Maioria apoia fim de aves de capoeira vivas

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]erca de 57% dos inquiridos mostra-se a favor da substituição do abastecimento de aves de capoeira vivas por aves de capoeira refrigeradas. Este é um dos resultados do relatório da consulta pública sobre o assunto ontem divulgado, sendo que 42% estão “expressamente contra” o fim das aves vivas nos mercados. Segundo um comunicado, 26% dos inquiridos considera que a medida deve ser implementada nos próximos dois anos, enquanto que 33% se mostrou indiferente quanto à altura de implementação.
“Considerando outras condições adicionais, como a saúde pública a longo prazo, a percentagem dos cidadãos que estão contra esta medida desce de 42% para 39%”, aponta o comunicado. Cerca de 80% dos entrevistados mostrou-se indiferente quanto ao tipo de carne utilizada nos restaurantes, porque “os cidadãos já se habituaram a consumir aves refrigeradas ou congeladas nos estabelecimentos de comidas”.
O inquérito foi realizado com o apoio do Instituto Politécnico de Macau (IPM), tendo sido inquiridos 1026 pessoas e 187 responsáveis por restaurantes. O Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) promete “continuar a manter a comunicação com o sector para conhecer as suas dificuldades e necessidades, no sentido de tomar as medidas mais adequadas quando dos trabalhos preparatórios da implementação da referida medida”.

16 Jun 2016

Defendida saúde gratuita para idosos a viver na China

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] deputado Zheng Anting entregou uma interpelação escrita ao Governo onde fala da possibilidade de comparticipar na totalidade as despesas de saúde dos idosos de Macau que vivam no interior da China. O número dois de Mak Soi Kun no hemiciclo quer ainda saber em que fase está o estudo sobre essa medida. Zheng Anting questionou ainda o Executivo sobre a possibilidade de aumentar os subsídios para idosos, lembrando que em Macau existem cerca de 58 mil idosos. Para além disso, os pedidos dos Serviços de Saúde (SS) sobre os idosos com mais de 60 anos têm aumentado, lembrou. O deputado, também membro da Associação dos Conterrâneos de Kong Mun de Macau, pede um aumento de mil patacas anuais nos subsídios, através do programa de comparticipação nos cuidados de saúde, por forma a corresponder aos pedidos e a diminuir a pressão sentida nos hospitais.

16 Jun 2016

Pedofilia | Casos escondidos e sem protecção num território de lei curta

Vivem nas sombras. Nas mais escuras de todas. São famílias a esconder um problema que deveria ser “uma responsabilidade social”: a pedofilia. Uma psicóloga relata-nos casos. “Muitos, muitos casos”. Vergonha, medo e mundo que desaba levam a que se viva este drama em silêncio. Macau diz querer rever o Código Penal. Enquanto isso crianças vêm o seu mundo ser estilhaçado. Para sempre…

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ão quer dizer quantos casos já lhe passaram pelas mãos. Nem estamos ali para isso. Recorda o primeiro e o choque que foi perceber o que tinha à sua frente. Mas agora já não é surpresa por, infelizmente, ser tão comum. Goreti Lima, psicóloga, conta que há “muitos, muitos, mas mesmos muitos casos de pedofilia em Macau”. Este não é um território especial. Aqui, como em qualquer parte do mundo, as crianças sofrem de abusos sexuais. Um drama que se vive em silêncio, que mora em casas com cortinas fechadas, portas trancadas e corações partidos.
Perceber o que leva uma família, uma mãe, uma avó, um pai ou alguém que ama uma criança, vítima de pedofilia, a esconder esta tragédia pode ser um desafio difícil de enfrentar. “O que leva os pais a esconder… bem, para já é super-difícil acreditar que isto [a pedofilia] está a acontecer. Então o que normalmente fazem é achar que a criança está a inventar ou que não é bem aquilo que ela diz ou que até está a fazer confusão. Isto porque aquela pessoa [que pratica pedofilia], por norma, até é uma pessoa amiga da família”, começa por explicar.
Um acto que é calculado, ao milímetro. “É maquiavélico, tudo é muito bem preparado. A actuação de um pedófilo é muito calculada. Não são casos rápidos. Vão conhecendo a criança, o seu ambiente, vão fazendo a preparação para o acto. Vão preparando a sua presa e isto leva o seu tempo. O grande alvo deste processo, por norma, é a família para minimizar todas as suspeitas. Quando a criança começa a deixar de querer estar onde aquela pessoa está, a família nunca pensa que é por isto, mas sim outra razão qualquer”, relata.

Um perfil definido

Os casos que trabalhou, e tantos outros que estudou, trazem uma infeliz certeza à psicóloga. A pessoa pedófila age de forma padronizada e respeita um perfil muito próprio, como por exemplo, vontades, desejos ou concretização dos seus ímpetos durante pelo menos seis meses.
Reconhecido como uma patologia no mundo da psicologia e psiquiatria, os doentes, “normalmente são pessoas muito bem vistas na sociedade. Têm posições de estatuto, são sempre muito amáveis, muito prestáveis, muito simpáticas e super metódicos. À partida não existe nenhum indício que leve a crer que aquela pessoa possa sequer ter actos pedófilos”, caracteriza, frisando que este perfil despista qualquer desconfiança.
Conquistando uma postura de confiança é nesse momento que se desenrola o crime. “Depois de conquistar a criança, de entrar no mundo dela e de lhe fazer entender os laços de carinho e amor que os liga, é aqui que o pedófilo actua”, aponta.

Será errado?

No outro lado da moeda, temos a criança, que nem sempre percebe que é errado. “O que acontece é que a criança sente-se muito baralhada”, aponta. Algo perfeitamente natural depois de tanto trabalho de conquista. “As crianças têm imensas dúvidas sobre sexualidade ou sobre as mudanças no corpo e eles normalmente fazem essa aproximação. Portanto, quando um dia tocam, mostram ou querem ver, não é uma coisa totalmente despropositada, porque eles já foram expondo a criança ao estímulo, ou seja, nunca é um acto totalmente descontextualizado”, indica. violence
Ainda assim, para a criança, é uma surpresa, porque lhe suscita dúvidas. “Se esta pessoa é minha amiga, está próxima de mim, diz que gosta de mim, será errado? É o pensamento da criança”, relata. No entanto, há sempre uma altura em que a vítima percebe que não está certo, mas sente vergonha por tudo o que aconteceu. “Ao mesmo tempo o pedófilo faz com que a criança sinta culpa no assunto, porque introduz-lhe ideias de que ela [a criança] o quis fazer, e teve prazer nisso”, continua, assinalando que os dados mundiais indicam que há mais pedófilos homens do que mulheres. “Mas há pedófilos homens e mulheres”, assinala.

Verdade escondida

Depois de, no início do mês passado, terem surgido dois casos de alegada pedofilia, envolvendo um português e um idoso chinês, a sociedade de Macau parece ter ficado chocada. “A verdade é que todos os dias há casos destes que nunca chegam a ser conhecidos”, garante Goreti Lima.
Fonte do HM, responsável por uma associação que acolhe crianças, confirma esta realidade. Existem muitos casos e algumas das crianças que o espaço acolhe são vítimas.
Os números oficiais em nada compactuam com estes relatos. Indica-nos a Polícia Judiciária (PJ), por email, que desde 2011, as autoridades receberam um total de 11 casos, quatro em 2012 e três no ano passado. Números que não batem certo com a realidade, porque a PJ garante que este ano ainda não recebeu qualquer acusação.

Assobiar para o lado

Em Macau, as crianças vítimas de pedofilia estão protegidas pelo Código Penal, mais precisamente pelo capítulo que diz respeito aos crimes contra a liberdade e autodeterminação sexuais, mais especificamente nos artigos 166º ao 170º. Diz a lei que “quem praticar acto sexual de relevo com ou em menor de 14 anos, ou o levar a praticá-lo consigo ou com outra pessoa, é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos”. Pena que poderá aumentar até aos 10 anos de prisão se o agente tiver cópula ou coito anal com menor de 14 anos.
No artigo seguinte é definido que “quem tiver cópula com menor entre 14 e 16 anos, abusando da sua inexperiência, é punido com pena de prisão até 4 anos, sendo que é alvo da mesma pena quem praticar coito anal. Violação sexual a crianças em momento algum é referido na lei. “É uma falha”, frisa a responsável pela associação de crianças. “Na lei não está definido se é ou não é criança, trata a violação de forma igual. Não pode ser assim, não deve ser assim”, argumenta.
As penas são também alvo de crítica. Goreti Lima aponta o dedo a um Direito que não protege as crianças. Já Song Pek Kei, deputada por sufrágio directo, caracteriza as penas de “muito leves” para crimes que mereciam “mãos mais pesadas”.
“Em Macau não existe uma punição muito exigente, como por exemplo a pena de morte, mas podemos abordar essa questão”, garantiu a deputada, ao HM. Para a legisladora, as notícias “de casos de abusos de crianças” têm sensibilizado a sociedade para este drama. “É preciso pensar nisto, admitirmos que existe este problema na nossa sociedade, ao fazê-lo será mais fácil tratarmos do assunto e evitar que mais casos venham acontecer. O que está a faltar é a consciencialização deste drama”, defende.
Para o advogado Miguel de Senna Fernandes, “nos tempos que correm”, apesar de não existir, em Macau, um alto registo de números de casos, há “todo o interesse em rodear o tratamento desta matéria com uma medida penal acentuada”. Para Goreti Lima, este devia ser uma “responsabilidade social”. A sociedade devia sentir que têm a obrigação de tornar estes casos públicos e puni-los. Numa conferência na Florida, Estados Unidos da América, a psicóloga espantou-se com a defesa de introdução do ensino sexual no jardim de infância. “Na altura pensei, que horror, esta gente está doida, estão a acordar quem está a dormir. Porque não estava a ver o outro lado da questão, que é quanto mais informação a criança tiver, mais alerta pode estar e pode dizer ‘isto não está certo’”, explica.

Abrir de olhos

É, por isso, que a solução passa sempre pela educação. “Tocar numa criança de forma a estimular os órgãos sexuais ou a própria criança é pedofilia”, garante Goreti Lim, indicando que muitas vezes as crianças “não sabem porque é que aquilo está a acontecer mas até gosta”. “São festinhas, é carinho, é mimo, portanto a criança gosta, mas não está preparada para saber se aquilo está certo. Mas não está. É errado”, frisa. “Temos de avisar que não é certo tocar nas suas zonas íntimas, nem que a criança toque em alguém”, remata.
Da sua experiência, a especialista não tem qualquer dúvida “todos nós temos à nossa volta casos de pedofilia, muitas vezes de pessoas já adultas que foram vítimas em crianças”. As consequências, aponta, são nefastas. Crianças que se tornam problemas com auto-estimas destruídas, com problemas relacionais, marcas profundas. Adultos que em crianças acreditaram numa pessoa amiga. Que, finalmente, lhes roubaram a possibilidade de acreditar e de sonhar.

15 Jun 2016

Vice-presidente da AL quer clarificar contratação de trabalhadores

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] vice-presidente da Assembleia Legislativa (AL), Lam Heong Sang, entregou uma interpelação ao Governo onde exige que sejam clarificadas as regras de contratação de trabalhadores no sector da construção civil, por terem sido verificadas irregularidades entre empreiteiros e subempreiteiros.
“Segundo uma reportagem recente da imprensa, suspeita-se que mais de 40 trabalhadores não residentes, que alegam trabalhar na área da pintura num estaleiro na Taipa, há quatro meses que não recebem salário. O responsável do estaleiro em causa já respondeu que exigiu ao subempreiteiro que pagasse, o quanto antes, os salários em atraso. O construtor é que pediu a autorização para estes trabalhadores, mas o empregador é o subempreiteiro. Com este caso ficámos todos a saber que o problema é bastante grave e parece que, em todo o processo, não há leis para cumprir e que a sociedade vai ficar sem saber como é que o problema vai ser resolvido”, defendeu.

Lacunas à vista

Lam Heong Sang disse que este caso “demonstra bem as falhas que existem na importação da mão-de-obra e na sua fiscalização, e ainda a falta de regulação do regime de subempreitada no sector da construção civil. Se a situação se mantiver, vão continuar os problemas da exploração de trabalhadores e da violação dos seus direitos”.
“Existe um regime de subempreitada na construção civil, mas segundo as exigências da lei da contratação de trabalhadores não residentes, ao caso acima referido não é possível adoptar o modelo da subempreitada”, disse Lam Heong Sang, ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM). O vice-presidente deseja saber quais as mudanças que devem ser feitas na lei das relações do trabalho e nas “regras de gestão do pessoal dos estaleiros da construção civil em obras de empreitada e dos locais onde se realizam obras”, as quais ainda não foram implementadas.
Tudo isto para “clarificar a constituição das redes de empreitadas nas obras de construção e nos locais onde se realizam as obras, e identificar de forma eficaz os responsáveis pelos conflitos laborais e os acidentes de trabalho, garantindo a ordem e o funcionamento das referidas redes e os locais onde se realizam as construções”, apontou.

15 Jun 2016

Tabaco | Diploma não está a ser arrastado, dizem deputados

Chan Chak Mo garante que a comissão do hemiciclo não está a arrastar propositadamente o debate sobre o fim das salas de fumo nos casinos. O deputado referiu que quebra das receitas não é a única razão para um retrocesso na política “tolerância zero”

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]stá longe de ficar concluído o debate na especialidade sobre a revisão do regime de controlo e prevenção do tabagismo. O diploma passou meses sem ser discutido e agora os deputados vão reunir uma quarta vez sobre as opiniões a serem entregues ao Executivo, através de um memorando.
Contudo, o deputado Chan Chak Mo garantiu ontem, no âmbito de mais uma reunião da 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), que não há qualquer intenção de arrastar o processo.
“É uma questão que preocupa toda a sociedade e temos de agir cautelosamente. São apenas sugestões. Não quer dizer que estejamos a arrastar o nosso trabalho”, apontou.
Chan Chak Mo destacou ainda o facto da quebra das receitas dos casinos não ser o único factor para que os deputados estejam contra a política da “tolerância zero” face ao fumo dos casinos, conforme defendeu Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura.
“Não é por pressão económica que propomos a alteração, é para fazer lembrar ao Governo algumas situações que têm de ser consideradas”, referiu Chan Chak Mo. “Tenho de dizer que não sou fumador e entendo que não se deve estar sujeito a um ambiente de fumo passivo. Não sei se as salas para fumadores são 100% estanques. Foram feitos largos investimentos e se os casinos entenderem que a criação de salas de fumadores ajuda a recuperar a quebra das receitas…Deu-se um grande passo em frente com a criação de salas para fumadores e temos de ver, por exemplo, qual a distância que os jogadores têm de percorrer para fumar. (A economia) é uma das considerações. A minha opinião individual é que dependemos de uma única actividade económica da proibição do fumo nos casinos e da origem dos jogadores.”

E os eleitores?

Questionado sobre o facto de ter sido aprovada na generalidade uma lei que deverá ser completamente diferente no seu conteúdo, Chan Chak Mo considerou essa situação normal. “É normal na generalidade ser-se a favor e na especialidade ser contra, cada um tem a sua justificação. Trata-se de uma decisão política e cada um tem que se justificar perante o seu eleitorado. Há várias propostas de lei que foram totalmente alteradas na especialidade. São as regras do jogo, há deputados que concordam e discordam, é normal. Todos sabem o que se está a passar e cada deputado tem o seu eleitorado. Esta é uma decisão política”, explicou o deputado indirecto.

Dúvidas e clarificações

O memorando que será agora entregue ao Executivo contém pedidos de clarificação dos deputados relativamente a questões como o cigarro electrónico ou a venda de tabaco em máquinas.
“Os produtos não podem ser expostos ou vistos de fora. Queríamos saber junto do Governo qual será o grau de aplicação. As tabaqueiras têm uma opinião contrária e isso vai afectar o negócio. Outra questão é a proibição de comercialização do cigarro electrónico. Agora é só proibida a sua comercialização, mas não quer dizer que seja proibido o seu consumo.”
Chan Chak Mo alertou ainda para a necessidade de clarificar a proibição de fumar junto aos autocarros. “Agora a proibição de fumar estende-se a menos de dez metros de distância das paragens. Entendemos que não é exequível essa medida e temos de pedir ao Governo para nos explicar como vai ser executado, porque as vias são muito estreitas e também é proibido fumar do outro lado. É difícil de pôr em prática”, concluiu.

15 Jun 2016

Deputado exige mudanças na eleição do Chefe do Executivo

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] deputado Ng Kuok Cheong entregou uma interpelação ao Governo onde volta a pedir mudanças na lei eleitoral para eleger o Chefe do Executivo de modo a corresponder ao que consta na Lei Básica, por forma a que seja implementado de forma gradual um sistema democrático em Macau.
Ng Kuok Cheong referiu-se ao processo de revisão da lei eleitoral para a Assembleia Legislativa (AL), actualmente em curso, lamentando que esta não preveja um aumento dos deputados eleitos pela via directa. Para o deputado pró-democrata, que já pertenceu à Associação Novo Macau (ANM), a revisão da lei eleitoral para o Chefe do Executivo é fundamental para o estabelecimento da democracia no território.
O deputado voltou a lembrar que a Lei Básica prevê a possibilidade de rever as leis de eleição do Chefe do Executivo, defendendo que o Governo deve responder a essa responsabilidade. Ng Kuok Cheong referiu ainda na sua interpelação que o Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional, em Pequim, apresentou quatro exigências para as eleições de Macau. Estas devem incluir a estabilidade do sistema político, a protecção dos interesses dos vários sectores, a operacionalidade administrativa e o desenvolvimento sustentável do território. Ng Kuok Cheong citou ainda um inquérito já realizado que revela que 60% dos inquiridos apoia o sufrágio universal directo para a eleição do Chefe do Executivo.
O deputado pretende saber se o desenvolvimento democrático em Macau irá corresponder a estas exigências ou se existe um impedimento para o desenvolvimento democrático.

15 Jun 2016

Notários | Governo não sabe quantas vagas vai abrir

A Assembleia Legislativa começou ontem a analisar o estatuto dos notários privados. A Secretária para a Administração e Justiça não sabe quantos concursos vão ser abertos. Deputados pedem mais inspectores

[dropcap style=´circle´]A[/dropcap]rrancou ontem a análise da proposta de lei relativa ao estatuto dos notários privados em Macau pela 1ª comissão permanente da Assembleia Legislativa (AL). Em discussão esteve a falta de profissionais na área e as directrizes para a reintegração de habilitados, para além da possibilidade de abertura de concurso que abranja a inspecção dos notários. A Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, disse aos jornalistas que ainda não sabe quantas vagas vão abrir para que novos notários possam concorrer.
Presidida pela deputada Kwan Tsui Hang, a comissão serviu para abordar as questões relativas à falta dos profissionais no território da RAEM bem como a possível reintegração de profissionais, para além da ausência de inspectores suficientes.
Actualmente existe apenas um profissional para monitorizar a qualidade profissional do serviço dos notários privados, número evidentemente escasso para os 57 notários. Neste sentido Kwan Tsui Hang adianta a possibilidade da presente proposta de lei poder vir a abranger um concurso para admissão ao curso de formação nesta área.
No que respeita à possível reintegração de profissionais já considerados habilitados pelo Regime Transitório que data da fase anterior a 1999, a presidente da 1ª Comissão Permanente adianta que neste momento há 15 pessoas nesta situação que não estão em Macau. Para estes casos, e assim que a proposta de lei for aprovada, será enviada uma notificação informativa em que é dado um prazo de três meses para os interessados informarem a sua intenção de exercer a profissão no território.

Mais formação

O diploma abrange ainda a abertura de um concurso para admissão ao curso de formação organizado pelo Centro de Formação Jurídica e Judiciária tendo em conta a escassez de notários privados na RAEM. Desde 2002 que não é aberto um curso de admissão para as funções, sendo que dos cinco cursos ministrados até essa data foram qualificados 99 notários privados. Hoje exercem na RAEM 57 profissionais que não garantem a necessidade de estabelecer o equilíbrio entre a procura de serviços notariais e a capacidade de resposta do sector com vista à eficaz satisfação das necessidades da população.

Cartório Notarial vai sair do Leal Senado

O Primeiro Cartório Notarial Público situado nas instalações da Santa Casa da Misericórdia no Largo do Senado vai mudar de casa. Kwan Tsui Hang revelou a decisão do Governo de mudar o serviço para a zona norte da cidade, não adiantando quaisquer informações acerca do destino do edifício que ocupa actualmente. Ao ser confrontado com a decisão, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Macau, António José de Freitas, em declarações à Rádio Macau, afirma que ainda não recebeu qualquer denúncia do contrato de arrendamento por escrito, salientando a preocupação com a situação: “Entendemos que o Governo deveria ter uma maior responsabilidade em zelar pela imagem daquele edifício.” Afirma ainda que lamenta que a Santa Casa seja a primeira vítima da política de austeridade do governo ao mesmo tempo que refere que a renda de um milhão e duzentas mil patacas que a Santa casa recebe anualmente do aluguer do espaço representa cerca de 1% dos cerca de 100 milhões de patacas que o Governo gasta em arrendamentos de vários espaços públicos de Macau É intenção da Santa Casa continuar a arrendar este espaço sendo que considera que o inquilino “deveria ser um departamento do Governo, ou então um banco ou qualquer coisa que não seja de comes e bebes” de modo a zelar pela imagem e dignidade do edifício em si, remata.

15 Jun 2016

Governo não divulga plano de contingência em caso de acidente nuclear

Após a polémica gerada pela central de Taishan, o Governo disse ter um plano de contingência em caso de acidente mas não explicou qual. O HM quis saber mais mas nada conseguiu. Jason Chao diz que o plano deveria até contemplar “uma nova localização para Macau”. Agnes Lam apela à “necessidade da população se sentir segura” e Wang Zhishi, especialista da UM, diz não acreditar em acidentes

[dropcap style=´circle´]“A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) irá prestar estreita atenção à respectiva situação junto dos serviços competentes, e executar os devidos trabalhos para articular com o respectivo plano de contingência.”
Foi assim que a DSPA respondeu às questões que o HM colocou relativamente ao nível de preocupação que a população da RAEM deve ter relativamente às cinco centrais nucleares que a rodeiam, com especial ênfase para a central de Taishan ainda em construção, e que tantos protestos tem levantado junto de alguns sectores da população, ou não estivesse a apenas 67 km do território.
Do leque de perguntas formuladas pelo HM constava ainda o teor do plano de contingência.
Para Agnes Lam, docente universitária e dirigente da Energia Cívica de Macau, é compreensível que “exista matéria militar sensível que não possa ser divulgada”. Todavia, para a académica “deveria existir um plano de evacuação e, pelo menos parte dele, deveria ser divulgado para que a população se sinta segura”.
Na mesma linha, segue a Associação Novo Macau (ANM).
“O Governo responde em meia dúzia de linhas não, é?, pergunta ao HM Jason Chao da ANM, “não é aceitável”.

Mudar Macau de sítio

Jason Chao vai ainda mais longe dizendo que o plano não só deveria ser público como “em face da construção de tantas centrais à volta de Macau, a população deveria conhecer um plano para a relocalização de Macau”.
Chao justifica a sua posição com uma entrevista dada por Gorbachev.
“Vinte anos após Chernobyl, Gorbachev disse que uns dois dias depois do acidente foi-lhe dito que as centrais nucleares eram tão seguras como ferver água na Praça Vermelha”, diz Jason, afirmando ainda que “para além do risco que as centrais nucleares representam, não temos confiança nas práticas do Governo comunista”.
“Eles dizem-nos para estarmos tranquilos porque as centrais são geridas pelo Governo mas o Governo chinês é conhecido por esconder uma série de incidentes”, diz Jason.
No caso de Taishan, grande parte da crítica de diversos especialistas relaciona-se com o facto de elementos principais da central terem sido fabricados na China. Para Chao, “existe falta de confiança nas fábricas chinesas.”
Por isso mesmo, reforça que “devemos estar preparados para desastres nucleares e, particularmente no caso de Taishan, porque vai utilizar tecnologias novas e não provadas.”

A única possibilidade

É precisamente o facto de a central de Taishan utilizar tecnologias novas que descansa o professor Wang Zishi, da Universidade de Macau (UM), que nos foi indicado como, provavelmente, a voz mais autorizada neste tipo de assuntos em Macau.
“Desastres como Fukushima e Chernobyl não são possíveis nesta zona”, diz o professor alegando que “não existe historial de tremores de terra nesta região”. Quanto a Chernobyl, diz Wang Zhishi, “a fábrica era muito antiga. Não acredito que isso possa acontecer em fábricas modernas como a de Taishan”.
O professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UM diz mesmo que “a energia nuclear é mais limpa do que combustíveis fosseis”, alegando ser a única solução possível para “responder às necessidades de desenvolvimento económico na região”.
Confrontado com a possibilidade de acidentes, Wang Zhishi, recusa-se a pensar nisso garantindo que “as fábricas foram construídas após estudos de impacto dos riscos”.
Relativamente à necessidade do Governo divulgar um plano de emergência junto da população, praticamente a única pergunta que o HM lhe endereçou, o académico acabou por dizer que “não sei que plano Macau deve ter mas deve existir alguma forma de contingência”, dizendo ainda que “devemos fazer uma avaliação rigorosa para perceber os riscos”.

Articular com Hong Kong

Para Agnes Lam o plano, a existir, deveria mesmo incluir Hong Kong.
“Os Governos de Macau e Hong Kong deveriam coordenar-se num plano de gestão de crises e prepararem exercícios de evacuação”, diz a académica.
Para Scott Chiang, da ANM, o Governo devia ser claro para convencer população que tem, em primeiro lugar, capacidade para desenvolver trabalhos de descontaminação e, em segundo, competência para assegurar o abastecimento de comida, água e outros bens vitais que podem vir a ser afectados em caso de um acidente em Taishan”. No fundo, diz Chiang, “apenas queremos saber se existem planos que nos permitam continuar a viver as nossas vidas”. A DSPA voltou a ser inquirida pelo HM sobre o plano de contingência e continuamos à espera de uma resposta.

15 Jun 2016

Património | Queda de telhado de igreja foi “lição” para IC

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] queda de parte do telhado da igreja de Santo Agostinho de Macau, classificado pela UNESCO, “serviu de lição” ao Instituto Cultural (IC) da cidade, que admite a necessidade de aumentar e melhorar as inspecções ao património.
“Este acidente é uma lição para o Instituto Cultural. Após a avaliação das causas, [concluímos que] podemos aumentar as inspecções”, disse ontem Leong Wai Man, chefe do departamento do património cultural, sublinhando a necessidade de aumentar a equipa técnica, modernizar o equipamento e investir em quadros qualificados para a salvaguarda do património.
Além da Igreja de Santo Agostinho – onde parte da estrutura do telhado ruiu no dia 29 de Maio devido às chuvas intensas –, o IC diz-se preocupado com outros quatro imóveis, “em risco de severos danos”: Igreja de Santo António, Seminário de São José, capela de Nossa Senhora da Penha e Armazém do Boi.
“Estamos preocupados que haja mais riscos no futuro. Depois do acidente em Santo Agostinho, receamos que estes cinco espaços possam sofrer mais danos. Já fizemos alguma manutenção”, indicou.
Actualmente, o departamento de protecção do património conta com 40 funcionários, cerca de dez responsáveis pelas duas fiscalizações anuais aos 128 imóveis classificados como património de Macau.

Mau tempo

Após uma avaliação, o IC concluiu que a queda das vigas que suportavam o telhado de Santo Agostinho, uma igreja que data de 1591, se deveu à chuva intensa que se fez sentir naquele período.
“Entre Maio e Junho foram activados seis sinais de chuva intensa. No dia do acidente houve um grande volume de chuva, essa é a causa principal. Foi descoberto um buraco na parede, de suporte da viga, que estava alagado”, explicou a responsável.
Segundo Leong Wai Man, a igreja foi submetida a inspecções em 2015, não tendo sido detectado qualquer “fenómeno anormal” ou praga de formiga-branca, um problema comum em Macau.
As obras de reparação devem durar três meses, sendo também inspeccionada a restante área do telhado para evitar problemas semelhantes. Caso não sejam necessárias mais intervenções, a igreja voltará a abrir ao público.
Um milhão de patacas é o valor estimado para a reparação da Igreja, referiu Leong Wai Man, ao Canal Chinês da Rádio Macau. Apesar do imóvel pertencer à Diocese de Macau, o IC avançou com a reparação, já que “o caso é muito urgente”, negociando depois os custos com o proprietário, que é quem “tem o dever de fazer a manutenção”.
Segundo o Governo de Macau, o dano será reportado primeiro ao Ministério da Cultura da China e só depois à UNESCO.

15 Jun 2016

Zona Norte | Gestora de prédio e moradores em pé de guerra

Moradores e a empresa de gestão de um edifício habitacional na zona norte de Macau, bem perto das Portas do Cerco, continuam a não se entender. Desta vez a empresa vem falar de falta de comunicação

[dropcap style=´circle´]A[/dropcap] empresa de gestão do edifício Pou Fai, junto à fronteira com a China, veio defender-se das acusações de moradores ao jornal Ou Mun. Ieong Ki, gerente da empresa I On Kui, referiu que os conflitos se devem à falta de comunicação com os proprietários dos apartamentos. Em resposta à Associação dos Condóminos do edifício Pou Fai Seaview Garden, Ieong Ki garante que os lugares de estacionamento do prédio, uma das matérias em discussão, nunca foram arrendados a outras pessoas. Outra das queixas dos moradores dizia respeito a um alegado uso ilegal de uma sala de armazenamento de lixo para alojamento, a troco de renda.
Quanto a esta segunda queixa, a gerente confirma o aluguer e explica as razões. “A nossa empresa disponibilizou na sala de armazenamento de lixo um alojamento para os trabalhadores da limpeza, porque as suas casas estão afastadas do edifício Pou Fai. Os empregados têm de trabalhar três vezes por dia e precisam de um período de descanso, pelo que este alojamento é conveniente para eles”, explicou Ieong Ki ao jornal de língua chinesa.
“Quando percebemos que os moradores estavam insatisfeitos sobre esta situação, a empresa pediu de imediato para os trabalhadores retirarem as suas coisas da sala para podermos albergar os equipamentos de limpeza”, referiu ainda Ieong Ki.
A gerente da empresa explicou que o proprietário com maior número de casas é também o que detém o maior número de lugares de estacionamento, pelo que a empresa I On Kui não tem qualquer direito de vender ou arrendar estes lugares para outras pessoas. Quanto à presença de veículos abandonados na zona de estacionamento, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) já foi chamada a intervir, mas referiu que, como se trata de um espaço privado, o Governo nada pode fazer.

Estranho arrendamento

O terraço do edifício Pou Fai está ainda a ser arrendado a uma empresa de telecomunicações para esta instalar equipamentos. Ieong Ki explicou ao Ou Mun que a comissão de condóminos começou a exigir o pagamento da renda no ano passado. “A nossa empresa começou a receber as rendas entre 2013 e 2015, e o dinheiro sempre foi entregue aos moradores. Usámo-lo também para comprar alguns presentes para os idosos durante as férias. A nossa empresa nunca teve nenhum interesse nestas rendas”, disse a gerente da empresa.
Os proprietários do edifício Pou Fai têm vindo a pedir a saída da empresa I On Kui acusando-a de má gestão e de abuso das infra-estruturas do prédio. O pedido, feito com a ajuda de um advogado, gerou num conflito que obrigou mesmo à chamada da polícia. Ieong Ki garante que a empresa ainda não saiu porque isso iria significar vários despedimentos, com consequências negativas para as famílias.

15 Jun 2016

Transgressões de peões descem 67%

[dropcap style=´circle´]S[/dropcap]egundo o Departamento de Trânsito do Corpo de Polícia de Segurança Pública (PSP), entre Janeiro e Maio deste ano, o número de acusações relativas ao atravessar a rua ilegalmente diminuiu consideravelmente em comparação ao período homólogo no ano passado. As autoridades registaram uma baixa de 67% neste delito, enquanto que o número de condutores que não respeitaram as regras aumentou em 23%. Actualmente, encontram-se instrutores de trânsito vestidos devidamente equipados a avisar os transeuntes quanto ao cuidado a ter a atravessar as ruas bem como a usarem as passadeiras. De acordo com a lei corrente quem atravessar a rua ilegalmente incorre numa multa de 300 patacas.

15 Jun 2016

DSEJ quer fim de modelo de repetição de matérias

[dropcap style=´circle´]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) garantiu, em resposta à interpelação escrita do deputado Zheng Anting, que um dos objectivos principais da execução das exigências das competências básicas é cultivar a criatividade dos alunos, por forma a incentivar o seu potencial de aprendizagem. A DSEJ garante que a intenção é acabar com o modelo pedagógico designado de “duck stuffing” – um método de ensino em que os alunos apenas precisam de aprender de cor os conteúdos que os professores indicam que vão estar nos exames.
Na resposta ao deputado, a DSEJ garantiu ainda que já promoveu várias acções de formação dirigida a professores, para que estes tenham a capacidade de orientar os alunos e estes possam desenvolver o pensamento crítico, a criatividade e colocar questões na sala de aula.

Má pedagogia

Na sua interpelação escrita, o deputado Zheng Anting falou das consequências negativas da adopção do método “duck stuffing”. “Actualmente muitas escolas adoptam o modelo pedagógico designado por duck-stuffing, um método em que os alunos precisam apenas de aprender de cor os conteúdos que os professores indicam que vão constar nos exames. Mas com este modelo de aprendizagem os alunos ficam a saber muito mas não compreendem nada. De facto este modelo priva os alunos do seu tempo de descanso e da vida extracurricular, e resulta na sua falta de capacidade para pensar e analisar de forma independente, enfraquecendo a sua competitividade social. O Governo deve analisar e avaliar esta situação e dar instruções às diversas escolas para que introduzam melhorias o quanto antes. O Governo já fez isso?”, questionou.
A DSEJ confirmou ainda que as novas exigências sobre as competências académicas básicas no ensino infantil serão plenamente concretizadas até ao ano lectivo de 2019/2020. A partir de Setembro deste ano, os três primeiros anos do ensino primário vão executar as novas regras, as quais serão implementadas até ao ensino secundário a partir do próximo ano lectivo. Até 2020 as regras serão implementadas nos 15 anos de escolaridade gratuita. Zheng Anting questionou também o Governo sobre os currículos e os materiais pedagógicos adoptados.

Angela Ka
15 Jun 2016

Henrique Nunes, treinador do Benfica de Macau: “Joga-se bom futebol para as condições que temos”

Aos 61 anos, e depois de uma vida dedicada ao futebol com títulos pelo meio, Henrique Nunes estava decidido a encerrar a carreira quando chegou o convite do Benfica de Macau. Uma experiência gratificante mas frustrante, pois a “falta de condições de treino não deixam nem atletas nem treinadores evoluírem”. Caso contrário, há jogadores locais que até poderiam ambicionar ligas mais competitivas

Várias vezes tem sido referido que a sua adaptação a Macau não foi fácil. Quer consubstanciar?
Não foi e continua a não ser. Vamo-nos adaptando, mas continua a ser muito difícil. A grande dificuldade é a falta de espaços para treino, que é diária, e o facto de mesmo os que temos serem extremamente duros. Reconheço que é igual para todos mas é difícil conviver com esta realidade. Além disso, o facto de os atletas locais não terem o culto do treino também não ajuda. Para eles, o futebol é algo lúdico. Não estava habituado a isso uma vez que sempre treinei equipas profissionais.

A falta de espaços é então o principal problema…
Sim, naturalmente. Veja o nosso caso esta semana: temos um jogo na quinta-feira e terça e quarta não pudemos treinar. Se quisermos fazer alguma coisa temos de ir para a pista correr quando a nossa finalidade é jogar futebol. Estas dificuldades fazem com que o futebol em Macau não tenha uma evolução maior. Mas, já disse e volto a dizer: em Macau joga-se muito bom futebol para as condições de treino que as equipas têm. henrique nunes facebook

Que solução vê para isso? Macau tem pouco espaço mas poderia ser feito algo diferente?
Sabemos que Macau tem problemas de espaço. Mas existem formas de contornar isso. A ideia do Desporto para Todos é muito boa mas, se realmente existe uma selecção de Macau e se se pretende evoluir a modalidade, deveria existir preferência de treino pelo menos para os dois principais escalões. Às vezes chegamos ao terreno do hóquei e estão lá seis ou sete amigos a tentarem acertar na barra… Se a ideia for fazer evoluir a modalidade em Macau deviam existir espaços garantidos para as equipas da primeira e da segunda divisões.

Têm de marcar campos todos os dias, não é?
Todos os dias e às 6 da manhã. Ainda assim, frequentemente chegamos a essa hora e os campos já estão marcados. Planear o microciclo semanal assim é muito difícil porque nem sabemos que tipo de campo vamos ter na semana seguinte. É uma anarquia. Comparando com equipas dos distritais em Portugal, lá quase todas têm mais de um campo para treinarem. Com relvados sintéticos, naturalmente.

A relva sintética seria a solução para Macau?
Acho que é a única solução. Especialmente se continuarmos a privilegiar o Desporto para Todos. Com a intensidade de utilização que existe actualmente, os relvados sintéticos de ultima geração iriam resolver muitos problemas e até darem mais horas às equipas para treinarem.

Que tipo de reacções têm da associação de futebol?
Reportamos isto à nossa direcção e eles comunicam à associação. Mas, pelo que me apercebo, a associação está muito mais preocupada com o Desporto para Todos do que com a evolução do futebol local.

Pelo que vê dos jogadores que treina e observa nas outras equipas, acha que alguns, reunidas as condições de treino, poderiam ambicionar ligas mais competitivas?
Acho que sim. Comparando com Portugal, onde treinei sempre, temos aqui jogadores com condições. Não para chegarem já à Primeira Liga mas claramente para a Segunda. E, com algum trabalho, penso que chegariam à Primeira com alguma facilidade. Mas também não há dúvida que os jogadores ao chegarem a Macau estagnam. Não pode haver evolução do futebol em Macau enquanto não existirem espaços para treinos diários.

É frustrante, ou não?
É muito. Os primeiros meses foram muito difíceis e pensámos várias vezes em irmo-nos embora. Tivemos foi a felicidade de apanhar um grupo de trabalho que está junto há muito e que nos ajudou a suprir as dificuldades. Hoje posso dizer não estar arrependido de ter ficado mas, mesmo do ponto de vista da evolução como treinadores, é muito frustrante. O exemplo do Tiago. Veio como treinador de guarda-redes. Mas como pode ele treiná-los num piso quase tão rijo como o mármore e com balizas de sete? É frustrante. Macau oferece muito poucas condições aos seus atletas.

Existem equipas a mais em Macau?
De forma global, não há dúvida nenhuma. Poderiam existir menos divisões com menos equipas mas muito mais estruturadas para podermos ter um campeonato mais forte. Mesmo no caso da Liga Elite, um campeonato de 10 equipas, deveria privilegiar um play-off com as quatro primeiras.

Que lhe passou pela cabeça quando recebeu o convite de Macau?
Estou com 61 anos e já tinha assumido o final de carreira. Todavia, fiquei a pensar no assunto, falei com muitos amigos, alguns com negócios na região e todos me diziam para vir porque Macau era interessante e até seria uma forma de acabar bem a carreira. Pensei e achei que se as condições fossem agradáveis, porque não, e acabei por vir.

Está mesmo decidido a encerrar a carreira, então?
Sim, mais um ou dois anos e acabo.

Não quer ser um Trapattoni, então?
Não, até porque tenho quatro netinhas e elas ocupam-me muito tempo. Também comecei como jogador aos 14 anos, depois dei aulas de educação física, fui bancário mas quando subi o Feirense à I Divisão acabei por me dedicar como profissional. Mas já são muitos anos e esta profissão é muito desgastante.

Mas já existe contrato para a próxima época, ou não?
Tudo aponta que ficarei pelo menos mais um ano mas provavelmente será a minha ultima época. Não está tudo definido, já conversámos mas tudo indica que vou ficar mais um ano em Macau.

Que é preciso para ser um bom treinador?
Ora bem…. Gostava de ser melhor do que sou…

Porque diz isso?
Nestas coisas os momentos contam. Reconheço que quando apareci no futebol e subo o Feirense à I Liga se fosse hoje se calhar teria chegado a uma equipa maior. Hoje com grande facilidade um treinador que ainda não fez nada aparece na I liga com uma facilidade tremenda porque os empresários dominam muito o desporto mas eu nunca tive um. Caso contrário talvez tivesse tudo uma ascensão maior. Mas não é fundamental ter-se sido jogador para se ser um bom treinador mas é um dos princípios. Há espaço para todos claro, até porque hoje um em dia um treinador sozinho não consegue dar conta do recado. Mas acho importante ter-se vivido o desporto como atleta, a vivência do balneário, do jogo, dos treinadores que tivemos. E depois é o gosto, o trabalho e as ideias de cada um.

E se depois lhe aparecer uma proposta de Portugal? Termina? Ainda pode vir a arranjar um empresário?
(risos) Já não. Isto cansa um pouco…

A sério?
(risos) De facto, apesar da idade que tenho ainda me sinto com força para treinar. E sinto essa necessidade. Uma das grandes razões que me levou a vir para Macau foi estar parado há quase um ano. Estava farto do sedentarismo e tinha saudades.

Há uma relação muito especial com o Feirense…
Há. Mais de metade da minha carreira foi passada lá e como sou natural de Santa Maria da Feira, é o clube do meu coração e o clube que mais gosto de representar. Como atleta representei sempre o Feirense. Deixei de jogar com 28 anos porque tive de colocar uma prótese na anca. Depois comecei a treinar a formação, felizmente com algum sucesso, e fui convidado a assumir a primeira equipa, tinha eu 32 anos. Logo no primeiro ano subimos à Primeira Liga.

Foi campeão quantas vezes?

Pelo Gondomar, Arouca e Feirense, onde subi duas vezes, uma à Primeira e a outra à Segunda Liga.

Qual o treinador com melhores ideias?
O Guardiola. Para mim é o melhor. Foi um homem que trouxe uma ideia de jogo completamente diferente do que estávamos habituados e com grande sucesso.

O Mourinho é mesmo um treinador defensivo?
Fez grandes épocas e é um grande treinador, isso nem está em discussão, mas gostei essencialmente dele no Porto e nos primeiros anos no Chelsea quando as equipas dele jogavam muito à bola. Claro que foi campeão europeu no Inter mas estas suas equipas mais recentes não praticavam um bom futebol.

Que se terá passado? O processo dele mudou? Os jogadores…
Não faço ideia mas, por exemplo, não gostava nada do futebol que praticava o Inter. Era uma equipa muito defensiva que, dizem, devia-se à idade elevada dos jogadores. Mesmo no Real Madrid, existiam muitos bons jogadores mas nunca vi a equipa com um fio de jogo para chegar ao golo. Acho que era mais fruto da qualidade individual dos jogadores do que propriamente outra coisa.

Para terminar o assunto Mourinho, foi uma boa aposta para o Manchester?
Sim, ele é sempre uma boa aposta. Além disso, vai numa boa altura. O Manchester não tem ganho nada e o Mourinho tem a capacidade para colocar a equipa a ganhar.

“Poderiam existir menos divisões com menos equipas mas muito mais estruturadas para podermos ter um campeonato mais forte”

Quais devem ser as primeiras coisas que um treinador deve fazer quando chega a um clube com as condições essenciais para trabalhar?
O princípio é sempre formar o plantel de acordo com os objectivos da direcção mas, claro, tendo em conta os orçamentos e a sua respectiva adequação.

Como se gere o processo quando um treinador diz que precisa de reforços para atingir objectivos? Como se gere isso com os jogadores que já lá estão? Não se sentem menorizados?
Por isso é que se deve montar o plantel no princípio. A meio da época deve ter-se algum cuidado.

Europeu. Como o está a ver?
Mal. Não tenho visto muitos jogos por causa do adiantado da hora. Mas dos que vi ainda não vi grandes jogos. O melhor terá sido o do País de Gales. De início achava a Espanha e a Alemanha como favoritos mas depois de ter visto a Espanha fiquei um bocado na dúvida em relação a eles. Já da Alemanha gostei.

E Portugal?
Não estou tão optimista como o Fernando Santos mas acho que podemos fazer um bom campeonato. A equipa tem uma boa mescla de jogadores novos e outros mais experientes, todos com muita qualidade.

Não está optimista então, porquê?
Porque ao longo dos anos as nossas selecções chegam a esta fase e vão-se abaixo. Mas pode ser que a mudança de mentalidades que chegou aos clubes tenha agora também chegado à selecção. Mas não tenho grandes expectativas. Temos capacidade, mas…

Porque há falta de pontas de lança no futebol português? Defeitos de formação, mentalidade dos treinadores, o quê?
É pena termos tantos jogadores de qualidade no meio campo e não surgirem pontas de lança. Mas passa pela formação, pela necessidade de vocacionar atletas para jogarem naquela zona porque, por norma, toda a gente quer jogar no meio campo. Tem-se mais bola, os defesas não andam tão em cima… Por norma, quem gosta de jogar futebol e tem qualidade, quer ir para o meio campo. Têm de andar mais mas sentem-se mais à vontade.

O Éder foi uma boa escolha para a selecção?
Acho que sim. Estou com o Fernando Santos. Pode não ser o ponta de lança de sonho que todos desejamos mas é o melhor que temos disponível.

“A associação está muito mais preocupada com o Desporto para Todos do que com a evolução do futebol local”

O treinador que lhe causou mais problemas em jogo?
Considerando equipas de nível equiparado, o Victor Oliveira. Só ele, por acaso, tem mais jogos na II Liga que eu.

Ele parece não querer outra coisa…
Ele é que está correcto. Assim, acaba por arranjar bons projectos para subir, exige o plantel que quer e ganha muito mais do que se estivesse na Primeira. Ele é pago na Segunda ao nível da Primeira.

Então é o mais difícil, porquê?
Porque monta equipas muito homogéneas. Não praticam um futebol exuberante mas são muito coesas. Não marcam muitos golos mas também não sofrem muitos. São equipas compactas, difíceis.

E o Jesus? É assim tão bom como ele diz?
(risos) Ele é um bom treinador. Gosto muito da forma como as equipas dele jogam mas no restante acho-o extremamente convencido. Por isso, acaba por não ser uma pessoa simpática no nosso meio. Há muitos de nós que não o vêem com bons olhos porque ele, para atingir os seus fins, se tiver que atropelar, atropela. E depois fala demais e acaba por dizer coisas que não deve.

A sua melhor recordação do futebol
Tive duas subidas à I Divisão com o Feirense. Uma como jogador, outra como treinador e esta foi, claramente, a que me deu mais gozo além de termos sido campeões nacionais da II Divisão.

15 Jun 2016

Cinema | Candidaturas abertas para filmes de Macau

Agosto é a data marcada para a realização de mais uma Feira de Investimento na Produção Cinematográfica Guangdong-Hong Kong-Macau num abrir portas à produção que se faz na RAEM

[dropcap style=´circle´]A[/dropcap] edição de 2016 da Feira de Investimento dedicada à sétima arte já abriu as inscrições de candidatura aos projectos cinematográficos que precisem de “uma mãozinha” para a sua concretização, num convite à participação dos realizadores locais.
O evento de cariz anual e que desde 2014 apoia a produção do cinema de Macau conta na organização com o Instituto Cultural do Governo da RAEM (IC), a Administração da Imprensa, Publicações, Rádio, Cinema e Televisão da Província de Guangdong e o Hong Kong Film Development Council que num objectivo comum proporcionam uma plataforma de alta qualidade e conveniente para o intercâmbio e a cooperação entre produtores e investidores das três regiões. A organização adianta ainda que a Feira de Investimento representa uma plataforma para a criação de oportunidades e pontes para investimento e cooperação na área do cinema, ao mesmo tempo que estimula talentos e promove o desenvolvimento da indústria nas três regiões.

Para criadores locais

Os candidatos de projectos cinematográficos de Macau à iniciativa deste ano devem ter idade igual ou superior a 18 anos e ser residentes da RAEM. Cada candidato deverá ser o realizador do projecto e ter no CV a realização prévia de filmes de ficção já exibidos publicamente e com a duração de pelo menos 20 minutos, sendo que a produção a apresentar pode ainda estar em fase de produção. A selecção dos 10 finalistas é realizada por um júri da indústria cinematográfica que irá ter como critérios de avaliação a criatividade do argumento, a experiência e capacidade executiva do candidato, a experiência e capacidade de execução do produtor e da empresa produtora, bem como razoabilidade do orçamento.
Os candidatos dos 10 projectos cinematográficos de Macau recomendados irão reunir-se na Feira de Investimento para conhecerem e negociarem com investidores das regiões envolvidas. Todos os anos a Feira de Investimento convida 30 produtores e mais de 60 investidores. Em 2015, através de uma combinação com sucesso, foi assinada uma Carta de Intenções entre o produtor de “San Chong Mei Ying” de Guangdong e o Grupo de Cinema Zhujiang de Guangdong, Cia. Lda.
A recolha de inscrições teve início a 14 de Junho e termina a 28, estando abertas a todos os membros da indústria cinematográfica de Macau.

15 Jun 2016

MOMs organiza formação em massagens para bebés

[dropcap style=´circle´]P[/dropcap]orque as crianças “são o melhor do mundo” e o seu bem estar também, a Associação Internacional de Massagem Infantil (AIMI) e a MOMs – Macau Maternity Support, promovem entre 1 e 4 de Dezembro uma formação certificada em Massagem para Bebés. O evento promovido pela AIMI já conta com acções um pouco por todo o mundo e é realizado pontualmente na vizinha Hong Kong. Maria Sá da Bandeira, membro da Moms, após frequentar uma destas acções junta-se a Rita Amorim e resolvem trazer a “mais valia de bem estar” a Macau.
Maria Sá da Bandeira diz ao HM que “ é um curso de interesse para qualquer pessoa que trabalha ou tem qualquer tipo de contacto com crianças ou bebés.” O convite para dar a formação foi dirigido à responsável de Hong Kong , a sueca Mia Elmsater que conta com uma vasta experiência na área sendo ainda especialista nas massagens dirigidas a crianças com necessidades especiais e prematuros.
Na génese desta formação dirigida a uma população tão especial estão os “benefícios evidentes”. As organizadoras salientam o bem estar físico que proporciona às crianças: “ por exemplo nas cólicas dos bebés, se o cuidador souber aplicar a massagem correcta irá acalmar a dor”, ilustra Rita Amorim.

Cuidados especiais

Por outro lado está associada a esta actividade a promoção de laços emocionais bem como o desenvolvimento sensorial. No que respeita a crianças com necessidades especiais, Maria Sá da Bandeira comenta que a proximidade entre cuidador e bebé promovem o olhar, o toque , o cheiro, etc., sendo que esta formação “abre os olhos para tudo isso”.
Entre as componentes teórica e prática, estes quatro dias são dedicados ainda à compreensão mais aprofundada do desenvolvimento da criança Apesar da iniciativa ter como cerne bebés até ao ano de idade , inclui também “pequenas introduções no que respeita aos cuidados especiais” que depois poderão ou não ser desenvolvidas conforme o interesse de cada um, adianta Maria Sá da Bandeira.

15 Jun 2016

Homossexual processa hospital por “tratamento” à orientação sexual

[dropcap style=´circle´]U[/dropcap]m chinês homossexual processou um hospital após ter sido submetido a um tratamento de 19 dias por uma “desordem na orientação sexual”, em que foi atado à cama, sujeito a medicação e ameaçado com violência.
Segundo a agência oficial Xinhua, o homem, identificado com o pseudónimo Yu Hu, foi forçado pela família a receber tratamento na cidade de Zhumadian, província central de Henan, no passado mês de Outubro, após se ter divorciado da sua esposa.
O homem, de 32 anos, saiu do hospital depois de o seu companheiro ter contactado vários grupos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) e de estes terem advertido a polícia.
Yu considera que a sua liberdade pessoal foi desrespeitada por ter sido obrigado a permanecer atado e ao receber ameaças de violência caso não cooperasse, pelo que apresentou queixa a um tribunal local no mês passado, que entretanto aceitou o caso.
“Fizeram-no simplesmente porque sou homossexual. Não se fala de quantas pessoas mais terão sido sujeitas a isto. Têm de assumir responsabilidade”, apontou Yu.
“A liberdade pessoal dos cidadãos chineses está protegida por lei e não pode ser infringida pelos hospitais ou por familiares. É contra a lei internar alguém contra vontade do próprio”, afirmou o advogado, Huang Rui.
Este não é o primeiro caso de denúncia de tratamentos para “corrigir” a orientação sexual em unidades de saúde chinesas.
Em 2014, um tribunal de Pequim obrigou um grupo de psicólogos da cidade de Chongqing, centro do país, a desculpar-se por tentar alterar a orientação sexual de um ‘gay’.
Na China, a homossexualidade deixou de ser considerada uma doença mental em 2001, ainda que casos de discriminação sejam recorrentes, segundo grupos que defendem os direitos dos LGBT.

15 Jun 2016

Xi Jinping destaca relação “muito madura” com Alemanha

A chanceler alemã Angela Merkel terminou ontem aquela que foi a sua nona visita à China. O reforço da cooperação económica esteve no centro da agenda com acordos assinados entre empresas das duas nações no valor de mais de 13.000 milhões de euros

[dropcap style=´circle´]O[/dropcap] Presidente da China, Xi Jinping, afirmou que as relações do país com a Alemanha estão numa fase “muito madura”, durante um encontro com a chanceler Angela Merkel, noticiou ontem a imprensa oficial chinesa.
A reunião, na segunda-feira, à porta fechada, em Pequim, fez parte da visita oficial de Merkel ao país asiático iniciada no domingo e que se concluiu ontem com uma passagem por um parque industrial com investimento alemão na cidade de Shenyang, nordeste da China.
A responsável alemã reuniu-se também com o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, com quem assistiu à assinatura de 24 acordos de cooperação, e participou num fórum empresarial, durante o qual empresas dos dois países subscreveram 96 contratos com um valor total de 13.200 milhões de euros.

Mercado e modernidade

Durante o encontro, Xi e Merkel frisaram as possibilidades de cooperação que oferecem as estratégias de modernização industrial de ambos os países, “Indústria 4.0” e “Made in China 2025”, destacou a imprensa local.
Xi referiu ainda a preocupação de Pequim em que a União Europeia cumpra com o protocolo de adesão do seu país à Organização Mundial do Comércio (OMC), que prevê o reconhecimento do estatuto de economia de mercado à China antes de Dezembro de 2016.
Segundo os jornais locais, Merkel reconheceu a importância da implementação daquele acordo.
Ambos abordaram ainda outras áreas de cooperação, nomeadamente no ensino, facilitação na concessão de vistos e na medicina tradicional chinesa.
Além disso, comprometeram-se a trabalhar conjuntamente para coordenar as cimeiras do G20, que este ano se realiza na cidade chinesa de Hangzhou e que a Alemanha acolherá em 2017. Esta visita de Merkel à China é a nona desde que foi eleita chanceler.
 

15 Jun 2016

China | FMI reitera alertas sobre riscos do aumento de crédito

[dropcap style=´circle´]O[/dropcap] Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou ontem para os riscos na economia chinesa, a segunda maior do mundo, devido ao rápido aumento do crédito e endividamento, que tornam o seu “futuro incerto” a médio prazo.
Num relatório apresentado ontem em Pequim, o FMI reconhece que as perspectivas imediatas do gigante asiático melhoraram, fruto de medidas de estímulo, mas que existe a necessidade de abordar os excessos de crédito e capacidade produtiva.
O número dois da instituição, David Lipton, apontou em comunicado para os “progressos desiguais” nas reformas levadas a cabo pelo Governo chinês, que resultaram em que as ameaças se mantenham.
O FMI assinalou que as perspectivas a médio prazo para a economia chinesa são afectadas pelo rápido aumento do crédito, os excessos de capacidade industrial e um sector financeiro “cada vez maior, opaco e interconectado”.
Neste sentido, o organismo destacou o forte aumento do crédito, que em 2016 está a crescer a um ritmo recorde, e aconselhou a que este seja “substancialmente diminuído”, para que se ajuste ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

Soluções obrigatórias

O FMI advertiu que “é imperativo” para o país solucionar o problema de uma dívida corporativa que, “apesar de gerenciável, é alta e está a crescer rapidamente”.
A instituição com sede em Washington também instou Pequim a fortalecer a capacidade de resistência dos bancos, e das instituições financeiras no geral, aos riscos, e a incentivar ao reconhecimento de potenciais perdas.
No âmbito fiscal, o Fundo aconselhou ao aumento da responsabilidade dos governos locais nos gastos e receitas e à expansão do sistema de segurança social.
“A China encontra-se numa fase crucial no seu caminho para o desenvolvimento”, afirmou Lipton, que elogiou os avanços realizados pelo país na transição de um modelo assente nas exportações para um voltado para os serviços e com um mercado de capitais aberto.
Lipton assegurou que a taxa de câmbio da moeda chinesa, o yuan, tornou-se “mais flexível” desde as alterações introduzidas pelo banco central chinês no passado Verão e que as autoridades estão a melhorar a qualidade das suas estatísticas e a sua política de comunicação com os mercados.

15 Jun 2016

Fundador do Alibaba aposta na recolha de dados

[dropcap style=´circle´]O[/dropcap] fundador do gigante de comércio electrónico chinês Alibaba disse ontem que a sua estratégia para o futuro não passará por vender mais nos seus portais, mas sim arrecadar dados.
Dos três pilares da sua estratégia, os dados são o mais importante, explicou Jack Ma durante um discurso perante centenas de investidores e executivos da empresa, reunidos na sede, em Xixi, nos arredores de Hangzhou, na província de Zhejiang.
“Hoje em dia é possível ter um negócio com o maior rendimento [económico] do mundo”, no entanto a empresa já não é “um negócio baseado no rendimento, mas sim baseado em dados”, afirmou na sua intervenção transmitida em directo via internet o fundador de Alibaba, que em 2014 teve um entrada fulgurante na Bolsa de Nova Iorque.

Três vectores

Jack Ma sublinhou os três pilares que o grupo contempla para o seu desenvolvimento: a sua globalização (além da China, onde tem o seu negócio principal), a sua extensão às zonas rurais do país, com 700 milhões de potenciais usuários e, sobretudo, a adição de duas tecnologias que, em sua opinião, mudarão o sector.
Trata-se da computação em nuvem (com enormes servidores virtuais) e de processamento, armazenamento e análises massivas de dados das transacções e actividades operadas em linha em tempo real (“Big Data”).
Isto explica a sua estratégia de inversões desde 2014 em sectores tão díspares como as finanças, a logística, os media, o desporto e o cinema, para optar pela obtenção de dados, já que, para Ma são estes que determinam o futuro do sector.
Relativamente à extensão das zonas rurais da China, disse que Alibaba deveria concentrar-se primeiro em estender-se pelo seu próprio país, graças à telefonia móvel com acesso à Internet, antes de abordar outros mercados rurais em países prometedores, como a Índia ou a Indonésia, onde o mercado e a cultura são diferentes do da China.

15 Jun 2016

O quinto romance: feminismo, sátira ou pornografia?

Julie O´yang

[dropcap style=´circle´]金[/dropcap]瓶梅, Jin Ping Mei, ou Ameixa em Vaso Dourado (também traduzida por Lótus Dourado) é um romance chinês naturalista, composto em chinês vernáculo (dialecto Wu) durante a Dinastia Ming (1368 – 1644). Foi escrito por 蘭陵笑笑生, “O Sátiro de Lanling”, pseudónimo do autor cuja identidade permanece desconhecida. Existem algumas versões anteriores deste romance, mas apenas em forma de manuscrito; a primeira colectânea impressa data de 1610. A versão integral é composta por 100 capítulos, compreendendo um total de mais de 1000 páginas.
Jin Ping Mei é considerado o Quinto Romance Clássico, no seguimento dos Quatro Grandes Romances Clássicos compostos por As Viagens do Rei Macaco ao Ocidente, Três Reinos, Shui Hu (À Beira d’Água) e Sonho na Câmara Vermelha. A sexualidade explícita que transparece das suas páginas granjeou-lhe uma notoriedade na China, equivalente a Fanny Hill no Ocidente. Desde a sua criação, há quatro séculos atrás, que tem sido interdito na China, embora seja replicado e continue a circular clandestinamente.
Ao contrário dos quatro romances clássicos, Jin Ping Mei tem permanecido um enigma devido aos seus subterfúgios literários, que abrem as portas a interpretações menos ortodoxas.
Por exemplo, as cenas de sexo detalhadas podem ser interpretadas como uma descrição da condição da mulher na China antiga. A história de Jin Ping Mei desenvolve-se em torno de Ximen Qing, um mercador rico e libidinoso que subiu a pulso na vida e que possui várias esposas e concubinas. As suas actividades sexuais trazem a cena três tipos de mulheres:

1. Li Ping’er e Han Aijie, que fazem sexo por amor. 2. Madame Lin, que faz sexo pelo sexo. 3. Muitas outras que fazem sexo por dinheiro. Pan Jinlian, a heroína da novela, combina os três tipos. Pan desfruta do sexo, acredita no amor e não se importa de fazer uns jeitos para melhorar o seu estilo de vida. Pan Jinlian é na verdade uma personagem complexa e, talvez por isso, o autor a tenha tratado de forma negativa. Dum ponto de vista actual, Pan Jinlian poderia ser considerada uma feminista avant-la-lettre. Enquanto cronista do período Ming, o autor revela algumas intenções moralistas, comparáveis às do pintor holandês, seu contemporâneo, Jan Steen, cujas pinturas foram em grande número fábulas sobre os perigos da falta de contenção. A ideia da libertação da mulher não ocorria a ninguém na China do séc. XVII e, como tal, o autor decidiu abrir fogo sobre outro tipo de problemas sociais como a hipocrisia e a corrupção que grassavam na China daquele tempo. Faz ainda mais sentido se considerarmos o pseudónimo que escolheu, 蘭陵笑笑生, “O Sátiro de Lanling”. Enquanto romance de cariz social, Jin Ping Mei é uma sátira reveladora e eloquentemente hilariante, mas nunca perdemos de vista que a ironia é inspirada pela realidade nas suas diferentes facetas.
O Beijing Dance Theatre levou recentemente a cena um bailado inspirado nesta obra. A adaptação elevou decididamente a fasquia, tratando o erotismo da antiga China de forma surpreendente. Apresentar este trabalho, onde se exibem bailarinos nus, a audiências oriundas de uma cultura sexualmente repressora, não é pêra doce. O bailado Jin Ping Mei foi interditado pelas autoridades logo a seguir à estreia. No entanto, o encenador Wang Yuanyuan parece ter seduzido os leitores de qualidade, amantes da sensualidade, procurados e encontrados num antigo livro proibido.

15 Jun 2016

Banido!

15616P17T1[dropcap style=´circle´]M[/dropcap]acau tem várias particularidades na sua forma de estar, ser e até de parecer. Já todos sabemos isso. Todavia, algumas delas, quando se nos esbarram nas ventas, não deixam de nos mostrar quão álacres são e, nesse seu garrido, o sinal que representam do que vai mal na terra.

Um desses pormenores é, claramente, a incapacidade quase geral de acolher críticas.

Em Macau, a regra para criticar é não o fazer, ou não o fazer em público, ou não o fazer de todo. As personalidades são frágeis, as capacidades, vulgarmente, ainda mais quebradiças e, portanto, alertar sobre a nudez do monarca é crime de lesa majestade.

Foi o que me aconteceu.

Desde há mais de uma dezena de anos que, regularmente, à excepção de um hiato ou outro, colaboro com a TDM nos relatos de futebol, especialmente em ocasiões como Euro ou o Mundial, ou mesmo noutras modalidades.

Recentemente, até me foi proposto informalmente tornar essas colaborações um pouco mais assíduas. Todavia, este ano não vou fazer qualquer relato do Euro e, pelo andar da carroça, e se a tracção não mudar, nunca mais irei fazer nada na TDM.

Questões pessoais não são chamadas para as páginas de um jornal. Nem numa coluna de opinião, dirá alguém e eu concordo. Mas isto não é pessoal. Para mim, é de interesse público.

O banimento, posso dizê-lo, pois que o poderia ter negado não o fez apesar de a isso instado, ficou a dever-se a um texto publicado nesta mesma página no passado dia 17 de Fevereiro deste ano, intitulado “Para que serve a TDM?”.

Caiu mal

Todavia, não deveria conter matéria suficiente para processo, caso contrário já teria sido notificado pelo tribunal. No texto, recordo, inquiria-me, de uma forma geral, sobre os propósitos da TDM, demonstrando a minha incompreensão pela total ausência da estação de Macau em apoiar de forma decisiva a produção local e por não ser sequer capaz de cumprir o desígnio de Macau de plataforma de contacto com os países de língua portuguesa exportando conteúdos para estes nem sequer de abrir portas à colaboração com estações do continente dada a exiguidade do mercado local para investidores. A crítica era mais dirigida à tutela do que propriamente à direcção executiva da estação.

Não foram feitas críticas pessoais mas sim institucionais. Todavia, foi o suficiente para ser considerado persona non grata na estação pública do território.

É absolutamente irrelevante para qualquer pessoa, comigo incluído, se colaboro ou não com a TDM, se faço ou não comentários, se produzo, ou não conteúdos para aquela estação. Mas não é irrelevante nem para mim, nem, julgo, para ninguém que se preocupe com uma sociedade livre, que se penitenciem pessoas por exercerem o seu direito à liberdade de expressão. Hoje sou eu, amanhã será outro.

A questão torna-se ainda mais caricata quando o responsável pela sanção assume cargos na Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau que, diz nos seus estatutos, tem por fim, entre outros, “defender e promover o livre exercício da profissão, a liberdade de imprensa e o acesso às fontes”.

Se calhar é excesso de zelo, se calhar ninguém lhe encomendou o serviço. Seja o que for, é tenebroso e não deixa de preocupar numa época em que cada vez mais se vêem atropelos à liberdade de expressão, aqui e noutras paragens, quando a sanção vem sub-reptícia e sem explicação formal, como quando se empurra o lixo para debaixo do tapete à espera que ninguém o levante.

Música da Semana

“Big Brother” (David Bowie – 1974)
I know you think you’re awful square
But you made everyone, and you’ve been anywhere
Lord, I’d take an overdose, if I knew what’s going down
(…)
Someone to lead us, someone to follow
Someone to fool us – some brave Apollo!
Someone to save us, someone like you

We want you Big Brother

15 Jun 2016

Bournemouth, café e padaria | Chan, proprietário: “Apostei num serviço barato”

Está aberto há duas semanas e já tem o rótulo de sucesso garantido. Chan é a cara do negócio que pretende facilitar a vida dos residentes. Comidas leves, acompanhadas por sumos frescos, para levar ou comer num simpático balcão

[dropocap style=’circle’]A[/dropcap]ssim que entramos somos recebidos com um sorriso. O cheiro a pão inunda-nos e o calor pede um sumo, bem fresco. Chan, o proprietário do mais recente café junto à igreja de São Lourenço, convida-nos a provar o “fresquíssimo sumo de manga”. “Querem um pão? É português e temos vários tipos de pães”, completa.
Esta era, de facto, a ideia que fez nascer o café e padaria Bournemouth. “Sou formado na área de hotelaria, e sempre trabalhei em grandes restaurantes. Um dia decidi que queria o meu próprio negócio e como tinha muito contacto com comida mais ‘ocidentalizada’ decidi criar este espaço”, começa por partilhar o proprietário.
A ideia era simples: os clientes tinham ao seu dispor uma quantidade variada de sumos frescos e tipos de café, sejam duplos, americanos, Moka ou um café com leite. Para acompanhar tinham pão português. “Esta combinação resulta sempre: sumo com pão”, brinca Chan. O fabrico não é próprio, alerta. “O pão encomendo da Metro Pizza. Eram os fornecedores do meu antigo trabalho e sempre gostei do serviço”, explica.
Pão com chouriço, vegetais e salsichas, leitão, mortadela e até bacon são algumas das variedades que se podem encontrar na montra. Ao lado está uma arca que se destaca, por estar vazia.
Chan olha e prontamente justifica. “Não tenho mãos a medir, numa semana e meia as mais de 500 garrafas desapareceram e percebi que as pessoas queriam mais do que um sumo e um pão”, conta. É desta necessidade que nasceu um menu mais completo composto por sandes, saladas e pratos rápidos.

Bom e barato

“Parece que as pessoas queriam sempre mais, e a verdade é que venho para aqui às 7 da manhã mas rapidamente vendo tudo. Estou a tentar encontrar uma forma de ter mais oferta agora, para a procura que tenho”, continua.
Quando questionado sobre a aceitação do serviço, Chan explica que a ideia era ser um serviço barato. “Apostei num serviço barato, porque comecei a perceber que com esta história das baixas na economia as pessoas querem gastar menos. Eu sentia isso no restaurante em que trabalhava, e posso dizer que era uma coisa de luxo”, continua.
“Eu sei que há sítios em que este serviço é mais caro. Mas não acho que haja necessidade para isso. A ideia é que seja mesmo barato. Que uma sandes um sumo sejam baratos, não precisam de ser caros”, explicou ainda.

Para todos

Sandes de frango, queijo e fiambre, bife com ovo, tomate, acompanhadas por uma salada César ou de fruta, por menos de 50 patacas? Sim é possível. Agora é possível.
Um balcão com poucas cadeiras, porque “a ideia não é que as pessoas fiquem por aqui, mas sim usufruam do serviço take away”, recebe que por ali que ficar. A decoração não podia ser mais simples e bonita. Paredes de ardósia para se poder diversificar, o uso da madeira e brincadeira com a luz dão um ar saudável, divertido e bastante familiar.
Uma pequena cozinha mostra todo o processo de confecção das sandes. E até as garrafas são originais. “Apostei no simples”, explica Chan.
Abrir um negócio não “é trabalho fácil” em Macau, mas com esforço as coisas vão-se conseguindo. Chan não esconde que não contava com tanta gente nos primeiros dias porque sempre teve em mente trabalhar para um grupo pequeno de pessoas. “Não sabia que isto iria ser assim, talvez tenha que fechar mais cedo para conseguir confeccionar mais para o dia seguinte, mas é importante que as pessoas também comprem o nosso pão”, argumenta.
Entusiasmado com o projecto, mas com medo de falhar, Chan nasceu para vencer e isso nota-se na sua dedicação ao trabalho. “Vamos ver, um dia de cada vez”, diz. E não será este o lema mais simples de viver?

15 Jun 2016

Livreiro desaparecido volta a Hong Kong

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m dos cinco livreiros de Hong Kong que desapareceu misteriosamente no ano passado, Lam Wing-kee, regressou ontem à antiga colónia britânica e pediu à polícia para deixar cair a investigação relativa ao seu caso. Lam Wing-kee é um dos cinco livreiros que publicaram obras críticas de Pequim e desapareceram no final do ano passado.
Mais tarde, ficou a saber-se que todos eles, ligados à livraria Causeway Bay, estavam detidos na China e que quatro dos cinco – incluindo Lam – eram alvo de uma investigação oficial sobre a importação de livros proibidos a partir de Hong Kong.
Lam Wing-kee é o quarto livreiro que volta a Hong Kong. Os outros três voltaram pouco tempo depois a cruzar a fronteira rumo à China.
O livreiro Lam Wing-kee encontrou-se com a polícia na manhã de ontem e, à semelhança dos colegas, pediu o arquivamento do seu caso de desaparecimento e afirmou não precisar de qualquer tipo de assistência por parte da polícia ou do Governo de Hong Kong.
As autoridades da antiga colónia britânica indicaram que vão continuar a investigar o caso dos livreiros.

Histórias de desaparecidos

Entre Outubro e Dezembro do ano passado, cinco funcionários ligados à editora Mighty Current e à livraria Causeway Bay Books – que publicava e vendia livros críticos de Pequim, – desapareceram em circunstâncias misteriosas.
Gui Minhai, naturalizado sueco, desapareceu em Pattaya (Tailândia) em Outubro. Lam Wing-kee, Cheung Chi-ping e Lui Por desapareceram no mesmo mês quando se encontravam no interior da China. Lee Bo, com passaporte britânico, desapareceu, em Dezembro, em Hong Kong.
Todos reaparecerem semanas mais tarde na China, sob tutela das autoridades chinesas, e surgiram na televisão estatal a assumir crimes, em confissões que familiares, amigos e associações de defesa dos direitos humanos suspeitam terem sido feitas sob coação, ou a afirmar estar voluntariamente a colaborar com investigações policiais na China.
As autoridades chinesas acusam os livreiros de estarem envolvidos num caso de comércio de livros proibidos na China, uma actividade que alegadamente realizaram sob ordens de Gui Minhai, considerado o cérebro da operação.
Há dias, a filha de Gui Minhai pediu ajuda às autoridades norte-americanas para pôr termo à detenção “não oficial e ilegal” do seu pai, num apelo feito perante a Comissão Executiva do Congresso sobre a China.
Angela Gui disse à comissão que lhe foi negado acesso consular ou representação legal e que oito meses depois ainda não sabe onde o pai está, como está a ser tratado ou qual é a sua situação legal.
Os misteriosos desaparecimentos despertaram em Hong Kong o receio de que as autoridades chinesas tenham recorrido a agentes clandestinos para deter os livreiros, o que constituiria uma violação do princípio “um país, dois sistemas”, ao abrigo do qual Macau e Hong Kong, que são regiões da China com administração especial, gozam de ampla autonomia.

15 Jun 2016

Estética | Saúde pública em risco devido à falta de legislação

Sempre gerou muita controvérsia na sociedade. A cirurgia estética é um prazer para uns, um erro para outros. Em Macau não há dúvidas: intervenções estéticas colocam em causa a saúde pública. Para evitar riscos é preciso legislar, frisam médicos

[dropcap style=’circle’]“Q[/dropcap]uando não acontece nada até o sapateiro pode ser médico”. A afirmação é de Fernando Gomes, médico, reagindo à falta de legislação para a especialidade de medicina estética.
Em termos práticos, o exercício da actividade privada de prestação de cuidados de saúde está regulada pelo Decreto de Lei 84/90/M, publicado em Dezembro de 1990, alterado em 1998 e 1999. Acontece que nada diz sobre medicina estética, mas não é por isso que não se deixa de a praticar em Macau.
“Não existe qualquer regulamentação sobre o exercício da especialidade, nem sequer da profissão. Qualquer um que tenha licença para o exercício o pode fazer [bastando ter uma licenciatura em medicina ou acreditação para tal], mesmo que não seja a sua especialidade”, começa por explicar Fernando Gomes. Reforçando a opinião está o também médico Rui Furtado que aponta esta “inexistência de lei” como uma “profundo risco para a saúde pública”.

Os culpados

O que seria suposto estar a acontecer em Macau, e no mundo da saúde, é que sempre que existe um acto médico o profissional deveria ser responsabilizado pelo mesmo acto, desde que praticado em instituições idóneas e responsáveis, e também responsabilizado pelo administrar medicamentos aos pacientes. Como? Com a assinatura da receita.
Em Macau só o hospital Conde São Januário é que passa estas receitas, sendo que todas as outras instituições não o fazem. “Como se sabe aqui ninguém passa receitas, tirando o hospital e, claro, aí há responsabilidade médica, na medicina privada não o fazem. O que acontece é que os utentes vão ao médico e no fim recebem uns comprimidos coloridos num saquinhos de plásticos (…) se houver algum problema, se o doente morrer ninguém sabe quem é que deu aquilo aos doentes. Portanto não há responsabilidade nenhuma de quem administrou aquilo ao doente”, exemplifica Rui Furtado, frisando que esta é a prática “normal em Macau”.
Apesar de ser um problema geral, a área da estética está claramente em destaque. Pelos piores motivos. “Aqui qualquer curioso vai a um centro de beleza e faz uma cirurgia estética, algo que só deveria ser feita por médicos credenciados, em hospitais”, continua.
“Em Macau qualquer curioso vai a um Centro de beleza e faz a cirurgia. Os procedimentos que têm de ser feitos pelos especialistas, por exemplo o botox, é feito por qualquer curioso, em qualquer lado. Portanto qualquer acto médico em Macau é feito sem responsabilidade nenhuma porque ninguém assina papéis”, acusa.

Pulso firme

A deputada Wong Kit Cheng, numa interpelação escrita, acusou o Governo de nada fazer num assunto bastante sério. “(…) os Serviços de Saúde (SS) afirmaram que já formaram grupos de trabalhos internos para investigar a regulamentação do serviço de medicina estética, incluindo a proficiência dos médicos, equipamentos, avaliação de risco, entre outros, mas até agora não foi anunciado qualquer progresso”, apontou, sublinhando que “os médicos inscritos não tem conhecimento profissional suficiente ou treino sobre medicina estética, pois o decreto-lei presente [Decreto-lei 84/90/M] não consegue garantir a qualidade do serviço relacionado”.
A deputada vai ainda mais longe e afirma que a sociedade estão mal preparada porque nem consegue “distinguir entre medicina estética ou actos de cosmética ordinários”. “Com a falta de informações correctas e claras, o direito e beneficio dos consumidores estão a ser afectados”, apontou.
Não são comuns, acrescenta ainda a deputada, casos infelizes de cirurgias em que a única pessoa lesada foi o paciente, sem qualquer responsabilização atribuída ao médico.
Fernando Gomes, exemplifica, com o mais recente caso na região vizinha, Hong Kong, da morte de uma paciente depois de desencadear uma reacção alérgica após uma cirurgia plástica.
“As pessoas aqui em Macau também correm risco de vida. Até o simples botox. Por exemplo, as pessoas fazem botox hoje em dia quase em cada esquina da rua. Claro que há pessoas que podem ter uma reacção negativa, ou seja, se precisarem de ser reanimadas, isto pode não acontecer porque estas clínicas podem não estar preparadas”, continuou.

Acreditação precisa-se

A solução está na aprovação do Regime Legal da Qualificação e Inscrição para o Exercício da Actividade dos Profissionais de Saúde, aponta Fernando Gomes. “Essa lei é que vem prevenir todos os casos (…) é preciso regulamentar o exercício de cada especialidade. As pessoas acreditam que por ser médico se pode fazer isso tudo, mas não. É preciso aprovar a lei para ver se conseguimos normalizar uma situação que hoje em dia não pode ser aceitável, principalmente no sector privado”, rematou. Ainda assim, mesmo com a possível qualificação é preciso depois controlar o exercício da especialidade dentro das próprias clínicas.
“Responsabilidade médica é um assunto que muito se tem debatido mas que nada se tem feito para alterar”, lamenta Rui Furtado. Enquanto a lei continua em análise e discussão, torce-se para que ninguém morra numa maca, só porque a beleza comanda o mundo.

14 Jun 2016