FRC | Associação de Música Soul actua este sábado

O músico macaense Giulio Acconci junta-se ao próximo concerto que decorre este sábado na Fundação Rui Cunha protagonizado pela Associação de Música Soul de Macau. “Ocean Walker”, o nome do evento, é “inédito”, pois recria o conceito de “pequeno concerto de bolso”, nascido nos EUA

 

A Fundação Rui Cunha (FRC) apresenta este sábado, entre as 17h30 e as 19h, duas sessões do musical em mini-concerto intitulado “Ocean Walker”, um projecto do coro local da Associação de Música Soul de Macau, formado por profissionais e amadores, sob a orientação do compositor e pianista Addison Wong, a quem se junta o músico e artista Giulio Acconci como convidado especial.

Segundo um comunicado, o evento é inédito na galeria da FRC, sendo recriado um pequeno concerto de bolso ao estilo dos Tiny Desk Concerts da NPR Music, uma ideia com grande sucesso nos EUA e a nível internacional via Youtube.

Este coro de música soul, com o nome “Ocean Walker”, vai realizar dois mini-concertos idênticos, cada um de 40 minutos, interpretando vários clássicos de musicais da Broadway.

Antes de cada música haverá uma breve conversa introdutória, onde será apresentado o resumo do musical de origem, a letra destacada e o papel dos personagens que intervêm na respectiva cena. Isso permitirá um maior envolvimento e participação do público. Trata-se de uma produção de teatro musical de pequena escala, incluindo canto a solo e em grupo, coreografia e performance, com direito a coreógrafo, professor de canto e director musical, tudo num espaço limitado de palco.

Raízes musicais

O coro “Ocean Walker” foi fundado em 2021 e tem actualmente 15 cantores residentes, com idades compreendidas entre o período da adolescência e os trinta anos. É conhecido pelas suas performances fortes e enérgicas em palco, com o som coral enraizado na cultura soul e R&B (Rhythm & Blues).

Addison Wong nasceu em Macau e foi para os Estados Unidos estudar música quando tinha 16 anos. Formou-se com um mestrado em Composição Musical, pela Universidade de Oregon, e foi mais tarde nomeado director musical da Bushnell University, onde continuou a reger a sua banda de jazz, coral e orquestra, bem como a leccionar cursos de teoria e composição musical.

De regresso ao território, tem desenvolvido inúmeros projectos pessoais e colectivos nas áreas musicais em que se move, tendo participado já diversas vezes nos concertos “Saturday Night Jazz” da FRC.

4 Jul 2024

Festival Artes para Crianças | Abertas inscrições para “Campo de Música”

Estão abertas as inscrições para o “Campo de Música” integrado na primeira edição do Festival Internacional de Artes para Crianças de Macau”, que terá instrução por parte dos músicos da “Academy of St Martin in the Fields” e actuação com o violinista Joshua Bell.

O “Campo de Música”, organizado pelo IC e que conta com a participação da operadora de jogo Wynn Resorts, é produzido pela empresa gestora da Orquestra de Macau e decorre entre os dias 16 e 21 de Agosto.

Segundo uma nota do IC, Joshua Bell é um conhecido mestre de violino distinguido com vários Prémios Grammy. Os participantes podem ter orientação individual dos músicos da Academia e tornarem-se membros de uma orquestra de cordas com estes músicos. Além disso, os participantes com melhor desempenho ainda terão a oportunidade de actuar com Joshua Bell.

Relativamente ao conteúdo transmitido no âmbito do “Campo de Música”, os participantes podem ter cursos de instrumento e aulas individuais, bem como uma “Master Class” com músicos da orquestra de câmara da “Academy of St Martin in the Fields”, formando-se uma orquestra de cordas. Haverá ainda ensaios com Joshua Bell.

O “Campo de Música” inclui ainda passeios aos sítios de Macau que são património mundial da UNESCO, para que os participantes possam testemunhar “a coexistência harmoniosa das culturas chinesa e ocidental, para aprenderem mais sobre a história e a cultura de Macau”.

O “Campo de Música” tem um total de 40 vagas, cujos destinatários são jovens locais e do exterior, nascidos entre 2006 e 2016, que tenham estudado instrumentos de cordas. As inscrições terminam dia 12 de Julho. Os candidatos admitidos serão informados por email até ao dia 25 de Julho. A taxa de inscrição para o “Campo de Música” é de dez mil patacas. Será atribuído um desconto de duas mil patacas aos alunos admitidos titulares do Bilhete de Identidade de Residente Permanente ou Não Permanente da RAEM.

2 Jul 2024

Exposição | UM apresenta “Elementos” de Euclides, de 1491

A Universidade de Macau (UM) inaugurou, na Biblioteca da UM, a exposição “Obra-prima Intemporal: O Incunábulo de 1491 dos Elementos de Euclides”, um livro raro do período em que a imprensa dava os primeiros passos.

Assim, este incunábulo, livro impresso já com tipos móveis, trata-se de uma “obra rara adquirida pela UM”, sendo mais um elemento incluído no conjunto de “mais de 20 mil livros raros”. Trata-se também “do único incunábulo dos ‘Elementos’ existente na China”, aponta a UM, em comunicado, estando o livro exposto no espaço dos manuscritos.

É explicado, na mesma nota, que a edição dos “Elementos de Euclides” adquirida pela UM, que tem o título completo, em latim, “Preclarissimus liber elementorum Euclidis perspicacissimi: in artem geometrie incipit quam foelicissime”, é “uma versão revista baseada em traduções latinas anteriores e em novas traduções de várias fontes árabes”.

Neste caso em específico, é um livro cuja edição foi reeditada pelo editor Leonardus de Basilea e Gulielmus de Papia em Vicenza, Itália, em 1491. Em comparação com a primeira edição, a menção “Dedicada ao Doge de Veneza” foi omitida nesta reimpressão.

A margem decorativa da primeira página foi alterada dos motivos árabes da primeira edição para motivos de Cupido, plantas e animais, e o tipo de letra foi alterado de gótico para romano, uma fonte mais legível e conforme a primeira edição. Jeremy Norman, um especialista em livros raros e em história da ciência, escreveu uma carta de avaliação para esta aquisição. Apenas 84 bibliotecas no mundo possuem esta edição de 1491.

2 Jul 2024

Galaxy | Exposição “Eggspression” para ver até Outubro

A galeria GalaxyArt apresenta, até Outubro, uma exposição fora do comum que mostra ao público de Macau trabalhos do artista holandês Henk Hofstra e instalações da “The Egg House”, em Nova Iorque. “Eggspression” pretende ser uma “experiência de arte imersiva”

 

Os ovos são os protagonistas da nova exposição de arte apresentada pela operadora de jogo Galaxy desde o dia 28 e que pode ser vista até 7 de Outubro. “Eggspression”, ou a “expressão do ovo” promete ser uma “experiência de arte imersiva” que apresenta trabalhos internacionais: por um lado, as instalações públicas do artista holandês Henk Hofstra e, por outro, as obras da “The Egg House”, localizada em Nova Iorque.

Citado por um comunicado, Kevin Kelley, ligado à “GalaxyArt”, disse que esta mostra “é mais uma demonstração da visão e intenção” da operadora de jogo em relação aos sectores da cultura e turismo.

“Os ovos são um alimento comum em diversas culturas. Esta exposição amplia objectos do quotidiano, lembrando-nos que a arte está presente nas nossas vidas diárias”, adiantou.

Também segundo a mesma nota, o artista holandês explicou o conceito criativo por detrás das suas obras. “Todos os meus projectos têm algo a ver com a forma como vemos as coisas, o que está a acontecer, de onde vimos, o que fazemos e o que fazemos com o nosso planeta.”

No caso das instalações da “The Egg House”, já passaram por Los Angeles e Xangai. “Estamos entusiasmados por trazer a Casa a Macau, uma cidade conhecida pelo seu rico património cultural e mistura dinâmica de tradições. A energia única de Macau e o seu apreço pela criatividade fazem dela o cenário perfeito para a nossa exposição”, disse Vivian Cai, directora artística da galeria.

Assim sendo, “Eggspression” gira em torno “de ovos que simbolizam a vida, novos começos, bem-estar ou sabedoria”, entre tantos outros conceitos, “estimulando-se a contemplação da arte, da vida e do mundo, bem como a sua ligação íntima”.

Peças e instalações

A obra que compõe a primeira parte da mostra, da autoria de Henk Hofstra, intitula-se “Eggs Fall from the Sky”, tratando-se de “uma obra-prima” que, pela primeira vez, é apresentada em Macau.

“A enorme instalação ‘Ovo Ensolarado’ não só é visualmente impressionante como também tem como objectivo sensibilizar para o aquecimento global. Assemelhando-se ao sol, estas instalações oferecem aos visitantes o calor da luz solar na Galaxy Promenade e na GalaxyArt na estação do Verão”, é descrito.

Hofstra apresenta ainda outra instalação intitulada “Loving Birds”, uma “instalação única em forma de ovo, adornada com ovos em forma de coração, pétalas de flores, nuvens e árvores”. Trata-se de uma peça que sublinha “a importância da vida, do amor, da integridade e da energia positiva”.

Henk Hofstra tem transformado, ao longo da sua carreira, objectos simples do quotidiano “em cativantes instalações de arte pública em grande escala”. Já expôs em cidades como Roterdão, São Paulo ou São Petersburgo, ou ainda Pequim e Wuhan.

“As criações de Hofstra abrangem diferentes temas, incluindo animais, plantas e paisagens. Apresenta frequentemente o seu trabalho de forma inovadora e surpreendente, incentivando as pessoas a explorar o mundo a partir de novas perspectivas e a reflectir sobre questões importantes”, aponta a organização.

A segunda parte desta exposição traz as instalações da “The Egg House”, que não é mais do que uma “experiência multisensorial criada por Biubiu Xu juntamente com um grupo de jovens artistas e designers de Nova Iorque”.

Nesta parte da exposição apresenta-se “Ellis”, nome dado a um ovo que “evoca a história de ‘As Aventuras de Alice no País das Maravilhas'”. Aqui, “os artistas misturam engenhosamente elementos do ovo no hall de entrada, na sala de estar, no quarto, na cozinha e até na casa de banho, enchendo cada canto de surpresas e transformando o ovo vulgar em algo extraordinário”.

Assim, nesta espécie de casa, “os visitantes podem interagir com as peças expostas e mergulhar numa atmosfera alegre partilhada com amigos e familiares, tornando-a um local imperdível para fotografias”.

Além da exposição propriamente dita, há actividades paralelas, como menus inspirados no tema da “Eggspression” em oito restaurantes no empreendimento Galaxy Macau, bem como sorteios e workshops temáticos a ter lugar na própria GalaxyArt.

2 Jul 2024

Óbito | Fausto Bordalo Dias morreu ontem aos 75 anos

Morreu, na madrugada desta segunda-feira, o músico português Fausto Bordalo Dias, um dos nomes maiores da música tradicional portuguesa e autor de um dos álbuns mais aclamados, “Por Este Rio Acima”, editado no início dos anos 80.

A confirmação da morte foi feita à agência Lusa pelo seu agente artístico. “Fausto Bordalo Dias morreu esta noite, em sua casa, vítima de doença prolongada”, disse o representante da agência Ao Sul do Mundo.

O falecimento deste vulto da música portuguesa levou o Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, a emitir uma nota de condolências à família do falecido. “Fausto pertencia a uma constelação de músicos que traduziu para as canções de intervenção o sentimento do povo português, e é por isso inevitável associar o nome de Fausto aos nomes maiores da música portuguesa, como José Afonso, José Mário Branco ou Sérgio Godinho”, pode ler-se na nota publicada na manhã de ontem.

Desde 2011 que Fausto não lançava um novo trabalho, sendo que o último disco se intitula “Em busca de montanhas azuis”. O compositor, cantor e músico fechava, assim, a trilogia musical das “Descobertas”, iniciada em 1982 com a edição do álbum “Por este rio acima”, de onde saíram sucessos como “Lembra-me um sonho lindo” ou “Navegar, navegar”. Em 1994, ainda no seguimento do mesmo projecto musical, foi lançado “Crónicas da Terra Ardente”.

Músico de intervenção

O músico nasceu em 1948 a bordo do navio Pátria que fazia a viagem entre Portugal e Angola. Conhecido ao longo da sua carreira pela música de intervenção que fez em oposição à ditadura do Estado Novo, que vigorou em Portugal entre 1933 e 1974, Fausto Bordalo Dias esteve envolvido na criação do Grupo de Acção Cultural — Vozes na Luta (GAC), colectivo fundado com outros nomes da música tradicional portuguesa, como José Mário Branco, Afonso Dias e Tino Flores.

“Por este rio acima” foi escolhido pela revista Blitz, em 2009, como um dos 25 melhores álbuns da música portuguesa dos últimos 40 anos, figurando ao lado de outros trabalhos discográficos editados na década de 80, como “Ar de Rock”, de Rui Veloso; “Heróis do Mar”, álbum homónimo do grupo; “Os Dias de Madredeus”, de Madredeus; e “Independança”, dos GNR.

2 Jul 2024

Nancy Vieira, cantora cabo-verdiana: “As mornas não me fazem chorar”

Acaba de lançar um novo disco depois de um interregno desde 2018. “Gente” é o espelho de todos os músicos e compositores que têm trabalhado com Nancy Vieira, cantora cabo-verdiana que tem feito carreira em Portugal. O HM falou com a artista à margem do “Alentejo à Sombra – World Heritage Festival”, na vila de Cabrela, onde não foi esquecida a influência de Cesária Évora e o poder da morna em quem a ouve e dança

 

Tem um novo álbum, que acaba de ser lançado, “Gente”. Fale-me deste novo trabalho.

O nome diz tudo. “Gente, gente”. É a primeira vez que me aventuro na produção musical, mas não estive sozinha. Diria que a produtora principal é a Amélia Muge, o companheiro de vida e de música da Amélia Muge, José Martins, e eu. Chamei a minha “gente” destes anos todos, de quase 30 anos de vida de música para me ajudarem nos arranjos. Tive muito cuidado na escolha do repertório, não sou autora e tenho pouca coisa minha. Sou intérprete de vários autores cabo-verdianos e não só, no caso deste disco. As músicas chegaram em maquetes, com voz e guitarra, muito simples, mas já muito bonitas. Vinham já quase com uma vida própria e beleza. Este disco tem música tradicional de Cabo Verde, tem morna, tem coladeira, mas traz música da Guiné-Bissau.

País, aliás, onde nasceu.

Muitas pessoas não sabem, mas sou uma cabo-verdiana que nasceu na Guiné-Bissau. Essa é outra guerra minha porque não conheço bem a Guiné, nunca vivi lá, e a minha ligação com o país faz-se muito através da cultura e da música em particular. Por parte também de músicos e colegas que conheci já aqui em Portugal. Já tenho mais vivência de Portugal do que de Cabo Verde. Vim para Portugal com 14 anos. Não podia ficar de fora [do disco] a minha vivência com músicos portugueses que conheci aqui. Faço música com cabo-verdianos, e a base daquilo que faço é a música tradicional de Cabo Verde, mas fui recebendo, desde o primeiro momento, convites de músicos portugueses [para cantar], tal como Rui Veloso, a Ala dos Namorados, João Gil e o Júlio Pereira. Para este disco convidei alguns portugueses, como o António Zambujo que canta comigo o “Fado Crioulo”. “Rosa Sábi”, uma música deste novo trabalho, era, aliás, música tradicional portuguesa, mas demos um toque e aproximou-se do “sambinha” cabo-verdiano, a coladeira sambada.

Portanto, cabe mesmo toda a sua gente neste trabalho.

Cabe todos os que me têm acompanhado, que gostam de mim. Há a identidade da música de Cabo Verde, mas depois não há fronteiras. Aqui neste disco não tem mesmo: parte de Cabo Verde e viaja, vem de outros lugares até Cabo Verde. As nossas fronteiras são o mar.

É uma ode à lusofonia?

Também, mas sem pensar muito nisso. Tenho um músico peruano, por exemplo, o Jorge Cervantes, que produziu um disco meu de 2007. É um hispânico, e está comigo na estrada, agora, toca baixo e Charango. Tenho também o músico Olmo Marín, basco, espanhol, que toca comigo desde 2017. Há a lusofonia, mas há mais. Angola também aparece, pois tenho um dueto com Paulo Flores. “Fogo Fogo”, é um tema em que faço dueto com um grupo português que faz Funaná.

Porque é que não compõe mais?

Desde pequena que faço canções e duetos com os meus ídolos. Habituei-me a cantar grandes canções e poemas, grandes poetas cabo-verdianos, e não só. Sou muito exigente e tenho a certeza que não tenho esse dom. Canto (risos). Acho que fiz duas canções, com letra e música, tenho uma canção em co-autoria com a querida Sara Tavares. Foi feita em jeito de brincadeira, na minha casa.

Cesária Évora está ainda muito presente. Há quem diga que segue o seu legado, que é a nova Cesária. O que sente quanto a isso?

Não há ninguém parecido com a Cesária na sua interpretação e forma de estar. Isso não existe. A Cesária inspira-nos a muitos e muitas, e não me importo muito com a comparação, pois acho que quando o fazem é no sentido bom, é quase um elogio, mas não há ninguém como ela e não é intenção minha ser como a Cesária.

Quer ter a sua própria voz.

Cada um de nós tem a sua própria voz. A Cesária é única, cada um de nós, no nosso percurso, únicos. Mas é, sem dúvida, uma das grandes inspirações. É um orgulho ver nas minhas viagens e concertos em lugares longínquos a forma como ela deixou a imagem de Cabo Verde nas pessoas. Isso orgulha-me muito e comove-me, além de aumentar a minha responsabilidade. Eu, e muitos outros, continuamos esse legado.

Não gravava um novo disco desde 2018. Porquê?

Foi tudo muito natural. Houve alguma promoção e concertos com esse disco [Manhã Florida]. Os discos também têm um tempo de vida e de palco. Fiz muitos concertos, mas depois chegou a pandemia, que estragou tudo. Não foi nenhuma coisa pensada, e depois este disco [Gente], chegou a seu tempo.

Todos os discos têm o seu tempo para chegar.

Têm o seu tempo próprio. Tenho alguns anos de carreira e em 2025 conto com 30 anos desde o lançamento do meu primeiro disco, mas tenho poucos discos. Nunca senti necessidade nem pressa de gravar. Fui tendo a sorte de ter concertos, de cantar muito cada disco, cada repertório. Mas há muitos artistas que sentem que têm de fazer pausas, e posso vir a sentir isso. Mas agora tenho este rebento. Um disco é como um filho, e estou muito babada.

O que é que estes 30 anos lhe trouxeram?

Ensinaram-me muita coisa, sobretudo uma coisa importante: a magia da música de Cabo Verde. Como toca às pessoas, chega a elas, e ensinou-me também que é bom trabalhar em grupo. Tem tudo a ver, lá está, com este trabalho, “Gente”, em homenagem às pessoas que me ajudam. Continuo a aprender e vou continuar sempre.

O batuco é também tradicional de Cabo Verde, da ilha de Santiago. Tem estado mais nos palcos, é algo também positivo?

Claro que sim. Quantos mais géneros se popularizarem, melhor. A morna é a mais conhecida, mais transversal a todas as ilhas. O batuco é específico de Santiago.

Quais as grandes mensagens associadas ao batuco?

Inicialmente eram cânticos de trabalhos da terra, feitos por mulheres.

Então acaba por ter uma conotação colonial.

Sem dúvida. Houve alturas em que o batuco, sobretudo a dança, o “torno”, eram proibidos. É uma dança com alguma sensualidade, porque mexe muito com a parte do corpo feminino, e que foi proibido durante muito tempo. O funaná da ilha de Santiago também foi proibido e hoje é popular. Há muitos géneros de Cabo Verde que vão sendo divulgados. Há géneros específicos da ilha do Fogo, como o “Bandeira”, que não são muito conhecidos em Portugal, porque a morna e as batucadeiras foram avassaladoras.

O que é que a morna tem que faz deste estilo musical tão especial?

Diria que é muito difícil responder por palavras. Vou usar palavras do João Monge. Ele diz que é letrista, eu digo que é poeta. O João diz que a morna e estes géneros de Cabo Verde têm uma melancolia feliz. Algo que parece contraditório, mas que percebo perfeitamente. A mim as mornas não me fazem chorar, por mais tristes que sejam as letras. A nossa música é riquíssima em variedade de géneros, com as diferentes ilhas, mas a morna é transversal, e não toca apenas cabo-verdianos.

A classificação da morna como património pela UNESCO foi tardia?

Foi bem-vinda. Não penso na questão tempo, e tenho muito orgulho em ter estado em Bogotá, na Colômbia, nessa reunião, em Dezembro de 2019, onde a morna entrou para a lista dos patrimónios culturais imateriais da humanidade. Cantei uma hora e meia, muito nervosa, porque não estava no meu ambiente. Não era um ambiente de palco e espectáculo, era um ambiente de reuniões. Tínhamos espaço para um violão e um microfone para cantarmos morna e meia (risos).

Sentia a responsabilidade de estar a representar o seu país.

Estava. Nesse dia estávamos todos nervosos e eufóricos. Foi um dia muito feliz. A nomeação chegou em boa hora e posso dizer que essa candidatura foi muito inspirada pela candidatura do fado e pela equipa que a preparou, que deu um grande apoio.

O fado, que é também uma música melancólica, mas triste, ao contrário da morna.

Talvez triste, mas são músicas parentes, irmãs.

2 Jul 2024

IAM | Exposição itinerante, jogos e visitas guiadas até ao fim do ano

O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) organiza, entre os meses de Agosto e Dezembro, a exposição “Uma passeata pelas ruas de Macau – Conhecer Macau 2024”. Trata-se de uma mostra itinerante que irá passar por escolas, associações e instituições, complementada por jogos de perguntas e respostas. O objectivo é, segundo um comunicado, “aprofundar o conhecimento do público e dos jovens sobre a comunidade de Macau e assim reforçar o sentido de pertença a Macau”.

A mostra revela 19 itinerários de passeios, sendo aprofundado “o sentimento de reconhecimento e pertença do público à comunidade de Macau”, cultivando-se o sentimento de “Amor pela Pátria e por Macau”, descreve o IAM.

A exposição, com cariz itinerante, terá dois percursos, nomeadamente “Organizações de Beneficência” e “Traços de Comerciantes Chineses Famosos em Macau”. A mostra ficará no local de acolhimento durante duas semanas, sendo também realizados jogos e exibidos vídeos do itinerário temático.

Desta forma, o público pode “aprofundar o conhecimento das características e histórias comunitárias através de textos, imagens e jogos”. As inscrições para estas actividades já se encontram abertas.

Destaque para o facto de, entre 22 de Outubro e 22 de Novembro, serem colocados painéis itinerantes para a exposição no Parque Central da Taipa, Jardim de Lou Lim Ioc, Jardim de Luís de Camões, Parque Municipal Dr. Sun Yat Sen e Parque Urbano da Areia Preta.

Além da mostra e das actividades adjacentes, irão também realizar-se visitas guiadas em que os participantes irão passear pelas estradas e ruas de diferentes itinerários temáticos, “recordando o passado de Macau, explorando os traços das pessoas famosas e aprofundando os seus conhecimentos sobre a comunidade”. Para estas visitas é necessária marcação prévia.

1 Jul 2024

Cinemateca Paixão | “Encantos de Julho” já são conhecidos

São poucos os filmes que integram o cartaz deste mês, intitulado “Encantos de Julho”. Destaque para o filme “The Peasants”, uma obra dramática de animação para adultos, com exibições até ao dia 28. Por esta sala de cinema passam ainda os filmes “Close your Eyes” e “La Chimera”

 

Novo mês, novos filmes. Julho arranca na Cinemateca Paixão com o habitual cartaz “Encantos” dedicado a cada mês do ano. Tendo em conta que, nas próximas semanas, muitos filmes irão passar pelas telas da Cinemateca, nomeadamente os que integram o Festival Internacional de Cinema Infantil de Macau, serão exibidos apenas três filmes até ao final do mês desta selecção mensal.

Assim, “Encantos de Julho” traz “The Peasants”, em português “Em Nome da Terra”, um drama original de animação pensado para adultos da autoria de DK Welchman e Hugh Welchman.

Com exibições amanhã, às 19h30, e depois nos dias 4, 10, 13, 21 e 28, este filme centra-se em torno da trágica história da camponesa Jagna que foi obrigada a casar com um agricultor rico e muito mais velho do que ela, chamado Boryna. Jagna ama o filho do marido que lhe foi destinado, Antek. Com o tempo, Jagna torna-se objecto de inveja e ódio dos aldeões e tem de lutar para preservar a sua independência.

Segue-se “Close your Eyes” [Fechar os Olhos], exibido esta quarta-feira e depois sexta, domingo, e dia 12. Esta película estreou mundialmente no Festival de Cinema de Cannes no ano passado, na secção “Cannes Premiere”, tendo ficado em segundo lugar na lista dos dez melhores filmes de 2023 elaborada pela revista “The Movie Book”, uma das melhores publicações no mundo do cinema.

“Close your Eyes” [Fechar os Olhos] marca o regresso ao ecrã e à realização de Victor Arias, realizador espanhol, que esteve afastado do mundo do cinema durante 30 anos, sendo esta uma história que se centra em torno do desaparecimento do actor espanhol Julio Arenas.

Julio desaparece durante a rodagem de um filme, e as autoridades nunca conseguem encontrar o seu corpo. Porém, vão revelando alguns detalhes do que poderá ter acontecido no dia do desaparecimento, nomeadamente quanto à possibilidade de ter ocorrido um acidente.

Segundo o jornal espanhol “El Confidencial”, o filme é protagonizado pelo actor Manolo Solo, uma espécie de “alter ego” do próprio realizador, sendo “Close your Eyes” um filme sobre a memória e o passar do tempo. A personagem de Manolo Solo decide, anos depois, ir em busca do amigo desaparecido, Julio Arenas, interpretado por José Coronado.

Para rir

Depois de dois filmes mais intensos, o tom desce e é exibido uma comédia. “La Chimera”, de Alice Rohrwacher, é um filme que já passou por algumas salas de cinema europeias, nomeadamente no Festival de Cinema Indie de Lisboa.

“La Chimera” remete, como o nome indica, para a ideia de “quimera”, que é figura ligada à mitologia grega, mas também algo que se pretende alcançar, numa onda utópica ou de esperança.

Na sinopse deste filme, descreve-se uma história em torno de Arthur, um “arqueólogo de um grupo que procura tesouros antigos em tumbas, e um Orfeu que procura a sua quimera, o seu desejo impossível, apesar de todas as regras da realidade”. “La Chimera” viaja, assim, “entre o concreto e o fantasioso, desvendando-se mitos”. Este filme conta com actores como O’Connor, Carol Duarte, Vincenzo Nemolato, Alba Rohrwacher e Isabella Rossellini.

1 Jul 2024

Óbito | Manuel Cargaleiro, o mestre ceramista que viveu para dar cor à pintura

O pintor e ceramista Manuel Cargaleiro, que morreu este domingo, em Lisboa, aos 97 anos, deixa uma vasta obra em Portugal e no estrangeiro, marcada pela inspiração no azulejo português, composições complexas, e uma paixão intensa por jogos de cor e luz.

O mestre Manuel Cargaleiro – para quem a cor e a luz eram “um prazer” – afirmou várias vezes que se sentia ceramista mesmo quando pintava a óleo. Não conseguia imaginar uma coisa sem a outra, uma vez que as duas práticas artísticas se influenciavam mutuamente.

“Quando pinto a óleo penso na cerâmica, e quando faço cerâmica, penso na pintura”, disse o mestre conhecido por dominar desde cedo a técnica do azulejo e cuja colaboração era frequentemente pedida por outros artistas que o admiravam pela perícia e originalidade.

Manuel Alves Cargaleiro nasceu em Chão das Servas, Vila Velha de Ródão, a 16 de março de 1927, e passou a infância numa olaria no Monte da Caparica, no concelho de Almada, para onde os pais se mudaram quando tinha apenas dois anos de idade.

Nessa olaria começou a fazer experiências com vidros e tinta, e adquiriu o gosto pela cerâmica, mas a sua criatividade veio a estender-se também a outros suportes, como a pintura e, além dela, a tapeçaria.

Apesar da paixão precoce pelas artes, estudou durante três anos Ciências Geográficas e Naturais na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, porque era um grande apreciador da natureza, como confessou, e só depois, em 1949, ingressou na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa.

“Eu sou o pintor das cores. Eu vivo para as cores, e isso é o resultado de eu olhar muito para a natureza”, afirmava.

As suas primeiras pinturas abstratas, intituladas “Microscopic Compositions”, surgiram mesmo da observação dos tecidos vegetais que o microscópio reproduzia, suscitando uma inspiração direta do mundo natural, ao seu redor.

A primeira exposição

Em 1952 realizou a primeira exposição individual, no Secretariado Nacional de Informação, em Lisboa, e, dois anos depois, quando era professor de cerâmica na Escola Secundária António Arroio, em Lisboa, surgiu a oportunidade de expor as suas peças na Galeria de Março, que funcionou na capital portuguesa entre 1952 e 1954.

No mesmo ano, apresentou as suas pinturas iniciais a óleo no Primeiro Salão de Arte Abstrata, conquistou o Prémio Nacional de Cerâmica e viajou pela primeira vez para Paris, onde conheceu a pintora Maria Helena Vieira da Silva, de quem ficaria amigo, e com quem viria a trabalhar intensamente, cerca de três décadas mais tarde, no processo de instalação dos painéis de azulejo da artista nas estações da Cidade Universitária e do Rato, do Metro de Lisboa, quando concebia os seus próprios painéis para a estação do Colégio Militar.

A sua obra foi fortemente inspirada no azulejo tradicional português, e também influenciada inicialmente pelo pintor e ceramista Lino António, o modernista que concebeu os vitrais da Aula Magna da Universidade de Lisboa e os frescos do átrio da Biblioteca Nacional de Portugal. O racionalismo e a sobriedade da arte francesa, das quais Cargaleiro posteriormente se afastou através do uso e intensa exploração da cor, também marcaram o seu ponto de partida.

Essa ampla pesquisa da cor, com “grande prazer”, como sempre dizia, fez com que alguns especialistas em arte lhe chamassem “o artista feliz”. Até aos 95 anos continuou a trabalhar no ateliê, quase diariamente: “Passo horas nisto, e esqueço-me que estou a trabalhar”, dizia.

Vida em Paris

Em 1955, Manuel Cargaleiro foi agraciado com o diploma de honra da Academia Internacional de Cerâmica, no Festival Internacional de Cerâmica de Cannes, em França.

Foi convidado a conceber os painéis de azulejo para o Jardim Municipal de Almada e para a fachada da Igreja de Moscavide e, até ao final dessa década, receberia duas bolsas de estudo na área da cerâmica, respetivamente em Faenza, Itália, e em Gien, na França.

Entretanto, fixou residência definitiva na capital francesa, onde viria a estabelecer o seu atelier, expandido a sua presença internacional. Até ao final da década de 1970, realizou exposições individuais em Lisboa, Paris, Tóquio, Milão, Lausanne, no Porto, em diferentes cidades do Brasil. Foi também convidado para mostras coletivas em Almada, Genebra, Osaka, Seul.

Colaborou com poetas, nomeadamente Armand Guibert e Victor Ferreira, cujos poemas foram ilustrados pelo artista. Foi convidado pelo ministério francês da Cultura a conceber painéis cerâmicos para três escolas no país que o acolhera. Assim o fez.

Nos anos 1980 começou a explorar a tapeçaria, tendo sido convidado pelo Governo português a conceber uma dessas obras para o novo edifício na Organização Internacional do Trabalho, em Genebra.

A partir da década de 1990, predominariam na sua obra os padrões aglomerados e cromaticamente intensos onde continuaria a ser evocado o azulejo português, que tanto determinou o seu trabalho.

Em Castelo Branco, viria a ser criada a Fundação Manuel Cargaleiro, em 1990, com o objetivo de criar um museu dedicado à sua obra. Assim aconteceu, em 2005, primeiro no edifício histórico Solar dos Cavaleiros, mais tarde expandindo-se para o “edifício contemporâneo”.

Inauguração de oficina

Cerca de uma década mais tarde foi inaugurada no Seixal a Oficina de Artes Manuel Cargaleiro, num projeto arquitetónico de Álvaro Siza, com objetivo de promover a arte contemporânea, a obra do mestre Manuel Cargaleiro e as coleções da sua fundação, quer através de temporárias, mas sobretudo através da divulgação da arte e do trabalho com jovens artistas, dando corpo à definição implícita na designação de Oficina.

A obtenção do primeiro prémio do concurso internacional “Viaggio attraverso la Ceramica”, e a ligação de Manuel Cargaleiro à localidade de Vietri Sul Mare, em Itália, surgem num contexto de aprofundamento de ligações com o meio artístico italiano.

Em 2004, estas ligações impulsionaram a criação da Fondazione Museo Artistico Industriale Manuel Cargaleiro, um centro de produção e investigação na área da cerâmica, ao qual o artista doou 150 obras.

Prémios e medalhas

Em 2017, no exato dia do seu 90.º aniversário, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou Manuel Cargaleiro com a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique, classificando-o, de “artista completo”. Em fevereiro de 2023 recebeu a Grã-Cruz da Ordem de Camões.

A Câmara de Castelo Branco atribuiu-lhe a medalha de ouro da cidade em 2022, e, nesse ano, o artista recebeu também o doutoramento ‘honoris causa’ pela Universidade da Beira Interior (UBI), sediada na Covilhã, cidade que faz parte da região onde nasceu, um prémio ao qual atribuiu, na altura, um significado “único”.

No mesmo ano, a Câmara Municipal de Lisboa homenageou-o com a Medalha de Honra da Cidade. Nesse ano, o mestre doou cerca de 1.900 peças de arte em cerâmica, avaliadas em 1,2 milhões de euros, à sua Fundação, sediada em Castelo Branco, e que detém um enorme acervo, reunido pelo mestre ao longo de 70 anos, entre obras suas e de outros artistas.

O ceramista recebeu, em Paris, em 2019, a medalha de Mérito Cultural do Governo português e a Medalha Grand Vermeil, a mais alta condecoração da capital francesa.

Na altura, foi também inaugurada a ampliação da estação de metro de Champs Elysées-Clémenceau, com novas obras de Manuel Cargaleiro, depois de originalmente concebida e totalmente decorada pelo artista português, em 1995, incluindo o painel em azulejo “Paris-Lisbonne”.

No último ano teve patente as exposições “Eu Sou… Cargaleiro”, no Mosteiro de Ancede – Centro Cultural de Baião, no distrito do Porto, uma mostra de pintura na Casa Museu Teixeira Lopes – Galerias Diogo de Macedo, em Vila Nova de Gaia, intitulada “Cargaleiro, Pintar a Luz Viver a Cor”, e uma exposição de gravura no Fórum Cultural de Ermesinde, em Valongo, de nome “A essência da cor”. Este ano levou obras nunca expostas à sua oficina, no Seixal.

Reuniu-se ainda a Vhils (Alexandre Farto) na criação conjunta da obra “Mensagem”, destinada a exposição no Museu Cargaleiro, em Castelo Branco. No passado mês de abril doou à sua terra natal, Vila Velha de Ródão, uma tela alusiva aos 50 anos do 25 de Abril, a que chamou “Festa da Gratidão”.

Gratidão é também a palavra usada pela sua mulher para descrever a vida do mestre e o seu reconhecimento em Portugal. Em declarações à agência Lusa, Isabel Brito da Mana lembrou hoje o Museu Cargaleiro, em Castelo Branco, e a Oficina de Artes, no Seixal, sublinhando como a vida e a arte de Manuel Cargaleiro se conjugaram e cumpriram. A vida de um dos mais cosmopolitas criadores do arte portuguesa, reconhecido através do mundo inteiro e presente nas principais coleções internacionais, que nunca esqueceu as suas ligações à terra natal, no distrito de Castelo Branco, e à margem Sul do Tejo, onde cresceu.

Em entrevista à agência Lusa, em setembro do ano passado, o mestre disse entender que havia “duas correntes no mundo: uma positiva e outra negativa”.

“Há os artistas que pensam que não há nada a fazer, e descrevem o destrutivo, por exemplo o [pintor anglo-irlandês Francis] Bacon. Tem uma pintura triste, violenta, agressiva. E [o pintor e ceramista francês de origem bielorrussa Marc] Chagall, que tem uma pintura de esperança, de beleza, de mensagem. Eu coloco-me deste lado. Eu gosto de criar algo que dê força, que anime e dê esperança.”

E concluiu: “Eu pego nos pincéis e começo a pintar e não sei o que vai acontecer. Há tanta coisa que eu gostaria de fazer.”

A exposição em Macau

Manuel Cargaleiro chegou a ter obras suas expostas em Macau, nomeadamente em 2015, graças a uma iniciativa na Casa Garden da Fundação Oriente. Um total de 40 obras de pintura do artista plástico foram reveladas ao público de Macau.

“É uma homenagem que lhe queremos prestar em vida. (…) Os quadros são representativos das várias fases da pintura do Manuel Cargaleiro”, disse a delegada da Fundação Oriente em Macau, Ana Paula Cleto, à agência Lusa.

Intitulada “Manuel Cargaleiro – pintura: 1954-2006”, a exposição reúne exclusivamente obras de pintura, selecionadas pelo artista, em conjunto com a direção do Museu do Oriente.

“Manuel Cargaleiro é considerado um dos artistas mais proeminentes da cultura portuguesa da actualidade e a sua obra abrange cerâmica, pintura, gravura, guache, tapeçaria e desenho. Na sua pintura pode distinguir-se um sentido ornamental e decorativo”.

1 Jul 2024

Vhils inaugura novo mural na capital belga

O artista Alexandre Farto, conhecido como Vhils, inaugurou ontem um mural em Bruxelas que é uma compilação de várias revoluções democráticas pela Europa, incluindo a dos Cravos, ocorrida em Portugal a 25 de Abril de 1974, para recordar o que está em causa com o crescimento da extrema-direita.

A Rua Leopoldo, no coração de Bruxelas, ganhou outra vida, com as pessoas que a percorriam a pararem para observar um mural que apareceu em apenas uma semana. Uma mulher e um cravo saltam logo à vista, mas Alexandre Farto explicou que toda a obra é uma mescla revolucionária.

“Toda a obra foi um levantamento das várias revoluções e de várias histórias da Europa, tem vários elementos de padrões, tens o cravo também que tem que ver com a ligação à Revolução dos Cravos”, contou à Lusa, durante a inauguração do mural.

O rosto não é o de uma mulher só, mas “um apanhado de uma série de desenhos” que Vhils fez em Bruxelas: “Quis representar alguém no imaginário do futuro que esteja a olhar o futuro da Europa e a representar também a sua diversidade e maneira como isso nos tornou mais fortes”.

Enaltecer a democracia

No ano de celebração do 50.º aniversário do 25 de Abril, Alexandre Farto quis enaltecer a conquista da democracia portuguesa na cidade que decide os destinos da União Europeia.

Ainda mais quando o crescimento da extrema-direita ameaça os valores europeístas, colocando em causa “todo o Estado social”, o acesso à escola pública, que Vhils frequentou, não só em Portugal, mas noutros países.

“No meu atelier somos 25, há pessoas que têm histórias similares à minha, dos subúrbios de Bucareste [Roménia], da Polónia, de Espanha, de França. O estúdio também tem essa força da Europa. Era impossível fazer o meu trabalho e eu não teria tido as oportunidades que tive se não fossem as conquistas todas dos últimos anos”, sustentou.

Nascido em 1987, Alexandre Farto cresceu no Seixal, onde começou por pintar paredes e comboios com ‘graffiti’, aos 13 anos, antes de rumar a Londres, para estudar Belas Artes, na Central Saint Martins.

Captou a atenção a ‘escavar’ muros com retratos, um trabalho que tem sido reconhecido a nível nacional e internacional, e que já levou o artista a vários cantos do mundo. Além de várias criações em Portugal, Alexandre Farto tem trabalhos em países e territórios como a Tailândia, Malásia, Hong Kong, Itália, Estados Unidos, Ucrânia e Brasil.

28 Jun 2024

Rota das Letras | Espectáculo de dança e teatro este fim-de-semana no CCM

Chama-se “Dearest” e é resultado de um projecto participativo de dança, escrita e teatro nascido do Festival Literário Rota das Letras, que contou com a obra de Virgínia Woolf como ponto de partida. O espectáculo sobe hoje e amanhã ao palco do pequeno auditório do Centro Cultural de Macau

 

O Centro Cultural de Macau (CCM) acolhe, hoje e amanhã, a partir das 19h45, o espectáculo “Dearest” [Querido], uma iniciativa criativa e artística que nasceu do projecto participativo “Um Quarto Próprio”, desenvolvido no âmbito de workshops realizados durante as últimas edições do Festival Literário Rota das Letras.

Trata-se de uma iniciativa artística com coreografia do bailarino de Pequim, Jay Zheng, e da bailarina de Macau, Tina Kan. O espectáculo conta com actuações da própria Tina Kan e Helen Ko, actriz e bailarina, bem como outros bailarinos de Pequim.

Segundo uma nota do CCM, este projecto é inspirado na vida e obra da escritora inglesa Virgínia Woolf, considerada como uma das pioneiras do feminismo e modernismo no século XX, e autora de romances como “Mr. Dalloway”.

“A performance combina uma estrutura de performance, dança, música, cenografia e figurino, explorando a condição feminina, a relação andrógina entre os sexos e a jornada final do eu”, com base no conteúdo da obra de Woolf, “A Room of One’s Own”.

Desta forma, descreve o CCM, ao tentar analisar a literatura da autora, “a performance levará o público [a construir] imagens psicológicas internas” associadas ao livro, “conectando-se com fragmentos das histórias”.

A primeira edição de “A Room of One’s Own” [Um Quarto Só Seu] data de 1929 e nasce de duas conferências dadas por Virgínia Woolf em colégios da Universidade de Cambridge. Trata-se de um ensaio alargado sobre a situação difícil vivida, à época, pelas mulheres romancistas sendo, ao mesmo tempo, um apelo à autonomia e reconhecimento.

Muitos consideram esta obra como o primeiro passo para traçar a história da literatura feminina numa época em que o mundo das letras era ainda dominado pelos homens, pois nem todas as mulheres tinham possibilidade de estudar.

Viver e escrever

Mais do que celebrar as letras e os livros, o Rota das Letras ousou ir mais além, criando um espectáculo de raiz com base em workshops que contaram com a participação do grande público, com mais ou menos experiência. A ideia foi celebrar a efeméride dos 140 anos do nascimento de Virgínia Woolf, tendo sido criados oficinas de literatura, teatro, música e prática de instrumentos com várias personalidades locais, onde os participantes eram convidados a escrever, a pensar e a criar.

Uma dessas personalidades foi Agnes Lam, ex-deputada e académica na área da comunicação da Universidade de Macau, que orientou a criação de histórias baseadas nas vivências pessoais dos participantes, num formato de diário anónimo. Esses textos foram, mais tarde, adaptados para o espectáculo que hoje e amanhã se apresenta.

Em Junho, Alice Kok, artista local e presidente da AFA – Art for All Society, e curadora deste espectáculo, falou da iniciativa. “A ideia surgiu das obras literárias de Virgínia Woolf, há dois anos, e a vontade de tentar explorar a condição da mulher contemporânea em relação ao pensamento crítico da autora, nascida há mais de um sáculo”, disse ao jornal Ponto Final.

Alice Kok lembrou que “Woolf falava sobre as mulheres precisarem de um ‘quarto próprio’, um espaço onde possam pensar, escrever e criar sem interferências ou distracções. Um ‘quarto mental’, para que as mulheres pudessem ultrapassar as barreiras impostas pela sociedade patriarcal da época. Argumento pertinente ainda nos tempos de hoje, infelizmente”, destacou.

28 Jun 2024

USJ | Projectos finalistas de arquitectura e design patentes em exposição

“Re-Imagine Macao” é o nome da exposição hoje inaugurada no campus da Universidade de São José (USJ), na Ilha Verde, mais concretamente na Galeria Kent Wong – Cave. Esta mostra, que pode ser visitada até ao dia 30 de Agosto, revela os trabalhos finalistas das licenciaturas de Arquitectura e Design da Faculdade de Artes e Humanidades da USJ, relativos ao ano lectivo de 2023/2024.

É revelado, concretamente, o projecto “Outer Harbour Scapes”, do curso de arquitectura, e “Rhizomatic Design”, da licenciatura em Design.

No caso do projecto arquitectural pensado para uma das zonas marítimas de Macau, cria-se “um novo cenário urbano que reforça a conectividade da cidade existente e celebra a proximidade da orla marítima”.

Nestes espaços “os alunos desenvolveram projectos individuais que vão desde habitações em altura, instalações públicas, centros comerciais e edifícios de escritórios a edifícios culturais, bibliotecas, museus, universidades ou hotéis à beira-mar”, explica a USJ.

Trata-se de projectos que “seguem os regulamentos de construção e requisitos locais, projectando Macau para um futuro em que a inovação significativa na arquitectura se torna um activo relevante para melhorar a qualidade de vida em Macau como uma cidade de classe mundial”.

No caso do projecto de Design, são apresentadas ideias com base no conceito de “design riozomático”, tendo sido pedido aos estudantes que “questionassem o status quo” pré-existente, de forma a aceitarem “a complexidade”, imaginando “uma cidade que prosperasse através da criatividade, adaptabilidade e interligação”.

Desta forma, foram concebidos vários projectos, nomeadamente mobiliário urbano e brinquedos educativos, mobiliário doméstico e branding. Trata-se de objectos que pretendem ter “um impacto positivo nas nossas vidas e na sociedade, dando um contributo significativo para o futuro de Macau”.

26 Jun 2024

Armazém do Boi | Exposições fruto de residências artísticas em Julho

A primeira semana de Julho traz novidades para a agenda do Armazém do Boi. São inauguradas, no dia 6, três exposições que são fruto de residências artísticas realizadas em Macau, intituladas “A Slice of Cake”, “Obstinate Spine” e “Next of Kin”. O público poderá ver, assim, arte em vários formatos e meios criativos

 

O Antigo Estábulo Municipal do Gado Bovino, casa da associação artística Armazém do Boi, inaugura, no próximo dia 6 de Julho, três exposições que nascem de residências artísticas realizadas com agentes criativos locais e da China.

Uma delas, “A Slice of Cake” [Um Pedaço de Bolo] é da autoria de Xu Ge e conta com curadoria de Zheng Wen. Trata-se de uma iniciativa feita em parceria com Zheng Jing, artista e docente da Academia Chinesa das Artes.

Segundo um comunicado do Armazém do Boi, durante o período de residência artística realizado no território, o artista “embarcou numa busca para descobrir elementos e palavras-chave contraditórias, opostas e paralelas” que se podem encontrar em “diversas culturas e contextos”.

Com base nessa pesquisa, fez-se depois uma categorização de todos os conceitos, combinados numa instalação feita em forma de bolo, cada uma com uma base triangular com cerca de 40 centímetros de comprimento.

Todos os materiais para esta criação foram adquiridos localmente. Segundo o Armazém do Boi, “as obras de arte podem também integrar-se em ecrãs em miniatura, esbatendo as fronteiras entre a realidade e a virtualidade, ou incorporando meios como a mecânica do som”. Além da instalação, a mostra é composta por objectos físicos, manuscritos e imagens.

Outra mostra, apresentada no dia 6 de Julho, é “Obstinate Spine”, do artista Song Gewen. Com curadoria de Cai Guojie, esta exposição individual “dá continuidade ao esforço criativo anterior do artista de explorar os princípios e as leis das coisas e da mente”.

Em “Obstinate Spine”, observa-se também “obras baseadas nas características espaciais do Armazém do Boi e nas características locais de Macau”, apresentando-se, assim, ao público “um novo aspecto das obras do artista, que vai da exploração da materialidade à exploração da espacialidade”.

Multimédia e narrativa

“Next of Kin” é a terceira e última mostra integrada neste conjunto de inaugurações. Revelam-se os trabalhos de Cheung Zhiwan, apoiado pela curadoria de Junyan He.

Neste caso, explora-se “a complexidade da linguagem narrativa”, numa mostra multimédia em que o artista se centra “na memória e identidade, procurando um passado que nunca experimentou e um futuro que ainda está para vir”.

Esta exposição não se dissocia do contexto em que o artista viveu nos últimos meses, pois “o tempo que passou na região do Delta do Rio das Pérolas impregnou inevitavelmente as suas obras com o contexto local”. Apesar da inauguração acontecer dia 6, estas mostras podem começar a ser vistas dois dias antes. Todas elas encerram portas no dia 5 de Agosto.

26 Jun 2024

Studio City | Segunda sessão do “WAVE Fest” este sábado

Decorre este sábado, entre as 15h30 e as 19h, a segunda sessão do primeiro festival de música em ambiente aquático, o “WAVE Fest”, promovido pelo Studio City, e que decorre no “Water Park Event Garden” do empreendimento, no Cotai.

Para este evento incluem-se as actuações de Hins Cheung, Vincy Chan, Dark Wong, ToNick e VIVA. A primeira sessão inaugural em Macau contou com MC Cheung Tin-fu como cabeça de cartaz e mais de mil pessoas que participaram “numa derradeira experiência de música e salpicos”, aponta um comunicado da organização.

Houve “uma mistura inovadora de música ao vivo e actividades dinâmicas” no parque aquático do Studio City, pelo que agora, depois da primeira sessão “esgotar em tempo recorde”, se espera mais animação no Cotai. Houve ainda “um enorme impacto na cena de entretenimento de Macau”.

Neste festival actuaram também os “Initial B”, banda rock de Macau, bem como o grupo, de cinco elementos, “#FFFF99”, sem esquecer os “Zpecial”, que trouxeram ao público “baladas populares que emocionaram o público”. Por sua vez, na primeira sessão do “WAVE Fest”, houve ainda espaço para o grupo feminino “Lolly Talk”, que “injectou uma dose de energia juvenil com canções de amor de ritmo ligeiro” e que pôs “os fãs a mexer com adoráveis vibrações”. Por sua vez, “Dear Jane” “inspirou o público a cantar com os seus êxitos clássicos no topo das tabelas”.

25 Jun 2024

FRC | Influências do Sudeste Asiático na comida macaense hoje em debate

Autora de livros sobre a gastronomia macaense, Annabel Jackson dá hoje uma palestra na Fundação Rui Cunha, a partir das 19h, intitulada “Macau e o Mundo Malaio: Uma Perspectiva Gastronómica”. Ao HM, a autora lamenta a ausência de apoios para manter abertos restaurantes macaenses mais antigos e diz ser “redutor” e “um disparate” afirmar que a gastronomia macaense é uma mera fusão de paladares chineses e portugueses

 

Se há gastronomia que é uma verdadeira manta de retalhos é a macaense. Annabel Jackson, escritora e investigadora sediada no Reino Unido, e que viveu em Hong Kong durante mais de duas décadas, fala hoje sobre o assunto na Fundação Rui Cunha (FRC), a partir das 19h, em particular da íntima ligação que existe entre a culinária do Sudeste Asiático e a gastronomia macaense.

A palestra intitula-se “Macau e o Mundo Malaio: Uma Perspectiva Gastronómica” e destaca, precisamente, o facto de a comida macaense não ser uma mera junção de influências e fusões entre a comida chinesa e portuguesa.

“É tão redutor quando afirmamos que a comida macaense é uma espécie de fusão da comida portuguesa e chinesa. É realmente um disparate. [A gastronomia macaense] não é apenas indicativa de todo o Sudeste Asiático, mas podemos ir até algumas ilhas do Oceano Índico e algumas zonas da África Oriental. Não nos podemos esquecer que a comida macaense é, de certa forma, baseada nos ingredientes chineses locais, como o frango, porco, ovos, alhos, cebolas, azeite, mas é muito mais do que isso”, disse ao HM.

Annabel Jackson apresentou vários exemplos de nomes de receitas macaenses que são tudo menos chineses ou portugueses, como é o caso do “Porco Balichão Tamrindo”.

“Já sabemos que ‘Balichão’ não é uma palavra portuguesa, nem ‘Tamarindo’. Pensamos então de onde vêem estas palavras, e conseguimos então traçar ligações com a língua malaia ou com a língua ‘Tamil’, falada na Índia”, destacou.

Outra palavra sem origens portuguesas é “Chamuça”, incluindo o próprio alimento. “Quase todas as gastronomias têm um prato que é um tipo de proteína cozinhado com um tipo de massa, num pastel. Falamos também das empadas, que existem na cozinha francesa, e temos muitos exemplos nas comidas asiáticas.”

Influências malaias ou indianas podem encontrar-se também no chilicote, uma espécie de pastel com recheio muito conhecido na gastronomia macaense. “Chilicote é uma palavra muito parecida com ‘Chilikoti’, que existe na língua malaia, mas é também semelhante à linguagem ‘Tamil’. Então temos o exemplo desta semelhança num alimento que vai sofrendo alterações nos países por onde passa. Esta é apenas uma forma de construir a ideia de que existe uma relação muito forte entre os idiomas e os nomes das comidas”, explicou.

Comida do povo

Apesar de ter vivido em Hong Kong muitos anos, Annabel Jackson conhece bem Macau e dedicou-se a escrever sobre a sua gastronomia de fusão. É autora de 13 livros, incluindo seis com receitas sobre cozinhas asiáticas. Um dos livros sobre Macau intitula-se “Taste of Macau: Portuguese Cuisine on the China Coast”. Tem um mestrado em Antropologia da Alimentação pela Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, estando actualmente a frequentar o doutoramento.

A palestra que acontece hoje na FRC tem o apoio da Universidade de São José (USJ), integrando-se numa série de conversas em torno da história e património.

Hoje, olha-se para “as comparações com outras cozinhas ‘crioulizadas’ no Sudeste Asiático, como a comida Peranakan e Kristang na Malásia. Estas questões são abordadas através de uma análise histórica e política, mas também através das especificidades da etimologia e da cozinha.”

Pensando em termos históricos, Annabel Jackson aponta as influências que os Descobrimentos portugueses tiveram em toda esta mescla culinária, mas recorda que “quando os portugueses chegaram a Macau, provavelmente não faziam ideia de metade das comidas que aqui existiam”.

“[Os portugueses] não faziam ideia de como as preparar ou preservar. Vemos, então, diferentes tipos de relações [gastronómicas] a emergir por causa de todos estes tipos de culinárias que não foram criadas pelos colonizadores, mas sim pelas pessoas locais”, adiantou.

Pouca oferta

Annabel Jackson não tem dúvidas de que é necessário falar mais das influências asiáticas em torno da gastronomia macaense e de como persiste um profundo desconhecimento sobre este tipo de cozinha em Macau.

“Sinto que com a classificação de Macau como Cidade Criativa da Gastronomia pela UNESCO houve mais reconhecimento, mas, apesar de todo o esforço feito pelo Governo de Macau, a mensagem não está a passar e os turistas não fazem ideia do que é a gastronomia macaense. Se falarmos com chineses locais, também não sabem o que é. Temos uma disconexão quando as pessoas vão a Macau, porque há poucos restaurantes macaenses.”

Apesar da legislação turística obrigar os espaços de restauração das operadoras de jogo a ter comida macaense nos menus, a verdade é que continuam a não ser servidos os pratos mais originais, existindo desconhecimento sobre o que é um verdadeiro prato macaense.

“Olhamos para um menu, vemos o nome de um prato e não é claro se é macaense ou português. As pessoas comem uma comida macaense, mas não sabem que o é por uma questão de comunicação, que não é apenas um problema a nível governamental. Penso que os funcionários dos restaurantes, por exemplo, também não estão a comunicar devidamente [o que é a comida macaense].”

Annabel Jackson não deixa de lamentar a ausência de apoios governamentais na preservação de restaurantes macaenses mais tradicionais e independentes em relação aos casinos. Um dos casos mais notórios foi o recente fecho da “Cozinha Aida”, restaurante fundado por Aida de Jesus que servia verdadeiros pratos macaenses e cujo negócio foi decaindo por uma série de factores. Aida de Jesus faleceu há dois anos.

“Nos últimos oito meses assistimos ao encerramento de dois restaurantes macaenses locais. Tratam-se de espaços que serviam comida autêntica com apenas alguns pratos portugueses, mas na maioria eram macaenses. E penso como é que estes restaurantes podem ter fechado. No caso de Aida de Jesus, ela era a madrinha da cozinha macaense. Porque é que o Governo não apoia os restaurantes macaenses locais ajudando-os a sobreviver, dando-lhes mais recursos?”, inquiriu a autora.

25 Jun 2024

Casa da Literatura | Exposição sobre doações inaugurada ontem

Foi ontem inaugurada a mostra “Como as Palavras Voam – Exposição das Doações para a Casa de Literatura de Macau”, uma iniciativa do Instituto Cultural (IC). O projecto visa, segundo um comunicado, “mostrar as características particulares da literatura de Macau e prestar homenagem aos doadores de todas as esferas da sociedade”.

O IC explica que a Casa de Literatura de Macau, projecto recentemente inaugurado, “tem recebido generosos apoios e ofertas de todos os sectores da sociedade”, incluindo figuras do meio literário, sendo que esta mostra apresenta “mais de 90 peças ou conjuntos de obras, incluindo manuscritos, recortes de jornais, livros e obras de caligrafia”. Desta forma, regista-se “a história dos escritores de Macau sob diversas formas e diversos géneros literários”.

São também introduzidos escritores nascidos entre os anos de 1922 e 1939, nomeadamente Hu Xiao Feng, Lao Wa, Iau Chi Vai, Ngai Yick Kin (Tao Li), Lei Kun Teng e Ling Ling, considerados “pioneiros na literatura local e que não pouparam esforços para impulsionar o desenvolvimento literário de Macau”, além da influência que exerceram no panorama literário da região.

25 Jun 2024

FRC acolhe exposição de pintura de Chan Man Kin

O artista Chan Man Kin protagoniza a nova exposição da Fundação Rui Cunha (FRC) que é hoje inaugurada a partir das 18h30. Trata-se de “The Splendor of Objects” [O Esplendor dos Objectos] e tem curadoria de Cai Guojie. Esta é uma mostra que tem como tema a “natureza-morta” e a escola holandesa da pintura como ponto de partida, destaca um comunicado da FRC. Depois, o artista expandiu o seu trabalho para o universo abstracto, “como uma explosiva reacção nuclear”.

A mostra inclui 21 pinturas feitas com tinta acrílica com o foco na “natureza morta com pêssegos”, uma peça criada no ano passado que daria sentido ao restante trabalho. Inspirado na “experiência histórica da Escola Holandesa de Pintura, iniciei uma discussão sobre o sentido de segurança e estabilidade necessários à vida: dos objectos específicos ao exame da vida e da morte, do olhar para a morte para expressar apreciação pela vida”, refere o artista, citado pelo mesmo comunicado.

O artista acrescentou ainda que “ao observar o espaço interno de um pêssego cortado ao meio – o caroço do pêssego – parece um mundo pequeno. O caroço do pêssego serve tanto como fim quanto como início de novos pêssegos, incorporando infinitas possibilidades”.

“A partir daí, mergulhei na relação entre o pêssego e seu caroço, desde o microcosmo do caroço do pêssego até o macrocosmo do universo. Este processo transita gradualmente das formas concretas para as abstractas, explorando as relações visuais expressas através da transformação dos estilos de pintura”, disse.

Processo existencial

Chan Man Kin desenvolveu um longo processo em torno das ideias para este projecto artístico, realizando uma “discussão filosófica sobre a existência e a morte”. Como revelou ainda, “a pintura de natureza-morta é um género e forma de pintura com valor estético independente e orientação espiritual na pintura ocidental”, além de trazer, ao artista, “uma sensação de estabilidade pessoal, permitindo que o meu corpo e a minha mente rapidamente se alinhem”.

Chan Man Kin terminou recentemente um mestrado em Comunicação Visual na Universidade de Macau, trabalhando actualmente como artista na Academia Li Keran, sendo também artista residente na Academia de Belas Artes de Guangzhou. As suas áreas de estudo incluem pintura, design gráfico, fotografia conceptual e técnica mista.

25 Jun 2024

Cinema | Já é conhecido cartaz do primeiro festival para os mais novos

O Instituto Cultural anunciou recentemente a realização, este Verão, do primeiro Festival Internacional de Artes para Crianças de Macau que, além dos espectáculos, inclui cinema. O cartaz já é conhecido e podem ser vistos, na Cinemateca Paixão, clássicos como “Um Porquinho Chamado Babe”, “Shrek” ou “Família Addams”, sem esquecer “A.I. – Inteligência Artificial”, de Steven Spielberg

 

Decorre entre Julho e Agosto a primeira edição de um festival de cinema inteiramente dedicado a crianças e jovens. Trata-se do Festival Internacional de Cinema Infantil de Macau, iniciativa integrada na primeira edição do Festival Internacional de Artes para Crianças de Macau, uma estreia no panorama artístico local. Trata-se de uma iniciativa promovida pelo Instituto Cultural (IC) e que, na vertente de exibição de filmes, conta com o apoio da Cinemateca Paixão.

O festival divide-se em quatro secções, nomeadamente “Selecção Anual de Filmes Infantis”, “Êxitos Populares da Infância dos Pais”, para que os adultos também possam acompanhar os filhos à sala de cinema, “Clássicos para Todas as Crianças” ou “Projecções ao Ar Livre no Centro Cultural de Macau”, que passa pela exibição de filmes de animação seleccionados.

A 6 de Julho é exibido um clássico que permanece na memória dos graúdos, como é o caso de “Um Porquinho Chamado Babe”, de 1995. Trata-se da saga do “porquinho” protagonista do filme e da sua chegada à fazenda de Arthur Hoggett.

No mesmo dia é apresentado “Os Argonautas”, cuja exibição se repete no dia 20 de Julho. Sendo este um filme bem mais recente, de 2022, “Argonautas” centra-se na amizade do ratinho Rode e da gata Isabela. Ambos vivem na cidade portuária de Yolcos, na Grécia Antiga, que subitamente enfrenta a ameaça do deus dos mares, o que põe à prova a coragem de Rode e Isabela.

A 7 de Julho, domingo, é dia de voltar aos clássicos ainda mais antigos, desta vez com a película “O Espírito da Colmeia”, de 1973, de Victor Erice.

Este filme passa-se nos anos 40 quando, numa remota aldeia espanhola, Ana, com apenas oito anos, e a irmã mais velha, Isabela, ficam impressionadas quando assistem, pela primeira vez, ao filme “Frankenstein”. Quando as duas visitam um local abandonado, começam a fantasiar com um novo monstro, sempre sem esquecer as imagens do filme que viram.

Na sinopse lê-se que este filme retrata “a curiosidade e imaginação das crianças em relação ao mundo e ao mistério do desconhecido, de forma onírica”, sendo este considerado “um dos maiores filmes espanhóis de todos os tempos”.

No dia 9 de Julho é a vez de ser exibido “Não Sou Estúpido”, filme de Singapura, que volta a passar nos ecrãs da Cinemateca no dia 28 do mesmo mês. Esta comédia, de Jack Neo, faz rir e chorar ao mesmo tempo, tratando-se de uma história que aborda “as lutas travadas por três jovens crianças e suas famílias na procura de uma excelência académica, numa sociedade altamente competitiva”.

Shrek e companhia

A 13 de Julho é dia de ver um dos grandes sucessos do cinema infantil. Trata-se de Shrek, filme de 2001, cujo protagonista é um monstro grande, feio e verde, mas que acaba por se apaixonar por uma bela princesa. No mesmo dia é exibido “Pigsy”, de Taiwan, que repete a 3 de Agosto.

No domingo, 14 de Julho, exibe-se “Ernest & Celestine: Uma Viagem a Gibberitia”, uma produção de 2012 francesa, belga e luxemburguesa que foi indicado para o César na categoria de “Melhor Filme de Animação”.

Celestine é uma ratinha órfã que sempre se sentiu um pouco incompreendida no mundo dos seus pares, os ratos, tendo sido criada num orfanato. Lá sempre ouviu histórias terríveis sobre os ursos e a sua crueldade, sobretudo quando comem ratos ao pequeno-almoço. Um dia, Celestine deixou o orfanato e foi descobrir o mundo, travando amizade com o urso Ernest, que a faz quebrar todas as ideias pré-concebidas que achava serem verdade.

A.I. – Inteligência Artificial, de 2001, entra para a secção “Êxitos Populares da Infância dos Pais”, sendo exibido dia 18 de Julho. Esta produção norte-americana, do grande mestre Steven Spielberg, centra-se na história de Martin, filho de Mónica, que fica doente e que tem de ser internado. É então que a mãe decide adoptar David, uma criança-robot que tenta chamar a atenção de Mónica quando Martin regressa a casa vindo do hospital. “Sirocco e o Reino dos Ventos” é a escolha para o dia 19 de Julho, voltando a ser exibido dia 31 do mesmo mês.

A voz das curtas

Este festival não traz apenas cinema estrangeiro e asiático feito para os mais novos, apresenta também uma selecção de curtas-metragens com assinatura de realizadores de Macau. Estas serão exibidas, também na Cinemateca Paixão, dia 21 de Julho, a partir das 16h30. São elas “Nas Suas Costas”, de 2016, de Sam Kin Hang; “Mui”, de 2021, de Wong Weng Chon; “O Farol”, de Jay Lei, de 2019; “História de Morcegos”, de Peeko Wong e Wong Chi Kin; “Avó Pirata 2: O Conto da Baleia Espiritual”, de Lam Teng Teng ou “Céu Estrelado”, de Zue Ku, entre outras.

Dia 23 de Julho, integrado na “Selecção Anual de Filmes Infantis”, exibe-se “O Inventor”, que repete dia 3 de Agosto. Este é um filme de animação de época, passando-se no século XVI, com uma história centrada no artista Leonardo da Vinci e na sua ida para a corte francesa devido a conflitos com o Papa.

No dia 27 é exibido “Ilo.Ilo”, de Singapura, que traz uma conversa pós-exibição com a presença de Joyce Yang.

O festival regressa aos clássicos mais antigos com “Os Quatrocentos Golpes”, de 1959, e da autoria de um dos mais conhecidos realizadores franceses, François Truffaut. Também este filme conta com uma conversa pós-exibição com Joyce Yang.

Em “Os Quatrocentos Golpes” revela-se a história do pequeno Antoine, que enfrenta dificuldades de vária ordem em casa e na escola.

A 28 de Julho é dia de exibir outro clássico, mais contemporâneo, como é o caso da “Família Addams”, de 1991. Esta história intemporal de Barry Sonnenfeld foca-se na excêntrica família vestida de preto que habita numa mansão bastante sombria e assustadora. Esta vê a sua tranquilidade quando Fester, um irmão há muito desaparecido, decide voltar. “Para o Lado da Luz” exibe-se dia 11 de Agosto.

Destaque ainda para duas sessões de exibições ao ar livre no CCM nos dias 17 de Agosto, nomeadamente com os filmes “O Menino Nicolau: A Felicidade Não Pode Esperar” e as animações ” Linda quer frango!” e a Série “Pundusina”.

25 Jun 2024

“Estela sem Deus” é uma “biografia das pessoas negras no Brasil”, diz o escritor Jeferson Tenório

O romance “Estela sem Deus”, do escritor brasileiro Jeferson Tenório, é uma “biografia das pessoas negras no Brasil”, contada através de uma rapariga de 13 anos que ambiciona ser filósofa, sempre em busca de Deus e da liberdade.

A história passa-se nos anos de 1990, em parte durante o mandato presidencial de Collor de Mello, e centra-se em Estela, uma menina negra e pobre de 13 anos, abandonada pelo pai, que sonha ser filósofa, como um caminho para a liberdade: liberdade para pensar, para questionar e para procurar o seu lugar.

Estela — cuja vida decorre num quotidiano de violência, privação e desamparo – vê-se obrigada a parar de estudar para ajudar a mãe a fazer limpezas noutras casas, devido a uma doença de pele que a mãe desenvolve, o que a leva a passar por várias dificuldades, observando tudo e levantando sempre muitas questões.

Neste caminho em direção à sua maturidade, a rapariga depara-se com barreiras emocionais, desde uma relação ambígua com a mãe, a busca por um pouco de afeto do pai, a imposta maturidade para cuidar do irmão mais novo quando se mudam sozinhos do Sul para o Rio de Janeiro, a descoberta da sexualidade e os limites entre a religião e a liberdade.

À semelhança de “O Avesso da Pele”, romance de cariz autobiográfico, vencedor do Prémio Jabuti, publicado em Portugal em 2021 (ambos os romances foram publicados pela Companhia das Letras), que o autor descreveu como uma “história sobre pais e filhos, atravessados pelo racismo e pela recuperação de uma humanidade perdida”, também “Estela sem Deus” trata os mesmos temas da pobreza, do racismo, do abandono, da violência e da família.

“A diferença é que é a ótica de uma menina negra que se quer tornar filósofa, mas são corpos atravessados pelo racismo, e tem também a relação entre pais e filhos, neste caso entre ela e a mãe”, disse Jeferson Tenório, em entrevista à agência Lusa.

A ausência paterna está presente, mas aqui é “uma paternidade que não é traumática, não é violenta, mas é uma ausência, então é como a personagem consegue lidar com a ausência e ao mesmo tempo ter autonomia da própria vida”.

No entanto, “Estela sem Deus” é uma obra menos biográfica, porque o narrador é uma menina, o que constituiu uma tarefa “difícil” para o escritor, que teve de fazer pesquisas e entrevistas para “conseguir criar uma personagem realista, real”.

“Por outro lado, as experiências de pessoas negras são muito parecidas, então de certo modo é uma biografia das pessoas negras no Brasil, mais do que uma autobiografia, é uma biografia dos brasileiros”, destacou o autor.

Jeferson Tenório queria que a personagem principal fosse feminina, porque essa é também uma realidade que queria retratar, a das mulheres negras e pobres, num país de enormes assimetrias, onde continuam a ter de lutar muito mais por um lugar na sociedade.

Pôr-se no lugar desta rapariga “foi a única forma de escrever uma personagem de maneira mais profunda”, explicou.

“A primeira versão foi escrita na terceira pessoa e parecia-me mais uma observação superficial da vida dessa personagem, então, a única forma de fazer um mergulho mais profundo era tentar me colocar no lugar dessa menina e, a partir desse momento, criar uma personagem mais consistente, uma personagem em que eu tive acesso à sua subjetividade. Foi também um desafio para mim de alteridade enquanto escritor homem”.

O momento que marca o primeiro confronto de Estela com a filosofia é dado logo no início do romance quando, perante um passarinho morto, a rapariga pergunta à avó o que acontece durante a morte, ao que esta lhe responde: “Não há ‘durante’ quando se morre, Estela. Há somente um estar ou não estar mais na vida”.

“Eu queria mostrar uma mulher negra que pudesse pensar sobre si, que pudesse trazer questionamentos, não só da raça ou do racismo, mas questionamentos existenciais, e por isso, uma personagem que se quer tornar filosofa é, para mim, uma imagem muito poderosa, uma imagem de empoderamento, uma mulher negra que pensa filosoficamente sobre a vida”.

São esses questionamentos que a levam a Deus, a questionar-se sobre a sua existência, sobre o seu papel na vida das pessoas.

O leitor acompanha sempre os pensamentos de Estela e, numa das primeiras cenas de violência sofridas pela sua família, a rapariga relata: “Então eu fechei meus olhos e chamei por Deus. Mas Deus não veio”.

Jeferson Tenório diz que “o livro é uma aproximação com Deus”, porque Estela faz todo um trajeto: “a jornada dela é primeiro compreender que Deus é esse, que é um deus punitivo, que tudo vê, que traz muita culpa para as pessoas e, depois que ela vê isso, renega esse tipo de deus”, que lhe é mostrado pela igreja.

Mas já no final da narrativa aproxima-se dele, “quando entende que Deus está espalhado pelas pessoas próximas dela, principalmente entre as mulheres”.

Esta ideia é bem expressa quase no final do livro, através de uma reflexão que Estela faz a partir de toda a sua vivência e experiências por que passou.

“Tive uma dor no peito que me trouxe outra revelação: a de que Deus era, na verdade, a minha mãe limpando o chão na casa das madames. Deus era a minha mãe tendo de sustentar a casa sozinha porque meu pai nos esquecera. Deus era a minha tia cuidando do tio Jairo com derrame. Deus era a Melissa querendo voar pela janela. Deus era a minha madrinha Jurema suportando o Padilha. Deus éramos nós sendo violentadas. Deus era eu carregando um filho morto no ventre.”

Então, “a busca de Deus na verdade é uma busca de si mesmo, uma busca intima, pessoal, que não traz respostas mas traz muitos questionamentos. Eu acho que a busca da religião nesse sentido é, não a busca de respostas, mas a busca de mais perguntas”, considerou o autor.

Os temas tratados por Jeferson Tenório põem o dedo numa das maiores feridas do Brasil e geram incómodo, ao ponto de ter já sido alvo de censura e de ameaças.

Com “O Avesso da Pele”, sofreu na sua pele ataques e perseguições quando, em março passado, o livro foi recolhido de escolas de três Estados do Brasil, na sequência de um vídeo feito por uma diretora de uma dessas escolas, que o considerava pornográfico, por ter muitas cenas de sexo e portanto não poderia estar numa escola, relatou.

“Obviamente que era uma afirmação falsa, o livro não trata dessas questões. Também por causa do discurso utilizado pela extrema-direita que está muito forte no Brasil – heranças do bolsonarismo -, os livros foram retirados desses Estados”.

O episódio teve uma repercussão muito grande. Entidades, professores, políticos, artistas, como Chico Buarque e Fernanda Torres, protestaram contra a censura e há pouco tempo os livros voltaram para as escolas, depois e uma ação judicial da editora.

O saldo acabou por ser positivo — conta – porque “o livro triplicou as vendas, houve uma procura muito grande, a censura acabou por colocar o livro em evidência”.

O escritor mostra-se, contudo, muito apreensivo com este tipo de comportamento cada vez mais recorrente, e exemplifica com um caso sucedido ainda esta semana com o livro “O Menino Marrom”, do escritor Ziraldo, que foi censurado.

“É uma pratica que tem sido muito recorrente e está ficando muito comum no Brasil, que os livros sejam censurados. Vejo com bastante preocupação o que está acontecendo”.

Jeferson Tenório alerta para duas situações concomitantes que aparentam estar a crescer sem freio: por um lado, “a ultra-direita que censura o livro porque não quer discutir o que o livro mostra”, mas, por outro lado, “a censura do politicamente correto, que também procura limpar ou higienizar a literatura”.

“A literatura, como a arte em geral, sempre vai incomodar de algum modo, então vejo que tanto a censura quanto o cancelamento têm acontecido de maneira recorrente e é muito preocupante, porque pode provocar autocensura no próprio artista ou no próprio escritor que, por ter medo de entrar em determinados assuntos, acaba não discutindo com profundidade aquilo que incomoda a sociedade.”

24 Jun 2024

Artes Visuais | Candidaturas para mostra em Julho

O Instituto Cultural (IC) aceita, a partir do dia 19 de Julho, a candidatura de artistas para participarem, com as suas obras, na “Exposição Anual de Artes Visuais de Macau”. Segundo um comunicado, a recepção das obras decorre durante três dias consecutivos na Galeria do Tap Seac, “estando todos os artistas de Macau convidados a apresentarem obras de arte contemporânea em meios de expressão ocidentais, incluindo obras bidimensionais, tridimensionais e multimédia”.

Na edição deste ano da exposição foram alteradas as categorias e o número de obras recolhidas, a composição do júri e os prémios atribuídos.

Esta exposição “incentiva à criação de obras artísticas contemporâneas inovadoras que expressam o espírito dos tempos e evidenciam os últimos desenvolvimentos das artes visuais em Macau, apoiando, cultivando e promovendo artistas locais excepcionais”.

Os concorrentes devem ter mais de 18 anos e ser residentes, podendo participar a título individual ou colectivo, com um máximo de quatro elementos, não podendo candidatar-se mais do que uma vez. Os indivíduos ou equipas concorrentes poderão apresentar apenas uma obra e ou um conjunto de obras, devendo ser trabalhos originais concluídos entre 2022 e o ano corrente.

As candidaturas decorrem de forma presencial até ao dia 21 de Julho, e a obra deverá ser entregue no local. Serão atribuídos dez prémios, cada um no valor de 30 mil patacas. No próximo ano, irá decorrer uma exposição colectiva.

Esta mostra “será organizada pelo IC em instituições culturais e museológicas fora de Macau, com vista a incentivar os vencedores a darem continuidade à sua actividade criativa e a proporcionar aos mesmos mais oportunidades de fazer intercâmbio e de exibir os seus trabalhos”.

A ideia é “promover a cooperação da exposição com instituições culturais e museológicas fora de Macau”, criando-se “uma plataforma de exibição e intercâmbio para os artistas premiados, ajudando-os a explorar espaços de cooperação e oportunidades de desenvolvimento”.

23 Jun 2024

IC | Criada plataforma de livros electrónicos “Lendebook”

O Instituto Cultural (IC) decidiu apostar na leitura digital e criar uma nova plataforma de livros electrónicos. Trata-se da “Lendebook”, onde se encontram disponíveis sobretudo publicações em chinês tradicional, incluindo obras de ficção literária, livros sobre parentalidade, educação infantil, divulgação científica, gestão de negócios, arte e design.

A plataforma contém cerca de 12.000 livros electrónicos de diferentes géneros, “proporcionando a residentes uma experiência de leitura online simples e acessível”, descreve o IC, em comunicado.

Os utilizadores podem aceder à “Lendebook” através de uma aplicação com o mesmo nome ou do website da Biblioteca Pública para ler as obras disponíveis online. O acesso pode também ser feito através da plataforma da “Conta Única”.

Na “Lendebook” podem ser requisitados até cinco livros de uma só vez, por um período máximo de sete dias. Uma vez expirado este prazo, os livros electrónicos são devolvidos automaticamente, evitando assim que o leitor incorra em multas de devolução em atraso. A aplicação permite também visualizar o “histórico de empréstimos” para que os utilizadores possam consultar os livros electrónicos já requisitados e devolvidos.

Além da nova plataforma, o IC, através da Biblioteca Pública, tem ainda à disposição uma série de recursos para leitura online, nomeadamente a “OverDrive eBooks”, com obras sobretudo em português e inglês e as plataformas de audiolivros chineses “jinfm”, “udn Library” e “iRead eBook”. Todas podem ser utilizadas gratuitamente, bastando para isso iniciar sessão com uma conta de leitor da Biblioteca Pública.

23 Jun 2024

10 de Junho | Cartazes de Victor Marreiros reunidos em livro e exposição

Victor Marreiros, conhecido designer e artista macaense, regressa ao mundo das exposições ao revelar 30 anos de cartazes alusivos ao 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas numa só mostra, patente na Casa Garden. Esta iniciativa complementa-se ainda com o lançamento de um livro

 

As preocupações da comunidade portuguesa, de Portugal e do mundo dominam os cartazes alusivos ao 10 de Junho em Macau, há mais de 30 anos criados por Victor Hugo Marreiros.

Este ano, a Casa de Portugal em Macau, para quem todos os anos o artista cria o cartaz do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, decidiu reunir e apresentar os trabalhos de Victor Marreiros em livro e numa exposição, integrados na programação de Junho – Mês de Portugal no território.

Sempre com o tema do 10 de Junho como pano de fundo, a composição foi evoluindo ao longo dos anos, do mar e da cruz de Cristo para as preocupações da comunidade, as de Portugal e do mundo, disse à Lusa.

“As cores também falam e o mar, para mim, é a terceira cor portuguesa, para além do verde e o vermelho, porque sem o mar eu não existia e talvez a maior parte dos portugueses não estariam em Macau. Por isso, eu relaciono sempre o mar com a portugalidade. É a nossa existência do povo português”, considerou.

O primeiro cartaz data de 1990, ainda Victor Marreiros era funcionário do Instituto Cultural de Macau e os temas iniciais eram “mais o mar, mais a cruz de Cristo” e depois o poeta Luís Vaz de Camões.

“Eu também achei que devia fazer um intercalar para não aparecer sempre o Camões. Ninguém me pediu, mas eu comecei a fazer, às vezes era o Camões, outras a comunidade portuguesa”, contou.

“Com o decorrer dos anos, a liberdade que eu ganhei, a experiência que eu ganhei e também me tornei mais sensível, cada vez tinha mais o Victor no cartaz, sempre respeitando os cartazes, sempre respeitando os temas… e assim surge a covid-19, a guerra da Ucrânia, ou as preocupações do residente de Macau, nomeadamente, o acréscimo das câmaras [de segurança] e a proibição do cigarro, que tocava a mim directamente. Tudo isso aparece no cartaz, consoante as oportunidades”, acrescentou.

Influências televisivas

Sobre os temas relacionados com Portugal e o mundo, Victor Marreiros lembra o papel da RTP Internacional, que o acompanha nas horas nocturnas de trabalho.

“No ano passado, confesso que o tema [do cartaz] era só os acontecimentos em Portugal. Porque como português, mesmo longe, sentia-me agredido, porque as notícias que vinham pelo telejornal eram demais. Então, tomei a liberdade de pegar num caderno, quando ouvia o telejornal e apontar os temas que iriam ser um dos quadradinhos dos meus cartazes”, explicou, numa referência às várias polémicas no país.

“Foi um ano de escrever o que acontecia em Portugal, ou com os portugueses. É assim que começam as ‘variedades’ dos meus cartazes. Alguns, faço numa noite, outros ao longo do ano”, mas sempre a respeitar o tema, os clientes, os objectivos e as características funcionais do cartaz.

Manifestando-se grato “por ter a oportunidade de continuar a fazer” estas composições, o artista sublinhou que a inspiração pode surgir de “uma conversa, da preocupação dos residentes [de Macau] e alguns acontecimentos” e “desaguar num papel A4 ou numa tela”, nos cartazes ou em outros trabalhos que cria.

“Isto é uma pequena parte da minha vida profissional, gráfica, mas uma parte muito importante”, destacou, citando vários trabalhos, como tantos outros cartazes ou livros, tantos que muitas vezes tem que pedir à companheira, Grace, para confirmar se aqueles trabalhos são seus. “Porque eu não me lembro”, adianta.

Vida de artista

Victor Marreiros define a sua profissão como designer, mas a forma de vida que escolheu “é de artista”. Sem nunca ter feito uma exposição individual em Portugal, Victor Marreiros conta com várias participações em diferentes colectivas, como no Japão, em 1999, ou em Taiwan, no ano passado. Esta é a quarta vez que expõe na Casa Garden da Fundação Oriente em Macau. “A vida é doce para comigo, muito obrigado”, concluiu. O livro “Victor Hugo Marreiros 10.6” é lançado no sábado e a exposição está patente até 22 de Julho.

23 Jun 2024

Música clássica | Rachmaninoff e Korsakov no Venetian Theatre

A pianista francesa Lise de la Salle junta-se à Orquestra de Macau (OM) para a apresentação do concerto “70 Anos Atrás – Rachmaninoff”, agendado para o dia 6 de Julho, a partir das 20h, no Venetian Theatre.

Segundo um comunicado do Instituto Cultural (IC), que promove o evento, em parceria com a Sands China, este espectáculo contra com direcção musical de Lio Kuokman, que é também maestro principal da OM. Serão interpretadas obras dos compositores russos Sergei Rachmaninoff e Nikolay Rimsky-Korsakov.

A francesa Lise de la Salle é uma jovem pianista muito conhecida, com álbuns premiados e concertos realizados em todo o mundo nos últimos anos. A artista demonstrou um talento extraordinário aos 4 anos de idade, logo no início da aprendizagem de piano. Cinco anos depois, aos 9 anos, realizou o seu primeiro concerto ao vivo na Rádio Francesa. Aos 16 anos, produziu o seu primeiro álbum, que foi distinguido com o prémio de “Melhor Álbum do Mês” atribuído pela eminente revista Gramophone. Desde então, tem estado activa no panorama musical internacional e foi solista com várias orquestras de topo. Em 2014, passou a ser a primeira artista permanente do Teatro de Ópera de Zurique, demonstrando, assim, o seu talento excecional.

Lise de la Salle irá interpretar a famosa “Rapsódia sobre um Tema de Paganini” e as “Danças Sinfónicas” de Sergei Rachmaninoff, duas obras que integram melodias famosas de músicos predecessores e do próprio Rachmaninoff. A OM irá também interpretar o “Capriccio Espagnol” de Rimsky-Korsakov, obra emocionante e calorosa que “demonstra plenamente o encanto único de cada instrumento de uma orquestra e que permite ao público apreciar bem as características de uma orquestra sinfónica”, descreve o IC. Os bilhetes para este espectáculo já se encontram à venda e custam entre 150 e 300 patacas.

20 Jun 2024

Concerto | Jazz na FRC com dois grupos juvenis

Acontece amanhã mais um concerto de jazz na Fundação Rui Cunha (FRC), a partir das 21h. Trata-se do concerto mensal “Saturday Night Jazz”, que este sábado recebe os grupos juvenis “Macau Youth Jazz Orchestra” (MYJO) e “Fanfantasy”.

A Orquestra Juvenil de Jazz de Macau (MYJO), da Associação de Promoção do Jazz de Macau (MJPA), foi criada em 2020. É constituída por alunos locais do ensino primário e secundário e está dividida em vários grupos. O grupo principal, dirigido por Gregory Wong, tem o formato de uma pequena Big Band, que consiste numa secção rítmica mais seis instrumentos de metal.

Este mesmo grupo já actuou no Centro Cultural de Macau, no Teatro Dom Pedro V e no festival HUSH Kids! desde 2021. Para este concerto, a banda apresentará repertório das Big Bands de jazz.

Por sua vez, “Fanfantasy” é um grupo formado recentemente por jovens músicos sob orientação da baterista profissional Fanfan Cheung da MJPA. O grupo é composto pelo guitarrista Sang, pelo pianista Kenny, pelo baixista Joviz e pelo baterista Fai. A banda apresentará um conjunto de músicas animadas e energéticas em vários estilos.

A Associação de Promoção de Jazz de Macau (MJPA), co-organizadora do Saturday Night Jazz com a FRC desde 2014, é uma associação artística local sem fins lucrativos, criada em 2010. O objectivo da MJPA é promover o jazz junto do público de Macau e proporcionar oportunidades aos músicos locais, contribuindo para múltiplos projectos vocacionados para a juventude e realçando, assim, a característica multicultural do território, aponta um comunicado.

20 Jun 2024