Diana do Mar EventosLançamento | Sellma Luanny apresenta hoje o livro “Poemas Matizados” Sellma Luanny lança hoje na Fundação Rui Cunha “Poemas Matizados”. A obra, que reúne uma selecção de 117 poemas, tem a chancela da Livros do Oriente [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]rimeiro foi um desafio, depois um escape. Sellma Luanny despertou para a poesia na adolescência quando viu nas letras arrumadas em versos um desafio. “Comecei a aprender literatura na escola e queria aprender como se faziam estrofes, a contar a métrica, as rimas perfeitas…”. “Durante um período” ainda escreveu, mas as exigências da medicina (primeiro do curso, depois do exercício da profissão) não deixaram espaço para a poesia se desenvolver. “Esqueci-me completamente da poesia”, conta. O reencontro com os versos aconteceu recentemente e de forma inesperada. “Foi quando entrei nos meus 50 anos. A pré-menopausa foi a pior fase da minha vida. Foi uma altura emocionalmente problemática devido ao desequilíbrio hormonal, e acabei por ver na poesia um remédio, uma mesinha, um escape. A poesia veio até mim e eu procurei extravasar tudo nela”, diz ao HM a autora, natural do Brasil e a viver em Macau há três décadas. Quando voltou à poesia fê-lo, sobretudo, em inglês, mas esse material permanece numa gaveta. “Nunca imaginei que fosse publicar, que teria talento para mostrar um dia a alguém. Pensei que, mesmo que chegasse a publicar, podia esconder-me atrás de um pseudónimo, para ninguém me reconhecer”, brinca Sellma Luanny. Foi só em finais de 2016, por ocasião do aniversário de uma grande amiga, e na véspera do seu, que regressou à língua materna. “Resolvi fazer uma poesia pelas duas e gostei do resultado. Desde então, passei a escrever em português. Comecei a mandar para a minha irmã, que tem sido a minha maior incentivadora, e ela começou a comentar cada poema, a dizer o que achava, o que sentia e eu fui guardando os versos”. Das palavras aos actos passou somente no final do ano passado quando teve conhecimento do Congresso da União de Médicos Escritores e Artistas Lusófonos (UMEAL). “Um dos responsáveis era o Shee Va, que foi meu colega no hospital, entrei em contacto com ele e apresentei três poemas. Perguntei-lhe como seria para editar e ele apresentou-me ao Rogério Beltrão Coelho [da editora Livros do Oriente] que se interessou”. Assim nasceu “Poemas Matizados”, obra que reúne uma selecção de 117 poemas. Tal como uma paleta de cores, os temas e os estados de espírito variam de poema para poema, o que propiciou o título. “Procurei dar vazão ao que vinha emocionalmente à minha mente. Os temas são variadíssimos. Escrevo muito sobre o universo e a natureza, sobre a minha visão do eu como ser humano, do que sinto relativamente a tudo”, relata. Sem seguir escolas clássicas ou métricas, Sellma Luanny tem poemas longos, curtos e muito curtos. “Tentei fazer o exercício da poesia minimalista, da chamada Aldravia [que deriva da palavra aldrava, a argola de metal usada para se bater à porta), um movimento surgido no Brasil. A poesia é mínima. São seis versos, cada um com uma palavra ou vocábulo”, explica. Métrica das palavras Já o tom da sua poesia, que descreve como “introspectiva e não puramente descritiva”, é “misto”: “Há poemas mais alegres, até festivos, mas também melancólicos”. Entre os “mais chegados ao coração” figura “Amigo”, preparado para o aniversário, mas que “praticamente abraça todos”, realça a autora. Em termos de proximidade, Sellma Luanny os poemas relacionados com a perda do irmão. “São-me muito próximos e preciosos”, conta. Sendo a terra que acolheu naquele dia remoto há mais de 30 anos, Macau não podia ficar de fora da sua estreia pelo mundo da literatura, com “Em Cidade do Rio Das Pérolas” a deixar salientes os contrastes entre o passado e o presente da outrora pérola do oriente, pelo olhar de uma “meia-nativa”, “meia-alienígena”. Fernando Pessoa e Florbela Espanca, de Portugal, ou Cecília Meireles, Gonçalves Dias e Vinicius de Moraes, do Brasil onde nasceu, figuram entre os poetas predilectos de Sellma Luanny que tem “sensações mistas” relativamente ao lançamento do primeiro livro. “É uma mistura de ansiedade com expectativa e felicidade”. A obra “Poemas Matizados”, com a chancela da Livros do Oriente, é lançada hoje pelas 18h30 na Fundação Rui Cunha. A apresentação fica a cargo de Shee Va.
Hoje Macau China / ÁsiaPrimeira exposição de um museu ocidental no Irão [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] exposição “O Museu do Louvre em Teerão – Tesouros das colecções nacionais francesas” abriu esta semana, no Museu Nacional do Irão, com uma selecção de 56 peças que marcam a história das colecções do museu francês. No que o Louvre descreveu como a primeira grande exposição por um museu ocidental no Irão, a mostra reúne mais de cinco dezenas de peças de vários departamentos do museu mais visitado do mundo e do Museu Delacroix. Os visitantes que marcaram presença durante a inauguração mostraram-se satisfeitos com a exposição, de acordo com relatos feitos à AFP. “É espectacular. Nunca acreditei que iria ver tais obras de arte na minha vida”, disse Mehdi, um jovem estudante de contabilidade. Por seu lado, o professor de música Kashayar Tayar considerou tratar-se de um “bom começo” e disse esperar mais exposições no futuro, que incluam obras de artistas iranianos. As peças em exibição, correspondentes a diferentes épocas e civilizações, representam o “conhecimento da sociedade sobre outras culturas”, segundo referiu o director do museu iraniano, Yebrael Nokandeh, citado pela agência espanhola EFE. Mostra diversificada Por seu turno, o presidente do Louvre, Jean-Luc Martínez, afirmou que a mostra representa “a diversidade das coleções do museu” francês, desde a sua criação, em 1793, até às suas aquisições mais contemporâneas. Como principais obras de arte romana, estão representadas na colecção, aberta ao público até 8 de Junho, uma estátua de Minerva do século II e um busto em mármore do imperador Marco Aurélio, do ano 170. No centro de uma das salas do edifício, situado no centro de Teerão e desenhado pelo arquitecto francês André Godard, destaca-se uma esfinge egípcia do século IV a.C.. A exposição inclui, também, relevos assírios do século VIII e VII a.C. e obras religiosas europeias, como uma figura da Virgem com o menino e uma Anunciação do século XVII, do pintor italiano Giovanni Batista Salvi, conhecido como “Sassoferrato”. Os responsáveis pelos museus concordaram com a ausência de obras iranianas na mostra, sublinhando que o conceito da exibição é “mostrar outras culturas”. As peças foram também seleccionadas com base nas diferentes técnicas, que vão desde a escultura à pintura e cerâmica. A colecção, em exibição nos departamentos de Antiguidades Orientais e Arte Islâmica do museu iraniano, celebra o acordo, estabelecido em 2016, entre o Museu do Louvre e a organização do Património Cultural do Irão. No âmbito desta colaboração, o Museu do Louvre irá apresentar, na sua sede em Lens, uma exposição que representa a arte na dinastia persa Qajar do século XIX. Esta exposição surge após um longo período sem intercâmbios artísticos com o estrangeiro, devido às sanções internacionais que levaram ao isolamento do Teerão, finalizadas com o acordo nuclear assinado em 2015.
Hoje Macau China / ÁsiaNuclear | Cedo para optimismo sobre desnuclearização da Coreia do Norte [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, declarou ontem ser “demasiado cedo para estar optimista” quanto à proposta da Coreia do Norte para discutir a sua desnuclearização com os Estados Unidos. “Ainda só estamos na linha de partida”, disse Moon a responsáveis políticos, depois de o seu enviado a Pyongyang ter revelado que o líder norte-coreano, Kim Jong-un, se mostrou disposto a abordar a questão há muito tempo tabu do arsenal nuclear do seu país. O chefe de Estado sul-coreano desmentiu as acusações segundo as quais teriam sido oferecidas contrapartidas secretas à Coreia do Norte para a convencer a sentar-se à mesa das negociações. “Não houve acordo secreto de qualquer tipo com o Norte. Não haverá presentes para o Norte”, afirmou Moon, segundo um porta-voz do pequeno partido da oposição Bareunmirae. Moon Jae-in insistiu na necessidade de manter uma cooperação estreita com os Estados Unidos: “Penso que as conversações sobre a desnuclearização só serão exequíveis quando a Coreia do Sul e os Estados Unidos tiverem posições comuns” sobre essa matéria. “As conversações intercoreanas não serão suficientes para alcançar a paz”, observou ainda.
Hoje Macau China / ÁsiaFronteiras | Timor-Leste acredita que tratado com Austrália reduz riscos para investidores O novo tratado de fronteiras marítimas entre Timor-Leste e a Austrália, assinado ontem, reduz os riscos para investidores e abre a porta a benefícios significativos para os timorenses, afirmou o ministro timorense que assinou o documento [dropcap style≠’circle’]”E[/dropcap]ste é um dia histórico. Um capítulo muito importante que começa com os nossos líderes a serem conscientes das responsabilidades ligadas a este tratado. Sabemos que muito tem que ser feito depois de hoje mas o que queríamos alcançar quando iniciámos este processo de reconciliação foi alcançado: uma fronteira marítima permanente”, disse o ministro Adjunto do primeiro-ministro timorense para a Delimitação de Fronteiras, Agio Pereira numa conferência de imprensa na sede da ONU. “Este acordo tornou claro para as duas nações onde está a fronteira. O tratado define as fronteiras permanentes e isso reduz os riscos de investir nos recursos da região”, considerou ainda. Agio Pereira falava numa conferência de imprensa conjunta com a ministra dos Negócios Estrangeiros australiana, Julie Bishop, depois de ambos assinarem o “Tratado entre a Austrália e a República Democrática de Timor-Leste que estabelece os seus limites marítimos no mar de Timor”. O ministro timorense sublinhou a presença na cerimónia do secretário-geral da ONU, António Guterres, um “amigo muito próximo” de Timor-Leste que “deu grandes passos para ajudar a independência de Timor-Leste” e que esteve presente num “acontecimento histórico tão importante” para os timorenses. Sobre o desenvolvimento do campo petrolífero Greater Sunrise – aspecto ainda não acordado – Julie Bishop disse que qualquer das opções, trará “grandes benefícios a Timor-Leste”, disponibilizando-se para que Austrália continue a apoiar Timor-Leste nas negociações com as petrolíferas. “Estamos a falar de milhares de milhões de dólares durante a vida do projecto”, disse Bishop. Indonésia à espreita “As opções devem ter em conta a viabilidade económica a longo prazo. O interesse da Austrália é garantido com o desenvolvimento do recurso para benefícios de Timor-Leste. É do nosso interesse que Timor-Leste seja um vizinho estável e próspero, e por isso queremos ver um projecto que seja economicamente viável a longo prazo para dar os máximos benefícios a Timor-Leste”, considerou. Agio Pereira, por seu lado, reiterou a vontade de que a opção seja a de um gasoduto para o sul de Timor-Leste, considerando que terá um impacto “transformativo, económica e socialmente”, para a população maioritariamente jovem e para construir confiança no país. “Se investidores virem que Timor-Leste consegue gerir uma indústria complexa como ‘downstream’, construir gasoduto e unidade de LNG, confiarão que Timor-Leste conseguirá fazer mais do que isso”, disse o ministro timorense. A chefe da diplomacia australiana disse que o tratado com Timor-Leste não afecta o previamente existente tratado com a Indonésia, explicando que falou com a sua homóloga em Jacarta que “congratulou Timor-Leste e a Austrália sobre o tratado”. “O tratado entre a Austrália e a Indonésia mantém-se. Este tratado abre caminho para Timor-Leste e a Indonésia negociarem fronteiras. Isso terá impacto imediato de adaptar as fronteiras a leste e oeste do tratado, o que está previsto”, afirmou. Bishop saudou o “acordo histórico” de ontem, importante tanto a nível bilateral como “em termos do direito internacional” faltando agora chegar a acordo sobre o Greater Sunrise. Agio Pereira referiu que, apesar dos sobressaltos nas negociações, o acordo mostra o êxito das negociações, tendo Bishop afirmado que a “Austrália rejeita qualquer sugestão de ter actuado de qualquer forma que não seja em boa fé”.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Governos locais passam a financiar-se com emissão de obrigações [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Governos locais da China passam, a partir deste ano, a financiar-se apenas através da emissão de obrigações, anunciou ontem o Ministro das Finanças chinês, Xiao Jie, como parte do esforço do país para reduzir o endividamento. Xiao frisou que aquela passa a ser “a única forma legal” de as administrações locais se financiarem, enquanto a captação de fundos através de outras vias – incluindo empréstimos bancários – será punida. O responsável pelas Finanças da China falava numa conferência de imprensa por ocasião da sessão anual da Assembleia Popular Nacional (APN), o órgão legislativo máximo do país. O conjunto das obrigações emitidas pelos governos locais não poderá ultrapassar 1,35 biliões de yuan, um aumento de 550.000 milhões de yuan, face ao ano anterior. No final de 2017, a dívida da China fixou-se em 29,95 biliões de yuan, o equivalente a 36,2 por cento do PIB (Produto Interno Bruto). Xiao considerou que o nível de endividamento do país é “relativamente baixo”, comparado com os montates de dívida acumuladosn por países desenvolvidos e outros emergentes, e afirmou que será mantido assim nos próximos anos. O Governo chinês está a prestar muita atenção à gestão da dívida pública e está decidido a “combater irregularidades nas vias de financiamento”, como os empréstimos concedidos por entidades à margem do sistema bancário, disse. O ministro avançou ainda um corte nos impostos para particulares e empresas e insistiu no objectivo do país de reduzir o déficit fiscal até 2,6 por cento do PIB, abaixo da meta de 3 por cento fixada no ano passado.
Hoje Macau China / ÁsiaTecnologia | Pequim testa com êxito ‘drone’ hipersónico para fins militares [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China testou, pela primeira vez, com êxito um veículo aéreo não tripulado hipersónico para fins militares, visando desenvolver aviões capazes de voar dentro da atmosfera terreste e no espaço. O ‘drone’ hipersónico, com uma velocidade cinco vezes superior à do som, foi lançado em Fevereiro passado, a partir da base espacial de Jiuquan, noroeste da China, segundo o jornal de Hong Kong South China Morning Post. O aparelho alcançou a órbita terrestre e regressou com êxito à terra, segundo fontes que fizeram parte do projecto, citadas pelo jornal. O protótipo foi desenvolvido pelo Centro de Investigação e Desenvolvimento Aerodinâmico de Mianyang, na província de Sichuan, uma instituição militar encarregue do desenvolvimento de veículos hipersónicos. O projecto visa desenvolver aviões espaciais capazes de ultrapassar sistemas antimísseis. Aqueles aviões poderão também ter uso civil, nomeadamente na indústria do turismo espacial.
Hoje Macau China / ÁsiaDiplomacia | Washington acusa Pequim de “encorajar dependência” de África O secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, criticou a abordagem utilizada pela China para promover o desenvolvimento em África, afirmando que a postura de Pequim “encoraja a dependência” e prejudica a soberania e a estabilidade do continente [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] chefe da diplomacia dos Estados Unidos falava num evento numa universidade norte-americana sobre as relações EUA-África antes de partir, para o seu primeiro périplo pelo continente africano que vai incluir passagens pela Etiópia, Quénia, Chade, Djibouti e Nigéria. Rex Tillerson afirmou que o investimento chinês pode ter ajudado África a resolver problemas de infraestruturas, mas criou “dívidas acrescidas e poucos, ou talvez, nenhuns empregos”. O secretário de Estado reforçou que a abordagem de Pequim no continente africano também envolve empréstimos predatórios, corrupção e contratos de termos vagos. Em contraste, segundo frisou o representante norte-americano, a abordagem dos Estados Unidos em África quer apostar num espírito de parceria com os países africanos, ao mesmo tempo que promove o Estado de Direito e o desenvolvimento democrático. Na mesma intervenção na George Mason University, na Virginia, Tillerson frisou que os Estados Unido veem um “futuro brilhante” para o continente africano, à medida que a população daquela região cresce, e que a administração liderada pelo Presidente Donald Trump está “empenhada em salvar vidas em África”. Tal como aconteceu no seu primeiro périplo latino-americano, em princípios de Fevereiro, Rex Tillerson terá nesta ronda africana a missão de tentar neutralizar a crescente influência de outras potências, com a China e a Rússia, em África e reivindicar o papel dos Estados Unidos nesta área geográfica. Voltar atrás Reforçar os avanços da luta antiterrorista no continente africano será outros dos temas a marcar a agenda deste périplo. Numa nota enviada às redacções, o Departamento de Estado norte-americano informou que Tillerson anunciou uma verba de cerca de 429 milhões de euros para assistência humanitária das populações da Etiópia, Somália, Sudão do Sul e Nigéria, bem como dos países da região do Lago Chade, onde milhões enfrentam uma situação de insegurança alimentar e desnutrição por causa de conflitos em curso ou de uma seca prolongada. Ainda bem presentes estão as declarações polémicas que Donald Trump fez em Janeiro passado, durante uma reunião com um grupo de senadores para debater as leis migratórias para os Estados Unidos, quando se referiu a várias nações africanas e a outros Estados como “países de merda”. Na altura, a expressão usada por Trump desencadeou fortes reacções. Por exemplo, os embaixadores de 54 países africanos representados junto da ONU exigiram que o Presidente dos Estados Unidos se retratasse e pedisse desculpa.
Hoje Macau SociedadePEN Hong Kong expressa consternação quanto ao caso do Rota das Letras [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] associação de escritores PEN Hong Kong diz-se “consternada” com a notícia de que a organização do Festival Literário de Macau – Rota das Letras foi informada de que não estava garantida a entrada no território de três dos autores convidados, divulgou ontem o canal de rádio da TDM. Num comunicado divulgado na página electrónica da associação, os escritores do território vizinho dizem-se “muito preocupados” com o que classificam de ataque à liberdade de expressão. A TDM – Rádio Macau pediu uma reacção sobre este caso a vários membros da Associação de Escritores de Macau, também conhecida como Macau Pen Club, mas até agora nenhum se mostrou disponível. Já para a associação de Hong Kong, trata-se de “um desenvolvimento muito preocupante” que “infringe directamente o direito à liberdade de expressão e a expressão literária”. São direitos que a PEN Hong Kong considera que “devem estar garantidos em Macau e em todo o lado”. No comunicado, a associação de escritores cita as declarações à TDM – Rádio Macau do director de programação do Rota das Letras. Hélder Beja afirmou que a organização foi informada, “oficiosamente”, de que a presença de Jung Chang, Suki Kim e James Church não era oportuna em Macau e ainda que não estava garantido que os três autores conseguissem entrar no território. No comunicado da PEN Hong Kong lê-se que “banir autores apenas com base na aceitabilidade política do que escrevem, de acordo com critérios vagos que não são sequer tornados públicos, é um desenvolvimento muito preocupante que não pode ser defendido”. Cultura limitada Ao mesmo tempo que reconhece às autoridades de imigração o poder de decidir quem entra em Macau, a associação de escritores apela à Administração do território para que “não use o acesso à cidade como uma ferramenta secreta de controlo político para determinar que tipo de livros são considerados aceitáveis”. A PEN Hong Kong defende que “ao fazer isso”, as autoridades “não estão apenas a proibir que autores internacionalmente reconhecidos visitem Macau, prejudicando a reputação do território como uma cidade conhecida pelas indústrias culturais e criativas, como também estão a limitar os intercâmbios culturais que os cidadãos podem desfrutar”. O comunicado descreve essa atitude como “censória” e “autoritária”, o que a PEN Hong Kong diz ser “deplorável”. Jung Chang, sino-britânica, é autora de “Cisnes Selvagens – Três filhas da China”, e ainda co-autora de uma polémica biografia de Mao Tse-tung. Suki Kim, coreana-norte-americana, passou seis meses infiltrada na Coreia do Norte, e James Church, pseudónimo de um ex-agente dos serviços de inteligência norte-americanos (CIA), é escritor de romances policiais.
João Santos Filipe Manchete SociedadeCamboja | Cidadãos de Sihanoukville preocupados com imitação do modelo da RAEM A construção de hotéis e casinos por chineses na cidade costeira de Sihanoukville gera apreensão entre os locais, que não querem ver imitado o modelo de Macau. Aumento da criminalidade por chineses é outra das preocupações dos locais [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o últimos anos registou-se um aumento do investimento chinês na construção de casinos e hotéis na cidade costeira de Sihanoukville, no Camboja. No entanto, os cambojanos estão preocupados que a cidade com praias paradisíacas acabe por se tornar numa imitação de Macau. A apreensão mais recente sobre o caso foi expressa por Hun Manet, oficial das Forças Armadas do Camboja e filho do primeiro-ministro. “Concordo com a exploração do investimento e do potencial de desenvolvimento no longo prazo. Mas não concordo que se permita que Sihanoukville se transforme em Macau”, afirmou Hun Manet, no lançamento da primeira pedra do hotel Jing Gang. “Sihanoukville deve tornar-se numa cidade com identidade própria”, sublinhou o tenente-general, de acordo com a publicação cambojana Khmer Times. O potencial turístico de Sihanoukville tem feito despoletar o investimento proveniente do Interior da China. Contudo, com o aumento do fluxo de capital subiu, igualmente, o crime envolvendo cidadãos chineses. A situação levou mesmo o embaixador chinês no Camboja, Xiong Bo, a prometeu o auxílio e a cooperação das autoridades chinesas para lidar com a criminalidade que envolva cidadãos da China. “A China apoia o governo Cambojano nas acções necessárias, dentro das leis vigentes, contra qualquer tipo de actividade criminosa ligada a cidadãos chineses”, afirmou Xiong Bo. “Vamos continuar a cooperar, a coordenar com o governo cambojano e a lutar contra todas as actividades ilegais”, acrescentou. Aumento da criminalidade Desde 2011 até Outubro de 2017, segundo o Khmer Times, foram detidos 1113 cidadãos chineses, entre os quais 222 mulheres, pela prática de crimes cibernéticos. Os detidos acabaram por ser todos deportados para o Interior da China. As preocupações com o crime e as ligações à China não são novas. Em Janeiro, Yun Min, o Governador da província cambojana de Preah Sihanouk, enviou um relatório interno para o Ministério do Interior do seu país a alertar para a existência de actividades da máfia chinesa. Segundo o documento, o investimento chinês pode criar as condições para que as tríades da China se instalem no Camboja. Entre as autoridades do Camboja existe a preocupação que se verifique um aumento nos casos de rapto, ligados aos casinos. No ano passado a província de Preah Sihanouk, onde fica situada a cidade de Sihanoukville, recebeu dois milhões de turistas. Entre os visitantes, 470 mil são estrangeiros, e 120 mil vieram da China.
João Santos Filipe Manchete SociedadeÁgua | Instalação de canalizações fazem subir lucros da SAAM A Sociedade de Abastecimentos de Águas de Macau (Macau Water) registou 70 milhões de patacas em lucros no ano passado. Segundo a directora geral da empresa, Nacky Kuan, o segmento de instalação de canalizações foi o responsável pelo aumento [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] cobrança pelos serviços de instalação de canalizações fizeram os lucros da Sociedade de Abastecimentos de Águas de Macau subir para 70 milhões de patacas no ano passado. Os números apresentados pela Directora Executiva da SAAM, Nacky Kuan, representam um aumento de cerca de 8 por cento, face a 2016, quando os lucros tinham sido de 65 milhões de patacas. “Em relação ao serviços de água, os resultados vão ser muito semelhantes aos registados em 2016. No entanto, as receitas provenientes da construção de canalizações tiveram um aumento. É por isso que os resultados vão ser melhores do que no ano passado”, afirmou, ontem, Nacky Kuan. “Em 2017, os resultados devem rondar os 70 milhões de patacas, depois de no ano passado terem sido de 65 milhões. Contudo, neste momento ainda estamos à espera de ter as contas auditadas para ter um número oficial”, explicou. Sobre o consumo de água, no ano passado, Macau registou uma procura superior em dois por cento face a 2016. Assim, no ano passado, saíram das torneiras do território mais de 88 milhões de metros cúbicos de água. Para este ano, a SAAM espera um aumento semelhante, na ordem dos “dois ou três por cento”. “Em 2018 prevemos um aumento no consumo de água que ronda os dois ou três por cento. Não prevemos problemas no abastecimento, até porque nos próximos anos esperamos ter em funcionamento a estação de tratamento de água de Seac Pai Van”, explicou a directora executiva da SAAM. A estação em causa deve começar a funcionar em 2020. “As obras vão demorar cerca de dois anos, por isso estamos a contar que os trabalhos possam estar concluídos até 2020, a tempo do pico de consumo, ou seja, antes de Junho”, apontou. Prevenir catástrofes O ano passado ficou marcado pela passagem do Tufão Hato e pelo corte no abastecimento de água. Ontem, no almoço anual da SAAM com os órgãos de comunicação social, por alturas do Ano Novo Chinês, o tema voltou a ser abordado. “Estamos a preparar-nos com medidas para o curto e médio prazo, caso ocorram situações deste género. Este ano, vamos completar a protecção para a ETAR da Ilha Verde. Vamos construir uma barreira que vai evitar inundações na estação”, afirmou Kuan. “A repetição de cortes no abastecimento depende da subida do nível da água. Há situações que são muito difíceis de evitar. Mas a barreira que vamos construir tem uma altura superior em 1,5 metros face ao nível da água atingido durante a passagem do Tufão Hato”, revelou. A companhia está igualmente a fazer o estudo de viabilidade para a instalação de tanques elevados, que vão aumentar para 12 horas a autonomia do abastecimento. Após a aprovação do Governo, a conclusão das obras vai demorar entre dois e três anos. O estudo deve ficar concluído ao logo deste ano.
Hoje Macau Manchete SociedadeBiblioteca Central | Concurso público aberto até 9 de Julho [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá aberto o concurso público para a elaboração do projecto da Nova Biblioteca Central de Macau. De acordo com o Boletim Oficial de ontem, as propostas podem ser entregues até 9 de Julho, ao meio dia, no Instituto Cultural. Como já tinha sido anunciado, a nova biblioteca prevê a remodelação do Edifício do Antigo Tribunal, refere o canal de rádio da TDM. O preço não está definido, mas conta em 30 por cento nos critérios de ponderação dos projectos. O critério com mais peso na decisão final é o “conceito do projecto preliminar”, que vale 40 por cento. A “experiência da equipa técnica escolhida” conta 25 por cento e o “plano de trabalhos” vale os restantes cinco por cento. O acto público do concurso acontece no dia seguinte ao limite para a entrega de propostas, ou seja, a 10 de Julho, às dez horas. De acordo com a mesma fonte, no dia 15 deste mês vai ter lugar a inspecção ao local e a sessão de esclarecimento. Os interessados devem inscrever-se até às 17h30 da próxima terça-feira (13 de Março). O Governo lança o concurso depois de alguns avanços e recuos. Em 2008, foi realizado um concurso de arquitectura do projecto, que foi suspenso após investigação do Comissariado Contra a Corrupção. Oito anos depois houve outro impasse, devido à escolha do Antigo Tribunal para local da Biblioteca Central. Neste caso, o Governo não recuou e manteve o edifício na Avenida da Praia Grande como sede da futura biblioteca. A Biblioteca Central de Macau vai ter 11 pisos, incluindo subterrâneos, e uma área de 33.000 metros quadrados, de acordo com o que escreveu a imprensa local no passado mês de Janeiro.
Sofia Margarida Mota SociedadeTurismo | Helena de Senna Fernandes leva Macau a Pequim [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] responsável pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST), Maria Helena de Senna Fernandes esteve ontem com os principais órgãos de comunicação social de Pequim com o intuito de conseguir uma maior divulgação do território e dos seus produtos turísticos. O encontro aconteceu depois de uma reunião com a directora geral do Departamento para os Assuntos de Turismo de Hong Kong, Macau e Taiwan da China National Tourism Administration (CNTA), Li Yaying, onde foi discutida a classificação de Macau enquanto cidade da gastronomia. Dentro da visita oficial foi ainda assinado um memorando de cooperação que visa a promoção do Festival Internacional de Cinema de Macau com o Centro Internacional de Comunicação Cultural da China. A assinatura do referido memorando de cooperação tem como objectivo procurar melhores recursos e plataformas de difusão cultural, “permitindo ao mesmo tempo uma maior divulgação da cultura tradicional chinesa no mundo, e contribuir para o desenvolvimento da indústria turística de Macau através da cultura”, lê-se no comunicado oficial. No ano passado, mais de 350 mil visitantes de Pequim vieram a Macau, num aumento de 8,8 por cento em comparação com 2016. Actualmente, existem 25 voos directos por semana entre Pequim e Macau. Mediante esta deslocação à capital chinesa, “a DST pretende divulgar Macau aos principais representantes da indústria turística e da comunicação social da capital, reforçando o intercâmbio e a cooperação, de forma a atrair mais residentes de Pequim a visitar Macau”.
Diana do Mar Manchete SociedadeTáxis | Sector preocupado com oferta de postos de carregamento para veículos eléctricos A oferta de postos de carregamento para veículos eléctricos figura entre as preocupações manifestadas por potenciais interessados nas 100 licenças de táxis que se encontram em concurso até ao próximo dia 26 de Março [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) recebeu até ontem 110 propostas no âmbito do concurso público para a concessão de alvarás de exploração de táxis. O número foi facultado pelo chefe de divisão de veículos da DSAT, Chan Io Fai, à margem de uma sessão de esclarecimento que reuniu mais de uma centena de representantes do sector. Aberto a 7 de Fevereiro, o concurso público para a atribuição de 100 licenças de táxis é o primeiro a exigir que os veículos sejam eléctricos. Inicialmente, o prazo para a apresentação de propostas terminava a 8 de Março, mas o Governo decidiu prolongá-lo até ao próximo dia 26, para dar mais tempo aos interessados para se inteirarem das “características, manutenção e reparação” dos veículos, diferentes dos que circulam actualmente. Um mês depois da abertura do concurso, os representantes do sector continuam a ter muitas dúvidas, como ficou, aliás, patente nas intervenções durante a sessão de esclarecimento, que durou mais de uma hora. A oferta de postos de carregamento para veículos eléctricos foi uma das principais preocupações levantadas. Segundo o chefe de divisão de veículos da DSAT, há actualmente 119 lugares de abastecimento, distribuídos por Macau, Taipa e Coloane, a somar a 28 de carregamento rápido (que demoram entre meia hora e uma hora). “O Governo tem o papel complementar ao sector privado”, reiterou. A oferta, desta feita, em termos das viaturas disponíveis no mercado, foi outro ponto focado pelo sector. Chan Io Fai afirmou que existem actualmente nove modelos homologados, estando a agência de importação de veículos a solicitar, pelo menos, mais um. À espera dos autocarros Actualmente, circulam em Macau 250 veículos eléctricos, a esmagadora maioria deles particulares. No serviço de departamentos públicos contam-se menos de duas dezenas numa frota de milhares de viaturas. Já autocarros públicos e ‘shuttles’ dos casinos movidos a electricidade continuam a ser uma miragem, apesar das anunciadas intenções do Governo de promover transportes amigos do ambiente. No caso dos autocarros públicos, o mesmo responsável indicou que uma das três transportadoras fez um pedido, acabado de homologar, estando a faltar a primeira inspecção para entrar em andamento. Chan Io Fai não revelou, porém, quantos autocarros do tipo podem vir a ser colocados na estrada, sublinhando que, neste momento, o principal objectivo é testar. “Depois do primeiro caso, vamos ver se está apto para funcionar”. Em 2016, a TCM e a Nova Era operaram, por um período experimental de 30 dias, duas carreiras com autocarros eléctricos, mas o projecto piloto não deu frutos. “Houve um período de teste na Taipa, mas no fim não resultou”, ou seja, os autocarros acabaram por não ser colocados em funcionamento, afirmou Chan Io Fai, indicando que as operadoras querem melhorar aspectos como o carregamento e o tempo máximo de circulação. “O Governo irá acompanhar as situações e fazer uma revisão dos problemas no futuro”, complementou. No que diz respeito aos ‘shuttles’ dos casinos, Chan Io Fai revelou que duas das seis operadoras de jogo (Melco e MGM) apresentaram pedidos para introduzir veículos eléctricos, um dos quais envolvendo oito viaturas. Os pedidos surgem em linha com a recente promessa das seis operadoras de jogo de converter pelo menos 15 por cento da sua frota em autocarros eléctricos ou abastecidos por energias renováveis até Maio.
Victor Ng Manchete PolíticaAngela Leong exige cooperação interdepartamental para planear Lai Chi Vun [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão há comunicação entre os vários departamentos do Governo para o planeamento da zona dos estaleiros de Lai Chi Vun , em Coloane. A queixa é feita pela deputada Angela Leong. Em comunicado Leong exige um mecanismo de cooperação interdepartamental capaz de tratar do planeamento daquela zona e da sua classificação enquanto bem imóvel. Apesar do conjunto dos estaleiros fazer parte essencial da indústria naval do território, Angela Leong espera que “o Executivo reforce a comunicação e cooperação interdepartamental e divulgue o resultado da classificação o mais cedo possível”, aponta. O objectivo é “impulsionar os trabalhos de protecção e revitalização de patrimónios culturais locais”, refere o documento. Angela Leong recorda ainda que o Governo, em 2009, avançou com um estudo sobre a viabilidade da revitalização da Vila de Coloane e, em 2012, avançou com outro estudo acerca do planeamento da povoação de Lai Chi Vun da Vila de Coloane. No entanto, de acordo com Leong, passaram-se anos e os dois estudos ficaram sem concretização prática. Ainda assim, recordou que na sequência da passagem de tufões, nomeadamente do Hato no passado mês de Agosto, o conjunto de estaleiros de Lai Chi Vun foi fortemente danificado por não ter sido “oportunamente salvaguardo”. O resultado desta circunstância é uma grande “insatisfação da população”, refere. A deputada salienta que, quanto ao planeamento daquela zona, existe falta de coordenação entre os serviços públicos, designadamente, entre o Instituto Cultural (IC) e os serviços das Obras Públicas. Problema de sempre Angela Leong confessa que situações idênticas já aconteceram nos serviços públicos e dá como exemplo um caso de obras não licenciadas na Taipa e um outro, mais recente, de demolição que provocou a libertação de amianto. Para a deputada o problema é o mesmo: falta de comunicação e coordenação entre departamentos e serviços. Tendo em conta o aumento nos trabalhos que requerem a cooperação interdepartamental, Angela Leong enfatiza que é necessário que todos os procedimentos sejam transparentes para que a população possa fiscalizar os trabalhos efectuados. Entretanto, o Governo deve aumentar o nível de cooperação na função pública, considera. Para Lai Chi Vun, Angela Leong pede ao Executivo que sejam divulgadas, o mais rapidamente possível, as directrizes do desenvolvimento da zona, e sugere que se tomem como referência as propostas já feitas, para tornar o espaço numa infraestrutura cultural e criativa.
Sofia Margarida Mota PolíticaChui Sai On | Encontros destacam importância da Medicina Tradicional Chinesa Na Terça-feira, a visita de Chui Sai On a Pequim foi marcada por dois encontros que visam a diversificação económica local. O Chefe do Executivo solicitou o apoio do Governo Central para a área da Medicina Tradicional Chinesa encarada como indústria prioritária para Macau [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] desenvolvimento da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), enquanto indústria, é prioritária para Macau e para que chegue a bom porto Chui Sai ON conta com o apoio de Pequim. A ideia foi deixada na Terça-feira em mais um dos encontros que o Chefe do Executivo tem vindo a ter na visita oficial à capital chinesa. Na reunião com o director da Administração Estatal de Alimentos e Medicamentos, Bi Jingquan, o Chefe do Executivo salientou a importância do apoio da entidade na promoção da MTC no território. “Chui Sai On disse que a MTC faz parte do grupo das novas indústrias prioritárias para Macau e espera, portanto, que o organismo possa continuar a apoiar a RAEM no desenvolvimento desta área”, lê-se em comunicado oficial. Esta área da saúde é considerada um dos objectivos na demanda pela diversificação económica do território. O Chefe do Executivo considera que os trabalhos de cooperação desenvolvidos entre o território e o Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa têm sido fundamentais para a cooperação entre Guandong e Macau. A visita oficial, referiu Chui Sai on, teve ainda como objectivo “a auscultação de opiniões e garantir o apoio deste organismo”, para abordar a viabilidade da introdução de políticas benéficas e pioneiras no parque inter-regional. Fomentar emprego Acresce à necessidade de investimento na MTC o facto de também ser uma área muito ligada a Macau. A indicação foi dada pelo próprio Bi Jingquan: “A MTC está bastante enraizada na sociedade de Macau, o que atribui um maior significado ao desenvolvimento desta indústria no caminho da diversificação económica”. Bi acrescentou ainda outros benefícios para Macau. “Ao desenvolver essa estrutura pode-se impulsionar o emprego e o empreendedorismo dos jovens que trabalham na área das ciências”, disse realçando que o organismo que dirige está aberto a prestar o apoio necessário. Também na terça-feira, Chui esteve reunido com o director da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, He Lifeng. O resultado foi a discussão de três matérias consideradas essenciais para Chui Sai On. Além de sublinhar a importância, mais uma vez, do apoio de Pequim ao desenvolvimento da indústria da MTC, o Chefe do Executivo fez ainda questão de vincar a necessidade de assinar “o acordo para o apoio a Macau à participação e contribuição na iniciativa nacional “Uma Faixa, uma Rota” e o plano de aproveitamento e desenvolvimento das zonas marítimas da RAEM a médio e longo prazo”.
Victor Ng PolíticaDeputado exige acesso subterrâneo na Pérola Oriental [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Si Ka Lon está preocupado com a zona da Pérola Oriental. Em causa está o receio de que o traçado rodoviário, entre as zonas das Portas do Cerco e da Taipa, não aguente mais trânsito do que aquele que já tem. A piorar a situação está o aumento de circulação previsto com a abertura da Ponte do Delta. “O congestionamento do trânsito naquela zona vai piorar muito com a quantidade de veículos que vão circular na futura ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau,”, sublinha o deputado em interpelação escrita. Para Si Ka Lon, as autoridades têm de tomar medidas, nomeadamente a construção de um acesso subterrâneo que ligue a zona A e a Avenida do Nordeste. O deputado recorda que face ao plano de desenvolvimento das zonas de novos aterros, o Governo encomendou, em 2016, a uma entidade privada o relatório sobre a avaliação de impactos no trânsito, uma vez que o plano director dos novos aterros prevê a construção de um canal de acesso subterrâneo entre a zona A e a Avenida do Nordeste. O objectivo seria desviar os veículos que passam da zona A para a península de Macau. Entretanto, o deputado lamenta que, mesmo com a aproximação da entrada em funcionamento da Ponte do Delta, a proposta do Executivo continue parada. Acção imediata Para Si Ka Lon a situação está a causar “desconforto e várias queixas por parte da população”. Neste sentido, o deputado inquire o Governo acerca da agenda prevista para avançar com a concretização do acesso subterrâneo entre a zona A dos novos aterros e a Avenida do Nordeste. O deputado interpela o Governo e exige medidas para dar resposta ao trânsito na Pérola Oriental após a abertura oficial da Ponte do Delta ao trânsito. Por outro lado, entende que, para concretizar a ideia de construir um acesso subterrâneo entre a zona A e a península de Macau, é necessário o planeamento de instalações de trânsito destinadas à zona central da península de Macau. Si Ka Lon quer saber o ponto da situação deste planeamento.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteCecília Ho, artista e fundadora da PHOTO MACAU Art Fair: “Macau está perdido na arena internacional” De 24 a 26 deste mês, Macau é o palco da primeira feira de arte dedicada à fotografia, a PHOTO MACAU | Art Fair, criada pela artista nascida no território, Cecília Ho. Entre as obras expostas contam-se trabalhos de Horst P. Horst, Steiner e Marina Abramovic, e os rituais de Confúcio recriados por Jeffrey Shaw. A artista espera que o Governo crie condições que torne estes eventos mais viáveis para que as galerias internacionais não tenham obstáculos à mostra dos seus autores O que a levou a criar um evento como a PHOTO MACAU? Não há muitas feiras de arte especializadas na área da fotografia, embora haja muitas feiras de arte de cariz internacional. A Art Basel de Hong Kong é um bom exemplo. Há cerca de 20 anos, Paris teve a primeira edição da Paris Photo e, com a sua continuidade, acabou por tornar-se um evento de renome e hoje é um dos acontecimentos de topo em termos de reconhecimento internacional. Tenho pensado nesta coisa de uma feira de artes dedicada à fotografia e lembrei-me que na Ásia não havia nenhum evento equivalente. Porque é que escolhi a fotografia? Nos últimos dez anos a China tem sido um dos maiores compradores, senão mesmo o primeiro, no mundo, quando falamos de arte no geral. Quando digo mercado de arte estou a incluir pintura, escultura, fotografia, vídeo, porcelana e antiguidades. A China é o comprador numero um a par dos Estados Unidos. Quando vamos para o mercado de nichos, em que só incluímos uma expressão artística, na fotografia o maior mercado é o americano, que representa cerca de 60 por cento, seguido de Inglaterra e França. A China, apesar de ser o primeiro no mercado de arte em geral, na fotografia está ainda muito aquém, representando apenas cerca de dois por cento. Porque é que isso acontece? Porque a fotografia ainda é muito mais popular na Europa e na América em comparação com a Ásia. Mas penso que isso pode mudar. Os chineses aprendem depressa e os agentes também. Pensei nisto e, já que nasci cá, apesar de ter deixado a RAEM há 25 anos, regressei há 18 meses para implementar este projecto. Sempre quis fazer alguma coisa pela minha terra. Olhei para isto e pensei neste conceito de mercado de arte aplicado à fotografia. Hong Kong tem o Art Basel, que inclui todos os tipos de arte, e Macau pode ter o seu papel como hub do mercado asiático especializado em fotografia. Alguém tinha de fazer alguma coisa e dar início a alguma coisa para que isto acontecesse. Pensei que seria a altura de contribuir. Falei com algumas pessoas que me deram muita inspiração e mudei-me para cá para fazer de Macau o centro da fotografia na Ásia. Quais foram os maiores desafios para criar este evento em Macau, tendo em conta que é algo completamente nova aqui? Foram muitos, mesmo muitos. Por exemplo no que respeita a impostos. Os expositores que trazem trabalhos para mostrar podem, normalmente, estar descansados porque o transporte de obras é livre de impostos em vários países asiáticos como na Coreia, no Japão, em Singapura, etc. Mesmo no Art Basel as galerias que vêm expor obras por alguns dias não precisam de se registar e pagar impostos. Mas isto não acontece em Macau. Mesmo que as galerias queiram trazer cá os seus autores e trabalhos fotográficos para participar neste evento, por três dias ou quatro dias, precisam de pagar impostos e se existirem vendas têm de pagar ainda mais. Não é que eu não queira que as pessoa não paguem impostos ao Governo mas pagar imposto neste caso significa que as galerias têm de vir primeiro a Macau, pagar o voo para fazer o registo da empresa antes de poderem estar elegíveis para o pagamento de impostos. Tudo isto não me está a ajudar. Quando os galeristas me perguntam como é o sistema fiscal em Macau neste respeito, depois de ouvirem a minha resposta dizem que nestas condições já não estão interessados. O Governo quer atrair para o território muitas convenções e exposições, mas sem um apoio noutros sentidos não é possível. O discurso do Governo é, contudo, de promoção das indústrias culturais no território. Eles não têm a noção da realidade para poderem avançar com a produção de legislação. Penso que precisamos de reformar e renovar muitas medidas especialmente ligadas aos impostos. As empresas não se vão deslocar a um território para se registarem num notário de Macau que nem sequer consegue saber se a assinatura é verdadeira se se tratar, por exemplo, de uma pessoa que vem da Alemanha. Macau está completamente perdido na arena internacional. O Governo, especialmente a secretaria da Economia e Finanças, tem de trabalhar muito mais. Ainda usam a lei dos portugueses antes de entrarem na união europeia. Estou com problemas graves. Gostaria de fazer alguma coisa mas o Governo permite que o sistema local continue desadaptado e cheio de falhas. “O Governo, se impedir quem quer que seja de entrar, deve ter uma boa razão porque precisam de enfrentar a imprensa e o julgamento do mundo internacional.” Existem muitas galerias que se recusam vir a Macau? Tive muitas a dizerem que sim num momento inicial. Depois quando expliquei o sistema de tributação responderam que tinham muita pena mas que, desta forma, não podiam. Estou muito desiludida. Além deste contratempo, como é que descreveria os trabalhos que vamos ver neste evento? Temos algumas galerias de gabarito internacional. Estou também muito orgulhosa, pelo Photo Macau 2018 ser uma mostra do que pode vir a ser no futuro. Temos galerias da Alemanha, Coreia, Taiwan e França. Conseguimos juntar um projecto incrível. Além de ser de alta qualidade temos autores pioneiros nas suas áreas de trabalho. Por exemplo, a galeria Osage de Hong Kong, que vai mostrar algumas obras baseadas no conceito de imagens em movimento que são indescritíveis e que precisam ser vistas. Temos também um programa cultural e educacional muito forte. O objectivo é formar o espectador e os residentes. Vamos ter também três exposições de topo. Uma de Horst P. Horst que foi fotógrafo da Vogue dos anos trinta aos setenta. Tem imagens da Marilyn Monroe, Dali, Channel e Jacqueline Kennedy. Vai ser um evento maior em Macau. A sua última exposição foi na Rússia há quatro anos. Vamos ainda apresentar inéditos: Vídeos dos anos setenta de Mike Steiner e da Marina Abramovic. Por causa dos direitos de autor, este trabalho não tem sido dado a conhecer. Lutei para ter este conjunto de vídeos e é o grande destaque desta primeira edição da Photo Macau. O terceiro destaque vai para uma instalação de vídeo do “Remaking the Confucian Rites” de Jeffrey Shaw. É uma instalação e um remake de uma cerimónia ritual confucionista em imagens sem palavras. Os rituais de Confúcio têm estado sempre retratados em palavras nos seus livros e aqui o artista faz uma abordagem diferente. Depois de dez anos de pesquisa com a Universidade Tsinghua, o artista reescreveu estes rituais em imagens, o que é muito interessante. Como é que explica que Macau, tão perto de Guangzhou, Taipé e Hong Kong, não tenha infraestruturas culturais de relevo? Macau tem um movimento burocrático e lento que desacelera o desenvolvimento que deveria de ter. Tem muito que ver com o próprio processo de decisão. Por exemplo, uma cidade tão rica como Macau não tem sequer o seu Moma, o seu museu para arte contemporânea. É incompreensível. Há artistas aqui que não são vistos e por isso não têm condições para poderem ser conhecidos no mundo. Não têm oportunidade de trocar conhecimentos com o resto do mundo. Agora voltei e vou usar todos os esforços, contactos e know how para tentar melhorar o panorama artístico local. Os artistas estão a trabalhar em silêncio, não têm um espaço para mostrar o seu trabalho internacionalmente. Macau está a fazer uma ponte para o campo internacional e espero que o projeto Photo Macau leve não só Macau ao mundo, mas que também traga o mundo a Macau. Assim, a arte local terá condições para se desenvolver. Espero que este evento também faça a diferença. Há 12 anos, sem a Art Basel, Hong Kong não seria o hub de arte asiática que é hoje. A Art Basel fez uma grande diferença na definição do mapa de Hong Kong no mundo a nível cultural e artístico. Macau ainda não tem nada e é preciso fazer alguma coisa. Espero que Macau me dê uma oportunidade e que o Governo me apoie na realização deste meu sonho de transformar Macau numa cidade de arte. Porque é que escolhi Macau e não outro local? Porque Macau é a minha cidade natal e tenho uma relação especial com este lugar. Macau é agora parte do projecto do continente da Grande Baía e está mesmo no centro desta Grande Baía. Entretanto, a ponte que liga o território a Zhuhai e Hong Kong vai começar a ter circulação. Geograficamente, Macau vai estar ligado a cidades muito importantes e temos de agarrar esta circunstância antes que seja demasiado tarde. É por isso que a primeira edição tem de estar no terreno este mês. Não é possível esperar. Não quero que outros tenham a mesma ideia e a ponham em prática. “Sempre quis fazer alguma coisa pela minha terra.” E a sua carreira enquanto artista? Tenho me esforçado tanto para por de pé este projecto, e para que seja um sucesso, que ultimamente tive de colocar de lado a minha carreira como artista. Mas sinto muito a falta da minha vida de artista. Estou a caminho de realizar os meus dois sonhos. Um é que Macau seja uma cidade conhecida pela arte e especializada na área da fotografia e do vídeo. Depois é desenvolver a minha carreira. Tem receio de que alguns artistas que convide possam não entrar em Macau? Penso que o Governo, se impedir quem quer que seja de entrar, deve ter uma boa razão porque precisam de enfrentar a imprensa e o julgamento do mundo internacional. Uma das razões porque escolhi Macau é porque acredito que o território tem uma forma aberta de olhar a arte comparativamente, por exemplo, a qualquer outra cidade na China. Penso também que Macau não tem ainda censura sobre a arte. • Website oficial da PHOTO MACAU | Art Fair
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Fim do limite de mandatos para Presidente chinês tem amplo consenso O órgão máximo legislativo da China disse ontem que as emendas à constituição chinesa, propostas pelo Partido Comunista (PCC) e que incluem a remoção do limite de mandatos para o cargo de Presidente, obtiveram amplo consenso. Um relatório apresentado por Wang Chen, vice-presidente da Assembleia Popular Nacional (APN), cuja sessão anual decorre esta semana em Pequim, revela que um processo de consulta sobre as emendas à constituição foi iniciado pelo Presidente Xi Jinping durante uma reunião do Politburo do PCC, em 29 de Setembro. Um grupo de trabalho liderado pelo presidente da APN, Zhang Dejiang, e assistido por membros leais a Xi, foi então formado para liderar o processo. Segundo Wang Chen, vice-presidente da APN, o grupo recolheu mais de 2.600 opiniões, desde quadros regionais a outras personalidades fora do partido. O relatório aponta que a proposta de emenda constitucional foi depois aprovada, no final de Janeiro, durante um encontro do Comité Permanente da ANP. A última emenda à constituição chinesa, que acrescentou a teoria de Jiang Zemin, fora feita em 2004, já depois de este ter deixado o poder. Essa emenda ocorreu após um ano de consultas, mas desta vez foram precisos apenas cinco meses, apesar de aquilo que está em questão ter um significado muito maior. A actual emenda permitirá a Xi Jinping, um dos mais fortes líderes na história da República Popular, ficar no cargo depois de 2023, quando termina o seu segundo mandato. O PCC elimina assim uma regra que distinguia o regime chinês de outros estados autoritários. Entretanto, multiplicam-se as opiniões de analistas que consideram tratar-se do regresso da China a uma ditadura pessoal. Wang Chen garantiu que todas as pessoas envolvidas no processo “mostraram apoio unânime”. Um académico citado pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post, e que pediu para não ser identificado, disse que o relatório de Wang é uma resposta oficial de Pequim aos rumores de que a emenda constitucional terá encontrado oposição dentro do partido. “A decisão é altamente controversa, e nas últimas semanas ouviram-se críticas e reações negativas sem precedentes de intelectuais, empresários e observadores de todo o mundo”, afirmou. O voto dos cerca de 3.000 delegados à proposta, que inclui ainda a inclusão da Teoria de Xi na constituição do partido, decorre no Domingo e será fechada à imprensa.
João Santos Filipe Ócios & Negócios PessoasLove Avenue No. 9, Serviços de Casamento | Avenida dos Sonhos Com o objectivo de auxiliar casais a lidar com a pressão da organização de casamentos, há quatro anos que Love Avenue No. 9 está em Macau para oferecer um serviço abrangente, que inclui sessões fotográficas no estrangeiro Estabelecida há quatro anos em Macau, a Love Avenue No. 9 é uma empresa que oferece serviços de casamento, como planeamento de eventos, sessões de fotografia para noivos no estrangeiro, decoração de salão de festas, desenho de vestidos, entre outros. Yvonne Ho, fundadora da empresa, é natural de Macau, no entanto, a Love Avenue No.9 foi primeiramente fundada no território vizinho, há cerca de 10 anos. “Há cerca de 20 anos trabalhava muito nas áreas do design gráfico, fotografia e moda. São áreas relacionadas com o trabalho de bastidores das indústria do cinema e da publicidade em Hong Kong”, começou por dizer a empresária, ao HM. Yvonne Ho é licenciada em design no Instituto Politécnico de Macau e com um mestrado em Artes Electrónicas, na região vizinha. “Com esta experiência decidi criar o meu próprio negócio em Hong Kong. Os serviços que começámos por oferecer relacionavam-se com design, decoração e vestidos. Eram tudo coisas muito bonitas que normalmente as mulheres adoram”, recorda. Um dos serviços mais requisitos pelos casais de Hong Kong são as sessões de fotografias pré-casamento em Macau. Esta é uma tendência que ainda hoje se mantém e que justificou a abertura de uma representação da Love Avenue No. 9 na RAEM. “Nessa altura, comecei a trazer muita gente de Hong Kong e de outros locais para tirarem fotografias pré-casamento em Macau. A cidade tem um património cultural muito bonito, cheio de História, perfeito para as fotografias”, apontou. As fotografias são depois mostradas aos familiares e convidados durante o tradicional jantar da cerimónia. No entanto, no que diz respeito às preferências dos locais, a tendência vai para sessões no estrangeiro. “As pessoas locais pedem-nos um serviço mais abrangente, o implica que tenhamos de tratar de quase todos os detalhes do casamento, como fotografias, espaço para o jantar de festas, decoração do salão, roupas, entre outros” conta. “Mas no que diz respeito às fotos pré-casamento as pessoas de Macau gostam mais de ir para fora. A Europa é um dos destinos favoritos, principalmente França e Alemanha. Na Ásia o Japão também é muito procurado”, revela. Casamentos à Las Vegas Na altura de falar sobre o casamento, a fundadora da Love Avenue No.9 não tem hesitações em admitir que é um evento com custos significativos. Contudo, diz que esta tendência pode mudar e que Macau, com a emergência de tantos empreendimentos turísticos, pode seguir o exemplo da capital do jogo norte-americana. “Em Las Vegas o jogo é uma das grandes fontes de receita, mas os casamentos também movimentam um volume de negócios muito significativo. Lá, é muito fácil ter um casamento organizados em horas, porque há muitas igrejas e um serviço muito abrangente. No futuro, consigo imaginar Macau a seguir este caminho e a ser criado um ambiente destes”, considerou. “Nos últimos anos, surgiram muitos empreendimentos turísticos de grande dimensão com locais muito giros para fotografias de noivos, também temos um património histórico muito impressionante. Por isso, consigo ver passo-a-passo muitos turistas virem a Macau para terem o seu casamento ou mesmo lua-de-mel”, previu. Entre os principais mercados que vão seguir a tendência, a responsável aponta para o Interior da China, Coreia do Sul ou Japão. Ainda em relação a perspectivas para o futuro, a fundadora da Love Avenue No.9 acredita que as pessoas vão focar menos recursos nas cerimónias de matrimónio. “Hoje me dias a maior parte dos jovens já prefere poupar o dinheiro para comprar uma casa ou mesmo jóias. Gasta-se menos nos casamentos, que vão começar a ser mais simples”, observou. Por isso, a empresa oferece eventos mais semelhantes ao que acontecem no Ocidente, com dimensões mais reduzidas. Foi com vista a apoiar estes casais que a Love Avenue No. 9 começou a fazer da vivenda em Coloane um salão de festas, além de espaço para as sessões fotografias. “Preparámos a vivenda para ser um salão de festas, com capacidade para cerca de 30 a 50 convidados e com serviço de buffet. É para cerimónias mais próximas das tendências ocidentais”, apontou. “Também existem casais que convidam poucas pessoas, por isso os salões de festas dos casinos acabam por ser demasiado grandes e caros. Esta opção que oferecemos é indicada para esse tipo de casais”, justificou.
Tânia dos Santos Sexanálise VozesNas Complicações do Sexo [dropcap]Q[/dropcap]uando o sexo fala mais alto que todos os nossos instintos, tornamo-nos animalescos. Damos espaço aos nossos animais irracionais ao reagir de acordo com os nossos impulsos sexuais e finalmente rendemo-nos aos corpos suados e ao prazer. Mas se há coisa que tenho tentado exprimir é que a biologia do sexo não explica tudo. Nós, as pessoas que o praticam, traçamos limites conceptuais sobre o sexo e as suas práticas associadas. Estas são ideias repetidas e transmitidas através das nossas conversas, dos nossos textos, das nossas imagens, dos nossos órgãos de comunicação social, enfim, de todas as formas comunicativas. Como que por magia, estas acções de criação de significado elaboram uma imagem, uma representação social do sexo. É isso que faz com que uma fotografia de uma miúda de biquíni com uns pelitos a sair da virilha seja automaticamente censurado nas redes sociais. Porque é estranho, não é? Não há sinal de pornografia, nudez ou violência, são uns pêlos que na verdade, verdadinha, não passam de pêlos, e que ainda assim são ofensivos a olho nu. Ainda há pouco tempo a mais conhecida rede social censurou a Vénus de Willendorf. Aquela estátua pré-histórica com maminhas grandes e ancas largas. Estas ideias nas nossas cabeças sobre o que é decente ou não é (aquela velha história da boa sexualidade e sexualidade desviante que é perigosa) apresenta-se como ‘natural’ mas na verdade, não deixam de ser ideias que nós construímos, em conjunto. Vamos fazer um jogo, quando eu digo sexo, quais são as três palavras que vos vem à mente? Sem pensar muito, mais automático que puderem. Prazer. Pénis. Orgasmo. Prazer, com a ajuda do pénis, para atingir um orgasmo. Até dá para delinear uma temporalidade. O sexo que podia ser simples assim, complica-se infinitamente na prática, particularmente, na prática social e diária do diálogo sexual. Aliás, eu diria que os problemas do sexo começam pela falta de um verbo digno e de fácil acessibilidade. O que é que quero dizer com isto: temos o verbo ‘f****’, um favorito pessoal, que lhe falta um correspondente menos grosseiro. Copular? Fazer/ter sexo? Ter relações sexuais? Nada. Se ao menos ‘sexar’ pudesse entrar no nosso dicionário como um neologismo por uma necessidade de simplificação. Mas nunca o puderá ser, porque ‘sexar’, de acordo com o dicionário, quer dizer ‘determinar o sexo de um ser vivo, geralmente animal, por meio da análise de ADN, de traços morfológicos ou de comportamento’. Nada sensual. Mas estas complicações não são necessariamente infelizes, porque ao menos obrigam-nos a pensar no sexo. E sabe tão bem pensar no sexo… nos momentos de intimidade com o outro, nos prazeres do corpo, nas formas sócio-culturais de expressão sexual, nas fantasias de alcançar uma sexualidade feliz e plena de/para todos. Pensar à séria é o que muitos evitam. Vivemos tempos de evitamento, até em desafios de outras naturezas. Olhem para os jornais, para o que tem acontecido em países remotos assolados pela guerra, em decisões políticas complicadas de entender, em participação democrática que dá voz à violência, xenofobia e ódio. A vida está cheia de complicações ainda por resolver, na cama, no quarto, em casa, na cidade, em países e no mundo. Eu percebo que comparado com tensões internacionais, a minha preocupação com um verbo que simplifique ‘fazer o sexo’ pareça uma preocupação fútil. Mas desafio-vos a pensar fora da caixa, a desconstruir as narrativas a preto e branco e que se aceite – e que se aprenda a discutir – as sombras de cinzento que a vida nos proporciona (por falar em sobras de cinzento, já estão por aí novas e picantes descrições da sequela do re-descobrimento do sexo no grande ecrã). Encarar aquilo que evitamos com emoção – com paixão. E agora? Quais são as três palavras que a palavra ‘sexo’ evoca? Prazer. Liberdade. Compreensão?
Manuel de Almeida h | Artes, Letras e IdeiasA Razão de Existir (o prazer, a alegria & a «face») “A maior ameaça à nossa liberdade é a ausência de sentido crítico” [dropcap]A[/dropcap] frase é do Nobel da Literatura Wole Soyinka – pseudónimo literário de Alcinwande Oluwale, que nasceu a 13 de Julho de 1934 em Abeokuta, na Nigéria e que foi o primeiro escritor africano a receber o galardão. Criticar mas também convencionar, divergir mas também convergir, contestar mas também construir – resumindo ter um pensamento urbano! Antes de mais, gostaria, desde logo, de fazer uma declaração de interesses. Gosto de ter uma relação com o mundo, de construção e não de destruição. Gostaria que não se criassem – ou não nos obrigassem – a viver em círculos cáusticos, nem destrutivos e gostaria, por fim, que Macau não precisasse de se distinguir negativamente de ninguém, se souber distinguir-se positivamente (a música é melhor que o caos – sem casa, nem lar). Terra onde complacência é norma e o desleixo tradição, Não obrigado! («Temos o destino que merecemos. O nosso destino está de acordo com os nossos méritos» – Albert Einstein). Vivemos num Território de dúvidas! Apesar de tudo, estou feliz, por não integrar o «partido» do pensamento único, nem o «comité» do elogio mútuo e, além disso os meus pensamentos não estão agarrados a qualquer compromisso. Eu não acredito em sociedades de admiração mútua. “Toda a vez que estiveres do lado da maioria, é hora de parar e reflectir” – na opinião de Mark Twain -, mas cada um sabe de Si. Gosto de leituras diversas e dispersas, a juntar à degustação matinal da imprensa escrita – as outras só por uma questão de princípios ideológicos quase abandonei – gostaria de lembrar Hegel: “A Leitura do jornal é a oração matinal do homem moderno”. O abandono premeditado de outras formas de comunicação, já que “os factos não me interessam” – estou a parafrasear Musil, o d’ “O Homem sem Qualidades” – que acrescenta, e faço minhas as suas palavras, “só as interpretações” -, apesar destas nem sempre denotarem ambição crítica (um grave problema cultural) e sem essa cláusula não há evolução do pensamento – nem no mínimo critica moral. As palavras são acções. Já Nietzsche dizia: “Não há factos, só interpretação de factos”. Mas interpretação dos factos sem conhecimento: Não. Esperemos que o pensamento não autorizado nunca seja crime. Convém, desde logo, saber separar má-língua e crítica. «A má-língua é derrotista e paralisante, ao contrário do espírito crítico, que põe em causa falsos alarmes e falsas evidências,sabe analisar, sabe avaliar, sabe destrinçar» – resumindo, decide. O problema da crítica – segundo Nuno Júdice – “é trazer as inimizades dos ressentidos, a arrogância dos medíocres e o fechamento da corporação”. A morte da crítica corresponde essencialmente ao desaparecimento do debate político. Criticar não é ter ódio a ninguém – é discordar. Um outro grave denominador comum é a chamada “censura social” que não nos deixa falar verdade. Já Confúcio apregoava, “saber o que é correcto e não o fazer é falta de coragem”. Para isso, precisamos urgentemente de um pouco mais de ambição e um pouco menos de contenção, precisamos de limitar o uso do conceito consenso e usar preferencialmente compromisso, precisamos de um pouco mais de exigência e tenacidade para acabar com a indigência – terminar com o padrão de “política de pequeno círculo” (café/mahjong, «fazendo da língua mesa de conversa») -, ter uma mudança de atitude, com uma visão aberta e não dogmática da realidade. Temos de saber criar um diálogo civilizacional entre política e felicidade. Políticas arrojadas, com uma desconstrução do discurso assim como também de conceitos, para acabar com este tipo de sociedade cuja personalidade é fraca, pungente, imperfeita e refém, para a dotar de uma personalidade forte, gloriosa, perfeita e criadora. Não é por acaso que a população, hoje em dia, está despida de transcendência, valores ou referências. Assim, nunca construiremos uma sociedade coesa, humanista e solidária – é preciso reforçar o sentimento de pertença e de partilha -, estar atento ao próximo. Discursos estruturantes – com uma linguagem enxuta e drenada, em vez de técnica e factual, sem futilidades, insignificâncias e provincianismos. A comunicação é dificiente, insuficiente, tardia e às vezes nula. Prometer e negar devem ser palavras excluídas do discurso político. Definir e aplicar políticas de transformação estrutural e modernização efectiva. Não abdicar da cultura do exemplo. Apostar na cultura cívica – competência, dedicação e empenho – e, educacional. Recuperar valores de cidadania. Reestruturar o tecido social e familiar. Transformar a paixão em carácter. Aplicar uma maior justiça fiscal (temos de saber descontextualizar os números). Ter uma visão cultural humanista. Fazer cumprir o dever de memória, porque ao perdê-lo, perde grande parte da sua identidade (sem sentimentos de pertença) e dignidade. Criar um quadro de diálogos entre o presente e a memória. Combater privilégios. Reforçar a economia social. Promover a economia verde e 4.0 (baseada no conhecimento) e crescimento azul – «Definir um rumo e um propósito, dizer para onde vamos e por onde vamos». Só assim se pode criar uma sociedade caracterizada pela responsabilidade, iniciativa, autonomia, liderança, disciplina, participação e, sobretudo, ambição. Daí resulta uma cultura moderna de risco, conhecimento, inovação e reforma de métodos e mentalidades. O sociólogo alemão George Simmel diz que, para se desenvolver, “uma sociedade precisa de uma certa quantidade de harmonia e desarmonia, de associação e competição”. Temos de combater a resignação e o medo – “O medo devora a alma” – Rainer W. Fassbinder. Precisamos de uma palavra de confiança. Já Goethe dizia: “As pessoas infelizes são perigosas”. Falta saber conciliar a política do poder com a política da razão e essa leitura passa por uma interpretação correcta da relação entre pobreza, direitos sociais e políticos. Torna-se necessário examinar e rever, cuidadosamente, os modelos de respostas às dificuldades. Não se pode, ou não se deve, oscilar entre a insensibilidade para com os mais pobres e a vassalagem para com os mais ricos. Engolimos explicações que nunca deveriam ser aceites por uma sociedade saudável («que respire») e minimamente exigente («com poder de orientação») – devíamos de ser capazes de unir esforços e reunir interesses. A mentira vence, sem mentiras não havia vitórias… Até porque os últimos anos foram de sofrimento privado e letargia pública. “E o que não presta é isto, esta maneira Quotidiana Esta comédia desumana E triste, Que cobre de soturna maldição A própria indignação Que lhe resiste” Miguel Torga (1907/1995), escritor
João Santos Filipe DesportoTaça AFC | Benfica entra esta noite em competição no Estádio de Macau O Benfica de Macau estreia-se na fase de grupos da Taça AFC diante do Hang Yuen de Taiwan. O técnico das águias promete uma equipa fiel à sua identidade, à procura da posse da bola O Benfica de Macau entra esta noite para a História como a primeira equipa do território a disputar um jogo da fase de grupos da Taça da Confederação Asiática de Futebol (AFC, na sigla inglesa). No Estádio de Macau, pelas 20h00, as águias vão ter pela frente o Hang Yuen, que terminou o campeonato de Taiwan no terceiro lugar, na temporada passada. Ao contrário do habitual, o Benfica de Macau vai defrontar uma equipa com argumentos para colocar em causa o domínio que normalmente exerce nas partidas da Liga de Elite. No entanto, o treinador dos tetracampeões de Macau promete ser fiel à identidade do grupo de jogadores que tem ao seu dispor. “A nossa identidade é para manter neste jogo. Se pudermos ter mais posse de bola do que o adversário vamos tê-la. Mas também temos de ter em mente que eles são uma equipa mais experiente do que os nossos adversários na Liga de Elite e que tem jogadores profissionais”, disse Bernardo Tavares, treinador da águias, ontem durante a conferência de imprensa de lançamento da partida. “O nosso adversário ainda não começou o campeonato. Conseguimos ter acesso a alguns vídeos dos jogos, mas dos amigáveis mais recentes que disputaram, inclusive no Japão, não tivemos. Por isso, a equipa está preparada com diversos planos para este encontro”, explicou o técnico dos encarnados. Em relação aos objectivos para a partida, Bernardo Tavares limitou-se a prometer uma formação a “fazer o melhor possível”, com consciência de que o encontro se trata de “uma oportunidade única para o Benfica e para o futebol de Macau”. Na conferência de imprensa esteve igualmente Vinício Alves, jogador local das águias. O atleta considerou que o encontro é uma forma do Benfica de Macau mostrar aquilo de que é capaz. “Para o ano, as equipas de Macau já têm de jogar novamente a qualificação, não há entrada directa. Por isso, estamos a ter uma oportunidade única com esta participação. Temos a responsabilidade de mostrar o que o Benfica de Macau consegue fazer, vamos dar tudo em campo”, afirmou o jogador. Equipa forte Por sua vez, o treinador do Hang Yuen, Hung Ching-huai, definiu o Benfica de Macau como uma equipa esforçada, que se destaca pela força física dos jogadores. Apesar da diferença de nível entre as ligas de Taiwan e Macau, o técnico recusou assumir o favoritismo para o encontro. “Estamos a falar de dois tipos de futebol diferentes. Por isso, acho que as hipóteses são de 50 por cento para cada uma das equipas”, afirmou Hung Ching-huai. “Analisámos o Benfica através de vídeos, sabemos que são uma equipa forte e muito esforçada. Já a minha equipa é mais móvel e tem a qualidade do passe como um dos pontos fortes”, acrescentou. O técnico considerou ainda que as equipas norte coreanas são as mais fortes do grupo e apontou o 25 de Abril como o principal favorito. “É uma equipa com jogadores com muita qualidade e conta com alguns ex-internacionais”, explicou. O outro encontro do grupo coloca frente-a-frente 25 de Abril e Hwaepul e está agendado para as 15h30, de hoje.
Rui Filipe Torres h | Artes, Letras e Ideias“O Grande Domador”, de Dimitris Papionnou Um dos primeiríssimos talentos da dança contemporânea, esteve no grande auditório do CCB no 2 e 3, integrado na programação DE ZEUS A VARAUFAKIS – A Grécia nos Destinos da Europa. Neste séc. de reorganização geopolítica do mundo, que confirma o que desde os anos 60 do séc. XX se tornou a cada dia mais claro: “A path for redefinition and strengthening of diplomacy is assumed, in order to structure and consolidate active presence in the reformulation of World Governance; this implies the expansion of and independent Chinese policy towards the consolidation of peace”1 cuja liderança é cada vez mais a RPC, confirmando o que a 14 de Setembro de 2005 no discurso das Nações Unidas, o Presidente Hu Jintao, afirmava ; a adesão da diplomacia Chinesa ao multilateralismo, abandonando a diplomacia cautelosa e defensiva dos contactos bilaterais e pouco atuante nos fóruns internacionais que desde 1978, quando a RPC decidiu abrir-se ao mundo vinha praticado, a Europa precisa de forma urgente e decida de se repensar. Cronos, filho de Urano – o céu estrelado e de Gaia – a terra, é de facto o grande domador e também aquele que na sua forma mais traumática representa o problema da terra do humano. É dito que Cronos, o mais iniciático e arquétipo edipiano, incitado pela mãe castrou o pai. A Terra é desta forma separada do Céu. Podemos ver aqui um paralelismo com a expulsão do Paraíso, aí não pela castração, mas pela vivência do prazer e a ousadia da interrogação ficando para sempre impossibilitada a bem aventurada e pacata felicidade dos pobres de espírito. Cronos vive ele próprio um conflito entre a força do novo e a potencia que encerra e o saber e poder que não sendo néscio a permanência no discurso do tempo permite. Torna-se o canibal que devora os próprios filhos, o mais temível e repulsivo, mesmo que a clareza do espírito afirme que o crime não é menor se o sangue tiver outra filiação. Zeus, seu filho, foi dele escondido, cresceu, combateu o pai, expulsou-o do Olimpo e obrigou-o a vomitar os irmãos. Mas ser expulso do Olimpo por mais doloroso que possa ser não é igual à morte. Cronos está ele próprio condenado ao tempo, outros, os Deuses não expulsos do Olimpo, tem outra imortalidade, um outro eterno, onde os lábios das abelhas é generoso no sugar e na produção do mel e o sol, é sempre quente, e no sangue nunca a anemia impede a ereção dos corpos, presume-se. Talvez vidas desocupadas em demasia. Mas deixemos os deuses dado que não temos outra possibilidade que não a de sermos homens. Já avancei por algumas vezes a ideia da Europa pós-modernista, num modelo que retome a maturidade do pensamento clássico no contemporâneo, não um regresso ao renascimento, tempo maior na história recente da Europa com os erros hoje mais fáceis de reconhecer de um exagerado positivismo, mas um Pós- Renascimento, em que o eurocentrismo definitivamente de lugar a um olhar mais próximo do olhar de deus sobre o mundo, ou se quisermos uma referencia tecnológica, um olhar a partir do satélite, global, mas com as referencias humanistas da Grécia Antiga, sem desperdiçar toda a escola filosófica, artística, cultural científica, com que se materializa este enorme e imaterial património mundial que é o espaço europeu. O Mestre Almada Negreiros, esse Português sem mestre, como a si próprio se definiu, viu na Ibéria a cabeça da Europa. Talvez que seja tempo de ultrapassar fantasiosas barreiras dos corpos, afinal pernas sem cabeça não passam de desenhos animados. A Europa constrói-se com o mediterrâneo no seu centro e não como hoje, com o mediterrâneo lugar de fronteira. A Europa, ou melhor, os europeus, precisam com urgência de perceber que o tempo do Eurocentrismo terminou algures antes do meio do séc. XX , e que ser Europeu é um diálogo permanente com o mundo todo, e quanto mais em igualdade, mais feliz e produtivo. O Grande Domador, The Great Tamer, é uma criação a todos os níveis notável. O trabalho performativo com os atores/bailarinos é um plano sequência brilhante onde o tempo é matéria e os corpos se reinventam e interrogam. Uma maquinaria cénica invisível cria a existência de 3 planos, a superfície ou crosta espaço da representação, o em baixo ou potencia de onde surgem corpos, terra, artefactos humanos, e o acima, o manto do ar respirável onde por vezes se voa e até a outros planetas de ar mais rarefeito e outra força de gravidade. A relação entre os três territórios é permanente, fluída e mágica. Tudo acontece como num plano cinematográfico em sequência, sem cortes, numa sucessão continua de imagens que fluem com o encantamento de um discurso alicerçado na poética da imagem, construída na acção e respiração dos corpos na relação tridimensional com o espaço e o tempo da música de John Straus. De alguma forma o que é dado a ver, continua a mais famosa elipse temporal da história do cinema, quando Kubrick, na abertura do 2001 Odisseia no Espaço, (1968), transforma o osso de fémur humano em artefacto, ferramenta e arma, em nave espacial. É uma elipse cinematográfica com o tempo da civilização, o tempo da descoberta e realização do humano. Aqui, em The Great Tamer, o maravilhamento e a interrogação sobre o próprio, o outro, sobre o lugar, o território onde pode acontecer o maravilhamento, permanece e continua em sucessivos quadros de visualidade poética que convoca signos e quadros da história da pintura, e do cinema, como já referido. Os corpos experimentam outras possibilidade de corpo, o género questiona-se a si mesmo, reinventa-se em novas possibilidades. O uno e o múltiplo é um movimento imparável, e o espanto, os caminhos em potencia, múltiplos. Somos confrontados com um criação artística rigorosa na execução de uma maquinaria cenográfica, na ocupação e desenho do espaço pelos corpos , na imagética conceptual performativa. Johann Strauss, na adaptação de Stephano Droussiotis, cria a dinâmica sonora perfeita para esta metamorfose e fluidez continuada dos corpos. Duas horas de grande fruição estética que terminaram com a sala do grande auditório do CCB em pé e em entusiásticas palmas. Concepção e direcção por Dimitris Papaioannou Com Pavlina Andriopoulou, Costas Chrysafidis, Ektor Liatsos, Ioannis Michos, Evangelia Randou, Kalliopi Simou, Drossos Skotis, Christos Strinopoulos, Yorgos Tsiantoulas, Alex Vangelis Cenografia e direção de arte em colaboração com Tina Tzoka Colaboração artística para os figurinos Aggelos Mendis Desenho de luz em colaboração com Evina Vassilakopoulou Colaboração artística para o som Giwrgos Poulios Desenho e operação de som Kostas Micholoupos Música Johann Strauss II, An der schönen blauen Donau, op. 314 Adaptação musical Stephano Droussiotis Design de escultura Nectarios Dionysatos Pintura de figurinos e adereços Maria Ilia Produtora criativa executiva e assistente de direção Tina Papanikolaou Assistente de direção Stephanos Droussiotis Assistente de direção e ensaiadora Pavlina Andriopoulou Direção técnica Manolis Vitsaxakis Manager de palco Dinos Nikolaou Engenheiro assistente de som Nikos Kollias Assistente do cenógrafo e do pintor de cenários Mary Antonopoulou Assistentes do escultor Maria Papaioannou, Konstantinos Kotsis Assistente de produção Tzela Christopoulou Manager da digressão e relações internacionais Julian Mommert Assistente executivo de produção Kali Kavvatha Produção Onassis Cultural Centre – Atenas Coprodução CULTURESCAPES Greece 2017 (Suíça), Dansens Hus Sweden (Suécia), EdM Productions, Festival d’Avignon (França), Fondazione Campania dei Festival – Napoli Teatro Festival Italia (Itália), Les Théâtres de la Ville de Luxembourg (Luxemburgo), National Performing Arts Center-National Theater & Concert Hall | NPAC-NTCH (Taiwan), Seoul Performing Arts Festival | SPAF (Coreia do Sul), Théâtre de la Ville – Paris / La Villette – Paris (França) Produtor Executivo 2WORKS Com o apoio de Alpha Bank
João Paulo Cotrim h | Artes, Letras e IdeiasAs mãos que tocam a luz Santa Bárbara, Lisboa, 17 Fevereiro Tinha passado há dias, na RTP2, mas quem ainda vê tevê na hora da emissão? «Un vrai faussaire», de Jean-Luc Léon sobre Guy Ribes, justifica mais do que um visionamento, tantas são as nuances, pinceladas no retrato do protagonista, marteladas na construção do mercado da arte, subsídios para as técnicas de imitação dos mestres. Bastariam logo os primeiros socalcos da biografia para o verdadeiro falsário se erguer personagem, com infância espraiada em bordel e cinema familiar, disciplinada pintura de tecidos e vivência de rua em Lyon, mas a gigantesca e cuidada produção e o complexo jogo de relações e modos de fazer confirmam que se tornou, ironicamente, artista. Tout court. Enquanto desvelava, de pincel na mão e com líquida facilidade, um Matisse, que prometeu destruir uma vez acabado, foi discorrendo sobre o tempo de estudo e preparação que investia, acerca do cuidado com materiais e gestos que aprendeu de experiência, além da fulcral criação do seu próprio gosto, onde pontuava Chagall. (Terei gasto namoro à volta de um falso?) A quantidade e a qualidade do que foi imitando e, sobretudo, o entendimento da mecânica (quântica) do sistema de certificação dos vários valores, sendo o artístico o menos importante, contaminou o sacrossanto mercado de tal modo que se estabeleceu estranho consenso: não apurar até às últimas consequências o que pertence, de facto, a quem. Por medo de tremendo cataclismo. Afinal, como Ribes bem afirma, é o falsário quem nos dá o que desejamos. Ao nosso preço. Horta Seca, Lisboa, 1 Março Outro traço se interrompeu. Artur Correia (1932-2018), de tão modesto, deixa-nos frames antes de receber o Prémio Sophia de Carreira pelo seu contributo para o desenvolvimento do cinema de animação. Pena tenho de não o ter chegado a homenageá-lo da maneira que me parece melhor: mostrando e pensando obra. Conservo religiosamente os ensinamentos da Família Prudêncio e, agricultor que nunca fui, uso os pesticidas com cuidado, (https://youtu.be/e7TfXfJrueQ). Em querendo desencantar memórias sobre o que foi o 25 de Abril de 1974, ajuda sempre uma releitura de «O País dos Cágados», que Artur desenhou para o texto de António Gomes Dalmeida. Há uma edição recente da Bertrand, mas prefiro a original, no mesmo preto e branco dos Prudêncio, coisa prévia. Saravah! Chiado 8, Lisboa, 1 Março Muito pelo esforço de João Miguel Barros, também ele fotógrafo com exposição no CCB (Photo-Metragens), e que encontrou na Ana [Fontoura], da Fidelidade, a melhor das interlocutoras, Lisboa virou sala panorâmica da fotografia chinesa contemporânea. Chegou a vez de Yank Yankang, que pendurou na Chiado 8, O Espelho do Alma e assim transfigurou a galeria em porto de abrigo, o palacete em capela. Em pleno bulício transnacional, cegueira turística, corrupio urbano-depressivo, abrem-se visões para o Tibete íntimo dos praticantes do budismo, para o bailado da fé com o natural, janelas para a neve, a nuvem, a montanha e o pássaro. A ideia de clássico assenta neste rasgar de passagens entre os tempos, do ontem que perdurará no amanhã. Este preto e branco apresenta-se-nos cheio de cores e vozes. E temperaturas do espírito. Um monge, de costas para quem o veja, enfrenta o vale que se desfaz em sucessivos horizontes de cinza, com as vestes ondulantes a confundi-lo mais com a paisagem. Na mão direita, um cajado rude ergue-se sinal único do humano. Aquele braço é a fé. Crianças-monge praticam a Dança do Dharma, diz a legenda, mas são quatro putos a brincar à apanhada com as sombras. Apenas o mais próximo de nós agarrou a sua com o pé, os outros voam presos nas gargalhadas. E são tantos os pássaros que perturbam os céus e os corpos a quererem sê-los. E a luz, onde Yankang tão bem os sabe conservar. Sobre mesa minúscula, uma criança-monge assenta os Sutras que recita. Do outro lado de uma luminosa diagonal, monge (águia ou falcão ou emberiza-das-neves?) mais velho toca o tecido. A sombra resguarda-se na luz, que permite a aproximação de cada uma das nossas idades através do olhar (nesta página). Qual o lugar da fé? Barraca, Lisboa, 2 Março Considere-se atirado às feras leitoras o novo do Valério [Romão], concerto de fragmentos para duas vozes em desagregação sinfónica: «Cair Para Dentro». Na cadência dos avanços e recuos, nas cavalgadas interiores ou na dança dos diálogos, no compasso da poesia, nas descidas ao mais íntimo, nas cenas de identificável exterior, estende-se em pano de fundo o perfume da musicalidade. Talvez atonal ou minimal ou impressionista, seguramente jazzística. Quando muitos esperavam uma qualquer pirotecnia na abordagem ou na construção, o Valério apurou o que tem de melhor e aplicou-o a um tema temível (assuntos aterradores são uma das suas melhores escolhas): alzheimer. E nele se jogou por inteiro, brincando com a filosofia que aprendeu, fazendo do verso ferramenta, sem nunca perder o humor, mas deixando em aberto um final. Inevitável. Valério pede mais leitores que banhistas da narrativa. Na magnífica apresentação, Eric Nepomuceno, para além de assinalar as qualidades do «puta romance!», inscreveu-o no coração de íntima reflexão. Dizia ele que, sem a memória, morreria. Viu amigos próximos esquecerem-se de si, presos por filamentos de afectos, um gesto, uma canção, um poema. Que bom seria ter crítica assim, capaz de fazer íntimo o assunto do que lê, sempre à distância do conforto. Depois houve festa. E tantas, mas tantas conversas interessantes que merecia ter ficado aboborando uns dias. E escrevê-las para não esquecer. Esqueci tanto, esqueço tanto, que chego a duvidar que viva. Horta Seca, Lisboa, 4 Março À minha volta, cada papel diz afazer, resposta por dar, ansiedades em ferida, atrasos gritantes, resolutas irresoluções. A magia da procrastinação acontece em todo o seu esplendor de derivas, de possibilidades, de leituras sem nexo, de ideias a pedir poda e rega. Parar o rodopio, afastar-me do feicebuque, calar os papéis um a um, de modo a permitir que outra respiração se instale custa cada vez mais. Por vezes, a música ajuda. Noutras faz-se cavalo e planície, velocidade e acolhimento, convidando à viagem. Um dos encontros deste Correntes foi o Mû Mbana, perfil de príncipe e voz cava, de onde escorre a noite. (Aliás, aconteceram-me mais vozes: a do José Luiz [Tavares], em versão morna; a do Renato [Filipe Cardoso] trocadilhando em grave a palavra-armadilha; ou a do João [Rios], ripostando e ribombando). O seu álbum Iñén corre em loop a baralhar-me as coordenadas, alargando espaços, dando nós ao tempo. Entre o sussurro e o grito, percorre altas profundidades descalço à flor da terra, com enorme riqueza de instrumentos, muitos deles recuperados ao esquecimento, por si tangidos da mesma maneira que a voz nos toca a nós: com delicadeza e fogo. Eis que o ponto de partida acontece ser esse meu velho fascínio: mãos, «as mais poderosas ferramentas que temos».