Flora Fong PolíticaFAOM | Encontro de 1 de Maio apela a avanço da Lei Sindical O CPCS já se comprometeu a estudar a criação de uma Lei Sindical, o Governo também, mas esta continua sem ver a luz do dia depois de ter sido chumbada na AL quase uma dezena de vezes. A FAOM quer aproveitar o primeiro de Maio para relembrar a necessidade da lei e até já tem um estudo a caminho [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Federação das Associações de Operários de Macau (FAOM) vai organizar um encontro na Praça do Tap Seac no dia 1 de Maio, apelando à protecção dos direitos dos trabalhadores, de forma a impulsionar o Governo a iniciar os trabalhos relacionados com a Lei Sindical. Numa conferência de imprensa ontem, o director da FAOM, Cheang Chong Seak, apresentou uma série de actividades para celebrar o Dia dos Trabalhadores. Além de um bazar e exposição de fotografias, estas passam por um encontro com outras sete associações da FAOM na manhã do Dia dos Trabalhadores. Entre os pedidos de mais direitos para os trabalhadores locais, destaca-se outra intenção do encontro, que é a elaboração, pelo Governo, de uma Lei Sindical. “A Lei Sindical não é como se fosse uma inundação violenta nem um animal selvagem, é preciso esta lei, como diz a Lei Básica, para que os trabalhadores tenham direito à greve e de negociação colectiva, que são direitos muito importantes”, frisou Lei Chan U, outro responsável da FAOM. Lei Chan U é também um dos representantes dos trabalhadores no Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS) e assegura que estes membros já pediram uma discussão sobre a Lei Sindical em reuniões do grupo, bem como que se façam trabalhos preliminares para legislar este direito. Lei assegura que o CPCS também prometeu que vai pensar sobre se vai ou não discutir esta matéria. A própria FAOM também já iniciou um estudo sobre o direito de negociação colectiva e o resultado vai ser publicado no dia 24 de Maio. Chumbos sucessivos Mais de meia dúzia de projectos de Lei Sindical já foram apresentados por diferentes deputados na Assembleia Legislativa (AL) , tendo todos sido chumbados. A maioria justifica o voto contra com o facto de que deve ser o Governo a avançar com a Lei Sindical, mas o Executivo não se tem mostrado activo. O Chefe do Executivo, Chui Sai On, apontou na semana passada que vai fazer uma “análise geral” sobre o diploma e que é preciso haver consenso sobre o diploma, cuja criação está prevista na Lei Básica. Os responsáveis da FAOM afirmaram que não vão manifestar-se nas ruas mas duas associações da Federação vão entregar cartas na Sede do Governo. Oito grupos garantem presença Segundo o Jornal Ou Mun, pelo menos oitos grupos fora das associações que costumam protestar neste dia já garantiram que vão participar no Dia do Trabalhador. O responsável que lidera o colectivo indicou no último domingo que o protesto vai começar às 15h30, saindo do Jardim do Iao Hon, com destino à Sede do Governo. Combate à corrupção, trabalhadores ilegais, garantia dos direitos dos trabalhadores locais, criação mais habitações públicas e a Lei Sindical, bem como a continuação do Plano de Comparticipação Pecuniária, são algumas das reivindicações dos manifestantes.
Filipa Araújo Manchete SociedadeUrbanismo | Especialistas confirmam falhas por ausência de plano director Um plano que teima em não chegar. O Governo avisou: eram precisos pelo menos três anos para criar um plano director. Enquanto não existe, Macau vai crescendo sem regras e com erros. Arquitectos anseiam o plano director que irá facilitar, articular e evitar muitos problemas [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]uito se fala num plano director e na necessidade de o ter, sendo que a própria Lei do Planeamento Urbanístico define esse mesmo plano como ponto obrigatório. Mas Macau continua sem o ter, o que, para arquitectos ouvidos pelo HM, traz muitos erros no desenvolvimento da cidade. Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, indicou que no final deste ano seria apresentado o plano director, três anos depois da entrada em vigor da Lei do Planeamento Urbanístico. Muito tempo para quem acha que este é um plano essencial para o território. “Este plano [director] irá prevalecer sobre todos os planos de pormenor. A própria lei consagra a necessidade de existir um plano director em Macau, que deve ser revisto de cinco em cinco anos. É algo muito claro”, começou por defender Maria José de Freitas, arquitecta, ao HM. Em termos práticos o “plano director é o que articula todas as partes e todas as zonas da cidade, os sistemas de tráfego, o desenvolvimento social, os números de escolas, a segurança, as infra-estruturas médicas. É um plano tão abrangente e vasto que vai responder pela funcionalidade do território inteiro, e isso é prioritário que esteja consignado”, explicou ainda a arquitecta, para quem “faz todo o sentido” que um dia haja uma “vontade política” e que se “ande com este plano para a frente, colocando-o em prática”. Macau “há muito que espera por este plano”. Ausência preocupante A inexistência deste plano leva Macau a “um lado menos diverso, menos dinâmico”, aponta o urbanista Diogo Teixeira. “Em termos práticos de evolução da cidade, do trabalho dos arquitectos, dos promotores imobiliários, sem um plano director as decisões podem ser sujeitas a uma análise caso a caso e isto afasta-se dos critérios objectivos de decisão. Deixa uma margem mais alargada para quem toma a decisão, mas por outro lado, quem é sujeito a estas decisões não sabe com que linhas se cose”, explicou. Isto pode dar lugar a “algumas tentativas de influenciar decisões”, algo que é “preocupante”. “Nem sempre os interesses de uma empresa ou indivíduo coincidem com os interesses da sociedade”, alertou. Por isso, um plano director vem “defender melhor estes interesses comuns”. Algo que não acontece enquanto o “plano não estiver em vigor”, garantiu ainda o coordenador do curso de Arquitectura da Universidade de São José (USJ). Desorganização social Uma questão que até pode não parecer importante para o dia-a-dia dos residentes de Macau, mas é. A falta deste plano director tem uma implicância directa no quotidiano da sociedade. “Por exemplo, o impacto que podem ter os novos aterros, os fluxos de pessoas [lá] gerados e de trânsito, e quais as consequências que esses fluxos podem trazer. Se fosse estudada à partida, os residentes saberiam com o que tinham de contar. Tudo seria mais articulado”, explicou Maria José de Freitas, frisando que actualmente parece “que surgem ideias avulsas, aqui e acolá, que não estão articuladas entre si”. Tal como Chui Sai On, Chefe do Executivo, afirmou na semana passada durante plenário na Assembleia Legislativa (AL), actualmente as construções são analisadas e projectadas por zonas, por não existir este plano director. Olhando para o calendário da Administração, neste momento é suposto estar a decorrer um estudo “sobre estratégias e desenvolvimento urbanístico”, da responsabilidade do Gabinete do Secretário para os Transportes e Obras Públicas. Segundo a mesma direcção, deve ser apresentado no segundo semestre do presente ano. Ordem na terra Em declarações ao HM, Manuel Wu Iok Pui, membro do Conselho do Planeamento Urbanístico, explica que neste momento o “desenvolvimento do território acontece caso a caso”, cenário que seria diferente caso já existisse um plano director. “Actualmente, com a falta de instruções e informações do plano director, numa mesma zona de construção pode surgir um edifício de 60 metros e ao lado um de 80 metros. Aqui não há violação da lei, mas o plano director irá controlar estes comportamentos. Só seguindo a lei há uma maior flexibilidade das construções, com o plano tudo seria mais homogéneo”, apontou. Para o membro do CPU é preciso que o Governo elabore o plano director “o mais depressa possível”. Opinião também partilhada por “muitos membros do CPU que defendem que o plano director possa ser dividido em diferentes fases e discutidas em Conselho”. Assim, explica, não era necessária a discussão projecto a projecto, mas sim do próprio plano director. Concordando com a arquitecta Maria José de Freitas, Manuel Pui Ferreira considera que Macau sofre de problemas por não ter este plano, dando como exemplo o tão polémico projecto da zona Ramal dos Mouros. “É verdade que o projecto pode ser construído respeitando as três leis [de Terras, do Planeamento Urbanístico e de Salvaguarda do Património], mas o problema é: esta zona é apropriada para receber um edifício com 127 metros?”, argumentou, frisando que o plano director iria trazer a Macau essa resposta. Um cenário diferente Na possibilidade de existir um plano director a funcionar neste momento, explica o membro do CPU, estava ao acesso dos interessados e profissionais directamente ligados ao sector, por exemplo, “o movimento do ar que se faz sentir na zona do Reservatório”. Apontamentos importantes para a construção, que actualmente “não existem”. Também o desenvolvimento de Coloane seria facilitado com o plano director. “Caso [o plano] existisse, tínhamos acesso aos pormenores de toda a área, sabendo quais as montanhas que podem ou não receber construções”, explicou. Um plano director “resolveria ainda questões ligadas ao trânsito, ao movimento populacional e à própria economia da zona”, rematou, frisando que actualmente só se “desperdiça tempo e recursos humanos” na discussão de cada caso, quando poderia existir um plano geral. Altamente necessário Para Larry So não há dúvidas. “Um planeamento de todo o território é muito necessário, para melhorar a coordenação do desenvolvimento e compreende as desvantagens de cada zona”, explicou o comentador político e ex-docente do IPM. Questionado sobre os três anos decorridos desde a aprovação da lei, Larry So considera que este período é “demasiado longo”, mas não tem esperança nas palavra de Raimundo do Rosário e acha que a apresentação do plano não acontecerá ainda este ano. “Isto porque até mesmo o líder do Governo[Chui Sai On] tem esta ‘filosofia’ de que o avanço plano deve acontecer devagar, parece que não há uma urgência neste trabalho”, criticou. A criticar ao Chefe do Executivo está também Au Kam San, deputado da AL, que apontou que Chui Sai On deve ter mais “atenção ao que diz”, pois o seu discurso sobre este assunto pode levar a algumas más interpretações.
Tomás Chio BrevesEstaleiros de Coloane podem ruir “em breve”. DSAMA realoja moradores [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m dos estaleiros da vila de Coloane poderá cair em breve, admitiu a Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA). O organismo pediu aos moradores que vivem ao lado dos estaleiros de construção naval para deixarem as suas casas temporariamente, sendo que o Governo já lhes garantiu residências temporárias. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, os Bombeiros receberam uma chamada ontem de manhã que indicava que um dos estaleiros do Lei Chi Ven, de nome “Lok Hap”, vai ruir em breve. As Obras Públicas já tinham previsto o risco de queda e por isso, o acesso foi bloqueado. Neste momento, a DSAMA realojou cinco famílias. Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, também foi ontem ao terreno para acompanhar a situação com representantes do Instituto Cultural (IC). “O Governo já arranjou assistentes sociais para ajudar os residentes e vai discutir com os departamentos das Obras Públicas sobre o caso” defendeu. O Secretário sublinhou ainda que o Governo já conseguiu a propriedade dos três estaleiros e planeia a revitalização do local, que espera que possa ser concluído dentro de dois anos. Uma das famílias disse aos média chineses que estaria “a viver em casa de familiares” e que não sabia quanto tempo teria de esperar para que a solução fosse resolvida. A DSAMA e a Direcção dos Serviços dos Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) já tinha pedido ao responsável do estaleiro que fizesse a manutenção do espaço, sendo que este chegou a garantir ao Governo que o iria fazer “a curto-prazo”, mas até hoje nunca mais houve novidades.
Filipa Araújo SociedadeIdosos | Criado grupo interdepartamental para a terceira idade O Governo já tinha falado da criação de um grupo focado apenas na protecção aos idosos e ontem oficializou-o. Este vai promover acções com vista a concretizar esse objectivo [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]epois de assumir a necessidade de existir um grupo interdepartamental para discutir os assuntos dos mais velhos, o Governo oficializou ontem, em publicação no Boletim Oficial, a criação do Grupo Director Interdepartamental do Mecanismo de Protecção dos Idosos de Macau. Este grupo de trabalho terá como principais funções organizar, coordenar e promover as acções visando concretizar as metas da política do mecanismo de protecção dos idosos. O envelhecimento da população de Macau é um problema que Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, tem em mãos à espera de resolução. Vagas nos lares, incentivos às famílias que a seu cargo têm os seus familiares, apoios na área da saúde e habitação, entre outros, são apenas alguns dos objectivos do Governo, apresentados nas Linhas de Acção Governativa (LAG). Em termos práticos, o grupo, presidido pelo próprio Alexis Tam, irá criar e promover políticas e medidas a curto, médio e longo prazo, respeitando o Plano Decenal de Acção dos Serviços de Apoio a Idosos, anunciado recentemente pelo Governo. A cooperação interdepartamental assume também funções de assegurar a execução eficaz das respectivas políticas e medidas do plano. Todos por eles O grupo irá ainda realizar uma avaliação faseada das medidas e apresentar “projectos de ajustamento e de optimização do enquadramento da política do mecanismo de protecção dos idosos da RAEM, tendo em conta a evolução do envelhecimento demográfico e o desenvolvimento social do território”, conforme indica o Governo. Pretende ainda atrair a participação das associações e instituições de solidariedade, das organizações não governamentais e de outras entidades privadas de Macau, “na implementação do mecanismo de protecção dos idosos”. Como último ponto, este grupo irá ainda ter a responsabilidade de transmitir a Chui Sai On, Chefe do Executivo, o andamento de todos os trabalhos. Deste colectivo fazem parte representantes, directores e presidentes do Instituto de Acção Social, da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos, da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, dos Serviços de Saúde, da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, do Instituto Cultural, do Instituto do Desporto, do Conselho de Administração do Fundo de Segurança Social, da Academia do Cidadão Sénior do Instituto Politécnico de Macau, da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, do Instituto de Habitação e da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego.
Hoje Macau EventosLe French May | Degas, cinema e muito mais Tem por lema “tocar em tudo” e apresenta diversas formas de arte: do património ao contemporâneo, passando também por vários estilos musicais, a edição de Macau do “Le French May” deste ano inclui esculturas de bronze de Degas, um ciclo de cinema, pintura de Borget e a música clássica de Michel Dalberto [dropcap style=’circle’]L[/dropcap]ançado em 1993 em Hong Kong, como um evento cultural multidisciplinar para a Ásia, o “Maio Francês”, organizado pela Alliance Française, entra agora na sua 24ª edição. Em conferência de imprensa, a organização revelou a intenção de explorar a imaginação de novas regras, novas histórias e novos mundos na pintura, na escultura, no design, música, teatro, cinema e gastronomia sob o tema “Sonhos e Maravilhas”. O programa de actividades de Macau inclui uma mostra da colecção de 74 esculturas em bronze de Edgar Degas: “Figuras em Movimento” estará exposta no MGM de 29 de Abril a 16 de Novembro, com entrada livre. Um recital de piano de Michel Dalberto pode ser visto e ouvido no Clube Militar, pelas 20h00 de dia 2 de Maio. Os bilhetes custam 50 patacas para o recital e 250 com jantar. O evento conta ainda com um ciclo de cinema francês, com a apresentação de oito películas. Intitulado “Sonhos de um outro mundo – Utopias”, tem lugar nos Cinemas do Galaxy, onde está em exibição até 31 de Maio. Os bilhetes custam 90 patacas. Na calha, está ainda uma exibição de pinturas do sul da China de Auguste Borget, que vão estar patentes de 29 de Junho a 29 de Outubro, no Museu de Arte de Macau. FAM e vinho A edição deste ano colabora com o Festival de Artes de Macau (FAM), sendo a partir desse acordo que surge a peça do Disabled Theater desempenhada por actores com deficiências cognitivas. E também o encontro do inovador coreógrafo francês Jérôme Bel e dos artistas do Teatro de Zurique HORA. O Maio francês entrará ainda pelo mundo da gastronomia, com emparelhamentos de menus com vinhos da Alsácia em vários restaurantes locais e a participação de chefs cotados no guia Michelin e vários negociantes de vinho. Para o Cônsul-Geral de França, Eric Berti, “o festival é conhecido por ser um emblema” do país, “na medida em que pugna pela inovação, diversidade e excelência.” Julien-Loïc Garin, o grande responsável do evento, destacou a singularidade das obras que vão ser apresentadas e afirmou que “esperam atrair turistas para região e oferecer mais conteúdo cultural aos residentes locais.” Mais detalhes do evento no seu sítio oficial em www.frenchmay.com.
Tomás Chio BrevesPSP | Agente detido depois de já ter sido suspenso Um agente da Polícia de Segurança Pública (PSP) que estava suspenso das suas funções desde o ano passado por extorsão foi detido por auxílio à imigração ilegal e agiotagem. De acordo com o canal chinês da Rádio Macau, o homem – que estava agora a trabalhar como taxista – terá transportado três pessoas que entraram ilegalmente em Macau, tendo sido detectado pelos Serviços de Alfândega na última quinta-feira. Dois dos ilegais acabaram por fugir mas uma mulher foi detida. Os agentes encontraram os documentos de identificação e cartões bancários no carro, sendo que o agente admitiu que os documentos foram deixados em troca de um empréstimo e iriam ser devolvidos quando os imigrantes saíssem de Macau. As autoridades revistaram a casa do agente, agora taxista, onde foram encontrados recibos de levantamento de dinheiro e um saco de 200 fichas de jogo no valor de 800 mil patacas. O homem está em prisão preventiva.
Andreia Sofia Silva BrevesNovos aterros | AECOM ganha concurso para ETAR A empresa AECOM Macau Companhia Limitada foi a empresa vencedora no concurso público para a Concepção da Estação de Tratamento de Águas Residuais das Novas Zonas Urbanas. Segundo o despacho assinado pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On, o projecto a ser desenvolvido nos novos aterros terá um custo superior a seis milhões de patacas, a serem pagos até 2017.
Hoje Macau BrevesDSAT | Tarifas de estacionamento actualizadas Sete parques de estacionamento público vão actualizar tarifas em Junho, indica a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT). Será a quarta fase da actualização de tarifas dos parques de estacionamento público e, à semelhança das últimas três, as tarifas devidas pela utilização dos lugares de estacionamento destinados a automóveis ligeiros, são, respectivamente, de seis patacas por hora, durante o período diurno, e três por hora durante o período nocturno. Os motociclos e ciclomotores pagam duas patacas por hora durante o dia e uma pataca à noite. Em simultâneo, será ainda cancelado o regime de passe mensal, como já tinha sido anunciado. Esta é a última fase de actualização das tarifas e marca a conclusão do processo de actualização das tarifas de todos os parques de estacionamento público.
Andreia Sofia Silva PolíticaCongelamento de bens | Deputados esperam Comissão “imparcial” Os deputados da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa esperam que a Comissão que vai ser criada pelo Chefe do Executivo no âmbito do congelamento de bens garanta a “imparcialidade” e “justiça” e levantam dúvidas sobre a sua composição [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ara decretar o congelamento de bens a suspeitos de ligações terroristas, o Chefe do Executivo terá de se basear no parecer da Comissão Coordenadora do Regime de Congelamento. Os deputados da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) esperam poder “assegurar um controlo em termos de imparcialidade e justiça” e, segundo Kwan Tsui Hang, ainda mostram algumas dúvidas quanto à composição do futuro grupo. “Esse trabalho vai ser realizado por vários serviços públicos e é necessário uma Comissão com representantes dos vários serviços que vão prestar apoio nesse sentido. A proposta de lei não explica como vai ser constituída. [Os deputados] esperam que o Governo possa explicar o que pensa em relação à criação da Comissão Coordenadora.” De fora deverão ficar empresários ou figuras que não estejam incluídos nos serviços públicos responsáveis pela execução da lei. “A última decisão a ser tomada implica uma investigação e segundo o que ouvimos do Governo vai ser uma entidade com individualidades competentes sobre a matéria, porque há necessidade de cumprir requisitos temporais e tem de ter uma função de controlo para que a decisão tomada seja a correcta. Vão também estar pessoas do sistema judiciário”, garantiu Kwan Tsui Hang. Congelados de fora A presidente da 1.ª Comissão Permanente da AL confirmou ainda que os bens do suspeito que estejam no estrangeiro poderão ser também incluídos no processo de congelamento. “Quando se trata de bens que têm a ver com a pessoa singular ou colectiva e que estão relacionados com o terrorismo e proliferação de armas e a localização principal da empresa pode não ser em Macau, mas tem uma extensão a Macau, esses também vão ser sujeitos a congelamento. Esses bens incluem fundos, numerário e valores imobiliários ou aqueles que possam ser convertidos em dinheiro.” Para além dos pedidos feitos pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), também a própria RAEM pode decretar o congelamento dos bens. Neste caso o congelamento será de dois anos, decisão renovada de forma anual. A deputada Kwan Tsui Hang garantiu ainda que a 1.ª Comissão Permanente vai fazer todos os esforços para ter este diploma concluído até ao segundo semestre, a tempo da avaliação internacional de que a RAEM vai ser alvo neste âmbito.
Hoje Macau BrevesIPIM | Meia centena de bolsas de contacto assinadas O Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) organizou de 5 a 12 de Abril uma delegação composta por empresas de Macau para visitas de estudo e de intercâmbio a Portugal e à Guiné-Bissau. Nesse contexto, o “Fórum Empresarial das Oportunidades de Negócios entre Portugal, China e Região Administrativa Especial de Macau”, realizado em Lisboa, e o “Encontro de Empresários para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, que teve lugar em Bissau, capital da Guiné-Bissau, contribuíram para a realização de 51 bolsas de contacto entre as associações comerciais e empresas da China, dos Países de Língua Portuguesa e de Macau. Estiveram envolvidos sectores da indústria florestal, pesca, castanha de caju, lacticínios, bebidas alcoólicas, materiais de construção, consultadoria de investimento, serviços educativos, serviços financeiros e fomento imobiliário, entre outros. Para além disto, teve lugar, no decorrer do Encontro de Empresários, a assinatura de protocolos de cooperação referentes a 11 projectos.
Flora Fong BrevesSin Fong | IAS já pagou 25 milhões. Acção contra construtor continua O Instituto de Acção Social (IAS) já pagou 25 milhões de patacas em apoios aos moradores do Sin Fong Garden, desde que o edifício foi evacuado em 2012, por estar em risco de ruína. Mas a acção judicial contra a empresa construtora para a recuperação das despesas ainda não acabou. A presidente do IAS, Vong Yim Mui, afirmou em Janeiro deste ano que o organismo vai continuar a atribuir subsídios e alojamentos temporários aos moradores do Sin Fong Garden. Ao HM, o organismo afirmou que até ao momento já pagou cerca de 25 milhões de patacas. Como o HM avançou, as obras de demolição e posterior reconstrução do Sin Fong Garden deveriam começar no final da Primavera ou no início do Verão deste ano, mas o construtor ainda está à espera da emissão da licença de obra pelos serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). A resposta do IAS avançou ainda que a acção judicial que foi apresentada em Outubro do ano passado contra a empresa construtora – a Companhia de Construção e Investimento Ho Chun Kei – para a recuperação das despesas tidas pelo Executivo ainda está em andamento, pelo que o IAS ainda não conseguiu recuperar os 25 milhões de patacas pagos.
Joana Freitas BrevesMais TNR do que no ano passado Macau contava, no final de Março, com 181.436 trabalhadores contratados ao exterior, uma redução ligeira face a Fevereiro, mas um aumento em termos anuais homólogos, indicam dados oficiais ontem divulgados. De acordo com dados da Polícia de Segurança Pública (PSP), disponíveis no portal do Gabinete para os Recursos Humanos, o universo de mão-de-obra importada sofreu em Março uma contracção ligeira (menos 673 trabalhadores) em termos mensais. Contudo, num intervalo de um ano, o mercado laboral ganhou 6512 trabalhadores não-residentes, crescendo 3,7% face a Março de 2015. O universo de mão-de-obra importada equivalia a 45,6% da população activa e a 46,4% da população empregada, estimadas no período entre Dezembro e Fevereiro. O interior da China continua a ser a principal fonte de trabalhadores recrutados ao exterior, com 116.356 (64,2% do total), mantendo uma larga distância das Filipinas, que ocupa o segundo lugar (25.015) num pódio que se completa com o Vietname (14.813). O sector dos hotéis, restaurantes e similares continua a figurar como o que mais absorve mão-de-obra importada (47.441), seguido do da construção (43.708). Os TNR perfazem mais de um quarto da população de Macau: 28% dos 646.800 habitantes estimados no final de 2015.
Hoje Macau h | Artes, Letras e Ideias MancheteNa apresentação de Li Bai – A poesia é o lugar do espírito onde a alma dos povos tem a sua morada Intervenção inédita de Natália Correia sobre o poeta Li Bai (701-762) e a poesia clássica chinesa, na apresentação dos Poemas de Li Bai, trad. António Graça de Abreu, na Missão de Macau em Lisboa, a 6 de Julho de 1990 [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]ui convidada para dizer algumas palavras sobre Li Bai, mas eu não sou especialista em literatura chinesa, sou uma pessoa curiosa como qualquer poeta, e mais nada. Li na imprensa que vinha aqui fazer uma palestra sobre o poeta Li Bai, imaginoso exagero que me força a esclarecer que as palavras sobre esse magnífico anjo abolido da poesia chinesa, as palavras que ouvireis, nem de longe, nem de perto têm uma dimensão palestrante. Feito este esclarecimento que me iliba da precariedade do meu discurso, começo por lamentar que a actividade editorial portuguesa não venha acompanhando a larga difusão que editoras estrangeiras, nomeadamente em Inglaterra, têm dado à literatura chinesa, lacuna porventura ou certamente causada pelo velho fantasma da exiguidade de recursos económicos — para não dizer a palavra exacta que é miserabilismo —, que ensombra a nossa cultura. Contudo, em boa hora desta omissão nos vem ressalvar o Instituto Cultural de Macau, dando-nos a conhecer através da excelente tradução acompanhada de valioso prefácio e notas, de António Graça de Abreu, a poesia de Li Bai. Este poeta é considerado pelo seu tradutor “talvez” o maior poeta da China. A reserva do “talvez” não será alheia ao reconhecimento do génio de outro poeta, Du Fu, coevo de Li Bai no século VIII, ao tempo da dinastia Tang, período de “ouro” da poesia chinesa, florescendo num universo de paixões, refinamentos e extravagâncias que atingiu a perfeição numa produtividade espantosa. A China bem se podia orgulhar de possuir este extraordinário património poético quando o pensamento europeu obscuramente ruminava aristotelismos ou devocionismos agustinianos à volta de sentenças patrológicas. Mas não me cabe aqui dilatar conhecimentos em que não passo de modesta amadora, e que são da área de António Graça de Abreu a quem já devíamos, de resto, o grande préstimo cultural de dar a conhecer, por iniciativa do Instituto Cultural de Macau, a peça de Wang Shifu “O Pavilhão do Ocidente” que também nos convida à humildade de reconhecer que já no século XIII o teatro era um património da cultura chinesa quando na Europa germinava em dramas litúrgicos, tutelados pela igreja. Não resisto a realçar na poesia de Li Bai, esse grande poeta chinês, dois aspectos que algo têm a ver com a nossa literatura. O primeiro constitui um traço importante da poética chinesa enaltecendo como valor supremo da poesia a brevidade, valorizá-la-á mais pelo que sugere do que pelo que diz. A quadra tem assim um relevo muito significativo no discurso poético chinês, pois que cessando a palavra por imposição da economia formal, o sentido prossegue. Ora é de assinalar que esta valorização da quadra dentro do conceito do “pouco que diz muito” é idêntico ao critério que na nossa poética popular elege a estância de quatro versos, a redondilha menor, como a quinta essência da expressão lírica conceptualista e satírica, ou seja, tudo aquilo que realmente traduz o génio português, Um elemento que a sabedoria popular agrega ao valor da quadra é o dom de a improvisar. Do repentismo de Li Bai nos dá notícia o seu tradutor que nos informa que as quadras breves de cinco caracteres por verso eram improvisadas pelo poeta, sendo só depois passadas ao papel. Outro aspecto incide sobre Fernando Pessoa, sobretudo na sua hipóstase Alberto Caeiro. Observa com justeza António Graça de Abreu que este verso de Pessoa, enquanto Caeiro “a vida é sombra que passa sobre um rio” podia ser da autoria de Li Bai. Assim é. E direi mais, a identificação entre a temática da perenidade da sábia natureza e da fugacidade da vida no lirismo de Li Bai, e a tópica que caracteriza a poesia do heterónimo de Pessoa, Alberto Caeiro, mesmo a de Ricardo Reis, pode ser reduzida a este principio taoista “se queres conhecer o Tao, expulsa de ti o teu pensamento, tal como a serpente larga a sua pele.” É o que por outras palavras Caeiro nos diz “compreendi isto com os olhos, não com o pensamento.” Ora neste apelo ao outro compreender que o pensamento interdita, seria de estimar o vinho como desorganizador da máquina pensante. Li Bai – outro paralelo com Fernando Pessoa que era beberrão –, junta assim à glória de astro da poesia chinesa, a fama de emérito beberrão. Fama e proveito pois que na sua errática biografia são pitorescamente frequentes as bebedeiras que o poeta translada, de forma encomiástica, para os seus versos. E nisto, repelindo o moralismo confuciano como muito bem acentua António Graça de Abreu, o poeta Li Bai prossegue na senda da poesia dos taoistas em que anteriormente brilha entre os sete Sábios do Bosque de Bambus o amante do vinho Liu Ling, numa busca da evasão que liberta o espírito dos entraves da visão racional. O fundador do espírito da poética moderna, Arthur Rimbaud, far-se-á eco, sem o assumir, sem o conscencializar, desta conexão da embriaguez e do olhar poético ao dizer “Proceda-se ao desregramento dos sentidos para atingir o desconhecido.” A prática poética do surrealismo que em Portugal foi uma cumeada da poesia das últimas décadas seguiu esse princípio criador do desconcerto dos sentidos que, libertando a imaginação, a investe de plenos poderes. Por fim uma importantíssima e pouco conhecida identidade nos alvores do nosso lirismo, nas Cantigas de Amigo, as paralelísticas, com as poesias chinesas do Shi Jing, o clássico Livro das Odes. O processo rítmico é idêntico e para a semelhança ser perfeita ambas executavam-se por coros alternados. Nas poesias do Shi Jing, tal como nas Cantigas de Amigo, a voz era dada à mulher. Prova-o este poema traduzido para o francês por Marcel Granet: “Oh, tu, senhor de belo rosto, que me esperavas na rua, ai de mim, não te segui… Oh, tu, senhor bem talhado, que me esperavas na sala, ai de mim, não te segui… Compare-se com esta cantiga que Pêro Gonçalves Portocarrero pôs na boca da amiga, como era habitual nas cantigas de mulheres do nosso lirismo medieval, visto que não faziam mais do que reproduzir temas arcaicos, uma poesia arcaica em que era a mulher quem compunha as poesias. Os trovadores eram muito gentis com as damas, como se sabe, de maneira que lhes faziam essa homenagem. Eis, portanto a poesia comparada: O anel do meu amigo perdi-o sob o verde pino e choro, eu, bela. O anel do meu amado perdi-o sob o verde ramo e choro, eu, bela. O facto de uma poesia semelhante à nossa Cantiga de Amigo paralelística ter aparecido na China alguns séculos antes de Cristo tem causado perplexidade aos historiadores, aos investigadores dos cancioneiros medievais. Atenua-se porém essa perplexidade se averiguarmos, como eu averiguei em porfiados estudos, que a nossa cantiga paralelística tem remotas origens, o que é confirmado por Theodore Frinz que enriqueceu os estudos desse lirismo demonstrando que a cantiga feminina é o género lírico mais arcaico com que deparamos nas mais diversas culturas. Pergunto: Um ponto comum, esse perdido ponto do espírito? Um horizonte de poetas, uma desaparecida unidade, todos os povos despedaçados por catástrofes e guerras? A poesia tem direito a admitir que é sua vocação unir o que está separado. E a própria realidade histórica que vivemos nestes dias de aceleradas mudanças aconselha-nos, a nós ocidentais, que abdiquemos desse logocentrismo, dessa encapotada transferência do moribundo imperialismo histórico para o imperialismo do pensamento ocidental que tem dado frutos aberrantes. Vou citar só um. Recordarei o conceito de primitivo adoptado por Lévy Bruhl, nomeadamente no seu livro As Funções Mentais nas Sociedades Inferiores. Pois bem, esse pilar das teorias sobre a mentalidade primitiva tratou, por assim dizer, como primitivos e inferiores todos os antigos povos extra-europeus, incluindo nestes os chineses e japoneses. Importa pois varrer, de uma vez para sempre, das mentes europeias os resíduos deste dasaforado logocentrismo que até se metamorfoseia agora na inculcação de modelos políticos em territórios culturais a que eles são espúrios. O mesmo é dizer que devemos acolher as mensagens de outras culturas como uma dádiva feita ao universalismo que se alimenta de diversidades culturais, políticas e civilizacionais. É dentro deste espírito que deve iluminar todas as nações que saúdo o Instituto Cultural de Macau e o António Graça de Abreu por revelarem aos portugueses os Poemas de Li Bai, expoente da poesia dessa China que, passando por enigmática, nela, poesia, mostra a sua alma, porque a poesia é isso mesmo, o lugar do espírito onde a alma dos povos tem a sua morada. Lisboa, 6 de Julho de 1990 Por Natália Correia
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasUma canção de gesta [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]rimavera sabe a jograis e a mesteirais, a esta saga épica passada entre florestas europeias para ser cantada contra pagãos e muçulmanos a «Canção de Rolando» mais «El Cid o Campeador». A épica medieval sabe-nos sempre a flor de laranjeira e a frutos silvestres no tempo da “flor”. É bonita a ideia de canção, esta noção de que o poema é canto, ritmo e dança, combate, barca que abarca amantes no tempo gentil das cotovias, pois que ninguém vem a terreiro nos mosteiros que têm nome de Rosa nos Invernos duros, dado que aí brilham as sombras e as cinzas que vão também dar origem aos fertilizantes das «Coitas de Amor» fazendo parte da iniciação e do renascimento como um antigo culto Eleusino… Aqui estamos entre cavaleiros, homens de façanhas, servindo causas e combatendo bem ao jeito do belo livro de Sampaio Bruno «Os Cavaleiros do Amor». Numa época em que tudo avança desgovernadamente para uma reabilitação muçulmana, são estes cavaleiros, quase, uma doce memória… a Estação presente agudiza-nos estas temáticas, já que foram estes os Cantares que nos trouxeram até ao que somos e podemos vir a perder. Nós já não dimensionamos o Canto, nem o poema de agora, esse longo fonema, o deseja reabilitar, a nossa acústica está morta para o despertar dos longos encantos. Não há nada que nos sugira um sopro mais abrangente do que a nossa pequena evocação de entes perdidos entre muitos, nem o «Amor Cortês» está valorizado no seu mais nobre apelo de “courtoisie” um enamoramento da exaltação do romance na sua fórmula literária, nem tão pouco a delicadeza idílica parece uma suave explicação… Todos estes estilos se narram em paralelo numa muito feliz manifestação a que até hoje não somos indiferentes e tudo devemos de civilizado: amar, saber amar, era uma disciplina como outra qualquer, há seres com vocação, outros não: saber produzir estímulos será mais uma matéria Pavloviana. Efectivamente estamos num universo em que a noção sexualizante não era marcante, mas sim, o namoro, o desejo, a excelsitude do sentimento como força maior. O resto devia ser um segredo dos amantes. Nós que estamos atentos, entendemos por que é que o poema dura. Estamos na Primavera e longe andam os madrigais e esta «Coita de Amor» que quase nos parece “coito de amor” tal a simbiose fonética onde só o género muda, porém — coita — sofrimento amoroso, cantiga de amor, são os seus sinónimos, esta estrutura, este encaminhamento, e também organização emocional, são as bases da nossa natureza onírica que herdamos e não sabemos desvincular-nos, mesmo que queiramos ser outra coisa, por vários imperativos da vontade encontramo-nos nos “nichos” destes temas, agora tão floridos como outrora. Com o passar dos séculos estas estruturas ritualísticos pareceram-nos cada vez mais ténues, também é certo, quase mesmo, rasuradas, num clima de laicidade tamanha, qual “natureza-morta” cheia de frutos e troféus de caça, mas sem a seiva deste imenso legado: onde estivemos mais perto foi sem dúvida no 25 de Abril que é o grande «Cantar de Gesta» ressurgido, farto e pleno como a germinal Primavera. Muito mais que a queda de um regime, sim! Ali naquele espaço de tempo concentrámos todos os mitos, todas as heranças mais gentis, todo o legado mais civilizador e o amplo amor contido que se fez em todos carne e fruto. Os regimes pouco interessam quando temos a sorte de viver numa vida o conteúdo do melhor de uma Civilização. Sim, e cantámos, e houve Cânticos, e amámos, e houve seiva, e sonhámos, e éramos Gente, e as flores não nos deixavam… Quase digo adeus neste silêncio de barcas naufragadas a esse Touro bendito de escarlate vivo, e a tanta robustez sadia e boa. Todo este canto da «Canção de Gesta» nasce também da singularidade da cultura celta e do mito bretão: da Candelária até à Páscoa assistimos à morte de Artur e só depois ao enamoramento seguido de cópulas festivas, que estão absolutamente inseridas no contexto vibrante do momento. Nós tivemos tanta sorte que tivemos um Maia… nós somos o mito bretão numa alvorada redentora. Camões soube como nenhum esclarecer a boa chegada com sensibilidade medieval, e fê-lo com graça e ainda muito terreno livre para espraiar estes cânticos; campos que se estendem com verdura bela… Há poemas célticos que deviam ser gravados nas rochas… e nem uma folha de carvalho se perdeu em Yeats seu descendente directo. Não raro existe ainda um Mago Merlim viajante nos caminhos por onde passamos procurando o jovem amante, talvez ele se tenha transformado em mago e seja o mesmo em outro tempo. Por cá, fazia Afonso X as Cantigas de Santa Maria e a Primavera chegava para todos como se fosse afinal o verdadeiro Messias, o Cálice Sagrado, a nossa formosa vitória que tinha de ser servida rapidamente antes de tudo abrasar. As Primaveras hoje são árabes e também designam a libertação. Nós suavemente não temos Cânticos que nos retornem à vida dado que o amor nos abandonou (não compreendendo bem o porquê de uma tal desdita) pois não é por amor que as coisas se escrevem: acho que escrevemos para esconjurar o medo. A última grande Primavera foi a última vez que ouvimos a Canção de Gesta sobre a forma de retorno — a Primavera árabe — que tal como nós, algures, despontaram na grande alvorada do tempo. Se estivermos no meio de uma tormenta e a Primavera se for, talvez cantando, todos juntos, possamos trazer à praça do mundo outra realidade, de novo em Abril, e claro, Abril um mês em que se ensaiam os cantares de todos em volta, o mundo em volta chilreia, é uma ave que dança, um céu que acasala, um bosque que busca, e em buscando nos bebe como as coisas mais bonitas. Neste instante somos água correndo nas intempestivas chuvas do mês como lágrimas de uma fonte orgânica carregada de densas fomes, podem mesmo crescer-nos flores entre os cabelos, raízes no peito e ainda escutar um sussurrante Lancelot convidar-nos para a montaria entre um soberbo céu e um pasto verdejante. Como se um a um, os sentidos se organizassem, e todos juntos cantassem de novo um Hino de Vida tão distante… que a própria Primavera se nos consubstancia como um registo da eternidade. E se amor é assim, um duplo instinto melhorado, a Cultura que ele erigiu, fez-nos tão raros, que seria desassossego e praga esquecermo-nos das suas memórias neste momento. Mas lembro-me agora deste verso de Tagore «No Coração da Primavera». Noite de Abril. A lâmpada arde neste meu quarto Que a brisa do Sul Enche suavemente O meu vestido é azul como o pescoço de um pavão, E o manto verde como a erva nova. Sentada no chão, perto da janela, olho a rua deserta…. Passa a noite escura e não me esqueço de cantar: – Sou eu, caminhante sem esperança. sou eu.
Andreia Sofia Silva PolíticaFunção Pública | Governo vai rever lei de atribuição de moradias Sónia Chan, Secretária para a Administração e Justiça, já tinha prometido e agora o Chefe do Executivo garantiu: o Governo vai rever o diploma sobre a atribuição de moradias aos funcionários públicos, para que mais trabalhadores possam estar abrangidos. A deputada Song Pek Kei alertou que a maioria não tem acesso a uma casa do Governo [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hui Sai On, Chefe do Executivo, foi à Assembleia Legislativa (AL) responder a perguntas apresentadas pelos deputados e deixou uma garantia: o decreto-lei que regula a atribuição de moradias aos funcionários públicos, datado de 1996, vai ser revisto, para que mais trabalhadores da Administração possam ter acesso a um apartamento. Sónia Chan, Secretária para a Administração e Justiça, já tinha confirmado esta necessidade e prometido um estudo sobre a revisão ao diploma. Agora, o líder do Governo assegura que vai acontecer. “Acho que há necessidade de rever o diploma que regula a atribuição de alojamento aos trabalhadores. Temos de introduzir os devidos ajustamentos. Reconheço que existe margem para aperfeiçoamento porque todos se preocupam com os altos preços dos imóveis. Por isso constituem grandes preocupações o subsídio de residência e a atribuição de alojamento”, disse o Chefe do Executivo, que prometeu a entrega de 110 casas para o próximo ano. A questão foi levantada pela deputada Song Pek Kei, que já a tinha levantado anteriormente, e que alertou para o facto das casas serem, na sua maioria, acessíveis apenas aos trabalhadores do quadro. “Há dias foi atribuído um concurso para a atribuição de 110 casas a funcionários públicos, mas muitos têm de pertencer ao quadro. Após a transferência a situação mudou e muitos dos trabalhadores actualmente são recrutados em regime além do quadro. Mais de 60% dos trabalhadores não estão no quadro, mas também precisam de uma habitação”, disse. A deputada frisou que estes funcionários “estão a ser alvo de um tratamento injusto por culpa de uma lei desactualizada”. O diploma refere que “ao concurso [para a atribuição de casas] podem ser candidatos os funcionários providos por nomeação definitiva em lugares dos quadros dos serviços ou organismos públicos”. Outras revisões Chui Sai On prometeu também rever o actual subsídio de residência pago a todos os trabalhadores da Administração. “Dentro da capacidade do Governo vamos estudar o subsídio de residência e vou lançar um despacho para proceder a essa revisão.” Em resposta ao deputado José Pereira Coutinho, Chui Sai On prometeu “fazer trabalhos sobre a revisão do regime de carreiras”, além de “ponderar criar residências para os trabalhadores da camada base”. Os Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) asseguraram recentemente que vão propor o ajustamento do salário dos controladores de tráfego marítimo, hidrógrafos e topógrafos, sendo que foi apontado este ano como data para a entrega da proposta de revisão. O tabu da Lei Sindical Chui Sai On foi confrontado com a ausência de uma Lei Sindical em Macau, mas pouco adiantou sobre a possibilidade do diploma ser implementado a curto prazo. “Trata-se de um diploma que já foi reprovado várias vezes na AL, vamos fazer uma análise geral, mas tem de haver consenso e ser aprovada na AL”, apontou. Militarizados | Texto em Junho O deputado Leong Veng Chai quis saber mais detalhes sobre o processo de revisão do Estatuto dos Militarizados, tendo o Chefe do Executivo garantido que o texto da consulta pública será conhecido em Junho. “Precisamos de um regime que regule os benefícios e remunerações das forças de segurança e já estão a ser desenvolvidos os trabalhos para a revisão do Estatuto dos Militarizados. Sabemos que nas forças de segurança há as carreiras de base e superiores, mas há falta de oportunidades de promoção e essa situação vai ser estudada, por forma a encurtar o tempo de progressão e aumento das oportunidades. Em Junho do corrente ano e possível divulgar o texto de consulta em relação a esta matéria.”
Andreia Sofia Silva PolíticaHabitação Pública | Quase dois mil candidatos podem escolher casa este ano [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Chefe do Executivo garantiu no hemiciclo que os 1900 candidatos a uma habitação pública que estão em fase de concurso poderão escolher as casas onde querem viver ainda este ano. “Estão todos preocupados com as 19 mil fracções e comprometemo-nos que este ano podemos concluir a apreciação dos 1900 candidatos e que estes poderão escolher as suas fracções”, frisou. “A política de habitação pública tem a ver com o bem estar de todos. Temos de ajudar as pessoas com necessidades efectivas. O Instituto da Habitação gerou algum tempo de espera aos candidatos e quanto ao concurso de 2013 ainda está a ser feita uma apreciação substancial e encontraram-se alguns problemas com os dados dos candidatos. Houve uma necessidade de maior tempo na análise dos pedidos”, disse. O deputado Chan Meng Kam acusou o Executivo de ter uma política de habitação pública que na prática não funciona. “As habitações públicas estão relacionadas com o planeamento e reserva de terrenos e surgiram diversos problemas que contradizem a política. Há o envolvimento de obras em processos judiciais, os preços exorbitantes praticados pela Administração e a espera de vários anos por uma casa, o que tem gerado o fenómeno absurdo de haver casas sem pessoas e pessoas sem casas.” O Chefe do Executivo voltou a prometer reservar mais terrenos para a habitação pública. “Até agora continuo a achar que as fracções do mercado têm um preço elevado e sabemos que ao longo do último ano se verificou uma descida na ordem dos 20 a 30%, mas para a população os valores continuam a ser elevados. Vamos reservar terrenos para habitações públicas.” Terra de ninguém Chui Sai On respondeu ainda à questão dos terrenos desaproveitados. “Vários ainda estão em processo judicial, mas [quando ficarem concluídos] as habitações públicas serão a nossa prioridade.” Questionado sobre o deputado Au Kam San quanto à conclusão destas medidas até 2019, ano em que deixa de ser Chefe do Executivo, Chui Sai On garantiu que esta política será para continuar. “Independentemente de ser ou não dentro do actual mandato temos feito muitos esforços para oferecer habitações públicas, e quanto aos atrasos não podemos ter toda a responsabilidade. Muitas vezes são questões técnicas e o problema do fornecimento de areia atrasou as 28 mil fracções públicas e as quatro mil privadas. A zona A está atrasada por causa da areia e estamos a solicitar a cooperação de Guangdong e encontrar uma nova fábrica.”
Hoje Macau EventosMorreu o príncipe do Funk, Prince Rogers Nelson Prince não foi apenas um génio excêntrico da música. Muito mais que isso, era um acumular de talentos em pouco mais de metro e meio. Multi-instrumentista, compositor, actor, performer. Cabe-lhe o reconhecimento consensual enquanto um dos mais influentes artistas desde a década de 1970 [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]morte de Prince Rogers Nelson apanhou todos de surpresa, na passada quinta-feira. O príncipe do Funk contava com 57 anos e foi encontrado inanimado no elevador da sua casa-estúdio, em Paisley Park, em Minneapolis, no estado do Minnesota. A morte do cantor foi confirmada à Associated Press pouco depois, pela sua representante, sendo que a causa é ainda desconhecida. Segundo a Reuters, na semana anterior Prince terá dado entrada no hospital com o que seria, supostamente uma gripe, tendo no sábado seguinte dado o seu último espectáculo numa festa na sua própria casa. Segundo declarações de alguns dos presentes e perante alguma preocupação relativa ao estado de saúde do músico, o mesmo terá dito: “esperem uns dias antes de desperdiçarem as vossas orações”. Ao mesmo tempo, alguns dos concertos da digressão “Piano & A Microphone Tour”, também tinham sido recentemente cancelados. Outros sites de música, como o TMZ, dão conta de uma possível entrada no hospital com uma overdose, mas ainda não há resultados dos testes toxicológicos ou da autópsia, sendo que a única coisa que se exclui é que a morte foi provocada por suicídio ou agressão. O cantor, entretanto, já foi cremado no sábado numa cerimónia privada, sendo que haverá um evento público ainda com data a anunciar. Contra a massificação Conhecido também pelas suas excentricidades, os últimos anos de Prince foram marcados pela sua quase “auto-exclusão” da internet e pelo limite de entrevistas que se disponibilizava a dar, bem como a ausência do mediatismo. Por outro lado associava-se cada vez mais a serviços de streaming como o Tidal, em jeito de protesto à massificação da divulgação musical da internet, sendo que actualmente encontrar Prince online, registos de concertos, fotos ou entrevistas não é tarefa fácil, a pedido do próprio artista. No entanto, não é por isso que Prince deixa de ser uma referência da cultura musical, do Jazz ao Funk, contando com inúmeras colaborações e excentricidades, mesmo no que respeita às mudanças que o seu nome sofreu. Prince é sem dúvida um nome a ficar na história da música. Nascido em Mineeapolis, filho de pai pianista e mãe cantora de Jazz, começou a sua carreira no final da década de 70. Pouco depois, em 84, lança “Purple Rain” que marca não só o início do seu sucesso à escala internacional, como ainda a música que lhe valeu o Óscar de melhor banda sonora em 85. O filme homónimo de Albert Magnoli, marca também a estreia do músico como actor. Em 93 muda efectivamente de nome para o símbolo , voltando mais tarde a ser Prince. Da sua carreira contam 39 álbuns, tanto a solo como com a New Power Generation, nos anos 90, ou com Eye Girl, em 2010. Testemunha de jeová, vegetariano, com milhões de discos vendidos e sete grammys amealhados, Prince tinha o lançamento das suas memórias anunciado para o próximo ano.
Hoje Macau EventosOrquestra de Macau celebra Shakespeare com Sayaka Shoji [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]“Concerto para Violino N.o 2 em sol menor” de Prokofiev vai ter lugar no próximo dia 29 de Abril pelas 20h00 no auditório da Torre de Macau. O concerto contará com Lu Jia, director musical e maestro principal da Orquestra de Macau e a participação da violinista japonesa Sayaka Shoji. O evento integra a série de espectáculos promovidos pelo Instituto Cultural (IC) dedicados ao tema “Mundo de Shakespeare”. Segundo a organização, Sayaka Shoji é descrita pela revista Gramophone como “[uma artista] formidável, capaz de extrair enormes reservas de energia a qualquer coisa que se proponha fazer”. Vencedora do Concurso Internacional Paganini aos 16 anos de idade, foi a primeira japonesa e mais jovem artista a consegui-lo. É também conhecida internacionalmente como uma revelação no violino contando já com inúmeras participações em orquestras de renome incluindo a BBC Philharmonic de Inglaterra, a Wiener Symphoniker de Viena de Áustria, a Orquestra Sinfónica Nacional da Dinamarca ou a Orquestra Sinfónica NHK do Japão. Em Janeiro de 2016, Sayaka Shoji recebeu o prestigiado Prémio de Arte Mainichi. O espectáculo na RAEM marca a primeira colaboração com a Orquestra de Macau e a interpretação do concerto de Sergei Prokofiev nas comemorações do 400º aniversário da morte de Sheakespeare, por esta obra ser também conhecida pela sua integração no ballet “Romeu e Julieta”. Está ainda programada a apresentação de “Aberture de Le Roi Lear de Berlioz”, que se baseia no obra homónima de Shakespeare e que conta com contrabaixos e oboés para promover a dramatização do ambiente. O concerto termina com a “Sinfonia No 4 em ré menor de Schumann”. Os bilhetes para o espectáculo já se encontram à venda e os preços variam entre as cem e as 200 patacas.
Hoje Macau EventosFotografia | Exposição da Coreia nas Casas-Museu da Taipa [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]streia quinta-feira a exposição “Narrativas”, do fotógrafo sul-coreano Park Seung Hoon. Numa co-organização do Instituto Cultural (IC) e da PYO Gallery, a mostra abre às 18h30, na Galeria das Casas-Museu da Taipa. A exposição contará com a apresentação de 16 obras do jovem artista coreano e abrange duas séries de trabalhos. Da série “TEXTUS” são exibidas imagens fotográficas capturadas em película de 16mm em que o artista tece várias tiras de película, produzidas durante vários anos pelo mundo fora, que se apresentam aqui unidas numa só imagem, de forma a concretizar “um cenário perfeito”. A série “Uma melhor explicação” , também a mais recente criação de Park Seung Hoon, é uma manifestação também fotográfica da transformação ao longo do tempo e do espaço da paisagem ribeirinha do rio Arno, em Florença. São apresentados cenários momentâneos que retratam simultâneamente o desenvolvimento histórico e social à volta deste rio. É objectivo da organização que através da presente exposição os visitantes se “sintam inspirados a potenciar a sua própria imaginação bem como a exploração de novas possibilidades artísticas”. “Narrativas” está patente até 26 de Junho de 2016 e tem entrada livre.
Tomás Chio SociedadeImobiliário | Mais de 6% das habitações estão desocupadas [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC) revelou que 7,3% do total de fracções de Macau estão vazias, tanto ao nível comercial, como habitacional. Numa resposta ao deputado Ho Ion Sang, o organismo indica ainda que vai lançar um índice sobre os preços do imobiliário. A DSEC explica que a taxa geral de imóveis desocupados – ao nível de habitações e imóveis comerciais – foi de 7,3% em 2015, havendo 18.862 fracções desocupadas. Nos dados fornecidos pela DSEC, havia 14.058 habitações desocupadas em 2015, uma taxa de 6,5%. Ieong Meng Chao, director da DSEC, indicou contudo que há informação insuficiente sobre a área total dos imóveis, bem como sobre imóveis antigos, pelo que o organismo governamental “ainda não tem condições completas” para lançar estatísticas sobre quanto é a área total dos imóveis desocupados. Ho Ion Sang, também presidente da União Geral das Associações de Moradores (UGAMM, ou Kaifong), interpelou o Governo sobre a criação de um índice para o mercado imobiliário de Macau, de forma a que haja “mais transparência” no sector imobiliário. Na resposta, a DSEC diz que vai concluir os trabalhos sobre o índice para os preços do imobiliário ainda este ano, sendo que “já pediu a algumas associações académicas para elaborar” estes dados.
Joana Freitas Manchete PolíticaChui defende licença de paternidade paga até 14 dias. Lionel Leong empurra CPCS Chui Sai On falou pela primeira vez sobre a licença de paternidade e assume que defende que esta deve ser até 14 dias e remunerada. O Secretário para a Economia e Finanças vê as declarações do líder do Governo como “um apelo” para que o CPCS encontre uma solução sobre a matéria em breve [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hui Sai On defendeu na Assembleia Legislativa (AL) a atribuição de uma licença de paternidade paga e Lionel Leong assegura que ouviu o Chefe do Executivo. O Secretário para a Economia e Finanças afirmou no sábado que considera ideia de Chui Sai On como um “apelo” para o Conselho de Concertação Social, que estuda a medida, ser mais rápido. “Acredito ser um apelo que representa um ponto positivo para os membros do Conselho alcançarem, o mais rápido possível, os seus objectivos”, indicou Leong, num evento público, referindo-se à “discussão sobre a implementação da licença de paternidade e à vontade de ver o mais rápido possível, a sociedade atingir consenso através da plataforma do Conselho”. Palavras ditas Numa resposta à deputada Wong Kit Cheng, que levou a plenário a questão da licença de paternidade, Chui Sai On disse que quer promover a sua realização. “Pessoalmente apoio a introdução da licença de paternidade remunerada e vou promover este trabalho pela respectiva equipa. Também temos de respeitar os nossos mecanismos, ou seja, as partes do Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS) que estão a discutir a matéria. Eu faço o apelo para que se apoie esta solução, concedendo entre três a 14 dias. Contando com o apoio dos representantes na Concertação, creio que esta solução pode passar a realidade. Naturalmente é uma necessidade e pode servir para reforçar a relação matrimonial”, frisou o líder do Governo, acrescentando: “sempre defendi que o marido deve acompanhar a mulher nesta fase tão importante”. O período de tempo para a licença de paternidade ainda não está definido, sendo que nas regiões vizinhas é de três a 14 dias. Mas o CPCS fala numa proposta de até cinco dias. A lei actual só permite um máximo de dois dias, simbolizados em faltas justificadas. Chui Sai On não adiantou qualquer data para a implementação, sendo que Lionel Leong relembrou que a licença não é o único ponto a ser discutido no CPCS.
António Conceição Júnior Contos e histórias h | Artes, Letras e IdeiasA bica de duas bocas [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]brisa marinha é sempre diversa. Com ela vem o sussurrar da proa, apartando as águas, e o ranger da madeira e do cordame que segura as velas enfunadas pelo vento. Os ouvidos e a experiência ditavam a rota no escuro da noite. Wong Siu Ieng, deitada no convés, já há muito deixara de sentir a maresia e o cheiro do peixe. Olhava o céu. A seu lado, Lai dormia a sono solto. Estavam no convés, em baixo fazia demasiado calor. Olhando as estrelas não encontrava as da sua aldeia. A memória era vaga, curta. Lembrava-se que dormia na barraca palafita quando uma vozearia estalou e, subitamente, agarrada por braços poderosos e coberta por um grande lenço foi levada para um baloiçante bote, enquanto outras vozes chorosas se lhe juntaram. Após curta viagem, ainda coberta, foi içada para uma amurada de onde a levaram. Ainda ouviu tiros e o estalar do fogo nos bambus. Era a sua aldeia, pensou. Depois, um vazio de memória, um breu como o da noite que atravessava. Lembrava-se de uma pequena praia onde, à vez, fundeavam juncos e onde contemplava, à distância, um perfil longínquo, habitado. Numa gruta, ao fundo da pequena praia, tinha o seu catre. Aí aprendera a manejar facas e espingardas. Os homens davam ordens, mandavam cozinhar peixe e arroz. Por vezes havia carne de porco ou galinha. Descobrira a existência de outras grutas, fendas na rocha banhadas pelas águas do rio. A maioria das outras crianças não crescera com ela. Por razões que desconhecia, fora adoptada por Lai Ma (mãe Lai) que, de cartucheiras à cintura mandava nos homens. Lai Chói Sán (Lai Montanha de Fortuna) tomara-a sob sua custódia e assim crescera. Os homens murmuravam que Lai Ma, ainda adolescente, tinha sido abusada por um bando e, como vingança, se tornara pirata, usando os seus homens quando a ela lhe apetecia, que era seca do útero. Talvez por isso a tivesse adoptado. “Wei”, sussurrou a sentinela, “estamos a chegar!”. Wong Siu Ieng interrompeu os pensamentos. Com os outros, levantou-se, pegou mecanicamente na espingarda, afivelou a cartucheira e dois tanka foram descidos. Primeiro desceram os homens, depois Lai Ma e Wong Siu Ieng. O junco seguiu caminho. O azul nascia no horizonte e aos poucos os olhos foram-se habituando. Estavam na nesga de rio de onde se acedia ao templo de Avalokiteshvara Kun Iam. Meteram-se os oito por uma rua traseira que dava para a vila de Coloane. Esgueiraram-se para dentro de uma casa na Rua do Meio. Bastou um toque no portal para, do outro lado, se ouvir a tranca de madeira correr. Entraram para um pátio cheio de plantas, seguindo por um curto caminho de pedra que dava acesso à casa de tijolo cinzento que despertava com o raiar do dia. Lao Wing Man mandou servir canja numa enorme mesa redonda de tampo metálico. Os convivas, em silêncio, sorveram a sopa e comeram vorazmente o que traziam, fosse soi kau ou nabo frito. De quando em vez, olhavam para fora, o pé marítimo em cima do banco. Lao Wing Man, reclinado, fumava ópio. De olhos semicerrados, esperava que acabassem o pequeno almoço. Lai Ma limpou os lábios com as costas da mão, pulso ornado de pulseira de jade e boca de dentes de ouro, e levantou-se. “Tim-a Lao Sôk?” (então tio Lao?), interrogou a mulher pirata, dirigindo-se ao velho que lhe respondeu com um sorriso desdentado, lançando uma baforada de fumo: “Sempre o mesmo”. Virou-se e chamou A-Weng. O empregado curvou-se. “Traz as coisas”, disse o velho. A-Weng dirigiu-se a outro compartimento fora do olhar dos visitantes e voltou, entregando a Lao um conjunto de envelopes chineses e uma cesta de vime. Lai Ma tirou de um dos envelopes notas enormes que verificou. Abriu a cesta de vime e espreitou para um montão de moedas. “Muito bem, Lao Sôk, bom trabalho. Ficas com as moedas” disse a mulher, perguntando de seguida “todos pagaram?”. O velho riu-se. “Claro, eles sabem que tem de ser assim” disse com a forma arrastada de quem quer, à maneira cantonense, vincar uma afirmação. Lai Ma virou-se para o grupo, mas dirigiu-se à rapariga. “A-Ieng, vamos dar uma volta. Traz o incenso”. Tirou os sapatos e ficou com o aspecto indistinguível de uma pescadora, pés chatos habituados a agarrar a teca do junco. Wong Sio Ieng desfez-se também da cartucheira, alisou a cabaia curta, manteve os sapatos de pano e ei-las, decididas, a encaminharem-se para o portão. Saíram de mãos dadas, os pauzinhos de incenso na mão e, na roupa interior, um bolso com sapecas. Caminharam sorridentes, seguindo em frente, passando por um templo ocidental. A aldeia ganhava vida à medida que crescia o dia. Passaram para a beira rio, onde palafitas davam para um terreiro arredondado. No chão, peixes secavam com sal. Um cão ladrou quando se cruzaram com um soldado sonolento, saindo de uma das barracas, ainda abotoando a farda. No terreiro vazio, um pequeno altar no chão. Lai Ma acendeu o incenso, agachou-se e iniciou, muito baixo, uma cantilena em língua estranha, inspirando repetidas vezes enquanto balanceava o tronco para a frente e para trás. Depois, espetou os paus de incenso entre os outros e ergueu-se, levando A-Ieng consigo. Esta nunca se atrevera a perguntar o que tudo aquilo significava, para além da oração a um tou tei (deus do lugar). Tomaram o caminho de regresso à casa de Lao Wing Man. Lai Ma reuniu os oito à volta da mesa e, sorvendo chá, anunciou que nessa noite partiriam para Macau. Um olhar de espanto invadiu os restantes. “Mas… o que vamos fazer?”. Lai Chói Sán olhou para o que tinha feito a pergunta e, enigmaticamente, respondeu: “Retribuir…”. Recolheu-se a um catre, com Lao a dormir o sono do opiómano. Os outros também se acomodaram aqui e ali, preparando-se para a saída nocturna. À hora combinada, pelo mesmo caminho, regressaram ao junco, que contornou a ilha. Do grupo, quatro passaram para outra embarcação de pesca, devidamente registada, que ancorou no Porto Interior, já passava das nove da noite. Num bote, chegaram a terra. Por baixo das arcadas, dirigiram-se a um homem que fumava cachimbo de água. Lai Ma falou em hakka, o homem ergueu-se indolentemente e dirigiram-se para o templo de A-Ma. No largo, o homem entregou às duas mulheres um varão de bambu e duas cestas. Lai Ma entregou o tam kón a A-Ieng, que o poisou sobre as cestas, atando-o com cordas. Subiram a rampa do Quartel dos Mouros, cestos ao ombro, desafiando as autoridades ali estacionadas. Foram subindo a estrada de terra batida, falando em hakka. A-Ieng procurava discernir alguma palavra, olhando o sentinela barbudo, que pouca importância deu ao trio. Avançaram até ao fim do caminho, subiram e desceram outro, e ei-los chegados a um templo ocidental com uma escadaria. Viraram à esquerda e entraram num casinhoto. O homem acendeu uma lamparina de óleo. Havia apenas um catre e uma mesa. Ao fundo, uma banca, um fogareiro a carvão e um abano. “Kan Sôk (tio Kan), preciso de ir até I Long Hâu (bica de duas bocas)”. Aquilo era zona guardada por fei tchâu lou (africanos, landins), avisou o homem. Lai Chói Sán sabia disso, “há vinte e um anos mataram o meu homem em Lu Wan (Coloane)…”. E por aí se ficou. Kan Sôk, meditabundo, insistia que era muito perigoso. “A ousadia é sempre inesperada”, respondeu-lhe a mulher, olhando-o nos olhos. Acabou por concordar. Foram-se pelo escuro da noite. A manhã daquele dia de 1931 rompeu demasiado cedo. Junto à bica de duas bocas, na zona da Flora, ao pé do Palacete da Flora, residência de Verão do Governador, uma forte explosão acordou a cidade. Num raio de 300 metros tudo ficou destruído. Registaram-se 41 mortos. Às 5:35 da manhã, inexplicavelmente, trinta toneladas de pólvora explodiram. Muito se especulou sobre as verdadeiras causas deste terrível acidente, aventando-se até ter sido obra de pirataria. As autoridades porém, negaram. Nota do autor: este texto, embora baseado em factos e personagens reais, é inteiramente ficcionado.
Filipa Araújo SociedadeDSPA | Macau com maior consciência ambiental, mas ainda há falhas [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]om uma pontuação máxima de dez valores, o nível de satisfação ambiental de mil residentes fixa-se em 5,1. É o que explica, em comunicado, a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), que indica contudo que há mais consciência ambiental por parte dos cidadãos. A DSPA inquiriu 1001 residentes, cuja satisfação foi mais alta do que em 2014, que não ultrapassou os 4,9 pontos. Em destaque, apontam os resultados do inquérito, os cidadãos consideram que a “qualidade do ar” deve ser melhorada. “A emissão dos gases de escape de veículos é considerada pelos cidadãos como o principal factor de produção de poluição do ar, sendo o segundo a emissão dos fumos oleosos dos estabelecimentos de comidas”, aponta o documento. Também o indicador de responsabilidade ambiental aumentou, de 6,61 pontos, em 2014, para 6,82 em 2015, mostrando um maior reconhecimento por parte dos residentes sobre questões ambientais. “Os cidadãos consideram que a protecção ambiental é principalmente da responsabilidade do Governo e nada tem a ver com os cidadãos, mostrando com isto que devem ser reforçados, persistentemente, a determinação e o sentido de responsabilidade dos cidadãos no que se refere à realização das acções ambientais”, refere a DSPA. Assim, assim Também as acções ambientais aumentaram, apesar de o relatório mostrar que ainda é preciso um “reforço contínuo”. Reduzir ou reutilizar os sacos de papel, de plástico e sacos com fecho hermético foi a acção mais mencionada pelos entrevistados, seguindo-se pela opção “levar o ser próprio saco ecológico quando fazem compras fora” e “reutilizar os recursos hídricos, tais como na recolha das águas residuais para limpar o chão, nas descargas sanitárias ou na rega de flores”. Ainda assim, aponta a direcção, a taxa de execução pelos cidadãos é relativamente baixa face à recolha selectiva dos resíduos. Em queda está a taxa de reciclagem de resíduos, reflectindo “que os cidadãos não têm vontade de dispensar o seu tempo para praticar os actos de recolha selectiva dos resíduos”.
Flora Fong SociedadeDeficiência | Críticas à falta de acessibilidade. Governo defende revisão Macau não está preparado para os deficientes motores. As queixas são dos próprios portadores de deficiência que falam em barreiras que enfrentam diariamente. O território não é um espaço que aposta na integração e acessibilidade. Governo diz que vai rever condições [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]aquela que foi a primeira sessão de consulta pública sobre o Planeamento dos Serviços de Reabilitação da RAEM até 2025, que aconteceu sábado passado, muitos portadores de deficiência criticaram a falta de pontos com acessibilidade em Macau. Para estes residentes, o território não está a considerar esta classe de pessoas com necessidades diferentes. Por sua vez, o Governo reagiu com a promessa de uma revisão à situação denunciada. Segundo o Jornal do Cidadão, a sessão serviu para auscultar opiniões dos próprios portadores de deficiência. Durante o encontro vários utilizadores de cadeiras de rodas criticaram as instalações pouco acessíveis do território. És-lhe difícil, apontaram, apanhar autocarros, ir aos bancos, ir a casas de banho de estabelecimentos públicos – e sobretudo as dos serviços do Governo. Um residente presente, de apelido Kuok, exemplificou que “os utilizadores de cadeiras de rodas não conseguem usar a casa de banho do Centro de Saúde da Areia Preta”, problema que não é mencionado, nem como proposta a melhorar, no documento da consulta pública. O portador de deficiência motora explicou ainda que “uma parte dos autocarros de Macau têm as placas para ajudar a entrada e saída de cadeiras de rodas, mas por norma os condutores não ajudam os utilizadores a entrar nos autocarros”. Kuok criticou ainda que na realidade os portadores de deficiência motora não conseguem apanhar autocarros. É preciso, apontou ainda, melhorar os passeios de Macau, portanto espera que o Governo melhore todas as condições do território. Um outro participante da reunião, de apelido Fong, criticou o planeamento por este não considerar as verdadeiras necessidades dos utilizadores. “Só cria um ambiente com estruturas, mas não está preocupado com a necessidades reais dos portadores de deficiência, nem com o conceito de princípio de integração”, apontou. Promessas futuras Choi Sio Un, chefe do Departamento de Solidariedade Social do Instituto de Acção Social (IAS), respondeu que o Governo vai rever a situação da acessibilidade em Macau, a curto prazo. O representante espera concluir até ao próximo ano a elaboração das directrizes que vão regulamentar os pontos acessíveis nos espaços privados e públicos, para que possam ser implementados já em 2017 ou 2018. No que toca a autocarros, Lo Seng Chi, chefe do Departamento de Gestão da Direcção dos Serviços para Assuntos de Tráfego (DSAT), disse que o Governo está a pensar em criar uma esquema de marcação que pode punir as empresas de autocarros caso não ajudem os portadores de deficiência. Esta medida pretende, apontou, aumentar a qualidade de serviços prestados pelas companhias. O assessor principal do grupo interdepartamental deste planeamento, Kuok Kin Fun, sugeriu ainda que o Governo crie um cargo de “Responsável do departamento de acessibilidade”, que terá como funções coordenar as instalações de cultura, lazer, desporto e pontos turísticos.