Primeiro teatro municipal para crianças e jovens abre em Lisboa

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro teatro da Câmara de Lisboa exclusivamente direcionado para crianças e jovens, o LU.CA – Teatro Luís de Camões, abriu em Lisboa no Dia Mundial da Criança com um programa de festas de três dias.

Um programa à medida de uma “festa popular em grande” e intensa, como referiu a vereadora da Cultura da Câmara de Lisboa, numa visita guiada à imprensa juntamente com a atual diretora artística do teatro, Susana Menezes.

O LU.CA localiza-se na antiga sede do Belém Clube, na Calçada da Ajuda, em Belém, onde no século XVIII (1737) foi a Casa da Ópera do Rei D. João V, e é a partir de agora a sala de espetáculos municipal vocacionada para o público infantojuvenil, que era assegurada pelo Teatro Municipal Maria Matos, cuja gestão a autarquia decidiu entregar a privados.

Do programa de abertura, a decorrer das 15:00 às 20:00 até domingo, constam um concerto pela Orquestra Juvenil Metropolitana com As Fábulas de La Fontaine e outras atividades como uma seleção de Livros Espetaculares relacionados com as fábulas, um ateliê intitulado “Fotografismos” e uma visita aos camarotes com binóculos como no tempo de D. João V.

Tudo em pequena escala, o novo espaço conta, nomeadamente, com uma plateia amovível de 81 lugares, 23 camarotes incluindo o real, apoio técnico e camarins.

Com uma programação destinada a crianças dos três aos 16 anos, o LU.CA tem um orçamento anual na ordem dos 300 mil euros, quase o triplo dos cerca de cem mil euros de que Susana Menezes dispunha para programar no Maria Matos, como disse a diretora artística à imprensa.

Nas obras de reabilitação, iniciadas em 2016 segundo um projeto dos arquitetos Manuel Graça Dias e Egas José Vieira, a Câmara de Lisboa despendeu 1,2 milhões de euros.

1 Jun 2018

Mundial2018: Seleção lusa treina e viaja para Bruxelas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] seleção portuguesa de futebol realiza hoje o último treino em solo luso antes do particular de sábado com a Bélgica, que serve de preparação para o Mundial2018, que arranca em 14 de junho, na Rússia.

Portugal tem uma sessão agendada para as 11:00, na Cidade do Futebol, em Oeiras, com os primeiros 15 minutos a serem abertos à comunicação social.

Na quinta-feira, o selecionador Fernando Santos teve à sua disposição todos os 22 jogadores que estão integrados no estágio, num grupo em que o único ausente continua a ser o capitão Cristiano Ronaldo, que terminou a temporada mais tarde e ainda está em período de férias.

Após o apronto, Fernando Santos vai falar aos jornalistas, numa conferência de imprensa que está marcada para as 12:45, igualmente na Cidade do Futebol, e durante a tarde a comitiva lusa viaja para Bruxelas.

O Bélgica-Portugal está agendado para sábado, às 19:45 (20:45 horas locais).

No primeiro teste, Portugal empatou (2-2) em Braga com a Tunísia, que vai também participar no Mundial2018.

Em 09 de junho, após os particulares com a Bélgica e com a Argélia (dia 07 de junho em Lisboa), a equipa lusa viaja para a Rússia, onde tem estreia marcada frente à Espanha, em 15 de junho, em Sochi.

Além dos espanhóis, Portugal defronta Marrocos em 20 de junho, em Moscovo, e o Irão, de Carlos Queiroz, no dia 25, em Saransk, nos restantes jogos do grupo B do Campeonato do Mundo, que arranca em 14 de junho e termina em 15 de julho.

1 Jun 2018

Robot com inteligência artifical vai apresentar noticiário em canal chinês

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m robot, dotado de inteligência artificial, vai apresentar um programa de informação no canal chinês Nanning TV, anunciou a estação emissora.

O autómato, denominado “Chaoneng Xiaobai”, irá interagir com apresentadores humanos e analisar dados no programa de notícias, refere a emissora que gere o canal local na região de Cantão, no sul da China, perto de Macau e Hong Kong.

De acordo os programadores, o aparelho pode operar até 12 horas e irá ser apresentado ao público no dia 06 de junho, no canal televisivo.

Os robôs são utilizados em várias atividades na China, incluindo até os cuidados de pessoas, desde crianças pequenas em creches até idosos em casas de repouso.

1 Jun 2018

Marcos Freitas e João Monteiro eliminados no Open da China

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s portugueses Marcos Freitas e João Monteiro foram eliminados no quadro principal do Open da China de ténis de mesa, que se está a disputar em Shenzhen.

Marcos Freitas, 15.º classificado do ‘ranking’ mundial e único representante luso em singulares masculinos, após a eliminação de Tiago Apolónia na fase de qualificação, perdeu por 4-1 com sul-coreano Jang Woojin, 40.º da hierarquia, pelos parciais de 6-11, 14-12, 3-11, 6-11 e 7-11.

Na competição de pares, João Monteiro e o austríaco Stefan Fegerl ainda superaram a dupla de Hong Kong composta por Kwan Kit Ho e Chun Ting Wong, por 3-0 (11-8, 11-9 e 11-7), mas foram forçados a abandonar antes de defrontarem os chineses Zhedong Fan e Gaoyuan Lin.

1 Jun 2018

Cientistas devem estudar instruções de Xi Jinping sobre inovação, defende PCC

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m alto funcionário do Partido Comunista da China (PCC) pediu aos cientistas chineses que estudem as recentes instruções de Xi Jinping sobre a inovação em ciência e tecnologia e trabalhem para tornar a China um líder mundial nessa área.

Numa reunião para comemorar o 60º aniversário da fundação da Associação de Ciência e Tecnologia da China, o membro do Comité Permanente do Politburo do Comité Central do Partido Comunista da China (PCC), Wang Huning, salientou que é vital entender as importantes instruções dadas por Xi Jinping e aplicá-las voluntária e firmemente.

Xi pronunciou num discurso na abertura da 19ª Reunião de Académicos da Academia Chinesa de Ciências e 14ª Reunião de Académicos da Academia Chinesa de Engenharia.

De acordo com Wang, o discurso do presidente chinês instilou nos cientistas um sentido forte de responsabilidade e urgência para obter progresso nas áreas de pesquisa de vanguarda, servir melhor ao desenvolvimento económico e social, impulsionar a cooperação internacional e desenvolver a força do país em ciência e tecnologia.

1 Jun 2018

Comércio | Pequim quer trabalhar com Washington para evitar conflitos

A China afirmou ontem esperar que a delegação norte-americana que chegou a Pequim coopere no sentido de “implementar o consenso” entre ambas as partes, visando evitar uma guerra comercial

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] busca pelo entendimento entre as duas maiores potências económicas prossegue com os, já habituais, avanços, recuos e múltiplas reuniões. “A China mantém a porta aberta para negociar. Uma delegação norte-americana chegou a Pequim e, nos próximos dias, manterá discussões sobre como implementar o consenso bilateral”, afirmou a porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying, em conferência de imprensa.

Hua destacou que a China e os Estados Unidos partilham muitos interesses comuns e que ambos devem almejar a cooperação e benefício mútuo.

“Esperamos que os EUA trabalhem em conjunto para implementar o consenso alcançado e poder assim dar boas notícias e obter maiores benefícios para a comunidade empresarial dos dois países”, acrescentou.

Na semana passada, Pequim comprometeu-se a “aumentar significativamente” as compras de produtos agrícolas e recursos energéticos norte-americanos, após negociações entre ambos os países.

No entanto, não está previsto que pare de subsidiar empresas do sector tecnológico e garanta uma melhor protecção dos direitos de propriedade intelectual das empresas norte-americanas, as principais causas de fricção com os EUA.

Tudo querer

A delegação norte-americana que ontem aterrou em Pequim é chefiada pelo secretário do Comércio, Wilbur Ross.

Pelas contas de Washington, no ano passado, a China registou um excedente de 375,2 mil milhões de dólares – quase o dobro do Produto Interno Bruto (PIB) português – no comércio com os EUA.

Donald Trump exigiu a Pequim uma redução do défice dos EUA em “pelo menos” 200.000 milhões de dólares, até 2020, visando cumprir com uma das suas principais promessas eleitorais.

Trump quer ainda taxas alfandegárias chinesas equivalentes às praticadas pelos EUA e que Pequim ponha fim a subsídios estatais para certos setores industriais estratégicos.

1 Jun 2018

Direitos humanos | Mulher de advogado impedida de deixar bairro onde vive

A mulher de um advogado chinês dedicado a causas ligadas a direitos humanos afirmou ontem que está a ser impedida de sair do seu bairro. O incidente parece configurar mais um aparente caso de intimidação sobre quem entra em conflito com o Partido Comunista

 

[dropcap style≠’circle’]X[/dropcap]u Yan escreveu na rede social Twitter que quando sai de casa é perseguida pela polícia, que a impende de apanhar um táxi, ao dizer aos taxistas para não a levarem. “Eu perguntei: porque me estão a restringir?”, escreveu Xu, afirmando que a polícia respondeu não saber ou desconhecer quem autorizou aquelas medidas ou por quanto tempo serão impostas.

O marido de Xu, Yu Wensheng, foi detido pela polícia em Janeiro passado, quando levava o filho de 13 anos para a escola, e está acusado de “incitar à subversão contra o poder do Estado”.

Aquela acusação é frequentemente usada pelas autoridades chinesas contra activistas e advogados de defesa dos direitos humanos.

Durante uma visita a Pequim, na semana passada, a chanceler alemã, Angela Merkel, encontrou-se com Xu e Li Wenzhu, a mulher de outro advogado detido, Wang Quanzhang.

Toques autocráticos

A detenção de Yu insere-se na campanha repressiva contra activistas pelos direitos civis, lançada pelas autoridades em Julho de 2015.

Yu foi detido um dia depois de ter difundido uma carta na Internet na qual apelou a reformas constitucionais e eleições presidenciais livres.

A polícia chinesa frequentemente detém ou intimida familiares de acusados de crimes contra o Estado.

O caso mais conhecido é o de Liu Xia, a viúva do prémio Nobel da paz e dissidente chinês, Liu Xiaobo, que morreu de cancro no fígado, no Verão passado, quando cumpria uma pena de prisão de onze anos.

No início deste mês, a Alemanha manifestou-se disponível para receber Liu Xia, depois de uma mensagem sua dar conta que está disposta a morrer em casa, em protesto, caso as autoridades chinesas a mantenham sob prisão domiciliária.

1 Jun 2018

Comércio | Pequim reduz limite ao investimento estrangeiro

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China está a elaborar novas listas para o acesso do investimento estrangeiro ao mercado, de acordo com informação veiculada pelo Ministério do Comércio. As restrições à energia, recursos, infra-estruturas, transporte, circulação do comércio e serviços serão removidas ou relaxadas nas próximas listas, disse Gao Feng, numa conferência de imprensa.

O país já havia anunciado medidas para liberalizar os sectores de finanças e automóveis.

Gao disse que o Ministério do Comércio, junto com outras agências do Governo, está acelerar esforços na elaboração de duas listas, que devem ser divulgadas e implementadas antes do final de Junho. Uma para a implementação nacional e outra para zonas piloto de livre comércio.

Haverá um período de transição para algumas indústrias e medidas específicas serão introduzidas para a abertura nos próximos anos, acrescentou.

A China estabeleceu uma série de medidas para ampliar significativamente o acesso ao mercado desde o início de 2018, ano que marca o 40º aniversário da política de reforma e abertura do país.

O investimento estrangeiro na China bateu um novo recorde de 877,56 bilhões de yuans em 2017, o que representou um aumento de 7,9 por cento em termos anuais.

1 Jun 2018

Justiça | Supremo tribunal da China absolve ex-magnata retalhista

[dropcap style≠’circle’]Z[/dropcap]hang Wenzhong, ex-presidente da empresa retalhista Wumei Holdings, foi absolvido das acusações de fraude, suborno e desvio de fundos na passada quinta-feira após um novo julgamento pelo Supremo Tribunal Popular (STP).

A decisão do STP também absolveu Zhang Weichun e Wumei Holdings – dois outros acusados ​​no caso – de acusações de fraude e suborno, respectivamente.

Zhang Wenzhong, Zhang Weichun e a empresa Wumei foram processados ​​em 2007 pela Procuradoria Popular de Hengshui, na Província de Hebei, norte da China.

Depois da condenação, os réus foram multados de acordo com uma decisão do Tribunal Popular Intermediário de Hengshui em 2008. Esta decisão foi alvo de recurso por parte dos arguidos para o Tribunal Popular Superior de Hebei.

Zhang Wenzhong foi condenado a 12 anos de prisão e multado em 500 mil yuans (o equivalente a 78 mil dólares americanos) por acusações anteriores numa decisão final do Tribunal Popular Superior de Hebei em 2009.

Mais tarde, Zhang Wenzhong viria a interpor uma petição no STP em Outubro de 2016 e o ​​STP decidiu refutar a argumentação do empresário em Dezembro de 2017. A decisão do STP identifica falhas na apuração de factos e na aplicação das leis nas instâncias anteriores, afirmando que tais erros devem ser corrigidos de acordo com a lei.

O tribunal disse que os procedimentos nacionais de compensação e a recuperação de multas e bens serão lançados de acordo com a lei.

Mais de 80 pessoas, incluindo parentes dos réus, representantes de funcionários da Wumei Holdings, legisladores, assessores políticos, académicos, representantes de instituições relevantes e membros do público estiveram presentes para o veredicto.

1 Jun 2018

Mísia, cantora: “O fado não é triste, é profundo”

Pode ser quase vista como a fadista punk portuguesa. Mísia começou a ter sucesso no estrangeiro antes da chegada do reconhecimento português. Canta o fado porque canta a vida e marca o seu percurso com genuinidade. Ao HM, a intérprete, como prefere ser referida, falou do presente póstumo que deu a Amália e do seu fado imperfeito

 

Definiu-se como sendo a “anarquista do fado”. O que quer isto dizer?

Foi uma resposta que dei a uma entrevista. Há sempre esta procura da sucessora da Amália, da nova rainha do fado, como se isso fosse possível. O caminho que a Amália fez foi o caminho que foi dela e há sempre esta tendência a chamar-me a mim e a outras pessoas de novas rainhas do fado. Uma vez respondi: não sou a nova rainha do fado e se fosse alguma coisa seria a anarquista do fado. A partir daí esta é uma frase que me persegue, não me incomoda, mas persegue.

Porquê anarquista?

Começa logo por eu não ser monárquica e porque fiz as coisas à minha maneira, sempre com muito respeito, mas fiz o meu caminho individual. Não segui regras. Isto é uma atitude. Mas, sobretudo, porque estou em contraposição àquela coisa da monarquia. Por outro lado, a meu ver, só há uma rainha, e é a Amália.

O fado para si não é triste nem alegre. O que é?

É a vida com tudo o que tem lá dentro. Actualmente, há uma corrente ou uma tendência que deixa as pessoas muito aflitas. Parece que sentem que têm de esclarecer se o meu fado é triste ou é alegre. Como se isto fosse obrigatório. O fado não é nem uma coisa nem outra, o fado é destino com tudo o que isso tem lá dentro. Não é uma descoberta da pólvora cantar fados alegres e voltamos à Amália que já cantava a Mariquinhas, etc. Mas agora parece que há uma preocupação que o fado não seja triste, o que é uma coisa impossível também. O fado não é triste, é profundo. Tem a profundidade dos sentimentos maiores da alma humana, sobretudo porque fala da vida e da morte, pelos menos os fados que gosto de ouvir e que gosto de cantar.

Quando começou a cantar, o fado não tinha o público que tem hoje. Como é que foi o seu início de carreiro e como vê agora o reconhecimento e aceitação deste género?

Comecei a falar com editoras depois do 25 de Abril, numa altura em que o fado sofria um estigma e tinha duas dificuldades: não era comercial, não vendia e culturalmente também estava ferido de morte. Era uma altura em que não era nada aconselhável cantar fado. Aliás, as pessoas dizem-me muito “tu assim vestida com essa imagem, porque é que não cantas pop ou outra coisa?”. Eu respondia que não, que queria fazer um fado como eu o sentia, com novos poetas, com pessoas que não são do universo do fado. Foi difícil e oscilei durante muitos anos entre um grande êxito no estrangeiro e a falência no meu país porque as pessoas não estavam abertas a esta proposta. Hoje em dia isso não acontece. Mas também de acordo com os críticos do fado, agora é um género mais consensual. As pessoas são jovens, cantam mas não vão ao núcleo mexer nos poemas. É menos arriscado do que o fado que eu e o Paulo Bragança fazíamos que era uma coisa muito mais subversiva.

Como explica esta adesão de público?

Acho que veio de fora para dentro. Não é nossa culpa, dos intérpretes, nem nosso mérito. Fui a primeira, depois da Amália, a ir cantar aos sítios onde ela tinha estado desde a Roménia, à Polónia ou à Turquia. Começaram-se a editar discos e a aparecer a moda dos ciclos de músicas do mundo que calhou também ao fado. Acho ainda que o tempo põe as coisas no seu lugar e que os portugueses perderem a vergonha de gostar de fado. Também é cantado, hoje, de uma maneira mais acessível relativamente à altura em se usavam as letras cantadas no tempo da Amália. Hoje, esta moda do fado tem coisas boas e coisas más. Coisas boas porque atrai uma grande visibilidade para este género de música, porque é fácil gravar e porque há vários tipos de fadistas. Por outro lado, também há o perigo da banalização e do esvaziamento das letras e do significado.

Canta poemas do Lobo Antunes, do José Saramago, do Vinícios de Morais e de muitos outros. Como é que escolhe as letras para as suas canções?

A maioria das letras que canto de poetas vivos – acho que só o António Lobo Antunes é que não o fez – são poemas escritos directamente para o meu trabalho e para a minha voz. É um ponto de honra. Não é só porque escrevem para o meu trabalho mas, dada a situação de desprestígio do fado quando comecei a cantar, achei que trazer estes poetas era uma forma de provar que o fado era importante. O José Saramago escreveu um poema para mim, a Lídia Jorge, a Amélia Correia etc. Andei muitos anos a bater a muitas portas a dizer “Olá sou a Mísia e não sou só uma franja e uma mini saia”. Acho que não descobri nenhuma pólvora e a única coisa que fiz foi fazer as coisas de uma maneira pessoal, muito genuína e diferente. 

Como é que descobriu que o fado era para si?

A minha mãe era bailarina e a minha avó fazia espectáculos burlescos em Barcelona nos anos 30. Tudo indicaria que eu iria fazer alguma coisa interpretativa e o fado era a minha música do quotidiano na minha infância no Porto. Eu não sou tão de fora como às vezes possa aparentar. Durante três ou quatro anos, passei muitas noites nas casas de fado do Porto a cantar como amadora. Aos 16 anos comecei frequentar a Taberna São Jorge, e ia aprender e ouvir. Na Taberna São Jorge actuava a Beatriz da Conceição, que para mim é uma deusa. Não sou tão “outsider” como se possa pensar.

O que é que o fado lhe dizia?

Não gosto de todos os fados, e naquela altura era muito critica. Aproximei-me através dos fados mais filosóficos e depois comecei a gostar mais de fados populares, com letras mais simples e mais descritivas. Lembro-me que a primeira vez que cantei fado, nenhum dos guitarristas sabia a canção que queria cantar. Começou logo ali a diferença. Mesmo em relação à Amália, quase toda esta nova geração a quem chamam de filhas de Amália, começa por gravar coisas desta artista, vestidas como ela, com as saias rodadas e tal. Eu fiz ao contrário. Fiz um disco que se chama “Para Amália” aos 25 anos de carreira, depois de ter feito o meu trabalho. Parecia-me como se estivesse a usar uma coisa que não era minha. Sou muito territorial. Por isso foi mesmo uma prenda para Amália, mas já depois de ter feito o meu caminho, com os meus colegas e com os meus músicos.

Como foi fazer esse disco?

Foi muito interessante porque não estava a fazer um disco para mim, só com as coisas que gosto da Amália. A Amália é um diamante com várias faces, podemos mesmo falar das Amálias. Aliás, era esse o nome que inicialmente queria dar ao disco. Foi muito interessante porque fiz, não só repertório amaliano como achei que era bonita a ideia de oferecer inéditos à Amália e, desta forma, oferecer uma coisa a uma pessoa que já morreu. É um disco duplo em que uma parte é só com piano porque a Amália ensaiava muitas vezes ao som de piano e só depois passava para as guitarras. Portanto, há esse piscar de olhos à maneira de ensaiar. É um disco feito com muito respeito. Foi muito difícil escolher o repertório e até costumo dizer que canto a “F word” – folclore, que é uma coisa que gosto imenso de ouvir, mas que nunca pensei vir a cantar.

Tem uma canção com o Iggy Pop. O que ouve além do fado?

Não ouço muito fado. Ouço muito música clássica porque a minha mãe era bailarina. O Iggy Pop tinha feito um disco em francês, o “Aprés”. Foi por causa disso que o convidei para fazer aquele tema, “La Chanson d´Hélène”, que faz parte da banda sonora do filme “Les choses de la vie” ne Claude Sautet. A versão original era cantada por Michel Piccoli e Romy Schneider. É um tema mais triste do que o fado mais triste. É uma letra incrivelmente triste. Quando pedi ao Iggy Pop para me acompanhar pensei que o não era garantido e resolvi pedir na mesma. Ele estava a gravar um disco, mandei-lhe a versão original e gravei a versão com a minha voz. No dia seguinte respondeu-me que aceitava.

Esteve aqui para ser acompanhada pela Orquestra de Macau e por instrumentos chineses.

Já estava habituada a tocar com orquestras. Mas aqui tive que ter alguns cuidados. Os instrumentos são diferentes e eu vinha cheia de curiosidade e ilusão, e não estou nada defraudada. Escolhi um repertório especial que pensei adaptar-se a estes instrumentos. Escolhi fados que têm melodias muito bonitas e que podem brilhar com este tipo de acompanhamento.

Também faz teatro pontualmente.

Sim. Não sou actriz, e mesmo no fado não sou uma cantora. Sou uma voz intérprete, não sou uma voz performance. Aliás, eu cuido pouco a voz. A voz é um instrumento e não é a minha finalidade ser uma boa fadista. A minha finalidade é falar da vida e o fado é um instrumento cultural que utilizo para o fazer, para falar do que é a fragilidade de viver. Sempre fui uma voz personagem. Às vezes sei que vou dizer uma frase e que se a mudasse podia sair mais perfeita, mas ela sai como a vida e é isso que interessa. Se sai a voz raspada, olha que bonito que saiu. Os meus músicos brincam muito comigo porque estou sempre a dizer “não me digam que isto é bonito” e eles respondem que saiu muito mal que não é nada bonito. O fado não tem de ser bonito, não tem de ser perfeito, tem de ter força tem de ter uma ligação à vida que é o que me interessa.

1 Jun 2018

Ainda o Jornal Único

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ara sair a 20 de Maio de 1898, o Jornal Único, quando chega o dia de comemorar o Quarto Centenário da Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia, apresenta apenas as duas primeiras páginas do jornal. A sua publicação vai sendo adiada e os primeiros exemplares saem da tipografia provavelmente a 23 de Maio, sendo distribuídos à medida que as fotografias ficam prontas e coladas. Os primeiros a receber são as entidades da cidade, depois os órgãos de comunicação, que a 5 de Junho já o têm e só mais tarde, a 15 de Junho é que terá sido posto à venda, custando ele cinco patacas.

De capa dura, a apresentação da publicação bilingue, em português e mandarim, é óptima e Dr. José Gomes da Silva tem um papel de vulto na elaboração desse jornal com 55 páginas. “A qualidade da impressão, feita na tipografia de N. T. Fernandes e Filhos e Noronha e Ca., graças à competência de Secundino de Noronha e Jorge Fernandes, era notória. A capa, um desenho aguarelado feito por António Rodrigues Belo, foi litografada e impressa, bem como a ante-capa da autoria dos senhores Fernandes e Noronha.

Além de uma interessante colaboração na parte escrita, apresenta onze fotografias de Macau realizadas por Carlos Cabral e coladas no papel do jornal. Consta haver alguns exemplares desse Jornal Único com fotografias diferentes às estabelecidas.

O Director das Obras Públicas, Eng. Augusto César d’ Abreu Nunes, a quem se devia a ideia e construção da Avenida Vasco da Gama, escreve no Jornal Único sobre essa avenida referindo, “veio preencher uma grande lacuna, que havia na cidade formada de ruas estreitas e de muitos becos sem saída, dando um desafogo aos habitantes de Macau.” Na publicação colaboraram também com artigos entre outros Wenceslau de Moraes e Camilo Pessanha, que apresenta o poema “San Gabriel”, o nome da nau que transportara Vasco da Gama à Índia.

Publicação em Lisboa

O Porvir de 25 de Junho de 1898 refere ter recebido a magnífica revista ilustrada de Portugal e do estrangeiro, Occidente cujo número 697 trata sobre as comemorações do centenário. Vem com 16 páginas e impresso a cores, tendo na parte ilustrada as seguintes gravuras: Paço real d’ Évora, onde El-Rei D. Manuel contratou com Vasco da Gama a sua primeira viagem à Índia; Sines, local onde segundo a tradição, existiu a casa em que nasceu Vasco da Gama; Fortaleza de Sines; Igreja de Nossa Senhora das Sallas, vista exterior e interior; Vidigueira, jazigo dos Gamas: Túmulo onde estão os restos mortais de Vasco da Gama, no Mosteiro dos Jerónimos; e um esplêndido retrato de Vasco da Gama, baseado sobre documentos de família e que representa o grande Almirante das Índias na idade em que ele empreendeu a sua primeira viagem à Índia, este retrato é uma verdadeira novidade.

A parte literária compõe-se dos seguintes artigos: Chronica Occidental, por D. João da Câmara. O retrato de Vasco da Gama, por Brito Rebello; Ilha dos Mortos, por J.C.; Vasco da Gama e a Vidigueira, por A.C. Teixeira de Aragão; Exposição da Imprensa por Silva Pereira; etc.

Um mês antes tinha O Porvir (jornal português de Hong Kong) recebido o Jornal Único e feito a sua apreciação dizendo, “Declara a redacção ter-se deleitado imensamente com a sua leitura e mais se deleitaria se “os srs. Pedro Nolasco e Horácio Poiares não destoassem do concerto colaboratório do jornal inserindo neste umas puerilidades impróprias dele, e as quais, apesar do brilhantismo das produções literárias dos outros colaboradores, e principalmente dos belos artigos do Sr. conselheiro Galhardo e do Revmo. Bispo D. José Xavier de Carvalho, muitos descoram o jornal, com o qual parece que os srs. Nolasco e Poiares quiseram brincar. Estimaríamos sumamente que o tivessem tomado mais a sério e que com algo mais sério tivessem contribuído para ele. (…) Podiam e deveriam ter empregado o seu tempo e a sua ilustração em assuntos de mais interesse e utilidade do que aqueles que preferiram, talvez irreflectidamente”. Ao Echo Macaense não agradou a apreciação feita pel’ O Porvir do artigo do Sr. Pedro Nolasco sobre patois macaense e do conto ‘pueril’ do Sr. Dr. Poiares.

Fotógrafo profissional

O Porvir acha as imagens publicadas no Jornal Único, pouco limpinhas vistas fotográficas. Tal se deve à comparação com as oferecidas ao jornal pelo talentoso e habilíssimo artista Joaquim António, distinto fotógrafo português estabelecido em Bangkok que, na sua passagem por Macau tirou uma série de esplêndidas fotografias instantâneas de alguns dos mais belos edifícios de Macau e dos pontos mais pitorescos da cidade. <Devemos, porém, declarar que se grande é o nosso prazer por tão apreciável mimo, grandessíssimo é o nosso dissabor por não vermos figurar esse trabalho do nosso distinto compatriota, no Jornal Único. Joaquim António, que, após muitos anos de ausência em Bangkok, veio passar alguns meses em Hong Kong e Macau, sua terra natal.

Durante a sua permanência em Macau executou vários trabalhos fotográficos, que foram muito apreciados pelo então Governador de Macau Eduardo Galhardo, que lhe passou um atestado onde certifica que o Sr. Joaquim António, proprietário do The Charoen Krung Photographic Studio em Bangkok, português, natural de Macau, de passagem por esta cidade me prestou e à minha família os seus serviços como fotógrafo, ficando nós muito satisfeitos com a perfeição e nitidez dos seus trabalhos assim como com a modicidade da remuneração por ele exigida; obtendo também dele bastantes provas fotográficas de diversos monumentos, lugares e costumes de Siam e de Macau, que revelam o seu gosto e mérito artístico, pelo que o recomendo a todos os estrangeiros que visitarem o seu estabelecimento em Bangkok, e, especialmente aos meus compatriotas residentes ou em trânsito pela capital de Siam. Macau, 1 de Junho de 1898, assinado Eduardo Augusto Rodrigues Galhardo.

“Apraz-me ainda registar que este nosso compatrício que tão desprotegido era quando residia em Macau, está hoje vivendo muito bem em Bangkok, onde encontra meios de vida e é muito apreciado, porque o Sr. António não é só fotógrafo, mas um bom desenhador, e como tal esteve há muitos anos para cá empregado nas Obras Públicas de Macau, tendo também acompanhado o Sr. Adolpho Loureiro nos estudos a que S. Exa. procedia sobre o assoreamento do porto de Macau”, n’ O Porvir de 18 de Junho.

Dez dias antes de Joaquim António regressar para Bangkok, o que ocorreu no dia 22 de Junho, O Independente refere serem “raríssimos os casos de peste que se dão em Macau”. Na data da sua partida está já a cidade livre da epidemia, provavelmente pelas muitas preces dos chineses e dos católicos na Igreja de S. António a S. Sebastião, advogado contra a peste. “Podemos considerar, felizmente, de todo extinto este terrível flagelo, que trouxe por alguns meses sobressaltada esta cidade”.

Termina o anual ciclo da peste, a poder estender-se a Julho, Agosto e iniciado em Fevereiro com o despertar da Natureza, quando se recomeça a ouvir à noite os insectos.

1 Jun 2018

Linguagem II

Noite de inverno
Georg Trakl

 

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uando a neve dá na janela

Longamente tocam os sinos.

A mesa está pronta para muitos,

E a casa está bem arrumada

 

Alguns chegam à porta,

Pelos caminhos sombrios da peregrinação.

Dourada floresce a árvore das bênçãos,

O suco fresco que vem da terra.

 

Caminhantes entram em silêncio.

O limiar petrifica a dor.

Aí, reluzem num clarão puro

Pão e vinho sobre a mesa[1]

 

“A linguagem designa o tempo de uma noite de inverno. O que é este denominar […] Denominar não distribui títulos. Não emprega palavras. Chama à palavra. Chamar traz o que é chamado por si a uma proximidade. De igual modo, esta aproximação não torna o que é chamado disponível numa região mais próxima do presente, para aí o acolher. O Chamamento chama, de facto.Ele traz à proximidade o que é chamado. […] Ele traz o presente do que não tinha sido chamado até então a uma proximidade. Mas enquanto o chamamento convoca, dirige-se para o que foi chamado para o trazer. Para onde? Até ao longe, onde o que é chamado permanece ainda mas na sua ausência.“ (18)

As formulações de Heidegger, em “A linguagem (Die Sprache)”, não são as mais fácil e directamente inteligíveis. Não são óbvias. A linguagem não é expressão, mas é chamamento. A linguagem não é a actividade que sincroniza eventos, espectadores, relatores e ouvintes, como no exemplo de Quine a respeito do arunta, uma língua desconhecida, com a palavra “gavagai”. Quando um coelho é avisado a passar, um nativo pronuncia a palavra. O antropólogo que não conhece a língua, reage ao coelho que passa: pode ser: “comida”, “caça”, e para além de outras hipóteses: “parte de coelho”, “coelho” ou “coelhidade”. A linguagem transforma o que é visto como facto ocorrido num acontecimento de sentido. Há significado. Não, factos. A referência é o que é em vista do sentido interpretativo. O horizonte da linguagem é a atmosfera universal do humano. Cada um de nós não é apenas uma biografia num tempo de esperança de vida. Somos cada um de nós à escala mundial. Melhor, existimos à escala universal implicados em todas as gerações passadas e futuras, que constituem cada humano. Este é o nosso “espaço lógico”. Por outro lado, a linguagem não se limita a expressar o que efectivamente acontece na realidade, no modo indicativo, seja passado, presente ou futuro. O que é, ontologicamente, não é apenas o que está disponível, se apresenta e é visto. O que não é, ontologicamente, não é o que não aparece não está visto, nunca aparece. O que aparentemente não aparece pode surtir um efeito anónimo. Pode ser uma reacção traumática a um acontecimento passado que é apagado da memória cognitiva mas que nos trabalha a partir do seu interior, nos faz ser quem fomos. Pode ser todos os sonhos destruídos que nunca desaparecem mas nos fazem viver uma vida com a possiblidade perdida da primeira vez de todas as primeiras vezes ou como dizem os românticos um amor infeliz.

A linguagem fala a partir do horizonte do universal humano a constituir a sua abertura na tentativa de obter inteligibilidade e dar sentido ao que acontece. O modo da língua falar não é o de fazer a reportagem do indicativo, do que é representável, do que efectivamente acontece. Não é a expressão representativa da realidade interior daquilo para o que nos dá, das ideias que temos, dos sentimentos que vemos nascer em nós. Nem apenas da realidade exterior, quando a referimos meteorologicamente ou para saber a que dia da semana estamos. A linguagem fala para além dos factos, refere sentidos. O seu elemento é a vida. O seu modo é o condicional, o irreal do que poderia ter sido e não foi e do que não poderia ter acontecido e foi mesmo o que aconteceu. O nosso elemento transcende o indicativo e projecta-se para o futuro em que pode ser, quando acontecer o que gostaríamos que acontecesse, quando a vida será como gostaríamos que fosse. Ou então momento quando estivermos aliviados da existência. É também uma possibilidade projectada no futuro.

Obs.: Denominar, dar nomes, designer, chamar. Trazer à presença, afastar da presença, não falar ou falar sobre alguém ou alguma coisa pode corresponder ao querer ou não querer lembrar-se de alguém. A revogação, o chamar o passado, a provocação, a chamada no presente, lembrar para o futuro, o que se chama do passado e se apresenta como o que virá a ser. A lógica da expressão é completamente diferente porque está alicerçada numa lógica de causalidade e portanto de presença ou então na relação entre interior daqui para aí ou exterior de lá para cá, quando o que se passa é no próprio comportamento da acção: faz favor? O que pretende? O pedido, a súplica, a interrogação, o comando. Nem sequer se dá quando há relações pragmáticas quando temos de ir a sítios tratar de assuntos particulares com alguém. A linguagem também não é reflexiva nem se reduz à palavra, embora a palavra seja a sua condição inalienável. Nem o que diz é o indicativo mas pode ser o possível, a ficção, a biografia e o futuro a haver mas no interior das veleidades. A linguagem pode dizer o impossível, o que não se aguenta, ressuscita mortos com quem nos faz conviver mais intensa e dramaticamente do que com qualquer pessoa viva: amores abortados, vidas interrompidas.

No chamamento, há um convite. O convite convida as coisas a aproximarem-se dos seres humanos e a serem compreendidas no seu sentido como coisas. Não como factos. A queda da neve, o anoitecer, o inverno não são factos. Esses acontecimentos estão impreganados pela própria linguagem. São dizíveis no que são meteorologicamente, na hora do dia e na estação do ano. Mas existem num acontecimento conjuntamente com o ser humano no horizonte universal onde acontecem como sentidos.

“A linguagem do poema traz as pessoas sob o céu que escurece ao anoitecer. O som do sino à noite traz os mortais enquanto mortais diante do divino. Casa e mesa ligam os mortais à terra. […] Este fazer e deixar permanecer da reunião faz das coisas as coisas. […] Na nomeação, estas coisas são chamadas na sua essência.” (20)

Nós existimos num horizonte estrutural que Heidegger identifica como o espaço intermédio, o meio intermédio. Não nos encontramos como sujeitos à janela do mundo a espreitar ou a assistir ao que acontece. Não somos polarizados pelo mundo como objecto. Antes, sujeito e objecto existem na relação intrínseca entre um e outro. O sentido da relação entre um sujeito e um objecto é cognitivo ou teórico. Mas este não é o único. Também a teoria nos implica a nós como sujeitos e ao mundo e às outras pessoas num espaço interior.

“O meio de duas coisas é designado pela língua: o espaço intermédio o espaço “entre” (“das Zwischen”). A língua latina diz: “inter”. Corresponde-lhe o alemão “unter”. A interioridade de mundo e coisa não é uma fusão. A interioridade reina apenas, onde o interior, mundo e coisa, puramente se separam e permanecem separados. No meio de dois, no entre do mundo e coisa, no seu “inter”, neste “entre” reina a fissura.“ (25).

Mas é a dor

“que se metamorfoseia em pedra não se endureceu no limiar para se fixar nela. A dor como dor manifesta-se e apresenta-se duradoura no limiar. […] A dor é a inserção da fissura. A inserção é o limiar. Ela suporta o entre, o meio entre os dois que se separaram. A dor insere a fissura da diferença. A dor é a própria diferença.” (24)

A dor não é um fenómeno subjectivo. Pode acontecer no corpo ou na alma. A dor é uma realidade não anulável. Sente-se numa das suas dimensões de tal sorte que faz implodir e filtra toda a vida, sem apelo nem agravo. Custa. Dói, isto é, faz doer. Nos caminhos da peregrinação, encontramo-nos todos. Ou na via sacra da teologia da cruz ou nos caminhos contemporâneos que tornaram o planeta terra à quase ausência de distância. Nenhum animal peregrina. Só o ser humano se pode deslocar na forma de uma peregrinação, de uma viagem, até sem se deslocar. O limiar da porta é o portal de entrada para uma outra dimensão. Chega-se a casa onde se é acolhido. Mas só se chega desta maneira a casa com a percepção da dificuldade da dor que é fazer o caminho. Ou antes, o caminho do tempo usa o humano para o seu próprio acontecer. Mesmo sem nunca sairmos do mesmo local, sem sairmos do próprio corpo, o tempo faz o seu percurso em nós mesmos. Há silêncio, porque o que acontece não tem referente. O pão e o vinho sobre a mesa não são comida e bebida, não são meros alimentos. Estão sobre a mesa de uma casa bem arrumada. O encontro entre o peregrino e a mesa permitem um chamamento. Não apenas do passado, da infância, das refeições em família, nem da importância da refeição na vida de uma família, no quotidiano e nos dias de festa. O que é invocado é convocado da ausência: é o próprio clarão puro. É o brilho do que aí acontece que alegoricamente metamorfoseia simplesmente tudo para fora do âmbito estrito da realidade factual e para a dimensão do significado.

[1] Winterabend

 

Wenn der Schnee ans Fenster fällt,

Lang die Abendglocke läutet,

Vielen ist der Tisch bereitet

Und das Haus ist wohlbestellt.

 

Mancher auf der Wanderschaft

Kommt ans Tor auf dunklen Pfaden.

Golden blüht der Baum der Gnaden

Aus der Erde kühlem Saft.

 

Wanderer tritt still herein;

Schmerz versteinerte die Schwelle.

Da erglänzt in reiner Helle

Auf dem Tische Brot und Wein.

 

TRAKL, GEORG. (2008). Das dichterische Werk: Auf Grund der historisch-kritischen Ausgabe. Editores: Walther Killy e Hans Szklenar. Munique. Deutscher Taschenbuch Verlag, p. 58.

1 Jun 2018

Motociclismo | Dan Kneen morre na Ilha de Man

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]an Kneen, motociclista que nas últimas duas edições do Grande Prémio de Macau terminou no 11.º lugar, perdeu a vida após um acidente, na quarta-feira, durante a sessão de treinos para a corrida TT na Ilha de Man.

Dan tinha 30 anos, competia com uma BMW e morreu após um acidente na primeira curva da sessão de treinos. “A ACU Events lamenta confirmar que Dan Kneen, 30 anos, de Onchan, na Ilha de Man, morreu esta tarde devido às lesões sofridas num acidente de Superbike durante a sessão de treinos”, comunicou a organização numa nota de imprensa.

1 Jun 2018

Futebol | Queixa sobre jogadores inscritos de forma ilegal adia campeonato

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]odos os jogos da 4.ª divisão do futebol de Macau foram adiados, devido às suspeitas de utilização ilegal de jogadores que estão federados em campeonatos fora da RAEM. A informação foi avançada pelo portal Happy Macao, especializado em desporto local, e confirmada pelo vice-presidente da Associação de Futebol de Macau, Daniel Sousa, ao HM.

“Os jogos foram adiados. Estamos a estudar um caso que tem que ver com a 4.ª Divisão, mas não queremos mencionar as equipas e os jogos envolvidos em concreto. São dados que vamos dar a conhecer depois de haver uma decisão da Comissão Disciplinar”, afirmou Daniel Sousa, presidente da AFM, ao HM. “Esperamos que haja uma decisão dentro de uma semana ou duas. Logo a seguir, iremos retomar o campeonato”, acrescentou.

De acordo com o portal Happy Macao, a situação terá tido origem a 17 de Maio, após o encontro entre a União de Macau e o Cheng Loi, jogo em que a primeira equipa perdeu nos penáltis. Após a derrota, a formação da União apresentou queixa, por considerar que o Cheng Loi utilizou atletas inscritos em outros campeonatos, o que contraria o regulamento.

“Houve uma queixa e agora estamos a recolher todas as informações necessárias, mesmo junto das outra associações fora de Macau. O regulamento diz que os jogadores estrangeiros só podem ser inscritos com a apresentação da autorização da transferência internacional ou com a declaração das associações”, informou o vice-presidente da AFM.

Situação repetida

Esta é uma situação que não é nova em Macau. No ano passado, o Sporting foi penalizado devido à utilização de Júnior Soares, que também estava inscrito em Hong Kong. Na altura, os leões foram penalizados com uma derrota por 3-0 diante do Lai Chi, formação que apresentou a queixa. Porém, Daniel Sousa admite que o controlo destas ocorrências é mais limitado na 4.ª divisão.

“Este ano está a funcionar nas três primeiras divisões um sistema mais rigoroso para controlar estas situações. A quarta divisão, embora seja uma categoria que também faz parte do sistema de promoção e despromoção, é encarada mais como um torneio de entretenimento”, explicou o dirigente. “Não temos aplicado os regulamentos de uma forma tão rigorosa como nas três primeiras divisões, mas vamos reunir com os clubes. Se exigirem que a regra passe a ser aplicada de forma mais rigorosa, é o que vamos fazer”, frisou.

1 Jun 2018

24 horas | André Couto procura vitória na mítica pista de Fuji

O piloto local está este fim-de-semana em Fuji para participar nas 24 horas, a contar para o campeonato Super Taikyu Series. Ao HM, André Couto afirmou que nos treinos livres o carro mostrou um bom ritmo e deu indicações de que pode entrar na luta pela vitória

 

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão 24 horas e tudo pode acontecer. É com esta mentalidade que o piloto André Couto vai abordar a participação nas 24 horas de Fuji, prova pontuável para o campeonato Super Taikyu Series, que arranca amanhã e termina no Domingo.

“No primeiro treino livre tivemos um bom ritmo e ficámos em terceiro. O carro está bom, por isso vamos continuar a rodar para melhorar as afinações. Em princípio vamos estar na luta pela vitória” afirmou Couto, ao HM, ontem. “São 24 horas e tudo pode acontecer”, frisou.

Em Fuji, o piloto local volta aos comandos do Audi R8 LMS da Phoenix Racing Asia que irá partilhar com o taiwanês Jeffrey Lee. Porém, para a prova de 24 horas juntam-se aos pilotos ainda o japonês Shintaro Kawabata e o belga Alessio Picariello.

A condução do Audi vai ser repartida. Ontem, André Couto ainda não tinha definida a estratégia para a corrida, até porque a sessão de qualificação apenas se realizada hoje. No entanto, o piloto local deve passar cerca de oito horas ao volante, ao longo de diferentes turnos de condução, que vai intercalar com os colegas de equipa.

“Ainda não temos bem definida a estratégia para a corrida mas posso andar oito horas no total. Vou repartir as 24 horas. Vamos ver como vai ser o desafio, não vai ser fácil”, anteviu.

Uma das grandes vantagens para André Couto é o facto de correr numa pista que conhece muito bem e onde inclusive venceu, em 2015, quando participava na corrida de GT300 do campeonato Super GT japonês, ao volante do Nissan GTR. Nesse ano, o piloto de Macau acabou mesmo por se sagrar campeão.

“É uma das minhas pistas favoritas e é sempre um gosto voltar a Fuji. É um traçado onde sempre treinei muito, porque pertence à Toyota e era muito frequente rodar aqui, quando participava nos Super GT 500”, referiu. “Também tenho desta pista memórias muito boas, até porque ganhei os 500 Km de Fuji na categoria GT300”, acrescentou.

Equipas reforçadas

Apesar de ser visto como um campeonato abaixo dos Super GT, o facto da competição Super Taikyu ter uma prova de 24 horas em Fuji, faz com que muitos pilotos mostrem interesse em participar. Por essa razão, as equipas são reforçadas com pilotos que normalmente competem nesse campeonato mais mediático.

“Esta corrida ganhou alguma importância no Japão porque é a primeira vez que há uma prova de 24 horas em Fuji. Estão aqui vários pilotos do Campeonato Super GT porque como quase todas as equipas têm de ter quatro pilotos, há espaço para mais pilotos. Todas as equipas têm um amador e o resto é quase tudo profissionais”, apontou André Couto.

Ao nível do campeonato, o carro inscrito por André Couto e Jeffrey Lee ocupa actualmente o quinto lugar, com 17 pontos. Na frente da tabela está o Porsche 911 GTR3 com o número 777, tripulado pelo japoneses Seiji Ara, Satoshi Hoshino e Tsubasa Kondo, que soma 41 pontos, após duas rondas.

1 Jun 2018

Foquemo-nos no estado de direito

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ulu Sou, com o mandato de deputado suspenso, que tinha sido acusado do crime de desobediência qualificada, foi condenado a uma pena de 120 dias de multa pelo Tribunal de Primeira Instância, a 29 de Maio. Scott Chiang, outro dos acusados, recebeu uma pena idêntica pelo crime de reunião ilegal. Como ambos podem ainda recorrer da sentença, o resultado final permanece uma incógnita.

O conceito de “estado de direito” é um valor universal e a pedra basilar do socialismo. Quando comparado com o “estado popular”, revela-se mais eficaz no que diz respeito à restrição dos abusos de poder, à implementação da ordem social, à gestão social, à redução das contradições e conflitos sociais e, em última análise, na obtenção da paz social.

O julgamento de Sulu Sou captou a atenção do público e dos media. A sentença do Tribunal de Primeira Instância terá certamente a sua base legal. Se a acusação e a defesa não a aceitarem, podem tentar revertê-la apelando para uma instância superior, o que é uma prerrogativa de qualquer estado de direito. Desde que este assuntos sejam tratados com transparência, correcção e justiça, a comunidade terá de aceitar a justeza das decisões do Tribunal.

No artigo “Olho por olho …” publicado em Fevereiro, falei sobre os combates “não-violentos” e exortei as pessoas a desistirem da ideia de fazer justiça pelas próprias mãos. Mahatma Gandhi disse um dia “olho por olho e ficamos todos cegos”. Esta afirmação nasceu da sua experiência enquanto testemunha da luta sangunária entre Hindus e Muçulmanos.

Estudei numa escolar secundária que defende a liberdade e onde os estudantes podem falar livremente com os professores. Nessa altura, o professor perante uma classe cheia de adolescentes enérgicos e apaixonados pelos seus ideiais, confidenciou que, em jovem, tinha sido apoiante do “Movimento 4 de Maio”. Esta conversa acalorada entre o professor e os alunos não degenerou em conflito, nem os alunos foram punidos por terem debatido estas questões. O fosso entre o professor e os alunos foi transposto através do diálogo. Tolerância, consideração, entendimento e diálogo são as melhores formas de resolver os problemas.

Uma lei injusta é aquela que ainda não foi revista. Conheço uma legista de Hong Kong, ligada ao campo pró-democrata, que faz questão de obedecer à lei porque acredita no estado de direito como arma para corrigir as “leis más” e que nunca se envolveria em actos de violação da lei. Quando os opositores não obedecem à lei, os ditadores ganham a força da razão. Daí resulta que a sociedade fica fora de controlo e as pessoas começam a atacar-se umas às outras. A frase de Gandhi não revela fraqueza nem submissão, mas sim a posição de um homem corajoso.

Os políticos devem ser pessoas de mente aberta e nunca devem agir em proveito próprio. O juizes terão de fazer respeitar a lei e o povo deve assegurar que a sociedade continua a ser por ela governada. Desde o “Movimento dos Guarda-Chuva”, parece que, tanto o Governo de Hong Kong como os seus opositores, perderam a paciência. A luta entre os dois campos só poderá agravar as clivagens sociais. É necessário que haja consenso para ultrapassar as cisões.

Se Gandhi ainda fosse vivo, o índice de felicidade da Índia e do Paquistão seria muito maior. Se Yitzhak Rabin ainda fosse vivo, a paz entre Israel e a Palestina seria uma realidade. Sob a liderança do Presidente Xi, que defende o socialismo de características chinesas, a possibilidade de Hong Kong e Macau atingirem o equilíbrio depende do empenho das suas populações na implementação plena do estado de direito.

1 Jun 2018

Elvis Mok, calígrafo e poeta | O artesão da escrita

[dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]icenciado em língua chinesa pela Universidade de Macau, Elvis Mok, de 36 anos de idade, é professor da caligrafia. A paixão surgiu por influência da família, revelou ao HM, especialmente porque o pai era professor de chinês. No entanto, a dedicação a esta arte só apareceu quando entrou na universidade. “No início não gostava muito de caligrafia chinesa, e só quando fui para a universidade é que me apercebi da importância de escrever os caracteres com exactidão”, contou.

As obras de caligrafia de Elvis Mok podem ser encontradas no “Tealosophy Tea Bar”, loja em que o menu é escrito pelo calígrafo e os copos de papel são ilustrados com um poema da sua autoria. A parceria com este estabelecimento foi motivada pela amizade entre Mok e o proprietário que nasceu de um interesse comum por cultura chinesa, há cerca de oito anos. Quando o amigo decidiu abrir uma loja de bebidas convidou Mok para escrever o menu. A poesia é outra das suas paixões apoiada pelo “Tealosophy Tea Bar” com a divulgação da colecção de poemas “A Cultura é Vida” que Kok usa para levar as suas mensagens aos clientes daquele estabelecimento.

Ensinar a escrever

Elvis Mok é também o fundador do Centro de Educação de Artes Hon Mak. Neste centro, lecciona cursos de caligrafia chinesa, enquanto a irmã, parceira neste projecto, é professora de pintura.

A ideia de criar o Centro de Educação de Artes Hon Mak foi concretizada após Mok ter deixado as suas funções de professor do ensino secundário, há três anos. No centro, o mestre dos caracteres ensina crianças, mas também adultos que na sua maioria são professores.

Para Elvis Mok muitos professores de chinês de escolas secundárias, apesar de não serem profissionais na arte da caligrafia, precisam de ensinar os alunos como escrever correctamente. Para isso, o calígrafo, nos cursos destinados aos professores, tem especial atenção no ensino da técnica.

O número de interessados em frequentar estes curso têm excedido as expectativas de Mok. A razão, referiu, tem que ver com a atitude dos pais das crianças que estão atentos ao desenvolvimento das capacidades de escrita na escola e fazem questão que os filhos escrevam os caracteres chineses com exactidão.

O professor considera ainda que o ensino da caligrafia é fundamental por poder potencializar o estudo em geral e por ser um bom instrumento para promover a capacidade de coordenação visual e manual das crianças.

Elvis Mok reconhece que a arte da caligrafia chinesa está cada vez mais distante da população, mas ainda está muito ligada à vida quotidiana das pessoas. Mok olha para o futuro com esperança, mas também com algum receio quanto ao avanço tecnológico e a sua repercussão nas formas mais tradicionais de escrita. “Se os estudantes nas escolas usarem o Ipad para escrever os trabalhos de casa relativos à caligrafia, será terrível”, diz.

Elvis Mok é também presidente da Associação de Poetas de Macau Outro Céu, uma plataforma criada em 2002 para se reunir os poetas locais. Um outro objectivo desta entidade é conseguir angariar fundos para publicar colectâneas dos trabalhos produzidos pelos seus associados. “Em Macau há poucas publicações locais, ou seja, muitas pessoas escrevem poemas mas as obras não são divulgadas por não existir uma editora que o faça”, disse Elvis Mok. O resultado é que alguns dos poetas locais acabam por recorrer a este tipo de serviço no exterior. Por outro lado, Mok considera que, mesmo que existam obras publicadas no território, há outros obstáculos a superar, como a falta de leitores.

1 Jun 2018

Terrenos | Empresa Chap Mei obrigada a sair de lote no Pac On

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] empresa Chap Mei – Artigos de Porcelana e de Aço Inoxidável e Outros Metais vai ter mesmo de desocupar um terreno no Pac On, com uma área de 2637 metros, após ter perdido o diferendo no Tribunal de Última Instância, em que contestava a decisão do Governo de despejar a empresa. A decisão foi tomada a 30 de Maio e revelada ontem, num comunicado publicado pelo Gabinete do Presidente do TUI.

A Chap Mei contestava a decisão do Chefe do Executivo por considerar que havia falta de fundamentação no pedido de despejo, ao mesmo tempo que contestava o prazo de 60 dias para a desocupação.

No entanto, os argumentos da empresa não convenceram o TUI: “O acto recorrido [ordem de despejo] está perfeitamente fundamentado, permitindo ao destinatário perceber a sua racionalidade”, consta no acórdão. “Não se vislumbra muito bem que tipo de fundamentação é que seria adequada para dizer que o prazo para a desocupação é de 60 dias e não de 45 ou 65 dias”, é acrescentado.

No que diz respeito ao prazo, o tribunal recorda que legalmente o despejo deveria ter ocorrido mesmo em 45 dias e que a empresa já tinha sido beneficiada pela decisão de permitir a desocupação do terreno em causa em 60 dias.

Quanto ao argumento da empresa de não ter sido ouvida em audiência antes da ordem do despejo, o TUI considerou que foi tudo feito dentro da legalidade, uma vez que a Chap Mei tinha sido ouvida, na altura em que o Chefe do Executivo assinou a declaração da caducidade do terreno em causa, conhecido como Lote V2.

1 Jun 2018

Economia | Merkel quer “reciprocidade” entre China e Europa

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu ontem em Lisboa a necessidade de haver “reciprocidade” nas relações económicas entre a China e a Europa.

“Nessas questões é importante haver reciprocidade. Ou seja, onde a China se abre, também nós podemos abrir-nos. Já falei sobre isto com as autoridades chinesas. É uma situação de ‘win-win’”, comentou a chefe do Governo alemão, em declarações aos jornalistas no final de uma reunião bilateral com o primeiro-ministro português, António Costa.

Os dois governantes foram questionados pela imprensa sobre a OPA lançada pela empresa chinesa China Three Gorges à EDP, em relação ao qual Merkel não se opôs, apesar de não ter sido um tema abordado neste encontro. “Nós, na Alemanha, temos relações económicas muito estreitas com a China. É claro que houve uma fase em que a Alemanha investiu na China, e [Pequim] também tem interesse no mercado europeu”, disse.

Já António Costa reiterou que “nem sequer o Estado português tem que se pronunciar sobre uma operação de mercado que decorre de acordo com as regras do mercado”.

A China Three Gorges anunciou em meados de Maio a intenção de lançar uma OPA voluntária sobre o capital da EDP, oferecendo uma contrapartida de 3,26 euros por cada acção, o que representa um prémio de 4,82 por cento face ao valor de mercado e avalia a empresa em cerca de 11,9 mil milhões de euros.

A CTG, que já detém 23,27 por cento do capital social da EDP, pretende manter a empresa com sede em Portugal e cotada na bolsa de Lisboa.

1 Jun 2018

Angela Leong entregou plano ao Governo sobre futuro dos galgos no último dia do prazo

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] deputada e proprietária do terreno onde está localizado o Canídromo, Angela Leong, disse ontem à margem da sessão plenária na Assembleia Legislativa que já entregou o plano ao Governo sobre o futuro a dar aos 600 galgos que estão sob posse da concessionária Companhia de Corridas de Galgos Yat Yuen, empresa responsável pela exploração das corridas de galgos. Ao HM, o IACM apenas adiantou que já recebeu o plano por parte da Yet Yuen e que o mesmo será analisado.

“O plano foi entregue hoje [ontem era o último dia do prazo proposto pelo Executivo]. Relativamente aos pormenores, perguntem à nossa equipa. Como sabem estou ocupada. Vamos cooperar com o Governo”, adiantou aos jornalistas a directora-executiva da Sociedade de Jogos de Macau (SJM).

A deputada e empresária esquivou-se a mais explicações. “Conheço o futuro plano de desenvolvimento, mas como não participei em algumas discussões é melhor deixar que o director-geral [da Yat Yuen] se explique. Para que a população não esteja a tentar adivinhar, é melhor que as pessoas vejam o plano por escrito, que contém mais pormenores.”

Angela Leong nada disse das recentes acções da ANIMA, presidida por Albano Martins, junto do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). “Não sei do que está a falar, todos os dias há muitas notícias e eu não as leio todas. [Os grupos de protecção dos animais] que pretendem proteger os galgos de forma sincera, em vez de aproveitarem este caso para atingir os seus próprios objectivos são todos bem-vindos.”

A deputada disse ainda que, para já, não tem nenhum galgo adoptado, mas prometeu proteger os animais que vão deixar as corridas quando a SJM tiver de entregar o terreno ao Governo, depois do encerramento do Canídromo em Julho. Num comunicado recente, o IACM referiu que a empresa tem a responsabilidade de cuidar dos animais, sendo que o Canídromo já referiu que existe um plano preliminar para o futuro dos galgos, que poderá passar pela cooperação com o interior da China. Durante o mês de Junho, Albano Martins vai voltar a reunir com o Gabinete de Ligação sobre este assunto. Em declarações recentes, o presidente da ANIMA disse temer que o Canídromo seja ocupado mesmo até finais de Julho.

“A minha opinião, de longa data, é que eles querem ficar naquele espaço mais tempo. Acho que vão consegui-lo porque não estou a ver o Governo a mandá-los embora imediatamente, quando ainda têm 650 animais. Mais uma vez, Angela Leong vai levar a sua avante”, projectou.

1 Jun 2018

Largo do Senado acolhe vigília por Tiananmen pelo quinto ano consecutivo

O Largo do Senado vai ser palco, na próxima segunda-feira, da tradicional vigília em homenagem às vítimas do massacre de Tiananmen, o que sucede pelo quinto ano consecutivo

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) confirmou ontem ao HM ter aceitado o pedido submetido pela União para o Desenvolvimento Democrático de Macau, dos deputados Au Kam Sam e Ng Kuok Cheong, para realizar a vigília em homenagem às vítimas do massacre de Tiananmen no Largo do Senado. A iniciativa tem lugar na próxima segunda-feira entre as 20 e as 22 horas.

Em declarações ao HM, Au Kam San afirmou não ter expectativas relativamente à adesão da vigília que, no ano passado, juntou aproximadamente duas centenas de pessoas na principal praça de Macau no pico do evento.

A vigília em homenagem às vítimas de Tiananmen voltou ao Largo do Senado em 2014, após um interregno de, pelo menos, 15 anos. Essa vigília, que coincidiu com o 25.º aniversário de Tiananmen, foi, aliás, uma das mais participadas de sempre, tendo juntado pelo menos três mil pessoas, de acordo com a organização.

Depois de anos reservado para actividades subordinadas ao Dia Mundial da Criança, a praça ficou desimpedida em 2014 após a Associação Geral de Estudantes Chong Wa de Macau ter cancelado o pedido de cedência do espaço em respeito por Ma Man Kei, uma das figuras mais importantes da comunidade chinesa, que tinha falecido na semana anterior.

Tal permitiu aos dois deputados ocupar a vaga e deixar de assinalar a efeméride no Largo de S. Domingos que, apesar de distar poucos metros do “coração” da emblemática praça, fazia com que o evento passasse mais despercebido, além de que era, muitas vezes, ofuscado pelos espectáculos do Dia Mundial da Criança.

Macau e Hong Kong (com uma dimensão muito mais expressiva, na ordem dos milhares de participantes por ano) são os únicos locais da República Popular da China onde se assinala a repressão do movimento estudantil pró-democracia de 4 de Junho de 1989.

Centenas de pessoas – ou mesmo mais de mil segundo algumas estimativas – morreram depois o regime chinês enviar tanques para a Praça de Tiananmen, esmagando os protestos no coração de Pequim, onde manifestantes estavam concentrados há sete semanas a exigir reformas democráticas.

Em Dezembro último, porém, foi tornado público um telegrama secreto da diplomacia britânica que dava conta de uma “estimativa mínima de 10.000 civis mortos”. O número, facultado a 5 de Junho de 1989 pelo então embaixador da Grã-Bretanha, Alan Donald, é quase dez vezes superior ao comummente aceite à época. No entanto, foi considerado credível pelo sinólogo francês Jean-Pierre Cabestan que, em declarações à agência de notícias France-Presse, assinalou então que os documentos confidenciais que foram sendo divulgados nos últimos anos nos Estados Unidos sugerem a mesma ordem de grandeza.

1 Jun 2018

Ensino | Subsídio de propinas actualizado e alargado a toda a província de Guangdong

O plano de subsídio de propinas a residentes de Macau que frequentem escolas em Guangdong vai ser estendido a todas as 21 cidades daquela província. Os montantes também vão ser revistos em alta

 

[dropcap style≠’circle’]V[/dropcap]ai ser alargado a todas as 21 cidades de Guangdong o âmbito do plano que prevê a atribuição de um subsídio de propinas a residentes de Macau que frequentem escolas na província vizinha. Os montantes também vão ser revistos em alta, a partir do corrente ano lectivo, com o Governo a estimar uma despesa de 27,6 milhões de patacas, revelou ontem o porta-voz do Conselho Executivo.

“Temos alargado gradualmente o âmbito da aplicação porque [o plano] tem funcionado muito bem”, afirmou Leong Heng Teng, dando conta de que actualmente há quase 4.000 alunos de Macau a frequentar escolas na vizinha província. Em paralelo, os montantes do subsídio também vão ser actualizados, subindo de um máximo de 4.000 para 6.000 patacas para os estudantes que frequentem os ensinos primário, secundário geral e secundário complementar; e de 6.000 para 8.000 patacas no caso do ensino pré-escolar.

Tanto o alargamento da cobertura geográfica a todas as cidades da província de Guangdong, como o aumento dos montantes dos subsídios de propinas, tinham sido anunciados aquando da apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG) pelo Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On.

A atribuição de um subsídio de propinas a residentes de Macau que estudem em escolas de Guangdong arrancou no ano lectivo 2012/13, com o projecto-piloto circunscrito na altura a escolas de apenas duas cidades (Zhuhai e Zhongshan) e a um nível de ensino (secundário complementar). O plano foi sendo paulatinamente alargado e, no ano lectivo anterior, ou seja, em 2016/2017, cobria sete cidades de Guangdong.

Termos e condições

Desde o lançamento do plano, gizado no âmbito do Acordo-Quadro de Cooperação Guangdong-Macau, o Governo gastou 30 milhões de patacas em subsídios de propinas, dos quais beneficiaram 5.761 alunos. A título de exemplo, no ano lectivo anterior, foram 2.000 os estudantes que receberam o apoio.

Os dados foram apresentados numa conferência de imprensa do Conselho Executivo que deu luz verde a um projecto de regulamento administrativo que estipula, entre outros, os requisitos a observar. O diploma, que deve entrar em vigor este mês, torna elegíveis aos subsídios os alunos residentes nascidos antes de 2015 que, a 31 de Março último, se encontravam efectivamente a frequentar um dos níveis de ensino em escolas de Guangdong.

As candidaturas têm de ser apresentadas à Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) que, por sua vez, atribuirá o subsídio de propinas, numa única prestação, a partir de Outubro.

O regulamento administrativo determina ainda que os residentes de Macau que frequentem o ensino secundário complementar “têm de frequentar um curso de formação”, organizado pela DSEJ, “com vista a reforçar os conhecimentos nomeadamente no âmbito político, económico e cultural de Macau”. Esse curso, a decorrer entre Junho e Agosto, tem de ter uma duração não inferior a 12 horas, sendo exigida uma taxa de presença não inferior a 80 por cento.

1 Jun 2018

Definidas normas relativas à utilização de edulcorantes em alimentos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Conselho Executivo deu luz verde a um projecto de regulamento administrativo que define normas para a utilização de edulcorantes em géneros alimentícios. O diploma, cujos principais contornos foram apresentados ontem, tem com objectivo “definir padrões para garantir a segurança alimentar”.

Segundo o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, a definição de regras pretende “evitar a utilização ou adição nos géneros alimentícios de substâncias que não tenham passado na avaliação de segurança”.

O diploma “define os tipos de edulcorantes abrangidos pelas normas, as categorias de géneros alimentícios que permitem a utilização de edulcorantes, a sua dose máxima de utilização, assim como as condições em que a sua utilização deve corresponder”.

Existem duas categorias de edulcorantes que podem ser utilizados ou adicionados em géneros alimentícios. A primeira, que versa principalmente sobre edulcorantes de origem natural ou sobre outros sem dose diária admissível especificada, abarca dez tipos. Já a segunda diz respeito a nove tipos permitidos dentro do âmbito e limites de utilização, ou seja, que têm uma dose diária admissível determinada pelo Comité Misto FAO/OMS de Peritos em Aditivos Alimentares. Tal significa que podem ser utilizados sem risco para a saúde, desde que o valor de referência não seja excedido.

Na elaboração das normas sobre os edulcorantes, que são um aditivo alimentar que confere sabor doce em substituição do açúcar, “o Governo não só ponderou a realidade internacional e local, como também tomou em consideração, de forma cabal, as normas dos principais locais de origem, os padrões de segurança alimentar da República Popular da China e as normas dos territórios vizinhos”, explicou Leong Heng Teng. Em paralelo, foram também integrados os “resultados da monitorização do teor de edulcorantes em géneros alimentícios no mercado de Macau”.

Apesar de as regras apenas surgirem agora, o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) garante que os produtos alimentares – tanto importados como fabricados em Macau – têm estado em conformidade desde a entrada em vigor da Lei da Segurança Alimentar, em Outubro de 2013. “Não há qualquer produto que, neste momento, não satisfaça os requisitos internacionais”, até porque “a maior parte é importado”, afirmou Ung Sau Hong, que integra o conselho de administração do IACM.

A mesma responsável adiantou ainda que, no âmbito da segurança alimentar, o IACM espera finalizar ainda este ano um outro regulamento administrativo, desta feita sobre os limites permitidos de resíduos de metais pesados.

1 Jun 2018

Crime | Prisão preventiva para três suspeitos de auxílio a imigração ilegal

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] juiz de instrução criminal do Ministério Público ordenou a aplicação de prisão preventiva a três indivíduos suspeitos da prática dos crimes de associação criminosa, auxílio à imigração ilegal e de acolhimento.

A medida de coação foi decidida após a entrega de um inquérito por parte do Ministério Público. Aos três suspeitos referidos, juntam-se mais dois que receberem outras medidas de coacção, sendo acusados dos mesmos crimes.

De acordo com um comunicado oficial, a prisão preventiva foi aplicada dada a “gravidade e circunstâncias concretas do respectivo inquérito”.

1 Jun 2018