Manuel Afonso Costa Fichas de Leitura h | Artes, Letras e IdeiasObsessão e vulgaridade [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ara mim, quer dizer, literalmente, o que a literatura é como qualquer coisa que me é endereçada e enquanto direito de apropriação que pode ser vitalista, ao ponto de, glosando a Natália Correia, se poder comer. Para mim, dizia, escrever sobre ela é, por esse motivo, em larga medida vomitar. Meu deus, que coisa chocante! Agora a literatura dá vómitos, … Em que é que ficamos? Nada disso, o que eu quero dizer é que a literatura não é nunca um entretenimento, um fait divers para passar (consumir) o tempo, pelo contrário, é sempre coisa orgânica e vital. Fiquemos assim entendidos. E regresse-se ao Para mim. O que a expressão quer dizer é que não há neutralidade e pelo contrário, puro egoísmo, pura expressão, quase doentia de uma posse, de uma exclusividade, eventualmente até infantil, se se quiser, no sentido do carácter egocêntrico e do sentimento de posse da criança. Em resumo, na maior parte das vezes e dos casos, a obra foi escrita essencialmente para mim. Ora se foi criada para mim, expressamente, então é minha, posso fazer dela o que bem entender, até comê-la como dizia, (…) O Para mim não significa portanto Em minha opinião, é algo de muito mais metabólico, aliás essencialmente metabólico e por vezes mesmo exclusivamente metabólico. Perceberam!? Voltemos ao vómito. Há aqui uma ambiguidade estrutural que é preciso dilucidar. Penso que serei capaz de demonstrar que o vómito é da ordem das sinestesias básicas, ou seja dos sentimentos ambivalentes. Eu não vomito a literatura, nem o autor, nem a obra, em particular ‘os’ ou ‘as’ de que mais gosto. Eu vomito o facto de ter de partilhar com idiotas a literatura e o facto de que hoje em dia a literatura se confunde com o que é digno de vómito e passa por ser literatura. E o mesmo acontece com muitas outras manifestações culturais ou pseudoculturais. O que em geral provoca o vómito é biblicamente como se sabe, o morno, o que não é quente nem frio, o que é por natureza neutro. A Vox Populi costuma dizer de qualquer coisa que provoca desprezo, quiçá mesmo náusea, que não aquece nem arrefece. O fundamento é seguramente o mesmo que no Apocalipse: Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. Apocalipse 3:15,16 Interessa-me guardar este sentido, de que a literatura se pode vomitar, pois não sendo o meu, acaba por se insinuar em mim, através dos outros, das suas sabedorias estultas, das suas auto-satisfações académicas ou coloquiais, sabedorias essas, que não vislumbram sequer a maldição da poesia. A poesia e a arte em geral é e será sempre a única praga capaz de conspurcar as boas consciências e lançar dúvidas demoníacas em todos os crédulos. Por outro lado interessa-me reter também uma outra dimensão ainda mais radical, embora já implícita no que acabei de dizer. Como o cão torna ao seu vómito, assim o tolo repete a sua estultícia. Provérbios 26:11. Assim vós que falais de literatura como coisa morna, nem quente, nem fria, acabais por ser os verdadeiros apóstatas da beleza, da arte e da poesia. Eu vos vomito. Podeis, como os cães voltar ao vosso vómito, ou como os porcos voltar a revolver de novo na lama. Vem isto a propósito da leitura dos contos de Axilas e outras histórias indecorosas do escritor brasileiro, autor de uma obra prima designada a Grande Arte. Uso aqui esta citação de propósito e de forma acentuadamente irónica, pois a grande arte de que fala o autor é o homicídio. Adiante. Estes contos mostram uma obsessão com a decadência física e com a deficiência nas suas mais variadas formas, sempre assumidas por personagens impiedosos consigo mesmo e principalmente com os demais. Citemos o autor: “Um homem apaixonado é uma espécie de louco. É tipicamente um sentimento doloroso e patológico, porque, via de regra, o indivíduo perde a sua individualidade, a sua identidade e o seu poder de raciocínio”. O pensamento do narrador do conto “A Mulher do CEO”, um dos dezoito contos incluídos na antologia Axilas e Outras Histórias Indecorosas, resume bem a obra de Rubem Fonseca. As narrativas de Rubem Fonseca exploram o pathos do calor e do frio, não são nunca mornas, tépidas, vomitáveis, e o que é mais importante impregnam no leitor a sua visão extrema, sem contemplações. É quando lemos obras como estas que melhor percebemos os estereótipos delicodoces, melodramáticos, abusivamente cheios de retórica sentimentalóide e nesse sentido indecente. É a pretensa decência que esconde e branqueia, que ignora a enorme miséria do mundo, que é a autêntica indecência. É o politicamente correcto que é criminoso nas suas mentiras descaradas, é a retórica artificial da bondade e da beleza que escamoteia as imensas pústulas, visíveis no entanto a céu aberto, que provoca desdém e repugnância, é o romantismo serôdio dos Nicolas Sparks, ou o erotismo burguês e de pacotilha das Sombras de não sei o quê e que afinal nem são sequer sombrias, que representam hoje a pornografia disfarçada. Perante uma obra como a de Rubem Fonseca, apetece dizer, eu vos vomito, vós que não sois nem frios, nem quentes, mas somente mornos. Falemos agora do estilo. Dizer que é certeiro, rápido, incisivo, talvez se adeque. O autor cultiva a economia, de recursos e de páginas. Todos os contos são curtos. E não são assim os melhores contos desde Tchekhov a Raymond Carver? Os contos ao mesmo tempo que são curtos, directos e sucintos, são porém quase sempre desconcertantes. Contudo o que mais me atraiu neste conjunto de contos foi a vulgaridade estrutural dos personagens, protagonistas de quotidianos enviesados mas banais. Nem um só que fosse, poderia servir para ilustrar uma enciclopédia moral e de bons costumes. Eles não são paradigmas de coisa nenhuma, a não ser de uma certa indigência. A antologia é no fim de contas um bestiário não moral nem exemplar, tão somente de gente vulgar, às quais podem, no entanto, acontecer coisas invulgares, mas como se o não fossem; mas não é isso que as pessoas são na generalidade? Então perguntar-se-á porque razão, sendo aparentemente morno, este universo, nem frio em excesso e muito menos exaltante, não será a justo título vomitável. Por uma razão que em pleno o justifica: a autenticidade. Aqui não há modelos de plástico, caricaturas, aqui há a vida tal como ela é ou pode ser e na maior parte das grandes metrópoles, é mesmo, imenso universo de seres claudicantes, para não lhes chamar coxos ou rengos, e também de corcundas, vesgos, prostitutas, proxenetas, enfim deficientes numa panóplia de deficiência de largo espectro. E esse realismo sem dó, nem compaixão, nem mentiras é de uma luminosidade tão intensa que queima. Para bom entendedor, meia palavra basta. Não há na prosa de Rubem Fonseca digressões intelectuais, fluxos de consciência, que valha a verdade são por vezes tão aborrecidos e até mornos, não há também problematizações sociais de conveniência e morais muito menos. Pouca carne e muito osso, e um estilo direito à dor, que se faz tarde. Nós os leitores ficamos com os ossos moídos e com a alma cabisbaixa, mas literariamente exaltados, em fogo; com algumas cintilações obscenas, para quê negá-lo.
Sérgio Fonseca DesportoRodolfo Ávila irá fazer mais provas do CTCC [dropcap style=’circle’]R[/dropcap]odolfo Ávila foi o primeiro português a competir no Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC), quando no primeiro fim-de-semana de Junho alinhou na prova da classe Super 2.0T disputada no Circuito Internacional de Zhuhai. O piloto que defende as cores do território deixou uma boa impressão na estreia e vai repetir a experiência já este fim-de-semana, em Xangai, regressando assim à competição de velocidade mais importante do continente chinês. Quando no final da conferência de imprensa de sábado uma jornalista chinesa perguntou ao piloto português que tal se sentia no CTCC e qual a sensação de estar a disputar esta corrida em Zhuhai e vir a realizar também a sexta prova do ano, Ávila sorriu e respondeu: “julgo que saberá mais do que eu sobre o assunto”. Afinal, o piloto da RAEM apenas foi inicialmente convidado para conduzir em Zhuhai e após a qualificação do seu primeiro fim-de-semana no campeonato desconhecia os intentos da SVW333 Racing, a equipa oficial do construtor SAIC Volkswagen no CTCC. “Acho que a equipa gostou do meu trabalho em Zhuhai e a oportunidade de voltar a conduzir por eles chegou ainda mais cedo do que eu esperava. Não estou a disputar o campeonato, porque faltei à primeira corrida, nem sequer posso realizar todas as provas até ao final do ano por motivos profissionais, mas nas provas que possa disputar, lá estarei”, disse Ávila ao HM, isto depois de ter anunciado os seus planos para este fim-de-semana nas redes sociais Facebook e Weibo. Uma das razões para o piloto luso querer repetir a experiência no CTCC é o facto de não ter conseguido em Zhuhai traduzir a sua rapidez em resultados, muito por culpa das condições meteorológicas e da ausência de uma pontinha de sorte. Segundo na qualificação, Ávila teve uma primeira corrida inglória, pois arrancou com pneus de chuva e ao fim de duas voltas a pista inicialmente molhada praticamente secou e assim teve que abdicar da liderança da corrida para terminar num desapontante sétimo lugar, ficando sem direcção assistida no processo. Na segunda corrida, quando lutava pela vitória com um dos Ford Focus de fábrica, Ávila acabou por ser um dos vários pilotos apanhados incautos pelo torrencial aguaceiro que se abateu sobre o circuito quando a corrida se aproximava do fim. Para todos os efeitos e frustrações à parte, o vice-campeão do TCR Asia Series de 2015 admite que “foi uma experiência diferente de tudo aquilo que já tinha feito até aqui. É um campeonato com um projecção mediática na China enorme e tem vários construtores presentes de forma oficial. O resultado de Zhuhai não foi o que eu gostaria que fosse, portanto gostava de tentar de novo e provar que também aqui posso terminar entre os primeiros, apesar da prioridade ser sempre ajudar a equipa”. A SVW333 Racing inscreve quatro VW Lamando GTS a tempo-inteiro no CTCC este ano, um deles para o popular piloto-escritor Han Han, autor do blogue mais lido na República Popular da China, que por ter uma agenda bastante ocupada nem sempre pode participar em todas as corridas do campeonato.
Carlos Morais José A outra face Manchete VozesA doença e a virtude [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s cem milhões de patacas que a Fundação Macau doou à Universidade de Jinan saíram do bolso da população mas estão a custar cada vez mais caro ao Governo. Em causa está, uma vez mais, a sua imagem, a sua transparência e, sobretudo, os critérios de transferência de dinheiros públicos. Numa palavra, a sua credibilidade e virtude (德 de), conceito tão caro ao actual presidente chinês. Poderão não ter violado a lei. Mas que lei é essa e quem a fez? E de que modo essa mesma lei facilita este tipo de “transferência”, com a mera aprovação daqueles a quem, de algum modo, se destinava? A população, claramente, não gostou. A manifestação, organizada pela Associação Novo Macau, contou com cerca 3000 pessoas. É significativo para a RAEM. Sobretudo se tivermos em conta o grau de educação dos participantes, bastante mais elevado, em média, dos que participam na marcha do Ou Mun. Ou seja, pessoas com que Pequim tem de contar no futuro. É bom dar-lhes razões para virem para a rua gritar? Parece que não. Não satisfeitos com a gritaria, as forças de segurança resolveram intimidar os organizadores da manifestação, fazendo-os comparecer na esquadra para prestar declarações e, eventualmente, encontrarem um modo de os acusarem de desobediência. Do lado da ANM, devem ter batido palmas. Ninguém poderia pedir melhor publicidade. Lá voltaram a Universidade de Jinan, os cem milhões, os curadores da escola, o pessoal da Fundação Macau e as acusações de perseguição política para as páginas dos jornais, para as rádios, para a televisão e, sobretudo, para as redes sociais, onde este Governo e a oligarquia que o rodeia é tratado com notável pouca consideração. Ao invés de enterrarem o assunto, as autoridades de Macau, num arguto movimento, fazem questão de o trazer de novo à superfície. Se o haviam de fazer esquecer, empenham-se em relembrá-lo a toda a gente. Houve desobediência? Dos manifestantes? A sério? Soubesse a ANM organizar-se e tinham tido 500 pessoas a acusarem-se ontem, na mesma esquadra, do mesmo crime dos organizadores. Desta vez, estes esqueceram-se de carregar no botão… Um dos problemas é que a ANM mudou. Ng Kuok Cheong e Au Kam San são hoje o que pode chamar de “democratas gordos”. Mexem-se pouco, é-lhes difícil actuar. Na sua história têm muito de protesto contra a falta de democracia mas, raramente, colocaram em questão os interesses da oligarquia ou fizeram-no de forma suave e pouco eficaz. Ou não percebiam o que estava realmente em jogo ou fingiam não perceber.[quote_box_right]“Gostará Pequim de arriscar tanta insatisfação, tanta desarmonia, tanta tinta a escorrer, tanta língua a dar a dar, tanta contestação, aparentemente desnecessária, na terra dos milhões?”[/quote_box_right] Os novos líderes parecem ser de outra loiça. Daquela que se parte no choque com os que querem legislar e governar de acordo com o boletim meteorológico do seu mercado e, nesse sentido, pressionam sem maneiras o Governo. Passando as ditas “causas fracturantes” (cuja resolução, aliás, seria um sinal de progresso para a RAEM) para Jason Chao, outros poderão tratar do que realmente interessa à população, criando algum mal-estar em certos meios. Que força realmente terão é difícil de dizer. Tal dependerá da conjuntura, talvez de mais um extraordinário evento. Mas gostará Pequim de arriscar tanta insatisfação, tanta desarmonia, tanta tinta a escorrer, tanta língua a dar a dar, tanta contestação, aparentemente desnecessária, na terra dos milhões? Também graças aos esforços das autoridades, o caso dos cem milhões doados à Universidade de Jinan teima em não desaparecer. É um caso perigoso. Está colado ao modo como por aqui se governa como uma doença má. Veremos até que ponto este corpo governativo a consegue rejeitar e com que cara lhe sobreviverá.
Andreia Sofia Silva Perfil PessoasMarta Silva, estudante do curso de tradução português /chinês [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hegou aos 18 anos com a vontade de abraçar um mundo que não era o seu, mas que acabou por fazer parte da sua vida. Marta Silva, estudante do curso de tradução e interpretação em português/chinês, viveu um ano em Pequim e tem estado em Macau e não se arrepende da decisão que tomou: a de conhecer uma cultura totalmente diferente da sua. “Encarei isto como sendo a minha oportunidade, porque nunca tinha tido a oportunidade de viajar até tão longe. Este curso era perfeito pois estaria a estudar tradução e ao mesmo tempo estaria a vivenciar uma cultura completamente diferente”, contou ao HM. Marta Silva viveu no meio do rebuliço que é Pequim. Apesar das dificuldades constantes, a estudante retirou o máximo da experiência de situações boas e menos boas. “Conheci pessoas espectaculares e outro tipo de consciencialização acerca do mundo e das pessoas. Mas ao início senti que tudo era estranho, porque nunca tinha andado de avião na vida. Fascinou-me estar num sítio que literalmente nunca pára, mas depois numa outra fase começou a ser chato tanta confusão, filas para tudo. Começou a ser chato não ter espaço para mim. Muitas vezes fiquei chateada por não perceber ou ver o sentido em certos procedimentos da cultura chinesa e a forma de pensar dos chineses. Mas depois acabei por me habituar a tudo isso”, frisa a estudante. “Numa experiência deste tipo temos muitas situações em que sentimos medo, queremos desistir e temos muitas saudades de casa. Mas esses momentos são necessários. Quando saímos da nossa zona de conforto é quando começamos a conhecer-nos a nós mesmos. Há quem diga que um curso destes não é para toda a gente, e de certa forma concordo com isso”, aponta. Para além do desafio de viver na capital chinesa, Marta Silva começou a ter os primeiros contactos mais directos com os caracteres chineses, depois do arranque do curso em Portugal. “O mandarim não é mesmo nada fácil. Requer muito estudo e muita prática diária. As palavras têm sons muito curtos, o que nos pode deixar bastante perdidos quando ouvimos um chinês falar, porque parece uma maratona.” Oásis português Se em Pequim Marta Silva sentiu saudades da comida portuguesa e dos produtos típicos, a verdade é que em Macau acabou por se sentir no seu país. “Em Macau sinto-me perto de casa”, recorda. “Vivi nos dois sítios e percebi logo os contrastes. Temos as ruas com as típicas tascas e bancas de rua, onde se percebe que vivem as famílias mais pobres, e depois temos edifícios altamente luxuosos. Gostei um pouco mais de Macau pelo facto de ser o contrário de Pequim, por ser mais pequeno, por ter menos poluição, pelo facto das pessoas serem mais simpáticas.” “Aqui sinto-me mais perto da minha cultura, dos meus sabores, podendo continuar na China”, acrescentou. Marta Silva destaca ainda a presença do património português. “Gosto de passear em Macau e ver o rasto da nossa história deixado por aqui. Por momentos esqueço-me que estou na China, pois muitas das ruas fazem-me lembrar a Lisboa antiga”, conta a estudante. De Macau guarda a memória de um caso em que a polícia não a ajudou, mas confessa que um dia até gostava de ficar a viver neste pequeno território. “Identifico-me mais com Macau do que com Pequim. Não me importava nada de ficar aqui a viver.” Com o curso ainda por acabar, a cabeça de Marta Silva já fervilha com alguns projectos que pretende realizar. Mas os entraves ainda existem. “Sinto que ainda preciso de melhorar muito o meu chinês se quiser mesmo trabalhar com este idioma. Quatro anos de curso não são suficientes para obtermos um bom nível. Gostava de trabalhar como tradutora freelancer ou ser intérprete de grupos de pessoas em viagens de negócios”, aponta. Da Macau quase portuguesa Marta Silva leva também a percepção do lado mau das mesas de Jogo. “Há os esquemas da noite, os negócios ocultos, a lavagem de dinheiro, a corrupção, o crime, os contactos que são feitos por interesse. Mas penso que o facto de Macau ser uma cidade de Jogo lhe traz mais benefícios”, conclui.
Hoje Macau DesportoBenfica de Macau no sorteio da AFC Cup [dropcap style=’circle’]T[/dropcap]ricampeão da Liga Elite, o Benfica vai representar a RAEM pela segunda vez consecutiva na AFC Cup. O sorteio para o Playoff de qualificação acontece hoje numa cerimónia a ter lugar na sede da Confederação Asiática de Futebol, em Kuala Lumpur, na Malásia. O Playoff decorrerá de 21 e 27 de Agosto e vai ser disputada em três grupos de três equipas, sendo os anfitriões o Dordoi (Quirguistão), o FC Tertons (Butão) e o Erchim (Mongólia). Nesta edição da AFC CUP participam ainda os clubes campeões do Nepal, Bangladesh, Taiwan, Cambodja e Guam. O Benfica de Macau estará representado no sorteio pelo seu dirigente Duarte Alves que, em declarações à imprensa, disse que “será um passo importante não só para elevarmos o nível do futebol local como também para encará-lo de um modo mais sério”. De acordo ainda com o mesmo dirigente, a oportunidade será ainda aproveitada para “dar a conhecer aos dirigentes da AFC a realidade do futebol da RAEM, e a vontade que os nossos clubes têm de elevar o nível do desporto e as suas condições desde a formação ao nível sénior”.
Hoje Macau SociedadeArraial | Venha mais um balão com o S. João [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] festa já conta com 10 anos de existência e S. Lázaro recebe mais uma vez o arraial de S. João a 25 e 26 de Junho para comemorar não só o dia do santo que já foi padroeiro de Macau como ainda para fazer referência histórica à mesma data que celebrava a derrota da frota Holandesa que no Séc XVII tentou a sua sorte em invadir a actual RAEM. Apesar do feriado já ser coisa doutros tempos o arraial de S. João está mais vivo que nunca, disseram ontem Amélia António e Miguel Senna Fernandes em conferência de imprensa. Este ano a festa vai contar com 35 tendas , sensivelmente mais dez do que no ano passado e é alargada a outras ruas do bairro de S. Lázaro. O palco da igreja, muito cobiçado pela organização é ainda incerto e aguarda-se autorização da diocese. Miguel de Senna Fernandes diz que “era muito bom, a festa pode ganhar outra dimensão se conseguirmos esse espaço pretendido” Na música, a festa conta com João Melo a par de uma lista de convidados em que a exigência, nesta edição, foi a conformidade da música com a ambiente de arraial. Apesar dos cada vez mais adeptos do arraial, Miguel de Senna Fernandes adianta que “um dos sonhos ainda não está realizado” referindo-se ao gosto que sentiria de ver maior adesão da comunidade chinesa. Salienta, no entanto, a conquista evidente que a festa tem tido junto da comunidade. Relembra que “Há dez anos atrás quisemos revitalizar esta tradição, havia muita resistência nessa altura. Julgo que dez anos depois deu para as pessoas entenderem e pusemos esta festa no calendário de festas de Macau”. Este ano a novidade vai ainda para a estreia do pedido por parte da Direcção dos Serviços de Tráfego que pede à organização uma compensação pelos parquímetros das áreas da festa que estarão sem utilização. A festa tem lugar sábado e domingo das duas da tarde às onze da noite.
Manuel Nunes DesportoVoleibol Feminino | Grande Prémio Mundial arranca Pela 19ª vez algumas das melhores equipas do mundo chegam a Macau para o Grande Prémio Mundial da FIVB. Mas, desta vez, existe o atractivo especial de estarmos em ano Olímpico. Ou seja, para as equipas este torneio servirá como rampa de lançamento para os Jogos esperando-se embates de primeiro nível, com o Brasil a procurar a terceira medalha de ouro consecutiva [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]as quatro equipas presentes na perna de Macau este ano, apenas a Bélgica não estará no Jogos Olímpicos. A equipa Brasileira, a grande vencedora do Grande Prémio Mundial da FIVB, oito vezes campeã, entre as quais três consecutivas, será a principal atracção logo seguida China, mas esta pelo facto de jogar em casa, pois apenas venceu uma única vez, em 2003. Além disso, o Brasil é também bicampeão Olímpico esperando-se que este ano, pelo facto de jogar em casa, consiga a terceira medalha de ouro consecutiva. Para o técnico Zé Roberto o Grand Prix, é mesmo ideal para dar ritmo a todas as jogadoras. “A ideia é ir mudando”, diz, adiantando ainda que “também teremos uma ideia de como estão as outras selecções, para encontrarmos os melhores caminhos para os Jogos Olímpicos”. Até à estreia Olímpica contra os Camarões, a 6 de Agosto, Zé Roberto espera estar com a selecção “a 100%”, tanto no aspecto físico como no ritmo de jogo das suas atletas. “O que preocupa sempre é o sistema defensivo. Essa relação bloqueio e defesa precisa de estar apurada, porque é o que faz a diferença numa equipa. Precisamos de volume de jogo.” Apelo asiático Desde a primeira edição realizada em 1993 até 2011, já aconteceram dezanove edições do Grande Prémio Mundial da FIVB, tendo as primeiras ocorrido na Ásia Oriental, o que se deve à existência, nesta zona do mundo, de um enorme mercado da modalidade com inúmeros espectadores, assim como patrocinadores que financiam o evento. Pouco a pouco, os torneios da fase preliminar começaram a realizar-se na Europa e no continente americano, tendo as grandes finais sido realizadas, em 2003, pela primeira vez em Itália. Em termos de estatuto, o Grande Prémio Mundial da FIVB não tem a importância dos três grandes torneios internacionais que se realizam de quatro em quatro anos (a Taça Mundial, o Campeonato Mundial e os Jogos Olímpicos). Oferece, porém, um prémio pecuniário muito mais volumoso do que os outros três. Sendo um torneio de natureza puramente comercial, o Grande Prémio Mundial decide a lista para a participação nas finais mediante os resultados dos torneios da fase preliminar realizados nas diferentes cidades. A equipa vendedora das finais obtém o título de campeã. Sendo assim, a equipa que conquista o ouro neste torneio normalmente não é considerada a campeã mundial. O Grande Prémio Mundial da FIVB contribui principalmente para a promoção do voleibol feminino à escala mundial. Macau organiza este evento desde 1994, excepto nos anos de 2003 e 2004. As finais também já por aqui passaram nos anos de 2001 e 2011.
Hoje Macau MancheteNovo Macau | Scott Chiang chamado a prestar declarações na PSP O presidente da Associação Novo Macau, Scott Chiang, foi convocado para prestar declarações na Polícia de Segurança Pública, alegadamente devido às manifestações promovidas a 15 de Maio que exigiam a demissão do Chefe do Executivo, na sequência da polémica da doação da FM à Universidade de Jinan [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]cott Chiang foi ontem chamado para prestar declarações às autoridades. O activista pró-democracia afirma ao HM desconhecer os motivos da polícia para a sua convocatória. Segundo a Rádio Macau, um porta voz do corpo de Polícia de Segurança Pública (PSP) avançou que o presidente da Novo Macau é acusado de não cumprir a lei que regula as manifestações com a agravação de desobediência à polícia. O processo estará relacionado com as manifestações de 15 de Maio contra o Chefe do Executivo, organizadas pela Associação a que o activista pela democracia preside, sendo que a PSP continua com as averiguações depois do Ministério Público ter avançado com um processo contra Scott Chiang. O activista revelou ao HM que foram vários os membros da Associação Novo Macau (ANM) convocados pelas autoridades sendo que as mesmas não terão adiantado detalhes. No entanto, Scott Chiang já suspeitava que estaria a ser preparada uma acusação contra si adiantando que “vários membros da ANM foram chamados pela PSP para falar acerca de um caso em determinada data que coincide com a manifestação de 15 de Maio” . Para o líder da Associação o que está a acontecer é que se “está a fabricar um caso contra aqueles que saíram à rua contra a doação” referindo-se ao recente financiamento por parte da Fundação Macau à Universidade de Jinan de 100 milhões de patacas. Os números facultados pela Novo Macau revelam que a manifestação agora em causa juntou mais de 3000 pessoas que pediram a demissão de Chui Sai On. Scott Chiang considera ainda evidente que o acto da PSP em convocar membros da Associação visa perseguir quem se opõe a esta doação bem como manifesta uma forma de repressão política de intimidação. “É desanimador ver que a administração não deu qualquer resposta à nossa exigência de reformas e de recuperação da doação, muito menos sobre a demissão” adianta, enquanto que “por outro lado estão a tentar criar um caso contra os denunciantes” afirma o visado. Scott Chiang considera ainda que “a resposta natural da administração não é focar-se no problema mas perseguir aqueles que o denunciam”. As declarações foram agendadas para esta manhã e só depois das mesmas é que se saberá ao certo a acusação de que é alvo. Dos recursos públicos As declarações de Scott Chiang coincidiram com a conferência de imprensa convocada pela Novo Macau para o anúncio de uma consulta pública sobre reformas na Fundação Macau (FM). Segundo a Rádio Macau, o objectivo é que a atribuição de subsídios seja mais transparente. “ A estagnação da economia torna o uso apropriado de recursos públicos uma prioridade”, defende o colectivo que lançou ontem e até 30 de Julho uma consulta pública. A intenção é receber sugestões acerca de reformas ao mesmo tempo que pede propostas quanto ao método de votação. O presidente da Novo Macau fala em interesse público: “não deve haver um monopólio de opinião e por isso levamos esta matéria à sociedade em geral” considerando que “o processo de deliberação é tanto ou mais importante que a decisão pública final”. A referida consulta é ainda para perceber se vale a pena “tentar manter os requisitos e a restrições do referendo de 2014 ou se o tornamos mais aberto ao público para que mais pessoas possam participar”, acrescenta. Em causa está o saber se deverá haver o mesmo grau de integridade utilizado no referendo de 2014 sobre as eleições para o Chefe do Executivo na altura em que se pedia o número dos bilhetes de identidade dos eleitores. A mostra de identidade esteve na origem da constituição como arguidos de alguns membros da organização da votação por violação da lei de protecção de dados. “Cabe ao público decidir se desta vez as regras poderão ser diferentes bem como diferentes também devem ser as regras da atribuição de subsídios da Fundação Macau” sendo que “as propostas para receber subsídios deviam ser publicas para que a população decida se é, ou não, justo que determinada organização receba, ou não, dinheiro”, remata o activista. Para além da atribuição de dinheiros públicos, Scott Chiang considera ainda que é importante acompanhar a sua aplicação e os relatórios de actividades, sendo que os mesmos devem ser tornados igualmente públicos.
Andreia Sofia Silva MancheteCroupiers | Chui Sai On recebeu mais três petições. Exigida saída de Cheang Chi Keong do hemiciclo As palavras de Cheang Chi Keong continuam a fazer mossa. Ontem três associações do sector do Jogo entregaram petições a pedir ao Chefe do Executivo para que mantenha a política de não introdução de não residentes para a profissão de croupier. Associações pretendem continuar a reagir e uma pede a saída do deputado da Assembleia [dropcap style=’circle’]T[/dropcap]rês associações dirigiram-se ontem à sede do Governo para entregar petições a Chui Sai On. São mais reacções às palavras do deputado Cheang Chi Keong, que referiu ao jornal Ou Mun que o Executivo deveria ponderar a introdução de trabalhadores não residentes (TNR) para o cargo de croupier nos casinos. A Forefront of Macau Gaming juntou-se à Associação dos Empregados de Jogo de Macau para entregar uma petição com mais de 12 mil assinaturas. Não só estão insatisfeitos com as palavras de Cheang Chi Keong (deputado eleito pela via indirecta à Assembleia Legislativa), como pedem uma redução de TNR em vários sectores económicos. Dados do Governo mostram que já foram aprovadas mais de 210 mil quotas para TNR, sendo que as empresas locais já importaram mais de 180 mil TNR. Para os responsáveis das associações, este panorama faz com que os empregados portadores de BIR fiquem numa situação passiva na altura de discutir salários e condições de trabalho. As duas associações sublinharam que, embora os croupiers ainda não tenham sido afectados pela entrada de TNR, a verdade é que também são trabalhadores e sentem-se preocupados com a possível mudança de política. Os assinantes da petição esperam que Cheang Chi Keong possa voltar atrás nas suas declarações, para que seja mantida a justiça no acesso ao emprego. “A introdução de TNR não é adequada para o território”, disse Ieong Man Teng, presidente da Forefront of Macau Gaming. “Recolhemos as assinaturas dos trabalhadores do Jogo que se sentem descontentes com o discurso feito. O Governo já respondeu negativamente às declarações de Cheang Chi Keong e nós apoiamos isso, mas caso o Governo assuma outra posição, vamos ter novas acções”, frisou. Feiras inspeccionadas Ieong Man Teng exemplifica. “Numa feira de recrutamento organizada pela Melco Crown estavam imensos candidatos locais à procura de emprego, e o Governo não precisa de estudar a introdução de TNR. Vamos fazer alguns relatórios sobre estas feiras de recrutamento e vamos entregá-los ao Governo”, adiantou. Nesta feira, “os candidatos começaram a chegar entre as sete e meia da manhã até às nove, tendo os responsáveis da operadora dito que as vagas já estavam preenchidas e que não havia mais quotas. Muitos dos candidatos não foram seleccionados através de uma entrevista e alguns deles ficaram muito insatisfeitos”, disse Ieong Man Teng. Cloee Chao, membro da Forefront of the Macau Gaming e secretária-geral da Associação dos Empregados de Jogo de Macau, garantiu que têm recebido queixas de candidatos a vagas de emprego que participaram em mais de dez feiras mas que não receberam quaisquer respostas. Os locais suspeitam, assim, que essas feiras não sirvam, de facto, para o recrutamento. Cloee Chao disse ainda que o sector dos croupiers está cheio e que algumas operadoras têm vindo a pedir aos empregados para gozarem os feriados ou licenças sem vencimento, ou então para saírem do trabalho mais cedo. Ng Kim Yip, outro responsável da Forefront of the Macau Gaming, disse que vão “realizar mais relatórios sobre a fiscalização das feiras de recrutamento. A saída de TNR é um tema que reúne consenso na sociedade e isso terá uma influência positiva no preço das casas”, rematou. Grande “reacção social” A associação de trabalhadores “Macau Selfhelper” defendeu em comunicado que as declarações de Cheang Chi Keong originaram uma “grande reacção junto da sociedade” e que a introdução de TNR só deve acontecer quando há falta de recursos humanos locais. Também esta associação fala dos pedidos de licença sem vencimento feitos aos croupiers, o que mostra que o sector não necessita de mais recursos humanos. A “Macau Selfhelper” espera que o Governo garanta de forma clara a protecção dos direitos dos trabalhadores locais, esperando uma revisão quanto ao número de TNR. A associação frisou que a maioria dos TNR ilegais vem dos países do sudeste asiático, o que traz consequências negativas para os locais que estão à procura de trabalho. Grupo pediu saída de Cheang Chi Keong do hemiciclo Um grupo intitulado “Poder do Povo” entregou ontem uma petição à Assembleia Legislativa (AL) a pedir a saída de Cheang Chi Keong do cargo de deputado. Segundo um comunicado enviado às redacções, o grupo considera que as declarações do deputado indirecto têm um efeito negativo para os trabalhadores do Jogo e representam um problema para o Governo. “Sabemos que Cheang Chi Keong não é eleito pela via directa e pelo público, não tem qualquer responsabilidade para com os cidadãos, então porque é que afirma coisas que podem tirar o ganha pão aos residentes?”, questionou o grupo. Este defende que os deputados recebem salários pagos pelos cofres públicos e que Cheang Chi Keong fez declarações que prejudicam o interesse público, afirmando que este não tem qualificações para se sentar na Assembleia Legislativa. O “Poder do Povo” considera que o sistema de recursos humanos em Macau é mau, dando como exemplo o sector da construção civil, onde, afirmam, a maioria dos trabalhadores são não residentes. “Economicamente é um desastre”, dizem analistas O medo de que trabalhadores não residentes (TNR) invadam o sector dos croupiers há muito que existe. Apesar do Governo ter referido sempre que a política não vai mudar, as acções de rua têm-se sucedido. Ao HM, Albano Martins garante que o deputado Cheang Chi Keong só agora veio levantar esta questão pelo facto da abertura dos casinos estar prestes a chegar. “Esse deputado é um dos principais interessados nos casinos e sabe que os casinos precisam de mão-de-obra. A maior parte dos empresários sabe que não tem qualquer sentido económico qualquer profissão estar confinada a locais. Mais dia ou menos dia alguém tinha de acordar. Interpretaram que os croupiers e os condutores tinham de ser locais por mero interesse político de ganhar votos e evitar no período eleitoral que alguma população se virasse contra eles. O que ele diz faz todo o sentido, é das poucas coisas felizes que alguma vez disse”, referiu o economista. Já o analista de Jogo Grant Govertsen não acredita numa mudança de política, e frisa que os casinos não estão por detrás destas declarações feitas ao jornal Ou Mun. “Os empresários, em geral, preferem um mercado aberto em vez de um mercado restrito, e os casinos têm a inteligência suficiente para perceber que esta medida poderá provocar polémica e que é difícil perseguir este objectivo. Não me parece que os casinos estejam por detrás destas declarações.” “Penso que não é algo que o Governo vá considerar (uma mudança na política). Os locais vão ficar muito insatisfeitos se a política for alterada. Mas a realidade é que mais casinos vão abrir portas e não vão existir trabalhadores locais suficientes”, acrescentou. Não dizer o que se pensa Albano Martins defende o que tem vindo a defender desde o início. “Temos problemas complicadíssimos para resolver, não só a nível dos croupiers mas dos condutores de autocarros, e continuamos na mesma, não temos pessoas. Com a entrada em funcionamento dos novos casinos, vamos precisar de muitas mais pessoas e com essa medida tudo vai ficar mais complicado. Estão a criar uma situação difícil de pôr os residentes todos nos casinos, e isso não faz sentido. Economicamente é um desastre. É irracional que sectores estejam vedados à população do exterior. É absurdo e um pouco xenófobo e do ponto de vista económico é irracional.” O economista acredita que muitos deputados da Assembleia Legislativa (AL) defendem a manutenção da medida por medo da perda de votos. “Chui Sai On vai mantendo essa política irracional. O Chefe do Executivo, que não vai ter mais mandato nenhum, devia ter assumido com coragem que isso é irracional. Mas a sua postura não é, do ponto de vista económico, a mais correcta. Está com medo da sombra. A maior parte dos deputados não diz o que pensa porque tem medo dos votos no período eleitoral e deixou-se a economia estar amarrada a um grupo de pessoas que não sabe bem o que quer”, concluiu.
Filipa Araújo PolíticaCondomínios | Regras obrigatórias para prédios com mais de 10 fracções [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s condomínios com mais de 10 fracções autónomas terão de ter um regulamento. A regra é definida pelo Regime jurídico da administração das partes comuns do condomínio, em análise na especialidade. Uma regra, aponta Chan Chak Mo, presidente da 2ª Comissão Permanente, grupo responsável pela apreciação, “muito clara”. No fundo, explica Chan Chak Mo o que se pretende é que os edifícios “criem Assembleia Gerais”. “Sabemos que muitos edifícios não as têm, e também não existem administração [de condomínios], por isso pretende-se, com a proposta, incentivar à criação das assembleias gerais e administrações”. Propõe então o regulamento que todos estes edifícios criem, na sua primeira reunião, um regulamento do condomínio, ou que aprovem o mesmo, caso já exista. Se os condóminos não aprovarem, ou que o mesmo não entre em vigor nos seis meses após a reunião, este regulamento deve voltar a votos. Se ainda assim não for aprovado, é a própria administração que o aprova, conforme explica o presidente da Comissão. Administração esta, que em edifícios com menos de 100 fracções poderá ser composta apenas por uma pessoa. Igual ou superior a esse número as administrações terão de ter um mínimo de três pessoas na sua composição. A análise na especialidade continua para a próxima semana. Tal como já referido, em sessões passadas, Chan Chak Mo não sabe se os trabalhos irão estar terminados ainda nesta sessão legislativa.
Andreia Sofia Silva MancheteDespejos | Mak Soi Kun defende fim do recurso judicial para arrendatários [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] deputado Mak Soi Kun entregou uma interpelação escrita ao Governo onde sugere a possibilidade dos arrendatários perderem o direito a recurso, caso uma acção de despejo de um imóvel chegue a tribunal. “Há que introduzir alterações às actuais disposições do Código do Processo Penal (CPP), nas acções de despejo interpostas por não pagamento de rendas, para poder cancelar o direito de recurso dos arrendatários. Isto para que não possam apresentar recurso no sentido de reduzir uma série de procedimentos e tornar o processo mais rápido. O que pensa o Governo sobre esta situação?”, questionou. Mak Soi Kun alerta ainda para a alegada ausência de eficácia na resolução deste tipo de casos através de um processo sumário. “De acordo com especialistas e académicos há que reconhecer a realidade. Um caso de não pagamento de rendas entra em processo sumário e quando o proprietário da fracção ganha a acção descobre que o arrendatário já não está na fracção, mas as portas e janelas estão bloqueadas e ainda lá estão os objectos do arrendatário. O que pode fazer o proprietário? O processo sumário teve os efeitos desejados? Atendendo às actuais rendas do sector imobiliário e com base em rendas de 12 meses, a maioria já excede 50 mil patacas, portanto “são poucos os casos de 50 mil patacas” a que se aplica o processo sumário. É possível que todo o caso possa durar três, cinco ou mesmo sete anos”, rematou o deputado.
Filipa Araújo PolíticaTNR | Ella Lei acusa o Governo de se “esquivar” à questão Ella Lei acusa o Governo de estar recrutar TNR sem respeitar os requisitos mínimos. Em reacção Albano Martins diz que Governo tem de respeitar as regras do jogo, para todos os sectores [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] deputada Ella Lei acusa o Governo de dar explicações que “servem apenas para desviar a atenção do público e esquivar-se da questão”. Em causa estão os requisitos mínimos a ser cumpridos aquando do pedido de mão-de-obra importada para a construção civil. Numa interpelação oral, Ella Lei diz que em 2005, pela mão do ex-Secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, o Governo definiu um salário mínimo diário de 450 patacas como um requisito a ser cumprido. Montante este que até agora nunca terá sido actualizado, estando por isso “desfasado do actual nível de salários no sector”. Em 2015, os números mostravam que 10,8% dos trabalhadores do sector, um total de cinco mil, recebiam menos do que isso. Sinal de que os serviços do Governo estavam a “autorizar a importação de trabalhadores cujo salário se situava abaixo do critério de aprovação para a sua entrada”. Na altura, o Executivo explicou que os trabalhadores com baixo salário seriam “indivíduos com funções administrativas nos estaleiros de obras, jardineiros, responsáveis de armazéns, auxiliares e assistentes de lojas comerciais”. “Porém, segundo os dados que solicitei ao Gabinete para os Recursos Humanos, em diversas actividades, por exemplo, electromecânica, pintura e alvenaria, o salário mensal mínimo em 2015 era de 8 mil patacas, quase idêntico ao nível registado em 2014. Esses dados demonstram que existem, de facto, actividades e até profissões especializadas com salários inferiores a 11,700 patacas”, frisa a deputada. Justo para todos Confrontado com a questão, Albano Martins, economista, defende que sempre que pede – para a Sociedade Protectora de Animais de Macau (ANIMA) – trabalhadores não locais “uma das exigências é que eles recebam o mesmo salário que os locais”. “Portanto eu não consigo perceber como é que o Gabinete de Recursos Humanos, a mim me concede trabalhadores com o mesmo grau de exigência – e eu acho muito bem – e na construção civil não o faz”, aponta. Esta é, para Albano Martins, a grande questão. Ella Lei levanta ainda a questão da “injustiça” para com os trabalhadores locais por colocar em causa “a política de recusa de substituição dos locais por mão-de-obra mais barata”. Ideia completamente refutada por Albano Martins. “Não há hipótese absolutamente alguma destes trabalhadores [locais] serem colocados de lado para serem importados outros. Não há hipótese nenhuma. Nem há universo de locais suficiente para alimentar a industria da construção. Quando as obras terminarem os TNR’s terão de voltar à China, portanto o número total de TNR’s agora irá diminuir em cerca de 50%”, desvalorizou. O que é preciso é, aponta, exigir ao Governo que cumpra as mesmas regras do jogo para todos os sectores. “A indústria da construção não está em recessão. Percebo que se importem TNR’s mais baratos quando a inflação é elevada e para fazer baixar o custo de vida. Mas neste caso concreto, não faz sentido a importação de trabalhadores a preço mais baixo. Não são estas as regras do jogo”, frisou.
Tomás Chio PolíticaMetro Ligeiro | Deputado questiona último contrato com a MTR Corporation [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] deputado Si Ka Lon interpelou o Executivo quanto à celebração do contrato com a empresa MTR Corporation, de Hong Kong. O membro do hemiciclo refere que o contrato, assinado para a “gestão e assistência técnica do projecto do Metro Ligeiro de Macau”, vai custar aos cofres públicos um total de 474 milhões de patacas, quase seis vezes mais do que o valor pago à antiga empresa. Na sua interpelação escrita, Si Ka Lon citou os dados do relatório do Comissariado de Auditoria (CA), que fazem referência à contratação de uma empresa de consultadoria para o mesmo fim por 176 milhões de patacas. Esta empresa acabaria por ter o número de trabalhadores abaixo do que estava previsto nos primeiros dois anos de contrato, o que trouxe consequências negativas para a construção do Metro Ligeiro. O Governo voltaria a renovar por duas vezes o contrato com esta empresa, gastando 290 milhões de patacas. Si Ka Lon questiona a decisão do Governo em contratar a MTR Corporation, referindo que a sociedade tem dúvidas quanto à eficácia do contrato, já que é mais caro do que aquele que foi assinado e com uma duração mais curta. O número dois de Chan Meng Kam no hemiciclo pretende ainda saber quais as penalizações que serão imputadas à MTR Corporation caso as regras do contrato não sejam cumpridas. Um despacho do Chefe do Executivo determinou a assinatura do contrato até 2018. A empresa já foi escolhida para a “revisão independente da concepção do sistema e do comboio do Metro Ligeiro”, um contrato no valor de 7,5 milhões de patacas. A MTR Corporation tem estado ligada ao projecto desde 2002, data em que foi encomendado um estudo sobre a viabilidade deste sistema de transporte.
Andreia Sofia Silva MancheteEnsino | Fim do modelo de memorização será gradual, dizem especialistas Duas especialistas em educação defendem que o fim do modelo de memorização nas escolas vai acabar de forma gradual e que a mudança depende não só de professores mas da sociedade, por se tratar de algo cultural [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] deputado Zheng Anting pediu o fim do modelo de ensino “duck stuffing”, em que os alunos se limitam a decorar aquilo que vai ser no exame. Os Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), em resposta à interpelação do membro do hemiciclo, confirmaram que isso pode vir a acontecer. Duas especialistas contactadas pelo HM consideram que o modelo de ensino baseado na memorização de conteúdos é algo cultural, defendendo que uma mudança irá ocorrer de forma gradual. “Não se mudam as mentalidades nem dos professores, nem dos alunos ou da própria sociedade de um dia para o outro, porque o facto das escolas se basearem nesse método não tem apenas a ver com os professores. Tem também a ver com as expectativas das famílias. Toda a sociedade, aos poucos, há-de mudar”, disse Ana Correia, directora da Faculdade de Psicologia e Educação da Universidade de São José (USJ). A memorização das matérias “é uma questão cultural, os alunos desta região gostam de aprender dessa maneira. É um estilo de aprendizagem que tem muito a ver com a cultura local”, acrescentou ainda. Teresa Vong, docente da Faculdade de Educação da Universidade de Macau (UM), também fala de uma mudança gradual. “Se o Governo quer reduzir esse sistema, tudo vai depender de como os professores estão preparados para isso ou se há métodos de ensino alternativos em uso. Não estou optimista porque há muitos professores que ainda usam a memorização como único método. Ainda há lugar para melhorar”, disse. “O grupo profissional de professores em Macau é muito jovem e isso dá-nos esperança de que ainda estejam em idade de aprender de encontrar alternativas”, lembrou Ana Correia. “Com o apoio de medidas incluídas na presente reforma educativa penso que os professores vão ajustar-se a modelos pedagógicos que põem o ensino mais focado no aprender do que obter produtos que têm um valor a muito curto prazo. Os alunos preparam-se para os exames mas esquecem tudo duas semanas depois, e o que fica é muito pouco”, acrescentou a directora da Faculdade de Psicologia e Educação da USJ. Acima da média Tanto Ana Correia como Teresa Vong referem que a memorização no ensino é uma ferramenta útil para a compreensão e aprendizagem, mas não deve ser a única. Há até quem tenha bons resultados no seguimento da vida académica. “Os alunos de Macau e desta região do mundo quando vão estudar para universidades estrangeiras obtêm geralmente resultados acima da média, comparando com alunos que pertencem a uma cultura não confuncionista. Os alunos que vêem das escolas de Macau para as universidades são muito variados. Há uns que, de facto, apanham bocadinhos das coisas e esses não conseguem depois partir do pormenor para o todo. Esses sim seguem pelo caminho da memorização. Mas há outros alunos, que apesar de se sentirem confortáveis com a memorização, são capazes depois de passar daí para a compreensão e até para uma perspectiva critica”, frisou Ana Correia. Teresa Vong, que realiza visitas às escolas locais, fala de maus exemplos que continuam a ser o único modelo adoptado. “Acredito que possamos promover um ambiente de ensino mais aberto e dar mais apoio aos alunos para que possam ter espaço para essa criatividade. Hoje em dia os estudantes não têm sequer uma voz. Em muitas aulas que observo há apenas uma forma de comunicação: o professor está de pé a falar até ao fim da aula e não há qualquer ligação com os alunos. Há muitos professores que forçam os alunos a memorizar o vocabulário em inglês, por exemplo”, rematou a docente da UM. Na sua interpelação escrita, o deputado Zheng Anting fez várias críticas ao modelo “duck stuffing”, o qual “priva os alunos do seu tempo de descanso e da vida extracurricular, e resulta na sua falta de capacidade para pensar e analisar de forma independente, enfraquecendo a sua competitividade social”, concluiu. No arranque dos exames nacionais a luta continua É uma luta antiga. A Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau (EPM) continua a reunir esforços para que os horários dos exames nacionais sejam alterados em Macau. Com o arranque ontem, os exames nacionais devem ser respeitar as regras do Ministério da Educação e por isso serem realizados à mesma hora. Acontece que com o fuso horário de Macau os alunos de cá realizam as suas provas às 16h30 e às 21h. “Todos os anos temos lutado para que a escola consiga falar com o Ministério da Educação de Portugal para que se conseguia resolver este problema”, começou por explicar, ao HM, Fernando Silva, presidente da Associação. O representante recorda que “há dois anos”, com as provas de aferição, alunos do ensino primário que “tinham de fazer os exames à noite”. Isto, aponta, sem contar com os alunos de Timor, onde se acrescenta mais uma hora do que em Macau. “Levantamos sempre este problema, mais do que uma vez. Nesse ano o Ministério da Educação atendeu o nosso pedido e mudou o horário”, recorda. No entanto, não é suficiente e a luta continua. “Temos tentado, a escola tem tentado expor o problema para ver se conseguimos reduzir um pouco as horas”, conta, assumindo “que tem sido muito difícil”. Não é segredo, até “porque está pedagogicamente provado”, que fazer os exames quando começa o dia é melhor. “Para os alunos do 10ª e 11ª ano até pode ser menos difícil, mas o mesmo não acontece com os alunos mais pequenos”, explica. Mesmo assumindo uma “luta quase inglória”, Fernando Silva garante que os pais vão continuar no caminho para a mudança.
Hoje Macau BrevesPonderada abertura de mais cartórios notariais [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ) emitiu um comunicado onde afirma que “irá ponderar a criação de mais cartórios notariais”, tendo em conta a “distribuição populacional das diferentes zonas de Macau e a necessidade dos serviços”. A DSAJ explica ainda que a mudança do 1º Cartório Notarial, actualmente a funcionar no rés-do-chão do edifício da Santa Casa da Misericórdia (SCM), se deve não só a uma melhor gestão dos recursos financeiros, como ao facto da zona norte não possuir ainda um cartório notarial, sendo uma zona com “uma densidade populacional bastante elevada”. O Governo paga uma renda de 1,2 milhões de patacas à SCM, cujo contrato termina em Dezembro deste ano. António José de Freitas, provedor da SCM, já se mostrou descontente com esta decisão.
Hoje Macau SociedadeSaúde | Mais dadores de sangue em 2015 [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Centro de Transfusões de Sangue registou mais dadores o ano passado face a 2014. Segundo um comunicado oficial dos Serviços de Saúde (SS), o número de dadores actual é de 2,44% do número de dadores aptos para dar sangue, o que representa um aumento de 0,2% de dadores. Em 2015 foram registados mais de 12.700 cidadãos como dadores, sendo que o centro recebeu mais de 13 mil unidades de sangue. O Centro de Transfusões pretende arrancar com uma série de iniciativas de promoção à doação de sangue junto dos estudantes universitários e dos “novos imigrantes”. Para isso a viatura de doação de sangue passará a estar estacionada “em diversos pólos universitários e de ensino superior, que manifestaram a sua total disponibilidade para colaborar nestas iniciativas”. A partir de Julho, locais “onde existe uma maior concentração de novos imigrantes” vão também receber a carrinha, que tem estado estacionada a título experimental na zona da Praia Grande, junto ao complexo comercial New Yahoan. Neste local a carrinha vai continuar a estar estacionada em todas as terças-feiras da primeira semana de cada mês, entre as 13h00 e as 18h00. À mesma hora e no mesmo período estará estacionada em frente do Centro de Saúde de Fai Chi Kei. Já no Jardim da Cidade de Flores, na Taipa, a viatura de recolha de sangue estará parada todas as terças-feiras da segunda e quarta semana do mês, no mesmo horário.
Hoje Macau SociedadeIlha da Montanha | Pais criticam localização de nova creche Uma boa notícia que parece não agradar todos. Pais acreditam que a nova creche, na Ilha da Montanha, beneficiará apenas quem por lá trabalha. Obras das mães desvaloriza e acredita ser o local indicado [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]lguns residentes de Macau não apoiam a criação de uma nova creche na Universidade de Macau, na Ilha da Montanha. A notícia foi avançada no início desta semana, pelo Governo, que indicou ser a Obra das Mães a explorar o espaço que poderá acolher até 200 crianças. Em reacções, alguns pais, em declarações à MASTV, defenderam que este novo espaço vai beneficiar apenas os trabalhadores da Universidade de Macau e pessoas que ali morem. É que, frisam, a distância é grande e com o trânsito que se faz sentir em Macau não permite um acesso fácil e rápido à Ilha da Montanha. “O sítio é muito longe, não será com certeza uma opção para nós. Acho que muitos pais que vivem deste lado vão concordar que aquele não vai ser um bom sítio. É muito mais conveniente novos espaços aqui em que temos só de caminhar, nem sequer precisamos de usar transportes”, explicou um dos encarregados de educação ao canal televisivo. Os progenitores acreditam ainda que esta creche nasce para facilitar as acessibilidades e serviços da própria Ilha da Montanha, e os funcionários da Universidade de Macau. Do outro lado Van Iat Kio, presidente da Obra das Mães, mostra-se contra essa teoria, admitindo as vantagens. “Claro que a creche vem facilitar a vida dos funcionários, professores e estudantes, mas é muito perto da Taipa, pode facilitar também os residentes de lá”, apontou, indicando que existem “vários estacionamentos” e que os problemas de trânsito não se fazem notar naquela zona. “Não é somente um serviço para quem mora na Ilha da Montanha”, remata. Outras vozes Para a responsável da Creche D. Ana Sofia Monjardino dos Kaifon, este não será um espaço de sucesso. “Não é fácil ir buscar as crianças, por isso os pais não vão optar por esta creche”, apontou. Apesar de muitas creches terem aumentado as suas vagas para crianças ainda há necessidade de mais. A responsável acredita que com a construção de habitação pública, o Governo deve aproveitar para abrir mais creches. Ideia também já defendida pelo próprio Executivo, pela boca de Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. A taxa de natalidade, em Macau, está cada vez mais alta. Para resolver a falta de vagas nas creches, o Instituo de Acção Social (IAS), pretende aumentar o número para 10 mil, sendo que actualmente existem 20 mil crianças com idade para entrar na creche, mas só 8400 serão seleccionadas através de sorteio. O IAS revelou que até ao próximo ano, cinco novas creches vão abrir portas. Angela Ka
Manuel Nunes Eventos MancheteAlexandre Marreiros expõe no MAM: “Uma leitura do tempo com T maiúsculo” Arquitecto, mas apaixonado por desenho e pelo trabalho manual desde pequeno, Alexandre Marreiros foi para o Rio de Janeiro estudar os grandes arquitectos brasileiros contemporâneos mas acabou apaixonado pelas favelas. Um lugar onde “as coisas vão-se aniquilando mas sempre com um final feliz”. O resultado é “um registo documental que acabou na pintura” [dropcap style=’circle’]“C[/dropcap]omo arquitecto interessa-me a arquitectura que se desenvolve de uma forma vernacular. A casa, o lugar onde nós como humanos nos sentimos seguros”, começa por nos contar Alexandre Marreiros. Foi para o Rio de Janeiro estudar os grandes arquitectos contemporâneos brasileiros mas acabou, como ele diz “fulminado, de uma forma quase alérgica” pelas favelas. Um fenómeno urbano que descreve como “um manto bordado que cobria aquelas montanhas”. É também esta ligação quase natural do construído pelo homem com o disposto pela natureza que interessou Marreiros. “O Rio tem aquela topografia especial, montanhosa, e é admirável como pessoas sem know-how conseguiram adaptar-se ao local e o deixam falar por si, como a acção do homem se adapta ao que já lá estava”, diz Alexandre, confessando mesmo que “não conseguiria fazer um manifesto arquitectónico melhor”. Naturalmente, Alexandre não acha a melhor forma de vida mas considera que “à medida de que vai sendo construída a história bate sempre certo, há uma relação com o lugar. As coisas vão-se aniquilando mas há sempre um final feliz” Curioso por saber como tudo aquilo se desenvolvia passou grande parte dos seis meses que esteve no rio de Janeiro a deambular pelo Complexo do Alemão (o maior complexo de favelas do mundo) e na favela do Tabajaras. Indo às origens “Cnidosculos Quercifolius”, assim se designa a exposição, é o baptismo latim para – a planta favela, endémica do Brasil, que deu origem ao termo “favela” como fenómeno de habitação marginalizada, ilegal. Uma definição que, garante Marreiros, “deve-se a ao regresso dos soldados ao Rio de Janeiro após a Guerra dos Canudos, onde encontraram condições miseráveis de habitação na primeira favela do Brasil, o morro da Providência. Mas, para Alexandre, as favelas também “são cor e são luz”, que assim começa por explicar ao HM como chegou a este trabalho. O objectivo não é o de gerar grandes reflexões mas sim o de “proporcionar algumas pistas que possam conduzir as pessoas a descodificarem as histórias que existem na arquitectura e que são transportadas para a pintura”, explica. O particular que forma o todo “Tento apresentar ao observador a ideia de espaço que começa com um registo de desenho e um registo fotográfico exaustivo e acabou, por minha necessidade, na pintura”, adianta Alexandre, porque só a pintura consegue “transportar o registo para uma composição de cor, de espaço, de vazio, de afastamento entre as coisas que também podem ser lidas como um todo”. A sua sensação da favela. Um local delimitado, onde em que o particular forma o todo. A fita cola colorida, que pode ser observada nalguns dos trabalhos, surge pelo interesse plástico que o material lhe suscitou e por lhe aportar a cor da favela. “Aparece de uma forma tosca porque ou faço as coisas muito certinhas ou muito toscas. Ando nessa procura”. Para Alexandre, “as favelas são como a construção de um quadro”. “Um lugar onde existe um espaço e um limite, em que as formas, as linhas e as manchas se vão adequando a esse limite”, explica. “A preocupação foi transportar para esta exposição o que entendo ser a arquitectura hoje em dia”. Ou seja, para Alexandre a arquitectura é “a história das coisas construídas, vividas, habitadas e que manifestam sempre a sua cultura”. Para o artista, “através da arquitectura podemos ler o nosso tempo. A favela não fazia sentido há 200 anos mas hoje é necessária. É uma leitura do tempo com T maiúsculo”. Transformação fulminante Macau não podia fugir da conversa e aproveitámos para saber como Alexandre Marreiros vê a cidade. A resposta não tardou. “É fulminante a forma como se transforma”. A falta de planeamento, todavia, é algo que o preocupa esperando que este venha a existir pelo menos nos novos aterros. “Ainda consigo ler muitas histórias nesta tradição de conquista de terras ao mar. Afastar tecido antigo do que se foi desenvolvendo menos bem. É uma cidade que ainda me conta histórias bonitas mas com alguns capítulos mais negros de permeio.” Mas também existem vislumbres do futuro que, para ele, será “uma massificação de descaracterização”, com alguma pena sua mas, como não acredita que a arquitectura seja intemporal, mas sim “muito efémera”, entende que a descaracterização que se adivinha será apenas uma marca do que foi este tempo de agora. “Não é mau nem bom, mas talvez outro tipo de estratégia fosse mais adequado”. Algo o anima, todavia, a recente abertura da faculdade arquitectura dá-lhe esperança. “Espero que. daqui a uns anos, (os novos arquitectos) possam ter uma opinião clara e, acima de tudo, competente da cidade.” A culpa é do desenho Nascido em 1984 em Cascais, Portugal, Alexandre Marreiros estudou artes no liceu, formou-se em arquitectura pela Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa, onde posteriormente obteve o grau de mestre. “O que me conduziu à arquitectura foi o desenho. Sempre gostei de desenhar. Fiz muitas cabanas , muitas árvores, muitos carrinhos de rolamentos. Tive um percurso de artes antes mas na altura de decidir optei pela arquitectura sem nunca me desligar muito das artes plásticas”. Exibiu em exposições colectivas em Lisboa, individualmente na Galeria GivLowe e na Casa Lusitana. Recentemente, participou como artista convidado no Festival Silêncio de Lisboa e no Festival Literário de Macau. Em 2015 recebeu uma menção honrosa da Ilustração Contemporânea Portuguesa. Vive e trabalha em Macau. A exposição inaugura hoje, pelas 18:30H no Museu de Arte de Macau.
Hoje Macau China / ÁsiaÚnico museu do país dedicado à Revolução Cultural silenciado Em 2005, Pen Qian, um antigo ajudante do presidente da câmara de Shantou, ao saber que muitas das vítimas dos linchamentos dos guardas revolucionários foram enterrados na zona, construiu o museu. Ao reformar-se entregou a gestão ao governo. Agora foi tapado por cartazes de propaganda comunista e, no local, polícias à paisana disfarçados de turistas, impedem a imprensa de fotografar e filmar e interrogam os jornalistas que se aproximam [dropcap style=’circle’]S[/droopcap]ituado numa montanha nos arredores da cidade de Shantou está o único museu da China que presta homenagem às vítimas da Revolução Cultural (1966-1976), um local que neste ano, quando o início do movimento completa 50 anos, foi silenciado e passou a correr perigo. Não é tarefa simples chegar ao museu. Os guias de viagens poucas informações dão e não há placas indicativas ao longo da estrada que leva ao Tashan Park, um parque natural de espessa vegetação onde está o memorial. Para passar despercebido, o museu tem aspecto de templo tradicional, embora nem muros ou lápides mostrem imagens budistas, mas sim os nomes de mais de 300 pessoas acusadas de serem “contra-revolucionários” durante os anos 60 e 70. Logo na está uma estátua e um retrato, respectivamente, de Yu Xiqu, um prestigiado juiz local que sofreu, como outros aí mencionados, graves abusos por parte dos guardas vermelhos. A 16 de Maio deste ano foi comemorado, com quase total silêncio da imprensa oficial e das instituições, o 50º aniversário do início daquele período turbulento e, desde então, todo o museu foi tapado por cartazes de propaganda comunista. Na entrada, sobre o cartaz que indica que ali fica o museu é possível ler outro que diz “Acto de promoção dos valores nucleares do socialismo”. Alusões ao “Sonho Chinês”, o mantra ideológico do actual presidente Xi Jinping, repetem-se nas paredes forradas de cartazes, decoradas com foices e martelos e imagens da porta da Praça da Paz Celestial. Não é fácil observar outros detalhes, já que polícias à paisana, que se fazem passar por turistas, tentam impedir a imprensa de fotografar e filmar o lugar, e interrogam os jornalistas que se aproximam. Existir é milagre O museu foi construído em 2005 e é quase um milagre continuar de pé mais de dez anos depois, tendo em conta que, embora o governo chinês reconheça oficialmente, após a morte de Mao Tsé-tung, que a Revolução Cultural foi um erro, evite relembrá-lo publicamente e, menos ainda, citar as vítimas concretas. Neste caso, foi um líder comunista local que decidiu criar o museu. Peng Qian, um antigo ajudante do presidente da câmara de Shantou, construiu o espaço e foi o que, possivelmente, salvou a estrutura de ser demolida. Contou Peng que decidiu criar um lugar para homenagear um assunto tão delicado na China, após ficar a saber que muitas das vítimas dos linchamentos dos guardas revolucionários foram enterradas na Montanha Pagoda. Nos primeiros anos de funcionamento, o museu chegou a atrair uma certa atenção dos média, e até recebeu doações milionárias para a sua manutenção. Todavia, em 2014, pouco antes de se aposentar, Peng cedeu a gestão ao governo, o que fez com que este caísse no esquecimento e que, nas últimas semanas, viesse a ser presa da censura. É melhor esquecer Shantou, um dos principais portos do sul da China, está a mais de dois mil quilómetros de Pequim, o epicentro da Revolução Cultural, mas a distância não a livrou, como ao resto do país, dos excessos da época, na qual milhões de pessoas foram indiscriminadamente perseguidas. Embora a Revolução Cultural seja tema de livros e filmes na China – o facto de que quase toda a população do país naquela época tenha sofrido dificulta a censura total – o Museu de Shantou é o único dedicado integralmente a este período. Existe pelo menos outro museu no país que menciona o período de terror dos guardas vermelhos, o de Jianchuan (centro do país), mas não está dedicado de forma exclusiva a esta matéria, e dá uma imagem neutra ao facto histórico, sem mencionar as vítimas. Apesar do silêncio no aniversário de 16 de Maio, o jornal oficial do Partido Comunista, “Diário do Povo”, que possui uma versão online em português, publicou no dia seguinte um editorial admitindo que a Revolução Cultural foi “um caos interno que trouxe enormes catástrofes” e aventurou-se mesmo a dizer que nunca se repetirá.
Hoje Macau China / ÁsiaNavio militar chinês entrou em águas territoriais japonesas [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m navio militar chinês entrou ontem em águas territoriais do Japão, no sudoeste do país, uma semana depois da aproximação de uma fragata da China às ilhas Diaoyu, disputadas pelos dois países. O navio entrou em águas territoriais japonesas pelas 03:30 de ontem perto da ilha de Kuchinoerabu, localizada a cerca de 70 quilómetros de Kyushu (sudoeste do Japão), disseram fontes do Ministério da Defesa de Tóquio à rádio e televisão pública japonesa NHK. O navio militar chinês, que foi detectado por aviões P-3 das Forças de Autodefesa (exército) do Japão, estava a navegar em direcção sudeste e deixou as águas japonesas pelas 05.00, de acordo com as mesmas fontes. Um porta-voz do Executivo japonês confirmou este incidente incomum, sublinhando que Tóquio solicitou uma explicação a Pequim, depois de na semana passada ter apresentado um protesto formal pela aproximação de um navio da marinha chinesa a águas japonesas junto às ilhas Diaoyu administradas de facto por Tóquio. Navios da guarda costeira chinesa navegaram no passado com frequência pela zona, mas esta foi a primeira vez que uma incursão envolveu um barco militar. A adensar desde 2012 O Ministério da Defesa japonês também informou na semana passada que foi detectada a presença de três navios militares russos numa área contígua às Diaoyu precisamente no momento em que o barco chinês navegava na zona. A disputa territorial entre a China e o Japão em torno das Diaoyu tem décadas, mas agravou-se em Setembro de 2012, depois de Tóquio ter anunciado a compra de três dos cinco ilhotes do pequeno arquipélago, de apenas sete quilómetros quadrados, administrado, de facto, pelo Governo japonês. O arquipélago desabitado, mas potencialmente rico em recursos minerais, fica no Mar da China Oriental, a cerca de 120 milhas náuticas de Taiwan, que também reclama a sua soberania, e a 200 milhas náuticas de Okinawa, no extremo sul do Japão.
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasFeira do Livro Vejamos se nesta feira que Mercúrio aqui traz acharei a vender paz que me livre da canseira em que a fortuna me traz Auto da Feira, Gil Vicente [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]om esta personagem alegórica do deus Mercúrio, tem lugar a Feira do Livro entre Maio e Junho, os meses consagrados a Mercúrio, e a transacção da palavra como comércio. As Feiras são para mim locais desabridos, muito abertos, populosos, arrivistas, cheios de entulho, pois que é certo que uma Feira, mesmo de hortaliças, é um microcosmos difícil de nos adentrarmos. Reconheço sem dúvida o lúdico, a quantidade, a variedade, o colorido mas, neste caso, prefiro então as pequenas Feiras com o pó das Estações que assentam nas dobradiças das tendas como as velhas carroças de ciganos abandonadas, continuando num canto com interessantes nichos abertos à voragem das aquisições. Mas vamos para a Feira! Olhando ao redor não se sabe por onde entrar e o melhor é sempre o propósito fixo para não deambularmos diante de infindas florestas de nada, de livros infantis, de direito, das Testemunhas de Jeová, daqueles pobres escritores parados, sentados… o microfone, os discursos que se vão ouvindo de alguém que está lançando qualquer coisa, a fealdade alarmante das gentes que, coitadas, vão assim, à vontade, e se lhes nota o estado das suas carnes como um castigo a transportar. Mais além, sim, um cheiro bom – são farturas – que o nome encanta só pela abastança, que nestes locais não há, dado que, como bem sabem, os pobres têm grandes dificuldades quase em comer, quanto mais para grandes sacadas de livros a bons preços, que por acaso até nem estão tanto assim. Enfim, é um equívoco na subida e uma desilusão na descida, de modo que a Feira seja apenas louvável como tradição e quase nunca como agente cultural. Assina-se muito, assina-se para sempre, assinamos cheques, livros, registos, assinamos tudo inteligivelmente como fazendo parte da cultura dos assinantes. Depois de assinados, em pequeninas “bichas” que o tempo não está para “bicha” grande (revelando que esta tendência deve ser influência anglo-saxónica pela compostura) as pessoas escorregam suavemente para uma quase inexistente troca de palavras. Fala-se pouco, vê-se muito, cambaleia-se… Claro, é uma Feira, cada um faz como acha melhor e o melhor ainda não foi pensado, que é simples, tão simples que já nem se pensa nisso: a leitura é um exercício com regras como outra coisa qualquer, ou seja, um grande leitor é um metódico, tal qual como um sacerdote tem horas, há que ter método, postura física e um mundo que ele próprio define como propiciador de elemento ritualizante, dado que o livro é um elemento com aura e não raro tem até o poder de nos submeter à sua tirania tal como os ritmos da fé. Pois bem, chegados aqui, toda este alienado e alienante propósito de leitura como elemento transportável, que ora serve para adormecer, levar para a praia, ler pelos cantos, torna a leitura quase um mau costume. Sabemos nós, os leitores por vocação, que só começamos a “ler” na releitura, que nessa actividade está o segredo do magistério da palavra, porque nada pode ser lido com carácter de urgência a menos que se trate de escrita informativa, jurídica, técnica; mas a literatura, mais propriamente aquela a que se dá tal epíteto, não é um receituário: está unida à inventividade que acrescenta mais espaço à capacidade onírica e mental, dado que é para isso que a palavra também serve, como um caminhar da transformação do Homem e da sua ampliação, na capacidade, evidentemente, de acrescentar esse novo, essa inquietação, esse despertar : o leitor deve sentir-se incomodado. O leitor não pode deixar-se andar pela deambulação inconsciente do seu bem-estar, pois que o excesso de passividade torna a mente imprópria para estruturar uma leitura ou mesmo ter dela qualquer sentido crítico, a absorção das coisas fáceis é imprópria para a complexidade humana e, mais do que nunca, o leitor de agora devia ser iniciado e conduzido. Não influenciado, devia ser informado do mau uso e da má postura que está a dar à leitura. Neste tempo de todas as epifanias das leituras não compreendemos que leitor é este. Há gente a morrer de trauma fonético… Nunca o delírio atingiu tanto o espectro auditivo e das sombras vêm vozes que nos mandam escrever sem noção da “bomba atómica” que pode ser um verbo mal rolado… Mas, dado que a inércia crassa entre os enfadonhos tratados, teses, invencionices sem mérito, pesporrências várias, e muito linguarejar, ainda há substrato para um cruzeiro a vapor. Há verbos que nem sussurrados já são possíveis ou mesmo escutados… como um – Amo-te – por exemplo. No entanto, é preciso escrever muito sobre o amor. O ventrículo de todas as vozes e de todos os sons e de todas as letras, visto nestas Feiras, parece ter produzido mais insanidade que saber e em locais inesperados, é certo, subitamente o revelado, o livro , a letra exacta, pode ser encontrado. * A personagem alegórica do início do texto é o Diabo de Gil Vicente, que parecendo esgotado do seu artifício, apela à paz , a tréguas, para o libertar do cansaço de uma busca indistinta, tão desorientada, a que o próprio chama Fortuna. Má Fortuna! E também a «Biblioteca» de Umberto Eco um opúsculo muito bom sobre o objecto-livro, o elemento que se tira, que se desloca, que se vende, que se anseia, que se dá, que se partilha, as inúmeras formas de nos posicionarmos sobre ele apelando aos seu interesse gratuito. Este é também mais ou menos um Auto e não creio que interesse muito numa qualquer Feira. O que é certo é que a azáfama do interesse móvel, e a carga das editoras, deve predispor muito pouco tempo para algo parecido com a escrita que desejamos ler. Há aquela feita nos lagares dos “Óleos” para Autos- de- Fé, que não são de Elias Canetti ,mas de escolas que despejaram a lengalenga que apetece, com certeza, sim, fazer fogueiras. Digo, acender Chamas.
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasQue estamos nós a fazer, tão longe de casa? | Ela [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] pôr do sol perdeu o seu brilho púrpura e tornou-se, de um azul escuro. Um azul frio. Um azul que se obscurece. Que surge de dentro de um cinza pálido e que se deixa desaparecer sem cor. Um pôr do sol que nunca mais foi primaveril. Desde que te foste embora que este pôr do sol existe, assim, sem vida, e, por isso, não existe mais primavera, e, por isso, só existe inverno. O sol aparece, mas aparece sempre desaparecendo. E desaparece, e desaparece. Como uma ilusão qualquer de um ilusionista sem talento. Aparece mas não o vemos. Sabemos que ele lá está e quando estamos quase a acreditar desaparece. Desaparece, sem nos darmos conta, em tons de azul escuro. Uma ilusão de maus fígados, destinada a maltratar a esperança. O sol que se foi onde não havia laranja. Não havia mais laranja. Nem amarelo. Nem havia mais qualquer cor de rosa na névoa fina. O sol frio, e como o sol tu, tu que desapareceste. E eu que começo a sentir frio. E eu que desço para o jardim e permaneço à volta de mim, à volta de nós. E eu que volto a esta janela, a esta cama, a estes amontoados de roupa por lavar onde consigo ainda sentir o teu cheiro. E eu que desapareço, assim, como o sol, como uma ilusão sem talento de um ilusionista de rua. Aqui onde desapareço é o lugar onde me vou encontrar. Aqui onde desapareço é o lugar por onde me vou embora. E vou conseguir. Vou conseguir atravessar aquela ponte faça sol ou chuva. E o porteiro irá dizer aos novos inquilinos que eu era uma mulher jovem. E irá confundir-me com a vizinha do 10º andar que tem o mesmo corte de cabelo. E irá dizer que me chamo “Sushi” porque não confia em japoneses. Porque ela, embora não seja japonesa, tem uma tatuagem de um “koi Fish” nas costas em estilo japonês. E ele imediatamente a colocou nessa gaveta. Não confiar nos japoneses é vulgar na China. Dores históricas e políticas que pouco têm a ver com as pessoas dos dias de hoje mas que mantêm a sua influência nas relações dos dois países. Não confia neles porque o pai teve que fugir de Cantão durante a invasão e nunca mais viu a mulher que deixou para trás. Repetia vezes sem conta que quando o pai voltou para a buscar ela tinha desaparecido. Uma vez chorou em modo de confissão culpabilizando-se que ela tinha desaparecido por causa dele. Porque quando ele chegou a Macau uma semana depois do pai, ainda bebé de meses, no meio de um transporte de galinhas, ela teria ficado para trás por não haver lugar para ela. E que quando o pai conseguiu voltar a Cantão nunca mais a encontrou. E que, como se isso não bastasse, o pai foi morto quando ele tinha 6 anos por causa de um erro cometido num serviço, no qual, o ‘patrão’ o deixou ser emboscado pela seita adversária. Ninguém nunca saberá a verdade do que aconteceu à mãe daquele septuagenário. E muito pouca gente saberá realmente o que aconteceu ao pai. Disse ainda nessa vez que o pai foi-lhe entregue numa urna na qual sentiu o cheiro a sangue nas cinzas. Irá confundir-me com ela de todas as vezes e no final irá sempre lembrar-se da vez que viemos de férias da Europa e eu lhe ofereci um pacote de queijadas de Sintra. Irá lembrar-se disso porque as memórias, boas ou más, nunca desaparecem. Sempre pensei nela como a heroína de um romance policial. Uma rapariga solteira capaz de atrair jovens empresários e que após uma sucessão de más decisões se vê acusada do assassinato de um político. Não sei se porque sempre que olho para ela nunca traço um retrato realista e me deixo inebriar por entre imagens e sentimentos ficcionais ou se porque por vezes penso em como seria bom poder ter uma aparência perfeita e afinal ser mesmo como ela. Ser mesmo como ela por eu querer ser a heroína de um romance. Ter realmente importância. E não este lento desaparecer nesta ténue insipidez do tédio. Neste pôr de sol que perdeu o seu brilho. Outras vezes penso nela daqui a vinte anos. Penso nela casada e feliz e sem mágoas. E sem lágrimas derramadas em paixões juvenis. E sem lágrimas derramadas em amores perfeitos. Ter esperança é o que me tem ajudado a passar por momentos difíceis. Mas essa desaparece como desaparece o sol. O sol que aparece desaparecendo. Ela é assustadoramente bonita. Ao pé dela eu sou assustadoramente vulgar. Quis sempre acreditar que essas diferenças escapassem ao porteiro por causa da sua idade. Que com a idade dele não se consiga apreciar os cânones de beleza dos dias de hoje. Lembro-me de quando a vi pela primeira vez. Os meus olhos fixos e ela indiferente. Como se estivesse habituada a ter pessoas a olhar para ela com os olhos fixos. A pergunta “Quem é ela?” repetiu-se na minha cabeça em eco infinito, com ressonância intensa, percorrendo de um lado ao outro todos os compartimentos da memória numa tentativa louca de encontrar uma resposta. Ela fez o seu melhor para parecer indiferente mas a sua intuição feminina deve lhe ter dito que eu já estava à mais de 10 minutos de olhos abertos na sua direcção. A empregada do café surpreendeu-me ao perguntar-me se desejava alguma coisa mais. Nesse momento, em que o feitiço foi quebrado por momentos, os papéis inverteram-se e quando voltei a olhar para ela dei com os seus olhos como setas a fazer uma avaliação de mim de alto a baixo. José Drummond
Leocardo VozesA quimera do minchi [dropcap style=’circle’]H[/dropcap]oje gostaria de dedicar mais a um artigo a esse interminável processo de integração numa sociedade que me vai parecendo cada vez menos estranha, mas na qual nem tudo facilmente se entranha (vénia à Pessoa do poeta, já agora). E por falar em entranhar, mastigar, degustar e engolir, há no seio da comunidade macaense, que aproveito para saudar, a noção de que todos os seus “cozinhadores” sabem fazer “Minchi” – e aqui por “cozinhadores” quero dizer qualquer um que se consiga orientar na cozinha, e não necessariamente um “chef”, qui vendê merenda pá juntá unchinho sapeca pa olá filo-fila crecé, sân nunca? Deveras. O “Minchi” é um prato que basicamente consiste de carne de vaca e de porco moída (em inglês “minced”, daí o seu nome) e frita com chalotas picadinhas, posteriormente misturada com batatas cortadas em pedacinhos e fritas separadamente, e tudo servido numa cama de arroz branco com um ovo estrelado por cima – eis o “Minchi” clássico. Atente-se ao uso o abuso dos “inhos”, ora nas chalotas que são picadinhas, ora nas batatas (ou batatinhas) em pedacinhos, mas o “Minchi” é mesmo assim, um “pratinho”, que não é complicado de se fazer, agrada a miúdos e graúdos, e nem é preciso dentes rijos para o poder apreciar. Aliás, pensando melhor, nem é preciso ter dentes, de todo. O “Minchi” é o prato-bandeira de Macau e dos macaenses, por assim dizer. Não vou ao ponto de afirmar nem a brincar que “quem não gosta de Minchi não é macaense”, pois ultimamente essa temática tem dado pano para mangas – digamos apenas que uma casa macaense com certeza, há sempre “Minchi” sobre a mesa. A diferença entre cada “Minchi” reside no tempero, conforme o gosto de cada um, e o segredo – se o há – está na quantidade e na qualidade do “sutate”, outro nome que se dá ao comum molho de soja. Assim a pergunta que se impõe é a seguinte: onde se come “o melhor Minchi de Macau”? Lá está, esta é uma pergunta impossível de responder, assim como impossível é também confeccionar o “Minchi” perfeito, que reúna o consenso dos exigentes palatos maquistas. Se perguntarem a dez macaenses “quem faz o melhor Minchi de Macau”, sete respondem “a minha mãe”, e é possível que os restantes digam “a minha mulher/irmã/tia”, e é muito improvável que elejam o da sogra como o melhor (por respeito à sua própria mãezinha, pensavam o quê?). Se pedirem para indicar um estabelecimento, é de esperar alguma hesitação, após a qual respondem “o sítio A não é mau”, ou “fulano tal faz assim-assim”. Agora não esperem é que digam que “é bom” e muito menos “o melhor”, o que seria entendido quase como um sacrilégio! Cuza? Estopôr! Azinha zaprecê de io sa diante! Caso o leitor se queira aventurar nessa quimera do “Minchi”, atrevendo-se a alcançar a perfeição e obter a aprovação unânime dos Macau-filo, desiluda-se: o “minchi” perfeito está para os macaenses com o a pedra filosofal estava para os antigos alquimistas. Pode ser que fique aprovado, mas mesmo que lhe digam que o seu “minchi” é “muito bom”, prepare-se para de seguida levar com “…mas o da minha mãe é melhor”. E olhe que ainda é o melhor que lhe pode acontecer, pois se lhe disserem que “não é mau”,quer dizer que “é péssimo”. Mas a culpa é sua, também – quem o mandou ser ui di sevandízio? Qui astrevido!
Hoje Macau China / ÁsiaDireitos humanos | Pequim diz ter feito “progressos extraordinários” [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] China alcançou “progressos extraordinários” na implementação do seu segundo plano para os direitos humanos, incluindo avanços na liberdade religiosa e protecção social em regiões afectadas por “extremistas religiosos e separatistas”, considerou ontem Governo chinês. Quase todos os trabalhadores religiosos na China são abrangidos pelo sistema de segurança social, com 96,5% a beneficiar de seguro de saúde e 89,6% a descontar para o sistema de pensões, aponta um relatório difundido pelo Departamento de Informação do Conselho de Estado chinês sobre a evolução dos direitos humanos no país entre 2012 e 2015. “A liberdade de crença religiosa está completamente garantida e os direitos e interesses das minorias étnicas foram efectivamente protegidas na China”, proclama o documento. Ao contrário dos governos e opinião pública dos países mais ricos, que enfatizam a importância da liberdade e direitos políticos individuais, Pequim defende “o direito ao desenvolvimento” como “o mais importante dos direitos humanos”. O mesmo relatório detalha que, entre 2011 e 2015, o Estado chinês gastou 200 milhões de yuan na renovação e ampliação de instalações religiosas no Tibete, uma das regiões chinesas mais vulneráveis ao separatismo. Pobreza e conflitos Em Xinjiang, região do noroeste da China palco de frequentes conflitos étnicos entre chineses da minoria étnica muçulmana Uigur e a maioria Han, 70% dos gastos públicos foram destinados às áreas da educação, emprego, segurança social e ambiente, destaca. O documento revela ainda que, nos últimos três anos, o número de habitantes das zonas rurais que viviam abaixo da linha de pobreza – menos de 2.300 yuan por ano – diminuiu 43,1 milhões, para 55,8 milhões, o que corresponde a 4% da população. A questão dos direitos humanos continua a ser uma fonte de tensão entre a China e os governos dos países mais desenvolvidos, sobretudo na Europa e América do Norte. Segundo um relatório recente da organização de defesa dos direitos humanos Chinese Human Rights Defenders (CHRD), o número de presos políticos no país quase triplicou desde que o actual Presidente chinês, Xi Jinping, ascendeu ao poder, em 2013.