Pyongyang reúne milhares de pessoas em manifestação anti-americana

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ilhares de norte-coreanos participaram no sábado numa manifestação anti-americana convocada pelo regime de Pyongyang, em apoio ao líder Kim Jong Un, num momento marcado pela ‘guerra’ de palavras com Donald Trump, informou ontem a agência KCNA.

Segundo o texto divulgado pela agência estatal norte-coreana, mais de 100.000 pessoas participaram na concentração na praça Kim Il Sung, no centro de Pyongyang.

Durante o evento, foi lido na íntegra o comunicado de Kim Jong Un publicado na sexta-feira.

Nesse texto, o líder norte-coreano criticou o discurso de Trump na terça-feira na ONU, no qual o Presidente dos EUA ameaçava “destruir totalmente a Coreia do Norte”, e classificou Trump como um “louco”, lançando novas ameaças contra Washington.

Manifestantes marcharam com cartazes com ‘slogans’ como “vingança decisiva” e “morte para os imperialistas americanos” e entoaram palavras de ordem como “destruição total”, segundo a KCNA, citada pela Associated Press.

A multidão incluía trabalhadores, funcionários do regime e estudantes, segundo a KCNA.

Os contínuos testes de mísseis pela Coreia do Norte e a dura retórica usada por Washington após a chegada em Janeiro de Donald Trump à Casa Branca fizeram disparar este ano a tensão regional até níveis inéditos.

O mais recente episódio desta crise ocorreu no sábado, quando bombardeiros e caças norte-americanos voaram perto da costa da Coreia do Norte para enviar uma “mensagem clara” de que Washington dispõe de “opções militares” perante qualquer ameaça, informou o Pentágono.

Os Estados Unidos já enviaram este ano em várias ocasiões os seus aviões militares até perto da Coreia do Norte como demonstração de força.

25 Set 2017

Os Corvos

Os Corvos

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]obre o canto negro, precipitam-se,

À tarde, os corvos com um forte grasnar.

As suas sombras tocam, ao de leve, nas corças,

E, às vezes, são vistos, de mau humor, a descansar.

Oh! como eles perturbam o castanho sossego,

No qual um campo se exalta,

Como uma mulher que um grave pressentimento enfeitiça,

E, às vezes, podem ouvir-se estrilar,

Por causa do cheiro de uma carcaça que algures sentiram.

E, de repente, dirigem o voo para norte

E desaparecem, como um cortejo fúnebre,

Na atmosfera que estremece de volúpia.

 

Die Raben

Über den schwarzen Winkel hasten

Am Mittag die Raben mit hartem Schrei.

Ihr Schatten streift an der Hirschkuh vorbei

Und manchmal sieht man sie mürrisch rasten.

O wie sie die braune Stille stören,

In der ein Acker sich verzückt,

Wie ein Weib, das schwere Ahnung berückt,

Und manchmal kann man si keifen hören

Um ein Aas, das sie irgendwo wittern,

Und plötzlich richten nach Nord sie den Flug

Und schwinden wie ein Leichenzug

In Lüften, die von Wollust zittern.

[1] TRAKL, GEORG. (2008). Das dichterische Werk: Auf Grund der historisch-kritischen Ausgabe. Editores: Walther Killy e Hans Szklenar. Munique. Deutscher Taschenbuch Verlag.

25 Set 2017

O Corpo Nu esse lugar incivilizado onde cresce a febre

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]élia Correia escreveu “ADOECER”, uma tragédia contemporânea que fala da insanidade e da dor dos amantes irredutíveis, e da arte, esse lugar da exceção, da insanidade da radicalidade da vida arrancada para fora da convenção perante o mundo também ele doente, pesa embora o amparo da vida comum esperada, quase higiénica, civilizada, onde afinal a doença também cresce, sempre mas mais modesta, menos catártica, mais aceitável, comedida.

“ADOECER” esteve em cena entre os dias 15 e 18 na Sala de Ensaio do CCB com encenação e dramaturgia assinada pelo Miguel Jesus, numa coprodução  do teatro “ O BANDO  com o Centro Cultural de Belém.

O tom geral é do ausência de luz, os corpos a habitar o flagelo dos nervos sensíveis, nessa realidade telúrica da recusa da convenção que escava fundo o caminho do abismo no fio cortante das emoções com sangue dentro.

A maquinaria expositiva coloca em cena a figura do narrador, que comenta e conduz a narrativa que nos fala da radicalidade da sua relação amorosa de Elizabeth Siddal, modelo, pintora e poetisa, com o pintor e poeta Dante Gabriel Rossetti, vivida na segunda metade do séc. XIX, alicerçada com a figura do coral. Encena a prestação exemplar da heroína trágica, a mulher que assume e escolhe a derrota como fim, coadjuvada pelo protagonista, o pintor, na demanda iniciática do mito de Pigmalião, não já na forma do simulacro da estátua que se torna viva com o favor dos deuses do escultor cipriota, mas no da relação entre modelo e representação, mestre e iniciada, em que a arte ocupa a totalidade da vida.

Vive-se a ruína da conformidade mimética entre modelo e representação. O corpo táctil é o objecto artístico na sua eficácia do desejo, da dimensão erótica-sexual  transgressiva dos modelos socialmente aceites como padrão da relação amorosa. O abismo da morte é pré-anunciado, e a maquinaria cénica e interpretativa consume esse anúncio e fim adivinhado.

Aristóteles , no que nos chegou da sua “Poética”, diz-nos que a “ tragédia é a imitação de uma ação elevada, dotada de extensão, numa linguagem embelezada por formas diferentes em cada uma das suas partes, que serve da ação e não da narração e que, por meio da compaixão e do temor, provoca a purificação de tais paixões”.

O texto e a dramaturgia, bem como trabalho corporal dos actores, segue com exemplaridade esta definição proposta e até hoje aceite. A encenação é criativa e eficiente, nos desempenhos tem particular destaque a protagonista Catarina Câmera, com um diapasão expressivo da mais interior contenção à explosão catártica, num encontro conseguido entre o movimento coreografado da dança contemporânea com expressão e carga emocional que remete para o teatro de texto. De igual modo o trabalho físico do actor Miguel Moreira, na fronteira do hiper acting, é um esforço assinalável assim como o desempenho a todos os títulos superlativo da narradora Sara Castro.

O contexto da narrativa é o núcleo mítico do movimento pré-rafaelita inglês. O texto de Hélia Correia tem como eixo de partida a pintura “Ophelia” (1852) de John Everett Millais. Por aqui percorrem sombras de Shakespeare, da Beatriz de Dante Alighieri, na construção do texto que tem como figura central Elizabeth Eleanor Sidda/Lizzie, a modelo do quadro “Ophelia”.

Importa uma nota final sobre os músicos actores em palco, e música gravada, uma partitura que vai do clássico ao rock gótico, sem esforço, servindo sempre com eficácia a proposta estética e dramatúrgica.

Onde entra o cinema? É uma pergunta que pode ser feita dado ser esse o foco do que aqui escrevo. No trabalho de luz e sombra a matéria primeira do cinema, na contaminação com o cinema expressionista e ao cinema “noir”.  Numa cena do coro, um actor mimetiza os movimentos de Boris karloff no monstro Frankenstein ( 1931) ,  ou ao cinema de Jean Cocteau, de “ The Blood of a Poet” (1930), “Beauty and The Beast” (1946). Que o cinema contamina todas as artes e a vida, não é revelação nova.

No “ ADOECER” de Hélia Correia e nesta encenação e dramaturgia do Miguel Jesus, o corpo nu é o lugar do incivilizado, que ameaça e é ameaçado pelo corpo social estabelecido na sua radical afirmação.  Inflama-se a si mesmo e coloca-se em estado febril da doença. Ousa deslocar o lugar do vício e da virtude, torna-se ameaça, uma quase impossibilidade nestes nossos quotidianos ordenados, limpos sempre que possível de bactérias e vírus que possam ameaçar o bom comportamento social. No entanto a vida hospitalar também não se aconselha, os hospitais são territórios contaminados, é imperioso fugir a todo o custo. A Doença é dupla, tem lugar na sociedade com cartografia emocional com legitimação assegurada em guichés de bons comportamentos e na radicalidade dos nervos contaminados por sangue desobediente.  É neste paradoxo que se caminha, e a função da tragédia, como Aristóteles nos disse,  “é provocar a purificação de tais paixões” .  A mais recente criação do teatro “ O bando” , fala-nos disso, com excelente mestria artística.

A partir do romance de Hélia Correia

Miguel Jesus dramaturgia e encenação

Rui Francisco cenografia

Jorge Salgueiro música

Clara Bento e Sara Rodrigues figurinos e adereços

João Neca assistência de encenação

João Cachulo/ Contrapeso desenho de luz

Raquel Belchior produção

Nisa Eliziário assistência de produção

Com Catarina Câmara, Miguel Moreira, Sara De Castro e convidados especiais Antónia Terrinha/ Juliana Pinho, Bibi Gomes/ Raul Atalaia, Carolina Bettencourt /Rita Brito, Nélson Boggio/ Guilherme Noronha, Nuno Nunes, Paulo Campos dos Reis/ João Neca, Ricardo Soares/ Miguel Jesus e Rui M Silva

músicos Carlos Lourenço, Eurico Cardoso e Nélson Ferreira (ao vivo) e Bizarra Locomotiva (gravado)

Coprodução | Teatro O Bando | Centro Cultural de Belém

25 Set 2017

Macau vai receber partida de futebol China-Portugal em 2019

Cristiano Ronaldo e companhia vão visitar o território em 2019 para um jogo de futebol com a China, que vai assinalar o 20.º aniversário da transferência da soberania de Macau

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau vai ser o palco de um encontro entre a selecções de futebol de Portugal e a China, em 2019, no âmbito do 40.º aniversário do restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países e do 20.º aniversário da transferência de soberania de Macau. A informação foi avançada, na sexta-feira, pelo gabinete do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam.

O comunicado foi feito depois de um encontro, na quarta-feira, entre o governante de Macau e o Ministro da Educação português, Tiago Brandão Rodrigues, que também tutela o desporto.

“Ambos os governantes expressaram o desejo de celebrar os 40 anos do restabelecimento das relações diplomáticas entre a China e Portugal, que se celebra em 2019 e que coincide com os 20 anos da RAEM, através do desporto, nomeadamente de um jogo entre as selecções chinesa e portuguesa a realizar em Macau”, pode ler-se no comunicado.

Anteriormente, as duas selecções defrontaram-se em duas ocasiões. O primeiro encontro foi em Maio de 2002, em Macau, na preparação para o Mundial da Coreia do Sul e do Japão. Na altura, Portugal venceu por 2-0, com golos de Nuno Gomes e Pauleta. Esta foi uma partida que também ficou marcada pelo penálti desperdiçado por Rui Costa. Porém o Mundial acabou por ser de má memória para os portuguesas, com a equipa orientada por António Oliveira a ser eliminada na fase de grupos.

O outro encontro foi disputado no Estádio Municipal de Coimbra, em Março de 2010, e a selecção portuguesa voltou a vencer por 2-0. Hugo Almeida, aos 35 minutos, e Liedson – que tinha substituído Cristiano Ronaldo –, aos 90 minutos, foram os marcadores de serviço.

Preparação Olímpica

Ainda no âmbito desportivo, os governos discutiram a possibilidade de Macau ser o centro de preparação dos atletas portugueses para os Jogos Olímpicos e Para-Olímpicos de Tóquio, que se realizam em 2020.

“Os governantes concordaram que Macau tem condições únicas para ajudar na preparação das selecções olímpica e para-olímpica portuguesa para os Jogos Olímpicos Tóquio 2020”, foi sublinhado.

Esta possibilidade seria uma repetição da estratégia de preparação da selecção masculina de hóquei em patins, que fez parte da preparação para o mundial da modalidade em Macau. O torneio, que se realizou no início deste mês, foi disputado em Nanjing, e no final Portugal acabou num segunda lugar, após ter perdido, nas grandes penalidades, o encontro decisivo diante da rival Espanha.

Do encontro de governantes, ficou também em cima da mesa a hipótese de equipas de Lisboa, Porto e Coimbra participarem no próximo Festival Juvenil Internacional de Dança, em Macau. O evento acontece de dois em dois anos, e Alexis Tam explicou ao ministro português que seria uma boa oportunidade para que os jovens do país europeu conhecessem melhor a cultura de Macau.

25 Set 2017

Trabalhador de construção

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uero subir um andaime até às estrelas e refazer a abóbada celeste com cimento e cristal, evadir, ascender, seguir a verticalidade de todos os edifícios que construo e sair desta cidade que me despreza. Viver a história do alpinista João Pé de Feijão. Esculpi Macau com escopro e martelo, moldei esta cidade com a força dos meus ossos. Sem mim, os sonhos e projectos dos arquitectos não passariam de ficheiros de computador, gravuras em papel, ideias desprovidas de materialidade. Eu dou forma às coisas, torno-as possíveis, sou o agente da criação, da génese urbana. Sou o estabelecimento, a forja, a realização.

Esta cidade foi feita com o meu suor e sangue, sou a concretização, o cumprimento objectivo como na canção do Chico. Nos dias livres amei e beijei todas as mulheres que pude como se fossem as derradeiras, trepei andaimes como se fosse máquina, tornei a multiplicidade de tijolos na singular parede mágica e estatelei-me no chão como um vazo rachado, caco de matéria, estilhaço. Morri por todos vós para ser esquecido, substituído por outra insignificante formiga, mais um número na estatística, polpa esmagada debaixo da assassina viga.

Sou um imigrante, um dos peões desta engenhosa tragédia, mal pago, sem representação, de olhos vidrados na sucessão de tsingtaos, inabalável na missão que tenho que cumprir para levar algum conforto à família, a minha fundação, os meus caboucos de afecto. Sou transitoriedade deixando solidificação definitiva para trás. Vendi a minha alma num contrato de sub-empreitada. Morro no anonimato, esquecido, enquanto a obra prossegue, porque a obra sempre prossegue, a construção não tem fim.

Sou maestro de orquestras de pneumáticos e berbequins, da percussão martelada em ferro e pedra. Fiz pirâmides e túneis, Babel e Eifell, Muralha da China e Muro de Berlim, Taj Mahal e Coliseu. Deixo no meu encalço palácios e barracões, enquanto morro por um punhado de tostões.

Sou joguete no xadrez menor das politiquices. Querem que eu seja local, legalizado e imortal, a derradeira manifestação de um operariado em vias de extinção, o último dos que sujam as mãos. Querem que eu seja em número estável, mesmo que haja menos obras, que se edifique menos.

Nos meus sonhos fantasio com bolas de demolição, com supernovas de dinamite a transformar tijolo, ferro e pedra em farinha. Imagino rios de lava a derreter fundações, a fundir as entranhas da cidade. Projecto tufões e natureza exterminadora que terraplene a cidade de regresso à virginal superfície plana. Tabula Rasa, o retorno à origem antes da intervenção do Homem, virgindade urbana estendida um horizonte longíquo. Quero aplanar e envernizar, tornar suave todas as arestas da cidade, limpar tudo, eliminar o ensurdecedor ruído físico.

Anseio desmontagem, decomposição de elementos, fugir da tirania da estrutura e focar-me no mais ínfimo átomo, analisá-lo e amar a sua singularidade. Sonho compreender Derrida e a psicanálise, quero deitar todos os edifícios num divã e escalpelizá-los com minúcia. Depois de tudo isso, quero dinamitar toda esta cidade, retornar ao zero, reduzir a escombros as réplicas de outras construções que existem espalhadas por Macau.

Olhem para mim, vejam como estão as minhas mãos, os meus olhos cheios de pó. Apesar de construir posteridade, não tenho futuro. Vivo de empreitada em empreitada, na esperança que da mesa do poder caia uma migalha que me sustente. Quero viver mais, ter carne de cimento, artérias de viga e sangue de ferro. Sou uma estrutura inabalável que conquista metros ao céu, um deus de bambu que une terra e ar, criador de estruturas onde habitam as outras criações. Sou  casa, igreja, cárcere, escola, hospital, sou o cemitério onde vou descansar. Exijo que parem de me usar como arma de arremesso político e que reconheçam o meu papel, quem eu sou e o que trago a Macau. Respeitem-me! A minha vida pode ser descartável como o bambu, mas de mim emana a eternidade.

25 Set 2017

Seminário | Dificuldades e desafios da Função Pública

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Federação das Associações dos Trabalhadores da Função Pública de Macau realizou ontem um seminário sobre a eficiência de funcionamento dos serviços públicos, onde participaram académicos de outras regiões.

Cheung Chi Kong, director-executivo do Centro da Pesquisa sobre “Um País, Dois Sistemas” de Hong Kong disse que, não só em Macau e na região vizinha, mas em todo o mundo, a administração de serviços públicos está a atravessar um período de dificuldades.

Sobre o sistema económico, Cheung Chi Kong lembrou que a desproporção de rendimentos tem vindo a piorar nos últimos 20 anos, o que, na sua visão, tem influenciado o sistema político. Este factor tem vindo também a dificultar a administração dos governos, acrescentou.

Na opinião do académico, os governos de todo o mundo devem compreender as solicitações da população e proporcionar uma resposta o mais rapidamente possível. Cheung Chi Kong lembrou que os governos devem olhar também para o factor responsabilidade, pois “a demissão dos funcionários públicos não é aquilo que os cidadãos desejam; estes querem um Governo que faça bem os seus trabalhos”.

Wang Jingbo, professora da Universidade Chinesa de Ciência Política e Direito, apresentou o estudo focado no processo de divulgação das informações na Função Pública, desenvolvido no interior da China e que, segundo a académica, melhorou o funcionamento da administração pública no continente.

A docente considerou ainda que a proposta pode ser aplicada em Macau e em todo o mundo, uma vez que sugere um acesso mais facilitado dos cidadãos aos serviços públicos. Ainda assim, Wang Jingbo alertou para a necessidade de implementar legislação que possa regulamentar esse acesso.

25 Set 2017

Timor-Leste | Retidos navios chineses que pescaram tubarão

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo timorense suspendeu ontem as licenças de uma frota de navios chineses apanhada a pescar tubarão em águas timorenses, enquanto conduz investigações para determinar se a empresa cumpriu todos os critérios legais.

O ministro da Agricultura e Pescas timorense, Estanislau da Silva, disse à Lusa que enquanto decorrem as investigações, conduzidas com base em informações fornecidas pelo Governo indonésio, “os navios estão proibidos de sair do porto de Carabela” na costa norte do país.

A decisão de suspensão deve-se, explicou, apenas a aspectos relacionados com a própria empresa e não ainda com a actividade de pesca em Timor-Leste, nomeadamente a captura de toneladas de tubarão confirmada numa rusga efetuada este mês.

“Recebemos informações detalhadas da Indonésia sobre a empresa e daí tomei a liberdade como ministro competente de suspender as actividades da companhia, no sentido de se fazer uma investigação detalhada sobre o registo dos barcos de pesca e a ligação da empresa com outros existentes que tenham estado envolvidos em actividades de pesca ilegal”, explicou o governante.

No essencial, disse, trata-se de determinar “se as embarcações estiveram envolvidas no passado em pesca ilegal”, algo que em Timor-Leste não é permitido, ou se “estão registadas em mais do que um país, algo que também não é permitido”.

Se os navios respeitaram, ou não, a licença que lhes foi concedida é outra questão que só será determinada depois de concluída uma investigação detalhada, que está actualmente a ser conduzida por técnicos do Ministério.

“Actualmente está no porto de Carabela a polícia de investigação juntamente com os responsáveis das pescas para averiguar com mais profundidade a veracidade das informações que recebemos. Se se tratar de crime serão tomadas outras medidas”, referiu.

Déjà vu

A acção do Governo surgiu depois da segunda polémica, este ano, com navios das empresas chinesas Hong Long Fisheries e Pingtan Marine Entreprises e que têm, desde meados de Novembro de 2016, uma licença de um ano para operar em águas timorenses.

No passado dia 8 de Setembro, os navios voltaram a ser apanhados a pescar tubarão durante uma operação conduzida em conjunto pela polícia timorense e pela organização ambiental Sea Shepherd.

A operação envolveu o navio Ocean Warrior da Sea Sheperd que com lanchas rápidas ajudou a transportar efectivos da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) que efectuaram a rusga no interior das embarcações.

Já em Fevereiro, a Lusa tinha noticiado que os navios estavam a pescar ilegalmente tubarão, o que levou o Governo timorense a anunciar uma investigação interministerial que, em Abril, deliberou aplicar aos 15 navios uma multa de 500 dólares  cada.

Estanislau da Silva reconheceu que o “licenciamento de pescas à companhia chinesa Hong Long tem sido polémico, objecto de comentários e de suspeitas”, mas quando a licença foi concedida tudo estava dentro da lei.

“Na altura concedemos as licenças mediante a informação que nos foi submetida e com base nessa documentação e declarações da própria companhia decidimos atribuir a licença, mas acautelando sempre que devia cumprir as leis”, disse.

“Agora recebemos informação detalhada da Indonésia e por isso mandei suspender as actividades da companhia para se aprofundar as investigações nesta área. Comuniquei o caso ao primeiro-ministro esta manhã e alertei o ministro da Defesa e Segurança para não deixar nenhum barco sair do porto de Carabela”, sublinhou.

O ministro disse que, no caso da pesca do tubarão, o Governo fará respeitar a lista de espécies protegida, que é “muito abrangente” e inclui espécies cobertas pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora (CITES) e ainda as listadas na Indonésia e na Austrália.

Sem dó

O governante reconheceu ainda não se saber ao certo o que está a bordo e que só agora está a ser feita uma “inspeção detalhada”. A lei prevê medidas que vão desde coimas à apreensão de navios ou suspensão da licença, estando igualmente em curso uma investigação adicional conduzida pelo Ministério Público, acrescentou.

“Estamos muito empenhados em proteger os nossos recursos marítimos e não tomaremos meias medidas se verificarmos que houve violação ou não foi cumprida a lei”, garantiu.

O ministro admitiu que este caso mostrou a necessidade de reforçar os meios de Timor-Leste para “inviabilizar a pesca ilegal” nas águas timorenses que, garantiu, se reduziu com a presença dos navios chineses licenciados.

“Precisamos de ter meios reforçados de patrulha. Espero poder acionar mecanismos com os nossos vizinhos na Austrália e na Indonésia sobre esta questão”, disse.

“Temos que diversificar a nossa economia, mas não o podemos fazer em detrimento dos recursos naturais de que o país dispõe. Isso é uma preocupação muito grande do Governo. Vamos a todo o custo encontrar soluções que acomodem esses dois aspectos”, referiu ainda.

25 Set 2017

Sulu Sou, candidato eleito,“Independência é uma falsa questão”

Não é apenas mais um novo rosto na Assembleia Legislativa. É, sobretudo, uma voz que vem reforçar o campo pró-democrata em Macau. Sulu Sou promete cooperar com Au Kam San e Ng Kuok Cheong no hemiciclo, garantindo que as cisões dentro da Novo Macau são para ultrapassar. Assim que tomar posse como deputado, Sulu Sou quer apresentar um pedido de debate sobre os estragos do tufão Hato

Foi um dos grandes vencedores destas eleições. Quais as principais diferenças entre Sulu Sou enquanto candidato em 2013 e agora?

Nos últimos quatro anos a Associação Novo Macau mudou, especialmente no sentido de que temos mais membros jovens, e também voluntários, que ajudam no nosso trabalho. Nos últimos dois anos temos andado nas ruas a contactar pessoas de meia idade, e mais velhas, para olharem para o nosso trabalho. Alguns cidadãos queixaram-se de vários problemas que enfrentaram e obtiveram o nosso apoio. Diria que a principal diferença nestes quatro anos foi que tivemos uma maior aproximação aos nossos possíveis apoiantes nas ruas.

Esperava este resultado?

Queríamos chegar a pessoas de diferentes idades e de diferentes áreas. A Novo Macau lutou por várias questões nos últimos quatro anos, tal como a implementação do salário mínimo, mais direitos laborais e protecção do património, incluindo maiores garantias para a classe média. Quisemos cobrir vários assuntos para chegarmos a diferentes grupos de pessoas.

Sobre a liderança da Novo Macau. Foi eleito deputado e Scott Chiang vai deixar a presidência. Preocupa-o esta questão?

Não penso ser presidente da Novo Macau. Também estou a discutir com os meus colegas qual a melhor escolha para a presidência. Neste momento penso que não sou a melhor opção porque fui eleito deputado. A relação  entre a associação e o escritório do deputado deve ser diferente. Se fosse presidente e também deputado teria dificuldades em monitorizar o meu trabalho como membro da Assembleia Legislativa (AL). Tenho vindo a discutir com Scott Chiang e Paul Chan Wai Chi sobre qual será a melhor decisão a tomar no próximo mês. Mas é um processo que ainda está em discussão.

A Novo Macau tem vindo a enfrentar alguns problemas financeiros e tem tentado captar donativos e voluntários. Como está essa situação?

Temos mais apoio financeiro com o trabalho que vou desenvolver na AL [parte do salário do deputado será destinado ao funcionamento da Novo Macau], mas queremos que a Novo Macau fique mais forte, quero utilizar os recursos da AL para que possa fazer um melhor trabalho como deputado. Também quero mais apoio e donativos dos cidadãos. São duas partes diferentes em termos de financiamento.

É sabido que dentro da associação há várias cisões. Houve a saída de Au Kam San e há duas alas diferentes, digamos assim, pois parte dos membros são mais velhos e conservadores e outra parte é composta por jovens, com uma outra visão. Estas questões internas estão resolvidas?

Tenho vindo a observar a situação e temos de facto membros de várias faixas etárias. A diferença de idades ou de mentalidades não é uma questão fundamental. Eu, o Au Kam San e o Ng Kuok Cheong obtivemos três lugares no hemiciclo e vamos continuar a comunicar com todos os membros, sejam mais racionais ou radicais. Queremos desenvolver uma maior comunicação para tornar a Novo Macau uma associação mais forte do que no passado.

Não vão, portanto, existir problemas de relacionamento na AL? Os três deputados do campo pró-democrata vão trabalhar bem em conjunto?

Esta é uma questão importante. Estou aberto a todo o tipo de cooperação com os restantes deputados do campo pró-democrata, que vão defender questões semelhantes. Falei com Au Kam San e Ng Kuok Cheong esta segunda-feira, a seguir às eleições, e obtive respostas positivas. Au Kam San disse-me que quer ter uma maior comunicação e cooperação com a Novo Macau nos próximos quatro anos. Penso que há espaço para isso, por mim não há qualquer tipo de problema.

Scott Chiang disse que poderá ser vítima de ataques que o impeçam de tomar posse do cargo de deputado. Acredita que isso pode acontecer?

Vamos tentar o nosso melhor para que isso não aconteça. Vamos fazer tudo para travar quaisquer tentativas de ataques e garantir a minha posição como deputado. Em termos legais não podem eliminar o meu assento, porque durante a promoção da minha plataforma política sempre defendi a política “Um País, Dois Sistemas”. Numa situação normal, e dentro do enquadramento legal, não podem simplesmente banir-me da AL.

Confirma então que, aos olhos do campo pró-democrata, o futuro de Macau não passa pelo discurso da independência, como aquele que existe em Hong Kong. Não há qualquer movimento semelhante, ou qualquer ligação, em Macau.

Não vejo nenhuma discussão sobre isso ou sequer um movimento em prol da independência de Macau face à China. É uma falsa questão para o território.

Acredita que o maior erro dos quatro deputados de Hong Kong banidos do Conselho Legislativo (LegCo) foi terem feito um discurso anti-China e pró-independência? O discurso deveria ter sido diferente?

Os movimentos políticos de Hong Kong enfrentam algumas dificuldades. Penso que poderiam ter feito melhor quando tomaram posse, em termos de discurso, quando se referiram à Lei Básica de Hong Kong e ao continente. Foi uma grande lição para nós aqui em Macau. Ouvi muitos cidadãos que me deram os parabéns, e à Novo Macau, que nos pediram para fazer as coisas de uma outra maneira e de forma mais séria, para que o seu voto não fosse um desperdício.

Acredita numa maior maturidade do campo pró-democrata de Macau nos próximos tempos?

Definitivamente. Vamos fazer por isso.

Já prometeu não ter uma postura radical dentro da AL. Vai ser um deputado mais discreto?

Queremos ter um debate racional sobre as políticas e as leis. Se o Governo não aceitar as nossas ideias ou não responder, teremos uma diversidade de discursos ou faremos outro tipo de acções dentro e fora da Assembleia. Somos oriundos de um movimento social. Queremos ter diversidade na AL, com acções racionais. Se for necessário fazer algo, faremos. Primeiro queremos debater e discutir de forma racional.

Quais serão os principais tópicos da sua agenda?

Queremos olhar para a reforma da AL e muitos deputados estão nesse lugar há cerca de 20 anos. Queremos que novas caras cheguem ao hemiciclo e que haja novas ideias. Vamos lutar pelo fim das reuniões das comissões permanentes à porta fechada e pretendemos também apresentar projectos de lei. Queremos ter mais debates sobre assuntos de interesse público. Sobretudo sobre a passagem do tufão Hato, queremos um debate sobre isso, e estamos a considerar ser esse o nosso primeiro projecto apresentado. Penso que terei apoio nesta questão. Temos de nos focar também nas questões da habitação, sobretudo para os jovens. Tem de se pressionar o Governo a rever a lei de habitação económica, para que mais jovens tenham acesso a uma casa.

Au Kam San e Ng Kuok Cheong também estão na AL há muitos anos. Está na altura do campo pró-democrata se renovar?

Não posso controlar o que eles pensam e o que querem fazer. Vou fazer o meu melhor para que mais jovens participem neste trabalho de fiscalização das acções do Governo. Vamos formar mais jovens para que trabalhem na Novo Macau e participem em outras actividades, para que haja uma sociedade civil mais forte. Nas próximas eleições acredito que vamos ter mais jovens candidatos a deputados.

A China está a prestar atenção a Macau. O activismo político vai enfrentar mais desafios, mais pressão?

Para dizer a verdade sinto-me mais nervoso desde que fui eleito (risos). Sou o mais jovem deputado na AL e tenho de aprender com os que já lá estão há mais tempo e com a Novo Macau, bem como com outros membros.

22 Set 2017

Privacidade | Novo Macau atacada por hackers durante a campanha eleitoral

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]ason Chao revela que as contas de email e redes sociais da Associação sofreram tentativas de ataques cibernéticos. O activista suspeita que os responsáveis o fizeram com cobertura do Governo Central. Antes de partir para a Europa, o membro da ANM deixou críticas ao sistema político de Macau

A Novo Macau, a maior associação pró-democracia da cidade, afirmou ontem ter sido alertada pela Google de que foi alvo de ciberataques “apoiados pelo Governo” durante a campanha eleitoral, ataques que cessaram depois das eleições de domingo.

“A Google alertou-nos que ‘hackers’ do Governo podiam estar a tentar roubar a nossa ‘password’. Todos estes ciberataques pararam um dia após as eleições. Acho que não é uma coincidência”, disse Jason Chao, membro da Associação Novo Macau (ANM), em conferência de imprensa.

Uma lista afiliada à ANM elegeu no domingo o mais jovem deputado da Assembleia Legislativa de Macau, Sulu Sou.

Jason Chao, que liderou a associação entre 2010 e 2014 e continuou desde então envolvido nas suas actividades, listou aqueles que considerou terem sido os maiores problemas durante a campanha, entre eles o ataque informático, não só aos emails dos candidatos e da associação, mas também às contas da rede social Facebook e de Telegram, uma plataforma de troca de mensagens.

No entanto, nestes dois últimos casos, as empresas apenas informaram que alguém estava a tentar entrar nas contas, sem referência a interferências governamentais.

“Provavelmente, as autoridades queriam conhecer as nossas actividades para melhor arquitectar campanhas difamatórias. Mas isto é apenas uma especulação minha. O que posso dizer ao público é que fomos informados pela Google de que fomos sujeitos a ataques por ‘hackers’ apoiados pelo Governo”, disse.

Em jeito de despedida

Na mensagem da Google, que Chao mostrou aos jornalistas, a empresa escreveu: “Existe a possibilidade de isto ser um falso alarme, mas detectámos que atacantes apoiados pelo Governo estão a tentar roubar a tua ‘password’. Isto acontece a menos de 0,1% dos utilizadores. Não podemos revelar o que nos alertou porque os atacantes podem reparar e mudar as suas tácticas, mas se forem bem-sucedidos, a certa altura podem aceder aos teus dados ou tomar outras acções usando a tua conta”.

Questionado sobre que Governo suspeitava estar pode trás dos ciberataques, o de Macau ou o da China, Chao apontou para o segundo. “Pelo que sei, o Governo de Macau não tem a capacidade de desenvolver tecnologia de ‘hacking’”, disse.

Jason Chao, de 30 anos e que desde 2005 tem vindo a dedicar-se ao activismo, deixa Macau no sábado com destino ao Reino Unido, para fazer um mestrado.

A partir de agora, disse, deixará de centrar o seu trabalho em Macau, mas pretende continuar a representar algumas organizações do território nas reuniões da ONU, quando for analisada a implementação de tratados internacionais.

Nos últimos 17 anos, Chao disse ter assistido a uma “deterioração generalizada da protecção dos direitos”.

“Quando falamos da política de Macau temos de ter a China em consideração. Nos últimos anos, os governos da China e de Hong Kong têm lutado contra o movimento de independência de Hong Kong ou outros que pretendem promover democracia. Torna a situação em Macau mais difícil”, disse.

“Objectivamente vemos que a polícia está muito interessada em reunir informação sobre activistas. Estamos sob vigilância e o Governo tem agora mais vontade de acusar os activistas”, comentou.

Por outro lado, Chao considera que a sociedade civil não “está a desenvolver-se bem”.

“Até que ponto é que os cidadãos valorizam a liberdade? Pensam os cidadãos que há necessidade de lutar por maior liberdade? Estas são as bases de uma sociedade civil saudável”, disse.

Tendo em conta estes dois factores, “o activismo em Macau é muito difícil”.

“Estamos só ligeiramente melhores que a China, pelo menos ainda temos Internet livre. Mas não sabemos quando é que vamos ter de começar a usa VPN [Virtual Proxy Network]. Desejo o melhor aos meus colegas em Macau”, concluiu.

22 Set 2017

“Um acto de coragem” Raimundo do Rosário comenta nomeação de Tam para SMG O secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, comentou ontem a escolha do nome de Raymond Tam para a chefia dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG). Segundo o canal chinês da Rádio Macau, o secretário explicou que a escolha foi feita após uma análise de todos os directores e subdirectores da sua tutela, sendo que Raymond Tam, a coordenar a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), foi considerado o melhor para ser director dos SMG. Raimundo do Rosário frisou que assumir este cargo “é um acto de coragem” e pediu desculpas à família de Tam pelo facto de este passar a ter menos tempo para estar com eles. O secretário admitiu confiar no trabalhar do ainda director da DSPA e disse que, caso haja problemas de maior na análise de tempestades e tufões, está preparado para assumir responsabilidades. Tendo sido atribuído a Raymond Tam o índice 225 da tabela salarial da Função Pública, Raimundo do Rosário explicou que este número foi definido tendo em conta o cumprimento do regime de carreiras dos trabalhadores dos serviços públicos, sendo este o limite máximo. Percurso variado A nomeação de Raymond Tam foi conhecida esta segunda-feira, graças a um despacho publicado em Boletim Oficial. Fung Soi Kun, que durante anos ocupou o cargo máximo de chefia dos SMG, está a ser alvo de um processo de investigação após a passagem do tufão Hato por Macau, que levou à ocorrência de dez vítimas mortais. Raymond Tam Vai Man assumiu pela primeira vez um dos principais cargos no Governo, em 2007, quando foi chamado para substituir Lau Si Io, como presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais. Na altura, Lau foi promovido a Secretário para os Transportes e Obras Públicas, após a exoneração de Ao Man Long. Contudo, a passagem de Tam pelo IACM ficou marcada por uma suspensão em 2013, no âmbito da investigação à ex-Secretária Florinda Chan, relacionada com a atribuição de campas no Cemitério de São Miguel Arcanjo. O então presidente do IACM acabaria por ser ilibado, e em 2015 foi nomeado director dos Serviços de Protecção Ambiental, cargo que a partir de ontem passou a acumular em conjunto com a posição de director dos SMG.

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, comentou ontem a escolha do nome de Raymond Tam para a chefia dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG).

Segundo o canal chinês da Rádio Macau, o secretário explicou que a escolha foi feita após uma análise de todos os directores e subdirectores da sua tutela, sendo que Raymond Tam, a coordenar a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), foi considerado o melhor para ser director dos SMG.

Raimundo do Rosário frisou que assumir este cargo “é um acto de coragem” e pediu desculpas à família de Tam pelo facto de este passar a ter menos tempo para estar com eles. O secretário admitiu confiar no trabalhar do ainda director da DSPA e disse que, caso haja problemas de maior na análise de tempestades e tufões, está preparado para assumir responsabilidades.

Tendo sido atribuído a Raymond Tam o índice 225 da tabela salarial da Função Pública, Raimundo do Rosário explicou que este número foi definido tendo em conta o cumprimento do regime de carreiras dos trabalhadores dos serviços públicos, sendo este o limite máximo.

Percurso variado

A nomeação de Raymond Tam foi conhecida esta segunda-feira, graças a um despacho publicado em Boletim Oficial. Fung Soi Kun, que durante anos ocupou o cargo máximo de chefia dos SMG, está a ser alvo de um processo de investigação após a passagem do tufão Hato por Macau, que levou à ocorrência de dez vítimas mortais.

Raymond Tam Vai Man assumiu pela primeira vez um dos principais cargos no Governo, em 2007, quando foi chamado para substituir Lau Si Io, como presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais. Na altura, Lau foi promovido a Secretário para os Transportes e Obras Públicas, após a exoneração de Ao Man Long. Contudo, a passagem de Tam pelo IACM ficou marcada por uma suspensão em 2013, no âmbito da investigação à ex-Secretária Florinda Chan, relacionada com a atribuição de campas no Cemitério de São Miguel Arcanjo. O então presidente do IACM acabaria por ser ilibado, e em 2015 foi nomeado director dos Serviços de Protecção Ambiental, cargo que a partir de ontem passou a acumular em conjunto com a posição de director dos SMG.

CRU | Sociedade para a renovação urbana dá os primeiros passos

[dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]aimundo do Rosário adiantou que na próxima reunião do Conselho de Renovação Urbana (CRU) serão discutidos os estatutos da empresa de capitais públicos com vista a tratar a renovação do tecido urbano de Macau. O secretário para os Transpores e Obras Públicas prevê que, “provavelmente, na próxima reunião haverá um consenso sobre a sociedade”. Ontem foi analisada a primeira proposta de regulamento administrativo para a criação da entidade. O 2º grupo especializado do CRU tomou a decisão de criar esta entidade em Novembro do ano passado, cumprindo as competências que têm para promover a renovação urbana e o reaproveitamento de edifícios industriais. Ainda não existe um modelo definido para a estrutura e modo de administração da empresa que será constituída.

22 Set 2017

Eleições | Governo encaixa 75 mil patacas com cauções de candidatos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] lei eleitoral define a perda de uma caução de 25 mil patacas para as listas com menos de 300 votos nas eleições. Uma exigência que levanta várias questões, e volta a ser questionada, depois de Carl Ching revelar que está endividado.

Entre as 25 listas que se inscreveram para participarem nas eleições pelo sufrágio directo, três vão perder a caução de 25 mil patacas, que entregaram ao Governo. Em causa estão as listas “Início Democrática”, “Nova Ideais de Macau”, por terem tido menos de 300 votos, e a lista “Cor de Rosa, amar a população”, que desistiu antes do acto eleitoral.

Esta é uma alteração à lei que foi introduzida na última revisão do diploma e que levantou algumas questões por parte dos deputados. No entanto, na quarta-feira, o caso ganhou outra dimensão, quando o cabeça-de-lista da “Nova Ideais”, Carl Ching, revelou estar endividado devido à perda da caução. Ching admitiu ter pedido uma recontagem dos votos na esperança de ver a sua votação subir para recuperar as 25 mil patacas.

Já Lee Kin Yun, número um da lista “Início Democrática”, avançou, ontem, ao HM que não vai tomar medidas tão drásticas como Carl Ching, apesar de também ter de suportar a perda de 25 mil patacas.

“Acho que não vou conseguir voltar a ter a caução. Mas também não vou tomar nenhuma medida tão ‘louca’ como o Carl Ching para reaver o dinheiro. Ele que faça o que entender”, afirmou Lee Kin Yun.

O candidato derrotado confessou ter pago o montante do próprio bolso, mas recusando comentar se esta medida era adequada. “Nos outros lugares, na altura das eleições, também é exigida uma caução aos candidatos”, limitou-se a dizer.

Por sua vez, Nelson Kot, candidato não eleito da lista Poderes do Pensamento Político, reconheceu que a alteração à lei pode causar problemas a algumas listas.

“Era preferível que não fosse preciso pagar esta caução, principalmente para os grupos mais pequenos. Durante a campanha já existem muitas despesas, e as listas com menores apoios financeiros sentem mais esse esforço, até porque muitas vezes as verbas vêm da família e amigos”, disse Nelson Kot, ao HM.

“Para mim o montante não foi muito elevado, mas penso que houve outras candidaturas que sentiram mais dificuldades para conseguirem esse dinheiro”, acrescentou.

Materialmente discriminatória

Se no plano formal a lei trata todos os cidadãos por igual, ao exigir a todos o pagamento do mesmo valor, por outro lado, o jurista António Katchi defende que existe uma discriminação material. Em causa está o facto de para alguns candidatos 25 mil patacas ser um valor reduzido, mas para outros exigir um ginástica financeira maior.

“É uma norma que aparentemente é igual, porque se aplica a todos, mas materialmente é discriminatória. Viola o princípio da igualdade material, porque para candidatas como Angela Leong ou Melinda Chan perder a caução não tem um grande impacto. Mas para outras pessoas o impacto já será muito maior”, justificou António Katchi.

O jurista defende ainda que os candidatos não deviam perder a caução, uma vez que o facto de não terem conseguido pelo menos 300 votos não é uma infracção, e como tal não deveriam ser penalizados.

“Não é nenhuma infracção o facto da pessoa obter menos votos do que os exigidos pela lei. Não houve nenhuma infracção, nem um acto desonesto, o candidato não andou a enganar ninguém. E depois objectivamente acaba penalizado porque perde dinheiro. Mesmo que tecnicamente não seja uma multa, na verdade acaba por ter o mesmo efeito”, sublinhou.

Katchi encontra explicação para esta parte da lei, na intenção de controlar o número de candidaturas e na repressão de listas sem “qualquer base de apoio”.

Todavia, aponta que a intenção não se adequa à forma como o sistema de Macau está organizado: “devemos ser coerentes com o sistema, que não impõe este tipo de restrições e que não impede que surjam 24 listas, como aconteceu. Isto pode ser considerado um problema do sistema, mas não me parece que a imposição de uma caução seja uma forma justa de o resolver”, rematou.

22 Set 2017

Portas do Cerco | Pedidas soluções com menos impacto para a população

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]eputados mostram-se preocupados com as obras no Terminal das Portas do Cerco e pedem ao Executivo que tome medidas para facilitar a vida da população

A Associação Novo Macau realizou ontem, na zona das Portas do Cerco, uma conferência de imprensa, e Sulu Sou avançou com uma proposta para atenuar o trânsito naquela zona, na sequência do encerramento do terminal de autocarros, devido às inundações causadas pelo tufão Hato.

O recém-eleito deputado entende que devido à suspensão do terminal das Portas do Cerco, os residentes têm de atravessar caminhos que estão longe de oferecer as condições ideais, só para poderem chegar às paragens temporárias.

Na mesma proposta, o pró-democrata sugere que o terminal seja utilizado para o estacionamento de autocarros e shuttle-bus dos casinos, defendendo também a necessidade de instalar geradores temporários de electricidade, assim como a recuperação dos sistemas de iluminação e ventilação.

Quanto à a superfície das Portas do Cerco, actualmente destinada ao estacionamento de autocarros dos casinos, deve ser aproveitada, a título provisório, diz o pró-democrata, para a tomada e largada de passageiros dos autocarros públicos. Porém, deixa o aviso: é necessário instalar coberturas para proteger os passageiros do sol e da chuva.

Sistema prioritário

Também Ron Lam U Tou, presidente da Associação da Sinergia de Macau, afirmou, ao Jornal do Cidadão, que os autocarros públicos são um dos principais meios de transporte na RAEM e que devem ter prioridade na utilização dos locais para poderem parar.

Através do ajustamento das paragens de autocarros, Lam U Tou acredita que se pode melhorar as rotas e a frequência dos shuttle-bus. Ainda sobre os autocarros dos casinos, o presidente da Associação da Sinergia de Macau revelou que é essencial que se utilize o mínimo de espaço possível, porque diz ver frequentemente essas viaturas quase vazias. Segundo Ron Lam U Tou, ao utilizar-se menos espaços seria possível proceder a um ajustamento das rotas e frequências.

Lam U Tou reiterou que a zona de superfície das Praça das Portas do Cerco é um bom local para a paragem de autocarros, o que pode ser provado pelo facto de a referida área já ser utilizada há vários anos para esse propósito.

Por sua vez, o vice-presidente do Centro da Política da Sabedoria Colectiva, Leong Hong Sai, declarou, ao mesmo jornal, que após o anúncio da Administração de que o terminal seria suspenso durante dois anos, os cidadãos tiveram uma forte reacção. Esta resposta foi justificada com a inconveniência na deslocação das pessoas, principalmente dos idosos, e ainda pelos receios de puderem surgir problemas ligados à segurança.

Por isso, Leong Hong Sai sugere que, antes do arranque dos trabalhos de recuperação do terminal, sejam consertadas as instalações básicas, como iluminação e ventilação, para disponibilizar temporariamente algumas rotas de autocarros mais utilizadas pelos cidadãos. O objectivo passa por reduzir o impacto junto da população dos trabalhos desenvolvidos.

Já na visão de Agnes Lam, que esteve presente num programa promovido pela Ou Mun Tin Toi, citado pelo Jornal do Cidadão, o terminal de autocarros das Portas do Cerco tem problema em termos de design. A deputada recém-eleita defendeu que esta questão mostra a deficiente fiscalização do Governo. A académica quer que as autoridades expliquem à população as razões para o longo período de obras e que divulguem pormenores sobre as despesas. Agnes Lam pede ainda que se faça uma audiência dos profissionais do sector, no sentido de tratar das questões mais graves, e que se divulguem os relatórios.

Autocarros | Carreira 5AX começa a operar amanhã

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) anunciou ontem que a carreira rápida 5AX começa a operar amanhã. Segundo um comunicado, a nova carreira passa pelas zonas das Portas do Cerco, centro e Barra, permitindo “acelerar a rotatividade dos autocarros, escoando a afluência de passageiros”. Segundo a DSAT, “esta nova carreira será um reforço nos trabalhos de alteração aos itinerários afectados devido à suspensão do funcionamento do terminal das Portas do Cerco, permitindo ao mesmo tempo, responder melhor às necessidades de deslocações dos passageiros para os locais de trabalho e escolas”.

22 Set 2017

Taxa de inflação fixa-se em 1,16% em Agosto

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] taxa de inflação em Macau fixou-se em 1,16% nos 12 meses terminados em Agosto em relação aos 12 meses imediatamente anteriores, indicam dados oficiais ontem divulgados.

De acordo com os Serviços de Estatística e Censos (DSEC), o Índice de Preços no Consumidor (IPC) aumentou sobretudo devido a subidas nos índices de preços das secções da educação (+7,43%), bebidas alcoólicas e tabaco (+5,51%) e transportes (+4,99%).

Só em Agosto, o IPC geral, que permite conhecer a influência da variação de preços na generalidade das famílias de Macau, cresceu 1,36% em termos anuais, “sendo este acréscimo homólogo o mais elevado desde Janeiro do corrente ano”.

Tal deveu-se principalmente ao aumento dos preços das refeições adquiridas fora de casa, do calçado e das propinas escolares, indicou a DSEC.

Em relação a Agosto, o IPC geral sofreu um crescimento ligeiro de 0,09%.

Em 2016, a taxa de inflação de Macau foi de 2,37%, a mais baixa desde 2009, ano em que se fixou em 1,17%.

Segundo as mais recentes projecções do Fundo Monetário Internacional (FMI), a taxa de inflação de Macau deve fixar-se em 2% este ano, em 2,2% no próximo e em 3% em 2022.

Tufão | SAFP dão apoio psicológico ao pessoal da Alfândega

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) realizaram quatro palestras de apoio psicológico ao pessoal dos Serviços de Alfândega, no contexto da passagem do tufão Hato por Macau. Os profissionais que lidaram de perto com os estragos assistiram às palestras que abordaram “o eventual impacto de stress causado e os métodos de auto-adaptação para o pessoal alfandegário e de apoio logístico, após a ocorrência de incidentes específicos”. Os SAFP consideram que “os trabalhadores dos serviços públicos enfrentaram uma variedade de situações de emergência nos últimos dias, sofrendo de stress com graus diferentes”.

Saúde | Detectada gripe colectiva em infantário na Taipa

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) foram notificados ontem para a ocorrência de um caso de infecção colectiva de gripe numa escola. O caso foi diagnosticado em dez alunos, cinco do sexo masculino e outros cinco do sexo feminino com idades compreendidas entre os 3 e os 4 anos da secção infantil da Escola Secundária Pui Va. As crianças começaram a apresentar sintomas de gripe, nomeadamente tosse e febre a partir de 19 de Setembro. O caso divulgado pelos SS não resultou no desenvolvimento para um quadro clínico mais gravoso, sendo que foi divulgado que o estado de saúde dos alunos é considerado estável. A escola procedeu à desinfecção, limpeza e manutenção da ventilação de ar no interior das instalações de forma a estancar o possível contágio.

22 Set 2017

Cooperação | Alexis Tam encontra-se com o Ministro da Cultura português

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] colaboração para projectos culturais marcou o encontro em Lisboa entre Alexis Tam e o Ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes. A reunião serviu para aprofundar as relações entre a China e os Países de Língua Portuguesa e para anunciar a possível criação de um Fórum Cultural

As relações entre o universo luso e chinês estiveram no centro do encontro entre Alexis Tam e o Ministro da Cultura de Portugal. O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura reforçou junto do seu congénere esse desígnio confiado por Pequim a Macau, que foi fortalecido aquando da visita do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang ao território.

Alexis Tam considera que Macau tem características únicas que resultam da história de meio milénio de partilha cultural entre Oriente e Ocidente. Nesse sentido, o secretário afirmou que apresentou ao Governo Central um projecto para a criação de um Fórum Cultural, uma ideia bem recebida por Pequim. O organismo propõe-se a reunir os ministros da cultura dos países de língua portuguesa e da China.

Alexis Tam fez questão de vincar os eventos culturais que acontecem em Macau, dando particular destaque ao festival literário Rota das Letras como um exemplo do intercâmbio cultural e artístico desenvolvido no território que valoriza a herança da cultura portuguesa.

Durante a reunião com Luís Filipe de Castro Mendes foram realçadas as exposições organizadas em Portugal de artistas da RAEM, assim como a presença das orquestras de Macau em eventos em solo português.

Pedaços de história

O ministro português mencionou que Macau tem uma importância especial no relacionamento entre Portugal e a República Popular da China. Castro Mendes lembrou que em 2019 se celebram 40 anos do restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países. Foi também realçado que será o ano em que se celebram 20 anos da transferência de soberania, uma data propícia à realização de iniciativas de cariz cultural.   

O encontro serviu também para celebrar o reconhecimento das Chapas Sínicas como obra “Memória do Mundo”, pelo Comité Regional da Unesco para a Ásia e Pacífico. As peças são constituídas por um conjunto de mais de 3600 arquivos das autoridades da Dinastia Qing, com datas compreendidas entre 1693 e 1886.

Alexis Tam foi ver as Chapas Sínicas numa visita à Torre do Tombo, e realçou a importância dos trabalhos de restauro e digitalização da colecção. O secretário aproveitou para anunciar a realização de exposições e palestras, no próximo ano, em Macau e Portugal sobre o acervo histórico. O secretário sugeriu ainda que sejam emitidos selos comemorativos que marquem o êxito da candidatura à Unesco.

22 Set 2017

O lado B

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão sei se é, e sempre, a vida partida em duas, como um baralho de cartas em início de jogo. Ou se é simplesmente uma carta e as suas duas faces, em momentos diferentes que se alternam. A face que determina, inexorável, a face que esconde e tudo permite imaginar ou sonhar. Face de padrões que variam de baralho para baralho, mas padrões que são como tapetes confortáveis à alma, no imaginar de uma mão favorável, um desígnio inesperado, a realização do que se espera passivamente, como se à vida fosse dado chegar sem querer forçar. Coisa que não é. Faces de uma moeda que se lança ao ar. E cai o momento. E a possibilidade de visualizar, como através de um prisma, miríades de cores e formas adulteradas que não pelo efeito da razão. Mas sim pela densidade do cristal que se interpõe ou do cristalino físico do olhar que se dispõe – e porque não? – num momento diferente de outros a ser assim. Outras, que não mais que pelo elaborar mental imparável e cego. Como se o olhar fosse imagem prévia a abrir voluntariamente e não processamento inadvertido da postura dos olhos face ao real. Que real? Pergunto.

O de fantasiar todo um tempo vindouro possível. O de arrumar contas da vida material dos dias que passam sem saber a que propósito dar contas.

Esse real de fazer medo. Que medo esse que empata os dias como se monstro a alimentar-se de indefinições, ou a esperar, estoico, a resolução da ineficácia que os torna iguais, idênticos em tudo que não na página da agenda.

Contemplava a cama desarranjada com um olhar diferente de outros dias. Nos outros, os dias em que estava, olhava a cama revolta com o olhar de olhar uma cama revolta a pedir ordem e alinho, lençóis frescos e as palmadinhas firmes nas almofadas. Puxar as orelhas ternurentamente à noite de antes e deixar um sinal de renovação e começar de novo à noite que vinha. Ao sono e ao ombro de um calor ali. Mas olhava, agora a cama, a mesma cama, com um olhar de contemplação porque a cama era outra e o dia a anteceder a noite um dia diferente para entrada numa noite diferente e sem o ombro adormecido onde poisar a face, a insónia, aquela extensão do dia a não querer terminar mergulhado no sono esquecido. Era o olhar de contemplação do lugar da ausência e do lugar desfeito da presença passada. O lugar da presença desfeita em sinais como os de outros dias só que agora com a tonalidade definitiva da ausência para um tempo. De um corpo. Que se desfez de formas sensíveis e palpáveis por proximidade.

E as formas confusas e sem estrutura que não a dos acasos dos gestos, recusavam a dizer mais do que a longínqua – já – razão de serem assim. A ausência reduzida à mesma desordem do costume. Desesperante, sempre. Triste vestígio a querer reter, agora.

Ou para sempre, nessa arqueologia do dia antes, deixar estar tudo a prolongar o impossível. A passagem. Por isso não era o simples olhar da vontade de arrumar. Essa desarrumação de corpos que revolvem como as águas de uma maré turbulenta ou como se rolados pela força da maré repetida e calma. Na navegação nocturna. Não era o olhar da subsequente arrumação cega, rotina de dias em mansa continuidade, mesmo que se terna e ritual. A de todos os dias a impor a ordem, numa perspectiva de eterna renovação e desarrumação logo a seguir. Por isso era uma contemplação parada, melancólica e firme na contenção do momento. Para que não fugisse como areia entre os dedos. E desse momento de nostalgia do corpo que já não vivia ali em futuro próximo, só o olhar concentrado e nítido, a perpetuar. Partiu de tarde e começou a partir muito antes. Porque tinha que ser. E foi. À vida que precisa continuar mesmo que ultrapassando portas e portas sucessivas e deixando para trás a mágoa de quanto não se compadece com a existência de várias vidas em simultâneo. Foi porque tinha que ir. Não querendo. Não querendo eu. E agora simples lençóis de algodão amarelo pálido e límpido a desfocar uma despedida que já fora. E a necessidade de apagar o rasto do corpo naquela cama. Adiada, no entanto. Amanhã. Amanhã desfazer as formas ainda com a temperatura, hoje dormir na rebelião da memória feita embalo e saudade de quem já não está visível, mas quase.

Eu vou dali desse olhar que não quer desprender-se e na janela sigo-lhe o rasto já indefinível Vou, de um modo geral, talvez num barco nocturno a um lugar qualquer sem ele, porque de efeitos de luz se apresenta como tal. A noite de não dormir mais. Os contrastes mais difusos do que na torrina do sol. Que eu amo. Mas não descurar a nitidez das sombras nesse gostar da luz. Não fugir à aparência virtual de fogo-fátuo intermitente e difuso, que só na noite, do dia, se apresenta. Nunca sou noite do dia excepto à noite, mesmo. Não se pode imputar à ginástica do olhar a perversão da luz. Da luz que falta ser farol ou que encandeia de inabilidade diurna. Ir num barco de sombras e reflexos não é ir efectivamente. Não é ir, nem nada, senão a procura da bússola. Acendo um cigarro como outros mas nunca são iguais. Os cigarros as luzes e os outros de face escondida por detrás da luz. Acendo este cigarro. Este do momento específico de ser agora e acendo o cigarro secretamente desesperado assim tal e qual como os outros. Mas acendo. O cigarro. Diferente em todas as semelhanças. Este. E penso. E embarco na noite do que o dia não trouxe nítido. E levou, e não deverá trazer de volta. A linguagem é um território de não comunicação. De desfocagem a exigir persistência. A ouvir. A aprender a partir daí. A arrumar como as roupas desalinhadas que ficaram esquecidas por ali. Fui com ele, naquele dia, e como num tabuleiro de jogo, até à casa da partida. Partimos. B. partiu e nunca voltou ali mas a outros lugares. Deixando sempre o mesmo ruidoso recorte de ausência nas coisas. Um silêncio que dura até hoje.

22 Set 2017

Dr. Gomes da Silva – Primeiro Reitor do Liceu

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Bispo Diocesano de Macau, D. António Joaquim de Medeiros pediu ao governo da metrópole para ser criado nesta cidade o Liceu e no Parlamento, em Portugal, o deputado por Macau Horta e Costa advogou a sua fundação. Assim o Liceu Nacional de Macau, com projecto aprovado a 30 de Junho pelo Governo de Portugal, foi criado a 27 de Julho de 1893 para ministrar a instrução secundária geral e equiparado aos liceus nacionais do reino. O Governador de Macau Custódio Borja (1890-1894) calculou a quantia de sete contos e duzentos mil réis anuais para financiá-lo e a 4 de Maio de 1893, no Palácio do Governo reuniu com o Presidente do Senado, António Joaquim Basto e o Presidente da APIM, Pedro Nolasco da Silva. Foi então acordada a verba que cada uma das instituições poderia disponibilizar, pagando o Governo de Macau três contos e setecentos mil réis, o Senado três contos de réis e a APIM só quinhentos mil réis, pois já tinha encargos com a Escola Comercial. O Liceu em Macau iria ficar instalado no Quartel da Guarda Policial na Colina de Santo Agostinho, paredes-meias com a Igreja de Nossa Senhora da Graça, edifício construído em 1591 como convento pelos frades agostinhos. Devido à péssima construção, por várias vezes foi reparado e para albergar o Liceu, as obras efectuaram-se desde Março de 1893 e custaram $1400 mil réis. Já a mudança da Guarda Policial do Quartel de S. Agostinho para o Quartel de S. Francisco ocorreu a 4 de Outubro de 1893.

O Senado, para arranjar as cinco mil patacas do subsídio ao Liceu e como era preciso dinheiro para essa e outras despesas, recorreu então à arrematação do monopólio dos Jinrickshas e do Petróleo.

Os nomeados

O Independente de 6 de Janeiro de 1894 referia, “Pelo que vimos em alguns jornais do Reino, devem já ter sido nomeados definitivamente professores do novo Liceu de Macau os seguintes cavalheiros: O Sr. Wenceslau José de Sousa Moraes, Capitão-tenente da Armada [o Echo Macaense de 21 de Fevereiro refere ter sido o Imediato do Capitão do Porto promovido a Capitão de Fragata], para reger a cadeira de Matemática; o Sr. João Albino Ribeiro Cabral, Tesoureiro geral da Província, para a cadeira de Latim; o Sr. Augusto César d’ Abreu Nunes, Director das Obras Públicas [Major de engenharia que chegara a Macau em 14 de Dezembro de 1893], para a cadeira de Desenho; o Sr. José Gomes da Silva, Chefe do Serviço de Saúde, para a cadeira de Introdução [lecciona a 6.ª cadeira, Física, Química e História Natural]; e o Reverendo Cónego Baltazar Estrocio Falleiro para a de Inglês”. Estes professores foram escolhidos entre os habitantes de Macau.

José Gomes da Silva nascera em 1853 no Porto, onde se formou pela Escola Médico-cirúrgica e a 17 de Dezembro de 1877 assentava praça no corpo de Marinheiros da Armada. Nomeado por Decreto de 4-8-1881 facultativo de 2.ª classe do Quadro de Saúde de Macau e Timor, tomou posse do cargo em Macau a 5 de Janeiro de 1882, tendo chegado acompanhado pela sua esposa Casimira Esperança Douguel Branca, nascida em 1851 em Bordeaux, França, de quem terá onze filhos.

O Governador Horta e Costa, enquanto Director das Obras Públicas de Macau entre 1885 e 1888, muito ficara a dever aos conselhos do médico José Gomes da Silva, então Director dos Serviços de Saúde, investindo no saneamento dos bairros infectos da cidade. A estreita colaboração com o Engenheiro terá levado à nomeação do médico Dr. José Gomes da Silva, por Portaria de 14-4-1894, como Reitor interino do Liceu. Lugar que ocupa dois dias depois no Palácio do Governo, quando o Governador Horta e Costa dá também posse aos professores e funcionários do Liceu. O último professor do Liceu a chegar a Macau e um dos quatro a vir de Portugal, João Pereira Vasco, segundo o Echo Macaense apenas desembarcará no sábado, 12 de Maio de 1894, tendo com ele viajado de regresso da metrópole João Nolasco da Silva, filho de Pedro Nolasco da Silva e Carlos Cabral, filho de João Albino Ribeiro Cabral. Como professor da 7.ª cadeira, Geografia e História, toma posse logo na segunda-feira seguinte.

A Peste Negra em Macau

A peste bubónica não atingira Macau em 1894 graças às medidas tomadas especialmente pelo chefe do Serviço de Saúde, Dr. José Gomes da Silva. Com dois meses no lugar de Reitor do Liceu, ao ser contado o tempo de serviço é-lhe concedido um ano de licença pelos oito anos de residência na Província. Substituído no cargo de Reitor do Liceu por João Albino Ribeiro Cabral, (professor da 4.ª cadeira, Língua Latina), parte Gomes da Silva a 10 de Setembro via América para Lisboa com a sua esposa D. Branca e filha D. Heloisa e no mesmo dia viaja também, com licença da Junta de Saúde, o Sr. António Marques de Oliveira, Juiz de Direito.

Encontra-se de férias o Dr. Gomes da Silva, quando a 24 de Março de 1895 entra em Macau a temível peste, espalhando-se como epidemia na segunda semana de Abril e permanece até meados de Maio. A 15-5-1895, Gomes da Silva reassume as funções e a chefia do Serviço de Saúde, que ficara a cargo do Dr. Pinheiro de Almeida, e por sua sugestão antecipa-se o final do ano lectivo, que termina a 20 de Maio de 1895. Dias depois, João Pereira Vasco é exonerado como professor do Liceu.

Após a morte da sua esposa Casimira Esperança Douguel Branca, que ocorre na Vila Branca a 9 de Dezembro de 1895, Gomes da Silva, a 19-7-1896 ainda é nomeado presidente de uma comissão <para coligir todos os documentos anteriores ao ano de 1834, que existam nos arquivos das repartições do governo, bem como os que houverem pertencido a tribunais, repartições e estabelecimentos do Estado actualmente extintos, e não forem necessários ao serviço e expediente daqueles em cuja posse estejam, a fim de ser tudo recolhido no real arquivo da torre do tombo>. Tudo terá de estar pronto para ser remetido pelo transporte África, que de Macau parte para Lisboa a 28-11-1896. Já em 1898, é nomeada para uma comissão cujo objectivo é reunir os recursos de Macau e os elementos de produção artística e industrial para expor na Exposição Universal de Paris de 1900.

A 1 de Novembro de 1905, às 16:15, com 52 anos de idade também na Vila Branca morre o Coronel-médico Dr. José Gomes da Silva, tendo passado 22 anos em Macau, segundo o Padre Manuel Teixeira, que refere, “distinto médico português tanto em Macau como em Timor, publicou estudos únicos sobre as Floras dessa Província e em 1896 introduz no formulário do hospital o uso de plantas medicinais de ambos os locais”. Dá início ao Boletim Necrológico e cria o primeiro museu em Macau, dentro do Liceu o Museu de História Natural, <…uma utopia. Nem na prática se podia realizar: durante as aulas perturbariam os alunos; fora delas, o liceu ficava fechado>, murmura um jornal e assim ficou Macau sem Museu.

22 Set 2017

Nas ondas. Sob o signo de VW.

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]empre que a porta se abre. Já vi a porta abrir-se e fechar-se vinte vezes. A cada vez a ansiedade aumenta. De cada vez que a porta se abre, tem toda a nossa atenção. Olha-se com uma expectativa. É frustrada de cada vez. Sempre que a porta se abre, o que quer que alguém esteja a fazer, instalado na sala, é interrompido. A leitura atenta, os olhos postos na TV, a rádio escutada, a roupa a engomar ou apenas o estar lá, tudo isso, o que quer que seja que nos absorva e serve de terminal no mundo é suspenso. Olhamos para a porta que se abre sem saber quem lá vem, se não se enganou na porta. Podemos não estar à espera de ninguém como podemos estar à espera de alguém. Nos dois casos o olhar esboça em antecipação a partir do facto “a porta abre-se” possibilidades. Vem aí alguém. X chegou. Não é X, mas é alguém. Há decepção ou alívio. Poderia não se querer que alguém em particular chegasse. Ou não, o contrário. Poderia querer-se que alguém chegasse ou já tivesse chegado. Sempre que a porta se abre, interrompe-se a agenda do quotidiano: ler, coser, engomar, comer, sentar-se, distrair-se, assistir a…, escutar. Não é apenas a porta ser aberta. Um movimento empurra-a para dentro da sala ou puxa-a para fora. É a indicação dessa notícia: alguém vem aí. A interrupção do sentido do serão para quem se encontra na sala. A porta abre-se vinte vezes.  Vinte vezes a sala desfaz-se como o campo em que as pessoas se encontram, inseridas na sala, a fazer o que estão a fazer. Vinte vezes cabeças olham na direcção da porta. Frustra-se a expectativa ou ela é preenchida. Enceta-se uma outra linha de acção. Regressa-se ao que se estava a fazer: bebe-se um golo de chá, volta a engomar-se, presta-se atenção ao que o locutor diz, o livro permite a leitura. Ou então, fala-se com quem entrou, pergunta-se e responde-se, puxa-se uma cadeira para se sentar à mesa, abre-se um novo rumo. O serão é descontinuado. O serão é retomado.

Alguém entra na sala. Tudo se modifica. Não apenas porque a pessoa ocupa o espaço na sala que o seu corpo requer. O corpo é a fronteira da ocupação do lugar em que se encontra. A pessoa enche a sala inteira com a sua presença, mesmo quando não é vincada, quando a presença de alguém não nos diz nada, é apagada. Mas a presença de alguém pode ser intensa. Quem lá se encontra interrompe o que está a fazer, fica preso da conversa, contente ou triste. Os maples, a mesa de jantar, os candeeiros de pé alto e o suspenso do tecto, a rádio antiga e a TV, a tábua de engomar, toda as peças de mobiliário sem excepção, o chão alcatifado, as paredes e as janelas, o tecto, o espaço vazio entre os objectos e as pessoas, as pessoas que lá se encontram ficam revestidas pela presença de quem entrou, contaminadas por ele, como ele é contaminado pela sala toda e as pessoas que lá se encontram, banhadas pelo fluxo complexo em trânsito, os rápidos que são as existências de casa pessoa a fluir, na torrente do seu ser. A sala de jantar antes e depois é diferente. A mesa de jantar é diferente consoante são diferentes as pessoas que a ela se sentam para jantar. E há pessoas que não virão já nunca mais juntar-se a nós. A mesa de jantar povoada outrora é diferente e irrecuperável, agora que está despovoada, esvaziada desses outros que já não virão sentar-se a ela. A sala toda é diferente se for impossível que alguém entre já ou se for possível que alguém entre nela. A diferença não é apurada nos conteúdos. Podem ser exactamente os mesmos. Mas quando alguém já não se pode sentar à mesa connosco, estar na sala, nela tomar lugar, a sala é radicalmente diferente da sala quando alguém ainda pode vir simplesmente para lá estar connosco. Já não é habitável por esse alguém. A sala não admite ser alagada pela presença desse alguém. Ficou seca dele. Sem o seu revestimento, clima ou atmosfera. Ou melhor, a sala contém desse outro que desapareceu ainda vestígios da sua presença passada, o sofá vazio da pessoa que se costumava lá sentar, o lugar à mesa vazio, o armário onde ainda estão relógio e óculos, mas sem interacção. É lá que estão e ficaram. O espaço todo da sala esvaziado da presença, idas e vindas desse alguém. O desaparecimento, aspirado, implosão da vida de alguém para fora da sala para sempre desse alguém, ainda presente na sua ausência.

À hora do jantar, sento-me no meu lugar. Vim mais cedo, para poder gozar um momento de antecipação. Esperar por ti, como costumava fazer, quando dizias para começarmos, que estava a chegar. Já não sobes as escadas como eu ouvia que subias por elas, a cadência particular do andar que sobe, o tom do contacto com cada degrau, o ritmo e a velocidade com que chegavas ao nosso andar. Já não metes a chave à fechadura. Ninguém metia a chave à fechadura como tu. Cuidadosamente, não para surpreenderes alguém num qualquer delito, mas porque não atinavas bem com a ranhura e depois giravas a chave na ranhura com velocidade e precisão. Abrias a porta da sala de jantar que dava diretamente para a porta da rua. Eu, agora, do lado de dentro finjo que sei que não virás. Abre-se a porta. A casa está agora cheia de gente estranha, hóspedes, jovens universitários. O exercício de antecipação é tão bem feito que estou mesmo na expectativa de que estás aí a rebentar. E não. Não vens. Não vieste. Não virás.

A sala toda mergulhada no ambiente de expectativa da tua vinda é diferente da sala inteira quando lá estavas sentado. As pessoas existem de uma forma radicalmente diferente de como uma mesa está posta no meio da sala, com as respectivas cadeiras, pratos e talheres, o cesto do pão, copos, galheteiro e vinho. Quem lá se senta à mesa hoje vai e vem, dizem bom dia, bom apetite, até logo. A sala está num campo de forças diferente do campo de forças de outrora. Metamorfoseou-se. Tudo lá está como dantes. Tudo é diferente. Irreconciliável. É onde estou à espera. A sala de jantar não perdeu nenhuma mobília, nem cor, nem reposteiros, nem armários. Está, contudo, escaqueirada. Vazia da possibilidade de alguém. Cheia da impossibilidade de alguém que não vem. Os talheres inertes, o prato sem sopa, o copo vazio, o lugar por ocupar para sempre. Da mesa não sairás, porque já não podes vir. O mesmo da casa. Não regressarás à noite nem sairás de manhã. O mesmo se passa nas escadas, já não as sobes nem desces, a porta da rua, a esquina ao fundo, a cidade inteira, o mundo na sua totalidade indicia a tua ausência definitiva. O mundo é o mesmo na realidade física e material. É diferente. O mundo sem alguém que o habitou é uma transfiguração do mundo quando alguém que desapareceu o habitava.

É isso que “me diz” a porta quando se abre e não deixa perceber a tua vinda.

Vinte vezes a porta abre-se, mas já não vens.

22 Set 2017

S&P reduz nota da dívida chinesa devido a ‘boom’ do crédito

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] agência de ‘rating’ Standard & Poor’s reduziu ontem a nota atribuída à dívida da China, de AA- para A+, e a alguns bancos cujas operações se concentram no país, devido a um ‘boom’ do crédito.

A S&P, que mantém uma perspectiva “estável” para a China, justifica o corte com o “prolongado período de forte crescimento do crédito, que aumentou os riscos económicos e financeiros” para o país.

A nota A+ é a sexta mais alta dentro do ‘rating’ [avaliação] atribuído pela S&P e situa-se no nível médio alto.

Várias instituições económicas internacionais, incluindo o Fundo Monetário Internacional (FMI), têm advertido Pequim para o rápido aumento da sua dívida corporativa.

Em Maio, outra agência de ‘rating’, a Moody’s, reduziu a nota atribuída à China.

A S&P tinha já avisado que poderia rever a nota, quando em Março de 2016 mudou a perspectiva de “estável” para “negativa”.

“Um prolongado período de forte aumento do crédito aumentou os riscos económicos e financeiros para a China”, afirmou a agência, em comunicado.

“Apesar deste aumento do crédito ter contribuído para um forte crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] e preços mais altos dos activos, acreditamos que também enfraqueceu a estabilidade financeira, até certo ponto”, acrescentou.

O corte no ‘rating’, anunciado depois do fecho das praças financeiras chinesas, poderá aumentar ligeiramente os custos do crédito para Pequim, mas o impacto maior é no sentimento dos investidores.

Em Maio, quando a Moody’s reduziu a nota atribuída à China, o ministério chinês das Finanças disse que a agência recorreu a métodos incorrectos e não entendeu as dificuldades económicas e a força financeira da China.

A liderança comunista tem apontado a redução dos riscos financeiros como uma prioridade para este ano e anunciou, entretanto, medidas para combater o problema, incluindo a conversão das dívidas em títulos,

Analistas apontam, no entanto, que o ritmo das reformas é muito lento.

A dívida da China tem aumentado à medida que Pequim tornou o crédito mais barato e acessível, num esforço para incentivar o crescimento económico, após a crise financeira global de 2008.

O principal indicador da dívida da China atingiu um nível equivalente a 257% do Produto Interno Bruto (PIB), no final de 2016, segundo a agência suíça Bank for International Settlements (BIS).

Em 2008, a dívida chinesa equivalia a 143% do PIB.

A economia chinesa cresceu no ano passado 6,7%, menos de metade do ritmo atingido em 2007, de 14,2%.

Reformas em curso

O Governo está a tentar tornar a economia mais produtiva, ao atribuir maior protagonismo ao mercado e a reduzir o excesso de capacidade de produção nas indústrias do aço e cimento, que tem resultado numa queda dos preços e em prejuízo para as empresas do Estado.

Pequim está também a encetar uma reconfiguração no modelo económico chinês, visando um maior ênfase do consumo interno, em detrimento das exportações e do investimento em grandes obras públicas.

O ritmo de crescimento da economia abrandou, no entanto, a um ritmo superior ao esperando, pondo em risco postos de trabalho, que podem ter consequências políticas.

A S&P apontou que prevê que o país “mantenha uma performance económica robusta ao longo dos próximos três a quatro anos”.

“Talvez elevemos a nota da China se o aumento do crédito se reduzir significativamente e se se mantiver bem abaixo do nível actual, acompanhado de um ritmo saudável de crescimento do PIB”, lê-se no relatório da agência.

“Uma redução da nota poderá acontecer se houver grande probabilidade de a China reduzir os seus esforços para combater o crescente risco financeiro e permitir que o aumento do crédito acelere, como forma de apoiar o crescimento da economia”, conclui.

Chineses e australianos em exercícios militares conjuntos

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]oldados chineses e australianos concluíram esta semana uma série de exercícios militares conjuntos em terrenos montanhosos do extremo sudoeste da China, anunciou ontem o ministério chinês da Defesa. Em comunicado, o ministério informou que as manobras – “Exercícios Panda-Canguru 2017” – foram os primeiros treinos conjuntos que os dois países realizaram em território chinês. Dez soldados dos exércitos de cada país participaram nos exercícios, que duraram 10 dias e terminaram na quarta-feira, segundo a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua. Os treinos na província de Yunnan, extremo sudoeste da China, incluíram marchas em zonas montanhosas, ultrapassar obstáculos naturais e sobrevivência no terreno. O comércio anual entre Austrália e China ascende a 100.000 milhões de dólares, mas a Austrália é também um importante aliado militar dos Estados Unidos, numa altura em que Pequim expande a sua influência global.

22 Set 2017

Taça GT Macau não cativa gigantes japoneses

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Grande Prémio de Macau é o único evento de automobilismo no sudeste asiático que é levado realmente a sério no Japão, no entanto, com alguma surpresa, nenhum dos grandes construtores automóveis do país do sol nascente tem mostrado interesse na Taça GT Macau – Taça do Mundo FIA de GT e este ano não será excepção.

A Honda, a Nissan e a Toyota/Lexus têm uma enorme tradição no Circuito da Guia e nas corridas de Grande Turismo (GT). Hoje, todas elas têm carros para participar na prova, mas nenhuma das marcas nipónicas ainda se deixou seduzir pelos encantos da corrida implantada pela Federação Internacional do Automóvel (FIA) nas ruas de Macau pela primeira vez em 2015.

Ao contrário dos construtores automóveis germânicos, que usam esta corrida como plataforma para promover os seus carros de competição neste ponto do globo e aproveitar o clima de festa da cidade para organizar eventos para os seus convidados, os fabricantes japoneses ainda não encontraram razão para tal.

“Os nossos programas são definidos no início do ano e Macau não faz parte do nosso calendário”, explicou ao HM, Paul Ryan, o responsável pela comunicação global da Nissan Nismo. “Nós estamos constantemente a avaliar campeonatos e eventos em todo o mundo que pensamos que nos irá proporcionar um maior benefício – do ponto de vista técnico, desportivo e de marketing.”

Desde que a Taça GT Macau ganhou o estatuto da Taça do Mundo FIA, a Nissan, que terá carro novo em 2018, nunca mostrou interesse em participar oficialmente na prova, nem nunca se fez representar na prova através de equipas privadas. O ano passado, a Spirit Z Racing, a equipa por quem André Couto conduziu nas duas primeiras provas da temporada no Campeonato da China de GT, chegou a inscrever um Nissan GT-R Nismo GT3, mas acabou por não alinhar. A equipa chinesa planeava este ano efectivar as suas intenções na prova, mas depois do violento acidente de Couto no Circuito de Zhuhai, em Julho, os planos terão mudado radicalmente.

Após vários anos de desenvolvimento e alguns atrasos a Toyota, marca que sempre pôs à prova o seus jovens pilotos na corrida de Fórmula 3 e por várias vezes trouxe equipas oficiais à Corrida da Guia, finalmente este ano conseguiu colocar nas pistas a correr o imponente Lexus RC F GT3. O carro tem corrido na Europa, em provas seleccionadas, e no Japão, no popular campeonato Super GT. Questionada pelo HM se tinha planos para alinhar na prova do território com o carro que obteve a sua primeira vitória em Portugal no início do ano, a Toyota Motorsport Gmbh, que é responsável pelo braço desportivo europeu da marca, clarificou que  “as actuais equipas GT3 (europeias e japonesas) não têm planos para participar em Macau. Claro, que o processo de venda de carros aos clientes começou agora, portanto, em teoria, uma nova equipa pode encomendar o carro e inscrever-se, mas penso que é muito cedo para isso. Não esperamos ver nenhum Lexus GT3 este ano em Macau”.

E vão três

A Honda foi o último dos “três grandes japoneses” a entrar na categoria FIA GT3, aquela que dá corpo à Taça GT Macau presentemente. A Honda tem vindo a desenvolver este ano o NSX GT3 em corridas nos Estados Unidos da América, tendo, para isso, se apoiado na JAS Motorsport, a equipa oficial da marca no WTCC e que teve a seu cargo o chassis, e na Honda Japão, que afinou o V6 biturbo nipónico para a competição. A partir do próximo ano, a Honda finalmente terá um programa global que foi apresentado no Verão na Bélgica, durante o fim-de-semana das 24 horas de Spa-Francorchamps.  Este ano, uma presença no Grande Prémio seria muito prematuro.

A Honda Motor Europe esclareceu ao HM que “este é um programa para clientes e a Honda irá apoiar os seus clientes em qualquer evento que escolham participar”. A equipa norte-americana Michael Shank Racing é a única de momento a possuir o NSX GT3 e como corre com o apoio único da filial norte-americana Acura, pouco sentido faria trazer os seus bólides até à RAEM. Em 2017 a Honda concentrará as suas actividades no Grande Prémio em redor da actuação da equipa oficial do WTCC que competirá na Corrida Guia, este ano novamente pontuável para o mundial de carros de Turismo.

A lista de inscritos da edição de 2017 da Taça GT Macau – Taça do Mundo FIA de GT só deverá ser dada a conhecer em Outubro, mas, no que respeita às equipas oficiais, deverá consistir novamente na forte presença dos construtores automóveis germânicos: Audi, BMW, Mercedes-Benz e Porsche.


Escola de Futebol Juvenil com treinos de captação

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Escola de Futebol Juvenil vai realizar treinos de captação no domingo, entre as 12h00 e as 13h00, no Campo Miniatura do Centro Desportivo Olímpico de Macau, na Taipa. Os treinos estão abertos a residentes nascidos entre 2004 e 2005, e os interessados vão ser avaliados através de diferentes testes técnicos, que incluem corrida com bola, passe, avaliação de reflexos e situação de jogo. Os jogadores devem comparecer no campo de treinos com fato de treino e calçado adequado para os testes. Após os treinos de captação, o nome dos jovens escolhidos para frequentarem a Escola de Futebol Juvenil vai ser conhecido na próxima quarta-feira, através do portal do Instituto do Desporto, e os treinos começam no dia seguinte. A Escola de Futebol Juvenil de Macau é uma iniciativa do Instituto do Desporto e da Associação de Futebol de Macau.

22 Set 2017

Os Estados Unidos e a saúde mundial

“Global Health Governance must be understood broadly. Health is made in all policy and political areas-from agricultural through education policy. Without adequate nutrition, education and hygienic standards, mechanisms to fight global pandemics will remain a drop in an ocean.”
“Coordinating Global Health Policy Responses: From HIV/AIDS to Ebola and Beyond” – Annamarie Bindenagel Sehovic

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] governo dos Estados Unidos tem permanecido na vanguarda do estabelecimento de políticas internacionais, o que até à eleição do Presidente Donald Trump trouxe maior segurança para os cidadãos americanos e de outros países, através da melhoria da saúde e ajudando a criar sociedades mais estáveis em outros países e um mundo mais humano para milhões de pessoas que enfrentam sérias e graves doenças.Os Estados Unidos trabalham com outros países para criar a “Aliança das Vacinas (GAVI na sigla inglesa)” que é uma organização internacional, constituída em 2000, para melhorar o acesso a novas e subutilizadas vacinas para crianças que vivem nos países mais pobres do mundo. Tem sede em Genebra e reúne os sectores públicos e privados, com o objectivo comum de criar acesso igual a vacinas para crianças, onde quer que vivam.

A GAVI tem desempenhado um importante papel na redução da mortalidade por doença evitável por vacinação, sendo um contribuinte importante para se atingirem os “Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM)”. Os Estados Unidos a trabalhar com Oganizações Não Governamentais (ONG`s) apoiaram a criação da “Iniciativa Global de Erradicação da Pólio (GPEI na sigla inglesa)” que é uma parceria público-privada liderada por governos nacionais, com cinco parceiros, a “Organização Mundial da Saúde (OMS)”, o “Rotary International”, os “Centros para o Controlo e Prevenção de Doenças (CDC na sigla inglesa)” dos Estados Unidos, o “Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF na sigla inglesa)” e a “Fundação Bill & Melinda Gates”.

O seu objectivo é erradicar a pólio em todo o mundo e conta com vinte milhões de voluntários, catorze mil milhões de dólares de investimento internacional, duzentos países envolvidos e mais de dois mil e quinhentos milhões de crianças vacinadas, o que levou o mundo à beira da permanente vitória sobre o vírus da pólio. A indústria dos Estados Unidos e as ONG`s têm estado na linha da frente  para dar resposta a emergências sanitárias globais, e ao avanço da pesquisa e inovação que ajudou a reduzir os patógenos mais perigosos do mundo. Os esforços de colaboração internacional, especialmente o fortalecimento da capacidade dos sistemas nacionais de saúde, são essenciais para prevenir e se preparar para um variedade de ameaças, de pandemias de doenças infecciosas aos assassinos silenciosos de doenças não transmissíveis crónicas.

O “Comité de Saúde Global e Futuro Papel dos Estados Unidos” tem lutado pelo bom equilíbrio no cumprimento do seu mandato para examinar o papel dos Estados Unidos no futuro da saúde global, ao mesmo tempo que reflecte como membro da comunidade global de estados, que tem desafios e lições comuns para aprender com outros para influenciar o nosso futuro. O Comité deu prioridade aos desafios globais da saúde com o potencial de perda catastrófica da vida e impacto na sociedade e na economia, como pandemias, doenças transmissíveis persistentes, como a SIDA, tuberculose e malária e doenças não transmissíveis, como a saúde cardiovascular e diversos tipos de cancro, bem como áreas onde os investimentos significativos dos Estados Unidos criaram ganhos que devem ser consolidados e sustentados, como promover a saúde das mulheres e das crianças, aumentar a capacidade,  inovar e implementar a saúde global.

O Comité concluiu que o governo deve manter a sua posição de liderança na saúde global como um interesse nacional urgente e como um benefício público global, que melhore a posição internacional da América. Embora seja necessário um investimento adicional, pois o dinheiro por si só não é a única resposta. O Comité elaborou um relatório qur contém catorze recomendações, significativas, para fortalecer os programas de saúde globais dos Estados Unidos, reconhecendo que muitas outras áreas merecem atenção. A fim de maximizar o trabalho em direção aos desafios de saúde globais priorizados, o Comité concentrou-se em como aproveitar os recursos, fazendo negócios de forma diferente, especialmente através do uso de processos de pesquisa e desenvolvimento aperfeiçoados, e mecanismos de financiamento de saúde digital para maximizar o retorno dos investimentos, e demonstrar a liderança dentro da arquitectura e governança da saúde global.

Ao investir na saúde global nos próximos vinte anos, existe a possibilidade de salvar a vida de milhões de crianças e adultos. Além desses benefícios de saúde para os indivíduos, a saúde global está directamente ligada à produtividade e ao crescimento económico em todo o mundo. Assim, e de acordo com a “Comissão Lancet sobre Investir na Saúde”, o retorno dos investimentos em saúde global pode ser substancial, pois os benefícios podem exceder os custos, nos países de baixo rendimento e países de baixo rendimento médio. Trata-se de a nível mundial, investir em capacidades básicas para prevenir, detectar e responder a surtos de doenças infecciosas através do desenvolvimento de sistemas multidisciplinares.

O “One Health” focado na interacção da saúde humana e animal pode resultar em uma economia estimada em quinze mil milhões de dólares anuais contra a prevenção de surtos isolados. À luz desses benefícios, bem como o surgimento contínuo e ressurgimento de doenças infecciosas e a crescente ameaça de resistência antimicrobiana, um compromisso sustentável com a segurança sanitária global é um imperativo para todos os países. É de recordar que “One Health” é um esforço de colaboração de múltiplas disciplinas, a trabalharem a nível  local, nacional e global para alcançar a saúde ideal para pessoas, animais e meio ambiente.  O “One Health” é uma nova frase, mas o conceito  remonta aos tempos antigos.

O reconhecimento de que os factores ambientais podem afectar a saúde humana, foi defendida pelo médico grego Hipócrates no seu texto “On Airs, Waters e Places”, em que promove o conceito de que a saúde pública dependia de um ambiente limpo. Os Estados Unidos têm sido um líder na saúde global, inclusive através de programas de alto desempenho como o “Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos Para Alívio do Sida, (PEPFAR na sigla inglesa)”; a “Iniciativa Presidencial Contra a Malária (PMI na sigla inglesa” que foi criada em 2005; o “Fundo Mundiall de Combate à Sida, Tuberculose e Malária (GFATM na sigla inglesa).”

O GFATM é uma associação criada em 2002, entre governos, sociedade civil, o sector privado e as pessoas afectadas pelas doenças e concebida para acelerar o fim das epidemias de SIDA, tuberculose e malária, recolhendo e investindo quatro mil milhões de dólares anualmente, para financiar programas dirigidos por especialistas locais nos países e comunidades mais necessitados, tendo salvo mais de vinte e dois milhões de vidas, e recentemente a “Agenda Global de Segurança da Saúde (GHSA na sigla inglesa)” que foi criada em 2014, e é uma parceria crescente de mais de cinquenta países, organizações internacionais e partes interessadas não governamentais para ajudar a construir a capacidade dos países a criar um mundo seguro e protegido contra ameaças de doenças infecciosas, e elevar a segurança sanitária global como uma prioridade nacional e global.

A GHSA prossegue uma abordagem multilateral e multissectorial para fortalecer tanto a capacidade global, quanto a capacidade dos países de prevenir, detectar e responder a ameaças de doenças infecciosas humanas e animais, que ocorrem naturalmente, acidentalmente ou deliberadamente. Todavia, os recursos não são ilimitados, e o compromisso contínuo deve ser realizado.  A nova administração americana no contexto do legado influente dos Estados Unidos no desenvolvimento da saúde global, enfrenta a escolha de garantir ou não os ganhos na saúde global, tendo em conta os beneficios de milhares de milhões de dólares, anos de dedicação e programas fortes que são sustentados e preparados para um maior crescimento.

O enorme crescimento das viagens e do comércio internacional que ocorreu nas últimas décadas, aumenta a urgência de investimentos contínuos na saúde global. A crescente interconexão do mundo e a interdependência entre os países, economias e culturas trouxeram melhor acesso a bens e serviços, mas também a uma variedade de ameaças para a saúde. A assistência externa é muitas vezes considerada um tipo de caridade, ou suporte para os menos afortunados. Ainda que,  possa ser verdade para as populações mais pobres e vulneráveis, a maioria desses auxílios, especialmente,  quando direccionado para a saúde, são um investimento na saúde do país receptor, bem como dos Estados Unidos e do mundo em geral.

Tal motivação de investimento para os Estados Unidos tem duas vertentes, a de proteger contra ameaças globais à saúde e promover a produtividade e o crescimento económico em outros países. Embora o ónus das doenças infecciosas recaia predominantemente em países de baixo rendimento, essas doenças representam ameaças globais, que podem ter consequências terríveis para qualquer país, incluindo os Estados Unidos, em termos de custos humanos e económicos. Aproximadamente duzentas e oitenta e quatro mil mortes foram atribuídas ao surto gripe  H1N1 em 2009, por exemplo, e dois milhões de mortes são previstas em caso de surto de uma pandemia de gripe moderada futura. Em apenas alguns meses, de 2003, o surto do “Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS na sigla inglesa) custou ao mundo entre quarenta e cinquenta e quatro mil milhões de dólares, enquanto em 2014 os Estados Unidos dispenderam 5,4 mil milhões de dólares como  resposta ao surto Ebola, dos quais cento e dezanove milhões foram gastos em monitorização doméstica e acompanhamento dos passageiros das companhias aéreas.

A crescente prevalência de doenças não-transmissíveis (DNTs) também afectou negativamente as economias globais, ameaçando ganhos societários na expectativa de vida, produtividade e qualidade de vida global. As perdas de produtividade associadas à incapacidade, ausências não planeadas ao trabalho e aumento dos acidentes incidem em custos até 400 por cento superiores aos custos de tratamento. As pesquisas também mostram que os investidores são menos propensos a entrar em mercados onde a força de trabalho sofre uma pesada carga de doenças. Assim, populações saudáveis são importantes em vários níveis. Investir no capital humano contribui significativamente para o crescimento económico, prosperidade e estabilidade nos países e cria parceiros mais confiáveis e duradouros no mundo. Tal estratégia mostrou-se bem-sucedida, como é evidenciado pelo facto de onze dos quinze principais parceiros comerciais dos Estados Unidos serem ex-receptores de assistência estrangeira.

O Comité foi encarregado de realizar um estudo de consenso para identificar prioridades globais de saúde à luz das ameaças e desafios actuais e emergentes para a saúde global e fornecer recomendações ao governo dos Estados Unidos, e outras partes interessadas, para aumentar a capacidade de resposta, coordenação e a eficiência para enfrentar essas ameaças e desafios, estabelecendo prioridades e mobilização de recursos. Tendo o apoio de um conjunto amplo de agências federais, fundações e parceiros privados, foi nomeado um Comité ad hoc composto de catorze membros para realizar esta tarefa ao longo de seis meses e com base em um processo de consenso rigoroso e fundado em evidências. Os membros do Comité formularam um conjunto de catorze recomendações que implementadas, oferecerão uma forte estratégia global de saúde e permitirão aos Estados Unidos manter o seu papel como líder mundial em saúde.

As recomendação passam por melhorar a coordenação internacional de resposta às  emergência, combater a resistência antimicrobiana, construir a capacidade de saúde pública em países de baixo e médio rendimento, observar o próxima actuação do PEPFAR, confrontar a ameaça da tuberculose, sustentar o desenvolvimento na eliminação da malária, melhorar a sobrevivência de mulheres e crianças, assegurar uma vida saudável e produtiva para mulheres e crianças, promover a saúde cardiovascular e prevenir o cancro, acelerar o desenvolvimento de produtos médicos, melhorar a infra-estrutura digital da saúde, realizar investimentos de transição para bens públicos globais, optimizar recursos através de financiamento inteligente e comprometer-se a liderar continuamente a saúde global. A paisagem da saúde global é vasta, e com prioridades novas e por vezes díspares em todo o sector da saúde, pelo que considerar cada questão ou doença no seu local próprio pode ser contraproducente. Uma perspectiva tão estreita, dificulta a capacidade de incentivar investimentos em outros programas e adaptar recursos de programas existentes quando surge uma nova ameaça.

Assim, embora a prioridade para os recursos seja necessária, também é essencial adoptar conceitos holísticos e centrados no sistema de integração, capacitação e parceria para obter resultados de forma mais abrangente e com esse entendimento, o Comité identificou quatro áreas prioritárias para acções de saúde global que, se abordadas, terão um maior efeito positivo na saúde, sendo a primeira alcançar a segurança da saúde global, pois nos últimos dez anos, os surtos de pandemia de gripe,  no  Médio Orienteo, o síndrome respiratório  coronavírus (MERS-CoV), Ebola e, mais recentemente, o Zika ameaçaram populações em todo o mundo. A segunda, será manter uma resposta sustentada às ameaças contínuas de doenças transmissíveis. Os esforços dedicados dos governos nacionais, das fundações e da comunidade global resultaram em milhões de vidas salvas da SIDA, tuberculose e malária, mas as três doenças continuam a apresentar ameaças imediatas e de longo prazo para a saúde das populações em todo o mundo. Mais de trinta e seis milhões de pessoas vivem com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV na sigla inglesa), com dois milhões de novas infecções em cada ano.

A terceira área, será economizar e melhorar a vida das mulheres e das crianças. Os esforços para salvar a vida de mulheres e crianças em todo o mundo, historicamente foram um múcleo importante para o governo dos Estados Unidos, embora as taxas de mortalidade infantil e materna tenham diminuído a partir de 2000, em cada ano cerca de seis milhões de crianças morrem antes de fazerem cinco anos de vida e mais de trezentas mil mulheres morrem por causas relacionadas com a gravidez e o parto. A quarta área, será promover a saúde cardiovascular e prevenir o cancro, pois as doenças infecciosas muitas vezes atraem os meios de comunicação, mas uma preocupação igualmente importante é o aumento das taxas de doenças não transmissíveis, em todos os países, independentemente do seu  nível de rendimento. Os custos para gerir essas doenças está a aumentar. As doenças cardiovasculares deverão custar ao mundo um trilião de dólares por ano em custos de tratamento e perdas de produtividade até 2030.

22 Set 2017

Catarina Rodrigues, advogada e treinadora de saúde,“Não há dietas perfeitas”

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ente-se realizada tanto no tribunal como fora dele. Catarina Rodrigues é advogada mas também health coach, que em português se pode traduzir como treinadora de saúde. Depois de ter passado por um período de aumento de peso, durante o estágio de advocacia, Catarina Rodrigues resolveu aprender a comer e ensinar os outros a fazê-lo da melhor maneira possível.

“Comecei a interessar-me pelas dietas, a experimentar se funcionavam. E comecei a gostar das áreas da nutrição e bem-estar. A partir daí descobri o coaching, porque tive uma coach do Brasil e comecei a interessar-me mais por isso”, contou ao HM.

O interesse foi tal que Catarina Rodrigues tirou o curso no Institute of Integrative Nutrition, nos Estados Unidos. Mas a paixão pelas leis não esmoreceu.

“Hoje em dia a área do Direito que mais me interessa é a área dos dados pessoais, aliás recentemente tive a oportunidade de publicar a minha tese sobre dados pessoais. São duas carreiras que não se excluem e gosto de ambas.”

Catarina considera que em Macau não se come muito bem, muito por culpa da vida excedentária que se leva e da falta de opções mais saudáveis em restaurantes.

“Aqui há alguns excessos. A maioria das pessoas encontra-se para beber um cocktail e para comer, e muitos dos meus clientes têm essa batalha. É raro haver eventos relacionados com a saúde. Há alguns, ligados à maratona e aos trilhos, mas são coisas esporádicas”, apontou.

Num território onde o turismo é um dos principais sectores económicos, muitos hotéis disponibilizam buffets e não faltam restaurantes. Continuam, no entanto, a faltar opções para quem tem restrições a nível alimentar, como é o caso da intolerância ao glúten ou lactose.

“Nos Estados Unidos ou Portugal há imensos restaurantes que ajudam a que tenhamos um estilo de vida mais saudável, mas aqui não há muitas soluções. Há pouca diversidade e isso também é uma batalha para as pessoas que não podem ir a casa e têm de comer fora.”

Açúcar, esse mito

Este sábado Catarina Rodrigues vai dar uma palestra sobre um dos assuntos mais falados nas redes sociais e no mundo das dietas: o açúcar. Onde está o açúcar e até que ponto nos beneficia o consumo de adoçantes?

A treinadora de saúde não tem dúvidas em afirmar que “há muitos mitos relacionados com o consumo de açúcar”.

“Agora está muito em voga a substituição dos açucares pelos adoçantes, que se popularizaram. Mas os adoçantes, à excepção da stevia, que é natural, têm, na maior parte, efeitos adversos. E não há estudos conclusivos sobre os seus efeitos”, frisou.

Catarina Rodrigues não faz apenas um trabalho de nutricionista, mas ensina a pessoa a comer bem para sempre, sem cortes radicais ou enormes mudanças do estilo de vida.

“Faço um programa integrado, falamos de um assunto num todo. Nem só a nutrição tem um papel importante, mas também o stress e a felicidade na carreira vai influenciar o processo de emagrecimento. Muitas vezes é que por estes factores as pessoas não conseguem controlar a dieta. É por isso que se dá o nome de treinador de saúde”, explicou.

Não existem, portanto, “dietas perfeitas”. A internet está povoada de dietas com vários nomes, onde há um excesso de consumo de proteína ou uma redução dos hidratos de carbono, acusados de produzirem açúcar e aumentarem os números na balança.

Mas Catarina Rodrigues assegura que cada pessoa é diferente. “O grande problema é que todos os dias aparece nos meios de comunicação social uma nova dieta. Isto acontece porque as pessoas estão à procura de uma solução, ou pílula mágica, para emagrecerem e resolver os seus problemas.”

A influência familiar

Antes de se dedicar a compreender os efeitos dos alimentos em cada um de nós, Catarina Rodrigues decidiu ir para a área do Direito por influência familiar e por um episódio marcante na sua vida.

“O meu pai biológico faleceu, num acidente de viação, e na altura as pessoas responsáveis acabaram por não ser alvo de qualquer decisão judicial. Entretanto, o meu padrasto, a quem chamo de pai, é procurador e também trabalha em Macau. A minha mãe também trabalhava nos tribunais e eu fui crescendo naquele ambiente.”

Como advogada, Catarina Rodrigues também percebeu que poderia ajudar os outros. “Apaixonei-me um bocado pelos vários tipos de causas. Queria ajudar as pessoas a encontrarem uma resolução eficaz para os seus problemas.”

A advogada assume gostar das duas profissões que tem e não pretende abdicar de nenhuma.

“Vejo-me a contribuir para melhorar a vida das pessoas, nem que seja só de uma. Gostava de ajudar alguém a fazer melhores escolhas e a lidar com aquilo a que muitas vezes chamamos de forma emocional de comer”, concluiu.

22 Set 2017

Economia | Cabo Verde seduz investimento chinês

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ministro da Economia e Emprego cabo-verdiano, José da Silva Gonçalves, apontou ontem, em Pequim, a “localização estratégica” e “estabilidade política e económica” de Cabo Verde como valências para atrair investimento chinês.
Cabo Verde “está numa encruzilhada entre quatro continentes” e, “certamente, a China, pelos seus interesses e posicionamento no mundo, vê isso como uma complementaridade”, disse à agência Lusa o ministro cabo-verdiano.
José da Silva Gonçalves, que participou na China da 22.ª Assembleia-Geral da Organização Mundial do Turismo, lembrou ainda que Cabo Verde “é o único país de rendimento médio na [sua] região” e que goza de “estabilidade política, social e macroeconómica”.
As relações entre as duas nações, que remontam ao início da luta pela independência em Cabo Verde, foram formalizadas a 25 de abril de 1976, com o estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países.
Alguns dos principais edifícios em Cabo Verde, como a Assembleia Nacional, Palácio do Governo ou Estádio Nacional, foram financiados e construídos por Pequim.

Mão de Macau

A primeira iniciativa de uma empresa privada chinesa no país, contudo, só agora está a nascer.
Com um investimento estimado em 250 milhões de euros, o empreendimento turístico da praia da Gamboa e ilhéu de Santa Maria, do empresário de Macau David Chow, vai ocupar uma área de aproximadamente 153 mil metros quadrados e inclui, além de um empreendimento turístico de luxo, um casino.
A expectativa é que venha a gerar 2.100 postos de trabalho directos e a receber diariamente 12 mil pessoas nos sectores do comércio, lazer, desporto e cultura.
José da Silva Gonçalves lembra a importância do projecto para diversificar a oferta turística do país africano, muito ligada ao sol e mar, acrescentando jogos de azar, golfe e salas de conferência, que permitirão atrair turismo de negócios.
“Será uma extensão daquilo que é Macau, numa escala muito diminuta”, apontou o ministro, numa referência à Região Especial Administrativa chinesa, que é o maior centro de jogo do mundo.
Com uma população de cerca de 530.000 habitantes, Cabo Verde recebeu, em 2016, 644.000 turistas, um acréscimo de 13,2% face ao ano anterior.
“É uma área muito importante para a nossa economia, que corresponde a mais de 20% do PIB”, lembrou o ministro.
Na China, José da Silva Gonçalves vai ainda participar esta semana num fórum dedicado à Economia Azul, na ilha de Pingtan, província de Fujian.

Seul | Oito milhões de dólares em ajuda humanitária para Pyongyang

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]eul aprovou ontem o envio de oito milhões de dólares  em ajuda humanitária para Pyongyang, apesar da tensão na península e a recente aprovação de novas sanções contra o regime pelos seus testes de armas.

O Executivo de Moon Jae-un deu ontem luz verde ao envio destas ajudas, que vão ser canalizadas através de organismos da ONU e que são especialmente destinadas a mulheres grávidas e crianças, explicou o Ministério de Unificação norte-coreano em comunicado.

Seul considera estes dois grupos especialmente vulneráveis a nível alimentar, atendendo às más colheitas que se esperam este ano na Coreia do Norte.

Um recente relatório da ONU alerta para os problemas de má nutrição que afectam 72% dos norte-coreanos, enquanto a UNICEF recordou em comunicado que os menores de cinco anos são especialmente vulneráveis a esta situação, assim como as deficiências dos sistemas de saúde locais.

O Governo sul-coreano anterior, no poder até Maio último, tinha decidido suspender toda a ajuda humanitária ao país vizinho na sequência do quarto teste nuclear realizado em Janeiro de 2016.

Esta é a primeira ajuda que Seul vai enviar para Pyongyang desde Dezembro de 2015.

22 Set 2017

Eleições | Equilíbrios e tendências depois de domingo

A Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau promoveu ontem uma conferência sobre as eleições legislativas de domingo. Figuras do meio académico falam num maior equilíbrio entre a ala pró-democrata e pró-Pequim, lembrando a busca da sociedade por uma mudança no meio político

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ntrou Agnes Lam na sua terceira tentativa, saiu Melinda Chan, reforçou-se o campo pró-democrata com a eleição de Sulu Sou, ligado à Associação Novo Macau.

Assim foram as eleições de domingo, que deram a vitória aos tradicionais e habituais, como Mak Soi Kun (que obteve mais de 17 mil votos), mas também Ella Lei, ligada aos Operários, que conseguiu eleger o seu número dois e manter um lugar que durante anos foi ocupado pela histórica Kwan Tsui Hang. 

Finalizada a contagem dos votos, a semana tem sido pródiga em análises sobre aquilo que poderemos ver na Assembleia Legislativa (AL) nos próximos quatro anos. Ontem a Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST) promoveu uma palestra sobre o assunto.

Fang Quan, vice-coordenadora executiva da Faculdade de Direito da MUST, considerou que os resultados das eleições revelam, acima de tudo, uma “mudança na estabilidade”.

“A estabilidade significa que, quer a estrutura social, quer as necessidades dos residentes estão numa fase estável em termos comparativos, não se verificando uma grande mudança”, referiu.

A responsável lembrou que em Macau, sobretudo nos votos por sufrágio directo, há ainda uma geração dos “votos de ferro”, ou seja, eleitores, que ao invés de darem mais atenção dos programas políticos, debates ou à experiência do passado, estão mais atentos à ligação social das listas e ao lado humano.

“Apesar de se afirmar que na próxima legislatura vão existir três rostos novos, na verdade só temos um [Agnes Lam], porque os outros dois deputados eleitos pertencem a grupos que já tiveram membros na AL [Sulu Sou, da Novo Macau, e Leong Sun Iok, dos Operários]. Isto é um sinal de estabilidade”, defendeu Fang Quan.

“As listas 8 e 9 [lideradas por Song Pek Kei e Si Ka Lon] ganharam, em conjunto, em 2013, 29,12 por cento dos votos, mas este ano só ganharam 24,44 por cento, por isso é uma diminuição dos votos. Isso prova que os eleitores fizeram uma escolha diferente, apesar da estabilidade.”

Fang Quan lembrou ainda a estreia de Lam U Tou, ex-Operários e líder da Poder de Sinergia.

“A lista foi candidata pela primeira vez e teve um bom resultado, superior a sete mil votos. Por isso acho que os jovens estão mais atentos à sociedade e preocupam-se mais com assuntos sociais. É uma das prioridades e os eleitores estão atentos.”

A surpresa Agnes

Sobre a vitória de Agnes Lam, Fang Quan considera que representa “uma mudança”. “Penso que foi eleita por representar a classe média e os sectores profissionais. Esta não foi a primeira vez que se candidatou, insistiu várias vezes na participação nas legislativas e obteve os seus frutos. Com isto percebemos que há novas solicitações da sociedade.”

A académica fala também de um novo olhar dos eleitores, mais afastado das associações tradicionais, como é o caso dos Operários ou Kaifong (moradores).

“Os cidadãos das classes sociais mais baixas dependem muito das associações tradicionais, que conseguem de facto melhorar a vida dos residentes. Mas com a evolução da sociedade, as pessoas pensam como resolver os problemas sociais de outra forma. E aí são necessários profissionais”, rematou.

Qualidade vs capacidade

Para a coordenadora da faculdade de Direito, nem o tufão Hato levou mais gente às urnas, apesar de se ter verificado uma afluência de jovens.

“Não se registou um aumento aparente da taxa de votação, pois nos últimos quatro anos foi de 59 por cento. Isso mostra que a paixão pela política não é muito elevada.”

Fang Quan explica as razões. “A Lei Básica determina o tipo e conteúdo das propostas de lei que os deputados podem apresentar no hemiciclo, e pensa-se que não se conseguem fazer muitas coisas.”

“No sufrágio directo a capacidade dos deputados é igual à qualidade dos seus eleitores. Quer sejam resultados satisfatórios ou não, ou se se criticam mutuamente, têm sempre um voto na mão. Daqui para a frente, vamos ver se os eleitores da ‘geração de ferro’ usam os seus direitos para o futuro do território e votam de modo racional. Deve-se prestar atenção aos jovens e profissionais, para que se resolvam as necessidades mais prementes.”

“Estrutura demográfica está a mudar”

Lok Wai Kin, docente da Faculdade de Direito da Universidade de Macau, falou sobretudo de uma mudança de paradigma daqueles que vão às urnas. “Este ano tivemos um aumento do número de eleitores, e embora a Comissão de Assuntos Eleitorais da AL não tenha apresentado dados estatísticos sobre o número de jovens que foram votar, parece que desta vez votaram mesmo mais jovens. E porquê? Porque que há uma mudança na estrutura demográfica”, apontou.

“A ala mais afastada de Pequim é composta agora por quatro listas, lideradas por Au Kam San, Ng Kuok Cheong, Sulu Sou e José Pereira Coutinho. Estas quatro listas tiveram mais nove mil votos dos novos votantes. Já as listas ligadas a Pequim, como as de Ella Lei, Ho Ion Sang e Wong Kit Cheng, receberam mais dez mil votos dos novos eleitores. Quem representa a classe média, como a Agnes Lam e o Lam U Tou, receberam mais três mil votos e sete mil, respectivamente”, frisou o professor.

Estes dados mostram que “a sociedade tem opiniões diferentes em relação à política mas não significa que as listas afastadas de Pequim consigam atrair os novos eleitores. Os resultados dizem-nos que a comunicação junto dos jovens deve ser destacada”.

A importância da economia

Lok Wai Kin defendeu também que “os programas políticos com conteúdos sobre economia e assuntos sociais atraíram mais votantes”. “Isto é uma inspiração para aqueles que querem estar na política. Quem se focar apenas nos assuntos políticos pode não ganhar apoios suficientes”, frisou o docente de Direito.

“Todos os programas mostraram ter algo em comum: a necessidade de aumento da fiscalização do Governo. A maioria das pessoas está de acordo nesta matéria e o Executivo deve, no futuro, aumentar a sua eficiência e transparência”, acrescentou.

Cadeiras equilibradas

Para Yang Jia Long, doutorando da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Macau, “a ala pró-democrata ocupa agora na AL uma proporção semelhante à ala próxima de Pequim”, graças à eleição de José Pereira Coutinho, Au Kam San, Ng Kuok Cheong e Sulu Sou. “Olhando para os programas dos candidatos, focaram-se sobretudo em temas como a habitação, trânsito, saúde e educação. Os preços do mercado imobiliário foi outra das prioridades. Assuntos relacionados com a cultura e indústrias criativas não mereceram grande interesse por parte das listas mais tradicionais.” Ainda assim, Yang Jia Long lembrou que “as fontes dos votos obtidos por estas listas foram sobretudo eleitores acima dos 40 anos”. Por isso, “assuntos da preservação da cultura poderão interessar mais aos jovens”.

Eleitores vs população

He Ning Yu, doutorando do Instituto para Pesquisa Social e Cultural da MUST, lembrou que Macau registou, nos últimos cinco anos, um aumento em termos de população e também de eleitores. Se a população registou um aumento na ordem dos 10,8 por cento, o número de eleitores subiu para 307 mil. O académico disse que grande parte dos eleitores rondam uma faixa etária acima dos 40 anos, ainda que “os eleitores jovens, entre os 25 e os 34 anos, ocupem uma certa proporção”. He Ning Yu defendeu que, nas últimas cinco eleições, houve uma tendência de aumento em termos de número de listas, sendo que os candidatos com uma ligação ao sector financeiro também registaram uma tendência de aumento.

21 Set 2017

Carl Ching pede recontagem de votos da sua lista e de Ho Iong Sang

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] cabeça-de-lista da candidatura da Nova Ideais de Macau, entregou ontem um requerimento ao Tribunal de Última Instância (TUI) a pedir a recontagem dos votos que a sua lista obteve nas eleições passadas de 17 de Setembro. Carl Ching pediu também que os votos da lista de Ho Iong Sang sejam contados novamente.

A razão por detrás do requerimento prende-se com a caução de 25 mil patacas que Carl Ching pagou para participar nas eleições para a Assembleia Legislativa. Como o candidato não conseguiu o número de votos suficientes para reaver a caução paga na altura em que apresentou a sua lista, enquanto mandatário da sua lista, Ching entende que este dinheiro não deve ficar nas mãos do Governo. O candidato não quer que a verba que teve de desembolsar contribua para “engordar” os membros do Executivo com cargos importantes, até porque considera que o Governo não tem ferramentas de fiscalização eficazes para a utilização de fundos.

Descubra as diferenças

Carl Ching admite que caso não tivesse este problema com a caução prestada não iria apresentar o pedido de recontagem dos votos. A justificação para este pedido para o TUI é a semelhança entre os símbolos da lista Nova Ideais de Macau e a lista 2, de Ho Iong Sang. Ambos usam o preto e o branco no boletim de voto. Como tal, Carl Ching entende que os trabalhadores responsáveis pela contagem nas assembleias de votos podem ter falhado, subtraindo votos à sua lista e influenciado o resultado final que obteve no sufrágio de domingo.

O líder considera que como entregou 602 assinaturas aquando da propositura de candidatura à Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa, não se entende que haja tamanha discrepância para a quantidade de votos que angariou.

O mandatário da lista Nova Ideais de Macau diz não contar com nenhum apoio legal no pedido que fez ao tribunal de última instância e que precisa de reaver o dinheiro pago à CAEAL uma vez que este lhe fora emprestado por amigos que precisam ser ressarcidos.

Além disso, Carl Ching anunciou a criação de um grupo de fiscalização do Governo de forma a acelerar a compensação aos residentes afectados pelo tufão Hato.

21 Set 2017