Diana do Mar Manchete SociedadeCrime | Dois menores abandonados em média por ano desde 2000 Em média, dois menores são abandonados por ano em Macau, a maioria dos quais recém-nascidos. É o que revelam dados facultados ao HM pelo Instituto de Acção Social (IAS) [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s números falam por si. Entre 2000 e 2017, o IAS prestou assistência a 58 menores (29 meninas e 29 meninos), com idades até 13 anos. Contudo, o IAS ressalva que viria a confirmar, posteriormente, que 13 não tinham sido efectivamente abandonados, pelo que o número total cai para 45, o que dá, ainda assim, uma média anual de dois casos. Para encontrar um ano com “ficha limpa” é preciso recuar a 2012, ano em que, à semelhança de 2010, não houve qualquer caso. Os dados do IAS permitem ainda notar uma diminuição do número de abandono de menores entre a primeira e a segunda metade da década. A título de exemplo, no ano passado, houve um caso de um menor abandonado, enquanto em 2000 ascenderam a sete. Dos 58 menores encaminhados para o IAS, 47 correspondem a casos em que foram identificados os progenitores (ambos ou pelo menos um), sendo que nos 11 restantes não foi possível apurar a identidade dos mesmos. De acordo com o IAS, “grande parte” dos menores abandonados “encontrava-se de boa saúde física e mental”. Contudo, “alguns dos bebés ou crianças de tenra idade apresentavam deficiências, incluindo motora, intelectual, da fala ou visual”, indicou o IAS, sem especificar números. “Quando o IAS recebe um menor abandonado, a primeira preocupação é protegê-lo. Assim, este instituto, de acordo com a idade do menor, irá colocá-lo num lar para crianças e jovens que lhe seja adequado e, de imediato, comunicar o caso ao Ministério Público (MP), por forma a que proceda a uma investigação quanto à identificação dos seus pais”, explica o IAS. O processo de adopção, esse, inicia-se só depois de os órgãos judiciais atestarem que o menor foi abandonado. Maioria adoptados Sete em cada dez menores abandonados foram adoptados (35 em 45) ao longo dos últimos 18 anos. Já dois casos encontram-se em “fase de pré-adopção” e outros tantos foram “comunicados ao MP ou aos tribunais a fim de dar seguimento ao processo”, havendo um “com o relatório de apreciação concluído”, de acordo com as informações facultadas em meados de Maio a este jornal. Diferente sorte tiveram outros três casos, particularmente o de um menor com necessidades especiais, dado que “o emparelhamento [entre as características e necessidades das crianças e as pretensões e capacidades dos candidatos] foi infrutífero”. Os outros dois dizem respeito a menores que “não estão dispostos a serem adoptados, pelo que não há possibilidade de realizar com sucesso o emparelhamento”. E se uns não quiseram integrar uma nova família, outros quiseram mas não puderam, dado que há dois menores, entretanto com mais de 16 anos, “que não conseguiram ser adoptados”, isto apesar dos mais de 600 pedidos de adopção.
Hoje Macau Manchete SociedadeLivros | Plaza Macau pertence ao Gabinete de Ligação de Hong Kong [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] grupo editorial Sino United Publishing (SUP) de Hong Kong, que pertence ao Gabinete de Ligação da região vizinha, é também dono da livraria local Plaza Cultural, revelou ontem o Macau News Agency. A informação surge após a divulgação por parte da RTHK de que o Gabinete de Ligação da região vizinha é o maior proprietário das livrarias de Hong Kong, tendo a seu cargo mais de metade do mercado livreiro. A livraria Plaza Cultural de Macau tem ainda uma loja na Universidade de Macau e fornece livros em língua chinesa e portuguesa à loja de presentes do Museu de Arte de Macau. De acordo com a mesma fonte, é também responsável pela organização de seminários e exposições de carácter cultural no território. De acordo com a investigação da RTHK, o grupo SUP é propriedade da empresa Xin Wenhua Hong Kong Development Company, que por sua vez tem como donos uma firma de Cantão que pertence unicamente ao Gabinete de Ligação de Hong Kong. Além das livrarias em Hong Kong e Macau, a SUP opera ainda no continente, Taiwan, Singapura, Malásia Japão, Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, França e Austrália. À Macau News Agency, a livraria Plaza não esclareceu se a SUP tem algum papel no que respeita às opções de negócio, ou no tipo de livros que a loja oferece aos clientes. A UM não deu qualquer resposta à mesma agência.
Hoje Macau PolíticaDeputada Song Pek Kei pede fim do monopólio da Air Macau [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ong Pek Kei, deputado ligada à comunidade de Fujian e Chan Meng Kam, instou o Governo a terminar o monopólio da Air Macau em 2020, altura em que termina o contrato de exclusividade. “O Governo deve prestar elevada atenção à realidade de que o desenvolvimento do sector do transporte aéreo tem sido impedido, devendo-se, assim, adoptar medidas preventivas e fazer um planeamento de longo prazo”, afirmou a deputada. “Proponho que se deve acabar, plenamente, com a exclusividade no transporte aéreo, criando um ambiente favorável à concorrência e ao desenvolvimento do sector”, acrescentou a deputada.
Andreia Sofia Silva PolíticaFinanças | Novo regime de locação financeira mais flexível [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi ontem aprovada na generalidade o novo regime jurídico das sociedades de locação financeira, que visa rever o regime em vigor desde a década de 90. O diploma prevê que as futuras sociedades de locação financeira deixem de ser instituições de crédito e passem a ser instituições financeiras. O Governo decidiu implementar uma série de medidas mais flexíveis, tal como a redução do capital social de 30 para 10 milhões de patacas ou a permissão para se constituírem como sociedades anónimas ou por quotas, ao invés da obrigatoriedade de serem apenas sociedades anónimas. Na apresentação ontem feita na Assembleia Legislativa (AL), o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, frisou que o objectivo é aplicar “um conjunto de exigências de supervisão menos rigorosas e distintas das aplicáveis às instituições de crédito”. Os deputados mostraram-se preocupados com esta matéria. “Porque é que a supervisão vai ser menos rigorosa? Porque é que estas sociedades deixam de ser instituições de crédito? Estas devem ser supervisionadas com um maior rigor, porque a sua estrutura e dimensão são diferentes”, frisou Ip Sio Kai. “Essa supervisão menos rigorosa poderá acarretar problemas? Há também uma redução adequada das exigências”, lembrou Ella Lei. Lionel Leong lembrou que esta flexibilidade ao nível da fiscalização se deve ao facto de estas sociedades terem deixado de ser instituições de crédito. “Quisemos agora adoptar medidas mais flexíveis. Os critérios eram mais rigorosos e antes podiam receber depósitos, mas as instituições financeiras não podem receber depósitos ou outros fundos. Tentamos adoptar medidas mais flexíveis para reduzir os riscos.” A responsável da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) explicou que a redução do capital social mínimo exigido se deve também a esta alteração. “Não haverá grandes riscos e não se coloca em questão se há ou não capital social suficiente. Antes havia a preocupação de garantir que as instituições de crédito mantinham capital social suficiente para pagar aos seus credores, mas nestas sociedades de investimento não há esse problema”. Além desta lei serão ainda criados “leis complementares de registo”. Outras mudanças trazidas por esta proposta de lei prendem-se com a redução do número de membros do órgão de administração da sociedade, pois agora este poderá ter apenas um membro. É também permitida a introdução do “conceito de filiais com o propósito de locação financeira”, cujo pedido pode ser feito por bancos ou outras sociedades de locação financeira autorizados a exercer actividade em Macau. A AMCM apenas terá de ser notificada, previamente, sobre este ponto. Os deputados aprovaram também, na generalidade, o regime do benefício fiscal para a locação financeira, que mantém, entre outras medidas, a isenção do imposto de selo sobre a constituição de empresas e aumentos de capital social.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaInvalidez | Governo rejeita criação de orçamento próprio para pagar pensões Foi ontem aprovado na generalidade o novo regime de segurança social que prevê a criação de uma pensão de invalidez e o fim do subsídio provisório. Deputados questionaram a capacidade do Fundo de Segurança Social para suportar esta despesa e foi pedida a criação de um orçamento próprio. O secretário Alexis Tam garantiu a saúde financeira do FSS [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s portadores de invalidez estão a um passo de terem acesso a uma pensão específica para a sua condição, ao invés de receberem apenas um subsídio provisório. Isto porque os deputados da Assembleia Legislativa (AL) aprovaram ontem na generalidade, e por unanimidade, o novo regime de segurança social, em vigor desde 2011, que cria a pensão de invalidez e põe fim ao “subsídio provisório de invalidez”. Resta agora a discussão na especialidade e respectiva votação final, que decorre nos próximos meses. A solidez financeira do Fundo de Segurança Social (FSS) foi posta em causa por alguns deputados do hemiciclo, que temem que não seja possível custear este apoio. O deputado Leong Sun Iok, ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), pediu mesmo a criação de um orçamento próprio para o pagamento destas pensões. “Esta proposta pretende criar um subsídio permanente, mas este tipo de solução deve ser autonomizada e não deve ser encaixada dentro do FSS. Creio que o Governo deve ter um orçamento próprio para o efeito, porque isto vai constituir um grande encargo para o nosso sistema de segurança social”, disse o número dois da deputada Ella Lei. Da parte do Governo foram dadas garantias claras de que o FSS não ficará numa situação financeira mais difícil depois do pagamento destas pensões. “O Instituto de Acção Social (IAS) tem os seus benefícios e políticas e, neste aspecto, cabe ao FSS assumir as devidas competências. A reserva financeira do FSS é bastante estável e os senhores deputados podem estar descansados, o FSS tem capacidade para prestar estas contribuições.” No ano passado, foram injectadas 37 milhões de patacas no FSS “para assegurar a capacidade de pagamentos”, disse uma responsável da entidade. Até finais do ano passado, o valor de activos chegou às 77 mil milhões de patacas. Difíceis contribuições O hemiciclo levantou também a questão das dificuldades financeiras dos próprios portadores de invalidez quanto ao pagamento das contribuições para o FSS por um período de 36 meses. Ainda assim, o secretário garantiu que essa regra se mantém. “Os beneficiários são também contribuintes, e vamos continuar a exigir essa contribuição durante 36 meses. Não pretendemos criar caos ou situações de injustiça. Se não forem capazes de contribuir podemos dar um apoio financeiro através do IAS.” Chan Hong, deputada nomeada, revelou preocupação sobre esta matéria. “As pessoas têm de contribuir, pelo menos, durante 36 meses. Será que, no futuro, o Governo vai adoptar medidas para ajudar estas pessoas? Temos de ver as suas capacidades, porque precisam de descontar durante esse período. Às vezes os rendimentos não são elevados, têm de trabalhar e contribuir, e sem esse subsídio é difícil.” Na sua apresentação, o secretário defendeu que o subsídio provisório tratava-se apenas de uma “medida administrativa provisória”, e que era necessário “garantir, de forma permanente, a protecção social de base de pessoas portadoras de deficiência”. A proposta de lei ontem aprovada visa ainda a alteração da alínea do diploma que diz que “a invalidez (deve ser) verificada depois de obtida a qualidade de beneficiário”. Isto para que “a pensão de invalidez seja atribuída de forma universal a todas as pessoas que se encontram em situação de invalidez”. Até 30 de Abril deste ano o Governo autorizou 847 casos de atribuição do subsídio provisório.
Hoje Macau PolíticaSaúde | Wong Kit Cheng quer revisão à carreiras de enfermeiro [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] deputada Wong Kit Cheng questionou ontem o Governo sobre o andamento dos trabalhos na revisão do regime da carreira dos enfermeiros. Na Assembleia Legislativa a legisladora e enfermeira-assistente do Hospital Kiang Wu recordou que a revisão do estatuto é uma promessa antiga do Executivo, mas que tem ficado por cumprir. Por outro lado, a deputada ligada à Associação Geral das Mulheres de Macau pede para um esforço do Executivo para aumentar o rácio de enfermeiros no território de quatro para cada 1000 habitantes, assim medidas para reduzir o fosso salarial entre o sector público e o privado.
João Santos Filipe Manchete PolíticaPearl Horizon | Au Kam San acusa governantes de falta de visão O pró-democrata está contra a solução do Governo e, num dos discursos mais agressivos dos últimos anos no hemiciclo, utilizou a expressão “cabeça de burro” para descrever os poderes decisores que conduziram ao desfecho do caso do Pearl Horizon. Au Kam San acrescentou ainda que a solução é proveniente de uma classe de pessoas sem um “cérebro normal [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] solução do Governo para o problema do Pearl Horizon não convence os deputados e, ontem, na Assembleia Legislativa o deputado Au Kam San arrasou o Executivo e a “alegada” elite local da equipa escolhida por Chui Sai On. Num dos discursos mais agressivos dos últimos anos no hemiciclo, o pró-democrata usou expressões como “cabeça de burro” e equipa de dirigentes que “nem sequer tem um cérebro normal”. O deputado citou ainda um politólogo chinês, Cao Gui, para dizer que a falta de visão é característica dos governantes que “apenas se preocupam em encher o bandulho”. “O Governo está sempre a surpreender a população, tal como desta vez, no tratamento do caso do Pearl Horizon. Claro que se trata de um conflito comercial entre promotor e pequenos proprietários, mas o Governo também não pode fugir às suas responsabilidades, pois foi ele que retomou o terreno e cobrou os impostos. Portanto, é totalmente impossível alhear-se disso, mesmo que assim o queira”, foi desta forma que Au Kam San começou o tom para a intervenção antes da ordem do dia. “A solução apresentada pelo Governo deixou a população francamente assustada, sem conseguir imaginar qual foi a cabeça de burro que esteve na origem de tal solução”, acrescentou. Au Kam San fez questão de referir que tudo deve ser tratado com a lei, e que muitos do governantes locais se consideram parte da elite local, mas que nem cérebro normal têm: “Os governantes recebem salários elevados, então, muitos deles pensam que devem pertencer à elite e que são os melhores para ocuparem tais cargos. Qual elite! A solução para o problema do Pearl Horizon prova que quem faz parte da equipa de dirigentes do Governo nem sequer cérebro normal tem, portanto, nem vale a pena falar de elites”, apontou. Depois, o legislador fundador da Novo Macau recorreu à História chinesa e a Cao Gui para explicar a falta de visão dos políticos locais: “Já o politólogo Cao Gui dizia que ‘falta sempre visão àqueles que apenas se preocupam em encher o bandulho’”, atacou. “Será que isto não se aplica também a estes governantes de Macau? Estes, com o bandulho cheio e desinteressados de qualquer contacto com a população e com as suas dificuldades, inventam despreocupadamente medidas que só lesam os legítimos interesses dos cidadãos”, completou. Choveram críticas Contudo, Au Kam San não foi o único a deixar reparos à actuação do Governo. O mesmo aconteceu com o colega de bancada Ng Kuok Cheong e com Si Ka Lon, Mak Soi Kun e Zheng Anting. Por exemplo, o grande vencedor das últimas eleições, acusou o Governo de insensibilidade social, na altura de resolver os problemas dos cidadãos. “Recentemente, ocorreram com o Governo muitos casos de ‘tratar os assuntos de acordo com a lei’, mas, na opinião de muitos cidadãos, esta actuação é ‘legal mas irracional’ e até consideram que estes casos estão cobertos pelo vestido da ‘legalidade’, mas, na realidade, são um caos social que gera grande indignação na população”, apontou Mak Soi Kun. Também Ella Lei, deputada ligada aos Operários, apontou baterias ao assunto, mas optou por criticar exclusivamente o Grupo Polytec, ligado ao empresário Or Wai Sheun. “O concessionário tem a responsabilidade de apoiar os pequenos proprietários a ocupar as fracções. Mas nunca actuou nem mostrou sinceridade aos pequenos proprietários e à sociedade na resolução do problema”, indicou Ella Lei. “O concessionário ignora os que se encontram em apuros e afirma, sem qualquer pudor, que está embaraçado com as afirmações do Governo. Está mesmo a ignorar as suas responsabilidades sociais.”, acusou. Segundo a proposta do Governo, o terreno onde ia ser construído o empreendimento de luxo Pearl Horizon vai ser recuperado para a construção de habitações públicas. No local, os promitentes-compradores poderão comprar casas com dimensão e preço semelhantes às que iriam ter no empreendimento de luxo.
Hoje Macau PolíticaTrânsito | Deputado quer novo planeamento para a zona da Pérola Oriental [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Leong Sun Iok pede ao Executivo um novo planeamento para a zona da rotunda da Pérola Oriental. “Proponho ao Governo que proceda ao reordenamento da rede das instalações viárias da zona em causa e ao planeamento da rotunda da Pérola Oriental, e que pondere construir ali viadutos”, referiu ontem o deputado no período de antes da ordem do dia, na Assembleia Legislativa. O objectivo é a preparação de condições capazes de receber o aumento do trânsito e de pessoas provocado com a abertura da ponte Hong Kong – Zhuhai – Macau. Leong sugeriu ainda ao Executivo que incentive as concessionárias de jogo a disponibilizarem serviços de transporte em Zhuhai. Para o deputado, uma forma de aliviar a pressão do tráfego na zona norte seria promover a utilização do posto fronteiriço de Hengqin.
Andreia Sofia Silva Entrevista ManchetePedro Rocha Vieira, CEO e fundador da Beta-i, empresa ligada a startups: “Macau não pode parar no tempo” Filho do último governador português de Macau, Pedro Rocha Vieira é hoje CEO da Beta-i, uma empresa que ajuda startups a procurar investimento dentro e fora de Portugal. Macau está nos seus planos e os primeiros protocolos serão assinados este mês. Pedro Rocha Vieira viveu em Macau na década de 90 e entende que as empresas portuguesas não souberam, na altura, explorar as oportunidades deste lado do mundo [dropcap]É[/dropcap] CEO da Beta-i, uma empresa ligada ao empreendedorismo e startups. Como começou este projecto? A Beta-i nasce enquanto associação sem fins lucrativos, no pico da crise em Portugal, em 2009. Tínhamos o objectivo de trazer para Lisboa uma nova cultura de empreendedorismo e para capacitar as futuras gerações de empreendedores. Acreditámos que Portugal, e sobretudo Lisboa, tinha um potencial enorme para ser um hub de inovação e de startups a nível global, porque tem talento, boa qualidade de vida. Fomos responsáveis pela construção da grande parte do ecossistema do empreendedorismo em Lisboa, que incluem as startups de tecnologia e com maior ligação e capital internacionais. Começámos por fazer eventos, programas de capacitação de empreendedores, e depois criámos um programa emblemático, que foi o Lisbon Challenge, para empresas de todo o mundo que ainda estão a adaptar o seu produto ao mercado, precisam de acertar a sua estratégia. Fomos contribuindo para a criação de uma cultura de investimento, porque não havia muitos investidores internacionais, sobretudo que investissem na fase de capital de risco. Existiam investidores ligados a um modelo mais tradicional e contribuímos para uma nova mentalidade de investimento. Evoluímos para uma sociedade de capital de risco, e esse é, hoje em dia, o nosso maior negócio. A Beta-i é hoje uma empresa gerida por quatro sócios e este ano fundimo-nos com uma outra empresa, uma boutique de inovação, e somos oito sócios. Quais os principais projectos da Beta-i depois dessa fusão? Sentimos que aquilo que estava a acontecer nas startups, ao nível do capital de risco, tinha um impacto nas grandes empresas. Hoje em dia todas as indústrias estão a passar para o digital e a Beta-i é um forte parceiro no processo de transformação das grandes empresas, desde ajudar a definir estratégias de inovação, capacitá-las com ferramentas de empreendedorismo e ajudamos a executar estratégias. Trouxemos muita da experiência que tínhamos com as startups. O nosso maior foco é a inovação aberta, pois, por um lado, as startups precisam de grandes empresas para entrar no mercado e para acelerar a sua inovação. Estamos a começar a fazer projectos globais com uma empresa de Hong Kong, a Fosun e o Hospital da Luz, por exemplo. Temos feito um trabalho muito forte nas grandes empresas e sentimos que um dos maiores desafios tem a ver com a mentalidade das pessoas dentro e fora das organizações. Temos programas de capacitação de empreendedores dentro das universidades, através de parcerias e estamos a apostar em escolas de Verão para crianças. Também temos uma ligação forte em termos internacionais. Há muito tempo que estamos em contacto com a China e acho que Macau pode ter um papel importante na ligação do mercado chinês e acho que Macau pode ter um papel importante na ligações com os países de língua portuguesa. Macau, mais do que a oportunidade, tem a capacidade de aderir ao digital e às novas tendências de empreendedorismo? Tem e não tem. Por um lado, Macau tem um grande desafio porque é um território muito dependente de poucas indústrias, tal como o jogo, o turismo e imobiliário. São indústrias que dão muito dinheiro, e também tem uma Administração Pública muito forte. A maior parte do talento e dos investidores estão nessas indústrias, e o custo de se fazer outras coisas é muito alto. O incentivo para diversificar é muito baixo, o que faz com que seja muito difícil criar oportunidade e interesse nos jovens empreendedores, ou potenciais, para explorarem outro tipo de negócio. Numa fase de capital de risco, os investidores vão, muito provavelmente, optar por investir em negócios mais tradicionais. Tenho acompanhado a evolução nos últimos anos e há uma vontade política para a diversificação e uma visão de estratégia mais alargada da presença do território no delta do rio das pérolas e a relação que Macau possa ter com os países de língua portuguesa nos próximos anos, dada a inauguração da nova ponte e uma maior interligação ao nível dos transportes. Há dinheiro para investir no digital e na tecnologia, o Governo de Macau pode investir em projectos de cidades inteligentes e na estruturação da maior parte das áreas. Acima de tudo, é preciso fazer um trabalho para atrair investimento e empreendedores para essa região e de articulação de Macau com as restantes cidades na região. O secretário Lionel Leong [da tutela da Economia e Finanças] tem uma visão para esta área. Mas há muitos tipos de empreendedorismo. Pareceu-me que está muito ligado ao turismo, e com negócios que podem ser apenas locais, e também ligado às indústrias criativas. Também há coisas novas que se podem explorar, e é uma aposta que Macau quer fazer, na área da saúde e das cidades inteligentes. Tenho visto uma mudança muito grande. Viveu em Macau e o seu pai [Vasco Rocha Vieira] foi o último governador português de Macau. Havia apenas a Universidade da Ásia Oriental e agora há mais oferta educativa. A pouca aposta no ensino superior nas décadas de 80 e 90 poderão ter influenciado este atraso que Macau ainda tem no sector empresarial, em comparação com Hong Kong? Pelo que sei, houve uma aposta muito forte para que Macau tivesse algumas bases. Hong Kong tem mais universidades mas tem uma dinâmica completamente diferente, com maior presença do sector privado. Muito do que existiu ao nível do ensino superior até foi uma aposta de Portugal, mas é difícil criar projectos de longo prazo. Foi feita uma aposta em torno do Direito, protocolos com a Universidade Católica Portuguesa, Universidade de Coimbra. Na altura, a realidade da região era completamente diferente e a China teve uma enorme mudança nos últimos anos. Os jovens que queriam estudar iam para fora, onde havia boas universidades, e as pessoas de Macau são bem formadas. Ao nível do ensino superior são precisas estratégias de longo prazo e acho que muito se fez na altura. Diria que não há falta de qualificações nas pessoas da minha geração. O liceu de Macau, onde estudei, era muito bom. Mas houve uma evolução enorme em todo o ensino superior na Ásia, hoje muitas universidades da China estão nos rankings mundiais. Tem mais a ver com a cultura e não com a educação, pois trata-se de um território pequeno. O meu pai tinha uma grande preocupação quanto à falta de espaço, pois nem havia terrenos para construir universidades. Estava tudo planeado, mas não houve tempo dentro da Administração portuguesa. Mas sei que era uma preocupação muito grande. Há projectos específicos que a Beta-i esteja a preparar com Macau? Vai haver uma delegação de Macau e China em Portugal no final deste mês [Maio], e o objectivo é estreitar relações entre Portugal e Macau. Vão ser assinados alguns protocolos e o objectivo é criar aqui ângulos de cooperação. Há alguns projectos que estão a ser trabalhados, mas é um bocado cedo para os revelar. O que se pretende é que, no final do mês, comecem a ser assinados os primeiros protocolos para que comece a ser feita uma maior ligação entre a Beta-i e Macau, com organizações locais. A Beta-i organiza também o evento Lisbon Investment Summit. As empresas de Macau poderão vir a participar? Sim, e penso que a Websummit, que não é organizada por nós, também é um óptimo evento para que Macau conheça o que se está a fazer nesta área. Não foi só Macau que mudou muito, Portugal também. Perceber esta nova dinâmica é muito interessante. O que é preciso melhorar nas relações entre a China e Portugal? Parece que há ainda algumas diferenças para resolver. É preciso que as empresas portuguesas percebam melhor o contexto chinês, e vice-versa? Claro. Há certas coisas que demoram tempo. Acho que Portugal fez um erro. Durante a Administração portuguesa foi feito um esforço para mostrar aos empresários portugueses o potencial que a China e Macau tinham. Houve pouco aproveitamento, e mesmo no contexto dos países de língua portuguesa, acho que as empresas portuguesas sempre tiveram um pouco de costas voltadas para a China, não perceberam o valor e não perceberam o que é preciso fazer. Não há uma via verde e não basta pensar que Macau era território português e que, com isso, as portas abrem-se. É preciso trabalhar muito e a China hoje em dia é um mercado super complexo, muito competitivo e de difícil entrada. Está a abrir mais, e da experiência que tenho tido com o contacto com a China é que existe uma maior abertura para novos produtos, novos contactos e parcerias. Macau não pode ficar parada no tempo e os portugueses têm de perceber que podem explorar muito mais o mercado chinês, e que, dadas as afinidades culturais, podem usar Macau para isso. São importantes as relações institucionais e o Governo chinês tem mandado mensagens muito claras que Macau tem esta importância para as relações com os países de língua portuguesa e Portugal, sobre a diversificação do território e quanto à nova posição da China sobre a política “Uma Faixa, Uma Rota”. O que é preciso é que isto passe para o nível dos empresários e não fique apenas na política. Há o enquadramento e Macau tem vantagens e desvantagens. Se calhar para muita gente é mais fácil ir directamente à China do que estar a ir para Macau. Acabou por enveredar pela área dos negócios. Nunca pensou seguir os passos do seu pai, numa carreira como militar ou na política? (Risos) Militar, de todo. Política, acho que o meu pai foi sempre um político atípico e foi mais chamado para desafios de Estado, não um político. Foi chamado para desafios que assumiu com responsabilidade e com sentido de Estado. Hoje em dia, vejo que ao ter criado uma associação, a minha forma de estar no mundo, de dever cívico, foi fazer algo que tenha impacto. Penso que ao criar a Beta-i contribui para uma mudança no meu país e na minha geração. Penso que há muitas formas de ter impacto na sociedade e a minha foi esta, mas nunca se sabe o que há-de acontecer. Comecei na banca, mas depois percebi que não estava talhado para isso.
Hoje Macau China / ÁsiaFundador de grupo que queria o Novo Banco recorre de pena [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] fundador do grupo Anbang, que foi apontado como candidato à compra do Novo Banco, recorreu da pena de 18 anos de prisão a que foi condenado este mês por fraude, anunciou ontem um dos seus advogados. Em 10 de Maio, Wu Xiaohui, que fundou a Anbang em 2004, foi considerado culpado por um tribunal de Xangai de ter enganado investidores e abusado do seu cargo em benefício próprio. O tribunal ordenou ainda a confiscação dos seus bens, no valor de 10.500 milhões de yuan (1.400 milhões de euros). Chen Youxi, advogado da Capital Equity Legal Group, anunciou ontem nas redes sociais que Wu recorreu da pena. O magnata foi detido em 2017 e, em Fevereiro passado, o regulador chinês assumiu as operações do Anbang Insurance Group, depois de uma vaga de aquisições por todo o mundo ter suscitado dúvidas sobre a origem do dinheiro e a sustentabilidade do grupo. Em Março passado, surgiu na televisão estatal chinesa a declarar-se culpado, apesar de ter inicialmente negado as acusações, segundo documentos do tribunal. O magnata possuía e controlava mais de 200 empresas que detinham participações na Anbang, de forma a assegurar um “controlo absoluto” sobre o grupo. Em 2011, por decisão de Wu, a seguradora lançou um novo produto para investidores e falsificou documentos para obter a aprovação da Comissão Reguladora de Seguros da China. O regulador impôs limites às vendas daquele produto, com base no estado financeiro da Anbang, mas Wu emitiu relatórios de contas falsos para convencer os investidores da sustentabilidade do grupo. Até Janeiro passado, aquele produto captou 724 mil milhões de yuan (mais de 93 mil milhões de euros) a partir de 10,6 milhões de investidores, superando os limites de capital estipulados pelos reguladores. Segundo o tribunal, Wu usou 65.200 milhões de yuan (mais de oito mil milhões de euros) para investir em projectos, saldar dívidas e “levar um estilo de vida luxuoso”.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim diz que taxas alfandegárias quebram acordo com Washington A China assegurou ontem que a decisão dos Estados Unidos de impor taxas alfandegárias de 25 por cento a vários produtos tecnológicos chineses vai contra o acordado entre os dois países para evitar uma guerra comercial [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Ministério do Comércio chinês reconheceu, em comunicado, que o anúncio da Casa Branca foi uma surpresa e pediu a Washington que actue segundo a declaração conjunta, feita há duas semanas. Na terça-feira, o Presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que vai aumentar os impostos sobre uma lista de produtos chineses que Washington considera violarem direitos de propriedade intelectual. No conjunto, aqueles produtos valeram 50.000 milhões de dólares (cerca de 43 mil milhões de euros) de exportações chinesas para os EUA, no ano passado. “A partir de agora, esperamos que as relações comerciais sejam justas e recíprocas”, afirmou Trump. Por outro lado, o Ministério do Comércio chinês escreveu: “Quaisquer que sejam as medidas adoptadas pelos EUA, a China tem a confiança, a capacidade e a experiência para defender os interesses do povo chinês e os interesses fundamentais do país”. A Casa Branca acrescentou que vai impor novas restrições aos investimentos chineses no país. A decisão surgiu apenas uma semana depois de Pequim se ter comprometido a “aumentar significativamente” as compras de produtos agrícolas e recursos energéticos norte-americanos, após negociações entre ambos os países. Patentes da discórdia No entanto, não está previsto que Pequim pare de subsidiar empresas do sector tecnológico e garanta uma melhor proteção dos direitos de propriedade intelectual das empresas norte-americanas, as principais causas de fricção com os EUA. A decisão de Washington foi anunciada na véspera do secretário do Comércio dos EUA, Wilbur Ross, visitar Pequim, visando continuar as negociações com as autoridades chinesas. Pelas contas de Washington, no ano passado, a China registou um excedente de 375,2 mil milhões de dólares – quase o dobro do Produto Interno Bruto (PIB) português – no comércio com os EUA. Donald Trump exigiu a Pequim uma redução do défice dos EUA em “pelo menos” 200.000 milhões de dólares, até 2020, visando cumprir com uma das suas principais promessas eleitorais. Trump quer ainda taxas alfandegárias chinesas equivalentes às praticadas pelos EUA e que Pequim ponha fim a subsídios estatais para certos sectores industriais estratégicos.
Hoje Macau SociedadeTailândia | Macau no Fórum Mundial da Organização Mundial do Turismo [dropcap style=’circle’] O [/dropcap] Governo de Macau está a participar no 4.º Fórum Mundial da Organização Mundial do Turismo, em Banguecoque, que tem como foco o uso da tecnologia em prol de desenvolvimento sustentável do turismo gastronómico, anunciaram ontem as autoridades. De acordo com o comunicado da Direcção dos Serviços de Turismo, a directora, Maria Helena de Senna Fernandes, partilhou a experiência de Macau no desenvolvimento do turismo gastronómico, dando ênfase ao facto de, no ano passado, Macau ter entrado para a Rede de Cidades Criativas da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) na área da Gastronomia. Sob o tema “Potenciar o Poder da Tecnologia e Propostas com Novos Valores Condutores a um Impacto Mundial Positivo”, a diretora dos Serviços de Turismo marcou ontem presença num debate com, entre outros, o ministro do Turismo, Comércio e Assuntos do Consumidor da Comunidade Autónoma Espanha País Basco, Alfredo Retortillo Paniagua, onde discutiram o aproveitamento do turismo gastronómico para fomentar o desenvolvimento sustentável do turismo e da competitividade dos destinos. De acordo com o comunicado, o evento, que decorre na capital da Tailândia até amanhã, “atraiu 730 participantes em representação de governos e do sector privado, da área do turismo, gastronomia e tecnologia, oriundos de 35 países e regiões”.
Hoje Macau China / ÁsiaIsrael não confirma cessar-fogo anunciado pelo Hamas [dropcap style=’circle’] O [/dropcap] ministro dos Serviços Secretos de Israel escusou-se ontem a confirmar o cessar-fogo anunciado pelo movimento de resistência islâmica Hamas e prometeu cobrar os disparos contra o território israelita na terça-feira. “Israel não quer que a situação se deteriore, mas quem quer que tenha começado a violência deve pará-la”, assim, “Israel fará [o Hamas] pagar o preço por todos os disparos contra Israel”, disse Yisrael Katz, numa entrevista à rádio estatal, sem confirmar o acordo. Em contrapartida, os militantes do Hamas garantiram esta manhã ter negociado um cessar-fogo com Israel. “Os mediadores egípcios intervieram assim que a resistência conseguiu pôr fim às agressões”, disse o vice-chefe do Hamas em Gaza, Khalil al-Haya, acrescentando que os “militantes em Gaza se comprometerão com o cessar-fogo enquanto Israel também o fizer”. Em resposta a estas declarações, o ministro da Educação de Israel, Naftali Bennett, declarou à rádio do exército que “nenhum acordo foi alcançado ainda”. Na terça-feira, também a Jihad islâmica deu conta da conclusão de um acordo de cessar-fogo entre os movimentos palestinianos e Israel, sob mediação do Egipto, após um dia de confrontos na fronteira da Faixa de Gaza, um mais graves entre Israel e os grupos armados palestinianos desde a guerra de 2014. Os braços armados dos movimentos islamitas palestinianos Hamas e Jihad Islâmica reivindicaram, num raro comunicado em conjunto, a responsabilidade dos disparos de granadas de morteiro e de foguetes em direcção a Israel a partir da Faixa de Gaza. Em resposta aos disparos, Israel já declarou ter atingido 60 objectivos militares ligados ao movimento de resistência islâmica Hamas, na Faixa de Gaza. O Egipto, antiga potência dominante em Gaza e um dos dois únicos países árabes que mantêm relações oficiais com Israel, desempenha tradicionalmente a função de intermediário com os grupos palestinianos.
Hoje Macau SociedadeAcentuam-se medidas de prevenção contra dengue e zika [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde anunciaram ontem que vão intensificar as medidas de prevenção e as acções de eliminação de mosquitos, para reduzir o risco de propagação da febre de dengue e do vírus Zika. As medidas de prevenção vão ser aplicadas “em 122 locais com maiores incidências de queixas de higiene”, de acordo com um comunicado. Os Serviços de Saúde referiram ainda que até ao momento foram registados “três casos importados de febre de dengue do sudeste da Ásia e as queixas registadas sobre a proliferação de mosquitos, este ano, são maiores do que no período homólogo do ano passado”. Por estas razões, os Serviços de Saúde decidiram implementar medidas de prevenção da proliferação de mosquitos. As autoridades indicaram ainda terem aumentado a frequência de inspecções e desinfestação química em locais que consideraram ser de elevado risco, como floristas, templos, hotéis e postos fronteiriços. Por fim, os Serviços de Saúde pediram aos residentes do território que tomem medidas de prevenção, como a eliminação de águas estagnadas nas zonas perto de habitações e do local do trabalho, para que a possibilidade de proliferação de mosquitos seja menor. Em 2017, foram registados em Macau pelo menos 16 casos de febre de dengue.
Leocardo VozesOs nomes da morte [dropcapstyle=’circle’] F [/dropcap] oi ontem (terça-feira) a votos a proposta de despenalização da Eutanásia, e tal como seria de esperar, foi rejeitada por cinco votos. É um tema sem dúvida fracturante – diria mais, uma das grandes questões dos nossos tempo – ao ponto de nem toda a gente gostar de lhe chamar “Eutanásia”. Há quem prefira “morte antecipada”, ou ainda “suicídio assistido”, mas chame-se o que lhe chamar, está intimamente ligado ao conceito da morte. É um dos seus muitos nomes. Portugal é ainda um país conservador, e sempre foi desconfiado das ideias mais progressistas. Vendo bem as coisas, preferimos que os outros avancem primeiro, e depois se gostamos do que vemos, avançamos também. Eu sou a favor do diploma que foi agora recusado, mas entendo e aceito que não exista uma preparação para ele. Falta um debate nacional mais alargado, usando um lugar comum. Com o que não posso mesmo estar de acordo é com alguns dos argumentos que foram utilizados para votar contra a proposta. Vamos por partes. Consegue-se aceitar o argumento de que a despenalização da Eutanásia é para os profissionais de saúde, que actualmente incorrem do crime de homicídio caso ajudem um paciente a terminar com a vida, e alguns deles recusam-se a eutanasiar um ser humano. O senão é que esta despenalização não é para quem não aceita fazer Eutanásia a alguém, mas para quem tem uma outra perspectiva do tema, igualmente válida. Quem também se opôs com veemência foi o “lobby” dos opiáceos, reclamando que a Eutanásia levaria a um “desinvestimento na área da prestação de cuidados paliativos”. Não está em causa a utilidade – que é muita – deste tipo de assistência. Nunca esteve sequer em causa. Dos mais desonestos, houve quem estabelecesse um paralelo entre a Eutanásia e a eugenia nazi. Claro que este tipo de discurso populista desvirtua completamente todas as possibilidades de debate. Simpatizo com o receio de que a despenalização abriria portas a “qualquer uma” Eutanásia, alargando o seu âmbito inicial, mas isso seria não cumprir a lei. O que é sempre mau, em qualquer caso. Depois há que atender à parte metafísica da Eutanásia. De todos os nomes que lhe dão, um dos que se vê menos é “morte com dignidade”. Aparentamente, a palavra “dignidade” é demasiado abstracto para legisladores e políticos. Preferem atender a outros mais terrenos, como o da “fé”, da “esperança”, da “vontade de Deus” ou de “milagres” – tudo designações usadas e abusadas durante o curto período de debate público que precedeu a votação. Entendo que “enquanto há vida, há esperança”, mas a lógica diz-nos também que enquanto há menos vida, vai havendo menos esperança. Lamento não se ter dado voz aos pacientes de doenças degenerativas, como a distrofia muscular ou a Alzheimer. Pessoas cujo calvário passa por primeiro não conseguir andar, depois engolir, e finalmente respirar. Assim, por esta ordem, e de forma irreversível; esta proposta de despenalização da Eutanásia foi feita para estas pessoas. E quem somos nós, aqui de pé e com saúde, a bradar a viva voz que eles não têm direito à sua dignidade? Espero que essa dignidade seja recuperada o mais rapidamente possível. Discuta-se, então.
João Santos Filipe Manchete SociedadeCaso de troca de agressões resulta em sanções a alunos O Governo foi informado pela direcção da Escola Portuguesa que os alunos envolvidos no caso de troca de agressões foram castigados. DSEJ continua a acompanhar o caso, nomeadamente no que diz respeito ao processo crime [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Direcção de Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) está ainda está a seguir o incidente da troca de agressões entre dois alunos de 13 e 15 anos, em Março, e revelou que houve a aplicação de sanções aos alunos. O ponto da situação foi feito numa resposta ao HM. “A DSEJ continuou a manter contacto com os dirigentes da escola para acompanhar a respectiva situação, tendo solicitado à escola um relatório do incidente, que foi, entretanto, submetido a esta direcção de serviços no início de Maio. Este relatório incluiu o relato do incidente, o processamento imediato e os trabalhos de acompanhamento do mesmo”, afirmou a DSEJ, em resposta às questões do HM. “O Conselho de Turma da escola, acompanhou o incidente, resolveu aplicar sanções aos alunos envolvidos nos conflitos físicos e os agentes de aconselhamento também prestaram, periodicamente, serviços de aconselhamento aos alunos afectados”, foi acrescentado. A DSEJ não especificou os tipos de sanções aplicadas pela EPM, nem se foram aplicadas aos dois alunos, ou apenas a um. Recorde-se que o aluno de 13 anos esteve afastado das aulas durante várias semanas, após ter sofrido lesões na cabeça que resultaram em falhas de memória. Também horas mais tardes, o aluno de 15 anos acabou por passar pelo hospital. Apesar de o caso aparentar estar resolvido, continua a decorrer o processo crime, instaurado pelo pai do aluno de 13 anos, que a DSEJ diz estar acompanhar. Contudo, a prioridade passa por instigar as escolas a fazerem o trabalho de prevenção para evitar este tipo de situações. “Uma das partes envolvidas no incidente participou o caso junto do Corpo da Polícia de Segurança Pública e esta Direcção de Serviços acompanhou, activamente, os trabalhos de orientação e educação dos alunos, instando a escola a realizar os necessários trabalhos educativos de natureza preventiva, de forma a auxiliar os alunos a resolverem os seus problemas ao nível da comunicação interpessoal e do convívio com os pares, no sentido de construir, conjuntamente, uma atmosfera acolhedora e aceitável na escola”, foi referido. Recreios harmoniosos Na resposta enviada ao HM, a DSEJ faz ainda questão de sublinhar que tem como política a implementação de um ambiente harmonioso dos recreios das diferentes escolas do território. “A DSEJ solicitou à escola que assegure a boa saúde física e mental, bem como a segurança, dos alunos e que fique atenta às condições de saúde física e mental dos alunos afectados através dos agentes de aconselhamento. A escola deve esforçar-se por construir um ambiente harmonioso, através da colaboração com a família, bem como tratar os assuntos relativos aos comportamentos desviantes dos alunos, de acordo com o regulamento interno e as orientações acima referidas”, é vincado. O caso em questão aconteceu em Março do ano passado, quando um aluno precisou de ser internado, após uma troca de agressões. Apesar de ter apresentado falhas de memória e o incidente ter ocorrido de manhã, apenas depois da hora de almoço o aluno foi transportado para o hospital, onde acabou por ficar internado. Este foi um aspecto que a DSEJ não abordou na resposta ao HM. Apesar do incidente, na altura a direcção da Escola Portuguesa de Macau considerou os casos de violência residuais.
João Santos Filipe DesportoAniversário | Futebol Clube da Flora celebra 50 anos e junta grupo de amigos [dropcap style=’circle’] E [/dropcap] m 1965 um grupo de amigos macaenses juntou-se e conquistou o Campeonato Bolinha de juniores. O feito foi repetido no ano seguinte, só com vitórias, e o nascimento do Futebol Clube da Flora foi mesmo oficializado a 1 de Junho de 1968. Amanhã a instituição junta-se para celebrar as Bodas de Ouro. Fundado oficialmente em 1968, o Futebol Clube da Flora cumpre amanhã o 50.º aniversário, com um amigável no Campo D. Bosco e um momento para uma foto de família do clube. No entanto, as origens da instituição remontam a 1965, quando um grupo de jovens macaenses que viviam no Edifício da Flora – habitação para funcionários públicos – e nas zonas adjacentes se juntaram para participar no Campeonato de Bolinha na categoria de juniores. “Estive sempre muito longe de imaginar que o clube ia fazer 50 anos. Confesso que a data até me estava a passar despercebida. Foi o meu sobrinho que como está a tentar inscrever o clube na Bolinha me pediu para ver os estatutos do clube no Boletim Oficial. Foi nessa altura que reparámos na data”, afirmou, ontem, Francisco Manhão, um dos fundadores, ao HM. “Oficialmente são 50 anos, mas na verdade são 53 anos. No início era um clube de pessoas que viviam no edifício da Flora, no gaveto da Avenida de Sidónio Pais e naquela zona. Juntávamo-nos para jogar à bola, como grupo de amigos e estudantes que éramos. Dávamo-nos todos bem e um dia decidimos criar a equipa da Flora. Foi por acaso”, recorda Francisco José Manhão. “Depois ganhámos animação e mais tarde registámos o clube”, acrescentou. Bi-campeonato da Bolinha Essa animação ficou a dever-se aos resultados da equipa constituída pelos já falecidos Joaquim Dillon de Jesus, Alexandre Assis da Silva e também Daniel Albino Ferreira, César Augusto Pereira, Pedro da Rosa de Sousa, Júlio Noronha de Assunção e António Guerreiro, além de Francisco José Manhão. Entre 1965 e 1966, a equipa alcançou o bi-campeonato da Bolinha no escalão de juniores. “Em 1965 participámos pela primeira vez e ganhámos. Depois voltámos a conquistar a Bolinha em 1966. Foi um momento em que ficámos orgulhosos”, confessou Manhão, ao HM. “Disputámos dez jogos, cinco na fase regular e cinco nas eliminatórias, e ganhámos todos. Marcámos 75 golos e sofremos 8 golos. Foi uma marca que nos deixou um bocado orgulhosos”, reconhece. Com treinos no D. Bosco, a equipa era orientada por Manuel Matias da Silva: “Infelizmente já partiu. Foi um treinador muito importante para nós. Na altura, treinávamos muito cedo, porque ele tinha de trabalhar às nove. Então treinávamos logo às 7h da manhã no D. Bosco e ele depois ia a tempo para o trabalho”, aponta. Domingos complicados Com o avançar dos anos, a formação começou a jogar no escalão de seniores e alargou a participação ao Futebol de 11. A primeira participação no principal escalão valeu à equipa um terceiro lugar. Já no futebol de onze a estreia resultou num 4.º lugar. Mesmo assim, Manhão admite que um dos principais desafios passava pelo facto dos jogadores gostarem de sair nas noite de sábado, mesmo quando havia jogo no domingo: “Os jogos aos domingos eram os mais complicados porque ao sábado íamos para a paródia… É a vida. Íamos ouvir música, beber e outras coisas. Nessa altura tínhamos essa desvantagem. Mas não foi mau porque mesmo assim ficamos em quarto nos seniores”, considerou o membro fundador do clube, em tom divertido. Finalmente, em 1969 a equipa ficou praticamente parada devido ao facto dos atletas precisarem de cumprir o serviço militar. Mesmo assim, ao longo dos anos o clube foi participando em competições de forma intercalada. Essas participações esporádicas valeram mesmo um título da 2.ª Divisão da Bolinha, no finais dos anos 70 e inícios dos anos 80, numa equipa que contava além de Francisco Manhão com Jaime Madeira, Jeremias Madeira, Humberto Évora, Mário Évora, Mário Alberto, Rui Izidro ou Aleixo Nunes. Domingos Tang Borges era o treinador. Por outro lado, a instituição foi expandindo as participações a outras competições como o hóquei em campo, hóquei em patins ou, mais recentemente, o voleibol. As últimas duas modalidades ainda estão activas e este ano o Futebol Clube da Flora ganhou o título de Macau de hóquei patins no escalão que integra os sub-14 até aos sub-19. Nesta altura, também tem a possibilidade de alcançar o título de hóquei patins no escalão até aos sub-14. Festa no D. Bosco Vários membros do clube voltaram a reunir-se ontem para assinar, numa conferência de imprensa, o aniversário. Mas as principais festividades estão agendadas para a sexta-feira, com uma foto de família e amigável no D. Bosco e, mais tarde, um jantar. Apesar disso, os membros costumam encontrar-se de forma regular. “Ainda nos encontramos com regularidade e, de vez em quando, almoçamos aqui na APOMAC”, contou Manhão.
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasDos glúteos: recomendações [dropcapstyle=’circle’] S [/dropcap] ou de uma geração que ainda não tinha descoberto os glúteos. E que ainda não lia nos dicionários: Os glúteos formam a parte mais apreciada pelos homens. Não me lembro de Ginsberg a gabar os glúteos, embora tenha belos poemas de elogio ao caralho, ao qual também podemos classificar como artefacto, se o entendermos como um objecto desenvolvido a partir de uma produção mecânica e para uma finalidade específica. Posto o repetitivo e maquinal adestramento das mãos convocado pelo membro masculino podemos encostá-lo à ordem dos objectos de mais uso, ainda que uma vez por outra seja o plinto para um modo relacional. Cada palavra nova tem o seu Bartolomeu Dias, aquele que a descobriu e potenciou e socializou, ao proferir: Que belos glúteos! Em Moçambique há um herói para o primeiro tiro, aquele que inaugurou os actos de guerrilha da Frelimo. Quem será o cowboy que enrolou primeiro a língua nos dentes, para soltar a sentença: Àqueles glúteos, mordia-os todos! Se soubesse quem era oferecia-lhe um cd dos Penicos de Prata. O que é certo é que foi, com certeza, contraindo os glúteos (ou relaxando-os?) que António Costa confidenciou aos militantes: «Estamos onde sempre estivemos e estaremos exactamente onde estamos!». Melhor e mais substancial era difícil porque ao vazio da ideia acrescentou-se o glúteo. Tomada pelo glúteo foi igualmente Ana Catarina Mendes, que alçada sobre os seus três empinados músculos, arrancou aplausos da plateia com o inaudito: «vamos ganhar as próximas eleições legislativas porque António Costa merece continuar a ser primeiro-ministro e porque os portugueses merecem António Costa!». Bem, o vácuo a pedal nos glúteos talvez dê uma câmara-de-ar! Está garantida uma bicicleta para cada português na campanha! Sempre adorei gente com imaginação. Faz-me lembrar quando me contratam por causa das minhas supostas qualidades e depois afinal só querem o pior de mim, só me restando observar: está bem visto! Está bem visto que com tanta imaginação o Costa terá a merecida maioria absoluta, porque o povo mais não pede que um pedestal para pousar o glúteo! Há glúteos do catatau. Infelizmente não conheço todos. Só há uma condição em que os glúteos são inservis: em estátua. Contava-me o meu amigo João de Deus (onde foi ele buscar aquela ideia que depositou no livro A Paixão Segundo João de Deus, de que «o ouro é o minete da alma!»?) que uma filha do Imperador Augusto se entregava toda a noite ao desfrute das vergas em pedra das estátuas do templo de Minerva. Membros inapelavelmente erectos – que pensam vocês! – onde os seres carenciados podem ter a sua jangada. Já os glúteos de uma estátua não favorecem manobras similares. É uma pena, visto que politicamente têm outro potencial. Eu já decidi, depois de me finar terei um gesto politicamente correcto e doarei os meus glúteos à ciência. Esperem, passou agora por mim um glúteo que me fez sonhar. Tenho de ir aos lavabos. A sarapitola, vocês conhecem? 29/05/18 Dia cinco, na próxima terça, no Bar Irreal, em Lisboa terá lugar o lançamento do primeiro volume da minha obra poética, Oitenta Flechas para Atrair a Cotovia 1, que reúne dois glúteos, perdão, dois livros empinados: Harpo Marx na Jaula dos Leões, de 2013, e Os Testamentos Apátridas e Outros Cordéis sem Alma, de 2017. Este último livro foi um livro feliz que escrito de um jacto, como só é autorizado fazermos depois de trinta anos de rodagem, e poucas alterações conheceu, para além da habitual dança dos adjectivos. É dele o poema que aqui deixo, Talvez um gonzo: Na específica área da gandulagem/ progredi pouco além do que seja próprio a um zingarelho./ Não consegui ser firme a aceitar que o mal/ é o látego do ar./ O desnorte deste pífio desempenho não é só meu./ Na Idade Média, os monges compuseram os Cantos/ Gregorianos acreditando ser a música cantada por anjos/ e santos, no Céu./ Algo se perdeu no caminho,/ talvez um gonzo.// Desconfio que à consciência de que herdamos o mundo/ como o oco de um lugar mudo/ que a palavra escava ou preenche com pão d’água/ se segue que confundimos esta acção com o silêncio, /erro tão grotesco/ como julgarmos que é a espuma/ da escuna o que faz mover a quilha.// Estamos desde que nascemos a sós/ com as nossas inconfessáveis inabilidades/ e a tal ponto assustados que amiúde dizemos amo-te/ quando se abriu no dique a fissura./ Algo se perdeu no caminho,/ talvez um gonzo.
Hoje Macau SociedadeMais de 4,5 milhões de pessoas em hotéis e pensões até Abril [dropcap style≠‘circle’]M[/dropcap]ais de 4,5 milhões de pessoas alojaram-se nos hotéis e pensões de Macau nos primeiros quatro meses do ano, um acréscimo de 8,8 por cento comparativamente ao período homólogo de 2017, indicam dados oficiais divulgados ontem. Segundo a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), ao todo pernoitaram 4.518.000 hóspedes, numa média de 1,5 noites. A taxa de ocupação média atingiu 88,9 por cento, mais 4,7 pontos percentuais do que no mesmo período do ano passado. No final de Abril estavam registados do território de Macau 115 hotéis e pensões, representando, em conjunto, 39 mil quartos, já a oferta nos hotéis de cinco estrelas foi de 24 mil, o mesmo número que no mês anterior, mas mais 7,9 por cento, em termos anuais. De acordo com a DSEC, só no mês de Abril alojaram-se nos hotéis e pensões da região 1.165.000 hóspedes, uma subida de 7,6 por cento em termos anuais. O número de hóspedes provenientes da China continental (792.000) registou um aumento de 16,8 por cento, em termos anuais, enquanto os de Taiwan (43.000) subiram 4,5 por cento, no mês de Abril. Em queda está o número de hóspedes de Hong Kong, que diminuiu 19,5 por cento, para 135 mil. Também o número de turistas sul-coreanos registou uma descida de 3,6 por cento. O território recebeu, entre Janeiro e Dezembro de 2017, mais de 29,5 milhões de visitantes. O visitante refere-se a qualquer pessoa que tenha viajado para Macau por um período inferior a um ano, um termo que se divide em turista (aquele que passa pelo menos uma noite) e excursionista (aquele que não pernoita). As unidades hoteleiras de Macau receberam mais de 13.155 milhões de hóspedes em 2017.
João Santos Filipe Manchete SociedadeANIMA diz que Yat Yuen está a tentar ganhar tempo no terreno Em vez de estar a trabalhar para resolver a situação dos mais de 600 galgos que estão no Canídromo, a Companhia de Corridas de Galgos de Macau está a fazer tudo para continuar a ocupar o terreno após Julho, altura em que de acordo com o Governo devia deixar o terreno. É a tese do presidente da ANIMA [dropcap style≠‘circle’]M[/dropcap]ais do que resolver a situação dos cerca de 600 galgos do Canídromo, o principal objectivo da Companhia de Corridas de Galgos de Macau (Yat Yuen) é ganhar tempo para continuar a ocupar o terreno onde se realizam as corridas. É esta a convicção de Albano Martins, presidente da ANIMA, que acusa ainda a empresa liderada por Angela Leong de recusar a cooperação da associação de protecção de animais no esquema de adopção dos galgos. “Entrámos em contacto com o Canídromo e eles disseram-nos para informar as pessoas que se mostraram disponíveis para adoptar galgos a preencherem no site deles uma ficha de adopção. Só que no portal deles não há ficha de adopção, apenas uma linha de apoio e um endereço de email”, afirmou, ontem, Albano Martins, ao HM. “Eles dão-nos sempre essa resposta. Quando tentamos falar com eles é uma conversa de surdos. Mas mesmo que houvesse fichas de site, como poderíamos pedir a pessoas fora de Macau que preenchessem fichas em chinês? Eles estão apenas a querer queimar tempo”, acrescentou. É por esta razão que Albano Martins acredita que o objectivo da empresa passa apenas por tentar ficar mais tempo no Canídromo. “A minha opinião, de longa data, é que eles querem ficar naquele espaço mais tempo”, apontou. “Acho que vão consegui-lo porque não estou a ver o Governo a mandá-los embora imediatamente, quando ainda têm 650 animais. Mais uma vez, Angela Leong vai levar a sua avante”, justificou. Por outro lado, Albano Martins previu também que a Yat Yuen vai falhar o prazo para a entrega do plano que resolva o destino dos cães. Segundo o Governo, a empresa liderada pela deputada Angela Leong tem até hoje para explicar ao Executivo o que vai fazer com os cães. “Ela tem até amanhã [hoje] para entregar o plano. Mas a arrogância nestes processos é tanta que tenho muitas dúvidas que entreguem qualquer plano a tempo”, considerou. Altura de crescer O presidente da ANIMA criticou também as intenções reveladas por Angela Leong de transportar os galgos para o Interior da China. Albano Martins vincou que está na altura de Macau começar a resolver por si os problemas, sem recorrer sempre ao Interior da China “Este é um problema que tem de ser Macau a resolver. Não se pode estar constantemente a passar os problemas para o Continente”, julgou. “Tiveram mais do que tempo suficiente para preparar tudo desde que o Governo lhes indicou que tinham de sair do Canídromo”, considerou. Também o outro lado da fronteira não se afigura como o local mais indicado para enviar os galgos: “Não pode ser no Continente, porque na maior parte do Interior os animais não são autorizados como animais de estimação. Se forem para o Continente ou vão acabar no prato ou numa pista de corridas, muito provavelmente com apostas ilegais”, indicou. Albano Martins apontou também o dedo ao Governo, a quem apelou que assuma as suas responsabilidades: “Macau tem um grande papel a desempenhar que é convencer a Angela Leong a ter uma postura civilizada, a salvar os animais e arranjar-lhes um família”, frisou.
Sofia Margarida Mota EventosPedro Moutinho, fadista | “Existe liberdade quando canto” [dropcapstyle=’circle’] P [/dropcap] edro Moutinho, irmão de Camané e de Hélder Moutinho, dá hoje o concerto que encerra o Festival de Artes de Macau deste ano. Amante do Rock, é a cantar o fado que se sente livre. Ao HM, o intérprete falou da nova geração de fadistas e da sua opção por uma vertente mais tradicional Como é que o gosto do seu pai pelo fado influenciou a sua carreira? O meu pai era muito ligado ao fado. O avô dele, o José Júlio, já cantava no bairro da Madragoa. Como o meu pai gostava de cantar e de música, em miúdo ia muito às casas de fado com ele. Íamos todos os fins-de-semana. A primeira vez que cantei foi com oito anos. Na altura, havia poetas que escreviam letras para crianças, para não ser uma canção tão pesada. Lembro-me de ter chegado a ouvir miúdos a cantarem letras que incluíam “Ela deixou-me” e este tipo de coisas. Os meus pais não me deixavam cantar isso. Essa minha infância a acompanhar o meu pai acabou por ser uma escola. Acabei por ouvir, desde miúdo, os melhores intérpretes de fado tanto ao vivo como em disco. Como é que depois optou por ter o fado como carreira, numa altura em que este género não era tão popular como é agora? O fado esteve sempre presente. Sempre ouvi outros tipos de música, mas este era aquele bichinho. Quando dei por mim já pedia ao meu pai para me levar às casas onde eu gostava mais dos músicos. O fado estava sempre presente. Era aquela coisa de que gostava e que gosto. O que sente quando canta? Existe liberdade quando canto. Não consigo explicar. O fado é uma coisa muito relacionada com o sentir. Depois há a união com o público. Há o sentir que estou a ser ouvido e que as pessoas estão comigo. Acaba por ser uma coisa que pertence àquele momento. Cantar poemas e canções que gosto, é muito bom. Como é que escolhe as letras que canta? Sou muito esquisito. O poema às vezes pode ser lindíssimo, mas se tem lá uma palavra que não gosto, já não o canto. Depois a escolha é feita por identificação, em que há qualquer coisa de mim que está naquele poema. Tenho também tido muita sorte com as pessoas que escrevem para mim, que são os melhores, e isso é fantástico. Considera-se parte desta nova geração do fado? Uma parte sim, uma parte não. Venho mais de trás. A minha geração ainda é mais dos anos de 1990. O fado começou a ganhar mais popularidade, na minha opinião, depois da morte da Amália Rodrigues. A partir daí começaram a aparecer muito mais jovens a cantar, alguns que vieram de fora deste género e outros que já cantavam. A Amália foi a primeira no que respeita à internacionalização do fado, depois foi a Mísia. Elas abriram a porta para eu estar aqui hoje. Só mais tarde é que apareceu a Mariza, a Ana Moura ou a Carminho. Eu faço parte ali de uma geração intermédia. De qualquer forma começou numa altura em que o fado não era tão popular. Foi difícil o início de carreira? Nada é fácil. O fácil é uma ilusão. Sempre tive que trabalhar muito para conseguir as coisas e continuo a ter de o fazer. No início comecei pelo percurso da casas de fado. Comecei a cantar profissionalmente lá para os lados de Cascais. Havia uma casa que era o Forte de D. Rodrigo que abriu nos anos 70 e fechou nos final dos anos 90. Tinha por volta de 16/17 anos, e o gerente do forte vivia ao lado da casa dos meus pais e começou-me a convidar para ir lá fazer os fins-de semana já a ganhar um cachet por noite. Depois da tropa vim para Lisboa. Um dia fui até ao Bairro Alto, pedi para cantar no Luso e, de repente, pediram-me o número de telefone e começaram-me a chamar. Na altura, era o mais novinho. Os meus colegas eram tudo pessoas dos 50 anos para cima tirando uma colega minha. Havia muito poucos jovens a cantar. A seguir, na viragem do século, começaram aparecer os nomes desta nova geração. Havia uma coisa que achava piada: na altura, a crítica jornalística referia muito que se andava à procura da nova Amália. Mas qual nova Amália? Foi também quando o meu irmão Camané fez um concerto fantástico no Centro Cultural e houve mesmo um crítico que referiu que parecia que a tal nova Amália era um homem. Vem tocar acompanhado pela orquestra de Macau. Como é que está a ser esta experiência de ser acompanhado por instrumentos orientais? Está a ser das melhores experiências da minha vida. Os arranjos estão fantásticos. Estava com alguma expectativa positiva. Mandámos as músicas, a Orquestra de Macau tratou de tudo. Chegámos para o ensaio, tocámos duas vezes cada tema e pronto. Estava tudo óptimo. São instrumentos diferentes, mas estamos a falar de música. O fado, e o meu que é mais tradicional, é um tipo de canção melodiosa e estes instrumentos são também instrumentos muito melodiosos. Fica tudo muito bonito quando se juntam. Com esta experiência com orquestra de Macau estou cheio de vontade de voltar a cantar com eles. O fado tem guitarra, viola e baixo e tem uma melodia simples e bonita. Quando chega uma orquestra com aquele encher dos instrumentos todos, fica incrível. E o maestro é fantástico. Além do fado, que música ouve? Nasci nos anos 70 por isso apanhei os 80 e os 90. Sempre ouvi rock. Led Zeppelin Metallica, Pixies, consumia tudo. Por influência dos meus irmãos, também ouvia muita música brasileira: Chico, Caetano, Betânia, Elis, João Gilberto. Gosto de jazz. Gosto também de Frank Sinatra e de Tony Bennett. Não aprecio muito música electrónica. Sou capaz de ir para o Lux e estar uma noite a divertir-me, mas não é o tipo de som que ouço em casa. Às vezes passam-se semanas que não ouço fados também. Já esteve em Macau. Como é que sente o público cá? O público português é sempre diferente. O que reparei no público de Macau, na última vez que cá estive, foi o facto de estar sempre com muita atenção, mas mais tímidos. Também se nota que é um público que gosta muito do espectáculo, principalmente no final em que assinamos os discos. Há uma situação engraçada de um senhor chinês de Hong Kong, que é meu fã, e que veio ver o concerto. No final estava a assinar os discos e ele aparece com os meus discos todos inclusivamente o primeiro e o segundo que nem eu tenho e que já não há nas lojas. Nem gosto do meu primeiro disco. O primeiro trabalho é para cometer erros. Há pessoas que têm logo sorte e corre bem mas não foi o meu caso. Se calhar é um problema meu. Tenho dificuldade em me ouvir. Já está a trabalhar num novo disco? Vou começar a gravar um trabalho novo este ano. Vou seguir a minha linha tradicional com algumas coisas novas. Estou a abrir um bocadinho o leque a compositores fora do fado. Estou à espera de receber músicas. Esta é aquela fase mais deprimente. Um disco é sempre um processo muito ansioso em que há muitas incertezas. Sou muito picuinhas e preocupo-me muito quando se calhar não me devia preocupar tanto. Levo isto muito a sério e se calhar às vezes podia ser um bocadinho mais leve. Até estar tudo feito não consigo relaxar.
Hoje Macau SociedadeResidentes de Macau alvo de alegada burla em Zhuhai [dropcap style≠‘circle’]C[/dropcap]erca de cinco centenas de investidores, incluindo de Macau, foram alegadamente vítimas de burla num negócio de compra de fracções comerciais em Zhuhai. Segundo cartas enviadas na noite de segunda-feira ao HM, assinadas por proprietários das fracções comerciais da Yangming Plaza, em Zhuhai, os espaços, que adquiriram para investimento foram hipotecados. De acordo com os investidores, o processo de arrendamento das lojas a terceiros foi entregue a uma empresa em Zhuhai. A descoberta de que as fracções comerciais tinham sido hipotecadas por um banco deu-se depois de, este mês, terem deixado de receber as respectivas rendas das fracções compradas no início de 2016. Os cerca de 500 proprietários, que alegam ter investido 200 milhões de renminbis no referido centro comercial, referem que endereçaram uma missiva ao Governo de Zhuhai, mas que não receberam qualquer resposta até ao momento. Se não for entretanto encontrada uma resolução, os investidores garantem que vão comunicar o alegado caso de burla a instâncias superiores.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeDavid Chow recebeu propostas de empresas do exterior A Macau Legend Development diz-se disposta a concorrer a uma licença de jogo caso a ligação à Sociedade de Jogos de Macau não continue. David Chow disse que tem sido contactado por potenciais parceiros “da China, da América e da Europa” que mostraram interesse em investir em Macau, revelando a possibilidade de futuras parcerias para o desenvolvimento da Doca dos Pescadores [dropcap style≠‘circle’]D[/dropcap]avid Chow, CEO da Macau Legend Development, proprietária do empreendimento Doca dos Pescadores, disse ontem que existe a possibilidade da empresa se manter no mercado com a Sociedade de Jogos de Macau (SJM), ou sem a concessionária, caso os trâmites do actual contrato mudem aquando da renovação das licenças dos casinos. “Temos um contrato com a SJM e, se não tivermos a concessão, claro que a minha empresa vai tentar concorrer para ter a sua própria licença de jogo”, frisou ontem o empresário à margem da assembleia-geral da empresa a que preside. No passado dia 17, a sua mulher e ex-deputada, Melinda Chan, agora responsável pelos negócios que a empresa possui em Macau e no interior da China, falou na possibilidade do Governo aumentar o número de licenças de jogo para empresas locais. “Temos de ver se o Governo quer aumentar o número de licenças de jogo, agora ninguém sabe. Seria bom se houvesse a possibilidade de emitir mais licenças, ou dar oportunidades aos operadores de Macau para participarem”, frisou. Sem avançar com nomes, David Chow confessou aos jornalistas que a Macau Legend Development tem vindo a ser contactada por várias empresas dispostas a investir no território em várias áreas. “Muitas pessoas estão mesmo a considerar investir em Macau e vêm ter comigo, mas não posso dizer quais são. Essas pessoas pensam nas condições que Macau vai ter no futuro, com a nova ponte e a Grande Baía, o delta do rio das pérolas. O aeroporto que está a ser remodelado. Todas estas coisas são boas para Macau.” David Chow referiu ainda que a sua empresa está numa fase sólida. “A venda do Landmark valeu 4,6 mil milhões, imaginem a Doca dos Pescadores? Somos uma empresa sólida em termos de receitas, o valor, os investimentos. Há muitas pessoas, da China, América e Europa que nos procuram e que se querem juntar à empresa para investirem em Macau.” Minimizar na doca Optimismo é a palavra que melhor descreve o discurso de David Chow, que tem negócios no sudeste asiático, Cabo Verde e Portugal. O empresário promete não parar por aqui e revelou ter interesse nos minerais de Angola e resorts integrados, entre outras áreas. Em Macau, o empresário mostra-se disposto a investir o que for preciso no desenvolvimento da Doca dos Pescadores, mesmo que o Governo venha a aprovar um hotel com apenas 60 metros, ao invés dos iniciais 90 que foram pedidos. “Ainda estamos à espera da licença para construir o hotel, seja de 60 ou 90 metros, tenho muito para planear. Vamos construir três novos hotéis, estamos a tentar desenvolver um centro financeiro e cultural. Invisto cinco mil milhões de dólares norte-americanos se o Governo quiser.” Mesmo depois da venda do Landmark, na Avenida da Amizade, a Macau Legend Development continua a ter uma participação de 0,5 por cento na gestão do casino. O objectivo agora é concentrar recursos num só espaço. “Estamos num processo de alocação e temos de investir mais dinheiro no desenvolvimento. Estamos a tentar concentrar o mercado na Doca dos Pescadores, minimizar é bom para a minha empresa. Como podemos ter quatro casinos em Macau?”, questionou, referindo-se ao Pharaoh’s Palace, Landmark Macau, Babyloon e Legend Palace. Cabo Verde: hotel e casino começam a ser construídos em Agosto Com projectos a decorrer no Ilhéu de Santa Maria, em Cabo Verde, David Chow garantiu que o hotel e o casino vão começar a ser construídos em Agosto deste ano. Quanto ao pedido para a criação de um banco no país, já foi entregue, mas Chow ainda continua à espera. “Já submetemos a proposta, tem de seguir as suas leis. Sou um homem muito paciente e não quero perder a minha paciência. Têm de compreender o que querem, em vez de eu estar constantemente a insistir”, frisou.
Andreia Sofia Silva PolíticaCoutinho pede produção de electricidade com energias limpas [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho entregou uma interpelação escrita ao Governo a sugerir uma maior aposta na produção de electricidade no território, para contrariar a realidade actual de dependência energética do interior da China. Para Pereira Coutinho, é necessário apostar nas energias limpas como fonte geradora de electricidade. “Quer no documento do Plano Quinquenal, quer nas reuniões em sede da Assembleia Legislativa, o Governo afirmou várias vezes a necessidade de fazer de Macau uma cidade inteligente. Assim, com vista a fazer reflectir a ideia inerente à cidade inteligente, o Governo deve dispor de planos para diversificar as modalidades de produção de energia eléctrica em Macau, como, por exemplo, a construção de uma central para a produção de electricidade através de recursos renováveis. Já dispõe de planos?”, questionou. A interpelação do deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM) surge após a ocorrência do tufão Hato, que originou a suspensão no fornecimento de energia durante um período considerável de tempo. Para o deputado, esta questão poderia ser resolvida caso houvesse mais electricidade produzida no território. “É notório que a produção de electricidade depende em demasia do interior da China. Assim, o Governo deve aumentar a produção local, com vista a evitar a ocorrência de problemas no abastecimento de electricidade. Se tal acontecer, Macau pode, devido à insuficiência de produção local, ver-se numa situação de suspensão de electricidade. De que planeamento dispõe o Governo para esse efeito?”, inquiriu. O relatório financeiro da Companhia de Electricidade de Macau, referente a 2017, divulgado em Março deste ano, revela que 73,5 por cento da electricidade consumida foi importada do interior da China, enquanto que apenas 3,1 por cento é produzida através da Central de Incineração de Resíduos Sólidos de Macau.