Literatura infantil | André Carrilho lança “Senhor Mar”

Chama-se “Senhor Mar” e é a segunda obra de literatura infantil do ilustrador e cartoonista André Carrilho que acaba de ser lançada. O livro baseia-se novamente numa história pessoal vivida com os filhos e foca-se na ideia de compreensão do mundo que nos rodeia, sobretudo em relação às questões ambientais

 

Depois de “A menina com os olhos ocupados”, André Carrilho, cartoonista e ilustrador português, acaba de lançar um segundo livro infantil com ilustrações, intitulado “Senhor Mar”. Ao HM, o autor, que viveu alguns anos em Macau, conta detalhes de uma história que, mais uma vez, tem como ponto de partida vivências pessoais com os filhos.

“Um dia estava na praia com eles a explicar-lhes porque não podiam ir para o mar porque as ondas são perigosas, e porque o mar tem de ser respeitado. A minha filha virou-se e disse ‘Tenha cuidado senhor mar’. Achei que era um bom título e que tinha a ver com o olhar dela face aquela imensidão desconhecida. Havia ali um processo de conhecimento, de tentar compreender, e quis passar isso para o livro”, frisou.

Acima de tudo, “Senhor Mar” é “a história lúdica de um dia passado na praia e sobre a menina que vai aprendendo e reflectindo acerca do mar”.

Depois do sucesso de “A menina com os olhos ocupados”, tendo em conta os milhares de exemplares vendidos, os prémios ganhos e as traduções já existentes para língua estrangeira, André Carrilho pretende continuar a embrenhar-se no mundo do livro infantil e da ilustração.

“É a oportunidade que tenho de fazer um livro de artista, em que consiga ser mais autor. Pego [desta vez] na mesma personagem que tinha pegado no primeiro livro, mas o pressuposto é um bocado diferente. Enquanto que no primeiro livro pegava na maneira como nos alheamos através da tecnologia que existe à nossa volta, com este a ideia foi de, não tendo esse alheamento, ver como tentamos compreender o mundo, sobretudo no que diz respeito às questões ecológicas e ao mar.”

Contar histórias

André Carrilho confessa que, desde que foi pai, as possibilidades para a escrita de novas histórias não mais pararam de surgir. “Já tenho várias histórias [na gaveta]. Quando me tornei pai fiquei de imediato com várias histórias [com base no] que ia observando. Talvez por ser cartoonista tenho sempre muito inspiração em relação ao que vou vendo e aos problemas que vou encontrando. Normalmente as questões que encontro ao lidar com as crianças, sobretudo com as minhas, espoletam-me sempre soluções ao nível do desenho. Acontece o mesmo com as questões sociais, políticas e económicas. As questões parentais levo sempre para livros infantis.”

Em relação a “Senhor Mar”, lançado na semana passada, as expectativas são de que a história possa chegar a um maior número de pessoas possível. “O primeiro livro correu muito bem. Veremos o que vai acontecer com este.

Quando faço as obras não penso nelas para venderem muito. Tenho confiança de que as pessoas achem os livros interessantes tal como eu acho. Desde que consiga chegar a um número considerável de casas e pessoas, e que estas leiam os livros e os partilhem com os filhos, já fico contente”, rematou.

13 Jun 2022

Edifício Ka On Kok | Moradores desalojados devido a desmoronamento

Um deslizamento de terras provocado por uma obra, na quinta-feira, levou à destruição parcial de apartamentos do edifício Ka On Kok, junto ao Centro Hospitalar Conde de São Januário. Não houve mortos nem feridos, mas há vários desalojados. Moradores de prédios adjacentes temem pela segurança

 

Vincent Cheang não ganhou para o susto. Poucos minutos depois de o filho ter saído do quarto para ir ter consigo a uma outra divisão da casa, um deslizamento de terras destruiu o quarto por completo. Tal como ele, outras famílias do edifício Ka On Kok, na Estrada de São Francisco, perto do Centro Hospitalar Conde de São Januário, ficaram com as casas parcialmente destruídas.

Segundo o Governo, uma obra privada terá causado o deslizamento de terras ocorrido junto ao tardoz do prédio. O local do acidente fica ao lado do troço da antiga muralha da cidade, que também ficou parcialmente destruída. Os apartamentos sofrem agora com diversas infiltrações.

A Direcção dos Serviços de Solos e Construção Urbana (DSSCU) efectuou, na quinta e sexta-feira, inspecções no local, incluindo ao estaleiro da obra, tendo concluído que a estrutura do prédio “não apresenta perigo iminente de desmoronamento”.

No entanto, tendo em conta a ocorrência de chuvas intensas nos próximos dias, tanto a DSSCU como a Direcção dos Serviços de Obras Públicas (DSOP) iniciaram “obras urgentes de protecção” e de limpeza do local com a remoção dos pedregulhos.

Em relação à obra em curso, actualmente suspensa, as autoridades apontam que “o projecto de arquitectura foi aprovado dentro da validade da planta de condições urbanísticas e presentemente é ainda válida a licença de obra deste empreendimento”.

Vincent Cheang está neste momento a residir num hotel. Até sábado não havia água e luz nas casas. “Pelo menos agora já posso ir lá lavar a minha roupa. O Governo já nos contactou para discutirmos o que vai acontecer no futuro.

Sei que neste momento é difícil remover todas as pedras do local. Espero que possam resolver a situação rapidamente”, contou ao HM.

A culpa é do centro?

Ontem, os moradores de edifícios adjacentes ao local do acidente realizaram uma conferência de imprensa onde revelaram temer pela sua segurança. É o caso de um morador do rés-do-chão do edifício Kam Lai Kuok, de apelido Ng. “Caso chova muito vou ter infiltrações de água no prédio e em minha casa, pois moro num rés-do-chão. Isto aconteceu também em Outubro quando houve o tufão. Queixei-me aos bombeiros, à Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes e ao Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas. Vieram cá pessoas para fiscalizar, disseram que não havia riscos imediatos, mas depois não houve mais avanços”, adiantou. Ng vai precisar de renovar a casa por completo, uma vez que o soalho é de madeira e apodreceu com a água.

Muitos moradores descrevem que as infiltrações nunca ocorreram antes do arranque das obras de construção do edifício de doenças infecto-contagiosas junto ao hospital público, mesmo com os tufões Hato e Mangkhut. “As infiltrações já nos perturbam há cerca de meio ano e não temos meios para nos queixarmos. Com os danos causados no edifício Ka On Kok, estamos preocupados e queremos que haja medidas preventivas. Chegámos a recrutar um técnico para analisar a origem das infiltrações, que não nos deu certezas, mas que falou da possibilidade de virem da zona montanhosa ao lado. Não podemos fazer nada, porque se a obra é do Governo este é que tem de verificar”, explicou Ng.

Os deputados Song Pek Kei, Nick Lei e José Pereira Coutinho estiveram ontem presentes na conferência de moradores. Ao HM, Coutinho disse já ter recebido pedidos de ajuda de residentes de dois blocos habitacionais adjacentes às obras do centro de doenças infecto-contagiosas.

“Esta questão é bastante urgente e exige cuidados redobrados por parte das autoridades para evitar que as situações se repitam, nomeadamente a fixação de materiais que impeçam o deslizamento de terras e a queda de grandes pedras.”

Coutinho descreve que, neste momento, há sete pedregulhos caídos junto ao edifício Ka On Kok. “Se as águas fizerem deslizar essas pedras, então vamos ter acidentes graves porque a maior parte das fracções voltadas para o local da construção são quartos de crianças. Vejo esta situação com alguma apreensão. Estamos a analisar a que nível iremos interceder”, concluiu.

Segundo a imprensa chinesa, a presidente do Instituto Cultural, Leong Wai Man, prometeu recuperar da parte danificada da antiga muralha, de cerca de 18 metros. Para já, assegurou, a prioridade é garantir a segurança dos moradores.

13 Jun 2022

Covid-19 | Período de quarentena baixa de 14 para dez dias

A partir da meia noite desta quarta-feira o período de quarentena passa de 14 para dez dias, incluindo sete dias de auto-monitorização de saúde. Tal implica ter o código de saúde verde e a realização de testes de despistagem à covid-19

 

O Governo anunciou este sábado que os dias de quarentena obrigatória para quem entra em Macau vindo de Hong Kong, Taiwan e países estrangeiros vão passar dos actuais 14 para dez dias, incluindo o cumprimento de um período de auto-monitorização de saúde, o que significa que a pessoa fica com o código verde, podendo, portanto, entrar em todos os locais do território, mas terá de realizar testes de ácido nucleico no 11.º, 12.º, 14.º, 16.º e 17.º dias após a entrada.

Segundo uma nota de imprensa divulgada pelo Centro de Coordenação e de Contingência do novo coronavírus, esta medida foi adoptada “tendo em conta o curto período de incubação da infecção da estirpe variante Ómicron”, uma vez que “as pessoas infectadas podem ser detectadas através de um teste de ácido nucleico no prazo de sete dias após o contacto com este vírus”.

As autoridades dizem ter tomado esta decisão “após [ser realizada] a análise à experiência recente do interior da China e os dados da RAEM”. O modelo “10+7”, assim descrito pelas autoridades, só pode ser aplicado a pessoas totalmente vacinadas contra a covid-19 e que tenham todos os testes negativos aquando da entrada no território.

O período de auto-monitorização de saúde inicia-se no primeiro dia após a realização da quarentena, sendo que “o dia da entrada em Macau, e até às 6h do dia seguinte, é considerado como dia zero”. Caso não sejam realizados os testes neste período de sete dias, o código de saúde passa então de verde a amarelo. Quem não realizar o teste obrigatório dentro das 24 horas após a data agendada, passa a ter um código vermelho.

Além disso, “as pessoas provenientes de Hong Kong, região de Taiwan ou de países estrangeiros não estão autorizadas a deslocar-se ao Interior da China através da RAEM até que o teste de ácido nucleico no 14.º dia, após a entrada, tenha um resultado negativo”, aponta ainda a mesma nota.

Sete dias em análise

Esta medida foi anunciada dois dias depois da conferência de imprensa semanal do Centro de Coordenação e de Contingência do novo coronavírus, onde as autoridades admitiram estar ainda a estudar a possibilidade de reduzir os dias de quarentena.

“Vamos primeiro reduzir de 14 para dez dias a título experimental e veremos se há a possibilidade de reduzir para sete dias. Estamos a analisar a situação no Interior da China, pois a medida de quarentena de sete dias difere de cidade para cidade”, disse Leong Iek Hou. Nesse dia, foi também anunciada a entrada a todos os trabalhadores não residentes (TNR) estrangeiros, sendo que a partir de hoje podem entrar os TNR com blue card válido, oriundos do Interior da China. Trabalhadores estrangeiros especializados devem candidatar-se ao processo de entrada a partir de 24 de Junho.

Recorde-se que na última semana, o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, avançou com a possibilidade de reduzir a quarentena de 14 dias no período do Verão, sem adiantar uma data concreta.

“Há quatro cidades piloto do Interior da China que, durante cerca de um mês, experimentaram implementar um período de quarentena de 10 dias mais sete [de auto-gestão]. Estamos a continuar o nosso trabalho, pois esta parece ser a tendência. Depois de avaliarmos as nossas medidas (…) iremos tentar que sejam 10 dias mais sete. Esperamos atingir essa meta durante o Verão”, adiantou Ho Iat Seng à TDM-Rádio Macau.

Para Xangai e Mongólia

Desde a 1h de hoje que é obrigatório o cumprimento da quarentena de 14 dias para quem tenha estado em diversos locais das cidades de Erenhot e Chifeng, na Região Autónoma da Mongólia Interior. A medida aplica-se também a quem tenha viajado de vários locais da cidade de Xangai, nomeadamente de diversos complexos residenciais. Quem tenha estado no distrito Fengxian, em Xangai, deverá “estar atento ao seu estado de saúde e ser sujeito a testes de ácido nucleico por iniciativa própria”, no primeiro, quarto e sétimo dia, sendo que o código de saúde ficará verde neste período.

13 Jun 2022

Covid-19 | Governo abre portas a TNR de todas as nacionalidades 

A partir de segunda-feira, os trabalhadores não-residentes com blue card válido estão autorizados a entrar para Macau, enquanto que quem tem autorizações de trabalho pode candidatar-se ao processo de entrada a partir de 24 de Junho

 

O Governo decidiu levantar algumas restrições de entrada no território, permitindo a vinda de trabalhadores não-residentes de todas as nacionalidades. Foram ontem anunciadas regras para três grupos de trabalhadores, sendo que já a partir da meia-noite de segunda-feira será permitida a entrada de trabalhadores não-residentes (TNR) com um blue card válido, sem necessidade de requerimento prévio emitido pelos Serviços de Saúde (SSM).

Em relação aos TNR especializados com autorização de trabalho emitida pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) e Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), bem como quem tenha autorização especial de permanência, podem candidatar-se ao processo de entrada a partir de 24 de Junho. As regras completas serão publicadas no dia 17 de Junho pelas autoridades.

Cabe às entidades empregadoras de TNR especializados fazer o pedido de requerimento aos SSM, enquanto os próprios trabalhadores devem tratar do processo para os familiares.

As autoridades sublinharam que é obrigatória a vacinação contra a covid-19 para quem entra em Macau, sendo que os empregadores devem assumir o pagamento da quarentena caso os TNR não tenham condições económicas para o fazer. Na conferência de imprensa de ontem do Centro de Coordenação e de Contingência, foi ainda referido que os cidadãos do Nepal, Sri Lanka, Bangladesh, Nigéria e Paquistão devem requerer um visto junto da embaixada ou consulado da China antes de entrarem em Macau pela primeira vez.

Recorde-se que desde 27 de Maio é possível a entrada de portugueses não-residentes e que, até à data, foram recebidos 54 pedidos, estando todos em processo de análise. Em relação à vinda de trabalhadores domésticos, o Governo recebeu 100 pedidos e aceitou 55. Apenas cinco requerimentos foram cancelados a pedido do empregador.

Redução em análise

Em relação à redução do período de quarentena, Leong Iek Hou deu eco às palavras de Ho Iat Seng, mas não adiantou datas concretas. “Vamos primeiro reduzir de 14 para dez dias a título experimental e veremos se há a possibilidade de reduzir para sete dias. Estamos a analisar a situação no Interior da China, pois a medida de quarentena de sete dias difere de cidade para cidade.

Há pessoas que precisam de ficar em casa e outras que saem no período de auto-gestão de saúde”, adiantou Leong Iek Hou, médica e coordenadora do centro. As autoridades anunciaram também o encerramento, a partir de segunda-feira, do centro de vacinação de Mong-Há.

10 Jun 2022

Censos 2021 | Mais residentes têm curso superior, mas mercado não absorve graduados 

Numa década, o número de residentes com curso superior mais que duplicou. A maior parte opta por licenciaturas em ciências empresariais, línguas e turismo. Entre 2011 e 2021, quase metade dos diplomas foram obtidos nas universidades locais. Analistas ouvidos pelo HM assumem que o mercado laboral não consegue absorver todos os licenciados

 

Em dez anos, a fatia da população com curso superior quase duplicou, segundo os resultados dos Censos 2021, que traçam o retrato de um período marcado não apenas pelo investimento público no ensino superior, aponta o relatório. “A tendência para a formação contínua foi impulsionada pelo aumento da procura de quadros qualificados, que se deve ao desenvolvimento económico”, lê-se.

Da população com mais de 15 anos, num total de 583.089 pessoas, 175.956, ou seja, 30,2 por cento, tinha curso superior, quando esse valor era em 2011 de apenas 18,1 por cento, o que constitui um aumento de 99,9 por cento.

Relativamente aos locais, deu-se um aumento de 97,9 por cento do número de residentes com formação superior, sendo que as maiores proporções se registam nas pessoas com idades compreendidas entre 25 e 29 anos e dos 30 aos 34 anos, com percentagens de 72,2 e 61 por cento.

A grande escolha dos residentes recai na licenciatura, que representa 69,8 por cento, enquanto que apenas 14,7 dos residentes tem mestrado e 1,6 por cento doutoramento. Relativamente às áreas de ensino, os cursos de “ciências empresariais e administração” são os mais procurados, com uma fatia de 30,5 por cento, enquanto os cursos de “humanidades e línguas” representam nove por cento. Seguem-se os cursos de “turismo, hotelaria e serviços de catering”, com 8,4 por cento.

Apesar de muitos locais optarem por estudar no estrangeiro, a verdade é que a procura por cursos em Macau aumentou, com 44,2 por cento dos diplomas a serem obtidos no território. Segue-se o Interior da China com 29,5 por cento, Taiwan com 10,5 por cento e Hong Kong com 2,8 por cento. Portugal representa apenas 1,3 por cento dos destinos para frequentar o ensino superior.

Ainda no sector educativo, os Censos mostram que “com a elevação do nível de escolaridade da população, 29 por cento dos trabalhadores detinham cargos de ‘directores e dirigentes administrativos’, ‘especialistas das profissões intelectuais e científicas’ e ‘técnicos e profissionais de nível intermédio’”, um aumento de 6,2 por cento face a 2011.

Estes trabalhadores mais qualificados eram, no total, 10.5432, sendo que 73,8 por cento tinha estudado no ensino superior.

E encontrar emprego?

Para Agnes Lam, académica e ex-deputada, estes dados são “um bom sinal” e reflectem “o investimento que tem sido feito pelo Governo no que diz respeito à escolaridade gratuita e concessão de bolsas”. No entanto, acredita que, com o actual cenário de crise económica, “o mercado não consegue absorver todas as pessoas”.

“Deveria haver um mecanismo para ajudar licenciados a iniciarem os seus próprios negócios em determinadas áreas, e não apenas a abrirem cafés. Há pequenos negócios que podem ser criados, mas serão precisos mais dez anos para vermos algum desenvolvimento [a este nível]. Deveríamos apostar também na educação profissional. Não podemos ter os mesmos empregos que tínhamos nos anos 90 e as pessoas também têm de encarar essa realidade”, admitiu.

Rui Martins, vice-reitor da Universidade de Macau (UM), interpreta os dados demográficos do ensino como o reflexo do investimento público e privado no ensino superior. “A nível de licenciatura creio que grande parte dos alunos são de Macau, mas ao nível de mestrado e doutoramento este panorama inverte-se um bocado”, disse.

Antes da pandemia, 30 por cento dos graduados da UM encontravam emprego assim que terminavam o curso, mas o cenário mudou um pouco. “Estamos numa situação de crise devido à pandemia e isso afecta grandemente a economia dos casinos. Estes têm, à sua volta, uma série de empresas e indústrias que permitem a criação de muitos empregos. Até 2019/2020, costumava dizer que bastava a um aluno de Macau entrar na UM para ter emprego. Mas a economia está a abrandar e os licenciados começam a ter mais dificuldades em encontrar emprego.”

No entanto, Rui Martins acredita que, levantadas as restrições pandémicas e com mais visitantes, a situação laboral “entrará no ritmo normal que tínhamos”.

Por sua vez, Carlos Noronha, docente da UM, destaca o “grande encorajamento para que os residentes trabalhem em Hengqin”, embora haja ainda poucas vagas no contexto dos projectos de cooperação existentes.

“Temos de esperar mais um tempo porque a economia está a ser muito afectada pelas restrições. Como se pode atrair os jovens a trabalhar em Hengqin? Por exemplo, na Grande Baía, existe um sistema jurídico diferente e estas coisas têm de ser resolvidas.”

Carlos Noronha entende, contudo, que existe “receio de ir trabalhar para outros locais”, pois em Macau “os jovens são muito protegidos e talvez queiram manter-se por perto ou mesmo “procurar emprego em Hong Kong”.

“Não há emprego se a porta para a internacionalização continuar fechada. [Seria importante] enviar estudantes universitários para o estrangeiro para absorverem mais conhecimentos e deixá-los regressar a Macau ou para Hengqin para transferir ferramentas e capacidades. Macau vai conhecer um retrocesso se continuar desta forma”, rematou o docente da UM.

Tudo para Coloane

Coloane registou, em dez anos, um aumento de moradores de 753,7 por cento, e uma subida vertiginosa de 900 por cento no número de habitações. Por sua vez, a Ilha Verde teve um aumento de 143,9 por cento, devido à construção “de edifícios novos e empreendimentos habitacionais públicos de grande envergadura”. Entre 2011 e 2021 registou-se uma quebra de 6,8 por cento no número de pessoas a viver na península, enquanto que a proporção a residir na Taipa aumentou 16,4 por cento.

Os mais velhos residem sobretudo em zonas como a Praia Grande e Penha, numa proporção de 18,4 por cento, e avenida Conselheiro Ferreira de Almeida, com 17,1 por cento. Em termos de dimensão do território, Macau tinha em 2021 mais 3,14 quilómetros quadrados, sendo que na baixa da Taipa residem 75.689 pessoas, 11,1 por cento da população total. Na zona da Areia Preta reside 10,4 por cento.

TNR no activo

Entre 2011 e 2021, deu-se um aumento de 8,8 por cento das pessoas em idade de trabalhar “em consequência dos incrementos de imigrantes e de trabalhadores não-residentes”. A população activa feminina cresceu 14,6 por cento, sendo superior à masculina em 3,3 por cento. Em termos gerais, Macau a população activa no ano passado era de 377.071 pessoas. A população empregada global era, em Agosto de 2021, composta por 364.043 pessoas, mais 7,8 por cento em relação há dez anos atrás.

Sectores como o do jogo, inserido nas “actividades culturais e recreativas, lotarias e outros serviços”, comércio por grosso e retalho, hotelaria e restauração tinham 48 por cento da população empregada global, uma quebra de 4,1 por cento em relação a 2011. A área do “trabalho doméstico” tinha, em 2021, mais cinco por cento de pessoas empregadas, num total de 30.242 pessoas, em relação a 2011. No ano passado havia também mais pessoas empregadas nos sectores da educação (5,4 por cento), saúde e acção social (4,3 por cento) e actividades financeiras (3,9 por cento).

Salários em alta

A mediana do rendimento dos trabalhadores de Macau subiu 5.600 patacas em dez anos, situando-se, em Agosto do ano passado, em 15.600 patacas. Os funcionários públicos apresentam a mediana de rendimento mensal mais elevada, com 40.000 patacas, seguindo-se os sectores da “educação”, com uma mediana de 27.000 patacas, e “produção e distribuição de electricidade, gás e água”, com 25.500 patacas.

Idosos em casa

A população idosa mais que duplicou, com um aumento de 107,2 por cento em relação a 2011. Os idosos representavam no ano passado 12,1 por cento da população, mais 4,9 por cento face a 2011, sendo que mais de metade dos dependentes, 63,7 por cento, vivem em casas de família, enquanto que 34,5 por cento estão em lares.

Ainda assim, 95,5 por cento dos idosos com 60 ou mais anos afirma ter capacidade para levar uma vida autónoma.

A solidão na terceira idade é cada vez mais comum, uma vez que, em dez anos, houve um aumento de 80,3 por cento de idosos a morar sozinhos. Francisco Manhão, presidente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), considera que, em termos gerais, os mais velhos têm uma boa vida em Macau, sendo importante o regresso da injecção das sete mil patacas anuais nas contas individuais de previdência. Isto porque o Governo “deveria partilhar mais a sua riqueza com os residentes, em particular com os da terceira idade”. Além disso, Francisco Manhão defende a criação “de uma cidade satélite” para albergar os idosos.

Rendas mais caras

Olhando para o contexto da habitação privada arrendada, os Censos mostram que em Agosto do ano passado as zonas do Pac On e Taipa Grande são as que têm a renda média mensal mais elevada, no valor de 16.300 patacas. Pelo contrário, viver nas zonas do Patane e São Paulo era mais barato, com uma renda média mensal de 5.500 patacas. A renda média mensal das casas paga por agregado familiar atingiu, em 2021, o valor de 8.700 patacas.

Português menos falado

Em matéria de domínio de línguas, os Censos revelam que, em dez anos, houve uma ligeira descida de 0,1 por cento das pessoas que falam fluentemente português, representando apenas uma fatia de 2,3 por cento. Entre 2011 e 2021, Macau passou a ter mais pessoas a dominar o inglês, um aumento de 1,3 por cento, representando uma proporção de 3,6 por cento. Tal deve-se “ao crescimento da população imigrante oriunda de outros países ou territórios”. Em termos de domínio geral de línguas, 86,2 por cento da população usava o cantonense como meio de comunicação, enquanto que 45 por cento falava mandarim, menos 3,8 por cento e mais 3,6 por cento, respectivamente.

10 Jun 2022

Alexandre Pais, director do Museu Nacional do Azulejo: “Portugueses não tinham o segredo da porcelana” 

Estudioso da influência da porcelana chinesa na cerâmica portuguesa, Alexandre Pais é um dos contribuídores do livro “Rotas da Cerâmica”, que conta a história do comércio da porcelana e da sua produção em Jingdezhen, na China. O livro editado pelo Instituto Confúcio da Universidade de Aveiro também aborda o período de grande exportação para a Europa, sobretudo para Portugal, a partir dos séculos XVI e XVII

 

 

Como surgiu a possibilidade de participar nesta obra?

Já tinha tido contactos com o professor Carlos Morais e fizemos uma série de projectos. O meu texto é sobre a integração da faiança portuguesa de inspiração oriental e é um resumo da minha tese de doutoramento. O livro, em si, é importante porque nos apresenta o ponto de vista do Oriente em relação à porcelana. Normalmente, tudo o que existe é sempre do ponto de vista do Ocidente. Pelo que li, há muita bibliografia oriental à qual os ocidentais não têm acesso, incluindo sobre escavações arqueológicas.

Como chega porcelana chinesa a Portugal ao ponto de inspirar a nossa cerâmica?

Ela entra nos finais do século XV e início do século XVI, após a descoberta do caminho marítimo para a Índia. Portanto, com Vasco da Gama chega logo uma série de porcelanas. Ela depois começa a ser comercializada em grande quantidade, e Portugal é o primeiro país europeu a comercializar grandes quantidades de porcelana, mas também outro tipo de materiais e objectos. A porcelana entra de facto no gosto de toda a sociedade, com objectos para todas as bolsas, menos para as classes mais desfavorecidas.

Até à burguesia, digamos assim?

Do que chamamos burguesia, que na altura não existia, mas mercadores, classes um pouco mais abastadas que não pertenciam à nobreza. A porcelana é disseminada por todo o mercado europeu, e depois, quando perdemos a independência e ficamos sob alçada da coroa espanhola, outros países começam a cobiçar as rotas portuguesas do Oriente, nomeadamente os holandeses. [Chega mesmo a haver] a apreensão de diversas caravelas que transportavam porcelanas, que depois são vendidas no mercado de Amesterdão, e a partir daí a Holanda começa a querer o caminho e perdemos essa rota comercial pela associação com Espanha. Não quer dizer que deixe de entrar porcelana em Portugal, mas entra pouca, e não temos já essa importância. Não temos provas, mas parece-nos que as olarias portuguesas começam a produzir um tipo de decoração que, não sendo porcelana, invoca o Oriente. Existe um produto genuíno que é mais raro e caro, mas os portugueses começam a consumir esta faiança que tem qualquer coisa de exótico. E é por aí que vai sendo feita esta produção. É curioso porque surge um pouco também como contraponto às produções espanholas, que são diferentes. Depois também terá algumas componentes exóticas. A sensação que tenho é que a nossa faiança surge como contraponto ao que é produzido na península e como resposta à perda da rota e da quantidade de porcelana que vinha para a Europa.

O domínio espanhol levaria a porcelana chinesa também para Espanha.

Não estudei muito esse ponto, mas é óbvio, porque os espanhóis, ao ficarem com o reino português, ficaram com todas as rotas comerciais. Depois havia a rota de Manila para compensar a questão das rotas holandesas, e a porcelana e os espanhóis também faziam encomendas específicas à China, como os portugueses anteriormente também faziam. Mas Espanha acaba por beneficiar do facto de nos ter sob sua alçada.

Depois de 1640 como ficou o comércio da porcelana? Reforçou-se, houve uma expansão no mercado?

Não inicialmente, porque os primeiros 20 anos não foram fáceis. Falamos de 1640, mas o processo da restauração da independência foi longo. Isso nota-se pela própria produção de faiança: numa fase inicial, ainda tenta acompanhar a questão do exotismo, mas começamos a notar uma certa decadência. À medida que vai havendo dinheiro e reforço das rotas comerciais portuguesas, e como depois começa a ser possível encomendar directamente na China, a produção passa a ser completamente diferente da que era no século XVI. Aí era o azul e branco, mas a partir desta altura, em finais do século XVII, começamos a ter as chamadas famílias, verde, rosa. Começamos a ver, como há uma alteração do gosto e da própria utilização, pois a sociedade torna-se mais complexa, uma mesa portuguesa começa a ter mais produtos, surgem mais exigências em termos de higiene, por exemplo. Aí começam a ser encomendadas à China uma série de formas diferentes e objectos com outras características, surgem as peças brasonadas. Com o século XVIII dá-se uma grande expansão da loiça brasonada para o mercado interno, e aí a faiança deixa de ter qualquer importância.

Além do brasão, que elementos destaca nessas peças?

Algumas obras são encomendas específicas com elementos relacionados com os locais a que se destinam, como é o caso das casas religiosas. As grandes alterações prendem-se com a morfologia, a quantidade de peças que são encomendas com novas utilidades. São produzidas terrinas com a forma de animais, vegetais e frutas, o que tem a ver com a cenografia barroca das mesas temáticas.

Eram, portanto, feitas encomendas específicas aos fabricantes chineses.

Sim, mas isso já no século XVI. Havia motivos que eram levados para o centro produtor e que às vezes não eram bem interpretados. Mostrava-se um motivo e ele era invertido, por exemplo. Há erros porque o oleiro chinês não sabia interpretar bem as instruções, frases ou palavras invertidas, por exemplo.

O livro fala dos centros de produção na China, nomeadamente em Jingdezhen. Era uma importante actividade económica na altura?

Sim. Jingdezhen é uma região quase totalmente dedicada à olaria. Havia mais centros produtores na China, mas esta região era o ponto principal. Produziam também para outros centros na Ásia, mas era em Jingdezhen que estavam os centros de produção imperiais. Havia loiça para a corte, para o imperador e para exportação. Este centro ainda hoje está activo e replica muitas produções antigas.

O que revela o comércio de porcelana sobre as ligações entre Portugal e a China?

O Oriente sempre foi um foco de interesse para o Ocidente. Os portugueses são um povo muito curioso em relação a outras culturas e povos. Nota-se essa predisposição até na nossa expansão. O Oriente era uma civilização muito requintada e avançada e suscitava curiosidade. Ter objectos de uma cultura que não é próxima, com uma noção de exotismo, é sempre um factor apetecível, e dá uma dimensão mais sofisticada a quem a possui. Despertou-me curiosidade, na caracterização da cidade de Lisboa no século XVII e dos tipos de população, com pessoas oriundas da Índia, do Japão, da China. A convivência era relativamente estável entre essas populações e a população portuguesa.

Nós mostrávamos as nossas faianças no Oriente? Os missionários levavam algumas peças?

Suponho que seria algo residual. Tentei perceber se na China e Japão haveria faiança portuguesa, e tenho informação escrita de que haveria alguns exemplares em Hiroshima, mas não tenho mais dados.

Portugal importava mais porcelana chinesa do que outros países europeus?

Não sei se isso está estudado. Inicialmente, no século XVI, até à perda da rota comercial, tínhamos mais comércio com o exterior. Éramos os maiores importadores de produtos chineses, nomeadamente de porcelana. Nos séculos XVII e XVIII já existiam as companhias orientais holandesas e inglesas. Tendo em conta a quantidade de serviços de porcelana brasonados que há em Portugal dessa época, mostra que tínhamos um papel muito destacado na importação.

Ainda se encontram influências dessa ligação na cerâmica de hoje em dia, por exemplo?

Não. Essa influência dura todo o século XVII, e um dos últimos anos começa a ser já muito residual. A partir do momento em que retomam as rotas comerciais com a China, no final desse século, a faiança volta a ser um produto para classes menos endinheiradas, sem necessidade de grande decoração. Nessa altura as olarias portuguesas começam a trabalhar mais no azulejo. A cerâmica passou para segundo plano.

Há visões do Oriente no azulejo português, por exemplo?

Sim, visões da China e do Japão feitas com base em gravuras europeias. Muitas retratam um quotidiano que é imaginado, sempre com a ideia do exótico. Não é o retrato real de uma sociedade, mas a fantasia sobre o que é a vida do outro. Falamos de uma sociedade que, para nós, era pagã, adorava vários deuses, tinha hábitos estranhos. Mas ainda no século XVII, encontramos alguma influência exótica no azulejo português, embora não seja determinante. No caso da faiança, essa influência está muito presente inicialmente, mas progressivamente o que interessa é uma recriação de elementos que vão sendo aplicados na faiança. Depois adicionam-se elementos ocidentais, criando-se um produto híbrido. Nós não tínhamos o segredo da porcelana.

Porquê?

Não se percebia que material era, e pensava-se que a matéria de porcelana era um tipo de búzio específico. A produção de porcelana nunca foi privilegiada porque tínhamos imenso comércio com a China e, provavelmente, terão pensado que não valeria a pena produzir em Portugal. Demora algum tempo até a Vista Alegre começar a produzir porcelana, já no século XIX, ainda que o segredo do material tivesse sido descoberto antes.

 

A história do comércio 

Editado pelo Instituto Confúcio da Universidade de Aveiro, “Rotas da Cerâmica” conta com a participação de diversos autores, com a edição por Carlos Morais e Ying Han. Além da colaboração de Alexandre Pais, o livro tem ainda a colaboração de Guo Mo, da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau, que aborda “os motivos chineses na faiança portuguesa: três exemplos de ‘venerar sem subserviência’”. Destaque ainda para o capítulo dedicado à “expansão e influência da cultura da cerâmica chinesa no sudeste asiático”, da autoria de Han Yeliang e Zhi Rui, da Universidade de Línguas Estrangeiras de Dalian, na China.

9 Jun 2022

Censos revelam crescimento mais lento da população 

A população de Macau tem vindo a crescer de forma mais lenta em comparação a 2011. Esta é uma das conclusões dos resultados globais dos Censos 2021 ontem divulgados, que mostram que a taxa de crescimento médio anual foi de 2,1 por cento, inferior à taxa de 2,4 por cento, registada entre os anos de 2001 e 2011.

Por sua vez, a população total em 2021 era de 682.070 pessoas, mais 23,5 por cento em relação a 2011. Excluindo estudantes do exterior e trabalhadores não residentes, Macau tinha apenas, em 2021, 568.662 pessoas, mais 17,2 por cento, em relação a 2011.

O envelhecimento contínuo da população é outra das conclusões dos Censos. A população idosa, composta por pessoas com mais de 65 anos, era constituída por 82.812 pessoas, um aumento de 107,2 por cento em relação a 2011. Os idosos representam hoje 12,1 por cento da população, mais 4,9 por cento face a 2011. Por sua vez, o índice de envelhecimento cresceu 23,0 pontos percentuais para 83,7 por cento.

Mais mulheres e solteiros

O relatório de 2021 conclui também que Macau tem hoje mais mulheres do que homens, e também mais solteiros. A população feminina era de 361.785 pessoas e a masculina de 320.285 pessoas, representando 53 e 47 por cento da população total, respectivamente.

Em relação à população com idade igual ou superior a 16 anos, 27,4 por cento era solteira, o que representa um aumento de 2,8 por cento em relação a 2011. Os casados eram, em 2021, 64,1 por cento, menos 3,3 por cento por comparação a 2001. Os dados mostram ainda que os jovens casam cada vez mais tarde, por volta dos 30 anos, quando em 2001 se casavam por volta dos 28 anos.

Outra das conclusões, passa por uma maior escolaridade da população, uma vez que, no ano passado, 30,2 por cento da população com mais de 15 anos tinha frequentado um curso do ensino superior, num total de 175.956 pessoas. Trata-se de um crescimento de quase 100 por cento em relação a 2011.

Olhando para a génese das famílias, houve um aumento de 18,7 por cento no número de agregados familiares face à última edição dos Censos, no entanto, hoje a sociedade tem mais famílias compostas por duas pessoas. Este tipo de agregado familiar é actualmente “predominante”, representando 25,6 por cento, um aumento de 2,3 por cento em relação há dez anos. Os Censos revelam, portanto, “uma redução contínua da dimensão dos agregados familiares”.
Em dez anos, deu-se ainda um aumento da oferta de habitação pública. Só em habitações económicas moram hoje mais 61,3 por cento das famílias.

8 Jun 2022

Quarentena | Redução não é suficiente para fomentar turismo, dizem analistas 

Ho Iat Seng admitiu reduzir o período de quarentena para dez ou sete dias. Analistas ouvidos pelo HM consideram que a medida não é suficiente para impulsionar a economia e o turismo. Óscar Madureira acredita que reduzir quarentenas vai, sobretudo, trazer benefícios para os residentes

 

O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, admitiu na segunda-feira a possibilidade de reduzir no Verão o período de quarentena obrigatória à chegada ao território de 14 para dez ou sete dias, embora não tenha avançado com datas para a entrada em vigor da medida.

“Há quatro cidades piloto do Interior da China que, durante cerca de um mês, experimentaram implementar um período de quarentena de 10 dias mais sete [de auto-gestão]. Continuamos o nosso trabalho, pois esta parece ser a tendência. Depois de avaliarmos as nossas medidas (…) iremos tentar que sejam 10 dias mais sete. Esperamos atingir essa meta durante o Verão”, disse Ho Iat Seng, segundo a TDM-Rádio Macau.

Analistas ouvidos pelo HM afirmam, contudo, que a medida está longe de poder causar um boom turístico em Macau. Primeiro, porque o sector do jogo já está a sofrer com outras políticas, e depois porque, com a permanência de restrições, a atracção para jogar no território ou para o visitar vai continuar a ser menor.

O advogado Óscar Madureira, especialista na área do jogo, não tem dúvidas de que “a medida é boa, essencialmente, para os residentes”, que desejam sair de Macau para visitar o seu país e as famílias.

“Não acredito que seja fácil, enquanto durarem as restrições, começar a receber turistas de fora. Continua a ser exagerado alguém fazer quarentena de sete dias para jogar num casino. Apesar de ser uma redução significativa, continuo a achar que o impacto será pouco relevante”, adiantou ao HM.

Ainda assim, o responsável defende que a medida acaba por ser positiva. “Tudo o que ajude a facilitar a vinda de turistas para Macau é bom e aumenta o número de potenciais clientes, mas depende de qual vai ser o resultado deste aligeirar de medidas.”

“Macau e a China eram, até há bem pouco tempo, os únicos territórios do mundo que não permitiam a entrada de estrangeiros, e é bom saber que eles estão a inverter a política, a considerar outras possibilidades. Sem dúvida que é bom, embora seja uma medida que peque por tardia”, frisou.

Para o economista Albano Martins, o impacto também será reduzido. “A medida é um passo em frente em relação à situação absurda que se vive hoje, não apenas em Macau como em toda a China. Trata-se de uma opção claramente política e, portanto, em Macau tem de se respeitar. Mas continua a ser uma medida obsoleta, porque fora da China as pessoas já se habituaram a conviver com a covid-19 e ao fim de uma semana de auto-isolamento em casa estão preparadas para regressar ao trabalho.”

Relativamente ao jogo, Albano Martins aponta que este já está a definhar há muito, e não apenas com as restrições pandémicas. “O jogo está a ser praticamente liquidado, e é também uma decisão claramente política. A China considera que viola a sua cartilha e o cerco aperta-se cada vez mais. Apesar do estatuto autónomo de Macau, o certo é que, de há dois anos para cá, a China começou a apertar essa actividade económica. Os resultados das operadoras mostram que o sector do jogo está muito mau. Está melhor do que antes [em relação ao período da pandemia], mas a medida não vai resolver nada.”

O economista estima que a China vai ter de pôr um ponto final às políticas altamente restritivas de controlo da pandemia. “É uma mudança que a China vai ter de fazer, mais dias menos dia, porque não vale a pena o país continuar fechado. Esta pandemia vai ser endémica e vamos ter de nos habituar a viver com ela.”

Menos dias, mais quartos

Luís Herédia, presidente da Associação dos Hotéis de Macau, também frisou que estamos perante uma decisão positiva, mas que não chega para impulsionar a economia. “Esta possibilidade é, com certeza, baseada em estatísticas que podem demonstrar que continua a haver alguma segurança, mas também no sentido de apontar o caminho para a abertura. Evidentemente, é uma acção positiva e não só serve a todos os que vivem cá, mas também aos que nos visitam. [Se estas medidas se concretizarem] o impacto é menor. Mas, ainda estamos longe de atingir o que desejamos, que é uma abertura maior.”

Ainda assim, o presidente da Associação dos Hotéis de Macau dá conta que o território tem de se preparar para a ocorrência de um novo surto, à medida que vai abrindo portas. “Já há, passo a passo, alguma intenção de um dia virmos a abrir totalmente. São necessários cuidados, incluindo o plano de vacinação”, lembrou.

Para o responsável, reduzir a quarentena vai permitir, acima de tudo, “um maior fluxo de residentes e não-residentes”, pois “os que nos são próximos podem entrar e sair”.

“Todos desejamos [a abertura]. Não tem sido fácil, pois não têm entrado turistas suficientes. Mesmo assim, o sector hoteleiro e as operadoras têm tentado fazer o seu melhor para minimizar o impacto das perdas”, acrescentou.

Em relação ao número de quartos de hotel, a redução de quarentena também poderá proporcionar vagas para todos os que desejem vir para Macau. “É uma medida importante, porque não havendo muitos quartos disponíveis, pois nem todos os hotéis têm características para possibilitar a logística desejada, acabará por haver mais disponibilidade, dado que o tempo de estadia será reduzido.”

O afluente de Hong Kong

Outro dos cenários que poderá mudar com a redução dos dias de quarentena será as ligações com Hong Kong, que tem uma grande importância para Macau não apenas no turismo, mas também nas áreas da saúde, imobiliário ou empresarial.

“A redução dos dias de quarentena pode ser convidativa para que os próprios técnicos possam vir cá resolver questões pendentes. Mesmo ao nível da saúde, temos alguma dependência de Hong Kong. O mesmo se passa com questões técnicas ao nível da reparação de tecnologia.  Por isso, pode vir a ajudar, mas não será um fluxo muito grande que se vá sentir na economia”, lembrou Luís Herédia.

As palavras de Ho Iat Seng são um sinal de esperança para muitos, mas, acima de tudo, não vão ainda originar “uma massa de pessoas a querer vir para Macau”, tendo em conta que, além dos 10 ou sete dias de quarentena, terá de ser cumprido um período de auto-gestão de saúde de sete dias. Só depois será possível entrar em locais como restaurantes, lojas e hotéis, com o código de saúde verde.

Acima de tudo, “é uma medida que convida empresas a enviar pessoas para tratar de assuntos importantes, que podem agora ser resolvidos”, rematou o Luís Herédia.

Covid-19 | Sector do turismo aguarda resultados positivos

As declarações de Ho Iat Seng foram recebidas com algum agrado por parte de representantes do sector hoteleiro e do turismo. Tai Cheng, vice-presidente da Associação de Hoteleiros de Macau, apontou ao jornal Ou Mun que a redução do período de quarentena constitui um forte estímulo para o sector, uma vez que se pode recuperar o número de visitantes estrangeiros, melhorando a baixa moral que o mercado vive.

Por sua vez, Andy Wong, presidente da Associação da Indústria Turística de Macau, frisou que as declarações do Chefe do Executivo são uma mensagem positiva e sinal de que o Governo está a reagir à nova fase da covid-19.
Andy Wong acredita que a mensagem traz confiança às pequenas e médias empresas, tendo em conta que a economia necessita de recuperar para níveis pré-pandemia.

Apesar de a Direcção dos Serviços de Turismo ter afastado a possibilidade de abrir as fronteiras com Hong Kong em Agosto, Andy Wong defende que a decisão deverá ser tomada mediante uma junção de opiniões das autoridades do Interior da China, Macau e Hong Kong para a abertura gradual das fronteiras. Isto porque os visitantes de Hong Kong representam uma fatia importante dos negócios das PME locais, frisou.

A deputada Wong Kit Cheng lembrou que o Governo fez esforços para atingir a taxa de vacinação de 90 por cento, além de ter criado um plano de resposta de emergência caso ocorra um surto em Macau. Ainda assim, Wong Kit Cheng não considera que a medida anunciada por Ho Iat Seng vá atrair mais visitantes a curto prazo, apesar de ser uma medida favorável. Com Pedro Arede e Nunu Wu

8 Jun 2022

Joalharia | Peças de Cristina Vinhas expostas a partir de hoje na Casa de Vidro 

Cristina Vinhas está de volta às exposições individuais nove anos depois. “Mudanças” é hoje inaugurada na Casa de Vidro do Tap Seac, no âmbito das celebrações do 10 de Junho, e apresenta peças diferentes que pretendem chamar a atenção para a importância de preservar o meio ambiente. Para ver até ao dia 25 deste mês

 

“Mudança” é o nome da nova exposição individual de Cristina Vinhas que, nove anos depois da última mostra com o seu nome, apresenta novas peças de joalharia onde a necessidade de preservação do meio ambiente constitui a mensagem principal. Tratam-se de “peças novas feitas totalmente para esta exposição”, onde se misturam materiais como o vidro, o estanho ou o latão, entre outros.

“Esta exposição divide-se em duas partes, uma delas em que retrato o subsolo e outra o mar, a parte subaquática. Há algum tempo que trabalho nesta exposição pois tem peças especiais. Penso que é uma mostra diferente e original”, afirmou Cristina Vinhas ao HM.

Para a artista, que dá aulas de joalharia na Escola de Artes e Ofícios da Casa de Portugal em Macau (CPM), o tema “mudança” surge devido à importância “de um ajuste na forma de estar, de nos relacionarmos com os outros, com a terra e com o mar”.

“Tem de haver mais respeito pelo meio ambiente. A exposição é uma chamada de atenção. Além da parte da beleza [das peças], o que está subentendido é o alerta para a importância da protecção do ambiente”, acrescentou a artista.

A última edição do programa oficial de celebração do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas contou com uma exposição de peças de filigrana, mas Cristina Vinhas quis trazer algo de diferente este ano.

“Seria mais adequado [apresentar a filigrana], porque tem mais a ver com a nossa alma portuguesa, é mais conotado com a nossa joalharia. Mas não iríamos repetir. Tenho alguma dificuldade em repetir as peças e colecções, mas não descarto essa hipótese. Esta mostra é também um reflexo das vivências que tenho em Portugal e na Europa.”

Menos alunos

Cristina Vinhas não tem dúvidas: jamais conseguiria fazer as peças que compõem a mostra “Mudança” se não estivesse a viver em Macau. “As peças que encontrei há alguns anos em Cantão dificilmente conseguiria encontrar numa outra zona do mundo. Tenho a minha oficina em Portugal mas seria difícil fazer uma exposição de vidro lá.

Também consegui fazer a minha exposição por estar a leccionar na CPM. Aqui faço coisas que não conseguiria fazer noutro lugar, pois estou a trabalhar com outros materiais.”

Em Portugal, aponta a responsável, “acabamos por encontrar materiais mais tradicionais, e estas peças fogem um pouco ao que é habitual na joalharia”. “Na área do vidro também apresento uma abordagem diferente. Faço a combinação do vidro com estanho e latão, que não é comum ver e penso que o resultado é bastante interessante”, frisou.

“Mudança” foi ainda possível devido ao facto de Cristina Vinhas ter menos alunos no atelier de joalharia na CPM, devido ao facto de muitos portugueses estarem a deixar o território.

“A afluência às aulas é bastante inferior face aos anos anteriores. Temos de abrir para a comunidade chinesa, pois nós, portugueses, somos poucos aqui e é difícil sobreviver se contarmos apenas com a nossa comunidade. Além disso, não podemos contar com o apoio da comunidade portuguesa. Em relação aos ateliers, temos de conquistar novos mercados e alunos”, sugeriu.

7 Jun 2022

Trabalho | Relatório revela dificuldades de contratação no Interior da China e Hong Kong

A consultora Manpower Group concluiu que é cada vez mais difícil contratar trabalhadores em todo o mundo. A empresa de assessoria de recursos humanos indicou num relatório global que o Interior da China, Hong Kong e Taiwan enfrentam as situações mais críticas. Dois empresários locais traçaram o retrato da situação de Macau, destacando os entraves impostos pelas restrições pandémicas e a revolução no sector do jogo

 

O mercado laboral está a mudar em todo o mundo e, apesar de haver maior vontade de contratar em muitos países, não há quadros qualificados para preencher vagas. A conclusão é do mais recente relatório do Manpower Group, uma empresa internacional de assessoria em recursos humanos, que estudou a intenção de reforço de recursos humanos para o terceiro trimestre deste ano.

Dois anos depois do início da pandemia, vive-se actualmente um maior optimismo sobre a possibilidade de novas contratações em alguns países, “a níveis que não eram vistos desde o início da pandemia”. Mas a verdade é que o cenário em alguns países e regiões da Ásia, não é assim tão positivo. “Os empregadores reportam dificuldades no preenchimento de novas vagas, com os maiores impactos a serem sentidos em Taiwan, Portugal, Singapura, China, Hong Kong e Índia”, pode ler-se no documento. Em relação aos sectores mais afectados, a Manpower Group destaca “educação, saúde, trabalho de acção social, função pública e imobiliário”.

O relatório conclui que as perspectivas de contratação para os meses de Julho a Setembro são mais fracas em Taiwan, com apenas mais três por cento, ou Japão, com mais quatro por cento. A nível mundial faltam talentos, “com 75 por cento dos empregadores a reportar dificuldades no preenchimento de vagas”, número que representa mais de o dobro face a 2010, que era de 31 por cento.

Na zona da Ásia-Pacífico, Hong Kong apresenta o aumento das intenções de contratação na ordem dos 11 por cento, uma melhoria de oito por cento face ao segundo trimestre deste ano, e de dez por cento face a igual período do ano passado. Relativamente à China, o intuito de recrutar diminuiu em oito sectores, com apenas a banca e finanças a registarem subidas de quatro por cento em termos trimestrais.

Macau não surge no relatório, mas dada a proximidade com China e Hong Kong, o HM convidou dois empresários para comentar o actual cenário económico e laboral. Para António Trindade, CEO da CESL-Ásia, Macau tem “condições muito particulares” relacionadas com o sector do jogo, além de o factor pandemia, “que tem sido extremamente importante”.

“Nota-se que, como não há uma perspectiva do que se vai passar em relação às concessões de jogo, e sabendo-se que vai acontecer uma grande mudança, a economia está praticamente parada. Não só as concessionárias deixaram de fazer investimentos como estão a despedir pessoas ligadas às actividades de jogo e às restantes operações.”

A RAEM vive, portanto, “uma situação de completa paralisia”, defende António Trindade, que não assume uma postura optimista. “O que se percebe e vê é que, por exemplo, os grandes empregadores estão a despedir muitas pessoas. Os despedimentos em massa vão continuar nas próximas semanas, porque não vejo uma mudança de perspectiva. Não se sabe muito bem como vai ser a economia no ano que vem. Esperamos a renovação das concessões por mais seis meses e um concurso público, mas não sabemos a implicação da nova lei do jogo em relação ao concurso. Vai haver uma redução do mercado de trabalho.”

As restrições de entrada no território e a obrigatoriedade de cumprir quarentena afastaram muitos quadros estrangeiros de Macau, e para o CEO da CESL-Ásia o cenário não deverá mudar tão cedo. “A economia está a reduzir, muita gente vai deixar Macau e não prevejo que voltem tão cedo. Se voltarem, não serão as mesmas pessoas. A economia vai voltar a crescer, mas não sabemos quando”, acrescentou António Trindade.

Em relação à China, “existem outros factores, como a guerra na Ucrânia e o impacto prolongado e combinado de situações que não se notam muito ainda, embora exista alguma percepção”. “Mesmo nas economias do resto do mundo só iremos sentir o impacto de uma maneira generalizada nos próximos dois ou quatro meses, dependendo [da evolução] do conflito”, adiantou o empresário português.

Lei fora da realidade

O empresário macaense Jorge Valente entende que, “provavelmente devido aos confinamentos, na China, Hong Kong e Macau muitos expatriados ou talentos optam por ir para outros locais com menos restrições”, defendeu ao HM. “Repare que, quem tem talento é cobiçado em todo o mundo e pode escolher o emprego que quer, no local que gostar mais. Hong Kong tem a agravante da instabilidade política, e os talentos fogem para Singapura, isto para quem quer sair da China”, exemplificou.

No caso de Macau, a legislação laboral “está totalmente desvinculada das necessidades reais”, acusou Jorge Valente. “Os deputados e as associações de trabalhadores não sabem o que estão a fazer e defendem as causas erradas, não apresentado soluções reais.”

O empresário aponta que a situação dura há muitos anos e que passa pela defesa de “mão-de-obra não habilitada” ou “dificultar a importação de mão-de-obra”. “[Deputados e dirigentes associativos] estão ainda muito virados para pensar nos trabalhadores da construção civil, sendo esta uma das causas para a dificuldade de diversificação [económica], pois estas medidas entram em conflito. O Governo não está a conseguir impulsionar a economia e diversificá-la”, frisou o responsável.

Jorge Valente vai mais longe e refere que as autoridades “estão apenas preocupadas com medidas de combate à covid-19, deixando as pessoas passarem fome ou ficarem no desemprego”. Apesar de ser permitida, desde 27 de Maio, a entrada de não residentes oriundos de Portugal, por exemplo, Jorge Valente acredita que faltam condições para que estas pessoas possam cumprir a quarentena obrigatória. “Os únicos hotéis com saída são os da quarentena, estão cheios e não são suficientes.”

Poucas habilidades

Tal como António Trindade, também o empresário macaense pensa que não deverá haver nenhuma melhoria na área do emprego até que fique resolvida a renovação das concessões de jogo e dos casinos-satélite. De frisar que, numa primeira fase, o Governo avançou para o fim destes espaços de jogo fora dos grandes empreendimentos geridos pelas seis concessionárias, mas, entretanto, recuou na medida face às várias críticas que a medida mereceu.

Além disso, Jorge Valente acredita que a qualidade da mão-de-obra disponível em Macau “não é suficiente e não corresponde às necessidades do mercado”. Os exemplos trazidos para o debate são o desenvolvimento de Macau como plataforma comercial entre a China e os países de língua portuguesa sem trabalhadores bilingues suficientes.

“A Direcção dos Serviços de Economia e antigos secretários para os Assuntos Sociais e Cultura deveriam ter apostado, desde 1999, na educação em língua portuguesa, mas apenas a partir [do mandato] de Alexis Tam se começou a falar nisto, e só no fim se começou a fazer qualquer coisa”, descreveu.

Jorge Valente não tem dúvidas: “mesmo os [trabalhadores não residentes] do interior da China já não querem vir para Macau para serem trabalhadores de segunda [blue cards]”. “Se a economia começar a melhorar, a escassez vai ser ainda mais notória”, rematou.

Olhemos para números mais concretos descritos no último relatório do Manpower Group: uma em cada cinco empresas de todo o mundo têm dificuldades em encontrar pessoas qualificadas na área da tecnologia. Mais de 40 mil empregadores responderam ao inquérito, sendo que em 28 de 40 países e regiões foram reportadas para o terceiro trimestre de 2022 perspectivas consideráveis de recrutamento face ao trimestre anterior. Segundo o documento, “os empregadores de todo o mundo esperam ainda contratar mais trabalhadores no terceiro trimestre de 2022, reportando um ajustamento sazonal”. Surge, aqui, o crescimento de 33 por cento nas intenções de recrutamento em termos globais, com 47 por cento a planear contratar e 34 por cento a programar manter estável a força laboral. Apenas 15 por cento dos patrões acreditam que o número de trabalhadores irá diminuir.

7 Jun 2022

Ambiente | Consumo de recursos aumentou em 2021, enquanto a qualidade do ar melhorou

O relatório sobre o estado do ambiente de Macau em 2021, divulgado pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental, dá conta do aumento do consumo de água, electricidade e resíduos sólidos. Por sua vez, a qualidade do ar melhorou, apesar da tendência crescente da concentração de ozono na atmosfera

 

Mesmo com a economia a meio gás e a recuperação lenta do número de turistas para valores pré-pandemia, Macau continua a registar gastos elevados de recursos, embora a qualidade do ar tenha melhorado no ano passado. Estas são algumas das principais conclusões do relatório do estado do ambiente em 2021 da responsabilidade da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA).

Conforme aponta o documento, “a quantidade de resíduos sólidos urbanos descartados, o consumo de electricidade e o volume de água facturada aumentaram em diferentes graus”. Na prática, o volume de água facturada passou de 85.515 milhares de metros cúbicos em 2020 para 86.308, um aumento de 0,9 por cento. Quanto ao consumo de electricidade, foi registado um aumento de cinco por cento, com 5.415 milhões de KWH consumidos em 2020 face aos 5.688 KWH do ano passado.

Ainda no capítulo do consumo de energia, os sectores que ocupam maior proporção são o comércio, consumo doméstico, a indústria e os organismos públicos. Sobre o consumo de água, os gastos domésticos registaram uma quebra de 6,8 por cento face a 2020, embora continue a representar “a maior fatia no consumo de água”. O relatório indica que “em comparação com 2020 o volume de água gasta nas várias zonas da cidade subiu em 2021, com excepção da península de Macau”. Os maiores aumentos verificaram-se no campus da Universidade de Macau, com 17,6 por cento, e aterros do Cotai, na ordem dos dez por cento. Mesmo com as alterações trazidas com a pandemia, o consumo de água no território revela “uma tendência crescente” olhando para os valores dos últimos dez anos.

No que diz respeito à quantidade de resíduos sólidos descartados no ano passado o total atingiu 453.152 toneladas, o que representou um aumento de 3,6 por cento face ao ano passado quando foram descartadas 437.592 toneladas de resíduos.

O relatório da DSPA aponta que, apesar “da inconstância da situação epidémica em 2021 ter tido impacto na recuperação da economia de Macau, o número de turistas e o Produto Interno Bruto subiram significativamente em relação a 2020”. Mesmo “com a recuperação gradual da economia”, a população manteve-se semelhante à de 2020, tendo diminuído “ligeiramente” a densidade populacional face a 2020.

O relatório faz a referência ao II Plano Quinquenal de Desenvolvimento Socioeconómico da RAEM, em vigor até 2025, que recomenda “que todos os sectores da sociedade integrem melhor os conceitos ‘verde’ e ‘baixo carbono’ no processo de recuperação e desenvolvimento económico”.

Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, faz um alerta no relatório da DSPA, apelando à sociedade civil que se empenhe na missão de proteger o ambiente. “A par da acção governativa, é também imperativa a colaboração e o apoio dos diversos sectores sociais. Pequenas acções podem induzir grandes mudanças.

Adoptar, o mais possível, boas práticas ambientais no dia-a-dia, como poupar água, electricidade, deslocar-se através de meios ecológicos e evitar o desperdício de recursos. Tudo conta. Tudo pode fazer a diferença”.

As acções “prioritárias” para o Executivo e sociedade são a redução de emissões, o controlo do aumento da temperatura e “garantir um futuro mais sustentável para as gerações vindouras”.

Cuidado com o ozono

Relativamente à qualidade do ar no território, o relatório da DSPA sustenta que “melhorou em comparação com o período antes da pandemia”, sendo que em 93 por cento dos dias de 2021 a qualidade do ar foi classificada de “bom” e “moderado”, uma “percentagem semelhante à registada em 2020. Os dados, recolhidos pelos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), foram analisados com base nas novas Orientações para a Qualidade do Ar (Air Quality Guidelines) da Organização Mundial de Saúde (OMS), que entraram em vigor a 1 de Janeiro de 2021 e que levou à redefinição, em Macau, do índice de qualidade do ar.

Os dados revelam ainda que no ano passado entre 10 a 24 dias registaram ar insalubre, de acordo com os registos recolhidos em todas as estações de monitorização da qualidade do ar no território, o que implica cuidados redobrados para quem tem doenças crónicas ou pratique actividades físicas ao ar-livre.

O documento refere que “os principais poluentes registados foram partículas inaláveis em suspensão (PM10) e partículas finas em suspensão (PM2.5)”, que ainda assim tiveram emissões inferiores “em diferentes graus, tendo-se verificado a maior descida na estação da berma da estrada, em Ka-Hó”. De modo geral, “as concentrações médias anuais de PM2.5 registadas em todas as estações de monitorização foram inferiores aos novos valores padrão”.

Também em relação às partículas PM10, as concentrações médias anuais ficaram abaixo dos “novos valores padrão”.
Relativamente aos limites padrão de ozono (O3), foram excedidos nas estações ambientais de Taipa e Coloane, mas no caso das estações ambientais de alta densidade de Macau e em Ka-Hó as concentrações de O3 baixaram, sendo que a concentração média anual de O3 na estação ambiental de Coloane “foi semelhante à de 2020”. Em 2021, o mês com melhor qualidade do ar em Macau foi Agosto, enquanto que pior mês e, termos de qualidade do ar foi Janeiro.

Apesar dos resultados positivos em matéria de qualidade do ar, a DSPA deixa o alerta face à “tendência ascendente, nos últimos dez anos” das concentrações de O3, situação “a que deve ser prestada mais atenção”. Em matéria de partículas PM2.5 ou PM10 verificou-se, nos últimos dez anos, “uma tendência de descida”.

Em termos gerais, “nos últimos anos a qualidade do ar da região do Delta do Rio das Pérolas continuou a melhorar, mas o problema do O3 ainda se mantém notório”. A DSPA afirma mesmo que “nos últimos anos a poluição por ozono tem vindo a agravar-se e está a afectar consideravelmente a qualidade do ar na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”.

Além disso, “as tendências de variação dos poluentes atmosféricos de Macau têm sido, de modo geral, idênticas à tendência global verificada na rede de monitorização da qualidade do ar da região”, nomeadamente na província de Guangdong e em Hong Kong.

Relativamente ao dióxido de carbono (CO2), “continuou a dominar as emissões de gases com efeitos de estufa de Macau”, correspondendo “a mais de 90 por cento do total de emissões”. Ainda assim, a pandemia provocou “uma queda considerável” nas emissões de dióxido de carbono, verificando-se “uma tendência global de descida na última década”. Por sua vez, o óxido nitroso e o metano representaram menos de dez por cento das emissões.

As obras poluem

A DSPA dá ainda conta que no ano passado as principais fontes de emissões de partículas em suspensão no ar, como é o caso da PM10, PM2.5 ou PTS foram os sectores da construção civil e transportes terrestres, representando, respectivamente, 40 e 25 por cento.

O relatório explica que “os transportes terrestres, a incineração de resíduos e o sector da construção civil tornaram-se a principal origem de óxido de azoto (NO2), representando, cada um, mais de 20 por cento”. Além disso, as principais emissões de CO (monóxido de carbono), amónia (NH3) e COVNM (compostos orgânicos voláteis não mecânicos) foram, respectivamente, “os transportes terrestres, o tratamento de águas residuais e os solventes orgânicos”.

Quanto às emissões de óxidos de enxofre, os grandes responsáveis pela emissão foram a incineração de resíduos, o sector do comércio e dos serviços e o consumo doméstico. Por fim, “a incineração de resíduos e os transportes terrestres” também dominaram as emissões de chumbo.

Em termos gerais, as emissões de poluentes para a atmosfera registaram uma quebra entre 2020 e 2021, “à excepção do aumento das emissões de chumbo, de compostos orgânicos voláteis não mecânicos e de monóxido de carbono”. O relatório conclui também que “as emissões provenientes dos transportes marítimos e da produção local de energia eléctrica baixaram visivelmente”, enquanto que as emissões com origem nos sectores dos transportes aéreos, construção e sector industrial aumentaram.

6 Jun 2022

Albergue SCM | “Raízes”, de Giulio Acconci, inaugurada na quarta-feira

O Albergue SCM acolhe a partir de quarta-feira “Raízes”, uma mostra individual de Giulio Acconci que regressa às exposições ao fim de um longo período a desenvolver outros projectos. A mostra reúne pinturas e esculturas que reflectem o percurso pessoal e as influências familiares do artista

 

Afastado de exposições em nome individual há algum tempo, a arte de Giulio Acconci pode voltar a ser vista em Macau numa nova exposição que abre portas a partir da próxima quarta-feira, 8, às 18h30. “Raízes – Exposição de Arte Individual de Giulio Acconci” é uma mostra, que reúne pintura e escultura, que integra o cartaz das comemorações do 10 de Junho – Dia de Camões, Portugal e das Comunidades Portuguesas, que traz vários eventos culturais à cidade.

A colecção de obras conta a história de um homem que nasceu em Macau e que sempre contactou com diversas comunidades que fazem parte do território, mas que recebeu ao longo da vida influências do Myanmar da parte da mãe e italianas da parte do pai. O arquitecto Carlos Marreiros, presidente do Albergue SCM, desafiou Giulio Acconci a olhar para si próprio e a revelar-se através da arte.

“O conceito principal desta exposição tem a ver com as minhas raízes que são muito diversas. O meu pai nasceu em Itália e a minha mãe pertence a um grupo étnico do Myanmar. Mas o facto de ter nascido em Macau e de ter amigos chineses, por exemplo, também contribui para essa diversidade. Em criança sempre falei inglês e cantonês, e também estudei português. Sempre tive a capacidade de aprender e absorver mais sobre outras culturas e idiomas”, contou ao HM.

Giulio Acconci confessou ter-se embrenhado de forma emotiva no processo de criação e preparação da mostra. Os trabalhos são um reflexo disso mesmo. “Comecei por fazer alguns trabalhos com tinta da china, mas senti que, apostar no abstracto seria o mais indicado para expressar todos os sentimentos e contar uma história”, disse. “Raízes” é, portanto, uma mescla de materiais e técnicas artísticas.

“Embrenhei-me no abstracto e misturei muitas técnicas, além de ter usado também muitos materiais. Recorri também à escultura, pois o meu pai era escultor e então, de certa forma, entrei nesse passado. Passei meses a reflectir sobre a forma como iria expressar as minhas raízes e, eventualmente, quando surgiu a hora de criar, simplesmente misturei estilos e técnicas”, frisou.

O homem e o todo

“Raízes” é o somatório de quadros de Giulio Acconci que remete para as memórias de infância na casa da família. Mas, para o artista, a obra mais significativa é aquela que dá o nome à exposição, por representar o homem com tudo aquilo que foi e é.

“Há uma pintura figurativa intitulada ‘Raízes’ que, para mim, é muito expressiva, pois representa uma pessoa que está conectada com tudo. É a ideia de alguém que não se consegue desligar das memórias, da comida e das línguas”, descreveu o artista.

Não é a primeira vez que Giulio Acconci olha para si mesmo e explora o seu passado, mas é a primeira vez que o faz do ponto de vista da interconexão. “Explorei as minhas raízes e antecedentes nas primeiras exposições, sobretudo a influência que o meu pai teve sobre mim. Mas desta vez faço um cruzamento de todas as minhas raízes familiares, sobre a minha mãe, e, por exemplo, sobre o que as mulheres usam na região do Myanmar de onde ela é.”

No tempo em que não expôs a título individual Giulio Acconci tem ensinado outros, feito trabalhos por comissão ou desenvolvido workshops. Sobre esta exposição, espera que, pelo menos, o público possa percepcionar mais coisas sobre si.

“Os meus amigos e pessoas que conheço parecem-me muito entusiasmadas com esta exposição. Vou ver como reagem ao meu trabalho, esperando que retirem algo das peças que vão ver, ou que, neste processo, conheçam um pouco mais sobre mim”, concluiu.

2 Jun 2022

Ana Cristina Alves, autora e académica: “Este livro é um diálogo intercultural”

Acaba de ser lançado, com a chancela da editora Labirinto, o novo livro de poesia de Ana Cristina Alves, especialista em filosofia chinesa, docente e responsável pela área educativa do Centro Científico e Cultural de Macau. “Visitações” reúne poemas que estabelecem um diálogo permanente entre as espiritualidades ocidental e oriental, partindo da base do “I Ching – O Livro das Mutações”

 

Como surgiu a possibilidade de editar esta obra?

Foi uma experiência poética. A última vez que estive em Macau foi em 2015, mas andei muito pelo Oriente e pelo sul da China. Entre 2011 e 2015, estive muito voltada para temas religiosos, fiz investigação na Academia Sínica, recolhi dados sobre templos, que são cerca de dez mil. A pesquisa para o trabalho científico não foi publicada, ficou na gaveta. Nos dez anos que estive em Macau visitei sempre os templos. Sempre gostei muito da espiritualidade chinesa, porque é aberta a receber influências de várias religiões e nenhumas se zangam umas com as outras.

Sobre esse projecto que ficou na gaveta…

Sim, ficou ali. Entretanto, chegou a pandemia, que nos remeteu a todos para casa. Sempre encarei a arte como terapia, sou capaz de estar o dia todo a ouvir música, por exemplo. Como nesses dois anos de pandemia estive bastante tensa, e como gosto muito de escrever e de poesia, foi uma maneira de me agarrar à vida pelo lado positivo, pois fomos bombardeados com notícias negativas todos os dias. Recordei-me então das experiências que vivi nas visitas ao Oriente e começaram a surgir espontaneamente poemas que estão divididos em vários capítulos.

Como dividiu tematicamente o conteúdo?

Os capítulos são sobre divindades chinesas, seres sagrados do Oriente e do Ocidente, porque eu sou portuguesa e o meu olhar ocidental está lá inevitavelmente. Escrevi também poemas sobre festividades e seres sagrados ligados a divindades. Outros escritos resultaram de visitas a templos. Tudo do ponto de vista poético, não científico, através de um diálogo intercultural. A última parte do livro é sobre poesia de adivinhação, numa tentativa para chegar a um amor diferente, objectivo, mas também compreender o mistério que não se deixa compreender por palavras. Quanto mais nós tentamos entrar em certas esferas e explicar tudo de forma racional, pior é. Peguei no clássico I Ching – O Livro das Mutações. Já a Fernanda Dias [poetisa] tinha feito uma experiência deste tipo, em Macau, porque a obra tem 64 hexagramas. Ela fez um poema para cada um deles, em “O Fio de Seda”, publicado em 2012. Utilizei a filosofia da complementaridade e fiz poemas sobre 32 hexagramas, porque acredito sempre nos opostos que não são oposição, mas que são complementares.

Qual o objectivo desse exercício?

Foi uma tentativa de entrar neste mistério que não entendemos, mas que sentimos através da nossa intuição, de que há qualquer coisa da qual é difícil falar do ponto de vista racional. São 32 poemas dedicados à adivinhação. Mas foi muito compensador. De cada vez que escrevia um poema, por muito más que fossem as notícias sobre a pandemia, nunca me deixavam muito maldisposta. A arte compensava e era como se estivesse a fazer terapia. Esta obra, “Visitações”, surge num momento muito particular da nossa história colectiva e individual, em que nos confrontamos com a pandemia. Alguns poemas mostram esse lado.

Em que sentido?

Por exemplo, há uma divindade muito malandra (Na Tcha), um menino que provoca muitos desacatos e que acaba por magoar um dos filhos do Rei Dragão, que nunca lhe perdoa. Esta divindade está mesmo ao lado das Ruínas de São Paulo [Templo de Na Tcha] e tem um dom especial: combater epidemias. É óptimo para estes tempos.

Como descreve este livro?

É um diálogo intercultural, que aponta para uma espiritualidade, mas que não a define, não diz “é assim”, ou de outra forma. Não há dogmas, mas leituras de possíveis caminhos espirituais, uma espiritualidade muito aberta, com a mistura de divindades. Um dos capítulos é sobre seres divinos, sagrados e monstros, no Ocidente e no Oriente, sempre numa tentativa de diálogo. Na primeira parte do livro temos poemas dedicados à minha sensibilidade reservada, enquanto que a maior parte dos poemas têm como fio temático a espiritualidade chinesa e o diálogo com a espiritualidade ocidental.

O que significa esta sensibilidade reservada?

São poemas mais seculares, mais do dia-a-dia, que surgem em confronto com situações. Tenho lido muito e gosto muito de Fernando Pessoa, dos clássicos, mas também de Luís de Camões e Sophia de Mello Breyner. Mas o meu despertar poético é sempre sobre situações da vida e por qualquer coisa que se está a passar no aqui e agora. A guerra na Ucrânia preocupa-me muito, por exemplo. Não é tanto a sensibilidade de receber influência dos outros poetas, mas quando me surge este chamamento poético, este diálogo, é sempre sobre algo que está a acontecer na minha vida.

Que poema destaca nesta obra?

“Macau Tricolor” é um poema de que gosto muito. Dentro das experiências poéticas uma das que gosto de fazer é misturar línguas dentro do próprio poema, é um traço da minha poesia. Este poema é sobre Macau e surge na sequência do 24 de Junho, antigo Dia de S. João, quando ocorreu a batalha contra os holandeses, em 1622. Começa por ser escrito em português, depois passa para patuá, graças ao pouco que aprendi com o Adé, e depois termina em chinês. Celebro os portugueses, os macaenses com a sua especificidade e os chineses que estão em Macau, a quem pertence não só a terra como a administração.

Escreveu outros poemas sobre a China?

Há muitos poemas sobre a China e as festividades tradicionais chinesas, sobre a festividade dos barcos dragão e o ano novo chinês. Mas esta China é aquela que eu deixei em 2015 e não a de hoje. No livro “Migrando pelos Dias” falo mais da China dos dias de hoje. Este livro aborda a China espiritual e tradicional, assim como o contacto com o Ocidente também cultural e espiritual. Tenho um poema sobre o São Martinho, o Natal e a Páscoa. Saí de Macau há sete anos, e o que me lembro da China e de Macau está mais na cultura do que na vivência diária.

Porquê o nome “Visitações”?

A capa, que está muito bem conseguida, tem duas portas fechadas. Então é como bater à porta de algo, de um mundo misterioso, e a visitação é a tentativa de entrar nesse mundo, mas a porta mantém-se fechada. Está semi-aberta com a nossa sensibilidade, mas pouco compreendemos sobre esse mundo com seres sagrados e divindades. “Visitações” é então essa ideia de visitar um mundo transcendente. Acredito que com a poesia se consegue lá chegar.

Tem uma larga experiência como investigadora, sobretudo na área da filosofia oriental. Escrever estes poemas trouxe-lhe outra perspectiva da China?

Desta vez usei o clássico “I Ching – O Livro das Mutações”, que o padre Joaquim Guerra chamava “A Bíblia Chinesa”. Dá uma outra visão menos pragmática e utilitária da cultura chinesa. Leva-nos à cultura tradicional que valorizava a sensibilidade poética. Não nos podemos esquecer que os governantes, para passarem os exames imperiais, tinham de fazer poesia e saber interpretá-la, para chegarem a oficiais e mandarins. Este contacto com os clássicos é a entrada no mundo da história, que hoje muitas vezes é esquecido na China contemporânea porque valores económicos, e outros, se levantam.

1 Jun 2022

Restauração | Salário médio com quebra de 6,5 % em termos anuais 

Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelam que o salário médio no sector da restauração foi de 9.750 patacas no primeiro trimestre, o que representa uma quebra anual de 6,5 por cento face aos primeiros três meses de 2019, ou seja, antes da pandemia.

No entanto, em relação ao último trimestre de 2021, houve uma ligeira subida de 1,6 por cento. O sector empregava, entre Janeiro e Março, 22.885 trabalhadores a tempo inteiro, menos 4,3 por cento em termos anuais. Relativamente à hotelaria, registou-se uma quebra de 4,7 por cento no número de trabalhadores face ao último trimestre de 2021.

No total, trabalham em hotéis e empresas similares um total de 47.355 trabalhadores. Quanto aos salários, a remuneração média, excluindo as participações nos lucros e os prémios destes trabalhadores cifrou-se em 19.240 patacas, mais 4,8 por cento em termos anuais.

Tal deve-se, segundo a DSEC, ao facto de a “situação dos trabalhadores com licenças sem vencimento ter melhorado em termos homólogos nalguns hotéis e à diminuição de trabalhadores que tinham remunerações relativamente baixas”.

No final do primeiro trimestre deste ano existiam menos 81 vagas nos hotéis, enquanto que nos restaurantes ainda há vagas por preencher.

31 Mai 2022

Excursões locais com novo programa para estudantes de Macau

O programa “Roteiros para visitas de estudo”, apresentado ontem, marca o novo capítulo de excursões locais para residentes. Desta vez, os destinatários são estudantes do ensino não superior. A iniciativa, que não interfere com as restantes quotas de participação destinadas a residentes, dura até ao dia 31 de Julho e será organizada pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST) em parceria com a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ).

Os locais a visitar incluem o Centro de Ciência de Macau, a Universidade de Macau, o Parque de Seac Pai Van, a Base da Educação do Amor pela Pátria e por Macau para Jovens, entre outros.

Cada estudante terá direito a participar gratuitamente num roteiro e as visitas de estudo “combinam os recursos turísticos de Macau com um formato de ‘Ensino e aprendizagem com passeio’”. Tudo para que “os estudantes participantes nos roteiros possam conhecer melhor a história de Macau e a cultura chinesa, cultivar o amor pela pátria e o sentimento de pertença ao país dos jovens de Macau, bem como a aquisição de conhecimentos gerais sobre ciências e educação sobre natureza e ecologia”.

Os alunos poderão escolher um de dez roteiros, divididos por oito temas, nomeadamente “a visita ecológica”, a “visita de educação científica” ou a “visita do património mundial”, estando ainda previstas visitas de estudo sobre “a prática da ciência e tecnologia”, o “amor pela pátria e por Macau” ou sobre a história do território, entre outras temáticas. Cada um dos roteiros dura cerca de cinco horas, incluindo almoço.

Em várias línguas

Se os alunos residentes têm direito a uma visita gratuita, o mesmo não acontece com não-residentes, que têm de pagar a visita de estudo na íntegra (280 patacas). O programa contará ainda com guias turísticos que falam cantonês, mandarim, português e inglês, tendo em conta “as diferentes necessidades linguísticas das escolas de Macau”. Em cada excursão haverá docentes e funcionários escolares a acompanhar a visita, sendo que as escolas podem escolher os roteiros adequados para organizar a participação dos estudantes.

O Governo pretende assim que os alunos saiam da sala de aula “para aprender e interagir com os guias turísticos durante a visita guiada ao terreno”, para que “aumente o interesse destes em aprender”.

A DST realizou sessões de esclarecimento para agências de viagens e guias turísticos a propósito do programa, além de que a DSEDJ apresentou o programa às escolas.

O mesmo comunicado refere que os “Roteiros para visitas de estudo” não interferem com as quotas para as excursões locais destinadas a residentes de Macau.

31 Mai 2022

Literatura infantil | “Uma Casa com Asas”, de Andreia Martins, apresentado sexta-feira 

Andreia Martins, professora do ensino básico, escreveu “Uma Casa com Asas” a pensar numa menina que brincava na rua e que, de repente, se viu obrigada a ficar em casa. Até que um dia a máscara lhe permite voltar a fazer a vida normal. A obra, dedicada aos filhos e alunos de Andreia Martins, é apresentada na sexta-feira no Café Oriente, no IPOR, e integra o cartaz oficial das celebrações do 10 de Junho

 

Não é um livro que fale directamente sobre a existência de um vírus, mas a história da protagonista acaba por remeter para o período especial que o mundo vive. Na sexta-feira, o Café Oriente, no Instituto Português do Oriente (IPOR), recebe o lançamento de “Uma Casa com Asas”, da autoria de Andreia Martins, docente do ensino básico na Escola Portuguesa de Macau (EPM), com ilustrações de Catarina Vieira.

O projecto nasceu no início da pandemia, quando Andreia Martins teve de começar a dar aulas online a partir de casa e, ao mesmo tempo, a tomar conta dos três filhos. “Numa dessas noites em que preparava as aulas para os meus alunos olhei para um desenho que a minha filha tinha feito, uma casa com umas asas, e escrevi sobre o que estávamos a passar”, contou ao HM.

Surgiu então a história de uma menina “que gostava muito de brincar na rua e, de repente, não pôde sair mais”. “Não falo de um vírus específico mas a história marca uma mudança de registo e de liberdade. Um dia a menina descobre uma coisa rectangular que mete nas orelhas com cuidado e que permite que volte a sair e a fazer algumas das coisas que fazia antes, que é a máscara. Este foi um livro escrito numa altura em que toda a Europa rejeitava o uso de máscara, ao contrário do que se passava aqui, o que é uma coisa cultural. Foi ver a possibilidade que a máscara nos deu [de fazer uma vida relativamente normal]”, adiantou a docente.

“Uma Casa com Asas” é uma obra dedicada aos filhos e alunos de Andreia Martins, bem como “para todas as crianças que têm de viver com a nova realidade”.

“A história é sobre o que cada criança experienciou e sobre o que elas inicialmente não puderam fazer, pois ficaram em casa, e de como a máscara possibilitou um regresso às rotinas. Acabo a história com a ideia de que ‘não pode tocar em tudo, mas aprendeu a esperar e a ter esperança’. Marca uma viragem e como professora penso que faz sentido, porque as crianças passaram a ver as pessoas de outra forma.”

No YouTube

Andreia Martins revela uma enorme paixão por contar histórias e acabou por recorrer ao YouTube para esse fim. Nos vídeos apenas se ouve a voz e se vêem as ilustrações do livro que se lê, um elemento que acabou por influenciar a escolha das ilustrações para “Uma Casa com Asas”.

“Fiz questão de descrever intensamente as minhas ilustrações à ilustradora para ela poder captar a realidade de Macau, e este canal de YouTube possibilitou aos meus alunos a continuar a ouvir as histórias. A mim possibilitou-me uma maior aprendizagem”, apontou.

“Uma Casa com Asas” esteve na gaveta durante muito tempo devido a contratempos com a selecção da editora. A escolha do trabalho de Catarina Vieira surgiu através de uma amiga. “Foi feito depois um trabalho de descrição, porque há muitos pormenores de histórias que leio que fui retendo e que gostaria de ver no meu livro.”

Acima de tudo, “esta história foi imaginada com o traço da Catarina, mas tudo o que está na história foi pensado e definido por mim”. “A minha experiência como professora e mãe faz com que perceba o que eles [filhos e alunos] gostam. Esta história é para eles, tem uma menina suja, descalça, que brinca com materiais de cartão. Há detalhes que quis que ficassem na história para segundas leituras”, concluiu Andreia Martins, para quem lançar um livro acabou por se revelar uma surpresa.

31 Mai 2022

Saúde mental | Profissionais portugueses recordam arranque dos serviços em Macau 

Na década de 80 eram parcos os recursos em matéria de saúde mental, sobretudo no capítulo da prevenção. Inês Silva Dias recorda o trabalho que foi feito com a comunidade e a persistência junto do Governo para que fosse criada uma lei da saúde mental, projecto que só se tornou uma realidade em 1999. Goreti Lima, psicóloga, destaca o facto de o panorama ter vindo a melhorar, embora se continue a apostar muito numa resposta farmacológica

 

Em 2005, foi inaugurada a Clínica Psiquiátrica da Taipa. Mas a verdade é que o trabalho da Administração em prol da criação de mais serviços de tratamento e prevenção na área da saúde mental havia começado cerca de 20 anos antes. Na década de 80, um grupo de psiquiatras viajaram de Portugal para Macau, tendo sido os responsáveis por criar um serviço integrado de consulta, internamento e acompanhamento comunitário praticamente do zero. À época, faltava uma lei de saúde mental e não havia sequer regime de internato para formar clínicos chineses.

Inês Silva Dias, psiquiatra e fundadora, em Macau, da associação Richmond Fellow, recorda ao HM os primeiros tempos quando percebeu que iria ter muito trabalho pela frente. “Cheguei em 1985 quando a saúde mental e a área da psiquiatria estavam nos primórdios em termos de existência e na forma como estava divulgada junto da população.”

“Estranhei imenso o ambiente que se vivia do ponto de vista da psiquiatria, porque, uns anos antes, tinham construído um edifício que, por falta de quadros difíceis de recrutar, funcionava para outros fins, e a psiquiatria estava lá num canto. Houve dificuldades em recrutar técnicos em Portugal e era tudo ignorado.”

No sector privado, o hospital Kiang Wu tinha encerrado o serviço de saúde mental, porque não dava lucro. As respostas para quem tinha problemas nesta área eram parcas ou nulas.

“Era um momento bastante crítico porque praticamente não havia assistência nessa área. O Governo recrutou então alguns psiquiatras que foram para Macau e começaram a dar os primeiros passos para organizar os cuidados e, numa fase posterior, ter atenção à saúde mental, no sentido da prevenção.”

Chegados a um território onde a maioria da população falava chinês, foi preciso recorrer a intérpretes para dar as consultas. Embora houvesse ainda preconceito em relação à doença mental, essa resistência à procura de aconselhamento médico reduziu-se nos casos mais graves. A partir daí, criaram-se situações de aceitação e laços que perduraram.

“Havia o desejo de melhoria sobretudo quando havia doentes graves nas famílias. Na comunidade chinesa, quem tinha familiares com problemas mentais quase que escondia os doentes. Mas quando a situação era disruptiva, no sentido do comportamento, as pessoas procuravam ajuda e tornavam-se receptivas em relação ao tratamento. Fiquei com ligações a doentes que me escreviam já depois de eu sair de Macau”, recordou Inês Silva Dias.

Apoio a toxicodependentes

A certa altura, os serviços de saúde mental viram-se obrigados a responder aos casos de toxicodependência, que na década de 80 eram mais visíveis no território. Numa recente entrevista ao HM, Helena Cabeçadas, formada em antropologia, recordou a fase em que viveu no território e fez trabalho na área da saúde mental e toxicodependência para os Serviços de Saúde de Macau (SSM). Helena, que deu também aulas na então Universidade da Ásia Oriental (hoje Universidade de Macau), recordou a época dos “consumidores de heroína, que era barata e de boa qualidade”, e quando o trabalho era cheio de desafios.

“Era um mundo muito masculino, e havia um registo mais prisional do que terapêutico, o que contrastava com aquilo que eu conhecia em Portugal e nos EUA. Éramos poucos terapeutas e funcionava como um grupo de guardas prisionais. Incomodava-me esse registo porque não estava de acordo com a minha visão [de abordar o problema], que defendia a reabilitação. Em Hong Kong, em contrapartida, tinha contactos muito interessantes do ponto de vista profissional, porque fazia-se ali um trabalho que tinha mais a ver com a minha maneira de encarar esses problemas.”

Augusto Nogueira, presidente da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM), recorda um período do “boom da heroína e do haxixe”, onde o consumidor era visto como um criminoso. “Eram novas experiências e as pessoas não sabiam muito bem como lidar com elas, mesmo a nível terapêutico. Não havia muitos conhecimentos em termos de comunicação e terapia. A droga era vista como algo maquiavélico e a punição era a ferramenta para lidar com o consumo. Havia muitos tratamentos à base da religião e tentava-se ajudar as pessoas com o pouco conhecimento que existia”, contou ao HM.

Antes da chegada da associação Ser Oriente, em 1993, já existia, em Ka-Hó, Coloane, o Centro Desafio Jovem, que propunha um tratamento da toxicodependência com ligação à religião. “A Ser Oriente não tinha muitas relações com o gabinete de prevenção para a toxicodependência [dos SSM] mas depois de 1999 reunimos com o Instituto de Acção Social, onde mostrámos a nossa vontade de permanecer em Macau”, lembrou Augusto Nogueira.

“Depois, com um grande esforço do IAS em dar apoio a associações, conseguimos profissionalizarmo-nos mais na prevenção e ir ao estrangeiro, aprender com o que estava a ser feito lá fora. Desde 1999 passámos de amadores, à base da boa vontade, para algo mais profissional com cabeça, tronco e membros. Deixámos de ter de pedir dinheiro na rua para sobreviver”, disse o actual presidente da ARTM.

A importância da lei

Se faltavam recursos para dar respostas, a lacuna era ainda maior em matéria legislativa. Inês Silva Dias foi uma das vozes que mais lutou para a implementação do regime de saúde mental, que seria implementado a 12 de Julho de 1999.

“As autoridades percebiam que havia a necessidade de responder aos problemas da área, mas também eram capazes de ter preconceitos com a doença mental, como toda a sociedade. Foi preciso um trabalho árduo e persistente para conseguir alterar a situação. Tudo começou em 1985 e penso que tive um papel na sensibilização das autoridades para a necessidade desta lei, que depois ficou em preparação.”

O regime vigora hoje, em conjunto com uma Comissão de Saúde Mental, criada em 2005. No preâmbulo da lei lê-se que já eram prestados cuidados psiquiátricos em regime de ambulatório, internamento ou urgência, sendo que o hospital Kiang Wu havia encerrado “o serviço de psiquiatria e transferiu os doentes crónicos para a Unidade Psiquiátrica da Taipa”. Seria criada, mais tarde, a Unidade de Doentes Crónicos do Serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar Conde S. Januário. À data, era “a única unidade prestadora de cuidados psiquiátricos” em Macau.

Pretendia-se, com esta lei, a “reformulação da filosofia da prestação dos cuidados psiquiátricos no Território a partir de uma visão cientificamente actualizada do tratamento e apoio à pessoa portadora de distúrbio mental”, onde os “cuidados psiquiátricos deixam de estar limitados às instituições hospitalares, cuja função primordial era a custódia do doente, e são reorientados para a reabilitação e inserção comunitária da pessoa portadora de distúrbio mental”.

O regime define também os direitos e deveres da “pessoa portadora de distúrbio mental”, tendo sido definidos os regimes de internamento compulsivo e de urgência.

O trabalho comunitário

Inês Silva Dias prefere recordar também o trabalho de campo feito entre 1985 e 1999, sobretudo na ligação com a comunidade. “Para implementar o tratamento e chamar a comunidade a participar nos cuidados, foi feita uma intervenção a nível das estruturas governamentais, mas na altura fundei uma associação, que ainda hoje existe, a Richmond Fellowship, que visava envolver a comunidade civil. Conseguimos criar uma série de estruturas intermediárias para que os doentes mentais não ficassem reduzidos ao espaço hospitalar e às famílias.”

Além disso, a médica psiquiatra ajudou também a fundar, no São Januário, o regime de internato para médicos chineses. “Foi possível criar um internato para a formação de médicos chineses em psiquiatria, que não havia. Isso foi inovador. Estávamos em pleno período de transição e a grande parte da comunidade portuguesa não iria ficar, pelo que era importante formar clínicos. Íamos [para Macau] em comissões de serviço e pareceu-me importante dar formação a médicos chineses.”

A última vez que Inês Silva Dias visitou Macau foi em 2006 e relata uma situação satisfatória em termos de resposta. “O meu desejo era que houvesse uma batalha diária para que a psiquiatria e saúde mental se possam manter visíveis e para que haja um alerta junto das autoridades em prol de um maior investimento em recursos para acompanhar as novas formas de actuação.”

O HM enviou também algumas questões aos SSM no sentido de compreender a evolução em matéria de saúde mental até aos dias de hoje, mas em cerca de dois meses não foi obtida qualquer resposta. A título de exemplo, os SSM criaram, em 2016, serviços ao domicílio na área da psiquiatria para os casos mais graves, além de existir uma consulta externa de especialidade no São Januário.

Medicamentos como resposta

Num debate na Assembleia Legislativa em Outubro de 2020, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, garantiu que havia um período de 18 dias de espera para se ter aceso a uma consulta de psiquiatria no hospital ou centros de saúde. A acessibilidade a estas consultas foi considerada “bastante elevada”. Neste debate, a secretária lembrou ainda os subsídios concedidos a associações para a prestação de serviços psicológicos na comunidade.

Goreti Lima, psicóloga e ex-residente de Macau, saiu do território em 2019, mas ainda hoje atende residentes via online. O fecho de fronteiras e a pandemia veio aumentar a procura por ajuda.

“Parte do meu rendimento em Portugal vem de pessoas que estão em Macau numa situação em que não podem sair e precisam de algum apoio psicológico e emocional. Agora sim, é que as pessoas vivem numa bolha.”

Hoje a resposta é maior e até existem mais cursos de psicologia no ensino superior. Mas a tendência, da parte de quem se sente doente, continua a ser, numa primeira fase, a busca pela medicação. “Por norma, quando as pessoas precisam de ajuda, a primeira pessoa com quem falam é com um psiquiatra, que depois medica para que a pessoa consiga dar a volta aos sintomas. Há alguns clínicos gerais que prescrevem alguns ansiolíticos. A abordagem é muito farmacológica”, destaca a psicóloga.

No entanto, “há cada vez mais a tendência para se procurar primeiro um psicólogo, e quando saí de Macau isso era cada vez mais visível”, inclusivamente no seio da comunidade chinesa, onde por norma existe um maior tabu em abordar problemas deste tipo.

“Não sei quais são as necessidades da população neste momento, mas acho que a saúde mental não tem de ser tratada, mas pode ser prevenida. Sinto, em qualquer parte do mundo, que há pouca prevenção na saúde mental. A medicação ajuda, mas não resolve a causa do problema. Se nas escolas, ou junto das famílias, tivéssemos mais apoio [as coisas poderiam ser diferentes].”

Goreti Lima acredita que o cenário hoje é de alguma desconfiança em relação aos serviços psicológicos disponíveis no território.

“Até eu sair, em 2019, procurava-se muito o psicólogo português ou de Hong Kong. Sempre achei que havia pouca resposta, e as pessoas não confiavam no que havia no território. Porque às vezes são pessoas recém-formadas numa universidade privada e não se sente tanta confiança.”

Goreti Lima, que chegou a dar aulas no curso de psicologia da Universidade de São José, relatou que há muitos licenciados que são depois inseridos em instituições sociais ou escolas, “mas não propriamente em hospitais e clínicas”. A medida está integrada na política de aconselhamento que a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude implementa nas instituições de ensino.

31 Mai 2022

10 Junho | “Arquitectarte”, com trabalhos criativos infantis, abre portas esta quarta-feira 

Há cerca de seis anos que Marieta da Costa, arquitecta e designer, desenvolve trabalhos criativos com crianças do jardim de infância D. José da Costa Nunes, utilizando materiais recicláveis. O resultado final de anos de criatividade pode agora ser visto em “Arquitectarte”, uma mostra que integra o cartaz oficial das comemorações do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas

 

É já a partir de quarta-feira que pode ser vista a exposição “Arquitectarte”, organizada pela Associação Cultural 10 Marias e que integra o cartaz oficial das celebrações do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas. A mostra tem como protagonistas a designer e arquitecta Marieta da Costa e crianças entre os três e seis anos do jardim de infância D. José da Costa Nunes que têm trabalhado com Marieta na construção de diversas esculturas e objectos com base em materiais recicláveis.

Ao HM, Marieta da Costa conta como começou esta iniciativa. “Este projecto surgiu quando vim para Macau, há 11 anos, com o meu filho de três anos. Vínhamos de Londres onde tínhamos uma panóplia de actividades para crianças, que contavam com a participação dos os pais. Cheguei aqui e deparei-me com a ausência de actividades para fazer com o meu filho. O meu filho mais velho entrou no Costa Nunes e tive a ideia de desenvolver este projecto. Há cerca de seis anos que o faço.”

Nestas aulas de expressão artística, Marieta da Costa fala de arte, arquitectura “e sobre os mais variados temas” com os mais pequenos, onde o objectivo é “promover a criatividade e trabalhar a motricidade fina”.

Os resultados têm sido surpreendentes. “No início era muito exigente comigo própria em relação ao que podia oferecer às crianças, pois falamos de um público entre os três e os seis anos. Hoje em dia já estou mais liberta e deixo as coisas acontecerem, e às vezes os resultados são inesperados. Mas no início foi complicado e exigiu um processo de adaptação para mim também.”

Em ponto pequeno

“Arquitectarte” é o resultado de um acumular de trabalhos feitos nos últimos cinco anos. No fundo, sem pensar muito na possibilidade de uma exposição, Marieta da Costa foi trabalhando nesse projecto, destacando as construções de edifícios feitas pelos alunos.

“Gosto muito do trabalho que fazem quando falamos de edifícios, quando constroem pequenas casas, da cidade e da aldeia. Por norma, lanço os desafios com os materiais que lhes apresento, e fico orgulhosa com o trabalho que daí sai. Isto está relacionado com o facto de viverem em Macau mas também lhes apresento casas de outros sítios, feitas de palhota, por exemplo. Depois há uma interpretação da parte deles e os resultados são muito engraçados e coloridos”, contou a responsável.

Marieta da Costa considera fundamental que as escolas para a infância apostem neste tipo de actividades extra-curriculares, sendo que um dos grandes desafios que encontrou foi o facto de os mais pequenos não gostarem de sujar as mãos.

“É uma coisa que eu e as pessoas da minha geração gostavamos de fazer. Ficávamos sujos, saltávamos poças de água. As crianças de hoje não o querem fazer, e quando entram na escola primária têm imensa dificuldade em pegar num lápis e numa caneta. A minha aula ajuda nisso. Um dos desafios que faço sempre, quando início o semestre, é pintar com as mãos. E muitos deles recusam fazê-lo”, rematou. A exposição “Arquitectarte” pode ser visitada na Casa Garden até ao dia 3 de Julho.

30 Mai 2022

SJM | Analistas voltam a alertar para falta de liquidez da operadora

Depois do aviso da JP Morgan, em Abril, a Sanford C. Bernstein estimou que, num cenário sem receitas, a Sociedade de Jogos de Macau teria dinheiro em caixa para apenas três meses. Nesse contexto, a compra do casino Oceanus à STDM foi encarada com preocupação

 

Num cenário sem receitas nos espaços de jogo e de entretenimento, a Sociedade de Jogos de Macau (SJM) teria dinheiro em caixa por apenas três meses, concluiu a correctora Sanford C. Bernstein.

A maior parte das empresas de jogo enfrenta problemas de liquidez e dificuldades no acesso ao crédito devido à enorme redução do número de turistas, indicou a Bernstein. A SJM é, sem dúvida, a operadora que gera maiores preocupações, enquanto que a Galaxy revela mais solidez financeira, pois, sem receitas, teria dinheiro para um ano.

Não é a primeira vez que os analistas revelam preocupações sobre a falta de liquidez da SJM. No passado mês de Abril, a JP Morgan Securities (Asia Pacific) considerava a situação “de alguma forma preocupante”, pois a empresa teria apenas, à data, reservas de dinheiro por um período de seis meses.

“De uma perspectiva financeira, a nossa análise sugere que a SJM Holdings só tem liquidez para seis meses, que é de longe a mais curta (em comparação com a liquidez das outras operadoras que varia entre um ano e meio até mais de 30 anos) e que nos faz sentir desconfortáveis”, lia-se na nota.

Segundo o portal GGR Asia, a SJM indicou a possibilidade de um empréstimo concedido pela STDM no valor de cinco mil milhões de dólares de Hong Kong para resolver a falta de liquidez.

Na sexta-feira, a SJM anunciou a aquisição do casino Oceanus à Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), accionista maioritário, levando os analistas da JP Morgan a criticar o timing da operação. “Não gostamos da altura – quando a SJM sofre severamente com constrangimentos relacionados com falta de liquidez”, escreveram, na nota citada pelo portal GGR Asia, os analistas DS Kim, Amanda Cheng e Livy Lyu.

A compra, por um valor de 1,9 mil milhões de dólares de Hong Kong, será feita através de obrigações convertíveis. O anúncio foi feito através de comunicado enviado pela SJM à bolsa de valores de Hong Kong, sendo que a operação faz parte de um acordo com o Governo quanto à extensão da concessão de jogo até Dezembro deste ano.

O segmento não-jogo do empreendimento Oceanus vale 516 milhões de dólares de Hong Kong, enquanto que a área de jogo vale 1,3 mil milhões.

Reversões para o Governo

Ditam as regras do jogo que quando termina uma concessão os espaços da concessionária revertem para a RAEM, à excepção das zonas não-jogo. O empreendimento Oceanus não tem hotel e possui poucos espaços de actividades não-jogo, mas, segundo o GGR Asia, como a SJM não detém uma posição maioritária, não poderá reverter as zonas de jogo caso não renove a concessão. “Por isso, a SJM está a comprar activos da STDM para poder… reverter… para o Governo”, explicam os analistas da JP Morgan.

“Compreendemos que a SJM costumava pagar aproximadamente 100 milhões de dólares de Hong Kong anuais à STDM em rendas. Não achamos que a SJM necessite comprar outros activos, porque o Grand Lisboa e o Grand Lisboa Palace são detidos em cem por cento pela SJM.” Além disso, referem os analistas, “a SJM detém o espaço de jogo no antigo Hotel Lisboa”.

30 Mai 2022

Teatro | Espectáculo musical “Canções de Faca e de Alguidar” estreia hoje

Estreia hoje o novo espectáculo da companhia teatral “D’As Entranhas”, muito ligado à música e ao universo cultural dos anos 80. “Canções de Faca e de Alguidar” é produzido com actores amadores e promete um registo “kitsch” e “trágico-cómico”, protagonizado no feminino

 

O auditório da Casa Garden recebe hoje o espectáculo “Canções de Faca e de Alguidar”, a nova produção musical da companhia “D’As Entranhas”. A concepção e direcção artística está a cargo de Vera Paz, co-fundadora “D’As Entranhas”, e também intérprete nesta produção. Ao seu lado, no palco, juntam-se actores amadores e outros com formação e experiência nas lides teatrais, como é o caso de Mónica Coteriano, Catarina Cortesāo, Célia Brás ou Jorge Vale, entre outros.

Sem querer desvendar muito a narrativa que dá o mote ao espectáculo, Vera Paz revela apenas que são histórias com “canções de faca e alguidar, protagonizadas no feminino, com um homem”. As mulheres que sobem ao palco têm cerca de 50 anos e “uma história de vida de amores e desamores, com muitas lágrimas, lençóis e cicatrizes”.

Este promete ser um “espectáculo com quadros vivos, separadores, e com uma componente vídeo e áudio muito marcada, como acontece sempre com os nossos espectáculos. É um registo kitsh, trágico-cómico, e a acção situa-se nos anos 80”.

A homenagem aos anos 80 surgiu como natural, por ter marcado a geração de Vera Paz. “Era tudo muito sentimental e emocional, e, face aos tempos que correm em que tudo é digital, é preciso que os sentimentos estejam à flor da pele e se possam revelar. Queremos homenagear este período das nossas memórias, embora também tenhamos músicas dos anos 70 ou 50. Só não temos músicas do yé-yé dos anos 60, porque não gosto nada desse movimento (risos)”, contou Vera Paz ao HM.

O prazer do amador

“Canções de Faca e de Alguidar” tem uma segunda sessão amanhã, mas os espectáculos já estão esgotados, sem que haja possibilidade de realizar uma terceira sessão. O facto de Vera Paz ter trabalhado com actores amadores não se revelou uma dificuldade acrescida, pelo contrário.

“Foi um desafio trabalhar com este elenco. Tenho dois actores profissionais, a Mónica Coteriano e o Jorge Vale que já têm alguma experiência na área. A Catarina [Cortesão] também alguma experiência no teatro universitário.”

“Gosto muito de trabalhar com actores amadores”, por serem “actores-verdade”, declarou Vera Paz. “Demora mais tempo a lá chegar, porque tecnicamente não têm defesas nem recursos, mas têm uma enorme entrega. São pessoas que se identificaram com o projecto e isso foi muito positivo e gratificante. A equipa está equilibrada.”

A companhia promete apresentar, em Novembro, um outro espectáculo, mas desta vez baseado na obra poética de Adília Lopes. “A história será também sobre uma mulher. Só trabalho sobre o universo feminino, que me é caro. O amor sempre em pano de fundo, as interrogações sobre tudo isto e as relações. O amor vale sempre a pena, até ao fim”, rematou a co-fundadora “D’As Entranhas”. As duas sessões do espectáculo começam às 21h.

27 Mai 2022

Wynn | Ron Lam acusa operadora de violar lei laboral 

Ron Lam U Tou acusa a operadora Wynn Macau de violar a lei laboral ao propor o pagamento de dez por cento do salário mensal em acções da empresa cotadas na bolsa de valores de Hong Kong.

O deputado revelou numa publicação no Facebook ter recebido várias queixas de trabalhadores da Wynn, a quem foi pedida “assinatura voluntária do acordo, caso contrário não poderiam deixar a sala de reuniões”, ou seja, o acordo seria feito mediante coação.

Ron Lam U Tou lembrou que, segundo a lei laboral, os salários têm de ser pagos em moeda real que circule na RAEM. Além disso, o deputado lembrou que o valor das acções só será transferido para os funcionários da Wynn a 3 de Janeiro de 2023 e que a quebra no valor leva a um corte indirecto de salário.

“O sector do jogo funciona há mais de 20 anos e as seis concessionárias ganharam muitos milhões de patacas. Qual é a sua responsabilidade social se só pagarem parte dos salários com acções em bolsa, tendo em conta as perdas que tiveram no curto espaço de tempo de dois anos em que dura a pandemia?”, questionou.

27 Mai 2022

USJ | Plataforma “Português à Vista” visa fomentar compreensão oral da língua 

A Universidade de São José apresenta na segunda-feira o projecto “Português à Vista”, uma plataforma de conteúdos audiovisuais, com cerca de 100 vídeos e muitos exercícios para que os alunos possam desenvolver melhor uma das capacidades mais difíceis para quem aprende um idioma estrangeiro: a compreensão oral. A plataforma pode também ser usada por professores de português língua estrangeira das várias instituições de ensino no território

 

Chama-se “Português à Vista” e é o mais recente projecto audiovisual a pensar nos alunos e professores que trabalham com o ensino da língua portuguesa não materna. Lançado já na próxima segunda-feira, 30, e desenvolvido pelo Departamento de Línguas e Cultura da Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade de São José (USJ), este é um projecto que pretende fomentar a compreensão oral do aluno, mas sobretudo a sua autonomia na aprendizagem da língua. “Português à Vista” conta com financiamento do Fundo do Ensino Superior e poderá ser usado por qualquer aluno e docente de língua portuguesa em Macau, ainda que tenha funcionalidades específicas para professores e estudantes da USJ.

À frente desta iniciativa, está o professor João Paulo Pereira, que há dois anos trabalha no projecto. A ideia surgiu “na sequência da experiência no ensino como professor de português como língua estrangeira, e da necessidade de termos mais materiais audiovisuais para trabalhar aquela que é uma das competências mais difíceis para quem aprende português, que é a compreensão de textos orais”, contou ao HM.

Com cerca de uma centena de vídeos, que incluem documentários, notícias ou curta-metragens, entre outro tipo de conteúdos legendados, “Português à Vista” inclui também um conjunto diverso de exercícios. “Esta é uma plataforma criada de raiz para que os alunos possam trabalhar esta competência da compreensão oral, mas também aquelas que estão associadas às novas formas de comunicação, como é o caso do vídeo digital ou literacia visual”, contou o docente.

João Paulo Pereira destacou ainda o facto de serem conteúdos reais transmitidos no dia-a-dia “e que são necessários para um contexto de aprendizagem do português como língua segunda”.

Os exercícios associados a estes conteúdos apresentam ainda uma abordagem diferente, pois pretende-se que o estudante “reflicta sobre as estratégias que utiliza para a compreensão dos textos orais”.

Tratam-se de “actividades meta-cognitivas, como questionários de auto-reflexão, por exemplo” e que são diferenciadoras face ao que existe actualmente em Macau em termos de materiais auto-didácticos.

“Há também um diagrama de ansiedade, em que o aluno manifesta o grau de ansiedade que sentiu ao fazer cada sequência da actividade. Há um algoritmo que faz a análise do desempenho do aluno tendo em conta os resultados que obteve nos exercícios e que tem também em conta esta parte cognitiva. Nesse sentido, é uma proposta inovadora e que tira partido das funcionalidades da tecnologia”, acrescentou João Paulo Pereira.

Projecto inovador

João Paulo Pereira não tem dúvidas de que estamos perante “um projecto novo e diferente” que acrescenta uma diversidade de materiais didácticos e permite “trabalhar também outras competências”. A legendagem dos conteúdos revela-se fundamental, tendo em conta que no território, apesar de existir um canal de rádio e televisão em português, os conteúdos programáticos e noticiosos não estão legendados.

“Tal facilita a compreensão a esses apoios textuais e visuais. Isso é também muito necessário, porque apesar de existirem muitos recursos audiovisuais em Macau, como o canal português da TDM, os alunos acabam por não recorrer a esses meios porque não compreendem o que ouvem, e desistem. Em grande parte, porque os vídeos não são legendados e não existe este apoio didáctico. É uma proposta que não existia em Macau.”

Acima de tudo, pretende-se promover “a autonomia do aluno na sua aprendizagem, porque esta abordagem meta cognitiva potencia isso, faz com que o aluno pense nas estratégias que deve usar para desenvolver a sua própria aprendizagem”.

Uma outra das funcionalidades da plataforma “Português à Vista” permite que os estudantes “criem os seus próprios exercícios”. “É o chamado auto-exercício, e para isso o aluno só precisa de ter a transcrição da letra de uma canção, por exemplo, e a plataforma gera automaticamente um exercício para trabalhar a compreensão oral”, frisou o docente.

Agarrados ao livro

Questionado sobre a capacidade dos alunos de português como língua não materna de procurarem conteúdos fora da sala de aula e da alçada do professor, João Paulo Pereira concluiu que há ainda uma grande necessidade de recorrer ao livro.

“No universo da USJ, e no âmbito deste projecto, foi feito um grupo de foco com turmas da licenciatura de estudos de tradução português-chinês, do primeiro ao quarto ano, e nesse âmbito percebemos que os alunos ainda estão muito dependentes das orientações do professor e daquilo que ele lhes propõe em termos de materiais. Há ainda muito a ideia de que o manual é o principal instrumento didáctico, e os materiais audiovisuais não são ainda muito utilizados por parte dos alunos de forma autónoma. Neste sentido, esta plataforma pretende ir ao encontro dessas dificuldades.”

Nesta fase foram testados os materiais disponíveis na plataforma, tendo sido feitas entrevistas aos professores, que também experimentaram a funcionalidade dos conteúdos.

Acima de tudo, “Português à Vista” poderá ser utilizado por todas as instituições de ensino do território. “Qualquer aluno de português e professor pode aceder aos conteúdos da plataforma. Algumas funcionalidades estão reservadas aos alunos e docentes da USJ, como é o caso da criação de turmas. A plataforma pode ser usada em Macau por qualquer aluno e professor, e este pode criar os seus exercícios. Pode ser utilizada numa lógica de sala de aula ou como complemento às aprendizagens”, rematou João Paulo Pereira. O lançamento de “Português à Vista” será feito no campus da USJ e conta ainda com a presença de Carlos Sena Caires, director da Faculdade de Artes e Humanidades da USJ.

Docente e investigador

João Paulo Pereira é professor da Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade de São José. Detém um mestrado em Ensino do Português como Língua Segunda e Estrangeira, pela Universidade Nova de Lisboa, e encontra-se a fazer o doutoramento em Didática das Línguas – Multilinguismo e Educação para a Cidadania Global.

É investigador no CHAM – Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Além de Macau, conta com uma vasta experiência profissional em vários países da Europa e de África, tendo leccionado em instituições de ensino superior e não superior. Tem centrado a sua investigação nas áreas da Aquisição de Língua Segunda, do Desenvolvimento de Materiais Didáticos e dos Estudos Interculturais.

Tem vários artigos científicos publicados nestas áreas, assim como materiais didáticos para o ensino do Português como Língua Estrangeira (manual Dar à Língua, IPOR, 2017). Na área do desenvolvimento de materiais didáticos digitais, participou, como revisor científico, nos projectos “Escola Virtual”, da Porto Editora, e “Português mais perto”, da Porto Editora/ Instituto Camões. É ainda autor de um repositório de recursos digitais para alunos e professores de PL2/PLE, intitulado “ARELP – Árvore de Recursos da Língua Portuguesa”. Também se tem dedicado à formação de professores, contando com acções em Macau e em países da Ásia-Pacífico, como o Vietname e a Austrália.

27 Mai 2022

Profissionais de saúde por habitante aumentam face a 2020

Dados estatísticos divulgados ontem sobre a área da saúde revelam que, no ano passado, havia em Macau um total de 1.888 médicos, mais 5,5 por cento em relação a 2020. Os dados cedidos pelos Serviços de Saúde de Macau (SSM) à Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) mostram ainda que existiam no território, em 2021, 2.742 enfermeiros, mais 6,8 por cento.

Macau tem hoje uma média de 2,8 médicos e quatro enfermeiros por cada mil habitantes, o que representa um aumento de 0,2 por cento em termos anuais.

Os números relativos aos quatro hospitais em funcionamento no território mostram que estes disponibilizavam, em 2021, um total de 1.744 camas de internamento, mais 29 em relação a 2020, sendo que o número de doentes internados, num total de 58 mil, também aumentou em 7,5 por cento em termos anuais.

Uma vez que o número dos dias de internamento aumentou, também a taxa de utilização das camas para este fim teve um aumento de 4,5 por cento, fixando-se nos 70,7 por cento.

Em relação ao serviço de consulta externa nestes hospitais, foram atendidas 1.962.000 pessoas, mais 12,7 por cento em relação a 2020. Foram atendidos mais jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos, um aumento de 23,6 por cento num total de 139 mil pessoas.

Mais consultas de pediatria

Analisando os dados por especialidade médica, constata-se que as consultas de pediatria ou de neonatologia foram as mais procuradas. No total, foram atendidas 92 mil pessoas, mais 22,7 por cento em termos anuais. Por sua vez, as consultas de dermatologia, otorrinolaringologia e medicina tradicional chinesa tiveram aumentos de 15,7, 13,2 e 12,8 por cento, respectivamente. Quanto às consultas externas de ginecologia ou obstetrícia, houve uma queda de 4,7 por cento em termos anuais, tendo sido atendidas apenas 90 mil mulheres.

Um total de 390 mil pessoas deslocaram-se aos serviços de urgência destes quatro hospitais, mais 13,8 por cento entre 2021 e 2020. Só na península de Macau foram atendidas nas urgências 302 mil pessoas, mais 8,5 por cento, enquanto que na Taipa foram atendidas 88 mil pessoas, mais 36,7 por cento.

No que diz respeito às cirurgias, realizaram-se um total de 19 mil, mais 5,2 por cento, destacando-se as operações na área da oftalmologia, com um aumento de 20,4 por cento.

No ano passado, um total de 724 estabelecimentos, sejam centros de saúde ou clínicas privadas, prestavam cuidados de saúde primários à população, tendo atendido 3.415 pessoas

Quanto à vacinação, do total de 1.370 mil vacinas administradas, 803 mil doses dizem respeito à vacina contra a covid-19. Em 2021, efectuaram-se mais de 8.6 mil testes de despistagem à covid-19.

Em termos de doações de sangue, 2021 contabilizaram-se 17.664 doações, um crescimento de 6,8 por cento face ao ano anterior, sendo que 3.337 aconteceram pela primeira vez. No ano passado havia 12.324 dadores efectivos de sangue, mais 6,8 por cento em termos anuais.

26 Mai 2022

António Vale da Conceição, autor do EP “At Your Service Ma’am”: “Não ambiciono ser catalogado”

“Remedy”, single de lançamento do novo trabalho discográfico do músico macaense António Vale da Conceição, convida-nos a reflectir sobre a importância de resistirmos, com um raciocínio próprio, às manipulações de informação presentes no dia-a-dia. “At Your Service Ma’am” acaba de ser lançado nas plataformas digitais e remete para um cenário que mistura um clima tropical com espionagem. Quase como a Macau de outros tempos. “Acabo por recorrer um pouco às minhas origens”, assume o músico

 

O último lançamento que fez foi “Four Hands Piano”, um álbum que compilava músicas compostas para bandas sonoras que nunca foram usadas. Como surge a ligação com este novo trabalho?

Não há uma ligação com este EP. Na verdade não estou à procura de dar continuidade aos projectos anteriores. Isto [At Your Service Ma’am] surgiu da composição de vários temas, e se calhar no momento em que estava à procura de um som, saíram vários. Outros sairão no futuro, mas são todos fruto desse momento após e durante o lançamento do “Four Hands Piano”.

Qual a mensagem por detrás deste EP?

“At Your Service Ma’am”, é uma colecção de trabalhos a pensar numa personagem fictícia, o emissor dessa frase [que dá o nome ao álbum]. É sempre uma imagem recorrente que me vem à cabeça, sempre que toco este disco, uma espécie de espião inglês, ao serviço de sua majestade, que tem um encontro fugaz, quase um cruzar de olhos com uma das princesas da corte inglesa. Desenvolve-se uma espécie de tensão, entre ele saber que não se pode envolver com a aristocracia, sendo ele um espião, face à vontade de estar com a princesa. Este trabalho invoca o estilo Riviera, meio James Bond, Copacabana. Os espiões andavam por todo o lado, em Macau, Portugal, nos casinos. Olhando para trás, e debruçando-me sobre a matéria narrativa deste trabalho, acabo por recorrer um pouco às minhas origens. Se este tipo de música tocasse num casino em Macau… lá está, o estilo Riviera, o luxo no seu género cinematográfico.

Essa Macau que já existiu, glamorosa?

Sim, uma cena glamorosa. Mas na verdade não sei se Macau existiu alguma vez dessa maneira, nunca assisti a esse Macau glamoroso, se calhar foi mesmo só no cinema. Esta personagem fictícia [do álbum] talvez se aproxime muito da personagem do Robert Mitchum [no filme Macao, de Josef von Sternberg], de um tipo que tem a cara marcada com as histórias todas, mas que continua a ser hiper-charmoso, com uma voz incrível, um olhar rasgado.

Porquê este imaginário?

Na verdade, não tenho uma resposta para essa pergunta. Calhou assim. Gosto muito de cinema dos anos 60 e 70, gosto de filmes de roubos e de espiões, são o meu género favorito. Acho que este tipo de música tem esse tom. Mas não posso dizer que tenha sido uma coisa consciente, foi mais uma vontade de fazer música que ouvia e que oiço muito.

O primeiro single chama-se “Remedy” foi também espontânea ou tinha alguma mensagem que pretendia transmitir?

Esta foi a primeira música a sair para o mercado porque foi a primeira a ser gravada em estúdio, aqui no Porto. E o polimento dessa música transportou-se um pouco para o álbum e restantes músicas. Não acho que tenha sido mal escolhida, porque no momento em que vivemos, e que herdámos uns três anos, ou mais, de polarizações crescentes, a discussão sobre aquilo que é verdade e que é difundido na comunicação social varia muito. Não sabemos muito bem em quem confiar, ou porque os órgãos de Estado censuram as notícias ou os privados têm as suas agendas. Sinto que vivemos num momento em que a necessidade de reflectir muito bem sobre aquilo que se ouve nunca foi tão óbvia.

Lá está a ligação à mente que surge na letra de “Remedy”, vista como um remédio, que fala da importância de pensarmos por nós próprios.

Exactamente. O exercício de usarmos a mente é, em parte, e a letra pretende, em parte, chegar a isso, é a ideia de nos tornarmos impermeáveis ao que nos distrai das questões, mais do que pseudo-intelectuais com ideias geniais. A procura vai ser constante, as respostas de hoje não são as respostas do amanhã. Rapidamente passamos de uma boa solução para uma péssima solução. Digo isto face ao crescente racismo, à polarização da esquerda e da direita, às crescentes tensões políticas, à guerra que está a acontecer e aos conflitos que estão a ser silenciados. Acrescenta-se ainda o facto de a sociedade contemporânea estar muito contaminada com elementos de narcisismo e de auto-satisfação e auto-aprovação. É uma droga da qual nos devemos afastar.

Teve o projecto musical “O Monstro” e depois os Turtle Giant. Já encontrou a sua sonoridade individual, como António Vale da Conceição?

Não sei. Em parte é algo que está sempre em processo. Muito do que faço é ao serviço de muita coisa. Tanto em “O Monstro” como com os “Turtle Giant” foi caso disso. À posteriori muita coisa foi ao serviço de, como a criação de bandas sonoras, ou publicidade, ou jingles. Não sei se tenho um som, a verdade é que faço muitos sons para muitas ocasiões. Também não me cabe a mim dizer que tenho o meu som, é a grande conquista de um artista ser destacado por aquilo que ele faz, e não tanto ser eu a dizer “sou assim porque”. Penso que é muito difícil sermos originais e reclamarmos a originalidade no que fazemos. Este álbum, por si, não tem sons novos, são sonoridades que invocam sonoridades, estados de espírito, épocas, narrativas. Se calhar esse exercício de “recozinhar” esses elementos sejam manifestações do meu trabalho “ao serviço de”.

Prefere que seja o público e os ouvintes a fazer essa definição de sonoridade, ao invés de se assumir como um músico pop-rock ou indie, por exemplo?

Preferia isso, sim, ambiciono isso. Não ambiciono ser catalogado nem catalogar-me. A maior parte das pessoas que me pergunta o que faço recebe respostas diferentes e eu recebo respostas de mim próprio um bocado diferentes. Vou tentando fazer sempre coisas diferentes para recuperar um pouco do espírito. Penso que as pessoas devem procurar a pluralidade e eu herdo isso dos meus pais.

Tem aparecido a promover este último trabalho em vários meios de comunicação social em Portugal. Até ver, este projecto está a ter um bom feedback do público? Quais as expectativas que coloca sobre a recepção deste trabalho?

Não tenho expectativas. Estou super feliz por ser um trabalho que está a ser tocado. Falta a segunda parte do álbum, que vai sair em Novembro. A grande ambição, mais do que ser adorado ou ser gostado, é deixar o corpo de trabalho. Está feito, está aí no mercado para quem quiser ouvir. Essa é a missão. Depois o objectivo é partir para outra, e uma grande parte do processo criativo deve ser o abandono do que foi criado e trazer coisas novas, procurar outras coisas. Queria mencionar as pessoas envolvidas neste projecto. O álbum foi todo tocado por mim, e compus para todos os instrumentos. Mas houve sempre pessoas a ouvir e que me apoiaram, tal como o Beto e o Fred [restantes membros da banda Turtle Giant]. Importante mencionar o Eduardo Almeida, o trabalho de imagem feito pela fotógrafa Teresa Pamplona. Na produção do videoclip trabalhei com o Francisco Assis, com quem já tinha trabalhado noutras ocasiões.

Como macaense a viver fora de Macau, sente que tem uma responsabilidade acrescida, no sentido de contribuir com um projecto cultural em prol da comunidade?

Em parte, sim. A minha origem macaense é uma parte de quem eu sou, nem é inteiramente o que me define, nem eu vou definir o que é ser macaense. Macau estará para sempre ligado a mim e serei sempre o macaense e um filho de Macau. Tenho muito orgulho de ser um filho de Macau e de pertencer a uma família macaense com pontos marcados na história de Macau.

26 Mai 2022