EPM | Novos estatutos excluem Fundação Oriente como accionista

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Fundação da Escola Portuguesa (FEPM) alterou há dois dias os seus estatutos e a Fundação Oriente deixou, vários anos depois, de ser accionista. Estes lugares são ocupados agora pelo Ministério da Educação português e pela Associação Promotora de Instrução dos Macaenses (APIM), continuando o Governo local a atribuir à Fundação uma verba de nove milhões de patacas.
De acordo com declarações de Roberto Carneiro, líder da FEPM, à Rádio Macau, é conveniente que o próximo presidente nomeado seja residente no território, embora se tenha mostrado disposto a continuar igualmente ligado à Escola Portuguesa. O dia, frisou o responsável, “foi histórico”.
O afastamento da Fundação Oriente do corpo de administração da Fundação da EPM vem apenas em jeito de oficialização, já que a vontade para tal já havia sido manifestada antes. “A Fundação Oriente já tinha manifestado a vontade de sair há muito tempo e agora formalizou-se a saída”, afirmou Roberto Carneiro ao jornal Tribuna de Macau. “Não muda nada”, reiterou, uma vez que a FO já nem fazia parte do orçamento para a EPM.

Mudanças na calha

Carneiro defende que a EPM precisa de obras, estando pensada a construção de uma terceira ala, localizada onde estão o actual campo de jogos e ginásio. Esta zona deverá compreender três ou quatro andares e conter um novo pavilhão, um auditório e salas de aulas. Está ainda pensada a construção de um parque de estacionamento subterrâneo. A obra, referiu, vai contar o apoio do Executivo. O líder disse ainda que foi instaurado um processo de auditoria pelo Ministério da Educação português no sentido de perceber quanto é que a Fundação Oriente deve à FEPM.
Roberto Carneiro acrescentou, no entanto, que as finanças da Escola vão de vento em popa. “A partir de agora é tudo negócios e matérias macaenses”, acrescentou Roberto Carneiro ao jornal Tribuna de Macau, referindo-se ao facto desta alteração de estatutos ter estabelecido a relação mais forte da Fundação com Macau. Escola_Portuguesa_de_Macau
Ao mesmo periódico, o administrador e porta-voz da FEPM, José Luís Sales Marques, disse que o Ministério da Educação e Ciência luso “continua a contribuir com 51% para financiar a escola no que são as suas necessidades normais, nomeadamente na diferença ente as receitas e as despesas”.
Outra das hipóteses em cima da mesa interfere no currículo oferecido já que há a possibilidade de serem criados cursos de ensino vocacional, também conhecidos como profissionais ou especializados.
“Os cursos vocacionais não existem aqui. A nível universitário e do politécnico sim, mas não no ensino secundário. A escola pode preencher esse vazio. Pode ser uma boa oferta que a escola abra”, declarou Carneiro.

18 Set 2015

“Governo deve promover veículos eléctricos”

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m estudo levado a cabo por académicos de Macau, Hong Kong e da China recomenda que o “Governo de Macau deve fazer mais para promover os veículos eléctricos”. Segundo a rádio Macau, que cita os resultados de um estudo intitulado “Factores que Influenciam as Intenções Comportamentais face a Veículos Eléctricos: Um Estudo Empírico em Macau”, a introdução de veículos eléctricos requer políticas ambientais determinadas e a aceitação do público face aos veículos eléctricos tem base em “preocupações ambientais”, mas também em “benefícios económicos de longo prazo”, devido à “poupança nos gastos com combustível”. A rádio cita o documento dizendo que há razões que “encorajam” os residentes de Macau a pensarem em adquirir veículos eléctricos, mas que as intenções do público esbarram na falta de medidas governamentais. Smart-Eletrico_abre111111
Os académicos responsáveis pelo estudo, entre os quais se conta Yide Liu, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, notam que, apesar de o Executivo oferecer incentivos fiscais na compra de veículos amigos do ambiente as isenções abrangem também os veículos híbridos.
 “Tal como acontece com muitos outros países Ocidentais”, referem os investigadores, “os apoios do Governo de Macau não estão alinhados com o objectivo de fazer descer o consumo de gasolina de forma consistente e eficiente”. Neste sentido, defende-se que “o Governo de Macau deve fazer mais para promover os veículos eléctricos”, ou então “a falta de infra-estruturas de apoio pode dificultar a aceitação” deste tipo de veículos por parte dos consumidores.
 

18 Set 2015

Pequim vê crescimento como antídoto para problemas cambiais

[dropcap style=’circle]A[/dropcap]s autoridades chinesas acreditam poder conter a rápida queda das suas reservas em moeda estrangeira e aliviar a pressão sobre o câmbio estimulando a economia para que se alcance a meta de crescimento deste ano, disseram fontes envolvidas com as discussões políticas.
Pequim irá canalizar fundos sobretudo para projectos de infra-estrutura, incluindo caminhos-de-ferro, estradas e aeroportos, e o banco central também irá cortar a taxa de juros disseram fontes internas, reaquecendo os temores de reversão para um antigo programa de estímulos em conflito com a decisão oficial de reformar a economia.
“Se conseguirmos estabilizar o crescimento, as expectativas de depreciação do yuan podem ser alteradas”, disse um economista influente que aconselha o governo.
“Precisamos de estabilizar o crescimento reforçando o suporte à política fiscal”, disse.
Mas cumprir uma meta arbitrária de crescimento pode não satisfazer os mercados globais, que estão cada vez mais preocupados com os desequilíbrios da economia.
Pequim, ciente das lições aprendidas em 2008 e 2009 quando um forte pacote de estímulo sobrecarregou a economia com dívidas, pode avaliar os planos de gastos mais cuidadosamente desta vez e garantir que os projectos são financeiramente sólidos, disseram as fontes.

18 Set 2015

Vice-presidente da Comissão de Valores investigado por corrupção

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] vice-presidente da Comissão Reguladora do Mercado de Valores da China, Zhang Yujun, está a ser investigado por corrupção, informou esta terça-feira a Comissão Central de Controlo e Disciplina do Partido Comunista chinês. Zhang é suspeito de “graves violações da disciplina”, disse a Comissão em comunicado, utilizando a terminologia que descreve habitualmente os casos de corrupção. O organismo não esclarece se a investigação está relacionada com as irregularidades registadas durante a recente crise na bolsa chinesa, e que já resultou na detenção de 11 pessoas.
Cheng Bomin, diretor geral da Citic Securities, que pertence ao gigante estatal Citic, e Wang Jinling, sub-diretor do centro informação tecnológica, são outros do altos cargos que foram detidos para investigação, segundo revelou esta semana a agência chinesa Xinhua. Terça-feira, as autoridades anunciaram que vão fechar milhares de contas nas bolsas de Xangai e Shenzhen, devido a “operações ilegais”.

18 Set 2015

Consultora portuguesa em missão empresarial

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP) e a Confederação Internacional dos Empresários Portugueses (CIEP) organizam, em parceria com a Sociedade Portuguesa de Inovação (SPI), uma Missão Empresarial à China, a decorrer de 7 a 13 de Novembro.
A Missão contempla a participação na 10ª edição da UE-China Business Cooperation Fair, uma importante plataforma de comércio, investimento e cooperação tecnológica entre a União Europeia e a China, que se realiza na cidade de Chengdu, no sudoeste daquele país.
O programa inclui ainda sessões de Business-to-business em Pequim e Langfang, na província vizinha de Hebei.
Segunda maior economia mundial, a China é também a primeira potência comercial do planeta, tratando-se do maior exportador e terceiro maior importador de mercadorias do mundo.
Desde o primeiro trimestre de 2014 o país asiático entrou para o top 10 dos principais destinos das exportações portuguesas.
Fundada em 1997, a Sociedade Portuguesa de Inovação é uma consultora privada que actua nas áreas da inovação, da promoção da internacionalização de empresas e da gestão do conhecimento.
 

18 Set 2015

Xi Jinping reúne com empresários norte-americanos

[dropcap style=’circle]O[/dropcap] presidente chinês, Xi Jinping, recebeu esta quinta-feira em Pequim os participantes norte-americanos da 7ª ronda de diálogo de empresários e ex-líderes governamentais entre a China e Estados Unidos, realizada nos dias 17 e 18 na capital chinesa.
Na reunião, Xi Jinping reforçou que a essência do relacionamento sino-norte-americano reside em benefícios mútuos. Neste momento, as cooperações nos âmbitos, tanto bilateral como internacional, não apenas trazem benefícios aos dois povos como também contribuem para a paz, desenvolvimento e prosperidade do mundo, disse. DV1695352
Olhando para o futuro, a China e os EUA gozam de espaços ainda mais amplos para promover a parceria, enfatizou o presidente chinês. Xi reconheceu a existência de divergências, mas apontou que as duas nações conseguem controlá-las desde que se respeitem uma à outra, nos interesse vitais, e evitem mal entendidos em relação às respectivas estratégias.
Xi Jinping assinalou que a China se dedica à construção de um novo modelo de relações entre grandes países com os EUA, acrescentando que a cristalização desta meta favorece dois povos e o povo de todo o mundo.

De partida

Xi Jinping avançou que é convidado do presidente norte-americano Barack Obama para visitar os EUA na próxima semana, afirmando que gostaria de discutir com Obama assuntos de interesse comum e manter um contacto com as personalidades de diversos sectores da comunidade norte-americana.
Os representantes norte-americanos disseram saudar a viagem de Xi Jinping aos EUA e esperar que esta visita possa impulsionar o relacionamento dos dois países. No actual cenário mundial, os EUA e a China enfrentaram mesmas oportunidades e os mesmos desafios, o que suscita sua interdependência. Prometeram dedicação no reforço das cooperações entre os EUA e a China nas áreas de comércio e investimento, sustentando a assinatura, o mais cedo possível, de um acordo de investimento bilateral. Salientaram ainda o apoio às iniciativas do Banco Asiático de Investimentos de Infra-estruturas.

18 Set 2015

Tóquio | Peruano suspeito de seis homicídios detido

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s autoridades japonesas detiveram um peruano suspeito de ter assassinado seis pessoas no Japão, que foram esfaqueadas e cujos corpos foram encontrados numa localidade nos arredores de Tóquio, informou ontem a polícia. O homem, de 30 anos e identificado como Nakada Ludena Vayron Jonathan, foi internado e continuava ontem inconsciente no hospital, na sequência de uma queda de um segundo andar de uma casa quando estava a fugir da polícia, em Kumagaya, cerca de 60 quilómetros a noroeste de Tóquio, segundo a imprensa local.
Nakada é suspeito de ter morto seis pessoas após ter fugido de uma esquadra de polícia, onde estava a ser interrogado no domingo passado, refere a imprensa local. As autoridades suspeitam que as vítimas tenham sido escolhidas aleatoriamente.
Nakada, sem emprego nem residência fixa, chegou ao Japão há dez anos e residiu em vários municípios da região de Kanto, na onde se situa Tóquio.

18 Set 2015

Japão | Lei de segurança motiva luta entre deputados

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]eputados japoneses envolveram-se ontem em confrontos físicos durante um debate no parlamento sobre um projecto de lei de segurança que poderá autorizar, pela primeira vez em décadas, o envio de militares do Japão para conflitos no estrangeiro.
Membros da oposição e da coligação no poder protagonizaram cenas bastante incomuns no parlamento nipónico, ao começaram aos empurrões e socos uns aos outros, enquanto o presidente de uma comissão foi cercado.
O deputado da oposição Tetsuro Fukuyama fez de seguida um discurso emocionado para explicar porque é que o seu partido tinha apresentado uma moção para tentar impedir a adopção da reinterpretação da Constituição pacifista do Japão.
“Será que o partido no poder ouve a voz do povo? Vocês fazem tudo o que vos apetece porque são a maioria. Isto parece-vos bem?”, afirmou quase em lágrimas.
A tensão cresceu após o adiamento da votação de uma comissão esta noite, durante a qual os deputados bloquearam as portas e lotaram os corredores em protesto.

Eventos raros

Treze pessoas foram presas na noite de quarta-feira, de acordo com a imprensa japonesa, “por obstrução à polícia” durante uma manifestação que reuniu cerca de 13.000 pessoas no parlamento.
Milhares de pessoas têm saído à rua quase todos os dias nas últimas semanas, num país onde as manifestações são raras.
Segundo as alterações propostas, os militares – conhecidos como Forças de Autodefesa – teriam a opção de ir combater para proteger aliados como os Estados Unidos, mesmo nos casos em que não haja uma ameaça directa para o Japão ou o seu povo.
Embora a Constituição, que proíbe as tropas de participarem em combate, excepto em autodefesa, tenha sido imposta pelos ocupantes norte-americanos após a II Guerra Mundial, em 1945, muitos japoneses receiam que as alterações propostas na lei ponham em causa o carácter pacifista do país e o coloque ao lado dos norte-americanos nos conflitos mundiais.
O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, defende as alterações como necessárias para fazer face ao que descreve como ameaças oriundas da China e da Coreia do Norte.

18 Set 2015

MGM promove gastronomia chinesa com menu Huaiyang

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] MGM vai, em parceria com o restaurante de Yangzhou Yechun Teahouse, criar um menu de degustação Huaiyang, um dos estilos tradicionais de gastronomia chinesa. O complexo hoteleiro vai ainda disponibilizar o Banquete da Mansão Vermelha, cujo nome alude precisamente a um romance tradicional chinês do século XVIIII, conhecido como “um dos quatro grandes romances”. Tudo isto, garante a organização, será criado por uma equipa de chefs nacionalmente reconhecidos. MGM2
A gastronomia Huaiyang desempenha um papel “fulcral” na organização de banquetes de grandes eventos, à luz daquele que foi o jantar da cerimónia da fundação da República Popular da China, em 1949. Serão dois os restaurantes do MGM que partem nesta aventura de oferecer localmente uma gastronomia nacional. O certame tem ainda em conta o aniversário dos 2500 anos de criação da cidade de Yangzhou.
A culinária de Huaiyang é uma das Quatro Grandes Tradições, complementadas com a de Shangdong, de Cantão e de Sichuan, conhecida por ser particularmente picante. A de Huaiyang, contudo, baseia-se no uso de marisco fresco e ingredientes próprios desta estação, geralmente acompanhados de dumplings, sopa ou caldos quentes.
As iguarias de Huaiyang estão disponíveis de 7 a 31 de Outubro, no restaurante Imperial Court. Já o banquete Red Mansion existe no Grand Imperial Court, de 7 a 16 do mesmo mês, com o custo de 13,8 mil patacas por uma mesa de dez pessoas. Os interessados deverão ligar para o MGM para reservar mesa.

18 Set 2015

Cinema | Filme de Miguel Gomes proposto para os Goya

“[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] desolado”, o segundo filme de “As mil e uma noites”, de Miguel Gomes, foi proposto pela Academia Portuguesa de Cinema para o prémio de melhor filme ibero-americano dos Goya, os prémios de cinema de Espanha.
Depois de uma candidatura aos Óscares, a Academia Portuguesa de Cinema anunciou ontem que propõe o mesmo filme de Miguel Gomes para os Goya, que serão entregues em Espanha em Fevereiro de 2016.
“O desolado”, que se estreia nos cinemas portugueses no dia 24, é o segundo de três filmes que Miguel Gomes rodou sob o título “As mil e uma noites” e que retratam Portugal à luz da intervenção da troika, com ficções inspiradas em factos e relatos verídicos, sobre desemprego, austeridade, casos de justiça ou luta sindical.
Nos filmes, as histórias são narradas por Xerazade, remetendo para a estrutura dos contos de “As mil e uma noites”. o desolado  76aec70d8d4516c359043459eb7990de
Em “O desolado”, Miguel Gomes ficciona a história do suicídio de um casal em Santo António dos Cavaleiros, nos arredores de Lisboa, e o caso de Manuel Baltazar, o homem que andou a monte vários dias depois de ter assassinado duas mulheres e ferido outras duas em Valongo dos Azeites. É ainda encenado um julgamento de vários casos judiciais em simultâneo, numa espécie de resumo do estado da justiça portuguesa.
“As mil e uma noites”, exibido em Cannes, premiado na Austrália e na Polónia, e com estreia garantida em trinta países, integra os volumes “O inquieto” – já estreado em Portugal -, “O Desolado” e “O Encantado”, com estreia marcada para 8 de Outubro.
 

18 Set 2015

Aniversário da Rádio Biafra celebrado na RAEM

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]contece hoje, no Hotel Sintra, às 16h00 o aniversário da Rádio Biafra, uma estação de rádio originalmente fundada pela República do Biafra. O evento vai ter como oradores Nnamdi Kanu, director da rádio, e Francis Okeke, que vive em Macau.

18 Set 2015

Rolling Stones vão gravar novo álbum

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Rolling Stones decidiram gravar um novo álbum, o primeiro nos últimos dez anos, anunciou na quarta-feira o guitarrista da banda de ‘rock’, Keith Richards. O artista britânico fez o anúncio em Nova Iorque, onde se encontrava a fazer a promoção do seu último álbum a solo.
Os Rolling Stones decidiram gravar um novo álbum, o primeiro nos últimos dez anos, anunciou na quarta-feira o guitarrista da banda de ‘rock’, Keith Richards. O artista britânico fez o anúncio em Nova Iorque, onde se encontrava a fazer a promoção do seu último álbum a solo. The Rolling Stones in concert
Keith Richards precisou que o grupo de ‘rock’ dos septuagenários irá regressar aos estúdios após uma digressão na América do Sul no início de 2016, cujas datas não são ainda conhecidas. “De facto, estava em Londres na semana passada e estive com os rapazes, e sim, nós temos planos concretos para gravar”, declarou o guitarrista no decorrer de um fórum organizado pela iHeartRadio, uma rádio na Internet.

Sem parar

O grupo formado em 1962 lançou o seu último álbum de originais – A Bigger Bang – em 2005, oito anos depois de Bridges to Babylon. Os Stones continuam, no entanto, a realizar concertos, tendo mesmo feito uma digressão pela América do Norte este Verão.
Representados de forma sistemática pela imagem dos grossos lábios pintados de vermelho, os Rolling Stones são muitas vezes classificados como os velhos rivais dos The Beatles na história do rock’n’roll dos últimos 50 anos. Este ano reeditaram o álbum Sticky Fingers.
A banda é formada por Mick Jagger (vocalista), Keith Richards (guitarra), Ron Wood (guitarra), Bill Wyman (baixo) e Charlie Watts (bateria), além do falecido Brian Jones.
Keith Richards, de 71 anos, lança na sexta-feira o seu primeiro álbum a solo em 23 anos, Crosseyed Heart, no qual canta e divide o microfone com vários artistas, como a cantora de jazz Narah Jones.

18 Set 2015

Macau Sailing organiza festa em barco

[dropcap style=’circle]A[/dropcap] viagem de barco “Bye Bye Summer”, organizada pela empresa local Macau Sailing, acontece já no próximo domingo e pretende ser um adeus ao Verão. Também conhecida como “junk boat party”, vai começar num cais portuário da cidade, continuando para a zona este de Qingzhou Shuidao e passando por, como afirma a organização, “cenários bonitos e limpos de ilhas e águas que tanto caracterizam aquela área”.
O evento foi criado por Henrique Silva, ou Bibito, e pretende juntar pessoas com um mesmo propósito: o de apreciar as vistas circundantes, com comes e bebes e mergulhos à mistura. “Não se esqueça da máquina fotográfica”, adverte.
Com sorte, será possível avistar uns quantos golfinhos cor-de-rosa, espécie rara e só existente por estes lados do globo. O pacote – que inclui a viagem de barco, com direito a comes e bebes, música e paragens em locais cénicos – custa 700 patacas por pessoa.

barco

Até Qingzhou

A experiência deverá durar das 13h00 às 18h00 horas, com uma travessia até à ilha de Qingzhou, uma paragem de duas horas para mergulhos, banhos de sol e descanso, com regresso a Macau marcado para as 16h30, viagem durante a qual deverá ser possível ver o pôr-do-sol. E porque os mais novos também são bem-vindos, a organização oferece um desconto de 50% nos bilhetes para crianças, ficando estes por 350 patacas. Os interessados deverão inscrever-se até às 12h00 deste sábado, enviando um email para info@macausailing.com. No entanto, a página do evento no Facebook pede que os interessados não se demorem na reserva devido à existência de lugares marcados.

18 Set 2015

李渔 LI YÜ, ESCRITOR DE ÓPERAS

[dropcap style=’circle]L[/dropcap]i Yϋ (李渔), nome artístico de Xianlü (1611-1680), foi um escritor dramaturgo que se dedicou aos romances, como o livro erótico chinês, Rou Pu Tao, (肉蒲团) e cujas peças para teatro foram representadas pela Companhia de Ópera por si criada.
Apesar de a família ser de Zhejiang, nasceu na aldeia de Rugao, hoje prefeitura de Nantong província chinesa de Jiangsu, onde o pai tinha um pequeno negócio de produtos de medicina e a mãe trabalhava como empregada de limpeza. Levava já onze meses na barriga e após três dias e noites de dores sem conseguir dar à luz, no sétimo dia da oitava Lua passou em frente a casa um ancião. Chamado pela tensão que dentro de portas se desenrolava, encontrou um lugar não propício para aquele novo Ser nascer e assim, transportando a grávida para o Templo dos Antepassados da aldeia, logo facilmente chegou a criança ao mundo.
O ancião chamou-lhe Xianlü (仙侣, o que acompanha o Imortal) e para seu destino o nome (号, hao) de Tiantu (天徒, Estudante do Céu).
Com o nome de nascimento Xianlü e de cortesia Li Weng, reinava ainda a dinastia Ming quando foi fazer os iniciais exames imperiais, depois de a mãe, seguindo os passos da progenitora de Mêncio, por três vezes ter mudado de casa para o ambiente a rodear o filho lhe ser propício aos estudos. E foi, pois como estudante, ao passar a morar já na cidade em frente à biblioteca, dedicou-se a sorver conhecimentos a esses livros. Mas, com o falecimento do pai tiveram que regressar à aldeia, onde aos dezanove anos se casou. Cinco anos depois, em 1635, foi a Jinhua fazer os exames preparatórios para poder participar nos Exames Imperiais (Keju) na categoria Gongju. Nesses exames locais, denominados Tongshi, ficou Xianlü aprovado, tomando o título de Xiucai e com a possibilidade de ir à capital da província realizar os Exames Imperiais. Assim em 1639, encontrava-se em Hangzhou cheio de expectativas, quando entrou confiante no enorme recinto para fazer o Exame Provincial (Xiangshi), que lhe daria o título oficial de Juren. Falhou! Voltou em 1642, no que viriam a ser os últimos exames da dinastia Ming, mas no caminho para a capital da província de Zhejiang soube que o exército manchu acabava de atravessar o Rio Yangtzé e por isso regressou à aldeia.
Com o destino traçado, resolveu ficar por Rugao e aí criar o seu jardim Yi, onde planeou passar o resto da vida e dedicar-se exclusivamente à literatura. bnr-2
A ilusão da carreira burocrática ficara para trás com a queda da dinastia Ming em 1644 e a mudança para a dinastia Qing não lhe dava possibilidades de ser admitido nos exames seguintes, que o conduziriam às posições de hierarquia de governação, acessíveis a partir de então quase só para os manchus.

Escrever sem ganhar dinheiro

Crendo ter um lugar para toda a vida na aldeia, pois era um camponês que sabia ler e escrever e com os seus conhecimentos ajudava a resolver muitos dos problemas que aí surgiam, os anos foram passando e com ele gastando o original, apesar de manter as mãos a trabalhar a terra, plantando o seu jardim Yi. Reconstruiu a sua casa, decorando-a e ter-se-á divertido a escrever sobre esse assunto.
Mas eis que em 1648, ou em 1651, após uma controvérsia com uma aldeia vizinha, resolveu partir e ir com a família viver para Hangzhou. Aí descobriu pessoas que gostavam de assistir aos inventos que surgiam ao redor das mesas de chá onde se escutavam com grande atenção e entusiasmo histórias contadas em actuações teatrais de poucos adereços, mas explicadas requintadamente em gestos e voz. O ambiente cultural fervilhava em espectáculos, sobretudo de vários tipos de Ópera que dinamizavam a cidade. Apercebendo-se ser ali o lugar e inspirado por aquele estar, viu a possibilidade de poder fazer o que mais gozo lhe dava e ainda conseguir mostrar o seu talento. Escreveu muito entre 1651 a 1661, no período em que viveu em Hangzhou, sendo o livro Doze Mansões (十二楼, Shi Er Lou) editado por essa altura. Tornou-se também um dos primeiros escritores a vender as suas histórias, para depois serem contadas, ou em letras adaptadas às peças de Ópera. Assinava a obra com o nome de Li Yü e já tinha escrito seis letras de Ópera e duas pequenas histórias, que toda a gente muito apreciou.
A fama crescia e mal acabava de escrever uma história, após ser impressa em Hangzhou, logo era reproduzida e enviada pela China, onde em algumas cidades eram impressas e vendidas sem que Xianlü ganhasse mais algum dinheiro com o que fazia. Chengdu-opera-sichuan-actores-d04
Percebendo ser Nanjing onde os seus escritos estavam avidamente a ser copiados e muito difundidos, para aí se mudou e passou vinte anos, os melhores e os mais penosos da sua vida.
Já estabelecido em Nanjing, Li Yü em 1657 terminou o livro erótico chinês, Rou Pu Tao, (肉蒲团), sobre o qual escrevemos na semana passada.
Viajava frequentemente por toda a China, estaria ele talvez ligado a algum grupo de Ópera que percorria o país em digressões. Foi em duas dessas viagens de 1667, já com grande fama de escritor, que a sua vida mudou de rumo ao lhe serem entregues, para suas estudantes, duas jovens raparigas de treze anos. Se ainda até 1668 vai a Hangzhou visitar a esposa, só dez anos depois lá voltou.
Consagrado como escritor e criador de óperas, entrava num novo processo e começou a rever a grande quantidade de letras de Ópera por ele escritas. Entre elas escolheu dez, fazendo um livro a que chamou Li Weng Shi Zhong Qü (笠翁十种曲) e quando em 1668 foi editado, rapidamente se tornou o primeiro em vendas.
Li Yü comentava sobre as suas peças dizendo: “Óperas são para as pessoas ficarem alegres, para quê pagar para as fazer chorar! O que escrevo é para fazer as pessoas rir e espero que todos os que lêem os meus livros atinjam Milafo (Buda Sorridente).”

Companhia de Ópera Família Li

A viver em Nanjing, numa das suas inúmeras viagens, em 1667, Li Yü, já com a idade de cinquenta e seis anos, passou por Linfeng onde um oficial local lhe entregou uma miúda de treze anos, QiaoJi, recomendada pela sua inteligência, pois logo na primeira semana de aulas absorvera o que a professora lhe tinha para dar durante todo o ano e assim, ao chegar às mãos do mestre já vinha prendada pela belíssima voz e representava-se como uma verdadeira senhora.
Meses depois, ao viajar por Langzhou, um amigo ofereceu-lhe uma outra rapariga, WangJi também com uma excelente voz e da mesma idade.
Reconhecendo haver qualidade nas suas estudantes e escrevendo letras de Ópera, nada melhor do que as preparar para a interpretação das suas obras expressamente criadas para elas, o que veio a originar a Companhia de Ópera Família Li.
De 1667 a 1672, as duas jovens viveram dos treze aos dezanove anos com Li Yü e de suas estudantes, passaram a interpretar em palco as obras do mestre. QiaoJi realizava na perfeição o papel de senhora, representando WangJi o masculino, algo contrário ao que ocorria nos palcos de Ópera chinesa pois, o normal era os homens a desempenhar os papéis femininos. O envolvimento do trio gerou um laço familiar entre eles e de professor e actrizes tornaram-se amantes. Período de uma grande criatividade, de muita obra e actuações, sempre em digressões extremamente desgastantes, como a ocorrida em 1670 entre Fujian e Guangdong. Ressentindo-se do prolongado esforço, em 1672, as jovens, uma a seguir à outra, adoeceram e falecerem ambas com dezanove anos.
De forma fulminante terminava assim um período intenso de ‘criactividade’, ficando Li Yü completamente destroçado. Ainda em 1672, com sessenta e um anos fez amizade com Pu Song Ling (蒲松龄), cuja idade andaria pelos trinta e já escrevera o livro Liao Zhai Zhi Yi (聊斋志异). Relacionava-se também com o avô de Cao Xue Qin, sendo o neto quem viria a escrever o Romance Mansão Vermelha.
Li Yü ainda tentou manter a sua Companhia de Ópera, mas fechou-a em 1673, tendo no entanto nesse Verão recebido um convite do Governador da província de Shanxi para fazer representações na capital, Taiyuan. Período em que viajou até Pequim, tendo de vender a residência que tinha em Nanjing no ano de 1674.
Xianlü voltou no Verão de 1677 para Hangzhou, fugindo das memórias daqueles tempos de Nanjing, trazendo a finalidade de ir ajudar os seus filhos a entrar nos exames imperiais e aqui veio a falecer em 1680.

Que personagem era Li Yü?

Escreveu no livro erótico chinês, Rou Pu Tao (肉蒲团): “Portanto, se Mencius tivesse assumido a atitude de um conselheiro severo, se houvesse levantado a voz, e, com uma expressão solene, lhe dissesse:
Se acaso Mencius tivesse falado nestes termos, o príncipe tê-lo-ia escutado em silêncio por uma questão de delicadeza não faria comentários. Porém, de si para si, desculpar-se-ia, pensando: . E faria orelhas moucas às palavras do mestre. baishe-2
Mas que fez Mencius? Evitando assumir ares pedantes, referiu-se com ironia às fraquezas do príncipe. Em tom de conversa afável, falou-lhe de um caso idêntico da história, ou seja, o do príncipe Tan-fu (Rei T’ai, bisavô do duque Wu), que padecia de uma atracção semelhante pelas mulheres. Descreveu-lhe um episódio divertido da história galante, no qual se conta que o príncipe Tan-fu (c. 1250 a.C.) necessitava a tal ponto de companhia feminina que não podia passar sem ela por mais de um quarto de hora. Este príncipe, até mesmo no meio dos maiores perigos, quando fugia a cavalo diante do inimigo, queria levar consigo a favorita na mesma sela. Com isto conseguiu não só que o príncipe lhe prestasse atenção, mas ainda que o escutasse com o maior interesse. Esperava, sem dúvida, ouvir que um homem dissoluto a ponto de não ser capaz de passar sem mulheres, nem mesmo durante um quarto de hora, e que levava consigo a favorita enquanto fugia à frente do inimigo, tivera um mau fim e perdera o trono e ao mesmo tempo a vida. Mas nada disso; o que ouviu foi que este príncipe, em vez de se entregar unicamente aos prazeres do leito, ajudava o povo a partilhar os mesmos prazeres. Fazia tudo quanto estava ao seu alcance para promover os casamentos em todo o país, e tratava de investigar se havia alguma rapariga solteira e abandonada nas casas dos seus vassalos, ou se existiam homens celibatários em idade de casar. Sempre que celebrava uma festividade no palácio com as suas esposas, queria que o povo se divertisse também, partilhasse o seu contentamento, e, nesse sentido, organizava festas populares. Por isso se tornou para o seu povo uma verdadeira , um promotor da alegria de viver, pondo em prática o velho preceito de governar estabelecido pelo filósofo Kuan-tzu [Kongzi em mandarim, ou Confúcio para o Ocidente] (sétimo século a.C.); “.
Para que todos os homens pudessem ser bafejados por uma felicidade idêntica, os governantes deviam tomar o terceiro lugar a seguir ao Céu e à Terra. O governante é como o Céu que abriga todos os mortais. É como a Terra que os mantém a todos. Um governo egoísta conduz à anarquia.
Quem, entre os povos, poderia deixar de bendizer e exprimir a sua gratidão para com um tal príncipe? Quem ousaria censurá-lo pelas suas fraquezas e acusá-lo de injustiça? Assim falou Mencius.” citado da versão portuguesa do livro erótico chinês Jou Pu Tuan, escrito por Li Yϋ (1611-1680) e traduzido por Maria Isabel Braga, que saiu na Editora Livros do Brasil, Lisboa em 2002.
E foi com esta fórmula que Li Yü desenvolveu a picante história erótico no seu livro Rou Pu Tao, (肉蒲团) cuja tradução livre significa Macio Tapete de Carne.

18 Set 2015

Comboio da noite

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap] de novo chegou. Tão certa e tranquila como eu estar aqui. Mas quem sou eu? Isso não se sabe de momento. A esta hora já. No final das linhas talvez. Será sempre algo que não posso garantir. Mesmo no fim da linha final. Ficará como deve para resolução em outras instâncias. Mais tarde. Que fazer?
Mas ela chegou de mansinho como todas as noites, a noite. Com hora marcada. Arrastando tranquilamente o que lhe pertence para se ir instalando. Algum silêncio súbito, o das oito horas. O céu ainda claro deste lado. Esforçadamente claro, enquanto se acendem luzes interiores. Mas o rosto da cidade escurece de repente ensombrado pelo quase fim. Mais tarde reacende-se, acomodado já à escuridão. Instalada como se para sempre. E instalo-me eu também nela, finalmente apaziguada. Abro-lhe as janelas e entra como um gigante bom empurrando as luzes para os cantos onde se fabricam sombras todos os dias diferentes. Esconderijos gerados pela quotidiana mudança de lugar das coisas. Pela dança dos candeeiros que se revezam. Diferentes modelações. Pontos de luz baixa, misteriosa, ou brilhante e excessiva. Conforme os dias. As noites. E o interior ganha diferentes densidades palmo a palmo. E depois volta para fora como um enorme animal, selvagem mas manso, que prefere a frescura do exterior. Brigamos benignamente pela agenda que me rouba das mãos. A incompletude dos dias. Aponta-me um dedo inquisitivo, acusador. Mudamente pergunta se entendi. E deita-se ali fora ocupando tudo, preenchendo a minha alma de um conforto bom. Só de saber a sua presença. A cair no sono. A respiração calma. Acalma-me.
Quando já muito do que tenho para fazer não é possível. Tantas tarefas – que vida – mas tudo o mais que interessa pode finalmente fluir em liberdade. Condicional, é certo. Breve virá uma nova madrugada a pôr cobro a tudo e a obrigar-me a fugir para a cama. Fechar portadas para parecer de noite com o secreto conforto de, não o sendo, serem improváveis os fantasmas que me esperam quase sempre aos pés da cama. A que resisto virar as costas por medo. E o que fiz dela antes que se fosse, é variável. Por vezes fumo-a apenas. Estendo-a em quantos cigarros ali couberem. Colados uns aos outros. Há que tacteá-la cuidadosa mas intensivamente. Intencionalmente. A ver de que forma se apresenta. Tudo é possível da mais feroz borrasca em mês de verão, à mais terna e dócil passagem do tempo por disposições boas, cronometradas e sintonizadas. Pode vir como um veneno rápido que se tem de contrariar com uma solução quimicamente adequada. O cigarro com o gesto certo do queixo. Ou o ângulo do olhar esvaziado de conteúdo. Passivo e pacificado. Ou como um aroma ténue difícil de agarrar de perseguir, mas que é a revelação de outros momentos, na sua maravilha, difícil de agarrar e memorizar. À espera mas fazendo malas executando mil e uma coisas, gestos e sublimações até o derradeiro encontro. De hoje. Todos os dias. Ali está sempre com uma maquilhagem diferente e uma roupa surpreendente. A seduzir mas nem sempre da maneira mais fácil. Umas vezes, melíflua a fazer-se difícil. Outras, vem suave a ocupar pouco lugar, flexível e acalentadora. Mas a verdade é que sempre deixa espaço a um compromisso. Sei contudo que as negociações são truncadas. Ela é manhosa e por vezes, porque amiga, a sua dificuldade é pedagógica. Deixa-me sofrer um pouco até atingir o tal ponto de concórdia. E nesse ponto volta a crescer a sua identidade de animal gigante, benigno e adormecido. No meu íntimo sei como não há tempo a perder nesta negociação. Por vezes o tempo corre desperdiçado nela. 22
Porque mais tarde vem aí a aurora. Ou porque agora cai soturna a noite mas se reparar bem e sem desconfiança, com a mansidão sub-reptícia e transparente, de quem envolve na medida do permitido. Nem mais um grama de peso sobre a pele. Nesta féerie que faz estacar em desespero por não estar tudo preparado para a escuridão. Porque o céu é de uma imensidão azul, ou porque está pejado de nuvens fofas ou anunciando já o negrume nos seus cinzas pesados e que não chovem uma lágrima mesmo assim. Não gosto de ser apanhada por essas esquinas dos dias fora de casa. Às vezes corro contra ela quando se aproxima, como contra o vento. Na ânsia de, precisamente antes de chocar com ela, atingir a porta de casa e ver daí já como ela se instala ao meu redor. Depois. Nunca quero que parta. E cada vidro da casa, quando passo reflete uma amálgama diferente. Exterior e interior. Mas a esta hora, de todas fujo. Abro as janelas para ver para fora e para dentro. Melhor. Neste intervalo dos dias.
O tempo tem que passar e isso é bom e mau e eu não quero ter pressa. O tempo passa, o tempo pára e o tempo separa. Mas nunca fico à espera dela. Sei que é ela que me espera no combóio da noite. Aquele de regressar. Regressar a setembro com uma luz subitamente a baixar de tom. Essa luz que não me dei conta de ter ido amortecendo. Que muda tanto nas estações e na vida. Setembro, agora mais do que dois terços para trás. Do ano, também. Mas eu preciso de tomar todos os dias este comboio da noite. Para amanhã. Gosto de comboios e mais ainda deste, cujo movimento embalador é discreto, imperceptível quase. O caminho sempre variável na lonjura e duração. Shhh…só para quem entende esta solidão viciosa e plena. De gente estranha insone e renitente.
E está uma bela noite. Quase incolor, quente e leve de novo, há uns dias. Mas agora já fresca, e hoje acinzentada até. Clareando por efeito de um tapete denso de nuvens lisas que afinal derramaram uns chuviscos esparços. E umas súbitas rajadas de vento vindo não sei de onde que não perguntei. Ela dorme imperturbável. Mas não lhe importa a cor que se pode até inventar em azul nas noites mais negras. Mais tarde virá a quietude maior. E se o está é porque nela posso finalmente reparar, e se a sinto bela como se me apresenta, é da enorme elementaridade destes pequenos ingredientes. Dispondo os falíveis órgãos dos sentidos a absorver a calma que desce sobre o bairro, uma certa expressão do rosto em que tento diluir todas as crispações do dia, e uma dada disposição do corpo, ao conforto real deste abrandamento que antecede a paragem. Acontece ela ser bela como o é para mim. Dessas sensações como rotundas esponjas se filtra uma serenidade que se faz de esquecimento. Paragem. Anulação de tudo o que vivencial ultrapasse o limite apertado do momento.
Se pensar que estar triste é o simples estar sem euforia, e que, destituído da memória, o estar simplesmente, não é em muito diferente. Como é estar? E estar quando tudo se converte em desordem e é uma desordem a que se é estranho…e onde se tem que reencontrar uma linha própria para acompanhar sem mergulhar nela…e sem que ela desarrume por contágio a arrumação que houver por aqui…Ténue arrumação, que com a passagem do tempo parece tornar-se mais e mais incomportável. Os dias a imprimir desconsolo a um olhar que tenho dorido e acharia eu, sem culpa e sem magia. Querer fazer tanto e tudo cada vez mais por fazer. Mundo de desarrumos este. E tudo o que faço agora é no meio dessa desordem. Triste conquista. Aprender a desfocar. A esquecer todos os dias. O que vem e o que foi. E sair de novo amanhã um pouco limada das excrescências de hoje. Mas nem sempre com o mapa nítido à observação. Por vezes vejo e digo para mim que a minha alma perde forma. Estende-se e alarga-se em forma de picos que ferem para o lado de dentro. O possível alerta que o crânio não comporta e se expande numa respiração sem ritmo. A vida começou a cansar. Todos os dias. Talvez seja assim e por aí, que as pessoas, com a idade, começam a despedir-se suavemente.
Preciso de esvaziar alguns fragmentos de dias, flutuar um pouco por entre deveres não apetecidos nem queridos, quase sem pensar. Algo mais como um olhar inquieto sobre todas as coisas, um pouco como atravessar uma rua sem estar distraído, olhando para todos os lados mesmo sabendo de onde vem o trânsito…deixar-se arrastar pelo vento sem cair…fechar os olhos por um instante apenas… ter o suporte da memória arrumada sem mudar nada de sítio…não querer saber onde se quer ir, não querendo saber onde se vai parar…E planar um pouco nesta suspensão aparente entre dias. Mas, o tempo é voláctil. Como o álcool. Como o gaz de um isqueiro, que, utilizado ou não se evola lenta e inexoravelmente. Embora a velocidades diferentes num caso ou no outro.
E de novo vi o dia encher as minhas janelas de uma luz ao início lilás. Mas não tornou de todo mais nítida a minha visão das coisas. Um dia, vi uma gaivota descrever um grande círculo aqui por cima e parecia cor-de-rosa. Mas eu sabia que não era cor–de-rosa e isso eu entendo. Não houve intencionalidade em apresentar-se-me assim. A magia, disse Novalis, é a arte de utilizar, à nossa vontade, o mundo dos sentidos. Poderia estabelecer então, para meu conforto que a gaivota era de facto daquela cor em que a vi, já que não voltou para nela comprovar a ilusão pontual do meu olhar…Que a pizza no prato da mesa ao lado era prateada e que aquela árvore estava, de facto, sobre o carro parado na rua. Fixar um olhar único sobre as coisas por momentos.
Então algo pode ter acontecido sobre a minha mesa, a tinta. Posso deitar-me feliz e com a madrugada. A fugir dela, de facto. Ou não. E do mesmo modo ter atravessado tranquila um espaço enorme de vida fugindo a recordações e sonhos – os de antigamente – ou então ainda mergulhando nelas como num privilégio. E num ou outro como um sonho que é.
O amanhecer que, eu odeio me apanhe na cama acordada e sem sonhos, e mais ainda fora dela. Ali preciso de interpor o sono possível. É o reinício que eu temo. Sente-se na qualidade do silêncio. Que se torna subitamente total. Um hiato nítido. E no espaço de um minuto ínfimo, dispara o dia novo.

18 Set 2015

O outro Estoril

[dropcap style=’circle’]T[/dropcap]enho esta coisa de gostar de casas velhas, casas com histórias de pessoas nas paredes, pelo que me arrepio quando ouço falar em demolições. Sei que já não se usa, isto de gostar de casas velhas. Mas dá-se o caso de admirar quase tudo o que vem fisicamente de longe, talvez pela curiosidade que tenho por aquilo que jamais poderia ter vivido. As casas têm as histórias que ficaram por contar.
Por gostar das casas de outros tempos, chocou-me a ideia da demolição do antigo Hotel Estoril, edifício do qual não tenho qualquer memória enquanto espaço vivo. O choque teve que ver, sobretudo, com o facto de Macau se ter transformado naquilo que é hoje, uma cidade onde se perdeu muito do cheiro do passado, das coisas do passado que são importantes para sabermos para onde vamos. Não sei dizer se o Hotel Estoril tem valor patrimonial ou não. Só sei que o conheci sempre fechado e que faz parte do passado. E sei também que gosto do painel da mulher despida que dá vida à fachada.
Mas depois veio alguém, que sabe colocar as coisas em perspectiva como eu não sei, que me lembrou da Casa da Música, no Porto. Lembras-te? Lembro. A polémica em torno da velha remise dos eléctricos, a polémica em torno de um projecto arquitectónico que muitos não percebiam. A Casa da Música – goste-se ou não do resultado – é hoje um projecto inquestionável. É uma obra da cidade, onde acontecem coisas importantes para a cidade. E já ninguém se lembra do que lá estava antes, do passado que foi abaixo para que se fizesse uma obra para o presente. E para o presente que ainda está por vir.
Depois veio outro alguém também que, sabendo de arquitectura como eu não sei (e de Macau também), lembrou aqueles que o quiseram ouvir que é preciso que os arquitectos não se esqueçam que é importante que as pessoas entendam o que se anda fazer, o que se preserva ou deixa de se preservar.
E depois veio o secretário com um projecto que faz falta para a cidade, com um arquitecto de renome internacional, com uma ideia concreta para um espaço que morreu. Uma escola de artes a sério, para que os miúdos tenham uma escola de artes a sério, uma piscina que funcione 12 meses por ano, um parque de estacionamento que iria resolver o problema da falta de espaço para arrumar carros naquela zona.
O secretário diz também que terá em conta a opinião da população e eu percebo a intenção. Sucede que a população, que hoje já não é de consensos como foi noutras alturas, quer coisas impossíveis, por serem contraditórias. O ideal seria Macau ter espaço para preservar edifícios antigos só porque sim e construir, ali ao lado, obras icónicas de arquitectos de renome, mas o ideal não existe e não abunda terra em locais nobres da cidade.
O ideal seria não haver esta sensação de divisão: eu gosto de casas velhas e também de novos projectos e é impossível, muitas vezes, conciliar o que é um dado adquirido, pela sua existência, com a capacidade de ser surpreendida. Ou não: as divisões fazem bem, põem as pessoas a pensar e a discutir e a questionarem-se e a colocarem questões aos outros. E a mudarem de ideias, se preciso for, que não vem daí mal ao mundo.
Esta semana, numa visita guiada à comunicação social, os jornalistas tiveram oportunidade de ver o que está para lá da fachada do antigo hotel. As pessoas com quem falei não vieram de lá particularmente impressionadas com a beleza do espaço e muito menos com o estado de conservação em que se encontra. O edifício está em muito mau estado, dizem-me, a fachada tapa tudo, dizem-me também. O Estoril está morto, acrescentam.
Qualquer que seja o futuro do antigo hotel, o importante é que seja tomada uma decisão – não daqui a cinco ou dez anos, mas agora, amanhã, no próximo mês. Este processo não pode terminar em coisa nenhuma. O Estoril não pode continuar a ser um conjunto de mosquitos, formigas e entulho.
Não haverá unanimidade em torno do projecto e, qualquer que seja a opção que Alexis Tam tomar, vai desagradar ou a gregos ou a troianos. Mas cansados de decisões por tomar andamos todos nós. O pior que pode acontecer a este Governo é congelar projectos por não reunirem consenso, esse palavrão profundamente irritante que impede que as pessoas e as cidades evoluam.

18 Set 2015

O telemóvel mal-educado

200_s[dropcap style=’cirlcle’]T[/dropcap]ortura, entre outros, é também ter de digerir afirmações de ilustres que verbalizam assuntos como se do objecto em discussão alguma coisa entendessem, quando na verdade deveriam era aproveitar a oportunidade para se manterem calados, contribuir para a redução da poluição sonora e a criação de um ambiente favorável à manutenção da nossa sanidade mental.

E é esse o tema que vai ser hoje abordado: silêncio e sanidade mental.

A pedido do meu filho, no sábado passado passei com ele a manhã no Museu das Comunicações, um excelente sítio com expositores de altíssima qualidade. A todos aqueles que gostam de bater no Governo por tudo e por nada, e sem razão nenhuma, eis aqui um exemplo demonstrativo de que nem tudo no Governo está mal, porque o Governo tem coisas boas também. E muitas até.

Regressando ao Museu. Uma das atracções preferidas do meu filho são os telefones antigos que ainda funcionam perfeitamente. Entre eles, estão aqueles pretos de discar e em forma de champuleung que a CTT instalava no passado, nos tempos em que os números de telefone em Macau tinham apenas quatro algarismos.

“Sabes, o papá quando era pequeno tinha um telefone assim em casa”, disse eu para o meu filho. Olhou para mim sem perceber se era a brincar ou a sério.Como as coisas mudaram. Eram tempos em que telefonava para a casa dos meus amigos e não sabia ao certo o que iria acontecer, pois (1) podia não ser o meu amigo a atender a chamada, pelo que tinha de dizer “olá, queria falar com o fulano de tal, se faz favor” e do outro lado até podia vir um “e quem fala, se faz favor?”; e (2) o meu amigo podia até não estar em casa, pelo que então podia responder “ah, então diga-lhe se faz favor que liguei, fico então à espera que me devolva a chamada”.

Quando penso nisso até sinto uma certa saudade, pois com a chegada do telemóvel esses diálogos desapareceram das nossas vidas. Em contrapartida, ganhámos outro tipo de expressões e hábitos, nomeadamente o “ligo-te quando estiver a chegar”, “podes descer agora”, “vou a caminho”.

No meio de muita conveniência, o telemóvel permitiu também uma falta de rigor total. O “às 15:30 à porta do Leal Senado” foi substituído pelo “ligo-te quando estiver despachado, diz-me por onde andas que vou aí ter contigo”.

É absurdo o número de chamadas que às vezes fazemos só para combinar uma coisa simplicíssima que podia ser definida logo desde o início. Mas, por alguma razão, preferimos adiar decisões simples como, por exemplo, o local para um almoço.

Pelo que, no gozo, quando se começa uma conversa para combinar algo, mando a boca: “mas para que andam vocês a tentar combinar coisas? No fim, acaba-se sempre por combinar que amanhã um de vocês vai ligar para o outro para combinar melhor…”

Com o advento do smartphone as coisas mudaram ainda mais – e para pior. Agora, para se combinar um jantar cria-se um chat room. Convida-se um chonto di gente e passa-se dias e dias a conversar, a conversar e a conversar por mensagem. Centenas de mensagens apenas para se definir dia, hora e local para um jantar.

Não escondo que às vezes até me divirto com isso, pois aproveito para desenvolver alguma conversa inconsequente que me faz muito bem à cabeça. No entanto, numa reflexão mais profunda, não consigo mesmo perceber que tipo de evolução vem a ser essa.

Não me entenda mal, caríssimo leitor, não sou contra a tecnologia não apadrinho aquele discurso miserabilista de que a próxima geração vai ser assim ou assado por causa do smartphone.
Aliás, no que concerne às tecnologias fui sempre um early adopter: no início do milénio quando ainda todos usavam Nokia, já eu enviava emails com um telemóvel da HP do tamanho de uma raquete de ténis de mesa.

A questão é que não posso simplesmente fazer de conta que está tudo bem e que isso é normal. Se é normal – e se calhar para o meu filho vai ser muito normal – então trata-se de um normal que vai sempre merecer de mim muitas reservas. Porque essencialmente não consigo passar constantemente o tempo a ler e a responder às mensagens do Facebook, Whatsapp, Telegram, WeChat, iMessage e SMS.

Para agravar, tenho ainda o telemóvel de serviço – sim, faço parte daqueles que andam com dois telemóveis na mão – que de quando em quando faz soar um “ding” porque recebo cerca de 100 emails por dia. E não, não podem ser ignorados pois trata-se de trabalho. E tenho também o Lync instalado, onde igualmente recebo mensagens. E o Calendar, sendo que ao longo do dia vou recebendo meeting invitations que têm de ser respondidos.

Finalmente, os meus dois telemóveis, sendo telemóveis, servem certamente para receber chamadas. Ah, tenho também o telefone de linha fixa no gabinete e não são poucas as chamadas que recebo: quando volto de uma reunião, a primeira coisa que faço é ver o registo das chamadas perdidas. Há sempre duas ou três, pelo menos.

Tudo isto é anedótico e, ao mesmo tempo, perigoso. Multitasking é uma palavra que está na moda, mas tudo tem o seu limite. Pelo que tenho procurado colocar um travão à coisa.

Quando chego ao trabalho de manhã, não me ponho imediatamente a ler e a responder aos emails. Antes de mais, faço uma lista das tarefas a cumprir e planeio o meu dia de trabalho conforme a agenda. Só depois é que faço o login no computador e leio os emails. Pois, caso contrário, começo o dia simplesmente a reagir aos emails de terceiros – ou seja, ao trabalho dos outros e não à minha própria iniciativa de trabalho.

Por outro lado, decidi colocar as notificações de todos os apps de mensagens em silêncio. Verifico as mensagens apenas quando me dá jeito e me apetece – e não quando o telemóvel chama por mim.

Sim, eu sei, demoro a responder às mensagens. Mas antigamente também não se apanhava necessariamente as pessoas em casa quando se telefonava e esperava-se, portanto ninguém vai morrer por causa disso.

Acima de tudo, trata-se de manter a sanidade mental. As interrupções constantes fazem-nos muito mal e provocam ansiedade mesmo sem nos apercebermos. E não é por acaso que a boa educação exige que se bata à porta antes de se entrar.

O telemóvel, por natureza, é um ser mal-educado porque nunca bate à porta. Portanto, a não ser que queira mesmo passar a maior parte do tempo com uma postura de Corcunda de Notre Dame a olhar para o seu smartphone sem saber o que se está a passar à sua volta, ou mesmo enlouquecer, talvez não seja má ideia exigir ao seu telemóvel que bata à porta antes de entrar.

É o que tenho feito. E como resultado, entre outras coisas, sinto até que tenho estado mais tempo com o meu filho.

Sorrindo Sempre

Babosices vindas de todos os quadrantes referentes à invasão demográfica de que Macau tem sido palco nos últimos anos é algo que, com toda a certeza, o caríssimo leitor já se cansou de ouvir.

O que o caríssimo leitor não sabe, no entanto, é que algo semelhante se verificou recentemente no Jardim de Infância D. José da Costa Nunes (DJCN). Não, os turistas de visto individual (ainda) não se matricularam nessa escola. Quando disse “semelhante” referia-me ao facto de ter havido também uma pequena invasão demográfica.

Pois que a DJCN abriu mais duas turmas em resposta a esse tão interessante fenómeno e, nessa decorrência, na semana passada foram lançadas as actividades extra-curriculares, cujas inscrições tiveram início às 8:30 da manhã na secretaria da escola.

Conforme habitual, foi notificado aos pais que as colocações seriam feitas por ordem de chegada. O chamado “first come, first serve basis” que, aqui para esta parte do mundo, tem sempre potencial para produzir efeitos espaventosos.

À cautela, a minha esposa chegou pouco antes das 8:30 para evitar surpresas desagradáveis e garantir colocações nas actividades preferidas do nosso filhote. Mesmo assim, conseguiu apenas a senha n.º 48. Porquê? Ora, porque a senha n.º 1 foi distribuída a um ilustre encarregado de educação às 5:00 da manhã.

Hábitos diferentes, de facto, pois pelos vistos os encarregados de educação “daqueles” miúdos estão já acostumados a madrugar à porta de uma escola para fazer fila e ser o primeiro. É cultural – e nós, portugueses, não temos disso no nosso sangue.

Mas nunca é tarde para aprender.

Pelo que, para a próxima, antes das inscrições vou submeter ao IACM uma licença de ocupação provisória de espaço público – porque vou acampar à porta da escola.

Sorrindo sempre.

18 Set 2015

Hotel Estoril, à mercê de maus hábitos

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]m Junho deste ano o Executivo da RAEM divulgou que o arquitecto Siza Vieira, encarregado da intervenção no local do antigo Hotel Estoril, teria proposto o desenvolvimento de um novo projecto, porque considera que o actual edifício não integra o importante património cultural de Macau.
À margem de qualquer correspondência material do que fora proferido, ou mesmo da possibilidade de o mestre se ter enganado, emerge um hábito recorrente de discurso institucional que usa o argumentum ad verecundiam ou argumentum magister dixi, o qual apela para a palavra da autoridade a fim de validar um raciocínio, no seguinte formato:
X profere P sobre assunto A.
X carrega autoridade sobre o assunto A.
Logo, P está correcto.
Isso consubstancia um raciocínio inválido quando a conclusão se baseia exclusivamente na credibilidade do autor da proposição e não nas razões que ele apresentou para sustentá-la.
Isso é hábito que se disseminou no discurso institucional da RAEM e é transversal a qualquer iniciativa que usa o mesmo formato para justificar ou contradizer actos de administração pública.
Já na visita guiada de dia 15 de Setembro ao edifício do antigo Hotel Estoril, outro hábito persistente foi o de encarregar o Sr. Eng. Costa Antunes de desenvolver informação junto da comunicação social e de suscitar ao auditório dessa comunicação social confianças que não assistem, nomeadamente sobre os desígnios das substâncias arquitectónicas, e logo no seguimento do que já protagonizou para a demolição da Torre de Controlo do edifício do Grande Prémio. hotel estoril
Por outro lado reconhece-se ser menos habitual o facto de o Presidente do Instituto de Desporto da RAEM admitir, na mesma ocasião, que o arquitecto encarregado “melhor poderá desenhar as possibilidades e tomar outras decisões ou escolhas”. Em verdade, é exactamente para isso que os arquitectos são treinados, desenvolvem experiência e neles recai confiança. Mas também confiança que, uma vez expressa, não é para ser retirada, só porque assim deixou de ser institucionalmente conveniente, sob pena de se fazer disso outro mau hábito.
Hábitos que não são bons, mas moldam a cultura urbana, persistem por falta de modelos de gestão e de tipificação de intervenções, fazem de cada caso um caso, servem de palco de discussões difusas e nada orientadoras, acabam por pôr em causa estilos de governação, quando confrontados com outros, menos participativos, todavia mais certeiros.
 
Escrito pelo arquitecto Mário Duarte Duque

18 Set 2015

Vasco Flores, engenheiro electrotécnico

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hama-se Vasco Flores, é engenheiro electrotécnico e abraçou a aventura de viver em Macau por tempo indeterminado. “Em Macau devemos viver um dia de cada vez, tudo pode mudar, as coisas não são lineares como pensamos”. É assim que Vasco Flores abre a conversa com o HM.
Depois de muito viajar pelo mundo, o engenheiro começou a dar sinais de cansaço devido às “muitas horas de trabalho e a uma remuneração insuficiente”.
Portugal, um país de sonhos, fez acordar a população com a sua crise e falta de condições de trabalho. O desemprego bateu à porta de muitos e cortou nas remunerações de outros. Depois de passar por vários países – Cabo Verde, Suíça, Irlanda, Cuba, Angola – o engenheiro electrotécnico começou a pensar de forma mais séria na possibilidade de sair do país de forma fixa.
E como quem procura, encontra, Vasco Flores acabou por receber um convite para voar para este lado do mundo. 12011700_10207415605052200_316391948_o
“Através de amigos comuns fui contactado com esta oportunidade, aqui para Macau”, explicou, acrescentando que, depois de tudo definido, embarcou “nesta aventura” que supostamente seria apenas de um ano, terminando em Julho de 2015.

Culturalmente diferente

O bom trabalho e o conhecimento prestado pelo engenheiro levaram a que outras oportunidades surgissem e, depois de terminado o projecto que trouxe Vasco Flores ao território, a possibilidade de ficar por cá tornou-se uma realidade.
O primeiro impacto foi claro: o clima e a diferença cultural. “Apesar do choque cultural, nomeadamente dos hábitos cívicos, ainda se nota uma certa influência portuguesa, como o nome das ruas, os restaurantes. Mas é evidente que há pequenas coisas que fazem sentir que estamos do outro lado do mundo, como por exemplo o clima” argumenta. “A humidade é das coisas mais impressionantes aqui, quando damos por nós estamos a suar de cima a baixo”, explica, admitindo traços de recém-chegado a Macau.
Ser coordenador de uma equipa de nacionalidade chinesa também não se mostrou tarefa fácil. “Tenho experiência profissional em vários países e culturas e trabalhar com chineses não é fácil. Como orientador de uma equipa temos de assumir muitas vezes uma postura mais séria, ao contrário de outros países. Por exemplo, em Angola se falamos de forma mais ríspida é muito possível que o trabalhador olhe para o chefe e vire as costas, aqui é diferente, eles vêem o coordenador com uma postura mais autoritária”, relata.
Ainda assim uma coisa é certa: “somos nós [portugueses] que somos a matéria estranha ao território e somos nós que, se estivermos mal, temos que ir embora”.

Intensamente amigos

A decisão foi tomada e, sem fechar a porta às mudanças da vida, Vasco Flores acabou por aceitar ficar por cá. A maior prova disso foi o convite que se estendeu à sua esposa, para que o casal se aventurasse na Ásia. Ainda assim, mesmo com amigos e família do outro lado do mundo, aqui, neste pequenino espaço da China, os novos amigos parecem de sempre. 12043658_10207415513209904_1652318603_o
“Macau aproxima as pessoas, as relações são intensas. É mesmo muito fácil fazer amigos, até porque fazemos muitas coisas e mais vezes com eles. Os almoços, os fins-de-semana. Estamos do outro lado do mundo, sem a família é normal que isto aconteça. Isso é muito bom”, enumera.
A comunidade portuguesa patente em Macau é também apontada como uma vantagem que facilita a integração. “Acho que a comunidade portuguesa sabe receber e acaba por nos integrar e mostrar sítios e outras coisas. Caso contrário, se estivéssemos do outro lado do mundo, sem ninguém, seria mais difícil”, defende.

De sorriso na cara

Macau deve ser encarada com a mente carregada de optimismo, caso contrário as viagens de táxi, exemplifica, poderão tornar-se uma tragédia. “Temos que nos rir, temos que encarar isso de forma positiva, se nos enervamos só vai complicar”, conta, relembrando várias aventuras que já teve com as viagens de táxis. “É uma problemática de Macau e isso já se sabe”, remata.
Os menus de vários restaurantes só em Chinês, ou a incapacidade de falar Inglês dos funcionários são outro dos exemplos dados pelo engenheiro. “Fazemos à sorte e arriscamos. Pode calhar uma coisa boa ou não, até podemos não saber o que estamos a comer, mas temos de nos rir com isso”, acrescenta.
Macau e as suas pessoas fazem parte da vida de Vasco Flores e agora também da sua esposa e isso o tempo não mais vais apagar. O futuro é uma incógnita e o que interessa é “o dia que se está a viver” e o hoje é aqui, deste lado do mundo.

18 Set 2015

Fronteiras | Homem detido por ameaçar guarda com faca

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Alfândega afirmaram ontem que um homem de nacionalidade estrangeira ameaçou um guarda alfandegário, munido com uma faca pequena e uma chave de fendas, para que o mesmo o deixasse passar a fronteira das Portas do Cerco. O indivíduo foi detido, segundo informaram as autoridades. Um comunicado do Gabinete do Secretário para a Segurança indica que o homem apresentava um comportamento alterado e, por isso, o guarda ameaçado permitiu a passagem do mesmo para a China continental. Durante a passagem, os guardas do outro lado da fronteira conseguiram, depois de avisados por Macau, prender o transgressor.

18 Set 2015

SS visitam idoso agredido por causa do cigarro

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) repudiam “de forma enérgica” os actos de violência que foram praticados contra o idoso que pediu a um cliente do seu estabelecimento que apagasse o cigarro, por ser proibido fumar. Num comunicado, os SS salientam que continuarão a ser firmes na “execução rigorosa da lei sobre o controlo do tabagismo”. O sub-director dos SS, Cheang Seng Ip, e o Coordenador do Gabinete de Prevenção e Controlo do Tabagismo, Tang Chi Hou, visitaram, em conjunto com o director do Hospital Kiang Wu, Ma Hok Cheong o idoso ao hospital, “inteirando-se do seu estado de saúde que actualmente é estável”, dizem. Os responsáveis prometeram que as autoridades vão diligenciar todas as possibilidades para encontrar o agressor e entregá-lo à justiça. Lam, de 66 anos, foi agredido por um homem com uma garrafa na cabeça, tendo ficado ferido.

18 Set 2015

Chile | Forte sismo faz pelo menos dez mortos

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m sismo de magnitude 8,3 na escala de Richter sacudiu na noite de quarta-feira o Chile e obrigou a retirar para zonas mais seguras cerca de um milhão de pessoas, já que foi emitido um alerta de tsunami. O abalo fez pelo menos dez mortos, entre os quais três homens e duas mulheres.
A Agência de Geologia dos Estados Unidos inicialmente avançou que o sismo tinha sido de 7,9, mas entretanto emitiu uma nova nota em que aumentou a magnitude para 8,3. Foi também lançado um alerta de tsunami para a costa chilena por parte da Marinha daquele país. O abalo aconteceu no mar às 19h54 locais a 11 quilómetros de profundidade e a 71 quilómetros de Illapel – uma cidade que é capital da província de Choapa, que fica a norte da capital do país, Santiago do Chile.
Por precaução, as autoridades estão a deslocar para zonas mais elevadas todos os habitantes da zona costeira afectada. Até porque, lembra a Reuters, um dos objectivos é evitar uma catástrofe semelhante à de 2010, altura em que as autoridades foram acusadas de ter agido de forma demasiado lenta, o que fez com que um tsunami matasse centenas de pessoas. sismoChile
“Lamentamos a morte de cinco cidadãos chilenos. Estimamos o número de evacuados em um milhão de pessoas”, precisou à AFP o subsecretário do Ministério do Interior chileno, Mahmoud Aleuy. O responsável garantiu ainda que este é “o sexto tremor de terra mais forte da história do Chile e o mais forte de 2015 à escala mundial”.
Os sismos são classificados segundo a sua magnitude como micro (menos de 2,0), muito pequeno (2,0-2,9), pequeno (3,0-3,9), ligeiro (4,0-4,9), moderado (5,0-5,9), forte (6,0-6,9), grande (7,0-7,9), importante (8,0-8,9), excepcional (9,0-9,9) e extremo (superior a 10), explica a Lusa.

*Com Lusa

18 Set 2015

Tai Qi

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]qui por Macau, sobretudo nos jardins, ao amanhecer, vêem-se pessoas de meia-idade e mesmo cidadãos mais idosos a praticarem diferentes tipos de ginástica, impassíveis e indiferentes ao que se passa ao seu redor. É o regresso à velha sabedoria chinesa, a mesma que inventou a acupunctura.
O primeiro documento que inequivocamente descreve um sistema organizado de diagnóstico e tratamento, que é reconhecido como acupunctura, é o Clássico de Medicina Interna do lendário Imperador Amarelo, compilado por volta do ano 100 a.C., um conjunto de legados transmitidos através de gerações.
Curioso se torna reconhecer a relação que a acupunctura tem com a filosofia Taoísta e o conhecimento dos meridianos do corpo humano, bem como dos fluxos Yin e Yang.
O Grande Compêndio de Acupunctura e Moxibustão foi finalmente publicado durante a Dinastia Ming, (1368-1644), no qual são revelados os 365 pontos de abertura dos canais através dos quais flui o Chi ou Qi, a energia vital.
Curioso se torna verificar que uma dor de dentes do lado do maxilar direito é atenuada por um ponto no espaço entre o polegar e indicador das costas da mão esquerda. Assim se equilibram os opostos, Yin e Yang que, no seu todo, constituem o Tai Qi.
É com base nesta antiquíssima teoria dos opostos que hoje compreendemos a sua relevância ao estudar o magnetismo ou o modo como a electricidade passa.
O Tai Qi pode ser definido literalmente como “Uma pessoa centrada entre Céu e Terra que sabe como estar em pé como uma árvore, relaxada como um pinheiro, usando a mão e a boca de um modo equilibrado na Terra”. tai-chi
O I Qing ou livro das Transmutações, data do período Chou Ocidental (1000 – 750 A.C.) assenta os seus princípios nas combinações de trigramas contendo linhas Yin (uma linha quebrada) e Yang (uma linha inteira) originando 64 hexagramas.
Num momento da história da humanidade, quando emergem com grande força, a par do Tai Chi/Tai Qi ou do Chi Gong/Qi Gong, ou o Ki de Aikido, novas formas de cura, como o Reiki ou a Reconexão, o que podemos assistir quotidianamente nos jardins e praças de Macau, a par de gaiolas com aves canoras, é o diálogo do homem com o (seu) Universo, já que, segundo o velho conceito de Tien Hsia ou TianXia (tudo o que está debaixo do céu, conceito extenso e demasiado vasto para caber num pequeno artigo) os princípios feminino e masculino são universais. O significado de TianXia referia-se ao mundo geográfico ou ao reino metafísico dos mortais antes de se concentrar no território divinamente atribuído ao Filho do Céu através do “Mandato Celestial”.
Quando voltar a passar por um jardim onde se pratica ginástica ou o Tai Chi Chuan, não esqueça de se perder um pouco na contemplação desta arte de movimentos lentos e fluidos que poderiam ser, porque não, o paradigma da essencialidade da existência, quando o homem se integra no seu lugar na ordem natural das coisas.
Afinal, foram os antigos sábios que enunciaram a dualidade entre o princípio feminino e o masculino e, na sua completude, o Tai Qi. Apesar dos milénios, estes princípios são incontestáveis, para bem da humanidade.

17 Set 2015

Portugal: acidente ou destino

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]amião António Peres nasceu em Lisboa no dia 8 de Julho de 1889 e veio a falecer na cidade do Porto a 26 de Outubro de 1976. Foi professor nas Universidades do Porto e Coimbra, depois de ter sido professor de liceu. Foi um dos fundadores da Academia Portuguesa de História, distinguindo-se ainda como insigne numismata. Do vasto conjunto da sua obra destacaria: Como Nasceu Portugal, História dos Descobrimentos Portugueses, Portugal na História da Civilização, Pedro Álvares Cabral e o Descobrimento do Brasil e a Monumental História de Portugal, conhecida como de Barcelos, que dirigiu e publicou. Dirigiu ainda a Monumental História de Portugal, dita de Barcelos, que dirigiu entre 1928 e 1954.

A obra de Damião Peres, que hoje nos ocupa, intitulada Como Nasceu Portugal é constituída por duas partes distintas, mas complementares. Na primeira parte, para mim aquela que possui mais interesse, embora não seja absolutamente original, o autor aborda um enorme conjunto de teorias justificativas da independência e autonomia de Portugal no quadro das nações ibéricas. Na segunda parte o autor procede à narrativa dos factos, sobretudo políticos, da Formação de Portugal a partir da génese do Condado Portucalense. Neste tema não se coíbe de abordar também as questões sociais e jurídicas ligadas a assuntos polémicos, como a questão, por exemplo, do feudalismo.
O tema da primeira parte do livro, sendo relevante e muito atractiva intelectualmente, não é contudo original, pois acaba por ser uma antologia das posições assumidas por uma grande variedade de historiadores, geógrafos, etnólogos e ensaístas sobre a história de Portugal. E nem sequer constitui uma abordagem única uma vez que depois dele foram muitos os autores e as obras que glosaram o mesmo tema. Estou sobretudo a pensar na obra de Francisco da Cunha Leão e o seu O Enigma Português, mas sobretudo, e volto a insistir, no facto de que o assunto está disseminado, pela historiografia, geografia e etnografia portuguesas em autores como: Alexandre Herculano, Oliveira Martins, Jaime Cortesão, Amorim Girão, Orlando Ribeiro e José Matoso, se me ativer a alguns dos mais importantes nomes da cultura portuguesa, mas ainda em Elisée Reclus, Lautensach ou Schwalbach se pensar em autores estrangeiros que também se pronunciaram sobre o assunto.
Para Alexandre Herculano a independência e a originalidade autónoma de Portugal nada tem a ver com as teses renascentistas de André de Resende, contidas na obra De antiquitatibus Lusitaniae, obra essa, em que se explora uma linha de continuidade com a Lusitânia e com os antigos lusitanos. Herculano coloca antes em evidência uma solução política ligada à vontade dos primeiros barões do Condado Portucalense, tese essa, ampliada e reforçada por uma verdadeira teoria do acaso em Oliveira Martins. Oliveira Martins na História de Portugal, cita Alexandre Herculano para, baseando-se na sua obra reforçar a sua tese: “Portugal, diz o Sr. Herculano, nascido no XII século em um ângulo da Galiza, dilatando-se pelo território do Al-Gharb sarraceno, e buscando até aumentar a sua população com as colónias trazidas de além dos Pirinéus, é uma nação inteiramente moderna”. Isto quer dizer que não tem nada a ver com a posição de André Resende. Contudo agora Oliveira Martins não enfrenta apenas os autores que afirmam a antiguidade de Portugal, enfrenta também aqueles que fundamentam a autonomia de Portugal a partir das características únicas da sua geografia, o que não deixa de ser uma falácia como muitos outros vieram a demonstrar. Mas Elisée Reclus, geógrafo francês, inclinou-se seriamente para essa perspectiva, logo negada por Oliveira Martins:

“Se a unidade da raça primitiva se não vê, menos ainda Portugal obedece na sua formação às ordens da geografia”. As fronteiras de Portugal foram até onde chegaram as espadas dos barões belicosos. Diz ele: “(…) os barões audazes, ávidos e turbulentos são ao mesmo tempo ignorantes de teorias e sistemas. (…) Com um retalho da Galiza, outro retalho de Leão, outro da Espanha meridional sarracena, esses príncipes compuseram para si um estado (…) Eles foram até onde foi a ponta das suas espadas: tudo lhes convém, tudo lhes serve, contanto que alarguem o seu domínio”. (Oliveira Martins, História de Portugal)

Porém a melhor argumentação contra o papel da geografia relativamente à independência de Portugal, foi levada a cabo por um geógrafo de profissão, Amorim Girão. Mas há que reconhecer que os caboucos estavam já lançados pelo próprio Oliveira Martins que relativamente a quase tudo teve intuições geniais. Veja-se o que ele diz na sua História de Portugal a pretexto da geografia, ou pelo menos como ele começa a organizar a sua argumentação:

“Quando se observa o retalho da Península, de que a história fez Portugal, separado do corpo geográfico a que pertence, desde logo se vê como a vontade dos homens pôde sobrepujar as tendências da natureza. Os rios e as serranias descem, perpendiculares sobre a costa ocidental, prosseguindo uma derrota e provindo de uma origem que se dilatam para muito além das fronteiras, até o coração do corpo peninsular. As cumeadas das montanhas e os vales extensos mudam de nacionalidade naquele ponto convencional que aos homens aprouve fixar. Não falta, porém, quem pretenda encontrar, no nosso próprio território, motivos determinantes da constituição primordial da nação: tanto pode a obcecação doutrinária! Diz um que essa separação dos litorais é uma regra; nega outro o carácter arbitrário da linha das fronteiras de leste, afirmando que essa linha coincide com os limites extremos até onde os nossos rios são navegáveis. Decerto nunca os viu quem tal afirma”.

Mas, como dizia, é Amorim Girão que leva mais longe a argumentação contra a influência da Geografia. E fundamenta-a sobretudo valorizando o patriotismo e a genuína vontade dos portugueses em serem independentes contra todos os obstáculos. Para Amorim Girão não só não se vislumbram situações de descontinuidade junto à fronteira portuguesa com Espanha como pelo contrário se passa com total tranquilidade sem sinais de rotura geográfica do Minho para a Galiza, das Beiras Interiores, ou Alentejo para Castela ou para a Estremadura espanhola e do Algarve para a Andaluzia. E as zonas vizinhas de ambos os lados da fronteira apresentam características absolutamente idênticas, mas curiosamente, e isso é um argumento bem conduzido por Amorim Girão, existem reais diferenças entre as várias regiões de Portugal entre si. Portugal é mesmo, num espaço vital tão reduzido, um território extraordinariamente heterogéneo. É impressionante a variedade de situações geográficas, geológicas e paisagísticas que o país apresenta. Há muito mais semelhanças entre regiões vizinhas de Portugal e de Espanha que entre regiões de Portugal entre si. Amorim Girão pretende que se retire uma consequência disso, a saber que foi a vontade de autonomia e o espírito patriótico do povo português que foi determinante, sem as ajudas da geografia e de resto até contra ela.
Mas este livro informa-nos ainda sobre as posições de outros geógrafos, como é o caso de Lautensach e Schwalbach, assim como de outros cientistas sociais como Jaime Cortesão, António Sardinha, Leite de Vasconcelos entre muitos outros. Valeria muito a pena analisar as interessantes posições dos dois eminentes cientistas sociais alemães, até por que remetem para teorias de valor universal e que de algum modo merecem acolhimento, mas não se justifica agora. 17915P12T1
Uma das teorias explicativas, promovidas neste pequeno livro de Damião Peres, faz referência a um autor consagrado, Jaime Cortesão, que na sua obra Os Factores Democráticos da Formação de Portugal congrega uma plêiade de argumentos ou de factores concorrentes, para ajudar a compreender esse mistério que é a independência de Portugal relativamente ao resto da Península. Jaime Cortesão associa as fronteiras políticas portuguesas sobretudo a outras fronteiras muito mais antigas e de outra inequívoca e distinta fundamentação. Assim as fronteiras de Portugal decalcariam, grosso modo, antes de mais, a fronteira da Civilização Megalítica Ocidental (Do Calcolítico), segundo a clássica divisão da Península Ibérica, levada a cabo por Bosch Gimpera, em três regiões pré-históricas com civilizações autónomas, a ocidental (a civilização dos dolmens e das antas), a central que corresponderia à região castelhana e a levantina que corresponderia à região da Catalunha. Em segundo lugar o autor considera a divisão linguística que acompanharia as fronteiras anteriores e que delimitaria a ocidente uma língua própria, aquilo a que ele designou por Rimance Românico do Ocidente. Finalmente Jaime Cortesão considera as consequências da colonização romana e associa o território nacional às regiões de influência dos três mosteiros ocidentais, o bracarense (de Bracara Augustae, hoje Braga), o scalabicense (de Scalabis, hoje Santarém) e o pacence (de Pax Julia, hoje Beja). O autor considera ainda, na sua complexa tese histórico-civilizacional, que esta ocidentalização teria sido reforçada pela atlantização do território a que não pode ser considerada estranha a chamada rede viária atlântica, criada pela colonização romana.
Vale a pena ler este pequeno livro de Damião Peres para se poder passar em revista e de uma forma crítica todas estas teorias e muitas outras, igualmente cultas e pertinentes sobre uma ideia tão enigmática: A autonomia e a independência deste reino peninsular que é Portugal. Não se esqueça que de entre todas as periferias marítimas da Península Ibérica, só esta logrou separar-se da massa continental, embora outras o tenham igualmente tentado.

Manuel Afonso Costa

17 Set 2015