Poesia | Yao Jingming volta a traduzir Nuno Júdice em “O Peso do Mundo”

Yao Jingming, poeta, tradutor e académico, é o autor da segunda antologia de poemas de Nuno Júdice traduzida para chinês, intitulada “O Peso do Mundo”. O poeta português confessa-se emocionado por mais um projecto literário desta envergadura que prestigia não só a sua carreira como todo o universo da língua portuguesa

 

Do leque variado de autores portugueses traduzidos para mandarim, muitos deles clássicos, mas também contemporâneos, Nuno Júdice é o mais recente. Após a tradução para chinês de uma primeira antologia de poemas, em 2018, surge agora, também pela mão de Yao Jingming, poeta, tradutor e académico, uma segunda antologia, intitulada “O Peso do Mundo”. Este projecto literário nasce do 1573 – Prémio Internacional de Poesia atribuído em Sichuan a Nuno Júdice, tendo sido também patrocinada a edição do livro.

Em “O Peso do Mundo”, Nuno Júdice explicou ao HM que é feita “a perspectiva de toda a minha poesia”. “Tem poemas que vêm dos meus primeiros livros até aos mais recentes. Tentei que desse uma visão do meu universo poético nas suas várias fases, mas pondo um acento numa fase mais recente. A intenção foi que o leitor chinês me compreendesse como poeta na totalidade”, adiantou.

Confessando sentir muita emoção por ver mais uma obra sua editada com poemas traduzidos para mandarim, que traz consigo “um mundo cultural completamente diferente” do português, Nuno Júdice sente que este é também um passo importante numa carreira que começou em 1972, com “A Noção do Poema”.

“A China tem uma longa tradição poética e há uma curiosidade e interesse pela poesia do mundo. Neste momento calhou-me a mim ter este prémio, o que dá mais relevo à minha carreira, sendo também prestigiante para a mim e para toda a poesia portuguesa. Portugal tem uma longuíssima relação com a China, e tendo em conta que estamos afastados, ter esta difusão da nossa literatura volta a formar o interesse na relação entre Portugal e a China.”

O nome do livro foi uma decisão do autor e do tradutor e é também o título de um dos poemas, um dos preferidos de Nuno Júdice. “Foi escolhido devido à situação do mundo actual, em que sentimos o peso das coisas que estão a acontecer.”

O poeta-tradutor

Yao Jingming não respondeu em tempo útil às nossas questões sobre este trabalho de tradução, mas Nuno Júdice fala de uma relação cúmplice na hora de transformar palavras em caracteres chineses. “Há poemas [no livro] que são da primeira fase [da minha carreira], com imagens e uma linguagem mais complexa, mas sempre estabelecemos um diálogo para resolver todas as dúvidas. Tenho absoluta confiança no meu tradutor, que ainda por cima é poeta, e um poeta, ao traduzir poesia, tem uma maior sensibilidade para o entendimento da nossa língua e da musicalidade do português.”

O poeta português diz que “há também tradutores que não são poetas que conseguem ter essa sensibilidade, mas um tradutor ‘normal’, muitas vezes, tem mais dificuldades, sobretudo em fazer passar aquilo que é a música da nossa língua”. “É preciso que o poema chinês também tenha um ritmo que permita ver e ouvir o poema original”, confessou.

Assumindo que Bei Dao é um dos seus poetas favoritos, além de já ter feito algumas traduções de poesia chinesa para português, partindo da versão inglesa, Nuno Júdice continua também a publicar novos textos.
“Este ano saiu em Portugal uma antologia chamada ‘50 anos de Poesia’, em que escolho poemas que foram publicados em vários livros, e terminei também um livro de poesia que vai sair em Março, ‘Uma Colheita de Silêncios’”.

Este é um livro “com um certo lado de memória, sobretudo de poetas que conheci”, existindo, assim, uma “homenagem a alguns deles, como é o caso de Ruy Belo e Pedro Tamen”. “Há também uma lembrança desses anos 60 e 70 que eu vivi, mas depois há também uma série de poemas sobre a natureza, a pintura na natureza, a partir de quadros que trabalhei numa secção do livro. É uma obra ampla e várias temáticas, incluindo a do amor”, concluiu.

17 Nov 2022

Literatura | Três obras chinesas traduzidas para português e publicadas no Brasil 

“Bei Dao – Não acredito no eco dos trovões”, “Além da Montanha”, de Yao Feng, e “Contos de Fantasia Chineses”, de Pu Songling, são os novos projectos literários que Yao Jingming, poeta, tradutor e académico da Universidade de Macau, ajudou a desenvolver e que acabam ser editados no Brasil com a chancela da editora Moinhos

 

Acabam de ser lançadas nas livrarias brasileiras três obras traduzidas, escritas e coordenadas por Yao Jingming em parceria com alunos de mestrado e doutoramento do curso de tradução português-chinês da Universidade de Macau (UM), incluindo colegas do departamento de português.

A obra de Bei Dao ganha assim um novo destaque na língua de Camões com a obra “Bei Dao – Não acredito no eco dos trovões”. Os poemas foram traduzidos por Yao Jingming e Huang Lin, estudante de doutoramento da UM, tendo a revisão literária ficado a cargo de Manuela Carvalho e do escritor português José Luís Peixoto.

A editora Moinhos lançou também o livro “Além da Montanha”, que reúne poemas de Yao Feng, pseudónimo de Yao Jingming na hora de escrever poesia. A mesma editora apresentou ainda a tradução de “Contos de Fantasia Chineses”, escritos por Pu Songling. Para a tradução de alguns contos desta obra colaboram Ana Cardoso, Zhang Mengyao, Chen Qu, Xiong Xueying e Lou Zhichang.

Ao HM, Yao Jingming disse que estas publicações visam colmatar um vazio que existia no mercado. “Quisemos preencher uma lacuna que ainda existe em relação à tradução de obras literárias para português. [Bei Dao e Pu Songling] são dois grandes escritores e merecem ser traduzidos e divulgados em português”, acrescentou.

Este trabalho parte de um projecto de investigação do próprio Yao Jingming, financiado pela UM, intitulado “Chinese Literature in Portuguese: Research, Translation and Anthology” [Literatura chinesa em português: Investigação, Tradução e Antologia].

“Ao longo do projecto contei com a colaboração dos meus estudantes de mestrado e de doutoramento. A maior parte da tradução foi assumida por eles, eu fiz a orientação. Depois entrámos em contacto com a editora [Moinhos], que aceitou a publicação.”

“Contei com o apoio das minhas colegas, que trabalham na área da literatura e são portuguesas, e também com a revisão de José Luís Peixoto. De alguma forma conseguimos manter a qualidade da tradução”, disse Yao Jingming, que não esconde as dificuldades no processo.

“É sempre difícil traduzir, sobretudo quando falamos de tradução de poesia. Temos de manter o poema original na língua de destino, mas há muitas diferenças entre o chinês e português em termos de símbolos, imagens e metáforas. Como podemos manter o que é poético na língua de chegada? Mas escrevo em português também e penso que, de alguma forma, isso ajuda”, frisou.

Destaque na Folha

As edições da Moinhos no Brasil mereceram destaque num dos jornais mais importantes do país, a Folha de São Paulo. “Literatura da China tem lacunas supridas no Brasil com livros fundamentais”, lê-se no título. A mesma notícia dá conta de que “a editora Moinhos está colocando nas prateleiras novos títulos de alguns dos mais relevantes escritores chineses contemporânea, colaborando para suprir uma lacuna crónica do mercado brasileiro”.

Sobre a obra “Além da Montanha”, José Luís Peixoto escreve no prefácio que ao longo das páginas do livro se desenrola “uma língua que é, ao mesmo tempo, cotidiana e rara, que nos catapulta para muito longe num único verso, que nos desconcerta”.

“É como se a poesia reclamasse uma língua própria para a construção do seu universo exclusivo. A poesia, como um território autónomo, como uma região administrativa especial, onde se cruzam referências históricas e culturais de um modo comparável ao que acontece em Macau, onde Yao Feng vive há mais de duas décadas”, escreve Peixoto, que frisa que, desde o Brasil, é agora possível “chegar a Macau e à China através da poesia, através do olhar deste importante autor”.

Relativamente a Bei Dao, Yao Jingming destacou o facto de ser “um poeta altamente respeitado na China e vastamente conhecido a nível internacional”, embora ainda “pouco conhecido no mundo português”.
Vítima do período da Revolução Cultural, Bei Dao acabou por se tornar “uma voz mais sonora e activa dos poetas da sua época”, tendo sido proibido de regressar à China em 1989 depois de ter viajado até Berlim para participar numa conferência. Regressado ao seu país em 2006, Bei Dao tem publicado várias obras de poesia e crónicas.

Nascido no período da dinastia Qing, Pu Songling ficou conhecido como escritor de ficção, tendo editado “Liaozhai zhiyi”, em 1766, ou “Histórias estranhas do estúdio de Liaozhai”. No total, este autor escreveu 431 contos sobre o mundo da fantasia e do sobrenatural.

8 Abr 2022

Albergue SCM | Poeta Yao Feng apresenta primeira exposição individual

Yao Feng, pseudónimo de Yao Jingming, académico, tradutor e poeta, apresenta na próxima quarta-feira, 23, a sua primeira exposição a título individual. Em “Não Conjuntivo – Exposição de Arte de Yao Feng”, são reveladas 58 obras de fotografia, pintura e instalação com curadoria de Guilherme Ung Vai Meng, ex-presidente do Instituto Cultural

 

Professor catedrático da Universidade de Macau (UM) e tradutor de grandes poetas portugueses para chinês, Yao Jingming aventura-se agora noutra vertente do mundo das artes. Na próxima quarta-feira, dia 23, sob o pseudónimo de Yao Feng, Yao Jingming inaugura a sua primeira exposição individual no Albergue SCM, que conta com curadoria do também artista e ex-presidente do Instituto Cultural Guilherme Ung Vai Meng.

A mostra tem como nome “Não Conjuntivo – Exposição de Arte de Yao Feng” e é composta por 58 obras que vão desde a fotografia à pintura e instalação. A exposição “explora uma linguagem plástica e pictográfica na qual o figurativo e o abstracto se fundem num encontro cultural herdeiro de influências orientais e ocidentais, propondo novas dinâmicas”, explica um comunicado do Albergue SCM. A mostra estará patente até ao dia 21 de Fevereiro do próximo ano e conta com o apoio da Fundação Macau, marcando os 21 anos da transferência de soberania de Macau para a China.

Fotografia foi o início

Apesar de esta ser a primeira mostra individual de Yao Feng, a verdade é que o poeta e artista há muito que se dedica ao mundo artístico, nomeadamente da fotografia. Muitos dos seus livros incluem imagens da sua autoria, além de ter feito uma exposição de fotografia juntamente com o poeta Yu Jian.

Nascido em Pequim, Yao Jingming vive em Macau desde 1992 e é doutorado em literatura comparada. Além de ser um dos poetas mais consagrados da China, já publicou 13 livros de poesia, em chinês e em português, e recebeu vários prémios. Dedica-se à investigação da literatura portuguesa e à tradução, tendo publicado dezenas de livros.

Em 2006 foi agraciado com a medalha da Ordem Militar de Santiago de Espada, atribuída pelo Presidente de Portugal.

21 Dez 2020

Terrível prática do “pseudo-jornalismo”

Por Yao Jing Ming

[dropcap]F[/dropcap]oi numa viagem de serviço oficial que tomei conhecimento do teor da reportagem relativa ao Departamento de Português da UM, publicada pelo jornal Hoje Macau do dia 27 de Junho e assinada pela jornalista Andreia Silva. Fiquei muito surpreendido e desapontado com a irresponsabilidade e falta do profissionalismo evidenciados nesse trabalho jornalístico.

É lamentável que a reportagem tenha saído ao espaço público simplesmente baseada em declarações prestadas por dois docentes da FAH, que, não tendo tido coragem para assumir a sua identidade, optaram por se esconder no anonimato, e por um ex-docente do Departamento de Português que se demitiu por vontade própria há um ano.

O que foi apresentado pelo jornal –sem provas nem fundamento – não corresponde à realidade do Departamento de Português. Uma vez que o Departamento de Português tem trinta docentes e mais de seiscentos alunos (incluindo minor, major, alunos da licenciatura em Direito e pós-graduação), teria sido essencial que a jornalista tivesse procurado ouvir mais pessoas, evitando, assim, a divulgação de mentiras e de comentários infundados.

É completamente falsa e absurda a afirmação de “hostilidades aos portugueses”, tecida pelo senhor “Manuel”. No Departamento de Português trabalham e convivem harmoniosamente professores portugueses, brasileiros e chineses. Não se verificou, nos últimos anos, nenhuma “debandada”, visto que, as poucas pessoas que saíram (e não apenas portugueses) fizeram-no por terem atingido o limite de idade ou por opção própria, por diversos motivos pessoais.

Quanto à alegada “perseguição” referida pelo ex-professor do Departamento de Português, ela também não corresponde à verdade. De acordo com o regulamento da Graduate School da Universidade de Macau, os Professores Auxiliares (Assistant Professors) não estavam autorizados a orientar teses de doutoramento a não ser na qualidade do co-orientador – este impedimento não foi, portanto, imposto apenas a esse professor, mas a todos os que estavam inseridos na mesma categoria. Apenas nos anos académicos mais recentes o regulamento foi alterado. Em relação à referida recusa de “licenças de investigação”, as mesmas podem ocorrer devido ao facto de os pedidos não cumprirem os regulamentos e prazos estabelecidos pela UM, o que, na maioria das vezes, pode ser solucionado com a sua reformulação em conformidade com as regras.

No que diz respeito à minha “promoção apressada, sem justificação curricular”, quero dizer orgulhosamente ao “Manuel” (seja ele quem for), o seguinte: sendo um dos poetas mais respeitados da China, excelente tradutor de poesia portuguesa para chinês e investigador produtivo, sou muito digno desta promoção. Para este efeito, a condecoração pelo Presidente de República de Portugal e vários prémios que me honraram em termos literários e académicos também podem servir de fundamento.

Eu estranho por que motivo é que a jornalista do Hoje Macau ignora o que tem sido desenvolvido pelo Departamento de Português nos últimos anos, preferindo recorrer às informações não verificadas nem confirmadas para a divulgação da maledicência? É sabido que nunca me interessou ser Director do Departamento, cargo esse que me tem roubado imenso tempo para me dedicar à investigação e à criação literária. Entretanto, foram o amor ao português e a vontade de dinamizar o Departamento que me obrigaram a assumir o cargo depois da saída voluntária da Professora Fernanda Gil Costa com a qual continuo a manter uma relação muito amistosa. Graças à colaboração dos colegas e ao apoio indispensável da Professora Jin Hong Gang (tenho de confessar que nunca houve um director da Faculdade tão preocupado com o Departamento de Português como ela), foram melhorados o programa de licenciatura (como por exemplo, foram padronizados os conteúdos do ensino e dos exames) e o programa de Study Abroad (os nossos alunos do terceiro ano já podem realizar o seu estudo em Países de Língua Portuguesa durante um ano lectivo em vez dum semestre). Os nossos cursos de mestrado tornaram-se mais atraentes, tendo sido admitidos os melhores licenciados provenientes da China Interior e também alunos internacionais. Foi posto em prática o plano de leitura que visa encorajar os alunos a ler mais obras em português. Em colaboração com DSEJ, foi concluído uma APP que permite aprender português pelo telemóvel, sendo o seu lançamento previsto ainda para este mês. Em 2017, foi criado o Centro de Formação Bilingue que tem organizado muitos seminários e palestras dirigidos aos nossos alunos e à comunidade local. Em termos de divulgação da cultura portuguesa, foi criado o Prémio de Tradução Literária em parceria com a Fundação Macau e foi iniciado o projecto de tradução de autores portugueses em parceira com uma editora prestigiada de Pequim.

De acordo com a ética jornalística, os jornalistas são responsáveis pela escolha das fontes a que recorrem, pela confirmação da informação que difundem mediante várias fontes e pela análise da autenticidade dos dados. No entanto, a jornalista do Hoje Macau negligenciou esta ética, tendo-se limitado a fazer a “montagem” duma reportagem especulativa, baseada apenas em informações duvidosas e falsas. Será que qualquer pessoa pode usar o jornal com um nome fictício para a maledicência?

Lamento profundamente que um jornal tenha usado o seu poder mediático para praticar este tipo de “pseudo-jornalismo”, e denegrir a imagem da Faculdade e do nosso Departamento. Reconheço que no Departamento haverá, certamente, muito trabalho a fazer e aspectos que podem ser melhorados e, estando aberto a críticas, espero que elas se façam num tom construtivo, em diálogo franco e sem obscuridade.


Resposta da jornalista Andreia Sofia Silva

Antes de mais, lamento que nunca tenha respondido ao meu e-mail, enviado dias antes de publicada a reportagem, relativo à saída da directora da Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade de Macau, onde lhe pedia também um balanço do trabalho realizado pela dra. Hong Gang Jin. A própria dra. Hong Gang Jin também nunca respondeu ao meu email, onde lhe colocava as mesmas questões. Enviei os emails com antecedência, antes da publicação da referida reportagem, mas nunca obtive uma reacção ou mesmo uma simples resposta, acusando a recepção. Desta forma, foi impossível obter o contraditório, facto referido no artigo.

Quanto a não ter contactado mais docentes, tive o cuidado de fazer inúmeros contactos com professores e ex-professores do departamento de português, mas não só: foram também contactados docentes de outros departamentos, precisamente para garantir a pluralidade de opiniões e ter uma visão global do que aconteceu. Muitos não quiseram responder, outros optaram por o fazer recorrendo ao legítimo direito do off the record. São pessoas que, perante mim, se identificaram e cujas posições considerei credíveis para a inserção na reportagem.

Reconheço e tenho o maior respeito pelo seu mérito como poeta, tradutor e docente, mas não poderia deixar de publicar uma opinião de um docente que, assumo, não é a minha.

3 Jul 2019

Departamento de português da UM pondera a criação de turmas diferenciadas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] coordenador do departamento de português da Universidade de Macau, Yao Jingming,  gostaria de ter turmas diferenciadas no curso de licenciatura. A ideia, de acordo com o Jornal Ou Mun, foi deixada durante o  Dia da Língua Portuguesa da instituição.

O objectivo é a constituição de turmas diferentes com base no conhecimento dos alunos. “Estamos a estudar a possibilidade e ainda é só uma ideia, mas temos de encontrar uma forma mais eficaz para ensinar o português sem desmotivar os alunos”, disse ao HM.

Dos alunos que se inscrevem no curso, alguns estudaram português no secundário e outros não. O resultado é a disparidade no conhecimento da própria língua e a falta de motivação para alguns dos estudantes que acabam por, eventualmente, abandonar o curso. “Os alunos que já têm conhecimentos estão muitas vezes misturados com os que ainda não têm nenhum o que acaba por não ser pedagógico e desmotivar a aprendizagem”, referiu o responsável.

Como solução “a separação por turmas aquando do ingresso na universidade e tendo em conta o nível de conhecimento é uma ideia que gostaria de ver avançar”, afirmou.

Separar as águas

De modo a optimizar o ensino e a aprendizagem, o departamento de português gostaria de ver implementada a criação de duas turmas em que é criado um grupo especial para quem tem conhecimentos básicos de português, bem como uma equipa de professores e materiais pedagógicos mais adequados.

Por outro lado, para aqueles que ingressam no curso sem conhecimentos ao partilharem a turma com outros níveis de saber, acabam por encarar a licenciatura como um grande desafio o que pode, algumas vezes, levar à desistência. A medida que, ainda é uma ideia, pode “resolver a situação”.

O departamento recebe cerca de 80 alunos por ano, e o mestrado na área de tradução e de linguística tem registado subidas no número de candidaturas. No entanto, de acordo com o Ou Mun, dada a situação actual do quadro docente do departamento, é difícil aumentar o número de candidaturas.

12 Abr 2017

UM | Departamento de Português com metas ambiciosas

O departamento de português da universidade de Macau apresenta através do novo director, Yao Jingming, um conjunto de medidas para pôr o Português de qualidade na ordem do dia no ensino daquela instituição

[dropcap style≠’circle'”O[/dropcap] novo director do departamento de Português da Universidade de Macau, Yao Jingming, promete várias novidades, desde um centro de formação de professores, produção de material didáctico, planos de leitura a um centro de tradução.
“Estamos a trabalhar muito para tentar trazer algumas mudanças ao departamento de Português”, disse à Lusa o também poeta e tradutor, que assumiu o novo cargo em meados de Agosto.
A lista de projectos acaba por se revelar extensa. O académico espera em breve pôr em funcionamento um centro de ensino e formação de professores, que trabalha em parceria com o Fórum Macau e com outras faculdades da Universidade de Macau (UM). Pretende ainda uniformizar os manuais utilizados e está a trabalhar na criação, pela primeira vez, de materiais didácticos próprios. Está também na calha a criação de um centro de tradução que funcione com entidades externas à UM e vai avançar com um plano de leitura lusófona.
Yao explicou que o Centro de Ensino e Formação em Língua Chinesa e Portuguesa, além de pensado para servir os alunos do departamento, pretende oferecer formação a professores de Português locais e da China. “Muitos professores são jovens, não têm experiência suficiente e, por isso, precisam de formação”, disse.
O centro, que Yao espera que esteja a funcionar em 2017, será também vocacionado para o “apoio linguístico” a cursos profissionalizantes ou intensivos para alunos ou quadros de países lusófonos, quer de outras faculdades da UM, quer os ministrados pelo Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, conhecido como Fórum Macau.
Em relação aos materiais de ensino, já fez arrancar a produção de uma gramática de língua portuguesa, “tendo em conta as características dos alunos locais”, e um livro sobre cultura dos países lusófonos, sendo esta a primeira vez que o departamento o faz.
Tal é “muito importante”, já que os alunos “querem ter materiais sistemáticos, correntes, para estudar passo-a-passo”. Enquanto esta produção não é finalizada, foram já uniformizados os materiais didácticos, para quebrar com o padrão de “cada um ensina à sua maneira”.

Proximidade cultural

Este é um dos pontos em que Yao concede que o facto de ser um chinês – o primeiro a dirigir o departamento – pode ser uma mais-valia: “Se calhar, como chinês, conheço melhor as características dos alunos, a maneira de ser deles, as dificuldades que encontram. Para nós não é uma língua fácil de aprender. Por isso estamos a fazer algumas mudanças, a uniformização de programas ou de materiais, porque assim os chineses conseguem estudar de forma mais sistemática. Tudo tem de estar claro, em vez de ‘Olha uma fotocópia, amanhã é outra fotocópia’. Isso causava alguma confusão”.
Em elaboração está também um plano de leitura que “se calhar vai ser uma coisa obrigatória” e inserida na avaliação contínua. “Cada aluno tem de ler um número determinado de títulos”, explica, indicando que a lista de obras está agora a ser elaborada.

Eduardo Lourenço, obrigatório

Um autor que constará da lista é Eduardo Lourenço, que Yao já recomenda aos seus alunos de mestrado. “Através de qualquer livro dele vão ficar a conhecer muito mais, não só sobre a história, mas o pensamento e a maneira de ser dos portugueses”, disse.
Yao propõe ainda a criação de um núcleo de tradução. A ideia surgiu no seguimento de um projecto em que está envolvido, de tradução de clássicos da literatura em chinês e português, apoiado pelo Governo central da China.
As obras portuguesas, entre 16 ou 18, vão ser as primeiras a ser traduzidas, de autores como Camões, e Fernando Pessoa, mas também contemporâneos como António Lobo Antunes, Gonçalo M. Tavares e José Luís Peixoto.
Numa fase posterior, serão traduzidas obras chinesas para português, um “desafio ainda maior” já que “quase não há sinólogos em Portugal que possam assumir esse trabalho de tradução”.

17 Out 2016

Yao Jingming | Nova obra sobre intercâmbio literário entre Portugal e China

O mais recente livro de Yao Jingming, em Chinês, aborda a “História dos intercâmbios literários entre a China e Portugal”. Estão lá os primeiros portugueses, escritores ou missionários, que escreveram sobre a China e as suas gentes

[dropcap style≠’circle’]Y[/dropcap]ao Jingming despiu a pele de poeta, tradutor e professor universitário para contar a história dos autores portugueses que, ao longo de 500 anos, escreveram sobre a China. Em a “História dos intercâmbios literários entre a China e Portugal” cabem os relatos de viagens e também os escritos literários sobre o País do Meio, feitos por escritores ou missionários. A obra foi apresentada o mês passado na Feira Internacional do Livro, em Pequim, estando apenas disponível em Chinês simplificado.
Ao HM, Yao Jingming falou de um livro que aborda “o tempo primórdio dos contactos feitos entre chineses e portugueses, relatados em obras escritas por portugueses, que nem sempre são consideradas literárias”. Excertos da “Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto (obra do século XVI), ou de Álvaro Semedo, padre jesuíta que escreveu sobre o império chinês, podem ser encontrados.
“Os portugueses sempre escreveram muito sobre a China, o carácter dos chineses, os seus usos e costumes. Mas os chineses deixaram poucas coisas sobre Portugal”, concluiu Yao Jingming.

A importância de Macau

Yao Jingming adianta ainda que Macau assume uma posição de destaque, por ser ponto de passagem de vários escritores. “Apesar de não existirem provas suficientes sobre a vida de Camões em Macau, este facto merece ser abordado e investigado. É uma passagem um pouco lendária, mas porque se tornou uma lenda? Falei então da passagem de Camões, falei da imagem da China na sua epopeia, onde falou da grande muralha e dos chineses, apesar de nunca ter estado na China.”
Há ainda a análise a Camilo Pessanha e ao seu paradoxo. “Falei da sua tradução das elegias chinesas. Ele próprio adorava muito a língua chinesa e a tradução, mas desvalorizava a música. Também quis analisar esse aspecto paradoxal.”

Faltam obras de chineses

Olhando para a história, o poeta e tradutor não deixa de lamentar que ainda haja tanto por escrever e tanto por partilhar. “Queria abrir uma porta para que essa história de intercâmbio literário fique mais estreita. Mas intercâmbio não será talvez o termo mais ideal para esta relação, porque é uma relação um bocado estática, não é dinâmica. Cada um faz as suas coisas.”
Macau “é uma prova disso”, considera o autor. “Chineses e portugueses convivem num espaço tão apertado, mas que ligação existe? É um intercâmbio bastante superficial entre as comunidades. Macau, a nível do país, é a mesma coisa. O intercâmbio ainda não é profundo.”
Yao Jingming gostaria ainda de ver mais autores chineses a escreverem sobre Portugal. “Há mais escritores portugueses que escreveram sobre a China do que chineses a escreverem sobre Portugal e os portugueses. Uma coisa que lamento é o facto de, até ao momento, não ter sido publicado nenhum livro de um autor chinês a analisar como é Portugal e como são os portugueses. Não há um livro sério sobre este tópico.”
Não há ainda planos para a tradução deste livro em Português, o qual poderá ser também publicado em Macau. A obra de Yao Jingming faz parte da colecção “História dos intercâmbios literários entre a China e países estrangeiros”, como é o caso do Reino Unido, Estados Unidos ou países de língua espanhola.

8 Set 2016

UM | Yao Jingming novo director do departamento de português

Yao Jingming vai substituir Fernanda Gil Costa na direcção do departamento de português da Universidade de Macau. Toma posse em Setembro e não comenta as causas da mudança. Alunos justificam mudança para “ensino mais oriental”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] direcção do Departamento de Português da Universidade de Macau (UM) terá, já no próximo Setembro, uma nova cara: Yao Jingming. “Sim, posso confirmar isso. Mas só tomo posse a 1 de Setembro”, confirmou o actual coordenador de mestrados de Tradução.
Sem prestar qualquer esclarecimento adicional, Yao Jingming irá substituir a actual directora, Fernanda Gil Costa, que até ao fecho desta edição não foi possível contactar.
Numa tentativa de justificar a mudança o HM falou com alguns alunos do departamento de português que não estranham a mudança, até porque os alunos preferem um “ensino mais oriental”.
Um aluno finalista, que preferiu manter o anonimato, explicou que o “ensino ocidental do departamento da UM promove um estudo autónomo, aplicando uma disciplina muito livre”. Sendo que “os estudantes locais, em geral, não são muito trabalhadores” e se não forem “obrigados a estudar nunca serão bons profissionais”.
As diferenças, conta, entre alunos oriundos do interior da China e os locais são evidentes. “Os alunos que vêm do interior da China, habituados ao ensino oriental, são muito diferentes de nós e normalmente aprendem melhor do que os locais”, explicou, indicando que o ensino ocidental não impõe ao aluno a responsabilidade de ser bom aluno. “Mas claro que também há bons alunos locais”, explica, frisando que a Universidade de Línguas Estrangeiras de Pequim é muito “mais exigente” que a UM, mesmo na área de Língua Portuguesa.
“Se comparamos a UM, de um modo geral, às universidades da China, percebemos que o ensino é pior. Se quisermos trabalhar na área de português, depois de nos graduarmos, precisamos de saber muito, é muito importante aprender bem os conhecimentos básicos, gramática, o léxico, tudo. E nisso Pequim é melhor por ter o ensino ocidental”, acrescenta.

Missão cumprida

Para um actual aluno Fernanda Gil Costa cumpriu as suas funções de forma muito correcta. “A mudança de cargo já anda a correr os corredores da UM. Embora não tenha sido aluno da professora Fernanda Costa, acho que sempre assumiu as suas responsabilidades de forma muito correcta, gentil e soube unir as pessoas”, aponta. No entanto “o programa do departamento de português e o seu método pedagógico tende a ser mais académico”, algo que para o aluno não está direccionado para os alunos chineses e locais, e se estivesse, frisa, talvez os resultados do ensino fossem um pouco melhores.
Felipe, actual estudante do departamento, acredita que “um director chinês vai certamente trazer mudanças positivas para o departamento”. “Ele deve conhecer melhor o que os alunos querem e trabalhar num modelo pedagógico mais apropriado”, explicou, ao HM.
“Na verdade, não quero comparar o modelo ocidental e oriental de aprendizagem de línguas, pois ambos devem possuir as suas próprias vantagens e desvantagens. O que é mais importante é saber o que os alunos querem e ajustar o programa. Estive alguns meses em Portugal a fazer intercâmbio e lá há muitos bons professores portugueses e gostei muito das aulas. Se calhar os professores aqui devem prestar mais atenção ao ensino. As teorias de ensino de português aqui desenvolvidas não são muito adequadas aos alunos de Macau e devem ser ajustadas conforme o resultado de práticas. Em suma, acho que o departamento vai ser melhor”, remata.

Maior comunicação

O aluno finalista não esconde que existem problemas no programa de português. “Uma das características do nosso departamento é que não existe comunicação entre os professores, levando a que existam repetições nos conteúdos do ensino de cada professor. Acho que o método chinês para a fase inicial de aprendizagem é claramente mais útil porque exige que os alunos aprendam muito bem a base da língua”, argumenta.
O aluno chega mesmo a dizer que, de forma geral, o departamento de português não consegue adaptar-se aos alunos. “Os professores da UM, são maioritariamente professores estrangeiros, tratam-nos como alunos que falam uma língua materna estrangeira, levando a que os alunos não se consigam adaptar às diferenças do ensino ocidental e oriental. Acho que os professores do departamento não possuem muita experiência de ensinar português aos estudantes estrangeiros”, argumenta.
Uma combinação entre os dois tipos de ensino é a solução apresentada pelo ex aluno. “Acho que tanto o ensino ocidental como o oriental têm as suas vantagens. É melhor combinar os pontos positivos de cada um para alcançar um resultado melhor. Na primeira etapa, é melhor utilizar a maneira oriental para obrigar os estudantes a aprender, mas nas etapas seguintes o ensino ocidental orienta os estudantes a abordar a língua e a aprofundar o interesse deles à língua, até que os alunos possam realmente amar a língua . Nós temos recursos para fazer isso, porque temos professores chineses e portugueses”, frisou.
Para o aluno a escolha de Yao Jingming foi bastante acertada, apesar de nunca ter sido seu professor. “Para mim, não me importo se é um professor chinês ou uma professora estrangeira que vai assumir o cargo do director do departamento. O mais importante é o director perceber bem a necessidade dos alunos, e ter experiência suficiente para ensinar os alunos de língua materna chinesa. Nunca fui ensinado pelo professor Yao, mas acho que o departamento deve fazer uma reforma, acho que o professor Yao conhece melhor os estudantes chineses e talvez venha trazer um impacto positivo”, remata.

Com Angela Ka

27 Jun 2016