João Luz VozesEleitor [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] somatório de todo o raciocínio, indiferença e sofrimento vertido na ponta de um carimbo. Com um simples gesto sepultam-se quatro anos de desfasamento na urna eleitoral. Já repararam na conotação fúnebre de tudo isto? O ciclo político encerra-se e reabre com um velório democrático. Um ritual mortuário mascarado de cidadania levando cortejos de eleitores enlutados e as suas lamúrias à cova das fracas opções. Um ciclo de vida afastado dos tronos da decisão onde se enterra a defunta liberdade. Tudo isto para chegarmos onde estamos, ou seja, exactamente onde estávamos antes. À terra regressamos. Hoje voltámos a ser o que éramos antes da campanha eleitoral, uma massa disforme, por definir, nas antípodas do poder, perfeitamente camuflados por uma perfusão de estudos e consultas públicas fantasmagóricas. Sinto-me aliviado por não ter de testemunhar mais a charada dos bilionários a tentarem meter-se na minha pele, a fingir que conhecem as minhas dores. Tenham decência e deixem-me em paz, regressem às vossas torres de marfim, às vossas mulheres esculpidas a bisturi, às vidas onde não existe o medo de ficar sem tecto, onde não cabe a matemática da mercearia. O vosso único medo sou eu, somos nós, é um povo desperto e raivoso a reagir ao vosso despudor. Este é o momento em que quase podemos tocar o Olimpo, roçar ombros com quem faz as leis da terra. Há um conceito que me desce da cabeça para onde se forma a bílis: Elite! A palavra tem origem no latim, eligere exlegere, uma cruel ironia para estes dias de retorno ao fosso incomensurável entre governadores e governados. Elegemos a elite, temos uma quota-parte de responsabilidade nisto tudo. De certa forma, este exercício de intoxicante livre arbítrio é o que nos traz a este dia, ao rescaldo do concurso de popularidades que terminou na urna. Alimentaram-me com aspirações colossais face ao liliputiano gesto de eleger, venderam-me a ideia de acto essencial como a respiração e saiu-me na rifa uma acção onde não há qualquer tipo de processo cognitivo, nem análise, intuição, nada. Resta-me o vazio de utilidade depois do direito/dever cumprido, uma flor que teimo plantar em alcatrão fresco a cada quatro anos, sempre com uma réstia de esperança de que floresça além das limitações biológicas. Mas pensemos no procedimento que me caracteriza, o voto. Como é que algo pode ser simultaneamente um direito e um dever? Este conceito tem na sua génese um enorme paradoxo que dificilmente poderá ter eficácia prática. É uma aberração lógica à qual não declino, talvez seja precisamente devido a esta inconsistência racional que não resisto, a todos os quatro anos, a carimbar um simulacro de escolha. Mas faço por eleger, presto-me ao sacrificial desígnio de sepultar o pequeno corpo democrático em caixão branco. Fica toda a realidade citadina reduzida ao gesto aniquilador do voto, ao último golpe de teatro antes do regresso à normalidade e regressamos à cidade estrangulada pelas tenazes dos múltiplos interesses e à invisibilidade das suas gentes. Agora instala-se a ressaca da inevitabilidade, mais quatro anos sem solicitações de cima. Volto a ser o cidadão, o residente, o mais elevado na hierarquia dos esquecidos, impertinente acorde na corda mais gorda do violoncelo, impetuoso na minha massificação, um fantasma andrajoso na cidade do super pib. Onde estão os milhões que as médias estatísticas me devem? Hoje desperta um novo dia, mais um daqueles sem história depois de todo o rebuliço deste pedaço de Verão escaldante. A treva fica para trás e o sol irrompe num horizonte de normalidade. Um sentimento de paz apodera-se das coisas, entranha-se nos passeios, como se entre os objectos se instalasse um narcótico armistício. Também entre as pessoas reina a reconciliação. Os eleitores voltam a ser quem eram, os trabalhadores residentes continuam a não ser ninguém e os políticos continuam a reinar acima de todos os outros. Como na relação entre astro e rotação celeste, Macau entra no “polistício”, a altura do ano em que a legislatura está no seu pináculo, iniciando, imediatamente, o seu declínio. A vida prossegue para mais um ciclo.
Carlos Morais José Editorial MancheteEleições: Um derrotado chamado Governo [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau foi ontem a votos e não se pode dizer, desta vez, que as coisas tenham ficado na mesma. Não ficaram e a próxima legislatura provará que a correlação de forças se modificou, nomeadamente na ocupação do espaço mediático. Repare-se que vamos ter a maior representação de sempre de deputados “fora do sistema”: Ng Kuok Cheong, Au Kam San, Pereira Coutinho, Sulu Sou e, finalmente, à terceira tentativa, Agnes Lam. Se, por um lado, é preciso estar plenamente consciente de que estes deputados não terão força política para “mudar”; por outro lado, é quase certo que serão eles a ocupar a maior fatia do espaço mediático, interferindo na formação ideológica da população. Será então nesse espaço que a sua voz se fará ouvir com uma outra densidade e propagação, graças ao facto de serem deputados. Este facto não agradará ao Governo e, provavelmente, não agradará a Pequim. Contudo, se tivermos em conta o grau de descontentamento que a acção do Executivo (ou a falta dela) tem provocado na população, poderão agradecer aos céus a existência de “distracções” que roubam votos aos candidatos “fora do sistema”. Sem elas os resultados seriam ainda mais sintomáticos dessa crescente (ainda que silenciosa) insatisfação. E que “distracções” são essas? Trata-se, por um lado, das listas de “estrangeiros”, quer sejam de Fujian ou de Guangdong. Neste sufrágio, sobretudo o comportamento de Song Pek Kei teve consequências desastrosas e o grupo liderado por Chan Meng Kam perdeu um deputado. A menina Song continua na Assembleia Legislativa mas a sua credibilidade sofreu um rude golpe, que ela mesmo infligiu. Mak Soi Kun e Zheng Anting conseguiram a reeleição e pouco mais. Por outro lado, temos as listas dos “revoltados” por isto ou por aquilo, que querem qualquer coisa muito específica, como a malta do Pearl Horizon. Imagine-se que esta soma de insatisfações e revoltas dirigia votos para os candidatos “fora do sistema” e os resultados poderiam ser bem diferentes. Apesar dos “estrangeiros” e dos “revoltados”, que servem interesses muito específicos, não esquecendo igualmente Angela Leong, que consegue a reeleição, a presença de vozes dissonantes na AL é agora maior. E não só é maior como nos parece mais qualificada se acrescentarmos à existente na anterior legislatura os nomes de Sulu Sou e Agnes Lam. Mais jovens e melhor preparados do que a maior parte dos seus pares espera-se que tragam alguma inteligência e bom senso aos debates. Não poderemos falar de vitória nem derrota dos chamados tradicionais (Kaifong e Operários), embora Ella Lei tenha sabido manter os votos que a saída de cena de Kwan Tsui Hang poderia ter dispersado. São máquinas velhas mas ainda bem oleadas. Se olharmos com algum distanciamento, verificamos nestas eleições que o grande derrotado acaba por ser o Governo, as suas políticas e atitudes. O tufão Hato já não foi sintoma do distanciamento do Executivo em relação aos interesses da população: foi a prova. E isso caiu muito mal no goto de muita gente, deixando um sabor amargo difícil de apagar. A prisão e julgamento de Ho Chio Meng já tinham sido um descrédito mais do que evidente das autoridades da RAEM — lembremo-nos que já foram detidos e condenados um alto membro do poder executivo e agora um dos mais altos cargos do poder judicial. A inexistência de planos concretos para resolver as dificuldades da cidade exasperam o mais paciente dos cidadãos que não compreende, por mais discursos que lhe façam, por mais justificações que enumerem, como uma cidade tão rica está tão mal organizada e como os seus cidadãos não desfrutam de uma melhor qualidade de vida. E, de facto, é difícil de compreender. Por isso, é caso para ainda irem abrindo as garrafas de espumante: poderia ter sido pior. Mas preparem-se para enfrentar uma barragem de vozes diferentes na AL. Não sei é se essas vozes terão capacidade para mudar alguma coisa além acrescentarem barulho no ar. Esperemos que sim.
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Ourivesaria portuguesa aposta na Ásia [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] aposta na internacionalização levou a ourivesaria portuguesa a voltar-se para o mercado asiático, que exige “produtos de grande qualidade”, e a regressar à feira de joalharia de Hong Kong, “uma das maiores do mundo”. “Os compradores asiáticos, até aqui conotados com produtos de baixa qualidade, exigem cada vez mais qualidade”, disse à Lusa a secretária da Associação de Ourivesaria e Relojoaria Portuguesa, Fátima Santos, que lidera a participação portuguesa na feira de joalharia e pedras preciosas de Hong Kong, que termina na terça-feira. Para Macau, Fátima Santos prometeu “uma acção de promoção a breve prazo”. A responsável sublinhou ter-se dado “uma alteração do paradigma de consumo dos asiáticos”, em que a exigência de qualidade é agora determinante. “A ourivesaria portuguesa é um produto de grande qualidade, já não tão tradicional e apresenta grande incorporação de design, embora continuemos a trazer as filigranas tradicionais”, sublinhou. Em Hong Kong, terceiro maior importador de joias do mundo, “o negócio tende a dar certo” por se tratar de “uma zona de concentração absoluta” em que o número de consumidores, sobretudo da China que tem uma classe média em crescimento, “é tão elevado que se adapta a cada tipo de produto”, explicou. Esta feira junta aqui, além da Ásia, consumidores da América Latina, Estados Unidos, Europa, Austrália, justificando a escolha da associação, que numa primeira fase do projecto de internacionalização apostou em mercados de proximidade, como Copenhaga, Londres e Paris. “É um esforço que esperamos seja compensador”, considerou. Boas reacções As seis empresas portuguesas presentes nesta feira, que começou na sexta-feira, já têm alguma experiência deste mercado: “Vêm a Hong Kong há quatro anos, sendo que a firma menos experiente está aqui pela segunda vez”, disse. Um dos ‘designers’ que participa pela segunda vez nesta feira afirmou ter sido “um desafio tentar perceber a aceitação do público asiático” para o trabalho que apresenta. “A reacção do público tem sido boa (…) fazer vendas locais na feira é fácil, mas estender esse negócio e conseguir estabelecer uma relação comercial à distância é um grande desafio”, mas até agora tem sido compensador, afinal a Ásia é o “centro do mundo de negócios”, sublinhou Bruno da Rocha. O valor total de exportação da joalharia, uma das actividades de maior tradição em Portugal, ronda os 60 milhões de euros, de acordo com dados da associação. Dados de 2015 indicavam que a França é o principal destino das exportações portuguesas (34,5%), seguindo-se Espanha (23,2%), Angola (11,3%), Estados Unidos (6,3%), Bélgica (5,6%), Suíça (4,7%), Alemanha (4%) e Itália (2,2%).
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaEleições | Chefe do Executivo e secretários votaram e apelaram ao voto [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s assembleias de voto abriram ontem às 9h00, tendo o Chefe do Executivo, Chui Sai On, ido votar por volta de um meio dia na secção de voto a que pertence na qualidade de eleitor, no Instituto Salesiano Imaculada Conceição. Segundo um comunicado oficial, Chui Sai On apelou “aos eleitores para participarem activamente no processo eleitoral, exercendo o seu direito e dever cívicos, a fim de votar na lista favorita”. O Chefe do Executivo referiu também que “as eleições decorrem de forma ordenada”, além de ter elogiado o trabalho da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL). Nas palavras de Chui Sai On à imprensa, este órgão tem cumprido a lei em vigor, “permitindo aos cidadãos escolherem os seus representantes na Assembleia Legislativa, com o objectivo de fiscalizar os trabalhos do governo, bem como, preceder aos trabalhos de legislação, apresentação e revisão de lei”. Confrontado com notícias de pessoas que terão sido barradas na fronteira, Chui Sai On disse “não estar a par dos pormenores”, tendo referido que esse caso “não tem relação directa com os trabalhos da CAEAL e do Comissariado contra a Corrupção”. Secretários também apelam Quem também votou ontem de manhã foi o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, que se deslocou à assembleia de voto localizada no Estádio de Macau, na Taipa. Lionel Leong também apelou à participação cívica, tendo adiantado que “as eleições decorrem de forma legal, justa, transparente e íntegra”. O secretário acrescentou que “os eleitores irão certamente exercer o seu direito de voto de forma racional e prudente, no sentido de eleger deputados à Assembleia Legislativa com capacidade de supervisão, debate político e aptidão legislative”. Lionel Leong disse ainda, citado por um comunicado, que “qualquer tema político ou económico merece a atenção dos candidatos e dos futuros deputados”. Também Alexis Tam, secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, votou num dos pavilhões do Estádio de Macau, tendo dito que o território “promoveu um sufrágio justo, parcial e íntegro”. Alexis Tam votou esta manhã na Taipa. Foto: GCS “De acordo com as notícias e com aquilo que fui ouvindo da parte dos residentes, as eleições deste ano encontram-se a decorrer de uma melhor forma em relação às edições anteriores”, disse, citado por um comunicado. Alexis Tam lembrou a participação de todos os eleitores registados, mas sobretudo dos jovens, para que escolham os deputados que “falem por Macau e que trabalhem verdadeiramente pelos interesses da população”. Quem também votou na Taipa, por volta das 9h00, foi Raimundo do Rosário, secretário dos Transportes e Obras Públicas, que disse estar bem disposto. Relatório a caminho Sónia Chan, secretária para a Administração e Justiça, também votou esta manhã, tendo dito que os eleitores “se devem empenhar no exercício do seu direito cívico”. Sónia Chan, secretária para a Administração e Justiça Concluídas as eleições, a secretária adiantou que a CAEAL “irá elaborar um relatório final onde irão constar as questões relacionadas com a execução da Lei Eleitoral e respectivas sugestões, que posteriormente servirão de referência para uma avaliação a ser efectuada pelo Governo”. Presidente do TUI votou Sam Hou Fai, presidente do Tribunal de Última Instância (TUI), votou no mesmo local que Chui Sai On e apelou aos eleitores para “exercerem o seu direito e dever cívico e para que participem activamente no acto eleitoral”. Tudo para que possam eleger “os candidatos que consideram estar empenhados no território, para que estes façam parte do próximo hemiciclo”. O presidente do TUI adiantou ainda que “não recebeu qualquer informação sobre corrupção eleitoral, pelo que acredita que mesmo que existam casos, os mesmos deverão estar em fase de investigação e análise”. Palavra de presidente Ho Iat Seng, presidente da Assembleia Legislativa, votou ontem no Instituto Politécnico de Macau e disse esperar que “surjam novas caras na VI AL”, pois tal “dinamizará os trabalhos do hemiciclo”. Ho Iat Seng votou esta manhã “A AL dá sempre atenção às questões ligadas ao quotidiano da vida da população. Quando os assuntos ligados à habitação, transporte, assistência médica, educação e economia são bem resolvidos, a sociedade sente-se estável e os residentes são mais felizes”, acrescentou Ho Iat Seng. O presidente do hemiciclo espera ainda que os novos deputados hoje eleitos possam “trabalhar de forma racional e não violar o Regimento da Assembleia Legislativa”.
Sofia Margarida Mota Entrevista MancheteVong Hin Fai, advogado e candidato às eleições: “Não há aqui a luta por qualquer independência” É advogado e foi, na última legislatura, presidente da Comissão de Regimento e Mandatos. Vong Hin Fai está na corrida eleitoral pela via indirecta como representante do sector profissional que, considera, tem falta de especialistas em várias áreas. O candidato vê ainda o território como um local harmonioso e sem qualquer risco de seguir os movimentos independentistas da vizinha Hong Kong É candidato pela via indirecta pelo sector profissional. Quais são as maiores necessidades neste âmbito no território? Sou um profissional da área jurídica, sou advogado e também exerço funções como notário privado. Macau, depois da abertura à indústria do jogo, passou por um desenvolvimento muito rápido e, como tal, cada vez mais carece de profissionais em várias áreas, não só no direito. Há a necessidade de pessoal especializado nos serviços de auditoria e de contabilidade. Há ainda necessidade de engenheiros e de arquitectos. Há, de modo geral, falta de profissionais em Macau. Macau também precisa de mais notários. Já foi feita também a alteração legislativa relativamente aos notários privados e já abriu o primeiro curso de formação. Penso que, daqui a uns tempos, vamos registar um aumento de notários privados no território. Como é que o problema da falta de profissionais poderia ser resolvido? Cada vez mais a Universidade de Macau (UM) e outras instituições de ensino superior estão a crescer e a desenvolver cursos para formar mais pessoas em várias áreas. Sou uma pessoa da área do Direito e, neste sector, além da UM, há outras instituições a fazer o mesmo. Há também, nesta área, a colaboração com universidades em Portugal, que estão a dar muito apoio à formação. Anualmente, há entre 20 e 30 jovens de Macau que vão a Portugal para estudar Direito. Foto: Sofia Margarida Mota Os advogados portugueses continuam a ser uma mais-valia? Têm o seu lugar na vida profissional em Macau. Neste momento, e neste mercado, um terço dos advogados são locais e dois terços ainda são colegas portugueses. Está à frente de uma nova associação ligada ao direito, a Associação dos Agentes Jurídicos de Macau. Não existe mesmo a possibilidade de esta entidade vir a concorrer com a Associação dos Advogados? A Associação de Advogados de Macau é uma associação profissional e a lei já lhe conferiu os seus objectivos, atribuições e competências. Penso que outras associações ligadas ao direito e que integram colegas da área – não só advogados, mas também juristas da Administração Pública ou ainda académicos e agentes jurídicos das empresas privadas –, existem para que haja uma plataforma em que os seus elementos possam fazer intercâmbio académico e dos seus conhecimentos. A Associação dos Advogados tem uma função muito importante, que está relacionada com a sua autonomia para testar a qualidade dos profissionais locais e assegurar os estatutos disciplinares. Não há hipótese de existir uma associação com estas funções que a possa substituir. Passando para a política. A população tem conhecimento suficiente acerca dos deputados eleitos por via indirecta? Temos de respeitar esta forma de constituição da Assembleia Legislativa prevista na Lei Básica. Expressamente, e de acordo com a Lei Básica, há três tipos de deputados. Como residente, visto que nasci e cresci aqui, Macau é uma sociedade em que os seus habitantes já têm uma vida harmoniosa há muito tempo, especialmente depois do episódio “1,2,3” em 1966. A vida social do território é associativa. Existem aqui muitas associações. Porquê? Antes da transferência de Administração, o Governo português fazia o seu contacto com a população chinesa principalmente através das associações. Esta cultura associativa, depois da transferência de administração, manteve-se. Neste sentido, e no sufrágio por via indirecta, as associações têm o seu papel. Como é que vê o actual sistema político local e a sua possível evolução? O desenvolvimento do sistema político no território já foi previsto e já foram alterados os anexos 1 e 2 da Lei Básica, de modo a que o número de deputados eleitos por sufrágios directo e indirecto aumentasse. Depois da transferência, e até agora, o número dos deputados nomeados mantém-se e, em termos comparativos, os deputados eleitos são cada vez mais. Há analistas que falam de um possível contágio dos movimentos que se têm registado em Hong Kong. Quanto a este ponto, os residentes de Macau são, na sua maioria absoluta, patriotas e têm o seu amor à nossa pátria e ao território. Assim sendo, não há aqui essa chamada luta por qualquer independência. Não há mercado para se desenvolver qualquer indício deste tipo de acção ou acto. Não há lugar para isso. Também nos termos da lei, no que respeita à segurança nacional e de acordo com Artigo 23.o da Lei Básica, este tipo de acções são proibidas em Macau. Penso que, acima de tudo, os residentes de Macau são, na sua natureza, patriotas. Também penso que este tipo de acções não deve existir no território. E como vê o bloqueio à entrada em Macau de deputados associados a movimentos pró-democratas da região vizinha e a jornalistas de Hong Kong? Não faço comentários. Neste momento em concreto, em que estamos em fase de eleições, não quero comentar essa situação para que não haja qualquer influência na votação do dia 17. Também foi o presidente da Comissão de Regimento e Mandatos da AL, que esteve à frente da proposta de proibição de cartazes e de limites às interpelações nas sessões plenárias. Penso que, durante o último mandato, exerci as minhas funções como deputado e, através de outros trabalhos, cumpri com as minhas funções, mesmo que tenha sido limitado o número das minhas intervenções. Também cumpri nos trabalhos das comissões permanentes e da apreciação das propostas de lei, e no âmbito das comissões de acompanhamento. E considera que as interpelações devem ser mais limitadas? Tenho vários colegas que fazem muitas interpelações, o que tem a sua razão de ser. Da minha parte, as interpelações são limitadas. É preciso ser objectivo. Mas as interpelações, tanto orais como escritas, têm a sua razão de ser, e têm a sua influência para promover e impulsionar os serviços da Administração Pública. Da minha parte, fiz os meus trabalhos em outros aspectos. A proposta relativa aos cartazes acabou por ser retirada e, a meu ver, os cartazes ou objectos que os colegas usam durante o plenário têm, cada vez mais, uma dimensão maior e é essa a minha preocupação. Há três ou quatro anos, estes materiais não eram tão grandes, mas parece-me que recentemente, têm sido cada vez maiores. De qualquer maneira, respeito muito as opiniões dos meus colegas durante o período de antes da ordem do dia, em que há muitas oposições e críticas. O tufão Hato passou há pouco tempo pelo território. A destruição que causou veio mostrar muitas das falhas de Macau e a falta de preparação para um fenómeno deste género. O Governo não devia ter assumido uma responsabilização mais concreta? Foto: Sofia Margarida Mota Já está a decorrer o processo que envolve o director dos Serviços de Meteorologia. Foi um tufão muito forte e há mais de meio século que não havia registo de uma situação assim. As inundações das zonas do Porto Interior foram muito perigosas. Não sou arquitecto ou técnico dessa área, mas acho que as obras para a prevenção deste tipo de situações deveriam ser concretizadas a tempo. Porque é que isso não aconteceu? De acordo com o que sei, há algumas associações de protecção ambiental e do património que se manifestaram contra a escolha de um local naquela zona para a construção das bombas. O local escolhido também não mereceu uma opinião favorável por parte do Instituto Cultural, e julgo que temos de fazer um balanço. As obras para prevenir estas inundações, a meu ver, são prioritárias porque respeitam o interesse da segurança pública. Por outro lado, a posição do ambiente e do património cultural é importante mas, se fizermos uma comparação, temos de dar prioridade às instalações que previnem as inundações. Deste modo, e na sequência desta catástrofe, a Administração e o Governo estão a resolver com muito esforço a situação, de modo a concretizar e desencadear as obras necessárias em breve. Não acha que o Chefe do Executivo deveria ter colocado o lugar à disposição perante a ineficácia registada? Não. Trata-se de uma catástrofe de que Macau nunca tinha sofrido. Mas estamos numa zona de tufões. Também os Estados Unidos estão a passar por uma catástrofe. São situações muito graves. Quem é que poderá ser o próximo Chefe do Executivo? Uma pessoa competente.
Hoje Macau PolíticaEleições | Mais de 300 mil eleitores escolheram 14 dos 33 deputados do hemiciclo [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais de 300 mil eleitores de Macau escolheram 14 dos 33 deputados à Assembleia Legislativa (AL), numas eleições marcadas por um recorde de candidaturas para o sufrágio direto. As eleições por sufrágio direto para a sexta AL vão ser disputadas por 24 listas compostas por 186 candidatos, incluindo sete luso-descendentes, dos quais apenas um é “cabeça de lista”. Ao todo, 201 candidatos disputam 26 dos 33 lugares (14 pelo sufrágio direto e 12 pelo indireto), sendo os restantes sete deputados nomeados pelo chefe do Executivo da Região Administrativa Especial, após a publicação dos resultados oficiais. Para o sufrágio indireto (através das associações) apresentam-se seis listas com 15 candidatos. Na via direta, as atuais eleições ficam marcadas pelo número recorde de listas candidatas, num total de 24, e pela divisão dos pró-democratas em três listas, das quais apenas uma está afiliada à Novo Macau, a maior associação pró-democracia do território. O jovem Sulu Sou lidera essa lista e, se for eleito, será o mais jovem deputado, aos 26 anos. Já os veteranos Ng Kuok Cheong e Au Kam San encabeçam duas candidaturas distintas, fora da Associação Novo Macau que fundaram. A estratégia reflete, em parte, a divisão entre as alas tradicional e liberal do movimento pró-democracia e também o objetivo de aumentar a probabilidade de conquistar um maior número de assentos. Esta é, aliás, uma opção seguida por outras forças pró-Pequim, como são os casos de Wong Kit Cheng e Ho Ion Sang, deputados que este ano lideram duas candidaturas separadas. Isto porque a contagem dos votos nas eleições para a Assembleia Legislativa em Macau segue o método de Hondt alterado, que na prática dificulta a eleição de mais de dois deputados por candidatura. Em ambos os sufrágios, a conversão dos votos em mandatos faz-se de acordo com o número de votos obtido por cada candidatura, dividido sucessivamente por 1, 2, 4, 8 e demais potências de 2, até ao número de mandatos a distribuir, sendo os quocientes alinhados por ordem decrescente da sua grandeza numa série de tantos termos quantos os mandatos. Já a eleição pela via indireta tem a particularidade de, ao contrário do habitual, não estar totalmente definida antes do dia da votação, atendendo ao facto de um dos cinco colégios eleitorais – o do setor profissional – ser disputado por duas listas. Na prática, três dos 15 candidatos a 12 lugares de deputados vão ficar de fora do hemiciclo. Os cinco colégios eleitorais elegem 12 lugares pela via indireta: quatro pelo colégio eleitoral dos setores industrial, comercial e financeiro, três pelo do setor profissional, dois pelo do setor do trabalho, outros dois no colégio eleitoral dos sectores cultural e desportivo, e um no colégio eleitoral dos sectores dos serviços sociais e educacional. Um total de 22 deputados da última legislatura figura como candidato: 13 concorrem pelo sufrágio universal e nove pela via indireta. As eleições de hoje ficam ainda marcadas pelas saídas de algumas figuras de peso como Leonel Alves e Kwan Tsui Hang, após longas carreiras na Assembleia. O português habitualmente eleito pelo sufrágio indireto decidiu não se recandidatar após 33 anos no hemiciclo, enquanto a histórica representante da Associação Geral dos Operários, que começou por ser eleita pelas associações, e mais tarde passou a conquistar o lugar através do voto da população, diz adeus à Assembleia depois de duas décadas de serviço. Os restantes três deputados que não se recandidatam são Lam Heong Sang e Cheang Chi Keong, ambos eleitos por sufrágio indireto, e Chan Meng Kam, campeão de votos nas eleições de 2013, nas quais angariou mais de 26 mil votos, conquistando o feito inédito de garantir três assentos com uma única lista.
Hoje Macau PolíticaMak Soi Kun | CCAC admite investigar acção de campanha [dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]am Chi Long, adjunto do Comissariado contra a Corrupção, admitiu ontem abrir uma investigação sobre uma acção de campanha organizada pela lista de União de Macau-Guangdong, liderada por Mak Soi Kun e Zheng Anting, noticiou a Rádio Macau. À saída do programa Fórum Macau do canal chinês da emissora, um jornalista confrontou Lam Chi Long com fotografias que, alegadamente, mostram o grupo de Mak Soi Kun a ensinar eleitores a votar na lista, numa acção de campanha em que terá havido ofertas. “Vamos recolher os dados e [analisar] se existe de facto uma violação à lei. Com base apenas numa fotografia, não posso tirar qualquer conclusão”, reagiu Lam, citado pela rádio. Desde Março até agora, o CCAC diz já ter feito mais de duas mil operações de fiscalização, sendo que 1900 incluíram deslocações a restaurantes. Lam Chi Long diz que “não foi detectada qualquer ilegalidade”. Ainda assim, afirma existirem “algumas pequenas excepções que são suspeitas de violação da lei”. O organismo promete “proceder nos termos da lei”, mas não especifica quantos casos suspeitos existem, afirmando que “não pode avançar números concretos”. Ainda segundo a Rádio Macau, o CCAC acrescenta que foram detectados casos de associações que levam os sócios em viagens, dentro e fora de Macau, mas Lam Chi Long também afirmou que, “por enquanto”, mas a investigação ainda está a decorrer, pelo que não pode avançar se são casos suspeitos.
Hoje Macau PolíticaNovo Macau | Queixa na CAEAL por alegada infidelidade ao regime A notícia foi conhecida ontem: há uma queixa contra um candidato do universo da Novo Macau por alegada infidelidade ao regime. A lista diz ainda não ter sido informada. Está à espera da CAEAL [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) recebeu uma queixa contra um candidato por alegada infidelidade ao regime, avançou ontem a Rádio Macau. A confirmar-se a acusação, o candidato, que será da lista ligada à Associação Novo Macau, poderá ser impedido de concorrer às eleições para a Assembleia Legislativa, um cenário que ainda não se coloca uma vez que o caso ainda está a ser analisado, explica a emissora. “Os dados da queixa foram recolhidos através das redes sociais. Para acompanhar este caso, precisamos de recolher mais factos concretos”, declarou o presidente da CAEAL, Tong Hio Fong, que esteve esta manhã no programa Fórum Macau, do canal chinês da Rádio Macau. Numa nota ao final da tarde, referia-se que, além da obtenção de provas, a CAEAL necessita de avaliar “a possibilidade da legislação permitir a eficácia retroactiva pelos actos cometidos, no passado”, bem como “a intenção legislativa”. Ao HM, Andrew Cheung, membro da lista, afirmou que ainda não houve qualquer contacto por parte da Comissão de Assuntos Eleitorais. “Não temos ainda informações sobre essa queixa e penso que a CAEAL tem de publicar mais dados sobre o caso”, disse. “Não fomos contactados.” Esta semana, o candidato número 4 da lista da Nova Macau, do campo pró-democracia, disse que estava a ser alvo de uma campanha difamatória nas redes sociais Facebook e Wechat. Wong Kin Long, 20 anos, afirmou que foi publicamente acusado de apoiar a independência de Hong Kong. A nova lei eleitoral obriga os candidatos a assinarem uma declaração de fidelidade a Macau enquanto Região Administrativa Especial da China. Foi a resposta dada pela secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, à interpretação feita pelo Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional sobre a questão do juramento dos deputados de Hong Kong pró-independência. Os candidatos de Macau podem ser impedidos de participar nas eleições e, mesmo após eleitos, arriscam perder o mandato caso se prove que são infiéis ao regime. Depois das eleições do próximo domingo, a CAEAL terá de apresentar um relatório ao Governo sobre o acto eleitoral e os pontos a serem revistos. Tong Hio Fong admite já novas alterações à lei eleitoral, explica a Rádio Macau. O alvo são as redes sociais: “Posso avançar que, se calhar, temos de reforçar o combate à angariação de votos através das redes sociais, nomeadamente o Facebook, prevendo algumas sanções para este tipo de situações”. A empresa Facebook arrisca pagar uma multa entre cinco mil a 50 mil patacas por divulgar conteúdos pagos pelas listas, classificados pela CAEAL como propaganda eleitoral ilegal. Tong Hio Fong esclareceu, no entanto, que apenas haverá sanções para a empresa, uma vez que, em termos jurídicos, ainda não estão definidas consequências para o comportamento do candidato.
Andreia Sofia Silva PolíticaEleições | Lista de Sulu Sou queixa-se de três listas concorrentes ao Ministério Público A lista Associação do Novo Progresso de Macau entregou três queixas junto do Ministério Público. Sulu Sou e Paul Chan Wai Chi dizem-se vítimas de difamação e boicote por parte das listas Ajuda Mútua Grassroots, Ou Mun Kong I e pela candidatura de Lee Kin Yun [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] campanha eleitoral da lista Associação do Novo Progresso de Macau tem decorrido de forma turbulenta nos últimos dias. A candidatura liderada por Sulu Sou e Paul Chan Wai diz-se vítima de difamação por parte de três listas concorrentes. Segundo explicou Andrew Cheung, membro da lista, ao HM, as queixas apresentadas junto do Ministério Público (MP) dizem respeito a alegadas acções promovidas pela lista número 22, intitulada Ajuda Mútua Grassroots e liderada por Wong Wai Man. A lista número 23, Associação Activismo para a Democracia, liderada pelo activista Lee Kin Yun, é também uma das visadas, bem como a lista número 17, Justiça de Macau (Ou Mun Kong I), de Lei Sio Kuan. Em causa estão acções de boicote nas actividades de campanha promovidas pela lista dos candidatos pró-democrata. De acordo com Andrew Cheung, as três listas visadas terão enviado grupos de pessoas para as actividades de campanha de Sulu Sou e Paul Chan Wai Chi, tendo empenhado cartazes com comentários negativos e proferido palavras de ataque. “Segundo a lei, este tipo de comportamento violento pode levar a três anos de prisão. Além dos próprios candidatos, existem mais pessoas que interferiram nas nossas campanhas, e questionamo-nos porque é que a polícia não agiu”, afirmou Andrew Cheung. Um dos últimos casos originou inclusivamente a abertura de um processo de investigação da parte da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL). Em plena acção de campanha, esta semana, os líderes da lista Associação do Novo Progresso de Macau foram confrontados com um grupo de pessoas que começou a gritar frases como “Wong Kin Long, não envenene os jovens!”, “Perante a desgraça, a pátria apoia-nos” e “A independência de Hong Kong é desumana”. Estas pessoas afirmaram ter lido notícias que garantiam que o candidato seria a favor do movimento independentista de Hong Kong, que tem os activistas Joshua Wong e Nathan Law como protagonistas. Após esse episódio, os candidatos esclareceram que essas acusações são falsas e que não apoiam o movimento em causa. No entanto, a CAEAL prometeu averiguar o caso. Contratos a prazo Ontem, os candidatos Sulu Sou e Paul Chan Wai Chi realizaram uma conferência de imprensa no bairro do Iao Hon, onde prometeram lutar pela revisão do quadro geral do pessoal docente das escolas particulares do ensino não superior. Em causa está a perda de garantias dos docentes com mais anos de experiência e que são, alegadamente, empurrados para a reforma sem o desejarem. “Sabemos do caso de uma escola que recentemente despediu dez professores, sendo nove deles experientes. O Governo não garantiu uma supervisão adequada à acção destas escolas”, adiantou Andrew Cheung. Segundo disse Sulu Sou ao HM, a lista tem vindo a receber muitas queixas de professores e docentes nos últimos dias de campanha. “A nossa plataforma política dá atenção ao sector da educação. Temos vindo a receber muitas opiniões e queixas nas últimas duas semanas. São opiniões de professores e pais. Querem que apelemos junto do Governo sobre a lei das escolas privadas”, frisou o líder da lista. Sulu Sou disse ainda que são sempre assinados contratos a prazo a cada dois anos, sem que isso dê uma estabilidade à carreira docente. “Algumas escolas privadas, aquando da revisão dos contratos todos os anos, não respeitam a lei laboral. Mesmo que o professor trabalhe na escola durante o período de dois anos continuam a ser assinados contratos a prazo. Isto não está de acordo com a lei e isso causa pressão psicológica aos professores”, disse. O candidato a um lugar no hemiciclo afirma existirem ainda, nas escolas privadas, casos de professores despedidos sem justa causa. “Queremos rever a lei caso sejamos eleitos, para que os professores tenham mais garantias”, concluiu Sulu Sou.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteCloee Chao, croupier e candidata às eleições: “Os meus votos não são os de Angela Leong” Passou de activista a candidata e diz que a sua lista, a Linha da Frente dos Trabalhadores dos Casinos, é a única exclusivamente composta por funcionários de jogo das camadas mais baixas. Cloee Chao lidera a lista número 25 e promete lutar pela melhoria das regalias dos trabalhadores do jogo, caso seja eleita para a Assembleia Legislativa É presidente da Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores do Jogo, que realizou várias actividades de manifestação como a entrega de cartas. Tem dados estatísticos sobre o número de queixas que recebeu este ano? Não, mas recebemos, em média, uma ou duas solicitações por mês. Uma vez recebemos oito queixas sobre um caso de aumentos salariais e, através da nossa associação, falámos com a empresa para melhorar a situação. Só quando o assunto não é resolvido é que decidimos manifestar-nos e tornar o assunto público. Recebemos um caso ligado à Sands China, em que um grupo de engenheiros continuava com o estatuto de estagiários ao fim de três anos de trabalho. Os engenheiros que estavam a ser recrutados recebiam 15 mil patacas de ordenado, mas esse grupo de trabalhadores continuava a receber 11 mil patacas, sem qualquer aumento. Que assunto gera queixas mais frequentes? Recebemos muitas queixas sobre a questão da proibição de fumo. A lei diz que não é permitido fumar em algumas salas de jogo, mas a empresa permite que os clientes fumem. Até há fiscais que fumam e usam os copos de água como se fossem cinzeiros. Se os croupiers se queixarem, os fiscais ficam do lado dos clientes e criticam os trabalhadores. Por isso, temos vindo a contactar com o Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo e os Serviços de Saúde para que resolvam estes casos. A situação melhora durante uns tempos, mas depois volta a repetir-se. O seu programa político foca-se na defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores de jogo. Mas o que defende em relação a outras áreas, como a habitação e o trânsito, por exemplo? Este ano, a concorrência nas eleições é enorme e muitas das listas já abordaram de forma detalhada esses assuntos. É por isso que decidimos enfatizar os problemas que existem na nossa indústria. Das 24 listas candidatas, a nossa é a que dá mais destaque às solicitações dos trabalhadores do jogo, mas isso não quer dizer que ignoremos os outros assuntos. Ao nível da habitação, é difícil para um trabalhador do jogo candidatar-se à obtenção de uma casa económica, porque há muitos jovens a candidatar-se. Com o regime em vigor, os interessados demoram 20 anos a conseguir entrar na lista. Quanto à habitação social, só mesmo os desempregados é que conseguem uma fracção, porque uma família com membros que tenham emprego não consegue ter esse direito. No sector privado, é preciso, no mínimo, um milhão de patacas para adquirir uma casa muito básica. Um casal, em que ambos sejam croupiers, leva para casa todos os meses cerca de 40 mil patacas. Isso não dá para pagar as prestações, porque também existem outras despesas. Concordamos com o candidato Ng Kuok Cheong quanto à ideia de “terra de Macau destinada às gentes de Macau”, porque é preciso ajudar os jovens a comprar uma casa e combater os actos de especulação. Foto: Sofia Margarida Mota Tem medo de perder votos, uma vez que o seu programa político não dá destaque aos assuntos sociais? Pensámos rigorosamente sobre isso e decidimos cortar essas áreas do nosso programa. Penso que as pessoas não têm compreendido muito bem a nossa lista, porque acham que a nossa candidatura vai roubar votos às outras listas. O nosso objectivo é aumentar as fontes dos votos. A sociedade julga que os trabalhadores do jogo não dão muita atenção à política, mas vão começar a prestar mais atenção quando começarem a pensar nas condições de vida nos próximos anos. Os empregados dos casinos querem melhores condições de trabalho, por isso vão estar mais atentos à política, mesmo que não tenham direito a votar. Com base nessa ideia, decidimos eliminar as propostas sobre habitação, trânsito e assuntos sociais. Acredita que vai conseguir roubar votos a Angela Leong (candidata pela União do Desenvolvimento de Macau)? A minha fonte de votos é diferente da de Angela Leong. Há também outras listas que estão ligadas ao sector do jogo, mas os seus líderes ocupam cargos de chefia. Somos a única lista composta apenas por trabalhadores das camadas base. Isto é óbvio e não causa qualquer confusão. Num debate televisivo foi confrontada por Kou Meng Pok, candidato que luta pelos direitos dos investidores do Pearl Horizon. O candidato fez-lhe uma pergunta sobre a protecção do direito à propriedade privada, prevista na Lei Básica, mas depois foi interrompida. O que pensa de facto sobre esse assunto? Concordo com esse ponto da Lei Básica e também com a implementação da Lei Sindical. Esperamos que seja implementada porque nos últimos anos não tem passado de papéis em branco. Nesse momento queria responder a Kou Meng Pok que concordava com ele, que quero garantir a protecção da Lei Básica e a implementação da Lei Sindical. Defendemos o direito à propriedade privada, mas essa é uma solicitação deles. Caso seja eleita, qual vai ser a sua prioridade como deputada à Assembleia Legislativa (AL)? Vou focar-me no aumento das regalias dos trabalhadores dos jogos, para que sejam iguais às dos funcionários públicos. Apesar de as operadoras de jogo serem empresas privadas, são concessionárias e, nos últimos anos, os juízes têm aplicado as infracções aos funcionários de jogo como se trabalhassem para o Executivo, com os mesmos critérios. Os trabalhadores, caso sejam culpados, merecem ser punidos, mas então não teriam também direito a regalias iguais? Aquando da liberalização do sector do jogo, foi feita a promessa de que os trabalhadores seriam bem tratados, mas vimos agora que as receitas estão estáveis. É altura de as operadoras cumprirem com aquilo que prometeram. O prazo para a renovação das licenças está a terminar, mas as operadoras ainda não cumpriram o prometido. Caso não seja eleita, que planos tem para o futuro? Tenho trabalhado na associação e esse trabalho não vai parar. Sou também vice-presidente do conselho fiscal da Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário de Macau, pelo facto de o jogo ser uma parte essencial do desenvolvimento comunitário. Vou lutar pela melhoria das condições providenciadas pela indústria, que envolve milhares de famílias. Espero que haja uma mudança. Manterá então o trabalho que tem vindo a fazer. Sim. Vamos continuar a exigir às operadoras de jogo mais acções antes da renovação das licenças. Será sempre melhor ser eleita, claro, mas caso não o seja, ao menos mostramos à sociedade o que pensamos, o nosso programa político, se bem que já atingimos esse objectivo. Se obtiver, por exemplo, seis mil votos e não for eleita, ao menos sei que há seis mil pessoas que me apoiam. Quando chegar a altura da renovação das licenças, acredito que o Governo não vai ignorar essas solicitações. A sua lista tem menos recursos do que as outras? Muitos questionaram-nos sobre a origem dos nossos fundos e recursos. A nossa lista tem oito candidatos e recorremos às nossas poupanças para comprarmos as coisas e fazermos as actividades. Não gastámos muito dinheiro porque os panfletos foram feitos por nós, bem como os vídeos. A nossa música de campanha foi feita pela minha filha. O facto de terem poucos recursos vai afectar os resultados das eleições? Se compararmos com as associações tradicionais, temos menos vantagens. Nos últimos dias temos feito muitas acções de campanha durante a noite, mas não é a falta de recursos que nos impede de fazer mais. A única coisa que podemos fazer é distribuir panfletos, divulgar o nosso programa político e dizermos quem somos. Temos aproveitado muito as redes sociais para mostrar o nosso programa político. Em 2014 esteve muito activa nos protestos em defesa dos croupiers. Depois afastou-se. Este ano voltou como candidata. Deixou de sofrer pressões de algum tipo? Não foi bem assim. Em 2013 já estava activa nas manifestações, um ano depois tornei-me secretária-geral da Forefront of Macau Gaming e nessa altura realizávamos protestos duas a três vezes por mês. Depois disso muitos colegas meus deixaram de ir para as ruas e fiquei sozinha a contribuir para essas iniciativas. Talvez devido aos nossos recursos limitados não tenham recebido as informações e, por isso, pense que estive mais afastada. Os trabalhadores do jogo sabem que estive sozinha a trabalhar nesta área. Muitos dos meus colegas começaram a ser pressionados pela empresa onde trabalhavam e também nas redes sociais, e depois deixaram de aparecer. Várias notícias sobre as nossas acções não foram publicadas de propósito, e daí surgir essa ideia de desaparecimento. Durante os protestos de 2014 sofreu pressões da empresa? No início houve algumas pressões, mas depois no meu local de trabalho começaram a ficar habituados porque, como os problemas não se resolviam, os trabalhadores continuaram a aparecer e a fazer queixas. Várias empresas começaram a aceitar as nossas reivindicações. Neste momento, em alguns casos, já nem precisamos de enviar cartas, os problemas começam logo a ser solucionados. Está satisfeita com o que tem feito ao longo destes anos? Acha que conseguiu resultados? Há muitos aspectos que foram melhorados. Valeu a pena, mas também passei pouco tempo com a minha família. Os resultados que obtive levaram-me a participar nestas eleições.
Hoje Macau Manchete PolíticaEleições | Assembleias de voto abriram às 9h00 [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s assembleias de voto de Macau abriram hoje às 09:00 com 307.020 eleitores a serem chamados a eleger diretamente 14 dos 33 deputados. Segundo a Rádio Macau, já votaram várias figuras do Executivo, incluídos no universo de mais de 13 por cento dos eleitores que já foram às urnas durante a manhã. Ao longo das próximas 12 horas, os eleitores vão poder deslocar-se às 35 assembleias de voto designadas para o sufrágio direto na península de Macau e nas ilhas da Taipa e de Coloane. As eleições legislativas de Macau têm a particularidade de não formarem Governo. Um colégio eleitoral composto por 400 eleitores elege, a cada cinco anos, o chefe do Executivo, que escolhe os cinco secretários que integram o respetivo Governo. A AL é composta por 33 deputados: 14 eleitos por sufrágio universal, 12 por sufrágio indireto (através das associações) e sete nomeados pelo chefe do Executivo. No sufrágio indireto estão recenseadas 858 associações para eleger 12 deputados. Estes eleitores coletivas eleitoras vão depositar o voto num único local também usado para o sufrágio direto: o Pavilhão Polidesportivo do Instituto Politécnico de Macau, onde estão instaladas cinco assembleias de voto. O poder legislativo conferido aos deputados à Assembleia Legislativa (AL) cinge-se à apresentação de projetos que não interfiram em qualquer política governativa, sendo o principal papel dos parlamentares a fiscalização do trabalho do Executivo. Apenas residentes permanentes de Macau (nascidos ou a residir há mais de sete anos no território) podem exercer o direito de voto. Um quarto dos 307.020 eleitores (78.165 ou 25,4%) tem menos de 35 anos e mais de metade é do sexo feminino (52%). Os eleitores naturais do interior da China (167.076) superam os de Macau (118.731) e representam 54,4% do total contra 38,6%. Há ainda 7.943 eleitores de Hong Kong (2,59%) e 13.270 de outras naturalidades (4,32%), segundo os dados oficiais. Relativamente aos eleitores registados no escrutínio de 2013 para a AL (277.153) houve um aumento de 10,78%.
Hoje Macau SociedadeTurismo | Airbnb vai continuar a ser ilegal em Macau A população está contra este tipo de serviço. O Governo também não concorda. Airbnb é moda do estrangeiro. Em Macau, alojamentos em casas costumam resultar em crimes diversos [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] directora dos Serviços de Turismo de Macau disse ontem que a população é contra a plataforma online Airbnb e que este tipo de serviço de arrendamento de casas ou quartos vai continuar a ser ilegal. Helena de Senna Fernandes, que falava numa conferência de imprensa após a abertura da feira de turismo da Associação de Turismo da Ásia-Pacífico (PATA, na sigla inglesa), disse existir em Macau, há vários anos, um problema com as pensões ilegais. “Nesta altura [o Airbnb] é ilegal. Temos um problema com o alojamento ilegal”, sublinhou, explicando que o problema é anterior ao início de actividade da plataforma online. Senna Fernandes observou que os serviços de arrendamento de casas ou quartos por curtos períodos de tempo são por vezes usados para actividades ilícitas e criminosas. “Muitas destas transacções comerciais têm acontecido em áreas próximas dos casinos e muitas das pessoas que usam este tipo de alojamento também estavam envolvidas em actividades ilegais ou até criminosas, e é por isso que a população de Macau é bastante contra este conceito”, disse. “Tudo isto causou muitos problemas em muitos edifícios de apartamentos. Fizemos dois inquéritos em 2014 e no ano passado, e os resultados de ambos não são a favor de usar casas privadas para alojamento em Macau por causa das dificuldades causadas aos residentes”, acrescentou. Senna Fernandes argumentou que, “com actividades ilegais a acontecer, ainda não é a altura adequada” para legalizar. “Por isso, temos de chegar a um consenso antes de podermos impulsionar estes novos conceitos. (…) Como não é da aceitação geral da população, vamos continuar a monitorizar”, acrescentou. A directora dos Serviços de Turismo acrescentou que actualmente Macau tem mais de 600 quartos disponíveis no alojamento económico e que “há soluções legais”. “Eles podem ir à Direcção de Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes e pedir uma alteração (…) e obter uma licença para operarem como ‘guest house’”, referiu. PATA apoia novos conceitos Helena de Senna Fernandes falava depois de o director executivo da PATA, Mario Hardy, ter dito que a organização apoia os novos conceitos de negócio na hotelaria. “Nós somos a favor da economia partilhada. O Airbnb é nosso membro há duas semanas (…) Claro, é competição, mas colocando o meu chapéu de homem de negócios, diria que é preciso ser criativo se queres competir com eles”, afirmou. “Acho que há espaço para ambos [os negócios] na maior parte dos destinos”, acrescentou. Mario Hardy defendeu que estes novos conceitos devem ser regulados. “Deve o Governo regulá-los? Absolutamente. Será que devem pagar impostos? Absolutamente. Tem de haver uma competição justa. Mas em termos da operação propriamente dita dos serviços é preciso que a hotelaria seja criativa e crie novos conceitos”, concluiu. Macau tem actualmente 103 hotéis em funcionamento. Segundo dados divulgados ontem por Senna Fernandes, os Serviços de Turismo têm em curso cerca de 20 pedidos de licenciamento, a maioria (17) de hotéis económicos. Há três pedidos de licenciamento para hotéis de cinco estrelas, um para a categoria de quatro estrelas, e dois para três estrelas. A feira de turismo da PATA, que decorre pela terceira vez em Macau, depois das edições de 2005 e 2015, termina hoje. Macau é membro da PATA desde 1958. A associação dedicada à promoção da indústria de turismo e viagens na Ásia Pacífico foi fundada em 1951 e tem, entre os seus membros, 95 entidades governamentais de turismo, 29 companhias aéreas internacionais, aeroportos e operadores de cruzeiros, 63 instituições de ensino de turismo e centenas de companhias de turismo da Ásia Pacífico.
Hoje Macau Manchete SociedadeHotel Estoril | Concurso de arquitectura lançado até ao fim do mês O processo vai finalmente andar. O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura anunciou ontem que o concurso público de arquitectura para reconverter o antigo Hotel Estoril num centro de actividades para jovens deverá ser lançado até final do mês [dropcap style≠’circle’]“O[/dropcap] Hotel Estoril vai avançar, já temos projecto e vai avançar um concurso público para um centro de actividades para jovens, mais conservatório de música, dança e teatro e talvez uma piscina. Já há um projecto, acho que muito em breve, se calhar para a semana, talvez no fim do mês vai ser lançado o concurso público”, disse ontem Alexis Tam. O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura falava aos jornalistas à margem da abertura da 40.ª PATA Travel Mart, a feira de turismo da Associação de Turismo da Ásia-Pacífico (PATA, na sigla inglesa), que decorre pela terceira vez no território, depois das edições de 2005 e 2015. O hotel, construído na década de 1960 e onde Stanley Ho iniciou a sua concessão de jogo em Macau, fechou portas nos anos 1990 e está desocupado desde então. Questionado sobre a demora no lançamento do concurso público de arquitectura, o secretário disse que “o projecto é bastante grande” e que “inclui três serviços: a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, o Instituto de Deporto e o Instituto Cultural”. “E, claro, para preparar um concurso público, tem de se preparar um caderno [de encargos] e o programa de concurso não [pode ser] apenas na língua chinesa, também na língua portuguesa”, afirmou. “Leva tempo, mas agora já está pronto”, acrescentou. Alexis Tam disse que além do concurso público para o projecto de arquitectura será lançado outro para a construção, mas escusou-se a avançar datas sobre essa fase, ressalvando que não é da sua tutela. A polémica fachada O Governo avançou em 2015 com a ideia de reconverter o edifício do Hotel Estoril num centro de artes e escolas artísticas direccionado para os jovens. Alexis Tam manifestou-se, desde o início, a favor da demolição do edifício, considerando que não tinha valor. Em Setembro desse ano, a associação de urbanistas Root Planning lançou uma petição para pedir a avaliação do valor patrimonial do antigo Hotel Estoril e piscina adjacente mas, em Março passado, o Conselho do Património Cultural de Macau decidiu que o edifício não será classificado. O processo de reconstrução do Hotel Estoril esteve, desde o início, envolto em polémica. Além de alguma oposição da sociedade civil aos planos do Governo, foram também controversas as escolhas do arquitecto. O arquitecto português Siza Vieira chegou a ser convidado, mas quando defendeu a demolição e a não manutenção da fachada gerou-se um debate sobre a requalificação do edifício e o eventual valor patrimonial e histórico, tendo o Governo lançado uma consulta pública e encomendado um inquérito. Meses mais tarde, o Executivo decidiu que a solução mais viável seria o lançamento de um concurso público, para que arquitectos locais, que se manifestaram insatisfeitos com o ajuste directo a Siza Vieira, pudessem também participar. O arquitecto disse posteriormente não ter interesse em participar no concurso público. A 26 de Julho de 2016, os membros do Conselho do Planeamento Urbanístico decidiram que a fachada do Hotel Estoril pode ser demolida para dar lugar a um novo projecto para a reutilização do espaço. Nas declarações de ontem, Alexis Tam não se pronunciou directamente sobre a preservação ou demolição do painel da fachada. “Vocês vão poder ver, daqui a uma ou duas semanas, porque vai ser publicado o concurso público”, disse.
João Luz EventosHong Kong | The Prodigy juntam-se ao cartaz deste ano do Clockenflap Esta semana conheceram-se mais alguns nomes de peso para o Festival Clockenflap, de onde se destacam os britânicos The Prodigy. A banda de punk electrónico actua sábado, no festival que decorre entre 17 e 19 de Novembro. Além dos The Prodigy juntaram-se ao cartaz os Young Fathers, Temples, Pond e SKREAM [dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uem ainda não viu The Prodigy ao vivo tem uma lacuna que precisa de colmatar o mais rapidamente possível. Para quem está em Macau, ou Hong Kong, o cartaz do Clockenflap possibilitará essa experiência. A banda britânica, que lançou o seu primeiro disco, “Experience”, há exactamente 25 anos, revolucionou o mundo da música de dança ao juntar agressividade à cena das raves. Com seis discos na carreira, os The Prodigy juntam-se aos Massive Attack e a Feist para formar o trio de cabeça de cartaz do festival que festeja o seu décimo aniversário, que ocorre no Central Harbourfront entre 17 e 19 de Novembro. A carreira da banda britânica tem entre os seus melhores momentos os discos “Music for the Jilted Generation”, onde despontam os intemporais hinos de agressão “No Good”, “Voodoo People” e “Poison”. O grupo sustentado pela genialidade do produtor, e mais discreto membro da banda, Liam Howlett atingiu um público mais alargado em 1997 com o disco “Fat of The Land”, que tem músicas que rodaram em pistas do mundo inteiro como “Smack My Bitch Up”, “Firestarter” e “Breathe”. No mesmo dia em que os The Prodigy sobem ao palco, há outra banda que merece destaque: os Tinariwen. Um grupo oriundo do norte do Mali. Além disso, os mais saudosistas vão poder dançar ao som da banda de covers The Bootleg Beatles. Psicadélicos Na lista das bandas que foram anunciadas esta semana ao cartaz do Clockenflap, houve uma acréscimo do novo rock psicadélico que surgiu nos últimos anos. Neste capítulo, os Pond, banda australiana que partilha alguns membros com os Tame Impala, são um dos grupos mais aguardados do festival. Com uma discografia extensa, que conta com sete discos em quase oito anos, os Pond fazem uma belíssima ponte entre o rock psicadélico e a pop. Os australianos de Perth sobem ao palco no domingo, dia 19. Outra banda com sonoridades de rock psicadélico anunciada esta semana são os britânicos Temples. Com dois discos na bagagem, o grupo inglês apresentará ao público de Hong Kong o seu mais recente álbum, “Volcano”, igualmente no domingo, um dia que será encerrado pelos históricos de Bristol Massive Attack. Além destas bandas, juntaram-se ao cartaz do Clockenflap o grupo de hip-hop Young Fathers, a banda de pop japonesa Wednesday Campanella. O DJ SKREAM regressa ao cartaz do Clockenflap depois de ter incendiado a pista na edição de 2014. De seu nome Oliver Jones, o londrino é um dos nomes cimeiros da cena dubstep mundial. Com raízes sonoras firmadas em terras de tecno e house, SKREAM é um dos melhores actos da actualidade de electrónica ao vivo. Os bilhetes para o festival encontram-se já à venda, por agora, a preços mais acessíveis. Ainda assim, quem quiser ir aos três dias de festival terá de desembolsar 1620 dólares de Hong Kong. Os bilhetes para sexta-feira custam 890 dólares, enquanto os de sábado e domingo custam 960 dólares de Hong Kong.
Hoje Macau China / ÁsiaTimor-Leste | Autoridades garantem que navios chineses não saem do país [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro timorense garantiu ontem que as forças de segurança timorenses têm instruções para garantir que os navios chineses apanhados a pescar tubarão em águas do país não saem da costa até estar concluída uma investigação. “Neste monto a PNTL [Polícia Nacional de Timor-Leste] e a FDTL [Forças de Defesa de Timor-Leste] têm instruções para zelar por isso e garantir que os navios não fogem”, disse Rui Maria de Araújo em declarações à Lusa no Palácio Presidencial em Díli. O chefe do Governo, que falava depois do encontro semanal com o chefe de Estado, Francisco Guterres Lu-Olo, referia-se ao caso de 15 navios chineses com licença para pescar em águas timorenses e que foram alvo de uma rusga no sábado. A operação foi conduzida pela polícia timorense, com base no mandato do Ministério Público timorense, com o apoio da unidade marítima e a assistência da organização ambiental Sea Shepherd. Gary Stokes, responsável desta acção da Sea Sheperd, disse à Lusa que os navios foram apanhados a pescar principalmente tubarão numa operação conduzida no sábado passado ao largo do porto de Com, na costa norte de Timor-Leste. Os navios visados são das empresas chinesas Hong Long Fisheries e Pingtan Marine Entreprises e têm desde final de 2016 uma licença para operar em águas timorenses. A operação envolveu o navio Ocean Warrior da Sea Sheperd que, com lanchas rápidas, ajudou a transportar efectivos da PNTL, que efectuaram a rusga no interior das embarcações, acompanhada e registada por ‘drones’ e por câmaras da organização ambiental. O governante garantiu que a situação está a ser analisada por duas vertentes, por um lado ao nível do Ministério Público para apurar se houve ou não crime, e pelo Ministério da Agricultura para determinar se houve infracções às licenças.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Investimento no exterior cai devido ao aumento das restrições [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Ministério do Comércio da China disse ontem que o investimento chinês além-fronteiras caiu devido ao aumento nas restrições, que visa desencorajar a compra de clubes de futebol e outros cativos considerados desnecessários ao desenvolvimento do país. Segundo dados ontem anunciados, o investimento chinês no estrangeirou recuou 41,8%, nos primeiros oito meses do ano, face ao mesmo período do ano passado. Entre Janeiro e Agosto, as empresas chinesas investiram 68,7 mil milhões de dólares no exterior. Encorajadas pelo Governo, as empresas chinesas aumentaram nos últimos anos os investimentos além-fronteiras, como forma de assegurarem fontes confiáveis de retornos e adquirirem tecnologia avançada. Comunicação especial Os reguladores chineses emitiram este ano, no entanto, um raro comunicado conjunto, no qual advertem para investimentos “irracionais” além-fronteiras, nos sectores imobiliário, entretenimento e desporto, nos quais abundam “riscos e perigos ocultos”. As autoridades afirmaram que querem que as empresas se foquem em activos necessários à economia chinesa. O Ministério chinês do Comércio anunciou ontem que os investimentos feitos este ano foram sobretudo no sector manufactureiro, vendas por atacado, retalho e tecnologias de informação. Algumas das empresas chinesas cujas aquisições no exterior praticamente pararam nos últimos meses detêm participações em importantes empresas portuguesas, como a Fosun e o HNA Group. A Fosun é a maior acionista do banco Millennium BCP com 25,1% do capital, também detém 85% da seguradora Fidelidade (os restantes 15% do capital são da CGD) – que por sua vez é ‘dona’ do Grupo Luz Saúde – e ainda conta com uma participação de 5,3% na Redes Energéticas Nacionais (REN). A HNA é acionista da TAP através do consórcio Atlantic Gateway e da companhia brasileira Azul. Segundo dados oficiais portugueses, desde que a China Three Gorges comprou 21,3% da EDP, em 2012, o montante do investimento chinês em Portugal já ultrapassou os 10.000 milhões de euros.
Anabela Canas h | Artes, Letras e Ideias Iluminação ArtificialFico sempre um dia mais tarde [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá frio, dizia já. A antecipar, no sopé, a subida em crescendo difícil e a descida da temperatura. A imaginá-la antes que se avizinhe real e a sofrê-la na memória da pele. Está frio lá em cima. Para além de todos os carreiros íngremes sempre a subir. Estará. E estará sempre que o lembrar – o frio – e sempre que apertar os braços a tentar reter os fragmentos em que o frio me deixa a alma. Aproxima-se-me da memória em cada estação em que não há. Como um temor desnecessário e de irremediável verificação. Em cada estação antes e, absurdo, em cada estação depois. A torná-la antes. Mas ali em cima, com um pouco de sorte, as nuvens abaixo. Distância a tudo, que o silêncio compensa. Às vezes, sinto-me a entrar num momento de um outro momento mais vasto, como quem entra num salão apinhado de desconhecidos, num lugar do mundo que nem sei onde é. E como que reagindo de olhar míope ao desconhecido imenso, olho em volta e procuro uma parede com uma tira vaga de vazio a que encostar o desconforto. Um lugar em que caiba essa estranheza imensa e momentânea, mas encolhida dentro de mim e por detrás talvez mesmo de um sorriso. Aconchego um xaile enorme de lã em torno do pescoço e do longo casaco de lã de iaque, que parece ainda reter o cheiro animal, um pouco nauseante. Um pouco camuflada nas cores das lãs, como dos pigmentos daquelas terras rochosas desfeitas em avalanchas quase como as da memória. Olho para cima a reunir forças. Para o frio e a visão dos cumes e picos para lá das nuvens. A pensar que outras vezes demoro a chegar ao meu vazio de quatro pernas. Dir-se-ia um banco de jardim ausente de gente antes de chegar. Ou recortado na paisagem. Ali na sua concreta negação de existência material. Mas é verdade que não o habito nem eu ao chegar, tal a forma como duvido existir. Talvez recorte também saído de uma caderneta de cromos. Chegar. Estar, depois. E noutro momento, partir. Arrastando uma ausência de dimensionalidade em busca de caderneta própria. Ou então, é mesmo o animal quadrúpede que me habita sem preencher. Mas o que sou eu? Isto perguntava a minha avó de olhos vivos e pequeninos. Nada. Não sou nada e por isso me dou mal com o monstro que me ocupa sem habitar em boa vizinhança. Há coisas na vida que se repetem e repetem de forma irreprimível – como reprimir as estações? – é quase insuportável. Que se desmultiplicam como ecos, e repetem, e repetem, como uma música de que se gostou, gosta, e que se sente uma necessidade de respirar, como se dela dependesse a possibilidade do momento seguinte. E depende. Como de uma música que espelha um ritmo qualquer da alma não definível por outro meio, e do qual fosse o silêncio possível em torno. O que produz música como oxigénio em que se desenvolve o respirar. Há coisas na vida que se repetem e repetem sazonais, rítmicas e recorrentes. Venenos. Toxinas a entrar na corrente, reconhecida e familiar como um terreno fértil. Como músicas. A ouvir até à angústia final de ter que interromper. Como se uma hibernação em fim de inverno. Ou a exaustão e a agonia do vómito, do álcool. O corpo a virar-se sobre o seu avesso. Coisas como a música. Não a música, mas uma em particular. A estender para além do razoável uma emoção sentida. Uma droga tóxica. Entra no corpo um dia e torna-se necessária. A revisitar. E as coisas que mudam. E as que nos mudam. Fim da infância. E um dia, sem aquele aviso prévio que afinal só talvez antecipe a desilusão, o meu pai troca o nosso Taunus 12M, carro familiar, doce e afável de modos, charmoso, verde como convinha e com uma risca branca, fantasia posterior. E surge orgulhoso da mudança com um carocha azul escuro. Volkswagen carocha, até aí reconhecido pela minha alma perturbada de estereótipos como um carro de pessoas idosas. Isto porque, a quem o conhecia e só, era ao maravilhoso e gentil casal da papelaria charmosa e fina, casal sem filhos e que, talvez por isso, deixava uma criança sentar-se por horas esquecidas num canto do chão a ler bandas desenhadas, até que a outra criança a iria, em desespero, chamar para o almoço. O sr. Ferraz e a dona Tininha. Casal idoso, sempre bem arranjados um e outro, quase perfumados ao olhar, ela com aqueles brincos enormes de fantasia de pérolas, ele de risca lateral descaída e impecável. Um amor os dois. E para mim como se idosos de sempre e para sempre. Talvez hoje os veja como possivelmente mal saídos dessa estranha meia idade e não mais. (Esse olhar de criança no absoluto presente. E este meu adulto no absoluto imparável nunca). E um carocha bege claro, rebrilhante e impecável. Carro de gente idosa, portanto. E o nosso, agora, lá em baixo num primeiro olhar da varanda, azul escuro, pesado e bisonho como bicho corcovado, a aguardar a aprovação de toda a família. Tive um desgosto pela perda do doce Taunus, e uma revolta ostensiva pelo ultraje deste monstro feio e informe que lhe sucedeu. Coisas. Olhei-o com olhar furibundo que fez o meu pai rir com vontade e indiferença. Quase chorei da incompreensão de tamanho desgosto o meu. Mais tarde chorei a sério de tristeza de o ver partir, doce, pesado e orgânico, quase. E mais tarde, ainda, foi um irmão longínquo dele, o meu primeiro carro. De estimação. E cor de pérola, quase, quase como o do sr. Ferraz. Aqui, no sopé do frio que se avizinha. Por momentos no final da infância. Olho para cima a preparar a subida. E depois para o lado a rever a paisagem de transição. E depois para um ponto qualquer. Longínquo. Às vezes encontro-te por dentro. Eu não sei, sequer, se estás lá. Mas chego ao teu lugar, ao que imagino ser o teu lugar de abandono, e sento-me à espera. Não sei se alguma vez estiveste neste teu lugar. De picos ou subterrâneos. Mas não é assim que as coisas se passam. Contudo, sei-o lugar de encontro. Descalços de sapatos levemente sujos de vida, penso, entramos. Não sei quem és. Nada, como eu, talvez. Mas não é assim que as coisas se passam. Para além de um ruído ensurdecedor. Talvez aí.
Sérgio Fonseca DesportoAndré Pires já tem convite do 51º Grande Prémio de Motos [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ortugal vai estar novamente representado no Grande Prémio de Motos de Macau. Apesar das dificuldades que têm os pilotos portugueses em ser aceites no evento, devido aos rígidos critérios de selecção da prova do território, pelo menos um motociclista luso está praticamente confirmado à partida: André Pires. O piloto natural de Vila Pouca de Aguiar, em Trás-os-Montes, que este ano está a disputar o Campeonato Nacional de Velocidade, na classe SuperBikes, aos comandos da Kawasaki ZX 10RR da equipa Kawasaki Oneundret Racing Team, está a preparar-se para participar naquele que é o maior evento de motociclismo do Sudeste Asiático. A presença da representação lusitana está todos os anos pendente do número de convites que as entidades de Macau endereçam à Federação de Motociclismo de Portugal (FMP), mas Pires, que é o único motociclista português da actualidade que cumpre os critérios de selecção da prova, já tem o que carimbo que precisa para estar à partida. “O convite já está confirmado. Agora estou a trabalhar na equipa que vou levar”, atestou Pires ao HM. O ano transacto, numa edição ganha pelo britânico Peter Hickmann, em BMW, Pires levou uma Bimota, de motor BMW e preparada no Reino Unido, até ao 19º lugar final. Para a edição deste ano o piloto português está “a trabalhar para levar uma equipa totalmente portuguesa. Acho que é mais fácil em todos os sentidos. Assim vou mais à-vontade e com uma mota que conheço.” Tão ou mais importante que assegurar uma máquina competitiva para a prova de Novembro, Pires está também a trabalhar arduamente para tentar “reunir os necessários patrocinadores para ajudarem a concretizar este ambicioso projecto”. O 64º Grande Prémio de Macau decorre entre os dias 16 a 19 de Novembro do corrente ano. Team Portugal é objectivo da Federação Portuguesa O Grande Prémio de Motos de Macau continua a despertar bastante interesse em Portugal e a FMP gostava de no futuro contar com uma participação mais numerosa. “Gostávamos de participar com o Team Portugal com dois pilotos, mas infelizmente não temos mais nenhum piloto que cumpra com os requisitos de participação”, disse ao HM o Vice-presidente e responsável pela Comissão de Velocidade da FMP, o Coronel Armando Marques. “Actualmente acredito que os pilotos portugueses consigam obter tempos para se qualificarem para a corrida”, explicou o dirigente federativo, acrescentando que o problema “reside no cumprimento dos requisitos definidos pela organização do Grande Prémio de Macau para a elegibilidade de participação que nós compreendemos e, obviamente, aceitamos.” O motociclismo de velocidade em Portugal baseia-se essencialmente em competições de circuito e muito raramente há a oportunidade, ou ensejo, para os pilotos lusos participarem nas mais prestigiadas provas de estrada, como o Grande Prémio de Macau, a conceituada prova da Ilha de Man ou a North West 200. “A maioria dos pilotos portugueses, com uma ou outra excepção, quando opta pela internacionalização é pela participação em provas de campeonatos do Mundo ou da Europa, em vez da participação nas corridas de Road Racing”, explica o Coronel Armando Marques, que salienta que ”devemos manter uma ligação “muito especial” com Macau e com o seu Grande Prémio, por isso, este é um assunto que temos de dar uma outra atenção no futuro próximo”. Portugal neste momento não tem qualquer evento de motociclismo de estrada, mas os organizadores do Circuito de Vila Real, onde até 1993 se realizaram provas de motociclismo de velocidade, estão a estudar a possibilidade de ressuscitar o evento no traçado citadino que já recebe uma etapa do WTCC. Na edição deste ano do evento transmontano foi realizada uma demonstração que foi acolhida com bastante entusiasmo pelo público e participantes.
Isabel Castro VozesO último acto [dropcap style≠’circle’]1.[/dropcap] Este texto devia ser, em rigor, sobre as eleições do próximo domingo. Devia ser um texto de análise, profundo e revelador de algum conhecimento sobre a matéria, um texto acerca das diferentes opções ao dispor do eleitor. Não é. Não sei se sei e, mesmo se soubesse, não me apetece. Também não é um texto baseado em teorias da semiótica das artes visuais, uma abordagem à estética eleitoral, ao modo como se pretende passar as mensagens políticas do momento. Este texto devia ser sobre o momento político mais importante do território, mas não é. O momento não se dá à importância, não se dá ao respeito. Não se dignifica, nem dignifica os outros, os cidadãos comuns pelos quais deveria ter consideração. O que temos visto por aí é um pequeno circo ao ar livre, por entre os escombros do vento, as árvores e as tabuletas que continuam pacificamente derrubadas. Sendo certo que, independentemente da geografia, as campanhas eleitorais tendem a ser excessivamente burlescas, as da terra estão cada vez mais trágico-cómicas. Cómicas porque são arlequinescas; trágicas porque tudo isto é sério. Demasiado sério. O que guardarei desta campanha eleitoral. Um candidato que acha que Che Guevara reencarnou junto ao Mar do Sul da China. Uma candidata que acha bonito andar por aí, na televisão, a falar dos filhos dos outros. Uma polícia que gosta de demonstrar o quão musculada é. Um IACM que diz que respeita os tribunais, como se tivesse outra opção. Umas carrinhas podres com uns cartazes fraquinhos. Uma Comissão de Assuntos Eleitorais que precisa de amadurecer. Promessas dirigidas única e exclusivamente a determinados sectores profissionais, como se andássemos todos a baralhar cartas em casinos. O que guardarei desta campanha eleitoral. A conversa vaga e vã do costume. O que resultará destas eleições. Uma Assembleia Legislativa mais pobre, mais fraca, menos interessante. Ainda menos interessante. Não sabendo o que vai acontecer no próximo domingo, aposto um avo em como sairão vencedores aqueles que mais arroz distribuem, mais ajudam os necessitados e mais palmadinhas nas costas dão a velhinhos e crianças, como se política e beneficência se misturassem, como se melhor político fosse aquele que mais dinheiro tem. Este texto devia ser, em rigor, sobre as eleições do próximo domingo. Não é. É sobre aquilo que eu não gostaria que Macau passasse a ser. Ainda assim. Quando o próximo domingo chegar, vote, senhor eleitor, vote em consciência, coisa que falta à grande maioria dos candidatos. Mas vote, vote sempre. Ponha o carimbo no quadrado que a alma lhe indicar. Se não houver caminho para nenhum dos quadrados, vote na mesma, não escolha nenhum. Compreendo a indecisão, mas vá lá e vote, faça tudo como vem nos livros. 2. Há precisamente 20 anos, em Setembro de 1997, entrei numa redacção e nunca mais de lá saí, apesar de ter vindo para o outro lado do mundo e de ter conhecido algumas redacções, das quais também nunca mais saí. Muitas voltas dadas, este jornal. Casa de portas abertas onde cheguei uma e outra vez, sempre de maneiras diferentes. Que me ensinou o que é pensar nos outros, que me pôs a discutir, a perguntar, a perguntar muito, no desassossego constante sem o qual não é possível ser-se jornalista. Que me ensinou que tudo isto vale a pena, mesmo que amanhã já não tenha qualquer importância e estas páginas sirvam para embrulhar os copos em mais uma mudança de casa, para limpar vidros ou embrulhar peixe, funções todas elas nobres dos matutinos e vespertinos deste mundo. Não sei como vim aqui parar, a esta redacção e às outras todas. Aconteceu e nem sequer consigo precisar o momento. Talvez tenha acontecido por gostar das palavras, do acto da escrita, e depois a vida e as pessoas que se atravessaram nela fizeram o resto. Ensinaram-me o resto. E ensinaram-me que, nisto dos jornais e do jornalismo, não se é, nem se está pela metade. Quando as palavras nos custam, nos doem, mesmo que nos escorram pelos dedos às centenas, aos milhares, é porque só já somos metade de nós. E eu não sei ser só meia-eu. Este é o meu último texto. Obrigada aos que me ensinaram a ser em contramão.
Sofia Margarida Mota Perfil PessoasInês Vilhena, educadora de infância | Macau nas estrelas [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá há três anos no território. Inês Vilhena é educadora de infância e nunca pensou ser outra coisa. Apesar de não atribuir uma razão em concreto para a opção profissional, depois de reflectir um pouco surge uma possível explicação. “Se pensar bem, posso dizer que não tenho memórias muito boas do meu tempo de escola e, se calhar, isso teve alguma influência”, diz ao HM. Para a educadora de infância é fundamental “conceber que as crianças são pessoas, que têm voz e que os seus direitos têm de ser salvaguardados”. “Se dizem que não, querem dizer isso mesmo, não. Se dizem que não querem comer é porque não querem. A mim ninguém me dá comida à boca se eu disser que não quero”, exemplifica. Claro que Inês Vilhena admite que as crianças “ainda não sabem bem gerir aquilo que querem e precisam”, mas salienta que há formas de o fazer sem ser à força. “Há jogos em que se podem manipular tendo em conta as necessidades, sendo que não é por sermos mais velhos que temos mais direito sobre os outros”, acrescenta. Vir e ficar A vinda para Macau não foi uma novidade. Com o pai a viver cá há 11 anos, Inês Vilhena estava familiarizada com o território antes de surgir a oportunidade de cá trabalhar. “Vinha frequentemente e por vezes passava cá temporadas. Já tinha uma ideia do que era Macau. Não vinha para o desconhecido e não vinha para um colo vazio”, recorda. No entanto, ter sido chamada para trabalhar no Jardim de Infância D. José da Costa Nunes acabou por ser um momento de surpresa. “Nos últimos meses de mestrado soube que o infantário estava a pedir educadores. Na altura ainda nem a tese tinha, para dizer a verdade, começado, e não me ia candidatar a um lugar e depois pudesse vir a não ter habilitações para o poder preencher. Não me candidatei”, recorda. Mas “os astros alinharam-se”. Depois de terminada a tese em Julho, houve uma desistência nas contratações do infantário. Inês Vilhena foi seleccionada e, pouco mais de uma semana depois, estava de malas feitas a caminho de Macau. Sempre achou que queria vir mas, no momento em que a realidade era essa, Inês Vilhena já não tinha tantas certezas. Veio. No entanto, vir por temporadas e estar a viver no território são coisas diferentes. Se até há sua chegada, há três anos, não tinha a noção das dinâmicas da terra, quando veio para ficar houve todo um conjunto de situações que emergiram. “Não tinha percepção nenhuma da comunidade portuguesa cá e o mesmo se passou com os vários grupos sociais que se constituem no território”, refere. Entre comunidades A educadora de infância teve de aprender uma série de códigos de conduta mais ou menos evidentes. “Tive de me adaptar a toda esta dinâmica e não é que seja difícil, mas fui começando a perceber o que já me tinham dito: por vezes tem de haver uma fluidez e cuidado com as palavras. Temos de ter cuidados com o que falamos, com quem e onde.” Outra forma de se relacionar com as comunidades locais é no trabalho onde acompanha crianças portuguesas e chinesas. Relativamente a diferenças culturais, em idades tão pequeninas não há muitas a assinalar. O desafio inicial é sempre o mesmo: ganhar a confiança, o que é “universal”. As diferenças encontram-se em pequenas coisas. Entre aquelas que marcaram a educadora, a partilha de comida está em destaque. “Culturalmente achei mesmo muita piada ao facto de as crianças chinesas partilharem a comida. Estão numa mesa grande a lanchar, levantam-se e vão distribuir parte do que têm.” A maior dificuldade continua a ser a língua. Inês Vilhena gostava de saber falar cantonês para melhor perceber os seus “meninos”. Já pensou em aprender, “mas a vida vai-se pondo no meio”. Acontecem sempre outras coisas a que se dá prioridade e a aprendizagem da língua vai ficando para depois. O que mais lhe falta faz, deste lado do mundo, é “o mar e o cheiro”. Mas há formas de ultrapassar. “Macau não é um lugar com grande paisagem natural mas, por exemplo, em Coloane temos as montanhas e quando chegamos a Hac Sá cheira a mar e a árvores”, aponta satisfeita. O território tem mais vantagens. A vida por cá acontece com outro tempo. “Sabe a mais e parece que vivemos muito num mesmo dia”, principalmente para quem tiver a sorte de conhecer de imediato a “suas pessoas”, as certas, que agora são a nova família.
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Eleições intercalares marcadas para 11 de março [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s eleições intercalares para o Conselho Legislativo de Hong Kong foram marcadas para 11 de março de 2018 para preencher quatro dos seis lugares deixados vagos devido à desqualificação de deputados, informou ontem a imprensa local. Nathan Law, do Partido Demosisto, Yau Wai-ching e Sixtus Leung, ambos do grupo político pró-independência Youngspiration, e Edward Yiu, eleito pelo sector profissional da Arquitectura e Paisagismo, foram desqualificados dos seus lugares de deputados no Conselho Legislativo (LegCo) por não terem prestado correctamente juramento. As eleições pelos círculos geográficos que elegeram Law, Yau e Leung vão decorrer na ilha de Hong Kong, em Kowloon Oeste e nos Novos Territórios Este, envolvendo cerca de 2,1 milhões de eleitores da cidade com mais de sete milhões de habitantes. Os dois outros deputados desqualificados, Lau Siu-lai e Leung Kwok-hung, mais conhecido por ‘Long Hair’ (Cabelo Comprido), recorreram ambos na segunda-feira das respectivas desqualificações, pelo que os seus lugares não vão a votos a 11 de Março. O campo pró-democracia está interessado em que as eleições intercalares para os assentos de Lau e de ‘Long Hair’ decorram em separado porque querem reconquistar o poder de veto que perderam a seguir às decisões de desqualificação tomadas pelo tribunal. Yau e Sixtus Leung, que usaram palavras consideradas anti-China durante os respectivos juramentos de deputados, foram desqualificados em Novembro de 2016, e o seu último recurso foi rejeitado em Agosto. Os outros quatro deputados foram alvo da mesma decisão em 14 de julho. A desqualificação dos seis deputados deixou o campo pró-democrata com 14 assentos nos círculos dos sectores profissionais, contra 16 deputados pró-sistema. A oposição em Hong Kong já tinha usado previamente a sua superioridade numérica para rejeitar moções que precisavam da aprovação de ambos no círculo geográfico e dos sectores profissionais. Sob o sistema de representação proporcional de Hong Kong, o campo pró-Pequim teria mais probabilidades de ganhar um assento se mais de um lugar fosse a votos ao mesmo tempo no mesmo círculo geográfico. Contingências As autoridades eleitorais disseram que precisavam de tempo para contratar funcionários para as eleições intercalares e que os feriados, nomeadamente do Ano Novo Chinês, que em 2018 decorre em Fevereiro, também limitaram as datas disponíveis para a marcação das eleições. Nathan Law, que em Setembro do ano passado foi eleito o deputado mais novo, então com 23 anos, está desde Agosto a cumprir uma pena de oito meses de prisão por causa de um protesto em 2014, que desencadeou a ocupação das ruas em Hong Kong durante 79 dias em defesa do sufrágio universal para eleger o líder do Governo da cidade. O jovem recorreu da sentença, mas mesmo que saia da prisão antes, não poderá voltar a candidatar-se para recuperar o seu assento de deputado porque qualquer sentença igual ou superior a três meses impede qualquer pessoa de se candidatar ao LegCo por um período de cinco anos.
António de Castro Caeiro PolíticaSobre a vida dos candeeiros [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á uma diferença entre recordar pessoas e ter lembrança de objectos. O processo, porém, parece, em tudo, semelhante. Cada objecto e cada pessoa são invocados individualmente ou em contexto. Cada parte de uma coisa e cada parte de uma pessoa são inseridos no acto da lembrança. A cada parte da lembrança corresponde uma parte da coisa ou da pessoa lembradas. Assim, quando me lembro de um candeeiro de secretária, do meu tempo de estudante aos 18 anos, lembro-me especificamente desse candeeiro e não de outro. Quando me lembro desse candeeiro verde, maciço, de lâmpadas gordas, à luz do qual costumava estudar, sentado à secretária, com os meus 18 anos, lembro-me dele nesse ano e não noutro. Surge-me numa situação particular, contudo. O candeeiro sobre a secretária, ao lado esquerdo. A secretária, lá ao fundo. Os livros sobre ela. Cada objecto tem a sua memória. O acesso da memória, porém, não é individual. Há sempre um contexto. O objecto surge-me sempre à frente, em cima de qualquer coisa, de pé ou deitado, próximo de outros objectos, etc. Etc.. Por outro lado, é inegável que o candeeiro é o candeeiro e nenhum outro objecto, cada coisa é uma coisa e não outra coisa. Mas mesmo que depositemos no passado objectos, podemos confundir as alturas em que estivemos presentes, face a face com esses objectos. O candeeiro pode ser lembrado como contemporâneo da secretária, mas eu posso não ter uma memória nítida da secretária. Posso pôr no passado a minha secretária actual. Sobre a secretária, “ponho” o candeeiro de que tenho uma viva memória. A secretária contemporânea do candeeiro não era a mesma de agora. Ou seja, podemos compor “as cenas” do passado com objectos existentes em tempos, ou alturas, diferentes. Há objectos que fazemos coexistir com outros objectos, mas sem qualquer direito à coexistência. De resto, não nos lembramos sequer de todos os objectos que eram coexistentes entre si, por exemplo, no nosso quarto de juventude, nem da sua disposição. Não conseguimos inspeccionar todos os objectos que estiveram presentes por exemplo nas tardes de Outono do ano lectivo de 1984-1985, que livros estavam em que estantes. Podemos lembrar-nos da cor da alcatifa, da roupa espalhada pelo quarto, mas há muitas coisas de que não temos uma presentificação. Não, pelo menos, não com o vigor com que me surgem os objectos que agora estou a ver à minha frente. Posso olhar para o conjunto infindável dos objectos que se encontram sobre a minha secretária, mas a janela da memória não me dá os objectos que estavam presentes naquela altura, contemporâneos do candeeiro verde. E, contudo, o candeeiro verde surge-me, agora, de um modo mais nítido do que o candeeiro que tenho à esquerda sobre a minha contemporânea secretária. Não sei porque me lembro dele, mas lembro-me dele muitas vezes. Aparece-me assim sem qualquer esforço de lembrança ou propósito. Impõe-se na sua presença. É catalisador da cena do passado de que me lembro. Enfraquece a eficácia da percepção contemporânea do tempo presente. Há uma memória afectiva daquele candeeiro tosco. Aquele candeeiro ressuscita os primeiros tempos em que comecei a estudar. Lembra-me os primeiros livros que li. Sobretudo, lembra-me da passagem de momentos em que vivia à deriva para os primeiros momentos em que passei a interessar-me pela presença do espírito guardada nos livros. Eram tempos em que se abriam avenidas para uma qualquer esfera do sentido, e não era real. Nos livros estavam encerradas formulações mágicas que conjuravam o ser das coisas. Escancaravam-se céus serenos e limpos ou então cheios de tempestades, de nuvens a passar rapidamente. A leitura de fórmulas mágicas criam climas frios ou quentes, secos e húmidos. Dão origem a tempos em que a travessia da tarde se fazia página a página. As palavras que compunham as frases eram compreendidas uma a uma, por composição, sem permitir uma inteligibilidade do todo que era a unidade mínima do sentido. Cada frase compreendida era ínfima relativamente a todas as frases que não eram compreendidas. Nesse esforço, a cabeça não pendia apenas em direcção das linhas da página dos livros, ao serviço do movimento ocular. Era no candeeiro que me fixava. Aquela presença tosca, metálica, de um verde feio. Mas a parte que sustentava a grande lâmpada branca pendia como um girassol iluminador sobre as páginas. Aquela “cabeça” com aquele “olho” iluminava por completo as frases todas das duas páginas abertas como se tivesse um “olhar” fulgurante, abrindo para o sentido. O candeeiro era o instrumento, o meio, a condição de possibilidade daqueles meus 18 anos e das décadas que vieram. Abria caminho. O candeeiro ganhava luz à escuridão. Arrancava horas ao sono. Permitia ressuscitar o espírito encerrado nos livros, levantado das letras impressas, mudas e cegas, se não as lermos. Permitia tocar com a alma, como diz ainda Aristóteles o sentido. Dava luz à escuridão da ininteligibilidade. A luz amarela incidia sobre a página aberta, com a força máxima que permitia distinguir com absoluta nitidez o branco do papel, plano de fundo para a forma dos caracteres impressos. Desse núcleo duro, irradiava até um campo de luz que se difundia até se dissipar por completo na obscuridade. Para lá desse halo de luminosidade, o mundo inteiro estendia-se na escuridão. Sentia-se a presença do mundo para lá das letras, existindo no horizonte de escuridão em que tudo mergulha, quando lemos. Mundos presentes, passados e futuros coexistiam extáticos e permeáveis uns aos outros, articulados pelo tempo da transição que faz continuamente a passagem irreversível de tudo. O mundo e a vida são abertos, contudo, por essa outra possibilidade oriunda da leitura nocturna. O candeeiro estará numa caixa de cartão, guardado numa dispensa qualquer. Pode ter sido deitado para o lixo. Já não ilumina nem páginas nem a noite que tinha 18 anos e era a do início do que havia de vir. Agora, esvoaça até mim. Está de dia sobre a secretária daquele tempo. Não tem finalidade. Tem a luz apagada. E, contudo, mergulhou para o horizonte de sentido, outrora opaco, para lá das letras. Transitou para um reino da alma, desmaterializado. Uma forma desse candeeiro habita ainda a minha existência. Faz-se sentir. É ele todo alma e só visto por uma alma. A sua presença não vem de uma capacidade de retenção ou lembrança do passado. A sua presença é testemunha de que não nos esquecemos nem do candeeiro, nem da secretária, nem dos livros, nem do nosso quarto, na casa dos pais, nem da rua no bairro, nem do bairro na cidade— aos 18 anos. Todas as coisas que compõem tudo têm de estar algures. Não se sabem bem onde, mas anunciam ainda a sua presença.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteArnaldo Ho, candidato às eleições: “Políticas de jogo e habitação não se devem misturar” Filho de Stanley Ho e Angela Leong, Arnaldo Ho participa pela primeira vez nas eleições de Macau. Ligado ao projecto do Lisboa Palace e à gestão do Grand Lisboa, o candidato conta que começou por aprender a ser croupier para perceber as bases do negócio. Estudou em Londres e passou férias no empreendimento Vale de Lobo, no Algarve, mas é aqui que diz querer servir a comunidade. Arnaldo Ho garante que todos os eleitores são importantes, incluindo os portugueses, e defende que a habitação é o problema mais grave que o Governo tem de resolver Que balanço faz dos últimos dias de campanha? Acredita que podem eleger dois candidatos? Tenho de acreditar que existe essa possibilidade. Todos os nossos candidatos têm trabalhado arduamente nas últimas semanas. Precisamos de pessoas que acreditem e votem em nós. Quais têm sido as maiores preocupações das pessoas, com base no contacto que tem tido com a população? Uma das questões que mais tem preocupado as pessoas nos últimos dias tem que ver com a capacidade do território em termos de infra-estruturas e desenvolvimento urbano, depois da passagem do tufão Hato. Num dos últimos debates promovidos pela TDM, a candidata Wong Kit Cheng [líder da Aliança do Bom Lar] acusou-o de não conhecer bem Macau. O que tem a dizer sobre isso? Ela não me conhece bem. Eu também nunca me cruzei com ela na vida. Relativamente a Macau, estudei no estrangeiro [viveu oito anos em Londres, onde estudou Gestão de Empresas no King’s College], mas sempre viajei muitas vezes entre Hong Kong e Macau. Macau sempre foi a minha casa e aqui sempre fiz trabalhos de Verão. Alguns familiares meus vivem em Macau e vinha para cá todas as férias ou fins-de-semana desde criança. Sempre tive interesse pelos negócios da família e, na verdade, sempre estudei e analisei a sociedade de Macau. Quando entrei na Sociedade de Jogos de Macau (SJM) comecei por ocupar os cargos base da empresa. Todos os dias, quando terminava o meu trabalho, ia para as salas de formação para aprender a ser croupier. Achava importante começar do início. Queria aprender a ser croupier, esse era o meu interesse, para poder compreender todo o negócio. Temos de compreender o que os empregados fazem; se não, como podemos gerir um negócio como este? Nos últimos tempos tenho estado muito envolvido no projecto do Lisboa Palace e nas operações do Grand Lisboa. Talvez seja por isso que a candidata Wong Kit Cheng não saiba muito bem o que ando a fazer. O empreendimento Lisboa Palace deve abrir no próximo ano e tenho estado envolvido nos preparativos, na parte da construção, e gasto muito do meu tempo a gerir a pré-abertura. Estimamos que vamos necessitar de recrutar cerca de oito mil pessoas e isso constitui uma grande oportunidade para Macau, sobretudo para as gerações mais novas. Estou exactamente a fazer aquilo de que Wong Kit Cheng me acusou de não fazer, que é providenciar empregos e oportunidades aos mais jovens. E não são apenas empregos na área do jogo, mas em várias áreas, por se tratar de um grande resort. Queremos trazer um conceito novo. Em que sentido? Queria ainda falar mais sobre a ideia de comunidade e serviço social. Ser um candidato e fazer parte desta lista mostra que sempre quis fazer este projecto, servir a comunidade que me deu oportunidades e experiências. Uma coisa vinda dos meus pais [Angela Leong e Stanley Ho] que sempre me inspirou foi o facto de não ter sido criado apenas com a ideia de ganhar dinheiro e operar um negócio. Sempre me transmitiram a ideia de como poderia servir a comunidade, os meus pais sempre acreditaram nisto. Ser candidato permite-me ter esta voz e atingir este objectivo. O meu pai sempre me transmitiu a ideia de servir a sociedade e nunca me esqueci das minhas raízes em Macau. É preciso olhar para as necessidades dos grupos mais vulneráveis e temos de nos focar na diversificação da economia e na implementação das políticas do Governo, caso sejamos eleitos. Há 24 listas a participar nestas eleições. Quais as grandes diferenças entre a Nova União para o Desenvolvimento de Macau e os restantes candidatos? Temos 12 membros na nossa lista que vêm de várias áreas, não apenas do sector do jogo, mas também do imobiliário, desporto, educação e serviço social. Representam desde grupos vulneráveis a empresários, passando por trabalhadores da área social. A nossa lista abrange, portanto, um grande número de grupos sociais. A grande diferença é que, como equipa, entendemos as pessoas de diferentes estratos sociais, as suas necessidades e problemas. A nossa proposta para o futuro de Macau foca-se na resolução de problemas de uma forma prática. Pode vir a substituir a sua mãe, Angela Leong, como número um nas próximas eleições legislativas? Tenho aprendido muito com ela. Não gostaria ou deveria substitui-la nesse papel. Ela é o meu modelo e tenho vindo a compreender muitas coisas nesta campanha. De facto, esta é uma grande oportunidade para aprender. Vem de uma família muito importante do sector do jogo. Que ideias tem para os jovens da sua idade que enfrentam dificuldades diárias para a compra de casa ou pagamento de uma renda? Compreendo que o mais difícil para os jovens de Macau neste momento é a compra de uma habitação no sector privado. Um empréstimo leva anos a ser pago e os casais com rendas elevadas sentem, claro, uma frustração ainda maior. Outro aspecto que também é importante é o facto de os jovens de Macau necessitarem de se focar nas suas carreiras, pois acredito que a sociedade precisa de inovação e diversificação. Mas ainda na área da habitação, a nossa lista defende a criação de alojamentos para jovens. Com este sistema os jovens poderiam ter acesso a uma casa por um período de três a cinco anos, a preços mais baixos. Nesse período poderiam focar-se na sua carreira ou na criação de um negócio, e não teriam de se preocupar com a questão da habitação. No que toca aos principais problemas de Macau, quais são aqueles que ainda não têm uma solução apresentada pelo Governo? A habitação é talvez o maior problema. Não há terrenos suficientes para a construção de habitação pública e os preços das casas privadas não são suportáveis. Esse é um problema que o Governo tem de resolver. Além da implementação dos alojamentos para jovens, o Governo deveria adoptar políticas diferentes. Em Hong Kong aponta-se para a adopção de medidas que apoiem os compradores da primeira habitação. Ainda não foram criadas, mas Macau poderia olhar para elas. Os mercados são diferentes, mas o Executivo precisa mesmo de adoptar outras políticas. O Governo não garantiu, nos últimos anos, um equilíbrio entre o fornecimento de terrenos para o jogo e habitação? As políticas do jogo e de habitação não se devem misturar. Os resorts construídos no Cotai foram um plano adoptado para o território há muitos anos e foi bom para a economia. O jogo tornou-se a indústria mais importante e todos os países do mundo têm uma indústria mais forte na sua economia, não podemos desistir disso. Agora que a maior parte dos empreendimentos está construída, precisamos de diversificar com mais elementos não relacionados com o jogo. A habitação é outra questão. Nos novos aterros o Governo tem de garantir um crescimento na vertical, como vemos em Hong Kong. Há que apostar também na renovação dos bairros antigos. Sente-se ligado à comunidade portuguesa? Considera que é uma comunidade importante para as eleições, apesar de representar um pequeno número de eleitores? É uma comunidade importante para o desenvolvimento social e económico. A estratégia nacional de “Uma Faixa, Uma Rota” e o projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau são muito importantes para o futuro de Macau e aqui a comunidade portuguesa pode tornar-se mais importante na contribuição das relações comerciais com os países de língua portuguesa. Quanto às eleições, todos os cidadãos de Macau e todos os eleitores são importantes, porque têm o direito de votar. Cada comunidade tem o seu pensamento e os seus objectivos. É preciso comunicarmos mais entre nós, caso contrário nunca saberemos o que cada comunidade deseja.
Victor Ng Manchete PolíticaEleições | Paul Chan Wai Chi queixa-se ao Ministério Público da PSP e CAEAL [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]um gesto de antecipação, o cabeça-de-lista da Associação do Novo Progresso de Macau enviou uma carta para o Ministério Público a queixar-se da actuação da Polícia de Segurança Pública (PSP) e da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL). Em causa está o episódio noticiado ontem, em que Paul Chan Wai Chi estaria a ser indiciado da prática do crime de desobediência agravada depois de uma acção de campanha no Fai Chi Kei. Tudo começou com a afixação de uma bandeira por parte de um voluntário pró-democrata fora dos 19 locais designados pela CAEAL. De acordo com o líder da lista Associação do Novo Progresso de Macau, a versão apresentada no auto de denúncia, onde se diria que admitia ter dado a ordem para a afixação da bandeira, não corresponde à verdade. Após uma esgrima de argumentos jurídicos, os agentes da autoridade decidiram escrever um auto de denúncia onde constava Paul Chan Wai Chi como o responsável pelo alegado acto irregular. O cabeça-de-lista ligado à Associação Novo Macau sentiu-se particularmente agravado com o comunicado que a PSP publicou no Gabinete de Comunicação Social onde constava que Paul Chan Wai Chi teria admitido a crime de desobediência agravada. O candidato explica na carta ao MP que sentiu a necessidade de se responsabilizar pela actuação dos voluntários, uma vez que estava a coordenar os trabalhos da lista no Fai Chi Kei. Na sequência deste incidente, o activista Jason Chao não teve dúvidas em categorizar a actuação das autoridades como abuso de poder. Direitos em linhas tortas Estes foram os motivos por detrás da carta enviada por Paul Chan Wai Chi para o procurador Ip Son Sang, onde é argumentado que este caso representa uma enorme injustiça para o candidato às eleições para a Assembleia Legislativa. Além disso, a carta do candidato mencionou também a jurisprudência feita no Tribunal de Última Instância (TUI), nomeadamente um acórdão onde se decidiu que não se pode proibir plenamente nos locais públicos a colocação de informação relativa ao direito à reunião. O mais elevado órgão judicial considerou que as ordens da CAEAL não eram uma restrição razoável a um direito consagrado na Lei Básica. Paul Chan Wai Chi estende as suas críticas à actuação da CAEAL. No entender do cabeça-de-lista dos pró-democratas, existem incongruências nas instruções dadas pela comissão eleitoral. O candidato enumera um comunicado divulgado pela entidade presidida por Tong Hio Fong, de 4 de Setembro, onde se estabelece que durante a realização de propaganda eleitoral que não tenha a natureza de reunião nas vias públicas, não é permitida a colocação de meios de propaganda. Dois dias depois, de acordo com o comunicado da Associação do Novo Progresso de Macau, a CAEAL acrescenta que, mesmo em caso de reuniões, manifestações e desfiles, não é permitido colocar qualquer propaganda gráfica. Incongruências à parte, esta não é a primeira eleição em que os candidatos pró-democratas enfrentam uma situação destas. Também por isso, Paul Chan Wai Chi pede a intervenção do MP para realizar uma investigação, por entender que os seus direitos civis enquanto candidato foram violados.