Victor Ng PolíticaAgnes Lam entrega o seu primeiro pedido de debate na AL O projecto do Executivo para a construção de um crematório em Macau levou a deputada Agnes Lam a apresentar na Assembleia Legislativa um pedido de debate. Também a deputada Wong Kit Cheng interpelou as autoridades sobre o mesmo assunto [dropcap style≠‘circle’]D[/dropcap]ias depois da Associação Novo Macau se ter pronunciado quanto à construção do crematório no território, o assunto tomou conta da agenda política depois de Agnes Lam ter entregue um pedido de debate sobre essa matéria, que será ainda alvo de votação. De acordo com a proposta apresentada pela deputada e docente da Universidade de Macau, o debate tem como objectivo clarificar as razões e necessidades para a construção do crematório, uma vez que a deputada afirma existirem suspeitas de que o Executivo tem vindo a avançar com o projecto às escondidas. Agnes Lam lembra que só no passado dia 20, depois de uma resposta da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), é que a sociedade ficou a saber que está a ser planeada a construção de um crematório junto ao cemitério Sa Kong, na Taipa, numa altura em que faltavam apenas dois dias para o prazo de recolha de opiniões sobre a planta de condições urbanísticas em questão. Para a deputada, esta postura do Governo deu a entender que este projecto tem vindo a ser desenvolvido há muito tempo sem o conhecimento da população, o que pode gerar ainda mais oposição. Para Agnes Lam, antes da decisão de se avançar com a construção do crematório, o Executivo precisa avançar com mais informações sobre o projecto. A deputada questiona ainda se existe mesmo a necessidade de construir um crematório em Macau, uma vez que, de acordo com dados estatísticos, apenas quatro corpos por dia são cremados na cidade vizinha de Zhuhai. Na passada sexta-feira, Sulu Sou, deputado suspenso da AL, disse em conferência de imprensa que as autoridades deveriam ter comunicado de forma atempada os detalhes do futuro crematório. “O Governo precisa de comunicar com as pessoas que vivem na área à volta do projecto, são elas que vão ser directamente afectadas por eventuais consequências negativas. Se eles não informam as pessoas sobre os seus planos, não devem achar que vão ter apoio só porque sim”, afirmou. Maior flexibilidade Outro membro do hemiciclo que se pronunciou sobre o assunto foi Wong Kit Cheng, que escreveu uma interpelação escrita. A deputada recorda que, de acordo com a legislação em vigor, o crematório tem de ser construído dentro do cemitério. No passado, de acordo com a interpelação, o Executivo terá dito que iria rever as leis para que o crematório fosse construído fora do cemitério. Com esse plano em vista, a deputada pretende saber se esta solução tem pernas para andar. Wong Kit Cheng acredita que deve haver uma maior flexibilidade em termos de escolha do local para o crematório, bem como um planeamento para reduzir as dúvidas e preocupações da população.
Valério Romão h | Artes, Letras e IdeiasA infância ao longo da vida [dropcap style=’circle’] A [/dropcap] infância é o território pluripotencial do sonho. Tudo é possível. Podemos ser astronautas, veterinários, bailarinos. Nascemos ilimitados para o mundo, mesmo quando este se revela um lugar inóspito onde só parece vicejar a miséria, e a idade é um funil poroso através do qual vamos actualizando ou perdendo as possibilidades com que todos nascemos. Como se levássemos um grupo de miúdos pela mão a passear e nos déssemos conta, a certa altura, de termos deixado mais de metade pelo caminho. Quando era criança, queria ser astronauta. O grande mistério – e o grande interesse – era o que estava longe. Longe estava igualmente de perceber que a proximidade não era de todo sinónimo de clareza e que as motivações dos homens podiam ser tão insondáveis como a mais distante estrela. Com sete ou oito anos, pedi ao meu pai para me comprar um livro especial: “Astronomia para amadores”. Se queria ser astronauta, era importante preparar-me teoricamente. Tudo me fascinava. Os tipos de estrelas; as suas dimensões e temperaturas incompreensíveis; a velocidade da luz no vácuo; a distância entre os corpos celestes. Estava convencido de que havia uma organização inteligente por detrás da composição de um espectáculo aparentemente tão perfeito. E estava convencido de que tornar-me astronauta era ter a possibilidade de chegar mais perto do mistério. Como é óbvio, e embora a paixão pela astronomia não se tenha dissipado com a idade, não me tornei astronauta. Como muito de vocês não se tornaram veterinários, actores ou bombeiros. Deixámos isso na infância e pelo caminho alimentámos outros sonhos, outras possibilidades. Ser adulto é também – e sobretudo – isso: conformar-nos com a realidade. Como aquelas ementas deliciosas das quais afinal só sobram meia dúzia de pratos que eram as nossas terceiras escolhas. Quando olho para trás, percebo que não foram as estrelas ou as constelações que me fizeram apaixonar pelo espaço. Foi o mistério, essa intangibilidade de muitos nomes. O mistério que atrai tanto os poetas como os filósofos e teólogos. O mistério que de algum modo justifica e dá sentido a esta existência infinitesimal que fingimos, logo de manhã ao acordar, ter espessura. Escrever tornou-se para mim uma forma de tentar acercar-me do mistério. É o meu espaço possível. É onde encontro a infância, o outro, o exótico e o familiar, os meus mortos e os mortos alheios, aquilo que deixei pelo caminho e aquilo com que fui substituindo o que deixei. Dir-se-á que é um fraco paliativo para a contemplação da terra na órbita da mesma. Verdade. Mas há quem não tenha encontrado um paliativo. E há esteja tão distraído com a seriedade que impõe ao dia-a-dia que já não dá conta de que este é apenas um aspecto ínfimo de uma coisa muito mais vasta e permanente.
António de Castro Caeiro h | Artes, Letras e IdeiasO nada esvazia [dropcap style=’circle’] A [/dropcap] negação na vida não é apenas lógica. Fazemos a experiência do “não” de diversos modos. Logicamente podemos perceber que não nega um predicado dito de um sujeito: o quadro não é preto, o tampo da mesa não é branco. Pode também negar a existência ou a disponibilidade de um sujeito: já não existem dinossauros, já não há leite, no sentido em que dizemos que acabou o leite na dispensa. A forma como a lógica e a linguagem pensa a negação é complexa porque a operação de negação se complexa conforme os horizontes semânticos que se constituem. É possível que não chova é diferente de é provável que não chova e diferente ainda de é necessário que chova. A complexificação do pensamento modal implica todo um conjunto de correlações entre o ser necessário e o ser possível. Mas também podemos trazer quantificadores à colação. É possível que nem todas as pessoas tenho os mesmos gostos. Não é possível que algum ser humano não seja mortal. A predicação negativa, a negação da existência absoluta de um objecto expresso como sujeito gramatical, a negação modal e a negação quantificada enquanto tais e individualmente e numa relação entre si dá para podermos perceber a densidade do operador de negação. Se acrescentarmos ainda a dupla negação e compreendermos como a afirmação pode daí resultar, então a análise terá de sempre sempre também semântica e pragmática e não apenas sintática. Há, assim, muitas maneiras de dizer “não”. Há muitas maneiras de expressar a negação. Com pronomes: ninguém, nenhures. Com advérbios: nunca, nenhures. A antiguidade pensa a “negação” não apenas como apofático (enunciado declarativo negativo, como demos alguns exemplos lá em cima) mas também como privação (sterêsis). A cegueira é uma negação essencial da possiblidade da visão. Ter olhos não quer dizer ter a possiblidade da visão. Há coisas em sonhos e ficção que não são vistas com os olhos. Toda a forma de mutilação que resulte de amputação não é uma mera negação. O corpo humano é um todo que sem partes deixa identificar diversas impossibilidades, de outro modo possíveis se não estivesse privado delas. Se a mesa não tiver tampo ou não tiver pernas, se a porta não tiver trinco ou não estiver encaixada, se a estante ou a tenda não estão montadas, sucede não apenas uma negação lógica mas a compreensão da impossibilidade de uma possibilidade. E, contudo, a vida ensina-nos outras formas de negação bem mais profundas, apesar da complexidade “lógica” daquelas que enunciamos. Mais abissal do que a mera negação que se adequa ao pensamento do que não existe e não há é a dureza da contrariedade. A abominação da solidão é duríssima e não anulável. É agudíssima. Em toda a recusa, encontramos uma dor impiedosa. Toda a interdição e proibição nos faz ver o que não é para nós, quem não é para nós. Faz-nos ver também quem nós nunca seremos. Em toda a carência, haverá mais amargura? A interdição, a abominação, a rejeição, a contrariedade, não são ausências de registo de possibilidade, mas possibilidades impossibilitantes. Trazem simultaneamente consigo, na verdade da noite da angústia, o que corresponde ao sentido do ser na sua possibilidade de problematização extrema. O que é possível é arrancado ao nada.
Hoje Macau China / ÁsiaComércio | Penálti de vinho português na terra natal da emigração chinesa [dropcap style=’circle’] E [/dropcap] m Qingtian, leste da China, um complexo de armazéns com 267.000 metros quadrados remete para os centros de revenda de produtos chineses no Porto ou em Lisboa, mas aqui a mercadoria inclui ‘Made in Portugal’ “Os produtos importados, nomeadamente portugueses, vêm directamente para aqui, e são depois vendidos para toda a China”, explicou Zhou Heping, chefe do condado que é terra natal de um terço dos quase 30.000 chineses radicados em Portugal. No armazém de Li Changfeng, que vive entre Espanha e a China, cerca de metade do vinho é português – estão representadas quase quarenta quintas, do norte ao sul do país. Mas para Li, o vinho é só um ‘hobby’: “O meu negócio é o imobiliário”. Na loja ao lado, caixas com 24 unidades de ‘Chaoji Boke’ (Super Bock, em chinês) estão pousadas ao lado da porta. Cada caixa custa 95 yuan (12,5 euros). “Nós também trazemos produtos portugueses para a China; contribuímos para a economia portuguesa”, disse à Lusa Zhang Zhenghua, emigrado em Portugal há vinte anos, durante um almoço regado com Quinta do Vale Meão 2013. Aquele tinto do Douro, que em Portugal custa mais de 100 euros, é aqui consumido segundo o costume local: de penálti, ou ‘ganbei’, como dizem os chineses. “Os nossos filhos nasceram em Portugal, são portugueses, queremos o melhor para o país”, insistiu Zhang, tentando contrariar a imagem da comunidade chinesa como predatória, de concorrência desleal para o pequeno comércio. À frente dele está sentado Sun Zhongwu, radicado em Lisboa desde 1996, e que exporta também vinho português para a China. Do outro lado, está Alexandre Chen, que cresceu no Porto, e tem hoje uma agência de viagens que em 2017 levou mil chineses a visitar Portugal. O retorno Acompanhando o ‘boom’ económico que converteu a China na segunda maior economia mundial, muitos dos emigrantes chineses estão a realizar o percurso contrário ao que fizeram nos anos 1980 e 1990, num fluxo que as autoridades portuguesas querem que se reflicta no comércio bilateral. “É desejável que os nossos amigos contribuam mais para uma balança comercial equilibrada”, disse, em Qingtian, o embaixador português na China, José Augusto Duarte, a Yi Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal. “Da próxima vez que cá vier, quero ver mais produtos portugueses”, afirmou. Só no primeiro trimestre deste ano, Portugal importou da China bens no valor de 816 milhões de dólares, fixando o crónico deficit comercial com o país asiático em cerca de 287 milhões de dólares, segundo dados das alfândegas chinesas publicados no portal do Fórum Macau. Cerca de um terço das exportações portuguesas corresponde a veículos e outros materiais de transportes, sobretudo devido às vendas de carros fabricados pela Autoeuropa, a unidade da Volkswagen em Setúbal. Mas o diplomata conta com os imigrantes chineses para impulsionar as exportações de vinho, azeite e cerveja. “As pessoas [na China] estão a começar a apreciar estes produtos”, observou. Situado no sul de Zhejiang, uma das mais prósperas províncias chinesas, Qingtian tem cerca de meio milhão de habitantes, mas 350.000 naturais do condado vivem fora da China, sobretudo no sul da Europa. O primeiro fluxo migratório remonta à Primeira Guerra Mundial, quando a China enviou milhares de trabalhadores locais para apoiarem os Aliados, conta à Lusa Xing Changyong, director do gabinete de relações internacionais do condado. Nos anos 1980, a política de Reforma e Abertura, adoptada pelo líder chinês Deng Xiaoping, impulsionou um segundo fluxo migratório, mas desta vez a batalha era outra: assegurar mercados para as fábricas que brotavam no leste chinês, à medida que o país se abria à iniciativa privada. Nesta parte da China, a geografia isolou historicamente as povoações, reforçando o sentimento de comunidade. Qingtian, que fala o seu próprio dialecto, fica num vale montanhoso, cortado pelo rio Oujiang, outrora a única saída para o exterior.
Hoje Macau China / ÁsiaPR timorense pede “relação construtiva” entre novo Governo e a oposição [dropcap style=’circle’] O [/dropcap] Presidente da República timorense pediu uma “relação construtiva” entre o novo Governo, parte do qual tomou posse, e a oposição, para ultrapassar as normais diferenças políticas em prol do desenvolvimento nacional “Entre o Governo e a oposição deve haver uma relação construtiva com base em princípios, valores e regras constitucionais, tendo sempre em conta a defesa dos nossos interesses nacionais”, afirmou Francisco Guterres Lu-Olo, no discurso com que assinalou a tomada de posse de parte do VIII Governo constitucional. “As diferenças políticas em democracia são naturais. Na verdade, a democracia não funciona sem a oposição. Importa assim dar o devido valor ao papel da oposição na consolidação da nossa democracia”, defendeu. A tomada de posse ficou marcada por polémica depois de Francisco Guterres Lu-Olo ter excluído 11 pessoas da lista dos membros do Governo que iam tomar posse, para solicitar mais informação sobre o seu alegado envolvimento em casos com a justiça. Uma decisão que causou profundo mal-estar na Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), do Governo, levando o número dois do novo Executivo, Xanana Gusmão, a anunciar que não tomaria posse na sexta-feira. Sem se referir à polémica, Lu-Olo mostrou-se convicto que todas as forças políticas e sectores sociais concordam com “as grandes prioridades do desenvolvimento nacional”, que exige a participação de todos e a “capacidade de diálogo do Governo”, em prol da unidade nacional. “O meu apelo inclui os partidos que sustentam o Governo e igualmente os partidos da oposição. É salutar existir uma oposição experiente e activa, porque a crítica construtiva ajuda a melhorar o trabalho dos governos”, afirmou. “Mas há desafios que, para serem vencidos, requerem acordo entre Governo e oposição, em torno de objectivos claros quando são de interesse nacional”, sustentou. Lu-Olo lembrou o papel que os vários agentes do sistema constitucional têm, desde o Parlamento Nacional, que não só apoia um Governo estável, mas tem um papel importante “de fiscalização construtiva da actividade do Governo e aprovação de leis necessárias à modernização do país – com qualidade, competência e diálogo democrático”. “As democracias funcionam no espírito da separação dos poderes e, no espírito do controlo mútuo da sua acção. Os partidos e candidaturas políticas não podem ser simples máquinas de ganhar votos, só para estar no poder”, disse. “Todos nós, que fomos eleitos e respondemos perante os cidadãos, temos de honrar os compromissos que assumimos e as promessas que fizemos, durante as campanhas eleitorais”, afirmou.
João Santos Filipe Manchete SociedadeVítor Sereno troca Macau pelo Senegal com nota excelente Lufada de ar fresco, amigo, uma pessoa próxima e consensual. O actual Cônsul de Portugal vai deixar o território antes de Setembro e entre a comunidade há uma certeza: vai deixar saudades. [dropcap style≠‘circle’]C[/dropcap]orria o ano de 2015, quando num restaurante português houve uma disputa física entre um trabalhador e a administração. Ainda não tinham passados 30 minutos sobre o ocorrido e já Vítor Sereno, Cônsul de Portugal em Macau e Hong Kong, estava a ligar às pessoas no espaço para saber se estava tudo bem. Foi através de episódios como este e de uma relação de proximidade com a comunidade que Vítor Sereno criou a sua imagem de marca. Numa altura em que a saída para Dakar do actual Cônsul de Portugal em Macau e Hong Kong se aproxima a passos largos, o HM pediu uma avaliação a alguns membros da comunidade acerca do desempenho de Vítor Sereno. O balanço foi extremamente positivo com a política de proximidade e o dinamismo do diplomata a serem focos de elogios. “O anterior Cônsul [Manuel Cansado de Carvalho] tinha transformado a residência oficial na sua casa. Vítor Sereno chegou e inverteu esta tendência, abriu as portas. Logo aí marcou a diferença na forma como se relacionou com a comunidade”, disse Albano Martins, economista, ao HM. “Ele fez sempre questão de ser muito próximo das pessoas, fazendo amigos por toda a comunidade. Isto era algo que não acontecia até ele chegar a Macau, pelo menos no tempo do seu antecessor”, acrescentou. Um entre a comunidade Igual perspectiva tem o médico Fernando Gomes, que à semelhança de Albano Martins, também fez questão de referir que se considera amigo de Vítor Sereno. “Foi uma lufada de ar fresco na diplomacia de Portugal em Macau. Pela sua maneira de ser, que foi sempre muito próxima, teve um bom-relacionamento com a comunidade e até promoveu a aproximação entre as várias associações de matriz portuguesa”, defendeu em declarações ao HM. “Dependendo das situações, ele sabe actuar de uma maneira informal junto da comunidade, em que quase o podemos tratar por ‘tu’. A forma como deixa as pessoas à vontade quebra muitas barreiras e faz com que seja um homem em quem se pode confiar. Como ele cria essa confiança as pessoas sente-se mais à vontade para expor os problemas”, reconheceu. Ainda sobre este aspecto, Albano Martins destaca a facilidade com que Vítor Sereno se adaptou a Macau agindo como um membro da comunidade: “Como às vezes se diz: somos todos diferentes, mas iguais. Com ele passou-se o mesmo, era diferente porque era Cônsul, mas agia como um igual. Estava com as pessoas à vontade, sem cerimónias, se fosse preciso usar um registo menos formal de linguagem, também o fazia, sempre com um grande à vontade”, notou. Papel activo No entanto, não foi apenas pela proximidade que Vítor Sereno marcou a diferença. O dinamismo na forma como uniu os esforços da comunidade e como prestou apoio a cidadãos e empresas foram outros aspectos onde se destacou. “Era um homem muito activo, que se envolvia nas actividades da comunidade sempre com um grande dinamismo, mesmo no apoio a particulares e empresas. A prova deste aspecto, que ninguém pode negar, está na forma como conseguiu chegar a toda a comunidade”, sustenta Albano Martins. Como herança para o território ficam num aspecto mais visível a criação da iniciativa de Junho, mês de Portugal, e numa vertente mais informal a equipa de futebol do Consulado. “Foi sempre muito activo. Era impensável utilizar algo tão corriqueiro como o futebol para a diplomacia. Isto mostra o génio dele e a vontade de humanizar as relações. Soube ultrapassar a mera formalidade das relações humanas e isto conta muito. Ele começou a pontuar desde o primeiro dia que chegou”, destacou, por sua vez, Miguel de Senna Fernandes, advogado. “Ele foi activo no sentido de saber gerir e agregar o que existia. É muito difícil criar algo do zero. Havia actividades em Macau, mas quem é que conseguiu uni-las, utilizar bem os espaços e os recursos para lhes dar uma nova vida, mesmo dentro do Consulado? Isto é um mérito de Vítor Sereno e de todo o dinamismo dele”, apontou. Consensual No que diz respeito à avaliação do desempenho de Vítor Sereno, esta é tida como consensual. Todas as pessoas ouvidas apontaram os resultados como excelentes, também pela forma como os serviços consulares continuam a funcionar, apesar das limitações ao nível de orçamento e recursos humanos. “Apesar das várias limitações, o Consulado teve um funcionamento menos problemático face a outros períodos. Desde que ele entrou, o número de funcionários decresceu, mas a prestação não reflecte isso. E estamos a falar de cerca de 150 mil pessoas que recorrem aos serviços consulares”, apontou Fernando Gomes. “Acredito que se não fosse pela acção dele que já se tinha atingido o ponto de ruptura”, acrescentou. “O Dr. Vítor Sereno deixa uma imagem muito positiva, é o nosso Cristiano Ronaldo da diplomacia e vai ser muito difícil de substituir”, afirmou, ao HM, José Pereira Coutinho, Conselheiro das Comunidades Portuguesas e deputado da RAEM. “Macau fica em dívida para com ele e ele será sempre bem-vindo ao território. Deixa-nos com uma imagem de competência, dedicação e amor à Comunidade”, frisou. Esta avaliação positiva e consensual é também indicada por Miguel de Senna Fernandes: “Ele teve um bom desempenho e isso é uma opinião generalizada entre a comunidade. Se formos questionar as pessoas não há quem fale dele para lhe apontar o dedo pelas coisas menos boas. Isso só mostra o reconhecimento pelo seu trabalho”, completou. Festas e desejos de sucesso De acordo com as informações vindas de Portugal, Vítor Sereno vai para o Senegal, assumir o cargo de embaixador, assim como de outros oito países: Mauritânia, Costa do Marfim, Gâmbia, Burquina Faso, Mali, Libéria, República da Guiné e Serra Leoa. As informações surpreenderam a comunidade, que esperava um cargo com uma visibilidade diferente para Vítor Sereno, o seu desempenho em Macau. “Acredito que seria mais útil em Países de Língua Portuguesa. Se tivermos em conta a importância que a China está a dar aos Países de Língua Portuguesa, quer na área financeira, cultural, entre outras, e que Macau é o local para fazer a aproximação, o seu conhecimento ia ser uma grande mais-valia para Portugal nesses locais. Por exemplo, tem um conhecimento muito maior que seria muito útil em Angola ou Moçambique”, justificou Fernando Gomes. “Por este prisma, parece-me que o Ministério dos Negócios Estrangeiros desperdiçou um craque. Mas tenho a certeza que vai corresponder à tarefa que lhe vai ser atribuída”, complementou. “À partida esperava que fosse para um outro sítio, mas obviamente como não conheço o Senegal, não sei se é bom ou mau, só espero que tenha muito sucesso”, disse Miguel de Senna Fernandes. O também presidente da Associação dos Macaenses deixa ainda uma promessa, vai haver festa de despedida. “A Associação dos Macaenses vai fazer uma festa para o Cônsul. Vai ser uma coisa da associação, informal e de família. Mas acredito que ele vai ter de ir a muitas festas de despedida antes de deixar Macau”, revelou.
Hoje Macau China / ÁsiaFutebol | Cerca de 100 treinadores portugueses apostam no ‘sonho chinês’ [dropcap style=’circle’] S [/dropcap] eguindo as pisadas de André Villas-Boas, Vítor Pereira, Paulo Bento e Paulo Sousa, cerca de uma centena de treinadores portugueses investem a carreira na China, onde o futebol vai ganhando cada vez mais força Nascido em Arganil, distrito de Coimbra, Gonçalo Figueira é treinador de futebol em duas escolas públicas de Pequim, parte de uma vaga de técnicos portugueses que rumou à China, atraídos pelo ‘sonho chinês’ para a modalidade. “Como ganhámos o campeonato europeu, a China olha hoje para nós como uma grande potência do futebol”, explica Figueira, 31 anos. “Isso valoriza o treinador português”, diz. De acordo com a contagem da agência Lusa, quase 100 treinadores portugueses de futebol vivem hoje no país asiático, desde a província de Jilin, na fronteira com a Coreia do Norte, à ilha tropical de Hainan, no extremo sul do país. Alguns são contratados por clubes e outros estão integrados no sistema de ensino público, que incluiu em 2015 a modalidade no desporto escolar, parte de um “plano de reforma do futebol” decretado pelo governo, visando elevar a selecção chinesa ao estatuto de grande potência. País mais populoso do mundo, com quase 1.400 milhões de habitantes – mais do dobro de toda a União Europeia -, a China ocupa o 75.º lugar do ‘ranking’ da FIFA, atrás de Cabo Verde, Burkina Faso e muitas outras pequenas nações em vias de desenvolvimento. A única participação do país asiático num mundial foi em 2002. O ‘sonho chinês’ para o futebol, anunciado pelo presidente Xi Jinping, passa por três etapas: qualificar-se para a fase final do mundial, organizar um mundial e vencê-lo, em meados deste século. O ensino público assume especial importância na formação de jogadores de futebol na China, onde existem pouco mais de 100 clubes – só no distrito do Porto, por exemplo, há cerca de 450. Para Chen Tao, responsável pelo departamento de educação física de uma das duas escolas onde Gonçalo Figueira lecciona, o “mais importante” agora é “fazer com que os miúdos gostem de futebol”. “No futuro, o plano é dar aos melhores na modalidade acesso privilegiado a escolas de topo”, como forma de “motivar” os atletas, revela. A cor do dinheiro O poder financeiro do país asiático, a segunda maior economia mundial, garante que técnicos portugueses continuarão a rumar ao país. “A nível monetário sem dúvida que compensa”, afirma Figueira, que tem um mestrado em treino desportivo especializado em futebol, pela Faculdade de Motricidade Humana, e chegou a Pequim em Abril de 2017. “Eu não acredito que hajam treinadores a ganhar tanto como eu na II liga [portuguesa]”, acrescenta. “E eu trabalho com escolas e eles com equipas profissionais”. Só a academia de futebol do Shandong Luneng, uma das mais prestigiadas da China, que acolhe 300 jovens futebolistas, e inclui 36 campos relvados, escola, restaurantes e hospital, conta com oito portugueses nos quadros. O coordenador técnico é o antigo director técnico da Federação Portuguesa de Futebol Francisco Silveira Ramos. Já na Superliga chinesa competem os treinadores portugueses Paulo Bento (Chongqing Dangdai Lifan), Vítor Pereira (Shanghai SIPG) e Paulo Sousa (Tianjian Quanjian), enquanto no Mundial da Rússia, pela primeira vez, a selecção portuguesa inclui um jogador que compete na China: José Fonte, do Dalian Yifang, titular contra Espanha e Marrocos. Poucos meses após chegar à capital chinesa, Gonçalo Figueira ganhou o campeonato do distrito de Haidian (norte de Pequim) com uma das suas escolas, numa conquista inédita para aquele estabelecimento de ensino. “Usámos métodos que os miúdos não estavam habituados e isso notou-se: houve uma evolução clara na táctica e posicionamento”, descreve. “Para eles, futebol era ir atrás da bola”, conta. “Não tinham noção do que é jogar sem bola, ou correr só o necessário”.
Sofia Margarida Mota EventosAntónio Conceição Júnior, autor e artista | O choro do ferro “Rumo ao apogeu militar dos Descobrimentos” é o tema da palestra de António Conceição Júnior que tem lugar no próximo dia 12 de Julho, pelas 18h30, na Fundação Rui Cunha. O interesse do autor e artista local pela armaria é algo que se tem vindo a aprofundar. As razões contemplam, não só o seu testemunho histórico, mas também o valor estético e o carácter existencial. Paralelamente, Conceição Júnior têm-se dedicado à concepção de espadas FOTO: Gonçalo Lobo Pinheiro [dropcap]C[/dropcap]omo é que surgiu o seu interesse pela armaria? Foi um interesse estético aliado à cultura? Decisivamente, sim. A história da humanidade carrega uma grande componente bélica, tão importante que Sun Tzu e Maquiavel dedicaram-lhe as obras, com o mesmo título, “A Arte da Guerra”. A guerra é uma parte importante de todos os períodos da história da humanidade. A armaria é, como já referia Sun Tzu, um dos “principais artigos utilizados pelo exército”, usado tanto para fins ofensivos como defensivos nesta “questão de vital importância para o Estado”. As guerras são travadas por homens, usando armamento, que muitas vezes é o único testemunho material do engenho tecnológico das culturas ou civilizações. Numa perspectiva histórica, e perante estas expressões culturais, conferimos beleza a estes instrumentos de guerra proveniente da decoração que os imbuía de poder e status simbólico. Podem e devem ser vistos como uma parte da busca humana pela perfeição. A armaria que me interessa, enquanto objecto estético e histórico, é hoje anacrónica, tendo sido no seu tempo necessário para moldar e defender culturas, civilizações. Estes objectos, portadores de grande criatividade e engenho, reflectem o desenvolvimento tecnológico das culturas que os criaram e estão imbuídos de beleza. Tem um interesse particular por espadas. Como apareceu este gosto? As espadas surgiram pelo interesse histórico e cultural destas peças. Comecei a intervir em fóruns, sobretudo para contextualizar historicamente a armaria e reflectir sobre o processo alquímico do aço, especialmente o praticado por alfagemes contemporâneos, cuja forma de expressão artística deveria ser reconhecida – exemplo da joalharia. Este interesse continuou, com a visita, ainda nos anos de 1990, à maior colecção de armaria portuguesa propriedade do professor Rainer Daehnhardt e que o próprio me mostrou. Em 1993, tive oportunidade de organizar, na Galeria do então Leal Senado, uma exposição de Armaria Portuguesa, contando com a colaboração do Museu Militar de Lisboa. Em 2005 e 2006, já no Museu de Arte de Macau, concebi e organizei duas grandes exposições: “Senhores do Fogo”, a primeira exposição, a nível mundial, de obras de alfagemes contemporâneos, e “História do Aço na Ásia Oriental”, também a primeira a nível mundial a reunir peças de diferentes épocas provenientes da China, Coreia, Japão, Filipinas e Sudeste Asiático Continental. «Precisei de saber o que era uma lâmina forjada depois de várias dobras até uma sanmai (três camadas), que é uma lâmina de aço com um alto teor de carbono, “adornada” nas duas faces com outro aço mais macio, que age como um pára-choques. Isto conferia uma enorme beleza às lâminas. Assisti, durante a noite, ao nascimento do aço – faz-se sempre no escuro para se poder ver a verdadeira transparência que a incandescência confere ao ferro. Depois de estar em brasa – Yang – e ser mergulhado na água do seu oposto – Yin -, pude vislumbrar a transcendência alquímica da lâmina.» Como é que começou a conceber espadas? Nos fóruns que frequentava, passei a ter algum reconhecimento, tendo começado a surgir inúmeros pedidos de coleccionadores. Para desenhar é preciso conhecer o objecto que se representa. Deste modo, precisei de saber como as espadas eram feitas. Visitei, então, dois alfagemes americanos e pude presenciar o modo como as espadas mais complexas são feitas. Precisei de saber o que era uma lâmina forjada depois de várias dobras até uma sanmai (três camadas), que é uma lâmina de aço com um alto teor de carbono, “adornada” nas duas faces com outro aço mais macio, que age como um pára-choques. Isto conferia uma enorme beleza às lâminas. Assisti, durante a noite, ao nascimento do aço – faz-se sempre no escuro para se poder ver a verdadeira transparência que a incandescência confere ao ferro. Depois de estar em brasa – Yang – e ser mergulhado na água do seu oposto – Yin -, pude vislumbrar a transcendência alquímica da lâmina. O nascimento do aço de uma espada é um processo muito especial, em que se ouve o próprio choro do ferro a transformar-se em martensite e pearlite. É um verdadeiro parto. Percebi, nesse momento, porque é que os fabricantes de espadas japoneses são simultaneamente sacerdotes xintoístas e porque cada peça (koshirae) de uma katana tem um nome, tal como na China a designação de cada membro de uma família indica o grau de parentesco e a sua proveniência paterna ou materna. Em África, algumas tribos mantinham os seus alfagemes fora da tribo e inteiros, isto é, não circuncidados, para que pudessem operar deveras a transformação do ferro em aço. Então, já mais municiado, concebi e desenhei espadas conforme a orientação e gosto dos clientes. Muitas eram ao estilo japonês, contudo não me esquivava de lhes conferir nomes de outras culturas, como Atziluth. Há, além do simbolismo, toda uma esfera desconhecida destes objectos. As pessoas geralmente têm medo de espadas. Preconceitos da ignorância ou o síndrome da espada de Dâmocles. A espada de Dâmocles, por exemplo, é representada dependurada por um fio sobre a nossa cabeça. O síndrome que lhe está associado é o receio de alguém que, por exemplo, tendo-se curado de um processo oncológico, possa ter uma recaída. Mas há mais símbolos e espadas famosas. A Excalibur é o exemplo-mito-lenda da espada que só poderá ser retirada da rocha por alguém devidamente qualificado para o fazer. A espada Flamejante é simbolicamente manejada por um arcanjo para combater o mal. No caso japonês existe a Katsujin-ken, a espada que dá vida, isto é, o mito da espada protectora. Os koan (paradoxos) Zen são interessantíssimos. Se, por outro lado, lhe relembrar que a bainha de uma espada se diz saya em japonês, então voltamos ao masculino e ao feminino e, assim, à inteireza da espada quando embainhada. Devo dizer que a concepção de uma espada, actualmente, implica um conhecimento profundo e intuitivo dos diversos intervenientes, tais como o autor da lâmina, o polidor, se lâmina de estilo japonês, o fabricante da bainha, do punho, da guarda, do pomo, etc, etc. É, muitas vezes, uma cadeia de produção artesanal de altíssima qualidade.
Hoje Macau EventosCemitério militar português em França entre candidatos a Património Mundial da UNESCO [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] cemitério militar português de Richebourg, integrado na candidatura franco-belga dos memoriais da Frente Ocidental da I Guerra Mundial, pode vir a ser classificado como património mundial da UNESCO, na reunião que se inicia hoje, no Bahrein. O Comité da UNESCO reúne-se até 4 de julho, em Manama, no Bahrein, para escolher os novos locais que vão passar a fazer parte da lista de Património Mundial, após análise das 30 candidaturas existentes, segundo o ‘site’ da organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). O cemitério militar português de Richebourg, onde estão enterrados cerca de 1800 soldados portugueses da Grande Guerra de 1914-1918, poderá ser classificado como Património Mundial, quando se assinala o centenário da Batalha de La Lys – a pior derrota militar portuguesa -, ao estar integrado na candidatura conjunta “Lugares funerários e memoriais da I Guerra Mundial na Frente Ocidental”, apresentada pela Bélgica e pela França. Vestígios portugueses podem também ser contemplados pela candidatura dos sítios cristãos clandestinos da região de Nagasaki, no Japão, onde comunidades missionárias ibéricas tiveram um papel determinante, nos séculos XVI e XVII. A maioria das candidaturas (22) diz respeito a sítios culturais, como a paisagem arqueológica de Danevirke e a Catedral de Naumburgo, na Alemanha, o oásis de Al-Ahsa, na Arábia Saudita, as Colónias de Beneficência, da Bélgica e da Holanda, os monumentos da antiga Quanzhou—Zayton, na China, os lugares inuit de caça marítima, da Dinamarca, e o porto tradicional de Khor Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. A Medina de Azahara, em España, o conjunto urbano histórico de Nimes, em França, o conjunto arquitetónico vitoriano e “art déco” de Mumbai, na Índia, a cidade velha de Jacarta, na Indonésia, com as quatro ilhas vizinhas – Onrust, Kelor, Cipir e Bidadari -, o sítio arqueológico de Fars, no Irão, assim como o conjunto industrial de Ivrea e as colinas de Conegliano e Valdobbiadene, em Itália, estão igualmente entre as candidaturas a analisar. O sítio de Thimlich Ohinga, no Quénia, a antiga cidade de Qalhât, em Omã, os mosteiros budistas da Coreia do Sul, as minas de Rosia Montana, na Roménia, e o sítio megalítico de Göbekli Tepe, na Turquia, juntam-se à lista. Esta contempla ainda paisagens naturais da China (Fanjingshan), Rússia (Vale do Bikin), França (Puys e Limagne), Irão (Arasbaran) e África do Sul (Montes de Barberton Makhonjwa), e três áreas de “caráter misto”: o lugar de Pimachiowin Aki (A terra que dá vida), no Canadá, o Parque Nacional de Chiribiquete, na Colômbia, e o vale de Tehuacán-Cuicatlán, no México. A reunião do comité da UNESCO, composto por representantes de 21 países membros da organização, será dedicada também a examinar o estado de conservação de locais classificados e de outros que, tendo sido classificados, foram entretanto considerados “em perigo”. Um dos ameaçados, que pode perder a classificação, é o centro histórico de Shakhrisyabz, no Uzbequistão. Inscrito em 2000, entrou na lista de património em perigo em 2016, devido a projetos de desenvolvimento urbano em grande escala, que alteraram o ordenamento original, o ambiente dos monumentos e os seus estratos arqueológicos, como sublinhou a diretora do Centro de Património Mundial e Património da Humanidade da UNESCO, Mechtild Rössler, na apresentação da agenda da reunião. A barreira de corais do Belize, a segunda maior do mundo, depois da Austrália, por seu lado, deverá sair da lista do património mundial em perigo, na qual figura desde 2009, graças às medidas entretanto tomadas, incluindo a mais recente, de final de 2017: o abandono da exploração petrolífera no mar. No Quénia, o lago Turkana poderá, por outro lado, estar “ameaçado”, após a construção de uma represa na Etiópia, que teve “um sério impacto” na região, diz a UNESCO. “Gibe III”, a maior barragem hidroelétrica em África, inaugurada pela Etiópia no final de 2016, foi construída a várias centenas de quilómetros ao norte do Omo, afluente etíope do Lago Turkana, fazendo baixar o nível das suas águas e interrompendo as inundações sazonais essenciais ao ciclo reprodutivo dos peixes. Durante a reunião do Bahrein também deverá ser feito um apelo para o reforço do Fundo do Património, que atualmente está nos níveis de 1991, segundo Mechtild Rössler, que considerou a “situação muito séria”.
Hoje Macau DesportoMundial 2018 | Alemanha vence Suécia nos descontos e continua na luta pelos ‘oitavos’ [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Alemanha venceu ontem a Suécia, por 2-1, com um golo nos descontos, em jogo do Grupo F do Mundial de futebol de 2018, a decorrer na Rússia, e manteve-se da rota dos oitavos de final. Em risco eliminação, depois da derrota com o México no primeiro jogo (1-0), os campeões do mundo em título venceram com um golo de Toni Kroos, aos 90+5 minutos, depois de a Suécia ter inaugurado o marcador no Estádio Ficht, em Sochi, por intermédio de Ola Toivonen, aos 32 minutos, e de Marco Reus ter igualado na segunda parte, aos 48. Após duas jornadas, o México lidera o Grupo F, com seis pontos, mais três do que Alemanha e Suécia, enquanto a Coreia do Sul, derrotada hoje pela seleção americana, é a última classificada, sem pontos. Na terceira e última jornada, o México defronta a Suécia e a Alemanha enfrenta a Coreia do Sul.
Hoje Macau InternacionalMulheres sauditas entram numa nova era com o pé no acelerador [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s primeiros minutos deste domingo na Arábia Saudita ficaram marcados pela presença inédita de mulheres ao volante nas estradas do reino, uma reforma histórica neste país ultraconservador, levada a cabo pelo príncipe herdeiro, Mohammad bin Salman. “Tenho arrepios. Nunca imaginei em toda a minha vida que conduziria nesta avenida “, contou à AFP Samar Almogren, apresentadora de televisão e mãe de três filhos, enquanto descia a King Fahd Avenue, principal artéria da capital saudita, ao volante do seu automóvel,poucos minutos depois da meia-noite. A agência conta que dezenas de mulheres aproveitaram a nova lei para circularem ao volante das suas viaturas logo que começou o novo dia, em que foi finalmente levantada uma proibição que durava há décadas e que era o sinal mais visível da repressão sobre as sauditas. A questão de saber se a sociedade saudita estava pronta para ter mulheres ao volante de viaturas foi matéria de um longo debate no reino, que nem sempre decorreu nos moldes esperados. Em 2013, um conhecido clérigo saudita, o xeque Saleh al-Louhaidan, chegou a garantir que a condução de automóveis poderia danificar os ovários das mulheres e deformar a sua pelve, o que levaria a malformações dos recém-nascidos. A resistência ao levantamento da proibição ainda é forte em alguns setores da sociedade saudita. A AFP conta que músicas com títulos como “Do not drive” tornaram-se extremamente populares nas redes sociais nas últimas semanas. Anunciada em setembro de 2017, a medida promovida pelo príncipe herdeiro integra um amplo plano de modernização do país, pondo fim a uma proibição que se tornou símbolo do da posição secundária atribuída às mulheres pelo regime. A medida está a ser encarada por muitos como o início de uma nova era numa sociedade que vive sob um regime islâmico rigoroso. “É um passo importante e uma etapa essencial para a mobilidade das mulheres”, resume Hana al Jamri, autora de um livro que será publicado em breve sobre as mulheres no jornalismo na Arábia Saudita. A escritora lembra que as mulheres sauditas”vivem num sistema patriarcal”, e que a possibilidade de conduzir automóveis vai ajudá-las a desafiar as rígidas normas sociais do reino. Segundo estimativas da empresa de consultadoria PricewaterhouseCoopers, cerca de três milhões de mulheres sauditas devem adquirir a carta de condução e começar a dirigir até 2020. Apesar da abertura das escolas de condução, muitas mulheres reclamam da falta de instrutores e do alto custo das aulas. As autoridades emitiram este mês as primeiras licenças de condução para as mulheres, havendo muitas que simplesmente trocaram a carta de condução estrangeira por uma licença saudita.
Hoje Macau DesportoSporting | Bruno de Carvalho diz a sócios que não se candidata “de certeza” [dropcap style≠’circle’]B[/dropcap]runo de Carvalho disse hoje que não se vai candidatar à presidência do Sporting em resposta aos sócios que o acompanhavam e incentivavam à saída da Assembleia Geral em que foi aprovada a sua destituição do cargo. “Não me candidato, de certeza”, afirmou Bruno de Carvalho aos sócios, respondendo aos insistentes apelos de sócios, alguns até a chorar, à saída da Altice Arena, em Lisboa, depois de a destituição do Conselho Diretivo por si liderado ter sido aprovada no sábado com 71,36% de votos favoráveis, contra 28,64% de votos no sentido da sua continuidade. Durante os minutos em que esteve a conversar com um grupo de algumas dezenas de apoiantes, Bruno de Carvalho repetiu diversas vezes que a sua vontade é não voltar a candidatar-se ao cargo. Bruno de Carvalho abandonou depois o local, sem ter falado aos jornalistas. Mais cedo, numa reunião magna que teve início às 14:30 e que se prolongou até ao início da madrugada de hoje, o presidente da Mesa da Assembleia Geral (MAG), Jaime Marta Soares, anunciou que as eleições para os órgãos sociais do Sporting serão marcadas para 08 de setembro. Até lá, os destinos do clube devem ser assumidos pela Comissão de Gestão designada pela MAG. Numa das mais concorridas assembleias gerais de sempre do Sporting, em que votaram 14.735 sócios, Bruno de Carvalho, que marcou presença e votou pouco depois das 20:00 de sábado, permaneceu no recinto até ao anúncio dos resultados. De acordo com os resultados finais, a que a Lusa teve acesso, 9.477 dos votantes, com uma correspondência de 53.517 votos, disseram sim ao afastamento de Bruno de Carvalho, enquanto 5.138, correspondentes a 21.475, preferiam a continuidade do presidente. A AG foi convocada com o objetivo de decidir o afastamento ou a continuidade de Bruno de Carvalho, figura central de uma crise que se agudizou com a perda do segundo lugar na I Liga de futebol e a invasão de adeptos à Academia do Sporting, em Alcochete. Bruno de Carvalho, que em fevereiro viu uma larga maioria de sócios legitimar o seu mandato – aprovando alterações aos estatutos e ao regulamento disciplinar, e a continuidade dos órgãos sociais – é o primeiro presidente a enfrentar a possibilidade ser afastado em quase 112 anos de história do clube. Eleito em 2013 e reconduzido em 2017, Bruno de Carvalho considerou, desde o início, que a AG é ilegal, e garantiu, mais tarde, que não marcaria presença no plenário. Em vésperas da AG, o presidente ‘leonino’ afirmou que se afastava do cargo se a sua destituição fosse votada de forma fidedigna. A AG foi convocada por Jaime Marta Soares em 24 de maio, numa altura em que presidente da Mesa da Assembleia Geral (MAG) já tinha dito publicamente que se demitira, embora nunca tenha formalizado o pedido. Além da MAG, o clube ficou também sem quórum no Conselho Fiscal e Disciplinar (CFD), e o Conselho Diretivo (CD), liderado por Bruno de Carvalho, perdeu seis membros. A maioria dos pedidos de demissão surgiram logo após 15 de maio, dia em que vários futebolistas do plantel e elementos da equipa técnica e do staff foram agredidos na Academia por cerca de 40 adeptos encapuzados, dos quais 27 foram detidos e ficaram em prisão preventiva. Estes acontecimentos, levaram os futebolistas Rui Patrício, William Carvalho, Gelson Martins, Bruno Fernandes, Battaglia, Bas Dost, Podence, Ruben Ribeiro e Rafel Leão a rescindirem contrato alegando justa causa. Sporting: Cronologia dos acontecimentos Cronologia dos acontecimentos que levaram à marcação da Assembleia Geral extraordinária de que resultou a destituição do presidente do Sporting, Bruno de Carvalho: 05 de abril: – O Sporting perde por 2-0 com o Atlético de Madrid, na primeira mão dos quartos de final da Liga Europa, e o presidente do clube, Bruno de Carvalho, que não se deslocou a Madrid, utiliza o Facebook para criticar “erros grosseiros” de “futebolistas internacionais e experientes”. 06 de abril: – A maioria dos jogadores divulga nas redes sociais um comunicado conjunto no qual mostra o seu desagrado pelas críticas do presidente e lamenta a falta de apoio da direção. – Através do Facebook, Bruno de Carvalho anuncia a suspensão dos jogadores que subscreveram o comunicado, manifestando-se “farto de atitudes de miúdos mimados, que não respeitam nada, nem ninguém”. 08 de abril: – O Sporting vence o Paços de Ferreira por 2-0, na 29.ª jornada da I Liga, com milhares de adeptos a aplaudirem a equipa e a assobiarem Bruno de Carvalho, que vai à sala de imprensa acusá-los de “serem ingratos e de terem memória curta”. – O presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sporting (MAG), Jaime Marta Soares, considera “esgotadas as hipóteses de manutenção” de Bruno de Carvalho, e este assegura que a direção vai pedir a marcação de uma Assembleia Geral (AG), acrescentando que Marta Soares é um “foco de problemas”. – O presidente anuncia o seu afastamento da rede social Facebook, numa publicação em que assinala a traição do presidente da MAG. 11 de abril: – O Sporting retira os processos disciplinares que tinham sido levantados aos futebolistas do plantel. 13 de maio: – O Sporting é derrotado por 2-1 no estádio do Marítimo, na última jornada da I liga, e perde o segundo lugar para o Benfica e a possibilidade de disputar a Liga dos Campeões. Os jogadores são insultados à saída do Estádio dos Barreiros, no aeroporto do Funchal, e já à chegada da comitiva ao estádio José Alvalade. 14 de maio: – A direção da SAD convoca todo o plantel e as equipas técnica e médica, em dia de folga, para reuniões em Alvalade. 15 de maio: – Durante o primeiro treino da equipa de futebol após a derrota na Madeira, cerca de 40 adeptos ‘leoninos’ encapuzados invadem a Academia de Alcochete e agridem vários jogadores, bem como o treinador Jorge Jesus e outros membros da equipa técnica. – Bruno de Carvalho considera que o que se passou em Alcochete foi “um crime público”, garante que o clube vai averiguar “internamente” o que aconteceu, para que tal episódio não volte a acontecer, e aponta o dedo ao Governo. – Os incidentes na Academia são repudiados pelos Presidentes da República e da Assembleia da República, pelo Primeiro-Ministro, pelos partidos com assento parlamentar, e por vários organismos ligados ao futebol. 16 de maio: – A GNR efetua 23 detenções e apreende cinco viaturas na sequência da invasão à Academia do clube. – Os futebolistas do Sporting reúnem-se com o sindicato dos jogadores e anunciam que vão disputar a final da Taça de Portugal, independentemente das medidas legais a tomar por cada um após as agressões de que foram alvo na Academia. 17 de maio: – A MAG anuncia a demissão em bloco, o mesmo acontecendo com o presidente e vários membros do Conselho Fiscal e Disciplinar (CFD), que deixa de ter quórum. – Jaime Marta Soares e Álvaro Sobrinho, presidente da Holdimo, grupo empresarial detentor de 30% das ações da SAD, apelam à demissão de Bruno de Carvalho. – 17 de maio: Demitem-se quatro membros do CD: os efetivos António Rebelo e Luís Loureiro, e os suplentes Jorge Sanches e Rita Matos. – 18 de maio: Bruno Mascarenhas, responsável pelo pelouro da expansão e núcleos do clube, demite-se do cargo de vogal do CD. O órgão continua a ter quórum. 19 de maio: – Bruno de Carvalho afirma que o “ato bárbaro” que aconteceu na Academia de Alcochete foi “involuntariamente” criado pelos próprios jogadores, quando dias antes fizeram “frente” a alguns membros das claques, e anuncia que não vai ao Jamor assistir à final da Taça de Portugal, por considerar que não estão reunidas as condições necessárias. – O presidente acusa José Maria Ricciardi e Álvaro Sobrinho de serem “estrategas” do “terrorismo” que se tem vivido nos ‘leões’, e afirma que a Holdimo já “deveria ter vendido a sua participação” na SAD. – O líder da Juventude Leonina, Nuno Mendes ‘Mustafá’, garante que não houve qualquer pedido, sugestão ou sequer aval de Bruno de Carvalho à claque para qualquer ação contra os futebolistas do Sporting. 20 de maio: – O presidente demissionário da MAG esclarece que marcará eleições de imediato para todos os órgãos sociais, e não haverá Comissão de Gestão, se o presidente Bruno de Carvalho se demitir. – O Sporting é derrotado por 2-1 pelo Desportivo das Aves na final da Taça de Portugal. – Bruno de Carvalho volta às publicações na rede social Facebook e pede aos adeptos que apoiem a equipa, afirmando que “a frustração nunca pode separar uma família”. 21 de maio: – O juiz de instrução criminal do Tribunal do Barreiro decreta prisão preventiva para os 23 detidos na sequência das agressões na Academia. – O Sporting anuncia ter pedido uma reunião com o Primeiro-Ministro e faz saber que reforçará as medidas de segurança na Academia, em Alcochete, e no Estádio José Alvalade, em Lisboa. 22 de maio: – O Sporting nomeia Augusto Inácio como diretor-geral do futebol do clube. 24 de maio: – O diretor clínico, Frederico Varandas, anuncia a demissão e mostra-se disponível para se apresentar como futura solução diretiva. – O presidente demissionário da MAG anuncia que ficou agendada uma AG de destituição dos órgãos sociais do clube para 23 de junho, e Bruno de Carvalho considera que a reunião é uma “bomba atómica”. 28 de maio: – A MAG anuncia que vai designar uma Comissão de Fiscalização (CF) para exercer transitoriamente as funções que cabem ao Conselho Fiscal e Disciplinar (CFD), que perdeu quórum. 29 de maio: – O CD entende que não se verificam nenhuma das premissas invocadas pela MAG para ser nomeada uma comissão de gestão do CFD, enquanto a MAG insiste que o mandato do CFD cessou, com a renúncia da maioria dos seus membros, e garante que vai nomear uma CF para evitar vazio neste órgão. 31 de maio: – O presidente demissionário da MAG anuncia a composição da CF: Henrique Monteiro, João Duque, António Paulo Santos, Luís Pinto de Sousa e Rita Garcia Pereira. 01 de junho: – O CD anuncia que decidiu substituir a MAG e respetivo presidente através da criação de uma Comissão Transitória (CT) da MAG, para a qual nomeia Elsa Tiago Judas, Bernardo Trindade Barros e Yassin Nadir Nobre. O presidente da MAG considera que esta Comissão “não tem cobertura estatutária” e por isso “é ilegal”. – A Holdimo, segunda maior acionista da SAD, faz saber que entregou em tribunal uma ação especial para destituir a administração liderada por Bruno de Carvalho. – O presidente da MAG esclarece que não apresentou, formalmente, a demissão do cargo. – Os futebolistas Rui Patrício e Daniel Podence rescindem unilateralmente, alegando justa causa. Bruno de Carvalho afirma que o guarda-redes está a ser manipulado pelo empresário Jorge Mendes. – A presidente da CT da MAG, Elsa Tiago Judas, convoca uma AG para 17 de junho, para aprovação do orçamento, e outra para 21 de julho, para eleição da MAG e do CFD. 04 de junho: – Cerca de 500 adeptos manifestam-se em frente à SAD pedindo a demissão de Bruno de Carvalho e a realização de eleições antecipadas para os órgãos sociais. – É entregue à CF nomeada pela MAG uma participação disciplinar contra o CD, subscrita por 21 associados, que denuncia a “prática de gravíssimos ilícitos disciplinares que colocam em causa a própria subsistência da instituição”. 05 de junho: – O treinador Jorge Jesus, que tinha mais um ano de vínculo com o Sporting, assina um contrato de um ano, mais outro de opção, com os campeões sauditas do Al Hilal, na vépera de o Sporting confirmar a rescisão por mútuo acordo. 06 de junho: – Guilherme Pinheiro renuncia ao cargo do administrador da SAD. – Quatro pessoas, entre as quais o ex-líder de claque Juventude Leonina Fernando Mendes, são detidas por suspeitas de comparticipação na invasão e agressões aos jogadores e equipa técnica. 08 de junho: – Os quatro detidos por suspeitas de participação nas agressões na Academia ficam em prisão preventiva. – É conhecida a decisão de uma primeira providência cautelar apresentada por Jaime Marta Soares que lhe reconhece legitimidade para presidir à MAG sem, no entanto, garantir a realização da reunião magna agendada para 23 de junho. 10 de junho: – O CD anuncia que vai propor a alteração de três artigos dos estatutos do clube, dois sobre a renúncia de titulares de mandatos, e outro sobre a nomeação de dirigentes, na AG de 17 de junho. 11 de junho: – Os futebolistas Gelson Martins, William Carvalho, Bas Dost e Bruno Fernandes rescindem os contratos, alegando justa causa. – Bruno de Carvalho garante que o CD apresenta “imediatamente” a demissão se os seis futebolistas que rescindiram contrato invocando justa causa recuarem para permanecer no clube, mesmo que esta direção vença novas eleições. – O presidente demissionário da MAG anuncia que vai avançar com duas novas providências cautelares para garantir “tudo o que é importante” para realizar a AG de 23 de junho. 13 de junho: – A CF designada pela MAG anuncia a suspensão preventiva dos membros do CD, que têm 10 dias úteis para o contraditório e estão impedidos de entrarem nas instalações do clube. A suspensão não tem efeito sobre a presidência da SAD. Na base da decisão está a participação disciplinar subscrita por 21 associados e entregue em 04 de junho. – A CT da MAG, nomeada por Bruno de Carvalho, reage à suspensão preventiva garantindo que o presidente e todo o CD vão continuar em funções. 14 de junho: – Os futebolistas Rúben Ribeiro, Battaglia e Rafael Leão apresentam pedidos de rescisão de contrato, aumentando para nove o número de jogadores que saem do clube. – O Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa considera ilegal a CT da MAG, nomeada pela direção, bem como as reuniões magnas marcadas para 17 de junho e 21 de julho. – Bruno de Carvalho reafirma que não se demite, considera que a AG de 23 de junho está “ferida de legalidade”, mas assegura que vai garantir os meios para a sua realização. 15 de junho: – O Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa obriga a direção a entregar os cadernos eleitorais ao presidente da MAG, para a realização da reunião magna de 23 de junho, e determina que o CD pague as despesas inerentes à sua realização. 16 de junho: – O presidente demissionário da MAG anuncia a composição da Comissão de Gestão (CG) do clube, que integra 11 elementos e é presidida por Artur Torres Pereira, que até 2017 foi vice-presidente de Bruno de Carvalho. A comissão, que deverá substituir o CD suspenso, integra ainda Sousa Cintra, Luís Marques, António Sá Costa, Silvino Sequeira, Jorge Lopes Gurita, Alexandre Cavalleri, Rui Nunes Moço, Pedro Roque Reis, António José Rebelo e José Diogo Leitão. 18 de junho: – O Sporting contrata, por três épocas, o treinador de futebol sérvio Sinisa Mihajlovic. 19 de junho: – A PWC, auditora da Sporting SAD, considera existir uma ameaça concreta à continuidade das operações da sociedade na sequência das rescisões de contratos de jogadores e uma impossibilidade de realização do valor de venda dos ativos no curto prazo. – Bruno de Carvalho convida Jaime Marta Soares, um membro da CF, e o presidente da CG para um debate na televisão do clube, em 22 de junho, antes da AG de destituição de sábado. 20 de junho: – A CG anuncia que os seus elementos foram impedidos de entrar em Alvalade para iniciarem funções no clube, e garante que vai apresentar queixa em tribunal e ao presidente da MAG. – O CD anuncia a interposição de providências cautelares “contra a legitimidade” das comissões de Fiscalização e de Gestão do clube, e dos membros demissionários da MAG. 23 de junho: – A destituição de Bruno de Carvalho é aprovada em Assembleia Geral extraordinária por 71,36% dos votos, numa das mais concorridas reuniões magnas do clube, em que estiveram presentes 14.735 sócios.
Hoje Macau China / ÁsiaPresidente das Filipinas confessa que não gosta de nomear mulheres [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, confessou hoje que prefere não nomear mulheres para “cargos importantes” no Governo, uma vez que se sente incomodado em pedir que cumpram determinadas missões ou tarefas. O controverso Chefe de Estado filipino exemplificou, dizendo que se sente “incomodado por pedir a uma mulher que vá de repente a Marawi”, cidade onde em 2017 se travou durante cinco meses uma sangrenta batalha entre o exército e partidários do movimento terrorista Estado Islâmico, comandados pelo grupo Maute. “Pode pedir-se isso a uma mulher, forçá-la a essa situação?”, questionou o presidente filipino,durante uma sessão pública de discussão de novas tecnologias. Duterte, que tem um largo registo de afirmações consideradas misóginas e sexistas, garante que prefere trabalhar com homens porque estes “podem receber uma avalanche de ordens sem se queixarem”. O governante de 73 anos diz ainda que há certos cargos “mais adequados às mulheres”, como a pasta do Turismo. No gabinete de Duterte têm assento cinco mulheres, nos departamentos de Turismo, Educação e Bem Estar Social e nas comissões contra a pobreza e dos muçulmanos. Duterte esteve no centro de mais uma polémica no início de junho quando beijou nos lábios uma mulher da comunidade filipina de Seoul, Coreia do Sul. Em fevereiro tinha também recomendado aos militares que “alvejassem a tiro as vaginas das guerrilheiras, para que estas não possam procriar.
Hoje Macau EventosMacau acolhe a partir de Julho mostra sobre as Chapas Sínicas A colecção de “Registos Oficiais de Macau Durante a Dinastia Qing (1693-1886)”, recentemente inscrita na UNESCO, começa a estar exposta ao público a partir do dia 7 de Julho, primeiro no Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau, e depois no Arquivo de Macau [dropcap style≠‘circle’]E[/dropcap]stá prestes a ser inaugurada a exposição intitulada “Chapas Sínicas – Histórias de Macau na Torre do Tombo”, que se insere na primeira edição do Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa, organizado pelo Instituto Cultural. Esta iniciativa é apresentada pelo Arquivo de Macau em parceria com o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, estando previstas duas fases para a sua apresentação ao público. A primeira fase decorre a partir de 7 de Julho no Museu das Ofertas do Período da Transição, e termina a 7 de Agosto. Segue-se depois a segunda fase de exposição entre os dias 21 de Agosto e 7 de Dezembro deste ano, desta vez no Arquivo de Macau. Foi o ano passado, a 30 de Outubro, que a colecção dos “Registos Oficiais de Macau Durante a Dinastia Qing (1693-1886)”, candidatura conjunta do Arquivo de Macau e do Arquivo Nacional da Torre do Tombo de Portugal, foi inscrita pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) no Registo da Memória do Mundo. De acordo com um comunicado, estes registos “reflectem as condições da sociedade, a vida das pessoas, o desenvolvimento urbano e do comércio” de Macau durante o período em que a Dinastia Qing reinou na China. “Além disso, representam o papel de Macau para o mundo”, acrescenta o IC. A exposição apresentará uma selecção de mais de cem documentos para partilhar histórias que, embora tenham ocorrido em Macau, são de relevância histórica para a China, Portugal e até para a história mundial. Além das exposições, o IC organizou ainda uma palestra gratuita a 8 de Julho, que conta com a participação de Zhang Wenqin, professor de História de Relações Sino-Estrangeiras na Universidade Sun Yat-sen; Jin Guoping, investigador do Instituto de Estudo de Macau da Universidade de Jinan e Silvestre de Almeida Lacerda, director-geral da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas de Portugal. Este debate terá como foco “a importância documental das ‘Chapas Sínicas’ bem como a preservação e digitalização dos registos. A palestra terá tradução para português. A importância histórica Na altura da inscrição das Chapas Sínicas na UNESCO, a historiadora Tereza Sena falou à Lusa da sua importância, por constituírem “um conjunto documental extremamente importante para a história de Macau, mas não só, também como testemunho do que foi realmente a vivência de Macau durante um período bastante lato da sua história”. As Chapas Sínicas incluem um total de 3600 documentos, incluindo mais de 1.500 ofícios redigidos em chinês, cinco livros de cópias traduzidos para português das cartas trocadas entre a autoridade municipal portuguesa (Leal Senado) e o império chinês, e quatro volumes de documentos diversos. Esta documentação, referente ao período entre 1693 e 1886, encontra-se na Torre do Tombo, em Lisboa, e a sua inscrição na UNESCO é fruto de uma candidatura conjunta de Macau e Portugal. Durante este período, que é anterior “à afirmação colonial, que só se fará no século XIX”, chineses e portugueses coabitavam na cidade, e imperava uma jurisdição mista. “O que penso que pode ser importante, não só do ponto de vista histórico, mas para a humanidade em si, é como durante três séculos duas comunidades dominantes coabitam num espaço, regulam-se pelas suas próprias leis e têm uma coexistência pacífica”, apesar de momentos de tensão, explicou a historiadora, referindo-se a um período mais alargado do que o dos documentos agora classificados. As ‘chapas’ — assim chamadas devido ao carimbo que lhes era colocado — são “um conjunto de documentos em chinês que corresponde à correspondência oficial trocada entre os mandarins, os oficiais chineses da zona circunvizinha, de que Macau dependia administrativamente, e o seu interlocutor, a única autoridade que os oficiais chineses reconheciam: o procurador do Senado”. Este procurador “dialogava com as autoridades chinesas” que se “dirigiam a ele como o representante, a cabeça dos portugueses”, contando com o apoio de um corpo de tradutores, segundo Tereza Sena. A historiadora sublinhou que, da leitura destes documentos, emergem detalhes sobre a “permanência consentida” dos portugueses em Macau e muita informação sobre a cidade. “Podemos ver o aprovisionamento diário, que se fazia através do procurador, a subsistência da cidade, preços. Tem que ver não só com o aspecto político, mas com a vida da cidade”, disse. No entanto, acima de tudo, “dão-se ordens”: “Havia uma série de regras básicas. Não se podem construir casas novas, não se podem fazer obras sem autorização, etc. Porquê? A lógica chinesa é que havia um interposto mercantil, todos beneficiam do negócio, os estrangeiros podem lá viver, dentro de uma série de regras”. Tereza Sena explicou que só no século XVIII é que Portugal começa a preocupar-se com a tradução das ‘chapas’, quando é imposto em Macau o Código de Qianlong, a partir de 1749, “um momento muito complicado nas relações luso-chinesas, porque há uma afirmação que tem que ver com a própria estruturação interna do império chinês, de que a jurisdição terá que ser regulamentada de acordo com as leis do império”. Ao mesmo tempo, emergem na região presenças ocidentais “concorrentes comercialmente em Macau” e “começa a haver uma preocupação muitíssimo grande em encontrar um documento legitimador da posse de Macau”. As ‘chapas’ são então traduzidas e, apesar de se ter “perdido o rasto” da sua saída de Macau, “a certa altura [século XIX] elas aparecem em Portugal”.
Hoje Macau China / ÁsiaVice-ministra do Comércio promete abertura económica A vice-ministra do Comércio chinesa disse ontem, em Lisboa, que a China continua no caminho da “reforma e abertura” e que “a porta” vai estar cada vez mais aberta ao comércio e à cooperação económica [dropcap style≠‘circle’]G[/dropcap]aoYan que falava na abertura do encontro que reuniu ontem em Lisboa centenas de empresários da China e dos Países de Língua Portuguesa (PLP) assinalou que “a porta da China não vai fechar, pelo contrário, vai abrir cada vez mais”, destacando que “a reforma e abertura da China” se encontram no ponto mais alto da História. Considerou igualmente que “o futuro adivinha-se brilhante” para a cooperação económica entre a China e os PLP que está “cada vez mais estreita”. Para tal, conta com “o apoio imprescindível dos empresários” que são a “força motora” da cooperação entre a China e os PLP e afirmou que a China está disposta a partilhar resultados da reforma e abertura, apelando aos empresários que “agarrem esta oportunidade” para dar novo impulso à cooperação. Lionel em Lisboa O secretário da Economia e Finanças de Macau, Lionel Leong, reforçou que a “globalização económica é uma tendência irreversível”, salientando que “a China insiste na abertura ao exterior” e que a porta “será cada vez mais aberta”. Por outro lado, assinalou que a Região Administrativa Especial de Macau está “empenhada em impulsionar um sector financeiro com características próprias” e aprofundar a cooperação de serviços financeiros entre os PLP e a China. O vice-presidente do Conselho para a Promoção do Comércio Internacional da China, Chen Zhou, reafirmou o “apoio total para empresários que queriam investir e aumentar cooperação entre China e PLP”. Os responsáveis chineses participaram ontem no Encontro de Empresários para a Cooperação Económica Comercial entre a China e os PLP, que decorre em Lisboa até hoje e inclui uma visita técnica ao terminal de Sines. O secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, afirmou que “o investimento chinês continua a ser bem-vindo” em Portugal e destacou o papel de Macau nas relações entre Portugal, China e os Países de Língua Portuguesa (PLP). Na sessão de abertura do Encontro de Empresários para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os PLP, que decorre até hoje em Lisboa, o governante sublinhou o aumento das trocas comerciais entre os vários países e defendeu que Portugal deve continuar a capitalizar o investimento chinês. “Portugal é um país aberto que afirma o multilateralismo como forma de resolver conflitos mas também o investimento e comércio aberto e sem fronteiras como promotores de uma vida melhor e uma sociedade aberta e mais justa”, declarou.
Hoje Macau China / ÁsiaPresidente da Coreia do Sul na Rússia para reforçar relações O Presidente da Coreia do Sul iniciou ontem uma visita de três dias à Rússia, durante a qual vai debater com o homólogo russo a aproximação à Coreia do Norte e a desnuclearização do regime [dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]a primeira visita em 19 anos de um chefe de Estado sul-coreano à Rússia, Moon Jae-in vai discursar perante a Duma (parlamento), ao chegar a Moscovo, indicou em comunicado a Presidência da Coreia do Sul. Na intervenção, Moon vai abordar o reforço das relações bilaterais e o aliviar das tensões na península coreana, na sequência das duas cimeiras entre Moon e o líder norte-coreano, e da histórica reunião em Singapura entre Kim Jong-un e o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Durante a visita, Moon tem previsto um encontro com o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, numa altura em que Seul pretende impulsionar a cooperação económica trilateral, entre as duas Coreias e a Rússia, parceira comercial de Pyongyang e interveniente nas antigas negociações a seis [Coreia do Norte, Coreia do Sul, China, Rússia, Estados Unidos e Japão] sobre o programa nuclear norte-coreano. Diplomacia e futebol No encontro de Moon com o Presidente russo, Vladimir Putin, a cooperação trilateral, em áreas como transportes ferroviários ou a distribuição de eletricidade e gás, deverá ser abordada. “Espera-se que a visita ajude a promover a cooperação estratégica no nordeste da Ásia, no âmbito dos actuais progressos positivos em matéria de segurança e de esforços para conseguir a desnuclearização da península”, afirmou um dos directores de Segurança Nacional sul-coreano, Nam Gwan-pyo, à agência de notícias sul-coreana Yonhap. O Presidente sul-coreano termina a visita à Rússia, no próximo sábado, com uma deslocação a Rostov para assistir ao jogo entre as selecções da Coreia do Sul e do México para o Mundial de futebol 2018.
Hoje Macau Desporto“Nós sofremos mais do que eles sofrem lá” [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] 10 mil quilómetros de terras lusas, reformados e pensionistas, macaenses, chineses, filipinos e, claro, portugueses, entre eles o Cônsul-geral de Portugal para Macau e Hong Kong, gritaram ao mesmo tempo o golo de vitória de Ronaldo frente a Marrocos. À hora de jantar em Macau, foi mais fácil reunir os sócios e os mais idosos na sede da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC) para assistirem em clima de festa ao segundo jogo de Portugal no Mundial de futebol. A menos de um quilómetro de distância, com uma média de idades bem mais baixa, funcionários, professores e alunos do Instituto Português do Oriente (IPOR), repetiam na sede daquele organismo a presença para assistir à transmissão de um jogo que, por várias vezes, colocou à prova a ‘diplomacia desportiva’ do Cônsul-geral de Portugal para Macau e Hong Kong, Vítor Sereno, em especial durante o assédio final marroquino. Na APOMAC, macaenses, chineses, portugueses, chineses e filipinos, uma boa parte deles a envergarem a camisola de Ronaldo, ainda estavam a provar as entradas quando o inevitável Ronaldo fez o 1-0, para lhes saciar pelo menos a fome de vitórias. “Estamos aqui portugueses, chineses, macaenses, de todas as etnias, para ajudar a equipa portuguesa. (…) O desporto é muito importante para a união de todas as comunidades em Macau”, sublinhou o presidente da APOMAC e um dos organizadores do jantar, Jorge Fão. “Assim que soubemos que o horário batia certo com o jantar, fizemos umas mensagens através do telemóvel para se inscreverem”, disse, destacando naquela noite a gastronomia que, sem ser portuguesa, cozinhada sobretudo por filipinos, fundia China e Macau no mesmo prato. “É chinesa, não é portuguesa. Está a ver aqueles pratos esquisitos, mas isto é tudo macaense, até a sopinha. Mas é coisa boa”, garantiu Jorge Fão, sossegado pelo golo madrugador e pelo copo de vinho tinto que veio do Algarve. José Avelino, funcionário da associação, mostrava-se, ao intervalo do jogo, cauteloso com a exibição da selecção lusa e exultante com a hora de início da partida, 20h em Macau, 13h em Portugal. “O jogo começou às oito, é bom para o pessoal estar aqui. Somos idosos, temos de nos deitar mais cedo. A maioria tem mais de 60 anos”, ressalvou. José Mariano Rosa, outro dos sócios da APOMAC, falou com a emoção que encurta distâncias para um país que não se esquece. “O jogo começar às 20h é muito bom para nós, que estamos habituados a ver os jogos de madrugada. (…) Isto significa muito. Nós somos portugueses, somos descendentes de portugueses. Quando a selecção joga mexe com o nosso coração. Nós sofremos mais do que eles sofrem lá”, desabafou. Jogar em casa Naquela que o cônsul de Portugal em Macau denomina como “a casa de todos os portugueses”, o IPOR, registou-se “casa cheia”. Tanto na APOMAC, referiu, como “aqui [no IPOR], a 10 mil quilómetros de distância, acho que é de louvar a portugalidade que se vive, o sentimento de pertença que se vive com a selecção nacional”. O nervosismo que o fez sofrer enquanto adepto estava mais sossegado com resultado final: “temos desbravado caminhos com a diplomacia desportiva”, salientou, lembrando também que “Ronaldo é um dos melhores embaixadores de Portugal, se não o melhor, (…) conhecido na China inteira”, e deixando a suspeita de que “não há no sudeste asiático quem não o conheça”. Para Vítor Sereno, “esta foi mais uma grande noite”. “Uma noite de sorte, mas [que serviu] para contrastar com as vitórias morais que durante tantos anos tivemos e que fomos para casa agarrados aos cachecóis a chorar. (…) Eu tenho muita fé. Fernando Santos dizia em 2016 que só voltava a 13 de Julho. Eu estou com a fé de que voltamos no último jogo do campeonato”, afirmou, convicto.
Diana do Mar PessoasNatasha Fellini, professora de português [dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]atasha Fellini chegou a Macau em 2001, deixando para trás a megalópole de São Paulo, onde nasceu há 34 anos. Uma proposta de emprego levou a família a mudar-se para cá e, como adolescente que era à época, não teve escolha. Dezassete anos depois continua por cá e sem perspectivas de partir, desta feita por opção. “Pretendo ficar por mais algum tempo porque acho que Macau me proporcionou uma qualidade de vida e uma segurança que não tenho no Brasil”, explica a professora de português, para quem estar reunida com a família e utilizar a língua materna são factores que jogam a favor da sua permanência em Macau. “Já criámos raízes e pretendemos ficar”, sublinha, referindo-se à mãe e às duas irmãs. “Fico feliz por Macau não ser bem China e ter estas particularidades que têm a ver com a cultura, além de ser um lugar muito conveniente. Gosto de estar aqui”, realça Natasha Fellini, recordando, no entanto, um primeiro embate cultural que teve à chegada. “Como sou brasileira não tenho o padrão dos chineses que parecem muito miúdos e têm outro tipo de corpo e, no início, quando entrava numa loja diziam-me logo que não tinham o meu número mesmo quando eu estava à procura de algo para oferecer e isso marcou-me”, relata. Se na altura não achou piada agora descreve o fenómeno como “engraçado”, um simples fruto de “uma questão cultural” que, entretanto, foi-se dissipando, com o desenvolvimento da cidade e, por conseguinte, com a oferta de lojas internacionais. Quando chegou, Natasha Fellini estava em idade escolar e foi para a Escola Portuguesa de Macau. No entanto, mesmo depois de terminar o secundário não abandonou o território, tendo optado por prosseguir os estudos na Universidade de Macau, onde acabaria por ter a primeira experiência profissional. Seguiu-se a Escola Anglicana até hoje, onde coordena o português, além de também dar aulas. Ensinar era, aliás, um sonho que tinha desde criança. “Desde pequena sempre gostei da área da educação e quando brincava com as bonecas fingia que lhes dava aulas. Sempre tive essa vontade de trabalhar na área da educação”, sublinha Natasha Fellini que ensina português aos alunos do 7.º ao 10.º ano. O maior período de tempo que Natasha Fellini passou fora de Macau, onde já viveu metade da vida, foi quando resolveu apostar na aprendizagem do mandarim, língua à qual tinha sido introduzida durante a licenciatura na Universidade de Macau. “Era uma disciplina obrigatória. Como tinha estudado as bases e vi que ia ficar mais tempo decidi ir aprender a língua a fundo”, explica a docente que esteve em Pequim, entre 2006 e 2008, exclusivamente dedicada a essa missão. “Hoje consigo ter uma conversa”, brinca a docente. Outra vantagem que encontra em Macau tem que ver com o facto de existir uma comunidade brasileira significativa que a faz sentir “um pouco em casa”. “Temos feito festas de carnaval e organizado outros eventos de inspiração brasileira, o que é muito bom”, sublinha Natasha Fellini, embora lamentando que haja falta de espaço para mais: “É difícil encontrar lugares para nos juntarmos para conviver”. O mesmo aplica-se à gastronomia: “Sentimos falta da comida [brasileira] e podíamos ter mais opções”, observa. Natasha Fellini reconhece que, em termos genéricos, no seio da comunidade chinesa o conhecimento sobre o Brasil cinge-se praticamente ao “rótulo do futebol e do samba”, mas dentro da sala de aula esforça-se por levar os alunos a verem além disso. “Como professora, tento sempre mudar essa imagem e mostrar outro lado do Brasil, dando a conhecer coisas interessantes como música. Mas, infelizmente, também já começam a ver as notícias acerca da violência no Brasil e às vezes também me perguntam”. Ao Brasil regressa normalmente uma vez por ano: “Tenho muitas saudades e preciso de lá ir para ver o resto da minha família e os meus amigos de infância”. Aliás, como “boa brasileira” que é, gosta de dançar, não dispensado uma ida à discoteca nos tempos livres, bem como de “socializar”. “Estou sempre a procurar os amigos”, diz Natasha Fellini que também mal o tédio aperta aproveita para dar um pulo a outras paragens. “Macau é pequeno e pode cansar um pouco, pelo que aproveito e vou a Hong Kong ou a Cantão”.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA ameaça das armas biológicas [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]s países estão preparados para a crescente ameaça das bio-armas artificiais? Face aos actuais surtos de Ébola na República Democrática do Congo e do vírus Nipah na Índia, uma ameaça ainda mais assustadora se aproxima. Os pesquisadores recriaram um vírus extinto, semelhante à varíola com o ADN comprado “on-line” por apenas cem mil dólares, em 2017. O seu sucesso aumenta a preocupação de que regimes e terroristas desonestos possam, similarmente, modificar ou projectar patógenos e usá-los como armas. O físico Ashton Baldwin Carte, que serviu como Secretário de Defesa dos Estados Unidos no governo do presidente Barack Obama alertou para o facto de que tal artilharia biológica poderia vir a rivalizar com o poder destrutivo das armas nucleares. Se um agente altamente contagioso fosse solto em uma grande cidade, poderia espalhar-se por toda a parte e matar milhares de pessoas, antes de se descobrir o que estava a acontecer. A capacidade para responder de forma eficaz a essas ameaças exigirá uma mudança de paradigma para abordagens mais rápidas, ágeis e descentralizadas do que as existentes actualmente. A acessibilidade de baixo custo e “faça for si” das tecnologias genómicas, torna possível que tais armas sejam criadas e implantadas por qualquer agressor. Mesmo as pequenas mudanças são suficientes para produzir efeitos perigosos, pois uma única mutação foi necessária para transformar o vírus da Zika de uma infecção relativamente rotineira, em outra que pudesse causar danos cerebrais em recém-nascidos. O facto de que não haveria forma de saber quem desencadeou tal ataque, também reduz potencialmente o limite para o seu uso. Os criminosos podem até projectar e libertar vários patógenos mortais ao mesmo tempo, dificultando a capacidade dos governos de responder e espalhar a confusão. Após o agente patógeno ser lançado, provavelmente existiria um curto período de tempo de apenas algumas semanas para evitar que causasse uma catástrofe global. Tal requer o controlo da transmissão, de modo que cada pessoa infectada contamine em média, menos de uma pessoa, fazendo que a epidemia pare e comece a diminuir. O historial recente contra epidemias que ocorrem naturalmente, no entanto, é preocupante e fazer mais do que se está a fazer com os meios disponíveis, não será suficiente para impedir que agentes com planos projectados se espalhem e matem mais rapidamente. Os actuais esforços de resposta dependem do desenvolvimento de vacinas, sistemas terapêuticos e de saúde que centralizem a capacidade de diagnóstico, isolamento e tratamento em hospitais. As vacinas e terapias, no entanto, levam anos para se desenvolverem e alguns patógenos, como o HIV e a malária, desenvolvem formas de iludir a imunidade ou abrigar resistências que dificultam a sua erradicação, mesmo quando o tempo e os recursos não são limitados. Vivemos em uma era de biologia sintética, armas biológicas codificadas com tais características evasivas, que podem ser criadas mais rapidamente do que vacinas e terapias para combatê-las. As inovações, como plataformas de vacinas sintéticas e anticorpos monoclonais, poderiam permitir uma implantação mais rápida, mas mesmo no melhor dos casos levaria meses, o que seria demasiado tempo para possibilitar contágios que duplicam em algumas semanas, e são difíceis de controlar quando estão disseminados. Sem vacinas e terapias, é usado o rastreamento de contacto para despistar e isolar pessoas infectadas, para evitar que exponham outras pessoas e fornecer-lhes cuidados de suporte, como fluidos intravenosos, para aumentar as suas possibilidades de sobrevivência, mas essa capacidade está concentrada em hospitais, que, mesmo em países de alto rendimento, podem rapidamente ser sobrecarregados e também potencialmente, promover a transmissão entre pessoas que neles se aglomeram. Os Estados Unidos têm apenas cerca de cinco mil e quinhentos hospitais, com um total combinado de aproximadamente novecentas mil camas, o suficiente para albergar menos de 0,3 por cento da população. A dar-se um contágio de rápida dispersão poderia preencher essas camas em poucos dias com pacientes infectados, assim como, outras pessoas que temem ter sido expostas e não é necessário ir muito além da época de gripe deste ano, quando até mesmo os Estados Unidos e o Reino Unido enfrentaram escassez de camas hospitalares, profissionais de saúde e bens essenciais, como fluidos intravenosos. Assim, e de igual forma, a capacidade de testes de laboratório foi superada durante a crise do vírus da Zika, quando, mesmo na Florida, muitas mulheres grávidas não puderam fazer o teste. É de prever que em caso de ataques com armas biológicas, pacientes contagiantes que entram em instalações de saúde ou laboratórios comerciais para testes, sobrecarregam essa capacidade e expõem outros que correm para os mesmos locais durante o processo. Tais lacunas não podem ser corrigidas simplesmente com a construção de mais hospitais e laboratórios, que permanecerão sem uso até que haja uma emergência. São necessárias abordagens mais ágeis e descentralizadas, apoiadas por novas tecnologias, que aproximem as funções de diagnóstico e tratamento das pessoas que vivem com menos necessidade de pessoal especializado e infra-estruturas que não podem ser dimensionadas. É de entender que este tipo de abordagem permitiria que os pacientes fossem diagnosticados em casa, na escola, no escritório ou na comunidade e ficassem isolados antes de infectar outras pessoas. As várias plataformas de tecnologia actuais e emergentes (por exemplo, o sistema “Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats [CRISPR na sigla inglesa], ou seja, Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas)”, nanotecnologia, nanoporos e imunoensaios) poderiam melhorar essa capacidade. As plataformas visam detectar qualquer patógeno, incluindo micróbios de engenharia, com precisão a partir de pequenas amostras de sangue e urina, que não requerem técnicos qualificados para recolher ou processar. Os diagnósticos podem evoluir ao ponto de poderem ser usados em “telefones inteligentes (smartphone na palavra inglesa)” ou “computadores portáteis (laptops ou notebooks nas palavras inglesas)”, que permitirão que os pacientes façam a sua varridela e, como detectores de fumaça, monitorizem continuamente o ambiente na procura de ameaças. Além dos diagnósticos, também são necessárias formas mais eficientes de isolamento e capacidade de tratamento. Os hospitais de campanha rapidamente implantáveis, como os usados em zonas de guerra, podem ser rapidamente colocados e, quando a transmissão é amplamente disseminada, as pessoas também podem ficar isoladas nas suas casas. As abordagens de autoteste poderiam ser combinadas com consultas de telemedicina usando tecnologias do tipo “Skype” ou “FaceTime” para avaliar pacientes e serviços semelhantes aos da “Amazon” para medicamentos e tratamentos ao domicilio. As equipas médicas móveis poderiam ser enviadas para visitar pacientes que necessitassem de mais cuidados práticos nas suas casas, enquanto as preciosas camas hospitalares e o risco de transportar pacientes contagiosos poderiam ser reservados para aqueles que realmente necessitam de cuidados intensivos. Assim, essas abordagens ou estratégias e as ferramentas necessárias para a sua implementação devem ser desenvolvidas e preparadas, bem como os avanços tecnológicos que nos levaram ao precipício de uma fusão entre duas das maiores ameaças da humanidade, a doença e a guerra, novos pensamentos e inovações podem ajudar a estarmos preparados para responder de forma eficaz, dado essas ameaças se tornarem uma realidade cada vez mais palpável. Se recuarmos na história deparamos que os verdadeiros inventores da guerra química e biológica foram caçadores que, usavam a fumaça produzida por ramos verdes e relva molhada, e forçavam os animais selvagens a deixar as suas cavernas, sendo também adoptado em ataques contra outros seres humanos. Tendo como fim tornar esses fumos mais eficientes, acrescentavam substâncias diferentes nos incêndios, como resinas vegetais, e gorduras animais e lembremos que é considerada como arma bacteriológica qualquer patógeno (bactéria, vírus ou outro organismo causador de doenças) que é usado como arma de guerra. É o uso de produtos tóxicos não vivos, mesmo que sejam produzidos por organismos vivos (por exemplo, toxinas). A arma biológica pode ser projectada para matar, desactivar ou impedir indivíduos, cidades ou países. A guerra biológica é uma técnica militar que pode ser usada por países ou grupos de pessoas. Se um país a utiliza clandestinamente, também pode ser considerado como bioterrorismo. Os textos de uma antiga seita maçónica falavam que no século V a.C., existiam foles onde era introduzida uma fumaça tóxica feita de sementes de mostarda e outras espécies de plantas. Essa fumaça era introduzida nos túneis que os atacantes cavaram durante os cercos (situações de guerra em que uma área é cercada pelo inimigo, que tenta capturá-lo). Alguns manuscritos chineses ainda mais antigos contêm catálogos com dezenas de receitas para produzir fumaça tóxica, bem como registos desses gases em situações de guerra. Entre estes, por exemplo, fala-se dos “espíritos das armadilhas de névoa” (fumaça com arsénico), ou o cálcio pulverizado, que séculos depois foi usado em 178 d.C. para apaziguar uma revolta camponesa. O ser humano, desde a antiguidade, usou fumaça, gases, vapores, névoas artificiais para irritar o inimigo. O primeiro dano verdadeiro ao trato respiratório ocorreu quando o óxido sulfúrico começou a ser usado, e que foi obtido pela simples combustão de pó de enxofre ao ar livre. A prioridade no uso de gases venenosos recentemente foi reivindicada pelos chineses, que afirmam que no século II a.C. causou a cegueira dos seus inimigos soprando nuvens de pó de pimenta. Os primeiros exemplos historicamente comprovados do uso de substâncias irrespiráveis remontam à Guerra do Peloponeso, entre Esparta e Atenas em 431 a.C., O historiador Arriano, cronista de Alexandre, o Grande, diz -nos que em 332 a.C. na cidade fenícia de Tiro, os sitiados repetidamente recorreram ao uso de enxofre para defender os muros da cidade. A história romana é frequente na menção de guerras travadas com o auxílio de substâncias produtoras de fumaça irritante. O filósofo romano de etnia grega, Plutarco, conta que durante a campanha de Espanha contra a província de Guadalajara, no ano 81 a.C. o cônsul romano ordenou a preparação de uma corda contendo uma mistura de terra muito fina, cal viva e enxofre. Foi movida por cavalos a galope, de modo que a nuvem tóxica carregada pelo vento tornou os inimigos cegos a renderem-se. Os livros escritos por Frontinus, por volta do ano 90 do calendário juliano, fala em acções, como a introdução de nuvens de abelhas nos túneis, arremessar aos navios inimigos recipientes cheios com cobras venenosas, deixar animais famintos livres contra os sitiados e atirar partes de animais em decomposição pelas paredes. As bactérias são organismos minúsculos que vivem livremente e se reproduzem por divisão simples e são fáceis de crescer. Os vírus são organismos que requerem células vivas para se reproduzir e são intimamente dependentes do corpo que infectam. As toxinas são substâncias venenosas que são encontradas e extraídas de plantas, animais ou microrganismos vivos. Algumas toxinas podem ser produzidas ou alteradas por meios químicos. As “Rickettsias” são as bactérias que produzem a chamada riquetsiose, normalmente vivem em carrapatos, ácaros, pulgas e piolhos que pode ser transmitida aos seres humanos por picadas destes agentes sugadores de sangue, e geralmente vivem dentro das células que revestem os pequenos vasos sanguíneos, fazendo com que fiquem inflamadas ou entupidas. A forma de fazer a guerra tem estado a mudar rapidamente da área cibernética para a biotecnologia. Não existem certezas de que situações realizadas de forma autónoma irão competir com o poder destrutivo físico das armas nucleares. A autonomia é um conceito complicado e é preciso não esquecer de que, quando se trata de usar a força para proteger a civilização, um dos princípios deve ser o envolvimento dos seres humanos na tomada de decisões críticas. É um princípio importante, consistente com a plena exploração desse potencial e que terá um grande efeito na guerra. Mas é muito difícil comparar qualquer situação com armas nucleares por causa do incrível poder destrutivo físico, pois completaram-se setenta anos e nada se ajustou. É de esperar que algo vai rivalizar com as armas nucleares em termos de pura destreza da sua capacidade de destruição, sendo o mais provável que venha da biotecnologia do que qualquer outra tecnologia. Olhando décadas atrás, realizamos que a revelação biológica poderia rivalizar com a revolução atómica dado o efeito do seu potencial. Os países começaram a investir secretamente nesses programas e tem sido utilizado em conflitos e desde logo na Síria (apesar de ter sido usado desde a antiguidade e mais recentemente pelo regime nazi, exércitos alemão, egípcio, soviético, espanhol, japonês, italiano, americano e a seita japonesa “Verdade Suprema”), podendo cair nas mãos de grupos religiosos radicais como o Estado Islâmico ou outros grupos terroristas. A biotecnologia não tem sido uma área tradicional para a defesa e as novas pontes que constroem não devem ser apenas para a comunidade de “Tecnologia da Informação (IT na sigla inglesa)”, mas também para as comunidades de biotecnologia.
Sérgio Fonseca DesportoRutter acredita no potencial das motos eléctricas no GP Macau A mobilidade eléctrica está cada vez mais a ganhar espaço na nossa sociedade e à conta disso os desportos motorizados vivem um momento de transição. Depois das competições de carros eléctricos promovidos pela FIA, como o Campeonato FIA de Fórmula E que tem no calendário uma corrida nas ruas de Hong Kong, agora é a vez do MotoGP lançar a sua competição mundial de motas eléctricas, a MotoE [dropcap style≠‘circle’]C[/dropcap]orridas de motas eléctricas não são uma novidade. Na famosa prova da Ilha de Man, desde que foi criada a categoria de emissão-zero, em 2010, as motas eléctricas têm sido uma presença regular numa classe à parte. O preparador semi-oficial da Honda, a Mugen, tem investido fortemente nesta classe – fala-se em valores acima dos 30 milhões de patacas por ano – e pilotos bem conhecidos do Grande Prémio de Macau como John McGuiness e Michael Rutter já experimentaram as sensações de conduzir estas máquinas que não pesam mais de 240kg e atingem velocidades acima dos 280 km/h. E quando é que a motas eléctricas terão espaço no Grande Prémio de Motos de Macau? “Obviamente, é difícil prever se acontecerá ou quando”, disse Michael Rutter quando questionado pelo HM, “mas seria muito interessante tentar”, acrescenta o motociclista com mais sucessos no Circuito da Guia e que tem um conhecimento vasto deste tipo de motas, tendo conduzido a Segway MotoCzysz primeiro e agora a ainda mais competitiva Mugen Shinden. Ao contrário dos actuais carros da Fórmula E, que só aguentam meia corrida, Rutter acredita que uma moto de TT seria capaz de completar as 12 voltas do Grande Prémio. Sobre a possibilidade de no futuro a corrida combinar na mesma corrida as motas convencionais, com as motas eléctricas, Rutter, que no mês passado triunfou novamente na TT Zero, diz que tal cenário não é de todo inconcebível. “Definitivamente, isso não seria impossível, dependendo da gestão da potência e a velocidade por volta (das motas eléctricas). Mas só experimentando no circuito de Macau é que seria possível realmente perceber a diferença por volta deste dois tipos diferentes de motos”, remata o britânico. Mais difíceis de domar Mesmo para um piloto de estrada experiente como Rutter, as motas eléctricas têm os seus truques e a transição das motos com motores a combustões requer um ‘mindset’ diferente. “A maior diferença é o ‘feeling’ que tens da mota”, explica o veterano natural de Stourbridge. “Principalmente quando aceleras. Não há o ‘lag’ habitual, não tens de esperar (que a potência seja entregue à roda). Não consegues pôr a roda traseira a patinar”. Dado que são máquinas mais traiçoeiras, Rutter confessa que é preciso “um maior cuidado” para evitar erros, erros que nas corridas de duas rodas e em circuitos de estrada se pagam muito caro. Vem para a nona O recordista de vitórias no Grande Prémio de Motos de Macau está esperançado em regressar no mês de Novembro ao Circuito da Guia, com o intuito de alcançar a nona vitória numa prova que conhece como poucos. O piloto britânico ainda não tem definida a sua participação, nem com que equipa, nem com que mota. “Estou confiante que sim, estou a tentar regressar. Espero lá estar (no Grande Prémio)”, confessa. Nesta última década, Rutter terminou todas as corridas do Grande Prémio no pódio, tendo visto na edição passada a bandeira de xadrez na terceira posição.
António de Castro Caeiro h | Artes, Letras e IdeiasPoesia de Georg Trakl ALMA DA VIDA Decadência, que suave ensombra a folhagem. O seu amplo silêncio mora na floresta. Em breve, uma aldeia parece inclinar-se, como um fantasma. A boca da irmã sussurra nos ramos negros. O homem solitário vai desaparecer em breve, Talvez seja um pastor, sobre caminhos sombrios. Sai em silêncio um animal da arcada de árvores, Enquanto as pálpebras se abrem bem perante a divindade. O rio azul escoa, belo. Nuvens mostram-se de noite. A alma está num silêncio angelical. Figuras passageiras decaem. Seele des Lebens Verfall, der weich das Laub umdüstert, Es wohnt im Wald sein weites Schweigen. Bald scheint ein Dorf sich geisterhaft zu neigen. Der Schwester Mund in schwarzen Zweigen flüstert. Der Einsame wird bald entgleiten, Vielleicht ein Hirt auf dunklen Pfaden. Ein Tier tritt leise aus den Baumarkaden, Indes die Lider sich vor Gottheit weiten. Der blaue Fluß rinnt schön hinunter, Gewölke sich am Abend zeigen; Die Seele auch in engelhaftem Schweigen. Vergängliche Gebilde gehen unter. Dia de Todos os Santos a Karl Hauer Triste aliança, homenzinhos, mulherinhas, Espalham hoje flores azuis e encarnadas Sobre as suas sepulturas, que timidamente se aclararam. Agem como pobres marionetas perante a morte. Oh! Como parecem existir aqui cheios de angústia e humildade, Como sombras de pé atrás de negros arbustos. No vento de outono, lamenta-se o choro das crianças não nascidas, Também se vêem luzes perderem-se na loucura. Os suspiros dos amantes sopram nos ramos E lá apodrece a mãe com a sua criança. Irreal parece a dança dos seres vivos E admiravelmente espalha-se no vento nocturno. Tão confusa a vida deles, tão cheia de lúgubres tormentos. Tem piedade, Deus, do inferno e do martírio das mulheres, E do seu lamento mortal, desesperançado. Sozinhas, em silêncio, vagueiam na sala das estrelas. Allerseelen An Karl Hauer Die Männlein, Weiblein, traurige Gesellen, Sie streuen heute Blumen blau und rot Auf ihre Grüfte, die sich zag erhellen. Sie tun wie arme Puppen vor dem Tod. O! wie sie hier voll Angst und Demut scheinen, Wie Schatten hinter schwarzen Büschen stehn. Im Herbstwind klagt der Ungebornen Weinen, Auch sieht man Lichter in der Irre gehn. Das Seufzen Liebender haucht in Gezweigen Und dort verwest die Mutter mit dem Kind. Unwirklich scheinet der Lebendigen Reigen Und wunderlich zerstreut im Abendwind. Ihr Leben ist so wirr, voll trüber Plagen. Erbarm’ dich Gott der Frauen Höll’ und Qual, Und dieser hoffnungslosen Todesklagen. Einsame wandeln still im Sternensaal.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasOs sobreviventes do Passaleão [dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]o artigo da semana passada afloramos a governação de Macau pelo Capitão-de-mar-e-guerra João Ferreira do Amaral e o seu assassinato em 22 de Agosto de 1849, história interrompida na altura em que três dias depois, sem ordem superior o macaense 2.º Tenente Vicente Nicolau Mesquita convida os soldados que o quiserem acompanhar para ir tomar o forte do Passaleão (Pac-Sa-Leong) a meia milha das Portas do Cerco e vingar assim a memória do Governador. A 25 de Agosto, às 4 da tarde (complementa Armando Cação), “Trinta e seis bravos voluntariamente responderam ao seu brado, e avançaram para o forte debaixo do mais aturado fogo de artilharia e fuzil deste e das iminências, através de difícil terreno, caminhando apenas os soldados um a um, sobre os estreitos valados que em frente do forte cortam o terreno, todo alagado com plantações de arroz; apesar de tudo, dentro de uma hora aquela força se assenhoreou do forte Passaleão, que estava guarnecido com vinte grossos canhões e 400 homens, coadjuvados por mais 2000 nas alturas vizinhas; todos fugiram abandonando a artilharia, armas, e muitas munições. Este arrojo, que antes do êxito feliz que teve era por alguns reputado louca temeridade, desassombrou Macau, e transtornou completamente os projectos dos chineses, que no interior da cidade já se dispunham para o massacre dos europeus. [Esse temor leva a perceber quanto pesada estava a consciência dos portugueses pela quebra do trato com a China e ser essa ameaça uma desculpabilização à invasão.] Alguma força britânica e americana tinha desembarcado para proteger os seus compatriotas; mas o conselho do Governo prudentemente não anuiu a que fossem guarnecer as fortalezas, como solicitavam. Cumpre declarar que os ministros e cônsules estrangeiros geralmente manifestaram o maior interesse pela conservação do estabelecimento nesta melindrosa crise; mas ainda desta vez permitiu a providência que se salvasse só pelo esforço e valentia de um punhado de portugueses”, segundo Carlos José Caldeira (1811-1882) em Apontamentos de uma viagem de Lisboa à China e da China a Lisboa. Beatriz Basto da Silva refere ser este “o único confronto significativo entre a China do Sul e Macau, durante os mais de quatro séculos de vizinhança”. Mesquita suicida-se O Vice-Rei de Cantão a 16 de Setembro de 1849 mandou “um ofício ao Conselho do Governo de Macau participando ter preso, processado e executado, o verdadeiro assassino do Governador João Maria Ferreira do Amaral, Sen-Chi-Leong”, segundo Beatriz Basto da Silva. Quatro meses depois, a 16 de Janeiro as autoridades de Cantão enviam para Macau a cabeça e a mão de Ferreira do Amaral. Após a tomada do Passaleão, o 2.º Tenente Mesquita a 12 de Janeiro de 1850 foi promovido a Tenente, atingindo mais tarde o posto de Coronel e encontrando-se já na reforma, Mesquita suicidou-se a 19 de Março de 1880, notícia referida no B.O., “Num acto de loucura e desespero, Vicente Nicolau Mesquita tira a vida à esposa, Carolina Maria Josefa da Silveira e à filha mais nova, Iluminda Maria, feriu dois dos filhos e, seguidamente, suicidou-se atirando-se ao poço da sua residência no n.º 1 da Rua do Lilau”. O Coronel António Joaquim Garcia, Comandante geral da Guarda Policial, por ter incorrido na falta de confiança, em virtude de ter comparecido no funeral do Coronel Mesquita, deixou de exercer as suas funções e passou a ser Comandante da Fortaleza de S. Paulo e do Depósito do Monte. Segundo Beatriz Basto da Silva, “Protestou e foi reabilitado”. O Coronel Vicente Nicolau Mesquita só muito mais tarde, a 25 de Junho de 1910 será reabilitado pelo Bispo de Macau, João Paulino e puderam assim os restos mortais seguir para o Cemitério de S. Miguel. Nesse mês, Camilo Pessanha contribui com cinco patacas para ser edificado um mausoléu e a 25 de Agosto colabora com o texto “As duas datas”, na edição do jornal A Verdade integralmente dedicado ao Coronel Mesquita, como chama a atenção Daniel Pires. Os bravos do Passaleão Do grupo de homens que acompanharam Mesquita até ao Forte do Passaleão, passados cinquenta anos, segundo consta, apenas resta Luiz Maria do Rosário. Personagem que O Independente de 13 de Março de 1898 noticia, “Existe com vida, apenas um dos bravos que acompanharam o valente Vicente Nicolau de Mesquita, na tomada de Passaleão”. É filho desta terra e ainda aqui residente. “Alistou-se em 1847 no extinto Batalhão de Artilharia de Macau, onde serviu até 1858, passando a fazer parte do Batalhão Nacional. Foi admitido na Câmara como polícia em 1857, passando em 1860 a exercer o cargo de Alcaide, sendo reformado em 1897 para se poder dar esse lugar ao serventuário actual. Para o convencerem a reformar-se, o que ele não desejava, prometeu a câmara dar-lhe mensalmente, além do seu ordenado, mais cinco patacas para renda de casa, o que apenas se cumpriu durante cinco meses, sendo-lhe depois retirado esse subsídio, apesar de naquela ocasião lhe ter sido certificado que o receberia enquanto vivesse! Nesta ocasião, em que se procura prestar um preito de homenagem ao valente Mesquita, é de inteira justiça que este bravo, o único que existe dos 36 homens a quem Macau tanto deve, seja de qualquer forma lembrado, parecendo-nos mesmo de inteira justiça que o Leal Senado lhe alvitre, como recompensa do seu feito glorioso e dos seus longos serviços ao município, uma pensão que, por pequena que seja, concorrerá para melhorar, no pouco tempo de vida que lhe pode restar [no entanto, Luiz Maria do Rosário falecerá apenas em Fevereiro de 1913], as circunstâncias em que vive, representando tal benefício ao mesmo tempo um tributo de gratidão”, O Independente. Por iniciativa do Sr. Genuino A. da Silva foi aberta, entre a pequena comunidade portuguesa de Cantão, uma subscrição que rendeu $50 a favor de Luiz Maria do Rosário, o bravo do Passaleão. Tal serve para colocar de novo achas no conflito entre O Independente e o Leal Senado, no qual o jornal se queixa da diferença de tratamento preferencial dado ao outro jornal, o Echo Macaense. Já neste último semanário, a 24 de Abril, uma carta do IMPARCIAL ao redactor refere conhecer “um outro desse punhado a residir em Hong Kong. É o Sr. José Francisco Campos da Rosa. Era então rapaz, e estava como voluntário no Batalhão Provisório, guardando um dos principais pontos da cidade. Viu passar Mesquita, que lhe disse que ia tomar de assalto o forte. Ofereceu-se para acompanhá-lo, e logo foi aceite. Mesquita certificou ser este incidente verídico. Este documento estava em poder do contra-almirante Scarnichia, que representava Macau no Parlamento. Queria ele mostrá-lo ao ministro, para conceder uma distinção ao nosso bravo compatriota. Faleceu Scarnichia, e não se sabe para onde foi parar o documento. Existe uma cópia registada no Cartório Judicial”. Em Hong Kong ninguém se terá lembrado do Sr. José Francisco Campos da Rosa, mas em Macau os alunos do Liceu foram a casa de Luiz do Rosário homenageá-lo durante os festejos.
Victor Ng SociedadeAngela Leong recorda tempos difíceis do seu passado Angela Leong abriu as portas da casa na Colina da Penha a um programa do Interior da China e comentou a pressão que viveu com Stanley Ho durante a batalha jurídica contra Winnie Ho pelo controlo da STDM [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]ngela Leong, directora da Sociedade de Jogos de Macau e quarta mulher de Stanley Ho, foi a protagonista de um programa do Interior da China. Ao longo de quarenta minutos, a empresária abriu as portas da residência na Colina da Penha, abordou a relação com o Stanley Ho, a luta pela Sociedade de Turismo e Diversões de Macau entre o milionário e a irmã Winnie Ho, e não deixou de dar “uma bronca” à filha Sabrina Ho, devido a um atraso. Durante essa luta, que se prolongou pela década de 2000, Angela Leong admite que Stanley lhe confiou uma missão: comprar o máximo de acções possível em seu nome, para ajudar o milionário no controlo da empresa. Este foi um plano que a ex-dançarina tentou cumprir à risca, apesar de no início ter levantado objecções, uma vez que considerava que nenhum accionista lhe iria vender as participações. Ainda no campo empresarial, a agora deputada recordou o processo que resultou na entrada da SJM Holdings na Bolsa de Hong Kong, a 16 de Julho de 2008. Nesse dia, no pico da disputa entre Stanley e a irmã Winnie pela STDM, o milionário declarou mesmo vitória e, em tom divertido, prometeu arrancar todos os dentes à sua irmã. Sobre este período, Angela Leong afirmou que se trataram de tempos muito duros para o casal. Segundo a quarta mulher de Stanley Ho, o milionário estava frequentemente stressado, enquanto ela tentava convencer as pessoas a comprarem acções da empresa. A ex-bailarina revelou mesmo que num desses dias não aguentou e começou a chorar, de cócoras, no meio da rua, devido à pressão. Ainda em relação à sua vida empresarial, Angela Leong explicou que sempre quis mostrar que está em Macau e nos negócios pelo seu valor e talento e não apenas por ter uma capacidade financeira acima da média. Promessa de casamento Perante as câmaras, Angela Leong falou da sua vida privada, mostrou a interacção com os filhos e ddotes de cozinheira, quando foi filmada a cozinhar dumplings. A ex-bailarina não hesitou também em dar uma “grande bronca” à filha Sabrina Ho, que chegou atrasada para a reunião familiar. A filha respondeu, e em tom contido e respondeu que a mãe só lhe sabe apontar os defeitos. Ainda na vertente mais pessoal, Angela Leong trouxe à baila a primeira dança com Stanley Ho e revelou que o miliário lhe prometeu que seria a sua última mulher. Por outro lado, Angela revelou que tem um pacto com Stanley para não voltar a dançar com outro parceiro, mas recusou a ideia que esse acordo tivesse tido na base possíveis ciúmes.
Hoje Macau SociedadeObras do edifício de doenças infecto-contagiosas em 2019 [dropcap style≠‘circle’]D[/dropcap]ecorreu ontem o acto público de abertura das propostas da “Empreitada de Alargamento da Fase 1 do Centro Hospitalar Conde São Januário – Edifício de Especialidade de Saúde Pública – Obra de fundações”, que decorreu nas instalações do Gabinete de Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI). Foram recebidas 23 propostas, da quais 22 foram admitidas. De acordo com um comunicado, “os montantes propostos variam entre as 81 milhões e cerca de 217 milhões de patacas”, além de que os “prazos propostos variaram entre os 568 e 760 dias de trabalho”. De acordo com dados do GDI, as obras deverão começar no primeiro trimestre do próximo ano, sendo realizada num lote de terreno a sudoeste do Centro Hospitalar Conde São Januário, com uma área de 5 600 metros quadrados. O comunicado aponta ainda para mudanças nos acessos devido à obra. “Para evitar o impacto no acesso da parte dos moradores residentes nos edifícios vizinhos do circuito da Corrida do Grande Prémio, que se realiza anualmente no mês de Novembro, durante o qual terão de se encaminhar pelas traseiras dos edifícios. Foi assim reservado um caminho de acesso aos edifícios pelas traseiras”, lê-se.