Hoje Macau Manchete PolíticaAMCM | Reguladores de Macau e Cabo Verde reforçam cooperação O novo acordo foi assinado na quinta-feira e anunciado no dia seguinte. A assinatura decorreu durante a 12.º edição do Encontro de Governadores dos Bancos Centrais dos Países de Língua Portuguesa, na Cidade da Praia A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) anunciou ter assinado um novo acordo para “aprofundar a cooperação” em matéria na supervisão financeira com o banco central de Cabo Verde. O regulador financeiro disse que o protocolo com o Banco de Cabo Verde abrange o “combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo, a cooperação técnica, a formação de quadros profissionais”. De acordo com um comunicado, o acordo cobre ainda “a supervisão e o intercâmbio relativos a serviços financeiros emergentes, com o objectivo de salvaguardar em conjunto a segurança e a estabilidade dos respectivos sistemas financeiros”. O documento foi assinado na quinta-feira, durante a 12.º edição do Encontro de Governadores dos Bancos Centrais dos Países de Língua Portuguesa, realizado na capital de Cabo Verde, Praia. A reunião, que decorreu à porta fechada incluiu intervenções de governadores e representantes dos bancos centrais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, e Timor-Leste assim como do Banco Central dos Estados da África Ocidental e do Banco dos Estados da África Central. “Esta iniciativa simboliza um aprofundamento da cooperação e intercâmbio entre as duas instituições no domínio da supervisão financeira,” acrescentou a AMCM. “Este novo acordo foca-se particularmente na colaboração em matéria de supervisão prudencial, estabelecendo um quadro específico para a cooperação entre a AMCM e o Banco de Cabo Verde,” acrescentou o regulador. Desde 1999 A AMCM assinou o primeiro acordo de cooperação e assistência técnica com o Banco de Cabo Verde em 1999. Em Setembro de 2024, durante a segunda Conferência dos Governadores dos Bancos Centrais e dos Quadros da Área Financeira entre a China e os Países de Língua Portuguesa, que decorreu em Macau, o regulador financeiro de Macau anunciou que iria actualizar o protocolo com a institução homóloga de Cabo Verde. A AMCM já celebrou acordos de cooperação bilateral com 12 autoridades de supervisão financeira de oito países de língua portuguesa.
Hoje Macau China / ÁsiaSismo / Filipinas | Novo balanço aponta para 72 mortos O número de mortos no sismo que atingiu as Filipinas na terça-feira subiu para 72, anunciaram ontem os serviços de emergência, que se concentram agora em ajudar centenas de feridos e milhares de desalojados. Os bombeiros e as equipas de resgate disseram ter removido os corpos de uma mulher e de uma criança dos escombros de um hotel que desabou na cidade de Bogo, perto do epicentro do sismo de magnitude 6,9 na escala de Richter. O anterior balanço apontava para 69 vítimas mortais. O epicentro do sismo foi localizado no mar, perto da ilha de Cebu, na parte central do arquipélago, na terça-feira às 21:59, na hora local, de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos. Mais de 300 tremores secundários já atingiram a região, de acordo com o Instituto Filipino de Vulcanologia e Sismologia, abrandando os esforços de resgate. O Governo informou que 294 pessoas ficaram feridas e cerca de 20 mil fugiram de casa, tendo sido destruídas quase 600 habitações no norte da ilha de Cebu, obrigando muitos residentes a dormir ao relento. A governadora da província de Cebu, Pamela Baricuatro, lançou um apelo por ajuda para milhares de famílias que necessitam de água potável, alimentos, roupa e abrigo. “Muitas casas foram destruídas e muitas famílias precisam de ajuda para recuperar (…) Precisam da nossa ajuda, das nossas orações e do nosso apoio”, escreveu Baricuatro, na rede social Facebook. De acordo com a protecção civil de Cebu, mais de 110 mil pessoas em 42 comunidades afectadas pelo sismo necessitam de assistência, principalmente para reconstruir as casas e recuperar os meios de subsistência. A recente passagem da tempestade Bualoi e do tufão Ragasa já tinha provocado cerca de 40 mortos nos últimos dias no arquipélago filipino.
Hoje Macau EventosÓpera | “Carmen”, de Bizet, apresentada hoje no CCM Começa hoje o Festival Internacional de Música de Macau (FIMM) com um espectáculo que há muito faz parte do panorama internacional: a ópera “Carmen”, que se apresenta em “Carmen – Ópera em Quatro Actos de Georges Bizet”. O palco é o grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM), com o início do espectáculo marcado para as 19h30. A produção está a cargo da Opéra Comique e da Ópera de Zurique, com encenação de Andreas Homoki. Este espectáculo acontece em parceria com a Orquestra de Macau, e as colaborações do Coro da Orquestra Sinfónica Nacional da China e Coro Juvenil de Macau. “Mergulhemos num mundo de paixão ardente.” É este o repto deixado no programa oficial do espectáculo, marcado por uma “envolvência dramática e música inesquecível”. No palco do CCM apresenta-se “uma inventiva produção”, com “árias pulsantes e inspirada no exotismo musical espanhol e em temas intemporais”. Com esta adaptação da “obra-prima de Bizet”, “Carmen” permanece “hoje tão possante e relevante como quando foi criada”. “Levada à cena pelo galardoado Andreas Homoki, a produção transporta a trama para um cenário austero e meta-teatral. Uma réplica do palco da Opéra Comique transforma-se no pano de fundo de uma viagem no tempo, em que cada acto sugere uma era diferente: da Paris da Belle Époque até à Segunda Guerra Mundial e, finalmente, ao presente”, descreve o programa. “Carmen” capta, assim, “como nunca a emoção crua e dramática do clássico, reinterpretando temas que afloram o destino e a humanidade de uma perspectiva subtil e ao mesmo tempo ousada”. Segundo o programa, este espectáculo pode ser desfrutado por “melómanos ou espectadores novatos”, pois “esta produção envolve e desafia-nos, permanecendo connosco muito depois do espectáculo terminar”. Estamos, assim, perante “uma extraordinária demonstração de música, tragédia e sedução”.
Hoje Macau China / ÁsiaIsrael | Grupo italiano da flotilha diz que foram interceptados 39 navios Um total de 39 navios da flotilha ‘Global Sumud’, que estavam a caminho de Gaza, foram interceptados pelo Exército israelita desde quarta-feira à tarde, anunciou ontem a porta-voz do grupo italiano de ativistas, Maria Elena Delia. As restantes embarcações da flotilha, os barcos mais pequenos, continuam a navegar, mas é quase certo que serão interceptados em breve, acrescentou a porta-voz, em declarações à agência de notícias espanhola Efe. Delia adiantou ainda que se desconhece a localização do barco ‘Mikeno’, que se situava a poucos quilómetros da costa de Gaza quando desapareceu o sinal de vídeo que tinha sido activado durante a viagem. Neste momento, 22 italianos, incluindo vários deputados, estão detidos por Israel no âmbito da operação, mas “estão todos bem”, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, António Tajani. De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros italiano, as tripulações foram levadas para o porto de Ashdod e mantidas em centros designados, onde poderão aceitar a expulsão voluntária imediata ou rejeitá-la e aguardar uma decisão judicial. Caso a saída voluntária seja rejeitada, “os membros da flotilha terão de aguardar a decisão das autoridades judiciais sobre a sua expulsão, o que geralmente demora 48 a 72 horas”, explicou a mesma fonte. O Governo referiu ainda que o Ministério dos Negócios Estrangeiros está a seguir o envolvimento de Israel na flotilha e oferecerá assistência consular aos detidos, uma vez que a embaixada de Itália em Telavive está a acompanhar de perto o caso e já preparou um programa de ajuda. Portugueses detidos Tajani já informou a Câmara dos Deputados que 22 cidadãos italianos embarcados na flotilha ‘Global Sumud’ foram detidos pelas autoridades israelitas quando estas começaram a interceptar os barcos que levavam ajuda humanitária a Gaza. “De acordo com as minhas instruções, o consulado em Telavive e o consulado-geral em Jerusalém vão dar assistência a todos os italianos, tanto no porto como nos procedimentos de repatriamento”, afirmou, acrescentando que os italianos detidos por Israel deverão ser repatriados daqui a alguns dias. “Conversei repetidamente com o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel [Gideon] Sa’ar, instando-o a evitar ações agressivas”, disse. “Estou aliviado por constatar que as regras de empenhamento foram respeitadas e que, até agora, não houve actos de violência ou complicações nas operações das forças israelitas”, avançou, adiantando que “as primeiras partidas [da Israel] podem acontecer já na sexta-feira, especialmente daqueles que aceitarem deixar Israel voluntariamente”. As embarcações integradas na flotilha foram intercpetadas pela Marinha de Israel na quarta-feira, sendo que uma foi abalroada em águas internacionais, segundo a organização. Entre os detidos encontram-se a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, a actriz Sofia Aparício e o activista Miguel Duarte.
Hoje Macau China / ÁsiaÁsia | Carros eléctricos chineses desafiam domínio japonês As vendas crescentes de automóveis eléctricos chineses de baixo custo estão a abalar o domínio de décadas das marcas japonesas no Sudeste Asiático, segundo um estudo divulgado terça-feira pela firma de consultadoria e auditoria PwC. A quota de mercado dos fabricantes japoneses – liderados por Toyota, Honda e Nissan – caiu para 62 por cento das vendas na primeira metade de 2025 nos seis maiores mercados da região, contra uma média de 77 por cento na década passada. Os produtores chineses aumentaram a sua fatia de quase nula para mais de 5 por cento de 3,3 milhões de unidades vendidas. A ofensiva chinesa é explicada pela guerra de preços que o sector enfrenta na China, que levou os fabricantes a procurar mercados externos próximos, beneficiando de um acordo regional de comércio que garante acesso sem tarifas. “A entrada dos fabricantes chineses de veículos eléctricos marca o fim de uma era de domínio japonês no Sudeste Asiático”, apontou Patrick Ziechmann, analista da PwC na Malásia. Na Indonésia, maior mercado consumidor da região, as vendas da Toyota caíram 12 por cento entre Janeiro e Agosto, para 161.079 unidades, enquanto as da chinesa BYD triplicaram para 18.989. Os preços acessíveis são vistos como factor determinante: alguns modelos chineses começam nos 12 mil dólares. “O preço é o factor decisivo. Os japoneses têm de reagir, caso contrário vão continuar a perder quota de mercado”, afirmou o vice-presidente da associação indonésia de fabricantes de automóveis, Jongkie Sugiarto, citado pelo jornal britânico Financial Times. A presença chinesa no país não se limita às vendas. Pelo menos 15 marcas estão já activas e outras cinco devem entrar brevemente.
Hoje Macau China / ÁsiaMédio Oriente | China “apoia todos os esforços que conduzam à distensão” entre Palestina e Israel A China manifestou terça-feira apoio a “todos os esforços que conduzam à distensão entre Palestina e Israel”, após o Presidente norte-americano, Donald Trump, apresentar um plano para pôr fim à guerra em Gaza. Em conferência de imprensa, o porta-voz da diplomacia chinesa Guo Jiakun apelou à aplicação “séria” das resoluções da ONU, a um cessar-fogo “imediato e integral” em Gaza, à libertação de todos os detidos e ao alívio da crise humanitária “o mais cedo possível”. O responsável reiterou que Pequim defende o princípio de que “os palestinianos governem a Palestina” e a concretização da solução de “dois Estados”. “Estamos dispostos a trabalhar com a comunidade internacional para alcançar uma solução pronta, abrangente, justa e duradoura para a questão palestiniana”, acrescentou. A reação surge depois de a Casa Branca ter tornado público, na segunda-feira, um plano de 20 pontos que prevê cessar-fogo na ofensiva israelita, libertação de reféns e a criação de um Governo de transição em Gaza supervisionado por uma junta presidida pelo próprio Trump. O plano contempla ainda o compromisso dos Estados Unidos em mediar entre israelitas e palestinianos para “uma coexistência pacífica” e abre a porta à criação de um Estado palestiniano. Desde a escalada do conflito, a China tem condenado os ataques israelitas e reiterado apoio à solução de “dois Estados”.
Hoje Macau China / ÁsiaHenan | Cinco mortos por inalação de gás tóxico em fábrica Cinco pessoas morreram e outras três ficaram hospitalizadas devido a uma fuga de gás tóxico numa fábrica na província central chinesa de Henan, informou terça-feira a imprensa local. O incidente ocorreu na manhã de segunda-feira na empresa Hexin Chemical Industry, na cidade de Hebi, após uma fuga num tanque de armazenamento de ácido sulfúrico ter provocado um derrame no sistema de águas das instalações, segundo a agência de notícias oficial chinesa Xinhua. O ácido chegou a um tanque séptico, onde uma reação química gerou gás sulfídrico, que se infiltrou numa área de descanso para funcionários. Dos três feridos, um encontra-se em estado grave, mas estável, e os outros dois sofreram lesões ligeiras, indicou o gabinete local de gestão de emergências. A fábrica suspendeu as operações e todo o pessoal foi retirado, enquanto as autoridades abriram uma investigação para apurar as causas do acidente. A China regista com frequência acidentes industriais, sobretudo em sectores como a mineração ou a produção de fogo-de-artifício, onde continuam a existir falhas de segurança, apesar do reforço da regulação nos últimos anos.
Hoje Macau China / ÁsiaDia Nacional | Previstas 2,4 mil milhões de viagens durante feriados A celebração do Dia Nacional na passada quarta-feira coincidiu este ano com o Festival do Bolo Lunar a 06 de Outubro prolongando a ‘semana dourada’ para oito dias O Ministério dos Transportes da China previu mais de 2,4 mil milhões de viagens em todo o país durante a chamada ‘semana dourada’ que começou quarta-feira, com o Dia Nacional chinês. O Ministério dos Transportes estimou uma média diária de 295 milhões de viagens, um aumento de 3,2 por cento em relação a 2024, durante o período de feriados, que termina com o Festival do Bolo Lunar, na noite de 06 de Outubro. O dia 1 deverá ser o dia mais movimentado, com aproximadamente 340 milhões de viagens. Os automóveis estão a consolidar a posição como o principal meio de transporte, com 1,87 mil milhões de viagens previstas por estrada, quase 80 por cento do total. As autoridades alertaram para congestionamentos intensos nas entradas das principais cidades e nas principais rotas turísticas. A operadora ferroviária estatal chinesa informou que mais de 110 milhões de bilhetes foram vendidos para viagens entre 29 de Setembro e 10 de Outubro. A empresa reforçou as operações com a introdução de mais de dois mil comboios adicionais nos dias de ponta. A operadora previa transportar 23 milhões de passageiros no primeiro dia de Outubro, após ter registado 18,4 milhões de passageiros na terça-feira, segundo dados oficiais. Outros números A Autoridade de Aviação Civil espera transportar 19,2 milhões de passageiros durante os oito dias de feriados, o que marcaria um recorde para esta ‘semana dourada’, com os aeroportos de Pequim e Xangai entre os mais movimentados. O regulador estima ainda que aproximadamente 139 mil voos irão operar no país entre 01 e 08 de Outubro, com um aumento de 4,9 por cento nos voos domésticos e de 11,9 por cento nos voos internacionais em comparação com 2024, de acordo com dados citados pela televisão estatal chinesa CCTV. A época alta turística trouxe um aumento, por vezes de até dez vezes, nas tarifas dos hotéis, de acordo com as redes sociais chinesas. O advogado Wang Duo, citado pela CCTV, pediu que “as empresas que cometam violações, como aumentos maliciosos de preços, sejam denunciadas publicamente” para “dissuadir eficazmente as empresas de aumentos arbitrários de preços”. De acordo com a Administração Nacional de Imigração, o fluxo de pessoas que atravessam as fronteiras da China ultrapassará os dois milhões por dia durante o período de férias, com picos no dia 01 e em 06 de outubro. Dados das plataformas de reservas citados pelos meios de comunicação locais mostram que o Japão, Hong Kong, Tailândia, Malásia, Coreia do Sul, Vietname, Indonésia, Singapura, Estados Unidos e Austrália estão entre os principais destinos para os turistas da China continental. No sudeste asiático, o Vietname, a Malásia e a Indonésia destacam-se pelo forte aumento das reservas, enquanto no Japão, o interesse por cidades como Kobe e Fukuoka está a crescer em relação às tradicionais Tóquio ou Osaka. Em locais como Da Nang (Vietname) e Kota Kinabalu (Malásia), as reservas de hotéis por parte de visitantes chineses mais do que quadruplicaram em relação ao ano passado, segundo a imprensa local. A coincidência do feriado nacional deste ano com o Festival do Bolo Lunar – que varia com o calendário lunar e em 2025 se celebra a 06 de Outubro – alargou a ‘semana dourada’ para oito dias.
Hoje Macau Via do MeioUma dupla leitura do cromatismo de “branco e vermelho” de Camilo Pessanha Por Herder Garmes e Duarte Braga – Universidade de São Paulo R. Maria Antônia, 294, São Paulo – SP, Brasil (55) 11 3259-8342 | helder@usp.br ; duartedbraga@gmail.com Resumo: O presente texto propõe o que se poderia designar como uma dupla leitura do poema “Branco e Vermelho” de Camilo Pessanha, na medida em que: elabora uma reflexão a partir dos diálogos filosóficos do poema com autores portugueses coevos como Guerra Junqueiro ou Raul Brandão e, em seguida, explora o regime simbólico muito forte que se estabelece por meio de uma oposição cromática, a partir de eventuais diálogos com os pensamentos chinês e budista. Palavras-chave: Camilo Pessanha, Guerra Junqueiro, Raul Brandão, Pensamento Chinês, Budismo Abstract: This paper intends to interpret the poem “White and Red”, by Camilo Pessanha, in what could be called a double way. First, it reflects upon the philosophical dialogues with contemporary Portuguese writers such as Guerra Junqueiro or Raul Brandão; furthermore, it explores the poem’s symbolic dimension, established by a chromatic opposition that can be inspired by possible dialogues with Chinese and Buddhist philosophies. Keywords: Camilo Pessanha, Guerra Junqueiro, Raul Brandão, Chinese Thought, Buddhism 1 Texto oriundo do Pós-Doutoramento Fapesp (Proc. 2014/00829-8) e do Projeto Temático Pensando Goa, financiado pela FAPESP (Proc. 2014/15657-8). As opiniões, hipóteses e conclusões ou recomendações expressas neste material são de responsabilidade do(s) autor(es) e não necessariamente refletem a visão da FAPESP”. Introdução Embora essa seja a condição de todo o texto literário, a possibilidade de coexistência de leituras apresenta-se, em “Branco e Vermelho”, do poeta Camilo Pessanha, de modo muito evidente. Salienta-o o curioso artigo de Ana Haterly (1979), cuja intenção é provar que são possíveis pelo menos dez leituras paralelas desse poema, segundo diferentes métodos críticos. Deste modo, fica claro que este ensaio é apenas mais uma leitura de um texto muito complexo e profícuo de interpretações. A novidade desta que ora apresentamos é o seu carácter culturalmente duplo, por assim dizer, motivado ao mesmo tempo pelo pensamento europeu e pelo chinês. Em linhas gerais, lembremos que o texto poético explora uma determinada visão do ser humano, ambientada num deserto caracterizado por luminosidade, sombras e brancura, em que ao final surge a cor vermelha: ferido pelo que chama uma “dor imprevista”, que lhe altera decisivamente a percepção e a consciência, o eu lírico assiste a uma caravana de escravos condenados que, no fundo do horizonte, percorrem seu caminho de martírio coletivo. Acaba por identificar-se com eles e por saudar a morte que chega para eles e também para si, associada à explosão cromática da cor vermelha. O pouco que se sabe acerca da história deste poema é que terá sido um dos últimos a ser escrito pelo autor, conforme assinalado por Paulo Franchetti (2001, p. 132), embora evoque expressões da correspondência durante a primeira travessia de 1894 para Leste da Europa,2 que remetem para cenários do Oriente Médio. É, então, natural que seja um momento de “resolução e superação das tensões” da poética de Pessanha, como o mesmo autor (2001, p. 132) observa. Por essa razão, é legítimo entendê-lo como um texto que pode dar conta da circulação entre o pensamento filosófico europeu e o pensamento tradicional chinês, de cuja tradição o autor era um empenhado estudioso. Com efeito, as possíveis alusões do poema a elementos do Médio Oriente (o deserto, a caravana) localizam o texto entre a metrópole colonial e Macau, entre Ásia e Europa, entre Oriente e Ocidente. O poema permite, assim, ser pensado como um lugar entre, de alguma forma sintetizando a experiência do exílio que marca profundamente o poeta. 2 Trata-se de uma carta enviada a Alberto Osório de Castro em Março de 1894: «[…] Anteontem na entrada do canal ainda me foi possível ver o Deserto, inundado de sol, e com ilusões sem fim, de lagos, e acampamentos brancos de caravanas, que onde estariam? […]» (Pessanha, 1984, p. 43). A organizadora do volume de cartas aproxima o contraste entre o deserto branco e o Mar Vermelho ao título do poema (Pessanha, 1984, p. 103). O crítico e pensador português António Quadros considerou “Branco e Vermelho” “[…] o mais misterioso, mais profundo e porventura mais belo dos poemas de Camilo Pessanha […]” (Quadros, 1989, p.118). O presente texto começa por elaborar uma reflexão sobre essa profundidade a partir dos diálogos filosóficos do poema com autores portugueses coevos como Guerra Junqueiro ou Raul Brandão e, em seguida, explorará o regime simbólico muito forte que se estabelece por meio de uma oposição cromática, responsável pelo que seria o seu “mistério”. Segundo entendemos, o texto parte da ideia da existência humana como sofrimento, de viés cristão, filtrada pela filosofia pessimista de Schopenhauer, empregando também referências culturais orientais associadas aos dois planos da oposição cromática que o título apresenta. Sustenta-se que o simbolismo cromático do poema permite o cruzamento de elementos de duas esferas: por um lado, temos o postulado cristão de que a vida é sofrimento e a morte redenção; por outro, a simbologia do branco e do vermelho remete às tradicionais filosofias da China – como o budismo, o taoísmo e o confucionismo – de que Pessanha foi estudioso. Será mais fértil, e porventura mais seguro, entender “Branco e Vermelho” desse modo dúplice do que buscar ali uma visão exclusivamente europeia de mundo ou somente o esforço de pura auteridade do escritor, que efectivamente viveu na colônia portuguesa de Macau, na China, de 1894 até ao seu falecimento, em 1926. Ao usarmos uma chave de leitura “oriental”, essa se assume como comparativa, uma vez que não existem alusões diretas à China no texto do poema. Esse comparatismo de alguma forma responde ao do próprio Pessanha, cujo diálogo poético com a cultura chinesa se daria mais por via do “reconhecimento (…) de similaridades”3, de que fala Franchetti (2008) noutro ensaio, do que por uma aberta ideia de adesão ou de influência. A vida como sofrimento e os diálogos filosóficos do poema A valoração do sofrimento como redenção é um tema de inegável matriz cristã. Na crise de valores que se dá da literatura portuguesa do período finissecular, esse 3 Tratar-se-ia de um “reconhecimento”, na expressão de Franchetti (2008, p. 75), de algumas semelhanças processuais com a poesia chinesa: “A crítica já aproximou a maneira específica de Camilo Pessanha da forma de construção do texto na poesia chinesa tradicional. Mas a verdade é que muito antes de sequer cogitar em mudar-se para o Oriente, já em 1880, a maneira de Pessanha estava definida num dos seus textos mais impressionantes, o soneto que começa «Ó Madalena, ó cabelos de rastos». De modo que o mais adequado, no caso das relações entre a poesia de Pessanha e a poesia chinesa, de que ele foi inclusive tradutor, não é pensar em influência, mas em reconhecimento, em descoberta de similaridades” (Franchetti, 2008, p. 75). tópico, retemperado pelo pensamento nihilista de Schopenhauer4, surge sobretudo na formulação que é usada por Pessanha: a Dor, em outros autores maiusculada como se fosse uma entidade. É importante reter que é esse o termo empregue no poema: “Da enorme dor humana,/ Da insigne dor humana… / A inútil dor humana!” (Pessanha, 2009, p. 108). Essa dor reiteradamente repetida emerge não apenas em autores com uma forte interpelação do pensamento cristão, que identificam a existência humana ao sofrimento, num viés neo-franciscano e tolstoiano, como Guerra Junqueiro e Raul Brandão, mas também em outros mais associados ao pensamento schopenhaueriano, como Pessanha, com sua insistência no não-ser como fuga à vontade de viver. É, assim, um tema literário que é já filosófico a priori, uma vez que são extremamente rentáveis as implicações reflexivas em torno da questão do mal que acarreta. Autores como Raul Brandão ou Guerra Junqueiro levaram às últimas consequências algumas das implicações morais, éticas e espirituais da noção de Dor. O sofrimento, francamente positivado, é tido como uma espécie de farmácia espiritual, que cura todas as moléstias do ser; por outro, existe um potencial criativo no sofrimento, que deixa o indivíduo conhecer ou até criar certas realidades transcendentes. No encalço daqueles autores, Pessanha atribui à Dor a capacidade de redenção, desse modo sublinhando a conformação cristã do tópico. Onde esta se encontra mais presente é sobretudo na impressiva descrição do martírio dos condenados, que leva o sujeito poético a apostrofar os “Doces jardins amenos,/ Onde se sofre menos,/ Onde dormem as almas!” (Pessanha, 2009: 109). Nessa passagem do poema estamos no âmbito de uma valorização ético-espiritual das figuras que experienciam a dor: os “escravos condenados”. Tratar-se-ia de um exemplo do fenômeno que Vítor Viçoso designou como “positividade ético-religiosa do miserabilismo” do fim-de-século. Afirma o crítico que este: […] assenta […] numa tradição judaico-cristã de que Nietzsche havia sido, no último quartel do século XIX, o crítico mais feroz […] Ao cepticismo radical, ao niilismo heróico da vontade de poder, à desejável ascensão e supremacia dos fortes, com implícitas remissões ao darwinismo social, opõe-se este neo-franciscanismo militante que não hesita em descer à abjecção e ao informal. (Viçoso, 1999, p. 12) Isto que podemos chamar um dolorismo positivo distingue-se por outro lado do dolorismo negativo de Schopenhauer que, segundo o mesmo autor, “apenas no 4 Cf. Mesquita (2000). esteticismo contemplativo ou no não-ser acha os espaços protegidos da insciente e cega ‘vontade de viver’ ” (Viçoso, 1999, p. 12), talvez mais próximo da dor letal de Pesssanha. De qualquer modo, a dor não é um fim em si, como lembra Junqueiro, mas uma porta para chegar a algo, a passagem que no poema pessaniano ocorre entre a cor branca como a cor da dor e o vermelho final, cor da morte, do sonho e da redenção. Numa carta-prefácio a Os Pobres (1906) de Raul Brandão, Junqueiro afirma: Viver é sofrer, e tudo vive, tudo sofre. Vida infinita igual à dor eterna, eis a equação matemática da natureza. […] A dor, que se lhe afigurou a essência íntima da vida e a sua única expressão, não era, ao cabo, o substracto último da natureza, o fundo irredutível do universo. […] A alma, vencendo-a, converteu-a em amor. Não há beleza esplendente que não fosse dor caliginosa. A flor é a dor da raiz, a luz a dor das estrelas. (Junqueiro, 1984, 41) Guerra Junqueiro identifica a Dor ao próprio princípio vital. A dor é o motor da existência, mas não é a própria vida em si, como diz Brandão em Os Pobres (1906): “A dor dá a vida e não é a própria vida” (Brandão, 1976, p. 78). Este negativismo radical é heterodoxo no âmbito do pensamento cristão, no que toca ao problema do mal, ao insistir na equivalência entre dor e princípio vital, um negativismo que o aproxima ao pensamento gnóstico, uma vez que pensa o mal como realidade essencial no mundo. Mas o que interessa sublinhar é que aqui estamos perante toda uma filosofia do sofrimento: aqui a dor se transforma em amor, é uma potencialidade que não é apenas humana, mas cósmica. Temos, ainda, a singular identificação entre dor e luz (“a luz a dor das estrelas”) que, no caso de Pessanha, é contraste dinâmico entre luz e obscuridade. Ela, a Dor, é um caminho que possibilita uma visão renovada e iluminada. Segundo o poeta, a dor “Foi um deslumbramento, / Que me endoidou a vista”, desenvolvendo-se num regime extático: “Pairo na luz, suspenso… / Que delícia sem fim! / Na inundação da luz/ Banhando os céus a flux,/ No êxtase da luz” (Pessanha, 2009, p. 107). A dor como luminosidade, no sentido de conhecimento, mas também de consciência, além de estar presente no poema de Pessanha, também o estava no trecho de Junqueiro. A diferença fundamental face aos textos que insistem unicamente no valor ético-religioso da dor é que a perspectiva de Pessanha deriva para o valor de catalizador de uma percepção alterada, alucinada, prazerosa. Em Pessanha esse novo olhar procede de um excesso de dor, o que faz com que o sofrimento equivalha à consciência e ao êxtase. Muito na linha de Junqueiro, pela ideia de que a dor não é um fim em si mas uma passagem para algo, chegamos a um momento comparativo com uma passagem do Húmus (1917) de Raul Brandão. Essa obra do autor português possui evidente dimensão filosófica: o problema do mal, o da existência de Deus, o sentido do sofrimento – são as principais questões filosóficas que atravessam sua inclassificável genealogia, algures entre a literatura de ideias e o romance desconstruído da modernidade. Chegamos a um cenário espectral, no qual o Gabiru – alter ego brandoniano – assiste à chegada da primavera ao seu quintal. Trata-se de uma alegoria da própria existência, da luta constante entre o sonho e a sensibilidade (a primavera) e a insensibilidade da própria vida (o poço, a escuridão): Imagina o negrume d’um poço – imagina dentro o espanto, e não sei que luz viva, não sei que dor recalcada, não sei quê de humilde, que quer viver apesar de dorido. Vivo, e a pata enorme que espezinha e esmigalha. Escuridão e oiro – silêncio e oiro – espanto e oiro. […] O sonho transborda, o luar transborda – branco e dor – branco e sonho. (Brandão, 2000, p. 73) A intensidade desse trecho faz jus ao tom do poema de Pessanha. Não só se empregam formulações muito próximas, como também oposições cromáticas afins. A brancura se associa, de igual modo, ao sofrimento: “branco e dor – branco e sonho”. A cor branca face à escuridão e, em outros momentos, a oposição entre ouro e lama, parece remeter para uma duplicidade irreconciliável: entre a vivência do sonho (o branco, o oiro) e o contraste com a materialidade e a dura realidade (o negro, a lama). Húmus é uma obra que insiste na visão dolorida e angustiada de uma sensibilidade universal. Numa passagem como esta, a sensibilidade não é, com efeito, apenas a do sujeito, o Gabiru, mas também a do próprio Universo. Novamente, a dor não é apenas humana, mas cósmica, o que se distancia do poema de Pessanha, centrado na humanidade da dor (“a insigne dor humana!”). Temos, contudo, em Brandão, de novo a singular identificação entre dor e luminosidade e a ideia de que o sofrimento não é um fim em si, mas uma passagem para outro estágio. No caso de Húmus são as próprias coisas inanimadas que, tocadas pelo sofrimento humano, dissolvem a sua materialidade em sonho (“O sonho transborda, o luar transborda”); no caso de “Branco e Vermelho”, é a chegada da morte que transforma o sofrimento numa espécie de volúpia, numa mutação cromática entre a cor branca, cor da dor, e o vermelho final, cor do desejo e do sonho da morte: “Ó morte, vem depressa,/ Acorda, vem depressa,/ Acode-me depressa,/ Vem-me enxugar o suor,/ Que o estertor começa./ É cumprir a promessa./ Já o sonho começa… /Tudo vermelho em flor…” (Pessanha, 2009, p. 109). O cromatismo e a simbologia chinesa Os diálogos que acabamos de trabalhar ajudam a explicar certas noções e imagens do texto de Pessanha, colocando-os no contexto do pensamento filosófico e das poéticas suas contemporâneas. Terá ficado claro que o poema é também uma narrativa que pensa, que possui propostas ético-espirituais e fenomenológicas próprias, embora não o faça de forma expositiva e declarativa, antes alusiva e simbólica. Além disso, é também importante ler o texto de Pessanha como sendo uma narrativa estruturada de um percurso interior. Com efeito, seria difícil refutar que “Branco e Vermelho” dá conta de um agudo estado alucinatório da percepção. Nessa percepção alterada dá-se uma visão que ocorre dentro do sujeito, literalmente no fundo da sua pupila, num revelador parêntesis do poema: “(Seus pobres corpos nus/ Que a distância reduz,/ Amesquinha e reduz/ No fundo da pupila)” (Pessanha, 2009: 107). Isto é reconhecido pela crítica, que tem falado do poema como “exasperado” ou “alucinado”, pela forma como o seu ritmo obsessivo se associa à produção de visões, e estas, por sua vez, se plasmam num regime cromático duplo, branco e rubro. Podemos procurar, em outros momentos de Clepsydra, alucinações que envolvem a percepção de cores. Há inclusive um momento em que idêntico contraste cromático ocorre, como no sangue entornado nas areias do deserto de um poema incompleto5, aliás com cenário idêntico ao deste. A semelhança não é dispicienda, uma vez que se trata de um sacrifício sanguinolento do sujeito num ambiente seco e dessorado. Mas queremos atentar em particular na estrofe de outro poema: Ó cores virtuais que jazeis subterrâneas, – Fulgurações azuis, vermelhos de hemoptise, Represados clarões, cromáticas vesânias –, No limbo onde esperais a luz que vos batize (Pessanha, 2009, p. 110) Atente-se para a percepção visual do eu lírico, supondo uma perturbação da íris que vê cores, semelhante à que acontece no poema que temos vindo a trabalhar, ainda que não se conheça a data de composição de nenhum deles: ”Foi um 5 “Recortes vivos das areias, / Tomai meu corpo e abride-lhe as veias… / O meu sangue entornai-o,/ Difundi-o, sob o rútilo sol,/ Na areia branca como em um lençol,/ Ao sol triunfante sob o qual desmaio” (Pessanha, 2009, p. 118). deslumbramento,/ Que me endoidou a vista” (Pessanha, 2009, p. 107). Esta efusão de cores remete para uma errância e uma polissemia simbólica dos elementos cromáticos, como que a priori legitimando as interpretações diversas que deles podem ser retirados. Retomemos a análise simbólica de tais elementos segundo certos aspectos do pensamento chinês. Pioneira é, a este respeito, a leitura de Manuela Delgado Leão Ramos (2001), trabalhando com o Taoismo e a alquimia chinesa. Sustenta a autora uma leitura do poema baseada na simbólica da alquimia chinesa: Foi […] documentado que a progressão das cores observada pelos alquimistas chineses no curso das suas operações é a mesma que a da preparação da “pedra filosofal” pelos alquimistas ocidentais e que ela passa do branco ao vermelho […] é indiscutível que segundo esta grelha de leitura, o texto exprime um estado alterado de consciência e também se sabe quanto as experiências dos paraísos artificiais podem induzir esses estados transitoriamente. (Ramos, 2001, s.p.) Contudo, a articulação entre o sofrimento e a cor branca e, de outro, entre o êxtase da morte e a cor vermelha pode, de uma forma mais clara do que a leitura de Ramos, explicar tal oscilação de cores, dando-lhe um sentido mais direto. A alternância branco/vermelho poderá, assim, remeter para a vivência do luto adentro do Confucionismo ou para os valores simbólicos de felicidade e boa fortuna associáveis à cor vermelha no pensamento chinês. Na cultura chinesa, em contexto de morte, como explica Wolf (1970, p. 193-194), o branco é a cor a ser usada por ser neutral, enquanto que o vermelho possui uma função profilática e protetora da influência perniciosa do falecimento, sendo usado por alguns familiares mais distantes do falecido ou nos presentes entregues a familiares. Por outro lado, o vermelho é a cor da sorte por ser também, no budismo chinês, a da transformação interior, associando-se à manifestação do Buda Amithaba, da linha Terra Pura do Budismo Chan. É Chevalier quem lembra o que os chineses designam como “ouro vermelho”, enquanto símbolo do renascimento espiritual: O simbolismo tântrico-taoista da Flor de Ouro é também o da obtenção de um estado espiritual: a floração é o resultado de uma alquimia interior, da união da essência (jing) e do sopro (qi). A flor é o regresso ao centro, à unidade, ao estado primordial (Chevalier, 1982, p. 124, trad. nossa) Esta passagem é citada por Ramos, que aproxima a flor rubra à visão da morte em meio do vermelho: “Tudo vermelho em flor…” (Pessanha, 2009, p. 109). No entanto, a leitura de “Branco e Vermelho” pelo viés do budismo já havia sido proposta por Maria Helena Martins Ribeiro da Cunha, interpretação percuciente que devemos recuperar: Esta analogia do caminho a percorrer com sofrimento […] tem inegável referência aos preceitos búdicos […] no poema Branco e Vermelho, já possivelmente fruto de incursões mais profundas na religião oriental [o Budismo]. É impossível negar o vínculo dos seus versos com o estado espiritual que possibilita a percepção da universalidade da dor, e radica, por isso, na doutrina budista. E é essa percepção que concede ao poeta as imagens do sofrimento dos homens. (Cunha, 1977, p. 16) Trata-se de uma leitura fértil, embora problemática. Com efeito, nem o sofrimento nem a morte são vistos como um bem no pensamento chinês tradicional e no budismo, muito menos o constante elogio da morte que atravessa os versos de Pessanha. Pelo contrário, o sofrimento universal, embora radique no centro da experiência humana, deve ser – para os budistas – enfrentado e superado por via da compaixão ativa. A entrega apaixonada à morte como escape do sofrimento mais facilmente nos remeteria de novo para o pensamento cristão filtrado por Schopenhauer. Com efeito, o elogio à Dor de Schopenhauer pretende assentar na contemplação do não-ser, aí encontrando dimensões que escapam à vontade de viver. Nesse aspecto, esta leitura seria mais segura do que a budista, para a qual o Nirvana não constitui propriamente o nada ou a anulação do eu e da personalidade, antes a do desejo egocêntrico que dá origem à própria existência, bem como a extinção da concepção monolítica e antropocêntrica do eu, o que, aliás, sugere a autora: As sétima e oitava estrofes representam a salvação, a dor vencida […] Camilo Pessanha reserva às duas últimas estrofes a reafirmação de que se aproxima, ele próprio, da revelação do nirvana […] A ideia de aurora que o deslumbra tudo vermelho em flor não contraria […] o pensamento búdico: o nirvana não representa para o Budismo o nada, o não ser na medida em que destrói o falso real. Longe de significar o renascer do desejo de existir, o ultimo verso figura a afirmação do “não- eu”. (Cunha, 1977, p. 16) Contudo, a forma como o poema coloca a questão da dor parece-nos mais schopenhaueriana do que propriamente budista e, nesse sentido, entendemos ser um tanto ousado procurar a correspondência direta que a autora propõe entre a progressão lógico-argumentativa do poema e as quatro nobres verdades budistas acerca da natureza do sofrimento e de sua cessação6. Se assim fosse, o poema seria como que uma exposição doutrinal do budismo, o que aniquilaria a possibilidade de uma leitura que o conecte com a tradição cristã, o que potencialmente não nos parece razoável. Porém, é possível encontrar outras dimensões da relação do poema com o budismo, sobretudo na atenção que o poema confere à superação do corrente lugar epistemológico e ontológico do sujeito, que parece ocorrer na seguinte estrofe: “Como um deserto imenso,/ Branco deserto imenso,/ Resplandecente e imenso,/ Fez-se em redor de mim./ Todo o meu ser suspenso…/ Não sinto já, não penso” (Pessanha, 2009: 107). Com efeito, a tratar-se de súbita e gratuita suspensão do eu, esta pode ser lida como concomitante abertura da mente como espaço livre de sujeito e de objeto, como é expresso pelo conceito de Shunyata7, a vacuidade da própria mente enquanto espaço impessoal8. Tratar-se-ia da luminosa visão da natureza da mente que o Budismo do Grande Veículo – a que pertencem as tradições chinesa, tibetana e japonesa – concebe: como um lugar que é, na verdade, livre de qualquer diferenciação e limitação. Na tradição budista, é salientado como em certos momentos privilegiados, como o da morte, se permite observar a própria consciência sob a forma de uma claridade cegante e insuportável, na qual se dissolve a percepção de ser um eu autônomo. Tal é sugerido pela imagem do deserto, comum à linguagem da experiência religiosa cristã, mas também a um famoso poema sem título de Álvaro de Campos, de 1930, sobre a vastidão desértica da alma: “Como um deserto imenso,/ Branco deserto imenso,/ Resplandecente e imenso” (Pessanha, 2009, p. 107). Esse branco luminoso continua, ao longo do poema, como um pano de fundo sobre o qual se desenham as alucinações Referências: 6 A autora identifica, de forma linear, o poema ao sofrimento tal como ele é visto pelo budismo, afirmando que: “A relação com as quatro nobres verdades […] é o eixo que lhe norteia o desenvolvimento, apoiado inclusivamente na estrutura poemática” (Cunha, 1977, p. 16). Segundo ela: “O poeta logrou, portanto, destruir o engano da individualidade (1ª e 2ª estrofes) e compreender a universalidade da dor (3º)” (Cunha, 1977, p. 16). 7 Como afirma Paulo Borges: “Ao arrepio da afirmação e da negação absoluta de um ser em si (svabhava), a vacuidade (shunyata) expressa a ‘coprodução condicionada’ (pratityasamutpada) de todos os fenómenos, que não são entidades simples, permanentes e independentes, ‘seres’ ou ‘coisas’, mas antes produtos de múltiplas causas e condições […] e assim ‘acontecimentos’, ‘sinergias’ ou ‘coproduções (no sentido fílmico da palavra)’. Sendo a vacuidade inseparável das formas, sendo os fenómenos vazios mas aparentes e aparentes mas vazios, a vacuidade não é um vazio puro nem uma inexistência, tal como não é uma entidade. […]” (Borges, 2007, p. 74). 8 Afirma o mesmo autor: “Na tradição tibetana […] budista da Grande Perfeição (rDzogs tchen), do Buda primordial como a própria natureza da mente, descrita como uma ‘vasta expansão’ (long tchen), uma ‘ausência total de referências’ e um ‘fundo de tudo’ (kun gzhi) afinal livre de o ser ou um ‘espaço fundamental’ (dbying) que não é senão vacuidade, do qual tudo emerge ‘como a energia dinâmica da sua manifestação’ […]” (Borges, 2007, p. 81). da mente, qual a visão da caravana da dor humana. Tais visões de sofrimento podem ser associadas aos delírios e visões infernais que segundo a tradição do Grande Veículo, sobretudo na tibetana, podem acometer a mente durante o momento da própria morte, num momento que se segue ao da sua abertura luminosa. Assim, o espaço desértico poderia ser, neste sentido, uma imagem da própria vastidão da mente onde se desenrolam as alucinações da percepção. Aí os seres humanos surgem como escravos, talvez de seus próprios impulsos egocêntricos. Esperamos ter demonstrado, portanto, que o poema “Branco e Vermelho” suporta uma leitura de dupla face: tanto a partir de uma concepção de vida fundada na tradição cristã européia, mediada pelo pensamento schopenhueriano, quanto a partir de uma concepção alicerçada na tradição budista, de matriz asiática. A possibilidade de convivência dessas duas leituras faz com que o poema não apenas ganhe em polissêmica, mas apresente sua face diplomática, isto é, sua capacidade de funcionar como mediador cultural entre uma e outra parte do mundo, já que pode ser lido a partir desses distintos repertórios. Faz lembrar aquelas teses seiscentistas e setecentistas defendidas nos colégios de Macau e Goa, que buscavam a conciliação entre o catolicismo e as doutrinas asiáticas e que logo foram consideradas hereges pela igreja de Roma. Séculos depois, a heresia se fez arte nos versos de Pessanha, explorando o sentidos culturais das cores e fazendo de um “brando deserto imenso”, “tudo vermelho em flor”. Bibliografia BORGES, Paulo, “A Vida do honrado infante Josaphate ou de como a cristianização do Buda semeia a vacuidade na cultura ocidental e portuguesa”. In BORGES, Paulo e BRAGA, Duarte Drumond (orgs.). Revista Lusófona de Ciência das Religiões, Ano VI, 2007, n.º 11 [O Budismo, uma proximidade do Oriente | Ecos, sintonias e permeabilidades no pensamento português]. BRANDÃO, Raul, Húmus. Edição crítica de Maria João Reynaud. Porto: Campo das Letras, 2000. CAMPOS, Álvaro de. Livro de CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain, Dictionnaire des symboles. Paris: Robert Laffont, 1982. CUNHA, Maria H.R. “A flauta chinesa de Camilo Pessanha”. In O Estado de São Paulo, n.46, ano I, 28 de Agosto de 1977, p. 15-16. FRANCHETTI, Paulo, Nostalgia, Exílio e Melancolia: Leituras de Camilo Pessanha. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001. , O Essencial sobre Camilo Pessanha. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2008. HATERLY, Ana, “Breve introdução ao simbolismo português – seguida de dez leituras de dez leituras específicas dum poema de Camilo Pessanha”. In: O espaço crítico: do simbolismo à vanguarda. Amadora: Caminho, 1979. JUNQUEIRO, Guerra. “Carta-Prefácio”. In: Raul Brandão, Os Pobres. Lisboa: Editorial Comunicação, p. 33-48. MESQUITA, Zoraide Rodrigues Carrasco de Mesquita, “A Insigne Dor Humana” (Presença de Schopenhauer na Poesia de Camilo Pessanha). Tese de Mestrado apresentada à FFLCH-USP, 2000. PESSANHA, Camilo, Cartas a Alberto Osório de Castro, João Baptista de Castro e Ana de Castro Osório. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1984. , Clepsidra. Org. Paulo Franchetti. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009. QUADROS, A., “Camilo Pessanha, o simbolista”. In: O primeiro modernismo português: vanguarda e tradição. Mira-Sintra – Mem Martins: Europa-América, 1989. p. 77-120. RAMOS, Manuela Leão Delgado, António Feijó e Camilo Pessanha no Panorama do Orientalismo Português. In Capa VIÇOSO, Vítor, A Máscara e o Sonho – Vozes, Imagens e Símbolos na Ficção de Raul Brandão. Lisboa: Cosmos, 1999. WOLF, Arthur, “Chinese kinship and Mourning Dress”. In: Family and Kinship in Chinese Society. Ai-li S. Chin e Maurice Freedman (orgs.). Stanford: Stanford University Press, 1970, P. 189-198.
Hoje Macau SociedadeHotelaria | Taxa de ocupação média de 93 por cento em Agosto Os hotéis de Macau receberam mais de 1,3 milhões de hóspedes ao Agosto, registando uma taxa de ocupação média de 92,9 por cento, segundo dados divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) na passada terça-feira. Em termos anuais, a ocupação média dos quartos aumentou 1,5 pontos percentuais, e o número de hóspedes aumentou 3 por cento. Esta discrepância ficou-se a dever ao aumento de quartos disponíveis no período em análise pelos 147 estabelecimentos hoteleiros. A DSEC salienta que a taxa de ocupação dos hotéis de 5 estrelas (95,7 por cento) e a dos hotéis de 4 estrelas (88,2 por cento) subiram 2,2 e 1,6 pontos percentuais, respectivamente, ao passo que a dos hotéis de 3 estrelas (89,9 por cento) diminuiu 0,9 pontos percentuais. O número de hóspedes do Interior da China (991.000) ascendeu 2,4 por cento, relativamente a Agosto do ano anterior e o de hóspedes internacionais (87.000) aumentou 20,3 por cento. A DSEC destaca que o número de hóspedes da Tailândia (8.000) registou uma subida homóloga de 157,7 por cento.
Hoje Macau PolíticaJogo | Receitas sobem 6% em Setembro apesar de super tufão As receitas dos casinos de Macau subiram em Setembro 6 por cento em comparação com igual período de 2024, apesar do encerramento temporário devido ao super tufão Ragasa. Ainda assim, o mês passado foi o segundo mais fraco deste ano O sector do jogo arrecadou 18,3 mil milhões de patacas no mês passado, mais 6 por cento face a Setembro do ano passado. O registo representou o segundo valor mensal mais baixo de 2025, revelou a Direcção de Inspeção e Coordenação de Jogos (DICJ) de Macau. Ainda assim, as receitas aumentaram em termos anuais, apesar da passagem do Ragasa, que levou as autoridades da região semiautónoma chinesa a encerrarem os casinos durante 33 horas. As operadoras terão perdido 880 milhões de patacas em receitas, quase 5 por cento do previsto para Setembro, estimou Jeffrey Kiang, analista da consultora CLSA, citado pelo portal de notícias GGRAsia. O valor registado em Setembro representa 82,8 por cento do atingido no mesmo mês de 2019, quando os casinos de Macau tiveram receitas de 22,1 mil milhões de patacas. Em relação ao mês anterior, os casinos de território amealharam menos 17,5 por cento de receitas brutas. Porém, é de referir que em Agosto deste ano, a indústria do jogo de Macau registou a melhor performance mensal deste Janeiro de 2020, com receitas brutas a rondar 22,16 mil milhões de patacas. Visão alargada Em termos de receita bruta acumulada, os primeiros nove meses de 2025 registaram um aumento de 7,1 por cento em relação ao mesmo período do ano passado, atingindo 181,3 mil milhões de patacas. Recorde-se que Macau fechou 2024 com receitas totais de 226,8 mil milhões de patacas, mais 23,9 por cento do que no ano anterior. O Governo de Macau previu, no orçamento inicial para 2025, que o ano iria fechar com receitas totais de 240 mil milhões de patacas, o que representaria um aumento de 6 por cento em comparação com o ano passado. Mas, em 11 de Junho, a Assembleia Legislativa aprovou um novo orçamento, proposto pelo Executivo, que reduz em 4,56 mil milhões de patacas a previsão para as receitas públicas. O secretário para a Economia e Finanças, Anton Tai Kin Ip, admitiu aos deputados que o corte se deve ao facto de as receitas brutas do jogo no primeiro trimestre de 2025 terem “ficado ligeiramente abaixo do previsto”.
Hoje Macau Sociedade“Matmo” | Sinal 1 de tempestade emitido entre hoje e amanhã Os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) vão içar, entre a noite de hoje e o início da manhã de amanhã, sábado, o sinal 1 de tempestade tropical, tendo em conta a aproximação da depressão tropical “Matmo”, situada a leste das Filipinas, que se intensificou e, entretanto, passou à categoria de ciclone tropical. O içar do sinal 1 de tempestade está relacionado com o facto de o “Matmo” ficar a um raio de 800 quilómetros de Macau, devendo deslocar-se em direcção às áreas entre a costa oeste de Guangdong e a ilha de Hainan. No domingo o “Matmo” estará mais próximo de Macau, resultando na “intensificação significativa dos ventos na região, acompanhada de aguaceiros fortes e frequentes”.
Hoje Macau SociedadeCultura | Coutinho denuncia falta de transparência em financiamentos Pereira Coutinho revelou na quarta-feira ter recebido “muitas queixas de jovens empresários apontando para a falta de transparência do Instituto Cultural e do Fundo de Desenvolvimento Cultural”. Numa publicação no Facebook, o deputado indica que os problemas se verificam ao nível da “concessão de financiamento de projectos ao abrigo do Fundo de Desenvolvimento Cultural (FDC) que há muito tempo tem estado a ser monopolizada por três a cinco entidades particulares”. Coutinho realça que em Agosto de 2023 escreveu uma interpelação a pedir transparência para o processo de concessão de financiamento, incluindo “informação detalhada dos membros e peritos das várias Comissões de Avaliação de Actividades e Projectos do FDC”, de forma a filtrar eventuais conflitos de interesse. Porém, o deputado considera que “lamentavelmente, a situação não tem melhorado”, e que irá “continuar a acompanhar a questão na Assembleia Legislativa”.
Hoje Macau SociedadeTrabalho | Joey Lao quer subsídios para o primeiro emprego O deputado eleito Joey Lao defende que o Governo deve lançar um subsídio mensal destinado às empresas para financiar salários de jovens contratados para o primeiro emprego. O responsável entende que desta forma os empregadores serão incentivados a recrutar recém-licenciados. A posição foi tomada no programa matinal Fórum Macau do canal chinês da Rádio Macau da quarta-feira, em que participaram os candidatos eleitos de Jiangmen à Assembleia Legislativa. “Quando o Governo apoia jovens para trabalharem na Grande Baía, atribui-lhes subsídios de 5 mil patacas por mês, porque é que estas cinco mil patacas não podem subsidiar trabalhos em Macau? Se o Governo estiver disposto a subsidiar os empregadores para recrutarem recém-licenciados, estes terão mais vontade de contratar. Imaginem recém-licenciados com salários mensais de 13 mil patacas. O Governo subsidia 5 mil e os empregadores só precisam de pagar 8 mil patacas. Deve resolver o problema do desemprego jovem,” acrescentou.
Hoje Macau SociedadeTáxis | 100 viaturas começam a operar em 2026 A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) assegura que uma centena de táxis regulares deverão começar a operar no mercado, “o mais tardar, no segundo trimestre de 2026”. Este concurso público decorreu tendo em conta o fim do contrato, à meia-noite de terça-feira, 30 de Setembro, do fim do contrato dos chamados “táxis azuis”, com a Indústria de Transportes de Passageiros em Táxis Especiais. Numa nota, a DSAT esclarece que há ainda 200 “táxis vermelhos” a circular, bem como os “táxis pretos”, num total de 1.400 viaturas disponíveis no mercado. A DSAT destaca ainda que “estão em curso os preparativos para uma nova ronda de concurso público para a atribuição de licenças de táxi, com o objectivo de aumentar rapidamente o número de táxis disponíveis e reforçar as exigências para que haja táxis acessíveis”. A DSAT diz que, dos 200 condutores dos “táxis azuis”, “cerca de 70 por cento foram reaproveitados pela companhia para conduzir os ’táxis vermelhos'”, sendo que os restantes “manifestaram intenção de continuar no sector dos táxis, mudar para outras áreas do sector de transportes ou proceder à reconversão profissional”.
Hoje Macau PolíticaAdministração | Johnson Ian defende nova mentalidade O ex-candidato à Assembleia Legislativa, Johnson Ian, defende que o principal problema da Administração Pública não vai ser resolvido com a reforma governamental. Numa opinião publicada no jornal Son Pou, o candidato excluído das eleições considerou mais importante adoptar uma nova mentalidade, virada para a qualidade dos serviços e para a autodisciplina, de forma a responder às necessidades da população. Sobre as mudanças recentes no Governo, Ian afirmou que foi a primeira vez que este tipo de remodelação aconteceu em 26 anos da RAEM, após a transferência da soberania. Contudo, o ex-número dois da lista encabeçada pelo deputado Ron Lam apontou que as mudanças serão em vão, se o Governo não souber responder às expectativas sociais, responsabilizar os governantes pelas suas acções, ouvir as consultas públicas e utilizar bem o erário público. Ian abordou também as notícias que sobre a fusão dos institutos Cultural e do Desporto. O ex-jornalista considerou que há anos que a redução da máquina administrativa é um objectivo comum aos governos, mas que não tem sido alcançado.
Hoje Macau Manchete PolíticaAL | André Cheong promete utilizar experiência para maior ligação com Governo O futuro deputado André Cheong prometeu utilizar a sua experiência para implementar uma “interacção benéfica” entre o poder Executivo e o Legislativo. As promessas foram deixadas à margem das celebrações do dia nacional. “Vou utilizar a minha experiência para promover a interacção benéfica entre o Executivo e o Legislativo, contribuindo assim para os trabalhos da Assembleia Legislativa”, afirmou André Cheong. Por outro lado, o ainda secretário afirmou que irá contribuir para o hemiciclo, independentemente de ser nomeado presidente da Assembleia Legislativa: “O presidente da Assembleia da Legislativa vai ser eleito entre os deputados. Qualquer que seja o lugar que vou assumir, vou dar o meu melhor contributo”, destacou. O secretário revelou ainda que com a nomeação para a AL vai deixar a posição no Conselho Executivo, em que é membro e porta-voz, e na comissão de desenvolvimento da Zona de Cooperação Aprofundada. Administração | Wong vai seguir os objectivos do antecessor Após assumir a pasta da Administração e Justiça, a partir de 16 de Outubro, Wong Sio Chak prometeu seguir as prioridades definidas pelo antecessor, André Cheong. “O secretário André Cheong já definiu claramente as medidas das próximas linhas de acção governativa. Portanto, em primeiro lugar, vou impulsionar estas orientações e metas definidas pelo secretário André Cheong”, afirmou Wong Sio Chak, na quarta-feira, em declarações aos jornalistas. “Entre as prioridades está a reestruturação, com o objectivo de simplificar a Administração. Depois queremos elevar a capacidade dos funcionários públicos. Espero que possam ser lançadas medidas nesse sentido. O aumento da eficiência da Administração também é prioridade para o futuro”, acrescentou. Segurança | Chan Tsz King confiante antes de assumir pasta O Procurador da RAEM e futuro secretário para a Segurança, Chan Tsz King, está confiante nas suas capacidades para assumir a nova posição. “De facto, o Ministério Público e a Segurança têm trabalhos semelhantes. Ambos têm a responsabilidade de assegurar a estabilidade e ordem social. Temos de colaborar e cooperar permanentemente. Os trabalhos destinam-se sempre a assegurar a estabilidade social”, afirmou Chan, citado pelo Canal Macau. “Estou confiante que me vou adaptar e integrar rapidamente na equipa da pasta da Segurança, dados os vários anos de experiência que acumulei no Ministério Público, no Comissariado Contra a Corrupção, bem como na cooperação com os colegas”, acrescentou.
Hoje Macau China / ÁsiaFilipinas | Número de mortos pelo tufão Bualoi sobe para 24 Pelo menos 24 pessoas morreram na passagem do tufão Bualoi pela região central das Filipinas durante o fim de semana, declarou ontem um responsável da Protecção Civil filipina. O director-adjunto da Protecção Civil das Filipinas, Rafaelito Alejandro, disse que o tufão matou 10 pessoas na província de Biliran, nove na província de Masbate, quatro na província de Samar e uma na província de Leyte do Sul. A maioria morreu afogada ou foi atingida por destroços, acrescentou Alejandro. As autoridades indicaram 11 mortos no balanço anterior. Depois de passar pelas Filipinas, o tufão chegou no domingo ao Vietname, onde pelo menos 11 pessoas morreram e milhares de edifícios ficaram danificados ou destruídos, declararam ontem as autoridades locais. A tempestade — a décima a atingir o Vietname este ano — atingiu o país na noite de domingo, gerando ventos de 130 quilómetros por hora. Mais de 53 mil pessoas foram levadas para escolas e centros médicos convertidos em abrigos temporários antes de o Bualoi atingir o Vietname, segundo o ministério. Quatro aeroportos domésticos e parte da autoestrada nacional foram ontem encerrados. Mais de 180 voos foram cancelados ou atrasados, anunciaram as autoridades aeroportuárias.
Hoje Macau China / ÁsiaSegurança | Suécia acusa Rússia por drones sobre Dinamarca e envia ajuda O primeiro-ministro sueco acusou esta segunda-feira a Rússia de estar na origem dos ‘drones’ que têm invadido o espaço aéreo dinamarquês, a dias de uma cimeira europeia, em Copenhaga, anunciando ajuda militar, tal como a França. “A probabilidade de a Rússia querer mandar uma mensagem a um país que apoia a Ucrânia é bastante elevada”, mas “ninguém sabe verdadeiramente”, afirmou Ulf Kristersson, indicando confirmando que os ‘drones’ que sobrevoaram a Polónia, no início de Setembro, eram russos. Os ‘drones’ foram detectados várias vezes na Dinamarca e na Noruega, na passada semana, e provocaram o encerramento de diversas estruturas aeroportuárias, como a maior base militar dinamarquesa, Karup. “Tudo aponta para a Rússia, mas todos os países têm as suas cautelas antes de apontar o dedo a alguém, se não tiverem a certeza. Na Polónia, sabemos que foi mesmo assim [a Rússia]”, continuou Kristersson. As autoridades dinamarquesas anunciaram que vão fechar o seu espaço aéreo até sexta-feira, dada a realização do encontro de líderes continentais, até para que os alegados ‘drones’ inimigos não sejam confundidos com outros, devidamente autorizados. Toda e qualquer infracção destas regras especiais pode vir a ser punida com coima e até pena de prisão de até dois anos. “Há um país que é uma ameaça para a segurança da Europa. É a Rússia”, disse a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen. “Foi destacado um contingente dos diversos ramos (das Forças Armadas francesas) para a Dinamarca. Este destacamento contempla 35 efectivos, um helicóptero Fennec e meios de combate ‘antidrone'”, lê-se em comunicado do Ministério da Defesa francês.
Hoje Macau China / ÁsiaNanjing | Morre aos 94 anos uma das últimas sobreviventes de massacre Uma das últimas sobreviventes chinesas do massacre de Nanjing, Xiong Shulan, morreu a 27 de Setembro aos 94 anos, anunciou ontem o Centro Memorial das Vítimas daquela matança. Com o falecimento de Xiong Shulan, restam 25 sobreviventes do episódio ocorrido em finais de 1937, quando tropas japonesas invadiram a então capital chinesa e, durante seis semanas, saquearam, incendiaram, violaram e assassinaram entre 150 mil e 340 mil pessoas, segundo várias fontes históricas. Nascida em 1931, Xiong tinha seis anos quando, juntamente com a família, se refugiou num abrigo subterrâneo para escapar ao massacre. Recordava que a mãe perdeu o bebé que esperava, a tia foi violada e o tio assassinado de forma “extremamente brutal”. Também descreveu montes de cadáveres acumulados nas proximidades do local onde hoje se ergue o memorial. Os testemunhos de Xiong e de outras vítimas foram inscritos em 2015 no Registo da Memória do Mundo da UNESCO. Este ano já tinham falecido outros dois sobreviventes, Yi Lanying e Tao Chengyi, ambos em Fevereiro, aos 99 e 89 anos. A China assinala anualmente o 13 de Dezembro como dia de luto nacional pelas vítimas da chamada “Matança de Nanjing”. O episódio está ainda no centro de uma disputa histórica com o Japão, acusado por Pequim de adoptar uma postura revisionista sobre a invasão e os crimes de guerra cometidos, que incluíram massacres de civis, utilização de mulheres como escravas sexuais e experimentação com armas biológicas.
Hoje Macau China / ÁsiaGuizhou | Ex-dirigente condenado à morte com pena suspensa Um tribunal da cidade chinesa de Chengdu condenou ontem à pena de morte com suspensão de dois anos Chen Yan, antigo vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês na província de Guizhou, por corrupção. De acordo com um comunicado publicado na conta oficial do tribunal na rede social WeChat, Chen foi também condenado à privação dos direitos políticos vitaliciamente e à confiscação de todos os seus bens, no âmbito de crimes de suborno e abuso de poder. Este tipo de pena, comum na China em casos de corrupção, prevê a comutação para prisão perpétua caso o arguido não cometa novos delitos e mantenha bom comportamento durante o período de suspensão. Pelo crime de abuso de poder, Chen foi ainda condenado a sete anos de prisão. Segundo a sentença, entre 2012 e 2024, Chen aproveitou os cargos que ocupou – incluindo os de presidente da câmara das cidades de Tongren e Guiyang (capital da província) e de vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês – uma espécie de senado sem poder legislativo – para beneficiar indivíduos e entidades na atribuição de fundos públicos, adjudicação de projectos e aprovação de operações comerciais. Durante esse período, Chen terá recebido subornos no valor superior a 357 milhões de yuan. O tribunal classificou os montantes envolvidos como “particularmente elevados” e considerou que as acções de Chen causaram “danos especialmente graves” aos interesses do Estado e da população. A sentença teve em conta factores atenuantes como a confissão dos crimes e o arrependimento demonstrado pelo réu.
Hoje Macau China / ÁsiaMyanmar | Onze membros de rede de fraudes e tráfico condenados à morte Um tribunal chinês condenou ontem à pena de morte 11 membros do chamado “grupo criminoso da família Ming”, implicado em homicídios, burlas e tráfico de droga, com ligações à região fronteiriça de Kokang, no Myanmar. O tribunal da cidade oriental de Wenzhou emitiu ainda cinco penas de morte suspensas por dois anos – que costumam ser comutadas para prisão perpétua –, onze sentenças de prisão perpétua e doze penas entre cinco e 24 anos de prisão, segundo o Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista Chinês. As condenações dizem respeito a um total de 14 crimes, incluindo homicídio intencional, burla, posse ilegal de armas e organização de redes de prostituição. As sentenças incluem também coimas, confiscação de bens e, nalguns casos, expulsão do território chinês. Segundo o tribunal, o grupo, articulado em torno de membros da chamada “família Ming”, usou a sua influência e o controlo de forças armadas locais na região de Kokang, no Myanmar, para estabelecer centros operacionais em locais como Laukkai, a partir de 2015. Estes centros serviram como base para operações de fraude electrónica, jogos de azar ilegais, tráfico de droga e prostituição, dando protecção armada a investidores e patrocinadores envolvidos nas actividades. A sentença indica que as burlas e atividades de jogo movimentaram mais de 10 mil milhões de yuan. O tribunal deu ainda como provado que dez pessoas foram assassinadas e duas ficaram feridas por tentarem escapar ou resistir às ordens dos criminosos.
Hoje Macau China / ÁsiaPCC | Quarto plenário do Comité Central marcado para fim de Outubro O Partido Comunista Chinês (PCC) vai realizar entre 20 e 23 de Outubro, em Pequim, o 4.º plenário do Comité Central, visando traçar a orientação do país para os próximos cinco anos, anunciou ontem a imprensa oficial chinesa. Segundo a agência noticiosa oficial Xinhua, os principais dirigentes do partido vão discutir o 15º plano quinquenal (2026–2030), que definirá metas estratégicas para o desenvolvimento económico, social e tecnológico da China num contexto de crescentes desafios internos e externos. O encontro ocorre num momento em que o país enfrenta uma conjuntura marcada por pressões comerciais dos Estados Unidos, abrandamento económico, fraca procura interna e taxas de natalidade persistentemente baixas. Em Abril passado, o Presidente chinês, Xi Jinping, já tinha adiantado que o próximo plano deverá “concentrar-se no objectivo de realizar a modernização socialista, com vista à construção de um grande país e à promoção da regeneração nacional”. A taxa de desemprego jovem atingiu 21 por cento em Agosto – o valor mais alto desde que as autoridades retomaram a publicação deste indicador com nova metodologia no ano passado. A produção industrial e as vendas a retalho também registaram no último mês o crescimento mais lento em cerca de um ano, segundo dados oficiais. O plenário deverá ainda consolidar as prioridades delineadas pelo PCC durante o Congresso de 2022, que reforçou o poder de Xi Jinping e reafirmou a meta de tornar a China num país socialista moderno até 2049, centenário da fundação da República Popular.
Hoje Macau China / ÁsiaCorrupção | Ex-ministro da Agricultura condenado a pena de morte suspensa O antigo ministro chinês da Agricultura e Assuntos Rurais Tang Renjian (2020-2024) foi ontem condenado a pena de morte com suspensão de dois anos por corrupção, informou a agência noticiosa oficial Xinhua. Segundo a sentença de um tribunal de Changchun, no nordeste da China, Tang recebeu subornos no valor equivalente a cerca de 38 milhões de dólares entre 2007 e 2024, em troca de favorecimentos em negócios, concursos públicos e nomeações. Todos os bens pessoais do ex-ministro serão confiscados e os ganhos ilícitos revertidos a favor do Estado, adiantou a agência. A pena de morte com suspensão, comum em casos de corrupção na China, pode ser comutada em prisão perpétua caso o condenado não volte a transgredir e tenha boa conduta durante o período de suspensão. A Xinhua salientou que os crimes de Tang causaram “graves danos aos interesses do Estado e do povo”, mas o tribunal concedeu clemência pela colaboração do arguido, que se declarou culpado, mostrou arrependimento e devolveu parte dos subornos. Tang foi alvo de investigação disciplinar em Maio de 2024 e expulso do Partido Comunista Chinês (PCC) em Novembro do mesmo ano por “graves violações” e suspeitas de corrupção, tendo sido formalmente detido semanas depois. As instâncias disciplinares acusaram-no de “ineficácia na implementação de decisões”, “decisões cegas”, “corrupção moral” e “ganância desenfreada”. O afastamento de Tang elevou para três o número de ministros afastados em menos de dois anos, após as destituições em 2023 do então ministro dos Negócios Estrangeiros, Qin Gang, e do titular da Defesa, Li Shangfu, também acusado de corrupção.