Que estamos nós aqui a fazer, tão longe de casa? 10. A empregada do bar

* Por José Drummond

[dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]uarenta e cinco minutos e muitas bebidas depois, levantas-te. Dispersas-te até à varanda do bar e inclinas-te contra uma parede. Acendes um cigarro. Está abafado. Apesar disso tens um blusão de cabedal vestido sobre uma camisa preta. És um homem não muito alto e magro. Quando fumas dá ideia de que estás ainda mais perdido. Imagino que muitas vezes as tuas noites sejam completadas com prostitutas ou mulheres desesperadas e que tu entediado as permitas preencher os seus desejos. Não que me ache desesperada. Mas se calhar estou. Se calhar estamos todos. És um homem que, como defesa, irás  ferir mais os outros do que curar as tuas feridas. Como se as tuas feridas se alimentassem das feridas que infliges. Como se essas feridas fossem a razão da tua existência. Sopras uma nuvem de fumo no ar e vejo-te em profundo suspiro. Vou ter contigo. Sorrio. Mas tu não me vês. Sorrio de novo. Nervosamente. Passando com a mão pelo meu longo cabelo preto que hoje está mais rebelde. Finalmente olhas para mim e é como se o tempo parasse.
Sem que me dê realmente conta da sequência acabo no teu quarto. Um quarto confuso e desarrumado que espelha bem aquilo que sinto passar-se na tua cabeça. As tuas intenções são claras quando me agarras e me empurras para a cama.  Tínhamos acabado de chegar, e, como que apanhado no rodopio da tua própria confusão, paras. Por um momento ficas imóvel como se não soubesses o que fazer de seguida. Tomo eu conta da situação e rapidamente liberto-me da minha camisa, expondo parte dos meus seios por entre as rendas do meu sutiã. Os teus olhos mudam de expressão, como que em surpresa pelo meu movimento rápido.


Lanças-te na cama, cativado pelo inchaço dos meus seios, mal contidos no sutiã. Sem falar aproximas-te de mim e olhas-me profundamente nos meus olhos cor de avelã. Deixo os teus dedos frios acariciar o meu rosto. Os nossos lábios encontram-se, e tu, mordes-me gentilmente o lábio inferior. Sinto o sangue a fervilhar e não resisto ao impulso de te empurrar de leve e rodopiar sobre ti. Agarras a parte de trás da minha cabeça e puxas-me para ainda mais junto.
Com dedos ágeis soltas-me o sutiã, deixando-o cair no chão. Os meus mamilos roçam endurecidos contra a tua camisa. Os teus lábios quentes beijam-me. Sinto o hálito a whisky e tabaco a inundar-me a boca. Os teus dedos acariciam-me os seios e descem lentamente até às minhas ancas. Sussurras que a minha pele macia e quente te está a pôr louco. Os teus lábios descem ao longo do meu pescoço e em modo animalesco voltas a rodopiar assumindo de novo a posição de topo. Eu tento  empurrar-te em falso porque quero que me agarres ainda com mais força. Os teus dedos prosseguem de modo livre o reconhecimento do meu corpo. Solto um pequeno gemido e não consigo resistir à vontade de  te desapertar a camisa e arranhar-te as costas. A tua boca desenha um círculo à volta do meu mamilo direito antes de o chupar fazendo-me gemer ainda mais.
A minha mente está num sentido permanente de rebelião. Preciso disto. Preciso tanto disto. As tuas mãos não param e retiram-me a saia fazendo com que me contorça até aos tornozelos. As minhas cuecas rosa estão húmidas, e  grito quando as tuas mãos acariciam delicadamente o clítoris. Vejo-te sorrir levemente. Pela primeira vez tens outra expressão e toda a tua dor parece momentaneamente esquecida. Observas-me a gemer. Voltas a beijar-me enquanto nos libertamos da roupa restante. A tua erecção está no auge, pressionando firmemente contra o meu corpo. As minhas mãos empurram-te um pouco até que te agarro o pénis. Sinto-o na minha mão a pulsar violentamente. Dirijo-o para o ponto certo. Mordes-me a língua com força quando me penetras. Começas a apertar-me o pescoço. Não consigo respirar. Não consigo gemer. Não consigo fazer nada. Os teus olhos são agora de um animal. Estou perto do clímax quando subitamente te retiras. Olho para ti confusa. Mas essa confusão dissipa-se quando me voltas a penetrar. Choramingo. Recomeças cuidadoso e lento mas, de repente, sinto -te ofegante a aumentar o ritmo, sorrindo, como um louco, sem retirar as tuas mãos do meu pescoço. É neste momento que tudo se torna vago e perco os sentidos…

Dou comigo a abrir os olhos. Estás a olhar para mim. Choras. Como secar uma face cheia de lágrimas? Não sei quanto tempo estive inconsciente. Sinto uma dor na cabeça. As constelações impávidas que antes observei na varanda estão agora esquecidas. Os teus olhos não são duas luas cheias. Leio culpa nos teus olhos. Uma mulher sabe quando um homem olha nos seus olhos e vê outra pessoa. Tu tens problemas. És complicado como a maior parte das pessoas. Uma pessoa difícil de conhecer, de saber o que se passa no teu interior. Sinto os teus sentimentos como um turbilhão com imensas coisas. Ingredientes estragados de um qualquer prato amargo. Não é amor. Tu és o tipo de homem que magoa as pessoas, que as parte, que as danifica. És o tipo de homem do qual  as mulheres devem ficar afastadas. Percebo que tudo foi um erro. Quero-me ir embora. Quero-me levantar. Não consigo. Não me consigo mexer.

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