João Santos Filipe PolíticaGabinete de Ligação | Director morre após queda de apartamento Autoridades do Interior da China dizem que Zheng Xiaosong lutava contra uma depressão. Já a Polícia Judiciária não revela se está a investigar a morte do governante, mas ontem de manhã o acesso ao edifício onde morava o ex-representante do Governo Central esteve barrado [dropcap]O[/dropcap] director do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau, Zheng Xiaosong, morreu no sábado à noite, com 59 anos, depois ter caído da residência no Edifício Hung On, que fica situado ao Casino Golden Dragon, no ZAPE. A informação foi anunciada pelo Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado, ontem de manhã. Segundo a informação disponibilizada pelas autoridades do Interior da China, Zheng Xiaosong lutava contra “uma depressão”, que terá estado na origem do ocorrido. No comunicado, foi ainda esclarecido que após ter tido conhecimento do acidente, os responsáveis do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado enviaram para Macau uma comitiva, com o objectivo de apresentar às condolências à família enlutada. O HM tentou obter mais informações sobre o incidente junto da Polícia Judiciária (PJ), que ontem ao final da noite não forneceu qualquer detalhe sobre o incidente. Também o director da PJ, Sit Chong Meng, foi confrontado pelos jornalistas, ontem de manhã, mas recusou comentar a existência de qualquer investigação ou divulgar informação extra. Contudo, de acordo com a TVB, estação televisiva de Hong Kong, durante a manhã foram intensas as actividades realizadas pelas autoridades junto do Edifício Hung On, com o acesso ao prédio onde morava Zheng a ser barrado. “Profunda consternação” Após ter sido divulgada a notícia, foram várias as reacções de governantes de Macau como de Hong Kong. Ainda durante a manhã, o Chefe do Executivo mostrou-se consternado com o ocorrido. “Foi com profunda consternação que recebi a notícia da morte do director Zheng Xiaosong. Manifesto, em nome pessoal e em nome do Governo da Região Administrativa Especial de Macau, o mais profundo pesar e endereço as nossas sentidas condolências à sua família”, afirmou, em comunicado. Também o presidente da Assembleia Legislativa, Ho Iat Seng, divulgou uma mensagem de condolências, mas ao contrário de Chui Sai On, apenas disponibilizou a versão em chinês, apesar de ter sido divulgada uma mensagem sem conteúdo na plataforma de comunicação com os órgãos de comunicação social. De acordo com o texto da carta daquele que é apontado como o futuro Chefe do Executivo, Ho expressou as suas condolências em nome da Assembleia Legislativa. Na região vizinha, também a Chefe do Executivo, Carrie Lam, comentou a morte do governante chinês. “Zheng tinha trabalhado anteriormente em Hong Kong e sempre mostrou uma grande preocupação com o desenvolvimento da cidade. Foi com um grande pesar que fui informada desta partida inesperada”, declarou Lam. Encontro com Si Ka Lon Na manhã anterior à sua morte, ou seja na sexta-feira, o director do Gabinete de Ligação tinha estado reunido, na sede, com um grupo de reflexão local presidido por Si Ka Lon com o nome “Usina de Ideias dos Cidadãos Unidos”. O encontro foi divulgado no portal do Gabinete de Ligação e entre os temas abordados esteve a actividade do grupo de reflexão, tendo Zheng sublinhado a necessidade de contribuir para a promoção do Princípio Amar a China, Amar Macau e da implementação de Um País, Dois Sistemas. Esta foi a última aparição pública do director do Gabinete de Ligação. Zheng estava na liderança da instituição desde 22 de Setembro do ano passado e na altura foi escolhido para substituir Wang Zhimin, que tinha sido promovido ao cargo de representante de Hong Kong em Pequim. O ex-director do Gabinete de Ligação era natural de Shijiazhuang, na Província de Hebei, e era membro do Partido Comunista desde 1986. Antes disso, tinha estudado na Universidade de Oslo, na Noruega, e na Universidade de Oxford, em Inglaterra. Desempenhou também cargos na Agência Noticiosa Xinhua em Hong Kong, no período que antecedeu a transição da administração da colónia britânica, e ainda no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Zheng foi ainda vice-governador da Província de Fujian até 2017.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Explosão deixa mais de 20 mineiros presos [dropcap]V[/dropcap]inte e dois mineiros ficaram presos numa mina de carvão na província de Shandong, no leste da China, na sequência de uma explosão que causou a liberação de uma rocha, informaram hoje as autoridades locais. O acidente ocorreu por volta da meia-noite num mina localizada no distrito de Yuncheng daquela província. As autoridades locais indicaram que o sistema de ventilação da mina voltou a funcionar após o acidente e que a operação de resgate está em curso. No início de Agosto, 13 mineiros morreram em resultado de uma explosão numa mina no sul da China. As minas chinesas, especialmente as de carvão – a principal fonte de energia país -, estão entre as mais perigosas do mundo, embora nos últimos anos se tenha verificado um significativo decréscimo no número de mortes. Em 2017, apenas nas minas de carvão chinesas foram registados 219 acidentes que causaram 375 mortos, um decréscimo de 28,7% cento em relação a 2016 e quase 20 vezes menos do que no início da década passada, quando se verificavam sete mil mortes todos os anos.
Hoje Macau PolíticaVisita MNE | Portugal e China ultimam acordo sobre infra-estruturas [dropcap]P[/dropcap]ortugal e a China estão a ultimar um memorando de entendimento no âmbito da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, centrada no investimento de infra-estruturas, anunciou em Macau o ministro dos Negócios Estrangeiros português. Augusto Santos Silva não adiantou se este memorando pode vir a ser assinado durante a visita oficial do Presidente chinês Xi Jinping a Portugal, anunciada para 4 e 5 de Dezembro, sendo que mais de três dezenas de Estados já assinaram acordos de cooperação relevantes com a China no quadro deste projecto. Em Macau, onde realiza uma visita oficial, o governante sublinhou o interesse de Portugal em contribuir na iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, proposta em 2013 pelo Presidente chinês e que tem como objectivo reforçar as ligações e dinamizar o comércio entre várias economias da Ásia, do Médio Oriente, da Europa e de África, através do investimento em infraestruturas. Santos Silva destacou a importância do porto de Sines, que considera estratégico do ponto de vista de ligação aos continentes africano, americano e da conectividade euro-asiática, num momento em que o Governo português se prepara para lançar um concurso internacional que garanta o alargamento do terminal de contentores, actualmente gerido por uma empresa de Singapura. “É um porto de águas profundas, o porto europeu mais perto do Canal do Panamá, com uma mais-valia logística já que permite o ‘transshipment’, uma operação que permite poupar muito tempo e custos, que tem crescido a uma taxa muito interessante”, acrescentou. As importações intermediadas pelos portos comerciais do Continente português atingiram em 2017 um valor recorde, destacando-se o contributo do porto de Sines, com uma quota de 56,1%, e registando uma evolução média anual de 9,4% nos últimos cinco anos. As declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros foram realizadas numa conferência de imprensa no Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, após uma reunião entre empresários e conselheiros da comunidade portuguesa.
Hoje Macau PolíticaVisita MNE | Marcelo Rebelo de Sousa visitará China em breve [dropcap]O[/dropcap]ministro Augusto Santos Silva indicou que a visita de Xi Jinping a Portugal vai ter lugar a 4 e 5 de Dezembro e que o Presidente da República vai “retribuir brevemente” a deslocação do líder chinês com uma visita de Estado à China. As declarações de Santos Silva foram realizadas no final da 5.ª Reunião da Comissão Mista Macau-Portugal, que decorreu na sede do Governo de Macau, numa conferência de imprensa na qual só foi permitido colocar uma questão ao ministro, que chefiou a delegação portuguesa, e ao chefe do executivo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), Chui Sai On. Nos últimos anos tem-se verificado “uma intensidade no relacionamento político e diplomático”, sublinhou o governante português. “Esperamos ansiosamente a visita de Estado do Presidente chinês Xi Jinping a 4 e 5 de Dezembro”, acrescentou. Augusto Santos Silva adiantou ainda que o Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, vai estar em Novembro na China. O ministro dos Negócios Estrangeiros chefia uma delegação numa visita oficial à China que teve início na sexta-feira e termina no domingo. A delegação inclui o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, o embaixador de Portugal em Pequim, José Augusto Duarte, o director-geral de Política Externa do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Pedro Costa Pereira, e o presidente do conselho de administração da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Luís Castro Henriques. Ontem Santos Silva co-presidiu à 5.ª Reunião da Comissão Mista Macau-Portugal, para analisar os resultados das relações bilaterais e perspectivar o aprofundamento da colaboração entre a RAEM e Portugal.
Hoje Macau PolíticaVisita MNE | Portugal e Macau cooperam em cinco áreas [dropcap]O[/dropcap]ministro dos Negócios Estrangeiros português anunciou um acordo com as autoridades de Macau sobre cinco projectos comuns de cooperação entre aquele território e Portugal nas áreas de economia, educação, ciência e tecnologia. Os cinco projectos, “muito concretos”, no “âmbito de uma agenda de colaboração” prendem-se, adiantou Augusto Santos Silva, com a cooperação na área da defesa dos consumidores, “na intensificação da presença de empresas portuguesas em Macau”, na criação de um fundo comum destinado a apoiar projectos na área da ciência e tecnologia (a lançar até ao final do ano), no âmbito da mobilidade no ensino superior, no reconhecimento recíproco de graus académicos. As declarações de Santos Silva foram realizadas no final da 5.ª Reunião da Comissão Mista Macau-Portugal, que decorreu na sede do Governo de Macau, numa conferência de imprensa na qual só foi permitido colocar uma questão ao ministro, que chefiou a delegação portuguesa, e ao Chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), Chui Sai On. O governante encontra-se no segundo dia de uma visita oficial a Macau, a chefiar uma delegação que inclui o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, o embaixador de Portugal em Pequim, José Augusto Duarte, o director-geral de Política Externa do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Pedro Costa Pereira, e o presidente do conselho de administração da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Luís Castro Henriques. Santos Silva destacou “a colaboração de trabalho conjunto entre duas entidades que se conhecem muito bem historicamente”, um facto que tem permitido, explicou, potenciar as relações económicas com Portugal e com os países de língua portuguesa. Em Macau o ministro dos Negócios Estrangeiros defendeu que Lisboa e Pequim “comungam” de uma mesma “agenda multilateral, (…) do Direito internacional e do desenvolvimento sustentável”, que ambos os países “combatem o proteccionismo” e partilham da mesma visão sobre as alterações climáticas, um “grande desafio para a humanidade”. O chefe do Governo de Macau, por seu lado, salientou “os amplos consensos alcançados” na reunião sobre “planos futuros de cooperação prioritários”, em especial na área da educação e da economia. Santos Silva e Chui sai On copresidiram à 5.ª Reunião da Comissão Mista Macau-Portugal, para analisar os resultados das relações bilaterais e perspectivar o aprofundamento da colaboração entre a RAEM e Portugal. A Comissão Mista Macau-Portugal foi estabelecida pelo Acordo Quadro de Cooperação entre a RAEM e Portugal. A última reunião tinha tido lugar em Portugal, em 2016.
Andreia Sofia Silva EventosBlogue Macau Antigo faz dez anos e oferece aos leitores 100 livros sobre o território [dropcap]C[/dropcap]riado em 2008 pelo jornalista João Botas, o blogue Macau Antigo comemora este ano dez anos de existência. Para celebrar a efeméride, o também autor de vários livros sobre a história de Macau vai oferecer uma centena de livros sobre o território, em parceria com a Fundação Casa de Macau. Para que os leitores possam participar nesta iniciativa, basta enviarem uma frase sobre o blogue, juntamente com o nome e morada, entre os dias 1 e 30 de Novembro, para o email do autor do blogue:macauantigo@gmail.com. Os primeiros 100 leitores a enviar uma frase vão receber um livro. “Dez anos são iguais a 120 meses, qualquer coisa como 520 semanas ou 3650 dias… praticamente o mesmo número de posts publicados até agora (quase 4 mil), incluindo diverso material inédito, consolidando cada vez mais este projecto como o maior acervo documental online sobre a história de Macau, disponível 24 por dia em várias línguas e em todo o mundo”, defendeu João Botas. Neste período de tempo o Macau Antigo teve cerca de milhão e meio de visitantes, “a maioria oriundos de Portugal, Macau, Estados Unidos, Brasil, Hong Kong, Canadá e Austrália”. Nas redes sociais, o blogue é seguido por mais de três mil pessoas.
Sofia Margarida Mota SociedadeAlterações fiscais no interior da China não afectam residentes [dropcap]O[/dropcap]s residentes de Macau que trabalham na China não precisam de se preocupar com as alterações legislativas ao regime que regula o imposto de rendimento das pessoas singulares da República Popular da China. A garantia foi dada em Pequim pelo ministro das Finanças, Liu Kun, a Lionel Leong, secretário para a Economia e Finanças, refere um comunicado do gabinete do secretário para a Economia e Finanças. “A população não deve estar preocupada porque o país vai continuar a promoção de medidas de benefícios para os residentes de Macau, Hong Kong e de Taiwan”, sendo que “não vai agravar os encargos fiscais no interior da China por parte da população de Macau”, disse Liu, de acordo com a mesma fonte. Como tal, “em princípio a alteração ao imposto não vai agravar os encargos fiscais no interior da China por parte da população de Macau”, acrescenta. A alteração legislativa em causa, aprovada a 31 de Agosto pelo Comité Permanente do Congresso Nacional do Povo (CPCNP), estabelece que se considera “residente individual qualquer pessoa que possua ou não residência na China e permaneça nela por um período de 183 dias acumulados no mesmo ano fiscal”. De acordo com o mesmo diploma, “os rendimentos obtidos pelos residentes individuais na China e no exterior estão sujeitos ao pagamento do imposto de rendimento das pessoas singulares”. O secretário manifestou as preocupações da população local com esta alteração, na medida em que teme o impacto que pode ter nos seus encargos fiscais. Desenvolvimento sustentável No mesmo encontro, em que também participou o subdirector da Administração Tributária da China, Sun Ruibiao foi ainda discutido o projecto de integração regional da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Para Liu Kun, a construção da Grande Baía é “uma oportunidade importante para o desenvolvimento sustentável de Macau”. Já Sun Ruibiao frisou estar “em pleno no apoio à construção da RAEM como a plataforma de serviço entre a China e os Países de Língua Portuguesa”. O responsável propôs ainda que os serviços de finanças de Macau e os departamentos de finanças do Estado continuem a aprofundar e promover a cooperação conjunta na construção de Macau enquanto plataforma de serviços entre a China e os países de língua portuguesa.
Hoje Macau PolíticaJogo | Lionel Leong tranquilo com concorrência regional [dropcap]O[/dropcap]secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, desvaloriza a concorrência regional na área do jogo, deixando entender que esse factor não deverá ser determinante no processo de atribuição de concessões uma vez terminadas as actuais, de acordo com o canal de rádio da TDM. Em declarações à margem da abertura da Feira Internacional de Macau, explicou que o Governo ainda estuda o processo, mas adiantou que não está preocupado com a concorrência: “Ainda estamos a acompanhar a situação. Temos visto que alguns países estão a tentar desenvolver o sector do jogo, mas não creio que isto seja uma concorrência para Macau. Acho que as operadoras em funcionamento têm de, continuamente, melhorar os seus serviços para poderem ser mais competitivas”, cita a mesma fonte. Na região Ásia-Pacífico, são vários os países com casinos ou legislação que legaliza esta actividade, incluindo Singapura, Filipinas, Vietname, Camboja e, mais recentemente, Coreia do Sul e Japão. Aos jornalistas, Lionel Leong garantiu ainda que o próximo orçamento vai ter em conta a “melhoria da vida da população” e as “despesas necessárias para podermos ter uma melhor preparação para o futuro”. Ponte do bem Relativamente às consequências da abertura da ponte que liga Macau, Zhuhai e Hong Kong, o secretário salientou ainda que o território só terá a beneficiar com a abertura da ponte que vai ligar o território a Zhuhai e a Hong Kong. O governante defendeu que a nova infra-estrutura é vital para a concretização do projecto de integração regional de Macau e Hong Kong na província de Guangdong, a Grande Baía. Segundo Lionel Leong, a nova ponte sobre o Delta do Rio das Pérolas “só vai trazer muito boas influências para Macau, porque propiciará o desenvolvimento do projecto Grande Baía. Com a circulação de veículos podemos ter um maior fluxo de mercadorias e pessoas e haverá também uma maior facilidade no acesso às fronteiras. Para a economia, será uma boa oportunidade”, cita a rádio Macau.
Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto VozesEleições dentro de três anos [dropcap]O[/dropcap]utubro marca o início da 2.ª sessão legislativa da sexta Assembleia Legislativa. Durante o ano que passou, nem uma única organização levou a cabo qualquer sondagem para auscultar a opinião do público sobre a actuação da Assembleia Legislativa e dos seus deputados. Mas, ultimamente, os comentários que ouvi a algumas pessoas sobre esta Assembleia não foram muito positivos, sobretudo no que diz respeito à sua capacidade de supervisionar as obras de que o Governo da RAEM está encarregue. É preciso apresentar provas que justifiquem as acções, porque as visões subjectivas não servem como critério de avaliação. Após o termo da 1.ªsessão legislativa, foi emitido um relatório de actividades da Assembleia relativo a este período. Nos Anexos VII e VIII do relatório, são mencionadas em detalhe todos as intervenções de cada deputado, bem como o número de vezes em que pediram o uso da palavra, no período de antes da ordem do dia, e, finalmente, as interpelações de cada um deles. A Assembleia Legislativa é composta por deputados eleitos por sufrágio directo, indirecto e nomeados. Independentemente da forma como acederam à Assembleia, todos os deputados têm direito à mesma remuneração, os mesmos direitos e os mesmos deveres. No entanto, após um estudo mais aprofundado do relatório, apercebi-me de que nenhum dos sete deputados nomeados tinha apresentado qualquer interpelação escrita ou oral, no decurso da 1.ªsessão legislativa. Será que nenhum deles tinha nada a assinalar sobre o desempenho do Governo da RAEM, durante estes 10 meses? No que respeita ao “uso da palavra no período de antes da ordem do dia”, apenas um dos sete deputados nomeados assinou uma intervenção neste âmbito. Quanto ao desempenho dos deputados nomeados pelo Chefe do Executivo, acabam por não servir de mediadores entre o público e o Chefe do Executivo. Este sistema de nomeações advém da “Declaração Conjunta entre a China e Portugal” e foi promulgado através da Lei Básica de Macau. O objectivo legislativo original era proteger os portugueses residentes, uma pequena comunidade de Macau. Hoje em dia, é por demais evidente que esse objectivo inicial se perdeu. Perante isso, porque é que é necessário continuar a manter sete lugares para deputados nomeados que são incapazes de proferir qualquer interpelação quando se trata de avaliar a actuação do Governo da RAEM? O desempenho dos deputados nomeados demonstra as limitações inerentes ao sistema de nomeações. E o que dizer sobre a actuação dos deputados eleitos por sufrágio indirecto? A avaliar pelo relatório de actividades da Assembleia Legislativa durante a 1.ªsessão legislativa, verifica-se que dois dos deputados eleitos por sufrágio indirecto, dos sectores cultural e desportivo, não apresentaram qualquer interpelação escrita, nem oral, nem pediram o uso da palavra no período de antes da ordem do dia. Este fenómeno está relacionado com o facto de a actual eleição por sufrágio indirecto em Macau ser feita a partir de pessoas colectivas com capacidade eleitoral activa dentro de cada um dos sectores da sociedade. Pode aperfeiçoar-se este tipo de eleição em Macau adoptando o método eleitoral através de Circunscrições Sectoriais – Functional Constituency – usado em Hong Kong. Mas para além disso, a taxa de comparência dos deputados durante a 1.ªsessão legislativa foi satisfatória. Há contudo que salientar que, dos quatro deputados com 100% de presenças, três foram eleitos por sufrágio directo e apenas um foi nomeado. Durante os próximos três anos, o desempenho destes deputados, quer tenham sido eleitos directa ou indirectamente, irá influenciar as suas probabilidades de reeleição. Os que já anunciaram que não se irão recandidatar, terão de preparar convenientemente os seus sucessores. Se o sistema politico de Hong Kong e de Macau não sofrer futuramente grandes alterações, o número de lugares reservados para os deputados nomeados manter-se-á igual. Quanto às alterações na eleição por sufrágio indirecto, será necessário um esforço da população de forma a exigir que o voto passe a pertencer aos eleitores de cada sector. Já em relação à eleição por sufrágio directo, as possíveis mudanças serão provavelmente ditadas pelo campo democrata, com raízes na Associação de Novo Macau. Se os meus leitores prestarem atenção às recentes movimentações registadas nas organizações mais consagradas ao longo de toda a comunidade, repararão que os diferentes partidos já começaram a preparar as próximas eleições para a Assembleia Legislativa, que terão lugar dentro de três anos. Para tornar a Assembleia Legislativa num verdadeiro plenário que defenda o bem estar do povo, todos nós teremos de monitorizar o desempenho dos deputados. Quem for tomar assento na próxima Assembleia Legislativa é uma escolha que só vai depender da consciência dos eleitores .
Tiago Bonucci Pereira VozesA China e a Construção de Infraestruturas em África [dropcap]O[/dropcap]sector de infraestruturas representou desde sempre uma área importante na relação entre a China e África, importância essa que ganhou ainda maior proeminência ao longo das últimas duas décadas. Nos anos subsequentes à crise financeira de 2008, o papel da China como financiadora e construtora de infraestruturas em África apenas tornou-se mais preponderante. O crescimento da China neste sector deverá ser lido à luz de dois factores determinantes: em primeiro lugar, o excesso de capacidade doméstica aliado a um considerável volume de reservas cambiais convida à exportação desse excedente, o que está em linha com a política Chinesa “Going Out”; em segundo, o facto de países e instituições internacionais que tradicionalmente apoiam África terem desde há várias décadas (anos 80) optado por reduzir o apoio ao desenvolvimento de infraestruturas em África, política que se tornou ainda mais pronunciada em virtude da crise financeira de 2008. No que concerne o investimento Chinês neste sector, o financiamento é providenciado sobretudo através do Banco de Exportação-Importação Chinês (China Eximbank) e pelo Banco de Desenvolvimento da China (China Development Bank, CDB), policy banks da China e, como tal, instrumentos de implementação da estratégia Chinesa. E embora as condições contratuais associadas sejam comparativamente menos exigentes que as das Instituições Financeiras Internacionais, o financiamento é feito sob a condição de contratação de empresas Chinesas e aquisição de tecnologia, equipamentos e serviços Chineses. Em tudo semelhante ao praticado por outros países. Exemplos recentes de projectos financiados pela China em África (alguns deles associados à Iniciativa Faixa e Rota, BRI) incluem as ferrovias SGR (Standard Gauge Railway) no Quénia e na Nigéria, e a ferrovia transfronteiriça entre Addis Ababa na Etiópia e o Djibouti. Muitos destes projectos estão localizados em países sem grandes recursos naturais, não obstante estarem associados (mas nem sempre) à sua exploração, constituindo muitas vezes um factor de sustentabilidade do investimento. É certo, no entanto, que a viabilidade dos projectos é fundamental no processo de tomada de decisão de investimento, um aspecto que ganhou importância fruto de lições de investimentos Chineses em África no passado, mas também tendo em vista a projecção da uma imagem do financiamento Chinês como sendo feito de forma responsável, sem intenção de colocar países recipientes numa situação de endividamento insustentável. Acima de tudo, a China procura convergir interesses: o desenvolvimento desses países, conjugado com a abertura de mercados aos seus bens e serviços. A imagem do investimento Chinês em África como ambientalmente irresponsável é enviesada. Em primeiro lugar, a avaliação do impacto ambiental de um determinado projecto fica normalmente a cargo do país recipiente. Em segundo, e relativamente à actuação de empresas de construção Chinesas, um estudo recente da SAIS-CARI (Universidade John Hopkins) relativo à avaliação do desempenho de empresas de construção Chinesas em projectos do Banco Mundial em África indica a existência de problemas ambientais e sociais em apenas 2 projectos num total de 72. Finalmente, esta imagem ignora o facto de a China ser excedentária também na área das energias renováveis, tendo já desenvolvido múltiplos projectos neste sector: parques eólicos na Etiópia, projectos de geração de energia solar na África do Sul, e múltiplos projectos hidroeléctricos em todo o continente. A ferrovia SGR no Quénia é um caso ilustrativo da complexidade das variantes envolvidas. O caminho-de-ferro atravessa o Parque Nacional de Tsavo, com uma grande população de animais selvagens. Por forma a reduzir a influência do traçado nas rotas de migração de elefantes, girafas e outros animais, a construtora China Road and Bridge Corporation (CRBC) definiu corredores por onde os animais podem passar livremente. Apesar destes esforços, o projecto não deixou de ser merecedor de críticas. No entanto, e no que concerne medidas de protecção ambiental, as opções do trajecto, e as opções de projecto em geral, parecem ter sido definidas tendo em conta sobretudo a pressão do governo Queniano para que o projecto fosse completado no mais curto espaço de tempo possível, e de maneira a minimizar os custos com expropriações. Este último factor constituiu um permanente foco de tensão durante a execução do projecto, fruto de problemas financeiros (os custos com expropriações ficaram a cargo do governo Queniano, e ultrapassaram largamente os valores projectados antes da construção) e sócio-políticos (a diversidade étnica do país a par do aproveitamento político do projecto, gerou tensões com acusações de favorecimento de determinadas etnias e comunidades). Pela sua parte, a CRBC pôs em marcha uma estratégia CSR (Corporate Social Responsibility) com vista à mitigação de problemas de cariz social relacionados com o projecto. Esta estratégia inclui, por exemplo, a nomeação de agentes de ligação em todos os sectores da ferrovia, cuja função foi constituir uma ponte de comunicação entre a construtora e as comunidades locais através da qual as diferentes comunidades apresentavam queixas e pedidos à CRBC. Daqui resultou, em resposta a algumas das queixas e pretensões manifestadas, que a CRBC renovou escolas, centros de saúde, igrejas e mesquitas, além de ter construído pequenas estradas e pontes a pedido de comunidades locais. Importa também referir que as firmas Chinesas, em geral, contratam mais trabalhadores locais em África do que outras empresas estrangeiras. Para a ferrovia SGR no Quénia, a CRBC empregou 21858 trabalhadores, 2000 dos quais Chineses, e 19858 trabalhadores Quenianos. É verdade que até há uns anos a proporção de trabalhadores Chineses era maior, mas paulatinamente essa percentagem tem decrescido, a par com o aumento dos vencimentos na China e com a formação de quadros locais. Formação essa providenciada pelas próprias empresas Chinesas. Muito do aqui escrito contradiz o que é publicado nos meios de comunicação. No entanto, estudos realizados em instituições académicas e de investigação ocidentais descrevem esta realidade. A acção de firmas chinesas em África está em linha com o praticado por empresas Japonesas e ocidentais na China desde finais da década de 70. A ideia é apoiar o desenvolvimento dos países recipientes e ganhar mercado na região. A China tem investido em África tanto pela sua riqueza natural, como pela crença que o continente estará prestes a entrar num ciclo de grande desenvolvimento económico. Consequentemente, a sua influência económica e geopolítica é cada vez maior. Este facto parece ter motivado Donald Trump, este mês, a criar uma nova agência americana de ajuda externa – The United States International Development Finance Corporation – com um capital de 60 mil milhões de dólares para apoiar projectos na Ásia, África e nas Américas. Esta agência surge um mês depois de, durante o encontro FOCAC 2018 em Pequim, Xi Jinping ter anunciado que a China providenciaria financiamento na ordem de 60 mil milhões de dólares a África. Curiosamente, há um ano e meio Trump anunciava a intenção de cortar ajuda externa a África. Não restam dúvidas que as motivações para a criação desta agência não são altruístas.
Hoje Macau DesportoMoto2 | Miguel Oliveira quer “lutar pela vitória” no Japão [dropcap]O[/dropcap]piloto português Miguel Oliveira pretende “lutar pela vitória” no Grande Prémio do Japão de Moto2, que se disputa no domingo, e recuperar terreno na luta pelo título mundial de motociclismo de velocidade da classe intermédia. O piloto português da KTM acredita que “é possível fazer um bom trabalho” no circuito de Motegi, de que gosta “bastante” e onde já subiu ao pódio, em 2015, na corrida de Moto3. “Na Tailândia foi-me impossível recuperar distância para o Peco [Francesco Bagnaia], mas apesar de tudo foi um excelente resultado. Após a corrida tirei uns dias para descansar e preparar-me para Motegi”, disse o piloto português, em declarações divulgadas pela equipa KTM Ajo. Oliveira chega ao Japão com 28 pontos de desvantagem para o líder do campeonato, o italiano Francesco Bagnaia, que venceu a prova tailandesa, dispondo apenas de quatro provas para recuperar o atraso até ao fim do campeonato, no Grande Prémio da Comunidade Valenciana. “O meu objectivo continua a ser o de lutar por pódios e vitórias até Valência. Confio na minha equipa e na KTM para poder lutar por estes resultados. Mas, neste momento, estamos concentrados em extrair todo o nosso potencial e em fazer um bom trabalho no Japão”, concluiu o piloto de Almada. O Grande Prémio do Japão de Moto2 é a 16.ª prova do Mundial motociclismo de velocidade. No ano passado, Miguel Oliveira terminou em sétimo a corrida disputada no circuito de Motegi, marcada pela chuva. • MAIS INFORMAÇÕES AQUI
João Santos Filipe DesportoGrande Prémio | Rui Valente e André Couto na Corrida da Guia Seis pilotos locais vão correr na Taça Mundial de Carros de Turismo, que este ano volta a contar com Rui Valente e André Couto. Na Fórmula 3, Charles Leong representa as cores de Macau e estreia-se no circuito da Guia [dropcap]M[/dropcap]acau vai estar representada na Corrida da Guia do Grande Prémio de Macau, que se realiza entre 15 e 19 de Novembro, com um contingente de seis pilotos. A principal novidade é o regresso de Rui Valente, que depois de ter falhado o apuramento para o evento, através da Taça de Carros de Turismo de Macau, conseguiu inscrever-se para a prova da Taça Mundial de Carros de Turismo. A participação vai ser ao volante de um Volkswagen Golf GTI, que já ontem testou em Zhuhai. “A ideia é a mesma de sempre, vou correr para fazer uma boa prestação e alcançar o melhor resultado possível. Trata-se de um regresso à Corrida da Guia, em que não estou há vários anos, e vou ter de correr contra os melhores pilotos de carros de turismo”, disse Rui Valente, ontem, ao HM. “Depois de ter falhado o apuramento para a para a Taça de Carros de Turismo de Macau, meti os papéis para me inscrever para a Corrida da Guia e a FIA e os organizadores aceitaram. Agora quero ser não só o melhor piloto de Macau, mas espero também ser melhor do que alguns dos outros pilotos”, acrescentou. Além de Rui Valente, também André Couto regressa à Corrida da Guia, depois de ter falhado a edição do Grande Prémio de Macau no ano passado, devido a acidente. O vencedor da prova de Fórmula 3 em 2000 vai tripular um Honda Civic TCR da equipa MacPro Racing Team. O restante contingente de Macau é constituído por Filipe de Souza (Audi RS3 LMS), Lam Ka San (Audi RS3 LMS), Lo Kai Fung (Audi RS3 LMS) e Kevin Tse (Audi RS3 LMS). Estreia de Charles Leung Ainda em relação aos pilotos de Macau, destaque para a estreia de Charles Leung na prova de Fórmula 3. O piloto local vai representar as cores Hitech GP e terá pela frente talentos como Mick Schumacher, que se sagrou campeão europeu de F3, na semana passada, e é filho de Michael Schumacher, ou Daniel Ticktum, vencedor da prova no ano passado. “Esperamos que o Charles, como piloto de Macau, possa alcançar bons resultados, não só no Grande Prémio como noutras provas internacionais. Vamos continuar a apoiá-lo, como já fazemos”, disse Pun Weng Kun, presidente do Instituto do Desporto e Coordenador da Comissão Organizadora. Sobre a possibilidade de aumentar o apoio para que Charles Leong possa dar o salto para o Campeonato Europeu de F3, Pun frisou que também é o piloto que tem de encontrar “patrocínios”. Actualmente Leong é apoiado com o Fundo do Desporto com 2,5 milhões de patacas, verba insuficiente para participar no Europeu, pelo que teve de inscrever-se no Campeonato Asiático de F3. Vendas acima dos 80 por cento “Já vendemos mais de 80 por cento dos bilhetes”, afirmou, ontem, Pun Weng Kun, presidente do Instituto do Desporto e Coordenador da Comissão Organizadora do evento. “São números que nos deixam satisfeitos porque a maior parte das pessoas costuma comprar o bilhete quando vai ao circuito para ver as provas”, acrescentou.
António de Castro Caeiro h | Artes, Letras e IdeiasVíctor Jara [dropcap]D[/dropcap]izem-se muitas coisas. Mas ninguém sabe o que aconteceu. Muito menos por que aconteceu. Não. Não. Como poderão saber? Em São João todos apedrejaram a pecadora. E como diz o evangelista: “cada um foi à sua vida”. Era noite, e a polícia política entrou em casa. O castelhano era inevitável: “Vá, levanta-te, onde tens a tua guitarra e os livros imundos que lês?” Santiago não era já a cidade que comemorava o santo que, dizem, terá morrido no norte da península ibérica. Onde São Paulo morreu também à espera do seu Jesus, para, por fim, se ir embora ter com o Pai. Não. Santiago era outro. E afinal o teu nome era Santo Inácio, o mesmo que deu origem àquela ordem! Cerrada a perna gangrenada, o santo “colou-a”. O amor vinha da coragem física e moral. Pegaram na tua guitarra e em toda a literatura subversiva. Tu não aceitavas nunca um não e contrariavas sempre o que te diziam. Só não foste absolutamente ignóbil, porque tinhas um carácter no teu coração que não te deixava perder inteiramente. Cantavas Ho Chi Minh como se fosse um poeta e esse lugar. “Vamos, anda!” gritava a polícia política. Atirou-te escadas abaixo e contra ti literatura subversiva, a Antígona e o Rei Édipo, do sacerdote maior que era Sófocles. Arremessaram a guitarra como a tua mulher e filhos e os velhos pais. Escarraram-te na cara e deram tantos pontapés que desfiguraram botas na tua cara de índio. E tu, naquela que seria a tua última noite, deixavas que o corpo gemesse mas não a tua alma. Não a tua alma era possuída pelo teu espírito e tu não irias deixar o espírito gemer. Só o corpo. As tuas mãos delgadas que percorreram Santiago à espera de cada espectáculo! Arrastavas mulher e crianças que te amavam como se fosses um oráculo muito antigo. El derecho de… E agora era a última noite. Não era uma qualquer. “Segue: tens filhos comigo, mas não te preocupes, amor. Quero-te assim. Tu és o amor”. Arrastavas tudo contigo e não conseguias recuar. A consciência tranquila e a justiça faziam-te inimigo da má consciência e da injustiça. Não conseguias tolerar a injustiça. “Morro e vou-me se a vida for assim”. A vida é assim. Despiram-te e disseram-te para tocares a tua guitarra. Deceparam-te a mão esquerda. “Toca, filho da puta.” Tentaste. E cortaram-te a mão direita. “Toca, filho da puta.” E era com os cotos que tentaste fazer música daquela guitarra. “Canta”. E cantaste como nunca. A dor toma, agora, conta de tudo o que é o teu corpo. Cantas e cantas. Cortam-te a língua: “Canta, cão!”. Há um gemido surdo que soltas. Vem do fundo dos tempos! Foste-te.
José Navarro de Andrade h | Artes, Letras e IdeiasO monstro do id [dropcap]M[/dropcap]onstros não têm faltado ao cinema, abundantes em forma e proveniência, quase sempre barulhentos e escamudos, mas todos alardeando um incorrigível mau-feitio, dedicados a escangalhar a vida à humanidade. Quase nunca dão explicações acerca dos motivos da sua grande arrelia e, na verdade, nem é preciso: basta serem monstruosos para ficarmos esclarecidos quanto ao mal que aí vem. Deste vasto bestiário uma galeria de celebridades incrustou-se no imaginário popular contemporâneo como ícones das nossas piores e recônditas inseguranças. Contudo uma das criaturas malévolas mais tenebrosas, e sobretudo surpreendentes, está hoje infelizmente um tanto esquecida. Talvez uma certa particularidade do “monstro do Id” dificulte recordá-lo: era invisível. Pode-se especular que essa invisibilidade foi um belo truque da MGM, relutante em gastar demasiado dinheiro nos efeitos especiais. Para mais, sendo evidente a incipiência e a inverosimilhança da figuração dos monstros naqueles anos 50 – a tecnologia coeva não dava para mais – a MGM não desejava que a inaptidão dos recursos técnicos contrariasse a chancela de qualidade que imprimia em todas as obras saídas dos seus estúdios. Do “monstro do Id” temos direito a ver por instantes tão só uma silhueta eléctrica, já perto do final de “Planeta proibido” o filme de 1954 em que ele (não) aparece. É por volta desse momento que a verdade nos é revelada. O bicho-papão descontrolado, implacável e autónomo que tinha vindo a dizimar a tripulação da nave espacial é fruto dos terrores inconscientes do Dr. Morbius, o guardião do planeta e pai da virginal Altaira por quem os garbosos astronautas ficaram pelo beiço. Incapaz de reprimir a sua involuntária e insubmissa criação Morbius acabará por entender que só morrendo o avatar será eliminado. A ideia de um monstro criado e nutrido pelos nossos piores sentimentos, doutro modo ciosamente coibidos pelo ferrolho do sub-consciente, é um adorável achado. Mas sumamente arguto é preconizar que tarde de mais consigamos perceber sermos nós próprios a fonte de alimentação da energia maléfica, de tão iludidos que estamos pelo narcisismo da nossa consciência. Retardar esta descoberta inflige no espectador um sentimento de culpa – sem darmos conta todos calamos um “monstro do Id” à espera de algum proveito se recorta e guarda dos filmes que sirva para nos orientarmos. Dispensada a sarja freudiana, que não passa de má literatura, que eloquente metonímia é este “monstro do Id” se o empregarmos na compreensão de certas aventesmas políticas a emergirem por todo o lado. A última delas esse desalumiado, e tudo indica que também desalmado, capitão Bolsonaro. A democracia liberal atravessa um mau momento. Cresce e já não se retrai o pressentimento de ser ela incapaz de corresponder aos anseios dos cidadãos, acumulando promessas falhadas, disfunções orgânicas e, sobretudo uma inquietante incapacidade para dar respostas a problemas sentidos e cada vez mais prementes. Inquietante porque os protagonistas da democracia liberal, aquelas que a governam, aparentam uma completa alienação em face deste maus augúrios. Acomodaram-se às rotinas administrativas, aos processos e soluções do costume, por mais ineficazes e estéreis que se tenham demonstrado e afadigam-se em malabarismos eleitorais para captarem um voto crescentemente céptico e funcional (há quantos sufrágios andamos a votar “útil”?) Se os políticos nem sequer percebem que há um problema, como poderiam resolvê-lo? E não percebem porque estão formatados para desperceber. Paulatinamente vão divergindo as competências necessárias à querela política das competências da governação. O Estado foi governamentalizado, ou seja, foi sequestrado e instrumentalizado pelos profissionais da política que fazem carreira nos partidos para através dos governos ocuparem o aparelho estatal. Nesta circularidade – como ratos na roda – procedem como uma corporação que, conforme ao género, cuida desveladamente das suas conveniências como parte interessada. Agora Bolsonaro, mas antes Trump, Le Pen e demais réplicas, são cabeças de uma mesma Hidra, gerada e cevada, larvar e latente no interior da democracia liberal, que irrompem como repelentes monstros do seu Id. Ansiosamente se deseja que a ela não caiba sorte igual à do Dr. Morbius que foi a de ter que morrer para os matar.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasUm ano entre Sun Wen e Camilo Pessanha [dropcap]D[/dropcap]escritos alguns dos mais importantes acontecimentos históricos do século XIX na China, anteriores à chegada de Camilo Pessanha a Macau, e que influenciaram Sun Wen para o combate revolucionário contra a dinastia Qing, falta agora apresentar estas duas personagens. Sun Wen, conhecido pelos estrangeiros por Sun Yat-sen, antecedeu um ano Camilo Pessanha, tanto no nascer como a deixar esta vida. Assim, Sun Zhongshan, nome dado a Sun Wen após a morte e que virá a ser o primeiro Presidente da República da China, nasceu a 12 de Novembro de 1866 numa família de camponeses na pequena aldeia de Choy Heng (Cuiheng em mandarim), no distrito de Heong-Sán (Xiangshan, actual Zhongshan), província de Liangguan (Guangdong e Guangxi), situada a cerca de 50 quilómetros a Norte de Macau. No trono do Celeste Império encontrava-se então o oitavo Imperador Qing, Tong Zhi (Mu Zong, 1862-1874). Refere o Padre Manuel Teixeira, “O pai de Sun Wen foi alfaiate em Macau, regressando à sua aldeia antes do nascimento do filho”. Dez meses depois, no ano da abolição da pena de morte em Portugal, onde reinava D. Luís (1861-89), nasceu Camilo de Almeida Pessanha na freguesia da Sé Nova, em Coimbra, pelas onze da noite do dia 7 de Setembro de 1867. Segundo Daniel Pires, era filho de um estudante do 3º ano de Direito, Francisco de Almeida Pessanha e da sua governanta Maria do Espírito Santo Duarte Nunes Pereira. Fora baptizado a 30 de Outubro de 1867, mas só a 9 de Outubro de 1884 seria perfilhado pelo pai, estava Camilo no primeiro ano da Faculdade de Direito na Universidade de Coimbra. Na aldeia de Cuiheng, Sun Wen nasceu e viveu em criança com o nome de Dixiang, onde na escola primária escuta as memórias do tempo das Guerras do Ópio (1839-60) e da Revolta Taiping (1850-64). Sun Wen chamado ao Havai pelo irmão mais velho Sun Mei, em 1878 passou por Macau a caminho das ilhas Sandwich (onde o Capitão Cook chegara em 1778, um século antes de Sun Wen), arquipélago da Polinésia, a meio do Oceano Pacífico entre a China e os EUA. A viver em Maui, uma das oito ilhas do Havai, para continuar os estudos iniciados na aldeia natal foi matriculado na escola primária e ajudava o irmão como empregado de balcão. Em Agosto, dois meses após a sua chegada, vai estudar inglês para Honolulu, na escola primária americana Iolani, onde terminou os estudos em 1882. No ano seguinte, já no Iolani College em Honolulu, foi chamado a regressar à terra natal por outro dos seus irmãos. Tendo em Cuiheng destruído a imagem de um deus, o que desagradou à população local, os pais acharam melhor enviá-lo para estudar na Escola Diocesana da Igreja Anglicana em Hong Kong, onde baptizado pelo missionário protestante americano Dr. Charles R. Hager foi-lhe dado o nome de Sun Yat-sen. Em 1884 frequentava o Queen’s College, ainda em HK, quando se casou com Lu Mu-zhen (Lou Mou Cheng, aliás Cheng-ling song), de quem virá a ter duas filhas e em 1891, o filho Sun Fó. Já Camilo Pessanha completou em 1884 os estudos secundários no Liceu Central de Coimbra e nesse ano entrou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, formando-se em Junho de 1891. Dr. Sun Na China reinava o nono Imperador Qing, Guang Xu (De Zong, 1875-1908) quando em 1886 Sun Yat-sen, com vinte anos, vai para Cantão estudar medicina tradicional chinesa. Por andar a difundir a revolta contra a dinastia Imperial manchu dos Qing e as ideias de República importadas do Ocidente, em Janeiro de 1887 passou a frequentar o Colégio Britânico de Medicina para chineses em Hong Kong, orientado pelo Prof. James Cantlie. Licenciou-se em medicina ocidental a 22 de Julho de 1892, mas como não havia vagas para médicos em Hong Kong, após uma breve passagem por Beijing, vai em Setembro exercer clínica em Macau, convidado para criar um departamento de Medicina Ocidental por Chen Xi Ru, na altura um dos maiores accionistas do Hospital Kiang Wu. Chen Xi Ru com Lou Cau e He Sui Tian (Ho Lin Vong) colocaram um anúncio no JingHaiCongBao a dizer ser Sun Yat-sen um muito bom médico de medicina ocidental. A instalação do Hospital Kiang Wu, aprovada a 21 de Junho de 1870 pelo Governo de Macau, fora requerida pela comunidade local chinesa, representada pelos senhores Sam Wong, Chou Iao, Tak Fong e Wong Lok, estipulando o foro anual de uma pataca e autorizando a angariação de fundos necessários para a sua construção. Fundado em 28 de Outubro de 1871, no início apenas aí se preparava e cozinhava os medicamentos, distribuídos gratuitamente e só em 1874 foi no local criado o departamento de Medicina Tradicional Chinesa. O Dr. Sun trabalhava no Hospital Kiang-Wu e na Associação de Beneficência Tong Sin Tong, fundada em Julho de 1892, e em ambos os locais, onde as pessoas sem posses se tratavam gratuitamente pela medicina tradicional chinesa, ele introduziu medicamentos ocidentais. Já para abrir uma farmácia sino-europeia (Tchong-Sai Yeok-Ko, em cantonense e em mandarim, Zhong Xi Yao Jü) na Rua das Estalagens n.º 80, Sun Wen contraiu com o Hospital Kiang Wu uma dívida de 2000 patacas, “sendo fiador o conhecido e abastado comerciante Ung Tchit Mei”, como refere o Padre Manuel Teixeira. A farmácia tornou-se fachada de um local de conspiração para derrubar a monarquia e o empréstimo, que tinha um prazo de cinco anos, só foi totalmente liquidado por Sun Yat-sen ao Hospital Kiang Wu em 1919. Fok Kai Cheong refere ter encontrado o contrato de arrendamento relativo à propriedade sita no Largo do Senado n.º 14 feito pelo arrendatário Dr. Sun com a Santa Casa da Misericórdia a 26 de Agosto de 1893. Luís Gonzaga Gomes dá essa referência, no “prédio n.° 14, que ficava numa fileira de casas que ia da Travessa do Roquete à Rua do Gonçalo…” era o domicílio de Sun Wen. Na acta de 4-9-1895 da Mesa da SCM, publicada no Echo Macaense a 9-11-1895, refere-se que . Assim, quando Camilo Pessanha chega a Macau, o Dr. Sun tem ainda alugada a casa no Largo do Senado, apesar de já não se encontrar na cidade. Aqui devemos aos nossos leitores uma rectificação, pois no último artigo referimos encontrar-se os Correios no edifício do Senado, o que só ocorrerá em 1915, estando este então ainda na Praia Grande, no edifício contíguo ao Hotel Hing Kee.
Hoje Macau China / ÁsiaFórum Económico Mundial | China é o país mais competitivo do BRICS [dropcap]D[/dropcap]o grupo BRICS, a China é o país mais competitivo, seguido pela Federação Russa, de acordo com o Relatório de Competitividade Global 2018, conduzido pelo Fórum Económico Mundial. Com um total de 98 indicadores para avaliar a produtividade e a competitividade em 140 países e regiões do mundo, cada indicador varia de 0 a 100 para demonstrar o progresso actual e a distância real de uma economia. A China ocupa o 28º lugar, com uma pontuação de 72,6, segundo o relatório. É de destacar também a capacidade de inovação chinesa, que ocupa o 24º lugar na tabela mundial. O gigante asiático, que conta com o crescimento mais rápido no mundo, actua como um dos principais contribuintes para a região Ásia-Pacífico leste, a qual representou cerca de um terço do crescimento global em 2017. A China ocupa também o primeiro lugar em termos da escala de mercado, com base na paridade de poder de compra per capita, segundo o relatório. Os Estados Unidos são a nação mais competitiva do mundo pela primeira vez em uma década, seguidos por Singapura e pela Alemanha. A Suíça, que encabeçou a lista no ano passado, ocupa agora o quarto lugar. Quase 90% dos primeiros 30 lugares são economias desenvolvidas na Ásia e na Europa.
Andreia Sofia Silva EventosMIF | Produtos com burel em destaque no espaço MunHub A plataforma MunHub, dos designers Clara Brito e Manuel Correia da Silva, trouxe à Feira Internacional de Macau dez marcas de países lusófonos, incluindo produtos feitos com Burel, um tecido que nasce da lã da Serra da Estrela. A Tufa, marca de calçado de casa, é uma delas [dropcap]D[/dropcap]esde o século XIX que se produz em Manteigas, na zona da Serra da Estrela, em Portugal, um tecido chamado burel feito à base da lã que vem das montanhas. Há muito esquecido, foi agora reinventado pela Burel Mountain Originals, uma marca cem por cento portuguesa que criou peças de vestuário, calçado, artigos de decoração e têxteis com base no burel, transpondo-o para a contemporaneidade. Este material é uma das apostas da plataforma MunHub, de Macau, criada em 2014 pelos designers Manuel Correia da Silva e Clara Brito. Este ano a MunHub está presente na Feira Internacional de Macau (MIF) com um total de dez marcas oriundas de países de língua portuguesa. A Tufa, projecto de design de calçado de casa da autoria de Clara Brito e Margarida Jardim, é um dos produtos em exposição na MunHub. São chinelos feitos com burel, disponíveis nas cores cinzento escuro e azul. Clara Brito, também fundadora da marca LinesLab, explicou ao HM como nasceu esta parceria. “A Burel Mountain Originals é uma marca que conhecemos há algum tempo e é uma empresa que tem recuperado algo tradicional, como é a lã burel, e que tem uma fábrica com muitos anos de história. A Tufa é uma marca de calçado de casa e estava a ser desenvolvida de uma maneira muito despretensiosa pela Margarida Jardim em Portugal.” A designer adiantou que “a ideia é fazer uma pantufa com sobras de tecidos e esponjas para criar um calçado confortável e quentinho para usar em casa”. “Quando encontrei estes produtos achei que eles casavam perfeitamente com um material como o burel, e daí surgiu esta união”, frisou Clara Brito. Com uma presença sólida em Macau, a MunHub sempre procurou criar laços com marcas portuguesas que falem a mesma linguagem. “Para nós também faz sentido criar uma ligação mais forte com o desenho, que tanto pode acontecer na Europa como na Ásia, mas transferir depois esse potencial desenho para uma pequena indústria tradicional e ter um produto de alta qualidade, de alto valor acrescentado, e fazer esses casamentos. Foi daí que surgiu a Tufa.” Outra das marcas presentes no espaço MunHub que tem uma parceria com a Burel Mountain Originals é a Pecegueiro & F.os, marca que também nasceu de um negócio familiar e é detida por Pedro Noronha Feio e Sara Lamúrias. Ao HM, Pedro Noronha Feio falou do projecto nascido da ligação com a burel, a produção de mochilas. “Somos um gabinete de design que, além de fazer roupa infantil, tem uma parceria com a Burel Mountain Originals, entre outras. Temos uma linha de mochilas com a burel, mas a marca tem uma vida própria e a sua autonomia não passa por aí. Essa é uma colaboração que vem de há muito tempo. Também temos outra marca que colabora desde 2010 com a burel, e que cria produtos em parceria, para a casa e peças de moda.” Sendo esta a primeira vez da Pecegueiro & F.os em Macau e na MIF, Pedro Noronha Feio tem algumas esperanças de poder entrar no mercado chinês. “A nossa expectativa com esta presença é a divulgação do nosso trabalho, chegar a novos mercados e a este lado do mundo.” Participação “mais extensa” O stand da MunHub pode ser visitado até domingo no espaço PLPEX (Exposição de Produtos e Serviços dos Países de Língua Portuguesa), inserido na MIF. Clara Brito fala de uma presença que, este ano, é “mais extensa”. “Temos dez marcas e a maioria delas são de Portugal, temos uma do Brasil, e de Macau. Quisemos fazer um aglomerado de marcas e isso tem a ver com o trabalho que temos vindo a desenvolver com os países de língua portuguesa. Estamos relacionados com várias marcas. Quando criamos a MunHub, em 2014, quisemos aproveitar o histórico que já tínhamos com a nossa própria marca, os conhecimentos e experiência, e estender tudo isso para outras marcas que se queiram expandir.” Além disso, a MunHub também está ligada à organização de desfiles de moda de seis marcas lusófonas, não só de Portugal mas também de Moçambique e São Tomé e Príncipe.
Hoje Macau EventosOktoberfest | Festa da cerveja no MGM Cotai até 29 deste mês [dropcap]A[/dropcap]edição de 2018 do festival Oktoberfest arrancou ontem. A novidade deste ano é realizar-se pela primeira vez no MGM Cotai, depois de nos anos anteriores o MGM Macau ter recebido o evento. O festival da cerveja, inspirado na tradição da região da Bavária, na Alemanha, estreia também a realização de um dia totalmente focado nas empresas, que acontece amanhã, em que os patrões são convidados a levar os seus empregados para a mesa. O festival vai decorrer até 29 de Outubro.
João Santos Filipe EventosEspectáculo | Destiny encerrado antes de começar [dropcap]A[/dropcap]operadora MGM estava a preparar o lançamento de um espectáculo intitulado Destiny, que acabou cancelado, antes da estreia. Uma decisão que deixou sem emprego 50 funcionários. A notícia foi avançada pelo portal Expediente Sínico, com base no depoimento de dois dos despedidos. A decisão terá sido tomada depois da directora executiva da companhia, Pansy Ho, filha de Stanly Ho, ter assistido à pré-estreia do espectáculo e ter decidido que não tinha qualidade para ser levado ao grande público. A medida afecta artistas, técnicos de guarda-roupa, operadores de câmara, directores artísticos e maquilhadores, entre outros.
Sofia Margarida Mota Manchete SociedadeCalçada de Macau é única no mundo A calçada portuguesa chegou a Macau tardiamente, mas já marcou a diferença para a original assumindo características muito locais. As académicas Vanessa Amaro e Sheyla Zandonai debruçaram-se sobre o tópico e publicaram um artigo científico que destaca a singularidade da calçada de Macau [dropcap]M[/dropcap]acau tem uma identidade única em várias dimensões. Uma delas é a calçada, de acordo com um trabalho desenvolvido pelas investigadoras Vanessa Amaro e Sheyla Zandonai num artigo publicado no conceituado Journal Current Athropology, com a chancela da University of Chicago Press. Para sustentar a premissa, as académicas lançaram-se na exploração do pavimento que cobre várias zonas da cidade e na forma como se diferencia da calçada que se vê em Lisboa, no Rio de Janeiro ou noutras cidades em que os portugueses deixaram a sua marca. As diferenças começam na altura em que esta técnica de “cobrir o chão de preto e branco” começou a ser utilizada enquanto projecto urbano em Macau. Apenas nos anos 90, foi concretizado o primeiro projecto público com a pavimentação da Praça do Leal Senado, pelas mãos do arquitecto Francisco Caldeira Cabral. Antes, a calçada portuguesa apenas tinha sido utilizada no Hotel Bela Vista, enquanto projecto privado, para adornar o terraço do edifício que é hoje a residência consular, apontaram ontem numa de apresentação dos resultados da investigação, na Universidade de Macau (UM). O projecto para o Senado materializava a intenção dos portugueses, que em “vésperas de partida, deixaram a sua marca no território”, disseram citando testemunhos que recolheram durante a pesquisa. Motivos auspiciosos A ideia era fazer uma obra neutra em termos culturais e por isso o padrão escolhido foi o das ondas, explicaram, sendo que era necessário ter em conta as referências da cultura chinesa. Mas, com a pavimentação de mais áreas públicas, e tendo em conta a cultura chinesa, os espaços preenchidos com calçada começaram a seguir as normas do Feng Shui, referiram. “Os padrões começaram a ter formas mais arredondadas, as figuras integraram aquilo que seria admitido dentro da cultura chinesa, os mestres calceteiros foram sendo substituídos por mestres de Feng Shui.” É esta associação a elementos “auspiciosos” que confere ao chão de muitas zonas de Macau a característica única e que só por cá se encontra, apontaram as investigadoras. “Peixes, caranguejos ou estrelas, que são considerados elementos auspiciosos na cultura popular local, foram incorporados nos padrões das calçadas, assim como o uso de pedra vermelha e sem dúvida a necessidade de aprovação do mestre de Feng Shui”, explica Vanessa Amaro. Transformação cultural Se os portugueses quiseram deixar a sua marca antes da transferência de administração, os chineses com as alterações que introduziram estão a diluir isso mesmo. Prova disso são as várias denominações que dão à calçada que cobre o território. “Pavimento de influência mediterrânea, europeia ou mesmo ibérica” são algumas das caracterizações que se encontram nos panfletos turísticos distribuídos pelo território, sendo que a denominação de calçada portuguesa já só se encontra nos materiais turísticos em língua portuguesa, referem com preocupação. Mas esta alteração cultural não é nova. “Passou-se pelo processo de localização, em que há uma dissociação de uma herança ou de uma carga cultural que é transformada num produto de uma cultura local”, explicou Sheyla Zandonai. “Vemos isso na calçada que é agora uma expressão artística ou um projecto urbano, que é exclusivamente local, e que não se repete de outra maneira em mais lado nenhum do mundo”, rematou.
Diana do Mar PolíticaSaúde | Aprovado por unanimidade regime da qualificação e inscrição [dropcap]F[/dropcap]oi a única proposta de lei da agenda de ontem aprovada na generalidade por unanimidade. Em causa, o regime que define novas regras, incluindo um estágio, para o exercício de actividade por parte de 15 categorias de profissionais de saúde. O diploma, que cria o regime aplicável aos profissionais do sector público e privado, uniformizando os critérios de ingresso e requisitos de inscrição, não deixou, no entanto, de levantar questões. Em destaque esteve o futuro Conselho dos Profissionais de Saúde, a quem vai caber, entre outros, a acreditação e registo. Esse órgão colegial da Administração Pública, que terá também poder para instaurar procedimentos disciplinares, vai ser formado por representantes do sector público e por profissionais de saúde do sector privado de cada uma das áreas, a definir por regulamento administrativo. As dúvidas prenderam sobretudo com a composição da futura entidade, com Ella Lei e Agnes Lam a questionarem, por exemplo, como vai ser representação de cada uma das 15 categorias de profissionais a que respeita o diploma, a proporção entre representantes do sector público e privado e até a forma de escolha (nomeação ou eleição). Na resposta, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, remeteu pormenores para mais tarde, dando conta apenas de que terá entre 15 e 21 membros. O facto de o diploma abranger 15 categorias de profissionais de saúde levou também os deputados a perguntarem pelo critério. Na réplica, o director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, esclareceu que foi seguida a prática de regiões vizinhas, tais como Taiwan e Singapura, e que os outros profissionais, como massagistas, “podem continuar a exercer a sua profissão e obter o respectivo alvará, sendo usado outro modelo para [os] fiscalizar”.
Diana do Mar Manchete PolíticaMacau vai abandonar actividade ‘offshore’ [dropcap]A[/dropcap]proposta de lei que dita o fim da actividade ‘offshore’ dentro de dois anos foi aprovada ontem na generalidade, com os votos contra de Sulu Sou e Pereira Coutinho. Mais do que o conteúdo do diploma em si, foi para os 1.700 trabalhadores que vão perder o emprego, até 1 de Janeiro de 2021, que se voltaram os holofotes. “Tentou saber as preocupações dos trabalhadores do sector?”, atirou Lei Chan U, da Federação das Associações dos Operários de Macau, numa opinião secundada por Pereira Coutinho, que deu conta que tem recebido “muitos pedidos de apoio” por parte de funcionários de sociedades ‘offshore’, estimadas em 360. “Estão preocupados com a sua situação, até porque alguns já têm uma certa idade”, enfatizou o deputado, indagando se vai haver medidas para apoiar os funcionários. Já Sulu Sou pôs a tónica no “choque” que foi perceber que o anunciado “aperfeiçoamento” do regime, criado em 1999, era “afinal de contas” uma revogação, insistindo na ferida tocada anteriormente por Lei Chan U. A ala laboral interveio em peso, seguindo-se Ella Lei que quis saber o que vai o Governo fazer para diminuir o impacto no sector. Na resposta aos deputados durante o debate que se estendeu pela noite dentro, o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, reiterou que a revogação do regime da actividade ‘offshore’ surge por causa das recomendações internacionais. “Sabemos que há muita preocupação na sociedade, mas peço para todos terem em atenção que se não o fizermos vamos para a lista negra das jurisdições não cooperantes em matéria fiscal da União Europeia”, afirmou. Embora reconhecendo que a medida “vai afectar muitas famílias de Macau”, Lionel Leong manifestou confiança de que muitas das empresas podem vir a reconverter a sua actividade em ‘onshore’, havendo já “muitas interessadas” em enveredar por essa via. “Esperemos que essas empresas continuem em Macau. Temos dois anos de transição”, insistiu, apontando que espera que os funcionários também “tenham confiança”. A resposta não convenceu. Numa declaração de voto conjunta, os deputados dos Operários Ella Lei, Lei Chan U e Lam Lon Wai deixaram clara a sua posição, apesar de terem votado a favor do diploma: “O Governo deve assegurar os direitos desses trabalhadores e antes da revogação deve estudar as consequências e adoptar medidas preparatórias para minimizar os prejuízos”. “Só demonstra que o Governo não está a actuar devidamente”, frisaram. Já Chan Wa Keong tentou acalmar os ânimos. “Espero que os trabalhadores percebam a intenção [legislativa]. Devem autovalorizar-se para superar estas dificuldades. As preocupações não devem ser exageradas para um patamar de grande conflito laboral”, argumentou o deputado nomeado.
Andreia Sofia Silva EntrevistaMaria Fernanda Ilhéu, académica e presidente da Associação Amigos da Nova Rota da Seda: “Não podemos estar com medo” A iniciativa “uma faixa, uma rota” ainda é um mistério sem contornos de definidos. Algo que Maria Fernanda Ilhéu, académica e presidente da Associação Amigos da Nova Rota da Seda, encara como uma oportunidade económica e cultural e uma visão alternativa à globalização. No final do mês, Maria Fernanda Ilhéu apresenta o livro “A China e a Revitalização das Antigas Rotas da Seda – Novo Vector do Comércio Mundial” [dropcap]A[/dropcap] Associação Amigos da Nova Rota da Seda faz dois anos em Dezembro. Que balanço faz deste dois anos de actividade? Temos dois objectivos essenciais, que são promover a iniciativa “uma faixa, uma rota” em Portugal e ao mesmo tempo encontrar projectos de cooperação entre Portugal e a China e entre Portugal a China e países terceiros, nomeadamente os de língua portuguesa. Começámos do início, através da promoção da iniciativa. Muita pouca gente em Portugal tem uma ideia do que se pretende com esta iniciativa, quer na vertente de desenvolvimento estratégico da China, quer na vertente do novo modelo de globalização que a China tem, a visão que propõe ao mundo. Esta fase ainda está em continuação, mas estamos também a identificar áreas de cooperação. Nessa fase de identificação de áreas de cooperação temos, por exemplo, a construção de infra-estruturas, quer em Portugal, quer nos países de língua portuguesa. Temos a parte de formação e educação em várias áreas de conhecimento, também ao nível linguístico, português e chinês, mas que são muito mais vastas que isso. Podem ser, na área tecnológica, nos negócios, ou na área cultural, ou da medicina. A medicina e o bem-estar é um grande campo de diálogo e de construção que podemos prever no encontro da medicina tradicional chinesa com a medicina ocidental. Em Portugal estamos avançadíssimos em algumas áreas da medicina. Um dos aspectos que vamos lançar, com o apoio da associação, é um curso de formação em várias áreas da medicina tradicional chinesa. Temos, obviamente, como objectivo o mercado português, mas também os mercados de língua portuguesa, como Moçambique, onde estamos já com uma prospecção avançada de como podemos colaborar com eles. HM O facto da Organização Mundial de Saúde ainda não ter reconhecido a medicina tradicional chinesa e de ter existido algum debate sobre isso não faz com que esta cooperação caia um pouco por terra? As próprias entidades chinesas compreendem que existem obstáculos para a medicina tradicional chinesa. Portanto, também fazem um esforço de compreensão, de como é que essa medicina e a ocidental podem cooperar, porque há valências e avanços significativos em ambas que são complementares. Em termos de Europa, Portugal está na vanguarda desse reconhecimento, faseadamente, para algumas áreas. É isso que estamos a trabalhar em conjunto com a China, de forma a que a China se aproxime também dos nossos conceitos e perceba como é que algumas coisas devem ser feitas para irem de encontro aos padrões europeus. Estamos a preparar um curso com a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, com o Instituto de Medicina Tradicional e com ISEG na parte do marketing, para conseguirmos uma aproximação a potenciais alunos que estejam interessados em saber como evoluir, como têm de se preparar para a Europa os reconhecer. Mas temos outras áreas. Pode exemplificar com outros domínios? No sector cultural, por exemplo, temos um livro que vamos agora lançar em Macau, penso que será no dia 30, no Clube Militar ou no dia 29 no Instituto Internacional de Macau. “A China e a Revitalização das Antigas Rotas da Seda – Novo Vector do Comércio Mundial”. É um livro que coordeno, juntamente com a arquitecta Leonor Janeiro. Tem nove capítulos, escrito por 10 pessoas. Há um capítulo em co-autoria, o da música, mas os outros têm um autor por capítulo e várias áreas. Como é que as antigas rotas da seda contribuíram para o avanço civilizacional em várias áreas e para a ligação entre os povos. Como a nova rota da seda, que a China nos propõe, vai contribuir no futuro. No fundo, este grupo de trabalho na associação tem um foco muito grande na ligação entre os povos. Fizemos este livro e uma viagem antiga à rota da seda chinesa. Ao fim de dois anos, as várias áreas de trabalho vão produzindo os seus efeitos. Estamos muito atentos a tudo o que se faça na iniciativa “uma faixa, uma rota”, não só na China como em países europeus. No dia 12 de Novembro temos uma conferência, em Lisboa na Fundação Casa de Macau, sobre a relação da União Europeia com a China nesta iniciativa, e como é que outros países da Europa estão a progredir em termos de memorandos de entendimento. Na expectativa de, em breve, Portugal assinar um memorando de entendimento com a China sobre esta iniciativa. No fundo, estruturará e marcará algo que já é evidente, que é Portugal e China a colaborar nesta iniciativa. O Presidente da República já manifestou, por mais de uma vez, que é uma iniciativa que Portugal apoia e que tem muito interesse em integrar. O Primeiro-Ministro também, assim como o Ministro dos Negócios Estrangeiros. Agora, esperamos que formalmente seja assinado um protocolo que definitivamente estruture essa colaboração. Mas a nossa associação tem tido um empenho muito grande em dar a conhecer na China aquilo que Portugal tem, o que vai fazer, e por outro lado dar a conhecer em Portugal o que esta iniciativa pode trazer em termos de cooperação com a China e com os países de língua portuguesa. Considera que ainda existe falta de clarificação relativamente aos objectivos da iniciativa “uma faixa, uma rota”, apesar dos discursos oficiais? Acho que há muita coisa a construir. A política de abertura da China, que se iniciou em 1979, foi toda ela feita passo a passo, sentindo as pedras debaixo dos pés. Vamos avançando, sabemos para onde queremos ir, mas devagar. Ainda não sabemos como vamos, então vamos experimentando. Se corre bem continuamos, se não corre bem damos um passo atrás e vamos por outro caminho para lá chegar. O que está a acontecer nesta iniciativa é precisamente isto. A China lançou a visão e perguntou quem estava interessado em colaborar. Não é um roteiro do que vai acontecer. Há uma decisão de querer fazer algo diferente, isto é muito importante porque é um modelo de globalização diferente. Queremos proporcionar a cooperação entre os países mais desenvolvidos para ajudar os países menos desenvolvidos. Portugal tem um papel muito importante neste projecto, que é colaborar com a China e com os países de língua portuguesa. Todos temos a ganhar com esta cooperação. Como vamos fazer? Vamos construindo. Não há uma direcção que diga “as políticas são estas”. À medida que vamos avançando, vemos o que é necessário, qual a fase seguinte e como nos vamos estruturar. Nós, à maneira ocidental, estamos à espera que haja uma política logo definida e não há. Há um conjunto de visões e vamos acertar como lá chegamos. Há muitas áreas mal definidas. Por exemplo, a governação destes projectos. São projectos que podem ser tripartidos, ou mais que isso. Em termos de financiamento, como se podem desenvolver projectos com este nível de cooperação? Fizemos em Março, em Lisboa, uma grande conferência sobre o financiamento da “faixa e rota”, com entidade chinesas mas também com o Banco Mundial e com instituições como, por exemplo, o Banco Europeu de Investimentos. Há uma linha, sabemos que tipo de problemas vamos encontrar. Temos de entender que não são “grants”, não são ofertas. O dinheiro tem de ser justificado. O dinheiro vai ser posto à disposição dos projectos, por financiamentos vários, mas tem de ter rentabilidade. Estes projectos têm de ser auto-sustentáveis e rentáveis, temos de justificar economicamente a sua existência. Tudo isto são aspectos muito profissionais, que levam tempo a analisar, a preparar e a colocar as pessoas de acordo, porque estamos a falar de um encontro de pessoas com culturas diferentes, que têm registos de trabalhos passados diferentes, temos experiências diferentes. Temos de nos acertar para em conjunto evoluir. Por exemplo, os ocidentais são “rule oriented”, são orientados por regras. Os chineses são orientados por projectos e estratégias. Estamos a falar de um projecto dos próximos 30 anos, estamos agora a começar. Esta nova visão pode ser, efectivamente, uma visão muito motivadora de novos encontros civilizacionais e de novas áreas de desenvolvimento do mundo, nomeadamente o centro europeu, África e América Latina. Alguns analistas defendem que a política “uma faixa, uma rota” pode representar uma tentativa de domínio económico da China perante os outros países. Concorda com essa visão? Acho que tudo pode acontecer, porque a geopolítica e a geoeconomia estão a mudar, é visível o que se está a passar na Europa neste momento, com o Brexit, o que se está a passar nos Estados Unidos com o proteccionismo. São ideias correntes que, para nós, há uns anos eram impensáveis. Há novas potências ascendentes. A China é uma delas, mas também vamos ter a Índia. Há países a crescerem muito, alguns pela sua dimensão poderão ter uma pujança económica que lhes permite posicionarem-se na liderança da economia mundial. A pergunta é se a China está a fazer isso deliberadamente. Eu penso que não. Penso que a China está a fazer isto porque tem problemas internos para resolver. Na vertente interna de “uma faixa, uma rota” vai trazer áreas de novo desenvolvimento dentro da própria China. Como por exemplo… Uma delas é toda a zona do oeste que está muito mais atrasada em relação a outras províncias da China. Estou a falar do corredor de Gansu e da província de Xinjiang, essa zona ligando-se ao centro eurasiático vai reconstruir uma zona de grande poder económico, que existiu há milhares de anos. Tem muitos recursos naturais e um enorme potencial de desenvolvimento. Por outro lado, a China tem de se equilibrar, tem de passar a chamada armadilha do rendimento médio. Tem de dar um salto qualitativo muito grande, nomeadamente na área da ciência e investigação. Tem um grande investimento e um plano para a educação. Se daí vai resultar, ou não, uma liderança óbvia da China no mundo económico, no mundo científico, não sabemos. Não me parece que a prioridade da China seja dominar toda a gente. A China nunca teve essa ideia. Quando no séc. XV, Zheng He fez uma expedição marítima e chegou à costa de Moçambique, o que fizeram? Trocaram tributos, deram ofertas, estabeleceram políticas de relacionamento, aumentaram o comércio. A China é já uma potência emergente que vai ter um papel enorme no mundo. Mas os Estados Unidos também existem, a Europa também. Como é que estas forças todas vão conjugar as vantagens competitivas? O que é que se vai passar? É futurologia. Não podemos estar com medo, com medo não nos levantamos todos os dias. Portanto, o melhor é continuar, caminhar e ter projectos de colaboração. Cada país tem de ver o que é que lhe interessa e como pode colaborar com esta iniciativa, se é que lhe interessa. Mas é um campo que está aberto.
Hoje Macau SociedadeEmpresas de Macau e Zhuhai esperam mais negócios com abertura de mega ponte [dropcap]R[/dropcap]esponsáveis de pequenas e médias empresas de Macau e da cidade chinesa de Zhuhai disseram hoje à Lusa que esperam garantir mais negócios com a abertura da maior travessia marítima do mundo que vai ligar os dois territórios e Hong Kong. Com a abertura agendada para terça-feira, a ponte é um marco do projeto de integração regional da Grande Baía, que visa criar uma metrópole mundial a partir dos territórios de Hong Kong, Macau e nove localidades da província chinesa de Guangdong (Cantão, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen e Zhaoqing). “Vai ser mais fácil para nós em termos logísticos, tanto na relação com Hong Kong como com a China [continental]”, defendeu a responsável pela Refresh Moment, Joyce Fong. “Esperamos mais negócios e oportunidades quando a ponte abrir”, indicou a proprietária da empresa de Macau, até porque “vai ser possível ir mais vezes lá porque fica tudo mais perto”, sobretudo Hong Kong para onde estão a tentar expandir a atividade. Já a responsável pela San Meng, uma empresa de tecnologia de Macau no setor turístico e cultural, destacou que “vai ser mais fácil e mais rápido” chegar ao mercado também de Hong Kong, o que considerou ser vital para o crescimento da companhia. Phoenix Wong disse acreditar que, com a nova ponte, Macau será um dos territórios mais beneficiados, em especial na capacidade de atração de turistas para aquele território que é já considerado a capital mundial do jogo. Do lado da China continental, mais propriamente da cidade de Zhuhai, o proprietário da Hengoin Finantial Investment Group destacou “a grande importância da infraestrutura”. “Mais dinheiro, pessoas e produtos na Grande Baía” vão, por sua vez, criar a oportunidade de “desenvolver grandes companhias e mais oportunidades para uma maior cooperação”, argumentou o empresário. Já o coordenador de Comunicação e Marketing do Instituto Internacional de Macau, António Monteiro, disse à agência Lusa que era crucial ser realizado um esforço por parte das autoridades “em apostar na promoção” de um projeto, como é o caso da Grande Baía, sobretudo quando pode estar em causa uma oportunidade para eventuais investidores lusófonos. A ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau vai abrir na próxima terça-feira numa cerimónia em Zhuhai, cidade adjacente a Macau. As autoridades de Hong Kong, Macau e Zhuhai realizaram, no final do mês passado, três dias de testes na ponte, cujos resultados foram enviados para Pequim e determinaram a data da inauguração. A estrutura principal mede 29,6 quilómetros, com uma secção em ponte de 22,9 quilómetros e um túnel subaquático de 6,7 quilómetros, numa extensão total de 55 quilómetros. A construção começou em 2011 e previa-se a abertura para 2016, mas vários problemas, como acidentes de trabalho, uma investigação de corrupção, obstáculos técnicos e derrapagens orçamentais obrigaram a um adiamento da inauguração.