Hoje Macau Manchete SociedadeHengqin | Detido suspeito de espionagem contra a China A televisão estatal chinesa CCTV noticiou esta quarta-feira a detenção de um homem por suspeitas de espionagem e de roubar informação sobre a Zona de Cooperação entre Macau e Guangdong em Hengqin. A denúncia foi feita às autoridades por uma funcionária pública de Macau, de apelido Lei, de quem o suspeito terá tentado extorquir informações Um estrangeiro é suspeito de roubar informação e levar a cabo actividades de espionagem em Hengqin, informou na quarta-feira a televisão estatal chinesa CCTV. O suspeito, que aparece, em imagens transmitidas pelo canal, de costas a ser interrogado, aparenta ser do sexo masculino. No entanto, a nacionalidade não foi revelada. A denunciante é uma funcionária pública de Macau, de apelido Lei, que trabalha na Zona de Cooperação Aprofundada Guangdong-Macau em Hengqin. A mulher, referiu a CCTV, conheceu o suspeito, que trabalha para um departamento governamental de um país estrangeiro, numa recepção no trabalho. “O suspeito convidou-a [à denunciante] para jantares e reuniões privadas, para participar em actividades culturais organizadas por embaixadas dos países [estrangeiros] na China e até se ofereceu para patrocinar para que esta estude no estrangeiro”, declarou uma funcionária da agência para a segurança nacional chinesa à CCTV, que não foi identificada pela estação. “Ao mesmo tempo, esta pessoa também lhe perguntava activamente sobre a investigação e implementação da política de Hengqin e da Zona de Cooperação, e pedia-lhe frequentemente informações internas sob o pretexto de realizar inquéritos e investigações”, acrescentou a responsável. Viagens recorrentes Ainda segundo avançou a CCTV, as autoridades de segurança nacional descobriram que o homem costumava cruzar a fronteira com regularidade na zona de cooperação, aberta 24 horas, “para entrar frequentemente no país, para realizar actividades de espionagem”, além de “aliciar os residentes de Macau em Hengqin para, através de uma rede, tirarem fotografias ilegais”, o que representava “um perigo real para a segurança nacional”. Foi ainda referido pelo Ministério da Segurança do Estado que as acções policiais puseram, com sucesso, um ponto final às conspirações perpetradas pelas forças estrangeiras anti-China numa tentativa de infiltração e sabotagem. A Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin é um projecto lançado por Pequim em 2021, gerido pela província de Guangdong e Macau, com uma área de cerca de 106 quilómetros quadrados e uma população de mais de 53 mil habitantes. De acordo com a CCTV, trata-se de “uma zona portuária de importância nacional e um relevante centro de entrada para a área da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, onde alguns espiões estrangeiros e agências de serviços secretos têm tentado estender as actividades de espionagem e roubo para o continente através da Zona”. No ano passado, Macau aprovou a revisão da lei de segurança nacional, com o Governo a declarar que a segurança do Estado e o combate contra “forças hostis” e “indivíduos anti-China” são prioridades do Executivo. O Gabinete de Ligação do Governo Central chinês em Macau alertou, em Abril de 2022, que a cidade “continua a enfrentar muitos desafios na defesa da segurança do Estado”, ao mesmo tempo que “continuam a existir interferências e infiltrações de forças externas”.
João Santos Filipe Manchete SociedadeJustiça | MP recorre para condenar Li Canfeng por sociedade secreta Num documento assinado pelo representante máximo do Ministério Público é pedido que a absolvição de Li na Segunda Instância seja revertida e que o ex-director das Obras Públicas seja condenado por sociedade secreta, para cumprir 24 anos de prisão, em vez de 17 O Ministério Público defende que o Tribunal de Última Instância deve condenar o ex-director das Obras Públicas, Li Canfeng, pela prática do crime de sociedade secreta. O conteúdo do recurso do MP da absolvição do Tribunal de Segunda Instância foi divulgado pelo Canal Macau. Segundo a TDM, o MP considera que o TUI deve manter as decisões do Tribunal Judicial de Base (TJB) tomadas em Abril do ano passado. Na altura Li Canfeng foi condenado com uma pena de 24 anos de prisão pelos crimes de associação ou sociedade secreta, corrupção passiva para acto ilícito, branqueamento de capitais e falsificação e inexactidão de documentos. Jaime Carion foi condenado a 18 anos de prisão pelos crimes associação ou sociedade secreta, corrupção passiva para acto ilícito e branqueamento de capitais. Na leitura do primeiro acórdão condenatório, e na parte que diz respeito à condenação por sociedade secreta, a presidente do colectivo de juízes admitiu afastar-se da lei em vigor e seguir antes a doutrina. Lou Ieng Ha afirmou que “o crime de sociedade secreta não tem de ser o que pensamos, não tem de ter uma sede ou um nome”. “Numa sociedade secreta não tem de se usar violência nem recorrer à prostituição [como consta na lei]. É a nova jurisprudência do Tribunal de Segunda Instância e do Tribunal de Última Instância que temos de adoptar”, acrescentou. Contudo, o artigo 3.º número 1 da Lei de Bases da Organização Judiciária de Macau, sobre a independência dos tribunais, define que os “tribunais de Macau são independentes e estão sujeitos apenas à lei”, não havendo qualquer obrigação de seguir a doutrina dos tribunais superiores. Outro entendimento Em Novembro do ano passado, o TSI absolveu Li Canfeng da prática do crime de sociedade secreta, o que fez com que a pena de Li Canfeng fosse reduzida para 17 anos. O TSI entendeu não haver prova suficiente para que se considerasse haver uma associação secreta. Nessa altura, o TSI também considerou que não ficou provado “de forma suficiente e razoável que os empresários representados por Sio Tak Hong, [William] Kuan Vai Lam, Ng Lap Seng, Si Tit Sang, e também outros membros da família parceiros nos negócios”, bem como Jaime Roberto Carion e Li Canfeng, “pertenciam à mesma sociedade secreta”. Porém, segundo a TDM, o MP decidiu recorrer e insiste na condenação por sociedade secreta pedindo que Li Canfeng seja condenado a 24 anos, em vez de 17 anos. Em relação a Sio Tak Hong o MP pede uma condenação de 24 anos, em vez dos 12 anos decididos pelo TSI, enquanto para William Kuan quer uma condenação a 18 anos de prisão em vez da pena de 5 anos e meio. Em relação a Ng Lap Seng, o MP pede a condenação a 15 anos de prisão em vez dos quatro anos e seis meses, para Si Tat Sang 20 anos de prisão em vez de 8 e ainda para Ng Kei Nin 8 anos e meio de prisão, em vez de 2 anos. Erros apontados O MP aponta ainda o dedo à decisão do TSI e afirma que “é incorrecta a interpretação do TSI quando diz que faltam ligações óbvias entre Li Canfeng e Jaime Carion que permitam verificar a existência de um grupo criminoso”. O MP considera também que durante o período em que Jaime Carion era director das Obras Públicas não havia interacção com Li Canfeng, porque este ainda não era membro do grupo. É ainda dito que Li subiu depois a director das Obras Públicas e a chefe do grupo criminoso, para ajudar os empresários com construções ilegais. Por outro lado, no recurso do MP, segundo a TDM, é pedida a condenação dos arguidos pelo crime de sociedade secreta, uma lei criada a pensar nas seitas e com penas mais pesadas face ao crime de associação secreta. No acórdão, o MP aponta que “apesar de haver concorrência entre os crimes de associação criminosa e sociedade secretas, os arguidos devem ser condenados com base nas penas menos favoráveis”. Num documento assinado pelo procurador Ip Son Sang, o MP pede ainda a condenação de Li Canfeng por corrupção passiva e branqueamento de capitais agravados. O MP defende que este crime foi cometido, ainda antes de Li ser director das Obras Públicas, motivo que levou o TSI a absolver o ex-director.
João Santos Filipe PolíticaMorgues | Lo Choi In pede melhoria de condições A deputada Lo Choi In pediu ao governo para promover uma melhoria nas morgues locais para garantir a dignidade na morte. A declaração foi feita ontem na Assembleia Legislativa e surge na sequência da situação durante o pico da covid-19 em Macau, entre Dezembro de 2022 e Março de 2023, quando a mortalidade atingiu um pico. “Fazendo uma retrospectiva, durante a pandemia da covid-19, o número de mortes aumentou rapidamente e as morgues ficaram quase “paralisadas”, assim, percebe-se que não foi sequer possível falar da dignidade do falecido, pois o que ocorria na altura era uma crise de saúde pública”, recordo Lo. No entanto, a legisladora também reconhece que situação não se prende apenas com a pandemia, mas antes com um aspecto estrutural: “Devido à cultura e aos costumes chineses, a morte é um tabu, sendo raras as referências e as discussões sobre esta, o que leva à estagnação das respectivas políticas”, justificou. “Excluindo o impacto da epidemia, nos últimos dez anos, registaram-se, em média, mais de 2 mil mortes por ano em Macau, mas o número de câmaras frigoríficas das morgues em hospitais onde os cadáveres são mantidos temporariamente é de apenas algumas dezenas”, indicou. “Assim, na prática, muitas vezes é necessário partilhar espaços, o que não garante necessariamente a dignidade final dos falecidos”, completou.
João Santos Filipe Manchete PolíticaPortugal | PSD promete eliminar medida que “inactiva” emigrantes do SNS Após críticas de vários quadrantes, inclusive dentro do Partido Socialista, o principal partido da oposição promete revogar, no caso de formar governo, uma medida que considera discriminar os portugueses emigrantes O Partido Social Democrata (PSD) promete revogar o despacho que torna os emigrantes portugueses inactivos em relação ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) e que causou polémica, por exigir o pagamento dos serviços aos emigrantes. Em causa está o despacho n.º 1668/2023 de Fevereiro do governo do Partido Socialista (PS), onde consta que os emigrantes ficam inactivos para efeitos de registo no SNS e têm de assumir os encargos. A promessa foi feita na quarta-feira pelo deputado social-democrata Miguel Santos, numa intervenção na Assembleia da República, e foi indicada como uma das “primeiras medidas”, no caso de os sociais-democratas conseguirem formar governo, após as eleições legislativas agendadas para 10 de Março. “O governo do PSD vai revogar despacho sobre o acesso dos emigrantes ao SNS, é discriminatório. Os senhores violam o princípio da igualdade e tratam de forma diferente pessoas que são iguais, que têm a mesma nacionalidade. Porque se lembraram de passar os emigrantes para a situação de inactivos?”, questionou o deputado social-democrata, de acordo com as declarações citadas pelo jornal Observador. No despacho em questão está indicado que os emigrantes precisam de pagar os encargos decorrentes do serviço. “Sobre o registo inactivo, com excepção das situações de óbito, aplica-se a condição de encargo assumido pelo cidadão”, lê-se no documento. O despacho serviu igualmente de justificação para retirar o médico de família a vários emigrantes. Sem queixas Após a medita ter sido revelada em Outubro, pela Agência Lusa, num artigo em que citava as declarações de médicos, o governo aparentou recuar com as instruções que tinham sido fornecidas inicialmente através da Administração Central do Sistema de Saúde e (ACSS) e dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS). Na quarta-feira, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, recusou que a medida tenha gerado qualquer queixa. “Não conheço alguém que se tenha queixado. Não há problema nenhum. Todos os cidadãos portugueses têm acesso ao SNS. O despacho diz que se houver uma entidade financeira responsável, o Estado português tem a responsabilidade e obrigação de procurar que essa entidade assuma os encargos. Não há nenhuma cobrança ao cidadão”, afirmou o ministro da Saúde. Pizarro declarou também que actualmente existe 159-547 utentes de nacionalidade portuguesa e residentes no estrangeiro inscritos nos cuidados de saúde primários e que 75 por cento mantêm o médico e família. Face às declarações do ministro, os partidos Iniciativa Liberal e Chega apresentaram versões diferentes. A deputada da IL Joana Cordeiro referiu ter recebido várias queixas, inclusive de um enfermeiro português a trabalhar em Oxford, a quem foi retirado o médico de família. Por sua vez, a deputada do PS Berta Nunes, ex-secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, considerou que o SNS tem a obrigação de cobrar os serviços de saúde aos estados onde vivem os portugueses emigrados. No Congresso do Partido Socialista do passado fim-de-semana, Vítor Moutinho, delegado ao Congresso em representação de Macau, criticou a medida e definiu as mudanças como “regras absurdas”.
Hoje Macau PolíticaDSEDT | Pong Ka Fui tomou posse como subdirector Tomou ontem posse o subdirector da Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT), Pong Ka Fui. Segundo um comunicado, este “agradeceu a confiança do Governo nele depositada, afirmando que irá envidar todos os esforços para concretizar cabalmente, em conjunto com todos os colegas da DSEDT, as linhas de acção governativa e os diversos trabalhos planeados do Governo em articulação com a estratégia de desenvolvimento da diversificação adequada da economia ‘1 + 4′”. Tai Kin Ip, director da DSEDT, adiantou que Pong Ka Fui tem exercido, ao longo dos anos, “funções em diversos níveis na área da economia e finanças e desempenhado cargo de chefia durante muitos anos, possuindo vasta experiência e capacidade profissional, esperando que ele continue a liderar a equipa para executar bem os trabalhos da acção governativa”. Pong Kai Fu foi subdirector, substituto, da DSEDT entre Setembro e Janeiro, bem como chefe do Departamento de Estudos entre 2019 e Janeiro deste ano, entre outros cargos desempenhados na antiga Direcção dos Serviços de Economia e também no Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM). Pong Kai Fu é mestre em Administração Pública pela Universidade de Macau e licenciado em Economia pela Universidade de Zhongshan.
João Santos Filipe Manchete PolíticaFunção Pública | Criticada dualidade em queixas contra chefias e funcionários O deputado Che Sai Wang revelou que há queixas contra as chefias que acabam sem sanções, mesmo quando existem irregularidades. Além disso, pede uma maior protecção para os trabalhadores de base em caso de queixas anónimas Che Sai Wang apelou ao Governo para terminar com a dualidade de critérios entre funcionários de base e as chefias no tratamento de queixas apresentadas por cidadãos. Numa intervenção antes da ordem do dia, na sessão plenária de ontem da Assembleia Legislativa, o deputado da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) afirmou que as chefias são beneficiadas, porque não lhes são aplicadas sanções, mesmo quando se detectam irregularidades. Segundo Che, quando há uma queixa contra um subordinado, “o superior hierárquico segue as tramitações estabelecidas para aplicação de sanções e acompanhamento”, o que faz com que o alvo de queixa tenha de se “submeter a uma série fastidiosa de perguntas e respostas”. Além disso, tem o trabalhador tem de “seguir os procedimentos judiciais de recurso, que podem demorar vários meses”, e “pagar o montante total das taxas”. Contudo, o cenário é muito diferente no caso das chefias, afirmou o legislador. “Mas, quando o superior hierárquico enfrenta uma queixa, mesmo tendo havido casos em que as chefias foram alvo de queixas e as infracções foram efectivamente cometidas, as respectivas sanções nem sempre foram aplicadas ou não foram divulgadas”, revelou. “Mesmo que os dirigentes dos serviços públicos sejam denunciados por cometerem ilegalidades ou irregularidades, é provável que recorram aos recursos do Governo ou ao erário público para suportar as despesas judiciais”, indicou. Maior igualdade Devido a este tipo de procedimentos, Che Sai Wang considera que apesar de “ambas as partes” estarem “sob a supervisão do mesmo sistema de queixas, existe uma grande diferença quer na forma de tratamento quer nos custos envolvidos”. O membro da AL apelou assim para que haja uma revisão do sistema, principalmente no que diz respeito à “apresentação de queixas injustificadas”, para “aperfeiçoar o mecanismo de inspecção de queixas” e proporcionar “protecção e apoio suficientes” aos trabalhadores base, como acontece com as chefias. Quanto às queixas anónimas, o deputado apontou também que causam um grande impacto junto dos trabalhadores e que têm efeitos “adversos” na “saúde física, psicológica e mental”, mesmo quando se provam infundadas. “Tanto as queixas anónimas como as injustificadas podem ser inventadas, não sendo comprovadas pela dificuldade de obter dados verdadeiros dos queixosos e as respectivas informações, e podem não ser aceites devido a provas controversas ou ilegítimas”, avisou. “É muito injusto que trabalhadores cujas provas não foram aceites e que não violaram a lei tenham sido penalizados devido a queixas injustificadas”, realçou.
Hoje Macau DesportoPaulo Bento treina Emirados e três jogadores representam I Liga na Taça Asiática Paulo Bento vai comandar os Emirados Árabes Unidos na Taça Asiática, sendo o único treinador português na principal prova de seleções daquele continente, que arranca na sexta-feira, no Qatar, com três futebolistas oriundos da I Liga. Nomeado em julho de 2023 como sucessor do argentino Rodolfo Arruabarrena, o antigo selecionador nacional, entre 2010 e 2014, irá disputar a sua quinta fase final em grandes competições internacionais, e primeira ao serviço dos vice-campeões da Ásia em 1996. Paulo Bento, de 54 anos, guiou Portugal às meias-finais do Euro2012, na Ucrânia e na Polónia, mas não evitou a eliminação na fase de grupos do Mundial2014, no Brasil, num percurso técnico iniciado nos sub-19 do Sporting e impulsionado com a equipa principal ‘leonina’, na qual arrebatou duas Taças de Portugal e duas Supertaças, de 2005 a 2009. Seguiram-se efémeras passagens nos brasileiros do Cruzeiro (2016) e nos chineses do Chongqing Lifan (2018), por entre um campeonato grego conquistado pelo Olympiacos (2016/17), antes de retomar as funções de selecionador com a Coreia do Sul, em 2018. A caminhada na última Taça Asiática culminou com uma derrota nos ‘quartos’ perante o Qatar, campeão continental em 2019, que viria a ser anfitrião do Mundial2022, prova na qual os sul-coreanos ‘tombaram’ frente ao Brasil nos ‘oitavos’, na sequência do segundo posto alcançado no Grupo H, atrás de Portugal, que chegaram a bater na primeira fase. Esse desaire efetivou a saída do ex-médio internacional luso, que tenta agora melhorar a prestação dos Emirados Árabes Unidos na principal prova asiática de seleções, volvidas duas chegadas consecutivas às meias-finais, a última das quais na condição de anfitriã. Terceira colocada em 2015, a nação do Golfo Pérsico voltou a ficar às portas da decisão quatro anos mais tarde, ao ser batida em casa pelo Qatar, reiniciando em 2023 a luta por uma inédita conquista com embates diante de Hong Kong, Palestina e Irão no Grupo C. Campeões em 1968, 1972 e 1976, os iranianos convocaram o avançado Mehdi Taremi, quarto futebolista mais eficaz de sempre do seu país, com 44 golos em 77 desafios, que está em final de contrato com o FC Porto e foi o melhor marcador da I Liga em 2022/23. O Japão, recordista de cetros (1992, 2000, 2004 e 2011) e finalista derrotado em 2019, integra o médio Hidemasa Morita, do líder isolado Sporting, e vai encarar no Grupo D o Iraque, vencedor em 2007, que conta com o centrocampista Osama Rashid, do Vizela. Nascido em Portugal e com origens cabo-verdianas, o naturalizado defesa direito Pedro Correia, do Al-Sadd, está nas opções do Qatar, ao serviço do qual foi sempre titular no inédito cetro continental festejado há cinco anos e na estreia daquele país em Mundiais. Os dois primeiros colocados das seis ‘poules’ e os quatro melhores terceiros rumam aos ‘oitavos’ da 18.ª edição da Taça Asiática, que decorre entre sexta-feira e 10 de fevereiro, após ter sido deslocada da China, devido à pandemia de covid-19, e adiada para 2024.
Hoje Macau China / ÁsiaCoreia do Sul | Líder da oposição esfaqueado deixa hospital Uma semana depois te ter sido esfaqueado no pescoço, Lee Jae-myung apelou ao fim dos discursos de ódio que transformam em guerra as disputas políticas O líder da oposição da Coreia do Sul, Lee Jae-myung, deixou ontem o hospital, oito dias depois de ter sido esfaqueado no pescoço durante um evento público, e apelou ao fim da “guerra política”. “Realmente espero que este incidente, que nos surpreendeu a todos, sirva como um marco para acabar com a política de ódio e confronto e restaurar uma política decente na qual nos respeitamos uns aos outros e coexistimos (…) Deveríamos pôr fim à guerra política em que temos que matar e eliminar adversários”, disse Lee à imprensa. Após deixar o hospital, o político agradeceu à polícia, aos médicos e aos serviços de emergência que o trataram em Busan, no sudeste do país, onde aconteceu o ataque, e na capital Seul, para onde foi levado de avião e submetido a uma cirurgia. Lee prometeu também dedicar o resto da vida a servir o povo da Coreia do Sul, avançou a agência de notícias Yonhap. O ataque aconteceu enquanto o líder do Partido Democrático (PD) falava com jornalistas numa conferência de imprensa no novo aeroporto de Busan, na ilha de Gadeok. Um homem de 67 anos aproximou-se de Lee e esfaqueou-o no lado esquerdo do pescoço, causando danos à veia jugular interna. Lee foi levado para o hospital onde foi submetido a uma cirurgia e depois transferido para os cuidados intensivos. Cúmplice detido O atacante foi detido no local e o motivo do crime está atualmente a ser investigado, embora as autoridades tenham indicado que o agressor manifestou ressentimento para com os políticos e a situação económica que a Coreia do Sul atravessa. Além disso, a polícia sul-coreana deteve na segunda-feira um homem de 70 anos por supostamente ajudar e facilitar o ataque. O alegado cúmplice tinha concordado em publicar uma nota escrita pelo agressor, na qual acusava o PD de se dedicar a “salvar Lee” a nível político em vez de a fazer oposição ao Governo. Lee Jae-myung perdeu as eleições presidenciais de 2022 para o actual Presidente, o conservador Yoon Suk-yeol, por uma margem estreita. Durante a campanha, Lee, antigo governador da província de Gyeonggi, a mais populosa da Coreia do Sul, tinha proposto algumas medidas inovadoras, incluindo a criação de um rendimento mínimo universal e uniformes escolares gratuitos.
Hoje Macau China / ÁsiaTaiwan | Excluída “intenção política” no lançamento de satélite por Pequim O Governo de Taiwan excluiu ontem a existência de “intenções políticas” no satélite lançado pela China na terça-feira, que levou Taipé a emitir um alerta de emergência, a poucos dias do território realizar eleições. O gabinete da porta-voz presidencial Lin Yu-chan afirmou que, após análise pela equipa de Segurança Nacional e avaliação pelos parceiros internacionais, foi determinado que não houve qualquer motivação política por detrás do lançamento do satélite. O alerta que apareceu automaticamente nos ecrãs dos telemóveis apelou à população para “ter cuidado”. As versões em chinês e inglês diferem, porém, no desígnio do objecto que alegadamente atravessou o espaço aéreo da ilha. “Alerta de ataque aéreo: míssil a sobrevoar o espaço aéreo de Taiwan, atenção”, lê-se na versão em inglês da mensagem, partilhada com a agência Lusa por um residente no território. A versão em chinês refere antes que a China lançou um satélite às 15:04, que atravessou o espaço aéreo do sul de Taiwan. O ministério de Segurança Nacional esclareceu, entretanto, em comunicado, que o texto em inglês “não foi revisto” e pediu desculpa pelo sucedido. No mesmo comunicado, o ministério afirmou que o satélite saiu “inesperadamente” da atmosfera ao sobrevoar o espaço aéreo do sul de Taiwan. “O sistema conjunto de informação, vigilância e reconhecimento das Forças Armadas estava a acompanhar de perto a situação, incluindo o lançamento e a trajectória. O sistema de alerta de ataques aéreos foi activado através de mensagens de texto para informar o público”, disse o ministério. O satélite referido no alerta oficial foi lançado em órbita pela China a partir do centro de lançamento de Xichang, na província central de Sichuan, por um foguetão de transporte Longa Marcha-2C, informou a agência noticiosa oficial Xinhua.
Hoje Macau China / ÁsiaAntigo seleccionador chinês pagou cerca de 400.000 euros para ser contratado O ex-treinador da selecção chinesa de futebol Li Tie, detido sob acusação de corrupção, confessou ontem ter pagado o equivalente a cerca de 400 mil euros para garantir a sua contratação, em Janeiro de 2020. Durante a sua confissão, transmitida pela televisão estatal CCTV, o treinador, de 46 anos, afirmou também ter ajudado a manipular jogos quando era treinador de um clube. “Estou muito arrependido. Devia ter mantido a cabeça baixa e seguido o caminho certo”, disse, admitindo que “há certas coisas que, na altura, eram prática comum nos círculos do futebol”. Em Janeiro de 2020, quando sucedeu ao italiano Marcello Lippi como treinador da seleção da China, o antigo jogador do Everton declarou que estava a realizar “um dos maiores sonhos” da sua vida. Para o conseguir, Li Tiê explicou que pediu ao clube que treinava na altura, o Wuhan Zall, para intervir em seu nome junto da Associação Chinesa de Futebol (CFA), o organismo estatal que funciona como uma federação. De acordo com Li Tie, o clube pagou dois milhões de yuan em subornos a Chen Xuyuan, então presidente da CFA. Li Tie afirmou também ter dado, do seu próprio bolso, um milhão de yuan ao secretário-geral da CFA. Pouco depois da sua nomeação, o treinador convocou quatro jogadores do Wuhan Zall para a selecção, que, segundo o presidente do clube, “não tinham o nível necessário para serem chamados”. Li Tie não conseguiu qualificar a China para o Campeonato do Mundo de 2022 no Qatar e foi demitido em Dezembro de 2021. O treinador também admitiu ter ajudado a comprar vários jogos, que permitiram às equipas chinesas da segunda divisão que comandava subir à primeira divisão. Ataque à profundidade A agência anticorrupção da China lançou uma investigação contra Li no final de 2022, que levou ao despedimento de cerca de dez responsáveis da CFA, incluindo o antigo presidente Chen Xuyuan. Chen foi acusado de corrupção em Setembro, tendo admitido ter recebido grandes quantidades de dinheiro de jogadores do mundo do futebol que queriam cair nas suas boas graças. “Quero apresentar a todos os adeptos de futebol da China as minhas mais sinceras desculpas”, afirmou. Estas acções judiciais no domínio do futebol fazem parte de uma grande campanha anticorrupção lançada pelo Presidente chinês, Xi Jinping. O Governo chinês tem grandes ambições para a equipa nacional, mas esta continua no 79.º lugar do ranking da FIFA, a mesma posição que ocupava há 10 anos.
Hoje Macau China / ÁsiaTaiwan | Pequim diz que “não fará concessões” durante diálogo militar com EUA A soberania de Taiwan não faz parte da discussão em matéria de Defesa entre a China e os Estados Unidos, voltaram ontem a sublinhar as autoridades militares chinesas que exigiram ainda o fim do envio norte-americano de armas para a antiga Formosa O Exército chinês sublinhou ontem que “não vai fazer quaisquer concessões ou compromissos” relativamente a Taiwan, durante uma reunião com representantes da Defesa dos Estados Unidos, em Washington. Durante a reunião, que faz parte da Mesa de Diálogo de Coordenação da Política de Defesa China – EUA, o general Song Yanchao exigiu que Washington “respeite o princípio ‘Uma só China'” e “deixe de enviar armas para Taiwan”. Song apelou aos Estados Unidos, representados pelo vice-secretário adjunto da Defesa, Michael Chase, para que “não apoiem a independência de Taiwan” e “reduzam a presença militar e as provocações no Mar do Sul da China”, de acordo com um comunicado emitido pelo ministério da Defesa chinês. “Os EUA devem deixar de apoiar as acções provocatórias de certos países”, afirmou Song, numa referência velada às Filipinas, país com o qual a China tem tido atritos nos últimos meses por causa de águas disputadas. Song afirmou ainda que Washington deve “reconhecer plenamente a causa dos problemas de segurança marítima e aérea” e “deixar de manipular ou exagerar os problemas”. A parte chinesa também afirmou que Pequim está disposta a “desenvolver uma relação militar forte e estável” com os Estados Unidos “com base na igualdade e no respeito”, mas sublinhou que Washington deve “levar a sério as preocupações da China”. Por outro lado Chase sublinhou “a importância de manter as linhas de comunicação abertas a nível militar” para “evitar que a concorrência entre os dois países se transforme em conflito”, indicou o departamento de Defesa dos EUA, em comunicado. O Presidente do Conselho de Segurança dos Estados Unidos falou também da importância da segurança em toda a região do Indo-Pacífico e reafirmou que “os Estados Unidos continuarão a voar, navegar e operar de forma segura e responsável sempre que o Direito Internacional o permita”. “O compromisso dos Estados Unidos para com os nossos aliados no Indo-Pacífico e em todo o mundo continua a ser inabalável”, afirmou. No que se refere ao Mar do Sul da China, Chase sublinhou “a importância do respeito pela liberdade de navegação em alto mar” e denunciou “o assédio repetido da China às embarcações filipinas que operam legalmente” nessa zona. Relativamente a Taiwan, Chase reafirmou que os EUA continuam “empenhados” no “reconhecimento do princípio ‘Uma só China'” e sublinhou “a importância da paz e da estabilidade” no Estreito da Formosa. Em Dezembro passado, os dois países retomaram o diálogo militar de alto nível, suspenso por Pequim depois de a então Presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, ter visitado Taiwan em Agosto de 2022. No final de Dezembro, um alto responsável militar chinês realizou uma videoconferência com um homólogo norte-americano, na qual o representante chinês sublinhou que a questão de Taiwan é um “assunto interno” da China que “não admite qualquer interferência externa”. Os presidentes chinês e norte-americano, Xi Jinping e Joe Biden, respectivamente, acordaram o reinício das conversações militares durante um encontro em Novembro passado, à margem da cimeira da Cooperação Económica Ásia – Pacífico (APEC), em São Francisco. No domingo, a China anunciou sanções contra cinco empresas norte-americanas por venderem armas a Taiwan, alertando para “uma resposta forte e decisiva” se continuarem a fazê-lo. A questão de Taiwan continua a ser um dos principais pontos de discórdia entre Pequim e Washington.
Ana Cristina Alves Via do MeioA Simbologia do Dragão na Cultura Chinesa I – A Simbologia do Dragão O Ano do Dragão inaugura a 10 de fevereiro. Será de Madeira Yang. Traz prosperidade, sucesso, poder e felicidade. Serão privilegiadas a imaginação, a criatividade e a responsabilidade. A cor da sorte será o verde e o elemento a Madeira, que expandirá a energia e o poder criativo do dragão. Serão privilegiados artistas e profissionais independentes e criativos. Onde encontrar então a génese da leitura simbólica do Dragão na cultura chinesa? Por um lado, nos mitos, por outro, na caligrafia. O dragão tem uma existência lógica, que desagua num longo caminho ontológico, já que a sua descrição física conjuga o melhor de todos os animais existentes, como nos revelam as representações da dinastia Tang, nas quais surge com cabeça de camelo, uma pérola mágica na boca, donde se solta por vezes uma nuvem que se transforma em água, outras em fogo, para mostrar que ele controla os poderosos reinos do céu e da água. Tem olhos de coelho, orelhas de vaca, corpo de cobra, patas de tigre, barriga de sapo, escamas de carpa, garras de falcão, e assim por diante. Ele é a máxima potência natural, já que reúne o que há de melhor no reino animal, sendo ainda a máxima entidade sobrenatural, ao apresentar-se como comandante supremo das águas do céu, dos mares, dos rios e até das que correm subterrâneas na terra. O dragão chinês não se limita a possuir o poder supremo natural e sobrenatural, ele é ainda a máxima entidade humana, o rei-sacerdote, que governa a terra, porque foi investido para tal pelo céu, como nos indica a leitura realizada pelo Dr. Ong Hean- Tatt (1996), a partir do caracter 龍 (Lóng): No lado esquerdo do carácter observa-se a forma de um guardião humano, que encarna o poder divino e protege as coisas sagradas, ao passo que o lado direito não surgia nas escritas mais antigas como a Oracular (1400-1100 a. C) ou a de Bronze (1100-300 a.C), tendo sido acrescentado no período do Pequeno Selo (300 a. C) à figura humana . Este ostenta em ambas as mãos algo de sagrado. À direita vemos uma longa linha, simbolizando a veste santificada do sacerdote, onde figuram os três traços característicos da água, porque o dragão é a divindade das chuvas e dos rios. Nos mitos chineses, o dragão surge associado ao primeiro imperador mítico chinês, Fuxi (伏羲) e a sua irmã ou consorte, conforme as versões. Fuxi é considerado o pai de todos os chineses, o Dragão Azul, como lhe chamam. Simboliza o maior dos homens, o patriarca da grande nação espiritual chinesa, o dominador do Cavalo-Dragão (龍馬 lóng-Mǎ), que emergiu das águas do Rio Amarelo (黃河 Huáng Hé) , tendo-lhe concedido a possibilidade de decifrar os oito trigramas fundamentais da cultura chinesa, que formam a base do Clássico das Muações ( 《易經》 Yìjīng), por entre o emaranhado da sua crina. Fuxi e Nüwa (女媧) eram metade humanos, metade dragões, como se pode verificar pelas representações deles. Por isso, foram os criadores supremos: Fuxi da cultura chinesa e Nüwa dos seres humanos (女媧造人Nǚwā zào rén) . II – O Dragão no Clássico das Mutações Entre os oito trigramas que são o fundamento do Clássico das Mutações, e condição de possibilidade dos 64 hexagramas, o mais importante é o do Céu ( 乾 Qián), composto pela força conjugada dos dois trigramas do Céu. Vale a pena seguir a apresentação e desenvolvimento deste hexagrama, tal como nos é oferecido por John Blofeld . O Céu surge como o princípio criativo, cujas principais características são ser masculino e ativo. Este princípio é personificado pelo dragão, o sacerdote-rei, que une o céu e terra, por via da participação em ambos os princípios. O primeiro hexagrama simboliza as forças celestiais em ação e o labor da pessoa superior sobre si própria. Aqui refere-se, numa leitura taoista, a pessoa superior, porque para os confucionistas e para a tradição chinesa, se menciona claramente um homem superior, representado por um dragão que voa nos céus. Eis então o texto de Qian (乾): O Princípio Criativo. Sucesso Sublime! A persistência na causa certa traz recompensa. 9 para o lugar do fundo: o dragão escondido evita a ação. 9 para o segundo lugar: o dragão é visto a céu aberto; é vantajoso visitar um grande homem. 9 para o terceiro lugar: o Homem Superior ocupa-se o dia inteiro e a noite encontra-o completamente alerta. A desgraça ameaça – sem erro. 9 para o quarto lugar: é preciso saltar nas profundezas, sem erro! 9 para o quinto lugar: o dragão voa nos céus; é vantajoso visitar um grande homem. 9 para o lugar de topo. Um dragão voluntarioso – que desgraça! 9 para os seis lugares – Um bando de dragões sem cabeça – felicidade. (乾卦《初九:元亨利貞/潛龍無用; 九二:見龍在田,利見大人; 九三:君子終日乾乾,夕惕苦厲,無咎; 九四或躍在淵,無咎;九五飛龍在天,利見大人。上九:亢龍有悔;見君龍無首,吉》) A análise das linhas em consonância com a interpretação de Blofeld e com a tradição chinesa, mostra-nos o que se espera do dragão chinês quando este se identifica com o rei e/ou o homem superior. Ele é o governante por excelência: no céu, enquanto princípio divino; na terra por incorporação do mesmo. Há, porém, um trabalho de construção ética que deve ser realizado para que o dragão terreno, o governante sábio e santo, possa atuar. Assim, e como indica a primeira linha, o dragão está a construir o seu ser, trabalha sobre si próprio, oculto dos seus eventuais pares humanos. O diálogo é interior e as pontes para o exterior são feitas por meio da captação das suas raízes e cruzamento com as energias universais do céu e da terra. Após este trabalho a solo, o dragão na segunda linha, sai para o mundo dos seus pares, procurando a orientação daqueles cuja sabedoria é capaz de o iluminar. Depois regressa a si mesmo na terceira linha, de forma a realizar os princípios e ensinamentos recebidos do que escolheu para mestre. Na quarta linha o dragão que almeja chegar a rei-sábio deve saltar nas profundezas. Este salto é importantíssimo. Através dele, separa-se do pior de si mesmo e, por isso, também se pode afirmar que se ultrapassa, salta sobre si e, simultaneamente, salta em si, conseguindo alcançar o mais profundo da sua natureza, o que lhe permitirá a fusão com a verdadeira realidade. A partir do momento em que dá o salto, a que no Ocidente chamaríamos de fé, libertou-se. No entanto, nesta altura volta a correr grandes riscos, porque uma iluminação à solta é, na tradição filosófica chinesa, algo de muito perigoso, por isso o dragão é aconselhado na quinta linha a procurar outra vez a orientação daqueles que escolheu para seus mestres, já que a finalidade não é expressar a sua criatividade e estilo próprios, mas integrar-se numa comunidade, a que deve servir de exemplo, sem se impor. Na linha do topo adverte-se que um dragão voluntarioso pode provocar grandes dissabores a si e aos outros. Esta leitura política do primeiro hexagrama não é abusiva, sendo confirmada pela interpretação conjunta das seis linhas, onde somos informados que a felicidade é obtida quando um conjunto de dragões voa sem cabeça, ou melhor, sem cabecilha. Do ponto de vista político, a ditadura de um iluminado (usual na China antiga) é, no maior dos Clássicos da Filosofia Chinesa, fortemente desaconselhada. Nenhum sábio deve cultivar-se apenas para si próprio, nem acreditar que é dono absoluto da verdade. O que foi e o caminho que conseguiu percorrer até à sua libertação ética, política e espiritual ganha pleno sentido quando é conciliado e harmonizado com o conjunto de dragões nos quais se deve incluir. Este bando de seres superiores, chamemos-lhes assim, não tem líder, sendo essa a condição para haver boa sorte, já que segundo o conjunto das linhas um cabecilha traz má sorte. Pode concluir-se nesta interpretação do Princípio Criativo, título para o primeiro hexagrama, que a nação espiritual chinesa, embora dependa de um primeiro dragão mítico azul, Fuxi, se constitui e desenvolve quando um conjunto de seres, que se trabalha eticamente para fins políticos, se reúne. Após o que se erguem nos céus espirituais em conjunto, contribuindo com o que de absolutamente próprio conseguiram alcançar, a fim de atingir uma postura equilibrada e exemplar. Esta deve servir de exemplo a todos os seres que os observam da terra e lhes contemplam o voo. O conjunto de dragões «sem cabeça» pode ser visto como a primeira exigência ético-política do Clássico das Mutações para que se dê a transformação certa aos níveis social e político. Os governantes-sábios devem, por isso, empenhar-se no desenvolvimento das suas virtudes, entre as quais constam as quatro essenciais do governante: a bondade ou Humanidade (仁 Rén), a conduta perfeita, que depende da obediência aos Ritos (禮Lǐ ), a Justiça (義 Yì) e a Sabedoria (智Zhì). III – O Dragão Alquímico e a Geomância Onde ir procurar a raiz da leitura alquímica do dragão chinês? Há que regressar ao Clássico das Mutações para o fazer. Simplesmente não é possível recorrer ao apoio da linha confucionista, que nos transmite sobretudo uma leitura ético-política dos hexagramas, tal como a explorada no ponto anterior, encontrada em grandes sinólogos como Richard Wilhelm. O dragão alquímico revela-se nos comentários da linha taoista ao Clássico das Mutações, por exemplo o de Thomas Cleary. O dragão celestial é apresentado na explicação do autor como o representante do Céu criativo, que desenvolve e dá fruição. Ele é o princípio divino que na terra age através do sábio. É divino sem deixar de ser natural, é o poder máximo de transformação e criatividade. É a primavera celestial que comanda a telúrica. A título de criador, atua, iniciando e consumando os processos, sempre em ligação com a natureza exterior, representada pelas quatro estações; mas também com a nossa natureza interior e energia que nos percorre: esta energia enraizada no primordial permanece oculta no temporal. Não pertence mais aos sábios, nem menos às pessoas comuns (…) Fundamentalmente cria, desenvolve e traz fruição e consumação espontaneamente . A energia alquímica surge logo na primeira linha yang (阳) do hexagrama celestial : Dragão escondido: não se usar . O nosso dragão interior prepare-se em estado de retiro para o casamento com o tigre, porque nós, tal como a terra, possuímos duas energias, figuradas no tigre e no dragão. O tigre é o representante da energia feminina, telúrica e escura, pesada e opaca, e o dragão, o representante da energia masculina, celestial, leve e clara. Ora o dragão não pode prescindir do tigre. Do ponto de vista geomântico e alquímico precisa absolutamente dele para complementar as paisagens exterior e interior. Na segunda linha, quando o dragão sai de si para o exterior, digamos para um passeio na campo ou na natureza, ele vai à procura de uma pessoa grande, um (a) mestre que o possa orientar para a criação do seu embrião espiritual, por meio de um trabalho realizado em conjunto sobre a sua força celestial, a fim de libertar o halo espiritual que o conduzirá à longevidade e à imortalidade. Por isso labora empenhadamente na terceira linha para a realização da união de forças feminina e masculina ao nível telúrico, isto é, abdominal. A fim de o casamento entre o tigre e o dragão seja bem-sucedido, nenhuma das forças pode prevalecer. Elas devem encontrar-se em perfeito equilíbrio, para que seja realizado novo encontro de forças no coração, situado na quarta linha, após o dragão ter saltado sobre o abismo em si mesmo . A partir daqui o dragão está na zona do espírito. Para realizar o salto, teve de espiritualizar o tigre, que o vai auxiliar a voar em céu aberto. Ele sente-se, na quinta linha bem, livre e planando totalmente iluminado. Na tradução de Cleary (1986:42) O dragão está no céu: é benéfico ver uma grande pessoa , que lhe facultará a continuação do trabalho sobre as energias e mais uma transmutação espiritual do yin em yang, um terceiro casamento espiritual, ao nível da mente, criador do corpo fora do corpo. Sem orientação espiritual, o dragão corre o risco de se desequilibrar e cair na tentação mortal (porque o reconduzirá à terra), exposta na sexta linha, que é a da arrogância . Se vencer esta última tentação, consegue conjugar, como nos indica a leitura conjunta do hexagrama, a sua imagem espiritual com muitas outras, inserindo-se harmoniosamente num conjunto de dragões que voa sem cabeça. Bibliografia Alves, Ana Cristina. 2022. Cultura Chinesa, Uma Perspetiva Ocidental. Coord. Carmen Amado Mendes Coimbra: Almedina e CCCM. ___________. 2004 Representações do Feminino na Cultura Chinesa. A Mulher nos Discursos Filosófico, Religioso e Sociopolítico (tese policopiada). ___________. 2004.Uma Viagem de Muitos Quilómetros Começa por um Passo. Macau: Cod. Blofeld. 1965. The Book of Change. A New Translation of the Ancient Chinese I Ching (Yi King), with detailed Instruction for its Practical Use in Divination. London: Georg Allen & Unwin LTD. Cleary, Thomas (trad.).1986. The Taoist I Ching. Boston & London: Shambala. Legge, James (trad). 1990. The I Ching. The Book of China. Singapore: Graham Brash. 羅慷烈 (Luo Kanglie) 2005.«易經詳解與應用》香港三聯畫店. Shi Zhengyu.1997. Picture Within a Picture. An Illustrated Guide to the Origins of Chinese Characters. Beijng: New World Press. Tan Huay Peng. 1980. Fun with Chinese Characters. Singapore, Kuala Lumpur, Hong Kong: Federal Publications. Wang Suoying, Ana Cristina Alves. 2009. Mitos e Lendas da Terra do Dragão. Lisboa: Caminho. Wilhelm, Richard. 1989. I Ching or Book of Changes. Prefácio de C. G. Jung. London: Penguin Group. 張中鐸(ed) 1995《易經提要白話解》台南市:大孚.
Andreia Sofia Silva Eventos MancheteLivro | Publicação relata propaganda do Estado Novo em Macau através do cinema “Vento Leste – ‘Lusoorientalismo (s)’ nos filmes da ditadura” é o novo livro da académica Maria do Carmo Piçarra sobre a utilização do cinema pelo Estado Novo para propaganda nos antigos territórios ultramarinos a Oriente, nomeadamente a Índia portuguesa, Timor e Macau. Eis a história dos primeiros filmes que ilustravam o lado bom de Macau, face às películas internacionais que retratavam a região como uma terra de jogo, ópio e sexo Acaba de ser editado em Portugal, com a chancela da Tinta da China, o livro “Vento Leste – ‘Lusoorientalismo (s)’ nos filmes da ditadura”, da autoria de Maria do Carmo Piçarra, que aborda a propaganda do regime do Estado Novo em Portugal, que vigorou entre 1933 e 1974, feita através do cinema nas antigas colónias portuguesas a Oriente, nomeadamente a Índia portuguesa (Goa, Damão e Diu), Macau e Timor. Maria do Carmo Piçarra, estudiosa da história do cinema português, já com trabalhos publicados sobre o cinema usado como máquina de propaganda, relata nesta obra o caso concreto de Macau, tida como “uma cidade aberta ao cinema”, com “escassez e reactividade”. Revelam-se exemplos da produção portuguesa de filmes no território com maior ênfase a partir dos anos 50 e da preocupação do regime de Salazar em promover uma imagem de Macau “luso-tropical” em contraste com a “imagem do ‘inferno do jogo'” tão espelhada em filmes internacionais feitos à época, como Macao, realizado em 1952 por Josef von Sternberg. Macau nunca foi uma terra de grande produção cinematográfica, ao contrário de Hong Kong. Mas desde cedo que se revelou como um território de exibições cinematográficas, tendo 12 salas de cinema, um número bastante elevado se considerarmos que Díli, por exemplo, tinha apenas uma. “A produção de cinema no território é muito tardia e só acontece na década de 20 do século XX com Antunes Amor, que vai trabalhar para Macau no ensino e que chega a ser contemporâneo de Camilo Pessanha. Ainda na década de 20 há uma tentativa da parte da família de Tancredo Borges de produzir cinema e de registar a actualidade da cidade, mas acabou por não conseguir manter o exclusivo da produção cinematográfica que, a dada altura, tiveram”, conta Maria do Carmo Piçarra ao HM. Depois dessas primeiras produções, dá-se um interregno sem produções cinematográficas em Macau até à década de 50. O fim da II Guerra Mundial, em 1945, e o surgimento do debate mundial sobre o colonialismo e a descolonização, numa altura em que Salazar tentava a todo o custo manter o império ultramarino português (com a Guerra Colonial a começar em 1961), obrigam o regime fascista português a repensar a sua propaganda. É então que se começa a recorrer ao cinema para contar o lado bom das colónias portuguesas a Oriente. “Até à década de 50 não há registos de produção portuguesa de cinema, mas isso muda por causa da emergência da República Popular da China, e também porque são exibidos filmes internacionais em que Macau é projectada de uma maneira negativa, como uma cidade de jogo, de prostituição, de consumo de ópio, em que os funcionários portugueses eram preguiçosos”, adianta a académica. O surgimento da China comunista traz “alguma tensão” relativamente a Macau, que era administrada por portugueses, mas Portugal não reconhecia o novo regime de Mao Tsé-tung, não mantendo relações diplomáticas com o país. “Procurava-se mostrar que não havia problemas semelhantes aos que poderiam estar a acontecer na China comunista. Portugal vai conseguindo esgrimir a sua posição muito por causa disso. À China interessava ter Macau e Hong Kong como locais para exportar produtos chineses e para o Ocidente a existência desses territórios era importante, pois servia para manter a proximidade ao comunismo, que via com alguma desconfiança.” Além disso, “relativamente a Timor, a independência da Indonésia dita que haja algumas subelevações, que não eram conhecidas na metrópole [em Portugal], e dá-se ainda, em 1961, a perda da Índia portuguesa. Isso faz com que o regime tenha de estar mais atento às colónias a Oriente e, progressivamente, passe a usar o cinema para mostrar essas colónias e afirmar a sua portugalidade”. Maria do Carmo Piçarra descreve estes filmes de cariz mais documental como sendo “muito diferentes entre si, com uma narração que esbate essas diferenças”. “É curioso que há sempre essa imagem de cada colónia é sempre a província mais portuguesa do Oriente. Em relação a Macau não se diz tanto isso, mas em relação à Índia portuguesa e Timor diz-se sempre.” O investimento de Pedro Lobo Além dos filmes que relatam o lado de Macau onde o jogo, prostituição e consumo de ópio não aparecem, o regime de António de Oliveira Salazar preocupa-se em fazer filmes “científicos” com um foco sobretudo económico. A Agência Geral do Ultramar encomendava e financiava os filmes, mas na maioria houve poucos apoios financeiros das entidades locais. O livro relata ainda que, no período do movimento “1,2,3”, a expressão da Revolução Cultural em Macau, que durou de Dezembro de 1966 aos primeiros meses de 1967, o motim nunca foi revelado em nenhum filme de propaganda portuguesa. Uma das primeiras produções do Estado Novo sobre Macau data do início da década de 50 e é da autoria de Ricardo Malheiro, que acompanha o então ministro das Colónias, Sarmento Rodrigues, numa viagem ao Oriente português, devidamente documentada em filme. Relata-se ainda no livro de Maria do Carmo Piçarra o caso do investimento feito em cinema por Pedro José Lobo, importante empresário e político de Macau, que presidiu ao Leal Senado e que chefiou os Serviços de Economia e Estatística Geral de Macau”. Pedro José Lobo fazia também composições musicais nas horas vagas, tendo estado ligado à criação da rádio Vila Verde. Esta personalidade contratou o realizador Miguel Spiegel para fazer filmes sobre Macau, passando este a ser “o realizador radicado em Portugal que mais filmou o Oriente português”. Maria do Carmo Piçarra descreve um dos filmes por si realizado, graças à encomenda de Pedro José Lobo, intitulado “Os Pescadores de Macau”, exibido na oitava edição do Festival de Cinema de Berlim. “Existem várias versões desse filme, uma delas com composição musical de Pedro Lobo, tendo uma narração típica da propaganda portuguesa. Mostra uma outra Macau, com as pessoas que viviam às centenas em juncos e em barcos”, recorda a autora. Projecção e imagem Após concluir o doutoramento, também na área da história do cinema, Maria do Carmo Piçarra compreendeu que em Portugal “não se dava importância à relação com o chamado ‘Oriente Português'”, sendo esta uma designação criada a partir do século XIX para designar os territórios que, no século XX, se limitavam a Goa, Damão, Diu, Macau e Timor. Assim, este livro “apresenta vários estudos relativos a cada um destes casos que são novos”, sendo influenciado pelo estudo anterior da autora, de como o Estado Novo usou o cinema para se representar e projectar. De destacar que, logo a partir de 1933, e apesar do país estar a atravessar uma crise financeira, “a preocupação é mandar equipas para filmarem as colónias portuguesas para, de algum modo, projectar o regime português”. Depois, quando o cinema passa gradualmente de mudo para sonoro, começam a ser feitos novos filmes, com novas equipas enviadas para os territórios ultramarinos. “Depois da II Guerra Mundial houve um novo esforço para fazer documentários com um foco sobretudo económico”, conclui Maria do Carmo Piçarra.
João Santos Filipe Manchete SociedadeGlobal Media | Presidente executivo diz que grupo tem dívidas em Macau Numa altura em que o grupo português, detentor de títulos históricos, está à beira da falência, com ordenados em atrasos e a preparar uma vaga de despedimentos, o actual presidente executivo, José Paulo Fafe, apontou Kevin Ho como maior accionista Em risco de falência e com salários por pagar aos trabalhadores, o Grupo Global Media, que conta entre os principais investidores com o empresário Kevin Ho, tem dívidas por saldar em Macau, no valor de 2,1 milhões de euros (18,5 milhões de patacas). A revelação foi feita pelo actual presidente executivo José Paulo Fafe, na comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto da Assembleia da República de Portugal. Actualmente, o grupo Global Média está sob escrutínio devido à entrada do fundo World Opportunity Fund (WOF), cuja identidade dos investidores é desconhecida, e pelo facto de haver salários em atraso relativos a Dezembro, no que poderá resultar na falência de um grupo que detém marcas históricas do jornalismo português como o Diário de Notícias, Jornal de Notícias ou a Rádio TSF. A situação foi ontem discutida na Assembleia de República Portuguesa e José Paulo Fafe, numa altura em que apontava o dedo à gestão irresponsável danosa anterior, revelou que existem dívidas por pagar em Macau, relacionadas com um projecto de jogo online que nunca arrancou. “Até já encontrámos dívidas de 2,1 milhões [de euros] em Macau e 700 mil euros em Malta em empresas de jogo ‘online’ que nunca funcionaram, ou melhor, de licenças de jogo ‘online’”, relatou José Paulo Fafe, de acordo com a agência Lusa. Os detalhes sobre licenças de jogo não foram clarificados, sendo que em Macau o jogo online é praticamente proibido, à excepção das apostas em algumas modalidades desportivas, como o futebol ou o basquetebol, que estão sob o monopólio da empresa Macauslot. As declarações prestadas por José Paulo Fafe colocaram também em xeque os investimentos de Kevin Ho na Global Media. Numa altura em que o grupo está à beira do colapso, o presidente executivo apontou como o principal investidor do grupo o sobrinho do primeiro Chefe do Executivo da RAEM. Em declarações citadas pelo Jornal de Negócios, Fafe apontou que o fundo WOF investiu “sete milhões na compra da posição de 51 por cento nas Páginas Civilizadas”, mas indicou que o maior accionista do grupo “é o senhor Kevin Ho”, seguido pelo WOF e “a seguir Marco Galinha, e José Pedro Soeiro”. Negadas responsabilidades No depoimento, José Paulo Fafe atirou também responsabilidades sobre a situação actual do grupo para o advogado Daniel Proença de Carvalho, por ter “torrado” o dinheiro da venda dos edifícios que eram a sede do Diário de Notícias, em Lisboa, e do Jornal de Notícias, no Porto, tendo este último sendo vendido a um grupo também controlado por Kevin Ho. “Deviam ter chamado uma pessoa”, disse Fafe, acrescentando “o doutor Proença de Carvalho”, porque foi na altura em foi vendida a sede do Diário de Notícias (DN) e Jornal de Notícias (JN). “Foi nessa gestão que o produto dessas vendas, esse dinheiro, não foi investido em reestruturação ou pagamento de dívidas, foi torrado”, insistiu o gestor. Quando foram tornados públicos os problemas no seio do Grupo Global Media, Kevin Ho, assim como os outros investidores, Marco Galinha, José Pedro Soeiro e Mendes Ferreira, emitiram um comunicado a recusar “qualquer responsabilidade” na situação actual do grupo. “Existe uma situação de manifesto incumprimento por parte do World Opportunity Fund, Ltd., quanto a obrigações relevantes dos contratos, que, ao não ter ocorrido, teria permitido o pagamento dos salários e o cumprimento de outras responsabilidades”, asseguraram os acionistas da Global Media na sexta-feira. Os trabalhadores do grupo encontravam-se ontem em greve, com concentrações em Lisboa, junto à Assembleia da República, e, no Porto, em frente à Câmara Municipal.
Hoje Macau SociedadeCasinos | Receitas de 4,4 mil milhões em sete dias Nos primeiros sete dias do ano, as receitas brutas dos casinos atingiram os 4,4 mil milhões de patacas, de acordo com os números do banco de investimento JP Morgan Securities (Asia Pacific), citados pelo portal GGRAsia. De acordo com a mesma fonte, nos primeiros sete dias do ano as receitas diárias dos casinos foram de 630 milhões de patacas, o que representa um crescimento face a Dezembro, quando a média diária de receitas tinha sido de 599 milhões de patacas. No último mês do ano passado as receitas brutas do jogo atingiram 18,6 mil milhões de patacas, o segundo melhor registo anual. “Foi, como é óbvio, um número empolgado pelo número de pessoas nos casinos durante o feriado do Ano Novo, mas mesmo assim é impressionante e reconfortante”, consta no relatório assinado pelos analistas DS Kim, Mufan Shi e Selina Li. “Em termos de segmento, o número indica que as receitas brutas do mercado de massas estavam num nível de 105 a 110 por cento, em comparação com os níveis pré-pandemia”, foi acrescentado. O cenário é diferente no segmento dos grandes apostadores, em que o crescimento face ao mês anterior foi apontado como em cerca de 20 por cento. Face a estas estimativas, as receitas em Janeiro podem variar entre 17,5 mil milhões e 18 mil milhões de patacas, o que para os analistas é visto como um número que vai “satisfazer as expectativas do mercado”.
Hoje Macau SociedadeCAM | Previsto aumento de 10% a 15% de número de passageiros O responsável do Departamento de Marketing da Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau (CAM), Eric Fong Hio Kin, estima que o número de passageiros no aeroporto aumente entre 10 a 15 por cento este ano. A estimativa de Eric Fong foi apresentada em declarações citadas pelo jornal Ou Mun e indica que o número total de passageiros pode aproximar-se dos 6 milhões. No ano passado, o aeroporto foi terá sido utilizado por cerca de 5 milhões, uma marca ainda longe dos 9 milhões registados antes da pandemia. Eric Fong garantiu também que as actuais instalações do aeroporto têm a capacidade necessária para acolher o aumento. Por outro lado, o responsável do Departamento de Marketing da CAM recusou que em Macau, e ao contrário do que acontece com Hong Kong, haja problemas com a falta de recursos humanos. Em Dezembro, a companhia aérea Cathay Pacific foi obrigada a cancelar vários voos durante o período das férias do Natal e do Ano Novo, alegadamente devido a várias baixas médicas entre os pilotos, embora também se fale de dificuldades na contratação de profissionais. Contudo, o responsável afastou este cenário em Macau e sublinhou que durante o Natal o aeroporto teve um pico de utilização.
João Santos Filipe Manchete SociedadeDST | Esperados três milhões de visitantes internacionais em 2024 A Direcção de Serviços de Turismo (DST) espera que durante o presente ano o número de visitantes internacionais possa chegar aos valores anteriores à pandemia, apesar de reconhecer as dificuldades regionais do sector da aviação Ao longo deste ano, os Serviços de Turismo esperam que o território atraia cerca de 3 milhões de visitantes internacionais. A meta foi traçada ontem pela directora dos serviços, Maria Helena de Senna Fernandes, ao indicar que a perspectiva é voltar aos níveis de 2019, antes do território se ter isolado do mundo devido à pandemia da covid-19. De acordo com as declarações citadas pelo jornal Ou Mun, Maria Helena de Senna Fernandes assinalou que no ano passado a recuperação do mercado internacional de visitantes foi “boa”, com cerca de um milhão de visitantes internacionais a visitarem o território. Para este ano, a meta é mais ambiciosa, com as autoridades a querem alcançar três milhões de turistas internacionais, o registo pré-pandemia. No entanto, o Governo reconhece que a obtenção deste número depende de “vários factores”. Uma das questões que pode dificultar a chegada de turistas internacionais passa pela onda de cancelamentos de voos em Hong Kong, e em especial com a operadora Cathay Pacific. Como Macau tem um número muito limitado de ligações aéreas para o estrangeiro, um grande volume dos turistas internacionais chega a Macau através de Hong Kong. Sobre este aspecto, Maria Helena de Senna Fernandes acautelou que a “indústria internacional de aviação” ainda não recuperou totalmente da pandemia, e prometeu que as autoridades vão trabalhar para atrair mais visitantes. Apesar do cenário traçado pela dirigente, há países que têm batidos novos recordes relacionados com a aviação, como acontece com Portugal, onde no ano passado se bateu o recorde de chegadas ao país através dos diferentes aeroportos e onde este ano se espera que seja batido um novo recorde. Investimento de 235 milhões Como parte da campanha para atrair mais visitantes estrangeiros, o Governo espera gastar durante o ano cerca de 235 milhões de patacas, de várias formas, como promoções na compra de bilhetes de avião, entre outras. No que diz respeito aos bilhetes com descontos, estes são principalmente dirigidos aos voos directos para o território, e visam ligações com o estrangeiro, cujos preços mais elevados podem ser encarados como um obstáculos à vinda de visitantes. Maria Helena de Senna Fernandes explicou também esclareceu que de acordo com o plano gizado, a aposta não deverá seguir o modelo de Hong Kong, em que após a compra de um bilhete de avião os passageiros recebem outro grátis, mas antes pela oferta de descontos no preço final. As declarações de Senna Fernandes foram prestadas ontem, durante uma cerimónia da Air Macau, que celebrou o lançamento de uma ligação aérea para Kuala Lumpur. Segundo o portal News Today, na cerimónia, Zhu Paibo, administrador da companhia de aviação controlada pela Air China, destacou que o lançamento da ligação aérea coincide com a entrada em vigor das medidas de relaxamento das exigências de visto entre a Malásia e a China.
Andreia Sofia Silva PolíticaElla Lei pede maior frequência do autocarro 21A A deputada Ella Lei interpelou o Governo quanto à necessidade de aumentar a frequência do autocarro 21A por ser o único com ligação directa entre a península e a vila de Ka-Hó, em Coloane. A deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) destaca que a pequena povoação tem tido mais pontos turísticos de interesse nos últimos anos, além de ser necessário facilitar as deslocações da população aí residente. “Actualmente, existe apenas uma carreira de autocarros entre a península de Macau e o Terminal de Combustíveis do Porto de Ká-Hó, com paragens em instalações de serviços sociais e locais de interesse turístico e paisagístico. Contudo, é necessário percorrer 37 paragens de autocarro, com a viagem de regresso [a Macau] a ter 39 paragens, o que faz do 21A o autocarro com maior número de paragens do território. É também a segunda carreira de autocarros mais longa.” Baixas frequências Além de ser uma carreira com muitas paragens, “cobrindo metade do território de Macau”, a deputada Ella Lei indica que a frequência dos autocarros “é relativamente baixa”, tendo em conta que o volume de passageiros “é muito elevado, transportando muitos turistas para a zona do Cotai ou a praia de Hac-Sá”. Segundo a deputada, o incómodo torna-se maior para os residentes que desejam visitar os seus familiares ao cuidado de instalações sociais na zona de Ka-Hó ou Coloane, visto que “os autocarros estão muitas vezes cheios e é difícil entrar neles”. “Caso haja congestionamento de trânsito em horas de ponta, uma viagem de ida e volta demora quase três horas”, sendo que muitos residentes optam por se deslocar à vila de carro, “devido aos inconvenientes causados pelos transportes públicos”. Neste sentido, Ella Lei questiona “as propostas concretas que o Governo tem para melhorar as condições dos transportes públicos para as deslocações às instalações de serviços sociais de Ka-Hó”. A deputada fala ainda da experiência do autocarro temporário 21AS, que passava no túnel de Ka-Hó, pedindo ao Governo para “incentivar as concessionárias de autocarros a criarem mais carreiras da península para o Terminal de Combustíveis do Porto de Ká-Hó através do túnel de Ka-Hó”. Ella Lei exige ainda um aumento do número de lugares de estacionamento nesta zona.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaTrânsito | Exigidas indemnizações por estradas más O deputado José Pereira Coutinho defende que os condutores deveriam ser indemnizados pelo Instituto para os Assuntos Municipais sempre que sofram acidentes ou danos nas viaturas devido aos problemas na pavimentação de estradas e no desnivelamento das tampas de esgoto “Macau é agora um grande estaleiro” é o título da mais recente interpelação escrita do deputado José Pereira Coutinho que pede o pagamento de indemnizações aos condutores que sofram estragos nas viaturas ou acidentes devido à má qualidade das estradas no território. Na interpelação dirigida ao Executivo, o deputado pede que “motoristas e pedestres que sofrem prejuízos com a existência de buracos ou irregularidades nos pavimentos das vias públicas deveriam ser indemnizados pelos serviços competentes após apresentação de queixas junto do Instituto para os Assuntos Municipais”, tendo em conta que “a maior parte das ruas têm problemas no asfalto e estão muito desniveladas, o que causa solavancos nas viaturas que passam no local, constituindo, assim, um perigo diário para motociclistas e condutores de automóveis”, à excepção do troço do Circuito da Guia, denota. Segundo o deputado, “o colapso dos asfaltos das estradas agrava-se com as chuvas devido à má qualidade dos materiais, e basta uma chuvada para que surjam buracos, o que causa enormes transtornos no trânsito”, sendo que os estragos nas viaturas passam por “danos à suspensão, rodas e pneus, podendo gerar colisões e ferimentos graves”. Chuva de queixas Pereira Coutinho descreve ainda que no seu gabinete de atendimento aos cidadãos são comuns “reclamações de motoristas e condutores que são forçados a desviar as viaturas de vários buracos e tampas de esgoto que estão desniveladas”. Neste contexto, torna-se “importante e necessário reforçar a inspecção do processo de pavimentação e de manutenção [das vias públicas], que neste momento é um descalabro, pois existem tampas de esgoto quebradas durante meses sem que ninguém se interesse pelo assunto”. Na interpelação, é pedido que as autoridades verifiquem “o nivelamento das tampas de esgoto aquando da pavimentação das ruas”, devendo ser garantida a “avaliação e testagem durante o processo de pavimentação [das ruas], nomeadamente quanto à composição da massa asfáltica utilizada, índices de compactação do asfalto, a espessura e a densidade das camadas pavimentadas, bem como os tipos de qualidade dos materiais usados”. Tendo em conta o aumento do número de visitantes nos últimos meses, José Pereira Coutinho ressalva que “tem aumentado o número de turistas que ficam espantados com a quantidade de escavações nas ruas e a presença de numerosos separadores de plástico, de cor branca e alaranjada, colocados para durar uma eternidade”. É apontado o exemplo dos separadores colocados na Avenida da Amizade e no Porto Interior, bem como nas zonas periféricas, “dando a imagem da cidade como se esta tivesse sido bombardeada”, remata o deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau.
Hoje Macau PolíticaAL | Incoerência legislativa preocupa deputados Segundo a proposta do Governo do Regime Jurídico de Radiocomunicações, em caso de calamidade o Governo vai poder requisitar qualquer rede ou estação de radiocomunicações. No entanto, ao contrário da prática do Direito Civil, os alvos de requisição não têm direito a qualquer tipo de compensação, mesmo que tenham de fazer face a danos causados pela requisição imposta pelo Governo, com a “nacionalização” temporária. Este aspecto está a preocupar os deputados da 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, como explicou ontem o presidente do grupo, o deputado Vong Hin Fai. No pólo oposto, os deputados mostraram todo o apoio à parte da lei que impede que as pessoas condenadas por crimes ligados à segurança nacional sejam proibidas de ter qualquer licença de rede ou estação de radiocomunicações, até serem reabilitadas. Os legisladores acreditam mesmo que é necessário criar uma lista negra para este efeito.
João Santos Filipe Manchete PolíticaCooperação | Questionado mecanismo para aferir PIB O deputado ligado à FAOM, Lei Chan U, admite estar preocupado com os trabalhos da Zona de Cooperação, principalmente no que diz respeito à criação de um sistema jurídico misto Lei Chan U questionou o Governo sobre os trabalhos para implementar um mecanismo de divisão, entre a RAEM e o Governo de Zhuhai, dos impostos cobrados às empresas de Macau na Zona de Cooperação Aprofundada na Ilha da Montanha. O assunto é abordado pelo deputado ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) numa interpelação escrita, divulgada ontem. No documento, Lei recorda que no passado o Chefe do Executivo propôs ao Governo Central que os impostos cobrados em Hengqin às empresas registadas em Macau fossem divididos com Macau e que entrasse na contabilidade do Produto Interno Bruto da RAEM. O deputado lembra igualmente que o procedimento ia ser feito “de acordo com os padrões internacionais de contabilidade” e teria de entrar em vigor depois de 2024. Neste sentido Lei Chan U quer saber qual é o ponto da situação: “Qual é o progresso actual para a construção do mecanismo de partilha das receitas na Zona de Cooperação Aprofundada?”, questionou. “E qual é o método que vai ser adoptado?”, completou. Outra das questões relacionadas com a Zona de Cooperação Aprofundada entre Cantão e Macau na Ilha da Montanha, prende-se com a implementação de um sistema jurídico, apresentado como misto. O objectivo passaria por implementar algumas características da economia de mercado de Macau em Henqing, com outras questões, como a segurança, a regerem-se pelas práticas do Interior. A meta foi reconhecida pelos governantes locais como uma das tarefas mais complexas do projecto, e agora Lei Chan U pede informações sobre o avanço dos trabalhos. “Como está a progredir a construção do sistema legal que vai apoiar a construção conjunta da Zona Aprofundada entre Cantão e Macau, a gestão conjunta e o mecanismo de partilha?”, interrogou. “Que dificuldades ainda existe? Quando é que se espera que a ligação entre as regras e sistemas de Macau e Cantão se juntem e entrem em vigor na Zona de Cooperação?”, acrescentou. Em relação à aplicação destas regras, Lei Chan U reconhece que falta um ano para que tenham de entrar em vigor, mas não deixa de se sentir “preocupado” pela falta de informações sobre o desenvolvimento do projecto. O deputado recorda também que de acordo com as exigências mais recentes do Conselho de Estado o projecto de desenvolvimento da Zona de Cooperação Aprofundada “tem de acelerar”.
Hoje Macau SociedadeHorta da Mitra | Comerciantes falam em período de adaptação Diversos comerciantes ouvidos pelo canal chinês da Rádio Macau consideraram ser necessário um período de adaptação ao novo mercado do bairro Horta da Mitra, que abriu ontem portas depois de um período fechado para obras de renovação. Uma comerciante com uma banca no mercado municipal, de apelido Sou, disse que ainda se está a adaptar às novas instalações, desejando que as obras de remodelação possam atrair mais clientes. Outro comerciante, de apelido Lou, indicou que, devido às obras, muitos clientes habituais acabaram por fazer as compras noutros mercados, alertando para a pouca variedade de produtos disponíveis. Lou entende que é necessário mais tempo para dar a conhecer o novo espaço aos clientes. O mercado municipal do bairro da Horta da Mitra conta com mais de 80 anos de história e segundo um comunicado do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IAM) conta, após as obras, com 18 bancas, sendo que 13 já existiam antes, destinadas à venda de peixe, carne, produtos congelados e vegetais. Foi lançado em Outubro do ano passado um concurso público para a atribuição das restantes cinco bancas, estando actualmente o IAM a analisar as propostas apresentadas.
Hoje Macau China / ÁsiaJovens timorenses impedidos de viajar por suspeita de serem vítimas de tráfico humano Os Serviços de Migração e Fronteiras de Timor-Leste impediram um grupo de jovens de viajar com destino ao Camboja, por suspeitas de que iriam ser vítimas de tráfico humano, anunciou ontem a Polícia timorense. O chefe do Departamento de Investigação Criminal da Polícia Nacional de Timor-Leste, João Belo dos Reis, explicou, em conferência de imprensa, que os jovens foram detectados por não terem documentos, nem bilhetes de regresso ou visto para entrar no Camboja. “A identificação que fizemos revelou que estes jovens eram potenciais vítimas de tráfico humano, recrutados por uma empresa chamada Multi-Game online”, disse João Belo dos Reis, salientando que os jovens viajavam para alegadamente trabalharem num casino. O responsável da polícia timorense recordou casos similares, mas com destino à Malásia, com jovens recrutados online, que mais tarde se tornam vítimas de tráfico humano. João Belo dos Reis pediu também aos jovens para não acreditarem em promessas feitas na Internet, exemplificando com as falsas mensagens proferidas em nome da Polícia Nacional de Timor-Leste nas redes sociais. Escapar à pobreza O Governo de Timor-Leste criou em Julho de 2021 a Comissão de Luta contra o Tráfico de Pessoas para garantir uma acção coordenada entre os diferentes intervenientes na luta contra o tráfico humano. O último relatório do Departamento de Estado norte-americano sobre Tráfico Humano recomenda às autoridades timorenses para aumentarem as investigações, as acções penais e condenações por tráfico, bem como os recursos destinados aos serviços de protecção das vítimas e a disponibilização da lei contra o tráfico humano em língua materna aos juízes e procuradores. Com cerca de 1,3 milhões de habitantes, Timor-Leste é um país onde os níveis de pobreza continuam elevados, levando os jovens a tentarem a sorte fora do país, devido à elevada taxa de desemprego, que segundo o Banco Mundial, era de 14 por cento em 2021. Dados do Banco Mundial indicam também que cerca de 20 por cento dos jovens timorenses não estudam nem trabalham devido à falta de educação, limitações na prestação da saúde e ineficácia da protecção social.
Rosa Coutinho Cabral VozesConstelação Natália no ano de 2023 Aparentemente deixei de escrever aqui, mas não. O tempo verbal é outro: não tenho escrito. Estive, na realidade, muito ocupada com a Natália Correia. Foi um ano em que vivi com o fantasma dela e nem sempre foi fácil. Encenei uma peça, fiz um filme, montei uma instalação-performance, uma conferência e uma outra instalação. Como disse: foi muita coisa. Agora posso dar notícia de tudo. Os meus dedos estão libertos para pensar enquanto deixam letras e mais letras que não têm outro sentido senão o de se escreverem para além de mim. Mas comigo. Poderia dizer que o meu coração está feliz com este horizonte, mas não. Foi uma carga muito pesada e ressinto-me muito agora: cansaço, ilusões e desilusões, ainda mal refeita do trabalho. Mas, voltemos a essa mulher que colocou acima de qualquer suspeita o epítome da liberdade a favor do vento e a desfavor de uma vida simples. Sim, a vida nunca seria simples desde que a mãe lhe dera a comer a cultura clássica e o gosto pela música em Colheres de Prata, título da peça que encenei. A vida seria, ao fim e ao cabo, sublinhada pela alegria feroz dos que têm dificuldade em vivê-la como os demais. Ser diferente é uma factura que custa a pagar e traz o riso da morte para muito perto. A morte anda a rondar, a rondar, para na realidade amparar a queda no vazio que espreita em cada derrota que não se aceita. Natália não se deixava abater, por isso o ensaio cinematográfico que fiz sobre ela se chamou A Mulher que Morreu de Pé. Natália acompanhou o aparecimento e a queda do Estado Novo. O advento e a queda de uma revolução, segundo as suas aspirações, com o 25 de Abril de 1974. Foi a principal crítica do processo democrático, então instalado em Portugal, nunca deixando e ser um das pessoas mais irreverentes e mais democráticas de Portugal. Mas comecemos do princípio. Era uma vez uma menina pequenina chamada Natália, enfeitada de pérolas, hortênsias e mar, que sempre se colocou ao lado dos que que revolucionam os seus actos – os verdadeiros revolucionários. Por isso entrevistou Norton de Matos, Fez parte da campanha de Humberto Delgado, defendeu desde sempre, e sempre até morrer, a liberdade de expressão dos escritores, artistas, intelectuais. Era uma mulher de coragem. Uma Guerreira amazónica. Dava o peito às balas: assim a descreveram os meus actores num casting poético que integra o filme e a peça Colheres de Prata. Mas, acrescentaram era uma mulher solitária e frágil que a maior parte dos amigos abandonou, porque ela, com efeito, também os abandonou. Creio que os hipócritas. Não lhe serviam no pé. Ela era uma multipétala de talentos – demasiado grande para os demais que a envolviam. Cantava, representava, escrevia romances, teatro, poesia, e tinha uma feroz habilidade como comentadora social e política, revelada, entre outros temas, na defesa dos direitos da mulher que cedo afastou do femininismo dominado pelo americanismo, atribuindo-lhe um nome diferente: femininismo, porque defendia o que de feminino todos podemos ter – homens e mulheres. E que essa sensibilidade era adequada ao que mais importante havia de defender como deputada – a cultura e a forma como essa mesma cultura modelava mentalidades e determinava a forma de fazer política, e a política ela mesma. Foi a sua vida e a forma como a viveu que mais marcas deixou nos que dela ousam falar. Fait-divers, anedotas, instrumentalidades menores do seu carácter. Claro que uma vida também é isso, como a de Cesariny, que tanto admirava: gente de língua afiada, punho cerrado. No entanto foram as palavras escritas na sua poesia, criando a constelação Natália numa geometria de ligações improváveis entre o barroco, o surrealismo e o romantismo, que faz dela um génio maior, ou um pequeno deus que podemos ter à mão na estante da nossa casa. A figuralidade que transita da procura de um ponto cândido onde a poesia mais não fosse que poesia, e a escrita o que eleva o homem de si próprio – caminho que repousa numa antiquíssima idade da terra em que a espiritualidade pagã e descrucificada a mimava ainda, a tornava possível, potenciando – ao fim e ao cabo, os seus arrufos com o mundo. Com Vitorino Nemésio sonhou o independentismo do seu arquipélago, correspondendo às aspirações de alguns, mas felizmente falhando o seu propósito. Natália construi uma persona dramática que ainda hoje fantasmagoriza a cultura portuguesa. Não se pode viver bem com ela, mas ignorá-la será muito pior. – Não se pode conter e abarcar tudo o que esta mulher fez, pensou, quis, mas ignorar a demanda deste desejo ainda pior será. A verdade é que a sua grande vontade de ser reconhecida na sua Ilha-Mãe nunca se chegou a concretizar. Mesmo quando tso apontava para obter o reconhecimento numa exposição sobre a sua obra em São Miguel, a morte roubou a essa açoreana o momento de ser resgatada pelo seu arquipélago, que considerava o último reduto da nacionalidade portuguesa. O seu querido Espírito Santo não a ajudou. Morreu a escassos dias de concretizar este sonho que o Governo Regional levou tempo demais a concretizar. De tudo o que sinto, o que sinto mais pena é de não a ter conhecido. Não ter estado presente nas tertúlias antifascistas da sua casa na Rodrigues Sampaio, e no seu Botequim da liberdade. Natália, apesar do que dela dizem, foi antifascista toda a vida, antes de depois do 25 de Abril, movimento a que esteve ligada desde o primeiro momento. O medo de se abater de novo sobre o país o estigma da ditadura levou-a a fazer um movimento ao centro, à social democracia. Quem a pode criticar? Eu não. Aceito que o tenha feito. Foi mais um gesto de liberdade ao arrepio da moda do tempo, que desenha um percurso político peculiar: aproxima-se do PS, via Mário Soares, de quem se afasta progressivamente. Depois, por defender o amor verdadeiro de Sá Carneiro por Snu Abcassis, aceita entrar no PSD momento demais conhecido pelas suas intervenções como deputada, a favor da legalização do aborto, defesa dos direitos das mulheres e da cultura, No revés de múltiplas desobediências partidárias, segue-se o seu apoio à a campanha de Lurdes Pintassilgo à presidência, e mais tarde, no seu último contributo como parlamentar, ser deputada independente do PRD. O que me interessa sublinhar nesta mulher que inventou a Mátria e a Frátria, como valores superlativos do comportamento humano, que representou a cultura e a literatura portuguesa mundo fora, é que até ao fim dos seus dias interveio como “um general sem medo” na defesa de causas: a defesa do património, dos direitos de autor e direitos humanos, integrou movimentos humanitários pela paz, abraçando justas causas como a da libertação da Palestina. Já muito só, e doente, fundou com José Saramago, Urbano Tavares Rodrigues e Manuel da Fonseca, um ano antes de morrer, a Frente Nacional para a Defesa da Cultura. De tudo o que pude fazer para encontrar a minha Natália nestes anos em que trabalhei, para além da coincidência de ambas sermos afastadas de São Miguel, muito cedo, e de termos vivido um dos momentos mais importantes da vida política das História Recente de Portugal, o 25 de Abril de 1974, só consegui reter uma ténue marca: a cicatriz de Natália que ma acompanhará toda a vida. Obrigada Natália.