Filipa Araújo ManchetePrédios abandonados e fracções vazias devem servir para a comunidade Casas vazias, espaços abandonados e locais sem vida. Uma luta de interesses entre proprietários que querem ganhar mais, residentes que não suportam os custos de fracções e um Governo que “não dá o exemplo” [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]stamos na rua da Praia do Manduco, onde o Mercado de São Lourenço traz, a esta parte tão antiga do Porto Interior, um movimento diferente de todas as outras ruas de Macau. Há fruta, legumes frescos e ali, no meio da rua, junto à nova loja que abriu na semana passada, começa a venda das flores. Como se estivesse protegida pelos prédios, esta rua sente os passos de centenas de pessoas por dia. Deixamos o olhar subir, olhamos para a esquerda e deparamo-nos com um prédio que grita por vida. “Está abandonado há pelo menos três anos”, começa por explicar Finn, agente de imobiliário do primeiro estabelecimento em que entramos. O construtor é de Macau, anda por cá, mas parece que esqueceu aquele seu projecto. “Ele queria fazer um bom negócio. Queria que o Governo lhe desse autorização para construir um prédio maior, mas não conseguiu”, esclarece. Apesar de não ver satisfeita a sua vontade, o prédio está ali, a implorar que alguém o habite. As paredes não contam histórias de ninguém, o piso não sabe o sabor dos passos e as campainhas nunca soaram. A culpa, essa, “é do mercado imobiliário”. É que este construtor acha que os preços não vão ao encontro do seu agrado e por isso mais vale ter um prédio desabitado do que ganhar algum dinheiro. Como estes há mais, muitos mais. Na segunda agência imobiliária em que entramos – só na rua principal eram quatro, fora nas ruas transversais – os jovens empresários parecem pouco interessados em falar sobre o assunto. Respostas monossilábicas de “sim” e “não”, não parecem querer dar resposta às nossas questões. Fracções vazias é o que mais há, mas os profissionais não querem explorar as razões que levam os proprietários a deixar as casas assim. Silêncio dos culpados O mesmo não acontece com Pun, também ele agente imobiliário, que nos conta que nesta zona há muitos trabalhadores não residentes. “Há apartamentos vazios porque como temos muitos TNR aqui e os contratos de trabalho não são renovados, ou acabam, eles vão embora e deixam a casa vazia”, conta, apressando-se em dizer que esta não é a única razão. “A principal é o preço. Os senhorios pedem preços muito altos para as casas e [os arrendatários] não têm capacidade para pagar o que é pedido”, explica. Pun continua o seu discurso lamentando a atitude dos proprietários. “A verdade é que pelos apartamentos em causa ninguém vai dar o preço que eles pedem, assim sendo, os apartamentos ficam vazios”, remata. Algo que parece não importar a este empresáris que, por norma, não têm apenas um apartamento. Como sabe Joe, representante imobiliário de um empresário do interior da China, que só no condomínio The Praia, no Fai Chi Kei – uma das zonas mais populosas do mundo – é proprietário de 12 apartamentos. “Ele nem sequer sabe quem é que lhe paga a renda e de que apartamento se trata, porque todos os inquilinos fazem o depósito na conta dele”, conta-nos uma ex-inquilina, não sabendo se todos os apartamentos estão arrendados e a quem o preço da renda foi aumentado em mais de 100% passados dois anos de contrato. A Ilha Verde e Areia Preta são as zonas com mais fracções vazias. Pelo menos é o que dita a experiência do agente imobiliário Tom. “Há muitas casas vazias nos prédios que são velhos”, aponta, sem esquecer também os espaços destinados ao comércios e até os edifícios industriais. Mas isso são águas separadas. Numa viagem até à Taipa, sem ser preciso procurar muito, surge, na primeira paragem, Sio, agente com anos de negócio. “Não tenho muitas casas vazias, mas tenho algumas, especialmente no prédio Nam San”, diz. “É difícil arrendar porque os senhorios não querem que os inquilinos paguem, por exemplo, menos de 10.500 dólares de Hong Kong por um T2, que nem sequer vale isso. Claro que as pessoas não querem arrendar e os proprietários preferem ficar sem ter a casa arrendada do que receber menos”, apresenta. Há ainda, conta entre sussurros de segredo, quem prefira arrendar os apartamentos a grupos de pessoas, como por exemplos, às comunidades de filipinos, porque “sabem que podem subir os preços porque eles vão pondo mais gente lá em casa”. Ao dividir a renda por mais pessoas o valor irá “subir até àquele que os senhorios querem”. Contas feitas Sio parece não querer falar muito sobre o assunto e pede para não colocarmos o nome completo. “Isto aqui nunca se sabe.” É verdade, nunca se sabe, nem o Governo sabe quanto apartamentos estão efectivamente vazios. Nos últimos dados divulgados, em Abril deste ano, a Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC) revelou que 7,3% do total das fracções de Macau estão vazias, tanto ao nível comercial, como habitacional. Numa resposta ao deputado e presidente da União Geral das Associações de Moradores (Kaifong), Ho Ion Sang, o organismo indicou ainda que irá lançar um índice sobre os preços do imobiliário no segundo semestre do ano. O Governo explica que actualmente existem 18.862 fracções desocupadas, mas só as que se conhecem. É que a própria DSEC, pela voz do seu director, Ieong Meng Chao, admite que as informações sobre a área total dos imóveis, bem como sobre o número de imóveis antigos é “insuficiente”. Por isso, explica, o Governo “ainda não tem condições completas” para lançar estatísticas sobre quanto é a área total dos imóveis desocupados. Soluções à vista A questão coloca-se em cima da mesa: se, por um lado, temos uma sociedade – representada pelos seus grupos, associações e deputados – que tantas e tantas vezes apela à necessidade de construção de habitação, por outro temos milhares de casas vazias, abandonadas e esquecidas. “Esta é a questão. É que por tudo e por nada a sociedade pede habitação ao Governo. Noto muito isso. Pede-se, principalmente, muita habitação social e se calhar há unidades de Seac Pai Van que estão desabitadas. Não percebo se são as pessoas que não gostam do que têm à disposição, se o Governo devia inverter ou estudar os parâmetros que presidem à habitação social, como por exemplo as áreas”, começa por explicar Maria José de Freitas, arquitecta. Lançando a questão aos profissionais da área, a resposta parece ser óbvia. O Governo deve aproveitar estes edifícios para habitação, antes de construir mais. Como? “É preciso fazer um levantamento exaustivo dessas situações e realmente começar por aqui, verificar aquelas que já são edifícios de habitação e estão abandonadas, seja qual for a razão, e depois todas as zonas, nomeadamente na Areia Preta, onde estão edifícios industriais abandonados. Nestas, o Governo deve fazer concursos de ideias entre os arquitectos, para que se possa fazer a recuperação em lotes e unidades habitacionais”, explicou a arquitecta, frisando que só assim se rentabiliza os espaços que estão desocupados. “Numa cidade onde há carência de espaço não faz sentido que haja zonas que estão abandonadas, à espera que alguma coisa aconteça e que nunca mais vai acontecer”, apontou. Por sua vez, Ben Leong Chong In, secretário da Associação dos Arquitectos de Macau, acredita que Macau precisa de sugestões sociais. Este é um problema e deve ser resolvido. Nas fracções privadas o Governo, diz, poderia rever a política de imposto. Poderia ainda ser fomentada a vontade dos proprietários arrendarem os seus espaços. “É preciso ainda mudar a lei”, diz, ou criar uma que não permita que isto aconteça, reforça. Exemplos do lado Bem aqui ao nosso lado, Hong Kong tem em mãos esta questão. Quem o recorda é o arquitecto Francisco Vizeu Pinheiro, que tem participado nos debates. Discute-se muito o uso das unidades abandonadas, principalmente as industriais, para habitação. A questão é que é necessário alterar o Regulamento da Construção Urbana, de maneira a que seja possível modificar estas unidades em habitação, sem ter de demolir totalmente o edifício. “O Governo tem de ter melhor mecanismos de controlo [de espaços vazios]”, apontou o arquitecto, frisando que não é segredo que muitos proprietários não vendem para deixar aumentar os preços. “Isto seria realmente prioritário. Isto acontece em muitas cidades europeias. Paris, Lisboa, Londres. As zonas industriais foram aproveitadas para habitação. Isto faz sentido, para que não sejam zonas mortas, para serem zonas activas na vida urbana”, acrescenta Maria José de Freitas. A torcer o nariz O ditado já é velho. Não se pode agradar a gregos e troianos. E do outro lado da moeda existe sempre uma opinião contrária. Quando questionado sobre a necessidade de criar um mercado sem especulação e com a intervenção do Governo, o deputado Leong Veng Chai defende o mercado livre de Macau, portanto “o Governo não pode estar a interferir muito nos imóveis privados”. Ao Governo cabe as habitações públicas e é nessas que se deve focar, diz, sendo mais rigoroso. “Estas é que devem ser construídas”, explica. A possibilidade da criação de um imposto para todas as habitações vazias é uma ideia que não desagrada ao deputado Au Kam San, mas, tal como o seu colega legislador, também ele considera que o Governo não deve mexer no que é privado. “O Governo tem responsabilidades para com os prédios públicos e esses ele não pode deixar vazios. Com uma sociedade capitalista como a nossa, os proprietários têm o direito total sobre os seus imóveis. É muito difícil o Governo mexer neste assunto”, indicou, mostrando que pouco ou nada se poderá fazer. Um exemplo de cima Seguindo a regra de que se ensina com exemplo e não com palavras, Ella Lei, deputada, aponta o dedo ao Governo. É que não é novo que muitos escritórios que pertencem à Administração, para os seus serviços, estão ao abandono. Se o Governo o faz porque é que os privados não o podem fazer? Como num carregar de ferida, Ella Lei diz que para além de mudar de postura, o Executivo deve rever quais os seus recursos reais e reutilizá-los. “O Governo tem de usar os seus recursos da melhor forma”, não podendo exigir uma coisa que nem o próprio faz. Reaproveitar espaços, criando apartamentos maiores, onde as famílias possam estar mais próximas, numa sociedade que cada vez está mais envelhecida traz benefícios claros. Segundo Francisco Vizeu Pinheiro esse benefícios são evidentes, pois quanto mais perto as famílias estiverem – numa cultura que tanto defende os laços familiares – mais se auxiliam mutuamente. Enquanto isto, há portas que continuam fechadas, janelas que nunca se vão abrir e residentes a viver à espera de um tecto. Número 7,3% do total das fracções de Macau estão vazias
Tomás Chio PolíticaExigida mais fiscalização na avaliação de imóveis [dropcap style=’circle’]L[/dropcap]eong Keng Seng, presidente da Associação de Avaliação da Propriedade de Macau, considera que o Governo deve criar uma regulamentação para o sector relativa ao sistema de licença para avaliadores. O responsável deu como exemplo o caso da Building Agency, que não só recolheu capital de forma ilegal como também fixou preços de casas acima do valor real. “Em Macau temos licenças para advogados e engenheiros, mas não temos uma licença para os avaliadores de propriedades. Como a qualidade do sector não é suficiente, já que existe apenas alguém que cria a empresa e que oferece um serviço de avaliação aos clientes, isso causa confusão ao sector”, disse o responsável, citado pelo jornal Ou Mun. Para além de reforçar a fiscalização, Leong Keng Seng defende que o Governo deve criar multas para o sector, as quais deverão culminar com o cancelamento das suas licenças, prática semelhante a Hong Kong. Leong Keng Seng sublinhou que a prática da Building Agency é comum a todo o sector. “A avaliação de casas tem sido feita por empresas diferentes, e normalmente existe uma diferença de 5%. Caso a diferença seja superior, e como os avaliadores trabalham desta forma, é muito perigoso para o mercado, influenciando o sector financeiro”, referiu.
Filipa Araújo PolíticaTelecomunicações | Deputados pedem concessão justa A Comissão para a Administração Pública volta a reforçar a necessidade de criar um mercado justo no sector das telecomunicações. Os deputados querem que o Governo estude o contrato de concessão atribuído à CTM, para anular o monopólio [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Administração Pública, presidida por Chan Meng Kam, quer que o Governo estude o contrato de concessão dos activos da telecomunicações, ou seja, a prestação de serviços públicos de telecomunicações. “Em 2009, com a liberalização do mercado, os activos passaram a pertencer ao Governo”, começou por esclarecer de imediato o presidente da Comissão, no final do encontro que decorreu na manhã de ontem. Mas compete à Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) geri-los, de forma exclusiva. A concessão termina este ano, explicou, mas o contrato indica que a concessão poderá ser automaticamente renovada, nas mesmas condições, por outro período de cinco anos, até 31 de Dezembro de 2021. A Comissão esclarece que não quer que a concessão seja terminada, quer sim que o Governo promova a concorrência justa no sector, dando oportunidade a outras operadoras, por exemplo, de gerir os activos. “Esperamos que o Governo promova a concorrência justa (…) Não pode permitir à CTM que defina os custos de arrendamento da rede às outras operadoras. (…) não é justo para as outras operadoras, não é um mercado livre”, disse Chan Meng Kam. O Governo comprometeu-se a analisar o contrato de concessão nas próximas semanas até ao novo encontro com a Comissão, ainda neste mês de Junho. Banda barata Questionado sobre as tarifas praticadas em Macau – ponto de preocupação da Comissão – Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, quis esclarecer que “exceptuando a banda larga, [os preços dos] serviços móveis normais são próximos dos praticados aqui na região. Alguns são ligeiramente mais altos, outros ligeiramente mais baixos, mas achamos que estamos mais ou menos alinhado”. O serviço de banda larga tem margem para mudar e baixar os preços . “Foi dito à Comissão que no terceiro semestre deste ano deverá haver uma revisão de baixa”, explicou o Secretário.
Tomás Chio PolíticaNova proposta para agências de emprego este ano [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) referiu, em resposta a uma interpelação escrita da deputada Ella Lei, que ainda está à espera de mais opiniões de associações e do sector laboral para avançar com a revisão do licenciamento das agências de emprego, por forma a melhor controlar a situação de pessoas que procuram trabalho na qualidade de turistas. Uma nova proposta de lei deverá, contudo, ser apresentada ainda este ano. Wong Chi Hong, director da DSAL, referiu que o Governo tem vindo a estudar o assunto e que as propostas até agora apresentadas incluem “vantagens e desvantagens”. O organismo governamental já tinha apresentado uma proposta ao Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS) e, depois de ter recolhido opiniões do lado dos patrões e empregados, a DSAL está agora a alterar a proposta, para que a possa apresentar novamente este ano. Ella Lei questionou o Executivo sobre as medidas a adoptar para dificultar a procura de emprego por parte de estrangeiros, exigindo ainda um aperfeiçoamento do sistema de importação de mão-de-obra.
Tomás Chio PolíticaDeputado quer lista de responsáveis de departamentos públicos [dropcap style=’circle’]O[/drocpap] deputado Si Ka Lon interpelou o Governo sobre a necessidade de elaborar uma lista de nomes de funcionários públicos com autoridade nos departamentos públicos. Tudo para que haja uma classificação das responsabilidades, já que, segundo Si Ka Lon, há sempre desculpas para que queixas e pedidos dos cidadãos não tenham o devido seguimento. O deputado lembrou que, a partir de 1999, alguns departamentos governamentais passaram as responsabilidades para outros departamentos quando foram detectados problemas. Si Ka Lon deu como exemplo a construção do novo hospital, já que os Serviços de Saúde (SS) afirmam que são os departamentos de Obras Públicas que têm conhecimento da fase do projecto e não sabem em que fase está a construção e vice-versa. O deputado, parceiro político de Chan Meng Kam na Assembleia Legislativa, considera que o Governo deve elaborar esta lista, numa altura em que está a proceder à fusão de vários departamentos, para que a população possa saber quais os funcionários que de facto têm responsabilidades neste campo. “Os departamentos não podem apresentar a desculpa de que, na hora de tratar as queixas, os problemas são tratados por outros departamentos”, apontou. Si Ka Lon referiu ainda que o Governo pode simplificar processos administrativos, tendo dado como exemplo o que já acontece em Cantão. Na cidade chinesa vizinha existe uma plataforma online, um serviço one-stop, que trata de todas as queixas de vários serviços do Governo.
Hoje Macau BrevesDois russos detidos por uso de cartões falsificados [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Polícia Judiciária (PJ) deteve dois russos no Porto Exterior por estes estarem a utilizar cartões falsificados. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, a detenção foi feita na última quarta-feira. Os homens estão suspeitos de utilizar várias vezes cartões falsificados para tirar dinheiro das máquinas de levantamento automático no território. Foram detidos quando estavam a tentar sair de Macau e a PJ encontrou cem cartões e peças de equipamento que ajudaram ao crime, como um computador portátil e leitores de cartões. Os dois homens pertencem a um grupo que desde 2014 se dedicava a retirar dinheiro dos ATM, tendo envolvido mais de dez bancos. A PJ suspeita que os dois russos regressaram a Macau no último mês. Consigo tinham 17 mil patacas.
Tomás Chio Breves SociedadeMais 20% de estudantes de Português [dropcap style=’circle’]C[dropcap]han Ka Man, chefe do Centro de Difusão de Línguas da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), disse que há mais estudantes de Português no presente ano lectivo, comparativamente ao ano anterior de 2014/2015. Chan Ka Man falava no programa Macau Talk, do canal chinês da Rádio Macau, indicando que no ano lectivo 2015/2016, 33 escolas privadas criaram o curso de Língua Portuguesa e cerca de 3800 estudantes aprenderam a língua de Camões, ou seja, um aumento de 20% quando comparado com o ano lectivo anterior. A responsável acredita que estes são números que vão continuar a crescer nos próximos anos, sendo que, adiantou, já pediu à Escola Portuguesa para criar um curso extra-curricular e de nível avançado para os possíveis interessados. Chan Ka Man explicou ainda que a DSEJ irá subsidiar as escolas que queiram criar cursos de Língua Portuguesa. “O número de cursos de Português está cada vez maior nas escolas privadas, há mais oportunidades para os profissionais desta língua. Neste momento os profissionais locais são suficientes para responder aos pedidos para estes cursos, mas, no futuro, a DSEJ vai considerar contratar mais professores de português”, acrescentou ainda Chan Ka Man.
Andreia Sofia Silva SociedadeFO | Monjardino explica maior participação no Banco Português Gestão Carlos Monjardino espera ter em Julho uma nova solução de aquisição para o Banco Português de Gestão. O presidente não-executivo do Banco, também presidente da Fundação Oriente, diz que houve um aumento de participação por necessidades de mais capital, mas também confirma o interesse de outras entidades em tomar posição no Banco [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Fundação Oriente (FO) vai passar a deter quase 90% do Banco Português de Gestão (BPG). Em declarações ao HM, Carlos Monjardino explica o aumento da participação e considera a situação normal numa fase em que a banca portuguesa atravessa dificuldades. “Trata-se apenas de um aumento de capital e a Fundação vai subscrever uma parte importante do aumento do capital. Ainda não sei se os outros accionistas vão ou não subscrever algum capital”, apontou. “Toda a gente sabe que a situação da banca portuguesa e a banca europeia é complicada, por razões várias, que têm a ver com as novas regras do Banco Central Europeu. Os accionistas não estão numa situação cómoda, sejam eles qual forem, mas é uma situação que necessariamente terá de ser passageira. Em relação ao BPG, ou a outros bancos, há uma necessidade de aumento de capital e os accionistas que querem e podem acorrem a esse aumento.” Monjardino refere que “não há” quaisquer vantagens para a FO em aumentar a sua participação no BPG. “Há uma necessidade do banco ter os seus fundos próprios e a Fundação, que é o maior accionista, assume que tem de fazer o aumento de capital.” O Novo Banco, que detinha 2,6%, e a Fundação Stanley Ho, com 2,91%, vão assim deixar as suas posições. “É natural isso acontecer dadas as convulsões que houve no Banco Espírito Santo, que tem vendido todas as participações que não são interessantes para eles. E esta não seria. Neste momento não é a melhor altura para a Fundação Stanley Ho fazer mais investimentos no sector financeiro, que não é um sector rentável e que tem bastantes problemas. Sendo muito pequena, não fazia sentido fazer este esforço”, explicou Carlos Monjardino. Acordo em Julho Segundo o que foi noticiado em Portugal, Carlos Monjardino pretende vender 50% do BPG, estando na calha a potencial compra por um investidor chinês. Ao HM, Monjardino garantiu que esse dossier só deverá ficar concluído em Julho. “Havia um calendário que se deve esgotar no próximo mês de Julho. Até agora tivemos longas conversas e estávamos numa fase em que íamos assinar um acordo, que não foi assinado. Se for, será só no mês de Julho. Mas há mais entidades interessadas em tomar uma posição no banco”, disse, sem revelar nomes. Questionado sobre eventuais incompatibilidades, por ser presidente da FO e presidente não-executivo do BPG, Monjardino ressalva: “se houvesse incompatibilidades eu não estava [nestes dois cargos]”. “Estou no BPG como presidente não-executivo, na altura a FO ficou com uma participação e disseram-me que eu era a pessoa mais indicada para ficar como presidente do Banco. Não há aqui nenhum conflito de interesses. Também sou accionista, muito pequenino, mas sou”, conclui Monjardino. O BPG registou prejuízos superiores a 89 milhões de patacas em 2015, tendo apenas um balcão em Lisboa e um escritório no Porto.
Joana Freitas SociedadePorto Interior poderá mostrar cultura piscatória [dropcap style=’circle’]L[/dropcap]ok Nam Tak, membro do Conselho Consultivo dos Serviços Comunitários da Zona Central, sugeriu que a zona do Porto Interior se transforme num espelho da cultura piscatória, com o desenvolvimento do sector do marisco. Citado pelo jornal Ou Mun, Lok Nam Tak defendeu na última reunião do Conselho que a zona do Porto Interior sempre foi muito conhecida por esta actividade, mas que neste momento apenas permanecem alguns portos antigos. Para este membro, o Governo deve catalisar para esta zona uma área dedicada ao marisco e à pesca, no âmbito da implementação do Plano Geral do Desenvolvimento da Indústria do Turismo. A ideia de Lok Nam Tak passa pelo estabelecimento de vários restaurantes criados por jovens, defendendo que existe esse interesse. Para este responsável, o Governo deve promover mais a cultura piscatória com passeios destinados aos turistas, apostando ainda na criação de restaurantes dentro dos barcos. Esta medida poderia, para Lok Nam Tak, atrair mais turistas e oferecer mais oportunidades de trabalho para os pescadores.
Hoje Macau BrevesPedidos de ajuda por dependência do jogo aumentam [dropcap style=’circle’]W[/dropcap]u I Mui, chefe da Divisão de Prevenção e Tratamento do Jogo Problemático do Instituto dos Acção Social (IAS), disse ao canal chinês da Rádio Macau que o Sistema de Registo Central dos Indivíduos Afectados pelo Distúrbio do Vício do Jogo já registou mais de 750 casos só este ano. Do total, 90% destes casos são residentes do território, sendo os restantes de Hong Kong e do interior da China. Mais de 60% das pessoas com problemas são homens e, segundo a responsável, o número de casos aumentou 130 face ao ano passado só este ano. Alguns dos solicitadores conseguiram deixar o vício do jogo, mas também houve quem tivesse voltado a cair nas malhas da dependência. O IAS promete mais promoção do jogo responsável.
Andreia Sofia Silva MancheteCPU | Questionada construção de habitação pública na Taipa Alguns membros do Conselho do Planeamento Urbanístico mostraram reservas em relação à construção de um edifício de habitação pública na Taipa, junto ao Estádio Olímpico. O Secretário promete ouvir opiniões [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] construção de um edifício de habitação pública junto ao Estádio Olímpico, na Taipa, gerou dúvidas a alguns membros do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU), que não querem ver destruídas as instalações desportivas já em funcionamento. “Temos de ver a questão da habitação pública porque muitas pessoas vão viver lá e é muito importante o problema da destruição das instalações públicas. Antes da construção deveríamos dar a conhecer à população esse projecto. É uma zona com muita concentração de recintos desportivos”, referiu um dos membros. “Tenho reservas quanto à escolha da localização”, apontou outro membro do CPU. A altura do prédio, que vai obrigar à demolição da antiga sede dos atletas nos Jogos da Ásia Oriental, poderá atingir os 90 metros. “Acho que não é muito adequado construir uma habitação pública numa zona destinada a instalações desportivas. Penso que poderíamos reservar esse local para a construção de um edifício de actividades desportivas, escolas ou instituições sociais. Espero que o Secretário possa ponderar e não construir uma habitação pública nesta zona”, disse um dos membros do grupo. Outro dos participantes do CPU fez ainda referência ao facto de existir uma escola ali perto, o que poderia causar perturbação aos futuros moradores. Questionado à saída da reunião sobre este projecto, Raimundo do Rosário, Secretário para as Obras Públicas e Transportes, garantiu que vão ser tidas em conta as opiniões. “Teremos sempre em conta as opiniões emitidas pelos membros do CPU. Os serviços vão analisá-las”, referiu. Hotel na casa azul? A reunião de ontem do CPU discutiu ainda o aproveitamento de um terreno localizado em frente à sede do Instituto de Acção Social (IAS). O proprietário terá a intenção de construir um hotel na zona, localizada perto da praça do Tap Seac, mas um parecer do Instituto Cultural (IC) não terá sido favorável a esse projecto. “Os proprietários foram muito claros em relação à intenção de construir um hotel, mas o IC salientou que gostaria de utilizar o terreno para ter uma zona aberta ao público. Não houve consenso. Temos de tratar deste caso, dado que pertence a uma zona de protecção. O caso voltou a ser entregue para ser debatido”, explicou o responsável da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). Poderá estar ainda em causa a impossibilidade de aproveitamento do terreno por parte do proprietário, tendo sido discutida o possível pagamento de uma indemnização. Mas cá fora o Secretário para as Obras Públicas e Transportes explicou que está tudo em aberto. “O que está aqui em causa é a emissão de uma planta de condições urbanísticas. As Obras Públicas vão emitir uma planta e o proprietário é que tem que decidir o que quer fazer. Enquanto ele não tomar uma decisão, nós não podemos tomar a iniciativa”, referiu Raimundo do Rosário. Foi ainda analisado o edifício localizado ao lado da Cinemateca Paixão, na Travessa da Paixão, mas poucos detalhes foram avançados. O prédio, cor-de-rosa, deverá albergar um projecto ligado às indústrias culturais e criativas.
Andreia Sofia Silva SociedadeJogo | Proibição de apostas por telefone “não está” a ser cumprida A agência Bloomberg escreve que a proibição de apostas telefónicas decretada pelo Governo não está a ser cumprida por todos os casinos. Casos de jogadores que apostam segundo instruções recebidas através de auriculares escondidos fazem parte da denúncia. Pereira Coutinho diz que o Governo está a ser demasiado brando com as operadoras [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] cenário é descrito pela agência económica Bloomberg. Um homem sozinho numa sala VIP de um casino mantém um auricular a funcionar via wireless, enquanto vai fazendo as apostas que um verdadeiro jogador lhe diz para fazer. Este jogador encontra-se na China continental e a aposta é feita após a proibição decretada pelo Governo. Promotores de Jogo com quem a Bloomberg falou garantem que muitas apostas telefónicas continuam a ser feitas em salas VIP de casinos da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) e da Melco Crown. Os auriculares são escondidos e muitos desses aparelhos chegam a estar no meio do cabelo. A SJM não respondeu à agência, mas a Melco Crown garantiu que todas as regras estão a ser cumpridas. “Macau tem um mercado altamente regulado e a autoridade ligada ao sector do Jogo tem um regime regulatório muito restrito e tem vindo a monitorizar a situação de perto com as operadoras de Jogo. Podemos garantir que todas as instalações do nosso casino estão de acordo com as leis locais”, disse a operadora. A Bloomberg alerta para o facto da proibição não incluir sanções claras a aplicar aos potenciadores violadores da lei, frisando que só o ano passado as apostas por telefone geraram receitas na ordem dos 2,6 mil milhões de dólares americanos. É ainda citado um inquérito efectuado pela Forefront of Macau Gaming, no qual apenas 28% dos mil funcionários de casinos assumem que a proibição está a ser “estritamente executada”. Na sua resposta, a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) garantiu que todas as operadoras sabem das novas regras. “Se forem detectadas irregularidades face às leis de Macau, o Governo vai adoptar sérias medidas contra tais actividades”, disse o organismo. A entidade liderada por Paulo Chan assegura ainda estar a “analisar a possibilidade de rever a lei para promover um saudável desenvolvimento da indústria, aumentando as regulações para os promotores de jogo”. Permissividade A agência noticiosa falou com o deputado José Pereira Coutinho, tendo este referido que o Governo está a ser brando com as operadoras. “O Governo é demasiado amigável com as operadoras e não implementa verdadeiras sanções. O Executivo necessita de rever a lei caso haja problemas com as novas regulações. Devem bloquear quaisquer possibilidades da ocorrência de violações à lei.” O deputado alertou ainda para a possibilidade de ocorrência de casos de lavagem de dinheiro. “Há uma situação de permeabilidade à lavagem de dinheiro à qual o Governo deveria dar toda a atenção após a proibição. Uma regulação sem uma implementação efectiva vai criar um novo vazio na indústria e a indústria terá de encontrar um meio para evitá-lo.” Kwok Chi Chung, presidente da Associação dos Mediadores de Jogo e Entretenimento de Macau, falou de maiores problemas sentidos pelo sector. “O sector VIP já tem vindo a sofrer enormes constrangimentos. A proibição das apostas por telefone só veio piorar a situação do mercado.”
Hoje Macau EventosCCM | Maria Ana Bobone em espectáculo amanhã [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]aria Ana Bobone está amanhã no Centro Cultural de Macau para mostrar “Fascínio por Portugal”, um espectáculo de música portuguesa com sons do Oriente. A convite da Orquestra Chinesa de Macau, a fadista regressa ao território 15 anos depois. O espectáculo que apresenta a fadista portuguesa Maria Ana Bobone em colaboração com a Orquestra Chinesa de Macau – e sob a batuta do maestro Pang Ka Pang – tem lugar amanhã, pelas 20h00, no Centro Cultural de Macau (CCM). Esta união não é pioneira, sendo que em 2014 Maria Ana Bobone e a Orquestra actuaram juntos em Lisboa, mas a fadista regressa ao território 15 anos depois. Maria Ana Bobone é reconhecida como uma das mais talentosas artistas da sua geração, tendo-se estreado no cantar do Fado aos 16 anos. Posteriormente conclui os cursos de Piano e de Canto do Conservatório Nacional de Música de Lisboa. O seu primeiro trabalho discográfico intitulado “Alma Nova”, viria a ser o início de uma carreira brilhante que corre palcos por todo o mundo. A mistura entre o Fado e uma orquestra com instrumentos tradicionais chineses é, como diz Maria Ana Bobone ao HM, uma relação que desde o início foi “muito boa”. “O que salva neste tipo de pontes é a linguagem universal da música que permite que culturas absolutamente diferentes se encontrem”, salienta, indicando o interesse deste tipo de comunicação quando se está e trabalha com pessoas com as quais não se consegue falar. O trabalho com o maestro Pang Ka Pang também é gratificante sendo ele “uma pessoa muito característica e que ilumina um palco”. Depois da primeira colaboração, esta segunda foi aprofundada para este espectáculo, que conta com um repertório essencialmente de Fado. Para a fadista é “fantástico o trabalho que a orquestra chinesa realiza com os instrumentos que a compõem sendo que oscilam entre as sonoridades que marcam a identidade do Oriente”. Maria Ana Bobone já esteve em Macau há 15 anos a convite da Fundação Oriente e integrada num espectáculo com outros artistas. Desde essa primeira vez na RAEM até agora destaca a “evolução inacreditável” que vê e uma “diferença que demonstra vitalidade à volta de Macau e do investimento que aqui se faz”. Salienta, contudo, o gosto que sentiu pela Macau de há 15 anos em que sentiu que era “uma coisa mais pequena e mais intimista”. Outras causas Numa carreira de relevo internacional com o Fado, a artista decidiu no disco “Smooth”, lançado no ano passado, sair do trilho e arriscou numa vontade pessoal de fazer um álbum com outras canções. Uma “vontade que tinha desde sempre de ter esta experiência artística por outras linguagens musicais que era uma das coisas que não tinha feito profissionalmente”, como confessa. Sendo um projecto de carácter excepcional “podia e devia aliar-se a uma causa igualmente especial, que é a ajuda às pessoas com leucemia.” O disco contou com a produção de Rodrigo Serrão e as receitas revertem para a Associação Portuguesa Contra a Leucemia. A receptividade a esta nova aventura foi “surpreendentemente boa”. Para o futuro salienta a necessidade de paragens para reflexão e tem nem cima da mesa a possibilidade de edição de um disco ainda este ano. Mas ainda não tem a certeza se o quererá fazer. Embaixadores nacionais Levar o Fado ao mundo é um trabalho de “embaixador” em que se mostra o que se faz e quem se é. Da mesma forma, Maria Ana Bobone salienta que a Língua Portuguesa é a mais adequada ao género, não concebendo o mesmo enquanto tal se cantado noutro idioma. “Tenho uma alegria imensa em sentir que o Fado volta a estar popularizado por entre cada vez mais público de diferentes gerações”, diz, relembrando outros tempos em que as editoras recusavam trabalhos deste género musical argumentando que não vendia. Mas, diz, a situação actual é “uma grande lição para todos os que diziam e achavam isso, porque de facto o Fado vende e é das poucas coisas que vende hoje em dia”. Para amanhã, a artista afirma que tem preparado um “bom concerto esperando um gosto comum por parte do público”. Das canções fazem parte temas como “Auto-retrato”, “Fado Xuxu”, “José Embala o Menino”, “Nós as Meninas”, “Marião” e “Havemos de Ir a Viana”.
Manuel Nunes EventosEunice Wong, cantora, apresenta álbum ao vivo no Macau Design Centre [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]asceu nos Estados Unidos, “porque era moda”. Cresceu em Macau, seguiu para a Birmânia e acabou por estudar e viver em Nova Iorque. Do processo saiu uma artista versátil, uma voz das que não aparece todos os dias, uma vontade deliberada de provocar e um som que dá para perceber não andar com más companhias. Ganhou pela segunda vez o subsídio do IC para novos álbuns e este sábado apresenta o mais recente, ao vivo, no Macau Design Centre, pelas 16h00. O segundo já está planeado Saiu de Macau aos nove anos e depois foi para a Birmânia. Como foi isso? Os meus pais tinham um negócio lá, eles são chineses/birmaneses mas nascidos em Macau e vivi lá cinco anos. Que tal a experiência? Diferente. Adoro a Birmânia mas os contrastes são enormes. Os ricos, muito ricos, os pobres muito pobres. Quer dizer, os meus pais eram dos ricos, fui para escolas internacionais. Mas nasceu nos Estados Unidos… Era moda na altura ter os filhos nos Estados Unidos. Os meus primos nasceram na Austrália, no Canadá… Além disso, o lado da minha mãe é Hakka, meio cigano. Gostam de ser nómadas. Chegou aos Estados Unidos no princípio da puberdade. Como foi crescer em Nova Iorque? Foi em Brooklyn, no Harlem… Não estava preparada. Na Birmânia não tínhamos muitas notícias, internet… às vezes nem electricidade. Então de repente estou em Nova Iorque e há tudo. Cultura, música, hip-hop, drogas… muitas coisas que nem tinha ideia que existiam. Choque por uns tempos? Um bocadinho. Estava habituada a uma Escola Internacional onde nem sequer pensávamos em raças, até gostávamos das diferenças, e de repente em Nova Iorque é tudo por raças. Na altura, nem pensava se era chinesa ou outra coisa qualquer. Mas em Nova Iorque é assim, segregado. De alguma forma, isso levou-me até este meu disco, “Humanize”. É tipo um lembrete para toda a gente, do género “oiçam, eu faço este disco porque sou humana, não porque sou chinesa, ou americana ou isto ou aquilo”. Sentiu-se segregada, no mau sentido? De uma forma intensa. Então agora o que se considera? Cheguei a um ponto em que sinto que ‘quanto mais pensas nisso mais te aborreces’ portanto adoptei a forma de me ver a mim e aos outros como humana em vez de tentar analisar de onde é que eles são ou assumir as suas vidas. Como começou a música? O meu pai é músico. A minha mãe não tem ouvido para os tons, por isso só posso ter herdado do meu pai. (risos) Ele toca guitarra e canta em bandas birmano/chinesas aqui e na Birmânia. Havia sempre música em casa. Ele toca muita música tipo Carpenters, Santana, The Beatles. Portanto cresci a ouvir isso e até estive em aulas de violino aqui em Macau, mas queria cantar. Sempre soube que queria cantar. Como começou a envolver-se mais a sério? Tinha uma banda de Rock quando estava no liceu em Nova Iorque. A “Just A pupil”, tinha um duplo sentido. Era eu e três colombianos. E tocavam o quê? New Rock, Pop Rock, adorávamos os Incubus e Rock Latino tipo Zurdok. E em Nova Iorque tocaram muito? Sim, ao longo dos anos toquei em muitos bares e cenas underground. Até tocámos no [clube] CBGB antes de o fecharem. E depois dos “Just A Pupil”, que aconteceu? Tivemos de nos separar. Os meus poemas, a minha direcção é sempre muito pessoal. Era teenager, escrevia muito sobre a “raiva dos adolescentes”, sempre muito zangada, e eles queriam fazer mais ‘dub reggae’, algo com o qual não estava muito familiarizada e depois fui para universidade e comecei a brincar com música electrónica. Comecei a produzir num computador, a fazer electrónica… Qual era o curso? Sociologia. No City College de Nova Iorque. Por isso vivi no Harlem uns cinco anos. Como foi a experiência? Que tipo de vizinhança? Era muito hispânica. Porque existe East Harlem, West Harlem e Central Harlem. Central Harlem é muito negro, East Harlem é muito porto-riquenho, West Harlem é muito dominicano (risos). E caiu no lado dominicano? Sim. É incrível. Imensa comida dominicana. Música até às quatro da manhã com miúdos de três anos a correrem por todo o lado. Era divertido. Foi, decididamente, uma grande experiência. E entretanto fazia-se música electrónica no quarto… Entretanto fui interna para o Doug E. Fresh, um dos fundadores do beatboxing nos anos 80. Faz imensas cenas com a língua. É um verdadeiro ícone no Harlem. Qual era o trabalho? Promovia os artistas da editora dele, incluindo os filhos que têm um grupo de rap, também editei videoclips. Faz muitas coisas diferentes. Estudou Sociologia, canta, produz música e vídeos… Em Nova Iorque há muita gente assim. Que deitam as mãos ao assunto e fazem muitas coisas diferentes. A vida é em Nova Iorque? Sim, mas vim para Macau na esperança de conseguir organizar uma tournée asiática. Tem havido conversas reuniões com pessoas interessadas em organizar espectáculos na China. Venho cá uma vez por ano. Como vê as transformações que aqui acontecem? Muito orgulhosa. Antes tinha de dizer às pessoas onde era Macau mas agora isso não acontece. Não saber onde é Macau já é responsabilidade individual. Gosto que não esteja tão saturado como Hong Kong e continua a ser uma coisa nova. As pessoas continuam a achar Macau interessante. E as oportunidades também estão em aberto. O que quer dizer com saturado? Há mais artistas ‘indie’ em Hong Kong e a fazer música electrónica. Aqui ainda é novo. A atitude também é diferente, os artistas podem convidar bandas. Em Hong Kong há sempre muitos espectáculos a acontecer. Já tocou em Hong Kong? Sim, há ano e meio. Foi fixe. Trabalhei com os Soler e ajudei na mistura e produção de uma canção. Ouvimos “Tame this heart”. É completamente diferente do que está a fazer agora… É mais independente. Um tema muito pessoal. Era uma coisa que tinha de fazer apesar de sair da Pop. As pessoas podem gostar ou não. Estava num sítio escuro, deprimida, mas a sentir-me extra criativa. Criava uma canção a cada 15 minutos, esse tipo de criatividade. Agora é mais Pop e comercial… Sim. Mas algumas das canções do álbum também já são antigas. E o que faz nestas canções? Componho e co-produzo. No vídeo de “Ain’t Nobody Else” há uma clara alusão a Bonnie & Clyde. A ideia é provocar? Sim, definitivamente. Penso que há diferentes tipos de artistas que se encaixam em nós pelo estilo musical. Acho que sou do tipo que te faz sentir alguma coisa estranha, que provoca e que deixa também o sentimento de desconforto. Fala-se que hoje não há estrelas rock. É tudo “pronto-a-servir”, receitas que se repetem. Os ‘rockers’ já não se atrevem. Concorda? Sim. Sinto que quanto maior se é, mais controlo se sente porque cada vez se tem mais a perder. Por isso os artistas precisam de segurança, querem sentir-se a salvo. Muitos músicos criam para o mercado adolescente. Depois penso nos meus jovens e rezo sempre pela sua estranheza e pela sua diferença. Com a evolução de “Tame this heart” para “Humanize” não está também a pôr-se a salvo? De certa forma sim, mas esse tema é diferente. Não me preocupava quem gostasse ou não. Era um projecto muito pessoal. Lembro-me que era Inverno e queria sair daquilo, fazer outras coisas. Esse tema ajudou-me a mostrar o meu amor pelo ‘dubstep’ e pelos sons britânicos mais ‘dark’. Um tributo ao que tinha feito, ao passo que “Humanize” é mais um portfólio da minha melodia e das minhas letras. Está a seguir os passos de artistas como Madonna? Adoro-a. Ela é uma artista e faz as coisas com a certeza de que tudo o que faz é novo. Vocalmente acho que somos muito diferentes, mas a minha maior influência é Shirley Manson dos Garbage. Desde pequena que gosto muito dela. O que ouve agora? Gosto muito de Lana Del Rey, somos muito do mesmo estilo e também da mesma idade. Também há influência dos Blues. Nesta digressão que pretende na China, com temas em Inglês, como acha que as pessoas vão reagir? Tenho ouvido muita coisa acerca da China e acho que está faminta de novas culturas e novos sons. Que podemos esperar do vosso espectáculo? Com a saída deste álbum terei em palco um guitarrista que também é teclista, um DJ, bailarinos e eu. Trouxe essas pessoas? Não, vivem em Macau e estamos a ensaiar. São maravilhosos. Conheci-os pelo boca a boca, a perguntar a amigos, e toda a gente foi muito receptiva. Houve alguma espécie de casting? Acho que felizmente segui o meu coração. Como vai ser o espectáculo em Macau? Vou ter um VJ, o Miguel Khan. Gostava de ter uma componente visual sólida. Obviamente que desta vez só terei bailarinos para algumas canções mas gostaria de ter muito mais. Era muito importante ter mais músicos em palco e instrumentos a tocar para a minha voz. Espero que o espectáculo também junte isso tudo. Quem desenvolve o conceito? Há um coreógrafo que me ajuda. Não há uma organização para a coreografia. Uma coisa completamente nova este espectáculo em Macau? Sim e a primeira vez com este lineup. Vive da música? Trabalhava em Nova Iorque. Trabalhava para uma empresa de cuidados de pele online. Eles apoiavam-me no horário e na pele também. (risos) Acham possível profissionalizar-se enquanto músico? Fazia anúncios para televisão e isso abriu-me os olhos para a produção musical. Na medida em que é produzida para enaltecer um objecto. Era como os negócios imobiliários. Só se ganha depois de vender e aí ganha-se muito, mas era muito arriscado e decidi afastar-me porque estava muito focada na criação musical gratuita. Quanto a ter uma carreira profissional, sim, penso que a terei. Quanto ao ganhar dinheiro, agora ele vem dos espectáculos. Onde se vê no futuro? Quero fazer muitos espectáculos. Estados Unidos, China… especialmente na China e na Ásia que estão a crescer. Quando for mais velha, vê-se como produtora, actriz, realizadora, ou nada disso? Gostaria de fazer mais projectos artísticos e de vídeo. Escultura, sei lá. Tenho muitas ideias estranhas. Há uma noites tive esta ideia de “Vershina” numa mistura de Versace com China, uma ideia de moda chocante. Mas enquanto estiver na música quero um tipo de trabalho das Nações Unidas, viajar pelo mundo, fazer salvamentos de emergência. Aprendi Francês na escola e recentemente soube que precisava disso para as Nações Unidas. Também pode usar o Francês nas canções… Pois, mas talvez o Português. E adoro o Casanova e talvez introduza algum jazz e alguma representação. Quero fazer muitas coisas. “Melhor que uma editora. Não me limita” “Humanize”, o álbum que Eunice agora apresenta, já tinha sido apoiado pelo Instituto Cultural em 2014. Agora o segundo também vai ser. Com este apoio, o novo trabalho, diz, “vai mudar tudo. Acho que vão passar a ver-me um bocado pela Ásia.” O prémio do IC, no valor de 215 mil patacas (a confirmar), vai permitir-lhe arrancar já para a produção do segundo álbum onde o Inglês não será total, como agora. “Estou excitada por poder incluir alguns temas em Mandarim.” Já sabe que vai trabalhar com alguns pesos pesados da Pop, como Jordan Jaeger que produziu “Cups” cantado por Anna Kendrick para o filme “Pitch Perfect”, entre outros trabalhos para artistas internacionais. “Conheci-o numa empresa onde costumava trabalhar”, conta, “fizemos um EP, eles gostaram, por isso agora vamos fazer um álbum. Estou super feliz.” Eunice explica que o IC “tem sido fantástico” com ela. “Melhor que uma editora discográfica porque não limitam o que eu posso fazer.” O tema do próximo álbum vai ser “’The girl who’… Quero deixar assim aberto”, avança Eunice, “quero que as raparigas preencham a seu bel-prazer”. Com esta experiência, a artista espera que o trabalho fique mais inclusivo. “Quero envolver a minha audiência mais, criar mais proximidade.” Uma chamada à imaginação mas também, e sobretudo, ao sonho. “Cada tema vai ser dedicado a mostrar tudo o que uma rapariga pode fazer.” Em termos musicais também já está tudo muito claro. “Quero fazer produções mais minimais com mais camadas de vozes, usar vozes como instrumentos de apoios nas músicas.” A artista confessa ainda que “fascina-a ideia” de usar diversas línguas. “Parece-me a direcção correcta para um artista de Macau. Usar todas estas línguas. O Português, o Inglês, o Chinês. Nós podemos fazer isso.”
Anabela Canas VozesO tempo do meio [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]arou. Sem dar por isso. Como aquele momento na noite em que, exausta esta, esgotada do tempo que lhe compete, de repente pára. E dá-se aquele silêncio abrupto que cria uma leve suspensão, uma respiração retida por um segundo mais longo, uma espectativa sempre igual, e logo a seguir a cidade retumbante de frescura a acordar em sons que tiveram ali um breve intervalo. Os de ontem, os de amanhã. Tão mesmos e tão outros se esmiuçados. Extinguem-se os ruídos de hoje e, no espaço de uma respiração surgem os de amanhã. Ou os de ontem, nesse momento, dão lugar aos de hoje. O sono, pelo meio, a organizar os tempos. Parou o tempo. Entendi depois. Parou por aqui, finalmente no olhar mais aproximado de um fenómeno que já vinha longo. Longo demais. Como uma noite que se prolonga mais do que o esperado. Parou. Podia chamar-lhe um meio tempo. O meio do tempo. Ou a meia idade. Expressão estranha de gerações anteriores. Nunca gostei de meios termos, de meias idades ou de meias palavras. Quero ser jovem enquanto isso for real e depois envelhecer confortavelmente e sem drama. Depois. Mas é cedo. Entendi que é cedo e entendi em que estação estou afinal. Neste encontro de todas as perdas. Sempre tive idades estranhas. Onde habita a idade em nós é uma coisa misteriosa. Uns dias no espelho, outros na alma, outros ainda, no falível olhar dos outros. Sempre por excesso ou por defeito. E há sempre defeitos nas idades. O maior de todos nessa estranha e inexistente meia idade. Que se sente e julga a envelhecer mais do que em qualquer outra como se antes o tempo houvesse parado. A continuidade desse fio que nunca deixou de se desenrolar e um dia criou nós. Talvez só mesmo no cartão de identidade. A habitar ali. Em mim o coração anda sempre muito perto do cérebro, ou a mente a tender para o coração. Este eterno encontro que talvez se dê a meio caminho, embrulhado neste nó da garganta sempre em formação. Ou na melhor das hipóteses a saltar infantilmente à corda. Nas cordas vocais, talvez. Coisa pouco poética de dizer, talvez. A meio caminho entre o crânio e a caixa torácica. Thorakikós. Naquele ponto onde se forma o nó. O nó na garganta a explodir facilmente em miríades de palavras. Onde habita a idade, volto a perguntar-me. Nas mudanças do corpo, na descoloração da alma, dos cabelos e dos sentimentos, na crispação da pele em rugas que marcam expressões que nunca houve. Não sei. Dos registos lineares e cromáticos, sim. Nas pintinhas das costas e nas ruguinhas da barriga. Sim. Mas, na maior parte dos dias, na vida. É aí que a idade é a envelhecer. Mas não nos sentimentos. Seja lá onde fôr que os situo. E as pessoas, as mágoas os desapontamentos tudo a envelhecer sem retorno. Os sonhos, as desilusões das ilusões. A criança das crianças. De tudo rescende um sentimento de perda. No tempo de todas as perdas. Já basta o corpo, os objectos. Nele e nisso um limbo de saída tenebrosa. Um tempo do meio em que o seguinte em nada parece poder reavivar. E foi aí que um dia o tempo parou. De exaustão e irresolução. Parou de desânimo. Deixar envelhecer na inércia de tudo, tudo. Ou esquecer. Ou o caminho do meio. Talvez mesmo como no Budismo, a distância entre a auto-indulgência e a morte. Respirar e reiniciar. Com tudo o que merece essa continuidade revista e actualizada. Com todas as quebras entre o hoje e o dia até ao qual a mágoa desidratou sentimentos. Com tudo o que não se pode querer perder, mas sem o lastro do passado naquele ângulo particular. O caminho do meio no tempo do meio. Um encontro para um destes dias. Há coisas a que o tempo de envelhecer não chega. Ver a imagem de uma criança a comer restos de comida do chão. Como um pássaro mas com a alma a pesar nos ombros e um olhar que não se pode descrever. Não é um bicho enternecedor. É parecida. Mas com uma capacidade infinitamente maior de sentir sofrimento e abandono. Estas coisas nunca envelhecem em mim. Não sei palavras para o que isto me faz sentir. Esmoreço. Encolho-me toda por dentro e odeio-me pelos meus pequenos problemas. Excesso de pessoas que perdi porque tive. De pessoas que nunca perdi porque nunca as tive. De pessoas que me desiludiram pelo muito que me deixaram iludir-me. E a vida. Fantasias boas. Memórias em despedida. Um privilégio afectivo. A pensar na Lua e como se desprendeu da Terra no impacto com um objecto desconhecido. E como ficou, como parte e perdida ali em cima, suspensa de uma eterna propensão melancólica com que sempre a olhamos. Perdida mas à distância do olhar como matéria simbólica de todos os sonhos. Presente, perdida, inalcançável. Ali. E a face visível, uma luz como o sorriso das noites. O lado que guardou o calor da Terra original por mais tempo, e a plasticidade de ganhar mares enormes e de nomes bonitos. E a face oculta, tristemente arrefecida, e assim com menos mares, mares pequeninos, isolada e misteriosa até aos anos cinquenta. Como se este ímpeto sonhador guardasse a memória ancestral do planeta de que se soltou uma parte, da qual ficou e ficamos eternamente nostálgicos. Numa saudade cósmica e primordial. A olhá-la com amor. E a aguardar cada eclipse como ao momento raro de uma carícia visível. Sombria. Ou antes sóbria. E nesta estação de paragem, num destes anos, este jovem amante. Não demasiado jovem, mas para além do que imaginasse. Para além de qualquer sentido. Ou no final do sentido. E que nunca procurei, como a nada. A colar-me a um tempo estranhamente em busca de identificação e dificilmente mensurável. O tempo alegre de dois tempos. E ele chega. E descalça os sapatos sempre. Caminha na minha vida sem ruído e sem deixar pegadas. Descalço e naquela nudez única, que não passa além do corpo. E quando parte, deixa pouco mais do que um fio ténue e delicado, quase invisível. Com um pequeno nó. Fácil de desatar e muito fácil de reatar. E depois vai. Desce sempre a rua, num tempo sereno, até à próxima vez. O desenho do peito alongado vezes sem conto. Uma fantasia de espelho. E depois era o dele. A pele lisa e clara. E sei que me encontrei ali. Quando lhe encosto o rosto do lado do coração. Sei que me encontro ali. Não no coração. Mas no peito. Em silêncio. O silêncio em que me interrogo e a cada centímetro de mim, desde o lado em que tudo começa até à pontinha dos pés, a saber se sou eu. E sou, naquele lugar, no tempo medido, delimitado e concreto. O corpo acaba ali, e é nele que sou. Não sei onde começa. Em meio a toda esta nudez finita. Estanque. Fechada sobre si própria no escoar do desejo. Estas coisas não se dizem. Dizem-se as do amor e com toda a beleza das palavras que geram poesia. Quando dizem. Ou palavras turvas e arrepiadas à frustração que tudo corrói. Armas de arremesso. Sobre o outro que é tudo. Do amor, dizer outras coisas, tudo. Todas as coisas como por vezes avalanches, tornados, ciclones, catástrofes. Que será, só, sempre possível aprisionar-me numa gaiola que levo transportada na minha mão. Com medo de perder a chave. Em direcção ao infinito. E, de algum modo feliz. O feliz do acontecer. Sempre. Sendo amor, para sempre. E sem paradigmas. Aqueles raros, coincidentes com um nome de pessoa. Incomum. Ímpar. Ou a face escondida da lua. O mistério da mansidão celeste de mares basálticos. Os negros mares desérticos. Encosto o rosto à mão, agora, enquanto penso. Um insecto voador e enorme entra pela janela num momento qualquer e entretanto fico a segui-lo na sua evolução aleatória, aparentemente, supostamente, seguramente desejoso de voltar a sair. Que sei eu…Negro, de uma família desconhecida, com um zumbido discreto. Parto do princípio de que deseja libertar-se de novo deste espaço da casa, que lhe aconteceu no acaso da sua deambulação misteriosa. E, nas múltiplas aproximações ao acaso da janela, acabou por sair. Talvez como eu. Esquecendo o detalhe particular do que é aleatório. E retomando só o momento de querer e, depois, o de não querer. Não. Não poderia renascer, mas posso reiniciar. Com tudo. Esta fantástica metáfora da informática. Respirar. Reiniciar. Porque não me apetece. Não me apetece idade nenhuma como estação. A estação que me apetece, é esta, a melhor de todas. A estação de ser quase. Quase Verão. Quase, quase Verão.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesDesconfiança [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]o passado dia 28 de Maio, o website de Hong Kong “hk.apple.nextmedia.com” divulgou uma notícia, onde se fazia saber que a polícia local induzia pessoas libertadas sob fiança a desistirem do direito de processar o Governo e a Polícia de Hong Kong, por não terem sido reembolsadas do dinheiro pago pelas respectivas fianças. Podemos ler na Wikipedia a seguinte definição de fiança, “……a fiança é um depósito material ou uma garantia dada a um Tribunal a fim de requerer a libertação de um detido, no pressuposto de que o indivíduo voltará a apresentar-se para ser julgado. Em alguns casos o dinheiro da fiança pode ser restituído no final do julgamento, se o réu se apresentar em Tribunal sempre que solicitado, independentemente de ser considerado inocente ou culpado das acusações……” O Sr. Liu é o protagonista desta nossa história. A 25 de Maio o Sr. Liu apresentou-se na esquadra da polícia, de acordo com as condições impostas pela libertação condicional – apresentava-se sempre com regularidade. Nesse dia pediram-lhe que assinasse um documento de três páginas. Tratava-se de uma declaração, onde se podia ler, “Decido processar / não processar a Polícia e o Governo de Hong Kong, por não ter sido reembolsado do dinheiro pago pela minha fiança, no valor de 20.000 HKD, e peço / não peço uma indemnização.” O documento que o Sr. Liu recebeu para assinar já tinha as palavras “processar” e “peço” riscadas com uma cruz. O Sr. Liu sentiu que os seus direitos tinham sido infringidos e, como tal, mostrou o documento aos jornalistas e o caso foi tornado público. No início de Maio, foi roubada da esquadra de Polícia de Wanchai, Hong Kong, uma soma de 1milhão e 70 mil HKD. A polícia local suspeitou de um dos seus agentes. Na medida em que se tratava de um caso de roubo, a investigação foi imediata e a mulher do agente suspeito foi interrogada. Na altura afirmou que o marido não ia a casa já há alguns meses. Por outras palavras, não se conseguiu apurar nada a partir das declarações da mulher. Mas a polícia tinha algumas perguntas que ficaram sem resposta. Por exemplo, o suspeito era um agente. Não existia qualquer registo interno de que ele tivesse dividas. Além disso, se se tivesse reformado, teria recebido um valor de cerca de 1 milhão de HKD, pelo que 1milhão e 70 mil HKD, não lhe adiantava de muito. Mesmo assim alguns meios de comunicação avançaram que ele teria contraído créditos junto de algumas instituições bancárias, mas estas afirmações não ficaram provadas. No entanto, a polícia de Hong Kong tem aparentemente um controlo muito apertado sobre os fundos de fiança à sua guarda. Os valores são colocados num cofre dentro da esquadra. O detentor da chave do cofre deve sujeitar-se previamente a testes de personalidade. O detentor da chave não pode ter dividas. Para além disso, enquanto estiver na posse da chave, este agente não pode sair da esquadra (nas horas de serviço, entenda-se). Se quiser lanchar, só pode ir à cantina, não pode ir ao “café da esquina”. Estas medidas evidenciam o rigor dos procedimentos. Alguns meios de comunicação anunciaram que o suspeito estaria actualmente em Macau, mas mais uma vez, nada ficou provado. O documento assinado pelo Sr. Liu foi alvo de duras críticas. Se o dinheiro das fianças desapareceu dentro da esquadra, é um problema, apenas e só, da polícia de Hong Kong. Mas ao vermos este documento, percebemos que a polícia tentou dividir responsabilidades com a pessoa que pagou a fiança! É um caso de injustiça óbvio. O primeiro problema foi o dinheiro ter desaparecido da esquadra, mas, tentar dividir responsabilidades com o cidadão comum, que não tem qualquer culpa do sucedido, passou a ser o segundo problema. É sem dúvida uma situação em que a polícia não “ficou bem na fotografia”. Os motivos desta actuação são, contudo, bastante evidentes. A hipótese de recuperar o milhão e 70 mil dólares é diminuta. Mesmo que o suspeito venha a ser apanhado, o dinheiro pode já ter sido gasto. Se o dinheiro não for recuperado, a polícia de Hong Kong será responsável pelas indemnizações. Por isso, levar os lesados a desistirem do reembolso da fiança, e a não levantarem um processo, parece ser, de momento, a única saída que resta à polícia de Hong Kong. Na sequência das duras críticas de que foi alvo, a corporação anunciou a dia 28 de Maio, que o caso não se voltará a repetir. Também foram apresentadas desculpas ao Sr. Liu pelos incómodos causados. Ficou ainda claro que os reembolsos das fianças estarão assegurados e que caso não seja possível recuperar a soma roubada, a Polícia de Hong Kong será responsável pela sua reposição. Não há dúvida que foi um acontecimento muito desagradável, a que ninguém gostaria de ter assistido. No entanto, a Polícia de Hong Kong é a fiel depositária do dinheiro das fianças, e, como tal, deve assumir todas as responsabilidades. Embora tenha havido polémica, as desconfianças foram acalmadas com os esclarecimentos posteriormente prestados. Esperamos que o suspeito seja encontrado o mais rapidamente possível e que o dinheiro possa ser recuperado, senão na totalidade pelo menos em parte significativa. Nessa altura o caso ficará encerrado. Esta fuga de verbas duma esquadra não deixou de ser uma excepção. Os procedimentos de guarda de valores à responsabilidade do Governo continuam a ser eficazes. David Chan Consultor Jurídico da Associação Para a Promoção do Jazz em Macau
Filipa Araújo Perfil PessoasAna Rita Amorim, tradutora e revisora [dropcap style=’circle’]É[/dropcap] uma mulher do mundo e uma força da natureza. Ana Rita Amorim nasceu em Luanda, mas bem cedo voou para Portugal. “O meu pai era militar em Luanda e a minha mãe foi lá ter com ele. Por isso nasci lá, mas não estive muito tempo. Com três ou quatro ano voltámos para Portugal”, começa por contar ao HM. Ana Rita Amorim é tradutora e revisora no Museu das Telecomunicações e não tem dúvidas de que Macau é a sua casa. “Eu sou de Macau, sinto-me como macaense. Esta é a minha terra”, aprontou-se a colocar os pontos nos “is”. Foi aos 18 anos que Ana Rita, a viver em Portugal, decidiu “experimentar a vida”, fazer as coisas por ela. “Isto foi no início dos anos 90, foi numa altura em que Portugal ficou economicamente numa situação complicada, não se contratavam pessoas, era difícil arranjar um trabalho onde contratassem mais do que três ou seis meses. Havia trabalho, mas eram coisas temporárias, não nos dava segurança nenhuma”, recorda. Em 1997, surge a oportunidade de vir até cá. “Se não gostasse, sabia que passado dois anos com a transferência [de soberania] voltaria para Portugal, para ao pé da família. Pensei que seria uma experiência interessante”, conta. Sem ter de tratar de toda a burocracia inerente às fronteiras e documentação necessária, Ana Rita Amorim não hesitou e comprou uma viagem de vinda para Macau. “A ideia foi: ‘vou comprar um bilhete só de ida para me obrigar a ter que encontrar um trabalho lá para pagar o de volta’. Isto eu tinha de cumprir”, conta, mostrando o perfil de aventureira que tão bem a caracteriza. Do outro lado A chegada a Macau não se mostrou uma surpresa feliz. “Quando cheguei, odiei. Não gostei nada. Os dois primeiros três meses foram difíceis, não gostava de nada, estava tudo em obras, o clima não me agradava. Custou-me muito”, recorda. Contrariamente ao que pensava, a comunidade também não se mostrou fácil de conquistar. “A pessoa que chegava a Macau, nos anos 90, sentia-se quase que isolada. Existiam muitos portuguesas, mas parece que quase não os via. Sentia-me perdida e não falar a língua não ajudou”, aponta. A vida está sempre em mudança e, mesmo o que parece certo pode, de um dia para o outro, mudar. Foi isto que aconteceu com Ana Rita Amorim e a sua relação com o território. “Aconteceu uma coisa muito engraçada. Depois de arranjar trabalho e de me estar a tentar a habituar à vida de casa, saí de Macau, fui viajar. Nesta primeira viagem de férias, dei por mim a sentir falta das pessoas daqui e de Macau. Houve uma mudança em mim”, recorda. Amor para sempre Entretanto as amizades começaram a ser cada vez mais fortes. “Quando dei por mim tinha-me apaixonado por Macau, pelas suas gentes, pelo trabalho, pelo cultura”, assume. Mais do que isso, Ana Rita Amorim encontrou o amor, um amor que momentos antes de poder ir estudar para a Escócia a fez ficar por aqui. Um amor que trazia consigo filhos e que Ana Rita Amorim assumiu como seus. “São meus filhos, são os meus filhos, todos”, faz questão de deixar claro. Não esquece que depois da transferência da soberania o seu contrato de trabalho não foi renovado. “Na altura foi difícil encontrar emprego. Mas eu não podia ir embora, tinha aqui tudo, a minha família. Eu já era de cá”, explica. Entre trocas, foi nos Correios de Macau que assumiu funções nos últimos dez anos, estando nos últimos sete no Museu das Comunicações. Local em que, diz, adora trabalhar. Vencer sempre São 21 anos em Macau e de muita vida. “Eu já me sinto na cultura aqui, por exemplo, a minha passagem do ano é no Ano Novo Chinês. Visto-me de vermelho. As tradições que sigo são as de cá”, partilha. Quem conhece Ana Rita Amorim percebe que a energia vive nela. Apaixonada por desporto, a tradutora não se recorda de uma modalidade que não tenha praticado. Aficionada por futebol, com 43 anos, é jogadora na equipa feminina de Macau Show di Bola. Mas, desengane-se quem ache que isto é tudo. É que Ana Rita não passa sem um bom treino de Crossfit. “Adoro desporto”, reforça. O amor é tanto que a jogadora gostaria de passar para treinadora. “No futuro gostava de tirar um curso de treinadora de futebol ou assistente. Acho que Macau não investe muito na parte feminina do futebol. As mulheres jogam até muito tarde com os homens e depois são um bocadinho largadas. Gostava de pegar nessas jogadoras e trabalhá-las. Isto tem futuro em Macau, porque aqui é um ponto de culturas”, remata. Mãe, mulher, profissional e atleta, Ana Rita Amorim veio para ficar e daqui não sai.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeSaúde | Novo centro pediátrico promete reduzir listas de espera O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, inaugurou ontem o Centro de Avaliação Conjunta Pediátrica, que promete dar resposta à procura de diagnóstico e tratamento de crianças com necessidades educativas especiais. Alexis Tam promete novo curso para formar terapeutas já no próximo ano [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi uma inauguração bem ao estilo do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. No Dia Mundial da Criança, Alexis Tam ajudou a abrir portas a um espaço que tanta falta parece fazer aos pequenos que têm necessidades educativas especiais e que sofrem de doenças como o autismo, epilepsia ou deficiências cognitivas. O Centro de Avaliação Conjunta Pediátrica terá uma sala para avaliação psicológica, para avaliação da surdez, para diagnosticar e ajudar a tratar casos como disfunções físicas e mentais ou até casos de hiperactividade. Sob o olhar de médicos e jornalistas, Alexis Tam entrou em cada sala, ouviu explicações, fez perguntas aos profissionais de saúde e deu garantias. “Este centro de avaliação conjunta não é apenas para os miúdos chineses mas também portugueses. E claro que temos a comunidade filipina e não só. Este centro poderá ajudar a uma aproximação e eles vêm cá para fazer uma avaliação. Este é o primeiro centro com serviços one stop na história de Macau.” O novo centro infantil, localizado no Hospital Conde de São Januário, deverá reduzir uma lista de espera que actualmente é de 14 meses para apenas um mês. Poderá, até que o seu funcionamento seja mais sólido, atender mais de 15 crianças por dia, sempre com a cooperação do Instituto de Acção Social (IAS) e Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). Ali não vão apenas diagnosticar-se os problemas dos mais pequenos. Os médicos e terapeutas prometem um acompanhamento psicológico dos pais que têm de lidar com a doença dos filhos. Curso de terapeutas em 2017 Quando chegou à sala da terapia da fala, Alexis Tam prometeu aquilo que há muito é pedido pelo sector e associações. “Sei que há uma grande falta no mercado de terapeutas da fala e ocupacionais e já estamos a fazer os respectivos trabalhos. Estou a trabalhar com o IAS, a DSEJ, o Instituto Politécnico de Macau (IPM) e o Gabinete de Apoio para o Ensino Superior (GAES). Vamos criar um novo curso que vai funcionar já no próximo ano, já está quase tudo pronto. Vamos formar terapeutas da fala e ocupacionais e outros profissionais em Macau de modo a responder às necessidades por parte das crianças e dos residentes. Os trabalhos estão a ser bem sucedidos”, disse Alexis Tam. O Secretário referiu que vão ser contratados docentes de universidades do exterior para dar formação aos alunos. “Sei também que temos falta de professores e formadores nesta área e por isso estamos a contratar pessoas de fora, professores do ensino superior, convidamo-las para vir ao IPM abrir o curso e formar profissionais locais. Acredito que nos próximos anos teremos uma equipa de terapeutas de qualidade. Certamente que quem fizer esse curso encontrará o seu trabalho aqui, já temos espaços e vamos adiantar mais informações brevemente. Já temos instituições do ensino superior de fora dispostas a colaborar connosco”, rematou. Amamentação na tutela de Alexis Tam O Centro de Avaliação Conjunta Pediátrica terá ainda uma sala de amamentação, algo que Alexis Tam destacou. O Secretário garantiu que todos os departamentos da sua tutela terão de salas de amamentação para as mães trabalhadores. “É com grande satisfação que vejo aqui uma sala de amamentação e é uma das prioridades do nosso trabalho. Estamos a fazer mais acções promocionais para a amamentação e esperamos que haja uma maior generalização porque o leite materno é muito importante e saudável para os bebés. Todos os serviços públicos na minha tutela vão promover serviços de amamentação na RAEM e vamos implementar um programa piloto de amamentação criando mais salas de amamentação nos serviços subordinados à minha tutela. Espero que esta política possa ser bem sucedida.” Líderes de associações satisfeitos, mas pedem mais medidas Eliana Calderon está “orgulhosa”. “Se este centro tivesse sido criado em 2003, não tinha necessidade de criar a Associação para o Desenvolvimento Infantil (MCDA). Em 2003 organizei uma palestra no Centro Cultural de Macau, mostrei os resultados de um inquérito que fiz sobre o número de doentes e a falta de terapeutas. Dois dos três terapeutas que havia na altura no São Januário saíram e pura e simplesmente não foram substituídos”, recorda. Ao HM, Eliana Calderon mostra-se satisfeita com a abertura do Centro de Avaliação Conjunta Pediátrica, mas pede mudanças na actual legislação, que não abrange muitas das novas patologias. “[A abertura do centro] é um progresso, mas espero que Alexis Tam dê uma resposta à sociedade e a nós próprios (associações) sobre a revisão da legislação para que possamos contratar terapeutas ao exterior. Há novas patologias, como o autismo, mas as actuais licenças não cobrem essas as novas terapias que foram surgindo. Como é que o hospital e o IAS vão resolver essa questão?”, questionou. A presidente da MCDA pede uma aposta na formação de terapeutas. “Digo isto desde 2003: como é que é possível continuarmos a depender dos que se formam em Hong Kong?”. Eliana Calderon pede ainda maior resposta para que seja diminuído o fosso de desigualdade entre a Função Pública e as associações. “Há ainda uma discriminação entre as associações como a nossa e o Governo. Os apoios financeiros que o Governo nos concede não equivalem à nossa realidade, porque não podemos pagar os mesmos salários. Fazemos mais com o menos que eles têm.” Com satisfação Hetzer Siu, presidente da Macau Special Olympics, esteve presente na cerimónia de inauguração do Centro e falou ao HM à margem da sessão. “São boas notícias para os cidadãos de Macau, porque nos últimos anos surgiram vários casos de crianças com necessidades educativas especiais que nasceram cá. Penso que este centro pode ajudar os pais a conhecerem qual o problema de que padece o seu filho. Quando as crianças nascem em Macau, o IAS tem um apoio para crianças até aos dois anos. Se depois os pais detectarem algum problema normalmente contactam as associações e clínicas privadas para esse diagnóstico. Este Centro vai permitir a que haja uma transferência imediata das crianças através do IAS e da DSEJ. Alguns são problemas grandes, outros não, e os pais vão ter mais respostas e mais rápidas”, explicou Hetzer Siu. O presidente da Macau Special Olympics congratula-se com a abertura de uma licenciatura para a formação de terapeutas. “Apenas me preocupo se o número de terapeutas será suficiente ou não. O Governo tem de procurar formas para que mais terapeutas possam entrar ou promover uma maior cooperação com as associações. Hoje em dia o grande problema é que os pais sabem que o filho tem algum problema, mas não sabem o que é”, concluiu.
Joana Freitas SociedadeCanais de Televisão Básicos substituem cabos em 80 mil fracções [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Canais de Televisão Básicos de Macau, S. A. teve de pedir ajuda aos anteneiros para conseguir instalar televisão em edifícios baixos, mas conseguiu, durante 2015, substituir cabos aéreos em mais de 80 mil casas. A empresa – criada para a prestação de serviços de recepção de tv – assegura ter instalado cabos televisivos subterrâneos “em todo o território”, incluindo nos bairros antigos. “Para a recepção de sinal televisivo em aglomerados de edifícios baixos foi necessário recorrer aos fornecedores de serviço de antena comum, para empreitadas de instalação de cabos e dispositivos de ligação para a distribuição dos sinais provenientes da rede subterrânea de fibra óptica. Nestes aglomerados de edifícios baixos, em que não tinha disponível o fornecimento de energia eléctrica, foi necessário recorrer à instalação eléctrica adicional e de equipamentos electromecânicos para a instalação de conversores e amplificadores de sinais”, explica a empresa – administrada pelo Governo, TDM e Correios – no relatório anual de 2015, ontem publicado em Boletim Oficial. Um dos trabalhos de que a Canais de Televisão Básicos está encarregue é de substituir todos os cabos aéreos nas ruas, algo que assegura ser um trabalho contínuo. “A [empresa] iniciou obras de substituição de cabos aéreos em mais de 80 mil fracções. Em 2016, foi definido no plano de trabalhos a prioridade da ligação do sinal televisivo a complexos habitacionais de larga escala e a substituição de cabos aéreos em agrupamentos de edifícios baixos, localizados em bairros históricos e antigos da cidade, para o fornecimento de sinais televisivos básicos a todos os residentes destas zonas”, indica ainda. As receitas da Canais Básicos ascenderam aos 2,6 milhões de patacas.
Hoje Macau Manchete SociedadeNuclear | Novo Macau diz que Governo “não tem noção do risco” A água vem da região vizinha, a comida também e só por aí Macau já não está seguro. A construção de mais uma central nuclear ao largo do território e a falta de detalhes de um plano de contingência preocupam a Novo Macau, que dizem que o Governo “não tem noção” quando diz que o território está tranquilo [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação Novo Macau acusou ontem o Governo de não ter noção do risco de um eventual problema da central nuclear em construção a 64 quilómetros de Macau, em Taishan, e exige que anuncie planos de contingência detalhados. O apelo da Novo Macau surge na sequência de informações de que a central nuclear de Taishan, na província vizinha de Guangdong, que se encontra na fase final de construção, apresenta problemas que podem levar à ocorrência de incidentes, como falhas na produção de peças. O Governo diz que “Macau está segura por estar a uma certa distância” da central, o que, para a Novo Macau, revela a sua “ignorância devido à falta de consciência”. A associação não só recorda que actualmente “Macau e Hong Kong se encontram flanqueadas por três centrais nucleares em ambos os lados da costa”, como também que todos os alimentos do território são importados. O presidente da Novo Macau, Scott Chiang, advertiu que, em caso de incidente, Macau será “directamente afectada”, estando a Associação “profundamente preocupada”, atendendo a que o risco não é apenas o de “exposição”, mas também ao nível do abastecimento de água e de comida, assegurado em grande parte pela província vizinha. “Não há qualquer plano feito pelo Governo para reagir face a tal cenário”, argumentou. Do ponto de vista dos interesses e da segurança, a localização da central é “inaceitável”, pelo que a Novo Macau se opõe ao início das operações sem uma garantia de que a central cumpre as normas de segurança internacionais. “O Governo deve anunciar planos de emergência para incidentes nucleares, incluindo descontaminação, segurança alimentar, entre outros”, defende a Associação, que também alertou para o “duro golpe” na confiança que uma eventualidade na vizinhança pode ter na cidade que vive do turismo. O plano, qual plano? O Governo publicou um comunicado em que diz ter solicitado à província de Guangdong informações sobre a central e que tem vindo a seguir com “a maior atenção” o assunto. Refere que Macau dispõe de um plano de contingência para responder a catástrofes nucleares nas regiões vizinhas, elaborado em 1995, entretanto revisto e optimizado, cujos detalhes poderiam ser consultados no portal do Gabinete Coordenador de Segurança. Na versão portuguesa do portal não há qualquer referência a incidentes nucleares. “Fique calmo”, “ouça a rádio” e “aguarde instruções” são as indicações para um caso de emergência que surgem, segundo os dirigentes da Novo Macau, na versão chinesa do site. A central de Taishan, um projecto fruto de uma parceria sino-francesa – entre a China Guangdong Nuclear Power (CGN) e a Électricité de France (EDF) –, pretende iniciar operações dos dois reactores no próximo ano, mantendo o calendário apesar das notícias. Segundo o portal FactWire, em Abril, a Autoridade de Segurança Nuclear de França detectou excesso de carbono num vaso de pressão de uma central francesa com reactores nucleares de terceira geração (EPR) – a mesma tecnologia da de Taishan – indicando que estava demasiado frágil, o que pode causar uma potencial fuga radioactiva. Engenheiros franceses disseram ao FactWire que a unidade 1 da central foi submetida a um grande número de testes e que, na melhor das hipóteses, só poderia entrar em funcionamento em 2018. Alertaram ainda que as autoridades chinesas têm vindo a pressionar para acelerar a construção. Gao Ligang, CEO da CGN Power, negou-o, em declarações reproduzidas esta semana pelo South China Morning Post, afirmando que o recipiente de pressão dos reatores vai ao encontro de todos os padrões de tecnologia e segurança e que o progresso da construção tem estado sob apertado escrutínio por parte da China. LUSA/HM
Joana Freitas Manchete SociedadeSands | Processo de Jacobs contra Adelson chega ao fim Pode ascender até aos 782 milhões de patacas o pagamento que Sheldon Adelson fará a Steve Jacobs. O dinheiro fez os dois homens chegar a um acordo no processo que interpunha o ex-director-executivo da Sands China ao magnata do jogo e que envolvia acusações de corrupção, crime organizado e influência junto de Pequim [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hegou ao fim o caso que opunha Steve Jacobs a Sheldon Adelson num tribunal do Nevado com o antigo director-executivo da Sands China a chegar a acordo com o magnata. O caso, que teve acusações graves da parte de Jacobs, arrastava-se há anos. A notícia foi ontem divulgada pela própria empresa, em comunicado enviado à Bolsa de Hong Kong. Apesar de não serem conhecidos os detalhes do acordo, o Wall Street Journal avança que a Las Vegas Sands concordou pagar a Jacobs, que dirigia as operações da empresa em Macau, entre 75 a cem milhões de dólares americanos (cerca de 782 milhões de patacas). “A 31 de Maio, as partes chegaram a um acordo razoável e confidencial, que levou o senhor Jacobs a desistir de todas as queixas no Estado do Nevada contra a Las Vegas Sands, a sua subsidiária Venetian Macau e Sheldon Adelson”, pode ler-se no comunicado da empresa. Labirinto de acusações O caso começou em 2010, quando Steve Jacobs alegou ter sido despedido sem justa causa do cargo que desempenhava por se ter “recusado” a obedecer a ordens de Adelson e por ter tentado “acabar com actividades ilícitas” nos casinos do território, como ligações a tríades e prostituição, o que levou a um processo por difamação contra o ex-director que acabou por não ser aceite em tribunal. Jacobs dizia ainda que o magnata do jogo tentou que ele descobrisse aspectos negativos sobre governantes de Macau, de forma a que estes pudessem ser influenciados face a licenças de operação de casinos. O nome de Leonel Alves, advogado e deputado do território, chegou a aparecer envolvido no processo, depois de Jacobs ter dito que o seu despedimento se deveu também ao facto deste ter tentado impedir “pagamentos avultados” a Alves, que Jacobs acusava de ter sido pago para exercer influência junto das autoridades de Pequim para a obtenção de uma licença de jogo. Acusações negadas por Leonel Alves. As alegações de Jacobs, onde se destaca também corrupção, fizeram com que a Securities and Exchange Commission, reguladora dos EUA, tivesse investigado a empresa, por violação no estrangeiro da lei anti-corrupção do país. Adelson também resolveu essa questão – cujas alegações passavam por “falta de controlo nas contas da empresa desde 2006” – recorrendo ao pagamento de mais de nove milhões de dólares.
Filipa Araújo PolíticaComércio Externo | Lei que facilita entrada de mercadorias pronta Está assinado o parecer da revisão à Lei do Comércio Externo. Introduzido o documento aduaneiro internacional, Macau facilita, assim, o processo de entrada de mercadorias. O diploma segue agora para aprovação na especialidade [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]stá concluído e assinado o parecer final da alteração à Lei do Comércio Externo. A 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) concordou com as alterações finais apresentadas pelo Governo e assinou, na manhã de ontem, o parecer à alteração da lei que vem facilitar o processo de entrada de mercadorias no território. Em nota justificativa, o Governo explica que a revisão vem prever as operações a coberto do Livrete ATA, documento aduaneiro “internacionalmente reconhecido como um dos documentos das operações do comércio externo”, incorporando-se o respectivo regime no sistema jurídico do mesmo comércio. Com esta revisão, explica a Comissão, estes documentos aduaneiros internacionalmente usados podem aumentar a celeridade, ficando incorporados no sistema do comércio externo e completando “ainda mais” a integridade e sistematização do regime do comércio externo do território. Acção que, explica ainda o grupo de deputados, vai atrair “exposições estrangeiras para Macau ou de convenções e exposições itinerantes internacionais, facilitando a internacionalização da indústria das convenções e exposições de Macau, explorando o espaço do mercado internacional e elevando o desenvolvimento sustentável desta indústria”. Mais harmonia Com a revisão da lei é ainda revogado o artigo que diz respeito ao recurso contencioso, para evitar a repetição ou alguma eventual “desarmonia na competência para a apreciação” deste recurso. Sendo que com a aprovação da lei irá aplicar-se directamente a Lei de Bases da Organização Judiciária e as demais normas jurídicas que regulam a competência para a apreciação do recurso contencioso. Foram ainda introduzidas as disposições gerais do regime de trânsito, fixando o prazo da licença de dez dias, que nunca poderá ser ultrapassado. A Comissão frisa ainda que as mercadorias mais sensíveis devem ser rigorosamente controladas. O diploma sobe agora a plenário para votação em especialidade, não estando ainda agendada.
Hoje Macau Manchete SociedadeTabaco | Fumadores diminuíram para 15% do total da população A queda de 2% em quatro anos no número de fumadores em Macau deve-se à nova lei anti-tabaco, dizem os Serviços de Saúde. Cerca de 15% da população ainda fuma, sendo a maioria homens. Muitos já tentaram desistir [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s fumadores representavam 15% da população de Macau com 15 ou mais anos de idade no ano passado, menos 1,9% do que no final de 2011, véspera da entrada em vigor da legislação anti-tabaco. Segundo os dados de um estudo dos Serviços de Saúde, ontem divulgados, a taxa de fumadores entre a população com pelo menos 15 anos era de 16,9% em 2011 e foi decrescendo progressivamente, até se situar nos 15% no final de 2015. A grande discrepância entre géneros mantém-se: 6,8% dos homens são fumadores, enquanto esta taxa é de 3,7% entre as mulheres. No entanto, os homens que fumam diminuíram de 31,4% em 2011 para 26,8% no ano passado, enquanto nas mulheres a diferença é quase nula (de 3,8 para 3,7%). É na faixa etária entre os 45 e os 54 anos que há mais homens fumadores (37,2%). Já entre as mulheres, há mais fumadores no grupo entre os 25 e os 24 anos de idade (6,5%). Os SS revelaram que 27,7% dos fumadores com mais de quinze anos já tentou deixar o tabaco. “A taxa de cessação tabágica pelos fumadores ocasionais é mais alta do que os fumadores diários e representam 40% e 26,2% respectivamente”, lê-se no comunicado, onde as autoridades atribuem a diminuição da população fumadora à aplicação da legislação que, desde 1 de Janeiro de 2012, proíbe o fumo em espaços públicos fechados. Passo a passo A Lei da Prevenção e Controlo do Tabagismo tem vindo a ser aplicada de forma gradual, começando por visar a generalidade dos espaços. Os casinos passaram a ser abrangidos em Janeiro de 2013, mas apenas parcialmente, já que as seis operadoras de jogo foram autorizadas a criar zonas específicas para fumadores, que não podiam ser superiores a 50% do total da área destinada ao público. Contudo, em Outubro de 2014, “as zonas para fumadores” foram substituídas por salas de fumo fechadas, com sistema de pressão negativa e de ventilação independente, passando a ser proibido fumar nas zonas de jogo de massas dos casinos e permitido apenas em algumas áreas das zonas de jogo VIP. Actualmente, encontra-se em análise uma alteração ao Regime de Prevenção e Controlo de Tabagismo no sentido de proibir totalmente o fumo nos casinos.
Tomás Chio BrevesMais de 1900 casos de abuso de serviços de urgência [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Corpo de Bombeiros indicou que recebeu mais de 1900 pedidos de urgência de casos que não eram graves, exemplificando que alguns desses pedidos eram de residentes com dores de dentes, que tinham sido vítimas de pequenos cortes ou que apenas não queriam comer. Segundo o Jornal Ou Mun, David Tsang, chefe dos Bombeiros, indicou que o serviço de urgência teve mais de quarenta mil operações de socorro só no ano de 2015. Metade destas, diz, foram direccionadas ao Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ). Mas 1900 dos pedidos foram considerados sem fundamento pelos Serviços de Saúde (SS). Este tipo de ocorrência não tem vindo a melhorar. É que segundo explica David Tsang, no primeiro trimestre do presente deste ano já foram detectados 272 casos em que não havia urgência. Os serviços acreditam que isto acontece porque os residentes consideram que o serviços de urgência dos Bombeiros são uma boa forma de serem transportados para o hospital. Há ainda, dizem, residentes que acreditam que se derem entrada no hospital pelos Bombeiros não vão ter de esperar no serviços de urgência do São Januário. David Tsang alerta a população para que não abuse deste serviço por parte dos residentes. É preciso, diz, garantir que este serviço esteja disponível apenas para casos de verdadeira problemática. O responsável sugere ainda que este assunto seja mencionado nas escolas e associações garantindo o bom uso do serviço.