Andreia Sofia Silva EventosFRC | Exposição de aguarelas de Wilson Lam abre ao público esta quinta-feira “Willed”, uma exposição de aguarelas do reputado artista local Wilson Lam Chi Ian Lam, será inaugurada na Fundação Rui Cunha esta quinta-feira, a partir das 18h30. Esta é uma mostra composta por 33 pinturas que revelam a beleza de diversas paisagens, em Macau e não só A Fundação Rui Cunha (FRC) inaugura, esta quinta-feira, uma nova exposição de pintura, que estará patente até ao dia 11 de Fevereiro. Desta vez o projecto intitula-se “Willed” e mostra ao público um total de 33 aguarelas de paisagens da autoria do artista local Wilson Lam Chi Ian Lam. Nesta exposição recria-se “o charme da paisagem local”, seja em Macau ou noutros locais, “onde a luz subjectiva e o reflexo das cores se impõem através da assinatura inequívoca do autor”, descreve o comunicado da FRC sobre esta mostra. Além do olhar sobre o Porto Interior no final de um dia soalheiro, com as suas habituais embarcações no delta do rio das pérolas, a exposição revela também quadros como o retrato da Ponte D. Luís sobre o rio Douro, em Portugal, lugar icónico que liga as cidades do Porto a Vila Nova de Gaia. Tido como “um nome de referência na comunidade de artistas de Macau”, pela “qualidade do seu trabalho de pintura, artes gráficas e design”, Wilson Chi Ian Lam é natural de Macau, mas começou a sua carreira na área da publicidade. Mais tarde emigrou para o Canadá para aprofundar os estudos na especialidade de design de marcas, ingressando na Ontario College of Art & Design University, em Toronto, onde se graduou com mérito e a medalha de ouro na competição académica de design daquela instituição. Depois de se formar em 1989, trabalhou como designer em várias empresas, até estabelecer sua primeira empresa de design, “ARTiculation Group”, em Toronto. Depois de quase 30 anos no estrangeiro, Wilson Lam regressou a Macau em 2009 para criar três marcas culturais, nomeadamente a “Macau Creations”, “Soda Panda” e “Cunha Bazaar”. Actualmente é Consultor Artístico da Associação de Belas Artes de Macau, Director Executivo da Associação Dos Calígrafos e Pintores Chineses “Yu Un Su Wa Wui”, Consultor de desenvolvimento curricular do Departamento de Arte e Design da Universidade Politécnica de Macau, e Director da Associação de Arte a Tinta de Macau. Elogios de Ung Vai Meng Wilson Chi Ian Lam é um nome tão conhecido no panorama local das artes que Ung Vai Meng, ex-presidente do Instituto Cultural (IC) e também reputado artista de Macau, lhe dedica simpáticas palavras. Há muito que os dois trabalham juntos e, segundo Guilherme Ung Vai Meng, “temos o prazer [com a mostra ‘Willed’] de ver, mais uma vez, o encanto infinito da aguarela através do pincel de um filho de Macau”, que, por meio de aguçada observação, “capta as características, a estrutura e a atmosfera do objecto e contagia o espectador com uma ressonância emocional das ruas, edifícios, montanhas e imagens que deixam uma impressão profunda”. Ung Vai Meng, que é actualmente professor convidado de artes na Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau, descreve ainda “a luz interior” transmitida com os quadros de Wilson Chi Ian Lam, sendo esta “uma resposta directa da plena devoção e excitação emocional do pintor, ou seja, a luz da alma”. “Como resultado, as linhas horizontais e verticais e os traços coloridos de água nas pinturas ganham claramente uma tendência abstracta, e a névoa de tons húmidos e secos interage para produzir imagens poéticas inesquecíveis”, acrescentou Ung Vai Meng, que, citado pelo mesmo comunicado, diz conhecer Wilson Chi Ian Lam há mais de 40 anos. “As suas pinturas lembram-me muitas vezes as belas janelas de vidro de antigas igrejas góticas: sempre que o sol forte brilha, o vidro multicolorido reflecte imagens que parecem ganhar nova vida nas paredes. Da mesma forma, as pinturas de Chi Ian não reflectem apenas a realidade colorida do mundo e da paisagem, mas revelam também o entusiasmo e a vivacidade quase infantis que continuam presentes no seu coração de menino”, revela ainda o ex-presidente do IC.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCriminalidade | Abuso sexual de menores cresce em 2022 Dados divulgados ontem pela Polícia Judiciária revelam que, entre 2021 e 2022, registaram-se mais nove casos de abuso sexual de crianças e mais 33 casos de pornografia com menores. Destaque ainda para o aumento de quase 40 por cento dos casos de burla do tipo “nude chat” Os crimes do foro sexual, sobretudo os que vitimam os menores de idade, continuam a registar um aumento no território. Dados divulgados ontem pela Polícia Judiciária (PJ) relativos aos trabalhos realizados no ano passado, mostram que entre 2021 e 2022 houve mais nove casos de abuso sexual de crianças, tendo em conta os inquéritos e denúncias efectuados. Isto é, passou-se dos 12 casos em 2021 para 21 casos em 2022. Relativamente aos crimes de pornografia de menores, houve mais 33 casos, tendo a PJ registado 176 processos no ano passado face aos 143 em 2021. Também os crimes de importunação sexual aumentaram o dobro, de seis para 12, enquanto os crimes de coacção sexual passaram de apenas dois casos em 2021 para sete em 2022. Os casos de extorsão de dinheiro online ou via telefone, constituindo casos de burla, continuam a ser muito comuns. A título de exemplo, destaca-se os casos de burla no formato “nude chat”, que vítima sobretudo homens. Estes conhecem uma mulher online e, numa videochamada, tiram a roupa, acabando depois por usar as imagens numa tentativa de extorquir dinheiro às vítimas. Só no ano passado a PJ realizou 87 inquéritos, uma subida de 35,9 por cento por comparação aos 64 casos de 2021. A PJ descreve que a maior parte das vítimas deste tipo de extorsão são jovens, sendo que, no ano passado, as idades variaram entre os 15 e os 20 anos, com 80 por cento dos intervenientes a terem menos de 35 anos. Os prejuízos sofridos pelas vítimas foram de 1.975 milhões de patacas, o equivalente a 2,5 vezes o valor de 786 mil patacas registado em 2021. No total, a PJ instruiu, em 2022, um total de 8.612 processos criminais, uma descida de 10,13 por cento face aos 9.583 processos de 2021. Por sua vez, “em 2022 o número total de processos criminais concluídos na PJ foi de 8.508, em comparação com os 9.406 de 2021, com uma descida de 9,55 por cento”. Novas drogas Importa salientar os dados relativos à apreensão de estupefacientes e comprimidos por parte da PJ. Se o MDMA, vulgo Ecstasy, lidera a tabela, com 1,143 comprimidos apreendidos no ano passado face aos 80 de 2021, a lista divulgada pela PJ inclui ainda substâncias sem qualquer registo de apreensão em 2021. É o caso do Diazepam, um relaxante muscular e calmante, receitado para casos de depressão, que passou de zero apreensões em 2021 para 84 em 2022. Por sua vez, a PJ apreendeu 495 comprimidos, em 2022, da substância N,N-Dimethylpentylone, um estimulante, quando em 2021 não tinha feito nenhuma apreensão. Na lista das substâncias estimulantes contam-se a Fentermina, de zero apreensões para 1,194 em 2022, e a Catina, que também passou das zero apreensões para as 860 em 2022. Mazindol, com 1,516 comprimidos apreendidos em 2022, e Amfepramona, com 584 comprimidos, foram outras duas substâncias apreendidas, pela primeira vez, pela PJ.
Andreia Sofia Silva EventosCinema | Rollout Dance Film Festival arranca esta quinta-feira Começa esta quinta-feira mais uma edição de um festival de cinema inteiramente dedicado a filmes em competição onde a dança é o tema principal. O Rollout Dance Film Festival traz uma secção sobre filmes em português, exibidos no próximo dia 8, no Cinema Alegria, além de uma selecção de películas sobre Macau Criado em 2016, a nova edição do Rollout Dance Film Festival, com carácter bianual e inteiramente dedicado aos filmes sobre dança, começa esta quinta-feira apresentando dezenas de filmes de vários países, escolhidos a partir de uma competição de cariz internacional, com a inclusão de películas sobre Macau. Os 49 filmes que serão exibidos nesta quarta edição do festival foram seleccionados no ano passado, podendo o público contar com a exibição de 27 filmes finalistas a prémios e 22 filmes da selecção oficial. Depois de um evento inteiramente online que decorreu no passado dia 27, os amantes de cinema poderão agora desfrutar, até ao dia 12 de Fevereiro, da dança espelhada nas suas várias formas no grande ecrã. Destaque para a exibição de dois filmes portugueses no próximo dia 8, quarta-feira, no Cinema Alegria, a partir das 19h30. “Body-Buildings”, de Henrique Pina, de 2021, é um deles, onde se revela uma mistura de dança, arquitectura e cinema, com diferentes identidades e conceitos. “Body-Buildings”, mostra seis coreografias de seis artistas de renome em Portugal, como é o caso de Tânia Carvalho, Vera Mantero, Victor Hugo Pontes, Jonas & Lander, Olga Roriz e Paulo Ribeiro, filmadas em seis localizações diferentes, onde a arquitectura marca uma forte presença. A outra película lusa, “Isabella”, de Ricardo S. Mendes, de 2021, realizada entre Hong Kong e Taiwan e co-produzida por Tai Kwun e Hsingho Co., Ltd será apresentada mesma tarde. Este é um filme “sentimental” sobre dança com uma pitada de bom humor que revela pedaços do mundo do circo, contando com as participações dos artistas circenses Patrick Pun e Chien Hung Shu. No dia 5 de Fevereiro serão exibidas duas rondas de filmes ligados a Macau, incluídos nas secções “Macau Dance Film Pulse I e II”, e que incluem 11 trabalhos. Destaque para títulos como “Planet X”, de Iris CCI e Wil Z, “Shapes of Aether”, uma co-produção de Macau e Áustria com a assinatura de Elias Benedikt Choi-Buttinger, o mesmo autor que traz o filme “Beyond The Broken Hoop 2.0”. É um filme de dança experimental “criado no meio da natureza sagrada das montanhas austríacas”, lê-se no programa do Rollout. Desta forma, o filme convida “os espectadores a considerarem a relação entre os humanos e a natureza, explorando este tema através da linguagem física do movimento”. Em “Beyond The Broken Hoop 2.0”, os bailarinos movem-se em coreografias mescladas com o meio ambiente, “usando os corpos para comunicar e conectar-se com o ambiente à volta”. Na selecção dos filmes sobre, e de Macau, destaque também para “Pátio da Claridade”, de Keng U Lao, Chloe Lao e Karen Hoi, onde o tradicional e histórico pátio habitacional de matriz chinesa, situado na zona do Porto Interior, serve de cenário. O público poderá ainda ver “Beyond the Edge”, da autoria de António Sanmarful e Alice Leão. Documentários e afins No Rollout Dance Film Festival há também lugar para o género documentário. Serão exibidos, já esta quinta-feira, na Casa Garden, às 20h30, “Stillness in the Wave”, uma produção de Hong Kong da autoria de Cheuk Cheung, onde se faz o retrato de uma das mais antigas companhias de dança de Hong Kong, já com 40 anos de existência. Será também exibido nesse dia “Dear Dancer”, uma produção oriunda da Suécia da autoria de Marcus Lindeen. Esta é uma produção que remete para o período mais difícil da pandemia no país da Europa do Norte, quando teatros e companhias de dança tiveram de fechar portas. No entanto, a coreógrafa americana Deborah Hay decidiu que os seus bailarinos, ligados à companhia de dança Cullberg, iriam continuar o trabalho já feito num teatro vazio de Estocolmo. O documentário retrata esse processo de trabalho à distância, uma vez que Deborah Hay escreveu aos bailarinos, a partir da sua casa em Austin, Texas, uma proposta experimental para uma coreografia diferente. Na quinta-feira, mas às 19h30, será tempo para ver as películas da secção “Dance to Remember, Dance to Heal”. Na sexta-feira, às 19h30 e também na Casa Garden, serão exibidas seis películas da China em “China Dance Film Pulse”, com títulos como “Shattered Ripples”, de Siye Tao, ou “Feng.Liu”, de Krono Cao. Às 20h30 o cartaz prossegue com a secção “Ageless, Timeless, Boundless”. Sábado e domingo, ou seja, dias 4 e 5 de Fevereiro, poderão ser vistos os filmes finalistas da competição do Rollout. O Cinema Alegria recebe, dia 9 de Fevereiro, um filme em foco, “A Body In Fukushima”, exibido às 19h30. “The Ferryman”, outro filme em foco, será exibido no dia seguinte, no mesmo horário e local. O festival termina dia 12 de Fevereiro.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeSeguros | Prudential plc autorizada a abrir sucursal em Macau A multinacional britânica de seguros Prudential plc obteve autorização das autoridades locais para abrir uma sucursal no território. A ideia é que a presença em Macau, bem como em Hong Kong, possa constituir um forte elo de ligação ao mercado da Grande Baía As autoridades locais concederam autorização à multinacional britânica de seguros Prudential plc para abrir uma sucursal em Macau a partir da presença que a empresa já tem em Hong Kong. Segundo um comunicado, divulgado no passado dia 26, a Prudential plc passa, assim, a estar presente em 24 mercados na Ásia e África. A ideia é disponibilizar seguros de vida e de saúde com um foco no digital, com opções disponíveis em várias moedas, a fim de assegurar “as necessidades de poupança, cuidados de saúde e protecção” dos clientes. Lilian Ng, responsável pela área de Negócios Estratégicos do grupo, disse que a presença no território “completa os passos da empresa na área da Grande Baía”. “À medida que vemos um rápido desenvolvimento económico em Macau, a penetração do mercado das seguradoras permanece em baixa. Com o rápido envelhecimento populacional, existe uma grande procura, da parte dos residentes, por soluções que os possam ajudar na busca por cuidados de saúde privados em Macau e também na zona da Grande Baía”, adiantou a mesma responsável. Desta forma, a sucursal da Prudential plc em Macau “vai desempenhar um papel primordial na nossa estratégia para tornar mais acessíveis à população da Grande Baía a segurança nas áreas financeira e de cuidados de saúde, com base na nossa experiência em providenciar seguros aos clientes de Hong Kong, com uma idade média de 50 anos”, frisou Lilian Ng. Chris Ma no comando A sucursal da Prudential em Macau terá como director-geral Chris Ma, que será responsável por toda a operação estratégica da empresa e por dar a conhecer as propostas de seguros da empresa. Chris Ma tem “uma sólida experiência de 30 anos” neste mercado, tendo sido CEO da AIA Macau antes de se juntar à multinacional britânica. No mesmo comunicado, a seguradora fala de dados que revelam como os seguros são ainda uma opção para poucos. A penetração das seguradoras no mercado local foi de 6,4 por cento, menos de um terço dos 17,3 por cento de penetração do mercado detido pelas seguradoras de Hong Kong. “Em 2021, o valor dos prémios dos seguros no mercado de Macau cresceu 26 por cento, em termos anuais, tendo atingido os 33 mil milhões de patacas, aproximadamente quatro mil milhões de dólares americanos, tendo em conta a elevada procura por este tipo de produtos no território”, pode ler-se. Lawrence Lam, CEO da Prudential em Hong Kong, e que tem feito a gestão da abertura da sucursal em Macau, adiantou que a presença dos escritórios na RAEM “é um grande passo para a estratégia que o grupo tem para a Grande Baía”.
Andreia Sofia Silva PolíticaRon Lam U Tou quer divulgação do custo das casas económicas O deputado Ron Lam U Tou defende, numa interpelação escrita, que o Governo deve divulgar os valores das casas económicas aquando da realização de um novo concurso para a atribuição desse tipo de habitação. “A lista de candidatos à habitação económica de 2021 foi anunciada, tendo o Governo indicado que as habitações económicas na Zona A dos novos aterros estarão concluídas em 2024 e que já foram calculados os custos de construção e os valores da concessão dos terrenos para determinar os valores de venda das unidades de habitação. Assim, porque é que as autoridades não anunciaram ainda os valores das casas na Zona A dos novos aterros?”, questionou o deputado. Para Ron Lam U Tou, o Governo deve anunciar os preços “o mais rapidamente possível” para que os candidatos “se sintam à vontade e preparados” para a aquisição da casa. “Tendo em conta que a compra de habitação é uma decisão importante para os residentes, e considerando que o Executivo anunciou que vai lançar, este ano, um novo concurso para atribuir casas económicas, vão ser anunciados os preços de venda dos apartamentos?”, inquiriu ainda. Tabelas e critérios Ron Lam U Tou entende que é também fundamental que seja divulgado o despacho, assinado pelo Chefe do Executivo, com a tabela de preços, aquando da revisão da lei de habitação económica. “Será que as autoridades vão explicar à população, o mais rapidamente possível, os critérios para a definição dos preços das casas? Poderá o Governo reavaliar os preços da habitação pública em termos globais?”. O deputado lembrou, sobre este ponto, que o Governo não voltou a rever os valores por metro quadrado desde a revisão da lei de habitação económica, em 2019. Ron Lam U Tou diz temer que muitos residentes venham a desistir da compra de casas económicas caso o preço por metro quadrado aumente subitamente. “Alguns residentes dizem que a prática do Governo, ao não publicar os valores de venda dos imóveis, é menos transparente do que as informações das casas não regulamentadas no mercado privado”, acusou. A lista de candidatos relativa ao concurso de 2021 foi divulgada a 14 de Dezembro do ano passado e conta com 9.796 candidaturas aceites e 1.911 candidatos desclassificados. De frisar que este foi o primeiro concurso realizado pelo Governo desde a revisão da lei, que trouxe uma alteração do sistema de pontuação para a atribuição de casas aos residentes.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeAssinada parceria com Angola na área das startups A plataforma de empreendedorismo 928 Challenge, que todos os anos organiza uma competição entre startups e empresas da China, Macau e países lusófonos, co-gerida por Marco Duarte Rizzolio, acaba de assinar um acordo de cooperação com o Angola Innovation Summit, tido como o maior evento cem por cento digital sobre inovação e tecnologia no universo dos países de língua portuguesa. Citado por um comunicado, Marco Duarte Rizzolio disse que “é com grande satisfação” que assinou este acordo. “Uma das principais missões do ‘928 Challenge’ é incentivar o desenvolvimento de startups lusófonas não apenas com Portugal e o Brasil, mas também com países africanos de língua portuguesa. Não podemos esquecer que dois terços dos países lusófonos estão em África”, explicou. Com este acordo, Marco Duarte Rizzolio espera “trazer mais visibilidade para o mundo das startups lusófonas como um todo e fazer uma maior conexão com a China, que representa o segundo mercado de capital de risco do mundo, depois dos EUA”. Marco Duarte Rizzolio recorda que, na área empresarial, “enquanto o financiamento de capital de risco caiu 35 por cento globalmente em 2022, o financiamento para o sector africano cresceu oito por cento”. “Apesar do aumento no financiamento de capital de risco em África, os países africanos de língua portuguesa estão ainda muito atrás dos mercados anglófonos, como o Quénia, África do Sul e Nigéria. No entanto, isto não acontece por falta de qualidade, mas pelo facto de os investidores que promovem mais desenvolvimento serem principalmente falantes de inglês, baseados no Reino Unido ou EUA”, explicou. Objectivos comuns Dentro deste acordo com o Angola Innovation Summit, está ainda contemplado o “Innovation Awards” [Prémios de Inovação], lançado no ano passado e que visa “reconhecer e distinguir, em seis categorias, as mais brilhantes iniciativas promovidas com recurso à inovação e à tecnologia por organizações e startups que operam na região dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), e que contribuem para o desenvolvimento económico e social, bem como para a modernização do mercado” José Bucassa, dirigente da Angola Innovation Summit, disse que o acordo feito com a plataforma 928 Challenge “permite obter sinergias, pois ambas as iniciativas têm o mesmo objectivo, que é promover os ecossistemas de empreendedorismo e startups da lusofonia, particularmente a lusofonia africana”. Com esta parceria, as startups angolanas vencedoras dos Prémios de Inovação terão a oportunidade de uma entrada directa para o grupo de oito equipas do “928 Challenge”. Esta é, portanto, “uma oportunidade para que as startups angolanas estejam expostas e mais próximas dos outros mercados, nos quais podem identificar e estabelecer parcerias e, quiçá, captar investimentos”.
Andreia Sofia Silva EventosHold On to Hope | Fotografias de Gonçalo Lobo Pinheiro expostas de 5 a 26 de Fevereiro Mostrar a Macau antiga, mesclada com lugares do presente, é o mote da mostra de fotografia “O que foi não volta a ser”, do fotojornalista Gonçalo Lobo Pinheiro. Depois da exposição inaugural na Fundação Rui Cunha, as imagens regressam à galeria Hold On to Hope, na antiga leprosaria de Ka-Hó a convite da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau “O que foi não volta a ser…”, exposição de fotografia de Gonçalo Lobo Pinheiro, poderá ser vista novamente na galeria Hold On to Hope, nas casas amarelas da antiga leprosaria de Ka-Hó, a convite da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM), entre os dias 5 e 26 de Fevereiro. A inauguração acontece dia 5 de Fevereiro às 16h. De frisar que 50 por cento da venda das fotografias reverte para a ARTM. Esta exposição resulta de um trabalho desenvolvido pelo jornalista e fotojornalista durante mais de um ano, em que se estabelece um contraste entre o passado de várias zonas icónicas de Macau e o presente. Em cada imagem, surge uma fotografia antiga da mesma zona fotografada, podendo ver-se as alterações que o tempo e as transformações sócio-económicas ocorridas no território provocaram em cada local. Além da mostra, foi também editado um livro com o mesmo nome. O autor pretende, com este projecto mostrar as mudanças sofridas por Macau nos últimos 50 anos. Esta exposição, conforme disse Gonçalo Lobo Pinheiro, aquando da primeira inauguração na Fundação Rui Cunha, no final do ano passado, representa “um encontro entre o passado e o presente”. Sobre o regresso da mostra, Gonçalo Lobo Pinheiro disse ao HM que sempre teve o objectivo de tornar esta exposição itinerante, além de abraçar um projecto solidário. “Não vai ser possível colocar toda a exposição em Ka-Hó porque as molduras são muito grandes, mas uma grande parte estará exposta. É com muito orgulho que, uma vez mais, me junto à ARTM com um carácter solidário. O meu livro também estará à venda no local.” O fotojornalista adiantou ainda que está na fase de negociação para levar a mostra a Hong Kong e Portugal. Uma adaptação “A ideia, que não é pioneira no mundo, acaba por ser em Macau. E o entusiasmo começou por aí. Durante pouco mais de um ano fui recolhendo imagens antigas do território, captadas entre os anos de 1930 e 1990, a preto e branco, com diferentes formatos. Adquiri em leilões, na Internet, a particulares, em lojas e até em Portugal”, explicou. O fotojornalista diz ter sido “ambicioso nos primeiros meses de execução do projecto”. “Idealizei um trabalho final que contemplasse, pelo menos, 100 fotografias. Não consegui, assumo. Ou melhor. Consegui ter em minha posse cerca de 100 imagens, mas, dessas, apenas optei por editar e publicar 40, expondo 20”. E o autor explica que, se há cenários que ainda são reconhecíveis, outros simplesmente já não existem. “Tudo mudou. Por isso, na maioria dos casos, o que foi não volta a ser…”. Gonçalo Lobo Pinheiro é um fotojornalista português, nascido a 4 de Abril de 1979 e radicado em Macau há mais de 12 anos. Começou por estudar Engenharia Geológica, mas formou-se em Ciências da Comunicação, variante Jornalismo, na Universidade Autónoma de Lisboa. Passou por várias publicações portuguesas e estrangeiras como colaborador, incluindo A Bola, o I, o Público, Correio da Manhã, O Comércio do Porto, Expresso, Washington Post, BBC, The Guardian, entre outros. Em Macau ingressou no jornal Hoje Macau, onde trabalhou como redactor, fotojornalista e editor entre 2010 e 2014. Vencedor de vários prémios ao longo da sua carreira, publicou também diversos livros de fotografia. Actualmente faz parte da redacção do jornal Ponto Final e tem uma colaboração com a agência noticiosa portuguesa Lusa.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCPCP | Ausência de resposta do PS obriga a envio de carta Foi no ano passado que o Partido Socialista prometeu aos membros do Conselho Permanente das Comunidades Portuguesas avançar com uma proposta de revisão da lei que define as competências e funcionamento do Conselho das Comunidades Portuguesas. O silêncio do partido político português obrigou os conselheiros a enviar nova carta a Eurico Brilhante Dias, deputado e líder parlamentar Os membros do Conselho Permanente das Comunidades Portuguesas (CPCP) querem melhores condições de trabalho, mas, até à data, mantém-se o silêncio da parte do Partido Socialista (PS), actualmente com maioria absoluta no Parlamento português, sobre uma revisão da lei de 2007, que define as competências, o modo de organização e funcionamento do CPCP, e que ficou prometida para final do ano passado. Assim sendo, 14 conselheiros que representam as comunidades de emigrantes portugueses de todo o mundo, onde se inclui Rita Santos, em representação de Macau, China e Hong Kong, decidiram enviar uma nova carta a Eurico Brilhante Dias, deputado e líder do grupo parlamentar do PS a questionar por que razão o PS não apresentou a proposta de revisão do diploma até Dezembro conforme prometeu. “Não podemos deixar de registar o estranhamento a essa situação vinda do partido que tem a maioria absoluta no Parlamento e tem dado norte às políticas do Governo para as comunidades há mais de sete anos”, aponta a carta, a que o HM teve acesso. “Relembramos que há um consenso geral na Assembleia da República quanto à necessidade de se aprovar urgentemente alterações à regulamentação do CPCP, preferencialmente até final deste semestre, de modo que o secretariado do CPCP possa ter as condições ideais para avançar com a convocatória da eleição ao CPCP no segundo semestre deste ano. A palavra e a acção estão com esse grupo parlamentar”, apontam ainda os conselheiros. Apoios, precisam-se Rita Santos reitera ao HM as necessidades primordiais de uma entidade cujos membros são voluntários e não conseguem chegar a todos os emigrantes no apoio à resolução dos vários problemas sentidos pelas comunidades. Em Julho do ano passado, os conselheiros reuniram, em Lisboa, com deputados do PS, tendo sido feita a promessa de apresentação de uma proposta de revisão do diploma para Dezembro. Em Novembro, houve novas reuniões. “Pedimos aí uma alteração ao estatuto do CPCP, pois gostaríamos que pudéssemos ter um maior apoio logístico com pessoal para quando fizermos os nossos pareceres e documentos aquando das consultas. Precisamos de mais apoio, pois todos nós trabalhamos de forma voluntária.” Além disso, com o aumento do número de eleitores e recenseados, torna-se importante aumentar o número de conselheiros, disse Rita Santos. Havia também o desejo de implementar o voto electrónico, com um programa piloto, nas eleições para os conselheiros do CPCP, mas um técnico do Ministério da Administração Interna afastou essa possibilidade. “A marcação de uma data para a eleição dos conselheiros é um assunto precedente à alteração da lei, e até agora não foi marcada qualquer data. Decidimos então, por unanimidade, enviar esta carta a Brilhante Dias”, concluiu Rita Santos.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteMacaenses | Miguel de Senna Fernandes fala de “apelo” da comunidade face a Administração chinesa Foi no colóquio “Mobilidade em Macau: vertentes do fenómeno migratório”, que decorreu quarta-feira em Lisboa, que Miguel de Senna Fernandes defendeu que hoje, mais do que nunca, os macaenses têm de “fazer um apelo” e afirmarem-se como tal perante a Administração chinesa, uma vez que estão em minoria. O colóquio abordou o fenómeno migratório dos macaenses, tido como intrínseco à comunidade desde a fundação de Hong Kong Debater a comunidade macaense e as fases de emigração que ocorreram ao longo dos tempos foi o objectivo principal do colóquio “Mobilidade em Macau: vertentes do fenómeno migratório”, que teve lugar esta quarta-feira na Sociedade de Geografia de Lisboa. Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses (ADM), falou da “Mobilidade em Macau: vertentes do fenómeno migratório”, onde defendeu que a comunidade macaense tem hoje de se afirmar como tal num território sob Administração chinesa desde 1999. “Temos uma identidade e mais nada do que isso. Mesmo em Macau, e agora que a Administração é chinesa, temos de fazer um apelo e dizer que somos macaenses, porque esta terra não é nossa. Antes, na Administração portuguesa, não tínhamos de o fazer, mas hoje em dia sim. Temos de explicar.” Nesse contexto, o também advogado adiantou que, ao contrário dos cidadãos de outros países, o macaense não tem uma entidade oficial que o represente. “Não temos embaixadas, não há uma nacionalidade macaense, não há consulados. Invocamos sempre uma nacionalidade emprestada. Temos sempre de invocar algo que não é necessariamente nosso. Apenas temos as Casas de Macau, que são organizações culturais e sociais dos macaenses. Fora isso, não temos mais nada. Isso tem a ver com a emigração, porque é através dessas Casas de Macau que se devem reforçar esses dois pólos, sendo o chão comum dos macaenses, a cultura e a identidade”, adiantou. Ainda sobre o fenómeno da emigração, Miguel de Senna Fernandes deixou um alerta sobre o risco da perda progressiva de identidade. “A emigração pode ter um impacto na cultura dos emigrantes, e no caso específico da comunidade macaense. Mas é fundamental que tenhamos a consciência da nossa pertença, para que não haja o prejuízo da perda de identidade.” Miguel de Senna Fernandes denotou que “em todos os fenómenos migratórios as pessoas levam consigo as suas culturas”, mas que, no caso da emigração dos macaenses, “muitos tiveram de sacrificar as suas tradições para sobreviver socialmente”. Para trás ficaram a manutenção de alguns hábitos gastronómicos, familiares ou a própria aprendizagem do português. “Despiram-se de muitas das suas tradições. Muitos deles não falam português porque é complicado falar a língua nos países anglo-saxónicos, por exemplo. A maior parte da comunidade macaense da Diáspora, à excepção de Portugal e Brasil, não fala português. Vemos interferências das culturas de acolhimento à cultura do macaense. Aí encontramos o primeiro grande impacto na cultura [da emigração]”, frisou. O responsável e dirigente associativo diz mesmo que esse “abandono” das tradições macaenses se nota na realização dos encontros anuais da comunidade macaense, onde se “podem ver grandes diferenças de entendimento do que é ser macaense e da própria cultura”. “Temos várias comunidades macaenses”, acrescentou. Desde a origem Se Miguel de Senna Fernandes apontou Portugal como fazendo parte da Diáspora macaense, o antropólogo Carlos Piteira discordou. “O macaense deixou de estar só fechado em Macau, espalhou-se pelo mundo, tendo aqui uma forte componente migratória. Mas tenho a dizer que os macaenses em Portugal não pertencem à Diáspora, ao contrário dos restantes espalhados pelo mundo, sendo uma extensão dos macaenses de Macau, parte integrante da comunidade macaense na sua génese. Virem para Portugal era virem para a sua terra.” Carlos Piteira, que fez a apresentação “Macau, terra de migrações: Uma narrativa singular”, falou do território como sendo uma “terra de emigrações na sua origem”, por ser “um pedaço de terra com emigrações continentais, com os próprios chineses de Cantão que começaram a emigrar, os chamados agricultores do Sul”. “A origem da população de Macau é, logo à partida, baseada na emigração”, descreveu, falando da mestiçagem como uma característica muito própria do macaense e, portanto, aquela que lhe garante uma “característica de diferenciação”. “Logo no início de Macau os macaenses afirmam-se como os mestiços, intérpretes, tradutores, e designam-se como macaenses. Quanto à emigração, este ponto é fundamental, o surgimento de macaenses na Ásia que depois se situam em Macau, juntando-se à população chinesa que não era significativa na altura [século XVI]. Isso permitiu que os mestiços macaenses se consolidassem no território. A importância dos macaenses em Macau tem a ver com esse fenómeno migratório e a forma como ele se conflui e estabiliza, e só mais tarde é que começa a haver uma estratégia de ampliação”, acrescentou Carlos Piteira. Adaptação constante Ao longo dos séculos, e entre diversos fenómenos de emigração, os macaenses conseguiram sempre adaptar-se às diversas realidades. “Só quando os macaenses se vêem ameaçados pelos chineses e pela presença portuguesa, e sentem que vão estando, aos poucos, em minoria, adoptam uma estratégia de abertura a grupos de acolhimento. Começam a aceitar os oriundos das famílias tradicionais e ampliam esta configuração para aquilo que são casamentos mestiços com chineses, algo mais recente, pois haveria alguma inconveniência da parte das chinesas em casar com portugueses.” Na formação da sociedade de Macau existe, portanto, um triângulo composto por macaenses, chineses e portugueses. “Macau tem a génese populacional nos macaenses. Somos o início da população de Macau em termos da sua composição alargada além dos chineses e portugueses. Depois, os macaenses tiveram importância na governação do território através da representatividade no Leal Senado. Na Administração portuguesa, vemos a deambulação entre portugueses, chineses e macaenses. É esse triângulo que dá o aspecto de singularidade a Macau”, rematou. Desde a primeira Guerra do Ópio que o macaense emigra, tendo-se espalhado pelo mundo. No entanto, Miguel de Senna Fernandes denota que persiste sempre um sentimento de pertença à terra onde quer que o macaense esteja emigrado. “Não há macaense que não tenha um forte sentido de pertença à sua terra. Pode ter nascido em Macau ou ser descendente de alguém nascido em Macau. Existe uma ligação quase umbilical com a sua terra. Não interessa a língua que o macaense fala, existe entre nós algo que nos faz ligar a um espaço cultural mais amplo. Portugal tem um papel importantíssimo. Há um espaço cultural no qual Portugal tem um papel de referência”, rematou. O colóquio durou apenas um dia e teve ainda outras intervenções, nomeadamente da parte de Maria Antónia Espadinha, que falou da “Migração estudantil, outras percepções de quem aprende em outras geografias”, e da escritora Maria Helena do Carmo, que falou de “Odisseias: memórias de uma viajante no Oriente”. As duas últimas apresentações do colóquio foram dedicadas ao patuá, com as intervenções de Raul Leal Gaião, “Patuá: Códigos do falar” e Álvaro Augusto Rosa, “O linguajar do português de Macau”. A organização do evento esteve a cargo de Joaquim Ng Pereira, membro da Sociedade de Geografia de Lisboa e dirigente associativo, ligado à comunidade macaense em Lisboa.
Andreia Sofia Silva EventosBerlim | Antropólogo de Macau exibe filmes locais em nova exposição Cheong Kin Man, antropólogo natural de Macau e residente em Berlim há vários anos, promove amanhã a exposição intitulada “As Intervenções Utópicas nas Paisagens de Berlim”, que será acompanhada pela projecção de filmes de Macau, entre outros com origens diversas. Trabalhos de realizadores como Tracy Choi, Nancy Io ou Lei Cheok Mei serão dados a conhecer ao público berlinense Habituado a dar a conhecer lá fora o nome de Macau e algumas das coisas feitas na área das artes, Cheong Kin Man, antropólogo, residente de Macau, volta a fazê-lo num novo projecto na capital alemã. Amanhã será apresentada, no Fórum da Sociedade Cooperativa de Berlim, a exposição “As Intervenções Utópicas nas Paisagens de Berlim”, uma mostra que nasce de um colectivo de artistas onde se inclui o próprio Cheong Kin Man. A acompanhar esta iniciativa será feita uma projecção de filmes de Macau e também outros internacionais. Na lista de filmes inclui-se o documentário “Os Meus Dias num Apartamento”, de Lei Cheok Mei, que, para Cheong Kin Man, é de “excelente qualidade”. “Espero que o filme possa ser apresentado noutras exposições de artes na Alemanha e Polónia que vamos organizar”, adiantou o antropólogo. Destaque ainda para a exibição do filme “O Jogador que Perdeu o Sentido da Vida”, da aclamada realizadora Tracy Choi, que realizou este trabalho a convite do Centro de Aconselhamento sobre o Jogo e de Apoio à Família de Sheng Kung Hui. Este filme estreou em Macau em 2015 nos cinemas UA Galaxy. Será também exibida a curta-metragem “Ma Ma”, de Nancy Io. Este é o resultado de um projecto desenvolvido pela realizadora no âmbito do mestrado em cinema que concluiu na Universidade Nacional de Artes de Taiwan. O filme foi apresentado na edição de 2020 do Festival Internacional de Cinema de Macau, além de ter sido recentemente nomeado para um dos “Golden Harvest Awards”, em Taiwan. Serão ainda projectados dois filmes da autoria de Noah Ng, curador principal do Armazém do Boi, “Critical Moment and Participant” e “Ferriage”. O cartaz encerra com a exibição de “Uma Ficção Inútil”, a etnografia viusal experimental de Cheong Kin Man que já correu o mundo, bem como filmes e vídeos de Deborah Uhde (Alemanha), Hengame Hosseini (Irão), James Bascara (EUA), Low Pey Sien (Malásia) ou Rusnė Dragūnevičiūtė (Lituânia). Esta é a primeira vez que os trabalhos de Tracy Choi, Nancy Io, Noah Ng e Lei Cheok Mei são exibidos na Alemanha, sendo que todo o cartaz de exibições contará com comentários da cineasta alemã Deborah Uhde e da filósofa alemã Lisa Schmidt-Herzog. Vídeos e companhia Relativamente à mostra “As Intervenções Utópicas nas Paisagens de Berlim”, nasce de um colectivo de artistas berlinenses intitulado “Arbeitspause”, que em português significa “pausa no trabalho”, do qual faz parte Cheong Kin Man. Neste projecto, o antropólogo voltou a trabalhar com a artista polaca Marta Stanisława Sala, com quem já desenvolveu outras iniciativas artísticas, bem como com Johanna Reichhart, da Alemanha, e Marcos García Pérez, de Espanha. O evento exibe 30 trabalhos de autores internacionais como colagens, desenhos, fotografias, instalações, trajectórias e vídeos. Uma fotografia do fotógrafo português Jorge Veiga Alves estará em exibição em conjunto com outros trabalhos das fotógrafas japonesas e americanas, Hoshino Saki e Jennifer Liu. Inclui-se ainda, nesta mostra, uma colagem de Cheong Kin Man e Marta Sala, com o nome “Os Signos Utópicos”, que não é mais do que uma publicação com cerca de uma centena de ideogramas fictícios com uma linguagem “utópica”. Esta mostra, bem como a exibição dos filmes de Macau, contam com o apoio do Fórum da Sociedade Cooperativa de Berlim, criada entre 1993 e 1994 e que reúne 49 cooperativas de habitação de Berlim e de Brandemburgo.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeAngola | Contas em Macau associadas a esquema offshore Uma notícia do semanário Expresso dá conta que o angolano Orlando José Afonso, sócio do antigo vice-presidente de Angola e ex-dirigente da Sonangol, Manuel Vicente, escondeu vários milhões de euros em contas offshore numa rede criada a partir das Ilhas Caimão, onde se incluem duas contas bancárias em Macau, nos bancos Millenium BCP e ICBC Macau surge no rasto do dinheiro ligado à Sonangol, empresa petrolífera estatal angolana, quando esta era controlada por Manuel Vicente, antigo vice-presidente de Angola. Segundo uma notícia da última edição do semanário Expresso, Orlando José Afonso, sócio de Manuel Vicente, terá criado uma estrutura offshore a partir das Ilhas Caimão para esconder vários milhões de euros, onde se incluem duas contas bancárias em Macau, no Millenium BCP e no ICBC – Industrial and Commercial Bank of China. O semanário português teve acesso a documentos que mostram que o esquema para ocultar o dinheiro foi criado em 2018, depois de Manuel Domingos Vicente ter deixado a vice-presidência de Angola. Os documentos em causa surgem da Genesis Trust & Corporate Services, uma empresa que fornece serviços de incorporação e gestão de estruturas offshore nas ilhas Caimão. Na correspondência surge a referência a Orlando José Afonso “apenas pelas iniciais do seu nome, OJV, Orlando José Veloso, identificado como um cliente PEP, isto é, uma pessoa politicamente exposta”, lê-se na notícia. A encomenda para criar este esquema surgiu de um escritório de advogados sediado no Dubai. A referida empresa criou um trust nas Ilhas Caimão com o nome Purple Rose Star Trust, que ficou responsável pelo controlo de sete empresas offshore sediadas em diversas jurisdições, que detinham várias contas bancárias e investimentos imobiliários em vários países, onde se incluem as contas de Macau e ainda uma conta no Deutsche Bank em Portugal. Há também registo de contas no Banco da China. Muitos milhões Corria o ano de 2016 quando Orlando José Afonso deixou de ser presidente da empresa responsável pelos investimentos imobiliários feitos em nome da Sonangol, de nome SONIP. Foi nesse ano que Isabel dos Santos, filha do já falecido ex-presidente José Eduardo dos Santos, passou a ser CEO da Sonangol. Orlando José Afonso estava, à data, na Sonangol desde 1994 e era tido como alguém muito próximo de Manuel Vicente, antigo CEO e vice-presidente a partir de 2012. Há muito que a Sonangol está associada a esquemas de desvio de dinheiros públicos. Rafael Marques, jornalista de investigação angolano que mais tem denunciado esquemas de corrupção, escreveu vários artigos de investigação sobre a cedência de dezenas de milhões de euros directamente da Sonangol, em forma de contratos, a empresas de Manuel Vicente e Orlando José Veloso.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeProjectos arquitectónicos de Rui Leão e Carlotta Bruni distinguidos Dois projectos arquitectónicos desenvolvidos pelo atelier LBA – Arquitectura e Planeamento, de Rui Leão e Carlotta Bruni, ganharam os prémios de Ouro e Prata dos Prémios ADC [Architecture and Design Community] de 2022. O projecto do Centro Modal de Transportes da Barra ganhou a distinção Ouro, tal como o projecto do complexo habitacional do Fai Chi Kei, enquanto a renovação de um edifício de serviços no centro histórico de Macau obteve a distinção Prata. De frisar que este projecto foi recentemente distinguido pela UNESCO. Sobre os Prémios ADC, Rui Leão disse ao HM que “representam o trabalho feito pelo atelier nos últimos anos e é um reconhecimento internacional muito importante”, além de serem uma verificação “da arquitectura que produzimos, que mostra que aquilo que fazemos tem qualidade”. O arquitecto não está surpreendido por ter obtido a distinção Ouro com o Centro Modal de Transportes da Barra, pois trata-se de “um projecto muito bom enquanto desenho de arquitectura”. Rui Leão recorda “um projecto difícil, pois a execução da obra foi difícil e demorada. Custou-nos um pouco isso porque houve um grande investimento do projecto”, com a coordenação de diversas entidades públicas. “Se demorou muito tempo foi porque houve muitos problemas na construção. Mas é importante que o projecto seja reconhecido e, para nós, é uma forma de reconciliação com tudo isto.” “Agarrar” a cidade Em relação ao complexo habitacional do Fai Chi Kei, já distinguido anteriormente, Rui Leão destaca sobretudo a ligação com a cidade. “Apesar de ter sido concluído em 2014 é um projecto que se mantém muito actual, porque tem uma exploração a nível do espaço comum e do público, pela maneira como agarra a cidade. A importância que atribuo ao projecto do Fai Chi Kei é o facto de fazer isso mesmo, desenhar a cidade e ter preocupações de integração social. O arquitecto aponta que, nos últimos 10 a 15 anos, a forma de construir foi mudando. “Macau evoluiu muito nestes últimos anos e a maneira como se trabalha, em termos de exigência técnica para a área de projecto, aumentou muito nos últimos 10 a 15 anos, e isso está associado à construção dos grandes casinos, que têm uma escala muito diferente e maiores controlos de qualidade. Toda a indústria teve de acompanhar esse ritmo e o próprio Governo foi atrás dessa prática internacional associada aos casinos”, concluiu.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeAno Novo Lunar | Hotéis cheios, mas Governo deixa alertas Helena de Senna Fernandes, directora da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), adiantou ontem, à margem de um evento público, que grande parte dos quartos de hotel já estão reservados para os dias de Ano Novo Chinês. No entanto, segundo a TDM Rádio Macau, a governante deixou o alerta para que os hotéis não trabalhem com plataformas digitais de marcação de quartos de hotel que estão a cobrar cerca de 70 mil dólares de Hong Kong por quarto em algumas reservas. “Vemos que há plataformas online que vendem quartos de hotel por 70 mil dólares de Hong Kong por quarto, que não se situam no Cotai. Alertamos para que os hotéis discutam com essas plataformas, porque achamos que os valores não estão dentro do normal. Sei que há muito hotéis que estão atentos a isso e, de facto, algumas plataformas corrigiram essa situação. Alertamos para que os hotéis não trabalhem com as plataformas que não querem colaborar.” Helena de Senna Fernandes disse ainda esperar cerca de 80 mil pessoas durante as tradicionais paradas do Ano Novo Chinês. “Mesmo no ano passado vi as ruas cheias de pessoas e penso que não há possibilidade de aumentar muito mais o número de pessoas. Queremos que as pessoas da Grande Baía assistam às paradas, embora seja sempre difícil aumentar o espaço.”
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteJoaquim Ng Pereira, académico e divulgador da cultura macaense: “Comunidade não se vai afastar de Macau” Declama patuá e dá aulas no dialecto no Centro Científico e Cultural de Macau, mas Joaquim Ng Pereira é, acima de tudo, um divulgador da sua cultura. Na próxima quarta-feira apresenta, na Sociedade de Geografia de Lisboa, o colóquio “Mobilidade em Macau: vertentes do fenómeno migratório”. O académico lamenta que Portugal não preste atenção a Macau e teme a diluição da cultura macaense na chinesa Decidiu organizar um colóquio sobre mobilidade em Macau. A comunidade macaense tem sido, ao longo da história, uma comunidade de emigrantes, com especificidades. Essa tendência migratória irá manter-se? Antes da chegada do navegador Jorge Álvares à China, Macau praticamente não existia. Era uma zona meio árida que tinha lá alguns pescadores que vinham do Rio das Pérolas. O grande desenvolvimento que se dá em Macau é, precisamente, com a chegada dos portugueses e graças ao comércio que faziam. Os macaenses foram criando uma cultura muito própria, com o patuá e a gastronomia, mas o meu receio é que esta cultura se perca. Enquanto houve a Administração portuguesa, a cultura macaense foi sobrevivendo. Mas existe uma nova ameaça, que daqui a umas décadas a cultura macaense se perca e o desinteresse de Portugal em relação a Macau, que poderia ter feito mais nessa preservação. Macau é uma porta para a China e os portugueses tinham imenso a ganhar com isso. Mas ainda relativamente à emigração. Macau está numa nova fase devido à pandemia, isso veio alterar a relação da comunidade macaense com o território, a sua própria terra? Os macaenses também podem sair, por exemplo? Esse é um grande ponto de interrogação. Até agora, os macaenses têm sempre conseguido dar a volta e afirmar-se como macaenses pela sua própria cultura e história. Os portugueses que lá estão também. Os portugueses que gostam de Macau ficaram. Com a pandemia há uma nova ordem social, mas isso quer dizer que temos de nos habituar a viver com isso, com esta doença. Mas acha que a comunidade macaense se vai afastar de Macau? Depende. Mas penso que não. Macau sempre teve uma grande ligação ao jogo e na Ásia isso sempre foi muito importante. Macau continua a ser uma porta de entrada para o Oriente e as pessoas sentem-se seguras no território porque existe ali uma parte ocidental no Oriente. Esta conjunção de culturas é o que dá segurança a quem vai para lá. Ganha-se uma ligação afectiva porque existem as raízes ocidentais e orientais. A China mantém no seu discurso a importância da preservação da cultura macaense. Apesar dos sinais desta presença do macaense na agenda política, sente que não se vai muito além disso? O grande perigo é o de diluição da cultura macaense na comunidade chinesa. Portugal deveria ter aí um papel mais activo. Temos de respeitar a China, pois tem a soberania sobre Macau e isso estava acordado há muitos anos. Reconheço, como macaense, que as ligações entre Portugal e Macau não podem ser esquecidas e têm de durar, e tenho feito projectos para contribuir para isso. Em termos concretos, o que as autoridades portuguesas deveriam fazer? Não podemos contar muito com o apoio financeiro, mas alguma coisa poderá ser feita na divulgação da cultura macaense. Quem se interessa faz actividades e projectos mas não há um apoio do Estado. Muitas vezes nem é preciso muito dinheiro, basta haver mais encontros e maior divulgação. Talvez a China pudesse dar financiamento ou fazer parcerias com Portugal para que mais macaenses pudessem vir a Portugal e vice-versa. Temos, em Macau, eventos como o Festival das Artes ou o Festival da Lusofonia, e o que se conhece cá sobre isso? Muito pouco. Muitas vezes a divulgação não custa muito dinheiro. É necessária mais ligação entre as associações de matriz macaense, em Macau, com a diáspora, no sentido de fortalecer a rede já existente? Acho isso importantíssimo. Nós, na Fundação Casa de Macau [Joaquim Ng Pereira faz parte dos órgãos de gestão], atravessamos dificuldades com a crise económica que existe actualmente. Mas, dentro do possível, tentamos criar ligações com a diáspora. São essas ligações, e a rede no seu conjunto, que existe na diáspora, nas associações macaenses, que são fundamentais. Se todas as vozes se juntarem com a diáspora tornamo-nos numa voz activa perante os governos e aí conseguiremos fazer algo para que sejamos ouvidos enquanto macaenses. Em Macau há falta de uma voz cívica da parte da comunidade macaense? Fazem falta mais vozes da nova geração, isso é muito importante. O Miguel [Senna Fernandes] tem feito um trabalho espantoso com o patuá, por exemplo. Da minha parte, eu tento preservar as minhas próprias raízes, mas não só, as outras também. Existe uma outra vertente, para mim muito importante, que é a ligação de Portugal com Macau. Tenho estado a fazer, com o Miguel de Senna Fernandes, vários projectos, incluindo um de rádio na Junta de Freguesia de Belém [Lisboa], uma rádio online, para o desenvolvimento, conhecimento e divulgação de Macau. Ainda estou a fazer o genérico. Vai-se chamar “Vós está bom”. Ensina patuá em Portugal e o dialecto também se ensina em Macau, e há outras formas de divulgação, como o teatro dos “Doci Papiaçam di Macau”. Considera que são necessárias novas fórmulas para que o patuá se mantenha vivo? Sim. Esta parceria que tenho estado a fazer com o Miguel é muito importante. Estou a pensar fazer alguns videoclipes em que mostro a cidade de Lisboa em patuá. Já temos um vídeo sobre a Torre de Belém, em parceria com a escritora Maria Helena do Carmo e Raúl Gaião. Falamos sobre a Torre de Belém e as partidas para Macau tudo em patuá. Estou a pensar lançar este projecto no segundo semestre deste ano, e será lançado na plataforma YouTube, criando assim uma ponte cultural entre Macau e Lisboa. Falar de Macau São muitos os oradores presentes no colóquio promovido pela Comissão Asiática da Sociedade de Geografia de Lisboa, da qual faz parte Joaquim Ng Pereira. “Mobilidade em Macau: vertentes do fenómeno migratório”, agendado para o próximo dia 25 de Janeiro, conta com nomes que habitualmente falam, escrevem ou estudam Macau nas suas várias vertentes, como a escritora Maria Helena do Carmo, o antropólogo Carlos Piteira ou Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses. Este último irá abordar o tema “Imigração e Cultura – Uma Perspectiva da Comunidade Macaense”. Maria Antónia Espadinha, ex-residente de Macau e ex-directora dos departamentos de português da Universidade de Macau e da Universidade de São José, também irá intervir na discussão com a apresentação do tema “Migração estudantil, outras percepções de quem aprende em outras geografias”. Destaque ainda para a presença do debate em torno do patuá neste colóquio graças à participação de Raul Leal Gaião, investigador, que vai falar da “Formação do crioulo de Macau e mobilidade social”. Álvaro Augusto da Rosa, académico e dirigente associativo a residir em Lisboa, fala do “linguajar do português de Macau”.
Andreia Sofia Silva EventosMúsica | “Thursday Samba”, de Hon Chong Chan, remixada por DJ Burnie DJ Burnie, natural de Macau, pegou numa das músicas do álbum de estreia do músico de jazz Hon Chong Chan e deu-lhe uma nova roupagem electrónica. O remix de “Thursday Samba”, composição saída do disco “Traveling Coffee”, pode ser ouvido nas plataformas digitais O ano de 2023 começou com novidades na carreira de DJ Burnie. Natural de Macau e com uma carreira de mais de dez anos, Burnie decidiu pegar numa das composições do músico de jazz Hon Chong Chan e fazer um novo remix, emprestando ritmos adicionais ao tema. “Thursday Samba”, do álbum de estreia do guitarrista local de jazz, lançado em 2020, foi a música escolhida. A nova versão pode agora ser ouvida nas plataformas digitais. “Gosto mesmo muito do álbum de estreia [de Hon Chong Chan]. Uma das razões é o facto de não existirem em Macau muitos músicos a produzir e a lançar álbuns originais de Jazz, então fiquei muito surpreendido com isso”, começou por dizer ao HM DJ Burnie. O facto de “Traveling Coffee” ter sido totalmente gravado e produzido em Nova Iorque, com músicos americanos, chamou também a atenção de Burnie. “A qualidade de gravação deste álbum é mesmo profissional, e de cada vez que o oiço passo um bom bocado. Este meu remix é como uma mistura de três elementos: Electrónica, Jazz e Samba. Transmite um sentimento de alegria, com um som de guitarra misturado à volta dos nossos ouvidos, tendo como base uma batida festiva que nos faz mexer o corpo.” A escolha de “Thursday Samba” explica-se pelo facto de Burnie gostar muito do estilo de música brasileiro. “É a pura e verdadeira ‘música de dança'”, contou. “Apesar de ser produtor e DJ de música electrónica, adoro descobrir novos estilos de música de todo o mundo, sejam da América do Sul, África ou de qualquer outro lugar, que possam fazer as pessoas dançar e sentir-se bem. A primeira vez que ouvi ‘Thursday Samba’, logo nos primeiros 20 segundos da música, tive a certeza de que iria ouvi-la repetidamente. Tem as batidas do samba gentilmente remisturadas com jazz, é refrescante para mim. Depressa fiquei com a ideia de que poderia misturar esta música com batidas electrónicas, algo que faria as pessoas começarem facilmente a dançar.” O contacto com o músico Hon Chong Chan fez-se através das redes sociais e a conexão para este trabalho foi imediata. “Ele achou a minha ideia muito interessante”, adiantou Burnie. Dança pós-covid-19 DJ Burnie não tem dúvidas de que Macau está pronta para dançar depois da pandemia e de tantas restrições, defendendo que há cada vez mais espaço de crescimento na “cena” electrónica local. “A situação está a melhorar. No início, quando passava música, há cerca de 12 anos, poucas pessoas apostavam na música electrónica. Mas é bom ver tantos DJs a passar som hoje em dia, há mais estúdios de gravação e espaços para passar música. É algo que está a ficar mais forte e, para mim, era difícil imaginar, há 12 anos, que a ‘cena’ da música iria ficar assim. Então sinto-me muito entusiasmado com isso e consigo olhar para um desenvolvimento no futuro”, rematou. DJ Burnie estudou na Universidade de Macau e acabou por apostar na música em bares e discotecas. Em 2013, lançou o seu primeiro EP, “Atlantic EP”, pela britânica Slime Recordings.
Andreia Sofia Silva SociedadeDSAT | Trânsito reorganizado nos dias de Ano Novo Chinês O trânsito em alguns locais do território será reorganizado devido às celebrações do Ano Novo Chinês. O serviço de autocarros será ajustado, entre sábado e o dia 27, no lado oriental da Praça das Portas do Cerco e da zona de Nam Van, sendo vedado todo o trânsito na intersecção da Rua do Dr. Pedro José Lobo e da Avenida do Infante D. Henrique, para aí serem disponibilizadas instalações para os passageiros aguardarem os autocarros. Segundo uma nota de imprensa da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), foram dadas orientações às operadoras de autocarros para gerirem melhor o escoamento de passageiros, a fim de evitar grandes aglomerações de pessoas. Foi também promovida coordenação com as operadoras de jogo quanto ao serviço de shuttle bus, a fim de aumentar a frequência destes autocarros e a divulgação dos seus horários de funcionamento. Desta forma, foram reservados espaços nos postos fronteiriços para o estacionamento dos shuttle bus. Além disso, a DSAT coordenou com a companhia de autocarros de ligação do Posto Fronteiriço da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau a fim de aumentar o número de veículos em operação e as respectivas frequências de acordo com o afluxo de passageiros, bem como para melhorar o ambiente de espera de autocarros.
Andreia Sofia Silva SociedadeBombeiros | Metade das chamadas em 2022 foram desnecessárias Dados divulgados ontem pelo Corpo de Bombeiros (CB) relativos aos trabalhos desenvolvidos no ano passado mostram que metade das chamadas realizadas pela população com queixas relativas à covid-19 no último mês revelaram-se desnecessárias. Segundo o portal Macau News Agency, o número de chamadas feitas para os bombeiros aumentou significativamente, com chamadas de ambulâncias a aumentar 24,72 por cento e pedidos especiais a subirem 46,21 por cento. A larga maioria das chamadas de ambulância, de um universo de 39.113 pedidos, ocorreu nos meses de Junho e Dezembro, precisamente quando houve dois surtos de covid-19 no território. O CB aponta que cerca de metade dessas chamadas foram desnecessárias. Leong Iok Sam, dirigente do CB, disse que, no pico de casos covid, foram realizados 400 percursos de ambulância diários. “A situação voltou ao normal nos últimos dias, quando passámos a ter apenas 100 percursos por dia”, adiantou. Foi ainda revelado que cerca de 70 a 80 por cento dos bombeiros e restantes funcionários estiveram doentes com covid-19.
Andreia Sofia Silva SociedadeGIF | Transacções suspeitas do jogo caem 11,5% O número de transacções suspeitas reportadas pelo sector do jogo ao Gabinete de Informação Financeira (GIF) registou uma quebra de 11,5 por cento entre 2021 e 2022. Segundo dados divulgados ontem, os casinos reportaram no ano passado um total de 1,177 transacções, que representaram 53.5 por cento do total, enquanto em 2021 foram reportadas 1,330, que representaram 54.6 por cento do total. Por sua vez, as companhias de seguro e demais instituições financeiras reportaram no ano passado 765 transacções suspeitas face às 793 de 2021. As demais instituições a operar no território reportaram, em 2022, 257, número inferior às 312 transacções reportadas ao GIF em 2021. Em termos gerais, o GIF aponta que recebeu um total de 2,199 transacções tidas como suspeitas, “o que significa uma diminuição de 9.7 por cento em relação a 2021”, sendo que a mudança “se deveu principalmente à diminuição do número de STR [transacções suspeitas] reportadas pelo sector do jogo a outras instituições”. Por sua vez, o GIF remeteu 162 casos para o Ministério Público no ano passado para posterior investigação.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaUrbanismo | Ella Lei pede renovação de zonas tradicionais de Macau Edifícios muito antigos, falta de espaços públicos e de zonas de estacionamento que não fomentam a vida comunitária. A deputada Ella Lei exige renovação urbanística de zonas antigas e tradicionais da península como é o caso da Avenida Horta e Costa e de alguns locais perto do Porto Interior, com o objectivo de melhorar a economia local e a indústria do turismo A deputada Ella Lei exige do Governo uma maior intervenção em bairros antigos e tradicionais da península de Macau com potencialidade em matéria de economia comunitária e turismo. Numa interpelação escrita, a deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) pede que sejam requalificadas zonas como o bairro de San Kiu, junto à Praia do Manduco, Avenida de Horta e Costa, Rua Ouvidor Arriaga, Rua da Barca, zona da Guia ou Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida. Os grandes problemas apontados prendem-se com a falta de renovação dos prédios, o estacionamento e mau saneamento básico. “Embora a zona do Porto Interior tenha um longo período de desenvolvimento e tenha testemunhado a história e economia de Macau, existem vários problemas a nível comunitário, mas os planos de renovação urbana e embelezamento dos bairros nesta zona não foram clarificados [no Plano Director da RAEM]”, apontou. Ella Lei fala “dos edifícios muito antigos”, bem como da “falta de espaços públicos amplos e instalações públicas”, além de muitas das ruas terem lacunas ao nível da prevenção de incêndios e de saneamento básico, o que “afecta a vida dos moradores e limita o desenvolvimento económico destas áreas”. Estudos e mais estudos Na mesma interpelação, a deputada recorda os inúmeros estudos e inquéritos promovidos pelo Executivo para ouvir a opinião dos residentes sobre a requalificação das zonas onde moram. “Muitos deles manifestaram a esperança de, além de se manterem as características históricas das zonas e dos edifícios, fosse feito um embelezamento das ruas e uma melhoria das instalações públicas, com mais espaços verdes e infra-estruturas recreativas. Mas, ao longo dos anos, não foi cumprido um objectivo global a longo prazo, nem houve implementação ou planeamento”, acusou a Ella Lei. Neste sentido, a deputada ligada à FAOM pergunta se as autoridades “dispõem de planos e disposições específicas para optimizar os espaços e ambiente comunitário da zona do Porto Interior” e como “vai ser melhorada a qualidade de vida dos residentes no futuro”. A legisladora destacou ainda o facto de a história do comércio marítimo que passou por Macau estar presente em elementos arquitectónicos e de património em muitos dos bairros e ruas do Porto Interior, e a necessidade de desenvolver planos de revitalização urbana que possam fomentar o turismo marítimo. Nesta interpelação, coloca-se também o problema das inundações na zona do Porto Interior, que afectam o comércio e a restauração. Mesmo com a realização de obras para a resolução deste problema de longa data, Ella Lei questiona se serão feitos trabalhos de renovação das zonas comerciais costeiras e dos restantes espaços junto ao Delta do Rio das Pérolas.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteJorge Arrimar, autor de “Cuéle – O Pássaro Troçador”: “Fiz-me escritor de Macau” Lançado no fim do ano passado, “Cuéle – O Pássaro Troçador” conta a história, com elementos ficcionados, de António José de Almeida, figura importante das zonas de Humbe e Chibia, no sul de Angola, entre meados do século XIX e finais do século XX. Autor de Macau e antigo director da Biblioteca Central de Macau, Jorge Arrimar sente-se cansado do formato do romance e com vontade de regressar à poesia Quando conversámos, em 2020, disse-me que estava a trabalhar num romance histórico sobre Angola. Porquê um romance histórico? O romance histórico, desta vez, não foi um começo. Antes já havia escrito e publicado três livros que fazem uma trilogia, “A Trilogia dos Planaltos”, de romance histórico que têm como matriz Angola, mais precisamente a minha zona de origem, que é no sul do país. Fazia sentido contar a história de António José de Almeida, que é a personagem central do livro? O que lhe despertou interesse nesta personalidade, ao ponto de escrever um livro? António José de Almeida é uma figura que aparece nessa trilogia. Mesmo antes já fazia referência aos pais dele e depois ao seu desaparecimento, pois António José de Almeida e o seu irmão ficaram órfãos muito cedo. Porém, ficaram com algo do pai, como a ideia de que Huíla seria uma terra promissora para a sua actividade. Eles então vão descendo e ficam no Sul, primeiro numa região chamada Humbe e depois Chibia. Esta família fez de Chibia a sua terra principal. Esta é uma figura muito importante porque marcou profundamente aquele tempo em que viveu, finais do século XIX e princípios do século XX. Morreu em 1924. Apenas conheci amigos e descendentes de António José de Almeida, mas ficou-me sempre na memória as histórias que o meu avô contava sobre ele. Dizia-me sempre que tinha sido um homem extraordinário, porque não era só poderoso em termos económicos como se tinha revelado um homem de grande magnanimidade, de uma ligação aos outros que não era vulgar. Marcou profundamente em termos económicos, sociais e familiares a terra onde viveu, e, apesar de toda a importância que teve na época, era pouco conhecido. E hoje também o é, pelo que este livro é como um resgate ao desconhecimento de António José de Almeida e de outras figuras que também aparecem no romance. Tinha a ideia da existência de figuras importantes do sul de Angola que estavam esquecidas e perdidas no tempo. Não estão feitas as pazes com o passado colonial português. Permanecem muitas histórias desse tipo que não são contadas por causa do esquecimento que foi sucedendo após o 25 de Abril de 1974, como se estas histórias do quotidiano tivessem ficado no período colonial? Com este romance, pretende resgatar algumas delas? De facto, é assim, porque Angola, com o 25 de Abril e a independência, envolveu-se numa terrível guerra civil e isso fez com que a sobrevivência estivesse em primeiro lugar. As histórias passaram a ser outras, de exílio, morte, fuga. É uma guerra que só termina em 2002 e que rompeu com o tecido social. Houve pessoas que passaram a viver noutras terras e houve um corte com as histórias contadas em contexto tradicional. Hoje, mais do que nunca, o português é falado porque representava sobrevivência na guerra civil. A guerra civil fez com que o português fosse mais falado em Angola do que no próprio período colonial. “Cuéle – Pássaro Troçador”. De onde vem o termo “Cuéle”? É uma palavra onomatopeica, porque o próprio pássaro canta assim, “cué…”. O “cué…” é “cuéle” na língua da zona, do Planalto de Huíla. Depois inscreve-se no português com uma ligeira adaptação e passa a ser “cuéle”. O pássaro aparece no título porque é um elemento que acompanha toda a trama romanesca. Ao longo do livro, de quando em quando, o Cuéle aparece no cimo de uma árvore a cantar. É um pássaro troçador, ele troça das nossas indecisões, dos nossos orgulhos, perdas e falhanços. É um bocado como o grilo falante, como um elemento da nossa consciência. Portanto, o Cuéle era muito conhecido entre os caçadores, porque quando um deles falhava o tiro aparecia logo o pássaro a cantar de forma trocista. Tem formação em História. De certa maneira, com a edição deste livro, regressa à sua formação de origem. Enquanto estudioso e homem da História, ela às vezes revela-se árida. Às vezes cansamo-nos porque tem de ser lida aos poucos, porque se pretende científica, e prendemo-nos a aspectos que não aligeiram a narrativa. Na História encontramos muito vazios porque temos de ter sempre certeza das fontes, porque elas têm de suportar a nossa tese. No género literário em que comecei, a poesia, sempre escrevi e sempre senti necessidade de ir mais além e só conseguia isso com a literatura. Todos os que escrevem romance histórico sentem que só com a literatura podem encontrar respostas. Também tenho escrito coisas que não têm a ver com o romance histórico, pois publiquei, não há muito tempo, um conto chamado “Catarina”, passado nos Açores. Os livros mais “pesados” foram entre a História e o romance histórico. Que respostas lhe são dadas pela poesia? A poesia dá respostas do sensível. Vivemos sempre tocados por coisas às quais só a poesia responde. Nunca parei de escrever poesia. O facto de estar a escrever prosa ou ficção não quer dizer que não escreva poesia, porque exige menos trabalho oficinal, pois os textos são mais curtos. Não quer dizer que sejam mais fáceis. Se calhar exigem menos tempo, posso escrever um poema num dia, mas não posso escrever um romance num dia, puxam-se a sentimentos diferentes e a poesia pode aparecer ao mesmo tempo que um romance. Eugénio de Andrade gostava muito de mostrar esse lado oficinal do poema, mais trabalhoso, para que as pessoas não pensassem que bastava que escrever poesia era assim fácil, só com inspiração. Eu, por exemplo, trabalho muito os poemas. Conheceu pessoalmente Eugénio de Andrade. É uma das suas grandes referências? Aí está Macau. Foi lá que o conheci. Eugénio de Andrade foi convidado pelo Instituto Cultural e foi visitar a Biblioteca [Jorge Arrimar foi director da Biblioteca Central de Macau], sendo um homem de livros. Aí preparei uma exposição com o que tínhamos sobre ele e editámos um catálogo sobre a sua obra. Falamos um pouco nessa ocasião. Mais tarde, passando pela foz do Douro, fui visitá-lo onde vivia e onde se criou depois a Fundação Eugénio de Andrade. Mas não privei muito mais com ele. É um poeta de que gosto muito e que me marcou bastante. Como está a relação da sua escrita com Macau? Estive em Macau pouco tempo antes da pandemia. Fui convidado pela Universidade de Macau e participei num encontro sobre a literatura de Macau. Da minha parte, emocionalmente, estou muito ligado a Macau e devo-lhe muita coisa, foram tempos muito importantes na minha vida. Fiz-me escritor de Macau por aquilo que fui escrevendo, mesmo não sendo macaense. Sou de Macau pelos anos que lá vivi e pelo que fiz. Penso que me consideram um escritor de Macau. Costumo dizer que a geografia da minha escrita tem três pontos essenciais, Macau, Angola e Açores. A literatura que se faz de Macau é, acima de tudo, saudosista, emotiva? É uma literatura que remete para algo que já não existe? Haverá quem o faça, pois quem sai de Macau leva Macau consigo e há essa tendência de escrever sobre o que se passou lá. Aí, é natural que o saudosismo apareça. Mas há escritores que permanecem em Macau e que falam do presente. Há uma grande mudança em Macau e nas comunidades portuguesas e macaense. Acha que isso levará a alterações na literatura de Macau? Quando há mudanças sociais muito grandes isso reflecte-se a todos os níveis e a todo o tipo de arte. Afinal, vivemos em sociedade e prendemo-nos a muitos fios invisíveis que essa mesma sociedade cria e quando são cortados isso reflecte-se no nosso pensamento. No caso de Macau, todos sabem que a pandemia levou à saída de pessoas de origem não chinesa. São pessoas que marcavam a sociedade e a literatura, e aí é natural que a escrita e a literatura reflitam essa situação. Mesmo que a minha escrita tenha algo de oriental, eu não deixo de ser um escritor que vem de fora e que se tentou inscrever naquela sociedade, com os seus limites, e naquela cultura e forma de escrever. Claro que sou pessimista, porque se as pessoas saem, que lugar têm pessoas parecidas comigo em termos do que escrevem, do que falam e viveram? Se foi quase reduzido ao zero e se deixa de ter expressão, então posso dizer que sou pessimista. Tem projectos novos para depois deste romance? Neste momento, estou a descansar de uma escrita muito pesada como é a do romance, e sobretudo deste que vai quase às 500 páginas e tem uma mancha muito apertada, porque senão seria muito maior. É um livro muito pesado e o seu peso reflecte também muito tempo de trabalho. Foram quase dez anos a trabalhar neste romance. Estou agora mais ligado à poesia, porque é mais solta e etérea. Quando a abordamos de forma poética é sempre mais leve e isso descansa-me do trabalho que tive com “Cuéle”. Penso que durante algum tempo vou descansar da prosa. Como é viver dez anos ligado a um romance? Não vivo da escrita, não sou um escritor profissional e faço outras coisas. Não sou um homem solitário, tenho família. Gosto muito de viver com estas pessoas que me rodeiam. Coordeno a biblioteca de uma universidade e vou fazendo outras coisas. Fiz intervalos no romance e houve períodos em que tive mesmo necessidade de fazer intervalos e de me afastar da escrita, da trama, dos enredos para os perceber melhor.
Andreia Sofia Silva EventosFotografia | Mostra de Sofia Mota sobre o Canídromo patente em Leiria “A Última Corrida” é o nome da exposição de fotografia da autoria de Sofia Mota, residente de Macau e fotógrafa, patente no MIMO – Museu da Imagem em Movimento, em Leiria. A autora, que realizou o trabalho documental quando ainda era jornalista do HM, fala de um projecto carregado de emoções e da celebração do encerramento de um local histórico associado a maus-tratos aos galgos Era uma vez um Canídromo, no bairro do Fai Chi Kei, onde os aficcionados apostavam para ver qual o galgo que corria mais depressa. Eles corriam, esgotados, mal tratados, e corriam mais até os humanos quererem. Durante décadas este espaço atraiu turistas e visitantes até se transformar num local dominado pela degradação. Foi em 2018, depois de uma intensa campanha a favor do fecho do Canídromo levada a cabo pela ANIMA – Sociedade Protectora dos Animais de Macau, que o espaço encerrou definitivamente. Em “A Última Corrida”, exposição patente no Museu da Imagem em Movimento (MIMO), em Leiria, até 12 de Março, as imagens de Sofia Mota, fotógrafa e residente de Macau, capturam estes últimos momentos. “Quando cheguei ao Canídromo, em 2018, deparei-me com um espaço absolutamente decadente em todos os apectos. Nas instalações, na solidão que transpirava, no ambiente das apostas … queria apanhar esse fim histórico já sem nada, carregado de vazio”, contou ao HM. Esta série de imagens foram capturadas para ilustrar uma reportagem sobre o encerramento do Canídromo publicada no HM pela autora, que à data era jornalista desta publicação. Só muito recentemente as imagens deram origem ao projecto “A Última Corrida”, publicado na revista Halftone e que contou com trabalho de selecção de João Palla. Em Leiria, a exposição teve curadoria de João Ferreira, que lançou o mote a Sofia Mota para voltar a expor na sua cidade natal. O convite formal partiu de Sofia Carreira, coordenadora do MIMO. “Um momento único” Este é um “trabalho documental” que segue a linha dos muitos projectos que Sofia Mota tem feito na área da fotografia, que já lhe valeram a distinção como talento revelação em 2013 da revista Camera.Doc, com a série “Mistérios da Fé…!”, sobre o ambiente de peregrinação no santuário de Fátima. “Em 2015 levei a Leiria um trabalho sobre a vida quotidiana de um bairro de Pequim, mas este trabalho é diferente, pois é de um momento único que não se repete. Foi o trazer uma realidade desconhecida das corridas que estão intrinsecamente ligadas a Macau. Quis dar a conhecer esta situação e mostrar é sempre gratificante, pois Leiria é a minha cidade natal e Macau é o lugar onde vivo.” Ao fotografar, Sofia Mota não quis focar-se apenas nas corridas ou nos cães, mas em todo o ambiente. “É um projecto com um cariz afectivo, abrangendo também a parte do tratamento dos animais, que não era dos melhores. É também um trabalho de celebração do fim tardio do Canídromo.” “Queria abarcar a representação do Canídromo nas suas várias facetas, que vão desde as bilheteiras, ao público, à preparação dos cães para entrar nas corridas, a comunicação de cabine, dos relatos das apostas. Não no sentido de exaltação, bem pelo contrário, pois sou totalmente contra as corridas de galgos e com animais no geral, e o fim do Canídromo representa o fim desta atrocidade.” A imagem preferida de Sofia Mota é, precisamente, a última que surge exposta nas paredes do MIMO. “Vê-se apenas um cão a sair da pista, a sair de cena. É uma imagem carregada de simbolismo”, adiantou. A mostra “A Última Corrida” foi inaugurada a 8 de Dezembro e pode ser visitada até 12 de Março.
Andreia Sofia Silva Entrevista Grande PlanoRosa Bizarro e Edith Jorge, da Gerações – Escola Internacional: “Aposta na qualidade e diferença” Vai nascer em Coloane uma nova escola internacional para alunos do ensino infantil ao secundário. Rosa Bizarro, directora académica da Associação do Colégio Sino-Luso Internacional de Macau (ACSLIM), e Edith Jorge, presidente do conselho de administração da entidade tutelar da Gerações – Escola Internacional, querem uma instituição inclusiva e trilingue, que forme cidadãos através do método educativo finlandês. O ensino do português será virado para o mundo lusófono Já existe uma escola de ensino trilingue em Macau. Porquê criar outro projecto educativo desta natureza? Edith Jorge (EJ) – Queremos responder à necessidade ou interesse que existe na aprendizagem das línguas. Sendo esta associação criada por macaenses, somos trilingues, pois nascemos e crescemos em Macau, e conhecemos todos esta realidade. Gostaríamos que, no futuro, o território fosse cada vez mais competitivo. Uma das principais vertentes dessa competitividade reside no domínio das línguas. Uma escola com estas três línguas ensinadas, a fim de permitir que os alunos sejam verdadeiramente fluentes, achámos que não era suficiente [a oferta educativa existente] e fomos também de encontro à política do Governo de ter diferentes tipos de escolas a funcionar, tal como escolas internacionais. Decidimos juntar as duas componentes. A associação já existia ou foi criada só para este projecto? EJ – Uma das razões pelas quais a associação foi criada foi a escola, mas não é a única. Temos interesse em continuar a investigar e a investir no domínio das línguas. Esta escola é um dos projectos mas temos outros planos. Abrir uma nova escola, outro projecto educativo? EJ – Sim, outras iniciativas ou parcerias com instituições locais e internacionais. Falemos da Gerações e da colaboração com a professora Rosa Bizarro, que estava na Universidade Politécnica de Macau (UPM). Porquê abraçar este desafio como directora? Rosa Bizarro (RB) – Fui professora na UPM de 2014 a 2021. Isso fez com que, durante meia dúzia de meses me tenha ausentado de Macau, e colaborei como docente na Universidade de Cabo Verde. Surgiu este convite da associação e como toda a minha profissão e currículo está ligado à docência e à formação de professores de todos os níveis de ensino, achei que seria uma oportunidade para ajudar esta equipa a implementar um projecto ambicioso, mas de grande qualidade. Tem muito de inovador e pretende-se que tenha frutos no presente imediato e no futuro. Estou muito ligada ao ensino das línguas e questões interculturais e achei que seria, de facto, uma oportunidade para pôr em prática aquilo que ao longo dos anos tenho defendido. Pretendem, a partir de Setembro, abrir o ensino infantil a partir dos três anos e o ensino primário. Depois, no ano lectivo seguinte, querem abrir o ensino secundário. Neste momento, como está o processo de criação dos conteúdos programáticos? RB – Este projecto tem-nos absorvido 24 horas por dia ao longo de vários meses. Quando a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude nos atribuiu o alvará, no final de Dezembro, garanto que o essencial da preparação académica já estava feito. Temos programas que receberam o contributo de alguns especialistas internacionais das áreas. Estabelecemos protocolos com instituições de Portugal e de várias origens. Uma delas dá-nos base da metodologia que vamos seguir, pois queremos apostar na qualidade e na diferença e ter professores internacionais que dominam essa metodologia, que respeitam os parâmetros de exigência locais, mas que trazem uma mais-valia com esse contributo. Queremos apostar no ensino colaborativo e acreditamos que vai ser possível apostar na metodologia de projecto com valores que, muitas vezes, estão arredados das escolas. O modelo de ensino em Macau baseia-se muito na memorização de matéria e não incentiva à participação do aluno na sala de aula. O método finlandês vai acabar com tudo isso? RB – Não queremos acabar com nada (risos). O que queremos é semear entre pais e alunos outras abordagens para aprender. Queremos promover valores universais, como o respeito pelo outro e pela diferença, a capacidade de compreender o real e projectar novas realidades, mas sem termos a presunção de fazer revoluções. Vamos tentar oferecer qualidade, fazer com que os nossos alunos sejam valorizados pelos conhecimentos que vão adquirir e competências, mas também dotá-los da capacidade de serem felizes. Tudo isto está devidamente estruturado e acreditamos que o ser humano pode ser melhor e aprender muito, mas de outro mundo. Abrir uma escola num período pós-pandemia é um desafio. RB – Não é tarefa fácil. Quando a associação começou a pensar nisso tudo sabia que os constrangimentos seriam enormes, mas nada é por acaso. A situação da pandemia está a mudar e vamos começar a funcionar verdadeiramente no ano lectivo de 2023/2024, e isso dá-nos tempo para contratar professores locais e internacionais e preparar todo o trabalho. Vamos apostar também na formação específica do pessoal docente e não docente. Durante estes anos de pandemia os alunos tiveram longos períodos de ensino online. Que desafios enfrenta o ensino neste momento? RB – Não posso ser porta-voz de todos os agentes de ensino, mas penso que temos de procurar corresponder às exigências que o mundo coloca a todos. Tem sido feito um grande esforço para que na educação prevaleça um valor indiscutível e estou convencida que a existência de ofertas alternativas não vem destruir o que existe, vem enriquecer. Compete-nos estar atentos ao desenvolvimento científico, tecnológico e cultural e fazer com que a escola possa formar cidadãos conscientes e preparados. Penso que o futuro vai ser diferente do que são os dias de hoje, mas isso não quer dizer que se esqueça o passado, e daí o nome da nossa escola, Gerações. No ensino do português vão “competir” com a Escola Oficial Zheng Guanying e a Escola Portuguesa de Macau, por exemplo. Que diferença procuram trazer neste campo? EJ – Sempre achámos que a língua teria de ser ensinada com a cultura, e a visão que tínhamos da língua portuguesa não se resumia a Portugal. Obviamente que tem o seu lugar, mas gostaríamos de olhar para o idioma como sendo de todos os países de língua portuguesa. A nossa escola terá a particularidade de apostar na ligação de Macau com os países de língua portuguesa, apostando no português e na cultura, mas também ensinar a economia ou cultura de Angola, por exemplo. Somos todos um mundo de língua portuguesa e é essa a nossa filosofia. RB – Esta escola é diferente porque assume as três línguas como a base de todo o trabalho desenvolvido. Vamos procurar a imersão dos alunos nas diferentes culturas e temos uma especificidade que é criar currículos que procuram dar respostas locais e universais. Tudo isso não se vai materializar apenas na sala de aula, sendo que haverá muitas actividades extracurriculares ou de carácter cultural, em que os diferentes parceiros e intervenientes darão o seu contributo. Pretende-se que um aluno que venha do ensino infantil seja trilingue quando terminar o ensino secundário. Esta escola, e a associação, são exemplos de como a comunidade macaense deve mexer-se e actuar? EJ – Exactamente. O nosso lema é falar menos e fazer mais. Macau tem tido um ritmo de crescimento formidável nos últimos anos e acho que é uma coisa boa se todas as áreas da sociedade acompanharem esse dinamismo. A comunidade macaense tem todas as condições, mesmo a nível de tradição, formação, pois naturalmente somos trilingues e temos uma flexibilidade muito grande. Podemos pegar nessas qualidades e elementos e avançar, mas não podemos apenas falar e criticar. Esta experiência da escola tem sido maravilhosa. Quanto mais sucesso este projecto tiver, mais elevada será a imagem da comunidade macaense, e é esse o legado que queremos deixar. O Governo de Macau tem apoiado muito a comunidade, tal como o Governo Central, e por todas estas razões e aquilo que somos há séculos, somos capazes de oferecer algo.
Andreia Sofia Silva SociedadeDSPA | Reciclados 11,38 milhões de envelopes “lai si” em seis anos Dados da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) mostram que, em seis anos, foram reciclados 11,38 milhões de envelopes “lai si”, sendo que há quase 3,15 milhões de envelopes “lai si”, habitualmente distribuídos na altura do Ano Novo Chinês. No processo de reciclagem, têm colaborado entidades como a Associação de Bancos de Macau, a Associação de Educação de Macau, a Associação das Escolas Católicas de Macau, a Associação de Administração de Propriedades de Macau, a Associação dos Merceeiros e Quinquilheiros de Macau, a Associação dos Hoteleiros de Macau e a Associação de Hotéis de Macau. De frisar que a DSPA tem vindo a realizar a actividade “É Muito Fácil Recolher Envelopes ‘Lai Si'” a fim de “estimular a redução de resíduos a partir da fonte”. Entre amanhã e 12 de Fevereiro será possível depositar os velhos dos envelopes de “lai si” para reciclagem, uma actividade levada a cabo pela DSPA em colaboração com serviços públicos, associações, hotéis, bancos, escolas, estabelecimentos comerciais e edifícios habitacionais, entre outros.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaLei sindical | Jurista alerta para omissão da negociação colectiva É hoje votada na generalidade, no hemiciclo, a proposta de Lei Sindical. O jurista António Katchi alerta para o facto de o diploma “não regular, nem mencionar, o direito à greve ou direito de negociação colectiva”. Katchi fala ainda em discriminações em relação à ausência de não residentes nos órgãos de gestão dos futuros sindicatos Os deputados votam hoje na generalidade a proposta de Lei Sindical na Assembleia Legislativa (AL) e o HM convidou o jurista António Katchi a comentar o conteúdo da proposta. O académico, ex-residente de Macau, começa por alertar para o facto de a proposta de lei “não regular, nem sequer mencionar, o direito à greve, não tão pouco o direito de negociação colectiva”. Declara-se, no diploma, que os sindicatos podem “tratar e negociar as matérias relativas aos conflitos laborais individuais”. Katchi frisa, aqui, o facto de ficarem de fora “os conflitos colectivos”. “A proposta de lei não se limita a ignorar o direito à greve, mas vai mais longe: restringe-o claramente, ao afirmar que as actividades dos sindicatos não podem ‘afectar os serviços públicos necessários para o funcionamento básico da sociedade, bem como o funcionamento contínuo e eficaz dos serviços de emergência indispensáveis’.” Neste sentido, Katchi considera que esta norma não obedece aos princípios constitucionais e internacionais que regem a restrição de direitos fundamentais, uma vez que não está demarcada “o âmbito da restrição, bastando-se com uma sucessão de conceitos indeterminados”. “É claro que essa demarcação poderia ser remetida para uma lei que especificamente regulasse o direito de greve; mas, então, urge que tal lei seja criada”, aponta. Filhos e enteados O jurista destaca também a “exclusão das pessoas condenadas por certos crimes”, sendo “questionável a gravidade que se atribui aos crimes ‘contra a segurança do Estado’, ao ponto de nem sequer se exigir como pressuposto para a aplicação da referida sanção a condenação do arguido a uma pena de prisão igual ou superior a três anos, como se exige no caso de ele ter sido condenado por outro tipo de crime”. Desta forma, Katchi entende que, com esta proposta de lei, “o Governo encara a actividade sindical como uma fonte muito provável de perigo para a segurança do Estado”. Até porque “nenhuma norma semelhante se encontra legalmente estabelecida para as associações patronais”. Por fim, merece atenção do jurista a questão da ausência dos trabalhadores não residentes (TNR) dos órgãos de gestão dos sindicatos, nomeadamente da assembleia-geral, órgão colegial de administração e conselho fiscal. “A exclusão dos TNR, mesmo que seja apenas na direcção e no conselho fiscal, não se esteia em qualquer fundamento razoável e, por conseguinte, redunda em discriminação e consequente violação do princípio da igualdade. O que objectivamente importa não é o estatuto jurídico do trabalhador como residente, mas sim o facto de ele trabalhar em Macau”, conclui. Ainda sobre a proposta de lei, o jurista aponta o facto de ser necessária autorização do Chefe do Executivo para que um sindicato se possa filiar numa organização ou associação criada no exterior que não possua a natureza de “organização ou associação de trabalhadores”. Este é, para Katchi, uma “restrição excessiva ao exercício da liberdade sindical, injustificado”, pois dá-se poder de interferência da parte de um órgão político-administrativo nas relações externas dos sindicatos e na sua actividade, tendo em conta que são associações privadas. Isto porque “a lei nada diz sobre as razões em que se deverá fundamentar a recusa de autorização por parte do Chefe do Executivo”. Acima de tudo, para Katchi, “não basta regulamentar a liberdade sindical”, sendo “imprescindível, também, assegurar-lhes a possibilidade efectiva de exercício de vários outros direitos envolvidos na actividade sindical: a montante, as liberdades de expressão, imprensa, reunião, manifestação e associação; a jusante, os direitos de negociação colectiva e de greve”.