Poesia | Yao Jingming volta a traduzir Nuno Júdice em “O Peso do Mundo”

Yao Jingming, poeta, tradutor e académico, é o autor da segunda antologia de poemas de Nuno Júdice traduzida para chinês, intitulada “O Peso do Mundo”. O poeta português confessa-se emocionado por mais um projecto literário desta envergadura que prestigia não só a sua carreira como todo o universo da língua portuguesa

 

Do leque variado de autores portugueses traduzidos para mandarim, muitos deles clássicos, mas também contemporâneos, Nuno Júdice é o mais recente. Após a tradução para chinês de uma primeira antologia de poemas, em 2018, surge agora, também pela mão de Yao Jingming, poeta, tradutor e académico, uma segunda antologia, intitulada “O Peso do Mundo”. Este projecto literário nasce do 1573 – Prémio Internacional de Poesia atribuído em Sichuan a Nuno Júdice, tendo sido também patrocinada a edição do livro.

Em “O Peso do Mundo”, Nuno Júdice explicou ao HM que é feita “a perspectiva de toda a minha poesia”. “Tem poemas que vêm dos meus primeiros livros até aos mais recentes. Tentei que desse uma visão do meu universo poético nas suas várias fases, mas pondo um acento numa fase mais recente. A intenção foi que o leitor chinês me compreendesse como poeta na totalidade”, adiantou.

Confessando sentir muita emoção por ver mais uma obra sua editada com poemas traduzidos para mandarim, que traz consigo “um mundo cultural completamente diferente” do português, Nuno Júdice sente que este é também um passo importante numa carreira que começou em 1972, com “A Noção do Poema”.

“A China tem uma longa tradição poética e há uma curiosidade e interesse pela poesia do mundo. Neste momento calhou-me a mim ter este prémio, o que dá mais relevo à minha carreira, sendo também prestigiante para a mim e para toda a poesia portuguesa. Portugal tem uma longuíssima relação com a China, e tendo em conta que estamos afastados, ter esta difusão da nossa literatura volta a formar o interesse na relação entre Portugal e a China.”

O nome do livro foi uma decisão do autor e do tradutor e é também o título de um dos poemas, um dos preferidos de Nuno Júdice. “Foi escolhido devido à situação do mundo actual, em que sentimos o peso das coisas que estão a acontecer.”

O poeta-tradutor

Yao Jingming não respondeu em tempo útil às nossas questões sobre este trabalho de tradução, mas Nuno Júdice fala de uma relação cúmplice na hora de transformar palavras em caracteres chineses. “Há poemas [no livro] que são da primeira fase [da minha carreira], com imagens e uma linguagem mais complexa, mas sempre estabelecemos um diálogo para resolver todas as dúvidas. Tenho absoluta confiança no meu tradutor, que ainda por cima é poeta, e um poeta, ao traduzir poesia, tem uma maior sensibilidade para o entendimento da nossa língua e da musicalidade do português.”

O poeta português diz que “há também tradutores que não são poetas que conseguem ter essa sensibilidade, mas um tradutor ‘normal’, muitas vezes, tem mais dificuldades, sobretudo em fazer passar aquilo que é a música da nossa língua”. “É preciso que o poema chinês também tenha um ritmo que permita ver e ouvir o poema original”, confessou.

Assumindo que Bei Dao é um dos seus poetas favoritos, além de já ter feito algumas traduções de poesia chinesa para português, partindo da versão inglesa, Nuno Júdice continua também a publicar novos textos.
“Este ano saiu em Portugal uma antologia chamada ‘50 anos de Poesia’, em que escolho poemas que foram publicados em vários livros, e terminei também um livro de poesia que vai sair em Março, ‘Uma Colheita de Silêncios’”.

Este é um livro “com um certo lado de memória, sobretudo de poetas que conheci”, existindo, assim, uma “homenagem a alguns deles, como é o caso de Ruy Belo e Pedro Tamen”. “Há também uma lembrança desses anos 60 e 70 que eu vivi, mas depois há também uma série de poemas sobre a natureza, a pintura na natureza, a partir de quadros que trabalhei numa secção do livro. É uma obra ampla e várias temáticas, incluindo a do amor”, concluiu.

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