Arraial de S. João | Tudo indica que não é este ano que a festa regressa

Mais uma vez, o Arraial de S. João não se realiza no bairro de São Lázaro, havendo ainda a possibilidade de a festa ser transferida para a Broadway no Cotai. Miguel de Senna Fernandes volta a pedir ao Governo que reconheça a importância e relevo cultural e comunitário do evento

O bairro de São Lázaro volta a não receber este ano o tradicional Arraial de São João. A notícia foi avançada por Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses (ADM), à TDM – Rádio Macau. Se nos últimos anos a pandemia tem justificado o entrave, agora foi a questão financeira o principal motivo para a não realização do evento.

“De certeza que não vai haver arraial em São Lázaro porque as associações, quando fizeram os programas [anuais] e apresentaram os pedidos de subsídio junto de diversas entidades, não pediram apoio para o arraial porque ainda estávamos fechados [por causa da covid]. Havia a possibilidade de esses eventos serem todos cancelados. Portanto, ninguém ia pedir dinheiro para um evento que poderia não se fazer e que depois contava negativamente para as associações”, explicou Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM).

A Direcção dos Serviços de Turismo (DST) chegou a ser contactada, dado que nos anos anteriores financiou parcialmente os custos de organização do evento, mas o organismo liderado por Helena de Senna Fernandes “passou a ter um sistema de financiamento como o da Fundação Macau ou Fundo de Cultural, em que os pedidos têm de ser feitos online numa altura específica do ano e depois já não dá para pedir”. Assim, “quando se deu o fim das restrições, já não era possível pedir financiamento para esse fim”.

Miguel de Senna Fernandes disse à TDM – Rádio Macau que chegou a ser feito um contacto para transferir o arraial para a Broadway, no Cotai, mas até à data não há respostas concretas. Contudo, Amélia António fala da descaracterização do evento. “Seria a possibilidade de se fazer alguma coisa, mas o que quer que se faça num desses sítios não tem nada a ver com o clima e o interesse que gerava o arraial em S. Lázaro. Fazer um evento destes num espaço anónimo, sem características, não terá o mesmo apelo.”

Um novo estatuto

Miguel de Senna Fernandes entende que o Arraial de S. João deve ter o estatuto de evento turístico que permita ultrapassar os permanentes constrangimentos financeiros. “É fundamental que as autoridades deem importância ao evento porque o arraial está numa espécie de lista de espera para ser classificado como património [imaterial]. Reconhece-se como sendo algo genuinamente de Macau e altamente cultural. Acredito que as autoridades ajam de boa-fé, mas não compreendem a importância de tudo isto.”

Durante 11 anos, o Arraial de S. João é organizado por uma panóplia de associações locais como a ADM, CPM, Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), Instituto Internacional de Macau, Associação dos Jovens Macaenses e Associação Promotora da Instrução dos Macaenses.

Jorge Fão, dirigente da APOMAC, revela estar afastado deste processo decisório e assume dificuldades em termos financeiros e de pessoal. “O apoio que damos tem vindo a tornar-se muito difícil para nós. A APOMAC deve ponderar bem se deve ou não aderir ao arraial, caso esse projecto avance. Isso exige mais trabalho e temos de envolver mais pessoas e, naturalmente, mais jovens. A APOMAC pode contribuir muito pouco, quer em termos de pessoal ou de actividades.”

Jorge Fão lamenta o risco de o arraial poder desaparecer. “Naturalmente que todos temos pena do que vemos desaparecer. Há dias falou-se de o Encontro das Comunidades Macaenses não se realizar porque tudo envolve custos. É muito difícil combater isso, e a Administração tem as suas próprias dificuldades.”

O que é certo é que Miguel de Senna Fernandes fala de uma “máquina” que deixou de estar “oleada” devido à pandemia. “Era praticamente indiscutível a realização do S. João e habituámos as pessoas ao evento, que sempre deu alegria às pessoas e atraía turistas, além de ser uma manifestação cultural da sociedade civil. Mas os anos da pandemia quebraram o ritmo do evento. Torna-se difícil fazer o arraial como se fazia antes.”

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