Hoje Macau SociedadeReceitas da Administração caem 21,7% [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s receitas da Administração caíram 21,7% nos primeiros dois meses de 2016, mas as contas públicas continuam a apresentar um saldo positivo de quase mil milhões de euros. De acordo com dados provisórios publicados no portal da Direcção dos Serviços de Finanças, o saldo orçamental atingiu um superavit de 8.557,8 milhões de patacas, menos 46,4% do que o excedente apurado no período homólogo do ano passado. Ainda assim, reflecte uma execução de 246,7% face ao orçamentado para todo o ano de 2016: o saldo orçamental positivo era, no final de Fevereiro, mais do dobro do estimado pelo Governo para os 12 meses de 2016 (3.469 milhões de patacas). A Administração arrecadou receitas totais de 15.935,8 milhões de patacas em Janeiro e Fevereiro, menos 21,7% face aos primeiros dois meses de 2015. Os impostos directos sobre o jogo – 35% sobre as receitas brutas dos casinos – foram de 13.416,6 milhões de patacas, reflectindo uma redução de 20,9% face a Janeiro e Fevereiro de 2015 e uma taxa de execução de 18,7%. Já as despesas totalizaram 7.378 milhões de patacas (812 milhões de euros), o que significa uma subida de 67,8%. Em Janeiro e Fevereiro, o Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA) – cujo valor orçamentado para este ano é de 11.068 milhões de patacas – representou uma despesa de 21,6 milhões de patacas, correspondendo a uma taxa de execução de 0,2%. A Administração encerrou 2015 com receitas totais de 109.778 milhões de patacas, a primeira queda em, pelo menos, cinco anos, segundo os dados oficiais disponíveis.
Hoje Macau BrevesMundo de Shakespeare no CCM O grande auditório do Centro Cultural de Macau vai ser mais uma vez palco de clássicos com a apresentação de dois concertos temáticos, a 9 e 29 de Abril, pela Orquestra de Macau. No ano em que se comemoram os 400 anos de Shakespeare, o primeiro espectáculo – sob a direcção do maestro Principal da Orquestra Sinfónica do Ballet Nacional da China, Zhang Yi, em associação com o pianista russo Alexei Vicodin – vai incluir a interpretação de obras de Sergei Rachmaninoff e Tchaikovsky. A 29, o destaque vai para a interpretação do concerto para violino n. 2 de Sergei Prokofiev, pela solista japonesa Savaka Shoji. Constam ainda do programa obras de Berlioz e Schumann. Ambos os espectáculos têm início às 20h00 e o preço dos bilhetes é de cem a 200 patacas.
Hoje Macau BrevesCEM | Lucros de 662 milhões de patacas em 2015 Foi ontem aprovado o relatório anual da Companhia de Electricidade de Macau (CEM), o qual revela a obtenção de lucros na ordem das 662 milhões de patacas, mais 8,8% face a 2014. Quanto ao consumo de energia, registou-se um aumento de 6,2%. A CEM investiu um total de 958 milhões de patacas em infra-estruturas, sendo que foi um investimento 45% aos lucros anuais. A CEM afirma que pretende “manter as tarifas estáveis” e anuncia que o subsídio para apoiar os clientes residenciais e as PME foi de 155 milhões de patacas.
Hoje Macau BrevesUM considerada universidade de topo na China Um website do interior da China, intitulado “Cuaa.net”, publicou um relatório de avaliação das universidades chinesas, onde se inclui um ranking sobre as universidades de Macau. A Universidade de Macau (UM) surge no topo com uma classificação de cinco estrelas, sendo considerada uma “universidade de investigação” e com uma “maior capacidade de ensino”. Em segundo lugar surge o Instituto Politécnico de Macau (IPM), com quatro estrelas, seguindo-se o Instituto de Formação Turística (IFT) e a Universidade de Ciências e Tecnologia (MUST), que obtiveram três estrelas. Outras instituições do ensino superior locais não constam no ranking. A Universidade de Pequim e de Tsinghua ocupam os lugares cimeiros no relatório de avaliação. Há 14 anos que este documento é elaborado para servir de orientação a alunos e professores.
Andreia Sofia Silva BrevesEconomia | Governo defende “sistema financeiro específico” Lionel Leong, Secretário para a Economia e Finanças, revelou à margem de um seminário, esta quarta-feira, que Macau precisa de “desenvolver um sistema financeiro específico”, sendo que está a ser pensada a melhor forma de Macau se transformar numa “plataforma de cálculo do renminbi aos países de Língua Portuguesa”. Segundo o Secretário, “Macau necessita de desempenhar certas capacidades de concorrência, para melhor promover o desenvolvimento do sistema financeiro específico, o qual abrange talentos, medidas e leis”, lê-se no comunicado. O Governo “tem iniciado vários estudos”, estando a Autoridade Monetária de Macau (AMCM) a estudar sobre como efectuar bem os trabalhos legislativos, com vista a que esta actividade financeira possa ter um espaço saudável de desenvolvimento”.
Hoje Macau PolíticaClã – “O Tal Canal” “O Tal Canal” Adoro a tua luz, a tua cor, o teu sinal Mas o que mais adoro em ti é o Tal Canal Adoro a tua voz, a tua escrita, a tua oral Mas o que mais adoro em ti é o Tal Canal Adoro o teu olhar, teu gaguejar, teu ar fatal Mas o que mais adoro em ti é o Tal Canal Adoro a tua grelha, a tua taxa, o teu jornal Mas o que mais adoro em ti é o Tal Canal O Tal Canal (o Tal Canal) O tal canal (o Tal Canal) O tal o tal o tal o tal o Tal Canal Adoro o teu andar, teu ondular sinusoidal Mas o que mais adoro em ti é o Tal Canal Adoro os teus botões e etcetera e tal Mas o que mais adoro em ti é o Tal Canal Adoro assim ligar-te e desligar-te no final Mas o que mais adoro em ti é o Tal Canal Adoro e em geral dá-me a impressão que faço mal Mas posso lá passar sem ti, sem o Tal Canal! O Tal Canal (o Tal Canal) O tal canal (o Tal Canal) O tal o tal o tal o tal o Tal Canal Clã MANUELA AZEVEDO / HÉLDER GONÇALVES / MIGUEL FERREIRA / PEDRO BISCAIA / PEDRO RITO
Manuel Nunes Manchete PolíticaHelena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo: “Ruas fechadas podem ser uma vantagem” Proteger a herança, valorizar a história da cidade e diversificar os mercados para atrair turistas interessados em sentir a cidade são pontos fundamentais do discurso de Helena Fernandes. A responsável fala ainda da agilização de processos para o licenciamento de hotéis “low budget” e da necessidade de guias turísticos poliglotas, bem como do encerramento de ruas e consultas públicas na calha Como define o seu papel como Directora dos Serviços de Turismo? Tentar gerir o turismo como deve de ser. Atingir o objectivo de transformar Macau num centro mundial de turismo e lazer. Transformar Macau num lugar bom para viver e bom para visitar. Pensa-se que é apenas um papel do turismo mas isso, naturalmente, é uma acção concertada de vários departamentos do Governo. E qual o vosso papel nesse contexto? Desenvolver o turismo para aumentar os rendimentos da população local e simultaneamente a visibilidade de Macau transformando a cidade num local atraente para visitantes de várias partes do mundo e não apenas para chineses. Mas como será isso possível com um serviço de transportes deficiente e com tantas pessoas ligadas à actividade turística que não dominam o Inglês? Temos de trabalhar com os outros departamentos. Temos um diálogo constante com a DSAT (Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego), por exemplo. Tem a ver com a Educação também e com quase todas as áreas de Macau. Por isso, para além de fazer o nosso trabalho de promover Macau e criar mais produtos turísticos para a cidade, este diálogo é importante. Só assim podemos resolver as questões. É um processo gradual. Não pode ser de um dia para o outro. Sim, mas já andamos há quase 20 anos nesse processo e as pessoas continuam a não falar Inglês… Se não houver incentivo as pessoas não aprendem. Mas temos de trazer mais turistas de fora para que os locais percebam que vai existir um mercado potencial para eles e sentirem-se pressionados para aprenderem. Usa muito a palavra “transformar”, o que pressupõe algo de novo em relação ao que existe. De que estamos a falar? Por um lado temos de aproveitar o que temos, a história e a cultura mas, por outro, precisamos de inventar coisas novas. Não podemos estar sempre a fazer o mesmo. É assim que transformamos. Faz lembrar um parque de diversões, sempre à procura de atracções novas… Estamos sempre a abrir os olhos e a tentar perceber o que a concorrência está a fazer e a produzir coisas diferentes, como o Festival de Luz. Não é original, fomos buscar à Europa, mas achámos que se adapta a Macau. Quais são os pontos fracos de Macau? Ou seja, o que a preocupa mais? O baixo número de guias turísticos poliglotas mas sei que algumas agências de viagens estão a importar mão de obra especializada para proverem essa lacuna. Mas Macau parece exclusivamente voltado para o mercado chinês… É o mercado mais fácil para os operadores. Naturalmente, as entidades comerciais programam o seu trabalho em função do que entendem mais fácil. O nosso papel é motivá-los para serem mais abertos. Mais algum mercado? Os tradicionais como a América, a Austrália e a Europa. Quem são os nossos maiores concorrentes? Cada vez há mais. Antigamente o Japão e a Coreia eram mais emissores do que receptores mas hoje recebem muitos turistas. Num futuro próximo a zona ASEAN. Antes apenas Singapura, Malásia e Tailândia. Mas agora temos de levar em consideração o Camboja e o Vietname, que pretendem ter cada vez mais peso no mercado turístico. Temos de estar atentos a todos eles. Mas se tiver de escolher o maior deles todos? Se calhar é mesmo a China. Porque tem muitas coisas para as pessoas visitarem. Mas se falarmos nos turistas do norte da China tenho de dizer Japão e Coreia porque estão muito mais perto. Quando fala na diversificação dos mercados turísticos quais são os mercados preferenciais? Os mais próximos em primeiro lugar. Nordeste Asiático, Japão e Coreia como os mais importantes. Mas também o Sudeste Asiático. Estamos a apostar cada vez mais na Índia e também no Médio Oriente e Rússia. Não quer dizer que estes últimos se transformem de repente em emissores, mas estamos a trabalhá-los, a investir, a preparar-nos. No que respeita aos mercados muçulmanos estamos também a sensibilizar o comércio local para que existam ofertas “halal” nos menus. Como se convence um australiano ou um americano a vir a Macau? Que tipo de turistas estamos a falar? No caso dos australianos, ou americanos, o que fazemos são pacotes que englobam para além de Macau, Hong Kong e as zonas mais próximas da China. É assim que podemos atraí-los. Mas que existe em Macau que lhes possa interessar? A cultura e a história. Não vêm cá por causa de um evento. Como se vence a eterna guerra dos dois dias de permanência? Que fazer para que as pessoas fiquem mais tempo? Depende do mercado. Não é possível com todos. Temos de começar com os que têm mais interesse nisso e depois utilizarmos esse método com outros. Japão e Coreia são os mercados onde estamos a tentar mudar essa tendência. Estamos a trabalhar o que se chama de “silver market” (reformados), pessoas que têm mais tempo, pessoas mais interessadas em cultura. Falou da história. Macau foi considerada durante muitos anos a Monte Carlo do Oriente. Nos últimos anos passou a Las Vegas. Perdeu-se alguma coisa neste processo? Há sempre coisas que se perdem. Sei que as pessoas se queixam que a cidade perdeu a sua tranquilidade. Até que ponto a cidade não podia viver por si própria, ser ela a atracção per si, sem precisarmos de estar sempre a inventar coisas novas? O que estamos a ver é que devemos salvaguardar a nossa herança. Pode-se sempre pensar em festivais durante o ano mas temos de proteger a nossa herança, a nossa cultura, que é o coração da nossa cidade. É isso que nos distingue. A propósito de “coração”, há quem diga que o centro da cidade parece mais um lobby de aeroporto ao ar livre do que o centro de uma cidade histórica. Concorda com um programa de protecção ao comércio tradicional? (risos) Faz sentido. Mas não podemos recusar a entrada de outras marcas. As lojas precisam de ter o seu “competitive edge”. Se não conseguem competir… Mas quando as rendas aumentam 300 e 400% é difícil ser competitivo… Há-de haver formas de apoiar o comércio tradicional mas temos de aceitar que Macau é uma cidade aberta. Não podemos fechar as nossas portas. Mesmo que se arrisque a descaracterização da cidade? Há sempre formas de proteger a cidade mas não fechando as portas. Não acho que isso proteja Macau no longo prazo. Ao longo da nossa história fomos sempre uma cidade que recebeu pessoas de diferentes partes do mundo. É daí que vem a nossa cultura e não por sermos fechados. Dava jeito que existissem esplanadas nas ruas? As esplanadas são um bom produto, muito procurado sobretudo na Europa. Se pudermos aplicar em Macau claro que pode atrair pessoas e até ajudar a prolongar a estadia. E que pode fazer a DST para que o IACM comece a licenciá-las? É uma conversa que temos de continuar mas o nosso Secretário tem a ideia de fazer isso, de testar nas Casas Museu da Taipa. Testar? Macau sempre teve esplanadas, mas um dia deixou de ter… Realmente não consigo dizer por quê. Há sempre razões para isso, mas eu não as domino. E a Lei do Fumo? Não fumar numa discoteca faz sentido? Como convencer um turista para divertir-se à noite, pagar bebidas caras e não poder fumar? É um espaço comum. Faz sentido que seja proibido para o bem estar de todos. Acho que estamos bem como está. Falou das Casas Museu da Taipa, em que ponto está o programa AniMarte Macau? Da nossa parte está tudo pronto para introduzirmos animações, tendo em conta, claro, as habitações próximas. Mas como a zona passou há pouco tempo para o Instituto Cultural é natural que eles precisem de algum tempo para se prepararem. Mas vejo com um bom espaço de lazer para se comer, beber e desfrutar. Quando se fala em promoção turística a noção que fica é que a preocupação é sempre trazer mais turistas. Acha que a cidade aguenta tanta gente? Nem sempre. A nossa promoção hoje em dia não serve para trazer mais turistas mas sim turistas diferentes. Os nossos operadores estão mais virados para os que estão à porta mas a nossa estratégia é ir para além de Guangdong. Pessoas que nunca vieram para Macau, com um poder de compra diferente daqueles que vêm cá habitualmente. Mas Macau tem capacidade para acolher tantos visitantes? “Poder de compra diferente” falamos do quê? Não procuramos números mas sim pessoas que pretendam ficar mais tempo. Não é uma questão de dinheiro. São pessoas com menos facilidade de vir a Macau e que por isso terão vontade de ficar mais tempo e visitarem para além das zonas centrais e para além das compras do dia. Actualmente, por dia, vêm muitos “turistas” desses. Não é mau mas temos de diversificar. Alexis Tam afirmou recentemente ser contra a extensão de vistos individuais a mais cidades chinesas. Concorda? Para já não temos uma necessidade imediata, de facto. Neste momento temos 49 cidades, o que já é muita gente e ainda não estão maximizadas. Temos de trabalhar essas origens, perceber como os podemos atrair, ficar mais tempo e conhecerem Macau melhor. A campanha anti-corrupção em curso na China está directamente implicada na descida do número de turistas? Os segmentos mais afectados devem ser o comércio de luxo e, claro, as excursões de custo zero, um fenómeno que a China também tem vindo a atacar. Neste caso, até acho que a descida é benéfica. Mas os tempos mudam, a boa vida não dura para sempre, e as agências e hotéis estão a trabalhar em conjunto para diversificar os seus mercados. Pensa-se em turistas de médio e “low budget”? Vir a Macau não é propriamente económico… Um mercado deve ter diferentes escolhas. Não somos nós que investimos nos hotéis mas pretendemos criar condições para que surjam alojamentos de menor custo. Em termos concretos… Para os hotéis que chamamos de alojamento económico temos uma equipa de licenciamento com vista a aconselhar e facilitar o processo de licenciamento. Já há alternativas ao programa “Sentir Macau Passo a Passo”? Queremos continuar com ele para incentivar as pessoas a irem outros lugares e conhecerem melhor a cidade. Estamos a dar incentivos como “caças ao tesouro”. Isso pode ajudar a diversificar a oferta. Não quer dizer que corra bem em todo o lado. Isso não vai perturbar ainda mais os residentes? Focamo-nos apenas em pontos com interesse turístico. Era positivo que existissem ruas fechadas ao trânsito? Isto tem sido falado internamente e poderão vir a existir tentativas em diferentes áreas mas tem de ser coordenado com outros departamentos. Pode ser uma vantagem, sim. Se dependesse de si que ruas fecharia já? (risos) Têm vindo diferentes grupos de comerciantes ter connosco para debater a ideia como, por exemplo, os da Rua de São Paulo. Outros perguntam-nos porque não fechamos a Almeida Ribeiro. Há várias hipóteses sugeridas. Outra zona onde existe esse interesse é a zona de São Lázaro. Mas precisamos de equilibrar a vida quotidiana dos residentes com o interesse dos comerciantes, o Governo tem de estudar o assunto bem. Fechar a rua porquê? Têm de existir vantagens claras. Que gostava de ver considerado no plano director da cidade? Uma visão global para o turismo, um plano exequível e não apenas um relatório bom para uma conferência de imprensa para depois ser arquivado. Mas têm algumas ideias sobre o assunto? Temos, mas não quero condicionar opiniões porque vai ser feita fazer uma consulta pública em breve. A vossa publicidade pouco varia na mensagem mostrando sempre uma cidade em constante efervescência e, parece-me, virada exclusivamente para um determinado tipo de público. Estão a vender gato por lebre? Acho que este ano mudámos. O lema agora é “Sentir Macau ao seu Estilo” e temos muitos comentários na internet a dizerem que são os melhor filmes promocionais de sempre. Mas também existem os filmes do Instituto Cultural que mostram outras facetas de Macau. A imagem gráfica institucional é tida por alguns especialistas como antiquada e desadequada de uma imagem de qualidade, nomeadamente o logótipo. Como comenta isso? Não sei… não vamos mudar só por que alguém disse. Temos de ter uma razão, um objectivo. Para já o logótipo vai ficar. Como faz o balanço destes seus quatro anos à frente da DST? Muito para aprender. Temos uma boa equipa mas muitos desafios. Precisamos de nos reinventar. Sempre a aprender e sempre a tentar fazer melhor. Se um dia sair do Turismo que espera venha a ser o seu legado? Não sei se deixarei algum… Mas talvez que as pessoas vejam este departamento como sempre vocacionado para tentar fazer o melhor pela indústria e por Macau.
Manuel Nunes SociedadePLP | Centro de Exposição de Produtos Alimentares inaugurado ontem Com presença de vários embaixadores, altos funcionários da RAEM e da RPC e muitos outros convidados, abriu ontem no Tap Seac o tão esperado Centro de Exposição de Produtos dos PLP. Mais empenho dos empresários é o que se espera agora [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]ão mais de 700 os produtos alimentares de países de Língua Portuguesa desde ontem expostos em Macau e acessíveis para compra através de um portal desenvolvido pelo Governo, que garante a sua entrega na China continental. Os produtos podem ser encomendados por empresas ou por qualquer pessoa individualmente, explicou Glória Batalha Ung, da direcção do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), a entidade responsável pelo espaço. “O número de produtos será continuamente alargado”, assegurou a mesma responsável, que apelou à colaboração dos empresários, notando que existe ainda uma certa “inércia” em fazerem avançar os seus produtos e garantindo que está sempre à procura de mais. No momento, existem sobretudo produtos de Portugal, mas também de Angola, Cabo Verde, Timor-Leste, Guiné-Bissau e Moçambique e de “agências distribuidoras de Macau”, envolvendo um total de 60 empresas, segundo o IPIM. Para Júlio Morais, ex-embaixador de Cabo Verde e actual Presidente do Conselho de Administração da Agência de Turismo e Investimento do país, esta iniciativa “vem na altura certa” pois estão a promover-se na Ásia. O responsável destaca os produtos de pescado, nomeadamente lagosta, atum e conservas, como os principais beneficiados. Benedito Santos Freitas, embaixador de Timor Leste na capital chinesa, considera “uma oportunidade de aprendizagem”, sendo que vê o café e outros produtos agrícolas, destacando os orgânicos, como os mais indicados. Portugal pouco digital Jorge Torres Pereira, embaixador de Portugal em Pequim, saudou a iniciativa destacando que o comércio electrónico é o “caminho do futuro”. Todavia, confrontado com a ideia de Teixeira dos Santos esta semana defendida no programa “Números do Dinheiro” da RTP – de que as empresas portuguesas ainda não utilizam o comércio online – o embaixador português concordou e considerou “uma oportunidade para aprendizagem acelerada com imenso potencial”. Torres Pereira disse ainda, relativamente à presença deste tipo de produtos na China, estarmos perante um “futuro risonho” com a evolução da classe média, o que mutará “os padrões de consumo”. Cada produto está associado a códigos QR que remetem para a plataforma de comercialização e informação dos produtores e distribuidores. Cultura paguem os chineses “Acreditem e sejam pacientes” disse o embaixador Torres Pereira relativamente à certificação de produtos portugueses, nomeadamente os de origem suína. Segundo o diplomata, “o processo está a decorrer” e espera vê-lo terminado em breve. Uma opinião partilhada por Glória Batalha que confessou ter sentido isso da parte de Sun Tong, director do Ministério do Comércio da China: “vi-o a olhar para o presunto e disse-lhe: ‘temos de resolver isto rapidamente’”. A isto, o representante chinês terá respondido afirmativamente. A responsável do IPIM falou ainda do grupo de trabalho que integra membros daquele instituto, da Economia, do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) e outros departamentos e que está “a acompanhar o assunto e a tentar resolvê-lo com celeridade”. Menos optimismo para o mercado dos vinhos por parte de Torres Pereira, que considera como principal problema o facto do país ter chegado atrasado ao mercado e, agora, “a concorrência já tem posições muito fortes”. Contudo, o responsável acredita que apelando à sensibilização dos donos de lojas gourmet e fazedores de opinião, “os vinhos portugueses têm qualidade para vencer”. Inquirido sobre se existe uma falta de presença cultural de Portugal na China, para assim melhor promover os produtos portugueses, Torres Pereira disse que “claramente temos de fazer muito mais” mas reconhece que “a dimensão da China implica grandes recursos que não têm existido”. “Acredito que com a entrada das grandes empresas chinesas em Portugal, no quadro da responsabilidade social corporativa, seja possível arranjar mecenas para a actividade cultural”. Novos espaços na China A abertura deste espaço insere-se na estratégia definida por Pequim de transformar Macau na plataforma de promoção das relações económicas entre a China e os países de Língua Portuguesa. Nesse sentido, além deste centro de exposição em Macau, o IPIM pretende abrir cinco espaços para mostra de produtos alimentares nesses países na China continental, estando o primeiro já a funcionar desde Janeiro na cidade de Fuzhou (no sul do país).
Sérgio Fonseca DesportoGP | Taça da Corrida Chinesa quer voltar [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]HM sabe que os organizadores da Taça da Corrida Chinesa gostariam de regressar pelo terceiro ano consecutivo ao Circuito da Guia, o que depende das autoridades do território. Estes têm ainda ambições de fazer parte da primeira corrida de automobilismo nas ruas de Hong Kong em Outubro, um cenário que ainda será mais difícil. Isto, porque a organização da Fórmula E obriga à utilização de viaturas eléctricas nas corridas de suporte dos seus eventos. O calendário para a temporada de 2016 ainda não foi apresentado pela Shanghai Lisheng Racing Co, a empresa promotora do campeonato, mas a ideia dos mentores deste projecto nascido em 2014 passa novamente por um mini-campeonato de quatro eventos com os Senova D70, ou “Shenbao” D70, como é conhecido na China continental – um carro que tem como base o Saab 9-5 e que é preparado para competição em Cantão. O conceito do troféu chinês é simples: cada federação automóvel da “Grande China” – Macau, Hong Kong, República Popular da China e Taipé Chinês – tem a sua equipa e nomeia os seus pilotos. Além dos participantes indigitados pelas quatro federações, os únicos que pontuam para o campeonato, o ano passado a organização colocou à disposição meia dúzia de viaturas para quem as quisesse alugar. Rota das rodas O calendário deverá ter uma ronda em Julho, no Taipé Chinês, outra em Agosto, no Circuito Internacional de Guangdong, aquela que é a “casa do automobilismo” da federação de Hong Kong, uma prova em Setembro, no circuito de Fórmula 1 de Xangai, e por fim, a confirmar, o Grande Prémio de Macau. Quando tudo estiver definido em termos de calendarização e prémios a atribuir será realizada a tradicional conferência de apresentação à imprensa em Pequim. Michael Ho, Hélder Assunção e Ip Un Hou representaram a Associação Geral Automóvel de Macau-China (AAMC) em 2015, tendo o primeiro vencido a prova do programa do 62ª Grande Prémio de Macau. Couto continua a preparar nova época André Couto completou no passado fim-de-semana mais dois dias oficiais de testes do campeonato japonês Super GT. Para o piloto português e campeão em título da classe GT300, estes dois dias em Fuji foram de real importância para o Team Gainer desenvolver novos pneus para a temporada de 2016 em colaboração com a Dunlop. Couto menosprezou os tempos obtidos pelo Nissan GT-R GT3 que ostenta o número zero, explicando nas redes sociais que o trabalho da equipa se focou em encontrar um bom compromisso para longas distâncias, dada a natureza de “endurance” da competição nipónica. No computo geral, Couto, que foi constantemente mais rápido um segundo por volta que o seu novo companheiro de equipa, Ryuichiro Tomita, considerou o trabalho satisfatório. A temporada do campeonato Super GT arranca no próximo dia 9 de Abril, no circuito de Okayama.
Andreia Sofia Silva SociedadeAeroporto | CAM estuda mecanismo para regular voos O caso da Mega Maldivas Airlines levou a Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau a estudar a criação de um sistema que regule voos e penalize os atrasos. A Associação Novo Macau exigiu o relatório do acidente ocorrido no ano passado [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau (CAM) está a estudar a hipótese de criar um novo sistema que melhor regule os voos, sobretudo em caso de atrasos sucessivos como o que foi protagonizado pela Mega Maldivas Airlines no período das férias da Páscoa. A informação foi avançada em conferência de imprensa após a assembleia-geral da CAM. “Depois deste caso estamos a considerar criar um sistema para termos uma melhor regulação das companhias aéreas. Temos recebido alguns relatórios de companhias aéreas e podemos começar a estudar esta questão. Este sistema pode focar-nos nos atrasos dos voos”, disse a porta-voz, que revelou ainda que a penalização das companhias aéreas pode ser uma realidade. “Segundo o nosso sistema não podemos considerar esse caso como tendo sido ilegal. O que podemos fazer enquanto aeroporto é coordenar as operações com a companhia aérea e os passageiros caso haja alguma ocorrência. Em relação a questões de segurança, a Autoridade de Aviação Civil (AACM) tem vindo a responder às diversas solicitações dos media e continuamos à espera do relatório por parte da Mega Maldives Airlines, então temos de aguardar pela reacção da companhia”, acrescentou a porta-voz da CAM. Novo Macau reage No mesmo dia a Associação Novo Macau (ANM) convocou uma conferência de imprensa para pedir que a AACM divulgue o relatório do incidente com a Mega Maldivas Airlines ocorrido em Maio do ano passado, devido à quebra de um trem de aterragem. A ANM pede que o relatório fique disponível online, sublinhando que, de acordo com a lei da investigação de acidentes e incidentes da aviação civil e da protecção da informação de segurança aérea, os relatórios devem ser publicados um ano depois após o incidente. A ANM suspeita ainda que a AACM vai revelar o conteúdo do relatório depois de renovar a licença de operação da Mega Maldivas Airlines, a qual termina em Maio. “É necessário reparar um avião com três meses? Ou a companhia aérea tem problemas financeiros? Estes dois problemas devem ser tidos em conta pela AACM enquanto organismo regulador. Não há informações públicas e os residentes não sabem se a companhia vai obter de novo a licença”, disse Scott Chiang, presidente da ANM. Jet Star de regresso A Jet Star vai voltar a voar para o Vietname a partir de Macau depois da suspensão dos voos em Fevereiro. Segundo a porta-voz, as operações apenas foram alvo de um ajuste. “Nos próximos meses vai começar a operar. Algumas companhias aéreas podem levar a cabo alguns ajustes e as suspensões dos voos nunca têm uma grande duração, apenas por alguns meses. Foi o que aconteceu com a Jet Star, que parou por algum tempo, mas não consideramos um cancelamento.” A Jet Star informou a CAM da suspensão dos voos de Macau para Da Nang entre 22 de Fevereiro e 26 de Março, “por questões de calendarização”, não tendo dado mais justificações. Renovação em 2017 A assembleia-geral serviu para mostrar os resultados obtidos pela CAM no ano passado. A concessionária registou receitas de 1,22 mil milhões de patacas, um aumento de 16,6% face a 2014. Foram registados lucros de 4,39 mil milhões de patacas. Para este ano a CAM estima ter 5,9 milhões de passageiros, número que está perto do limite máximo de capacidade do aeroporto, que é de seis milhões de passageiros. Quanto à extensão do aeroporto, a nova ala norte deverá entrar em funcionamento na segunda metade de 2017, prevendo-se o início das construções no quarto trimestre deste ano. Com esta obra, todo o terminal do aeroporto terá capacidade para acolher entre 7,5 a 7,8 milhões de passageiros. A CAM planeia ainda lançar novos voos este ano, estando para já prevista uma nova rota para Saba, na Indonésia, operada pela Air Asia.
André Ritchie Sorrindo Sempre VozesO não-lugar [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]cidade é composta por elementos ordinários e elementos de excepção. Para o turista, o elemento de excepção é muitas vezes o que define a imagem da cidade que está a visitar. Em Paris, por exemplo, poderá ser a Torre Eiffel ou os Campos Elísios. No entanto, não é certamente essa a imagem que o parisiense tem como identificadora da sua cidade. Poderá até vir a ser algo completamente oposto e distante: grafittis; hip-hop, breakdance e parkour; habitação social nos subúrbios; metro com pneus de borracha. Porque, verdadeiramente, o que define a identidade da cidade é o ordinário – e não a excepção. * * * Fallen Angels, de Wong Kar-wai (1995) é indubitavelmente o meu filme preferido desse célebre realizador. Muitas são as interpretações possíveis para essa obra-prima. Para mim foi sempre uma crítica à forma como a tecnologia se intromete na interacção do dia-a-dia entre humanos e à tendência para a despessoalização, sobretudo nas grandes cidades – nesse caso, Hong Kong. E, no meio de tudo, chega-se à conclusão que afinal quem melhor consegue entrar em comunicação com os outros é um mudo. Mas o que verdadeiramente me seduz nesse filme é a forma como Wong Kar-wai retrata Hong Kong – não há aqui um único plano do famosíssimo skyline da cidade, nem tampouco qualquer outro landmark dessa metrópole internacional. O que há é um leque de espaços que não são lugares singularmente conhecidos, mas que, não obstante, definem incontestavelmente a imagem e identidade de Hong Kong para quem a conhece bem: os corredores de uma estação de MTR; um McDonald’s qualquer no seio da cidade com os seus néons; uma tasca chinesa; os elevadores e a caixa de escadas de um bloco de habitação económica; o interior de um cross-harbour tunnel. Talvez daí o meu fascínio pelo espaço que não é lugar. * * * O não-lugar é esse espaço supostamente sem identidade própria, de passagem, que serve uma função e ao qual não foi sequer dada especial atenção a nível de desenho, não tem grandes aspirações nem dignidade nesse sentido, mas que a cidade, sendo um organismo complexo formado pelos mais diversos equipamentos urbanos, precisa de ter para o seu bom funcionamento. Nomeadamente, A caixa de escadas de acesso ao pódio que cheira a mofo por causa da humidade. O corredor que liga o edifício de escritórios à traseira da cozinha do restaurante onde o cozinheiro corta a carne com o patrão todas as manhãs. A paragem de autocarros com o painel publicitário retro iluminado. A casa de banho pública com o aviso para puxarmos o autoclismo no fim da coisa. O guichet de pagamento do parque de estacionamento onde trabalha o velho que veste o pui-sam branco (*) e tem um leque de rota. (**) A bomba de gasolina e o cantinho para encher pneus. A passagem pedonal subterrânea que cheira a chichi. Esses espaços não aparecem nos guias turísticos. No entanto o nosso dia-a-dia é muitas vezes vivido apenas nesses espaços, nesses não-lugares. No nosso Macau em particular, o centro histórico e outros espaços de excepção há muito que deixaram de ser nossos. O Largo do Senado – um lugar – passou praticamente para uso exclusivo dos turistas. O comércio é apenas para eles – quem tem fome que coma ouro, perfumes ou cosméticos. Não tenho qualquer problema com isso – e não estou a ser cínico. Na verdade, estou-me até borrifando um pouco para isso porque (1) felizmente ou infelizmente, parece ser um fenómeno comum em todas as cidades que vivem do turismo e (2) conforme acima referido, tenho um fascínio particular pelo não-lugar das cidades. Portanto, os monumentos que vão para as urtigas. Porque o não-lugar é o que define a nossa identidade. O ordinário e o vulgar que se repete nas cidades tem para mim muito mais valor que a excepção. Em Macau gosto da pastilha das paredes exteriores, dos aquários com néon verde à porta dos restaurantes, do aparelho de ar-condicionado clandestinamente instalado, da placa onde se lê “indicação do piso parado ao nível dos pisos”, do portão metálico castanho escuro que não condiz com nada do que está à volta e onde a velhinha pendura os cabides com cuecas e deixa secar a esfregona ao fim da tarde. Porque é isso que caracteriza a minha cidade. O Farol da Guia, as Ruínas de São Paulo e essas coisas todas – sim, são peças bonitas de excepção e muito me orgulho de as ter na minha cidade. Mas deixo-as para os turistas e as suas selfies. A minha cidade não é, por isso, a cidade do lugar, mas sim a do não-lugar. Sorrindo Sempre Já o disse várias vezes aqui: gosto genuinamente de Hong Kong. Mas, entre outros, há uma coisa que me aborrece profundamente em Hong Kong: aquele típico indivíduo bem comportadinho, que foi sempre bom aluno (ou se calhar até não, não sei, enfim, mas nunca teve uma única negativa porque não fez nada na sua adolescência senão estudar e, como tal, nunca bebeu, fumou nem namorou), cursou sei lá o quê, mas algo a ver com números, talvez estatística, tem um trabalho estável e é, em geral, um tipo competente. E habituado a seguir regras, a cumpri-las todas, todinhas, sempre, porque é assim que deve ser, é assim que está correcto. E qualquer coisa que não esteja de acordo as regras, ou conforme sempre se fez em estrita concordância com os procedimentos previamente estipulados por escrito, ai meu Deus, pânico, situação gravíssima, ai ai ai… Por outras palavras, aquele tipo quadrado e estupidamente boring. Hong Kong está cheio dessas pessoas, essas flores de estufa, esses calhaus, esses anti-criativos, esses ignóbeis. Tenho um nome muito bom para essas pessoas, mas não vou aqui escrever por ser inadequado. Isto tudo a propósito do meu fim-de-semana em Hong Kong. Passei um sábado no Ocean Park com os meus filhos e o que para mim foi sempre um amusement park – e de alta qualidade, diga-se – onde supostamente se vai para se divertir sem complexos, para have fun de uma forma relaxada… O que encontrei pela frente foi regras, e regras, e mais regras. Em todo o lado. O expoente máximo foi atingido quando um funcionário entrou em discussão com o meu filho – de 5 anos – a propósito de um jogo de barraquinha em que atiramos saquetas de areia contra cubos de madeira com o objectivo de as derrubar. Porque, segundo as REGRAS, só se pode atirar uma saqueta de cada vez. Mas o meu filho, espertinho, decidiu atirar duas – e derrubou os cubos. Foi imediatamente confrontado pelo funcionário de uma forma estupidamente autoritária e bruta: “Sorry, that’s not allowed! One at a time, it’s written here! No prize for you!” É assim: não parti a cara ao homem porque não faço essas coisas diante do meu filho. Mas desejo o pior a esse homem. A sério. E que arda eternamente no inferno com as suas regras. (*) 背心 : camisola interior sem mangas, muito popular localmente (**) Palavra em patuá derivada do Rotan, em Malaio, referente ao material vulgarmente conhecido por Rattan.
Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto VozesLivro interdito [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]a altura em que este artigo for publicado o Congresso Nacional Popular e a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês terão terminado as suas cimeiras. No meu próximo artigo darei a minha opinião sobre o assunto. Para começar, vamos falar sobre a interdição de um livro. Enquanto decorriam estas duas cimeiras, fui a uma livraria em Zhuhai. Um dos livros que comprei intitula-se “Abandonar o Regime Imperial” com o sub-título “Uma Retrospectiva da Dinastia Qing até à República”. A investigação deste período, desde a antiga Dinastia Qing até aos alvores da República, está actualmente em voga e publicam-se muitos livros sobre a matéria. O propósito deste livro, à semelhança dos que foram publicados para assinalar o 100º aniversário da Revolução Xinhai, o 200º aniversário da primeira Guerra Sino-Japonesa e o 70º aniversário da Guerra de Resistência do Povo Chinês, é comemorativo e introspectivo. Depois de ter regressado a Macau, fiquei a saber, através de um jornal de Hong Kong, que o livro tinha sido interditado e a sua venda nas livrarias tinha sido proibida. Mal podia acreditar que o livro tinha sido banido e interroguei-me se os média de Hong Kong não teriam lançado este boato. Para descobrir a verdade voltei a algumas livrarias de Zhuhai, onde tinha estado há três dias atrás. O livro já não estava nos escaparates. Mas porque é que teria sido banido? “Abandonar o Regime Imperial” é na verdade uma compilação de artigos publicados pelo autor em diversas revistas e jornais chineses, ao longo de sete anos. O conteúdo do livro não releva qualquer assunto secreto, nem de alguma forma polémico, já que todos os artigos eram conhecidos. Conta a história da China desde a Revolução de Xinhai até à vitória na Guerra Sino-Japonesa, sem referir a Guerra Civil Chinesa (entre o Partido Comunista Chinês e o Partido Nacionalista). O conteúdo do livro não fere de forma alguma qualquer sensibilidade. Além disso, qualquer livro que seja publicado na China, tem de ser previamente submetido à aprovação do Gabinete para Administração da Imprensa e da Edição. E como o livro é distribuído por todo o País através das Livrarias Xinhua, nunca deveria ter sido classificado como “publicação interdita”. Então qual será a verdadeira razão por trás de tudo isto? Por vezes a política assemelha-se a uma lufada de ar que não conseguimos agarrar. Se tivermos de avançar um motivo para esta interdição, poderia alvitrar que as situações descritas podem ser encaradas como uma sátira a situações actuais, por exemplo, referir a antiga Dinastia Qing para representar os nossos dias e referir Hong Xiuquan (líder chinês da Rebelião Taiping contra a Dinastia Qing) para representar Mao Tsé Tung. Mas mais uma vez não parece razão plausível para banir um livro constituído por uma compilação de artigos já anteriormente publicados. As minhas dúvidas acabaram por se esclarecer quando li uma publicação online, uma análise política sobre a luta política no seio do Partido Comunista Chinês. A interdição do livro poderia ser, eventualmente, uma forma de descrédito através de meios políticos. A interdição não é sustentável, mas a intenção é criar terror. A minha especulação pode ser apenas hipotética. Mas num contexto de luta pelo poder tudo é possível. Por vezes é difícil distinguir entre o verdadeiro e o falso, só o tempo pode apurar a verdade dos factos. Dentro de ano e meio, terão lugar as eleições para a Assembleia Legislativa de Macau. Recentemente os candidatos potenciais iniciaram algumas acções, numa tentativa de obter as atenções do público, as suas palavras e actos destinam-se a colocá-los sob as luzes da ribalta. Existem candidatos que afirmam lutar pela democracia, outros empunham a bandeira da democracia, mas não estão focados no bem-estar social, sim em serem populistas. Em poucas palavras, apresentam diversas propostas para questões como a conservação das montanhas de Coloane, a construção do Edifício de Doenças Transmissíveis, a preservação, ou demolição, da fachada do Hotel Estoril, ou sobre a questão das crianças macaenses que vivem na China e o seu regresso às famílias. Para as pessoas que não estão familiarizadas com estas questões, por vezes é difícil distinguir os que estão verdadeiramente empenhados em encontrar soluções para estes problemas daqueles que só pretendem publicidade e ganhar votos. Foi interditado um livro que não deveria ter sido. Os que falam sobre democracia podem acabar por ser apenas populistas. Os motivos que se escondem por trás de tudo isto podem ser muito mais interessantes do que nos faz crer a versão oficial.
Joana Freitas Manchete PolíticaCentro de Doenças | AL aceita terceiro pedido de debate. Alexis Tam quer ir ao hemiciclo Parece que é desta que o Governo vai mesmo à AL debater sobre a localização do novo edifício de doenças-contagiosas: enquanto o pedido de Si Ka Lon e Song Pek Kei que já tinha sido dado a conhecer foi aceite, ontem ficou a saber-se que também Au Kam San e Leong Veng Chai se juntaram à causa. Mais ainda: o próprio Secretário Alexis Tam quer ir ao hemiciclo [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Assembleia Legislativa (AL) admitiu ontem o pedido de debate de Si Ka Lon e Song Pek Kei sobre a localização do Edifício das Doenças Infecto-Contagiosas e este não foi o único: no mesmo dia, também dois outros pedidos relacionados com o mesmo assunto foram entregues pelos deputados Au Kam San e Leong Veng Chai. Os documentos elevam para quatro o número de deputados que querem ver representantes do Governo no hemiciclo a responder às questões que têm gerado polémica no seio da sociedade. Centenas de moradores já se mostraram contra a localização do prédio, ao passo que o Governo e as associações de médicos concordam com a escolha. Conforme o HM avançou esta semana, Si Ka Lon e Song Pek Kei apresentaram um pedido de debate para que a AL discuta sobre a localização do novo edifício que vai nascer ao lado do Centro Hospitalar Conde de São Januário. Numa nota justificativa enviada aos meios de comunicação social, os deputados defendiam que “a escolha da localização é fruto de uma polémica muito quente”. Agora, é a vez de Au Kam San dizer que a decisão do Executivo “não é uma medida inteligente”, devido às muitas habitações em redor da zona. Da mesma forma que Si Ka Lon e Song Pek Kei, também o deputado democrata quer o novo edifício ao lado do Complexo de Cuidado de Saúde das Ilhas. “Já não é adequado atribuir [ao São Januário] funções no âmbito das doenças infecto-contagiosas”, diz, enquanto faz as contas à urgência ditada pelo Governo: o edifício só vai estar pronto em 2019 e o Hospital das Ilhas também. Portanto se o Governo tomar a decisão de construi-lo junto ao Hospital, então “ambos podem entrar em funcionamento ao mesmo tempo e não há grandes problemas quanto à duração da construção”. Au Kam San relembra ainda que o Executivo está sempre a referir que o atraso no projecto, que data de 2003, se deve à mudança no limite de altura da construção, mas o deputado também tem solução para tal: se for construído junto ao Hospital das Ilhas essas limitações são menores “e o Governo pode seguir o projecto de 2003”. Também Leong Veng Chai, cujo pedido de debate foi admitido ontem ao final da tarde, diz que a mudança para ao lado do hospital que vai nascer no Cotai é uma “boa solução” e acrescenta outra situação que considera ser um problema: os custos que vão envolver o projecto, que terá de nascer “no lado de uma montanha” e que são “desconhecidos”. Tam quer discussão Leong Veng Chai critica o Governo, acusando-o de ter “mostrado impaciência e decidido suspender a discussão”, além de ter “ignorado completamente os residentes”, mas num comunicado Alexis Tam indica que também ele – o próprio Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura – terá pedido à AL que o tema seja debatido. “[Alexis Tam] ficou satisfeito com o levantamento de uma moção por parte de um deputado para debater a escolha do local do edifício e indicou que, no mês passado, ele próprio apresentou uma sugestão ao presidente da AL para apresentar, juntamente com a equipa médica, o motivo e o andamento da construção do edifício de doenças infecto-contagiosas”, indica o Gabinete de Tam, que diz ainda que o responsável quer “que [a discussão] venha a ter lugar assim que possível”. Ainda não há data marcada para a análise e votação dos deputados para que o debate tenha lugar. Aprovação da OMS O novo edifício de Doenças Infecto-Contagiosas recebeu, entretanto, aprovação da Organização Mundial de Saúde (OMS), como indica um comunicado. “Quanto ao grau de segurança, a concepção do projecto do próprio edifício segue, com todo o rigor, os critérios definidos pela OMS e satisfaz os requisitos relativos à garantia de segurança. Um grupo de peritos da área de doenças transmissíveis da OMS esteve em Macau para se inteirar do projecto, tendo concordado com o plano, a localização, a concepção e os diversos equipamentos planeados para o edifício. Também o responsável da OMS virá a Macau”, indica o Gabinete de Alexis Tam.
Joana Freitas Manchete PolíticaÓrgãos Municipais | Governo termina estudo no segundo semestre Macau pode vir mesmo a ter órgãos municipais, mas os seus membros vão ser eleitos pelo Chefe do Executivo. É a previsão do Governo, que fez um estudo que será dado a conhecer na segunda metade do ano. E que vai originar uma consulta pública [dropcap style=’circle’]V[/dropcap]Vai estar concluído na segunda metade do ano o estudo do Governo sobre a criação de órgãos municipais sem poder político. O anúncio é da Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, que assegurou ainda que vai ser lançada uma consulta pública sobre a questão. “Está a ser feito um estudo por um grupo interdepartamental composto por dirigentes e juristas que incide sobre a estrutura orgânica e a metodologia da escolha dos membros, de forma a cumprirmos a Lei Básica. Este estudo vai estar concluído na segunda metade do ano e, depois, vamos fazer uma proposta preliminar e lançar uma consulta pública, para depois tomarmos uma decisão”, frisou Sónia Chan. No plenário da Assembleia Legislativa (AL) ontem dedicado a responder às perguntas dos deputados, a responsável deu a entender, contudo, que estes órgãos municipais vão ser compostos por membros nomeados pelo Governo, à semelhança do que acontece com os Conselhos Consultivos. A ideia não agrada a alguns deputados. “A nomeação dos membros tem de ser feita com base nas características das políticas e na experiência, carácter, popularidade e participação social [das pessoas]. Mas estes têm de dar pareceres sobre matérias culturais, de recreio e de salubridade pública e têm de ser parte da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo”, indicou, sendo logo contestada por Ng Kuok Cheong. “Porque é que não podemos ter membros eleitos por zonas para fiscalizar o trabalho do IACM (Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais), por exemplo? Estamos a tentar defender o regime de estes membros serem designados pelo Governo, mas esses órgãos deveriam ter membros eleitos, em vez de ser feita uma nomeação”, atirou o deputada da bancada democrata, que disse que bastaria seguir o exemplo do “Leal Senado da Administração Portuguesa ou de Hong Kong, onde os órgãos municipais têm membros eleitos por distrito. Descubra as diferenças “É desapontante. As exigências da zona norte são diferentes das da Taipa. Como é que se vai saber as opiniões dos moradores? [Estes membros] não conseguem reflectir a opinião pública, porque eles nem moram lá, são nomeados pelo Governo”, juntou-se Au Kam San, parceiro de bancada de Ng Kuok Cheong. Para Sónia Chan, o exemplo de Hong Kong não é um a seguir, uma vez que as Leis Básicas das duas regiões diferem na metodologia de criação destes órgãos municipais. “A equipa de estudo fez uma comparação entre a nossa Lei Básica e a de Hong Kong, que diz que estes órgãos podem ser organizados distritalmente. Mas a Lei Básica da RAEM diz apenas que estes órgãos não podem ter poder político e não menciona a eleição por distrito porque Macau é um território pequeno”, frisou a Secretária, reiterando ainda que a ideia ainda “está em estudo”, mas que Macau tem de satisfazer o que diz na Lei Básica. “Temos de pensar que estes membros devem reflectir a opinião pública, mas também prestar melhores serviços à população. Eles emitem pareceres de carácter consultivo ao Governo.” Ng Kuok Cheong não gostou da ideia de ser o Chefe do Executivo a escolher quem fará parte destes órgãos e deixou mesmo no ar a hipótese de “protestar”, caso isso aconteça. A criação de órgãos municipais foi uma questão levada a plenário por Ng Kuok Cheong, que queria saber o ponto da situação dos estudos e ainda apelar ao Governo que os membros destes órgãos fossem eleitos por sufrágio directo pela população. Reestruturações em curso O Governo vai “desencadear os trabalhos da segunda fase” da reestruturação dos organismos da Função Pública este ano, estando estes concluídos no quarto trimestre do ano, anunciou ontem Sónia Chan. A Secretária para a Administração e Justiça disse ainda que o Governo tem já definido o plano de aperfeiçoamento de dois anos para a apreciação de pedidos de licença ser mais rápida. Responsabilização de funcionários continua sem resposta [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ara Sónia Chan há já um regime suficientemente efectivo para lidar com a responsabilização dos funcionários públicos, incluindo dos altos cargos, mas os deputados continuam a não receber respostas face, por exemplo, a quem foi responsabilizado nos casos de excesso de despesas apontados recentemente pelo Comissariado de Auditoria (CA). A questão foi ontem levada ao plenário pela deputada Song Pek Kei, que relembrou os relatórios do CA e do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), que apontam críticas à forma de adjudicação de serviços ou má execução de leis. A ela juntaram-se Ho Ion Sang, Si Ka Lon, Ng Kuok Cheong, entre outros. “A sua resposta não responde às perguntas, parece-me que não houve efectivação de responsabilidade. O relatório do CA revela problemas, muitos, que envolvem mais de cem milhões de patacas, mas não houve imputação de responsabilidade”, atirou Ng Kuok Cheong, que acrescentou que “existe um regime de responsabilização, mas não existe ninguém a ser responsabilizado”. Para a Secretária para a Administração e Justiça há sanções e medidas de incentivo para os funcionários que façam mal ou bem o seu trabalho. Sónia Chan assegura que “os relatórios do Comissariado contra a Corrupção e do CA são estudados muito seriamente e merecem ponderação”, mas não adianta nada mais. A Secretária limitou-se a ler respostas em papel e a repetir essas respostas face a novas investidas dos deputados, que ficaram sem saber, afinal, se alguém foi responsabilizado. Sónia Chan relembrou apenas que vai ser introduzido o sistema de avaliação por uma “terceira entidade” aos funcionários de altos cargos. A formação é a outra arma para que os funcionários consigam eliminar as “insuficiências” face à interpretação das leis. “Parece que está tudo resolvido, mas os relatórios continuam a mostrar problemas”, rematou Ho Ion Sang.
Tomás Chio Perfil PessoasHeron Sou, viajante: “A viagem dura até que a conta esteja a zero” [dropcap style=’circle’]H[/dropcap]eron Sou é um jovem de Macau e está a caminho de uma viagem à volta do mundo. Inicialmente, o plano passava apenas por viajar para os países da América do Sul e da América Central, como México, Cuba, Brasil, Argentina e Chile. Demorou três meses na sua viagem para a América, porque não comprou um bilhete de avião para regressar a Macau. Mas a curiosidade não o deixou desistir: Heron Sou decidiu continuar o seu caminho. “Acho que a minha viagem ainda não se parecia com uma viagem à volta do mundo e não queria acabar de viajar”, conta-nos. Sou assegura-nos que “a viagem dura até “aparecerem zeros no saldo da conta”. Até porque o objectivo, confessa, é que os destinos vão cada vez aumentando mais. A viagem começou porque Heron Sou não encontra nada de especial que o prenda a Macau. Este é um território, para o jovem, muito cheio e aborrecido, uma cidade pobre “que só tem dinheiro e mais nada”. Sendo de cá, Heron sente-se feliz por Macau ter transportes públicos que o levem a todo o lado e diversidade para consumos de qualquer apetite. Mas não há natureza. Não há mar transparente, nem montanhas, nem gelo. O jovem é “um produto complemente feito em Macau”: desde o ensino infantil ao mestrado, fez todo o percurso no território. Foi atleta de Squash e representou Macau em jogos internacionais no estrangeiro. Fez um intercâmbio na Noruega, enquanto tirava a licenciatura, e foi essa experiência que lhe deu uma nova visão: o mundo é tão grande e as coisas não correm sempre ao sabor do vento de Macau. Nem ao seu estilo. Do plano à prática Apesar de nos repetir que Macau é aborrecido para quem é jovem, Heron Sou relembra que, quando tinha tempo livre, sempre foi um “jovem normal como os outros”: ia ao cinema, praticava desporto ou namorava, mas a falta de coisas para fazer por cá fazia-o, às vezes, optar por ficar em casa. “Quando era criança, gostava muito de ver coisas com extraterrestres e civilizações antigas na televisão e isso também foi uma das razões principais que me atraíram para ir à América”, diz-nos. Em Setembro do ano passado, o jovem finalizou o mestrado em Educação Física e Estudo do Desporto na Universidade de Macau (UM), onde trabalhava também como funcionário. Trabalhou na UM quatro anos, onde lidou com vários tipos de emprego desde a limpeza, à administração, segurança… sentia-se desafiado. Mas isso era algo que não o completava e Heron Sou queria algo mais na sua vida. “Era um atleta de Squash, sou treinador e tenho uma licença de árbitro para esta modalidade, mas sentia-me como um estudante da escola primária quando olhava para o mundo. Precisava muito de sair daqui.” O orçamento para a viagem era de dez mil dólares americanos, mas Heron também não queria visitar os países “como um vagabundo”: foi aos restaurantes para experimentar a gastronomia e ficou acomodado em hotéis. Mas agora que o plano mudou, o orçamento é uma coisa que já não tem valor para ele. Os familiares não discordaram da viagem. Heron Sou falou aos pais sobre o plano, apresentou-lhe a ideia de mudar de emprego e de fazer uma viagem bem longe da família. Os amigos apoiaram-no e deram até sugestões para ter cuidado com a vida… e com a carteira. Para o seu futuro, ainda não tem ideia do que quer fazer. “A maioria dos pessoas não imagina o que quer. Não sabia o que gosto de fazer. Pensei que podia encontrar o meu interesse durante a viagem, mas a realidade é que o mundo é cruel, precisamos do dinheiro para sobreviver, cada coisa que precisamos temos de a pagar. É horrível, não é?” Heron começou a viagem sozinho, mas conheceu muitos amigos novos durante a viagem: foi o caso de um casal de Hong Kong que conheceu na Bolívia, um alemão no México e alguns amigos da Noruega que até o acompanharam em parte da viagem. E as memórias ficam. A bem ou a mal. “Faço diários e vou preparar um álbum de fotografias que tirei durante as viagens. Isso é fixe”, disse ao HM. O próximo destino já está marcado: Heron Sou vai para o Egipto, porque queria comparar as pirâmides egípcias às mexicanas. Neste momento, o jovem está a descansar em Espanha. É que a viagem ainda agora começou e Heron também quer visitar o Pólo Sul, depois de ter ido ao Árctico.
Joana Freitas Manchete PolíticaAlto de Coloane | Secretário assegura cumprimento da lei [dropcap style=’circle’]R[/dropcap]aimundo do Rosário foi peremptório: “não há nada a encobrir” face à construção do empreendimento de luxo na Estrada do Campo, no Alto de Coloane. O Secretário para Transportes e Obras Públicas falava ontem no plenário dedicado a responder às questões dos deputados e assegurou que a lei foi cumprida. “No licenciamento de empreendimentos, seja em Coloane ou em qualquer outro local de Macau, agiremos sempre no estrito cumprimento da lei, respeitando os direitos e garantias nela consagrados”, começou por dizer, acrescentando: “sim, o processo foi todo legal”. Au Kam San foi quem levou a polémica questão ao hemiciclo. Entre muitas das questões, os deputados queriam saber por que razão o Governo deu autorização para que a altura das torres passasse de 80 para cem metros e ainda porque é que não há obrigação da parte do proprietário do terreno – Sio Chak Wong, membro do Conselho Eleitoral do Chefe do Executivo – em publicar o relatório de impacto ambiental. Os representantes do Governo explicam que a lei não obriga a que isso aconteça e dizem que, quanto à altura, esta foi aprovada antes da entrada em vigor da Lei de Planeamento Urbanístico, estando ainda em vigor. “Já apresentámos opiniões técnicas sobre o relatório e o seu conteúdo está de acordo com as exigências. E demos sugestões para atenuar o impacto”, começou por indicar Raymond Tam, director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), contestado de imediato por Au Kam San. “Então, se o relatório não pode ser divulgado, podemos pelo menos ter acesso ao parecer da DSPA?” Discussão plena A pergunta ficou sem resposta, mas vários deputados manifestaram-se face ao caso. Uns pedem, por exemplo, que o caso seja aberto à discussão no Conselho do Planeamento Urbanístico – algo que, segundo Rosário, não pode ser feito porque a planta ainda está dentro da data –, outros que seja encontrado um equilíbrio entre a protecção ambiental e os direitos dos proprietários. “Proteger o ambiente não é impedir o desenvolvimento e os direitos não devem ser retirados, mas tem de se pensar no ambiente e no património. Pode haver como solução a permuta de terrenos, não?”, indagou José Chui Sai Peng. Já Mak Soi Kun, deputado que é também empresário do sector imobiliário, diz não perceber o problema da construção e defende o proprietário, comparando a construção com o edifício One Oasis – que fica no Cotai e não na montanha de Coloane. “Todos são iguais perante a lei. Se houve violação da lei como dizem, qual foi?” Raimundo do Rosário voltou ainda a frisar que a obra não tem licença para avançar, uma vez que Sio Tak Wong ainda não entregou todas as plantas.
Hoje Macau Eventos MancheteCCM | Décimo Festival de Cinema e Vídeo arranca a 21 de Abril São 13 filmes internacionais e 26 produções locais aquelas que vão dar vida ao ecrã do Centro Cultural de Macau. Portugueses incluem a lista, num evento que pretende chegar a todo o público [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]rranca a 21 de Abril e vai até 5 de Junho a 10.ª edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo (FICV), evento de carácter anual que acontece no Centro Cultural de Macau (CCM) e traz uma selecção de projectos locais e produções internacionais. São obras provindas de mais de uma dezena de países as que se vão juntar em Macau, paralelas a um conjunto de actividades promotoras da cultura cinematográfica. Abrem as hostes a projecção de 13 filmes internacionais, que abarcam um leque que vai dos “mestres conceituados” aos “realizadores emergentes e aos destaques de festivais de cinema de autor”. Para abrir o apetite, a organização adianta que farão parte desta rubrica a exibição de “Mamã, trabalho realizado pelo jovem talento Xavier Dolan, galardoado pelo Festival de Cannes, “De Longe”, uma produção venezuelana vencedora do Leão de Ouro para Melhor Filme no Festival de Veneza em 2015, “Coração Canino”, o mais recente trabalho de Laurie Anderson que lida com a temática do amor, da paz e da perda e o inspirador documentário “Meru”, que conta uma “história triunfante”. “Jacky no reino das Mulheres”, uma comédia com Charlotte Gainsbourg no principal papel que aborda as questões de género numa perspectiva inversa, e “Festa de Despedida” e “A Façanha” são outras das películas, que trazem os temas da sobrevivência e da morte ao CCM. Mas, o evento pretende abraçar um público de todas as idades, pelo que as famílias e os mais pequenos têm a si dedicados “A Múmia do Príncipe” e “Operação Árctico”. Made in Macau Do programa fazem parte obras dos “Macau Indies” que, segundo a organização, “foca as suas lentes em perspectivas mais familiares” em que as estrelas são as produções independentes locais. A presente edição vai contar com um total de 26 trabalhos distribuídos entre curtas-metragens, animação e documentário. Nesta secção integram os nomes dos portugueses Filipa Queiroz (com “Boat People”), António Caetano Faria (com “Eric – Caminhar no Escuro”) e Catarina Cortesão Terra (com Macau – Tempo do Bambu). “As crónicas de Wu Li”, de James Jacinto, e “Uma Década de Blademark”, de Emily Chan e que retrata o percurso da banda com o mesmo nome, são outras das atracções. Os bilhetes já estão disponíveis e contam com vários preços e descontos. Para todos, mesmo todos Acompanham ainda toda a edição workshops, seminários, mostras e projecções e, como o objectivo geral é de aproximação do cinema a todos, o CCM lança ainda outro desafio: “Filme a la Minute” propõe aos interessados a criação de um filme usando como câmara o telefone numa realização com duração máxima de um minuto num período de 24 horas. Estes “tele” realizadores são ainda convidados a publicar as mini-produções na página do Facebook dedicada ao evento, sendo que o filme com mais “gostos” vencerá o desafio. As inscrições para esta rubrica terminam às 18h00 de 20 de Maio.
Joana Freitas Manchete PolíticaAquisição de Bens e Serviços | Valores vão ser revistos mas Secretário considera lei “quase perfeita” Está a ser feita uma revisão aos valores para a aquisição de bens e serviços da Administração, mas uma revisão global da lei não está para já em cima da mesa. Lionel Leong diz que o problema de excesso de gastos se deve aos funcionários não saberem interpretar a lei e assegura que a solução é mais formação [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]stão a ser revistos os valores para a aquisição de bens e serviços da Administração e essa revisão está “quase pronta”. Foi o que disse que Lionel Leong, Secretário para a Economia e Finanças, que assegura no entanto que o problema não está na lei, mas nos funcionários públicos. “Estamos a ajustar os valores e está já na fase final. Mas este Regime é relativamente perfeito, só os valores é que se encontram desactualizados porque foram [implementados] há 27 anos e é indispensável proceder ao seu ajustamento”, frisou ontem, no plenário da Assembleia Legislativa (AL) dedicado a responder às perguntas dos deputados. O problema com os gastos de milhões levados a cabo pelos organismos públicos é dos “agentes da lei”, diz o responsável, que não sabem aplicá-la. “Os problemas levantados pelo Comissariado de Auditoria não se devem à lei propriamente dita, mas aos serviços que mostram um défice e desvio na interpretação da lei”, justificou, referindo-se ao recente relatório que indicava “uso abusivo da dispensa” de concursos públicos e a adjudicação de mais de mil serviços de consultoria desnecessários, cujas despesas excederam o valor de 1,4 milhões de patacas. Para resolver a questão, Leong compromete-se a criar “instruções adequadas” para os serviços públicos e a “reforçar as acções de formação para que os trabalhadores da Função Pública possam dominar bem a matéria”. “Vamos promover junto dos trabalhadores da Função Pública a lei de Aquisição de Bens e Serviços”, disse. Para Leong Veng Chai, se o problema são os trabalhadores, não se compreende porque é que “nunca ninguém foi responsabilizado” face aos gastos excessivos. [quote_box_left]“Os problemas levantados pelo Comissariado de Auditoria não se devem à lei propriamente dita, mas aos serviços que mostram um défice e desvio na interpretação da lei” – Lionel Leong, Secretário para a Economia e Finanças[/quote] Queremos fiscalizar Neste momento, adiantou ainda Lionel Leong, os Serviços de Finanças (DSF) estão a criar instruções para servirem de referência aos serviços públicos. Por exemplo, as despesas de representação – quando dirigentes do Executivo vão ao exterior – já têm normas a seguir e a DSF vai implementar mais. Ng Kuok Cheong e Song Pek Kei apelaram a que seja permitida a fiscalização dos serviços que adquirem bens e serviços no momento preciso dessa aquisição. Para o deputado da bancada democrata, que defendeu que o problema é que as compras são feitas “à porta fechada”, não existe fiscalização pública e a “AL deveria” ficar a cabo desse trabalho. Já Song Pek Kei pediu que esse papel fosse entregue à DSF. “Não há, neste momento, poder para fiscalizar. A DSF deveria poder intervir. Já é tempo para que não sejam apenas os serviços públicos a decidir.” Um dos grandes problemas é, para os deputados, o facto de nada adiantar existir a obrigatoriedade de concurso público para a aquisição de bens e serviços: se, por um lado, “evocam-se sempre os critérios que permitem a dispensa deste concurso” como refere Ng Kuok Cheong, também “não se sabem os resultados dos concursos públicos”. Ella Lei relembrou o caso recente do Festival das Luzes, cuja adjudicação custou ao Governo cerca de 20 milhões de patacas, mas nunca foi publicado em Boletim Oficial o resultado porque “a lei não o exige”, como disse a Direcção dos Serviços de Turismo. O apontamento da deputada surgiu depois de Lionel Leong garantir que esta publicação deveria acontecer. “No futuro, um dos objectivos das instruções é estimular os serviços a divulgar o processo e resultados dos concursos públicos para que o público consiga aceder”, frisou Leong, que garante ainda que “vai ser feito um estudo” sobre como reforçar o papel da DSF para que esta possa fiscalizar os organismos, especialmente aquando da aquisição de serviços. Leong anunciou ainda outras duas medidas. “Esperamos que mais serviços públicos possam utilizar a aquisição centralizada para adquirirmos em grande volume os produtos e serviços, de forma a que o preço possa ser mais baixo. Os colegas das Finanças estão também a criar uma base de dados de fornecedores.” O Secretário não adiantou mais, limitando-se a repetir o que diz a lei. Um dos pontos do diploma, por exemplo, exige a presença de um oficial do Ministério Público para a aquisição de obras de grande envergadura, o que mereceu um contra-ataque de Ng Kuok Cheong. “Nem com o MP adianta, porque agora até o próprio MP está a ser posto em causa”, disse, referindo-se à acusação de que o ex-procurador adjudicou precisamente obras e serviços a empresas em troca de proveitos.
Andreia Sofia Silva BrevesNova política de vistos individuais sem decisão final Chui Sai On indicou ontem que, em relação à política dos vistos individuais, o Governo “vai continuar a estudar a medida com os ministérios do Governo Central, tendo como objectivo aperfeiçoar a medida”. O Chefe do Executivo disse ainda que “pretende estudar a capacidade anual da recepção de turistas, por forma a garantir a qualidade de vida da população local”, sendo que também é objectivo “oferecer aos turistas provenientes da China um maior grau de satisfação”. Chui Sai On admite que “cada cidade tem uma determinada capacidade para receber turistas e que, caso seja ultrapassado esse limite, tal terá influências negativas a cima dos benefícios a curto prazo”. “O Governo da RAEM tenciona manter este equilíbrio a longo prazo, não exigindo apenas o aumento do número de turistas”, aponta um comunicado.
Andreia Sofia Silva BrevesJiangsu | Assinado memorando de cooperação Macau e a província de Jiangsu assinaram um “Memorando sobre o Plano de Intercâmbio dos Trabalhadores da Função Pública de Jiangsu e Macau”, bem como o “Memorando sobre a Criação Conjunta do Parque de Cooperação entre Jiangsu e Macau”. Os dois acordos foram assinados no âmbito de uma visita oficial de dois dias do Chefe do Executivo, Chui Sai On, às cidades de Nanjing e Changzhou, a convite do Governo da Província de Jiangsu. Segundo um comunicado oficial, Chui Sai On referiu que as duas regiões “decidiram estabelecer um grupo de trabalho responsável pelos preparativos da criação conjunta de um parque de cooperação”. Para já “o parque industrial não tem local definido nem áreas concretas de cooperação”, sendo que ainda se encontra “na fase de estudo em termos de viabilidade”.
Flora Fong BrevesMega Maldives acusada de enganar os passageiros A Mega Maldives Airlines terá prometido indemnizar em cerca de cinco mil dólares de Hong Kong os passageiros do voo com destino a Palau que sofreu sucessivos adiamentos na semana passada, mas estes dizem que ainda não receberam nada. Segundo a Mastv, a senhora Guo, uma das passageiras do interior da China que reservou o bilhete numa agência de viagens, afirmou ainda que a empresa está a obrigar os clientes a assinar um acordo “injusto”: se aceitarem este dinheiro, não recebem mais nenhum, ainda que o preço total da viagem tenha ficado nos 20 mil dólares de Hong Kong. “Gastámos mais de 20 mil dólares para comprar o bilhete e os hotéis. O valor da indemnização e a despesa real não são proporcionais”, disse a passageira, que acrescentou ainda que a empresa está a exigir que o acordo seja assinado até hoje. O incidente aconteceu no fim da semana passada, quando mais de 200 passageiros, a maior parte do interior da China e uma dezena de Macau, deveriam ter embarcado na Mega Maldives Airlines com destino a Palau, mas o voo foi sendo sucessivamente adiado e os passageiros dizem não ter sido avisados quando finalmente levantou.
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasIdos de Março [dropcap style=’circle’]T[/dropcap]inha razão César ao temer o ano 44, naquela tarde de 15 de Março sucumbia assassinado por Brutus. Também os Cátaros uns séculos após desceriam de Montségur, os últimos resistentes desta heresia tão especial que dera origem aos chamados «Homens Bons» e que no seu Maniqueísmo ajudara a uma civilização melhorada na região do Languedoc. Cá em baixo esperava-os a fogueira. Era a manhã de 16 de Março, de 1244. Pouco tempo depois, Jacques de Molay, o vigésimo terceiro Grão-Mestre da Ordem Templária, nascido exactamente no mesmo dia da extinção cátara, acabaria numa tarde de 18 de Março do ano de 1314, também ele na fogueira, depois dos anátemas que desferiu no Papa Clemente e no rei Filipe o Belo. Anátemas com carácter de maldição já que no espaço de um ano ambos morreriam e o malefício acompanhara os reis de França. Simão Botelho parte para o desterro nessa manhã de 17 de Março… A viagem para a morte em pleno mar e o amor estranho de Mariana… De facto, os Romanos sempre temeram os cinco últimos dias que antecediam a Primavera. Muitos se fechavam em casa para escapar a tão nefasto instante. Os últimos dias do Inverno têm presenças assombrosas como se uma janela desse para o sublime, a dor, e o terror, emblematicamente na cúspide de Peixes, a casa zodiacal da memória universal, parece sim, que se abrem as portas para o improvável habitado. Podemos viver este tempo como uma anunciação de nós em vidas múltiplas, um resgate de todas as vidas que trazemos vindas, uma memória intercalada de estímulos antigos ligados ao sacrifício e a uma liberdade inesperada. Todo o tecido deste tempo nos atira para uma saudade de antanho, mas também para algo que estava oculto em nós. A morte aparece-nos como a mais estranha das missões e não raro sentimos que ela é uma passagem grandiosa, e dizer adeus uma manifestação poética como jamais tínhamos imaginado. Os que ficam nem sempre têm a sensação da forma mudada, da grande alquimia, pois que nos vamos formando nas horas seguintes e nas formas activas dos dias, mas, a neblina de uma vaga sensação de um tempo diferente, nos habita. Não só Simão Botelho parte para o desterro como o próprio Camilo nasceu nesse dia, não sei até que ponto ele nos quer dizer de si na imagem de Simão. Sabemos da sua índole complexa, anticonvencional e algo belicosa, da sua imensa necessidade de afecto e de paixão, de uma vida passada nos limites do admitido e com toda a carga de desvio e penas. A sua natureza típica de um romântico não foi indiferente a este personagem trágico que se debatia com uma dualidade amorosa e uma imensa lealdade para com o seu grande amor, este tempo de absorção entre a partida e o nascer, entre a personagem e a sua própria, ocupa hoje o dia toda em reflexões, diria até, que extemporâneas. Mas neste dimensionar está a vida daqueles que viveram no limite, dos que porventura chegaram a um mundo onde a ideia fora mais de partida para um desterro do qual só as águas afogariam na sua imensidão de destino. Vemos como a febril herança de um escritor se nos alucina e perturba, como aquela vertigem foi grandiosa, também, como todos os resultados foram válidos e trabalhosos, como se chegou à cegueira e se contorceu a vida numa alma que não tinha mais razão de viver. Os seus olhos viram a tragédia que a própria vida não foi capaz de suster. Ninguém morre porque quer, morre-se por falência e desistência, morre-se por condição. E a de um homem a quem lhe é amputada a vida, esta poder-se-á revelar-se uma jaula de infortúnios. Essa decisão não é um pedido, ninguém pede a outro tal trabalho se ainda lhe for dado discernimento para o efectuar. Ninguém convoca outro para assassino, sobretudo um poeta, um escritor, um homem livre. Não vejo Antero, Camilo, Espanca, Sá-Carneiro, pedirem para os matarem. Eles, não pedem, eles exercem a força do destino. Esta diferença faz a distinção da tão discutida Eutanásia. Estes são os dias que nos informam da natureza trágica do Homem, e quando tocamos nessa fímbria não nos é dado discutir formas nem comandar outros para resoluções tamanhas, estamos face ao desconhecido, a um processo de transformação que desagua numa surpreendente vitória. Horderlin, o poeta dos poetas, nasceu a vinte de Março. O seu espectro, a sua natureza, eram a de um ser assaltado pela beleza, pela transparência das coisas sublimes, porém a sua vida foi metade passada nas sombras da loucura que não notara e que imprimiu com voz de arauto. Todas as coisas prodigiosas morrem e nascem neste ciclo dos Idos de Março e nós limpamos uma a uma as nossas quentes lágrimas porque o Sublime é triste e a Beleza também. Como se fosse uma ferida o tempo se desnuda e nos mostra o que não vimos em outros momentos, e a Graça é o « Dom das Lágrimas» as oblatas da antiga liturgia cristã o refúgio de uma salvação. «Vacilas por ternura Deus omnipotente da pedra fonte da água viva rompeste a um povo sedento retira da nossa dureza a compunção das lágrimas longo pranto por nossos pecados concede pois vendo-nos assim te compadeces e obtemos remissão» . É uma digna forma de estarmos preparados, este suor das nossas entranhas, por que os Idos de Março são de facto os que nos arrancam da flama da nossa carne o mais comovente de nós, esta passagem pelo lago prateado e pelas dores que param, porque passada a dor, todo o Universo é um canto grave de uma doce e funda tristeza. Estamos abertos para o imensurável mistério de Deus, e ao focar a existência de Jesus no signo dos Peixes, damos-lhe as qualidades deste momento cósmico, como se nestes dias fosse ele o nascituro. Lembro-me da cascata de poetas que em Março de 1993 morreram no espaço de uma semana nestes Idos, e nem por isso a memória se me torna tormentosa, eles partiram na sua fase de expressão superior, e todo o homem animado, que tem de facto uma alma, convoca os outros para a partida e juntos vão numa saga que a nós ainda não nos é dado compreender. Creio na santidade do propósito bem como no invulgar poder da invocação. Ninguém morre só, quando foi habitado por certos elementos : o Universo conspira na sua deidade e força o encontro entre pares. Assim nós, que deste lado do vitral fugimos aos sonhos e nos adensamos num real imposto, possamos um dia chegar a eles de forma transparente. Estes são os Idos de Março, os mais assombrosos e transcendentais, e ninguém que tem um destino escapa indelével que seja ao seu tão inigualável encontro. E terminam neste lago: Dignai-vos dar em abundância Luz da inteligência verdadeira a estes submissos servos Lágrimas aos olhos Contrição ao coração Até que purificados do actual luto e da tristeza espiritual Da morte eterna nos afastemos como de uma ruína.
Flora Fong BrevesMais uma associação de proprietários do Pearl Horizon Foi criada oficialmente mais uma associação que reúne os proprietários do projecto habitacional Pearl Horizon. Chama-se Comissão de Proprietários de Pearl Horizon e, segundo os seus estatutos publicados ontem no Boletim Oficial, todos os proprietários de fracções do Pearl Horizon podem ser membros. De acordo com os estatutos, esta é uma associação de condomínio sem fins lucrativos, mas tem fins como o de “proteger os interesses legítimos de membros, promover a solidariedade, viver em paz e promover a harmonia da sociedade”. Esta é a segunda associação, depois da criação da União de Proprietários do Pearl Horizon, fundada em Fevereiro deste ano. Kou Meng Pok é o presidente da União e assegurou ao HM que desconhecia a criação desta nova associação, indo agora inteirar-se da situação. Recorde-se que foram mais de três mil as pré-vendas de fracções deste projecto.
Joana Freitas BrevesMacau Water | Empresa tem menos receita do que investiu A Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau (SAAM) arrecadou 68 milhões de patacas em receitas o ano passado, um número que ficou abaixo do investimento levado a cabo pela empresa em 2015, que foi de 89 milhões. No relatório anual da empresa, ontem publicado, a SAAM indica que o consumo de água subiu ligeiramente, em 1,7%, devido sobretudo às construções que decorrem actualmente, especialmente no Cotai. A água utilizada no sector comercial e industrial ascendeu a 50,8% do total, sendo a restante para uso doméstico e do Governo (6,4%). Em 2015, a empresa substituiu 1,5 quilómetros de “canos velhos”, 2% do total dos canos de Macau. A SAAM diz ainda que as obras para a estação de tratamento de água em Seac Pai Van deverão começar no final do ano e a empresa vai investir aproximadamente 800 milhões de patacas nessa construção. A primeira fase termina em 2019 e vai acrescentar cem mil metros cúbicos à capacidade de reserva de água.