Hoje Macau SociedadeRanking | Universidade de Macau é 501 em 550 [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]em mais, nem menos: a Universidade de Macau conservou a posição que já tinha no ranking elaborado pela empresa Quacquarelli Symonds (QS), um dos mais prestigiados internacionalmente. Num universo de 550 estabelecimentos de ensino superior, a universidade localizada na Ilha da Montanha consegue o lugar 501. Quanto ao ranking por região, é a número 163, descendo duas posições em relação à avaliação do ano passado. O ranking da QS é liderado por três universidades norte-americanas: o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e as universidades de Stanford e de Harvard. Quanto à Ásia, Hong Kong tem quatro estabelecimentos de ensino superior no top 50: a Universidade de Hong Kong, a Universidade de Ciência e Tecnologia, a Universidade Chinesa e a Universidade Cidade de Hong Kong. Singapura tem duas instituições no grupo das 15 melhores. Já a China consegue, através da Tsinghua, estar na 25.a posição. No que toca a Portugal, registou-se uma melhoria generalizada dos resultados das universidades portuguesas na edição deste ano do ranking da QS. As universidades de Aveiro e do Minho entram pela primeira vez na lista, elevando para sete o número de entidades portuguesas incluídas. Todas as restantes subiram bastante na tabela, com a Universidade do Porto a ocupar o melhor lugar (301.º).
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasConvento e Igreja de Santo Agostinho [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Frade espanhol Francisco Manrique, da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, trabalhava nas Filipinas desde 1575 e aportou em Macau a 1 de Novembro de 1586, dia da festa de Todos os Santos, acompanhado pelos padres Diogo Despinal e Nicolau Tolentino. Comprou uma casa talvez próximo do local onde foi depois construído o Baluarte de Bom Parto e aí, em honra de Nossa Senhora da Graça fundou o Mosteiro de Sto. Agostinho. A 9 de Agosto de 1589, Filipe II de Espanha ordenou a retirada dos religiosos espanhóis de Macau e assim, logo treze dias depois Fr. Miguel dos Santos aqui fundou os agostinhos portugueses, sendo-lhe então entregue o mosteiro. Já em 1591 foi o convento transferido para o actual local, na Colina de Sto. Agostinho, sendo ao lado construída a igreja. Os Agostinhos aí se mantiveram até serem colocados fora de Macau devido ao Legado Pontifício para a China, o Patriarca de Antioquia Charles Thomas Maillard de Tournon, que após publicar em Nanjing a 25 de Janeiro de 1706 um decreto condenando os Ritos de Confúcio sobre o culto dos Antepassados, foi expulso pelo Imperador Kang Xi. Também os religiosos que missionavam na China e comungavam as ideias de Tournon, muitos vieram para Macau e assim, no Império Celeste só se mantiveram os jesuítas. Regressado a Macau em 30 de Junho de 1707, o Patriarca Tournon quis que fosse aplicado aqui o seu decreto, mas o Bispo de Macau, D. João de Casal não só se recusou a publicá-lo, mas ordenou às autoridades eclesiásticas que negassem obediência ao Patriarca. Tal levou a um conflito com troca de excomunhões, colocando-se os Agostinhos e os Dominicanos ao lado de Tournon. “O Cardeal Tournon hospedou-se no convento de Sto. Agostinho de Macau e aqui faleceu a 8 de Julho de 1710”, segundo Benjamim Videira Pires, que refere, “Por isso, os Agostinhos principiaram a perder, desde essa data, o seu prestígio junto do Bispo, do Governador e da população patriota de Macau [todos eles excomungados pelo Patriarca], até serem daqui expulsos em 15 de Janeiro de 1712”. Nessa data, por ordem do Vice-Rei de Goa D. João Rodrigo da Costa, foi retirado aos frades o Convento de Santo Agostinho e a igreja, sendo eles deportados para a Índia em 1717. Por ordem do Rei D. João V, o convento foi devolvido aos Agostinhos em 1721. Batalhão aquartelado “Em Janeiro de 1808, solicitava-se para a corte medidas para a organização de um Batalhão de Infantaria, com exercício de Artilharia, para Macau, com um total de 376 homens, entre oficiais e soldados” segundo Jorge de Abreu Arrimar. Tal se devia à defesa da Colónia contra os piratas e também pelas tentativas dos ingleses de com a pretensão de proteger Macau contra os franceses tentarem ocupá-la. Assim, o Batalhão Príncipe Regente foi criado a 13 de Maio de 1810 e “os soldados que o compõem, são para ali enviados da Capital da Ásia Portuguesa, os quais, sobre serem os piores que produz aquela Região, se tornam, pela mudança do clima, de uma repugnante nulidade”, segundo o Tenente-coronel José Guimarães e Freitas. Essa guarnição militar de 39 praças, enviada da Índia pelo Vice-Rei, chegou a Macau a 15 de Junho de 1823 e foi aumentada com a mocidade macaense para um número próximo dos 400. Tinha também o cargo de polícia da cidade, ou melhor, a Polícia servia-se desses militares. O Bispo de Macau colocou dificuldades para ser o aquartelamento instalado no edifício do antigo Colégio de S. Paulo, desocupado pela pombalina expulsão dos jesuítas e por sugestão do Senado, aprovada pelo Rei, foram colocadas duas Companhias no antigo quartel e outras duas, na Fortaleza do Monte. No amplo Convento de Santo Agostinho, devido aos poucos frades que nele residiam, foi aquartelado o Batalhão Príncipe Regente, provocando em 30 de Março de 1829 um protesto da parte do provincial da Ordem em Goa. Mas aí ficou ainda aquartelado por mais dois anos, pois a 14 de Abril de 1831 encontrando-se o Convento em estado de ruína, passou o Batalhão para o Colégio de S. Paulo, <tanto por ser Edifício da Real Fazenda, como nenhum edifício se oferece melhor>. A 26 de Janeiro de 1835, devido ao incêndio no Colégio de S. Paulo, que devorou todo o edifício e a igreja, restando apenas a fachada, voltou o Batalhão a ocupar o Convento de Santo Agostinho. Com a definitiva vitória dos Liberais em 1834 e o decreto de Joaquim António de Aguiar a extinguir as Ordens e Congregações religiosas do território português e o sequestro de todos os seus bens, em Macau deu-se o abandono dos conventos pelos frades em Setembro de 1835. O Governo apossou-se do Convento de Sto. Agostinho, para onde voltou o Batalhão, mas a 13 de Maio de 1837, o seu comandante queixava-se que dentro do convento chovia <como na rua, em todas as Companhias>. A escola No Convento de Sto. Agostinho esteve até 1846 o Batalhão Príncipe Regente, tendo o Bispo de Macau Jerónimo José da Mata a 5 de Julho de 1845 solicitado a concessão do edifício para nele estabelecer uma casa de educação para a mocidade do sexo feminino. Por se encontrar esse edifício hipotecado ao fundo do Recolhimento de Santa Rosa, por vinte mil patacas, o Governador achou por bem fazer essa transacção <que desse o duplicado resultado de constituir o dito Recolhimento possuidor daquele edifício, com o fim indicado, e de ficar a Fazenda aliviada do encargo correspondente ao valor dele>. Assim, a 10 de Agosto de 1846 o Convento de Sto. Agostinho foi transformado em escola de meninas. O Recolhimento de Santa Rosa de Lima em 21 de Dezembro de 1848 passou a ter na direcção as Filhas de Caridade de S. Vicente de Paula e como estava destinado à educação das meninas órfãs, aí se juntou com a escola feminina, até que em 1857, o Recolhimento e os seus rendimentos foram transferidos para o Mosteiro de S. Clara. Com essa saída, o Convento de Sto. Agostinho albergou em 1857 o Corpo de Polícia, onde se encontrava também o Hospital Militar, que aí esteve até à inauguração do Hospital Conde de S. Januário, em 6 de Janeiro de 1874. O Corpo de Polícia manteve-se no Convento, até que em 18 de Janeiro de 1879, o Governador Carlos Eugénio Correia o dissolveu e criou em seu lugar a Guarda Policial de Macau, ficando aí aquartelada a 1.ª Divisão. O Convento em 1886 foi de novo reparado devido à sua péssima construção, permanecendo a 1.ª Divisão da Guarda Policial até 4 de Outubro de 1893, quando se mudou para o Quartel de S. Francisco, preparando-se o antigo Convento para servir de instalações ao Liceu. Em 1894, o Liceu de Macau, apesar de provisoriamente instalado no Convento de Sto. Agostinho, nele ficou até ao final do ano lectivo de 1899/1900, sendo em meados de 1900 transferido para a Calçada do Governador (hoje do P. Luís Fróis, S.J.). Em ruínas, o Convento de Santo Agostinho foi depois comprado por Artur Basto (1873-1935, filho primogénito de António Joaquim Basto), que o transformou em sua residência. Com a sua morte (a 11 de Março de 1935) foi adquirido pela Companhia de Jesus e serviu de casa de repouso aos jesuítas sobre o nome Residência de Nossa Senhora de Fátima, actual Vila Flor.
Sofia Margarida Mota Manchete SociedadePatrimónio | Lei precisa de operacionalização, defendem arquitectos O plano de salvaguarda e gestão do centro histórico deveria ter estado pronto em 2015. A UNESCO alertou Macau e alargou o prazo até 2018. O regime relativo à salvaguarda do património cultural existe desde 2013 mas, pelos vistos, não é suficiente. É preciso regulamentar e colocar os princípios legais em acção [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] lei de salvaguarda do património cultural existe desde 2013. Na prática, os resultados são ainda poucos. Prova disso é o atraso de mais de dois anos na criação do plano de salvaguarda e gestão do centro histórico, exigido pela UNESCO. O Instituto Cultural (IC) justificou a demora com a complexidade do processo, mas arquitectos locais não conseguem apontar razões plausíveis e defendem que as leis precisam de operacionalização para serem eficazes. “O assunto já não tem explicação”, afirma o arquitecto Mário Duque ao HM. “Se não há resultados concretos será porque não há recursos financeiros ou intelectuais ou organizacionais para o fazer e, Macau, por princípio, deveria ter tudo isto”, diz o arquitecto, que não encontra uma justificação aceitável para os contínuos atrasos neste tipo de matéria. Já para Maria José de Freitas, também arquitecta e com trabalho feito na área do património, as razões que levam à demora têm que ver com o facto de, “em Macau, existirem uma série de interesses ligados a entidades mais ou menos conhecidas”. Relativamente à actuação do Instituto Cultural, a arquitecta considera que o departamento do património tem deficiências crassas, entre elas a falta de recursos humanos. Quando se fala de estabelecer um plano no que respeita ao património, “é necessária uma equipa multidisciplinar”, até porque “nem toda a gente sabe de arqueologia, nem toda a gente sabe de arquitectura, nem toda a gente sabe trabalhar com pedra”, explica. Para Maria José de Freitas, esta é uma área que exige a coordenação de saberes e para ser concretizada é necessário “ir buscar quem sabe e promulgar medidas efectivas tendo em vista a protecção do património”, sendo que, considera, esta é uma acção que tem estado a ser sucessivamente adiada. Problema de fundo Mas a situação é tanto mais grave porque se prende com outra falha fundamental: a ausência de um plano director municipal. A lei de planeamento urbanístico também existe, mas a sua operacionalização está aquém da realidade. A promessa de um plano director por parte do Executivo é mantida, mas não passa daí. Para Mário Duque, falar de planeamento de património sem plano director, não faz sentido. “O plano de gestão de património está integrado no plano director. As coisas têm hierarquias. Nenhum plano director anda a reboque de um plano de gestão do património”, explica o arquitecto. Mário Duque vai mais longe. A existência de um plano director deveria ser tida como se se tratasse de um Código Civil ou Penal, uma directriz fundamental que estabelece normas gerais e que só seria sujeita a revisões pontuais. “Temos códigos e leis para tudo e mais alguma coisa, mas não temos um plano de ordenamento territorial, e Macau é o que é por causa disso”, sublinha o arquitecto. A opinião é partilhada por Maria José de Freitas. Apesar de salientar a importância da lei de salvaguarda do património, a arquitecta é peremptória: “Este plano deveria estar encruzado com o plano director”, até porque “as duas leis, a do planeamento urbano e a do património, foram publicadas na mesma altura e têm que ver com essa situação, são matérias intrinsecamente ligadas”, disse. A existência de uma lei sem regulamentos faz com que o regime se torne quase inútil. “A lei do património em si enunciou princípios coerentes e lógicos, mas não chega: tem de ser completada com o plano de gestão, tem de ser regulamentada”, aponta, sendo que “uma lei necessita de uma regulamentação para ter efectividade prática, e é isso que falta”. Soluções para todos os gostos O IC referiu que em 2018 terá o planeamento de gestão do património pronto, mas a sua concretização pode ter vários contornos. De acordo com Maria José de Freitas, a solução, num primeiro momento, passa pela implementação de medidas provisórias. “Já que apresentámos a candidatura junto da UNESCO, vamos ter de definir medidas de salvaguarda, nem que sejam provisórias, desde que sejam as necessárias”, afirma. A razão, aponta, é a impossibilidade de permanecer mais tempo à espera de um plano de salvaguarda e gestão. Já para Mário Duque, a solução que poderá vir a ser dada pelo Executivo pode ter duas frentes. Uma das hipóteses apontadas pelo arquitecto é a realização de um plano de gestão de património à margem de uma concepção geral inerente ao plano director. Mário Duque ilustra: “É como ter uma casa a cair aos bocados, mas há uma lei do património que diz que a fachada deve estar recuperada. A casa continua toda podre, mas a fachada é arranjada porque está na zona de salvaguarda”. A medida não se insere no que deveria, ou seja, no ordenamento do território, mas “integra, eventualmente, a salvaguarda de património”. Por outro lado, o Executivo pode aproveitar a pressão da UNESCO para criar o “utópico” plano director. “Poderá acelerar os dispositivos para um plano director que há-de integrar a gestão de património”, até porque, completa, “nas situações em que se perde a mão ou não há comando das coisas, pode haver uma exigência relativamente a um acessório que obrigue as pessoas a fazerem o que é principal”, remata Mário Duque.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Vinte funcionários da Apple detidos por venderem dados pessoais [dropcap style≠’circle’]V[/dropcap]inte e duas pessoas, incluindo 20 funcionários da Apple, foram presos pelas autoridades chinesas, como parte de uma investigação à venda de bases de dados de clientes da multinacional norte-americana, informou ontem a polícia. Os suspeitos são acusados de invasão de privacidade e usurpação de dados pessoais, disse em comunicado a polícia da província de Zhejiang, leste da China. Os detidos terão alegadamente usado o sistema de informação da Apple para colectar nomes, números de telefone e de identificação, e outros dados dos usuários, para vender. Segundo as autoridades, o esquema gerou lucros no valor de 50 milhões de yuan. Os suspeitos foram presos na semana passada, em várias províncias da China. O tráfico de dados pessoais é comum no país. Em Fevereiro passado, oito pessoas, incluindo ex-funcionários do município de Xangai, foram condenadas a até dois anos de prisão por venda dos dados de mais de 5.000 recém-nascidos. Estes dados foram vendidos a empresas com negócios na área dos cuidados infantis e infantários.
Hoje Macau China / ÁsiaXi Jinping no Cazaquistão em visita de estado [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês Xi Jinping chegou esta quarta-feira ao Cazaquistão para uma visita estatal e para participar na 17ª Reunião do Conselho dos Líderes de Estado da Organização de Cooperação de Shanghai (OCS). Durante a sua estadia no país do centro asiático, Xi também marcará presença na cerimónia de abertura da Expo Mundial 2017 em Astana. A viagem marca a primeira visita de Xi ao centro asiático este ano. O líder chinês visitou o Cazaquistão em duas ocasiões desde que tomou posse, respectivamente em 2013 e 2015. “Tenho boas memórias da magnífica estepe cazaque, dos rios vibrantes, do extraordinário desenvolvimento nacional, e sobretudo do povo cazaque simpático e sincero”, disse Xi num artigo publicado esta quarta-feira num jornal cazaque. A presença de Xi na Expo 2017 em Astana, sob o tema de “energia futura”, não mostra apenas o apoio completo da China ao Cazaquistão, mas também a importância que o país dá às novas energias, disse o ministro assistente dos Negócios Estrangeiros da China, Li Huilai, na segunda-feira. Os maiores destaques da cimeira da OCS serão o acesso formal da Índia e do Paquistão à organização e o facto de a China assumir a presidência da OCS após a reunião, segundo Sun Zhuangzhi, secretário-geral do Centro de Pesquisa da OCS na Academia Chinesa de Ciências Sociais.
Hoje Macau China / ÁsiaEUA | Secretário da Energia quer cooperação sobre o clima [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário norte-americano da Energia disse ontem que Estados Unidos e China têm “oportunidades extraordinárias” para colaborarem no combate às alterações climáticas, numa altura em que Donald Trump é criticado por sair do acordo de Paris. Num encontro com o vice-primeiro-ministro chinês Zhang Gaoli, Rick Perry apontou o gás natural liquefeito, energia nuclear e captura de carbono como duas áreas em que os dois países podem trabalhar juntos. Na segunda-feira, Perry afirmou no Japão esperar que a China se torne num “verdadeiro líder” na questão do clima e rejeitou as acusações de que os EUA estão a recuar. A decisão de Trump abriu um vazio na liderança do combate ao aquecimento global que poderá vir a ser preenchido pela China, que prepara um imenso processo de descarbonização da sua economia. O país asiático é o maior emissor mundial de gases com efeito de estufa e nas suas grandes cidades a poluição atmosférica está muitas vezes acima dos limites recomendados pela Organização Mundial de Saúde, gerando milhões de mortes prematuras todos os anos. No início do encontro entre Perry e Zhang, antes dos jornalistas saírem da sala, nenhum deles mencionou a decisão de Trump. O acordo de Paris, celebrado em 2015, era visto como um marco na cooperação entre Pequim e Washington, as duas maiores economias do mundo e com posições antagónicas em questões como segurança regional e Direitos Humanos. Perry não mencionou energias renováveis como a solar e a eólica, em que a China tem a maior capacidade instalada do mundo. Boas vibrações Na terça-feira, o governador da Califórnia, Jerry Brown, desvalorizou em Pequim a decisão de Donald Trump, classificando-a como um “retrocesso temporário” na luta global contra as alterações climáticas. “A China, os países europeus e os estados norte-americanos vão preencher o vazio deixado pela decisão de Washington”, garantiu Brown, que participou em Pequim numa conferência sobre fontes de energia renovável. A China e a Califórnia anunciaram no mesmo dia um acordo de cooperação para reduzir a emissão de gases.
Hoje Macau China / ÁsiaJapão diz que novo ensaio de mísseis de Pyongyang não ameaçou a sua segurança [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo japonês considera que o ensaio de mísseis realizado ontem pela Coreia do Norte não representou uma ameaça à sua segurança, ao contrário de outras vezes, em que projécteis caíram em águas da sua Zona Económica Exclusiva. “Estamos a tomar as medidas adequadas a par com a comunidade internacional”, afirmou o ministro porta-voz do Executivo japonês, Yoshihide Suga, indicando que estão a analisar informação sobre o lançamento com os Estados Unidos e a Coreia do Sul, ainda que este não tenha representado uma “ameaça à segurança” do país. A Coreia do Norte lançou ontem múltiplos mísseis a partir das imediações da cidade costeira de Wonsan, no sudeste, que percorreram 200 quilómetros antes de cair em águas do mar do Japão, segundo confirmaram os governos de Seul e Tóquio. Ambos os países colaboram com os Estados Unidos no sentido de identificar os projécteis utilizados no lançamento que acreditam ser mísseis de cruzeiro e não balísticos. A confirmar-se a suspeita, o ensaio não violaria as resoluções do Conselho de Segurança da ONU que pesam sobre a Coreia do Norte, as quais proíbem os lançamentos que usam tecnologia de mísseis balísticos. Apesar de considerar que o mais recente lançamento de Pyongyang não representou uma ameaça para o Japão, por não ter caído em águas da sua Zona Económica Exclusiva – a última vez que tal sucedeu foi em 29 Maio –, Tóquio destacou a insistência por parte do país vizinho na realização deste tipo de testes. Desde o início do ano, a Coreia do Norte levou a cabo dez lançamentos de mísseis balísticos, actos “que não se podem permitir”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Fumio Kishida, em declarações reproduzidas pela emissora pública NHK. Na sequência do ensaio norte-coreano de ontem, o Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, convocou, por seu turno, uma reunião do Conselho de Segurança Nacional para debater medidas contra este tipo de testes por parte do país vizinho.
Andreia Sofia Silva EventosAna Maria Pessanha, pintora: “O mar é um pouco uma obsessão” Um convite para falar das suas obras foi suficiente para Ana Maria Pessanha começar a falar de si própria, num acto quase instintivo. Numa visita guiada, a pintora explica a sua forte ligação ao mar, a paixão pelos tons verdes e azuis, e a relação com determinados quadros. A exposição “O Mar” está na Casa Garden até finais de Agosto Comecemos por este verso de Fernando Pessoa: “Olhando o mar, sonho sem ter de quê. Nada no mar, salvo o ser mar, se vê”. A poesia de Pessoa inspirou-a? Não tanto assim. Procuro associar sempre a pintura com a literacia, e percorri escritores que fundamentassem o meu trabalho, como Pessoa e Sophia de Mello Breyner, para suportar um pouco a palavra com a imagem. Mas não foi Pessoa que me inspirou. O mar está muito presente na literatura portuguesa. Que mar é este que vemos aqui nos seus quadros? É muito pessoal. Sou descendente de madeirenses. A minha mãe, quando casou e veio viver para Portugal, ia todos os anos à Madeira. E desde miúda que viajava em barcos. Quanto tempo demorava essa viagem? Dois dias. Uma miúda de três anos num barco… O mar ficou muito no meu inconsciente, de tal maneira que é o meu tema preferido. É um pouco uma obsessão. Tenho dificuldade em estar longe do mar. Já estive duas vezes no estrangeiro, nos Estados Unidos e na Alemanha, uma estadia de 12 anos, e fazia-me falta estar perto do mar. Procurava os rios. Mas faltava o cheiro, o ritmo do mar. O ruído. [Cabo Girão] Esta é uma vista impressionante que há na Madeira, e que é mais impressionante porque tem uma espécie de miradouro com vidro. Quando me inspirei para fazer este quadro, o miradouro ainda não existia. Este quadro está relacionado com as minhas origens. [Splash Out] Este quadro é uma onda a rebentar. Representa algo para si? A minha pintura tem as raízes, mas não é uma pintura subjectiva, é visual. Passo muito tempo em Tróia, e fico muito sossegada a ver o mar e a esquematizá-lo. Então digamos que este quadro é uma fotografia esquematizada de uma onda. Usa muito os azuis e os verdes, bem como os amarelos. Já pensou pintar o mar numa outra cor? Ou gosta de pintar o mar como ele é? Também uso outras tonalidades. Mas esta é, de facto, a minha paleta de cores preferida. Tenho todos os tubos das tintas guardados em gavetas, e as minhas filhas dizem-me que me vão tirar as gavetas dos azuis e dos verdes. Para ver se eu tenho prazer a pintar noutras cores. Mas eu comecei a minha formação artística na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, onde estas cores estavam muito presentes. Trabalhei muito com essas cores, mesmo tendo estado alguns anos sem pintar. A minha paleta era azuis, verdes e cinzentos azulados. Pensei até que tinha perdido a mão nessa altura, mas as minhas filhas insistiram para eu pintar de novo. Peguei na paleta e essas mesmas cores vieram de novo. Por que esteve esse tempo sem pintar? Estive na Alemanha e dediquei-me muito a educar os meus filhos. Nunca se consegue realizar pintura com alguma qualidade se não tivermos, pelo menos, cinco horas por dia com as telas. Não tinha tempo. Preparei tudo para elas serem boas alunas. Quando finalmente pegou nos pincéis, voltou tudo. Não me tinha esquecido de nada. Neste momento não só ensino pintura a futuras professoras e educadoras [é coordenadora do mestrado na Escola Superior de Educação Almeida Garrett], como dou lições particulares. Quando me colocam dúvidas, eu resolvo a dúvida no momento. Não me esqueci. A pintura é uma coisa muito interessante, porque mexe muito connosco, e com a memória. Comecei a pintar com 18 anos e nessa altura a memória retém tudo. Consegue ensinar o que aprendeu e o que foi percepcionando? Costumo dizer que não se ensina nada a ninguém se as pessoas tiverem mais de 40 anos. É mais complicado ensinar, as pessoas têm muitos estereótipos, querem pintar como Picasso e Van Gogh. A primeira coisa que digo às pessoas quando chegam ao meu atelier é: “Agora vamos ficar loucos”. Fazemos experiências. [Sombras] Esta pintura é feita muito da manipulação da tela, e só a partir de certa altura é que comecei a usar trinchas e pincéis. [Texturas] Aqui fiz uma fusão de líquidos que não são mexidos. Este é algum mar em especial? É um fragmento da onda, fiz um close up. E fiz aqui estas experiências com os líquidos que não se misturam. Diz nas aulas “vamos ficar loucos”. Pinta-se a desorganização, mas a pintura tem também esse lado mais organizado. Tem, e um lado racional. Se a pintura não estiver bem, mais vale colocar a tela no lavatório e começar de novo. Há muitas telas que não ficaram bem e não vieram para esta exposição. Não se pode pensar que o pintor fez todas as telas que estão expostas. Fez mais. Quando pinto uma tela levo-a para minha casa e olho para ela durante dois meses. Se não me fartar dela, está pronta para ser exposta. Quem mais tem direito a esse olhar crítico? As minhas filhas. As mesmas que lhe queriam tirar as tintas. Elas também são da área das artes, são designers. Não fiz nada para seguirem esse campo, a não ser ter-lhes comprado bons materiais de pintura. Elas têm uma crítica de arte distanciada, e por isso ajudam-me. [O Mar] Este quadro já esteve para ser comprado várias vezes, e eu não deixo. É o seu preferido? É. Acho que criei amizade em demasia com este quadro. Quando começo a pintar, digo para mim própria se o quadro é meu ou se é para uma exposição, e com este não devo ter dito isso. Há obras com as quais se cria uma relação afectiva. Aqui tem quadros com cores vivas. Foi quando as minhas filhas me disseram que iam roubar-me os pincéis. E eu disse: “Se calhar sou capaz de pintar sem azul e verde”. [Vinho Veritas] Gosta destas telas tanto como gosta das outras? Não é bem isso. Esta, por exemplo, tem uma realização muito bonita. É aplicação de folha de ouro numa tela de linho. Gosto muito, mas se lhe disser o que me dá prazer, é descobrir os tons de azul e de verde. Fiquei surpreendida no momento, mas não é tão lúdico. E acho que as pessoas, para pintarem, têm de saber dominar a técnica, a composição, e ter prazer no que estão a fazer. Para mim, pintar a sofrer não serve. A pintura é vista como uma terapia. Mas isso é sempre, seja uma pintura com dor ou com prazer. A Paula Rêgo, por exemplo, não sei se ela sofre quando pinta, mas ela de facto pinta coisas mais dramáticas. Deve ter prazer, porque trabalha muitíssimo bem o pastel. A Ana Maria pinta mais a paz, a serenidade? A minha contestação social, digamos assim, não está associada à pintura, mas sim à participação na educação e na comunidade. Fiz sempre muito trabalho de voluntariado com crianças e ensino. Qual a relação da sua obra com o trabalho de Henri Matisse? Tenho uma admiração por ele. Tem um posicionamento social talvez parecido com o meu, porque ele dizia que a pintura devia ser para dar júbilo às pessoas. Terei prazer se as pessoas vierem aqui e passarem um bom momento. Criei alguma afinidade com Henri Matisse, mas a exposição minha que mais esteve associada ao pintor foi a que fiz há três anos. Essa era muito à base de papel e recortes, mas a temática era o mar. A de Matisse era as plantas. Hoje é mais difícil ser pintora do que quando começou? Não acho. Pertenço a uma geração que fez a sua formação na Faculdade de Belas-Artes do Porto onde António Barreto era um jovem assistente, anos antes de vir para Macau. Mulheres dessa geração que tentaram mostrar a sua pintura, não existem. Existem pintoras que deixaram Portugal, como Paula Rêgo e Vieira da Silva. Em Portugal era complicado, porque para vendermos um quadro tínhamos de vender aspectos afectivos ao cliente. Tínhamos de conceder determinadas atenções, o que não agradava à maior parte das pessoas. Ser artista mulher hoje é mais fácil, a sociedade está mais preparada. Aqui em Macau, graças ao contributo de António Barreto, vejo que as pessoas que vêem ver a minha exposição percebem o que estão a ver e o que estão a comprar. E isso é interessante, não é por acaso. Houve uma educação.
Hoje Macau EventosCultura | Ministro português destaca papel de Macau [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s pontes culturais entre Portugal e China são muito antigas, mas a literatura, sobretudo a contemporânea, é fundamental para estreitar essas relações e proporcionar um maior conhecimento humano mútuo, destacou o ministro português da Cultura, Luís Castro Mendes. “São muito antigas as pontes culturais entre Portugal e China, graças, em muito, ao papel que Macau desempenha. Macau é um lugar privilegiado de cruzamento entre Portugal e China, entre o Ocidente e o Oriente”, lembrou Luís Castro Mendes, no encerramento do 1.º Fórum Literário Portugal-China, que se realizou esta semana em Lisboa. O ministro destacou o património cultural da literatura clássica e sublinhou que a literatura chinesa contemporânea constitui um território de descobrimento. “É para começar a colmatar e a combater esta carência que se fez este fórum. Espero que tenha contribuído para estreitar relações e espero que tais pontes nos aproximem cada vez mais uns dos outros”, disse. O fórum reuniu escritores portugueses e chineses, que debateram os temas da literatura, sociedade e inclusão. “Podemos aprender muito uns com os outros nas áreas científicas, tecnológicas, mas há uma coisa muito importante que a literatura traz: é a compreensão do humano. Compreendemo-nos melhor uns aos outros como seres humanos através do conhecimento mútuo das nossas literaturas”, afirmou. Os caminhos deles O debate abriu com a escritora portuguesa Dulce Maria Cardoso que, como foi destacado no início do fórum pela presidente da Associação Chinesa de Escritores, Tie Ning, “não está publicada na China, mas vai ser”. Para a autora de “O Retorno”, “a melhor maneira de contar a verdade é inventar a melhor mentira que a sirva” e uma história ficcionada bem contada é mais real, porque perdura no tempo e pertence a mais gente, do que a própria realidade efémera. Para José Luís Peixoto, no centro da literatura está a natureza humana e é isso que torna os livros universais e compreensíveis em qualquer lugar do mundo, independentemente do tempo, do espaço, da história e da cultura a que está ligado cada escritor. “Por isso, um livro é compreensível aqui e do outro lado do mundo, porque partilhamos valores e ideias”, afirmou. Gonçalo M. Tavares disse que a escrita é um trabalho solitário e que o trabalho do escritor é aproximar-se e afastar-se dos acontecimentos, para ter vários olhares. Na opinião do autor, um escritor tem de ter uma visão do passado e do futuro, e ilustrou a ideia com uma personagem “que era tão vesga que, à quarta-feira, olhava ao mesmo tempo para o domingo passado e para o domingo seguinte”. O escritor Zhan Wei, vice-presidente da Associação Chinesa de Escritores, centrou a sua atenção na Internet e na forma como esta põe em risco o individualismo e a apreciação da arte. “As pessoas vão afastar-se por não estarem habituadas a ter paciência. A era da Internet é rápida, barulhenta, as pessoas perdem a paciência para o que não é assim”, afirmou. Chi Zijian considerou que a literatura, como criação individual, não se pode separar da sociedade e defendeu que um escritor deve conseguir integrar-se na sociedade para observar e exteriorizar-se, para conseguir dar vida à história que quer contar. Su Tong, o mais conhecido em Portugal dos autores chineses que participaram no fórum, recorreu a um conto do escritor norte-americano John Cheever – “The Enormous Radio” – para afirmar que toda a história reflecte alguma coisa do escritor e da sociedade. O conto narra a história de um casal que conseguia ouvir numa estação do seu rádio as conversas dos vizinhos, acabando essas vivências por se refletir nas suas próprias vidas. “É como se fosse o escritor a fazer a imitação de algo invisível. Temos de nos tornar invisíveis e entrar no rádio gigante ou tornarmo-nos o próprio rádio, para escutar a pulsação da sociedade”.
Paulo José Miranda Em modo de perguntar h | Artes, Letras e IdeiasKaradeniz: “O que nos espera é o nada” (Continuação) Mas o Karadeniz disse que também tem moedas muito antigas, de antes deste seu tempo!… É verdade, mas não foram procuradas como raridades de colecção! Foram encontradas em lugares do dia a dia, compradas a quem não sabia do seu real valor. Essas moedas são mais um testemunho do que se encontra nas ruas da cidade neste meu tempo do que um troféu raro. Não é peça de colecção, é peça do que se encontra na cidade. O que é que o Karadeniz pretende fazer com tudo isto? Enquanto for vivo, vou juntando mais coisas todos os dias. Quando morrer já não posso decidir nada acerca disto. Provavelmente vai tudo para o lixo. Mas não o angustia saber que todo este seu esforço vai acabar em nada? É como a vida! No fundo, o que aqui estou a fazer é uma metáfora da vida. Provavelmente, preferiríamos viver para sempre, ou ser recordados para sempre, mas o que nos espera é o nada. Não é, Paulo? O que vamos ser quando já não formos, ainda não sabemos! Não sabemos, mas temos bons indícios do que vai ser. Sabes o que é que também colecciono, Paulo? O quê? Esqueletos de peixes. Esqueletos?! Sim, espinhas de peixe! Tenho um esqueleto de cada um dos peixes que se pode comer em Istambul. De todos?! Bem, de quase todos. Desfio-os com muito cuidado antes de comer e depois guardo o esqueleto do peixe. E hoje, portanto, é esta a sua vida?! Podemos dizer que sim! Por vezes, vejo o que faço como uma grande obra de arte. Outras vezes, vejo tudo isto apenas como uma obsessão em relação à permanência. Gostava que as coisas permanecessem. Gostava que o que vem a seguir não apagasse o que já há. O que há devia haver sempre. O que há não devia tornar-se passado. A sua mulher chegou a saber desta casa, deste amontoado de coisas? Nem ela, nem o meu filho. Já pensou que esta casa, esta obsessão por juntar coisas não é muito diferente da obsessão da sua mulher pelos gatos? Já! Quem está apaixonado, seja pelo que for, não tem jeito para mais nada. Não se pode estar apaixonado por mais do que uma coisa, por exemplo, uma pessoa e aquilo que se faz, ou por mais do que uma coisa que se faz ou por mais do que uma pessoa? Não estou certo disso. Podemos ter relações intensas com várias coisas ou várias pessoas, mas julgo que a paixão é um sentimento exclusivo. A paixão pode ser um ódio. O ódio que tive aos gatos era uma paixão. Não me deixava ver mais nada. O ódio é a carga negativa da paixão; a paixão é a carga positiva do ódio. Por isso é que tantas vezes se passa de uma carga para outra em relação ao mesmo objecto ou à mesma actividade ou à mesma pessoa. Nunca sentiste ódio pela escrita ou por uma pessoa por quem já estiveste apaixonado? Adiante! Há alguém que saiba da sua colecção? Há alguém que já aqui tenha estado? Não e não. Um cidadão não pode compreender o que se passa aqui. As pessoas que moram neste prédio, nos outros andares, se soubessem de tudo o que aqui está, obrigavam-me a vazar o apartamento. Tenho sempre medo de que alguém venha a saber. Uma vez mais, uma actividade que tem de manter em segredo! Infelizmente assim é! Trago as coisas a horas diferentes, de modo a que tenham dificuldade em controlar as minhas entradas e o que faço. Porque, como já viste, o amontoado de coisas é tão grande que a porta de entrada já nem sequer abre toda. Se me virem a entrar de lado vão pensar que há algo de estranho. Vão querer saber. Vão começar a bisbilhotar. Um destes dias já nem sequer consegue cá entrar, Karadeniz! Como é que vai fazer, arranjar outra casa? Com a minha idade já não vai ser preciso, Paulo. Mas imagina que tinha começado com isto muitos anos antes! Então, sim, é que teria de arranjar outra casa. Por outro lado, não conseguiria deixar umas coisas aqui e outras lá. Teria de mudar tudo para uma casa maior, teria de ter tudo junto. Não consigo ver as minhas coisas separadas. Nem conseguiria separar-me delas. E então teria outro problema: a mudança de tudo isto. (pausa) Gostava de morrer aqui entre as coisas. Só que o seu corpo poderia apodrecer aqui, sem que ninguém desse por isso! Era bonito! Tornava-me eu mesmo parte da colecção, parte do amontoado de coisas. O Karadeniz não tem mais nenhum familiar vivo, para além do seu filho? Não! Fui filho único e os outros parentes há décadas que não sei deles. Como o meu filho não vai precisar do meu dinheiro, nem sequer o vai querer, gasto o dinheiro nestas coisas e nas viagens que faço, que agora já vão sendo poucas. Quase ninguém sabe de mim, no mundo inteiro. Julgo que nasci para ser tudo o que quisesse, desde que não fosse conhecido, desde que passasse completamente despercebido. Comecei por matar pessoas e gostava de acabar entre estas coisas que ninguém quer. Mas há muita grandeza na sua vida, Karadeniz! Muita grandeza, como assim!? Você deixa de matar pessoas pelo ódio aos animais, que passa a matar, e acaba por encontrar o amor, a paixão entre as coisas que ninguém guarda, que ninguém quer, nessa sua obra de arte, como por vezes lhe chama. Não vê grandeza nisso? Você foi sempre exemplar em tudo o que fez! Uma coisa é certa e, se bem te percebo, tens razão, vivi sempre nos limites do humano. Se isso é uma grandeza, já não sei. (continua)
Anabela Canas h | Artes, Letras e Ideias Iluminação ArtificialLençóis de água [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omo pessoas, dormem enroladas sobre si próprias, como bichos friorentos e mergulhadas fundo na massa espessa das roupas confusas e amorfas. E outras, arrumadas numa rigorosa comissura do universo, feito de pregas lisas e dobras impecáveis. Como umas se afundam, ansiosas ou desalentadas, num buraco profundo e escuro e como se na própria noite cósmica, e outras se expõem desatentas de perigos, desconhecimentos e sonhos, em que umas e outras se sujeitam a perecer de angústia ou desalento. Sonhos que são despedidas que já foram e sonhos que são reencontros com os que já não estando, ainda doem. Os mortos que começam a voltar quando se situam com mais clareza no mapa de constelações com que cobrem o céu. Privado. Como um toldo etéreo no pátio de cada um e na sua porção de mundo. E que voltam, sem que raramente seja para mais do que anunciar que já estão. Longe. Outras vezes uma espécie de ilusão passageira e doce, como para matar saudades. Aceites no imediato do dia porque não há como vencê-los senão com o momento seguinte. Virar a página, com o gesto de afastar o lençol. Dormir. Uma pausa no sobreaquecimento das emoções. Uma desistência precisa. Uma demissão até breve. Mas às vezes um pouco à superfície da noite, do leito feito lençol de água espessa e densa, em que nenhum corpo mergulha e os braços tentam cortar em braçadas sofridas e vãs. De bruços sobre um oceano viscoso em que o corpo quereria mergulhar e avançar ao ritmo remado do esforço despendido. Recorrente sonho em secreto receio de Freud. Essa matéria estranha e confusamente mesclada, das matérias têxteis de uma realidade visível, e das camadas subterrâneas a um cenário interior. Um paraíso de todos os dias. As noites. Perdido e reencontrado como tal. Temido por insones. Por crianças. Por sonhadores sem rédea. No sono. Talvez a consistência exacta do conforto da protecção. Uma espécie de abraço da parte física da criatura a reencontrar no segredo da noite. Nas águas de colorido e densidade variada. Como as águas em Bachelard. As límpidas, transparentes em profundidade. Mas repletas de brilhos e tão calmas e sorridentes que paradoxalmente não se deixam atravessar. Espelho narcísico que nada revela de si sem o outro, o rosto que se contempla e morre de tamanha devolução. Ou as profundas insondáveis em si, e desconhecidas nas suas escuridões que tudo escondem e que nelas sugam o olhar. O engolem em profundezas por explorar, o perdem, devolvendo em si e de si, unicamente o olhar que nelas mergulha como ao interior de si próprio. As primaveris e superficiais, alegres, frescas e repletas de brilhos, e as viscosas e obscuras, que fazem do ser o retorno a si próprio, não em forma de reflexo mas à forma da reflexão. Como as pessoas são diferentes e diferentes de como são com os outros ou os outros outros. Como se a cada uma, uma das faces dessas criaturas aladas caprichosas e míticas que personificam com caracteres diversos os deuses dos sonhos filhos de Hipnos, o do sono irmão da morte. Quando nunca se sabe afinal se não é unicamente este que espera de braços abertos recolher o corpo abandonado. Como se fora o seu irmão. E que às vezes se distrai para ele. No centro do eterno retorno da casa. Cama, barcaça enorme como um monumento digno do espaço ocupado, elegida a sua natureza de pódio. Muito altas ou rasas a tocar a terra. Enformada de pesados veludos e pregas acetinadas em tonalidades ricas, de fogo e de luz. Pesados brocados em festa barroca, pueris poéticas de estrelas, geométricas e vastas linhas, rectas como autoestradas recentes de sentidos únicos. Sempre, ir e voltar. Em parques ensolarados, ou, pensando na deliciosa descrição de Ovídio, nas Metamorfoses, em que é a de Morfeu, de negro ébano, entranhada numa escura caverna: “Nunca lhe pode o Sol mandar seus raios; (…) Do lugar o silêncio nunca rompem/ Os solícitos cães, os roucos patos,(…) Nele alterados sons de voz humana” . E decorada com flores. Papoilas, as “fecundas dormideiras”. As do ópio verdadeiro como o dos sonhos. Alguns. Era Morfeu – é – diz o nome, aquele que forma ou dá forma. Moldador de sonhos. Era talvez o irmão escultor das visões dos outros três. O dos pesadelos, o das coisas, o das ilusões. Ser objecto. Ser objecto de si e não muito sentir ser mais do que isso. Essa dependência do espelho. Do espelho como reciprocidade. Ou como comunicação. Do espelho de um olhar a mais do que o de se ser em si e não mais. E precisar de ser em mais. Esta ânsia de comunicação de eco de devolução. E a barcaça-cama a devolver em espelho o que se procura. Em linhos ou cetins. Talvez o irmão fantasia. Mas nunca se sabe qual dos irmãos nos acolhe na noite. E não chegar o ser em si porque se neutraliza na ausência do eco de si em si mesmo. O sono. Se não se distrair para Tanatos. Sempre esta dúvida da cor que é o nada. O negro profundo ou branco superficial. Em branco. Sempre gostei de lençóis brancos como uma página. Matérias antiquadas, finas ou rústicas, de linho e algodão. Bordados à máquina ou à mão, que importa o valor das mãos, se estão lá. Sempre, com amor ou por dever. Um lugar em branco. Em brancos vários. De restos de recordações de família e de restos de recordações de recordações contadas. Recontadas. Ou construídas. No viver. Sobre o branco, como uma página. Porque é ali que tudo se faz e desfaz. E se refaz. Que os dias começam e que os dias acabam. E, como a alvura dos lençóis agradáveis à pele, a clareza límpida e nova de todos os dias a ter que recomeçar. Talvez a alma lavada de fresco e virada para a frente. Sem lastro. Com tudo o que foi e com tudo o que fica, fresco e limpo como se novo em folha. Em folha branca. Para recomeçar no ponto preciso em que se fico na anterior. O grau zero. Com todo o sono e o apagado pelo meio. Como se de tudo sobrasse uma alma limpa e nova. O que é tão transcendente como fazer a cama todos os dias. Amorosamente. Porque não se diz disso refazer. Fazer. Como se nunca tivesse sido. De fresco. Com lençóis bordados a branco sobre branco. A lembrar climas quentes e outros tempos. A lembrar a disciplina de outros tempos e rituais. Mas nunca puxar as orelhas à cama, expressão tonta. Porque fez o seu papel sem culpa, como lhe estava destinado. A lembrar a frescura de outros tempos e de outras idades. A lembrar o que é preciso esquecer todos os dias. A lembrar o que não se quer lembrar. E a lembrar o que se quer guardar de alma de duas faces. Leve e pesada em simultâneo. Leve e pesada como os intervalos da música. Pausas. Às vezes apenas pesada. De penas. Mas fácil de pintar em tons matinais. Transparentes a resguardar um dia diferente. Sempre. E brancos de síntese cansada e nocturna. Em branco para renascer. Como das cinzas. Como do fumo em que mais um dia se esvaiu, muitas vezes sem remédio. Sempre sem retorno. Sem poder voltar atrás, sem poder querer. Antes a vida numa página em branco. Mais fácil dizê-lo que fazê-lo. Abrir a cama fresca e depurada à noite e serenar a alma colorida de muitas cores e sombras. Acordar como se fosse a primeira vez. Ando há tantos dias a pensar nisto do irremediável. Que é a vida inteira e tudo. Tudo o que se faz, tudo o que se diz, tudo o que se pensa. Não há emenda possível depois de haver acontecido, sido, feito, dito, desdito. Pensar, fazer. Dizer. Tudo e em tudo, o irremediável. Nada de ilusões, emendas, desculpas, esquecimentos ou perdões. Uma construção. Em frente e em altura. Às vezes, matérias de pouca qualidade. Que fazer à pobre imagem do humano que se é… Desfazer e empregar matérias de mais valor. Isso sim. Nas construções. Mas a vida não é assim. Tudo o que foi, fica. Para sempre na aleatória construção e destruição da memória. Com defeitos, efeitos. Um impacto só visível com uma dose enorme de fantasia no depois. Nem sei se, além dessa leitura meio fantástico, meio dedução, meio por meio fé ou interpretação, se vislumbram de facto conclusões, relações de uma causa, ela própria indiscernível e de um efeito desligado de todos os possíveis, de tudo. E de parentesco por atribuir. Mas uma coisa sei: penso, ou sei, tudo é sem remédio. Mas só se não fosse a aprendizagem dos materiais. As matérias melhores na arquitectura dos dias. A conhecer, a acolher, a escolher a preferir. O dia depois do dia que foi, é o caminho possível. O que vem a seguir. Uma página felizmente em branco, forçada, teimosamente forçada. Em branco para escrever. Sim. Só assim esta sensação aterrorizante e de aliviada, se bem que temporária, eternidade é suportável. Até amanhã. A íntima desconfiança de que não é para sempre embora o que dói pareça ser. A absoluta certeza de que a vida já mostrou que não dura. A irremediável sensação de que se fosse para sempre tudo era talvez pior porque a fé no placebo ou no remedio se estendia nos dias preguiçosa, langorosamente. Mas quanto se impõe no inevitável respirar – na escrita- Tão dominado por emoções que o retiram, mas nunca o suficiente. Quase nunca. E como tal. A sensação de que a eternidade é em cada momento, e a certeza do momento seguinte. Na melhor das hipóteses. E mas ainda, porque sonhamos, até amanhã. Aqui. Nunca à mesma hora – diria – nunca no mesmo lugar. Nunca a mesma de hoje. Mas a mesma de amanhã. De sempre, mas tendo dormido de fresco em lençóis brancos. Quando se dorme. Perto de Tanatos mas para a vida. Abrir a cama à noite. Como um livro branco. Fechar o livro, o dia, a noite. A última página. Sobre o corpo. Tudo. A certeza de que só há uma vez para cada coisa. Como águas da passagem de um rio. Eternas, repetidas e únicas. Desfazer a cama. Como no amor. E depois, manhã clara, abrir o livro e sair-lhe de dentro como o dia, uma história por contar. Fazer a cama de lençóis em branco. Fazer o dia como uma página a escrever.
João Luz Perfil PessoasJosé das Neves, designer gráfico | Um macaense de gema [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ascido e criado em Macau, José das Neves é a representação da mistura de culturas que o território sempre testemunhou. O seu pai é um macaense de primeira geração, fruto do amor entre um militar português e uma chinesa, enquanto a mãe é uma portuguesa de Moçambique. Mais conhecido pelos amigos como “Chefe”, José viveu em Macau até aos 13 anos. Recorda que durante a sua infância a cidade “era muito calminha, com muitas actividades de lazer” para as crianças. Viviam-se tempos tranquilos, em muitos aspectos antagónicos com a actualidade. Mesmo na escola, os jovens tinham mais espaço para desenvolverem a sua personalidade, para assumirem as suas diferenças. “Havia uma maior liberdade individual em relação aos dias de hoje, algo que gostava muito que o meu filho experimentasse”, revela. José gostava desse período, em que não havia a obrigatoriedade de usar farda, em que ele e os seus colegas vestiam o que lhe apetecia para ir para as aulas. Nos tempos livres, dedicava-se ao basquetebol e ao futebol, passando os dias a jogar, até que a música electrónica entrou de rompante na sua vida, inspirando José a tornar-se DJ durante vários anos. Entretanto, após os 13 anos, a vida do macaense tornou-se agitada num constante vai e vem entre Macau e Lisboa, vivendo um ano em Portugal e outro cá até aos 18 anos. Foi uma grande mudança para José, um mundo novo se abriu. “Lisboa era uma cidade em que se passavam muitas mais coisas, uma capital, havia sempre o que fazer”, recorda. Foram tempos de crescimento para o macaense. Experimentou pela primeira vez viver sozinho, fora da alçada protectora dos pais. “Aprendi muito mais sobre a vida nesse período do que em todos os anos que passei em Macau”, conta. Amiúde regressava à Ásia, e antes de voltar de vez, ainda viveu um ano em Inglaterra. Mas o bom filho à casa torna, com 23 anos feitos e muito mundo na bagagem. Barreira invisível As deambulações europeias de José abriram-lhe horizontes que não se limitaram à geografia. Em Portugal desenvolveu as suas capacidades na língua portuguesa que, antes das viagens, estava para lá de enferrujada, facto que tinha contornos sociais. Quando era jovem “havia muitos grupinhos e era preciso ter um domínio bom da língua portuguesa para entrar”. José conta que após o seu regresso, já a falar melhor português, o seu círculo de amigos mudou completamente. O designer gráfico recorda que nos anos 1990 havia uma espécie de barreira invisível entre portugueses e macaenses, “havia um certo elitismo e colonialismo também, mas isso foi desaparecendo gradualmente”. José diz que hoje em dia não se vê nada disso, facto que considera uma das coisas mais positivas em relação ao passado. A transferência de administração foi marcante e trouxe momentos algo bizarros na vida do designer gráfico. “Foi um período extremamente estranho, muitos dos meus amigos, de repente, foram embora, parecia que a cidade tinha ficado vazia”, recorda. José explica que sentiu uma espécie de vácuo durante esse período e o tédio aumentou consideravelmente. Algo que foi passageiro e que reverteu completamente assim que as pessoas começaram a voltar. Hoje em dia, nota uma enorme perda de qualidade de vida para quem reside no território. “Antes da liberalização do jogo, Macau era uma cidade muito artística, quase toda a gente tinha um piano em casa”, relata o designer gráfico. Apesar do crescimento económico, dos empregos e salários, José considera que a riqueza em Macau é muito mal distribuída. “Temos todo o dinheiro que é preciso para começar muitos programas – educação gratuita, ensino superior gratuito, saúde e transportes públicos gratuitos”, elabora o macaense. Com um forte cariz socialista, José acha que a cidade podia fazer melhor em proporcionar uma vida confortável aos seus cidadãos. Em termos de vida, José das Neves considera que Macau pode ser uma cidade claustrofóbica, que o impele a partir. “De tempos a tempos, sinto uma vontade descontrolada de sair daqui, nem que seja para Hong Kong, é completamente necessário.”
Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto VozesSuicídios políticos à beira rio [dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]embro-me de há quatro anos atrás ter escrito um artigo durante o Festival Duanwu (Festival do Barco do Dragão). Quatro anos volvidos, a história repete-se por causa das eleições para a 6ª. Assembleia Legislativa, com data marcada para 17 de Setembro próximo. Não tive oportunidade de aprender História com o Padre jesuíta Benjamim Videira Pires, mas dou aulas numa escola fundada por ele. Tendo sido historiador e director de um colégio, surpreendi-me quando soube que vestia roupas muito usadas. Levou uma vida modesta, marcada pela procura da Verdade, precisamente o oposto do que acontece com os políticos. De todos os suicídios cometidos por causa da política, o mais surpreendente é sem dúvida o de Qu Yuan, que se atirou ao Rio Miluo. Qu foi governador do Estado Chu, mas perdeu os favores do Rei devido a intrigas urdidas por outros ministros. Vendo que o seu Estado estava à beira do declínio, e não conseguindo encontrar forma de o salvar, Qu optou por se suicidar o que, bem vistas as coisas, não é forma de salvar um país. Uma outra história ocorreu dezenas de anos depois desta. Xiang Yu, que ficou do lado dos derrotados durante o Conflito Chu–Han, lançou-se ao Rio Wu. Na guerra, Xiang não tinha rival. Desenhou uma estratégia e levou a cabo um ataque muito ofensivo que o fez vencer o combate. Mas, apesar da vitória pessoal a sua facção foi derrotada e, com vergonha de enfrentar a corte imperial, decidiu matar-se em vez de aceitar o convite do barqueiro que se ofereceu para o levar para a outra margem do rio. Há quem diga que se ele tivesse atravessado o rio, talvez tivesse vencido a batalha. Na minha opinião e, baseado no que ele fez nas horas que antecederam o seu suicídio, acho que nunca teria conseguido aceitar a derrota. E, mesmo que tivesse atravessado o rio, a derrota dar-se-ia mais cedo ou mais tarde. Quando as pessoas não assumem as consequências das suas acções e decidem suicidar-se para fugir ao fracasso, serão dignas da nossa compreensão? A última história passa-se em “Hou Kong” (Rio Hou)”, antigo nome de Macau. A vida é realmente enigmática. Um suicídio por razões políticas acontece em Macau, uma cidade sem rio. A duração de uma vida política depende da capacidade de se saber lidar e valorizar as circunstâncias. Dois provérbios chineses, “tem a sabedoria de te retirares quando os problemas te submergem” e “retira-te quando tiveres conquistado o reconhecimento”, são adágios reconhecidos pelo valor das verdades que encerram. Eles ajudam as pessoas a lembrar-se que há um tempo para seguir em frente e lutar e um tempo para nos afastarmos. Só quando sabemos abrir mão de certas coisas é que podemos conservar o mais importante. Quando alguém se quer manter na mesma posição por demasiado tempo, sem aceitar avanços ou inovações, fica cada vez mais conservador e a sua carreira política termina mais cedo ou mais tarde. Acabará por perecer, às suas mãos ou às mãos de terceiros. Quem gosta de História tem de conhecer o passado e antever o futuro. Macau está mergulhado em contradições devido ao seu rápido desenvolvimento económico, que se irão reflectir no processo eleitoral para a Assembleia Legislativa.
Isabel Castro VozesFoi mais um [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o dia em que pensarmos que foi apenas mais um, está tudo dito. Mas a verdade, vista de uma certa perspectiva, é que foi apenas mais um. Nós é que temos esta dificuldade de olhar para o mundo todo, o que é compreensível. Os nossos olhos, a maior parte das vezes, são incapazes de ver o mundo como uma coisa única, pela incapacidade física e emocional de abarcarmos tudo. Ficamos, assim, pelo nosso campo de visão. E aí ainda não foi apenas mais um, como acontece em tantos outros sítios. Mais um, mais uns, mais muitos. Olha, houve ali um tiroteio. Olha, agora foi em Londres. Olha, parece que alguém foi esfaqueado. E havia uma carrinha a atropelar pessoas, gente que não é ninguém em especial e que é tudo em especial para a gente delas. Olha, são seis mortos. Não, foram oito. Mais um, mais uns, mais muitos. Ninguém sabe como lidar com este quase novo normal que não pode ser a norma. No dia em que pensarmos que foi apenas mais um, está tudo feito. Mas esse dia pode não estar longe, porque ninguém sabe o que fazer a este terror que precisa de muito pouco para existir. Ninguém sabe como lhe dar a volta, porque não há apenas um destinatário a quem se pede para ter juízo. Ensinaram-nos na escola que as guerras eram feitas de inimigos. Uns de um lado com canhões, os outros com espingardas e cavalos e espadas e depois com tanques e bombas. Havia trincheiras e frentes de combate, era sangue por todo o lado, apesar dessas guerras de antes serem todas a preto e branco. Mais tarde vieram outras bombas, mais sofisticadas, submarinos e porta-aviões, ataques à distância, mortos e feridos e gaseados. Ainda assim, ia-se para a guerra. Mais tarde ainda inventaram-se outras tecnologias, guerras telecomandadas como se estivessem todos no sofá, à excepção dos mortos, feridos e gaseados. A guerra das trincheiras ainda existe, mas não é no nosso campo de visão. De vez em quando lemos uns textos e vemos umas reportagens da guerra a sério, daquela que tem pó e sangue e mortos abandonados, para fingirmos que damos importância ao que se passa no mundo, para termos o conforto judaico-cristão da relevância dada ao nosso semelhante. Mas não são as guerras que nos dizem mais. As que mais nos incomodam são as que se arriscam a ser normais. Mais um, mais uns, mais muitos. Embarquei para Macau exactamente um mês depois do 11 de Setembro. No Aeroporto de Lisboa era gente armada por todos os lados, medidas de segurança excepcionais para tempos que, à época, eram uma assustadora novidade. O terrorismo que nos entrava pelas televisões costumava ser uma coisa circunscrita a causas, a certos países, a questões políticas e territoriais. Aquelas metralhadoras todas não faziam qualquer sentido, mas é assim que se reage ao medo. No torpor de quem voa para o desconhecido, não foi difícil deixar esse terror para trás. Deste sofá confortável onde estou, protegida pela nossa pequenez e simplicidade, por esta neutralidade histórica conquistada por nos deitarmos com Deus e com o Diabo, fui vendo o mundo que cabe no meu campo de visão ser bombardeado sem razão. Morreu gente que ia para o trabalho de manhã e que tinha acabado de deixar os filhos na escola, morreu gente que ia a ouvir música boa e música de duvidosa qualidade, morreu gente que saiu de casa chateada com o marido ou com a mulher, morreu gente que saiu de casa a amar, morreu gente que tinha ido fumar um cigarro, morreu gente sozinha e gente acompanhada. Morreu gente só porque sim. Destes soldados rasos não sabemos o nome, porque nem sequer se tinham alistado. Não tinham ido para a guerra; a guerra é que foi ter com eles. Os livros de história já não nos contam todas as formas das guerras e os dicionários ainda não foram capazes de encontrar uma definição para este terror, que é quase normal mas que não pode ser a norma, mais um, mais uns, mais muitos. No dia em que pensarmos que foi apenas mais um, não saberemos o que dizer aos nossos filhos.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteGilberto Camacho e Mónica Tang, candidatos às eleições: “É importante que os deputados se envolvam” Os nomes que vão ocupar a terceira e a quarta posições na lista Nova Esperança, encabeçada por José Pereira Coutinho, são novos na política e assumem querer fazer mais e melhor pelos cidadãos. Gilberto Camacho e Mónica Tang criticam a inércia de Chui Sai On e pedem mais transparência do hemiciclo [dropcap]P[/dropcap]or que decidiram aceitar este desafio e integrar uma lista candidata às eleições deste ano? Mónica Tang (M.T.) – José Pereira Coutinho e Leong Veng Chai são deputados a tempo inteiro, e Rita Santos também faz grandes contributos para a sociedade. Então decidi seguir esse exemplo. Ainda estou a aprender, mas quero contribuir para a sociedade. Gilberto Camacho (G.C.) – É uma honra e um orgulho poder fazer parte da lista Nova Esperança. Tanto José Pereira Coutinho, como Leong Veng Chai são duas pessoas que têm lutado muito pela sociedade de Macau, por valores com os quais eu também me identifico, tal como mais transparência na Assembleia Legislativa (AL) e mais rigor. São valores democráticos e quero aprender com eles. É importante ter uma voz nova além da experiência que eles já têm. Não posso dizer que vou estar sempre dentro da política. Uma vez o Papa Francisco disse que a política deve ser um meio para mostrarmos o nosso altruísmo e não os nossos próprios interesses. No caso do Gilberto, já teve uma curta experiência política, uma vez que esteve com um pé na Assembleia da República, graças à participação de Coutinho na candidatura do partido Nós! Cidadãos. Como surgiu a vossa ligação à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM)? G.C. – Comecei a interessar-me por política quando fui para Portugal. Talvez devido aos media, por haver uma maior abertura, comecei a ler muitos jornais, não só nacionais, como também comecei a ler mais sobre política internacional. Aos poucos fui ganhando esse primeiro contacto. Regressei a Macau e quando trabalhei no aeroporto houve um caso relacionado com o ambiente, e sugeriram que viesse falar com José Pereira Coutinho. Gostei desse contacto e ele abriu-me a porta. M.T. – No meu caso tive o meu primeiro contacto com a ATFPM há cinco anos, quando participei numa palestra. Participei em muitas actividades da ATFPM e comecei a interessar-me pelas questões relacionadas com os cidadãos. Sou empresária e estou ligada aos negócios da minha família. Antes de o Gilberto ir para Portugal, como olhava para o meio político de Macau? G.C. – Acompanhava pouco, porque em 1998 não sabíamos como seria a situação depois de 1999, era uma incógnita. Acompanhava algumas causas sociais, mas não tanto o meio político. Em Portugal achava interessante o trabalho e o funcionamento da Assembleia da República. Tanto o Gilberto, como a Mónica são duas caras novas no meio político. Que expectativas colocam em relação à vossa participação? G.C. – O nosso programa político ainda não está finalizado. Penso que as eleições vão ser semelhantes às anteriores, a não ser que exista uma mudança na mentalidade das pessoas. Em que sentido? G.C. – No sentido de apelo ao voto. As pessoas sabem que votar é um dever cívico, mas sabemos que as pessoas estão cada vez mais afastadas da política. Mas aqueles que não votam têm de ter consciência de que isso vai influenciar as listas que são sempre vencedoras. A abstenção é demasiado elevada. Que razões aponta para isso? G.C. – Em Portugal a abstenção acontece por protesto. Em Macau penso que não existe uma consciencialização política. Acredito que muitas pessoas nem sequer sabem que têm direito ao voto. M.T. – O Governo tem falhado na promoção da educação dos mais jovens, para que tenham uma maior consciência do voto e da sua importância. Tem havido algum debate sobre a implementação do sufrágio universal em Macau. Consideram que tal poderá vir a ser uma realidade? G.C. – Não acredito que isso venha a acontecer. Porquê? Poderá ter que ver com eventuais falhas dos movimentos pró-democratas? G.C. – Não é uma falha desse campo. É impossível, porque as regras do jogo são adoptadas por Pequim. Se Hong Kong não conseguiu, Macau muito menos irá conseguir. Macau está demasiado próxima de Pequim, penso que isso não irá acontecer. A sociedade de Macau e os eleitores não estão atentos a essa questão? G.C. – Muito poucos estarão atentos a isso. Como a Mónica disse, a educação cívica e a consciencialização da política não são promovidas nas escolas. As pessoas não sabem o que é política. O pouco que se sabe de política, em Macau e em Hong Kong, vem das antigas administrações portuguesa e britânica. M.T. – Apoio o sufrágio universal, mas não posso dizer se acredito ou não que isso irá mesmo acontecer. Acho bem que as pessoas se interessem mais pela política. Há pouco o Gilberto falou da questão da transparência na AL. Que outros problemas apontam ao funcionamento da Assembleia Legislativa? G.C. – Não vou falar individualmente deste ou daquele deputado. Mas penso que os deputados têm de pensar mais na população, ao nível da transparência e do rigor. Não acredito que a AL não saiba quais são os problemas da sociedade. É importante que os deputados consultem mais a população, que se envolvam: andem de autocarro, sintam o que é ter calor dentro do autocarro, que vão aos hospitais e sejam tratados como as outras pessoas. Os deputados têm uma vida mais ou menos luxuosa que os afasta desses problemas. Considera que os membros do Governo, secretários e Chefe do Executivo, também têm esse distanciamento? G.C. – A sensação que tenho é que, quanto maior o salário, melhor a vida. Vão a hospitais privados, e por aí. Para melhor exercerem os seus cargos, as pessoas têm de estar no meio da população. Fala-se que deveria haver mais deputados eleitos pela via directa. Há demasiados deputados ligados ao meio empresarial? G.C. – É preciso haver mais transparência, porque o povo está sempre desconfiado em relação ao que se passa. Olhe-se para o caso do metro ligeiro, com o aumento exorbitante de orçamento. O terminal marítimo da Taipa é outro exemplo. O Governo tem de trabalhar de uma maneira mais transparente, com mais rigor, porque o dinheiro pertence ao erário público. M.T. – As reuniões das comissões permanentes da AL têm de ser mais transparentes, porque as pessoas precisam saber mais sobre as decisões que são tomadas. A promoção da eleição em Setembro é insuficiente, porque os jovens não sabem que as eleições vão acontecer. O Gilberto é macaense e, caso consiga um assento na AL, vai representar também a comunidade macaense. Como vai ser o seu trabalho nesse sentido? Que problemas acha que precisam de ser resolvidos? G.C. – Vou estar atento às opiniões das pessoas. Não vou apenas representar uma comunidade, é um peso muito grande. Gostaria que mais macaenses avançassem para a política e não apenas eu. Acho que é importante haver um representante da comunidade local, mas não sou o único. Gostaria de reforçar a identidade macaense. Quero que o legado dos portugueses a Oriente se mantenha por muitos anos. Farei propostas que reforcem a preservação da cultura. O Governo tem feito o suficiente para preservar essa cultura e identidade? G.C. – Em alguns aspectos sim, como ao nível arquitectónico, por exemplo. Mas ao nível linguístico, penso que o português poderia ser reforçado no que toca ao ensino. O Governo fala muito na diversificação económica, sabemos que a China é a segunda maior economia do mundo, e Macau tem um posicionamento privilegiado que pode aproveitar para fazer a ponte com os países lusófonos. Mas penso que esse potencial nunca foi aproveitado como deve ser. A Mónica está mais ligada à comunidade chinesa. Quais são os maiores problemas sentidos pela maioria da população? M.T. – O trânsito, a saúde, as creches e a habitação. Todas as tutelas do Governo têm problemas, e já enviamos várias cartas a apelar à resolução de várias questões, mas nunca recebemos respostas. G.C. – Acho que o imobiliário é o maior problema. Não há princípios relativos à especulação. É cada vez mais difícil para as novas gerações viver em Macau? G.C. – No meu caso é mais difícil. Nasci em Macau, mas não tenho casa própria. O salário não acompanha a inflação. Submeti a minha candidatura para ter uma habitação económica há dez anos e até agora não tenho resposta. Era jovem quando me candidatei, quando tiver a casa sou velho. É muito tempo. Esse é o maior problema. Os jovens casam cada vez mais tarde porque não têm o seu próprio lar. M.T. – É difícil para as gerações mais novas viver em Macau, devido aos aumentos das rendas e à inflação. Há muitas pessoas a irem fazer compras em Zhuhai. Gostava que o Governo resolvesse esses problemas e conhecesse mais a vida real das pessoas. Chui Sai On sai do Governo em 2019. Que balanço fazem do trabalho do Chefe do Executivo? G.C. – Ele esteve presente? Não reparei. É uma pessoa que não critica, não condena, está de passagem. Poderia ter sido mais interventivo? G.C. – Mais interventivo, mais crítico, menos receoso de fazer as coisas. M.T. – Não tenho muito a dizer, penso que o trabalho não foi suficiente.
João Luz Manchete PolíticaNovo Macau | Scott Chiang lidera a associação até ao fim das eleições Após insistência de membros da direcção, Scott Chiang decidiu manter-se no cargo de presidente da Associação Novo Macau. A demissão fica assim adiada para depois das eleições, sendo que Chiang passa a ocupar o lugar de Jason Chao à frente da Macau Concealers [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] decisão de abandonar a direcção da Novo Macau mantém-se mas, como o HM noticiou ontem, Scott Chiang foi abordado por membros da associação para se manter no cargo. Nesse sentido, Sou Ka Hou, antigo presidente, disse que só podiam divulgar os próximos passos a tomar quando Scott Chiang anunciasse se fica ou sai. Para já, Chiang fica à frente da Novo Macau até depois das eleições de 17 de Setembro. “Pediram-me para mudar a minha decisão de me demitir e a minha resposta foi não”, começa por explicar. “Porém, para tornar a situação benéfica para todos, adiei o dia da saída para depois das eleições, que será algures entre o final de Setembro e início de Outubro”, esclareceu Scott Chiang. A resolução do presidente dos pró-democratas surgiu após uma “longa e franca conversa, com umas cervejas à mistura”, conta. Chiang considerou que as questões internas que resultaram na sua saída “são águas passadas” e que o que importa é lidar com a situação actual. O presidente demissionário da Novo Macau anunciou ainda que não será candidato à Assembleia Legislativa. Que futuro? A dúvida em relação ao novo presidente da Novo Macau permanece, sendo que Scott Chiang deixou claro que depois do sufrágio abandonará o cargo. “Quanto ao próximo presidente, ou a associação nomeia um novo membro da direcção, ou faz eleições internamente”, explicou Chiang. O líder relativizou ainda a sua saída dizendo que “não podia ser presidente a vida inteira”. Entretanto, Jason Chao, que também foi presidente da Novo Macau, irá para fora do território para prosseguir os estudos, deixando um lugar vago na Macau Concealers. Assim sendo, Scott Chiang volta a ocupar um posto deixado em aberto por Chao, assumindo o papel de director da publicação de activismo político. Regressão legal Quando pedido para comentar um curso em Pequim destinado a assessores e altos quadros jurídicos da RAEM, inclusive o presidente do Tribunal de Última Instância, para estudar o sistema legal chinês de forma a adequá-lo a Macau, Jason Chao foi peremptório: “Vão numa viagem ao cemitério do Estado de direito”. O activista vai mais longe ao considerar que a história dos partidos comunistas da Rússia e da China vivem da ausência de lei. Jason Chao disse ainda que em Macau há falta de independência do ramo judicial, tendo dado o caso Ho Chio Meng como exemplo.
Andreia Sofia Silva PolíticaCAEAL analisa 14 casos de duplas assinaturas em candidaturas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) vai analisar 14 casos de pessoas que assinaram vários pedidos de reconhecimento de constituição de comissões de candidatura para as eleições legislativas deste ano. A lei eleitoral determina que um eleitor só pode assinar um documento que vise a constituição de uma candidatura e, até ao momento, a CAEAL já contactou e ouviu sete pessoas envolvidas. Tong Hio Fong, juiz e presidente da CAEAL, não soube precisar o calendário para a conclusão de análise destes casos, nem tão pouco quis avançar se serão aplicadas sanções aos assinantes. “A comissão pediu ao secretariado para entrar em contacto com os indivíduos que assinaram mais do que um pedido de reconhecimento das assinaturas. A comissão detectou outros indivíduos que assinaram mais do que uma declaração e vamos entrar em contacto com eles para perceber o que realmente aconteceu”, disse ontem Tong Hio Fong, à margem de mais uma reunião da CAEAL. Até agora foi aceite um total de oito comissões de candidatura para as eleições legislativas, que decorrem em Setembro. O prazo para a entrega dos pedidos de reconhecimento das comissões de candidatura termina já no próximo dia 20 de Junho. Aprovações à espera Tong Hio Fong garantiu que as falhas nas assinaturas dos documentos não estão relacionadas com a falta de divulgação da lei eleitoral. “Um ou dois meses antes do início dos trabalhos da comissão começámos a divulgar a lei eleitoral junto da população. A pessoa que angaria assinaturas deve ter atenção aos pormenores”, disse apenas. O presidente da CAEAL referiu também que ainda não estão reunidas condições para aprovar mais pedidos de reconhecimento de candidaturas. “Vamos analisar caso a caso em concreto, e podemos dizer que ainda não concluímos todos os trabalhos. Depois disso vamos fazer uma análise mais profunda da legislação.” O caso da repetição de assinaturas fez com que a CAEAL tenha sido elogiada pela Associação Sonho Macau. Carl Ching, responsável máximo pela entidade, aplaudiu a CAEAL pelo facto de estar a analisar caso a caso, ao invés de optar por apagar as assinaturas, situação ocorrida nas legislativas de 2013.
João Luz Manchete SociedadePatrimónio | Presidente do IC diz que alertas da UNESCO são para levar a sério O Comité do Património Mundial alertou o Governo de Macau para as sérias consequências da inacção em dar cumprimento às exigências da UNESCO. O Presidente do IC diz que esta situação é grave e deve ser encarada com a seriedade [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s alertas da UNESCO para a construção de prédios altos e para o projecto de aterro que colocam em causa a visibilidade do Farol da Guia e da Colina da Penha foram recebidos com preocupação pelo Governo, assegurou Leung Hio Ming, presidente do Instituto Cultural (IC). Além disso, a entidade internacional está preocupada com a não entrega por parte das autoridades da RAEM do Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau, assim como da ausência de um documento que ateste o planeamento urbanístico do território. No relatório, a UNESCO ameaçou o Governo com “consequências sérias” no que toca à declaração do centro histórico da cidade como de valor universal excepcional. Nesse sentido, o presidente do IC revela que pretende remeter o documento de plano de gestão do centro histórico da cidade em meados de 2018, sendo que será realizada uma consulta pública final ainda este ano. É de salientar que este documento havia sido solicitado pela UNESCO em 2013, sendo que o prazo para entrega era 2015. Rol de complicações A razão apresentada para estes atrasos foi a complexidade de procedimentos, a começar pela necessidade de primeiro elaborar um enquadramento geral que mais tarde será pormenorizado, com duas fases de consulta pública pelo meio. O presidente do IC disse que os prazos dados pela UNESCO não foram cumpridos porque a Lei de Salvaguarda do Património entrou em vigor só em 2014. É de salientar que, em Julho, Macau enviará uma comitiva governamental à sessão do Comité do Património Mundial da UNESCO, que se realiza em Cracóvia, na Polónia. Para tal, representantes do Governo estiveram em Pequim esta semana com a finalidade de preparar a sessão. Macau não é membro da UNESCO, a representatividade do território será garantida pela delegação chinesa. Assim sendo, Leung Hio Ming diz ter demonstrado as preocupações do Executivo com a salvaguarda do património de interesse histórico e, nesse sentido, pediu assistência à Administração Estatal do Património Cultural em Pequim.
Hoje Macau SociedadeNomeações | Sales Marques e Francis Lui no Conselho Consultivo da Cultura [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Conselho Consultivo da Cultura tem novos membros. As nomeações, pelo prazo de dois anos, foram publicadas ontem em Boletim Oficial: José Luís Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau, e Yao Jingming, director do Departamento de Português da Universidade de Macau, são dois dos novos nomes da lista composta por 18 elementos. Ao todo, foram designadas sete pessoas que, até agora, não faziam parte da estrutura. Entre as novidades, destaque para Maria Edith da Silva, ex-presidente da direcção da Escola Portuguesa de Macau, e para Francis Lui, director executivo da Galaxy. Do grupo de novos membros fazem ainda parte Lei I Leong, Lok Po e Ieong Hoi Keng. No mesmo despacho do secretário Alexis Tam, é renovado pelo período de dois anos o mandato de Kevin Ho, Sam Io Cheong, Lei Chin Pang, Chao Pui Wa, Wong Ka Long, António Wong Ho Sang, Lai Seng Ieng, Dai Ding Cheng, Lo Song Man, Sam Peng Vo e Siu Pei Tak.
João Luz PolíticaNovo Macau exige resposta ao Governo quanto às exigências da UNESCO [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m conferência de imprensa, Scott Chiang foi muito crítico em relação à inacção do Executivo na salvaguarda do património histórico de Macau. O presidente da Associação Novo Macau considera que o Governo fala muito, mostra-se preocupado com os alertas dados pela UNESCO, mas não age concretamente. Em causa estão os alertas dados pela entidade internacional que podem ter consequências graves na classificação do centro histórico de Macau como Património da Humanidade. Scott Chiang diz que, em primeiro lugar, “se devem apurar responsabilidades” quanto à falta de entrega dos documentos exigidos pela UNESCO. O presidente a termo certo da Novo Macau afirmou que “o mundo está a assistir ao que Macau vai fazer para satisfazer as exigências do Comité do Património Mundial”. Neste contexto, o pró-democrata exigiu respostas sólidas e inequívocas por parte do Executivo às obrigações internacionais. Scott Chiang acrescenta que “nada passa além da fase de consulta pública”, não se vislumbrando a apresentação de um calendário para materializar em documentos que satisfaçam a UNESCO. A associação prometeu estar atenta à sessão do Comité do Património Mundial, que se realiza em Julho, adiantando que até agora o Governo de Macau não apresentou “respostas substantivas”, escudando-se atrás do facto de ser a China quem representa o território junto da UNESCO. Sendo mais específico quanto aos atrasos para apresentar os documentos exigidos, Scott Chiang faz uma analogia comparando o Executivo a “um aluno que entrega o trabalho de casa demasiado tarde”. Para já, a Novo Macau exige que o Executivo implemente o Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau, assim como um plano de desenvolvimento urbanístico. Estes são os pontos essenciais das reivindicações dos pró-democratas e que são, aliás, exigidos também pela UNESCO. Scott Chiang diz que “não procura a humilhação de Macau e das suas pessoas”, e que só quer alertar o Executivo para que algo tem de ser feito. A Novo Macau deixou também claro que a preservação do património é uma questão de valor humano, bem mais do que uma marca para promover o turismo e ganhar dinheiro.
Isabel Castro PolíticaCondomínios | Governo ainda não decidiu sobre responsabilidade solidária Foi a promessa de Sónia Chan aos membros da comissão permanente que está a analisar o diploma sobre a administração das partes comuns do condomínio. O regime de ambulatoriedade tem sido alvo de críticas. O Governo contra-argumenta com os sistemas legais de Itália e Singapura [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] secretária para a Administração e Justiça prometeu ontem aos membros da 2.a Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) que o Governo vai tomar uma decisão sobre o regime de ambulatoriedade ainda antes do próximo encontro entre deputados e membros do Executivo. A questão tem gerado alguma polémica e Sónia Chan não sabe, por enquanto, se vai deixar cair a ideia. O regime jurídico da administração das partes comuns do condomínio prevê que o adquirente do direito de propriedade sobre a fracção autónoma é responsável pela dívida dos encargos de condomínio do imóvel em causa, sempre que o registo da dívida seja anterior à sua aquisição. “O Governo mostrou-nos um documento sobre um estudo comparativo da aplicação do regime de ambulatoriedade em Itália e em Singapura”, relatou Chan Chak Mo, presidente da comissão permanente, no final do encontro. “Perguntámos aos representantes do Executivo se vão ou não eliminar este regime. O Governo disse que não, que ainda vai ponderar e fazer estudos para ver se mantém ou elimina este regime da nossa proposta de lei”, explicou. Ainda de acordo com o deputado, Sónia Chan garantiu que, “antes da próxima reunião”, será dada uma resposta à AL sobre o assunto. “E disse-nos que em Singapura e em Itália se aplica o regime de ambulatoriedade. Em Itália, a responsabilidade solidária é de um ano, mas na nossa proposta é de dois”, notou Chan Chak Mo. “A secretária não insistiu nesta questão.” Novas explicações A reunião de ontem entre deputados e representantes do Executivo serviu para analisar várias alterações feitas à versão inicial da proposta. Estiveram em cima da mesa assuntos como o regime de votação e o quórum, que agora passa a estar em conformidade com o que prevê o Código Civil. Falou-se ainda do depósito de actas junto do Instituto da Habitação, e das regras para a eleição e exoneração de membros da administração, que foram modificadas. O novo regime introduz novas normas para a afixação de tabuletas e reclamos. Quando a lei entrar em vigor, os estabelecimentos comerciais vão ter de obedecer a critérios mais rígidos: só quando estes materiais forem colocados directamente na fachada da fracção autónoma no rés-do-chão é que os proprietários das lojas vão estar dispensados de obter aprovação da assembleia-geral de condóminos, sendo mesmo assim será obrigatório comunicar que vão ser feitas obras para a afixação das tabuletas. Em todas as outras situações – pilares e fachadas acima do rés-do-chão – vai ser necessária luz verde do condomínio. “Alguns deputados fizeram perguntas sobre tabuletas e reclamos no rés-do-chão”, afirmou Chan Chak Mo. Há membros da comissão com dúvidas sobre a “operacionalidade destas regras”. Pretendem ainda saber o que vai acontecer com as tabuletas que já estão afixadas. “Concluímos, no final, que vamos colocar de novo estas questões ao Governo para obtermos uma resposta”, rematou o presidente da comissão.
Hoje Macau SociedadeTerreno de volta | Concessão tinha expirado em 2003 [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi ontem declarada a concessão de um terreno que estava nas mãos de um particular desde 1953, não tendo sido aproveitado nos termos do contrato celebrado com a Administração. O prazo da concessão tinha terminado já em 2003, mas só agora é que foram desencadeados os procedimentos finais para que a parcela em causa seja recuperada pelo Governo. No despacho do Secretário para os Transportes e Obras Públicas publicado ontem em Boletim Oficial, explica-se que o terreno, com 30,35 metros quadrados, fica nas imediações da Estrada do Repouso e da Rua da Erva. O concessionário tinha uma parcela no mesmo local, pelo que o terreno objecto do contrato de concessão foi anexado a esse prédio. De acordo com o contrato de concessão, o prazo de arrendamento era de 50 anos, pelo que expirou a 18 de Novembro de 2003. O lote destinava-se à construção urbana. “Todavia, não há qualquer construção no terreno, bem como não existem elementos no processo (…) da Comissão de Terras que comprovem que o mesmo tenha sido aproveitado, e também não se encontra algum processo de licenciamento de obra para o local no Sector do Arquivo Geral da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes”, justifica o despacho de Raimundo do Rosário. Porque o terreno não foi aproveitado, entende-se que a concessão manteve o carácter provisório, pelo que é declarada a caducidade da concessão.
Sofia Margarida Mota SociedadeJuventude | Indicadores vão ser ajustados até ao final do ano Os dez itens que compunham os Indicadores sobre a Juventude em Macau vão passar a sete. A ideia ainda é preliminar, mas o objectivo do Conselho da Juventude é que o ajustamento seja feito até ao final do ano. A matéria está há dez anos sem actualizações [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s “Indicadores sobre a Juventude em Macau” vão ser alvo de uma revisão e podem estar definidos até ao final do ano. A ideia foi deixada ontem pela chefe do Departamento de Juventude da Direcção dos Serviços de Ensino e Juventude (DSEJ), Un Hoi Cheng, após reunião plenária do Conselho da Juventude. A questão dos indicadores, contou a responsável, foi um dos temas que ocupou a sessão de ontem e que foi apontada como matéria a precisar de ser revista. Em causa está o facto de não terem sido alterados nos últimos dez anos. Com o desenvolvimento social que entretanto aconteceu no território, “há itens que fazem parte do passado que, com a introdução de novos indicadores, ficariam com uma representatividade reduzida”, disse Un Hoi Cheng. Por isso, o Conselho acha que é necessário um trabalho de ajustamento de modo a “ter uma situação mais integral para o desenvolvimento de políticas para os jovens”. Necessidades diferentes As ideias discutidas ontem foram apenas preliminares. “No passado, quando fizemos a recolha de informações, estivemos atentos às entidades de investigação, a grupos de estudos e à experiência das regiões vizinhas. Temos recolhido esse tipo de informações. Com o desenvolvimento da sociedade, achamos que é a altura oportuna para propor o ajustamento. Recebemos as opiniões dos membros e iremos fazer a análise. Esperamos acabar os trabalhos no final deste ano”, explicou Un Hoi Cheng. A responsável ilustra a necessidade com exemplos: “No passado, para se saber a situação de saúde dos jovens locais, foi usado o número de consultas dos centros de saúde, mas agora o Governo está a fazer um exame à situação da saúde dos jovens”, pelo que não serão necessários os registos de consulta. Por outro lado, a responsável referiu novas características da sociedade que precisam de ser tidas em conta. O voluntariado passa a integrar os novos indicadores e foi ainda sugerida a integração de um item que abranja a participação dos jovens na protecção ambiental. Os Indicadores sobre a Juventude em Macau, que têm a finalidade de identificar as necessidades dos jovens locais para que o Executivo possa proceder a políticas mais ajustadas, são constituídos, actualmente, por dez itens, mas com o ajustamento previsto o objectivo é virem a ser sete. As idades abrangidas estão entre os 13 e os 19 anos. Protecção dos jovens O programa “Educação para a Vida” foi também alvo de discussão na reunião plenária de ontem. De acordo com a directora do Centro de Apoio Psicopedagógico e Ensino Especial, Chao Pui Leng, o programa que integra os serviços da DSEJ é uma iniciativa fundamental para “melhorar a capacidade de resistência dos jovens”. A responsável salientou que a iniciativa está activa em 77 escolas do território e conta com o trabalho de 210 profissionais, entre “conselheiros” e assistentes sociais. Cerca de metade destes profissionais tem formação em psicologia. A acção tem duas frentes. É dirigida a docentes “para que tenham noção das diferentes necessidades dos alunos consoante as diferentes faixas etárias”. Por outro lado, os pais também estão incluídos na acção da DSEJ. Para o efeito, os serviços promovem palestras e distribuem panfletos informativos. O programa representa ainda uma medida preventiva para o suicídio juvenil. Chao Pui Leng fez referência ao recente caso do suicídio de uma jovem de 16 anos, para defender que “é importante mostrar aos jovens locais que são acarinhados”. Fez ainda parte da reunião plenária, a continuidade e alargamento do programa do Continente que visa o intercâmbio entre os jovens de Hong Kong, Macau, Taiwan e China Continental. A ideia é dar continuidade à divulgação de conhecimentos acerca da China, da sua cultura e história.
Isabel Castro SociedadeAutocarros | Mais deputados no coro de protestos Aos Serviços para os Assuntos de Tráfego já chegaram petições de vários grupos, que não compreendem por que razão foi alterada a rota do autocarro 25, um dos mais requisitados por residentes e turistas. Agora, os deputados Ho Ion Sang e Kwan Tsui Hang pedem explicações ao Governo [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma no cravo, outra na ferradura. Ho Ion Sang diz compreender que a Administração tem de gerir os itinerários dos autocarros da forma que entende ser a mais eficiente, razão que leva a que, de vez em quando, sejam feitas alterações aos percursos. Ainda assim, o deputado tem dificuldade em compreender a mudança de rota do 25. “Os residentes reagiram por ser inconveniente e a sociedade questiona a eficácia desta medida”, escreve em interpelação ao Executivo. Ho Ion Sang recorda a argumentação do director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego para, em seguida, rebater a justificação. O autocarro 25 ia até Hac Sa, o que deixou de acontecer; os utentes têm outros três autocarros à escolha, sendo que nenhum deles é directo. “Os residentes mostram que as três opções são de facto muito inconvenientes, uma vez que acontece terem de esperar mais de meia hora pelas carreiras 15 e 21A”, diz o deputado. Em relação ao 26A, outra alternativa, o deputado argumenta que o percurso desta carreira passa por zonas com grande densidade populacional, pelo que é difícil apanhar este autocarro. A partir do exemplo do 25, e porque recebeu queixas dos cidadãos, Ho Ion Sang quer saber se o Governo vai avaliar o modo como estão a funcionar as carreiras que foram sujeitas a alterações. Quanto ao polémico autocarro que levava turistas e residentes até à praia, o membro da Assembleia Legislativa pergunta se a Administração vai acrescentar carreiras durantes os fins-de-semana e feriados, bem como mais transportes directos para facilitar a vida a quem vive no território. A missiva serve ainda para alertar os serviços de Lam Hin San acerca da necessidade de planear as rotas de autocarros na Taipa e em Coloane, devido ao aumento da população nas ilhas. Ho Ion Sang pergunta quando é que este estudo vai ser levado a cabo. Ouçam o povo Também Kwan Tsui Hang escreveu ao Governo a propósito dos autocarros, tendo precisamente como ponto de partida a controversa alteração do 25. À semelhança de Ho Ion Sang, a deputada também elogia os esforços da Administração no sentido de evitar sobreposições nos trajectos percorridos pelos transportes públicos, mas é do entendimento de que os responsáveis por esta área não fizeram consultas públicas suficientes que lhes permitissem perceber a posição da sociedade antes de tomarem decisões. Neste sentido, Kwan pretende saber se o Governo vai divulgar pormenores sobre futuras alterações, bem como o número dos autocarros em circulação, os subsídios que recebem e a eficiência prevista. A deputada com ligações aos Operários pergunta quais são os factores que levam a Administração a tomar decisões sobre a extensão e o encurtamento dos itinerários dos autocarros. Tendo em conta o desenvolvimento populacional das ilhas, Kwan Tsui Hang remata solicitando ao Governo planos para o aumento de autocarros ponto a ponto, que liguem a zona das Portas do Cerco à Taipa e a Coloane. Tomem lá o 15X Tem início este sábado uma nova carreira que, de acordo com os Serviços para os Assuntos de Tráfego, fará uma ligação rápida entre Hac-Sá e Seac Pai Van. O 15x vai estar em circulação até 31 de Outubro, último dia da época balnear, mas só aos sábados, domingos e feriados, entre as 11h e as 19h30, com partidas a cada dez a 15 minutos. Os serviços destacam que os passageiros da península de Macau e das ilhas podem fazer a correspondência de autocarros para irem à praia e à barragem de Hac-Sá. Trata-se uma tentativa de acalmar os críticos do fim do 25, autocarro que, apesar das muitas paragens que fazia, saía de Macau e tinha Hac-Sá como última paragem.