Casa Garden | Exposição “Desenhar Macau” inaugurada amanhã

“Desenhar Macau”, com pinturas, desenhos e gravuras de Catarina Cottinelli da Costa, é inaugurada amanhã, na Casa Garden, depois do adiamento provocado pelo surto pandémico. Os trabalhos reflectem um período de quatro anos de Macau e diferentes fases, marcadas pelas saudades das viagens e da família e o olhar atento aos diversos espaços urbanos e arquitectónicos

 

Integrada no programa oficial de celebração do 10 de Junho, a mostra “Desenhar Macau”, com desenhos, gravuras e pinturas de Catarina Cottinelli da Costa, estava na gaveta devido ao último surto epidémico. A inauguração da exposição acontece amanhã, às 17h30, na Casa Garden. Ao HM, a artista e docente, com formação em arquitectura, explicou o significado dos trabalhos que reflectem as vivências e percepções de quatro anos de vida em Macau.

“Tendo em conta a minha cultura ligada à arquitectura, tenho sempre uma tendência para olhar e registar as coisas de um modo diferente. Uma vez que Macau tem uma cultura bastante diferente daquela em que estava inserida, tive muita curiosidade em conhecer muitos sítios. Macau reflecte situações especiais, não tinha nenhuma experiência no Oriente e foi interessante para mim contactar com as pessoas e também com as vivências e arquitecturas dos espaços.”

O foco de “Desenhar Macau” é esse mesmo, o reflexo de espaços icónicos de Macau, tal como o jardim de Lou Lim Ieok. “Foi como fazer um desenho mental, um conhecimento mental desses espaços ligados à urbanidade e às pessoas. Fui um pouco atrás dos meus interesses de momento.”

Catarina Cottinelli da Costa descreve a exposição como sendo composta por várias fases, algumas delas ligadas aos sentimentos de saudade da família, de isolamento ou de ausência. É aqui que se podem ver retratos de família pintados a óleo ou pinturas de locais exóticos, como Goa ou Tailândia, feitas a partir de fotografias.

“Há um aspecto mais sentimental da exposição que tem a ver com o facto de não poder voltar a casa devido à pandemia. Há uma parte em que explorei o retrato a óleo com pinturas dos membros mais importantes da minha família. Depois tentei ocupar o tempo desenhando e fazendo aguarelas a partir de fotografias. Mas o foco da mostra é Macau, os seus espaços e vivências, e tudo o que fiz desde que vim para cá”, frisou a artista.

Novos mundos criativos

Catarina Cottinelli da Costa lamenta que Madalena Fonseca, pintora e anterior monitora na Escola de Artes e Ofícios da Casa de Portugal em Macau, não possa estar presente. “Investi numa área que desconhecia, que é a pintura, graças à Madalena Fonseca. Foi minha monitora e foi com ela que aprendi uma série de coisas, nomeadamente na gravura, com vários tipos de técnicas, que vão estar expressas na exposição”, adiantou.

“Desenhar Macau” é a primeira exposição individual de Catarina Cottinelli da Costa, após duas participações em mostras colectivas, e acontece por incentivo de outras pessoas que foram tendo conhecimento do seu trabalho. “É com muito agrado que posso fazer a exposição ainda este ano. Foi a Ana Paula Cleto [delegada da Fundação Oriente em Macau] que me fez este convite e se mostrou sempre muito interessada para que acontecesse ainda em 2022”, adiantou. A mostra pode ser vista até ao dia 21 de Outubro.

22 Set 2022

Testes | Alargamento da validade defendido por empresários

O alargamento da validade dos testes covid-19 para entrar e sair de Macau, que passou para 48 horas, poderá ajudar a aumentar o número de turistas e fomentar a economia local. Esta é a opinião de dois empresários dos sectores da restauração e exposições e convenções, duas áreas que dependem quase directamente do número de turistas.

“Acho que é uma medida que pode ajudar [a fomentar a economia] e essa é a intenção do Governo”, disse ao HM Fernando Sousa Marques, dono de um restaurante na zona do Leal Senado. “Penso que a economia vai subir aos poucos, isso já se nota, mesmo à noite com os jantares. O negócio está a começar a crescer um pouco. Macau está a começar a ter mais turistas na rua e já está a entrar numa fase dita de conforto. Mas vamos esperar mais um tempo, pode ser que com o Grande Prémio e outros eventos, como o Festival de Gastronomia, as coisas fiquem mais normalizadas”, adiantou.

Marco Duarte Rizzolio, criador da “Follow Me Macau”, empresa ligada à organização de eventos, acredita que a mudança da validade dos testes “facilita e permitirá mais entradas, sem dúvidas”. Trata-se, no entanto, “de uma medida superficial que não resolve os problemas”, adiantou.

“Vivemos todos em suspenso caso apareça um novo surto. A qualquer momento podemos voltar a ter testagem em massa da população e confinamento. Além disso, ao contrário do que acontece com quem entra pela fronteira com a China, quem chega do estrangeiro ou de Hong Kong continua a ser obrigado a cumprir quarentena”, lamentou o empresário.

22 Set 2022

Jogo | Académico acredita na fusão entre Genting e outra operadora

Glenn Mccartney acredita que a Genting poderá fundir-se a uma concessionária presente em Macau, apostando numa estratégia com ganhos para todos. O especialista em turismo, e docente da Universidade de Macau, defende que será mais razoável apostar, a curto prazo, em mercados regionais ao invés de tentar captar turistas internacionais

 

Mesmo que não obtenha uma licença de jogo no concurso público em curso, a Genting poderá entrar no mercado de jogo através de uma parceria estratégica com uma concessionária presente no sector do jogo de Macau. A ideia é deixada por Glenn Mccartney, docente da Universidade de Macau (UM) e especialista em turismo, que ontem protagonizou a palestra “Macao by 2033 – Setting Expectations” [Macau em 2023 – Estabelecer Expectativas”, promovida pela Câmara de Comércio Britânica em Macau.

O académico destacou ao HM o facto de a Genting ter um forte portefólio nos mercados de jogo e entretenimento. “Provavelmente, não vão ganhar uma licença de jogo, mas podem ter uma presença no Cotai em parceria estratégica com outra operadora, numa espécie de sinergia, de modo a reforçar o seu portefólio de operações. Podemos ter na strip do Cotai um cenário de ganhos para ambos os lados.” Glenn Mccartney frisou que “qualquer uma das seis operadoras pode querer sentar-se com a Genting”.

O analista disse ainda que os concorrentes às novas licenças de jogo terão de fazer bem as contas tendo em conta o cenário de crise económica e o prazo de concessão de apenas dez anos. “A recuperação vai ser lenta. Quando as novas licenças forem atribuídas, imaginemos que em Janeiro, será que o mercado já estará mais restabelecido? As fronteiras já terão regressado à normalidade? Será que é suficiente uma concessão de dez anos, tendo em conta que não está garantido o regresso ao número de turistas registado no período pré-covid?”, questionou.

“A recuperação do mercado leva algum tempo e [as operadoras] têm de começar a pensar na dívida antes de pensarem nos lucros. As concessionárias terão de pensar no período final dos dez anos, no que irá acontecer depois disso, sempre numa perspectiva de longo prazo”, frisou.

Primeiro os regionais

Questionado sobre as mudanças que o sector do jogo vai enfrentar depois de atribuídas as novas licenças, Glenn Mccartney não tem dúvidas de que a ilha de Hengqin “poderá contribuir para acelerar a recuperação na zona do Cotai”. Apostar no mercado internacional, hipótese admitida pelas autoridades, é algo irrazoável para o académico.

“Atingir o mercado internacional será difícil a médio e curto prazo. O desenvolvimento dos mercados regionais é algo mais realista porque podemos trabalhar com companhias aéreas e operadores turísticos. Não devemos pensar demasiado alto [para já] mas sim em estratégias com ganhos rápidos a curto prazo.”

Glenn Mccartney pensa que, na área dos elementos não-jogo, as operadoras que participam no concurso público “apresentaram bons projectos como resposta técnica e não estratégica”, pois, para que uma estratégia funcione, “são necessários muitos operadores”.

“As autoridades de turismo apresentaram uma espécie de lista de desejos, com mais turistas internacionais ou aposta no turismo de saúde, por exemplo. Mas tais ideias são comuns em qualquer jurisdição do turismo a nível mundial. Há muito que se fala na captação de turistas internacionais”, lembrou o académico.

22 Set 2022

Cinemateca Paixão | Realizador Lou Yi-an fala sobre filme nomeado para Óscares

“Goddamned Asura” volta a ser exibido este domingo, às 17h, na Cinemateca Paixão, mas desta vez acompanhado por uma sessão de conversa com o realizador de Taiwan, Lou Yi-an. O filme está nomeado para a edição dos Óscares do próximo ano na categoria de Melhor Filme Estrangeiro

 

Quem dominar o mandarim e for amante do cinema de Taiwan tem, este domingo, a possibilidade de saber todos os segredos e detalhes da produção do filme “Goddamned Asura”, do realizador Lou Yi-an. O filme tem vindo a ser exibido na Cinemateca Paixão, mas a sessão de domingo faz-se acompanhar de uma conversa com o realizador, também transmitida via Zoom.

O filme, que conta com a participação dos actores Morning Mo, Peijia Huang e Joseph Huang, faz parte da lista dos nomeados para a 95.ª edição dos Óscares, que acontece a 12 de Março do próximo ano, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Tal não significa que o filme seja uma estreia em matéria de prémios, uma vez que já foi distinguido no Festival de Cinema de Taipei deste ano como tendo a melhor banda sonora, melhor argumento e melhor actriz secundária de entre os filmes concorrentes. No ano passado, a obra de Lou Yi-an foi ainda distinguida nas categorias de melhor actriz secundária no “Taipei Golden Horse Film Festival and Awards”.

Olhar sobre a tragédia

A história de “Goddamned Asura”, escrita em parceria com Singing Chen, centra-se em Jan-Wen, que na noite em que celebra o seu 18.º aniversário se envolve, por razões misteriosas, num tiroteio num mercado nocturno. Este incidente marcará para sempre a vida da sua família e amigos, além do trágico impacto provocado nas próprias vítimas e nos familiares dos falecidos. Mas o argumento não deixa de lado a possibilidade de analisar os comportamentos e as escolhas que as vítimas tiveram no exacto momento do incidente. Se tivessem sido diferentes, a tragédia teria a mesma percepção?

Lou Yi-an é formado pelo departamento de comunicação da Universidade Católica Fu Jen, tendo trabalhado, nos últimos anos, na produção de filmes e documentários, assumindo os papéis de realizador, produtor e argumentista. Grande parte das suas películas centram-se no tema de experiências de vida reais vividas pelas classes média e baixa da sociedade, incluindo imigrantes. As histórias misturam frequentemente narrativas distintas com traços de humor negro.

22 Set 2022

Violência doméstica | Casal impedido de contactar com filho menor

Um casal suspeito de agredir o filho de sete anos está indiciado pelo crime de violência doméstica, não podendo ter contacto com a criança, que está à guarda do Instituto de Acção Social.

Segundo um comunicado do Ministério Público (MP), o casal está ainda obrigado a apresentar-se periodicamente às autoridades, não podendo permanecer “em locais adjacentes à escola e do local de alojamento temporário” da criança. O objectivo das medidas de coacção é que “seja evitada a perturbação do inquérito e a continuação da prática de actos criminosos da mesma natureza”.

A mesma nota do MP dá conta de que o casal “terá punido fisicamente o ofendido várias vezes devido aos problemas de estudo e educação, causando-lhe equimoses em várias partes do corpo”. “Nos últimos dias, enquanto o ofendido foi para a escola, o professor detectou que o mesmo estava com equimoses no corpo, motivo pelo qual o caso foi descoberto”, refere ainda o MP.

22 Set 2022

Cooperação | Mais de 5.000 empresas com capital de Macau em Hengqin

Estão instaladas na Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin mais de cinco mil empresas de Macau, número que cresceu no último ano com mais de 700 companhias a sediarem-se na Ilha da Montanha. Dados oficiais indicam ainda o aumento anual de 55 por cento do número de pessoas de Macau que trabalham em Hengqin

 

Dados da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma revelam que há cada vez mais empresas de Macau sediadas na Zona de Cooperação Aprofundada de Macau em Hengqin. Segundo um comunicado da entidade, estão sediadas na Ilha da Montanha mais de cinco mil empresas com capital de Macau, sendo que, no último ano, houve um aumento de 700 empresas recém-criadas do outro lado da fronteira. Relativamente às pessoas de Macau que trabalham na Zona de Cooperação Aprofundada, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma deu conta de um aumento anual de 54,5 por cento.

Xiao Weiming, director do departamento de economia regional da comissão, escalpelizou os números numa conferência de imprensa, indicando que as políticas de fomento à fixação de empresas e pessoas, bem como a redução dos impostos sobre as rendas cobrados às empresas ou a quebra, em cerca de 70 por cento, da carga fiscal para residentes de Macau, ajudam a explicar os dados.

Xiao Weiming revelou ainda que mais de mil profissionais do território, de áreas como a construção civil, turismo e saúde, entre outras, receberam a certificação para poderem trabalhar em Hengqin.

A região está totalmente aberta à entrada de veículos de Macau não comerciais, estando a ser acelerada a construção de faixas para camiões no Posto Fronteiriço de Hengqin, incluindo a plataforma central de transportes do lado de Macau, e foram concluídos os espaços de supervisão alfandegária.

Um olá à Grande Baía

Quanto ao projecto da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau, Xiao Weiming apontou que tanto os residentes de Macau como de Hong Kong consideram cada vez mais conveniente viver no Interior da China.

O responsável deu como exemplo a política de recrutamento de funcionários públicos destinada a estes residentes, sem esquecer a base para a inovação e empreendedorismo para os jovens de Macau. Além disso, alguns projectos de incubação de empresas têm atraído jovens das regiões administrativas especiais.

Relativamente à segurança social, Xiao Weiming destacou que os residentes das duas regiões administrativas especiais têm mais vantagens em participar nos planos na Grande Baía, e que mais de 280 mil residentes já dispõem destes planos na província de Guangdong.

22 Set 2022

Maxim Bessmertny, realizador: “Macau é uma óptima cidade para filmar”

“The Violin Case”, actualmente em fase de produção, é a primeira longa-metragem do realizador Maxim Bessmertny. Em entrevista, Maxim confessa ter arriscado muito numa história “complexa”, que conta com 18 personagens que vagueiam entre temáticas como a identidade ou a obsessão. A perda de um violino é apenas um ponto de partida para um filme feito sem subsídios

 

Como tem sido o processo de filmagens desta longa-metragem?

Temos 42 zonas de filmagem por toda a cidade. É melhor não revelar quais são para termos algum elemento de surpresa. Mas tem sido um processo muito organizado, porque temos uma boa equipa e produtora. Filmar durante a noite, em Macau, é mais fácil. Macau é uma óptima cidade para filmar cinema. Devia haver cinco filmes por mês a serem feitos aqui.

Qual a ligação entre a escolha das zonas de filmagem e o argumento do filme? O que pretendeu puxar para o filme daquilo que Macau tem?

Nem penso em zonas de filmagem quando estou a escrever um guião ou a desenvolver a história. Penso no tema, na situação e na emoção, e às vezes surge um argumento. Na realidade, o ponto principal da história passou-se em Hong Kong, mas isso não interessa, pois numa ficção não quer dizer que não possa acontecer em Macau. Como sou de Macau é natural que, quando escreva, pense em ruas ou zonas do território. É sempre com um argumento em mente primeiro.

Fale-me um pouco desta história, que nasce de um episódio ocorrido com o seu pai [Konstantin Bessmertny].

Esse é só o incidente principal que deu gás ao resto da história. Na realidade, o filme é sobre muitas coisas, artistas, o tema da obsessão, identidade, a crise de um artista e a relação entre pessoas, sobre a confiança. Temos muitos personagens, cerca de 18, e todos fazem parte de uma história que se passa numa noite e numa manhã em Macau. Como escritor, pego nas minhas experiências, mas depois gosto de ficcionar as coisas também, porque isto não é um documentário. Dessa forma podem-se recriar algumas situações.

Quais as suas grandes influências quando escreve uma história? A sua família vem da Rússia, mora em Macau há muitos anos. Este duplo universo influencia-o na hora de fazer cinema?

As primeiras memórias de criança dizem respeito ao período em que já estou a chegar a Macau. Venho da China, de comboio, e de repente estou numa cidade já a começar a falar inglês e português. Mas tendo o background de fora de Macau, isso deu-me uma mistura de culturas, entre o Ocidente e o Oriente, e sempre me ajudou a conectar com as pessoas. É isso que me influencia muito, a facilidade de comunicarmos aqui, mesmo não falando uma língua. O meu chinês não é perfeito, mas já chega para comunicar. Estudei na Escola Portuguesa de Macau, um dos actores principais do filme [Kelsey Wilhelm] é meu amigo de infância e é muito engraçado trabalharmos juntos agora, 20 anos depois de nos conhecermos. Também tenho músicos a trabalhar no filme. [The Violin Case] tem o sentimento de uma cidade pequena, onde todos se conhecem e depois aparecem no filme. É um pouco isso, o sentido de comunidade. Isso inspirou-se muito para esta história, [tal como] os filmes de comunidades pequenas, como é o caso de muitos filmes italianos ou do cinema americano dos anos 70, onde persiste sempre o sentido de uma cidade pequena, onde várias coisas podem acontecer. Isso inspira-me sempre na escrita de um guião.

O “The Violin Case” é a sua primeira longa-metragem como realizador e, logo por aí, marca uma diferença em relação a trabalhos anteriores. Há uma série de novos elementos no filme?

São vários temas novos. Sendo uma longa-metragem estou a arriscar muito mais na história, tenho mais personagens, os temas são mais profundos e as situações ou narrativas são mais complexas. Também estou a trabalhar com um guião em que a história começa com a minha inspiração, isto porque trabalhei com mais dois guionistas. Existe aqui muita colaboração sobre o caminho para onde vão os personagens e discussões em torno disso, sobre a melhor forma de contar esta história. Este é o grande desafio do cinema, especialmente ao fazer um primeiro filme com o apoio de pessoas que gostam de cinema e sem depender de subsídios do sector público. Foi um enorme desafio. Tive de encontrar maneiras criativas de financiar o filme com um orçamento mais pequeno.

Expectativas em relação ao filme?

Gostava que todos o vissem, quanto mais, melhor. O que um cineasta espera é isso, que as pessoas vejam o filme, porque é uma história que está a ser feita e que é universal, em torno do tema da identidade, das falhas de comunicação, da obsessão. Todas as pessoas podem ver. Naturalmente, o mais importante agora é conseguir terminar as filmagens e entrar na fase de pós-produção.

Macau teve um boom na área do cinema. Depois da pandemia, como encara o panorama desta área? Há estagnação?

Este é um projecto de arte e de paixão, e percebi que o que interessa é ter a vontade, da parte do realizador, produtor e escritor, para que o filme possa ser executado. Foi assim que descobri que há pessoas que adoram cinema e arte de tal forma que estão prontas a investir sem saber qual será o retorno. É difícil garantir grandes retornos numa primeira longa-metragem. Entendi que não interessa onde uma pessoa está, se houver vontade, um plano e uma estratégia, tudo é possível. Não temos subsídios, mas estamos a fazer uma longa-metragem, e isso deu-me muita motivação. Isso tudo para entender que o cinema é também um negócio, e temos de encontrar formatos que sejam claros, em que haja uma estratégia e futuro. Daí entender que é possível fazer cinema sem ser subsidiado. Também descobri nos castings e no trabalho com as equipas que às vezes pode haver mais dificuldades por causa da língua, por não se falar o chinês, mas há muito talento na área das filmagens. Há muito potencial e muitas pessoas que querem fazer parte de um filme. Isso mostra que é uma área na qual se deve investir. Devem abrir-se mais as portas para a China, resto da Ásia ou na Europa. É uma pena arrancar com uma indústria e depois não haver mais interesse. Para mim isto deve continuar.

 

O violino perdido de Theo

Maxim Bessmertny juntou-se a Virgínia Ho e Jorge Cordeiro Santos para escrever a história de um pintor, Theo, personagem interpretada por Kelsey Wilhelm, que perde um violino pintado num táxi. Segundo uma nota de imprensa, este é um filme que “leva o público numa odisseia de uma noite pelas ruas de Macau”, quando Theo tenta encontrar o seu violino. “The Violin Case” é, assim, “uma sátira surrealista, por vezes absurda, onde está presente o choque de diferentes culturas”. Esta é uma longa-metragem que se debruça “sobre a obsessão, o amor próprio, a identidade e a confiança entre pessoas de diferentes backgrounds”.

Há seis anos, o pintor Konstantin Bessmertny, pai de Maxim, também andou em busca de uma obra de arte num táxi, episódio que inspirou esta história. “The Violin Case” conta com uma nova versão do violino perdido pintada por Konstantin Bessmertny.

O filme conta com mais de 50 membros na equipa, sendo que alguns são caras bem conhecidas do panorama artístico de Macau, como é o caso de Mika Lee (Evelyn), Filipe Baptista Tou (Ah Chong) e Giulio Acconci (como ele próprio). Clara Brito, designer de moda, estreia-se na interpretação como Pauline. O filme é produzido pela empresa Tentonine Productions Limited, produtora que trabalhou com filmes como Shang-Chi and The Legend of the Ten Rings (2021).

20 Set 2022

Linguista João Veloso é o director do departamento de português da UM

João Veloso, académico ligado ao Centro de Linguística da Universidade do Porto (UP) e docente na Faculdade de Letras da mesma instituição, é o novo director do departamento de português da Universidade de Macau (UM). Rui Martins, vice-reitor da UM, confirmou esta segunda-feira, à TDM Rádio Macau, a contratação que era esperada há meses, em declarações sobre o arranque de um novo ano lectivo.

Na página curricular de João Veloso, disponível no website da UP, confirma-se que o académico está desde Julho com uma licença especial para o exercício de funções em Macau, e que termina a 30 de Junho de 2024.
Académico com agregação obtida em 2010 na UP, João Veloso é doutorado em Linguística pela UP. É especialista em diversas áreas de investigação da língua portuguesa, tal como a Fonologia e Linguística Comparada, entre outras.

No lugar de Dora

Há muito que a UM se deparava com dificuldades para contratar um director para o departamento de português, tendo em conta a impossibilidade de os estrangeiros entrarem no território devido à pandemia.

Dora Nunes Gago havia assumido estas funções em Julho de 2020 e admitiu, em entrevista ao HM, um ano depois, não querer continuar no cargo. “Não gostaria de continuar no lugar”, assumiu, tendo apontado que uma das grandes mais valias do departamento de português na UM era a investigação. Dora Nunes Gago disse ainda que a UM “tem estado no bom caminho” relativamente às respostas que o ensino superior tem de dar em matéria de cooperação regional.

O departamento de português foi anteriormente liderado por nomes como Fernanda Gil Costa, entre 2012 e 2016, e Yao Jingming, poeta, tradutor e académico.

20 Set 2022

Calçada do Gaio | Grupo de Salvaguarda envia nova carta à UNESCO

O Grupo para a Salvaguarda do Farol da Guia enviou ontem nova carta à UNESCO onde volta a insistir na redução da altura do edifício embargado na Calçada do Gaio dos 82 metros, já aprovados, para 52.5 metros, para que não se perca a linha visual do Farol da Guia.

“É uma grande vergonha o facto de os dois anteriores Chefes do Executivo [Edmund Ho e Chui Sai On] não tenham cumprido a promessa e resolvido o problema durante os seus mandatos, num período superior a 11 anos. O projecto [do prédio em construção] foi aprovado no tempo de Ao Man Long [ex-secretário condenado por corrupção], quando a corrupção e a fraude prevaleceram na aprovação dos projectos de construção”, lê-se na carta. Neste sentido, “é uma vergonha que, depois do caso Ao Man Long, o Governo de Macau tenha continuado o esquecimento [face ao assunto], fingindo que a promessa feita aos residentes e à comunidade internacional nunca existiu”.

Para o grupo, as autoridades locais “ignoram o impacto negativo que o edifício inacabado tem para o ambiente e para a imagem de Macau e da China”, tendo submetido relatórios à UNESCO “que justificam a sua decisão de manter a actual altura do edifício”. O Grupo diz ainda que os “relatórios secretos nunca foram divulgados junto dos residentes de Macau”.

A carta, enviada ontem, exige uma maior acção da UNESCO para assegurar uma redução na altura do prédio. “O projecto revisto deveria ser tornado público, sujeito a escrutínio do público e sujeito à UNESCO para a aprovação final”, conclui. De frisar, que no passado dia 8 o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, recebeu uma carta aberta do Grupo sobre esta mesma questão.

20 Set 2022

Agosto com quebra anual de turistas na ordem dos 19%

O número de visitantes em Macau no mês passado foi de 331.397 visitantes, o que representa um aumento de 3.295,8 por cento face a Julho deste ano. Segundo a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), tal aumento deve-se ao “alívio das medidas restritivas nos postos fronteiriços Zhuhai-Macau no início de Agosto”, depois de um mês de fronteiras fechadas. No entanto, em termos anuais, houve uma quebra do número de turistas em 19 por cento.

Os dados mostram ainda que, em Agosto, o número de turistas foi de 177.640, um aumento de 17,5 por cento, mas o número de excursionistas foi de 153.757, uma quebra de 40,4 por cento. Os turistas ficaram uma média de cinco dias em Macau, um aumento, em média, de 1,5 dias em termos anuais. Tal deve-se ao facto de “alguns turistas terem prolongado até Agosto a sua saída de Macau por causa do anterior impacto gerado pela pandemia”.

Relativamente à origem dos visitantes, os cidadãos do Interior da China continuaram a dominar, tendo sido 290.138, mais 21,5 por cento em termos anuais, dos quais 124 mil tinham visto individual. O número de turistas oriundas das nove cidades da Grande Baía foi de 184.535, dos quais 38,9 por cento viajaram de Zhuhai. Os números de visitantes de Hong Kong e de Taiwan corresponderam a 36.205 e 4.384, respectivamente.

Entre Janeiro e Agosto, Macau recebeu 3.806.263 visitantes, menos 25,8 por cento face ao período homólogo do ano passado. Os números de excursionistas, 2.341.772, e de turistas, 1.464.491, decresceram 6,5 e 44,2 por cento, respectivamente.

20 Set 2022

Restaurantes com quebras de negócio acima de 70%

Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelam que o sector da restauração teve, em Julho, uma quebra de 71,4 por cento no volume de negócios, em comparação com o mês de Julho do ano anterior. Destaque para os restaurantes de comida japonesa e coreana, que registaram quebras no negócio na ordem dos 85,6 e 83,1 por cento, respectivamente.

Entre Junho e Julho deste ano, a quebra foi de 52,5 por cento no sector da restauração, sendo que os volumes de negócios dos restaurantes chineses e dos restaurantes japoneses e coreanos baixaram 73 e 71,7 por cento, respectivamente. A DSEC aponta que estes dados se devem ao impacto gerado pela pandemia na economia.

Relativamente ao comércio a retalho, em Julho, “o volume de negócios dos retalhistas entrevistados baixou 82 por cento em termos anuais”, com destaque para uma perda de 96,3 por cento no volume de negócios dos artigos de couro, e de 95,6 por cento no comércio de relógios e de joalharia. No entanto, os supermercados tiveram um volume de negócios superior a 28,7 por cento face a Julho do ano passado.

Agosto melhor

Quanto às expectativas sobre o volume de negócios, a maioria dos proprietários da restauração e dos retalhistas entrevistados prevê que o volume de negócios relativo a Agosto aumente face a Julho, “dado que, no final de Julho, não se detectaram novos casos de infecção na comunidade”.

Sobre o sector dos restaurantes, “80 por cento dos entrevistados projectou um crescimento em termos mensais do volume de negócios de Agosto, com destaque para as proporções dos proprietários dos restaurantes japoneses e coreanos, assim como dos proprietários dos estabelecimentos de comidas e lojas de sopas de fitas e canjas, que atingiram 91 e 88 por cento, respectivamente”.

A DSEC adianta ainda que “cerca de 13 por cento dos proprietários da restauração antevêem decréscimos mensais no volume de negócios para Agosto”.

Na realização do “Inquérito de Conjuntura à Restauração e ao Comércio a Retalho”, foram recolhidas 229 amostras do ramo da restauração e 161 do ramo do comércio a retalho, correspondentes a cerca de 53,5 e 70,6 por cento das respectivas receitas dos ramos em 2019.

19 Set 2022

Livro | “Cultura chinesa: Uma perspectiva ocidental” apresentado em Lisboa

Da autoria de Ana Cristina Alves e coordenação de Carmen Amado Mendes, “Cultura chinesa: Uma perspectiva ocidental” reúne os artigos de opinião de Ana Cristina Alves publicados no HM e no Ponto Final a partir de 2006. Em seis capítulos, explica-se ao público português diversas facetas da cultura, filosofia, política e economia chinesas

 

Um grupo de personalidades ligadas a Macau reuniu-se na última sexta-feira na livraria Almedina, em Lisboa, para assistir ao lançamento do mais recente livro de Ana Cristina Alves, doutora em filosofia, com especialidade em filosofia e cultura chinesas, e actual directora do centro educativo do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM).

“Cultura chinesa: Uma perspectiva ocidental” reúne, em seis capítulos, artigos de opinião de Ana Cristina Alves publicados na imprensa de Macau, nomeadamente nos jornais HM e Ponto Final, a partir de 2006.

Carmen Amado Mendes, presidente do CCCM e coordenadora da obra, lembrou o processo de edição e revisão dos textos, iniciado em Fevereiro de 2020. “Quando assumi a presidência do CCCM ela disse-me que queria publicar [os textos], mas eu disse que o que ela tinha não era um livro, mas sim um conjunto de artigos escritos de uma forma ligeira para um público de Macau, sem contextualização. Há coisas que são óbvias para quem vive em Macau, mas não tão óbvias para quem vive em Portugal. Fizemos inúmeras revisões, acrescentamos muitas notas justificativas e referências, contextualização histórica e cultural.”

Na opinião da coordenadora do livro, “faltava em Portugal uma obra dedicada à cultura chinesa que explicasse, de uma forma tão simples e objectiva, curiosidades que, muitas vezes, o leitor tem e não teria outra forma de as ver esclarecidas”. “Partimos de um período contemporâneo até às raízes históricas e mitológicas desta civilização milenar e cativante”, frisou.

Sem preconceitos

O livro é composto por seis capítulos e abrange áreas tão diversas do universo chinês como a economia, filosofia, política ou cultura. Ana Cristina Alves confessou que procurou sempre, no processo de escrita dos artigos, traçar “um olhar despreconceituoso sobre a China”.

“Não ia honrar e louvar a cultura, mas tentei passar o olhar de uma perspectiva ocidental sem preconceitos. Aqui encontramo-nos na neutralidade. Fui aprendendo esta perspectiva de neutralidade ao longo dos anos com os próprios chineses. Tentei ver o melhor de cada civilização, mas sem nunca largar a minha perspectiva ocidental.”

A obra começa pela área da filosofia, estabelecendo “comparações entre a filosofia oriental e ocidental, mas partindo da filosofia contemporânea para as raízes”.

A ideia é que os leitores “ao lerem, sintam que não estão numa biblioteca, mas pensando que, quem escreveu, esteve no terreno e que, a partir das suas vivências, construiu as suas teorias filosóficas com o que viveu”. Desta forma, Ana Cristina Alves deixa claro que “o livro não pode ser considerado um livro de biblioteca, uma vez que foi um caminho existencial que foi sendo percorrido”.

Constam nomes da filosofia ocidental, “mais ligados a uma tradição liberal”, como [John] Locke, Kant, Habermas e o japonês Francis Fukuyama. Neste sentido, e segundo a autora, “o pensamento ocidental contemporâneo é fundamental para fazer o balanço entre o socialismo, o nacionalismo e o espaço liberal, que é um espaço de equilíbrio, uma via do meio que o Ocidente encontra”.

“O pensamento liberal permite pensar sem medo das consequências, e foi este o fio condutor que segui quando pensei na filosofia chinesa. Apresentei o melhor que pude. Na parte da filosofia política e económica também se mostrou que há um termo entre o socialismo e o nacionalismo, um espaço possível sempre de uma perspectiva ocidental”, frisou Ana Cristina Alves.

O livro passa depois para a área da cultura chinesa. “Quando entramos nesse campo o fio condutor começa a ser a filosofia em geral, mas também a filosofia da linguagem, os caracteres chineses, a etimologia, e pensar no que isso nos pode trazer para compreender a cultura chinesa. Depois termina-se com filosofia e com um diálogo à maneira platónica nas considerações finais”, adiantou a autora.

A apresentação esteve a cargo do jornalista António Caeiro, ex-delegado da agência Lusa em Pequim, tendo dado lugar a um debate sobre a falta de disseminação da cultura chinesa, sobretudo na área da música e cinema, em Portugal, por oposição às culturas japonesa e coreana.

Para Carmen Amado Mendes, “muitos estudos têm sido feitos sobre isso e uma das grandes conclusões prende-se com a dificuldade de aprender a língua e também em termos de a língua ser considerada interessante nas músicas”. Para a presidente do CCCM, “é difícil a língua chinesa ultrapassar certas fronteiras”.

Ana Cristina Alves apontou que o caminho é a aposta na educação. “[O mandarim] é uma língua radicalmente diferente [em relação ao coreano e japonês], o que resulta num grande espaço de incompreensão em relação à China. O Japão não é radicalmente neutro porque estão mais próximos do que nós, tal como os coreanos.”

A autora da obra lamenta que “nunca venha ao de cima o que é a neutralidade chinesa”. “Se não partimos de um ponto neutral não conseguimos desenvolver um olhar que nos leva a compreender o outro como ele é”, frisou. No final, e perante o repto lançado por uma interveniente, ficou a promessa do CCCM vir a organizar um ciclo de cinema chinês.

19 Set 2022

O legado de Jean-Luc Godard visto por três cineastas locais

Peeko Wong, Maxim Bessmertny e Vincent Hoi comentam o legado que Jean-Luc Godard deixou no cinema francês e mundial. Falecido na última terça-feira, aquele que é considerado o pai da chamada “Nova Vaga” foi uma inspiração para muitos os que abraçaram a realização de filmes como carreira

 

A morte de Jean-Luc Godard na passada terça-feira, depois de este ter recorrido à morte medicamente assistida, deixou o mundo do cinema abalado face ao legado deixado por aquele que é considerado o pai da “Nova Vaga”. Autor de filmes com um forte teor político, ou com histórias de amor passadas na bela cidade de Paris, como é o caso de “O Acossado”, Jean-Luc Godard incutiu no cinema francês uma onda de experimentalismo nunca antes vista.

Foi a “Nova Vaga” que inspirou a cineasta local Peeko Wong desde o primeiro momento em que decidiu fazer cinema. “Grande parte da minha juventude e período de estudo foram influenciados pela ‘Nova Vaga Francesa’, especialmente quando estudava em França”, começou por dizer ao HM. “A Cinemateca Francesa, [a revista] Cahiers du Cinema [Cadernos do Cinema] e o clube de cinéfilos nutriam a minha criação e deram-me uma motivação prática para o meu trabalho em Macau, e também na curadoria de cinema”, acrescentou.

Peeko Wong destaca “as ambições políticas e sociais de Godard”, bem como a sua “desobediência” que a “inspiraram bastante”. “Houve uma luta pelos valores nos quais acreditavam: a protecção da Cinemateca, o apoio ao movimento do Maio de 1968, o envolvimento pessoal no Comunismo ou no movimento feminista”, disse.

A realizadora de Macau afirma que sempre foi influenciada pela temática do existencialismo, muito presente na obra de Godard, sobretudo quando era jovem. “Numa pequena cidade com poucas actividades culturais, sempre senti um vazio e pensava sobre a existência e o futuro, pelo que, quando via a vivacidade do protagonista de ‘Pierre Le Fou’ [filme de Godard lançado em 1965] ou ‘The Breathless’, tal tinha um grande impacto em mim”, destacou.

Peeko Wong não esquece as últimas obras do realizador francês, “mais filosóficas, que desafiaram a linguagem fílmica, e que muitas vezes me lembraram que os filmes têm em si imensas possibilidades”.

“Estou grata pelo facto de ter tido na minha vida a obra de Godard e a ‘Nova Vaga Francesa’. Espero que os realizadores de Macau possam manter a sua rebelião e abrir as suas mentes para as futuras criações”, rematou.

O “jump cut” repetido por muitos

Também Vincent Hoi destaca os filmes “Breathless” e “Pierrot Le Fou” como alguns dos seus favoritos de Godard, a par de “Goodbye to Language”. “Apesar do estilo de cinema de Godard não ter uma influência directa em mim, a sua atitude de fazer algo novo e o facto de ter enfatizado a teoria de autor fez-me acreditar que, como realizador independente, eu poderia ser o autor do meu filme”, disse ao HM.

O cineasta local destaca ainda a inspiração que o trabalho de Godard teve, sobretudo a técnica famosa de “jump cut” na obra do realizador de Hong Kong Wong Kar-Wai, no filme “Chungking Express”.

“Jean-Luc Godard insistiu em fazer algo novo, quebrando as regras da linguagem cinematográfica, ou criando mesmo uma nova. Ele mostrou a todo o mundo, ou pelo menos ao cinema europeu, que não havia regras na realização de filmes. A maior força criativa de um filme vem do realizador e não do investidor ou do produtor, e este importante conceito reforça a existência do cinema independente”, frisou Vincent Hoi.

Maxim Bessmertny também destaca a obra “Breathless” que começou a ver ainda jovem, entre outras películas de Godard, embora assuma que ainda lhe falta descobrir mais sobre o trabalho do cineasta francês.

“É uma enorme perda para o mundo do cinema. Godard teve várias facetas, daí a sua importância. Conheci os filmes dele quando era mais novo, com cerca de 19 e 20 anos. Continuo a redescobrir mais filmes dele. Outra coisa importante no modo de filmar e na filosofia de Godard foi o facto de ele ser antes um crítico de cinema, quando escrevia para a revista ‘Cahiers du Cinema’, onde dissertava sobre o cinema dos anos 50. A partir daí começou a ser cineasta, e achei isso muito interessante. Ler essa publicação fez-me despertar para o cinema independente, cujo percursor foi Orson Welles, que influenciou muitos dos filmes feitos depois do Citizen Kane.”

O realizador de ascendência russa recorda alguma influência que o trabalho cinematográfico de Orson Welles teve em Jean-Luc Godard, ao nível da forma de filmar e da composição da narrativa do filme. “Godard viveu uma longa vida e vai ser sempre recordado pelas suas obras e escrita”, disse Maxim Bessmertny.

19 Set 2022

Ciclo de actividades para assinalar centenário do nascimento de José Saramago

O centenário do nascimento de José Saramago, escritor português e prémio Nobel da Literatura, celebra-se em Macau a partir do dia 29 deste mês com a inauguração de uma exposição e a exibição de vários filmes. A mostra biobibliográfica “Voltar aos passos que foram dados 1922-2022” será inaugurada no Instituto Português do Oriente (IPOR) no dia 29, às 18h30, seguindo-se uma mesa redonda, no auditório Stanley Ho, com Carlos Reis, professor catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que irá falar sobre a vida e obra de José Saramago.

A mesma mostra será exibida, a partir do dia 17 de Outubro, na sala Kent Wong da Universidade de São José. Entre os dias 3 e 16 de Novembro a exposição passará a estar presente na Escola Portuguesa de Macau.

Também no dia 17 de Outubro, e na sala Kent Wong, serão exibidos três documentários da série “Herdeiros de Saramago”. O auditório Stanley Ho volta a encher-se, mas desta vez com cinema, nos dias 30 de Setembro, 7 e 14 de Outubro. Serão exibidos três filmes: “José e Pilar”, documentário de Miguel Gonçalves Mendes, “Embargo” e “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, respectivamente. As sessões acontecem pelas 19h e têm entrada livre. No dia 26 de Outubro, terá lugar a mesa redonda subordinada ao mesmo tema “Herdeiros de Saramago”.

A Escola Portuguesa de Macau (EPM) tem ainda actividades programadas com alunos sobre a vida e obra do Nobel português, e que incluem oficinas de leitura e exibição de filmes, cujo programa será posteriormente divulgado.

No dia 16 de Novembro celebra-se o centenário do nascimento do escritor, pelo que a EPM irá atribuir o Prémio José Saramago.

Estas actividades contam com a organização do Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, o Instituto Português do Oriente, a Universidade de São José e a Escola Portuguesa de Macau, tendo ainda o apoio da Fundação Saramago e do Instituto Camões.

16 Set 2022

Chá Gordo | ADM promove quatro sessões até ao final do ano 

Realiza-se já amanhã, na sede da Associação dos Macaenses, uma sessão de Chá Gordo, uma refeição volante típica da gastronomia macaense, e que será a primeira de três que a associação irá promover até final do ano. Miguel de Senna Fernandes, presidente, diz que é uma forma de revitalizar o leque de actividades

 

Experimentar as iguarias do Chá Gordo, uma tradicional refeição da gastronomia macaense, será possível amanhã, na sede da Associação dos Macaenses (ADM), entre as 17h30 e as 20h30, sendo esta a primeira de três sessões do género que a associação pretende organizar até final do ano. O menu está a cargo de Marina de Senna Fernandes e a actividade é subsidiada pela Fundação Macau.

Ao HM, Miguel de Senna Fernandes, presidente da ADM, disse que já ultrapassaram as 40 inscrições. “Esta é uma primeira amostra e vamos ter mais três até ao final do ano. Temos um número limitado de pessoas e parece-me que as inscrições estão no bom caminho, já temos mais de 40. Se não fizermos absolutamente nada estamos a colaborar com a estagnação [que Macau vive em termos de actividades], e esse não é o meu estilo. Vamos fazer o que for dentro do possível”, adiantou.

O Chá Gordo, por tradição, “era um evento com uma refeição muito rica, feita pelas velhas famílias macaenses que tinham condições para o fazer”. “Era motivo de orgulho mostrar aos amigos e convidados em geral. O Chá Gordo era um momento pouco chique, não se esperava que os homens vestissem fraque. Mas havia uma certa indumentária, lembro-me bem das pessoas que apareciam no Chá Gordo, que se vestiam bem, porque o evento assim o justificava.”

Desta forma, acrescentou Miguel de Senna Fernandes, o evento da ADM exige “dress code”, sem necessidade de vestidos de cerimónia. “Queremos que as pessoas evitem ir de calças de ganga e ténis, para que entendam o espírito do Chá Gordo.”

Molhos e companhia

Marina de Senna Fernandes levantou a ponta do véu sobre os pratos que poderão ser provados numa refeição cheia de diversidade e onde os convidados ficam de pé a servir os pratos. “Vou usar um prato muito antigo, o Missó Cristão, que é um molho com origem japonesa, do tempo dos missionários japoneses e jesuítas que estavam em Macau. Esse prato foi praticamente esquecido e hoje em dia já ninguém faz, mas o molho é muito versátil e pode ser usado com peixe, camarões ou entrecosto. Já o fiz várias vezes e vou fazer com bacalhau e camarões. É um molho muito especial.”

Haverá ainda o “Arroz Gordo”, tido como a “dama da festa”, pois “Chá Gordo sem o Arroz Gordo não é Chá Gordo”, disse Marina de Senna Fernandes. É um arroz feito à base de guisado de várias carnes com ovos de codorniz, frutos secos e polpa de tomate.

“Esta é uma mostra da arte de bem receber e de hospitalidade. Todas as carnes do Chá Gordo têm de ser cortadas para serem comidas na hora, para não deixar que as pessoas usem as mãos ou talheres”, concluiu.

Marina de Senna Fernandes disse ainda que o próximo Chá Gordo na sede da ADM terá lugar no dia 15 de Outubro, onde serão desvendados os segredos do Chá Gordo para casamentos, “onde a comida é um bocadinho diferente”.

16 Set 2022

Semana dourada | Medidas de entrada serão analisadas “de forma dinâmica”

As autoridades de saúde não planeiam alterar as medidas de entrada em Macau tendo em conta a chegada da Semana Dourada, mantendo-se os prazos de validade dos testes. Sobre a posição da OMS, que indicou que a pandemia poderá estar perto do fim, o Governo não dá sinais de mudar de estratégia

 

Aproxima-se o período de feriados da Semana Dourada, em finais deste mês e princípios de Outubro, e mesmo com as expectativas de ligeira recuperação no sector do turismo, o Governo não dá mostras de relaxar as medidas de entrada no território. “Vamos manter as medidas inalteradas. Falta algum tempo para a Semana Dourada e vamos continuar a avaliar a situação de forma dinâmica”, disse Leong Iek Hou, coordenadora do centro de coordenação de contingência do novo tipo de coronavírus. Desta forma, mantém-se os prazos de validade dos testes necessários para entradas e saídas entre Macau e a China.

O que também se mantém inalterada é a postura das autoridades em relação à pandemia, mesmo que Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), tenha dito que o fim da pandemia poderá estar próximo.

“Os Serviços de Saúde (SSM) e o Governo observam de forma estreita a avaliação da OMS em relação à pandemia. Acompanhamos de perto as orientações e medidas aplicadas no Interior da China. O que está a ser feito em Macau tem a ver com a nossa realidade”, adiantou a mesma responsável.

Na quarta-feira o director-geral da OMS declarou que “na semana passada, o número de mortes semanais por covid-19 foi o mais baixo desde Março de 2020”. “Nunca estivemos em melhor posição para acabar com a pandemia. Não estamos lá ainda, mas o fim está próximo”, acrescentou.

Sobre o caso de contacto próximo detectado num hotel em Zhuhai, e que levou ao fecho do edifício, os SSM dizem estar em contacto permanente com as autoridades da cidade vizinha e que se houver residentes de Macau envolvidos irão informar a população.

O que é ser positivo

Na conferência de imprensa de ontem as autoridades admitiram ainda ter alterado, na última sexta-feira, os valores CT, associados à carga viral, que definem se uma pessoa está infectada com covid-19 ou se está “negativa”. Se antes o valor de CT abaixo de 38 significava que a pessoa estava com covid-19, agora, para ser considerado positivo o valor de CT tem de ser inferior a 35.

“Em todos os casos, locais ou importados, é usado este critério. Quem tiver um valor de CT inferior a 35 está positivo terá quarentena estendida. Com mais de 35 significa que a infecção não foi recente e a quarentena não tem de ser prolongada [fica mais dois dias para fazer testes]. Na altura, definimos o valor 38 para decidir se a pessoa infectada ia para o hotel ou isolamento médico. Mas ao longo do tempo percebemos que muitas pessoas apresentavam o valor CT de 35, que se mantinha aquando da realização dos dois testes, o que significa um caso sem grande risco de transmissão na comunidade. Na sexta-feira passada decidimos que, quando o valor CT se mantém, não é necessário prolongar a quarentena”, revelou ontem a representante dos Serviços de Saúde, Wong Weng Man.

16 Set 2022

ADM | Associação “paralisada” com novos critérios da Fundação Macau 

A cantina da Associação dos Macaenses deveria reabrir este mês, mas tal não será possível. Eventos como a festa de Natal vão obrigar a uma ginástica orçamental e a planos de gestão alternativos. Miguel de Senna Fernandes, presidente, diz que os novos critérios de subsídios definidos pela Fundação Macau vieram baralhar os planos da direcção

 

Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses (ADM), diz que a entidade está “paralisada” devido, em parte, aos novos critérios de atribuição de subsídios a associações definidos pela Fundação Macau (FM).

O facto de terem sido feitos cortes financeiros e de o montante ser definido consoante o número de actividades realizadas está a limitar o alcance que a ADM pode ter.

A reabertura da cantina, um dos espaços mais frequentados pela comunidade macaense, mas não só, não tem data para voltar a abrir portas, desde que os funcionários rescindiram contrato em Abril deste ano e deixaram Macau.

Entretanto, contratar tornou-se quase impossível devido à falta de dinheiro e de recursos humanos.
“A ADM está parada por causa das restrições e há muitas limitações que se impuseram. A cantina ficou completamente estagnada e vamos procurar reabri-la. Neste momento ainda não há condições porque não tem sido fácil a contratação de pessoas porque não há dinheiro. Logo que haja condições financeiras para a contratação, obviamente que a cantina não vai parar. Talvez no início do próximo ano [possa reabrir], mas nem quero apostar numa data.”

Sim às actividades

A ADM está, assim, apostada na realização de diversas actividades, nomeadamente vários eventos de Chá Gordo até ao final do ano, entre outras. “Até ao fim deste ano a ADM vai apostar em várias actividades, dentro das condições mínimas que tem, para merecer este atendimento da FM. Ficamos praticamente paralisados em vários eventos do exterior, como a Festa de Natal ou de S. João, sem pessoal não vamos conseguir realizá-los. Estamos limitados em tudo o que envolva confecção de comida.”

A realização da festa de Natal, algo habitual para muitas associações locais, está também em risco. “Vamos ver se conseguimos fazer a festa de Natal, porque precisamos de pessoal e mais apoio. Já não temos dinheiro para essa festa e vamos ter de arranjar uma solução minimamente comportável para os sócios e que cubra as despesas mínimas, como a própria refeição e a banda”, disse Miguel de Senna Fernandes.

15 Set 2022

“Simple Pay” | Isenções para PME prolongadas até Fevereiro de 2023

A Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) decidiu prolongar, até “finais de Fevereiro de 2023” o prazo dos benefícios atribuídos às pequenas e médias empresas (PME) no que diz respeito à redução, isenção ou ofertas em matéria de emolumentos cobrados em transacções feitas através da plataforma “Simple Pay”.

Esta é uma das oito medidas de apoio às PME, no âmbito da crise económica causada pela pandemia, anunciadas pelo Governo. O prazo para as isenções ou reduções iria terminar no final deste mês.

Dados da AMCM mostram que, entre Outubro do ano passado e Julho deste ano, o valor das transacções das PME respeitantes ao serviço de “Simple Pay” totalizou mais de 9,5 mil milhões de patacas, além de que “as taxas de transacções envolvidas foram integralmente reduzidas, isentas ou oferecidas por parte das instituições financeiras, tendo beneficiado um total de cerca de 20.000 estabelecimentos comerciais de PME”.

A AMCM adianta também que mais de 90 por cento dos estabelecimentos comerciais do território “efectuaram a actualização dos aparelhos existentes”, tendo a cobertura de pagamentos móveis “vindo a alargar-se de forma gradual”.

No primeiro semestre de 2022, o número total de transacções de pagamentos móveis atingiu 130 milhões de patacas, com o valor total de transacções a ascender a 12,29 mil milhões de patacas, constituindo, respectivamente, duas vezes os totais verificados no período homólogo de 2021.

15 Set 2022

FAOM alerta para dificuldades no acesso ao trabalho 

No balanço da última sessão legislativa, os deputados ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau alertaram que continua a ser difícil encontrar trabalho na RAEM, sendo esta uma das grandes preocupações registadas no gabinete de atendimento. Foi ainda exigida celeridade na apresentação da segunda ronda de medidas de apoio

 

O Governo diz que ajuda, mas a verdade é que continua a ser “crítica” a situação do mercado laboral em Macau. Quem o diz são os deputados ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) que ontem, no balanço da última sessão legislativa, apontaram que continua a ser muito difícil encontrar trabalho em Macau. Este foi, aliás, um dos principais motivos das queixas recebidas no gabinete de atendimento dos deputados nos últimos meses.

“Sabemos de casos de vagas em que são propostas condições inferiores às que se praticam no mercado, como salários mais baixos, mas ao mesmo tempo exigem critérios mais rigorosos aos candidatos. Alguns ainda não tiveram a oportunidade de irem a uma entrevista de emprego, mesmo que já tenham enviado imensos currículos”, apontou Ella Lei.

A deputada deixou ainda o alerta sobre a falta de vontade dos empregadores em contratar residentes. “Nos últimos dias temos recebido queixas de candidatos que, apesar de serem recrutados, poucos dias depois são despedidos, com o empregador a justificar que afinal não tem trabalho para eles. O empregador admitiu não ter vontade de recrutar e contratou [as pessoas] apenas em coordenação com a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais,” adiantou.

As disputas laborais dominaram também os pedidos de ajuda feitos pela população aos deputados da FAOM na última sessão legislativa. “Aconteceram despedimentos ou situações de salários em atraso. Alguns casos já se prolongam há dois anos no tribunal e continuamos a acompanhá-los”, explicou Ella Lei.

Desta forma, é necessário resolver lacunas da actual lei laboral. “Queremos que o Governo reveja a lei laboral, sobretudo no que diz respeito aos salários em atraso, situação que afecta a sobrevivência dos trabalhadores”, referiu.

Zonas sem pagamento

O deputado Leong Sun Iok fez ainda um apelo para que as autoridades melhorem as condições laborais dos trabalhadores que vivem nas zonas amarelas ou vermelhas e que, por esse motivo, são sujeitos a licenças sem vencimento, sem terem direito a apoios apenas atribuídos a quem testa positivo à covid-19. Quem tiver de cumprir isolamento em casa não tem direito a qualquer pagamento ou compensação, sublinhou o deputado.

Relativamente à segunda ronda de apoios financeiros à população, no valor de dez mil milhões de patacas, os deputados voltaram a apelar à celeridade do Executivo, para que os desempregados possam sobreviver “neste período duro”.

Ao longo da última sessão legislativa o gabinete de atendimento dos deputados recebeu ainda pedidos de ajuda sobre candidaturas à habitação económica. Leong Sun Iok adiantou que as fracções de tipologia T1 são sempre insuficientes para as famílias monoparentais, tendo em conta que têm de competir com famílias que aceitam estes apartamentos. Desta forma, Leong Sun Iok pede o aumento da oferta de fracções económicas T2 e T3.

As disputas devido à compra de imóveis em Hengqin pelos residentes de Macau foi outro dos assuntos abordados pelos deputados. Leong Sun Iok pediu supervisão às vendas de edifícios em construção, para que os residentes não corram o risco de comprar um imóvel sem saberem a data da conclusão.

15 Set 2022

FAOM | Cerca de 80% forçados a não trabalhar durante surto

Um inquérito realizado pela Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) conclui que cerca de 80 por cento dos inquiridos foi obrigado a não trabalhar durante o último surto de covid-19, que teve início a meio de Junho.

Segundo o canal chinês da Rádio Macau, 78 por cento dos entrevistados disseram que o empregador suspendeu o funcionamento, enquanto 40 por cento diz ter recebido metade do salário habitual. Por sua vez, 37 por cento dos trabalhadores entrevistados ficou em licença sem vencimento no mesmo período.

Destaque ainda para o facto de 57 por cento dos entrevistados entender que o único factor que pode melhorar a situação de emprego é normalizar a passagem transfronteiriça entre Macau e o Interior da China. O inquérito foi realizado em Agosto e contou com 3.462 respostas válidas. Os responsáveis pelo inquérito sugerem que o Governo atribua a cada residente mais oito mil patacas em cartão de consumo, além de criar um sistema de apoio a residentes obrigados a não trabalhar, bem como a melhoria da sua formação profissional.

14 Set 2022

Rui Leão, arquitecto e presidente da Docomomo Macau: “A arquitectura moderna está a desaparecer”

A Docomomo Macau lança amanhã um guia sobre os principais edifícios de arquitectura moderna em Macau, intitulado “Macau Modern Architecture – Walking Guide”, que propõe oito roteiros pela cidade. O lançamento será acompanhado por uma discussão sobre arquitectura e identidade. O arquitecto Rui Leão, presidente da Docomomo Macau, defende que a população devia ser sensibilizada para a importância do património arquitectónico da cidade

 

Este guia é o levantamento que faltava sobre os principais exemplos de arquitectura moderna em Macau?

Sim. Isto era importante para a Docomomo, porque, no fundo, o nosso trabalho principal consiste em documentar o património do movimento moderno. O guia é uma peça importante que nos permite comunicar este conjunto de obras, todas notáveis, e que devem ser objecto de atenção e conhecimento da parte de todos. Tenho-me apercebido de que há um desconhecimento muito grande em relação à arquitectura moderna que existe na cidade. O guia é o instrumento que tem mais potencial para comunicar este conjunto de obras a um público alargado. Muitas obras estão maltratadas, os proprietários não têm interesse ou capacidade de reinvestir e renovar. A maior parte dos edifícios estão em risco de desaparecer, de serem demolidos ou objecto de uma intervenção que os possa desconfigurar mais, uma vez que não estão salvaguardados ou classificados.

Quais os principais edifícios incluídos no guia?

É uma lista de 40 edifícios, organizados em oito conjuntos que correspondem a oito áreas. O livro sugere oito passeios, que estão em grande parte distribuídos pela península de Macau, incluindo alguma selecção de edifícios em Coloane. Temos quatro passeios na zona sul da península e três passeios na zona norte.

Para si, qual é o edifício mais icónico?

Há uma grande diversidade, tanto em termos de autores como do tipo de edifícios. Mas é isso que também torna o património moderno de Macau muito rico. A minha selecção passa, por um lado, pelos autores que elegemos. Há um período mais remoto, em que a arquitectura era muito traçada por engenheiros ou desenhadores, macaenses e chineses, principalmente. Desse período [destaco] a obra de Canavarro Nolasco da Silva, na maioria em torno do Hotel Central. O Aureliano Guterres Jorge é outro belíssimo arquitecto. Ele era engenheiro, mas o trabalho dele como arquitecto e engenheiro é bastante notável. A obra do Aureliano foi, na sua maioria, já demolida, mas como referência temos o edifício muito bonito no princípio da Rua dos Ervanários, que tem uma varanda em cima. Destaco também o José Lei, chinês de Macau, autor do bloco de habitação Rainha D. Leonor.

Porque é que estes autores são tão importantes?

Eles marcam muito uma era e têm um conjunto de obras bastante internacional, apesar de serem pessoas sempre baseadas em Macau, tanto em termos de prática como de formação. Mas o facto de ser uma obra tão internacional também nos diz qualquer coisa sobre a cidade, que foi, ao longo do século XX, muito aberta, cosmopolita e multicultural, onde as coisas chegavam através de Xangai, Hong Kong e Portugal. Há ainda um segundo conjunto de obras que são da segunda metade do século XX, onde se inclui a obra de José Maneiras, do Manuel Vicente e algumas coisas do Oseo Acconci. Este é um período em que os programas são mais complexos e incluem-se edifícios mais complexos, maiores e com elementos mais sofisticados. Passaram a haver ateliers de arquitectura, o que fez uma grande diferença. Se calhar, do primeiro conjunto, o José Lei era mesmo arquitecto e teve um atelier muito importante em Hong Kong onde chegou a ser director das Obras Públicas.

Como foi o processo de escolha dos edifícios?

Foi um trabalho desenvolvido por um conjunto de pessoas da Docomomo e que foi objecto de vários ciclos de discussão ao longo dos anos. Num segundo momento, foi objecto de revisão de pares da parte de colegas nossos especialistas em património ou arquitectos que tenham conhecimento sobre o património modernista em Macau.

O livro faz então propostas de percursos que poderiam ser turísticos. Considera que deveriam ser tidas em conta pelo Governo, como uma alternativa diferenciadora?

Sem dúvida, mas não apenas o Governo, mas também os operadores de turismo e todas as pessoas envolvidas nesse tipo de projectos, porque isso tem a ver com o conhecimento da cidade. Este livro permite concluir que há mais produtos que podem ser promovidos como parte da cultura de Macau e que têm grande interesse e qualidade. Havendo conhecimento e esse tipo de oferta, consegue-se gerar um novo tipo de mercado e de movimento de pessoas que se interessam por arquitectura e modernismo.

Além do lançamento do livro vão também ter duas mesas redondas onde será discutida a arquitectura moderna que resta em Macau.

Esses eventos vão recair na comunicação do conteúdo do livro a outros sectores da sociedade. Não entendemos que o livro tenha de ter um lançamento e ponto final, mas queremos que seja um objecto de trabalho a partir do qual possamos ter um certo tipo de discussão com diferentes sectores da sociedade. Queremos também promover um debate sobre até que ponto o património é um elemento na construção da nossa identidade. Essa identidade tem vários pontos de vista, porque a comunidade chinesa, com uma cultura completamente diferente da portuguesa, dará outro lugar ao património, pelo que a discussão e os pontos de vista não serão os mesmos. A discussão em torno do património deveria existir de forma mais alargada e sistemática num lugar como Macau. Digo isto em tom de crítica em relação à sociedade civil. É uma discussão que está a ser atrasada, o que prejudica muito a cidade. Enquanto as pessoas não se relacionarem com o património de forma consciente, com entendimento sobre o que significa, é difícil haver políticas sérias de património.

Estes debates pretendem, então, fomentar a consciencialização da população sobre este tipo de arquitectura?

A nossa intenção é essa com estes primeiros debates que são ainda num campo mais alargado com pessoas que têm relação próxima com questões do património e identidade. As outras conversas que incluímos neste ciclo contarão com operadores de turismo e a esfera académica, além de que teremos uma terceira com entidades ligadas ao património. A ideia é que, com este ciclo, possamos criar uma rede de conversas e um movimento a partir do livro.

Temos finalmente um plano director. Assegura a protecção deste tipo de património?

Faz algumas referências muito genéricas à questão da salvaguarda do património e remete para planos de pormenor. Mas o instrumento que deveria instruir rigor nas políticas de salvaguarda do património é o plano de salvaguarda, que aparentemente existe, mas nunca foi publicado.

A pandemia e a situação que se vive em Macau afectou a percepção da população em relação à importância da salvaguarda deste tipo de património?

Não lhe sei responder. Acho que as pessoas ficaram mais sensíveis porque foram obrigadas a olhar mais para a cidade, mas não sei se isso terá sido suficiente para se questionarem ou terem mais apreço [pelo património]. As pessoas são muito diferentes e vejo diferenças entre mim, que sou português e tenho uma formação diferente, e para mim o lugar da arquitectura é muito claro. Para mim a arquitectura e os espaços públicos são essenciais no meu imaginário, na minha ideia de estar em Macau e na relação que existe com o passado português. Privilegio a arquitectura como algo central. Depois há pessoas na comunidade chinesa que têm pouco à vontade com o património no sentido em que ele pode ter conotações coloniais. Há diferenças que fazem desta discussão muito interessante, e que é preciso fomentar. Por isso, achamos que este ciclo de conversas era oportuno.

 

Conversas e debates

O lançamento do guia faz-se acompanhar por um debate que será o primeiro de muitos em torno da temática da arquitectura modernista. A livraria Pin-to acolhe uma mesa redonda que conta com a presença de Agnes Lam, ex-deputada e docente na Universidade de Macau, Christine Choi, presidente da Associação dos Arquitectos de Macau, e Chan Shui Wing, historiador de Macau.

O tema do debate será em torno do património modernista de Macau e as questões de identidade. Um segundo debate, também centrado na arquitectura moderna que resta em Macau, acontece dia 6 de Outubro na Livraria Portuguesa. Os dois eventos inserem-se na iniciativa “Conversas sobre a Arquitectura Moderna de Macau [Talks on Macau Modern Architecture], que regressa em Dezembro e Abril do próximo ano.

14 Set 2022

Fórum Macau | Think Tanks discutem desenvolvimento, segurança global e vias de cooperação

Realizou-se ontem o “Fórum dos Think Tanks entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, no Fórum Macau. Sob os temas do desenvolvimento e segurança global, 18 palestrantes apontaram caminhos para a convergência entre a China e mundo lusófono, com Macau a desempenhar o papel de elo de ligação. Num contexto de convulsões geopolíticas, um naipe alargado de académicos discorreu sobre possíveis pontes, além do comércio

 

“As portas da China não vão fechar, muito pelo contrário. Vão estar cada vez mais abertas”, indicou o comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China na RAEM, Liu Xianfa, no discurso de abertura do “Fórum dos Thinks Tanks entre a China e os Países de Língua Portuguesa”.

O evento, que decorreu ontem no Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, juntou académicos chineses e dos países de língua portuguesa (PLP) sob o tema: “Com base na plataforma de Macau, impulsiona-se uma cooperação mais estreita entre a China e os Países Lusófonos nesta Era Nova”.

O responsável do Comissariado dos Negócios Estrangeiros (MNE) da China em Macau afirmou que o desenvolvimento e a segurança devem ser as duas prioridades para uma nova agenda da cooperação sino-lusófona na era pós-pandemia.

O comissário lembrou que as prioridades foram definidas pelo Presidente chinês, Xi Jinping, como iniciativas globais, argumentando que é necessário “aprofundar a cooperação” com os países lusófonos nestas vertentes, de forma a “aumentar a confiança mútua, política”.

Liu Xianfa começou por destacar “a via acelerada de cooperação com os países de língua portuguesa” desde o início do século, para concluir: “Temos diferentes culturas e tradições, mas o desejo comum de seguir um caminho pacífico”.

O comissário lembrou o percurso “de sucesso” chinês, baseado no “socialismo com características chinesas”, mas também os mais de 67 mil milhões de euros que os países lusófonos garantiram em exportações para a China no primeiro semestre deste ano, dados que, defendeu, justificam um esforço futuro em dar novo fôlego à cooperação entre as duas partes.

Uma das ideias partilhadas foi a criação de “massa cinzenta” conjunta composta por think tanks dos países envolvidos, que funcionem como um sub-fórum que proporcione apoio intelectual ao Fórum Macau na concretização dos seus planos de acção.

“Acreditamos que o fórum vai criar novas ideias e aprofundar o intercâmbio e aprendizagem mútua, contribuindo para o pleno desempenho do papel de Macau como plataforma e para a elevação do nível de cooperação entre a China e PALOP sobre o desenvolvimento”, referiu Liu Xianfa.

Seguir seguro

Depois do mote dado pelo comissário do MNE em Macau ter sublinhado alguns dos sucessos e “milagres” alcançados pela República Popular da China nas últimas décadas, Xu Yingming, da Academia Chinesa de Comércio Internacional e Cooperação, do Ministério do Comércio, afirmou que o desenvolvimento da China pode servir de guião para países em via de desenvolvimento para reduzir a pobreza, aumentar a vitalidade económica.

“Por razões históricas os países de língua portuguesa partilham a mesma língua e relações especiais entre si. Ao mesmo tempo, tanto a China como estes países estão em vias de desenvolvimento e enfrentam oportunidades e desafios. A China e estes países complementam-se e, nos últimos anos, o comércio entre estes países bateu recordes histórias, com diversificação das áreas de investimento”, adiantou. O académico acrescentou que a “segurança é uma garantia para a cooperação entre a China e os PLP e um pré-requisito para o desenvolvimento, prosperidade e estabilidade”.

A ideia foi partilhada por Osvaldo Mboco, decano da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da UTANG – Universidade Técnica de Angola, que como a maioria dos palestrantes participou na discussão através de videoconferência. O docente sustentou que a “problemática da segurança” nos países de língua portuguesa em África mina as relações entre os Estados, sobretudo a nível económico.

Osvaldo Fernando Mboco ressalvou, por um lado, que “sem segurança dificilmente se pode alcançar o desenvolvimento”, mas recordou, por outro, que é necessário antes de mais definir o tipo de segurança que está em causa, assinalando, contudo, que, actualmente, “a grande preocupação é política ou de estabilidade política dos próprios Estados”.

O académico destacou casos como o da Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde e Angola, que vivem casos distintos de insegurança. Se Cabo Verde é politicamente estável, “mas sem uma economia pujante”, se na Guiné-Bissau existe “instabilidade política”, Moçambique vive “a ameaça terrorista em Cabo Delgado”, já Angola carece de segurança alimentar, fruto da recessão económica que data já de 2014, assinalou.

Um cenário que o leva a concluir que “a segurança é estruturante para qualquer tipo de desenvolvimento” e que esta “problemática (…) no continente africano põe em causa” a cooperação sino-lusófona.

Osvaldo Mboco sustentou igualmente que China e Angola têm de mudar o modelo de relações económicas, afirmando que “é preciso alterar a configuração das relações entre a China e o Estado angolano”, de forma a permitir a criação de unidades de fabrico, mais emprego e um maior volume de negócios, bem como a transferência de know-how. Contudo, avisou que, para que isso aconteça, “o Estado angolano tem de mudar o ambiente de negócios”, mais propício ao investimento estrangeiro.

Mensagem para dentro

Numa tarde em que também Elsie Ao Ieong U, secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, discursou perante uma plateia de notáveis, o secretário-geral adjunto do secretariado permanente do Fórum Macau, Paulo Rodrigues Espírito Santo não deixou de colocar o dedo na ferida das políticas restritivas de combate à pandemia.

O responsável e antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Comunidades de São Tomé e Príncipe lamentou que actualmente os cidadãos da África lusófona tenham sido excluídos da lista de países a cujos nacionais é permitida a entrada no território desde o início do mês.

Paulo Espírito Santo afirmou que “a não inclusão na lista” dos países africanos lusófonos “não beneficia a cooperação”, até porque, alegou, estes Estados “têm a pandemia sob controlo”.

Recorde-se que desde 1 Setembro é permitida a entrada de cidadãos de 41 países em Macau, incluindo o Brasil, ainda que obrigados a cumprir uma quarentena. O secretário-geral Adjunto do Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Comunidades de São Tomé e Príncipe pediu ainda às autoridades de Macau para reverem a decisão “para se ir ao encontro da mais elementar justiça”.

“Assim, rogamos bons ofícios por parte do Governo da RAEM, no sentido do alto da sua sabedoria e elevado critério, reveja tal decisão… A plataforma não pode estar fechada em si mesma, sob pena de se tornar redutora, devendo ter a agilidade e perícia de interagir de forma mais dinâmica com os demais países e regiões vizinhos”, afirmou o responsável

O tom do discurso, contudo, foi marcado pelo sublinhar das oportunidades que têm sido abertas à comunidade lusófona, pelo menos desde o início do século, com a criação do Fórum Macau, e pela necessidade de se continuar a reforçar a cooperação e a potenciar o papel de Macau enquanto plataforma entre a China e os países de língua portuguesa. É preciso continuar “a atrair novos negócios diferenciados de base lusófona e “atrair investidores lusófonos”, salientou.

Ideias para o futuro

Seguindo a linha de raciocínio do dirigente do Fórum Macau, que afirmou não ser “perceptível o cabal aproveitamento pelos empresários locais da China e dos PLP” do “enorme esforço para conceber e materializar estas estruturas” feito pelo Governo da RAEM, José Luís Sales Marques e Rui Gama sugeriram alguns caminhos.

O sub-director da Academia Sino-Lusófona da Universidade de Coimbra, destacou elementos de fomento de cooperação que vão além da balança de comércio externos e dos aspectos económicos. “Diria que a importância é maior do que a simples leitura dos dados, porque está associada à diversidade e complementaridade das economias, o potencial de especialização e vantagens competitivas que decorrem da inserção regional dos países, e do capital de conhecimento existente que está associado a este longo passado comum”, apontou o académico.

O docente destacou as parcerias nos domínios científico, tecnológico e empresarial, mobilizando actores de diferentes esferas nos sectores estratégicos que têm sido associados ao papel de Macau enquanto ela de ligação.

Podem ser criados projectos de investigação aplicada nas áreas de ciência de fronteira. “Se pensarmos na transversalidade do sector da saúde do ponto de vista das áreas científicas e o que são projectos em curso na universidade (Universidade de Coimbra) temos uma oportunidade única no que pode ser o avanço para outras áreas de futuro.

Outra da valência a explorar seria a “formação e capacitação das pessoas para responder a estas mudanças societais em curso”, no sentido de “antecipar o futuro em áreas ainda desconhecidas”.

José Sales Marques começou por apontar a recessão em que Macau está desde 2019 e o “impacto negativo para Macau”, que é extremamente elevado e para o qual contribuiu o peso do sector do jogo e a dependência quase exclusiva do turismo e do mercado chinês.

Face à evidência de que a diversificação da economia de Macau não tem sido alcançada, o presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau sublinhou a importância do investimento na investigação, desenvolvimento e fabrico de produtos de medicina tradicional chinesa, sobretudo através de investimentos realizados na zona de cooperação aprofundada de Hengqin. Área em que o académico entende que Macau tem condições para ser referência. Outras áreas dignas de aposta é o sector das finanças modernas e as indústrias culturais e do desporto.

13 Set 2022

CCCM | Bicentenário do jornal “Abelha da China” celebrado em Lisboa 

Os 200 anos da criação do primeiro jornal de língua portuguesa em Macau serão celebrados na próxima segunda-feira no Centro Científico e Cultural de Macau com uma conferência que contará com uma série de investigadores e historiadores ligados à RAEM, como é o caso de Tereza Sena, Jorge Arrimar ou Cátia Miriam Costa, entre outros. Será ainda lançado o livro “A Abelha da China nos seus 200 Anos: Casos, Personagens e Confrontos na Experiência Liberal de Macau”

 

O primeiro jornal em língua portuguesa de Macau foi criado há 200 anos e chamava-se “A Abelha da China”. Para celebrar a efeméride, que marca o início da presença da imprensa em português no território, algo que perdura até aos dias de hoje, o Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) acolhe, na próxima segunda-feira, uma palestra que conta com vários investigadores e historiadores ligados ao território que vão apresentar as diversas perspectivas históricas e políticas de um jornal ligado aos ideais liberais de 1820.

Ao HM, o académico Duarte Drumond Braga, um dos coordenadores do projecto, explicou a importância de celebrar esta data. “É o primeiro jornal de Macau e o primeiro de uma longa linhagem que continua até hoje. Ele está ligado ao movimento Liberal e a alguns partidários desse movimento em Macau, além de que era um jornal com uma orientação política bastante marcada nesse sentido. Penso que vale a pena ser celebrado.”

O painel de oradores conta com intervenções de Tereza Sena, historiadora e ex-residente de Macau, que apresenta o painel “Ascensão social e política de um natural de Macau durante o Liberalismo: António dos Remédios (ca.1770.-1841) – o primeiro passo”. Destaque ainda para a presença de Jorge Arrimar, poeta ligado a Macau que vai falar sobre a ligação do Ouvidor Arriaga, importante figura política do território à época e “um dos grandes inimigos” d’A Abelha da China, recordou Duarte Drumond Braga. “Ele era a figura mais poderosa de Macau nessa altura e partidário de um grupo rival às pessoas que estavam ligadas ao jornal.”

O programa inclui também a participação de Jin Guoping, do Instituto de Macauologia da Universidade de Jinan, em Cantão, e também ligado ao Centro de Estudos de Macau da Universidade de Macau, que abordará o tema “A Abelha da China estudada na Macauologia”.

Duarte Drumond Braga entende ser muito provável que o jornal fosse lido “por uma elite” da sociedade. A Abelha da China tinha artigos de opinião mas funcionava também como uma espécie de Boletim Oficial, que só seria criado muito depois. “Eram publicados resumos das sessões do Leal Senado, mas era um jornal que também tinha uma parte literária. Tinha uma posição política forte, porque o grupo liberal [ligado ao jornal] conseguiu chegar ao poder, embora sejam expulsos depois. O jornal também deu depois muitas informações sobre esse processo.”

O coordenador desta iniciativa entende que faltam ainda estudos académicos sobre o jornal. “Há um trabalho muito bom, feito pelo Daniel Pires, que é o ‘Dicionário Cronológico da Imprensa de Macau no Século XIX’, mas que não esgota estes materiais. Não só a Abelha da China como os jornais que começam a aparecer na altura estão ainda por estudar. Agnes Lam [docente na Universidade de Macau], por exemplo, deu um bom contributo, mas faltam ainda alguns estudos.”

Livro lançado

Acima de tudo o programa destaca a criação do primeiro jornal de língua não chinesa “no contexto da Revolução Liberal de 1820 e da primeira formulação do constitucionalismo português”, aponta o texto de apresentação do evento. Marcado, portanto, pelas doutrinas liberais da época, a Abelha da China “foi uma breve mas intensa publicação periódica (1822-23) que veio dar corpo à ideia de que não há verdadeira liberdade sem imprensa e sem a liberdade desta”.

“Plenamente alinhada com os debates do seu tempo, o seu projecto seria tomado por outros agentes políticos. Todavia, o seu legado de insubmissão acabaria por vingar”, aponta a mesma apresentação, que destaca ainda o facto de o periódico defender “uma ideia de autonomia sempre ligada à oligarquia local”.

“Nesse sentido, o jornal mostra também as alianças e os contactos múltiplos que o atravessam: com a China, onde sempre se enraizou, a Metrópole [Lisboa], o Brasil e Goa”.

“Por entre as suas páginas circulam figuras e influências de todas as proveniências, mostrando como Macau se integrava plenamente nos movimentos políticos e culturais do seu tempo, e onde a comunidade chinesa se encontrava ativa face a eles. E daí os casos, as figuras e os confrontos que gravitam em seu torno, e que os ensaios de historiadores e críticos da cultura e do jornalismo dissecam nesta obra”, lê-se ainda.

A sessão de segunda-feira, 12, conta ainda com a apresentação do livro “A Abelha da China nos seus 200 Anos: Casos, Personagens e Confrontos na Experiência Liberal de Macau”, que reúne artigos da autoria dos investigadores Cátia Miriam Costa, Jin Guoping, Jorge de Abreu Arrimar, Pablo Magalhães e Tereza Sena. A obra “tem por foco o primeiro jornal de Macau em língua portuguesa analisado a partir de diversas áreas das humanidades” e inaugura “a nova coleção de livros de História com chancela do CCCM, sendo feita em parceria com a Universidade de Macau”.

Acima de tudo, o livro pretende mostrar “um renovado interesse na história de Macau, na história do jornalismo na China e em língua portuguesa, e também na história sóciopolítica e cultural do território”.

9 Set 2022

MAM | Percursores da arte moderna em exposição a partir de hoje

Obras de pintores como Ennio Belsito, Kwok Se e Armando Vivanco, entre outros, podem ser vistas a partir de hoje no Museu de Arte de Macau na exposição “Prelúdio do Estilo Moderno de Macau”, que revela, em cada quadro, os primórdios da arte moderna no território

 

O Museu de Arte de Macau (MAM) apresenta, a partir de hoje, a exposição “Prelúdio do Estilo Moderno de Macau”, que pode ser vista até ao dia 7 de Maio do próximo ano. A mostra revela algumas das obras mais marcantes do arranque do modernismo em Macau, e inclui quadros como “Mulher carregando uma criança” de Ennio Belsito, datado de finais do século XIX.

De destacar que Ennio Belsito, pintor italiano, é autor de um dos quadros mais conhecidos de Manuel da Silva Mendes, que viveu em Macau entre 1901 e 1931 e é tido como um dos intelectuais mais importantes da primeira metade do século XX no território.

Os amantes da arte podem ainda ver trabalhos de pintores como Armando Vivanco, nascido em 1936 e falecido em 2012, cujo quadro “O Passeio Nocturno”, datado de 1984, estará exposto no MAM. Destaque ainda para a presença da obra “Cena pitoresca de porto pesqueiro”, de 1964 e da autoria de Kwok Se, pintor que viveu entre os anos de 1919 e 1999. “Estúdio Nello”, de Chen Shou Soo, pintor nascido em 1915 e falecido em 1984, será outro dos nomes presentes na mostra.

A exposição tem como objectivo traçar, “através de mais de 150 obras com um estilo distinto, da autoria de 60 artistas”, os percursos pela pintura moderna de artistas de Macau ou de artistas com importantes ligações a Macau, desde o início do século XX até 1986.

Aposta na casa

Grande parte da exposição foi construída com peças pertencentes às colecções do MAM, enquanto que outras obras de arte “foram emprestadas por pintores e coleccionadores”, existindo uma “predominância das pinturas a óleo, complementadas por aguarelas, esboços e esculturas”.

Uma nota do Instituto Cultural aponta que a ideia por detrás da colecção exposta se centra “em figuras e eventos na área artística de Macau, entrelaçando experiências de associações artísticas importantes, grandes mestres e seus discípulos em diferentes períodos”. O objectivo é que o público possa “rever este processo de desenvolvimento das belas-artes modernas de Macau cheio de sentimentos românticos”.

A mesma nota dá conta que o século XX “marca a formação do estilo artístico de Macau bem como seu grande desenvolvimento e florescência”, pelo que as obras deste período “nos permitem olhar, em retrospectiva, os percursos dos artistas daquela geração, numa época de recursos escassos e com o espírito de ‘combinação ecléctica da China e do Ocidente, do passado e do presente’, abrindo um novo capítulo para a localização da pintura ocidental e definiram o tom para a pintura ocidental de Macau”.

9 Set 2022