Parlamento da Birmânia vai eleger na quarta-feira um novo Presidente

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] parlamento birmanês (Myanmar) agendou para quarta-feira a eleição do novo Presidente do país, depois da renúncia por motivos de saúde do anterior chefe de Estado, Htin Kyaw, noticiou a imprensa.

O favorito para o cargo é Win Myint, que renunciou à presidência da câmara baixa do parlamento, tendo sido nomeado na sexta-feira por essa mesma instância candidato a chefe de Estado. À votação também se apresentará o vice-presidente e actual presidente em exercício, Myint Swe, e o segundo vice-presidente, Henry Van Thio. Win Myint, de 67 anos, é representante político da última junta militar e veterano da Liga Nacional para a Democracia (NLD), que tem o apoio da líder do governo, Aung San Suu Kyi.

A Constituição birmanesa prevê que o presidente do país seja escolhido entre três candidatos propostos pela câmara alta e baixa do parlamento, e o exército, respectivamente, em votação conjunta da legislatura.

Os dois candidatos derrotados são automaticamente nomeados vice-presidentes.

O novo presidente substituirá Htin Kyaw, de 71 anos, que renunciou na quarta-feira, depois que o Governo ter admitido que o chefe do Executivo viajou várias vezes para o exterior para se submeter a tratamento médico.

A Birmânia teve o seu primeiro Governo democraticamente eleito – o actual liderado pelo NLD – a 30 de Março de 2016, após quase meio século de ditadura militar.

A última junta militar foi dissolvida em 2011 e transferiu o poder para um governo civil formado por ex-generais, que foi substituído pelo Executivo da NLD após a vitória dessa formação nas eleições de 2015.

A Constituição birmanesa reserva amplos poderes para as Forças Armadas, incluindo um quarto das cadeiras do Parlamento e ministérios chave como o Interior, Defesa e Fronteiras.

 

27 Mar 2018

Coligação em Timor queixa-se de polícia que deteve equipa de comunicação

A coligação timorense AMP criticou ontem a acção da polícia, que deteve para interrogatório membros da sua equipa de comunicação partidária, sem queixas ou indícios de qualquer crime e alegadamente por publicar comentários e opiniões na rede social Facebook

 

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) – que reúne os partidos da oposição CNRT, PLP e KHUNTO – considera que se tratou de um “abuso de poder”, pelo que vai avançar com uma queixa civil contra a Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL).

“A polícia cometeu um acto de abuso de poder. Não havia indício de qualquer crime, nem qualquer queixa. Dar opiniões no Facebook, ou onde quer que seja, não é crime. Insultos ou criticar o Governo não é crime”, afirmou o advogado Pedro Aparício, em conferência de imprensa.

Pedro Aparício foi ontem apresentado por Arão Noé, um dos elementos da Comissão Jurídica da AMP, como o advogado que lidera a equipa jurídica que vai acompanhar os militantes e dirigentes da coligação durante o processo das eleições antecipadas de 12 de Maio.

Arão Noé explicou que se trata de responder a eventuais incidentes que possam constituir “violações da lei eleitoral” ou das restantes leis timorenses e que afectem a equipa da AMP no terreno.

Pedro Aparício explicou que, “de forma urgente”, a atenção vai concentrar-se, para já, na actuação da polícia relativamente à equipa de comunicação da AMP que foi interrogada e ouvida “sem qualquer indício de crime” ou “sem qualquer queixa”.

“O serviço no media centre da AMP é apenas opinião, ideias, relacionadas com aspectos da liderança ou do Governo. Não constitui crime”, afirmou.

“A polícia ultrapassou a sua competência. Ficamos tristes que a acção da polícia não tenha cumprido a lei, o código do processo penal e que isto ainda aconteça em 2018. Isto não devia acontecer num Estado de direito”, afirmou.

Questionado pela Lusa sobre se a AMP não confia na capacidade de fiscalização eleitoral da Comissão Nacional de Eleições (CNE), Arão Noé afirmou que sim, mas que não cabe à autoridade eleitoral levar o caso aos tribunais. “Como partido e como cidadãos, temos o dever de proteger os nossos militantes que foram atingidos como vítimas nesta acção. Temos responsabilidade e dever moral de proteger os nossos militantes e simpatizantes”, considerou.

“Esta acção policial foi muito grave. A polícia não pode fazer este tipo de acções sem autorização do órgão judicial. A polícia tem que trabalhar conforme a lei diz e não fazer política dentro da polícia, não deve executar interesses políticos dentro da polícia”, considerou.

Nas últimas semanas, várias pessoas, incluindo um assessor do primeiro-ministro, Mari Alkatiri, foram interrogadas pela polícia alegadamente por publicações no Facebook que incluem insultos e críticas aos líderes políticos do país.

Os visados pela acção policial terão insultado quer líderes da Fretilin, no Governo, quer da AMP, na oposição, entre eles Alkatiri e Xanana Gusmão, presidente do CNRT.

27 Mar 2018

Cuca Roseta em exibição esgota bilhetes numa hora

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] fadista portuguesa Cuca Roseta actuou no domingo à noite na mais prestigiada universidade da China, numa exibição rara do fado naquele país, para a qual os bilhetes esgotaram uma hora após colocados à venda.

Acompanhada de três guitarristas, Cuca Roseta interpretou durante cerca de hora e meia um alinhamento que alternou entre temas tradicionais, como “Estranha Forma de Vida”, e outros mais dinâmicos, como “Marcha da Esperança”.

“O meu fado não é propriamente ligado à tristeza”, comentou a fadista antes do espectáculo. “O fado é um reflexo do que nós somos: eu sou uma pessoa positiva, que agarra a tristeza e vê o lado bom da vida”, explicou.

O concerto decorreu na sala de espectáculos da Qinghua, considerada a mais prestigiada universidade chinesa, localizada no norte de Pequim, e onde se formou o actual Presidente chinês, Xi Jinping, e o seu antecessor, Hu Jintao.

Estabelecido em 1911, o campus da Qinghua foi construído a partir de um antigo jardim imperial do século XVIII, preservando os lagos, espaços verdes e edifícios centenários. A universidade tem mais de 25.000 estudantes, segundo o seu ‘site’ oficial.

Lá fora, a temperatura ultrapassava os vinte graus, anunciando o início da primavera em Pequim.

“Fantástico”, afirmou no final do concerto uma professora chinesa, que ouviu fado pela primeira vez numa visita recente a Portugal. “A sua música transmite tristeza e força”, disse.

 

Guitarra na universidade

 

Mas havia também quem fosse pesquisando pelo termo ‘Faduo’ (fado, em chinês) no Baidu, revelando o exotismo daquele género musical entre a plateia.

“Comparado ao flamenco, por exemplo, o fado é ainda desconhecido do público chinês”, comentou uma jornalista chinesa.

Tratou-se do segundo espectáculo de fado organizado numa universidade chinesa, depois de em 2014 a fadista Liana ter actuado na Beijing Language and Culture University (BLCU), também em Pequim.

Colocados à venda há duas semanas, os bilhetes para o concerto de Cuca Roseta, com um custo de 100 yuan (quase 13 euros), esgotaram numa hora.

Cuca Roseta já tocou em África, Américas e Europa, mas o concerto de domingo foi a sua estreia na Ásia.

“Os estrangeiros não percebem a nossa língua, mas sentem a nossa música”, disse. “Porque somos muito calorosos e muito intensos e afectivos, passamos isso através da música: o fado transmite essas emoções sem fronteira e sem língua”.

27 Mar 2018

Acordo de extradição

[dropcap style=’circle’] N [/dropcap] o dia 17 Fevereiro, a jovem Poon Hiu-wing, de 20 anos de idade, foi assassinada em Taiwan. O suspeito do homicídio é o namorado, Chan Tong-kai, de 19 anos, antigo estudante do Community College de Hong Kong, pertencente à Universidade Politécnica.

Os jornais anunciaram que o casal tinha viajado para Taiwan no dia 8 de Fevereiro, mas que Chan tinha regressado sozinho a Hong Kong no dia 17. Os procuradores de Taiwan afirmaram que Poon foi estrangulada no Hotel Purple Garden, na sequência de uma discussão com o namorado. Suspeita-se que Chan tenha colocado o corpo dentro de uma mala e que o tenha feito sair do hotel. No registo das câmaras de vigilância, pode ver-se o jovem a sair do hotel no dia 17, transportando uma mala pesada. A polícia de Taiwan acredita que o cadáver de Poon estava dentro da mala.

Até ao momento ainda não foi possível apurar o motivo do crime, no entanto correm rumores de que a jovem estaria grávida de um outro homem.

O cadáver de Poon foi descoberto em Taipei, perto da estação de Zhuwei. Esta descoberta deu-se no mesmo dia em que Chan foi preso em Hong Kong por furto.

Chan tinha sido acusado de furto e de posse de bens roubados. Foi acusado de ter subtraído o cartão bancário de Poon, uma câmara, o telemóvel e 20.000 Taiwan dólares. Foi ainda acusado de ter feito dois levantamentos da conta de Poon nos finais de Fevereiro, em caixas automáticas de Hong Kong.

Este caso levanta um problema legal. Como o homicídio aconteceu em Taiwan, estará sob a alçada da jurisdição local e é lá que o julgamento deverá ter lugar. No entanto, o suspeito está em Hong Kong. Como Hong Kong e Taiwan não celebraram um acordo de extradição, não parece provável que venha a sair. Desta forma, poderá nunca vir a ser julgado por este crime.

Hong Kong assinou com diversos países e regiões 29 tratados de assistência legal mutua e 19 acordos de detenção de fugitivos. Taiwan não faz parte desta lista. Sem acordo de extradição, o suspeito pode escapar ao castigo. Como o crime aconteceu em Taiwan, os Tribunais de Hong Kong não têm competência para o julgar. No entanto, o caso seria tratado de forma diferente se parte dos actos criminosos tivessem ocorrido em Hong Kong. Se, por exemplo, se tivesse tratado de um crime premeditado, e o suspeito tivesse comprado em Hong Kong instrumentos para o cometer, estaríamos perante outro cenário. Pela Lei dos Procedimentos Criminais, o Tribunal local só pode actuar se parte do acto criminoso tiver ocorrido na região. Desta forma, a menos que a polícia de Hong Kong encontre provas de que o suspeito cometeu parte do acto criminoso em Hong Kong, o Tribunal local nada poderá fazer. Se o suspeito não voltar a Taiwan, nunca mais poderá ser responsabilizado pelo seu crime.

Sabe-se pelos jornais que a polícia de Taiwan pediu aos colegas de Hong Kong mais provas para o processo. Entre elas encontra-se a gravação do depoimento feito na esquadra local. Espera-se que estes elementos possam ajudar a polícia de Taiwan a determinar mais factos relevantes.

A gravação dos depoimentos é uma forma de provar que as declarações foram obtidas de forma legal, sem recurso a métodos coercivos.

No entanto, deste depoimento não é suficiente para acusar o suspeito de homicídio em Hong Kong. Por seu lado a polícia de Taiwan está impotente devido à não comparência do suspeito.

Mas talvez possa existir uma solução para o problema. Mesmo sem o acordo de extradição, o Governo de Taiwan pode emitir uma carta de solicitação. Quando a solicitação der entrada, o Governo de Hong Kong pode preparar uma proposta de lei excepcional e pedir a aprovação do Conselho Legislativo. Se a proposta for aprovada passa a lei. Nessa altura, poderá ser emitido um mandato de captura e a polícia poderá prendê-lo e entregá-lo ao Governo de Taiwan. Mas este tipo de acordo só será válido para esta situação específica. Se vier a acontecer, será a primeira vez que o Governo de Hong Kong opta por esta solução. Assim, a longo prazo, é vital que se considere o acordo de extradição.

Como já mencionámos, desconhecem-se os motivos que levaram ao homicídio. Mas, pelo que já sabemos, o suspeito parece ter agido com bastante sangue frio. Após estrangular a vítima, colocou o cadáver numa mala, saiu do hotel, apanhou o comboio e largou o corpo no campo. Fez tudo sozinho, aparentemente sem medo e sem remorsos. Será que desconhece a importância da vida? Será que ainda um dia se virá a arrepender? É importante saber a resposta a estas perguntas para compreender os seus motivos e a sua forma de pensar e poder julgá-lo de forma justa.

À semelhança de Hong Kong, também Macau não tem acordo de extradição com Taiwan. Se acontecer algo de género em Macau, o que deveremos fazer? A experiência de Hong Kong é um bom exemplo para nos prepararmos para o pior.

 

27 Mar 2018

Pequim declara fim da “intimidação económica” norte-americana

O ministério chinês dos Negócios Estrangeiros afirmou ontem que “terminou a intimidação económica e hegemonia” praticada pelos Estados Unidos, numa crítica à intenção de Washington de aumentar as taxas alfandegárias de produtos oriundos da China

 

[dropcap style≠‘circle’]”A[/dropcap]ltos funcionários dos EUA afirmam que a era de rendição do seu país terminou, mas penso que estão enganados”, disse a porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying, numa referência às afirmações recentes do vice-presidente norte-americano, Mike Pence. “A sua intimidação económica e hegemonia é que terminaram”, acrescentou.

Em conferência de imprensa, Hua afirmou que Washington deve voltar a respeitar as leis da Organização Mundial do Comércio “para salvaguardar os intercâmbios transparentes e não discriminatórios”.

A porta-voz acrescentou que a China e os EUA negociaram no passado outras disputas comerciais e que essa porta de diálogo “continua aberta”, desde que aconteça “na base do respeito e do benefício mútuo”.

A China “tem a confiança e a capacidade para defender os seus interesses legais”, afirmou.

 

Matemática diferente

 

O Presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou, na semana passada, um aumento de 25 por cento e de 15 por cento nas taxas alfandegárias sobre o aço e alumínios importados da China, respectivamente.

Trump aprovou ainda uma possível subida das taxas alfandegárias sobre produtos tecnológicos chineses, numa retaliação contra a alegada fraca protecção dos direitos de propriedade intelectual por Pequim.

As medidas anunciadas por Trump poderão afectar as importações chinesas num valor de até mais de 48 mil milhões de euros.

Pelas contas do Governo chinês, no ano passado, a China registou um superavit de 223,5 mil milhões de euros no comércio com os Estados Unidos.

As contas de Washington fixam o superavit chinês ainda mais acima, em 304,1 mil milhões de euros.

27 Mar 2018

Hóquei em Linha | Equipas de Macau vão jogar a Taiwan

[dropcap style =’circle’] A [/dropcap] Associação de Patinagem de Macau vai enviar uma equipa de sub-19 e sub-14 a Taiwan para participar num torneio triangular com uma equipa local e outra do Interior da China.

A Associação de Patinagem de Macau vai levar duas equipas a Taiwan, uma de sub-19 e uma de sub-14, para participar num torneio inter-regiões em hóquei em linha. Na competição, em que o território participa com os escalões sub-19 e sub-14, vai também participar uma equipa local e outra do Interior da China.

“Vamos enviar duas equipas a Taiwan para participar num torneio inter-regiões. Participamos anualmente neste torneio, normalmente organizado para os seniores, mas este ano optámos por organizar o evento para o escalão sub-19, os juniores, e também para o escalão sub-14, constituído por uma equipa mista”, contou, ontem, António Aguiar, presidente da APM, ao HM.

“É um torneio em que vamos defrontar uma equipa de China Taipé e outra do Interior da China, num triangular. Simultaneamente, vamos ter uma acção de formação com conhecimento tácticos e técnicos. Tudo num nível muito básico que nem é reconhecido”, acrescentou.

“Taipé Chinês é uma das potências das modalidades, talvez a mais forte desta região e entendemos que faz sentido que os atletas tenham esta formação. Queremos muito melhorar o nível das nossas equipas e preparar a renovação da equipa sénior. Estando em Taiwan, aproveitaremos para jogar e aprender mais”, frisou.

Em relação ao nível competitivo dos juniores, António Aguiar espera que Macau consiga ombrear com a formação do Interior da China. Quanto ao nível de Taiwan, ainda é considerado inalcançável.

“A nossa equipa não tem uma grande diferença para a equipa chinesa. Eles estão muito próximos do nosso nível. Já Taiwan está uns furos acima, mas com o nosso esforço já reduzimos um pouco a desvantagem. Temos tido bons resultados, que nos permitem olhar para o futuro com alguma esperança”, concretizou.

 

Dúvidas perante o ID

Na deslocação a Taiwan, a Associação de Patinagem de Macau só vai contar com o apoio do Instituto do Desporto para uma equipa. “Não se percebe bem a razão de só apoiarem [ID] uma equipa. E nem uma queriam apoiar. Foi preciso muita insistência, mas só apoiam os sub-19. Tivemos de recorrer a subsídios privados para participar”, revelou António Aguiar. “Também os próprios pais acabam por subsidiar a participação, ao pagarem do seu bolso as viagens dos miúdos. Felizmente, os pais têm um grande interesse na modalidade e reconhecem o trabalho feito. Por isso, estão dispostos a assumir parte dos custos”, acrescentou.

O presidente da associação mostrou-se mesmo perplexo com a atitude do Instituto do Desporto: “Não sei se este apoio limitado é normal. Dizem-nos sempre que é preciso renovar os seniores e apostar na juventude. Mas quando renovamos e entramos em competição não nos apoiam. Não percebo bem a política nem o discurso do ID”, apontou.

A comitiva de Macau que se vai deslocar a Taiwan é constituída por uma delegada de equipa, dois treinadores e 33 atletas.

27 Mar 2018

Blow Up de Antonioni e Hermenêutica

[dropcap style = ‘circle’] E [/dropcap] m Blow Up, de Antonioni, ficamos depostos no sentido daquilo que é o acto hermenêutico. O filme mostra a vida do fotógrafo Thomas, em Londres, em 1965-6, o período áureo da chamada swinging pop. Período em que Londres era considerada a mais avant-garde cidade do mundo. Nesse mesmo filme, quase no fim, podemos assistir a uma actuação da célebre banda Yardbirds, por onde passaram os guitarristas Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page (fundador dos Led Zeppelin). Nesta actuação já não está Eric Clapton, mas o seu substituto Jimmy Page.

E o filme começa com o fotógrafo a entrar no seu carro descapotável, de manhã, depois de passar uma noite a tirar fotos de objectos para uma revista de arte, dirigindo-se para o seu estúdio, onde estão modelos à espera para serem fotografadas. Vemos também duas raparigas que insistem com ele, para que as fotografe (uma delas é a jovem Jane Birkin), mas ele pede que venham mais tarde. Vai então fotografar a top model da época: Veruschka (é ela a fazer de si mesma). E esta parte do filme já foi considerada por várias revistas como a cena mais sexy de toda a história do cinema. Depois destas fotos, Thomas vai ainda fotografar outras quatro modelos, que acaba por despeitar e retira-se do estúdio para espairecer. Ficamos com a sensação de estar diante de alguém superficial e, sem margem para dúvidas, alguém que fazia parte do mundo da moda e da sociedade da época. Aliás, se o filme é baseado num conto de Júlio Cortázar “Las babas del diablo”, o protagonista, Thomas, é baseado no fotógrafo David Bailey, que era o maior e mais badalado fotógrafo da Swinging Pop, com inúmeros trabalhos para as maiores revistas do mundo da moda. Ele é responsável pela própria cultura pop londrina da época, que misturava pela primeira vez celebridades, modelos e músicos pop nos mesmos lugares, fomentando assim grandes eventos mediáticos.

 

É esta pessoa que, à procura de espairecer, vai dar consigo num parque nos arredores da cidade e vê um casal aos beijos, de pé, no meio da relva. Começa a fotografá-los, de vários ângulos, enquadrando também nessas fotografias as árvores e os arbustos limites. Por fim, a rapariga apercebe-se da presença do fotógrafo e corre até ele, que vira costas e desce as escadas que levam a uma das saídas do parque. Ela consegue apanhá-lo e pede-lhe o rolo. Ele não lho dá, mas diz que lhe envia depois as fotos. Ela tenta à força conseguir tirar-lhe a máquina, sem sucesso, e ele vai-se embora. Durante todo este tempo não se vê aparecer o homem que estava com ela, que era mais velho, e quando a câmara volta a mostrar o parque, e o mesmo enquadramento de câmara que antes apanhava o casal, não se vê mais o homem, como se ele tivesse fugido. A rapariga volta para o parque, atravessando toda a parte da relva onde antes estava com o homem e Thomas volta a trás e fotografa-a a correr, indo embora.

 

Mais tarde, quando o fotógrafo chega ao estúdio, a rapariga está lá à porta, o que muito surpreende Thomas, pois não lhe tinha dado nenhum endereço. Ela insisti nas fotos, que as quer. Entram ambos no estúdio. Depois de alguns jogos, Thomas decide dar-lhe um rolo, como se esse fosse o rolo das fotografias da rapariga aos beijos. Não se vê eles a fazerem amor, mas fica implícito na montagem do filme. E ela vai embora deixando-lhe um número de telefone (que se irá revelar falso, mais tarde). Depois disto, ele finalmente entra na câmara escura e vai revelar as fotos. Nesta revelação depara-se com algo estranho, como se a rapariga num dos abraços ao homem estivesse a olhar à procura de algo ou de alguém. Volta à câmara escura e revela novamente as fotos mas partes aumentadas das mesmas. Com isso consegue vislumbrar o cano duma pistola entre os arbustos, que estaria evidentemente na mão de alguém. De imediato telefona a um amigo, que já antes aparecera no filme como sendo editor de uma revista de arte, falando da sua descoberta e dizendo que tinha salvo a vida de alguém, pois se não tem aparecido naquele momento para tirar as fotos, provavelmente ele teria sido morto. O outro não lhe dá atenção nenhuma e desliga o telefone. Thomas volta para a câmara escura, faz mais ampliações das fotos e descobre, numa das fotos últimas que tirou quando a rapariga corria, aquilo que julga ser um corpo caído entre a relva e perto dos arbustos. Já é de noite, mas ele volta assim mesmo ao parque e encontra o corpo caído junto aos arbustos. Não tinha levado a câmara com ele e regressa ao estúdio. Quando regressa, o estúdio tinha sido assaltado. Estava tudo remexido, faltavam inúmeros rolos e as fotos que ele tinha revelado desapareceram.

 

Aquilo que está em causa aqui é o poder da revelação. À medida que Thomas vai revelando as fotos, ampliando mais as partes que lhe importam, mais se vai vendo acerca do que parece ter acontecido. O que parecia ser apenas arbustos, com o exercício do aumento da revelação, deixa ver que há entre os arbustos o cano de uma pistola. E isto é o que Heidegger faz em relação aos textos que lê da Grécia Antiga. Por exemplo, quando a tradição filosófica traduzia alethéia por verdade, Heidegger, no seu exercício de revelação, de aprofundamento da leitura, vai dizer que alethéia é uma palavra composta “a” (negação) + “lethe” (esquecimento) que quer dizer “desvelar” (des + velar); ou seja, a palavra quer dizer des-tapar, des-cobrir. Alethéia quer dizer que algo que estava antes encoberto, passa a ficar a des-coberto. Por conseguinte, Heidegger vai revelando mais, vai indo mais fundo na análise que faz, fazendo com que se veja o que não se conseguia ver antes, sem essa revelação. E a isto chama-se hermenêutica, o exercício de interpretar ou de revelar o texto. Podemos ver de modo muito mais alargado no texto “O dito de Anaximandro” (in Os Caminhos da Floresta, pp. 371-440, na edição da Gulbenkian, 2014, 3ª edição), onde Heidegger começa por colocar o excerto de Anaximandro em grego, seguido da tradução levada a cabo pelo jovem Nietzsche, em 1873, para depois nos “revelar” aquilo que ainda, segundo ele, ficara escondido. O exercício de pôr a descoberto aquilo que o texto esconde, mas que está lá como essencial, sem o qual ficamos apenas a ver arbustos onde estava escondido alguém prestes a assassinar outrem. Voltando ao Blow Up, se Thomas não faz esse exercício de revelação, não ficaríamos a saber o que na realidade se estava a passar no parque. Pois aquilo que parecia ser um casal de amantes num tempo idílico, era afinal uma emboscada, um plano maquiavélico para assassinar uma pessoa. Pôr a descoberto ou revelar aquilo que não se deixa ver por si mesmo é o que se chama acto hermenêutico por excelência.

27 Mar 2018

Dia Mundial do Teatro | Macau com ausência de companhias portuguesas

Em Macau o teatro está vivo, reinventa-se, mas apenas em chinês. A época em que existiam companhias teatrais em português acabou em 1999, para não mais voltar à cena. No Dia Mundial do Teatro, Miguel de Senna Fernandes e Fernando Sales Lopes falam da importância de ter mais peças na língua de Camões

 

[dropcap style≠‘circle’]T[/dropcap]odos os anos, consegue-se assistir em Macau a teatro falado em português, mas os projectos não são locais. Tudo se deve à parceria existente entre os organizadores do Festival da Lusofonia e o Instituto Português do Oriente (IPOR), que traz, na iniciativa TEATRAU, companhias teatrais dos países de língua portuguesa.

Em 2015, o projecto MacauArtFusion e a companhia chinesa Hiu Hok juntaram-se para fazer a primeira peça bilingue, sendo que a adaptação para português esteve a cargo de Fernando Sales Lopes, historiador. O seu nome está também ligado ao teatro de língua portuguesa que se fez em Macau nos anos anteriores à transferência de soberania e que, desde então, ficou arredado dos palcos.

Hoje celebra-se o Dia Mundial de Teatro e Macau, apesar de ter o português como língua oficial, continua a não ter uma companhia teatral portuguesa. Em chinês há vários e novos projectos, com gente formada lá fora que faz adaptações de peças internacionais. Há depois o grupo de teatro em patuá Doci Papiaçam de Macau, mas em português esta arte praticamente não existe.

Ao HM, Fernando Sales Lopes fala da falta de interesse de possíveis colaboradores. “O teatro em português não o vemos. Havia um grupo, que fez teatro durante muitos anos, mas acabou antes de 1999 porque deixou de haver gente interessada. Trabalhávamos muito com pessoas novas que tinham este problema de que, quando a coisa estava a correr bem, os miúdos iam embora para Portugal estudar. As pessoas aproveitaram os últimos anos para estudar no ensino superior e também não tinham tempo livre.”

Gonçalo Lobo Pinheiro

Sales Lopes lembrou que, no TEATRAU, “a representação de Macau sempre foi coxa”. “Gostava que houvesse [mais projectos em língua portuguesa], e muitas pessoas ainda me dizem para fazer alguma coisa, mas depois no outro dia essas pessoas já não estão aí. Vai-se embora o entusiasmo, as pessoas gostam muito porque acham que é chegar lá e ir para o palco, e não é assim”, apontou.

Actualmente, o Conservatório de Teatro oferece uma formação muito virada para o cantonês e que não está equiparada a licenciaturas em Teatro, como existe em vários países. Sales Lopes espera que a nova presidente do Instituto Cultural, Mok Ian Ian, possa mudar o rumo das coisas, uma vez que é autora, mestre e doutorada em Ciência de Teatro Chinês pela Universidade de Nanquim.

“Não é tanto pela falta de espaço, há sítios para se ensaiarem e fazer as coisas. Não há teatro porque não há gente para o fazer. O que está a ser feito é aprendizagem para os jovens”, frisou Sales Lopes.

Miguel de Senna Fernandes, fundador do grupo Doci Papiaçam de Macau, lamenta que não existam mais projectos em português.

“A comunidade chinesa sempre teve o seu teatro, e não estou a falar de ópera chinesa. Eles têm o seu público e a sua escola. Há duas grandes companhias que são veteranas, e foram aparecendo mais. Antes de 1999 havia companhias da comunidade portuguesa, e lembro-me de uma dirigida por Fernando Sales Lopes, por exemplo. Se calhar, as pessoas não têm muito tempo e as coisas acabam por parar, mas vale sempre a pena formarem-se grupos de teatro nas comunidades.”

Para o também advogado, é preciso apostar mesmo que não existam espaços suficientes ou um público vasto. “Não tem a ver apenas com o facto de haver, ou não, público, mas com a atitude. O teatro pode ser um veículo de aprendizagem, com o patuá por exemplo. No contexto especial de Macau, é fundamental que haja teatro português. Os Doci Papiaçam têm características próprias e preenchem necessidades específicas.”

Foto: Sofia Margarida Mota

Olhando para o cartaz do Festival de Artes de Macau, Senna Fernandes lembra que há vários grupos a representarem no território vindos de Portugal. “São trabalhos bem feitos, têm público. Porque não voltam a formar grupos de teatro locais? Se existe uma comunidade portuguesa, porque não?”, questionou Miguel de Senna Fernandes.

 

Tecnologia destrutiva

Há 70 anos instituiu-se o Dia Mundial do Teatro. Várias mensagens de figuras ligadas a esta arte chamam a atenção para a importância de subir ao palco para combater o poder da tecnologia.

A dramaturga mexicana Sabina Berman defendeu que o teatro é a manifestação adequada para salvar a humanidade da submissão aos algoritmos, na “ordem tirânica” global, tal como sustentou o encenador britânico Simon McBurney.

“Mais do que a literatura, mais do que o cinema, o teatro – que exige a presença de seres humanos diante de outros seres humanos – é maravilhosamente adequado à tarefa de salvar-nos de tornar-nos algoritmos. Abstracções puras”, defende Sabrina Berman, na sua mensagem.

Para Miguel de Senna Fernandes, as redes sociais, os telemóveis e os computadores afastaram as pessoas dos palcos, que preferem ir ao cinema ou assistir a concertos.

“Não quero culpar a tecnologia mas, de facto, parece-me que o mundo digital veio substituir o entretenimento do dia-a-dia. Sem público é difícil expressar uma vontade de fazer teatro. Há uma dialéctica, que é o palco e a assistência, e muitas vezes o palco depende da reacção da assistência, e isso é fundamental. As artes performativas sofrem muito com isto.”

Em Macau falta também formação específica na área do teatro, não só em termos de formação de actores, como de técnicos. Há 25 anos que o grupo Doci Papiaçam de Macau sobe ao palco com casa cheia, mas fá-lo de uma forma amadora.

“Andei durante muito tempo à espera da formação técnica para os Doci Papiaçam, e resolvi avançar enquanto esperava. Andamos durante 25 anos assim, não sou formado em teatro. Não sei ainda se faço teatro, mas não interessa, pois faz 25 anos que estamos em palco, nunca tivemos uma preparação técnica, e sempre acalentámos essa oportunidade. Mas não é razão para não haver”, contou Miguel de Senna Fernandes. 

Espaços insuficientes

O teatro existe em Macau mas continua a estar inacessível a uma grande parte da população, uma vez que permanece a barreira intransponível da língua. Teresa Lam, fundadora do grupo Rolling Puppet, trouxe ao palco do edifício do Antigo Tribunal uma das poucas peças com tradução para inglês: o espectáculo “Macau 2.0”, um projecto que também esteve em Praga, capital da República Checa.

Ao HM, Teresa Lam fala de um florescimento de inúmeros projectos fundados por pessoas que estudaram lá fora e regressaram à sua terra natal. Há, contudo, ainda muito a fazer no teatro interpretado em chinês.

“Estes grupos têm vindo a brotar e precisamos de mais palcos e espaços para que estes profissionais consigam manter estes projectos. Mas, neste momento, não há uma grande atenção relativamente a esta questão, pois só existe o Centro Cultural de Macau e espaços em casinos, por exemplo.”

Ainda assim, é difícil as pequenas companhias teatrais terem acesso aos espaços que as operadoras de jogo disponibilizam. “Não há muitas oportunidades para as companhias teatrais locais apresentarem as suas peças, pelo que era importante o Governo fazer alguma coisa. Também gostaríamos de ter um plano de financiamento a três anos, por exemplo, pois teríamos acesso a um espaço. Há muitas coisas que têm de ser melhoradas.”

Teresa Lam acredita ser fundamental o reaproveitamento de espaços abandonados, como é o caso de antigas fábricas e cinemas, que “podem ser renovados para uso do público”. “Mesmo o Armazém do Boi está em obras e o edifício do Antigo Tribunal vai ser transformado numa biblioteca central. Estamos sempre em espaços provisórios e nunca sabemos por quanto tempo. Precisamos de um plano, de um centro multifunções”, concluiu.

Sobre este aspecto, o empresário William Kuan, ex-candidato às eleições legislativas, começou a desenvolver, há mais de dois anos, um projecto de renovação do Teatro Cheng Peng, localizado na histórica Rua da Felicidade.

27 Mar 2018

Aparição, desvio e paixão

[dropcap style= ‘circle’] O [/dropcap] filme é protagonizado por Jaime de Freitas e Victória Guerra e foi rodado na cidade de Évora, onde Vergílio Ferreira foi professor. Chegou a esta cidade em 1945 na qualidade de professor de Português após a licenciatura em Filologia Clássica na Universidade de Coimbra em 1940.

O filme que agora chega às salas de cinema teve o galardão para o melhor filme português no Festival Internacional de Cinema Fantástico do Porto 2018, e não foi aceite em Veneza, Cannes e Berlim.

Alberto Soares, é o nome do personagem e é professor no colégio Espírito Santo, nome atual do na época Liceu de Évora.. A história passa-se nos anos 50, num Portugal onde uma burguesia rural tinha evidentemente assento e vida na cidade, mas em que cidade e campo eram realidades muito diferenciadas. Évora, cidade milenar, vivia em adormecimento uma anemia do sangue onde as vontades tem normas a cumprir. P “status quo” é o de uma ordem a manter em que nada se questiona, mas, como sempre e mesmo sem que saiba porquê, é impossível estancar a curiosidade, estancar da vontade, estancar o desejo, estancar a dor. O abismo pode chegar da forma mais inesperada, pelo crime ou pelo suicídio. Por vezes, demasiadas vezes, alguém decide o tempo do fim. É uma cidade que habita uma planície onde a força telúrica da terra e o excesso do sol encontram caminho, de certa forma paradoxalmente, no gélido território da morte. Não raras vezes alguém se abraça em excesso à corda e o corpo quando impedido de respirar não vive. O Alentejo telúrico e suicidário, é nos anos 50, um lugar distante, de contrastes fortes de sol e sombra, de sonhos por vezes indizíveis, onde o desejo caminha por vezes demasiado próximo da morte.

Neste Alentejo de espaço e sol a opção do realizador foi por um tempo de inverno, nuvens e chuva, uma outra forma da dimensão trágica dos céus.

Há na postura em aula de Alberto Soares, professor, e na relação que estabelece com a turma de alunos de português, que o aproxima desse grande sucesso cinematográfico que foi, é, o “ Dead Poets Society” de 1989 , escrito por Tow Schulman, realizado por Peter Weir e genialmente interpretado por Robin Williams, um filme que aproximadamente custou $ 16 400 000 e que fez um encaixe de $ 140 000 000 . A aproximação é tímida, a relação entre os alunos e o professor e entre o universo poético e a rigidez institucional do programa escolar é um apontamento, e não o corpo do desenvolvimento narrativo do filme.

APARIÇÃO também outro orçamento, não anda longe dos € 700 000 se acumularmos os diferentes apoios nas diferentes fazes do filme e o seu box office, se cobrir se vier a cobrir esse custo já será um enorme êxito, uma aparição de sucesso na cinematografia nacional.

Contingências de um cinema produzido num país que tem a sua maior distribuidora focada no “grande universo “ doméstico, e onde muito provavelmente toda a cultura é mais uma chatice do que uma área de trabalho para os ilustres governos da nossa não menos ilustre democracia.

O caminho escolhido pelo realizador e que é também o caminho da obra literária escrita em tempo anterior ao filme referido note-se, tem o enfoque noutras relações “desviantes” não só literárias. O dos corpos habitados pela tensão de Eros.

No quadro dos comportamentos ordenados, submissos e em regra com as leis da igreja e códigos civis, quais os comportamentos que resultando da força do sangue nas enzimáticas sinapses do cérebro, capazes de alterar a cor, a dureza e a liquidez da carne, o não são? É por isso que há uma moralidade volátil que acompanha o que de alguma forma se poderia chamar alter ego dos tempos se o tempo for também metafísica, prova-o código civil de hoje não ser igual igual ao de ontem, nem ao do próximo século, e também nunca o mesmo em todos os lugares e culturas.

No filme APARIÇÃO, Alberto Soares é o Virgílio Ferreira, há uma cena já na resolução do filme em que surge como o autor, e tem na relação com a jovem Sofia, filha do médico da cidade, o Dr. Moura, amigo do pai do Alberto Soares.

A aproximação acontece no decurso de explicações de Latim , língua clássica Indo-Europeia derivada do alfabeto Etrusco e Grego e um dos mais importantes instrumentos do poder do Império Romano. À jovem Sofia as línguas mortas causam pouco entusiasmo, é mais aborrecimento mesmo do que a excitação do conhecimento, e a presença do professor, homem bem parecido e com autocontrole, – enfim o possível- das emoções e pulsões eróticas, e as aulas particulares são um momento em que o tédio dos dias pode ser anulado pela agitação do sangue no exercício da sedução, jogo sempre com perigos, mas com os prazeres do flanar nos territórios do pólen e do mel. Despertam-se outras línguas, as línguas que se tocam, e nesse toque falam e tecem a volúpia doce e húmida do prazer dos corpos.

A aparição surge nos caminhos dos territórios não inteiramente coincidentes com a vida higiénica , mas também insalubre, da vida inteiramente civilizada e normativa, da vida útil, do casamento, da igreja e dos filhos, da acumulação de património e da sucessão dos bens. A vida esperada numa cidade rural dos anos 50 em Portugal, e em tantos outros lugares no mundo.

Sofia, é uma personagem luminosa, inquieta, representada pela Victoria Guerra, com aquele ancorar movediço nas emoções do contemporâneo estou aqui mas também não estou, quero e não quero, sou poço que incendeia, fujo para me agarrares, sou livre? do amor líquido sociologicamente caracterizado pelo Zygmunt Bauman no seu ensaio sobre a fragilidade dos laços humanos. Neste sentido a Sofia é uma personagem que habita mais este nosso tempo do que os idos anos 40 e 50 na Évora das pedras caladas.

Esse jogo em que vê reflectida a beleza que encontra quando se olha no espelho, bem como os caminhos usuais dos laços sociais e económicos que os laços entre os filhos constroem nos patrimónios das famílias, leva-a um namoro com um futuro latifundiário, agora adolescente e aluno de liceu na turma do professor escritor. É o Carolino, – numa interpretação convincente e subterrânea do João Cachola-, jovem desperto para dimensões perigosas do ser nas elevações do espírito nas aulas de Português. Há um combate entre um proto-fascismo em que se percebe a presença das correntes da força futurista do inicio do séc. XX e o existencialismo que na época , e também hoje, tinha em Sartre o nome mais visível. Vergílio Ferreira, Alberto Soares, acolhe e é expressão desse existencialismo, por vezes com forte apego ao hedonismo dos sentidos, mas sempre atento ao mistério e deslumbramento. É uma batalha que vai ter um final de tragédia. Em que a violência final é uma vez mais exercida no corpo da mulher. Confrontado com a cegueira do poder e do ciúme, com afastamento da experiência do habitar o corpo do mel, CAROLINO preso a uma iluminada cegueira mata. E mais, mais uma vez, a tragédia anunciada desde o início dos tempos tem lugar, desta vez como em demasiadas outras vezes, no corpo feminino.

APARIÇÃO é uma sucessão de confrontos e descobertas onde uma certa sabedoria atávica presente no discurso do reitor, personagem interpretada por João Lagarto, quando aconselha o recente professor a outros temas nas suas redações, tipo caridade, bons costumes, bons filhos e bons pais, diz essa personagem que com esses temas tudo fica bem, os pobre os ricos e os remediados, pode parecer ter sentido. E na verdade tem, o da anemia do sentir.


A aproximação do actor Jaime Freitas ao personagem, foi segundo o próprio, muito orgânica e apaixonante dado o mergulho no universo do Vergílio Ferreira ter sido uma comunhão de sentidos e interrogações. Victoria Guerra, a protagonista, entregou-se também, como ela própria o disse, de forma aberta e orgânica à personagem, à direção do Fernando Vendrell e ao jogo próprio da representação com os atores com quem contracena, em particular com Jaime Freitas.

Há referencias cinematográficas totalmente explicitas como é o caso do desenho do enforcado que nos chega vindo do filme JAIME, do António Reis e da Margarida Cordeiro, realizado em 1974 ano do golpe de Estado que mudou a hegemonia dominante a ocupar o aparelho do governo em resultado do necessário acompanhar o movimento do mundo, coisa em se continua por aqui sempre com várias passadas de atraso, não por virtuosismo, mas por incapacidade. É sempre interessante falar do JAIME, filme surpreendente na sua materialidade completamente ao lado da agitação social da época e na sua expressão formal onde se joga a contaminação do documentário e da ficção, é como que um cometa a atravessar o céu no cinema por cá produzido nesse momento.

É talvez a uma forma, de o realizador Vendrell, afirmar o seu alinhamento com a denominada escola portuguesa de cinema.


Esta “Aparição”, teve inicio com uma proposta de escrita de argumento do João Milagre e Fátima Ribeiro, professores na Escola Superior de Teatro e Cinema, ao Produtor Fernando Vendrell. A proposta foi a concurso no ICA para apoio à escrita em 2005, teve dinheiro, e o filme foi escrito. Esteve posteriormente num concurso em que o realizador era o Mário Barroso, nesse concurso não teve apoio, e mais tarde, num novo concurso, obteve o necessário apoio para a produção.

Filme conseguido, menor que a obra literária, mas com um notável e esforçado trabalho da equipa técnica e artística. Para outros voos o filme precisaria de um segundo acto mais desenvolvido permitisse novas contaminações e folgo narrativo, isso implicaria necessariamente maior orçamento e mais tempo do que as 5 semanas de rodagem. Foi montado em 6 semanas e teve inicio conceptual em 2005, em 2018, esta semana, chega às salas de cinema em Portugal.

Vergílio Ferreira nasceu na aldeia de Melo, no concelho de Gouveia, distrito da Guarda, a 28 de janeiro de 1916 e morreu em Lisboa a 1 de março de 1996. É considerado um dos mais importantes escritores do século XX, estando a sua produção literária dividida em dois períodos: neorrealismo e existencialismo. Enquanto adolescente estudou num seminário e mais tarde na Universidade de Coimbra sendo que da sua experiência no seminário resultou uma das suas mais importantes obras, Manhã Submersa, publicada em 1953 e adaptada para filme em 1980 por Lauro António. O autor trabalhou a maior parte da sua vida como professor em escolas por todo o país e recebeu vários prestigiantes prémios, entre eles o Prémio Femina em 1990 – um dos mais importantes galardões literários franceses – o Prémio Europália em 1991 pelo conjunto da sua obra e o Prémio Camões um ano mais tarde. A sua ligação a Évora começou, em 1945, altura em que chegou à cidade para dar aulas no então Liceu Nacional, atual Colégio do Espírito Santo – o principal edifício da Universidade de Évora – onde foi professor até 1959, o ano em que publicou Aparição. Para além do contexto autobiográfico, na criação deste livro o autor extrapolou a sua vivência pessoal de forma a aprofundar a narrativa e os temas da obra, utilizando pessoas suas conhecidas como modelos para as personagens do romance. Escrito na primeira pessoa, Aparição transporta teorias filosóficas relacionadas com o existencialismo. A partir deste momento, Vergílio Ferreira constrói uma história que dificilmente pode ser esquecida e confirma o sucesso internacional de um livro que é considerado um dos dez romances portugueses mais importantes.

27 Mar 2018

Presidente da mesa da assembleia da APOMAC nega ter sido despedido por David Chow

[dropcap style≠‘circle’]J[/dropcap]orge Fão, ex-deputado e presidente da Mesa da Assembleia Geral da APOMAC, nega ter sido despedido por David Chow, ao contrário de algumas informações que circularam pelas redes sociais. Ao HM, Fão negou ter estado contratualmente ligado ao empresário e frisa que sempre trabalhou como conselheiro para o empresário.

“Eu não vou sair de lado nenhum. O edifício do Landmark é que vai ser vendido, mas isso não tem nada a ver comigo. É apenas propriedade de uma pessoa que é muito minha amiga”, disse, ontem, Jorge Fão, ao HM.

“O David Chow é proprietário do Landmark, a empresa dele vai vender o edifício e isso já tinha sido anunciado, até na bolsa. Eu sou apenas um conselheiro, sempre fui amigo dele e conselheiro na área diplomática e política. Não fui conselheiro na área financeira, porque não percebo nada de dinheiro”, explicou.

Por outro lado, o ex-deputado que se notabilizou a defender os direitos da função pública de Macau, frisou que tudo não passa de um boato. “Dizer que eu fui despedido é apenas um boato. Em Macau, tenho muita gente que gosta de mim e algumas que não gostam. Não faço ideia se foi dessas que surgiu esse rumor”, considerou.

“Eu nunca estive ligado à empresa dele, só à pessoa. Se forem buscar a folha dos ordenados que ele pagou, não está lá o meu nome. Se tivesse eu até tinha de pagar o imposto profissional e não paguei”, acrescentou.

 

 

Projecto em Cabo Verde

Sobre a relação com David Chow, Fão diz que vão continuar a ser amigos e que está disponível para qualquer tipo de aconselhamento necessário, político ou diplomático, como sempre esteve: “Percebo alguma coisa de diplomacia e política e ele sempre que precisou do meu apoio, eu dei-lho. Mais nada. Fui parceiro político dele, vou continuar a ser conselheiro quando for necessário. Quando for solicitado, vou lá. Quando não for faço a minha vida”, frisou.

Jorge Fão abordou igualmente os projectos em Cabo Verde de David Chow: “O projecto em Cabo Verde fui eu quem o convenceu a investir. As pessoas na altura pouco falavam de Cabo Verde, principalmente no meio chinês”, sublinhou.

 

27 Mar 2018

Mais de 180 mil TNR em Fevereiro em Macau

[dropcap style≠‘circle’]M[/dropcap]acau contava com 180.781 trabalhadores não-residentes no final de Fevereiro passado, mais 1.959 do que no período homólogo, indicam dados oficiais ontem divulgados.

Comparativamente com os dados do final de Janeiro de 2018, houve apenas um aumento de 299 trabalhadores não-residentes, de acordo com dados da Polícia de Segurança Pública (PSP) publicados no portal da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL).

A maioria dos trabalhadores não-residentes continua a ser da China, com 113.399, seguindo-se as Filipinas (28.145) e o Vietname (15.257). Por outro lado, a indústria de hotelaria, restaurantes e similares empregam a maior parte de mão-de-obra importada, com 51.505, seguidos pela construção, com 29.720.

As famílias com empregados domésticos absorvem 27.348 trabalhadores não-residentes, sendo a maioria (14.238) das Filipinas. Os trabalhadores não-residentes ultrapassaram os 100 mil pela primeira vez na história de Macau em 2008.

No final de 2000, Macau contava com 27.221 trabalhadores não-residentes, em 2005 com 39.411, em 2012 com 110.552, em 2014 com 170.346, em 2015 com 181.646, e em 2016 com 177.638. Portadores do chamado ‘blue card’, os trabalhadores não-residentes só podem permanecer em Macau com contrato de trabalho válido, não possuindo direito de residência.

27 Mar 2018

Consulta pública sobre nova lei do ensino profissional este ano

A Direcção dos Serviços de Educação e Juventude planeia arrancar com a consulta pública sobre a revisão da lei do ensino profissional no terceiro trimestre deste ano. O Governo vai também abrir um centro com estes cursos em Seac Pai Van

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] processo de revisão do decreto-lei de 1996, que regula o ensino técnico-profissional, vai ganhar novos contornos este ano, depois de um estudo que dura desde 2014.
De acordo com uma resposta da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) a uma interpelação do deputado Ho Ion Sang, a consulta pública sobre este assunto deverá arrancar no terceiro trimestre deste ano.
“A DSEJ pretende realizar a consulta pública no segundo trimestre de 2018, e de seguida encetar o processo legislativo. Os diplomas legais do ensino técnico-profissional, com as novas alterações, tomaram como referência a reforma, tendências de desenvolvimento e experiências deste ensino a nível mundial, tendo em conta a situação real de Macau”, pode ler-se na resposta assinada pelo novo director da DSEJ, Lou Pak Sang.
Depois da elaboração do estudo, que foi entregue ao Conselho de Educação para o Ensino Não Superior em 2016, a DSEJ chegou à conclusão que a revisão dos cursos profissionais passa “pela cooperação entre o Governo, as empresas e as escolas”.
A DSEJ pretende empenhar-se “no aprofundamento da cooperação entre as escolas, empresas, associações e indivíduos profissionais para a melhoria do sistema e do regime do ensino técnico-profissional, numa perspectiva de articulação da educação com a indústria e das respectivas medidas de garantia”. Tudo para “formar talentos com competências profissionais de alta qualidade para o desenvolvimento da diversificação adequada da economia”.
Actualmente, existem nove escolas oficiais e particulares que se dedicam exclusivamente ao ensino técnico-profissional, oferecendo 33 cursos no ensino secundário complementar, com um total de 83 turmas. Dados estatísticos elaborados pela própria DSEJ revelam que “88 por cento dos finalistas do ensino técnico-profissional da educação regular, do ano lectivo 2017/2018, prosseguiram os estudos no ensino superior, sendo que 45,3 por cento se encontravam ainda a frequentar cursos leccionados no ensino superior”. Por sua vez, “dois por cento dedicaram-se ao emprego e 50 por cento deles escolheram os sectores relacionados”.

Novo centro a caminho

A DSEJ explicou ainda ao deputado Ho Ion Sang mais alguns detalhes sobre o projecto de um novo centro do ensino técnico-profissional, que vai nascer na zona de Seac Pai Van, Coloane.
“Tendo em conta o aumento da população a viver ao redor de Seac Pai Van e a procura e oferta de vagas escolares, a DSEJ planeou a construção de uma escola oficial para os ensinos infantil, primário e secundário, com uma capacidade máxima de 1365 alunos, e ainda de um centro de prática do ensino técnico-profissional e de um centro de formação linguística.”
Este centro “visa formar e desenvolver as capacidades e competências de aplicação profissional e de vida quotidiana e cultivar talentos de nível técnico-profissional para Macau”.
Os cursos que vão ser oferecidos aos formandos variam entre as áreas da culinária internacional, convenções e exposições, vestuário, moda e cenografia e indústrias culturais e criativas. O centro oferece “também acções de formação e actividades orientadas por instrutores profissionais, disponibilizando ainda salas específicas para as aulas e estágio”.

27 Mar 2018

Casinos | Novos inspectores sujeitos a estágios de seis meses

Foi ontem publicado em Boletim Oficial o novo regulamento que cria estágios de seis meses para novos inspectores de casinos da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos. Associação que representa estes trabalhadores concorda com a nova medida

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s novos funcionários públicos que desempenham funções de inspectores nos casinos, ao serviço da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), passam a estar obrigados à frequência de um estágio de seis meses antes de entrarem ao serviço.

O novo regulamento de estágios da DICJ foi ontem publicado em Boletim Oficial (BO) e determina que o estágio inclui duas fases, com dois cursos de formação teórica e prática. No que diz respeito ao curso teórico, o formando deve assimilar “conhecimentos teóricos”, bem como frequentar “seminários, encontros, palestras, congressos, conferências e visitas de estudo”. O estagiário é também sujeito à realização de trabalhos de pesquisa e investigação na área da inspecção dos casinos.

Já a formação prática tem como objectivo “inteirar os estagiários do ambiente real de trabalho, no âmbito dos métodos de trabalho das respectivas funções, por forma a prepará-los para o desempenho da acção inspectiva”. O regulamento determina que “a frequência do curso de formação teórica com aproveitamento é condição necessária para a passagem à fase de curso de formação prática”.

O estagiário deve ainda realizar o respectivo relatório, tendo direito a cinco dias para o fazer.

Associação concorda

Contactado pelo HM, António Lopes, ex-candidato às eleições legislativas, ex-inspector de jogo e um dos dirigentes da Associação Sindical dos Inspectores de Jogo, ligada ao universo da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), disse concordar com esta medida.

“Concordo com estas novas regras. Durantes esse período os estagiários podem ter contacto com todos os trabalhos e informações ligados aos casinos, e isso é bom para os funcionários.”

António Lopes contou que, até à publicação deste regulamento, os novos inspectores eram apenas sujeitos a um período de teste com duração entre um a dois meses.

“O pessoal ia às entrevistas e depois, caso passasse no teste, podia começar a fazer os trabalhos de inspecção. Depois, havia uma formação de um ou dois meses e entravam de imediato ao serviço.”

Segundo António Lopes, isso gerava constrangimentos e falhas no trabalho do dia-a-dia. “Os funcionários tinham de aprender muitas coisas da área administrativa, relacionadas com os crimes, regulamentos dos jogos. E quando começavam a trabalhar não percebiam muito bem como funcionavam as coisas. Iam aprendendo todos os dias durante o trabalho.”

“Caso houvesse casos que não compreendessem, tinham de ligar aos inspectores mais antigos para saber como podiam resolver os casos. Aí a culpa caía na inspecção porque não havia a devida formação”, frisou do ex-inspector de jogo.

27 Mar 2018

Cooperação | Moçambique vai ser “país parceiro” na 23.ª MIF

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]oçambique será o “país parceiro” da 23.ª edição da Feira Internacional de Macau (MIF), organizada pelo Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), anunciou a instituição.

A próxima edição vai decorrer de 18 a 20 de Outubro e vai centrar-se nas vantagens de Macau como plataforma de serviços para a cooperação internacional entre a China e os Países de Língua Portuguesa, indicou o IPIM em comunicado.

Para promover o certame e fortalecer o intercâmbio cultural entre os dois países, os representantes do IPIM visitaram, na semana passada, o país africano, onde foram recebidos pelo primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do Rosário.

Durante os encontros, o governante moçambicano manifestou interesse em desenvolver, através de Macau, os mercados da China e dos países lusófonos para atrair um maior número de empresas investidoras no país.

A MIF realiza-se anualmente em Outubro e tem como objectivo reforçar a cooperação e o intercâmbio comerciais. Ao mesmo tempo, terá lugar a Exposição de Produtos e Serviços dos Países de Língua Portuguesa (PLPEX). Na edição passada, que teve como “país parceiro” Angola, a MIF recebeu mais de 50 países e regiões, bem como mais de mil empresas e outras organizações.

27 Mar 2018

SSM | Mais de 350 pessoas multadas por fumarem dentro dos casinos

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais de 350 pessoas foram multadas, desde o início do ano, por fumarem dentro dos casinos de Macau, indicaram ontem os Serviços de Saúde.

De acordo com os dados, referentes a 219 inspecções em casinos, das 364 pessoas multadas, 86,2 por cento eram turistas e 343 do sexo masculino. As inspecções nos casinos do território decorreram entre 1 de Janeiro último, data de entrada em vigor da nova lei do tabaco, e a passada sexta-feira, acrescentaram.

Com a entrada em vigor das alterações à lei de controlo do tabagismo, passou a ser proibido fumar dentro dos casinos, excepto em salas legalmente equipadas para o efeito. A lei prevê ainda a proibição de fumar em todos os recintos fechados, à excepção então dos casinos e dos aeroportos, os únicos dois locais onde as salas para fumadores são permitidas.

Segundo um relatório divulgado em Janeiro pelos Serviços de Saúde, nos últimos anos a mortalidade por doenças relacionadas com o tabagismo em Macau foi de quase 30 por cento. Em 2017, 67.300 indivíduos com mais de 15 anos consumiam tabaco.

27 Mar 2018

Jogo | Governo mantém data para apresentação de relatórios de estudos

A Direcção dos Serviços de Economia garantiu ao deputado José Pereira Coutinho que os dois estudos de análise do sector do jogo em Macau e a sua concorrência a nível regional deverão estar mesmo concluídos no terceiro trimestre deste ano

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho inquiriu o Governo, em interpelação escrita, sobre as datas da conclusão de dois estudos sobre o sector do jogo e os objectivos com a adjudicação destes projectos à Universidade de Macau (UM) e Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST).

Na resposta ao deputado, a directora substituta da Direcção dos Serviços de Economia (DSE), Chan Tze Wai, garantiu que as datas se mantém tal como estava anunciado em Dezembro último. “Enquanto entidade de apoio técnico-administrativo do Conselho para o Desenvolvimento Económico, a DSE finalizou já todos os processos adjudicatórios destes dois projectos, estando prevista a conclusão dos respectivos relatórios no terceiro trimestre do corrente ano.”

Estes estudos visam saber mais detalhes sobre o futuro desenvolvimento da indústria do jogo entre 2020 e 2030, período durante o qual expiram os contratos das seis operadoras. Um dos estudos foi adjudicado a Davis Fong, deputado nomeado à Assembleia Legislativa, membro Conselho para o Desenvolvimento Económico e director do Instituto de Estudos sobre a Indústria de Jogo na UM.

O objectivo dos referidos estudos é “propor recomendações cientificamente sólidas e justificáveis ao Governo da RAEM [Região Administrativa Especial de Macau] sobre a política de diversificação económica moderada”.

O Executivo quer, com estes estudos, ter acesso a “recomendações cientificamente justificáveis quanto às políticas de diversificação adequada da economia”, escreveu Chan Tze Wai.

Poucas informações

O secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, justificou o adiamento de informações por parte do Governo como forma de garantir que Macau se mantém competitiva em relação a outras jurisdições.

“Muitas pessoas estão preocupadas se temos tempo necessário para preparar esses concursos, se as operadoras têm de assumir mais responsabilidade social. (…) Temos de pensar qual o momento oportuno para lançar essas regras para garantir um desenvolvimento saudável deste sector”, disse Lionel Leong, em Novembro, aos deputados na Assembleia Legislativa.

À luz da actual legislação, tem de se realizar um concurso público após o termo dos contratos de exploração de jogo. Não obstante, a duração de cada concessão pode ser prorrogada, a título excepcional, por um período máximo de cinco anos.

27 Mar 2018

Terrenos | Ella Lei pede seguimento dos casos sem caducidade declarada

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]lla Lei revelou que, de acordo com informação disponível na página da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), até ao final do ano passado restam 17 casos relativos aos terrenos cuja caducidade de concessão ainda não foi declarada.

Perante isto, a deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) pede explicações ao Executivo sobre o acompanhamento destes casos. Em muitos dos terrenos em causa, a concessão já terá ultrapassado o prazo de 25 anos em 2016.

A deputada recordou, numa interpelação escrita entregue ao Governo, que o relatório divulgado em 2015 pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC), sobre os 16 terrenos, aponta para a necessidade do Governo declarar a caducidade da concessão de forma temporária. A ausência desta medida poderia causar transtornos em termos da utilização de bens públicos e afectar o uso eficiente dos terrenos disponíveis, lembrou Ella Lei.

27 Mar 2018

Função Pública | Proposta de Sónia Chan para pagar menos por trabalho por turnos gera polémica

A redução no pagamento do trabalho por turnos ao funcionários públicos está a preocupar os deputados. O tópico foi um dos mais abordados na consulta pública conduzida pela comissão da Assembleia Legislativa que está a analisar o documento

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s deputados da 3.ª Comissão Executiva da Assembleia Legislativa, presidida por Vong Hin Fai, estão preocupados com o facto de o Governo ter intenções de passar a pagar menos no subsídio de turnos. A comissão quer uma explicação para as alterações que vão ter impacto no montante recebido ao final do mês por alguns funcionários públicos. A questão foi uma das mais abordadas na consulta pública que o hemiciclo realizou sobre a proposta de lei.

“Segundo as novas regras, o subsídio vai ser menor. As opiniões sobre esta matéria são muitas. A comissão também está preocupada e queremos saber a explicação do Governo para estas alterações”, afirmou Vong Hin Fai, presidente da comissão, após a reunião de ontem.

Actualmente, quando os trabalhadores cumprem três ou mais turnos em dias que abrangem o fim-de-semana ou feriados, recebem um subsídio de 17,5 por cento do ordenado. Se os três turnos forem todos durante a semana, o subsídio é de 12,5 por cento do salário. Finalmente, é pago um subsídio de 7,5 por cento quando são cumpridos dois turnos, mesmo que calhem durante o fim-de-semana.

De acordo com as alterações que o Governo quer promover, o subsídio por turno só é avaliado em 17,5 por cento se for cumprido em metade, ou mais de metade, do tempo num fim-de-semana entre as 00h e as 08h. Se for no mesmo horário, durante a semana, o subsídio é pago à taxa de 15 por cento. Quando os trabalhadores cumprem metade, ou mais de metade, do turno ao fim-de-semana, entre as 20h e as 00h, então o valor passa a ser de 12,5 por cento. Nos casos em que se trabalha na sexta-feira entre as 20h e as 00h, metade ou mais de metade do turno, o pagamento é de 10 por cento. Finalmente, o subsídio vai ser pago a 7,5 por cento, quando o turno é parcial, ou totalmente cumprido, ao fim-de-semana entre as 08h e as 20h.

Em relação à nova proposta do Governo e à forma como é calculado o subsídio por turno, Vong Hin Fai afirmou ainda ser “muito complicada”.

Opiniões anónimas

Durante a consulta pública, a AL recebeu um total de 56 cartas e emails com sugestões e opiniões. Entre as opiniões, 45 foram feitas a título individual e 11 através das associações, das quais apenas duas formadas legalmente. A maior parte das opiniões recebidas foram anónimas. Porém, Vong Hin Fai fez questão de sublinhar que todas as opiniões foram consideradas.

O passo imediatamente seguinte será a elaboração de um relatório para enviar ao Governo. Neste domínio, o presidente da comissão prometeu a confidencialidade da identidade das pessoas que se identificaram. “Não vamos identificar nenhuma opinião junto do Governo. Para eles vão ser todas anónimas”, garantiu.

Após este passo, haverá a primeira reunião com representantes do Governo, que só deve acontecer após 5 de Abril.

27 Mar 2018

Assistentes Sociais | Deputados querem critérios menos rígidos

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]egundo a nova proposta para o Regime de Acreditação Profissional e Inscrição para Assistente Social, as pessoas que tiverem sido condenadas com uma pena de 3 anos de prisão, ou por um período superior, terão recusada a sua inscrição para exercerem esta profissão.

Ontem, a 2.ª Comissão da Assembleia Permanente discutiu com o Governo a possibilidade da proposta ser alterada. Os deputados defendem que o critério é muito rigoroso e que um crime sem dolo, que não esteja relacionado com o desempenho de tarefas de assistente social como, por exemplo, uma morte por atropelamento, não deveria afastar uma pessoa desta profissão.

No entanto, apesar de prometer ponderar a situação, o Executivo mostrou-se reticente devido aos resultados da consulta pública.

“Os deputados acham que o critério é muito rígido. Mesmo na lei para os arquitectos, eles só ficam impedidos de exercer, se o crime for cometido durante o desempenho da profissão”, contou Chan Chak Mo, presidente da comissão. “Para nós, os três anos só deviam ser motivo para afastamento da profissão se fosse um crime com dolo. O Governo diz que vai ponderar a situação, mas também apontou que na consulta pública os assistentes sociais concordaram com a proposta”, acrescentou o deputado.

Ainda ontem, foram discutidas as disciplinas que os cursos para a formação de assistentes sociais devem incluir. Neste aspecto, o Governo comprometeu-se a ser mais claro. Como tal, vai-se realizar um encontro com as instituições de ensino que ministram os cursos em questão, entre elas o Instituto Politécnico de Macau e a Universidade de São José, para discutir as disciplinas exigidas.

27 Mar 2018

Trabalho | Lei Chan U quer aumentar número de férias pagas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Lei Chan U entregou uma interpelação escrita ao Governo onde pede um aumento do número de férias anuais pagas. Actualmente, a lei das relações do trabalho determina apenas um limite máximo de seis dias pagos por cada ano de trabalho.

Na perspectiva do deputado, registam-se cada vez mais famílias em que os pais precisam de trabalhar fora de casa, sendo que muitos deles o fazem por turnos, o que acaba por causar problemas sociais e familiares.

Na sua interpelação, Lei Chan U lembrou que, em 1970, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) aprovou uma convenção relativa às férias pagas, em que se previa o direito dos trabalhadores gozarem dias de férias com um vencimento não inferior a 21 dias, depois de completado um ano de serviço. Lei Chan U lamenta que esta regra esteja em vigor em Macau desde 1984. Contudo, há empresas que adoptam os 22 dias de férias remuneradas, sendo que há outras companhias que oferecem ao trabalhador a possibilidade de gozar 12 dias de férias anuais.

Lei Chan U, ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), pede que o Governo implemente esta convenção da OIT, questionando se as autoridades vão tomar como exemplo a situação de Hong Kong e Taiwan, onde as empresas aumentam o número de dias de férias consoante o número de anos em que o trabalhador está na companhia.

27 Mar 2018

Elaboração do plano director de Macau adjudicada à Ove Arup & Partners de Hong Kong

A elaboração do plano director foi adjudicada à Ove Arup & Partners de Hong Kong que propôs executar a tarefa dentro de um ano. Arquitectos ouvidos pelo HM falam da importância de levar em conta as especificidades de Macau, de se articular com a salvaguarda do património, de definir uma marca distintiva no cenário regional e de serem ouvidas vozes locais

 

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]aiu o resultado do concurso por pré-qualificação, lançado pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), para a elaboração do plano director. O projecto foi adjudicado à Ove Arup & Partners Hong Kong Limited que propôs executá-lo em 365 dias. A empresa, com um vasto portefólio internacional, mas também com projectos em Macau, impôs-se às restantes três admitidas à segunda fase do concurso. A proposta que apresentou foi a mais barata – 11 milhões de patacas contra um máximo de 88 milhões. Em paralelo, ofereceu uma solução intermédia em termos do prazo de execução, dado que as concorrentes iam de três meses a dois anos.

Olhando ao calendário, a proposta seleccionada vai ao encontro da meta definida pelo Secretário para os Transportes e Obras Públicas que, aquando da apresentação das Linhas de Acção Governativa, definiu o plano director como uma das prioridades da sua tutela. Na altura, em Dezembro, Raimundo do Rosário afirmou mesmo esperar conclui-lo até 2019.

No entanto, pairam incertezas relativamente ao prazo proposto. “Não acredito que o plano esteja pronto daqui a um ano”, afirmou Maria José de Freitas ao HM. “Macau é uma cidade pequena, com quase 500 anos de história, mas com uma especificidade muito ‘sui generis’ e que, portanto, tem dentro de si diversas facetas ou cambiantes que devem ser analisadas com cuidado”, observou a arquitecta.

Francisco Vizeu Pinheiro considera o prazo exequível: “Penso que um ano é suficiente. Macau já está muito desenvolvido, com um cadastro muito bem qualificado, com o levantamento integral de todos os espaços, pelo que é relativamente rápido fazer um plano director”. Miguel Campina subscreve: “Não é impossível fazê-lo e até acho que é possível fazê-lo bem – dependendo da dimensão e da qualidade da equipa, dos meios que forem mobilizados e dos objectivos que tenham sido definidos”.

Embora reconheça que a empresa tem “renome mundial”, Maria José de Freitas nota que desconhece a representação que a Ove Arup & Partners Hong Kong Limited tem aqui e, mais importante, se tem “a vivência de Macau que a elaboração de um plano director exige”. “O futuro plano director não pode ser feito ‘by the book’, isso é demasiado simplista”, frisou.

“Basta vermos a exigência da Lei [do Planeamento Urbanístico] do que o plano deve conter. Em paralelo, tem que se articular com a salvaguarda do património, com “a política de reordenamento dos bairros antigos” ou com a ambiental, “ainda por definir”, exemplificou. “O plano director não se pode divorciar do que está a ser feito por outros sectores”, sublinhou Maria José de Freitas. “Parece-me que o prazo de um ano é muito curto para que aconteça, ou se acontecer vão ser linhas tão vagas que não são elas em si próprias os alicerces de um plano director”. Para a arquitecta, o preço apresentado (11 milhões) também parece baixo atendendo à envergadura de um plano que exige “tanta polivalência, que engloba tantas disciplinas” e que deve conter “uma visão holística do que será Macau”.

Segundo dados facultados pela DSSOPT, o âmbito do Plano Director abrange a península e as ilhas da Taipa e de Coloane, o novo campus da Universidade de Macau na Ilha Montanha, bem como os novos aterros urbanos e o posto fronteiriço na ilha artificial da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Cobre ainda os 85 quilómetros quadrados de áreas marítimas que, há dois anos, ficaram sob jurisdição de Macau após a aprovação pelo Conselho de Estado da China de um novo mapa de divisão administrativa.

Uma cidade, diferentes malhas

Para Francisco Vizeu Pinheiro, o fundamental é que o futuro plano director tenha em conta precisamente que “Macau tem diferentes malhas”. “O plano director não pode estabelecer leis iguais para cada zona. É um pouco senso-comum que a zona histórica tem que ter uma lei diferente de uma nova feita à base de aterros”, sustentou.

Dominic Choi também defende regulações que variem consoante a zona, porque a parte antiga nada tem que ver com a dos casinos, por exemplo, dado que apresentam “condições muito diferentes”. “Não se deve apenas olhar para a nova área, até porque a maior parte de Macau é antiga”, frisou o presidente dos Arquitectos sem Fronteiras de Macau.

Olhar o antigo figura, aliás, como principal desafio na perspectiva de Miguel Campina: “A parte mais difícil do plano director não é o que se vai fazer de novo, mas a que diz respeito ao ordenamento existente”. “Quem está a fazer desenhos ou propostas numa folha em branco tem essa vantagem, de partir quase do nada, tem meia dúzia de ideias, princípios, regras e objectivos e, portanto, trabalha nessa base. Mas como melhorar um livro que está escrito? Como se dá sentido a uma coisa que ao longo destes anos foi tão maltratada?”, questiona.

Lembrando o extinto Conselho Consultivo para o Reordenamento dos Bairros Antigos, que “morreu de morte natural” há uns anos, Miguel Campina lamenta que “não haja ideias nenhumas” para as zonas antigas, embora reconheça as dificuldades inerentes. “Não sei, por exemplo, se do caderno de encargos consta esta abordagem tão complexa”, mas, de facto, com a “sobreocupação” e “desordenação”, os espaços “com características muito próprias e uma vivência muito particular estão em risco de desaparecer”. “As pessoas vão envelhecendo e essas zonas vão ficando abandonadas, porque não foram objecto de nenhum cuidado ao longo destes anos”, complementou o arquitecto, apontando que quando se olha de cima para a malha antiga facilmente se compreende “todo o desconcerto” que existe e que “as condições de vida não são boas”.

Francisco Vizeu Pinheiro também coloca a tónica na qualidade de vida. “As zonas antigas também têm que ser estudadas e pensar-se em soluções para elas. Não podemos simplesmente esperar que o edifício caia, ou seja substituído por um mais alto”, afirmou. “Tem que haver limites à densidade de construção e os limites a essa densidade são a qualidade de vida. Não podemos ter torres de 20 andares em ruas de nove metros em que não há espaço para estacionar, não há zonas verdes nem equipamentos públicos”, complementou.

Neste âmbito, partilha dos receios de Maria José de Freitas relativamente à sensibilidade de uma empresa de fora, neste caso, no tocante às distintas malhas de Macau. “Já foram feitos muitos planos e consultas com empresas que têm uma dimensão de experiência e um portfólio que não se aplicam à realidade da cidade. Macau é um microcosmos e um clima especial que tem de ser estudado e adaptado e o que acontece é que, muitas vezes, importamos soluções de Hong Kong, com uma mega escala que não é a de Macau”.

“Precisamos de soluções nativas, ligadas à nossa história, cultura, às condições geográficas, topográficas e sociais”, realçou. Neste sentido, “penso que era bom o plano ser revisto por especialistas locais e haver também consulta à população”, insistiu. Isto porque “quem vem de fora normalmente faz uma vista geral e resolve de acordo com a sua experiência”.

Ouvir especialistas

Dominic Choi concorda: “Embora a empresa escolhida tenha muita experiência internacionalmente, pode não saber muito do que se passa em Macau”. Assim, para o presidente dos Arquitectos sem Fronteiras de Macau, “o mais importante” na feitura do plano director passa pela abertura da adjudicatária e do Governo para auscultar. “É fundamental ouvir a voz do público e particularmente as de técnicos acreditados em Macau, como arquitectos ou urbanistas. Isto porque “as regulações devem adaptar-se ou estar em conformidade com as novas formas de pensamento ou estratégicas políticas, pelo que é muito importante envolver os profissionais localmente para que sejam levantadas preocupações e apresentadas questões pertinentes ao planeador”, sustentou.

Maria José de Freitas também aprova uma auscultação sectorial. “Parece-me essencial que sejam aferidas as opiniões de técnicos que estão em Macau e que têm, com certeza, um pensamento urbano, arquitectónico e estratégico para Macau”, disse. Em paralelo, defendeu a arquitecta, “deviam ser analisados e revistos os muitos planos feitos no passado”. Contudo, Miguel Campina espera que haja um “passo qualitativo” relativamente “aos estudos atrás de estudos que se limitaram a enunciar princípios genéricos”, até porque, a seu ver, “o enquadramento económico, sociológico, cultural continua a ser extremamente vago”.

“Vai depender dos especialistas, da abertura que tiverem, da capacidade de cada um e da forma como for feito o entrosamento entre estes aspectos que têm a ver com o ordenamento global do território e depois com as disciplinas específicas que vão ter que articular de modo a fazer funcionar tudo isto de uma forma mais transparente, ordenada e direccionada”, apontou. No entanto, do ponto de vista político, “seria importante que houvesse orientações claras relativamente aos objectivos desta fase do plano director, que a administração estivesse habilitada para contribuir positivamente para os resultados que se pretendem” e que não se comportasse como “uma força de bloqueio” como sucedeu nos últimos anos.

Prioridades no conteúdo

Para a elaboração do plano director, Francisco Vizeu Pinheiro defende que seja tido em conta o mapa climático de Macau feito por uma universidade de Hong Kong que “mostra os corredores que devem ser mantidos sem construções que obstruam a ventilação da cidade”. Ou seja: deve ficar claro que há zonas em que não deve haver construção, que outras estão saturadas e precisam de espaços verdes ou de zonas recreativas, como parques, piscinas ou campos desportivos. “Esses elementos devem estar salvaguardados no plano, não devem ser as últimas coisas a serem consideradas, mas das primeiras, porque é como se fossem órgãos vitais do corpo humano”, defendeu. O arquitecto aponta ainda que “a qualidade de vida depende de como todos esses espaços jogam em harmonia e também em relações de complementaridade em vez de concorrência”.

Cooperação regional

Complementaridade é uma palavra-chave para Maria José de Freitas que, olhando Macau como um todo, incluindo os novos aterros, chama a atenção para a importância de haver também uma articulação a nível regional. “Este plano deve estar em linha de conta com o que se pretende para Macau, com o que vai permitir a Macau manter uma diferenciação relativamente às outras dez cidades do grande delta e qual é a complementaridade que pode introduzir”. “O plano director deve ponderar tudo isto, a articulação a montante e a jusante”, acrescentou a arquitecta.

Francisco Vizeu Pinheiro defende precisamente mais cooperação regional, pensando em concreto na filosofia da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. “O conceito quer dizer mais cooperação entre as cidades e, neste momento, há muito pouca que facilite, por exemplo, a transição de pessoas. Tem de haver mais cooperação nesse sentido, em termos de planeamento conjunto”, sublinhou o arquitecto.

27 Mar 2018

Documentos inéditos revelam relação cúmplice entre Natália Correia e António Sérgio

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m livro com documentos, maioritariamente inéditos, de Natália Correia, que testemunham a relação cúmplice, de partilha de lutas e ideais, com o pensador António Sérgio, chegou às livrarias, quando passam 25 anos da morte da poeta.

“Entre a Raiz e a Utopia (Escritos sobre António Sérgio e o Cooperativismo)”, editado pela Ponto de Fuga, inclui três datiloscritos inéditos escritos por Natália Correia sobre António Sérgio, maioritariamente em 1983, aquando do centenário do nascimento do pensador, pedagogo, ensaísta e cooperativista.

Esta edição, resulta de uma pesquisa na biblioteca e arquivo público de Ponta Delgada, onde estão depositados documentos da escritora açoriana, entre os quais datiloscritos, manuscritos e recortes de jornais, explica a escritora e investigadora científica Ângela de Almeida, que assina a introdução e faz as notas do livro.

Como resultado dessa pesquisa, foram também incluídos neste volume três artigos de Natália Correia sobre cooperativismo, publicados em jornais, acrescenta Ângela de Almeida, que defendeu uma tese sobre a simbólica da ilha e do Pentecostalismo em Natália Correia, sob orientação de Urbano Tavares Rodrigues.

Os documentos constantes de “Entre a raiz e a utopia” correspondem a pelo menos 12 anos de uma relação de “profunda cumplicidade e de luta pelos ideais universais, vivida entre poeta e pensador, na senda do cooperativismo e da paz”, diz a especialista.

Natália Correia e António Sérgio conheceram-se em 1946 – a jovem poeta com 23 anos e o pedagogo com 63 – e aderiram ao Movimento de Unidade Democrática (MUD).

No mesmo ano, António Sérgio foi admitido na Cooperativa Fraternidade Operária, e Natália Correia ingressou, no ano seguinte, passando a fazer parte de um grupo de intelectuais, entre os quais se contavam António Pedro, Adolfo Casais Monteiro e Ramada Curto, assim como “outros vultos maiores das letras que se opunham à ditadura de Salazar”, segundo as palavras da própria Natália Correia.

Mas a grande cumplicidade que aluna e mestre criaram e desenvolveram nos anos de ditadura em Portugal ganhou força em 1948, na sequência da proclamação, pela Assembleia Geral da ONU, da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Além disso, partilhavam vivências e ideais: foram duramente perseguidos, almejavam a liberdade e sentiam-se atraídos pelo cooperativismo.

Ambos lutaram pela candidatura de Norton de Matos à Presidência da República e, dez anos mais tarde, participaram na candidatura de Humberto Delgado, cuja derrota foi “fatal para o ânimo de António Sérgio, que esmoreceu gradualmente a partir desta deceção”, descreve a poeta.

Outro episódio de relevo contido neste volume é a primeira visita de Natália Correia aos Estados Unidos da América, em 1950, cujos motivos são explicados num dos documentos inéditos agora publicados.

Com apenas 26 anos, a poeta partiu “levando uma missão” de que o mestre a incumbira: pôr-se em contacto com Norman Thomas, líder do Partido Socialista norte-americano, com quem António Sérgio mantinha relações, para tentar que este despertasse o interesse da opinião pública norte-americana para a causa da resistência ao fascismo.

A escritora contou como encontrou um “desiludido”, que lhe deu uma resposta “desanimadora”: “Diga ao nosso Sérgio que aqui o socialismo é pregado no deserto. Para mim, acabou-se. Não posso dar-lhe qualquer espécie de colaboração”.

Natália Correia descreve também a forma como António Sérgio mantinha uma relação fraterna com muitos jovens que o rodeavam, porque “tinha o condão de se fazer amar”.

“Tão elegante, tão atentamente estético era António Sérgio em casar os seus contrários num corpo de ideias inteligentemente organizado, que nós, jovens seduzidos pelo fulgor multidisciplinar do seu discurso, nele víamos a panaceia para todas as injustiças que nos revoltavam”, foi como Natália Correia definiu o ensaísta e pensador, que escolheu para mestre.

O Centro Cultural de Belém dedica hoje um programa a Natália Correia, que se estende das 15:00 às 19:00, em que será abordada “a intervenção cívica e cultural” da escritora, e o seu “pensamento inovador”. Será também recordado o processo que lhe foi movido pela publicação da “Antologia da poesia erótica e satírica”, nos anos da ditadura.

Natália Correia nasceu nos Açores, em 13 de setembro de 1923. Morreu em Lisboa, há 25 anos, em 16 de março de 1993.

26 Mar 2018

Presidente norte-americano diz que construção do muro com México vai começar “de imediato”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente norte-americano, Donald Trump, assegurou ontem que a construção de um muro na fronteira com o México vai começar “de imediato”, após o congresso ter aprovado 1.600 milhões de dólares para a obra.

“Pode fazer-se muito com os 1.600 milhões de dólares concedidos para construir e reparar o muro fronteiriço. É só um montante inicial. O trabalho vai começar de imediato”, disse Trump na sua conta oficial no Twitter.

O congresso norte-americano deu luz verde na passada sexta-feira a um projeto orçamental de 1,3 biliões de dólares para o ano fiscal de 2018, que inclui uma verba para iniciar a construção do muro com o México.

A verba está, no entanto, longe dos 25.000 milhões de dólares que o Presidente tinha pedido.

“O resto do dinheiro virá”, afirmou Trump, também em mensagem na rede social.

O projeto aprovado estabelece restrições quanto à forma como o dinheiro deve ser gasto, determinando, por exemplo, que dos 1.600 milhões de dólares, 251 milhões devem ser usados para renovar a vedação já existente entre San Diego (Califórnia) e Tijuana (México).

Na mesma mensagem Trump reiterou que a construção do muro tem a ver com a defesa nacional, “com drogas e combatentes inimigos a entrarem” nos Estados Unidos.

Numa deslocação recente à Califórnia, Trump esteve a ver protótipos para a construção do muro fronteiriço, a sua grande promessa eleitoral.

26 Mar 2018

Galaxy Entertainment vai adquirir 5,3 milhões de acções da Wynn Resorts

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Galaxy Entertainment anunciou na sexta-feira que vai adquirir 5,3 milhões de acções primárias da Wynn Resorts pelo valor global de 927,5 milhões de dólares norte-americanos. Segundo a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), a alteração à estrutura accionista da “empresa-mãe” da Wynn Macau, com sede dos Estados Unidos, “não afecta o sector do jogo” em Macau.

Em comunicado, a DICJ afirmou que a intenção foi objecto de comunicação prévia ao Governo e prometeu “acompanhar de perto a situação, analisando e avaliando a evolução do caso, com vista a assegurar o desenvolvimento saudável do sector de jogos de fortuna ou azar”.

À luz da legislação de Macau, uma operadora de jogo não pode deter mais do que 5 por cento de outra. Com a compra das acções, “a Galaxy Entertainment fica com 4,9 por cento do capital da Wynn Resorts que, por sua vez, detém 72 por cento da Wynn Macau, na qual passa a ter, na prática, uma fatia de mais ou menos 3,5 por cento”, realçou Davis Fong, director do Instituto de Estudos sobre a Indústria de Jogo na Universidade de Macau ao HM, para apontar que “a transferência de acções não significa que as duas empresas sejam uma só”.

“Se olharmos para trás, há 15 anos, esperava-se introduzir concorrência, portanto, se as duas empresas se vierem a tornar numa só, no final, não me parece que essa seja uma situação que a sociedade gostasse de ver acontecer. Por isso, devem continuar independentes, numa relação só de investidores. É o que eu espero”, afirmou o também deputado, defendendo que “a DICJ deve prestar atenção” aos próximos desenvolvimentos, na medida em que tal “tem que ver com a concorrência justa”.

“É uma oportunidade única de adquirir um investimento num grupo de entretenimento globalmente reconhecido com activos de excepcional qualidade e planos de desenvolvimento significativos”, afirmou Francis Liu, vice-presidente da Galaxy Entertainment. No mesmo comunicado conjunto, Matt Maddox, CEO da Wynn Resorts, referiu, por seu turno, ser “uma honra ter uma empresa distinta como a Galaxy Entertainment como accionista com a qual partilha muitas das principais filosofias e valores operacionais”.

Em paralelo, foi também anunciado na sexta-feira que dois investidores institucionais – ambos com participações na Wynn Resorts – acordaram a compra das restantes oito milhões de acções detidas por Steve Wynn, fundador da Wynn Resorts e antigo CEO, também pelo preço unitário de 175 dólares. Estas aquisições, combinadas com anteriores, fazem com que o magnata deixe de ter qualquer participação na empresa que fundou.

No mês passado, Steve Wynn, de 76 anos, deixou a liderança e todo os cargos que ocupava no grupo na sequência do escândalo de alegados abusos sexuais nos Estados Unidos em que está envolvido.

26 Mar 2018