Hoje Macau China / ÁsiaTurismo à procura de adrenalina traz dinheiro a região pobre [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]poiada no braço de uma amiga, Fang Bing atravessou a mais longa ponte de vidro do mundo, suspensa num desfiladeiro no noroeste da China, numa experiência de “adrenalina”, onde o truque é “não olhar para baixo”. “Arrependi-me quando cheguei a meio”, admite à agência Lusa Fang, uma das curiosas que viajou até ao parque natural de Hongyagu, para caminhar a quase 218 metros de altitude sobre uma plataforma transparente. Inaugurada em Dezembro passado, a ponte de Hongyagu é constituída por 1.077 placas de vidro – cada uma com quatro centímetros de espessura -, e tem 488 metros de comprimento. Fang Bing, que se deslocou cerca de 80 quilómetros desde Shijiazhuang, a capital da província de Hebei, assume ter sentido “muito medo” ao caminhar sobre a ponte. “Mas também se não tivesse sentido, não tinha valido a pena gastar 398 yuan”, acrescenta, referindo-se ao preço do bilhete de acesso à plataforma. Para alcançar a ponte é necessário subir 2000 degraus, num percurso de quase uma hora, que poderá ser evitado a partir de Maio, quando a organização inaugurar um teleférico. Em redor da estrutura, erguem-se até perder de vista dezenas de montanhas, áridas devido ao inverno seco do noroeste chinês. Outros visitantes revelam-se mais corajosos: “No início senti medo, mas quando cheguei a meio já estava bem”, conta Sheng Yuxiao, que vive a poucos quilómetros do parque. Sentada ao lado de uma amiga sobre a plataforma, Sheng diverte-se a tirar ‘selfies’, indiferente à vertigem sentida por outros visitantes. Pontes de vidro não são novidade na China, que conta já com 60 estruturas deste género, segundo a imprensa local. É também no país asiático que se encontra a ponte de vidro mais alta do mundo, suspensa a 300 metros do solo, no parque de Zhangjiajie, que inspirou as Montanhas Aleluia do filme “Avatar”. “As pontes de vidro são muito populares na China”, explica à Lusa Liu Qiqi, engenheiro-chefe da estrutura em Hongyagu. Sentado num dos restaurantes da cidade antiga de Hongyagu, onde são servidos pratos típicos da região, incluindo massa com carne de javali, Liu revela que o vidro usado nesta obra é de “tecnologia militar”. “Cada bloco de um metro tem capacidade para suportar 500 quilos”, diz. “Este tipo de vidro é apenas frágil ao impacto de objectos pequenos: varas com pontas de ferro, bengalas, ou objectos bicudos”. Liu revela que o custo de construção da ponte fixou-se em 150 milhões de yuan. Hongyagu pertence ao condado de Pingshan, no extremo noroeste de Hebei, junto à fronteira com a província de Shanxi. Hebei produz mais aço do que qualquer país no mundo – com excepção da própria China. Shanxi é o núcleo da indústria do carvão no gigante asiático – o maior consumidor de carvão do planeta. No dia em que a agência Lusa esteve em Hongyagu, um espesso manto de poluição cobria ambas as províncias e persistia no ar o cheiro a carvão. Na auto-estrada que liga Shijiazhuang e Hongyagu, a circulação de camiões carregados daquele minério negro era constante, num fluxo que o Governo chinês espera diminuir, através da promoção de outras fontes energéticas, como o gás natural ou as renováveis, parte da sua “guerra à poluição”. Só nas indústrias do aço e do carvão, a China deverá extinguir 1,8 milhão de empregos ao longo dos próximos anos. A ponte de vidro de Hongyagu parece assim ligar uma região pobre e isolada à emergente indústria do turismo chinesa, que só no ano passado facturou 5,4 biliões de yuan. “Queremos dinamizar o turismo na região, torna-lo mais competitivo”, afirma Liu. “Por isso, erguemos aqui esta ponte”.
Hoje Macau SociedadeSands volta a patrocinar cabazes da Santa Casa da Misericórdia [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Loja Social da Santa Casa da Misericórdia de Macau efectuou nova distribuição mensal de cabazes no sábado, dia 2, com o donativo de trezentas mil patacas da Sands China Ltd. que, pelo sexto ano consecutivo, patrocina este projecto de apoio solidário da Irmandade, num montante que se eleva já a um milhão e setecentas mil patacas. Nos cabazes entregues a 360 famílias, com produtos alimentares essenciais como arroz, óleo alimentar, leite, cereais, alimentos em conserva e produtos de higiene foram especialmente incluídos, em vésperas do Ano Novo Lunar, carnes fumadas e dieta vegetariana, ingredientes tradicionais para a confecção de refeições com grande simbolismo para a comunidade local nesta celebração da Primavera, a principal festividade chinesa em Macau, bem como brindes especiais da patrocinadora. A entrega simbólica do cheque ao provedor António José de Freitas e representantes da Irmandade pelo Presidente da Sands China, Ltd., Wilfred Wong e por Winnie Wong (Vice-Presidente de Corporate Communications and Community Affairs da Sands, Ltd.), foi presenciada pelos dirigentes da União Geral das Associações de Moradores de Macau (UGAMM), Leong Heng Kao; e da Federação das Associações de Operários de Macau (FAOM), Sio I Man, as duas associações que têm apoiado a Loja Social da SCMM na triagem das famílias mais carenciadas e com dificuldades de subsistência face à carestia de vida.
Valério Romão h | Artes, Letras e IdeiasA grande purga [dropcap]N[/dropcap]ão disseram muito, à chegada. Mostraram-nos a identificação e perguntaram-nos pela exposição temporária. Com um nó na garganta, porque não os esperávamos e porque da presença deles nunca resultava nada de bom, conduzi-os até à ala onde eram ultimados os preparativos da exposição. “Estejam à vontade”, disse-lhes, “obrigado, estamos sempre”, respondeu um deles. Os vídeos não lhes mereceram especial atenção. O mais velho, no entanto, deteve-se num quadro. “Confirma-me que isto faz parte da exposição?”, dirigiu-se-me. “Sim”, respondi, “é um dos trabalhos constantes do catálogo. “Bem, já vi o suficiente”, adiantou. “Fechem tudo”. “Como”? Respondi, incrédulo. “Esta exposição foi devidamente autorizada pelo Ministério da Arte e da Moral, como consta do documento afixado à entrada do museu. Enviámos fotografias de todas as peças que pretendemos exibir e nenhuma foi alvo de objecção, tenho a certeza de que”. “Fechem tudo”, interrompeu-me, “fechem tudo agora mesmo”. Aparentemente, havia sido uma notícia numa revista de celebridades que espoletara o encerramento coercivo da exposição. Um rapaz alegava que certa vez tinha ficado sozinho com o artista e que este comentara o seu aspecto físico. O artista, claro está, era o autor das peças que nos preparávamos expor. Uma notícia destas podia passar perfeitamente despercebida ou propagar-se pelas redes sociais como lume em pasto seco. É fácil perceber o que acontecera. Replicada vezes sem conta ao longo do dia, a notícia obrigou o Ministério a tomar uma posição que aplacasse a fúria justiceira que ameaçava repercutir-se negativamente na imagem do governo. Fecharam a exposição, queimaram as peças apreendidas e encerraram-nos o museu durante seis longas semanas, nas quais tivemos que fazer vários pedidos de desculpa públicos e demonstrar “o mais sério e sincero arrependimento respectivo aos factos que motivaram o castigo aplicado”. Demos diversas entrevistas através das quais aferimos a avaliação que as redes sociais faziam da nossa sinceridade. Se desconfiassem da honestidade da nossa contrição, poderiam nunca mais autorizar a reabertura do museu. Felizmente, o nosso advogado era muito competente na gestão de processos públicos desta natureza. Para além da preparação que nos ministrou antes de cada entrevista, ainda nos deu uns comprimidos – de que nunca ouvira falar – que nos fazia parecer imbuídos de pena como se tivéssemos acabado de enterrar o nosso melhor amigo. “A molécula da tristeza”, segredava-nos, enquanto tomávamos os comprimidos. Felizmente, a pena foi a menor possível. O museu, apesar das perdas consideráveis que uma publicidade desta natureza acarreta, sobreviveu. O mesmo não se pode dizer do autor das peças que originaram o castigo a que fomos sujeitos. Depois de semanas de bullying público – queimaram-lhe o carro, envenenaram-lhe o cão, grafitaram-lhe as paredes – o homem acorreu à polícia para pedir ajuda. Após consultarem o processo, disseram-lhe que nada podiam fazer: o Ministério da Arte e da Moral tinha ascendente hierárquico sobre o Ministério do Interior, que tutelava a polícia. Um dia, ao sair do supermercado, deu conta de que o filho chorava compulsivamente. “Eles disseram-me que te iam esfolar vivo à minha frente, pai”. Irado, virou-se para trás e gritou indiscriminadamente para as pessoas que se acotovelavam junto das caixas registadoras. Alguém terá testemunhado ter ouvido um insulto de género. Era dos poucos casos do processo penal que dispensavam provas ou testemunhos. Foi condenado a dois anos de prisão mas não chegou a cumpri-los. Suicidou-se passados seis meses e várias surras recebidas.
Andreia Sofia Silva SociedadeEconomia | “Jovens empreendedores” começam hoje viagem em Portugal [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Economia (DSE) financia na totalidade uma viagem a Portugal com jovens empreendedores do território, intitulada “Programa de Intercâmbio de Inovação e Empreendedorismo para Jovens da China e dos Países de Língua Portuguesa”. De acordo com o programa a que o HM teve acesso, a viagem inclui visitas às cidades de Lisboa e do Porto, estando agendados encontros na Embaixada da China em Portugal, na Delegação Económica e Comercial de Macau e à Secretaria de Estado da Indústria de Portugal, sem esquecer uma visita à Fábrica de Startups e ao espaço Second Home. No Porto a comitiva, composta por pessoas de 11 associações locais, realiza visitas ao espaço de co-working NIDE Porto e OPO’LAB, além de uma passagem pela Porto Design Factory. Será também feita uma apresentação sobre o Centro de Empreendedorismo para Jovens da China e dos Países de Língua Portuguesa, pelo director dos Serviços de Economia, Tai Kin Ip. Este centro foi criado em Outubro do ano passado e serve, segundo a resposta da DSE ao HM, como “plataforma de encontro e de intercâmbio entre as startups do Interior da China, de Macau e dos países de língua portuguesa”. O programa da viagem deverá proporcionar aos participantes “a utilização dos espaços de trabalho compartilhados, a participação nos cursos de formação e a utilização dos serviços de aconselhamento”. As visitas a Lisboa e ao Porto vão servir para estudar “o rumo do futuro desenvolvimento e cooperação” nesta área. A DSE aponta que, “com o objectivo de acompanhar os resultados de intercâmbio entre as associações e Portugal”, “depois da conclusão da actividade de intercâmbio, todos os representantes das associações têm de apresentar o plano ou a direcção de cooperação que pretendam desenvolver com o Portugal, de modo a impulsionar ainda mais os trabalhos relacionados com o Centro de Intercâmbio”.
João Luz VozesA Harmonia [dropcap style≠‘circle’]P[/dropcap]or aqui está tudo bem, espectacular, não podia estar melhor depois dos envidados esforços das sacrossantas autoridades para manter esta terra solidamente segura e protegida contra influências desequilibradas externas. Quero saudar-vos e dar-vos as boas-vindas à terra da pura felicidade, o território do amor e contentamento de todos, este enclave de equilíbrio imóvel, o centro do júbilo máximo onde não há espaço para imperfeição. Eu sou a concórdia, o esteio de pureza e higiene social, transformo o mundo num desenho animado, onde os polícias são agentes da Playmobil e os cidadãos personagens de anime. Pelas ruas não faltam sorrisos rasgados a amarelo emoji, pessoas que passeiam infantilidade fermentada no encerramento a cidade redoma sitiada em aprazimento e dinheiro. A vida é uma aventura de proporção exacta e consonância obediente para toda a pequenada da Região Administrativa Especial do Clube dos Amigos Disney. Prevejo que no futuro, todos os residentes vão usar bibe e circular pelas ruas de mãos dadas trauteando cantigas de equilíbrio e sensatez. A paz social e a tranquilidade residem na conformidade, na concórdia e no amor pelo escrupuloso cumprimento. Eu sou o resultado do punho vigoroso do pai poder, o somatório dos disciplinadores açoites dados pela mão que todos dirige com sabedoria em direcção a um futuro melhor. Por favor, não sejam impertinentes, sejam meninos bonitos e não discutam como me alcançar, como alicerçar harmonia, pois essa é uma das principais tarefas dos iluminados. Eu sou o garante da simetria, da regularidade, da coesão de onde nasce a fraternidade, do entendimento entre irmãos, do amor absoluto despido dos excessos da irracionalidade. Comportem-se, por favor, para o vosso bem, ou o desalinho toma conta das vossas vidas e aí terão de ser trazidos à harmonia pela força. Entristece-me ver uma sociedade de chakras desalinhados, sem feng shui, onde a pornografia e a indecência ganham terreno. Este desígnio de tomar o espírito humano, de o moldar à segura complacência, não é pêra doce, muito pelo contrário, é uma maça raineta. Deve ser a queda símia, essa vertigem biológica funda nos genes das pessoas, que leva ao arrebatamento, à dispersão e às tesões pouco sensatas, ao nascimento de pensamentos contrários à ordem pública. Porquê este gosto pelos abismos lúbricos, pelo pluralismo onde o confronto é, não só inevitável, mas génese desta inquietação que palpita no sangue das pessoas? Dizem que esta é a natureza do Homem, nascido para a desobediência desde os primeiros capítulos no Jardim do Éden, irrequieto a lançar-se em fluxos migratórios tendo o sonho como bússola, ou a sonhar com outra realidade que não esta. Porquê esta propensão para a lascívia, para a controvérsia? Porque é que nunca estão satisfeitos e insistem na crítica, na participação cívica. Calem-se e obedeçam. Reneguem a revolução que a biologia vos dita e conformem-se a mim, a narcotizante harmonia. Chega de prazeres ilegais e imodestos, tudo o que é do domínio do lúbrico deve ficar reservado aos estrangeiros, esses mafarricos com cifrões nos olhos. Qualquer escorregadela por parte do mui prezado residente deve ser tido como um assunto reservado à intimidade, que jamais será capaz de contagiar ao resto da população. Quero mostrar-vos como a submissão é óptima, como é o mais confortável porto de abrigo e a forma de alcançar uma sociedade comedida, bem comportadinha, sóbria, que lava os dentes depois das refeições, que se penteia antes de sair de casa, que quando lhe é pedido para saltar prontamente pergunta quão alto. Quero mostrar-vos as vantagens de viver num cartoon onde tudo é perfeito, quero inundar as ruas com a música da senhora no radiador, do Eraserhead, que canta que no paraíso está tudo bem. Ela tem toda a razão, está tudo impecável, podem dormir um soninho descansado porque os senhores que sabem das coisas estão no poder a consolidar a harmoniazinha. Haverá alguma coisa melhor que isto?!
João Santos Filipe SociedadeANIMA | Caso da cadela assassinada entregue ao Ministério Público [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] caso da cadela de rua cuidada pela ANIMA alegadamente assassinada em Julho do ano passado foi entregue ao Ministério Público, de acordo com a informação prestada pela PSP. “Após as diligências efectuadas por esta Polícia, [o caso] foi devidamente encaminhado ao Ministério Público para os devidos efeitos. Neste momento a PSP não tem nada a referir sobre o caso”, comunicou a PSP, ao HM. O alerta para o desaparecimento da cadela tinha sido dado a 15 de Julho, mas o corpo do animal só foi encontrado a 25 desse mês. Apesar da queixa da ANIMA, as imagens de uma câmara de trânsito da DSAT instalada na zona em que foi abandonado o animal, ou seja junto à sede da associação, acabaram mesmo por ser destruídas, devido à falta de coordenação entre a força policia e a entidade responsável pelos assuntos de tráfego. Sobre essa questão, a PSP não emitiu qualquer resposta. Em causa, neste caso, poderá estar uma violação à Lei de Protecção dos Animais.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeEnsino | EPM com melhor média de exames entre escolas portuguesas no estrangeiro A Escola Portuguesa de Macau obteve uma média de 11,88 ao nível dos exames, a melhor tendo em conta o grupo de escolas portuguesas no estrangeiro. A Escola Portuguesa de Luanda ficou em segundo lugar, com uma média de 11,64 valores. Miguel de Senna Fernandes mostra-se satisfeito com os resultados, apesar da baixa média registada [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s alunos de Macau e Angola são os únicos que conseguem que as escolas portuguesas que frequentam no estrangeiro tenham média positiva nos exames nacionais do ensino secundário, segundo dados do Ministério da Educação em Portugal. A agência Lusa analisou as notas dos alunos de oito escolas situadas em países que pertencem à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, desde a Guiné-Bissau até Timor-Leste. Olhando para os resultados dos alunos nos exames nacionais do secundário, apenas três escolas conseguem ter média positiva: a Escola Portuguesa de Macau (EPM), com uma média de 11,88 valores, e duas escolas da capital angolana – a Escola Portuguesa de Luanda (média de 11,64) e o Colégio de São Francisco de Assis (11,41 valores). Angola é o país com mais escolas portuguesas a levar alunos a exame: duas na capital e uma em Lubango, cujos alunos tiveram uma média de 7,88 valores nos exames. O estabelecimento de ensino mais mal classificado é a Escola Portuguesa da Guiné-Bissau (4,79 valores em 42 exames), uma média que coloca esta escola também em último lugar do ‘ranking’ geral que avalia 633 escolas situadas em Portugal e no estrangeiro. As escolas da ilha de São Tomé e Príncipe, do Lubango, da capital de Timor-Leste e da Guiné-Bissau ficam, invariavelmente, abaixo do 600º lugar, num universo de 633 escolas portuguesas. A média das notas dos alunos que frequentam escolas portuguesas no estrangeiro é de 9,88 valores e a nota média dos alunos pelo trabalho realizado ao longo do ano é de 13,08 valores. No ‘ranking’ que avalia as médias por regiões, as escolas portuguesas aparecem no antepenúltimo lugar, à frente dos alunos das escolas do distrito de Portalegre (média de 9,62 valores) e das ilhas dos Açores (9,80 valores). Nestas oito escolas realizaram-se 1.046 provas na primeira fase dos exames nacionais. De notar que, tendo em conta os dados dos últimos anos lectivos, não houve uma grande evolução ao nível das médias dos exames nacionais. No ano lectivo de 2015/2016, a EPM voltou a ficar em primeiro lugar em termos das escolas portuguesas no estrangeiro com nota positiva, mas ficou-se pelos 11,53 valores de média. Mais macaenses interessados Em declarações ao HM, Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação de Promoção da Instrução dos Macaenses (APIM), responsável pela gestão da EPM, mostrou-se muito satisfeito com estes resultados. “É sempre com muita satisfação que recebemos esta notícia. É a prova cabal de que o projecto funciona muito bem e é uma das razões para ser um atractivo para outras pessoas que não estejam habituadas ao ensino do português e que recorrem à EPM para educar os seus filhos nesta área.” O advogado lembrou que se trata de uma boa média, apesar de não saberem que critérios foram utilizados pelo Ministério da Educação português. “A EPM está sempre nos lugares cimeiros e isso já não surpreende, porque continua a ser uma escola de excelência.” O presidente da APIM considerou ainda que o projecto educativo em causa funciona, apesar da baixa média registada. “É sempre bom estar em primeiro lugar. Acreditamos sempre que o projecto funciona e que continua a ser actual. A EPM serve várias frentes, porque há interesses na área educacional de pessoas que são oriundas de Portugal, em primeiro lugar.” Miguel de Senna Fernandes lembrou que há cada vez mais famílias macaenses a colocarem os seus filhos na EPM. “Há um crescimento cada vez maior no interesse pelo estudo do português. A comunidade macaense está a voltar a aprender português, e digo isto com os registos que temos no jardim de infância D. José da Costa Nunes”, concluiu.
Hoje Macau InternacionalAssédio Sexual | Uma Thurman acusa Weinstein [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] actriz Uma Thurman, musa do realizador Quentin Tarantino e próxima do produtor Harvey Weinstein, juntou-se à lista de actrizes que acusam o magnata de Hollywood de agressão, admitindo o seu desapontamento em relação ao produtor que a promoveu. A actriz contou, numa entrevista publicada no sábado pelo The New York Times, a agressão de que terá sido vítima, ocorrida após o lançamento de “Pulp Fiction”, em 1994. Depois de uma reunião em Paris, Harvey Weinstein terá convidado a actriz para o seu quarto e depois para uma sauna num hotel, tendo Uma Thurman voltado a encontrar o seu produtor em Londres, também no seu quarto de hotel. “Ele empurrou-me e tentou saltar sobre mim e despir-se. Ele fez muitas coisas desagradáveis”, disse a actriz, na entrevista. Pouco depois, Uma Thurman foi ao hotel do abusador para enfrentá-lo e explica que o advertiu: “Se fizer o que fez com outras pessoas, vai arruinar a sua carreira, a sua reputação e perder a sua família, eu garanto”, ter-lhe-á dito. “O sr. Weinstein admite ter feito avanços em relação à sra. Thurman depois de interpretar mal a sua atitude em Paris. Ele desculpou-se imediatamente”, respondeu, num comunicado, um porta-voz do ex-produtor, que actualmente está na terapia no Arizona. Hoje interroga-se por que é que Uma Thurman “esperou 25 anos para tornar públicas essas alegações”, acrescenta. Harvey Weinstein está “atordoado e entristecido”, disse o advogado Ben Brafman no comunicado, acrescentando que as observações de Uma Thurman ao The New York Times estão a ser “examinadas e verificadas cuidadosamente antes de decidir se será apropriado avançar com um procedimento legal contra ela”. De acordo com uma amiga, que a acompanhou, Uma Thurman estava “a ferver de raiva” quando deixou Harvey Weinstein naquele dia, depois de uma discussão em que o produtor terá ameaçado a sua carreira. “Sinto-me tão mal por todas as mulheres atacadas depois de mim”, diz a actriz de 47 anos na entrevista, comparando essas vítimas com “cordeiros entrando no matadouro”. Uma Thurman contou mais tarde a Tarantino a agressão que sofreu, mas o realizador não a levou a sério. Foi apenas em 2001, quando ela insistiu, perturbada pela presença de Weinstein durante o Festival de Cinema de Cannes, que o cineasta percebeu a gravidade dos factos alegados contra o seu produtor, tendo o fundador da Miramax pedido desculpa à actriz. O realizador, vencedor de vários Óscares, disse em Outubro que sabia há anos das acções de Harvey Weinstein, agora acusado de assédio sexual, agressão ou estupro por uma centena de mulheres.
João Santos Filipe SociedadeNovo director da Polícia Judiciária define prioridades para este ano [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] questão da cibersegurança e as ameaças terroristas estão entre as áreas a que a Polícia Judiciária vai prestar mais atenção ao longo do ano. As prioridades foram apontadas por Sit Chong Meng, director da Polícia Judiciária, após ter tomado posse na sexta-feira. Também a lei orgânica vai ser revista. “As ameaças terroristas e cibernéticas são duas áreas a que vamos prestar muita atenção. Queremos desenvolver mais o nosso trabalho ao nível da cibersegurança e na prevenção de ataques terroristas. Vamos criar um centro de cibersegurança e criar uma divisão contra ataques terroristas”, começou por dizer Sit Chong Meng. Por outro lado, Sit desvalorizou os receios ligados a possíveis na privacidade dos cidadãos no âmbito da aplicação da futura lei de cibersegurança. O novo director da PJ destacou que o objectivo é a protecção das infra-estruturas críticas. “A lei serve para prevenir ataques cibernéticos e para manter o funcionamento da sociedade”, sublinhou. O problema dos recursos humanos Para a aplicação da lei da cibersegurança e a criação de um centro para este efeito, Sit Chong Meng admitiu que a PJ vai precisar de contratar 25 pessoas. “Nos últimos anos temos enviado pessoas para França e Singapura para receberem formação. Os técnicos e técnicos superiores já têm qualidade e é reconhecida”, afirmou Sit. “Mas quando se iniciam novos serviços é sempre preciso contratar mais pessoas para fazer o novo trabalho, não é só em Macau”, defendeu. Com a indústria do jogo a recuperar, o novo director da PJ foi questionado sobre a entrada de capitais vindos de Hong Kong. Em causa está o dinheiro levantado em máquinas multibanco com cartões UnionPay, que não têm o mecanismo de reconhecimento facial. “Desde o ano passado que temos uma lei sobre o montante em dinheiro vivo com que as pessoas podem entrar em Macau. Temos as ferramentas para investigar a origem dos dinheiros, se necessário. Por isso, neste momento não há qualquer problemas que o dinheiro que entra em Macau”, apontou.
João Santos Filipe Manchete SociedadeJogo | China pondera avançar com mercado que vai concorrer com Macau Segundo uma notícia da Bloomberg, agências do Governo Central estão a preparar a introdução de jogo online e criação de lotarias ou apostas desportivas em Hainão. A longo prazo a medida pode levar mesmo à criação de casinos da Ilha no Mar da China [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo chinês está a trabalhar numa proposta para permitir alguns tipos de jogo em Hainão, de acordo com a Bloomberg. A notícia foi avançada na sexta-feira, fez as acções das operadoras do território fecharem o dia na Bolsa de Hong Kong com quebras e, caso se confirme, cria um concorrente dentro da China para Macau. De acordo com as poucas informações disponíveis, agências governamentais do Interior da China, sob a supervisão de um grupo liderado pelo presidente Xi Jinping, estão a considerar permitir jogo online e uma lotaria ou apostas desportivas na província, que tem como uma das principais actividades o turismo. No entanto, segundo duas fontes anónimas citadas pela agência noticiosa, a longo prazo a proposta poderá mesmo abrir a porta para a construção de casinos. Este é um plano que inclui também o relaxamento das condições de entrada em Hainão para os turistas e a construção de um novo aeroporto. Na opinião do economista Albano Martins o principal aspecto da medida será a criação de um precedente, que a longo prazo poderá levar à construção de casinos em Hainão. No entanto, o economista fez questão de recordar que este tipo de notícias não é novo e que não têm tido resultados concretos. “Há bastante tempo que o Governo chinês está a ser confrontado com os lóbis de Hainão para avançar com o jogo. Tudo o que envolver a legalização do jogo na China vai concorrer com Macau, independentemente do tipo”, disse Albano Martins, ao HM. “A criação de jogo online será um primeiro passo para que depois surja o jogo físico. Todas as decisões que forem nesse sentido na China são um tiro nos pés de Macau”, considerou. Apesar de tudo, o economista admitiu duvidar da informação, argumentando com o actual contexto político: “A China com o sistema que tem, cada vez mais fechado e contra o jogo… Estranho que queira tomar essa medida em Hainan”, confessou. “Macau muitas vezes já é visto como uma pedra no sapato para a China. Criar um mercado em Hainão seria criar outra pedra no sapato, sobretudo numa região chinesa, que não tem Segundo Sistema. Tenho muitas dúvidas” frisou. Macau tem vantagens Por sua vez, José Isaac Duarte sublinhou, ao HM, que qualquer mercado que abra na China vai naturalmente concorrer com Macau, no entanto, defende que a RAEM tem as suas vantagens. “Todas as actividades de jogo que sejam legalizadas na China significam um potencial desvio de recursos financeiros, ou pelo menos, de jogadores de Macau. Em termos, daquilo que chamamos os jogadores mais pesados [VIP], Macau continuará a ter a vantagem de ser uma jurisdição especial do ponto de vista financeiro e jurídico e, portanto, terá facilidades financeiras e jurídicas que Hainão, em princípio, não terá. Se eles as tivessem a concorrência seria a mais acentuada”, disse o economista. “Nenhuma jurisdição na Ásia tem as facilidades que Macau tem em termos de proximidade, facilidade de acesso, proximidade linguística e cultural e o facto de ser um região chinesa com regulamentação financeira e um quadro jurídico diferente, que é mais flexível em muitos aspectos do que aquele que existe no Interior da China. São vantagens que não são fáceis de replicar”, justificou. Em relação ao dia em que foi conhecida a notícia todas as operadoras do território registaram quebras na bolsa de Hong Kong, recuos que variaram entre 0,19 por cento e 2,64 por cento.
Victor Ng PolíticaEx-presidente da AL diz que sempre sonhou ser rica [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] antiga presidente da Assembleia Legislativa (AL), Susana Chou, escreveu um texto na sua conta da rede social Weibo onde afirma que sempre teve o desejo de ser rica. Num texto intitulado “tratar bem dos outros”, Susana Chou contou que, quanto frequentava a escola secundária e a universidade, sempre sonhou ser a Marie Curie da China, até que acabou por apostar na área dos negócios. Actualmente Susana Chou está afastada da vida política, sendo directora de uma empresa de consultadoria na área comercial e tradução, de nome Perfeição. Além disso, a ex-presidente do hemiciclo foi um dos nomes referidos nos Panama Papers, na qualidade de directora da “Katanic Investment S.A.”, uma sociedade anónima com sede no Panamá, criada em Dezembro de 1985. Susana Chou deixou de admirar a mulher que criou o Rádio para passar a idolatrar Steve Jobs pelas suas invenções e declarações inspiradoras que fez no final da sua vida, relativas ao valor da fortuna na vida de cada um e na importância de amar os familiares. A ex-presidente da AL lembrou que, quando era pobre, passou por vários momentos de infelicidade, sendo que desde aí ficou com o sonho de ganhar uma grande soma de dinheiro para comprar tudo o que desejasse, como conseguir o melhor lugar no cinema ou frequentar os melhores restaurantes. Apesar de ter começado a ganhar mais dinheiro há cerca de 30 anos, Susana Chou acabou por chegar à conclusão que não ficou mais feliz por causa disso. A felicidade chegou com a recordação das más experiências no passado. A sua primeira ideia, assim que começou a viver melhor financeiramente, foi ajudar os outros, dando dinheiro a quem tivesse dificuldades para resolver os problemas mais urgentes. No texto, a antiga presidente da AL reitera que, durante 20 anos, se dedicou às acções de caridade, concluindo que ajudar os outros lhe permitiu ter benefícios para si própria.
João Santos Filipe Manchete PolíticaSegurança | Secretário apoia proposta para afastar magistrados estrangeiros Wong Sio Chak garante que não há casos de quebra de sigilo profissional dos juízes portugueses, mas defende que as questões de segurança nacional devem ser julgadas por juízes chineses [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão há casos registados ou suspeitas de quebra de sigilo por parte dos juízes portugueses em Macau, mas a segurança nacional exige que sejam os magistrados chineses a julgarem os casos que envolvem informação nacional. Foi esta a posição defendida por Wong Sio Chak, na sexta-feira, à margem da tomada de posse do novo director da Polícia Judiciária, Sit Chong Meng. “Em termos de Segurança e desta tutela concordamos com a ponderação da secretária para a Administração e Justiça. Segundo tenho conhecimento nunca houve casos em que os juízes portugueses tenham quebrado o sigilo profissional. Mas esta proposta não está relacionada com o facto de terem ocorrido casos desse género”, clarificou Wong Sio Chak. “Estes casos têm a ver com informação a nível nacional e temos de ter em conta os interesses nacionais. Não é um dúvida em relação aos juízes portugueses. Pelo que sei não houve qualquer caso [de fuga de informação]. Estes assuntos não são da minha tutela, mas pelo que tenho conhecimento não houver qualquer caso nem indícios [de ilegalidades]”, acrescentou. De acordo com a proposta do Governo para a revisão da Lei de Bases da Organização Judiciária os juízes com nacionalidade estrangeira vão ficar impedidos de julgarem casos em que esteja em causa a segurança nacional. Uma medida que tem criado alguma polémica entre as pessoas ligadas ao Direito local. Preparação para tufões Na mesma ocasião, Wong Sio Chak abordou as alterações no dispositivo de segurança para responder a catástrofes naturais, como tufões, e revelou que a versão final das alterações legislativas vai ser apresentada esta semana ao Conselho Executivo. “Temos de fazer planos para enfrentar as catástrofes naturais, em coordenação com outros serviços, como Instituto para a Acção Social. É natural que em termos de médio prazo tenhamos de apresentar legislação. A versão final é entregue hoje [sexta-feira] e na próxima [esta] semana vou entregá-la ao Conselho Executivo para em termos de legislação e prevenção ver como podemos fazer face às catástrofes naturais”, comentou. Wong Sio Chak sublinhou a necessidade de ser estabelecido um sistema de comunicação eficaz com a população em casos de cortes nas telecomunicações. Nesse sentido, foram adquiridos 60 walkie-talkies, que vão ser distribuídos pelas equipas de salvamento e forças de segurança. Além disso, o Corpo de Bombeiros tem um plano para adquirir viaturas com altifalantes para comunicar com a população. Outra solução pode passar por instalar os altifalantes junto das câmaras de vigilância junto às estradas. “Vamos fazer os nossos melhores esforços e vamos garantir que a tecnologia nos vai auxiliar na transmissão de mensagens durante a passagem de tufões”, garantiu o secretário para a Segurança. “Nunca disse que íamos espiar as aplicações móveis” “Quero esclarecer que jamais disse nessa conferência de imprensa [após passagem do Hato] ou em outra ocasião que durante a passagem de um tufão íamos ouvir as comunicações da população ao nível dos telemóveis. Nunca disse que íamos espiar as aplicações móveis” afirmou Wong Sio Chak, quando questionado se a legislação de prevenção e protecção de catástrofes naturais iria permitir às autoridades acompanharem os grupos de conversação nas aplicações móveis, para evitar a difusão de rumores. “Na altura o que eu disse é que durante as catástrofes naturais ou tufões temos de resolver os casos em que são promovidos rumores. Portanto, em termos de legislação, são casos que já são considerados como crimes. Só nesses casos é que vamos recorrer à transmissão de mensagens”, acrescentou. “Não vamos ler as mensagens da população, só nos casos em que foram cometidos crimes, com o objectivo de garantir a ordem e segurança pública”, frisou.
João Luz China / Ásia MancheteEstudo | Relatório do The Economist revela declínio global da democracia O Índice de Democracia da unidade de pesquisa do The Economist revela que 2017 foi um ano negro para as aspirações democráticas no mundo inteiro. De acordo com o relatório, a Ásia foi das regiões que mais caíram no índice, numa tendência global de ataque à democracia e à liberdade de expressão. Em primeiro lugar do ranking ficou Noruega. O último lugar foi, sem surpresas, para a Coreia do Norte [dropcap style≠’circle’]2[/dropcap]017 foi um ano negro para a democracia, uma asserção que não parece surpreendente se fizermos uma revisão do que se passou no ano passado, mas que ganha substância no Índice de Democracia do jornal The Economist. O relatório divide em quatro categoria os regimes analisados: Democracias completas, democracias com falhas, regimes híbridos e regimes autoritários. O estudo baseia-se na análise de 60 indicadores que medem o processo eleitoral e o pluralismo, o funcionamento do Governo, a participação política, a cultura democrática e política e as liberdades civis. Logo à partida, o resultado é chocante, nomeadamente por demonstrar que apenas 5 por cento da população mundial vive numa democracia completa. Enquanto que quase um terço do mundo vive sob o jugo de regimes autoritários, com particular destaque para a China neste capítulo. Aliás, no geral, 89 países e territórios viram as suas pontuações descerem, registando a maior queda desde 2010, com os países asiáticos a liderar o declínio. Não é, portanto, de espantar que nesta parte do globo os únicos países com pontuações que os colocam na categoria das democracias completas são a Austrália e a Nova Zelândia. A Ásia foi o continente que sofreu o maior declínio em relação a 2016, além de registar a maior discrepância entre países. O bloco asiático obteve 5.63 de pontuação, ficando para trás em relação à América do Norte que atingiu os 8.56, a Europa Ocidental que teve 8.38 e a América Latina com 6.26. A pontuação obtida pela Ásia em 2017 contraria os avanços registados nos anos anteriores. “Foi um ano de retrocesso democrático na região e a pior performance desde 2010/2011 no rescaldo da crise económica e financeira global”, explica Duncan Innes-Ker, director da Ásia The Economist Inteligent Unit, a organização responsável pelo estudo. Duncan Innes-Ker salienta “como maiores razões para as tendências de regressão a consolidação do poder de alguns líderes chave da região, a crescente intolerância em relação a minorias e os atropelos à liberdade de expressão”. As duas maiores democracias emergentes asiáticas, a Índia e a Indonésia, sofreram declínios acentuados nas respectivas pontuações. A Índia caiu da 32ª posição, que ocupava em 2016, para o lugar 42, enquanto a Indonésia desceu do lugar 48 para 68. Um dos maiores reveses sofridos pelo Estado indonésio, que explicam a queda de 20 lugares no ranking, está relacionado com o município de Jacarta, após a prisão por blasfémia contra o Islão do antigo Governador, Basuki Tjahaja Purnama, um cristão de origem chinesa. O ex-governante foi condenado a uma pena de prisão de dois anos. China na cauda A ascensão das ideologias conservadoras e religiosas também afectaram a Índia. O fortalecimento das forças Hindus de direita levou ao aumento do número de melícias e vigilantes e da opressão de comunidades de minorias, em especial muçulmanas, e outras vozes dissidentes. Cá pela região, Hong Kong caiu três lugares para o lugar 71, num total de 167 jurisdições. Macau não está incluída na lista do The Economist, porém, a pontuação obtida pela região vizinha é um bom indicador comparativo. Na análise de 2017, Hong Kong teve a mesma pontuação que a Namíbia e o Paraguai, ocupando a categoria das democracias com falhas, ficando atrás de territórios como Singapura, Mongólia, Malásia e Sri Lanka. Neste aspecto é de referir que a China ficou no 139º lugar, entre 167 países e territórios, ocupando a categoria dos regimes autoritários, atrás de países como Zimbabué, Ruanda, Rússia, Cuba, Venezuela Angola, Moçambique e Iraque. O resultado chinês foi influenciado pela consolidação do poder de Xi Jinping, algo que teve o seu apogeu na inscrição do pensamento do presidente sobre a Nova Era de socialismo de características chinesas na constituição do Partido Comunista Chinês. Além disso, a pontuação chinesa também foi influenciada pela aceleração do estado de vigilância trazido pelas políticas de Pequim no que toca à ciber-segurança e pela perseguição e prisão de activistas dos direitos humanos e líderes religiosos. Apesar de terem características políticas completamente diferentes, também o Japão e as Filipinas viram os seus líderes consolidarem o poder. O Primeiro-Ministro Shinzo Abe assegurou o quarto mandato à frente dos destinos do Japão, depois de uma vitória esmagadora do seu partido, o Partido Democrático Liberal, que mantém a posição dominante na legislatura. No que diz respeito às Filipinas, que ocupa o lugar 51, o país desceu a sua pontuação devido à pouco precisa declaração de lei marcial na parte sul de Mindanao e pela actuação autoritária do presidente Rodrigo Duterte. Imprensa livre Um dos factores de análise da equipa de investigação do The Economist é a liberdade de imprensa e de expressão. Nesse domínio, a editora do relatório, Joan Hoey, explica que a liberdade de expressão enfrenta uma tripla ameaça. “Tanto nos regimes democráticos como autoritários, o crescimento do uso de processos por difamação, a prevenção do terrorismo e as leis de blasfémia são entraves à liberdade de expressão”. As ameaças à liberdade de expressão não são oriundas apenas das estruturas de poder político. “Entidades privadas, onde se incluem militantes islâmicos, gangs criminais e interesses instalados usam a intimidação, ameaças, violência e homicídio para limitar o discurso livre. Aqueles que argumentam pelo direito de não se sentirem ofendidos estão a exigir “espaços seguros”, “avisos de ofensas” e leis e regulamentos para trazer o “discurso odioso” nas redes sociais de forma a limpar a vida pública de conteúdos alegadamente ofensivos”, explica a editora. De acordo com o índice respeitante à liberdade de imprensa, o estudo revela que apenas 30 países, do universo de 167 estudados, estão classificados como “completamente livres”. Esta parcela representa apenas 11 por cento da população mundial. Na categoria de parcialmente livre estão 40 países, onde vive 34,2 por cento da população mundial. De resto, 97 países do Índice de Liberdade de Imprensa tiveram notas que os colocaram na categoria de “sem liberdade”. Pilares tremidos Apesar dos maus resultados, 2017 é um ano que traz alguma esperança, pelo menos no contraste com o ano anterior. De acordo com os autores do relatório, “se 2016 teve uma notável insurgência de populismo contra políticos e partidos mainstream em democracias desenvolvidas na Europa e na América do Norte, 2017 foi marcado pela resposta a este populismo evidente nos movimentos de oposição ao Brexit e à administração Trump”. No Estados Unidos, o estudo realça a polarização política, que tem vindo a crescer ainda mais desde que Donald Trump ocupa a Casa Branca, intensificando clivagens entre republicanos e democratas em temas como a imigração, economia e políticas ambientais. “As crescentes divisões entre os dois pólos políticos ajudam a explicar o porquê das dificuldades de governação da Administração Trump, apesar de os republicanos controlarem ambas as câmaras do Congresso”, lê-se no relatório. Face a este cenário não é de estranhar que os Estados Unidos tenham sido classificados como uma democracia com falhas, uma classificação que abrange também a grande maioria dos países europeus como, por exemplo, Portugal, Itália, França, Grécia e Bélgica. O último classificado na lista de países com democracias completas é a Espanha, que viu o seu lugar posto em causa devido à forma como Madrid lidou com a questão catalã. A equipa do The Economist não deixou passar em claro as tentativas de parar o referendo pela independência da Catalunha, nomeadamente a forma como foram invadidas assembleias de voto, se encerraram portais de internet e se perseguiram eleitores. A maioria dos países europeus classificados como democracia com falhas situam-se na Europa de Leste, com a Roménia à cabeça desta lista, ocupando o número 64 do ranking. De acordo com o relatório, “a Europa de Leste tem tradicionalmente pontuações baixas no Índice de Democracia devido à fraca cultura política, transições políticas para a democracia e dificuldades na salvaguarda da lei e contra a corrupção”.
João Santos Filipe PolíticaCondomínios e orçamento: Conselho Executivo envia regulamentos à AL [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Conselho Executivo terminou na sexta-feira a discussão de dois regulamentos que vão ser entregues à Assembleia Legislativa, onde serão analisados e votados. Os documentos em causa são a “Regulamentação da Lei da Actividade Comercial de Administração de Condomínios” e a “Regulamentação da Lei de Enquadramento Orçamental”. O primeira visa complementar a Lei da Actividade Comercial de Administração de Condomínios, que entra em vigor a 22 de Agosto, e “define os procedimentos administrativos sobre o requerimento, concessão, renovação, suspensão e cancelamento da licença da actividade comercial de administração de condomínios”. Neste documento legal fica definido que este tipo de procedimentos tem de passar pelo Instituto de Habitação (IH) e que as licenças vão passar também a estar disponíveis no formato electrónico. “Cerca de 200 e tal empresas vão ser abrangidas por este documento. O Instituto de Habitação vai reunir-se na terça-feira com o sector para transmitir informação mais detalhada sobre as alterações”, disse Leong Heng Teng, porta-voz do Conselho Executivo, na sexta-feira, numa conferência de imprensa, na sede do Governo. Em relação à “Regulamentação da Lei de Enquadramento Orçamental”, os serviços e organismos ganham maior flexibilidade para terem autonomia financeira, deixando de estar obrigados a que as receitas próprias sejam 30 por cento das despesas totais. Por outro lado, no âmbito do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA), os projectos passam a precisar de apresentar um estudo preliminar, onde constam objectivos e viabilidades técnica, económica e resultado pretendido.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaCaso Sulu Sou | Providência cautelar recusada por estar em causa “exercício de pura acção política” O acórdão do Tribunal de Segunda Instância, quanto à recusa da providência cautelar apresentado por Sulu Sou, aponta para o facto dos tribunais não terem, à luz da lei, poder para apreciar matérias aprovadas pelo hemiciclo. Os juízes defendem que a votação que levou à suspensão do mandato foi uma “prerrogativa de cariz político”. O acórdão afirma ainda que Ho Iat Seng negou a defesa de Sulu Sou [dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]á são conhecidas as razões para os juízes do Tribunal de Segunda Instância (TSI) terem recusado a providência cautelar apresentada por Sulu Sou, relativa à votação da Assembleia Legislativa (AL) que levou à perda temporária do seu mandato. Os juízes Cândido de Pinho, Tong Hio Fong e Lai Kin Hong consideraram que “o que a AL fez, através do plenário, foi um exercício de uma pura acção política”, referindo-se à votação como uma “prerrogativa de cariz político”. “Esta deliberação não é um acto administrativo, visto que não foi proveniente de nenhum órgão da Administração e no exercício de uma função administrativa ou no quadro de uma actuação da administração pública em sentido material. Foi, em vez disso, praticado por um órgão eminentemente legislativo com um enquadramento político, claramente.” A votação levada a cabo pelos 33 deputados do hemiciclo tratou-se de um acto “político o móbil”, pois “é político o ambiente em que foi produzida e são políticas a matéria e natureza envolvidas”. Isto porque “a maioria dos deputados, quando assim agiu, tê-lo-á feito em representação directa ou indirecta dos eleitores, ou como representantes do Governo que os tiver nomeado”. O acórdão faz referência à lei de bases de organização judiciária, que determina que os tribunais apenas se podem pronunciar sobre matérias do foro administrativo. “O edifício jurídico-normativo da RAEM parece ter sido arquitectado para fazer escapar do controlo dos tribunais a actividade do plenário da AL, naquilo que ela tem de geneticamente político, pois nem sequer o Tribunal de Última Instância dispõe de competência para tal”, pode ler-se. Os juízes apontam também que nenhum tribunal tem competência para analisar a providência cautelar apresentada por Sulu Sou. “Este tribunal não dispõe de competência legal para julgar os actos do plenário da AL, pois em lado nenhum do artigo da lei de bases da organização judiciária ela nos é referida.” Em relação à AL, o TSI apenas se poderia pronunciar sobre “decisões do respectivo presidente e Mesa”, o que não aconteceu, pois coube aos 33 deputados votarem a favor ou contra a suspensão temporária de Sulu Sou como deputado, por forma a responder em tribunal pelo crime de que é acusado, de desobediência qualificada. Os juízes do TSI lembram ainda que a lei de bases de organização judiciária não foi sequer feita a pensar na acção dos tribunais em relação a este tipo de casos. “A deliberação do plenário não é sindicável pelo TSI. Então, em qual tribunal será? A resposta é: em tribunal nenhum. O sistema jurídico de Macau não prevê a sindicabilidade das deliberações do plenário junto de tribunais ordinários, pois em lado nenhum da lei de bases da organização judiciária está contemplada essa possibilidade.” Desta forma, “o próprio legislador não contemplou a hipótese de o plenário da AL praticar actos administrativos ou em matéria administrativa”. Recorde-se que os deputados Vong Hin Fai e Kou Hoi In apresentaram na AL um projecto de lei que visava afastar os tribunais de se pronunciarem sobre matérias do foro político, argumentando que situações como a suspensão ou perda de mandatos “são actos livres de interferência de qualquer outro órgão ou indivíduo, de modo a evitar que seja posto em causa o normal funcionamento da estrutura política definida na Lei Básica”. O projecto foi, entretanto, retirado do hemiciclo. Acto da AL “útil à causa pública” Os juízes consideraram ainda que o acto praticado pelo hemiciclo não visou a suspensão definitiva de Sulu Sou, que manteve, aliás, o seu ordenado, e que não o prejudicou como indivíduo, mas apenas na sua qualidade de político. “A suspensão declarada do mandato do deputado (…) não apresenta nenhuma vertente punitiva ou sancionatória. Ela pretendeu somente conferir uma espécie de moratória à condição de deputado, portanto temporária, e com um fim que, se nos é permitido dizê-lo, acaba por ser útil e relevante tanto à causa pública, ao ter por missão a defesa da imagem de um órgão de soberania, como à causa privada da própria esfera política do deputado.” Cândido de Pinho, Tong Hio Fong e Lai Kin Hong defendem que, desta forma, Sulu Sou “passa a ver assegurada a possibilidade de se defender e provar rapidamente a sua inocência e retomar, quanto antes, a integralidade dos poderes para que foi eleito”. “Nem a própria condição de deputado ele perdeu com esta deliberação, do mesmo modo que a sua situação remuneratória ficou inteiramente intocada. Portanto, a deliberação não visou a produção de efeitos na situação individual e concreta do cidadão administrado. Em vez disso, limitou-se unicamente a suspender o exercício do mandato que recebeu dos seus eleitores, sem interferir tampouco com a condição definitiva de deputado, que não perdeu”, acrescenta o acórdão. Ho Iat Seng negou defesa O acórdão dá também conta de que o presidente da AL, Ho Iat Seng, negou a possibilidade de defesa de Sulu Sou, que não só não pôde votar como lhe foi negado o uso da palavra no dia da votação para a suspensão do seu mandato. “Durante a reunião plenária o presidente da AL (nesta qualidade ou na qualidade de presidente da Mesa da AL), manteve a posição de que o deputado requerente estava em conflito de interesses, tendo o mesmo sido impedido de tomar autonomamente a palavra no debate, bem como exercer o direito de voto, ficando-lhe somente possibilitada a actividade dependente e subordinada consubstanciada no ‘direito de assistir [à reunião plenária]’ e no ‘direito de prestar as informações e os esclarecimentos que sejam solicitados’.” Os juízes lembraram também que, durante o debate, esta questão foi levantada, tendo Ho Iat Seng voltado a frisar a mesma premissa. “Durante a reunião plenária foi suscitada a questão de o deputado requerente ter ou não ter direito de audiência e/ou de defesa, direito que lhe foi negado pelo presidente da AL (nesta qualidade ou na qualidade de presidente da Mesa da AL).” O “parecer” da comissão O acórdão do TSI faz também uma referência ao parecer da Comissão de Regimento e Mandatos da AL, liderada pelos deputados Vong Hin Fai e Kou Hoi In, que determinou que deveria ser o plenário a pronunciar-se quanto à suspensão ou continuação do mandato de Sulu Sou no hemiciclo. Contudo, a palavra parecer é colocada entre aspas. “A comissão, que reunira duas vezes, elaborou um documento que denominou ‘parecer’, datado de 20/11/2017 (…) que foi enviado ao presidente da AL. Na sequência do aludido ‘parecer’, a Mesa da AL aprovou a deliberação de 22/11/2017, na qual determinou que o deputado requerente estava em situação de conflito de interesses, ficando por esta via proibido de participar na discussão e votação.” Recorde-se que, aquando da apresentação do pedido de suspensão de eficácia nos tribunais, a defesa de Sulu Sou alegou a existência de vícios neste processo de suspensão, tendo apontado o dedo à conduta da Comissão de Regimento e Mandatos, bem como à presidência e Mesa da AL, lideradas por Ho Iat Seng. Sulu Sou diz que TSI “enfrentou uma questão complicada” Sulu Sou reagiu ontem na sua página oficial de Facebook ao acórdão do TSI, tendo defendido que o acto de suspensão temporária de mandato deve ser considerado como tendo uma natureza semelhante à sua perda definitiva.O presidente da AL aceitou duas vezes no tribunal de que uma deliberação de perda de mandato de um deputado está sujeita à jurisdição dos tribunais e das leis administrativas. A nossa opinião é que a deliberação que suspendeu o mandato é similar na sua natureza e deveria ter um estatuto semelhante.” O deputado temporariamente suspenso defendeu ainda que tinha o direito a apresentar a providência cautelar. “Tomei esta acção legal porque muitos de nós acreditam que a AL violou a lei de uma forma grave. Contudo, o tribunal não decidiu sobre o mérito do caso. O tribunal não decidiu se os meus argumentos estavam correctos ou errados. O tribunal teve a perspectiva de que esta não é uma matéria para os tribunais decidirem. Concluímos que estávamos no direito de apresentar esta acção legal: não encontrámos argumentos legais e razoáveis que convencessem uma pessoa bem informada de que a AL não violou a lei.” Tendo adiantado que o TSI “enfrentou uma questão complicada”, por estarem envolvidos dois órgãos independentes, Sulu Sou não deu certezas se vai ou não recorrer da decisão. “Vamos analisar em profundidade a decisão do tribunal e vamos decidir se vamos ou não recorrer para o TUI. Macau já está a ganhar: afirmar a autonomia da AL é uma forma de confirmação da sua independência em relação ao Governo. Esta é uma causa que todos nós devemos abraçar.”
Hoje Macau SociedadePonte HZM | Macau paga mais de 3 mil milhões de patacas [dropcap]M[/dropcap]acau pagou cerca de 2,6 mil milhões de yuans (mais de 3 mil milhões de patacas) para a construção da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, noticiou a Teledifusão de Macau (TDM). A televisão indicou na quarta-feira à noite que o aumento dos preços com materiais e trabalhadores, devido a reajustamentos da concepção e do programa de execução, obrigou o Governo de Macau a pagar mais 590 milhões de yuans. No ano passado, os custos do projecto aumentaram cerca de 4,7 mil milhões de yuans a dividir pelos Governos das três regiões, que participam na construção e administração conjunta da nova ponte. A construção da ponte foi orçamentada em 38,118 mil milhões yuans, quando foi assinado, em 2010, o acordo tripartido que permitiu avançar com o empreendimento. O encargo de 15,73 mil milhões de yuans foi suportado por Hong Kong, Zhuhai e Macau. Em Novembro passado, as autoridades tinham estimado o aumento dos custos podia ser de 11 mil milhões de yuans, de acordo com o Gabinete de Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI). A comparticipação de Macau nos custos de construção é 12,59%, inicialmente orçados em 1,98 mil milhões de yuans, acrescentou. Iniciado em Dezembro de 2009, o projecto, com uma extensão total de 55 quilómetros, inclui uma ponte principal de 22,9 quilómetros e um túnel subaquático de 6,7 quilómetros, sendo uma infra-estrutura importante na estratégia de integração da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau, que pretende criar uma região metropolitana de nível mundial. A 8 de Janeiro, o jornal China Daily tinha noticiado que a nova ponte podia abrir em Maio ou Junho próximos, dependendo dos trabalhos de construção dos postos fronteiriços em Zhuhai e Hong Kong. Sem precisar uma data para a abertura da ponte, o diário, que citou fontes não identificadas, acrescentou que o posto fronteiriço em Macau deverá ser o primeiro a ficar pronto, dado o ritmo dos trabalhos.
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Bairro evacuado por causa de bomba da II Guerra Mundial [dropcap]M[/dropcap]ilhares de pessoas foram ontem retiradas do bairro de Wanchai, em Hong Kong, devido ao perigo de rebentamento de uma bomba de 450 quilos dos tempos da Segunda Guerra Mundial, encontrada numa zona de construção. Segundo relatos das autoridades locais, dezenas de especialistas estão a tentar desactivar o engenho explosivo, o que levou à retirada forçada de mais de quatro mil pessoas no distrito comercial e financeiro de Wanchai, um dos mais movimentados da cidade. No espaço de quatro dias é a segunda bomba dos tempos da Segunda Guerra Mundial que é encontrada naquela área urbana, onde decorrem escavações no subsolo. Uma primeira bomba de 450 quilos dos tempos da Segunda Guerra Mundial provocou na quarta-feira o encerramento de várias ruas importantes e a suspensão de serviço de balsas no bairro. “A bomba está numa situação perigosa. O mecanismo do fusível está gravemente danificado e a sua posição impede que a nossa equipa trabalhe de uma maneira eficiente”, disse ao jornal South China Morning Post o especialista em desativação de engenhos explosivos Alick McWhirte. Segundo as autoridades locais, ambos os engenhos explosivos foram lançados pela aviação militar americana durante a Segunda Guerra Mundial, ficando “incrustados no solo” sem explodir até agora.
Sofia Margarida Mota Perfil PessoasViru Badwal, professor de Yoga: “Fazer yoga é estar mais vivo” [dropcap]N[/dropcap]ão é difícil entrar no Macao Fitness e, dentro de uma sala envidraçada, deparar com um professor que faz parecer simples, autênticos contorcionismos. Trata-se de Viru Badwal, o professor de yoga que veio da Índia e está encantado com Macau. A modalidade que agora está na moda, sempre foi uma constante na vida deste mestre, mesmo sem o saber. “Sou da Índia, de uma região situada no norte do país, Rishikesh. É uma região espiritual, onde não há indústrias e é conhecida por ser o berço do yoga”. Não admira que a modalidade tenha constado desde sempre da vida de Viru Badwal, mesmo que não tivesse dado por isso durante muitos anos. “O yoga estava em todo o lado diariamente e não era necessário dar-lhe nome. É uma forma de estar na vida, não precisa de ser falada ou ensinada”, começa por contar ao HM. “Desde criança que quando acordava começava o dia com a minha mãe a fazer orações e meditação e à noite fazíamos o mesmo”, ilustra. Depois do 12º ano e com a entrada na universidade é que percebeu que existia um curso especial desta modalidade, ou “forma de estar na vida”, como prefere chamar. Mas ainda não foi nessa altura que assumiu o yoga para a vida. Escolheu o curso de comércio e negócios. “A opção por uma área comercial foi simples, existiam muitos empregos no sector”. Mas quando começou o curso e logo no primeiro ano, havia uma disciplina de desporto e uma das modalidades era o yoga. “Optei por esta modalidade e os professores gostaram da minha prestação, achavam que fazia as coisas bem e escolheram-me para avançar para níveis superiores”, conta. “Acabei por participar três vezes em campeonatos nacionais”, recorda. Se em pequeno o yoga não tinha nome e era integrante dos actos do dia a dia, na faculdade passou a ser um desporto e só depois é que veio o resto, “o mais importante, a filosofia”. Acabou a licenciatura na área comercial e não hesitou em tirar o curso especial de yoga. De aluno exemplar a professor da modalidade não foi um trajecto evidente nem fácil. “Uma coisa é praticar, outra é ensinar”, diz. Foi depois de todo este processo que a modalidade teve um verdadeiro sentido para Viru. “Yoga significa mudança com o tempo”, diz. “Aprendi que o yoga é uma coisa interna que começa pelo corpo com o exercício físico. Trabalhar o nosso corpo reflecte-se no nosso estar e para mim o yoga é isso mesmo, mudar com o tempo, mudar por dentro através do exterior. É estar consciente destas mudanças”, explica o professor. Viver mais É esta consciência que permite aquilo a que Viru chama de “viver mais”. A razão é simples: “porque temos mais noção do que se passa tanto dentro de nós como à nossa volta. Vivemos mais portanto”. Para o mestre é importante que as pessoas saibam estar “aqui e agora”. Com isso, aponta, conseguem estar mais atentas e perceber melhor o mundo que as rodeia. “Por exemplo, aqui no trabalho, pode não parecer, mas acabo por perceber, à entrada de cada aula, a forma como cada um dos meus alunos coloca as sapatilhas à porta e as meias lá dentro ou ao lado, depois, como olham e falam e entendo como estão. Dá-me uma percepção muito mais rica, é como se estivesse mais vivo”, refere. Mais, diz, o yoga também ensina a gentileza do trato, facto de quem é a personalização. Viru Badwal é o mestre do sorriso e das palavras ditas de forma doce. Macau, uma cidade maravilhosa Em 2007 saiu da Índia e foi para a Malásia. Daí, veio para Macau. Para descrever o território Viru não usa muitos adjectivos. Apenas um: “espetacular”. “Quando cá cheguei, a primeira vez em 2008, vinha com medo principalmente por causa da língua. Naquela altura ainda não havia muita gente a falar inglês. Mas com o tempo isso foi mudando e o que sinto agora é que as pessoas aqui são bastantes felizes. Talvez seja pelo facto da cidade ser pequena e com uma situação económica muito boa”, explica. Por outro lado e para justificar esta sua percepção do território, Viru Badwal recorre à situação da terra natal. “Onde nasci, não há muitas oportunidades de emprego e há muita pobreza. Mesmo comparado com Malásia, Macau é muito melhor. As pessoas são mais simpáticas e há muito mais segurança”, aponta. Para o professor de yoga, o facto de cada vez mais pessoas se interessarem pela prática desta modalidade nos últimos anos não é surpresa. “Fazem-no porque é bom, porque se sentem bem. É simples”, refere. Por outro lado, o yoga “é um espaço onde as pessoas têm oportunidade de relaxar e de colocar a mente em paz por momentos”.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesO turismo e a cidade “There can be little doubt that tourist areas are dynamic, that they evolve and change over time. This evolution is brought about by a variety of factors including changes in the preferences and needs of visitors, the gradual deterioration and possible replacement of physical plant and facilities, and the change (or even disappearance) of the original natural and cultural attractions which were responsible for the initial popularity of the area.” “The Tourism Area Life Cycle, Vol. 1: Applications And Modifications” – Richard Butler [dropcap]O[/dropcap] turismo está a passar por mudanças fundamentais em relação ao mercado, à estrutura da indústria e ao produto em si, sendo transformações impulsionadas por uma fundamental transição para padrões pós-modernos de consumo, tornando o turismo, uma das marcas de referência dos modos de produção e consumo na economia do conhecimento. Os modelos tradicionais de gestão do turismo e planeamento estão a adaptar-se rapidamente a uma nova realidade em que o turismo joga, quantitativa e qualitativamente, um papel sem precedentes na formação do desenvolvimento económico. Tendo em consideração as interconexões entre o turismo e a cidade do ponto de vista da pesquisa orientada para as políticas, o turismo penetra e influencia cada vez mais as decisões políticas em todas as áreas do desenvolvimento da cidade, tais como o uso da terra, desenvolvimento de locais, regulamentos de construção, infra-estruturas, inovação, qualidade ambiental, inclusão social, empreendedorismo e governança urbana, o que torna urgente incluir perspectivas de turismo nos modelos implementados para enfrentar questões e desafios urbanos. O turismo pode apoiar as cidades na construção da sua reputação, promoção do seu capital relacional na arena global, ao propor e apoiar um modelo de qualidade do desenvolvimento urbano. Além disso, o turismo urbano é, por si, um fenómeno multifacetado. Os diversos tipos de viajantes chegam a uma cidade com propósitos muito diferentes, e as suas múltiplas interacções com os moradores e com as atracções e infra-estruturas da cidade, dão origem a uma variedade de tipos de turismo, daí a existência de uma ampla gama de modelos de turismo sobreposto (e modelos de negócios) que coexistem. O turismo é uma função essencial de contextos urbanos contemporâneos. O potencial e as limitações da integração do turismo nas políticas urbanas são realizados por meio de uma variedade multifacetada e multidisciplinar de contribuições. A partir de diferente perspectivas, pode ser analisada a forma como a procura do desempenho do turismo pode contribuir para qualidade da vida urbana e para o bem-estar das comunidades locais (qualidade dos espaços, emprego, acessibilidade, inovação e aprendizagem), mas também pode criar riscos, tensões e conflitos, como é atestado pelo aumento de acções anti-turismo em reacção à mercantilização cultural e ao turismo de gentrificação induzida. A esse respeito, a integração do turismo na agenda urbana é condição (tanto intelectual e política), por abordar de forma crítica e positiva as assimetrias produzidas pelo fenómeno do turismo urbano. Tais assimetrias levam a uma (manejável) troca entre os interesses dos residentes e os dos turistas ou desencadeiam um jogo positivo, para o bem-estar dos residentes permanentes e temporários. É de considerar que um ressurgimento do interesse no fenómeno do turismo urbano deve ser conectado com uma variedade de factores de natureza contingente e estrutural. O turismo tem vindo a crescer e a diversificar-se na última década, e num contexto global em rápida mudança, a indústria de viagens tem-se vindo a transformar. As previsões da “Organização Mundial de Turismo (OMT) ”, apontam que o número de chegadas internacionais de turistas no mundo aumentará 3,3 por cento anualmente, em média, até 2030, enquanto, o “Fórum Económico Mundial”, que se realiza anualmente em Davos, prevê que o sector de viagens e turismo crescerá 4 por cento anualmente, a uma velocidade maior do que outros sectores económicos, como a produção, transportes e serviços financeiros. Além das tendências crescentes, a diversificação e a transformação global do fenómeno do turismo tem estado a ser observado e questionado. Os tipos de inovação devem ser analisados, como resumindo os campos em que a novidade e as trajectórias emergentes podem ser procuradas; a inovação a novos nichos de mercado, concentrando-se na abertura de novas oportunidades de mercado através do uso de tecnologias; a inovação regular que segue padrões históricos de acréscimo de mudança; a inovação revolucionária, que deriva do uso intensivo de tecnologias em produtos ou serviços específicos, ainda não envolvendo toda a indústria do turismo; e, finalmente, a inovação arquitectónica que afecta a indústria do turismo como um todo. É importante considerar que um dos desafios actuais no domínio da pesquisa do turismo consiste na identificação de inovações turísticas e na análise dos seus aspectos sociais, efeitos económicos e culturais, bem como da sua capacidade de mudar profundamente a forma como os viajantes, por um lado, e os operadores turísticos se envolvem com desenvolvimento do turismo. O turismo é um fenómeno situado e ao longo da sua evolução na sociedade global, não foi um insignificante factor nas trajectórias evolutivas das cidades. E, no entanto, o turismo urbano parece persistir à margem do debate sobre as cidades, pois raramente é estudado como parte de uma economia, sendo principalmente confinado como um agente de gentrificação e como resultado directo (e quase aceite) da regeneração liderada por processos de cultura. Quais são os motivos da marginalização do turismo em estudos urbanos? A resposta tem em parte a ver com uma história intelectual de que o turismo é relegado a desempenhar o papel de alternativa fácil por atraso das regiões periféricas que permaneceram fora dos processos de industrialização. Têm sido propostos dois tipos ideais, como sejam o turismo de urbanização e a urbanização do turismo, sendo ambos destinados a sinalizar a incorporação do turismo em processos de urbanização. O último (urbanização do turismo), identifica o turismo como o principal motor de moldagem física, social e económica da cidade. O turismo urbano e o lazer desempenham um papel predominante na produção local. O turismo de urbanização não prevalece na economia urbana, e é uma das muitas dimensões para explicar a trajectória evolutiva das cidades. Existe consciência do crescimento no discurso global do turismo, sobre a necessidade de convergir em um caminho do turismo sustentável que parece coincidir com o turismo de urbanização racional, onde o turismo não assume a liderança na economia local, mas contribui para a diversidade urbana, lazer e cultura atmosférica de consumo. A conceitualização sustentável do turismo urbano é a principal resposta aos efeitos negativos que o seu rápido crescimento tem provocado. Todavia, esforços significativos de pesquisa devem abordar o turismo de urbanização, as suas formas, políticas e práticas que o caracterizam e os seus efeitos e limites. O papel do turismo na formação do desenvolvimento social, económico e tecido físico das cidades, faz pressupor a necessidade da existência de aprofundamento de muitas formas intermediárias que o turismo carrega em contextos urbanos. O desenvolvimento do turismo global está intimamente interligado com a trajectória de transformação urbana e urbanização. A população residente deve ser articulada com uma população temporária e oscilante de visitantes, com impacto no tecido físico e socioeconómico urbano. O crescimento desproporcionado em números, aumento de receitas e expansão da presença de turistas em várias áreas urbanas analisados por estudos de vizinhança, instam ao tratamento do turismo como facto urbano significativo. As cidades não são apenas os principais destinos ou pontos de atenção dos itinerários dos viajantes, mas também são a origem da maioria dos viajantes, dado que 80 por cento dos turistas são provenientes das cidades, e esta é uma das razões fundamentais para a reconsideração do turismo como um factor crucial no desenvolvimento da cidade, como afirma a “Declaração de Istambul de 2012”, promovida pelo OMT, que é a agência da ONU encarregada da promoção turística sustentável e universalmente acessível. Muitos são os países que aceitam que o turismo é um recurso fundamental para as cidades e seus residentes, porque pode contribuir para o rendimento local, bem como para a manutenção de infra-estruturas e prestação de serviços públicos. A “Declaração de Istambul” descreveu o turismo como a maior indústria do mundo, criadora de benefícios económicos e promoção da cultura e bem-estar, bem como da coesão e preservação do património. A OMT enfatizou a importância das políticas públicas que impulsionam os impactos positivos do turismo urbano, enquanto evitam ou mitigam os efeitos negativos, ou seja, se a maioria das políticas de turismo forem concebidas como estratégias autónomas de mercadologia e promoção, em tempo, realizarão uma reflexão estruturada sobre as políticas urbanas integradas. A questão crucial é a de saber em que medida as instituições de ensino superior podem ajudar a comprovar estas afirmações e orientar o debate para a definição de base teórica e acção empírica, responsável, sustentável e acessível ao turismo. Os impactos das viagens nas cidades de destino que recebem visitantes são significativos das perspectivas comerciais, sociais e culturais do turismo. Os gastos dos visitantes constituem uma fonte de negócios cada vez mais importante, constituindo receitas para as cidades de destino, abrangendo a hospitalidade, vendas a retalho, transportes, desporto e indústrias culturais. É um importante motor económico para o emprego e fonte de rendimento para as cidades, e conjuntamente com o fluxo de visitantes, agrega o conjunto de novas ideias e experiências que beneficiam os visitantes e as cidades de destino. Se, por um lado, o turismo é representado como uma panaceia panglossiana para muitos (em alguns casos, até para todos), os problemas de desenvolvimento (como fonte de receita, ideias, emprego, conexão e dinamismo), por outro lado, a consciência dos muitos efeitos negativos do turismo tem alimentado interpretações cada vez mais críticas dos seus impactos e papel nas áreas urbanas, marcando o fim da lua-de-mel das cidades com o turismo urbano, com o surgimento de movimentos anti-turismo pela reivindicação dos moradores ao seu direito à cidade. É de considerar os argumentos esgrimidos na descrição dos efeitos desiguais de aumento de rendimento e deslocamento induzido pela dinâmica urbana associada ao turismo, lazer e consumo, com as consequentes implicações sociais, económicas e exclusão política. O turismo urbano continua a ser um campo imaturo de pesquisa simplista e as descrições sobre o fenómeno turístico da cidade são o resultado, e não se entende como é possível a feitura de legislação sem suporte científico. A falta de estudos científicos sobre o turismo abundam, e desde logo ressaltam os estudos de negligência do turismo nas cidades e das cidades que negligenciam o turismo. É evidente que tem havido uma espécie de consenso implícito sobre a negligência do turismo no processo de urbanização e desenvolvimento económico. A imaturidade do turismo urbano como domínio analítico tem raízes históricas, pois até à década de 1980, a literatura académica sobre o turismo urbano era muito limitada para não dizer quase inexistente, posteriormente, o turismo urbano começou a tornar-se parte integrante dos estudos de turismo, embora como um fenómeno bastante distinto e consequente área de pesquisa, pois uma profunda visão rural continuou a caracterizar o turismo por longo tempo. O preconceito anti-urbano caracterizou especialmente o contexto anglo-americano, onde o turismo estava principalmente ligado à ideia de recreação ao ar livre, no campo, onde o contacto directo com a natureza podia ser experimentado, e por contraste, na visão industrial, as cidades foram concebidas como lugares para o trabalho árduo, para as tarefas sérias dos serviços, comércio e governo. Desde a década de 1980, o interesse no turismo urbano cresceu rapidamente, em paralelo com a crescente atenção dada à necessidade de regular e contrariar as externalidades negativas do turismo em cidades históricas. O modelo de férias marinhas ao sol que surgiu na década de 1960 começou a diminuir, enquanto o turismo urbano cresceu. Esta tendência foi impulsionada pelo surgimento e fortalecimento do transporte aéreo de baixo custo, conjuntamente com a melhoria da conectividade das cidades europeias. A liberalização do transporte aéreo na União Europeia significou uma revolução no turismo, uma vez que afecta fortemente os fluxos de viajantes, tanto quantitativamente quanto qualitativamente. As “Transportadoras de Baixo Custo (LCCs na sigla na língua inglesa)” estão a deslocar viajantes para fora das rotas tradicionais, criando novos destinos. Os destinos emergentes são muitas vezes cidades pequenas, geralmente não famosas, onde as companhias aéreas de baixo custo pagam tarifas e taxas aeroportuárias mais baixas. O entusiasmo por um cenário turístico radicalmente dinâmico levou à concepção das LCCs como uma oportunidade não só para expandir a geografia do turismo, mas também para reposicionar destinos bem estabelecidos. O governo de Malta, por exemplo, em 2006, ofereceu incentivos às companhias aéreas de voos baratos em uma tentativa de favorecer curtas férias urbanas e expandir o turismo cultural/patrimonial na despesa do modelo sol e praia. O resultado foi um aumento no número de chegadas, mesmo que não tenham ocorrido mudanças estruturais na procura turística. Ao mesmo tempo, as LCCs desencadearam uma nova onda de discussão sobre a contribuição do turismo para o desenvolvimento local. Tem sido defendido que o facto de o maior número de turistas fluírem, como os permitidos pelas LCCs, nem sempre significam desenvolvimento do turismo local e que nos negócios do destino turístico, sendo necessários modelos que maximizem os benefícios e mitiguem as externalidades negativas.
Jorge Morbey VozesO “segundo sistema” [dropcap]P[/dropcap]or acreditar firmemente no legado que representa o pensamento de Deng Xiaoping, génio ímpar da China do nosso tempo, de que faz parte o princípio “Um País, dois sistemas”; Por sentir que Macau atravessa um momento difícil que pode comprometer a viabilidade do Sistema Político estabelecido na Lei Básica, por deficiência de conhecimento do funcionamento do Estado de Direito, trave mestra em que assenta a edificação do “segundo sistema”; Por entender que as comunidades que formam o tecido social da Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China devem entender plenamente a via por que circula o seu destino colectivo e a construção da sua felicidade colectiva, unidas entre si e no respeito individual e colectivo pelos símbolos e autoridades nacionais da República Popular da China; A propósito do almoço oferecido recentemente, a alguns macaenses, por Sua Excelência o Chefe do Executivo, pareceu-me oportuno lembrar um artigo escrito em 28 de de Janeiro de 2005 no jornal “Ponto Final” sob o mesmo título: O “segundo sistema” Ouve-se de vez em quando o lamento de macaenses, com alguma notoriedade em Macau, alegando que o “segundo” sistema os tem discriminado, não lhes dá as oportunidades que merecem, nem reconhece o seu papel legitimador desse mesmo “segundo” sistema. O princípio “um país, dois sistemas” foi a fórmula criada por Deng Xiao Ping para superar o antagonismo ideológico capitalismo/socialismo e abrir caminho à reunificação da China. O objectivo de tal princípio visa harmonizar sob a bandeira da República Popular da China, o sistema e as políticas socialistas do Interior com o sistema capitalista em que assentam as economias de Macau, Hong Kong e Taiwan. Dele não se extrai um mícro de propósito discriminatório. Étnico ou rácico. Nem se vê que o relativo menor sucesso do Sr. Tung Chee-Hwa na RAHEK possa ser atribuído ao déficit de gente lusa em Hong Kong para legitimar o “segundo” sistema. A Lei Básica da RAEM, com generosidade e pragmatismo, confere o estatuto de cidadania aos residentes de Macau, independentemente da sua nacionalidade, ascendência, raça, sexo, língua, religião, convicções políticas e ideológicas, instrução e situação económica ou condição social (art. 25.º). Passando dos enunciados teóricos à prática, volvidos mais de cinco anos de vida da RAEM, encontram-se deputados portugueses no seu órgão legislativo, assessores portugueses nos gabinetes dos membros do Governo, directores de serviços, coordenadores de equipas de projecto e quadros superiores portugueses por toda a Administração Pública e magistrados portugueses nos órgão judiciais. Na actividade privada é visível a prosperidade de advogados, médicos, engenheiros, arquitectos, industriais de restauração e outros profissionais portugueses. Nascidos em Macau ou em outras paragens. Sem discriminação. Discriminação era antes. E não há muito tempo. Quando os chineses, por mais habilitações que tivessem, fora do sistema de ensino português, na Função Pública, por exemplo, apenas podiam ser motoristas ou serventes. Macau é cada vez mais um espaço admirável e cheio de oportunidades para todos. A questão é ter unhas, como se costuma dizer em português. Uma bioquímica macaense, preterida em concurso de admissão aos Serviços de Saúde, será a excepção que confirma a regra? Haverá outros casos? Nesta como em outras matérias, a cultura chinesa que enforma o Poder Político na RAEM é muito pragmática. Na linha, aliás, do que dizia também Deng Xiao Ping: “Não importa que o gato seja branco ou preto. O importante é que apanhe os ratos”.
Sérgio Fonseca DesportoMotoGP estuda provas em circuitos citadinos [dropcap]O[/dropcap] pequeno mundo do MotoGP, a categoria rainha do motociclismo mundial, recebeu com surpresa a possibilidade do campeonato ter provas em circuitos citadinos num futuro próximo. Todavia, a possibilidade que certamente deixaria muitos fãs locais em estado de êxtase, de Valentino Rossi, Marc Márquez ou Jorge Lorenzo visitarem o Circuito da Guia, é, no mínimo, muito pequena. Numa entrevista ao diário espanhol Expansión, o CEO da Dorna Sports, Carmelo Ezpeleta, revelou que existem planos para uma primeira prova “numa cidade quente”, sendo este, segundo o promotor do campeonato, “um projecto sólido”. No sábado passado, à margem da conferência de imprensa de apresentação da equipa oficial da Yamaha, o promotor do MotoGP revelou ao site oficial do campeonato mais informações sobre o projecto. “É uma ideia que começámos a falar. Estamos a trabalhar com um governo asiático para tentar fazer um circuito semi-permanente com todas as medidas de segurança de um traçado permanente mas com características interessantes. Não penso que o projecto esteja pronto, no mínimo, até dentro de dois anos.” Ezpeleta explicou que este traçado citadino “tem como característica principal, além de ser um circuito com toda a segurança dentro de uma cidade, um paddock que ficará totalmente coberto, integrado num centro de exposições. Assim, durante o Grande Prémio utiliza-se para apoio à corrida, e durante o resto do ano pode ser usado para muitas outras coisas. Isso permitiria ter um paddock climatizado numa zona de muito calor.” Apesar das provas de estrada de motociclismo utilizarem estradas públicas, a única prova de motociclismo a nível mundial num circuito citadino continua a ser o Grande Prémio de Motos de Macau que este ano vai para a sua 52ª edição. Probabilidades baixas Apesar das insistências do HM, a Dorna Sport não respondeu às questões colocadas pelo HM sobre e eventualidade do Circuito da Guia acolher um evento do MotoGP no futuro. Contudo, várias fontes ligadas ao campeonato consultadas pelo HM acham pouco possível, a começar “pela dimensão reduzida do paddock, passando pelo facto do fim-de-semana Grande Prémio acolher actualmente três competições da Federação Internacional do Automóvel”. O circuito citadino da RAEM tem as suas particularidades, por ser “talvez o único evento nos tempos que correm que conjuga automóveis e motociclos no mesmo programa, sendo este basicamente um circuito montado para automóveis”, explicou ao HM, no passado mês de Novembro, Carlos Barreto, o Director de Corrida do Grande Prémio de Motos. Embora o circuito respeite todas as medidas de segurança impostas pela Federação Internacional de Motociclismo (FIM), nos últimos anos as alterações feitas ao circuito a pensar na segurança dos concorrentes têm sido na sua maioria pensadas para os automóveis. Há também uma série de medidas suplementares que anualmente são implementadas pela Comissão Organizadora para manter uma articulação saudável com a rotina diária da cidade. Tornar isto tudo possível não é tarefa fácil, visto que a prova de motos de Macau, ao contrário das principais corridas de “Road Racing”, como a Ilha de Man TT ou a NW200, obriga a um entendimento com as entidades responsáveis pelas corridas de automóveis. “É necessário muito diálogo interno para se procurar conciliar as propostas da FIA e, por vezes, esse compromisso pode demorar um nadinha mais”, acentuou na altura Carlos Barreto, que deu como exemplo “a passadeira para peões no início da Estrada de São Francisco que foi recolocada uns metros adiante e essa alteração, efectuada a título permanente em 2016, contribuiu para melhorar em termos de segurança esta zona do circuito para os pilotos de motociclos.” Mesmo cumprindo todas as rigorosas normas de segurança, fatalidades, como aquela que manchou a edição de 2017, são impossíveis de evitar e estão intrinsecamente apegadas à natureza da competição. Outras paragens Na mesma entrevista Ezpeleta admitiu que muitos países têm mostrado interesse em receber provas do MotoGP, admitindo que mais de 20 provas por ano é neste momento difícil, apesar de 22 eventos ser o número ideal do ponto de vista do empresário espanhol. No que respeita ao continente asiático, este ano a popular competição das duas rodas passará pela Tailândia, que se estreia no calendário, pela Malásia, que abdicou do Grande Prémio de Fórmula 1, mas não da sua prova de motociclismo, e pelo Japão, um país que é paragem obrigatória dada a fortíssima presença dos construtores nipónicos. Por muito incrível que pareça, a China continua fora do calendário. O MotoGP visitou o circuito de Xangai de 2005 e 2008, mas para além do evento nunca ter sido financeiramente viável para o promotor local, vários problemas com as alfandegas chinesas saturaram a Dorna. Indonésia deverá ser a próxima paragem asiática do MotoGP já em 2019, caso o novo circuito de Palembang, no sul da ilha de Sumatra, esteja pronto atempadamente. A acontecer, este será um regresso do campeonato à Indonésia que até 1997 organizava o seu Grande Prémio de Motociclismo no Circuito de Sentul.
António de Castro Caeiro h | Artes, Letras e IdeiasO lugar das coisas [dropcap]O[/dropcap]s sistemas de rotina nem sempre coincidem de pessoas para pessoas. Basta perceber que há pessoas arrumadas e pessoas desarrumadas. Há quem ache que um terceiro vive no caos, quando esse terceiro se dá perfeitamente com o ambiente que criou. O ponto fundamental parece ser este. Um objecto pode ser identificado num “topos” que não é a sua “chora”, o seu território, por assim dizer. Cada objecto tem o seu território e o território identifica também outros objectos com os quais está relacionado. Sem esses outros objectos, um objecto pode estar isolado. Há um sistema, uma rede de forças, que identifica logo uma coisa no seu sítio com uma relação intrínseca com outra coisa que pode não estar no seu sítio. Imaginemos as loiças da casa de banho e as da cozinha. Um bidé não fica na cozinha por razões óbvias e o lava-loiças não fica bem na casa de banho. Mas o lava-loiças implica uma zona para ter tachos, pratos e talheres sujos e uma outra zona onde eles são colocados para serem enxugados. O armário onde serão arrumados está próximo, etc., etc.. A própria relação do território de cada objecto pode ser alargado. Pensemos na relação que há entre pôr a mesa ou equipar a mesa e levantar a mesa para lavar a loiça. Há uma relação entre os sítios próprios onde se arrumam copos e pratos, os armários da loiça, e os sítios próprios onde estão tachos, panelas e fervedores, por exemplo. Há um sítio onde está o pão e o seu cesto. Um sítio onde estão os talheres. As gavetas dos talheres têm divisórias para garfos, facas e colheres, e até para colheres de várias dimensões. Estes “artigos” viajam até à mesa. São colocados sobre a toalha posta. Têm um sítio apropriado, cada lugar está reservado para cada pessoa específica da família e sem grandes cerimónias. Podemos alargar a consideração. Olhemos para a nossa mesa de trabalho. Pode ser a secretária onde uma miúda ou um miúdo estão a fazer os seus trabalhos de casa. Pode ser a secretária de um arquitecto, engenheiro, médico, filólogo. A secretária é estruturalmente diferente para cada profissão e cada profissional tem a sua maneira de arrumar as coisas. Por exemplo, a sua posição relativamente à luz. Um dextro recebê-la-á pela esquerda. Será posta junto à janela ou afastada dela, para não haver distracções. Há livros que eu tenho à esquerda e outros à direita. A posição do computador tem de ser confortável para escrever, para prevenir até a fadiga física. Se pensarmos nos sítios das nossas vidas, percebemos que ginásios, hospitais, cafés, sítios públicos e privados têm os seus sítios estruturalmente determinados para as suas coisas. A nossa vida lida com sítios inteiros, espaços públicos, locais e localidades precisamente como lida com o açucareiro, leite e café. Organizamos a nossa vida de acordo com os sítios pelos quais a nossa vida está distribuída. Essa organização é temporal.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasAno Cão embrenhado numa montanha de problemas [dropcap]N[/dropcap]o próximo Domingo, 4 de Fevereiro, celebra-se a Festa da Primavera (Li Chun, 立春, Princípio da Primavera), que para os geomantes do Feng Shui é o dia da mudança na regência do signo do ano, quando termina o do Galo Solitário e se dá início ao do Cão na Montanha. Em 2018, pelo calendário lunar, na China o primeiro dia da primeira Lua do ano será a 16 de Fevereiro e assim começará o ano do Cão na Montanha ainda sem ter ocorrido a celebração do Ano Novo Chinês. No último dia da décima segunda Lua, a 15 de Fevereiro, dar-se-á um eclipse solar. No ciclo de 60 anos (60 Jia Zi, 六十甲子), encontro do Céu com a Terra, este ano Cão na Montanha terá o número 35 e o nome Wu Xi (戊戌), pois corresponde ao Caule Celeste Wu (戊, associado ao elemento yang da terra) conjugado com o Ramo Terrestre Xu (戌 representado no carácter do animal Cão). Sendo Xu (戌) sempre terra e o Caule Celeste corresponde este ano a Wu, elemento Terra yang, teremos para 2018 terra sobre Terra, o que levará a ampliar os dois elementos a si associados: o fogo que cria a terra e a água que é cortada pela terra (pelos elementos água e fogo se criou a Terra). O fogo do Verão, alimentado pela madeira na Primavera, sem água para o cortar, amplia a terra e coloca-nos num dos extremos previstos para ocorrer este ano. Nesse período haverá tremores de terra e os vulcões expelirão magma, terra fortalecida que corta a água e, com esta seca, facilmente se dá a ignição, originando grandes incêndios. Com o fogo a criar mais terra, irá esta ocupar o lugar da água, mas com o metal no Outono a sulcar a terra, a água no Inverno provocará grandes inundações. Calamitosas condições a originar também doenças, epidemias e distúrbios na mente humana, que a poderão levar a enlouquecer. Organizada no caos, já sem compreender as imagens mentais que controlam a intervenção humana, está a mente predisposta a insanos extremismos, com apologia à descriminação e à guerra. Quando pelo semelhante, o desequilíbrio é levado a atitudes trazidas por fundamentalistas razões criadas pelas individuais verdades. Devido à liberdade de escolher que temos dentro da forma do pensar, cremos serem essas verdades produto do nosso pensamento. Alia-se a isso uma ciência positivista que, enquanto Religião, escolheu como modelo a máquina e assim realiza-se no Deus do Imperfeito. A conjugação de todos estes elementos torna-se um vulcão pronto a expelir a terra que tem dentro de si e serão os efeitos dessas catástrofes a dar folga à mente para vislumbrar de novo o Espírito da Terra. Desde esse Espaço, que dá os significados à matéria, consegue-se reflectir o subconsciente com que materialmente formatamos as realidades, podendo conseguir assim limpar as poeiras projectadas no espelho. Individual ou do Universo. Terra sobre terra Ano que vai ser de extremos: ocorrerão grandes mudanças com variações entre boas e más situações, consoante a Visão de cada um. É pelas bordas da História que consciencializamos e reconhecemos o lugar por nós ocupado. Por isso, quem olha as realidades, sem necessidade de nelas se impor, e pelo envolvente espaço se coloca como meio, vê-se a ganhar consciência das imagens mentais com que criamos o Universo e o ano servirá de grande aprendizagem e agudeza sobre o que viemos ao mundo fazer. Para quem parte já com verdades, pois ao entrar na realidade logo pela memória se projecta nas materiais formas que alimentam o seu observar subconsciente, não dá espaço ao que fora de si está e o envolve num todo e, por isso, apenas se irá encontrar pelo individual pensar, mantendo-se assim num ano embrulhado em caos e ruído. Prevê-se com um grande segurança, e todos inconscientemente sentimos, que não será um ano fácil, pois não haverá meio-termo. Tudo acontecerá de repente e, descontrolando a mente, valerão essas calamidades para acalmar a loucura propícia ao brotar do vulcão que é a mente humana. Esta, educada no cartesiano sistema de projecção, com o Erro de Perspectiva a empurrá-la para o caos, sem a consciência na Geometria Sagrada da Natureza, só vinga formalmente pela autoridade estatutária. Estruturada num caminho rectilíneo e uniforme, tudo começa e acaba no Eu individual, que é o fim, sem espelho no ondulatório criar ciclos, para alimentar as imagens mentais. Caótico labirinto, sem enredo para levar à saída do subconsciente e, nesse estado Superior de adulto, por que julgamos ser, somos juízes das verdades adquiridas no ouvir dizer e nas narrativas relatadas até à exaustão como notícias, acompanhadas por imagens de televisão que, qual S. Tomé, se tornam verdades. Do vazio, as fontes de informação e educação estruturam o espaço das nossas imagens mentais, transfigurando-as em formais Verdades, pelas quais cegamente lutamos. Veja-se o valor para as nossas vidas que as máquinas têm e lhes damos. A luz da máquina de encontro aos nossos olhos, poderosamente coloca na mente as verdades do ter visto. Com o suporte a receber a luz do meio ambiente, permite reflectir o que os nossos olhos vêem: espaço entre os objectos e a mente. É perante esta balança que o ano vai oscilar, sendo por isso diferente consoante o espaço dado. Em reflexão pelo nosso interior ou no continuar a esquecer o Erro da Perspectiva, crendo conseguir viver sem estar e a projectar, observa-se de fora revertido ao ponto de fuga. Por que se julga, com o estatutário poder do ser, fazemos o julgamento. Sabe-se pela História, a existência de personagens que, pela autoridade natural e do saber, conseguiram resolver difíceis problemas surgidos e evitaram guerras. São milénios a usarmos a Natureza, sem lhe dar o respeito ao que dela retiramos pois, se somos nós a finalidade, é pelas nossas verdades que a tomamos. Vale ser o cão um animal fiel e emocionalmente sentir o tratamento ético que lhe é dado por quem com ele coabita, entregando-lhe com amor a sua fidelidade. Terá sido o primeiro animal que se deixou domesticar pelos humanos, o que ocorreu há 17 mil anos. Só a partir do vazio se volta a criar ordem, para conseguir sair desse fosso onde já há dois milénios estamos atulhados, sem a ancestralidade proveniente do inconsciente Céu. O fogo controla a terra e esta, aumentando, será inundada pela água; catástrofes poderosas, provocadas pela Natureza que, descontrolando a mente, poderão levar alguns dirigentes a entrar na loucura, valendo a grande neve ou os enormes incêndios para os acalmar. Assim, o poder é entregue naturalmente à solidariedade das pessoas para juntas enfrentem as adversidades. O que temos a esperar para este ano, positivo ou negativo, está na vontade ou desejos colocados por cada um. No Próprio do Todo Um onde nos encontramos inseridos ou, individualmente, no cada um por si.
Hoje Macau China / ÁsiaConsumo na China | Jovens dão nova vida ao mercado do luxo Há empresas como a LVMH, que congrega marcas como a Gucci, Kering e Hermes, que olham para os jovens chineses como os principais consumidores de artigos de luxo [dropcap]G[/dropcap]uo Jiaxi é uma jovem típica de uma nova geração que está a surgir na China e que aposta no luxo: é jovem, é mulher e não tem medo de gastar. A contabilista de 24 anos, gosta de marcas como Coach e Louis Vuitton e já comprou, para oferecer, um lenço da Acne Studios, um relógio Daniel Wellington ou um cinto Mont Blanc. Com um salário anual de 50 mil yuans, cerca de 6400 euros, a jovem gasta um quinto do seu rendimento em artigos de luxo. “O luxo não é uma necessidade total para mim, mas sempre que tenho dinheiro suficiente, compro”, confessa. Não é a única. O ano passado, de acordo com a consultora Bain & Co, deu-se um aumento “dramático” em compras de luxo na China. E há empresas como a LVMH, que congrega marcas como a Gucci, Kering e Hermès, que olham para os jovens chineses como os principais consumidores de artigos de luxo. A vontade que esta geração tem de gastar – muitas vezes mais do que pode pagar – tem alguns senãos porque se trata de consumidores que não são tão leais às marcas tradicionais, e são influenciados por mudanças de tendências online. “Alguns destes jovens, mesmo quando não têm dinheiro suficiente, continuam a comprar produtos de luxo”, informa Huang Yue, 27 anos, que dirige a secção de moda no portal chinês Loving Luxury. Yue acrescenta que a mudança com os millenials, aqueles com idades entre os 20 e os 34 anos, foi dramática pois estimulou o surgimento de novas áreas, como o streetwear de luxo e o vestuário desportivo, o que a consultora Bain & Co. confirma que é essa a mudança que está por trás do rápido crescimento. Impulsionados pelo optimismo geral, atraídos pela facilidade das compras online e ajudados por pais que também beneficiaram do rápido crescimento do país, os millenials não só contribuem para o mercado de luxo interno como para o externo.. Esta geração de consumidores deram um impulso de 18 mil milhões de euros às vendas no ano passado, cerca de 20% mais do que no ano anterior. É, de longe, o salto mais alto em mais de meia década de crescimento lento, segunda a Bain & Co.. Os bens de luxo comprados na China representam 8% do total global, enquanto os compradores chineses, que fazem três quartos das suas compras de luxo no exterior, representam 32% das vendas em todo o mundo. O presidente-executivo da LVMH, Bernard Arnault, declara que a China é um mercado “muito dinâmico”, no qual a marca Louis Vuitton é sólida. “A China deu-nos um bom retorno”, disse à comunicação social há uma semana. A Gucci e a marca de conhaque Remy Cointreau estão entre outras bem conhecidas que registam um crescimento forte no mercado chinês. No entanto, analistas e insiders da indústria, confirmam que os consumidores estão a alargar a gama de marcas que compram, o que coloca um desafio às mais tradicionais. Por exemplo, a Coach e a Burberry revelam que, o ano passado, os seus resultados foram mais fracos, assim como a Prada também sentiu uma quebra nas vendas na China. Por isso, estas marcas têm vindo a estabelecer parcerias com personalidades que são influencers, assim como, no caso da Prada, lançou uma loja online em Dezembro. Revendedores online como a Alibaba e JD.com decidiram lançar as suas próprias plataformas de luxo e vender marcas como Yves Saint Laurent, Stella McCartney e Alexander McQueen. “Os consumidores chineses estão a passar por várias mudanças”, declara Liao Jianwen, director estratégico da JD.com, durante o Fórum de Mercados Globais da Reuters no World Economic Forum, em Davos, acrescentando que estes querem produtos de alta qualidade a “preços competitivos”. Mesmo que os consumidores gastem mais, estão a tornar-se mais exigentes. Veja-se o caso de Zhang Xia, 24 anos, uma jovem que trabalha na área financeira, e que já comprou malas Dior, Louis Vuitton, jóias Bulgari e até já pagou 19 mil euros por um relógio Piaget; mas que agora tornou-se mais difícil conquistá-la. “Cada vez mais, o que eu quero são padrões e objectos originais”, justifica, acrescentando que, tal como Guo, às vezes os pais ajudam-na a pagar as suas compras. Esta mudança teve como consequência o surgimento de áreas que não eram vistas no mesmo espaço do luxo tradicional, como o casualwear, a streetwear e até roupas de desporto premium. Os consumidores também estão mais disponíveis para comprar bens usados, o que significa que as pessoas que fazem compras em primeira mão podem, mais tarde, vender esses artigos, reavendo parte do que gastaram. “Porque sabem que podem vender em segunda mão, as pessoas não são tão rigorosas com os seus orçamentos para artigos de luxo”, justifica Deng Yun, 33 anos, director de operações da plataforma Luxusj, que vende bens de luxo usados. Segundo este responsável, os artigos mais populares no site são as malas Louis Vuitton, Chanel, Gucci e Fendi. Chloe, da casa Richemont, é popular entre compradores mais jovens, enquanto Hermès ainda tem um bom cachet, acrescenta. Com REUTERS