O ar do tempo

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]onhecemo-lo por Feiticeiro no célebre filme americano de 1939; no entanto, a sua autoria é de L. Frank Baum e data de 1900 em romance, mas o certo é que ninguém mais ficou de fora no seu encantamento.

O primeiro Oz foi surpreendente ( até pela técnica de filmagem da altura), havia a cor estranha dessas novas “poções” que iriam a partir dessa época transformar para sempre o nosso próprio imaginário. Diz a lenda que Oz é a terra das fadas situada num continente fictício, uma visão da «Utopia» de Moore: havia o cariz igualitário de harmonia ambiental como se caminhássemos ainda para uma Terra Prometida. Diz estar dividida em quatro e no centro existir a «Cidade de Esmeralda» uma espécie de Jerusalém Celeste.

Curiosamente, toda esta geográfica descrição se encontra no meio de um deserto, um fértil reino rodeado de areias, até uma estranha rainha o transformar num chão mágico por causa de uma herança que o culto misógino a Oz usurpou: a herança da cidade era de uma princesa, Oz ma.

Não fora toda a correspondente esfera onírica dos sonhos humanos, tão próximos, tão arquetipicamente iguais e nem sobrepúnhamos a esta descrição uma outra, que de forma cultural está em nós: a Cidade de Esmeralda, ou seja, a Jerusalém Celeste, Oz – Amos Oz – que por aqui vive às portas do deserto, que nela nasceu, que num “kibbutz” se fez neófito e extingue Klausner (nome da família de judeus ucranianos). O sonho socialista existe no primeiro romance de 1900 e marca uma parte emblemática da obra, só que a «Cidade de Esmeralda» há muito que existia e Oz apenas conquistou o reino de Pastoria, o que nos remete para o rei David no seu exercício de pastor, alinha a Aliança pelo varão e nunca mais se livrou do seu próprio encantamento.

Amos Oz tem o peso de um mito que hoje ainda vive no deserto e mítico porque participou na «Guerra dos Seis Dias», coisas improváveis de terem sido bem sucedidas… vendo talvez um dedo mágico… mas a magia é inimiga do divino. Quem foi, quem é, e a que magia ascende? Onde começa cada princípio? Quem está dentro da Cidade diz que existe uma grande diferença que só os leigos não distinguem e quem não sabe é como quem não vê. Oz funda ainda o Movimento Pacifista para a solução dos dois Estados (talvez quatro) a divisão é quaternária, tudo acaba em períodos de quarentenas, tudo se define por quarenta coisas. Anos, meses, dias, situações. E de facto eram quatro os reinos iniciais.

Hoje é sem dúvida o mais virtuoso e controverso escritor judeu, um cidadão activo e com a beleza varonil de um feiticeiro, inspira instabilidade e é acusado de traição ao Estado, ele não desgosta do epíteto: diz que um traidor tem um lado feliz, não gosta do seu pai nem da sua mãe. Havia um outro “mágico” na «Cidade de Esmeralda» que o inspirou, muito certamente, mas aqui já a conversão misógina estava no seu auge não havendo antídoto que resgatasse o género deposto “mulher, o que existe de semelhante entre nós dois?”. São tarefas extraordinárias e toda a retroactividade nos encaminha para uma qualquer coisa no centro do mundo do nosso sistema solar interno que não cessa de construir um Templo onde cada um em alma e pensamento possa morar. A cidade é de Esmeralda, cintila, é um umbigo, um oásis, um dorso de sonhos, de lutas, para decantar o anátema do velho feiticeiro.

Mas a parábola da casa voadora é quase uma pintura de Chagall… um roteiro de grandes promessas de aterragem, Judy Garland era a princesa Oz ma transfigurada. Aqueles caminhos, o Homem de Lata, O Leão cobarde, o Palhaço, e por fim a recepção no centro da consciência: esta parte acho-a detestável, assim, como dizer às crianças que não há Pai Natal, ou mesmo ter dito a Moisés que tinha alucinações. A Sarça Ardente existe, e só assim é possível um reino futuro que não seja combusto. Creio que as pedras não ardam e muito menos os diamantes, pois que a fornalha que é apanágio dos infernos se escoa na dimensão mineral da Cidade, e um Deus, por fim, esteja à nossa espera, para continuarmos a viagem.

Oz levar-te-ei no longo caminho das coisas transfiguradas. Não acabamos bem os diálogos pois que eles não são para findar, depois de se chegar à conclusão acerca da Cidade, e tendo a magia findado, a máscara não existe, nós, não sabemos colocar o ferro, a lata, o cobre, numa «Cidade de Esmeralda». Nem andaremos puxados a energia fóssil, e mais uma vez creio no carro de ouro do Profeta Elias e no arrebatamento das fontes para a libertação total. E em cada instante olho para Chagall. Ele também é de Oz.

Talvez por analogia me venha aquele verso de Pessoa.

 

mas já sonhada se desvirtua, só de pensá-la cansou pensar:

sob os palmares à luz da lua

sente-se o frio de haver luar.

Ah, nesta terra também, também, o mal não cessa não dura o bem.

……………………………

MAS

é ali, ali, que a vida é jovem e o amor sorri.

4 Jun 2018

Diplomacia | Seul congratula-se com confirmação da cimeira Coreia do Norte-EUA

A Coreia do Sul congratulou-se hoje com o anúncio do Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, confirmando a cimeira com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, no próximo dia 12, em Singapura

 

[dropcap style≠’circle’]“P[/dropcap]arece que o caminho para a cimeira Coreia do Norte-EUA se expandiu e melhorou”, refere, num curto comunicado, o porta-voz presidencial, Kim Eui Kyeom. O comunicado acrescenta que Seul espera, “com um misto de entusiasmo e calma”, esta cimeira histórica em Singapura.

O Presidente dos EUA confirmou na sexta-feira a realização da cimeira com o líder da Coreia do Norte para dia 12 em Singapura, após um encontro com o ‘número dois’ do regime de Pyongyang. “O processo vai começar em 12 de Junho em Singapura”, anunciou Donald Trump aos jornalistas após um encontro de mais de uma hora com o general norte-coreano Kim Yong Chol.

O responsável norte-coreano, que viajou para os EUA na quarta-feira, deslocou-se a Washington e reuniu-se com Trump na Casa Branca, a quem entregou uma carta pessoal do Presidente norte-coreano Kim Jong-un.

Nas declarações após o encontro, o Presidente dos EUA afirmou que a Coreia do Norte pretende desnuclearizar-se e sugeriu que o diálogo com Pyongyang será “um processo coroado de sucesso”. Após considerar que a reunião com o enviado norte-coreano “correu muito bem”, o chefe da Casa Branca considerou ainda que o encontro de dia 12 será “um começo”.

Inicialmente, a data avançada para a cimeira entre Washington e Pyongyang foi 12 de Junho, em Singapura, mas essa meta foi inesperadamente anulada por Trump em reação à “hostilidade” manifestada pela Coreia do Norte.

Os contactos seriam posteriormente retomados e as negociações estão actualmente a prosseguir em várias frentes.

Em paralelo, as duas Coreias concordaram na sexta-feira reiniciar as conversações militares a partir de 14 de Junho, as primeiras deste género nos últimos quatro anos, anunciou o Ministério da Unificação. As delegações da Coreia do Norte e da Coreia do Sul aceitaram encontrar-se numa reunião de alto nível na fronteira que separa os dois países, dois dias depois da data prevista para a cimeira entre Donald Trump e Kim Jong-un.

Japão trabalha

O primeiro-ministro nipónico, Shinzo Abe, disse hoje que o Japão trabalhará para garantir que a cimeira entre o Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, seja um êxito.

O Japão “está determinado a fazer todos os esforços para que esta seja uma cimeira histórica que implique avanços no que diz respeito a armas nucleares, mísseis e sequestros [de cidadãos nipónicos por parte da Coreia do Norte]”, afirmou Shinzo Abe num discurso em Shiga, citado pela agência de notícia Kyodo.

A resolução dos sequestros de cidadãos nipónicos pelo regime norte-coreano é uma das principais exigências de Tóquio para poder estabelecer relações diplomáticas com Pyongyang. O Japão sustenta que entre 1977 e 1983 pelo menos 17 cidadãos foram sequestrados pela Coreia do Norte para roubar as suas identidades ou treinar espiões.

Japão e Coreia do Norte já fizeram duas cimeiras, em 2002 e 2004, nas quais participou o ex-primeiro ministro nipónico Junichiro Koizumi e o pai do actual líder norte-coreano, Kim Jong-il.

4 Jun 2018

Tailândia | Baleia morre depois de engolir 80 sacos de plástico

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma baleia morreu, na Tailândia, depois de ter engolido mais de 80 sacos de plástico nas águas poluídas do sul do país, anunciaram ontem as autoridades marítimas locais.

Segundo a agência EFE, que cita a imprensa local, o animal foi localizado inerte no mar, incapaz de nadar, e apesar do socorro das autoridades marítimas tailandesas acabou por morrer devido a uma obstrução intestinal provocada pela ingestão de sacos de plástico.

Uma equipe de veterinários ainda tentou salvar a baleia, sem sucesso. Segundo o departamento de Recursos Costeiros e Marinhos da Tailândia, a autópsia revelou que o animal tinha alojados no estômago 80 sacos de plástico, com um peso total de oito quilos.

Os sacos impediram que ingerisse qualquer outro alimento nutritivo, segundo Thon Thamrongnawasawat, biólogo da Universidade Kasetsart, de Bangcoc.

Pelo menos 300 animais marinhos, entre baleias, tartarugas e golfinhos, morrem todos os anos nas águas tailandesas por engolirem resíduos plásticos, explicou Thon Thamrongnawasawat.

A Tailândia é um dos países do mundo onde mais se usa sacos de plástico, situação que causa todos os anos a morte de centenas de criaturas marinhas que vivem perto das populares praias do sul do país.

4 Jun 2018

Comércio | Pequim avisa EUA de que não haverá acordo se tarifas avançarem

A China alertou ontem, após uma nova ronda de conversações sobre uma disputa comercial com Washington, que nenhum acordo “entrará em vigor” se o presidente norte-americano, Donald Trump, avançar com o aumento das tarifas sobre produtos chineses

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] aviso foi feito no final de uma reunião entre as delegações lideradas pelo secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, e o principal responsável económico da China, o vice-primeiro-ministro Liu He, sobre a promessa de Pequim de reduzir seu superavit comercial.

Wilbur Ross disse que foram discutidas as exportações americanas específicas que a China poderia comprar, mas as negociações terminaram sem uma declaração conjunta e nenhum dos lados divulgou detalhes.

A Casa Branca colocou a reunião em causa na terça-feira, ao renovar a ameaça de impor tarifas de 25 por cento sobre produtos chineses de alta tecnologia no valor de 50 mil milhões de dólares, como resposta a queixas de que Pequim roubava ou pressionava empresas estrangeiras para entregarem tecnologia. O encontro prosseguiu apesar disso, mas Pequim disse que se reservava o direito de retaliar.

Sem entendimento

O anúncio de terça-feira reavivou o receio de que o conflito entre as duas maiores economias possa diminuir o crescimento global ou encorajar outros governos a levantar as suas próprias barreiras às importações.

“Se os Estados Unidos introduzirem sanções comerciais, incluindo um aumento de tarifas, todas as conquistas económicas e comerciais negociadas pelas duas partes não terão efeito”, segundo o comunicado chinês, divulgado pela agência oficial de notícias Xinhua.

O processo de negociação deve ser “baseado na premissa” de não travar uma “guerra comercial”, acrescenta o comunicado. A embaixada americana em Pequim não quis comentar.

Donald Trump está a pressionar Pequim a reduzir o seu superavit comercial com os Estados Unidos, que atingiu o recorde de 375,2 mil milhões de dólares no ano passado.

As tensões diminuíram depois de a China prometer, a 19 de Maio, “aumentar significativamente” as compras de produtos agrícolas, energia e outros bens e serviços, no final da última ronda de negociações em Washington.

O secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, disse que a disputa estava “em espera” e que a tarifa seria adiada. Esta trégua pareceu terminar com o anúncio surpresa de terça-feira, segundo o qual a Casa Branca imporá ainda restrições aos investimentos e compras chinesas de produtos de alta tecnologia dos EUA e a vistos para estudantes chineses.

4 Jun 2018

Governo brasileiro com “interesse renovado” na China

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] vice-ministro do Comércio e Serviços do Brasil sublinhou o “interesse renovado” do Governo brasileiro em intensificar as relações comerciais com a China e lembrou que Macau irá servir como plataforma de integração “pela língua e cultura.”

Em Macau para o seminário sobre o Comércio de Serviços entre a China e os Países de Língua Portuguesa, Douglas Finardi Ferreira identificou “três áreas principais” que chamam especialmente a atenção do Brasil.

“Falamos da capacitação mútua entre os países, a parte de troca de investimentos e, por último, a divulgação da lusofonia”, disse aos jornalistas à margem do evento, organizado pelo Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau) e o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM).

Questionado sobre o Fundo de Cooperação para os Países de Língua Portuguesa, o governante admitiu que já “existe um fundo bilateral específico entre Brasil e China para investimento”.

No entanto, “é provável que o fundo de Macau possa ajudar as empresas mais pequenas”, até porque “70 por cento da economia brasileira é representada por microempresas e o valor mínimo do investimento Brasil-China é muito alto, na ordem dos 100 milhões de dólares”, acrescentou a vice-ministra adjunta, Renata Carvalho.

Parceria tecnológica

O Brasil quer continuar a acompanhar a China porque o gigante asiático – que já é o seu maior parceiro a nível comercial – “vai ser líder mundial”, disse à imprensa Dácio Pretoni, consultor internacional da Confederação Nacional de Serviços do Brasil.

“Na área dos serviços, principalmente no sector da tecnologia, o Brasil tem muito a exportar e a China é a importadora desses serviços”, declarou Pretoni.

“Esta relação bilateral é muito favorável” e, neste sentido, “existem iniciativas de ambos os países, inclusive, através de Macau, para que incubadoras e fundos de investimento venham a promover startups, para que soluções brasileiras entrem no mercado chinês e vice-versa”, concluiu.

Em 2017, as trocas comerciais entre a China e a Lusofonia fixaram-se em 117.588 milhões de dólares, verificando-se um crescimento de 29,4 por cento.

4 Jun 2018

António Duarte Mil-Homens, fotógrafo:  “Não tenho tempo para envelhecer”

António Duarte Mil-Homens comemora 70 anos no ano que vem, os mesmos que a República Popular da China. O fotógrafo quer fazer uma exposição que celebre a efeméride, à qual se junta o vigésimo aniversário da RAEM. Ao HM, Mil-Homens falou da início de carreira e das dificuldades numa área cada vez mais acessível a qualquer um

[dropcap]T[/dropcap]eve a sua primeira câmara no dia 25 de Abril de 1974. O que é que aconteceu?
Tinha o bichinho da fotografia desde miúdo. O meu pai era fotógrafo amador e durante muitos anos, em que vivíamos numa casa em que existia um quarto interior, o meu pai transformou aquele espaço numa câmara escura onde eu era admitido sob uma condição: só saía de lá quando ele terminasse e não mexia em nada. Ao mesmo tempo era uma espécie de tortura porque assistia, ali, àquela magia da revelação e não podia experimentar. Mas a semente foi ficando. O meu pai também não abria mão das máquinas dele e eu não tinha direito a pegar em nenhuma. Por volta dos meus 16, 17 anos, costumava pedir uma máquina fotográfica a um amigo. Entretanto casei, fui parar a Angola ainda em plena guerra colonial convencido de que lá conseguiria comprar uma máquina para mim por serem substancialmente mais baratas. Não existia o chamado imposto de luxo sobre este tipo e produtos – que na altura era de 60 por cento. Também é verdade que ninguém precisava de uma câmara para comer com batatas, ou seja, era um luxo. Mas o certo é que nem em Angola consegui ter uma. Depois de regressar a Lisboa, em Julho de 73, escolhi uma máquina numa loja de material fotográfico em segunda mão e fiz um acordo com o senhor. Paguei metade do custo que na totalidade era de 6500 escudos e acordámos um dia, quando pudesse pagar o resto, a fosse levantar. Combinámos para o dia 25 de Abril. Acordei com as notícias, ainda fui trabalhar e a determinada altura mandaram todos embora para casa. Fui a correr à loja e por pouco não a conseguia apanhar aberta. Lá consegui trazer a máquina, cheguei a casa, peguei em dois rolos e fui fotografar para a rua. Consegui fazer fotografias que são históricas.

Mas só as apresentou muito tempo depois em Macau. 
Embora tenha publicado duas destas imagens num jornal regional, na altura, só as expus, conjuntamente com as do primeiro de Maio em Liberdade, aqui em Macau. precisamente em 2014, 40 anos depois.

Porquê um intervalo de tanto tempo?
Isso é complicado e tem que ver com a minha postura relativamente a pedir patrocínios e subsídios. A esmagadora maioria das exposições que fiz até hoje foram a expensas próprias. De qualquer forma, parece-me que tendo sido no quadragésimo aniversário daquele dia, foi uma boa data para o fazer.

Era funcionário público. Como é que passou a ter a fotografia como profissão?
Começaram a aparecer amigos que perceberam que tinha herdado o princípio do meu pai, ou seja, o rigor naquilo que fazia em termos fotográficos. Então começaram-me a pedir algumas encomendas. Em 81 resolvi, para estabelecer contactos com mais gente ligada a esta área, inscrever-me num curso na Associação Portuguesa de Arte Fotográfica onde mais tarde vim a fazer o curso profissional. Fiz a minha primeira participação numa colectiva de fotografia integrada neste curso. Isto é um pouco como aquela história da bola de neve que depois de começar a rolar pela encosta vai arrastando mais neve e crescendo. Em 84 recebo um desafio que implicava uma mudança radical na minha vida, para ir fazer fotografia de publicidade. Pedi a minha primeira licença da função pública e fiz a minha opção. Abracei a fotografia por inteiro, até hoje. Depois, com 17 anos trabalhei como fotógrafo na faculdade de agronomia, onde tinha o meu estúdio e também fazia a minha fotografia.

Como é que foi a sua passagem do analógico para o digital?
Acho piada ao facto de hoje em dia, haver gente aí no mercado de arte fotográfica que faz abrir bocas de espanto por estar a usar máquinas analógicas e de grande formato. Foram as minhas ferramentas durante 20 anos. Aquilo que se faz agora com muito espanto, era aquilo que tinha que fazer sistematicamente. Fui forçado a aderir ao digital. Em termos de fotografia de publicidade fui obrigado autenticamente. Embora o digital, de início, fosse em termos de qualidade incipiente, comparando com aquilo que era possível com o analógico. Lembro-me, por exemplo, que estive em Macau para fazer a cobertura da transferência de administração e na cerimónia estava ao meu lado um fotógrafo de Hong Kong com uma Nikon D1 que era assim o supra-sumo da fotografia digital e tinha uma resolução de dois megapixéis. Mas o digital permitia o imediatismo. Quando acabou a cerimónia, ficaram nas bancadas uma meia dúzia de fotógrafos japoneses que tinham a mesma máquina e que traziam o seu portátil e antenas parabólicas. Portanto, de imediato, transmitiram para o Japão fotografias que tinham tirado minutos antes. E esta possibilidade é muito importante. Os clientes também começaram a achar piada à possibilidade de ver logo a imagem. Fui forçado a avançar para o registo digital. Depois comprei o meu primeiro Mac em 2000, comecei a investir moderadamente e a tentar perceber o que é que o digital ia dar.

Como veio para Macau?
Por questões de coração. Por paixão, se calhar mais por loucura. Vim para Macau sempre pela mesma razão. A primeira vez foi em 1996. Cheguei a 2 de Fevereiro. Vinha para ficar. Trazia entre bagagem e carga aérea mais de 300 quilos. Na altura, trazia todo o meu material de grande e médio formato, 35mm, tripés, iluminação, etc. Mas a situação era tão complicada do ponto de vista emocional que regressei Portugal ao fim de cinco meses e meio. Este regresso deu-me a possibilidade de partilhar com a minha mãe os últimos meses da vida dela. Falo nisto porque acredito que nada acontece por acaso. Pela mesma razão, mas desta vez arranjei um “argumento” ou uma almofada financeira. Estive cá um mês e meio na altura da transferência de administração. Vim fazer a cobertura para a Revista Macau, na altura sob a direcção do Rogério Beltrão Coelho. Vinha também fazer fotografias para um projecto que também já estava em marcha: o livro do José Pedro Castanheira, “Macau, os cem últimos dias do Império”. Só volto a Macau em Outubro de 2006, pela mesma razão – a pancada era muito grande – e para ver como é estavam as coisas por aqui. Em 2007, passo cá três períodos de um mês até chegar em Novembro desse ano para ficar, e cá continuo, não sei muito bem até quando.

Como é que e ser fotógrafo em Macau?
Já foi melhor. Já foi bastante mais fácil e bem mais lucrativo. Neste momento, é muito complicado, principalmente quando se é freelancer. É uma angústia permanente sem se saber muito bem como vai ser o mês seguinte. Há também uma concorrência cada vez maior, que o digital veio agravar exponencialmente. Hoje em dia é extremamente fácil uma pessoa que goste de fotografia, comprar a  sua primeira máquina, umas objectivas e um flash e começar a fazer trabalho na área, especialmente se oferecer, linearmente ou quase, esse trabalho. Infelizmente, pelo facilitismo do digital, os próprios clientes e responsáveis dos órgãos de comunicação social, acham que agora toda a gente faz fotografia, até com telemóvel, e o fotógrafo passou a ser dispensável.

Teve um projecto para um espaço multicultural no seu estúdio. O que foi feito dessa ideia?
Não me renovaram o contrato de arrendamento. Fiz obras e um ano depois de ter tudo pronto, disseram-me que  não podia ali continuar. Neste momento, vou partilhar um espaço com mais duas pessoas da área da moda e que pode entrar em funcionamento ainda esta semana. Além de ser concebido para o meu trabalho, pode estar disponível para quem precisar de o usar para fotografia de estúdio com a opção de ser com ou sem equipamento.

Também gosta de poesia. 
Desde muito cedo que escrevo poesia. Os meus primeiros poemas, dignos talvez desse nome, datam dos meus 14 anos. Gosto de escrever, permite-me achar que tenho um domínio razoável da minha língua materna. A poesia surge como uma forma mais fácil de síntese daquilo que me vai na alma. Quando escrevo poesia, as palavras saem de uma vez e já saem na sua forma final. O meu livro “Vida ou morte – de uma esperança anunciada” é o único livro que tenho publicado, e dada a minha aversão a pedir patrocínios, até porque odeio o dinheiro, só o peço pelo meu trabalho. E, entretanto, tenho sete livros feitos em casa prontos a serem editados e que incluem fotografia, sendo que um deles tem como título “Poemografia de Macau “ e já está traduzido em chinês e em inglês.  Também na fotografia tenho três projectos que têm que avançar de Setembro até ao final do ano que vem, e ainda não sei como. O primeiro projecto, já está aprovado e é uma exposição a ser apresentada no Casino Lisboa, em Portugal. O segundo é um projecto que está parado à seis anos e tem como título “Bicicletas de Macau”. Tem o prefácio escrito pelo José Luís Sales Marques. Tenho outro em que levei a estúdio para fotografar 188 pessoas que andam de mota em Macau. Mais uma vez acho que nada acontece por acaso. Para o próximo celebra-se o quadragésimo quinto aniversário da compra da minha primeira máquina fotográfica, são os meus 45 anos de fotografia. Para o ano também será o meu septuagésimo aniversário e também o da República Popular da China, que é oito dias mais velha do que eu. É ainda o vigésimo ano da RAEM. Quero fazer uma exposição que tenha em vista todos todas esta efemérides.

Quais são as suas referências na poesia e na fotografia?
Na poesia são muitos: O Ary dos Santos, a Sophia de Mello Breyner, a Natália Correia ou o David Mourão Ferreira. Na fotografia, e indiscutivelmente, o Henry Cartier Bresson. Num estilo completamente diferente, o Ansel Adams, e claro o Sebastião Salgado, mas há muitos mais.

Vai fazer 70 anos de idade. Qual é o elixir da juventude?
Costumo dizer muito na brincadeira: não tenho tempo para envelhecer. Cuido-me na medida do possível. Fumei o meu último cigarro no dia 28 de Abril de 75. Um ano e quatro dias depois da revolução. Foi a minha revolução pessoal. Penso que deixar de fumar é quase metade do segredo. Tenho também cuidado com a alimentação. Depois recuso escadas rolantes e subo escadas a pé, por exemplo. Faço o exercício que o dia-a-dia me possibilita e recuso ginásios. Se tenho o meu ginásio particular, é a mochila com 10 ou 20 quilos que tenho de carregar para um trabalho fotográfico, se tenho cinco andares para subir em minha casa porque é que vou levantar ferro?

4 Jun 2018

Jogo | Receitas dos casinos subiram 12,1 por cento em Maio

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s casinos fecharam o mês de Maio com receitas de 25.489 milhões de patacas, traduzindo um aumento de 12,1 por cento face ao período homólogo do ano passado.

Segundo dados publicados na sexta-feira pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), no acumulado de Janeiro a Maio os casinos registaram receitas de 127.727 milhões de patacas, valor que reflecte uma subida de 20,1 por cento em termos anuais homólogos.

As receitas dos casinos cresceram 19,1 por cento em 2017 para 265.743 milhões de patacas, invertendo três anos consecutivos de quedas (-3,3 por cento, em 2016, -34,3 por cento em 2015 e -2,6 por cento em 2014).

4 Jun 2018

Costa Nunes | Jardim de infância prepara recrutamento de psicólogos

A Associação Promotora da Instrução dos Macaenses está a levar a cabo o processo de recrutamento da nova equipa de psicólogos para o acompanhamento de crianças com necessidades educativas especiais, que deverá entrar ao serviço no próximo ano lectivo. A DSEJ já destacou dois profissionais que têm trabalhado duas vezes por semana, de forma provisória

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] jardim de infância D. José da Costa Nunes está a levar a cabo um processo de recrutamento para renovar toda a equipa de psicólogos, para que o acompanhamento das 11 crianças com necessidades educativas especiais possa continuar sem interrupções. Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), garantiu ao HM que a equipa estará pronta a trabalhar quando começar um novo ano lectivo.

“Já estamos a fazer o recrutamento e os candidatos foram sujeitos a testes técnicos, para que estejam minimamente habilitados para exercer as funções de psicólogo no jardim de infância”, adiantou Miguel de Senna Fernandes, que não quis comentar se a psicóloga e a educadora que foram suspensas de funções poderão, eventualmente, voltar à escola.

“Recorremos à psicóloga da Escola Portuguesa de Macau, que é uma profissional conceituada, e até a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) teve a mesma opinião quanto à sua qualidade técnica. Ela deu-nos este apoio para fazer os testes aos candidatos. Num curto espaço de tempo vamos restituir todo o corpo de profissionais na área da psicologia.”

O presidente da APIM adiantou ainda que, “neste momento, o mais importante é garantir o interesse das crianças”. “Não pode haver vazios, sobretudo quando falamos de crianças que precisam de cuidados e requerem alguma atenção especial. A escola é inclusiva e tratámos logo de colmatar essas lacunas.”

Até Setembro “vai haver uma certa reestruturação do corpo docente e as coisas vão mudar, sobretudo nesta parte do apoio psicológico às crianças”.

Uma educadora e a psicóloga do jardim de infância D. José da Costa Nunes foram suspensas depois de terem sido descobertos vários casos de alegado abuso sexual a crianças com três anos de idade. O suspeito, um servente da escola, foi o primeiro a ser suspenso. A DSEJ encontra-se neste momento a analisar o relatório interno elaborado pela direcção do jardim de infância, não tendo adiantado ao HM qualquer data para a conclusão desse processo.

Ajuda provisória

O vazio no acompanhamento de 11 crianças com problemas do espectro autista foi denunciado a semana passada por uma mãe de uma criança, que enviou uma carta ao secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, onde pedia o regresso da psicóloga.

Esta mãe, que não quer ser identificada, contou ao HM que foi contactada de forma imediata pela DSEJ. “Telefonaram-me logo no dia seguinte a dizer que iam mandar dois agentes duas vezes por semana, em português e chinês. Perguntaram a língua que eu queria e eu disse que preferia alguém que falasse português. Enviaram uma psicóloga também de língua veicular portuguesa até que o assunto seja concluído. Estou satisfeita com este apoio e foi tomada uma decisão de forma bastante rápida.”

Numa resposta enviada ao HM, a DSEJ garante que “tem estado atenta aos trabalhos de aconselhamento no jardim de infância, especialmente no que diz respeito aos serviços de aconselhamento para os alunos do ensino especial”.

“Actualmente, encontram-se dois agentes de aconselhamento no jardim de infância que reúnem as qualificações necessárias para prestar serviços a alunos com estas necessidades. Desde o dia 28 de Maio que estes agentes têm prestado apoio ao aconselhamento, nas manhãs de segunda e de sexta-feira.”

Este acompanhamento é providenciado nas duas línguas. “Prevê-se que termine até que a escola conclua o recrutamento de pessoal de serviços de aconselhamento prestados em língua portuguesa”, afirmou ainda a DSEJ.

4 Jun 2018

Ensino | Dente Partido vai financiar escolas para promover lealdade

Wan Kuok Koi estabeleceu a sede da Associação Mundial de História e Cultura de Hongmen no Camboja e abordou a questão das moedas digitais. O objectivo da aventura empresarial passa por criar uma “Cidade Cultural da China”

 

[dropcap style≠’circle’]W[/dropcap]an Kuok Koi, conhecido como Dente Partido, estabeleceu a sede da Associação Mundial de História e Cultura de Hongmen em Phnom Penh e comprometeu-se a investir em escolas e lares no país do Sudeste Asiático. Dente Partido, em entrevista à revista East Week, explicou também a incursão empresarial pelo mundo das criptomoedas.

Segundo a publicação de Hong Kong, Wan Kuok Koi vai criar uma escola ligada à associação para que as pessoas estrangeiras e com origem chinesa estudem manuais chineses e aprendam os valores da lealdade, humanidade e justiça. Wan Kuok Koi declarou que é preciso dinheiro para o funcionamento de lares e escolas ligadas à associação Hongmen, porque muitos membros da sociedade secreta, apesar de terem o dinheiro, não têm a coragem de se assumir publicamente.

A Hongmen foi uma associação secreta com uma grande influência na sociedade chinesa, principalmente durante o período da República da China, tendo contado nos seus quadros com políticos como Sun Yat Sen ou Chiang Kai Shek. No entanto, em algumas jurisdições, como em Hong Kong, a Hongmen foi proibida devido às ligações entre os membros e as tríades.

O empresário explicou também que as motivações altruístas se devem à falta de coordenação na Hongmen. Segundo o ex-promotor de jogo, apesar de haver membros em todo o mundo, falta coordenação que permita a Hongmen regressar ao rumo certo.

Dinheiro digital

Outra das questões abordadas na entrevista foi a aposta de Dente Partido nas moedas digitais. De acordo com Wan Kuok Koi, a aposta em nome da associação Hongmen visa construir uma “Cidade Cultural da China”. O agora empresário explicou também que cada criptomoeda em nome da Hongmen vai custar um dólar americano e que haverá uma emissão inicial de mil milhões de criptomoedas no mercado.

Ainda dentro da cidade cultural, o Dente Partido espera concretizar uma plataforma de comércio electrónico com a utilização da criptomoeda, além de outros serviços como casino, hotel, lojas de chá e bares.

A cerimónia de estabelecimento da sede da sociedade de Hongmen decorreu a 20 de Maio em Phnom Penh. Durante o evento foi feita uma campanha de promoção da primeira emissão da criptomoeda de Hongmen, que contou com mais de mil participantes, entre os quais membros do Governo local.

Na mesma entrevista, Dente Partido comprometeu-se a respeitar as leis em vigor no Camboja e vincou que vai haver auto-regulação, dentro de uma cooperação duradoura e estável com o reino.

Inicialmente estava previsto que a sede fosse estabelecida nas Filipinas, mas o ambiente no país liderado por Duterte e a vontade do Governo do Camboja, fez com que Wong Kuok Koi mudasse de opinião.

4 Jun 2018

Finanças | Receitas públicas subiram 17,8 por cento até Abril

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Administração fechou os primeiros quatro meses do ano com receitas de 42.533 milhões de patacas, valor que traduz um aumento de 17,8 por cento em termos anuais homólogos, indicam dados provisórios disponíveis no portal da Direcção dos Serviços de Finanças (DSF).

Os impostos directos sobre o jogo – 35 por cento sobre as receitas brutas dos casinos – foram de 35.539 milhões de patacas, reflectindo uma subida anual homóloga de 18,8 por cento e uma execução de 43,1 por cento relativamente ao orçamento autorizado para 2018.

A importância do jogo encontra-se patente no peso que detém no orçamento: 83,5 por cento nas receitas totais, 83,9 por cento nas correntes e 95,3 por cento nas derivadas dos impostos directos.

Já as despesas cifraram-se em 20.307 milhões de patacas até Abril, de acordo com os mesmos dados. Cumpridas em 20,6 por cento, aumentaram 20,7 por cento, comparativamente ao período homólogo do ano passado. Neste capítulo destacam-se os gastos ao abrigo do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA) que alcançaram 5.341 milhões de patacas, valor que traduz um aumento de 251,2 por cento. A taxa de execução correspondeu, por seu turno, a 25,3 por cento.

Entre receitas e despesas, a Administração acumulou nos primeiros quatro meses do ano um saldo positivo de 22.226 milhões de patacas, mais 15,2 por cento face a igual período de 2017. No entanto, a almofada financeira excede o orçamentado para todo o ano (6,9 mil milhões de patacas), com a taxa de execução a corresponder a 321 por cento.

4 Jun 2018

Línguas | Académico propõe tradução de leis para inglês

Bruce Kwong, docente da Universidade de Macau, defende que vigora há muitos anos um sistema trilingue no território que deve ser oficializado no que diz respeito à necessidade de tradução de leis para inglês. Kwong diz que a influência de Hong Kong levou ao surgimento de um sistema trilingue não oficial

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]pesar de ser uma língua de comunicação no dia-a-dia, amplamente usada no seio dos tradutores em contexto de trabalho, no mundo do jogo e outros negócios, o inglês não é língua oficial no território. Num recente artigo académico, publicado no International Journal of Arts and Commerce, Bruce Kwong, docente da Universidade de Macau (UM), defende a necessidade de tradução das leis para inglês.

“No seio do legado histórico no antigo enclave português, a questão das normas sociais em três línguas pode ser uma das questões mais críticas ao nível da legislação bilingue, um assunto que continua por resolver”, alertou no artigo. “Apesar de Macau ter desenvolvimento muito recentemente o mercado da tradução especializada, as formações interdisciplinares para os especialistas em tradução jurídica bilingue estão longe de ser suficientes. Por outro lado, a questão trilingue continua a incomodar Macau, na medida em que o progresso normal da tradução das leis pode ser diminuído.”

Neste trabalho, Bruce Kwong lembra que o factor económico há muito que originou a necessidade de tradução dos diplomas para o inglês, além da sua existência, como mandam as leis, em chinês e e português.

Aquando da liberalização do jogo, em 1999, os investidores americanos terão pedido ao Governo de Edmund Ho “que fossem implementadas várias leis e regulamentos que seguissem as práticas de Las Vegas, e o Governo de Macau tem vindo a implementar várias leis em resposta a esses pedidos dos investidores”, lembrou o autor.

“Em adição a esse pedido, o Governo tem de produzir documentos trilingues (em inglês, português e chinês) para lidar com esses investidores, tal como os contratos de concessão, e também para que a validade legal desses documentos trilingues seja igual. Ironicamente, a realidade económica levou o território a passar de um sistema bilingue oficial para um sistema trilingue não oficial.”

O autor recorda que, por culpa dos papéis atribuídos à RAEM ao nível da integração regional e cooperação, o Governo nunca prestou atenção à existência não oficial do inglês.

“Uma vez que Macau prefere desempenhar um papel enquanto Centro Mundial de Turismo e Lazer e uma plataforma de comércio entre a China e os países de língua portuguesa, o Governo tem vindo a revelar grande preocupação quanto à formação de tradutores e intérpretes bilingues.”

Para Bruce Kwong, “a formação de talentos jurídicos bilingues, por si só, não é uma missão fácil de completar, e mais esforços e políticas práticas deveriam ser adoptadas para atingir estes objectivos”. “Além disso, a realidade económica leva Macau a um exercício não oficial do uso de três línguas, que vai além do sistema jurídico bilingue”, frisou.

A culpa dos portugueses

De onde veio, então, a influência inglesa? Bruce Kwong, citando outros artigos académicos, recorda a presença de Stanley Ho como magnata do jogo a partir da década de 70. O empresário era oriundo de Hong Kong, apesar de ter criado fortes laços com a língua e cultura portuguesas.

“Devido a esta especificidade económica, Stanley Ho, tal como a Administração portuguesa de Macau, incorporou muitas práticas de Hong Kong, incluindo o uso da linguagem e dos termos jurídicos. [A região vizinha] foi bastante influenciadora para Macau não apenas por causa desse factor económico, mas também por uma questão geográfica, a infiltração de múltiplos programas de televisão, a questão demográfica chinesa e o estatuto colonizador que permaneceu durante décadas.”

Citando Pina Cabral, o docente da UM adiantou que “a maior parte das pessoas de Macau olhou para Hong Kong como um modelo de aprendizagem”, sendo que “o Governo português de Macau não teve nenhuma intenção em promover a educação portuguesa junto dos chineses, então os locais passaram a utilizar mais o inglês do que o português”.

Desta forma, “o chinês e o inglês tornaram-se nas duas línguas mais utilizadas pela sociedade, enquanto que o português, fora do seu estatuto governamental, tornou-se uma língua minoritária, usada no pequeno círculo da comunidade portuguesa”.

Para Bruce Kwong, “a influência cultural de Hong Kong empurrou Macau para uma sociedade trilingue”. “Enquanto que o português era a língua oficial usada pela Administração portuguesa em Macau, a maior parte dos chineses locais utilizaram o chinês como a sua língua universal e adoptou o inglês como a sua língua secundaria. À medida que foi crescendo a influência da cultura e da realidade económica de Hong Kong, o uso do inglês tornou-se parte das normas e do dia-a-dia das pessoas. E isso levou ao crescimento do problema da prática trilingue neste pequeno enclave”, conclui o autor no seu artigo.

4 Jun 2018

Pearl Horizon | Governo mantém posição apesar das críticas

A secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, reiterou, esta sexta-feira, que o Governo mantém a sua posição relativamente ao caso do Pearl Horizon e que a solução proposta visa “manter o máximo de equilíbrio possível”

 

[dropcap style≠’circle’]“E[/dropcap]ntre o Governo e os compradores das fracções autónomas do edifício em construção não existe uma relação de credor e devedor. O Governo apresentou uma proposta sob o princípio de boa-fé”, diz um comunicado divulgado pelo Gabinete de Comunicação Social. “A intenção era, por um lado, ajudar a resolver o caso e, por outro, evitar que a sociedade ponha em causa a intenção do Governo utilizar o erário público para resolver a questão do Pearl Horizon”, pelo que “a solução foi tida em conta para manter o máximo de equilíbrio possível”, refere a mesma nota.

Neste sentido, a secretária para a Administração e Justiça sustentou que o Executivo mantém a sua posição relativamente ao caso do Pearl Horizon, não obstante as críticas à proposta apresentada no mês passado. “O objectivo é, para além de encontrar uma solução, ajudar os interessados a conseguirem adquirir uma fracção autónoma e resolver a questão da habitação dos mesmos”, afirmou Sónia Chan, citada na mesma nota. Em paralelo, realçou, “foi necessário ainda evitar que a sociedade duvide do Governo na utilização dos recursos financeiros públicos para ajudar os compradores”.

A secretária para a Administração e Justiça afastou ainda a sugestão de que o Governo podia construir directamente um edifício para vender a determinadas pessoas com um preço especial definido, por ser “impossível de aplicar”, dado que “para proceder aos trabalhos legislativos, o Governo tem de passar necessariamente por um processo de consulta para recolher as opiniões da sociedade”.

Eventual revisão legal

À luz do plano apresentado pelo Governo, o terreno, localizado na Areia Preta, vai ser utilizado para construir habitação para alojamento temporário para os moradores afectados por planos de renovação urbana, podendo parte das fracções autónomas do futuro prédio ser vendida aos lesados do Pearl Horizon.

Ao ser questionada sobre uma eventual alteração à Lei de Terras, que foi revista em 2013, Sónia Chan afirmou estar a par das opiniões relativas à ausência do princípio da responsabilidade baseada na culpa no controverso diploma, prometendo que as autoridades “irão analisar” a esse aspecto, embora sem deixar qualquer tipo de compromisso.

4 Jun 2018

Estacionamento | Leong Sun Iok quer mais parques para motas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Leong Sun Iok pede ao Governo uma restruturação de concepção dos lugares de estacionamento destinados a motociclos, assim como o aumento dos lugares disponíveis para o efeito.

De acordo com uma interpelação escrita entregue ao Governo, os lugares existentes para estacionar motas não estão bem desenhados e apresentam perigos e limitações na medida em que “os motociclistas não se conseguem, manter de pé enquanto estacionam”, exemplifica. Por outro lado, a escassez de lugares é também uma situação que tem que ser corrigida, aponta o tribuno.

Para Leong Sun Iok, as motas são um dos principais meios de transporte utilizados pelos residentes diariamente, pelo que urge um aumento dos lugares disponíveis.

4 Jun 2018

Associação de táxis sugere certificação para salvar imagem do sector

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Associação de Mútuo de Condutores de Táxi de Macau propôs ao Governo a introdução de um mecanismo que permita certificar “táxis excelentes”, com base numa avaliação da ética profissional dos profissionais do volante. O objectivo é contribuir para salvar a imagem do sector.

A ideia passa por introduzir um mecanismo idêntico ao sistema de avaliação de lojas certificadas criado pelo Conselho de Consumidores, ao abrigo do qual é atribuído um “selo” de qualidade aos estabelecimentos que durante um ano não tenham registo de más-práticas.

Em declarações ao jornal Ou Mun, o presidente da Associação de Mútuo de Condutores de Táxi de Macau, Kuok Leong Son, afirmou que planeia avançar com a ideia em cooperação com a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT). O programa prevê que a ética profissional dos taxistas interessados em aderir seja avaliada com base no registo de infracções, explicou o mesmo responsável.

Para Kuok Leong Son, a medida vai permitir a residentes e a turistas reconhecer o “selo” dos táxis certificados. Em paralelo, a associação planeia ainda criar uma aplicação de telemóvel com vista a facilitar a pesquisa dos passageiros por esses táxis certificados.

Segundo o canal chinês da Rádio Macau, o director da DSAT, Lam Hin San, manifestou apoio às sugestões que permitam elevar a qualidade de serviços dos táxis.

Comentando o crescente número de casos de cobrança abusiva de tarifas – até Março foram 1.192 contra 723 nos primeiros três meses do ano passado –, Lam Hin San reconheceu que o cenário não tem melhorado e que as sanções aplicadas são relativamente leves. Para o director da DSAT, neste momento, a única coisa que o Governo pode fazer é aumentar a fiscalização e esperar pela proposta de lei relativa aos táxis.

O “regime jurídico do transporte de passageiros em automóveis ligeiros de aluguer”, aprovado na generalidade em Abril, encontra-se actualmente em análise em sede de especialidade na Assembleia Legislativa. O diploma prevê, além de multas mais elevadas, que quatro infracções graves num período de cinco anos determinam a perda do cartão de identificação do condutor.

4 Jun 2018

Turismo | Directora da DST explica polémica com táxis

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]egundo notícias publicadas em Taiwan, que dão conta da posição oficial da Direcção de Serviços de Turismo, os turistas que em Macau encontrem um taxista que se recuse a utilizar o taxímetro, devem abandonar a viatura imediatamente.

Ontem, segundo o canal chinês da Rádio Macau, Maria Helena de Senna Fernandes veio a público explicar que não era essa a posição da DSAT e que os comentário publicados tinham sido de uma conversa informal.

A directora explicou que já foi pedido um maior cuidado dentro dos serviços nas relações com a imprensa e que a posição da DST passa por aconselhar os turistas a apresentarem queixa imediatamente contra o taxista, junto da entidade competente.

4 Jun 2018

Elevadores | Mak Soi Kun solicita apoio para manutenção

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Mak Soi Kun solicita ao Governo a criação de um grupo específico para o estudo das condições dos elevadores e apoios financeiros para a sua manutenção. De acordo com Mak Soi Kun, os acidentes que se têm registado e que envolvem estes equipamentos acontecem devido à falta de qualidade e de manutenção dos mesmos.

Apesar da legislação local prever a manutenção dos elevadores, não existe um carácter de obrigatoriedade, nem são aplicadas sanções capazes de garantir um funcionamento eficaz.

De modo a acabar com os problemas, o deputado questiona o Governo se tenciona avançar com um estudo rigoroso acerca das condições dos elevadores do território e, se necessário, disponibilizar os devidos apoios financeiros para que as manutenções sejam asseguradas.

4 Jun 2018

Justiça | Celebrado acordo sobre transferência de presos com Nigéria

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau celebrou na sexta-feira um acordo com a Nigéria sobre a transferência de pessoas condenadas. Segundo dados facultados pela secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, há actualmente três nigerianos a cumprir pena em Macau, não havendo nenhum residente em igual situação naquele país africano.

Este acordo figura como o quarto do tipo depois do firmado com Portugal, Hong Kong e Mongólia. Na calha figuram outros, nomeadamente com Filipinas, Vietname, Coreia do Sul e Timor-Leste. Já relativamente ao acordo de cooperação judiciária com Hong Kong e China não há qualquer avanço, indicou, citada em comunicado.

Em meados de 2016, o Governo pediu a retirada de uma proposta de lei que submetera meses antes à Assembleia Legislativa sobre assistência judiciária inter-regional em matéria penal, que previa a entrega de infractores em fuga, argumentando que devido a “grandes diferenças” entre as jurisdições era necessário “estudar mais aprofundadamente” o diploma.

4 Jun 2018

Imigração | Song Pek Kei quer colaboração regional para combate a casamentos ilegais

Song Pek Kei apela a um reforço da cooperação inter-regional no combate a casamentos fraudulentos. Segundo a deputada, os casamentos ilegais são um negócio que deve ser criminalizado ao abrigo da Lei da Imigração, que se encontra em processo de revisão

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] deputada Song Pek Kei alerta para a necessidade de cooperação inter-regional e de vigilância comunitária no combate aos casamentos ilegais efectuados para obtenção de residência.

De acordo com um comunicado, a deputada recorda que “o número de casos de casamentos falsos é interminável”. “Só nos últimos dias foram detectados mais dois casos, um que envolvia um homem de 20 anos suspeito de ter casada com uma irmã e um outro em que um homem de 70 anos recebeu cerca de 75 mil yuan para casar com uma mulher do continente”, aponta. Estes dois casos recentes são, “apenas a ponta do Iceberg”, refere.

Song Pek Kei recorre aos dados da polícia relativos ao ano passado: em 2017 registaram-se mais de 160 casamentos que levantaram suspeitas em termos de legalidade, sendo que devido às dificuldades de investigação e obtenção de prova, este tipo de casos integram uma “área cinzenta” no quadro legal.

Negócio para todos

O recurso ao casamento para obtenção de residência tem de ser visto de um ponto de vista económico, na medida em que as pessoas que normalmente utilizam este método visam obter benefícios, lê-se no mesmo comunicado.

A deputada alerta para a existência de um mercado que trata das uniões ilegais e que é de conhecimento público. De modo a combater este crime, Song sugere ao Executivo um reforço da cooperação inter-regional e troca de informação de modo a averiguar com precisão os casos suspeitos. Song Pek Kei considera ainda que na revisão da Lei de Imigração devem ser previstos os crimes de cariz económico e que envolvem as actividades das agências que já se dedicam a este mercado.

Por outro lado, em Macau, a deputada aponta para um investimento nas acções de informação junto da população de modo a motivar a vigilância da comunidade para uniões suspeitas.

Em causa estão ainda os gastos de dinheiro público com situações fraudulentas. Segundo Song Pek Kei, devido à necessidade de estrangeiros a trabalhar no território, há quem se aproveite da situação para tentar beneficiar dos apoios económicos exclusivos a residentes.

4 Jun 2018

Canidromo | Concessionária obrigada a apresentar novo plano até sexta-feira

O Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais rejeitou o plano apresentado pelo Canidromo para a protecção dos 600 galgos. A companhia de corridas de galgos Yat Yuen pedia a extensão do prazo de funcionamento do espaço por mais o ano, mas o presidente do IACM garantiu que não pode prolongar o prazo além do dia 21 de Julho. Albano Martins, presidente da ANIMA, promete lutar pela sobrevivência dos animais com o apoio do Gabinete de Ligação

 

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá por decidir o futuro a dar aos 600 galgos que ficarão sem casa quando o Canídromo fechar portas, no próximo dia 21 de Julho. A companhia de corridas de galgos Yat Yuen, concessionária, entregou um plano onde pedia a extensão do prazo de funcionamento do Canidromo por mais um ano, mas o documento foi rejeitado pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM).

José Tavares, presidente do IACM, disse aos jornalistas que a concessionária, ligada ao universo da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), apresentou duas soluções: a adopção dos galgos ou o seu transporte para o interior da China.

“Estas duas soluções são viáveis dentro da lei de protecção dos animais que temos em vigor, desde que eles cumpram os detalhes que estão descriminados na carta. Temos todo o empenho em fazer bem as coisas, e estamos dispostos a disponibilizar qualquer apoio técnico para esta operação. Na carta frisaram, por várias, vezes que são uma companhia responsável e que vão assumir todas as despesas na protecção dos 600 galgos até a situação estar resolvida, e por isso disseram que vão precisar de mais tempo, porque precisam de quase um ano para pôr em prática esse plano.”

No entanto, o IACM considerou essa proposta “inaceitável”. “Achamos que pedir a extensão do prazo por mais um ano é inaceitável, porque eles sabiam, há dois anos, que até 21 de Julho teriam de sair do terreno do Canídromo e não temos condições para aceitar. Respondi à carta dizendo que têm de nos apresentar uma solução até ao dia 8 de Junho para a saída dos 600 cães e como vai ser feito”, acrescentou José Tavares.

O presidente do IACM prometeu todo o apoio técnico no transporte dos animais para a China, mas adiantou que é da responsabilidade da concessionária garantir a devida protecção dos cães. “Eles é que vão encontrar o lugar para colocar os animais, é da sua responsabilidade. Vamos fazer com que o Canídromo cumpra aquilo que está prometido. Dentro da lei, eles são os donos dos cães e para todo o processamento que fizerem, à posteriori, têm que ser dadas garantias. Se decidirem levar essas crias para a China eles é que vão ter de se certificar que eles são bem tratados.”

José Tavares frisou que as únicas acções que o IACM pode levar a cabo são a vacinação dos animais e o apoio técnico na documentação para o seu transporte para fora de Macau. “Eu não posso ir com os meus fiscais fiscalizar aquilo. São eles que vão ter de tratar das adopções, e caso sejam feitas com algumas associações, essas instituições também vão ter de dar algumas garantias. Nós podemos fiscalizar enquanto os cães estiverem aqui, na China não podemos fazer nada. Quem aprova essa localização será o Governo local, não tem de ser aprovada por nós. Há que ter certificações e estamos dispostos a ajudar na documentação mais técnica. Temos inspecções periódicas quando for necessário. Os cães para saírem de Macau têm de estar de quarentena e têm de ser feitas análises ao sangue. Isto tem de ser feito a tempo e horas.” 

ANIMA vs Governo

Nas declarações que deu aos jornalistas na sexta-feira, à margem de um evento, José Tavares considerou que o Governo não deve ser o único responsabilizado por esta matéria e que a situação dos galgos diz respeito a toda a sociedade civil.

“Esta postura da ANIMA de pedir responsabilidades ao Governo é errada. A responsabilidade é do Canídromo, porque são eles os donos dos cães. (A companhia de corridas de galgos Yat Yuen) tem de nos dar a conhecer qual o espaço físico e em que condições estão esses animais. Têm de nos dar uma ideia geral para sabermos onde estão os cães, e por isso acho que a fiscalização não é só nossa. É de todos, da imprensa e de associações como a ANIMA, haverá dificuldades mas podem ser questionadas essas condições.”

Contactado pelo HM, Albano Martins adiantou que nunca recebeu resposta às inúmeras cartas que a ANIMA tem enviado para o Executivo e que vai continuar a lutar pela sobrevivência dos galgos através do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM. Este mês deverá acontecer um novo encontro com os representantes de Pequim no território.

“A única certeza é que toda a gente, a nível internacional, vai pôr em causa uma decisão errada do Governo, se for no sentido dos animais irem para a China. A ANIMA vai tentar evitar isso, falando com o Gabinete de Ligação.”

Contudo, o presidente da ANIMA aplaude a decisão do IACM de rejeitar a proposta. “Acho que o IACM se está a portar bem. Eles têm de ter um plano que salve esses animais, e não deve passar pelo envio para o interior da China. Provavelmente, vão para pistas onde o jogo ilegal vai continuar, e depois para a mesa, que é o que temos vindo a dizer. Numa carta que enviámos ao secretário (para a Economia e Finanças, Lionel Leong), no dia 18 de Maio, dissemos que essa situação iria favorecer o jogo ilegal na China e que a China não iria ver com bons olhos uma situação dessas.”

A ANIMA, que tem vindo a sofrer dificuldades financeiras, não tem capacidade para recolher 600 galgos em Coloane. “Se essas adopções fossem coordenadas com o IACM, a ANIMA estaria disposta a ajudar. Mas a adopção é apenas supervisionada pelo Canidromo. Muito mais grave é que vão haver muitas pessoas negligentes que vão usar os animais para fazer procriação e depois vender os cães.”

Silêncio total

Há muito que a ANIMA luta pela sobrevivência destes galgos que, depois de anos a serem usados para apostas em corridas, acabam por ser mortos. Várias organizações internacionais já consideraram que o Canidromo é das piores pistas de corrida no mundo, e até o diário New York Times escreveu sobre o assunto. Há dois anos chegou a falar-se na possibilidade de levar os galgos para uma quinta no região do Alentejo, Portugal, mas essa hipótese caiu por terra.

“Esse plano só funcionava se o Governo nos tivesse dado um ano antes do Canídromo fechar, porque há dois anos que estamos a pedir isso. Isso não vai funcionar porque o Governo simplesmente nunca respondeu. Portanto, nunca criámos as estruturas necessárias, nem os apoios para transportar esses animais. Esse era um plano de emergência e agora é tecnicamente impossível.”

Ao longo de cerca de três anos que a ANIMA luta por esta questão, enviando cartas ao Executivo e ao próprio conselho de administração do Canídromo, sem obter respostas.

“Entregámos o ano passado, em Novembro, uma carta ao administrador (do Canídromo) em que pedimos para arranjar uma solução em conjunto. Ainda estávamos a tempo. Eles não quiseram saber e nunca responderam a uma carta. Da parte do Governo também nunca recebemos nenhuma resposta, e enviámos mais de cinco ou seis cartas para a secretaria da Economia e Finanças. Não sabemos o que o Governo pensa.”

Para Albano Martins, “agora acordaram e o Governo está a ser mais duro”. Caso a proposta do Canidromo fosse aceite, o presidente da ANIMA acredita que manteriam a mesma postura um ano depois. “Há associações internacionais que estão disponíveis para arranjar pessoas para adoptar. O Canidromo ao fim de um ano iria continuar com a mesma atitude e vai dizer que não há adoptantes. Não há adopções, e mesmo que haja nunca vão revelar. Isto não é transparente.”

Canidromo vs Jockey Club

Se a SJM se prepara para perder um terreno concessionado e as apostas de cães, a verdade é que conseguiu ver renovada a concessão do Macau Jockey Club por mais duas décadas, apesar da existência de inúmeras dívidas e de não serem claras as condições em que são tratados os cavalos de corrida. Para Albano Martins, “houve um acordo” entre o Governo e a concessionária.

“Acho que houve um acordo entre eles, mas claro que continuam interessados em ficar com o terreno do Canídromo. É o que eu deduzo. Várias vezes a Angela Leong (administradora-executiva da Yat Yuen) disse que o espaço era bom para fazer habitação, mas isso era bom se o terreno fosse deles, o que não é o caso. Ninguém pensava que o Governo iria prolongar a concessão do Jockey Club por 24 anos sem nenhum plano, sem nada. Houve um simples despacho a dizer baboseiras, na grande maioria, porque não houve investimento nenhum, esse vai servir para pagar as dívidas e restam apenas 200 milhões. Não sabemos o que o Governo pensa em relação a isso”, rematou Albano Martins.

Da parte de Angela Leong as palavras têm sido muito parcas. Não só a companhia de corrida de galgos Yat Yuen entregou o plano em cima do prazo exigido pelo Governo, ou seja, no passado dia 31 de Maio, como a deputada e empresária prometeu apenas proteger os animais, sem ter revelado quaisquer detalhes.

 

 

Albano Martins alvo de ataques no Facebook

O presidente da ANIMA tem vindo a ser alvo de ataques nas redes sociais por parte de apoiantes das corridas de galgos, tendo denunciado a situação na sua página pessoal do Facebook. “Agora os amigos das corridas de cães têm vindo a aceder ao meu Facebook, através de contas falsas, em que fazem comentários estúpidos sobre mim, como já aconteceu no passado. Estão numa situação de desespero porque as apostas de corridas de galgos vão acabar. Dizem que eu como carne (quando não é o caso) e que vou vender os galgos para um restaurante local de um amigo meu. Vou guardar todas as mensagens comigo para fazer queixa na polícia”, escreveu Albano Martins.

4 Jun 2018

Líder da Coreia do Norte reafirma compromisso de abandonar armas nucleares

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] líder norte-coreano, Kim Jong-un, reiterou na quinta-feira o compromisso “consistente e imutável” para a desnuclearização da península da Coreia, informou hoje a agência estatal de notícias KCNA.

A posição foi tomada numa reunião com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, em Pyongyang.

Kim Jong-un disse esperar que o processo de desnuclearização decorra de “forma progressiva”, sublinhando que o tema deve resolver-se mediante “um efetivo diálogo e negociações construtivas” com os Estados Unidos.

O objetivo é “alcançar uma solução que considere os interesses de ambas as partes, através de um novo método e numa nova era”, indicou.

No encontro, segundo a agência estatal norte-coreana, Lavrov reafirmou o apoio de Moscovo a este compromisso e afirmou que a península coreana entrou numa “fase de estabilidade”.

No âmbito do encontro, Kim Jong-un elogiou a política do Presidente russo, Vladimir Puttin, no que concerne a “contrariar a hegemonia dos EUA” e, por sua vez, Sergei Lavrov convidou-o a visitar a Rússia.

A reunião de quinta-feira decorreu durante o período de preparação da cimeira entre Kim Jong-un e o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A última visita de autoridades russas à Coreia do Norte ocorreu em março, quando o ministro do Desenvolvimento do Extremo Oriente da Rússia, Alexander Galushka, esteve Pyongyang para discutir os laços económicos bilaterais.

A visita de Sergei Lavrov realiza-se quando Trump e Kim se preparam para um encontro, a 12 de junho, em Singapura, depois de essa reunião ter sido cancelada na semana passada e, posteriormente, ter sido novamente confirmada.

2 Jun 2018

Seul e Pyongyang retomam encontros de alto nível para desenvolver cooperação

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s duas Coreias iniciaram ontem uma reunião para começar a aplicar a declaração conjunta assinada em abril, na qual concordaram em aumentar a cooperação e trabalhar para a paz e a “desnuclearização total” da península.

A reunião começou às 10:00 na fronteira militarizada que divide os dois países, disse uma porta-voz do Ministério da Unificação sul-coreano.

A delegação sul-coreana é liderada pelo ministro da Unificação, Cho Myoung-gyon, e integra os vice-ministros dos Transportes, Kim Jeong-ryeon, e da Cultura, Roh Tae-kang.

Antes de entrar na reunião, Cho comprometeu-se a aplicar o acordado na declaração de 27 de abril passado “de forma ágil e sem interrupções, criando ao mesmo tempo uma atmosfera positiva para a realização da cimeira entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos”.

A delegação de Pyongyang é liderada por Ri Son-gwon, responsável pelo organismo encarregado das relações intercoreanas, e conta com os vice-ministros dos Transportes Ferroviários e do Desporto, Kim Yun-hyok e Won Kil-u, respetivamente.

As duas partes devem abordar a reunião de famílias separadas pela Guerra da Coreia (1950-53), prevista para 15 de agosto último, o aumento do comércio ou a possível ligação das vias férreas transfronteiriças para trocas comerciais e viagens turísticas a partir da Coreia do Sul.

Norte e Sul continuam tecnicamente em guerra, uma vez que o armistício assinado no final da Guerra da Coreia, ainda não assinaram um acordo de paz.

Muitos analistas consideraram que a reativação da cooperação económica entre as duas Coreias vai ser demorada, devido às sanções aplicadas ao regime de Pyongyang, devido aos programas nuclear e de desenvolvimento de armas.

Esta recente aproximação entre as duas Coreias sofreu um revés, em meados de maio último, quando Pyongyang cancelou, à última hora, esta reunião de alto nível e condenou as manobras militares conjuntas dos Estados Unidos e da Coreia do Sul. O encontro estava inicialmente previsto para 16 de maio.

Os contactos foram recuperados na sequência do encontro, no passado sábado, entre o Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un. Esta foi a segunda reunião entre os dois responsáveis desde a cimeira de 27 de abril.

A reunião de sábado também serviu para recuperar a histórica cimeira entre Kim e o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O encontro, previsto para 12 de junho, em Singapura, chegou a ser cancelado por Trump, na passada quinta-feira, mas, após uma série de mensagens amistosas entre os dois lados, os preparativos em curso para a realização da cimeira entre Trump e Kim.

2 Jun 2018

Dois desenhos raros do Tintim vão ser leiloados hoje

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]esenhos originais do livro de banda desenhada das Aventuras de Tintim “Carvão no Porão” vão ser leiloados hoje, nos Estados Unidos, numa sessão que deverá chegar às centenas de milhares de dólares.

Ambas desenhados à mão pelo artista belga Hergé em 1957, estas ilustrações, uma a lápis (35,2 x 50 cm) e a outra a tinta china (30,7 x 47,7 centímetros), poderão render entre 720.000 e 960.000 dólares (entre 618.000 e 825.000 euros), de acordo com a casa de leilões Heritage Auctions, que as colocou à venda em Dallas, no Texas.

A empresa de leilões vai transmitir o evento em direto, a partir da sua sede holandesa, perto de Utrecht (centro).

Os dois esboços representam a página 58 das aventuras do famoso repórter da poupa loura, no 19.º álbum do Hergé, publicado em 1958.

No início desta prancha, dividida em doze vinhetas, vê-se o Tintim, o Capitão Haddock, o seu fiel companheiro Milou e o piloto estónio Piotr Szut com uma pala preta no olho, a olhar para o mar.

Sob os seus pés, nas profundezas do oceano, um mergulhador tenta prender uma mina ao navio, antes de ser atingido por uma âncora, que o deixa incosncente

Estas pranchas “são excelentes exemplos da técnica de desenho da linha clara”, o estilo gráfico rigoroso em que se destacou Hergé, salientou o especialista belga em banda desenhada Eric Verhoest.

“Mas não são só os desenhos, é a forma como ele fazia avançar a história. Hergé era um mestre nisso”, disse Verhoest à AFP.

É raro os desenhos originais de Hergé serem colocados no mercado, porque o artista não os ofereceu, senão ocasionalmente, como presentes, a amigos próximos, segundo a Heritagem Auctions.

A prancha à venda no sábado tinha sido oferecida pelo belga a um “amigo escandinavo” na década de 1970 que, em seguida, a vendeu a um comprador “numa região germanófona da Europa”, disse Verhoest.

No início deste mês, uma aguarela rara de 1939 do álbum “O Ceptro de Ottokar” foi vendida por mais de 600.000 euros na Christie’s, em Paris.

Tintin é uma estrela incontestada dos leilões. Um desenho em tinta da china para as capas dos álbuns do publicados de 1937 a 1958 foi vendido por 2,65 milhões de euros pela casa de leilões Artcurial em 2014. Um recorde mundial.

2 Jun 2018

Poesia, amor e liberdade na abertura do Centro Português de Surrealismo

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Centro Português de Surrealismo, em Vila Nova de Famalicão, Portugal, abriu portas para uma “atitude de poesia, de amor e de liberdade”, patente numa exposição que reúne mais de 100 obras de autores nacionais, ligados àquele movimento artístico.

A nova casa do surrealismo em Portugal representa o “culminar de um longo caminho de mais de 20 anos” percorrido pela Fundação Cupertino de Miranda (FCM), que alberga aquela nova valência cultural, inaugurada com a exposição “O Surrealismo na Coleção Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian”, uma mostra da herança surrealista portuguesa, que reúne 25 autores e 59 obras.

Pela nova sala, 400 metros quadrados resultantes do “diálogo” entre o arquiteto do edifício original da FCM, João Castelo Branco, e o arquiteto João Mendes, vão estar acessíveis trabalhos de nomes como Mário Cesariny, João Moniz Pereira, Jorge Vieira ou José Francisco, pertencentes à coleção da Gulbenkian, mas também a visão do surrealismo de 23 autores, como António Dacosta, António Paulo Tomaz e Artur do Cruzeiro Seixas, com obras integradas na colação da própria FCM.

“São os principais nomes que fizeram parte do momento [surrealista em Portugal], é vasto, é sem dúvida um momento muito especial”, explicou à Lusa o diretor artístico da FCM, António Gonçalves.

Segundo o responsável, as obras em exposição “são conhecidas, existem”, mas o novo centro dá a possibilidade de as “reunir, catalogar e editar”, e ainda a “possibilidade de rever alguns autores e obras”.

António Gonçalves, salientando “não ser fácil” definir o Surrealismo, explicou que se trata de um “movimento que teve o seu início no plano internacional, em Paris, com André Breton à cabeça, nos anos [19]20”.

“Em Portugal não tem início nesse período, as primeiras exposições acontecem nos anos 40, em 49. Mas isto não quer dizer que não estivessem já nos anos 30 alguns autores a avançar com o surrealismo português, era já uma prática”, apontou.

Explicada a contextualização temporal, afinal em que se define o Surrealismo, questiona-se: “O surrealismo, propriamente, eu diria que é uma atitude de poesia, de amor e de liberdade que muitos deles [os autores] anunciaram, desde liberdade de expressão, humana e de criação, para se poder fazer uma diferença em relação a muita da violência que se estava assistir naquilo que foi uma primeira e uma segunda guerra”, respondeu André Gonçalves.

A abertura do Centro Português de Surrealismo é um marco na história da FCM: “É o culminar de um longo caminho de mais de 20 anos que se iniciou com a doação da coleção de João Meireles e de Cruzeiro Seixas, momento a partir do qual o surrealismo passou a ser uma prioridade essencial na programação da fundação, na investigação e na própria edição”, explicou o presidente da instituição, Pedro Álvares Ribeiro.

A FCM, “nos últimos, adquiriu mais de mil obras de arte”, explanou. “Hoje a coleção tem mais de três mil obras de 300 artistas, e é a maior coleção surrealista em Portugal”.

“Com a inauguração passamos a ter esta sala magnífica de 400 metros quadrados [que teve um custo de um milhão de euros] e a ter condições únicas para exposição da coleção”, concluiu.

A nova valência cultural vai marcar a história da FCM, mas também da terra onde se instalou, com o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão a realçar que o Centro Português de Surrealismo vai permitir ao concelho “condições para ombrear com outras galerias à escala global”, sendo prova de que a “marca industrial muito reconhecida” a Famalicão “não é inibidora de outra ações”.

“Felizmente, esta centralidade famalicense na área da cultura permite sairmos um pouco daquele que é o hábito das grandes cidades, Porto e Lisboa, que ficam com quase tudo o que é oferta cultural neste domínio”, explicou o autarca.

Paulo Cunha garantiu ainda que a autarquia irá apoiar a FCM: “Será um apoio de 300 mil euros, em quatro anos, para dar condições de tempo, para que o projeto se solidifique, para introduzir previsibilidade ao projeto”, referiu.

O autarca deu ainda a entender que autarquia pretende ir mais longe na sua relação com o surrealismo.

“Não escondemos a ambição de a partir deste projeto criar um roteiro internacional do surrealismo, para que possamos ser visitados”, revelou.

O Centro Português de Surrealismo foi inaugurado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

1 Jun 2018

Amor Electro editam novo álbum, intitulado “#4”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Amor Electro têm um novo álbum, “#4”, feito de um compromisso entre compor um disco eclético e aceitar a lógica do mercado, que privilegia o formato canção, como explicaram à agência Lusa.

“Vivemos numa fase em que o mercado funciona à base de música a música. Nós encarámos este disco como um aglomerado de músicas, obviamente com conceito, mas é um disco um bocadinho mais eclético, no sentido em que conseguimos abranger vários estilos”, afirmou Tiago Dias, um dos músicos do quinteto rock e autor da maioria das canções.

“#4”, que surge cinco anos depois de “(R)Evolução”, apresenta onze temas originais, mas há pelo menos três canções que o grupo já divulgou há bastante tempo, como por exemplo “Juntos somos mais fortes”, lançado em 2016 quando Portugal participou no europeu de futebol, “Procura por mim” e “Sei”.

A estes, o grupo junta ainda “O nosso amor é uma canção”, com letra co-escrita por Fernando Tordo e Marisa Liz, vocalista do grupo, “De candeias às avessas”, uma letra de Jorge Cruz (Diabo na Cruz) e uma versão de “Canção de embalar”, de José Afonso.

Formados em 2010, os Amor Electro lançam agora o terceiro álbum, embora o título faça pensar que é o quarto.

A cantora explica: “O terceiro geralmente é um disco de consagração. Achámos que não estávamos preparados para isso. (…) O terceiro disco é aquele ‘vai ou racha’. Não temos medo disso, mas vemos este disco como um quarto e depois daqui a um tempo havemos de lançar o terceiro”.

“Eu sei que pela ordem numérica matemática, a seguir ao dois vem o três, mas neste caso não se aplica a matemática, mas sim a filosofia”, sublinhou Tiago Dias.

Com o novo álbum, o grupo fecha uma janela de cinco anos dedicados aos dois discos anteriores, feitos sobretudo em digressão. Abre-se agora uma nova etapa de concertos, a começar no dia 07 de junho no Village Underground, em Lisboa, onde o grupo apresentará o novo álbum na íntegra.

A banda já actuou em Macau em 2015, num concerto promovido pela Casa de Portugal em Macau.

1 Jun 2018