A verdade escondida

A democracia em Portugal atravessa momentos de grande degradação e preocupação. Tudo teve o seu início quando o Presidente da República iniciou um diferendo contínuo como primeiro-ministro. Marcelo Rebelo de Sousa habituou-se desde os tempos de jornalista no Expresso a criar factos políticos. Nesse tempo, lembramo-nos dos conteúdos polémicos dos seus artigos, os quais nunca eram provados. Depois, como comentador televisivo pronunciava-se de modo que deixava sempre a dúvida em quem ouvia as suas teses políticas. Eleito Chefe de Estado demitiu um Governo e mais tarde nunca perdoou que o Partido Socialista obtivesse uma maioria absoluta. A fim de não destruir a popularidade angariada percorreu alguns anos a dar a ideia que estava ao lado das decisões de António Costa. Até que se começou a perceber que Marcelo Rebelo de Sousa não estava nada interessado na continuação de Costa no poder e os observadores políticos independentes deixaram a ideia que estava a nascer uma cabala versus contra-revolução chefiada por Rebelo de Sousa de modo bem escondido, para não se dizer de índole secreta, entre os políticos e comentadores televisivos de direita. A gravidade dessa desconfiança veio a descambar numa aliança sobejamente declarada entre a procuradora-geral da República e o próprio Marcelo. Ao ponto de termos assistido à incompreensível inserção de um parágrafo num comunicado da Procuradoria-Geral da República que denunciava uma investigação judicial que atingia o primeiro-ministro.

Obviamente que António Costa a partir desse facto não tinha outra opção senão pedir a demissão da chefia do Governo. Marcelo Rebelo de Sousa deve ter dormido descansado e pensado que as suas intenções estavam em marcha. Isto, porque o próprio Conselho de Estado não patenteou uma maioria a favor da dissolução da Assembleia da República. O Presidente Marcelo podia perfeitamente ter aceitado a proposta de António Costa, de que o seu partido com uma maioria absoluta poderia continuar a governar com um novo primeiro-ministro. Não foi o que aconteceu. Marcelo Rebelo de Sousa usou de imediato os seus poderes e aceitou a demissão de António Costa e marcou eleições legislativas antecipadas.

De imediato, a direita chefiada por Luís Montenegro, um político com telhados de vidro e sem qualquer experiência governativa, recebeu logo o apoio de Marcelo Rebelo de Sousa para se manter como líder do PSD quando no interior do partido os militantes desejavam uma mudança na liderança para Passos Coelho ou para Carlos Moedas. Montenegro venceu o diferendo e consequentemente muitas personalidades têm abandonado o PSD, inclusivamente o prestigiado deputado Maló de Abreu. No entanto, Montenegro tinha de cumprir as intenções contra-revolucionárias do Presidente Marcelo e, nesse sentido, constituiu uma Aliança Democrática (AD) que ainda veio piorar o ambiente no seio dos sociais-democratas. Naturalmente que a cabala está há muito tempo escondida e agora ninguém nos convence que Montenegro não haverá de mudar de ideias quando disse que nada queria com o Chega. A dita AD se obtiver uma maioria relativa está na cara que chamará o Chega para conseguir formar uma maioria absoluta e governar. Ora aí está, a cabala em todo o seu esplendor, a democracia com neonazis no Governo correrá o perigo de descambar em mais censura – como se tem verificado no Global Media Group, do chinês de Macau Kevin Ho e que tanto tem dado que falar -, mais prepotência, mais privatizações, mais despedimentos de trabalhadores de esquerda e em resumo, uma democracia fantoche que reduziria salários, pensões e subsídios sociais. O povo voltaria a sofrer mais do que presentemente acontece e os grandes projectos seriam imbuídos de muito mais corrupção.

Em face de tudo isto, Marcelo rebelo de Sousa tem sido indubitavelmente o chefe da “verdade escondida”. Uma verdade triste porque introduziu muitos factos políticos, desde o pedido de demissão de João Galamba, à detenção do chefe de Gabinete e do melhor amigo de António Costa, mas que o juiz do processo decidiu pela sua liberdade por falta de provas do Ministério Público (MP). Um MP que tem sido contestado em todos os areópagos da política decente, ou seja, dos colunistas independentes e dos próprios políticos socialistas e não só. O MP que resolveu manter vários ministros sob escuta telefónica durante vários anos, o que por si só demonstra que existia uma cabala para demitir o Governo chefiado por António Costa. Contudo, a cabala dos direitistas ainda não terminou: agora as setas estão viradas diariamente contra o alvo Pedro Nuno Santos e todos os males e toda os erros têm sido apontados ao novo líder socialista. A intenção é clara: a esquerda política não pode vencer as eleições de 10 de Março, porque isso seria uma heregia para quem tanto sonha em voltar ao poder deixando Portugal com um défice negativo e com uma maior dívida pública, porque essa é a prática generalizada em Portugal e nos outros países onde a extrema-direita mete o pé.

Abordámos anteriormente o papel do Chega, que no maior cariz de populismo atreveu-se a anunciar que pretendia ser governo. O Chega não é o que alguns pensam. Não é um partido popular, os portugueses na sua grande maioria não querem regressar ao 24 de Abril de 1974. E veremos que no dia das eleições milhares de indecisos se vão recordar dos tempos da PIDE, das prisões, das torturas e das deportações, decidindo por não votar no Chega. As sondagens quase sempre se têm enganado e aqueles que já projectam para o Chega uma percentagem a rondar os 20 pontos, podem estar certos que o Chega não terá mais do que 15 por cento. O povo habituou-se a protestar, mas também a viver em democracia. Nesse sentido, é caso para escrever a velha máxima de que “o fascismo não passará”, mesmo com verdades escondidas.

15 Jan 2024

Índia encontra destroços que podem ser de avião desaparecido em 2016

O Ministério da Defesa indiano anunciou sexta-feira que foram encontrados destroços de um avião no mar provavelmente de uma aeronave do Exército indiano que desapareceu em 2016 com 29 pessoas a bordo.

“Esta descoberta no provável local do acidente, sem qualquer outro registo de aeronave desaparecida na mesma área, indica que os destroços provavelmente pertencem ao An-32 da IAF (Força Aérea Indiana)” que caiu em Julho de 2016 na baía de Bengala, informou o Ministério, num comunicado.

O Antonov An-32, de fabrico russo, que descolou de uma base perto de Chennai, no sudeste da Índia, com destino às ilhas Andaman e Nicobar, desapareceu 15 minutos depois do último contacto com a torre de controlo, em Julho de 2016.

As principais operações de busca realizadas na época não conseguiram encontrar o seu rasto. Sexta-feira, o Ministério da Defesa da Índia disse que um ‘drone’ de alto mar que sondava o fundo do oceano na Baía de Bengala encontrou destroços do avião acidentado a uma profundidade de 3.400 metros, a cerca de 140 milhas náuticas (310 quilómetros) de distância.

As aeronaves An-32 podem voar quatro horas sem necessidade de reabastecimento e são os aviões de transporte mais utilizados pela Força Aérea Indiana, mas sofreram inúmeros acidentes e falhas técnicas. Antes do desastre de 2016, um dos piores acidentes envolvendo um An-32, ocorreu em 1999: uma aeronave caiu perto do aeroporto de Nova Deli com 20 pessoas a bordo.

Em queda

Em 2016, uma fonte da IAF disse que os dados do radar do avião desaparecido mostraram que este tinha feito uma curva acentuada à esquerda antes de perder altitude rapidamente. O chefe das Forças Armadas da Índia, general Bipin Rawat, foi morto em 2021 juntamente com outras 12 pessoas quando o seu helicóptero Mi-17 de fabrico russo caiu no estado de Tamil Nadu.

No ano seguinte, dois pilotos morreram quando o seu caça MiG-21 da era soviética caiu durante uma incursão de treino no Rajastão. Em 2023, um Sukhoi Su-30 russo e um Mirage 2000 francês colidiram no ar durante exercícios a sul de Nova Deli e um dos pilotos morreu. A Força Aérea tem vindo a renovar a sua frota, parte da qual ainda data da década de 1960.

15 Jan 2024

Pyongyang | Lançado míssil balístico em direcção ao mar

O anúncio daquele que poderá ser o primeiro lançamento deste mês chegou pelas vozes das autoridades sul-coreanas e japonesas

A Coreia do Norte disparou ontem um míssil balístico em direcção ao mar no domingo, naquele que poderá ser o primeiro lançamento do regime de Pyongyang em cerca de um mês, disseram Seul e Tóquio.

O Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul disse num comunicado que o Norte “disparou um míssil balístico não identificado em direcção ao Mar do Leste”, referindo-se a uma área também conhecida como Mar do Japão. O Ministério da Defesa do Japão disse ter detectado um possível lançamento de um míssil balístico de curto alcance, que terá caído fora da zona económica especial do país.

A confirmar-se, será o primeiro lançamento de um míssil por parte de Pyongyang desde que testou o míssil balístico intercontinental de combustível sólido Hwasong-18, a arma mais avançada do Norte, em 18 de dezembro. O Hwasong-18 foi projectado para atacar o território continental dos Estados Unidos.

Em exercícios

Na semana passada, Pyongyang realizou exercícios de artilharia em torno da fronteira marítima ocidental com o Sul durante três dias, levando Seul a realizar exercícios de tiro semelhantes na mesma área.

Nos últimos dias, a Coreia do Norte tem intensificado a sua retórica bélica. No início da semana, o líder Kim Jong Un descreveu o Sul como o “principal inimigo” e ameaçou aniquilar o país vizinho se fosse provocado.

Especialistas dizem que Kim provavelmente aumentará ainda mais a tensão ao testar novos mísseis para tentar influenciar os resultados das eleições parlamentares da Coreia do Sul, em Abril, e das eleições presidenciais dos EUA em Novembro.

Numa importante reunião do partido único norte-coreano, no final de Dezembro, Kim prometeu expandir o arsenal nuclear de Pyongyang e lançar satélites espiões adicionais para fazer face ao que chamou de movimentos de confronto liderados pelos EUA.

15 Jan 2024

Taiwan | EUA não apoiam independência, mas mantém interferência

O Presidente norte-americano, Joe Biden, afirmou ontem que os Estados Unidos não apoiam a independência de Taiwan. “Não apoiamos a independência”, sintetizou Biden aos jornalistas à saída da Casa Branca. Washington não reconhece Taiwan como um Estado e consideram a República Popular da China como o único governo legítimo, mas fornecem à ilha uma ajuda militar substancial.

Por seu lado, num comunicado, o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, felicitou Lai e os taiwaneses pelo “sólido sistema democrático”. “Os Estados Unidos felicitam Lai pela vitória nas eleições de Taiwan. Felicitamos igualmente o povo de Taiwan por ter demonstrado uma vez mais a força do seu sistema democrático e do seu sólido processo eleitoral”, declarou o Secretário de Estado norte-americano, adiantando que Washington planeia enviar uma “delegação informal” à ilha após a votação.

“Os Estados Unidos estão empenhados em manter a paz e a estabilidade no Estreito [de Taiwan] e na resolução pacífica das divergências, sem pressões nem coações”, acrescentou. Blinken afirmou ainda que esperava trabalhar com William Lai no futuro para fazer “avançar os interesses e valores comuns” e para “continuar a relação não oficial de longa data de uma forma coerente” com a posição oficial dos EUA.

Estas declarações não caíram bem em Pequim, que respondeu através de um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros. “A declaração do Departamento de Estado dos EUA sobre as eleições na região chinesa de Taiwan viola gravemente o princípio de uma só China e os três comunicados conjuntos China-EUA. A decisão vai contra o compromisso político dos EUA de manter apenas relações culturais, comerciais e outras relações não oficiais com a região de Taiwan e envia um sinal gravemente errado às forças separatistas da ‘independência de Taiwan’. Deploramos e opomo-nos firmemente a esta atitude, tendo feito diligências sérias junto dos EUA”, afirmou o porta-voz.

“A questão de Taiwan está no centro dos interesses fundamentais da China e é a primeira linha vermelha que não deve ser ultrapassada nas relações entre a China e os EUA. O princípio de uma só China é uma norma básica nas relações internacionais, um consenso prevalecente entre a comunidade internacional e a base política das relações entre a China e os EUA”, continuou o porta-voz.

O porta-voz disse ainda que a China se opõe firmemente a que os EUA tenham qualquer forma de interação oficial com Taiwan e interfiram nos assuntos de Taiwan de qualquer forma ou sob qualquer pretexto, e de não procurarem utilizar a questão de Taiwan como um instrumento para conter a China.

Delegação em Taipé

Entretanto, uma delegação informal dos Estados Unidos chegou ontem a Taipé, disse a representação norte-americana na ilha. Num comunicado, o Instituto Norte-americano em Taiwan (AIT, na sigla em inglês) revelou que a delegação será constituída pelo antigo conselheiro de Segurança Nacional Stephen J. Hadley e pelo antigo secretário de Estado adjunto James B. Steinberg.

O AIT sublinhou que “o Governo dos EUA pediu a antigos altos funcionários que viajassem a título privado para Taiwan”, algo que aconteceu “anteriormente após as eleições presidenciais” da ilha. A delegação será acompanhada pela presidente do instituto, Laura Rosenberger.

Na segunda-feira, os dirigentes irão reunir-se com “uma série de figuras políticas importantes e transmitirão as felicitações do povo norte-americano a Taiwan pelas eleições bem-sucedidas”, referiu o comunicado.

A delegação irá também sublinhar “o apoio à prosperidade e ao crescimento contínuos de Taiwan e o interesse de longa data na paz e estabilidade nos dois lados do Estreito”, acrescentou o AIT.

Alemanha e França defendem status quo

Alemanha e França apelaram ontem para o “respeito pelo status quo” após a vitória do candidato do Partido Democrático Progressista (DPP), William Lai, nas eleições realizadas no sábado em Taiwan. A França congratulou-se hoje com a realização das eleições em Taiwan e apresentou as “felicitações” aos eleitores e candidatos que participaram no “exercício democrático”, apelando simultaneamente, num comunicado de imprensa, ao “respeito pelo ‘status quo’ [o actual estado das situações]”.

“Estendemos as nossas felicitações a todos os eleitores e candidatos que participaram neste exercício democrático, bem como aos que foram eleitos”, sublinhou o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês, sem mencionar o nome de William Lai. A declaração refere também que França reafirma “a importância crucial da paz e da estabilidade no Estreito de Taiwan”, além de apelar para “o respeito do ‘status quo’ por todas as partes”, esperando que seja “retomado o diálogo entre as duas margens do Estreito”.

“Taiwan é um parceiro importante para a Europa e para França, nomeadamente nos domínios económico, cultural, científico e tecnológico, e esperamos que, após estas eleições, os laços com a ilha continuem a reforçar-se, em conformidade com a nossa política de uma só China” (que reconhece oficialmente apenas a China continental), concluiu. Também a Alemanha insistiu ontem na preservação do ‘status quo’ em Taiwan, após as eleições, e apelou para que quaisquer mudanças só sejam efectuadas de “forma pacífica e concertada” com Pequim.

“Felicitamos todos os eleitores e candidatos que participaram nestas eleições, bem como os que foram eleitos”, declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros em comunicado, sem felicitar pelo nome William Lai. “A Alemanha está a trabalhar para preservar o ‘status quo’ e criar confiança. O ‘status quo’ só pode ser alterado de forma pacífica e concertada”, acrescentou.

15 Jan 2024

Taiwan | William Lai é o novo líder, mas o seu partido perdeu maioria

O Partido Democrático Progressista conseguiu eleger o seu líder, mas sofreu uma considerável derrota ao perder a maioria de deputados no parlamento de Taiwan. Face aos resultados, Pequim afirma que o líder eleito não representa a maioria do povo de Taiwan.

William Lai Ching-te venceu as eleições para a liderança de Taiwan, com 40% (5.5 milhões de votos), no sábado, mas o seu Partido Democrático Progressista (PDP) não conseguiu manter a maioria legislativa, o que introduz uma nota de incerteza na sua presidência. Hou Yu-ih, do Kuomintang (KMT), ficou em segundo lugar, com 33,5% (4,7 milhões de votos), e Ko Wen-je, do Partido Popular de Taiwan (PPT), com 26,5% (3,7 milhões de votos), de acordo com a contagem da Comissão Eleitoral Central. A taxa de participação eleitoral foi de 71,9% – cerca de 14 milhões de pessoas – ligeiramente inferior aos 74,9% registados há quatro anos.

Há quatro anos, a Presidente Tsai Ing-wen, com Lai como seu vice, foi reeleita com um recorde de 8,2 milhões de votos – 57,1% dos votos – cerca de 19 pontos percentuais à frente do candidato do KMT, o que representa uma perda significativa de votos da parte do PDP, cujo revés nas eleições legislativas, o fez perder a sua maioria na legislatura de 113 lugares, ficando atrás do KMT. Segundo o sistema eleitoral de Taiwan, não existe segunda volta caso nenhum dos candidatos atinja os 50%. Ganha o que ficar em primeiro lugar, embora isso possa significar que não goza sequer do apoio de metade dos eleitores, como aconteceu no sábado.

O Kuomitang, principal partido da oposição, obteve 52 lugares, tendo o TPP obtido oito lugares e dois lugares para outros candidatos, uma situação que poderá dificultar ao PDP a aprovação de projectos de lei e a implementação de reformas importantes quando Lai assumir funções.

No sábado, Lai disse que o seu partido iria “rever humildemente” os resultados, sublinhando a necessidade de “construir um ambiente de comunicação, consulta, participação e cooperação” no parlamento.

Chang Chun-hao, cientista político da Universidade de Tunghai, em Taipé, afirmou ao South China Morning Post que o resultado das eleições legislativas poderá abrir caminho a políticas de promoção do intercâmbio com o continente, tais como a redução das restrições impostas aos estudantes e turistas do continente. “Dado que o PPT tem agora o poder de influenciar a legislatura, será difícil para o PDP apresentar políticas”, disse Chang.

“Com o KMT e o TPP a formarem uma maioria, isso também poderá significar um aumento das políticas que promovam a comunicação e os intercâmbios”, disse Chang, acrescentando que as políticas para a entrada de turistas e estudantes chineses do continente poderão ser flexibilizadas no futuro.

Hou, do KMT, apelou a um maior intercâmbio entre as duas margens do Estreito, nomeadamente em domínios como a educação e a cultura. No seu discurso de vitória, Lai pareceu adoptar um tom conciliatório em relação ao continente. “Temos de substituir o cerco pelo intercâmbio e o confronto pelo diálogo, a fim de alcançar a paz e a co-prosperidade, e a única saída é a paz, a igualdade e o diálogo democrático”, afirmou. “É a única forma de alcançar uma situação vantajosa para ambas as partes do Estreito de Taiwan”.

Nada muda para Pequim

Ainda no sábado, um porta-voz da China continental comentou no sábado os resultados das eleições para a liderança e para a legislatura de Taiwan. Chen Binhua, do Gabinete para os Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado, afirmou que os resultados revelam que “o Partido Democrático Progressista não pode representar a opinião pública dominante na ilha”. Salientando que “Taiwan é Taiwan da China”, Chen afirmou que “as eleições não alterarão a paisagem básica e a tendência de desenvolvimento das relações entre o Estreito de Taiwan, não alterarão a aspiração comum dos compatriotas do outro lado do Estreito de Taiwan de estabelecer laços mais estreitos e não impedirão a tendência inevitável da reunificação da China”.

“A nossa posição relativamente à resolução da questão de Taiwan e à realização da reunificação nacional continua a ser coerente e a nossa determinação é tão firme como uma rocha. Aderiremos ao Consenso de 1992, que incorpora o princípio de uma só China, e opor-nos-emos firmemente às actividades separatistas que visam a ‘independência de Taiwan’, bem como à interferência estrangeira”, afirmou Chen.

Chen afirmou que o continente “trabalhará com os partidos políticos, grupos e pessoas relevantes de vários sectores em Taiwan para impulsionar os intercâmbios e a cooperação entre as duas margens do Estreito, reforçar o desenvolvimento integrado entre as duas margens do Estreito, promover conjuntamente a cultura chinesa e fazer avançar o desenvolvimento pacífico das relações entre as duas margens, bem como a causa da reunificação nacional.

Por seu lado, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China também se pronunciou no sábado sobre o resultado das eleições na região de Taiwan. Reiterando as palavras de Chen Binhua, o porta-voz afirmou que “a questão de Taiwan é um assunto interno da China. Quaisquer que sejam as mudanças que ocorram em Taiwan, o facto básico de que existe apenas uma China no mundo e Taiwan faz parte da China não mudará; a posição do governo chinês de defender o princípio de uma só China”. Além disso, acrescentou “o consenso prevalecente da comunidade internacional sobre a defesa do princípio de uma só China e a adesão duradoura e esmagadora a este princípio não mudará”, também enquanto “âncora sólida para a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan”.

15 Jan 2024

O Regresso de Lu Guang na Primavera

Su Dongpo (1036-1101), o poeta e pintor que conhecia a vontade dos pintores se identificarem com o objecto pintado, interrogando-se sobre a pintura Eminentes moradas de imortais, do inclassificável Guo Zhongshu (c.929-977) e enlevado sobre a paisagem figurada escreveu: «Um templo daoísta pousado no meio da neblina, quem é aquela pessoa debruçada na cerca?»

A questão constantemente repetida pelos homens de cultura que conheciam a tradição, ainda reverberava no século dezoito quando o erudito autor do tratado Pushan Lunhua, Zhang Geng (1685-1760) lembrando autores que admirava, disse: «Xu Ben era honesto, puro e muito refinado enquanto Lu Tianyou e Fang Fanghu foram para lá do mundo objectivo e assim ficaram livres da poeira do Mundo e não enclausurados nos limites dos caminhos vulgares. No Liji, o Livro dos Ritos diz-se que “Aquilo que nasce da virtude é superior e o que se faz por métier é inferior”, o que é uma grande verdade.»

Um desses pintores, Lu Tianyou, também conhecido como Lu Guang (c.1300-depois de 1371) que, possuindo grande erudição, viveu livre das obrigações dos funcionários imperiais durante a transição dinástica Yuan-Ming, que ocorreu cerca de 1368, exerceria um grande fascínio sobre outros eminentes pintores.

Entre aqueles que assumiram a influência do seu espírito independente encontram-se o monge Hongren (1699-1769) ou Fang Yizhi (1611-1671). No rolo vertical Amanhecer de Primavera no terraço do elixir (Dantai chunxiao, tinta sobre papel, 61,6 x 26 cm, no Metmuseum) feito à volta de 1369, figurou uma imponente montanha onde se aninha um templo daoísta e, mais acima, um terraço com uma cerca onde não se avista ninguém debruçado. No suave amanhecer em que regressava à sua nativa Suzhou, o pintor parece pressentir o Mundo em mudança como um exemplo da alquimia do Dao.

Lu Guang, nessa pintura que fez para o seu amigo Boyong, acrescentou o poema:

Durante dez anos vagueei, sem morada certa

e longe de todos os cuidados do Mundo,

Agora, regressando pelo rio, vejo coisas

diferentes da maioria das pessoas;

Vapores transparentes como o jade

flutuam no céu sem chuva,

Raios de um elixir sobem

irradiados de um poço

e tornam-se nas nuvens do amanhecer.

De pé ao vento seguro-me ao meu bastão

rematado por uma crossa de dragão,

Há muito tempo que sinto saudades

de escutar a música que tocavas,

soprando o teu luansheng ao luar.

Feliz de estar com o venerável imortal

e longe de estrategas militares,

Sentados, admirando pinturas,

falamos sobre literatura.

Estariam também olhando, debruçados sobre a montanha pintada, atentos ao sopro da mudança, quiçá recordando aquela qualidade que o historiador Sima Qian (145-86 a. C.) notou sobre as Três montanhas sagradas: «À distância parecem nuvens, mas à medida que nos aproximamos alojam-se na água e no fim acabam sendo sopradas pelo vento.»

15 Jan 2024

DSEC | Preços para turistas mais altos em 2023

No ano passado, os preços para os turistas foram em média 21,53 por cento mais altos, de acordo com os dados do Índice de Preços Turísticos, publicado na sexta-feira pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC).

“Em 2023 o IPT médio (141,77) subiu 21,53 por cento, face ao ano de 2022, devido principalmente à ascensão de preços dos quartos de hotéis, do vestuário, dos serviços de restauração e dos pastéis e doces”, justificou a DSEC.

Estes dados, significam que, por exemplo, se em 2022 um produto para turistas custava 100 patacas, no ano passado passou a custar 121,53 patacas. “Analisando por secções de bens e serviços, o índice de preços da secção alojamento cresceu 157,93 por cento, em termos anuais e os índices de preços das secções vestuário e calçado (mais 6,88 por cento), produtos alimentares, bebidas alcoólicas e tabaco (mais 3,68 por cento) e restauração (mais 2,00 por cento) também registaram acréscimos”, foi completado.

15 Jan 2024

Caso Tak Chun | TSI deixa cair sete crimes de burla

A decisão significa que Levo Chan, ex-dirigente do grupo promotor de jogo Tak Chun, vai ter de cumprir menos um ano de prisão, com a pena a ser reduzida de 14 para 13 anos. A decisão admite recurso

 

O Tribunal de Segunda Instância deixou cair sete crimes de burla de valor consideravelmente elevado a que Levo Chan, proprietário do grupo promotor de jogo Tak Chun, tinha sido condenado. Como consequência da decisão anunciada na quinta-feira à noite, a pena de prisão daquele que era um dos principais junkets do território foi reduzida de 14 anos para 13 anos.

“Tendo em conta que todos os indivíduos que participaram nas actividades de jogo por debaixo da mesa agiram com consciência […] ninguém que foi induzido em erro pelos actos astuciosos da outra parte […] não está preenchido um dos elementos constitutivos do crime de burla”, foi explicado em comunicado dos tribunais, face à decisão tomada.

Como consequência de decisão, o tribunal entende que Levo e os restantes arguidos não têm de pagar qualquer valor às concessionárias, ao contrário do que tinha sido decidido na primeira instância. Porém, têm de pagar ao Governo da RAEM 2,49 mil milhões de patacas. No caso de não conseguirem pagar o montante, a questão torna-se relevante porque será utilizada pelos tribunais para impedir futuros pedidos de libertação condicional, após o cumprimento de dois terços das respectivas penas.

A decisão significa que o TSI recusou o recurso do Ministério Público, que apesar de conseguir obter uma condenação de 14 anos na primeira instância pretendia que a pena fosse ainda agravada.

Com a decisão mais recente anunciada, Levo Chan Weng Lin vai ter de cumprir uma pena de 13 anos que resulta da condenação por um crime de associação ou sociedade secreta, 24 crimes de exploração ilícita de jogo em local autorizado, um crime de exploração ilícita de jogo, e um crime agravado de branqueamento de capitais.

No caso da segunda arguida, Cherie Wong Pui Keng, e também devido à absolvição pelos crimes de burla de valor consideravelmente elevado a sentença de inicial de 10 anos de prisão efectiva foi reduzida para 9 anos de prisão. A arguida foi dada como culpada de um crime de sociedade secreta, 24 crimes de exploração ilícita de jogo em local autorizado e um crime de exploração ilícita de jogo.

Por sua vez, Betty Cheong Sao Pek viu a pena reduzida para 9 anos de prisão, face ao 10 inicias. Foi igualmente condenada por um crime de sociedade secreta, 24 crimes de exploração ilícita de jogo em local autorizado e ainda um crime agravado de branqueamento de capitais.

Também Wayne Lio Weng Hang, que tinha sido condenado com a pena de 11 anos, viu a pena reduzida para 10 anos de prisão, devido à prática de um crime de sociedade secreta, 24 crimes de exploração ilícita de jogo em local autorizado, um crime de exploração ilícita de jogo e um crime agravado de branqueamento de capitais.

Edward Lee Tat Chuen foi o arguido menos beneficiado pela absolvição, porque apesar do colectivo ter considerado que praticou menos sete crimes de burla, a decisão não teve qualquer impacto na sua pena. Vai ter de cumprir sete anos de pena efectiva por um crime de sociedade secreta e 24 crimes de exploração ilícita de jogo em local autorizado.

15 Jan 2024

SSM | Alertas de pico de gripe e aumento de casos de covid-19

Os Serviços de Saúde de Macau alertam que Macau já está a enfrentar um pico de gripe, estando ainda previsto um aumento do número de casos. Além disso, as ocorrências de covid-19 registam também uma tendência de subida

 

Um comunicado dos Serviços de Saúde de Macau (SSM) emitido na sexta-feira dá conta de que o território está a enfrentar um pico de gripe, registando-se uma tendência de aumento do número de casos. Os SSM referiram o exemplo da primeira semana do ano, quando se registou um aumento do número de doentes com sintomas de gripe que se dirigiram às urgências, cuja proporção foi de cerca de 12,5 pessoas, em média, por cada 100 doentes, enquanto na urgência pediátrica esse número foi de 37,7 utentes por cada 100 crianças.

Os SSM dão conta de que estes dados são mais altos do que os números registados habitualmente fora dos picos de gripe, “estes dados são mais altos do que os números registados habitualmente fora dos picos de gripe, representando mais oito por cento face ao mês de Dezembro do ano passado e mais 33 por cento em relação à semana passada”.

De frisar que, segundo as autoridades de saúde, o vírus A H3N2 representa a maioria dos casos de gripe, com 73,4 por cento, enquanto os restantes casos dizem respeito ao vírus influenza B, com 25,2 por cento, enquanto o vírus influenza A H1N1 constitui apenas 1,4 por cento das ocorrências.

Desde o início de Janeiro, já ocorreram em Macau 43 casos de infecções colectivas de gripe em jardins de infância e escolas, envolvendo 360 pessoas, sendo que 22 dos casos foram provocados pela infecção com o vírus influenza A, seis causados pelo vírus influenza B, quatro causados por adenovírus e apenas um caso de covid-19. Os restantes dez casos tiveram resultados negativos ou estão ainda a ser analisados. Ocorreram ainda oito casos de doença grave gerada pela gripe, em que apenas três pessoas estavam vacinadas.

Covid a subir

Relativamente à covid-19, os SSM alertaram também para a tendência de aumento do número de casos, passando a taxa de detecção positiva da doença de zero para 11 por cento na última semana. A variante XBB do vírus que gera a covid-19 ocupou 69 por cento dos casos, enquanto a variante BA.2.86 representou 31 por cento. Já a variante JN.1, significou 13 por cento dos casos detectados pelas autoridades em Dezembro.

Os SSM voltam a fazer um apelo à vacinação, sobretudo da parte de doentes de alto risco, idosos, mulheres grávidas ou já com doenças crónicas. Entre 2023 e as primeiras semanas de Janeiro, foram administradas cerca de 161 mil vacinas da gripe, enquanto a taxa de vacinação nos lares ultrapassou os 90 por cento.

Já a taxa de vacinação de crianças e jovens, também foi de cerca de 80 por cento, enquanto a taxa de vacinação de idosos com mais de 65 anos ou de crianças com menos de três anos atingiu os 50 por cento.

Os SSM oferecem a vacina monovalente de mRNA contra a variante XBB da covid-19 aos indivíduos com idade igual ou superior a 12 anos, destacando ainda que esta vacina tem mais efeitos preventivos contra as diversas variantes da covid, sobretudo quando existe o risco de ocorrer doença com sintomas graves que podem levar à morte.

15 Jan 2024

Centro Histórico | Concluída análise do Plano de Salvaguarda e Gestão

Está concluída, da parte do Conselho Executivo, a análise ao Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau, proposto pelo Governo, após a realização de duas consultas públicas em 2014 e 2018.

A proposta de regulamento administrativo define o território por fases consoante o seu património e zonas históricas, propondo-se 11 corredores visuais, 19 “ruas pitorescas” e ainda 24 “zonas de tecido urbano”, sendo ainda definidos os princípios orientadores para a preservação das características destes locais.

São também estabelecidas “condições restritivas de construção” tendo em conta o valor cultural de cada edifício, bem como os “critérios para o restauro arquitectónico”, que abrangem 22 edifícios históricos que fazem parte do Centro Histórico de Macau. No regulamento, determinam-se ainda medidas de salvaguarda e gestão relativas à “avaliação dos impactos sobre o património” e “sustentabilidade”.

No âmbito de “outras medidas”, definem-se 11 aspectos relacionados com a gestão do Centro Histórico para uso corrente, equipamentos municipais, arborização ou sistema de transportes. O regulamento administrativo vai ter de ser votado no hemiciclo para entrar em vigor a 1 de Junho deste ano.

15 Jan 2024

Corredor pedonal do NAPE | Associação Geral de Mulheres apresenta sugestões

Chu Oi Lei, dirigente da Associação Geral das Mulheres de Macau, entende que o desenvolvimento da segunda fase do corredor pedonal na zona marginal do NAPE poderá ser uma obra benéfica para turistas e residentes. A responsável entende que o projecto em causa vai também desempenhar um papel importante no desenvolvimento da indústria integrada de turismo e lazer, e espera que as autoridades possam incorporar no plano mais elementos relacionados com a água e criar diferentes ofertas recreativas para diferentes idades, a pensar nas famílias, nomeadamente pontos de observação da zona costeira, por exemplo.

O comunicado da Associação Geral das Mulheres aponta ainda para a necessidade de se criarem mais espaços abertos e zonas de recreio para os mais novos e respectivas famílias, além de pedir mais paragens de autocarros no local e a melhoria dos acessos para a zona pedonal.

Chu Oi Lei pede ainda que sejam criados mais espaços subterrâneos para o estacionamento de viaturas e que haja uma maior interconexão com outras infra-estruturas de transportes, nomeadamente o Centro Modal de Transportes da Barra e o metro ligeiro.

15 Jan 2024

Espionagem | Governo diz ter conhecido caso através dos média

A funcionária pública de Macau terá apresentado uma denúncia contra o alegado espião junto das autoridades do Interior, mas deixou o empregador, a Administração da RAEM, no escuro sobre a situação

O Governo admitiu ter ficado a saber do alegado caso de espionagem na Ilha da Montanha através dos órgãos de comunicação social. O caso foi relatado na quarta-feira pela CCTV, e envolveu a tentativa de suborno a uma trabalhadora da função pública de Macau, por um cidadão estrangeiro, cuja nacionalidade não foi revelada.

“Em relação a este caso, nós também recebemos esta notícia através da imprensa. Eu creio que quer seja a RAEM ou os residentes da RAEM, ou os trabalhadores da função pública, quando estão a exercer funções na Ilha da Montanha, também precisam de obedecer à lei”, afirmou André Cheong, secretário para a Administração e Justiça e porta-voz do Conselho Executivo.

A informação ganha mais relevância, porque apesar da Zona de Cooperação Aprofundada pertencer à jurisdição do Interior, esta tem como coordenador adjunto permanente da comissão de gestão o próprio André Cheong. Um dos coordenadores é ainda o Chefe do Executivo de Macau, Ho Iat Seng, a par de Wang Weizhong, secretário adjunto do Comité Provincial de Guangdong do Partido Comunista Chinês e Governador do Governo Provincial de Guangdong.

Apesar de ter admitido desconhecer o caso, André Cheong deixou uma mensagem para todos os funcionários públicos e residentes de Macau, sobre a obrigação de terem de cumprir a legislação da segurança nacional, mesmo quando estão na Ilha da Montanha.

No canal estatal

Segundo os relatos de quarta-feira da televisão estatal chinesa CCTV, existe um estrangeiro suspeito de roubar informação e levar a cabo actividades de espionagem em Hengqin, a zona de cooperação entre Macau e a província adjacente de Guangdong. O suspeito, que aparece, em imagens desfocadas transmitidas pelo canal, de costas a ser interrogado, aparenta ser do sexo masculino. No entanto, a sua nacionalidade não foi revelada.

Também ao contrário de um caso recente no Interior, em que foi detectado um espião com ligações aos MI6, serviços de espionagem do Reino Unido, nesta situação ligada a Hengqin não são mencionadas ligações a nenhum país estrangeiro em concreto. Apenas foi indicado que o alegado espião tem ligações a “um departamento governamental de um país estrangeiro”.

A denúncia terá partido de uma funcionária pública de Macau no Interior, alegadamente com o apelido Lei, a quem o espião terá pago jantares e convidado para reuniões particulares, além de se disponibilizar a pagar os estudos desta no estrangeiro. A troco, o homem pretendia receber informações “sobre a investigação e implementação da política de Hengqin e da Zona de Cooperação”.

A CCTV informou também que o indivíduo de nacionalidade estrangeira cruzava regularmente a fronteira em Hengqin e aliciava “os residentes de Macau” na Ilha da Montanha a tirarem fotografias, o que foi considerado como “um perigo real para a segurança nacional”.

15 Jan 2024

Licenciamentos | Governo altera regras para lojas de alimentação e em restaurantes

O Governo vai substituir o regime de licenciamento dos “estabelecimentos de venda a retalho de géneros alimentícios frescos e vivos” por um regime de registo. A informação foi divulgada pelo Conselho Executivo e vai entrar em vigor em Fevereiro, depois da publicação do regulamento administrativo “Regime de registo de estabelecimentos de venda a retalho de géneros alimentícios frescos e vivos”.

Como consequência da mudança, “os estabelecimentos de venda a retalho de vegetais, carnes ou pescado deixam de estar sujeitos ao licenciamento do IAM e basta-lhes requerer registo junto do IAM antes do início de actividade, podendo assim estar abertos ao público após a obtenção da certidão de registo”, foi revelado. O IAM continua a fiscalizar os estabelecimentos, e quando não forem cumpridas as formalidades exigidas são aplicadas multas. Os actuais detentores de licenças consideram-se registadas, para efeito das alterações legais.

Governação electrónica | Novo licenciamento na restauração

O Conselho do Executivo aprovou um novo regime de licenciamento de estabelecimentos de comidas e bebidas, que vai obrigar a que todos os pedidos sejam feitos de forma electrónica.

Segundo o novo regulamento administrativo, o “novo procedimento de licenciamento segundo o regime de agência única decorre inteiramente por meio electrónico”, e os requerentes vão ter de utilizar a aplicação “plataforma para Empresas e Associações”.

Além disso, foram introduzidas mais alterações no procedimento de aprovação, que têm como objectivo implementar a “governação electrónica” e fazer com que os diferentes processos que implicam departamentos como a Direcção dos Serviços de Solos e Construção Urbana ou o Corpo de Bombeiros tenham um prazo mais reduzido. Como o Conselho Executivo acredita que o novo sistema vai ser eficaz também propõe o cancelamento do regime de licença provisória pré-vistoria do estabelecimento.

15 Jan 2024

SPU | Oficializado 29 de Outubro como dia da polícia

A partir deste ano, o 29 de Outubro torna-se oficialmente o dia da polícia, conhecido pelo nome oficial Dia dos Serviços de Polícia Unitários (SPU) da Região Administrativa Especial de Macau. A data passa a ser assinalada segundo as alterações ao regulamento administrativo sobre a organização e funcionamento dos Serviços de Polícia Unitários.

A mudança foi divulgada pelo Conselho Executivo na sexta-feira. As alterações definem também o Gabinete de Informação Financeira como um “organismo dependente dos SPU, dotado de independência técnica e funcional”. Ao mesmo tempo, criam-se os cargos de coordenador e coordenador-adjunto do GIF. A alteração surge após a Lei dos SPU ter sido modificada pela Assembleia Legislativa, para que a polícia fique com competências para lidar com o branqueamento de capitais, financiamento ao terrorismo e o financiamento à proliferação de armas de destruição maciça.

15 Jan 2024

Segurança | Governo quer garantir juramentos “sinceros” e “solenes”

A revisão da lei que regula os juramentos foi justificada com a lei de segurança nacional e o recém-criado princípio de Macau governada por patriotas. Os membros da comissão eleitoral do Chefe do Executivo passam também a ter de jurar lealdade

 

Face às exigências da lei de segurança nacional, e à nova política Macau Governada por Patriotas, o Governo apresentou uma proposta de revisão da Lei dos Juramentos por Ocasião do Acto de Posse, para garantir que os juramentos ocorrem de forma “sincera” e “solene”. Os traços gerais da proposta foram apresentados na sexta-feira numa conferência de imprensa do Conselho Executivo, mas a proposta só é conhecida com a entrada na Assembleia Legislativa.

Uma das alterações destacadas na apresentação do diploma foi o facto de os membros da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo passarem a estarem sujeitos ao juramento. “Na proposta de lei verifica-se o aditamento dos membros da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo como sujeitos do juramento e aditamento do respectivo termo do juramento. Paralelamente, estabelece-se que os membros da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo prestam juramento por assinatura na declaração”, foi revelado.

Segundo a proposta, passa a haver novas exigências no “acto de juramento” e no regime “relativo à pessoa perante a qual é prestado juramento”. Ao mesmo tempo, passam a ser encaradas como “recusa de juramento” três situações novas, quando o jurador ler “um conteúdo que não esteja em conformidade com o termo do juramento legal”, assine “uma declaração em que o respectivo termo do juramento tenha sido adulterado” ou “preste juramento de qualquer forma que não seja sincera ou solene”.

De acordo com o regime da proposta, passa também a competir “à pessoa perante a qual é prestado juramento” assegurar a conformidade do acto público.

Do passado

Em 2019, o julgamento do actual presidente da Assembleia Legislativa, levantou polémica, uma vez que foi repetido numa situação em que dificilmente se pode considerar como tendo cumprido a formalidade de acto público.

Kou Hoi In teve de repetir o juramento da tomada de posse como presidente da Assembleia Legislativa, depois de se ter esquecido de mencionar Macau, na primeira tentativa, feita com deputados e outros titulares de altos cargos públicos. Porém, a repetição foi feita à porta fechada e não houve transmissão da cerimónia.

O problema derivou do facto de na cerimónia realizada apenas estar presente o Chefe do Executivo da altura, Fernando Chui Sai On, o presidente da AL e ainda o fotógrafo de serviço do Governo, o que levantou várias questões sobre o aspecto público.

Na altura, a repetição do juramento não foi anunciada, nem os deputados tiveram conhecimento da mesma. Tal só aconteceu depois de ter sido publicado um comunicado através da plataforma do Gabinete de Comunicação Social do Governo. O facto de o juramento ser irregular pode fazer com que o titular não assuma o cargo.

15 Jan 2024

Bienal de Veneza | Maria Madeira é a primeira artista timorense a participar

O papel da mulher durante a ocupação da Indonésia sobre Timor-Leste é o tema da instalação que a artista timorense Maria Madeira levará à Bienal de Veneza, que decorre em Abril. Maria Madeira é a primeira artista timorense a participar num dos maiores eventos de artes a nível mundial

 

Maria Madeira é a primeira artista de Timor-Leste a representar o país na Bienal de Veneza e a Itália leva uma instalação sobre a luta da mulher timorense na ocupação Indonésia, durante a qual “usaram o corpo”.

Para Maria Madeira, o convite para estar na Bienal de Veneza, que se realiza em Abril, apoiado pelo Governo timorense, foi um “orgulho” e uma “honra”, mas tem também outro significado. “Para mim, um timorense estar na Bienal demonstra que Timor-Leste já está pronto para estar no mundo internacional da arte e cultura. É um passo para a Maria, mas um ‘big leap’ [grande salto] para a arte e cultura de Timor-Leste”, afirmou à Lusa a artista timorense.

Na visão de Maria Madeira, o que falta em Timor-Leste não é talento, mas “pontos de referência”, o conhecimento da arte no mundo, e a presença na Bienal vai “abrir as portas para a futura geração de artistas timorenses”.

A instalação que vai apresentar em Veneza conta a história das mulheres timorenses e da sua luta durante a ocupação indonésia, através dos símbolos, métodos e materiais da cultura timorense. “Na Bienal vou fazer uma instalação que fala do que aconteceu às mulheres timorenses durante a ocupação indonésia, as atrocidades, os abusos, a luta da mulher timorense. Os homens timorenses, os guerrilheiros, usaram as armas para lutar, a mulher usou o corpo e vou mostrar isso na bienal”, explicou.

Defender direitos

Defensora dos direitos das mulheres, a artista considerou que em Timor-Leste o papel da mulher, tradicionalmente associado ao trabalho doméstico, está a mudar.

“Temos muita força, às vezes somos o motor atrás da família e muitos não reconhecem. A situação está a mudar, porque a nova geração está a dar mais atenção às raparigas, porque estão a notar que as mulheres estão mais envolvidas com a arte, que é uma coisa pública”, explicou. “Muitos rapazes estão a ver mulheres timorenses a cantar, a pintar, a jogar futebol, no parlamento, e isso é uma coisa positiva”, salientou a artista timorense.

Maria Madeira falava na Fundação Oriente onde está patente a sua última exposição “Conversa Floreada”, que representa também as mulheres. “Queria falar da conversa floreada. A mulher timorense é considerada a flor e o timorense gosta muito de conversa floreada. Faz uma pergunta em três segundos, mas faz um discurso de 10 minutos antes de fazer a pergunta”, explicou a artista, salientando, com humor, que aquela conversa tem aumentado à medida que os timorenses conhecem o mundo.

Mas, a conversa floreada fala também da mulher e da ligação entre mães e filhas, irmãs e amigas. “Mostra que as mulheres falam mais entre elas e aprendem muito mais juntas”, porque “com os homens há sempre uma barreira que indica uma maneira de falar, de sentar, de estar em público”, disse. “Com raparigas há um baile, a nossa conversa floreada, floresce”, sublinhou Maria Madeira.

Um futuro positivo

A artista vê o futuro da arte de Timor-Leste como positivo, mas defende que é preciso meios para desenvolver e progredir o trabalho dos artistas e uma escola de artes.

“Quando se pensa na arte timorense pensa-se no tradicional, na dança, no artesanato, ninguém pensa na nossa linguagem contemporânea. Eu gosto muito de arte, gosto da minha cultura e de tudo o que é tradicional, mas estou no mundo contemporâneo e tenho de comunicar o que vejo e sinto agora”, afirmou Maria Madeira e por isso usa o tradicional para comunicar com o mundo.

“Com a Bienal, com mais exposições, e espero que venham mais artistas internacionais fazer exposições em Timor, as portas estão a abrir pouco, a pouco, a luz está entrar, está tudo mais visível e penso que depois da bienal vai haver um ‘boom’ para a arte em Timor-Leste”, concluiu.

Maria Madeira foi retirada de Díli juntamente com a sua família pela Força Aérea portuguesa em 1976, durante a ocupação indonésia, e viveu durante quase oito anos num campo de refugiados da Cruz Vermelha nos subúrbios de Lisboa. Em 1983, a família emigrou para a Austrália, país onde Maria Madeira vive e estudou artes, ciência política e tirou o doutoramento em filosofia da arte. A artista já expôs na Austrália, Portugal, Brasil, Macau, Indonésia e Timor-Leste.

14 Jan 2024

Estejamos alerta em 2024

Ao entrarmos em 2024, quero antes de mais nada desejar aos nossos leitores um ano seguro e feliz. Comparado com a Ucrânia e com Gaza, onde a guerra ainda continua, Macau pode considerar que tem sorte. Mas as pessoas têm de enfrentar a realidade, especialmente os jornalistas, que não podem contar apenas histórias bonitas, porque 2024 vai ser um ano repleto de dificuldades e de desafios para a Humanidade.

O Index Hang Seng de Hong Kong fechou nos 19.781,41 pontos a 30 de Dezembro de 2022 e nos 17.047.39 pontos a 29 de Dezembro de 2023, o que representou uma queda de mais de 2.000 pontos. Caiu abaixo do nível de sustentabilidade fixado nos 17.500 pontos. Embora o Governo de Hong Kong tenha feito todos os esforços para promover a vida nocturna da cidade durante os feriados de Natal, a situação socio-económica não melhorou.

Na China continental, devido ao enquadramento financeiro e à falta de confiança das pessoas na aquisição de casa própria, muitas empresas imobiliárias chinesas, como a Evergrande, a Country Garden, a Sunac China, a Kaisa, a Shimao e o R&F Group, lutam pela sobrevivência. Embora as autoridades responsáveis tenham feito todos os possíveis para ajustar diversas políticas, o rebentamento da bolha do sector imobiliário não pode ser descartado. Se, em 2024, o PIB da China não conseguir atingir o esperado crescimento de 5 por cento, a sua economia em termos globais será fortemente atingida.

Enquanto cidade pequena, Macau é apoiada pela Pátria, pela Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, e também pelo sector do jogo e pelas suas abundantes reservas financeiras. Desde que o Governo da RAE não cometa erros graves, não vai ser difícil manter as necessidades básicas dos residentes. Olhando para os Chefes dos três Executivos da RAE de Macau nos últimos 25 anos, percebemos que Ho Hau Wah era um homem de visão com uma equipa de elite. Chui Sai On possuía uma mente aberta e assumia responsabilidades o que contribuiu para a prosperidade de Macau. O actual Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, foi posto à prova com a pandemia de COVID-19, que surgiu logo após a sua tomada de posse, tendo provado ser um homem dinâmico.

Por várias razões, Macau está actualmente carregado de problemas, sendo estes os principais: 1) A traça das diversas instalações de apoio da Zona A só pode ser feita depois da conclusão do Aterro da “Zona A” dos Novos Aterros Urbanos; 2) a Construção da rede do Metro Ligeiro é cara e a construção da Linha Leste acabou por precisar de subsídios do Governo Central; 3) As obras de escavação rodoviária estão sem fim à vista em diversas zonas de Macau; 4) O plano de redução de funcionários dos departamentos governamentais transformou-se no recrutamento de mais funcionários públicos, o que acarretou enormes despesas; 5) Macau carece de elementos que atraiam o investimento e o turismo estrangeiros. Mas desde que o Governo da RAEM não cometa erros graves e que vá avançando aos poucos com cuidado, todos os problemas se tornarão coisa do passado.

Em contrapartida, o actual cenário global, em termos políticos e económicos é complexo e hostil, à medida que em várias zonas a confrontação parece estar iminente. A Ucrânia fica muito longe de Macau e os mísseis que caem em Gaza não conseguem atingir Hong Kong nem Macau. Mesmo que rebente uma guerra na península da Coreia ou que a Índia e o Paquistão entrem em conflito, nada disto afectará Macau. No entanto, mal haja uma alteração das relações entre a China e Taiwan, o impacto que se sentirá em Macau vai alterar a vida das pessoas.

Em 2024 haverá eleições tanto em Taiwan como nos Estados Unidos e o resultado destas eleições vai ter impacto no futuro da China. A “reunificação” pacífica de Taiwan com a China é a aspiração de todos os patriotas, e o método para atingir este objectivo é um teste que requer imensa sensatez. 2024 é, portanto, um ano para aderir aos valores orientados para as pessoas e para o avanço da paz. 2024 é um ano em que todos temos de estar alerta!

12 Jan 2024

Myanmar | Líder da junta militar no poder recebe enviado da ASEAN

A violência que assola o país desde a tomada do poder pela junta militar parece não ter fim à vista. Dirigentes asiáticos continuam a procurar, até agora sem sucesso, soluções que viabilizem a paz na região

 

O líder da junta militar no poder em Myanmar recebeu o enviado da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), anunciou ontem a imprensa estatal, numa altura em que o país vive uma espiral de violência.

O chefe do Exército, general Min Aung Hlaing, reuniu-se com Alounkeo Kittikhoun, enviado especial da ASEAN, na quarta-feira em Naypyidaw, a capital construída pela junta militar no interior da selva birmanesa. Os dois dirigentes discutiram os “esforços do Governo para garantir a paz e a estabilidade”, informou o jornal estatal The New Global Light of Myanmar.

O golpe militar de 1 de Fevereiro de 2021 mergulhou Myanmar numa profunda crise política, social e económica e abriu uma espiral de violência com novas milícias civis que exacerbaram a guerra de guerrilha, que o país já vivia há décadas.

Uma coligação de grupos armados étnicos lançou uma ofensiva no norte do país em Outubro, tendo conseguido tomar várias posições militares e controlar áreas do estado de Kachin, junto à fronteira com a China.

O encontro de quarta-feira antecedeu a reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da ASEAN, que se realiza no final do mês no Laos, país que este ano detém a presidência da organização. Até agora, a ASEAN não conseguiu fazer progressos substanciais na resolução do conflito em Myanmar.

Um plano de paz de cinco pontos acordado há três anos não passou do papel, embora a Indonésia, que detinha a presidência, tenha saudado conversações “positivas” com as principais partes do conflito em Novembro. A junta de Myanmar foi representada por “interlocutores”, de acordo com um comunicado divulgado na altura, uma vez que os líderes do regime militar estão excluídos das reuniões de alto nível da ASEAN.

Opiniões variadas

Os atritos entre os membros da ASEAN pioraram no ano passado, após a decisão do então Governo tailandês de se reunir com o ministro dos Negócios Estrangeiros da junta, Than Shwe. O Camboja enviou um jovem funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros para o encontro, enquanto a China, que há muito apoia a junta militar, enviou Deng Xijun, o enviado especial chinês para os assuntos asiáticos.

A Indonésia e a Malásia, entre os mais duros críticos da junta militar no seio da ASEAN, protestaram veementemente, e Singapura disse que era prematuro envolver-se com o regime de Myanmar a um nível tão elevado. A activista e prémio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi foi conselheira de estado de Myanmar de 2016 até 2021, quando foi deposta pelo golpe militar. Suu Kyi está presa desde que os militares assumiram o poder e cumpre atualmente uma pena de 27 anos.

Myanmar tornou-se independente do Reino Unido a 4 de Janeiro de 1948, mas desde então tem sofrido conflitos étnicos e esteve sob regime militar durante a maior parte de história recente, entre 1962 e 2011 e desde 2021.

12 Jan 2024

Kuomintang | Candidato apela a “via intermédia” para retomar diálogo com Pequim

O candidato à liderança de Taiwan pelo Kuomintang (Partido Nacionalista) sublinhou ontem o seu empenho em retomar o diálogo com Pequim, optando por uma “via intermédia”. “O futuro de Taiwan deve ser decidido pelos seus 23 milhões de habitantes. A via intermédia é a melhor e recorrerei ao diálogo para minimizar riscos”, declarou Hou Yu-ih, em conferência de imprensa com jornalistas estrangeiros.

Durante a sua intervenção, o candidato do Kuomintang, partido que é mais favorável ao diálogo com Pequim, recordou a sua estratégia “3D” para preservar a paz no Estreito da Formosa: dissuasão, diálogo e desanuviamento. Mais de 19 milhões de taiwaneses estão aptos a votar nas eleições de amanhã, nas quais o candidato do Kuomintang vai competir com William Lai Ching-te do Partido Democrático Progressista e com o candidato do Partido do Povo de Taiwan, Ko Wen-je.

Hou e Ko negociaram durante meses a possibilidade de se apresentarem juntos às urnas, o que foi anulado no próprio dia das nomeações, uma vez que não conseguiram chegar a acordo sobre a candidatura à liderança.

12 Jan 2024

China apela aos EUA para não “se intrometerem” nas eleições de Taiwan

A China apelou ontem aos Estados Unidos para não “se intrometerem” nas eleições de Taiwan e disse opor-se “firmemente” aos laços entre Taipé e Washington, que anunciou o envio de uma delegação à ilha após a votação.

Os EUA “não devem interferir nas eleições na região de Taiwan, sob qualquer forma, de forma a evitar danos graves nas relações sino-norte-americanas”, disse Mao Ning, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, em conferência de imprensa. “A China opõe-se firmemente a qualquer forma de intercâmbio oficial entre os Estados Unidos e Taiwan”, sublinhou. “Existe apenas uma China no mundo e Taiwan é parte inalienável da China”, frisou.

Os Estados Unidos, cujas relações com a China continuam muito tensas, vão enviar “uma delegação informal” a Taiwan depois das eleições marcadas para amanhã, anunciou na quarta-feira um alto funcionário norte-americano. Pedindo para não ser identificado, a mesma fonte alertou Pequim contra qualquer acto “provocador” após estas eleições cruciais.

Centro de interesses

Os comentários foram condenados na quinta-feira por Pequim. “A China expressa a sua profunda insatisfação e firme oposição aos comentários imprudentes dos Estados Unidos sobre as eleições na região de Taiwan”, disse Mao Ning.

“A questão de Taiwan está no centro dos interesses da China e constitui a primeira linha vermelha intransponível nas relações sino-americanas”, frisou. A China considera Taiwan uma das suas províncias, que ainda não conseguiu reunificar com o resto do seu território desde o fim da guerra civil chinesa, em 1949.

Pequim diz ser a favor de uma reunificação “pacífica” com a ilha e é contra o aumento dos contactos entre líderes políticos norte-americanos e taiwaneses, que considera ser uma violação do compromisso dos Estados Unidos de não manter relações oficiais com a ilha.

12 Jan 2024

Automóveis | Exportações crescem 64% em 2023 com impulso dos eléctricos

O aumento súbito das vendas pode colocar a China à frente do Japão como o maior exportador mundial de automóveis. O mercado interno dos veículos eléctricos subiu para 24 por cento em 2023

 

As exportações de automóveis da China aumentaram 63,7 por cento, em 2023, enquanto as vendas internas, impulsionadas por incentivos, aumentaram 4,2 por cento, informou ontem uma associação do sector. Os fabricantes de automóveis chineses expandiram agressivamente as exportações em busca de crescimento em falta no país, à medida que a economia chinesa abranda.

As vendas de automóveis na China totalizaram 21,9 milhões de carros no ano passado, enquanto as exportações aumentaram para 4,1 milhões de unidades, informou a Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis. As vendas internas caíram em relação a um pico de cerca de 24 milhões em 2017.

O aumento das exportações pode fazer com que a China ultrapasse o Japão como o maior exportador mundial de automóveis. O Japão exportou 3,6 milhões de carros nos primeiros 11 meses do ano, com uma contagem final prevista para 31 de Janeiro. Um forte aumento das vendas para a Rússia ajudou a aumentar as exportações da China em 2023. A China exportou 840.000 veículos para a Rússia nos primeiros 11 meses do ano passado, incluindo camiões e autocarros, bem como automóveis.

A Associação de Automóveis de Passageiros da China disse no início desta semana que a procura na Rússia e nos países vizinhos está a abrandar e que o crescimento futuro das exportações dependerá de uma expansão das vendas de veículos eléctricos no estrangeiro. Os fabricantes chineses de veículos eléctricos têm como alvo os mercados do Sudeste Asiático, Europa e Austrália, entre outros.

A associação de fabricantes não fornece uma repartição para veículos eléctricos, mas os dados divulgados pela Associação de Automóveis de Passageiros mostraram que os veículos eléctricos representaram 24 por cento das vendas de carros novos na China em 2023, face a 12 por cento, em 2021. Se forem incluídos os híbridos, a quota de veículos alimentados por novas energias nas vendas totais atingiu 36 por cento, no ano passado.

O preço certo

O modelo Tesla Model Y foi o carro eléctrico mais vendido na China no ano passado, com 646.800 unidades vendidas, seguido do sedan BYD Song com 428.600 unidades, de acordo com o grupo de automóveis de passageiros. O Modelo Y custa entre 266.400 e 363.900 yuan, de acordo com o portal oficial Tesla, e o BYD Song custa entre 129.800 a 159.800 yuan.

Bill Russo, fundador da empresa de consultoria Automobility em Xangai, disse que as empresas chinesas democratizaram o veículo eléctrico, baixando o seu preço. O próximo desafio será convencer os compradores de que um carro eléctrico pode satisfazer as suas necessidades de condução. Mas o primeiro passo é disponibilizá-lo a um preço razoável, disse Russo.

“É esse o paradigma que os chineses quebraram, o de que é possível tornar um eléctrico acessível”, afirmou. “O que a China está a fazer com os veículos eléctricos é utilizar o seu mercado interno para gerar economias de escala que pode depois utilizar a nível internacional”.

A Fitch Ratings afirmou num relatório do mês passado que espera que a quota de veículos de energia nova, incluindo os híbridos, nas vendas totais da China aumente para 42 a 45 por cento em 2024. A União Europeia, preocupada com o aumento das importações da China, abriu um inquérito comercial no ano passado sobre os subsídios atribuídos pelo Estado chinês aos fabricantes de veículos eléctricos. A investigação está em curso.

A associação de fabricantes chineses disse que as vendas totais de todos os veículos, no país e no estrangeiro e incluindo camiões e autocarros, atingiram o marco de 30 milhões de unidades em 2023, um aumento de 12 por cento em relação ao ano anterior. Prevê-se que o crescimento abrande para cerca de 3 por cento este ano.

12 Jan 2024

A senhora – 1

O autocarro apinhado balançava perigosamente. Uma espécie de inconsciência leviana nas curvas, na pressa de entregar tudo aquilo aos lugares próprios. Virou numa ponte inesperada, entranhou-se na zona norte no cinzento do betão e em poucos minutos todo o lugar que corria em película contínua nas janelas deixou de desfiar referências reconhecíveis. Poderia ter descido na primeira paragem desconhecida mas deixou-se irresistivelmente entranhar um pouco mais. No final, os limites do território nunca permitiriam ir tão longe que fosse difícil o retorno. Saiu na última paragem. Fisicamente.

A senhora, cujo elemento distintivo era aquela maneira de avançar pelas ruas sem dar a entender que estava completamente perdida, ali, pela zona da Areia Preta, talvez. Como em viagem delineada por antecipação. Uma zona qualquer da cidade onde o autocarro, velozmente – como se numa decisão súbita, obstinada e irónica – desembocara depois da última paragem reconhecida e que ela, por distracção ou vontade inconsciente, deixara passar. A existir, ela, transportava talvez o sonho de desconhecer.

Depois, era, vendo de fora, evidente que não tinha objectivo nem horário a guiá-la ao avançar levemente pelas ruas. Dobrar ou não dobrar uma esquina ou outra, avançar rapidamente ou parar a dar tempo a uma decisão qualquer, fruto do mesmo princípio aleatório. Atravessar numa passadeira como se o mundo fosse do outro lado da rua. E inflectir o rumo na mesma passadeira porque uma ideia súbita e desconhecida, a um olhar exterior, lhe mudava o rumo. No entanto, eram quatro scooters alinhadas e coloridas, a impedir a transição para o passeio. Ou um café do outro lado da rua a reter-lhe o olhar nas figuras ali para estar. Homens, mais velhos do que novos. Com jornais dobrados em seis num canudo achatado, coberto de caracteres coloridos. Bules de chá com boqueiras de plástico amarelado. Rumo aleatório e ausente de intenção, como um esvoaçar à deriva. De sentimentos, talvez.

Prédios anódinos. Altos, uns mais do que outros, muito cinzentos e sujos numa amálgama indiferenciada sem cor nítida, mas como se humedecida. Redesenhados por tramas de ferro. Acrescentos. Medos. Tipologia cinzenta como a disposição. Neutra. Da senhora alheada, cujo elemento distintivo era destoar na zona norte da cidade. Ruas e ruas. Lojas que se sucedem a entornar-se para o passeio cinzento, como o céu também cinzento acima dos prédios, numa simetria perfeita. E caracteres vermelhos indecifráveis nos anúncios e letreiros que crivavam o sopé de torres indiscriminadas. Como latas de coca-cola espalmadas sobre as portas amplas a deixar a rua entrar. E pessoas. Que não eram a senhora com o ar seguro e passos errantes, que já passou ali mais de três vezes na última meia hora e nem tem a certeza de ter sido naquela rua. Naquele cruzamento. Ela – que se distraiu das esquinas viradas e volta para trás sem se aperceber ou fazer questão.

Reconhece o velho muito franzido de pele e muito encolhido de ossos. Alto, contudo. Muito mal fornecido de carnes, mas repleto da densidade de anos de idade. Que a olha sem vergonha da curiosidade. Num olhar quase invisível de olhos pretos, ou pelo menos ensombrados, a espreitar pelas frestas estreitas desenhadas entre rugas do rosto, talvez a medir a estranheza daquele seu ser estrangeiro ali. A fumar, como se tudo fizesse parte daquele cigarro atemporal e duradouro. De perna fina cruzada, no banco de fórmica castanha e de fechar e abrir. Sentado desde a manhã cedo até ao fim da tarde. Era o que parecia.

O homem velho que chegara ali novo, quatro décadas antes desse dia, não sabia como e continuava a ter, quando se esquecia e ironicamente, medo da própria sombra. E aprendera com os pais e estes com os seus, a arte de recortar sombras.

Não se lhe dirigiu. Talvez desviasse o olhar. Sabia que, no momento em que disfarçada ou vencida a timidez, parasse de escolher a pessoa perfeita, sob palpite falível, a quem dirigir a pergunta, até aí bem resguardada de olhares indiferentes, de como reencontrar a zona conhecida da cidade – se isso existe – que rua seguir a direito, ou que autocarro de destino a sul, e do lado certo da rua, todas as mãos, à vez se elevariam displicentemente ao lado de rostos de olhar desviado para outra coisa, agitando-se levemente mas com convicção, numa negativa, uma recusa de estabelecer contacto. Quase como um dizer adeus: um segue, segue. Mas se nada chegaria a ter perguntado ainda, é a muda questão que ficará a remoer nela, subliminar às imagens que se sucedem. Uma cartografia de sinais que agrupavam géneros de pessoas e gestos. A recusa da estranheza daquela pessoa que é a senhora que não deve deixar de ser estranha, nem de avançar por ruas que não são suas ou de querer voltar ou não a uma outra camada de cidade naquela. Que também não sendo sua, também, não a obriga a fazer perguntas que a isolam. Pode guardá-las para si. E escolher a espessura da pele.

Aberturas largas. Para um mundo encantado de bichos ou raízes, enfrascados numa quietude e silêncio de misteriosa composição, de texturas indecifráveis, em tons de amarelos envelhecidos pelas oxidações do tempo, ressequidos e aproximados numa harmonia visual. Já ali passara várias vezes, ou por outra farmácia em tudo semelhante. Não resiste a entrar naquele cenário de castanhos dourados e cheiro fortemente acre, ervas e raízes e pedaços ou raspas de coisas estranhas. Pensa na dor de cabeça. Na insónia. Possibilidades e infusões. Ensaia gestos a completar as poucas palavras num cantonense sem rigor no tom. Sem partículas gramaticais a compor frase que se entenda. A mímica da dor de cabeça e a do sono que não vem. À vez. Para não baralhar a audiência entre vendedores e fregueses. Todos com a mesma expressão de absurda perplexidade e desentendimento, de que, mais do que dores de cabeça a mais e sono a menos do que o necessário para diluir a pantalha luminosa incansável que lhe povoava a mente, havia ali uma loucura qualquer. Sem entendimento possível. Em que fechar os olhos num rosto apoiado na mão, fosse coisa de estrangeiros e não de bichos comuns. O bálsamo T. não despertou do seu sono e o chá para esquecer ou dormir, permaneceu entre os outros castanhos, amarelados e esverdeados

(Continua…)

12 Jan 2024

Magnus Wennman, fotojornalista: A verdade numa imagem

Natural da Suécia, Magnus Wennman é fotojornalista, com uma carreira iniciada aos 17 anos no jornal sueco DalaDemokraten. Ao HM, à margem da última edição do festival de fotografia português Êxodus, em Aveiro, Magnus falou das imagens que fez sobre o despejo de roupas da H&M em países pobres, com um enorme impacto ambiental, ou do projecto “Where The Children Sleep”, que expõe um lado emotivo da guerra

 

Porque decidiu tornar-se fotógrafo, focando-se em contar este tipo de histórias através da imagem?

Tenho duas respostas para estas perguntas. Tornei-me fotógrafo quando era muito jovem, e nunca tive de pensar muito sobre aquilo que queria ser quando crescesse porque decidi muito cedi que queria tornar-me fotógrafo. Não sei porque gostava tanto de desenhar e de arte quando era mais novo, e descobri a câmara quando tinha cerca de 16 ou 17 anos. Simplesmente meti na cabeça que queria ser fotógrafo e fotojornalista. Essa é basicamente a minha história e comecei a trabalhar pouco tempo depois de ter terminado a escola secundária. Comecei literalmente a trabalhar no dia seguinte a terminar a escola, num jornal local do local de onde sou.

Então nunca foi para a universidade ou fez um curso de fotografia?

Nunca fui para a universidade, pode-se dizer que sou um auto-didacta. Estava muito apaixonado por esta área, e gastei grande parte do meu tempo a tentar aprender a melhor maneira de contar histórias e tirar fotografias.

Aprendeu tudo o que sabe na redacção.

Sim, no jornal da minha cidade, com todos os fotógrafos que lá trabalhavam. Tenho 44 anos e quando comecei era um tempo diferente para os jornais, pois havia muitos fotógrafos na equipa, em que se usava a máquina analógica. Era um tempo diferente, um trabalho diferente, talvez mais técnico do que é hoje. Mesmo que eu nunca me tenha interessado muito pela técnica, era de facto um trabalho mais árduo do ponto de vista técnico do que é hoje. Comecei a trabalhar na área do desporto e ao longo de dez anos fotografei muito essa área. Os tempos mudaram, envelheci, e o fotojornalismo desportivo já não era a mesma coisa.

Deixou de ser desafiante?

Sim, pode-se dizer isso. Foi nessa altura que comecei a focar-me mais nas questões sociais, em projectos de longo prazo. Passaram a enviar-me para trabalhos cada vez maiores, tal como conflitos e problemáticas a nível mundial.

Fale-me sobre o projecto fotográfico que fez no Gana, após ter descoberto que a marca de roupa H&M colocava roupa no lixo enviada para África.

Tudo começou com uma reportagem no jornal. O repórter com quem trabalhei recebeu uma queixa anónima sobre o facto de as roupas recolhidas pela H&M nas lojas da marca terminarem em terrenos de vários países como depósito de lixo, e isso tornava-se num enorme desastre natural. Não acreditámos dada a imagem que a marca tem, e a ideia que era transmitida era de que a marca se preocupa com a produção de roupa, sabendo que esse é um grande problema para a indústria da moda. Muitas pessoas usam uma peça de roupa sete vezes e depois põe-na de lado. Então a marca desenvolveu esta iniciativa de recolher roupas que já não são usadas pelos seus clientes nas lojas, prometendo que iriam reciclá-las de uma forma ecológica. A queixa que recebemos indicou-nos que isso não era verdade.

Como começaram então a investigar?

Colocámos etiquetas de ar em dez peças de vestuário que comprámos e devolvemo-las às lojas H&M em Estocolmo, para que pudéssemos acompanhar o seu destino. Percebemos que essas roupas são vendidas a outras empresas que as coleccionam e seleccionam, sendo que parte fica na Europa e outra parte simplesmente desaparece, aparecendo meses depois em países como África do Sul, Benim ou Índia. Quando olhamos para muitos dos países onde estas roupas acabam depositadas, percebemos que existem muitos problemas.

Pode dar exemplos?

No caso do Benim é um país com imensos problemas [sociais e económicos], onde são compradas toneladas de roupa que depois são vendidas às pessoas nas ruas. Mas apenas se consegue vender ou usar cerca de 50 por cento da roupa que é enviada, e a restante simplesmente fica junto às praias ou em terrenos vazios, em lixeiras. Pudemos comprovar isso mesmo quando nos deslocámos a estes lugares. Vimos que as roupas que a H&M recolhe nas lojas acaba em lixeiras de vários países, tornando-se num problema ambiental enorme.

Quais as consequências deste projecto, qual foi a reacção da marca?

A publicação da reportagem gerou, de facto, algum debate. Todos falaram desse assunto durante um tempo e tornou-se algo em grande. A H&M não mostrou muita disponibilidade para falar sobre o assunto, tendo tentado, claro, proteger a marca. Consigo compreender a sua frustração porque estavam a fazer algo que consideravam bom. O problema maior é que não se trata apenas da H&M, mas sim de toda a indústria da moda produzida muito rapidamente. De certeza que há muitas marcas e lojas que têm um comportamento pior do que a H&M. Acontece que nós trabalhamos na Suécia e a H&M é uma das maiores empresas de moda do mundo, tendo a responsabilidade de garantir que as roupas terminam num bom lugar ou são tratadas da forma mais ecológica possível.

Quanto tempo demorou até concluírem este projecto?

Viajámos muito e é preciso referir que fomos dois a trabalhar nisto, eu e o jornalista, que tem uma mente brilhante. Sem dúvida que não fui só eu. Ele adorou acompanhar esta história, percorrendo todos os detalhes, e eu pude contar com a sua experiência. Primeiro viajámos até ao Benim e depois fomos ao Gana, que é ainda um país pior onde se pode despejar roupas que já não são usadas.

Pior em que sentido?

Não viajámos assim tanto para este projecto, apenas fomos até Benim e ao Gana porque vimos que foram os locais para onde foram enviadas as roupas que nós depositámos. Mas o Gana é famoso por isso, é um país onde a situação do despejo de roupa é muito má. Quando lá chegámos, percebemos que o cenário era muito pior do que aquele de que estávamos à espera, destruindo zonas costeiras e a indústria pesqueira. É algo que tem enormes consequências para o ambiente.

Como é o dia-a-dia das pessoas que vivem esta situação?

Afecta a população porque há demasiadas roupas a chegar, e estas pessoas não conseguem usar todas as toneladas de roupa que chegam ao país com frequência, é pura e simplesmente impossível. Como não têm infra-estruturas para fazer a gestão das roupas que chegam, estas vão parar a rios, oceanos, nas zonas costeiras, tornando-se um problema social. Há lixo nas ruas, enormes mercados onde vendem as roupas, e todas as semanas se compra um fardo, tipo com 500 peças de roupa, e não se sabe o que vai lá dentro, que tipo de peças contém. Abre-se o fardo e pode, por exemplo, só ter roupa de criança, e grande parte das peças de roupa não servirem, e metade da roupa não pode ser vendida. As roupas que não são vendidas não se conseguem armazenar, então são deitadas fora, e as autoridades não conseguem fazer nada quanto a isso. São mesmo muitas quantidades de roupa, tornando-se um enorme problema para eles. Não existem recursos para lidar com isso. É todo um sistema, não é um problema de uma só pessoa.

Reduzir o consumo de roupa nova é uma das soluções.

Sim, cada um de nós tem responsabilidade em relação à indústria da moda e ao consumo. Trabalhei na área do jornalismo ambiental muitos anos, de diferentes formas, e sei que esta é uma área com a qual as pessoas se preocupam, porque se sentem culpadas. Eu, você, é todo um sistema. O nosso trabalho coloca o dedo na ferida em relação a um problema que não percebemos que existe. Não é sustentável continuar a comprar novas roupas que vestimos apenas uma vez ou duas, e que são muito baratas. Claro que toda a indústria da moda reconhece isso, mas acabam por encontrar novas formas de nos fazer comprar roupa.

Outro projecto que desenvolveu foi “Where The Children Sleep”. O que aprendeu com esta experiência?

Tudo aconteceu durante a guerra na Síria e durou cerca de cinco anos. No jornal questionávamo-nos porque é que as pessoas na Suécia não estavam a prestar a devida atenção a este conflito, porque não havia muitas coisas escritas sobre ele. Tratava-se de um conflito muito difícil de compreender. Quem eram os maus da fita? Não sabíamos muito bem. Na Suécia era de facto difícil termos pessoas preocupadas com o conflito. Decidimos então ir para os países vizinhos da Síria e contar a história da guerra através do olhar das crianças, porque são as mais vulneráveis, as que mais sofrem com o conflito, independentemente de quem são os maus ou os bons da fita. Na altura, o meu filho de cinco anos tinha muitos pesadelos e vinha frequentemente para a nossa cama. No jornal discutíamos a melhor forma de fazer este projecto, e pensei como é que as crianças poderiam escapar da guerra, onde dormiam, se é que dormiam. Quais seriam os seus sonhos. Essa ideia começou a surgir na minha cabeça e pensei em fotografar os sítios onde as crianças dormiam. O primeiro país onde fomos foi o Líbano.

Antes da explosão que destruiu parte de Beirute?

Sim. Parámos o táxi e começámos a falar com as famílias enquanto as crianças dormiam, e foi aí que tirei as primeiras fotografias. Aí é que percebi que poderia ser um projecto bastante interessante, e comecei a procurar crianças a dormir em vários locais, tentando diferentes foto-reportagens, histórias diferentes, passei a ter a minha própria agenda. Trabalhei nessa história seis ou sete meses, e depois a situação dos refugiados explodiu na Europa, em meados de 2015, e muitas pessoas queriam ir para a Alemanha, a Suécia e diferentes países no norte da Europa. De repente todos se preocupavam, porque passava também a ser um problema nosso, as pessoas queriam entrar no nosso país. Foi quando comecei a ter um poderoso corpo de trabalho com cerca de 30 crianças a dormir em vários locais na Europa. Obtivemos com “Where The Children Sleep” reacções bastante extremas. Quando vemos imagens de refugiados a escapar nas fronteiras, não nos relacionamos com elas, mas se virmos uma criança a dormir numa floresta, todos se relacionam com a situação ou têm sentimentos sobre ela. Da minha parte nunca me preocupei em estar na linha da frente, fotografar bombardeamentos, por exemplo. O desafio, para mim, era encontrar formas de os nossos leitores compreenderem o que se estava a passar. É mais poderoso encontrar alguém num determinado ambiente do que ver o desastre como um todo.

12 Jan 2024

PJ | Detido por burla de 450 mil HKD

Um homem foi detido depois de ter burlado outro em 450 mil dólares de Hong Kong (HKD), numa troca de dinheiro. O caso foi revelado ontem pela Polícia Judiciária (PJ). O detido tem cerca de 20 anos.

Segundo o relato das autoridades, o caso ocorreu no domingo, quando o suspeito combinou uma troca de dinheiro pelas redes sociais com a vítima. De acordo com o combinado entre os dois cidadãos do Interior, o suspeito recebia fichas de jogo no valor de 450 mil dólares de Hong Kong, e mais tarde transferiria a quantia para a conta do outro homem, através de transferência electrónica.

Contudo, como após o encontro a transferência electrónica demorou várias horas, a vítima acabou por voltar a contactar o suspeito para pedir explicações. A resposta foi que o dinheiro tinha sido todo perdido no jogo, pelo que não iria ser realizada qualquer transferência. A situação levou a vítima a apresentar queixa e o homem foi detido ainda no mesmo dia, por volta das 10h.

Quando questionado pela Polícia Judiciária, o suspeito recusou ter cometido qualquer crime, afirmou estar inocente e que a alegada vítima lhe tinha dado o dinheiro para jogar, sem qualquer outra condição. O caso foi transferido para o MP. O homem está indiciado do crime de burla.

12 Jan 2024