Chefes do Executivo | Partilhadas visões sobre futuro de Macau

Em entrevistas ao canal estatal, Edmund Ho, Chui Sai On e Ho Iat Seng apontaram todos que o caminho de Macau passa pela estabilidade e pelo amor ao país

 
[dropcap]N[/dropcap]uma altura em que caminha para deixar o Governo, após 20 anos, primeiro como secretário e depois como Chefe do Executivo, Chui Sai On defendeu que o aspecto mais importante de Macau é a estabilidade e que o valor “Amar a Pátria, amar Macau” tem de ser transmitido às próximas gerações.
Quando questionado sobre o futuro da RAEM, Chui afirmou que a chave para um futuro bem sucedido é a estabilidade. “Considero que a estabilidade é o mais importante para o desenvolvimento de uma cidade”, respondeu, numa entrevista à CCTV. Esta foi igualmente a palavra que Chui Sai On utilizou para fazer um balanço dos seus 10 anos como líder do Governo da RAEM.
No mês em que se cumprem os 20 anos da transferência de soberania, o canal estatal entrevistou os três Chefes do Executivo, Edmundo Ho, o primeiro, Chui Sai On, o actual, e Ho Iat Seng, o futuro. Apenas a entrevista de Chui foi publicada e as restantes deverão ser tornadas públicas nos próximos dias.
Um dos aspectos mais focados por Chui Sai On foi o papel de Macau e o resumo do que tem sido feito para promover a Grande Baía: “Nesta fase inicial, encorajamos os residentes de Macau a visitarem as outras cidades da Grande Baía para procurarem as oportunidades”, indicou.
Já sobre o sucesso dos princípios “Um país, dois sistemas” e “Macau governado pelas suas gentes”, o ainda Chefe do Executivo apontou que está intimamente ligado ao facto de o Governo da RAEM e os residentes reconhecerem e defenderam que contam sempre com o apoio do País.
Ainda sobre a relação com o Interior, Chui Sai On disse estar muito grato por ter sido dada a oportunidade de Macau participar como uma das cidades-chave do projecto.

Estabilizar pelos dois

Nos pequenos excertos das entrevistas da CCTV com Edmundo Ho e Ho Iat Seng, também foi destacada a necessidade de estabilidade política e o amor pelo País.
O primeiro Chefe do Executivo fez a previsão que se o princípio “Um país, dois sistemas” for seguido a estabilidade vai ser mantida e que a RAEM vai continuar a prosperar.
Edmundo Ho defendeu igualmente que Macau está intimamente ligado ao Interior e que depende dele. “O destino de Macau tem de ser traçado com o do país”, frisou. Ho defendeu ainda que as oportunidades de crescimento vão surgir sobretudo dentro da Grande Baía, que é igualmente vista como o remédio para “a falta de talentos” e terrenos para Macau. No entanto, no excerto revelado ontem, não ficou claro que Edmund Ho defendeu a contratação pelas empresas de Macau de mais trabalhadores não-residentes.
Por sua vez, Ho Iat Seng apontou que o desenvolvimento na RAEM vai sofrer mudanças para diversificar, mas que a estabilidade e a tradição de “Amar a Pátria e amar Macau” vão permanecer inalteráveis.

Médica mandou fazer exame a cadela no Hospital São Januário

Uma chefe funcional do Hospital Conde São Januário foi condenada a pagar uma multa de 18 mil patacas por ter ordenado que fosse feito um exame a um canino para detectar um eventual cancro

 

[dropcap]U[/dropcap]ma médica do Centro Hospital Conde São Januário foi condenada a pagar uma multa de 18 mil patacas pelo Tribunal de Segunda Instância (TSI), devido à prática do crime de abuso de poder. Em causa está o facto de em Junho de 2013, a então chefe funcional do Serviço de Anatomia e Patológica ter ordenado que os equipamentos fossem utilizados para detectar se a sua cadela, de nome Becca, tinha cancro.

Na primeira instância, a médica, que foi contratada em 1987 e que conta no currículo com várias distinções e louvores pelos serviços à sociedade, tinha sido condenada com pena de prisão suspensa de 9 meses. Porém, o TSI considerou que por ser primária e o código penal prever tendencialmente penalizações que não sejam privativas da liberdade justificava-se uma multa de 18 mil patacas em vez da pena de prisão.

De acordo com o acórdão do TSI, datado de 24 de Outubro, a chefe funcional “a arguida, na qualidade de Chefe dos Serviços de anatomia Patológica do C.H.C.S.J., levou uma amostra de tecido da sua cadela ao seu local de trabalho, e pediu aos seus colegas para efectuar uma análise à referida amostra, o que sucedeu”.

A médica defendia que desde 2007 havia indicações do director do CHCSJ que em casos especiais e urgentes permitia que as instalações fossem utilizadas para exames a animais. No entanto, não se conseguiu provar que esta indicação tivesse efectivamente sido dada, apesar de ter havido duas situações especiais de análise a tecidos de animais, nomeadamente a pedido do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) e da Polícia Judiciária (PJ). O tribunal sublinhou com análise das provas que os equipamentos serviam apenas para analisar tecidos de seres-humanos.

Na atenuação da pena face à primeira instância, o TSI teve igualmente em conta o facto da chefe funcional do Serviço de Anatomia e Patológica ter procurado obter uma “benefício ilegítimo” devido aos sentimentos pela cadela. “No caso, colhe-se de factualidade provada que a ora recorrente também agiu movida por instituto de estima à sua cadela, tentando assegurar a saúde e bem-estar, não se mostrando intenso, ou elevado, o seu dolo, assim como o grau da ilicitude da conduta”, foi sublinhado.

Pedidos para Hong Kong

O acórdão explica igualmente que em Macau não existe uma unidade que permita detectar a natureza de tumores animais e que por isso é necessário enviar os tecidos para Hong Kong. A operação tem um custo de cerca de 1.500 patacas e dos resultados demoram aproximadamente uma semana a chegar.

Quando confrontada com esta possibilidade por uma clínica privada de animais, a profissional do sector da saúde recusou a ideia e pediu para ficar com o tecido da cadela Becca.

Na primeira instância este aspecto foi focado principalmente pelo facto de ter ficado provado que a vida do animal não estava em perigo de vida e que nada impedia que se pudesse esperar cerca de uma semana.

DST | Helena de Senna Fernandes pronta para trabalhar com amiga “secretária”

[dropcap]A[/dropcap] directora dos Serviços do Turismo, Helena de Senna Fernandes, está optimista quanto à forma como se vai articular com a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura Ao Ieong U, que tem a tutela do turismo na sua secretaria. “Conheço a nova secretária como amiga. Mas, a amizade é uma coisa, agora está na hora de trabalhar”, referiu Helena de Senna Fernandes em declarações à margem do Festival Internacional de Cinema de Macau.

A directora dos Serviços do Turismo trabalhou com Ao Ieong U no Gabinete de Gestão de Crises do Turismo e teve a oportunidade de conviver com a recém-nomeada secretária “na associação dos funcionários públicos”, contacto de onde surgiu a amizade.

Quanto à cooperação entre os gabinetes de ambas, a directora da DST afirmou que “a Direcção dos Serviços de Identificação sempre foi uma parte muito importante em termos de ajuda para os residentes de Macau que viajam para fora, sobretudo porque há muitos que perdem passaportes ou perdem bilhetes de identidade”, exemplificou Helena de Senna Fernandes.

DST | Helena de Senna Fernandes pronta para trabalhar com amiga “secretária”

[dropcap]A[/dropcap] directora dos Serviços do Turismo, Helena de Senna Fernandes, está optimista quanto à forma como se vai articular com a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura Ao Ieong U, que tem a tutela do turismo na sua secretaria. “Conheço a nova secretária como amiga. Mas, a amizade é uma coisa, agora está na hora de trabalhar”, referiu Helena de Senna Fernandes em declarações à margem do Festival Internacional de Cinema de Macau.
A directora dos Serviços do Turismo trabalhou com Ao Ieong U no Gabinete de Gestão de Crises do Turismo e teve a oportunidade de conviver com a recém-nomeada secretária “na associação dos funcionários públicos”, contacto de onde surgiu a amizade.
Quanto à cooperação entre os gabinetes de ambas, a directora da DST afirmou que “a Direcção dos Serviços de Identificação sempre foi uma parte muito importante em termos de ajuda para os residentes de Macau que viajam para fora, sobretudo porque há muitos que perdem passaportes ou perdem bilhetes de identidade”, exemplificou Helena de Senna Fernandes.

Paternidade | Encontra pai biológico e arrisca-se a perder residência

Uma jovem universitária fez tudo para saber a identidade do pai biológico e como este não era residente na altura do registo de nascimento perdeu o direito a ser residente de Macau. Secretária Sónia Chan aprovou ordem de expulsão, mas o caso está nos tribunais

 

[dropcap]U[/dropcap]ma estudante de 23 anos está em risco de perder o direito de residência e ser expulsa da RAEM, onde nasceu e vive, porque pediu para alterar o nome do pai da certidão de nascimento, após ter descoberto que o que constavam no registo não era o progenitor biológico. O caso está a decorrer no Tribunal de Segunda Instância e foi revelado ontem pela Rádio Macau.

De acordo com a informação relevada foi apenas quando chegou ao ensino superior que a aluna ficou a saber que estava registada como filha de um homem que não era o seu pai biológico. Face à dúvida abordou a mãe, que se mostrou indisponível para ajudá-la, e acabou por pedir uma perícia através das autoridades. Em 2017, o tribunal concluiu que o pai biológico era efectivamente outro homem.

À luz deste dado, a jovem pediu para corrigir o seu registo. Foi nesta altura que o problema com o estatuto de residente surgiu, uma vez que este lhe tinha sido atribuído por alegadamente ser filha do pai não-biológico. Com a informação corrigida, e como na altura do registo os pais biológicos da aluna ainda não eram considerados residentes locais, o Governo cancelou o passaporte de Macau e o registo da jovem de 23 anos. Segundo a explicação do Executivo, ao alterar a identidade do pai a jovem perdeu o único fundamento que lhe tinha dado direito à residência. A decisão foi posteriormente confirmada pela secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan.

Face a perda de residência, a jovem levou o caso para o tribunal que é decidido em primeira instância pelo TSI. Em caso de recurso, a decisão sobe para a Tribunal de Última Instância.

Providência cautelar

Neste processo a estudante viu decidida a seu favor uma providência cautelar, que fez com que não tivesse de deixar Macau imediatamente. A decisão foi tomada por unanimidade do TSI e contou com o apoio do Ministério Público (MP).

Segundo a justificação, citada pela Rádio Macau, seria “uma violência desmedida e uma desumanidade sem tino escorraçar a jovem enquanto aguarda pela decisão final da Justiça. No mesmo documento é sublinhado que a jovem teria de sair sozinha da RAEM, “carregando uma cruz de uma culpa que jamais pode ser sua”.

No acórdão não consta a relação entre a estudante e o pai não-biológico, mas é escrito que todas as partes envolvidas estavam convictas que o homem seria mesmo o pai. A jovem de 23 anos tem toda a família em Macau, inclusive os pais que tiveram direito à residência em 2003. Segundo o MP, a jovem pode pedir um BlueCard, mas que a decisão não reduz o sofrimento e o vexame social do direito a residir naquela que é de facto a sua terra.

Paternidade | Encontra pai biológico e arrisca-se a perder residência

Uma jovem universitária fez tudo para saber a identidade do pai biológico e como este não era residente na altura do registo de nascimento perdeu o direito a ser residente de Macau. Secretária Sónia Chan aprovou ordem de expulsão, mas o caso está nos tribunais

 
[dropcap]U[/dropcap]ma estudante de 23 anos está em risco de perder o direito de residência e ser expulsa da RAEM, onde nasceu e vive, porque pediu para alterar o nome do pai da certidão de nascimento, após ter descoberto que o que constavam no registo não era o progenitor biológico. O caso está a decorrer no Tribunal de Segunda Instância e foi revelado ontem pela Rádio Macau.
De acordo com a informação relevada foi apenas quando chegou ao ensino superior que a aluna ficou a saber que estava registada como filha de um homem que não era o seu pai biológico. Face à dúvida abordou a mãe, que se mostrou indisponível para ajudá-la, e acabou por pedir uma perícia através das autoridades. Em 2017, o tribunal concluiu que o pai biológico era efectivamente outro homem.
À luz deste dado, a jovem pediu para corrigir o seu registo. Foi nesta altura que o problema com o estatuto de residente surgiu, uma vez que este lhe tinha sido atribuído por alegadamente ser filha do pai não-biológico. Com a informação corrigida, e como na altura do registo os pais biológicos da aluna ainda não eram considerados residentes locais, o Governo cancelou o passaporte de Macau e o registo da jovem de 23 anos. Segundo a explicação do Executivo, ao alterar a identidade do pai a jovem perdeu o único fundamento que lhe tinha dado direito à residência. A decisão foi posteriormente confirmada pela secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan.
Face a perda de residência, a jovem levou o caso para o tribunal que é decidido em primeira instância pelo TSI. Em caso de recurso, a decisão sobe para a Tribunal de Última Instância.

Providência cautelar

Neste processo a estudante viu decidida a seu favor uma providência cautelar, que fez com que não tivesse de deixar Macau imediatamente. A decisão foi tomada por unanimidade do TSI e contou com o apoio do Ministério Público (MP).
Segundo a justificação, citada pela Rádio Macau, seria “uma violência desmedida e uma desumanidade sem tino escorraçar a jovem enquanto aguarda pela decisão final da Justiça. No mesmo documento é sublinhado que a jovem teria de sair sozinha da RAEM, “carregando uma cruz de uma culpa que jamais pode ser sua”.
No acórdão não consta a relação entre a estudante e o pai não-biológico, mas é escrito que todas as partes envolvidas estavam convictas que o homem seria mesmo o pai. A jovem de 23 anos tem toda a família em Macau, inclusive os pais que tiveram direito à residência em 2003. Segundo o MP, a jovem pode pedir um BlueCard, mas que a decisão não reduz o sofrimento e o vexame social do direito a residir naquela que é de facto a sua terra.

Novo Cinema Chinês | Um admirável mundo por descobrir

[dropcap]C[/dropcap]onsiderado por muitos como um dos melhores realizadores da actualidade, o romeno Cristian Mungiu, que em 2007 venceu a Palma de Ouro em Cannes, é o Presidente de júri da competição dedicada ao Novo Cinema Chinês. Para o realizador do leste europeu, o futuro está nos jovens e, pela amostra dos sete filmes em competição no IFFAM, a Oriente este deverá ser risonho

“Gostaria que mais filmes chineses participassem em festivais. Estou muito curioso para saber qual o futuro do cinema chinês”, referiu o Presidente de júri do Novo Cinema Chinês, Cristian Mungiu, que vê em eventos como o IFFAM, oportunidades únicas para ver o que aí vem. “Fui júri em muitos festivais na Ásia e acho o panorama chinês muito interessante porque os temas tratados abordam sempre algo que todos temos em comum e esta semana esse interesse vai aumentar ainda mais, pois vamos também receber alguns realizadores de Macau”.

Além disso, o realizador que venceu a Palma de Ouro em Cannes com o filme” 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” diz encontrar no contacto com os mais jovens as pistas necessárias para ter um vislumbre mais claro daquilo que será o cinema. “A comunicação com os jovens é sempre muito boa. Para mim, pelo menos, a opinião deles é sempre muito refrescante. É preciso reinventar e contar histórias pelas quais continuamos atraídos e estou contente que a nova geração não queira trabalhar da mesma forma que nós trabalhámos”, apontou Cristian Mungiu.

Sobre se o facto de ter ganho a Palma de Ouro em Cannes contribuiu de alguma forma para o desenvolvimento do cinema no seu país natal, Cristian Mungiu apontou que “as pessoas ficaram muito contentes e orgulhosas, mas que, na realidade, nada mudou na forma como a distribuição passou a ser feita”, confessou.

Em expansão

Quanto à expansão que o cinema chinês tem vindo a desenvolver, o canadiano Noah Cowan destacou o tema comum, que surge muitas vezes nas obras cinematográficas do país: a família. Tema esse que tem vindo a ser contado de diferentes formas, a partir de regiões distintas da China.

“Nos últimos anos, além de Xangai, também Hong Kong e Taiwan começaram a realizar filmes e abordam sempre o tópico da família. Acho que este tema não é de um lugar em especifico”, apontou Noah Cowan.

Além de Cristian Mungiu e de Noah Cowan, fazem também parte do painel do júri, Yang Qiu, Kirsten Tan e Tricia Tuttle. A concorrer na competição do Novo Cinema Chinês na 4ª edição do IFFAM estão Better Days (Hong Kong e China), Over the Sea (China), Wisdom Tooth (China), Lucky Grandma (US), Dwelling in the Fuchun Mountains (China), To Live to Sing (China e França) e Wet Season (Singapura).

Novo Cinema Chinês | Um admirável mundo por descobrir

[dropcap]C[/dropcap]onsiderado por muitos como um dos melhores realizadores da actualidade, o romeno Cristian Mungiu, que em 2007 venceu a Palma de Ouro em Cannes, é o Presidente de júri da competição dedicada ao Novo Cinema Chinês. Para o realizador do leste europeu, o futuro está nos jovens e, pela amostra dos sete filmes em competição no IFFAM, a Oriente este deverá ser risonho
“Gostaria que mais filmes chineses participassem em festivais. Estou muito curioso para saber qual o futuro do cinema chinês”, referiu o Presidente de júri do Novo Cinema Chinês, Cristian Mungiu, que vê em eventos como o IFFAM, oportunidades únicas para ver o que aí vem. “Fui júri em muitos festivais na Ásia e acho o panorama chinês muito interessante porque os temas tratados abordam sempre algo que todos temos em comum e esta semana esse interesse vai aumentar ainda mais, pois vamos também receber alguns realizadores de Macau”.
Além disso, o realizador que venceu a Palma de Ouro em Cannes com o filme” 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” diz encontrar no contacto com os mais jovens as pistas necessárias para ter um vislumbre mais claro daquilo que será o cinema. “A comunicação com os jovens é sempre muito boa. Para mim, pelo menos, a opinião deles é sempre muito refrescante. É preciso reinventar e contar histórias pelas quais continuamos atraídos e estou contente que a nova geração não queira trabalhar da mesma forma que nós trabalhámos”, apontou Cristian Mungiu.
Sobre se o facto de ter ganho a Palma de Ouro em Cannes contribuiu de alguma forma para o desenvolvimento do cinema no seu país natal, Cristian Mungiu apontou que “as pessoas ficaram muito contentes e orgulhosas, mas que, na realidade, nada mudou na forma como a distribuição passou a ser feita”, confessou.

Em expansão

Quanto à expansão que o cinema chinês tem vindo a desenvolver, o canadiano Noah Cowan destacou o tema comum, que surge muitas vezes nas obras cinematográficas do país: a família. Tema esse que tem vindo a ser contado de diferentes formas, a partir de regiões distintas da China.
“Nos últimos anos, além de Xangai, também Hong Kong e Taiwan começaram a realizar filmes e abordam sempre o tópico da família. Acho que este tema não é de um lugar em especifico”, apontou Noah Cowan.
Além de Cristian Mungiu e de Noah Cowan, fazem também parte do painel do júri, Yang Qiu, Kirsten Tan e Tricia Tuttle. A concorrer na competição do Novo Cinema Chinês na 4ª edição do IFFAM estão Better Days (Hong Kong e China), Over the Sea (China), Wisdom Tooth (China), Lucky Grandma (US), Dwelling in the Fuchun Mountains (China), To Live to Sing (China e França) e Wet Season (Singapura).

Maria Helena de Senna Fernandes, sobre festival de cinema: “Temos ganho popularidade”

[dropcap]A[/dropcap] Directora dos Serviços de Turismo e Presidente da comissão organizadora do IFFAM, Maria Helena de Senna Fernandes mostrou-se confiante na qualidade da programação apresentada e afirmou mesmo que o Festival Internacional de Cinema de Macau tem conseguido alcançar novos patamares.

“Acho que a cada edição o festival tem crescido e, para além disso, temos ganho popularidade, não só em Macau, mas também lá fora. Só por isso, podemos dizer que temos trabalhado para a construção de um bom projecto”, apontou, à margem da conferência de imprensa dedicada à apresentação do júri da competição internacional.

Maria Helena de Senna Fernandes revelou também confiança máxima na relação existente com os responsáveis artísticos do festival, pontificada na colaboração com o Director artístico do IFFAM, Mike Goodridge.

“Temos uma boa colaboração com direcção artística, que é muito forte na escolha que faz dos filmes e na ligação que consegue fazer entre Macau e os realizadores de todo o mundo. Espero agora que o público de Macau venha ver os filmes seleccionados”, referiu.

Embora satisfeita com o percurso feito até ao momento, Maria Helena de Senna Fernandes não confirmou, contudo, a continuidade do projecto IFFAM para os próximos anos. Segundo a responsável, é preciso ouvir o que os dirigentes do novo Executivo têm a dizer.

“Não sei, ainda não tive a oportunidade de falar com a minha nova chefe, por isso logo se vê. É preciso ver se a colaboração é para manter e, sobretudo, o que acha o novo Governo porque eu não tenho voto na matéria nessa parte”, explicou.

Maria Helena de Senna Fernandes, sobre festival de cinema: "Temos ganho popularidade”

[dropcap]A[/dropcap] Directora dos Serviços de Turismo e Presidente da comissão organizadora do IFFAM, Maria Helena de Senna Fernandes mostrou-se confiante na qualidade da programação apresentada e afirmou mesmo que o Festival Internacional de Cinema de Macau tem conseguido alcançar novos patamares.
“Acho que a cada edição o festival tem crescido e, para além disso, temos ganho popularidade, não só em Macau, mas também lá fora. Só por isso, podemos dizer que temos trabalhado para a construção de um bom projecto”, apontou, à margem da conferência de imprensa dedicada à apresentação do júri da competição internacional.
Maria Helena de Senna Fernandes revelou também confiança máxima na relação existente com os responsáveis artísticos do festival, pontificada na colaboração com o Director artístico do IFFAM, Mike Goodridge.
“Temos uma boa colaboração com direcção artística, que é muito forte na escolha que faz dos filmes e na ligação que consegue fazer entre Macau e os realizadores de todo o mundo. Espero agora que o público de Macau venha ver os filmes seleccionados”, referiu.
Embora satisfeita com o percurso feito até ao momento, Maria Helena de Senna Fernandes não confirmou, contudo, a continuidade do projecto IFFAM para os próximos anos. Segundo a responsável, é preciso ouvir o que os dirigentes do novo Executivo têm a dizer.
“Não sei, ainda não tive a oportunidade de falar com a minha nova chefe, por isso logo se vê. É preciso ver se a colaboração é para manter e, sobretudo, o que acha o novo Governo porque eu não tenho voto na matéria nessa parte”, explicou.

Competição Internacional | Quando o cinema local abre as portas do mundo

No primeiro dia do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM na sigla inglesa) Mike Goodridge fez as honras da apresentação formal do júri da competição internacional do Festival, presidido pelo aclamado realizador de Hong Kong, Peter Chan. Diversos nas suas opiniões, o júri destacou a “primavera” do cinema asiático, a importância da genuinidade local e da forma como o cinema pode vir a encarar um futuro destinado aos “pequenos ecrãs”

 

[dropcap]P[/dropcap]ara conseguirmos fazer um filme excepcional, mais importante do que ouvir a nossa própria voz, é ouvir uma voz especial, uma voz que seja diferente das outras nesta indústria e estar atento às gerações mais novas”, as palavras são de Peter Chan, Presidente do júri dedicado à competição internacional do IFFAM e que terá a árdua tarefa de eleger aquele que será o vencedor, de entre os 10 filmes em concurso.

Tendo a sua obra sido rotulada inúmeras vezes de “ocidentalizada”, Peter Chan diz ter tido a sorte de ter vivido de perto a fase mais desafiante e interessante do cinema feito em Hollywood, que o inspirou irremediavelmente durante a década de 70. O realizador diz continuar a transportar essa mesma sensação, mas agora relativamente ao cinema feito na China, para o qual se encontra a trabalhar, mas também um pouco por toda a Ásia, onde cada vez mais obras começam a ganhar um lugar de destaque.

“A China é um novo horizonte e uma nova indústria onde tudo é possível. Vivemos tempos muito interessantes na Ásia e em diferentes partes da Ásia. Existem realizadores coreanos, tailandeses, indonésios. Achei o filme indonésio que vi esta manhã muito interessante, o que é uma coisa completamente nova para mim. Sinceramente, acho que o mundo se está a tornar cada vez mais interessante”, partilhou Peter Chan.

Relativamente a “Better Days”, filme realizado por  Kwok Cheung Tsang
a concurso no IFFAM, mas na competição dedicada ao Novo Cinema Chinês, o presidente do painel do júri considerou que “apesar de ser comercial, é um daqueles filmes que nos têm de dar esperança acerca da China e da censura no cinema.”

“Este filme para mim foi um processo muito difícil. No interior da China é preciso passar muito tempo para ultrapassar a censura, e isto demorou mais de um ano. Mas depois, apesar de não termos grandes expectativas quando lançámos este filme, os números da venda de bilhetes ascenderam aos 250 milhões de dólares no final, o que é bom em qualquer parte do mundo”, explicou Peter Chan.

Também Midi Z, actor e realizador nascido no Myanmar, mostrou optimismo acerca do processo e deixou um conselho para os realizadores em início de carreira.

“Acho que os jovens realizadores não devem impor limites a si próprios em termos do que é um filme e o que é o cinema. Eu faço documentários, ficção e curtas metragens e para mim não há qualquer diferença. Devemos deixar a imaginação entrar nos nossos filmes”.

Eco global

“Gosto muito da ideia de fazer um filme a partir da vontade de contar algo muito genuíno, que se relaciona com o contexto e com as vivências de uma forma directa com o público local, mas que, ao mesmo tempo, é algo tão universal que pode ser partilhado em qualquer lugar do mundo”, disse Dian Sastrowardoyo, actriz e produtora originária da Indonésia que diz estar orgulhosa do filme da Competição Internacional, “Homecoming”, realizado pelo seu conterrâneo Adriyanto Dewo.

Sobre “Homecoming”, Dian Sastrowardoyo mostrou um “orgulho enorme” por ver um filme 100 por cento feito na Indonésia, no IFFAM e destacou a capacidade que a obra tem de abordar “temas locais e histórias com um background claramente indonésio”, como o papel das mulheres na sociedade e em casa ou as diferenças existentes entre classes sociais, já que a obra coloca frente a frente duas realidades muito diferentes neste aspecto. “Acho que passa uma mensagem comum, não só na Indonésia, mas também a uma escala mundial”, explicou. “Acho que o grande desafio para todos agora, é como é que podemos realizar filmes que tenham simultâneamente características locais e globais”, rematou Dian Sastrowardoyo.

Já no seu breve papel como realizadora, Dian Sastrowardoyo, apontou a importância de utilizar o cinema para promover uma mensagem social importante, ao mesmo tempo que consegue cativar o público e levá-lo a identificar-se com as personagens.

“Fizemos um filme histórico que fala sobre o sistema de ensino na Indonésia, mas que contém também vários elementos de comédia e isto acontece porque se tivéssemos realizado o filme de forma demasiado séria, o mais certo era não chegarmos à audiência relativamente às questões políticas que queríamos abordar”, explicou.

Reiterando que “não é possível dizer se um filme está certo ou se está errado, pois todos os têm diferentes características”, Peter Chan lembrou a propósito do tema, que um filme que pode parecer uma comédia, pode perfeitamente apresentar um tema social ao público.

“Temos de ter filmes de hollywood mas também outro tipo de filmes para que o público possa ter acesso a diferentes conteúdos. Filmes que façam o público rir ou chorar, mas que permitam perceber o que está a acontecer na sociedade e estabelecer pontes com os acontecimentos que estão na ordem do dia”, explicou.

Cinema de bolso?

Outro dos temas em debate entre o júri da competição internacional foi o futuro esperado para o cinema enquanto meio, que enfrenta hoje o desafio de se adaptar a uma era digital cada vez mais dominada por pequenos e poderosos ecrãs, capazes de alojar plataformas de streaming como a Netflix.

Pegando no exemplo de “O Irlandês”, filme de Martin Scorsece que estreou em exclusivo naquela plataforma, o actor e produtor Tom Cullen vincou que o benefício da passagem para o pequeno ecrã é que “permite que os conteúdos cheguem a audiências que de outra forma ficariam excluídas. Por exemplo, onde eu cresci, existia apenas uma sala de cinema e ficava a uma hora de distância de carro”, argumentou.

O actor, conhecido pelo papel de Anthony Gillingham em Downtown Abbey, frisou ainda que os produtores e realizadores “têm sabido adaptar-se às mudanças produzidas pelas novas tecnologias”, procurando ser mais específicos dado que agora a audiência pode ser o próprio mundo.

Competição Internacional | Quando o cinema local abre as portas do mundo

No primeiro dia do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM na sigla inglesa) Mike Goodridge fez as honras da apresentação formal do júri da competição internacional do Festival, presidido pelo aclamado realizador de Hong Kong, Peter Chan. Diversos nas suas opiniões, o júri destacou a “primavera” do cinema asiático, a importância da genuinidade local e da forma como o cinema pode vir a encarar um futuro destinado aos “pequenos ecrãs”

 
[dropcap]P[/dropcap]ara conseguirmos fazer um filme excepcional, mais importante do que ouvir a nossa própria voz, é ouvir uma voz especial, uma voz que seja diferente das outras nesta indústria e estar atento às gerações mais novas”, as palavras são de Peter Chan, Presidente do júri dedicado à competição internacional do IFFAM e que terá a árdua tarefa de eleger aquele que será o vencedor, de entre os 10 filmes em concurso.
Tendo a sua obra sido rotulada inúmeras vezes de “ocidentalizada”, Peter Chan diz ter tido a sorte de ter vivido de perto a fase mais desafiante e interessante do cinema feito em Hollywood, que o inspirou irremediavelmente durante a década de 70. O realizador diz continuar a transportar essa mesma sensação, mas agora relativamente ao cinema feito na China, para o qual se encontra a trabalhar, mas também um pouco por toda a Ásia, onde cada vez mais obras começam a ganhar um lugar de destaque.
“A China é um novo horizonte e uma nova indústria onde tudo é possível. Vivemos tempos muito interessantes na Ásia e em diferentes partes da Ásia. Existem realizadores coreanos, tailandeses, indonésios. Achei o filme indonésio que vi esta manhã muito interessante, o que é uma coisa completamente nova para mim. Sinceramente, acho que o mundo se está a tornar cada vez mais interessante”, partilhou Peter Chan.
Relativamente a “Better Days”, filme realizado por  Kwok Cheung Tsang
a concurso no IFFAM, mas na competição dedicada ao Novo Cinema Chinês, o presidente do painel do júri considerou que “apesar de ser comercial, é um daqueles filmes que nos têm de dar esperança acerca da China e da censura no cinema.”
“Este filme para mim foi um processo muito difícil. No interior da China é preciso passar muito tempo para ultrapassar a censura, e isto demorou mais de um ano. Mas depois, apesar de não termos grandes expectativas quando lançámos este filme, os números da venda de bilhetes ascenderam aos 250 milhões de dólares no final, o que é bom em qualquer parte do mundo”, explicou Peter Chan.
Também Midi Z, actor e realizador nascido no Myanmar, mostrou optimismo acerca do processo e deixou um conselho para os realizadores em início de carreira.
“Acho que os jovens realizadores não devem impor limites a si próprios em termos do que é um filme e o que é o cinema. Eu faço documentários, ficção e curtas metragens e para mim não há qualquer diferença. Devemos deixar a imaginação entrar nos nossos filmes”.

Eco global

“Gosto muito da ideia de fazer um filme a partir da vontade de contar algo muito genuíno, que se relaciona com o contexto e com as vivências de uma forma directa com o público local, mas que, ao mesmo tempo, é algo tão universal que pode ser partilhado em qualquer lugar do mundo”, disse Dian Sastrowardoyo, actriz e produtora originária da Indonésia que diz estar orgulhosa do filme da Competição Internacional, “Homecoming”, realizado pelo seu conterrâneo Adriyanto Dewo.
Sobre “Homecoming”, Dian Sastrowardoyo mostrou um “orgulho enorme” por ver um filme 100 por cento feito na Indonésia, no IFFAM e destacou a capacidade que a obra tem de abordar “temas locais e histórias com um background claramente indonésio”, como o papel das mulheres na sociedade e em casa ou as diferenças existentes entre classes sociais, já que a obra coloca frente a frente duas realidades muito diferentes neste aspecto. “Acho que passa uma mensagem comum, não só na Indonésia, mas também a uma escala mundial”, explicou. “Acho que o grande desafio para todos agora, é como é que podemos realizar filmes que tenham simultâneamente características locais e globais”, rematou Dian Sastrowardoyo.
Já no seu breve papel como realizadora, Dian Sastrowardoyo, apontou a importância de utilizar o cinema para promover uma mensagem social importante, ao mesmo tempo que consegue cativar o público e levá-lo a identificar-se com as personagens.
“Fizemos um filme histórico que fala sobre o sistema de ensino na Indonésia, mas que contém também vários elementos de comédia e isto acontece porque se tivéssemos realizado o filme de forma demasiado séria, o mais certo era não chegarmos à audiência relativamente às questões políticas que queríamos abordar”, explicou.
Reiterando que “não é possível dizer se um filme está certo ou se está errado, pois todos os têm diferentes características”, Peter Chan lembrou a propósito do tema, que um filme que pode parecer uma comédia, pode perfeitamente apresentar um tema social ao público.
“Temos de ter filmes de hollywood mas também outro tipo de filmes para que o público possa ter acesso a diferentes conteúdos. Filmes que façam o público rir ou chorar, mas que permitam perceber o que está a acontecer na sociedade e estabelecer pontes com os acontecimentos que estão na ordem do dia”, explicou.

Cinema de bolso?

Outro dos temas em debate entre o júri da competição internacional foi o futuro esperado para o cinema enquanto meio, que enfrenta hoje o desafio de se adaptar a uma era digital cada vez mais dominada por pequenos e poderosos ecrãs, capazes de alojar plataformas de streaming como a Netflix.
Pegando no exemplo de “O Irlandês”, filme de Martin Scorsece que estreou em exclusivo naquela plataforma, o actor e produtor Tom Cullen vincou que o benefício da passagem para o pequeno ecrã é que “permite que os conteúdos cheguem a audiências que de outra forma ficariam excluídas. Por exemplo, onde eu cresci, existia apenas uma sala de cinema e ficava a uma hora de distância de carro”, argumentou.
O actor, conhecido pelo papel de Anthony Gillingham em Downtown Abbey, frisou ainda que os produtores e realizadores “têm sabido adaptar-se às mudanças produzidas pelas novas tecnologias”, procurando ser mais específicos dado que agora a audiência pode ser o próprio mundo.

A noite infinita

[dropcap]E[/dropcap]ra de noite, diziam-me. A noite caíra como se sempre lá tivesse estado. Era de noite para sempre. Talvez porque tu não estavas. Partiras com o sol no teu olhar. E o mundo tornara-se noite e a noite tornara-se mundo e as coisas perdiam agora a sua definição própria, as cores e as formas mudavam em informes sombras, ouvia-se o riso silente dos mortos. Grasnava o corvo, emudecia o rouxinol.

“Só os pássaros nocturnos me encantam”, dizias-me ou ter-me-ás dito nessa noite. Não importa porque à noite a realidade é superior à fantasia e é à noite que começa a fazer sentido a palavra “imaginação”. Isto porque é na noite interior que as imagens se sintetizam para formar a Imagem, a nossa imagem, aquela imagem, feixe de múltiplos sentidos, de riquezas imaginárias, sensíveis sem contudo passarem pelos sentidos. Tal como tu que sempre te esquivas à luz, aos olhos, e só de noite te ergues e me surges, cinzelada de medo. Era de noite, diziam-me. Mas da noite nunca ninguém extraiu certezas. A noite infinita como a dúvida.

Parting is such a sweet sorrow

[dropcap]P[/dropcap]reocupa-me a morte. Não tenho credo religioso, pelo que a minha ideia da morte é um contra-senso, dado fundar-se na impossibilidade de um acompanhamento do próprio. Morrer é deixar de ser e deixar de ser não é propriamente concebível. A consciência, como a natureza, tem horror ao vazio. Até no suicídio se alimenta de algum modo a ideia romântica de que “isto é o melhor para mim”, quando na verdade, o “melhor” exclui o “mim”.

A nossa obsolescência programada não dá sinal de vida frequentemente. Na maior parte das vezes a morte é apenas uma coisa entre outras que acontece exclusivamente aos outros. E ainda bem que é assim. O nosso sistema operativo não lida bem com esta peculiar noção de termo certo, dado não ser uma experiência capaz de ser vivida ou transmitida. Já a mortalidade é toda outra coisa, um emaranhado complexo de teses pelas quais vivemos afastando-nos tanto quanto possível da morte e sentido o fluxo do tempo como a ventania que pouco a pouco desfaz uma duna.

Quando se tem um filho, vive-se a mortalidade de outra forma. É a mesma imagem aterradora mas um pouco mais calibrada. Um filho é uma espécie de vitória de Pirro sobre a morte. É uma forma de enganá-la e de lhe alimentar o rebanho ao mesmo tempo. Cada gesto nosso traça uma tangente à morte; cada respiração, cada garfada de comida, cada sinfonia escutada ou produzida, cada livro lido ou escrito. E, como no Sétimo Selo de Bergman, basta perder uma vez. Entramos no jogo sem qualquer preparação e sem margem para falhar e, para apimentar a coisa, a maior parte das variáveis que influem sobre o nosso destino não são controláveis.

Dou por mim a pensar mais na morte quando viajo. Não por ter medo de andar de avião, não tenho. Talvez porque associo a maravilha da descoberta de novas coisas à fugacidade da nossa permanência por aqui. Há tanto para ver, tanto para ler, tanto para experimentar. Somos crianças numa loja de brinquedos a que estamos condenados a ver só uma ínfima parte. Ou leitores curiosos numa biblioteca infinita. A morte devia ser uma opção.

Os animais, cujos sistemas operativos são fundamentalmente diferentes dos nossos, não albardam com este peso. A morte, não estando prestes a acontecer, não é um problema. Não fazem oferendas para evitá-la ou para aplacar a fúria dos mortos, não constroem igrejas através das quais esperam salvar as suas almas, não edificam quaisquer monumentos para perpetuar as suas memórias, não escrevem, não pintam, não celebram o sagrado ou o profano. Ao contrário de nós, estão completos desde o momento que chegam até ao momento em que partem. Um tigre não acrescenta nada à “tigreza”, não a revoluciona, não a modifica. Os animais, vistos aqui do lado do humano, parecem ser apenas elementos decorativos do cenário incrivelmente complexo para onde fomos atirados.

Prestes a partir de Macau, onde estive um mês, não consigo evitar de pensar em tudo quanto não vi, em tudo quanto, num momento de excepcional fortuna, poderia ter acrescentado facetas perenes ao poliedro de memórias que cada um de nós é. Não estou preparado para partir. Não estou preparado para ficar. Talvez seja essa a definição mais adequada de humano: uma criatura eternamente em trânsito e levando-se a si própria ao colo.

Competição Internacional | Quando o cinema local abre as portas do mundo

No primeiro dia do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM na sigla inglesa) Mike Goodridge fez as honras da apresentação formal do júri da competição internacional do Festival, presidido pelo aclamado realizador de Hong Kong, Peter Chan. Diversos nas suas opiniões, o júri destacou a “primavera” do cinema asiático, a importância da genuinidade local e da forma como o cinema pode vir a encarar um futuro destinado aos “pequenos ecrãs”

 

[dropcap]P[/dropcap]ara conseguirmos fazer um filme excepcional, mais importante do que ouvir a nossa própria voz, é ouvir uma voz especial, uma voz que seja diferente das outras nesta indústria e estar atento às gerações mais novas”, as palavras são de Peter Chan, Presidente do júri dedicado à competição internacional do IFFAM e que terá a árdua tarefa de eleger aquele que será o vencedor, de entre os 10 filmes em concurso.

Tendo a sua obra sido rotulada inúmeras vezes de “ocidentalizada”, Peter Chan diz ter tido a sorte de ter vivido de perto a fase mais desafiante e interessante do cinema feito em Hollywood, que o inspirou irremediavelmente durante a década de 70. O realizador diz continuar a transportar essa mesma sensação, mas agora relativamente ao cinema feito na China, para o qual se encontra a trabalhar, mas também um pouco por toda a Ásia, onde cada vez mais obras começam a ganhar um lugar de destaque.

“A China é um novo horizonte e uma nova indústria onde tudo é possível. Vivemos tempos muito interessantes na Ásia e em diferentes partes da Ásia. Existem realizadores coreanos, tailandeses, indonésios. Achei o filme indonésio que vi esta manhã muito interessante, o que é uma coisa completamente nova para mim. Sinceramente, acho que o mundo se está a tornar cada vez mais interessante”, partilhou Peter Chan.

Relativamente a “Better Days”, filme realizado por  Kwok Cheung Tsang, a concurso no IFFAM, mas na competição dedicada ao Novo Cinema Chinês, o presidente do painel do júri considerou que “apesar de ser comercial, é um daqueles filmes que nos têm de dar esperança acerca da China e da censura no cinema.”

“Este filme para mim foi um processo muito difícil. No interior da China é preciso passar muito tempo para ultrapassar a censura, e isto demorou mais de um ano. Mas depois, apesar de não termos grandes expectativas quando lançámos este filme, os números da venda de bilhetes ascenderam aos 250 milhões de dólares no final, o que é bom em qualquer parte do mundo”, explicou Peter Chan.

Também Midi Z, actor e realizador nascido no Myanmar, mostrou optimismo acerca do processo e deixou um conselho para os realizadores em início de carreira.

“Acho que os jovens realizadores não devem impor limites a si próprios em termos do que é um filme e o que é o cinema. Eu faço documentários, ficção e curtas metragens e para mim não há qualquer diferença. Devemos deixar a imaginação entrar nos nossos filmes”.

Eco global

“Gosto muito da ideia de fazer um filme a partir da vontade de contar algo muito genuíno, que se relaciona com o contexto e com as vivências de uma forma directa com o público local, mas que, ao mesmo tempo, é algo tão universal que pode ser partilhado em qualquer lugar do mundo”, disse Dian Sastrowardoyo, actriz e produtora originária da Indonésia que diz estar orgulhosa do filme da Competição Internacional, “Homecoming”, realizado pelo seu conterrâneo Adriyanto Dewo.

Sobre “Homecoming”, Dian Sastrowardoyo mostrou um “orgulho enorme” por ver um filme 100 por cento feito na Indonésia, no IFFAM e destacou a capacidade que a obra tem de abordar “temas locais e histórias com um background claramente indonésio”, como o papel das mulheres na sociedade e em casa ou as diferenças existentes entre classes sociais, já que a obra coloca frente a frente duas realidades muito diferentes neste aspecto. “Acho que passa uma mensagem comum, não só na Indonésia, mas também a uma escala mundial”, explicou. “Acho que o grande desafio para todos agora, é como é que podemos realizar filmes que tenham simultâneamente características locais e globais”, rematou Dian Sastrowardoyo.

Já no seu breve papel como realizadora, Dian Sastrowardoyo, apontou a importância de utilizar o cinema para promover uma mensagem social importante, ao mesmo tempo que consegue cativar o público e levá-lo a identificar-se com as personagens.

“Fizemos um filme histórico que fala sobre o sistema de ensino na Indonésia, mas que contém também vários elementos de comédia e isto acontece porque se tivéssemos realizado o filme de forma demasiado séria, o mais certo era não chegarmos à audiência relativamente às questões políticas que queríamos abordar”, explicou.

Reiterando que “não é possível dizer se um filme está certo ou se está errado, pois todos os têm diferentes características”, Peter Chan lembrou a propósito do tema, que um filme que pode parecer uma comédia, pode perfeitamente apresentar um tema social ao público.

“Temos de ter filmes de hollywood mas também outro tipo de filmes para que o público possa ter acesso a diferentes conteúdos. Filmes que façam o público rir ou chorar, mas que permitam perceber o que está a acontecer na sociedade e estabelecer pontes com os acontecimentos que estão na ordem do dia”, explicou.

Cinema de bolso?

Outro dos temas em debate entre o júri da competição internacional foi o futuro esperado para o cinema enquanto meio, que enfrenta hoje o desafio de se adaptar a uma era digital cada vez mais dominada por pequenos e poderosos ecrãs, capazes de alojar plataformas de streaming como a Netflix.

Pegando no exemplo de “O Irlandês”, filme de Martin Scorsece que estreou em exclusivo naquela plataforma, o actor e produtor Tom Cullen vincou que o benefício da passagem para o pequeno ecrã é que “permite que os conteúdos cheguem a audiências que de outra forma ficariam excluídas. Por exemplo, onde eu cresci, existia apenas uma sala de cinema e ficava a uma hora de distância de carro”, argumentou.

O actor, conhecido pelo papel de Anthony Gillingham em Downtown Abbey, frisou ainda que os produtores e realizadores “têm sabido adaptar-se às mudanças produzidas pelas novas tecnologias”, procurando ser mais específicos dado que agora a audiência pode ser o próprio mundo.

Competição Internacional | Quando o cinema local abre as portas do mundo

No primeiro dia do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM na sigla inglesa) Mike Goodridge fez as honras da apresentação formal do júri da competição internacional do Festival, presidido pelo aclamado realizador de Hong Kong, Peter Chan. Diversos nas suas opiniões, o júri destacou a “primavera” do cinema asiático, a importância da genuinidade local e da forma como o cinema pode vir a encarar um futuro destinado aos “pequenos ecrãs”

 
[dropcap]P[/dropcap]ara conseguirmos fazer um filme excepcional, mais importante do que ouvir a nossa própria voz, é ouvir uma voz especial, uma voz que seja diferente das outras nesta indústria e estar atento às gerações mais novas”, as palavras são de Peter Chan, Presidente do júri dedicado à competição internacional do IFFAM e que terá a árdua tarefa de eleger aquele que será o vencedor, de entre os 10 filmes em concurso.
Tendo a sua obra sido rotulada inúmeras vezes de “ocidentalizada”, Peter Chan diz ter tido a sorte de ter vivido de perto a fase mais desafiante e interessante do cinema feito em Hollywood, que o inspirou irremediavelmente durante a década de 70. O realizador diz continuar a transportar essa mesma sensação, mas agora relativamente ao cinema feito na China, para o qual se encontra a trabalhar, mas também um pouco por toda a Ásia, onde cada vez mais obras começam a ganhar um lugar de destaque.
“A China é um novo horizonte e uma nova indústria onde tudo é possível. Vivemos tempos muito interessantes na Ásia e em diferentes partes da Ásia. Existem realizadores coreanos, tailandeses, indonésios. Achei o filme indonésio que vi esta manhã muito interessante, o que é uma coisa completamente nova para mim. Sinceramente, acho que o mundo se está a tornar cada vez mais interessante”, partilhou Peter Chan.
Relativamente a “Better Days”, filme realizado por  Kwok Cheung Tsang, a concurso no IFFAM, mas na competição dedicada ao Novo Cinema Chinês, o presidente do painel do júri considerou que “apesar de ser comercial, é um daqueles filmes que nos têm de dar esperança acerca da China e da censura no cinema.”
“Este filme para mim foi um processo muito difícil. No interior da China é preciso passar muito tempo para ultrapassar a censura, e isto demorou mais de um ano. Mas depois, apesar de não termos grandes expectativas quando lançámos este filme, os números da venda de bilhetes ascenderam aos 250 milhões de dólares no final, o que é bom em qualquer parte do mundo”, explicou Peter Chan.
Também Midi Z, actor e realizador nascido no Myanmar, mostrou optimismo acerca do processo e deixou um conselho para os realizadores em início de carreira.
“Acho que os jovens realizadores não devem impor limites a si próprios em termos do que é um filme e o que é o cinema. Eu faço documentários, ficção e curtas metragens e para mim não há qualquer diferença. Devemos deixar a imaginação entrar nos nossos filmes”.

Eco global

“Gosto muito da ideia de fazer um filme a partir da vontade de contar algo muito genuíno, que se relaciona com o contexto e com as vivências de uma forma directa com o público local, mas que, ao mesmo tempo, é algo tão universal que pode ser partilhado em qualquer lugar do mundo”, disse Dian Sastrowardoyo, actriz e produtora originária da Indonésia que diz estar orgulhosa do filme da Competição Internacional, “Homecoming”, realizado pelo seu conterrâneo Adriyanto Dewo.
Sobre “Homecoming”, Dian Sastrowardoyo mostrou um “orgulho enorme” por ver um filme 100 por cento feito na Indonésia, no IFFAM e destacou a capacidade que a obra tem de abordar “temas locais e histórias com um background claramente indonésio”, como o papel das mulheres na sociedade e em casa ou as diferenças existentes entre classes sociais, já que a obra coloca frente a frente duas realidades muito diferentes neste aspecto. “Acho que passa uma mensagem comum, não só na Indonésia, mas também a uma escala mundial”, explicou. “Acho que o grande desafio para todos agora, é como é que podemos realizar filmes que tenham simultâneamente características locais e globais”, rematou Dian Sastrowardoyo.
Já no seu breve papel como realizadora, Dian Sastrowardoyo, apontou a importância de utilizar o cinema para promover uma mensagem social importante, ao mesmo tempo que consegue cativar o público e levá-lo a identificar-se com as personagens.
“Fizemos um filme histórico que fala sobre o sistema de ensino na Indonésia, mas que contém também vários elementos de comédia e isto acontece porque se tivéssemos realizado o filme de forma demasiado séria, o mais certo era não chegarmos à audiência relativamente às questões políticas que queríamos abordar”, explicou.
Reiterando que “não é possível dizer se um filme está certo ou se está errado, pois todos os têm diferentes características”, Peter Chan lembrou a propósito do tema, que um filme que pode parecer uma comédia, pode perfeitamente apresentar um tema social ao público.
“Temos de ter filmes de hollywood mas também outro tipo de filmes para que o público possa ter acesso a diferentes conteúdos. Filmes que façam o público rir ou chorar, mas que permitam perceber o que está a acontecer na sociedade e estabelecer pontes com os acontecimentos que estão na ordem do dia”, explicou.

Cinema de bolso?

Outro dos temas em debate entre o júri da competição internacional foi o futuro esperado para o cinema enquanto meio, que enfrenta hoje o desafio de se adaptar a uma era digital cada vez mais dominada por pequenos e poderosos ecrãs, capazes de alojar plataformas de streaming como a Netflix.
Pegando no exemplo de “O Irlandês”, filme de Martin Scorsece que estreou em exclusivo naquela plataforma, o actor e produtor Tom Cullen vincou que o benefício da passagem para o pequeno ecrã é que “permite que os conteúdos cheguem a audiências que de outra forma ficariam excluídas. Por exemplo, onde eu cresci, existia apenas uma sala de cinema e ficava a uma hora de distância de carro”, argumentou.
O actor, conhecido pelo papel de Anthony Gillingham em Downtown Abbey, frisou ainda que os produtores e realizadores “têm sabido adaptar-se às mudanças produzidas pelas novas tecnologias”, procurando ser mais específicos dado que agora a audiência pode ser o próprio mundo.

Boi na Ilha Verde

[dropcap]M[/dropcap]acau é um depósito infinito de insólitos. No meio da panóplia de assuntos da semana, apesar do anúncio do novo Governo, primeiro na Xinhua e depois no GCS, o boi evadido do matadouro foi a notícia que maior regozijo me trouxe.

A fuga para a liberdade e a garantia absoluta de que vai viver e não cair no destino de morte certa foram o raio de sol numa semana nublada. Um símbolo de consolo, das regras quebradas na busca da sobrevivência, um Richard Kimble quadrupede, o Papillon e a evasão de Andy Drufresne pela frincha da imagem de Racquel Welch em direcção a uma praia solarenga perto da Acapulco. Sim, vamos ficar sem Alexis Tam, Lionel Leong e Sónia Chan e o meu destaque semanal é bovino e, na minha opinião, muito mais importante. Além disso, foi salvo por substâncias anestésicas, o que tornou a sua carne imprópria para consumo. Atrevo-me a dizer que estamos na presença de uma reencarnação invertida do Urso Bobo, o animal que foi encontrado à beira do prato para ser enjaulado.

Esperemos para ver o que o IAM tem em mente para o Boi Kimble. Uma jaula, ou um espaço mais alargado numa terra onde o metro quadrado é um tesouro. Sim, Chui Sai On vai passar a repetir os mesmos chavões de sempre noutro lugar e o senhor que se segue apresentou a equipa de secretários a escassos 20 dias da tomada de posse, mas, por outro lado, o absurdo sorri-nos e diz-nos para pegarmos os dias pelos cornos e não temermos a lâmina do carrasco.

Os dossiers fundamentais 

[dropcap]R[/dropcap]aimundo do Rosário e Wong Sio Chak continuam no Governo a tutelar, respectivamente, as pastas dos Transportes e Obras Públicas e da Segurança. Não descurando a importância que as restantes tutelas governativas têm, estas são, sem dúvidas, fundamentais para o futuro de Macau.

Raimundo do Rosário começou por ser um secretário que arrumou a confusão instalada depois da saída de Ao Man Long e a chegada de Lau Sio Io, tendo-se transformado numa figura importantíssima na qual a população de Macau deposita muitas esperanças. O secretário tem as costas largas e sobre ele caem todos os dossiers fundamentais.

Era imperativo que este continuasse a arrumar a casa e a resolver questões prementes, como é o caso da continuação do Metro Ligeiro até à península de Macau e os projectos de habitação pública, sem esquecer o tão desejado Plano Director de Macau.

Agora se compreende porque é que os contratos com os autocarros foram renovados por mais 14 meses: Raimundo do Rosário continuaria no Governo para equilibrar posições e assegurar um serviço público no próximo mandato.

Quanto à área da Segurança, ainda muito está para vir e todos os olhos devem estar atentos neste governante. Com o sistema de reconhecimento facial e de videovigilância nas ruas posto em marcha, aguardaremos os próximos capítulos com algum receio.

Mas que tipo de Governo será este?

[dropcap]C[/dropcap]omo sempre que um Governo muda em Macau, criam-se expectativas e medos no seio da administração pública. Quem vai cair? Quem vai subir? O que vai ficar na mesma? Assombrados por estas perguntas de algibeira, por estas dúvidas de internato, os funcionários, sobretudo os que jogam no meio da tabela, vêem-se assoberbados de dúvidas e insónias, noites de receios misturados com esperanças, enfim, inquietações capazes de tirar o sono ao mais comum dos comuns mortais.

No meio das questões levantadas, repisadas e manducadas em noites daquelas em que o vento arrebata as flores das oliveiras, sobressai a seguinte interrogação: mas que tipo de Governo será este?

Pergunta avisada, fundada em ancestral sabedoria. Ora a crença geral, repassada na giraldina da vida, é que vamos ter um Governo de outro tipo. Ora sabido que está quem é o tipo, resta adivinhar a sua tipologia de funcionamento, prevendo-se que não será como tipicamente tem sido, mas assim mais tipo tipo. Isto ainda que não venhamos a ter um Governo exatamente do tipo tipo mas com muitos tiques do tipo. Ou seja, tipoforme mas não tipómano. Assim, crê-se ou deseja-se crer, ainda haverá lugar para destipificados mas só se forem do tipo conveniente.

Portanto, a coisa vai ser assim de tipo diferente do que tem sido mas sem se afastar demasiado da tipologia a que estamos habituados não fosse acontecerem coisas do tipo estragar a harmonia do tipo. Um dos sintomas que nos leva a acreditar no que temos vindo a perorar neste artigo tipo crónica é a súbita profusão de tipólogos, ou seja, pessoas que entendem muito bem o tipo, dele falam e o decantam tintim por milú. Nos dias que escorrem lentamente pelas paredes das nossas vidas, a cada cavadela que damos na citadela, lá encontramos um tipólogo em pose iluminada. A cada tiro que às cegas disparamos para o ar, na Areia Preta é atingido um tipólogo que ali circulava de trotinete eléctrica. Enfim, a coisa é assim do tipo óbvia.

Dado este tipo de explicações, esperamos ter sossegado as mentes mais difíceis, as mais duras, as mais brilhantes, pois de todos os tipos encontramos, se elaborarmos uma tipologia de reconhecimento facial, baseada nas actuais descobertas do fisiognomonista Lombroso tão em voga em certo tipo de departamentos governamentais.

O esquecido ambiente interior

“The quality of housing conditions plays a decisive role in the health status of the residents, because many health problems are either directly or indirectly related to the building itself, the construction materials that were used, and the equipment or the size or structure of the individual dwellings.”
World Health Organization

[dropcap]A[/dropcap]s pessoas podem passar maior tempo dentro de casa, quotidianamente, em particular nas áreas urbanas. A influente localização corresponde a 50-60 por cento, o trabalho ou a escola em ambientes fechados a cerca de 30 por cento e outros ambientes fechados, como os transportes e os edifícios públicos a 5 por cento, o que equivale a mais de 90 por cento. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a manutenção de um bom ambiente interno como um factor importante para a saúde. Segundo a OMS, três milhões e oitocentas mil mortes são atribuídas anualmente à poluição do ar doméstico. Globalmente, mais de três mil milhões de pessoas dependem de fontes de energia poluidoras para cozinhar; assim, 50 por cento das mortes por pneumonia entre crianças menores de cinco anos são devidas à poluição do ar doméstico.

A ingestão diária para um indivíduo adulto de aproximadamente setenta e cinco quilogramas é de cerca de 0,75 quilogramas de alimentos sólidos, 1,5 quilogramas de água e 15 quilogramas de ar. Se considerarmos um diferente ponto de vista, no que diz respeito à ingestão diária de produtos químicos do ambiente em proporção ao peso, as residências fechadas contribuem com 57 por cento, seguidas do interior público com 12 por cento, do ar de exaustão industrial com 9 por cento e do ar externo com 5 por cento, o que soma muito mais do que a contribuição de bebidas (8 por cento) e alimentos (7 por cento). O ambiente interior saudável é fundamental para uma vida salutar e em geral, a melhoria da qualidade do ar interior para manter uma boa saúde é essencial para alcançar os “Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, globalmente.

O “Síndroma do Edifício Doente (SBS na sigla inglesa)” é um conceito que envolve queixas não específicas que ocorrem com maior prevalência em edifícios específicos. É de considerar que da mesma forma, doenças não tão clinicamente demonstráveis quanto as “Doenças Relacionadas aos Edifícios (BRI na sigla inglesa)”, que podem ser associadas aos edifícios, também podem ser consideradas como SBS. As indicações do SBS incluem as queixas de ocupantes de edifícios relativamente a sintomas associados a desconforto agudo, por exemplo, dor de cabeça; irritação nos olhos, nariz ou garganta; tosse seca; pele seca ou com prurido; tonturas e náuseas; dificuldade de concentração; fadiga e sensibilidade ao odor. A causa dos sintomas não é conhecida.

A BRI também ocorre dentro de casa, mas é definido como uma doença clínica documentável associada a edifícios. Os mesmos agentes ambientais podem causar tanto BRI como SBS. O caso mais conhecido de BRI foi o surto da doença do legionário que ocorreu em um hotel na Filadélfia em 1976 como resultado da exposição interna à bactéria “Legionella pneumophila”. As outras BRIs são o cancro do pulmão provocado por componentes gasosos e de partículas do Fumo do Tabaco do Ambiente (ETS na sigla inglesa), “Compostos Orgânicos Voláteis (VOCs na sigla inglesa) e dermatite do rádon causada por fibras de isolamento artificial e micróbios, pneumonite de hipersensibilidade, febre do humidificador, asma e doenças respiratórias alérgicas e não alérgicas dos micróbios e respectivas toxinas. A hermeticidade dos edifícios tem vindo a aumentar em muitos países desde a década de 1970. A maioria dos queixosos relata alívio logo após a saída do edifício.

Os ocupantes dos edifícios queixam-se de sintomas como tosse, aperto no peito, febre, calafrios e dores musculares. Os sintomas podem ser clinicamente definidos e ter causa claramente identificáveis. Os queixosos podem necessitar de tempos de recuperação prolongados depois de saírem do edifício. Além de BRI e SBS, existe outro termo, o de “Intolerância Ambiental Idiopática (IEI na sigla inglesa), também conhecido como “Sensibilidade Química Múltipla (MCS na sigla inglesa)”, e IEI atribuído a campos electromagnéticos (IEI-EMF). A MCS foi relatada pela primeira vez em 1987, como uma doença que faz com que uma pessoa seja extremamente afectada por um nível muito baixo de certos produtos químicos.

A hermeticidade das habitações no Japão tem aumentado desde o início da década de 1990, com o resultado de que condições semelhantes ao SBS, reapareceram em habitações recentemente construídas constituindo um verdadeiro “Sindroma da Casa Doente (SHS na sigla inglesa)”. O conceito básico de SHS é o mesmo que o de SBS; no entanto, existem algumas características distintivas. O SBS ocorre principalmente no escritório; assim, a população-alvo é de vinte a sessenta anos de idade. O SHS, por outro lado, ocorre em casa, de modo que qualquer idade da população pode ser um alvo. As pessoas de idade inferior a vinte anos são relatadas como sendo mais altas do que outros grupos etários, sugerindo que são vulneráveis ao SHS. O SBS desaparece durante o fim-de-semana, uma vez que o escritório está fechado. O SHS continua todos os dias da semana, incluindo os fins-de-semana.

O número de ocupantes é geralmente maior no escritório para que o SBS possa ser identificado como um problema ambiental; no entanto, o número geralmente pequeno de ocupantes na casa torna o SHS mais difícil de identificar. É de considerar que uma vez mais, tanto o SBS como o SHS são sintomas relacionados com o ambiente interior e são geralmente aliviados quando afastados do edifício. Muitos dos poluentes existentes no interior dos edifícios podem ser factores de preocupação para a saúde. As partículas em suspensão, dióxido de nitrogénio, dióxido de enxofre, monóxido de carbono e ozónio são os principais poluentes clássicos internos e são emitidos pela combustão e pelo ar ambiente. A OMS publicou as suas primeiras directrizes sobre a qualidade do ar em 1987, que foram actualizadas em 2005. As fontes emissoras incluem materiais de construção e acabamento, mobiliário, e as actividades, incluindo a limpeza.

A OMS publicou orientações sobre as emissões poluentes seleccionadas de gases e produtos químicos provenientes de mobiliário e materiais de construção que recolhem no interior dos edifícios. Recentemente, não só os VOCs, mas também os SVOCs com pontos de vapor relativamente mais elevados são encontrados em espaços interiores. Muitos plastificantes, retardadores de chama e pesticidas são classificados como SVOCs, o que pode estar associado a problemas de saúde como asma e alergias. Micróbios, como fungos, bactérias e vírus, são outro grande poluente dos ambientes internos. Alguns micróbios podem causar doenças, bem como os seus componentes tóxicos, como endotoxinas e micotoxinas. Fungos e bactérias emitem uma ampla gama de compostos voláteis, os chamados “Compostos Orgânicos Voláteis Microbianos (MVOCs)”. Os MVOCs podem ser indicadores de poluentes microbianos, e alguns deles podem causar efeitos à saúde. Os alergénios encontram-se no pó interior e podem induzir sensibilização alérgica e sintomas respiratórios.

A humidade refere-se a qualquer resultado visível, mensurável ou percebido do excesso de humidade que causa problemas em edifícios, como bolor, vazamentos, ou degradação de material, odor de bolor, ou excesso de humidade medido directamente, ou crescimento microbiano. Foi sugerido que a humidade é um indicador forte e consistente do risco de asma e sintomas respiratórios, bem como do SBS e SHS. A combustão de combustíveis domésticos é uma questão importante, especialmente em países de baixo e médio rendimento, em relação ao uso de combustíveis sólidos como madeira, esterco animal, carvão vegetal, resíduos vegetais e carvão queimado ineficientemente para cozinhar e aquecer. Assim, a OMS emitiu orientações sobre combustíveis e tecnologias limpas para cozinhar, aquecer e iluminar as habitações em 2014. Por último, mas não menos importante, o ambiente físico, como o desconforto térmico e de iluminação, também é um problema. Os estudos mais recentes sugerem a associação entre temperatura ambiente e o desempenho. Além disso, as diferenças de temperatura térmica fria podem provocar acidente vascular cerebral e ataque cardíaco.

Os ODS são um modelo para alcançar um futuro melhor e mais sustentável para todos, abordando os desafios globais que enfrentamos, incluindo os relacionados à pobreza, desigualdade, clima, degradação ambiental, prosperidade, paz e justiça. Há dezassete objectivos a serem alcançados até 2030. A OMS resume os riscos para a saúde e a habitação decorrentes da saúde e do desenvolvimento sustentável. A habitação tem um impacto na saúde e no bem-estar através de numerosos trajectos ambientais, entre os quais se incluem a poluição do ar doméstico por cozedura; aquecimento e iluminação, especialmente biomassa rudimentar e fogões a carvão para cozedura e aquecimento; qualidade do ar interior devido a poeiras ou gases emitidos por materiais de construção tóxicos e radão; exposição a calor e frio extremos; exposição a vectores patogénicos, incluindo pragas e insectos; exposição a humidade e bolores; utilização de materiais de construção não seguros e de más práticas de construção.

A melhoria da qualidade do ar interior para manter uma boa saúde está relacionada com muitos ODS. Por exemplo, o “Ambiente Interior Saudável” está relacionado com o bem-estar de todos os ocupantes (Objectivo 3: boa saúde e bem-estar). Também está relacionado com outros objectivos, por exemplo, a protecção das mulheres que estão mais expostas aos poluentes internos da combustão e da cozinha (Objectivo 5: Igualdade de Género), a manutenção de água limpa e saneamento para evitar infecções (Objectivo 6: Água Limpa e Saneamento), o uso de energia limpa para reduzir a emissão de poluentes (Objectivo 7: Energia Acessível e Limpa), a compra de empresas verdes com baixos níveis de emissão de poluentes químicos (Objectivo 8: Trabalho Decente e Crescimento Económico), a ideia de uso em materiais inovadores para reduzir os níveis de poluição (Objectivo 9; Indústria, Inovação e Infra-estrutura), a manutenção do ar da cidade limpo (Objectivo 10: Cidades e comunidades sustentáveis), o desenvolvimento e uso de materiais de construção e interiores com menor emissão de produtos químicos perigosos (Objectivo 12: Produção e Consumo Responsáveis), e a redução nas emissões de dióxido de carbono, carbono-preto e dióxido de nitrogénio (Objectivo 13: Acção Climática).

A criação de um ambiente interior limpo com uma concepção de edifícios mais sustentáveis pode ajudar a reduzir o fardo das doenças relacionadas com a qualidade do ar interior e proporcionar uma melhor saúde às pessoas a nível local e global. O SBS começou a ser relatado principalmente como um problema associado aos edifícios de escritórios nos países ocidentais, devido ao aumento do uso de materiais sintéticos, ventilação insuficiente e maior estanqueidade para a conservação de energia. Assim, os maus ambientes de escritórios internos tornaram-se um problema social mais cedo, mas gradualmente os ambientes domésticos também enfrentaram os mesmos problemas. O SBS no Japão, não se tornou um problema social entre as décadas de 1970 e 1980.

O termo SHS tem sido usado para expressar problemas ambientais domésticos internos desde o final da década de 1990, e surgiu especialmente em casas recém-construídas ou reconstruídas que incorporavam muitos materiais sintéticos, ventilação insuficiente e maior estanquidade ao ar. Em edifícios de escritórios, se várias pessoas sofreram sintomas que se resolveram depois de saírem do edifício, um problema ambiental pode ser reconhecido com relativa facilidade. No entanto, em habitações, se apenas um ou dois habitantes sofrem de sintomas de SBS, um problema ambiental pode ser difícil de reconhecer. Além disso, os estudos epidemiológicos requerem uma investigação detalhada do ar interior de cada habitação, o que requer muito tempo e recursos humanos em comparação com um ambiente de escritório. O SBS e o SHS devem ser distinguidos de várias doenças bem definidas relacionadas aos edifícios, como rinite, asma, infecção e pneumonite por hipersensibilidade, que são causadas por exposições específicas em ambientes internos.

As principais características diagnósticas do SBS são sintomas gerais de saúde (dor de cabeça, fadiga, falta de concentração), sintomas da mucosa (irritação ocular, irritação da garganta, nariz entupido ou obstruído), sintomas de pele (exantema, coceira, secura) e sintomas respiratórios (falta de ar, tosse, pieira). Para diagnosticar o SBS, é importante excluir outras condições e notar se há uma melhoria perceptível dos sintomas quando o paciente é temporariamente removido do edifício, embora a secura da pele pode levar alguns dias para melhorar. Uma vez que não houve critérios de diagnóstico clínico bem estabelecidos para o SBS, o seu prevalecimento foi relatado em estudos epidemiológicos usando questionários. Um questionário de sintomas do SBS amplamente utilizado é a porção de sintomas dos questionários MM, que contém perguntas sobre frequências de sintomas relacionados à construção, com um período de repetição de 3 meses.

O “Questionário do Meio Ambiente Interior de Estocolmo (SIEQ)” também é utilizado da mesma forma. Existe um estudo que não envolveu definições de sintomas relacionados ao domicílio, pois insistiu que sintomas sem definição ambiental abrangem todos os sintomas, independentemente da opinião do sujeito sobre as causas.

Assim, várias definições de SBS têm sido utilizadas nos estudos epidemiológicos do SBS domiciliário. A definição mais conservadora, com sintomas semanais e relacionados ao domicílio, pode indicar que a prevalência do SBS domiciliário na população geral varia até 10 por cento, embora o tipo de construção e o nível socioeconómico possam influenciar esse número.

A linha de selecção que indica que as pessoas com mais preocupação com os sintomas do SBS podem participar mais do estudo do questionário também pode inflacionar a prevalência. Para reduzir essa linha, estudos que medem os poluentes do ar em casa podendo possivelmente ser usados como um incentivo para que as pessoas que estão preocupadas com os sintomas do SBS participem dos seus estudos. O aldeído e os VOCs são agentes etiológicos primários clássicos do SBS, e são emitidos a partir de materiais de construção, pinturas e móveis. Os estudos transversais domiciliares relataram um risco significativamente maior de sintomas do SBS devido ao aumento dos níveis de formaldeído no ar.

A qualidade do ar interno (IAQ na sigla inglesa), que depende dos poluentes transportados pelo ar dentro de um edifício (ou em um sentido mais amplo, de qualquer outro compartimento, como um veículo ou uma casota de animais), é um dos factores cruciais que determinam a qualidade do ambiente interno. Oferecer qualidade de ar adequada aos ocupantes é uma das funcionalidades mais importantes de um edifício. O cancro do pulmão (devido ao rádon), doença dos legionários, envenenamento por monóxido de carbono, alergia e asma estão entre as sérias implicações para a saúde da má IAQ. O SBS resultante de níveis inadequados de IAQ afecta significativamente a saúde e a produtividade dos funcionários de escritório. Ainda que estejam a ser feitos enormes esforços para realizar edifícios com eficiência energética, verdes e sustentáveis, manter um nível seguro de IAQ nesses edifícios é um desafio contínuo.

Tal deve-se ao facto de que muitas medidas de eficiência energética em um edifício (como taxa reduzida de ventilação do ar externo, aumento do isolamento térmico e equipamento de refrigeração eficiente) podem ter um impacto negativo na IAQ. Assim, juntamente com a eficiência energética e a sustentabilidade, tem havido uma preocupação crescente com a poluição do ar dentro dos edifícios. As tentativas de garantir eficiência energética e sustentabilidade nos edifícios devem simultaneamente garantir maior saúde, conforto e produtividade dos ocupantes. Existem duas abordagens principais para lidar com questões de IAQ em edifícios sendo uma a de aumentar a taxa de ventilação do ar externo no prédio e a outra de minimizar ou controlar as fontes de poluição do ar dentro e fora do prédio. A primeira estratégia funcionaria apenas quando o ar externo estiver limpo o suficiente para melhorar o IAQ.

Um conto de duas cidades revisitado

[dropcap]H[/dropcap]ong Kong e Macau regressaram à soberania chinesa há cerca de 20 anos. Macau pode não estar a passar a sua melhor fase e Hong Kong, está seguramente a passar uma das piores. O que acontecerá a estas duas cidades em 2020, irão melhorar ou piorar? Apenas os seus Governos e populações podem dar resposta a estas perguntas.

O Artigo 2 do Capítulo 1 das Leis Básicas de Hong Kong e de Macau são iguais e estipulam “A Assembleia Popular Nacional da República Popular da China autoriza a Região Administrativa Especial de Macau/Hong Kong a exercer um alto grau de autonomia e a gozar de poderes executivo, legislativo e judicial independente, incluindo o de julgamento em última instância, de acordo com as disposições desta Lei”. Em nenhuma das duas Leis Básicas vem mencionado que o Governo Central tenha jurisdição global nas Regiões Administrativas Especiais de Macau e de Hong Kong. Mas o Artigo 1 do Capítulo 1, que estipula “As Regiões Administrativas Especiais de Macau/Hong Kong são parte inalienável da República Popular da China”, define a relação entre o Governo Central e as Regiões Administrativas Especiais. Se as Leis Básicas precisassem de realçar a jurisdição da China sobre estas regiões, de que é que serviria estabelecer o conceito de Região Administrativa Especial com um alto grau de autonomia, regida pelo princípio “Um País, Dois Sistemas”?

As Leis Básicas de Hong Kong e Macau são semelhantes, mas no capítulo onde se lê Estrutura Política, nos Artigos 45 e 68 da Lei de Hong Kong vem claramente mencionado que o objectivo político a atingir é eleger o Chefe do Executivo e os membros do Conselho Legislativo através do sufrágio universal. É de lamentar que, quando o Governo de Hong Kong avançou com a reforma constitucional, a sociedade tenha levantado objecções à proposta do Executivo para “a escolha do Chefe do Executivo por sufrágio universal, após nomeação dos candidatos por um comité largamente representativo, de acordo com os procedimentos democráticos”. Devido às divergências, a questão acabou por ficar pendente da interpretação dos termos da Lei Básica pelo Comité Permanente do Congresso Nacional do Povo e, desde então, toda a sociedade de Hong Kong tem disputado vários pontos de vista sobre a forma certa de obter “o sufrágio universal genuíno”. A luta de longa data entre os dois Chefes do Executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying e Carrie Lam, e os dissidentes, fez com que a sociedade ficasse cada vez mais dividida e os recentes episódios e violência e confrontação, mergulharam Hong Kong no caos. Apesar de tudo isto, os eleitores da cidade participaram em massa nas eleições distritais do passado dia 24, que funcionaram como uma espécie de referendo. Os resultados eleitorais são uma mensagem clara para o Governo Central, expressando a insatisfação da população quanto à actuação do Governo da RAE de Hong. Se os Governos central e local escutarem a voz da população e resolverem os conflitos sociais apropriadamente, Hong Kong libertar-se-á dos motins e do caos. Caso contrário não haverá forma de ultrapassar as fissuras sociais.

A situação de Macau é oposta à de Hong Kong. O Chefe do Executivo designado, Ho Iat Seng, acabou de anunciar a lista dos dez principais dignatários, na qual se incluem seis novos nomes e quatro que vão ser reencaminhados nas suas funções. Aparentemente esta nova equipa vem com outras aspirações. Mas, segundo os números da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos, a economia de Macau registou uma contracção anual de 4,5% em termos reais e nos primeiros três trimestres de 2019, a economia de Macau registou uma retracção homóloga de 3,5%, em termos reais. Os números da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos indicaram que a Receita bruta mensal dos jogos de fortuna ou azar, referentes ao Novembro de 2019 foi 22,877 milhões de patacas, apontando um decréscimo de 13.5% em relação a Outubro passado, e um decréscimo anual de 8.5%. Segundo as estatísticas de 2018, o peso do sector secundário (que inclui o sector da construção e da indústria de manufactura) no valor acrescentado bruto de todos os ramos de actividade económica (4,2%) diminuiu 0,9 pontos percentuais e o peso do sector terciário (que inclui lotarias, outros jogos de aposta e actividade de promoção de jogos e dos “hotéis e similares) cresceu 0,9 pontos percentuais, de 94,9% em 2017 para 95,8% em 2018.   Por outras palavras, a estrutura sectorial de Macau está a tornar-se cada vez mais uniforme e está a ser progressivamente afectada por factores externos. Quando todos os esforços e todos os recursos estão concentrados numa área única, pode deitar-se tudo a perder quando sobrevém uma crise.

Embora Hong Kong esteja actualmente submerso no caos, os problemas vieram à superfície todos de uma vez, o que realmente pode ser benéfico em termos futuros. As autoridades competentes deverão lidar com estas questões de forma correcta, que passará pela criação de um comité de investigação independente, por medidas que ponham fim à violência, pela substituição de altos funcionários inaptos e pela reabilitação da credibilidade do Governo. Acredito que desta forma a insatisfação da população irá desaparecendo e a tensão entre a polícia e os cidadãos também. Nessa altura, Hong Kong poderá ombrear com as maiores economias da Ásia. Quanto a Macau, poderá aproveitar a oportunidade apresentada pela mudança de Chefe do Executivo para solucionar os problemas de fundo, que se foram acumulando uns atrás dos outros ao longo 20 anos, e poderá evitar um possível desabamento sócio-económico.

Danielle da Silva, fundadora da ONG “Fotógrafos sem Fronteiras” | A vida em Sumatra 

Há exactamente dez anos a luso-descendente Danielle da Silva fundava em Toronto a “Fotógrafos sem Fronteiras” [Photographers without Borders (PWB), na sigla inglesa], uma organização não governamental que, através da fotografia e do storytelling, visa ajudar comunidades em todo o mundo nas mais diversas áreas de intervenção. Filha de mãe portuguesa e pai indiano, Danielle da Silva tem contado a história dos estragos causados a famílias, orangotangos e meio ambiente devido à extracção massiva do óleo de palma na ilha de Sumatra, na Indonésia

[dropcap]Q[/dropcap]uando criou a ONG “Fotógrafos sem Fronteiras”, em Toronto, o que tinha em mente?
Sempre estive ligada a projectos de desenvolvimento sustentável, e depois de ter trabalhado com grandes organizações como a ONU e respectivos parceiros, como é o caso do Programa Alimentar Mundial [World Food Bank], descobri que havia muitos problemas [na forma como os projectos eram desenvolvidos], com estrangeiros a direccionar a forma como o desenvolvimento é feito, sem sequer compreenderem a cultura e as pessoas, a religião e essas nuances das comunidades. Por essa razão, vemos que 80 por cento dos projectos falham, sobretudo aqueles que estão relacionados com a agricultura, mudanças climáticas ou direitos das mulheres. Estes projectos não têm sido bem sucedidos, mas há muito dinheiro investido. Queria trabalhar com pequenas ONG e já tinha tido alguma colaboração com elas, e foi aí que percebi o contraste face às ONG maiores e a forma como trabalhavam com as organizações comunitárias, e como lidavam com os problemas desde a sua origem. Percebi essas disparidades, e que as coisas não dependem apenas de quem tem o dinheiro, mas também de como as coisas funcionam de forma mais global. Fiz um projecto na Índia, não como fotógrafa, mas a distribuir medicamentos, e essa organização era liderada por indianos e também ajudava a comunidade a nível da educação.

DR

De que forma é que esse projecto na Índia influenciou a PWB?
Muitas vezes estas comunidades estão distantes das grandes cidades e quando as crianças são enviadas para as escolas deparam-se com a separação consoante as suas castas. Então o que esta organização fazia era levar as escolas para as comunidades, levar os professores para as aldeias a fim de resolver o problema, uma vez que havia um grau de iliteracia muito grande nestas comunidades. Vi o quão incrível isso era e tirei fotografias. Voltei à universidade e tentei explicar o que tinha visto. Comecei a mostrar as fotografias e as pessoas compreenderam, vi que a comunicação através da imagem era muito mais efectiva. Foi aí que percebi a importância do storytelling, porque era uma académica e explicava as coisas através de documentos, e tinha de ser credível. Mas através do storytelling havia uma grande ligação às emoções, com uma grande conexão às pessoas. Com essas imagens conseguir reunir dinheiro suficiente para essa organização criar mais nove escolas. Ao invés de pensar “deveria obter mais dinheiro para construir mais escolas”, decidi apostar no poder do storytelling e tentei criar esta ONG que poderia ajudar estas organizações através dessa vertente.

Esteve na Indonésia, na ilha de Sumatra, e lidou de perto com a problemática da destruição de florestas e do habitat natural dos orangotangos devido à extracção do óleo de palma. Que ambiente encontrou quando chegou à ilha?
A primeira vez que fui à Indonésia foi em Janeiro de 2015. No início estava como muitas pessoas, muito zangada com a questão da extracção do óleo de palma. Quando chegamos à Indonésia a primeira coisa que vemos são palmeiras e mais palmeiras. Ao início parece bonito, mas depois percebemos a quantidade de água que está a ser retirada e de como essa extracção está a destruir as florestas e o meio ambiente. Para mim o mais importante era a forma como essa extracção estava a afectar as pessoas. Na Indonésia, da perspectiva da preservação biológica e da conservação, não olham para as pessoas, mas sim para as florestas e a vida selvagem. Se virmos televisão, percebemos que os indonésios que estão ligados à extracção do óleo de palma dizem que é necessário fazer uma escolha, ou seja, preocupar-se com as pessoas ou com os orangotangos. Claro que a decisão vai para as pessoas. Percebi que as comunidades que vivem no meio das plantações de óleo de palma têm problemas com o acesso à água e não fazem muito dinheiro. Estas pessoas vivem rodeadas pela natureza, em pequenas aldeias, e não deveriam ter de comprar água. Se houver um boicote ao óleo de palma isso vai resultar na devastação destas famílias. Sumatra ainda enfrenta uma guerra civil ligada às províncias muçulmanas e existem ainda problemas a outro nível criados pela colonização. A última coisa que os locais precisam é que os estrangeiros lhes digam que a indústria do óleo de palma tem de ser alvo de um boicote. Os países estrangeiros que compram o óleo de palma contribuíram para a destruição de paisagens e tornaram-se ricos… o que eu gosto da organização local que está ligada a este projecto [Orangutan Information Center] é que não é liderada por estrangeiros ligados à área da conservação, mas é uma entidade gerida por locais que lutam muito por obter credibilidade e obter fundos. Tentam ajudar as pessoas ligadas à sua terra, levando-as a participar em acções de reflorestação e fazê-las ver que, dessa forma, a água regressa, e que também podem fazer dinheiro assim, que é a solução. Não é perfeita, mas é o que está a acontecer, o que é incrível.

Sente que mudou em muito a vida da comunidade com este projecto?
Os fotógrafos e outros expedicionários com os quais trabalhei reuniram dinheiro suficiente para preservar mais de 10 hectares de terreno, e também conseguimos mais atenção mundial de empresas, como é o caso da Lush [marca de sabonetes naturais], que se envolveu com o nosso trabalho e devido a essa parceria uma grande dimensão de palmeiras que tinham sido destruídas com a extracção do óleo de palma voltaram a ser plantadas. Neste momento o foco é juntar dinheiro, através das fotografias e do projecto de storytelling, para restaurar esses hectares destruídos. Eles fazem um trabalho sob vários ângulos e também é dada atenção aos orangotangos, a fim de encontrar pessoas que concedam patrocínios para apoiar estes animais. Temos uma longa parceria com esta entidade e o trabalho nunca está terminado.

Nesse projecto teve ligação com as autoridades locais?
Sempre, tudo o que fazemos tem de ser assim, porque na Indonésia a situação política é muito difícil. O advogado de uma das associações foi assassinado e há dois meses dois jornalistas foram assassinados por escreverem sobre a extracção do óleo de palma. É um lugar muito difícil para trabalhar se não cooperarmos.

Tem algum projecto pensado para a China?
Já estive na China, mas neste momento não temos nenhum projecto a decorrer no país porque a situação política é muito difícil. É perigoso e há poucas ONG na China com as quais possamos cooperar, e também mesmo que queiramos trabalhar com elas corremos o risco de ver projectos rejeitados ou sermos presos, ou não obtermos o visto de entrada no país. É difícil para os locais começarem novas ONG ou algum tipo de movimento a esse nível.

Ainda assim, quais são as problemáticas que considera mais prementes no país?
Sem dúvida a questão dos direitos humanos e as mudanças climáticas. Penso que estão interligadas. Teríamos de ter uma boa ONG local a trabalhar connosco, algo mais comunitário.

Danielle da Silva, fundadora da ONG “Fotógrafos sem Fronteiras” | A vida em Sumatra 

Há exactamente dez anos a luso-descendente Danielle da Silva fundava em Toronto a “Fotógrafos sem Fronteiras” [Photographers without Borders (PWB), na sigla inglesa], uma organização não governamental que, através da fotografia e do storytelling, visa ajudar comunidades em todo o mundo nas mais diversas áreas de intervenção. Filha de mãe portuguesa e pai indiano, Danielle da Silva tem contado a história dos estragos causados a famílias, orangotangos e meio ambiente devido à extracção massiva do óleo de palma na ilha de Sumatra, na Indonésia

[dropcap]Q[/dropcap]uando criou a ONG “Fotógrafos sem Fronteiras”, em Toronto, o que tinha em mente?
Sempre estive ligada a projectos de desenvolvimento sustentável, e depois de ter trabalhado com grandes organizações como a ONU e respectivos parceiros, como é o caso do Programa Alimentar Mundial [World Food Bank], descobri que havia muitos problemas [na forma como os projectos eram desenvolvidos], com estrangeiros a direccionar a forma como o desenvolvimento é feito, sem sequer compreenderem a cultura e as pessoas, a religião e essas nuances das comunidades. Por essa razão, vemos que 80 por cento dos projectos falham, sobretudo aqueles que estão relacionados com a agricultura, mudanças climáticas ou direitos das mulheres. Estes projectos não têm sido bem sucedidos, mas há muito dinheiro investido. Queria trabalhar com pequenas ONG e já tinha tido alguma colaboração com elas, e foi aí que percebi o contraste face às ONG maiores e a forma como trabalhavam com as organizações comunitárias, e como lidavam com os problemas desde a sua origem. Percebi essas disparidades, e que as coisas não dependem apenas de quem tem o dinheiro, mas também de como as coisas funcionam de forma mais global. Fiz um projecto na Índia, não como fotógrafa, mas a distribuir medicamentos, e essa organização era liderada por indianos e também ajudava a comunidade a nível da educação.

DR

De que forma é que esse projecto na Índia influenciou a PWB?
Muitas vezes estas comunidades estão distantes das grandes cidades e quando as crianças são enviadas para as escolas deparam-se com a separação consoante as suas castas. Então o que esta organização fazia era levar as escolas para as comunidades, levar os professores para as aldeias a fim de resolver o problema, uma vez que havia um grau de iliteracia muito grande nestas comunidades. Vi o quão incrível isso era e tirei fotografias. Voltei à universidade e tentei explicar o que tinha visto. Comecei a mostrar as fotografias e as pessoas compreenderam, vi que a comunicação através da imagem era muito mais efectiva. Foi aí que percebi a importância do storytelling, porque era uma académica e explicava as coisas através de documentos, e tinha de ser credível. Mas através do storytelling havia uma grande ligação às emoções, com uma grande conexão às pessoas. Com essas imagens conseguir reunir dinheiro suficiente para essa organização criar mais nove escolas. Ao invés de pensar “deveria obter mais dinheiro para construir mais escolas”, decidi apostar no poder do storytelling e tentei criar esta ONG que poderia ajudar estas organizações através dessa vertente.
Esteve na Indonésia, na ilha de Sumatra, e lidou de perto com a problemática da destruição de florestas e do habitat natural dos orangotangos devido à extracção do óleo de palma. Que ambiente encontrou quando chegou à ilha?
A primeira vez que fui à Indonésia foi em Janeiro de 2015. No início estava como muitas pessoas, muito zangada com a questão da extracção do óleo de palma. Quando chegamos à Indonésia a primeira coisa que vemos são palmeiras e mais palmeiras. Ao início parece bonito, mas depois percebemos a quantidade de água que está a ser retirada e de como essa extracção está a destruir as florestas e o meio ambiente. Para mim o mais importante era a forma como essa extracção estava a afectar as pessoas. Na Indonésia, da perspectiva da preservação biológica e da conservação, não olham para as pessoas, mas sim para as florestas e a vida selvagem. Se virmos televisão, percebemos que os indonésios que estão ligados à extracção do óleo de palma dizem que é necessário fazer uma escolha, ou seja, preocupar-se com as pessoas ou com os orangotangos. Claro que a decisão vai para as pessoas. Percebi que as comunidades que vivem no meio das plantações de óleo de palma têm problemas com o acesso à água e não fazem muito dinheiro. Estas pessoas vivem rodeadas pela natureza, em pequenas aldeias, e não deveriam ter de comprar água. Se houver um boicote ao óleo de palma isso vai resultar na devastação destas famílias. Sumatra ainda enfrenta uma guerra civil ligada às províncias muçulmanas e existem ainda problemas a outro nível criados pela colonização. A última coisa que os locais precisam é que os estrangeiros lhes digam que a indústria do óleo de palma tem de ser alvo de um boicote. Os países estrangeiros que compram o óleo de palma contribuíram para a destruição de paisagens e tornaram-se ricos… o que eu gosto da organização local que está ligada a este projecto [Orangutan Information Center] é que não é liderada por estrangeiros ligados à área da conservação, mas é uma entidade gerida por locais que lutam muito por obter credibilidade e obter fundos. Tentam ajudar as pessoas ligadas à sua terra, levando-as a participar em acções de reflorestação e fazê-las ver que, dessa forma, a água regressa, e que também podem fazer dinheiro assim, que é a solução. Não é perfeita, mas é o que está a acontecer, o que é incrível.
Sente que mudou em muito a vida da comunidade com este projecto?
Os fotógrafos e outros expedicionários com os quais trabalhei reuniram dinheiro suficiente para preservar mais de 10 hectares de terreno, e também conseguimos mais atenção mundial de empresas, como é o caso da Lush [marca de sabonetes naturais], que se envolveu com o nosso trabalho e devido a essa parceria uma grande dimensão de palmeiras que tinham sido destruídas com a extracção do óleo de palma voltaram a ser plantadas. Neste momento o foco é juntar dinheiro, através das fotografias e do projecto de storytelling, para restaurar esses hectares destruídos. Eles fazem um trabalho sob vários ângulos e também é dada atenção aos orangotangos, a fim de encontrar pessoas que concedam patrocínios para apoiar estes animais. Temos uma longa parceria com esta entidade e o trabalho nunca está terminado.
Nesse projecto teve ligação com as autoridades locais?
Sempre, tudo o que fazemos tem de ser assim, porque na Indonésia a situação política é muito difícil. O advogado de uma das associações foi assassinado e há dois meses dois jornalistas foram assassinados por escreverem sobre a extracção do óleo de palma. É um lugar muito difícil para trabalhar se não cooperarmos.
Tem algum projecto pensado para a China?
Já estive na China, mas neste momento não temos nenhum projecto a decorrer no país porque a situação política é muito difícil. É perigoso e há poucas ONG na China com as quais possamos cooperar, e também mesmo que queiramos trabalhar com elas corremos o risco de ver projectos rejeitados ou sermos presos, ou não obtermos o visto de entrada no país. É difícil para os locais começarem novas ONG ou algum tipo de movimento a esse nível.
Ainda assim, quais são as problemáticas que considera mais prementes no país?
Sem dúvida a questão dos direitos humanos e as mudanças climáticas. Penso que estão interligadas. Teríamos de ter uma boa ONG local a trabalhar connosco, algo mais comunitário.

Banca | CGD mostra vontade de financiar projectos em Macau

[dropcap]P[/dropcap]aulo Macedo, presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), grupo do qual faz parte do Banco Nacional Ultramarino (BNU) disse à TDM – Rádio Macau que a CGD está à procura de projectos em Macau que possa financiar. O gestor adiantou que “a CGD está com rácios de capital muito robustos, acima da média europeia, está com uma boa rentabilidade, está com liquidez significativa, e está com vontade de conceder crédito a bons projectos”.

Ainda assim, Paulo Macedo deixou claro que “[a CGD] não pode conceder crédito como por vezes aconteceu no passado, na crise financeira, em que depois vieram as perdas. Mas, claramente, está aberta para os negócios, aberta para aprovar os bons projectos. Não só para a aprovar, como ir à procura deles, incentivá-los e aprová-los”.

Paulo Macedo tem estado em Macau a reunir com autoridades locais, tendo acrescentando que o BNU pode vir a abrir mais agências nas cidades que fazem parte da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau ainda que essa aposta tenha de ser “bastante cautelosa e assegurando bom retorno”.

Numa entrevista concedida à Lusa em Maio deste ano, o presidente do BNU, Carlos Álvares, também falou da importância da Grande Baía para o posicionamento do banco. “O projecto da Grande Baía é um mar de oportunidades para quem quiser vir para Macau; um dos pilares é Macau ser o centro mundial de lazer, e o segundo é ser uma plataforma de negócios entre a China e os países de língua portuguesa”, disse.

Nesse sentido, Carlos Álvares adiantou que “o BNU pode ser um congregador de esforços e um potenciador de negócios entre Portugal e Macau e a China, e estamos investir bastante nisso; para além da proximidade que temos com o Fórum Macau, estamos a tentar fazer o mesmo com a AICEP e a agência de captação de investimento de língua portuguesa, para mostrar as oportunidades de negócio na Grande Baía”, acrescentou.