Paulo José Miranda h | Artes, Letras e IdeiasA Sombra de Teseu (1) PERSONAGENS Afrodite Ártemis Chefe dos Guardas Corifeu Coro de mulheres Criada de Fedra Criado de Hipólito Fedra Hipólito Teseu (A acção passa-se nos limites da floresta, junto à cidade de Trezena, no Peloponeso) CRIADO A rainha Fedra, mulher de seu pai, o rei Teseu, aguarda-nos. Que dirá ela por regressarmos a Trezena sem ele, meu príncipe? HIPÓLITO Que posso dizer, senão a verdade? Tenho obrigação de dizer a verdade, assim me ajude a minha deusa de devoção, Ártemis. CRIADO Sei bem, senhor, das suas enormes virtudes, pois acompanho-o desde criança. Mas neste caso, o que é a verdade? HIPÓLITO A verdade, aqui neste caso como em qualquer outro, é ser conforme aos factos, se falamos do que é exterior, ou conforme à pureza do coração, sem mancha de egoísmo, de desejo, de interesse, de maldade, se falamos do que é interior. Por isso, e com a ajuda da mais virtuosa da deusas, direi à rainha que meu pai, o seu rei e marido, continua desaparecido. Que infelizmente, e após meses de procura, continuamos sem resposta ao que lhe terá sucedido. Não o podemos dar nem como vivo nem como morto. Pois aquele que está ausente, e sem dar notícias por si próprio ou que cheguem relatos por outrem, está refém da mais poderosa das deusas e a mais vil: a Dúvida. CRIADO E que pena tenho, meu príncipe, que em todos estes meses pela Hélade, não tenha encontrado amor! Nenhuma mulher virtuosa… HIPÓLITO Sabes bem que não há e nem pode haver mulher nenhuma em minha vida. Pois sirvo apenas à deusa Ártemis, que me instiga à castidade, às purezas das acções e do coração. Nenhuma mulher irá mudar esta minha genuína afeição, este meu modo de vida. E que poderia uma mulher fazer, senão levar-me a esbanjar o tempo em futilidades, em prazeres mundanos, por muito virtuosa que fosse? Procura o amor se queres perder-te; mantém-te casto se queres encontrar-te. (Hipólito e o criado saem de cena e entra o coro de mulheres) (PÁRODO) CORO DE MULHERES Ai como a juventude é senil! Diz saber o que é a vida E nem sequer do amor sabe. E muito pior que o amor É sem dúvida uma paixão. Tragam-nos um jovem sábio E nós fá-lo-emos imortal. Porque não aprendem os jovens A humildade e o recato Já que nada sabem da vida? Julga Hipólito que está salvo Pela devoção a Ártemis? Esta mesma teme sua irmã E agora também por ele. Hipólito nem se dá conta Que essa palavras provocam A pior de todas as deusas. Não se pode ofender o poder A quem varre existências. Afrodite toca os cabelos E faz cair um exército. (saem de cena; agora a cena passa-se na sala do trono; chega Hipólito e ajoelha-se perante Fedra) FEDRA Levanta-te e dá-me notícias de Teseu! HIPÓLITO Minha rainha, o rei, meu pai e seu marido, não deu sinal de vida. Nem de vida e nem de morte; a sua vida está refém da deusa Dúvida. FEDRA (levanta-se e dirige-se ao jovem príncipe, com olhos de quem é escrava de uma imagem, e toca-lhe num dos ombros) Hipólito, não esmoreças. Teu pai é forte e capaz. Não haver notícias é boa notícia. Os males sempre arranjam maneira de saírem do claustro do anonimato, de aparecerem onde menos se esperam, e na sua aparição intempestiva são sempre mais rápidos que os cavalos de Zeus; é o bem que se esconde ou dificilmente se deixa ver. (Hipólito anui, um pouco por resignação, um pouco por cansaço, e Fedra pede que ele se refresque, que descanse duas horas antes de ser servido o jantar. Fedra suspira ao ver o jovem afastar-se)
Hoje Macau China / ÁsiaSeul, Washington e Tóquio vão realizar exercícios antimísseis [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Coreia do Sul, Estados Unidos e o Japão vão realizar um exercício antimísseis no final deste mês, perante contínuos lançamentos da Coreia do Norte, disse ontem um porta-voz do Ministério da Defesa sul-coreano. O exercício está incluído num relatório que o Ministério enviou para a Assembleia Nacional devido ao último míssil de médio alcance lançado na sexta-feira pela Coreia do Norte, que percorreu 3.700 quilómetros e sobrevoou o norte do arquipélago japonês. O documento sublinhou que Pyongyang parece aproximar-se da “fase final” de desenvolvimento de um míssil balístico intercontinental (ICBM), com o qual poderia atingir o território norte-americano, e estimou que o regime continue a realizar “provocações estratégicas adicionais” a curto prazo com novos testes de armamento. O exercício conjunto anti-mísseis vai realizar-se depois de dois projécteis norte-coreanos terem sobrevoado o Japão no último mês e num momento em que existem dúvidas sobre as capacidades reais dos aliados para interceptar um míssil de Pyongyang. O relatório também explicou que o Pentágono planeia enviar um porta-aviões nuclear e um grupo de ataque para participar em manobras com as Forças Navais sul-coreanas em Outubro, apesar de porta-vozes das Forças Armadas dos Estados Unidos na Coreia do Sul e do Comando do Pacífico terem afirmado que o destacamento não está confirmado. O texto também não indicou qual dos porta-aviões da VII Frota será enviado para a península coreana. O porta-aviões nuclear norte-americano Carl Vinson já foi destacado, na passada Primavera, para a região em resposta aos repetidos testes de armamento realizados este ano pela Coreia do Norte.
Hoje Macau DesportoFórmula 4 Alemã | Prema Theodore vence campeonato de equipas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Prema Theodore Racing, financiada por Teddy Yip Jr – filho do antigo parceiro de negócios de Stanley Ho, Teddy Yip – garantiu o título de equipas do Campeonato Alemão de Fórmula 4 pelo segundo ano consecutivo, no passado fim-de-semana. À partida para a sexta ronda da competição, no circuito de Saschsenring, uma vantagem de mais de 100 pontos permitia a equipa correr sem grande pressão. Os pilotos da formação, Marcus Armstrong e Juri Vips, não vacilaram e a questão ficou arrumada com três pódios, em outras tantas corridas. “Vencer o Campeonato Alemão de Fórmula 4 é uma verdadeira prova de velocidade e consistência dos nossos pilotos. Fico muito feliz por ver o trabalho do director de equipa René Rosin e dos nossos rapazes recompensado, após o esforço que fizeram semana após semana”, afirmou Teddy Yip Jr, em comunicado. Em relação aos resultados das corridas, na prova inaugural do fim-de-semana, o australiano Marcus Armstrong conseguiu um terceiro lugar, com o estónio Juri Vips a ser quinto. O vencedor da prova foi o alemão Julian Hanses, da formação US Racing. Na segunda corrida, Armstrong subiu ao segundo lugar do pódio, naquele que seria o melhor resultado do fim-de-semana da formação. No pólo oposto, Vips teve a pior prestação das três corridas, não indo além do sétimo posto. Este foi um resultado que penalizou o estónio, que assim perdeu a liderança do campeonato de pilotos para o colega de equipa. Nesta prova, o vencedor foi o suíço Fabio Scherer, também da US Racing. Finalmente na última prova de domingo, Vips ficou em quarto, à frente de Armstrong, que foi sexto, mas já não conseguiu recuperar a liderança do campeonato. Apesar da vitória do brasileiro Felipe Drugovich, da Van Amersfoort Racing, foi a Prema Theodore Racing que abriu o champanhe, com a conquista do campeonato por equipas. “A equipa está de parabéns pela vitória conquistada, principalmente por ser a segunda vez em dois anos que este feito é alcançado”, disse Marcus Armstrong no final. Luta intensa pelo título de pilotos No próximo fim-de-semana o campeonato desloca-se ao mítico circuito Hockenheim, onde vai ser conhecido o vencedor do título por pilotos. Na luta estão Marcus Armstrong, com 212 pontos, Juri Vips, com 210,5, e o brasileiro Drugovich, mais atrás com 190,5 pontos. “Não foi um fim-de-semana tolamente positivo, porque não tive um desempenho ao nível do que sou capaz de fazer. Esse facto custou-me a liderança do campeonato, mas não estamos muito longe da liderança. Vai ser uma luta muito intensa em Hockenheim”, previu Vips. “Vai ser um fim-de-semana muito muito interessante, principalmente agora que estamos na liderança”, disse por sua vez, Armstrong. Pela pátria, correr, correr O Instituto do Desporto e a Associação de Atletismo de Macau vão organizar uma corrida para celebrar o dia da Implementação da República Popular da China, a 1 de Outubro, que vai ter o nome “Correndo em Comemoração do Dia Nacional”. A iniciativa serve igualmente para assinalar o Dia Mundial da Marcha, que é promovido pela Associação Internacional de Desporto para Todos, conhecida como TAFISA, na sigla inglesa. O evento tem uma prova de corrida e outra de maratona, sendo que vão ser distribuídos prémios para os dez melhores classificados, nas categorias masculina e feminina. Na marcha, as cinco equipas com o maior número de atletas a concluírem a prova vão ter direito a uma taça. As inscrições começaram ontem, têm um custo de cinco patacas, e prolongam-se até 24 de Setembro, com o boletim da inscrição a ter de ser entregue no Pavilhão Polidesportivo Tap Seac, na Recepção do Centro Desportivo Tamagnini Barbosa e na Recepção do Quintal Desportivo do Centro Desportivo Olímpico.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesJogo demasiado real [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]or ocasião do 40º aniversário, o Ocean Park de Hong Kong organizou uma série de eventos em grande escala. Os visitantes tinham à sua disposição 11 atracções fantasmagóricas e podiam experienciar 12 situações totalmente inéditas. Numa destas situações, inspirada no jogo Buried Alive, os visitantes são transportados à Europa Medieval. É o primeiro parque temático de terror da Ásia. O website do Ocean Park descreve esta experiência nos seguintes termos: “Os visitantes de Buried Alive iniciam a sua jornada de terror sendo “enterrados vivos” em caixões de madeira. Depois de conseguirem escapar a este pesadelo, a visita solitária prossegue ao encontro de criaturas horríveis. Vão cruzar-se com aranhas, bichos assustadores e fantasmas. Os afortunados que conseguem aqui chegar, reúnem-se aos amigos num trilho comum, ou então têm de enfrentar mais uma fuga a solo, passando por esqueletos arrepiantes, caixões, labirintos, por uma câmara de ossadas e, finalmente, pelo horror da magia negra.” O Parque é uma novidade em Hong Kong e, como tal, é bastante atractivo. No entanto o Ocean Park encerrou o cenário Buried Alive, depois da morte de um jovem de 21 anos no passado dia 16. O homem foi encontrado morto cinco minutos depois de ter entrado na Casa Assombrada. Foi dar a uma zona de manutenção reservada aos funcionários, segundo Eva Au Yeung Yee-wah, directora de animação e eventos do Ocean Park. O Ocean Park encerrou esta atracção e reportou o incidente ao “Departamento dos Serviços Eléctricos e Mecânicos” de Hong Kong. Todas as instalações do Parque, incluindo as do Buried Alive, tinham sido aprovadas nas inspecções oficiais. Este caso pode não ser exactamente uma novidade, mas merece alguma atenção. Todos sabemos que quando chegam as celebrações do Halloween, muitos jovens vão a Hong Kong à procura de divertimentos. A altas horas da madrugada formam filas enormes no Terminal do Ferry Hong Kong-Macau, para comprar o bilhete de regresso a Macau. Felizmente os noticiários alertam com frequência estes jovens para os perigos que correm, apelando para que tenham muito cuidado nestas saídas. Até ao momento não foi possível determinar se houve algum erro humano por trás deste incidente. O relatório preliminar do “Departamento dos Serviços Eléctricos e Mecânicos” apontava para a ausência de falhas mecânicas. Este departamento foi chamado à investigação no âmbito da Ordenança para a Segurança das Diversões Mecanizadas, que regula os parques de diversões em Hong Kong. O departamento é responsável pela aplicação da Ordenança. O Ocean Park tem um seguro que cobre eventuais acidentes que vitimem os visitantes. Desta forma os familiares do falecido serão indemnizados. Independentemente das causas do acidente, o Ocean Park irá sempre ressentir-se e com certeza irá baixar as receitas nos tempos mais próximos. Têm aparecido comentários no website a apelar à não participação nos jogos durante o Festival dos Fantasmas Famintos. Também conhecido como “Zhongyuan Festival” ou “Yulan Festival, esta comemoração ocorre a 14 de Julho no calendário chinês, Setembro no calendário ocidental. É uma festa tradicional Budista e Taoista celebrada em vários países asiáticos. Por esta ocasião, os fantasmas e os espíritos, incluindo os dos antepassados, emergem das profundezas e vêm visitar os vivos. Durante o Festival fazem-se ofertas rituais de alimentos, queima-se incenso, joss paper e objectos em papel-mâché representando diversos bens materiais, em homenagem aos espíritos dos antepassados. Como se acredita na China que neste período os Espíritos estão mais “activos”, os mais velhos lembram os jovens que devem recolher cedo para evitar maus encontros. Ficar em casa é sempre o mais seguro. Não que eu recomende a crença em espíritos. Mas a tradição desempenha um papel muito importante em qualquer sociedade. Se estivermos na China é bom que sigamos os costumes chineses. Sabe-se que o jovem que faleceu ia ingressar na Universidade este mês. Será que os pais vão ser reembolsados do dinheiro das propinas? Tudo vai depender do tipo de contrato que foi feito. Claro que do ponto de vista humanitário a decisão correcta será o reembolso. Professor Associado do IPM Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Tânia dos Santos Sexanálise VozesLentamente [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ara quem é um ávido consumidor de pornografia vai-se deparar com sexo muito rápido e insistente. Imaginamos ‘coelhinhos/as’ a saltar uns em cima dos outros/as, violenta e prazerosamente. A lentidão parece que não se encaixa na representação do sexo per se, somente nos controversos momentos de preliminares é que parece que lentamente se tira proveito dos momentos de prazer – mas que a penetração não tem como aproveitar da lentidão – o slow motion. Parece que o sexo lento é o segredo melhor guardado dos senhores-mestres-deuses do sexo. Nem sequer é contra-intuitivo, é simplesmente romântico. Mas sejamos honestos, quantos de nós foge do romance? Daqueles momentos em que os corpos se entrelaçam em trocas de almas, em trocas do mais íntimo de ser? Tantos! E assim o segredo se mantém segredo, sem grande razão de ser. O prazer continua a ser negado e negociado por representações populares-pornográficas e a lentidão continua a estar na prateleira, em lista de espera. Não fosse o sexo lento muito bom! Para todos, para ele e para ela, para eles e elas. Porque estas manias não são tendencialmente femininas – apesar de ser um catalisador de prazer feminino. A vantagem é a sensação e sensibilidade de milímetros de consciência. Porque aqui também se aplica a história da lebre e da tartaruga… a lentidão não é de perdedores mas de vencedores audazes, na corrida orgásmica do sexo. Digamos que o bom sexo pode ser um sprint, mas é certamente uma maratona. Mas ninguém consegue inteirar-se da lentidão porque vivemos em tempos muito rápidos. Não se deve andar devagar, conduzir devagar, trabalhar devagar. Vai contra os princípios da produtividade – apesar da sabedoria popular sugerir que ‘devagar é que se vai ao longe’, ‘depressa e bem, não há quem’, etc. O sexo é assim mesmo, bom sexo exige tempo, despreocupação e lentidão para acordar os sentidos sensuais que possam estar perdidos e esquecidos. E sim, a lentidão favorece o orgasmo feminino. Mas qual é o parceiro/a que não quer privilegiar o orgasmo mais intenso todos, o de quem desejamos? Nem que seja momentaneamente. Ora pensemos heterossexualmente: se um homem em média ejacula em 7 minutos e as mulheres atingem o clímax em 45 minutos, o sexo lento parece uma óptima solução para resolver este desequilíbrio. Assim o coito é prolongado em minutos, ou em horas para os mais corajosos, e o culminar orgásmico é intensificado. Podem até não se deixar levar à primeira vinda do orgasmo, mas controlar (torturar) o êxtase leva a um acumular de desejo que resulta em orgasmos mais intensos e prazerosos. Não acreditam? Pois este é outro segredo dos senhores-mestres-deuses do sexo: adiem o prazer por mais que puderem. Não sejam consumistas em quantidade mas em qualidade, vão ver que triplicam (ou quadruplicam) o vosso bem-estar sexual. Uma abordagem estritamente capitalista ao sexo, i.e., de consumismo rápido, priorizando a quantidade (muitas vezes descurando a qualidade), pensado que o sexo é uma perda de tempo – e o tempo é dinheiro! – é uma injustiça pela nossa vida sexual. Claro que não quero aqui insinuar que o sexo rápido à coelhinho não valha a pena, nada disso. Mas o sexo não pode ser só isso. Dar o tempo necessário à nossa vida sexual, com a lentidão desejada, com o prazer que daí advém é um direito universal. Pronto, não é mas devia ser. Porque já dizia o Freud que a nossa saúde mental e física é afectada por uma vida sexual decrépita. Mais vale apostar na prevenção e tentar um sexo bem lento de vez em quando – pela nossa saúde.
Hoje Macau InternacionalIncêndios | Ministro admite mais dinheiro para recursos hídricos em 2018 [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ministro do Ambiente português admitiu ontem que a parte do Fundo Ambiental destinado aos recursos hídricos pode aumentar em 2018, depois de este ano se ter esgotado para atender aos pedidos dos municípios afectados pelos incêndios deste Verão. A questão foi divulgada ontem pelo secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, que em entrevista à TSF admitiu que não havia dinheiro suficiente para dezenas de municípios que tiveram incêndios e cujos cursos de água estão vulneráveis às cinzas que serão arrastadas pelas chuvas que agora começam. “Nós, com o dinheiro que tínhamos, na projecção feita para este ano, o primeiro do Fundo Ambiental, conseguimos disponibilizar uma parcela muito significativa de dinheiro, mas com certeza que, no próximo ano, em face da avaliação que faremos no final deste ano, os recursos hídricos poderão passar a ter mais dinheiro afectado a esta componente”, disse João Matos Fernandes à agência Lusa. Na entrevista à rádio, o secretário de Estado afirmou que 4,2 milhões de euros couberam aos sete municípios mais afectados pelo grande incêndio que em Junho deflagrou em Pedrógão Grande, mas que desde então mais 40 autarquias ficaram na mesma situação. “Estamos a acompanhar o processo de perto e completamente disponíveis para apoiar os que se dirijam a nós com projectos concretos, sabendo que esta é uma preocupação comum destes tempos”, garantiu o ministro. Sob controlo No caso dos municípios afectados pelo fogo de Pedrógão, o Ministério está a “pagar um conjunto de intervenções”, como tirar as cinzas das linhas de água e dos sítios onde podem provocar entupimentos e inundações. “Não há aqui qualquer preocupação com o abastecimento de água, todas as estações de tratamento de águas que existem em Portugal estão completamente preparadas para retirar o excesso de matéria orgânica que possa vir na água ou quando ela é captada”, garantiu João Matos Fernandes. Isso cabe às entidades gestoras da água e não se vai reflectir na qualidade ou no preço da água para os cidadãos, acrescentou.
Hoje Macau EventosGulbenkian de Paris regista história da emigração cultural e artística [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian está a fazer entrevistas filmadas a artistas e figuras da cultura portuguesa que viveram em Paris, como Eduardo Lourenço, Graça Morais e Sérgio Godinho, entre muitos outros. O projecto chama-se “Artistas Portugueses em Paris – Uma História Oral” e o primeiro filme foi publicado há dias na página Internet da delegação da Gulbenkian em França, com uma entrevista de uma hora e vinte minutos ao ensaísta Eduardo Lourenço. O objectivo é preservar a memória das personalidades artísticas que passaram por França, sobretudo pela capital, disse à Lusa o diretor da Gulbenkian de Paris, Miguel Magalhães. “O projecto ‘Artistas Portugueses em Paris – Uma História Oral’ nasceu da necessidade de preservarmos a memória de algumas gerações de artistas e figuras da cultura portuguesa que foram passando por Paris nos últimos 50, 60 anos. Há um conjunto de figuras tutelares da cultura portuguesa que passaram por França, alguns começam a deixar-nos”, explicou. Miguel Magalhães destacou que, além de Eduardo Lourenço – “provavelmente a pessoa mais habilitada para falar sobre a relação de Portugal e França” e que foi “ele próprio um português em França durante cerca de 60 anos” –, já estão terminadas entrevistas ao músico Sérgio Godinho, aos artistas plásticos José de Guimarães e Graça Morais, e ao escritor e político António Coimbra Martins, que foi fundador do Centro Cultural Português em Paris em 1965 e embaixador na capital francesa. Há, ainda, “uma planificação intensa nos próximos tempos de entrevistas com várias outras figuras”, a começar pelo pintor Manuel Cargaleiro, o músico José Mário Branco e o artista Jorge Martins, entre “tantas outras figuras da arte e da cultura portuguesa em França e em Paris”. “Não tem um limite, a verdade é essa. O conjunto de pessoas, de figuras importantes da cultura portuguesa que foram passando por França nas últimas décadas é de tal forma impressionante que não começámos este projecto com o fim em vista”, continuou o director da delegação, não excluindo a possibilidade de as entrevistas filmadas virem a ser transformadas em livro, mais tarde. As conversas assentam na formação de cada personalidade, nas suas motivações para emigrar, na sua vida em França – nomeadamente as dificuldades, as conquistas e as ligações com o meio artístico francês e português – assim como as relações entre Portugal e França. As razões da viagem Os artistas convidados têm aderido ao projecto “de forma muito calorosa”, em entrevistas conduzidas, até agora, pelo artista e investigador António Contador e por Luísa Braz de Oliveira, especialista em cultura portuguesa e antiga colaboradora de Eduardo Lourenço e de António Coimbra Martins. “Julgo que todos os entrevistados perceberam a importância da preservação desta memória, destes testemunhos. Estamos a falar de diferentes gerações, de diferentes motivações. Estamos a falar com pessoas que fugiram à ditadura, estamos a falar com outras que vieram cá porque eram bolseiros na Fundação Gulbenkian, outros que vieram porque estavam de passagem”, continuou Miguel Magalhães, sem esquecer os que escolheram Paris por causa da “vida artística estimulante”. O responsável sublinhou também que este “não é um projecto científico, é verdadeiramente um projecto de preservação da memória” que pretende servir, no futuro, para as pesquisas de investigadores, estudantes e pessoas interessadas pela cultura portuguesa em França. Ainda que se trate “de um testemunho oral”, Miguel Magalhães defendeu que “a história da emigração portuguesa em França, em geral, tem sido investigada”, mas “a história da emigração cultural e artística está provavelmente um pouco menos feita”, pelo que o projecto da Gulbenkian de Paris é como “uma investigação especializada” dentro da emigração portuguesa. Na apresentação do projecto, no ‘site’ da instituição, pode ler-se que “a cidade de Paris ocupa um lugar proeminente como destino para artistas, músicos e homens de letras portugueses ao longo dos tempos”, nomeadamente, “André de Gouveia no século XVI, Eça de Queiroz no século XIX, Amadeo de Souza Cardoso, Almada Negreiros, Vieira da Silva, Lourdes de Castro, Manuel Cargaleiro, Sérgio Godinho e tantos outros”. “Esta lista poderia continuar indefinidamente, tal é o número de personalidades da cultura portuguesa que viveram e trabalharam por esta cidade ao longo de décadas. Paris foi porto de abrigo, cidade de exílio, mas também de aprendizagem e de liberdade – política, de pensamento, liberdade criativa – para gerações sucessivas de jovens portugueses”, conclui o texto.
Hoje Macau Manchete PolíticaIndirectas | Mais ou menos dos mesmos [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ra o único sector onde havia competição. Duas listas diferentes concorriam aos lugares reservados aos interesses profissionais. Chui Sai Cheong encabeçava uma lista composta por três candidatos, mas só conseguiu garantir assentos para dois. Vong Hin Fai – que, até agora, estava na Assembleia Legislativa (AL) por nomeação do Chefe do Executivo – entrou para o lugar deixado vago por Leonel Alves. A terceira vaga foi conquistada pelo líder da outra lista, o também já deputado Chan Iek Lap. O resto da história das eleições por via indirecta faz-se sem qualquer agitação, uma vez que havia uma única lista para cada sector. Em representação dos interesses industriais, comerciais e financeiros, vão estar Ho Iat Seng, actual presidente da AL, o veterano Kou Hoi In, o engenheiro José Chui Sai Peng e o estreante Ip Sio Kai, ligado à banca. O sector do trabalho terá como deputados dois novos rostos: Lam Lon Wai e Lei Chan U, ambos com cargos nos Operários. Pelos sectores dos serviços sociais e educacional permanece Chan Hong. Não há novidades também nos sectores cultural e desportivo, com Vitor Cheung Lup Kwan e Chan Chak Mo por mais quatro anos na AL.
João Luz Manchete PolíticaEleições | Resultados de sufrágio para a Assembleia Legislativa surpreendem [dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uase 175 mil eleitores participaram nas eleições legislativas, a maior afluência de sempre, que representam 57 por cento de participação. Os grandes vencedores da noite foram Mak Soi Kun e Ella Lei, enquanto Melinda Chan e a força política de Fujian foram os grandes derrotados. Os resultados das eleições trouxeram um misto de confirmação e surpresa. As forças políticas tradicionais mostraram um novo vigor nas eleições para a Assembleia Legislativa (AL). A União de Macau – Guangdong, de Mak Soi Kun e Zheng Anting, foi a lista mais votada. Em segundo lugar veio a União para o Desenvolvimento, a candidatura dos operários encabeçada por Ella Lei que, pela primeira vez, se submeteu ao sufrágio directo. A líder da lista da FAOM leva consigo para o hemiciclo o seu número dois, Leong Sun Iok. As grandes surpresas foram Agnes Lam e Sulu Sou, que se vão estrear no hemiciclo. Tanto a líder do Observatório Cívico, como o cabeça-de-lista da Associação do Novo Progresso de Macau representam uma lufada de ar fresco na 6.ª legislatura da RAEM. Representam um eleitorado mais jovem, com uma vincada matriz democrática, afastados dos valores políticos mais tradicionais. Outrass grandes surpresas da noite foram Melinda Chan, que não foi eleita, e a perda de espaço dos candidatos ligados a Chan Meng Kam. As forças políticas com raízes em Fujian elegeram apenas Si Ka Lon e Song Pek Kei. Os candidatos mais votados foram Mak Soi Kun, com 17.207 votos. A medalha de prata foi para Ella Lei que conseguiu convencer com 16.694, enquanto o terceiro lugar do pódio foi para o antigo número dois de Chan Meng Kam, Si Ka Lon, com 14.877. José Pereira Coutinho ficou em quarto lugar, com 14.383 votos, conseguindo uma boa votação, mas perdendo o seu companheiro de bancada Leong Veng Chai, como havia vaticinado. Record de votos Os dois deputados eleitos do universo de Chan Meng Kam obtiveram perto de 25 mil votos no sufrágio de ontem, menos 1500 em relação às eleições de 2013, quando foram às urnas menos 23 mil eleitores. Ou seja, uma descida considerável. Ontem, Macau assistiu ao sufrágio de maior expressão popular, com 174.872 eleitores a irem às urnas, a votação mais concorrida de sempre na história da RAEM. Em comparação com 2013, acorreram às assembleias de voto quase mais 23 mil eleitores. Também a participação melhorou, atingindo os 57,22 por cento. Os votos nulos decresceram significativamente. Em 2013 foram 4018, enquanto nestas eleições foram 1339, representando 0,37 por cento dos boletins de voto depositados nas urnas. Tong Hio Fong, presidente da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL), justificou esta descida com a existência de “câmaras de simulação onde as pessoas experimentaram e a conhecerem os procedimentos de voto”. No capítulo das queixas por irregularidades, André Cheong, que lidera o Comissariado contra a Corrupção (CCAC), revela que na plataforma conjunta com a CAEAL se registaram 25 casos, maioritariamente ligados ao uso de telemóvel na câmara de voto. O comissário salienta a melhoria em relação ao sufrágio anterior, onde apenas junto do CCAC houve 46 queixas. Ao longo desta campanha e eleição, os fiscais ao comando de André Cheong fizeram mais de 600 acções junto de eventos onde poderia, potencialmente, haver aliciamento de voto através de prendas ou benefícios. O comissário acrescentou ainda que a revisão à lei eleitoral trouxe maior poder à autoridade que comanda, nomeadamente com a obrigatoriedade de as associações ligadas às candidaturas terem de declarar as actividades que organizam e em que participam. Porém, André Cheong não entende que seja prudente proibir tudo e paralisar a actividade associativa nas imediações de sufrágios. “O que a lei proíbe é que através desses benefícios se angarie votos”, comenta.
Hoje Macau PolíticaInfidelidade à China | Candidato jura inocência [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] candidato da lista Associação do Novo Progresso de Macau rejeitou ontem as suspeitas de infidelidade à China, pelas quais está a ser investigado e que o podem desqualificar da corrida. “Acho que não há reais provas contra mim que me possam desqualificar”, disse Wong Kin Long, no Instituto Salesiano de Macau, onde votou para a Assembleia Legislativa. Com 20 anos, Wong é o mais jovem candidato às eleições de Macau e ocupa o quarto lugar na lista liderada pelo jovem pró-democracia Sulu Sou. Segundo o próprio, a queixa contra si, que foi encaminhada para a polícia pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) e ainda está em investigação, terá sido motivada por publicações que fez na rede social Facebook “sobre questões legais e técnicas” de Hong Kong. “Quero ser muito claro: eu não apoio a independência de Hong Kong. A nossa equipa apoia o princípio ‘Um país, dois sistemas’ e a Lei Básica de Macau. Os rumores sobre o meu apoio à independência de Hong Kong não são verdade”, frisou. De qualquer forma, argumentou, “apoiar a independência de Hong Kong não entra em contradição com a Lei Básica de Macau”, ainda que essa seja “uma discussão legal”. “Ainda ninguém me contactou e acredito que a minha candidatura não vai ser desqualificada”, adiantou. Momentos antes, o presidente da CAEAL, o juiz Tong Hio Fong, tinha confirmado que a queixa foi submetida à polícia que “já está a recolher mais provas”. “Se tivermos provas suficientes iremos tratar do caso”, disse.
Andreia Sofia Silva EventosCinema | Thomas Lim quer colocar “Sea of Mirrors” no Festival Internacional de Macau Começou a ser gravado em Abril, deverá estar concluído em Dezembro. “Sea of Mirrors”, a nova película de Thomas Lim, poderá ser um dos filmes presentes no Festival Internacional de Cinema de Macau [dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]homas Lim, cineasta de Singapura a residir actualmente em Los Angeles, tem vindo a ter contactos e reuniões com organizadores do Festival Internacional de Cinema de Macau para que o seu mais recente filme, “Sea of Mirrors”, possa fazer parte das películas a concurso. Em entrevista ao HM, o cineasta quis deixar claro que o filme só deverá estar concluído no próximo mês de Dezembro. Ainda assim, Thomas Lim quer fazer esta tentativa para mostrar uma película sobre Macau no território onde ela foi filmada. “Tenho vindo a ter reuniões com os organizadores do festival e disseram-me que gostariam de ver um excerto do filme, ainda que a edição de vídeo e imagem não esteja concluída”, contou Thomas Lim, que deverá entregar as primeiras imagens já em Outubro. “Faltam ainda três fases para concluir o filme, relacionadas com a edição de imagem, som e banda sonora, mas espero conseguir fazer isso. Como cineasta de Macau seria importante ter o meu filme neste festival.” “É um festival local e seria para este filme um bom começo”, acrescentou o realizador. Contudo, Thomas Lim não quer criar falsas expectativas ou, sequer, apresentar uma película incompleta aos organizadores da segunda edição do evento. “Não quero acelerar o processo de produção do filme. Vou tentar o meu melhor, mas não quero apresentar algo incompleto. Não quero dar uma má primeira impressão. Gostaria de lançar o meu filme no mercado no próximo ano, em meados do ano novo chinês, por isso seria óptimo mostrar agora o meu filme”, adiantou Thomas Lim. ROBYN BECK/AFP/Getty Images) Mais experiência Thomas Lim passou recentemente por Macau, para onde viaja com alguma frequência. O território faz parte do seu imaginário como cineasta e é a ele que Lim recorre sempre que quer fazer um filme. “Roulette City”, a sua primeira longa-metragem, teve o jogo como pano de fundo. Mas com “Sea of Mirrors” o cineasta de Singapura quis fazer diferente e contar outras histórias. Toda a película foi filmada com um iPhone. Mas entre os dois filmes há mais diferenças. “Ambos foram filmados em Macau, mas sinto que, desta vez, aprendi mais. À medida que o tempo passa vamos aprendendo mais e mais, e aprendi muito a fazer o ‘Roulette City’.” Com “Sea of Mirrors”, Thomas Lim conta que teve mais recursos e percebeu melhor as estratégias do que queria fazer. “Filmar com um iPhone foi uma das estratégias que decidi adoptar, trabalhar com antigos colaboradores foi outra. Quando fiz o ‘Roulette City’ não tinha muitos colaboradores a trabalhar comigo, foi o meu primeiro filme.” A história de “Sea Of Mirrors” é sobre um ex-actriz japonesa que viaja para Macau na esperança de encontrar um investidor que pague um novo filme por ela protagonizado, mas nem tudo corre como esperado. “O meu segundo filme continua a ser sobre Macau e o que acontece aqui. Gosto de usar Macau como a personagem principal dos meus filmes, e espero poder contar histórias que só tenham Macau dentro delas”, frisou. Se no seu primeiro filme Thomas Lim deu destaque às interpretações, porque antes de ser cineasta foi actor, desta vez, em “Sea Of Mirrors”, a atenção foi transposta para a parte da realização. Cineasta vs orador No dia em que Thomas Lim conversou com o HM, esteve na Universidade de Macau a dar uma palestra para alunos. Algo que o cineasta afirma gostar de fazer, mas que não está no topo das suas preferências. “Em primeiro lugar, gosto de fazer filmes. Porque, no final de contas, todas estas conferências que dou, estes eventos onde vou, acontecem porque faço filmes. E o filme tem de ser bom, então essa é a minha prioridade. A seguir, começo a pensar em como fazer um novo filme que também seja bom.” Thomas Lim gosta de contar as suas experiências como cineasta, uma oportunidade que não teve quando começou no mundo do cinema. “Não me considero um professor de cinema, apenas dou umas palestras nas universidades. E dá-me muita satisfação poder partilhar as minhas ideias junto dos jovens, porque quando comecei não tinha muitas pessoas que me inspirassem”, contou. Em Singapura, Thomas Lim sentiu falta de referências. “Lá não temos figuras que nos inspirem no mundo das artes ou do desporto, por exemplo. Temos talvez figuras que nos inspirem no meio político, empresários. Não sabia, quando era jovem, que podia fazer isto. Não creio ser ainda bem sucedido, mas espero poder inspirar alguém com aquilo que faço.” Macau e o jogo Apesar de ter feito um filme que tinha os casinos como tema principal, Thomas Lim considera importante filmar outros fragmentos de Macau, contar outras histórias. Mas assume: filmar os casinos garante sempre a atenção da indústria estrangeira. “Não foi deliberado não fazer, desta vez, um filme sobre o sector do jogo. Não temos de usar sempre o jogo como protagonista de um filme, mas podemos tirar partido disso, porque se a história tiver o jogo como pano de fundo vai atrair sempre mais a atenção do mercado internacional. Se fizermos um filme apenas sobre Coloane, vai ser difícil à comunidade internacional estabelecer um ponto de ligação, em termos de atenção”, rematou.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaEleições | Pereira Coutinho respirou de alívio e foi uma das forças políticas mais votadas [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi um dos primeiros candidatos a admitir que, nestas eleições legislativas, poderia não ser eleito deputado, cargo que ocupa desde 2005. Estavam em jogo 24 listas candidatas mas, além disso, José Pereira Coutinho tinha uma questão delicada contra ele: o processo dos seus filhos em tribunal, arguidos num processo de tráfico de droga, que serviu de arma de arremesso à candidata Song Pek Kei, num debate televisivo. No final de contas, a vida familiar de Coutinho em nada afectou a sua reeleição, por 14.383 votos. Leong Veng Chai, o seu número dois, acabou por ficar pelo caminho. “[O processo e as acusações] não afectaram [o resultado] porque as pessoas perceberam que são coisas separadas e que têm de ser resolvidas de maneira diferente. Estou satisfeito com o facto de isso não ter influenciado o resultado das eleições”, adiantou ao HM, na sede da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau. Numa sala onde, horas antes, a festa aconteceu, restavam já poucas pessoas depois de o relógio ter passado das 2h. Marília Coutinho, sua cunhada, olhava para o ecrã com os resultados ao lado da irmã do candidato reeleito, Deliciosa Coutinho. Ambas garantiam que, tal como a água se separa do azeite, Coutinho acabaria por vencer de novo, imune a processos e ataques dos adversários. “Não receei, nem por um momento, que ele não ganhasse as eleições”, defendeu Marília Coutinho ao HM. “Penso que as acusações de que foi alvo até viraram o bico ao prego. As pessoas ficaram mais compreensivas”, acrescentou. Um novo cenário Com a estreia de Agnes Lam e Sulu Sou na Assembleia Legislativa (AL), Pereira Coutinho entende que estamos perante um novo panorama político. “Dá para pensar nos resultados destas eleições porque mudam, de alguma forma, a fisionomia da próxima AL. Tenho algumas expectativas sobre a próxima legislatura, espero que haja uma maior fiscalização da acção governativa. Com a entrada desses jovens, é um primeiro passo para poder reformar a AL, que é pouco transparente.” Apesar da vitória, o líder da lista Nova Esperança assegura que estas eleições “foram muito injustas”. “Houve muito aliciamento ao voto. As eleições mostraram que o trabalho que as forças tradicionais fazem ao longo do ano, com o licenciamento com bens de consumo de primeira necessidade, ainda funciona.” “Basta ver as listas da Associação Geral dos Operários de Macau e moradores para percebermos que Macau ainda tem muito a fazer para elevar o nível cívico e político. Não será com uma ou duas gerações que isso será alterado”, rematou.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaAla pró-democrata com três assentos na Assembleia legislativa [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o ranking dos vencedores das eleições por via directa estão os líderes das três listas pró-democratas do território. Os veteranos Au Kam San e Ng Kuok Cheong, bem como o estreante Sulu Sou vão integrar o hemiciclo nos próximos quatro anos. A grande surpresa dos resultados eleitorais vai para Sulu Sou, da Associação Novo Macau (ANM) e número um da lista Associação do Novo Progresso de Macau. O ambiente na sede de campanha não podia ser mais emotivo aquando da certeza dos resultados. Depois da ruptura com Au Kam San e Ng Kuok Cheong, a Novo Macau voltou a garantir presença na Assembleia Legislativa. Entre as lágrimas dos apoiantes e um futuro deputado visivelmente emocionado, a pequena sede da ANM estava abarrotada de gente e de alegria. Com 8981 votos, o mais jovem deputado à AL pretende dedicar a legislatura aos princípios que tem vindo a defender e que estão ligados à defesa da liberdade e dos direitos humanos, e à promoção de uma juventude capaz de se exprimir sem restrições e de se envolver na vida política local. “Os mais novos devem confiar neles e na sua capacidade em mudar a sociedade e a própria AL”, disse Sulu Sou. Para o futuro, Sou não esconde a continuação da luta pela democracia, sendo que “o que mais gostava de ver era uma Assembleia totalmente eleita pela via directa”, apontou. Deu trabalho O deputado eleito não ficou surpreendido com o resultado e considera que mais não é do que o fruto dos últimos quatro anos de trabalho da ANM e da vontade dos residentes, aos quais agradece. O jovem deputado não deixou de mostrar satisfação pelos colegas que se afastaram da associação que lidera, Ng Kuok Cheong e Au Kam San. Para Sulu Sou, o facto de terem sido ambos eleitos, ainda que por listas diferentes, mostra o interesse das pessoas em participar na vida política. “Penso que muitos residentes, principalmente os mais jovens, querem liberdade mas têm medo de expressar a opinião e nós queremos fazer mais e melhor.” A luta pela democracia em Macau não vai interferir, ao contrário de Hong Kong, com a soberania da China, garantiu ainda. “Vamos agir sempre a defender o princípio de ‘Um país, dois sistemas’ e ter sempre em conta os residentes do território”, sublinhou. Ser o mais novo elemento do hemiciclo não é um problema para Sulu Sou, apesar de considerar que ainda tem muito para aprender. Democratas tradicionais | Venha quem vier por bem [dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]istas diferentes, mas sempre juntos. Numa cave da Areia Preta, juntaram-se ontem apoiantes de Au Kam San e Ng Kuok Cheng, ambos reeleitos confortavelmente. Concorreram separadamente para manter os lugares na AL, e resultou. Au Kam San, com quase 11 mil votos, ficou desta vez à frente de Ng Kuok Cheong, que arrecadou 9791. A dupla vai continuar a lutar pelo sufrágio universal para a eleição do Chefe do Executivo. “Queremos que este processo já possa acontecer em 2019”, disse Ng Kuok Cheong imediatamente após serem conhecidos os resultados eleitorais. O deputado agradeceu aos residentes de Macau a reeleição que representa “o apoio da comunidade a um futuro democrático”. Ng Kuok Cheong não deixou de mostrar satisfação pela vitória de Sulu Sou. “Estou feliz por qualquer um que queira participar em verdadeiras eleições e estou contente por existirem mais amigos a favor da democracia na Assembleia Legislativa”, reagiu. No entanto, ainda há muito para fazer e “a chave está nas mãos dos jovens”, sublinhou durante os festejos de vitória. Se, em 2013, Ng Kuok Cheong arrecadou mais votos que Au Kam San, nas eleições de ontem aconteceu o inverso. No entanto, os objectivos mantêm-se. Já Au Kam San, depois de saber os resultados, manifestou a necessidade de mais deputados pró-democratas. “A ala democrática ocupa uma minoria e é inevitável que se lute pelo aumento de lugares na AL para deputados eleitos por via directa”, referiu.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaAgnes Lam promete abordar questão da liberdade académica [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]oncorreu pela primeira vez às eleições legislativas em 2009, mas perdeu. Quatro anos depois, o cenário repetiu-se. Mas, desta vez, a lista número quatro, intitulada Observatório Cívico, foi a grande surpresa da noite eleitoral. Agnes Lam, docente da Universidade de Macau (UM), venceu com 9590 votos, mas ainda não sabe se vai abandonar de vez o Departamento de Comunicação da instituição pública de ensino. “Tenho de falar com a reitoria da universidade primeiro, porque a eleição não era propriamente esperada. Tenho de organizar primeiro o meu trabalho”, contou ao HM. A docente, que já foi jornalista, afirmou que vai “abordar a questão da falta de liberdade académica” no território, mas não esquece os restantes problemas. Muitos deles vieram à tona com a chegada do tufão Hato. “Já temos na nossa agenda a abordagem aos problemas verificados com a implementação da lei do erro médico. Mas, graças à passagem do tufão Hato, percebemos que há muitas questões relacionadas com a segurança dos prédios, e também com o planeamento urbano.” Virar o disco Para ganhar as eleições legislativas, Agnes Lam assumiu ter adoptado uma estratégia diferente. “Foi uma vitória, estou muito contente. Mudei a minha estratégia e revi tudo depois de ter falado com algumas pessoas. Pensei que dessa forma chegaria a mais pessoas, porque originalmente a minha base de eleitores era muito restrita. Então mudei bastante a minha estratégia e agora resultou.” A eleição de Agnes Lam pode introduzir uma certa participação de docentes universitários no meio político, mas também trazer, na perspectiva da candidata eleita, um maior brio na discussão das propostas de lei. “Na Assembleia Legislativa, nos últimos anos, temos visto a aprovação de muitas leis e depois observamos a existência de muitos erros na sua implementação. Isso já aconteceu várias vezes, então a verdade é que existem vários problemas na forma como os deputados trabalham nos projectos de lei. Sendo eu académica, penso que serei mais cuidadosa com esse trabalho”, concluiu.
Hoje Macau China / ÁsiaPyongyang | EUA pressionam China e Rússia a aplicar “novas medidas” [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário de Estado norte-americano condenou sexta-feira “o provocador” lançamento de um míssil efectuado pela Coreia do Norte que sobrevoou o Japão, instando “todas as nações”, sobretudo a China e a Rússia, a aplicar “novas medidas”. “Pedimos a todas as nações que adoptem novas medidas contra o regime de Kim [Jong-un]”, afirmou Rex Tillerson, num comunicado emitido pelo Departamento de Estado. O chefe da diplomacia norte-americana dirigiu o apelo particularmente à China e à Rússia, que têm estreitos laços com a Coreia do Norte, e exortou Pequim e Moscovo a mostrar a sua “intolerância face a estes imprudentes lançamentos de mísseis e a empreender as suas próprias acções directas” contra Pyongyang. “A China fornece à Coreia do Norte quase todo o seu petróleo. A Rússia é o maior empregador de força laboral norte-coreana”, exemplificou o secretário de Estado norte-americano. Esta foi a “segunda vez que o povo do Japão, um aliado dos Estados Unidos, foi directamente ameaçado nas últimas semanas”, sublinhou Rex Tillerson, apontando que “estas contínuas provocações apenas aprofundam o isolamento diplomático e económico da Coreia do Norte”. Antes, o Comando do Pacífico (PACOM, na sigla em inglês) dos Estados Unidos confirmava que a Coreia do Norte tinha lançado um míssil balístico de alcance médio que sobrevoou o norte do Japão. O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi já informado pelo chefe de gabinete, John Kelly, do lançamento do míssil por parte da Coreia do Norte, indicou a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders. Pouco antes do lançamento, Trump confirmou que no próximo mês vai realizar uma viagem à Ásia, a qual inclui paragens na China, Coreia do Sul e Japão. Questionado pelos jornalistas que o acompanharam no Air Force One na visita à Flórida, após a passagem do furacão Irma, o Presidente norte-americano falou da viagem asiática, mas não quis abordar a estratégia relativamente à Coreia do Norte, afirmando apenas que “o povo deste país estará seguro, muito seguro”, numa referência aos Estados Unidos. Evasivas sínicas Na resposta ao apelo norte-americano, Pequim evitou condenar de forma explicita o último lançamento do míssil pela Coreia do Norte. Em conferência de imprensa, a porta-voz das autoridades chinesas, Hua Chunying, disse que que todas as resoluções do Conselho de Segurança, no qual a China é membro permanente, “se opõem ao desenvolvimento da capacidade nuclear da Coreia do Norte”. Questionada se Pequim considera necessárias novas acções, como resposta ao lançamento, Hua sublinhou os “enormes sacrifícios” feitos pelo seu país para resolver a crise na península coreana. “A nossa sinceridade no cumprimento das nossas obrigações internacionais não deixa espaço para dúvidas”, acrescentou. Hua destacou que a “missão” de todas as partes deve ser “terminar com todas as acções provocativas e perigosas, a favor de uma solução pacífica”. A porta-voz reiterou a importância do “regresso imediato ao diálogo” entre as partes directamente implicadas no conflito e frisou que a China “não é responsável pelo aumento das tensões”. Do lançamento A Coreia do Norte lançou um novo míssil ao início da manhã de sexta-feira, a partir dos subúrbios da capital, Pyongyang, que sobrevoou a ilha de Hokkaido, no norte do Japão, antes de cair a aproximadamente 2.000 quilómetros do cabo de Erimo, em águas do oceano Pacífico. Tratou-se do primeiro lançamento de um míssil por parte da Coreia do Norte desde finais de Agosto, altura em que um outro projéctil também sobrevoou o norte do Japão – o que sucedeu pela primeira vez desde 2009. Foi também o primeiro ensaio do regime de Pyongyang desde que o Conselho de Segurança da ONU aprovou na segunda-feira passada, por unanimidade, o oitavo pacote de sanções contra a Coreia do Norte, em resposta ao sexto e até à data mais potente ensaio nuclear efectuado a 3 de Setembro.
Hoje Macau Manchete PolíticaFujian| Song Pek Kei e Si Ka Lon ganharam, mas não chegou [dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]ideraram duas listas diferentes e garantiram a continuidade na Assembleia Legislativa (AL), mas isso não bastou para que os seus objectivos tenham sido atingidos. Song Pek Kei teve mais de dez mil votos como líder da Associação dos Cidadãos para o Desenvolvimento de Macau, enquanto Si Ka Lon obteve 14.877 votos na qualidade de número um da Associação dos Cidadãos Unidos de Macau. Não elegeram, tal como aconteceu em 2013, um terceiro deputado, e isso bastou para uma ligeira insatisfação. “As duas listas não conseguiram o recorde gerado nas eleições. Se calhar tem que ver com o facto de Chan Meng Kam não ter sido candidato e com o facto de existirem 24 listas candidatas”, começou por dizer Si Ka Lon. Ainda assim, o candidato eleito agradeceu o apoio dos eleitores. “No futuro, vou manter a minha postura como deputado e os objectivos iniciais para implementar acções que tenham resultados práticos junto dos residentes.” Também Song Pek Kei se mostrou algo desiludida por nenhuma das listas ter eleito mais um deputado. “Este ano tínhamos duas listas separadas mas, quanto ao resultado das eleições, sinto que não atingi o objectivo. Agradeço os contributos dos residentes e dos colegas, e considero que este resultado é o fruto do trabalho de toda a gente.” Song Pek Kei espera agora que, “no futuro, com os novos rostos na AL, possa haver algo novo”. “Garanto que vou continuar a aumentar o nível de fiscalização do Governo, fazendo acções práticas e ganhando a concordância das pessoas”, declarou.
Hoje Macau China / ÁsiaRodrigo Duterte poderá decretar lei marcial na próxima semana [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, poderá vir a decretar a lei marcial em todo o arquipélago na próxima semana se os protestos previstos pela esquerda resvalarem em perturbações ou violência, advertiu sexta-feira o ministro da Defesa. “Ele disse: ‘Se a esquerda, que está a tentar realizar uma manifestação gigante, inflamar as ruas e perturbar o país, poderei então [decretar a lei marcial]”, declarou Delfin Lorenzana, citando uma conversa que manteve, esta semana, com Rodrigo Duterte. Delfin Lorenzana ressalvou, no entanto, que as probabilidades de instaurar o regime de excepção são mínimas porque os protestos previstos para quinta-feira não devem ser – segundo estima – tão grandes como anunciam os organizadores. “Mas o Presidente está muito preocupado, porque pode degenerar”, por isso, é que afirmou que poderia decretar a lei marcial, explicou o ministro da Defesa. Uma coligação de grupos de esquerda autointitulada de “Movimento contra tirania” anunciou a realização de iniciativas de protesto para o próximo dia 21, dia do 45.º aniversário da instauração da lei marcial pelo falecido ditador Ferdinand Marcos. O movimento pretende denunciar a controversa ‘guerra contra droga’, que fez milhares de mortos, bem como protestar contra os ataques por parte do Presidente filipino contra as instituições democráticas. A coligação também se declarou horrorizada pelo apoio de Duterte a Ferdinand Marcos, deposto em 1986 após uma revolta popular lançada na sequência de um regime marcado por graves violações dos direitos humanos e também por acusações de corrupção. O ‘slogan’ adotado para a jornada de protesto é “Parem as mortes! Tirania e ditadura nunca mais!” Avisos regulares O Presidente das Filipinas ameaça regularmente decretar a lei marcial em todo o país. Até ao momento, nem Duterte nem o seu Governo invocaram datas para o efeito ou um motivo susceptível de motivar tal decisão. A Constituição das Filipinas permite a instauração da lei marcial por 60 dias no caso de rebelião ou invasão. Duterte instaurou, em Maio, a lei marcial na região de Mindanao, que compreende a principal ilha, com o mesmo nome, e uma série de ilhotes vizinhos, devido à ocupação, por um grupo extremista que reclama ser afiliado do autoproclamado Estado Islâmico (EI) da cidade de Marawi, num conflito que fez mais de 800 mortos. (Ver caixa). Essa região do sul, que constitui aproximadamente um terço do país, tem aproximadamente 20 milhões de habitantes. A Constituição das Filipinas permite a instauração da lei marcial por 60 dias no caso de rebelião ou invasão. ‘Jihadistas’ controlados O exército filipino disse ontem que assumiu o controlo do centro de comando dos ‘jihadistas’ que se instalaram em Maio na cidade de Marawi, onde ainda estão entrincheirados. Há quatro meses que militares filipinos se envolveram em violentos confrontos de rua para desalojar os rebeldes, que se apresentam como associado do grupo Estado Islâmico (EI). O exército filipino afirmou ontem que assumiu o controlo do centro de comando dos islamitas na sequência de uma batalha sangrenta iniciada no sábado numa mesquita e num outro edifício.”Esta enorme operação enfraquece o grupo terrorista privando-o do seu antigo centro de comando e de controlo”, declarou num comunicado o general Eduardo Ano.”As operações de limpeza continuam e esperamos que o inimigo abandone a partir de agora posições ocupadas no passado, o que não fará sem combater”, adiantou. “Estamos prontos para isso”, referiu.
Victor Ng Manchete PolíticaOperários de Macau conseguem eleger dois deputados [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi uma das grandes vitoriosas da noite. A lista União para o Desenvolvimento (UPD) – que, nas últimas eleições, tinha sido a grande derrotada ao perder um deputado, reelegendo apenas Kwan Tsui Hang – volta a estar representada na Assembleia Legislativa por dois tribunos. Ella Lei, deputada eleita por via indirecta em 2013, mudou de sufrágio e deu-se bem na sua primeira corrida eleitoral por via directa: a UPD foi a segunda lista mais votada. A cabeça-de-lista conseguiu 16.694 votos e vai estar acompanhada por um novo rosto: Leong Sun Iok foi o último a conquistar uma assento, com 8347 votos. No momento em que se soube que os candidatos tinham sido eleitos, houve lágrimas de alegria na sede de campanha da UPD, à mistura com muitas manifestações de alegria. Ella Lei e Leong Sun Iok agradeceram o apoio dado pelos eleitores. A cabeça-de-lista garantiu que a equipa vai continuar a esforçar-se para corresponder às expectativas da sociedade e tratar das sugestões dos residentes que foram recolhidas durante o período da campanha eleitoral. Leong Sun Iok não deixou de referir que as eleições foram “intensas e difíceis”, uma batalha que foi ganha com a ajuda de voluntários e funcionários do universo dos Operários. O deputado eleito realçou que as eleições decorreram de “um modo muito calmo”, com um número de votantes recorde, para defender que demonstram uma evolução social. Quanto à expressiva votação na lista ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau, Leong entende que se trata do resultado do trabalho feito ao longo dos tempos. Houve ainda tempo para falar do que se segue: o número dois de Ella Lei promete trabalhar para que sejam criadas melhores condições de trabalho para os residentes. Também a deputada definiu prioridades: proteger os terrenos de Macau e o modo de vida da população local, objectivos que reconhece serem difíceis de alcançar sem o esforço de todos. Ella Lei atribui o sucesso eleitoral ao facto de terem passado das palavras à acção, uma ideia que pretende continuar a colocar em prática. Por fim, Leong Sun Iok recordou ainda que, à semelhança do que aconteceu há quatro anos, a UPD foi alvo de difamação. Mas os resultados desta madrugada, salientou, demonstram que a população sabe a verdade, pelo que finalmente se fez justiça, também para Kwan Tsui Hang.
Hoje Macau PolíticaAssociação de Jornalistas de Hong Kong lamenta restrições [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Associação de Jornalistas de Hong Kong lamentou ontem que 13 jornalistas tenham sido impedidos de entrar em Macau nos últimos dias, considerando que a política “restritiva” das autoridades representa “um perigo para a liberdade de imprensa”. “Lamentamos profundamente a recusa de entrada de jornalistas de Hong Kong pelo Governo em Macau nos últimos dias. Os jornalistas não são arruaceiros. Não foi razoável que as autoridades de Macau tenham dito que eles representam uma ameaça para a segurança interna”, disse o presidente da Associação de Jornalistas de Hong Kong, Chris Yeung, num comunicado enviado à Agência Lusa. “Vários jornalistas de Hong Kong viram a entrada rejeitada em Macau nos últimos anos. A política de imigração restritiva e arbitrária das autoridades de Macau é um perigo para a liberdade de imprensa”, concluiu o comunicado. O jornal de Hong Kong Apple Daily noticiou que 12 dos seus jornalistas foram impedidos de entrar em Macau na última semana, onde se deslocavam para cobrir as eleições, e que o mesmo aconteceu a um jornalista do portal Truth Media. Confrontado com este caso, o Chefe do Executivo disse, ao início da tarde de ontem, acreditar que a proibição de entrada – que desconhecia à altura – estivesse relacionada com as eleições. “Tenho de saber mais sobre a razão de impedir essas pessoas de entrarem em Macau. Que eu saiba (…) não há uma relação directa entre as duas coisas”, disse Chui Sai On, indicando que eventuais impedimentos não estão relacionados com trabalhos da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) e do Comissariado contra a Corrupção. “Todos os nossos serviços efectuaram os trabalhos de acordo com a lei, e como [só] agora é que sei deste caso, tenho de conhecer mais”, acrescentou. A Lusa contactou a polícia para averiguar quantos jornalistas foram impedidos de entrar em Macau, mas não foi possível obter uma resposta ontem.
Valério Romão h | Artes, Letras e IdeiasA cultura do copy paste [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] escândalo desta semana no Facebook português prende-se com a acusação de plágio que o ministério público moveu contra Tony Carreira e o compositor Ricardo Landum. De repente, o ministério público deu conta de uma evidência que já tinha sido amplamente difundida nas redes sociais: algumas das músicas do Tony Carreira – e sabe Deus quantos mais intérpretes de sucesso comercial – são decalques perfeitos até à semifusa de autores estrangeiros. Poder-se-ia questionar o timing da notícia. Numa altura em que o governo se vê a braços com o rescaldo dos escândalos de Verão – desde os incêndios e o malfadado SIRESP, aparentemente tão fiável como um Windows 98 SE, até ao furto das armas de Tancos que, afinal, e pelo que vamos sabendo pelos jornais, a) não existiam, b) existiam mas foram furtadas muito antes de existirem, c) existiam, foram furtadas e são tão obsoletas que constituem um perigo para o pobre malfeitor que as operar, d) armas? Que armas? e) nenhuma das acima – e sem o respaldo mediático de um campeonato da europa ou de uma eurovisão, o conspirador insuficientemente medicado que há em mim vê nesta acusação a oportunidade perfeita para folgar as costas do governo enquanto o pau da opinião pública vai e vem. A despeito do que se possa pensar sobre a oportunidade da acusação, a verdade é que esta é importante e traz a lume uma cultura de chico-espertismo que seria importante desmantelar se queremos afirmar de uma vez por todas a nossa maioridade e debelar a tacanhez própria de um país pequeno que, em tempos, já teve tudo. Os senhores Carreira e Landum dizem-se vítimas da típica pequenez tuga e do seu correlato primordial, a inveja. Aparentemente, quem os acusa é movido por uma espécie de menoridade que não tolera o sucesso alheio. Terem êxito nas suas actividades deveria ilibá-los da necessidade de se justificarem. É a lógica do empreendedor: o facto de prover trabalho às pessoas eclipsa naturalmente o facto de lhes pagar salários de escravos contemporâneos. Deveríamos estar gratos aos senhores Carreira e Landum por entreterem tantos milhões de pessoas com os seus exercícios de romantismo de jogos florais. Ao invés, esta acusação vem demonstrar empiricamente o postulado do caranguejo: quando um está finalmente a escapar do balde, os outros tratam de puxá-lo de volta para dentro. A verdade é que o plágio não começa nem termina com os senhores Carreira e Landum. O plágio grassa, por exemplo, num meio que conheço significativamente melhor do que o da música popular: a academia. Há teses inteiras, de mestrado a doutoramento, que são autênticas cópias requentadas de teses alheias. Há trabalhos que não sobrevivem a uma simples pesquisa literal no Google. Insere-se no motor de busca uma frase aleatória e o algoritmo devolve em milissegundos a formulação original. Dir-se-á que aqueles que o fazem não estão a tirar valor aos detentores originais da ideia, porque não a comercializam. Certo. Mas estão a defraudar de forma demolidora o objectivo fundamental da academia, que não é o de papaguear o pensamento alheio mas o de produzir uma tese que contenha, pelo menos, uma nota de rodapé de originalidade. Quando há uma dezena de anos os mestrados e doutoramentos começaram a tornar-se mais frequentes, muitos políticos e detentores de cargos públicos viram os seus estatutos de doutores a serem postos em causa. Viram-se repentinamente privados da legitimidade hierárquica decorrente dos seus graus académicos perante os seus subordinados. Desataram a encomendar doutoramentos para, pelo menos, se dizerem tão letrados como aqueles que arrojaram anos a fio nas bibliotecas para os conseguir. Muitos deles nem sabem sobre que versa os seus trabalhos, pois a complacência dos júris assegurava uma aprovação suma cum laude a quem se propunha à certificação de competências. É por isso, também, que esta acusação é importante: para desmontar a cultura do chico-espertismo e da absolutização da aparência. Independentemente do desfecho do processo e da minha costela de teórico da conspiração.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaMelinda Chan, da lista 18, foi a grande derrotada das eleições [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] noite eleitoral começou bem para os lados da Doca dos Pescadores e os primeiros resultados, após a contagem dos votos de Coloane, pareciam indicar a reeleição de Melinda Chan, que concorria como líder da lista 18, a Aliança pr’a Mudança. Contudo, à medida que as horas passavam, os gritos de euforia e os sorrisos depressa passaram às lágrimas da derrota. Melinda Chan não foi reeleita deputada por uma margem de 160 votos, e cá fora não faltaram rostos tristes e de semblante carregado, incluindo o de David Chow, seu marido e empresário, que esteve sempre ao seu lado à medida que se viam os números no ecrã. “Estava confiante e estou muito desiludida”, disse aos jornalistas, por volta das 2h00, quando já se conheciam os primeiros vencedores. “Nunca pensei que não ia vencer, mas respeito a decisão dos cidadãos. Não sei o que aconteceu, talvez não tenham gostado do que disse na campanha”, apontou. A candidata derrotada não sabe o que vai fazer a seguir. Continuar o trabalho na Associação de Beneficência Sin Meng é um dos planos, tal como “tirar umas longas férias”. O desapontamento de Melinda Chan foi tão grande que não sabe sequer se será candidata nas próximas legislativas, daqui a quatro anos. “Não me parece que vá concorrer novamente”, frisou. O número três da lista, Jorge Valente, também se mostrou francamente desiludido, naquela que foi a sua estreia na política. “Teremos menos uma voz na Assembleia Legislativa que levaria várias ideias, incluindo algumas minhas”, respondeu. “Acho que perdemos alguns votos que viriam dos casinos, das listas que representam os trabalhadores, e os democratas ganharam alguns lugares. Temos de aceitar o resultado”, adiantou. Apoiantes de Melinda Chan no auditório da Doca dos Pescadores. Foto: HM Mudança de estratégia No início da noite, o ambiente era de festa e vários residentes de Macau, a viver no Continente, deslocaram-se de propósito à Doca dos Pescadores para ver Melinda Chan vencer de novo. Na plateia encontravam-se vários jovens, como foi o caso de Mathew Wong, de 27 anos e trabalhador num banco. “Ela teve um papel importante na discussão sobre a lei de protecção dos animais e lei da violência doméstica. Sinto que ela representa a maioria das pessoas. As gerações mais jovens querem uma mudança na sociedade e acredito que a maioria pensa que o futuro de Macau tem de mudar”, defendeu ao HM. Mathew Wong não tem dúvidas de que a passagem do tufão Hato por Macau fez despertar consciências. “Muitas pessoas perceberam que algo tem de mudar no Governo e que precisamos de melhores transportes e infra-estruturas, mais transparência e menos burocracia”, apontou. Foto: HM Jorge Fão, que foi número dois de David Chow, marido de Melinda Chan, no hemiciclo, disse que a Aliança pr’a Mudança tinha mudado a sua estratégia. Dos assuntos sociais, queria começar a abordar as necessidades dos pequenos empresários e do sector do turismo. “Mudámos para a classe média, média alta. Mudámos a estratégia, com alguns riscos, mas mudámos. Acho que isto vai dar bons resultados porque, neste momento, vamos contar com uma base de apoio suficiente. Vamos ver se isto vai pegar”, disse ao HM. Horas depois, ficou confirmado que a mudança de estratégia não gerou frutos.
Hoje Macau DesportoFutebol | Sporting de Macau aposta na formação Pedro André Santos [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Sporting Clube de Macau vai abrir uma academia de futebol destinada a jovens entre os 5 e os 12 anos que terão a oportunidade de aprender as bases de treino e, futuramente, poderem reforçar a equipa sénior. Os treinos arrancam em Outubro e têm um custo anual de 5.500 patacas, ou mensalidades de 650 patacas De olhos postos no futuro, o Sporting Clube de Macau (SCM) decidiu apostar na formação através da criação de uma academia de futebol para crianças, de ambos os sexos, entre os 5 e os 12 anos. Os interessados poderão já inscrever-se online ou pessoalmente, num dia-aberto que irá ter lugar a 23 ou 26 de Setembro, estando a data ainda por confirmar. “A ideia é formar futebolistas e proporcionar aos miúdos um treino de qualidade. Queremos pegar no modelo português da Academia de Alcochete e trazê-lo para aqui, com as devidas proporções, obviamente. Gostaríamos muito de descobrir aqui talentos mundiais, mas para já estamos com os pés bem assentes na terra”, começou por explicar José Reis, director da academia do SCM. Segundo o responsável, existe a intenção de haver uma “articulação com a casa-mãe”, embora não estejam ainda definidos os moldes em que tal poderá acontecer. “O Sporting Clube de Portugal organiza todos os anos um torneio muito importante de escalões jovens e teríamos imenso gosto de termos lá representada uma equipa da academia”, disse. O projecto foi apresentado na passada sexta-feira, na Escola Portuguesa, onde estiveram presentes os monitores e bastantes crianças, que aproveitaram para dar alguns toques na bola. Apesar de não haver ainda um número de inscritos, José Reis garante que tem havido bastante interesse, tanto da comunidade portuguesa como da chinesa, estando convicto que “vamos ter crianças suficientes para viabilizar a academia”. Nuno Capela na coordenação Depois de ter conseguido a manutenção na Liga de Elite ao leme do Sporting Clube de Macau, o treinador do Nuno Capela irá ser o responsável pela coordenação da academia, descrevendo a oportunidade como “mais um passo neste projecto do novo Sporting na consolidação da equipa de seniores”. “Depois de o Sporting ter visto que necessitava de novos jogadores não profissionais, a aposta na formação tornou-se num factor primordial para a subsistência”, apontou o coordenador. Nuno Capela sublinhou também que a academia vem colmatar uma lacuna que existe no território ao nível das escolas de formação, que “estão todas sediadas na Taipa”, lembrando também que as escolas do território “estão cheias de crianças que não têm onde praticar futebol”. Em relação aos treinos, o técnico irá focar-se sobretudo na criação de bases para desenvolver futuros futebolistas, já que há muitos jogadores que “chegam aos escalões superiores sem qualquer conhecimento de futebol”. A possibilidade de incluir jovens de diferentes nacionalidades não preocupa o técnico já que “futebol é uma linguagem universal”, embora não descarte a possibilidade de “ajustar os formadores” de acordo com o público alvo. Os treinos deverão arrancar em Outubro e irão decorrer duas vezes por semana, às quartas-feiras (17:30-19:30) e aos sábados (09:00-11:00), nos campos da Escola Primária Luso-Chinesa da Flora e na Escola Portuguesa, dois parceiros da academia, que conta ainda com o apoio da Premium & Collectibles. Os interessados terão que pagar uma mensalidade de 650 patacas, ou anuidade de 5.500 patacas.
João Luz SociedadeApoio Social | Caritas ajuda a superar os danos do Hato e a cidade retribui [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]om quase 70 anos de história em Macau, a Caritas é um dos pilares sociais da cidade. A braços com muitos estragos na sequência do tufão Hato, a instituição mantém o foco no apoio aos que mais precisam. O secretário-geral da Caritas, Paul Pun, faz o ponto da situação, mais de 20 dias depois do tufão. No dia seguinte à devastação provocada pelo Hato, um voluntário da Caritas contou ao HM o perigo que era conduzir por estradas cheias com todo o tipo de detritos. Contou o drama vivido num prédio no Fai Chi Kei onde centenas de idosos estavam isolados. Mais de 20 dias depois, a contabilidade dos estragos ainda não foi feita por uma questão de prioridades. “Até agora ainda não temos uma noção concreta de quanto perdemos, porque temos estado a gastar toda a nossa energia a servir na comunidade”, conta Paul Pun. Uma das situações mais complicadas verificada imediatamente a seguir à passagem do tufão, o mais forte que Macau viu nos últimos 50 anos, aconteceu na loja social da Ilha Verde, uma instalação que hoje já está recuperada. O secretário-geral da instituição conta que, na primeira semana, a prioridade era assistir “idosos, doentes crónicos, pessoas com deficiências físicas e outras que estavam isoladas”. Outra situação a que tiveram de acorrer foi “a manutenção da operacionalidade dos asilos, nomeadamente arranjando fontes alternativas de energia para manter o auxílio a pessoas dependes de máquinas de suporte à respiração”. Mas também a Caritas precisa de ajuda na sequência dos danos que as suas instalações e equipamentos sofreram. “Pelo menos 16 veículos ficaram danificados, alguns podem ser arranjados, mas outros ficaram irreparáveis”, revela Paul Pun. Em termos de instalações, as que precisam de maior cuidado é o Centro de Santa Lúcia, em Ka Ho, onde estão internadas mulheres com doenças mentais. Dar e receber Outro centro danificado foi o Lar de Nossa Senhora da Penha, uma instituição que recebe pessoas com deficiências mentais e físicas, e que tem capacidade para receber 28 pessoas em sistema de internato. De forma a apaziguar os problemas da Caritas, a comunidade respondeu em peso. Em primeiro lugar, as concessionárias de jogo chegaram-se à frente com várias formas de apoio. A Galaxy ajudou a substituir quatro carros de serviço da Caritas, além de ter feito uma doação de um milhão de patacas. Foi também oferecido material de construção para remendar os danos provocados pelos ventos fortes do Hato. Também a Sands China está em vias de facultar um veículo com elevador para transportar doentes com problemas de mobilidade e dois carros de serviço. A MGM irá providenciar um equipamento que serve para transportar doentes em edifícios sem elevador e irá doar um veículo para o Lar de Nossa Senhora da Penha. Além destes, também a Wynn irá ajudar a Caritas a recuperar a operacionalidade. Outra das ajudas em destaque foi providenciada pela fundação a ligada ao jornal Ou Mun, que doou dois milhões de patacas. Além disso, muitos voluntários se juntaram à organização para reforçar os trabalhos de apoio aos mais carenciados. Houve entregas anónimas de água, arroz e outros víveres. A Caritas criou ainda o Centro de Apoio Pós-Desastre, com o objectivo de ajudar as pessoas necessitadas e que ficam de foram do alcance dos apoios dos governos. O centro pretende ajudar em Macau, no Interior da China e pelo mundo fora. O objectivo da instituição é dar resposta eficaz e rápida àqueles que ficam em situação de carência devido à crueldade dos elementos. A Caritas alargou o âmbito da sua linha SOS depois da passagem do tufão Hato para receber pedidos de ajuda da população. Entre o dia 23 de Agosto e 9 de Setembro, a única contabilidade disponível até agora, a Caritas recebeu 137 pedidos de ajuda. Água | Vem aí mais uma conduta de abastecimento [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omeça hoje a instalação da quarta conduta de abastecimento de água, a partir da China, para reforçar o fornecimento na zona de casinos entre as ilhas da Taipa e Coloane. Um comunicado conjunto dos serviços da água, tráfego e do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais refere que, para “acompanhar o desenvolvimento e a necessidade de abastecimento de água da zona do Cotai, o Governo irá instalar nesta zona a quarta conduta de abastecimento de água a Macau, estabelecendo uma ligação com a respectiva conduta no interior da China para assegurar o abastecimento de água bruta na região”. “Com capacidade de abastecimento diário de 200 mil metros cúbicos de água, a conduta irá diminuir a dependência da rede de abastecimento actual que liga com o território através da zona norte de Macau, aumentando, desta forma, a sua capacidade de resistência a eventuais riscos”, indica. A conduta estende-se directamente desde a Ilha da Montanha, na China, até à zona do Cotai. “Com o desenvolvimento contínuo da zona das ilhas e de acordo com tendência actual de aumento do uso de água, prevê-se que, em alguns anos, o sistema de abastecimento de água em Macau atinja a sua capacidade total”, acrescenta. A execução da obra, prevista para cerca de 600 dias úteis, envolve cerca de 2,8 quilómetros de comprimento, sendo o diâmetro da conduta de 1,6 metros. As autoridades referem ainda “a articulação com a estação de tratamento de água em construção na zona de Seac Pai Van, com capacidade de tratamento diário de 130 mil metros cúbicos de água”, vai “aliviar a produção concentrada de água na península de Macau, garantindo, deste modo, a segurança e a estabilidade do fornecimento de água nas ilhas”.
Hoje Macau PolíticaLiberdades e garantias | Alves defende discussão “de forma desinibida” O deputado Leonel Alves despede-se da Assembleia Legislativa, ao fim de 33 anos, com um apelo: é preciso reflectir sobre como os direitos, liberdades e garantias estão a ser aplicados desde a transferência de administração [dropcap style≠’circle’]”A[/dropcap]cho que Macau, depois destes 18 anos, devia parar um bocadinho, sentar-se à mesa e discutir de forma desinibida” sobre a experiência que advogados, juízes, Ministério Público e cidadãos têm sobre a forma como são abordados os direitos, liberdades e garantias, defendeu Leonel Alves, em entrevista à Lusa. O advogado, que ao longo de mais de três décadas esteve envolvido na elaboração de leis neste âmbito – como por exemplo o direito à assistência jurídica de um advogado –, disse desejar uma “aposta mais activa do Executivo” nesta discussão. “O princípio da presunção de inocência – até que ponto isto está reflectido no dia a dia? Não é nos livros, não é na letra da lei, é no dia-a-dia. O papel do juiz de instrução criminal, o que é? O nosso Código de Processo Penal como tem sido aplicado, não só na perspectiva de o Ministério Público rapidamente querer que a justiça seja feita, mas de o cidadão estar suficientemente munido de garantias de protecção dos seus direitos e liberdades?”, lançou. Alves, que é ainda membro do Conselho Executivo, afirmou que como advogado teve algumas experiências “bastante negativas em sede de defesa do interesse da liberdade e dos direitos do cidadão”. “Os nossos códigos são de inspiração portuguesa. Como é que os nossos magistrados os têm lido e interpretado? Como têm sido aplicados? A mesma lei, que já vigora há 30 anos, quando é interpretada por um jurista português [resulta] numa solução, quando é interpretada por um jurista ou magistrado chinês [resulta] noutra solução”, indicou, justificando tal com questões de “formação básica, contexto cultural e visão das necessidades da sociedade”. Leonel Alves, que entrou para a Assembleia de Legislativa (AL) em 1984 e nos últimos dois mandatos foi deputado eleito por via indirecta, anunciou em Junho que não seria candidato às eleições realizadas ontem. “Já participei muito. Participei nos trabalhos preparatórios da transição, depois veio a implementação da Região Administrativa Especial de Macau (…) É chegada a altura de não ter uma vida política tão activa”, resumiu. Avanços e retrocessos Depois de uma fase de rápida aprovação de “leis importantes para poderem vigorar depois de 1999”, incluindo “códigos fundamentais”, Leonel Alves recordou o “primeiro contacto com a nova realidade constitucional de Macau”, que trouxe maior restrição às iniciativas do deputado, e não só. “O deputado não podia mudar coisíssima nenhuma sem o consentimento do Governo, enquanto [antes] podíamos alterar por completo a proposta do governador”, lembrou. Perante esse cenário, foi necessário “imaginação e força de vontade”. “O melhor exemplo que posso dar da importância da AL neste quadro foi a insistência na feitura da lei das fontes normativas da RAEM”, em 2009, que define o que pode ser objecto de lei e o que pode ser objecto de regulamento administrativo. Esta lei “marcou profundamente o próprio evoluir da RAEM a partir de então e pelo menos até 2049”, data até à qual vigora o actual princípio de ‘Um país, dois sistemas’. “Foi um trabalho que marcou a importância e o poder de influência da AL”, sublinhou. Desde então – coincidindo com a primeira eleição do atual líder do Governo e de um novo presidente da AL – o hemiciclo “entrou noutro ciclo”. “Passou a ter um pendor cada vez mais controlador dos gastos públicos, das habitações públicas, das demandas disto e daquilo. Uma intervenção incisiva, pontual sobre determinados aspectos da vida corrente. O trabalho produtivo em matéria legislativa e o exercício da acção e influência, isso retrocedeu um pouco”. Alves defende apelo para casos como o de Ho Chio Meng [dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]eonel Alves disse estar preocupado com a insistência do Tribunal de Última Instância (TUI) em não permitir recurso aos principais titulares de cargos políticos, defendendo que tal regra “não está escrita em lado nenhum”. Depois do ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas Ao Man Long, também o antigo procurador Ho Chio Meng foi impossibilitado de recorrer da decisão do TUI, não obstante ter sido tomada em primeira instância. O reafirmou há dias a impossibilidade de os titulares ou ex-titulares de cargos públicos recorrerem de decisões, defendendo que “não se pode entender que haja uma lacuna jurídica”. Em entrevista à Lusa, Leonel Alves rejeitou esta leitura e garantiu que “não há nenhum impedimento institucional” para que estes cidadãos, “que foram nomeados para um cargo importante e gozam de presunção de inocência”, tenham esse direito. Alves lembrou que, antes de 1999, participou nos trabalhos relativos à Lei de Bases da Organização Judiciária e que essa “versão inicial previa o recurso”. “Mas depois houve alguém que entendeu que não, que tem de ser tudo imediatamente julgado pelo TUI porque são todos nomeados pelo Governo Central [da China]”, recordou. “Respeito a decisão do TUI mas, como participei nos trabalhos desde o início, [posso dizer que] a falta de possibilidade legal de recurso não se deveu a nenhuma fundamentação filosófico-política, mas sim ao défice de número de magistrados no nosso órgão máximo na justiça”, afirmou. O TUI é composto por três juízes, o que impede a existência de um plenário para reavaliar casos que ali foram julgados em primeira instância. “Não há nenhum impedimento constitucional, não está escrito em sítio nenhum, nem na Constituição da República Popular da China, nem na Lei Básica de Macau, que o cidadão que, por acaso foi titular de principal cargo, não possa recorrer”, frisou. O Chefe e os outros Alves admitiu que “também não está escrito em sítio nenhum que pode recorrer”, mas lembrou que num Estado de Direito é preciso “reconhecer que errar é humano e ninguém pode garantir que os três juízes do TUI têm o dom absoluto da verdade e da certeza”. “É um direito do cidadão. Pessoalmente, como jurista, como cidadão, preocupa-me e acho que tem de ser resolvido”, disse. Para o advogado, não mexendo na regra, ao abrigo da qual os principais titulares são unicamente julgados no tribunal de última instância, torna-se necessário dotar o TUI de “recursos humanos suficientes para poder acolher a apreciação de recursos das suas decisões”. No entanto, defendeu que apenas o líder do Governo devia ser sujeito a tal: “O chefe é o representante máximo, os outros são colaboradores do representante máximo. Porque é que o colaborador tem de ter o mesmo tratamento a nível judicial que o Chefe do Executivo? Não faz sentido”.