A constante de Galileu

[dropcap]P[/dropcap]ara dar um exemplo: Galileu seria hoje tão ou mais maltratado do que foi o seu tempo.

A insolência de Galileu foi irrestrita e profunda. Em primeiro lugar afrontou todo a saber dado como adquirido, seguro e insofismável. Convém não diminuir este desafio com a prosaica caricatura do cientista humilhado por autoridades presunçosas e prepotentes. É certo que a sabedoria vigente à época se cristalizara em dogmas e defendiam-na instituições estabelecidas como dominantes. Mas tal posicionamento fora ganho e consolidado ao longo de séculos de controvérsia, exposições e arguições, aperfeiçoamento conceptual, refinando os princípios e os corolários de um modelo sofisticado e satisfatório de conhecimento da realidade. Os adversários de Galileu não eram portanto uns tolos, mesmo que este nos seus diálogos – platónicos –, por puro desplante, tenha posto na boca de um Simplício as teses por eles esgrimidas.

Em segundo lugar a desfaçatez de Galileu foi ao ponto de pretender desbancar evidências empíricas. Mas que parvoíce é esta de desmentir o que se “vê claramente visto,” o que é verificável e mensurável – o Sol a descrever diariamente um arco no céu em torno da esfera terráquea?

Como pode alguém contradizer uma observação partilhada universalmente? Que falta de bom-senso…

O terceiro aspecto da insubordinação de Galileu é o mais abstruso e por conseguinte o mais ousado. Não faz sentido virar ao contrário a ordem do mundo, pretender impugnar a inteligência acumulada, a prática homologada, a cultura convencionada e o próprio senso-comum tão só com um argumento operacional.

Meu caro leitor, aqui chegados manda a prudência que te avise: doravante correrás o risco de te sentires insultado.

Vamos lá a ver: em nome de quê afirmas também tu que a Terra gira à volta do Sol?

Desfechar esta pergunta a meio de uma discussão garanto-te que é infalível em causar estupefacção no teu arguente, o qual é possível que replique: “está provado cientificamente.” Hás-de reparar que tal resposta, assim sem mais, coloca-o inapelavelmente ao lado dos antagonistas de Galileu, dos conformistas que aceitam com passividade caprina a informação corrente e comumente validada. Não passa de um acto de fé. Por isso incorre no equívoco maior de enterrar o debate no funesto lodaçal da crença. As conversas entre “acreditar” e “não acreditar” em matéria gnosiológica depressa desandam em teorias da conspiração – na medicina, na dietética, na agricultura, na economia, por exemplo, o obscurantismo tem ganho espantosa tracção – tão ridículas quanto indigentes, mas irredutíveis como é inerente às convicções.

Retorquir “está provado cientificamente”, sem demonstração e como se a certeza valesse por si, revela também falta de curiosidade, que é o germe do conhecimento. Não te incomoda aceitar como verdadeira uma explicação contrária aquilo que constatas? Se com tanta frequência recorres à experiência sensível para sustentar as tuas opiniões – “então não se está mesmo a ver que…?”, costumas dizer – porque diabo neste caso não confias no que os sentidos testemunham? Porque admites sem estranheza que deves desconfiar deles?

Recordo-te então que Galileu esteve em vias de lhe purificarem o espírito segundo o testado método da assadura das carnes porque afirmou o heliocentrismo como exacto pelo facto pueril e subsidiário de dar mais jeito às contas… Com Sol no centro calculava-se o movimento das estrelas com maior rigor, elegância, simplicidade e previsibilidade. E para aumentar o escândalo outra prova não apresentava senão a matemática. Com tão económico e transparente raciocínio, desanuviado de digressões especulativas, sem arrimo nos textos canónicos e despojado de tradição, não admira que se tivesse visto em palpos de aranha perante as doutorais e eclesiásticas autoridades.

Mas cabe também recordar que quotidianamente assumimos mais certezas infundadas do que julgamos, agarramo-nos demasiado a elas sem lhes perceber esse defeito, fiamo-nos sobremaneira no que é intuitivo, repugnamos o incómodo das ideias contra-intuitivas. Sobretudo temo-nos em demasia como esclarecidos no mesmo passo em que absorvemos os lugares-comuns proliferantes e daninhos que nos são incutidos pelo império da opinião.

Sim, ao cabo destes séculos os critérios de Galileu continuam a ser rotineiramente desprezados.

Uma obra-prima extraordinária

[dropcap]F[/dropcap]ez no dia 3 de Fevereiro 210 anos que nasceu o compositor, pianista e maestro alemão Felix Mendelssohn Bartholdy. Membro de uma família judia notável, mais tarde convertida ao cristianismo, Mendelssohn nasceu Jakob Ludwig Felix Mendelssohn Bartholdy em 1809 em Hamburgo, filho do banqueiro Abraham Mendelssohn e de Lea Salomon, e neto do filósofo judaico-alemão Moses Mendelssohn, crescendo num ambiente de intensa efervescência intelectual. As maiores mentes da Alemanha da época foram visitas frequentes da casa da sua família em Berlim, incluindo o filósofo, linguista e diplomata prussiano Wilhelm von Humboldt, fundador da Universidade Humboldt de Berlim, e o famoso geógrafo e explorador Alexander von Humboldt. A sua irmã Rebecca casou com o grande matemático belga Lejeune Dirichlet. O seu pai renunciou à religião judaica e a família mudou-se para Berlim em 1811, tentando dar a Felix, ao seu irmão Paul, e às suas irmãs Fanny e Rebeca, a melhor educação possível. Fanny tornou-se uma pianista e compositora conhecida.

Felix era considerado uma criança prodígio. Começou a ter lições de piano com a sua mãe aos seis anos, sendo depois orientado por Marie Bigot, em Paris. Mais tarde, em Berlim, todos as quatro crianças estudaram piano com Ludwig Berger, que tinha sido aluno do pianista e compositor Muzio Clementi.

A partir de 1817, estudou composição com Carl Friedrich Zelter em Berlim e começou a compor aos nove anos. Escreveu e publicou o seu primeiro trabalho, um quarteto com piano, aos treze anos. Mais tarde teve lições de piano com o compositor e virtuoso Ignaz Moscheles, confessando no seu diário que este tinha muito a ensinar-lhe. Moscheles foi um grande colega e amigo seu ao longo da vida.

Embora não se tivesse tornado o próximo Mozart, Mendelssohn possuía um comando da sintaxe musical apenas rivalizado pelo seu eminente predecessor e, na verdade, algumas das obras da sua juventude ultrapassam as do prodígio austríaco numa idade comparável. Infelizmente, naqueles primeiros anos, Mendelssohn sofreu o escárnio de críticos e académicos pedantes que confundiram a sua graça sem esforço com mera extravagância e recusaram levar a sério as suas obras. Mesmo no séc. XX, pensava-se seriamente que faltava substância à música de Mendelssohn porque este tinha sido uma criança privilegiada. No entanto, da sua juventude emergiram duas obras-primas extraordinárias: o Concerto para Violino, Piano e Orquestra de Cordas em Ré menor, MWV 04 e o Concerto para Dois Pianos e Orquestra em Mi Maior, MWV 05, ambos produtos do génio de um adolescente de apenas 14 anos, e atingindo ambos níveis de genialidade a que a maior parte dos compositores não chegam em toda a sua vida. Além destas obras, aos 14 anos, tinha também já composto o Largo e Allegro em Ré menor para Piano e Cordas, MWV O1, o Concerto para Piano em Lá menor, MWV O2, e o Concerto para Violino em Ré menor, MWV O3.

O Concerto para Dois Pianos e Orquestra em Mi Maior, MWV 05 exibe um equilíbrio inquietante entre os instrumentos de forma a que estes parecem combinar-se na perfeição mas não sem ser imediatamente óbvio que um instrumento apenas não poderia executar a obra sozinho. Elaborada como uma prenda de aniversário para a sua igualmente musicalmente precoce irmã, Fanny, a peça foi estreada pelos dois no seu aniversário, no dia 14 de Novembro de 1824. Dada a sua envergadura e dificuldade, é evidente que ambos eram executantes virtuosos para além das suas vocações criativas. Convencionalmente arranjado em três andamentos, o concerto abre com uma veia clássica e pura expressa numa introdução alargada, que Mozart podia ter escrito. Os pianos entram, um de cada vez, e segue-se um diálogo espirituoso. Mas depressa se torna evidente que Mendelssohn atravessa a linha para o Romantismo. Temas arrebatadores e surpresas cromáticas surgem e cadências surpresa e mudanças de atmosfera abundam. Em todo o andamento, os dois pianos são parceiros iguais – prova do respeito de Felix pela capacidade da sua irmã. O andamento termina com uma robusta coda que poderia ser o finale de uma obra menor. O segundo andamento é um adagio insuperavelmente elegante e Mendelssohn mais uma vez dá à orquestra o privilégio de abrir com um prelúdio extenso antes dos pianos entrarem, mais uma vez, um de cada vez, apresentando um tema hesitante, mas encantador. O andamento termina com uma longa passagem de maravilhosas tercinas de ambos os pianos de encontro a uma melodia suave e simples nas cordas. É um contraponto perfeito mas de longe demasiado inspirado para ser um mero exercício. No finale, os pianos anunciam-se eles próprios com um diálogo palpitante e o andamento rebenta num grande furacão sinfónico com ambos os pianos a serpentearem sem esforço através dele. Mendelssohn cria tensão e drama com êxito através de um motivo ascendente em ambos os solistas e na orquestra e a obra finalmente guina para uma espantosa coda plena de arrepiante pirotecnia pianística e uma conclusão abrupta. O concerto é maduro, grandioso, e convincente e em todos as acepções um verdadeiro concerto para piano Romântico.

O facto de se tratar da obra de um adolescente torna-o assombroso. O Concerto, obviamente inspirado no Duplo Concerto, K. 365 de Mozart, e provavelmente inspirado pelo novo amigo de Mendelssohn, Ignaz Moscheles, mostra também como Mendessohn tinha absorvido Weber, Hummel e Field. Considerada imatura pelo próprio Mendelssohn, a obra foi posta de lado e não foi publicada, permanecendo na forma de manuscrito até 1961, quando a Leipziger Ausgabe der Werke Felix Mendelssohn Bartholdy publicou uma versão substancialmente revista por Mendelssohn e editada por Karl-Heinz Köhler. Nesta partitura, Mendelssohn lida com questões como o papel do virtuosismo, o design harmónico e as relações temáticas entre os instrumentos tutti e os solistas. A edição presente oferece um olhar sobre um ponto crucial na evolução do género concerto por um dos compositores mais importantes que escreveu para o género no início do séc. XIX.

*Sugestão de audição da obra:

Katia e Marielle Labèque, piano
Philharmonia Orchestra, Semyon Bychkov – Philips, 1990</strong<

Automobilismo | Piloto brasileiro à conquista da Ásia

[dropcap]O[/dropcap] Brasil goza de uma enorme tradição no desporto motorizado. Apelidos como Senna, Piquet ou Fittipaldi vão muito para além da esfera do próprio desporto. Não é estranho ver a bandeira brasileira nos autódromos por este mundo fora, mas curiosamente, essa presença neste ponto do globo é praticamente escassa e só não é nula porque um jovem, que um dia ficou conhecido na sua terra Natal por vender porta a porta cupões do seu patrocinador para ajudar a financiar a sua temporada desportiva, decidiu regressar aonde já foi feliz.

Bruno Carneiro, de 19 anos, decidiu apostar no continente asiático para prosseguir a sua carreira no automobilismo. Residente em Utah, nos EUA, Bruno Carneiro até nem é um novato nestas paragens. Em 2016 tornou-se o primeiro e único piloto brasileiro a vencer um campeonato de automobilismo na China.

A aventura asiática começou em 2015. “Os novos donos da pista Utah viram o meu sucesso, ao ter sido o campeão regional de monolugares em Utah, e convidaram-me para fazer a última etapa do Campeonato FIA da China de Fórmula 4 em Zhuhai. Depois de um pódio no meu primeiro fim-de-semana, viram que tinha potencial para vencer o campeonato e voltei para a temporada de 2016.

Acabamos vencendo o campeonato”, explica o jovem natural de São Paulo.

Depois de ter passado pelo Campeonato Japonês de Fórmula 3, onde terminou em 11º lugar em 2017, Bruno Carneiro fez apenas o primeiro evento de 2018 do mesmo campeonato, não tendo conseguido reunir os apoios necessários para continuar a competir no país do sol nascente.

Contudo, as relações que soube fomentar no sudeste asiático abriram-lhe novamente as portas para o continente.

“Graças às amizades e conexões que fui criando surgiu a oportunidade de trabalhar junto com a equipa Asia Racing Team (ART) no Campeonato de Asiático de Fórmula Renault e aqui estou novamente”, afirma o piloto que na prova de abertura de temporada, realizada no passado fim-de-semana no Circuito Internacional de Zhuhai, subiu ao pódio, após ter sido segundo classificado na primeira corrida.

Nova oportunidade

Sem grandes alternativas para prosseguir a sua carreira nos EUA ou de regressar ao Japão por agora, o jovem brasileiro encontrou na equipa fundada em Macau em 2003 uma nova oportunidade para relançar a sua carreira.

“Acho que correr no asiático de Fórmula Renault pode trazer-me muitas e novas oportunidades, ainda para mais junto com uma equipa que nem a ART, que tem muito sucesso relacionado”, realça Carneiro que pode ser o terceiro piloto lusófono a ter motivos para celebrar com a equipa por onde passaram os ex-pilotos de F1 Kamui Kobayashi ou Rio Haryanto.

O piloto português Rodolfo Ávila, agora ‘Team Manager’ da ART, foi vice-campeão asiático de Fórmula Renault em 2004 e o angolano, também ele residente em Macau, Luís Sá Silva, foi vice-campeão em 2009 defendendo as mesmas cores.

Por outro lado, “com um carro tão bom que nem o Fórmula Renault 2.0/13 é fácil mostrar o nosso valor e isso pode abrir portas no futuro, além de fortes resultados serem bons para colocar no currículo”.

Sonhar com Macau

Como qualquer piloto da sua idade, Bruno Carneiro também sonha um dia correr no Grande Prémio de Macau de Fórmula 3. “Que sonho que é…”, reconhece. “Eu fui visitar a prova em 2016 e assistir à corrida de F3! É incrível e um sonho, sem dúvida.”

O objectivo este ano é mesmo tentar vencer o ceptro do asiático de Fórmula Renault, o que lhe poderá servir de rampa de lançamento para voos mais altos, mas, por agora, “vamos ver o que o futuro traz e se realmente aparece a oportunidade de poder correr num lugar tão histórico e incrível como o Circuito da Guia.” E como diria o poeta, o “sonho comanda a vida”…

Art Basel | Brasil é o único país lusófono representado na feira de arte em Hong Kong

Decorre este fim-de-semana a maior feira de arte contemporânea da Ásia. A edição da Art Basel de Hong Kong vai mostrar as obras de quatro galerias do Brasil, sem esquecer “Wave” de Ai Weiwei e de uma instalação ‘lunar’ assinada por Laurie Anderson e Hsin-Chien Huang

 

[dropcap]M[/dropcap]ilhares de artistas e centenas de galerias internacionais, incluindo do Brasil, voltam a reunir-se este fim de semana em Hong Kong para mais uma edição da Art Basel, a maior feira de arte contemporânea na Ásia. O certame assume-se como o ‘centro’ do panorama artístico do continente e uma “plataforma de luxo” para artistas e galerias de renome.

Entre 29 e 31 de Março, a sétima edição da Art Basel Hong Kong (ABHK) apresenta ao público trabalhos expostos por 242 galerias, entre as quais 21 estreantes, provenientes de 36 países e territórios.

Do espaço lusófono, o Brasil é o único país representado, através de quatro galerias com presença em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Em Hong Kong pela terceira vez, a galeria Bergamin & Gomide tem “expectativas bastante positivas em relação a esta edição da feira”, disse à Lusa Bárbara Tavares, da equipa de Exposições e Projectos Especiais. “Acreditamos que a Art Basel Hong Kong é uma óptima oportunidade para apresentarmos o programa da Bergamin & Gomide ao mercado asiático”, sublinhou.

A galeria paulista traz a este lado do mundo “uma selecção dos mais importantes artistas brasileiros do período pós-Guerra”, criando “um rico diálogo entre as obras exibidas”. “Nesta edição apresentamos uma cuidadosa selecção de trabalhos do período pós-Guerra, de um total de 12 artistas, dentre eles Mira Schendel, Cildo Meireles, Rivane Neuenschwander, Jac Leirner e Amadeo Luciano Lorenzato”, disse Tavares.

A Bergamin & Gomide já é uma presença assídua em Miami, desde 2014, e Basileia, desde 2016. Além da galeria paulista, viajam para Hong Kong as galerias Mendes Wood DM, Fortes D’Aloia & Gabriel (com escritório em Lisboa) e a Nara Roesler.

Outro dos destaques da edição deste ano da Art Basel de Hong Kong é a presença da obra “Wave”, de Ai Weiwei, datada de 2015, trazida para a região vizinha por uma das mais importantes galerias de arte do mundo, a Lisson Gallery.

A escultura, que mostra uma onda feita de porcelana, foi feita em parceria com artesãos de Jingdezhen, o mais importante centro de produção de porcelana da China. A imagem da onda é inspirada na pintura em madeira “Under de Wave off Kanagawa (The Great Wave)”, de Katsushika Hokusai, artista japonês que viveu entre os anos de 1769 e 1849.

A presença de Laurie

Em 2013, a Art Basel alargou a oferta ao mercado asiático, na sequência dos eventos anuais em Basileia (Suíça) e Miami (EUA), o que colocou Hong Kong no circuito e levou a uma expansão da faceta de centro internacional de arte da antiga colónia britânica.

Apesar de chamar “várias galerias ocidentais”, com destaque para as de Nova Iorque, Paris e Berlim, a Art Basel de Hong Kong reforçou nesta edição “o compromisso contínuo de mostrar a arte excepcional da Ásia e da Ásia-Pacífico”, de acordo com a página oficial do evento. Como tal, mais de metade das galerias participantes têm espaços de exposição nesta região.

“Mais uma vez, Hong Kong estará representado na feira com 25 galerias. Ao mesmo tempo, galerias da Austrália, da Índia, da Japão, da Coreia do Sul, da China continental e de Taiwan continuam a ter forte presença”, indicou a organização. Pintura, escultura, desenhos, instalações, fotografia, vídeo e obras digitais são algumas das expressões artísticas patentes nesta edição, a maior desde 2013.

“To the Moon”, uma colaboração entre a artista norte-americana Laurie Anderson e o artista de Taiwan Hsin-Chien Huang, é um dos destaques desta edição, que se apresenta como uma “instalação imersiva” e permite aos visitantes “voarem pela superfície da Lua e perderem-se no seu terreno montanhoso”, segundo um comunicado da VIVE Arts. O trabalho de 15 minutos comemora o 50.º aniversário da missão Apollo 11, que levou os primeiros homens a pisar solo lunar, e é produzido pelo HTC VIVE Arts, parceiro oficial da Art Basel na área da realidade virtual. No ano passado, 80 mil pessoas visitaram a feira, de acordo com dados oficiais.

China | Redução até Junho de sectores interditos ao investimento estrangeiro

[dropcap]O[/dropcap] primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, disse ontem que, até ao final de Junho, a China reduzirá o número de sectores interditos ao investimento estrangeiro, conhecido como “lista negativa”, avançou a agência noticiosa oficial Xinhua.

Na cerimónia de abertura do fórum Boao, conhecido como “Davos asiático”, Li garantiu ainda que não serão acrescentadas indústrias àquela lista.

O primeiro-ministro prometeu maior abertura nos sectores de serviços, telecomunicações, saúde e educação, ou financeiro, incluindo bancos, seguradoras e instituições.

Em relação à recém-adoptada nova lei para o investimento estrangeiro, que entra em vigor no início de 2020, o primeiro-ministro chinês afirmou que as autoridades já estão a rever todas as regulamentações que contrariem as novas directrizes.

“A China trata as empresas nacionais e estrangeiras de forma justa e protege os direitos e interesses de todos os tipos de empresas”, disse Li Keqiang, lembrando que as transferências forçadas de tecnologia “não são permitidas”, de acordo com a nova legislação.

O texto final da lei foi aprovado este mês, durante a sessão anual da Assembleia Popular Nacional, com o apoio de 99,5 por cento dos cerca de 3.000 delegados.

As autoridades só poderão restringir o acesso ao mercado doméstico, de firmas estrangeiras, “em circunstâncias especiais” ou que envolvam o “interesse público”, indicou na altura a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua.

Futuro incerto

Os governos locais vão deixar também de poder confiscar propriedade estrangeira, sem que o processo passe pelas instâncias judiciais.

Quanto à desaceleração da economia chinesa, que cresceu 6,6 por cento no ano passado, Li ressaltou que o Governo já adoptou “medidas importantes”, que trouxeram resultados “positivos” para a estabilização do crescimento.

No entanto, o primeiro-ministro admitiu que a instabilidade económica e incerteza estão a “crescer consideravelmente”, com riscos exteriores “em expansão”, o que poderá acarretar um certo nível de “volatilidade” para o crescimento mensal e trimestral do país asiático.

Segundo o Gabinete Nacional de Estatísticas chinês, a taxa de desemprego do país subiu para 5,3% por cento, entre Janeiro e Fevereiro, depois de ter encerrado o ano passado nos 4,9 por cento.

Os lucros da indústria na China registaram uma queda homóloga de 14 por cento, em Janeiro e Fevereiro, acompanhando a tendência registada noutros indicadores económicos do país.

O discurso de Li coincide com o início de uma nova ronda de negociações, em Pequim, entre a China e os Estados Unidos, visando pôr fim às disputas comerciais que ameaçam a economia mundial.

Direitos humanos | Detida advogada Wang Yu

[dropcap]A[/dropcap] advogada chinesa de direitos humanos Wang Yu foi detida pela polícia em frente à embaixada dos Estados Unidos, em Pequim, depois de se recusar a mostrar documentos de identificação, informou ontem um jornal de Hong Kong.

A detenção, na quarta-feira, foi confirmada ao South China Morning Post (SCMP) pelo marido da advogada, Bao Longjun, e pelo seu amigo Tang Zhishun, um activista pelos direitos de propriedade, que acompanhou Wang num seminário realizado na embaixada norte-americana.

Segundo Tang, os dois foram abordados pela polícia chinesa, fora da embaixada, e Wang afirmou não trazer consigo o seu bilhete de identidade.

“A polícia algemou-a e levou-a para a esquadra, arrastando-a para um carro”, disse Tang, citado pelo SCMP.

Funcionários da embaixada tentaram convencer as autoridades chinesas a deixar Wang entrar no edifício, mas a polícia prosseguiu com a detenção, detalhou.

Wang é uma de mais de 300 advogados e activistas que foram detidos, em 2015, parte de uma campanha repressiva lançada pelo Governo chinês contra defensores dos direitos humanos no país.

A advogada foi libertada sob fiança um ano depois, e desde então permanece sob controlo policial.

O marido de Wang foi notificado que a advogada desta vez foi detida por “obstruir a administração do Governo”, embora tanto ele como a sua mulher estejam convencidos de que a prisão ocorreu devido ao seu percurso como defensora de direitos humanos.

Wang expressou recentemente preocupação com os processos judiciais de outros advogados e activistas chineses, incluindo Wang Quanzhang, que foi condenado a 4 anos e meio de prisão por “subversão contra o poder do Estado”.

Época aberta

No ano passado, Wang disse ao SCMP que concordou em fazer uma confissão forçada na televisão estatal CCTV – prática comum na justiça chinesa – depois de as autoridades ameaçarem proibi-la de ver o seu filho.

Esta semana, a organização não-governamental, Chinese Human Rights Defenders (CHRD) denunciou um aumento das detenções nos dias seguintes ao encerramento da revisão periódica da situação dos direitos humanos realizada pela ONU, em meados de Março.

“O momento das detenções indica que as autoridades esperaram até ao fim do escrutínio público nas Nações Unidas para iniciar uma severa repressão”, disse a organização, em comunicado.

Grande Baía | Macau e Hong Kong apostam na eficiência energética

[dropcap]O[/dropcap]s responsáveis pelo ambiente e energia de Macau e de Hong Kong expressaram ontem a vontade de apostar na eficiência energética para contribuir para a nova metrópole mundial ‘eco-responsável’ que a China está a construir.

Produção de ‘energia limpa’, com reduzida emissão de carbono, e a eficiência energética foram apresentadas como ‘receitas’ e contribuições para o projecto de criação da Grande Baía.

“Queremos construir uma cidade inteligente (…) e estamos a investir em iluminação inteligente”, afirmou o coordenador do gabinete de Desenvolvimento do Sector Energético da RAEM.

Hoi Chi Leong ilustrou a vontade do Governo no novo paradigma energético com a instalação de mais 200 postos de abastecimento para viaturas eléctricas no território.

O secretário do Ambiente do Governo de Hong Kong também destacou, na mesma sessão, o esforço daquele território de reduzir as emissões de CO2, de apostar na ‘energia limpa’ e na eficiência energética. Wong Kam-Sing afirmou que “nos últimos seis anos registou-se uma redução em 30 por cento da poluição atmosférica” e que Hong Kong tem como objectivo diminuir até ao final do próximo ano de seis para 4,5 toneladas a produção de lixo ‘per capita’, para ilustrar a responsabilidade e potencial de contribuição ambiental do território no projecto da Grande Baía.

MIECF | Governo promete sete medidas ambientais para melhorar cidade

Sónia Chan disse que o Governo irá reforçar “a educação ecológica, fomentando o uso da energia verde”, estabelecer “um mecanismo de tratamento integrado de fontes móveis de poluição” e implementar a medida do poluidor-pagador”. A Chefe do Executivo interina discursou perante o ministro da Ciência e Tecnologia da China

 

[dropcap]A[/dropcap]rrancou ontem o Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau (MIECF, na sigla inglesa). Na sessão de abertura, a secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan prometeu sete medidas ambientais para melhorar a qualidade de vida em Macau. A saber: educação ecológica e a promoção do uso de energias ‘verdes’, o tratamento integrado de fontes móveis de poluição, a implementação do princípio poluidor-pagador, redução do uso de plástico, construção de infra-estruturas ecológicas e criação de mais espaço verdes e de lazer.

Numa toada diferente, António Trindade, presidente da CESL Asia, recordou que Macau lança ao rio cerca de metade do esgoto, sem tratamento, num volume equivalente a 31 piscinas olímpicas diariamente. Em declarações à Rádio Macau, António Trindade comentou a situação catastrófica ao nível da poluição marinha. “Não podemos dizer que nos próximos cinco a dez anos, da maneira como o Governo está a lidar com a situação, não vai haver melhorias. Existem estudos feitos, o Governo e as pessoas sabem, é catastrófico o que está a acontecer. O impacto ambiental na zona marinha, os lodos que estão depositados vão ter um impacto na qualidade das águas de Macau por muitas décadas”, comentou à Rádio Macau.

Sónia Chan, a cumprir funções de Chefe do Executivo interina devido ao facto de Chui Sai On estar fora de Macau, garantiu ainda que “ao mesmo tempo, irá proceder-se também à recuperação do ambiente das colinas e à intensificação da cooperação ambiental regional, explorando mais oportunidades de desenvolvimento para a indústria de protecção ambiental, avançando na concretização da visão de ‘transformar Macau num centro de baixo carbono, criar em conjunto uma vida ecológica’, contribuindo para o desenvolvimento sustentável da cidade.

Com estas acções, a intenção é “manter o equilíbrio entre preservação e desenvolvimento”, resumiu Sónia Chan.

“A protecção ambiental não distingue entre grupos étnicos, enquanto a ecologia não tem fronteiras nacionais. Proteger o meio ambiente e beneficiar o futuro são as responsabilidades de cada um de nós”, sublinhou.

Abertura de Pequim

Sónia Chan discursou na abertura do MIECF perante o ministro da Ciência e Tecnologia da China e vários dirigentes chineses da Comissão para o Desenvolvimento e Reforma, do Ministério da Indústria e Tecnologias de Informação, do Ministério da Ecologia e Ambiente.

Por sua vez, o ministro da Ciência e Tecnologia da China manifestou a “total abertura” de Pequim para partilhar com o mundo as descobertas chinesas na área da economia verde, “para contribuir para o bem comum da Humanidade”.

A China “dá grande importância ao desenvolvimento da economia verde” e expressa a sua “total abertura para partilhar os resultados das suas experiências (…) e investigação nesta área”, afirmou Wang Zhigang.

Zhigang sublinhou a agenda chinesa no combate às alterações climáticas, defendendo que a China é neste momento um “participante e um líder do desenvolvimento sustentável no mundo” e que é da responsabilidade da “comunidade global” investir na tecnologia e inovação (…) para gerar novas indústrias ligadas à economia verde”.

Por outro lado, o ministro sustentou que “a inovação é o motor do desenvolvimento sustentável”, uma ideia reforçada em vários discursos de dirigentes chineses no MIECF, em Macau, que destacaram a aposta e os progressos obtidos pelo país, tanto no combate à poluição, como nas áreas de produção de energia limpa e de eficiência energética.

Guerra verde

Em Novembro do ano passado, a agência de notação financeira Stardard & Poor’s (S&P) afirmou num relatório que a China vai obter “benefícios consideráveis”, caso execute os seus planos para um desenvolvimento da economia verde.

Na esfera internacional, a China poderá tornar-se um “líder na acção climática”, devido às políticas e à postura da actual Administração norte-americana, liderada por Donald Trump, considerou a agência, sugerindo “uma transformação global, que poderá alterar a situação geopolítica”, à medida que vários países “reorientam as economias para um desenvolvimento sustentável e com baixa emissão de carbono”.

A China é o maior emissor mundial de gases com efeito de estufa, seguida pelos Estados Unidos, o principal consumidor de carvão e o segundo maior consumidor de petróleo.

O MIECF acolhe até sábado mais de 500 expositores, provenientes de cerca de 20 países e regiões.
As sessões integram oradores de cerca de 70 pioneiros ambientais, líderes de empresas multinacionais e criadores de políticas, provenientes de sete países e regiões, nomeadamente, da China interior, Holanda, Portugal, Timor-Leste, Reino Unido, Hong Kong e Macau. O MIECF 2019 ocupa uma área total de exposição de mais de 16.900 metros quadrados.

CPTTM | Lionel Leong exige melhorias depois de relatório do CCAC

[dropcap]O[/dropcap] secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, reagiu ontem ao relatório do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), nomeadamente ao sistema arbitrário de contratações e pagamento de salários no Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau (CPTTM).

Citado por um comunicado oficial, Lionel Leong referiu que, “independentemente de se tratar de um serviço público ou entidades públicas, como o CPTTM, a sociedade espera que o processo de recrutamento e promoção seja justo, imparcial e transparente”.

O CPTTM terá agora de entregar um relatório de análise aos “processos de recrutamento para clarificar se, em situação de conflito de interesses, houve algum pedido de escusa”. Nesse sentido, o secretário “espera que o CPTTM siga os conselhos e sugestões apresentados no relatório do CCAC” e “aperfeiçoar, progressivamente, o regime de recrutamento e promoção”.

Lionel Leong explicou ainda que a direcção do CPTTM foi avisada em Novembro do ano passado das sugestões do CCAC, tendo “ele próprio exigiu àquele organismo que tomasse as devidas medidas para melhorar e corrigir a situação, devendo integrar, especialmente, no estatuto de pessoal o regime de impedimento”.

Vacina contra o sarampo só através de marcação

Desde ontem foram diagnosticados mais três casos de sarampo, um deles contraído por outro enfermeiro do Hospital Kiang Wu, elevando para 26 os números de infectados este ano. A corrida às vacinas está a causar impacto no funcionamento dos centros e postos de saúde ao ponto de terem passado, desde ontem, a ser administradas apenas por marcação

 

[dropcap]A[/dropcap] propagação do sarampo continuar em Macau e Hong Kong. Apesar dos alertas, as autoridades tentam ao máximo evitar o alarme social. Ainda assim, “a emergente situação epidémica de casos de sarampo nas regiões vizinhas e o aumento de casos em Macau fez afluir, nos últimos dias, aos Centros de Saúde, centenas de pessoas à procura de vacinas”, referem os Serviços de Saúde de Macau (SSM).

Devido à corrida à vacinação, e à subsequente dificuldade dos postos de saúde para lidar com a afluência de utentes, os SSM estabeleceram que a partir das 8h30 de ontem “o acesso à vacina contra o sarampo só será possível através de marcação – pessoalmente ou por via telefónica”. A medida visa manter o funcionamento normal dos centros de saúde.

Crianças com menos de 2 anos de idade, pessoal de creches e profissionais de saúde estão isentos de marcação, sendo exigidos às duas últimas categorias exibição de cartão de funcionário ou documento comprovativo da profissão.

Nos últimos dias, mais de oito centenas de utentes deslocaram-se aos postos de saúde para serem imunizados contra o sarampo, um número anormal face à procura habitual de 30, o que representa um aumento de 25 vezes. A “procura causou um forte impacto no regular funcionamento dos Centros e postos de Saúde”, demorando a aplicação da vacina mais tempo que o habitual.

Ida a casa

De forma a responder à procura, os SSM “aumentaram a encomenda de vacinas contra o sarampo, rubéola e parotidite epidémica para 15.000 doses, o primeiro lote de 5.400 doses chegará na próxima semana”, referem os serviços em comunicado.

Entretanto, ontem, os SSM revelaram mais três casos diagnosticados de sarampo importado. Um deles referente a uma trabalhadora não residente, natural das Filipinas, que trabalha num restaurante. No domingo passado, a doente manifestou os primeiros sintomas (febre e tosse) e passados dois dias começaram as erupções cutâneas. Na sequência do quadro clínico, a doente deslocou-se ao Centro Hospitalar Conde de São Januário, onde lhe foi diagnosticado sarampo, encontrando-se em isolamento no Centro Clínico da Saúde Pública.

A trabalhadora não residente esteve nas Filipinas entre 6 de Janeiro e 15 de Março e regressou a Macau no dia 16 e alegou ter sido vacinada no país de origem.

De acordo com os SSM, as pessoas que moram com a paciente não apresentaram sintomas semelhantes. A paciente esteve a trabalhar mesmo após ter tido sintomas de febre. Os Serviços de Saúde estão a monitorizar o estado de saúde das pessoas que foram expostas a esta paciente durante a fase inicial da doença.

Vírus formoso

O outro novo caso de sarampo incidiu sobre um residente de Macau, enfermeiro no Hospital Kiang Wu. De acordo com comunicado dos SSM, o paciente terá visitado Taiwan, entre 3 e 9 de Março, onde acompanhou um amigo numa consulta médica.

Após a manifestações dos sintomas do sarampo, o doente recorreu aos serviços do Kiang Wu, onde é enfermeiro e, de momento, encontra-se igualmente em isolamento no Centro Clínico da Saúde Pública. Apesar de ter sido vacinado, o residente contraiu a doenças, mas a febre desapareceu e o seu estado clínico é considerado normal.

O terceiro caso diz respeito a um homem de 28 anos, treinador de futebol americano, que esteve em contacto com um dos infectados no Hospital Kiang Wu, no dia 6 de Março.

Até agora, dos 26 casos de pessoas diagnosticadas com sarampo em Macau 15 já tiveram alta.
Em Hong Kong, os casos de sarampo chegaram ontem às três dezenas, afectando particularmente trabalhadores de companhias aéreas e do aeroporto.

Subsídio complementar aos rendimentos do trabalho prorrogado por um ano

[dropcap]O[/dropcap]s residentes permanentes com ordenados inferiores a 5.000 patacas vão continuar a receber o subsídio complementar aos rendimentos do trabalho. O tecto mantém-se inalterado há cinco anos. O anúncio foi feito ontem pelo Conselho Executivo, que concluiu a apreciação do projecto de regulamento administrativo que prolonga, por um ano, a duração do apoio, cujos efeitos retroagem a 1 de Janeiro.

Lançado em 2008, a título provisório, o subsídio destina-se aos residentes permanentes que auferem rendimentos inferiores a esse tecto, dado que o valor da subvenção serve para colmatar a diferença. Ao abrigo do programa, são elegíveis os residentes permanentes com idade igual ou superior a 40 anos que tenham trabalhado um mínimo de 152 horas por mês. Excepção feita aos que exerçam actividade na indústria têxtil, do vestuário e do couro, onde são exigidas menos horas (128 por mês).

Segundo o porta-voz do Conselho Executivo, o Governo estima gastar 13 milhões de patacas com a medida em 2019. No entanto, como ressalvou Leong Heng Teng, “a experiência dos anos anteriores” demonstra que os encargos efectivos nunca atingem o valor orçamentado. A título de exemplo, nos últimos dois anos, as despesas anuais com o subsídio complementar aos residentes foram de entre seis e sete milhões de patacas.

Encargos que diminuíram significativamente devido à queda do número de requerentes, atribuída à entrada em vigor do salário mínimo para empregados de limpeza e seguranças dos condomínios. Como apontou o porta-voz do Conselho Executivo, o número de pedidos apresentados por trimestre ascendia a mil antes de 1 de Janeiro de 2016, isto quando actualmente fica pouco acima de 200.

RAEM 20 anos | Autorizada emissão de 10 milhões de notas comemorativas de 20 patacas

[dropcap]P[/dropcap]ara assinalar o 20.º aniversário da transferência de soberania, vão ser emitidas até 10 milhões de notas comemorativas de 20 patacas. Segundo o projecto de regulamento administrativo, a que o Conselho Executivo deu luz verde, os dois bancos emissor (BNU e Banco da China) podem emitir, cada um, até um máximo de 5 milhões de notas.

O registo para a “troca” de notas ‘normais’ de 20 patacas pelas comemorativas, vai ter início no segundo semestre, adiantou o porta-voz do Conselho Executivo. Segundo Leong Heng Teng, cada residente poderá requerer um máximo de cinco notas.

A frente das notas, tem como ilustração principal um desenho da escultura “Flor de Lótus Desabrochada”, acompanhada pela figura do edifício do banco emissor correspondente. Já no verso surge em destaque uma imagem da torre “nó chinês” da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau e, em pano de fundo, uma imagem composta pela arquitectura do Centro Histórico.

Apresentada proposta para certificação de diamantes em bruto

[dropcap]U[/dropcap]ma plataforma para o comércio de diamantes em bruto. Eis a nova aposta de Macau que espera ter em vigor, a 1 de Outubro, o sistema de certificação do processo de Kimberley. O diploma, que fixa os requisitos para o exercício da actividade de importação ou exportação, prevê multas de até 5 milhões de patacas

Segue agora para a Assembleia Legislativa a proposta de lei relativa à aplicação do sistema de certificação do processo de Kimberley. Os principais contornos do diploma, que vai permitir a Macau entrar no comércio internacional de diamantes em bruto, foram apresentados ontem pelo porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng.

Implementado a 1 de Janeiro de 2003, o processo Kimberley tem como objectivo determinar a origem de diamantes e evitar a transacção de pedras preciosas procedentes de áreas de conflitos, conhecidos como “diamantes de sangue”. Actualmente, conta com 55 membros, incluindo a China, responsáveis por mais de 99 por cento do comércio internacional de diamante. A proposta de lei vem assim efectivar o acordo para aderir ao processo de Kimberley, firmado em Outubro, em Pequim, pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong.

O diploma fixa os requisitos para o exercício da actividade de importação, exportação, trânsito, compra, venda ou transporte de diamantes em bruto na RAEM, a qual apenas pode ser desempenhada por operadores titulares da licença para o efeito. Quem pretender importar ou exportar diamantes em bruto tem de ser titular de um certificado: no primeiro caso emitido pela autoridade competente da procedência e no segundo expedido pela Direcção dos Serviços de Economia (DSE). É de resto à DSE que compete fiscalizar o cumprimento do diploma e verificar os diamantes em bruto, a par com os Serviços de Alfândega.

Multas até 5 milhões

O diploma, que tem data de entrada em vigor prevista para 1 de Outubro, estabelece também um regime sancionatório, estipulando multas de até 5 milhões de patacas pelo incumprimento das normas, como a falta de licença. Quem violar os deveres pode ficar ainda impossibilitado de obter nova licença por um prazo de dois anos, explicou o director da DSE, Tai Kin Ip, presente na conferência de imprensa do Conselho Executivo.

“Gostaríamos de criar um centro de comércio de diamantes em bruto”, afirmou o mesmo responsável, apontando que Macau pode aproveitar, por um lado, as “redes criadas pela China” e, por outro, “os recursos de matérias-primas dos países de língua portuguesa”. “Vai contribuir para a diversificação da economia”, realçou Tai Kin Ip, sustentando que o comércio de diamantes em bruto “pode desenvolver” as áreas profissionais em torno da actividade, como a do design de jóias.

Actualmente, Macau não importa nem exporta diamantes em bruto. Ao longo do ano passado, foram importados 20 milhões de patacas em diamantes trabalhados, de acordo com o director da DSE.

Indústrias Culturais | Fundo com mexidas nas competências e funcionamento

[dropcap]O[/dropcap] Governo decidiu introduzir ajustes ao funcionamento e competências do Fundo das Indústrias Culturais (FIC) para “responder às necessidades decorrentes do seu desenvolvimento”.

As alterações figuram de um projecto de regulamento administrativo, dado a conhecer ontem pelo porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, que é, aliás, presidente do conselho de administração do FIC. Uma das principais mexidas prende-se com o funcionamento da Comissão de Avaliação de Projectos, propondo-se que o FIC elabore uma lista de especialistas de diferentes áreas, para que antes de cada reunião de avaliação de projectos, sete sejam convidados a participar, “assegurando o profissionalismo, igualdade e justiça na avaliação”.

Em paralelo, considerando que o FIC “precisa de promover intercâmbio e cooperação com entidades congéneres” – que Leong Heng Teng estima intensificar-se no contexto da Grande Baía – vai ser aditada uma norma estipulando a prestação de apoio, com os seus recursos, a actividades do tipo que se integrem nos seus fins.

As competências para a aprovação de despesas por parte do presidente do conselho de administração do FIC também vão ser esclarecidas, em linha com a nova legislação relacionada.

Air Asia | Decisões só para 2020 ou 2021

[dropcap]A[/dropcap] possibilidade da Air Asia abrir uma base em Macau só deverá ser decidida pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas do próximo Governo. Foi este o cenário traçado, ontem, por Raimundo do Rosário, que não admitiu existirem contactos com a operadora malaia.

“Que eu saiba ainda não houve contactos [da Air Asia], mas eu também não sei tudo”, começou por dizer. “Este é um processo que só deverá ser resolvido em 2020 ou 2021, até porque só por volta dessa altura é que termina a concessão”, explicou.

Já sobre a construção do Parque de Materiais e Oficina no Metro Ligeiro, Rosário explicou que a obra deve ficar concluída em Maio e que, neste momento, não estão a ser negociadas compensações.

No concurso público, esta obra foi atribuída à Companhia de Engenharia e de Construção da China, mas depois os tribunais acabaram por considerar que deveria ter sido a China Road and Bridge Corporation, a vencer o concurso. Como os trabalhos estavam quase concluídos, a Companhia de Engenharia e de Construção da China ficou até ao fim.

Portas Corta-fogo | Conluio negado pelo secretário

[dropcap]O[/dropcap] secretário Raimundo do Rosário negou ontem, na AL, a existência de conluio ou tráfico de influências no caso das portas corta-fogo no Edifício do Bairro da Ilha Verde. O Governo previa gastar 40 milhões de patacas para substituir 269 portas no edifício, após as portas originalmente instaladas terem falhado nos testes de segurança.

O caso levantou críticas, e posteriormente o Executivo optou por substituir apenas 100 portas. O Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) está a investigar o episódio. “Não houve tráfico de influências nem conluio. Pelas minhas mãos não passou nem um centavo”, afirmou o secretário, depois de críticas do deputado Ng Kuok Cheong.

Em relação aos custos das portas, em média entre 20 mil e 30 mil patacas por unidade, o secretário para os Transportes e Obras Públicas apontou para os preços praticados no mercado. “Só podemos basear-nos nas propostas apresentadas no concurso e eu não consigo saber se os preços praticados no mercado vão baixar ou aumentar”, explicou.

Tratamentos médicos no exterior com 200 pedidos por semana

[dropcap]A[/dropcap] Junta de Serviços Médicos para o Exterior recebe uma média de 200 pedidos para tratamentos fora da RAEM por semana. A informação foi divulgada, ontem, por Alexis Tam, secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. Esta Junta, liderada pelo Director do Centro Hospitalar Conde de São Januário, Kuok Cheong U, tem como função escolher os pacientes locais que serão transportados para o exterior para serem tratados.

“De acordo com as informações disponíveis semanalmente são enviados cerca de 200 casos à Junta para apreciação. Para casos urgentes, a apreciação é concluída no mesmo dia da recepção, enquanto a dos casos não-urgentes é concluída dentro de sete dias”, respondeu Alexis Tam a Agnes Lam, durante o Plenário da AL. A deputada tinha afirmado que a vítima de violência doméstica que ficou cega, depois de ter sido atacada com óleo pelo marido, esteve três meses à espera de uma resposta.

O número causou alguma preocupação entre os deputados e o pró-democrata questionou mesmo se haveria tempo para decidir tanto caso numa semana. “Uma Junta de três pessoas aprecia 200 casos por semana. Se cada caso demorar 10 minutos a analisar, estamos a falar de 30 horas por semana. Se forem dedicadas seis horas a cada cinco dias para avaliar os pedidos, é difícil arranjar esse tempo”, apontou Au. “Será que as decisões não são precipitadas?”, questionou.

Reuniões às segundas

Em relação a estas dúvidas, a resposta foi dada por Kuok Cheong U. “Os 200 casos são transferidos por médicos especializados. Muitos são casos de prescrição médica e nem vemos os doentes, apenas os documentos”, explicou. “As reuniões acontecem normalmente às segundas entre as 15h00 e as 17h00. Depois há casos específicos que precisamos de discutir com mais detalhes”, acrescentou.

No entanto, Kuok deixou a garantia que desde 2002, altura em que ficou à frente da Junta, as directrizes internas têm sido melhoradas e optimizadas.

Ainda em relação ao funcionamento da Junta, Sulu Sou revelou ter acompanhado alguns doentes em sessões de avaliação, com autorização de ambas as partes, e defendeu que é necessário melhorar a comunicação e criar uma linha directa para esclarecer dúvidas.

Fronteira de Qingmao só para pessoas com passaportes chineses

[dropcap]A[/dropcap] futura fronteira de Qingmao, que permite o acesso ao Interior da China a partir da Ilha Verde, só vai poder ser utilizada por cidadãos com passaporte chinês. A revelação foi feita, ontem, pelo secretário Raimundo do Rosário, na Assembleia Legislativa, que negou a existência de discriminação face aos residentes de Macau com passaporte português.

“Não há discriminação. Isto vai funcionar como um desdobramento da fronteira existente, não é uma nova. E, de facto, os nacionais chineses são em maioria”, começou por defender, em declarações aos jornalistas. “Se quiser, também pode dizer que há discriminação em relação aos carros porque esta fronteira é só pedonal, não há carros: os carros vão continuar a usar a fronteira antiga. A única coisa que fizemos foi desdobrar a fronteira para os peões”, acrescentou.

Raimundo do Rosário disse também que não houve indicações do Governo Central para implementar esta política e que a nova fronteira não permite entrar directamente em Zhuhai, mas antes chegar a Gongbei, como se se tivesse atravessado as Portas do Cerco.

O trabalho de construção das estacas na zona da Ilha Verde deverá ficar concluído dentro de dois meses e depois será construída a estrutura.

Revolução nos transportes

Durante a sessão de ontem, o Terminal Marítimo da Taipa, o Aeroporto Internacional de Macau e o Heliporto do Pac On foram outros dos assuntos abordados na área dos transportes. Em relação ao terminal marítimo, que recebeu muitas críticas devido à dimensão e falta de manutenção, ficou-se a saber que poderá ter no futuro ligações para Dongguan, uma das cidades da Grande Baía.

A existência de contactos nesse sentido foi revelada pela Directora de Direcção de Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA), Susana Wong, que admitiu a hipótese do mesmo acontecer com mais cidades. Sobre o aeroporto, Simon Chan, presidente da Autoridade de Aviação Civil, explicou que nesta altura a maior limitação é o espaço para estacionar os aviões.

Há projectos para alargar as instalações, contudo, como envolvem aterros, é necessária a aprovação de Pequim, que está a analisar uma proposta. Finalmente a mudança do heliporto, que actualmente está no Porto Exterior de Macau e vai ser transferido para o Pac On, deve ser terminada até ao final do corrente ano.

Ponte HKZM | Secretário acusa Hong Kong de deixar RAEM pendurada

O Governo quer estacionamento para carros de Macau na fronteira de Hong Kong, mas as autoridades congéneres não se decidem. Mak Soi Kun diz que os locais estão a ser injustiçados e questionou o trabalho de Raimundo do Rosário. O secretário não se ficou, recusou ser parvo e acusou Mak de dizer uma coisa à imprensa e outra na Assembleia Legislativa

 

[dropcap]O[/dropcap] facto dos carros de Macau não terem uma zona de estacionamento na fronteira com Hong Kong aqueceu o debate de ontem, na Assembleia Legislativa. Em causa esteve uma interpelação do deputado Mak Soi Kun em que sublinhou haver um tratamento injusto, uma vez que os carros de Hong Kong têm um lugar para estacionar no lado da RAEM, mesmo que não entrem no território, mas o mesmo tratamento não é dado aos carros e residentes de Macau, no lado de lá.

No entanto, o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, recusou responsabilidades e deixou muito claro que o assunto foi abordado desde o início, e por mais do que uma vez, com as autoridades de Hong Kong, que não tomam decisões para construir o estacionamento.

“Os deputados, se calhar, entendem que somos todos parvos ou preguiçosos. Antes de ser construída a Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau falámos com eles [responsáveis de Hong Kong].

Explicámos que do nosso lado há auto-silo, mas do deles não… A resposta é que a construção do auto-silo está a ser estudada…” começou por revelar o secretário. “Perguntámos e disseram-nos que estão a estudar criar um espaço para que as pessoas de Macau estacionem os carros, para que possam do lado de lá, apanhar passageiros, se for o caso, e regressar. Temos questionado os responsáveis sobre este assunto, mas não obtemos resposta”, acrescentou.

Raimundo do Rosário revelou que a ausência de um compromisso também afecta a melhoria do funcionamento dos autocarros dourados, ou seja os shuttles que atravessam a ponte, uma vez que não há resposta de Hong Kong. Situação que se repete com os planos para implementação de autocarros privados que circulem entre Zhuhai, Macau e Hong Kong.

“Têm de perceber só pagámos 12 por cento do valor da ponte. Cerca de 80 por cento foi pago pelo Interior da China e Hong Kong. Por isso, na tomada de decisões somos uma minoria”, apontou também Rosário.

Dois discursos

Após o secretário ter negado ser parvo, Mak Soi Kun afirmou não ter tido a intenção de criticar o trabalho feito: “Não me entenda mal, eu sempre o elogiei por ser uma pessoa inteligente. Se não fosse inteligente, o senhor não teria sido convidado para vir para Macau para o Governo. Vocês não são parvos”, respondeu o vencedor das eleições de 2017. “Com o seu carisma sei que é mais fácil para Macau negociar [com Hong Kong], e de forma mais rápida”, frisou o legislador.

As palavras não convenceram o macaense, que indicou que o deputado tem tido um discurso diferente aos jornais: “Parece que entre o que disse hoje [ontem] e ontem [quarta-feira] adoptou um discurso diferente. Não sei ler chinês, mas o que vem nos jornais de ontem são críticas e não é isso que disse hoje”, acusou o secretário. Depois, introduziu um momento de humor na resposta.

“Estou próximo do fim do meu mandato. Mas, acho que o deputado Mak deveria ser o próximo secretário”, atirou.

Já em tom mais sério, sobre as negociações com Hong Kong, Raimundo do Rosário admitiu que foram “um fracasso” e deixou um desabafo: “É muito difícil alcançar os nossos objectivos. Fiz todos os esforços, mas não consegui”, concluiu.

Teresa Nogueira, da Amnistia Internacional em Portugal, sobre a China: “Há ofensivas culturais e de sedução”

Teresa Nogueira coordena o co-grupo sobre direitos humanos na China da Amnistia Internacional em Portugal e defende que o estabelecimento de Institutos Confúcio no país serve para a propagação da ideologia do Partido Comunista Chinês. A responsável alerta também para a vontade de Xi Jinping de mudar o sistema de direitos humanos dentro da ONU

 

Na última visita que fez a Macau, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, disse que Portugal e China não convergem em matéria de direitos humanos. Considera que o discurso político tem feito a devida referência a esta questão?

[dropcap]N[/dropcap]ão. Não só o discurso político, como os próprios media portugueses não transmitem nada do que se passa em relação aos direitos humanos na China. Não sei até que ponto isso resulta, ou não, de alguma pressão económica indirectamente ligada à China, mas a verdade é que não fazem eco de nada. Já desistimos de fazer manifestações sobre os direitos humanos na China, porque são tantos os polícias que parece que estamos em território chinês. Estou a referir-me à última visita…

Do presidente Xi Jinping?

Não. Aí resolvemos não fazer nada porque já tínhamos tido uma má experiência. Quando veio cá o presidente da Assembleia Popular Nacional (Zhang Dejiang, em 2017) pedimos, com imensa antecedência, uma manifestação a ser feita junto ao Palácio de Belém. Quando lá chegamos havia também uma manifestação de chineses pró-Governo da China, além de uma manifestação dos Falun Gong. A polícia mandou-nos afastar um pouco da entrada do palácio e quando o presidente chegou os chineses avançaram a desfraldaram uma bandeira de apoio ao Governo da República Popular da China (RPC) e ficámos confinados a um canto.

Nota então uma diferença de actuação das autoridades.

Noto que há uma certa protecção dos interesses chineses por parte do Governo português e uma condescendência face ao tema dos direitos humanos. Algo que está relacionado com a compra dos interesses vitais de empresas portuguesas e da obtenção de financiamento chinês.

Como explica o nascimento do movimento pró-China em Portugal?

São chineses que estão cá estabelecidos ou que são da embaixada. Agem com uma certa liberdade. Fui informada que quando veio cá o presidente Xi Jinping, os Falun Gong organizaram uma manifestação e foram empurrados com violência por grupos de chineses. Aí, a polícia actuou, separou as pessoas, não houve confrontos violentos, mas houve uma tentativa.

A visita do presidente Marcelo Rebelo de Sousa à China está agendada para Abril. Que expectativas coloca no seu discurso político relativamente aos direitos humanos?

Temos provas de que o presidente Marcelo é sensível a essa matéria. Tivemos prova disso quando ele fazia comentário político na televisão. Mas, sendo ele presidente, e estando Portugal tão dependente, e cada vez mais, de financiamentos chineses, acho que vai ter muita dificuldade ou não vai mesmo levantar questões relacionadas com os direitos humanos. Não acredito que o presidente se sinta à vontade para falar dessas questões sensíveis.

A China admitiu a existência de campos de detenção de uigures e disse que existirão até serem necessários. Tendo em conta as últimas reuniões na ONU sobre este assunto, a resposta de Pequim fica aquém daquilo que a comunidade internacional esperava?

A AI sempre pediu visitas a Xinjiang para estudar a situação dos direitos humanos, mas isso tem sido sempre recusado pela China. Quando a China diz que vai manter os campos até estes serem necessários, quer dizer que estes se vão manter até conseguir transformar os habitantes de Xinjiang em pessoas obedientes ao Governo chinês.

E falantes de mandarim.

Claro. Esta tem sido a política em relação ao Tibete, continua a ser, e agora em Xinjiang. Há cerca de um milhão de pessoas em campos de concentração que os chineses chamam de transformação pela educação.

Foi tornado público que os detidos são usados como mão-de-obra barata para a produção têxtil em fábricas norte-americanas sediadas em Xinjiang.

Também sabemos que, apesar de extremamente explorados, e de as pessoas terem condições muito penosas de trabalho, mesmo assim sentem um alívio face ao que sofriam nos campos de concentração. Temos declarações de pessoas nesse sentido.

A ONU deveria ter um papel mais activo nesta matéria?

Devia, mas a China, ao pertencer ao Conselho de Segurança, tem o poder de veto, e opõe-se às decisões mandatórias da ONU. Aliás, opôs-se uma moção de condenação do Myanmar e da Síria, e, portanto, com esse poder de veto, o poder da ONU é relativo. A ONU fez várias declarações, nomeadamente através do comité para a erradicação da pobreza extrema, quando se deslocou a Xinjiang e ao Tibete, e verificou que a pobreza nestas regiões é grande.

Em que sentido?

Houve diminuição da pobreza na China, mas no Tibete e em Xinjiang a pobreza é imensa. Isso resulta de uma política colonialista da China, que coloca pessoas de etnia Han nas regiões que passam a deter as principais actividades económicas e que só empregam Han. Os tibetanos e uigures limitam-se a actividades marginais. Esses colonos também exploram as matérias-primas destas duas regiões, que são muitas. O Tibete tem a maior mina de ferro do mundo, que está a ser explorada pelos chineses Han sem qualquer benefício para o Tibete. Há também a questão das florestas, pois metade do Tibete está desflorestado.

Passa-se fome nestas regiões ou estamos a falar de outro tipo de pobreza?

Há baixos salários, dificuldade em encontrar emprego, mas também fome.

Poderemos ver desaparecer a cultura uigur ou tibetana no prazo de dez anos, vinte anos?

Acho que voltará a ressurgir clandestinamente. Além de haver sempre resistentes, que são torturados e enclausurados, há uma transmissão que se faz de pais para filhos, e um dia mais tarde as coisas renascem. São etnias diferentes, com as suas tradições, língua e escrita próprias, é algo que demora muito séculos a desaparecer.

A política “Uma Faixa, Uma Rota” é muito abordada do ponto de vista económico, mas decerto terá também implicações em termos de direitos humanos. O que preocupa a AI relativamente a esta política?

Devo dizer que esta política representa uma viragem de 180 graus na política chinesa, porque durante 30 anos a China andou a dizer que era um país em desenvolvimento e que o que tinha era de conquistar tempo e esconder as suas capacidades. De repente, Xi Jinping começou a afirmar que queria construir uma comunidade com um destino comum para a humanidade, liderada pela China. Ele vai tão longe que quer dominar e moldar as mentalidades, e mudar o sistema de direitos humanos da ONU, substituindo o conceito de direitos humanos pelo conceito de “ganhar-ganhar”. Este baseia-se nos acordos, geralmente comerciais, que a China estabelece com os Estados, em que, de acordo com Xi Jinping, todos ganharão. Mas quem ganha? São os Governos porque, na realidade, a população não ganha.

São casos de exploração laboral?

Sim. No Quénia, na construção de um caminho-de-ferro, os quenianos que lá trabalharam sofreram abusos e foram discriminados por supervisores chineses. Em Moçambique, a exploração de zircónio e titânio, numa aldeia próxima de Nampula, deu origem à quase total destruição da aldeia costeira, graças a cheias que nunca sucediam. Outro exemplo de violação dos direitos humanos é a exploração de cobalto na República Democrática do Congo, feita através de subsidiárias chinesas. A extracção do minério é feita em condições terríveis de salubridade, debaixo da terra e com imensa poeira, utilizando também trabalho infantil. O cobalto é depois exportado para a China para fazer as baterias de telemóveis e carros eléctricos. Se é isto que a China pretende substituir na ONU, está provado que quem ganha são os políticos, mas que não há a mínima preocupação de quem faz os acordos.

Teme que venham a ocorrer casos de exploração laboral na Europa relacionados com esta política, ainda que com outra dimensão?

As consequências são de condicionamento de certos países em relação a votações, nomeadamente na comissão de direitos humanos. Lembro o caso da Grécia que, em 2017, se opôs a uma resolução da União Europeia condenando a China por violação de direitos humanos. Porquê? Porque estava dependente da China em relação à exploração do Porto de Pireu. É isso que poderá vir a acontecer em Portugal. Há pouco tempo o primeiro-ministro António Costa disse que a cooperação com a China tem corrido muito bem e não tem afectado em nada o procedimento de Portugal, mas a verdade é que há uma ausência de condenação dos direitos humanos na China. Mas queria acrescentar que, associada à Rota da Seda, há também a construção de várias infra-estruturas. A posição da AI é que, em alguns casos, essas infra-estruturas, apesar de terem melhorado as condições das populações, mostram o reverso da medalha, de que já dei alguns exemplos. Há depois as ofensivas culturais, e diria de sedução por parte da China.

Em que sentido?

As ofensivas culturais fazem-se através dos Institutos Confúcio.

Considera então que há aí uma tentativa de controlo por parte da China.

É a ideologia. Pode parecer que os institutos são como a Alliance Francaise ou o British Council, mas não são, porque se implantam nas universidades e tentam propagar o pensamento dominante na China aos académicos.

Não há então apenas a aprendizagem do mandarim.

Sim. Houve uma tentativa de censura de um artigo sobre a China apresentado numa conferência por parte de uma pessoa do Instituto Confúcio. Foi censura de alguém, mas que não resultou. Além disso, estes institutos, juntamente com a aprendizagem do mandarim, ensinam a cultura chinesa e dão bolsas de estudo para os alunos estudarem na China, para se integrarem no país, para lhes impregnar o pensamento chinês. A sedução é também feita em relação a muitos políticos e autarcas, e não só. Até pessoas proeminentes em certos sectores.

Pode dar exemplos?

Lembro-me de um caso recente de uma pessoa portuguesa ligada à segurança alimentar que foi convidada para ir à China com tudo pago, mas que não se deixou enganar e viu o que se estava a passar e as restrições que lhe davam. Viu a tentativa que foi feita para lhe tirarem o passaporte quando chegou. Recordo-me também do presidente da Câmara Municipal de Lisboa que foi convidado para ir à China e que já fez acusações muito abonatórias sobre o país. E como ele outros políticos são convidados, há geminação de cidades portuguesas com cidades chinesas, há visitas pagas em que são mostradas maravilhas chinesas. Essas pessoas tornam-se depois cavalos de Tróia da China nos respectivos países.

Que perfil traça do presidente Xi Jinping? É visto por muitos analistas como o novo Mao Zedong.

E podemos estar perante um novo Mao. Estas medidas de colocação dos uigures em campos de aprendizagem pela educação, que são, no fundo, campos de concentração, replicam bastante bem o que o Mao fez com a Revolução Cultural, mas agora com a tecnologia e a Internet. Em Xinjiang há câmaras de vídeo em todo o lado e reconhecimento facial. Em toda a China está a implantar-se o sistema de crédito social em relação ao comportamento das pessoas.

É um perigo real de controlo de mentalidades?

Sim, há um controlo e um auto-controlo. Isso leva as pessoas a pensarem duas vezes antes de terem contactos com pessoas que não estão afectas ao regime.

Investigador português analisou revistas literárias de Macau do início do século XX

[dropcap]D[/dropcap]uarte Drummond Braga, investigador, apresentou esta quinta-feira em Lisboa, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL), um trabalho intitulado “Revistas literárias de Macau do início do século XX”.

Ao HM, o investigador falou de um trabalho que surge no seguimento de pesquisas já realizadas sobre as revistas literárias em língua portuguesa publicadas em Goa. Duarte Drummond Braga optou por analisar três publicações da primeira década do século XX, nomeadamente a Revista Oriente, dirigida pelo bispo José da Costa Nunes, a Revista Macau, dirigida por Humberto Avelar, e o Boletim Eclesiástico, uma publicação da Diocese de Macau.

“Queria saber como estas revistas se comportavam em termos de produção literária ou de crónicas e como desenvolviam essa parte mais cultural. Já havia um trabalho desenvolvido pelo Daniel Pires sobre os jornais do século XIX, que são bastante políticos, e parece-me que esta dimensão literária tarda em aparecer, só surge mais nos anos 60 ou 70 do século XIX”, contou.

Nas bancas existiam “revistas mais culturais, políticas mas também literárias, com várias rubricas”. “No caso da Revista Macau, esta tinha uma posição mais anarquizante, à esquerda, enquanto que outras têm uma posição mais conservadora. Há diferentes posicionamentos políticos”, adiantou o académico.

A Revista Oriente era uma publicação “cultural católica e não tanto um órgão da Igreja, como era o caso do Boletim Eclesiástico”, sendo “notória” a diferença de conteúdos face ao que era escrito na Revista Macau.

Esta era “mais próxima de uma esquerda republicana, com questões ideologicamente diferentes da Revista Oriente, que por vezes tinha uma posição um pouco mais conservadora, mas não necessariamente”. “Talvez em confronto com a outra ela pareça um pouco mais conservadora”, frisou.

O facto de não dominar a língua chinesa fez com que Duarte Drummond Braga se tenha debruçado apenas sobre estas publicações. Mas havia outras, não apenas escritas em português e chinês.

A questão dos pseudónimos

Questionado sobre a ligação que estas revistas tinham com a imprensa da época, Duarte Drummond Braga garantiu que ainda lhe falta desenvolver mais investigação nessa área. “Havia jornais católicos que já se publicavam, como A Voz do Crente, que é do século XIX, e havia também jornais católicos do mesmo período.”

Duarte Drummond Braga denota também as dificuldades em investigar o jornalismo de Macau dos primórdios do século XX, pelo facto da maioria dos artigos publicados não serem assinados. Daí que não possa garantir se as revistas literárias da primeira década mostraram ou não novos autores macaenses.

“Não posso garantir que não haja colaboradores macaenses, até porque no jornalismo desta época há muito a questão do pseudónimo e das iniciais, e isso torna bastante complicada a investigação com o jornalismo desta época. Mas parece-me que a produção literária de macaenses é uma coisa que aparece mais tarde”, frisou.

O tema da palestra de ontem, inserida no Seminário Permanente de Estudos sobre Macau, ciclo de conferências da FCSH-UNL, poderá um dia dar origem a um livro. “Havendo interesse de alguma instituição em apoiar esse tipo de obra, porque não?”, questionou Duarte Drummond Braga.

Esta não é a primeira vez que o académico se debruça sobre os escritos do Oriente. Duarte Drummond Braga estudou a relação entre Goa e Macau na literatura portuguesa ao abrigo de uma bolsa de pós-doutoramento da Universidade de São Paulo, o projecto “Pensando Goa (Fapesp)”. Além disso, é autor da obra “As Índias espirituais. Fernando Pessoa e o Orientalismo português”.

Comissão Eleitoral tailandesa atribui vitória nas legislativas a partido pró-militar

[dropcap]A[/dropcap] Comissão Eleitoral (CE) tailandesa anunciou ontem em conferência de imprensa os resultados preliminares das eleições gerais de domingo passado, em que o partido pró-militar Phalang Pracharat se impôs com 8,4 milhões de votos.

Em segundo lugar ficou o Pheu Thai, do antigo primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, deposto pelos militares, com 7,9 milhões de votos, enquanto o recém-formado partido Anakot Mai ficou em terceiro lugar, com 6,2 milhões.

Cerca de 38,2 milhões de tailandeses (74,69%) votaram nas eleições, as primeiras desde golpe de estado de 2014.

Na distribuição dos 350 lugares eleitos pelos círculos eleitorais, o Pheu Thai conseguiu eleger 137, seguido do Phalang Pracharat (97), Bhumjaithai (39), Partido Demócrata (33) e o emergente Anakot Mai (30).

Faltam atribuir os 150 lugares restantes reservados segundo a legislação eleitoral tailandesa aos partidos concorrentes.

Não há anda data para este anúncio final do resultado das eleições. A Comissão Eleitoral, nomeada pela junta militar que governa o país desde 2014, estava sob forte pressão para acelerar a contagem da votação de domingo e responder às preocupações sobre possíveis irregularidades.

Os Estados Unidos, a União Europeia, a Austrália e outros países pediram que a comissão eleitoral abordasse essas preocupações.

Os utilizadores das redes sociais foram menos diplomáticos e criaram ‘hashtags’ como ‘CheatingElection19’ (‘Fraudeeleitoral19’) e ‘ECBusted’ (‘CEapanhada’).

Idai: Buzi, em Moçambique, secou e renasce das cheias anunciadas por uma corrente de bois e cabritos

Por Fernando Peixeiro, da agência Lusa

 

[dropcap]A[/dropcap] vila de Buzi, centro de Moçambique, inundada e cercada pelas águas na sequência do ciclone Idai, está seca e os habitantes estão a refazer as vidas, embora se lembrem que tudo começou com bois e cabritos no rio.

Um dia antes de as águas chegarem e inundarem a vila, deixando-a isolada do resto do país, como conta à Lusa um habitante de Buzi, começou a ver-se na corrente do rio bois e cabritos, uns mortos e outros vivos.

O que é isso? A corrente está a puxar boi? Alguns meteram-se à água, conseguiram levar os animais para terra. Conta o mesmo habitante que o fenómeno deixou algumas pessoas alerta, que nessa noite já não dormiram.

O resto já é conhecido, a chegada das águas, depois do ciclone que destruiu quase tudo, as pessoas refugiadas em locais altos, nos telhados das casas. Toda a gente de Buzi tem uma história assim para contar.

A de Joana Francisco, agora calmamente a lavar roupa num alguidar, é assim, a de alguém que não tem casa, não tem comida e não tem “panela para cozinhar”.

A de alguém também vários dias em cima de um telhado, à espera que a água descesse e que chegasse ajuda.
Desde o final da semana passada essa ajuda também se faz em português, pela mão da Força de Reacção Imediata, constituída por militares dos três ramos, Marinha, Força Aérea e Exército.

Na tarde de quarta-feira em seis botes, a maior parte com fuzileiros, fizeram-se ao mar para, por um lado ir levar alimentos a aldeias na região de Buzi e por outro providenciarem água potável.

O tenente Santos Moreira, que comandou a força, explicou à Lusa que a Força de Reacção Imediata está a trabalhar desde sexta-feira passada para “dar o apoio, com géneros alimentares e farmacêuticos, e apoio médico-sanitário, às comunidades isoladas na região de Buzi”.

No cais da vila sede de Buzi, no rio com o mesmo nome, para carregar os botes com alimentos e medicamentos, o responsável explicou que os fuzileiros transportaram os alimentos para Buzi numa primeira fase e que agora é dali que partem carregados para chegar a pessoas que estão a passar necessidades, “que estão sem água e sem alimentos”. Desde a semana passada este vaivém é diário.

Uma pequena parte da força de fuzileiros, com dois elementos de engenharia e um farmacêutico, já tinha ficado num ramal do rio Buzi com uma bomba de purificação de água, para conseguir dar de beber a uma aldeia que também ficou isolada devido às cheias.

“Temos encontrado populações ainda isoladas, com muita carência alimentar, e problemas de saúde graves, e temos tentado suprimir com o pouco que temos. Ainda não conseguimos ver grandes melhorias, infelizmente, mas estamos cá para tentar melhorar isso”, disse Santos Moreira à Lusa.

Neste vaivém o que mais o marcou? Santos Moreira pensa um pouco, mas acaba por dizer que o que marca é a destruição das aldeias, as necessidades das populações, e especialmente as crianças, “que perderam os pais, irmãos, crianças com sete anos a tomar conta de irmãos de três”.

São de facto as crianças que caracterizam a vila, agora seca, de Buzi, dezenas e dezenas, de todas as idades, enchendo as ruas, caminhando ao lado dos visitantes, dando-lhes a mão, pedindo uma fotografia. Dos seus rostos e sorrisos não transparece o drama que terão vivido há pouco mais de uma semana.

Ele está marcado nas paredes, das casas, dos bancos, do hospital, a mostrar que a água subiu meio metro, um metro, mais e mais.

Está marcado nas palavras de Ibraimo Hassan Abdulla, dono de uma loja que diz estar “completamente vazia”, mas que está cheia: a água destruiu 80% da mercadoria.

O drama está marcado no gesto de alguém que se baloiça agarrado a um quase caído cabo de alta tensão, no sorriso triste de uma mulher do Bairro Massane, a secar o arroz que ficou debaixo de água e que agora cheira mal. Dá para comer? “Dá, com sofrimento”.

E marcado ainda nas mãos do homem que lava um colchão ou na cara da jovem que seca dezenas de caixas de fósforos numa esteira.

Ou nas palavras de Luís Fernando, um jovem que vive com a mãe na aldeia de Muchenesse, a poucos quilómetros de Buzi, onde também se dormiu nas árvores, onde há diarreia e malária, e onde há pessoas, muitas pessoas, que dormem em taludes abrigadas por dois paus espetados no chão e um pedaço de plástico.

Elton Americano, médico chefe distrital de Buzi, também mandou colocar na rua muitos aparelhos do hospital para secarem. Nunca se sabe, um dia que volte a luz pode ser que trabalhem.

No hospital, depois do ciclone, “entrou água em todas as enfermarias”, subiu mais de 60 centímetros e a maior parte dos aparelhos “ficou submersa”.

Mas diz com orgulho: “Sempre tivemos doentes internados e assistimo-los, dentro das nossas possibilidades. Em nenhum momento o hospital fechou, podia não ter assistência regular, mas havia visita para doentes e sempre um enfermeiro para medicar os pacientes”.

Tranquilo, diz que os casos que mais têm aparecido, antes de barco e agora por terra, são mais relacionados com traumatismos e feridas. “Trabalhávamos de forma improvisada”, diz.
E também de forma tranquila conta o que se passou há duas semanas.

A água chegou à vila já de noite, pelas 21:00, as pessoas foram para zonas altas e terraços, não chovia (a água vinha do rio que transbordou), as pessoas comeram “o que tinham de reserva”, não havia comunicações, e na manhã seguinte as águas começaram a descer.

“Praticamente foi uma noite que Buzi ficou cheio de água”, depois água começou a descer todos os dias. Americano não dramatiza e diz que a cidade está a refazer-se.

Três jovens a carregar sacos de arroz, uma menina a vender tomates e cebolas, uma mulher a vender panelas de alumínio de todos os tamanhos, um homem a vender baldes com pregos à beira da estrada, um barco a chegar da Beira, o cheiro a bolos fritos. Parece que está.

Ministro timorense é o novo presidente do Fórum da região Ásia-Pacifico

[dropcap]O[/dropcap] ministro para a Reforma Legislativa e Assuntos parlamentares de Timor-Leste, Fidelis Manuel Magalhães, foi ontem eleito presidente do Fórum Ásia-Pacífico para o Desenvolvimento Sustentável.

O Fórum está reunido em Banguecoque, na Tailândia, até amanhã para analisar o progresso da região Ásia-Pacífico nos objectivos de desenvolvimento sustentável propostos na Agenda 2030, com altos funcionários dos governos, funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU) e de representantes da sociedade civil e do sector privado.

Fidelis Manuel Magalhães considerou, em entrevista à ONU, que a eleição para presidente do Fórum Ásia-Pacífico para o Desenvolvimento Sustentável é “um reconhecimento da liderança de Timor-Leste e um reconhecimento do compromisso” do país “em atingir os objectivos de desenvolvimento sustentável”.

O ministro timorense considerou ainda o Plano Estratégico de Desenvolvimento 2011-2030 como exemplo do empenho de Timor-Leste em ir ao encontro de objectivos de desenvolvimento e compromissos com a comunidade internacional.

Fidelis Manuel Magalhães adiantou que no próximo ano serão conduzidas negociações entre a ONU e Timor-Leste para preparar um novo quadro de assistência da ONU ao desenvolvimento (UNDAF, na sigla em inglês) até 2025, com o objectivo de que o país asiático de língua portuguesa saia da lista de países subdesenvolvidos.

A lista conhecida como LDC (Least Developed Countries) e adoptada anualmente pela ONU nomeia um grupo de países que têm baixo Produto Interno Bruto (PIB), activos humanos baixos e que enfrentam grande vulnerabilidade económica.

O presente quadro UNDAF para Timor-Leste indica que até 2020 Timor-Leste “será uma sociedade justa, onde a dignidade humana e direitos humanos são valorizados, protegidos e promovidos por leis e cultura”.

O mesmo documento indica que, até 2030, “Timor-Leste será uma nação forte, coesiva e progressiva, onde os direitos e interesses dos cidadãos mais vulneráveis são protegidos”.

O UNDAF é uma base de dados de indicadores e taxas que o país deve melhorar (seja no acesso à educação, cuidados de saúde, água potável e electricidade, entre outros), para proporcionar condições de vida ao nível dos países desenvolvidos.

Segundo a organização do Fórum Ásia-Pacífico, os participantes farão, durante três dias, uma análise profunda do progresso da região sobre vários objectivos de desenvolvimento sustentável, sobretudo na área da educação, trabalho, desigualdades, acção climática, paz e parcerias.

No discurso de abertura a vice-secretária-geral da ONU, Amina Mohammed, assinalou que nota uma “liderança decisiva” dos governos da região Ásia-Pacífico com a Agenda 2030 e elogiou os investimentos e parcerias dos países no desenho de estratégias e políticas para um desenvolvimento progressivo, com maior cobertura de dados e estatísticas.

Este encontro serve para preparar o Fórum Político de Alto Nível, que se realiza de 09 a 18 de Julho em Nova Iorque, Estados Unidos, com o tema “Capacitar pessoas e assegurar inclusividade e igualdade”.