era filho do macaense Leopoldo Danilo Barreiros.

Nascido em Macau em 1943, Pedro Barreiros formou-se em medicina em Lisboa, tendo ingressado no quadro de Oficiais Médicos da Força Aérea Portuguesa em 1968. Em 1997 foi promovido a Major General Médico e Director de Saúde da Força Aérea. Foi também professor de patologia entre 1982 e 2013, não apenas na Força Aérea, mas em várias universidades portuguesas.

No entanto, a área das artes e cultura esteve sempre presente na sua vida. Pedro Barreiros, que foi também um dos convidados numa edição do festival literário Rota das Letras, esteve sempre ligado à pintura, que aprendeu ainda em criança com um mestre chinês. Em Macau, chegou a fazer algumas exposições individuais, entre os anos de 1990 e 2002. Em 2006, foi distinguido com a Ordem do Infante D. Henrique.

Um comunicado da Associação Wenceslau de Moraes, à qual presidia, descreve-o como um “médico de aldeia e cidade, militar e civil, de guerra e de paz” que “a todos tratava com a devida atenção de quem sabe que a medicina é, antes de mais, uma ciência humana”.

No entanto, Pedro Barreiros era “acima de tudo pintor”, e também “macaense, de alma, corpo e coração, filho de macaenses e de Macau”.

Casado com Graça Pacheco Jorge, e ambos netos de José Vicente Jorge, Pedro Barreiros esteve ainda envolvido, juntamente com a sua esposa, na produção da fotobiografia “José Vicente Jorge – Um macaense ilustre”, editado pelo Albergue SCM.

Tendo sido comissário das comemorações dos 150 anos do nascimento de Wenceslau de Moraes, foi nessa qualidade que Pedro Barreiros foi entrevistado, em 2005, pela RTP. Nessa conversa, desvendou um pouco do fascínio que sentia pelo percurso do escritor.

“Wenceslau de Moraes foi uma das minhas paixões desde a juventude e o meu pai foi um dos biógrafos dele. Não apenas pelo seu aspecto literário, mas pela divulgação que me deu do Japão. Tinha também uma grande dimensão humana e disse, muito precocemente, que o ser humano amarelo era igual aos outros”, afirmou.

Pedro Barreiros recordou a amizade íntima que uniu Camilo Pessanha a Wenceslau de Moraes e o facto de Pessanha ter sido “visita habitual da casa” do seu avô, Vicente Jorge.

“Uma das minhas tias foi a primeira menina de Macau a ir estudar para Lisboa com uma bolsa paga pelo Camilo Pessanha e eles traduziram as oito elegias chinesas, oito poemas Ming descobertos por Camilo Pessanha numa caixa que ele teria comprado num antiquário”, exemplificou, numa outra entrevista concedida à RTP, desta vez em 2007.

Ligado a Macau

Ana Paula Laborinho, ex-presidente do Instituto Camões, e que trabalhou com Pedro Barreiros nas comemorações dos 150 anos do nascimento de Wenceslau de Moraes, recordou ao HM alguém “que primava pela solidariedade e pela atenção aos outros”.

“Nunca deixou de querer visitar Macau e sempre se sentiu muito ligado a essa terra onde viveu muitos anos. Tinha uma relação muito especial com a comunidade macaense.”

Tido como um “médico de excepção”, Pedro Barreiros “continuou a pintar e a desenhar, até aos últimos dias, porque essa relação com as telas e a sua paleta lhe trazia serenidade”.

Ana Paula Laborinho destaca, neste aspecto, que “muitos dos trabalhos de pintura [de Pedro Barreiros] se fizeram em torno de poetas, quer chineses, como Li Bai, quer portugueses, como Camilo Pessanha”. “A relação entre a pintura e a escrita sempre esteve muito presente no seu percurso, feito de reflexão sobre a vida e as artes”, frisou.

Ainda sobre o trabalho desenvolvido em torno da vida e obra de Wenceslau de Moraes, a actual directora em Portugal da Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, Ciência e Cultura, lembrou que Pedro Barreiros “deu um impulso extraordinário para que conhecêssemos melhor Wenceslau de Moraes, que estava muito esquecido, e classificado praticamente como um escritor menor”.

“Ele e a mulher tinham uma relação muito grande com uma figura [José Vicente Jorge] que teve contactos privilegiados com Camilo Pessanha. Têm um espólio notável que nos permite um conhecimento especial de Camilo Pessanha. Ele não deixou de trabalhar, de fazer exposições e de promover a obra deste poeta, dando um novo enfoque e permitindo que algumas ideias sobre Pessanha tenham sido alteradas.”

Ana Paula Laborinho revelou ainda que Pedro Barreiros deixa por publicar uma auto-biografia, esperando que a família e amigos possam, a título póstumo, editar esse livro. “Estou certa que a comunidade de Macau se juntará a essa vontade.”

Carlos Piteira, antropólogo macaense, recorda uma personalidade que fez “um trabalho essencial na divulgação dos princípios do que é a comunidade macaense, a sua identidade, e a própria singularidade de Macau”.
“Pedro Barreiros é mais uma pessoa que perdemos e que nos faz falta para continuarmos a marcar a presença portuguesa e dos macaenses em Macau. Espero que as pessoas de Macau e em Portugal o recordem sempre como alguém que entregou parte da sua vida aos outros, essencialmente [em relação] ao que é a identidade macaense”, frisou ao HM.

Perda de um amigo

Mário Matos dos Santos, da direcção da Fundação Casa de Macau, em Lisboa, conta que perdeu “um grande amigo e promotor da cultura macaense”, mas também da cultura em geral.

“Ele era um homem muito culto em todos os sentidos, muito equilibrado na sua visão da medicina. Fazia uma medicina quase social, porque era um excelente médico e muito humano. Tinha um consultório em Lisboa e outro ao pé de Mafra, onde também tinha uma biblioteca que punha à disposição dos doentes e dos visitantes, o que é notável do ponto de vista da divulgação cultural.”

Pedro Barreiros tinha, sobretudo, “a humanidade de fazer medicina com preços acessíveis a muita gente, porque achava que era um veículo de apoio às pessoas”.

Para Mário Matos dos Santos, o filho de Leopoldo Danilo Barreiros “transmitia com muita força as suas ideias e a visão da cultura macaense”. “Sabia respeitar o que tinham sido as suas raízes e dedicou muita da sua vida a continuar a obra do pai na recolha de testemunhos da cultura macaense, particularmente sobre Camilo Pessanha e Wenceslau de Moraes”, adiantou.

Coração grande

Também o arquitecto Carlos Marreiros diz ter perdido um amigo. Mas, na sua visão, Macau “ficou mais pobre e perdeu um filho ilustre”. “Ele era militar de carreira e médico, tendo-se dedicado muito à sociocultura de Macau e principalmente à investigação e divulgação de dois escritores da sua protecção, Wenceslau de Moraes e Camilo Pessanha”, acrescentou.

Carlos Marreiros lembrou “o coração muito grande” de Pedro Barreiros, que “lutou com todas as forças contra a doença”.

Em comunicado, a Casa de Macau em Lisboa também reagiu ao falecimento de Pedro Barreiros, recordando “um ser humano excepcional que dedicou toda a sua vida a outros como médico e homem multifacetado, que muito contribuiu para a divulgação e preservação da cultura macaense, quer através da arte, quer de outras formas expressivas”.

As cerimónias fúnebres de Pedro Barreiros aconteceram no domingo, ao final do dia, com uma missa de corpo presente igreja da Força Aérea Portuguesa, sita junto do Palácio dos Marqueses de Fronteira – Pupilos do Exército. Ontem, decorreu a cerimónia de cremação no cemitério do Alto de São João, em Lisboa.

18 Jan 2022

Pinturas murais | Artistas locais espelham a sua arte em bairros antigos

Sob proposta do Instituto Cultural (IC), vários artistas locais, como é o caso de Im Hok Lon, Ieong Man Hin, Sit Ka Kit e Lei Chek On, desenvolveram pinturas murais em vários espaços e bairros antigos de Macau, como é o caso da zona Anim’Arte Nam Van, a Escada do Coxo ou a rua de Tomás da Rosa. Este projecto foi desenvolvido em parceria com a Associação de Arte Juvenil de Macau.

Estas pinturas “retratam a paisagem urbana do Bairro Horta da Mitra, recorrendo a imagens de pássaros que remetem para o nome chinês do bairro, onde outrora se caçavam pássaros”, explica um comunicado. “Com cores vivas e figuras expressivas, estas pinturas murais incorporam também elementos representativos do comércio existente na zona envolvente, aproveitando ainda a altura dos degraus para gerar um efeito tridimensional, que surpreenderá os visitantes à medida que sobem a escadaria”, lê-se ainda.

O trabalho de Ieong Wan Si pode ser visto na zona Anim’Arte Nam Van. Intitulado “Quartos”, esta obra “resulta da combinação de técnicas convencionais da pintura a óleo e de cores modernas para representar, com diferentes composições cromáticas, as três fases de crescimento de uma rapariga, levando os visitantes a deambular pela memória e pelo espaço e como que a entrar em diferentes ‘quartos’ espirituais, à medida que percorrem o puzzle de quadros representativos de experiências e histórias de diferentes períodos da vida”.

No caso do trabalho na Escada do Coxo, situada junto à Rua do Cunha, na zona da antiga vila da Taipa, este foi desenvolvido pelos artistas Vitorino Vong e Jane Ieng, ligados à Associação Cultural da Vila da Taipa. O mural retrata sardinhas coloridas que complementam as escadas decoradas com azulejos portugueses, apresentando a beleza vibrante da cultura portuguesa. Além disso, o IC concluiu a pintura mural na escadaria de pedra da Travessa da Boa Vista, tendo instalado antes um conjunto de instalações artísticas intitulado “Partilhar a Alegria com Mak Mak”, no Jardim Municipal da Taipa e nas Casas da Taipa. Desta forma, foram introduzidos mais elementos de turismo cultural nas ilhas.

17 Jan 2022

Estudante chinesa vence primeira edição dos Prémios Fundação Jorge Álvares

Zhao Zilin, aluna da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai (SISU, na sigla em inglês), venceu a primeira edição dos Prémios Fundação Jorge Álvares, para trabalhos sobre as relações entre Portugal e a China.

Fernando Ilhéu, membro do Conselho de Administração da Fundação Jorge Álvares (FJA), confirmou à Lusa que a estudante chinesa venceu na categoria “Estudos lusófonos na linguística e na cultura e a sua influência na Ásia”.

A investigação de Zhao Zilin analisa a forma como estudantes chineses de português aprendem os sons utilizados na língua portuguesa.

A estudante do mestrado em Línguas e Literaturas Europeias (vertente Português) da SISU vai receber um prémio de mil euros e o trabalho será submetido para publicação na Revista do Instituto Politécnico de Macau.

Os Prémios FJA foram criados em 2021 para encorajar estudantes de mestrado e doutoramento de universidades em Portugal, Macau e China continental a investigar os laços e a cooperação entre Portugal e a China.

A fundação não recebeu qualquer candidatura às outras duas categorias dos prémios: análise das regras do investimento direto estrangeiro na China e nos países de língua portuguesa; e estudos comparativos sobre gestão empresarial na China e em Portugal.

Segundo um comunicado da SISU, Zhao Zilin disse querer continuar a fazer pesquisas sobre as duas línguas, contribuindo para o desenvolvimento dos laços entre a China e Portugal nas áreas do ensino e da cultura.

A FJA é uma estrutura criada em dezembro de 1999, no quadro da transferência da administração de Macau, que tem como objetivo promover o diálogo intercultural entre Lisboa e a região chinesa.

Desde 2016 que o presidente da Fundação Jorge Álvares (nome do português que foi o primeiro europeu a chegar à China, por via marítima, no século XVI) é o general Garcia Leandro, que governou Macau entre 1974 e 1979.

Cerca de 50 instituições chinesas de ensino superior têm cursos de língua portuguesa, disse à Lusa, em novembro de 2020, o coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau, Gaspar Zhang Yunfeng.

17 Jan 2022

IPIM | Macau promove sector de convenções e exposições em Fujian

O IPIM participou no China Expo Forum for International Cooperation, em Fuzhou na província de Fujian, dando a conhecer as vantagens de Macau na organização de convenções e exposições. Além disso, o organismo procurou fomentar a comunicação e cooperação entre empresas locais do sector e os seus homólogos no Interior da China

 

Por vezes, mais do que ter um bom produto a chave do sucesso é saber promovê-lo. Foi com esse intuito que o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) organizou a participação da RAEM na 17.ª edição do “China Expo Forum for International Cooperation” (CEFCO 2022) realizada entre a quarta-feira passada e sexta-feira, 12 e 14 de Janeiro, na cidade de Fuzhou, província de Fujian.

O IPIM formou uma delegação composta por 21 elementos dos sectores das convenções e exposições e do turismo, com a missão de “divulgar conjuntamente as condições privilegiadas de Macau na organização de actividades de convenção e exposição e de fomentar uma maior comunicação e cooperação entre o sector local de Macau e os seus homólogos no exterior do território.”

Um dos oradores do evento foi o presidente do IPIM, Lau Wai Meng, que entrou numa discussão colectiva sobre o tema “soluções para a revitalização global do sector de convenções e exposições no período de pandemia da covid-19”. O dirigente partilhou com os seus homólogos a experiência de Macau na organização de actividades deste âmbito, durante o período pandémico.

Lau Wai Meng afirmou que, devido à relativa instabilidade e imprevisibilidade da situação pandémica actual a nível global, a circulação de pessoas continua a sofrer restrições de diferentes graus. Por isso, definir normas de prevenção pandémica em convenções e exposições e integrar acções online e offline com vista ao desenvolvimento contínuo do sector são necessidades fundamentais dos tempos que vivemos.

Montanha em Fujian

O presidente do IPIM sublinhou ainda a importância estratégica da Ilha da Montanha nas ambições da RAEM, sendo essencial “aproveitar as oportunidades resultantes do desenvolvimento sinergético de Macau e da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin” para estimular a recuperação do sector.

Os representantes participaram numa reunião plenária e em sessões de intercâmbio onde deram a conhecer as vantagens de Macau na indústria das convenções e exposições e partilharam conhecimentos com entidades de gestão, organizadores especializados e profissionais do sector para “explorarem em conjunto oportunidades de cooperação”.

Citados pelo IPIM, os profissionais do sector que marcaram presença no evento afirmaram ter actualizado conhecimentos e encontrado potenciais clientes.

Organizado em conjunto pelo Conselho Chinês para a Promoção do Comércio Internacional (CCPIT), pela Associação Global da Indústria de Exposições (UFI), pela Associação Internacional de Exposições e Eventos (IAEE) e pela Sociedade de Organizadores Independentes de Eventos (SISO), o IPIM descreve o “China Expo Forum for International Cooperation” (CEFCO) como uma “iniciativa que costuma atrair, em todas as suas edições, a presença de figuras prestigiadas do sector de convenções e exposições de todo o mundo”.

17 Jan 2022

Fringe | Companhia teatral “Rolling Puppet” olha para passado e presente de Coloane

“A Space of New and Old” é o nome do espectáculo que a companhia “Rolling Puppet Alternative Theatre” apresenta este fim-de-semana, integrado no festival Fringe. Este é o resultado de uma residência artística realizada no ano passado e que descreve Coloane como ela é através dos relatos dos seus moradores mais velhos, num exercício permanente de imaginação

 

É já amanhã e domingo, às 15h e 17h, que acontece, no âmbito do festival Fringe, o espectáculo “A Space of New and Old” [Um Espaço do Novo e do Velho], protagonizado pela companhia teatral “Rolling Puppet Alternative Theatre”. Este evento acontece no espaço da companhia, “House of Puppets Macau”, em Coloane.

E é precisamente sobre Coloane, o seu passado e o seu presente, que versa este espectáculo. A partir de testemunhos de moradores mais antigos é contada a história muito peculiar da ilha, onde permanece um ambiente ecológico único no território. Com este espectáculo dá-se uma “colisão entre a magia e a arte”, num caminho percorrido “entre o velho e o novo”, com o destaque para as histórias orais visualizadas através do storytelling e da magia. Na performance, um mágico leva o público a revistar histórias antigas e do presente, coisas reais e imaginárias, ambientes e pessoas.

Kevin Chio, produtor, e co-fundador da companhia teatral, em parceria com Teresa Teng Teng Lam, fala ao HM de um espectáculo que nasceu de uma residência artística realizada no ano passado. De frisar que Teresa Teng Teng Lam é a responsável pela dramaturgia do espectáculo e Jason Fong o mágico em palco e criador do projecto.

“Como mágico, Jason [Fong] sempre olhou para a oportunidade de combinar [o formato] de storytelling com a magia. Durante este período criativo, mostramos a zona de Coloane a Jason, que conheceu os moradores mais velhos e recolheu testemunhos orais de histórias e contos. Na sua performance, o Jason combinou todos estes materiais para nos lembrar as pessoas, os eventos e as histórias que caíram no esquecimento”, apontou.

Para Kevin Chio, é importante esta presença no Fringe, pois permite que “A Space of New and Old” cresça “da nossa residência artística para uma plataforma maior”, chegando “a um maior público”. “Espero que isso nos ajude a desenvolver o espectáculo”, acrescentou o produtor.

Um desafio

O espectáculo pode ser visto por pessoas com mais de 13 anos e é apenas em cantonês, tendo a duração de 1h15. Um dos maiores desafios, confessa Kevin Chio, é levar os espectadores até Coloane, “um lugar que fica muito longe do centro da cidade”.

“Por outro lado, é um lugar onde podemos desfrutar do sossego, paz, e da natureza, o que nos permite relaxar.”
Mais do que procurar captar mais público, Kevin Chio destaca também o desafio de produzir este espectáculo no meio de tantos outros, o que se traduz num enorme cansaço das equipas.

“Temos tido muitos eventos culturais desde Novembro. Uma das razões, foi a pausa que fizemos nos meses de Agosto e Setembro, e todas as organizações culturais têm de terminar os seus projectos antes do mês de Março. O facto de essas actividades organizadas pelo Governo terem de corresponder ao ano financeiro faz com que tenhamos, algumas vezes, seis a sete eventos diferentes num só dia. Todos nós, desde artistas, à organização e ao público, estamos exaustos.” Para Kevin Chio, tal pode “diminuir a intenção do público, de ver o espectáculo”.

Festival | Ofertas de fim-de-semana

Além da iniciativa da “Rolling Puppet Alternative Theatre” em Coloane, o festival Fringe apresenta, nos próximos dias, outros espectáculos que revelam diversas performances artísticas. Uma delas, é o teatro de som “Regresso a Casa”, um trabalho original do grupo Edinburgh Fringe Showcase, e que acontece até domingo, na antiga residência do General Ye Ting. Também este sábado e domingo, nos jardins do departamento de património cultural do Instituto Cultural, decorre o espectáculo “Flortitude”, do grupo Zero Distance Cooperative, que revela as pinturas florais da artista visual Jenny Lei, misturadas com uma performance teatral interactiva. As sessões acontecem às 12h, 14h e 17h.

No domingo, estreia a peça teatral “Tenant”, da companhia Ku Ieng Un, que relata o panorama do mercado de arrendamento para habitação no bairro do Iao Hon. Os espectadores irão participar neste espectáculo como se fossem arrendatários de casas, onde deixam as suas memórias. Os próprios moradores deste ano integram a performance. O ponto de encontro é no Centro Cultural e Educacional Yizhen, estando programadas várias sessões até ao dia 22.

Até domingo, decorrem as sessões do espectáculo de teatro e dança “Illegal Immigrant”, do grupo Un Iat Hou. Também aqui, o bairro do Iao Hon assume o protagonismo, com as suas histórias de emigrantes ilegais que vieram da China para Macau em busca de uma vida melhor.

Ainda até domingo, pode ser vista a performance interdisciplinar “Lift Left Life Live”, do PO Art Studio. Durante 45 minutos é explorada a possibilidade imaginária de viajar, agora que a pandemia nos impossibilitou de o fazer livremente. O público é, assim, convidado a fazer as suas malas e a embarcar numa viagem não planeada. Com várias sessões, o ponto de encontro tem lugar na zona dos táxis em frente à Torre de Macau. Outro dos eventos que decorre no domingo, às 11h, no largo de São Domingos, é o espectáculo de dança “Kids Battle Dance”, da companhia The Dancer Studio Macau.

14 Jan 2022

Pedro Cabrita Reis | Peça “Três Graças”, em cortiça, exposta até 13 de Junho 

O artista português Pedro Cabrita Reis leva uma reinterpretação das “Três Graças”, em cortiça, ao Jardim das Tulherias, em Paris, a convite do vizinho Museu do Louvre, de 13 de Fevereiro a meados de Junho.

“As ‘Três Graças’ interessam-me porque atravessam a história da arte europeia desde a antiguidade clássica grega. Resistiram a todas as erosões, todas as diferenças de pensamento, processos históricos, mudanças de paradigmas políticos, ideológicos, revoluções”, afirmou, em entrevista à agência Lusa.

Estas figuras “vêm lá do fundo, muito antes da democracia ateniense, passam pelo Império Romano, chegam à Idade Média, têm um momento de brilho ainda mais acentuado no Renascimento, voltam a reaparecer no século XVII e XVIII com Rubens, e chegam até à modernidade com Picasso, Matisse, e tudo isso”, detalha.

Convite parisiense

As três esculturas nascem a convite do Museu Louvre, em Paris. Quando recebeu o repto, a ideia veio “de imediato”, conta, não só porque sempre se quis debruçar sobre estas figuras, mas também porque lhe interessou “a colocação num espaço público”.

“Começo por fazer umas pequenas maquetes, a partir de figuras, daquelas que se vendem, ‘kitsch’, os santinhos e santinhas de toda a qualidade, e a partir dessas figuras trabalho. Corto-as, recolo-as, transformo, aglutino fragmentos de diversas figuras que ganham depois uma autonomia e presença abstrata e não localizável do ponto de vista de iconografia. Não se sabe se é um Santo António ou uma Nossa Senhora da Conceição. É apenas um conjunto de objectos em pedra ou em gesso aglutinados”, relata.

Essas maquetes foram depois enviadas para uma empresa “faz maquinação robótica” e “passam aquilo para um programa vetorial em computador que dá ordens a um braço robótico”.

Foi esse braço robótico que esculpiu os blocos criados pela Corticeira Amorim, juntando “cortiça com outras matérias que, não hipotecando a ecologia e sustentabilidade, dão-lhe uma resistência que permite estar, como estas vão estar”, ao ar livre. Cada peça tem cerca de 4,50 metros e pesa aproximadamente 500 quilos, a que se somam os 400 quilos da base que as sustenta.

13 Jan 2022