Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeOperadora Galaxy contratou empresa para vigiar Facebook de empregados O jornal South China Morning Post noticiou ontem que a Galaxy contratou uma empresa de Hong Kong para vigiar as contas de Facebook dos seus funcionários, a fim de detectar potenciais comentários negativos para a operadora. O Gabinete de Dados Pessoais promete acompanhar o caso, enquanto que Cloee Chao denuncia casos de despedimentos na SJM devido a comentários online [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] operadora de jogo Galaxy tem vindo a vigiar os comentários e publicações dos seus empregados recorrendo a um acordo assinado com uma empresa de Hong Kong, a YouFind. A notícia foi ontem avançada pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post (SCMP), que referiu ter tido acesso a documentação que comprova esta parceria. Os funcionários alegam que está em causa uma violação dos direitos pessoais, uma vez que o objectivo é eliminar comentários ou publicações que dêem uma imagem negativa da operadora e “criar comentários positivos em grupos no Facebook”, por forma a “neutralizar” esse impacto negativo. O jornal escreve que cabe à YouFind criar perfis falsos de Facebook, sendo que a Galaxy garantiu que esta atitude da operadora está “totalmente de acordo com os padrões globais da indústria”. O HM contactou o Gabinete de Dados Pessoais (GPDP) no sentido de perceber se será aberta alguma investigação sobre este caso, uma vez que, de acordo com o SCMP, este acordo vigora com base na lei de Hong Kong e não na lei de protecção de dados pessoais que está implementada em Macau. Contudo, o GPDP disse apenas que vai “acompanhar de perto o caso”. Cloee Chao, presidente da Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores do Jogo, garantiu ao HM que vai reunir com os restantes membros da direcção para tomar uma decisão face a possíveis acções respeitantes a esta matéria, uma vez que não tinham conhecimento deste acordo. A croupier e dirigente associativa frisou que já ocorreram despedimentos em Macau devido a publicações feitas por funcionários nas redes sociais. “Este tipo de casos já aconteceu antes. Alguns funcionários, julgo que da Sociedade de Jogos de Macau, foram castigados e até despedidos por causa dos comentários que deixaram em plataformas como o Facebook.” Medo da imagem Em Agosto do ano passado, quando grande parte do território tentava recuperar dos estragos causados pelo tufão Hato, a Galaxy terá pedido a voluntários para procederem a limpezas nos espaços comuns do empreendimento, nomeadamente na zona da piscina. Tal gerou uma onda de protestos na página da empresa no Facebook, mas Buddy Lam, vice-presidente dos Assuntos Comunitários da operadora, garantiu que tudo não passou de um mal entendido. Para um especialista em dados pessoais ouvido pelo SCMP, este caso é apenas “a ponta de um grande e preocupante icebergue”. O organismo responsável pelos dados pessoais do Governo de Hong Kong também estará a acompanhar o caso. A Galaxy alega que os funcionários já sabiam deste acordo através do seu contrato de trabalho, mas alguns empregados que falaram à SCMP, sob anonimato, garantem que não sabiam de nada. Um deles compara este caso ao escândalo protagonizado pela Cambridge Analytica durante as eleições americanas que elegeram Donald Trump. “Muitos locais não compreendem na totalidade como é que podem fazer publicações que serão visíveis apenas para os seus amigos. Estou muito desapontado com o meu empregador por este poder espiar as minhas conversas pessoais e identificar os comentários negativos que faço sobre a Galaxy nas minhas costas”, apontou um dos funcionários. “Os boatos são uma coisa normal, tal como expressar opiniões. Não deveríamos ser espiados pelo nosso empregador e ter as nossas visões distorcidas e falsificadas”, acrescentou. Outro funcionário contou ao repórter do SCMP que as preocupações da Galaxy sobre a sua imagem, depois do incidente causado pelo tufão Hato, têm sido uma realidade. “A Galaxy tem estado muito preocupada com a sua reputação depois do tufão Hato. Mas isto parece-me demasiado, como o caso da Cambridge Analytica, e atenta contra a minha privacidade e direito de expressar a minha opinião”, rematou. No comunicado que enviou ao SCMP, a Galaxy acrescenta ainda que “não autoriza e não vai autorizar qualquer uso ilegal das redes sociais. A Galaxy desempenha de forma pró-activa as suas responsabilidades sociais e garante que as condutas estão de acordo com as leis [de Macau e de Hong Kong]”.
Diana do Mar PolíticaDeputados alertam para custos operacionais de exploração de táxis por empresas [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] futuro modelo de exploração da actividade dos táxis, que dita que apenas empresas vão poder candidatar-se a licenças, “vai, de certo, representar um aumento dos custos operacionais”. O alerta foi deixado ontem pelos deputados da 3ª. Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) face à possibilidade de tal vir a reflectir-se num aumento das tarifas. Esses custos operacionais adicionais têm que ver nomeadamente com a instalação obrigatória de equipamentos, como GPS e aparelho de gravação áudio, mas sobretudo com a contratação de novos taxistas, dado que à luz da proposta de lei não podem trabalhar mais de nove horas por dia, isto quando a prática actual é de turnos de 12 horas, uma vez que os particulares representam a maioria dos actuais titulares das licenças. “Sabemos que para operar um táxi 24 horas por dia, a empresa vai ter que contratar trabalhadores” e, “se assumirmos que o salário neste momento é de 20 mil patacas por condutor, feitas as contas, vemos que a empresa vai ter que pagar cerca de 70 patacas por hora”, afirmou o presidente da 3.ª Comissão Permanente da AL, no final da reunião. “A comissão alertou para a necessidade do Governo considerar também esse aspecto”, indicou Vong Hin Fai, dando conta de que foram também manifestadas opiniões sobre se a relação entre as tarifas e os custos operacionais de exploração “está ou não desligada da realidade”. O presidente da 3.ª Comissão Permanente da AL não foi, no entanto, taxativo relativamente à possibilidade de a subida dos custos operacionais vir a ter reflexo imediato na carteira dos passageiros. “Qualquer actualização do tarifário tem que ser aprovada pelo Governo que vai ouvir as opiniões da sociedade”, cuja preocupação incide principalmente sobre a correspondência do preço com a qualidade do serviço prestado, argumentou Vong Hin Fai. O secretismo das SA “Não temos opinião contrária à exploração por sociedades comerciais, mas o essencial é que não venha a afectar os actuais titulares de licenças”, sublinhou o presidente da 3.ª Comissão Permanente da AL, embora os deputados tenham chamado à atenção para o secretismo relacionado com a eventual entrada em cena de sociedades anónimas e, por conseguinte, os reflexos negativos que pode ter em termos de fiscalização. “Quando houver transmissão das acções ou da participação social temos que ter em atenção se for uma sociedade anónima porque os sócios não são identificados”, observou. A exigência de um capital social não inferior a cinco milhões de patacas às empresas candidatas a futuras atribuições de licenças também mereceu atenção, mas o Governo esclareceu que, “de acordo com o Código Comercial, não há necessidade de fazer verificação da realização do capital social”, indicou Vong Hin Fai.
Diana do Mar Manchete PolíticaActuais proprietários de licenças de táxis não vão ser afectados por mudanças na lei Os actuais 1600 táxis em circulação vão manter o actual modelo de exploração mesmo depois da entrada em vigor da lei que dita que apenas empresas vão poder candidatar-se a uma licença. A garantia foi dada ontem por Raimundo do Rosário que afastou ainda a possibilidade de monopólio [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]s actuais proprietários de licenças de táxis, na sua maioria particulares, podem estar descansados, dado que vão poder manter o actual modelo de exploração da actividade, mesmo depois da aprovação da proposta de lei que dita que, no futuro, apenas empresas vão poder candidatar-se à atribuição de uma licença. A garantia foi dada ontem pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, após uma reunião da 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), que analisa o diploma em sede de especialidade. Com a proposta de lei a ditar que apenas empresas se podem candidatar às futuras atribuições de licenças, o destino dos que actualmente operam táxis por conta própria emergiu como uma das principais preocupações. Mas Raimundo do Rosário deixou claro que os actuais 1.600 táxis vão continuar a funcionar à luz das regras vigentes, dado que se encontram em causa “duas realidades”: a existente e a futura. Assim, os actuais titulares das licenças ou dos alvarás com prazo limite podem continuar a exercer a sua actividade até ao termo do referido prazo, enquanto os restantes 650 titulares de alvará de táxi – sensivelmente 40 por cento do total – sem prazo limite vão poder operar ‘sine die’ nos actuais moldes, segundo dados facultados pelo presidente da 3.ª Comissão Permanente da AL, Vong Hin Fai, após a reunião com o Executivo. Em ambos os casos, à luz das disposições transitórias constantes do diploma, tanto as licenças como os alvarás podem ser transmitidos (definitivamente ou temporariamente). Monopólio afastado Aos jornalistas, o secretário para os Transportes e Obras Públicas descartou ainda a hipótese de o futuro modelo de exploração dos táxis, apenas por empresas, levar à criação de um monopólio, que figurava, aliás, como outra das preocupações. “Nem deve haver essa possibilidade porque aqui foi dito que devemos pôr um máximo de táxis por licença”, afirmou Raimundo do Rosário. “Desse ponto de vista, há aqui um consenso de que, no futuro, cada titular de licença não deve ter mais do que X número de táxis”, garantiu, indicando que falta ainda estabelecer esse tecto. Relativamente às opiniões recolhidas durante a consulta pública promovida pelo hemiciclo sobre a proposta de lei, que lhe foram entretanto facultadas, Raimundo do Rosário demonstrou abertura, mas manteve-se firme na defesa do futuro modelo de exploração da actividade por empresas, embora reconheça que não é consensual. “Sei que é muito discutível no futuro o titular da licença ter de ser obrigatoriamente uma empresa e não uma pessoa. Há pontos de vista diferentes”, mas “é uma opção legislativa”, sublinhou, reiterando ser vantajosa para os dois lados. “É mais conveniente para nós fiscalizarmos e supervisionarmos a actividade dos táxis através de uma sociedade e parece-nos mais fácil ser uma empresa a gerir do que um indivíduo”, sustentou.
João Santos Filipe PolíticaBenefícios fiscais para empresas de locação causam dúvidas a deputados [dropcap style≠‘circle’]S[/dropcap]egundo a nova proposta de regime do benefício fiscal para a locação financeira, que está a ser discutida na Assembleia Legislativa, a primeira compra de uma sociedade deste género de um imóvel destinado a escritório e para uso próprio está isenta do pagamento do imposto do selo sobre a transmissão de bens. Contudo, os deputados querem que o Governo explique a proposta e o que se entende por imóvel, se diz respeito apenas a um único escritório ou a todo um edifício de escritórios. “O artigo diz que é um escritório e para uso próprio e diz que há um benefício se for na aquisição do primeiro imóvel. Mas estamos a falar de uma única fracção ou de um conjunto de fracções, do edifício? Esta é uma dúvida que vamos pedir ao Governo que nos explique” afirmou Chan Chak Mo, presidente da 2.ª Comissão Permanente, que está a analisar o diploma. “Não sabemos mesmo como encarar este artigo, porque quando foi a votação em Plenário o Governo disse que era só uma fracção, mas agora refere que é para atrair mais investidores. É um aspecto que vai ter de ser esclarecido”, acrescentou. Ainda de acordo com o diploma que está a ser analisado, no caso do imóvel voltar a ser transmitido num prazo de cinco anos, o benefício fiscal é perdido, e as empresas terão de pagar o valor da isenção. Também este ponto levantou dúvidas aos membros da Assembleia Legislativa. “Se houver uma transmissão do imóvel após cinco anos, a isenção do imposto perde efeito. Mas como é feito o pagamento do imposto que tinha sido isentado? Em que moldes é que vai decorrer? Não há uma explicação, temos de questionar o Governo numa reunião futura”, declarou sobre este assunto.
João Santos Filipe Manchete PolíticaCompradores do Pearl Horizon demonstram frustração em página do Governo O Gabinete da secretária para a Administração e Justiça lançou uma página numa rede social para comunicar com os afectados pelo caso Pearl Horizon e os internautas aproveitaram para exprimir o seu descontentamento e pedir a demissão de Sónia Chan [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Governo lançou na terça-feira uma página na rede social Facebook para comunicar com os compradores do Pearl Horizon. As vítimas aderiram à iniciativa do Executivo e aproveitaram o mural da página em chinês para apresentar as suas queixas sobre a forma como o Gabinete da secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, tem lidado com a situação. No que diz respeito à avaliação da página, numa escala de uma a cinco estrelas, os internautas apresentam poucas dúvidas. Em 27 avaliações, 18 classificaram a iniciativa do Governo com uma estrela, quatro com cinco estrelas, duas pessoas com quatro estrelas e três com três estrelas. Logo nos comentários à avaliação surgem publicações com a partilha de vídeos das declarações de Sónia Chan. Em resposta, vários internautas pedem que a secretária peça a demissão. “Sónia Chan demita-se!”, lê-se num comunicado. “É preciso reformular o Governo. A secretária tem que sair”, comenta, em chinês, outra pessoa. Contudo, é nos comentários às publicações do Executivo que a figura ganha toda uma nova dimensão. Por exemplo, a publicação mais recente sobre o comunicado em que era anunciada a criação da página atraiu mais de 100 comentários em menos de 24 horas. Discursos variados Um dos comentadores contesta as diferentes posições do Governo assumidas ao longos dos anos, apontando que em 2014 o Executivo ainda considerava que a Polytex podia participar num concurso público para atribuição de uma nova concessão do terreno onde está o Pearl Horizon. Contudo, escreve o internauta, agora a posição é que a Polytex já não o poderá fazer. “Será que temos de considerar que quando um porta-voz do Governo da Região Administrativa Especial termina o discurso, esse discurso perde imediatamente validade? Qualquer frase perde imediatamente a validade, como querem comunicar com os compradores desta maneira?”, questiona. “Acredito que só o Governo de Macau se comporta desta forma infantil e incompetente”, é acrescentado. Outros repartem as responsabilidades do caso, mas questionam o que faz o Executivo para garantir a aplicação da Lei Básica: “O Governo procedeu à cobrança dos impostos pelas transacções, as vendas da Polytex foram feitas de acordo com a lei, os residentes compraram as fracções, segundo a lei. No entanto, as acções dentro da lei levaram uma irregularidade. O que é que o Governo da RAEM tem feito para implementar a Lei Básica de forma a proteger as vidas e as propriedades privadas?”, pergunta outra pessoa. Apesar dos vários comentários, não houve qualquer resposta individualizada por parte do Governo. Pearl Horizon | Polytex rejeitou receber carta de lesados Cinco deputados – Ella Lei, Si Ka Lon, Song Pek Kei, Wong Kit Cheng e Ho Ion Sang – acompanharam ontem um grupo de lesados do caso Pearl Horizon na entrega de uma carta à Polytex, com cerca de 300 assinaturas. Em causa estava a recusa dos planos de devolução do dinheiro pago no âmbito dos empréstimos, mas de acordo com a Macau News Agency, a Polytex recusou receber a carta. “Entregamos dezenas de cartas à empresa antes e esta continuou a ignorar-nos”, referiu um dos lesados. A empresa já apresentou dois planos de devolução faseada, a dois e três anos, do dinheiro que já foi pago pelas casas. Contudo, estes pedem uma devolução imediata dos montantes.
Sofia Margarida Mota EntrevistaPaulo Jorge Parracho: “Macau tem de ter marinas” O engenheiro naval Paulo Parracho esteve no território a participar no seminário “Jurisdição e Sustentabilidade: Ordenamento e Transporte Marítimo”. Para o especialista, Macau precisa de uma actualização legal para facilitar o aproveitamento da área marítima alargada de que dispõe. Por outro lado, e de modo a diversificar a economia local, defende a construção de marinas e a agilização dos processos de registo de embarcações [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]m que fase está Macau no que diz respeito à administração marítima? Há uma estrutura que, em termos de organização, responde àquilo que é suposto uma administração marítima com vontade de vir a ter navios e de cumprir as suas obrigações internacionais. Mas tem ainda uma legislação que carece de ajustamentos. A parte da legislação que diz respeito ao registo de navios respeita uma área que não sei se a RAEM poderá vir a explorar que é a náutica de recreio, um sector que, na minha opinião, poderá vir a ter aqui um grande potencial. Mas, a própria questão do registo de embarcações assenta em legislação portuguesa que já está desajustada e já foi alterada, ou seja, é preciso olhar para toda uma legislação que enquadra as questões relativas à parte marítima e que diz respeito à certificação de navios. Quando falo em certificação de navios refiro-me a questões de segurança, questões de prevenção da poluição e de gestão destes próprios navios. Há também uma curiosidade. Há um fundo de registo previsto em Macau à semelhança do que acontece em Portugal. Portugal criou um fundo de registo, ou seja temos um registo a que chamamos de registo convencional e depois temos o registo dos navios da zona da Madeira aproveitando a zona franca numa tentativa de responder à saída de navios da Europa para outros países que criavam condições mais atractivas, particularmente em termos de impostos. Nessa altura, em 82, Portugal criou o registo internacional de navios da Madeira. Curiosamente, essa legislação foi replicada aqui e está praticamente igual. O que acontece é que desde 82 até agora muita coisa se passou a nível internacional e há um conjunto de enquadramentos que já não pode ser aquele que a actual legislação existente aqui prevê. É também necessário questionar, até porque julgo que tem havido aqui uma discussão política no sentido de criar alternativas à economia além do jogo. De que forma é que a exploração do mar pode vir a ajudar a diversificar a economia local? É necessário determinar se na realidade há potencial em Macau para haver investimento e uma verdadeira economia do mar. A questão que podemos colocar é se há potencial de exploração da economia do mar do ponto de vista da exploração de recursos existentes nas águas. Que recursos? Não estamos a falar só de recursos piscícolas, que nem sei se ainda os há. Mas, por exemplo, será que há potencial para explorar a aquacultura tendo em conta que é uma área extremamente sensível do ponto de vista da qualidade das águas? Esta é a grande questão. Depois há o fundo do mar. O que é que este fundo tem para oferecer? Há o património que em Macau pode ser uma questão relevante porque esta foi uma zona de grande movimento de embarcações e é possível que haja também potencial cultural para ser explorado no fundo do mar. Estas são algumas das questões que é necessário perceber. E é preciso conhecer estes aspectos até porque só há ordenamento de espaço marítimo se houver conhecimento. Se não houver conhecimento a questão é: o que vamos fazer? FOTO: Sofia Mota A poluição marítima é uma questão que tem sido muito discutida. Como é que esta zona do mundo tem lidado com isso? A esse respeito é de registar que nesta zona do mundo muita coisa tem mudado e para melhor. Não há muito tempo havia um pouco a ideia que a questão da poluição seria um obstáculo ao crescimento económico. Felizmente, que assim não é e os grandes decisores políticos já reconheceram que, de facto, a poluição é um problema e se queremos ter um sistema sustentável este só pode existir dentro de um ambiente que também o seja. Quando os Estados ratificam uma convenção ambiental comprometem-se, para todos os efeitos, a dar cumprimento às normas dessa convenção. Mas o que acontece é que, na prática, isso não se verifica. Os Estados ratificam e depois esquecem-se que o acto de ratificação é apenas o primeiro passo. Depois é necessário criar meios, do ponto de vista de recursos humanos, devidamente qualificados para que aquilo a que se comprometeram a fazer seja viável. A situação dos plásticos, por exemplo, não seria problema se os Estados cumprissem as convenções porque isso já está previsto. Temos cada vez mais convenções e seria muito bom que fossem cumpridas porque se assim acontecesse muitos dos nossos problemas, quer a nível de poluição, quer a nível de segurança, não existiam. Relativamente a esta zona, pela primeira vez a organização marítima internacional faz auditorias a todos os Estados o que não é uma questão fácil. Os países europeus estão habituados a receber auditorias por parte da Comissão Europeia, mas há outros que não. Este processo já começou também na China e em Macau. É um sistema importante não na perspectiva de apontar o dedo mas na perspectiva das coisas poderem avançar de forma uniforme porque a poluição não conhece fronteiras. A China é vista como um dos países que tem tido algum relevo no combate à poluição. Concorda? As acções que a China tem vindo a tomar têm sido muito importantes. Vi as posições da República Popular da China (RPC) em dois momentos e não foi há tanto tempo como isso. De 2006 até provavelmente 2008, a RPC tinha uma posição em que a poluição seria para ser tratada, mas mais tarde porque há sempre a questão dos países que defendem que as questões ambientais são restritivas ao seu desenvolvimento económico e reclamam que outros Estados mais desenvolvidos atingiram o ponto que atingiram – de grandes economias – à custa de muita poluição. Por isso, países como a RPC, Índia ou Brasil entendiam que não seria justo que agora se lembrassem do ambiente quando esses países já estão na recta ascendente. Este era o argumento apresentado. O facto da RPC nos últimos anos ter tido uma posição extremamente construtiva relativamente ao ambiente tem levado a que um conjunto de medidas, que até há bem pouco tempo levavam muito tempo a ser aprovadas a nível internacional, pudessem avançar. Isto tem levado a que países mais renitentes nesta matéria como a Índia e o Brasil, sigam o exemplo da China. A nível da poluição atmosférica andámos não sei quanto tempo para que se conseguisse avançar com passos muito pequeninos, agora tem-se conseguido dar passos muito largos e importantes. Esta situação assume maior importância pelo seguinte: por vezes há a tendência errada de se procurarem soluções para este tipo de problemas a nível regional e não internacional. Assumir posições unilaterais não será a melhor estratégia mas a Comissão Europeia entende o contrário. O ambiente é um problema internacional e tem que ser tratado a nível global. Ainda neste sentido, o comportamento da China tem sido extremamente importante para colocar a comunidade internacional a avançar, não a um ritmo que todos se calhar pretendíamos, mas é já um ritmo importante e isto tem feito com que as decisões a nível regional percam a razão de existir. Ou seja, já não há aquele argumento de “temos que decidir a nível regional porque a nível internacional há um conjunto de países, entre os quais grandes potências como é a China, que lideram e que retardam o processo deliberadamente”. Isto agora não está a acontecer. Relativamente a Macau e com a quantidade de barcos que circulam nesta zona, não há um perigo acrescido nestas águas? O transporte marítimo é o menos poluidor de todos os meios de transporte. É a Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água que tem a obrigação de assegurar que as regras são aplicadas. Pode fazê-lo directamente, com os recursos próprios ou pode permitir que entidades independentes idóneas, designadas por organizações reconhecidas possam realizar as tarefas que competem à administração marítima de Macau. Mas isto não significa que Macau fique ilibado das responsabilidades que tem como estado de bandeira, ou seja, tem que assegurar que o trabalho que delegou em qualquer área, é acompanhado directamente pela própria direcção para garantir que está a ser correctamente efectuado. A questão que se pode colocar é porque é que isto não acontece. Pode ser por vários motivos. Um deles é a existência de alguma incapacidade do ponto de vista de recursos qualificados para exercer claramente essas funções. A outra, porque podemos estar a falar de uma administração permissiva. A questão do registo de navios é uma questão do ponto de vista financeiro muito atractiva. Mas, a questão que eu coloco é porque é que não há uma marina de recreio aqui? Acredito que se deveria apostar nesta área porque Macau tem todas as condições para ter uma marina de recreio forte. Acontece também que a legislação existente nesta matéria é basicamente a legislação portuguesa que está ultrapassada. Já tivemos depois da legislação que ainda perdura em Macau, duas alterações em Portugal e está em curso uma terceira. Portugal ainda exige, bem como os países do Sul da Europa e Macau, a obrigatoriedade de para quem quer navegar numa embarcação de recreio, de ter uma carta de navegador de recreio. Isto já não acontece nos países do norte da Europa. Isto tem que ver um pouco com as questões próprias dos regimes legais existentes. No sul da Europa ainda há um pouco a ideia de que o Estado é que tem que ser “o paizinho de toda a gente”. Isto também se vê nos enquadramentos jurídicos e é uma área que também em Macau está condicionada. Não digo para se acabarem com as licenças, que isso é uma decisão política, mas se a opção for obrigar que existam cartas de recreio para quem quer conduzir uma embarcação, pelo menos que se ajuste a legislação no sentido de potenciar e de atrair mais gente para a prática da náutica de recreio. Vamos exigir que as cartas se possam obter em centros de formação mas que não se cometa o erro, como se tem vindo a fazer em Portugal, de quase que se exigir um curso como se se fosse trabalhar a bordo de uma embarcação profissional – isto afasta toda a gente. Referiu que a legislação a nível internacional está a avançar. Macau não podia usufruir disso para ter a vida facilitada na atualização da sua legislação? Julgo que sim, mas quem está de fora não percebe todas a variáveis que um processo de alteração de legislação tem. Se se pretende olhar para o mar na perspectiva de utilização de embarcações e de atrair a população para praticas náuticas – e porque não apostar no turismo náutico – Macau tem que olhar para este pacote como um todo e isso passa obrigatoriamente pela náutica de recreio. O problema não passa só por ter uma embarcação, Macau tem de ter marinas, tem de ter pessoas que gostem de navegar e criar aqui uma dinâmica. Julgo que seria extremamente interessante termos aqui nestas águas um movimento neste aspecto. Traria a Macau um colorido diferente e provavelmente criava aqui outras alternativas dentro da actividades turística. Não tenho dúvida de que há vontade, agora é preciso que haja disponibilidade para começar a trabalhar.
Hoje Macau Manchete PolíticaEdmund Ho em Portugal | Destacada importância da comunidade portuguesa [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]dmund Ho, o primeiro Chefe do Executivo da RAEM e actualmente vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) está em Lisboa onde participa numa visita oficial, no âmbito dos 15 anos do Fórum Macau. Edmund Ho reuniu-se esta terça-feira com o ministro dos Negócios e Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, tendo “trocando opiniões sobre o reforço da cooperação económico-comercial, turística, cultural e educação, entre outras áreas”, aponta um comunicado oficial. De acordo com o mesmo documento, serão assinados 25 acordos de cooperação durante esta viagem, “entre os quais a assinatura entre Macau e Portugal do novo acordo para evitar a dupla tributação, que vai ajudar a construção da plataforma de serviços financeiros entre a China e os Países de Língua Portuguesa”. No seu encontro com Augusto Santos Silva, Edmund Ho destacou a importância da comunidade portuguesa no território, tendo dito que “a cultura portuguesa e os portugueses residentes são parte integrante e importante de Macau”. Quanto à política “Uma Faixa, Uma Rota”, esta “tem grandes potencialidades de desenvolvimento, bem como o valor do apoio e envolvimento de Portugal no ensino da língua portuguesa em Macau”. No que diz respeito à Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, o ex-Chefe do Executivo garantiu que, numa fase inicial, “este será um projecto-piloto, havendo ainda a adopção de medidas e políticas de bonificação que contribuirão para a entrada de produtos dos países de língua portuguesa no mercado da Grande Baía”. Portugal está atento Augusto Santos Silva optou por frisar que “o investimento das empresas chinesas, em Portugal, é bem-sucedido e está a caminhar em bom sentido”, esperando que, no futuro, “mais produtos portugueses, nomeadamente carnes, possam entrar nesse grande mercado que é a China”. Quanto à política “Uma Faixa, Uma Rota”, lançada por Pequim, está a ser analisada pelo Governo português ao nível das oportunidades, adiantou. Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, “a cultura portuguesa está presente em muitas coisas em Macau, e o território é um local de interesse para Portugal, cultural e economicamente”. No que diz respeito às acções do Governo de Chui Sai On, este “tem apostado muito no ensino da língua portuguesa com sucesso”, pelo que o reforço da cooperação com o território é para manter. Por sua vez, Eurico Brilhante Dias, secretário de Estado da Internacionalização, afirmou que o Governo português tem um “enorme interesse nas actividades de convenções e exposições de Macau”. Lionel Leong, secretário para a Economia e Finanças, e um dos governantes que integra a comitiva nesta viagem oficial, frisou que “o Fórum Macau já se tornou num cartão de visita de Macau”, além de que o Governo “está determinado em fazer bem o trabalho quanto à plataforma de serviços financeiros entre a China e os Países de Língua Portuguesa”. O encontro contou ainda com a presença do embaixador da República Popular da China em Portugal, Cai Run.
Hoje Macau SociedadeKa-Hó | Antiga leprosaria dá lugar a centro de ensino e formação em arte [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, visitou ontem a povoação de Ka-Hó, em Coloane, tendo anunciado novos planos para o aproveitamento da antiga leprosaria. De acordo com um comunicado, o edifício “irá albergar, no futuro, uma base de ensino e formação em arte para os jovens”, estando “ao dispor dos residentes e turistas para visitas. A antiga leprosaria é composta por cinco casas e uma igreja e “constituem um conjunto de construções com estilo arquitectónico coerente, foram construídas em 1885 e receberam, posteriormente, a designação de Vila de Nossa Senhora de Ká-Hó”. “O processo de restauração das cinco casas, sobretudo, da sua estrutura, paredes, portas e janelas, arrancou em 2013 pelo Instituto Cultural, que insistiu no princípio de autenticidade, pelo que foram preservadas várias partes originais, nomeadamente, as paredes, os vãos de portas e os corredores, enquanto que as restantes partes foram reparadas com materiais originais”, aponta o mesmo comunicado. O processo de restauração dos edifícios já está concluído, sendo que o IC “irá iniciar brevemente os trabalhos de restauração do centro de actividades (antiga igreja)”. Na sua visita, Alexis Tam “sublinhou que, mesmo não sendo património classificado, o Governo valoriza muito a revitalização e aproveitamento das cinco casas e igreja da antiga Leprosaria”. Tendo em conta “a história e o ambiente artístico da vila de Nossa Senhora de Ká-Hó”, é objectivo “transformar o local numa base de ensino e formação em arte para os jovens”, sendo que no centro de actividades “está planeado um espaço de exposição para demonstrar a história dos serviços sociais, prestados pela igreja naquela zona”.
Hoje Macau DesportoEspanha bate Irão, com golo feliz de Diego Costa [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Espanha colocou-se ontem a um ponto dos oitavos de final do Mundial de futebol de 2018, e deixou Portugal em situação idêntica, ao vencer o Irão por 1-0, em encontro do Grupo B, disputado em Kazan. Um golo feliz de Diego Costa, o seu terceiro na prova, aos 54 minutos, valeu o triunfo aos comandados de Fernando Hierro, que haviam empatado 3-3 com Portugal, na estreia, e fecham o agrupamento face a Marrocos, já eliminado. Com este triunfo, a Espanha e Portugal, que hoje bateu Marrocos por 1-0, com mais um golo de Cristiano Ronaldo, lideram, com quatro pontos, contra três do Irão, de Carlos Queiroz, o último adversário da seleção lusa, na segunda-feira.
Hoje Macau InternacionalEUA | Regresso de crianças tiradas a pais migrantes vai começar mas sem prazo [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] agência norte-americana para a Saúde e Serviços Humanos vai começar já devolver crianças afastadas aos seus pais migrantes, mas não dá prazo para a tarefa estar concluída. “Temos de retirar as crianças do nosso cuidado tão rapidamente quanto possível”, afirmou o responsável pela agência, Alex Azar, ao Washington Post. Há 11.800 crianças migrantes retidas pela agência, mas a maioria chegou à fronteira dos Estados Unidos da América sem pais ou outros adultos. No entanto, 2.300 são as que foram retiradas aos pais, que já estão a ser contactados, mas que não conseguem falar com os filhos através de um número dedicado fornecido pelo Governo norte-americano. O Presidente norte-americano, Donald Trump, assinou hoje uma ordem executiva para acabar com a separação de crianças dos pais imigrantes na fronteira dos Estados Unidos. Uma fonte da Casa Branca disse à agência noticiosa Efe que Trump assinou o documento para permitir que as crianças fiquem com os pais nos centros de detenção para os quais os imigrantes sem documentos são mandados durante longos períodos de tempo. Contudo, Trump afirmou que a política de “tolerância zero” é para continuar. Até agora, Trump tinha alegado, erradamente, que não tinha outro remédio a não ser separar as famílias, baseando-se na lei federal e numa decisão judicial. Imagens de crianças em jaulas foram divulgadas em meios de comunicação de todo o mundo, bem como relatos de separações que provocaram revolta em todos os setores, incluindo o Partido Republicano, receoso de um impacto negativo nas eleições intercalares de novembro próximo. Agora, o Presidente norte-americano disse que vai “manter as famílias juntas” nos centros de detenção e resolver mais depressa os seus casos, contando com o Departamento de Defesa para providenciar alojamento. O responsável pela Defesa, Jim Mattis, afirmou que o Pentágono irá “responder se solicitado” para alojar migrantes detidos.
Hoje Macau DesportoMundial 2018: Portugal-Marrocos em Macau, dos reformados e pensionistas até ao diplomata adepto [dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]eformados e pensionistas, macaenses, chineses, filipinos e, claro, portugueses, entre eles o Cônsul-geral de Portugal para Macau e Hong Kong, gritaram ao mesmo tempo o golo de vitória de Ronaldo frente a Marrocos. À hora de jantar em Macau, foi mais fácil reunir os sócios e os mais idosos na sede da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC) para assistirem em clima de festa ao segundo jogo de Portugal no Mundial de futebol. A menos de um quilómetro de distância, com uma média de idades bem mais baixa, funcionários, professores e alunos do Instituto Português do Oriente (IPOR), repetiam na sede daquele organismo a presença para assistir à transmissão de um jogo que, por várias vezes, colocou à prova a ‘diplomacia desportiva’ do Cônsul-geral de Portugal para Macau e Hong Kong, Vítor Sereno, em especial durante o assédio final marroquino. Na APOMAC, macaenses, chineses, portugueses, chineses e filipinos, uma boa parte deles a envergarem a camisola de Ronaldo, ainda estavam a provar as entradas quando o inevitável Ronaldo fez o 1-0, para lhes saciar pelo menos a fome de vitórias. “Estamos aqui portugueses, chineses, macaenses, de todas as etnias, para ajudar a equipa portuguesa. (…) O desporto é muito importante para a união de todas as comunidades em Macau”, sublinhou o presidente da APOMAC e um dos organizadores do jantar, Jorge Fão. “Assim que soubemos que o horário batia certo com o jantar, fizemos umas mensagens através do telemóvel para se inscreverem”, disse, destacando naquela noite a gastronomia que, sem ser portuguesa, cozinhada sobretudo por filipinos, fundia China e Macau no mesmo prato. “É chinesa, não é portuguesa. Está a ver aqueles pratos esquisitos, mas isto é tudo macaense, até a sopinha. Mas é coisa boa”, garantiu Jorge Fão, sossegado pelo golo madrugador e pelo copo de vinho tinto que veio do Algarve. José Avelino, funcionário da associação, mostrava-se, ao intervalo do jogo, cauteloso com a exibição da seleção lusa e exultante com a hora de início da partida, 20:00 em Macau, 13:00 em Portugal. “O jogo começou às oito, é bom para o pessoal estar aqui. Somos idosos, temos de nos deitar mais cedo. A maioria tem mais de 60 anos”, ressalvou. José Mariano Rosa, outro dos sócios da APOMAC, falou com a emoção que encurta distâncias para um país que não se esquece. “O jogo começar às 20:00 é muito bom para nós, que estamos habituados a ver os jogos de madrugada. (…) Isto significa muito. Nós somos portugueses, somos descendentes de portugueses. Quando a seleção joga mexe com o nosso coração. Nós sofremos mais do que eles sofrem lá”, desabafou. Naquela que o cônsul de Portugal em Macau denomina como “a casa de todos os portugueses”, o IPOR, registou-se “casa cheia”. Tanto na APOMAC, referiu, como “aqui [no IPOR], a 10 mil quilómetros de distância, acho que é de louvar a portugalidade que se vive, o sentimento de pertença que se vive com a seleção nacional”. O nervosismo que o fez sofrer enquanto adepto estava mais sossegado com resultado final: “temos desbravado caminhos com a diplomacia desportiva”, salientou, lembrando também que “Ronaldo é um dos melhores embaixadores de Portugal, se não o melhor, (…) conhecido na China inteira”, e deixando a suspeita de que “não há no sudeste asiático quem não o conheça”. Para Vítor Sereno, “esta foi mais uma grande noite”. “Uma noite de sorte, mas [que serviu] para contrastar com as vitórias morais que durante tantos anos tivemos e que fomos para casa agarrados aos cachecóis a chorar. (…) Eu tenho muita fé. Fernando Santos dizia em 2016 que só voltava a 13 de julho. Eu estou com a fé de que voltamos no último jogo do campeonato”, afirmou, convicto.
Hoje Macau China / ÁsiaComércio | Governo de Taiwan analisa conflito entre Washington e Pequim [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, convocou ontem uma reunião governamental especial para analisar os efeitos na segurança da ilha no conflito comercial entre Estados Unidos e China, anunciou o porta-voz presidencial, Wong Chung. O encontro contou com a presença do primeiro-ministro Lai Ching-Te, o secretário-geral do Conselho de Segurança Nacional da ilha, David Lee, entre outros responsáveis de vários organismos que vão analisar a questão para decidir eventuais medidas. Até ao momento, o conflito comercial entre Washington e Pequim tem “um impacto económico limitado” em Taiwan e os seus empresários na China, afirmou Wong. Mas se o conflito se agravar “vai desencadear maior proteccionismo e alta volatilidade nos mercados financeiros e no comércio”, acrescentou. É também importante prestar atenção às “mudanças estruturais que pode causar” como, por exemplo, em relação à participação de Taiwan “na cadeia de abastecimento da região” e nas “relações trilaterais entre a China, os Estados Unidos e a ilha”, disse o porta-voz. O Ministério da Economia da ilha tinha já assinalado que as empresas de Taiwan com fábricas na China e exportações para os Estados Unidos vão ser as mais afectadas por este conflito comercial, especialmente na produção de maquinaria, equipamentos electrónicos, peças automóveis e instrumentos ópticos.
Hoje Macau China / ÁsiaCoreias | China quer desempenhar “papel construtivo” na desnuclearização [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês quer que a China desempenhe “um papel construtivo” na desnuclearização da Coreia do Norte, um compromisso expresso na sua terceira reunião com o líder norte-coreano, informaram ontem os ‘media’ do regime. Durante o novo encontro de terça-feira em Pequim entre Xi Jinping e Kim Jong-un, o Presidente chinês “expressou o seu firme apoio” à desnuclearização da península coreana. A reunião entre Xi e Kim decorreu “de maneira cordial, aberta e amistosa”, durante a qual o líder norte-coreano transmitiu a sua gratidão ao Presidente chinês pelo apoio da China na cimeira histórica que Pyongyang realizou com Washington a 12 de Junho em Singapura, adiantou a agência estatal da Coreia do Norte, KCNA. Kim Jong-un declarou ainda que a Coreia do Norte vai cooperar com a China “no processo de abertura de um novo futuro na península coreana e na região” e comprometeu-se a consolidar as relações bilaterais, segundo uma informação da KCNA sobre a viagem e este encontro. A aproximação de Pyongyang e Pequim verifica-se depois de cinco anos de relações tensas que coincidiram com a chegada ao poder de Xi Jinping em 2013 e a execução do tio do líder norte-coreano, ordenada nesse mesmo ano por Kim Jong-un, na altura ‘número dois’ do regime e que mantinha um vínculo estreito com Pequim.
Hoje Macau China / ÁsiaQuase 12 mil deslocados devido a combates no sul das Filipinas [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]elo menos 11.700 pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas na ilha de Mindanao, no sul das Filipinas, devido a novos combates entre o exército e o grupo extremista Maute, anunciou ontem o Governo filipino. A ofensiva, que começou no domingo, intensificou-se nas últimas 24 horas, o que resultou no dobro da população deslocada, já superior a 2.200 famílias, indicou o Conselho de Gestão de Redução de Risco de Desastres da província de Lanao del Sur. Desde domingo foram abatidos cinco presumíveis extremistas islâmicos na operação que tem como objectivo a captura do líder do Maute, Abu Dar, conhecido como o “emir” do grupo extremista Estado Islâmico (EI) no Sudeste Asiático, disse aos meios de comunicação locais o coronel Romeo Brawner, porta-voz da primeira divisão de infantaria na zona. De acordo com informações dos serviços secretos, Abu Dar encontra-se no enclave montanhoso de Lanao del Sur, entre as cidades de Pagayawan e Tubaran. As autoridades filipinas consideram Abu Dar um dos líderes do cerco de cinco meses a Marawi. Em Maio do ano passado, os extremistas do Maute tomaram Marawi, capital de Lanao del Sur, uma acção que desencadeou um conflito armado que se prolongou por cinco meses e causou a morte de 920 rebeldes, 165 soldados e 47 civis. As autoridades registaram ainda cerca de 360 mil deslocados. Os rebeldes, que hastearam bandeiras negras do EI, contaram com abundantes recursos e tempo para planear aquele que foi o maior conflito armado das últimas décadas nas Filipinas, segundo os serviços secretos filipinos. O conflito levou o Presidente filipino, Rodrigo Duterte, a declarar a lei marcial em toda a região de Mindanao, onde vivem perto de 20 milhões de pessoas, uma medida de excepção que estará em vigor até final deste ano. Com perto de 20 por cento da população muçulmana, Mindanao é palco, há décadas, de conflitos entre o Governo e diferentes grupos extremistas, incluindo a organização extremista Abu Sayaf, também próxima do EI.
Leocardo VozesAngeles [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] pouco mais de uma hora de avião de Macau fica o aeroporto de Clark, uma base militar norte-americana desactivada, a 80 km norte de Manila, na província de Pampanga. Uma curta viagem de dez minutos de carro leva-nos até Angeles City, uma cidade com pouco mais de 400 mil habitantes, que aproveitei para visitar durante o último fim-de-semana prolongado, do feriado do Barco Dragão. A viagem faz-se num salto – é mesmo, o avião levanta, fica meia hora no ar, e começa a sua descida até ao arquipélago das Filipinas. A única semelhança que encontrei entre Angeles e Macau foi o clima; calor, com temperaturas acima dos 30 graus, muita humidade, e aguaceiros imprevisíveis, e por vezes fortes. O resto é o mundo completamente à parte daquele a que estamos aqui habituados. Pode-se falar em duas cidades, quando se fala de Angeles. Uma parte como qualquer outra cidade moderna e de pendor urbano nas Filipinas, com comércio, serviços, centros comerciais e um povo que, como sabemos muito bem, vai fazendo pela vida com o pouco que tem. A outra parte é, para descrevê-la primeiro em poucas palavras, uma autêntica “Sodoma do Oriente”. É nessa parte que se encontram mais expatriados; alemães, americanos, australianos e outros “diabos brancos”, que ora procuram o local para diversão, ora o escolhem para passar a velhice. Sai mais barato que Miami ou Palma Mallorca, com toda a certeza. Por apenas uma nota de mil pesos (150 patacas), é possível comprar um momento de prazer. Obviamente que não faltavam os travestis (uma presença assaz constante), e até foi possível presenciar alguma prostituição infantil. Em Angeles consegue-se encontrar de tudo, 24 horas por dia. Quem marca também uma presença forte em Angeles são os coreanos. Na avenida principal da área dos bares, a Walking Street, é possível encontrar resaurantes e cafés coreanos. Entrei num desses cafés com a esperança de comer um “halo-halo”, um tipo de sobremesa feita com gelado de inhame, e disseram-me que “só têm halo-halo coreano”. Seja lá o que isso for. A quantidade considerável de coreanos nesta área fez com que estes se misturassem com as mulheres locais, dando origem a um cruzamento a que chamam de “kopinos” ou “korinoy”. Calculam-se que hoje existam mais de 20 mil destes mestiços, com predominância na zona de Quezon City, em Metro Manila. Vi muitos coreanos, e nenhuma coreana. O mesmo pode-se dizer em relação aos outros estrangeiros. A cidade dos anjos não é para o sexo dito fraco. É preciso ter um estômago forte, e de preferência deixar a moral em casa, quando se vai visitar Angeles City, através do aeroporto de Clark. Visito as Filipinas uma vez por ano, e encanta-me sempre o ar, a vida, a comida, a alegria daquele povo tão sofredor. São sempre momentos bem passados, a um preço convidativo. Depois é só procurar o nosso lugar, entre o imenso território que compreende milhares de ilhas, e onde habitam mais de 100 milhões de almas. Angeles é apenas o lado de fora.
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasCenas do mundo flutuante, de Kenneth White [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ara o Paulo José Miranda 1 Fiapos de bruma, brancos e pegajosos, retocam a baía e um velho junco acomoda-se pesadamente no seu caminho – dava tudo para não perturbar esta mansidão… mas já o dia alça consigo as gruas giratórias, as pessoas apressam-se e tossem, os motores e as sirenes afogam o ring-ring dos telefones – Hong-Kong desperta para o rodopio das moedas. 2 Espreite-se agora o mercado do peixe: como cintila o sol vermelho nos olhos bugalhudos, nas carpas, raias, tubarões, barracudas e serpentes do mar, enquanto se solta um fumo azulado dos paus de incenso que pescadores exaustos até ao osso acendem para agradecer a bondade da Rainha dos Céus e o seu regresso sãos e salvos ao Cais dos Perfumes 3 Tilinta um vozear cantonês sobre um amontoado de faces amarelas (lado Hong-Kong e lado Kowloon), o ferry-boat aberto aos ventos atravessa o verde estreito por entre juncos, chalupas e wallas-wallas: jornais impressos em vermelho e negro e expostos às lufadas do mar da China 4 Uma secretária privada («privada, a que ponto?», inquietou-se quando lhe deram o trabalho), de vinte anos, bonita como um óleo (i.é, sem o brilho plástico dos posters), com cerca de três mil dólares (HK) de remuneração ao mês e um apartamento só dela em Happy Valley, amante de um próspero médico local, e que sonha vir a ser estudante no Hawaii – ei-la, acotovelada no lufa-lufa das horas de ponta, no ferry-boat da manhã 5 O vetusto e encardido pedinte mongol desce do seu poleiro nas colinas de Kowloon, levado pelo peso do seu longo e escorrido cabelo, e, rindo sozinho, calca o passeio com os seus pés nus deixando atrás de si um rastro de vazio, uma larga onda de riso e de vazio que reflui até à Montanha Fria 6 No refrigerado escritório de um arranha-céus acaba de chegar a uma linha de inventário um milhar de caixotes com abalones mexicanos e uma tonelada de coelhos chineses é expedida noutra – enquanto nas ruelas reformados movem ruidosamente as peças do Mahjong por entre um estrelejar de frituras, o fedor dos legumes apodrecido e o fantasmático odor dos incensos 7 No seu encavalitado gabinete em Mody Street “Patrão” Wong, aliás Eduardo (Chinês das Maurícias, passaporte inglês) atende a sua próxima fornada de clientes e afiambra-se a vender-lhes fatos, relógios, malas – «sou um topa-tudo» – e a propor-lhes a sua famosa viagem-mistério nos seus barcos-flores e no seu penumbroso expresso onde se apalpa a rodos uma pequena vizinha nua todos os cinco minutos 8 Espreguiçado à sua vontade, coçando as costas contra um pilar do molhe, em Kowloon, Ken Cameron, vagabundo, abre o South China Morning Post e lê o discurso que um general inglês proferiu num jantar do Rottary Club – passando depois a pente-fino a página de chegadas e largadas de navios, sonhador, pronto para uma nova aventura 9 Com dois novos scripts sob o braço: «Os Matadores de Canton» e «Assassinato em Macau» (sucesso comercial garantido a 100%), Brooklin Joe, bigode mate e fato branco, sobe a Nathan Road pelo colarinho azul da tarde enquanto a sua amiga, nova sensação nas passarelas, insiste em fumar o cigarro que lhe dá náuseas («somos gente de Hong-Kong, nada de política…») 10 Eis Scott Hawkins, escritor muito rodado em toda a Ásia, sentado no seu quarto de hotel em Tsimshatsui, uma garrafa de uísque ao alcance da mão e um caderno novo aberto sobre a mesa – na primeira linha lemos: «o Rosto do vento do este» e abaixo desta: «um romance impossível». 11 Ao cair da noite, as ruas são estriadas pelos reclames em néon, Negro bailado de ideogramas: uma loura holandesa, numa cave bruxuleante, expõe os seus transpirados seios aos turistas japoneses; uma jovem filipina faz o mesmo para marinheiros ianques empanturrados de cerveja; enquanto um bisonho e mastodôntico homem de negócios britânico se deixa escoltar por uma grácil, mínima e tímida jovem de Hong-Kong 12 Um cinema em Kowloon: no átrio, laranjas descascadas às carradas, castanhas que fumegam ao ritmo do abanador; um chiqueiro de miúdos, asas e pés de frango – na imensa sala o vizinho fuma como um danado e cospe no chão enquanto os ossos se quebram e o sangue jorra e as heroínas gemem no écran gigante 13 No seu apartamento, num décimo andar dos arrabaldes – esteiras atapetam o chão, à japonesa, mas num canto vê-se um pi-pa chinês – Christopher Cheung («não sou um artista, eu sou um ser humano») serve-se de um copo de maotai e sonha com Kyoto 14 No bar, perto das duas horas da manhã, hora de fecho: Oscar Eberfeld, 46 anos, celibatário, gala sem esperanças a baixa empregada de saia fendida ou segue às vezes uma mulher no passeio colando os olhos à linha dos slips sob as calças, depois regressa ao seu quarto, inconsolável com o seu magazine ilustrado 15 Lá em cima em Aberdeen um rato lambareiro esgueira-se para o buraco sob as pranchas de um restaurante do cais os últimos jogadores bocejam e cospem, num relance aos rebocadores que reentram no porto, silentes, enquanto dois juncos maciços, a popa alta, lavram as águas sombrias da noite farejando a rota dos antigos lugares de pesca. am a baía e um velho junco acomoda-se pesadamente no seu caminho – dava tudo para não perturbar esta mansidão… mas já o dia alça consigo as gruas giratórias, as pessoas apressam-se e tossem, os motores e as sirenes afogam o ring-ring dos telefones – Hong-Kong desperta para o rodopio das moedas 2 Espreite-se agora o mercado do peixe: como cintila o sol vermelho nos olhos bugalhudos, nas carpas, raias, tubarões, barracudas e serpentes do mar, enquanto se solta um fumo azulado dos paus de incenso que pescadores exaustos até ao osso acendem para agradecer a bondade da Rainha dos Céus e o seu regresso sãos e salvos ao Cais dos Perfumes 3 Tilinta um vozear cantonês sobre um amontoado de faces amarelas (lado Hong-Kong e lado Kowloon), o ferry-boat aberto aos ventos atravessa o verde estreito por entre juncos, chalupas e wallas-wallas: jornais impressos em vermelho e negro e expostos às lufadas do mar da China 4 Uma secretária privada («privada, a que ponto?», inquietou-se quando lhe deram o trabalho), de vinte anos, bonita como um óleo (i.é, sem o brilho plástico dos posters), com cerca de três mil dólares (HK) de remuneração ao mês e um apartamento só dela em Happy Valley, amante de um próspero médico local, e que sonha vir a ser estudante no Hawaii – ei-la, acotovelada no lufa-lufa das horas de ponta, no ferry-boat da manhã 5 O vetusto e encardido pedinte mongol desce do seu poleiro nas colinas de Kowloon, levado pelo peso do seu longo e escorrido cabelo, e, rindo sozinho, calca o passeio com os seus pés nus deixando atrás de si um rastro de vazio, uma larga onda de riso e de vazio que reflui até à Montanha Fria 6 No refrigerado escritório de um arranha-céus acaba de chegar a uma linha de inventário um milhar de caixotes com abalones mexicanos e uma tonelada de coelhos chineses é expedida noutra – enquanto nas ruelas reformados movem ruidosamente as peças do Mahjong por entre um estrelejar de frituras, o fedor dos legumes apodrecido e o fantasmático odor dos incensos 7 No seu encavalitado gabinete em Mody Street “Patrão” Wong, aliás Eduardo (Chinês das Maurícias, passaporte inglês) atende a sua próxima fornada de clientes e afiambra-se a vender-lhes fatos, relógios, malas – «sou um topa-tudo» – e a propor-lhes a sua famosa viagem-mistério nos seus barcos-flores e no seu penumbroso expresso onde se apalpa a rodos uma pequena vizinha nua todos os cinco minutos 8 Espreguiçado à sua vontade, coçando as costas contra um pilar do molhe, em Kowloon, Ken Cameron, vagabundo, abre o South China Morning Post e lê o discurso que um general inglês proferiu num jantar do Rottary Club – passando depois a pente-fino a página de chegadas e largadas de navios, sonhador, pronto para uma nova aventura 9 Com dois novos scripts sob o braço: «Os Matadores de Canton» e «Assassinato em Macau» (sucesso comercial garantido a 100%), Brooklin Joe, bigode mate e fato branco, sobe a Nathan Road pelo colarinho azul da tarde enquanto a sua amiga, nova sensação nas passarelas, insiste em fumar o cigarro que lhe dá náuseas («somos gente de Hong-Kong, nada de política…») 10 Eis Scott Hawkins, escritor muito rodado em toda a Ásia, sentado no seu quarto de hotel em Tsimshatsui, uma garrafa de uísque ao alcance da mão e um caderno novo aberto sobre a mesa – na primeira linha lemos: «o Rosto do vento do este» e abaixo desta: «um romance impossível». 11 Ao cair da noite, as ruas são estriadas pelos reclames em néon, Negro bailado de ideogramas: uma loura holandesa, numa cave bruxuleante, expõe os seus transpirados seios aos turistas japoneses; uma jovem filipina faz o mesmo para marinheiros ianques empanturrados de cerveja; enquanto um bisonho e mastodôntico homem de negócios britânico se deixa escoltar por uma grácil, mínima e tímida jovem de Hong-Kong 12 Um cinema em Kowloon: no átrio, laranjas descascadas às carradas, castanhas que fumegam ao ritmo do abanador; um chiqueiro de miúdos, asas e pés de frango – na imensa sala o vizinho fuma como um danado e cospe no chão enquanto os ossos se quebram e o sangue jorra e as heroínas gemem no écran gigante 13 No seu apartamento, num décimo andar dos arrabaldes – esteiras atapetam o chão, à japonesa, mas num canto vê-se um pi-pa chinês – Christopher Cheung («não sou um artista, eu sou um ser humano») serve-se de um copo de maotai e sonha com Kyoto 14 No bar, perto das duas horas da manhã, hora de fecho: Oscar Eberfeld, 46 anos, celibatário, gala sem esperanças a baixa empregada de saia fendida ou segue às vezes uma mulher no passeio colando os olhos à linha dos slips sob as calças, depois regressa ao seu quarto, inconsolável com o seu magazine ilustrado. 15 Lá em cima em Aberdeen um rato lambareiro esgueira-se para o buraco sob as pranchas de um restaurante do cais, os últimos jogadores bocejam e cospem, num relance aos rebocadores que reentram no porto, silentes, enquanto dois juncos maciços, a popa alta, lavram as águas sombrias da noite farejando a rota dos antigos lugares de pesca.
Hoje Macau China / ÁsiaTimor-Leste | Matan Ruak apresentou lista de membros do Governo Taur Matan Ruak, o novo primeiro-ministro timorense, apresentou ontem ao Presidente da República a lista com os membros do VIII Governo com os quais deverá tomar posse na sexta-feira [dropcap style≠’circle’]”E[/dropcap]ntreguei a lista dos membros do VIII Governo ao senhor Presidente, a quem cabe dar toda a informação. Agora cabe ao senhor Presidente da decisão sobre a tomada de posse”, disse numa curta declaração, depois de uma curta reunião de menos de 30 minutos com o Presidente da República, Francisco Guterres Lu-Olo, no Palácio Presidencial, em Díli. Pouco depois, Francisco Guterres Lu-Olo, convocou ainda uma conferência de imprensa sobre a formação do VIII Governo. Lu-Olo já nomeara Taur Matan Ruak, seu antecessor no cargo, como o novo primeiro-ministro de Timor-Leste. “É nomeado primeiro-ministro o senhor Taur Matan Ruak, com efeitos a partir de 22 de Junho de 2018”, refere o curto decreto de três parágrafos de Francisco Guterres Lu-Olo, publicado hoje no Jornal da República. O texto recorda que a constituição atribui ao chefe de Estado a “competência para nomear o primeiro-ministro, ouvidos os partidos políticos representados no Parlamento Nacional”. O elenco do próximo Governo é formado por elementos dos três partidos que integram a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), que venceu as legislativas antecipadas com maioria absoluta. O lugar de Xanana Ainda que a lista dos membros do executivo não tenha sido divulgada, fontes da AMP confirmaram que o número dois do executivo será Xanana Gusmão, líder da coligação e presidente do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT). O executivo deverá tomar posse na sexta-feira numa cerimónia no Palácio de Lahane, nos arredores da capital timorense. Antes do encontro com Taur Matan Ruak, o chefe de Estado reúne-se pela primeira vez com o presidente e restantes elementos da mesa do Parlamento Nacional, que foram eleitos na semana passada. Na quinta-feira, o Parlamento deverá reunir em sessão extraordinária para autorizar um pedido de deslocação ao exterior do Presidente da República que, entre 26 e 30 de Junho, se desloca a Jakarta naquela que é a sua primeira visita desde que tomou posse em 2017. O senhor brigadeiro O “número dois” das Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), o brigadeiro-general Filomeno Paixão, pediu a exoneração do cargo, devendo na sexta-feira tomar posse como novo ministro da Defesa, afirmou ontem o Presidente timorense. “O senhor brigadeiro-general fez o pedido de passagem à reforma ao senhor comandante Lere e enviou uma carta. Penso que o processo será relativamente fácil”, disse à Lusa Francisco Guterres Lu-Olo. Filomeno Paixão deverá assim passar à reforma nas forças timorenses e na sexta-feira tomar posse como ministro da Defesa do VIII Governo constitucional, cujo primeiro-ministro será o seu antigo comandante Taur Matan Ruak. “Quero deixar aqui um vivo reconhecimento por tudo o que fez durante todos estes anos”, disse Lu-Olo. “Quando desci das montanhas foi a primeira pessoa que vi a trabalhar nas Falintil, nos momentos antes de transformação em FDTL”, afirmou. Pelo passado e ligação de Filomeno Paixão às forças de defesa, e antes disso ao braço armado da resistência timorense, o Presidente de Timor-Leste considerou ser uma escolha “muito boa” para o cargo de ministro da Defesa. Nascido em 1953, Filomeno da Paixão de Jesus ingressou nas Falintil em 1975, aquando da sua formação e, com a restauração da independência permaneceu integrado nas fileiras das Forças de Defesa timorenses. Condecorado pelo Presidente timorense pelos serviços prestados na operação Halibur, desencadeada em Fevereiro 2008 pelas forças armadas e polícia para capturar o grupo responsável pelo ataque contra o então Presidente timorense José Ramos-Horta e o primeiro-ministro Xanana Gusmão timorenses, Filomeno da Paixão de Jesus foi promovido a coronel a 14 de Janeiro de 2009, tendo posteriormente completado o Curso de Promoção a Oficiais Generais. Era, desde 2010, chefe de Estado-Maior das F-FDTL.
Hoje Macau China / ÁsiaCoreia do Sul | Suspensão de manobras militares na próxima semana [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s forças armadas da Coreia do Sul anunciaram ontem a suspensão das manobras militares para facilitar o diálogo com a Coreia do Norte, disse um porta-voz do Ministério da Defesa sul-coreano. As manobras Taeguk, cujo início estava previsto para 26 de Junho próximo, foram adiadas e está a ser “revista a data e a forma mais adequada para a sua execução”, explicou a mesma fonte à agência noticiosa espanhola EFE. Realizadas todos os anos desde 1995, em Maio ou Junho, pelo exército sul-coreano, as Taeguk prolongam-se por três dias e esta é a primeira vez que são adiadas. Este anúncio surgiu um dia depois da suspensão oficial das manobras anuais conjuntas da Coreia do Sul e dos Estados Unidos, Ulchi Freedom Guardian, que normalmente decorrem em Agosto. A decisão de suspender temporariamente as manobras anuais conjuntas dos dois aliados deveu-se à actual política de diálogo com o regime norte-coreano e a sua eventual desnuclearização. A suspensão das manobras foi inicialmente anunciada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na sequência da histórica cimeira da semana passada, em Singapura, com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, na qual concordaram que Pyongyang abandonaria o programa nuclear. Em contrapartida, Washington garantiria a segurança do regime. Seul disse ainda esperar um gesto recíproco de Pyongyang, na sequência da suspensão das manobras militares. A ministra dos Negócios Estrangeiros sul-coreana, Kang Kyung-wha, sublinhou que a suspensão das manobras não “é irreversível”, e que futuras decisões neste âmbito vão depender dos gestos de Pyongyang. Kang lembrou que o regime se comprometeu, na cimeira de Singapura, a desmantelar um centro de testes de mísseis e que Seul espera o encerramento destas instalações “para breve”.
Hoje Macau China / ÁsiaFilipinas | Supremo Tribunal começa a apreciar lei que proíbe casamento ‘gay’ O Supremo Tribunal da Filipinas começou a apreciar, na terça-feira, a lei que proíbe o casamento ‘gay’ no país, algo inédito no arquipélago, onde a maioria da população é católica [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ois casais homossexuais, a quem foi negado o direito de casarem, interpuseram uma acção judicial no Supremo Tribunal a favor da abolição de uma lei de 1987, que define o casamento como um acto entre um homem e uma mulher. “Quando o direito de casar, uma decisão tão pessoal, íntima e transformadora, é negado ao povo Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgénero (LGBT), o Estado priva-o da sua dignidade”, declarou o advogado Jesus Falcis, que também é um dos reclamantes. A audiência começou na terça-feira, mas o caso deve arrestar-se por muito tempo, já que o Tribunal demorou três anos a dar início ao processo. Especialistas consideraram um grande avanço a abertura do processo. “O julgamento será histórico porque o Supremo Tribunal nunca antes tinha sido chamado a pronunciar-se sobre o assunto”, disse à agência noticiosa francesa AFP, o professor de Direito da Universidade das Filipinas Antonio La Vina. A questão religiosa Sem contar com o Vaticano, as Filipinas, onde 80 por cento dos 100 milhões de pessoas são católicas, são o único lugar no mundo onde o divórcio é ilegal. O aborto também é proibido, em grande parte devido à influência da Igreja. Esta mentalidade pode estar contudo a alterar-se. Em Dezembro, o Presidente da Filipinas, Rodrigo Duterte, disse apoiar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. “Eu sou a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo. O problema é que precisamos de mudar a lei, mas podemos mudar a lei”, afirmou Rodrigo Duterte, durante uma manifestação da comunidade LGBT. Em Maio, a Câmara dos Deputados aprovou a legalização do divórcio, mas é improvável que o texto passe no Senado, que tem forte ligações com a Igreja. Os líderes da Igreja católica no país opõem-se claramente à legalização do divórcio, casamento ‘gay’ e aborto. A Igreja lutou também contra uma lei sobre contracepção e o seu financiamento público, mas a nova legislação foi aprovada, estando já em vigor.
Hoje Macau EventosLivro | Lançada em Lisboa versão portuguesa de “Música Católica em Macau no Século XX” [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi publicada recentemente em Lisboa a versão portuguesa de “Música Católica em Macau no Século XX”, uma obra que aborda “um fenómeno raro em território chinês”. O livro, da autoria de Dai Ding Cheng, docente do Instituto Politécnico de Macau, resulta de uma cooperação entre o Instituto Cultural (IC) e o Instituto Confúcio da Universidade de Aveiro. A obra, um projecto no âmbito das bolsas de investigação académica, foi lançada em chinês em 2013, mas ganhou, dois anos depois, uma versão revista e outra em inglês. A versão agora lançada em português “apresenta a académicos de língua portuguesa o contexto tradicional e histórico da fase inicial da música católica em Macau”, bem como “diversos aspectos da expansão da música católica em Macau no séc. XX, um fenómeno raro em território chinês”, sublinha o IC, num comunicado divulgado ontem. Após o lançamento em Portugal, “Música Católica em Macau no Século XX: Os Compositores e as Suas Obras Vocais num Contexto Histórico Único” foi alvo da “atenção e elogios” por parte de diversas entidades, entre as quais a Rádio e Televisão Portuguesa (RTP), a Associação Amigos da Nova Rota da Seda, a Liga dos Chineses em Portugal e a China Examiner, observa o IC. A cerimónia de lançamento do livro, publicado pela Edições Colibri, teve lugar a 30 de Maio no Centro Científico e Cultural de Macau em Lisboa.
Andreia Sofia Silva EventosFundação Rui Cunha | Novo ciclo de cinema arranca na próxima quarta-feira A Fundação Rui Cunha volta a acolher o quinto ciclo de cinema, desta vez dedicado ao cibercrime. Películas como “Snowden” ou “The Girl with the Dragon Tattoo” vão passar na Casa Garden a partir da próxima semana. O filme de Oliver Stone sobre o ex-analista da CIA abre a iniciativa [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]lhar com outros olhos para um dos crimes que mais tem crescido nos últimos anos é um dos objectivos da Fundação Rui Cunha (FRC) com a criação do quinto ciclo de cinema, que este ano se dedica ao crime informático. O primeiro filme a ser exibido é “Snowden”, de Oliver Stone, e conta a história de Edward Snowden, ex-administrador de sistemas da CIA que tornou públicos os detalhes de programas de videovigilância norte-americanos e a sua dimensão global. A Casa Garden, sede da Fundação Oriente no território, volta a ser receber este ciclo de cinema. “Entendemos que é uma forma de falar de Direito nesta altura do ano, em que está imenso calor e ninguém tem paciência para assistir a conferências. É uma outra forma de falar de problemas jurídicos”, explicou Filipa Guadalupe, que adiantou as razões para a escolha do cibercrime enquanto tema. “É um tema internacional e transversal, mas que tem muito a ver com Macau, até porque está na forja o projecto da lei da cibersegurança e fala-se imenso na questão da protecção de dados. Está tudo relacionado, de alguma maneira, porque o cibercrime é a consequência da violação dos dados pessoais.” A coordenadora do Centro de Reflexão, Estudo e Difusão do Direito de Macau, entidade ligada à FRC, frisou que, nos últimos anos, este tem sido um dos crimes mais comuns e em franca expansão, incluindo no território. “Infelizmente, tem sido o crime económico que mais tem crescido, muito por força de mais pessoas a nível mundial terem acesso à internet. Por isso é uma forma fácil de praticar crimes. Alguns estão tipificados na lei, como pedofilia ou violação de identidade, mas há outros que não estão assim tão tipificados, ou protegidos em termos jurídicos e para que é preciso chamar a atenção.” Do clássico ao actual Por se tratar de um crime relativamente recente, que cresceu ao mesmo ritmo da internet, não há muitos filmes que abordem esta temática. Ainda assim, a FRC decidiu incluir no programa a película “Italian Job”, de 1969. “Tem o Michael Kane e é um filme de culto, um dos primeiros que abordou esta temática.” “Este ano não temos nenhum filme chinês mas temos um que foi filmado em Hong Kong, que é o ‘Black Heat’. Temos um filme de culto, intitulado ‘The Girl with the Golden Tattoo’, que é sueco, e vamos projectar a versão original nessa língua. Depois temos dois filmes incontornáveis sobre este tema, que é o ‘Snowden’, do Oliver Stone, e o ‘Firewall’”, explicou Filipa Guadalupe. O quinto ciclo de cinema da FRC traz a novidade de, este ano, apresentar dois filmes com legendas em cantonês, na perspectiva de atrair alguns espectadores chineses. Prevê-se a ocorrência de debates, incluindo sobre as questões práticas da implementação da nova lei da cibersegurança em Macau, mas tudo vai depender daquilo que os convidados quiserem abordar, assegurou Filipa Guadalupe. “Não nos limitamos a projectar o filme, convidamos sempre uma pessoa, seja jurista ou um fã de cinema, para fazer a apresentação do filme. No final pode existir um pequeno debate sobre o tema que o filme reproduziu”, concluiu.
João Luz DesportoMundial 2018 | Rocky 4 [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] sempre assim. Raras as vezes tenho o privilégio de ver um jogo de futebol em que joga uma das minhas equipas (Benfica e selecção) com tranquilidade. Todas as partidas se revestem de uma carga dramática que suplanta a normal intensidade que o desporto deveria ter. Sofro sempre até ao fim ao torcer por equipas que têm o inevitável fado de atravessar a via dolorosa da incerteza. O jogo de ontem foi mais um desses exemplos. Com um golo madrugador, tínhamos tudo para fechar o jogo com contra-ataques venenosos. Mas não. Fechamo-nos e voltámos a abraçar o sofrimento, com fé na virgem e em todos os santinhos, que não o Fernando, e negámos batimentos cardíacos dentro do que é clinicamente aceitável. Não me levem a mal, não cuspo no prato onde comi e ainda hoje me emociono a pensar na final do Europeu, mas o nosso seleccionador é tudo menos audacioso, apesar da inegável estrelinha. Mas é isto. Somos o Rocky Balboa que, depois de ser afiambrado sem misericórdia pelo monstro Ivan Drago, vai buscar forças, sabe-se lá onde, para num golpe milagroso e romântico que derruba a montanha de músculos russa. Apesar de termos o melhor jogador do mundo, apequenamo-nos para num ápice caprichoso nos agigantarmos. É um fenómeno curioso, uma erecção emocional, um golpe de teatro que provoca taquicardias. Não conseguimos ganhar serenamente, como a Alemanha, esse não é o nosso estilo. Vivemos com o credo na boca, a garganta seca que pede cerveja e uma vontade indizível de repetir o grito depois do golo do Éder.
Hoje Macau Desporto MancheteMundial 2018 | Cristiano Ronaldo volta a ser determinante em vitória contra Marrocos [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ortugal venceu, esta quarta-feira, a selecção de Marrocos por 1-0, em jogo da segunda jornada do Grupo B, disputado no Estádio Luzhniki, em Moscovo, que esteve lotado (79 mil adeptos). Cristiano Ronaldo marcou único golo da partida e já lá vão quatro golos para o capitão da selecção portuguesa neste Mundial2018, que soma agora quatro pontos. O único golo foi marcado aos quatro minutos, com João Moutinho a cruzar para o coração da área, após canto curto, onde apareceu Cristiano Ronaldo a cabecear certeiro para a baliza marroquina. Com um olhar mais atento à repetição nos monitores disponíveis no estádio para a imprensa, o lance foi antecedido de uma falta de Pepe sobre dois adversários na grande área. O segundo golo de Portugal esteve à vista cinco minutos depois, com Ronaldo perto de bisar graças à boa acção ofensiva de Guerreiro. Estando em desvantagem, a selecção africana ficou ainda mais agressiva com o passar dos minutos do relógio, movidos ainda pelo apoio vindo das bancadas, e até ao final do primeiro tempo, estiveram mais ofensivos do que Portugal. O árbitro foi obrigado a interromper a partida para conferenciar com o seu assistente. O norte-americano chamou a atenção do treinador marroquino, Herve Renard, que pedia a intervenção do vídeo-árbitro no lance entre Guerreiro e Amrabat aos 26 minutos. O segundo tempo começou da mesma forma que terminou o primeiro, com Marrocos mais ofensivo. Aos 57 minutos, Rui Patrício fez a defesa do jogo, ao negar o empate a Belhanda, num cabeceamento tenso do marroquino na sequência de um livre. Bernardo Silva esteve ‘perdido’ o tempo todo que esteve em campo e Fernando Santos substituiu o jogador do City por Gelson Martins. O mesmo se passou a João Mário, única novidade no onze português, que viu o seu lugar ser tomado por Bruno Fernandes, um dos melhores em campo na última partida com a Espanha. Já muito perto do apito final, Adrien Silva entrou em acção, substituindo João Moutinho. Destaque para a excelente exibição de Pepe, aliás, é devido à acção defensiva do central que Portugal não deixou Moscovo com um resultado negativo. Portugal maso O quarto golo de Cristiano Ronaldo valeu assim um muito sofrido triunfo sobre Marrocos, num desafio em que o campeão da Europa foi dominado, mas deu um passo importantíssimo rumo aos ‘oitavos’. Depois do ‘hat-trick’ no empate 3-3 com a Espanha, Cristiano Ronaldo voltou a facturar, logo aos quatro minutos, e foi decisivo numa exibição muito descolorida do conjunto das ‘quinas’, que bem pode celebrar o desacerto contrário na finalização, sobretudo na segunda parte, num jogo em que chegou a ser ‘asfixiado’. O estatuto antecipava um claro favorito, porém, no relvado, foi a capacidade de sofrimento que ajudou a conquistar os três pontos, lisonjeiros, perante um adversário superior em praticamente todos os dados estatísticos, menos na eficácia. A má circulação de bola, com muitos passes errados, fez Portugal correr quase sempre atrás da bola, numa solidariedade desgastante que ditou perda de discernimento frente ao 41.º do ranking da FIFA, que foi ‘senhor’ da bola. O conjunto norte-africano ficou a reclamar dois penáltis – e ausência da consulta do videoárbitro -, o primeiro com agarrões mútuos entre o irrequieto Amrabat e Raphael Guerreiro e depois Boutaib a queixar-se de falta pelas costas de José Fonte. Rui Patrício (57 minutos) garantiu a manutenção da vantagem com uma defesa ‘impossível’, em desvio de cabeça de Belhanda, mas, depois, valeu aos pupilos de Fernando Santos um conjunto de remates desacertados, que ditaram a má sorte dos ‘leões do Atlas’. A vitória (muito suada) diante de Marrocos permite os portugueses somarem agora quatro pontos. Já a selecção africana está mais perto do adeus, uma vez que ainda não pontuaram. A última partida da selecção nacional está agendada para segunda-feira, contra o Irão, em Saransk. Fernando Santos: “Parece que falta confiança” “Era importante ganhar. A equipa entrou bem, mas a seguir perdeu o controlo do jogo. Fizemos muitos passes falhados, tivemos uma má circulação de bola e perdemos o controlo do jogo. Isso é inexplicável. Parece que nos faltou na confiança na altura de ter a bola. Vamos que rectificar isso seguramente. Alguma coisa temos de ver. Temos de falar. Entrámos bem no jogo, mas depois perdemos o controlo. Começámos a não ligar passes, a falhar passes. Tínhamos de ter mais circulação e quando não temos bola vamos ter de correr e cansar-nos mais. É uma bola de neve. É inexplicável. Tentei dizer isso aos jogadores ao intervalo, mas parece que falta confiança. Perdemos um passe, dois, três, começamos a recuar… E nós, uma equipa de estatura média/baixa, contra adversários muito fortes, se não temos bola… Vamos ter de rectificar isto seguramente” José Fonte | “Soubemos sofrer” José Fonte referiu após a vitória de Portugal sobre Marrocos que a equipa soube sofrer e reconheceu que a equipa lusa teve alguma “felicidade” na conquista dos três pontos. “Nenhum jogo do Mundial é fácil e isso foi comprovado com jogos de outras equipas. Hoje foi outra vez a mesma situação: uma equipa que à partida é favorita, como nós, mas teve muitas dificuldades”, referiu o defesa central à SIC. “O mais importante foi ter ganho. Soubemos sofrer, há que melhorar, continuar a trabalhar”, acrescentou. Rússia praticamente nos ‘oitavos’ O Mundial continua pródigo em surpresas, depois das vitórias de das selecções de Japão e Senegal sobre as favoritas Colômbia e Polónia, respectivamente, no Grupo H, enquanto a anfitriã Rússia revela-se uma ‘máquina goleadora’. Com oito golos já marcados, a selecção russa somou a segunda vitória, desta vez por 3-1 sobre o Egipto, que estreou Salah, depois da goleada no jogo inaugural por 5-0 à Arábia Saudita, e tem praticamente garantida uma vaga nos oitavos de final. Uma entrada pujante na segunda parte assegurou o triunfo à Rússia, que marcou três golos no espaço de um quarto de hora, aos 47, 59 e 62 minutos, graças a um autogolo de Fathy e aos tentos de Cheryshev, que igualou Cristiano Ronaldo do topo dos melhores marcadores com três golos, e Dzyuba, respetivamente. A selecção senegalesa tornou-se, por seu lado, a primeira equipa africana a pontuar, ao vencer a Polónia, por 2-1. Um autogolo de Thiago Cionek colocou o Senegal, com muita sorte à mistura, em vantagem, a partir dos 37 minutos, visto que o remate do médio senegalês Gana não levava a direcção da baliza polaca e embateu no defesa polaco, desviando a sua trajectória para o fundo das redes, ‘traindo’ o guarda-redes Szczesny. Com uma hora de jogo, após um alívio da defesa senegalesa, Krychowiak atrasou para Bednarek, surpreendido por Niang, que estava fora do campo e recebeu autorização do árbitro para entrar na sequência da jogada, intrometendo-se entre o defesa e o guarda-redes polacos para apontar o segundo tento dos africanos, que valeu os três pontos, apesar do ‘tento de honra’ polaco aos 86 minutos, por Grzegorz Krychowiak. Apesar de estar no oitavo lugar do ‘ranking’ mundial, a Polónia não justificou esse estatuto, dando uma imagem pálida frente a um Senegal, 27.º do mundo, muito físico. Antes deste jogo, já o Japão protagonizara a primeira surpresa do dia, ao bater em Saransk, no arranque do Grupo H, a favorita Colômbia, recheada de futebolistas credenciados a nível internacional como James Rodriguez, Cuadrado, Carlos Bacca e Falcão, fazendo história por ser a primeira vez que a selecção nipónica bateu uma selecção sul-americana. No entanto, houve um lance, logo aos três minutos, que teve influência decisiva no desfecho do jogo, quando Carlos Sanchez cometeu penálti, cobrado com êxito por Kagawa, e viu o cartão vermelho directo e a consequente expulsão, a segunda mais rápida da história do campeonato do mundo. Sanchez substituiu Ospina na baliza, na recarga a um remate de Kagawa defendido pelo guarda-redes colombiano. O portista Juan Quintero, jogador ligado do FC Porto, ainda refez a igualdade, aos 39 minutos, na execução de um livre direto, mas Osako garantiu o triunfo do Japão, aos 73. Na segunda parte, os colombianos acabaram por pagar o preço do desgaste físico extra decorrente da desvantagem numérica e o Japão acabou por vencer e abrir as portas da qualificação no Grupo H.
Diana do Mar Manchete SociedadeCanídromo | Anima entrega hoje ao IACM 650 pedidos de adopção dos galgos A Anima vai entregar hoje ao IACM 650 pedidos de adopção de galgos, esperando que o Governo “acorde” após a inércia por “medo” de enfrentar “gente poderosa”. O Canídromo encerra precisamente dentro de um mês [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Sociedade Protectora dos Animais – Anima vai entregar hoje 650 fichas preenchidas de adopção de galgos. A precisamente um mês do fim das corridas no Canídromo, o presidente da Anima espera que “o Governo acorde e force a adopção”, dado que, a seu ver, não o tem feito por “medo” da “gente poderosa” da Companhia de Corridas de Galgos Macau (Yat Yuen). “Eles disseram que queriam fazer adopções e que até tinham mandado milhares de papéis e que só tinham recebido um [de volta]. Pronto, agora recebem 650. Agora somos parte do teatro deles. Querem adopções? Estão aqui 650 – todas com as assinaturas e carimbos originais”, afirmou ontem Albano Martins, em conferência de imprensa, exibindo o monte de papéis preenchidos em “dois dias”. “Agora, quero ver o que vão fazer”, sublinhou. Aos jornalistas, foi distribuída uma lista, com o nome e país de origem dos adoptantes (indivíduos e organizações), dos quais pouco mais de dez por cento (70) são de Macau e Hong Kong. A Anima vai entregar os formulários ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) por “não confiar” no Canídromo face à experiência dos últimos anos. A “prioridade” na adopção dos 650 galgos vai para Macau e depois para Hong Kong, mas Albano Martins reconhece dificuldades: “Macau não tem capacidade para absorver todos e também não é fácil pôr todos [para a adopção] de uma só vez. Portanto, se no máximo forem 100 nós ficamos satisfeitos, mas estamos a falar em 650. Os restantes têm de ser [adoptados] fora”. Esses ficariam assim aos cuidados de organizações internacionais que teriam a missão de os realocar em diferentes partes do mundo, integrando uma “rede” assente em três pilares. Assim, explicou o mesmo responsável, a Anima trataria das adopções para a região da Ásia e Austrália, a Pet Levriery Onlus (de Itália) incumbir-se-ia da Europa, enquanto a Grey2k USA ficaria responsável pelas adopções nos Estados Unidos. “Medo de gente poderosa” O destino dos galgos continua, porém, a ser uma incógnita. Para Albano Martins, existem actualmente “três opções” em cima da mesa: “A Anima toma conta, o Canídromo toma conta ou o Governo toma conta”. “Em qualquer um dos casos vai demorar um ano, mas nós facilitamos esta rede para auxiliar a maior parte dos animais que, na nossa opinião, só pode ser adoptada fora de Macau”, reiterou. O presidente da Anima admite que o IACM não pode obrigar a Yat Yuen – como proprietária dos cães – a nada, mas lamenta a inércia demonstrada pelo Governo, considerando que tem falhado em actuar “por medo” de enfrentar “gente poderosa”. “Acho que o Governo está a mostrar que é muito fraco em relação a este tipo de pessoas, que têm muito poder”. Basta olhar para a decisão do Macau Jockey Club”, cujo contrato de concessão foi prorrogado, em Fevereiro, por 24 anos e meio, numa decisão que “não tem sentido”, nem sequer economicamente. Albano Martins também distribuiu uma carta aberta ao secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, em que expressa “a frustração de nunca ter recebido uma resposta”. Em causa estão uma série de missivas enviadas nomeadamente a pedir para que não autorize que os cães sejam mandados para a China, dado que “tudo leva a crer” que esse será o cenário mais provável. O secretário para a Economia e Finanças “não deu nem dá sinais, tal como a actual DICJ [Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos], sob a sua tutela, de querer ajudar a resolver o problema de forma dignificante” para nós humanos”, diz a carta assinada por Albano Martins. À espera de ligação A tábua de salvação pode estar no Gabinete de Ligação da China em Macau. Após um primeiro encontro em Janeiro, a Anima espera um segundo ainda antes do fecho da pista, onde, “durante 55 anos de exploração apenas sete animais saíram vivos”, o que significa que “entre 15 mil a 19 mil terão morrido”. “A primeira reunião correu muito bem. Eles estavam em sintonia com as nossas preocupações”, indicou Albano Martins. Essas preocupações têm então que ver com a elevada probabilidade de os galgos serem enviados para a China – uma intenção manifestada por Angela Leong, administradora da Yat Yuen, empresa do universo da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM). Uma vez que a Anima não consegue travar a exportação, a ideia seria impedir a importação, dado que Albano Martins teme que os galgos acabem em pistas privadas de corridas, “onde o jogo ilícito, em violação das leis da própria China, tem vindo a proliferar”. “Fizemos tudo o que podíamos como organização de defesa dos direitos humanos”, afirmou o presidente da Anima a quem apenas resta agora esperar.