Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasExposição | Macau e a Lusofonia Afro-Asiática em Postais Fotográficos É uma mostra de 260 postais fotográficos , na grande maioria datados de 1900 a 1930, período aúreo da circulação dos cartões ilustrados , que os impuseram como o mais marcante ícone da era da massificação das imagens ou da era do clichê. Documentando aspectos vários de Angola, Cabo Verde, Ex-Estado Português da Índia, Moçambique, S. Tomé e Príncipe,Timor e Macau, a sequência expositiva permite, entre outras, uma leitura de como a revolução tecnológica da 1ª Era Industrial se implantou na lusofonia afro-asiática. Luís Sá Cunha5> [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] 1a Era Industrial tem origem na invenção da máquina a vapor pelo engenheiro escocês James Watt, que a patenteou em 1769. A compreensão e aplicação dos processos da termodinâmica da força do vapor de água resultaram rapidamente na multiplicação da força do trabalho humano, operando a passagem da civilização agrária à civilização industrial, com uso das máquinas a vapor em produções massivas das fábricas de tecidos, ferramentas, papéis e… de outras máquinas mais poderosas. Se as repercussões no mundo económico foram imediatas, outras fundas aspirações iriam também rapidamente ter respostas: as ânsias humanas de comunicação, para vencer o espaço e o tempo. O mesmo Watt inventa logo de seguida processo de fazer cópias de documentos, comercializado com êxito em 1779. O processo litográfico era inventado em 1797 pelo actor Aloy Senefelder, alemão nascido em Praga, que aplicou uma tinta resistente ao ácido sobre uma placa calcária de fino grão, a que chamou planografia . Paralelamente, evoluíam avanços na Física e na Química, na óptica e nas lentes, tentando reproduzir imagens reais fixadas numa base. A técnica da fotografia surgiu em França em 1833, através de uma placa de cobre coberta com nitrato de prata, o daguerreótipo, do nome do sei inventor, Daguerre, logo seguida pela colotipia do científico inglês Henry Fox Talbot precursor das cópias sobre papel. Correm ao lado as técnicas de imprimissão e composição de fontes ou matrizes, com a linotipia e de seguida a monotipia, para textos, e com a litogravura e a fotogravura, para impressão de imagens. Surgem as revistas com ilustrações, sobretrudo a partir da última década do século. As técnicas fotográficas evoluem em rapidez e fidelidade à reprodução do real: dos pesados caixotes que requeriam 15 minutos de pose, passa-se à câmara portátil posta no mercado em 1888 pela Kodac com o genial slogan de promoção – “clique, que nós fazemos o resto”. As aplicações da máquina a vapor geram os grandes transatlânticos , as locomotivas e vias férreas transcontinentais, os cabos submarinos intercontinentais, e assim a agilização dos serviços de correios. O cartão postal Neste enquadramento exigente de novas formas de comunicação entende-se a aparição do cartão postal na Áustria em 1865, mais tarde promovido nas grandes mostras das novidades mundiais que foram as Feiras e Exposições Universais de Paris. O êxito do cartão postal compreende-se por ser meio de comunicação rápido, fácil, de baixo custo, substituindo as longas cartas fechadas, mais morosas e caras, da epistolografia romântica. O cabo-submarino e os cartões postais inauguram as mensagens “telegráficas”, no sentido de limitadas a curtas palavras, que os tempos exigiam. Na década de 90 começam a surgir os postais fotográficos ou ilustrados, que conjugam o discurso da saudade (reverso) com a visão do exótico (anverso): as famílias podem agora ver onde está o seu parente querido, as formas e cores das longínquas paragens, e sentem a sensação de uma proximidade que atenua a separação. O postal faz circular o discurso dos afectos e da nova visão do mundo , expostos ao mundo, porque viajam à vista de toda a gente. O postal é agora um documento bifronte, tem duas faces e dois discursos, é o primeiro produto post-industrial em que o conteúdo artístico se conjuga com um meio de informação ou em que o veículo da informação se vai acolher crescentemente ao elemento artístico . Os postais passam a ser o primeiro grande álbum de massas da ilustração do mundo, alargam a globalização tornando-a familiar, divulgando cidades, portos, monumentos, ícones mundiais, etno-grafias, povos e trajes, tipos humanos nunca vistos, cenários e publicidade. Na apreciação do filósofo alemão Walter Benjamin ele significa a passagem do regime da ocorrência única ao regime da ocorrência de massa, conjugando uma mensagem privada com outra reprodutível e assim massiva. É a primeira grande manifestação das indústrias culturais e indício da massificação social a deflagrar em crescendo. Mas o cartão postal fotográfico não se limita a duas faces inteiras, é geometria quadripartida, porque não há apenas frente e verso, mas neste esquerda e direita, remetentes e destinatários, e mais ainda as transgressões do reverso sobre as imagens, para as legendar, comentar, sublinhar etc., e há o texto manuscrito e o texto tipográfico: “O que eu prefiro no postal ilustrado é que não sabemos o que é o verso e o reverso, aqui ou ali, perto ou longe (…) nem o que é mais importante, imagem ou texto, e no texto a mensagem, a legenda ou o endereço”. Eis um belo resumo formal do postal na visão de Jacques Derrida . De facto, tudo num cartão postal é significante, mesmo apenas um endereço. Na vária opinião de filósofos, o postal fotográfico é “um dos mais exaustivos quanto fragmentários inventários visuais” da figuração do mundo, e “inventor da prosa do mundo por uma humanidade sem nome”. As suas imagens proliferando, viajando, prestáveis a serem coleccionadas, constituem matérias do arquivo visual de uma época, expressam um tempo como discurso e como memória, “como história e reinvenção da história”, sendo o mais relevante ícone da “febre de imagens” da “Era do clichê” (Deleuze ), ou da “violência das imagens” ( Jean Luc Nancy) , dando também matéria à “febre de arquivo” (Jacques Derrida) dos nossos dias. Invenção do turismo — uma estratégia de sedução Expostos ao olhar do mundo, “imagens distribuídas ao domícílio” na expressão de Paul Valéry, os postais vão ser o instrumento das indústrias culturais na deflagração do fenómeno do turismo, distribuindo impressões belas do mundo pelo mundo. Operando a maquilhagem do real num caixilho recortado do espaço, seleccionando o mais belo no mais favorável enquadramento, eliminando o que perturbe as sensibilidades dominantes, os cartões fotográficos impuseram-se como máscaras da sedução (Derrida) e constituindo uma estereotipia da sedução (Pierre Klossovski) incitantes do turismo. A exibição de um postal fotográfico passou a ser mostra pública de prestígio social da nova burguesia crescente, prova de frequência dos mais famosos e admiráveis sítios mundiais. A sofreguidão das imagens vem satisfazer a sofreguidão do exótico, a eliminação de distâncias e de fronteiras antes só acessíveis a poucos. Os centros urbanos, sobretudo os litorâneos, lugares de escala dos grandes transatlânticos, pressentem os novos tempos e aprestam-se a maquilhar-se, a colorir-se, ajardinar-se, a seguir a nova estratégia da sedução, para imprimirem o seu nome nos mapas das grandes rotas do mundo. A fotografia/ cartão fotográfico – fonte da História No final dos anos XX do século passado deu-se uma revolução nos critérios da análise histórica que deu origem a uma nova historiografia, por alguns chamada nova história, por superação da fundamentação exclusiva em documentos escritos e nas áreas política, diplomática, militar e económica, e com consideração de uma concepção holística da História. A história total passou a ter em conta os factos sociais no seu conjunto e inter-relação, como os sistemas culturais dominantes, a história das mentalidades, as sensibilidades sociais, as representações colectivas, a linguagem do traje e das modas etc.. Assim, a discursividade informativa da fotografia e do postal fotográfico passou a ser chamada a lugar importante de reconstituição da memória social. Este nova concepção aconteceu em França, com início das novas propostas defendidas pela École des Annales e expostas na revista “Annales d’Histoire Économique et Sociale” (1929), onde sobressaíam dois nomes de renome mundial, Lucien Fèvre e Marc Bloch. Esta escola prolongou-se por três gerações de grandes historiadores, onde podem distinguir-se Fernand Braudel, Pierre Chaunu, George Duby, Jacques Le Goff, Philipe Ariès, Pierre Nora etc., numa continuidade que se vai arrimando à antroplogia estruturalista de Lévi-Strauss e à epistemologia de Michel Foucault. Jacques Le Goff fez um dos enunciados básicos da metodologia avaliativa dos registos, com a distinção entre documento (1) e monumento (2): documento — marca de uma materialidade concreta do passado, como pessoas, lugares, equipamentos urbanos e rurais, estruturas urbanas etc. , (o que é uma escolha do historiador); monumento — como símbolo de uma época, herança do passado, o que ela estabelece como (única) imagem a ser transmitida ao futuro. Mas é Le Goff quem logo desconstrói o que disse ser uma ilusória dicotomia analítica, porque o material informativo/documental resulta da selecção, sensibilidade, critério subjectivo de quem o elabora e selecciona, e assim todo o documento é monumento, e como tal e no limite, todo o documento é mentiroso. Uma sócio-semiótica do processo histórico É dentro e a par deste movimento analítico que se gera a necessidade de mais profunda leitura dos signos, para uma interpretação sócio-semiótica da documentação histórica, onde expressões verbais, simbólicas, plásticas, de gestos, atitudes, olhares, comportamentos, trajes, linguagens, são vistos na intertextualidade dos vários códigos de compreensão do ser em trânsito no mundo. As categorias universais do signo , propostas pelo considerado grande iniciador da semiótica, Charles Sanders Peirce( 1839/1914) , primeiridade, secundidade, terceiridade, imediatismo consciente do fenómeno, entendimento do fenómeno pela consciência e interpretação e categorização dos fenómenos, constituiu quadro triádico também enquadrante da leitura dos signos visuais para posterior socio-semiótica dos fenómenos histórico-sociais. A fotografia começou a ser analizada em si própria como encenação de intertextualidade de todos os seus adereços componentes, não como simples analogon de uma realidade na sua fisicalidade concreta, mas na organização e interpretação dos seus conteúdos internos ( Umberto Eco, Ernest Gombrich). Não como um pedaço recortado e isolado do fluxo do tempo, mas como um continuum que projecta signos de interpretação para o futuro e tem no futuro uma outra e mais completa interpretação. De outra perspectiva, a fotografia por si só é histórica e, no dizer de Roland Barthes, não deve ser vista como ilustração do texto escrito, como este não deve ser o seu comentário (“la photo n’ illustre le texte, ceci ne commente la photo”) “A imagem (diz Barthes) transforma-se numa escrita, a partir do momento em que é significativa (…) uma fotografia será, para nós, considerada fala exctamente como um artigo de jornal (…) fechar os olhos é fazer a imagem falar no silêncio, a fotografia é subversiva quando pensativa”. Em figuras de gente, deve-se olhar para o traje e os adereços da vestuária, e, mais do que para o olhar, para os olhos, como recomenda Barthes. A leitura da fotografia do jovem Franz Kafka por Walter Benjamin é a mais icónica ilustração disto. Espelho e reinvenção dos impérios europeus Os discursos visuais publicitados pela circulação dos postais fotográficos podem ser vistos como espelho e reinvenção da história da expansão dos impérios europeus, sobretudo no continente africano. É que os postais não se limitavam a satisfazer o gosto pelo exótico da pupila superficial das massas citadinas europeias. Divulgando a vida dos interiores africanos, os seus usos e costumes, sistemas sociais, tecnologias ancestrais, construindo uma imagem do Outro civilizacionalmente atrasado e inferior, as imagens dos postais foram instrumento (nolens volens) da fundamentação moral às operações de uma Europa tecnicamente evoluída, belicamente poderosa, sobre núcleos tribais “primitivos”. Eis o discurso da fotografia monumento, selectiva do que uma geração intenta passar ao futuro. Limitada no seu fixismo bidimensional, a fotografia que exibe o orgulho das grandes inovações da Era Industrial — transtlânticos, portos, caminhos de ferro, estações de cabo submarino e de meteorologia, maquinarias etc. — deixa fora do caixilho ou empenumbra aquilo que se mobilizou de energia braçal para os construir, como o que em plantações de sisal, café, amendoim etc., se produzia à custa de exploração do trabalho ou da semi-escravatura. Álbum da cultura dominante, o postal também provoca, questiona, incita o olhar a aprofundar-se em dimensões meta-icónicas. Ao lado do discurso hegemónico europeu, regista também outros de incentivo à preservação das hierarquias tradicionais útil à administração europeia, e à assimilação e à integração de classes locais, que se europeizam para alcançar superior estatuto social. Tudo é cenário: na Europa a África é cenarizada, mas também aproveita os adereços desse teatro para revestir a imagem do Outro, fotografando-se com o guarda – roupa do homem da city, de cartola ou canotier, ou com chapéus emplumados à la mode de Paris. E isto, da gradação dos tons da pele ao guarda-roupa, só a fotografia pode falar à História.
Pedro Lystmann h | Artes, Letras e IdeiasA propósito de Magris e da Hungria [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]uma entrevista a Claudio Magris publicada recentemente num jornal português perdeu-se uma boa oportunidade para perceber como o autor de Danubio julga os transportes que se operaram nos últimos anos em algumas das regiões sobre que o seu livro paradigmático se debruça. Se a importância que atribui aos espaços públicos onde se pratica a preguiça e a reflexão não deixa de ter lugar na conversa que se reproduz, uma preguiça e um exercício de reflexão que se terá transformado nas cidades contemporâneas em que se instalaram hábitos mais utilitários, menos presente está a reflexão sobre o que aconteceu às cidades ou vilas onde se passou de um regime de ditadura a um de democracia. Lembre-se que Danubio foi publicado em Milão, pela primeira vez, em 1986, poucos anos antes das transformações que libertaram vários países do que se chamava a Europa de Leste da forte influência soviética que se impôs após a Segunda Grande Guerra. Ler Danubio hoje, no que respeita às páginas que se debruçam sobre a Eslováquia, a Hungria, a Roménia e a Bulgária (que correspondem a cerca de metade do livro, seguintes às que falam da Alemanha e da Áustria) levam-nos a um universo ao mesmo tempo muito longínquo e muito próximo. Também se fala, e bem, da periferia como o lugar da “separação, mas também do encontro. Na periferia, há um conhecimento do centro maior do que o que existe no centro sobre a periferia” – afirma Magris durante a entrevista, reflexão que se pode aplicar também a países, como Portugal ou a Finlândia, onde existe um interesse pelo centro que não é necessariamente recíproco. Ou mesmo – acrescenta – “um conhecimento e um sentimento dos valores comuns mais fortes do que no centro. Por outro lado, o grande perigo da periferia é o de se considerar o mais autêntico da nação, por serem zonas onde se pensa que esse sentimento nacional está ameaçado. É nesse contexto que nascem os nacionalismos das zonas periféricas”. Esta resposta poderia ter sido tomada como plataforma de partida para perceber melhor e aprofundar o que se passa hoje em países como a Hungria ou a Polónia (que por razões geográficas não entra na discussão danubiana) onde o nacionalismo e a opção pelo isolamento são cada vez mais fortes. Começa por se fazer – mas não se explora suficientemente esta linha – ao referir a obsessão de alguns destes países em escolher o isolamento e a protecção insegura da sua identidade em detrimento da abertura e da tolerância, um processo com raiz na tentativa de preservar a identidade própria em face da hegemonização imposta durante o período de influência soviética. Magris refere o fosso existente entre a Constituição húngara e a dos países da U.E. É precisamente a Hungria que me interessa, como exemplo de fechamento e, mais interessante ainda, como exemplo de um país onde a um período de abertura que se seguiu a um de extremo enclausuramento que durou várias décadas, entrou numa fase de apetência por uma nova face de autoritarismo (como na Polónia) – algo que se não deu nos países do sul, Portugal, Grécia e Espanha, que nos anos 70 (74 e 75) rejeitaram regimes autoritários para nunca mais voltar a desejá-los. Não existem sequer em Portugal ou Espanha significativos grupos de direita que mostrem uma propensão nostálgica pelo autoritarismo. O primeiro texto do capítulo que Magris dedica, em Danubio, à Hungria, chama-se At the Gates of Asia?, o que demonstra a condição periférica que o autor lhe confere, uma que se acentua num país onde a língua tem poucos pontos de contacto (ou nenhuns) com as dos países do centro ou as dos países circundantes. Esta é uma terra em que nos inícios do século XX existe um sentimento de despertença do Ocidente Europeu: “The West has rejected us, so we turn to the East”, uma terra cuja história demonstra um fervoroso nacionalismo que se funda, ironicamente, a partir da sobreposição de inúmeras camadas de invasão e mistura, matrizes formativas do particularismo magiar em que se inclui o elemento asiático – tatar, turco (mais de 150 anos de ocupação), cumano ou pechenegue. O estado comunista impõs-se de modo paternal, reservando-se o direito de controlar todos os níveis da sociedade e suprimindo liberdades políticas, mesmo que a Hungria tenha sido (eu ainda me lembro) um dos regimes mais distantes de Moscovo de entre os que a U.R.S.S. controlava, constantemente alternando entre períodos de maior e menor autoritarismo. Ao ler Danubio sentimos como este mundo (que forneceu ilimitado material ficcional), que parece distante, está, afinal, tão próximo de nós. Na prática o período comunista sucedeu-se a um regime igualmente autoritário (que se inicia, como em Portugal, nos anos 20), o do período de Horthy, Almirante dum país sem mar, aliado de Hitler mas de um nacionalismo rigoroso que não poupou dissabores também à comunidade alemã húngara (que depois de 1945 foi violentamente perseguida). De fins da Primeira Grande Guerra até 1989 são mais de 60 anos de regime musculado, primeira como ligado à União Soviética, depois como regime de direita e de novo sob domínio soviético após o Segundo Conflito Mundial, uma sucessão de Terror Vermelho-Terror Branco-Terror Vermelho. A Hungria hoje, a Hungria de Orbán, é um país onde se tenta re-escrever a história de acordo com uma agenda nacionalista (um sinal de extremo perigo), um país membro da O.T.A.N. (assim como a Turquia e a Polónia) e da U.E. onde a xenofobia e a concentração de poderes se exibem sem vergonha, onde o primeiro-ministro, mais uma vez sem pruridos, proclama o desejo de construção de uma democracia iliberal non-Western e admira abertamente Vladimir Putin, onde a imprensa não é livre, onde a lei eleitoral foi alterada de modo a favorecer o seu partido, onde os tribunais têm cada vez menos independência e onde o primeiro ministro faz o que lhe apetece. Se Viktor Orbán não tem mostrado hostilidade directa contra os judeus e os ciganos, a necessária condenação dos grupos que o têm feito não tem sido devidamente convincente. Paralelamente, o Primeiro-Ministro parece mostrar simpatia por alturas da história da Hungria em que se esta dominava território hoje pertencente a países vizinhos. Tudo isto num país que se revelou como um dos mais abertamente adversos ao domínio soviético durante a época da Cortina de Ferro. Se Orbán, Erdogan, Netanyahu ou Kaczynski estão no poder é porque há uma vasta base conservadora popular que se identifica com as suas propostas. Tem sido difícil ao eleitor urbano supostamente mais sofisticado e educado entender esta gigantesca força silenciosa que não faz barulho na rua mas apoia em massa (basta votar) propostas políticas musculadas e rejeita liberalismos modernaços. É aqui que se coloca a questão de saber se existe neste poderoso grupo uma força conservadora nostálgica ou uma força fraca que necessita de um poder forte que não questiona, que olhe por eles e que garanta um modelo de ordem que parece – a este complexo mental – não existir nas sociedades ocidentais liberais. Assim, como li algures num artigo cuja proveniência não recordo, o novo autoritarismo nasce também daquilo que no Ocidente parece ser uma falta de autoridade e um excesso de liberdades. O que em Portugal se chama: ela-havia-de-ser-minha-filha-a-ver-se andava-assim-na-rua. Pensar na falta de tradições democráticas não ajuda a explicar as histórias de sucesso de Portugal, Espanha e da Grécia onde estas não sofrem (ou sofreram nestas últimas 4 décadas) qualquer ameaça significativa. Acrescenta-se a esta parcela a da exportação de modelos autoritários bem planeados. Os países poderosos que hoje se auto-propagandeiam sem receio como crescentemente autoritários, a China ou a Rússia, têm vindo a criar um modelo que legitima, aos olhos de outros, como a Turquia, muitos países africanos ou os países da Ásia Central antigamente sob o domínio soviético, uma opção que limita as liberdades e a independência do sistema judiciário e se afirma paternalisticamente como dura mas necessária. A esta necessidade cola-se um poderoso aparelho de propaganda nacionalista que ao liberalismo ocidental pode parecer bacoco e provinciano. Orbán tem elogiado a China, a Rússia, Singapura e a Turquia como modelos. Falar do modo sistemático e obviamente muito bem planeado como a China tem tentado exportar o seu modelo (sedutor porque inclui crescimento económico e afirmação internacional) seria matéria para outras linhas.
Tânia dos Santos Sexanálise VozesAcidentes com sexo [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] sexo é muito, mas mesmo muito, bom. É o melhor para relaxar o corpo e a mente, é o melhor para a nossa auto-estima, é o melhor para espalhar o nosso amor. Mas o sexo tem perigos, uns mais comuns que outros. Não há nada como nos precavermos daquelas coisas que já conhecemos e termos alguma consciência dos inesperados que poderão surgir. Inesperado será sempre inesperado, potencialmente doloroso, mas muito provavelmente engraçado. Faz-me lembrar aquele episódio da série Seinfeld quando um proctologista faz contínuas anedotas sobre a panóplia de objectos que o pessoal mete nos seus rabinhos e que ficam lá presos. No calor do momento ninguém pensa muito detalhadamente nos riscos que um momento íntimo de prazer poderá trazer. O que nos prepara para a vergonha quando somos obrigados a partilhá-lo com médicos, enfermeiros ou ambulâncias? Nada. De qualquer forma, a probabilidade de ter um acidente sério é muito pequena, mas em casos raros pode ser fatal. 1.Brinquedos sexuais são caros, por isso as pessoas tentam improvisar como podem. O improviso, porém, pode não ser simpático com o nosso corpinho, massacrando-o de formas inimagináveis. É preciso ter cuidado com aquilo que se mete na vagina ou no rabinho, podem ser pequenos demais ao ponto de se ‘perderem’ ou grandes demais para magoarem à séria. É que depois só num hospital há material especializado para explorar as caves interiores e retirar os objectos estranhos. Não os deixem lá dentro durante muito tempo. Evitem lâmpadas LED ou termómetros de aquário (tudo o que se possa estilhaçar é expressamente proibido, por mais fálicos que sejam) e evitem superfícies rugosas que possam arranhar ou ferir (houve alguém que se lembrou de enfiar uma flor pela uretra e arrependeu-se). Em relação à vagina em particular, esta tem um ambiente delicado com um pH específico indispensável à sua saúde. Se se meterem objectos estranhos que segreguem algum líquido, ou deixem ‘restos’, estou a pensar por exemplo, numa banana, a vagina pode ficar infeliz com a sujidade. 2.Não há nada como espontaneidade sexual em todos os recantos do quarto, da casa, da cidade e do planeta. Mas cuidado onde o fazem. Há quem tenha feito contra uma janela e caído, ou numa mata e caído num poço, ou a conduzir e ter tido um acidente (imaginem um broche enquanto conduzem e baterem contra alguém… acho que não preciso ser muito gráfica), ou no chuveiro e escorregarem e verem-se num cenário ensanguentado. Quer-se espontaneidade com segurança. 3.Às vezes o sexo dá para umas pancadinhas de amor, umas palmadinhas aqui e ali, nada de muito exagerado para quem não é um adepto de BDSM. Mas tanto movimento traz algumas pancadas acidentais. Contra a parede, quedas da cama, cabeçadas, palmadas com mais força do que esperado, posições que dobram o pénis em dolorosas acrobacias (o pénis não precisa de ter ossos para se partir quando erecto…), joelhadas inesperadas (ou cotoveladas) e arranhadelas. Uma dentada de amor, por exemplo, pode ser perigosa também. Na Nova Zelândia uma senhora começou a ter sintomas de um AVC sem causa aparente, quando os médicos repararam no valente chupão que tinha no pescoço, que fez bloquear uma importante artéria. Dramático. 4.Penis captivus é uma condição rara onde a vagina se comprime ao ponto do pénis não ser capaz de sair. É necessária atenção médica para relaxar os músculos da vagina e desfazer o coito. Aconteceu a um casal italiano que estava a praticar o sexo no mar mediterrâneo. Nem quero imaginar como conseguiram pedir ajuda, ou chegar ao hospital. Suponho que, assim que saíram daquela, deram uma pausa na sua vida sexual, bem necessária. Não quero de modo algum assustar ninguém com estas histórias levadas da breca, são coisas que acontecem que, bem tratadas, não deixam mais do que uma história engraçada para contar. Há perigos mais reais do que uma cabeçada contra a cabeceira da cama. Há infecções e doenças sexualmente transmissíveis que são bem comuns e muito mais fáceis de prevenir. Preservativo SEMPRE. Os outros acidentes, esperam-se pouco disruptivos. Aproveitem que está cada vez mais calor, vão lá divertir-se, em segurança.
Hoje Macau VozesCEM da Areia Preta: Reabilitar e Regenerar, os outros R´s da sustentabilidade João Palla [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]artindo de uma nota de imprensa dando conta que o governo pretende demolir as instalações da CEM na Areia Preta para construção de habitação e espaços de cultura, cabe-nos uma outra pequena nota de imprensa. Em 1906 instalou-se a Melco, Macao Electric Lighting Company Ltd., na Estrada da Bela Vista, encostada às colinas da Montanha Russa e D. Maria II, uma zona íngreme dando para o rio. Circundada pelas actuais Rua dos Pescadores e Avenida Venceslau de Morais foi aqui que, durante muitos anos, se gerou a electricidade necessária para abastecer a cidade. A CEM, que veio substituir a Melco em 1972, reestruturou-se profundamente. Deslocou a principal central eléctrica para Coloane e construiu várias infra-estruturas necessárias para a modernização do abastecimento que, nos anos 80, ainda representava a electricidade mais dispendiosa do mundo. A CEM foi, por isso, e naturalmente a par do governo, um dos importantes promotores de encomenda de arquitectura ao longo das últimas décadas; de edifícios para centrais eléctricas, escritórios, subestações ou postos de transformação. Arquitectos de Macau desenvolveram interessantes exercícios plásticos que constituem hoje indiscutíveis valores da produção arquitectónica contemporânea. A CEM irá devolver o terreno da Central Térmica de Macau ao Governo onde este pretende construir habitação pública com cerca de mil fracções habitacionais. Em Macau, um dos últimos exemplos daquilo a que poderíamos chamar património industrial situa-se exactamente neste local, sendo os outros as fábricas de panchões. É preciso encontrar soluções que não sejam a da elementar demolição; olhá-las como oportunidade e desafio e não como mais um lote para construir blocos de apartamentos. A reabilitação é uma medida não só possível como a apropriada para este tipo de locais. Não temos uma Central Tejo convertida em Museu de Electricidade e em espaço de exposições mas, mais modestamente, temos uma História da electricidade que valeria a pena saber contar às novas gerações de modo a preservar a memória histórica. Porque mostrar o passado não é vergonha, apagá-lo é que chega a ser criminoso. E enquanto a reabilitação trata da adaptação e da reutilização de edifícios para novos usos, a regeneração urbana é um conceito relativamente recente que se refere a intervenções urbanas que visam dar qualidade = requalificação, e vida =revitalização a zonas ou quarteirões degradados ou obsoletos transformados em equipamentos sociais, de lazer, de criatividade e alguma também habitação devolvendo uma utilização colectiva com espaços verdes A regeneração urbana de espaços industriais constitui motivo de reflexão sobre outras disciplinas tais como o turismo industrial, a museologia, a arqueologia industrial e o próprio urbanismo. Aos decisores incautos de cultura arquitectónica ficam alguns exemplos de reabilitação de espaços industriais, como a fábrica de Pompeia em São Paulo, da autoria da Arquitecta Lina Bo Bardi, e a famosa Docklands em Londres. Quanto à regeneração urbana de espaços industriais, podem-se testemunhar inúmeros movimentos, tais como Industrial Heritage Association, The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage (TICCIH), e intervenções urbanas em Singapura ou várias cidades chinesas onde o melhor exemplo é o “798 Art District” em Pequim. O desafio deste lote obsoleto é uma abordagem que sintetize o equilíbrio urbano entre o desenvolvimento necessário e uma revitalização com algum grau de preservação. Não basta dizer-se que temos uma cidade de património quando não se olha para além do que já foi classificado pela Unesco, em 2005, ou pelo Decreto-Lei n.o 83/92/M, de 31 de Dezembro, há quase vinte cinco anos. A ideia de património arquitectónico deve ser vista nas acções presentes como sedimentos de acumulação de valor. Em Macau temos exemplos de diferentes estilos e correntes arquitectónicas que só existem porque houve a consciência da necessidade de as preservar. Também porque não houve a ira demolidora dos dias de hoje. E, se por magia, certos pós de bom senso mostrassem vontade de descender à Terra, indicar-lhes-íamos a escadaria que toca no céu e que traz ao interior quente do edifício da CEM – da autoria do Arquitecto Adalberto Tenreiro, construído em 1993. Este pequeno edifício de escritórios com dois pisos representa um dos melhores exemplos da arquitectura desconstrutivista em Macau. Um desenho complexo de desmontagem das peças arquitectónicas onde a estrutura dança sobre volumes desfasados. Um exercício arquitectónico irrepreensível e de valor indubitável. Nesse sentido, havendo um novo bairro de equipamentos para este local, defendemos a reutilização deste edifício cuja área reduzida em relação à área do lote, a planta livre e o seu bom estado de conservação propiciam a facilidade técnica de uma adaptação a novas funções. Entendemos que um concurso de ideias aberto será a forma mais límpida, colocando em pé de igualdade ateliers já reconhecidos com a crescente classe de arquitectos jovens de Macau. Elabore-se um programa que contemple as vertentes atrás descritas e lance-se o desafio aos que pouco ou nada têm conseguido acrescentar recentemente à cidade por força dos responsáveis governamentais e igualmente da insistente moda em importar projectos que são desenhados no exterior, unicamente assinados por arquitectos locais.
Hoje Macau SociedadeTabaco | Quase três mil multas este ano [dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]uase três mil pessoas foram este ano multadas em Macau por violarem a Lei de Prevenção e Controlo do Tabagismo, revelaram ontem os Serviços de Saúde, indicando também que foram efectuadas mais de 136 mil inspecções a estabelecimentos comerciais. De acordo com os dados oficiais, até 31 de Maio foram registadas 2.940 acusações, quase todas relativas a pessoas que fumavam em locais proibidos, e em cinco casos devido à venda de produtos de tabaco que não satisfaziam as normas da rotulagem. A maioria dos infractores eram homens (92%) e residentes de Macau (60,1%), sendo que 35,4% eram turistas e apenas 4,5% trabalhadores não residentes (sujeitos a visto de trabalho). Em 111 casos foi necessário o apoio das forças de segurança, indicam os Serviços de Saúde. Desde o início do ano, 82,1% dos autuados pagaram a multa. No que toca aos locais onde ocorre o maior número de infracções, os cibercafés continuam a liderar (16,9% dos casos), seguidos dos parques e jardins (12,8%), e das lojas e centros comerciais (9,6%). Os casinos foram submetidos a 200 inspecções este ano, sendo multadas 241 pessoas que fumavam ilegalmente. A grande maioria (80,5%) eram turistas. Desde que a lei entrou em vigor, a Janeiro de 2012, mais de 34 mil pessoas foram multadas, resultado de mais de um milhão de inspecções. Passo a passo A Lei da Prevenção e Controlo do Tabagismo tem vindo a ser aplicada de forma gradual, começando por visar a generalidade dos espaços públicos e prevendo disposições diferentes ou períodos transitórios para outros casos. A 1 de Janeiro de 2015, por exemplo, entrou em vigor a proibição total de fumar em bares, salas de dança, estabelecimentos de saunas e de massagens. Já os casinos passaram a ser abrangidos dois anos antes, a 1 de Janeiro de 2013, mas apenas parcialmente, já que as seis operadoras de jogo foram autorizadas a criar zonas específicas para fumadores, que não podiam ser superiores a 50% do total da área destinada ao público. Contudo, em Outubro de 2014, “as zonas para fumadores” foram substituídas por salas de fumo fechadas, com sistema de pressão negativa e de ventilação independente, passando a ser proibido fumar nas zonas de jogo de massas dos casinos e permitido apenas em algumas áreas das zonas de jogo VIP. Actualmente, encontra-se em sede de análise pela 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa uma alteração ao Regime de Prevenção e Controlo de Tabagismo, depois de, em Julho do ano passado, o hemiciclo ter aprovado, na generalidade, uma proposta de lei no sentido de proibir totalmente o fumo nos casinos, após um longo debate centrado no impacto sobre as receitas da indústria do jogo. O receio é o de que a proibição de fumar nas salas VIP agrave ainda mais a tendência de queda das receitas dos casinos, que caem ininterruptamente desde Junho de 2014.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteEntrevista | Miguel Campina, arquitecto Miguel Campina considera o Plano de Desenvolvimento Quinquenal “tardio e fraco” e diz que não existe planeamento no território por força dos interesses e dos lobbies. O arquitecto, residente em Macau há vários anos, aponta ainda críticas aos planos já anunciados para os novos aterros [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Plano de Desenvolvimento Quinquenal foi apresentado recentemente. Que comentários faz para as medidas apresentadas para o sector das Obras Públicas? Este Plano veio tarde e veio fraco. Esperava-se que ao fim de 16 anos tivesse havido a oportunidade de fazer um documento mais interessante, porque basicamente volta a ser um plano de intenções, em que se repetem muitas das coisas que têm sido ditas nas Linhas de Acção Governativa (LAG). Estamos a falar de um documento que repete à exaustão uma série de conceitos que têm sido utilizados e cujo conteúdo está por definir. Faltam medidas concretas ao nível da habitação e novos aterros? Não seria natural que neste Plano se abordassem aspectos excessivamente concretos, mas apenas linhas gerais e objectivos. Os objectivos estão genericamente apontados mas insuficientemente esclarecidos. Não vi nenhuma referência à política demográfica, embora se fale do bem-estar da população. Não surge nada que explique como se resolvem problemas reais, em termos de alteração dos padrões de distribuição de riqueza. As pessoas não passam fome, mas a maioria das pessoas não passa bem. Não vale a pena iludir a questão: sabemos todos que existem em Macau profundíssimas desigualdades. E não se compreende como é que não se reconhece essa questão no Plano e como não são apresentadas soluções. Basta pensar nas LAG. Quais os níveis de concretização? E se as medidas que foram anunciadas como sendo necessárias e se chega ao fim do ano e elas não foram postas em prática, ficamos todos a perder. E há medidas que se repetem ano após ano em todos os relatórios. E o que é que isso quer dizer? Se não foram executadas por falta de meios era necessário tomar medidas para o evitar e isso não se tem verificado. Relativamente ao urbanismo, este Plano era um instrumento fundamental desde sempre. É difícil perceber porque é que se demorou tanto tempo num esboço do chamado Plano do Ordenamento Urbanístico do Território, que tem um nome pomposo mas um conteúdo limitado. Vieram equipas dedicar-se durante anos sucessivos à análise de propostas para Macau e o que aconteceu é que as decisões relativas aos aterros foram tomadas durante o exercício de Edmund Ho e por um Secretário que ficará para a história por ser extremamente empreendedor e imaginativo nas práticas de desvio de montantes que não eram devidos (Ao Man Long). [quote_box_right]“Macau foi literalmente destruído, numa certa perspectiva. Fizeram-se imensas coisas que podiam ter sido evitadas e não o foram por decisão política. E, porventura, por incapacidade”[/quote_box_right] Depois disso o que se procurou foi preencher os espaços que ele criou com as decisões que foi tomando e todo esse exercício de ocupação de novas áreas foi feita de uma forma difícil de perceber e aceitar. Há uma prática corrente em Macau que são as consultas públicas, uma forma populista e demagógica, e que fazem sentido para algumas coisas, mas para outras não, por serem decisões políticas. Não faz sentido esta pseudo-democraticidade que depois não tem correspondência noutras coisas fundamentais, como a composição da Assembleia Legislativa (AL), a qualificação de quem é nomeado pelas autoridades para exercer o seu papel de defesa dos interesses públicos mas sim de interesses específicos, por sector. Dentro deste jogo de faz de conta, o que se passa com este Plano e as LAG é bastante difícil de se aceitar quando se fala tanto em critérios científicos. Critérios básicos como o da transparência e competência não estão presentes, portanto isto é tudo a fingir. Houve uma série de oportunidades perdidas e houve oportunidades de não fazer coisas evocando a inexistência de leis. Quando não se tem a certeza, não se faz. Que exemplos pode apontar? A determinada altura coloca-se [a questão] às autoridades se se iria avançar ou não com aquele absurdo da habitação pública em Coloane (complexo de Seac Pai Van). Foi a porta que se abriu para tudo o que se seguiu. Aconselharia o senso que antes de fazer ou dar seguimento aquele verdadeiro disparate tivesse sido usada alguma prudência. Não havia plano e isso serviu para justificar que aquilo podia avançar e tudo o que se avançou depois. E agora como não há plano, e existe um impreciso, avança-se com tudo o resto. É um mundo perfeito. Já que falamos de Seac Pai Van, a questão da preservação de Coloane tem estado na ordem do dia. Nesta altura é possível travar a construção da zona? A gestão de tudo depende da vontade. A questão aqui não é se é possível ou não, é se se está interessado, ou não. E estão interessados? Nada interessados. Todas as desculpas são boas para justificar o que não deve ser feito. Neste Plano Quinquenal refere-se com algum ênfase a necessidade de preservar a natureza e plantar mais árvores, tornar uma cidade verde. O melhor seria pintarem toda a Macau de verde, seria a solução para as questões de sustentabilidade. Na prática não há a menor vontade de fazer seja o que for. Estragar está na ordem do dia porque sempre esteve. A ausência de planeamento em Macau está sempre associada às vantagens dos lobbies, dos interesses económicos. Em Macau foi sempre assim. Esta discussão que existe agora sobre Coloane é tudo uma conversa da treta. Se tudo for definido olhando para a política, não, não se deve construir. Mas se for da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, aí já é diferente. E esse é sempre o mesmo problema. Raimundo do Rosário está a tentar arrumar a casa? Uma coisa é o facto de alguns Secretários se confrontarem com uma herança pesada e não é fácil dar conta do recado. Foi anunciado pelo Secretário que o seu objectivo era tentar arrumar a casa e cumprir objectivos tendo em conta as limitações existentes. Não falamos do passado porque ele fala por si: Macau foi literalmente destruído, numa certa perspectiva. Fizeram-se imensas coisas que podiam ter sido evitadas e não o foram por decisão política. E, porventura, por incapacidade, mas essa pode ser evitada com o uso de recursos externos, porque o que não tem faltado à Administração são recursos materiais. Está-se a tentar fazer melhor, mas a justificação com base que a RAEM é jovem, deixou de funcionar. É jovem para umas coisas e não é para outras? A razão é fácil de intuir: tem mais a ver com os interesses que estão aqui em causa do que com a incapacidade real de resolver esses problemas. É preferível não resolver porque existe visão de curtíssimo prazo em Macau, e isso serve quem está. E quem está não está interessado, não esteve nem vai estar, nos que vêm a seguir. Há essa falta de responsabilização. São responsáveis por, mas não têm a responsabilidade de… este sistema está auto-justificado, não fez porque não estava preparado, porque não tem recursos…as justificações são boas, mas quais os aspectos positivos? A sociedade de Macau sofreu um influxo de investimento nos últimos anos, de rendimentos, que se calhar não foram aproveitados da melhor maneira e também isso se deve a essas carências. Há uma efectiva falta de vontade e depois alguns dos nossos dirigentes têm uma grande falta de mundo, com pouca abertura a algumas questões e nenhumas preocupações sobre questões de fundo. Fala-se muito na educação. Houve progressos indiscutíveis. Podia e deveria ter havido mais? Claro. Mas há casos gritantemente difíceis de entender. Como por exemplo? A Universidade de Macau. Como é que se consegue compreender o fenómeno da UM? Li que o Chefe do Executivo reconhecia que alguma coisa não estava bem com a UM. Mas quem é o patrão da UM? Só agora é que deu por isso? O que está a falhar? O que parece é que a UM tem um estatuto que lhe permite comportar-se como muito bem entende, à revelia daquilo que seriam as expectativas de quem a sustenta. No curso de Direito puseram lá um senhor (John Mo, director da Faculdade) que não tinha as mínimas condições para exercer o cargo e teve lá o tempo que esteve e só saiu porque teve outros projectos. Este é um exemplo do que não deveria acontecer. Fala-se neste Plano (Quinquenal) que irão finalmente pôr um sistema de responsabilização dos cargos públicos. Mas isso não é inerente ao exercício de qualquer profissão? É difícil falar do Plano Quinquenal sem que à nossa mente surjam as cerejas às quais ele está ligado, as questões do passado e do presente, e que têm sempre a ver com interesses. Os empreendimentos do Cotai estão quase a ser inaugurados, já são conhecidas algumas ideias para os novos aterros. Que Macau teremos para os próximos anos? Houve a oportunidade no Cotai de se fazerem as coisas de forma planeada e muito do que se diz hoje sobre o reforço das actividades não jogo estava previsto nos primeiros anos de aparecimento dos casinos, em 2003 e 2004. E nada foi cumprido. Mais uma vez: não foi cumprido, não porque os instrumentos não existissem, mas porque não convinha ao Governo aceitar regras que pudessem depois limitar a negociação específica de determinados investimentos. Isso iria limitar escolhas de clientes preferenciais e amigos do peito. Ignorou-se esse instrumento que seria particularmente interessante e que teria contribuído de forma construtiva para que a estrutura de ocupação do Cotai tivesse seguido outras regras e hoje apresentasse outro perfil. Os novos aterros não vão constituir a solução para todos os males de Macau. Se as regras do jogo não se alterarem, o que vai haver é uma transferência de regras para novas áreas. Temos o plano da Praia Grande (Zonas C e D dos novos aterros, Fecho da Baía da Praia Grande), que tem estado a ser sujeito a pressões enormíssimas e não deixará de vir a ser alterado no sentido de permitir uma ocupação mais intensiva do que o original. O plano dos novos aterros do porto exterior foi exactamente a mesma coisa, em que uma das primeiras acções do Governo foi acabar com ele. Criou-se a ausência de regras que permitiu a construção dos casinos em frente ao Grand Lisboa. O plano foi pura e simplesmente revogado. E não houve outro. O que serve melhor é a ausência de um plano. Relativamente aos novos aterros, se for mantido o plano original, é fraco. Andaram anos a fazer aquilo mas o resultado ficou bastante aquém do que poderia ser a oportunidade de planear novas áreas da cidade. É mais do mesmo, é a reprodução do que poderia ser aplicado em qualquer área da República Popular da China para investimento imobiliário. Não há um momento de inovação, de estrutura, que seja diferente e melhor do que aquilo que vemos habitualmente. Como vai ser feita a articulação desta área com as zonas já existentes? Aquilo existe num contexto e é preciso estabelecer as amarras, para que haja um complemento e ajudem a resolver alguns problemas do tecido urbano. O que vai acontecer é que à medida que houver a deslocação de algumas populações, o que vai ser feito aos bairros antigos? Andamos com a saga dos bairros antigos há cerca de dez anos. Depois existe um grupo privilegiado que tem sempre acesso a essas coisas e com o objectivo de oportunidades de negócio. Neste processo acelerado de integração inter-regional, assistimos a um esforço de investimento nas áreas adjacentes leva à criação de oferta próxima de Macau. As pessoas com capacidade do lado de cá vão mudar-se para o lado de lá. A médio prazo Macau será um destino dentro de uma área mais vasta, certo tipo de actividades continuam em Macau, a maior parte desloca-se, a habitação vai deslocar-se, e isto tenderá a ser uma área especializada. Uma espécie de bairro francês. Será também o distrito do Jogo e do entretenimento. FOTOS: SOFIA MOTA
Flora Fong PolíticaTiananmen | Centenas relembraram o 4 de Junho Alguns não sabem o que é, mas Macau, Hong Kong e Taiwan não esquecem o 4 de Junho. Houve quem viesse do continente visitar Macau e ficasse no Senado para relembrar as vítimas [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]lgumas centenas de pessoas juntaram-se no sábado no Leal Senado numa vigília para lembrar as vítimas de Tiananmen, incluindo jovens que nunca tinham ouvido falar do massacre de há 27 anos. Foi o caso de um grupo de três pessoas do Canadá que se passeavam pela praça quando deram de caras com a vigília e os cartazes com fotos de Tiananmen e do massacre ocorrido na noite de 4 para 5 de Junho de 1989 em Pequim. Uma busca rápida no Google explicou aos três amigos a luta dos estudantes chineses de há 27 anos e optaram por se juntar à vigília, como contaram à Lusa. Foi também através da internet que Linda, de 25 anos, nascida em Macau, soube o que foi Tiananmen, porque na escola nunca lhe falaram disso, segundo disse à Lusa. Agora, a jovem professora participa na vigília em memória de Tiananmen em Macau há quatro anos. “Temos de lembrar este dia e a luta dos estudantes por liberdade e direitos”, disse, vincando que é importante fazê-lo também junto dos residentes de Macau, especialmente os mais jovens, que “têm de ser empurrados a lutar pelos seus direitos e a preocuparem-se com a sociedade de Macau”. “Temos de manter o que temos em Macau, não pode mudar”, sublinhou, considerando que apesar de o território ter um sistema de liberdades diferente e ter muita autonomia, “é uma região da China” e “o sistema está a mudar”. Já Son, de Macau, mostra ao HM que sabe o que se passou no dia 4 de Junho e não só. “Na China aconteceram dois grandes incidentes nos últimos 30 anos, um foi a Revolução Cultural Chinesa, outro, claramente, foi o Massacre de Tinanmen. Em 1989 ainda havia muitos académicos que saíram à rua em Pequim, foram 1,5 milhões de manifestantes que tiveram coragem de enfrentar os problemas da China, mas sofreram perseguições de um Governo totalitário, que despedaçou o seu coração patriótico. É assustador”, disse o jovem estudante, que assegura que, sem ter sofrido o evento, consegue sentir-se o medo das pessoas mais velhas sobre o movimento. Para o jovem, relembrar o Massacre de Tinanmen não é, contudo, apenas uma responsabilidade dessa geração. “Espero que a nossa capacidade possa mudar a atitude dos nossos amigos [que não falam do assunto].” Silêncio permanente Eve e Keith, ambos com 30 anos, ouviram falar de Tiananmen na escola. Os dois são de Hong Kong. De visita a Macau, com um grupo de uma igreja luterana, quiseram juntar-se à vigília “por ser preciso lembrar” e “que mais pessoas saibam” o que aconteceu em Pequim em 1989, quando o exército chinês avançou com tanques para dispersar protestos pacíficos liderados por estudantes, causando um número de mortos nunca oficialmente assumido. Algumas estimativas apontam para milhares. “Não sabemos se poderá voltar a acontecer, mas é importante não esquecer”, afirmou Keith. Também da região vizinha chegou uma outra jovem, que não quis identificar-se ao HM. Nunca participou em nenhuma vigília, mas quer, agora, que todos compreendam a situação. Chan, residente do interior da China em Macau pela primeira vez, também quis falar. “Partilhei agora no WeChat que estou a participar na vigília do Massacre de 4 de Junho. Todos os meus amigos alertaram-me para ter cuidado e não deram qualquer outra opinião sobre o assunto”, lamenta. Chan diz que o sentimento de medo sobre o Massacre é grande no interior da China, sendo que “98% das pessoas não sabe o que é o 4 de Junho”. O jovem aplaude as pessoas de Hong Kong, Macau e Taiwan que continuam a recordar o acontecimento, apesar da China não mudar a sua atitude. Macau e Hong Kong são os dois únicos locais da China onde Tiananmen pode ser publicamente recordado e nas duas cidades realizam-se anualmente vigílias para lembrar as vítimas do massacre. A vigília de Macau foi organizada pela União para o Desenvolvimento Democrático de Macau, dos deputados Au Kam Sam e Ng Kuok Cheong. Este último mostrou-se satisfeito com o número de pessoas presente, apesar de ser inferior ao de anos anteriores e por haver muitos jovens.
Flora Fong PolíticaSegunda auscultação sobre Centro Histórico ainda este ano [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] presidente do Instituto Cultural (IC), Guilherme Ung Vai Meng, afirmou que as “Medidas de Gestão do Património Mundial” – ideia apresentada no Plano Quinquenal do Desenvolvimento da RAEM – só podem entrar em vigor em 2020 porque o trabalho é abrangente. Mas a segunda fase da consulta pública sobre o Enquadramento do Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau vai começar ainda este ano. O IC já concluiu em Fevereiro a consulta pública sobre a classificação patrimonial dos primeiros dez imóveis, sendo que anunciou que prevê concluir a classificação de 30 imóveis até 2018. No entanto, no Plano Quinquenal do Desenvolvimento da RAEM, é apontado que as Medidas de Gestão do Património Mundial só podem ser implementadas em 2020. Aos média chineses, Guilherme Ung Vai Meng explicou que o âmbito da salvaguarda do património cultural de Macau tem sido um trabalho complexo, desde que entrou em vigor a Lei de Salvaguarda do Património Cultural. “Não sou um super homem, sou apenas um pintor, preciso de estudar enquanto trabalho. No futuro, vamos sempre enriquecer a lista do património cultural”, frisou. “Em Macau, 13% do território é protegido pela Lei de Salvaguarda do Património Cultural e as Medidas de Gestão do Património Mundial são um plano detalhado para a salvaguarda do Centro Histórico”, disse. Guilherme Ung Vai Meng defende que o IC não está a atrasar os trabalhos da elaboração das medidas. Estas demoram porque é “necessário criar um plano completo”.
Tomás Chio PolíticaFAOM | Criticadas consultas públicas no mesmo período São pelo menos cinco e todas têm data de opinião de um mês. A FAOM diz que há muitos planos e leis que precisam de ouvir a população ao mesmo tempo, o que não só não dá tempo, como causa confusão [dropcap style=’circle’]L[/dropcap]ei Chan U, subdirector da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), considera errada a decisão do Governo de realizar cinco consultas públicas ao mesmo tempo para diferentes planos, considerando que é difícil “retirar do público opiniões com qualidade”. Em declarações ao jornal Ou Mun, Lei Chan U referiu que se tratam de planos importantes e que o período de consulta é curto, o que faz com que a população não tenha tempo suficiente para compreender o conteúdo de todos eles. “Embora o Governo queira demonstrar confiança e vontade de elevar a eficácia administrativa junto da sociedade, a verdade é que se nota uma falta de sinceridade e é possível que o Governo não consiga os resultados previstos”, apontou. O subdirector da FAOM lembrou que uma consulta pública é um processo de recolha de opiniões e fornecimento de informações, pelo que não deveriam realizar-se todas no mesmo período, considerando que tal não é científico nem garante a eficácia do processo. Lei Chan U espera que o Governo possa criar um calendário para este efeito. Desde Maio e até finais de Julho decorrem cinco consultas públicas sobre o Planeamento dos Serviços de Reabilitação para o Próximo Decénio (2016–2025), Norma de Auditoria, Plano de Desenvolvimento Quinquenal para território (2016-2020), a revisão de Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa e o Plano Geral do Desenvolvimento da Indústria do Turismo de Macau. Todas estas consultas têm uma duração de cerca de um mês.
Filipa Araújo MancheteAnim’Arte | Aposta na diversidade económica chegou aos Nam Van O espaço que era vazio encheu-se de cor, música e pessoas. Nam Vam está diferente e a culpa é da nova actividade permanente “Anim’Arte”. A inauguração aconteceu na sexta-feira passada com turistas e residentes a aplaudir a iniciativa [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] festa estava longe de começar, mas antes das duas da tarde o movimento já se fazia notar. Esplanadas, cor, testes de som e muitos olhares curiosos começaram a encher a marginal junto aos Lagos Nam Vam. “Gosto muito da iniciativa, esta zona estava muito cinzenta, sem movimento. As pessoas passavam aqui só para correr por este corredor. Não estava aproveitado, agora sim, temos lojas, podemos comer, beber, apreciar arte”, começa por explicar ao HM Weng Lei, trabalhadora do Sociedade Fuhong, que juntamente com a Cáritas Macau abriu uma loja de peças feitas pelos portadores de deficiência acolhidos pelo grupo. Agendas, pinturas, ou qualquer outra recordação compõem as estantes. Há ainda um espaço para actividades de leitura ou de artes plásticas para quem por ali queira passar e ficar mais um pouco. “Olá. Eu sei falar Português”, ouve-se lá de dentro da loja. É Wong, portador de deficiência e membro da sociedade. Também ele é autor de algumas peças que ali estão à venda. Ter esta loja vem ajudar a sociedade a mostrar o seu trabalho, as suas actividades e a aparecer ao mundo, como refere Weng Lei. Muitas são as recordações de Macau à venda. É que, como diz Weng Lei, esta actividade não é só para os residentes, mas sim para todos, incluindo turistas. “É agora que os [turistas] vão começar a vir para este lado de Macau”, acredita. Este é o caminho para a diversificação da economia de Macau, disso Weng Lei não tem dúvidas. É também um caminho para que “os pequenos artesãos de Macau” possam aparecer e divulgar o “que se faz por cá”. Cidade mais perto Kong Kuai Sang, membro executivo da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), vai ainda mais longe e diz que esta “vida” dada aos Nam Vam vem mostrar que “Macau deixou de ser apenas Jogo”. “A localização é incrível, acho esta iniciativa maravilhosa”, assina, enquanto vai espreitando o que se passa em redor. Uma área que, para si, vem chamar os jovens para a rua, para “aproveitarem a esplanada, as galerias de arte” e, no fundo, aproveitar a sua cidade. A curiosidade fez com que o grupo de colegas de trabalho que acompanha Kong Kuai Sang fosse visitar os espaço antes sequer de ser inaugurado. O tempo, esse, quis ajudar e o céu não podia ser mais azul. “Estou muito satisfeito com o que vejo, mesmo muito”, reforçou. A “Anima’Arte” é uma actividade sob a alçada da Secretaria para os Assuntos Sociais e Cultura, envolvendo quatro entidades públicas: o Instituto Cultural (IC), o Instituto do Desporto (ID), a Direcção dos Serviços de Turismo (DST) e o Instituto de Formação Turística (IFT). Chan Peng Fai, vice-presidente do IC, confessa ao HM que o dia da inauguração contou com uma adesão “muito grande”. “Só em convidados temos cem pessoas”, explica. A verdade, diz, é que o número de visitas irá decorrer de forma gradual, até porque esta é uma actividade de cariz permanente. “Este espaço é para ficar”, reforça. De lá para cá Fora as lojas de marcas de Macau, um café, galerias de artes, gaivotas a pedal na água e a loja de cariz social, estão ainda montadas alguma tendas com produtos à venda. Row é artesão, faz carteiras, espelhos e ainda capas para telemóveis. Conta-nos que é de Cantão e que soube desta possibilidade pelo Governo local. Candidatou-se e irá estar durante cinco dias a vender os seus produtos. Row diz-nos contar com muitas pessoas quando começar a anoitecer. Algo que efectivamente se confirmou. Pelas 20h00, Nam Vam conhecia uma vida que até então desconhecera. Row estava ocupado com vários olhos interessados na sua arte. Na tenda ao lado está Alice Leong, a artesã de porta-moedas e amuletos para atrair a sorte dos Deuses. “Esta é um óptima iniciativa. Ajuda-nos a mostrar o nosso trabalho, a ter uma oportunidade para vender. Isto é muito bom para Macau, não é só para nós, é que assim a cidade mostra-se também. Isto não são só casinos”, diz-nos, prontamente. Esta é, reforça, a aposta que “tantas vezes o Governo fala, a diversificação da economia”. Alice Leong é de Macau e diz-se feliz com a mudanças a acontecer no território. No entanto, aponta, é preciso mais. Não pode ser só esta actividade. “O Governo e os artesãos locais devem ter uma maior cooperação entre si, com este tipo de actividades, mas também com outras”, explica. Cultura e criatividade Recolhidos do sol intenso que se fazia sentir, estavam Lou e Wayne, dois jovens de 26 anos. Um de Macau, outro de Zhuhai, quiseram marcar presença na inauguração. Lou conta-nos que Macau precisa sempre deste tipo de actividades, sendo este um “bom primeiro passo”. Para Wayne, que atravessou a fronteira para ali estar, o território é “um local que acolhe uma grande diversidade de culturas” e, por isso mesmo, tem “muitos recursos para se destacar das outras regiões”, utilizando a cultura, arte e criatividade para isso. Chegada a hora de dar as boas-vindas, Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, reforçou, durante o seu discurso, a necessidade de “seguir um desenvolvimento diversificado”. Para Alexis Tam é preciso, através de várias cooperações, dinamizar e apostar nas exposições e espectáculos culturais. Este novo espaço “de lazer com cultura e criatividade” goza, diz, de um “quadro arrebatador desta zona ribeirinha dos Lagos Nam Van”. Anim’Arte vem injectar um “novo dinamismo nesta zona comunitária” e, sobretudo, permitir aos residentes e visitantes de diferentes idades e gostos, “abrandar o passo, desfrutar do lazer e sentir Macau”.
Hoje Macau BrevesPandas vermelhos em Macau este ano [dropcap style=’circle’]L[/dropcap]eong Kun Fong, membro do Conselho de Administração do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), confirmou a vinda de um par de pandas vermelhos para Macau este ano, por altura do Inverno. Os pandas deverão ficar albergados no Pavilhão do Panda Gigante no Parque de Seac Pai Van, sendo que o projecto de construção das instalações está quase pronto. Para além dos pandas vermelhos está prevista a chegada de um macaco dourado para aumentar o número de animais raros no parque, mas essa aquisição será ainda analisada depois da chegada dos pandas. Falta ainda saber quando chegam os prometidos flamingos. Leung Kun Fong explicou que os pandas gigantes estão em boas condições de saúde. O IACM continua a trabalhar na sua reprodução, prevendo-se que os próximos pandas possam nascer em Macau.
Joana Freitas MancheteGalgos | ANIMA em Dublin. Mundo pede fim do Canídromo Mais uma manifestação para que a Irlanda deixe de enviar galgos para correr em Macau teve lugar na semana passada e deixou uma nova esperança no ar: a impossibilidade do Canídromo vir a receber mais animais, o que pode afectar o negócio [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]em a Irlanda, Macau fica sem galgos para correr e, sem galgos para correr, o Canídromo “tem os dias contados”. Dias que parecem estar mais perto, como afirma Albano Martins, presidente da Anima – Sociedade Protectora dos Animais, directamente de Dublin, onde se deu mais uma manifestação em prol destes animais. “Se nos apoiarem em deixar de enviar animais para Macau, o Canídromo encerra em pouco tempo”, disse o responsável, num vídeo filmado em Dublin e colocado na página do Facebook “Stop Greyhound export to China”. Sexta-feira, mais de 16 cidades uniram-se ao protesto contra o envio de galgos para o Canídromo da Yat Yuen, no Fai Chi Kei, onde a ANIMA e outras associações de animais dizem ser mortos mais de 30 cães por mês. A falta de programas de adopção é um dos motivos, que se alia a “maus tratos” aos animais – alguns deles gravados em vídeos espalhados pelos média e redes sociais. A ideia do presidente da ANIMA era encontrar-se com o Ministro da Agricultura da Irlanda, mas a visita não foi possível. “Entregámos a petição à equipa dele, até porque ele já nos tinha informado que ia ser difícil. Mas encontrámo-nos com deputados e dirigentes associativos e foi muito o apoio recebido”, explicou ao HM. A petição entregue tinha mais de 300 mil assinaturas, que se juntam a outras petições já entregues ao Governo local a favor do encerramento do Canídromo. Depois da Austrália, a Irlanda já tinha banido a exportação de galgos para a China, mas continua a enviar cães para Macau. Abrir os olhos De camisola vermelha com a mensagem “Encerrem o Canídromo”, Albano Martins juntou-se às centenas de pessoas e cães que compareceram só em Dublin, para deixar um apelo claro: “Pedíamos aos irlandeses para não enviarem galgos para a China, porque todos os que entrarem lá vivos, saem de lá mortos”, começou por dizer em frente ao Ministério da Agricultura, como se pode ver num vídeo publicado na página do evento, e onde apresentou um dossier com mais de 200 páginas onde se traçava o perfil de galgos (dois por cada folha) que acabaram eutanasiados. “Eram todos vindos da Austrália. Entre 260 a 280 animais foram mortos no ano passado. Em situações normais, é morto um por dia, ou seja 360 em média anual. Esta é a razão porque desde 2011, desde uma reunião em Macau com a Grey2K USA, que pedimos o encerramento do espaço”, frisou o presidente da ANIMA, uma das maiores impulsionadoras do movimento. Sem a Austrália a enviar cães, as corridas no Canídromo desceram de 18 para 15 por dia, sendo que, de acordo com a ANIMA, o mês passado desceram novamente, para 12/dia. A descer constantemente têm estado também as receitas do espaço, que não faz em um ano o que um casino faz em quatro horas. Albano Martins relembrou as promessas de adopção de galgos que nunca se chegaram a cumprir, a percentagem de 20% de lesões que os animais sofrem nas más condições da pista e ainda os nove galgos irlandeses que cá chegaram antes de mais duas dezenas serem impedidos de viajar para o território. Nove cães que “já estão mortos” só de cá estarem. Uma coisa é certa, relembra Albano Martins no seu discurso, “sem galgos, não há continuação do negócio”. E, sem a Austrália e a Irlanda não há outros locais de onde estes possam vir. O Ministro irlandês emitiu um comunicado há uns dias, no sentido de a indústria não exportar para países onde não houvesse o mínimo de padrões de qualidade de vida dos animais. Albano Martins assegura ao HM que algumas das reuniões que teve no local também apontam nesse sentido, “antes mesmo de ser acrescentada uma cláusula na lei que impeça a exportação para países onde os animais não são protegidos”. “Sem galgos fecham e não arranjam em mais lado nenhum”, remata. Para hoje, a Anima tem uma reunião agendada com a companhia aérea alemã Lufthansa, em Frankfurt, para tentar bloquear a maior fonte de transporte de galgos para Macau. Já em Setembro, no dia 24, Albano Martins participa, em Itália, numa campanha de adopção de galgos. O Canídromo nunca se mostrou disponível para comentários. O estudo feito pela Universidade de Macau sobre a continuidade do espaço já foi entregue ao Governo, mas o responsável por ele, Davis Fong, admitiu ao HM que foi feito à base de notícias dos jornais e cartas das associações. O HM quis saber qual o preço deste estudo, mas a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos nunca respondeu. A ANIMA já garantiu ao HM que tem planos para a adopção dos mais de 600 animais que estão actualmente no Canídromo, cujo contrato prorrogado termina em Dezembro deste ano. A imagem de Macau tem sido considerada como negativa depois de diversos média à volta do mundo darem conta da situação na Yat Yuen.
Flora Fong SociedadeExigida mais segurança de centrais nucleares [dropcap style=’circle’]J[/dropcap]osé Chui Sai Peng, deputado indirecto à Assembleia Legislativa (AL) e engenheiro civil, apelou às autoridades do interior da China, com responsabilidade sobre a nova central nuclear de Taishan, para revelar mais informações sobre os equipamentos utilizados e a sua segurança. Já Lam U Tou, vice-presidente da Associação Choi In Tou Sam, falou da necessidade da central nuclear só entrar em funcionamento quando for garantido o cumprimentos de critérios de segurança rigorosos. Citado pelo jornal Ou Mun, José Chui Sai Peng lembrou que a questão da central nuclear, a apenas 67 quilómetros de Macau, tem vindo a gerar preocupação junto da população. “A energia é importante para o desenvolvimento sustentável, mas tanto a entidade de supervisão como o Governo local devem levar em consideração todas as questões de desenvolvimento e segurança”, referiu o deputado. Lam U Tou admitiu que é difícil viver sem energia nuclear, lembrando que é uma energia mais barata e com poucas restrições, apesar dos riscos que a sua produção acarreta.
Tomás Chio SociedadeGoverno não vai renovar licenças de ocupação [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA) não vai prolongar as licenças de ocupação a título precário de 11 dos estaleiros de Lai Chi Vun, em Coloane, ainda que alguns responsáveis pelos espaços já tenham apresentado ideias de reparação e mudança de finalidade dos estaleiros. Segundo o Jornal Ou Mun, a DSAMA anunciou o bloqueio para onze estaleiros no último mês e referiu que, como já pediu várias vezes aos responsáveis para os reparar e garantir a segurança e estes não o fizeram, então a DSAMA não planeia prolongar as licenças de ocupação. O organismo também sublinhou que não vai terminar o bloqueio até à eliminação do problema de segurança destes estaleiros. Para Tam, responsável de um estaleiro que se chama “San Lei”, o bloqueio é injusto e, afirma, não percebe por que é que não tem direito à licença se o seu espaço está a ser utilizado para “fazer modelos de barcos” e estão a ser “cumpridas as exigências do Governo”. “Sempre fiz um prolongamento de licença a cada ano e o Governo verifica anualmente a segurança do meu estaleiro, tal como fez este ano, portanto, não sei porque bloqueou o meu estaleiro. Caso o Governo não prolongue a licença, vou lutar por isso” disse o responsável.
Andreia Sofia Silva MancheteEstoril | Opiniões divididas após retirada de convite a Siza Vieira Não era suposto, mas agora o projecto de revitalização do Estoril vai ser por concurso público. O arquitecto Carlos Marreiros considera que a decisão do Governo de abrir um concurso público para o projecto do Hotel Estoril pode constituir um “retrocesso” e levar a mais atrasos. Maria José de Freitas mostra-se satisfeita com a decisão [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]iza Vieira já não vai ter a exclusividade do projecto para o edifício do Hotel Estoril. A revitalização vai a concurso público, depois de Alexis Tam desistir da ideia, afirmando que tal é mesmo “uma decisão política”. Agora, o arquitecto português terá de concorrer ao um concurso público se pretender avançar com o projecto de revitalização, sendo que o concurso público serve para dar hipótese aos arquitectos locais. Ao HM, o arquitecto Carlos Marreiros mostrou algumas reservas em relação à decisão tomada. “Sou sempre pelos concursos locais e sou contra a entrega gratuita de consultadorias e projectos a empresas estrangeiras que nem sempre têm provado fazer melhor que os locais. Mas no caso do Estoril ainda não tenho uma opinião formada. Não sei se será melhor o concurso público. Esta alteração é a vitória das carpideiras e dos talibãs, já se perdeu muito tempo. Agora vem um concurso público e serão mais anos que teremos de esperar”, defendeu. “Estava muito bem na praça do Tap Seac um edifício projectado por Siza Vieira. A decisão estava bem feita, agora há um retrocesso. Não sei se está bem. Infelizmente, como prova da vitória destas forças ocultas que vamos esperar mais não sei quanto tempo”, disse ainda o arquitecto macaense, membro do Conselho do Património Cultural que decidiu pela não classificação do edifício. Não é retrocesso Com uma posição totalmente diferente surge a arquitecta Maria José de Freitas. “Não acho que seja um passo atrás, mas sim um passo em frente”, defendeu ao HM. “É mais saudável a ideia de se realizar um concurso público, que integre os arquitectos de Macau. Não sei se vai ser apenas para os arquitectos ou mais abrangente e também teremos de saber qual é o programa do concurso, para ver até que ponto será interessante participar ou não, dependendo do caderno de encargos. Fiquei animada com esta nova proposta, mas é prudente aguardar.” A arquitecta defende que o mais importante é “encontrar uma boa solução, que vá ao encontro daquilo que o Governo pretende, que dê uma satisfação à população e que integre uma força criativa que são os arquitectos de cá e que conhecem bem o território e têm propostas para a cidade”. Alexis Tam defende a decisão como forma de dar oportunidades aos locais. “Devido aos desejos expressos por parte dos designers e arquitectos locais de intervir no projecto, o Governo decidiu submeter o mesmo a concurso público”, indica o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura num comunicado. “[Siza Vieira] vai ser convidado, em vez de ser adjudicação directa. [O ajuste directo está] de acordo com a legislação, só que isso foi a ideia do ano passado. Hoje em dia, a situação é diferente porque muitos arquitectos querem concorrer. No fim, é uma questão política”, afirmou ainda Alexis Tam, citado pela Rádio Macau. Há um ano que Tam tinha entregue o projecto de revitalização do antigo hotel– que passará a ser um Centro de Actividades Recreativas e Culturais para Jovens, que inclui o Conservatório de Música – a Siza Vieira. O profissional português defendia publicamente a demolição do edifício, sem a manutenção da fachada. Segundo a rádio, Siza Vieira foi já informado “por alto” da mudança de planos. O HM tentou obter uma reacção do arquitecto, mas até ao fecho desta edição não foi possível. “Alexis Tam entende que, através do concurso público, será escolhido um projecto de concepção com qualidade em termos técnicos e artísticos, tornando o local numa obra emblemática de Macau”, frisa o Gabinete do Secretário, que indica ainda que recebeu “muitos conselhos e sugestões” e chegou à conclusão de que “em Macau também há bons arquitectos”. O HM tentou chegar à fala com mais arquitectos, mas até ao fecho da edição não foi possível obter mais reacções. Destaque “A decisão estava bem feita, agora há um retrocesso. Não sei se está bem. Infelizmente, como prova da vitória destas forças ocultas que vamos esperar mais não sei quanto tempo” Carlos Marreiros, arquitecto “Não acho que seja um passo atrás, mas sim um passo em frente” Maria José de Freitas, arquitecta
Filipa Araújo Manchete SociedadeEnsino da língua portuguesa nas escolas privadas aumentou 20% Os números não mentem: há mais alunos a estudar Língua Portuguesa. O Governo tem cumprido aquilo que diz, mas mais do que ter números positivos é preciso garantir a qualidade, alertam alguns [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]eitas as contas, no presente ano lectivo, quando comparado com o anterior, há mais alunos a estudar a língua de Camões. Chan Ka Man, chefe do Centro de Difusão de Línguas (CDL) da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), indicou que mais 33 escolas privadas criaram o curso de Língua Portuguesa e cerca de 3800 estudantes aprenderam Português. Notou-se um aumento de 20% quando comparado com o ano lectivo anterior e a responsável acredita que estes são números que vão continuar a crescer nos próximos anos, sendo que já foi pedido à Escola Portuguesa de Macau (EPM) a criação de um curso extra-curricular e de nível avançado para os possíveis interessados. Questionada sobre o assunto, Zélia Mieiro, vice-directora da EPM, confirmou o pedido. Neste momento a direcção está a estudar a melhor maneira de avançar com esse curso e Zélia Mieiro confirma ao HM o que diz ser o empenho do Governo na Língua Portuguesa. “A diretora do CDL está muito empenhada na aposta no Português e tem feito todos os esforços possíveis para incentivar o estudo da língua. A EPM tem recebido um apoio muito grande, tanto em termos pessoais, com a sua presença, como tudo aquilo que possa ser apoiado. Há uma comunicação muito grande entre a EPM e o CDL e tentamos sempre ir mais longe”, reforçou. Apostar, mas bem Chan Ka Man explicou ainda que a DSEJ irá subsidiar as escolas que queiram criar cursos de Língua Portuguesa. “O número de cursos de Português está cada vez maior nas escolas privadas, há mais oportunidades para os profissionais desta língua. Neste momento os profissionais locais são suficientes para responder aos pedidos para estes cursos, mas, no futuro, a DSEJ vai considerar contratar mais professores de Português”, acrescentou ainda Chan Ka Man. A aposta está de facto a ser feita e os docentes não o negam. No entanto, apesar de números positivos, é preciso garantir a qualidade, algo que poderá não estar a acontecer. “Estive a orientar a supervisionar o estágio de uma aluna [de pós-graduação em Pedagogia] que estava a dar aulas numa escola, onde a única turma que ela conseguiu foi uma turma em que os alunos têm duas horas por semana [de Português] e tiveram muito poucas aulas porque havia outras coisas. [As aulas de português] não era considerado curricular mas sim uma actividade”, começa por explicar Maria Antónia Espadinha, vice-reitora da Universidade de São José (USJ). Não assumindo esta disciplina como de facto uma unidade curricular é desvalorizar e, por vezes, negligenciar o ensino da língua. “O que acho é que temos os recursos suficientes para Macau (…) mas é preciso ver como é que estes recursos estão a ser distribuídos e de que maneira é que as escolas a utilizar esses recursos. O Português dado nas escolas primárias e secundárias não é igual em todas as escolas e o que acontece é que, na escolas que para mim seriam as escolas de eleição – as Luso-Chinesas -, o Português não impede ninguém de passar o ano, ou não”, argumenta. Tendo uma nota que “não conta” faz com que os alunos não assumam esta responsabilidade. Nas escolas privadas, aponta a vice-reitora, as coisas não se mostram mais positivas. “Nas escolas privadas creio que isto ainda é pior. Sei que há algumas escolas em que o Português é levado mais a sério e há outras escolas onde, como já foi em tempos, é uma fachada para satisfazer os desejos da DSEJ e do Governo, mas que na realidade os alunos pouco aprendem”, acusa. Optimismo a mais Para Maria Antónia Espadinha, quando se fala em Macau em formar talentos bilíngues “há um optimismo muito grande”. “A formação de bilíngues é uma coisa muito séria. Nós professores conseguimos formar alguns bilíngues, mas estas são pessoas que são incentivadas pelos pais, ou têm gosto e querem aprender. Eu nunca lhes chamaria bilíngues, mas sim bons utilizadores de Português. Bilinguismo é outra coisa. É ter duas línguas como se fossem língua materna”, remata, frisando que só “há meia dúzia em Macau”, porque “são raros”. Que venham mais Carlos Ascenso André, director do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau (IPM), contrasta com uma visão mais positiva. “Acho que o Governo investiu e tem investido bem e desenvolvendo uma estratégia que não é visível a curto prazo. Começa a ser visível passado um tempo”, aponta. Recordando as reacções da sociedade, no início do ano, quando se acusou o Governo de não se mostrar como promotor da Língua Portuguesa, as notícias que encheram os jornais e a tendência do interior da China de apostar no Português levaram a que “se aumentasse o entusiasmo da parte de quem tem de decidir e, neste caso, no ensino básico e secundário, os encarregados de educação”. “Acho que todo o barulho positivo que se fez aguçou o apetite de pais e encarregados de educação e isso agora começa a ser visível”, frisa. Questionado sobre o número de professores, Carlos Ascenso André acredita que não existem suficientes. “Mas não tenho números”, salienta. No entanto, diz, em caso de falha “não é difícil trazer docentes de Portugal para cá”.
Hoje Macau EventosComemorações do 10 de Junho na Cinemateca Paixão O cinema de Portugal vai encher o ecrã da Cinemateca Paixão no próximo fim-de- semana com uma selecção “de ouro” do que melhor por lá se faz. Integrado nas comemorações do mês de Portugal, que decorrem durante este mês, vão ser projectadas curtas e longas metragens de destaque nacional e internacional [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] cinema feito em terras lusas é tema de destaque no âmbito da Comemorações do Mês de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em Macau e Hong Kong e conta com a colaboração da Agência Internacional de Cinema Português, a Portugal Film. A iniciativa, a decorrer na Cinemateca Paixão, apresenta este ano uma mostra de filmes que reflecte a produtividade, a diversidade e a excelência do cinema português, refere a organização. Entre a selecção constam vencedores dos prémios nacionais e do público do Festival IndieLisboa 2015, bem como a curta-metragem vencedora do Leão de Ouro de Berlim e do Firebird Award do Festival de Cinema de Hong Kong, o filme “Balada de Um Batráquio” de Leonor Teles. Entre curtas e longas metragens, o programa abre no sábado pelas 16h30 com a projecção de cinco pequenos filmes. “A caça revoluções”, de Margarida Rego, é uma animação experimental que explora a relação entre duas gerações, dois tempos e duas lutas diferentes. É a Revolução de Abril a inspirar as gerações que apenas a conhecem através de relatos dos que a viveram e das fotografias apropriadas. “Aula de condução”, uma realização de André Santos e Marco Leão, aborda a esfera onde se forma a maturidade de um jovem olhar: o da intimidade e o seu silêncio enquanto territórios cinematográficos. Já “Despedida” é um filme em que Tiago Rosa Rosso cria um jogo de absurdo a partir das referências da infância e do humor nos códigos de comunicação da amizade masculina. Jorge Cramez traz “O Rebocador” e com ele um território que lembra o “film noir” de Raoul Walsh: “They Drive By Night” e as confissões solitárias de quem nele vive. A tarde fecha com o vencedor do Leão de Ouro de Berlim e do Firebird Award do Festival de Cinema de Hong Kong, “Balada de um Batráquio”, da jovem cineasta Leonor Teles que num gesto pessoal e activista desfaz preconceitos sobre a comunidade cigana. A sessão da noite com início às 20h00 vai dar lugar à longa metragem “A toca do lobo” de Catarina Mourão, em que a realizadora se centra numa figura da vida cultural portuguesa: o escritor e seu avô Tomaz de Figueiredo. Um olhar que abre as portas secretas de uma vida que deixou apenas o seu trabalho para a memória dos seus filhos e dos seus netos, tal como de uma família que se viu separada pela sua morte e marcada pelo dia-a-dia de um país dictatorial. Na sua antiga casa, vivem os segredos e os acontecimentos num quarto fechado à chave e aberto pela câmara da realizadora e pelo movimento deste filme: a intimidade. A fechar Domingo, o horário repete-se mas com a projecção da “matinée” a dar lugar a “Gipsofila” de Margarida Leitão. “Gipsofila” é o espaço pessoal de uma avó visto pela câmara da sua neta. Um ensaio sobre a sua memória através das palavras hesitantes de duas pessoas que se amam, que se filmam e partilham o mesmo sangue. O filme é também o espaço exterior de solidão de uma realizadora que encontra um lugar para criar o seu cinema e filmar uma herança que talvez se julgava perdida. À projecção segue-se um debate à volta do tema da produção cinematográfica em Portugal e a sua visibilidade pelo mundo com a directora da Portugal Film, Margarida Moz. A sessão da noite conta com “Os olhos de André” de António Borges Correia. Aqui, a paisagem de Arcos de Valdevez, em Portugal, serve de cenário para recriar uma história verdadeira onde um pai tenta reconstruir a sua vida, depois de uma separação, para acolher o seu filho André e voltar a unir uma família. Pelo olhar de António Borges Correia e a perspectiva da sua câmara, os seus actores (as pessoas que viveram, nos mesmos papéis, a mesma história) seguem as sugestões que uma nova ficção cria a partir daquilo que já se viveu, dando-nos a conhecer, pelo cinema, uma vida real de um país verdadeiro. “Aqui, em Lisboa” vai preencher a sessão da noite de 13 de Junho, uma produção realizada por Dominga Sotomayor, Denis Côté, Gabrial Abrantes e Marie Losier. Um filme que concretiza o resultado de quatro autores com quatro visões diferentes da cidade de Lisboa, passando pelos registos da ficção, do documentário, da comédia ou do fantástico. Crescer e aparecer A Portugal Film organiza, há 13 anos, o Festival IndieLisboa e outras mostras de cinema independente em Portugal e no mundo. Na sua génese está o crescente reconhecimento internacional do cinema português e da consequente curiosidade pelos filmes ali produzidos. Além de assegurar a presença de filmes nacionais no maior número de festivais internacionais, promove também a curadoria de mostras e eventos onde o público possa apreciar o melhor cinema português e onde os filmes possam não apenas ser vistos, mas também conversados com os seus intervenientes. A programação, toda ela composta por filmes em Língua Portuguesa legendados em Inglês, visa cativar o interesse do público de Macau. A mostra conta com entrada gratuita sendo que os bilhetes estão disponíveis na casa de Portugal a partir de amanhã.
Hoje Macau China / ÁsiaTiananmen | Activistas detidos por relembrar o 4 de Junho Quatro e seis são ainda números tabu na China continental. Juntos são a data da manifestação em prol da democracia que aconteceu em 1989 e que resultou em massacre. Hoje é uma data que não existe na história do continente e que as autoridades continuam a abafar. No assinalar do 27 aniversário do acontecimento, Pequim deteve seis activistas [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]ábado passado assinalou-se mais um aniversário do massacre na Praça da Paz Celestial. Tiananmen recebia em 1989 milhares de jovens que se manifestavam, em tom de esperança, em prol da democracia. Numa data ainda hoje tida como tabu na China continental, 4 de Junho de 2016 assinalou mais um reforço ao silêncio com a detenção de seis activistas. A polícia chinesa deteve vários activistas, enquanto outros estão sob vigilância no 27.º aniversário da repressão aos protestos pró-democracia na Praça de Tiananmen, na China, disseram grupos de Direitos Humanos. Seis activistas dos Direitos Humanos, incluindo o poeta Liang Taiping, estão presos desde quinta-feira, após terem participado numa cerimónia particular comemorativa do “4 de Junho” de 1989, data do aniversário da repressão aos protestos pró-democracia em Pequim, afirmou a ONG chinesa Weiquanwang. Os activistas foram presos pela polícia por suspeita de “fomentar a agitação e provocar desacatos”, disse a ONG, que também informou que outro activista “desapareceu” nos últimos dias na capital chinesa. Quase três décadas passadas sobre a repressão na Praça de Tiananmen, o regime comunista continua a proibir que se faça qualquer menção sobre o assunto nos órgãos de comunicação social e na Internet, além de proibir que seja tratado nos livros escolares e de impedir qualquer debate. Cerco apertado À semelhança dos anos anteriores, “As Mães de Tiananmen”, uma associação de pais que perderam os seus filhos, foram colocados sob uma apertada vigilância policial. Zhang Xianling, cujo filho de 19 anos foi morto em 1989, disse à agência de notícias AFP que quando foi a um cemitério de Pequim, com uma dúzia de outros pais para visitar os túmulos dos seus filhos, foram cercados por polícia à paisana. Adianta ainda que “Temos estado sob vigilância desde a semana passada (…) 30 (polícias à paisana) estavam no cemitério”. “As Mães de Tiananmen” escreveram ainda uma carta aberta sob os “27 anos de terror e asfixia” a que têm sido submetidas onde consta em divulgação por Organizações Não-governamentais de Direitos Humanos na China que “nós, famílias das vítimas somos espiadas e vigiada pela polícia. Somos seguidas e mesmo detidas e têm confiscado e apreendido os nossos computadores”, continuando com “O governo ignorou-nos, finge que o massacre de 4 de Junho, que chocou o mundo inteiro, nunca aconteceu na China, e recusou-se a responder aos nossos apelos, enquanto os nossos compatriotas perdem gradualmente a memória do que aconteceu”. A carta refere ainda que o grupo foi avisado de que as visitas à casa da fundadora do grupo, Ding Zilin, com 79 anos, mas que tem problemas de saúde, seriam impedidas entre 22 Abril a 4 Junho. “Aqueles que querem visitá-la devem solicitar permissão e podem fazê-lo só depois da aprovação pela Secretaria de Segurança Pública de Pequim e não podem ser acompanhados por familiares de outras vítimas”, lê-se na carta. Outras manifestações Entretanto em Hong Kong e apesar do anúncio do afastamento da região dos acontecimento de 89, a vigília de sábado contou com cerca de 125 000 pessoas no Parque Vitória, menos 10 000 que no ano passado. O parlamento de Taiwan, por sua vez, assinalou pela primeira vez, a repressão do movimento pró-democracia em 1989, na praça Tiananmen, em Pequim, pedindo ao novo governo para levantar a questão dos direitos humanos com a China. As relações entre as duas margens do estreito da Formosa conheceram um arrefecimento com a vitória, nas eleições de Janeiro, da nova presidente Tsai Ing-wen do Partido Progressista Democrático tradicionalmente independentista. As autoridades da ilha já pediram a Pequim para tirar as lições de Tiananmen, mas esta foi a primeira vez que o parlamento assinalou aqueles acontecimentos, um dia antes do aniversário, a 4 de Junho. Os deputados do DPP, alguns membros do KMT e o dissidente chinês no exílio Wu’er Kaixi observaram um minuto de silêncio e assinaram uma moção em que é exigido ao governo que “expresse as sérias preocupações de Taiwan sobre a necessidade de reparar os incidentes de 4 de Junho num momento apropriado”. Em Macau o Largo do Senado foi palco também da tradicional vigília que contou com algumas centenas de pessoas.
Hoje Macau China / ÁsiaJack Ma diz que Alibaba diz está a cooperar com investigação dos EUA [dropcap style=’circle’]J[/dropcap]ack Ma, o fundador do gigante chinês do comércio electrónico Alibaba, afirmou ontem que a sua empresa está a “cooperar activamente” com investigações à contabilidade do grupo pelo regulador do mercado de valores dos Estados Unidos. Em declarações à agência oficial chinesa Xinhua, Ma disse que o Alibaba forneceu a informação solicitada pela Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) dos EUA e que saúda a investigação. O Alibaba afirmou num comunicado enviado à bolsa de Nova Iorque no início deste mês que o SEC lançou uma investigação “para saber se houve alguma violação das leis federais de valores mobiliários”. Entre outras questões, o regulador norte-americano requereu informação sobre a contabilidade da Cainiao, empresa de logística do grupo, e sobre as práticas do Alibaba durante o “Dia dos Solteiros”, o maior evento promocional de vendas ‘online’ na China. “A melhor forma de resolver estas dúvidas é através da transparência e diálogo”, afirmou Ma à agência Xinhua, acrescentando que é difícil para alguns investidores norte-americanos entender o modelo de negócio do Alibaba. Entretanto, o maior accionista do Alibaba, o grupo japonês SoftBank, anunciou esta semana que vai vender pelo menos 7,9 mil milhões de dólares da sua participação no Alibaba, numa altura em que tenta reduzir o seu endividamento. O próprio Alibaba anunciou que vai comprar 2,0 mil milhões de dólares das acções detidas pelo SoftBank. “O Alibaba tem dinheiro que chegue e está optimista sobre os lucros futuros”, afirmou Ma.
Hoje Macau China / ÁsiaMar do Sul da China |Washington e Pequim trocam “galhardetes” [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]o sábado, os Estados Unidos ameaçavam “a tomada de acções” na palavra de Ashton Carter, secretário da Defesa norte-americana. Ontem, Pequim respondeu dizendo que não vai ter receio dos “problemas” naquela zona. Em causa a construção pela China numa ilha reivindicada pelas Filipinas no Mar do Sul da China. “Espero que estes desenvolvimentos não ocorram, porque caso contrário vão resultar na tomada de acções tanto pelos Estados Unidos, como por outras partes na região, as quais vão ter o efeito de não só aumentar a tensão como de isolar ainda mais a China”, disse Carter numa cimeira de segurança em Singapura. A China, por seu lado, denunciou as “provocações” norte-americanas nas disputas territoriais no Mar do Sul da China. “Os países estrangeiros devem ter um papel construtivo sobre esta questão, não o inverso. A tensão no Mar do Sul da China tem-se agravado por causa das provocações de alguns países, que perseguem os seus interesses egoístas”, disse o almirante Sun Jianguo, durante uma cimeira sobre segurança em Singapura. E o almirante foi ainda avisando que “não causamos problemas, mas não temos medo dos problemas”. Gigante controlo Segundo informou em Abril a imprensa de Hong Kong , o ‘gigante’ asiático estabelecerá um posto em Scarborough Shoal, um território situado a 230 quilómetros da costa filipina. Pequim reclama a soberania de quase todo o Mar do Sul da China. Nos últimos meses, construiu ilhas artificiais capazes de receber instalações militares em recifes disputados pelos países vizinhos. Apesar dos protestos de Manila, a China passou a controlar efectivamente o Scarborough Shoal, em 2012, ao estacionar navios de patrulha na área e expulsar barcos de pesca das Filipinas. Segundo uma fonte citada pelo jornal South China Morning Post, aquele posto permitirá a Pequim “aprimorar” a sua cobertura aérea no Mar do Sul da China, sugerindo planos para construir uma pista de aterragem.
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasA jóia da coroa Por Michel Reis [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] violoncelo Stradivarius Chevillard-Rei de Portugal, datado de 1725 e classificado como Tesouro Nacional, é uma das jóias da coroa do espólio do Museu Nacional da Música, em Portugal, tendo pertencido a S. M. o Rei Dom Luís I (1838-1889) e sendo o único instrumento de arco em Portugal com a assinatura do famoso construtor italiano de instrumentos musicais Antonio Stradivari (1644-1737). Construído em 1725, quando Stradivari tinha 81 anos, foi primeiramente conhecido por Violoncelo Chevillard, por ter pertencido ao famoso violoncelista belga Pierre Chevillard (1811-1877) e foi posteriormente propriedade de um dos irmãos da família de luthiers franceses Vuillaume, que o vendeu ao Rei Dom Luís em 1878 por 20,000 francos. O Chevillard – Rei de Portugal tem a famosa forma “B”, a mais célebre entre as diferentes formas utilizadas por Antonio Stradivari na construção de instrumentos de arco, sendo o último construído segundo esta forma. Esta forma foi utilizada de 1707 a 1726, o período de ouro do construtor. Contudo, não estando o instrumento certificado, atribuem-no alguns a Jean-Baptiste Vuillaume (1798-1875), que imitava Stradivari com perfeição extrema. Restam hoje apenas 25 violoncelos deste tipo em todo o mundo, entre os quais o “Davidoff” (1712) , actualmente emprestado a Yo-Yo Ma, o “Duport” (1711), que pertenceu a Mstislav Rostropovich e é hoje propriedade dos seus herdeiros, o “Piatti” (1720), que pertence ao violoncelista mexicano Carlos Prieto, o “Mara” (1711), que pertence ao violoncelista austríaco Heinrich Schiff e o “Batta” (1714), que pertenceu ao violoncelista russo-americano Grigor Piatigorsky. É conhecido o interesse que o Rei Dom Luís tinha pela música. Como compositor, deixou-nos algumas obras musicais: uma Barcarola, uma Missa (a parte de violoncelo), cinco valsas e uma Avé Maria, que o próprio Rossini elogia, pelo que não raras vezes comporá obras dedicadas a Dom Luís. Parte do seu acervo instrumental encontra-se hoje, no Museu Nacional da Música. São de realçar o violoncelo Stradivarius e um piano que pertenceu a Franz Liszt. O valioso instrumento saiu há pouco tempo do Museu Nacional da Música para ser tocado pelo violoncelista russo Pavel Gomziakov num concerto de solidariedade para com a Plataforma de Apoio aos Refugiados, intitulado Música por uma Causa, realizado no passado dia 18 de Outubro, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, no qual o violoncelista, juntamente com a Orquestra Gulbenkian, tocou a Suite Nº 2 em Ré menor de Johann Sebastian Bach e o Concerto para Violoncelo e Orquestra em Dó Maior de Joseph Haydn, sob a direcção de Michel Corboz. O concerto, que esgotou a lotação do auditório, obteve uma receita de 24 mil euros. A saída do instrumento, avaliado em vários milhões de euros, do Museu Nacional da Música, esteve relacionada com a sua descoberta por Gomziakov, que esteve em Lisboa anteriormente para tocá-lo num concerto realizado no Museu da Música. Ficou tão emocionado com o som do instrumento, que pediu ao Museu para usá-lo numa gravação na Fundação Calouste Gulbenkian, com a orquestra da Fundação, do referido Concerto para Violoncelo de Haydn, que integra a sua próxima gravação discográfica dedicada a Haydn, da editora Onyx, a ser lançada no início de 2016. Depois da primeira saída, Pavel Gomziakov pediu também ao Museu da Música para usar o violoncelo Stradivarius no concerto solidário da Gulbenkian, o que só foi possível com o apoio de mecenas do Museu Nacional da Música como a Lusitânia Seguros, visto que o valor do seguro é bastante elevado e a peça precisa de medidas de segurança muito especiais. Tratou-se da segunda saída, em poucos meses, de um instrumento que não foi tocado fora do museu desde que ingressou nas colecções que o viriam a constituir, em 1937, e que é um dos 11 tesouros nacionais que o museu tem à sua guarda. Crê-se existirem ainda hoje em dia entre 630 a 650 violinos, violas e violoncelos construídos por Antonio Stradivarius, 512 dos quais são violinos. Tivemos muito recentemente oportunidade de ter em Macau o agrupamento de origem suíça Stradivari Quartett, que realizou dois concertos integrados no XXIX Festival Internacional de Música de Macau, nos quais o público pôde ouvir os fabulosos Stradivarius “Aurea” (violino, 1715), “King George” (violino, 1710), que pertenceu ao Rei Jorge III de Inglaterra, “Gibson” (viola, 1734) e o “Bonamy Dobree – Suggia”, que pertenceu à famosa violoncelista portuguesa Guilhermina Suggia (1885-1950).
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesO sonho europeu “The American Dream focuses on wealth, the European Dream on quality of life. The American Dream focuses heavily on property rights and civil rights, because they extend our individuality. In Europe, you focus very little attention on property rights and civil rights. You spend a lot of time on social rights, health care, retirement benefits, maternity leave, paid vacations, and what you call universal human rights.” The European Dream: How Europe’s Vision of the Future Is Quietly Eclipsing the American Dream Jeremy Rifkin [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s americanos vivem e morrem de acordo com a ética de trabalho, e os ditames da eficiência. Os europeus dão mais valor ao tempo livre, incluindo a ociosidade. A América sempre se viu como um grande caldeirão de culturas. Os europeus, no entanto, preferem preservar a sua rica diversidade cultural. Os americanos acreditam numa presença militar contínua, em todo o mundo. Os europeus, pelo contrário, enfatizam a cooperação e consenso, contra as abordagens de política externa unilaterais. A crise europeia, no fundo, não é uma crise económica. A crise europeia é uma crise mental, talvez ainda mais, uma crise sobre como imaginar ter boa vida, para além do consumismo. Os críticos que levantam a voz contra a Europa, no seu anti-europeísmo, são prisioneiros de uma nostalgia nacional enferrujada, e nesse sentido argumenta, por exemplo, o filósofo francês Alain Finkielkraut, que a Europa acredita que se pode formar sem as nações, inclusive contra elas. Quer punir as nações pelos horrores do século XX. Mas não existe democracia pós-nacional. A democracia é monolingue e para funcionar requer uma linguagem, referências vitais e um projecto comum. Não nascemos como cidadãos do mundo. As comunidades humanas têm limites, mas a Europa não toma em conta essa situação, e daí que a opinião pública europeia não se entusiasme com a União Europeia (UE). Esta crítica à Europa é suportada na mentira existencial nacional, de que na sociedade e na política europeias, poderia existir um retorno idílico ao Estado-nação. Assume-se que o horizonte nacional, é a estrutura para diagnosticar o presente e o futuro da Europa. Quem faz tais críticas, deve abrir os olhos e observar que não apenas a Europa, mas todo o mundo, estão em uma transição, em que as fronteiras que funcionam, deixaram de ser reais. Todas as nações enfrentam uma nova pluralidade cultural, não só através da emigração, mas também, por meios da comunicação por Internet, alterações climáticas, crise do euro e ameaças digitais à liberdade. As pessoas das mais diversas origens, com diferentes línguas, valores e religiões, vivem e trabalham próximas, e os seus filhos frequentam as mesmas escolas, e tentam lutar por uma posição no mesmo sistema político e jurídico. As nações avançam em plena aceleração, em direcção ao cosmopolitismo, e dois exemplos paradoxais são de realçar, como o da imprensa britânica que está repleta de queixas sobre a UE, ou seja, o eurocéptico Reino Unido, está inundado por uma vaga sem precedentes de opiniões sobre a Europa, e por outro lado, a China, desde há muito, tem sido um membro informal da zona euro, pela sua política de investimentos e as suas dependências económicas. Se o euro fracassar, a China será afectada até ao tutano. Tais casos, evidenciam, quando a globalização dissolve as fronteiras, as pessoas tentam restabelecê-las. A necessidade de fronteiras, tem tendência a ser mais forte, quanto mais cosmopolita se torna o mundo, sendo evidente no triunfo da Frente Nacional nas eleições municipais francesas, e que serve também para entender a máxima do presidente russo, de que a Rússia deve estar, onde vivam os russos. O agressivo nacionalismo intervencionista do presidente russo, mostra que não é possível projectar o passado das nações sobre o futuro da Europa, sem o destruir. Não servirá, quiçá, o etnonacionalismo do presidente russo como uma saudável terapia de choque, a uma Europa assolada pelo egoísmo nacional? Quem jogue a cartada do nacionalismo extremado, volta a conjurar pelo desmembramento da Europa, e que serve quer ao presidente russo, como também, de outro modo ao Reino Unido e à direita e esquerda anti-europeia. A todas estas situações, Alain Finkielkraut, responde que os europeus estão traumatizados por Hitler, pois desprezava o conceito de nação, e queria substitui-la pela de raça. Actualmente, são as nações que têm de purgar os excessos racistas. Muitos interrogam, se não será esse trauma devido ao “Holocausto”, que faz que os alemães queiram açambarcar todo o nacionalismo. Certamente não será, pois mais que nunca, o mundo precisa de uma abordagem europeia, para terminar com os males da globalização, como as alterações climáticas, pobreza, desigualdade extrema, guerra e violência. A guerra contra os riscos globais, é uma tarefa hercúlea, e poderia até criar uma nova ideia de justiça, com alcance global. Se a Europa quer verdadeiramente superar a sua crise de convivência, deve seguir outros dos conselhos de Alain Finkielkraut, o de encontrar a sua identidade nas grandes obras europeias, monumentos e paisagens da cultura. Nada há a opor à releitura das obras de Shakespeare, Descartes, Dante e Goethe, ou deixar-se encantar pela música de Mozart e Verdi. O conceito de literatura mundial de Goethe é politicamente interessante, e referia-se a um processo de abertura ao mundo, em que a alteridade do exterior se converte em parte integrante da nossa consciência. É nesse sentido, que Thomas Mann fala do alemão mundial, a que devia ser adicionado o italiano, o espanhol, o francês mundial, e assim por diante, ou seja, uma Europa de nações cosmopolitas. A partir das costas de África onde nasci, vê-se melhor o rosto da Europa e sabemos que não é bonito, escreveu Albert Camus, Prémio Nobel da Literatura de 1957. A beleza era para Albert Camus, discípulo de Friedrich Nietzsche, um critério de verdade e boa vida, e o segredo da Europa constatava friamente, é de que tinha deixado de amar a vida, pois para ser humanos, a partir do desespero, os europeus acabaram por atirar-se aos excessos desumanos, e como negavam a verdadeira grandeza da vida, tiveram que focar-se no único objectivo, que era a sua própria perfeição. Na falta de algo melhor, deificaram-se, e começou a sua miséria. Eram deuses cegos. Poderia perguntar-se qual é o antídoto, a fórmula idónea para uma UE, distinta da que vive no momento, a alegria apenas do presente? Por exemplo, o sonho de um tálamo mediterrânico, em que o Oriente e Ocidente, Norte e Sul se respeitariam e cooperariam. Surge assim, uma Europa das regiões, digna de ser vivida e querida. O nexo aparentemente entre o Estado, identidade e a língua nacional, é dissolvido. A UE, os Estados membros e as regiões ocupar-se-iam gradualmente do bem-estar dos cidadãos. Seriam porta-vozes num mundo globalizado, por um lado, e por outro, transmitiriam uma sensação de abrigo e identidade. A democracia adquire múltiplos níveis, tal como a estamos a começar a praticar. O Mediterrâneo, como saber viver, alegria vital, indiferença, desesperança, beleza e fé, ou seja, uma mistura paradoxal que os europeus do norte, imaginam romanticamente e projectam sobre o sul, como esses jardins meridionais, em que florescem os limoeiros de que falava Goethe, e que não podia ser outra que Sevilha. A miragem da dívida também impôs um rosto cinzento e disforme, a essa existência mediterrânica cheia de alegria de viver e cosmopolita. O pensamento regional e com traços confederais do Mediterrâneo, sobreviveu, às grandes ideologias nacionais e políticas, e é talvez a única utopia social do século XXI, que terá futuro. A cerimónia da entrega do “Prémio Internacional Carlos Magno”, foi a mais atípica até ao momento realizada, não só porque o palco foi Roma, mas também, pelo discurso do vencedor do prémio, o Papa Francisco. A referência a refugiado, não foi proferida uma única vez no seu discurso. Que quis dizer com tal atitude? O de renunciar ao papel que assumiu na crise dos refugiados? O Papa Francisco queria algo mais, pois durante o seu discurso de aceitação do prémio, quis chamar a atenção para o novo humanismo europeu. A questão dos refugiados e a sua percepção na Europa, é muito debatida no Vaticano. O Papa Francisco, trata o tema com acções concretas, como aconteceu na sua visita a Lesbos e, dessa forma, mostra como a Europa e a política europeia não estão a actuar. O Papa Francisco, em abono da verdade, fala como um filho que tem as raízes da sua vida e da sua fé na mãe Europa. Os seus pais fugiram um dia da pobreza do Piemonte, e o filho nunca esqueceu esse dramático episódio familiar, e durante o seu discurso, falou de forma apaixonada e quase como entoando um hino, do que representa para si a Europa, defensora dos direitos humanos, democracia e liberdade, pátria de poetas, filósofos e artistas. A Europa mãe de povos e nações. O que existe de errado na Europa? O Papa Francisco estruturou o seu discurso com palavras de integração, diálogo e criatividade. Assim, tornou-se na realidade político, uma vez que coloca a Europa, como exemplo, para recordar o que tiveram de passar milhões de jovens, sobretudo dos países europeus do sul, que não têm formação, emprego e futuro, revelando toda a indignidade da situação de uma Europa que se pretende eminentemente social. O Papa no seu discurso, apenas citou o jesuíta polaco Erich Przywara, e sua obra “A ideia da Europa”, cuja leitura recomendou várias vezes. A ideia europeia de um jesuíta nascido na Polónia, realça a notável contribuição do Presidente do Conselho Europeu e ex-primeiro-ministro da Polónia. O problema é que a Europa apoiou os Estados Unidos na criação e incitamento de conflitos, onde quer que seja, na Síria, Ucrânia e Líbia, e essas pessoas, que são seres humanos, e não se deve esquecer essas acções, fogem de guerras, insegurança, fome e tentam salvar os seus filhos. É a consequência de não ter ajudado, honestamente, muitos países da África subsarianos, a saírem da terrível situação que criaram. É uma grande tragédia humana a vaga de emigração que varre o continente europeu, e que a Europa tem uma grande quota de responsabilidade. O que é absurdo é que podem passar vários anos no limbo, e permanecerem na Europa. É obrigação moral aceitar os emigrantes ou rapidamente, apenas em situações extremas, rejeitá-los e fazê-los regressar aos seus países de origem, sem mais delongas e histórias. A Europa muito irá chorar pelo seu desleixo em matéria de imigração. Quem não é elegível para ser considerado refugiado, deve ser expulso do território da UE. O Canadá gasta fortunas para expulsar quem não reúne condições para permanecer no seu território, e pode ser o exemplo a seguir, pelo menos, sobre a imigração. A situação é fácil de resumir, pois se lhes concedem asilo, podem permanecer na Europa. Se não obtiverem asilo, podem permanecer na Europa, ou seja, em ambas as situações, recebem benefícios. Aparentemente, a diferença está, em que sendo considerado refugiado, terá maiores benefícios. O sonho europeu, faz que qualquer pessoa que ponha o pé na Europa, despoleta burocracia e a aliança de instituições profissionais de boa vontade, como a ONU, UE e jornalistas especializados, que se encarregam de tornar impossível a sua devolução aos países de origem, e é essa e não outra, a razão de que cheguem cada vez mais emigrantes à Europa, o que curiosamente não ocorre, em nenhum dos riquíssimos países muçulmanos do Golfo. E entretanto, o estado de bem-estar é desfeito, a Europa fica islamizada, e o terrorismo jiadista está cada vez mais presente.
Hoje Macau SociedadeAssembleia da República respeita vontade da família de Pessanha [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto da Assembleia da República (AR), encarregue de dar um parecer sobre o pedido de transladação dos restos mortais de Camilo Pessanha para o Panteão Nacional, está a tentar contactar a bisneta do autor de Clepsidra, depois de notícias divulgadas pela comunicação social a dar conta da recusa da ideia. Em declarações à Rádio Macau, a presidente da comissão, Edite Estrela, assegura que vai ser respeitada a vontade da família. “Vieram a público informações que a família se opunha e esse é o primeiro passo que tem de ser dado, que é esclarecer junto da família, porque se ela se opuser penso que não há condições para se prosseguir com esta diligência”, afirmou Edite Estrela, acrescentando que já foram dados passos nesse sentido. Ana Jorge, recorde-se, frisou em Maio que a possibilidade de ver os restos mortais do bisavô Camilo Pessanha serem transladados para Lisboa estava fora de questão. Edite Estrela adiantou à rádio que os fundamentos para o pedido de transladação, da qual fazem parte seis subscritores, assentam na justificação de se assinalar os 150 anos do nascimento do autor de Clepsidra, que são celebrados a 7 de Setembro do próximo ano. “Apesar de ter escolhido viver e morrer em Macau a verdade é que manteve sempre laços com Portugal (…) a intenção é boa porque é uma forma de o homenagear, de o recordar.”
Joana Freitas DesportoÓbito | Muhammad Ali morreu aos 74 anos nos EUA Foi mais do que um lutador. Muhammad Ali era um ser complexo, cheio de humor e manias, mas que deixou marcas bem profundas no boxe e na política [dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]uando até os próprios adversários se riem das piadas e nutrem amizade com o oponente, algo de carismático tem de ter essa pessoa. E Muhammad Ali era assim: deixava no ar uma arrogância quase impossível de aturar, mas que penetrava de tal forma que, de uma maneira ou de outra, todos o respeitavam. “Não gostava do Ali, ele estava a desafiar-me pelo título. Mas ainda, assim ele é uma das pessoas mais maravilhosas que já conheci. Diverti-me muito porque ele estava sempre na brincadeira durante o combate. Quem me dera não ter estado tão ansioso por ganhar, isso não me deixou aproveitar a situação e se pudesse fazer esse combate outra vez, faria”, dizia George Foreman, ex-lutador e um dos grandes nomes do Boxe, ao HM em 2013. A morte de Ali no sábado não deixou só o mundo do Boxe mais pobre, mas todo o mundo do Desporto. Tal como acontece quando morre uma lenda, esta vez não foi excepção e das redes sociais a comunicados da Casa Branca dos EUA, foram diversos os que manifestaram luto e pesar. Muhammad Ali sofria de Parkinson desde 1984, quando foi diagnosticado três anos depois de se ter retirado dos combates. Foi internado algumas vezes, nomeadamente com infecções pulmonares e urinárias. Sempre resistiu e sempre manteve a forma teimosa como se apresentava ao mundo, mesmo quando as palavras saíam com algum custo e as mãos não acompanhavam o que em tempos tinha sido um lutador que “flutuava como uma borboleta e picava como uma abelha”. O maior “Sou o maior. Disse isso a mim mesmo inclusive antes de saber que o era” sempre foi uma das frases preferidas do “rei do mundo”, como se intitulou no fim do combate com Sonny Liston, em 1965, quando venceu o primeiro título de campeão do mundo de pesos-pesados. Com mais de 60 combates, Ali venceu mais de 50 das suas lutas – 37 delas por KO. Perdeu apenas cinco. Mas Muhammad Ali não foi apenas um mito do Boxe. Foi parte integrante da cultura popular e política da sua época, especialmente quando em 1967 é proibido de regressar aos ringues por se ter recusado a lutar no Vietname. “Não vou percorrer 10 mil quilómetros para ajudar a assassinar um país pobre simplesmente para dar continuidade à dominação dos brancos sobre os escravos negros”, dizia em sua defesa, semelhante à que usou quando decidiu mudar de nome. “Cassius Clay é o nome de um escravo. Não foi escolhido por mim. Eu não o queria. Sou Muhammad Ali, um homem livre.” Por tudo isto e por tantas coisas que não caberiam aqui, dizer que Ali foi só um campeão do Boxe seria “uma injustiça”, como relembra Foreman à BBC. Questionado certa vez sobre como gostaria de ser lembrado, ele disse: “Como um homem que nunca vendeu o seu povo. Mas se isso for muito, então apenas como um bom lutador. Nem vou me importar se não for mencionado o quanto fui bom.” Mas há quem tenha mais a acrescentar. “Ali viveu uma vida cheia de convicções religiosas e políticas que o levaram a tomar decisões difíceis e viver com as consequências”, referiu o ex-presidente norte-americano Bill Clinton, que fará uma homenagem no funeral de Ali. “Muhammad Ali abalou o mundo. E o mundo ficou melhor por causa disso”, acrescentou Obama, actual presidente. Nascido no estado do Kentucky, nos EUA, é lá que o tetra-campeão do mundo vai a enterrar depois de ter morrido por choque séptico provocado “por causas naturais não especificadas”. Com frases e intervenções que ascenderam ao campo do Rap, do poema e da Filosofia, Muhammad Ali – o “Elvis do boxe, o Tarzan do boxe, o Super-Homem do boxe, o Drácula do boxe, o grande mito do boxe” – fez ouviu o sino soar pela última vez. Mas deixa a certeza de que foi “o campeão mais bonito” que o mundo já viu.