Medicina |Academia em andamento e “não faltam” recursos humanos

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) confirmaram que a futura Academia de Medicina de Macau será administrada através de uma cooperação entre os SS e a Comissão de Formação de Médicos Estagiários. As autoridades informaram ainda que actualmente não existe qualquer problema em relação aos recursos humanos.
A resposta surge em reacção a uma interpelação escrita da deputada Melinda Chan, que questionava como é que o Governo irá proteger a saúde e os direitos dos profissionais da área e, ao mesmo tempo, garantir a qualidade do trabalho, se não contratou mais ninguém. A deputada colocou ainda em causa a qualidade dos serviços, no futuro, visto o Governo ter vontade de “usar um hospital como se fossem dois”.
O director dos SS, Lei Chin Ion, explicou que, para coordenar o desenvolvimento dos serviços de higiene e de saúde a longo prazo, os SS já elaboraram um plano geral relativamente aos recursos humanos. Actualmente 59 médicos estão a frequentar formação especializada e 60 frequentam um curso avançado de prática clínica. O director explicou ainda que os SS vão contratar mais 42 médicos neste ano. 

Formar e cuidar

Em Fevereiro, Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, avançou com a medida da criação da Academia de Medicina, que ficará na dependência dos SS. Lei Chin Ion explica que esta Academia tem como objectivo formar profissionais de saúde de qualidade. O Governo, diz, está a negociar com Hong Kong para uma partilha de experiências e instruções e procura assessores e especialistas para acompanhar a criação da futura instituição. O director confirmou que os trabalhos de alteração à organização e funcionamento dos SS já começaram.
As autoridades vão ainda contratar cerca de 120 enfermeiros durante este ano, sendo que 70 podem já começar a trabalhar na segunda metade de 2016, fazendo parte da actual equipa de 188 enfermeiros.
Relativamente ao objectivo de “usar um hospital como se fossem dois” Lei Chin Ion defendeu que até ao momento não se registou qualquer situação de falta da mão-de-obra.

27 Abr 2016

Fundo Cooperação China-PLP | Exigida sede em Macau

A deputada Melinda Chan considera que o Governo deve lutar pelo estabelecimento da sede do Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa em Macau. Numa interpelação escrita entregue ao Governo, a deputada defendeu que Macau não está a desenvolver as vantagens enquanto plataforma de cooperação, referindo que o Executivo não tem políticas concretas para esta área.
Actualmente a sede do Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa situa-se em Pequim. Melinda Chan questionou o Governo sobre a possibilidade de mudar a sede para Macau, a fim de promover o sector financeiro, ajudando as empresas locais a aumentar as suas capacidades.
A deputada referiu que a economia local não soube tirar vantagens desse Fundo e que as empresas locais conhecem pouco sobre o mercado lusófono e da sua cooperação com a China.
O Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa foi iniciado pelo Banco de Desenvolvimento da China e pelo Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização de Macau. Lionel Leong, Secretário para a Economia e Finanças, garantiu que a injecção de 50 milhões de dólares norte-americanos está a ser preparada.

27 Abr 2016

Estaleiro | DSAMA vai agir caso responsável não entregue proposta

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA) afirmou que o proprietário do estaleiro de Lei Chi Ven, em Coloane, prometeu entregar a proposta de manutenção urgente até hoje de manhã. Caso não seja entregue, a DSAMA garante que vai intervir e avançará com a obra.
Como noticiado ontem, um dos estaleiros da vila de Coloane, de nome “Lok Hap”, está em risco de ruir. O local foi bloqueado pelos bombeiros e o Governo já pediu às cinco famílias que vivem nas proximidades para saírem temporariamente das habitações. O Governo garantiu auxílio atribuindo habitação provisória e apoio social.
Susana Wong, directora da DSAMA, confirmou ao canal chinês da Rádio Macau a promessa do responsável do estaleiro em causa. Caso este precise mais tempo do que o estipulado, ultrapassando o dia de hoje, o organismo governamental irá intervir, garantiu. A directora frisou que se for necessário a própria DSAMA irá avançar com as obras de recuperação do espaço.
Susana Wong garantiu ainda que o Governo está atento ao risco de queda e, por isso pediu de forma “insistente” ao responsável para resolver o problema. A directora confirmou que já recebeu uma petição, entregue pelas famílias, sobre a urgência do problema.

27 Abr 2016

Plano Quinquenal | Plano Director só em 2020

O Governo garantiu que o plano director do território não deverá estar concluído antes de 2020, apesar das promessas feitas apontarem para a necessidade da sua implementação já em 2017

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]A Lei do Planeamento Urbanístico entrou em vigor em 2013 e, à data, o Governo apontou para a necessidade de implementação do Plano Director entre três a cinco anos, ou seja, até 2017. Contudo, esse calendário não deverá ser cumprido, pois o Executivo admitiu ontem, na apresentação do projecto do Plano Quinquenal de Desenvolvimento da RAEM, que antes de 2020 será difícil Macau ter um plano director.
“Não é possível incluir todos os projectos num plano a cinco anos, este é apenas um plano genérico e depois teremos planos específicos, tal como o planeamento urbanístico, que é um plano específico. Antes de 2020 temos de finalizar o plano director até à sua versão definitiva. Tudo irá depender das investigações, não podemos garantir a 100% que será finalizado até 2020”, disse Lei Ngan Leng, assessora do gabinete do Chefe do Executivo e vogal da Comissão para a Construção do Centro Mundial de Turismo e Lazer.
Vários arquitectos afirmaram ontem ao HM que a ausência de um plano director que defina as regras para o urbanismo do território já levou a várias falhas e vai originar situações ambíguas na área da construção e planeamento.

Hospital mesmo atrasado

Conforme o HM já tinha noticiado, o Complexo Hospitalar das Ilhas só deverá estar pronto depois de 2019. “Iremos acelerar a construção de diversas obras do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas. Prevê-se que sejam concluídas em primeiro lugar em 2019 as obras de construção do edifício do Instituto de Enfermagem e do Edifício de Residências do Pessoal. A construção do Complexo Hospitalar, do edifício de apoio logístico, do edifício do laboratório central e do edifício da administração e multi-serviços serão concluídos sucessivamente depois de 2019 conforme o volume das obras”, lê-se no projecto. Inicialmente a data apontada foi 2017.
No Plano Quinquenal propõe-se ainda o aumento das receitas provenientes do sector extra jogo de 6,6% para 9% em 2020. Questionada sobre a eventualidade destas previsões serem baixas, Lei Ngan Leng garantiu que os valores foram analisados com as operadoras e com uma equipa de várias pessoas, podendo ser alterados caso seja necessário.

Regulamento sobre Centro Histórico

No projecto do Plano Quinquenal ontem apresentado foi referido que a consulta pública sobre o “Plano de salvaguarda e gestão do Centro Histórico de Macau” deverá ser feita até 2017, sendo que o regulamento administrativo desse mesmo plano deverá ficar concluído entre 2018 e 2020.

Dois meses para consulta pública

O projecto do Plano Quinquenal de Desenvolvimento da RAEM para os próximos cinco anos estará em consulta pública nos próximos dois meses, mas são poucas as novidades apresentadas no documento que, no fundo, pouco varia daquilo que tem vindo a ser anunciado pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On, nas Linhas de Acção Governativa (LAG).
Lei Ngan Leng, assessora do gabinete do Chefe do Executivo, garantiu que este plano não deve, aliás, ser dissociado dos últimos relatórios das LAG. “Um plano quinquenal terá certamente pontos em comum com as LAG por se tratarem de linhas de desenvolvimento. As LAG são planos anuais, enquanto que este plano é para ser implementado a médio prazo.”
Na conferência de imprensa de ontem os jornalistas questionaram os responsáveis do Governo pela ausência de dados concretos sobre as medidas e intenções anunciadas. O Governo descarta problemas.
“Não precisamos de ter muitos indicadores concretos no plano porque apenas traça objectivos”, disse Lei Ngna Leng.
Por forma a tornar Macau num Centro Mundial de Turismo e Lazer, o Governo quer cumprir sete objectivos principais nos próximos cinco anos, tais como o “desenvolvimento estável da economia global” ou a “elevação constante da qualidade de vida dos cidadãos”. Há depois “oito grandes estratégias de desenvolvimento e a sua implementação”, nas áreas da política, cultura e economia. O Governo quer atingir estes objectivos em quatro fases diferentes.

27 Abr 2016

1 Maio | Juventude Dinâmica quer gestão justa dos terrenos

“Acabar com a hegemonia do imobiliário, assegurar a justiça na gestão dos terrenos.” É este o mote do protesto que a Associação Juventude Dinâmica de Macau vai levar para as ruas no próximo dia 1 de Maio, Dia do Trabalhador. O protesto terá início na Alameda da Tranquilidade, na zona norte, tendo como destino a Sede do Governo. A Associação fez um apelo na sua página do Facebook para a presença dos residentes neste protesto, referindo que o sector imobiliário tem muitos interesses em causa nas políticas do Governo, sendo que muitos valores já desapareceram devido ao desenvolvimento económico. A Juventude Dinâmica refere os casos do Farol da Guia, Colina da Penha ou o projecto de construção no Alto de Coloane. A Associação considera que Macau não precisa de se desenvolver como Hong Kong e apela à utilização dos terrenos com base na lei e em conjunto com uma política de habitação pública que esteja orientada para o desenvolvimento da população. Pede ainda que o Governo divulgue mais informações sobre terrenos e o conteúdo das reuniões do Conselho de Renovação Urbana.

27 Abr 2016

Conselheiros das Comunidades tomaram posse em Lisboa

José Pereira Coutinho, Armando de Jesus e Rita Santos tomaram posse, ontem, em Lisboa, como membros do Conselho das Comunidades Portuguesas. Ontem e hoje o órgão português reúne-se para as tomadas de posse e eleição do presidente do Conselho, com um mandato de um ano. Ainda não se sabe se um dos três conselheiros irá candidatar-se, sendo que só hoje decorre o plenário com a eleição. Os conselheiros vão ainda ficar mais uns dias em Portugal para vários encontros com entidades governamentais portuguesas, apesar de ainda não existir uma agenda oficial.

27 Abr 2016

Gás | Bombeiros dizem não poder transportar acetileno

O Corpo de bombeiros (CB) defendeu ao HM que não é uma unidade de monitorização e transporte do gás acetileno, sendo que a reunião com as empresas importadoras que aconteceu recentemente serviu apenas para acompanhar o caso de falta de armazéns para o acetileno, gás utilizado na construção civil. “O CB apenas tem como função o salvamento e há uma preocupação sobre esse assunto, mas a reunião serviu sobretudo para compreendermos melhor a situação”, apontou o organismo numa resposta escrita. O CB afirmou que apenas pode fazer a comunicação com as empresas caso ocorram incidentes. Conforme o HM noticiou, as empresas importadoras de acetileno queixam-se do facto dos preços terem quadruplicado e de não haver em Macau armazéns para a recolha deste gás. Os importadores publicaram um comunicado nos jornais chineses onde pedem um armazém provisório ao Governo, por estar em causa o transporte de substâncias perigosas.

27 Abr 2016

Macao Water preocupada com canalizações privadas

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Macao Water está preocupada com as condições de salubridade das redes privadas de abastecimento de água. A nota saiu da reunião, a primeira, do Grupo de Ligação a Clientes da empresa, ocorrida ontem e contou com a presença de elementos do Governo.
Num comunicado, a Macau Water alerta para o facto de que nas suas acções de inspecção foram detectadas um número assinalável de canalizações privadas em mau estado de manutenção. “Canos velhos e corroídos que, inclusivamente, podem ameaçar a saúde dos residentes”, informa a empresa.
“Muito preocupada com a situação”, como afirma a Macao Water, a empresa garante ter discutido com os representantes do Governo presentes na reunião, nomeadamente a directora para os Assuntos Marítimos e da Água, Susana Wong, acerca de soluções possíveis para a resolução do problema. Mas a responsável também espera que “os donos dos edifícios, as empresas gestoras dos condomínios ou os agentes registados cumpram as suas obrigações e façam um trabalho melhor na manutenção das redes de água”, já que a empresa “nada pode fazer em relação às redes particulares”.
Para obviar os problemas, ou parte deles, a Macao Water montou, em 2010, uma equipa de trabalho para fazer reparações nas canalizações logo imediatamente antes dos contadores. De acordo com a informação prestada, ”os custos são repartidos e a parte que cabe aos privados é debitada nas contas de água do prédio”. Todavia, têm sido encontradas muitas dificuldades, seja pela forma como os canos estão instalados, ou outro tipo de limitações.

27 Abr 2016

Ng Lap Seng | Novo Macau quer CCAC a investigar caso

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau tem jurisdição para investigar o caso de alegada corrupção em que está envolvido Ng Lap Seng e é isso que a Associação Novo Macau quer. Um pedido de investigação sobre a matéria foi ontem entregue ao Comissariado contra a Corrupção (CCAC).
“Depois da detenção em Outubro do ano passado, um tribunal dos EUA e o Gabinete de Fiscalização Interna da UN tornaram pública a queixa e os factos descritos nesses documentos sugerem que Macau tem jurisdição sobre o caso”, indica a Novo Macau num comunicado enviado aos média.
O empresário e representante político de Macau foi formalmente acusado pela justiça norte-americana de conspiração e suborno, num caso que envolve o ex-presidente da assembleia-geral da ONU John Ashe. É acusado de participar num esquema de subornos a dirigentes da Organização das Nações Unidas (ONU) durante três anos.
O dinheiro servia para conseguir o apoio de Ashe para a construção de um “centro de conferências milionário” para a ONU em Macau, usando Francis Lorenzo, o embaixador das Nações Unidas na República Dominicana, para transferir esses pagamentos. Ashe e Lorenzo foram igualmente acusados.

Das origens

A Novo Macau diz que os documentos mostram claramente que “os fundos para os subornos tiveram origem em Macau” e relembra que o caso envolve a empresa San Kin Ip, de Ng Lap Seng, que também já apareceu listada nos Panama Papers e que está registada em Macau.
“Pedimos que o CCAC investigue se a San Kin Ip beneficiou ilegalmente [do apoio] por ter mostrado documentos falsos que indicavam a necessidade do centro [em Macau] a um banco de investimento”, refere a Novo Macau, que indica que, apesar de os actos de Ng Lap Seng “caírem no âmbito do [Regime de Repressão dos Actos de Corrupção no Comércio Externo], não podem ser” tidos como crime devido à inexistência da lei na altura. Tal motiva críticas da Associação, que pede a revisão do diploma.
“O CCAC deveria cumprir as obrigações de Macau sob a Convenção contra a Corrupção da UN, permitindo não existir limites”.

Autoridades ouvidas

Após as notícias da detenção de Ng Lap Seng, Chui Sai On foi instado a comentar o caso, mas o Chefe do Executivo disse “desconhecer” a situação. “Não tenho conhecimento sobre a questão. Contudo, segundo as informações que tive do Conselho para o Desenvolvimento Económico, o senhor Ng Lap Seng – que é membro – pediu dispensa da reunião do dia de hoje [Setembro de 2015]. De resto, não tenho mais dados em mão. Portanto, não vou responder à vossa pergunta”, disse Chui Sai On, na altura. No entanto, o Relatório Anual da Comissão Europeia sobre Macau do ano passado indica que as autoridades participaram até no inquérito levado a cabo pelas autoridades dos EUA, que detiveram o empresário. “Em 2015, Macau colaborou num inquérito relativo a dois funcionários das Nações Unidas acusados de aceitar subornos de um promotor [de Macau]”, pode ler-se. O HM tentou obter esclarecimentos da parte do Governo, mas devido à hora tardia não foi possível. Ng Lap Seng é consultor do Conselho para o Desenvolvimento Económico e fez parte da Comissão que elege o Chefe do Executivo e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. Mas sobre o caso o líder do Governo nunca falou, dizendo apenas “estar a acompanhar as notícias”.

27 Abr 2016

Shoot and Chop, produtora audiovisual | Iwin Kwow e Kenny Leong, fundadores

Existe somente há uns meses e é mais uma das empresas que está localizada no Macau Design Center. A “Shoot and Chop” não quer apenas fazer vídeos de entretenimento mas assumir-se no mercado publicitário como uma aposta que vale a pena fazer

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]urante muito tempo Kenny Leong esteve chateado com Macau e a forma como tem sido governada. A série de vídeos “Pissed off man” fez sucesso no Youtube e tornou-se num canal para a reflexão da actualidade local. Mas Kenny Leong, nascido em Macau e com largos anos de vida em Toronto, no Canadá, decidiu juntar-se à sua parceira de negócio Iwin Kuok e apostar num novo projecto. “Shoot and Chop” é uma empresa de audiovisual criada há poucos meses, sediada no Centro de Design de Macau, e pretende tornar-se uma aposta profissional na área de produção de vídeos. foto shoot and chop
Aos poucos e poucos têm sido contactados por várias empresas e até por universidades que estão interessados nas suas produções. “Neste momento temos mais clientes, estamos a conseguir alguma atenção. Não devemos estar preocupados em atrair as atenções, não é uma preocupação para nós, isso vai acabar por acontecer. Há três meses foi algo difícil, mas as coisas vão melhorar”, disse Kenny Leong. “A minha verdadeira paixão sempre foi fazer vídeos sobre o que se passa em Macau ao nível da política, a actuação do Governo e os problemas sociais. Essas foram as ideias iniciais que me levaram a estabelecer e ‘Shoot and Chop’. A minha parceira também tem interesse por estas questões e ela é a directora desta empresa, enquanto eu sou o director criativo. Juntos queremos fazer um trabalho mais comercial, ligado à produção de filmes curtos, mas também fazemos os nossos próprios vídeos, os quais são depois colocados no Youtube”, contou ainda ao HM.
Estes vídeos, sem nenhum objectivo de lucro, pretendem apenas chamar a atenção do público e muitos deles são um verdadeiro sucesso online. Colocar estrangeiros a residir em Macau e a experimentar comidas tipicamente chinesas é um vídeo que mostra esse lado de entretenimento da “Shoot and Chop”.
“Para além de tentarmos tornar isto rentável também queremos ter espaço para fazer as nossas próprias coisas e é aí que entram esses vídeos. Não temos quaisquer lucros com esses vídeos mas temos paixão na criação de novos conteúdos e no desenvolvimento de novas ideias para as pessoas de Macau”, explicou Kenny Leong.

Pouca aposta em Macau

A Iwin Kwok cabe a parte de lidar directamente com os clientes e gerir toda a parte logística à qual uma empresa está obrigada. Kenny Leong apenas dá largas à sua imaginação, sendo director para os conteúdos criativos.
“Esperamos que as pessoas tenham interesse em seguir os projectos da nossa empresa, no nosso canal do Youtube e no Facebook também. Também estamos à procura de novos projectos e de encontrar patrocinadores para esses vídeos, porque achamos que podemos criar algo”, disse Kenny Leong.
Iwin Kwok assume que uma das grandes dificuldades de manter uma empresa em Macau é lidar diariamente com a competição que vem da região vizinha. “Nos últimos anos os meios de comunicação de Macau têm estado muito ligados às produções de Hong Kong, incluindo o próprio Governo e a indústria dos casinos. Mas porque é que as empresas locais não podem fazer esse trabalho? São profissionais e tudo mais, mas porque não dão mais atenção às empresas locais? Nós estamos à procura de mais oportunidades e esperamos que compreendam que em Macau também se fazem bons vídeos.”
Kenny Leong explica, contudo, que o mercado audiovisual local tem vindo a amadurecer. “Vemos mais produções de vídeo do que víamos antes e o mercado está a amadurecer, inclusivamente no mundo online. Estamos a receber mais atenção. Estamos num mercado pequeno, mas penso que as ideias podem fazer tudo. A partir do momento em que se colocam as coisas online se as pessoas gostarem é tudo mais fácil. Também queremos fazer coisas que possam surpreender as pessoas.”
Misturar o lado lúdico com a parte profissional é a aposta da “Shoot and Chop”. “A Shoot and Chop serve para termos a coragem para fazer algo de louco e dizer coisas que os outros não querem dizer. Mas para ter uma empresa termos de ter algo mais do que fazer coisas malucas. Também queremos criar conteúdos de forma profissional para potenciais clientes. Temos duas direcções e isso é importante para que não sejamos apenas divertidos”, disse Kenny Leong.

27 Abr 2016

Lembranças de longe: ou a música chinesa de intervenção 遥远的呐喊

*Por Julie O’yang

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]ste ano comemora-se o 50º aniversário do movimento, formalmente designado por Grande Revolução Cultural Proletária, que teve uma duração de 10 anos.
A Revolução Cultural começou oficialmente em Maio de1966, quando Mao Tsé Tung lançou um ataque contra os seus adversários na liderança do Partido Comunista e promoveu uma vaga de crítica estudantil à classe docente. A década sangrenta e anárquica que se seguiu desacreditou o líder aos olhos de muitos chineses e abriu caminho às reformas económicas levadas a cabo por Deng Xiaoping, após a morte de Mao.
A última revolução do Presidente Mao tornou-se um dos acontecimentos mais controversos na história da China moderna. A campanha política desencadeada a nível nacional, e que incentivava a juventude e a classe trabalhadora a rebelarem-se contra o aparelho de Estado resultou, em finais de 1966 e durante o ano de 1967, em confrontos violentos entre as diversas facções. Para restaurar a ordem Mao convocou o Exército de Libertação do Povo o que deu origem a um período de grande repressão. Muitas das pessoas que apoiaram Mao no início da Revolução Cultural acabaram posteriormente por ser seus mártires.
A Revolução Cultural deixou traumas e feridas profundas. Foi preciso esperar pela década de 80 para que muitas das vítimas pertencentes às elites política e intelectual fossem reabilitadas pelo Partido Comunista e para que decisões dos Tribunais contra cidadãos comuns fossem revistas. No entanto, ainda hoje em dia muitas das pessoas ligadas a antigas facções se sentem discriminadas pelo PCC, o que faz com que seja tabu falar sobre a Revolução Cultural. O Partido evita o assunto e prefere falar sobre a abertura da China, as reformas económicas de Deng Xiaoping, e por aí fora. A censura dificultou desde sempre uma discussão pública e aberta sobre o assunto e o povo, quer por ignorância, no caso dos jovens, quer por apatia, no caso das pessoas de meia idade, evita-o. A crítica pública de matérias sensíveis não é tolerada. No entanto, em privado, as línguas soltam-se com mais facilidade.
Num reality-show, em Novembro do ano passado, um homem grisalho pegou na guitarra e fez ouvir o seu lamento, numa canção em que falava da morte do pai e da dissolução da sua família durante a Revolução Cultural. Yang Le楊樂,conhecido como o Johnny Cash chinês, actuou ao vivo, demonstrando publicamente uma rara expressão de dor por um dos mais trágicos episódios da história recente da China.

A canção de Yang Le, “Desde então” 從那以後 diz o seguinte:
bit.ly/1SvPTB8

Letra:
Quando era criança,
Eramos seis,
Irmãos e irmãs mais velhos, eu era o benjamim.
O pai era belo e valente,
A mãe, jovem e linda.
Trabalhavam honradamente e eram bondosos,
Depois da Revolução Cultural, ficámos apenas cinco.
O pai, vítima de um erro, acabou por morrer.
A mãe não teve alternativa, casou com alguém doutro lugar.
Os meus irmãos espalharam-se por montanhas e vales.
Desde então, a minha família dispersou-se,
Irmãos e irmãs pelos quatro cantos da Terra.
Nos feriados, só podíamos enviar lembranças de longe
Lembranças de longe,
Lembranças de longe,
Muitos anos depois, ao olhar para trás,
Meus irmãos e minhas irmãs, não precisamos de nos consolar,
Todos nos lembramos, o Pai queria que fossemos honestos e amáveis,
Nunca devemos mudar.
Lembramo-nos, a Mãe queria que fossemos fortes
E felizes
Mesmo hoje,
Cantamos a canção preferida dos nossos pais
Fortes e felizes
Amáveis e Honestos
Cantamos a canção preferida dos nossos pais
Bons e Amáveis
Com vidas felizes

É preciso mencionar que Yang Le foi descoberto num programa de televisão apresentado pelo célebre Cui Jian, o Godfather of Chinese rock-n-roll (saiba mais em:on.wsj.com/1WFOF6c), que em 1986 agitou as águas e expressou os sentimentos de toda uma geração com a sua canção icónica Nada Em Meu Nome 一无所有, que pode ser ouvida aqui:
bit.ly/1rl1p6B
(A letra encontra-se no link do youtube)

27 Abr 2016

UE / Relatório | Macau continua “vulnerável” ao branqueamento de capitais

Poucas medidas contra a corrupção, falta de disponibilidade para trocas financeiras e ainda muita vulnerabilidade ao branqueamento de capitais devido à dimensão do mercado do jogo. É assim que a UE vê Macau e analisa o território no último relatório anual da Comissão Europeia, onde aponta a dependência da China e a falta de leis específicas

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau continua a ser vulnerável ao branqueamento de capitais e, apesar de ter tomado algumas medidas contra a fraude fiscal, há políticas pouco concretas face ao combate à corrupção. É a análise da Comissão Europeia sobre Macau, publicada ontem no Relatório Anual de 2015, onde o organismo frisa também que o território não se mostrou ainda disponível para assumir compromissos em matéria fiscal.
“Macau respondeu ao apelo global à tomada de medidas contra a fraude fiscal. Em Setembro de 2014 o Governo anunciou que ia adoptar a norma mundial para a troca automática de informações de contas financeiras elaborada pela Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económicos (OCDE) e apoiada pelo G20. (…) [Mas], contrariamente à China continental, Macau ainda não confirmou a sua disponibilidade para aplicar a Convenção Multilateral sobre assistência administrativa mútua em matéria fiscal da OCDE e, em consequência, não aderiu ao Acordo Multilateral entre Autoridades Competentes que prevê uma norma comum de comunicação, de que todos os Estados-Membros da UE são partes”, relata a UE.
A Comissão frisa que as autoridades asseguraram que iam legislar de forma a que as instituições financeiras fossem obrigadas a “lançar procedimentos de vigilância da clientela” a partir de 1 de janeiro de 2017, mas dizem que tal não aconteceu.
Da mesma forma, a UE fala na assinatura de acordos “históricos” entre Macau e China para evitar a lavagem de dinheiro. Mas também esta matéria é alvo de críticas. “O novo acordo de cooperação assumiu a forma de um memorando de entendimento entre a Autoridade Monetária de Macau (AMCM) e o Banco Popular da China. Alguns observadores criticaram o acordo pela sua falta de clareza e de pormenor e questionaram a legitimidade da entrega de informações pessoais sensíveis por parte da AMCM ao Banco Popular da China”, relembra a UE, que acrescenta que “Macau continua vulnerável ao branqueamento de capitais porque o enorme sector do Jogo oferece vias para a saída ilegal de dinheiro da China continental”.
A UE diz também que Chui Sai On “definiu poucas medidas concretas no tocante ao desenvolvimento institucional e ao sistema judicial e a medidas de luta contra a corrupção”. Salientando o relatório do Comissariado contra a Corrupção de 2014, a UE frisa que as principais violações à lei foram cometidas por funcionários públicos: de abuso de poder a desvio de fundos, foram vários os crimes, que aumentaram ainda mais este ano – de acordo com o mais recente relatório do CCAC publicado pela imprensa local.

Politicamente incompletos – Falta de leis específicas e de sufrágio continua a merecer críticas

Para a União Europeia (UE), o princípio de Deng Xiaoping, “Um país, dois sistemas”, continua a “produzir bons resultados”, mas a falta de sufrágio directo continua a ser um problema por resolver no cenário político da RAEM. No Relatório Anual da Comissão Europeia para Macau, a UE aponta ainda o dedo a questões que têm levantado polémica ao nível internacional, como a discriminação sexual e a recusa do Governo em criar um organismo independente para a defesa dos direitos humanos.
“Pela terceira vez consecutiva, o Chefe do Executivo foi eleito sem contestação uma vez que era o único candidato à eleição para o lugar. Apesar de a Lei Básica de Macau e outros actos legislativos não preverem a possibilidade de sufrágio universal, a UE incentiva as autoridades de Macau a estudar formas de promover um maior envolvimento público na eleição do Chefe do Executivo, contribuindo assim para reforçar a legitimidade do posto, aumentar o apoio público e reforçar a boa governação”, aponta a UE.
Notas positivas para a criação de um salário mínimo para trabalhadores da limpeza e segurança e a contratação de “mais de 500 pessoas para trabalhar” no hospital público e centros de saúde, bem como o facto de os direitos e as liberdades da população “continuarem a ser respeitados”. Mas, nem tudo são rosas aos olhos da UE.
“O Governo continua a opor-se à sugestão do Comité das Nações Unidas contra a Tortura de criar um organismo independente de defesa dos direitos humanos, alegando que esta recomendação não se aplica a Macau Região Administrativa Especial”, indica a Comissão. “Persistem as preocupações no que se refere à discriminação em razão da orientação sexual e da identidade de género, especialmente em matéria de emprego, educação e cuidados de saúde”, frisa ainda.
A Comissão relembra a aprovação da Lei de Combate à Violência Doméstica como “um passo positivo”, mas também recorda o facto de os casais do mesmo sexo não estarem nela incluídos.
“É necessária mais legislação para promover a igualdade de género, por exemplo em matéria de assédio sexual”, refere ainda o relatório, que dá conta da ausência de uma lei para a licença de paternidade.

Lei Sindical, o eterno monstro

A UE anota ainda que Macau continua sem legislar os princípios de liberdade de associação e de negociação colectiva, consagrados nas Convenções da Organização Internacional do Trabalho e na própria Lei Básica.
“As propostas de legislação sectorial sobre os sindicatos e a negociação colectiva têm sido repetidamente rejeitadas na Assembleia Legislativa. Os trabalhadores são livres de participar em actividades sindicais e em acções laborais mas não estão ao abrigo de retaliações. O artigo 70.º da [Lei Laboral] permite ao empregador pôr termo ao serviço de um empregado sem justa causa mediante uma pequena indemnização pecuniária”, recorda a UE. Esta tem sido uma promessa do Governo, mas apenas no que refere a estudos. Da parte dos deputados que rejeitaram as oito tentativas de aprovação de uma Lei Sindical chega a justificação de que é o Executivo quem tem de pôr mãos-à-obra.

Mal, mas nem tanto – Comissão Europeia fala de “profunda recessão económica”

A União Europeia considera que Macau “mergulhou numa recessão profunda em 2015”. Dando como justificação para a análise a queda das receitas, que diminuiram 34,3%, e do PIB, que desceu mais de 20%, a Comissão Europeia indica ainda que “esta diminuição das receitas significa que a dimensão do mercado de Macau comparativamente a Las Vegas diminuiu de um factor de 7 em 2014 para 4,6 no ano passado”.
“Uma vez que o imposto sobre o jogo gera a maior parte do total das receitas fiscais, o declínio significativo do sector traduziu-se numa diminuição correspondente das receitas fiscais em 2015. Nos primeiros dez meses de 2015, as receitas orçamentais totais diminuíram 29,7 %, chegando a 109,8 mil milhões de patacas”, relembra a Comissão, que frisa a necessidade de terem sido aplicadas “medidas de austeridade”.
Recorde-se, no entanto, que o Governo gastou menos de metade das receitas fiscais durante os últimos cinco anos, tendo acumulado reservas no valor de 345 mil milhões de patacas. Algo que, para a UE, “coloca o território numa situação confortável para fazer face a flutuações económicas”.
O Relatório Anual da Comissão Europeia para Macau aponta ainda que a “situação do sector do turismo foi pouco animadora”. A razão? A descida no número de visitantes, que foi de 2,6 % para 30,7 milhões no ano passado. Mas a UE salienta também o aumento do consumo privado e das despesas públicas, uma taxa de desemprego menor que 2% e um crescimento do investimento graças à construção de novos casinos no Cotai.

Dependentes da mamã

A dependência da RAEM do continente é um dos focos no Relatório Anual da Comissão Europeia sobre Macau, que diz que o território continua a precisar da China, tanto ao nível da economia, como dos terrenos e até do ambiente. “A integração e a cooperação económica de Macau com a China continental avançaram rapidamente, sobretudo na província de Guangdong, o que ajudou a ultrapassar a escassez de terrenos e de recursos humanos em Macau”, mas o território “tem de se modernizar e a sua eficácia deve ser reforçada”, indica a UE, que diz que estão a ser dados os primeiros passos nesse sentido, com o anúncio da reforma administrativa. A necessidade de cooperação regional, nomeadamente com o continente, é apontada no relatório até no que diz respeito ao ambiente, além do papel de plataforma de Macau. “As autoridades da RAEM consideram que a cooperação regional é fundamental para a melhoria do ambiente. Macau tem um espaço limitado para instalar centros de reciclagem e poderá ter de depender de terrenos cedidos pelo continente para o efeito.”

Energias positivas

Não obstante a “forte contracção da economia macaense”, o comércio bilateral entre a UE e Macau aumentou substancialmente durante 2015. É o que diz a UE, que fala num aumento de quase 40% na troca comercial de mercadorias, que “atingiu 851 milhões de euros”. Ainda que a Comissão Europeia frise que a desaceleração da economia de Macau em 2015 “teve um impacto nos interesses comerciais e de investimento da UE e nos lucros das empresas europeias”, a Europa mostra-se “disposta a colaborar com o Governo nos esforços para diversificar a economia”, até porque a UE registou um excedente comercial com Macau de 660 milhões de euros e continuou a ser o segundo maior fornecedor de Macau depois da China. “As relações bilaterais entre a UE e Macau continuam muito positivas”, indica a Comissão, que tece ainda críticas positivas ao Programa Académico da União Europeia (EUAP), da Universidade de Macau, face às actividades relacionadas com a UE.

27 Abr 2016

Zhang Bin, pintor : “Encontrei neste trabalho um esconderijo”

“O Sonho do Pavilhão Vermelho”, de  Cao Xueqin, foi a obra literária que serviu de inspiração a Zhang Bin, para que começasse a pintar. O artista diz ter encontrado neste trabalho uma utopia para fugir às questões políticas da China e à rotina do dia-a-dia, ainda que veja no continente uma sociedade mais desenvolvida. O trabalho ainda não acabou, mas até 19 de Maio vai poder ver algumas das pinturas na Casa Garden

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]asceu em Harbin, no norte da China, uma cidade também conhecida pelo frio e brancura. O que veio desses tempos para o seu trabalho?
Sim, nasci em Harbin e já na altura passava o tempo a desenhar as montanhas cobertas de neve. Por outro lado, Harbin também pode ser considerada um lugar de passagem, por onde circularam vários povos diferentes que com eles trouxeram novas culturas, ideias e cores. Era uma espécie de “colónia”. Por lá passaram judeus da Europa que deixaram características, por exemplo, na construção. Passaram também russos e japoneses que deixaram a sua marca cultural. Neste sentido até se poderia fazer uma comparação com Macau, enquanto ponto de passagem e cruzamento entre diferentes povos provindos de diversas origens e que me deram acesso também a uma grande variedade humana e cultural. Como fica no norte da China, também é uma região com estações muito distintas e com elas a paisagem também adquire uma riqueza de cores particular a cada estação. Este factor também foi muito importante para a minha criação artística, na medida em que me deu oportunidade de começar a sentir as cores. Aos 20 anos fui para Pequim, para a Universidade, e foi a partir daí que comecei a utilizar outras técnicas e que comecei a pintar a óleo.

Também é um conceituado designer de palco. Que ligação há entre a cenografia e a pintura?
Durante os cinco anos em que frequentei a Universidade em Pequim onde me licenciei em Design de Palco, tive oportunidade de ter um treino, apesar de não muito longo, muito intensivo, na área da pintura, onde aprendi a técnica de pintar a óleo e onde tínhamos formação no desenho de modelo clássico. Por outro lado, a minha formação em Design de Palco acrescentou-me um espaço para uma outra dimensão da imaginação que posteriormente transportei para a pintura. O pensar um palco também é uma ajuda a alargar a criatividade e a visão para que depois tenha um conteúdo adicional para o trabalho de pintura.

“O Sonho do Pavilhão Vermelho” é uma das quatro grandes obras clássicas da literatura chinesa. É também uma obra muito explorada tanto internamente como no estrangeiro. Porquê voltar a interpretá-la?
Já entes de me dedicar à pintura era um grande apreciador da mesma. Frequentava muitas exposições mas, no entanto, não encontrava nada em especial que me inspirasse para pintar. “O Sonho do Pavilhão Vermelho” é de facto uma das quatro grandes obras clássicas da literatura chinesa e, para mim, a melhor de todas. Foi nesta obra que encontrei a possibilidade da imaginação e inspiração que ainda não tinha encontrado antes. Também acho que é uma obra importante até no desenvolvimento da arte contemporânea que junta elementos factuais a imaginários, assentes em características tradicionais não só da cultura chinesa como ao nível estético da paisagem característica dos clássicos chineses. Já foram realmente feitas diversas abordagens, do teatro à ópera e estudos culturais ou vários tipos de dramatização. Eu peguei no óleo e fiz uma série de pinturas baseadas nos cenários que imaginei ao ler as várias passagens do livro. A utilização do óleo também é uma técnica que acaba por realçar as características das paisagens clássicas chinesas, nomeadamente aquelas que depois da leitura são criadas pela imaginação. Foi o que fiz, criar a paisagem e os seus actores ou personagens.

Há partes da obra que incluem poesia. Isso serviu de inspiração?
[Sim], um outro aspecto consiste no facto de ser uma obra que integra poesia. Em que o autor inicia capítulos com um poema, por exemplo, ou então faz da poesia um tipo de comentário. Estes poemas são para mim muito sugestivos e muito do meu agrado e foi neles que também encontrei grande parte da inspiração que precisava para o meu trabalho na pintura. É uma obra repleta de ideias capazes de pôr a imaginação a trabalhar. A pintura da época também representa um tempo de auge dourado na história da pintura chinesa em que as personagens são inseridas na paisagem natural, o que também é muito característico da pintura tradicional chinesa em que há um mundo entre o céu, o homem e a terra, em que recorro ao óleo para melhor o ilustrar. SOFIAMOTA_ZHANG_BIN

Trabalha nesta obra há oito anos. Porquê tanto tempo? Que desafios?
Fazer este tipo de trabalho também é um tipo de fuga para mim, uma busca do lugar da natureza utópica de modo a fazer face às coisas medíocres do dia a dia, como determinadas situações políticas ou mesmo a mercantilização da arte ou do mercado da pintura que não me agrada nada. Encontrei na realização deste trabalho o que há muito procurava, um esconderijo de tranquilidade e segurança, uma espécie de utopia em que posso viver. Continuo a trabalhar na mesma série. Aqui só estão algumas das obras que fazem parte do meu “O Sonho do Pavilhão Vermelho”. Este livro tem um sentido que não se esgota e, como pintor, trabalhar esta obra é algo contínuo. Noutras áreas esta é também uma obra infinitamente explorada, eu faço o mesmo na minha pintura. Sem fim.

Nesta exposição encontramos uma sociedade chinesa que remonta há 200 anos. Como era e como é?
Ao contrário da sociedade espelhada na obra, agora estamos não num sistema feudal, mas socialista. Faz este ano 300 anos que Cai Xueqin nasceu. A sociedade naquele tempo e no contexto onde se passa o romance era mais realista, até no que se refere à história nuclear à volta dos protagonistas. Apesar de ainda só existir um partido na China, comparativamente a outros países em que existem vários, penso que a sociedade de agora tem vindo a ter um grande progresso. Um outro aspecto é também o desejo de uma sociedade ideal, sem maldade, em que até na perversão poderá haver limitações. O modelo social desta obra agrada-me particularmente. Esta obra reflecte também um processo vital, do nascimento à morte. Para pintar esta obra é necessário o furor do espírito. Gostaria também de passar mais tempo a criar livremente. Pessoalmente também aspiro a afastar-me das banalidades e da mediocridade da vida, o que me é possível fazer enquanto pintor.

Projectos futuros, que continuidades e que mudanças?
Pretendo continuar a trabalhar nesta obra, mas agora de uma forma diferente. No regresso a Pequim se calhar irei proceder a algumas alterações, por exemplo ao nível da paisagem, tornando-a mais abstracta e ambígua. Pretendo também uma melhor representação das personagens, com mais complexidade. Se calhar dar-lhes mais efeitos dramáticos. Dar mais energia vital às minhas pinturas, para que os meus quadros reúnam a vitalidade que pretendo tornando-os mais ricos. Dar-lhe mais vitalidade através da criação de uma estrutura mais complexa e ao mesmo tempo fugir da cultura pop que pessoalmente não gosto e da qual me tento sempre afastar, por ser muito virada para o mercado o que também não me agrada.

27 Abr 2016

Vinte e quatro ou vinte seis?

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]“Dia da Saudade”, 24, como lhe chamam os reaccionários, o (primeiro) “Dia da Liberdade”, 26, como lhe chamam os revolucionários e, pelo meio, outro dia, o 25, que tudo mudou.
Esta semana, neste mesmo jornal, interrogavam-se as pessoas se se devia, ou não, festejar mais o 25 de Abril em Macau. Naturalmente, em Macau, Portugal ou Cochinchina, o fim de uma ditadura que cerceava a liberdade de expressão e encarcerava os que ousavam discutir os princípios políticos do Estado deve ser celebrado.
Todavia, mais do que celebrado, mais do que slogans ocos do género “25 de Abril para Sempre” parece-me essencial que percebamos claramente que legado foi esse do 25 de Abril, se as expectativas geradas (muitas) foram cumpridas e se, no limite, o 25 de Abril tinha mesmo de acontecer.
Para mim existem duas vantagens essenciais que saíram de Abril de 1974: o laicismo e a liberdade de expressão. O resto nunca iremos saber se foram consequências dos tempos, ou da revolução.
Portugal em vez de passar a vida a falar de cravos e de heróis de natureza duvidosa como Costa Gomes, Spínola, Vasco Gonçalves e até Mário Soares entre vários outros, deveria era interrogar-se dos pressupostos que levaram à revolução e se a transição de regime, que começava a tardar, não poderia ter acontecido de outra forma.
Nós temos um hábito secular de nos perdoarmos e mostrar, especialmente a nós próprios, como somos um povo fora de série que faz coisas especiais. Algumas fizemos, sim, como partir mar adentro à procura de outros mundos, apesar das críticas dos cépticos (tão bem imortalizadas por Camões no seu Velho do Restelo), ou termos sido os primeiros europeus, juntamente com a Bielorrúsia, a abolirmos a pena de morte nos finais do séc. XIX. Mas também organizámos o primeiro mercado de escravos africanos em 1444, em Lagos, e mantivemos o negócio por séculos. 27416P18T1
Dourar a pílula é uma especialidade que dominamos. O 25 de Abril não é diferente. Se custa perceber como não foram julgados os criminosos da PIDE que encarceraram e torturaram milhares de pessoas, nem foram assacadas quaisquer responsabilidades políticas a ninguém pelos mesmos factos, também custa perceber como ainda não se debate realmente (42 anos depois!) as verdadeiras motivações de Abril ou as negociatas efectuadas em sequência. Se custa perceber como nunca foi escalpelizado o lastimável processo de descolonização, também custa perceber como o tal Portugal novo, pós-Abril, deixou transformar a sede da PIDE num condomínio de luxo vedando assim as novas gerações à visualização in loco do horror daqueles cárceres. Um apagamento histórico absolutamente inaceitável num país que se diz moderno e democrático.
Para além do laicismo e da liberdade de expressão, o 25 de Abril trouxe outras melhorias de relevo como as férias e respectivos subsídios para os trabalhadores, a aparente igualdade entre sexos e, seguramente, um novo papel para a mulher na sociedade, acesso generalizado à educação mas também originalidades como a desditosa Reforma Agrária que apenas serviu para destruir a produção agrícola nacional, para não falar das não menos célebres nacionalizações.
Quarenta e dois anos depois, as pessoas têm férias, sim, mas somos dos que menos temos na Europa. Também pertencemos ao grupo dos países cujos cidadãos têm menos capacidade para as gozar independentemente de dias e subsídios e, segundo dados do Eurostat, dos que menos viajam para fora do país juntamente com a Espanha e a Roménia. Apenas 10% dos que viajam vão para fora.
As mulheres viram o seu papel reformado mas será que hoje já têm condições de absoluta igualdade perante o emprego? (pergunta retórica) Temos educação acessível mas, mesmo assim, o abandono escolar em Portugal é ainda um dos mais altos da União Europeia.
Em 1974 também se prometia “casa para todos” e todos sabemos como a coisa está.
Quanto mais se olha, mais parece que o 25 de Abril foi apenas uma tentativa de golpe de Estado falhado por militares fartos da guerra. Mas mesmo essa questão, a das colónias, já vinha a ser debatida nos meandros do Governo desde meados dos anos 50, falando-se de Federalismo e até de Independência.
Em 1961, a constituição de um Estado Federal, abrangendo Portugal e as suas colónias, tinha sido publicamente defendida por Henrique Galvão e Humberto Delgado, então exilados no Brasil. Mais tarde, veio a ser o próprio Marcello Caetano, último primeiro ministro do Estado Novo, a defendê-la. Dizia ele em meados dos anos 60 que “para as colónias da África Tropical a era do império ainda não passou. A hipótese federativa, como termo político da evolução colonial, não parece de excluir. É certo que os portugueses não mostraram nunca uma grande tendência para os regimes federativos; mas isso não significa que com o tempo não venham a compreender a sua prática”.
O projecto que apresentou era o de uma Constituição Federal, criando uns “Estados Portugueses Unidos”. Tal modificação constitucional passaria pela transformação do Estado unitário em Estado federal, formado por três Estados Federados (Portugal, Angola e Moçambique), enquanto Cabo Verde receberia o estatuto de Ilha Adjacente e as demais Províncias ultramarinas ficariam com o mero estatuto de Província. Provavelmente, mais tarde ou mais cedo, o sistema evoluiria para independência num sistema “a la Commonwealth” mas, pelo menos talvez tivesse poupado anos de guerra em Angola e Moçambique, talvez a transição tivesse sido mais suave e mais inteligente.
Não pretendo fazer a apologia de Marcello que, por muito visionário que fosse, não foi capaz de perceber o que estava à sua volta, não foi capaz de reformar a seguir ao Salazar, não foi sequer capaz de entender que ir para o Quartel do Carmo era um erro estratégico, ou que entregar o poder a Spínola era a última coisa que deveria fazer, no seu próprio interesse e do país que não pretendia ver cair no caos. Apenas questiono se não teria existido melhor solução para a transição de regime.
Na realidade, hoje no primado da democracia e da liberdade, continuamos dependentes de um sistema de clientelismo muito ao género da I República como Vasco Pulido Valente salienta: “desde a consolidação da monarquia liberal que o jornalismo e a literatura bramiram contra a compra do eleitorado por “favores” do governo, empregos, dinheiro e privilégios. Desde Herculano e Júlio Dinis, que sempre se esquece, até Ramalho, Eça, Fialho e, claro, os “neogarrettianos”, não houve cão nem gato que não condenasse os partidos por se alimentarem de “dependentes do Estado”. Os milhares de páginas que se escreveram contra esta ficção ou, se quiserem, contra esta fraude constituem a mais longa e coerente tradição política portuguesa. A República com a sua violência e o seu compadrio confirmou com vigor tudo aquilo em que o país piamente acreditava. E Salazar, ao contrário da lenda, assentou a sua ditadura num apetite geral de um “pulso forte” que servisse a “nação” e desfizesse as clientelas”. Ou seja, virámos o disco para vir a tocar o mesmo?
Mudámos, mudámos muito e muitas coisas para melhor. Mas o mundo também mudou e na maioria dos países europeus para muito melhor que nós ou não continuássemos, apesar de todas as reformas, apertos de cinto e quejandos, com um défice sistemático equivalente a 3% do PIB.
Celebrar Abril, ou seja, a queda de uma ditadura é essencial mas para nada servirá se não formos capazes de o entender em toda a sua dimensão, de nos entendermos em toda a nossa capacidade para perceber se, de facto, ganhámos ou não um país novo.

Música da semana

“The man who sold the world” David Bowie (1970)

“Man is an obstacle, sad as the clown, Oh by jingo 
So hold on to nothing, and he won’t let you down, Oh by jingo 
Some people are marching together and some on their own
Quite alone 
Others are running, the smaller ones crawl
But some sit in silence, they’re just older children 
That’s all, after all” 

27 Abr 2016

Que estamos nós aqui a fazer, tão longe de casa? 10. A empregada do bar

* Por José Drummond

[dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]uarenta e cinco minutos e muitas bebidas depois, levantas-te. Dispersas-te até à varanda do bar e inclinas-te contra uma parede. Acendes um cigarro. Está abafado. Apesar disso tens um blusão de cabedal vestido sobre uma camisa preta. És um homem não muito alto e magro. Quando fumas dá ideia de que estás ainda mais perdido. Imagino que muitas vezes as tuas noites sejam completadas com prostitutas ou mulheres desesperadas e que tu entediado as permitas preencher os seus desejos. Não que me ache desesperada. Mas se calhar estou. Se calhar estamos todos. És um homem que, como defesa, irás  ferir mais os outros do que curar as tuas feridas. Como se as tuas feridas se alimentassem das feridas que infliges. Como se essas feridas fossem a razão da tua existência. Sopras uma nuvem de fumo no ar e vejo-te em profundo suspiro. Vou ter contigo. Sorrio. Mas tu não me vês. Sorrio de novo. Nervosamente. Passando com a mão pelo meu longo cabelo preto que hoje está mais rebelde. Finalmente olhas para mim e é como se o tempo parasse.
Sem que me dê realmente conta da sequência acabo no teu quarto. Um quarto confuso e desarrumado que espelha bem aquilo que sinto passar-se na tua cabeça. As tuas intenções são claras quando me agarras e me empurras para a cama.  Tínhamos acabado de chegar, e, como que apanhado no rodopio da tua própria confusão, paras. Por um momento ficas imóvel como se não soubesses o que fazer de seguida. Tomo eu conta da situação e rapidamente liberto-me da minha camisa, expondo parte dos meus seios por entre as rendas do meu sutiã. Os teus olhos mudam de expressão, como que em surpresa pelo meu movimento rápido.


Lanças-te na cama, cativado pelo inchaço dos meus seios, mal contidos no sutiã. Sem falar aproximas-te de mim e olhas-me profundamente nos meus olhos cor de avelã. Deixo os teus dedos frios acariciar o meu rosto. Os nossos lábios encontram-se, e tu, mordes-me gentilmente o lábio inferior. Sinto o sangue a fervilhar e não resisto ao impulso de te empurrar de leve e rodopiar sobre ti. Agarras a parte de trás da minha cabeça e puxas-me para ainda mais junto.
Com dedos ágeis soltas-me o sutiã, deixando-o cair no chão. Os meus mamilos roçam endurecidos contra a tua camisa. Os teus lábios quentes beijam-me. Sinto o hálito a whisky e tabaco a inundar-me a boca. Os teus dedos acariciam-me os seios e descem lentamente até às minhas ancas. Sussurras que a minha pele macia e quente te está a pôr louco. Os teus lábios descem ao longo do meu pescoço e em modo animalesco voltas a rodopiar assumindo de novo a posição de topo. Eu tento  empurrar-te em falso porque quero que me agarres ainda com mais força. Os teus dedos prosseguem de modo livre o reconhecimento do meu corpo. Solto um pequeno gemido e não consigo resistir à vontade de  te desapertar a camisa e arranhar-te as costas. A tua boca desenha um círculo à volta do meu mamilo direito antes de o chupar fazendo-me gemer ainda mais.
A minha mente está num sentido permanente de rebelião. Preciso disto. Preciso tanto disto. As tuas mãos não param e retiram-me a saia fazendo com que me contorça até aos tornozelos. As minhas cuecas rosa estão húmidas, e  grito quando as tuas mãos acariciam delicadamente o clítoris. Vejo-te sorrir levemente. Pela primeira vez tens outra expressão e toda a tua dor parece momentaneamente esquecida. Observas-me a gemer. Voltas a beijar-me enquanto nos libertamos da roupa restante. A tua erecção está no auge, pressionando firmemente contra o meu corpo. As minhas mãos empurram-te um pouco até que te agarro o pénis. Sinto-o na minha mão a pulsar violentamente. Dirijo-o para o ponto certo. Mordes-me a língua com força quando me penetras. Começas a apertar-me o pescoço. Não consigo respirar. Não consigo gemer. Não consigo fazer nada. Os teus olhos são agora de um animal. Estou perto do clímax quando subitamente te retiras. Olho para ti confusa. Mas essa confusão dissipa-se quando me voltas a penetrar. Choramingo. Recomeças cuidadoso e lento mas, de repente, sinto -te ofegante a aumentar o ritmo, sorrindo, como um louco, sem retirar as tuas mãos do meu pescoço. É neste momento que tudo se torna vago e perco os sentidos…

Dou comigo a abrir os olhos. Estás a olhar para mim. Choras. Como secar uma face cheia de lágrimas? Não sei quanto tempo estive inconsciente. Sinto uma dor na cabeça. As constelações impávidas que antes observei na varanda estão agora esquecidas. Os teus olhos não são duas luas cheias. Leio culpa nos teus olhos. Uma mulher sabe quando um homem olha nos seus olhos e vê outra pessoa. Tu tens problemas. És complicado como a maior parte das pessoas. Uma pessoa difícil de conhecer, de saber o que se passa no teu interior. Sinto os teus sentimentos como um turbilhão com imensas coisas. Ingredientes estragados de um qualquer prato amargo. Não é amor. Tu és o tipo de homem que magoa as pessoas, que as parte, que as danifica. És o tipo de homem do qual  as mulheres devem ficar afastadas. Percebo que tudo foi um erro. Quero-me ir embora. Quero-me levantar. Não consigo. Não me consigo mexer.

27 Abr 2016

Dore | Lesados rejeitam devolução de 20% do investimento

A Dore apresentou uma proposta a duas pessoas para pagar apenas 20% do investimento que por elas foi feito na sala VIP de onde foram desviados milhões de dólares. A ideia é fazer o mesmo com todos a quem falta devolver o dinheiro, mas os lesados não querem

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]empresa de junkets Dore apresentou uma proposta para devolver 20% do investimento que foi colocado na sala VIP do casino Wynn e cujos investidores ficaram sem o dinheiro. Estes não concordam com a proposta e consideram ser necessária uma nova negociação com a empresa.
Ip Kim Fong, porta-voz dos investidores, afirmou ontem ao HM que foi contactado pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), através do advogado da Dore, com uma proposta de recuperação do investimento. Contudo, na prática, a empresa estava disponível a devolver apenas 20% do dinheiro investido a cada lesado. Algo que o porta-voz classifica como “irracional”.
“Isto não é uma resolução do problema. Por exemplo, quem investiu um milhão, só pode recuperar 200 mil dólares. Ninguém aceita receber apenas 20% do seu dinheiro investido”, argumentou.
Ip explicou ainda que, até ao momento, a proposta foi apresentada a dois lesados, os quais já disseram discordar dela ao advogado que representa a empresa. O porta-voz prevê que a proposta possa vir a ser apresentada a todos lesados, mas defende que não pode existir pressão para que os mesmos a aceitem.

Sem controlo

O representante referiu ainda que uma funcionária da DICJ afirmou que o organismo supervisiona a empresa de junkets mas “não tem como controlar as decisões de como indemnizar aos lesados”.  O HM tentou perceber junto da DICJ como é que funciona a situação, mas até ao fecho desta edição não conseguiu resposta.
Até ao final do mês passado mais de 40 investidores receberam o dinheiro investido, sendo que cerca de 60 deles ainda não conseguiram recuperar o dinheiro, que ascende a mais de 300 milhões de dólares de Hong Kong e que terá sido desviado por uma funcionária da empresa.
Ip Kim Fong adiantou que existem ainda outros investidores que ainda não foram contactados por parte da Dore.

Mais denúncias sobre Lojas de Penhores

Chau Wai Kuong, director da Polícia Judiciária (PJ), disse ao canal chinês da Rádio Macau que, até ontem, a PJ já recebeu mais 40 denúncias sobre o caso das casas de penhores. Dois lesados são do interior da China. As autoridades referiram que já estão a investigar o caso como crime de burla, onde estão envolvidos mais de 57 milhões de dólares de Hong Kong. A PJ indica que ainda não deteve ninguém. Tal como noticiado, desde 2007 que quatros casas de penhores na zona da ZAPE angariavam clientes para depositar dinheiro, obtendo juros de 12% ao ano. Em Fevereiro as portas destas lojas fecharam e até então os lesados não conseguem contactar com os proprietários.

27 Abr 2016

Órgãos | Aprovados critérios para a morte cerebral

Indicadas como sendo “um marco no desenvolvimento da Medicina em Macau”, estão criadas as novas regras para definir a morte cerebral. Foram ontem homologadas pelo Chefe do Executivo e entram em vigor daqui a quatro meses. Lei Chin Ion vai ficar responsável pelos exames necessários

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo já aprovou os critérios para a morte cerebral, depois de uma proposta da Comissão de Ética para as Ciências da Vida. Um despacho ontem publicado em Boletim Oficial, e assinado pelo Chefe do Executivo, indica que as novas regras entram em vigor no final de Agosto e são apenas a base para os transplantes.
Em Fevereiro, Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura e também presidente da Comissão de Ética, garantiu que os critérios de morte cerebral iriam ser publicados em breve. As regras, afirmava ainda o responsável respondem “à necessidade do desenvolvimento da Medicina em Macau, sendo por isso um marco no desenvolvimento do transplante de órgãos” no território. Macau recorde-se, nunca fez transplante de órgãos, sendo que os pacientes que precisem de transplantes são enviados para hospitais das regiões vizinhas.
De acordo com o despacho, as novas regras para definir a morte cerebral “requerem a demonstração da perda irreversível das funções do tronco cerebral” e, ao mesmo tempo, “têm de se verificar condições como o conhecimento da causa e irreversibilidade da situação clínica, estado de coma profundo com ausência de resposta motora à estimulação dolorosa em qualquer parte da área dos pares cranianos, ausência de respiração espontânea, (…) ausência de hipotermia, de perturbações metabólicas ou de factores medicamentosos que possam ser responsabilizados pela supressão das funções referidas nas alíneas anteriores”, pode ainda ler-se no despacho.
Num comunicado, os Serviços de Saúde (SS) explicam que nos casos de coma com causa desconhecida, a determinação da morte cerebral não poder ser efectuada. As novas regras vêm também alterar o próprio conceito de morte em Macau: de cardíaca e pulmonar passa também a poder ser detectada no sistema nervoso central. “[Isto] vai ajudar a promover o desenvolvimento das actividades de transplante de órgãos em Macau, concede à família [um maior] alívio e racionaliza o uso dos recursos médicos”, indicam os SS.

Das orientações

É a Lei Chin Ion, director dos SS, que compete emitir as directrizes sobre os exames específicos e a metodologia para a determinação da morte cerebral.
Foi em Novembro do ano passado que a Comissão de Ética aprovou internamente as directrizes e as propôs ao Governo, depois de se ter reunido duas vezes. Esta Comissão existe desde os anos 1990, mas só agora os trabalhos deram frutos: a justificação? A complexidade da questão.
“Uma vez que a morte cerebral envolve os direitos humanos juridicamente protegidos, nomeadamente direito à vida e autonomia, também são de importância crucial e rigorosa a definição dos critérios científicos e os procedimentos que a possam determinar”, indica um comunicado enviado ontem à noite pelos SS.
O Boletim Oficial dá ainda conta que as novas regras entram em vigor daqui a 180 dias, sendo que os médicos e equipas envolvidas no transplante de órgãos ou tecidos podem pedir escusa ou impedimento.
Como o HM avançou no final do ano passado, mais de duas dezenas de pessoas saíram de Macau para poderem receber transplantes, sendo que os SS assumiram na altura não reunir condições” para activar o sistema de transplante na RAEM. O fígado é o órgão mais procurado, mas os SS não avançavam na altura quantos dadores registados existem em Macau ou sequer se há no território médicos especialistas para efectuar as operações. A definição destas regras é apenas um primeiro passo, uma vez que, como indicam os SS, as regulamentações para o transplante de órgãos – onde se inclui a dádiva e a colheita – “serão publicadas oportunamente”.

26 Abr 2016

Violência Doméstica | Apoio a casais do mesmo sexo mesmo sem inclusão na lei

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]lguns deputados pediram a inclusão de casais do mesmo sexo na Lei de Prevenção e Combate à Violência Doméstica, mas ainda assim o Governo não cedeu. No entanto, garante, será dado apoio às vítimas. A garantia consta do parecer da Assembleia Legislativa (AL), tornado público a semana passada e ontem referido pela Rádio Macau.
“Refira-se que o proponente [Governo] manifestou intenção de apoiar eventuais vítimas de violência ocorrida no seio de uma relação entre pessoas do mesmo sexo, independentemente da sua inclusão expressada no articulado”, pode ler-se no parecer, analisado pelo HM.
Assim, o Governo, através do Instituto de Acção Social (IAS), irá prestar todo o apoio necessário. “Segundo o IAS, os actuais serviços prestados [pelo instituto] e pelas instituições de serviços sociais não serão afectados pela definição de membros da família na lei da violência doméstica, podendo também prestar os respectivos serviços ao ofendido que se encontre numa relação de coabitação entre pessoas do mesmo sexo”, explica uma nota de rodapé do parecer. O apoio consiste em acolhimento temporário, assistência económica, apoio judiciário e acesso gratuito a cuidados de saúde.
“Após o debate com o [o Governo], a maioria dos membros da [1.ª Comissão Permanente da AL] foi sensível aos argumentos apresentados. Contudo, alguns dos membros da Comissão manifestaram a opinião que os relacionamentos homossexuais deveriam ser incluídos no âmbito de aplicação da futura lei, em nome do princípio da igualdade (…)”, acrescenta o parecer, que não indica nomes.
Questionada sobre esta contemplação indirecta, a Associação Arco-Íris não se mostrou convencida. “Apesar das conclusões das Nações Unidas que exortam Macau a repor na lei a protecção para casais do mesmo sexo, o Governo insiste em privá-los desse direito. Esta é uma violação dos direitos humanos e essa decisão acaba por justificar a discriminação. Estou bastante preocupado com os desenvolvimentos porque o Governo está a enviar uma mensagem errada à comunidade. Uma mensagem que legitima a discriminação por razão de identidade ou orientação sexual”, afirmou, à Rádio Macau, Jason Chao, membro da Associação.

26 Abr 2016

Corpo e Corpos

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]corpo, o veículo sexual, composto por partes e órgãos com o potencial nervoso para proporcionar dor e prazer, nunca terá sido tão contestado ou discutido como é agora. O corpo que erroneamente objectifica o que somos, apesar de redutor em perspectiva, não deixa de ser o nosso cartão de visita. Por isso, as aparências, por mais superficiais que sejam, continuam a pesar na forma como julgamos e agimos.
Envolvemo-nos com quem achamos simpáticos, divertidos ou amorosos, ao mesmo tempo que os achamos atraentes, bem parecidos ou sexy. E porque estamos cientes dos vectores que levam à atracção e quiçá ao sexo, preocupamo-nos com nós próprios de formas mais ou menos obsessivas. Temos que nos sentir bonitos, temos que perceber o nosso corpo como atraente.
O conceito de imagem corporal e as suas dinâmicas são recorrentemente referidos nos vários veículos de discurso público porque, vivem-se tempos onde existem problemáticas sérias na forma como vemos, sentimos e pensamos o nosso corpo. As doenças como anorexia nervosa ou bulimia poderão ser consequências graves para quem tem uma imagem corporal negativa. Estas são as condições extremas que merecem a atenção de especialistas, mas num grande espectro de gravidade menor, onde a imagem corporal negativa continua a trazer problemas, vivem-se os dramas do desfasamento daquilo que somos, aquilo que achamos ser e aquilo que queremos ser.
Vivem-se tempos onde somos bombardeados por imagens de magreza extrema e exagerada de uma minoria populacional, quando ao mesmo tempo se luta contra a epidemia da má alimentação e obesidade. Vivem-se tempos onde ter rugas é pouco natural e ter pêlos nos sovacos sinal de pouca higiene. Vivem-se tempos de uma expectativa de beleza demasiado rígida e transversal a toda a população, quando no mundo pós-moderno nos definimos pela diversidade. Vivem-se tempos onde nos podemos fotografar e publicar para todos verem e, assim, receber os elogios que precisamos (que a nossa auto-estima precisa) e esperar que ninguém (na necessidade de melhorar a sua) nos ofenda, ou que gozem sem dó nem piedade, pela ‘imperfeição’ percebida. Vivem-se tempos onde há desafios públicos para provar a nossa magreza ou abundância de peito. Nas redes sociais chinesas, mulheres têm-se fotografado com uma folha de papel à frente para provarem que a sua cintura é mais estreita que a largura de um A4, antes disso, propunham-se a fotografar com uma caneta por baixo da mama, porque só quem possuía peitos generosos poderia aguentar a caneta assim mesmo – sem qualquer outra ajuda. Vivem-se tempos onde a imagem das mulheres (e suponho que dos homens também) são digitalmente alteradas para parecerem alguém, tão perfeitinho, que não existe. Vivem-se tempos onde os homens não estão livres de pressões de beleza e que ainda não estão à vontade para falarem sobre isso. Vivem-se tempos onde somos influenciados por um sistema que incentiva e perpetua todas estas percepções e padrões de comportamento. Vivem-se tempos onde existe uma pressão absurda de beleza sobre todos nós, os comuns mortais, que lutam contra (por vezes inevitáveis) lavagens cerebrais.
Não é preciso ser um génio para rapidamente perceber que uma imagem corporal negativa traz consequências ao bem-estar físico e emocional. Esta percepção negativa de nós próprios traz desconforto e estranheza, olhar-se ao espelho torna-se uma tortura e estar socialmente com as outras pessoas será como exercitar meta-meta-cognição em loop ao constantemente reflectir: ‘será que estou/sou atraente?’. A ansiedade será controlada com actos ritualizados de constantes idas à balança, contagem de calorias diárias, planear começo de dietas quase todas as segundas-feiras (dietas absurdas sem hidratos de carbono ou gordura).
A dificuldade será saber como parar estas dinâmicas, as forças sociais que controlam a nossa ligeira obsessão pelo irreal físico. Para que não nos rotulem de vítimas de um sistema, como podemos, afinal, travar o culto exagerado do copo?

26 Abr 2016

Guangdong | Duas residentes burladas na compra de imóveis

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]uas residentes de Macau foram burladas num processo de compra de dois imóveis em Zhogshan, na província de Guangdong, estando o caso em processo judicial. Segundo o jornal Ou Mun, as duas residentes, de apelidos Choi e Chong, decidiram comprar dois imóveis para fins comerciais na zona de Tan Chau em Zhongshan, com o auxílio de uma agência imobiliária de Zhuhai. Enquanto uma queria residir e fazer negócios na cidade chinesa, a outra queria apenas fazer um investimento. Cada compra foi de 800 mil yuan.
Quando Choi se decidiu pela compra sabia que outra pessoa já tinha pago um depósito, mas o agente explicou que o pré-pagamento que Choi iria fazer era mais elevado do que o depósito, pelo que ficaria com o espaço reservado. Ao jornal Ou Mun, Choi disse que todos os pagamentos e negociações foram feitos fora do horário normal de funcionamento da agência.
Em Setembro de 2014, quando assinaram os contratos, descobriram que os imóveis comprados eram, na verdade, lugares de estacionamento e que era essa a descrição que constava nos contratos. O agente garantiu que a concessão para imóveis com fins comerciais é de 50 anos, sendo de 70 anos para lugares de estacionamento. O mesmo agente deu-lhes garantias de forma verbal de que não haveria qualquer problema.

Lei omissa

Após o regresso a Macau, e depois de verificadas as escrituras, as duas mulheres decidiram questionar as autoridades da China sobre o processo de venda. Aí foi-lhes dito que as garagens nunca teriam outra finalidade, tendo as proprietárias decidido avançar com o caso para tribunal no continente.
Choi e Chong exigiram o reembolso do dinheiro, sendo que o vendedor dos imóveis não aceitou. Tanto as autoridades de Zhuhai como de Zhogshan afirmaram não poder tratar do caso, confirmando que há muitos casos semelhantes a ocorrer no interior da China sem consequências, por se tratar de uma lacuna na lei.
O caso foi parar ao tribunal em Novembro de 2014, tendo vencido na Primeira Instância. Contudo, o vendedor decidiu apresentar recurso. Outro residente de Macau também terá sido vítima num caso semelhante e o território também nada pode fazer.

26 Abr 2016

Estaleiros de Coloane podem ruir “em breve”. DSAMA realoja moradores

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m dos estaleiros da vila de Coloane poderá cair em breve, admitiu a Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA). O organismo pediu aos moradores que vivem ao lado dos estaleiros de construção naval para deixarem as suas casas temporariamente, sendo que o Governo já lhes garantiu residências temporárias.
Segundo o canal chinês da Rádio Macau, os Bombeiros receberam uma chamada ontem de manhã que indicava que um dos estaleiros do Lei Chi Ven, de nome “Lok Hap”, vai ruir em breve. As Obras Públicas já tinham previsto o risco de queda e por isso, o acesso foi bloqueado. Neste momento, a DSAMA realojou cinco famílias.
Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, também foi ontem ao terreno para acompanhar a situação com representantes do Instituto Cultural (IC). “O Governo já arranjou assistentes sociais para ajudar os residentes e vai discutir com os departamentos das Obras Públicas sobre o caso” defendeu.
O Secretário sublinhou ainda que o Governo já conseguiu a propriedade dos três estaleiros e planeia a revitalização do local, que espera que possa ser concluído dentro de dois anos.
Uma das famílias disse aos média chineses que estaria “a viver em casa de familiares” e que não sabia quanto tempo teria de esperar para que a solução fosse resolvida.
A DSAMA e a Direcção dos Serviços dos Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) já tinha pedido ao responsável do estaleiro que fizesse a manutenção do espaço, sendo que este chegou a garantir ao Governo que o iria fazer “a curto-prazo”, mas até hoje nunca mais houve novidades.

26 Abr 2016

Dois filmes peculiares, Shirley und Victoria

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]hirley Visions of Reality, 2013, de Gustav Deutsch, é peculiar a vários níveis. O seu programa consiste na animação, lenta, de um grupo de 13 quadros de Edward Hopper. A partir de cada um deles o realizador inventou uma ficção que rodeou de apontamentos históricos de época, desde os anos 30 aos anos 60, e que no seu conjunto contam uma história atraente sobre uma mulher determinada. Uma peça de teatro para dizer a verdade – porque esta mulher é uma actriz de teatro.

A introdução de uma dose significativa, num texto que não é muito extenso, de aspectos políticos, como referências à Guerra do Vietname ou às famosas delações de Elia Kazan, poderá chocar alguns puristas mas constitui uma adição enriquecedora a quem não se deixar prender por parvoíces.

A outra peculiaridade, que é a mais impressionante e a que marca verdadeiramente o filme como um objecto fora do vulgar é o seu aspecto visual – um conjunto de quadros, feitos em estúdio, em que o cenário e as figuras têm uma textura impressionantemente pictórica. Por isso é que estas são visões, visões da realidade que Deustche constrói. Não sendo particularmente sensível à melancolia americana de Hopper, parece-me que prefiro a de Deutsche.

Neles construiu-se um desenho cheio, de contornos muito bem definidos (mais do que os quadros de Hopper) que fazem lembrar a banda desenhada de linha clara e cores fortes, especialmente atraentes no efeito que a luz do sol imprime nos objectos dos vários lugares imaginados (vários deles quartos, lugares de trânsito e sonho).

Se se insiste na descrição do desenho é porque esta é a especialidade que marca o filme, muito mais que a sua mecânica narrativa, e é ela que ficará para sempre na memória e na história.

Shirley é um filme de actriz e a sensualidade e o calor rigoroso dos quadros de Hopper transpõem-se perfeitamente para a figura de Stephanie Cumming, muito bonita, quente mas com a determinação e firmeza de uma mulher com convicções fortes.

Não há muito falou-se aqui de alguns filmes que se relacionam com pintores ou quadros, como sejam Caravaggio, de Derek Jarman, The Mill and the Cross, de Lech Majewski e Mr. Turner, de Mike Leigh e este filme de Gustav Deutsche, mais um filme de um austríaco de que se fala aqui, pode ser visto pensando naqueles e nos modos como o cinema pode falar da pintura (mais do que propriamente sobre os pintores, no fundo muito menos importantes que aquilo que fica).
O que Shirley nos dá é, para além do efeito de novidade, a parte que tem que ver com o cinema, que é muito mais intensa que nos outros filmes que em cima se referem, muito mais que no filme de Lech Majewski (de 2011) que segue uma vontade que por vezes se assemelha a este.

Victoria, 2015, de Sebastian Schipper, figura junto de Shirley porque vem igualmente acompanhado de uma curiosidade técnica, esta a de ter sido todo filmado num take de 138 minutos na madrugada de 27 de Abril de 2014 (Russian Ark, de Sokurov, tem 96 minutos e o filme iraniano de 2013 Fish and the Cat, de Shahram Mokri, tem 134. Há outros).

Victoria passa-se durante parte de uma noite, uma concentração que notara num outro filme de interesse médio que também se prende com marginalidade e que foi há pouco aqui revisto, Catch me Daddy, de Daniel Wolfe. Para criar algum desconforto pode pensar-se igualmente em Kinatay, de B. Mendoza, que acompanha uma inquietante (e sangrenta) viagem perto de Manila e que termina igualmente de madrugada.

Victoria, como o filme de Wolfe e Shirley giram em torno de uma mulher e os dois que aqui se apresentam são realizados por autores de origem germânica, austríaco o primeiro e alemão o segundo. O de Schipper parte da possibilidade de uma fragilidade, a fragilidade de Victoria, uma rapariga espanhola embriagada que não fala alemão e que se vê imersa em aspectos negros da noite berlinense.

É um filme sobre Berlim, um filme sobre um aspecto da cidade, à noite, conduzida por um grupo de “verdadeiros” berlinenses – de Berlim Oriental. Seria interessante perceber a que outra Berlim, menos verdadeira, é que esta visão se opõe.

O que se transforma é o tipo de fragilidades que encontramos ao longo da noite e o que parecia ser apenas uma noite de crime transforma-se numa vinheta comovente sobre a amizade e a fragilidade de quase todos os intervenientes numa dose suficiente de amargura e ingenuidade.

No fim, fica a impressão que com as câmaras de hoje a euforia que se criou em redor do filme de Sokurov, de 2002, deixou de ter razão de ser. Por que não filmar em apenas um take e, como aqui acontece, com diálogos em grande parte improvisados? Já não parece um empreendimento tão difícil.

Isto pode ser entendido como um elogio (porque no filme de Schipper não se nota nenhuma linha forçada de continuidade) ou uma leve desconsideração (porque afinal não é um problema técnico assim tão difícil de superar, as maiores dificuldades situando-se certamente a nível da manutenção de uniformidade a nível da iluminação e da cor e da organização das massas).

Victoria vem provar mais que este é um processo a ser seguido (e se não for num take poderia ser em 2 ou 3 ou 4 como o autor considerou fazer enquanto plano B) do que vem provar que este é um grande acontecimento técnico.
É difícil falar de Victoria sem rodar em torno da sua proeza técnica mas que isso não faça esquecer que tem qualidades a nível da firmeza do desenho da sua protagonista, da cidade de Berlim e dos seus habitantes que justificam a sua visionação. Aproveite-se este filme numa altura em que pouco de interessante parece vir da Alemanha em termos de filmes de larga circulação.

26 Abr 2016

Jogo | Melco e Wynn “correm mais riscos” com promotores de junket

Uma análise da Daiwan Securities diz que as duas operadoras de jogo estão mais expostas à possibilidade de dívidas de junkets por terem uma maior fatia do segmento VIP do jogo

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Melco e a Wynn são as operadoras de Jogo que correm mais riscos de estarem sujeitas a dívidas com junkets. A análise é da Daiwan Securities Group e foi ontem avançada pela agência de notícias Bloomberg.
A empresa de consultoria financeira japonesa explica que a crescente fiscalização do Governo – principalmente depois dos casos de desvio de dinheiro de salas VIP dos casinos – faz com as operadoras tenham mais “mais riscos e mais responsabilidades”. A análise do especialista Jamie Soo, da Daiwan de Hong Kong, considera que a Wynn e a Melco são as operadoras que enfrentam maiores riscos no negócio dos promotores, por terem “as maiores receitas VIP”. São estas salas que reúnem a atenção dos junket.
“Os promotores de jogo, que emprestam grandes fatias de dinheiro aos grandes apostadores, continuam a enfrentar pressões na operação, tendo pelo menos 30 mil milhões de patacas em dívidas e isto sendo conservador”, considera o analista, citado pela Bloomberg. “Este problema continua a ser um grande problema em Macau e está entre os factores-chave para o sucessivo encerramento e fusão das empresas de junket.”
A Daiwan dá como exemplo o caso da Dore, a sala VIP da Wynn de onde foram desviados mais de 300 milhões de dólares de Hong Kong por uma funcionária, e diz que é possível que mais casos como este aconteçam dada a quebra das receitas do jogo.
Recentemente, o Governo deu conta que queria aumentar o capital inicial para a abertura de empresas promotoras precisamente para acabar com esta situação: de cem mil patacas, a proposta é que suba para dez milhões. São as operadoras que têm a responsabilidade de supervisionar e reportar actividades suspeitas relacionadas com os junket que possam acontecer dentro dos seus casinos.

26 Abr 2016

Festival de Documentários continua com histórias de todo o mundo

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Festival Internacional de Cinema Documental de Macau (FICDM) continua na Cinemateca Paixão e hoje é dia de exibição de “Wansai Back Home” às 14h00 e “First Cousin Once Removed” pelas 16h30.
O primeiro é uma co-produção do Japão e Taiwan realizada por Huang Ming-cheng. Wansai é referente aos filhos de japoneses nascidos em Taiwan durante o período colonial. Quase todos os japoneses foram repatriados aquando da rendição, tendo como resultado um conjunto de histórias marcadas pela dor da separação. Esta produção é o resultado de 12 anos de investigação e cinco de filmagens e conta a história dos laços familiares e de amizade que transcendem a vida e a morte. Uma história de descoberta e coragem perante a adversidade.
“First Cousin Once Removed” é uma produção norte-americana de Alan Berliner em que o realizador se propõe a fazer retrato pessoal do seu “bom amigo, primo e mentor” Honig, ao longo do processo de perda de memória deste devido à doença de Alzheimer. Um lembrete acerca do papel da memória na vida de cada um, em que a fragilidade de se ser humano é contemplada. Filmado ao longo de cinco anos, este trabalho documenta “com carinho e compaixão o percurso” de Hodig.

Sessão tripla

Quarta-feira conta com três sessões. “Chuck Norris V Communism” é exibido às 14h00 e tem realização de Ilinca Calugareanu. Uma produção romena, alemã e do Reino Unido, que retrata a vida ou falta dela, reduzida ao isolamento e à censura. A determinado momento foi aberta uma janela a todos os que se atravessem a espreitar um mundo livre quando, em meados dos anos oitenta, mil filmes de Hollywood dão entrada clandestina na Roménia através de uma operação criteriosamente preparada. Estes filmes terão sido traduzidos por uma tradutora destemida que acabou por cativar toda uma nação e ser símbolo de liberdade.
Às 19h30 é hora de “China Heavyweight” de Yung Chang que acompanha o treinador de boxe Qi Moxiang na sua viagem à China rural em busca de crianças que representassem potenciais atletas olímpicos. Neste documentário é acompanhada a sua visita a Huili, na província de Sichuan, onde encontra dois talentos, Miao Yunfei e He Zhongli.
Quinta-feira é dia de “Death Japanese Salesman”, às 14h30, um filme em que Mami Sunada conta a história do seu pai, Tomoaki Sunada. A película é baseada num diário que mostra a vida do progenitor após ter sido diagnosticado com um cancro incurável.

26 Abr 2016