Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteCondecorações | BNU realça oportunidades de servir comunidade O Chefe do Executivo entregou na sexta-feira as medalhas de mérito a diversas personalidades e entidades de Macau cujos feitos, em várias áreas, se destacaram no ano passado. No caso do Banco Nacional Ultramarino, Carlos Cid Álvares, acredita que o futuro trará mais oportunidades para servir as populações Personalidades das áreas da banca, gastronomia e serviços sociais receberam das mãos do Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, na sexta-feira, as medalhas de mérito pelos serviços que prestaram em 2022. Uma das distinções foi atribuída ao Banco Nacional Ultramarino (BNU) enquanto entidade bancária histórica e marca que transitou do período da Administração portuguesa para a RAEM mantendo o papel na emissão da pataca. À TDM, Carlos Cid Álvares, CEO da instituição bancária, disse que há muitas oportunidades a espreitar no futuro para o banco, tendo em conta o seu posicionamento na RAEM e no sul da China. “Vamos ver e aguardar as orientações do Governo e da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) sobre a matéria [papel a desempenhar no futuro]. Há muita coisa para fazer e temos um tema muito mais digital e vamos ter mais oportunidades de servir a comunidade com o tema da Grande Baía, de Hengqin e dos Serviços Financeiros Modernos.” Carlos Cid Álvares declarou que a medalha é, sobretudo, “dos 500 colaboradores que estão a trabalhar no BNU e das centenas que estiveram a trabalhar no BNU ao longo de 120 anos”. “É a eles que se deve esta medalha. Gostava também de agradecer à Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) que se lembrou do BNU para atribuir esta medalha que nos orgulha tanto e nos responsabiliza para fazer mais e melhor no futuro”, acrescentou. Sobre a continuação do papel do banco como emissor de moeda, Carlos Cid Álvares prefere esperar para ver. “O actual contrato diz que estamos no papel durante dez anos até 2030. Aguardamos com serenidade essa decisão, que só vai acontecer daqui a oito anos.” Ho Iat Seng distinguiu também a Confraria da Gastronomia Macaense, que há vários anos se dedica a dar a conhecer a peculiar cozinha de Macau. À TDM, Carlos Anok Cabral, presidente da entidade, disse ter ficado surpreendido com a atribuição da medalha de mérito cultural. “Em 2021, a gastronomia macaense foi incluída na lista de património imaterial da República Popular da China. Isto não quer dizer que a Confraria deixa [de fazer] o seu trabalho, vamos continuar e fazer o melhor possível para que todo o mundo possa conhecer a gastronomia macaense.” Na cerimónia estiveram também presentes duas importantes chefes de gastronomia macaense, Florita Alves e Antonieta Manhão, que têm marcado presença em eventos de promoção feitos em parceria com o Governo. “Creio que há mais pessoas a querer aprender a gastronomia macaense”, disse Florita Alves. “Quando há uma oportunidade comercial há sempre interesse. É uma realidade”, adiantou. Por sua vez, Antonieta Manhão disse “estar orgulhosa” com o reconhecimento dado pelo Chefe do Executivo. “Temos o papel de ensinar e divulgar mais as nossas receitas de comida macaense.” Entidades centenárias Outra personalidade distinguida pelo Chefe do Executivo, com uma medalha de Mérito Industrial e Comercial, foi Humberto Carlos Rodrigues, que desde 1984 está à frente da histórica F. Rodrigues (Sucessores) Limitada, fundada em 1916. Humberto Carlos Rodrigues preside também à Associação Comercial Internacional de Empresários Lusófonos e é ainda vice-presidente da Associação dos Exportadores e Importadores de Macau. O membro da comunidade macaense obteve o reconhecimento graças ao trabalho feito na promoção das relações comerciais entre a China e os países de língua portuguesa. “Mesmo depois de passar para a Administração chinesa, a firma sempre se manteve e é actualmente a empresa portuguesa mais antiga de Macau. É um orgulho receber este prémio. Não estava à espera desta condecoração, é o reconhecimento do Governo de Macau, que sabe que a firma é das mais antigas, eles sabem disso.” A filha deverá continuar à frente dos destinos da F. Rodrigues, que durante a pandemia, tal como todas as empresas, passou por momentos complicados. “Os últimos três anos foram um período difícil, a firma continuou, batalhou e vamos ver se conseguimos colocar mais produtos no mercado na China, principalmente em Hengqin. Talvez consigamos alguma coisa.” Humberto Carlos Rodrigues tem esperança no futuro, agora que Macau abriu portas ao mundo. “Têm de abrir a fronteira para que a comunidade lusófona possa entrar e sair livremente, sem barreiras alfandegárias. É o maior passo que tem de ser dado”, declarou à TDM. José Chui Sai Peng, engenheiro civil, deputado e primo do anterior Chefe do Executivo, Chui Sai On, recebeu, em nome da Associação Tung Sin Tong, a principal distinção, a Medalha Lótus de Ouro, graças ao trabalho social realizado há várias décadas. “A Tung Sin Tong tem vindo a optimizar os serviços nos últimos 130 anos de acordo com o desenvolvimento da sociedade. Assim como este ano descobrimos que as pessoas estão a prestar mais atenção à medicina tradicional chinesa devido à pandemia. Reforçámos o nosso serviço de medicina tradicional chinesa nas Ilhas e alargámos o nosso centro de serviços, e concluímos a clínica e farmácia de medicina tradicional chinesa na Taipa. Esperamos atender melhor as pessoas nas Ilhas”, frisou. Tendo em conta que a sociedade de Macau está cada vez mais envelhecida, Chui Sai Peng referiu que a aposta é nos cuidados aos idosos. “Esperamos melhorar o nosso trabalho de respeito e cuidado para com os idosos. Assim, este ano, temos um novo centro de atendimento para idosos na zona de San Kiu, esperando atender melhor a geração mais velha, nos bairros antigos”, anunciou. Também na área social destaque para a atribuição da Medalha de Mérito Altruístico a Paul Pun, secretário-geral da Caritas Macau e mentor de projectos de apoio a residentes e não-residentes nas mais variadas áreas, como é o caso do Banco Alimentar, a linha de apoio e prevenção do suicídio, entre outras. Recorde-se que Paul Pun chegou ainda a ser candidato a deputado à Assembleia Legislativa. “Estou encantado por ter recebido esta medalha. É um reconhecimento, penso eu, ao Padre Ruiz e à Madre Maria (Goisis), às pessoas que criaram as bases do trabalho solidário da Caritas Macau.” Paul Pun é uma figura que pela dedicação às causas sociais mantem algum protagonismo mediático e que, nos últimos anos, acorreu ao aumento considerável de pedidos de ajuda e comida na sequência da crise social desencadeada pela pandemia. O sentido de missão permanece consigo, pelo que promete continuar a trabalhar até que as condições de saúde o permitam. “Melhor dizendo, se houver necessidade [retiro-me]. Há sempre pessoas que precisam de ajuda e, seja a que título for, vou continuar a trabalhar para melhorar a sociedade, ajudando como puder.” Ainda assim, Paul Pun confessa que gostava de ser substituído no papel social que desempenha em Macau. “Espero que, mais cedo ou mais tarde, alguém possa assumir esta missão. Não só para dar seguimento ao bom trabalho, mas para assumir a responsabilidade de cuidar dos outros. Quer na Caritas, quer em outras posições que hoje ocupo. Mesmo que me reforme [da Caritas] estou envolvido em outros tipos de trabalho solidário. Por isso é que não faço planos”, admitiu.
Andreia Sofia Silva Eventos“Todos Fest!” | Comuna de Pedra apresenta terceira edição em Fevereiro A associação cultural Comuna de Pedra prepara-se para apresentar a terceira edição do festival de artes virado para a comunidade e, sobretudo, para a inclusão de idosos e portadores de deficiência. O “Todos Fest!” acontece entre os dias 6 e 12 de Fevereiro na Casa Garden Pela terceira vez, a associação Comuna de Pedra, dirigida por Jenny Mok, apresenta o “Todos Fest!”, um festival que mistura diversas expressões artísticas e que conta com a participação de membros da comunidade, pessoas que nunca fizeram dança ou teatro de forma profissional, mas que, neste evento, têm oportunidade de se expressar e mostrar as suas valências. Com o “Todos Fest!” a Comuna de Pedra trabalha com outras associações locais, não apenas do campo cultural como também social. É entre os dias 6 e 12 de Fevereiro que os espectáculos e exibição de um documentário acontecem na Casa Garden, sede da Fundação Oriente no território. Para esta edição, a organização trabalhou ainda com escolas, “trazendo a arte inclusiva a públicos mais vastos”, existindo ainda o plano de estender o festival a Hong Kong. “Há vários anos que a Comuna de Pedra colabora com grupos da comunidade local por forma a levar o teatro a todos – incluindo indivíduos com deficiências físicas e mentais e os idosos. Com base numa experiência e observação substanciais, encorajamos os grupos minoritários locais a explorarem as possibilidades dos seus corpos, a olharem para o seu passado, a ouvir os seus corações e a expressarem-se através da encenação. Nas últimas duas edições do festival recebemos críticas e reacções muito favoráveis”, aponta a organização. Danças e outras histórias “Acalmando tempestades e ondas” [Calming Storms and Waves] é a aposta do cartaz do “Todos Fest!” para o fim-de-semana de 11 e 12 de Fevereiro, às 14h30. Este espectáculo de dança é produzido com a colaboração do Centro Lustroso da Caritas, o artista de Hong Kong yuenjie MARU e o grupo Guangzhou’s Mistakable Symbiotic Dance Troupe. O espectáculo, que terá a duração de cerca de 40 minutos, conta com os dançarinos Su HuiHeng e Gene Zhai, ambos de Guangzhou, Ku Man Ian e Lee Pui I. Todos eles têm “diferentes características corporais; alguns são considerados deficientes, mas têm doenças de ossos ou imparidade visual. “Acalmando tempestades e ondas” contará com actuações a solo, a pares ou com práticas de improviso. Este evento de dança simbiótica vai buscar influências ao período difícil vivido durante a pandemia e sobre a forma como cada um olha para a sua vida. “Como vemos a realidade depende das nossas atitudes e perspectivas. Se uma pessoa encara a vida como uma desvantagem, pode ter chuva ou sol. Todos nós percorremos um longo caminho na vida, os dançarinos e os que sofreram durante a covid-19. Não há distinção entre a capacidade e deficiência – tal como uma filosofia de vida”, explica a organização. O festival continua nas tardes dos dias 11 e 12, sábado e domingo, às 16h, com “Afternoon Sunshine”, outro espectáculo de dança criado em colaboração com a associação Soda-City Experimental Workshop, Jacqueline Vong e os utentes do Centro de Idosos da Caritas. “Numa quente tarde soalheira, a coisa mais confortável a fazer é dar um passeio no jardim e ver as flores. A luz leve reflecte os bonitos anos, a experiência e a sabedoria das suas vidas, numa ode à vida”, aponta a organização sobre o espectáculo, onde os dançarinos e participantes vão “quebrar as barreiras da idade através da criação artística, irradiando uma energia criativa”. O espectáculo, apenas em cantonense, tem a duração de 50 minutos. Os coreógrafos são Jacqueline Vong e Weng-Chuen. O “Todos Fest!” continua às 17h30, igualmente ao sábado e domingo, com a exibição do documentário “On The Road”, focado precisamente na experiência da Comuna de Pedra no processo de elaboração de arte e cultura inclusivas. Com este documentário, que conta com os testemunhos de membros da Associação dos Pais de Pessoas com Deficiência Intelectual de Macau, Ngai Tong Loi e Tang Kuai Lan, é possível ter acesso a histórias e experiências de vida, sempre com ligação ao trabalho artístico. Desta forma, os espectadores podem ter acesso “a novas perspectivas de como as minorias locais aprendem arte e de como a arte inclusiva é uma forma de educação cívica, especialmente nas perspectivas estética e de inclusão social”.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaCartão de Consumo | Ho Iat Seng afasta, para já, nova ronda Apesar de se celebrar o Ano Novo Chinês, o Governo afasta a possibilidade de distribuir um “lai si” aos residentes. No entanto, se a crise económica permanecer, o Executivo pode voltar a atribuir apoios financeiros O Chefe do Executivo afastou a possibilidade de lançar uma nova ronda do cartão de consumo. A posição foi tomada ontem por Ho Iat Seng, à margem da recepção da Festa da Primavera organizado pelo Gabinete de Ligação do Governo Popular Central na RAEM. Questionado sobre a hipótese de haver um novo cartão de consumo, Ho Iat Seng afirmou que não está prevista e que não consta do orçamento da RAEM para este ano. No entanto, prometeu que o Governo vai manter-se atento à situação da economia, para tomar as medidas que considere adequadas, ou seja, para haver uma nova ronda do cartão de consumo o orçamento da RAEM terá de ser alterado, um procedimento que tem de passar pela Assembleia Legislativa. No entanto a alteração do orçamento não está no horizonte do Governo, e Ho Iat Seng afirmou que as previsões para as receitas brutas do jogo se mantêm em 130 mil milhões de patacas. Desde que Ho formou Governo, as previsões são sempre do mesmo valor, 130 mil milhões de patacas, apesar de terem ficado sempre muito aquém do valor estimado. Sem data de regresso Apesar dos repetidos agradecimentos do Executivo de Ho Iat Seng ao Governo Central pela retoma da emissão de vistos de grupo para excursões turísticas, que esteve prevista para Novembro do ano passado, até ontem ainda não tinham sido emitidos vistos para este tipo de turistas. Ho Iat Seng admitiu desconhecer a data efectiva do regresso das excursões do Interior. Segundo o Chefe do Executivo as visitas em excursão dependem da situação pandémica no outro lado da fronteira. “Acredito que as autoridades centrais vão aprovar o regresso das excursões o mais depressa possível”, afirmou Ho. Quando à situação da covid-19, Ho afirmou que cerca de 70 por cento dos cidadãos em Macau foram infectados e que não se espera um novo pico de infecções durante o Ano Novo Lunar. Apesar disso, Ho avisou que podem ocorrer picos no futuro, pelo que o Governo vai manter as restrições na compra de medicamentos nas farmácias. Por outro lado, explicou também que se espera um aumento dos recursos para tratamento de doentes com covid-19, com a abertura do Hospital das Ilhas. Ho Iat Seng | “Névoa da epidemia vai dissipar-se” Ho Iat Seng, Chefe do Executivo, defendeu ontem que “a névoa da epidemia vai dissipar-se nesta nova fase de prevenção e controlo epidémicos”, ficando a promessa de que o Governo vai centrar o trabalho “nos cuidados de saúde e na prevenção de doenças graves, bem como na prevenção e controlo da epidemia nos grupos-chave, nomeadamente idosos e crianças, visando maximizar a garantia da segurança da vida e a saúde dos residentes”. As declarações foram proferidas no discurso do almoço de primavera oferecido pelo Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau. Ho Iat Seng não esqueceu ainda que, no último ano, “Macau sofreu os repetidos choques da epidemia e um severo abrandamento da economia”, além de que “todos os sectores sociais se ajudaram mutuamente, demonstrando forte resiliência e coesão tenaz”. Ainda no contexto da pandemia, o governante defende que o Executivo “tem vindo a adoptar medidas proactivas para estabilizar a economia, aliviar as dificuldades dos cidadãos, garantir o emprego e assegurar o bem-estar da população, mantendo a estabilidade social”. O Chefe do Executivo não esqueceu as esperanças depositadas no ano de 2023, sobretudo na concretização dos princípios declarados no XX Congresso do Partido Comunista Chinês e “Um País, Dois Sistemas”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteEmigração | Os portugueses que chegaram quando muitos estavam a sair João Veloso e Inês Lemos são o exemplo de portugueses que decidiram emigrar para Macau quando muitos estavam de saída. Mas só o conseguiram fazer no ano passado devido às restrições em vigor. Em plena pandemia, apostaram no desconhecido e numa nova vida deixando de lado as notícias negativas sobre a covid. Amélia António diz ser cedo para se falar de uma eventual renovação da comunidade com o fim das restrições A normalidade começou a instalar-se na Europa a partir de meados de 2021. Os verões começaram a ser vividos por multidões descontraídas e a máscara foi, aos poucos, perdendo importância. Em Macau, pelo contrário, até há pouco tempo, as palavras surto, confinamento, máscara e distanciamento físico, faziam parte do léxico do quotidiano do território, fazendo com que muitos portugueses, há mais de dois anos sem verem as famílias, deixassem o território de vez. Inês Lemos, designer, e João Veloso, director do departamento de português da Universidade de Macau (UM), contrariaram essa tendência. Ambos sabiam que iam passar pela quarentena de 14 dias, pelo tempo interminável de espera no Aeroporto Internacional de Macau à chegada sem perceberem muito bem porquê, engalfinhados numa burocracia de testes em catadupa e papeladas sem fim. Ainda assim, por questões pessoais e profissionais, apostaram em emigrar para Macau e hoje não estão arrependidos. “Cheguei em Junho de 2022, na altura do surto e na antevéspera do semi- confinamento”, contou ao HM João Veloso, que, no entanto, nunca pensou em desistir do novo projecto profissional por causa das restrições. A UM abriu o concurso público para a escolha de um novo director do departamento de português em finais de 2020, mas, na altura, não era permitida a entrada de estrangeiros em Macau. Dessa forma, João Veloso só pôde pisar o solo da RAEM no ano passado. “Quando concorri sabia qual era a situação, mas tinha esperança de que, nos meses seguintes, as coisas melhorassem. Quando recebi instruções para vir, a meio do surto, confesso que fiquei um bocadinho receoso. Sou um optimista por natureza e um bocadinho lírico, mas sabia que a situação não seria fácil.” Para João Veloso, vir para Macau e passar por todas as restrições da covid foi como um “regresso ao passado”, pois já em Portugal tinha vivido dois confinamentos e cumprido regras como o uso da máscara e a realização de testes. “Passei por alguns momentos de desânimo depois de chegar a Macau, mas antes não. No embate com a realidade tive momentos de alguma ansiedade, na altura do isolamento. Cheguei a ter receio de que o território fechasse novamente.” Ainda assim, como optimista que é, João Veloso faz “um balanço positivo” da vinda para Macau. “Nunca me arrependi de ter vindo. Acho que ter emigrado nesta altura é uma espécie de prova de resistência pessoal. Passei por alguns momentos de desânimo e angústia, mas graças ao apoio que recebi de pessoas aqui em Macau, e ao ver algum espírito de mobilização, faço um balanço positivo. Fico contente por ver que as medidas restritivas estão a ser abandonadas, o que oferece outras perspectivas de contactos e de viagem”, frisou. Bruscamente no Verão passado No caso de Inês Lemos, foi o coração que a trouxe a Macau. Chegou no Verão do ano passado, assim que as autoridades decretaram que todos os portadores de passaporte português podiam entrar na RAEM. Antes disso, tinha apresentado um pedido de acesso à residência pela via do casamento que foi recusado. Inês recorda-se da quarentena de 14 dias que teve de cumprir e para a qual até já estava preparada. Mas as cerca de dez horas de espera no aeroporto, à chegada, foi, para si, “o pior”. “Foi muito sofrido, estive sentada numa sala fria depois de uma viagem longa à espera de coisas. Custou bastante.” Inês Lemos nunca baixou os braços e, ao contrário da maior parte das pessoas que já desesperava com as restrições há bastante tempo, tinha o espírito mais leve para lutar. “Tinha perfeita noção do que estava a acontecer, mas eu estava super feliz porque ia finalmente ter com o meu companheiro. Foi o concretizar de um desejo passados mais de dois anos em que estivemos afastados. Apanhei com o confinamento mal cheguei a Macau, mas vinha com um ânimo diferente das pessoas que já cá estavam”, lembrou. Sem ter termo de comparação em relação ao que Macau era antes da pandemia, Inês Lemos sentiu as “ruas vazias”. “Percebi pelos comentários de todos que antes era bem diferente, sempre com muita agitação e filas para tudo. Ouvi falar de Macau pelas lembranças e memórias antes da covid. Agora noto que, de facto, há muito mais movimento de pessoas que não são de Macau.” Neste momento, Inês frequenta a pós-graduação em Educação da Universidade de São José (USJ) e prepara-se para fazer o estágio que depois lhe vai permitir dar aulas. A designer, a trabalhar remotamente para Portugal, pretende, por isso, entrar no mercado laboral local em breve. Dados que importam Divulgado esta quarta-feira pelo Governo português, o Relatório da Emigração relativo ao ano de 2021 dá conta do menor número de sempre de entradas de portugueses em Macau. Apenas 18 o fizeram desde 2000, sendo que esses eram residentes da RAEM, uma vez que não era permitida a entrada de estrangeiros. Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), revela estar mais preocupada com os números dos portugueses que saíram do que daqueles que entraram. E esses são mais difíceis de quantificar. “Se não podiam entrar estrangeiros, só os residentes é que podiam entrar, até seria normal que os números fossem zero. Vivia-se uma situação complicada e depois tínhamos a própria impossibilidade legal. Obrigaria a uma reflexão maior se conseguíssemos ter os números de quem saiu efectivamente, porque há as pessoas que saíram para férias ou outras razões, mas que não o fizeram de forma definitiva.” Amélia António traça vários cenários relativamente à saída de cidadãos portugueses. “Quem saiu com mais idade, ou reformado, ou a acompanhar filhos, faz parte de um movimento mais ou menos normal. Foi acelerado, talvez, pela força das circunstâncias, pelo facto de não se poder ver as famílias. Mas pessoas mais novas que saíram, que estavam a trabalhar, com a vida mais ou menos organizada, isso é que é mais assustador para mim, porque essas pessoas não vão voltar para Macau, a não ser que as suas vidas em Portugal não corram como o planeado.” Nova comunidade? Sem restrições, será que a comunidade portuguesa pode agora renascer e reinventar-se? Amélia António acredita que, a curto prazo, será difícil chegarem novas pessoas que não tenham contactos prévios com o território. “Pessoas que nunca estiveram em Macau e que venham de novo serão muito poucas, tendo em conta toda a propaganda negativa relativamente às condições de vida e de saúde. Não será fácil isso acontecer. Tal demorará muito tempo e depende da orientação que for dada ao território, caso haja interesse efectivo de que Macau continue a ter uma imagem multicultural e de abertura ao exterior, com a presença de quadros qualificados portugueses e da sua mais-valia.” Para a dirigente associativa, não basta abrir as fronteiras. “Estes anos foram desmobilizadores e criaram uma imagem pouco atractiva de Macau. Veremos como é que a situação vai evoluir, porque vai depender de coisas que neste momento não conseguimos saber, como é o caso das questões laborais, das operadoras de jogo, em termos de necessidade de mão-de-obra. Haverá uma ligação com as dificuldades que poderão aumentar, ou não, na Europa. Há muita coisa desconhecida ainda. É o momento ainda muito difícil para fazer previsões.” Para João Veloso os portugueses ainda fazem falta em alguns sectores, como é o caso da Função Pública ou na área da docência. “Neste momento começa a deixar de haver razões para as pessoas terem os receios ou reservas que tinham até agora. Se isso se vai traduzir numa vinda de mais portugueses, não sei. Há lugar para os portugueses ainda pois há certos serviços que precisam deles. As condições de vida e de entrada em Macau tendem a melhorar. Há motivos para a comunidade portuguesa voltar a aumentar. Há lugares para professores de português e funcionários públicos, por exemplo.” Também Inês Lemos acredita que este “cantinho” na Ásia terá sempre espaço para os cidadãos portugueses. “Há sempre espaço para nos reinventarmos e fazermos coisas diferentes. Acredito que Macau ainda tem muitas coisas agradáveis e boas para oferecer aos portugueses, há uma ligação histórica e temos este cantinho na Ásia que é uma ponte para tantos sítios. Macau continua a ser um bom sítio para se apostar, mesmo com a distância.”
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteBernardo Mendia, membro da Câmara de Comércio e Índústria Luso-Chinesa: “Há, finalmente, entusiasmo” Assim que Portugal respirou liberdade, em 1974, e as autoridades reconheceram a República Popular da China como nação, foi criada a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa, que celebra 45 anos de vida no próximo mês. Bernardo Mendia, secretário-geral, joga todas as cartas na recuperação do comércio com a China. Sobre o investimento chinês em Portugal, menciona preconceitos que devem ser combatidos Que balanço faz de mais de 46 anos de actividade da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC) e que progressos destaca? O balanço é extremamente positivo. Depois do 25 de Abril, logo em 1975, o Governo português faz uma declaração inicial a dizer que reconhecia a República Popular da China (RPC) como a única China e a representante do povo chinês, e depois na sequência disso, em 1976, surge o movimento que dá origem à CCLC, estabelecida em Fevereiro de 1978. Desde aí, temos acompanhado anos de bastante crescimento que nós próprios como país [Portugal], empresas e empresários temos todo o interesse em estarmos próximos, porque podemos vender e comprar muito para as nossas indústrias, com produtos mais competitivos. A nível de trocas comerciais foram anos muito ricos, mutuamente benéficos sempre com a vantagem de termos Macau, o que nos dá uma vantagem que, se calhar, outros países não têm, com mais de 500 anos de contactos. Passando à parte do investimento, também foi muito interessante para Portugal, se bem que apenas nos últimos 12 anos é que existe um verdadeiro movimento de investimento chinês em Portugal. O investimento português na China foi sempre muito residual, até aos dias de hoje. Houve uma série de circunstâncias para o crescimento do investimento chinês, nomeadamente as políticas chinesas que permitiram a expansão de muitas empresas, que coincidiu com as dificuldades financeiras das empresas em Portugal que obrigaram a abrir o capital de empresas públicas e privadas. Nessa altura, havia maior disponibilidade das empresas chinesas para investir em Portugal. Hoje em dia não se verifica o mesmo. Tivemos bastante sorte porque se tivéssemos dependentes dos investidores ocidentais, tradicionais, as nossas empresas não teriam sido tão valorizadas como foram. Respondendo a uma crítica que vem sendo feita, mas que não passa de um mito, de que existe um excesso de investimento chinês… Não existe? Na verdade, a maior parte do investimento chinês não controla na totalidade o capital das empresas portuguesas e onde controla mantém a gestão com quadros portugueses. Esse mito, conforme diz, foi uma forma de descredibilizar o investimento chinês? Sim, sem dúvida. É uma pena porque não corresponde à realidade e cria um preconceito que é injusto. Deveríamos valorizar [o investimento] e comunicar para ver onde há mais oportunidades. É verdade que hoje em dia há muito menos investimento chinês em empresas já constituídas, porque, de facto, ele aconteceu antes devido a circunstâncias históricas excepcionais e problemas financeiros ocorridos em Portugal. Mas existem ainda muitas oportunidades a nível de indústrias chinesas que podem ser desenvolvidas em países como Portugal, como é o caso da construção de fábricas, indústria automóvel. É esse o investimento que hoje em dia nos interessa. Temos interesse em sermos o país receptor desses investimentos onde depois pode ser feita a distribuição em toda a Europa. Saiu uma notícia recente sobre o facto de empresas estatais e privadas chinesas serem das principais investidoras na Euronext Lisboa. É um sinal de que esse investimento tem vindo a solidificar-se? Por um lado, mais uma vez, demonstra uma aposta em Portugal, e devemos mostrar isso a outros países que estão a ficar para trás. A nós interessa-nos colocar os países a competirem entre si para investirem mais em Portugal. A notícia fala de 8,5 mil milhões de euros em investimento, e esse valor é a esmagadora maioria do stock do investimento chinês em Portugal, que são cerca de dez mil milhões. O investimento chinês em Portugal é quase todo feito através de empresas cotadas em bolsa. É o investimento do mais regulado possível e isso é de salutar, desmistifica as origens do investimento. Fala-se muito na questão dos vistos Gold, por exemplo. O perfil do investidor chinês por essa via também tem mudado? Penso que nos últimos três anos não deixou de haver interesse, da parte dos chineses, nesse tipo de investimento. Mas nesse período houve imensa dificuldade em viajar. Estou convencido que vão voltar a investir bastante com a abertura das viagens. Não temos nada de criticar, no sentido em que tem sido um tipo de investidor que traz muito dinheiro para a economia portuguesa, pela via dos impostos, além de ter reactivado uma indústria e requalificado várias cidades em Portugal, nomeadamente Porto e Lisboa. Houve muita requalificação urbana que não teria acontecido se não houvesse a perspectiva destes investidores. Além disso falamos de investidores que acabam por criar uma ligação com o país, e muitas vezes criam negócios, de importação. Há quem venha viver para cá e traga os seus pais. Penso que há uma dinamização da economia com este investimento de qualidade. Tantos anos após a criação da CCLC, o perfil das empresas que vos procuram mudou? A pandemia trouxe alterações maiores? Nestes últimos três anos houve poucas delegações de empresas chinesas e portuguesas a deslocarem-se. Aqui na CCLC ajudámos empresas a obter vistos e a justificar perante as autoridades chinesas a necessidade de os ter. Os anos da pandemia foram terríveis porque tínhamos apenas o contacto online e isso não ajuda nada. Estamos com confiança para os próximos anos porque toda a gente está com vontade de fazer. Há uma série de eventos importantes para, que do ponto de vista económico, se possa re-activar a relação Portugal-China, como é o caso dos 510 anos da chegada de Jorge Álvares à China, entre outros. Teremos ainda a abertura de uma nova CCLC em Xangai, bem como a Câmara de Comércio e Indústria Hong Kong-Portugal. Apoiamos essa iniciativa que contará com o comendador Ambrose So e Gonçalo Frey-Ramos, que é vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Hong Kong, entre outros. A China abriu as fronteiras de forma repentina. O número de casos tem aumentado, mas é uma boa notícia para a economia. Sem dúvida nenhuma. Quem está nos negócios esperava ardentemente que isso acontecesse e esperamos que não haja nenhum retrocesso, e que avancem sem hesitação na abertura. Até que ponto será possível recuperar da estagnação e retrocesso destes anos de pandemia? Temos de trabalhar na confiança. A dimensão do mercado e capacidade de compra são os incentivos que os empresários precisam. Isso não se foi embora e agora o potencial virá de forma redobrada. É importante realizar mais missões e visitar o mercado o quanto antes. Queremos estar na China Import-Export Fair, em Novembro. Esteve há pouco tempo em Hong Kong, como está o ambiente de negócios? Visitei Hong Kong três vezes durante a pandemia e nota-se uma grande diferença no ânimo das pessoas. Há, finalmente, entusiasmo. Com a abertura poderemos esperar uma nova era das relações Portugal-China? É importante que se continue onde estávamos em 2019. Temos de fazer as viagens, garantir que as nossas delegações estão presentes nas feiras na China. Agora será rápido. Temos um período mais desafiante, que são estes primeiros meses com muitas infecções e mortes, mas depois as coisas voltarão à normalidade. A guerra na Ucrânia e a inflação tem afectado o comércio mundial. Isso tem influenciado as exportações para Macau e China? Falamos de mercados que não são muito expressivos e que não se deixam afectar por esses factores externos. Ao contrário das narrativas que se têm tentado comunicar, o mundo é multipolar. Todos temos interesses, valores e necessidades. Temos de promover o respeito e compromisso. Em alguns momentos temos de ceder, outros a cedência é da outra parte. Devemos serenar os ânimos políticos para que a economia possa funcionar. Muito se tem criticado a ausência de um pleno funcionamento de Macau como plataforma. Concorda? Essa plataforma depende de vontade política. Acho que há ainda muito potencial que está subaproveitado e que podemos aproveitar muito melhor. Há instrumentos criados, mas ainda não são explorados dentro das suas potencialidades. Compreendo essas críticas e compete aos empresários e câmaras de comércio tirar maior proveito desse potencial. Há um potencial acrescido com a criação de iniciativas como a Grande Baía e a Zona de Cooperação Aprofundada? Como é que a CCLC pretende responder a estes desígnios? Neste momento, devemos aproveitar a vontade política para tirar proveitos económicos. Este ano, a delegação que for à China, incluindo a Macau, irá concentrar a viagem nas visitas à Grande Baía para mostrar aos empresários portugueses a escala do mercado, pois isso não é muito falado. Temos ainda de os educar quanto a essa iniciativa. Agora é preciso visitar, conhecer e trocar cartões para ver o que está a acontecer.
Andreia Sofia Silva EventosCinemateca Paixão | Triologia de “O Padrinho”, de Coppola, em exibição A saga da família Corleone, ligada à máfia italiana, contada de forma soberba pelo realizador Francis Ford Coppola, é a aposta da Cinemateca Paixão para os próximos dias. Destaque ainda para o ciclo “Histórias da Diáspora Asiática”, com filmes que retratam memórias e vivências dos asiáticos a viver em países estrangeiros Quem ainda não viu um dos grandes clássicos do cinema norte-americano e um dos principais filmes do realizador Francis Ford Coppola tem agora essa oportunidade durante os próximos dias na Cinemateca Paixão. Isto porque o cartaz das novas exibições apresenta a triologia de “O Padrinho”, realizada em 1972, 1974 e 1990, onde se conta a história da família Corleone, uma das principais da máfia italiana a operar em Nova Iorque, para onde o patriarca, Vito Corleone, emigrou em criança. Esta sexta-feira começa a ser exibido o primeiro filme da triologia, que conta, precisamente, a ida de Vito para a América aos nove anos de idade, pequeno e enfezado, em fuga da sua querida Itália. Já casado e com um filho, Corleone começa depois a envolver-se no mundo do crime no seio da comunidade italiana que, no início do século XX, estava bastante presente em Nova Iorque. O primeiro filme de “O Padrinho” volta a ser exibido no dia 21 deste mês. O segundo filme, que é mais centrado no início da ligação de um dos filhos de Vito Corleone, Michael Corleone (Al Pacino) aos negócios da família, é exibido no sábado e também no dia 21. Nesta película continua a contar-se a história dos Corleone e das suas peripécias pelo mundo do crime, mas com maior foco na juventude de Michael, o eleito para continuar à frente dos negócios da família. No domingo, é exibido o terceiro filme, uma cópia restaurada. Nesta fase, os destinos da família Corleone são geridos por Michael Corleone após a morte do velho Vito. Michael estreita ligações com a Igreja italiana, está divorciado, tem dois filhos que adora, mas a ligação ao mundo do crime acaba por lhe trazer grandes dissabores no seio familiar. A saga de “O Padrinho” foi um dos grandes trabalhos de Marlon Brando que, com este filme, ganhou o Óscar de Melhor Actor. Coppola, que fez uma adaptação do romance de Mário Puzo com o mesmo nome, conquistou ainda o Óscar de Melhor Argumento Adaptado e Melhor Filme. O que não correu muito bem nesta produção foi a escolha da actriz para representar a filha de Michael Corleone no terceiro filme. À data, uma muito jovem Sofia Coppola, hoje realizadora de sucesso, teve uma interpretação que gerou bastantes críticas. Asiáticos lá fora A Cinemateca Paixão aposta ainda num novo ciclo de cinema destinado a contar as histórias dos asiáticos que emigram. “Asian Diaspora Stories” [As Histórias da Diáspora Asiática] traz filmes como “Joy Luck Club”, de Wayne Wang, produzido em 1993. Este filme, que conta a história de quatro mulheres chinesas nascidas nos EUA que recordam o seu passado, poderá ser visto nos dias 19 e 25 deste mês. “What People Will Say”, de Iram Haq, é a aposta para o dia 28 deste mês, sendo depois novamente exibido em Fevereiro, no dia 8. Neste filme exploram-se as vivências de uma jovem paquistanesa que vive e estuda na Noruega, debatendo-se permanentemente com as diferenças culturais que fazem parte do seu dia-a-dia. “Return to Seoul”, de Davy Chou, chega nos dias 7 e 10 de Fevereiro, revelando o percurso do jovem Freddie, de 25 anos, que decide regressar à Coreia do Sul depois de ter nascido e vivido em França até então. Este ciclo de cinema conta ainda com as películas “The Return”, “Gook” e “The Namesake”.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteManuel Carmo Gomes, epidemiologista: “Abertura foi desnecessariamente abrupta” O epidemiologista português encara o fim da política de zero covid na China com alguma apreensão e argumenta que a abertura faseada teria sido mais prudente. Manuel Carmo Gomes acredita que a possibilidade de surgir uma nova variante “é baixa”, mas que a incerteza é um factor incontornável e motivo de cautela Como encara a abertura súbita da China em relação à covid-19, eliminando de uma assentada praticamente todas as restrições? A abertura da China a 7 de Dezembro pareceu-me desnecessariamente abrupta. A China teve grande sucesso na contenção da circulação do vírus até Outubro, apostando nos confinamentos e na testagem em massa. Em consequência, relativamente poucas pessoas foram infectadas. Em 2021, também houve uma boa aposta na vacinação: mais de 90 por cento da população recebeu duas doses da vacina chinesa. Contudo, a segunda dose foi tomada há, pelo menos, seis a 12 meses e as pessoas já não têm proteção contra a infecção. Houve um descuido com o reforço (terceira dose) vacinal, pois a cobertura dos maiores de 65 anos rondava 65 por cento e a dos maiores de 80 anos apenas 40 por cento. Estas pessoas estão desprotegidas contra a infecção e também contra a doença moderada a grave. A abertura repentina coloca todas estas pessoas à mercê de um vírus que é altamente transmissível. Em centros urbanos com alta densidade populacional, o vírus propaga-se como fogo na pradaria. Não percebi a razão de uma abertura tão repentina, mesmo que as autoridades reconhecessem que o vírus já circulava demasiado em Novembro. Defende, portanto, que a abertura deveria ter sido gradual. Sim, faseada, iniciada há muitos meses atrás quando o mundo ficou a conhecer as características da Ómicron: muito contagiosa e com capacidade de evadir os nossos anticorpos, mas menos patogénica. Uma abertura gradual poderia ter sido feita reduzindo os períodos de quarentena, colocando menos pressão sobre os assintomáticos vacinados, incrementando os requisitos de vacinação, permitindo espaços comerciais funcionar com menos ocupação, permitindo as escolas dos mais jovens funcionar, mantendo os transportes públicos a funcionar com menos passageiros, por exemplo. Tudo isto e muito mais foi feito no Ocidente. Isso teria decerto um impacto no número de casos. Se a China tivesse relaxado gradualmente, o número total de infecções não teria sido menor, contudo, esse número ter-se-ia diluído ao longo de muito mais tempo. Com uma abertura repentina, a Ómicron origina uma onda monstruosa (li na imprensa que o CDC-Chinês estima 248 Milhões só em Dezembro) concentrada num curto espaço de tempo. Mesmo que apenas dois a três por cento dos infectados vão ao hospital (estimativas de Pequim), nenhum sistema de saúde consegue responder a uma tal vaga. Uma abertura gradual permitiria também ter reforçado a tempo a cobertura vacinal da população. A vacina chinesa confere protecção contra a infecção durante alguns meses após a toma e isso teria minorado o impacto da abertura. O elevado número de casos pode, de facto, originar novas variantes do vírus? A resposta curta é sim, mas é mais complexo que isso. A probabilidade de surgir uma variante nova é baixa. Contudo, é um acontecimento com características aleatórias, e quanto mais vezes ‘rolarmos os dados’, maior a probabilidade de sair a pontuação máxima. Sempre que o vírus se multiplica ocorrem mutações e, quanto mais infeções houver, mais ele se multiplica. Pior do que isso, as situações como a da China são muito propícias a originar situações de coinfecção. Isto ocorre quando uma pessoa infectada com a subvariante A é infectada simultaneamente com a subvariante B. Os coronavírus têm grande propensão para a recombinação, isto é, pode surgir uma variante que tem uma parte de A e uma parte de B. Se A for muito contagiosa e B mais patogénica, podemos ter uma versão do vírus que se propaga depressa e causa doença mais grave (a subvariante XBB surgida na India é um exemplo de uma recombinante). Felizmente, este fenómeno e outros igualmente perigosos são muito raros. Contudo, com tanta gente a ser infectada, aumenta o risco de poder ocorrer. Considera científica a posição da União Europeia de exigir testes à chegada para os viajantes da China, Macau e Hong Kong? Tem mais de político do que de científico. Alguns países deram a entender (pelo menos um disse explicitamente) que iriam instituir o controlo porque a China não está a fornecer informação mínima necessária sobre a situação epidemiológica e as variantes que estão em circulação. Deixem-me ser claro: sabemos que os controlos aeroportuários não impedem a importação de variantes muito transmissíveis. Se, repito, forem aplicados de forma rigorosa, podem atrasar três ou quatro semanas um surto causado por casos importados. Esse atraso deve ser usado para um país se preparar para a chegada de uma nova variante (testes em massa, rastreio de contactos, quarentena…). Contudo, que o controlo rigoroso requer muitos meios humanos e laboratoriais: é caro e logisticamente pesado. Não me parece que os países europeus pretendam isto. Poderá haver alguma segunda intenção nesta exigência de testes à chegada? A segunda utilidade dos controlos é conhecer melhor que subvariantes estão a circular na China. Para isso, pode-se por exemplo fazer uma amostragem aleatória dos passageiros e também analisar as águas residuais do avião. Contudo, se houver uma variante mais patogénica do vírus, é mais provável que ela esteja nos hospitais da China do que nos aviões. Nestes últimos, há principalmente pessoas com sintomas leves ou sem sintomas. A maioria dos países europeus inclinou-se para a exigência dos testes antes de embarcar e a análise das águas residuais. No que respeita aos testes, julgo que terá de haver colaboração das autoridades chinesas, mas o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês deu sinal de discordância, por isso não sei como pretendem proceder. Além de tudo isto, a China, na última semana, disponibilizou 724 sequências do vírus que nos permitiu ter melhor ideia das variantes em circulação. Bem sei que 724 é uma gota de água, mas é um sinal de que muito mais pode estar para chegar. Até agora, não vemos nada de ameaçador nas variantes em circulação na China: estão já no resto do mundo também. Penso por isso que as medias de controlo só são justificáveis e úteis se surgir uma nova variante que se apresente muito transmissível e mais patogénica do que temos visto até aqui. Como analisa o actual panorama da covid-19, tendo em conta a abertura tardia da China? Se não surgir na China uma variante mais patogénica e muito transmissível, estou tranquilo. Vamos certamente ter casos importados. Contudo, na Europa e em particular em Portugal, temos uma barreira imunitária que nos deve salvaguardar de voltar a ter a montanha-russa de grandes picos e vales epidémicos. Vamos continuar a ter infecções todos os dias, provavelmente ao longo do Verão também, mas a pressão hospitalar não deve ser mais preocupante do que a que é causada por outras infeções respiratórias. Estou, portanto, num estado de cautela optimista. Não nos vamos ver livres deste vírus, mas a Ómicron tem tido uma evolução gradual, mais de acordo com o que sabemos dos coronavírus que infectam humanos. Os vírus estão a evoluir para fugir aos nossos anticorpos, mas não se têm tornado mais patogénicos. Na verdade, a maior patogenicidade, só por si, não lhe dá vantagem evolutiva. O que lhe dá vantagem é evoluir para nos reinfectar repetidamente e isso provavelmente vai acontecer nos próximos anos. Vamos manter-nos atentos, não só à China, mas a todo o mundo, acompanhando a evolução do vírus e o desenvolvimento de novas vacinas.
Andreia Sofia Silva PolíticaISAF | Farmacêuticos de Macau poderão exercer na Zona de Cooperação Os farmacêuticos de medicina ocidental e tradicional chinesa, bem como os ajudantes técnicos de farmácia, acreditados pelas autoridades de Macau, poderão vir a exercer na Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin. A informação consta numa resposta de Ng Kuok Leong, presidente substituto do Instituto para a Supervisão e Administração Financeira, a uma interpelação escrita da deputada Wong Kit Cheng. “Os serviços competentes da Zona de Cooperação Aprofundada estão a estudar a possibilidade dos farmacêuticos, farmacêuticos de medicina tradicional chinesa e ajudantes técnicos de farmácia com acreditação profissional de Macau exercerem a profissão na Zona, além de se garantir a regulamentação da actividade de formação dos respectivos profissionais”, pode ler-se. Relativamente ao Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa entre Guangdong e Macau, há neste momento três projectos “na fase de conclusão da aceitação”. São eles o Ruilian Wellness Resort, um projecto abrangente que mistura cuidados de saúde com o conceito de resort temático, o projecto do Museu de Tecnologia e Criatividade de medicina tradicional chinesa e o projecto de criação de uma rua cultural temática deste tipo de medicina virado para o turismo de saúde. Ng Kuok Leong deixa ainda a promessa do planeamento e organização “de visitas de familiarização de operadores turísticos de Macau e Hengqin para desenvolver mais roteiros turísticos”.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaLei sindical | Greve é a grande ausência da proposta Já foi admitida na Assembleia Legislativa a proposta de lei sindical, mas em todo o documento não consta a palavra greve. Aos futuros sindicatos compete apenas o tratamento e a negociação de questões laborais, promoção do emprego ou a cedência de opiniões do foro legislativo A falta da palavra greve ou de quaisquer directrizes para a sua realização por parte dos futuros sindicatos é a grande ausência da proposta de lei sindical já admitida no hemiciclo. Desta forma, os sindicatos têm apenas como competências “tratar e negociar as matérias relativas aos conflitos laborais individuais em representação dos seus associados”, bem como “apresentar aos empregadores opiniões sobre as condições laborais, segurança e saúde ocupacional, entre outras matérias, em representação dos seus associados”. Os sindicatos poderão ainda “pronunciar-se sobre matérias de legislação laboral, providenciar as medidas de apoio à promoção do emprego, realizar acções de formação profissional, prestar serviços sociais” ou ainda “exercer as demais competências previstas nos diplomas legais”. A proposta de lei não deixa de lembrar que “a realização de actividades pelo sindicato tem de estar de acordo com a lei e com as suas finalidades, não podendo estas colocar em perigo a ordem e saúde públicas da RAEM”. O Governo, através da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), terá conhecimento de todas as informações dos sindicatos, uma vez que estes têm, em Abril de cada ano, de entregar documentos como a lista dos titulares dos órgãos, de associados e as contas anuais auditadas por contabilistas. Destaque ainda para o facto de os cargos de chefia nos sindicatos só poderem ser exercidos por pessoas que preencham determinados requisitos. Deve ser verificada a idoneidade dos mesmos tendo em conta se a pessoa em questão “desempenha ou não funções de membro do parlamento ou assembleia legislativa de um Estado estrangeiro”, ou ainda se foi condenado “por decisão transitada em julgado” a uma pena de prisão no âmbito da lei da segurança nacional. Patrões com multas A proposta de lei assegura que os trabalhadores com actividades sindicais podem justificar as faltas no emprego, além de assegurar protecção a todos os trabalhadores que sejam prejudicados por terem esta actividade. Caso o empregador proíba, despromova ou despeça um funcionário por este pertencer a um sindicato ou desempenhar actividades sindicais pode ser punido com uma multa que vai das 20 às 50 mil patacas “por cada pessoa em relação à qual se verifique a infracção”. As multas, revertidas para o Fundo de Segurança Social, devem ser pagas no prazo de 15 dias. A proposta de lei prevê também outras infracções administrativas aplicadas aos sindicatos que vão das cinco às 50 mil patacas. Caso os futuros sindicatos cometam infracções, podem ficar sem apoios financeiros ou benefícios “concedidos por serviços e entidades públicas com a duração de um ou dois anos”. Relativamente às associações de cariz laboral já existentes na RAEM, podem requerer junto da DSAL a transformação para sindicato no prazo de três anos após a entrada em vigor da da lei. De frisar que não há ainda uma data para que a proposta de lei seja votada na generalidade pelos deputados.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteDelegação de Macau em Lisboa | Fundação Casa de Macau espera proximidade Alexis Tam deixou o cargo de chefe da Delegação Económica e Comercial de Macau em Lisboa após três anos de actividade. Tanto a Fundação Casa de Macau como a Casa de Macau em Lisboa falam de relações cordiais e atenção ao trabalho desenvolvido, mas Mário Matos dos Santos, dirigente da Fundação, espera maior ligação com a nova líder, Lúcia Abrantes dos Santos Sucedeu a O Tin Lin na chefia da Delegação Económica e Comercial de Macau em Lisboa, bem como no papel de representante da RAEM junto da União Europeia (UE), em Dezembro de 2019, assim que Ho Iat Seng tomou posse como Chefe do Executivo. Desde então, Alexis Tam desempenhou o cargo de forma discreta, com algumas aparições públicas e poucas declarações. Agora que foi anunciada a sua reforma, sendo substituído por Lúcia Abrantes dos Santos, até então sua adjunta, uma das entidades associativas que representam a RAEM em Portugal, a Fundação Casa de Macau (FCM), espera mais proximidade com a nova representante. “Não havia muitas manifestações directas e com Alexis Tam não tivemos as relações funcionais que existiam antes, tal como a realização de eventos na Delegação e colaboração nesse sentido”, começou por dizer Mário Matos dos Santes, dirigente da FCM, ao HM. “A Delegação tem mantido o seu papel, que é ter uma posição neutra em relação aos eventos que vão sucedendo. Estamos convencidos de que, com a doutora Lúcia, teremos um diálogo mais aberto e funcional”, acrescentou. Mário Matos dos Santos espera “poder desenvolver mais” as relações com a Delegação. “Sempre tivemos boas relações e temos com a pessoa que o vai substituir, e esperamos estabelecer uma relação muito pró-activa e continuar essa ligação. Espero uma pessoa mais aberta [na ligação com as entidades em Lisboa].” Ao longo do período em que liderou a delegação, Alexis Tam visitou “duas ou três vezes” a sede da FCM, na zona do Príncipe Real, em Lisboa. “Deu um apoio formal, que era o esperado, e não passou disso. Tivemos relações de muita cordialidade.” Da parte da Casa de Macau em Lisboa, que pertence ao universo da FCM, o balanço da presença de Alexis Tam em Portugal é positivo. “Desde o primeiro mandato que demonstrou uma grande disponibilidade de cooperação institucional com a Casa de Macau em Portugal, o que muito nos honrou.” A entidade aponta que a pandemia não ajudou a estreitar laços. “Naturalmente, que a pandemia da covid-19 limitou fortemente essa cooperação no terreno nos dois primeiros anos do seu mandato, mas no final de 2021, quando em Portugal as restrições foram sendo levantadas, tivemos o prazer de receber o Dr. Alexis Tam nas instalações da Casa de Macau. Esse encontro possibilitou a identificação de objectivos comuns entre as duas instituições e oportunidades de parceria”. Desse contacto resultou, por exemplo, “uma maior divulgação entre os nossos associados das formalidades legais que muitos prestam junto da Delegação, como é o caso da Prova de Vida anual”. Além disso, Alexis Tam “também deu um forte contributo no estreitamento das relações entre a Casa de Macau em Portugal e os estudantes bolseiros da RAEM que estudam em Portugal, do qual resultou um protocolo com a associação que representa esses estudantes, assinado em 2022”, adianta a direcção da Casa de Macau em Portugal. O fim do Turismo O percurso de Alexis Tam na Função Pública de Macau foi longo, traçado ao longo de décadas, destacando-se como uma das figuras que fez parte da fornada de dirigentes formados na década de 90. Depois de ter sido assessor do Chefe do Executivo, Chui Sai On, durante vários anos, Alexis Tam passou a secretário para os Assuntos Sociais e Cultura em 2014, substituindo Cheong U, que havia dirigido a secretaria durante cinco anos. Do seu mandato como secretário registam-se algumas polémicas, como o caso do convite ao premiado arquitecto português Siza Vieira para recuperar e renovar o antigo edifício do Hotel Estoril, que foi depois retirado em prol de um concurso público para seleccionar um projecto de arquitectura. Siza Vieira nunca se pronunciou sobre o projecto falhado, mas o arquitecto Carlos Castanheira, que com ele trabalha, assumiu numa entrevista ao HM, em Dezembro de 2020, que a retirada do convite foi um gesto “extremamente deselegante”. A questão da pataca Ho Iat Seng não pareceu satisfeito com os gastos da tutela dos Assuntos Sociais e Cultura e afastou Alexis Tam do Governo assim que tomou posse como Chefe do Executivo, nomeando-o para Lisboa. Numa ocasião pública, chegou a falar do gasto de 35 por cento do orçamento anual do Executivo só nesta área, que abrange a cultura, a saúde, a educação e o desporto, “pelo menos 30 mil milhões de patacas”. Além disso, Ho Iat Seng lembrou que a secretaria foi alvo de “várias queixas do público”, factor que para o Chefe do Executivo constituiu “um problema”. Em Lisboa, Alexis Tam ajudou os estudantes da RAEM em tempos de pandemia, quando as viagens eram mais difíceis do que o habitual e se verificavam problemas logísticos. Mas o seu mandato ficou marcado pelo fim da representação da Direcção dos Serviços de Turismo em Portugal, levando ao encerramento da Livraria, em 2021. A medida deveu-se a cortes orçamentais relacionados, mais uma vez, com a pandemia, mas teve como grande consequência a ausência de livros editados em Macau na Feira do Livro de Lisboa, evento que todos os anos acontece no Parque Eduardo VII. À data, a delegação adiantou ao HM que estava a “equacionar a futura participação no evento”, mesmo sem planos para reabrir a livraria. No entanto, Macau não esteve representada oficialmente na Feira do Livro do ano passado. Tam na invicta Mas Alexis Tam não marcou a sua presença apenas na capital portuguesa. Prova disso é a atribuição, da parte da Câmara Municipal do Porto, da Medalha Municipal de Mérito pelo apoio dado no período da pandemia. Numa das raras vezes em que falou com jornalistas na qualidade de chefe da delegação, Alexis Tam comentou ao Jornal Tribuna de Macau, em Julho do ano passado, sobre o seu trabalho em Lisboa. “No fundo, a delegação é praticamente um serviço ou uma representação do governo da RAEM, ganhou um estatuto muito especial. De certa forma, funciona como uma embaixada em Portugal e por isso estou a exercer as funções de diplomata e participo em muitas acções de diplomacia.” Na mesma entrevista, o dirigente admitiu “não ter dificuldades” no desempenho do cargo, “só mesmo a pandemia e a recessão económica”, que levou ao corte do orçamento destinado à delegação. “Uma das competências nas quais ainda nos vamos focar é em mais acções de promoção turística. Mas, como em Macau ainda está tudo fechado e não está para abrir de imediato, o Governo ainda não quer fazer actividades de promoção turística”, disse, na altura. Além da medalha atribuída pela cidade do Porto, Alexis Tam recebeu ainda, quando era secretário, o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Lisboa, como forma de homenagem e reconhecimento “de uma figura marcante e inspiradora para o desenvolvimento da educação e, em especial, para a promoção do ensino da língua e da cultura portuguesa em Macau e na China”. Nascido em Julho de 1962, no Myanmar, Alexis Tam estudou na China, em Portugal e na Escócia. Em 2014, por ocasião do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique. Por sua vez, Lúcia Abrantes dos Santos chegou a ser assessora de Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, a partir de 2014, para assumir, em Novembro de 2019, o cargo de adjunta de Alexis Tam.
Andreia Sofia Silva EventosCinema | Primeiro festival para a comunidade LGBT acontece em Fevereiro “Let’s Get Beautiful Together Queen!” é o tema da primeira edição do Festival Internacional de Cinema Queer de Macau, dedicado à comunidade LGBT. Os filmes serão exibidos nos Cinemas Emperor do hotel Lisboeta, entre os dias 3 e 12 de Fevereiro. “My Own Private Idaho”, filme do realizador Gus Van Sant, é uma das películas em cartaz Anunciado há meses e adiado devido à pandemia, o primeiro Festival Internacional de Cinema Queer de Macau tem finalmente datas e locais de exibição. Entre os dias 3 e 12 de Fevereiro será possível ver um cartaz repleto de filmes dedicados à comunidade LGBT [Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero] nos Cinemas Emperor, no Lisboeta. O tema da edição de estreia do festival é “Let’s Get Beautiful Together Queen!” [Rainha! Vamos ser lindos todos juntos], sendo o cartaz, cheio de cores, a fim de “expressar a beleza do mundo queer”, da autoria do designer Jimi Vong. “As cinco cores são icónicas na cultura queer. Não há estereótipos nem discriminação, pois apenas queremos viver como seres humanos, felizes e confidentes”, aponta a organização na página de Facebook do festival. A pessoa por detrás deste evento é Jay Sun, que em Junho do ano passado começou a querer concretizar uma ideia totalmente inédita em Macau. Figura ligada ao mundo do cinema local e à organização de muitos festivais e eventos nesta área, Jay Sun queria arriscar num terreno ainda bastante conservador. À data, disse ao HM que “há muito tempo que planeava fazer este evento”, embora ainda não tivesse surgido “o momento certo”. “Hong Kong e Taiwan têm os seus festivais ligados às comunidades LGBT e Queer, e mesmo na China existe um festival de cinema deste género. Pensei porque é que Macau não teria também um evento destes, que é a forma de expressão mais básica da nossa comunidade, relativamente à diversidade de género”, referiu. Na página de Facebook do festival, explica-se porque é que o território necessita de um festival de cinema para esta comunidade. “[A comunidade LGBT] tem histórias para contar, todas diferentes, que precisam de ser contadas e ouvidas. As histórias ajudam-nos a compreendermo-nos, e o cinema visualiza-as. Pode ajudar a expandir o nosso pensamento para muito, muito longe. O Festival espera poder conectar-se com a comunidade através da arte fílmica, ganhando maior compreensão da parte do público e indo contra a discriminação desnecessária.” Em cartaz Apesar de ainda não estar fechado, o cartaz do festival já contém alguns filmes, como é o caso de “My Own Private Idaho”, do realizador americano Gus Van Sant, tido como um clássico do chamado cinema queer com dois actores de renome: River Phoenix e Keanu Reeves. Outro filme escolhido pela organização é “The Blue Caftan”, do realizador marroquino Maryam Touzani. “Gentil e delicado, o filme expressa as emoções mais profundas e escondidas de um homem casado e dos seus receios e desejos”, aponta a organização. “The Blue Caftan” foi distinguido na edição do ano passado do Festival de Cinema de Cannes, além de ter sido escolhido para representar Marrocos na lista dos filmes candidatos à categoria de “Melhor Filme Internacional” dos Óscares, cuja escolha será conhecida este ano. Ao HM, Jay Sun adiantou querer ter um cartaz eclético, mas não muito extenso, onde a qualidade promete dominar. “Teremos uma mostra de filmes asiáticos e clássicos também, para mostrar películas de que todos gostam. Não está ainda confirmado, mas gostaria de incluir uma secção de curtas-metragens produzidas por locais, embora tenha percebido que não há assim muitos filmes feitos em Macau sobre este tema”, frisou.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeConsumo | Recuperada confiança no último trimestre O mais recente Índice de Confiança dos Consumidores relativo ao último trimestre, divulgado pela Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau, revela que os consumidores estão mais confiantes nas áreas do emprego, inflação ou imobiliário, entre outros, mas o aumento de visitantes e a política “1+4” pode contribuir para uma maior confiança no consumo Os consumidores em Macau parecem estar mais confiantes. É o que mostra o mais recente Índice de Confiança dos Consumidores, divulgado pela Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST, na sigla inglesa), relativo ao quarto trimestre de 2022. O Índice foi de 77,56 pontos, numa escala de 0 a 200, tendo sido registado um aumento de cerca de oito pontos face ao terceiro trimestre do ano passado, quando o Índice foi de 68,87 pontos. Além disso, as seis categorias do Índice, relacionadas com o emprego, economia local, investimento em acções, inflação, qualidade de vida e imobiliário, registaram também subidas. O maior crescimento registou-se na confiança quanto ao emprego, de 18,69 por cento, enquanto a confiança na economia local teve um aumento de 17,89 por cento. No que toca ao investimento em acções, houve uma subida de 12,97 por cento no Índice, enquanto em matéria de confiança na inflação e nível de preços o aumento foi de 9,68 por cento. Relativamente à qualidade de vida registou-se um aumento de 8,13 por cento, enquanto na área da confiança no sector do imobiliário o aumento foi de 9,4 por cento. Mais melhoras O estudo foi produzido pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável da MUST entre 2 e 13 de Dezembro último, tendo sido inquiridos 809 residentes. Uma vez que 0 pontos significam total ausência de confiança, 100 pontos significam uma confiança média e 200 uma confiança plena por parte dos consumidores, o facto de o Índice ter permanecido abaixo dos 100 pontos mostra que os residentes de Macau continuam sem confiança em várias áreas de consumo, ainda que tenha havido um aumento nos pontos do Índice. Os autores do estudo defendem que, apesar desta falta de confiança, a economia de Macau já saiu do ponto mais baixo, tendo havido alguma recuperação da esperança dos consumidores. Continua a existir uma menor procura tendo em conta o abrandamento da economia global, o aumento da taxa de inflação e a turbulência dos mercados externos, além de que a economia na China precisa ainda de recuperar mais. Os autores do estudo dizem que todos esses factores causam stress aos consumidores, com visíveis impactos no mercado. É ainda concluído que a estratégia de “1+4” para a economia local, apresentada pelo Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, nas últimas Linhas de Acção Governativa, poderá ajudar numa maior recuperação da confiança dos consumidores, uma vez que se propõe uma diversificação económica com recurso a novas indústrias. Além disso, o aumento gradual do número de visitantes também poderá ajudar no aumento da confiança, apontam os académicos.
Andreia Sofia Silva PolíticaJogo | Ella Lei quer 90% de contratação de residentes A deputada Ella Lei interpelou o Governo sobre os novos contratos de concessão de jogo, pedindo que seja garantido o emprego de residentes. Na interpelação oral, a deputada defende o aumento da percentagem de contratação. “Em comparação com o final de Janeiro de 2020, e até finais de Outubro do corrente ano, as seis concessionárias contrataram menos 16,774 trabalhadores não residentes (TNR). A percentagem de trabalhadores locais em cargos de nível médio e superior tem de atingir o limite mínimo de 85 por cento, mas o Governo deve aumentar esta percentagem para 90 por cento, no mínimo.” Além disso, a deputada pede que sejam definidos “critérios para a contratação de mais trabalhadores locais para outros postos de trabalho”, além de se exigir às concessionárias “que se empenhem mais na formação, na contratação e na promoção dos trabalhadores locais”. Ella Lei questiona ainda as autoridades sobre os planos governamentais para “aumentar os elementos não jogo e quais as ideias para o seu desenvolvimento a curto, médio e longo prazo”, além de requerer “indicadores para exigir às concessionárias a concretização das responsabilidades sociais”, a fim de avaliar o cumprimento dos contratos. A todas estas questões o Governo terá de dar resposta na Assembleia Legislativa.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaCentro modal de transportes | Governo promete acompanhar estragos O Governo diz estar a acompanhar os estragos no pavimento do Centro Modal de Transportes da Barra, aberto há apenas um mês. Entretanto, o deputado Leong Sun Iok exige que se sejam apuradas responsabilidades em matéria de fiscalização e qualidade das obras públicas Foi inaugurado há cerca de um mês e custou aos cofres públicos mais de 1,4 milhões de patacas, mas o Centro Modal de Transportes da Barra já apresenta grandes estragos no pavimento. Na quinta-feira, o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, disse que o Governo está a acompanhar o caso e a contactar o empreiteiro da obra. Citado pelo jornal Ou Mun, Raimundo do Rosário garantiu que não está em causa qualquer problema estrutural, tendo já sido limpo o local e contactado o fornecedor dos materiais de pavimento, que deverá chegar a Macau esta semana. O secretário adiantou ainda ser necessário, primeiro, ouvir todas as partes envolvidas na obra antes de tomar uma decisão sobre o problema. Os jornalistas questionaram a ocorrência de estragos um mês após a inauguração, ao que Raimundo do Rosário respondeu não desejar que ocorram problemas, mas que é difícil a qualquer projecto público estar livre deles. O governante prometeu acompanhar o caso. Exigidas respostas Entretanto há mais um deputado a questionar estes estragos, após os deputados ligados à União Geral das Associações de Moradores de Macau terem exigido uma investigação. Leong Sun Iok, através de uma interpelação escrita, diz ter visitado o local para verificar os estragos de perto e falado com os motoristas dos autocarros, que lhe confirmaram que os danos surgiram pouco tempo depois da inauguração do Centro. “Embora as autoridades tenham solicitado ao empreiteiro que faça os reparos no pavimento o mais rapidamente possível, persistem os problemas nas obras públicas e na supervisão insuficiente. As autoridades competentes devem melhorar a qualidade dos projectos desde a origem, reforçando a supervisão e pedindo, de forma rigorosa, responsabilidades aos empreiteiros”, defendeu. Leong Sun Iok chamou a atenção para o facto de, no caso do pavimento do Centro Modal de Transportes da Barra, não estar em causa apenas o problema de materiais, a sua concepção e construção, mas também as falhas na supervisão da obra. Desta forma, o deputado pede uma revisão dos procedimentos para evitar que problemas semelhantes se repitam.
Andreia Sofia Silva SociedadeISCTE | Hoje Macau é objecto de estudo em tese de mestrado O jornal Hoje Macau foi objecto de estudo numa tese de mestrado defendida no Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) por Madalena da Conceição Miranda Nunes da Silva. A tese tem como título “Região Administrativa Especial de Macau: O exemplo do Hoje Macau na atualidade do jornalismo lusófono regional”, foi produzida no âmbito do mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação e teve como orientador o professor catedrático do ISCTE Gustavo Cardoso, além da co-orientação de Jorge Vieira, professor auxiliar da mesma instituição. Um total de 196 edições do HM foram analisadas para perceber até que ponto o caso da saída dos jornalistas da TDM “teve repercussões detetáveis relativas aos receios de que o jornalismo de língua portuguesa na região se torne numa via de propaganda política”. A autora da tese conclui que se “pôde observar um jornalismo tendencialmente crítico, afastado do propagandismo, contudo amigável com a terra-mãe”, a China.
Andreia Sofia Silva EventosMGM | “Rei do Açúcar” expõe obras no Cotai Zhou Yi, conhecido como o “Rei do Açúcar” na China, apresenta, pela primeira vez em Macau, uma exposição com esculturas feitas com fondant, uma massa de açúcar fundido. O público poderá ver esta mostra permanente de cinco esculturas no espaço “Infinite Harmony” no Spectacle, no MGM Cotai É uma forma doce de começar um novo ano, aliando a doçaria à arte. O MGM Cotai apresenta, desde quarta-feira, a exposição do artista Zhou Yi, conhecido na China como o “Rei do Açúcar”, devido à sua capacidade de fazer grandes e belas esculturas com fondant, uma massa de açúcar fundido muito utilizada na doçaria. As cinco obras podem ser vistas de forma permanente no espaço Infinite Harmony, no Spectacle, sendo esta a primeira vez que Zhou Yi expõe em Macau. Apresentam-se cinco grandes esculturas feitas com materiais habitualmente usados para fazer bolos trabalhados com mestria e talento, recorrendo a técnicas utilizadas na modelagem de alimentos como é o caso da pintura em spray ou esculturas feitas com massa de pasteleiro. Ao mesmo tempo, revelam-se traços da cultura chinesa. Segundo um comunicado, estas esculturas foram criadas em exclusivo para a mostra do MGM Cotai, tendo temas relacionados com o lado clássico da cultura chinesa, como é o caso de “Três Livros e Seis Rituais”, a cultura folk da região de Lingnan, as danças do leão ou a tradição do Yum Cha, uma das refeições mais conhecidas da gastronomia chinesa. Estes trabalhos “rejuvenescem verdadeiramente as vivências e a história [da China], levando a arte a um novo nível”. “A exposição leva o público a explorar o charme do património imaterial e cultural, bem como a cultura chinesa, ao mesmo tempo que conta as grandes histórias chinesas através de um artesanato incrível dos dias contemporâneos”, acrescenta-se ainda na mesma nota. História e cultura A exposição tem curadoria do MGM e da marca Sugar King e foi preparada durante um ano. O autor afirmou que “através dos temas artísticos, que vão desde as tradições folk chinesas aos mitos e figuras históricas, espero poder mostrar a cultura chinesa tradicional para um público mais alargado através do meio artístico bastante popular, a arte com fondant. Acredito que a cultura chinesa necessita de ser vista e reconhecida a fim de realizar o rejuvenescimento da nossa nação”, disse Zhou Yi. A carreira deste artista do açúcar começou com a aprendizagem da escultura chinesa e o trabalho com massa de pasteleiro, tendo depois explorado sozinho a arte feita com fondant e outras técnicas de modelagem de alimentos, a fim de os transformar em obras de arte. Hoje é um artista reconhecido internacionalmente nesta área, tendo já ganho muitos prémios e distinções, como é o caso do Best Award [Melhor Prémio] no evento “Cake International” [Bolo Internacional] em 2017. Zhou Yi ganhou também, no ano passado, o prémio National Culture Inheritance [Herança da Cultura Nacional].
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCovid-19 | Fim de restrições e testes para ir ao Interior da China A partir da meia-noite de domingo deixa de ser obrigatório, para quem viaja de Macau, apresentar teste de ácido nucleico à entrada no Interior da China, desde que não tenha estado no estrangeiro nos últimos sete dias. Também quem vem do estrangeiro para Macau, passa a poder entrar no território sem limitações, tal como em 2019 O dia de ontem ficou marcado com o anúncio da eliminação de quase todas as medidas restritivas no âmbito da covid-19. Mediante decisão do Mecanismo Conjunto de Prevenção e Controlo do Conselho de Estado, foi decretado de que a partir de domingo vai deixar de ser obrigatório apresentar teste de ácido nucleico para quem viaja de Macau para o Interior da China, desde que não tenha viajado para o estrangeiro nos sete dias anteriores. Mas quem viaja de Hong Kong, Taiwan ou país estrangeiro, chegue a Macau e deseje ir, logo após a viagem, ao Interior da China, terá de apresentar teste negativo com validade de 48 horas. Por sua vez, os viajantes de Hong Kong para o Interior da China também deixam de ter de fazer o teste à chegada, bastando apenas apresentar um teste negativo à covid-19 feito nas últimas 48 horas. Será medida a temperatura a estas pessoas e, caso apresentem resultados positivos e sintomas ligeiros, podem escolher o local de isolamento. Deixa de ser aceite também o resultado do teste rápido de 24 horas. Destaque também para o facto de, a partir de domingo, quem entrar em Macau vindo do estrangeiro deixa de necessitar de autorização prévia dos Serviços de Saúde de Macau (SSM), tal como no período pré-pandemia. São ainda eliminadas as medidas de controlo de gestão de saúde, como a declaração de febre ou outros sintomas. Quanto às viagens de autocarro dourado ou de ferry entre Macau e Hong Kong, as autoridades garantem estar “para breve” a sua total normalização. Na prática, todas as pessoas de todas as nacionalidades passam a poder entrar em Macau sem as restrições habituais relacionadas com a pandemia. Na conferência de imprensa de ontem do centro de Coordenação e de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, adiantou que domingo, 8, marca o fim do chamado período de transição no que à pandemia diz respeito. “Podemos considerar esta situação como uma epidemia local que existe no seio da comunidade. Poderá haver um novo surto, tal como acontece noutros locais, mas será em menor escala. Dentro de três a seis meses haverá uma elevada imunidade perante o mesmo vírus, e cerca de cinco por cento das pessoas poderão ficar novamente infectadas.” Tendo sido atingido o pico de infecções no período do Natal, e numa altura em que 60 a 70 por cento da população já foi atingida pela covid-19, a secretária espera ainda uma maior recuperação aquando da chegada do Ano Novo Chinês. “Atingimos o pico, e a linha está a começar a descer. Dia 1 já notámos uma certa estabilidade nas infecções locais e no Interior da China. Esperamos que haja uma retoma da economia e da circulação de pessoas no período do Ano Novo Chinês”, adiantou. Resposta suficiente De entre a população, estiveram infectados cerca de 70 por cento dos professores, tendo sido registada uma percentagem semelhante junto dos profissionais de saúde. Ainda assim, Alvis Lo, director dos Serviços de Saúde de Macau (SSM), frisou que estes são “dados apurados segundo as estatísticas disponíveis, pelo que não podem ser considerados conclusivos nem mostram o número real de infectados”. Isto porque muitos infectados não terão feito o registo no código de saúde, admitiram as autoridades. Alvis Lo adiantou ainda que foram aumentadas 700 camas em unidades de isolamento no Centro Hospitalar Conde de São Januário, Centro Clínico de Saúde Pública do Alto Coloane e no Dome, a fim de dar resposta ao elevado número de doentes covid-19. O responsável frisou que, neste momento, os SSM “têm capacidade suficiente de resposta” ao surto. Nos últimos dias foram encaminhadas para consultas externas comunitárias duas mil pessoas, tendo sido atingido o número de 400 ambulâncias por dia nas urgências do hospital público, onde foram recebidas diariamente 1.400 doentes. Relativamente à falta de medicamentos nas farmácias, foi referido que ainda estão a ser discutidas novas medidas de limitação da compra com entidades com o Instituto de Supervisão e Administração Farmacêutica. Permanece o uso do código de saúde, que, num futuro próximo, “poderá ser levantado para a entrada em serviços públicos ou locais de trabalho”. “Entendemos que deixará de ser obrigatório, mas usado apenas em casos necessários”, disse Alvis Lo. Sobre o acesso aos casinos, as medidas serão anunciadas a título posterior. Mortes recorde A conferência de imprensa ficou marcada pela tentativa de definição do que é, afinal, uma morte por covid, sendo que, entre 13 de Dezembro e esta quarta-feira, as autoridades contabilizaram 57 mortes por esta causa, apesar de terem sido registados 600 óbitos em Dezembro, “um número elevado” tendo em conta que, em Dezembro de 2021, morreram apenas 230 pessoas. “Cada país tem os seus critérios para definir mortes por covid mas nós conformamo-nos com a definição feita pelo nosso país: se uma pessoa com uma doença estiver infectada e houver uma disfunção pulmonar e respiratória, entendemos que é uma morte causada pela covid. Fazemos uma diferenciação nos casos dos portadores de doenças crónicas ou graves no final da vida, caso fiquem infectadas”, disse Alvis Lo. O director dos SSM salientou que “temos muitas fontes de infecção, e há pessoas que faleceram por causa da covid ou outras doenças. De uma forma objectiva podemos dizer que houve muitas infecções, mas é complicado distinguir se a causa de morte se deveu à covid. Sabemos que muitos não declararam que estavam com covid”, adiantou o director dos SSM. Questionado sobre os casos de pessoas que foram encontradas mortas nas suas casas, Alvis Lo referiu que “podem ser muitas as causas”. Relativamente aos serviços funerários, “pode haver uma saturação” dadas as “grandes dificuldades no transporte dos corpos para o Interior da China, que não era possível devido à infecção dos próprios trabalhadores”. “Sabemos que mais pessoas morreram, os familiares também estavam doentes e cerimónias foram adiadas, pelo que houve uma sobreposição nas marcações”, apontaram as autoridades, tendo sido feita a promessa de realização dos funerais pendentes até ao Ano Novo Chinês.
Andreia Sofia Silva Eventos MancheteSeac Pai Van | Confraria Macaense negoceia espaço para sede Distinguida com uma medalha de mérito, a Confraria da Gastronomia Macaense permanece sem sede própria desde a sua criação, há 16 anos. Carlos Anok Cabral, presidente, diz que está a ser analisada a possibilidade de mudança de instalações para a Escola Oficial de Seac Pai Van A Confraria da Gastronomia Macaense está a analisar com o Instituto de Formação Turística a possibilidade de poder ocupar um espaço próprio na Escola Oficial de Seac Pai Van, em Coloane, para ali poder ministrar cursos e workshops. A informação foi avançada ao HM pelo seu presidente, Carlos Anok Cabral, semanas após a atribuição de uma medalha de mérito cultural pelo Chefe do Executivo, Ho Iat Seng. “No final do ano passado apresentámos uma carta sobre a possibilidade de a gastronomia macaense estar presente nessa escola.” Este é, aliás, o grande desafio da medalhada Confraria, que há 16 anos ocupa um espaço provisório cedido pela Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), no mesmo edifício onde funciona o jardim de infância D. José da Costa Nunes. “Temos de resolver o problema da falta de uma sede em primeiro lugar, pois sem esse local não podemos ter cursos de culinária e workshops”, frisou Carlos Anok Cabral, que diz estar dependente da colaboração com associações e entidades públicas e privadas para realizar actividades de promoção e divulgação deste tipo de culinária. Exemplo disso foi o workshop realizado em Novembro com os alunos da Escola Nossa Senhora de Fátima, em que foram utilizadas as instalações da Escola Oficial de Seac Pai Van. “Queremos poder dar cursos para que, no futuro, mais pessoas compreendam as técnicas de uma gastronomia de fusão. As pessoas pensam que pode ser uma comida chinesa ou portuguesa, mas não é”, adiantou. Mesmo com a distinção, a Confraria vê-se ainda a braços com dificuldades de ordem financeira. “Pedimos ajuda à Fundação Macau, mas há muitas regras e não conseguimos ter um subsídio”, lamentou, à excepção para a participação da Confraria nos congressos anuais do Conselho Europeu das Confrarias Enogastronómicas (CEUCO), que decorrem na Europa. Carlos Anok Cabral diz que o trabalho de divulgação da comida macaense é feito há muitos anos, mas “não chega”. Na lista do que falta fazer persiste o eterno problema da definição do que é um autêntico prato macaense. “Os restaurantes de comida portuguesa misturam os pratos com a comida macaense. E uma das coisas que a Direcção dos Serviços de Turismo tem de fazer é ver os menus destes espaços, pois é preciso separar comida portuguesa da macaense, mas nunca vejo isto ser feito nos restaurantes. Penso que devem ser implementadas regras para as pessoas distinguirem os pratos. Vemos que muitos cozinheiros são chineses ou filipinos, mas quando confeccionam os pratos macaenses usam a forma chinesa. Então, sai um outro prato totalmente diferente.” Nova candidatura Carlos Anok Cabral diz-se surpreendido com a obtenção da medalha, que chegou semanas antes da morte de um dos grandes fundadores da Confraria, José Manuel Rodrigues. Ao advogado e ex-deputado falecido, o presidente diz-se eternamente grato. “Se não fosse ele não haveria Confraria da Gastronomia Macaense”, assume. “Iremos trabalhar mais para manter a nossa cultura, porque a medalha é um reconhecimento não apenas da nossa Confraria, mas para toda a comunidade macaense”, referiu. No cargo de presidente desde 2020, Carlos Anok Cabral diz-se disposto a recandidatar-se às eleições para os órgãos sociais deste ano. Os três anos da pandemia foram de estagnação, mas a Confraria tem mantido a parceria com associações e Governo, organizando palestras e cursos. Falando com o HM, Carlos Anok Cabral não quis deixar de dar os parabéns à Associação dos Macaenses pela realização do Chá Gordo, mas deixa o alerta: “Dentro da comunidade macaense há classes sociais, e digo isto porque cada família tem o seu chá gordo. O chá gordo feito pela ADM não é seguido por todas as famílias, pois os pratos podem ser diferentes. Mas isso não significa que tenha sido um mau chá gordo”, concluiu.
Andreia Sofia Silva PolíticaLam Lon Wai pede maior generalização das vacinas contra a covid-19 A covid-19 já assolou todo o mundo e, mesmo após uma onda de infecções generalizadas em Macau, ainda persistem dúvidas relativamente à vacinação. A ideia é deixada pelo deputado Lam Lon Wai, que, numa interpelação oral submetida ao Governo, onde pede uma maior generalização das vacinas e mais explicações da parte das autoridades de saúde sobre este assunto. Lam Lon Wai defende que os residentes têm ainda muitas dúvidas sobre as vacinas, nomeadamente quanto aos seus efeitos e resposta face a sintomas graves de covid. O deputado ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) lembrou que a maioria dos residentes já esteve infectada, mas existe ainda um grande desconhecimento face aos efeitos das vacinas. Neste sentido, Lam Lon Wai exige que o Governo tenha uma política completa relativa à vacinação e que dê explicações claras à população. Importar é preciso Na mesma interpelação oral, Lam Lon Wai questiona se o Executivo vai ou não importar outros tipos de vacinas contra a covid-19 para que a população tenha mais opções de escolha. Isto porque, actualmente, existem apenas dois tipos de vacinas em Macau. Ainda sobre esta matéria, Lam Lon Wai falou do caso específico dos idosos, cuja taxa de vacinação se mantém baixa, existindo uma grande maioria de pessoas com mais de 80 anos que nunca foi vacinada. Quanto aos menores de 18 anos, o deputado ligado à FAOM diz que há muitos pais com receio de vacinar os filhos por terem medo dos possíveis efeitos colaterais. Assim sendo, Lam Lon Wai entende que seria importante realizar um estudo em conjunto com instituições médicas para que se conheça a protecção que as diversas vacinas podem oferecer e apresente os dados à população. O legislador questiona também se os residentes poderão tomar a dose de reforço ao final de seis meses após a última toma ou se será permitida a administração de vacinas mistas. Recordando que mais de 90 por cento dos residentes já foram vacinados com duas doses, sendo que já passou mais de meio ano, ou mesmo um ano, desde que tomaram a última dose da vacina. A todas estas perguntas o Governo terá de dar resposta no hemiciclo, numa sessão plenária que não tem ainda data marcada.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaCPU aprova plano de construção da nova Biblioteca Central Foi ontem aprovado pelo Conselho do Planeamento Urbanístico o projecto de construção da nova Biblioteca Central no edifício do antigo Hotel Estoril, mas o mesmo só deverá estar concluído no final deste ano. Destaque para a aprovação do campus de escolas e parque desportivo num dos lotes da zona A dos Novos Aterros Os membros do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU) deram ontem luz verde ao projecto de construção da nova Biblioteca Central no edifício do antigo Hotel Estoril. Situado nas imediações da avenida de Sidónio Pais, Estrada da Vitória e Rua Filipe O’Costa, o projecto está a ser desenvolvido pelo atelier de arquitectura Mecanoo, sediado na Holanda, e que conta com o português Nuno Fontarra na equipa. A aprovação foi feita por unanimidade e não mereceu comentários da parte dos membros do CPU. À margem da reunião, e segundo o canal chinês da Rádio Macau, um membro do Governo assegurou que o projecto da nova biblioteca estará completamente concluído até ao final deste ano, existindo um plano de preservação das árvores situadas no local. Destaque ainda para a aprovação, na reunião de ontem, de uma zona com fins educativos e desportivos no lote B1 da zona A dos Novos Aterros, onde serão construídos uma escola, um complexo de serviços educativos e um centro de juventude. No total, o espaço terá uma área de 30 mil metros quadrados, com edifícios que não irão além dos 30 metros de altura. Apesar da garantia de que será “proporcionado um espaço adequado para a espera dos veículos”, muitos membros do CPU mostraram reservas quanto ao planeamento do trânsito nesta zona. “O conceito de uma vila educativa é novo e muitos alunos serão acompanhados pelos pais. Temo um grande engarrafamento de trânsito, e temos o exemplo da avenida Horta e Costa. No planeamento [da obra] teremos de considerar esta questão”, disse um dos membros. O subdirector da Direcção dos Serviços de Solos e Construção Urbana (DSSCU) adiantou que a prioridade será sempre o transporte público. “Teremos o metro ligeiro e os autocarros para resolver a questão do trânsito. Foi gasto muito dinheiro para construir uma rede de transportes e na zona A queremos usar as zonas subterrâneas, que são já uma tendência, pois há limitação de espaço. Haverá lugares de estacionamento junto ao metro ligeiro e vila educativa, que por ser uma zona especial estará sujeita a exigências próprias dos serviços de educação. Há mais espaço para viaturas, mas na zona subterrânea”, disse Mak Tat Io. Este adiantou ainda que “as escolas vão ficar mais concentradas na zona nordeste, não muito afastadas da zona de peões”. Desta forma, haverá “um sistema pedonal lento, que vai permitir a circulação a pé, evitando-se o uso do carro pelos encarregados de educação, que também podem usar as zonas subterrâneas para ir buscar e largar os seus filhos”. Tudo ligado Outro membro do CPU deixou cinco recomendações em prol de uma maior conexão entre pessoas e transportes junto a esta zona educativa e desportiva, tendo sido feito o pedido para “uma ligação entre as zonas norte e sul” da zona A dos Novos Aterros, tendo em conta “o fluxo de pessoas” que se vai verificar. Este membro pediu ainda mais passagens superiores para peões, tendo em conta a segurança dos mesmos. Mak Tat Io assegurou que todas as infra-estruturas serão construídas. “Poderá haver uma ligação entre a zona sul e norte para o fluxo de pessoas, pois a estrada é mais larga e teremos transportes. Haverá passagens superiores para peões e zonas subterrâneas. Não está no planeamento mais uma via para bicicletas, mas pensamos sempre que as pessoas podem andar e não será necessário andar de bicicleta. Haverá saídas suficientes no túnel que fazem a ligação com as zonas de transporte”, adiantou o subdirector da DSSCU. Na reunião de ontem do CPU foram ainda aprovadas mais sete plantas de condições urbanísticas de projectos de terrenos que não mereceram mais comentários por parte dos membros.
Andreia Sofia Silva Eventos MancheteMúsica | Carlos Piteira e Jaime Mota reavivam “A Outra Banda” Co-fundador e membro de “A Outra Banda”, projecto musical que existiu em Macau entre 1990 e 1998, o antropólogo Carlos Piteira resolveu recriar a banda em Portugal, dando novas roupagens às músicas e letras. Cantar Macau, bem como os seus poetas e escritores, é o principal lema de uma iniciativa que tem marcado presença em alguns eventos em Portugal ligados a Macau e à lusofonia Entre 1990 e 1998, quando Macau se preparava para dizer adeus à Administração portuguesa, existiu no território um projecto musical único dedicado a cantar a sua cultura e literatura. “A Outra Banda”, co-fundada pelo antropólogo e investigador Carlos Piteira, foi um projecto musical composto por cinco músicos que terminou após a edição do primeiro um álbum. Anos depois, e já em Portugal, Carlos Piteira decidiu “renascer das cinzas” este projecto, desta vez apenas com o músico Jaime Mota. “A Outra Banda” tem marcado presença em eventos ligados a Macau e à lusofonia, a convite de entidades como a Casa de Macau em Lisboa ou a UCCLA – União das Cidades Capitais da Língua Portuguesa, entre outras. “Temos estado a navegar e prontos a dar voz se nos chamarem”, conta, entre risos, Carlos Piteira ao HM. “Queremos falar Macau na voz dos poetas e dar vida ou voz à poesia ou música que mantém viva a chama de Macau e dos macaenses. Trabalhamos temas do quotidiano de Macau e as festividades, como é o caso do Festival dos Barcos Dragão. Tentamos dar sempre algum enquadramento aos temas. Também retratamos algumas situações ligadas à história de Macau, como é o caso das casas de ópio”, adiantou. Essencialmente, “A Outra Banda” trabalha os concertos e os temas em torno de quatro abordagens, sendo que o patuá, através da poesia de Adé dos Santos Ferreira, não é esquecido. Cantam também as palavras de Camilo Pessanha ou, de forma mais contemporânea, Jorge Arrimar, poeta e ex-residente de Macau. “A Outra Banda” dá voz , no total, a dez poetas de Macau. “Este é um projecto pessoal que não conseguiria fazer sozinho”, disse Carlos Piteira, que descreve uma conjugação de gostos e interesses por Macau na ligação a Jaime Mota. “Conheci o Jaime ao longo dos tempos, das bandas dos anos 60 e 70. Ele tocava teclas e fazia algumas orquestrações. Tocámos juntos algumas vezes e penso que ele também se identificou muito com Macau, local com o qual criou uma ligação afectiva.” Novo figurino O projecto nascido há 30 anos tem hoje o mesmo nome, mas há diferenças na musicalidade e na apresentação dos temas. “Tentámos recuperar as melodias que já estavam construídas e esquecidas, que faziam parte da minha memória e da memória dos que estiveram em Macau nesse período, e reproduzi-las num contexto de divulgação dos poetas e do que foi um percurso feito em Macau”, adiantou Carlos Piteira. “Decidi manter o nome do grupo porque é uma forma de tributo ao que fizemos em Macau naquela década, mas com uma roupagem diferente, não tão elaborada. Lá tínhamos outras condições, mais músicos, e a possibilidade de tocar com a orquestra chinesa. Aqui estamos reduzidos a um papel mais singular”, frisou Piteira. Em Macau, nos anos 90, “A Outra Banda” chegou a integrar o cartaz do Festival Internacional das Artes de Macau, bem como a tocar com a orquestra chinesa. Anos depois, Carlos Piteira e Jaime Mota decidiram “recuperar os arranjos, as sonoridades que passaram pelo grupo e as vocalizações”. “O projecto nasce por prazer lúdico que temos em fazer música e também pela necessidade de marcar a presença de Macau pela via da literatura e musicalidade. Sendo macaense e observador das questões de Macau achei que seria importante esta divulgação, ainda que de forma amadora. Não temos nenhuma pretensão de profissionalismo. Queremos conjugar a componente dos afectos.”
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadePandemia | Kiang Wu sem camas para doentes covid As centenas de doentes covid-19 registados em Macau diariamente faz com que o hospital Kiang Wu já não tenha camas disponíveis. Por sua vez, o Centro Hospitalar Conde de São Januário está a receber cerca de 200 ambulâncias por dia no serviço de urgência, mais do dobro face ao número registado no ano passado Os serviços médicos em Macau, tanto públicos como privados, começam a ter cada vez mais dificuldade em dar resposta ao crescente número de casos covid-19. Segundo a TDM, o hospital Kiang Wu já não tem camas para este tipo de doentes, tendo Li Peng Bin, médico e gestor do hospital privado, explicado que houve uma redução do número de doentes no serviço de urgência, mas há mais casos com sintomas graves, sobretudo junto dos mais idosos, que necessitam de internamento. “O serviço de urgência no hospital está a tratar cerca de 600 pacientes por dia, o que é duas vezes mais face ao número de casos que tínhamos há umas semanas. No entanto, o serviço da linha de atendimento [para doentes covid-19] aliviou a pressão registada pelo pessoal médico do hospital e reduziu o número de pacientes nas urgências”, adiantou Ieng Kam Tou, também ouvido pela TDM, em declarações reproduzidas pelo portal Macau News. Ao problema da falta de camas acresce-se o facto de muitos profissionais de saúde do Kiang Wu não terem ainda recuperado da doença, mas serem obrigados a prestar apoio no serviço, conforme explicou o médico Lei Man Chon. “Muitos estiveram doentes durante dois ou três dias, mas foram chamados ao serviço quando a febre baixou e quando começaram a sentir-se melhor.” Relativamente à marcação de cirurgias, o serviço não tem sido afectado, adiantou o cirurgião Kam Kun Chong, uma vez que médicos, enfermeiros e auxiliares tomaram precauções em relação à covid-19, tomando medicamentos. Tendo em conta que os idosos são, nesta fase, o maior grupo de risco, os dirigentes do hospital Kiang Wu prometem adoptar medidas especiais para travar o crescente número de casos e aliviar a pressão no serviço de urgência. Uma das medidas passa por recomendar que os doentes tomem os medicamentos fornecidos pelo Governo antes de se dirigirem de imediato às urgências. São Januário lotado A situação não é melhor no Centro Hospitalar Conde de São Januário. À imprensa chinesa, Chang Tam Fei, director substituto do serviço de urgência do hospital público, disse que houve um aumento, em termos anuais, de 200 a 300 doentes, pois cerca de 800 a 1000 doentes registaram-se nas urgências durante este surto. As urgências do São Januário recebem, em média, 200 ambulâncias por dia com doentes covid, enquanto no mesmo período de 2021 o hospital recebia entre 70 a 80 ambulâncias diariamente, o que representa um crescimento de mais de 100 por cento. “Os pacientes vão ao médico assim que se sentem doentes, e neste momento os doentes com sintomas ligeiros são imensos. Assim sendo, decidimos criar um posto de testes de ácido nucleico perto do serviço de urgência para podermos acolher estes doentes com sintomas leves. Desta forma podemos desviá-los do serviço de urgência, evitando a acumulação de pessoas”, adiantou Chang Tam Fei.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaÓbito | Morreu José Manuel Rodrigues, fundador da APIM e ex-deputado José Manuel Rodrigues faleceu esta segunda-feira aos 70 anos vítima de doença prolongada. Advogado, ex-deputado e presidente do conselho de administração da TDM, o membro da comunidade macaense é recordado essencialmente pelo seu papel na criação da Confraria da Gastronomia Macaense e do Conselho das Comunidades Macaenses Morreu esta segunda-feira, aos 70 anos de idade, José Manuel Rodrigues, que desempenhava o cargo de presidente do conselho de administração da TDM. No entanto, o advogado macaense foi activo em diversas áreas cívicas, destacando-se a posição de deputado nomeado à Assembleia Legislativa (AL) que deteve entre 1996 e 2005. Como dirigente associativo José Manuel Rodrigues destaca-se por ter ajudado a criar entidades muito importantes para a afirmação das comunidades portuguesa e macaense, nomeadamente a Fundação para a Escola Portuguesa de Macau (FEPM), a Confraria da Gastronomia Macaense e o Conselho das Comunidades Macaenses (CCM). Estas duas últimas nasceram quando Rodrigues presidiu à Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), entre 1988 e 2016. José Manuel Rodrigues foi ainda membro da Associação Promotora da Lei Básica de Macau e membro do Conselho Consultivo da Lei Básica. O papel desempenhado na APIM é destacado por Miguel de Senna Fernandes, actual dirigente desta entidade. “Esse período da APIM foi bastante importante. Foram os primeiros anos da RAEM e nessa altura a APIM era a associação macaense que mais se destacava, tinha uma pujança diferente. Pela mão de José Manuel Rodrigues aconteceram coisas fundamentais para a comunidade macaense. Ele era um acérrimo defensor da nossa cultura e uma das grandes preocupações que tinha era reflectir sobre a posição em que a comunidade poderia estar na RAEM. É uma das coisas de que me recordo das conversas que tive com ele”, contou ao HM. Miguel de Senna Fernandes destaca ainda a sua qualidade como advogado e a proximidade ao poder. “Era alguém muito chegado aos dirigentes, como Edmund Ho e Chui Sai On. Isto era muito bom para a comunidade macaense. Ele esteve estes anos todos bastante enfermo, com problemas de saúde. Não deixa indiferente o desaparecimento desta figura pública, tão importante para a comunidade.” “Espírito de iniciativa” José Sales Marques, actual presidente do CCM, recorda “o espírito de iniciativa” de José Manuel Rodrigues e não esquece o seu trabalho em torno da Escola Portuguesa de Macau. ” Foi sempre um trabalho muito importante com um grande peso, sobretudo na fase de lançamento da fundação e da própria escola. Ele procurou sempre resolver diversas questões que, na altura, não eram nada fáceis. Era uma pessoa que se preocupava com as questões ligadas à comunidade”, afirmou Sales Marques. Na área da advocacia, José Manuel Rodrigues chegou a fazer parte dos órgãos sociais da Associação dos Advogados de Macau, tendo sido também consultor jurídico. Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, Rodrigues chegou também a ser juiz substituto do Tribunal de Instrução Criminal.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaAlexis Tam reforma-se e deixa delegação de Macau em Lisboa Alexis Tam, antigo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, reformou-se e vai deixar o cargo de chefe da Delegação Económica e Comercial de Macau em Lisboa que exercia na actualidade. A notícia foi avançada pela TDM Canal Macau, que dá conta do fim de um período de 33 anos que Alexis Tam dedicou ao funcionalismo público. Para o seu lugar, vai agora Lúcia Abrantes dos Santos, que irá exercer o cargo em regime de substituição, uma vez que, desde Dezembro de 2019, desempenhava funções de adjunta de Alexis Tam. Recorde-se que a nomeação do antigo secretário para representante das delegações de Macau em Lisboa e Bruxelas aconteceu em Dezembro de 2019, por um período de um ano, tendo-se prolongado por mais dois anos devido à pandemia. A ida de Alexis Tam para a Europa coincidiu com a tomada de posse de Ho Iat Seng como Chefe do Executivo que, na altura, traçou algumas críticas ao despesismo registado na tutela dos Assuntos Sociais e Cultura. Ho Iat Seng disse que a tutela absorveu 35 por cento do orçamento anual do Executivo, “pelo menos 30 mil milhões de patacas”, além de ter sido uma área alvo de “várias queixas do público”. Para o Chefe do Executivo, tal constituía “um problema”. Silêncios e mudanças Durante estes anos, o mandato de Alexis Tam à frente da Delegação tem sido marcado por pontuais aparições públicas e poucas palavras em público. Destaque para o encerramento da livraria da Delegação de Macau em Lisboa, em 2021, devido ao fim da representação da Direcção dos Serviços de Turismo na capital portuguesa. Essa decisão fez com que o território tenha perdido a representação anual na Feira do Livro de Lisboa. Numa entrevista concedida ao Jornal Tribuna de Macau, Alexis Tam falou das dificuldades com que teve de lidar devido à pandemia e no apoio concedido aos estudantes da RAEM em Lisboa e residentes, uma das grandes funções da Delegação. “De certa forma, a Delegação funciona como uma embaixada em Portugal e por isso estou a exercer as funções de diplomata e participo em muitas acções de diplomacia”, explicou. Neste período, Alexis Tam foi ainda distinguido com o doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa, pelo seu envolvimento e empenho no desenvolvimento do ensino e da língua portuguesa em Macau, além de ter recebido, em Julho do ano passado, a Medalha Municipal de Mérito (grau ouro) da Câmara Municipal do Porto. Nascido em 1962 no Myanmar, Alexis Tam tem um doutoramento em Gestão de Empresas pela Universidade de Nankai e mestrado na mesma área na Universidade de Glasgow, no Reino Unido. Na Administração, e antes de ser secretário, Alexis Tam foi chefe de gabinete do Chefe do Executivo e porta-voz do Governo.