Andreia Sofia Silva PolíticaEleições em Portugal | Consulados e língua portuguesa em destaque nos programas políticos É já este domingo que têm lugar as eleições legislativas em Portugal que determinam, não só a nova composição da Assembleia República, como elegem o próximo primeiro-ministro. No Círculo Fora da Europa, os programas dos partidos políticos portugueses com assento parlamentar têm como temas comuns o funcionamento da rede consular e o ensino da língua portuguesa [dropcap]Q[/dropcap]uestões políticas e económicas de cariz nacional à parte, os programas dos partidos políticos que este domingo, 6 de Outubro, vão a votos em Portugal destacam, para o Círculo Fora da Europa, dois assuntos que são talvez mais próximos a quem há muito vive fora do país, e que se prendem com o funcionamento dos consulados e com o ensino da língua portuguesa. Este domingo decorrem as eleições legislativas que vão decidir que deputados se vão sentar na Assembleia da República (AR) nos próximos anos, e também quem será o primeiro-ministro de Portugal. Os dois partidos portugueses com maior representatividade na AR partem com vantagem no Círculo Fora da Europa por motivos distintos. José Cesário é o líder da lista pelo Partido Social-Democrata (PSD) e apresenta um programa para o Círculo Fora da Europa que vai buscar muito do trabalho que tem desenvolvido nos últimos anos como deputado pelo círculo da emigração. Do lado do Partido Socialista (PS), a lista liderada por Augusto Santos Silva é uma forte aposta partidária para este círculo e parte com a vantagem de o partido ter estado no Governo nos últimos quatro anos, apoiado pelo Bloco de Esquerda (BE) e o Partido Comunista Português (PCP). Do lado do PSD, José Cesário, que foi secretário de Estado das Comunidades Portuguesas no anterior Executivo, destaca o facto de “a modernização do consulado-geral de Macau, até há quatro anos, ter sido uma prioridade, tendo sido nesse período que iniciámos as permanências culturais itinerantes, que tantos milhares de pessoas tem servido”. Na área dos serviços consulares, a lista liderada por José Cesário defende o aumento da validade dos passaportes portugueses de cinco para dez anos, para melhorar o fluxo de atendimento nos consulados. Neste ponto, o actual deputado recorda que o PSD “procurou interpelar permanentemente o actual Governo, alertando-o para o inadmissível aumento dos atrasos no processamento de inúmeros documentos essenciais para a vida dos portugueses no estrangeiro, como o registo das nacionalidades, os passaportes e os cartões de cidadão”. O PSD pretende apostar no “reforço dos meios do Consulado de Macau e das condições profissionais dos seus funcionários”, sem esquecer uma maior “rapidez na apreciação dos pedidos de visto para estudantes e empresários de Macau, Hong Kong e China”. Do lado do PS, a aposta é também promover “a expansão da rede consular pela via da criação de novos consulados e escritórios consulares, assim como a melhoria das condições de recrutamento, remuneração e trabalho dos respectivos funcionários”. Além disso, a lista encabeçada por Augusto Santos Silva, actual ministro dos Negócios Estrangeiros, promete “um novo modelo de gestão consular “que utilize sistematicamente plataformas digitais”. No caso do BE, cuja lista pelo Círculo Fora da Europa é liderada por João Branco, é proposto o “reforço dos serviços públicos consulares”. O CDS-PP tem também, neste domínio, uma palavra a dizer relativamente ao funcionamento da rede consular. A lista é liderada por Gonçalo Nuno Santos e tem a advogada de Macau Joana Alves Cardoso como membro. No programa para o Círculo Fora da Europa, é proposta a criação de “consulados de proximidade” que, de acordo com Joana Alves Cardoso, “terão de ter uma comunicação diferente com os cidadãos e os utentes do consulado, que crie mecanismos de proximidade que não se prendam com os serviços consulares propriamente ditos”. Nesta área, o PCP pretende “assegurar serviços públicos essenciais”, como é o caso da rede consular, apostando numa “política salarial para os trabalhadores consulares tendo em conta a disparidade das moedas e o nível de vida nos países de acolhimento e a diminuição da carga horária, para os trabalhadores em residências diplomáticas no exterior e o respeito pelos seus direitos”. Ensino do português A estratégia para o ensino do português no estrangeiro é outro dos tópicos que mais se encontra nos programas políticos dos partidos com assento parlamentar. O PS defende “a renovação e modernização da rede do ensino português no estrangeiro, melhorando o uso de tecnologias digitais e de educação à distância, prosseguindo a integração curricular nos sistemas de ensino locais e assegurando maiores níveis de certificação de competências adquiridas”. O PSD vai mais longe e apresenta medidas específicas para a Escola Portuguesa de Macau (EPM), propondo um “desenvolvimento do seu projecto pedagógico de forma a garantir a sua melhor inserção no Oriente”. No campo educativo, o BE defende “o restabelecimento da gratuitidade das aulas de português no estrangeiro”, bem como o “aprofundamento da missão e reforço dos recursos do Instituto Camões (IC) e da RTP África e RTP Internacional”. No que diz respeito às propinas no ensino da língua portuguesa, o PCP apresenta uma medida semelhante à do Bloco. Defende-se no programa político “uma política que promova a preservação e expansão da língua materna, no ensino de português no estrangeiro, desde logo com a eliminação da propina para o ensino secundário”, além de se pretender “garantir a gratuitidade dos manuais escolares”. Além de abordar o tema da EPM e a continuação do seu projecto educativo, o CDS-PP aponta também para a necessidade de uma avaliação do novo acordo ortográfico, “tanto no uso da língua como a nível internacional”. É ainda objectivo do partido “reforçar e valorizar o papel do IC enquanto entidade nacional responsável pela direcção, coordenação e supervisão da política de cooperação”. “Trabalharemos na promoção do ensino do português como âncora da política da diáspora, mantendo os seus factores de qualidade, através da avaliação e certificação das aprendizagens, e procurando atingir um maior equilíbrio entre comunidades da Europa e fora da Europa, com vantagem para os estudantes, para as famílias e para os professores”, acrescenta o mesmo programa. Papel das comunidades Para os próximos quatro anos é também defendido um maior reforço no papel que a Diáspora portuguesa desempenha em várias áreas, sobretudo na economia. Todos os partidos defendem a sua importância. O CDS-PP quer apostar “no envolvimento das comunidades portuguesas na internacionalização da economia portuguesa através do desenvolvimento de mecanismos financeiros atractivos”. Neste sentido, o partido acredita que “é possível criar condições para o surgimento de fundos de capital de risco, subscritos por elementos das comunidades portuguesas, com vista a apoiar a entrada de empresas portuguesas nos mercados dos países nos quais residem”. O PS pretende apostar numa “valorização do património e criação cultural própria das comunidades”, bem como desenvolver o programa Regressar, destinado a emigrantes que pretendam voltar a Portugal e que visa a concessão de apoios financeiros. Na área fiscal, o PSD apresenta várias medidas como a “eliminação da obrigatoriedade de nomeação de representante fiscal para os residentes no estrangeiro” e também o “acompanhamento da garantia do pagamento das pensões dos aposentados que se reformaram na antiga administração portuguesa e da continuidade da Isenção do IRS à luz da Convenção entre o Governo de Portugal e o Governo de Macau para Evitar a Dupla Tributação”. É também objectivo da lista de José Cesário “acompanhar com grande atenção a aplicação desta isenção de IRS aos macaenses que regressaram a Macau após aposentação dos quadros de Portugal”. No caso do PAN – Pessoas, Animais, Natureza, que tem apenas um deputado na AR, André Silva, o partido defende que devem ser criadas “medidas de apoio para quem deseje regressar a Portugal e promover uma sólida relação diplomática com os países onde as nossas comunidades emigrantes, ou a Língua Portuguesa, estão presentes”. Política externa | Olhares distintos sobre a China e Ásia Os programas políticos dos partidos com assento parlamentar na AR apresentam algumas medidas relativas à política externa portuguesa. Mas o PAN vai mais longe e debruça-se sobre os recentes investimentos que a China tem feito no país e na Europa, com uma postura de ruptura. Para este partido, deve-se “garantir a independência política, económica e geopolítica da União Europeia (UE) relativamente ao expansionismo chinês nos mercados ocidentais, considerando a crescente influência chinesa na compra e/ou financiamento de grandes empresas ou infraestruturas em Estados-Membros, nomeadamente em Portugal”. O PAN promove ainda no seu programa político o reconhecimento do Tibete “como Estado”, bem como a “auto-determinação do povo tibetano, condenando a repressão e a perseguição política, religiosa e cultural por parte da China”. Neste campo, o PAN defende que se deve aprovar, em Portugal, a “Lei do Acesso Recíproco ao Tibete, tendo em vista a promoção do acesso de diplomatas, funcionários governamentais, jornalistas e membros de ONGs às áreas tibetanas, sob pena de, em caso de impedimento de entrada pelas autoridades chinesas, Portugal actuar de forma recíproca”. Na área da política externa, o CDS-PP defende a reforma da AICEP, algo “fundamental na afirmação da vocação exportadora da economia portuguesa”. Neste sentido, a AICEP “deverá ser mais activa na promoção externa das empresas solidificando uma diplomacia económica que permita contribuir para a globalização da economia portuguesa, identificando contactos ou especialistas em cada mercado alvo”, aponta o CDS-PP. Já o PCP defende uma “política externa participada e democrática, com a articulação dos órgãos de soberania – Assembleia da República, Presidente da República, Governo – e ampla consulta das forças políticas e organizações sociais”. Neste sentido, defende-se a relação com a China, bem como com outros países da Ásia.
Hoje Macau China / ÁsiaJovem alvejado nos protestos de Hong Kong vai ser acusado criminalmente [dropcap]A[/dropcap] polícia de Hong Kong informou hoje que serão apresentadas acusações criminais contra o estudante de 18 anos que foi alvejado pelas forças de segurança na tarde de terça-feira, durante os protestos pró-democracia. 1 de Outubro, o dia em que se assinalaram os 70 anos da fundação da República Popular da China, foi um dos dias mais violento das manifestações que duram há quase quatro meses, durante as quais a polícia tem sido acusada de usar excessiva força contra os manifestantes. O polícia disparou quando o adolescente, Tsang Chi-kin, o atingiu com objecto de metal. O Governo indicou que, após cirurgia, Tsang encontra-se num estado considerado estável. Em comunicado, as forças de segurança disseram que o jovem será acusado de duas acusações de agressão a agentes da autoridade. Hoje um grupo de cidadãos de Hong Kong promoveu uma conferência de imprensa na qual anunciou o envio de uma carta subscrita por 4.500 pessoas, à chefe do Governo na qual se exige uma investigação “ao abuso de direitos humanos básicos das crianças” durante os protestos pró-democracia. Caso Carrie Lam não responda à missiva, datada de sábado e subscrita por mais de 4.500 cidadãos em apenas cinco dias, os autores da carta ameaçam recorrer ao Comité dos Direitos da Crianças da ONU, pode ler-se no documento ao qual a Lusa teve hoje acesso. “Condenamos veementemente o abuso de poder por parte do governo e da polícia. Estamos profundamente preocupados com a situação e a segurança das crianças detidas”, acrescentaram. Dos quase 1.800 detidos desde Junho, mais de meio milhar são estudantes, precisaram, lembrando que a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança define a criança como qualquer ser humano com menos de 18 anos. Meio milhar de estudantes manifestou-se na quarta-feira para condenar a violência da polícia e o uso de munição real contra os manifestantes. Na origem da contestação, que se vive no território desde o início de Junho, está uma polémica proposta de emendas à lei da extradição, já retirada formalmente pelo Governo de Hong Kong.
Olavo Rasquinho VozesO poder e a meteorologia [dropcap]R[/dropcap]ecentemente foi despoletada uma polémica sobre a interferência do presidente dos EUA na área das previsões meteorológicas, relacionadas com o furacão Dorian. Os meios de comunicação social deram relevo ao tweet que Donald Trump difundiu em 1 de setembro de 2019, em que afirmava que os estados Alabama, Florida, Carolina do Sul, Carolina do Norte e Geórgia “muito provavelmente seriam atingidos com (muito)mais força do que o previsto” (“most likely be hit (much) harder than anticipated”). Cerca de 20 minutos depois, o centro meteorológico de Birmingham, Alabama, emitiu, também via Twitter, um desmentido, afirmando que o furacão não afetaria o Alabama: “O Alabama NÃO sofrerá impactos do Dorian. Repetimos, nenhum impacto do furacão Dorian será sentido no Alabama. O sistema permanecerá muito longe a leste” (“Alabama will NOT see any impacts from Dorian. We repeat, no impacts from Hurricane Dorian will be felt across Alabama. The system will remain too far east.”). No dia 4 de setembro, o presidente Trump, numa conversa com jornalistas na Casa Branca, mostrou uma imagem com o cone de previsão da trajetória provável do furacão Dorian, ao qual fora acrescentado manualmente uma área delimitada a marcador de modo a abranger parte do Alabama. O presidente Trump conversa com os repórteres sobre o furacão Dorian no Salão Oval da Casa Branca, em 4 de setembro de 2019 A polémica provavelmente não teria atingido as proporções alcançadas se, em 6 de setembro, a NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), à qual o National Weather Service pertence, não contestasse o tweet do centro meteorológico de Birmingham, pondo-se assim ao lado do presidente, e contra os seus próprios funcionários. Em defesa do centro meteorológico de Birmingham, e contra a direção da agência mãe, o diretor do National Weather Service, Louis Uccellini, afirmou que os meteorologistas tomaram a atitude correta para combater o pânico e os rumores de que o Dorian representava uma ameaça ao Alabama. Numa atitude inédita, a National Weather Association (NWA) e a American Meteorological Society (AMS), associações dentro de certa medida rivais, que desenvolvem atividades na área da meteorologia nos EUA, emitiram um comunicado conjunto em que se afirmava “Os últimos dias não tiveram precedentes para a comunidade meteorológica. Por mais que dediquemos as nossas profissões à resiliência da sociedade, esta semana provámos a nossa própria resiliência” (“The past few days have been unprecedented for the weather community. As much as we dedicate our professions to societal resilience, this week we have proven our own resilience.”). Este episódio de imiscuição do poder nas previsões meteorológicas fez-me lembrar o que aconteceu em Macau, ainda sob administração portuguesa, aquando do cancelamento do sinal nº 8 referente ao tufão Victor, que assolou este território nos dias 2 e 3 de agosto de 1997. Perante as informações mais recentes, entre as quais imagens de satélite e de radar, produtos de modelos de previsão numérica e observações de superfície e de altitude, a equipa de turno nos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) decidiu informar os meios de comunicação social que o sinal 8 seria baixado às 9 horas do dia 3. Previa-se que a partir daquela hora as rajadas, que então ainda sopravam com cerca de 100 km/h, diminuíssem de intensidade e deixassem de constituir perigo para a população, em particular para os motociclistas que atravessavam as pontes entre Macau e a Taipa. Logo após a divulgação pelos meios da comunicação social da hora de passagem do sinal 8 para o sinal 3, foi atendido um telefonema, antes das 8 horas, de um membro do Governo, que pediu para falar com o diretor. Depois do meu interlocutor se ter identificado, travou-se o diálogo que vou tentar reproduzir (as palavras não terão sido exatamente estas, mas o sentido está nelas implícito): – Olhe lá, o tufão está a ir embora e porque é que vocês não mandam baixar o sinal antes das 9 horas? – Senhor Coronel, a equipa de serviço esteve reunida e, perante as últimas observações, considerou que antes das 9 horas seria arriscado arriar o sinal. Ainda vão persistir rajadas fortes perpendiculares às pontes, o que pode ser perigoso para o trânsito de motociclos. – Ouça lá, eu tenho muitos anos de experiência de Macau, e estou a ver que isto já não vai dar nada. Não dá mesmo para descer o sinal antes das 9? – Não senhor Coronel… Não dá mesmo. – Deixe-se dessas histórias, estou mesmo a ver o que é que vocês querem… – Desculpe, senhor coronel, o que pretende dizer com isso? A resposta não foi imediata. Teceu algumas considerações sobre os anos que estava em Macau, muito mais do que eu, e que conhecia bem o comportamento dos tufões, etc. – Pois é, o que vocês querem é ter mais um feriado… Fiquei estupefacto. Não era normal um membro do Governo tentar influenciar uma decisão técnica, acusando servidores públicos, alguns dos quais se encontravam a trabalhar há mais de 18 horas, de pretenderem manipular em seu favor a hora do arriar do sinal de tufão. Nessa altura era habitual que, se o sinal 8 estivesse ainda içado ás 9 horas, os trabalhadores da função pública não irem trabalhar. Tratava-se de uma prática, mas não de uma regra rígida. O Governo poderia estabelecer a hora a partir da qual os serviços começariam a funcionar. Neste caso foi decidido, e bem, que se começasse a trabalhar às 10:00 horas. Alguns dias depois, um outro membro do Governo teve uma atitude totalmente contrária à do seu colega. Foi recebida na direção dos SMG uma carta do Secretário Adjunto para os Transportes e Obras Públicas, José Alves de Paula, datada de 5 de agosto de 1997, na qual se enaltecia “a clareza e serenidade com que as informações foram sendo transmitidas à população, permitindo que esta se acautelasse e preparasse para a situação iminente, sem que houvesse lugar para especulações ou boatos que poderiam gerar pânico ou alarme desnecessário.” Um outro exemplo deu-se no princípio da década de 1980 aquando de uma greve da função pública, em Portugal. Independentemente de concordarem ou não com a greve, os elementos da equipa que apresentava em direto o boletim meteorológico na RTP decidiram que não haveria informação meteorológica nesse dia, atendendo a que não tinham dados atualizados para esse efeito. Houve, no entanto, um elemento do grupo que cedeu à pressão exercida pelo presidente do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG), e apresentou o referido boletim, embora não estivesse escalado para esse dia, sem informar o público sobre a falta de dados atualizados. Esta atitude despoletou a recusa dos restantes meteorologistas em voltar a colaborar na apresentação televisiva, deixando de se fazer durante alguns anos a apresentação personalizada do boletim meteorológico. O assunto teve grande repercussão nos meios de comunicação social, na medida em que a RTP era a única estação televisiva em Portugal e a informação meteorológica, integrada no telejornal das 20:00 horas, tinha grande audiência. Os agentes do poder não resistem, por vezes, em se imiscuírem em decisões técnicas que nada têm a ver com a política.
Andreia Sofia Silva VozesPlaneamento Made in Macau [dropcap]P[/dropcap]rimeiro, foram dez anos para projectar um terminal marítimo de enormes dimensões. O projecto foi feito duas vezes e derrapou mais não sei quantas, porque primeiro se pensou numa coisa e depois chegou-se à conclusão que era preciso algo diferente. Este terminal nasceu sem ligações de transportes, porque o metro ligeiro não passava de uma miragem. Cá fora, apenas autocarros e filas confusas de pessoas a tentarem chegarem ao centro da cidade. Entretanto, a grande China decidiu fazer a maior ponte do mundo. Teve um projecto, reuniu autoridades e desenvolveu o que parecia impossível. Anos depois, o secretário para os Transportes e Obras Públicas vem dizer que, afinal, o terminal marítimo do Pac On, e também o de Macau, estão a perder passageiros para a ponte. É certo que vem aí a integração regional e um enorme fluxo de pessoas, que já se sente nas ruas do território. Mas como fazer um terminal que custou milhões sem pensar que, dali a uns anitos, uma enorme ponte ia roubar-lhe a freguesia? É o planeamento Made in Macau. Entretanto, cá esperamos que o metro ande, pelo menos, até à cerimónia de transferência de soberania, para Pequim ver como, afinal, até sabemos construir.
Sérgio Fonseca DesportoAutomobilismo | Charles Leong já conduziu o novo F3 para o GP [dropcap]C[/dropcap]harles Leong Hon Chio já sabe o que o espera em Novembro: um enorme desafio. No passado fim-de-semana, o jovem piloto de Macau esteve no Autódromo de Sochi, na Rússia, para disputar a última prova do Campeonato FIA de Fórmula 3. Esta aparição esporádica serviu para preparar a sua participação no Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 – Taça do Mundo de F3 da FIA. Sem qualquer experiência anterior ao volante do novo F3 construído pela Dallara, e depois de seis meses sem qualquer actividade competitiva, Leong teve apenas uma sessão de treinos livres para se habituar a um carro totalmente diferente e a um circuito que desconhecia por completo antes de enfrentar a qualificação. Foi sem espanto que o representante da RAEM foi apenas 29º da sessão, a mais de quatro segundos do pole-position, o russo Robert Shwartzman que viria a sagrar-se campeão mais tarde no fim-de-semana. Na primeira corrida do fim-de-semana, realizada após a qualificação do mundial de Fórmula 1, uma chuva ligeira e traiçoeira fez-se notar e Leong não evitou uma ligeira saída de pista na quarta volta, batendo nas barreiras de protecção. No dia seguinte, na segunda corrida do programa, o sol voltou à pista da estância turística do Mar Negro, e Leong conseguiu completar as 20 voltas ao traçado russo sem problemas de maior, vendo a bandeirada de xadrez no 21º posto. Shwartzman e Juri Vips partilharam os triunfos na prova russa, a derradeira da temporada. Ambos os pilotos são esperados no próximo mês no Circuito da Guia, onde trinta jovem lobos vão tentar conquistar um dos mais apetecidos troféus a nível mundial nas fórmulas de promoção. Novo cenário Leong sabia que não iria ter vida fácil em Sochi. Só o facto de nunca ter conduzido este carro tão diferente e ter de enfrentar uma concorrência que está praticamente há um ano a competir com estas máquinas dava-lhe uma desvantagem colossal logo à partida. “Foi um fim-de-semana complicado”, confessou Leong ao HM. Para o piloto de 18 anos este novo carro “em nada se compara ao Fórmula 3 que conduzi em Macau o ano passado. Tenho que adaptar a minha condução para este novo carro. É mais pesado, com maior velocidade de ponta e diferente de conduzir”, afirma. O novo monolugar de Fórmula 3 é mais potente que a versão anterior e ao mesmo tempo também é mais pesado. Os pneus Pirelli têm uma degradação propositadamente alta, o que obriga os pilotos a adaptarem-se a uma realidade mais próxima da Fórmula 1. Além disso, estes novos monolugares fabricados em Itália estão equipados com um sistema DRS, semelhante aos Fórmula 1, que reduz a força de arrasto num ponto determinado da pista, assim facilitando as ultrapassagens. Todos estes factores jogam contra qualquer piloto iniciado. “Comparando com os outros pilotos da F3, os meus recursos são limitados. Portanto, vou ter que aproveitar bem o próximo teste para estar melhor preparado para Macau”, diz o piloto de 18 anos. Antes do 66º Grande Prémio de Macau, Leong terá ainda a oportunidade de realizar um teste de três dias em Valência com o monolugar da equipa suíça Jenzer Motorsport. Esta será última oportunidade para se habituar a uma nova realidade antes do muito antecipado fim-de-semana do mês de Novembro.
Sérgio Fonseca DesportoAutomobilismo | Charles Leong já conduziu o novo F3 para o GP [dropcap]C[/dropcap]harles Leong Hon Chio já sabe o que o espera em Novembro: um enorme desafio. No passado fim-de-semana, o jovem piloto de Macau esteve no Autódromo de Sochi, na Rússia, para disputar a última prova do Campeonato FIA de Fórmula 3. Esta aparição esporádica serviu para preparar a sua participação no Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 – Taça do Mundo de F3 da FIA. Sem qualquer experiência anterior ao volante do novo F3 construído pela Dallara, e depois de seis meses sem qualquer actividade competitiva, Leong teve apenas uma sessão de treinos livres para se habituar a um carro totalmente diferente e a um circuito que desconhecia por completo antes de enfrentar a qualificação. Foi sem espanto que o representante da RAEM foi apenas 29º da sessão, a mais de quatro segundos do pole-position, o russo Robert Shwartzman que viria a sagrar-se campeão mais tarde no fim-de-semana. Na primeira corrida do fim-de-semana, realizada após a qualificação do mundial de Fórmula 1, uma chuva ligeira e traiçoeira fez-se notar e Leong não evitou uma ligeira saída de pista na quarta volta, batendo nas barreiras de protecção. No dia seguinte, na segunda corrida do programa, o sol voltou à pista da estância turística do Mar Negro, e Leong conseguiu completar as 20 voltas ao traçado russo sem problemas de maior, vendo a bandeirada de xadrez no 21º posto. Shwartzman e Juri Vips partilharam os triunfos na prova russa, a derradeira da temporada. Ambos os pilotos são esperados no próximo mês no Circuito da Guia, onde trinta jovem lobos vão tentar conquistar um dos mais apetecidos troféus a nível mundial nas fórmulas de promoção. Novo cenário Leong sabia que não iria ter vida fácil em Sochi. Só o facto de nunca ter conduzido este carro tão diferente e ter de enfrentar uma concorrência que está praticamente há um ano a competir com estas máquinas dava-lhe uma desvantagem colossal logo à partida. “Foi um fim-de-semana complicado”, confessou Leong ao HM. Para o piloto de 18 anos este novo carro “em nada se compara ao Fórmula 3 que conduzi em Macau o ano passado. Tenho que adaptar a minha condução para este novo carro. É mais pesado, com maior velocidade de ponta e diferente de conduzir”, afirma. O novo monolugar de Fórmula 3 é mais potente que a versão anterior e ao mesmo tempo também é mais pesado. Os pneus Pirelli têm uma degradação propositadamente alta, o que obriga os pilotos a adaptarem-se a uma realidade mais próxima da Fórmula 1. Além disso, estes novos monolugares fabricados em Itália estão equipados com um sistema DRS, semelhante aos Fórmula 1, que reduz a força de arrasto num ponto determinado da pista, assim facilitando as ultrapassagens. Todos estes factores jogam contra qualquer piloto iniciado. “Comparando com os outros pilotos da F3, os meus recursos são limitados. Portanto, vou ter que aproveitar bem o próximo teste para estar melhor preparado para Macau”, diz o piloto de 18 anos. Antes do 66º Grande Prémio de Macau, Leong terá ainda a oportunidade de realizar um teste de três dias em Valência com o monolugar da equipa suíça Jenzer Motorsport. Esta será última oportunidade para se habituar a uma nova realidade antes do muito antecipado fim-de-semana do mês de Novembro.
Luís Carmelo h | Artes, Letras e IdeiasA computação quântica de Séneca [dropcap]H[/dropcap]oje em dia idealizamos o passado através do culto do património e removemo-lo através da ostensão da tecnologia. Pelo meio, em jeito de retrovisor avariado, fica a angústia climática. É este o tríptico que nos é dado respirar, espécie de ‘boomerang’ no seio do qual o presente surge, ao mesmo tempo, como divindade e como derradeiro sem-abrigo da história. As recentes referências à computação quântica ilustram estas excitações contemporâneas e confirmam-nos, se ainda fosse preciso confirmar, que a promessa do futuro reside na velocidade e não nos leitosos magmas dos programas de tipo ideológico (ou similares). Uma das directoras de Microsoft, Julie Love, explicou há dias porquê: “Um computador quântico é capaz de fazer em 100 segundos o que o mais potente dos supercomputadores da actualidade faria em mil milhões de anos”. Por outras palavras: num computador tradicional a informação é processada em 0 e 1 (bits), enquanto num computador quântico a informação pode ser 0 e 1 ao mesmo tempo (bits quânticos ou qubits), o que aumenta de forma exponencial a capacidade de processamento. Pode haver melancolia, miséria, degredos, degelos, supressão de direitos, migrações desesperadas, seja o que for, mas a velocidade, essa, conduzir-nos-á inevitavelmente ao trono de deus, tal como já se fazia constar nos rolos do Apocalipse de ‘Baruch’, do ‘Enoch’ Eslavo ou mesmo de Daniel. Por outro lado, o olhar para o passado será cada vez mais o da sobranceria, fazendo contrastar a ‘nossa’ celeridade quântica com o tempo da televisão linear, das cassetes de vídeo e dos jornais em papel. Mas não se pense que esta capacidade de rir do que já foi é um exclusivo das muitas variantes do mundo moderno. Nas ‘Cartas a Lucílio’ de Séneca, mais concretamente na Carta 86, o autor informa o seu interlocutor de que se encontra instalado em vilegiatura na ‘villa’ de Cipião Africano. Para que se contextualize a época, deve referir-se que Séneca está a escrever no início dos anos sessenta da nossa era (séc. I d.C.), enquanto Cipião Africano, o herói da última guerra púnica, viveu entre 236 e 183 a.C. (séculos III e II a.C.). A distância entre ambos é a mesma que vai de 2019 a 1769, vinte anos antes da revolução francesa. A prosa de Séneca sobre o tempo de Cipião é pautada por uma sobranceria idêntica à que recorremos hoje, embora aliada a uma certa nostalgia que servirá de ponte para denunciar os novo-riquismos do seu tempo. Nada que não nos seja familiar, se pensarmos nas convulsões cinéticas das torres Trump. O filósofo estóico começa por dar conta da “cisterna que daria para dessedentar um exército” e do “pequeno balneário escuro segundo a moda de antigamente”. E continua: “No balneário de Cipião não há propriamente janelas, mas apenas umas fendas estreitas que deixam entrar a luz sem pôr em causa a solidez da construção. Hoje dá-se o nome de banhos para traças aos balneários cuja construção não permite receber luz durante o dia todo por janelas enormes”. Nos tempos de Cipião, “não havia água corrente como que brotando continuamente de uma fonte quente, nem os antigos do seu tempo se preocupavam com a iluminação do espaço onde iam libertar-se da sujidade” (…) “Lavavam todos os dias as pernas e os braços, mas só tomavam banho de nove em nove dias. Nesta altura haverá certamente quem diga: que porcos eles andavam!” Sobre o seu próprio tempo, escreve depois Séneca: “Abunda hoje quem acuse Cipião de perfeito provinciano por não ter nos seus banhos quentes largas vidraças para deixar entrar o sol, e não se deixar destilar no meio da luz à espera de fazer a digestão. Cipião não se lavava com água filtrada, frequentemente estava turva, suja”. Num passo seguinte, Séneca vai mais longe, questionando: “Quem hoje se resignaria a tomar banho em condições semelhantes? Qualquer um se considera pobre e mesquinho se as suas paredes não resplandecerem com grandes e preciosas incrustações, se os seus mármores de Alexandria não forem decorados com mosaicos da Numídia, trabalhosamente recobertos de verniz como se de pintura se tratasse, se não tiverem uma cúpula recoberta de vidro, se o mármore de Tasos não revestir as piscinas onde metemos o corpo emaciado pelo banho de vapor, se, enfim, se a água não correr em torneiras de prata…” (…) “Que multidão de estátuas, que sem número de colunas que nada sustentam, apenas decorativa, só para exibição de riqueza! Que abundância de águas caindo ruidosamente em cascatas!”. Percebe-se que, à computação quântica do nosso tempo, correspondia, na época de Séneca, o domínio de uma minuciosa arquitectura da luz, do vidro e do mármore. Percebe-se ainda que os argumentos de fundo que separam as eras são, do lado de Séneca, a higiene e, do lado dos nossos contemporâneos, a velocidade. Em comum, ressalvemos a incapacidade de o olhar flutuar para além das contingências e de se deixar pasmar com as diferenças, apesar da inevitável inquietação existencial suscitada pelo presente. Mas como diria o próprio Séneca, o presente é o território que nos assegura que jamais seremos imortais. Daí ele se nos apresentar, não apenas hoje, quer como a grande divindade (o tempo presente é tudo do que dispomos), quer como o tal derradeiro sem-abrigo – ou “escravo” na linguagem de Séneca – da história.
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasGreta [dropcap]F[/dropcap]iquei espantado com o fácies de Greta Thurnberg no seu discurso na ONU, porém em vez de tirar conclusões precipitadas reflecti. Lembrei-me da primeira vez que fui à televisão, a um programa da Clara Ferreira Alves, e como a minha prestação foi um desastre tão grande que nunca mais me convidaram. De repente pensei, estão quinhentos mil gajos a olhar para mim, e, sendo tímido, entrei em pane e a minha tendência para a hiperidrose disparou, dobrando-me o embaraço; foi um pesadelo estratosférico. Topou-o o Henrique Fialho, que no seu blogue se apiedou da minha triste figurinha. Quem me viu só pôde concluir que eu era um verdadeiro idiota. Foi preciso, dez anos depois, numa entrevista televisiva no Brasil, que um câmara viesse ter comigo e me segredasse estas palavrinhas tranquilizadoras, «Não se esqueça de que atrás da câmara só está um homem!» (que era ele), para a pressão se dissipar e eu hoje encarar as câmaras descontraidamente. Imagino a pressão sobre aquela miúda de dezasseis anos, na ONU ao dar-se conta de que o mundo inteiro, literalmente, olhava para ela. Aí cedeu e, numa fuga para a frente, como ela não transpirava, só fez o que lhe era possível: actuar em overacting. Um outro flagrante das câmaras com Greta ajudou-me a compreender: o momento em que o rosto da jovem se transfigura quando ela vê Trump e o asco transparece nela. Presumo que a síndrome de Asperger a deixe sem filtro e as emoções lhe aflorem ao rosto sem a atenuação de uma máscara conveniente. O que só a torna mais confiável. Depois, vi uma maravilhosa entrevista dela no Intercept que me dissipou todas as dúvidas. Tratava-se menos do que ela dizia, mas do seu modo sereno. Postei-a no fb e houve um amigo meu, um conservador confesso, que lhe chamou todos os nomes e que esgrimiu: «O que se está a passar em relação ao clima é uma histeria. Não há urgência nenhuma.», e adiante, «A Greta Thurnberg daquela entrevista pareceu-me uma miúda frágil a debitar mentiras, o que só confirma a minha opinião: ela não devia estar ali.» Ao contrário do que argumenta o meu amigo, ali Greta não está nada frágil, é o avesso da tensão na ONU. Entretanto, o mundo está povoado de Vascos, que proferem, «Era bem feito que o planeta explodisse e atirasse com a menina Greta para Saturno a ver se ela aprendia a não faltar à escola.» Se o planeta explodisse, também Vasco Pulido Valente seria atirado para o éter, voltava a ser um estudante aplicado e investigaria finalmente sobre a influência da tauromaquia e o alvor cornúpeto no bigode de D. Carlos I. Cuspindo contra o vento, Pulido Valente não sobrevive ao fulgor da sua elucubração. Há uma espécie de terrorismo suicida nos iluminados de direita, que foram rebeldes e faltaram à escola no seu tempo, para quem o mundo é apenas o palco para a oportunidade de rogarem o direito à eutanásia, que combatem. É um mundo de hipocrisias e contradições. Verificou-se nestas últimas semanas uma fractura no mundo entre os que aceitam Greta como arauto de uma emergência ecológica e os que colocam em dúvida os dados científicos que ela veicula e lhe condenam o papel de Cassandra; levantando lebres sobre uma suposta manipulação de que a jovem seja alvo. Não tenho informações para rebater tais suspeitas, contudo não creio que o assunto deva colocar-se como uma disputa entre crenças. Além disso, numa coincidência danada, deram-se hoje, dia 26 de Setembro, dois acontecimentos funestos que foram noticiados e nos deviam fazer reflectir. O primeiro reporta à foto desta crónica e aos 163 golfinhos que encalharam na terça-feira na ilha da Boa Vista, em Cabo Verde, e morreram na praia. Segundo o ambientalista Samir Martins este será o caso do género mais grave em Cabo Verde desde 2007, quando mais de 200 golfinhos da mesma espécie encalhou na praia de Chaves, também na Boa Vista. Não consta que ao longo dos séculos bandos de golfinhos, periodicamente, resolvam ir suicidar-se a Cabo Verde – só ultimamente é que esta anomalia tem acontecido. Uma explicação mágica seria a de que isto acontece porque Greta não tem ido à escola. A segunda notícia, no mesmo dia, relata que o Monte Branco, a montanha mais alta da Europa, está em risco de desabar e as estradas foram fechadas e as casas evacuadas nesta região dos Alpes italianos. «O glaciar», lê-se, «é o Planpincieux, que fica no lado italiano do Monte Branco, e o iminente colapso tem a ver com o aquecimento global, alertam os especialistas. Os cientistas, que pertencem à Fundação Montanha Segura, adiantam que são cerca de 250 mil metros cúbicos do glaciar que estão em perigo e derretem entre 50 a 60 centímetros de gelo por dia.» Será isto apenas histeria, como diz o meu amigo, ou ele, comporta-se como um negacionista? É tão legítima esta pergunta como o reparo (que ele me faria) sobre o vício de sobrinterpretar as coincidências. Só que me parece tão grave o tique de relacionar demais como o de abstermo-nos de todo de relacionar x com z, quando afinal pertencem ao mesmo sistema alfabético. Em tudo isto impõe-se uma terceira equação, e mais ainda depois de Putin ter aderido ao Acordo de Paris: estamos do lado de Trump e Bolsonaro ou de Greta. Podem dois vigaristas ter razão científica? É muito difícil escapar à presunção da aparência e estar com eles num aspecto para rejeitar os outros, pois tanto pragmatismo é inconciliável com o mais elementar trajecto ético. Não há dicotomia quando um dos lados da polarização joga na mesa, e invariavelmente, toda a sujidade dos seus interesses egoístas (veja-se o caso agora de Trump com o seu homólogo ucraniano), o que torna a diabolização de Greta uma cruzada ainda mais absurda.
Gisela Casimiro Estendais h | Artes, Letras e IdeiasEu sou ela “and he said: you pretty full of yourself ain’t chu so she replied: show me someone not full of herself and i’ll show you a hungry person” Nikki Giovanni [dropcap]A[/dropcap]s redes sociais mundiais estão obcecadas com Greta Thunberg e coube às redes sociais portuguesas duas obsessões extra: o último video do rapper Valete e a gaguez de Joacine Katar Moreira. Não sei quase nada sobre Valete, a sua carreira, as suas origens, o seu percurso pessoal e profissional. Ouvi muitas vezes uma canção de há uns anos, em que colabora com Capicua, rapper, feminista e activista extraordinaire. Essa canção, Medusa, é precisamente sobre abusos, igualdade de género, é o denunciar de situações criminosas e misóginas que vemos, ainda, repetirem-se demasiadas vezes. Na semana em que o Theatro Circo de Braga se encontra de luto profundo por um elemento fundamental da sua equipa, Gabriela Monteiro, ter falecido, vítima de violência doméstica, a reflexão e a acção tornam-se mais urgentes ainda. Não entendo o que aconteceu nos últimos anos para que a mensagem de Valete tenha, aparentemente, mudado. Sei que enquanto rappers, feministas, plantas e animais de estimação debatem no twitter e no Youtube, essas mulheres continuam a precisar, elas sim, de atenção, que tem ido para tudo e todos excepto as mesmas. Passamos tristemente do oitenta ao menos oito, quando as argumentações e defesas revisitam os esqueletos no armário de cada um dos envolvidos, abordando situações totalmente alheias a esta. Mediatismo à parte, não é diferente ver o video de Valete (que não aprecio, nem à letra, nem à defesa que dele faz) ou ver videos virais, brasileiros, verdadeiros, de mulheres que maltratam outras mulheres violentamente, em situações de adultério, com armas e cortes de cabelo, exactamente ao nível do que os gangues fazem. E se recordarmos a carreira musical de Rihanna, talvez fiquemos um pouco confusos com Love the way you lie ou Bitch better have my money e a mensagem que passam, depois da sua famigerada relação com Chris Brown, resultante em violência. Apenas me pergunto se não deveríamos, como diz Capicua, colocar a minha ira, a nossa ira, a ira…ao serviço de cada vítima acusada / e transformada em monstro. No cartaz de um evento está a minha foto e a de mais três mulheres, uma delas negra. Por engano, escrevem o meu nome duas vezes: por baixo da minha e da foto de uma delas, a escritora Yara Monteiro, que se apercebe do erro e pede a correcção. Concordamos, rindo, que é um elogio mútuo, erros à parte. Seria porque ambas temos uma mega cabeleira solta e volumosa, fácil de confundir? Estas coisas acontecem com alguma frequência, seja com nomes, fotos ou até descrições. Por vezes até através do tempo e do espaço, como descreve a Djaimilia Pereira de Almeida em Esse Cabelo, quando se reconhece na mítica foto de Elizabeth Eckford, tirada em 1957. Eu mesma tiro uma foto de rosto encostado à capa deste romance, ao melhor jeito “podia ser eu”. É que podia mesmo. Dias mais tarde, ao jantar numa associação, um jovem dirige-se-nos. Sim, estou agora com essa amiga, já fora do cartaz e com muito menos cabelo do que na foto. O jovem apresenta-se e, quando dou por mim, está a segurar-me as mãos, embevecido. Pede-me um autocolante, respondo que só tenho um, a minha amiga também, mas cede o seu. Ele continua, embevecido, a segurar-me a mãos e a dizer coisas que não percebo, mas a minha amiga sim, e clarifica: “Ela não é a do autocolante.” É então que eu e o jovem ficamos perplexos, ele por perceber que eu não sou eu ou, pelo menos, aquela que ele julgava que eu era, e eu por perceber finalmente de onde vinha tudo aquilo. Mais um dia na minha vida. A minha amiga continua “Ela está lá fora.” Sei um bocadinho mais sobre ela do que sobre o Valete. Ela, neste caso, também conhecida por aquela com quem eu fui confundida, era Joacine Katar Moreira, a outra mulher do momento. Sim, aquela que gagueja e depois fecha os olhos e faz sons estranhos e tudo isso. Ocorre-me um trocadilho entre o romance de Yara e a gaguez de Joacine, em vez de Essa dama bate bué, poderia ser Essa dama gagueja bué. Continuaria a ser uma história sobre mulheres e luta. Tento negociar com esta minha nova função de sósia, que representa uma grande vantagem para ela, a da ubiquidade. Mas onde é que ela não está? Outro dia vi tantos dos seus cartazes espalhados, a maioria intactos, um ou outro vandalizados, como todo o bom cartaz, no bairro com maior diversidade cultural de Lisboa. Recordei as suas palavras numa entrevista recente: “Eu sou uma mulher negra para poupar o esforço a muita gente.” Tenho de lhe perguntar, a ela e a todas as mulheres, vítimas ou não de alguma coisa, certamente sobreviventes de muitas mais, se conhecem a poesia de Nikki Giovanni (em cuja foto de cerca de 1980 me espelho, cheia de saudades de ter o cabelo maior) e aqueles seus versos: “I cannot be comprehended / except by my permission.” Urgem a permissão, a compreensão, o respeito e a paz.
Hoje Macau China / Ásia70 anos | Xi Jinping destaca “alicerces fortes” em demonstração de capacidade militar [dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, destacou terça-feira a unidade, desenvolvimento e força da China, no 70.º aniversário da República Popular, que culminou numa parada militar destinada a mostrar a ascensão do país como potência mundial. “Não há força que possa abalar os alicerces desta grande nação”, afirmou Xi Jinping, no topo da Praça Tiananmen, onde há precisamente setenta anos Mao Zedong proclamou a fundação da República Popular da China. Perante milhares de chineses, seleccionados a partir de empresas estatais, universidades ou órgãos governamentais, e que aplaudiram enquanto agitavam bandeiras do país, Xi declarou: “Hoje, uma China socialista ergue-se de frente para o mundo”. O discurso do também secretário-geral do Partido Comunista seguiu a narrativa oficial do regime, que se autoproclama responsável por erguer a China do “século de humilhação”, durante a dinastia Qing, face à invasão por potências coloniais como o Reino Unido e o Japão. Xi seguiu depois numa limusine com capota aberta, passando revista às tropas e a dezenas de mísseis, veículos blindados e outros equipamentos militares. Soldados envergando capacete e equipamento de combate gritavam em uníssono “Viva, líder” e “Servir o povo”. Xi respondia com a saudação “Olá, camaradas”. Poder de fogo O exército da China, o maior do mundo, com dois milhões de homens e mulheres nas suas unidades de combate, está a desenvolver aviões de combate, o primeiro porta-aviões construído na China e uma nova geração de submarinos movidos a energia nuclear. Uma das armas mais observadas terça-feira por analistas foi o Dongfeng-17, o primeiro míssil capaz de transportar um veículo hipersónico, que pode ser equipado com armas convencionais ou nucleares, sendo capaz de ultrapassar sistemas antimísseis. O míssil balístico intercontinental Dongfeng-41 tem um alcance de até 15.000 quilómetros, segundo analistas, o que o torna o míssil com maior alcance no mundo. Analistas dizem que é capaz de carregar até 10 ogivas e atingir alvos separados. A ênfase de Pequim em desenvolver mísseis e outras armas de longo alcance reflectem o seu desejo de destronar os Estados Unidos como força dominante na Ásia Oriental, e pressionar Taiwan no sentido da reunificação. A China tem o segundo maior orçamento militar do mundo, estimado em 250 mil milhões de dólares, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo. Os Estados Unidos, com um exército de 1,3 milhões de pessoas, têm o maior orçamento militar do mundo – 650 mil milhões de dólares. Outras conquistas A parada militar incluiu ainda exibições e carros alegóricos que destacaram a enorme transformação da China, desde uma nação pobre e devastada pela ocupação japonesa e subsequente guerra civil, até se converter na segunda maior economia do mundo. Desastres ocorridos durante a governação de Mao Zedong, como a campanha de colectivização dos meios de produção e industrialização o “Grande Salto em Frente”, que causou cerca de trinta milhões de mortes, ou a Revolução Cultural, que mergulhou o país no caos e isolamento, foram omitidos. Para o final ficaram as referências à “nova era”, anunciada por Xi, e que visa o “grande rejuvenescimento da nação chinesa”, um termo com significado económico e territorial. Segundo os objectivos traçados por Xi, em meados deste século, a China será um país “totalmente desenvolvido”, superando os EUA como a principal economia do mundo. Territorialmente, terá completado o processo de reunificação com Taiwan, a ilha onde se refugiou o antigo Governo nacionalista e que actua como uma entidade política soberana, apesar das ameaças de Pequim.
Hoje Macau China / Ásia70 anos | Xi Jinping destaca “alicerces fortes” em demonstração de capacidade militar [dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, destacou terça-feira a unidade, desenvolvimento e força da China, no 70.º aniversário da República Popular, que culminou numa parada militar destinada a mostrar a ascensão do país como potência mundial. “Não há força que possa abalar os alicerces desta grande nação”, afirmou Xi Jinping, no topo da Praça Tiananmen, onde há precisamente setenta anos Mao Zedong proclamou a fundação da República Popular da China. Perante milhares de chineses, seleccionados a partir de empresas estatais, universidades ou órgãos governamentais, e que aplaudiram enquanto agitavam bandeiras do país, Xi declarou: “Hoje, uma China socialista ergue-se de frente para o mundo”. O discurso do também secretário-geral do Partido Comunista seguiu a narrativa oficial do regime, que se autoproclama responsável por erguer a China do “século de humilhação”, durante a dinastia Qing, face à invasão por potências coloniais como o Reino Unido e o Japão. Xi seguiu depois numa limusine com capota aberta, passando revista às tropas e a dezenas de mísseis, veículos blindados e outros equipamentos militares. Soldados envergando capacete e equipamento de combate gritavam em uníssono “Viva, líder” e “Servir o povo”. Xi respondia com a saudação “Olá, camaradas”. Poder de fogo O exército da China, o maior do mundo, com dois milhões de homens e mulheres nas suas unidades de combate, está a desenvolver aviões de combate, o primeiro porta-aviões construído na China e uma nova geração de submarinos movidos a energia nuclear. Uma das armas mais observadas terça-feira por analistas foi o Dongfeng-17, o primeiro míssil capaz de transportar um veículo hipersónico, que pode ser equipado com armas convencionais ou nucleares, sendo capaz de ultrapassar sistemas antimísseis. O míssil balístico intercontinental Dongfeng-41 tem um alcance de até 15.000 quilómetros, segundo analistas, o que o torna o míssil com maior alcance no mundo. Analistas dizem que é capaz de carregar até 10 ogivas e atingir alvos separados. A ênfase de Pequim em desenvolver mísseis e outras armas de longo alcance reflectem o seu desejo de destronar os Estados Unidos como força dominante na Ásia Oriental, e pressionar Taiwan no sentido da reunificação. A China tem o segundo maior orçamento militar do mundo, estimado em 250 mil milhões de dólares, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo. Os Estados Unidos, com um exército de 1,3 milhões de pessoas, têm o maior orçamento militar do mundo – 650 mil milhões de dólares. Outras conquistas A parada militar incluiu ainda exibições e carros alegóricos que destacaram a enorme transformação da China, desde uma nação pobre e devastada pela ocupação japonesa e subsequente guerra civil, até se converter na segunda maior economia do mundo. Desastres ocorridos durante a governação de Mao Zedong, como a campanha de colectivização dos meios de produção e industrialização o “Grande Salto em Frente”, que causou cerca de trinta milhões de mortes, ou a Revolução Cultural, que mergulhou o país no caos e isolamento, foram omitidos. Para o final ficaram as referências à “nova era”, anunciada por Xi, e que visa o “grande rejuvenescimento da nação chinesa”, um termo com significado económico e territorial. Segundo os objectivos traçados por Xi, em meados deste século, a China será um país “totalmente desenvolvido”, superando os EUA como a principal economia do mundo. Territorialmente, terá completado o processo de reunificação com Taiwan, a ilha onde se refugiou o antigo Governo nacionalista e que actua como uma entidade política soberana, apesar das ameaças de Pequim.
Andreia Sofia Silva EventosArquitectura e Urbanismo | Novo livro sobre Macau apresentado em Portugal “Macau: Diálogos sobre Arquitectura e Sociedade” é o resultado de uma união de estudos dispersos e entrevistas sobre várias questões que habitam o mundo do urbanismo e da arquitectura da Macau contemporânea. O livro, editado pela Circo de Ideias, do Porto, foi coordenado pelos fundadores da BABEL, Tiago Quadros e Margarida Saraiva [dropcap]F[/dropcap]oi apresentado esta segunda-feira, na cidade do Porto, em Portugal, o livro “Macau: Diálogos sobre Arquitectura e Sociedade”, editado pela Circo das Ideias e coordenado pelos fundadores da plataforma cultural BABEL, o arquitecto Tiago Quadros e a curadora Margarida Saraiva. A obra reúne entrevistas realizadas a Nuno Cera, que realizou uma residência artística na Casa Garden com o apoio da Fundação Oriente, e outros nomes fortemente ligados à realidade urbana do território, como é o caso de Hendrik Tieben, Thomas Daniell, Mário Duque, Wang Weijen, Diogo Burnay, Jianfei Zhu, Jorge Figueira, Werner Breitung e Pedro Campos Costa. Ao HM, Tiago Quadros contou mais detalhes de um projecto que começou a ser pensado em 2013. “Havia a noção de que muito do conhecimento produzido sobre Macau, ao nível da arquitectura e estudos urbanos, estavam extremamente disseminados nos países de origem dos autores. Quisemos com isto reunir os autores desses estudos e tentar fixar esse conhecimento no mesmo livro.” A obra faz-se não apenas do contributo de arquitectos mas também de urbanistas e académicos. O contributo do artista Nuno Cera acabou por surgir de forma espontânea depois da sua presença em Macau, recorda Tiago Quadros. “A dada altura as coisas começaram a acontecer de modo natural e pensámos que seria interessante que parte do trabalho do Nuno fosse incluído quase como um ensaio natural mas existindo como um corpo próprio, e não apenas como ilustração das entrevistas.” Na apresentação do livro estiveram presentes o fotógrafo José Maçãs de Carvalho, que tem vindo a desenvolver inúmeros projectos em Macau e Hong Kong, e o arquitecto Bernardo Amaral, que viveu no território. As problemáticas Em “Macau: Diálogos sobre Arquitectura e Sociedade” é contada a história do desenvolvimento urbano do território nos últimos anos. “O livro procura ter uma abordagem retrospectiva das últimas décadas, e consegue fazer isso com as intervenções do Diogo Burnay, que fala muito dos anos 60 e 70. Mas depois procura também ter uma abordagem prospectiva em relação aquilo que vai acontecer no futuro próximo e quais serão as expectativas.” Neste campo, entram problemáticas como o espaço público e “a importância que tem e deveria ter numa cidade como Macau, onde a cultura local está muito orientada para o usufruto da população desse mesmo espaço publico, que é muito desqualificado”, apontou Tiago Quadros. Jorge Figueira apresenta ainda uma “abordagem mais contemporânea sobre a produção teórica que fez sobre Macau nos últimos anos, cruzando várias questões como a arquitectura e filosofia, muito sobre a produção caleidoscópica produzida pelos casinos em Macau.” O livro aborda ainda a problemática da habitação, como aponta Tiago Quadros, que dá como exemplo o desenvolvimento na zona do COTAI. “O plano do COTAI incluía a criação de áreas de habitação pública, que depois foi colocada em zonas mais periféricas como Seac Pai Van. Tem havido uma pressão muito grande por parte da população e o Governo assume que quer fazer, mas na verdade muito poucas soluções têm sido avançadas.” São também abordadas questões como a preservação do património e a arquitectura dos casinos, que “têm um efeito natural na vida do seu público”. Tiago Quadros assume que esta é uma obra que dá respostas a quem não faz parte desta área. “Macau está muito bem representada neste livro. Há um conjunto de pessoas entrevistadas que tem um trabalho muito relevante na área da arquitectura e estudos urbanistas e que ganham voz nesta publicação. Qualquer pessoa que procure ou queira fazer um trabalho de investigação sobre Macau nestas áreas tem neste livro muitas fontes e pistas e um suporte importante para desenvolver esse trabalho.” Acima de tudo, a obra contém “visões e abordagens muito distintas sobre temas diferentes”, sendo uma das qualidades do livro, defende Tiago Quadros.
Andreia Sofia Silva EventosArquitectura e Urbanismo | Novo livro sobre Macau apresentado em Portugal “Macau: Diálogos sobre Arquitectura e Sociedade” é o resultado de uma união de estudos dispersos e entrevistas sobre várias questões que habitam o mundo do urbanismo e da arquitectura da Macau contemporânea. O livro, editado pela Circo de Ideias, do Porto, foi coordenado pelos fundadores da BABEL, Tiago Quadros e Margarida Saraiva [dropcap]F[/dropcap]oi apresentado esta segunda-feira, na cidade do Porto, em Portugal, o livro “Macau: Diálogos sobre Arquitectura e Sociedade”, editado pela Circo das Ideias e coordenado pelos fundadores da plataforma cultural BABEL, o arquitecto Tiago Quadros e a curadora Margarida Saraiva. A obra reúne entrevistas realizadas a Nuno Cera, que realizou uma residência artística na Casa Garden com o apoio da Fundação Oriente, e outros nomes fortemente ligados à realidade urbana do território, como é o caso de Hendrik Tieben, Thomas Daniell, Mário Duque, Wang Weijen, Diogo Burnay, Jianfei Zhu, Jorge Figueira, Werner Breitung e Pedro Campos Costa. Ao HM, Tiago Quadros contou mais detalhes de um projecto que começou a ser pensado em 2013. “Havia a noção de que muito do conhecimento produzido sobre Macau, ao nível da arquitectura e estudos urbanos, estavam extremamente disseminados nos países de origem dos autores. Quisemos com isto reunir os autores desses estudos e tentar fixar esse conhecimento no mesmo livro.” A obra faz-se não apenas do contributo de arquitectos mas também de urbanistas e académicos. O contributo do artista Nuno Cera acabou por surgir de forma espontânea depois da sua presença em Macau, recorda Tiago Quadros. “A dada altura as coisas começaram a acontecer de modo natural e pensámos que seria interessante que parte do trabalho do Nuno fosse incluído quase como um ensaio natural mas existindo como um corpo próprio, e não apenas como ilustração das entrevistas.” Na apresentação do livro estiveram presentes o fotógrafo José Maçãs de Carvalho, que tem vindo a desenvolver inúmeros projectos em Macau e Hong Kong, e o arquitecto Bernardo Amaral, que viveu no território. As problemáticas Em “Macau: Diálogos sobre Arquitectura e Sociedade” é contada a história do desenvolvimento urbano do território nos últimos anos. “O livro procura ter uma abordagem retrospectiva das últimas décadas, e consegue fazer isso com as intervenções do Diogo Burnay, que fala muito dos anos 60 e 70. Mas depois procura também ter uma abordagem prospectiva em relação aquilo que vai acontecer no futuro próximo e quais serão as expectativas.” Neste campo, entram problemáticas como o espaço público e “a importância que tem e deveria ter numa cidade como Macau, onde a cultura local está muito orientada para o usufruto da população desse mesmo espaço publico, que é muito desqualificado”, apontou Tiago Quadros. Jorge Figueira apresenta ainda uma “abordagem mais contemporânea sobre a produção teórica que fez sobre Macau nos últimos anos, cruzando várias questões como a arquitectura e filosofia, muito sobre a produção caleidoscópica produzida pelos casinos em Macau.” O livro aborda ainda a problemática da habitação, como aponta Tiago Quadros, que dá como exemplo o desenvolvimento na zona do COTAI. “O plano do COTAI incluía a criação de áreas de habitação pública, que depois foi colocada em zonas mais periféricas como Seac Pai Van. Tem havido uma pressão muito grande por parte da população e o Governo assume que quer fazer, mas na verdade muito poucas soluções têm sido avançadas.” São também abordadas questões como a preservação do património e a arquitectura dos casinos, que “têm um efeito natural na vida do seu público”. Tiago Quadros assume que esta é uma obra que dá respostas a quem não faz parte desta área. “Macau está muito bem representada neste livro. Há um conjunto de pessoas entrevistadas que tem um trabalho muito relevante na área da arquitectura e estudos urbanistas e que ganham voz nesta publicação. Qualquer pessoa que procure ou queira fazer um trabalho de investigação sobre Macau nestas áreas tem neste livro muitas fontes e pistas e um suporte importante para desenvolver esse trabalho.” Acima de tudo, a obra contém “visões e abordagens muito distintas sobre temas diferentes”, sendo uma das qualidades do livro, defende Tiago Quadros.
João Santos Filipe Manchete SociedadePanfletos | Jovens detidos por afixarem mensagens pró-manifestantes As mensagens dos dois jovens de 20 anos visavam também o sistema de videovigilância “Olhos no Céu”. A Polícia está a investigá-los pelo crime de dano e pede aos cidadãos que exprimam opiniões de forma legal [dropcap]O[/dropcap] Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) deteve dois homens com cerca de 20 anos que afixavam panfletos pró-manifestantes de Hong Kong, na Taipa, durante o dia do estabelecimento da República Popular da China. O caso foi revelado pelas autoridades que estão a investigar os jovens por alegadamente terem violado o “Regulamento Geral dos Espaços Públicos” e ainda devido à prática do crime de “dano”. Segundo o CPSP, o caso aconteceu quando, durante a tarde de terça-feira, os agentes encontraram os dois jovens a afixarem em paredes e postes de iluminação folhas A4 com mensagens de apoio aos manifestantes de Hong Kong. Entre as mensagens, havia igualmente papéis contra o sistema “Olhos no Céu”, ou seja, o sistema de videovigilância posto em prática pelas autoridades. Nos papéis podia ler-se, em inglês e chinês, as mensagens “apoiem-se mutuamente Hong Kong e Macau” ou ainda “rejeitemos o sistema de videovigilância na cidade”. Na altura da detenção os homens tinham igualmente com eles vários papéis, como revelado pelo CPSP, e as imagens dos cartazes afixados foram horas mais tardes reveladas pela página do facebook “macau.standwithHK”. Ainda de acordo com o portal All About Macau, depois das detenções a polícia avisou os residentes que têm de exprimir as suas opiniões de forma legal. O regulamento geral dos espaços públicos não prevê penas de prisão, e as multas variam entre as 300 patacas, nas infracções comuns, e as 5 mil patacas, para casos muito graves. Já o crime de dano pode resultar numa pena até 3 anos de prisão, mas implica danos parciais ou destruição total dos objectos em causa. É igualmente necessário que o proprietário dos objectos visados apresente queixa. Ainda este ano, Mario Ho, filho de Stanley Ho, chegou a estar indiciado pela prática deste crime devido a um grafite de pedido de casamento na Rua da Paixão. O filho da deputada Angela Leong conseguiu evitar o julgamento, uma vez que o proprietário não terá querido apresentar queixa do dano. Tolerância zero As autoridades locais têm adoptado uma política de tolerância zero face a mensagens de apoio aos manifestantes de Hong Kong. Em Agosto, quatro estudantes foram interrogados nos Lagos Nam Van por terem criado um Lennon Wall, ou seja colocado post-its na parede. Além disso, havia post its para quem quisesse deixar uma mensagem. Após as autoridades terem ido ao local, a Lennon Wall acabou por ser removida, sem que houvessem danos visíveis na parede. Também em Agosto sete pessoas foram detidas na Praça do Senado, por estarem no local onde tinha sido proibida pelo CPSP uma manifestação para condenar as acções da polícia de Hong Kong. Os detidos “para interrogatório” tinham na sua posse cartazes papéis com mensagens de apoio aos manifestantes. As autoridades foram igualmente chamadas a intervir já em Setembro, quando dois alunos surgiram no Instituto de Formação Turística (IFT) com cartazes de apoio aos manifestantes. Sobre esta situação, o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak , acusou os alunos de terem cometido o crime de manifestação ilegal, mas disse que a polícia não ia levá-los a tribunal.
João Santos Filipe Manchete SociedadePanfletos | Jovens detidos por afixarem mensagens pró-manifestantes As mensagens dos dois jovens de 20 anos visavam também o sistema de videovigilância “Olhos no Céu”. A Polícia está a investigá-los pelo crime de dano e pede aos cidadãos que exprimam opiniões de forma legal [dropcap]O[/dropcap] Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) deteve dois homens com cerca de 20 anos que afixavam panfletos pró-manifestantes de Hong Kong, na Taipa, durante o dia do estabelecimento da República Popular da China. O caso foi revelado pelas autoridades que estão a investigar os jovens por alegadamente terem violado o “Regulamento Geral dos Espaços Públicos” e ainda devido à prática do crime de “dano”. Segundo o CPSP, o caso aconteceu quando, durante a tarde de terça-feira, os agentes encontraram os dois jovens a afixarem em paredes e postes de iluminação folhas A4 com mensagens de apoio aos manifestantes de Hong Kong. Entre as mensagens, havia igualmente papéis contra o sistema “Olhos no Céu”, ou seja, o sistema de videovigilância posto em prática pelas autoridades. Nos papéis podia ler-se, em inglês e chinês, as mensagens “apoiem-se mutuamente Hong Kong e Macau” ou ainda “rejeitemos o sistema de videovigilância na cidade”. Na altura da detenção os homens tinham igualmente com eles vários papéis, como revelado pelo CPSP, e as imagens dos cartazes afixados foram horas mais tardes reveladas pela página do facebook “macau.standwithHK”. Ainda de acordo com o portal All About Macau, depois das detenções a polícia avisou os residentes que têm de exprimir as suas opiniões de forma legal. O regulamento geral dos espaços públicos não prevê penas de prisão, e as multas variam entre as 300 patacas, nas infracções comuns, e as 5 mil patacas, para casos muito graves. Já o crime de dano pode resultar numa pena até 3 anos de prisão, mas implica danos parciais ou destruição total dos objectos em causa. É igualmente necessário que o proprietário dos objectos visados apresente queixa. Ainda este ano, Mario Ho, filho de Stanley Ho, chegou a estar indiciado pela prática deste crime devido a um grafite de pedido de casamento na Rua da Paixão. O filho da deputada Angela Leong conseguiu evitar o julgamento, uma vez que o proprietário não terá querido apresentar queixa do dano. Tolerância zero As autoridades locais têm adoptado uma política de tolerância zero face a mensagens de apoio aos manifestantes de Hong Kong. Em Agosto, quatro estudantes foram interrogados nos Lagos Nam Van por terem criado um Lennon Wall, ou seja colocado post-its na parede. Além disso, havia post its para quem quisesse deixar uma mensagem. Após as autoridades terem ido ao local, a Lennon Wall acabou por ser removida, sem que houvessem danos visíveis na parede. Também em Agosto sete pessoas foram detidas na Praça do Senado, por estarem no local onde tinha sido proibida pelo CPSP uma manifestação para condenar as acções da polícia de Hong Kong. Os detidos “para interrogatório” tinham na sua posse cartazes papéis com mensagens de apoio aos manifestantes. As autoridades foram igualmente chamadas a intervir já em Setembro, quando dois alunos surgiram no Instituto de Formação Turística (IFT) com cartazes de apoio aos manifestantes. Sobre esta situação, o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak , acusou os alunos de terem cometido o crime de manifestação ilegal, mas disse que a polícia não ia levá-los a tribunal.
Andreia Sofia Silva SociedadeMedalhas de mérito | Distinguidos destacam foco dado à língua portuguesa A meses de deixar o Governo, Chui Sai On decidiu atribuir medalhas a membros do Conselho Executivo, mas também a figuras fortemente ligadas ao ensino do português em Macau, como é o caso de Carlos André e Manuel Machado. O presidente da Escola Portuguesa de Macau assegura que esta distinção é também um reconhecimento do trabalho desenvolvido pela própria escola [dropcap]M[/dropcap]anuel Machado, presidente da Escola Portuguesa de Macau (EPM), foi distinguido pelo Governo da RAEM com a medalha de mérito educativo, sendo uma das inúmeras personalidades distinguidas por Chui Sai On antes de deixar o cargo de Chefe do Executivo. A cerimónia de atribuição de medalhas acontece em Novembro. Ao HM, o presidente da EPM disse que esta distinção visa também o trabalho que a escola tem vindo a desenvolver. “Sinto-me honrado e orgulhoso pelo facto do Governo da RAEM me ter atribuído esta medalha, que considero ser o reconhecimento de uma carreira, que já tem mais de 40 anos, dedicada à educação e passada maioritariamente em Macau.” Além disso, “esta medalha é também a forma de o Governo da RAEM, mais uma vez, reconhecer a importância que a EPM tem no contexto do sistema educativo da RAEM também pela importância que tem na difusão da língua e cultura portuguesa”, frisou Manuel Machado. Outra personalidade ligada ao ensino do português foi Carlos André, ex-coordenador do Centro Pedagógico e Científico de Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau (IPM), que viu ser-lhe atribuída a medalha de mérito cultural. “Fiquei satisfeito e orgulhoso porque é o reconhecimento pelo trabalho realizado nos últimos seis anos a favor da língua portuguesa, um trabalho de estreitamento de laços entre Macau, China e Portugal, e que se passou muito no interior da China”, contou Carlos André ao HM. Actualmente a residir em Portugal, Carlos André destaca que esta medalha se deve também a um intenso trabalho de equipa. “Esta medalha estende-se a muita gente, pois nada disto seria possível sem o IPM, que me convidou para exercer estas funções, e toda a equipa que trabalhou comigo. É um orgulho que tenho, mas que partilho. Já não estou em Macau há um ano e fico surpreendido”, adiantou. Conselho distinguido Chui Sai On distinguiu ainda dois empresários e membros do Conselho Executivo com o Lótus de Ouro. Liu Chak Wan e Ma Iao Lai vão ser distinguidos com o Lótus de Ouro, de acordo com a lista de 44 personalidades e entidades que vão receber, em Novembro, medalhas e títulos honoríficos. Membro do Comité Permanente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, o empresário Liu Chak Wan preside ao Banco de Desenvolvimento de Macau, sendo também presidente da Associação Comercial de Macau. As seis medalhas de prata vão ser entregues ao advogado macaense Leonel Alves, que esteve 33 anos na Assembleia Legislativa, ao ex-deputado Cheang Chi Keong, à política Ho Sut Heng, ao arquitecto Wong Eddie Yue Kai, ao actual deputado Chan Chak Mo e ainda à Nam Kwong União Comercial e Industrial, Limitada. Ao HM, Chan Chak Mo disse que esta medalha pode ser o resultado de um trabalho desenvolvido como político e empresário. “Foi algo inesperado. Sinto-me honrado, claro. Talvez seja uma combinação do trabalho que tenho vindo a desenvolver como empresário e político, talvez a minha contribuição para a AL e também para o Conselho Executivo, e para a indústria de comidas e bebidas.” A empresária Pansy Ho, filha do magnata do jogo Stanley Ho, será distinguida com a medalha de mérito turístico. Desde 2018, Ho é embaixadora da Organização Mundial do Turismo, agência especializada da ONU. Dentro da comunidade portuguesa, António Manuel Pereira e Rui Peres do Amaral foram distinguidos com a medalha de dedicação. A ANIMA – Sociedade Protectora dos Animais de Macau, presidida por Albano Martins, ganhou a medalha de mérito altruístico.
Andreia Sofia Silva SociedadeMedalhas de mérito | Distinguidos destacam foco dado à língua portuguesa A meses de deixar o Governo, Chui Sai On decidiu atribuir medalhas a membros do Conselho Executivo, mas também a figuras fortemente ligadas ao ensino do português em Macau, como é o caso de Carlos André e Manuel Machado. O presidente da Escola Portuguesa de Macau assegura que esta distinção é também um reconhecimento do trabalho desenvolvido pela própria escola [dropcap]M[/dropcap]anuel Machado, presidente da Escola Portuguesa de Macau (EPM), foi distinguido pelo Governo da RAEM com a medalha de mérito educativo, sendo uma das inúmeras personalidades distinguidas por Chui Sai On antes de deixar o cargo de Chefe do Executivo. A cerimónia de atribuição de medalhas acontece em Novembro. Ao HM, o presidente da EPM disse que esta distinção visa também o trabalho que a escola tem vindo a desenvolver. “Sinto-me honrado e orgulhoso pelo facto do Governo da RAEM me ter atribuído esta medalha, que considero ser o reconhecimento de uma carreira, que já tem mais de 40 anos, dedicada à educação e passada maioritariamente em Macau.” Além disso, “esta medalha é também a forma de o Governo da RAEM, mais uma vez, reconhecer a importância que a EPM tem no contexto do sistema educativo da RAEM também pela importância que tem na difusão da língua e cultura portuguesa”, frisou Manuel Machado. Outra personalidade ligada ao ensino do português foi Carlos André, ex-coordenador do Centro Pedagógico e Científico de Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau (IPM), que viu ser-lhe atribuída a medalha de mérito cultural. “Fiquei satisfeito e orgulhoso porque é o reconhecimento pelo trabalho realizado nos últimos seis anos a favor da língua portuguesa, um trabalho de estreitamento de laços entre Macau, China e Portugal, e que se passou muito no interior da China”, contou Carlos André ao HM. Actualmente a residir em Portugal, Carlos André destaca que esta medalha se deve também a um intenso trabalho de equipa. “Esta medalha estende-se a muita gente, pois nada disto seria possível sem o IPM, que me convidou para exercer estas funções, e toda a equipa que trabalhou comigo. É um orgulho que tenho, mas que partilho. Já não estou em Macau há um ano e fico surpreendido”, adiantou. Conselho distinguido Chui Sai On distinguiu ainda dois empresários e membros do Conselho Executivo com o Lótus de Ouro. Liu Chak Wan e Ma Iao Lai vão ser distinguidos com o Lótus de Ouro, de acordo com a lista de 44 personalidades e entidades que vão receber, em Novembro, medalhas e títulos honoríficos. Membro do Comité Permanente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, o empresário Liu Chak Wan preside ao Banco de Desenvolvimento de Macau, sendo também presidente da Associação Comercial de Macau. As seis medalhas de prata vão ser entregues ao advogado macaense Leonel Alves, que esteve 33 anos na Assembleia Legislativa, ao ex-deputado Cheang Chi Keong, à política Ho Sut Heng, ao arquitecto Wong Eddie Yue Kai, ao actual deputado Chan Chak Mo e ainda à Nam Kwong União Comercial e Industrial, Limitada. Ao HM, Chan Chak Mo disse que esta medalha pode ser o resultado de um trabalho desenvolvido como político e empresário. “Foi algo inesperado. Sinto-me honrado, claro. Talvez seja uma combinação do trabalho que tenho vindo a desenvolver como empresário e político, talvez a minha contribuição para a AL e também para o Conselho Executivo, e para a indústria de comidas e bebidas.” A empresária Pansy Ho, filha do magnata do jogo Stanley Ho, será distinguida com a medalha de mérito turístico. Desde 2018, Ho é embaixadora da Organização Mundial do Turismo, agência especializada da ONU. Dentro da comunidade portuguesa, António Manuel Pereira e Rui Peres do Amaral foram distinguidos com a medalha de dedicação. A ANIMA – Sociedade Protectora dos Animais de Macau, presidida por Albano Martins, ganhou a medalha de mérito altruístico.
Andreia Sofia Silva EntrevistaAna Soares, candidata pelo PS pelo Círculo Fora da Europa: “Comunidade lusa tem sido respeitada” A advogada Ana Soares, residente em Macau, integra a lista encabeçada por Augusto Santos Silva pelo Partido Socialista para as eleições legislativas pelo Círculo Fora da Europa. Ana Soares diz que o novo pólo da Escola Portuguesa de Macau vai ajudar a dinamizar o projecto educativo em causa e recorda que é necessário um estreito acompanhamento por parte das autoridades portuguesas do que se passa em Macau dentro do quadro da Lei Básica [dropcap]A[/dropcap]ssume que o programa político do Partido Socialista (PS) para as eleições legislativas para a Assembleia da República (AR) portuguesa, que decorrem este domingo, não versa sobre questões específicas relacionadas com a Escola Portuguesa de Macau (EPM) ou sobre assuntos relacionados com a classe jurídica de Macau ou o Direito local. Ainda assim, Ana Soares, advogada que integra a lista pelo Círculo Fora da Europa liderada por Augusto Santos Silva, que tem desempenhado as funções de ministro dos Negócios Estrangeiros, defende, em entrevista ao HM, que a expansão da EPM nos novos aterros “representará a criação de mais e melhores condições de expansão do projecto educativo da EPM e a consolidação da língua portuguesa como língua oficial da RAEM”. Questionada sobre a necessidade de se prestar mais atenção sobre a manutenção do Direito de Macau ou a celebração de acordos entre Macau e Portugal, tal como o acordo de extradição de infractores em fuga, Ana Soares assegurou que, mesmo sem especificidades no programa eleitoral, há um papel a desempenhar pelos deputados. “A AR e, em especial, os deputados eleitos pela emigração terão, no âmbito da sua função de fiscalização das leis e dos tratados, na execução daqueles acordos e de outros acordos internacionais que venham a ser celebrados, o poder de sindicar o cumprimento escrupuloso da Constituição e dos princípios de Direito Penal vigentes em Portugal, pois tais acordos só podem ser aplicados no estreito cumprimento dos princípios do Direito Penal e da Constituição portuguesa.” Apesar de ser um território que sempre conheceu uma elevada abstenção, Macau pode registar “uma melhoria qualitativa assinalável nestas eleições” ao nível da “intervenção cívica, do sentido de pertença e da participação na vida política dos emigrantes portugueses nos quatro cantos do mundo”. Ana Soares recorda a importância do recenseamento automático para todos os portadores do cartão de cidadão. Tal fez com que o universo de eleitores na Europa e fora dela passasse dos 300 mil para 1 milhão e 400 mil. Consulados reforçados Apesar de se manterem as filas no consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Ana Soares assegura que um dos objectivos do PS é continuar a reforçar essa rede consular. Do programa eleitoral, a candidata destaca a intenção de “reestruturação global da rede consular e serviços consulares e a implementação de um novo modelo de gestão consular para a melhoria do tempo de resposta dos utentes”. São também objectivos “o apoio ao movimento associativo e de preservação do património cultural da diáspora, a renovação e modernização das redes do ensino português no estrangeiro e ainda o programa Regressar, de apoio a todos os emigrantes que pretendam de novo residir e fixar-se em Portugal”. Face à presença da língua portuguesa em Macau, Ana Soares lembrou que “o uso do idioma não passa exclusivamente pela EPM, mas também pelo ensino do português como língua curricular nos vários graus de ensino da RAEM”, sem esquecer as instituições do ensino superior e o Instituto Português do Oriente (IPOR). Lembrando o projecto de expansão do IPOR para Pequim, além de outras apostas nesta área que acontecem na China, Ana Soares aponta que a língua portuguesa continua a ser bastante procurada em alguns sectores económicos de Macau. “Outra vertente é o ensino do português direccionado para sectores específicos de actividade, sendo grande a procura, por entidades públicas e privadas da RAEM, desses cursos para fins específicos na área da linguagem em áreas como economia, saúde ou direito.” A candidata pelo PS recorda ainda que “para os alunos de português como língua estrangeira é de importância crucial a possibilidade de poderem aceder à certificação internacional”. Neste sentido, a estratégia do PS para o Círculo Fora da Europa, e especificamente para Macau, é dar “apoio a este contexto diversificado do ensino do português na RAEM e na RPC, conjugado com incentivos à produção e intercâmbio cultural com agentes locais e na preservação do património cultural da diáspora portuguesa”. Olhar Macau No ano em que se celebra o 20.º aniversário de transferência de soberania de Macau para a China, Ana Soares frisa que “a comunidade portuguesa em Macau tem sido em geral respeitada e considerada uma mais valia pelo Governo da RAEM, até porque é uma comunidade que pela sua formação seria uma mais valia em qualquer país ou região”. Ainda assim, “não quer isto dizer que no dia a dia não existam situações que não conseguimos explicar à luz das declarações públicas, nomeadamente do Chefe do Executivo, sobre o grande contributo que tem sido dado à RAEM pela comunidade portuguesa nos últimos 20 anos”. Perante estes casos específicos, “a intervenção do Governo português tem de ser feita pelos canais próprios, manifestando às autoridades da RAEM os pontos de preocupação e concertando as soluções de correcção necessárias na defesa dos interesses da comunidade portuguesa em Macau”, frisou. Para que se efectue essa monitorização, à luz do cumprimento da política ‘Um País, Dois Sistemas’, deve ser estabelecida também uma “estreita ligação com as associações de matriz portuguesas que trabalham no terreno, para que a Declaração Conjunta e a Lei Básica de Macau sejam escrupulosamente cumpridas, e os direitos dos portugueses e lusodescendentes e o seu específico modo de vida preservados. Esse é o compromisso solene expresso pelo cabeça de lista do PS pelo Círculo Fora da Europa”, rematou. Esta semana, Ana Soares reuniu com a Associação dos Jovens Macaenses e Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), com o objectivo de “recolher sugestões e ouvir as suas preocupações e assim estabelecer pontes com o Governo Português”.
Hoje Macau PolíticaRPC / 70 anos| Chui Sai On emocionado com discurso de Xi Jinping [dropcap]O[/dropcap] Chefe do Executivo regressou ontem a Macau depois de ter assistido em Pequim às comemorações do 70º aniversário da implantação da República Popular da China. Ainda na capital chinesa, Chui Sai On revelou “a emoção que sentiu ao ouvir o discurso do Presidente Xi Jinping, para além de testemunhar a união e solidariedade de todos os grupos étnicos chineses do País”. De acordo com um comunicado do gabinete do porta-voz do Governo, Chui Sai On mostrou-se emocionado e “muito feliz por testemunhar o desenvolvimento do País, erguido, enriquecido e fortalecido ao longo dos anos, e manifestou o seu desejo de ver a Pátria alcançar muito mais sucesso no futuro”. O Chefe do Executivo referiu que Macau tem uma gloriosa tradição de patriotismo e amor à pátria e que desempenhou, ao longo de várias etapas, um papel no desenvolvimento da China Moderna. Particularmente depois da transferência de soberania, Macau tem acompanhado o desenvolvimento nacional e tem sido testemunha e beneficiário da prosperidade e desenvolvimento da China. O deputado Ho Ion Sang integrou a comitiva encabeçada por Chui Sai On e salientou a emoção de assistir pela primeira vez à marcha militar enquanto membro do Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC). O legislador ligado aos Kaifong destacou o contributo histórico da CCPPC como uma base essencial para o progresso da China, que entende ter eliminado completamente o “século de humilhação nacional”. Além disso, Ho Ion Sang referiu, de acordo com o Jornal do Cidadão, que as celebrações mostraram ao mundo que as grandes conquistas e o fortalecimento das forças militares são resultado do crescimento nacional, a materialização do sonho chinês e a revitalização da nação.
Hoje Macau PolíticaRPC / 70 anos| Chui Sai On emocionado com discurso de Xi Jinping [dropcap]O[/dropcap] Chefe do Executivo regressou ontem a Macau depois de ter assistido em Pequim às comemorações do 70º aniversário da implantação da República Popular da China. Ainda na capital chinesa, Chui Sai On revelou “a emoção que sentiu ao ouvir o discurso do Presidente Xi Jinping, para além de testemunhar a união e solidariedade de todos os grupos étnicos chineses do País”. De acordo com um comunicado do gabinete do porta-voz do Governo, Chui Sai On mostrou-se emocionado e “muito feliz por testemunhar o desenvolvimento do País, erguido, enriquecido e fortalecido ao longo dos anos, e manifestou o seu desejo de ver a Pátria alcançar muito mais sucesso no futuro”. O Chefe do Executivo referiu que Macau tem uma gloriosa tradição de patriotismo e amor à pátria e que desempenhou, ao longo de várias etapas, um papel no desenvolvimento da China Moderna. Particularmente depois da transferência de soberania, Macau tem acompanhado o desenvolvimento nacional e tem sido testemunha e beneficiário da prosperidade e desenvolvimento da China. O deputado Ho Ion Sang integrou a comitiva encabeçada por Chui Sai On e salientou a emoção de assistir pela primeira vez à marcha militar enquanto membro do Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC). O legislador ligado aos Kaifong destacou o contributo histórico da CCPPC como uma base essencial para o progresso da China, que entende ter eliminado completamente o “século de humilhação nacional”. Além disso, Ho Ion Sang referiu, de acordo com o Jornal do Cidadão, que as celebrações mostraram ao mundo que as grandes conquistas e o fortalecimento das forças militares são resultado do crescimento nacional, a materialização do sonho chinês e a revitalização da nação.
Hoje Macau Manchete PolíticaLegislativas | PS participa de ATFPM à Comissão Nacional de Eleições O Partido Socialista apresentou uma queixa contra a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau à Comissão Nacional de Eleições e pediu a abertura de um inquérito relativo a alegadas “situações anómalas”. Os socialistas queixam-se de telefonemas da associação presidida por Pereira Coutinho para ajudar na votação por correspondência [dropcap]O[/dropcap] Partido Socialista (PS) apresentou uma participação contra a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) por alegadas “situações anómalas” relacionadas com o envio dos votos por correspondência para as legislativas de Outubro. A participação, assinada pelo mandatário pelo círculo eleitoral Fora da Europa, Paulo Pisco, foi enviada na segunda-feira à Comissão Nacional de Eleições e pede “a abertura de inquérito para apurar os factos”. De acordo com a carta, a que a agência Lusa teve acesso, o PS em Macau tomou conhecimento de que “a ATFPM está a contactar, pelo telemóvel, potenciais votantes nas eleições legislativas portuguesas (…) para ajudar no processo e encaminhar os votos pelo correio para Portugal”. “A secção local do PS foi abordada por várias pessoas que disseram ter recebido chamadas e a quem interlocutores, afirmando que falam pela ATFPM, terão dito que podiam trazer as cartas com os boletins de voto à sede da ATFPM, que eles tratavam de tudo, o que, evidentemente, poderá pôr em causa a confidencialidade e a pessoalidade do voto”, indicou. Colisão a oriente Paulo Pisco acrescentou que em alguns casos “as chamadas telefónicas terão sido realizadas em língua chinesa, o que indiciará uma tentativa de se aproveitar da boa fé dos que, sendo portadores da cidadania portuguesa, já perderam, porém, o vínculo linguístico com Portugal”. O mandatário da lista, encabeçada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, lembrou ainda que a ATFPM “recebe subsídios do Governo da RAEM” [Região Administrativa Especial de Macau], e os “presidentes da Assembleia Geral e da Direcção-Geral são também Conselheiros das Comunidades Portuguesas em Macau”, numa referência a Rita Santos e José Pereira Coutinho, respectivamente. A Lusa tentou contactar sem êxito os dois dirigentes da ATFPM.
Hoje Macau Manchete PolíticaLegislativas | PS participa de ATFPM à Comissão Nacional de Eleições O Partido Socialista apresentou uma queixa contra a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau à Comissão Nacional de Eleições e pediu a abertura de um inquérito relativo a alegadas “situações anómalas”. Os socialistas queixam-se de telefonemas da associação presidida por Pereira Coutinho para ajudar na votação por correspondência [dropcap]O[/dropcap] Partido Socialista (PS) apresentou uma participação contra a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) por alegadas “situações anómalas” relacionadas com o envio dos votos por correspondência para as legislativas de Outubro. A participação, assinada pelo mandatário pelo círculo eleitoral Fora da Europa, Paulo Pisco, foi enviada na segunda-feira à Comissão Nacional de Eleições e pede “a abertura de inquérito para apurar os factos”. De acordo com a carta, a que a agência Lusa teve acesso, o PS em Macau tomou conhecimento de que “a ATFPM está a contactar, pelo telemóvel, potenciais votantes nas eleições legislativas portuguesas (…) para ajudar no processo e encaminhar os votos pelo correio para Portugal”. “A secção local do PS foi abordada por várias pessoas que disseram ter recebido chamadas e a quem interlocutores, afirmando que falam pela ATFPM, terão dito que podiam trazer as cartas com os boletins de voto à sede da ATFPM, que eles tratavam de tudo, o que, evidentemente, poderá pôr em causa a confidencialidade e a pessoalidade do voto”, indicou. Colisão a oriente Paulo Pisco acrescentou que em alguns casos “as chamadas telefónicas terão sido realizadas em língua chinesa, o que indiciará uma tentativa de se aproveitar da boa fé dos que, sendo portadores da cidadania portuguesa, já perderam, porém, o vínculo linguístico com Portugal”. O mandatário da lista, encabeçada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, lembrou ainda que a ATFPM “recebe subsídios do Governo da RAEM” [Região Administrativa Especial de Macau], e os “presidentes da Assembleia Geral e da Direcção-Geral são também Conselheiros das Comunidades Portuguesas em Macau”, numa referência a Rita Santos e José Pereira Coutinho, respectivamente. A Lusa tentou contactar sem êxito os dois dirigentes da ATFPM.
João Santos Filipe SociedadeJason Chao diz que decisão do TUI coloca Macau mais longe do mundo civilizado [dropcap]O[/dropcap] activista Jason Chao considera que a decisão do Tribunal de Última Instância (TUI) coloca o sistema jurídico da RAEM mais longe do mundo civilizado e atribui poderes à polícia para censurar o direito à manifestação e de expressão. Foi desta forma que o pró-democrata reagiu à proibição do TUI face ao seu pedido de manifestação que tinha como objectivo “exortar os órgãos policiais (sobretudo de Hong Kong)” a respeitarem a Convenção contra a Tortura. “A parte mais perigosa do acórdão é que o TUI tornou as decisões oficiais [de instituições públicas] um pré-requisito para as pessoas poderem exercer o direito à manifestação”, escreveu Jason Chao, sobre o facto do TUI exigir que para poder haver críticas à actuação da polícia da RAEHK é necessária uma decisão nesse sentido dos órgãos de poder e soberania. “Esta decisão garante de forma efectiva poderes sem qualquer restrição à polícia de Macau para exercer censura com bases nos temas das manifestações e reuniões, de uma forma […] que pode ser considerada ‘contra a própria lei’”, acrescentou. Para a História O ex-membro da Associação Novo Macau vai ainda mais longe: “Esta é uma decisão que se afasta da jurisprudência relacionada com a liberdade de expressão, liberdade de reunião e manifestação e proibição de tortura dos tribunais altamente respeitados a nível internacional e regional”, indica. “O Tribunal de Última Instância (TUI) coloca o sistema jurídico de Macau mais longe dos sistemas do mundo civilizado. A violação flagrante dos direitos fundamentais faz de Macau um exemplo cada vez menos convincente do princípio ‘um país, dois sistemas’”, sublinhou. Por outro lado, Jason Chao recusou a ideia da condenação da tortura ser uma questão de “orientação política”, mas que é antes “uma questão de consciência”. Finalmente, o activista agradece ao juiz Viriato Lima “pelo profissionalismo” e diz acreditar que “a História vai apreciar o valor desta opinião dissidente”. A crítica de Paulo Cardinal O jurista Paulo Cardinal criticou a fundamentação do Tribunal de Última Instância (TUI), em declarações à Rádio Macau, na decisão em que se proibiu a manifestação que visava a polícia de Hong Kong. Segundo Cardinal, a fundamentação “é pobre” e “nada digna de um alto tribunal e portador das interrogações quanto ao papel do judicial no sistema político na RAEM”. O jurista considerou ainda que o dia da decisão sinalizou “um dia triste e preocupante para os valores e princípios estruturais que devem guiar o poder judicial em Macau”. Cardinal apontou igualmente que “qualquer jurista competente e isento só pode discordar” do acórdão e “aderir, naturalmente, ao voto de vencido”.
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Denise Ho triste com a proibição de vigília no Leal Senado A activista e cantora Denise Ho ficou triste por as autoridades de Macau terem travado a manifestação contra a violência policial em Hong Kong. Em entrevista à Lusa, a pró-democrata confessa que todos os dias enfrenta o pesadelo de ser presa devido à posição política que assumiu [dropcap]A[/dropcap] activista pró-democracia Denise Ho disse, em entrevista à agência Lusa, que “é muito triste” que as autoridades de Macau tenham travado uma manifestação sobre os protestos em Hong Kong. “Sei que algumas pessoas em Macau quiseram fazer uma manifestação ou uma marcha, mas foram travadas”, o que “é muito triste”, afirmou a cantora que, nos últimos três meses, discursou na ONU e no Congresso norte-americano, em defesa do movimento pró-democracia. Em entrevista à Lusa, na véspera da celebração dos 70 anos da fundação da República Popular da China que se assinalaram terça-feira, defendeu que “as pessoas têm de acreditar no poder da solidariedade” e que “muitas coisas podem ser feitas de uma forma relativamente segura”. Contudo, ressalvou, “isso exige que as pessoas usem a sua criatividade e imaginação como a população de Hong Kong mostrou ao mundo”, para insistir numa prioridade: “a segurança está em primeiro lugar”. A 3 de Setembro, o Governo negou qualquer acção de censura política no território a acções de apoio aos protestos em Hong Kong, garantindo que se mantém salvaguardado o direito à manifestação e liberdade de expressão. “Não é censura política”, a actuação da polícia “baseou-se sempre em factos objectivos”, defendeu então o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak. Em causa estão pelo menos três episódios, em Agosto. Primeiro, a proibição de uma manifestação e posterior actuação policial no dia e no local para onde estava convocada o protesto contra a brutalidade em Hong Kong. Depois, a deslocação da polícia ao Instituto de Formação Turística (IFT) porque dois estudantes empunhavam cartazes de apoio às reivindicações pró-democracia na região vizinha. Outro, no mesmo contexto dos protestos de Hong Kong, diz respeito a quatro pessoas que foram abordadas pela polícia porque se encontravam a fazer colagens no espaço público, sem que tenham ficado detidos, afiançou o secretário para a Segurança. Problema de mensagem O caso mais mediático ocorreu em 19 de Agosto, já depois do Corpo da Polícia de Segurança Pública ter proibido naquele dia um protesto pacífico silencioso, no centro de Macau, contra o uso excessivo de força por parte das forças de segurança de Hong Kong sobre os manifestantes pró-democracia. Em 15 de Agosto, a polícia alegou que não podia autorizar uma iniciativa de apoio ao que considerou serem “actos ilegais” cometidos pelos manifestantes em Hong Kong e que tal “poderia enviar uma mensagem errada à sociedade de Macau”. Quatro dias depois, montou uma operação no local durante a qual 600 pessoas foram abordadas para identificação, sete das quais foram levadas para interrogatório, com as forças de segurança a sublinharem que não houve lugar a qualquer detenção. Tormento diário A cantora e activista disse ainda que pensa “quase todas as semanas, se não todos os dias” que pode ser a próxima a ser detida por apoiar os protestos em Hong Kong. “É uma ameaça que existe desde o início de Junho [quando a contestação começou], mas tento que isso não seja algo que me trave”, afirmou no dia em que vários outros activistas foram detidos pela polícia. “Estamos numa situação cada vez mais difícil”, com “quase duas mil detenções” durante estas 17 semanas consecutivas de protesto, lamentou a cantora. A artista, cujo activismo político a deixou fora do gigantesco circuito comercial chinês, mas conseguiu transformá-la numa das vozes mais importantes ligadas aos protestos pró-democracia sustentou que “as autoridades estão a utilizar este tipo de tácticas para oprimir e intimidar as pessoas. [E isso demonstra] que o Governo de Pequim tem medo das pessoas (…) e do movimento”. No domingo foi alvo de um ataque por dois homens em Taiwan quando se preparava para participar numa acção de apoio aos protestos em Hong Kong, tendo sido atingida com tinta vermelha na cabeça. Um acto cometido por dois membros de um partido pró-Pequim, acusou, e que já foram identificados, assinalou. Denise Ho disse que tem sido alvo de “ameaças indirectas junto de amigos, (…) pela máquina de propaganda [comunista] e de ataques verbais ‘online’”. “É uma ameaça muito real. E por ter falado nas Nações Unidas e (…) no Congresso dos EUA estou ciente de estar no topo das pessoas que são um alvo”, mas “como figura pública (…) tenho uma responsabilidade”, frisou.